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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
FORMAÇÃO DOS INTEGRANTES DO CONSELHO ESCOLAR: CONDIÇÃO PARA AMPLIAÇÃO DOS PROCESSOS PARTICIPATIVOS E CONSOLIDAÇÃO DA GESTÃO
DEMOCRÁTICA
Jeber Luis Diehl1
Oséias Santos de Oliveira2
Resumo
O objetivo deste artigo se insere na perspectiva de refletir sobre a aplicação de uma intervenção pedagógica realizada no contexto do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE/SEED/PR) tendo como espaço o Colégio Estadual Jardim Boa Vista (Campo Magro/PR) e como partícipes os integrantes do Conselho Escolar e demais interessados em conhecer o funcionamento e ações executadas por este colegiado. A constituição de órgãos colegiados na atual conjuntura social e organizacional nas instituições de ensino, como é o caso do Conselho Escolar, representa o fortalecimento nas relações democráticas entre as políticas educacionais desenvolvidas pelo Estado para a educação e os sujeitos e instituições que delas se beneficiam. Em relação à administração das escolas públicas, cada vez mais, se projetam ações que estimulam a participação das pessoas nos processo decisórios, sendo assim, se faz necessário que a comunidade tome ciência e possa opinar sobre o direcionamento das ações relevantes da escola. Recentemente o governo federal, por meio de programas como o PDE-Escola, passa a destinar recursos financeiros substanciais para aplicação direta em problemas diagnosticados como pontos frágeis na relação de ensino-aprendizagem das escolas públicas. Neste sentido, a gestão escolar tem se constituído em um grande desfio em todos os seus aspectos e, dentre eles, os princípios democráticos e participativos precisam ser compreendidos e assumidos por todos os envolvidos no processo de educação, sobretudo no processo de planejamento, execução, acompanhamento e avaliação dos programas educacionais.
Palavras-Chave: Políticas Educacionais, Conselho Escolar, Gestão, Participação
1Professor da Rede Pública Estadual de Ensino do Paraná. Graduado em Geografia pela
Universidade Federal do Paraná,. Pós-Graduado em Filosofia da Educação pela Universidade Federal do Paraná. Contato: jeberdiehl@yahoo.com.br
2Professor Adjunto na Universidade Tecnológica Federal do Paraná – UTFPR, Câmpus
Curitiba, lotado no Departamento de Educação – DEPED. Doutor em Educação pela Universidade Federal de Santa Maria – UFSM/RS, Mestre em Educação pela Universidade de Passo Fundo – UPF/RS. Orientador PDE.
1. Introdução
Este artigo é fruto de uma reflexão em torno uma intervenção
pedagógica realizada no âmbito do PDE – Programa de Desenvolvimento
Educacional (SEED/PR) e tem como objetivo contribuir com o debate
envolvendo a participação dos conselhos escolares na gestão democrática nas
escolas públicas. Nos últimos anos, a consolidação da democracia brasileira
tem sido um dos temas estudado por diversos pesquisadores na área da
educação. Dentre os enfoques presentes nessa investigação podemos
destacar o interesse para com as políticas educacionais, no caso deste
trabalho a abordagem assume especialmente um caráter subjetivo, a partir das
escolas e do funcionamento de um sistema de ensino que envolve a
participação e que favorece a gestão escolar democrática.
A proposta de intervenção e a implementação da mesma esteve voltada
à construção de debates junto à comunidade escolar sobre a formação e o
papel do conselho escolar, tendo como espaço o Colégio Estadual Jardim Boa
Vista, localizado na cidade de Campo Magro, região metropolitana da grande
Curitiba/PR. O trabalho desenvolvido teve como base o programa mantido pelo
MEC (Ministério da Educação) intitulado de PDE-Escola, a partir do qual foram
inseridas as principais referência nas discussões que envolvem a participação
do Conselho Escolar nas decisões enquanto órgão colegiado e representativo.
A aplicação da intervenção se deu no período de fevereiro à julho de 2014.
Este artigo está dividido em duas partes. Em um primeiro momento são
discutidas as principais linhas teóricas que nortearam a elaboração do projeto e
a construção do material didático-pedagógico. A segunda parte do artigo traz
uma discussão sobre o fortalecimento do Conselho Escolar frente aos novos
programas destinados as escolas, como é o caso do PDE-escola. Cabe
salientar que este programa foi implementado no Colégio Estadual Jardim Boa
Vista no ano de 2009 por conta dos resultados alcançados pela escola no
exame nacional da Prova Brasil e dos índices de reprovação e evasão da
escola naquele ano. Ou seja, partir do baixo índice obtido na avaliação do IDEB
– Índice de Desenvolvimento da Educação Básica foram desencadeadas
algumas ações para o enfrentamento da situação, no qual se insere a
execução do PDE-Escola.
Os resultados apresentados nesta reflexão estão relacionados à
implementação do projeto e também são frutos de dados colhidos na
implementação pedagógica na escola. Ainda, os tópicos em discussão buscam
articular as ideias suscitadas no Grupo de Trabalho em Rede (GTR) que se
caracteriza por ser um curso à distância ofertado pela Secretaria Estadual de
Educação do Estado do Paraná (SEED) na sua Plataforma Moodle sendo
utilizado na formação de professores da rede pública, do Ensino Fundamental
e Médio.
2. Concepções teóricas: gestão democrática e participação
Uma preocupação ao desenvolver o trabalho foi, sem dúvida, perceber
que tipo de enfoque em torno do termo democracia, poderia ser explicitado.
Para tanto, lançamos mão de um texto intitulado Cultura política e teoria
democrática implicações empíricas de um debate teórico,de Ednaldo Aparecido
Ribeiro.
Ribeiro (2004) cita em seu artigo a concepção realista, buscando
sustentação na obra de Joseph Schumpeter (1961) intitulada, Capitalismo,
Socialismo e Democracia. Na corrente realista a democracia pode ser
entendida a partir do método de escolha das lideranças quando, uma vez
eleitas, essas lideranças devem conduzir os complexos assuntos públicos das
sociedades modernas. Nesse caso o que define um regime democrático é o
método de escolha das lideranças, os votos, a competição regulamentada por
regras previamente definidas e aceita por todos.
A segunda corrente apresentada pode ser denominada de
participacionista, sendo que, esta concepção nos orientou de maneira mais
sólida e contundente na elaboração deste artigo. Um dos pontos centrais dessa
teoria, como cita Ribeiro (2004), é a de que o processo participacionista trata
da construção de modelos como a verdadeira democracia deveria ser, e
também menciona que seus apontamentos trazem pistas sobre qual caminho a
democracia pode ser conduzida e construída.
Nessa corrente de pensamento há uma negação do elitismo político, ou
seja, a de que o cidadão comum pode alcançar um determinado
desenvolvimento humano e moral ao participar de questões políticas ou
públicas relevantes. Segundo Ribeiro (2004), “a proposta defendida por esse
participacionista afirma que a democracia deve ser entendida de forma
bidimencional, ou seja como um meio para alcançar um fim , mas também
como um processo de participação”.
Mill (1981, apud Ribeiro, 2002) faz a seguinte afirmação, “a participação
em assuntos públicos leva ao desenvolvimento das potencialidades dos
cidadãos”. Ou seja, quanto mais envolvido nas questões públicas estiverem as
pessoas, com maior competência irão exercer seu papel de cidadão. Essa
concepção pode ser compreendida a partir das relações que os indivíduos
podem desenvolver com a política de duas maneiras, sendo que a primeira
seria pelos fins que supostamente pretende alcançar com ela e a segunda está
refletida no fato de o cidadão poder ampliar a sua autoestima quando participa
de decisões importantes.
A perspectiva de discutir a participação no contexto escolar
implica no entendimento de que a inserção de todos os sujeitos é premissa fundante para que os rumos e definições na busca da democratização da escola sejam alcançado. A participação é condição para a construção de uma gestão democrática e caminho para consolidar uma cultura democrática no âmbito educacional. Além, disso a participação constitui-se em uma prática formativa, de inserção dos sujeitos em sua realidade, podendo ser concebida também com um fim em si mesma (ZIENTARSKI, OLIVEIRA e PEREIRA, 2010).
Neste sentido, a proposta de intervenção executada na escola buscou
inserir o debate sobre a participação dos sujeitos escolares nos diversos
espaços, abertos a partir de uma nova perspectiva balizada na legislação,
como na LBD/1996, que estabelece a gestão democrática pautada na
participação da comunidade escolar e local na definição dos rumos da escola
pública.
Outro autor que destacado nas referências teóricas é o professor Ângelo
Ricardo de Souza, com seu texto intitulado, Gestão de Escola: funções,
problemas e perspectivas na gestão escolar democrática. Tal texto foi
destacado em especialmente pelas análises que o autor tece em relação às
funções e potencialidades democráticas do Conselho Escolar.
Souza (2009) trata da democratização vinculada ao diálogo como uma
questão de superação social, ou como cita em Habermas (1986), essa
condição está vinculada ao desenvolvimento de uma ação comunicativa.
Souza (2009) argumenta que estudos empíricos relacionados aos
Conselhos Escolares apontam que a compreensão nas instituições escolares
sobre o potencial deste órgão é bastante limitado, quando se trata de questões
políticas ou técnicas. O conselho pode ser percebido como a voz da
comunidade dentro da escola na condução política escolar.
Por outro lado pode ser percebida uma série de problemas e
perspectivas na gestão escolar democrática, no que se refere à Escola
Estadual Jardim Boa Vista, onde a intervenção foi desenvolvida. Tais
problemas podem estar alocados na ação do Conselho Escolar e seu
funcionamento. Souza (2009) destaca esses problemas em quatro linhas
condicionantes, configuradas em materiais, ideológicas, institucionais e político-
sociais. Neste trabalho elege-se apenas um fator de cada condicionante como
problema ou dificuldade a serem superadas. Na questão material a principal
alegação dos pais de alunos para não participação é a falta de horários para
integração nas reuniões escolares. No campo ideológico destaca-se o receio
dos pais em participar ativamente do processo de pensar a escola, alegando
falta de compreensão do assunto educacional. No campo institucional pode ser
destacada a falta de conhecimento da legislação de ensino. E, finalmente em
nas questões político-sociais destaca-se a dificuldade de motivar as pessoas a
participar do Conselho Escolar.
Analisando a criação dos conselhos na estrutura das políticas públicas
brasileiras, constatamos que, até a década de 1980 os colegiados existentes
no cenário nacional eram predominantemente conhecidos como conselhos de
notáveis, e que o critério de escolha era o do saber e também de caráter
governamental, especialmente nas áreas de educação, saúde, cultura e
assistência social.
Com a redemocratização o desejo de participação comunitária se inseriu
na sociedade brasileira. Conforme destaca o manual do Programa Nacional de
Fortalecimento de Conselhos Escolares (BRASIL, 2004), os conselhos
representam hoje uma estratégia privilegiada de democratização das ações do
Estado.
A concepção destacada revela que:
os conselhos, embora integrantes de estrutura de gestão de sistemas de ensino, não falam pelo governo, mas falam ao governo, em nome da sociedade, uma vez que sua natureza é a de órgãos de Estado. O Estado é a institucionalização permanente da sociedade, enquanto os governos são transitórios (BRASIL, 2004,p,89).
Com o processo de redemocratização e com o advento da Constituição
Federal de 1988 a Secretaria Estadual de Educação do Paraná, a partir da com
a Resolução nº 2.000/91 estabelece o Regimento Único Escolar para as
escolas públicas. Neste documento insere-se a necessidade de criação do
Conselho Escolar. De modo a efetivar o propósito de criação deste colegiado
foram elaborados materiais de apoio que foram enviados as escolas a partir de
2004, com vistas a contribuir com a democratização do sistema de ensino na
educação básica paranaense (PARANÁ, 2009).
Contudo uma crítica pode ser interposta em se tratando da criação dos
Conselhos Escolares no estado do Paraná, pois neste período de criação dos
colegiados escolares não foram efetivadas formações específicas promovidas
pela Secretaria Estadual de Educação (SEED) para os conselheiros escolares,
sendo que o processo todo cabe aos gestores nas unidades executoras.
Segundo Funks (2001, p.17)
a democracia tem uma profusão muito grande de significados e critérios, elementos que devem estar presentes em uma sociedade ou Estado Democrático, acreditamos que todo esforço para promover esse debate com um pouco de precisão é sempre bem vindo.
Portanto, o Estado precisa estar atento à questão de formação da
comunidade, para que esta possa compreender o sentido da participação e que
se integre aos espaços garantidos em lei de modo a contribuir no
planejamento, execução e avaliação das políticas públicas.
Essas afirmações formam um corpo teórico importante, em especial
quando empregadas no processo de formação de conselheiros. Tal enfoque
toma um caráter político entre as estruturas democráticas aqui expostas,
especialmente a corrente participacionista. O trabalho de formação de
conselheiros também foi embasado em experiências empíricas, onde
notadamente são percebidas orientações políticas e, mesmo que muito
subjetivamente essas orientações serão tratadas no trabalho.
O termo democracia é usado neste trabalho de forma subjetiva, não
fizemos uma pesquisa sobre a satisfação das pessoas ao participarem do
conselho escolar ou sobre seu entendimento em relação ao processo de
participação nas decisões políticas na escola, o projeto trabalha com a
formação de possíveis conselheiros no processo de gestão e o papel do
conselho frente a programas implantados na escola, o que de certa forma nos
conduz a propor essas discussões de caráter teórico e muito necessárias.
3. O fortalecimento do Conselho Escolar frente ao programa PDE-
Escola no Colégio Estadual Jardim Boa Vista
A partir do ano de 2007 o Índice de Desenvolvimento da Educação
Básica (IDEB) foi adotado como meio de avaliação de qualidade nas escolas
da rede pública em todo o Brasil. Este mecanismo está baseado em um índice
de medida pautado no resultado obtido pelo aluno e pela instituição em provas,
como por exemplo, a Provinha Brasil aplicada nas séries iniciais e a Prova
Brasil, aplicada nos anos finais do Ensino Fundamental da Educação Básica
brasileira, bem como em outros índices escolares, como evasão, abandono e
repetência.
O Ministério da Educação (MEC) por sua vez, adota o resultado
alcançado nesse sistema de avaliação para implantar em determinadas
escolas, programas como o PDE-Escola, medida essa, que aplicada, deve
melhorar aspectos pedagógicos e materiais das instituições. Por meio de um
formulário de perguntas e resposta o sistema possibilita o diagnóstico que
demonstra os pontos frágeis da escola e possíveis saídas, com aplicação de
recursos em determinado problema, então esse recurso passa a ser uma
solução para questões pedagógicas.
Segundo manual enviado às escolas brasileiras sob o título de Como
Elaborar O Plano de Desenvolvimento da Escola (BRASIL, 2006), O PDE-
Escola pode ser considerado a partir de um processo de planejamento
estratégico que a escola desenvolve para a melhoria da qualidade de ensino.
Segundo orientação, deve ser elaborado de modo participativo por toda a
comunidade escolar, contemplando assim as partes interessadas no programa.
Exige uma tarefa concentrada em definir o que é a escola, o que se pretende
fazer e onde deve chegar. Esses critérios encaminhados no manual são pré-
estabelecidos, ficando uma pequena margem para a escola discutir onde e
como quer melhorar sua qualidade de ensino e aprendizagem. O programa e
os recursos devem concentrar esforços em disciplinas onde, segundo
diagnóstico, exige maior atenção e recursos para sanear o problema.
O documento explicita que, “no PDE, a escola analisa o seu
desempenho, seus processos, sua relação interna e externa, seus valores, sua
missão, sua condição de funcionamento e seus resultados” (BRASIL, 2006,
p.21).
Segundo Taques (2011), na gestão educacional alguns programas e sua
implantação trazem consigo, certa dose de contradições na esfera democrática
da escola pública nos dias atuais como, por exemplo, a forte concepção
gerencialista na condução das políticas educacionais e os fundamentos
pautados em princípios democráticos onde a participação de órgãos colegiados
nas decisões escolares são apregoadas como fundamentos de participação na
gestão democrática. Contudo há um grande enfoque para o fortalecimento de
Conselhos Escolares e que também é expressa no programa PDE-Escola.
O Conselho Escolar foi inserido no contexto da escola, a partir da
década de1980 com o inciso VI, do artigo 206 da Constituição Federal de 1988.
A LDB n. 9.394/96 estabelece toda a organização legal da educação brasileira,
entre um de seus princípios está definida a gestão democrática do ensino
público. No Estado do Paraná a resolução n. 2.000/91 estabeleceu o
Regimento Único para toda a rede pública estadual de ensino. Neste regimento
constava a existência do Conselho Escolar.
No Art. 15 nos parágrafos I e II do estatuto do Conselho Escolar,
delineado pela SEED/, às escolas públicas estaduais paranaenses, estão
destacados os princípios de representatividade e de proporcionalidade dos
membros que compõem o Conselho; sendo 50% (cinquenta por cento) para a
categoria comunidade atendida pela escola: Grêmio Estudantil, pais de alunos,
APMF e movimentos sociais organizados da comunidade e 50% (cinquenta por
cento) para professores, equipe pedagógica e funcionários. Cabe destacar
também que as eleições para os representantes devem ocorrer segundo o
manual de dois em dois anos podendo haver uma única reeleição (PARANÁ,
2009).
O problema posto no início deste trabalho está relacionado a questões
de ordem de formação por parte dos conselheiros tanto no que tange a
questões ligadas a aspectos democráticos de uma gestão como também a
questões de natureza legal na atuação dos conselheiros no que diz respeito a
uma gestão qualificada, em especial na relação entre Conselho Escolar e
implementação do Programa PDE-Escola.
Cabe destacar que o primeiro passo para o recebimento de parcelas
complementares do PDE pelas escolas, segundo a coordenadoria de Gestão
Escolar da Secretaria Estadual de Educação (SEED), é a participação
obrigatória dos membros do Conselho Escolar na definição das ações dos
planos de ações e responder a autoavaliação e o monitoramento da parcela
principal no Sistema Integrado de Monitoramento Execução e Controle
(SIMEC). Portanto, responder a autoavaliação se constitui em pré-requisito
para a escola fazer o preenchimento do Plano de Ação para o recebimento da
Parcela Complementar (BRASIL, 2011). Também cabe a todos os membros do
Conselho assinar, em conjunto com a Direção da Escola, um termo de
cumprimento de objetivos do PDE-Escola em relação ao correto destino do
dinheiro recebido pela unidade escolar, em conformidade com o Plano de
Desenvolvimento da Escola, nas ações financiáveis e que foram executados
pela APMF do Colégio.
Convém destacar que a intervenção pedagógica no Colégio Estadual
Jardim Boa Vista efetivou-se no primeiro semestre de 2014, portanto, não
ocorre ao mesmo tempo em que os recursos do PDE-Escola foram aplicados.
Neste sentido, a implementação da proposta centrou-se, a rigor, uma formação
para conselheiros e futuros conselheiros, tendo o programa PDE-Escola como
elemento de reflexão sobre a possibilidade de articular o papel do Conselho
Escolar em uma situação concreta para aquela comunidade escolar.
4. Reflexões em torno da implementação da intervenção pedagógica
A metodologia usada na aplicação do projeto de intervenção foi definida
para atender o público de professores, pais de alunos e demais convidados,
em reuniões, com a presença inicial de quinze pessoas. Os momentos
destinados aos encontros foram delimitados nas quintas-feiras, no período da
noite, nas dependências do colégio.
Como o material didático-pedagógico foi dividido em unidades temáticas,
essas foram organizadas em encontros. Cada unidade foi didaticamente
separada em três encontros, sendo que, em cada um deles ocorreu a
abordagem de um tema com diferentes estratégias. Após a exposição do
assunto o mesmo era encerrado com uma atividade, às vezes uma dinâmica
coletiva, às vezes uma atividade prática individual.
O programa estabelecido para a intervenção tinha como finalidade
fornecer aos interessados subsídios para compreensão e funcionamento do
Conselho Escolar e suas funções na escola. Constatou-se que a maioria os
participantes já tinha certo conhecimento do que representa o Conselho
Escolar, uma vez que, dos quinze participantes dez já fizeram ou fazem parte
do conselho da escola. Os demais são pais de alunos que ainda não chegaram
a participar ativamente deste colegiado.
No primeiro encontro o propósito esteve em reconhecer o que
significado FUNDEB, sua função, formas de distribuição de recursos, a origem
de tais recursos e como a comunidade pode consultar os valores aplicados
pelo governo em municípios e escolas.
O questionamento realizado junto aos participantes, ao final deste
encontro, foi em relação aos valores apresentados como forma de repasse de
dinheiro por aluno, e se a sua aplicação é suficiente para assegurar uma
educação de qualidade às crianças e jovens que frequentam o ensino básico
brasileiro. O desfecho foi satisfatório quanto à compreensão das pessoas
envolvidas em torno da temática do financiamento da educação pública no
Brasil. Os participantes ficaram conhecendo os principais sites governamentais
para novas pesquisas futuras sobre o assunto, caso esses tenham interesse.
O segundo encontro foi o que mais proporcionou debate entre os
participantes. A maior evidência disso, talvez, esteja no fato de que os atores,
neste momento, deixam de ser visitantes para se colocarem em uma situação
concreta que ocorreu no Colégio Estadual Jardim Boa vista. O tema explorado
neste momento foi a implantação do programa PDE-Escola.
Até 2005, o referido programa era destinado exclusivamente às
unidades escolares de Ensino Fundamental localizadas nas chamadas Zonas
de Atendimento Prioritário (ZAPs) das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste
do país. Estas zonas eram escolhidas entre aquelas com baixo Índice de
Desenvolvimento Humano (IDH) e abrangiam um número restrito de escolas e
municípios (em média, 3800 escolas e 450 municípios, entre 2005 e 2007). O
Ministério da Educação entendeu que seria necessário um mecanismo que
envolvesse diretamente as escolas com o Índice de Desenvolvimento da
Educação Básica (IDEB) de uma maneira mais crítica. Deste modo, ocorre a
adoção do PDE-Escola junto às unidades escolares cujo IDEB estivesse abaixo
de 3,7 pontos.
Quando agregamos os dados do Colégio Boa Vista referentes à
aplicação das verbas do programa, os participantes superaram o interlocutor
em número de intervenções. Foram analisados o IDEB, a evasão, a reprovação
e os valores destinados a essa unidade executora pelo PDE-Escola. Quando
considerada a distribuição da verba por segmento, ou seja, por área de
conhecimento onde o diagnóstico do programa detectou maior fragilidade na
escola, o interlocutor fez sua intervenção comentando que na distribuição de
deliberações por segmento no Conselho Escolar existe uma tendência de
convergência para áreas que tenham maior conhecimento ou se manifestem
mais insistentemente quando querem fazer prevalecer sua experiência dentro
da escola.
No caso específico do Colégio Estadual Jardim Boa Vista, tivemos
acesso às planilhas que alimentaram o sistema do SIMEC, que é um portal do
Ministério da Educação, onde são gerados os dados para cada escola que é
inserida no PDE-Escola. As fragilidades apontadas no diagnóstico apontavam
maior ênfase nas disciplinas de língua portuguesa, matemática e no ensino de
ciências. Um outro ponto em destaque, foi a não participação dos pais dos
alunos na rotina escolar dos filhos. Os participantes foram quase que unânimes
em dizer que em um cenário destes, é necessário que haja uma maior
participação de toda a comunidade escolar em qualidade e quantidade no dia a
dia da escola.
Finalizando a Unidade I durante o desenrolar do terceiro encontro,
priorizou-se a analise dos resultados esperados do programa PDE-Escola no
Colégio Estadual Jardim Boa Vista.
Cabe destacar que este processo é
coordenado pela liderança da escola para o alcance de uma situação desejada, de uma maneira mais eficiente e eficaz, com a melhor concentração de esforços e recursos. No PDE, a escola analisa o seu desempenho, seus processos, suas relações internas e externas, seus valores, sua missão, suas condições de funcionamento e seus resultados. A partir dessa análise, projeta o futuro, define aonde quer chegar, quais as estratégias que adotará para alcançar seus objetivos, qual processo será desenvolvido, quem está envolvido em cada processo e qual o perfil de saída dos seus alunos (BRASIL, 2006).
Houve consenso entre os participantes do grupo sobre ter ocorrido uma
evolução no IDEB da escola, de 3,7 em 2009 para 4,8 em 2011, sendo que
este último resultado se manteve também em 2013. Portanto os participantes
manifestaram que a aplicação de verbas em maior quantidade na educação é
sempre benéfica. Outro destaque foi a análise do processo decisório do
Conselho Escolar. Chegou-se ao consenso de que este órgão deve assumir
um espaço de mobilização e de participação política na escola, emitindo
pareceres de assuntos de sua competência, como por exemplo, quando da
prestação de contas dos recursos recebidos pelo colégio.
A unidade II do material pedagógico teve sua ênfase na gestão
democrática e participativa, portando projetou-se a discussão, durante os três
encontros, nas possibilidades atribuídas a esse modelo de gestão, na
participação, na vontade da maioria expressa por seus representantes por meio
do diálogo.
Um ponto a ser destacado nesta unidade diz respeito às funções do
Conselho Escolar, sua composição e atuação. Ocorreu uma reflexão muito
interessante sobre a criação e atuação de órgãos de apoio, decisão e controle
público da sociedade civil na administração pública, considerando que o
conselho escolar é uma instancia de discussão, acompanhamento e
deliberação, na qual se busca incentivar uma cultura democrática, participativa
e cidadã (BRASIL, 2011). Houve, de certa forma, uma dificuldade entre os
participantes em organizar as funções do conselho e como cada qual se aplica.
Ainda que todos percebam como função principal deste colegiado a evidência
na tomada de decisões pode ser questionada que tipo de decisões e como elas
são tomadas.
Em um dos fóruns de discussões, onde a participação dos órgãos
colegiados foi inserida como principal aliado da gestão democrática, percebeu-
se que a expressão fiscalização se fez presente inúmeras vezes. A ação
pedagógica, por exemplo, ocupou um espaço reduzido nas atribuições das
quais os participantes consideravam ser as de maior importância. Por outro
lado, quando se trata de formular hipóteses sobre o baixo envolvimento da
comunidade escolar em atividades de inclusão e informação das pessoas a
respeito de órgãos colegiados, a responsabilidade é quase sempre atribuída à
direção da escola.
Outra questão relevante destacada nestes fóruns foi colocada por
professores que participaram do curso de formação, sobre a baixa adesão de
docentes na participação do Conselho Escolar, os motivos recaiam quase
sempre na falta de interesse e problemas de disponibilidade de horários.
O Plano Nacional de Educação, que teve sua vigência até 2011, já
fixava entre seus objetivos e metas a implantação de Conselhos Escolares nas
escolas de educação infantil, ensino fundamental e médio, visando “promover a
participação da comunidade na gestão das escolas, universalizando, em dois
anos, a instituição de Conselhos Escolares ou órgãos equivalentes” (BRASIL,
2011, p.11). Contudo, isto não chegou se efetivar no âmbito de todas as
escolas públicas brasileiras.
Nesta unidade o aspecto da participação na gestão democrática das
escolas foi evidenciado como o alvo central das discussões. Mesmo para os
participantes mais acostumados a tratar de questões políticas e de participação
popular em movimentos sociais, o termo gestão democrática, assume contorno
de subjetividade muito elevado, em determinados momentos constatou-se que
algumas discussões tratavam mais de questões ideológicas e pessoais dos
participantes.
A Unidade III do material pedagógico-pedagógico usado na formação
dos membros do Conselho Escolar tratou da eficácia do Programa PDE-Escola
e suas implicações no processo de ensino e aprendizagem no Colégio
Estadual Jardim Boa Vista.
Como já apresentado anteriormente, o IDEB do Colégio Estadual Jardim
Boa Vista, no ano de 2009, levando-se em conta a nota dos alunos das séries
finais do ensino fundamental, associado as taxas de evasão e reprovação
escolar foi de 3,7 (BRASIL, 2013).
Segundo critérios adotados pelo MEC para o ano de 2009, o Programa
PDE-ESCOLA seria implantado em todas as unidades escolares cuja nota
fosse inferior a 3,8 considerando o seu desempenho no IDEB (BRASIL, 2009).
Portanto os critérios adotados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais Anísio Teixeira (INEP) para ingresso das escolas no Programa
PDE-Escola, incluem o Colégio Estadual Jardim Boa Vista neste programa.
Os encontros estabelecidos para análise da última unidade tiveram
como objetivo principal, proporcionar que os participantes relacionassem os
pontos frágeis na relação à aprendizagem dos alunos, considerando em vista
os recursos aplicados para supostamente sanear esses problemas.
Nestes encontros finais os participantes demonstraram mais aderência,
quando o assunto envolvia ações financiáveis nos pontos considerados frágeis
na relação ao ensino-aprendizagem e papel fiscalizador que o Conselho
Escolar tem na aplicação dos recursos do Programa PDE-Escola. Sem dúvida
os encontros produziram uma atitude mais participativa das pessoas presentes
na formação, em especial em relação ao assunto envolvendo Conselho
Escolar, as políticas públicas e o Programa PDE-Escola.
5. Considerações Finais
Durante o trabalho de implementação pedagógica do projeto de
intervenção no espaço do Colégio Estadual Jardim Boa Vista, constatou-se um
problema que é recorrente e muito presente no cotidiano da escola: a baixa
adesão da participação da comunidade em assuntos relacionados a vida
escolar dos seus filhos e ainda muito mais distante da participação na
construção da coisa pública no que diz respeito ao conceito de escola aqui
tratado.
Além do trabalho de implementação na escola com os integrantes do
Conselho Escolar, foram abordadas as principais questões relacionadas ao
projeto junto à um grupo de dezessete professores participantes do curso de
formação a distância ofertado pela Secretaria Estadual de Educação em um
ambiente virtual denominado de GTR. Neste grupo puderam ser relacionadas
às compreensões dos professores sobre o projeto e sua implementação. Tais
reflexões somadas aos resultados obtidos no colégio permitem a reflexão de
que as ferramentas utilizadas foram compreendidas pelos participantes e que o
assunto foi relevante para a formação pretendida.
Ao longo do trabalho desenvolvido pode ser considerado como um ponto
ainda muito subjetivo e que ainda se encontra em fase embrionária, em grande
parte das escolas públicas, é a cultura política, o debate e a participação em
assuntos relevantes que supostamente deveriam ser discutidos entre os
cidadãos, como por exemplo, políticas educacionais ou mesmo processos de
gestão escolar na escola.
Por fim, espera-se que as reflexões elencadas nesse artigo possam ser
o ponto de partida para futuros debates envolvendo práticas de gestão
democrática, de modo a integrar a comunidade e a superar os desafios na
construção de uma base participativa, que as escolas tanto necessitam.
Referências
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