os desafios da escola pÚblica paranaense na … · unidas pelo linguajar brejeiro\poético beleza...
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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
Ficha de Identificação
Titulo A mágica arte da leitura poética: um chamariz para aprender
Autor Marina Amélia Honorato
Disciplina da Área Língua Portuguesa
NRE Telêmaco Borba
Escola de Implementação Colégio Estadual Presidente Tancredo Neves – Imbaú - EFM
IES Universidade Estadual de Ponta Grossa
Professor Orientador Professor Doutor Fabio Augusto Steyer
Relação Disciplinar Arte/História
Resumo O artigo “A mágica arte da leitura poética: um chamariz para aprender” apresenta os apontamentos, resultados e reflexões advindas do Projeto de Intervenção realizado com alunos do 6º ano do Ensino Fundamental do Colégio Estadual Presidente Tancredo Neves – Imbaú\Pr. O objetivo era promover uma intervenção pedagógica de incentivo a leitura norteada pelo gênero poético entrelaçado com as outras linguagens artísticas desmistificando a negatividade e o pré-conceitos sobre o ensino da poesia na escola, mostrando que a poesia tem uma
função pedagógica\social, além de comunicar sensibilidade, ludicidade, verbalizando a imaginação, a fantasia, a criação, a curiosidade, a comunicação, estabelecendo fins e meios com apontamentos que refletissem em superação visando alcançar os objetivos propostos, previstos e pensados conforme os conhecimentos prévios dos alunos, considerando as expectativas de aprendizagem presente e futuras, contextualizada com os pressupostos teóricos metodológicos inseridos no Projeto de Intervenção visando um comprometimento futuro de aprendizagem com o auxílio do Método Recepcional que traz em seu bojo a adequação de tempo necessária à apropriação de novos conceitos de ensino\aprendizagem.
Palavras-chaves Interação. Poesia. Conhecimento. Envolvimento. Vida
Formato Unidade Didática
Público Alvo Alunos do 6° Ano do Ensino Fundamental
A MÁGICA ARTE DA LEITURA POÉTICA: UM CHAMARIZ PARA APRENDER
Marina Amélia Honorato1
Orientador Prof. Dr. Fabio Augusto Steyer2
Resumo: O artigo “A mágica arte da leitura poética: um chamariz para aprender” apresenta os apontamentos, resultados e reflexões advindas do Projeto de Intervenção realizado com alunos do 6º ano do Ensino Fundamental do Colégio Estadual Presidente Tancredo Neves – Imbaú\Pr. O objetivo foi promover uma intervenção pedagógica de incentivo à leitura norteada pelo gênero poético entrelaçado com as outras linguagens artísticas como música, dança brincadeiras, imagens e cinema, desmistificando a negatividade e o pré-conceitos sobre o ensino da poesia na escola. Pretende-se ainda mostrar que a poesia tem uma função pedagógica\social, além de comunicar sensibilidade, ludicidade, verbalizando a imaginação, a fantasia, a criação, a curiosidade, a comunicação, estabelecendo fins e meios com apontamentos que refletissem em superação, visando alcançar os objetivos propostos, previstos e pensados conforme os conhecimentos prévios dos alunos. Essa proposta deve considerar as expectativas de aprendizagem presentes e futuras, contextualizada com os pressupostos teóricos metodológicos inseridos no Projeto de Intervenção visando um comprometimento futuro de aprendizagem com o auxílio do Método Recepcional, que traz em seu bojo a adequação de tempo necessária à apropriação de novos conceitos de ensino\aprendizagem.
Palavras-chave: leitura; poesia; gêneros textuais.
INTRODUÇÃO
Em termos gerais, no que se refere ao universo escolar, na atualidade, é de
conhecimento de educadores e profissionais imbuídos com a educação de que um
dos principais problemas enfrentados pela escola é a falta de interesse dos alunos
para com a prática de leitura, quer no contexto escolar e, principalmente, fora dele.
1 Professora da Rede Estadual do Paraná Marina Amélia Honorato
2 Professor Doutor Fábio Augusto Steyer
Foi de minha preocupação com a educação e refletindo na essencialidade
da leitura na vida escolar\social dos alunos que nasceu o projeto “A mágica arte da
leitura poética: um chamariz para aprender”, com estratégias traçadas e circundadas
de leitura poética capaz de conduzir o aluno a familiarizar-se com esse gênero de
leitura e, por conseguinte, desenvolver o hábito de ler poesia priorizando o seu
próprio tempo e gosto, percepção e interação com o ato de ler intercalado com seu
conhecimento prévio, a fim de despertar a sensibilidade poética presente em cada
ser, despertando ainda, a curiosidade e a expectativa sobre a leitura literária.
Esse despertar do interesse e gosto pela leitura não é tarefa fácil. Para que
isso ocorra, a escola deve dispender de esforços recíprocos, articulados com os
atuais currículos que perfaçam um caminho entre o conhecimento prévio e\o
conhecimento científico que substantivam o processo ensino\aprendizagem do
aluno.
No passado, a criança, de maneira geral, tinha na sua rotina contato com
jogos e brincadeiras, com o cantar, contar, brincar com cirandas de roda, cantos e
encantos das canções, das parlendas, das poesias. E em meio a esses folguedos,
havia sempre a presença de alguém instado pelo dom de recitar, cantarolar, contar,
encantar e enlaçar a todos com belas trovas lançadas ao vento, ao som de alguns
instrumentos, assovios, palmas e vozes das pessoas que outrora permaneciam
unidas pelo linguajar brejeiro\poético beleza singular com o dom de ensinar.
Hoje, constata-se que as pessoas já não têm mais tempo para admirar essa
magia de outrora, os pais não mais contam histórias, as famílias não têm tempo de
cantar, contar e encantar aos filhos com um belo legado de outrora: o saber singular
de poetizar.
Com isso, cabe à escola constituir um caminho capaz de apresentar aos
jovens alunos a linguagem singular da poesia preparando-os para aprender que a
poesia vai além da ludicidade e da reflexão, poesia não pode ser um despropósito
de ensino, ensinar poesia deve ser um propósito sério de ensino\aprendizagem que
permeado com os gêneros discursivos em especial o gênero poético - o qual aguça
a ludicidade e a magia – e que entrelaçado com as outras linguagens artísticas faz
emanar poesias nas entrelinhas dos versos poéticos.
O Projeto “A mágica arte da leitura poética: um chamariz para aprender”
visou promover uma intervenção pedagógica de incentivo à leitura através do gênero
poético, tematizando aspectos relevantes ao ensino aprendizagem, em virtude de
promover a apropriação e a competência na formação de leitores críticos e
competentes na aquisição da leitura.
Pretendeu-se ainda, dentre outros objetivos, propiciar o conhecimento do
gênero poético, como arte e educação, assim como instrumento de ensino
aprendizagem; estimular o aluno à prática de leitura da leitura poética, assim como
outros gêneros; possibilitar por parte do aluno a percepção e o reconhecimento dos
elementos de linguagem presentes no texto poético, dando-lhes condição de
aprendizagem para que possam aprender a identificar e a caracterizar a linguagem
figurada e os elementos peculiares que transitam dentro do texto poético.
1. REVISÃO DA LITERATURA
O incentivo à leitura vai além de apontar o encanto de fruir o sabor de ler –
esse incentivo tem que vir arraigado de conhecimento internalizado com proficiência,
prazer, aptidão e criticidade, a fim de que o leitor possa desenvolver habilidades
competentes que o levem a se apropriar dessa competência com uma vasta
amplitude de significados que a leitura oferece: ler, entender, reconhecer, inserir,
refletir, criticar, aprender a buscar e a transmitir toda e qualquer informação ao
interatuar com o texto, construindo um significado, pois:
“Se o aluno lê sem prazer, sem o exercício da crítica, sem imaginação; se ele lê e não faz disso uma descoberta ou um ato de conhecimento; se ele só reproduz nos exercícios, a palavra lida do outro, não há nisso nada que lhe possibilite uma intervenção sobre aquilo que historicamente está posto.” (SUASSUNA, 1995, p. 52).
Há um consenso entre educadores de todas as áreas de que é por meio da
leitura que o indivíduo adquire conhecimentos. A leitura tem a capacidade de
transformar o indivíduo, fazê-lo refletir, mantê-lo inteirado sobre os acontecimentos.
É notório também que toda criança ou adulto não torna-se leitor sem querer, mas por
um processo voluntário, através do contato com a leitura e a maneira de se
aprender.
Esse contato com a leitura e o incentivo pode partir da família, mas é na
escola que esse processo vai se intensificar e dar significado na formação integral
do aluno e na construção de sua identidade, pois é na sala de aula que a leitura se
torna um imperativo para o contato com o conhecimento. Como afirma Solé:
¨O ensino inicial da leitura deve garantir a interação significativa e funcional da criança com a língua escrita, como meio de construir os conhecimentos necessários para poder abordar as diferentes etapas da sua aprendizagem. Isto implica que o texto esteja presente de forma relevante na sala de aula. (SOLÉ, 1998, p. 62).
Diante disso, verifica-se, que a presença da escrita é imprescindível para o
desenvolvimento da leitura, pois ler e escrever estão atrelados, não há como separar
um processo do outro, sendo que ambos estão interligados dentro do processo
ensino/aprendizagem.
Sob essa perspectiva, mediante a construção de conhecimento, essa ação
pedagógica de intervenção, pode ser norteada pela utilização do gênero poético,
não com a intenção de torná-los exímios escritores, mas, sim, a mera intenção de
fazê-los compreender e interagir com a leitura, de forma que essa ação pedagógica
realizada na sala de aula se transforme num hábito comum, como parte de seu
cotidiano.
Valorizar esse gênero literário na escola pode trazer grandes benefícios para
o aluno, mas infelizmente:
A poesia ainda é um gênero bastante desvalorizado no contexto escolar. Percebe-se em grande parte que os alunos não gostam de ler poemas e o professor acaba não conseguindo e/ou não encontrando meios para motivá-los a lerem textos poéticos. É possível enumerar diversos fatores responsáveis por este tipo de prática em sala de aula, a começar pelas falhas encontradas na formação do professor e na abordagem empobrecida da poesia nos livros didáticos de Língua Portuguesa. (SILVA, 2010. p. 02).
Essa prática do ensino da leitura e escrita através da poesia tem sido
abandonada na escola aos poucos, por motivos diversos, e que acabam por limitar a
criatividade e a capacidade de interpretação dos alunos, comprometendo assim seu
desenvolvimento sócio/afetivo/cognitivo.
Essa tem sido uma preocupação de muitos educadores, dentre eles de um
ícone da poesia Carlos Drummond de Andrade, que indaga:
Por que motivo às crianças de um modo geral são poetas e, com o tempo deixam de sê-lo? Será a poesia um estado de infância relacionado com a necessidade do jogo, do conhecimento livresco, a despreocupação com os mandamentos práticos de viver. Acho que é um pouco disso, e mais do que isso, mas se o adulto, na maioria dos casos, perde essa comunhão com a poesia, não estará na escola, mas do que qualquer instituição social, e elemento corrosivo do instituto poético da infância que vai fornecendo à proporção que o estumo sistemático se desenvolve, até desaparecer no homem feito e preparado supostamente para a vida? (ANDRADE, 1974. p. 74).
Instigante a observação do autor acima, ao questionar o papel da escola, na
formação do leitor, pois em outros tempos a poesia estava mais presente nos lares e
nas escolas, quando o linguajar poético estava mais presente na vida das pessoas,
contribuindo assim, não só pelo desenvolvimento do gosto pela poesia, mas também
pela leitura, pela escrita e da capacidade de interpretar o mundo.
Para Silva (2010), a leitura de poesia se encontra numa situação muito
pior, pois não é próprio da nossa sociedade o cultivo da leitura de textos poéticos.
Assim, isto ajuda o nosso aluno a não perceber a riqueza que podemos destacar
neste gênero, pois ele acaba considerando sua leitura incompreensível e sem
sentido. Isto é grave, pois esta posição não lhe permite ampliar sua formação como
leitor crítico e reflexivo.
Nas aulas de Português, a leitura de obras literárias termina assumindo uma postura escolar que possui objetivos diversos que servem apenas como critério de avaliação, que resulta no não interesse pela leitura por parte dos alunos – principalmente a literária - ou seja, “o problema é que os rituais de iniciação propostos aos neófitos não parecem agradar: o texto literário, objeto de um nem sempre discreto, mas sempre incômodo desinteresse enfado dos fiéis - infidelíssimos, aliás – que não pediram para ali estar” (LAJOLO, 2008, p.12).
Essa realidade pode ser identificada não só nas aulas de língua portuguesa,
mas também de outras áreas do conhecimento, onde a queixa é frequente em
relação à ausência do hábito da leitura, o que compromete o rendimento e a
aprendizagem do aluno, quando pode-se afirmar que existe uma crise da leitura na
escola, de forma que, aluno que não lê, não aprende.
Para Pinheiro (2003, apud SILVA, 2010), a crise da leitura de poesias na
escola acontece principalmente porque a poesia não é vista com o valor em si
mesma. Para ele, a poesia só será um dos gêneros valorizados no âmbito escolar
quando for compreendida em sua essência. Assim, é importante ter cuidado na
escolha do poema a ser tratado e como será abordado.
Diante desses desafios a escola e os profissionais que atuam no ensino da
Língua Portuguesa, devem repensar não só a sua prática pedagógica, mas também
a forma com que utiliza os recursos e os gêneros textuais, levando em conta que:
O ensino da literatura no Ensino Fundamental deve ser o de encaminhar o olhar do aluno para a sensibilidade de identificação para com o texto\texto poético estimulando a sensibilidade estética através da leitura expressiva, oportunizando ao aluno, experiências leitoras arraigadas de leitura, escrita, oralidade, dramatização, desenho, formas de expressão e de entendimento, apurando a sua aprendizagem, ampliando os seus horizontes de leitura com possibilidades de relacionarem-se socialmente por meio de diversos instrumentos de leitura e abordagens literárias, linguagens, linguagens artísticas, culturais numa relação dialógica com o seu
aprendizado. (BORDINI e AGUIAR, 1993, p.82).
Talvez, na intenção de tornar a aula mais atraente para o aluno, e trazer
materiais que desperte o interesse do mesmo, com temáticas centradas no cotidiano
destes, o professor acaba por abrir mão dos clássicos e dos textos literários como a
poesia. Não que a culpa pelo desinteresse do aluno seja do professor, mas cabe a
ele buscar alternativas para superação desse desafio.
As Diretrizes Curriculares de Língua Portuguesa do Estado do Paraná,
também preconizam que o texto literário permite múltiplas interpretações, uma vez
que é na recepção que ele significa. No entanto, não está aberto a qualquer
interpretação. O texto é carregado de pistas\estruturas de apelo, as quais direcionam
o leitor, orientando-o para uma leitura coerente.
Visto ser o texto, a parte real\concreta de trabalho que leva o aluno\leitor a
construir a sua própria imaginação através de leituras carregadas de criatividades,
interpretações, reflexão, interação aluno\texto, professor\aluno, aluno\aluno que ao
construir o seu próprio entendimento com o texto literário poderá dar consistência e
vida à obra.
Uma das opções de se trabalhar a poesia e torná-la atraente para os alunos
é sua intercalação sincrônica com a música, a dança, as cantigas de roda, o teatro,
os acalantos, a pintura, disponibilizando aos alunos uma rica diversidade de
linguagens\leituras, propiciando-lhes momentos leitores, recheado de atividades,
interações relativizadas com diferentes modos de ver, ler, entender e compreender
as entrelinhas do texto poético\literário, visto que:
(...) nos textos literários é possível perceber uma organização da linguagem diferente da organização da linguagem usual [...], além disso, sobretudo na poesia, a linguagem aparece integrada de um modo que todas as palavras, estruturas e sons aparecem em uma relação complexa sobre a qual é preciso refletir a fim de se produzir um sentido para o todo. (MENEGASSI, 2005, p.182).
Com isso, é imperativo que o aluno chegue ao entendimento de que a
linguagem literária é diferente da comum, visando um objetivo maior, pois transmite
sentimentos através das palavras, amplia o prazer e fruição da leitura, expressão
contida na função estética da linguagem poética.
Sendo assim, é necessário trabalhar a poesia cotidianamente\sala de aula,
oportunizando ao aluno uma luta diária com leituras interpretativas, ilustrativas,
singulares de imaginação, sensibilidade e fruição, ajustando condições de leitura, de
produção, de comunicação e posicionamento como sujeito\aluno\leitor na construção
da sua própria aprendizagem.
Por esse princípio, a necessidade de se trabalhar a poesia levando o
aluno\aprendiz a perceber que a poesia se revela a partir daquilo que se expressa,
ela, a poesia, está incrustada no dia-a-dia, nas mais diferentes formas: formas
textuais, palavras soltas ao vento, conversas amiúdes, música, recursos de
comunicação diária, a arte do falar, do cantar, do dançar, representar, sentir,
imaginar, criar, imitar, na arte de dizer e desdizer alguma coisa cotidianamente. A
poesia se inventa pelo repentino e se materializa em nós, de várias formas, ao
esculpir o nosso dia e não necessariamente de forma objetiva, real, ela pode se
materializar na irrealidade das coisinhas miúdas, aquelas, a qual muitas vezes não
se dá importância alguma.
A poesia é um gênero textual que se revela nas entrelinhas da vida. Sendo
que “Os gêneros textuais são os textos que encontramos em nossa vida diária e que
apresentam padrões sociocomunicativos” [...] (MARCUSHI, 2008, p.41).
Por essa razão, ensinar a noção de poesia é uma luta diária, visto ser a
poesia um estilo verbal que entrelaça linguagem e poesia – poesia e linguagem,
capaz de construir textos significativos carregado de uma criação estética com vários
recursos semânticos, sonoros, ilustrativos, imagéticos, estilísticos, com linguagens
carregadas de expressividade com indícios capaz de impressionar intencionalmente
o leitor.
Segundo Moriconi (2000), toda linguagem tem seu quê de poesia. A poesia
brinca com a linguagem. Chama a atenção para a possibilidade de sentido. Explora
significativamente coincidências sonoras entre palavras.
Portanto, é na literatura, que a linguagem poética insta uma dialogicidade
entre linguagens, com possibilidades diferentes de sentido, interpretação,
descoberta, uma vivência infinda de conhecimento e aprendizagem. Sendo assim,
talvez o caminho para o desenvolvimento do gosto pela leitura e pela literatura seja
a aplicação da Teoria da Estética da Recepção:
A Estética da Recepção considera a obra de arte como um sistema que se define por produção, por recepção e por comunicação, tecendo uma relação dialética entre autor, obra e leitor. Não revitaliza a noção de produção e representação, bases da estética tradicional. Destaca que o ato de leitura tem uma perspectiva dupla na dinâmica da relação com a obra - a projeção desta obra pelo leitor de uma determinada sociedade. Interessa-se pelas condições sócias históricas que sempre formularam as diversas interpretações que a obra recebeu, e assinala que o discurso é o resultado de um processo de recepção ao mover a pluralidade dessas estruturas de sentidos historicamente mediadas. (ROSSETO, 2011. p. 2).
Essa teoria, cujo principal representante é Hans Robert Jauss, tem como
fundamento uma dialogia entre leitor e texto no ato da leitura com destaque para
com o conhecimento prévio do leitor e a sua reação diante da leitura.
Nessa perspectiva:
Ler o texto literário dessa forma implica permitir que o aluno-leitor participe ativamente da leitura, expondo sua maneira de entender e interpretar a palavra escrita. Nesse modelo de leitura o professor deixa de ser a figura central e passa a ser mais uma voz, entre outras vozes, uma voz que precisa saber mediar, respeitar e escutar, uma voz que precisa saber ensinar o grupo a escutar e
respeitar a opinião do outro. (SILVA, 2010. p. 07).
Nesse processo, percebemos que a Estética da Recepção oportuniza ao
aluno momentos de leitura, interação e reflexão, levando-o a percepção de que a
literatura insta conhecimentos muito além de histórias ficcionais, histórias
estruturadas em composições, em obras artísticas e\ou poéticas.
Cotidianamente, no contexto escolar, observa-se certa inquietação que aflige
os professores imbuídos na árdua tarefa em descobrir a falta de interesse dos
alunos para com a leitura: Qual é o caminho para que o aluno aprenda a gostar de
ler? Como trabalhar a prática de leitura sem imposições impostas, regras e\ou mero
cumprimento do dever?
Não parece, e não é uma tarefa fácil, pois:
“Para tornar os alunos bons leitores, para desenvolver muito mais do
que a capacidade de ler, o gosto e o compromisso com a leitura, a escola terá de mobilizá-los internamente, pois aprender a ler (e também ler e aprender) requer esforço. Precisará fazê-los achar que a leitura é algo interessante e desafiador, condição para poderem se desafiar e “aprender fazendo”. Uma prática de leitura que não desperte e nem cultive o desejo de ler não é uma prática pedagógica
eficiente.” (Solé, 1998, p.58).
É preciso trabalhar o incentivo a essa prática, traçando estratégias,
buscando meios práticos e objetivos que possam desenvolver nos alunos uma
atmosfera repleta de motivação, aptidão e o comprometimento com a ação diária da
leitura permeada em meio a um fazer... “fazer ler como se come, todos os dias, até
que a leitura seja como o ato de olhar, exercício prazeroso sempre...” (MISTRAL,
1979, p.101).
Diante deste cenário, é imprescindível que se desenvolva um trabalho de
muitas mãos. Mãos que primem por desenvolver um trabalho pedagógico dos alunos
e as formas de leitura\apropriação e assimilação que eles possam desenvolver, visto
ser a leitura um ato interativo que articula o saber.
Na tentativa de responder as muitas indagações apresentadas nesse
trabalho, no intuito de aplicar e compartilhar experiências já desenvolvidas, foi
implementado o projeto “A mágica arte da leitura poética: um chamariz para
aprender”, cujos resultados serão apresentados a seguir.
2. METODOLOGIA
Este trabalho foi desenvolvido inicialmente por meio de uma revisão
bibliográfica, cujo referencial teórico está disponibilizado em livros, revistas, artigos
científicos e sites especializados que tratam do assunto abordado.
O artigo ainda apresenta os resultados da implementação do projeto
desenvolvido no Colégio Estadual Tancredo Neves – Ensino Fundamental e Médio,
com alunos do 6º ano.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A Implementação do Projeto de Intervenção na Escola deu-se no início do
presente ano letivo, através da socialização e divulgação do mesmo para a escola
como um todo e em especial para os alunos contemplados com essa intervenção.
No âmbito da pesquisa realizou-se uma sondagem através de um questionário de
suporte investigativo sobre conhecimentos, as experiências e as vivências dos
alunos para com a leitura e a poesia, propiciando um momento reflexivo sobre gosto,
a preferência e o tipo de leitura ou gênero preferido, assim como, a convivência
individual dos mesmos para com o mundo da leitura.
Num primeiro momento, houve um diálogo com os alunos contemplados,
abordando todo o processo de elaboração do Projeto de Intervenção de Leitura, a
preocupação e a necessidade real originada a partir de procedimentos de estudos e
pesquisas referentes à prática de leitura. Logo após, objetivou-se sondar os
conhecimentos prévios que os alunos tinham sobre a leitura poética, aplicando um
questionário de sondagem frente ao horizonte de expectativas do aluno, com
questões que abordavam o gosto pela leitura, hábitos de ler, envolvimento com os
livros, gosto pela poesia, experiências leitoras, incentivo, significado de tempo
destinado à leitura.
Nesse questionário ficou evidenciado que a maioria dos alunos tem algum
material de leitura em casa, como mostra o gráfico a seguir, onde 24 alunos
responderam que possuem algum tipo de material de leitura, 6 alunos afirmam que
não possuem nenhum material e 2 alunos não responderam.
Gráfico 01: Disponibilidade de material de leitura em casa.
Na segunda questão, os alunos foram inquiridos em relação tipo de material
de leitura disponível em casa, onde 18 apontaram os livros, 06 apontaram gibis, 06
jornais e revistas diversas.
Importante destacar que a maioria dos livros disponíveis nas residências dos
alunos, refere-se a livros didáticos, doados pela escola.
Gráfico 02: Materiais de leitura disponíveis nos lares.
Na outra questão foi indagado sobre o tempo que os alunos utilizam para a
leitura e casa, na qual ficou evidenciado que os alunos não cultivam esse hábito nos
seus lares, como mostra o gráfico à abaixo.
Gráfico 03: tempo destinado à leitura os lares.
Esse gráfico mostra que um número reduzido de alunos costuma ter o hábito
da leitura nos seus lares, considerando aqui o tempo destinado a execução de
tarefas escolares.
A esse respeito, Villardi (1999) destaca que boa parte dos indivíduos só
pratica a leitura em fase escolar, não se constituindo em uma ação fora do espaço
escolar, como se ela fosse necessária apenas para obter a nota do final ano e,
depois disso, abandona-se a leitura.
Dessa forma a leitura torna-se uma atividade mecânica e obrigatória, e, por
consequência, desestimuladora:
Uma atividade de leitura centrada nas habilidades mecânicas de decodificação da escrita, sem dirigir, contudo, a aquisição de tais habilidades para a dimensão de interação verbal quase sempre, nessas circunstâncias, não há leitura, por que não há “encontro com ninguém do outro lado do texto. (ANTUNES, 2003 p.27).
Na última questão, o objetivo central foi identificar a frequência da leitura de
poesia, apenas quatro alunos declararam serem leitores assíduos desse gênero,
como mostra o gráfico a seguir.
Gráfico 04: O gênero poesia nos lares.
Sobre o gosto pela poesia Silva (2010), aponta que a poesia ainda é um
gênero bastante desvalorizado no contexto escolar. Percebe-se em grande parte
que os alunos não gostam de ler poema assim o professor acaba não conseguindo
e/ou não encontrando meios para motivá-los a lerem textos poéticos
A diferença do número de alunos que afiram ter livros em casa, 24, para o
total de alunos que responderam e fazem algum tipo de leitura em casa, se deu pelo
fato de que, aqueles que não possuem livros realizam empréstimos na biblioteca da
escola.
A partir dessa intervenção de sondagem, planejada em função determinante
de incentivo em prol da leitura – focada no gênero poético – abordando dificuldades,
potencialidade, preferências que se tendeu à aplicação do planificado no material
didático de intervenção, com aportes mediadores predispostos à verificação e
viabilidade do tempo de leitura motivado em sala de aula. Com os resultados em
mãos, iniciou-se a aplicação do projeto de intervenção apresentando aos alunos, – o
gênero poético – interligado com a beleza e fruição das outras linguagens artísticas
ponderado, planificado e distribuído em 32 aulas no primeiro semestre de 2014
divididas em 10 seções com atividades práticas de leitura.
O início da implementação do projeto, deu-se através de uma discussão
sobre o que é Literatura? O que é poesia? O que é poema? Expondo dados
relevantes sobre cada questão enredando-os com o assunto de forma leve e
agradável, considerando sua faixa etária. Neste momento, o intuito foi de acordar a
imaginação de cada um sobre a singularidade da arte da palavra escrita presente na
Literatura. Tratou-se de um espaço mais para ouvir os alunos do que para falar a
eles:
Acredita-se que a aula de literatura é um espaço dialógico, ou seja, é um lugar norteado pela interação, repleto de leituras de diversos textos, de construção de sentidos, e para que isto aconteça desta forma é preciso que se promova o debate na aula. Esta seria uma postura esperada por parte do docente, a de oferecer ao aluno-leitor condições de discutir aspectos diversos que o contato efetivo com os textos pode dar. (SILVA, 2010. p. 5).
Para Pinheiro (2002), a escola deve privilegiar o debate, sobretudo, por ser
um instrumento democrático, por ser um momento de todos revelarem, se
quiserem, seus pontos de vista, suas discordâncias, certos de que não estão sendo
avaliados.
Na seção 2, propôs-se um encontro lúdico, entre o ler, o refletir e o pensar a
poesia na sala de aula oportunizando aos alunos reavivarem lembranças através de
uma conversa poética sobre as melódicas brincadeiras de roda, as parlendas, as
adivinhas, os trava-línguas, as belas canções de ninar, os poemas, as músicas,
poesias, reportando-os a um mágico mundo permeado com linguagens lúdicas e
mágicas. Segundo Morais:
A poesia visa a sensibilidade do leitor, a emoção, a beleza. De todos os gêneros, deve ser o menos comprometido com aspectos morais ou instrutivos. Portanto, é inconcebível utilizá-la em função das outras disciplinas. A poesia deve ser entendida como um fim em si mesma, como uma brincadeira como outra qualquer que faz parte do aprendizado da criança. Afinal, a criança pequena aprende
através do lúdico: “A atividade lúdica, entre outras características, tem um poder muito grande de fascinar aqueles que com ela se envolvem, sendo uma alternativa para a denúncia da realidade tal como se apresenta”. (MORAIS, 1993, p.60).
Essa percepção foi compartilhada pelo aluno “E”, que buscou destacar o
trabalho desenvolvido ao afirmar que: “ compensou muito acordar cedo para vir ler
poesia com o nosso grupo, pois eu sempre ficava ansiosa pelas leituras de cada
manhã, acho que aprendi que ler e escrever poesias é brincar com as palavras
fazendo peraltices com elas”.
Outra atividade significativa foi realizada a partir da proposta de intercalar a
poesia à música, procurando sua relação com o canto, com a dança, de forma a
oportunizar a identificação dos elementos linguísticos sua estrutura esquemática que
ocorre em cada linguagem ou gênero.
A utilização da música na poesia ou vice versa pode despertar ainda mais o
interesse dos alunos onde o professor,
pode mostrar aos alunos as aproximações históricas que música e poesia possuem. Filhas de um mundo oral, as duas artes mantém muitos pontos em comum, como o trabalho diferenciado com a palavra, por meio da valorização dos seus aspectos polissêmicos e sonoros. Levar os seus alunos a ouvirem uma música, questioná-los sobre as sensações que ela transmite, sobre a sonoridade das palavras e seus significados, pode ser o primeiro procedimento adotado por um professor para introduzir o universo poético em sua sala de aula. A audição das músicas abre alas para a leitura dos poemas. ( PEREIRA & REGIS, 2014. p. 01).
Essa ideia foi destacada também na fala do aluno F, ao afirmar que: “foi bom
aprender a ler poesias, recitar os poemas que a professora ensinou, foi bom saber
que a música é um poema musicalizado que encanta e embeleza a leitura e é muito
bom saber ler”.
Essa opinião é compartilhada também pelo aluno E ao relatar que: “eu
queria ser poeta, compositor ou quem sabe um pintor para quando eu crescer
escrever muito para você ler.”.
Para Pereira e Régis (2014), deve-se explorar as relações entre poesia e
música em sala de aula por causa do contexto de ensino-aprendizagem em que
vivemos no qual o professor trava uma guerra diária para despertar o interesse do
aluno pela leitura e para que eles realmente compreendam o que leem. Nessa
batalha cotidiana, é preciso atraí-los por aquilo que os atrai naturalmente, como a
música que eles carregam consigo em seus celulares nas ruas, no ônibus e,
muitas vezes, na sala de aula de forma indesejada.
Outra relação possível é da poesia com as artes plásticas, onde a pintura foi
trabalhada através de slides do livro “Era uma vez três” – Alfredo Volpi em conexão
com a arte escrita de Ana Maria Machado que propiciou aos alunos um vislumbrar
singular diante da arte pintada em tela em sintonia com a arte da palavra escrita.
Essa relação é possível considerando que:
O poema, nível linguístico e semântico da poesia, é uma criação riquíssima em imagens. As formadas por suas sugestões sensoriais e as apresentadas em sua constituição por versos e todas as outras expressões artísticas, exatamente pelos recursos imagéticos propostos, estariam impregnadas de poesia. Elas são a exteriorização do homem e por isso mesmo uma tentativa de (re)criação das coisas através da descrição de formas muito singulares de olhar. (MALTA, 2012. p. 04).
A autora acima acrescenta que o estudo da Literatura remete a esse ser
criativo e cheio de intenções e como tal relaciona-se a outras formas de produções
artísticas, podendo ser diretamente ligado à Pintura, pois ambas trabalham com a
plasticidade, com os conceitos de beleza e prazer, procurando não se dissociar
de um posicionamento ideológico proposto pelo autor. O discurso linguístico, através
de suas formas espontâneas, frequentemente é associado ao discurso visual com
suas formas motivadas e implícitas, buscando compor um estudo colaborativo entre
Imagem e Escrita.
Trata-se de um trabalho mais complexo, assim como o cinema, porém
bastante instigante e produtivo.
Na última seção, foi experimentado um encontro lúdico de percepção e
aprendizagem capaz de conduzi-los a traçar um paralelo entre a linguagem poética
e o cinema, por meio do filme “O Balão Vermelho” – e o “Cavalo Branco”, para
serem capaz de uma postura crítica\reflexivo diante do que assisti ou lê.
O cinema tem sua natureza narrativa, o ponto de vista como princípio de construção do texto é do mesmo tipo que o do romance,
não se assemelhando ao da pintura, ao do teatro ou ao da fotografia. Além disso, se o diálogo verbal no cinema é semelhante ao diálogo no romance e no teatro, é nesse sentido mesmo específico, que o correspondente no cinema ao discurso narrativo do autor no romance é a narrativa cinematográfica formada pelo encadeamento de planos. (LOTMAN, 1978 apud TORCHI, 2009. p. 44 - 45).
Essa atividade demonstrou a dificuldade dos alunos em relacionar o cinema
com a poesia, talvez em função da falta de atenção dos alunos em entender o
enredo da história e criar um paralelo entre a linguagem escrita e a linguagem
falada.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao objetivar esse Projeto de Intervenção com o intuito de didatizar a prática
de leitura em sala de aula a meta principal era a de alcançar os objetivos propostos
sem mensurar números, porém, mensurando a aprendizagem do aluno em relação à
leitura poética, visto ser um trabalho contínuo que não se finda com o término da
aplicação de um projeto, mas que é infindável no que abarca o tecer o fio da
aprendizagem, dando o ponto inicial por meio de um material didático proposto e
amarrado em fundamentos metodológicos, objetivando um arremate no cotidiano da
aprendizagem, com persistência e trabalho árduo em relação à prática de leitura,
assim como, as outras práticas de estudo.
Durante o percurso, observa-se a complexidade em despertar no aluno o
gosto pela poesia de forma a conduzi-o pelo no vasto caminho da leitura. Nesse
sentido, embasados na Estética da Recepção e aplicando o método proposto
primando pelo conhecimento prévio do aluno, buscou-se treinar o olhar do aluno
mediante a visualização da beleza cotidiana que os rodeia expressando-a em forma
de poesia.
A experiência em relacionar a poesia com o cotidiano do aluno, com
músicas, dramas, tramas, filmes, versos e reversos, traduzidos em ensino capaz de
gerar aprendizagem, proporcionando experiências, acordando a esperança de
ensinar que a leitura tem que ser estudada, aprendida para poder ser lida em todos
os suportes que aportam os gêneros textuais.
Foi nesse sentido que o Projeto foi vislumbrado, pesquisado e aplicado
dando oportunidade aos alunos de aprender um pouco mais sobre a poesia,
linguagem literária capaz de inovar a palavra, a ludicidade, a magia ao aprender
ler... Ler nas entrelinhas do texto escrito pelo autor, buscando compreender esse
impasse que se traduz entre autor\texto\leitor – aluno, enquanto interlocutor audaz,
com capacidade de ler e internalizar aprendizagem de leitura extensiva à vida.
Assim, ao levar em conta que essa implementação cumpriu seu papel de
possibilitar momentos de criação de vínculos entre o aluno e a poesia, utilizando
como ferramentas, o texto, a imagem, a música, o cinema, permitindo uma pratica
pedagógica diversificada e permeada de experiência significativas, com o cuidado
de não simplesmente fazer poetas, mas desenvolver no aluno (leitor) sua habilidade
para sentir a poesia, apreciar o texto literário e sensibilizar-se para a comunicação
com o mundo.
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