oralidade, a história entre os lábios da diáspora afro-brasileira no cerrado
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIS
PR-REITORIA DE PESQUISA E INOVAO PR-REITORIA DE PS-GRADUAO
NCLEO INTERDISCIPLINAR DE ESTUDOS E PESQUISAS EM DIREITOS HUMANOS
Especializao Interdisciplinar em Patrimnio, Direitos Culturais e Cidadania
Oralidade, a Histria entre os lbios da Dispora Afro-brasileira no Cerrado.
Por Marcus Maciel
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MARCUS ALBERTO MOURA MACIEL
Oralidade, a Histria entre os lbios da dispora Afro-brasileira no Cerrado.
Relatrio tcnico-cientfico apresentado como requisito para obteno de aprovao na Especializao Interdisciplinar em Patrimnio, Direitos Culturais e Cidadania na Universidade Federal de Gois. Orientado por: MsC. Mana Marques Rosa
Goinia, 2015
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIS
PR-REITORIA DE PESQUISA E INOVAO PR-REITORIA DE PS-GRADUAO
NCLEO INTERDISCIPLINAR DE ESTUDOS E PESQUISAS EM DIREITOS HUMANOS
Especializao Interdisciplinar em Patrimnio, Direitos Culturais e Cidadania
Folha de Aprovao
Marcus Alberto Moura Maciel
Aprovado em ___/___/2015
_____________________________________________ Mana Marques Rosa Titulao: Mestranda
Universidade Federal de Gois
_____________________________________________ Welbia Carla Dias Membro da Banca
Universidade Federal de Gois
CONCEITO FINAL:_________________
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AGRADECIMENTOS
Agradeo de Corao:
A Logum Ed O Santo menino que velho respeita.
Aos meus Pais: Jandy e Nena
Minha bssola para a vida!
Ao meu companheiro Tony Santos Pela pacincia e incentivo.
A minha Tia Snia
Que mesmo distante, foi grande incentivadora.
A minha irm Walria Christina Que muito ajudou a desvendar mistrios.
Aos meus Professores do EIPDCC,
em especial ao Z Eduardo.
A minha Orientadora Mana Rosa Pela parcimnia na construo de novos saberes.
Ao Pai Obalaj (Eliel Jnior)
Um anjo que Xang mandou.
A Comunidade de Terreiro do Il Ob As Egb lfin y
Sem a qual esta Pesquisa no seria exitosa.
A Eliciana Nascimento Que na simplicidade da fala da Lili, foi o Ponto de Partida.
A Ellen Rocha
Por todo apoio Logstico.
A Maria Carol Que nos detalhes de suas lentes mostrou uma nova leitura!
Aos Amigos da Biblioteca da Fundao Cultural Palmares
Pelas pesquisas e contribuies Literrias.
Aos Amigos do Iphan DF Pela doao de livros que embasaram o presente trabalho.
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DEDICATRIA
A Professora Mestre Marisa Damas Inspirao acadmica.
A Professora Simone Rosa
pelas sugestes para melhor compreenso dos que desconhecem o Culto aos Orixs
A Domingos Jos da Costa Lopes
Grande inspirador a continuidade dos estudos. (In memoriam)
A Marilene Muniz, a minha Tia Bai
por me apresentar as coisas da Umbanda e da Encantaria. (In memoriam)
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A memria cria a corrente da tradio. Que passa um acontecimento de gerao em gerao.
Walter Benjamin
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RESUMO Este trabalho consiste em um Relatrio Tcnico dos resultados do Projeto de
Interveno realizado junto um Terreiro de Candombl; de dez que foram
mapeados, localizados no municpio de guas Lindas de Gois, regio do entorno
do Distrito Federal. Relata a necessidade da preservao da oralidade nos Terreiros
que em dispora tem deixado o Distrito Federal rumo s cidades do entorno. Parte-
se do princpio que a falta de locais determinados para o culto urbano dos Orixs,
fez com que vrios Terreiros migrassem para a zona rural, e preocupa a
possibilidade do conhecimento quase milenar do Povo de Santo, que se estabeleceu
no cerrado do Planalto Central, venha a se perder no meio dessas mudanas. Este
Projeto de Interveno: Oralidade, a Histria entre os lbios da dispora Afro-
brasileira no Cerrado, nasceu nos encontros presenciais e no ambiente virtual da
Especializao Interdisciplinar de Patrimnio, Direitos Culturais e Cidadania
EIPDCC; ofertado pela UAB/UFG.
PALAVRAS-CHAVE: Distrito Federal, Candombl, Oralidade, Patrimnio Imaterial.
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LISTA DE FIGURAS
Figura 01 Vista do Terreiro da Casa Branca. Pgina 10
Figura 02 Coroa do Poste Central do Salo da Casa Branca. Pgina 10
Figura 03 Marco do Tombamento pelo IPHAN do Terreiro do Gantois Pgina 11
Figura 04 O Pesquisador na Porta Central do Terreiro do Gantois. Pgina 11
Figura 05 A Primeira Missa no Brasil, aquarela de Victor Meirelles/1861. Pgina 13
Figura 06 Afresco do Sonho de Dom Bosco/1883, visualizando talvez Braslia. Pgina 13
Figura 07 A Primeira Missa de Braslia em 1957. Pgina 13
Figura 08 Congruncia do Eixo Rodovirio com o Eixo Monumental. Pgina 13
Figura 09 Mapa da RIDE do DF e Entorno. Pgina 15
Figura 10 Mapa de guas Lindas de Gois com sua localizao no Brasil e no DF. Pgina 15
Figura 11 Fac-smile da reportagem Somos invisveis para os governos. Pgina 16 Figura 12 Mapeamento de terreiros estudados em guas Lindas de Gois Pgina 19
Figura 13 Planilha norteadora do mapeamento de terreiros estudados em guas
Lindas de Gois
Pgina 20
Figura 14 Diante dos atabaques o computador e o data show. Pgina 26
Figura 15 Pai Obalaj apresentando o especializado para seus filhos de Santo Pgina 26
Figura 16 O Pesquisado na companhia do Sacerdote Obalaj Pgina 26
Figura 17 Cartaz de Divulgao de O Tempo dos Orixs. Pgina 27
Figura 18 Lili na praia e a sua frase que norteou essa pesquisa. Pgina 27
Figura 19 Me Beata de Yemanj em uma de suas muitas prosas de contos e recontos da mitologia dos Orixs para os griot de amanh.
Pgina 28
Figura 20 A Mestra Dona Luziara da Conceio com o pesquisador Pgina 29 Figura 21 Seu Z Pilintra cumprimenta a Prof. Luciana Sousa do
HCABA/UFG
Pgina 29
Figura 22 O pesquisador com Seu Z Pilintra. Pgina 29 Figura 23 Os Banners no Terreiro A Casa de Fora do Rei, Comunidade do
Governante de y Pgina 29
Figura 24 O Salo de atividades litrgicas de Casa de Fora do Rei, Comunidade do Governante de y.
Pgina 29
Figura 25 O incio das festividades do Olubaj Pgina 29
Figura 26 O Pesquisador, um assentamento de Ex e a Me Bete de Yemanj Pgina 30
Figura 27 Manequins com as vestes de Dona Luziara e do Seu Z Pilintra Pgina 30
Figura 28 O Pesquisador e sua Orientadora Prof. Mana Rosa Pgina 30
Figura 29 Manequim com as vestes de Oy (Ians/Santa Barbara) Pgina 31
Figura 30 Os Ibs de Oxum e de Logum Ed Pgina 31
Figura 31 Manequim com as vestimentas de Xang (So Pedro/Jernimo) Pgina 31
Figura 32 A Exposio Fotogrfica Pgina 31
Figura 33 A Exposio Fotogrfica Pgina 31
Figura 34 O Balaio e a Adicissa (esteira) Pgina 31
Figura 35 A Exposio de Banners no Saguo da Faculdade de Direito da UFG Pgina 32
Figura 36 A Exposio de Banners no Saguo da Faculdade de Direito da UFG Pgina 32
Figura 37 O Pesquisador e a Mostra Fotogrfica no na Faculdade de Direito UFG Pgina 32
Figura 38 O Pesquisador recebe o certificado da Coordenadora Marisa Damas Pgina 32
Figura 39 O Pesquisador cumprimentado pela Professora Simone Rosa Pgina 32
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SUMRIO
INTRODUO ....................................................................................................................................... 9
2 DESENVOLVIMENTO..................................................................................................................... 14
2.1 Objetivo Geral .............................................................................................................. 21
2.1.1 Objetivos especficos .............................................................................................. 21
2.2 Metodologia.................................................................................................................. 21
2.3 Il Ob As Egb lfin y, o Objeto de estudo ................................................. 23
2.4 A Ao de Interveno ............................................................................................... 25
2.5 A Exposio como produto do Projeto de Interveno ......................................... 29
3 ALGUMAS CONSIDERAES ..................................................................................................... 33
REFERNCIAS ................................................................................................................................... 36
ANEXO A .............................................................................................................................................. 38
CLOSSRIO DAS PALAVRAS DIFERENTES ............................................................................... 38
ANEXO B .............................................................................................................................................. 39
Banners da Exposio ........................................................................................................................ 39
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9
INTRODUO
Eu sei que no vou lembrar de todas as histrias que ela contou, mas de
uma coisa lembro, nunca devemos esquecer de onde viemos, pois no passado
que encontraremos a fora para criar um futuro. Com essa frase temos o gran
finale do curta metragem: O Tempo dos Orixs1, (O Tempo dos Orixs, 2014).
Esta fala ilustra toda a preocupao e inquietao quando da proposio
do Projeto de interveno: Oralidade, a Histria entre os lbios da dispora
Afro-brasileira no Cerrado, no municpio de guas Lindas de Gois, cidade com
apenas 20 anos de emancipao poltica, localizada no entorno de Braslia
fazendo parte da Regio Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e
Entorno tambm conhecida como RIDE2.
O Tombamento de Terreiros3 do culto Afro-brasileiro algo recente, e
segundo o antroplogo Gilberto Velho, a primeira vez deu-se com o tombamento
da Casa Branca, em 1984. Ocasio que se registrou no Livro de Tombo
Histrico, Arqueolgico, Etnogrfico e Paisagstico:
[...] uma cultura que no se restringisse herana da civilizao de origem europeia, mas, que fosse compreendida como um fenmeno abrangente que inclui todas as manifestaes materiais e imateriais que expressam as crenas, valores e vises de mundos existentes em uma sociedade (VELHO, 1984, p.11).
O tombamento da Casa Branca em Salvador em 1984, pelo Instituto do
Patrimnio Histrico e Artstico Nacional IPHAN fez com que o Estado, mesmo
que tardiamente, incorporasse nos pilares do atual Inventrio Nacional de
1 Orixs Ancestrais divinizados, respectivamente cultuados por Fons, Iorubs e Bantos.
2 RIDE Regio Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno, foi criada pela Lei
Complementar n 94, de 19 de fevereiro e regulamentada pelo Decreto n 2.710, de 04 de agosto de 1998,
alterada pelo Decreto n 3.445, de 04 de maio de 2000; sendo constituda pelo Distrito Federal, pelos
municpios de Abadinia, gua Fria de Gois, guas Lindas de Gois, Alexnia, Cabeceiras, Cidade
Ocidental, Cocalzinho de Gois, Corumb de Gois, Cristalina, Formosa, Luzinia, Mimoso de Gois, Novo
Gama, Padre Bernardo, Pirenpolis, Planaltina de Gois, Santo Antnio do Descoberto, Valparaso de Gois
e Vila Boa, todos pertencentes a Gois e Buritis, Cabeceira Grande e Una, pertencentes a Minas Gerais. 3 Terreiro Segundo Cmara Cascudo, diz-se ao local ou templo onde se pratica a religiosidade afro-brasileira
com o culto dos Voduns, Orixs e Inquices, pode ser chamado ainda de barraco, roa, ou Casa de Santo.
Na Bahia sinnimo de candombl e no Rio de Janeiro de macumba. Usa-se: Terreiro de fulano...Terreiro de
cicrana. N. do A. no intuito de padronizar usaremos em todo o texto Terreiro para definir o Templo de culto
aos Orixs.
-
10
Referncias Culturais INRC4; o que foi apregoado por Mrio de Andrade (1936)
em sua proposta para a criao do SPHAN5, entregue ao ento Ministro da
Educao, Gustavo Capanema, o patrimnio cultural da nao compreendia
muitos outros bens alm de monumentos e obras de arte (ANDRADE, 1936,
p.01).
Figura 1
Figura 2
Vista do Terreiro da Casa Branca.
Coroa do Poste Central do Salo da Casa Branca.
Fonte: Sociedade Beneficente e Recreativa So Jorge do Engenho Velho
Embora seja difcil obter-se a unanimidade, mas, quando falamos de
estudos sobre o patrimnio cultural nacional, tanto os produzidos no Estado;
dentro do prprio Iphan, como os oriundos do meio acadmico alcanaram um
denominador comum com relao trajetria da poltica oficial de preservao do
patrimnio ao dividi-la em duas fases: a primeira seria a fase heroica, que se
iniciou em 1937, com a prpria criao do Servio de Patrimnio Artstico
Nacional SPHAN, mais tarde IPHAN, e termina em 1967, quando se aposenta
Rodrigo de Mello Franco e Andrade; j a segunda, seria a fase moderna, que se
inicia com a nomeao de Alosio Magalhes, em 1979.
Nomeado, Alosio Magalhes, realiza uma grande reforma institucional no
Instituto, fundindo o Iphan ao PCH (Programa Integrado de Reconstruo das
Cidades Histricas) e ao CNRC (Centro Nacional de Referncia Cultural), em
seguida desdobrando em duas instituies, a Secretaria do Patrimnio Histrico e
Artstico Nacional (Sphan) e a Fundao Pr-Memria, que passam a operar sob
a sigla de Sphan/Pr-Memria.
4 INRC um instrumento de identificao de bens culturais tanto imateriais quanto materiais. A indicao de
bens para Registro e/ou para Tombamento. 5 SPHAN Servio do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional, criado pelo Decreto-lei no. 25, de 30 de
novembro de 1937.
-
11
Segundo Gonalves (2002), neste perodo a poltica de patrimnio cultural
no Brasil sofre profundas mudanas, ainda segundo este autor, considera-se a
entrada de Alosio no Iphan, um marco decisivo para a trajetria das polticas
pblicas de patrimnio no Brasil (GONALVES, 2002, p.71).
Alosio Magalhes resgata em sua reforma administrativa algumas das
propostas e conceitos enunciados por Mrio de Andrade, meio sculo antes,
provocando uma grande revoluo nos valores at ento arraigados no IPHAN,
que segundo VELHO (1984), possua uma cultura que se restringia herana
da civilizao de origem europeia (VELHO, 1984, p.11).
Tendo assim, Alosio Magalhes uma viso mais arejada de bem cultural
juntamente com a ideia de que o melhor guardio do patrimnio a comunidade,
que com ele mais de perto se relaciona, quebra paradigmas, trazendo novos
ventos para a memria nacional e para o patrimnio material e imaterial.
Conforme Mnica Millet (2000), neta de Maria Escolstica da Conceio
Nazareth, a Me Menininha do Gantois, em seu requerimento pedindo o
Tombamento do Templo Il Ax Omy Iy Mass ou Terreiro do Gantois:
[...] o conhecimento nas Casas de Santo, Terreiros ou Roas transmitido pela oralidade, onde o cho de terra batida o livro, e os signos nele inscritos so as coisas e pessoas que nele se movimentam e a sobrevivncia desses deslumbre musical, ldico, cnico, potico, plstico e gastronmico carece de um santurio concreto (IPHAN, 2000, p.82).
Figura 3
Figura 4
Marco do Tombamento pelo IPHAN do Terreiro do Gantois.
O Pesquisador na Porta Central do Terreiro do Gantois.
Fonte: Acervo Prprio
Com o xodo provocado para a regio central brasileira, objetivando
construir Braslia, vieram dos mais longnquos rinces deste pas continental,
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12
trabalhadoras e trabalhadores os quais trouxeram sua crena e f atravs das
religies que professavam; tal qual acontecera no sculo XVI, na dispora
africana, os candangos6 no vieram ss. Vejamos:
[...] os africanos que cruzaram o Mar Oceano no viajaram e sofreram ss. Com os nossos ancestrais vieram as suas divindades, seus modos singulares e diversos de viso de mundo, sua alteridade lingustica, artstica, tnica, tcnica, religiosa, cultural, suas diferentes formas de organizao social e de simbolizao do real. As culturas negras que matizaram os territrios americanos em sua formao e modus constitutivos evidenciam o cruzamento das tradies e memrias orais africanas com todos os outros cdigos e sistemas simblicos escritos e/ou grafos com que se confrontaram (MARTINS, 1997, p.26).
Verifica-se desta forma, a repetio da histria do Brasil Colnia, na
modernidade, com a construo de Braslia. Novamente, o Povo de Santo7,
recorre transferncia dos conhecimentos sobre os Orixs, atravs da oralidade
dos mais velhos para os mais novos, pois a centena de milhares de brasileiras e
brasileiras os quais atenderam ao chamado de JK em suas matulas trouxeram
os Orixs para o cerrado do Planalto Central.
A Histria poltica-social brasileira possui uma grande interseco com o
religioso, por exemplo:
Mal acabara de descobrir as terras de brasilis8, para assinalar a
posse da terra para a Coroa Portuguesa, Cabral organizou a
primeira missa;
Quando foi para escolher a localizao da futura capital brasileira, a
Santa Madre Igreja Catlica Apostlica Romana9, apresentou o
sonho proftico de Dom Bosco em 1883; como sendo a anteviso
daquilo que JK pretendia realizar;
6 Candango, nome com que os africanos designavam os portugueses, (quimbundo, kandungu); segundo o
Michaelis Moderno Dicionrio da Lngua Portuguesa, 2012 Trabalhador braal vindo de fora da regio;,
nome com que se designam os trabalhadores comuns que colaboraram na construo de Braslia. N. do A:
errado us-lo como o gentlico dos nascidos no DF, neste caso o correto brasiliense. . 7 Povo de Santo, termo utilizado pelos movimentos sociais aps a redemocratizao na dcada de 80, para
denominar os candomblecistas, umbandistas, juremeiros, catimbozeiros; enfim, todos os adeptos das religies
de matriz afros indgenas. 8 Terra de brasilis, vocbulo utilizado para denominar o Brasil antes da chegada dos Europeus: a terra dos
ndios. 9 Santa Madre Igreja Catlica Apostlica Romana, principal e maior denominao para a Igreja Catlica.
Tem esse nome porque todos os seus aderentes esto em comunho com o Papa e Bispo de Roma, e a maior
parte das parquias seguem o Rito Latino ou Romano na prece, embora haja outros ritos.
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13
Para agregar defensores de sua ideia, de cumprir a Constituio,
trazendo a capital federal para o Planalto Central, JK, conta em suas
memrias10, que imbuiu o Cardeal, Dom Carlos Camelo de
Vasconcelos Motta, arcebispo de So Paulo, que possua livre
trnsito junto s lideranas da Igreja no Norte e Nordeste, para
organizar a primeira celebrao eucarstica de Braslia, realizada em
03 de maio de 1957; com cerca de quinze mil presentes entre
candangos e caravanas de catlicos, vindos de todos os estados,
principalmente nortistas e nordestinos;
A proposta de Lcio Costa que se fez vencedora no concurso
mundial para a escolha do projeto urbanstico da nova capital
brasileira, inicia seu Relatrio do Plano Piloto de Braslia PPB, com
os seguintes dizeres: nasceu do gesto primrio de quem assinala
um lugar ou dele toma posse: dois eixos cruzando-se em ngulo
reto, ou seja, o prprio sinal da cruz (COSTA, 2014, p.30).
Figura 5
Figura 6
Figura 7
Figura 8
A Primeira Missa no Brasil, aquarela de Victor Meirelles/1861. Fonte: Google Imagens.
Afresco do Sonho de Dom Bosco/1883, visualizando talvez Braslia. Fonte: Google Imagens
A Primeira Missa de Braslia em 1957. Fonte: Arquivo Pblico do DF.
Congruncia do Eixo Rodovirio com o Eixo Monumental. Fonte: Arquivo Pblico do DF.
10
Por Que Constru Braslia, JK, Rio de Janeiro: Bloch Editores, 1975, p. 75-78.
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14
O Professor Marlon Oliveira (2005) afirma que esta relao existente entre
a histria e o sagrado uma relao dialgica:
O sagrado se afirma na histria na medida em que o mesmo passa a ter um papel determinante na vida e na organizao de um povo. A essncia das religies est inserida na histria, de todos os povos em todos os tempos, estes criaram suas divindades, transformando-as em ponto de convergncia das diversas relaes existentes da vida em sociedade, e esta era imposta nas suas conquistas territoriais e quando vencedores nas guerras (MARLON, 2005).
notrio que o Brasil visto como um pas das diversidades e pluralidades
em vrios aspectos sejam estes: culturais, tnicos, religiosos ou de sua
biodiversidade. A comunidade internacional tem o nosso pas como modelo de
uma nao que convive em paz com as mais diversas comunidades religiosas. E
Braslia sendo a capital no foge a essa regra, aqui comum encontrarmos uma
Igreja Catlica ao lado de um Templo Evanglico ou at mesmo junto a um
Terreiro.
2 DESENVOLVIMENTO
O Projeto de Interveno: Oralidade, a Histria entre os lbios da
dispora Afro-brasileira no Cerrado, parte integrante da concluso da
Especializao Interdisciplinar em Patrimnio, Direitos Culturais e Cidadania, no
qual tem como objetivo chamar a ateno para a necessidade da preservao da
oralidade como bem imaterial e histrico dos Terreiros que em dispora migraram
para o municpio de guas Lindas de Gois, local onde foi desenvolvido o estudo.
O grande incentivador para este Projeto de Interveno foi a Histria de
vida de Eliciana Nascimento, uma mulher, negra, pobre, brasileira, baiana,
candomblecista, filha de me lavadeira e pai pedreiro, moradora da periferia
soteropolitana, estudante da rede pblica de ensino, que conquistou uma bolsa
para cursar MBA nos Estados Unidos da Amrica; e que produziu e dirigiu como
trabalho final do MBA em Cinema o curta metragem: O Tempo dos Orixs, que
foi selecionado para o Festival de Cannes, em 2014.
O filme, em seus vinte minutos de durao retrata quase que em resumo
todo o contexto visto nesta especializao quer seja: o Patrimnio representado
pela oralidade, um bem imaterial cabvel de preservao, os Direitos Culturais
-
15
dos Terreiros moldados no pertencimento, na historicidade e na ancestralidade
afrodescendente e por derradeiro, a Cidadania representada pelo respeito ao
culto dos Orixs, como garante a Constituio Federal.
Vrias foram as Aes realizadas durante este Projeto de Interveno: a
reviso bibliogrfica que forneceu a localizao de alguns Terreiros na cidade de
guas Lindas de Gois, o trabalho de campo que proporcionou o levantamento e
mapeamento de uma dezena de Terreiros de matriz afro brasileira; num universo
de setenta templos existentes, e a interveno propriamente dita.
Foram realizadas apurada leitura e fichamento dos livros: Inventrio dos
Terreiros do Distrito Federal e Entorno 1 Fase (2009), e do Inventrio
Nacional de Referncias Culturais Terreiros do Distrito Federal e Entorno
(2012), publicados pela Superintendncia do Instituto do Patrimnio Histrico e
Artstico Nacional Iphan DF; e Os Orixs danam no Planalto Central
(2005), publicado pela Fundao Palmares, eles serviram como ponto de partida
para a confeco de uma tabela (pgina 19) com a localizao dos Terreiros da
regio.
Figura 9
Figura 10
Mapa da RIDE do DF e Entorno.
Mapa de guas Lindas de Gois com sua localizao no Brasil e no DF.
Fonte: Google Maps
As leituras citadas validam nossa hiptese da dispora ocorrida e que
ainda persiste no Distrito Federal e entorno, vejamos:
A preocupao com os registros, com a legalizao das chcaras, com o cumprimento de todas as formalidades que permitam a realizao do culto dos Orixs, em paz, s vezes fica ameaada pelo prprio crescimento populacional exigncia que esse crescimento faz de ocupar, cada vez mais espaos (ABREU, 2006, p.19).
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16
Em 9 de julho o Correio Braziliense, veiculou uma reportagem em que
corrobora essa afirmao de ABREU (2006), demonstrando assim, sua
atualidade, na entrevista concedida ao jornal ,Pai Lilico de Oxum, diz que para
realizar seus cultos em 1975, teve de deixar o Guar e depois guas Claras;
bairros nobres de Braslia, migrando para rea rural, onde comprou uma chcara
com 8 alqueires prximo a Sobradinho, outra regio administrativa.
Todavia, com a expanso da rea urbana e com a doao popular de lotes
pelo Governo Roriz, hoje, seu Terreiro, possui apenas dois alqueires e corre o
risco de diminuir mais ainda:
Figura 11
Fac-smile da reportagem Somos invisveis para os governos.
Fonte: Correio Braziliense/Acervo Prprio
Eu comprei em 1975. Alguns anos depois, o governo decidiu ampliar Sobradinho. Era o governador Joaquim Roriz poca. Eles simplesmente derrubavam a cerca e pegavam um pedao. Com o tempo, ele (Roriz) se comprometeu que, aps a inaugurao de Sobradinho 2, me entregaria escritura. Isso nunca aconteceu. E esse descaso vem se repetindo ao longo dos anos. Somos invisveis para os governos. E, agora, querem mais um pedao da rea para fazer o Parque da Ema. Se isso acontecer, ficaremos sem a cachoeira, que, para a nossa religio, sagrada, simboliza (a gua) Oxum (BERNARDES In Correio Braziliense, 2015, p.23).
Tem-se dessa forma, a inquietude dos Povos de Santo, que para
preservarem seus cultos de matriz afro, fogem da cidade e mesmo assim,
encontram problemas por uma intolerncia institucional provocada pela
invisibilidade e ausncia das autoridades constitudas, como viu-se na
reportagem.
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17
Nas palavras de Araujo (2006), possvel perceber a crtica realidade que
os praticantes do Candombl e demais religies afro descendentes vivenciam na
Capital Federal. Segundo o ento Presidente da Fundao Cultural Palmares:
Ubiratan Castro de Arajo:
Nas pranchetas em que Braslia foi concebida no havia lugar para os Orixs. Afinal, o materialismo, ou funcionalismo e o futurismo no combinavam com encanto e magia. O Brasil Central haveria de ser ocupado pelas maravilhas do progresso, pelo ao e pelo concreto armado. Os geniais arquitetos nem ousavam suspeitar que Ogum e Nan estavam nestes elementos. Para no sermos injustos, os criadores da cidade cederam a alguma religiosidade, a das prpuras cardinalcias. Aos e vidros se ergueram em catedral para celebrar as previses de Dom Bosco. Mas os Orixs no moravam l (ARAUJO apud ABREU, 2006, p.13).
O trabalho de campo constatou a existncia de mais de setenta Terreiros,
que funcionam hoje em guas Lindas de Gois, mapeamos apenas dez
presentes nas literaturas da reviso bibliogrfica.
So eles: Tenda Esprita Sete Mistrios (Z do Cod), Terreiro de Mina e
Terec Maria Lgua Boji Bu da Trindade (Pai Evans), Il Ax Oluv Oxumar,
(Pai Sandro), Tumba Nzo Jimona Nzambi (Tata Ngunz'tala) e Il Ax Od Eril
(Pai Ricardo de Od) fundados no prprio municpio, enquanto os Terreiros: Il
Ob As Egb lfin y, (Pai Jnior/Obalaj), Il Ax Arajin (Pai Ivanildo) Il
Ax Onan Omy (Me Cida/Mona Dar) e As Morada (Y Monna Janana) so
oriundos do Distrito Federal e migraram para a regio. J o Terreiro Il Ax Omi
Gbato Jeged (Pai Djair) chama ateno, porque foi fundado em Goinia, e veio
em dispora para guas Lindas.
Para a confeco do mapa (figura 12), foi elaborada uma planilha (figura
13), apresentando os dados dos Terreiros estudados, levantados e mapeados,
neste Projeto de Interveno, que somam dez (10).
Na planilha, inclusive so marcados aqueles Terreiros que foram visitados
na primeira fase do Inventrio Nacional de Referncias Culturais dos Terreiros do
Distrito Federal e Entorno (02), os Terreiros que receberam a visita na segunda
fase do citado inventrio realizado pelo Iphan do DF e de Gois (04), e os quatro
Terreiros que no foram visitados pelos tcnicos do INRC DF e Entorno, mas
foram alvo deste Projeto de Interveno.
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18
Durante a pesquisa, a hiptese de que a dispora dos Terreiros de
candombl do DF para o entorno, provocada pela expanso urbana, foi
comprovada. Corroborando com a afirmao da historiadora LOUZADA (2011),
em sua tese de mestrado na UFG, quando estudou o Candombl em Goinia11,
o discurso de modernidade segregou scio-espacialmente sujeitos s
manifestaes culturais indesejveis sob o ponto de vista da reiterao do
imaginrio de cidade e sociedade modernas (LOUZADA, 2011, p.229).
Nesta linha de pensamento, observamos que os paradigmas arquitetnicos
sob a gide da modernidade no contemplam espaos fsicos para a realizao
de cultos de matriz afro, pelo menos nos projetos arquitetonicos de Goinia e
Braslia.
A inteno era realizar o Projeto de Interveno nos dez Terreiros
levantados e mapeados, todavia as suas agendas litrgicas impediram.
Entretanto, houve acolhimento e disponibilidade no Il Ob As Egb lfin
y, (Pai Jnior/Obalaj), no qual foram desenvolvidas palestras, oficina e
exposio.
11
LOUZADA, Natlia do Carmo. Tese de Mestrado Recriando fricas: Subalternidade e Identidade
Africana no Candombl de Ketu. Goinia UFG, 2011.
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19
MAPEAMENTO DE TERREIROS ESTUDADOS EM GUAS LINDAS DE GOIS
Figura 12
Mapa desenvolvido pelo autor para auxiliar no mapeamento.
Manipulao de imagens e dados ALVES, talo, 2015. Fonte: Apple Maps
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PLANILHA NORTEADORA DO MAPEAMENTO DE TERREIROS ESTUDADOS EM GUAS LINDAS DE GOIS
Figura 13
Casa de Santo Endereo Origem Fundao Sacerdotiza/ Sacerdote
Tumba Nzo Jimona Nzambi Rua das Alagoas Chacara 51B Quinta guas Bonitas guas Lindas de Gois 2004 Tata Ngunz'tala
Il Ax Omi Gbato Jeged R Mato Grosso Qd 16 Lote 18/20 Jardim Guaira Goinia 2005 Pai Djair
Tenda Esprita Sete Mistrios Qd 01 L5 Jardim Amrica II guas Lindas de Gois 1975 Z do Cod
Il Ax Arajin Qd 49 Lotes 25/26/27 Cidade do Entorno guas Lindas de Gois 1976 Pai Ivanildo
Terreiro de Mina e Terec M Lgua Boji Bu da Trindade Qd 04 Conjunto B Casa 07 Manses Odissia guas Lindas de Gois 1997 Pai Evans
Il Ax Oluv Oxumar Qd 70A Lotes 21B Setor Nove guas Lindas de Gois 2008 Me Lcia
Il Ob As Egb lfin y Qd 06 Conjunto A lote 16/20 Setor Seis Samambaia/Ceilndia 2000 Pai Jnior/Obaalaj
Il Ax Onan Omy Qd 09 Conjunto A Lote 1 Setor Seis Ceilndia/Guariroba 2006 Me Cida/Mona Dar
As Morada Qd 11 Lotes 12/13/14 Jardim merica II Ceilndia/Guariroba 2010 Y Mona Janana
Il As Od Erinl Qd 28 B Lotes 9/11 Setor de Manses Odissia guas Lindas de Gois 2011 Pai Ricardo de Od LEGENDA Texto em azul corresponde aos Terreiros, visitados na 1 fase do INRC (2008/2009) Texto em preto corresponde aos Terreiros, visitados na 2 fase do INRC (2009/2011) Texto em vermelho corresponde aos Terreiros, levantados e mapeados durante este Projeto de Interveno. Os Terreiros marcados em amarelo receberam visitas dos Tcnicos do Iphan DF e Iphan GO em ambas as fases do INRC.
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2.1 Objetivo Geral O Objetivo Geral era promover ensinamentos para a preservao da
oralidade como patrimnio imaterial dos Terreiros do DF que saram em dispora
para o entorno.
Encontramos na Constituio Federal de 1988, no artigo 216,
Art. 216. Constitui patrimnio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referncia identidade, ao, memria dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem: I - as formas de expresso; II - os modos de criar, fazer e viver; III - as criaes cientficas, artsticas e tecnolgicas; IV - as obras, objetos, documentos, edificaes e demais espaos destinados s manifestaes artstico-culturais... (BRASIL, CF, 1988, p.139).
Esta definio para bem imaterial, a gide que ampara a oralidade, como
modalidade de transmisso de conhecimentos e que muito usada entre as
religies de matriz afro, principalmente a umbanda e o candombl.
2.1.1 Objetivos especficos
J os objetivos especficos, centravam-se em mapear e pesquisar os
Terreiros que saram em dispora para as cidades do entorno, em especial,
guas Lindas de Gois; conscientizar sobre a necessidade da preservao da
memria destes Terreiros; realizar uma oficina sobre a melhor forma de educar
os atores envolvidos na preservao do patrimnio imaterial que os Terreiros
possuem e produzem.
2.2 Metodologia
O anteprojeto apresentado por Mrio de Andrade (1936) para criao do
SPHAN contribui para o reconhecimento dos bens imateriais, norteando o
presente Projeto de Interveno.
Conforme Mario de Andrade (1936): apesar de apresentarem potencial
para fixao num suporte fsico, permanecem na oralidade, passando de gerao
para gerao (ANDRADE, 1936:06).
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22
V-se desta forma, que Mrio de Andrade, ao afirmar que: folclore no se
restringia s lendas, cantos ou danas, mas abarcava tambm, os saberes
populares: medicina, culinria, crendices, magias, etc., demonstrava sua viso
vanguardista, , portanto: lamentvel que a oralidade no tenha sido acatada
como bem imaterial no decreto-lei n 25/1937, conforme critica Carreira (2012),
no artigo: Patrimnio Cultural Imaterial: do anteprojeto de Mrio de Andrade
Constituio de 1988 aspectos relevantes; contudo, os bens imateriais foram
abarcados pela Constituio Federal de 1988 (CARREIRA, 2012, p. 2).
Os movimentos sociais, em particular o Movimento Negro, no primeiro
mandato do Presidente Lula, obtm uma grande vitria com a publicao da Lei
n 10.639/03 que altera sobremaneira a Lei das Diretrizes Bsicas da Educao
LDB, incluindo no currculo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da
temtica "Histria e Cultura Afro-Brasileira".
A sociedade brasileira formada a partir das heranas culturais europeias,
indgenas e africanas no era contemplada, de maneira equilibrada, com as suas
contribuies no sistema educacional brasileiro at a publicao da Lei n 10.639
em 2003 e suas alteraes, um simples exemplo seria a ausncia de ilustraes e
textos enaltecendo a etnia africana e indgena, at ento, s apareciam de forma
depreciativa. O efetivo respeito e cumprimento das prerrogativas dessa Lei so
essenciais para a construo de uma sociedade mais igualitria.
A Lei da Afro-Educao; como vem sendo chamada, nomeia a escola
como sendo o lugar da construo, no s do conhecimento, mas tambm da
identidade, de valores, de afetos, enfim, onde o ser humano, sem deixar de ser o
que , venha se moldar de acordo com sua sociedade. Esta norma abre a
possibilidade de professores trabalharem Educao Patrimonial da cultura afro
descendente sem receios, uma vez que ainda impera um racismo
institucionalizado e velado em nossa sociedade, causando certo desconforto.
Para desenvolver o trabalho foi preciso beber gua na seara de Clifford
Geertz (2008):
Se a interpretao antropolgica est construindo uma leitura do que acontece, ento divorci-la do que acontece do que, nessa ocasio ou naquele lugar, pessoas especficas dizem o que elas fazem o que feito a elas, a partir de todo o vasto negcio do mundo divorci-la das suas aplicaes e torn-la vazia. (GEERTZ, 2008, p.13).
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23
Para o trabalho de campo realizado, a teoria de Clifford Geertz acima
citada, serviu como norteador, uma vez, que pessoas seriam entrevistadas nos
seus locais de culto, na sua morada, onde externavam suas crenas, suas
sabedorias, e seus conhecimentos transmitidos atravs da oralidade dos mais
velhos aos mais novos, e encontramos eco nas palavras de Horta (1999), que nos
ensina a Cultura um aprendizado dinmico, transmitido de gerao em
gerao, onde se aprende com os ancestrais, se cria e recria no cotidiano do
presente na soluo dos pequenos e grandes problemas (HORTA, Maria. et al.,
1999, p.7).
Por derradeiro, concluindo o arcabouo, recorre-se a fala de um dos mais
importantes estudiosos da contemporaneidade: Homi K. Bhabha para justificar a
interveno:
Esses "entre-lugares" fornecem o terreno para a elaborao de estratgias de subjetivao - singular ou coletiva - que do incio a novos signos de identidade e postos inovadores de colaborao e contestao, no alo de definir a prpria ideia de sociedade. na emergncia dos interstcios a sobreposio e o deslocamento de domnios da diferena que as experincias intersubjetivas e coletivas da nao [nationness], o interesse comunitrio ou o valor cultural so negociados. De que modo se formam sujeitos nos entre lugares, nos excedentes na soma das partes da diferena (geralmente expressas como raa/classe/gnero etc.)? (BHABHA, 2003, p. 20).
Narrar experincia na aplicabilidade do Projeto de Interveno, s
plausvel aps o retorno do trabalho de campo, quando o pesquisador aprende
ensinando como Cora Coralina dizia, chega-se ao computador para relatar as
experincias renovado em conhecimento e enriquecido pelas relaes dialgicas,
com o reconhecimento da alteridade que gera o entre-lugar de que nos fala
Bhabha (2003). Esse entre-lugar pressupe o algo existente entre o olhar do
outro e o do pesquisador.
2.3 Il Ob As Egb lfin y, o Objeto de estudo
Olhar os Terreiros com pertencimento e como parte do patrimnio cultural
implica no s no reconhecimento da Histria no nica12, da qual nos fala
12
Chimamanda Adichie Ensina-nos que a histria nica cria esteretipos e o problema dos esteretipos no eles serem mentira, mas eles serem incompletos. Ela acrescenta: Muitas histrias importam. As histrias tm sido usadas para desprover e tornar maligno. Mas as histrias podem ser usadas para
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24
Chimamanda Adichie, mas, tambm desvendar a importncia da ancestralidade
de origem africana, e, principalmente o reconhecer as relaes que esta
populao possui com a sabedoria popular com, por exemplo: o uso das ervas em
seus cultos, na medicina popular, e as adaptaes nas comidas e oferendas aos
Orixs, ou seja: reconhecer os Terreiros como um centro difusor do patrimnio
imaterial.
O Sacerdote Eliel Junior ou Pai Oblj do Il Ob As Egb lfin y;
relatou ser de famlia tradicional do culto da Jurema Sagrada13; tendo iniciado
suas atividades religiosas aos doze anos de idade, no Recife, como juremeiro;
incorporando a Mestra Dona Luziara da Conceio14.
Conta o sacerdote que Dona Luziara o intua para fazer as garrafadas e
estas obtinham grande sucesso, chegando a receber clientes que viajavam mais
de 500 quilmetros para consultar com a Mestra Luziara, acreditando ele, que,
dessas experincias fitoterpicas nasceu seu interesse em se graduar em
Farmcia.
Pai Oblj chegou a Braslia em 1999, indo morar de aluguel em
Samambaia, devido ter feito santo e j ter recebido seu Dek15 abriu no barraco
de fundos de sua residncia, o Terreiro da Nao Ketu16: Il Ob As Egb lfin
y; que em traduo direta para portugus seria: A Casa de Fora do Rei,
potencializar e humanizar. As histrias podem quebrar a dignidade de um povo. Mas as histrias tambm
podem reparar essa dignidade quebrada. 13
Jurema sagrada, Tradio religiosa remanescente dos ndios que habitavam o litoral da Paraba, Rio
Grande do Norte e no Serto de Pernambuco e dos seus pajs, grandes conhecedores dos mistrios do alm,
plantas e dos animais. Depois da chegada dos africanos no Brasil, quando estes fugiam dos engenhos onde
estavam escravizados, encontravam abrigo nas aldeias indgenas, e atravs desse contato, os africanos
trocavam o que tinham de conhecimento religioso em comum com os ndios. Os africanos contriburam com
o seu conhecimento sobre o culto dos mortos eguns e das divindades da natureza, os Orixs Voduns e Inkices. Os ndios; contriburam com o conhecimento de invocaes dos espritos de antigos pajs e dos
trabalhos realizados com os encantados das matas e dos rios. Da a jurema se compor de duas grandes linhas
de trabalho: a linha dos mestres de jurema e a linha dos encantados. Texto disponvel em
https://pt.wikipedia.org/wiki/Jurema_sagrada Acesso em 07.jul.2015. 14
Luziara da Conceio, Segundo os adeptos da Jurema um esprito que teve vida na terra, e na sua
passagem foi encantada na flor da Jurema Preta e se apresenta em uma forma mais jovem apesar de sua idade
na poca de sua passagem para o reino dos encantados da Jurema Preta, foram encantados na sua passagem
em animal ou vegetal. 15
Dek, o momento que aps passar pelos ebs de praxe, fica recolhido sete dias, e muitos fundamentos
lhe so entregues os direitos, nesse momento em que a pessoa deixa de ser yaw ou novio, e s acontece
com no mnimo sete aps de feitura ou raspagem. Equivale ser ordenado na Igreja Catlica. 16
Ketu ou Ketu/Nag, Dos muitos grupos de negros vindos para o Brasil, durante o trfico negreiro, 03
(trs) categorias ou naes se destacaram: Negros Fons ou Nao Jej, Negros Yorubs ou Nao Ketu,
Negros Bantos ou Nao Angola, Cada uma dessas 03 (trs) naes tem dialeto e uma ritualstica prpria.
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Comunidade do Governante de y, em 2000 mudou-se para o P Norte
levando seu barraco; que tambm funcionou na casa dos fundos.
Motivado pelo aumento da quantidade de filhos de Santo, e a consequente
falta de espao para acomod-los, alm de no poder cultivar as ervas sagradas
devido falta de espao e devido ao alto preo dos imveis no DF, resolveu
comprar um lote no recm-emancipado municpio de guas Lindas para morar e
construir seu Terreiro.
O Il Ob As Egb lfin y um Terreiro dos mais antigos da cidade,
possuindo respeito entre os demais e certa liderana; nada relacionado s
religies de matriz afro brasileira em guas Lindas de Gois feito sem sua
participao.
No inicio deste ano foi um dos organizadores da Marcha Contra a
Intolerncia Religiosa em repdio as agresses sofridas por membros de um
Terreiro coirmo; alguns de seus filhos de santo hoje possuem casa aberta, em
guas Lindas de Gois, em Braslia e at em outros estados da federao.
Atualmente o Terreiro, conta com aproximadamente 70 mdiuns, com um
foco bastante familiar, j que boa parte dos filhos de santo possuem laos
consanguneos: me, filha, filhos, sobrinhas (os), netas (os), o que os torna uma
grande famlia.
Pai Obalaj informou que est em trmite a papelada para criar uma ONG
como entidade mantenedora de seu Terreiro, e que realiza cerca de oito festas
anualmente, as roupas e ferramentas utilizadas pelos filhos de Santo para vestir
os Orixs so confeccionadas por ele mesmo, alm, dos doces, salgados e
comidas servidas nas festas, j que diz ser tambm um exmio cozinheiro.
2.4 A Ao de Interveno
Em 19 de julho foi realizada a derradeira ao deste projeto interventivo,
que contou com vrias atividades, nos referimos a palestra proferida no Il Ob
As Egb lfin y, pelo cursista da Especializao EIPDCC, conceituando
Ancestralidade, Oralidade, Memria, Patrimnio Material e Imaterial, alm de
Educao Patrimonial; atravs de recursos eletrnicos com a exibio de um
PowerPoint produzido especialmente para atingir o pblico alvo, quer seja: as
Filhas de Santo, os Filhos de Santo, os Ogns, as Ekedys e convidados que
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26
participam como atores sociais na preservao dos conhecimentos ancestrais e
na preservao da oralidade como principal ferramenta de transmisso dos
conhecimentos mitolgico dos Orixs e Itns.
E para ilustrar a preservao da oralidade nas Comunidades de Terreiros,
os presentes em quase cinco dezenas, assistiram com curiosidade e
deslumbramento o curta metragem O Tempo dos Orixs, que quase uma obra
autobiogrfica de sua Diretora, a Cineasta baiana, Eliciana Nascimento, radicada
nos Estados Unidos da Amrica, que com surpresa viu sua obra ser escolhida
para o cast do Festival de Cannes do ano passado.
Em vinte minutos e treze segundos de bela fotografia e muita magia, o
silncio tomou conta do salo principal da Casa de Santo A Casa de Fora do
Rei, Comunidade do Governante de y, onde normalmente so realizadas as
festas pblicas para louvar os Orixs.
Figura 14
Figura 15
Figura 16
Diante dos atabaques o computador e o data show.
Pai Obalaj apresentando o especializado para seus filhos de Santo O Pesquisado na companhia do Sacerdote Obalaj
Fonte: Acervo Prprio
A personagem Lili, uma menina de mais ou menos sete anos
afrodescendente, que inclusive lembra a prpria Diretora Eliciana quando
pequena; protagonizada por uma criana da comunidade sem nenhum
conhecimento de artes cnicas, mas que consegue atrair a ateno de quem
assiste ou vdeo devido sua bela atuao. Lili passava suas frias escolares num
ncleo rural do litoral baiano, sempre ajudando sua av nos afazeres litrgicos e
fitoterpicos para fazer meisinhas para cicrano, beltrano e fulana. Na pessoa de
sua av assistimos a toda oralidade transmitida pequena Lili, que por fim
herda o cargo de sacerdotisa de Yemanj; vemos o encantamento da oralidade
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como forma de transmisso do conhecimento mtico, buscando em sua memria
todas as histrias que aprendeu oralmente durante as demoradas prosas de sua
av.
Figura 17
Figura 18
Cartaz de Divulgao de O Tempo dos Orixs.
Lili na praia e a sua frase que norteou essa pesquisa.
Fonte: Candance Cine Vdeo
Toda a magia do filme foi calorosamente debatida com os presentes e
discutida a oralidade enquanto ferramenta de transmisso de conhecimentos
tradicionais das Comunidades de Terreiro, o que vai ao encontro da afirmao
de MACIEL (1998): este saber quase milenar a adoo e a prtica do registro
oral, como um meio bastante eficaz para salvaguardar os seus registros
mnemnicos, assim como prova de que este saber pertence a este e/ou aquele
grupo (MACIEL, 1998:385).
Quando da propositura deste Projeto Interventivo, o objetivo primeiro, era
discutir a salvaguarda de todo essa bagagem cultural encontrada na oralidade
dos praticantes de religies afro descendentes no Planalto Central, que pela falta
de conhecimento, apoio logstico e territorial tende a esmorecer e se perder para
sempre, pois os mais velhos esto morrendo, e os mais novos, devido a
intolerncia religiosa esto se afastando das Comunidades de Terreiros. Urge que
algo seja feito, junto as Ialorixs e os Babalorixs do cerrado, caso contrrio
nosso ldico titulo Oralidade, a Histria entre os lbios da dispora Afro-
brasileira no Cerrado tende a ser apenas uma vaga lembrana.
E falando em oralidade, no era possvel deixar de citar Me Beata de
Yemanj, que mesmo do alto de seus oitenta e quatro anos de vida, uma das
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incansveis lutadoras da preservao dos contos e recontos de sua Comunidade
de Terreiro, e da sua tradicionalidade mitolgica dos Orixs, e sempre que pode
est treinando pequenas e pequenos griot.
Figura 19
Me Beata de Yemanj em uma de suas muitas prosas de contos
e recontos da mitologia dos Orixs para os griot de amanh.
Fonte: Pallas Editora
Quando do lanamento de seu livro Caroo de Dend a sabedoria dos
Terreiros como Ialorixs e Babalorixs passam conhecimentos a seus filhos,
Vnia Cardoso (2008) a poca Diretora da NSF National Sciencie Foundation;
escreveu o que Me Beata lhe havia dito justificando a necessidade da publicao
do livro: ns, negros, estamos precisando muito disso, de saber as nossas
histrias. Precisamos saber que ns somos capazes, ns, negros que ns das
religies afros temos histria, temos saber (CARDOSO, 2008:15).
Aps este debate, foi realizada a derradeira Ao deste Projeto
Interventivo, tendo como ferramentas: IPhone, Smartphones e Ipads; uma rpida
oficina sobre o uso das Tecnologias de Informao e Comunicao TICs, j que
estas ferramentas na ps modernidade esto cada fez mais acessveis, a ideia
us-las para perpetuar a transmisso dos conhecimentos da ancestralidade e as
tradies ritualstica do culto do Orixs atravs da oralidade, produzindo vdeos e
udios de cantigas, rezas festas e ensinamentos.
Dada como encerrada a Ao interventiva, o Pai Obalaj agradeceu o
empenho em levar de forma to acessvel um conhecimento to importante para
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manter a tradio dos Inkisis, Orixs e Voduns e convidou todos os presentes
para a Gira de Caboclos & Boiadeiros, especialmente organizados para prover
seu Povo de Santo deste aprendizado oferecido nesta Palestra e pela Oficina.
Figura 20
Figura 21
Figura 22
A Mestra Dona Luziara da Conceio com o pesquisador
Seu Z Pilintra cumprimenta a Professora Luciana Sousa do HCABA/UFG O pesquisador com Seu Z Pilintra.
Fonte: Acervo Pessoal
2.5 A Exposio como produto do Projeto de Interveno
A Comunidade de Terreiro Casa de Fora do Rei, Comunidade do
Governante de y foi to receptiva que durante a gira nos procuraram para
sugerir a montagem de uma Exposio utilizando todo o material produzido em
vdeos, udios e fotos, banners e alguns pertences litrgicos e vestimentas de
Orixs.
Figura 23
Figura 24
Figura 25
Os Banners no Terreiro A Casa de Fora do Rei, Comunidade do Governante de y
O Salo de atividades litrgicas de Casa de Fora do Rei, Comunidade do Governante de y. O incio das festividades do Olubaj
Fonte: Acervo Prprio
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A Exposio foi realizada primeiramente no Polo da UFG em guas Lindas
de Gois, no dia da apresentao dos Relatrios Cientficos e no prprio Terreiro
no perodo noturno durante as festividades do Olubaj17, uma das mais
tradicionais Festas do calendrio litrgico do Candombl, dedicada a Obalua, o
Orix da sade/doena e da fartura e das pragas que se comemora em agosto e
que no sincretismo catlico cristo seria So Lazaro.
.Figura 26
Figura 27
Figura 28
O Pesquisador, um assentamento de Ex e a Me Bete de Yemanj
Manequins com as vestes de Dona Luziara e do Seu Z Pilintra
O Pesquisador e sua Orientadora Prof. Mana Rosa
Fonte: Acervo Prprio
Na entrada da Exposio havia um assentamento de Exu18, dois
manequins que representavam a Mestra da Jurema: Dona Luziara e o Seu Z
Pilintra.
Na parte interna, outros dois manequins, desta feita um representava Ians
(Santa Barbara), o Orix que comanda a tempestade e os ventos e outro Xang
(So Pedro/ Jernimo) o Orix consagrado a Justia.
Seis banners que traziam: o resumo da Pesquisa, o mapa do municpio, o
mapeamento dos Terreiros, bem como de alguns objetos litrgicos utilizados no
culto dos Orixs, tais como: Ibs19, dicissas20, e balaio21.
17
Olubaj, ritual especfico para o orix Obaluay, indispensvel nos terreiros de candombl, no sentido de
prolongar a vida e trazer sade a todos os filhos e participantes do ax. No encerramento do Olubaj
oferecido no mnimo nove iguarias da culinria afro-brasileira chamada de comida ritual pertinente a vrios
Orixs, simbolizando a Vida, sobre uma folha chamada "Ewe Ilar conhecida popularmente como mamona assassina, "altamente venenosa" simbolizando a Morte (iku). 18
Assentamento de Ex ou Igba exu, confeccionados de vrias formas, muitos so feitos em panela de
ferro, alguid, panela de barro, modelado com tabatinga, em forma humana completa, ou apenas busto, com
olhos e boca feito de bzios. Igba exu tambm pode ser representado por uma pedra, preferencialmente de
laterita ou um montculo de terra, contendo vrios elementos do reino animal, vegetal e mineral. 19
Igba orixa, ib orixa ou simplesmente ib, o nome dos assentamentos sagrados dos orixs na cultura
nago vodun, onde so colocados apetrechos e fetiches inerente a cada um deles na feitura de santo, de acordo
com Eurico Ramos (2011), em Revendo o Candombl, o assentamento do Orix, a base, onde os
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Figura 29
Figura 30
Figura 31
Manequim com as vestes de Oy (Ians/Santa Barbara)
Os Ibs de Oxum e de Logum Ed
Manequim com as vestimentas de Xang (So Pedro/Jernimo)
Fonte: Acervo Prprio
Faziam parte tambm da Exposio no Polo de guas Lindas, 25
fotografias ampliadas em tamanho A3 em Preto & Branco e Coloridas, de autoria
da premiada e renomada fotografa radicada em Parnaba, especializada em
fotografar solenidades do povo de santo em Teresina, So Luiz, em Braslia e
Entorno: Maria Carol.
Figura 32
Figura 33
Figura 34
A Exposio Fotogrfica em dois ngulos distintos
O Balaio e a Adicissa (esteira)
Fonte: Acervo Prprio
Fotografias estas, que foram expostas com nos banners na solenidade de
encerramento da EIPDCC no Saguo da Faculdade de Direito DA UFG.
praticantes do Candombl aglutinam determinados elementos pertencentes a uma divindade especifica que
passam ali a represent-la. 20
Adicissa, enim, dicissa, esteira ou esteira nag; so nomes pertinentes pea de artesanato, feito de vrios
materiais, taboa, sisal, palha, etc., muito usado no nordeste do Brasil e em terreiros das religies afro-
brasileiras. Objeto sagrado muito importante para o povo do santo, fazendo parte de quase todos os rituais
como feitura de santo, apanan, sasanha, orunk bori, tem a funo de cama, mesa e divisria para
compartimentos sagrados do terreiro e pejis. 21
Balaio, conforme Cmara Cascudo, Cesto confeccionado em fibra vegetal de uso domstico, muito comum
nas culturas amerndias e afrodescendentes.
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Os Banners foram apresentados ainda no X CTE Congresso de
Trabalhadores em Educao promovido pelo SINPRO DF, em agosto de 2015 e
do IV SERNEGRA Semana de Reflexes sobre Negritude Gnero e Raa do
Instituto Federal de Braslia e do II COPENECO Congresso de Pesquisadoras
(es) Negras(as) da Regio Centro Oeste em novembro de 2015.
Figura 35
Figura 36
Figura 37
A Exposio de Banners no Saguo da Faculdade de Direito da UFG
O Pesquisador e a Mostra Fotogrfica na Faculdade de Direito da UFG
Fonte: Acervo Prprio
No encerramento festivo no Saguo Nobre da Faculdade de Direito da
UFG em Goinia, os cursistas da Especializao Interdisciplinar em Patrimnio,
Direitos Culturais e Cidadania EIPDCC, os Cursistas, Professores Formadores,
Tutores e Coordenadores, tiveram a oportunidade de assistir um compndio dos
trabalhos apresentados, participarem do lanamento do E-book e do Livro com as
Webconferncias e um coquetel festivo.
Figura 38
Figura 39
O Pesquisador recebe o certificado da Professora Marisa Damas
O Pesquisador cumprimentado pela Professora Simone Rosa
Fonte: Arquivo Prprio
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3 ALGUMAS CONSIDERAES
Com a alegria contagiante e envolvente que possu a Comunidade de
Terreiros, recebe sempre com boas vindas aqueles que procuram para
orientao espiritual, e tambm aos estudiosos e pesquisadores que batem as
suas portas para aprenderem seus rituais e sua historiografia atravs dos itns e
da oralidade. O presente Projeto de interveno foi extremamente salutar, foi
possvel ensinar aprendendo como pregava a Doceira que escrevia Poemas:
Cora Coralina.
Todas as participaes em eventos tem provocado um excelente feedback
sobre nossa pesquisa, as aes desenvolvidas e a interveno realizada tem
gerado bons frutos, como o convite para publicao de um livro por uma editora
do segmento afrodescendente e o convite para participarmos da 13 Conferncia
Internacional sobre Representaes Sociais, que ser realizada em Marselha
(Palais du Pharo), na Frana, de 14 de setembro a 17 de setembro de 2016, com
tema "epistemologias da vida cotidiana."
Essa energia cultuada por todos que professam as religies de matriz
africana a responsvel pelos conhecimentos, mdicos, gastronmicos, de
linguagem e espiritual, chegarem aos nossos dias, porque o colonizador usou de
todos os artifcios para que os negros que para c foram trazidos, para serem
escravizados perdessem a vontade de viver e fossem a bito.
Conta-se que os negros antes de embarcarem em frica com destino as
Amricas pre serem negociados como escravos eram obrigados a dar vrias
voltas ao redor de uma rvore; a rvore do esquecimento22, para que esta
absorvesse as suas energias e estes no terem condies de se rebelarem contra
o escravocrata opressor.
Os entre-lugares dos cultos de matriz africana, em suas diversas
denominaes ao ordenarem em conjunto com o governo nos trs nveis, aes
22 rvore do Esquecimento, A dispora africana do sc. XVI provocou na pulverizao estelar de saberes, o
patrimnio imaterial que cruzou o Atlntico, resistiu ao ritual da rvore do esquecimento, no Benin, em Wuid, um dos grandes portos de embarque de negros para serem escravizados, estes percorriam uma trilha
superior a 5 quilmetros da cidade at o porto; neste percurso, todo escravo que ia embarcar era obrigado a
dar voltas em torno drvore do esquecimento. Os homens davam 9 voltas e as mulheres 7 voltas, ao redor dessa rvore. Acreditavam os mercadores de negros para escraviza-los nas Amricas, que este ritual resultaria
na possvel perda da identidade das mulheres, crianas e homens africanos ao esquecerem suas origens.
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34
de assistncia social e cultural nos Terreiros corroboram, para a formao de
ONGs e Associaes que visam consolidao e manuteno de representaes
que os qualificam e simultaneamente favorecem as prticas culturais; bandas,
blocos, grupos de dana e de bal que acabam por torn-los polos irradiadores
do patrimnio religioso e cultural - imaterial e material que adormece junto s
dicissas.
Toda a bagagem cultural, social poltica e doutrinria dos atores sociais
onde foi executada a presente pesquisa e posterior interveno comprova que de
forma geral o Candombl, no mbito cultural, estigmatizado e criticado por
outros grupos sociais, haja vista que a historia e a doutrina do colonizador e
dominador est arraigada com conceitos distorcidos e errneos.
Uma vez que na vida social h situaes em que cada pessoa uma
representao de uma pessoa (MOSCOVICI, 1978, p. 64), como os filhos de
santo, de jogadores de futebol, de artistas, etc., e as reaes da sociedade no
a essas pessoas, mas sim, em nome das posies sociais que elas ocupam.
Quando se trata de um indivduo ou grupo estranho, ele no julgado
individualmente, mas no mago do seu grupo, no coletivo, pela sua etnia, classe
ou nao a que pertence como, por exemplo: os negros, candomblecistas,
umbandistas, judeus, ciganos, pobres etc. MOSCOVICI (1978, p. 64) assim
explica essa classificao dentro das Representaes Sociais [...] o racismo o
caso extremo em que cada pessoa julgada, percebida, vivida, como
representante de uma sequncia de outras pessoas ou de uma coletividade.
Parafraseando MOSCOVICI (1978), a representao social um reflexo do
real, o imaginrio na conscincia individual ou coletiva de um objeto ideias que
lhes so exteriores, uma fotografia captada e alojada no crebro, enquanto a
representao social ativa, porque modela e reconstri o dado do exterior.
Se por acaso a representao fosse apenas uma imagem, fixaria na
conscincia individual ou coletiva a imagem da diversidade de papis e funes
do negro na sociedade, a riqueza da sua cultura e religiosidade, entre outras
imagens do cotidiano do povo negro, contudo os conceitos ou preconceitos
recalcadores internalizados na nossa conscincia subtraem a visibilidade ou
modelam negativamente o povo negro e em especial o povo dos Terreiros.
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Todavia, mesmo diante desse quadro de injustia, luta e preconceito social,
religioso e racial e desvalorizao da cultura negra, que nossa sociedade prtica
h vrias dcadas relegado-a para um segundo plano, acreditamos que nosso
trabalho h de ajudar no empoderamento do povo de Terreiro.
Por fim, este trabalho de interveno e pesquisa no se encerra aqui, com
toda a certeza h de gerar outras aes que ho de colaborar com o
empoderamento e a maior visibilidade do povo negro para amenizar a
discriminao, a intolerncia religiosa e o racismo. Ax Odara!
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REFERNCIAS
ABREU, Joanisa Vieira de. Os Orixs Danam no Planalto Central. Braslia: Fundao Cultural Palmares, 2006. ADICHIE, Chiamanda. Vdeo: Os perigos de uma histria nica. Disponvel em: http://www.youtube.com/watch?v=EC-bh1YARsc. Acesso em: 29 jun. 2014 ANDRADE, Mrio. Ante Projeto de Criao do SPHAN. So Paulo: SPHAN, 1936. BEATA, Yemanj de Me. Caroo de Dend a sabedoria dos Terreiros, como Ialorixs e Babalorixs passam conhecimentos a seus filhos. Ilustraes Raul Lody -2. Ed. Rio de Janeiro Pallas, 2008. BERNARDES, Adriana. Somos invisveis para os Governos. Correio Braziliense, Braslia: 9 jul. 2015. Cidades, p.23. BHABHA, Homi K. O Local da Cultura. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2003. BRASIL, Constituio (1988). Braslia: Senado Federal, Subsecretaria de Edies Tcnicas, 2010 CARDOSO, Vnia. Mito e Memria: a potica afro-brasileiros contos de Me Beata. In: BEATA, Yemanj de Me. Caroo de Dend a sabedoria dos Terreiros, como Ialorixs e Babalorixs passam conhecimentos a seus filhos. Ilustraes Raul Lody -2. Ed. Rio de Janeiro Pallas, 2008. CARREIRA, Grace Laine Pincerato. Patrimnio cultural imaterial: do anteprojeto de Mrio de Andrade constituio de 1988 aspectos relevantes. In: Encontro Internacional de Direitos Culturais. Fortaleza: OAB, 2012. Disponvel em: http://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:1gtkR1y1psYJ:www.direitosculturais.com.br/download.php%3Fid%3D118+&cd=1&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br Acesso em 03. jul. 2015. CASCUDO, Luis da Cmara. Dicionrio do Folclore Brasileiro. So Paulo: Global, 2001. COSTA, Lcio. Braslia a cidade que inventei. Relatrio do Plano Piloto de Braslia. Braslia: Iphan DF, 2014. GEERTZ, Clifford. A interpretao das Culturas. Rio de Janeiro: LTC, 2008. GONALVES, Jos Reginaldo Santos. A retrica da perda: os discursos do patrimnio cultural no Brasil. Rio de Janeiro: Ed. UFRJ, IPHAN, 2002.
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ANEXO A CLOSSRIO DAS PALAVRAS DIFERENTES
Termo Significado lfim Titulo do Orix Xang Aluj Ritmo em Yorub que usa uma pequena vara para tocar Arajin Corpo de fogo em Yorub As Fora / Energia Bem Imaterial Conhecimento intangvel Bem Material Obras de arte, construes, fsseis Dispora Mudana forada provocada por religio / etnia Dek Certificao equivalente a ordenao / Cuia Egb Comunidade ou povoado em Yorub Gantois Local de uma Casa de Santo em Salvador Gbt Guerreiro em Yorub Ib Conjunto de loua, ferro ou barro que representa o Orix Il Terra em idioma Yorub Jeged Mimado em Yorub Jurema Uma das vertentes do culto afro indgena Legu Boji Bu Encantaria da Cultura Maranhense Mona Filho em idioma Banto Mina Uma das vertentes do culto afro Nzambi Deus Supremo em idioma Banto Nzo Casa em idioma Banto Ob Rei em Yorub Omin gua em Yorub Oxumar Orix do Arco Iris Oy Antiga Nao governada por Xang Tata Pai no idioma Banto Terec Uma das vertentes do culto afro indgena Tumba Jussara Uma das vertentes do culto afro
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ANEXO B Banners da Exposio
No Polo da UFG UAB/guas Lindas em agosto de 2015, X CTE Congresso de Trabalhadores em Educao promovido pelo SINPRO DF, em agosto de 2015 e do IV SERNEGRA Semana de Reflexes sobre Negritude Gnero e Raa do Instituto Federal de Braslia e do II COPENECO em novembro 2015 e no Encerramento da EIPDCC em Goinia em dezembro de 2015.
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Coordenao de Orientadora: Simone Rosa da SilvaOrientadora Acadmica MSC. Mana Marques Rosa
Especializando: Marcus Alberto Moura Maciel guas Lindas de Gois GO, agosto de 2015
Oralidade, a Histria entre os lbios da Dispora Afro-brasileira no Cerrado carece ser preservada
Os nossos MAPAS: A RIDE, guas Lindas de Gois e os Templos de Cultos de Matriz Afro levantados e mapeados.
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PR-REITORIA DE PESQUISA E INOVAO
PR-REITORIA DE PS-GRADUAONCLEO INTERDISCIPLINAR DE ESTUDOS E PESQUISAS EM DIREITOS HUMANOS
Especializao Interdisciplinar em Patrimnio, Direitos Culturais e Cidadania
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Eu sei que no vou lembrar de todas as histriasQue ela contou,mas de uma coisa lembro,nunca devemos esquecer de onde viemos, pois nopassado queencontraremos a fora para criarum futuro.
Eliciana Nascimento - 2014
Coordenao de Orientadora: Simone Rosa da SilvaOrientadora Acadmica MSE. Mana Marques Rosa
Especializando: Marcus Alberto Moura Maciel guas Lindas de Gois GO, agosto de 2015
Oralidade, a Histria entre os lbios da Dispora Afro-brasileira no Cerrado carece ser preservada!
O Tombamento de Terreiros em Salvador (Gantois), a Palestra (Ao Interventiva) no Il Ob As Egb lfin y, em guas Lindas de Gois, e o curta Metragem Tempo dos Orixs
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Coordenao de Orientadora: Simone Rosa da SilvaOrientadora Acadmica MSC. Mana Marques Rosa
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Oralidade, a Histria entre os lbios da Dispora Afro-brasileira no Cerrado carece ser preservada
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Especializao Interdisciplinar em Patrimnio, Direitos Culturais e Cidadania
Mestra da Jurema Sagrada Dona Luziara da Conceio
Os africanos contriburam com o seu
conhecimento sobre o culto dos mortos
eguns e das divindades da natureza, osOrixs Voduns e Inkices.
Os ndios; contriburam com o conhecimento
de invocaes dos espritos de antigos pajs
e dos trabalhos realizados com os
encantados das matas e dos rios.
Da a jurema se compor de duas grandes
linhas de trabalho: a linha dos mestres de
jurema e a linha dos encantados. Mestra
Dona Luziara da Conceio Segundo os
adeptos da Jurema um esprito que teve
vida na terra, e na sua passagem foi
encantada na flor da Jurema Preta e se
apresenta em uma forma mais jovem apesar
de sua idade na poca de sua passagem
para o reino dos encantados da Jurema
Preta, foram encantados na sua passagem
em animal ou vegetal.
JUREMA SAGRADA
Tradio religiosa remanescente dos ndios que
habitavam o litoral da Paraba, Rio Grande do
Norte e no Serto de Pernambuco e dos seus
pajs, grandes conhecedores dos mistrios do
alm, plantas e dos animais. Depois da chegada
dos africanos no Brasil, quando estes fugiam dos
engenhos onde estavam escravizados,
encontravam abrigo nas aldeias indgenas, e
atravs desse contato, os africanos trocavam o
que tinham de conhecimento religioso em comum
com os ndios.
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Especializando: Marcus Alberto Moura Maciel guas Lindas de Gois GO, agosto de 2015
Oralidade, a Histria entre os lbios da Dispora Afro-brasileira no Cerrado carece ser preservada
As trs primeiras fotos retratam as trs sadas na Festa de Iniciao do Pai Obalaj, a 4 ele incorporado com Xang,
a 5 o Trono de Xang, a 6 a Gameleira Branca, a rvore sagrada e a 7 o Ib de Exu de Xang
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