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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
A RELAÇÃO TEORIA E PRÁTICA NO CURSO TÉCNICO EM ADMINISTRAÇÃO1
FABIAN, Mauro Donizeti2
Resumo: O aluno, ao ingressar num curso técnico, traz várias expectativas, principalmente na busca de um conhecimento e/ou aperfeiçoamento que melhore suas condições no mundo do trabalho. Por esse norte, a angústia consiste em até que ponto o curso Técnico em Administração consegue atender essas expectativas. Em que medida o currículo do curso consegue viabilizar a relação educação profissional e o mundo do trabalho? De que forma o curso Técnico em Administração pode integrar a teoria à prática, estreitando a relação entre a educação profissional e o mundo do trabalho? Este artigo, objetiva, justamente, demonstrar as pesquisas realizadas neste sentido e trazer reflexões sobre a integração entre a teoria e a prática no curso Técnico em Administração e o mundo do trabalho, por meio de pesquisas bibliográficas, que mostram a evolução das teorias da administração, retratando a influência de intelectuais como Aristóteles, Marx, Descartes e Maquiavel. Aborda, ainda, a participação da Igreja Católica e das Organizações Militares com suas estruturas e princípios servindo de modelo para a consolidação das teorias. Destaca, também, a Revolução Industrial, com o surgimento das fábricas, bem como a nova concepção de trabalho, modificando as estruturas da época. Diante destes contextos, surgem diferenciadas teorias, como a Administração Científica, de Taylor; o Fordismo; a Teoria Clássica de Fayol, a Teoria da Burocracia de Weber e a Teoria das Relações Humanas. Assim, tais teorias, como produto do século XX, oportunizaram o surgimento de novas tendências no administrar, principalmente com o modelo japonês, denominado “toyotismo”. Incorporados à conceitos já existentes, surgem outros como: qualidade total, responsabilidade social e ambiental, empreendedorismo. Compreender as teorias é um desafio do curso técnico, relacionando-as com a prática, buscando uma unidade e a produção científica, com o intuito de formar o educando para o mundo do trabalho, em constante transformação. A implementação do projeto se dá por meio de questionamentos aos alunos sobre suas expectativas e os conhecimentos adquiridos no curso que viabilizem sua atuação no mundo do trabalho, bem como o desenvolvimento de atividades que procuram relacionar o conteúdo estudado à prática administrativa, e a solicitação do envolvimento dos professores a fim de que o conhecimento não fique fragmentado.
Palavras-chave: Administração. Educação Profissional. Teoria/prática. Mundo do trabalho.
INTRODUÇÃO
A temática do presente estudo foi escolhida com base em minha trajetória na
educação profissional. Desde a formação em nível médio: técnico em Contabilidade –
até por falta de opção, já que, na época, o único ensino de “2º grau” noturno era este
– até o ensino superior, quando cursei Bacharelado em Ciências Contábeis. Já como
docente, também atuei no Curso Técnico em Contabilidade, de 1993 à 1998.
1 Artigo científico apresentado ao Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) ofertado pela
Secretaria de Estado da Educação do Paraná, sob orientação da Prof.ª Ma. Roberta Negrão de Araújo (Universidade Estadual do Norte do Paraná/Campus Cornélio Procópio/Centro de Ciências Humanas e da Educação/ Colegiado de Pedagogia). 2 Professor da rede estadual de ensino. Colégio Estadual Professor Mailon Medeiros- Bandeirantes/PR.
2
Com a aprovação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
(LDBEN), nº 9.394/96, e com o Decreto nº 2.208/97, estabeleceu-se uma nova
configuração na Educação Profissional, reduzindo muito a oferta de cursos
profissionalizantes. Nesse contexto, no Paraná, houve resistência do Curso Técnico
em Agropecuária, ofertado nos Colégios Agrícolas, e os Cursos para Formação de
Docentes que, na época, denominava-se Magistério, permanecendo a oferta dos
mesmos.
O Decreto nº 2.208/97, em seu art. 5º, dispõe que “[...] a educação profissional
de nível técnico terá organização curricular própria e independente do Ensino Médio,
podendo ser oferecida de forma concomitante ou sequencial a este”. Dessa forma,
previu-se, também, a organização em forma de módulos. Na oportunidade, trabalhei
com o Curso Técnico em Agropecuária, ofertado no Colégio Agrícola Fernando Costa
(hoje Centro Estadual de Educação Profissional Agrícola – CEEPA, localizado no
município de Santa Mariana), seguindo a referida organização, na qual o aluno
poderia já ter concluído o Ensino Médio ou estar no 2º ano, cursando em outra
instituição de ensino e fazê-lo concomitante. A partir de 2004, amparado pelo Decreto
nº 5.154, o colégio voltou a ofertar o Ensino Médio Integrado e o subsequente no
período integral.
Em 2009, transferi-me para o Colégio Estadual Professor Mailon Medeiros, no
município de Bandeirantes. Passei, então, a atuar como docente no Curso Técnico
em Administração. Em 2013, os cursos técnicos do referido colégio passaram a ser
ofertados somente na modalidade “subsequente”. Esta é destinada para o aluno que
já concluiu o ensino médio e procura uma formação profissional.
O aluno, ao ingressar em um curso técnico, traz várias expectativas,
principalmente na busca de um conhecimento e/ou aperfeiçoamento que melhore
suas condições no mundo do trabalho. Por esse norte, enquanto profissional, propus-
me a pesquisar sobre até que ponto o curso consegue atender essas expectativas,
visto que o principal problema detectado, hoje, no Curso Técnico em Administração é
a evasão, que fica sempre em torno de 50% (cinquenta por cento).
Considerando o exposto, refletimos: em que medida o currículo do curso
consegue viabilizar a relação educação profissional e o mundo do trabalho? E ainda,
é possível realizar, na prática escolar, uma relação que visualize essa teoria e a
aproxime da realidade que o aluno vivencia? Diante destas indagações, escolhemos
3
tal temática que serviu de base para o desenvolvimento do projeto de intervenção
pedagógica.
Como objeto de estudo, selecionamos o Plano de Curso do Técnico em
Administração, bem como as mudanças históricas e políticas na educação
profissional, buscando a integração teoria/prática como forma de solidificar a relação
entre a educação profissional e o mundo do trabalho, de forma a atender as
expectativas do estudante que o procura. Assim, tivemos como ponto de partida o
seguinte problema: De que forma o curso técnico em administração pode integrar a
teoria à prática, estreitando a relação entre a educação profissional e o mundo do
trabalho?
A partir do questionamento, elencamos como objetivo geral: promover a
integração entre a teoria e a prática no curso Técnico em Administração e o mundo
do trabalho. Este, por sua vez, foi detalhado em objetivos específicos: apresentar a
evolução das teorias da Administração; aprofundar o conhecimento da relação entre
a teoria e a prática e como se procura construir essa relação; conceituar o mercado e
o mundo do trabalho; investigar junto aos alunos suas expectativas em relação ao
curso e a utilização do conteúdo escolar na sua prática profissional e propor atividades
que aproximem o conteúdo teórico da prática profissional.
Para demonstrar os resultados obtidos, o presente artigo encontra-se
organizado em quatro seções. A primeira, intitulada “Administração: A evolução de
suas teorias”, aborda as influências na Administração desde a Antiguidade, as quais
se tornaram teorias que solidificam as técnicas e práticas da Administração
Contemporânea. Na segunda, “A práxis na Educação Profissional”, discutimos como
acontece a relação teoria e prática no Curso Técnico. Na terceira, denominada “Curso
Técnico em Administração e a formação para o mundo do trabalho”, buscamos
compreender as relações no mundo do trabalho, o mercado que a escola está
inserida, e de que forma o curso técnico realiza a formação do aluno para o mundo do
trabalho, não atendendo apenas as expectativas momentâneas de mercado. Na
quarta e última secção, “Projeto de Intervenção Pedagógica: avanços e dificuldades
na pesquisa”, relatamos as atividades desenvolvidas no Colégio Professor Mailon
Medeiros, a aceitação e resistência de professores e alunos, e as contribuições de
professores no GTR.
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1 ADMINISTRAÇÃO: A EVOLUÇÃO DE SUAS TEORIAS
Muitas das teorias e técnicas usadas para administrar as organizações da
atualidade são ideias que evoluíram do passado. A Administração recebeu várias
influências desde os tempos da Antiguidade, inclusive dos filósofos. Platão, por
exemplo, em suas obras, já analisava os problemas políticos e sociais, e as formas
de governo e administração dos negócios públicos, Aristóteles, também, em seu livro
“Política”, onde relata a organização do Estado, distingue as três formas de
administração pública: Monarquia, Aristocracia e Democracia.
Ao longo dos séculos, até a Idade Moderna, a Filosofia distanciou-se dos
problemas administrativos. Como seu maior expoente, René Descartes, filósofo,
matemático e físico, celebrizou a descrição de seu método, denominado cartesiano,
que influenciou não só a matemática, mas inspirou a teoria administrativa até o final
da Era Industrial, servindo de fundamento para a definição de vários princípios da
Administração, como os da divisão do trabalho, da ordem e do controle.
Outros filósofos, influenciaram a Administração, entre eles podemos destacar,
no século XVIII, Karl Marx e Friderich Engels, que propõem uma teoria da origem
econômica do Estado. “O surgimento do poder político e do Estado nada mais é do
que o fruto da dominação econômica do homem pelo homem” (CHIAVENATO, 2001,
p.35). Estes, influenciaram a Administração e a Economia, evidenciando a luta de
classes, os homens livres e escravos, nobres e servos, mestres e artesãos, enfim
exploradores e explorados. Chiavenato (2001), citando Marx, evidencia que:
todos os fenômenos históricos são o produto das relações econômicas entre os homens. O marxismo foi a primeira ideologia a firmar o estudo das leis objetivas do desenvolvimento econômico da sociedade, em oposição aos ideais metafísicos (p.36).
Destacamos também as ideias e influência de Maquiavel que, por meio de sua
obra mais conhecida “O príncipe”, faz recomendações sobre como um governante
deve comportar-se. Segundo Maximiano (2004), Maquiavel é um analista do poder e
do comportamento dos dirigentes e, se tivesse vivido entre o século XX e XXI, seria
um escritor de textos de Administração e liderança. Muitas de suas ideias que
aparecem em “O príncipe” são utilizadas na nossa época.
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1.1 A influência da Igreja Católica, da Organização Militar e da Revolução
Industrial
Na medida em que o Império Romano desaparecia, os princípios de
organização foram transferindo-se para a Igreja Católica. Tal instituição herdou muito
das tradições administrativas dos romanos como a administração de território, com
suas dioceses, províncias e vigários. A Igreja Católica estruturou a sua organização
com uma hierarquia de autoridade, Chiavenato (2001) cita que: “A organização
hierárquica da Igreja é tão simples e eficiente que a sua enorme organização mundial
pode operar sob o comando de uma só cabeça executiva: o Papa” (p.37), essa
estrutura hierárquica da igreja serviu de modelo para muitas organizações que
incorporaram seus princípios administrativos.
Outra grande influência, não só nas organizações empresariais, mas também
na organização de nossas escolas, foi a militar, principalmente nos seus conceitos de
estratégias, planejamento, organização e hierarquia. Desde os tempos de Esparta e
Roma, as organizações militares influenciam a Administração, a organização linear
tem suas origens na organização militar dos exércitos, como também o princípio da
unidade de comando, o princípio da direção, a hierarquia. Nas teorias baseadas na
organização militar, uma das grandes influências é que toda organização requer
planejamento e disciplina, nas quais as decisões devem ser científicas e não intuitivas.
Não podemos deixar de citar também a influência da Revolução Industrial,
com sua principal invenção: a máquina a vapor, a partir da qual surge uma nova
concepção de trabalho que modifica a estrutura da época. É um século de grandes e
rápidas mudanças de ordem econômica, política e social.
Na 1ª fase da Revolução Industrial (1780 a 1869), temos a mecanização da
indústria e agricultura e a transformação das pequenas oficinas em fábricas. Com o
surgimento das indústrias, a massa humana migra das áreas agrícolas para as
proximidades das fábricas, o que ocasiona o espetacular crescimento dos transportes
e das comunicações. As várias invenções produzem, neste contexto, um forte
desenvolvimento econômico, social, tecnológico e industrial, e profundas
transformações nas relações de trabalho, onde o artesão da sua pequena oficina
passa a ser operário nas grandes fábricas, definindo um controle capitalista nas
atividades econômicas.
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Já a 2ª fase, de 1860 à 1914, foi marcada pela substituição do ferro pelo aço,
do vapor pela eletricidade e um crescente domínio da indústria pela ciência. Mas,
apesar da Revolução Industrial provocar profundas modificações empresariais e
econômicas, não mudaram os princípios de administração que as empresas
utilizavam. Os dirigentes das empresas continuaram com seus modelos das
organizações militares ou eclesiásticas dos séculos anteriores. Entretanto, com o
crescimento da indústria, houve um grande aumento de operários sem
regulamentação, as relações de conflitos se intensificam e favoreceram o surgimento
de novas teorias e princípios de Administração.
1.2 A Administração Científica
A Administração desenvolveu-se ao longo da história da humanidade de
forma lenta. O trabalho sempre existiu, mas as organizações e a forma de administrá-
la tiveram início tempos depois. Durante 400 (quatrocentos) anos, muitas coisas
importantes aconteceram para a história da Administração, principalmente no período
da Revolução Industrial, mas somente a partir do século XX é que ela apresentou um
desenvolvimento notável trazendo inovação. Segundo Maximiano (2004), foi nessa
época que surgiram e cresceram grandes empresas para fornecer produtos que as
pessoas desejavam como automóveis, lâmpadas elétricas, telefones, dentre outros.
As empresas industriais expandiam-se aceleradamente na Europa e Estados
Unidos, surgindo, assim, a necessidade de estudar formas de lidar com as enormes
quantidades de recursos humanos e materiais de todos os tipos, já que os operários
se expandiam sem nenhuma organização, porque não existiam, até o momento,
profissionais especializados. Os materiais e capitais também aumentavam e a
Administração era a mesma de outros séculos, sendo insuficiente para as novas
exigências.
Tem início, então, a Administração enquanto ciência aplicável à solução de
problemas, a chamada Escola da Administração Científica e ela começa a ser
estruturada a partir dos estudos de Frederick Winslow Taylor, que conseguiu montar
um conjunto de princípios e técnicas para tratar da eficiência. Líder de um grupo que
promoveu o movimento da administração científica, Taylor teve inúmeros seguidores
como Gantt, Gilbreth, Emerson, Ford e Barth. Maximiano destaca que “Os princípios
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e as técnicas criados por esse movimento procuravam aumentar a eficiência da
produção por meio da racionalização do trabalho, para evitar o desperdício e promover
a prosperidade dos patrões e empregados.” (2004, p.54).
As contribuições de Taylor para resolver os problemas da Administração,
constam entre as mais importantes da história das teorias e muitas de suas ideias são
utilizadas atualmente. Uma das características principais da teoria dele era fazer o
rendimento do trabalhador aumentar de acordo com seu esforço. Para tanto, usava
um sistema de pagamento por peça produzida, conseguindo aumentar
expressivamente a eficiência. Em umas das experiências realizadas, Taylor
demonstra que a produtividade mais elevada resulta da minimização do esforço
muscular. A questão não é trabalhar duro, nem depressa, mas trabalhar de forma
inteligente. De acordo com Maximiano,
Taylor fazia os estudos de tempos e movimentos. Taylor cronometrava os movimentos dos trabalhadores, dividindo-os nas tarefas que os compunham, chamando-as de unidades básicas de trabalho. Em seguida, analisava as unidades básicas de trabalho, procurando encontrar a melhor maneira de executá-la e de combiná-las para a tarefa maior. As tarefas que passavam por esse processo estavam ‘taylorizadas’ (2004, p. 55).
Taylor analisou, assim, as organizações em suas estrutura, inicialmente junto
com os operários no nível de execução, e teve o mérito de assimilar e disseminar um
conjunto de princípios que vinham ao encontro de uma necessidade. Seus estudos de
tempos e movimentos, descrições de cargos, organização e métodos, racionalização
do trabalho, são algumas das ideias que foram recebidas com entusiasmo.
1.2.1 O Fordismo e a Linha de Montagem
O taylorismo desenvolveu-se na época em que a indústria se expandia, e o
mais conhecido precursor da Administração Científica, que colocou em prática nas
suas indústrias os conceitos de Taylor, foi Henry Ford, industrial de automóveis que
inovou com a linha de montagem, elevando os dois princípios da produção em massa:
peças padronizadas e trabalhador especializado.
De acordo com Maximiano (2004), na produção massificada, cada peça pode
ser montada em qualquer sistema e para alcançar a padronização, Ford passou a
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utilizar o mesmo sistema de calibragem para todas as peças. Esse princípio deu
origem ao controle de qualidade, que assegurava a uniformidade das peças. Na
produção massificada, o processo de fabricação é dividido em etapas, cada pessoa
ou grupo de pessoas tem uma tarefa fixa dentro do processo, essa divisão do trabalho
implica a especialização do trabalhador.
Hoje, em qualquer indústria de grande porte, pode-se constatar a influência
da linha de montagem. A tecnologia avançou, temos os computadores e cronômetros
digitais ao lado dos operários, mas os princípios de Taylor continuam a existir.
Maximiano destaca, “engenheiros de produção ou especialistas em organização e
métodos continuam circulando, fazendo anotações em pranchetas, desenhando
fluxogramas, cronometrando e filmando as operações para, em seguida, torná-las
mais eficientes.” (2004, p. 57).
Os princípios de Taylor, na realidade, introduzem os quatro processos
administrativos que orientam a administração até hoje: Planejamento, Organização,
Execução e Controle.
1.3 Teoria Clássica
Enquanto Taylor desenvolvia a Administração Científica, surgia na França a
Teoria Clássica da Administração, encabeçada por Henri Fayol, um engenheiro e
diretor de empresa. A Administração Científica caracterizava-se pela ênfase na tarefa
executada pelo funcionário, enquanto que na Teoria Clássica, a ênfase era na
estrutura que a organização devia possuir para ser eficiente, ambas buscavam a
eficiência.
Fayol criou sua teoria com base na experiência de administrador bem
sucedido, cuidou da administração da empresa de cima para baixo, partindo do nível
de executivo, ao contrário de Taylor que partiu das atividades operacionais. Uma das
principais contribuições de Fayol for reconhecer que a administração deveria ser vista
separada das demais funções das empresas, identificando o trabalho do gerente
como sendo distinto das operações técnicas da empresa. Neste sentido, Maximiano
(2004) afirma que “Os gerentes que não conseguem perceber essa distinção
envolvem-se com os detalhes técnicos da produção e prestação de serviços,
negligenciando as funções de administrar toda a empresa” (p.58).
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Nesse período, surgiram outras teorias, como a Teoria da Burocracia de Max
Weber, que indicava uma forma de organização que se baseia na racionalidade das
leis. Nas presunções de Taylor, Fayol, Weber e outros teóricos, a preocupação básica
é o desempenho dos recursos e processos, as pessoas ficavam em segundo plano
como um recurso de produção. Para Maximiano, “a prioridade era a eficiência da
produção, naquele momento de expansão industrial, quando o importante era
aproveitar as oportunidades de mercado. As pessoas eram apenas peças humanas.”
(2004, p.60)
Assim, embora tenha contribuído para tirar a organização industrial do caos
que enfrentava com o avanço da Revolução Industrial, a Teoria Clássica pouco
avançou como uma teoria de organização contribuindo com a Administração. Para
Chiavenato (2001), a Teoria Clássica não se desligou do passado, ela concebeu uma
estrutura influenciada pelas concepções antigas de organização: tradicionais, rígidas
e hierarquizadas, com a estrutura organizacional analisada da direção para a
execução.
1.4 Teoria das Relações Humanas
Em um país democrático como os Estados Unidos, com o surgimento dos
sindicatos dos trabalhadores, passou-se a questionar os princípios da administração
como inadequados à democracia, considerados como um meio de exploração dos
empregados a favor dos interesses patronais. Surge, assim, um enfoque
comportamental, como uma maneira de enxergar as pessoas não como meros
recursos, mas como parte importante das organizações.
Essa teoria iniciou-se com um grupo de pesquisadores que realizaram um
estudo na Universidade de Harvard para uma empresa fornecedora de materiais para
o sistema telefônico. O estudo, coordenado por Elton Mayo, foi feito para descobrir se
as variações nas condições de trabalho teriam algum efeito sobre o desempenho dos
trabalhadores. Dessa forma, a Teoria das Relações Humanas nasceu da necessidade
de humanizar a Administração e libertá-la dos conceitos mecanicistas da Teoria
Clássica. Para Chiavenato (2001), é um movimento tipicamente americano, com um
padrão de vida democrático, que quebra os conceitos rígidos de administração.
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Os resultados dos estudos de Mayo e seus colaboradores, segundo
Maximiano podem ser sintetizados em, “o desempenho das pessoas era determinado
não apenas pelos métodos de trabalho, segundo a visão da administração científica,
mas também pelo comportamento” (2004, p.62).
Portanto, na Administração Científica, a ênfase era nas tarefas; na Teoria
Clássica, nas estruturas; e, na Teoria das Relações Humanas, a evidência é nas
pessoas, a qual contribuiu para mostrar a influência do fator psicológico na
produtividade e, sendo o homem um ser social, há vários tipos de lideranças.
1.5 Tendências Contemporâneas da Administração
Todas as teorias tiveram suas contribuições e, com o desenvolvimento das
grandes empresas, foram aperfeiçoadas. Assim, tais teorias são produtos do século
XX. No despontar do século, Taylor e Fayol, mesmo partindo de pontos de vista
diferentes, constituíram as bases da chamada Abordagem Clássica da Administração,
que dominaram as quatro primeiras décadas do século XX, no panorama
administrativo das organizações.
Na segunda metade do século XX, período pós guerra mundial, ocorre a
expansão dos meios de transporte, da indústria automobilística, das ferrovias e foi o
início da aviação. As comunicações também passaram por expansão do jornalismo e
do rádio.
Para Drucker (2001), as grandes transformações ao longo das eras
industriais, marcaram fortemente seus contornos e, hoje, estamos na Era da
Informação, com mudanças e incertezas constituindo suas principais características.
Para Maximiano (2004), a partir da metade do século XX, os conhecimentos
baseados nas proposições de Taylor e Fayol prosperaram em duas grandes
empresas: a Dupont e a General Motors, na contribuição de seus dirigentes Pierre Du
Pont e Alfred Sloan, que se preocuparam com a estrutura organizacional necessária
para administrar a totalidade das fábricas, preocupação que não existia em Ford e
Taylor.
Depois da segunda guerra mundial, as ideias e técnicas de Ford e Taylor
foram retomadas e modificadas no Japão, com princípios inovadores, dando origem
ao modelo de produção enxuta, criado pela Toyota, que se denominou como o
Toyotismo, e esse modelo foi levado ao Japão por um especialista americano, William
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Edwards Deming. Maximiano afirma que “O trabalho dos japoneses deu origem a duas
tendências importantes da administração moderna: a administração da qualidade total
e o modelo japonês de administração” (2004, p.71).
De acordo com Maximiano (2004), quando a produção em massa tornou-se
comum, percebeu-se que era preciso fazer peças em grande quantidade, e a
qualidade significava uniformidade. Este pensamento é presente até na atualidade;
quando evidenciamos “aprovado por controle de qualidade”, entendemos que não tem
defeito. Mas, qualidade não é só uniformidade. De acordo com as especificações,
Maximiano afirma
Qualidade é uma questão de satisfação do cliente. A qualidade nasce com a definição das especificações do produto, ouvindo-se a voz do cliente. A qualidade, depois disso, é construída passo a passo, nos processos de desenvolvimento de fornecedores, produção, distribuição, vendas e assistência técnica (2004, p.81).
A qualidade é garantida ao longo de todo o processo, a partir dos desejos e
interesses dos clientes, não apenas para encontrar defeitos no final. Com essa
filosofia de qualidade ao longo de todo o processo, o produto ou serviço chega ao final
sem defeitos, essa era a ideia apresentada por Deming aos japoneses nos anos 50.
Para certificar a qualidade desse produtos e garantir a qualidade dos
fornecedores, foi criada a International Organization for Standardization (ISO) uma
organização internacional com sede em Genebra, que criou as normas ISO 9000
adotadas em diversos países para regulamentar a relação entre fornecedores e
compradores. A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) é membro da ISO,
uma organização nacional de normalização que representa o Brasil.
As empresas não podem falar de qualidade de produto enquanto tiverem
trabalhadores mal pagos, sem condições sociais, sem qualidade de vida. A ideia de
qualidade de vida no trabalho propõe uma visão integrada do ser humano, já que a
relação entre stress e trabalho é evidente. Neste sentido, Maximiano enfatiza:
[...] atividades que requerem exaustivo esforço físico, ou que são alienantes, ou realizadas em ambiente de tensão, produzem efeitos psicológicos negativos, mesmo que a pessoa esteja fisicamente bem. O stress depende da capacidade de adaptação, que envolve o equilíbrio entre a exigência que a tarefa faz a quem realiza e a capacidade da pessoa que a realiza. Equilíbrio produz bem estar. Sem equilíbrio, resultam diferentes graus de incerteza, conflito e sensação de desamparo (2004, p.87).
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Assim, a administração deve buscar o equilíbrio no ambiente de trabalho, com
um bem-estar físico, psicológico e social, garantindo a satisfação e motivação de seus
trabalhadores para uma produção de qualidade.
1.5.1 Administração Empreendedora
No final do século XX, ficou evidente que as empresas deveriam renovar-se,
inovar, buscar a aprendizagem ou morreriam, surgindo, assim, a busca por pessoas
empreendedoras. Empreendedor é a pessoa com iniciativa, responsabilidade e
decisão, que tem flexibilidade no uso do tempo e recursos, possibilitam a formação de
equipes, correm riscos calculados, são criativas, saem da situação de conforto para
buscar a inovação.
Para Drucker(2001), para fazer o futuro acontecer significa criar uma empresa
diferente, incorporar a uma empresa a ideia de uma economia, uma tecnologia, uma
sociedade diferente, não tem que ser uma grande ideia, mas tem de ser diferente da
norma vigente no momento. “A ideia tem de ser empreendedora, uma ideia com
potencial e capacidade para produzir riquezas, expressa por uma empresa produtiva,
em funcionamento, trabalhando” (DRUCKER, 2001, p.161). De acordo com
Maximiano, surge um novo conceito
O conceito de intra-empreendedor, o empreendedor interno, os sonhadores que realizam ideias novas, assumindo a responsabilidade pela criação de inovações dentro da organização. O gerente e, de forma geral, os funcionários empreendedores, são os opostos dos conservadores, que trabalham apenas seguindo os manuais e mantendo as tradições (2004, p.90).
Não é necessário deixar as empresas para ser empreendedor, mas os
empreendedores valorizam sua autonomia, e as empresas que reconhecem esses
traços empreendedores procuram estratégias para retê-los, por meio de programas e
incentivos. Valorizam, hoje, o capital intelectual, um ativo intangível das empresas.
Para muitos autores, dentre eles Maximiano e Drucker, o conhecimento será a
principal vantagem competitiva das empresas por muitos anos do século XXI.
Pelo processo de globalização, o mundo apresenta-se como um mercado
aberto e sem fronteiras, novas ferramentas de administração surgem. Alguns valores
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como ética, trabalho em equipe e planejamento estratégico na gestão empresarial
fortificam-se, nascem outros como a busca da qualidade, responsabilidade social e
ambiental, alinhando-se à quantidade de informações e grandes mudanças,
principalmente tecnológicas. As empresas necessitam de uma administração que
busque a constante atualização e aperfeiçoamento para sobreviver em um mundo
sempre suscetível a turbulências, principalmente econômicas.
A tarefa básica da Administração é alavancar a produção da empresa por
meio de pessoas e recursos disponíveis de maneira eficiente e eficaz. Drucker (2001)
diz que, “não existem países desenvolvidos e países subdesenvolvidos, mas sim
países que sabem administrar a tecnologia e os seus recursos disponíveis e
potenciais e países que ainda não sabem” (p.35), e o mesmo ocorre com as empresas.
Para Drucker (2001), a administração é prática como outras profissões,
apoiando-se sobre uma teoria, que precisa ter rigor científico. Essa prática consiste
em aplicação, focando-se no específico, e exige experiência e intuição. É necessário
ter conhecimentos científicos e teóricos consistentes, assim como ter o olho clínico.
Na administração de uma organização, a essência é o ser humano, fazendo
com que essas pessoas sejam capazes de trabalhar em conjunto, que tornem eficazes
suas forças, superando seus limites em busca do resultado, é esse o objetivo da
administração. Drucker destaca que a administração é
[...] uma arte liberal. Ë “arte” porque, como vimos, é prática e aplicação e é “liberal” porque trata dos fundamentos do conhecimento, autoconhecimento, sabedoria e liderança. As origens do conhecimento e das percepções estão nas ciências humanas e sociais, nas ciências físicas e na ética, que devem ser focadas sobre a eficiência e os resultados das organizações (2001, p.68)
Segundo Drucker (2001), o importante em você conhecer a evolução das
teorias e técnicas não é para prever fatos, mas identificar os eventos que já
aconteceram para o mundo dos negócios, pois assim, é possível identificar os efeitos
previsíveis para as duas próximas décadas, preparando-se para o futuro que já
aconteceu. Outro fator decisivo para a maior parte das organizações, nos países
desenvolvidos, é a produtividade do conhecimento.
A administração, portanto, é fundamental nas empresas e, diante do cenário
de mudanças e inovações, o administrador deve possuir conhecimento geral, técnicas
e ferramentas administrativas, sensibilidade humana e capacidade de sempre buscar
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inovar no que está sendo feito, não ficar estagnado e à margem das inovações
tecnológicas e nas condutas morais e sociais.
2 A PRÁXIS NA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL
Para Drucker (2001), a administração é prática como a medicina, a advocacia
e a engenharia, apoiando-se sobre uma teoria. Os Cursos Técnicos em Administração
precisam fazer a relação teoria e prática, para não se prender somente aos conteúdos
teóricos.
A relação teoria e prática procura tirar a visão simples do empirismo e elevá-
lo a um conhecimento científico, Gramsci (1995), fazia essa relação com a unidade
entre intelectuais e massa.
O homem ativo das massas, inicialmente, atua praticamente sem ter clareza teórica de sua ação; essa compreensão do mundo vai sendo atingida nos movimentos de sua transformação. A luta pela hegemonia, faz esses homens ativos da massa ganharem organicidade, partindo inicialmente de um posicionamento ético, construindo a consciência política até atingir a chamada autoconsciência que, finalmente, é a união entre a teoria e a prática. Assim, a unidade entre teoria e prática não é um fato isolado, individual, é um fato construído no devir histórico (GRAMSCI, 1995 apud MARTINS, 2000, p.19)
A massa, os movimentos sociais, os trabalhadores atuam praticamente, a
partir do momento que tomam consciência política, que procuram bases filosóficas e
sociológicas, momento em que ocorre uma transformação na prática e mudanças de
posicionamento, e se constrói a unidade entre a teoria e a prática.
Para Ramos (2005), essa relação na educação passa pela integração dos
saberes escolares e saberes cotidianos. Na educação profissional, o sentido do saber
profissional é dado não somente pela habilidade técnica, mas pela habilidade técnica
baseada numa teoria. A educadora afirma que “[...] o currículo integrado organiza o
conhecimento e desenvolve o processo de ensino-aprendizagem de forma que os
conceitos sejam apreendidos como sistema de relações de uma totalidade concreta
que se pretende explicar/compreender” (RAMOS, 2005, p.116).
A integração do currículo, evitando a fragmentação dos conhecimentos,
ressaltando a unidade entre diferentes disciplinas, possibilita às pessoas
15
compreenderem além das aparências. Os conteúdos não se limitam a insumos para
o desenvolvimento de competências e técnicas, são conceitos e teorias de
apropriação histórica, levando a uma educação para a totalidade.
Situado em um mercado que procura profissionais cada vez mais versáteis,
onde os educandos buscam um espaço no mundo de trabalho, como o professor pode
lidar com essas expectativas e proporcionar o acesso ao saber teórico relacionado
com a práxis? Neste sentido, destaca-se que
[...] a escola unitária, ou de formação humanista... ou de cultura geral deveria se propor a tarefa de inserir os jovens na atividade social, depois de tê-los levado a um certo grau de maturidade e capacidade, à criação intelectual e prática e a uma certa autonomia na orientação e na iniciativa (GRAMSCI, 1968 apud PARANÁ, 2006, p.23)
Portanto, buscar a formação integral do aluno e adequar aos interesses do
trabalho exige articulação entre a teoria e a prática. Mas de que prática? O fazer sem
vínculo teórico? A prática de atividades? As Diretrizes Curriculares Educacionais –
Educação Profissional (DCE-EP), alertam sobre essa falsa prática,
[...] trata-se de uma primeira falsa tomada da relação entre teoria e prática: a que desvinculada prática da teoria, que passa a supor-se suficiente. Tomada em seu sentido utilitário, a prática se contrapõe à teoria, que se faz desnecessária ou até nociva. Neste caso, a teoria passa a ser substituída pelo senso comum, que é o sentido da prática, e a ela não se opõe. (PARANÁ, 2006, p.28)
Essa prática valoriza o senso comum, a prática sem vínculo com o
conhecimento teórico, sendo necessário estabelecer uma identidade entre o
conhecimento teórico e a prática. Destarte, propõe-se discutir a articulação entre os
dois polos: o teórico e o prático, que não devem opor-se, mas unificarem-se. Sobre
isso, Vazquez afirma que,
Não há, então, como promover esta identidade por meio de um curso, posto que a realidade não se deixe aprisionar pelo conhecimento teórico, o qual questiona, nega e supera permanentemente, pelo pensamento que se move entre os polos do abstrato e do concreto (1968, p. 211).
Existem muitas definições para a prática, que muitas vezes são confundidas
com atividades ou experiências. Para Vazquez (1990), no senso comum, o mundo
prático é o mundo de coisas e significações entre si, a prática é isolada, privilegia a
16
experiência, como define “[...] o homem comum e corrente se vê a si mesmo como o
ser prático que não precisa de teorias; os problemas encontram sua solução na própria
prática, ou nessa forma de reviver uma prática passada que é a experiência” (1990,
p.14).
No que tange ao conceito de práxis, afirma que “[...] toda práxis é atividade,
mas nem toda atividade é práxis” (1990, p.185). Assim, a atividade teórica por si não
leva a transformação, pode mudar a consciência sobre os fatos, ideias que tínhamos
sobre as coisas, mas não a realidade (material e social). Para que ocorra essa
transformação, é necessário o conhecimento, a interpretação, a análise e atuar
praticamente. Essa atividade humana que busca a transformação real para atender a
uma necessidade humana, ele define como práxis.
Na Educação Profissional, é comum os estudantes apresentarem o
conhecimento prático, empírico, adquirido pelo trabalho, outros querem a técnica para
ter uma colocação no mercado de trabalho. O desafio dos educadores é elevar o
prático às bases científicas, partir do empírico para um processo de produção do
conhecimento científico, fazer uma análise e, a partir desta, construir uma realidade
onde se concretiza a práxis.
.
3 O CURSO TÉCNICO EM ADMINISTRAÇÃO E A FORMAÇÃO PARA O MUNDO
DO TRABALHO
As relações no mundo do trabalho, o processo ensino-aprendizagem e a
formação profissional, em decorrência dos avanços sociais, as novas tecnologias e
outras inovações, vem sofrendo transformações. Segundo (IANNI, 2002), o futuro
cidadão não se define apenas pelo trabalho, emprego e desemprego, mas pela sua
participação em partido político, sindicado, movimento social, associações. A
consciência social, como indivíduo e coletividade, envolve a educação, religião,
política, cultura, informação, etc. Essas inserções transformam o indivíduo em ser
social, e a educação desempenha importante papel na profissionalização e cultura.
Para Frigotto (2002), o homem é um ser histórico, que produz e modifica em
relação com os demais seres humanos, necessita das relações sociais, diferente do
animal, que não modifica a sua existência, mas se adapta e responde instintivamente
ao meio. O homem cria, recria, transforma, pela ação consciente do trabalho, pois “O
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trabalho humano, enquanto atividade consciente, não é de caráter causal, mas
teleológico. Engendra, por isso, opção, escolha e liberdade”. (FRIGOTTO, 2002,
p.63).
Não foram poucas as transformações vivenciadas nas últimas décadas, que
atingiram principalmente os países capitalistas desenvolvidos, mas em decorrência
da globalização do capital, teve repercussões em países do Terceiro Mundo,
especialmente aqueles intermediários, que tem um significativo parque industrial,
como é o caso do Brasil. Antunes indica alguns elementos que compõem este quadro
[...] a automação, a robótica, e a microeletrônica possibilitaram uma revolução tecnológica de enorme intensidade. O taylorismo e o fordismo já não são únicos, convivendo, no processo produtivo do capital, com o “toyotismo”, o “modelo sueco”, entre outros. Tais mudanças têm consequências diretas no mundo do trabalho, especialmente na classe operária (ANTUNES, 2008, p. 166).
A Educação Profissional, como também o curso Técnico em Administração,
percebeu a necessidade de acompanhar essas mudanças, visto que por um longo
processo, a formação profissional não procurou formar o jovem para o mundo do
trabalho, mas treiná-lo de acordo com os interesses de governo e mercado de trabalho
de cada época.
Desde 1909, quando teve início, no Brasil, a formação profissional como
responsabilidade do Estado, essas escolas obedeciam a uma finalidade moral de
repressão: educar pelo trabalho, os órfãos, pobres e desvalidos da sorte. Passamos
por vários períodos e alternativas de formação profissional ou formação de
trabalhadores, visto que os cursos buscavam a formação para o sistema produtivo, no
dizer de Kuenzer,
[...] havia uma nítida demarcação da trajetória educacional dos que iriam desempenhar as funções intelectuais ou instrumentais, em uma sociedade cujo desenvolvimento das forças produtivas delimitava claramente a divisão entre capital e trabalho traduzida no taylorismo-fordismo como ruptura entre as atividades de planejamento e supervisão por um lado, e de execução por outro (2007, p.27).
A partir dos anos 1940, essas características acentuaram-se, pelo
desenvolvimento crescente dos setores secundário e terciário, assim multiplicaram-se
os cursos para atender aos vários ramos ocupacionais, e os projetos pedagógicos da
formação profissional. Conforme KUENZER (2007), é um processo de aprendizagem
18
de formas de fazer, complementada com o desenvolvimento de habilidades
demandadas pelo posto de trabalho.
No período de 2003 a 2006, o Estado do Paraná retomou a política para a
Educação Profissional que se iniciou pela realização de diagnóstico das reais
necessidades de expansão, considerou-se também a reestruturação curricular do
curso para favorecer a formação do cidadão/aluno/trabalhador, para o que contribuiu
a revogação do Decreto 2.208/97 e a promulgação do Decreto 5.154/04. Como
observamos nas DCE-EP
Essa nova legislação possibilitou conceber propostas curriculares considerando a necessária articulação entre as diferentes dimensões do trabalho de formação profissional do cidadão/aluno, na perspectiva da oferta pública da Educação Profissional técnica de nível médio, enfatizando o trabalho, a cultura, a ciência e a tecnologia, como princípios fundantes da organização curricular integrada ao Ensino Médio (PARANÁ, 2006, p. 18).
O curso Técnico em Administração, diante das exigências de mercado, vive o
dilema: Como preparar o aluno para o mercado ou o mundo do trabalho? O plano de
curso do Técnico em Administração destaca que
[...] a reestruturação Curricular do Curso Técnico em Administração visa o aperfeiçoamento na concepção de uma formação técnica que articule trabalho, cultura, ciência e tecnologia como princípios que sintetizem todo o processo formativo. O plano ora apresentado teve como eixo orientador a perspectiva de uma formação profissional como constituinte da integralidade e do processo educativo (PARANÁ,2008 , p. 1).
Nesse sentido, é preciso lidar com esse objetivo da formação técnica que
enfatiza a formação para a totalidade e não para o mercado, onde se articula o
saberes técnicos e científicos. Para tanto, o plano de curso do Técnico em
Administração afirma que a organização dos conhecimentos leva em consideração o
resgate do aluno como um sujeito histórico,
[...] a organização dos conhecimentos, no Curso Técnico em Administração, enfatiza resgate da formação humana onde o aluno, como sujeito histórico, produz sua existência pelo enfrentamento consciente da realidade dada, produzindo valores de uso, conhecimentos e cultura por sua ação criativa (PARANÁ, 2008, p. 1).
De acordo com as DCE-EP (2006), a Educação Profissional, no estado do
Paraná, rompe com a dimensão que articula diretamente o mercado de trabalho e a
19
empregabilidade, e assume, também, um compromisso de formação humana dos
estudantes.
Nessa concepção, a escola oferta uma formação geral, proporcionando ao
jovem um desenvolvimento amplo que lhe confere a capacidade de trabalhar
intelectualmente ao mesmo tempo em que o prepara para o mundo do trabalho e para
ser um cidadão que tenha empregabilidade.
Reitera-se, assim, que não devemos formar somente para o mercado
atendendo as especificações de treinamento técnico, pois todo trabalho manual tem
a formação intelectual, a DCE-E P adverte
O compromisso com uma Educação Profissional adequada aos interesses dos que vivem do trabalho implica desenvolver um percurso educativo em que estejam presentes e articuladas a teoria e a prática, contemplando sólida formação científica e a formação tecnológica de ponta, ambas sustentadas em um consistente domínio das linguagens e dos conhecimentos sócio históricos(PARANÁ, 2006, p. 24).
Neste contexto, buscamos construir um processo que promove a articulação
entre a teoria e prática, para que o conteúdo especificado na ementa do curso não
fique distante da realidade do aluno, mas que se aproxime de suas expectativas, com
uma formação de cidadão, preparando para o mundo do trabalho.
4 PROJETO DE INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA: AVANÇOS E DIFICULDADES NA
PESQUISA
O Projeto de Intervenção Pedagógica foi realizado no Colégio Estadual
Professor Mailon Medeiros - Ensino Fundamental, Médio e Profissional, localizado no
município de Bandeirantes, estado do Paraná. Teve como público alvo os alunos do
3o semestre do Curso Técnico em Administração e contou, também, com a
participação dos professores deste curso.
No início do ano letivo de 2014, durante a Semana Pedagógica, apresentamos
o projeto à comunidade escolar, demostrando seus objetivos. Após a apresentação,
realizamos um grupo de estudo com os professores do curso técnico, no intuito de
coletar informações sobre a conceituação dos professores de teoria e prática, e o que
20
eles podem fazer para melhorar a prática pedagógica para atender as expectativas do
aluno e prepará-lo para o mundo do trabalho.
Encontramos um pouco de resistência na participação dos professores; mas,
dentre os que participaram, percebemos que a parte conceitual de teoria e prática é a
mesma, e que também veem a necessidade dessa relação para que o aluno
compreenda a aplicabilidade dos conteúdos teóricos, mas que pouco trabalho é feito
buscando essa relação, seja por falta de tempo, de material necessário ou de
conhecimento de técnicas, e que é preciso uma cooperação de todos na escola para
que isso aconteça, mas não encontramos a disponibilidade em muitos companheiros
de trabalho.
A discussão sobre a formação integral dos educandos não deve se restringir
apenas ao mercado de trabalho, é bem mais ampla, já que as mudanças no mundo
do trabalho necessitam de um trabalhador com capacidade de diagnosticar problemas
e agir em situações não previstas, exigindo a formação integral deste. Segundo
Kuenzer,
[...] o que se coloca a partir das mudanças no mundo do trabalho é uma nova forma de relação entre sujeito e objeto, agora mediada pela microeletrônica, do que decorre a valorização da relação entre teoria e prática e a preocupação pedagógica de promovê-la nos cursos de formação inicial e continuada(2007, p. 49)
Na implantação, aplicamos, inicialmente, um questionário junto aos estudantes
que cursavam o 1o semestre do curso. O objetivo foi investigar suas expectativas em
relação ao curso, o que os levaram a realizar a matrícula, e se esperavam uma
contribuição para sua vida profissional.
Na turma, 95% (noventa e cinco por cento) dos alunos tinham algum tipo de
trabalho (labor). Apresentamos duas questões: Qual razão o levou a procurar o curso
Técnico em Administração? (gráfico 1) e Quais as suas expectativas em relação ao
curso Técnico em Administração? (gráfico 2)
21
GRÁFICO 1:
GRÁFICO 2:
Quais as suas expectivas em relação ao curso Técnico em Administração
conquistar um lugar no mercado de trabalho técnico com conhecimento na área
aprender as técnicas de Administração adquirir experiência
Qual a razão o levou a procurar o curso Técnico em Administração
adquirir mais conhecimento melhorar o currículo gosta da área
48%
36%
48% 36% 16%
53%
20%
20%
7%
16%
22
Percebemos que alunos vêm à procura de uma melhoria na vida profissional, e
suas expectativas estão voltadas para o mercado de trabalho.
As dificuldades dos professores encontra-se em motivá-los para conteúdos
muitas vezes teóricos, para um aprendizado integrado, quando muitas vezes
procuram técnicas e treinamento que os coloquem no mercado. A DCE-EP (2006)
enfatiza que a Educação Profissional do estado do Paraná rompe com a articulação
mercado de trabalho e empregabilidade, e assume o compromisso de uma formação
humana.
O Plano de Curso do Técnico em Administração também destaca que “[...] O
plano teve como eixo orientador a perspectiva de uma formação profissional como
constituinte da integralidade do processo educativo” (PARANÁ, 2008, p. 1). Mas,
durante a implementação do projeto, percebemos as dificuldades da integralidade,
porque o aluno é imediatista e procura uma melhoria rápida no mercado de trabalho.
Assim, fazê-lo compreender a necessidade do conhecimento e motivá-lo para isso,
em cursos onde se tem alto índice de evasão não é tarefa fácil.
Em continuidade, realizamos, com a turma do 3o semestre, algumas atividades
procurando relacionar o conteúdo teórico com a prática, a saber:
Atividades de Elaboração de Planilhas, manual e informatizada, utilizando o
laboratório de informática.
Atividades de dinâmicas de grupo, ressaltando os conteúdos de liderança,
trabalho em equipe e empreendedorismo.
Visita a duas empresas (médio e grande porte), onde verificamos os sistemas
de produção, os processos de qualidade, e palestras com o RH e Técnicos das
empresas, que explicaram o sistema de trabalho administrativo e o perfil de
profissional que procuram.
Após estas atividades, foi solicitado um relatório no qual expuseram a
importância das atividades e a contribuição destas para melhor compreender os
conteúdos. Citaram, como exemplo, os programas de qualidade que são trabalhados
na Administração e que eles viam como algo distante, em grandes empresas ou em
outros países, mas que, nas visitas, viram que as empresas da região trabalham
intensamente dentro desses programas, e que os conteúdos não estão fora da
realidade.
Para finalizar, aplicamos outro questionário, composto por três perguntas, junto
aos alunos que estavam se formando. Os conhecimentos adquiridos no curso Técnico
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em Administração atenderam minhas expectativas? Os conhecimentos adquiridos no
curso Técnico em Administração contribuirão para minha atuação no mundo do
trabalho e, consequentemente, para meu enriquecimento profissional? A relação
teoria-prática permeia os conteúdos desenvolvidos nos semestres cursados do curso
Técnico em Administração? Todas elas tiveram como resposta “concordo”, obtendo
100% no resultado.
Apesar da concordância de todos os alunos, eles observam que isso acontece
em 50% (cinquenta por cento) das disciplinas, não existindo uma integralidade e uma
interdisciplinaridade, o que facilitaria a compreensão dos conteúdos. Sugerem, ainda,
que haja mais aulas relacionando a teoria com a prática, interação entre os alunos,
atividades em equipes, palestras, projetos desenvolvidos pelos alunos, visitas as
empresas, estágios, buscando integrar os conhecimentos para que a relação teoria e
prática esteja presente nos conteúdos do curso.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Percebemos mudanças no mundo do trabalho, onde o trabalhador necessita
de uma formação integral que diz respeito à capacidade para diagnosticar problemas,
atuar com segurança e enfrentar situações inesperadas, e somente a posse do
conhecimento pode proporcionar a autonomia intelectual e ética, permitindo que ele
seja um sujeito ativo no mundo do trabalho.
Muito do nosso ensino técnico ainda pertence ao “taylorismo e fordismo”.
Assim, o saber fazer, o refletir sobre esse processo de trabalho e o buscar um ensino
que articule os saberes técnicos e científicos, visando uma formação em sua
totalidade, é um desafio para o professor que também foi educado em uma visão
tecnicista.
Quando indagamos aos alunos sobre suas expectativas, percebemos que
alguns buscam um crescimento pessoal, mas outros estão atrelados ao imediatismo
do mercado, seja na busca de treinamento para uma colocação ou para manter um
estágio remunerado. No terceiro semestre, vimos que houve muitas desistências,
devido à vários fatores que atendiam mais de imediato as suas necessidades.
24
Dessa forma, temos a tendência de manter o modelo capitalista em que a
escola reproduz a sociedade em que está inserida, mas devemos buscar um segundo
aspecto: de promover cidadãos críticos, conscientes de sua realidade e dispostos a
agir, questionar, e melhorar o meio em que vive. Para que esta duplicidade esteja
presente no trabalho realizado em sala de aula, é fundamental o professor trabalhar
os conhecimentos teóricos e vinculá-los à prática, elaborando uma proposta que,
diante dos desafios cotidianos das aulas, conquiste o aluno no desejo e nas
expectativas do curso, que promova e fortaleza o saber no curso técnico.
Neste sentido, a participação no PDE trouxe grande crescimento pessoal e
profissional, pois possibilitou a discussão sobre a importância da prática pedagógica
nas disciplinas do curso Técnico em Administração, como suporte para a apreensão
dos conteúdos teóricos.
As atividades desenvolvidas com alunos e professores durante a
implementação, além das pesquisas realizadas foram de fundamental importância,
construindo ideias que nos levam a uma maior reflexão. A participação do aluno,
falando de suas expectativas, de como eles percebem a relação teoria e prática nas
aulas, servem-nos de material para análise e elaboração de propostas de trabalho em
outras turmas.
Encontramos algumas experiências ricas que trazem o aluno para a prática;
mas, muitas vezes, o professor se prepara, organiza aulas diferenciadas e os
resultados não são os esperados, devido às dificuldades encontradas na hora de
implementar a aula, especialmente por turmas desmotivadas. Então, saímos
frustrados por não atingir os objetivos propostos. Mas, não podemos desanimar e sim
buscar outras alternativas que contemplem teoria e prática e motivem os alunos,
correspondendo as expectativas deles.
Para que ocorra a práxis, é necessário que a transformação aconteça pelo
conhecimento. Fazer com que aconteça essa relação da teoria com a prática é um
grande desafio, é preciso compromisso, dedicação e criatividade, é fundamental o
envolvimento de todos os professores, equipe pedagógica e direção. É nossa função
buscar a formação integral, para que os conhecimentos não sejam fragmentados, e o
aluno termine o curso com empregabilidade, sendo capaz de atuar na sociedade com
ética, compromisso e com saberes científicos, sendo um cidadão crítico e um
profissional criativo.
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REFERÊNCIAS
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