oralidade, a história entre os lábios da diáspora afro-brasileira no cerrado

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Relatório Técnico Cientifico do Projeto de Intervenção realizado no Ilê Obá Asé Egbé Àlàfin Òyó (Pai Obalajô), em Águas Lindas de Goiás, como requisito para aprovação e obtenção do Título de Especialista em Patrimônio Diversidade Cultural e Cidadania pelo Núcleo de Direitos Humanos da Faculdade de Direito da UFG (Turma 2013/2015) sob a Coordenação da MsC Marisa Damas e Orientado por MsC Mana Rosa.

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIS

    PR-REITORIA DE PESQUISA E INOVAO PR-REITORIA DE PS-GRADUAO

    NCLEO INTERDISCIPLINAR DE ESTUDOS E PESQUISAS EM DIREITOS HUMANOS

    Especializao Interdisciplinar em Patrimnio, Direitos Culturais e Cidadania

    Oralidade, a Histria entre os lbios da Dispora Afro-brasileira no Cerrado.

    Por Marcus Maciel

  • MARCUS ALBERTO MOURA MACIEL

    Oralidade, a Histria entre os lbios da dispora Afro-brasileira no Cerrado.

    Relatrio tcnico-cientfico apresentado como requisito para obteno de aprovao na Especializao Interdisciplinar em Patrimnio, Direitos Culturais e Cidadania na Universidade Federal de Gois. Orientado por: MsC. Mana Marques Rosa

    Goinia, 2015

  • UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIS

    PR-REITORIA DE PESQUISA E INOVAO PR-REITORIA DE PS-GRADUAO

    NCLEO INTERDISCIPLINAR DE ESTUDOS E PESQUISAS EM DIREITOS HUMANOS

    Especializao Interdisciplinar em Patrimnio, Direitos Culturais e Cidadania

    Folha de Aprovao

    Marcus Alberto Moura Maciel

    Aprovado em ___/___/2015

    _____________________________________________ Mana Marques Rosa Titulao: Mestranda

    Universidade Federal de Gois

    _____________________________________________ Welbia Carla Dias Membro da Banca

    Universidade Federal de Gois

    CONCEITO FINAL:_________________

  • AGRADECIMENTOS

    Agradeo de Corao:

    A Logum Ed O Santo menino que velho respeita.

    Aos meus Pais: Jandy e Nena

    Minha bssola para a vida!

    Ao meu companheiro Tony Santos Pela pacincia e incentivo.

    A minha Tia Snia

    Que mesmo distante, foi grande incentivadora.

    A minha irm Walria Christina Que muito ajudou a desvendar mistrios.

    Aos meus Professores do EIPDCC,

    em especial ao Z Eduardo.

    A minha Orientadora Mana Rosa Pela parcimnia na construo de novos saberes.

    Ao Pai Obalaj (Eliel Jnior)

    Um anjo que Xang mandou.

    A Comunidade de Terreiro do Il Ob As Egb lfin y

    Sem a qual esta Pesquisa no seria exitosa.

    A Eliciana Nascimento Que na simplicidade da fala da Lili, foi o Ponto de Partida.

    A Ellen Rocha

    Por todo apoio Logstico.

    A Maria Carol Que nos detalhes de suas lentes mostrou uma nova leitura!

    Aos Amigos da Biblioteca da Fundao Cultural Palmares

    Pelas pesquisas e contribuies Literrias.

    Aos Amigos do Iphan DF Pela doao de livros que embasaram o presente trabalho.

  • DEDICATRIA

    A Professora Mestre Marisa Damas Inspirao acadmica.

    A Professora Simone Rosa

    pelas sugestes para melhor compreenso dos que desconhecem o Culto aos Orixs

    A Domingos Jos da Costa Lopes

    Grande inspirador a continuidade dos estudos. (In memoriam)

    A Marilene Muniz, a minha Tia Bai

    por me apresentar as coisas da Umbanda e da Encantaria. (In memoriam)

  • A memria cria a corrente da tradio. Que passa um acontecimento de gerao em gerao.

    Walter Benjamin

  • RESUMO Este trabalho consiste em um Relatrio Tcnico dos resultados do Projeto de

    Interveno realizado junto um Terreiro de Candombl; de dez que foram

    mapeados, localizados no municpio de guas Lindas de Gois, regio do entorno

    do Distrito Federal. Relata a necessidade da preservao da oralidade nos Terreiros

    que em dispora tem deixado o Distrito Federal rumo s cidades do entorno. Parte-

    se do princpio que a falta de locais determinados para o culto urbano dos Orixs,

    fez com que vrios Terreiros migrassem para a zona rural, e preocupa a

    possibilidade do conhecimento quase milenar do Povo de Santo, que se estabeleceu

    no cerrado do Planalto Central, venha a se perder no meio dessas mudanas. Este

    Projeto de Interveno: Oralidade, a Histria entre os lbios da dispora Afro-

    brasileira no Cerrado, nasceu nos encontros presenciais e no ambiente virtual da

    Especializao Interdisciplinar de Patrimnio, Direitos Culturais e Cidadania

    EIPDCC; ofertado pela UAB/UFG.

    PALAVRAS-CHAVE: Distrito Federal, Candombl, Oralidade, Patrimnio Imaterial.

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 01 Vista do Terreiro da Casa Branca. Pgina 10

    Figura 02 Coroa do Poste Central do Salo da Casa Branca. Pgina 10

    Figura 03 Marco do Tombamento pelo IPHAN do Terreiro do Gantois Pgina 11

    Figura 04 O Pesquisador na Porta Central do Terreiro do Gantois. Pgina 11

    Figura 05 A Primeira Missa no Brasil, aquarela de Victor Meirelles/1861. Pgina 13

    Figura 06 Afresco do Sonho de Dom Bosco/1883, visualizando talvez Braslia. Pgina 13

    Figura 07 A Primeira Missa de Braslia em 1957. Pgina 13

    Figura 08 Congruncia do Eixo Rodovirio com o Eixo Monumental. Pgina 13

    Figura 09 Mapa da RIDE do DF e Entorno. Pgina 15

    Figura 10 Mapa de guas Lindas de Gois com sua localizao no Brasil e no DF. Pgina 15

    Figura 11 Fac-smile da reportagem Somos invisveis para os governos. Pgina 16 Figura 12 Mapeamento de terreiros estudados em guas Lindas de Gois Pgina 19

    Figura 13 Planilha norteadora do mapeamento de terreiros estudados em guas

    Lindas de Gois

    Pgina 20

    Figura 14 Diante dos atabaques o computador e o data show. Pgina 26

    Figura 15 Pai Obalaj apresentando o especializado para seus filhos de Santo Pgina 26

    Figura 16 O Pesquisado na companhia do Sacerdote Obalaj Pgina 26

    Figura 17 Cartaz de Divulgao de O Tempo dos Orixs. Pgina 27

    Figura 18 Lili na praia e a sua frase que norteou essa pesquisa. Pgina 27

    Figura 19 Me Beata de Yemanj em uma de suas muitas prosas de contos e recontos da mitologia dos Orixs para os griot de amanh.

    Pgina 28

    Figura 20 A Mestra Dona Luziara da Conceio com o pesquisador Pgina 29 Figura 21 Seu Z Pilintra cumprimenta a Prof. Luciana Sousa do

    HCABA/UFG

    Pgina 29

    Figura 22 O pesquisador com Seu Z Pilintra. Pgina 29 Figura 23 Os Banners no Terreiro A Casa de Fora do Rei, Comunidade do

    Governante de y Pgina 29

    Figura 24 O Salo de atividades litrgicas de Casa de Fora do Rei, Comunidade do Governante de y.

    Pgina 29

    Figura 25 O incio das festividades do Olubaj Pgina 29

    Figura 26 O Pesquisador, um assentamento de Ex e a Me Bete de Yemanj Pgina 30

    Figura 27 Manequins com as vestes de Dona Luziara e do Seu Z Pilintra Pgina 30

    Figura 28 O Pesquisador e sua Orientadora Prof. Mana Rosa Pgina 30

    Figura 29 Manequim com as vestes de Oy (Ians/Santa Barbara) Pgina 31

    Figura 30 Os Ibs de Oxum e de Logum Ed Pgina 31

    Figura 31 Manequim com as vestimentas de Xang (So Pedro/Jernimo) Pgina 31

    Figura 32 A Exposio Fotogrfica Pgina 31

    Figura 33 A Exposio Fotogrfica Pgina 31

    Figura 34 O Balaio e a Adicissa (esteira) Pgina 31

    Figura 35 A Exposio de Banners no Saguo da Faculdade de Direito da UFG Pgina 32

    Figura 36 A Exposio de Banners no Saguo da Faculdade de Direito da UFG Pgina 32

    Figura 37 O Pesquisador e a Mostra Fotogrfica no na Faculdade de Direito UFG Pgina 32

    Figura 38 O Pesquisador recebe o certificado da Coordenadora Marisa Damas Pgina 32

    Figura 39 O Pesquisador cumprimentado pela Professora Simone Rosa Pgina 32

  • SUMRIO

    INTRODUO ....................................................................................................................................... 9

    2 DESENVOLVIMENTO..................................................................................................................... 14

    2.1 Objetivo Geral .............................................................................................................. 21

    2.1.1 Objetivos especficos .............................................................................................. 21

    2.2 Metodologia.................................................................................................................. 21

    2.3 Il Ob As Egb lfin y, o Objeto de estudo ................................................. 23

    2.4 A Ao de Interveno ............................................................................................... 25

    2.5 A Exposio como produto do Projeto de Interveno ......................................... 29

    3 ALGUMAS CONSIDERAES ..................................................................................................... 33

    REFERNCIAS ................................................................................................................................... 36

    ANEXO A .............................................................................................................................................. 38

    CLOSSRIO DAS PALAVRAS DIFERENTES ............................................................................... 38

    ANEXO B .............................................................................................................................................. 39

    Banners da Exposio ........................................................................................................................ 39

  • 9

    INTRODUO

    Eu sei que no vou lembrar de todas as histrias que ela contou, mas de

    uma coisa lembro, nunca devemos esquecer de onde viemos, pois no passado

    que encontraremos a fora para criar um futuro. Com essa frase temos o gran

    finale do curta metragem: O Tempo dos Orixs1, (O Tempo dos Orixs, 2014).

    Esta fala ilustra toda a preocupao e inquietao quando da proposio

    do Projeto de interveno: Oralidade, a Histria entre os lbios da dispora

    Afro-brasileira no Cerrado, no municpio de guas Lindas de Gois, cidade com

    apenas 20 anos de emancipao poltica, localizada no entorno de Braslia

    fazendo parte da Regio Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e

    Entorno tambm conhecida como RIDE2.

    O Tombamento de Terreiros3 do culto Afro-brasileiro algo recente, e

    segundo o antroplogo Gilberto Velho, a primeira vez deu-se com o tombamento

    da Casa Branca, em 1984. Ocasio que se registrou no Livro de Tombo

    Histrico, Arqueolgico, Etnogrfico e Paisagstico:

    [...] uma cultura que no se restringisse herana da civilizao de origem europeia, mas, que fosse compreendida como um fenmeno abrangente que inclui todas as manifestaes materiais e imateriais que expressam as crenas, valores e vises de mundos existentes em uma sociedade (VELHO, 1984, p.11).

    O tombamento da Casa Branca em Salvador em 1984, pelo Instituto do

    Patrimnio Histrico e Artstico Nacional IPHAN fez com que o Estado, mesmo

    que tardiamente, incorporasse nos pilares do atual Inventrio Nacional de

    1 Orixs Ancestrais divinizados, respectivamente cultuados por Fons, Iorubs e Bantos.

    2 RIDE Regio Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno, foi criada pela Lei

    Complementar n 94, de 19 de fevereiro e regulamentada pelo Decreto n 2.710, de 04 de agosto de 1998,

    alterada pelo Decreto n 3.445, de 04 de maio de 2000; sendo constituda pelo Distrito Federal, pelos

    municpios de Abadinia, gua Fria de Gois, guas Lindas de Gois, Alexnia, Cabeceiras, Cidade

    Ocidental, Cocalzinho de Gois, Corumb de Gois, Cristalina, Formosa, Luzinia, Mimoso de Gois, Novo

    Gama, Padre Bernardo, Pirenpolis, Planaltina de Gois, Santo Antnio do Descoberto, Valparaso de Gois

    e Vila Boa, todos pertencentes a Gois e Buritis, Cabeceira Grande e Una, pertencentes a Minas Gerais. 3 Terreiro Segundo Cmara Cascudo, diz-se ao local ou templo onde se pratica a religiosidade afro-brasileira

    com o culto dos Voduns, Orixs e Inquices, pode ser chamado ainda de barraco, roa, ou Casa de Santo.

    Na Bahia sinnimo de candombl e no Rio de Janeiro de macumba. Usa-se: Terreiro de fulano...Terreiro de

    cicrana. N. do A. no intuito de padronizar usaremos em todo o texto Terreiro para definir o Templo de culto

    aos Orixs.

  • 10

    Referncias Culturais INRC4; o que foi apregoado por Mrio de Andrade (1936)

    em sua proposta para a criao do SPHAN5, entregue ao ento Ministro da

    Educao, Gustavo Capanema, o patrimnio cultural da nao compreendia

    muitos outros bens alm de monumentos e obras de arte (ANDRADE, 1936,

    p.01).

    Figura 1

    Figura 2

    Vista do Terreiro da Casa Branca.

    Coroa do Poste Central do Salo da Casa Branca.

    Fonte: Sociedade Beneficente e Recreativa So Jorge do Engenho Velho

    Embora seja difcil obter-se a unanimidade, mas, quando falamos de

    estudos sobre o patrimnio cultural nacional, tanto os produzidos no Estado;

    dentro do prprio Iphan, como os oriundos do meio acadmico alcanaram um

    denominador comum com relao trajetria da poltica oficial de preservao do

    patrimnio ao dividi-la em duas fases: a primeira seria a fase heroica, que se

    iniciou em 1937, com a prpria criao do Servio de Patrimnio Artstico

    Nacional SPHAN, mais tarde IPHAN, e termina em 1967, quando se aposenta

    Rodrigo de Mello Franco e Andrade; j a segunda, seria a fase moderna, que se

    inicia com a nomeao de Alosio Magalhes, em 1979.

    Nomeado, Alosio Magalhes, realiza uma grande reforma institucional no

    Instituto, fundindo o Iphan ao PCH (Programa Integrado de Reconstruo das

    Cidades Histricas) e ao CNRC (Centro Nacional de Referncia Cultural), em

    seguida desdobrando em duas instituies, a Secretaria do Patrimnio Histrico e

    Artstico Nacional (Sphan) e a Fundao Pr-Memria, que passam a operar sob

    a sigla de Sphan/Pr-Memria.

    4 INRC um instrumento de identificao de bens culturais tanto imateriais quanto materiais. A indicao de

    bens para Registro e/ou para Tombamento. 5 SPHAN Servio do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional, criado pelo Decreto-lei no. 25, de 30 de

    novembro de 1937.

  • 11

    Segundo Gonalves (2002), neste perodo a poltica de patrimnio cultural

    no Brasil sofre profundas mudanas, ainda segundo este autor, considera-se a

    entrada de Alosio no Iphan, um marco decisivo para a trajetria das polticas

    pblicas de patrimnio no Brasil (GONALVES, 2002, p.71).

    Alosio Magalhes resgata em sua reforma administrativa algumas das

    propostas e conceitos enunciados por Mrio de Andrade, meio sculo antes,

    provocando uma grande revoluo nos valores at ento arraigados no IPHAN,

    que segundo VELHO (1984), possua uma cultura que se restringia herana

    da civilizao de origem europeia (VELHO, 1984, p.11).

    Tendo assim, Alosio Magalhes uma viso mais arejada de bem cultural

    juntamente com a ideia de que o melhor guardio do patrimnio a comunidade,

    que com ele mais de perto se relaciona, quebra paradigmas, trazendo novos

    ventos para a memria nacional e para o patrimnio material e imaterial.

    Conforme Mnica Millet (2000), neta de Maria Escolstica da Conceio

    Nazareth, a Me Menininha do Gantois, em seu requerimento pedindo o

    Tombamento do Templo Il Ax Omy Iy Mass ou Terreiro do Gantois:

    [...] o conhecimento nas Casas de Santo, Terreiros ou Roas transmitido pela oralidade, onde o cho de terra batida o livro, e os signos nele inscritos so as coisas e pessoas que nele se movimentam e a sobrevivncia desses deslumbre musical, ldico, cnico, potico, plstico e gastronmico carece de um santurio concreto (IPHAN, 2000, p.82).

    Figura 3

    Figura 4

    Marco do Tombamento pelo IPHAN do Terreiro do Gantois.

    O Pesquisador na Porta Central do Terreiro do Gantois.

    Fonte: Acervo Prprio

    Com o xodo provocado para a regio central brasileira, objetivando

    construir Braslia, vieram dos mais longnquos rinces deste pas continental,

  • 12

    trabalhadoras e trabalhadores os quais trouxeram sua crena e f atravs das

    religies que professavam; tal qual acontecera no sculo XVI, na dispora

    africana, os candangos6 no vieram ss. Vejamos:

    [...] os africanos que cruzaram o Mar Oceano no viajaram e sofreram ss. Com os nossos ancestrais vieram as suas divindades, seus modos singulares e diversos de viso de mundo, sua alteridade lingustica, artstica, tnica, tcnica, religiosa, cultural, suas diferentes formas de organizao social e de simbolizao do real. As culturas negras que matizaram os territrios americanos em sua formao e modus constitutivos evidenciam o cruzamento das tradies e memrias orais africanas com todos os outros cdigos e sistemas simblicos escritos e/ou grafos com que se confrontaram (MARTINS, 1997, p.26).

    Verifica-se desta forma, a repetio da histria do Brasil Colnia, na

    modernidade, com a construo de Braslia. Novamente, o Povo de Santo7,

    recorre transferncia dos conhecimentos sobre os Orixs, atravs da oralidade

    dos mais velhos para os mais novos, pois a centena de milhares de brasileiras e

    brasileiras os quais atenderam ao chamado de JK em suas matulas trouxeram

    os Orixs para o cerrado do Planalto Central.

    A Histria poltica-social brasileira possui uma grande interseco com o

    religioso, por exemplo:

    Mal acabara de descobrir as terras de brasilis8, para assinalar a

    posse da terra para a Coroa Portuguesa, Cabral organizou a

    primeira missa;

    Quando foi para escolher a localizao da futura capital brasileira, a

    Santa Madre Igreja Catlica Apostlica Romana9, apresentou o

    sonho proftico de Dom Bosco em 1883; como sendo a anteviso

    daquilo que JK pretendia realizar;

    6 Candango, nome com que os africanos designavam os portugueses, (quimbundo, kandungu); segundo o

    Michaelis Moderno Dicionrio da Lngua Portuguesa, 2012 Trabalhador braal vindo de fora da regio;,

    nome com que se designam os trabalhadores comuns que colaboraram na construo de Braslia. N. do A:

    errado us-lo como o gentlico dos nascidos no DF, neste caso o correto brasiliense. . 7 Povo de Santo, termo utilizado pelos movimentos sociais aps a redemocratizao na dcada de 80, para

    denominar os candomblecistas, umbandistas, juremeiros, catimbozeiros; enfim, todos os adeptos das religies

    de matriz afros indgenas. 8 Terra de brasilis, vocbulo utilizado para denominar o Brasil antes da chegada dos Europeus: a terra dos

    ndios. 9 Santa Madre Igreja Catlica Apostlica Romana, principal e maior denominao para a Igreja Catlica.

    Tem esse nome porque todos os seus aderentes esto em comunho com o Papa e Bispo de Roma, e a maior

    parte das parquias seguem o Rito Latino ou Romano na prece, embora haja outros ritos.

  • 13

    Para agregar defensores de sua ideia, de cumprir a Constituio,

    trazendo a capital federal para o Planalto Central, JK, conta em suas

    memrias10, que imbuiu o Cardeal, Dom Carlos Camelo de

    Vasconcelos Motta, arcebispo de So Paulo, que possua livre

    trnsito junto s lideranas da Igreja no Norte e Nordeste, para

    organizar a primeira celebrao eucarstica de Braslia, realizada em

    03 de maio de 1957; com cerca de quinze mil presentes entre

    candangos e caravanas de catlicos, vindos de todos os estados,

    principalmente nortistas e nordestinos;

    A proposta de Lcio Costa que se fez vencedora no concurso

    mundial para a escolha do projeto urbanstico da nova capital

    brasileira, inicia seu Relatrio do Plano Piloto de Braslia PPB, com

    os seguintes dizeres: nasceu do gesto primrio de quem assinala

    um lugar ou dele toma posse: dois eixos cruzando-se em ngulo

    reto, ou seja, o prprio sinal da cruz (COSTA, 2014, p.30).

    Figura 5

    Figura 6

    Figura 7

    Figura 8

    A Primeira Missa no Brasil, aquarela de Victor Meirelles/1861. Fonte: Google Imagens.

    Afresco do Sonho de Dom Bosco/1883, visualizando talvez Braslia. Fonte: Google Imagens

    A Primeira Missa de Braslia em 1957. Fonte: Arquivo Pblico do DF.

    Congruncia do Eixo Rodovirio com o Eixo Monumental. Fonte: Arquivo Pblico do DF.

    10

    Por Que Constru Braslia, JK, Rio de Janeiro: Bloch Editores, 1975, p. 75-78.

  • 14

    O Professor Marlon Oliveira (2005) afirma que esta relao existente entre

    a histria e o sagrado uma relao dialgica:

    O sagrado se afirma na histria na medida em que o mesmo passa a ter um papel determinante na vida e na organizao de um povo. A essncia das religies est inserida na histria, de todos os povos em todos os tempos, estes criaram suas divindades, transformando-as em ponto de convergncia das diversas relaes existentes da vida em sociedade, e esta era imposta nas suas conquistas territoriais e quando vencedores nas guerras (MARLON, 2005).

    notrio que o Brasil visto como um pas das diversidades e pluralidades

    em vrios aspectos sejam estes: culturais, tnicos, religiosos ou de sua

    biodiversidade. A comunidade internacional tem o nosso pas como modelo de

    uma nao que convive em paz com as mais diversas comunidades religiosas. E

    Braslia sendo a capital no foge a essa regra, aqui comum encontrarmos uma

    Igreja Catlica ao lado de um Templo Evanglico ou at mesmo junto a um

    Terreiro.

    2 DESENVOLVIMENTO

    O Projeto de Interveno: Oralidade, a Histria entre os lbios da

    dispora Afro-brasileira no Cerrado, parte integrante da concluso da

    Especializao Interdisciplinar em Patrimnio, Direitos Culturais e Cidadania, no

    qual tem como objetivo chamar a ateno para a necessidade da preservao da

    oralidade como bem imaterial e histrico dos Terreiros que em dispora migraram

    para o municpio de guas Lindas de Gois, local onde foi desenvolvido o estudo.

    O grande incentivador para este Projeto de Interveno foi a Histria de

    vida de Eliciana Nascimento, uma mulher, negra, pobre, brasileira, baiana,

    candomblecista, filha de me lavadeira e pai pedreiro, moradora da periferia

    soteropolitana, estudante da rede pblica de ensino, que conquistou uma bolsa

    para cursar MBA nos Estados Unidos da Amrica; e que produziu e dirigiu como

    trabalho final do MBA em Cinema o curta metragem: O Tempo dos Orixs, que

    foi selecionado para o Festival de Cannes, em 2014.

    O filme, em seus vinte minutos de durao retrata quase que em resumo

    todo o contexto visto nesta especializao quer seja: o Patrimnio representado

    pela oralidade, um bem imaterial cabvel de preservao, os Direitos Culturais

  • 15

    dos Terreiros moldados no pertencimento, na historicidade e na ancestralidade

    afrodescendente e por derradeiro, a Cidadania representada pelo respeito ao

    culto dos Orixs, como garante a Constituio Federal.

    Vrias foram as Aes realizadas durante este Projeto de Interveno: a

    reviso bibliogrfica que forneceu a localizao de alguns Terreiros na cidade de

    guas Lindas de Gois, o trabalho de campo que proporcionou o levantamento e

    mapeamento de uma dezena de Terreiros de matriz afro brasileira; num universo

    de setenta templos existentes, e a interveno propriamente dita.

    Foram realizadas apurada leitura e fichamento dos livros: Inventrio dos

    Terreiros do Distrito Federal e Entorno 1 Fase (2009), e do Inventrio

    Nacional de Referncias Culturais Terreiros do Distrito Federal e Entorno

    (2012), publicados pela Superintendncia do Instituto do Patrimnio Histrico e

    Artstico Nacional Iphan DF; e Os Orixs danam no Planalto Central

    (2005), publicado pela Fundao Palmares, eles serviram como ponto de partida

    para a confeco de uma tabela (pgina 19) com a localizao dos Terreiros da

    regio.

    Figura 9

    Figura 10

    Mapa da RIDE do DF e Entorno.

    Mapa de guas Lindas de Gois com sua localizao no Brasil e no DF.

    Fonte: Google Maps

    As leituras citadas validam nossa hiptese da dispora ocorrida e que

    ainda persiste no Distrito Federal e entorno, vejamos:

    A preocupao com os registros, com a legalizao das chcaras, com o cumprimento de todas as formalidades que permitam a realizao do culto dos Orixs, em paz, s vezes fica ameaada pelo prprio crescimento populacional exigncia que esse crescimento faz de ocupar, cada vez mais espaos (ABREU, 2006, p.19).

  • 16

    Em 9 de julho o Correio Braziliense, veiculou uma reportagem em que

    corrobora essa afirmao de ABREU (2006), demonstrando assim, sua

    atualidade, na entrevista concedida ao jornal ,Pai Lilico de Oxum, diz que para

    realizar seus cultos em 1975, teve de deixar o Guar e depois guas Claras;

    bairros nobres de Braslia, migrando para rea rural, onde comprou uma chcara

    com 8 alqueires prximo a Sobradinho, outra regio administrativa.

    Todavia, com a expanso da rea urbana e com a doao popular de lotes

    pelo Governo Roriz, hoje, seu Terreiro, possui apenas dois alqueires e corre o

    risco de diminuir mais ainda:

    Figura 11

    Fac-smile da reportagem Somos invisveis para os governos.

    Fonte: Correio Braziliense/Acervo Prprio

    Eu comprei em 1975. Alguns anos depois, o governo decidiu ampliar Sobradinho. Era o governador Joaquim Roriz poca. Eles simplesmente derrubavam a cerca e pegavam um pedao. Com o tempo, ele (Roriz) se comprometeu que, aps a inaugurao de Sobradinho 2, me entregaria escritura. Isso nunca aconteceu. E esse descaso vem se repetindo ao longo dos anos. Somos invisveis para os governos. E, agora, querem mais um pedao da rea para fazer o Parque da Ema. Se isso acontecer, ficaremos sem a cachoeira, que, para a nossa religio, sagrada, simboliza (a gua) Oxum (BERNARDES In Correio Braziliense, 2015, p.23).

    Tem-se dessa forma, a inquietude dos Povos de Santo, que para

    preservarem seus cultos de matriz afro, fogem da cidade e mesmo assim,

    encontram problemas por uma intolerncia institucional provocada pela

    invisibilidade e ausncia das autoridades constitudas, como viu-se na

    reportagem.

  • 17

    Nas palavras de Araujo (2006), possvel perceber a crtica realidade que

    os praticantes do Candombl e demais religies afro descendentes vivenciam na

    Capital Federal. Segundo o ento Presidente da Fundao Cultural Palmares:

    Ubiratan Castro de Arajo:

    Nas pranchetas em que Braslia foi concebida no havia lugar para os Orixs. Afinal, o materialismo, ou funcionalismo e o futurismo no combinavam com encanto e magia. O Brasil Central haveria de ser ocupado pelas maravilhas do progresso, pelo ao e pelo concreto armado. Os geniais arquitetos nem ousavam suspeitar que Ogum e Nan estavam nestes elementos. Para no sermos injustos, os criadores da cidade cederam a alguma religiosidade, a das prpuras cardinalcias. Aos e vidros se ergueram em catedral para celebrar as previses de Dom Bosco. Mas os Orixs no moravam l (ARAUJO apud ABREU, 2006, p.13).

    O trabalho de campo constatou a existncia de mais de setenta Terreiros,

    que funcionam hoje em guas Lindas de Gois, mapeamos apenas dez

    presentes nas literaturas da reviso bibliogrfica.

    So eles: Tenda Esprita Sete Mistrios (Z do Cod), Terreiro de Mina e

    Terec Maria Lgua Boji Bu da Trindade (Pai Evans), Il Ax Oluv Oxumar,

    (Pai Sandro), Tumba Nzo Jimona Nzambi (Tata Ngunz'tala) e Il Ax Od Eril

    (Pai Ricardo de Od) fundados no prprio municpio, enquanto os Terreiros: Il

    Ob As Egb lfin y, (Pai Jnior/Obalaj), Il Ax Arajin (Pai Ivanildo) Il

    Ax Onan Omy (Me Cida/Mona Dar) e As Morada (Y Monna Janana) so

    oriundos do Distrito Federal e migraram para a regio. J o Terreiro Il Ax Omi

    Gbato Jeged (Pai Djair) chama ateno, porque foi fundado em Goinia, e veio

    em dispora para guas Lindas.

    Para a confeco do mapa (figura 12), foi elaborada uma planilha (figura

    13), apresentando os dados dos Terreiros estudados, levantados e mapeados,

    neste Projeto de Interveno, que somam dez (10).

    Na planilha, inclusive so marcados aqueles Terreiros que foram visitados

    na primeira fase do Inventrio Nacional de Referncias Culturais dos Terreiros do

    Distrito Federal e Entorno (02), os Terreiros que receberam a visita na segunda

    fase do citado inventrio realizado pelo Iphan do DF e de Gois (04), e os quatro

    Terreiros que no foram visitados pelos tcnicos do INRC DF e Entorno, mas

    foram alvo deste Projeto de Interveno.

  • 18

    Durante a pesquisa, a hiptese de que a dispora dos Terreiros de

    candombl do DF para o entorno, provocada pela expanso urbana, foi

    comprovada. Corroborando com a afirmao da historiadora LOUZADA (2011),

    em sua tese de mestrado na UFG, quando estudou o Candombl em Goinia11,

    o discurso de modernidade segregou scio-espacialmente sujeitos s

    manifestaes culturais indesejveis sob o ponto de vista da reiterao do

    imaginrio de cidade e sociedade modernas (LOUZADA, 2011, p.229).

    Nesta linha de pensamento, observamos que os paradigmas arquitetnicos

    sob a gide da modernidade no contemplam espaos fsicos para a realizao

    de cultos de matriz afro, pelo menos nos projetos arquitetonicos de Goinia e

    Braslia.

    A inteno era realizar o Projeto de Interveno nos dez Terreiros

    levantados e mapeados, todavia as suas agendas litrgicas impediram.

    Entretanto, houve acolhimento e disponibilidade no Il Ob As Egb lfin

    y, (Pai Jnior/Obalaj), no qual foram desenvolvidas palestras, oficina e

    exposio.

    11

    LOUZADA, Natlia do Carmo. Tese de Mestrado Recriando fricas: Subalternidade e Identidade

    Africana no Candombl de Ketu. Goinia UFG, 2011.

  • 19

    MAPEAMENTO DE TERREIROS ESTUDADOS EM GUAS LINDAS DE GOIS

    Figura 12

    Mapa desenvolvido pelo autor para auxiliar no mapeamento.

    Manipulao de imagens e dados ALVES, talo, 2015. Fonte: Apple Maps

  • 20

    PLANILHA NORTEADORA DO MAPEAMENTO DE TERREIROS ESTUDADOS EM GUAS LINDAS DE GOIS

    Figura 13

    Casa de Santo Endereo Origem Fundao Sacerdotiza/ Sacerdote

    Tumba Nzo Jimona Nzambi Rua das Alagoas Chacara 51B Quinta guas Bonitas guas Lindas de Gois 2004 Tata Ngunz'tala

    Il Ax Omi Gbato Jeged R Mato Grosso Qd 16 Lote 18/20 Jardim Guaira Goinia 2005 Pai Djair

    Tenda Esprita Sete Mistrios Qd 01 L5 Jardim Amrica II guas Lindas de Gois 1975 Z do Cod

    Il Ax Arajin Qd 49 Lotes 25/26/27 Cidade do Entorno guas Lindas de Gois 1976 Pai Ivanildo

    Terreiro de Mina e Terec M Lgua Boji Bu da Trindade Qd 04 Conjunto B Casa 07 Manses Odissia guas Lindas de Gois 1997 Pai Evans

    Il Ax Oluv Oxumar Qd 70A Lotes 21B Setor Nove guas Lindas de Gois 2008 Me Lcia

    Il Ob As Egb lfin y Qd 06 Conjunto A lote 16/20 Setor Seis Samambaia/Ceilndia 2000 Pai Jnior/Obaalaj

    Il Ax Onan Omy Qd 09 Conjunto A Lote 1 Setor Seis Ceilndia/Guariroba 2006 Me Cida/Mona Dar

    As Morada Qd 11 Lotes 12/13/14 Jardim merica II Ceilndia/Guariroba 2010 Y Mona Janana

    Il As Od Erinl Qd 28 B Lotes 9/11 Setor de Manses Odissia guas Lindas de Gois 2011 Pai Ricardo de Od LEGENDA Texto em azul corresponde aos Terreiros, visitados na 1 fase do INRC (2008/2009) Texto em preto corresponde aos Terreiros, visitados na 2 fase do INRC (2009/2011) Texto em vermelho corresponde aos Terreiros, levantados e mapeados durante este Projeto de Interveno. Os Terreiros marcados em amarelo receberam visitas dos Tcnicos do Iphan DF e Iphan GO em ambas as fases do INRC.

  • 21

    2.1 Objetivo Geral O Objetivo Geral era promover ensinamentos para a preservao da

    oralidade como patrimnio imaterial dos Terreiros do DF que saram em dispora

    para o entorno.

    Encontramos na Constituio Federal de 1988, no artigo 216,

    Art. 216. Constitui patrimnio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referncia identidade, ao, memria dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem: I - as formas de expresso; II - os modos de criar, fazer e viver; III - as criaes cientficas, artsticas e tecnolgicas; IV - as obras, objetos, documentos, edificaes e demais espaos destinados s manifestaes artstico-culturais... (BRASIL, CF, 1988, p.139).

    Esta definio para bem imaterial, a gide que ampara a oralidade, como

    modalidade de transmisso de conhecimentos e que muito usada entre as

    religies de matriz afro, principalmente a umbanda e o candombl.

    2.1.1 Objetivos especficos

    J os objetivos especficos, centravam-se em mapear e pesquisar os

    Terreiros que saram em dispora para as cidades do entorno, em especial,

    guas Lindas de Gois; conscientizar sobre a necessidade da preservao da

    memria destes Terreiros; realizar uma oficina sobre a melhor forma de educar

    os atores envolvidos na preservao do patrimnio imaterial que os Terreiros

    possuem e produzem.

    2.2 Metodologia

    O anteprojeto apresentado por Mrio de Andrade (1936) para criao do

    SPHAN contribui para o reconhecimento dos bens imateriais, norteando o

    presente Projeto de Interveno.

    Conforme Mario de Andrade (1936): apesar de apresentarem potencial

    para fixao num suporte fsico, permanecem na oralidade, passando de gerao

    para gerao (ANDRADE, 1936:06).

  • 22

    V-se desta forma, que Mrio de Andrade, ao afirmar que: folclore no se

    restringia s lendas, cantos ou danas, mas abarcava tambm, os saberes

    populares: medicina, culinria, crendices, magias, etc., demonstrava sua viso

    vanguardista, , portanto: lamentvel que a oralidade no tenha sido acatada

    como bem imaterial no decreto-lei n 25/1937, conforme critica Carreira (2012),

    no artigo: Patrimnio Cultural Imaterial: do anteprojeto de Mrio de Andrade

    Constituio de 1988 aspectos relevantes; contudo, os bens imateriais foram

    abarcados pela Constituio Federal de 1988 (CARREIRA, 2012, p. 2).

    Os movimentos sociais, em particular o Movimento Negro, no primeiro

    mandato do Presidente Lula, obtm uma grande vitria com a publicao da Lei

    n 10.639/03 que altera sobremaneira a Lei das Diretrizes Bsicas da Educao

    LDB, incluindo no currculo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da

    temtica "Histria e Cultura Afro-Brasileira".

    A sociedade brasileira formada a partir das heranas culturais europeias,

    indgenas e africanas no era contemplada, de maneira equilibrada, com as suas

    contribuies no sistema educacional brasileiro at a publicao da Lei n 10.639

    em 2003 e suas alteraes, um simples exemplo seria a ausncia de ilustraes e

    textos enaltecendo a etnia africana e indgena, at ento, s apareciam de forma

    depreciativa. O efetivo respeito e cumprimento das prerrogativas dessa Lei so

    essenciais para a construo de uma sociedade mais igualitria.

    A Lei da Afro-Educao; como vem sendo chamada, nomeia a escola

    como sendo o lugar da construo, no s do conhecimento, mas tambm da

    identidade, de valores, de afetos, enfim, onde o ser humano, sem deixar de ser o

    que , venha se moldar de acordo com sua sociedade. Esta norma abre a

    possibilidade de professores trabalharem Educao Patrimonial da cultura afro

    descendente sem receios, uma vez que ainda impera um racismo

    institucionalizado e velado em nossa sociedade, causando certo desconforto.

    Para desenvolver o trabalho foi preciso beber gua na seara de Clifford

    Geertz (2008):

    Se a interpretao antropolgica est construindo uma leitura do que acontece, ento divorci-la do que acontece do que, nessa ocasio ou naquele lugar, pessoas especficas dizem o que elas fazem o que feito a elas, a partir de todo o vasto negcio do mundo divorci-la das suas aplicaes e torn-la vazia. (GEERTZ, 2008, p.13).

  • 23

    Para o trabalho de campo realizado, a teoria de Clifford Geertz acima

    citada, serviu como norteador, uma vez, que pessoas seriam entrevistadas nos

    seus locais de culto, na sua morada, onde externavam suas crenas, suas

    sabedorias, e seus conhecimentos transmitidos atravs da oralidade dos mais

    velhos aos mais novos, e encontramos eco nas palavras de Horta (1999), que nos

    ensina a Cultura um aprendizado dinmico, transmitido de gerao em

    gerao, onde se aprende com os ancestrais, se cria e recria no cotidiano do

    presente na soluo dos pequenos e grandes problemas (HORTA, Maria. et al.,

    1999, p.7).

    Por derradeiro, concluindo o arcabouo, recorre-se a fala de um dos mais

    importantes estudiosos da contemporaneidade: Homi K. Bhabha para justificar a

    interveno:

    Esses "entre-lugares" fornecem o terreno para a elaborao de estratgias de subjetivao - singular ou coletiva - que do incio a novos signos de identidade e postos inovadores de colaborao e contestao, no alo de definir a prpria ideia de sociedade. na emergncia dos interstcios a sobreposio e o deslocamento de domnios da diferena que as experincias intersubjetivas e coletivas da nao [nationness], o interesse comunitrio ou o valor cultural so negociados. De que modo se formam sujeitos nos entre lugares, nos excedentes na soma das partes da diferena (geralmente expressas como raa/classe/gnero etc.)? (BHABHA, 2003, p. 20).

    Narrar experincia na aplicabilidade do Projeto de Interveno, s

    plausvel aps o retorno do trabalho de campo, quando o pesquisador aprende

    ensinando como Cora Coralina dizia, chega-se ao computador para relatar as

    experincias renovado em conhecimento e enriquecido pelas relaes dialgicas,

    com o reconhecimento da alteridade que gera o entre-lugar de que nos fala

    Bhabha (2003). Esse entre-lugar pressupe o algo existente entre o olhar do

    outro e o do pesquisador.

    2.3 Il Ob As Egb lfin y, o Objeto de estudo

    Olhar os Terreiros com pertencimento e como parte do patrimnio cultural

    implica no s no reconhecimento da Histria no nica12, da qual nos fala

    12

    Chimamanda Adichie Ensina-nos que a histria nica cria esteretipos e o problema dos esteretipos no eles serem mentira, mas eles serem incompletos. Ela acrescenta: Muitas histrias importam. As histrias tm sido usadas para desprover e tornar maligno. Mas as histrias podem ser usadas para

  • 24

    Chimamanda Adichie, mas, tambm desvendar a importncia da ancestralidade

    de origem africana, e, principalmente o reconhecer as relaes que esta

    populao possui com a sabedoria popular com, por exemplo: o uso das ervas em

    seus cultos, na medicina popular, e as adaptaes nas comidas e oferendas aos

    Orixs, ou seja: reconhecer os Terreiros como um centro difusor do patrimnio

    imaterial.

    O Sacerdote Eliel Junior ou Pai Oblj do Il Ob As Egb lfin y;

    relatou ser de famlia tradicional do culto da Jurema Sagrada13; tendo iniciado

    suas atividades religiosas aos doze anos de idade, no Recife, como juremeiro;

    incorporando a Mestra Dona Luziara da Conceio14.

    Conta o sacerdote que Dona Luziara o intua para fazer as garrafadas e

    estas obtinham grande sucesso, chegando a receber clientes que viajavam mais

    de 500 quilmetros para consultar com a Mestra Luziara, acreditando ele, que,

    dessas experincias fitoterpicas nasceu seu interesse em se graduar em

    Farmcia.

    Pai Oblj chegou a Braslia em 1999, indo morar de aluguel em

    Samambaia, devido ter feito santo e j ter recebido seu Dek15 abriu no barraco

    de fundos de sua residncia, o Terreiro da Nao Ketu16: Il Ob As Egb lfin

    y; que em traduo direta para portugus seria: A Casa de Fora do Rei,

    potencializar e humanizar. As histrias podem quebrar a dignidade de um povo. Mas as histrias tambm

    podem reparar essa dignidade quebrada. 13

    Jurema sagrada, Tradio religiosa remanescente dos ndios que habitavam o litoral da Paraba, Rio

    Grande do Norte e no Serto de Pernambuco e dos seus pajs, grandes conhecedores dos mistrios do alm,

    plantas e dos animais. Depois da chegada dos africanos no Brasil, quando estes fugiam dos engenhos onde

    estavam escravizados, encontravam abrigo nas aldeias indgenas, e atravs desse contato, os africanos

    trocavam o que tinham de conhecimento religioso em comum com os ndios. Os africanos contriburam com

    o seu conhecimento sobre o culto dos mortos eguns e das divindades da natureza, os Orixs Voduns e Inkices. Os ndios; contriburam com o conhecimento de invocaes dos espritos de antigos pajs e dos

    trabalhos realizados com os encantados das matas e dos rios. Da a jurema se compor de duas grandes linhas

    de trabalho: a linha dos mestres de jurema e a linha dos encantados. Texto disponvel em

    https://pt.wikipedia.org/wiki/Jurema_sagrada Acesso em 07.jul.2015. 14

    Luziara da Conceio, Segundo os adeptos da Jurema um esprito que teve vida na terra, e na sua

    passagem foi encantada na flor da Jurema Preta e se apresenta em uma forma mais jovem apesar de sua idade

    na poca de sua passagem para o reino dos encantados da Jurema Preta, foram encantados na sua passagem

    em animal ou vegetal. 15

    Dek, o momento que aps passar pelos ebs de praxe, fica recolhido sete dias, e muitos fundamentos

    lhe so entregues os direitos, nesse momento em que a pessoa deixa de ser yaw ou novio, e s acontece

    com no mnimo sete aps de feitura ou raspagem. Equivale ser ordenado na Igreja Catlica. 16

    Ketu ou Ketu/Nag, Dos muitos grupos de negros vindos para o Brasil, durante o trfico negreiro, 03

    (trs) categorias ou naes se destacaram: Negros Fons ou Nao Jej, Negros Yorubs ou Nao Ketu,

    Negros Bantos ou Nao Angola, Cada uma dessas 03 (trs) naes tem dialeto e uma ritualstica prpria.

  • 25

    Comunidade do Governante de y, em 2000 mudou-se para o P Norte

    levando seu barraco; que tambm funcionou na casa dos fundos.

    Motivado pelo aumento da quantidade de filhos de Santo, e a consequente

    falta de espao para acomod-los, alm de no poder cultivar as ervas sagradas

    devido falta de espao e devido ao alto preo dos imveis no DF, resolveu

    comprar um lote no recm-emancipado municpio de guas Lindas para morar e

    construir seu Terreiro.

    O Il Ob As Egb lfin y um Terreiro dos mais antigos da cidade,

    possuindo respeito entre os demais e certa liderana; nada relacionado s

    religies de matriz afro brasileira em guas Lindas de Gois feito sem sua

    participao.

    No inicio deste ano foi um dos organizadores da Marcha Contra a

    Intolerncia Religiosa em repdio as agresses sofridas por membros de um

    Terreiro coirmo; alguns de seus filhos de santo hoje possuem casa aberta, em

    guas Lindas de Gois, em Braslia e at em outros estados da federao.

    Atualmente o Terreiro, conta com aproximadamente 70 mdiuns, com um

    foco bastante familiar, j que boa parte dos filhos de santo possuem laos

    consanguneos: me, filha, filhos, sobrinhas (os), netas (os), o que os torna uma

    grande famlia.

    Pai Obalaj informou que est em trmite a papelada para criar uma ONG

    como entidade mantenedora de seu Terreiro, e que realiza cerca de oito festas

    anualmente, as roupas e ferramentas utilizadas pelos filhos de Santo para vestir

    os Orixs so confeccionadas por ele mesmo, alm, dos doces, salgados e

    comidas servidas nas festas, j que diz ser tambm um exmio cozinheiro.

    2.4 A Ao de Interveno

    Em 19 de julho foi realizada a derradeira ao deste projeto interventivo,

    que contou com vrias atividades, nos referimos a palestra proferida no Il Ob

    As Egb lfin y, pelo cursista da Especializao EIPDCC, conceituando

    Ancestralidade, Oralidade, Memria, Patrimnio Material e Imaterial, alm de

    Educao Patrimonial; atravs de recursos eletrnicos com a exibio de um

    PowerPoint produzido especialmente para atingir o pblico alvo, quer seja: as

    Filhas de Santo, os Filhos de Santo, os Ogns, as Ekedys e convidados que

  • 26

    participam como atores sociais na preservao dos conhecimentos ancestrais e

    na preservao da oralidade como principal ferramenta de transmisso dos

    conhecimentos mitolgico dos Orixs e Itns.

    E para ilustrar a preservao da oralidade nas Comunidades de Terreiros,

    os presentes em quase cinco dezenas, assistiram com curiosidade e

    deslumbramento o curta metragem O Tempo dos Orixs, que quase uma obra

    autobiogrfica de sua Diretora, a Cineasta baiana, Eliciana Nascimento, radicada

    nos Estados Unidos da Amrica, que com surpresa viu sua obra ser escolhida

    para o cast do Festival de Cannes do ano passado.

    Em vinte minutos e treze segundos de bela fotografia e muita magia, o

    silncio tomou conta do salo principal da Casa de Santo A Casa de Fora do

    Rei, Comunidade do Governante de y, onde normalmente so realizadas as

    festas pblicas para louvar os Orixs.

    Figura 14

    Figura 15

    Figura 16

    Diante dos atabaques o computador e o data show.

    Pai Obalaj apresentando o especializado para seus filhos de Santo O Pesquisado na companhia do Sacerdote Obalaj

    Fonte: Acervo Prprio

    A personagem Lili, uma menina de mais ou menos sete anos

    afrodescendente, que inclusive lembra a prpria Diretora Eliciana quando

    pequena; protagonizada por uma criana da comunidade sem nenhum

    conhecimento de artes cnicas, mas que consegue atrair a ateno de quem

    assiste ou vdeo devido sua bela atuao. Lili passava suas frias escolares num

    ncleo rural do litoral baiano, sempre ajudando sua av nos afazeres litrgicos e

    fitoterpicos para fazer meisinhas para cicrano, beltrano e fulana. Na pessoa de

    sua av assistimos a toda oralidade transmitida pequena Lili, que por fim

    herda o cargo de sacerdotisa de Yemanj; vemos o encantamento da oralidade

  • 27

    como forma de transmisso do conhecimento mtico, buscando em sua memria

    todas as histrias que aprendeu oralmente durante as demoradas prosas de sua

    av.

    Figura 17

    Figura 18

    Cartaz de Divulgao de O Tempo dos Orixs.

    Lili na praia e a sua frase que norteou essa pesquisa.

    Fonte: Candance Cine Vdeo

    Toda a magia do filme foi calorosamente debatida com os presentes e

    discutida a oralidade enquanto ferramenta de transmisso de conhecimentos

    tradicionais das Comunidades de Terreiro, o que vai ao encontro da afirmao

    de MACIEL (1998): este saber quase milenar a adoo e a prtica do registro

    oral, como um meio bastante eficaz para salvaguardar os seus registros

    mnemnicos, assim como prova de que este saber pertence a este e/ou aquele

    grupo (MACIEL, 1998:385).

    Quando da propositura deste Projeto Interventivo, o objetivo primeiro, era

    discutir a salvaguarda de todo essa bagagem cultural encontrada na oralidade

    dos praticantes de religies afro descendentes no Planalto Central, que pela falta

    de conhecimento, apoio logstico e territorial tende a esmorecer e se perder para

    sempre, pois os mais velhos esto morrendo, e os mais novos, devido a

    intolerncia religiosa esto se afastando das Comunidades de Terreiros. Urge que

    algo seja feito, junto as Ialorixs e os Babalorixs do cerrado, caso contrrio

    nosso ldico titulo Oralidade, a Histria entre os lbios da dispora Afro-

    brasileira no Cerrado tende a ser apenas uma vaga lembrana.

    E falando em oralidade, no era possvel deixar de citar Me Beata de

    Yemanj, que mesmo do alto de seus oitenta e quatro anos de vida, uma das

  • 28

    incansveis lutadoras da preservao dos contos e recontos de sua Comunidade

    de Terreiro, e da sua tradicionalidade mitolgica dos Orixs, e sempre que pode

    est treinando pequenas e pequenos griot.

    Figura 19

    Me Beata de Yemanj em uma de suas muitas prosas de contos

    e recontos da mitologia dos Orixs para os griot de amanh.

    Fonte: Pallas Editora

    Quando do lanamento de seu livro Caroo de Dend a sabedoria dos

    Terreiros como Ialorixs e Babalorixs passam conhecimentos a seus filhos,

    Vnia Cardoso (2008) a poca Diretora da NSF National Sciencie Foundation;

    escreveu o que Me Beata lhe havia dito justificando a necessidade da publicao

    do livro: ns, negros, estamos precisando muito disso, de saber as nossas

    histrias. Precisamos saber que ns somos capazes, ns, negros que ns das

    religies afros temos histria, temos saber (CARDOSO, 2008:15).

    Aps este debate, foi realizada a derradeira Ao deste Projeto

    Interventivo, tendo como ferramentas: IPhone, Smartphones e Ipads; uma rpida

    oficina sobre o uso das Tecnologias de Informao e Comunicao TICs, j que

    estas ferramentas na ps modernidade esto cada fez mais acessveis, a ideia

    us-las para perpetuar a transmisso dos conhecimentos da ancestralidade e as

    tradies ritualstica do culto do Orixs atravs da oralidade, produzindo vdeos e

    udios de cantigas, rezas festas e ensinamentos.

    Dada como encerrada a Ao interventiva, o Pai Obalaj agradeceu o

    empenho em levar de forma to acessvel um conhecimento to importante para

  • 29

    manter a tradio dos Inkisis, Orixs e Voduns e convidou todos os presentes

    para a Gira de Caboclos & Boiadeiros, especialmente organizados para prover

    seu Povo de Santo deste aprendizado oferecido nesta Palestra e pela Oficina.

    Figura 20

    Figura 21

    Figura 22

    A Mestra Dona Luziara da Conceio com o pesquisador

    Seu Z Pilintra cumprimenta a Professora Luciana Sousa do HCABA/UFG O pesquisador com Seu Z Pilintra.

    Fonte: Acervo Pessoal

    2.5 A Exposio como produto do Projeto de Interveno

    A Comunidade de Terreiro Casa de Fora do Rei, Comunidade do

    Governante de y foi to receptiva que durante a gira nos procuraram para

    sugerir a montagem de uma Exposio utilizando todo o material produzido em

    vdeos, udios e fotos, banners e alguns pertences litrgicos e vestimentas de

    Orixs.

    Figura 23

    Figura 24

    Figura 25

    Os Banners no Terreiro A Casa de Fora do Rei, Comunidade do Governante de y

    O Salo de atividades litrgicas de Casa de Fora do Rei, Comunidade do Governante de y. O incio das festividades do Olubaj

    Fonte: Acervo Prprio

  • 30

    A Exposio foi realizada primeiramente no Polo da UFG em guas Lindas

    de Gois, no dia da apresentao dos Relatrios Cientficos e no prprio Terreiro

    no perodo noturno durante as festividades do Olubaj17, uma das mais

    tradicionais Festas do calendrio litrgico do Candombl, dedicada a Obalua, o

    Orix da sade/doena e da fartura e das pragas que se comemora em agosto e

    que no sincretismo catlico cristo seria So Lazaro.

    .Figura 26

    Figura 27

    Figura 28

    O Pesquisador, um assentamento de Ex e a Me Bete de Yemanj

    Manequins com as vestes de Dona Luziara e do Seu Z Pilintra

    O Pesquisador e sua Orientadora Prof. Mana Rosa

    Fonte: Acervo Prprio

    Na entrada da Exposio havia um assentamento de Exu18, dois

    manequins que representavam a Mestra da Jurema: Dona Luziara e o Seu Z

    Pilintra.

    Na parte interna, outros dois manequins, desta feita um representava Ians

    (Santa Barbara), o Orix que comanda a tempestade e os ventos e outro Xang

    (So Pedro/ Jernimo) o Orix consagrado a Justia.

    Seis banners que traziam: o resumo da Pesquisa, o mapa do municpio, o

    mapeamento dos Terreiros, bem como de alguns objetos litrgicos utilizados no

    culto dos Orixs, tais como: Ibs19, dicissas20, e balaio21.

    17

    Olubaj, ritual especfico para o orix Obaluay, indispensvel nos terreiros de candombl, no sentido de

    prolongar a vida e trazer sade a todos os filhos e participantes do ax. No encerramento do Olubaj

    oferecido no mnimo nove iguarias da culinria afro-brasileira chamada de comida ritual pertinente a vrios

    Orixs, simbolizando a Vida, sobre uma folha chamada "Ewe Ilar conhecida popularmente como mamona assassina, "altamente venenosa" simbolizando a Morte (iku). 18

    Assentamento de Ex ou Igba exu, confeccionados de vrias formas, muitos so feitos em panela de

    ferro, alguid, panela de barro, modelado com tabatinga, em forma humana completa, ou apenas busto, com

    olhos e boca feito de bzios. Igba exu tambm pode ser representado por uma pedra, preferencialmente de

    laterita ou um montculo de terra, contendo vrios elementos do reino animal, vegetal e mineral. 19

    Igba orixa, ib orixa ou simplesmente ib, o nome dos assentamentos sagrados dos orixs na cultura

    nago vodun, onde so colocados apetrechos e fetiches inerente a cada um deles na feitura de santo, de acordo

    com Eurico Ramos (2011), em Revendo o Candombl, o assentamento do Orix, a base, onde os

  • 31

    Figura 29

    Figura 30

    Figura 31

    Manequim com as vestes de Oy (Ians/Santa Barbara)

    Os Ibs de Oxum e de Logum Ed

    Manequim com as vestimentas de Xang (So Pedro/Jernimo)

    Fonte: Acervo Prprio

    Faziam parte tambm da Exposio no Polo de guas Lindas, 25

    fotografias ampliadas em tamanho A3 em Preto & Branco e Coloridas, de autoria

    da premiada e renomada fotografa radicada em Parnaba, especializada em

    fotografar solenidades do povo de santo em Teresina, So Luiz, em Braslia e

    Entorno: Maria Carol.

    Figura 32

    Figura 33

    Figura 34

    A Exposio Fotogrfica em dois ngulos distintos

    O Balaio e a Adicissa (esteira)

    Fonte: Acervo Prprio

    Fotografias estas, que foram expostas com nos banners na solenidade de

    encerramento da EIPDCC no Saguo da Faculdade de Direito DA UFG.

    praticantes do Candombl aglutinam determinados elementos pertencentes a uma divindade especifica que

    passam ali a represent-la. 20

    Adicissa, enim, dicissa, esteira ou esteira nag; so nomes pertinentes pea de artesanato, feito de vrios

    materiais, taboa, sisal, palha, etc., muito usado no nordeste do Brasil e em terreiros das religies afro-

    brasileiras. Objeto sagrado muito importante para o povo do santo, fazendo parte de quase todos os rituais

    como feitura de santo, apanan, sasanha, orunk bori, tem a funo de cama, mesa e divisria para

    compartimentos sagrados do terreiro e pejis. 21

    Balaio, conforme Cmara Cascudo, Cesto confeccionado em fibra vegetal de uso domstico, muito comum

    nas culturas amerndias e afrodescendentes.

  • 32

    Os Banners foram apresentados ainda no X CTE Congresso de

    Trabalhadores em Educao promovido pelo SINPRO DF, em agosto de 2015 e

    do IV SERNEGRA Semana de Reflexes sobre Negritude Gnero e Raa do

    Instituto Federal de Braslia e do II COPENECO Congresso de Pesquisadoras

    (es) Negras(as) da Regio Centro Oeste em novembro de 2015.

    Figura 35

    Figura 36

    Figura 37

    A Exposio de Banners no Saguo da Faculdade de Direito da UFG

    O Pesquisador e a Mostra Fotogrfica na Faculdade de Direito da UFG

    Fonte: Acervo Prprio

    No encerramento festivo no Saguo Nobre da Faculdade de Direito da

    UFG em Goinia, os cursistas da Especializao Interdisciplinar em Patrimnio,

    Direitos Culturais e Cidadania EIPDCC, os Cursistas, Professores Formadores,

    Tutores e Coordenadores, tiveram a oportunidade de assistir um compndio dos

    trabalhos apresentados, participarem do lanamento do E-book e do Livro com as

    Webconferncias e um coquetel festivo.

    Figura 38

    Figura 39

    O Pesquisador recebe o certificado da Professora Marisa Damas

    O Pesquisador cumprimentado pela Professora Simone Rosa

    Fonte: Arquivo Prprio

  • 33

    3 ALGUMAS CONSIDERAES

    Com a alegria contagiante e envolvente que possu a Comunidade de

    Terreiros, recebe sempre com boas vindas aqueles que procuram para

    orientao espiritual, e tambm aos estudiosos e pesquisadores que batem as

    suas portas para aprenderem seus rituais e sua historiografia atravs dos itns e

    da oralidade. O presente Projeto de interveno foi extremamente salutar, foi

    possvel ensinar aprendendo como pregava a Doceira que escrevia Poemas:

    Cora Coralina.

    Todas as participaes em eventos tem provocado um excelente feedback

    sobre nossa pesquisa, as aes desenvolvidas e a interveno realizada tem

    gerado bons frutos, como o convite para publicao de um livro por uma editora

    do segmento afrodescendente e o convite para participarmos da 13 Conferncia

    Internacional sobre Representaes Sociais, que ser realizada em Marselha

    (Palais du Pharo), na Frana, de 14 de setembro a 17 de setembro de 2016, com

    tema "epistemologias da vida cotidiana."

    Essa energia cultuada por todos que professam as religies de matriz

    africana a responsvel pelos conhecimentos, mdicos, gastronmicos, de

    linguagem e espiritual, chegarem aos nossos dias, porque o colonizador usou de

    todos os artifcios para que os negros que para c foram trazidos, para serem

    escravizados perdessem a vontade de viver e fossem a bito.

    Conta-se que os negros antes de embarcarem em frica com destino as

    Amricas pre serem negociados como escravos eram obrigados a dar vrias

    voltas ao redor de uma rvore; a rvore do esquecimento22, para que esta

    absorvesse as suas energias e estes no terem condies de se rebelarem contra

    o escravocrata opressor.

    Os entre-lugares dos cultos de matriz africana, em suas diversas

    denominaes ao ordenarem em conjunto com o governo nos trs nveis, aes

    22 rvore do Esquecimento, A dispora africana do sc. XVI provocou na pulverizao estelar de saberes, o

    patrimnio imaterial que cruzou o Atlntico, resistiu ao ritual da rvore do esquecimento, no Benin, em Wuid, um dos grandes portos de embarque de negros para serem escravizados, estes percorriam uma trilha

    superior a 5 quilmetros da cidade at o porto; neste percurso, todo escravo que ia embarcar era obrigado a

    dar voltas em torno drvore do esquecimento. Os homens davam 9 voltas e as mulheres 7 voltas, ao redor dessa rvore. Acreditavam os mercadores de negros para escraviza-los nas Amricas, que este ritual resultaria

    na possvel perda da identidade das mulheres, crianas e homens africanos ao esquecerem suas origens.

  • 34

    de assistncia social e cultural nos Terreiros corroboram, para a formao de

    ONGs e Associaes que visam consolidao e manuteno de representaes

    que os qualificam e simultaneamente favorecem as prticas culturais; bandas,

    blocos, grupos de dana e de bal que acabam por torn-los polos irradiadores

    do patrimnio religioso e cultural - imaterial e material que adormece junto s

    dicissas.

    Toda a bagagem cultural, social poltica e doutrinria dos atores sociais

    onde foi executada a presente pesquisa e posterior interveno comprova que de

    forma geral o Candombl, no mbito cultural, estigmatizado e criticado por

    outros grupos sociais, haja vista que a historia e a doutrina do colonizador e

    dominador est arraigada com conceitos distorcidos e errneos.

    Uma vez que na vida social h situaes em que cada pessoa uma

    representao de uma pessoa (MOSCOVICI, 1978, p. 64), como os filhos de

    santo, de jogadores de futebol, de artistas, etc., e as reaes da sociedade no

    a essas pessoas, mas sim, em nome das posies sociais que elas ocupam.

    Quando se trata de um indivduo ou grupo estranho, ele no julgado

    individualmente, mas no mago do seu grupo, no coletivo, pela sua etnia, classe

    ou nao a que pertence como, por exemplo: os negros, candomblecistas,

    umbandistas, judeus, ciganos, pobres etc. MOSCOVICI (1978, p. 64) assim

    explica essa classificao dentro das Representaes Sociais [...] o racismo o

    caso extremo em que cada pessoa julgada, percebida, vivida, como

    representante de uma sequncia de outras pessoas ou de uma coletividade.

    Parafraseando MOSCOVICI (1978), a representao social um reflexo do

    real, o imaginrio na conscincia individual ou coletiva de um objeto ideias que

    lhes so exteriores, uma fotografia captada e alojada no crebro, enquanto a

    representao social ativa, porque modela e reconstri o dado do exterior.

    Se por acaso a representao fosse apenas uma imagem, fixaria na

    conscincia individual ou coletiva a imagem da diversidade de papis e funes

    do negro na sociedade, a riqueza da sua cultura e religiosidade, entre outras

    imagens do cotidiano do povo negro, contudo os conceitos ou preconceitos

    recalcadores internalizados na nossa conscincia subtraem a visibilidade ou

    modelam negativamente o povo negro e em especial o povo dos Terreiros.

  • 35

    Todavia, mesmo diante desse quadro de injustia, luta e preconceito social,

    religioso e racial e desvalorizao da cultura negra, que nossa sociedade prtica

    h vrias dcadas relegado-a para um segundo plano, acreditamos que nosso

    trabalho h de ajudar no empoderamento do povo de Terreiro.

    Por fim, este trabalho de interveno e pesquisa no se encerra aqui, com

    toda a certeza h de gerar outras aes que ho de colaborar com o

    empoderamento e a maior visibilidade do povo negro para amenizar a

    discriminao, a intolerncia religiosa e o racismo. Ax Odara!

  • 36

    REFERNCIAS

    ABREU, Joanisa Vieira de. Os Orixs Danam no Planalto Central. Braslia: Fundao Cultural Palmares, 2006. ADICHIE, Chiamanda. Vdeo: Os perigos de uma histria nica. Disponvel em: http://www.youtube.com/watch?v=EC-bh1YARsc. Acesso em: 29 jun. 2014 ANDRADE, Mrio. Ante Projeto de Criao do SPHAN. So Paulo: SPHAN, 1936. BEATA, Yemanj de Me. Caroo de Dend a sabedoria dos Terreiros, como Ialorixs e Babalorixs passam conhecimentos a seus filhos. Ilustraes Raul Lody -2. Ed. Rio de Janeiro Pallas, 2008. BERNARDES, Adriana. Somos invisveis para os Governos. Correio Braziliense, Braslia: 9 jul. 2015. Cidades, p.23. BHABHA, Homi K. O Local da Cultura. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2003. BRASIL, Constituio (1988). Braslia: Senado Federal, Subsecretaria de Edies Tcnicas, 2010 CARDOSO, Vnia. Mito e Memria: a potica afro-brasileiros contos de Me Beata. In: BEATA, Yemanj de Me. Caroo de Dend a sabedoria dos Terreiros, como Ialorixs e Babalorixs passam conhecimentos a seus filhos. Ilustraes Raul Lody -2. Ed. Rio de Janeiro Pallas, 2008. CARREIRA, Grace Laine Pincerato. Patrimnio cultural imaterial: do anteprojeto de Mrio de Andrade constituio de 1988 aspectos relevantes. In: Encontro Internacional de Direitos Culturais. Fortaleza: OAB, 2012. Disponvel em: http://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:1gtkR1y1psYJ:www.direitosculturais.com.br/download.php%3Fid%3D118+&cd=1&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br Acesso em 03. jul. 2015. CASCUDO, Luis da Cmara. Dicionrio do Folclore Brasileiro. So Paulo: Global, 2001. COSTA, Lcio. Braslia a cidade que inventei. Relatrio do Plano Piloto de Braslia. Braslia: Iphan DF, 2014. GEERTZ, Clifford. A interpretao das Culturas. Rio de Janeiro: LTC, 2008. GONALVES, Jos Reginaldo Santos. A retrica da perda: os discursos do patrimnio cultural no Brasil. Rio de Janeiro: Ed. UFRJ, IPHAN, 2002.

  • 37

    HORTA, Maria de Lourdes Parreiras; et al. Guia Bsico de Educao Patrimonial. Braslia: Iphan/Museu Imperial, 1999. IPHAN. Processo de tombamento n. 1.471-T-00. Terreiro de Candombl Il Ax Iy Omin Iyamass. Salvador, 2000. _____.Parecer Tcnico n. 383/02 7 SR/IPHAN, de 2 de setembro de 2002. Terreiro do Gantois, Il Ax I Omin Iamass, em Salvador/BA. In: IPHAN. Processo n. 1.471-T-00 Terreiro de Candombl Il Ax Iy Omin Iyamass. Salvador: 2002. f. 085-099. _____ Inventrio dos TERREIROS do Distrito Federal e Entorno 1 Fase. Braslia: Iphan, 2009. _____. Inventrio Nacional de Referncias Culturais TERREIROS do Distrito Federal e Entorno. Braslia: Iphan, 2012. MACIEL, M. A. M., FRANCESCUTTI, D. M. Acesso aos conhecimentos tradicionais das sociedades Indgenas Brasileiras. In: Congresso Nacional de Bibliotecrios, Arquivistas e Documentalistas, 6, 1998, Aveiro Portugal. Anais do 6 Congresso Nacional de Bibliotecrios, Arquivistas e Documentalistas. Lisboa: BAD, 1998. v. 1, p.381-387. MARTINS, Leda Maria. Afrografias da memria: O Reinado do Rosrio no Jatob. So Paulo: Perspectiva, 1997. MOSCOVICI, Serge. A representao social da psicanlise. Rio de Janeiro: Zahar. 1978. NASCIMENTO, Eliciana. O Tempo dos Orixs. Fotografia Benjamim Watkins. [San Francisco-CA]. Candace Cine Video, 2014. 1 DVD (2013), HD, color. Ttulo Original: The Summer of Gods. RAMOS, Eurico. Revendo o Candombl respostas s mais frequentes perguntas sobre a religio. Rio de Janeiro: Mauad X, 2011. SILVA, Kalina Vanderlei; MACIEL Henrique Silva. Dicionrio de conceitos histricos. So Paulo: Contexto, 2009. UFSC. Modelo de Relatrio Cientfico. Disponvel em http://bsjoi.ufsc.br/files/2010/09/Modelo_de_relatorio_tecnico-cientifico.pdf. Acesso em 08 de maio de 2015. VELHO, Gilberto. Patrimnio, negociao e conflito. Mana, Rio de Janeiro, v. 12, n. 1, p. 237-248, Abr. 2006. Disponvel em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-93132006000100009&lng=en&nrm=iso Acesso em 04. abr. 2015.

  • 38

    ANEXO A CLOSSRIO DAS PALAVRAS DIFERENTES

    Termo Significado lfim Titulo do Orix Xang Aluj Ritmo em Yorub que usa uma pequena vara para tocar Arajin Corpo de fogo em Yorub As Fora / Energia Bem Imaterial Conhecimento intangvel Bem Material Obras de arte, construes, fsseis Dispora Mudana forada provocada por religio / etnia Dek Certificao equivalente a ordenao / Cuia Egb Comunidade ou povoado em Yorub Gantois Local de uma Casa de Santo em Salvador Gbt Guerreiro em Yorub Ib Conjunto de loua, ferro ou barro que representa o Orix Il Terra em idioma Yorub Jeged Mimado em Yorub Jurema Uma das vertentes do culto afro indgena Legu Boji Bu Encantaria da Cultura Maranhense Mona Filho em idioma Banto Mina Uma das vertentes do culto afro Nzambi Deus Supremo em idioma Banto Nzo Casa em idioma Banto Ob Rei em Yorub Omin gua em Yorub Oxumar Orix do Arco Iris Oy Antiga Nao governada por Xang Tata Pai no idioma Banto Terec Uma das vertentes do culto afro indgena Tumba Jussara Uma das vertentes do culto afro

  • 39

    ANEXO B Banners da Exposio

    No Polo da UFG UAB/guas Lindas em agosto de 2015, X CTE Congresso de Trabalhadores em Educao promovido pelo SINPRO DF, em agosto de 2015 e do IV SERNEGRA Semana de Reflexes sobre Negritude Gnero e Raa do Instituto Federal de Braslia e do II COPENECO em novembro 2015 e no Encerramento da EIPDCC em Goinia em dezembro de 2015.

  • 40

    Coordenao de Orientadora: Simone Rosa da SilvaOrientadora Acadmica MSC. Mana Marques Rosa

    Especializando: Marcus Alberto Moura Maciel guas Lindas de Gois GO, agosto de 2015

    Oralidade, a Histria entre os lbios da Dispora Afro-brasileira no Cerrado carece ser preservada

    Os nossos MAPAS: A RIDE, guas Lindas de Gois e os Templos de Cultos de Matriz Afro levantados e mapeados.

    UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIS

    PR-REITORIA DE PESQUISA E INOVAO

    PR-REITORIA DE PS-GRADUAONCLEO INTERDISCIPLINAR DE ESTUDOS E PESQUISAS EM DIREITOS HUMANOS

    Especializao Interdisciplinar em Patrimnio, Direitos Culturais e Cidadania

  • 41

    Eu sei que no vou lembrar de todas as histriasQue ela contou,mas de uma coisa lembro,nunca devemos esquecer de onde viemos, pois nopassado queencontraremos a fora para criarum futuro.

    Eliciana Nascimento - 2014

    Coordenao de Orientadora: Simone Rosa da SilvaOrientadora Acadmica MSE. Mana Marques Rosa

    Especializando: Marcus Alberto Moura Maciel guas Lindas de Gois GO, agosto de 2015

    Oralidade, a Histria entre os lbios da Dispora Afro-brasileira no Cerrado carece ser preservada!

    O Tombamento de Terreiros em Salvador (Gantois), a Palestra (Ao Interventiva) no Il Ob As Egb lfin y, em guas Lindas de Gois, e o curta Metragem Tempo dos Orixs

    UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIS

    PR-REITORIA DE PESQUISA E INOVAO

    PR-REITORIA DE PS-GRADUAONCLEO INTERDISCIPLINAR DE ESTUDOS E PESQUISAS EM DIREITOS HUMANOS

    Especializao Interdisciplinar em Patrimnio, Direitos Culturais e Cidadania

  • 42

    Coordenao de Orientadora: Simone Rosa da SilvaOrientadora Acadmica MSC. Mana Marques Rosa

    Especializando: Marcus Alberto Moura Maciel guas Lindas de Gois GO, agosto de 2015

    Oralidade, a Histria entre os lbios da Dispora Afro-brasileira no Cerrado carece ser preservada

    UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIS

    PR-REITORIA DE PESQUISA E INOVAO

    PR-REITORIA DE PS-GRADUAONCLEO INTERDISCIPLINAR DE ESTUDOS E PESQUISAS EM DIREITOS HUMANOS

    Especializao Interdisciplinar em Patrimnio, Direitos Culturais e Cidadania

    Mestra da Jurema Sagrada Dona Luziara da Conceio

    Os africanos contriburam com o seu

    conhecimento sobre o culto dos mortos

    eguns e das divindades da natureza, osOrixs Voduns e Inkices.

    Os ndios; contriburam com o conhecimento

    de invocaes dos espritos de antigos pajs

    e dos trabalhos realizados com os

    encantados das matas e dos rios.

    Da a jurema se compor de duas grandes

    linhas de trabalho: a linha dos mestres de

    jurema e a linha dos encantados. Mestra

    Dona Luziara da Conceio Segundo os

    adeptos da Jurema um esprito que teve

    vida na terra, e na sua passagem foi

    encantada na flor da Jurema Preta e se

    apresenta em uma forma mais jovem apesar

    de sua idade na poca de sua passagem

    para o reino dos encantados da Jurema

    Preta, foram encantados na sua passagem

    em animal ou vegetal.

    JUREMA SAGRADA

    Tradio religiosa remanescente dos ndios que

    habitavam o litoral da Paraba, Rio Grande do

    Norte e no Serto de Pernambuco e dos seus

    pajs, grandes conhecedores dos mistrios do

    alm, plantas e dos animais. Depois da chegada

    dos africanos no Brasil, quando estes fugiam dos

    engenhos onde estavam escravizados,

    encontravam abrigo nas aldeias indgenas, e

    atravs desse contato, os africanos trocavam o

    que tinham de conhecimento religioso em comum

    com os ndios.

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    Coordenao de Orientadora: Simone Rosa da SilvaOrientadora Acadmica MSE. Mana Marques Rosa

    Especializando: Marcus Alberto Moura Maciel guas Lindas de Gois GO, agosto de 2015

    Oralidade, a Histria entre os lbios da Dispora Afro-brasileira no Cerrado carece ser preservada

    As trs primeiras fotos retratam as trs sadas na Festa de Iniciao do Pai Obalaj, a 4 ele incorporado com Xang,

    a 5 o Trono de Xang, a 6 a Gameleira Branca, a rvore sagrada e a 7 o Ib de Exu de Xang

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