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Universidade de Brasília
Faculdade de Comunicação
Departamento de Jornalismo
Opinião no telejornalismo: como os apresentadores de
TV aplicam a ideologia profissional em seus
comentários
Brunna Ribeiro de Azevêdo
Brasília – DF
Novembro/2014
II
Universidade de Brasília
Faculdade de Comunicação
Departamento de Jornalismo
Opinião no telejornalismo: como os apresentadores de
TV aplicam a ideologia profissional em seus
comentários
Brunna Ribeiro de Azevêdo
Monografia apresentada ao Curso de Comunicação Social,
habilitação Jornalismo, da Faculdade de Comunicação,
Universidade de Brasília, como requisito parcial para
obtenção do grau de Bacharel em Comunicação Social sob a
orientação do professor Fábio Pereira.
Brasília - DF
Novembro/2014
III
AZEVÊDO, Brunna Ribeiro de.
Opinião no telejornalismo: como os apresentadores de TV aplicam a ideologia profissional em seus
comentários
Orientação: Fábio Henrique Pereira
114 páginas
Projeto Final em Jornalismo – Departamento de Jornalismo – Faculdade de Comunicação –
Universidade de Brasília.
Brasília, 2014.
1. Opinião; 2. Responsabilidade Social; 3. Público; 4. Ética; 5. Televisão
IV
Opinião no telejornalismo: como os apresentadores de
TV aplicam a ideologia profissional em seus
comentários
Brunna Ribeiro de Azevêdo
Orientador: Prof. Dr. Fábio Henrique Pereira
Brasília, novembro de 2014
BANCA EXAMINADORA
________________________________
Prof. Dr. Fábio Henrique Pereira (Orientador)
________________________________
Prof. Dr. Luiz Martins da Silva
________________________________
Profa. Célia Maria dos Santos Ladeira Mota
________________________________
Prof. Paulo José Araújo da Cunha (Suplente)
V
Resumo
Visto que o jornalismo tem espaço para a opinião e para a informação, e que, o impacto
que o comentário de um jornalista pode causar depende do veículo utilizado, este trabalho
pretende estudar como o profissional que emite opinião na TV lida com sua
responsabilidade social e liberdade de expressão. Como ele considera o público e a sua
reação a esse comentário? Para responder estas questões, entrevistas foram realizadas
com apresentadores de telejornais locais que fazem comentários no ar. Os conceitos da
ideologia profissional do jornalista, como imparcialidade e objetividade, foram estudados
e utilizados como base para as perguntas aos profissionais. Percebeu-se que houve
relativização de alguns conceitos, e, o público, questões de mercado e tecnológicas foram
apontadas como causa.
Palavras-Chave: Opinião; Responsabilidade Social; Público; Ética; Televisão.
VI
Lista de Quadros
Quadro 1 – Novas Funções da Ideologia para os entrevistados .....................................58
VII
Sumário
Introdução..........................................................................................................................1
Parte 1 – Ideologia Profissional do Jornalista, TV e Opinião ..........................................5
Capítulo 1. Ideologia .....................................................................................................5
1.1 Ideologia Profissional ...............................................................................6
1.2 Ideologia Profissional no Jornalismo .......................................................6
1.2.1 Quarto Poder...................................................................................10
1.3 Jornalismo como Serviço Público............................................................11
1.4 Imparcialidade.........................................................................................11
1.5 Objetividade.............................................................................................13
1.6 Liberdades ..............................................................................................15
1.6.1. Autonomia....................................................................................15
1.6.2. Liberdade de Expressão..................................................................15
1.7 Sentido de Ética.......................................................................................17
1.8 Responsabilidade Social do Jornalista ....................................................18
1.9 Considerações Finais ..............................................................................19
Capítulo 2. Revisão de Conceitos .............................................................................21
2.1. Televisão .............................................................................................21
2.1.1. Ideologia da Televisão ..................................................................22
2.1.2. O Telejornalismo ..........................................................................24
2.1.3. A interação do público com a TV .................................................30
2.2. Jornalismo de Opinião ........................................................................31
Parte 2 – Metodologia .....................................................................................................34
2.1. Pesquisa Bibliográfica .........................................................................34
2.2. Escolha dos Entrevistados ...................................................................34
2.3. Entrevista ............................................................................................37
2.3.1. Ética na Entrevista .....................................................................39
2.3.2. Entrevista Semiestruturada .......................................................40
2.4. Codagem e interpretação .....................................................................42
Parte 3 – Análise .............................................................................................................44
Capítulo 1. Emissoras, telejornais, apresentadores e comentários ..........................44
1.1. Emissoras ...........................................................................................44
1.1.1. Globo............................................................................................44
1.1.2. Record ..........................................................................................45
VIII
1.1.3. SBT ..............................................................................................46
1.1.4. TV Brasília ...................................................................................47
1.2. Apresentadores ..................................................................................48
1.2.1 Alexandre Garcia ..........................................................................48
1.2.2 Giulianno Cartaxo .........................................................................49
1.2.3. Maria Júlia ..................................................................................50
1.2.4. Williane Rodrigues .....................................................................50
1.3. Telejornais ..........................................................................................51
1.3.1. DF no Ar ......................................................................................51
1.3.2. DFTV ..........................................................................................51
1.3.3. Jornal Local .................................................................................51
1.3.4. SBT Brasília ................................................................................52
1.4. O Comentário ......................................................................................52
Capítulo 2. Analítico ..................................................................................................54
2.1. Introdução ............................................................................................55
2.2. Análise .................................................................................................57
2.2.1. Serviço Público ...........................................................................58
2.2.2. Responsabilidade Social ..............................................................61
2.2.3. Imparcialidade .............................................................................63
2.2.4. Objetividade ................................................................................65
2.2.5. Autonomia ..................................................................................66
2.2.6. Liberdade de Expressão ..............................................................68
2.2.7. Ética .............................................................................................68
2.3. Considerações Finais ..........................................................................70
2.3.1. Aproximação com a internet ........................................................71
Conclusão........................................................................................................................73
Referências Bibliográficas ..............................................................................................80
Anexo ..............................................................................................................................88
1
Introdução
Este trabalho revisita conceitos da ideologia profissional do jornalista e busca
compreender qual a relação deles como o jornalismo opinativo, em especial, aquele
realizado na televisão. Saber como o jornalista dialoga sua liberdade de expressão e sua
responsabilidade social no momento de formular sua opinião e como ele analisa o possível
impacto na sociedade que sua fala pode causar, em um veículo de comunicação tão
popular como a TV, foram os fatores que motivaram esta pesquisa.
O noticiário brasileiro possui casos de jornalistas-comentaristas famosos por suas
opiniões, como Joelmir Beting, Alberto Dines, Boris Casoy, Carlos Chagas, dentre
outros. Porém, a profissional que inspirou este trabalho foi a apresentadora do jornal SBT
Brasil, da emissora SBT, Rachel Sherahazade. A jornalista é famosa por opiniões
inesperadas sobre fatos do cotidiano ou festas nacionais, como o Carnaval. Em seu
comentário mais polêmico, em 4 de fevereiro de 2014, Sheherazade opinou sobre a
atuação de um grupo de jovens que teriam amarrado e espancado um menor de idade nu,
acusado de roubos, a um poste, no Rio de Janeiro. “O marginalzinho amarrado ao poste
era tão inocente, que ao invés de prestar queixa na delegacia de seus agressores, ele
decidiu fugir, antes que ele mesmo acabasse preso. É que a ficha do sujeito está mais suja
do que pau de galinheiro. Num país que ostenta os incríveis vinte e seis assassinatos a
cada cem mil habitantes, que arquiva mais de oitenta por cento dos inquéritos de
homicídios e sofre de violência endêmica, a atitude dos vingadores é até compreensível.
O Estado é omisso, a polícia desmoralizada, a justiça é falha, o que que resta ao cidadão
de bem, que, ainda por cima, foi desarmado? Se defender, é claro. O contra-ataque aos
bandidos é o que eu chamo de defesa coletiva de uma sociedade sem Estado contra um
estado de violência sem limite. E aos defensores dos direitos humanos, que se apiedaram
do marginalzinho preso ao poste, eu lanço uma campanha, faça um favor ao Brasil, adote
um bandido.”1 A atitude da apresentadora foi repudiada nas redes sociais, acusada de
promover discurso de ódio, colegas jornalistas, como Ricardo Boechat, também se
manifestaram contra a opinião dela. O Sindicato dos Jornalistas profissionais do
município do Rio de Janeiro e do Distrito Federal apresentaram notas de repúdio à opinião
1Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=IebfjGskNl4 Acesso em 8 de novembro de 2014
2
da jornalista, afirmando que houve violação dos direitos humanos, do Estatuto da Criança
e do Adolescente, do Código de Ética dos Jornalistas e apologia à violência. A Federação
Nacional dos Jornalistas (FENAJ) também se manifestou afirmando que o caso é um
“exemplo do que não é jornalismo.”2 O Ministério Público Federal entrou com uma ação
civil pública contra a emissora SBT pelas declarações da apresentadora.3
Em contra partida, dois dias após, jornal SBT Brasil passa VT que mostra a repercussão
do comentário e, ao final, o também apresentador do jornal, Joseval Peixoto, comunica,
“Há também uma certa confusão em separar a opinião pessoal dos apresentadores e da
linha editorial do jornalismo do SBT. A opinião da Rachel é a opinião da Rachel. Quando
a opinião é da Casa, é uma praxe jornalística, se faz através de editorial. Agora, o que é
um princípio geral para todos nós, é que é absoluta a liberdade de expressão, porque é o
povo que tem direito a notícia e a opinião, Obrigada.” 4Em sua defesa, Sheherazade
afirmou que não abre mão de seus direitos como cidadã, de exercer sua liberdade de
expressão e, como jornalista, sua liberdade de imprensa, de “falar o que pensa, o que vê,
o que sente”. “Não represento ninguém, só a mim mesma, agora graças a Deus muitas
pessoas se sentem representadas por mim. Falo para exercer meu direito de me expressar,
essa é minha missão e uso a televisão para isso”, declarou a jornalista paraibana quando
foi homenageada pela Câmara Municipal de João Pessoa com o Diploma de Honra ao
Mérito5.
Surgiram então as questões: Como medir o limiar entre a liberdade de expressão de
cada cidadão e a liberdade de imprensa do jornalista? De que forma o jornalista pode
exercer sua opinião? O veículo, televisão, é responsável pela repercussão, ou o conteúdo
do comentário? Qual a relação do jornalista com o público quando o profissional emite
opinião? Essas são as questões fundamentais que permeiam a pesquisa.
A justificativa deste trabalho se esclarece pelo exemplo desse recente episódio
protagonizado por Rachel Sheherazade, em que é percebida a responsabilidade e o poder
credenciados ao jornalista para reportar fatos e também opiniões, ainda mais quando isso
2 Disponível em: http://www.fenaj.org.br/materia.php?id=4044 Acesso em 8 de novembro de 2014 3 Disponível em: http://veja.abril.com.br/noticia/entretenimento/ministerio-publico-entra-com-acao-
contra-sbt-por-apoio-de-rachel-sheherazade-a-justiceiros Acesso em 8 de novembro de 2014 4 Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=OJA_OGzDVX8 Acesso em 10 de novembro de
2014 5 Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=IebfjGskNl4 Acesso em 10 de novembro de 2014
3
ocorre na televisão, que, de acordo com números do IBGE de 2011, está presente na casa
de 97% dos brasileiros6. A importância do jornalismo na TV foi mostrada nos últimos
dados divulgados pela Secretaria de Comunicação da Presidência da República por meio
da Pesquisa Brasileira de Mídia 20147, em que dentre os 23 programas mais citados pelos
entrevistados, 11 eram jornalísticos. Esses dados somam-se também a uma percepção
pessoal da autora de que cada vez mais os apresentadores de telejornais estão se
posicionando de forma mais opinativa durante o noticiário, tanto no cenário local quanto
no nacional.
O objetivo geral do trabalho é analisar como as temáticas de responsabilidade social e
liberdade de expressão, enquanto componentes da ideologia profissional, são colocadas
por apresentadores de televisão que emitem opinião. Analisar o processo de produção da
opinião no processo do telejornalismo brasileiro, como os apresentadores de um telejornal
visualizam e antecipam os impactos da opinião junto ao público e a forma como os
apresentadores de um telejornal lidam com a liberdade de expressão foram os objetivos
específicos da pesquisa.
A metodologia utilizada no trabalho foi o de entrevistas semiestruturadas e em
profundidade com quatro apresentadores de telejornais locais que realizam comentários
no telejornal, de emissoras, sexos e tempo de trabalho diferentes. A entrevista foi
escolhida por ser uma opção em que seria possível verificar, a partir de uma ótica
qualitativa, a interpretação dos conceitos ideológicos pelos apresentadores, ao emitirem
opinião. E como método de pesquisa, o interacionismo simbólico é a corrente adotada,
visto que ele trabalha as interações pessoais e os significados, dados às pessoas e aos
objetos como resultados de um processo interpretativo das partes.
O trabalho foi escrito em duas etapas. Na pesquisa bibliográfica os conceitos da
ideologia profissional do jornalista, assim como a história da televisão no Brasil e sua
importância e o jornalismo opinativo brasileiro foram discutidos, e teóricos como
Bourdieu, John Soloski, Nelson Traquina, Cremilda Medina, Mark Deuze, Francisco José
Castilhos Karam, José Marques de Melo, dentre outros foram estudados. No segundo
6 Disponível em: http://g1.globo.com/economia/noticia/2012/09/numero-de-casas-com-tv-supera-o-das-
que-tem-geladeira.html Acesso em 10 de novembro de 2014.
7 Disponível em: http://pt.slideshare.net/BlogDoPlanalto/pesquisa-brasileira-de-mdia-2014 Acesso em 10
de novembro de 2014
4
momento, as emissoras, os telejornais e os jornalistas foram apresentados, para que, em
seguida, as entrevistas decupadas fossem analisadas e interpretadas.
5
Parte 1 – Ideologia profissional do jornalismo, TV e Opinião
Capítulo 1 - Ideologia
Este capítulo se dedica à revisão dos conceitos que amparam esta pesquisa. Primeiro,
a definição de ideologia profissional no jornalismo, operacionalizada pela clássica tríade
imparcialidade, objetividade e neutralidade, além de conceitos que permeiam a ética
jornalística. A importância da televisão como meio de comunicação e como o jornalismo
opinativo se configura no Brasil também serão analisados.
O termo ideologia não possui bem uma definição padrão. Nos diferentes campos do
saber, é possível encontrar conceitos que definam ideologia de maneiras distintas, como
cita Terry Eagleton (1991). Segundo uma lista elaborada pelo próprio autor, as definições
iriam desde “o processo de produção de significados, signos e valores na vida social”
(p.15) ao “pensamento de identidade” (p. 15). O autor percebe ainda que algumas
definições atribuem caráter pejorativo a “ideologia”, outras são contraditórias e há ainda
aquelas que envolvem caráter epistemológico ao termo.
Parsons, citado por Stuart Hall (1982), argumentava que pelo termo “ideologia” não
podia ter uma definição completa e aceita por todos, seu conceito era visto como sinônimo
de ‘propaganda’, como se quem a possuísse a utilizasse como instrumento de persuasão
ou enganação. Devido à polarização de ideais políticas, sociais e econômicas que
dividiram o mundo nos anos 60, a ideologia passou a ser mais discutida, assim como o
conceito de poder na Ciência Política (HACKETT 1999, p. 119). Esses acontecimentos
que movimentaram a sociedade como um todo levaram à maior teorização da ideologia e
sua influência nos mass media enquanto instituição (ideias, ações, realidade).
Neste trabalho, o conceito de ideologia a ser utilizado será o de conjunto de costumes
e valores para exercício de alguma finalidade, no caso, o jornalismo (EAGLETON, 1991,
p. 15). Em que os jornalistas se apoiam para se afirmarem como profissão? Como eles
constroem um discurso que busca e reforça sua importância para a sociedade? No que
eles acreditam? Como é construído o seu imaginário sobre o jornalismo e sua
profissionalização? Esses, entre outros aspectos, serão abordados.
6
1.1 - Ideologia profissional
Cada profissão possui um conjunto de princípios, crenças, que expressam elementos
da prática profissional. A ideologia profissional tende a reforça a ideia de que haveria um
propósito maior pelo qual o profissional trabalha em prol, para que o significado de suas
ações não se percam ou que não se desvirtuem de seu objetivo final.
Segundo John Soloski (1999), a literatura que cerca o profissionalismo está
interessada nas abordagens histórico-sociológicas das tentativas para definir o que é uma
profissão. Baseada na análise da ascensão histórica da Medicina e do Direito, e das
análises das relações entre os profissionais e as organizações comerciais burocráticas que
os empregam, estudiosos como Kornhauser (1963) acreditam que os interesses do
capitalismo por vezes fazem os profissionais entrarem em choque com sua deontologia e
sua ideologia profissional, pois a ideologia prega a prestação de serviços a sociedade
como o bem maior, e deve ser seguido por cada profissão, enquanto o capitalismo torna
esses serviços uma mercadoria a ser adquirida pelo cidadão. A linha que divide os
interesses do capitalismo e do profissionalismo é tênue. As ocupações têm de ter uma
função específica e necessária para existirem, além de bases cognitivas e prática bem
estipuladas, para que não haja concorrência mercadológica entre elas. No início do século
XX culminou com a consolidação das organizações comerciais burocráticas e do
profissionalismo. (LARSON, 1977 apud SOLOSKI, 1999, p. 93). Elliot (1972) e Larson
(1977), citados no trabalho de Soloski, dão o exemplo dos médicos. “Os médicos, por
exemplo, fornecem um serviço que tem vindo a ser visto como um bem universal que
deve estar ao dispor de toda a gente, independentemente da capacidade de o paciente
pagar os serviços.” (SOLOSKI, 1999, p. 93).
1.2 – Ideologia Profissional no Jornalismo
No início do século XIX, nos Estados Unidos e Inglaterra, a profissionalização do
jornalismo começou por meio da criação de clubes, associações, sindicatos e fundações,
que tinham o objetivo de lutar por melhores condições de trabalho dos jornalistas. Nos
7
anos 60, do mesmo século, os EUA passam a ministrar o jornalismo como curso superior,
com professores que já tinham trabalhado em jornais. É dentro desse processo de
profissionalização que surge a técnica da “pirâmide-invertida”, que trouxe a autoridade
profissional ao para que o jornalista. “Toma-se como certo o direito e a obrigação do
jornalista de mediar e simplificar, cristalizar e identificar os elementos políticos no
acontecimento noticioso.” (TRAQUINA, 2005, p. 89). O Mestrado e Doutorado surgem
no século seguinte e tem forte aprimoramento desde 1940 nas universidades norte-
americanas. No mesmo período, os códigos deontológicos do jornalismo se consolidam
na França e Estados Unidos (TRAQUINA, 2005, p. 81-89).
Entre as décadas de 1940 e 1960, o jornalismo brasileiro também passou por mudanças
estruturais. A noção de jornalismo romântico, envolvido com grupos políticos e do
jornalista de vida boêmia deixou de existir a partir da profissionalização do jornalismo.
O lado literário do jornalismo entrou em declínio e os jornais passaram a reforçar o caráter
de atividade empresarial dessa atividade. Novas práticas, novas linguagens aparecem e a
rotina de produção foi refeita. Na academia, os primeiros cursos de Jornalismo
começaram a ser criados (em 1947 nasce o curso de Jornalismo da Cásper Líbero, o
primeiro do País). É ainda na primeira metade do século XX que se consolida o primeiro
grande grupo de comunicação brasileiro, o Diários Associados, responsável por traz a TV
ao Brasil (PEREIRA, 2008, p. 210).
Essa mudança na prática do jornalista levou à construção de um conjunto de
convenções capazes de agilizar o processo de tomada de decisão pelo jornalista, o vai dar
origem ao discurso do imediatismo e da instantaneidade na prática jornalística. Por outro
lado, o jornalista passou a trabalhar contra o relógio, com prazos cada vez mais apertados,
e o tempo passou a ser, ao mesmo tempo, ser um valor essencial da ideologia profissional,
e um limitador à qualidade do trabalho (DEUZE, 2005, p.449).
Esse modelo de jornalismo industrial, de bases mercadológicas permanece até hoje. A
linha editorial de cada veículo promove diferentes visões ao fato noticiado, mas existem
pontos de abertura aos pontos de vista sobre determinados assuntos, espaços de opinião
em que há relativa liberdade e autonomia no interior do veículo.
8
Segundo Deuze (2005), o sentido do jornalismo ser considerado uma profissão são as
características e valores semelhantes partilhados por todos os profissionais da área e de
diferentes páises, e, por isso, podemos dizer que a noção de ideologia permite identifica
o jornalismo como prática social. Mas como a comunidade jornalística se utiliza desses
preceitos na prática pode ser de maneiras distintas (DEUZE, 2005, p. 445).
O autor classifica os cinco ideal-valores típicos dos jornalistas: a convicção do
jornalismo de prestar um serviço de utilidade pública, a objetividade, carregada de
conceitos como neutralidade, credibilidade e imparcialidade, autonomia, a liberdade e
independência do trabalho do jornalista, a resposta imediata, a atualidade e velocidade ao
reportar os fatos e a ética, onde se legitima a profissão (DEUZE, 2005, p. 447).
A validação moral do jornalismo enquanto profissão é de responsabilidade do grupo,
que constrói o discurso e o impõe a sociedade, fazendo com que ela somente armazene
seus valores, justifique sua institucionalização e legitime os profissionais a trabalharem a
favor do bem maior da sociedade, transmitindo a verdade dos fatos do cotidiano,
decodificando o linguajar dos especialistas, estando onde as pessoas não podem estar. O
registro profissional, a instituição nas universidades e direitos jurídicos também são
moralmente legitimados e justificados pela ideologia profissional (KARAM 2004, p. 46).
A ideologia profissional do jornalismo prevê um conjunto de padrões de
comportamento, e, apesar da parte cognitiva ser apendida na faculdade, é no exercício da
profissão que seus postulados são de fato estabelecidos. Nesse ponto, o jornalismo sempre
se dividiu entre o mercado e a academia, o que se aprende na sala de aula e o que a
indústria lhe exige (DEUZE, 2005, p. 443).
Para citar alguns dos valores e postulados da ideologia jornalística, podemos pontuar
a imparcialidade ao apurar o fato, a defesa do interesse público, a credibilidade da notícia
que o jornalista traz, entre outros. Seja em uma redação de jornal, na produção de um
programa de televisão ou de rádio, a ideologia da imparcialidade ao noticiar, traduzida
pela prática de ouvir os ‘dois lados da notícia’ e produzir um relato objetivo dos fatos,
são convenções interiorizadas pelos jornalistas e vistas como habituais e obrigatórias no
imaginário dos profissionais e da sociedade como um todo.
9
Como não se pode noticiar tudo, os critérios de noticiabilidade do news judgment
funcionam para detectar o que é “normal” na sociedade e justamente noticiar o que seria
o desvio dessa normalidade. Dessa forma, o jornalista cumpre com seu profissionalismo
e defenderia os valores da sociedade, como parte da sua capacidade de autolegitimação.
(SOLOSKI, 1999, p. 97). Para a seleção dos fatos noticiados, o conceito do gatekeeping
é bem utilizado, pois sua função do profissional ‘guardião da notícia’ está ligada
diretamente com os interesses da organização a qual trabalha mas também ao interesse
do cidadão, porque senão ninguém lucra, ou se beneficia com isso (HOHLFELDF, 2001,
p. 206).
Segundo Soloski (1999), o profissionalismo jornalístico identifica o comportamento
dos profissionais de duas formas: estabelecendo normas de conduta e determinando o
sistema de recompensa profissional. As organizações não precisam, por exemplo,
oferecer cursos para que seus novos jornalistas saibam o que fazer nas redações, pois
todos já possuem os quadros cognitivos necessários a profissão, as normas de
comportamento que são “transorganizacionais”. Porém tais normas são colocadas no dia
a dia da prática jornalística. Com o pressuposto de que os jornalistas não saiam dessa
rotina, as organizações mantém o controle sobre eles. Mas o profissionalismo também
fornece e reforça noções como liberdade e autonomia para que o jornalista não fique
totalmente preso ao controle organizacional. No que se referente à recompensa, Soloski
afirma que o jornalista olha para sua carreira como um todo e não somente para a
organização que trabalha no momento para alcançar seu prestígio profissional. “Os ideais
da profissão, e não os objetivos da organização, serão mais uma preocupação para os
jornalistas” (p. 97). Para as empresas não perderem jornalistas, elas fizeram dois tipos de
escalas profissionais, por meio de ascensão da direção ou ascensão na profissão. No
primeiro caso, o jornalista pode fazer parte da equipe executiva da empresa, enquanto na
segunda, é aumentado vencimentos e categorias sem aumentar responsabilidades
direcionais, de forma a garantir mais liberdade a esses profissionais. O objetivo dessas
recompensas é reforçar os laços de confiança e de lealdade dos jornalistas com a
organização, assim como o prestígio de seu trabalho (SOLOSKI, 1999, p. 95 - 97).
Uma vez que o profissionalismo dá liberdade e autonomia ao jornalista independente
da organização onde ele trabalha, isso faz com que não haja grande interferência no seu
trabalho. Se a direção se intrometer ou impor algo ao trabalho do profissional, corre o
10
risco de manchar o nome do jornal. E dessa forma, o jornalista pode proteger sua
autonomia, sua liberdade (SOLOSKI, 1999, p. 99).
A seguir serão relatados alguns conceitos que, ao lado da noção de autonomia e
independência, integram o arcabouço ideológico da profissão de jornalista. Eles são
utilizados para definir e legitimar um conjunto de práticas e convenções e regular as
relações dos jornalistas com as fontes, patrões e públicos. Além disso, servem como
substrato para um discurso que tende a reforçar a função social do jornalista.
1.2.1 - Quarto Poder
A denominação que a imprensa recebe de ‘Quarto poder’ vem pela primeira vez em
1828, quando o deputado do parlamento inglês, McCaulay, se refere à imprensa como o
“quarto” état (ou poder) complementando os outros três poderes definidos na Revolução
Francesa: o clero, a nobreza, e a burguesia junto ao povo. Na configuração democrática
do poder pós-revolução, o quarto poder se mantém, agora ao lado dos poderes Legislativo,
Executivo e Judiciário. Para conseguir legitimar esse seu poder, a imprensa buscou no
“utilitarismo inglês” do século XIX teorias relacionadas à opinião pública, e fazer com
que a imagem dos jornalistas como perigosos e revolucionários não se justificasse. A
opinião pública poderia então se expressar por meio da imprensa, que serviria de elo com
os governantes. A legitimidade do “Quarto Poder” se dá então na teoria democrática de
dar voz às reclamações e insatisfações da sociedade. A imprensa seria a responsável por
vigiar os outros poderes (TRAQUINA, 2005, p. 45-9)
O jornalista atuaria também como “vigilante do poder público”, na medida em que
protege os cidadãos de governantes, exprimindo suas queixas e injustiças. Tal
credibilidade jornalística estaria inserida na democracia e provocaria uma atitude de
desconfiança do jornalismo em relação ao poder. O filósofo escocês James Mills
acreditava que o jornalista deveria ser um meio de transformação da sociedade, aquele
que “bagunça a ordem”, obrigando o governo a realizar reformas sociais (TRAQUINA,
2005, p. 45-50).
11
1.3 - Jornalismo como Serviço Público
Os jornalistas, por vezes, se valem da condição da profissão ser considerada como
um serviço de utilidade pública para um estilo de reportagem agressivo e mais
investigativo. Alguns até acreditam que a sociedade deveria pagar aos jornalistas pelo seu
trabalho, na medida em que ele traria benefícios à sociedade, na representação que faz
dos interesses do povo, na forma como ele contribuiria para seu o bem-estar. De certa
forma, as pessoas retribuem esse trabalho, mas beneficiando não o jornalista diretamente,
mas sim a empresa para a qual ele trabalha, comprando jornais, na visita websites.
(DEUZE, 2005, p. 477)
A expansão da literatura sobre o jornalismo público pode valorizar ainda mais esse
conceito, de forma que o debate possa repensar as regras do jornalismo na sociedade,
relembrar os ideais que permeiam o serviço público através do jornalismo popular.
(DEUZE, 2005, p.447).
1.4 - Imparcialidade
“Acho que a imparcialidade não existe, mas você não pode se esquecer de que hoje
a imprensa exerce um papel político e que deve tentar a isenção. Para isso, o importante
é criar um conjunto de opiniões diversificadas. Um jornal deve apresentar opiniões e
assumir na hora H. Para isso serve o editorial”, afirma o jornalista Alberto Dines, em
entrevista para Arnaldo Grizzo Filho e Gustavo Schor. 8Segundo ele, todos os jornais têm
opinião, e que elas são demonstradas ao público pela sua linha editorial, mas que abusos
de manipulação de informação e sensacionalismo não podem ser permitidos.
A imparcialidade é entendida como a isenção da opinião do jornalista e/ou da empresa
de comunicação na matéria publicada. A opinião do jornalista que escreve a notícia não
pode transparecer. Mas no cotidiano da prática profissional dos jornalistas, podem ser
encontradas dificuldades no caminho.
8 Disponível em: http://tvbrasil.org.br/observatoriodaimprensa/sobre_dines/apice_trabalho.htm Acesso
em 10 de outubro de 2014
12
O argumento de que o jornalista tem de se afastar do fato, ser mero observador do
acontecimento e veículo para que aquilo tome proporção pública já não é correto afirmar.
A notícia por si só traz sua mensagem imparcial, de neutralidade e transparência. É
importante se fazer essa distinção entre o jornalista ser humano e seu trabalho. “A
parcialidade tem de ser encontrada no artigo, não no espírito daquele que escreve.”
(ROBINSON, 1983 apud HACKETT, 1999, p. 114). A ideologia da imparcialidade é
amparada pelo profissionalismo dos jornalistas. Profissionalismo esse que protege seus
comunicadores, dando liberdade para que eles escrevam matérias de forma imparcial,
falando com todos os lados envolvidos, e ao escrever, se distanciando do fato. Mas isso
não significa que ele seja imparcial ao fato, mas a sua postura perante a apuração e escrita
do trabalho tende ser imparcial, para ser crível perante sua profissão e a sociedade.
Dar voz a todos os envolvidos no acontecimento, e não somente “aos dois lados”,
que indicam uma errônea polarização de opiniões e empobrecimento da notícia,
demonstra que o jornalista não privilegiou nenhuma parte. O jornalista ao se preocupar
em dar voz a todos os lados da notícia tem sua garantia de um trabalho legítimo, de
credibilidade para o público. Por exemplo, em programas de debates políticos tem que se
dar o mesmo tempo de fala e de exposição aos candidatos, ou ao menos dar as mesmas
condições para que todos tenham as mesmas chances. A cobertura política é perigosa e
pode demonstrar claramente a parcialidade do veículo.
Credibilidade essa conquistada não só na escolha das fontes, mas também no discurso
da notícia construído com imagens do acontecimento, seja pela TV, impresso ou rádio. A
ideia é que o jornalista teria acesso privilegiado a diferentes lugares e pessoas
(RODRIGUES, 1999, p. 32).
As convicções políticas ou o partidarismo dos donos dos veículos de comunicação
seriam obstáculos à imparcialidade jornalística. E, de acordo com Adams (1978), citado
por Hackett (1999), a “teoria da atitude política” afirma que os jornalistas são os donos
de sua prática, e pressupõe que eles teriam valores políticos coerentes e estáveis, detêm o
controle pessoal sobre sua obra jornalística e estão dispostos a colocar suas preferências
no conteúdo noticioso. Mas, contudo, existe um freio: o ambiente de trabalho, as amizades
profissionais e o senso de objetividade imposto ao logo da carreira faz com que o
jornalista freie suas opiniões pessoais em suas reportagens (HACKETT, 1999, p. 111).
13
Os estudos relacionados à parcialidade envolvem mais o conteúdo das notícias do que
as circunstâncias em que ela foi escrita. (SUMMER 1979 apud HACKETT, 1999, p. 114).
Karam fala das desilusões que muitos têm no jornalismo sobre a parcialidade das
decisões ao escrever, e que esses, se conformam com o fato de tudo estar manipulado,
“embora se saiba que toda ação humana voluntária encerra manipulação, que, em maior
ou menor grau, implica uma escolha” (KARAM, 2004, p. 24). O autor complementa com
algumas funções a serem desempenhadas pelo jornalista: controlar o Estado, servir os
excluídos, e finaliza afirmando que o jornalismo vive de contradições.
1.5 - Objetividade
O desenvolvimento da concepção de que o jornalista teria um papel de observador
neutro da notícia, omitindo opiniões pessoais começa a aparecer no “Novo Jornalismo”
do século XIX, em que o jornalismo informativo se separa do jornalismo opinativo. Os
Estados Unidos, por meio de suas agências de notícias, ajudou a disseminar essa nova
teoria de noticiar os fatos, somente as informações relevantes. Em meados dos anos 20 e
30 do século XX, em período de guerra e da ascensão da publicidade nos EUA, já potência
consolidada, o conceito de objetividade se fortifica para unificar essas regras dentro do
jornalismo, e, na visão, americana, reforçar a credibilidade dos fatos. Para ratificar esse
valor, surge o conceito do jornalista como “espelho” refletor da realidade, mas que logo
entrou em desuso. Pois, de qualquer forma, a notícia tem sempre um toque pessoal do
autor. (TRAQUINA, 1999, p. 167-8).
A objetividade é almejada pelo jornalismo a partir do momento em que a sociedade
demonstra interesse em mais informações sobre o que ocorre ao seu redor e no mundo,
não importa mais a opinião do jornalista, e a necessidade de que várias notícias pudessem
ser lidas em um curto espaço de tempo, sem perda de nenhum detalhe importante. A
fidelização dos leitores se dá também por meio do ideal de objetividade em que os fatos
são apresentados e que garantiriam a credibilidade do jornalista. Essa parceria do público
com o jornalista se sustenta também pela eficácia na cobertura jornalística, nos custos de
assinatura, nos serviços de distribuição ou em qualquer outro fator tangível que um jornal
consegue controlar (SOLOSKI, 1999, p. 97).
14
Segundo Karam, a objetividade “têm relação com a ideologia, mas também com o
reconhecimento moral de um acontecimento, transformado em fato jornalístico”.
(KARAM, 2004, p. 39). Daniel Cornu, jornalista e professor, um dos maiores estudiosos
da ética jornalística, afirma que “a perda da ligação do jornalista com os valores históricos
de sua profissão privaria a própria informação das referências à objetividade como
método” (CORNU 1999 apud KARAM 2004, p. 41).
A reflexão crítica sobre o mito da objetividade esbarra em resistências
dos próprios jornalistas. Essa reação dos profissionais evidencia o
caráter ideológico do mito da objetividade, haja vista o seu significado,
como falsa consciência, no empobrecimento da visão epistemológica
da relação do jornalismo com o mundo, escamoteando a sua função
estratégica no processo social de construção da realidade, isto, sim, se
constituindo em fator de aviltamento da profissão. Aos jornalistas é
cobrada a humanamente impossível tarefa de espelhar (ou reapresentar
perfeitamente) o mundo, da profissão. Aos jornalistas é cobrada a
humanamente impossível tarefa de espelhar (ou reapresentar
perfeitamente) o mundo, e efetivamente real, de participar da
construção do mundo, por ser a mídia o local, por excelência, onde se
processa a reprodução simbólica da realidade funcionando como o local
ou estuário onde a história em construção é germinada. (ROCHA, 2008,
p. 46).
O conceito de objetividade ainda é problemático pois ainda se pensa que é impossível
esse tipo de relação com a realidade social. A ressignificação desse ideal é traduzida então
como “justiça” ou até mesmo “imparcialidade”. Embora seja impossível uma cobertura
objetiva dos fatos, a noção de objetividade é tida como um instrumento de legitimação da
atividade jornalística. Ela proporcionaria imunidade ao jornalista a comentários ou crítica
posteriores (DEUZE, 2005, p.448).
Gaye Tuchman é adepta a esse pensamento e acredita na objetividade como um recurso
utilizado pelo jornalista para se defender de possíveis questionamentos ou até mesmo da
crítica. Ela acaba sendo uma prática recorrente, sempre utilizada, ao mesmo tempo ela é
o propósito final, se tornando um ritual da prática jornalística (TUCHMAN, 1999 apud
HUGHES, 1964). O prazo de entrega, muito curto, das matérias apuradas e redigidas,
também faz com que a objetividade seja um artifício genial.
15
Os perigos comerciais de quando não se aplica os rituais estratégicos que compõem a
objetividade na apuração e redação/produção de uma matéria podem ser graves. Leitores
podem reclamar e se sentirem prejudicados, podem levar o caso à Justiça, o nome do
jornal frente a outros leitores fica comprometido, outros profissionais do jornal podem
ser prejudicados e o autor do trabalho pode ter a carreira comprometida (TUCHMAN,
1999, p. 78).
A objetividade permeia o universo dos meios de comunicação de massa com grande
frequência e está no imaginário sobre jornalismo, e por isso, deve ser pensada como parte
da ideologia profissional. Mesmo sabendo que não são um espelho da realidade, tentam
ao menos seguir as normas estabelecidas como éticas para tenta se afastar ao máximo do
fato. (TUCHMAN, 1999, p. 78).
1.6 - Liberdades
1.6.1 - Autonomia
O que legitima a autonomia e a independência do jornalismo? A necessidade que a
sociedade tem de ter um ‘mediador’, que capte e gerencie a maior quantidade de
informações possíveis sobre o mundo, já que da sua perspectiva individual o cidadão não
consegue ter esse alcance e essa percepção sozinho (MELO, 1985, p. 47). Dentro dessa
perspectiva, o jornalismo deveria ser os olhos, os ouvidos e as vozes dos cidadãos.
Os jornalistas se sentem mais seguros e prósperos em lugares onde estão livres da
censura, onde tem a autonomia de falar sobre seus assuntos e publicar suas matérias, e
ainda tem o apoio de sua organização com incentivos na educação e formação do
profissional. Ao poder contar as histórias que vê, o jornalista tem sua autonomia editorial
e sua liberdade ratificadas, o que o aproxima da comunidade e eleva a autonomia editorial
para o status de valor ideológico (DEUZE, 2005, p. 449). O espaço da autonomia é sua
liberdade, que faz o jornalista tenha poder de confronto e liberdade para escrever.
1.6.2 - Liberdade de expressão
16
Falar em direito social à informação, que todo cidadão possui, implica que essas
informações abarquem toda a diversidade e complexidade do mundo, que todos estejam
contemplados. O direito social à informação só tem sentido se ligado a outros valores,
como o de liberdade, como a liberdade de imprensa, por exemplo. (KARAM 1997, p. 15).
O direito de cada indivíduo à liberdade de expressão e à informação estão estabelecidos
pela Organização das Nações Unidas (ONU) e pela Constituição brasileira de 1988. Na
Declaração Universal dos Direitos do Homem, em seu artigo 19, diz “Todo o indivíduo
tem direito à liberdade de opinião e de expressão, o que implica o direito de não ser
inquietado pelas suas opiniões e o de procurar, receber e difundir, sem consideração de
fronteiras, informações e ideias por qualquer meio de expressão”; e, no Artigo 18, “Toda
a pessoa tem direito à liberdade de pensamento, de consciência e de religião; este direito
implica a liberdade de mudar de religião ou de convicção, assim como a liberdade de
manifestar a religião ou convicção, sozinho ou em comum, tanto em público como em
privado, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pelos ritos”. Já na Constituição do Brasil
de 1988, Capítulo I, Artigo 5, Parágrafo IV afirma que: “é livre a manifestação do
pensamento, sendo vedado o anonimato”, parágrafo IX, “é livre a expressão da atividade
intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou
licença”, parágrafo XIV, “é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o
sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional”.
A luta pela liberdade de expressão tem ligação forte com a liberdade de imprensa.
Ela começa com a luta contra a censura de poderes absolutistas e da Igreja Católica, que
queria o domínio exclusivo de toda a produção de conhecimento para si. Mas, com a
Reforma Protestante e a ascensão da burguesia, esse cenário mudou, surgiram os cafés,
lugares de encontros para debates políticos e rodas de conversas (TRAQUINA 2005, pg.
42-44). Na Inglaterra, a liberdade vence a censura em 1695, e na França, com a Revolução
de 1789, alternando com períodos de censura e de liberdade de imprensa, até a instauração
da 5° República, em 1950.
O papel social de esclarecer e ajudar os cidadãos a expressar seus desejos, o jornalista
tem de fazer as pontes entre diferentes assuntos, culturas e particularidades da sociedade,
ter linguagem universal e particular ao mesmo tempo. Não mais o profissional da notícia
tem o domínio total da informação, pois, com a convergência de mídias, qualquer pessoa
pode obter informações. Mas a credibilidade do jornalista não se perde, pelo contrário,
17
tende a ser reforçada enquanto discurso que situa o papel do jornalista na seleção e difusão
de informações, no uso de fontes específicas. A liberdade de informação do jornalista
costuma ser associado à ideia de servir ao interesse público. O produto do meio de
comunicação não é descartável. Influencia na vida e formação dos cidadãos. (PERUZZO,
2002, p. 74). Em última instância, para cumprir seu papel, a imprensa necessita ser livre
de interferências políticas, econômicas, financeiras, militares e religiosas. Cabe também
ao profissional de comunicação exigir seu direito de exercer a profissão cumprindo os
princípios éticos dos quais partilha ou é compelido a respeitar por força do interesse social
(PERUZZO, 2002, p. 75). Assim, a noção de liberdade torna-se um instrumento de
proteção dos jornalistas das intervenções externas. Mas também no interior da própria
empresa jornalística. De fato, existe um limite para o controle que a empresa exerce sobre
as opiniões dos jornalistas, na medida em que isso pode afetar a credibilidade do veículo.
Ideologicamente o jornalista se sente seguro quando tem a liberdade de exercer seu
profissionalismo (incluindo os valores destacados por outros componentes da sua
ideologia profissional) e consegue manter sua própria autonomia editorial.
1.7 - Sentido de Ética
Os códigos de ética legitimam o papel social do jornalista, regulam as relações com os pares,
fontes, públicos e patrões e reforçam conceitos da ideologia profissional como a objetividade e o
compromisso com a verdade. (DEUZE, 2005, p. 450).
Os códigos de ética são importantes à profissão pois garantem ao jornalista que seu
profissionalismo e responsabilidade com a comunidade serão cumpridos, por meio de
condições básicas de trabalho por parte das empresas e dos jornalistas. Os deveres que
esses profissionais devem cumprir com a sociedade também tem de estar previstos, como
um contrato, para que todos estejam satisfeitos, se beneficiem e não saiam lesados
(KARAM, 1997, p. 58-62). Assim, a existência de um código de ética para jornalistas
sinaliza que a profissão é uma atividade reconhecidamente relevante para a sociedade.
O sentido de ética como parte da ideologia profissional do jornalista tende a destacar o
fato de que as liberdades de direito do ser humano, como a de informação, são asseguradas
quando a ética jornalística é colocada em prática, quando os deveres do profissional se
18
fazem cumprir e as violações possíveis ao cidadão têm garantia de retratação (KARAM,
1997, p. 131). O trabalho desse profissional tem de ser regido por umas práxis política
que tende a reforçar noções como a busca pela diversidade de acontecimentos diários e
suas várias abordagens possíveis. E, nesse caso, a ética jornalística se faz necessária.
1.8 - Responsabilidade social do jornalista
O jornalista tem uma responsabilidade muito grande. Isso não o torna
uma personagem especial [...]. Mas, ao mesmo tempo, sempre com esse
distanciamento crítico em relação a si próprio, o jornalista tem que ter
consciência da sua responsabilidade. Ele presta um serviço público, um
serviço que pode ter efeitos muito profundos e muito graves. Dentro
desse senso de responsabilidade cabe a ideia de que a tarefa do
jornalista é elevar o leitor, iluminar o leitor.
Essas são palavras do jornalista Mino Carta, no livro ‘Eles mudaram a imprensa’
(ABREU; LATTMAN-WELTMAN; ROCHA, 2003). Segundo Cremilda Medina (1982)
o jornalista tem de lidar, quando sai da faculdade, com preconceitos, com diversos tipos
de informações, falhas no seu raciocínio teórico e com um cenário dominação cultural e
alienação.
Nesse sentido, a responsabilidade social do jornalista ratifica um conjunto de decisões
a serem tomadas pelos profissionais na imprensa no seu dia a dia (linguagem de texto,
seleção da informação, etc.) e que devem ser tomadas a partir do seu compromisso com
o público, com a sociedade. É preciso ter consciência do que se publica, pois o jornalista
atende aos seus desejos de outras pessoas. Tanto a ética profissional, quanto a
responsabilidade que o jornalista tem com o público devem ser a base de seu serviço.
Pois, é a sociedade que legitima o jornalista e o coloca como representante de uma
coletividade idealizada (PEREIRA, 2008). O papel do jornalista é tornar sua mensagem
o mais legível possível, a cargo de que todos entendam, se necessário se utilizar de
recursos gráficos ou outros, que se use.
19
De acordo com Medina (1982), o instrumento de luta que auxilia os jornalistas na
defesa por seu papel social é a técnica de saber lidar com sua profissão, ou seja,
multiplicando e difundindo o maior número de informações “legíveis” e “assimiláveis”
para o entendimento e serventia do grande público (p. 123). “Sem técnicas apuradas de
comunicação - que precisam se experimentadas, acumuladas e teorizadas a partir de uma
praxe de trabalho -, torna-se muito remota a possibilidade de exercer uma comunicação
pluridirecional” (MEDINA, 1982, p. 128).
O componente ideológico da autonomia geralmente é associado com a noção de
responsabilidade social do jornalista. Alcançar a isenção nos fatos, levar a informação da
maneira clara e objetiva ao cidadão, escutar o maior e mais diversos número de pessoas
envolvidas para a maior credibilidade e busca pela verdade dos fatos, formam o que de
fato, é almejado e cobrado dos jornalistas nos dias atuais. “[...] a ideia de que a notícia
funciona como ideologia alarga fundamentalmente, e até contradiz a ideia de que as
mensagens noticiosas são tendenciosas de acordo com as motivações dos
comunicadores.” (HACKETT, 1993, p. 118).
1.9 - Considerações finais
O jornalista se constituiu como profissão partir de um conjunto valores que tendem a
reforçar sua relação com a cidadania e o poder da informação junto à sociedade.. É por
isso que as noções como Quarto Poder, serviço público, imparcialidade, objetividade,
liberdade/autonomia, sentido de ética e responsabilidade social são constantemente
retomadas no discurso identitário, mesmo que a crítica acadêmica já tenha mostrado que
esses valores são apenas parcialmente integrados à prática jornalística (como as noções
de quarto poder, serviço público, sentido ética e responsabilidade social) ou se constituem
em ideais impossíveis de serem alcançados (como as noções de imparcialidade ou
objetividade).
Mas, se a ideologia profissional funciona ainda como um amálgama capaz de
definir e reunir o grupo de jornalistas (Deuze, 2005), como ela é reapropriada pelos atores
sociais que praticam um jornalismo mais opinativo, quase engajado? Como tais valores
são reapropriados na construção de uma identidade profissional? Tais questionamentos
20
serão retomados durante a análise das entrevistas que compõe a pesquisa empírica deste
Trabalho de Conclusão de Curso. Antes disso, contudo, faremos uma breve dos conceitos
relacionados à prática do Jornalismo de Opinião e do Telejornalismo.
21
Capítulo 2 - Revisão de conceitos
Neste capítulo apresentaremos uma revisão dos conceitos utilizados para discutir
o objeto de pesquisa. Em primeiro lugar, será discutida a questão da televisão e do
jornalismo televisivo no Brasil. Em seguida, faremos uma breve apresentação sobre a
emissão de opinião no jornalismo brasileiro tendo como base o trabalho do professor José
Marques de Melo (1985).
2.1 – Televisão
“A televisão é como uma unanimidade no país. Não que estejamos sempre de acordo
com ela. Mas ela está sempre conosco. Quase cem por cento dos lares brasileiros possuem
um aparelho de televisão. A nacionalidade passa pelas imagens da televisão. Nossa
identidade é medida pela televisão.” (HOHLFELDT, 2010, p. 13).
Apesar de a televisão surgir no Brasil em 1950, com a TV Tupi-Difusora trazida por
Assis Chateaubriand, o dono do grupo Diários Associados já arquitetava sua inauguração
há dois anos. A estrutura, o formato e a técnica da nova mídia do país foram importados
da indústria do rádio, o mais sólido veículo de comunicação do Brasil até então (MATOS,
2010).
O crescimento inicial da TV se deu por favorecimento político, pois, na época, ainda
não existiam planos para as licenças de concessão pública. Porém, esse costume
“provisório” se estendeu até o governo Sarney (1985-1990). A concessão das TVs e
rádios no Brasil, hoje, já se tornou legítima, porém, ainda é antidemocrática, pois na
prática nem todos podem obtê-la, e a programação das emissoras não atende a variedade
de público que as assiste. Dessa forma, segue esquecida a responsabilidade social dos
veículos de gerirem um bem público, que é a informação, como defendido pela UNESCO.
(PERUZZO, 2002)
Em relação ao financiamento desses veículos, no início, o patrocínio era grande, de tal
forma que os telejornais tinham os nomes de quem os custeavam, como o “Repórter Esso”
22
e o “Telejornal Pirelli”. Ainda hoje, essa dependência de suportes publicitários existe,
assim como de subsídios oficiais, mas esse apoio é dado de formas mais discretas
(MATOS, 2010). Pela grande dependência financeira, a imprensa se torna subordinada
às vontades das elites brasileiras, a quem pertencem os maiores meios de comunicação
do Brasil, condicionando a produção de seus programas a questões mercadológicas e não
ao interesse público. (PERUZZO, 2002)
A televisão ainda é o veículo de comunicação mais assistido no Brasil. Em pesquisa
do Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope) em 2014, a pedido da
Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, 97% dos brasileiros
afirmaram assistir habitualmente televisão.
2.1.1 - Ideologia da Televisão
De acordo com a pesquisa de Hackett, a televisão é apontada como o veículo de maior
confiança do público, e o telejornal é um ótimo exemplo do realismo ideológico almejado
pela TV pois consegue unir a narrativa, com formas institucionalizadas de conflito, mas
nunca com contradições fundamentais, com um nível visual de discurso, que transmite a
sensação de imediatismo, que o telespectador estava no local do fato. (HACKETT, 1999,
p. 125-6).
De acordo com a pesquisadora Itânia Maria Mota Gomes, há poucos estudos
relacionados a televisão em geral, no que se refere à análise, discussão teórica,
metodologia e interpretação do conteúdo televiso. Segundo ela, a TV, por enquanto, ainda
é estudada por meio abordagens mais gerais, enfatizando seu lado histórico, social e
econômico (GOMES 2011).
A televisão é poderosa e atrai o público, majoritariamente, pelo sentido da visão e da
audição. Ela propõe uma história a ser contata que pode ser facilmente assimilada por
quem a assiste. E justamente pelo uso da imagem e pela necessidade de produzir um
conteúdo mais acessível ao ao espectador, a TV constrói a realidade, produz, nas palavras
de Bourdieu (1997) efeitos de real. (HACKETT, 1999, p. 125).
23
Os telespectadores são considerados passivos, contrapondo os jornalistas, que são os
protagonistas que dão a notícia. Essa estratégia tem dado certo, visto que se tornou padrão
no telejornalismo mundial, e pode ser observada quando se nota que somente o jornalista
olha diretamente na câmera, enquanto os outros personagens são enquadrados em outros
ângulos. Essa técnica dá certo pois a TV pressupõe empregar um método já utilizado pela
própria sociedade, que é, ser dividida entre dois alvos, aqueles ativos (sindicatos,
militantes, políticos) e os passivos (consumidores, contribuintes, público). (HACKETT,
1999, p. 123)
Em assuntos da atualidade, a TV reforça as definições que estão no domínio público.
É como se ela determinasse que nós não somos seres ideológicos, ou seja, que o senso
comum não tem ideologia. Mas isso não quer dizer que a televisão consiga seu efeito de
apagamento ideológico, pois ela favorece o ponto de vista empresarial/comercial, ao qual
ela está submetida (HACKETT, 1999, p. 122).
Os índices de audiência representam na televisão, e consequentemente nos programas
jornalísticos, importantes indicativos da recepção dos telespectadores à programação, e,
com isso, estão sujeitos às oscilações mercadológicas e da concorrência. Por vezes, uma
das maiores questões da existência do jornalismo que é o interesse público de certa
informação, é deixado de lado por conta das ingerências da parte comercial da TV. Essa
postura gera também sentimento de vigilância com a concorrência a todo momento,
afetando a autonomia coletiva ou individual, assim como aquelas pautas “obrigatórias”,
assuntos dos quais “não se pode deixar de falar”. Esse acompanhamento da programação
alheia proporciona uma uniformidade da oferta. (BOURDIEU, 1997, p. 106-8)
A autonomia da TV está diretamente ligada ao número de anunciantes e da propaganda
do governo, enquanto a autonomia do jornalista depende do número de profissionais na
empresa (quanto maior, mais segurança de emprego), a posição do jornal na hierarquia
das mídias, a posição do jornalista no jornal ou na empresa (efetivo, free-lancer, etc..),
suas garantias estatutárias e de seu salário e por fim, de sua capacidade de produção
autônoma e de qualidade da informação (BOURDIEU, 1997, p. 102-3).
Os temas prontos ou de cobertura obrigatória sofrem, segundo Bourdieu, um processo
de censura invisível, na medida em que os fatores econômicos impõem limites aos temas
que serão cobertos pela TV e o tempo atribuído a eles. O autor aponta que discutir censura
24
política ou econômica na TV se torna superficial, devido às complexidades do tema
retratados de forma simplista pela televisão. (BOURDIEU, 1997, p. 19 - 24).
A TV, no que tange à produção de informações, tem com um dos focos: atrair atenção
para fatos do interesse de todos, mas que não sejam surpreendentes, e essa distração do
cidadão é grave, pois o que de fato seria relevante para ele exercer seus direitos
democráticos não é mostrado. Considerando que parte da população não lê nenhum jornal
e se informa somente pela a televisão, isso seria, na visão dele, problemático. A TV
“mostra ocultando”, ou simplesmente ignora o fato mostrando outro algo, ou mostra o
fato mas de uma maneira a desprezá-lo (BOURDIEU, 1997, p. 19 - 24).
A televisão tem um discurso de imitação da realidade, como se fosse seu espelho. Ela
pode fazer crer aquilo que ela passa, pode mobilizar pessoas com o que ela transmite, e
os acidentes cotidianos podem carregar questões éticas e políticas e desencadear fortes
sentimentos de repulsa por outras pessoas. A narração do repórter é capaz de construir
uma realidade que causa mobilização ou desmobilização. Dessa forma, é feito com que a
voz e a linguagem da televisão que se apresenta não sejam fabricadas, elas são a própria
representação do cotidiano, ou seja, uma pretensa sensação de verdade. O jornalista tem
a sua legitimidade ao contar os fatos, pois seu discurso é considerado verdadeiro,
enquanto as outras falas na notícia são subordinadas ao repórter, que tem o poder de
começar e encerrar a notícia, pois a sua voz é tem um efeito de verdade. “A famosa
expressão de Walter Cronkite no fim de cada emissão, ‘And that’s the way it is’,
exemplifica a pretensão do noticiário televisivo de reproduzir o real”. (HACKETT, 1999,
p. 124-6).
O ideal de realismo na TV tenta estabelecer uma identidade com o público. Porém, é
ilusório acreditar que essa ideologia realmente se concretize, pois existem significantes e
signos com representações diferentes, que estão relacionados a linguagens distintas, logo,
a TV não consegue a criar uma identificação com todos. (HACKETT, 1999, p. 124). Além
disso, esses enquadramentos reforçam a posição do telespectador como consumidor
passivo e despolitizado.
2.1.2 – O Telejornalismo
25
Os primeiros telejornais no Brasil tinham pouca audiência, devido à dificuldade da
população de ter o aparelho de televisão em casa e da pouca qualidade da transmissão.
Na época em que eles eram feitos completamente ao vivo, pois não existia o videotape, e
a TV perdia para o rádio na rapidez das notícias. (REZENDE 2010, p. 57-78).
O telejornal mais importante da década de 50, o ‘Repórter Esso’, da TV Tupi,
representava a herança radiofônica da forte influência do patrocinador do jornal e da
postura do apresentador, com voz forte e vibrante e texto telegráfico. Já em 60, o Jornal
de Vanguarda, da TV Excelsior, trazia a primeira introdução do gênero opinativo no
telejornal. Jornalistas eram também produtores, apresentadores e cronistas, que vinham
do impresso, como Millôr Fernandes e Stanislaw Ponte Preta. Nos anos da ditadura a
televisão ganhou recursos tecnológicos, permitindo a formação das redes de televisão, e
da estreia do Jornal Nacional, da TV Globo, que iria levar o estigma da emissora de apoiar
ideologicamente o regime militar, em São Paulo e outras cinco cidades. A televisão em
rede trouxe benefícios, mas causou prejuízos às emissoras regionais, que foram
compradas pelas grandes emissoras se tornando retransmissoras, com o noticiário
veiculando principalmente notícias de São Paulo e Rio de Janeiro. Foi nessa época que
os tão criticados monopólios da TV se formaram. A cara da televisão brasileira começava
a mudar com Titulares da Notícia, da TV Bandeirantes, nos anos 70, que trazia notícia de
caráter mais popular. Apesar do nome, Opinião Pública, da TV Cultura, era um telejornal
diário com cobertura majoritariamente na arte e cultura. O gênero opinativo, no formato
de programas de entrevista, veio com ‘Canal livre’, ‘O encontro com a imprensa’, dentre
muitos outros da época. Já no final da ditadura, o jornalismo começou de maneira tímida
a colocar tom crítico nos telejornais do fim da noite. Pela pressão do regime, os
profissionais dessa década não tinham tido espaço para se especializarem, logo, o
jornalismo opinativo teve dificuldades de se formar após o regime. Mas com o tempo,
surgiram os comentaristas, como Joelmir Beting, primeiro âncora da TV brasileira da
Bandeirantes, e Paulo Francis.(REZENDE 2010, p. 57 - 78).
Com a redemocratização, o SBT e a Rede Manchete surgem para a disputa de
audiência. A emissora de Silvio Santos tinha o jornalismo bem sucedido, na ótica popular
e, segundo o dono, era tudo imparcial, e só de elogios ao governo. Mas tudo mudou com
a contratação de Boris Casoy, no TJ Brasil, que não só ancorava, como fazia entrevistas
e comentários pessoais sobre as notícias. Devido ao sucesso desse novo formato não-
26
norte-americano, outras emissoras repetiram a fórmula nos anos 90. (REZENDE 2010, p.
57 - 78)
Boris Casoy, o primeiro âncora da TV brasileira estreou no SBT, e esse padrão
opinativo foi copiado pelas outras emissoras, sendo que antes, todas se espelhavam na
TV Globo, a líder de audiência. (SOUZA 2004: 152).
O telejornalismo pode ser considerado um subgênero televisivo, dentro do gênero
jornalístico que abrange tanto o telejornal, quanto programas de entrevistas,
documentários, e outros. Partimos do princípio de que gênero é uma construção feita para
dividir estilos de textos, a fim de facilitar tanto para o jornalista como para a sociedade a
distinção entre eles. Cada gênero se adapta histórica e socialmente a cada sociedade, pois
cada uma possui valores distintos, recepção e absorção desses gêneros de forma diferente
pelos receptores (GOMES, 2011, p. 33).
O telejornalismo é, então, uma forma cultural e uma instituição social, pois é um modo
de desenvolver uma formação social, econômica, e cultural, além de ter a obrigação de
tornar a informação acessível ao cidadão. Somente o fato de existir o ‘jornalismo’ em
cada sociedade já demonstra sua importância histórica e cultural (GOMES 2011).
O modo de endereçamento do telejornalismo, ou seja, o modo como um programa
televisivo se comunica especificamente com seu público, seja por estilo, texto, e até pelo
meio em que ele se apresenta, tem como agentes o mediador (aquele que faz a ligação
com o telespectador), o contexto comunicativo (entre emissor e receptor, tanto de espaço
físico e temporal como da linguagem e forma da comunicação), o pacto sobre o papel do
jornalismo (valores e normas do programa, como lida com a responsabilidade social,
objetividade, valores-notícia) e a organização temática (os interesses da audiência)
(GOMES 2011).
A preocupação com o processo ativo de produção da notícia e da atenção com que os
receptores a recebem está no conceito de estrutura de sentimento, utilizado na televisão
quando se trata de jornalismo. O termo foi primeiramente usado em 1969, por Raymond
Williams, em seu livro Culture and Society, e, em sua origem, se preocupa com a
percepção, em uma notícia, dos fundamentos que permeiam o jornalismo, como
27
objetividade, verdade, interesse público, liberdade de expressão, responsabilidade social,
entre outros. (GOMES, 2011, p. 28 - 30)
A notícia da TV é a mesma dada no jornal, porém com adaptações. Segundo Bourdieu,
os resultados que a televisão causou no jornalismo e através dele, em sua intensidade e
amplitude, foram maiores do que o surgimento da literatura industrial (BOURDIEU,
1997, p. 102).
O jornalismo na TV convive sempre com a dualidade do real e do irreal. O real é o
acontecimento, o fato, enquanto que o irreal, subjetivo, fica por conta do ponto de vista
que o repórter vai apurar as informações, do olhar e do enfoque que o cinegrafista vai dar
às imagens, de como o editor vai montar a história, e da forma como os outros
profissionais vão tornar aquela notícia mais atraente. (TEMER 2010).
A imagem exerce poder importante na TV e é essencial no
telejornalismo. Ela se ia como uma garantia de credibilidade da notícia
e uma prova da objetividade e imparcialidade – mesmo que isso seja
epistemologicamente impossível. Esse apelo visual acaba por entreter
o telespectador com a intenção de mantê-lo preso ao televisor.
(GOMES, 2011, p. 25-6)
O conteúdo do telejornalismo é limitado, pois tende a agradar e informar um público
muito diverso, que se ramifica em dois grupos: o público genérico e o anunciante. O
telejornal por si só pode ser considerado velho, pois suas notícias são quase previsíveis
como enchentes e escândalos políticos, todos os anos, são os assuntos ‘previamente
agendados’ (TEMER, 2010).
Outra adaptação significativa do jornalismo para a TV é a linguagem. A construção da
narrativa do telejornalismo é diferente, tem o fator da dramatização nas notícias e que
coloca o jornalismo em segundo plano. (GOMES, 2011, p. 25) Temer (2010) afirma que
o jornalismo, para se adaptar ao meio televisivo, adicionou a dramaticidade à produção
da notícia, mas sem perder sua essência: a da veracidade dos fatos como referência. Não
é à toa que o telespectador se emociona assistindo o jornal e se aproxima de lugares e
pessoas antes nunca imaginados por ele, ao mesmo tempo em que pode aprender algo. A
apresentação do noticiário é feita em camadas: a voz do noticiarista narrando o fato, as
28
imagens, os efeitos, os créditos, as vinhetas, a soma de tudo isso, com produção na rua e
de estúdio, ajuda a captar a concentração do receptor pela redundância de informações,
permitindo a ele que, ao mesmo tempo que assista a TV, execute outra função, como
comer, por exemplo (TEMER 2010).
Mas muitas vezes os jornalistas evocam palavras de grande carga social ou cultural
desconhecidas até por eles próprios. Essa atitude representa pontos da dramatização na
imagem, na gravidade e também na linguagem do jornalista de TV, com palavras
extraordinárias.
Acontece-me ter vontade de retomar cada palavra dos apresentadores
que falam muitas vezes levianamente, sem ter a menor idéia da
dificuldade e da gravidade do que evocam e das responsabilidades em
que incorrem ao evocá-las diante de milhares de telespectadores, sem
as compreender e sem compreender que não as compreendem. Porque
essas palavras fazem coisas, criam fantasias, medos, fobias ou,
simplesmente, representações falsas (BOURDIEU, 1997, p. 26)
De acordo com o jornalista Gontijo Teodoro, os deveres do telejornalistas são:
informar, por ser dever e obrigação de todo o jornalista, independente do meio de
comunicação que trabalhe; educar, trazer matérias para levar ensinamentos paralelos à
notícia, que já informa por si só, dessa forma, a prestação de serviço será dobrada, servir,
com informações de utilidade pública a comunidade, se mostrar a disposição da sociedade
em qualquer ajuda que ela precise, dado a facilidade e visibilidade que a televisão tem,
interpretar, de maneira nenhuma impor conceitos pessoais, mas quase contextualizar a
notícia, oferecer pormenores para que o telespectador possa entender de forma mais clara
a informação passada, e entreter, quebrar o gelo do noticiário, se adéqua a toda a
programação da televisão, informação mais leve, descontraída. (TEODORO, 1980, p.
37):
Se em outro veículo de comunicação sua responsabilidade é grande,
imaginem na televisão, elemento catalisador de atenção; condutor e
moldador da opinião pública, capaz de unir ao seu redor, ao mesmo
tempo, mais da metade da população da Terra. Mesmo numa emissão
de caráter local, numa TV de alcance limitado ao perímetro urbano, uma
informação incorreta ou tendenciosa pode levantar a comunidade, com
29
consequências imprevisíveis. Logo, o telejornalista deve se
autopoliciar, conter o ímpeto de sensacionalismo ou informação não
confirmada, para não denegrir seu conceito. (TEODORO 1980, p.
37).
Teodoro (1980) afirma que o ‘locutor de notícias’, ou o apresentador de telejornal,
deve se preocupar em primeiro lugar com sua responsabilidade frente ao público de ser o
mediador da notícia para o público. Ele tem de pensar em si mesmo como em segundo
plano e focar somente na clareza e veracidade que os fatos serão passados, sem ‘enfeite’.
“O prêmio maior que se pode receber do telespectador é a compreensão
(...)”. Para o jornalista, o ideal é que os apresentadores escolhidos
tenham muita experiência jornalística e possam escrever o próprio texto.
A intimidade do apresentador com as matérias do jornal devia ser tão
grande que em uma eventualidade ele possa dar a notícia sem o auxílio
do script. Mas a escolha fica com um apresentar de boa aparência ou de
voz marcante. Um bom apresentador tem papel fundamental no sucesso
de um telejornal, pela sua simpatia, seu carisma, sua credibilidade vai
depender a audiência. (TEODORO, 1980, p. 114).
Segundo Ana Carolina Temer (2010), o jornalismo é importante dentro da televisão
pois, apesar de sua produção ser cara, ele desempenha um serviço público à população, e
é um espaço de credibilidade para a emissora, em que os donos da empresa podem mostrar
sua opinião. No Brasil, o fato de o telejornal ser exibido antes da novela das nove, paixão
nacional, auxiliou na audiência do noticiário e fez consolidar essa parceria de horário
nobre até os dias atuais, que divide inclusive a publicidade dos comerciais. (TEMER
2010, p. 108).
O telejornalismo buscou outros formatos além do telejornal. Por isso, ele mantém-se
em evidência em todas as grades de programação. Programas de debate e entrevista,
mediados pelos jornalistas da rede, e também os documentários e reportagens especiais,
que ocupam os departamentos de jornalismo das emissoras. Todos esses formatos tornam
o gênero importante, como uma estratégia de melhorar a imagem da emissora, tal qual
acontece nos Estados Unidos, em que as emissoras concentram sua capacidade produtiva
no jornalismo, que é o setor que atribui identidade e credibilidade ao veículo (SOUZA
2004, p.152).
30
O telejornalismo está agora mais ágil, dinâmico e de qualidade, tanto na forma quanto
no conteúdo. E, acompanhando a tendência mundial, o telejornalismo da TV aberta perde
audiência com a chegada e estabelecimento das TVs por assinatura e seus canais de
notícias 24 horas. Nos anos 2000, a competição dos telejornais ficou cada vez mais
acirrada, apresentadores trocando de emissoras, novos formatos de telejornais, maior
busca pelos furos jornalísticos e as câmeras escondidas viraram febre. Com a disputa de
audiência da TV Globo com a Rede Record, o telejornal de maior audiência do país, o
JN, foi abalado de sua hegemonia e sofreu perdas no espaço opinativo que tinha, com
cortes dos comentaristas e charges (REZENDE 2010, p. 57-78).
2.1.3 - A interação do público e da TV
É cada vez mais frequente nos telejornais brasileiros a cooperação do que
provisoriamente Vizeu e Siqueira (2010) denominam de público-participativo. “[...] Os
noticiários vêm usando com mais frequência as imagens captadas pelo público através de
celulares ou câmeras digitais de fatos do cotidiano que são notícia, mas só tem o registro
imagético pela participação de cidadãos e cidadãs comuns, que pelos mais diversos
motivos o registraram” (VIZEU, SIQUEIRA, 2010, p. 86). As novas tecnologias (a
televisão com internet e a telefonia móvel) proporcionam o aperfeiçoamento do
jornalismo cidadão, por meio do que os autores chamam de cidadão-repórter, o cidadão
comum que pode agora participar ativamente do telejornal na produção da notícia. O
aumento do uso desses dispositivos permite interatividade com o jornal, e, dessa forma,
a sociedade participa mais ativamente da produção do programa (GOMES 2011).
O público passa então nesse momento a participar da produção do jornal, pois toma
um pouco das funções dos próprios jornalistas, produtores, pauteiros, ou até mesmo dos
informantes dos jornais, que passam informações de dentro de lugares fixos como os
palácios, corpo de bombeiros e hospitais. O trabalho desses profissionais que ficam fixos
em algum órgão ou espaço para tentar obter notícias de primeira mão e detalhes o mais
rápido possível, reforça o desejo do jornalismo de ser onipresente, mas com o cidadão
participando do processo da notícia, essa função pode te perdido parte de seu valor. Mas,
ainda assim, é importante, pois nem todo cidadão comum pode entrar ou ter acesso
privilegiado a certos lugares e ocasiões. Tanto esses jornalistas-informantes, como o
31
cidadão, podem distribuir a informação da notícia para o veículo que quiserem, ou até
mais de um. Mas em relação ao público tomar o jornalismo e profissionais perderem seus
cargos isso está fora de questão. Pois há muitas técnicas a serem aprendidas na profissão,
que vão desde como fazer uma entrevista, a como filmar um flagrante. Mas, algumas
questões da ética jornalista o cidadão comum não entende ou pode violar sem maiores
constrangimentos, como o uso da câmera escondida, por exemplo, pois ele não é
jornalista, afinal.
Com o jornalismo em tempos de convergência digital e veículos multimídia, o
repórter passou a dividir funções com o cidadão, que agora se torna uma extensão dos
olhos, braços e pernas do jornalista. O profissional da notícia tem de se reorganizar para
atender às demandas de seu público para não ficar atrás da concorrência da internet e seus
recursos. (VIZEU, SIQUEIRA 2010, p. 95)
A relação do público com a televisão não é novidade, pois a audiência em programas
de auditório já era constante desde os anos 1950, mas a interação existente era frágil e
não ultrapassava a linha da unidirecionalidade da informação. Nos telejornais, essa
comunicação ocorria por meio de cartas, ligações ou entrevistas. Mas esse fluxo de
cooperação ficou mais ativo com a solidificação da internet, no final dos anos 90, quando
público passou a poder enviar sugestões de pautas e participar de votações em que os
resultados eram exibidos na tela da TV, enquetes ao vivo, enquanto as emissoras criaram
portais na internet para compartilhamento de conteúdo e programações adicionais. O
público se via então participando ativamente do que estava acontecendo na televisão, pois
os meios tecnológicos permitiram isso. Os jornalistas participam desse processo como
mediadores, na seleção e análise desse conteúdo enviado pelo cidadão. Atualmente,
alguns telejornais, inclusive, têm quadros de participação exclusiva do público, pensado
justamente para esse diálogo (VIZEU, SIQUEIRA 2010: 90-92).
2.2 - Jornalismo de Opinião
A classificação de gêneros no jornalismo começou no século XVIII, com o editor
inglês Samuel Buckeley que fez a primeira distinção entre news e comments, no Daily
Courant. Desde então, os gêneros se desenvolveram, e com os avanços tecnológicos, se
32
adaptaram às diferentes práticas jornalísticas e a contextos nacionais distintos. (MELO
1985)
Para analisar os gêneros do jornalismo brasileiro, José Marques de Melo (1985) o
dividiu em dois núcleos: da descrição dos fatos (informativo) e da versão dos fatos
(opinativo). Essa classificação é defendida por Melo, pois no país não há praxe do
jornalismo interpretativo e diversional. O autor sugere que se os gêneros sejam definidos
por meio da relação que eles têm com o público e com estilo próprio, cabe dizer que suas
classificações se limitam a ‘universos culturais’, como por exemplo, há diferença entre a
classificação de gêneros, e subgêneros, de autores da Europa e América Latina.
Essa divisão tem caráter não só profissional, de em que âmbito o jornalista está,
mas também político, quando matérias podem ter viés ideológico sem o leitor a perceber.
(MELO, 1985, p.16)
O jornalista satisfaz então as necessidades da sua profissão de forma observadora
(analisando o jornalismo informativo, como um vigia da notícia) ou por aconselhamento
(atuando como formador de opinião, emitindo conclusões, no jornalismo opinativo). No
caso do jornalismo opinativo, um dos objetivos pode até ser convencer o leitor, fazer com
que ele acredite na sua ideia, sendo o exponencial do gênero é o editorial (MARTINS,
2009, p. 500).
O editorial é a opinião da empresa manifestada diante de algum fato que ela queira
se pronunciar. A decisão normalmente é tomada pela diretoria e sua escrita é feita com
cautela. Ele não é assinado, se utiliza a primeira pessoa do plural ou a terceira do singular,
é compacto e possui plasticidade, flexibilidade, pois o fato pode ainda estar ocorrendo. O
editorial não alcança quase nenhum público, pois não interessa à audiência comum, além
de ser denso e menos chamativo, mas é de grande importância para a empresa jornalística.
No caso da televisão ele é pronunciado pelo âncora, mas não é a representação de sua
opinião, e sim a opinião da empresa jornalística (MELO, 1994).
Os outros gêneros opinativos do telejornalismo são: o artigo, que pode ser doutrinário
ou científico, em que é desenvolvida uma ideia sobre assunto específico (mais comum na
Europa e Estados Unidos, no Brasil é escrito por colaboradores); a resenha ou crítica,
relacionada às artes ou produtos culturais com a premissa de orientar os consumidores
33
sobre esses produtos; a coluna, que se origina da antiga diagramação vertical dos jornais,
apresenta pequenos textos sobre temas específicos com informação e opinião, ao estilo
pessoal do autor; a crônica, uma narração dos fatos de forma cronológica se tornando até
um registro histórico, é bem resolvida no Brasil, porém, tratada aqui com um lado mais
poético e literário. Grandes escritores brasileiros já representaram o subgênero
como Machado de Assis, Carlos Drummond de Andrade, José de Alencar, Rubem Braga
e outros. Os gêneros opinativos incluem ainda a caricatura, utilizando a imagem caricata
e texto de humor, que refletem a linha editorial do veículo, para alcançar um público
diferente; a carta, enviada pelo leitor/telespectador/ouvinte, mas sua opinião por vezes se
perde no sistema unidirecional do jornalismo, mas é um exercício do espaço democrático;
e, por fim, o comentário, uma breve alusão ao teor da notícia que está recheado de opinião,
seja ela explícita ou não. (MELO 1985).
Um campo onde o comentário é muito frutífero é o dos esportes pela liberdade que os
jornalistas têm de dar opiniões. A prática do comentário, assim como dos outros
subgêneros opinativos, teve declínio com a ditadura. Mas quando a redemocratização
aconteceu passou-se a valorizar também o comentário econômico, devido a importância
que a economia teve na modernização do país. Surge então um dos maiores comentaristas
da televisão brasileira, Joelmir Betting. Vicente Leporace, que foi comentarista expoente
no rádio. A linguagem do comentário utilizada nesses veículos era dieta, coloquial mas
correta. (MELO 1985).
As empresas jornalísticas também têm papel fundamental na abertura e difusão do
gênero opinativo. Para manter a credibilidade do público, as empresas procuram delimitar
de forma clara quando estão presentes as categorias de notícias e de opinião. Mas a
opinião no jornalismo não é somente um gênero. Ao se escolher as notícias que serão
veiculadas, na omissão ou não de informações, a projeção de certos fatos, as fontes que
serão abordadas e as imagens utilizadas, já se fazem escolhas da linha editorial da
empresa, e isso já é a manifestação de uma opinião. (MELO, 1985)
34
Parte 2 - Metodologia
Para se alinhar ao objetivo da pesquisa, a metodologia deste trabalho foi escolhida para
que se pudesse ter uma melhor análise do que pensam os jornalistas que se utilizam da
opinião nos telejornais que apresentam, e para saber como esse pensamento dialoga com
os conceitos ideológicos da profissão.
A pesquisa foi dividida em três fases para a melhor compreensão do trabalho como um
todo. Apresentaremos aqui cada uma dessas etapas e as escolhas metodológicas realizadas
pela pesquisadora.
2. 1 - Pesquisa bibliográfica
A primeira fase se constituiu da pesquisa bibliográfica acerca dos conceitos que
permeiam a ideologia profissional do jornalista, da televisão no Brasil e do gênero
opinativo no jornalismo. Dessa forma, foi possível entrar em contato com trabalhos
relevantes sobre o tema e, a partir daí, conjecturar soluções para o problema de pesquisa.
(LAKATOS, MARCONI, 1995, p. 183). Nesta etapa, foram utilizadas textos e autores
consagrados pelos temas aqui apresentados, como Nelson Traquina, na parte das teorias
do jornalismo e a profissionalização do grupo, Bourdieu e seu estudo relacionado à TV,
Cremilda Medina ao abordar a responsabilidade social do jornalista e a técnica da
entrevista, José Marques de Melo com a pesquisa sobre a opinião no jornalismo brasileiro,
entre outros. A internet foi de grande ajuda neste momento, tanto para a pesquisa, como
para a leitura de publicações e artigos disponibilizados na rede.
2.2 - Escolha dos entrevistados/preparação da pesquisa de campo
Na segunda etapa da pesquisa, foi determinada como método de pesquisa que
seriam feitas entrevistas com apresentadores de telejornais que emitiam comentários
sobre as notícias do telejornal. Por esse aspecto, foram descartados os profissionais que
não exerciam esse tipo de trabalho ou que estavam longe do alcance geográfico e do
orçamento da pesquisa.
35
A entrevista foi escolhida como método desta pesquisa pelas facilidades que ela
oferece, como observar as atitudes do entrevistado, e pelas qualidades de aprofundamento
das respostas, que se podem obter com ela.
Neste caso, o método de entrevistas que mais se adequou ao trabalho foi o de
entrevistas semiestruturadas e em profundidade. Essas escolhas foram feitas pois era
necessário uma dedicação maior às respostas e ao pensamento dos entrevistados, assim
como a particularidade de cada um. Foi privilegiada a qualidade da informação. Dito isto,
foram rejeitadas as opções de: questionário, pois o foco não são respostas objetivas,
entrevista estruturada, pois a finalidade é buscar os pontos de vista dos apresentadores da
melhor forma possível, e isso depende da singularidade de cada um, que representa um
telejornal e uma emissora diferentes, necessitando assim, de perguntas únicas a ele, e
pesquisa quantitativa, pois o importante na pesquisa é a qualidade das respostas
encontradas e não a quantidade.
Manzini lista alguns cuidados que devem ser feitos na entrevista: quanto à linguagem,
quanto à forma das perguntas e quanto à sequência das perguntas nos roteiros (MANZINI,
2003).
Dessa forma, Manzini (2003) salienta que é possível um planejamento da coleta de
informações por meio da elaboração de um roteiro com perguntas que atinjam os
objetivos pretendidos. O roteiro serviria, então, além de coletar as informações básicas,
como um meio para o pesquisador se organizar para o processo de interação com o
informante.
Manzini (1991, p. 154), também afirma que a entrevista semiestruturada, além de ser
focalizada no assunto sobre o qual confeccionamos o roteiro com perguntas principais,
também abre espaço outras questões inerentes às circunstâncias momentâneas e que
podem complementar o quadro de perguntas. Para o autor, esse tipo de entrevista pode
fazer emergir informações de forma mais livre e as respostas não estão condicionadas a
uma padronização de alternativas.
A entrevista em profundidade é utilizada em pesquisas qualitativas, abertas ou
semiabertas, em que não existe roteiro ou que ele serve somente de base para a entrevista,
sem que o pesquisador se prenda a ele. Esse tipo de entrevista é aplicado quando se quer
36
explorar outras questões, saber como e por que acontece o problema. O enfoque é indagar
“como” ocorre. “Deste modo, como nos estudos qualitativos em geral, o objetivo muitas
vezes está mais relacionado à aprendizagem por meio da identificação da riqueza e
diversidade, pela integração das informações e síntese das descobertas do que ao
estabelecimento de conclusões precisas e definitivas.” A entrevista em profundidade
procura respostas ao problema a partir das conclusões subjetivas das fontes. Os dados não
são apenas captados, são interpretados pelo pesquisador (DUARTE, 2005, p. 62-4).
A respeito desta pesquisa, apresentadores de noticiários locais foram escolhidos a
partir dos seguintes critérios: trabalharem em emissoras de TV aberta diferentes, tempo
de experiência na TV (jornalistas mais experientes balanceando os novos profissionais na
área), distribuição por sexos (quantidade de mulheres e homens). As entrevistas foram
agendadas por telefone com Williane Rodrigues, do SBT, e Giulianno Cartaxo, da Rede
Record, e por e-mail com Maria Júlia Mendonça, da TV Brasília, e Alexandre Garcia, da
Rede Globo.
As entrevistas foram realizadas individualmente, pois, desse modo, o problema foi
explorado da melhor forma, e realizadas pessoalmente, fazendo com que gestos e
expressões não verbais dos entrevistados fossem percebidos também. (GIL, 2012, p.
117). O gravador foi utilizado como suporte, para que nada da fala dos jornalistas se
perdesse. O local de realização das entrevistas foi o ambiente de trabalho dos
apresentadores, para que fosse conhecida de perto a dinâmica do estúdio e da empresa em
que os jornalistas trabalham. A média das entrevistas foi trinta minutos. As perguntas
básicas que compunham o roteiro das entrevistas foram formuladas com base no
problema de pesquisa e nos objetivos deste trabalho. Elas foram: 1. Você considera que
o telejornal ainda é o um importante veículo de informação para a população? Por que?
2. Com que frequência você costuma fazer comentários no telejornal? Como você decide
quando e como comentar? 3. Quando comenta algo trata-se de uma opinião pessoal sua
como jornalista ou trata-se da linha editorial empresa a qual trabalha? 4. Qual o propósito
do jornal quando cria um espaço para os jornalistas se expressarem? 5. Como jornalista,
qual importância você acha de ter esse espaço opinativo? Quais as responsabilidades do
jornalista ao emitir opinião em um telejornal? 6. Como você avalia a importância e o
impacto do seu comentário junto ao público/audiência? 7. Como é o processo de
elaboração do comentário? 8- Você se considera um formador de opinião? 9. Qual o grau
37
de liberdade você tem para fazer os comentários? 10. Como a prática do comentário é
vista pela emissora? Ela é incentivada? 11. Como você classificaria a influência da linha
editorial da emissora no seu comentário? Ela participa, de alguma forma da escolha dos
temas e/ou do teor dos comentários? 12. Fala-se muito de objetividade e imparcialidade
jornalística. A sua função como comentarista não iria contra esse princípio? 13. Você
acha que existe atualmente mais espaço para este perfil do jornalista-comentarista? Por
que? 14. Você já sofreu algum tipo de intervenção em relação ao seu comentário?
Como método de pesquisa foi decidido o interacionismo simbólico, desenvolvido pelos
trabalhos de George Hebert Mead e Charles H. Cooley. Essa opção foi adotada pois
valoriza as relações interpessoais e os símbolos como componentes a serem analisados
numa investigação social, sendo que esses significados dados às pessoas e aos objetos é
fruto de um processo interpretativo. Ela é qualificada simbólica pois os símbolos da
comunicação humana recebem grande importância. Dessa forma, se ajusta melhor ao
presente estudo, que analisa a situação de um panorama microssociológico, rejeitando
outros métodos como funcionalismo e o positivismo ou o estruturalismo. O
interacionismo simbólico pretende entender os signos e significados construídos pelos
atores sociais com cerne nas das interações. Os interacionistas possuem três propósitos:
analisar como os significados manifestam-se no comportamento, valorizar a visão dos
indivíduos sobre a realidade e observar como os símbolos variam em relação ao tempo e
ao ambiente (GIL, 2012, p. 23).
O interacionismo é o princípio que melhor representa o diálogo dos ideais do
jornalismo com o comportamento e discurso dos apresentadores ao emitirem opiniões
próprias – na medida em que busca compreender em que sentido eles definem
simbolicamente suas práticas. Dado que o interesse deste estudo é investigar a interação
do que os jornalistas entendem por ideais da profissão e a forma como eles colocam isso
em prática no telejornal. Assim como o objetivo era tomar um campo de pesquisa
pequeno, e não todo o conjunto de jornalistas.
2.3 - A Entrevista
38
A técnica da entrevista no jornalismo aconteceu pela primeira vez na cobertura de um
crime ocorrido em um bordel, em Nova Iorque, pouco antes da Guerra Civil (1861-1865),
no jornal New York Herald, um penny press, ou jornalismo de centavos, apelidado dessa
forma pois os jornais custavam um penny, tinham tamanho reduzido, mas continham
variedade de informações de interesse da população como polícia, tribunais e
acontecimentos locais. A entrevista foi feita com o proprietário do local. Na cobertura da
Guerra Civil norte-americana essa técnica foi mais utilizada e elaborada pelos repórteres.
Ainda não há consenso com a data correta do fato, mas a prática se tornou corriqueira a
partir de 1870, porém, eram raras as citações diretas nas reportagens daquela época
(TRAQUINA. 2005, p. 56-60).
A entrevista seja qual for a área do conhecimento ao qual ela esteja servindo tem como
objetivo final o inter-relacionamento humano. Ela é um recurso muito utilizado nas
Ciências Sociais para pesquisas e também no Jornalismo, mas de formas diferentes. Na
Comunicação ela é empregada como uma técnica do trabalho do profissional, não
necessariamente como metodologia de pesquisa.
A entrevista no jornalismo tem como bases: a atualidade, universalidade, periodicidade
e difusão. O jornalista aprende sua técnica de entrevistar ao longo de seu caminho de
profissão, na prática, talvez até por certo preconceito com a área teórica, enquanto o
cientista social tem preparação especial para isso (MEDINA, 1990).
A realização de uma entrevista não é uma tarefa fácil. Se alguns cuidados não forem
tomados, podem haver constrangimentos para o entrevistado e para o entrevistador. A
falta de preparo sobre o tema da entrevista pode ser um motivo para que o entrevistador
se sinta inseguro e nervoso antes e durante a entrevista. Isso pode levar a uma
superficialidade do tema a ser tratado na entrevista e a temática da entrevista não ser
contemplada da melhor forma (OYAMA, 2008, p.112).
Fatores externos, que não são do alcance do entrevistador podem influenciar na
qualidade do conteúdo a ser captado também. O humor do entrevistado, o domínio que
ele tem da pauta ou o tempo disponível para a conversa, por exemplo, são fatores que
podem influenciar bastante (OYAMA, 2008, p.7). A postura com que o entrevistador se
aproxima pode afastar o entrevistado de forma negativa, chegando até a constrangê-lo ou
intimidá-lo.
39
A entrevista não precisa se prender a um questionário ou roteiro fixo, para que ela tenha
sucesso é necessário que um diálogo seja estabelecido. A confecção de uma pauta a ser
seguida também é um fator de edição que restringe as possibilidades do diálogo possível
numa entrevista, limitando-a a uma simples técnica. A demonstração de emoção e
confiança antes, durante a após o processo pelo entrevistador é fundamental para uma boa
entrevista. Segundo Cremilda Medina, as entrevistas realizadas nos meios de
comunicação apresentam pouco desse diálogo ideal e, pelo contrário, em especial na
televisão, o jornalista prefere seguir a pauta e dar um rumo a entrevista de que as
perguntas já insinuem as respostas (MEDINA, 1990, p. 7-26). O grande pecado das
entrevistas jornalísticas segundo Medina é a falta de fluência-eficiência. A autora afirma
que os comunicadores deviam aprender mais com a arte, com autores da literatura para
que sua linguagem na hora de utilizar as entrevistas seja mais efetiva (MEDINA, 1990,
p.63).
O entrevistador deve prestar atenção também na comunicação não verbal do
entrevistado. Muitas vezes gestos, olhares e expressões que podem dizer mais ou o
contrário do que os argumentos verbalizados pela fonte. (LELO, MAIA, 2011).
Antes de ser executada a entrevista passa por quatro níveis: a área de interesse a ser
abordada (a confecção da pré-pauta), nível de diálogo com o entrevistado que o jornalista
deseja (ter a consciência social de seu trabalho, utilizar das técnicas de aproximação do
entrevistado para que ele adquira confiança), sua capacidade de abordar novos aspectos
sobre o tema (a sensibilidade do jornalista para interpretar o entrevistado além do que ele
disser, cativar o entrevistado para um possível relacionamento futuro), tentativa de
conseguir além do que se espera da pauta (mas ter o poder de não se perder, ter foco em
busca da verdade desejada, a conferência de dados com outras fontes também é válida)
(MEDINA, 1990, 27-34).
2.3.1 - Ética na entrevista
Segundo Rouchou, o jornalismo não se dedicou a construir um pensamento científico
sobre a ética na entrevista, como ocorre na História Oral. A entrevista jornalística sempre
vem com questões que apontam mais para a técnica e aprimoramento de uma entrevista.
40
A autora critica a rapidez das redações em que as entrevistas tem de ser focadas e objetivas
ao máximo. Devia se tomar um apreço maior pela entrevista já que ela é essencial ao
jornalismo, por menor que seja a matéria publicada (Rouchou 2003). “Manuais de
redação ensinam como devem ser tecnicamente as entrevistas, perguntas curtas, incisivas,
agressivas, mais contundentes, ou ainda, como ganhar a confiança do entrevistado”
(Rouchou 2003, p 5).
A ética na hora da entrevista é necessária, pois, assim como o jornalismo como um
todo, os meios que são gravados, escritos ou televisionados as entrevistas se tornam
instrumentos de registro histórico. E esse cuidado não é só na hora da entrevista, mas
também após ela ocorrer, na edição de seu conteúdo. Se o mais importante ou impactante
na entrevista for dito na última pergunta, provavelmente seu conteúdo será editado e fará
parte do começo do texto a ser apresentado pelo jornalista (faria parte do lead).
(ROUCHOU 2003).
A ética na hora de se entrevistar parte dos mesmos princípios do comportamento
jornalístico, como não se utilizar de documentos falsos ou câmeras escondidas, se
identificar como jornalista sempre, mas tendo algumas dessas questões sido
flexibilizadas. Para conseguir a credibilidade da fonte o princípio da verdade e clareza
tem de ser tomado pelo jornalista, para melhorar a confiança do entrevistado (CAMPOS
2010). O primeiro passo da ética é a cortesia do entrevistador, deixar o entrevistado
confortável (ROUCHOU, 2003).
2.3.2 - Entrevistas semiestruturadas
A entrevista semiestruturada é aquela em que o roteiro de perguntas pode existir, mas
o pesquisador tem a liberdade para desenvolver as questões da maneira que achar mais
conveniente no momento. É uma técnica de se explorar mais as oportunidades que podem
surgir ao longo da entrevista. Dentro dessa classificação, segundo Lakatos e Marconi, a
entrevista com os jornalistas foi focalizada, pois foi escolhido ter um guia de perguntas,
mas que não foi obedecido a rigor em uma estrutura formal. O roteiro das entrevistas foi
formulado com base nos objetivos do trabalhado para responder o problema da pesquisa
(LAKATOS, MARCONI, 1995, p. 197). Algumas perguntas diferentes foram feitas para
41
os jornalistas pois, afinal, como eram de telejornais, emissora e personalidades diferentes,
alguns pontos foram mais trabalhados que outros em certos momentos da conversa.
Ao se referir aos tipos de perguntas na entrevista semiestruturada, Triviños (1987, p.
150) faz uma diferenciação embasada no tipo de vertente teórica: fenomenológica ou
histórico-estrutural (dialética). Para Triviños (1987, p. 146), a entrevista semiestruturada
tem como característica questionamentos básicos que são apoiados em teorias e hipóteses
que se relacionam ao tema da pesquisa. Esses questionamentos dariam frutos a novas
hipóteses, surgidas a partir das respostas dos informantes. O foco principal seria colocado
pelo investigador-entrevistador. A entrevista semiestruturada, portanto, “[...] favorece
não só a descrição dos fenômenos sociais, mas também sua explicação e a compreensão
de sua totalidade [...]” além de manter a presença consciente e atuante do pesquisador no
processo de coleta de informações (TRIVIÑOS, 1987, p. 152).
Numa linha teórica fenomenológica, o objetivo seria o de atingir o máximo de clareza
nas descrições dos fenômenos sociais. Assim, as perguntas descritivas teriam grande
importância para a descoberta dos significados dos comportamentos das pessoas de
determinados meios culturais. Como foi o objetivo das perguntas realizadas aos
jornalistas, seguir um critério de descobrir como ocorre o comentário no noticiário para
esses apresentadores. Numa linha histórico-cultural (dialética), as perguntas poderiam ser
designadas como explicativas ou causais. O objetivo desse tipo de pergunta seria
determinar razões imediatas ou mediatas do fenômeno social (TRIVIÑOS, 1987, p. 151).
Além dos tipos de perguntas apresentadas, Triviños (1987, p. 151) distingue quatro
categorias: 1) perguntas denominadas consequências como, por exemplo, “o que pode
significar para a comunidade urbana, na qual vive a grande quantidade de pessoas, quem
não sabe ler nem escrever?”; 2) perguntas avaliativas, do tipo, “como julga a resposta da
vizinhança ao convite para participar da organização de uma cooperativa?”; 3) questões
hipotéticas, como, “se você observasse que seus alunos brigam frequentemente entre si,
qual seria seu comportamento como professor?”; 4) perguntas categoriais, se você
observasse a respostas de seus vizinhos frente à possibilidade de organização de uma
cooperativa, em quantos grupos nós poderíamos classificá-los”. Conclui o autor
salientando que as categorias de perguntas não deveriam ser amarras para entravar a
pesquisa, mas para abrir perspectivas para análise e interpretação de ideias. Utilizamos
42
neste trabalho a primeira categoria, as perguntas consequência, pois o objetivo é extrair
dos entrevistados como eles analisam os impactos da opinião no telejornal.
2.4 - Codagem e interpretação
A terceira etapa se constituiu da análise e interpretação dos dados obtidos na
pesquisa, gerados a partir das entrevistas com os jornalistas.
A análise tenta esclarecer a ligação que existe entre os dados coletados e outros fatores
estudados. A interpretação tem o objetivo de anexar conhecimentos às respostas
conseguidas na pesquisa. Ela apresenta os reais significados dos dados coletados com os
objetivos propostos no trabalho, elucida tanto o real significado das informações
coletadas como conclusões melhores sobre o tema discutido em questão. É importante
que os dados da pesquisa estejam claros e acessíveis. Os conhecimentos teóricos
adquiridos são utilizados para se chegar aos resultados da pesquisa. A partir da
interpretação da realidade escolhida pela metodologia que abarca o estudo, a teoria será
aplicada nos resultados obtidos com a pesquisa. (LAKATOS, MARCONI, 1995, p. 167-
9).
O histórico profissional dos jornalistas foi elaborado assim como o das emissoras em
que eles trabalham. Esse esforço foi necessário pois o plano editorial das emissoras assim
como seu histórico influencia na liberdade que é dada ao jornalista para que ele comente
no telejornal.
Após a decupagem, as entrevistas foram lidas novamente. As respostas foram
analisadas em como os valores ideológicos do jornalismo se encaixavam na reflexão dos
entrevistados sobre emitir opiniões pessoais em seus telejornais. Dessa foma, as respostas
foram categorizadas e agrupadas, conforme correspondência com cada um dos sete ideais
trabalhados no capítulo da revisão de conceitos (imparcialidade, objetividade, liberdade
de expressão, autonomia, ética, serviço público e responsabilidade social), constituindo
um quadro inicial. Essa classificação das respostas entre cada ideal serviu para clarificar
a visão que os entrevistados possuíam dos ideais, e saber se houve mudança, e qual foi
essa mudança, desses conceitos na visão dos jornalistas.
43
Um segundo quadro foi então formulado para a interpretação dos dados. Para cada
conceito da ideologia, foi descrita a conclusão do novo significado atribuído aos valores
que os entrevistados partilharam. E, a partir desse novo ponto de vista dos conceitos da
ideologia, conferidos pelos entrevistados, o Capítulo Analítico foi redigido com trechos
das entrevistas de cada jornalista que justificavam essa nova perspectiva. Dessa forma,
podemos responder o problema da pesquisa.
44
Parte 3 - Análise
Nosso objetivo neste capítulo é analisar as respostas dos apresentadores entrevistados
e relacioná-las com os conceitos da ideologia profissional. Esperamos saber a visão que
esses jornalistas possuem da profissão e cruzar com os valores que regem o
comportamento dos profissionais ao emitirem opinião na TV.
A primeira parte deste capítulo, destinado a analisar as entrevistas realizadas com os
quatro apresentadores de TV, será dedicada a realizar o histórico das emissoras
escolhidas, dos apresentadores e seus respectivos telejornais, assim como a descrição de
como são pensados e realizados os comentários.
Capítulo 1 – Emissoras, Telejornais, apresentadores e comentário
1.1 - Emissoras
1.1.1 - Globo
Com sede no Jardim Botânico, Rio de Janeiro, a Globo é inaugurada em 26 de abril de
1965, canal 4, no Rio de Janeiro, por Roberto Marinho. A emissora inicialmente recebe
capital estrangeiro através da joint-venture com a norte-americana Time-Life. Em 1966,
a emissora se destaca com a cobertura das enchentes no Rio de Janeiro e já consegue
competir sua audiência com as tevês Tupi, Rio e Excelsior. No final dos anos 60 já
possuía preferência da classe mais baixa com programas populares, como a versão
brasileira das lutas livres, novelas, programas de auditório e filmes americanos. A Globo,
desde o início, tratou a televisão como um mercado lucrativo no modo empresarial. Ela
rapidamente vai ao ar em São Paulo e Minas Gerais, por meio da transmissão em micro-
ondas. Em 1° de setembro de 1969, o Jornal Nacional estreia e é o primeiro a ser
transmitido em rede para seis cidades. Nos anos 70, a marca registrada, o “plim plim”, é
idealizada por Boni, e o aparecimento/introdução da TV já a cores, consolidou o primeiro
lugar da Globo na audiência. A empresa ficou conhecida pelo “padrão Globo de
qualidade”, que significa a qualidade técnica dos programas da emissora. Em 1975, Hans
Donner cria nova logomarca, parecida com a atual. A partir de 1977, começa a competir
no mercado internacional, em 1979, já exportava para 90 países (MATTOS, 2010, p. 33-
45
37). Na década de 1980, estreiam as Praças de TV, os telejornais locais, em São Paulo,
Rio de Janeiro, região nordeste, Minas Gerais e Distrito Federal. Nos anos 90, iniciou-se
a busca pela programação interativa, com a estreia o Você Decide, em que o final da
história era escolhido por votação do público, pelo telefone, assim, a Globo passa a
exportar formatos de programas de entretenimento. Em 1995, é inaugurado o Projac, o
maior centro de produção da América Latina, em Jacarepaguá, Rio de Janeiro, que abriga
todas as produções da emissora. Em 1996 começam as transmissões 24 horas da Globo
News, canal exclusivo de notícias da Rede Globo. Em 1999, é anunciado a TV Globo
Internacional, com canal em português para brasileiros no exterior. (REZENDE, 2010, p.
74). No mesmo ano é inaugurada uma sede em São Paulo, passando a funcionar
inteiramente em sistema digital e parte da programação é produzida em alta definição
(HDTV) no Brasil, assim como o som dolby surround estéreo na teledramaturgia. Em
2000, a Globo era a maior rede de televisão do Brasil. A emissora produziu a primeira
novela com uma protagonista negra, Taís Araújo, em Da Cor do Pecado, em 2004. Em
2006, com o especial Eleições, é lançado o portal de notícias G1, da Globo.com. Em 2007
entra no ar a TV Globo Portugal. Em 2014, a logomarca foi reformulada mais uma vez
por Hans Donner, é a 10° atualização. A TV Globo já ganhou quatro prêmios Emmy, em
80, com Morte e Vida Severina, em 2011, com o Jornal Nacional, e em 2013, com a
novela Lado a Lado e a atriz Fernanda Montenegro, por seu papel no especial Doce de
Mãe. (ORGANIZAÇÕES GLOBO 2014)
1.1.2 - Record
A segunda emissora do Brasil que entrou no ar iniciou suas transmissões em 27 de
setembro de 1953. Em 1955, a Record, da família Machado de Carvalho, faz a primeira
transmissão interestadual do jogo Santos e Palmeiras, na Vila Belmiro. Na década de 60
teve seu período de ouro, com programas esportivos, de auditório, humorísticos e novelas
e na revelação de cantores e compositores da música, além de atores e humoristas
consagrados nacionalmente. Em 1966, acontece o 2° Festival de Música Popular
Brasileira, mesmo ano do primeiro incêndio que acometeu a emissora, destruindo
estúdios e central técnica da unidade do bairro do aeroporto. Em 1968, outro incêndio
destruiu parte do acervo da emissora, assim como em 1969, que o fogo destruiu por duas
46
vezes a torre de transmissão e dois teatros. Mas a Record se recuperou com novas
contratações e musicais de fim de ano. A decadência da emissora se dá no final da década
de 70, com a concorrência com a Globo. Nos anos 80, para voltar à liderança, se dedica
a aquisição de afiliadas locais e se associa com o empresário Silvio Santos, que passa a
deter 50% das ações, e operando em conjunto com a TVS. Mas em 89 ela teve de ser
vendida à Odenir Laprovita Vieira e Edir Macedo Bezerra. Em 1991, inicia sua rede
nacional, atualmente, são mais de cem emissoras próprias e afiliadas. Em 1992 outro
incêndio destrói partes do mais novo estúdio. A mudança de sua sede ocorre em 1996
para Barra Funda, Rio de Janeiro e trouxe nova programação e o jornalismo como carro-
chefe. Com a aquisição de novos equipamentos, passa a disputar novamente a vice
liderança com a cobertura das Olimpíadas de Atlanta, programas de auditório, culinária,
jornalismo popular, séries de TV norte-americanas, e programação infantil. Em 97 é
criado um núcleo para produção de minisséries e já começa a exportar novelas à América
Latina. Na comemoração dos 45 anos da Record é inaugurado o Teatro Record, e adota o
slogan “Todo mundo vê”. Final da década de 90 são lançados mais dois programas
jornalísticos (AMORIM, 1999). Nos anos 2000, a nova programação consegue alavancar
os índices de audiência da emissora, chegando algumas vezes ao primeiro lugar. Foi o
caso da atração infantil da emissora que ganha prêmio, da estreia da sua revista semanal
nas noites de domingo, da faixa de entretenimento e jornalismo das manhãs semanais, e
programa de calouros aos sábados. Foi a década da transmissão do esporte, transmitiu
com exclusividades algumas das maiores competições. A Record Internacional é lançada
em 2003, alcança mais de 150 países gratuitamente. A Record News, canal aberto de
notícias 24 horas, é lançado em 2007. Em 2009, o RecNov, complexo de dramaturgia,
inaugura novos estúdios construídos com materiais recicláveis e materiais de baixa
emissão de poluentes. No mesmo ano é lançado o R7.com, o portal de notícias da Record.
A Record já ameaça a supremacia da Globo na disputa pelo primeiro lugar na audiência,
inclusive com novelas de horário nobre e minisséries de superprodução. Em 2012, muda
pela 17° vez sua logomarca. A Record é a mais antiga emissora de TV em operação,
manteve se ininterrupta desde a inauguração. (REDE RECORD, 2014)
1.1.3 - SBT
47
O Sistema Brasileiro de Televisão (SBT) faz parte do grupo do empresário Silvio
Santos, e foi inaugurado em 19 de agosto de 1981, com transmissão ao vivo. Surgiu da
antiga TVS Studios, também de Silvio. (MATTOS, 2010, 38-46). Em seu primeiro ano
de funcionamento já conseguiu bons índices de audiência com o Programa Silvio Santos,
desenhos animados e programas de humor, já conseguindo a vice liderança do mercado.
Em 1982 passa a transmitir o Troféu Imprensa. Entre 83 e 88, a batalha pela audiência se
acentuou, em especial, contra a Globo, e o SBT contratou jornalistas, apresentadores e
atores da concorrência. No fim da década se consolida no segundo lugar, com exceção do
Rio de Janeiro (REZENDE, 2010, p. 65 - 73). Em 90, para superar a crise financeira de
anos sem lucratividade e as dificuldades políticas que o Brasil enfrentava, o SBT lança o
título de capitalização Tele Sena, e ganha prêmios com duas atrações no Grande Prêmio
Mundial de Televisão, de uma rede japonesa (SBT, 2014). O Programa Silvio Santos
entrou para o Guinness Book, em 1993, como o programa mais duradouro da televisão
brasileira, que na época completava 13 anos no ar. (SBT, 2014) Uma nova grade de
programação é lançada para comemorar os dez anos da emissora. A tradição da emissora
exibir novelas mexicanas começa em 91, com altos índices no Ibope, quando uma parceria
com a Televisa, emissora mexicana, para transmissão e adaptação de atrações. Foi
inaugurado, em 1996, o CDT Anhanguera, na cidade de Osasco (SP), o quarto maior
complexo televisivo da América Latina. Em 1997 inicia experiência de uma joint-venture
com a rede de TV norte-americana CBS e lança um telejornal transmitido direto de
Miami, mas que dura pouco. (REZENDE, 2010, p. 74). Em 2001, consegue a liderança
nos domingos na exibição de reality show com artistas. Em 2008, se encerra a parceria da
Televisa com o SBT para transmissão e adaptação de atrações, mas voltam a trabalhar
juntos em 2014. (UOL, 2014) Com 33 anos, a emissora lança nova logomarca. (SBT,
2014).
1.1.4 - TV Brasília
Concebida em 120 dias, a TV Brasília vai ao ar em 21 de abril de 1960, na inauguração
da capital federal (DIÁRIOS ASSOCIADOS, 2014). Desde o início, teve preocupação
com programas feitos em Brasília, e que, entre 1967 e 1971, faziam sucesso na capital,
gravados na primeira sede da emissora, na W3 Sul. Em 1980, com a extinção da Rede
48
Tupi, a TV Brasília passa a transmitir a programação do REI (Rede de Emissoras
Independentes), comandadas pela TV Record e pela TVS, do Rio de Janeiro, ambas
ligadas à Silvio Santos. No mesmo ano, estreia Brasília Urgente, programa de entrevistas
em tom crítico marcou altos índices na liderança do Ibope, e foi ao ar até 1987. De 1981
a 85, foi afiliada ao SBT. De 1987 a 1996, passa ao comando da Rede Manchete Centro,
produzindo, inclusive, telejornais da rede. Um incêndio, em 1989, destruiu parte do
acervo da emissora. Entre 1991 e 2003, a TV muda-se para o Setor de Indústrias Gráficas,
prédio anexo à sede do D.A. Com a falência da Manchete, em 1999, a TV Brasília segue
a transição da TV!, que em seguida passa a ser Rede TV!. Em 2001, a emissora é
comprada pelo grupo Paulo Octávio e recebe grandes investimentos em jornalismo e
digitalização das transmissões. Em 2003, muda sua afiliação para a Rede 21, com reflexo
numa programação mais qualificada, porém com menor retorno financeiro. Ao completar
44 anos, muda de sede para o Setor Hoteleiro Norte. Em 2007, se torna uma emissora
independente, com uma grade de programação nacional definida, com atrações locais, do
canal Terra Viva e telejornais da Band News e Band Sports. Em 2008, os Diários
Associados compram 50% do capital acionário da TV Brasília, com a ideia do grupo
possuir várias mídias na mesma região, e a emissora volta a ser afiliada da Rede TV!. A
programação passa a ser local e da rede, melhora sua qualidade, porém recebe retorno.
Em 2014, sua sede volta ao edifício do Correio Braziliense e a emissora lança nova
logomarca. A TV revelou grandes jornalistas do cenário brasileiro como Ana Paula
Padrão e Giuliana Morrone (WIKIPEDIA, 2014).
1.2 - Apresentadores
1.2.1 - Alexandre Garcia
Gaúcho, Alexandre Eggers Garcia nasceu em 11 de novembro de 1940 e aos sete já era
ator infantil na rádio em que seu pai era radialista. Aos 15, ele era locutor na Rádio
Independente de Lajeado. Formou-se em Comunicação pela Pontifícia Universidade
Católica do Rio Grande do Sul (PUC/RS). Como estagiário, trabalhou na editoria de
economia do Jornal do Brasil, em Porto Alegre, ao mesmo tempo que conciliava um
49
emprego no Banco do Brasil. Já contratado do JB, onde permaneceu por dez anos, cobriu
o fechamento do Congresso uruguaio, em 1973, a crise política na Argentina por três
anos, e no final da década de 70, retornou ao Brasil para cobrir o governo Geisel, em
Brasília. Com a eleição de João Baptista Figueiredo à presidência do Brasil, Garcia
tornou-se secretário de imprensa do governo. Pela TV Manchete, que ingressou em 1983,
trabalhou em Brasília e cobriu as Guerras do Líbano, das Malvinas, de Angola e da
Namíbia. No final da década de 1980 foi trabalhar na TV Globo. Primeiro apresentou um
quadro de crônicas no Fantástico, depois foi repórter especial do Jornal Nacional, Jornal
Hoje e Jornal da Globo. Cobriu a promulgação da Constituição de 1988 e eleições
presidenciais de 1989, ao lado de Joelmir Beting, apresentando o Palanque Eletrônico e
sendo um dos mediadores nos debates. Garcia foi diretor de Jornalismo da Globo de
Brasília de 1990 a 1995. Junto com Beting, Paulo Henrique Amorim e Lilliane Witte Fibe
esclareceu dúvidas de telespectadores sobre o plano econômico de governo de Fernando
Collor. Fez a cobertura da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o
Desenvolvimento e a Rio-92. Em 1992, acompanhou o impeachment de Collor, em 93,
estreou como comentarista político no Jornal da Globo, em 94 e 98, as eleições de
Fernando Henrique Cardoso e a implantação do Plano Real. Na Globo News, apresentou
o programa Espaço Aberto, em 1996. No ano seguinte, fez série de reportagens ao Jornal
Nacional sobre problemas e burocracia do Poder Judiciário que atrasavam os processos.
Em 2012, o programa de Alexandre na Globo News passou a se chamar Globo News
Política, e atualmente, é o Globo News Alexandre Garcia. Em Brasília, ele apresentou o
DFTV - 1° Edição de 2001 a 2011, quando virou comentarista do jornal. Neste período,
também cobriu as eleições de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Roussef. Garcia faz parte
de apresentadores que se revezam na bancada do JN aos sábados e é comentarista político
do Bom Dia Brasil. Ainda comenta para 80 emissoras de rádio, é autor do livro Nos
Bastidores da Notícia, lançado em 1990, pela Editora Globo. O apresentador já soma
mais de 50 anos de carreira. (ORGANIZAÇÕES GLOBO, 2014).
1.2.2 - Giulianno Cartaxo
Giulianno Cartaxo é de João Pessoa, Paraíba, em 1977. Com 21 anos, estudava
Comunicação Social na Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e trabalhava na TV
50
Record, mesmo sem saber nada sobre televisão. (BLOGSPOT, 2014). Foi pauteiro,
produtor, ajudou a monta o Cidade Alerta e quatro programas locais. Em 2001 se mudou
para Brasília para trabalha como assessor do Ministro do Desenvolvimento Agrário. Em
2006, passa a trabalhar na Rede Record, e apresenta o Balanço Geral. Em 2009, passa a
apresentar o DF no Ar, o matutino diário da Record. Giulianno completa 16 anos de
carreira. (GRIFINA, 2014)
1.2.3 Maria Júlia
Maria Júlia Mendonça é natural de Rio Preto, São Paulo, nasceu em 1983. Mudou-se
para a capital paulista para cursar Medicina, mas após anos em cursos preparatórios para
o vestibular, escolhe o Jornalismo e passa a cursar Comunicação Social na Faculdade
Cásper Líbero, na capital paulista. Inicia a carreira como estagiária do jornal Gazeta
Esportiva, em 2005, trabalhando em produção. Em 2006, trabalha na Editora Abril, na
revista Capricho, é responsável pela apuração, produção de matérias e entrevistas na
editoria de Beleza. Neste período, participou da mudança de projeto gráfico que
reestruturou a revista. Em 2006 e 2007 trabalhou na TV Gazeta, cobriu a queda do avião
da TAM no Aeroporto de Congonhas (SP), em 2007, e da abertura da cratera no metrô.
Em 2008, muda-se para Brasília e começa seu trabalho no site do Correio Braziliense,
como apresentadora do Correio Notícias. Em 2010, passa a apresentar o Jornal Local 2°
Edição da TV Brasília, emissora afiliada à Rede TV!. Em 2012, passa a exercer a função
de editora-chefe do CBonline e do portal CorreioWeb. Maria Júlia atualmente se dedica
integralmente ao Jornal Local. Ela tem nove anos de jornalismo. (PORTAL DOS
JORNALISTAS, 2014).
1.2.4 Williane Rodrigues
Williane Rodrigues é brasiliense. Antes de concluir a faculdade de Jornalismo no
Centro Universitário de Brasília (UniCEUB) começa a trabalhar na TV Bandeirantes e
Radiobrás. Em 2002, ela se forma e ingressa na TV Brasília como repórter. Meses depois,
ela já apresentava jornais da casa. Em 2005, passa a fazer parte da equipe do jornal Cidade
51
Viva, do SBT, como apresentadora e repórter. Em 2007, como repórter do SBT Brasil,
cobriu o cotidiano da capital federal. Em 2008, é convidada a participar do projeto Jornal
do SBT Brasília, no qual permaneceu por quatro anos como editora e apresentadora.
Atualmente apresenta o SBT Brasília, programa interativo de horário vespertino. Williane
tem 12 anos de jornalismo. (SBT, 2014).
1.3 - Os telejornais
1.3.1 - DF no Ar
O DF no Ar é um telejornal que existe desde 2009 e vai ao ar de segunda a sexta-feira,
das 7h15 às 8h40, na Record. Ele surge com o propósito de informar o brasiliense de
forma mais despojada mas sem se esquecer do jornalismo, mostrando as primeiras
notícias do Distrito Federal e Entorno. Notícias como trânsito e crimes são privilegiadas
no jornal, que tem como editor-chefe Daniel Yamanaka e apresentador Giulianno
Cartaxo. (REDE RECORD, 2014).
1.3.2 - DFTV
O DFTV é um telejornal de segunda a sábado, em duas edições, da Rede Globo. A
primeira ao meio dia e tem 50 minutos de duração e a segunda às 19h10, com duração de
20 minutos. Ele surge em 1983, para fortalecer o jornalismo local das emissoras Globo.
Tem como objetivo os problemas comunitários da população, defesa do consumidor e
fatos do cotidiano de Brasília. Na 1° edição tem Fábio William como apresentador e
editor-chefe, e a 2° tem Antônio de Castro como editor-chefe e apresentador. Alexandre
Garcia comenta os principais fatos do dia e o ex-delegado da Polícia Federal, Daniel
Lorenz, comenta sobre crimes. (ORGANIZAÇÕES GLOBO, 2014)
1.3.3 - Jornal Local
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O Jornal Local é um telejornal transmitido desde 2001 pela TV Brasília, emissora
afiliada à Rede TV! O noticiário possui três edições. A primeira vai ao ar às 11h30, tem
30 minutos de duração. A segunda, às 19h, mas fica à disposição da grade da Rede TV!,
possui participação de alguns jornalistas do Correio Braziliense. A última ocorre à meia
noite, com as notícias mais relevantes do dia. Destaca-se pelo noticiário comunitário e
policial. O JL 1° Edição é apresentado por Pedro Lucena, e o 2° Edição por Maria Júlia
Mendonça. (WIKIPEDIA, 2014)
1.3.4 - SBT Brasília
O SBT Brasília é um programa transmitido de segunda a sexta, às 12h30. Os temas mais
abordados são crimes, segurança, prestação de serviço, cultura e saúde. Na descrição do
programa no site do SBT está: “Reportagens exclusivas e análise das notícias que influem
na vida do telespectador”. Ele é considerado programa, pois possui merchandising.
Williane Rodrigues é a apresentadora. (SBT, 2014)
1.4 - O comentário
O objetivo desta seção é descrever o processo de produção dos comentários pelos
apresentadores nos telejornais.
Alexandre Garcia diz ter total liberdade para fazer seus comentários e que, às vezes, o
faz sem preparação anterior. Em outras, prefere consultar o repórter ou procurar na ilha
de edição por detalhes que não estejam na matéria finalizada. “Às vezes era na hora,
outras vezes eu ia na cabina de edição dar uma olhada, conversava com o repórter para
saber mais circunstâncias dos fatos, alguma coisa que não ia entrar na reportagem, me
valia de outros fatos para fazer o comentário. Às vezes não, era quase uma interjeição,
quase emocional, depois de ver um padrasto espancando um bebê, eu entrava com uma
opinião feita na hora, condenando.”
Williane Rodrigues afirma que ao ter conhecimento do espelho do jornal já define qual
tema poderia render uma opinião, e, dessa forma, o prepara anteriormente. Quando isso
53
não é possível, o comentário acontece de forma improvisada. “É muito livre esse
processo. Se eu tiver vontade de comentar na hora eu comento, mas muitas vezes quando
o assunto já é previsto ou polêmico ou que uma opinião eu tento planejar, busco dados
inclusive sobre aquele assunto que possa complementar, que é uma informação a mais
para o telespectador. Acaba que muitas vezes o comentário é planejado e às vezes não,
então essa liberdade é boa.”
Maria Júlia, que experimenta um formato distinto da maioria dos telejornais do horário
nobre, com vários apresentadores no cenário do jornal ao mesmo tempo, afirma que são
escolhidos no máximo dois assuntos na reunião de pauta ainda para que eles possam ter
um comentário mais aprofundado. Ou seja, eles não são feitos ao acaso, existe um preparo
e, inclusive, uma outra apuração para que a opinião seja dada como se fosse uma extensão
da matéria. “Hoje, a gente tem um formato que escolhemos um assunto ou dois, trazemos
informações adicionais, além do que estamos vendo procuramos trazer informações que
as pessoas não têm. Esse é o objetivo, trazer informações novas. Quando você dá um
comentário é legal, é importante, mas também acrescido de novas informações, coisas
que às vezes só da gente olhar na imagem a gente não tem.” Ela explica que o jornal
prefere não opinar em muitas matérias para não tornar os assuntos cansativos e quebrar o
ritmo do noticiário. “O cuidado que a gente tem também é de não transformar todas as
notícias em algo que a gente vai aprofundar, porque senão ficar chato para quem está em
casa, fica monótono. Você não pode ficar tempo demais em um assunto, a não ser, que
seja algo extremamente relevante.” Ela afirma que a TV Brasília a oferece liberdade para
manifestar sua opinião no ar em outros momentos, caso ela ache relevante. Neste caso, o
comentário se torna mais pessoal e sucinto, fazendo com que o apresentador se assemelhe
ao telespectador. “Se você assiste aquilo e de alguma forma aquilo mexe com você, você
pode comentar, mas é um comentário mais rápido. Você pode trazer essa bagagem sua
porque é uma forma de você se aproximar de quem está em casa. Mas, o que fazemos
mais é fazer uma análise antes, na reunião de pauta nós analisamos, escolhemos o que
seria legal aprofundar.”
Giulianno Cartaxo participa de duas reuniões de pauta para a produção do DF no Ar,
uma presencial às 3h30 da manhã e outra às 10h, via internet ou telefone. A partir deste
momento ele acompanha a edição de todas as matérias e assiste os VTs finalizados para
ter conhecimento do jornal como um todo. Meus comentários não são escritos antes da
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exibição do jornal. “Eu uso telepronter, afinal são uma hora e trinta e cinco de programa,
e gosto de usar para não perder essa linguagem. Mas a opinião é minha, é o que eu senti
na hora.” Segundo o jornalista, a experiência com o jornalismo policial e investigativo o
auxilia nessa linguagem, e a emissora dá o aval para comentar dessa forma. “A Record
me dá essa possibilidade de fazer isso, com oito anos de Record só tive um processo, e
mesmo assim ganhei.” Ele afirma que, para elaborar o seu comentário, busca estar sempre
informado e manter um diálogo constante com a população. “Eu leio muito jornal
impresso, gosto de me atualizar pela internet, o programa inteiro eu converso com o
espectador via Face(book), via Whats(app), as notícias vão chegando ao longo do
programa. Muitas das notícias que eu dou são resultados de conversas que eu tive na rua
com telespectador, tenho orgulho de dizer que o que eu estou falando aqui em 99,9% das
vezes é o que seu Zé e a dona Maria queriam dizer e nunca tiveram oportunidade de dizer
isso. Você tem que saber até onde você pode ir, senão você acaba se prejudicando e
tirando a credibilidade do seu produto, o meu produto é a notícia, é o DF no Ar.”
Capítulo 2 - Analítico
Segundo a Pesquisa Nacional de Amostras por Domicílio (PNAD) de 2013, o aparelho
de TV está presente em mais de 96% dos lares brasileiros. Essa constante presença do
veículo na vida das pessoas fez surgir uma das primeiras perguntas feitas aos
entrevistados: se essa imponente presença da TV se refletia nela ainda ser um importante
meio de obtenção de notícias. Todos responderam afirmativamente.
“É a principal forma de receber a informação para grande parte dos brasileiros. O
brasileiro ainda tem o costume de sentar na frente da TV e quem nunca deu ‘boa noite’
ao William Bonner”, declara Giulianno Cartaxo. Williane Rodrigues acredita nas
possibilidades de cada veículo que, apesar de momentos de crise, sempre terão espaço na
comunicação: “Nessa era da internet, o impresso perde espaço e, às vezes, até a televisão.
A internet tem imagens, mas a TV ainda tem um fascínio. Acho que cada veículo tem sua
peculiaridade e sua importância.” Alexandre Garcia faz referência ao grau de instrução
dos brasileiros para justificar a importância da TV em levar a notícia e opiniões ao
cidadão. “Num país que tem um percentual altíssimo de analfabetos funcionais, a TV e o
rádio são os meios mais eficazes de fazer chegar as notícias e as opiniões.” Maria Júlia
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também lembrou da internet nos dias atuais mas que a TV continua com seu espaço pela
sua credibilidade. “As pessoas têm mais acesso à informação de outros modos, e cada vez
mais os jornais estão buscando estar inseridos nessas redes sociais porque elas são de fato
meios de se publicar as notícias, a informação. Mas os jornais são fundamentais. O
trabalho que a gente faz aqui é um trabalho de responsabilidade que a gente não faz de
qualquer forma.”
Além da televisão encantar pela vivacidade das imagens e sons, segundo Teodoro
(1980), a figura do apresentador no telejornal é importante para fazer uma ligação com o
público. Esse profissional deveria ter consciência da sua responsabilidade social, sua
credibilidade e carisma serão testados de acordo com a audiência. Para Giulianno
Cartaxo, a internet apesar de ser muito utilizada como fonte de informação, nunca vai
tirar a credibilidade que a TV e seu jornalismo transmitem. “O brasileiro tem essa
necessidade de olhar nos olhos e ver quem está falando com ele até para saber se aquela
notícia tem credibilidade ou não e esse é o papel do apresentador, dar credibilidade a
notícia coisa que a internet ainda não te dá muitas coisas pode ser boato.”
2.1 - Introdução
Todos os entrevistados admitiram que seus comentários são uma mescla de impressões
pessoais da notícia com dados adicionais que não são expostos ao telespectador, ou seja,
uma mescla de sentimento e razão, que, às vezes, pode passar dos limites. Somente dois
entrevistados tiveram processos judiciais referentes a comentários que realizaram:
Giulianno Cartaxo, que venceu o processo, e Alexandre Garcia, que teve o processo
retirado. Williane já teve grande repercussão com um comentário, mas não ocorreu uma
queixa formal e Maria Júlia declarou que nunca teve problemas com suas opiniões.
Embora os entrevistados terem confessado que são considerados pela audiência como
porta-vozes da sociedade e ressaltado que suas opiniões são feitas para a defesa dos
interesses da população, Giulianno Cartaxo, da Record, foi o apresentador que se destacou
nesse quesito, por mencionar, diversas vezes, sua procura por uma maior interação com
a audiência tanto nas redes sociais quanto no cotidiano. Em suas respostas, ele declara
que para representar a população ele tem de se manter informado sempre.
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O mais experiente jornalista entrevistado, Alexandre Garcia, da Globo, discordou
de seus colegas em alguns momentos, em especial quando questionado sobre a
responsabilidade social e a liberdade de seu comentário. Enquanto os demais
reconheceram elaborar a linguagem de seus comentários já pensando pensar na
diversidade da audiência que os assiste, Garcia afirmou não prever ou buscar nenhum tipo
de impacto nas pessoas.
A maioria dos apresentadores afirmou que o público, por ter maior acesso à
informação por conta da internet, está mais crítico quanto às notícias e aos debates sobre
temas que estão na mídia, e, por isso, está exigindo o “jornalismo mais comentado”, como
citado pela jornalista Williane Rodrigues, do SBT. Ela salientou em seu discurso que o
cidadão já possui um pensamento formado antes de receber o comentário do jornalista e
que ele somente concorda ou não com a avaliação do apresentador. Isso seria um caminho
frutífero para um debate benéfico de opiniões no jornalismo. Para ela, a maior vantagem
desse ‘novo’ estilo de fazer telejornal é reforçar a imagem do jornalista como um ser
humano.
A liberdade de expressão, que integrou uma das perguntas das entrevistas, foi
interpretada como autonomia jornalística. Os apresentadores misturaram os conceitos
como se a liberdade que eles tivessem na profissão fosse dependente da liberdade que a
instituição jornalística disponibilizasse a eles. A maioria disse ser amparada e até
incentivada pela emissora de TV a dar opiniões e ser parcial em alguns assuntos com a
justificativa de ser uma exigência do público, que está mais crítico e sedento de mais
informações e opiniões para formar seu discurso pessoal. Segundo eles, os comentários
são sempre baseados em opiniões pessoais, mas que sempre tentavam adicionar
informações para dar credibilidade. Giulianno e Garcia disseram ter total liberdade e
amparo das empresas, Williane disse também ter liberdade mas afirmou que toma o
cuidado para não dizer nada que vá de encontro com a organização, assim como Maria
Júlia, que foi o único caso em que o comentário era feito por uma equipe, decidido na
reunião de pauta, enquanto os outros entrevistados elaboram a opinião de forma
autônoma. Ainda no caso da jornalista da TV Brasília, ela afirmou que opiniões pessoais
são bem-vindas, mas expressadas de forma breve e espontânea, pois os comentários do
Jornal Local são mais prolongados e informativos, como uma extensão da notícia.
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Os jornalistas entraram em contradição em suas falas quando afirmaram que o
apresentador, em sua análise, não influencia o telespectador, pelo menos não de forma
impensada. Ao mesmo tempo confirmaram que o jornalista ainda é um formador de
opinião. Houve apenas uma exceção nesse caso, Alexandre Garcia declara ser formador
de opinião porém não se pronuncia quanto à possível influência de seu comentário.
Maria Júlia em sua entrevista falou bastante sobre a interação da audiência com o
telejornal, mas não mencionou essa resposta da sociedade aos seus comentários, se ateve
mais à responsabilidade social do jornalista, seu compromisso com a objetividade e a
verdade dos fatos.
Já Giulianno tocou na questão mercadológica com mais vigor afirmando, que o
espectador insatisfeito muda de canal simplesmente, mas que, ele recebe muitas críticas
boas.
2.2 - Análise
Disto isso, nesta seção analisaremos cada um dos sete tópicos da ideologia profissional
que foram conceituados no capítulo passado e a relação que eles possuem com o
jornalismo opinativo sendo feito nos telejornais, na visão de alguns apresentadores. Cada
um desses valores esteve presente nas perguntas feitas aos entrevistados e, de acordo com
as respostas obtidas, investigaremos como esses conceitos são vistos pelos entrevistados
que apresentam e comentam em telejornais.
Segue quadro resumo das conclusões gerais da análise:
Quadro 01 Novas Funções da Ideologia para os entrevistados
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Nova Função na Ideologia
Responsabilidade Social e Serviço
Público
Os dois conceitos quase se fundem. O
discurso oscila entre os dois. Os jornalistas
utilizam esses dois conceitos para
legitimarem a opinião no telejornalismo e
assim, todo o seu trabalho. Colocam a
parcialidade e o comentário como uma
demanda do próprio público do jornal.
Imparcialidade e Objetividade Os conceitos foram relativizados e passaram
a ficar em segundo plano, em nome do
serviço público. São preteridas, pois no
discurso dos apresentadores, o público é
quem está exigindo um pouco mais de
parcialidade do jornalista.
Autonomia e Liberdade de Expressão A liberdade de expressão foi confundida com
autonomia, liberdade e apoio que a empresa
oferece para os apresentadores realizarem
seus comentários. Nas entrevistas se
percebeu que, embora uma pergunta citasse
“liberdade”, eles não se utilizaram desse
princípio nas respostas.
Ética A ética também foi relativizada. Os
profissionais não a utilizaram como respeito
ao código de ética ou a outros jornalistas,
mas sim, a mediram pelo que o público gosta
ou não, pelo que ele permite ou não.
2.2.1 - Serviço Público
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O sentido que os apresentadores atribuíram ao serviço público nos possibilitou
relacionar a função que a opinião (comentário) tem em relação ao jornalismo. Segundo
os jornalistas, a opinião no telejornalismo se encaixa na definição do jornalismo como
uma prestação de serviço de utilidade pública à população pois são os próprios
espectadores que clamam pela manifestação dos apresentadores. Esta visão ideológica,
somada à noção de responsabilidade social, foi utilizada pelos apresentadores como
justificativa para o comentário ser usado por eles no telejornal. A contrapartida desse
processo é verificada quando a audiência desses programas se mantêm ou se eleva, como
uma retribuição da sociedade ao trabalho dos profissionais (DEUZE, 2005, p. 477)
A questão do mercado refletir a aceitação do comentário fica bem clara quando
Williane Rodrigues menciona que a diversidade das emissoras, dos pontos de vistas que
cada uma tem de noticiar os fatos, é importante para que o telespectador possa sentir mais
confortável com o canal de TV que lhe agrada mais de forma a lhe “retribuir” o serviço
prestado. “Todas as emissoras vão dar um fato, cada uma vai dar um ponto diferente. Aí
já é se parcial, você não vai estar mentindo mas é o ponto de vista de cada um. Cada um
escolhe a emissora, uma forma de contar, uma forma de contar da Globo, do SBT, da
Record e isso que é o diferencial. Então eu acho que é válida essa diferença, se ele mudar
de canal pode ser que outro apresentador tenha outra opinião”, declara Williane.
E quando Giulianno Cartaxo menciona que, se alguém não gostar do que está sendo
dito, simplesmente muda de canal, o apresentador também evidencia esta suposta
autoridade do espectador: “Se você começar a fazer besteira ele (telespectador) vai mudar
de canal mesmo, vai te criticar nas redes sociais, se te encontrar na rua vai falar para
você.”
De acordo com os profissionais, o argumento de que público estar mais exigente e
crítico é suficiente para que eles justifiquem a emissão de opinião em seu trabalho. Eles
se sentiriam confortáveis ao expressarem suas opiniões pessoais, que podem ou não
corresponder com o pensamento da população – que teria sendo crítico suficiente para
interpretar o que está sendo dito. Em algumas respostas que obtivemos na pesquisa, os
entrevistados afirmaram que os telespectadores querem que os apresentadores se
manifestem, para confirmarem o que eles pensam ou discordarem, para se identificarem
com a avaliação do jornalista e se sentirem representados. “A gente está aqui para servir,
estou aqui para oferecer um serviço, dar o melhor de mim”, declara Maria Júlia.
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Para Williane Rodrigues, a sociedade hoje está melhor informado, e uma das razões
seria a internet, em que as pessoas têm mais acessibilidade à informação. Por conta disso,
o indivíduo recebe o comentário como um adicional, e não absorver passivamente o
pensamento do apresentador. “Hoje em dia, não tem mais isso, as pessoas sabem o que
estão vendo, já tem uma opinião formada daquilo e quando o apresentador diz uma
opinião que á a mesma da pessoa, esse telespectador se sente representado. Ele fala, ‘ela
falou o que eu queria ter falado’, não ficou abafado como se ele (telespectador) não tivesse
voz na televisão. E quando a opinião é contrária, surge uma discussão talvez frutífera.
Para você mudar a opinião dele (do telespectador) você tem que ter um argumento muito
bom.”
“Eu tenho uma opinião bem formada, eu estou do lado do povo, o que eu sei que é
bom para o povo eu vou brigar”, afirma Giulianno Cartaxo que também é adepto da ideia
de que o público está com senso crítico mais aflorado e sabe constituir seu pensamento
sem depender do posicionamento do jornalista. De acordo com ele, quando o cidadão
concorda com o apresentador é porque ele já pensava daquela forma e não porque se
apropriou daquela opinião. O comentário seria, segundo ele, um reforço do pensamento
do indivíduo. “Ele não toma a minha opinião como uma verdade, ele toma como um
reforço da verdade que ele já tinha, é como se eu carimbasse na TV algo que ele como
pessoa já carregava consigo.” Para Giulianno, o maior propósito do jornalismo é fazer
com que a notícia de interesse público seja entendida por toda a população: “Você tem
que fazer um jornalismo com uma informação ao alcance de todo mundo. A função do
jornalista é essa. A grande função do jornalista, hoje e sempre, é mastigar a notícia e
passar de uma forma que todo o seu telespectador conseguir entender.”
Maria Júlia menciona sua experiência no período em que trabalhou no site do Correio
Braziliense e suas redes sociais para fundamentar seu argumento de que o povo está mais
analítico e exigente com o jornalismo televisivo: “As pessoas têm mais acesso à
informação do que antigamente, cada vez mais querem participar, cada vez mais tem
opiniões, e você não vai fazer ela engolir o que você quer. É um erro você pensar que
você pode falar o que você quer, do jeito que você quiser e que ninguém vai sentir isso.
Ou que as pessoas vão acreditar e tomar aquilo como se fosse a opinião delas também.”
Alexandre Garcia discordou de seus colegas quanto à capacidade de reflexão e crítica
do brasileiro. Ele acha que a maioria dos telespectadores continua passiva tanto às
informações quanto às opiniões dos jornalistas. “É o que eu costumo dizer, a televisão
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vem tudo a cores, já vem tudo pronto, o telespectador não precisa pensar, só recebe. Na
televisão vem tudo pronto então a tendência de uma preguiça mental o sujeito já está
talvez sentado no sofá cansado de um dia inteiro, de repente alguém abre uma cerveja,
uma cachaça, não está querendo nem discutir o assunto.”
Na visão dos profissionais, o serviço público justifica o uso da opinião no jornalismo,
que assume o papel de voz da população, mostrando os problemas do povo e buscando
soluções. Dessa forma, quando os apresentadores confessaram receber elogios nas ruas
de telespectadores que aprovam os comentários que eles fazem no telejornal sobre certa
notícia, eles justificam a opinião ser usada no jornalismo feito na TV.
Alexandre Garcia afirma, assim como Giulianno e Williane, que as pessoas se sentem
retratadas nos comentários. “O maior elogio que eu escuto na rua é: “Nossa, você é nosso
porta-voz, fala o que a gente gostaria de dizer.”
2.2.2 - Responsabilidade Social
Os entrevistados demonstraram que a responsabilidade social é um dos valores que eles
mais prezam. As decisões que os apresentadores tomam em seu dia a dia em relação à
linguagem utilizada, a seleção de informações, e no caso da opinião, o tipo de abordagem
do comentário, são quesitos que alicerçam a responsabilidade social do jornalista, mas
que foram delegados ao público, segundo os entrevistados. É o público que limita
indiretamente os comentários pelo retorno que dá aos apresentadores nas ruas, redes
sociais, na audiência das emissoras, o que deve ou não ser falado, quais temas, em qual o
momento.
Nesse sentido, a responsabilidade social do jornalista ratifica um conjunto de decisões
a serem tomadas pelos profissionais no cotidiano, baseadas no compromisso com a
sociedade, ele deve sempre estar atento aos anseios e necessidades da população
(PEREIRA, 2008).
Nos momentos em que eles citam o preparo na realização do comentário, coletando
mais dados adicionais, eles demonstrariam essa preocupação com o telespectador. “Você
tem que conhecer lei, tem que saber interpretar código penal, código eleitoral. Você tem
que saber um pouco de tudo, você tem que entender de política, trânsito, economia,
relações interpessoais, para não falar besteira, entender o que está acontecendo naquele
momento. Eu leio muito jornal impresso, gosto de me atualizar pela internet, apresento o
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programa com o celular na mão e Ipad do lado”, afirma Giulliano Cartaxo. O experiente
comentarista da Globo, Alexandre Garcia confia nos conhecimentos do apresentador para
o comentário responsável. “A pessoa que dá opinião tem que ser muito bem informada
para não dizer bobagem na televisão, cometer um sacrilégio qualquer, dizer uma besteira.
Tem que ter uma boa bagagem intelectual para poder fazer comentário.”
O apresentador Giulianno Cartaxo, da Record, inclusive mistura a responsabilidade
social com o serviço público ao declarar que o cidadão já tem um posicionamento e se
sente contemplado quando isso se torna pública por meio do jornalista. “Apresentador
que emite opinião no ar não está ali dando uma opinião que é exclusivamente dele. Ele
está dando uma opinião já de consenso, que já é de massa, e é exatamente o que o público
quer ouvir, o que o público acha. Dificilmente eu vou contra o que a população acha, o
que a maioria acha, eu sou a população.” Dessa forma, ele justifica o uso da opinião no
telejornalismo como uma necessidade do público. Mas Cartaxo lembra que independente
do veículo, você tem responsabilidade social com o cidadão: “Agora, com mais espaço
vem mais responsabilidade. Seguir telepronter é fácil, agora falar o que pensa é bem mais
complicado e requer muito mais coragem, porque você nunca vai agradar todo mundo.”
Williane acredita que o comentário aproxima o apresentador do telespectador. Por
outro lado, menciona o fato de que emitir opinião num veículo popular como a TV é uma
função de responsabilidade e, por isso, defende a ponderação. “Você não pode falar tudo
o que você acha numa televisão, porque nem tudo que você acha convém. Como a gente
alcança milhares de casas, é um impacto forte, por isso de você ter ciência da sua
responsabilidade, ter o cuidado. Muitas vezes, dependendo do que a gente fala, se a gente
não tiver certeza do que está falando, a gente pode prejudicar muitas vidas.”
A jornalista da TV Brasília, Maria Júlia, também sustenta que o serviço público está
ligado à responsabilidade social na hora de se comentar na TV. “Eu costumo falar que
trabalhamos para quem está do outro lado. Eu amo o que eu faço e faço com prazer, mas
o meu trabalho é para quem está assistindo o jornal, eu não trabalho pra mim, não dou
uma notícia pra mim. Então quando eu faço um comentário eu preciso pensar, porque
seria desrespeitoso da minha parte eu simplesmente sair falando o que eu penso, às vezes
a gente pode magoar, ferir uma outra pessoa e eu não tenho esse direito.”
Alexandre Garcia foi o único a declarar que não se atentava a um provável impacto
social que seu comentário poderia gerar. A responsabilidade, para ele, está em dizer o que
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a maioria quer ouvir. “O que procuro fazer é tentar, pelo conhecimento de Brasília, dos
telespectadores do jornal, do feedback do jornal, traduzir a posição da maioria, da voz
corrente, da opinião média do público.”
Como declarou Mino Carta, o jornalista é um profissional que deveria ensinar a
sociedade a pensar, ou ao menos oferecer elementos para que isso ocorra. (CARTA, 2003,
p. 156) Nas entrevistas, houve uma mescla de confusão com contradição na hora definir
esse conceito. Giulianno Cartaxo, por exemplo, ao mesmo tempo em que admite o
jornalista ser um influenciador, diz que o público tem uma visão independente e necessita
do apresentador somente para afirmá-la. “(O jornalista é) Não só um formador, mas
também é um influenciador de opiniões, ele cria tendências. Nós temos do outro lado
alguém que quer um carimbo numa opinião que ele já tem, alguém que abrace a causa
dele”.
Alexandre Garcia, concorda com o título de formador de opinião, mas enfatiza que o
apresentador de telejornal tem uma maior visibilidade. “É, porque é uma pessoa que está
principalmente na televisão, como ele utilizou o meio, como dizia Marshal McLuhan, o
meio é a mensagem, usou o meio televisão, o meio ajudou a potencializar a mensagem”.
A responsabilidade de se emitir uma opinião no ar, para Williane Rodrigues, também
estaria associada à missão de promover um debate saudável com a sociedade. “Acho que
influencia sim, mas acho que levanta mais uma questão de discussão. Não é uma questão
de aceitar e acreditar em tudo que ela fala (jornalista). Se ele (telespectador) não tem
opinião sobre o assunto ele vai tenta saber, vai pesquisar para ter a própria opinião, tem
os fatos, tem a opinião do apresentador, e se ele mudar de canal pode ser que outro
apresentador tem outra opinião.”
Maria Júlia observa que uma das funções do jornalismo é formar opiniões. “Jornalista
é um formador de opinião, e por isso a nossa responsabilidade é muito grande. Jornalista
que não tem esse senso de responsabilidade acaba sendo irresponsável mesmo, é perigoso,
você não tem esse direito, nós somos formadores de opinião, esse é nosso trabalho.”
2.2.3 - Imparcialidade
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Percebemos que não havia uma separação clara entre imparcialidade e objetividade nas
respostas dos entrevistados. Esses conceitos apareceram em segundo plano para os
apresentadores, que deram prioridade a questões ligadas à responsabilidade social e ao
serviço público. A totalidade dos apresentadores declarou que o próprio público aprecia
a parcialidade do jornalista frente a alguns temas em seus comentários, e, inclusive, se
sente representado e grato por esse posicionamento. O telejornal, ao agradar o cidadão,
faz com que o ideal da imparcialidade seja relativizado, fique à disposição da sociedade,
e, consequentemente, das necessidades do mercado, se tratando da competitividade pela
audiência.
Alexandre Garcia afirma que as pessoas querem cada vez mais o posicionamento dos
apresentadores frente ao assunto abordado na matéria, mas que não é a qualquer assunto
que se pode opinar. “Tem acontecido coisas que me surpreendem de separação de opinião
e de fato. E de opinião não por qualquer coisinha, opinião por alguma coisa que seja
controvertida”.
Maria Júlia define a imparcialidade nos moldes acadêmicos, como algo que é almejado
mas que nunca será possível pelas próprias técnicas de se fazer jornalismo. Ela menciona
a linha editorial dos jornais para justificar a ingerência que as emissoras podem causar no
telespectador. “Quando você escolhe uma notícia para ir para o ar, de alguma forma você
está emitindo uma opinião. Quando você faz o espelho do jornal você já está emitindo
uma opinião, e você pode mudar a forma das pessoas pensarem mas isso pode ser bom
ou ruim, entende?”
No discurso de Williane Rodrigues, quando ela cita o exemplo de um comentário que
teve grande repercussão, fica evidente a visão que a jornalista tem da parcialidade ser uma
“exigência” do público atual. O vídeo do comentário polêmico foi retirado da internet e
foi ao ar em 5 de setembro e mostrava uma gata sendo jogada do 14° andar por uma
menina de 14 anos em Diadema, São Paulo. Segue o comentário de Williane: “O que será
que passa na cabeça de uma menina dessa, uma adolescente, 14 anos, que já tem
discernimento das coisas, desculpa ai, mas para fazer “merda”, ela sabe o que é certo e o
que é errado. Ela não é normal. Foi um ato assustador. Tem que cuidar desses jovens.
Que futuro terão eles? É de se preocupar”. 9Segundo ela, a palavra forte produziu um
maior impacto do que o comentário em si, mas que ela foi aprovada pelo público, apesar
9 Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=iH8wqkLwMG4 Acesso em 8 de novembro
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da linguagem não ser tipicamente jornalística. “Eu fiquei muito indignada porque eu sou
extremamente protetora dos animais, defendo totalmente. Aí é o risco de você estar tão
envolvida emocionalmente que sai uma coisa que não era para sair. O comentário todo
foi muito forte mas essa palavra específica que deu muita repercussão, que acabou sendo
positiva, porque 99,9% das pessoas me apoiaram, dizendo que era um absurdo, de ‘parar
com a hipocrisia de esconder a indignação’. De todo o Brasil teve um que disse “ah, eu
prefiro que o jornalista seja imparcial”.” De acordo com o exemplo e com seu raciocínio,
Williane parece acreditar que o jornalista não necessitaria mais, nesse formato
comentado, de abster-se de suas emoções ou suas impressões em relação aos fatos, pois
o público o legitima para que faça isso. Essa postura implica mudanças não só na
imparcialidade como também na visão que se tem da objetividade e da ética jornalísticas,
esta última será tratada especificamente mais a frente.
A jornalista do SBT ressalta que o povo, além de pedir um posicionamento explícito
do jornalista em casos intrigantes, aceita ele como um ser humano e cidadão e permitiria
que ele se indignasse ou manifestasse seus sentimentos. “Hoje em dia, o caminho está
sendo mais para esse rumo, ser mais parcial porque essa questão da imparcialidade é bem
polêmica, na verdade, o que é a imparcialidade? Nós somos seres humanos, nós temos
uma visão daquilo que acontece. Ali estou emitindo minha opinião, estou sendo humana,
estou dizendo o que acho, e não vejo mal nenhum com isso.”
Williane lembrou ainda que mesmo que a posição do jornalista não seja claramente
verbalizada, o apresentador pode manifestá-la de outras formas. “A opinião também se
emite pela expressão, então tem emissoras mais contidas que foram como a pessoa dá a
opinião pode ser sutilmente pode levantar a sobrancelha, fazer uma cara, tem várias
formas de emitir a opinião.”
2.2.4 - Objetividade
A objetividade quase não foi lembrada nas entrevistas, somente dois jornalistas a
abordaram. Ela foi relativizada quando seu valor foi desmerecido e substituído em prol
de outros ideais. Os critérios da objetividade foram citados em poucos momentos nas
entrevistas, quase se confundindo com a imparcialidade.
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Maria Júlia foi a única a recordar, inclusive destacar, o compromisso com a verdade
dos fatos, a checagem da informação antes de veiculá-la. Ela defende a televisão, que,
apesar de perder em instantaneidade para o rádio e a internet, tem o tempo de apuração e
investigação maiores, acentuando a veracidade dos fatos. “O trabalho que a gente leva
para o ar na TV é 100% baseado na verdade, ao contrário das redes sociais, que divulgam
o que é momentâneo, que é imediato, e muitas vezes pecam pela má informação, má
apuração. Na TV tem um pouco mais de tempo, mas o que vai ao ar é a notícia verdadeira,
apurada, investigada. Por isso, é importante você ter a credibilidade, as pessoas sabem
que o que vai ao ar é verdadeiro.” O comentário feito no Jornal Local da TV Brasília é
mais informativo, quase se aproximando aos comentários específicos referentes à
economia ou política. A opinião aparece, mas se balanceia com a informação. Essa fala
da apresentadora reflete bem o estilo do telejornal, um comentário com dados adicionais
à notícia, que é escolhido e pensado anteriormente.
2.2.5 - Autonomia
Novamente houve confusão nas respostas dos entrevistados quanto a dois valores: a
liberdade de expressão e a autonomia, porém, esta última foi a mais citada. Todos os
profissionais garantiram ter liberdade em seus comentários, tanto de conteúdo quanto no
processo de elaboração, mas essa liberdade foi sempre vinculada à autonomia de falar
sobre o que eles desejassem e ao amparo da instituição. Mesmo a palavra liberdade
estando na pergunta eles não a citam nas respostas como liberdade de expressão, e sim,
como liberdade que a organização oferece a eles para a elaboração dos comentários e
incentivos.
“Por mais que a instituição tenha linha editorial de viés ideológico ou
político ela não consegue ter controle de tudo que é publicado, pois
existem muitas equipes envolvidas, é como se o poder da informação
seja mais difundido, do que a opinião de uma pessoa. Isso faz com que
se abra espaço para opiniões diferentes dento da empresa, mas não a
ponto de pluralismo de opiniões, por causa da linha editorial. A
amplitude desse espaço varia de instituição para instituição e depende
sempre da conjuntura política nacional” ( MELO, 1985, p. 94)
67
Por mais que os entrevistados tenham declarado terem total liberdade em seus
comentários e nenhuma represália de superiores, eles não estão livres da coerção de
empresa de seguirem seus padrões editoriais (MELO, 1985, p. 94). Pois, para as
jornalistas, Maria Júlia e Williane, a opinião que elas emitem é pessoal, mas com o
cuidado de não comprometer a emissora.
Giulianno afirmou que, em sua admissão, a Record deixou claro que estava à disposição
dele os advogados da instituição. Segundo ele, seus comentários são baseados nas
informações que ele tem acesso e, com essa proteção, ele teria a segurança de assumir
seus comentários. “Na reunião de contratação me falaram: ‘Você pode falar o que você
quiser, mas você tem que assumir com as responsabilidades’, tanto que os comentários
mais pesados e mais polêmicos eu faço questão de dizer que sai o apresentador Giulianno
Cartaxo, quero deixar claro que não é a opinião da emissora, é minha”. Giulianno, dessa
forma, se eximiria de assumir sua responsabilidade enquanto jornalista, pois se afasta da
profissão e do vínculo com a TV para se manifestar enquanto pessoa pública, inclusive
sobre temas que geram debates como menoridade penal, aborto e transporte pirata.
Williane Rodrigues declara que, ao emitir opinião no programa, se policia para não
mencionar nada que seja contra a linha editorial do SBT. “(Minha opinião) É mais
pessoal, claro que não vou ferir a linha editorial da TV, mas os assuntos normalmente
quando emito opinião são pessoais”. Ela diz que, de certa forma, existe até um incentivo
da TV para o comportamento mais parcial no jornal. “Como é uma emissora de
entretenimento, de proximidade grande com o público, além de ser jornalista você tem
que ser um comunicador e você tem que ter o público como seu aliado.”
Maria Júlia foi a única apresentadora em que o comentário era produzido por uma
equipe. Segundo ela, na reunião de pauta já são escolhidas as matérias que poderiam
render um comentário para aprofundar mais o assunto, e já se começa a pensar nele
naquele momento. “Ele é pensado antes, mas, claro, se você traz uma bagagem pessoal
sua e você está no ar e você assiste aquilo e de alguma forma aquilo mexe com você, você
pode comentar, mas é um comentário mais rápido, é uma forma de você se aproximar de
quem está em casa. Mas, o que fazemos mais é fazer uma análise antes, na reunião de
pauta nós analisamos, escolhemos o que seria legal aprofundar.” Apesar disso, ela
assegura que na TV Brasília tem muita liberdade para trabalhar, fato que, para ela, talvez
não ocorra em outras emissoras. “Aqui, a gente tem muita liberdade para trabalhar, se
expressar, colocar nossa opinião. Nesse sentido, temos liberdade aqui acho que melhor
68
do que teríamos em outros lugares, mas tudo com bom senso, sempre temos que pensar
nas consequências.”
Alexandre Garcia foi o único que afirmou nunca ter acordado ou conversado sobre essa
questão da liberdade que ele tem em seus comentários com a Globo. “Não posso nem
responder se me dá total liberdade porque não sei disso. Eu nunca negociei liberdade com
a Globo nem a Globo comigo, nunca falamos a respeito disso.”
2.2.6 - Liberdade de expressão
A questão da liberdade de expressão foi também confundida pelos entrevistados com
o sentido de ética, responsabilidade social. E, como citado no item anterior, eles
assumiram nunca terem sofrido qualquer tipo de represália em relação a seu pensamento.
Como eles próprios afirmam, não é possível agradar a todos quando se emite opinião,
mas que sempre foram respeitados pela empresa e pelo público.
Alexandre Garcia considera que a liberdade de expressão e a responsabilidade social
andam juntas, e que não há limites claros que as separem. Segundo ele, não há motivos
que cerceariam sua liberdade de realizar o comentário e de censura pré ou pós de seu
conteúdo. “Quem me tolheria a liberdade? Só a minha consciência”.
2.2.7 - Ética
Os apresentadores atestaram não ter nenhum tipo de censura da instituição nem antes
ou depois dos comentários no telejornal, pelo contrário. O papel que a ética jornalística
faria para cercear essa quase total autonomia dos profissionais é relativamente silenciada
nas entrevistas, apesar da palavra “ética” ser mencionada na pergunta, ela não aparece
nenhuma vez nas respostas de nenhum apresentador. Para os entrevistados, o que limita
o conteúdo das opiniões manifestadas ou a postura frente à câmera não é tanto o
compromisso com a comunidade de jornalistas ou com códigos de ética da profissão, mas
o engajamento com o público. É dado ao telespectador o poder de ser uma espécie de
medida do comentário do apresentador, até onde ele pode opinar, quais assuntos, qual a
linguagem utilizada. O público pode repreender o comentário do apresentador em
discussões na rua, na internet ou até mesmo ao mudar de canal, afetando a audiência das
69
emissoras. Ou seja, a ética também se tornou relativa a necessidades de mercado das
empresas.
Os códigos de ética, importantes por legitimarem o papel social da profissão e
reafirmarem a objetividade e compromisso com a verdade do jornalismo, ficaram em
segundo plano, pois esse papel agora é protagonizado pelo público. Dessa forma alguns
aspectos que regem o jornalismo enquanto profissão ficam prejudicados, como a
regulação das relações com fontes, outros jornalistas e patrões, os deveres e direitos do
jornalista (KARAM, 1997; DEUZE, 2005).
Alexandre Garcia explica que o retorno das pessoas seria feito por meio da avaliação
de seu comentário. “Esse retorno é uma medida, é um termômetro do caminho que eu
sigo”. Segundo Garcia, as avaliações são positivas: “O maior elogio que eu escuto na rua
é: ‘Nossa, você é nosso porta-voz, fala o que a gente gostaria de dizer’. Bom, então eu
estou acertando, pelo menos estou com a maioria”.
Williane também é adepta de que todos já têm um posicionamento sobre o fato, e que
o comentário que ela profere não é influenciador, e que, por enquanto, não teve maiores
problemas. “Dando opinião você vai agradar algumas pessoas e desagradar outras. Como
tudo na vida tem um lado positivo e um negativo, enquanto o lado positivo estiver
ganhando, beleza.”
Em relação aos limites do comentário, Maria Júlia esclarece que conjunturas que
exponham o telespectador, ela mesma, ou a organização a situações desfavorável são
dispensadas. “Claro que depende muito do bom senso de quem vai falar e do que vai falar,
porque, às vezes, a pessoa emite uma opinião que expõe ela ao ridículo, então não é legal,
ou expõe a empresa. Então você tem que ter respeito pela sua imagem, pela imagem da
empresa que você trabalha e também por quem está em casa.” Williane compartilha do
mesmo princípio: “Eu acho válida a opinião até o ponto que não agrida ninguém”. Nesses
discursos a ética se confunde a responsabilidade social pelo fato do público ser o foco.
Em certos momentos, Giulianno Cartaxo, inclusive, se posiciona frente a temas
polêmicos e faz questão de declarar que se afasta do jornalista para dar as declarações de
opinião pessoal, como já foi discutido anteriormente. Decidimos voltar a esta resposta
pois, aqui, ele deixa claro que se utiliza de uma linguagem repudiada pelo jornalismo mas
que passa a ser legitimada pela audiência, pela justificativa de que o público concorda
com a maioria de suas opiniões: “Quando eu falo que não existe menor assassino ou maior
70
assassino, existe assassino, o cidadão, já tem a consciência disso, tanto que o Congresso
já discute a maioridade penal ou penas mais pesadas para corrupção de menor.” Mas
existe uma exceção na opinião dele: “Eu me recuso a comentar política no ar, deixo o
telespectador formar a opinião dele sobre isso, até para não gerar qualquer tipo de
tendência.”
Ainda em relação a temas que dividem opiniões na sociedade, Alexandre Garcia diz
que prefere não se manifestar, já que o assunto não está sendo debatido da melhor forma
e isso poderia causar problemas desnecessários. “Temas polêmicos como aborto,
maconha, homossexualismo, raça, cor, isso está sendo tratado aqui no Brasil
emocionalmente, então não vou entrar. Eu vou ficar no racional.”
Williane também concorda que não é necessário se manifestar sobre certas questões que
causem controvérsias. “A ideia não é gerar polêmica. A questão de se dispor a favor ou
contra sobre descriminalização de algumas drogas, por exemplo, se o jornalista tiver uma
opinião, é o tipo de coisa que não vale a pena falar, não vai mudar a vida, não vai fazer
diferença, ele só vai se expor. Política, por exemplo, porque você vai se indispor com
coisas que não valem a pena. Em questões muito polêmicas tem que tomar muito
cuidado.”
2.3 – Considerações Finais
Adequações na ideologia foram encontradas na perspectiva da maioria dos
apresentadores. Para eles, os propósitos da responsabilidade social e do serviço público
do jornalismo atuam juntos, quase não se distinguindo, fato que proporcionou que a
coletividade ficasse à cima dos fatos. Os critérios da imparcialidade e objetividade
ficaram em segundo plano, enquanto a autonomia foi confundida com liberdade de
expressão e a ética relativizada.
Pelos relatos dos apresentadores, percebemos que alguns conceitos da ideologia
profissional tomaram maior destaque frente a outros, como a responsabilidade social,
serviço público e autonomia, bem discutidos e ressaltados pela maioria dos entrevistados.
Outros foram relativizados em prol dos valores já citados ou por questões
mercadológicas. Foi o caso d a imparcialidade, a objetividade e ética. A liberdade de
expressão foi esquecida, se confundindo com aspectos da autonomia e do serviço público.
71
A maioria dos apresentadores afirmou que esse tipo de telejornal não é novo, mas
pode se tornar cada vez mais frequente pela concorrência mercadológica com outras
emissoras, pela disputa de atenção da audiência com a internet, que possibilita maior
interação e rapidez de conteúdo, e por ser uma exigência dos telespectadores, “que
querem ouvir suas vozes na TV”, se sentirem representados, e ouvirem cada vez mais
opiniões para embasarem seu próprio posicionamento frente à notícias do cotidiano.
Na visão dos entrevistados, o brasileiro está mais disponível ao debate, quer de fato
estabelecer uma comunicação com o telejornal, se sentir representado e ao mesmo tempo
opinar, recriminar ou elogiar. Os apresentadores veem isso com bons olhos, essa
aproximação da sociedade, por motivos de satisfação profissional, mas de mercado
também.
A responsabilidade social e o serviço social foram usados para justificar o uso da
opinião do jornal e do jornalista. Ao mesmo tempo, os entrevistados se contradizem em
alguns momentos, como Williane, ao afirmar que é humana e não vê mal em comentar, e
Giulianno, que ao mencionar o desagrado de o espectador mudar de canal ao assistir o
DF no Ar da Record. Eles colocam a responsabilidade social da profissão de lado, de certa
forma.
Em resumo: enquanto o jornalista se sente mais próximo do público, o público se sente
mais representado e isso beneficiaria os dois lados.
2.3.1 - Aproximação com a internet
A internet foi apontada como uma causadora desse jornalismo mais comentado na
televisão. Três, dos quatro entrevistados citaram a web como fonte de notícias rápidas e
de maior interação do jornalismo com o cidadão, formando, desse modo, pessoas mais
críticas e melhor informadas. Por consequência, os apresentadores atribuíram as
mudanças no telejornalismo às novas exigências desse público mais analista e da
concorrência de mercado com a rede mundial de computadores.
“O telespectador cansou de ficar vendo aquela coisa chata, aquele jornal quadrado, ele
quer bater papo, quer conversar com você. Essa linguagem informal de conversar com o
telespectador já é uma tentativa de aproximar a televisão, não perder tanta audiência assim
72
para a internet”, é o que afirma Giulianno Cartaxo. Para o jornalista, a internet é
importante, pois abre espaço para a manifestação de pensamento de todos, mas que a TV
não perderá espaço. “Hoje, todo mundo acha que é jornalista, todo mundo acha que pode
escrever. Isso é legal, porque democratiza a informação, mas a televisão ainda tem um
papel muito importante na disseminação da notícia.” Ele complementa que é privilegiado
de poder trabalhar emitindo sua opinião e representar moradores do DF e Entorno. “São
4 milhões de pessoas que precisam de alguém para falar pra eles, e é isso que eu tento
fazer.”
“Acho que você se aproxima mais porque as pessoas estão mais participativas da
notícia. Eu não sei se a TV está tentando se adaptar para não perder espaço. Mas, com
certeza, a internet mudou o jeito das pessoas, o jeito que elas reagem à notícia era um há
anos atrás, hoje é diferente. As pessoas querem mais informação, querem participar mais,
são mais críticas” confessa Maria Júlia sobre o desejo da população de participar e exigir
mais do telejornal.
Para Williane, a televisão perdeu espaço para a internet mas ainda tem espaço. “Eu acho
que perdeu muito para a internet, com essas informações rápidas, mas acho que ainda tem
seu espaço sim.”
Alexandre foi o único dos entrevistados a não mencionar a internet como causa desses
novos telejornais comentados, ou que haja uma concorrência da televisão com outros
meios. Quando questionado se a maior quantidade de comentários no telejornal era uma
tendência ele mencionou que alguns canais já fazem isso como a Globo News e CNN.
Sobre a adaptação que os telejornais fizeram para tentar a interatividade com o público,
o DFTV, que Alexandre Garcia já apresentou e atualmente é comentarista, possui
quadros em que o telespectador envia vídeos próprios, como o “Sem noção”, Giulianno,
do DF no Ar, administra cinco perfis em redes sociais e, durante o jornal, gosta de mandar
recados para o público, além de ter um blog pessoal, e o Jornal Local, de Maria Júlia, tem
um número de Whatsapp, que qualquer um pode adicionar, pois ele é divulgado enquanto
o jornal está no ar, e que o telespectador enviar mensagens, vídeos, fotos, pautas e
informações, é um contato direto com a equipe do jornal, e o SBT Brasília, de Williane,
também possui número de celular com o aplicativo de mensagens Whatsapp para receber
sugestões e pautas e manter o contato com o público.
73
Conclusão
No nascimento do mito do Quarto Poder que a imprensa representava na sociedade,
se pensava que a opinião pública era comandada pelo que os jornalistas escreviam, tanto
para representá-los, como para os ajudar a refletir sobre o Estado. Os representantes,
porém, achavam que a imprensa era um elo que podia ser benéfico mas que acabou por
andar com as próprias pernas e manipular como bem queria a população. Esse
pensamento se refletiu também na chegada da tecnologia para aprimoramento do rádio,
da televisão e do cinema, alcançando um maior público, surgindo então a teoria da cultura
de massa. A comunicação continuou a ser acusada de massificar a opinião dos indivíduos,
os tornando acríticos e manipuláveis. Mas, por estudos de teóricos dos Estados Unidos,
como Lazarsfeld, Merton e Katz, os pensamentos em relação aos veículos de
comunicação mudaram, agora eles eram definidos como instrumentos da informação
apenas. Claro que, alguns veículos, conversam com seu público de maneira específica e
já orientada da linha editorial da empresa, mas não podemos afirmar que há uma
subordinação à Opinião Pública, formada hoje pela atividade social de grupos que atuam
na sociedade. (MELO 1971).
Mas não se pode negar a importância da mídia na formação da agenda pública da
sociedade, e que com o avanço cada vez mais promissor da tecnologia o acesso à
informação por diversos veículos se tornou maior. Portanto, as pessoas que controlam os
veículos midiáticos têm grande poder pois tomam decisões políticas, sociais e
econômicas, e dão espaços públicos a pessoas que ao emitir juízos e valores podem
influenciar a opinião do receptor ou do grupo ao qual eles se referem. Essas pessoas são
‘formadoras de opinião’, a exemplo de intelectuais, professores, líderes de classes,
empresário e os próprios jornalistas. (CRUZ 2011).
A Teoria dos Efeitos Limitados, proposta por Lazarsfeld, afirma que os meios de
comunicação de massa podem sim influenciar a opinião de seus receptores, mas ao
mesmo tempo, os indivíduos filtram essa informação, limitando seus efeitos. O jornalista
italiano Mino Carta, entrevistado do livro ‘Jornalistas-Intelectuais no Brasil’, de Fábio
Pereira, afirma que o profissional do jornalismo não pode impor um pensamento à
sociedade, ele tem a função apenas de auxiliar.
74
“O jornalista deveria ser a pessoa que ensina a sociedade a pensar,
que lhe dá elementos para pensar [...]. Para isso, a imprensa
precisa ser muito mais equilibrada, as pessoas menos
partidarizadas - politizadas, sim - para que, mesmo uma coluna
opinada, fosse mais abrangente e não o reflexo de uma posição
política.” (PEREIRA, 2011, p. 49).
O jornalista Carlos Chagas também expõe sua opinião sobre o jornalista influenciar
na opinião do indivíduo sobre alguma questão.
“Formadores coisa nenhuma, nós somos ‘informadores’, quem se
forma é a própria sociedade. A imprensa deve apenas informar, e
também prestar serviços, servir para a publicidade e tudo. Mas a
função principal da mídia é informar a sociedade [...]. A imprensa
perdeu um pouco o senso de que era um serviço da sociedade,
para informar a sociedade, para passar a ser delegado, juiz,
promotor, carrasco.” (PEREIRA, 2011, p. 48).
O jornalismo surgiu pela necessidade básica do ser humano de saciar a necessidade de
se informar sobre o que acontece a sua volta. Do século XV existem os primeiros
registros, folhetos, avisos e gazetas nas cidades europeias dos primórdios da profissão. E,
então, o jornalismo cresce com a necessidade do crescimento pela informação. As
mudanças da sociedade ao longo dos séculos, fizeram com que, proporcionalmente, o
jornalismo se profissionalizasse e desenvolvesse, se adaptando para servir da melhor
maneias as sociedades as quais ele está inserido (MELO, 1985). Códigos, associações e
outras representações se firmaram para estipular deveres e direitos aos jornalistas, que,
junto a outras Declarações e acordos garantem o direito de informação e a liberdade de
expressão do cidadão, por exemplo. A opinião também esteve presente desde muito cedo
no jornalismo, antes de sua profissionalização, inclusive, quando artista ou cidadãos de
todas as áreas escreviam opiniões, comentários, pensamentos, que circulavam as cidades.
Pois a necessidade de expressão também é inerente ao ser humano.
O jornalismo não tem sentido se não alcançar o maior número de pessoas. E, para
tanto, ele tem se reinventado ao longo dos anos na tentativa de se aproximar cada vez
mais da linguagem de seus diferenciados públicos. Desde a criação do penny press, em
75
1836, na França, em que o jornal era vendido a centavos na tentativa de fazer com que
mais pessoas pudessem comprá-lo e ter acesso às notícias, o jornalismo almeja alcançar
a todos, de diferentes formas, com diferentes veículos. O jornalismo é um espaço
democrático, ou ao menos tenta ser, que cada indivíduo busca ser contemplado e
representado pelo que passa na TV, no rádio ou no impresso. (TRAQUINA 2005).
A tecnologia sempre foi uma aliada dos meios de comunicação, pois a cada novo
aperfeiçoamento de aparelhos e dispositivos, a aproximação do público com a notícia se
amplificou. Da prensa de Gutenberg à popularização da internet, o modo como as pessoas
recebem a notícia se transformou, e o jornalismo, por sua vez, teve de se adaptar. Pela
web, os conteúdos do rádio, da TV e do impresso puderam ser encontrados em um só
espaço: nos portais de notícia, e acessados de qualquer lugar que tenha rede, a qualquer
momento. E, enquanto no impresso o público podia participar do jornal somente com
cartas e telefonemas, assim como na TV e no rádio, e com a internet, o público pode
sugerir, comentar e opinar sobre notícias, programas, enviar sugestões de pautas, criar
discussões, criticar de forma mais rápida, exigir de forma mais direta, gerar uma maior
repercussão. A comunicação entre os veículos e o público se tornou mais ágil e efetiva,
com os dois lados sendo emissores e receptores de informação e opinião.
A comunicação atual tem nova abertura para esses novos produtores, pauteros,
diretores, que são os telespectadores. O monopólio das notícias, antes da imprensa, agora
se ampliou significativamente. Hoje, há uma ressignificação do público e de sua
importância. “O potencial participativo da audiência começa a ser percebido pelos mass
media tradicionais, o que os obriga a repensar as práticas vigentes, intentando permanecer
relevante na mente dos indivíduos” (SANTOS, 2014, p. 85).
O jornalismo não poderia mudar somente de mídia. A linguagem teve de mudar, junto
com a postura das empresas, dos jornalistas, mas sem trocar a essência da profissão,
aquilo que nenhuma outra ocupação pode oferecer e que torna o jornalismo uma
profissão, oferecer os fatos, as verdades que interessam ao cidadão saber, cidadão esse
que legitima o jornalista a ser seus olhos para alcançar os lugares e as pessoas que ele não
conhece, não tem acesso.
A opinião do telejornalismo não é um fenômeno novo, mas se modificou, e, em especial,
na TV brasileira, está se redescobrindo. Conforme os resultados desta pesquisa, o
76
telejornalismo mais comentado é uma exigência desse novo público, adaptado à
convergência de mídias, à interatividade da internet.
Sobre as perspectivas do telejornalismo brasileiro, Temer (2010) dá suas apostas, de
que, pelo avanço tecnológico, a participação do telespectador será maior, por meios de
imagens, opiniões, mas essa interatividade será de certa forma ‘restrita’ e estereotipada.
Por essa maior participação, em especial nas transmissoras locais a função do telejornal
será majoritariamente de prestação de serviço, assim como ocorreu no rádio. O jornal
também será cada vez mais visto em outros meios, como internet, e deixar de ser assistido
somente na TV. “Mais do que nunca o telejornalismo será a representação fabricada do
real, com efeitos especiais cada vez mais especiais, no qual o telespectador irá se sentir
“parte” do processo (ou parte da sociedade) por meio da interação entre a televisão,
internet e telefonia”.
A autora acerta, já que os telejornais aqui estudados possuem quadros específicos para
a participação do telespectador, como o DFTV e o DF no Ar. Em relação ao serviço
público do jornalismo também é uma verdade, já que, pela conclusão das entrevistas neste
trabalho, a maior justificativa para os comentários dos apresentadores no programa, de
acordo com eles, foi um pedido do público para que o jornalista defendesse de maneira
mais “humana” e cidadã, os interesses da comunidade deixando de lado a imparcialidade
da profissão, que percebemos, ficou em segundo plano. Os entrevistados afirmaram que
seus comentários convergiam na maior parte das vezes com a opinião do público, fazendo
disso um fator de satisfação dele, que se sente maior representado, defendido.
Para Pavlik (2005), os meios de comunicação estão transformando o jornalismo de
quatro maneiras.
En primer lugar, el carácter del contenido de las noticias está
cambiando inexorablemente como consecuencia de las
tecnologías de los nuevos medios que están surgiendo. En
segundo lugar, en la era digital se reorganiza el modo en que
ejercen su trabajo los periodistas. En tercer lugar, la estructura de
la redacción y de la industria informativa sufre una
transformación radical. Y, por último, los nuevos medios están
provocando una redefinición de las relaciones entre las empresas
77
informativas, los periodistas y sus diversos destinatarios, que
comprenden a audiencia, fuentes, competidores, publicitarios y
gobiernos. (2005).
Apesar de não termos trabalhado com o conteúdo das notícias, os outros aspectos
correspondem a análise da pesquisa, visto que, os jornalistas relataram mudanças na
reunião de pauta, no espelho do jornal, no acompanhamento das notícias, na apresentação
do jornal, todos esses fatores sendo modificados pela atuação do público, e com
consequências da internet também.
Com os resultados da pesquisa, concluo que estamos numa nova fase do jornalismo
brasileiro em que o telejornal está mais interativo com outras mídias mas, principalmente,
com quem sempre o acompanhou, o telespectador. O público é um repórter a mais na rua,
na reunião de pauta, é um cinegrafista a mais, um diretor a mais. O público reclamou e
conquistou esse lugar privilegiado e o telejornal mudou, assim como, a postura de seus
apresentadores. Os jornalistas desta pesquisa afirmaram ser tendência os apresentadores
adotarem uma postura mais conversada com o telespectador para que cada vez mais ele
se sinta participante do telejornal, e sinta que a distância entre o glamour, proporcionado
pelo veículo TV e pelo jornalismo, esteja cada vez mais curta. Esse quase diálogo com o
telespectador que o apresentador proporciona não entra no mérito de questões polêmicas
ou divergentes, ao menos na maioria das vezes é uma opinião senso comum, por questões
de aceitação melhor do público e questões mercadológicas como apontado nas respostas,
ele pode mudar de canal a qualquer momento se não concordar, ou ir para a internet. E
dessa forma, quem acaba por regular os comentários é o público e índices de mercado,
como audiência, que mostram até que ponto o jornalista pode emitir sua opinião pessoal.
A maior parte dos apresentadores crê que os comentários no telejornalismo são uma
tendência mundial que chega ao Brasil com uma boa aceitação do público, mas que o
estilo não é novidade. E esse novo comentário, que não é específico a um jornalista ou
especialista, mais casual e livre feito pelo próprio apresentador, por vezes até sentimental,
se esquivando de conceitos ideológicos do jornalismo, como imparcialidade e ética, foi
constatado que é vantajoso para os dois lados que se nutrem e se valem da informação: o
jornalista/emissora e o público.
78
Tendência
A visão da apresentadora do SBT, Williane Rodrigues, é de que essa nova linguagem
opinativa no telejornalismo brasileiro aproxima o apresentador do telespectador,
facilitando a relação de representação que um exerce no outro. “Tem gente que concorda
e gente que discorda, mas o jornalismo, não totalmente comentado, mas de mudar a
linguagem para que o telespectador se sinta mais próximo, é tendência.” Para ela, essa
ligação que se forma é benéfica aos dois lados, mesmo que afete os ideais da profissão.
“Porque, querendo ou não, você colocando o texto de uma forma parcial ou menos
imparcial é uma conversa com o telespectador. Isso pode dar conotação de que ele
(jornalista) não está sendo ético, mas a tendência é que você traga o telespectador para
perto de você, como se fosse um bate-papo. A televisão é muito de você cativar o
telespectador e fazer com que ele te olhe como um amigo que você possa conversar com
ele.” Williane é defensora de que o comentário humaniza o jornalista, e esse é um fator
de maior correspondência entre os dois. “Dar opinião é mostrar que você é humano que
você também se indigna. Tem questões que são senso comum. A tendência é transformar
o telejornal mais coloquial.”
Maria Júlia considera que o comentário faz o jornal se aproximar das pessoas. “Não
sei te dizer se é uma regra, se todos vão aderir a isso, mas acho que é uma tendência.” E
endossa que a internet tem papel fundamental nisso.
Alexandre Garcia destoou dos outros jornalistas por não acreditar numa possível moda
desse estilo de apresentação, visto que o telejornal mais assistido do país ainda possui
formato tradicional de bancada. “Eu não arriscaria dizer isso, uma vez que o Jornal
Nacional continua no hard news.” Ele lembra que no jornalismo norte-americano, Walter
Cronkite, âncora da CBS News por 19 anos, já se expressava, mesmo que de forma
contida. “Dizem que observavam a sobrancelha dele, quando levantava já valia por um
comentário, era uma crítica a notícia que ele estava lendo, então isso começou a atrair as
pessoas. Hoje, a CNN e todos os correspondentes no exterior dão os fatos e dão opiniões
também.”
Giulianno também lembra que o formato não é novidade. “É uma tendência mundial e
você fazer esse jornalismo mais conversado, mais próximo ao cidadão é só você assistir
cinco minutos da CNN latina, o próprio jornalismo inglês que sempre foi mais sisudo, a
79
SBS ou qualquer outra emissora, você vai perceber que aquele modelo quadrado aos
poucos vai perdendo espaço.” Ele admite que a repetição desse modelo no Brasil pode se
dar, não somente pelo apelo das pessoas, mas também dos próprios jornalistas, que
sentem a necessidade de opinar igualmente. “O jornalista quer dar opinião, o apresentador
quer mostrar como ele é e quer dar a sua cara para o telejornal, mas no caso, algumas
vezes, o formato do jornal não permite.”
80
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novembro de 2014
88
Anexo
Entrevistas decupadas
Alexandre Garcia (Jonal DFTV, Rede Globo)
1) Você considera que o telejornal ainda é um importante veículo de informação
para a população? Por que?
Num país que tem um percentual altíssimo de analfabetos funcionais, ou seja, gente
que não lê jornal, que não lê revista, não não lê livros, que não lê, enfim, a TV e o rádio
são os meios mais eficazes de fazer chegar as noticias e as opiniões. O telejornal, ainda
mais que vem entre novelas, eu acho que as pessoas que tem menos amor aos livros tem
mais amor às novelas. Sim, é um meio muito importante de levar a notícia e a opinião,
eventualmente.
2) Falando especificamente do telejornal local DFTV, há quanto tempo você
apresenta e comenta no jornal?
Agora sou comentarista do DFTV, fica claro que é minha opinião, não é um repórter
que está falando. Não interessa a opinião do repórter, tem ficar separado claramente como
fica nos jornais, a página de opinião, onde estão os editoriais, os artigos, e as páginas de
noticia. Na televisão é a mesma coisa. O apresentado típico Jornal Nacional que só dá
notícia, até já teve opinião uma época, acho que o Jabor, talvez, o Franklin Martins, mas
acho que caía a audiência quando acontecia isso, o público do JN não quer saber de
opiniões rebuscadas dos fatos, quer saber só dos fatos. Eu era comentarista do jornal local,
lá pelo ano 2000, talvez, me convidaram para fazer dupla com uma apresentadora e eu
fiquei apesentando e agindo como um âncora, que não é meramente um apresentador, é
um apresentador que comenta a noticia, que interpreta a notícia. Sempre procurei
interpretar a noticia, para possibilitar que o telespectador tenha mais elementos para
chegar a uma conclusão. Eu fazia isso, mas, claramente misturava. Não era em todas as
notícias, eu escolhia um tema mais polêmico, mais controvertido do telejornal, e depois
de apresentar a reportagem voltava para mim, e eu até pedia que fosse em outro plano,
fechado, em outra câmera, para mostrar que era uma coisa pessoal da opinião do âncora.
3) Essa opinião que você emitia já era pensada anteriormente ou você tinha a
liberdade de fazer ela ao vivo, na hora?
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Às vezes era na hora, quem me tolheria a liberdade? Só a minha consciência. Às vezes
era na hora, outras vezes eu ia na cabina de edição dar uma olhada, conversava com o
repórter para saber mais circunstâncias dos fatos, alguma coisa que não ia entrar na
reportagem, me valia de outros fatos para fazer o comentário. Às vezes não, era quase
uma interjeição, quase emocional, depois de ver um padrasto espancando um bebê, eu
entrava com uma opinião feita na hora, condenado.
4) E você pensava no impacto que sua opinião poderia causar no público?
Não, eu não buscava impacto. O que procuro fazer é tentar, pelo conhecimento de
Brasília, dos telespectadores do jornal, do feedback do jornal, procurar traduzir a posição
da maioria, da voz corrente, da opinião média do público.
5) Então não entraria em temas polêmicos que dividem a sociedade?
Temas polêmicos como aborto, maconha, homosexualismo, raça, cor, isso está sendo
tratado aqui no Brasil emocionalmente, então não vou entrar. Eu vou ficar no racional.
Não vou dizer lá no campus da UnB, eu vou fazer o centro de convivência branca, vão
me chamar de racista, facista, mas tem um centro de convivência negra, mas não vou
entrar nessa porque vou criar uma polêmica, embora seja racional esse tipo de conclusão.
6) Qual a importância você acha para o jornalista emitir sua opinião?
Depende, não dá para generalizar. Tenho 40 anos de jornalismo, passei a emitir opinião
com 20 anos de jornalismo, no mínimo. Primeiro eu fui repórter, repórter não tem opinião,
repórter não omite opinião, tem que se ater aos fatos. Quando eu comecei a trabalhar no
exterior, na Argentina, na morte do Perón, eu comecei a pegar o elemento emoção, mais
ainda não opinião, mas já comecei a faze análises da política Argentina da época, mas
não era opinião nunca. Uma única vez eu ousei escrever em primeira pessoa quando eu
fui sequestrado pelos montoneros, aí eles me pediram para escrever em primeira pessoa.
Eu pensei que estava cometendo um sacrilégio. Aí começou a quebrar essa coisa. Depois
sendo comentarista desde 89 nas eleições na rede, comentando resultados. Mas como sou
conhecido como comentarista talvez ao apresentar uma notícia eu coloque uma pitada de
comentário.
7) Você acha que é importante os telejornais serem mais comentados, mais
conversados?
Acho que seja interessante para audiência, as pessoas cada vez mais estão querendo
ouvir a opinião do fulano. Parece que as pessoa gostam, querem ouvir aquilo que elas
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gostariam de dizer. O maior elogio que eu escuto na rua é: “Nossa, você é nosso porta-
voz, fala o que a gente gostaria de dizer.” Bom, então eu estou acertando, pelo menos
estou com a maioria.
8) Você acha que é uma tendência do jornalismo no Brasil?
Eu não arriscaria dizer isso, uma vez que o Jornal Nacinal continua no hard news, só
a notícia, já a Globo News mistura e convida comentaristas que discutem. Nos Estados
Unidos, desde há muito tempo Walter Cronkite, âncora da CBS News, dizem que
observavam a sombrancelha dele, quando levantava já valia por um comentário, era uma
crítica a notícia que ele estava lendo, então isso começou a atrair as pessoas. Hoje, a CNN
e todos os correspondentes no exterior dão os fato e dão opiniões também. Agora tem que
ter muito cuidado ao dar a opinião, a pessoa que dá opinião tem que ser muito bem
informada para não dizer bobagem na televisão, cometer um sacrilégio qualquer, dizer
uma besteira. Tem que ter uma boa bagagem intelectual para poder fazer comentário.
9) E qual seria mais ou menos esse limite entre sua liberdade de expressão e sua
responsabilidade social como jornalista?
Eu acho que as duas coisas estão juntas. Tem acontecido coisas que me supreendem
de separação de opinião e de fato. E de opinião não por qualquer coisinha, opinião por
alguma coisa que seja controvertida.
10) Você se considera um formador de opinião?
Muita gente diz que eu sou, mas eu não trabalho para isso.
11) Mas a profissão de jornalista, o jornalista é um formador de opinião?
É, porque é uma pessoa que está principalmente na televisão, como ele utilizou o meio,
como dizia Marshal McLuhan, o meio é a mensagem, usou o meio televisão, o meio
ajudou a potencializar a mensagem.
12) Você acha que o público agora está mais crítico agora ao que vê na televisão?
Não, eu acho que, infelizmente, eu preferia que o público fosse mais crítico. Mas o
público que é critico é minoria no país. Outro dia eu vi uma estatística de que 35% dos
estudantes universitários são analfabetos funcionais. Por que? Porque não sabem ler,
91
porque não sabem escrever uma carta, porque não sabem montar uma frase. Então, porque
eu vou querer das pessoas que são semi-alfabetizadas que estão vendo televisão recebem
tudo passivamente, é o que eu costumo dizer, a televisão vem tudo a cores, já vem tudo
pronto, o telespectador não precisa pensar, só recebe. Já no livro não, no livro o leitor vira
co-autor, vira cúmplice do autor e ele que faz as imagens, quem está lendo que faz as
imagens que o autor está tentando descrever. Na televisão vem tudo pronto então a
tendência de uma preguiça mental o sujeito já está talvez sentado no sofá cansado de um
dia inteiro, de repente alguém abre uma cerveja uma cachaça, não está querendo nem
discutir o assunto. Eu imagino que grande parte das pessoas que assistiram o horário
eleitoral na televisão, ele está dizendo uma pilha de mentiras mas não tem a crítica não
tem a reação e tudo isso é falta de um ensino eficaz fundamental, médio e superior, falta
tudo. Das duzentas universidades melhores do mundo, não tem nenhuma brasileira.
13) Como comentarista a tantos anos você gostaria de contar alguma história
marcante?
Como comentarista, não é um momento, é um cotidiano. Se eu vou para o aeroporto,
se entro no avião, se frequento um shopping, as pessoas me passam para dizer que têm
ouvido meus comentários, o que eu falei, “ah, você é nosso porta-voz, ainda bem que
você diz as coisa que a mim ninguém vai ouvir e você disse por mim, obrigada”. E como
eu falo em duzentas e quarentas emissoras de rádio todos os dias, porque no rádio sou
comentarista também, pego os grandes fatos do dia para comentar no dia seguinte de
manhã, esse retorno é uma medida, é um termômetro do caminho que eu sigo.
14) A Globo te dá total liberdade de fazer os comentários que você quer? Você já teve
problemas com algum comentário com o público?
Não posso nem responder se me dá total liberdade porque não sei disso. Eu nunca
negociei liberdade com a Globo nem a Globo comigo, nunca falamos a respeito disso. Eu
tive problema com um político, Ernesto Esquerza. Ele me processou por causa de um
comentário no Bom Dia Brasil. O Itamar Franco era presidente da República e anunciou
que ia ter um encontro acho que era governador Ernesto Esquerza, e eu comentei isso e
disse que ia falar sobre a corrupção endêmica que graça no país, e eu falei: “para que lado
estará olhando o presidente”. Aí ele me processou, mas retirou o processo depois.
Williane Rodrigues (SBT Brasília, SBT)
1) Você ancora o jornal/programa?
92
Eu posso dizer que sou a âncora, mas apesar de que esse termo meio antigo, mas
ancoro o jornal. Mas tem um editor-chefe, faço parte da equipe, edito também. Tenho a
maior liberdade para mudar as cabeças. Agora, como nosso jornal tem muita opinião,
muita coisa depende de mim, depende do que eu quero falar do que eu acho pertinente
falar ou não, então é um trabalho de toda a equipe.
2) E por que chamar de programa e não de jornal?
Pois é, na verdade, para o telespectador é um jornal porque basicamente ele tem
notícias. Tem de tudo um pouco tem, 80% é crime, mas tem prestação de serviços, tem
pautas culturais, são poucas, mas tem, de tudo um pouco. Para mim, é um jornal, mas
apresentado de uma forma diferente, de uma forma mais leve, não é aquela coisa sisuda.
Eu sou jornalista, mas tem muita coisa da Williane ali mesmo, a Williane ser humano, a
pessoa, então tem muito de mim ali dentro. Por isso a gente coloca a opinião também. A
gente não chama jornal SBT Brasília, é só SBT Brasília, justamente porque o programa é
mais livre e mais leve do que o jornalismo convencional, aquela coisa de ser imparcial e
tudo mais. O programa te permite fazer, por exemplo, merchandising, o que eu faço em
alguns dias, e no jornalismo não é permitido. Como ele abre um leque maior de
possibilidades, ele é hoje considerado programa, apesar de que para o público não existe
essa diferença muito grande, para o público é um jornal que tem mechan, mais leve e que
tem opinião.
3) Você considera que o telejornal ainda é um importante veículo de informação para
a população? Por que?
Eu acho que é muito importante. Nessa era da internet, da informação rápida e tudo o
mais, o impresso perde espaço e, às vezes, até a televisão, mas eu acho que a TV é um
veículo importante também. A internet tem imagens, tem, mas a TV ainda tem um
fascínio. É uma informação passada de foma rápida, você acaba passando matérias curtas
que a te informam de forma rápida, não é como o impresso. Acho que cada veículo tem
sua peculiaridade e sua importância. A internet é importante porque ela te passa a
informação de foma rápida, mas não necessariamente correta, porque, muitas vezes, não
tem muito tempo para apurar, mas você recebe a informação rapidamente, às vezes, mais
rápido do que o rádio, que é um veículo que te informa o tempo inteiro do que acontece
na hora. A TV tem sua importância, como o impresso. O impresso é diferente porque te
informa mais profundamente, diferente do que não acontece, por exemplo, na televisão.
Uma matéria que a gente coloca no ar de um minuto e meio, no impresso você aprofunda.
A televisão é legal, ela tem a parte da informação mas tem tem a parte do entretenimento
também. Voltando para o telejornalismo, eu acho que perdeu muito para a internet, com
essas informações rápidas, mas acho que ainda tem seu espaço sim.
93
4) Com que frequência você costuma fazer comentários no telejornal? Como você
decide quando e como comentar, é anterior ou você faz na hora?
As duas coisas. Eu sei o que vai ao ar, dificilmente acontece de uma matéria entrar de
última hora, mas acontece. Essa decisão se dá da seguinte forma, como eu sei o teor das
matérias, eu sei se aquele assunto rende um comentário ou não. Normalmente eu tento
planejar, mas não necessariamente ocorre como o planejado. Às vezes, eu assisto a
matéria no ar e, às vezes, que muitas vezes não dá tempo de assistir e dependendo do fato
me traz uma indignação muito grande do que eu to assistindo e acaba que o comentário
sai de uma forma diferente do que eu tinha planejado ou comento uma que não tinha
planejado, então é muito livre esse processo. Se eu tiver vontade de comentar na hora eu
comento, mas muitas vezes quando o assunto já é previsto ou polêmico ou que uma
opinião eu tento planejar, busco dados inclusive sobre aquele assunto que possa
complementar, que é uma informação a mais para o telespectador. Acaba que muitas
vezes o comentário é planejado e às vezes não, então essa liberdade é boa.
5) Como você falou que apesar do SBT chamar de programa, mas o público não
consegue fazer essa diferenciação de jornal e programa já que tem um conteúdo
bem parecido, você não acha que sua opinião pode influenciar no imaginário do
público?
Eu acho que tudo influencia, o fato em si da matéria influencia. Eu acho válida a
opinião até o ponto que não agrida ninguém. E essa questão de influenciar ou não, a
pessoa que está em casa já tem uma opinião, aconteceu a matéria, ela já tem aquela
opinião, ou a favor ou contra. O fato de eu expressar minha opinião depois, só se minha
opinião for muito convincente para poder mudar a opinião de quem está em casa, e, nesse
sentido, eu acho que é positivo. Por exemplo eu tenho uma opinião ‘x’ e a pessoa tem
uma opinião ‘y’. Quando termina a matéria, ela vê minha opinião e fala, “ah, eu concordo
com ela”. Influenciei? Influenciei. De forma positiva? Acho que sim, pode ser que sim
ou não, não vai mudar a vida da pessoa a ponto de ela fazer alguma coisa negativa. Pode
influenciar assim, sua conversa com uma amiga pode influenciar. Porque ali estou
emitindo minha opinião, esto sendo humana, esto dizendo o que acho, e não vejo mal
nenhum com isso. Hoje em dia, o caminho está sendo mais pra esse rumo, ser mais parcial
porque essa questão da imparcialidade é bem polêmica, porque, na verdade, o que que é
a imparcialidade? Nós somos seres humanos, nós temos uma visão daquilo que acontece.
Será que é possível ser parcial realmente? (11m10) Aconteceu um fato, todas as emissoras
vão dar o fato, cada uma vai dar um ponto diferente. Se cada um fizesse exatamente igual
ao outro, qual a vantagem disso, o que chamaria a atenção? Cada repórter vai olhar aquele
fato de uma forma diferente. Aí já é se parcial, você contar para o telespectador do seu
ponto de vista, você não vai estar mentindo mas é o ponto de vista de cada um. Cada um
escolhe a emissora, uma forma de contar, uma forma de contar da Globo, do SBT, da
Record e isso que é o diferencial. Então eu acho que é válida essa diferença.
94
6) Você acha que não existe mais o telespectador como Hommer Simpson, que
simplesmente absorve tudo o que o jornalista fala?
Hoje em dia, não tem mais isso, as pessoas estão muito mais criticas, as pessoas sabem
o que estão vendo, já tem uma opinião formada daquilo e quando o apresentador diz uma
opinião que á a mesma da pessoa, esse telespectador se sente representado. Ela fala, “ela
falou o que eu queria ter falado”, não ficou abafado como se ele não tivesse voz na
televisão. E quando a opinião é contrária, surge uma discussão talvez saudável. Hoje, o
telespectador é muito crítico, está mais informado das coisas até por conta da internet, da
informação como chega rápido até a casa das pessoas. Tem muita gente que não tem, mas
a maioria tem internet, tem acesso, então o telespectador de hoje é mais antenado, com
certeza, para você mudar a opinião dele você tem que ter um argumento muito bom.
7) Mas você acha que o jornalista ainda é um formador de opinião?
Acho que influencia sim, mas acho que levanta mais uma questão de discussão. Não
é uma questão de aceitar e acreditar em tudo que ela fala (jornalista). Acho que levanta a
bola para o telespectador, se ele não tem opinião sobre o assunto ele vai tenta saber, vai
pesquisar para ter a própria opinião, tem os fatos, tem a opinião do apresentador, e se ele
mudar de canal pode ser que outro apresentador tem outra opinião. Acho que
democrático.
8) Quando você cometa algo trata-se de uma opinião pessoal ou trata-se da linha
editorial da empresa?
É mais pessoal, claro que não ferir a linha editorial da empresa mas os assuntos
normalmente quando emito opinão são pessoais.
9) E já teve algum questionamento do SBT ao que você falou ou uma repercussão
negativa?
Por enquanto não. Teve uma repercussão recentemente que eu acabei me indignando
no ar, de uma matéria que eu sabia o conteúdo mas eu não vi. E o comentário foi
espontâneo. Uma menina que jogou a gata do 14° andar. Eu perguntei se o vídeo era forte,
mas como não mostra a gata caindo e é muito rápido, passou. Eu fiquei muito indignada
porque eu sou extremamente protetora dos animais, defendo totalmente, eu fiquei muito
indignada e quase passei mal. Aí é o risco de você estar tão envolvida emocionalmente
que sai uma coisa que não era para sair. O comentário todo foi muito forte mas essa
palavra específica que deu muita repercussão. Eu disse que a menina já tinha 14 anos, já
95
sabe o que é certo, o que é errado e ainda faz essa ‘merda’. Eu dei entrevista para vários
sites, mas acabou que essa repercussão foi positiva, porque 99,9% das pessoas me
apoiaram, dizendo que era um absurdo, de ‘para que a hipocrisia de esconder a
indignação’, os comentários foram bem piores. De todo o Brasil teve um que disse ‘“ah,
eu prefiro que o jornalista seja imparcial”. Dando opinião você vai agradar algumas
pessoas e desagradar outras. Como tudo na vida tem um lado positivo e um negativo,
enquanto o lado positivo estiver ganhando, beleza.
10) Você acha que a responsabilidade social do jornalista está nessa questão de emitir
opinião? Como fica a ética no comentário?
Eu acho que influencia. É uma faca de dois gumes a gente não sabe até que ponto pode
influenciar positiva ou negativamente, por isso que deve se ter o cuidado. Nesse caso teve
uma coisa positiva mas é um aviso para você frear um pouco. Você não pode falar tudo
o que você acha numa televisão porque nem tudo que você acha convém. Então, você
pode emitir sua opinião, você tem que pensar antes, desde que isso não influencie as
pessoas a matarem as outras, a lincharem as outras. Eu acho que tem que ser tomado
muito cuidado na hora de emitir esse tipo de opinião, por exemplo.
11) Você acha que é uma tendência do jornalismo ter um comentário de várias
matérias e não somente aquele comentarista específico, por exemplo, de economia
ou política?
Acho que é uma tendência. Não sei se é bom ou ruim, tem gente que concorda e gente
que discorda, mas essa tendência do jornalismo, não totalmente comentado, mas a
tendência do jornalismo de mudar a linguagem para que o telespectador se sinta mais
próximo, é tendência. Porque, querendo ou não, você colocando o texto de uma forma
parcial ou menos imparcial é uma conversa com o telespectador. Isso pode dar conotação
de que ele (jornalista) não está sendo ético, mas a tendência é que você traga o
telespectador para perto de você, como se fosse um bate-papo. A televisão é muito de
você cativar o telespectador e fazer com que ele te olhe como um amigo que você possa
conversar com ele. Acho que essa tendência é forte, de você deixar muito coloquial a
ponto da pessoa achar que você está conversando com ela, não necessariamente emitindo
opinião o tempo todo, mas acaba sendo a pessoa mesmo. Quando eu entro para fazer o
jornal, conversar com as pessoas, se eu for a jornalista eu vou ser um personagem, estou
sendo a jornalista mas eu sou a Williane também, porque estou conversando, estou
tentando estabelecer um diálogo.
Depende da emissora, da empresa. Tem um opinião básica “ah, que absurdo,
realmente”. A opinião também se emite pela expressão, então tem emissoras mais
contidas que foram como a pessoa dá a opinião pode ser sutilmente pode levantar a
sombrancelha, fazer uma cara, tem várias fomas de emitir a opinião. No SBT, temos essa
liberdade de emitir opinião e como é uma emissora de entretenimento de proximidade
muito grande com o público. Além de ser jornalista você tem que ser um comunicador e
você tem que ter o público como seu aliado. Acho que essa é a tendência.
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Então seria estabelecer um diálogo com o telespectador, aproximar, muitas vezes dar voz
a eles..
Mostrar o jornalista humano, mostrar que tem uma pessoa ali como ela, que pensa ou
pensa diferente. Dar opinião é mostrar que você é humano que você também se indigna.
Tem questões que são senso comum. A tendência é transformar o telejornal mais
coloquial.
12) Você acha que isso tem a ver com a internet, essa questão da proximidade com o
público?
De uma certa forma, é um jeito de você atrair mais o público para TV. Se comparar
com a época que a internet não era tão divulgada, o público da TV caiu muito.
13) Como jornalista, qual a importância você acha de ter esse espaço opinativo? Quais
as responsabilidades do jornalista ao emitir opinião em um telejornal?
Acho válido por tornar o público mais próximo. E a responsabilidade é essa, você tem
que tomar cuidado, nem tudo que você pensa você pode falar. A ideia não é gerar
polêmica. A questão de emitir opinião sobre descriminalização de algumas drogas, por
exemplo, se o jornalista tiver uma opinião, é o tipo de coisa que não vale a pena falar, não
vai mudar a vida, não vai fazer diferença, ele só vai se expor. Política, por exemplo, poque
você vai se indispor com coisas que não valem a pena. Em questões muito polêmicas tem
que tomar muito cuidado.
14) Como que você avalia a importância e o impacto do seu comentário junto ao
público?
Depende do comentário. A questão da gata, por exemplo, eu não imaginei que ia dar
tanta polêmica, talvez tenha sido mais por causa da palavra do que pelo comentário. Como
a gente alcança milhares de casas, é um impacto forte, por isso de você ter ciência da sua
responsabilidade. Muitas vezes dependendo do que a gente fala, se a gente não tiver
certeza do que está falando, a gente pode prejudicar muitas vidas.
Então na formulação do seu comentário você pensa no seu público?
97
Sim, com certeza.
Comentário final: Que bom que tem gente contra e gente a favor, quer dizer que tem
gente contra e a favor mas que bom isso quer dizer que tem opiniões diversas e é por isso
que as pessoas discutem ideias e é por isso que as coisas acontecem e vivemos numa
democracia porque se fosse todo mundo pensando igual, que graça teria?
Maria Júlia (Jornal Local, TV Brasília)
1) Você considera que o telejornal ainda é um importante veículo de informação para
a população? Por que?
Com certeza, acho que nosso trabalho é fundamental. Acho que apesar das redes
sociais, eu trabalhei muitos anos com internet, no Correio Braziliense, não estou mais lá,
estou só na TV agora, a gente sentiu ao longo dos anos cada vez mais forte a
presença das redes sociais. As pessoas têm mais acesso à informação de outros modos,
Twitter, Facebook. E cada vez mais os jornais estão buscando estar inseridos nessas redes
sociais porque elas são de fato meios de se publicar as notícias, a informação. Mas os
jornais são fundamentais. O trabalho que a gente faz aqui é um trabalho de
responsabilidade que a gente não faz de qualquer forma, a rede social é super legal e super
importante, acho hoje as pessoas se questionam muito nisso, pela internet e redes socais.
Mas o trabalho que a gente leva para o ar na TV, mesmo num site de notícias, como o
Correio Braziliense, ele é 100% baseado na verdade, ao contrário das redes sociais, que
divulgam o que é momentâneo, que é imediato, mas muitas vezes peca pela má
informação, má apuração, porque tudo é muito rápido. Às vezes não tem tempo de apurar
com cuidado, você simplesmente joga lá e deixa acontecer. Então o trabalho do
jornalismo independe no veiculo, seja na TV ou na internet, no caso se sites noticiosos, é
fundamental que você tenham compromisso com a verdade. Às vezes você está numa
situação que você não tem uma situação 100% verdadeira, no site, por exemplo, você
coloca no ar e vai colocando, ajustando com o tempo, conforme as informações são
apuradas. Na TV tem um pouco mais de tempo, mas o que vai ao ar é a noticia verdadeira,
apurada, investigada. Por isso, é importante você ter a credibilidade, as pessoas sabem
que o que vai ao ar é verdadeiro.
2) Com que frequência você costuma fazer os comentários no telejornal?
Na verdade, não tem uma regra, depende muito do assunto do que a gente está
veiculando no dia. Hoje a gente tem um formato que a gente escolhe alguns assuntos para
aprofundar no JL 2, às sete horas da noite, escolhemos um assunto ou dois, trazemos
informações adicionais além do que estamos vendo procuramos trazer informações que
as pessoas não têm, esse é o objetivo, trazer informações novas. Quando você dá um
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comentário é legal, é importante, mas também acrescido de novas informações, coisas
que às vezes só da gente olhar na imagem a gente não tem. Então por isso que é
importante. O cuidado que a gente tem também é de não transformar todas as noticias em
algo que a gente vai aprofundar porque se não ficar chato para quem está em casa, fica
cansativo, fica monótono. Mas algo que é importante, relevante, você busca levar algo a
mais daquela informação, então não tem uma regra.Porque cada vez mais as pessoas
querem informação rápida, a internet trouxe isso, a informação mais imediata, você não
pode ficar tempo demais em um assunto, a não ser que seja algo extremamente relevante.
3) Então vocês escolhem com antecedência o que vocês vão falar, não ocorre de ser
espontâneo?
Ele é pensado antes, mas isso pode acontecer, claro, se você traz uma bagagem pessoal
sua e você está no ar e você assiste aquilo e de alguma forma aquilo mexe com você, você
pode comentar, mas é um comentério mais rápido, trazendo uma bagagem pessoal sua.
Você pode trazer essa bagagem sua porque é uma forma de você se aproximar de quem
está em casa. Mas, o que fazemos mais é fazer uma análise antes, na reunião de pauta nós
analisamos, escolhemos o que seria legal aprofundar.
4) Quando você comenta alguma coisa, é uma opinião pessoal, sua como jornalista,
ou vem da linha editorial da empresa ou todo mundo decide sobre como vai ser o
comentário?
Aqui na TV Brasilia a gente tem muita liberdade para trabalhar, se expressar, colocar
nossa opinião. Eu nunca tive problemas com isso. Claro que tudo, depende muito do bom
senso de quem vai falar e do que vai falar, porque, às vezes, a pessoa emite uma opinião
que expõe ela ao ridículo, então não é legal, ou expõe a empresa. Então você tem que ter
respeito pela sua imagem, pela imagem da empresa que você trabalha e também por quem
está em casa. Então você tem que ter muito bom senso, quando você vai emitir uma
opinião, sabendo que é a sua imagem que está ali mas também é a imagem da empresa
que você representa porque quando a Maju (Maria Júlia) fala, sou eu que estou dizendo,
mas é a TV Brasília. Ate hoje não tive problemas, nunca tive alertas de “toma cuidado”.
Nesse sentido, temos liberdade aqui acho que melhor do que teríamos em outros lugares,
mas tudo com bom senso, sempre temos que pensar nas consequências.
5) Como você a avalia a importância e o impacto que seu comentário vai ter no
público? Você chega a pensar nisso enquanto formula os comentários?
Eu penso sempre. Acho que a gente tem sempre que pensar que o que a gente fala vai
afetar quem está ouvindo. Antes de mais nada precisamos respeitar quem está do outro
lado, eu costumo falar que trabalhamos para quem está do outro lado. Eu amo o que eu
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faço e faço com prazer, mas o meu trabalho é para quem está assistindo o jornal, eu não
trabalho pra mim, não dou uma notícia pra mim, a minha realidade às vezes é muito
diferente de quem está vendo o jornal. Então quando eu faço um comentário eu preciso
pensar, porque seria desrespeitoso da minha parte eu simplesmente sair falando o que eu
penso, entendendo que a minha realidade é diferente de quem está do outro lado. A gente
está aqui pra servir, estou aqui para oferecer um serviço, dar o melhor de nós e às vezes
a gente pode magoar, ferir uma outra pessoa e eu não tenho esse direito. Porque o
jornalista que comenta, que tem um jornal mais falado como o nosso tem sempre que
pensar: “será que isso não vai ferir ninguém?”. De repente você fala de uma mãe que
perdeu o filho de uma forma trágica, será que eu falar não vai aumentar a dor dela, eu não
tenho esse direito.
6) Em relação a você pensar se a sua opinião vai afetar a opinião do público em
algum tema, você chega a pensar que você é uma formadora de opinião?
Com certeza. Nós somos, jornalista é um formador de opinião, e por isso a nossa
responsabilidade é muito grande. Jornalista que não tem esse senso de responsabilidade
acaba sendo irresponsável mesmo, é perigoso, você não tem esse direito, nós somos
formadores de opinião, esse é nosso trabalho. Quando você escolhe uma noticia para ir
para o ar, de alguma forma você está emitindo uma opinião, porque você escolhe uma e
não outra, claro que tem a ver com o tempo do jornal, claro que você tem que escolher,
nossa editora faz essa seleção, mas nosso trabalho é formar opinião. Quando você faz o
espelho do jornal você já está emitindo uma opinião, e você pode mudar a forma das
pessoas pensarem mas isso pode ser bom ou ruim, entende?
7) Você acha que o telespectador está mais crítico em relação a não acreditar
fielmente no que o jornalista diz?
Acho que sim. Isso falo mais pela minha experiência com o site, porque lá, como eu
tinha muio contato com as redes sociais e o site do Correio e o facebook do Correio, o
público do Correio é muito crítico, ele é um público que se movimenta, que fala, que
participa, e lá é muito claro isso. As pessoas cada vez mais participam, cada vez mais tem
opiniões, e você não vai fazer ela engolir o que você quer. Não sei se isso acontecia antes,
imagino que sim, porque o acesso à informação era mais difícil. Mas hoje as pessoas são
mais inteligentes, estão mais criticas, é um erro você pensar que você pode falar o que
você quer, do jeito que você quiser e que ninguém vai sentir isso.
Ou que as pessoas vão acreditar e tomar aquilo como se fosse a opinião delas também..
É. Porque as pessoas têm mais acesso a informação. Acho que antes isso era mais
difícil . A internet hoje está praticamente em todos os lares, todo mundo tem acesso à
100
informação, seja qual for o tipo de informação. As pessoas tem mais acesso. É errado o
jornalista imaginar que ele pode fazer as psoas engolirem o q ele quer.
8) Em relação ao jornal, há quanto tempo você trabalha aqui?
Tem quatro anos e sete meses na TV Brasília. A gente deixou o telejornal mais
opinativo esse ano, quando mudamos pra essa redação. A Simone, chefe de jornalismo
da TV Brasília, ela pensou um jornal novo. Antes era um jornal mais quadrado, aquele
que a gente está acostumado a ver, de bancada. Aqui a ideia era diferente. Na Europa, nos
Estados Unidos, muitos jornais já fazem isso, que é um jornal mais conversado, mais
bate-papo mesmo e a ideia da Simone era trazer isso para cá, então foi aqui que esse jornal
mais opinativo começou com mais força na TV Brasília, porque o cenário permite muito
mais, tem mais possibilidades, podemos usar a redação, a bancada, aquela tela, podemos
trazer repórter, por exemplo, tem repórter que traz os bastidores da notícia, não fica aquela
coisa só de você veicular o VT. Esse estúdio já foi criado para fazer isso de dar mais
possibilidade de mais gente participar do jornal. Vem o repórter comentar, trazemos gente
do Correio pra falar também de algum assunto especifico.
9) Percebi que são muitos apresentadores no jornal. Tem apresentadores fixos?
Eu sou apresentadora fixa, e tem pessoas quem para complementar. Tem o repórter
que vai entrar com essa informação adicional, na sexta temos agenda cultural, vem outra
pessoa para dar a agenda, às vezes tem especialista do correio brasiliense para falar de
determinado assunto também. Sempre temos pessoas diferentes no jornal. A Mari Negro
é a editora-chefe do jornal.
10) Você acha que é uma tendêcia esse telejornal mais conversado que você falou?
Acho que é. Porque você se aproxima das pessoas. Não sei te dizer se é uma regra, se
todos vão adeirir a isso, mas acho q é uma tendência. Acho que você se aproxima mais
porque as pessoas estão mais participativas da noticia. A gente tem whatsappp aqui e é o
tempo todo as pessoas mandando notícia, informação, faz video e manda para gente. Esse
formato que a gente tem permite isso, que as pessoas participem, é como se elas sentissem
que estão aqui dentro. E pela informação estar mais acessível, eu acho que os jornais
tendem a fazer isso.
11) Você acha que a internet tem a ver com isso, essa interatividade maior, e a
televisão está tentando se adaptar para não perder espaço?
101
Acho que a internet tem tudo a ver com isso. Eu não sei se a TV está tentado se adaptar
para não perder espaço, não sei se é isso. Mas, com certeza, a internet mudou o jeito da
pessoas, o jeito que elas reagem à noticia era um há anos atrás, hoje é diferente. As pessoas
querem mais informação, querem participar mais, são mais criticas. Então com certeza a
internet tem muito a ver com isso.
Giulianno Cartaxo (DF no Ar, Rede Record)
1) Você é o editor-chefe do jornal?
Não, na verdade o DF no Ar é escrito a quatro mãos. Nós temos o editor-chefe, Daniel
Yamanaka, eu faço o apresentador mas faço questão de participar de todos os processos
do de produção do programa. Nós temos três reunião de pauta por dia, uma delas é
presencial pela manhã e outras duas nós fazemos por conferência ou por whatsapp ou
facebook ou por telefone e participamos de todas até porque é a cara do apresentador que
está no video. Eu e o Daniel nos completamos, temos uma parceria bem legal, ele é bem
tranquilo e eu já sou mais explosivo e chegamos no meio termo e o jornal é resultado
dessa mistura.
2) Você acha que o telejornal ainda é um importante veículo de comunicação na TV
brasileira?
Eu não tenho dúvidas disso até porque hoje você tem a televisão chegando a mais de
80% dos lares brasileiros, só perde para o rádio. Mas é a principal forma de receber a
informação pra grande parte dos brasileiros. O brasileiro ainda tem o costume de sentar
na frente da TV e quem nunca deu “boa noite” ao William Bonner. O brasileiro tem essa
necessidade de olhar nos olhos e ver quem está falando com ele até para saber se aquela
notícia tem credibilidade ou não e esse é o papel do apresentador, dar credibilidade a
notícia coisa que a internet ainda não te dá muitas coisas pode ser boato. O Giuliano
Cartaxo disse isso, mas muitas vezes a pessoa não sabe que tem tudo uma equipe trabalho,
sem dúvida nenhuma, hoje todo mundo acha que é jornalista todo mundo acha que pode
escrever isso é legal porque democratiza a informação mas a televisão ainda tem um papel
muito importante na disseminaçao da notícia.
3) Há quanto tempo você trabalha no DF no Ar?
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Como apresentador estou há quatro anos, mas na Record estou há 8 anos. (3m34) a
vida dele na record.
4) O DF no Ar é considerado um telejornal?
É um telejornal. Essa é a grande diferença, nós temos na Record três formatos. Temos
o programa que é revista, que é o Balanço Geral, que é uma revista eletrônica, que tem
entretenimento, que tem a notícia, tem prêmio, tem merchandising. Nós temos o formato
de 3x4 da bancada, que ainda é o nosso carro chefe hoje, e temos o meio termo que é o
jornal, tem linguagem de jornal, mas se utiliza de um modelo diferente que aproxima o
apresentador do público, então eu ando pelo estúdio, converso, tenho total liberdade para
falar o que eu quiser, se eu quiser falar um palavrão no ar, assumindo a responsabilidade
por aquilo, eu posso fazer, claro, não sou louco de fazer uma coisa dessa. Acho que esse
é o diferencial, esse é o avanço do jornalismo você ainda não tem mais aquele modelo
engessado, na verdade algumas emissoras ainda utilizam, que não te permite essa
mudança. O DF no Ar não, ele é um jornal para quem está acordando, ele vai esquentando
conforme vai começando, começa mais tranquilo, fica mais nervoso do meio para o final,
e termina mais tranquilo. Até porque esse horário as pessoas não param para ver TV. As
pessoas ligam a TV e vão fazer seus afazeres, então você tem que tomar cuidado com as
notícias que você vai dar, com as imagens e com a opinião que você vai dar, porque
dependendo disso, o rapaz pega o controle emoto, muda de canal e não volta mais.
5) E desde que o DF no Ar começou ele sempre teve esse caráter mais opinativo?
Sempre. Ele começou com o Luiz Fara Monteiro, que foi o primeiro apresentador,
depois veio o Toninho Pop e eu, que tentei dar um ar sério ao programa com uma pitada
de humor. Essa é a cara do jornal hoje. (7m26) Um jornal que fala com o telespectador
como se você estivesse abrindo a janela da sua casa, e acho que esse é nosso maior
diferencial. Se você me pedisse para resumir o DF no Ar, é como se eu abrisse a janela
da minha casa de manhã, olhasse nos olhos do telespectador e contasse para ele numa
prosa entre amigos tudo que aconteceu na minha casa durante as últimas 24 horas.Esse é
nosso modelo, tanto que a gente tem incomodado muita gente, entregamos quase todo o
dia na liderança.
6) E como são feitos os comentários do programa? Você acompanha a produção,
edição das matérias, você faz os comentários antes ou na hora?
Eu acompanho a edição, gosto de assistir, chego na televisão três e meia da manhã
todo dia, vejo todos os VTs, só que os comentários não são escritos. Eu uso telepronter,
afinal são uma hora e trinta e cinco de programa, e gosto de usar para não perder essa
linguagem. Mas a opiniao é minha, é o que eu senti na hora. Eu trabalho com jornalismo
103
investigativo e policial há muito tempo, a Record me dá essa possibilidade de fazer isso,
com oito anos de Record só tive um processo, e mesmo assim ganhei. Mas não é qualquer
pessoa que pode chegar e abrir a boca que você pode falar muita besteira você tem que
conhecer lei, tem que saber interpretar código penal, código eleitoral. Você tem que saber
um pouco de tudo, você tem que entender de politica, trânsito, economia, relações
interpessoais, para não falar besteira, entender o que está acontecendo naquele momento.
Eu leio muito jornal impresso, gosto de me atualizar pela internet, apresento o programa
com o celular na mão e ipad do lado, o programa inteiro eu converso com o espectador
via face(book), via whats(app), as noticias vão chegando ao longo do programa, muitas
das noticias que eu dou são resultados de conversas que eu tive na rua com telespectador,
e tenho orgulho de dizer que o que eu estou falando aqui em 99,9% das vezes é o que seu
Zé e a dona Maria queriam dizer e nunca tiveram oportunidade de dizer isso. Você tem
que saber até onde você pode ir, senão você acaba se prejudicando e tirando a
credibilidade do seu produto, o meu produto é a notícia, é o DF no Ar.
7) Pelos seus comentários serem bem pessoais, você acha que a Record te dá total
liberdade?
Em quatro anos eu nunca recebi uma mensagem, de um diretor ou um puxão de orelha
do editor-chefe, críticas de telespectador eu recebo sempre, porque você não vai agradar
todo mundo o tempo inteiro, é impossível. Eu tenho uma opinião bem formada, eu estou
do lado do povo, o que eu sei que é bom para o povo eu vou brigar. Eu acho que é voltar
a tecla, é saber o que falar. Na minha reunião de contratação me chamaram e falaram você
pode falar o que você quiser mas você tem que assumir com as responsabilidade, tanto
que os comentários mais pesados e mais polêmicos eu faço questão de dizer que “sai o
apresentador Giulliano Cartaxo, quero deixar claro que não é a opinião da emissora, é
minha. Se quer brigar, briga comigo.” Eu nunca tive problemas com isso.
8) Por você ter opiniões fortes, você acha que o público absorve essas opiniões ou
que está mais crítico?
O morador do DF tem consciencia cidadã, politica, ele sabe o q ele quer. Se você
começar a fazer besteira ele vai mudar de canal mesmo, vai te criticar nas redes socias,
se te encontrar na rua vai falar para você. O cidadão quer ser informado, quer saber o que
está acontecendo. Você tem que fazer um jornalismo com uma informação ao alcance de
todo mundo. A função do jornalista é essa, se ele não souber interpretar a notícia mastigar
a notícia tem que fazer outra coisa, muda de profissão. Um repórter, por exemplo, reporta
a notícia, pega números da economia e mastiga de uma forma que eu consiga entender,
tanto o morador do Lago Sul com doutorado e da mesma forma que o rapaz que só fez o
primeiro grau entenda da mesma forma senão teríamos que pensar em jornalismo de
classe A, B, você vai ter que dividir a programação de acordo com o público, e acho que
não é assim que a banda toca. A grande função do jornalista hoje e sempre foi é mastigar
104
a noticia e passar de uma forma que todo o seu telespectador conseguir entender. Se
alguém dentro da faixa de público não está entendo alguma coisa esta errada.
9) Em relação ao público estar mais crítico, mesmo esse público mais humilde até
esse público que você mencionou, que tem doutorado, quando você emite uma
opinião, você acha que od dois públicos sabem diferenciar que aquilo é uma
opinião sua, ou eles tomam aquilo como verdade?
Tem muita gente que ainda toma como verdade, mas não porque é minha opinião, mas
porque na cabeça dele é aquilo mesmo. Quando eu falo que não existe menor assassino
ou maior assassino, existe assassino, o cidadão, ele já tem a consciência disso, tanto que
o Congresso já discute a maioridade penal ou penas mais pesadas para corrupção de
menor. (19m17). Acho que ele já tem a opinião dele formada e ele abraça aquilo (minha
opinião) como um reforço. Eu passo na rua e escuto “Giulliano, sabe aquilo que você
falou? É exatamente o eu penso”. Então, ele não toma a minha opinião como uma
verdade, ele toma como um reforço da verdade que ele já tinha, é como se eu carimbasse
na TV algo que ele como pessoa já carregava consigo.
10) Mas você acha que o jornalista ainda é um formador de opinião?
Demais. Não só um formador mas também é um influenciador de opiniões, ele cria
tendências. Nós temos do outro lado alguém que que um carimbo numa opinião que ele
já tem, um reforço na opinião que ele já tem, alguém que abrace a causa dele. Se você for
prestar atenção, a maioria dos apresentadores que emitem opinião no ar eles não estão ali
dando uma opinião que é exclusivamente dele, ele está dando uma opinião já de consenso
que já é de massa é exatamente o que o público quer ouvir, o que o público acha.
Dificilmente eu vou contra o que a populaçao acha, o que a maioria acha, eu sou a
população.
11) Mas essa população que você diz é o público do seu jornal, porque em temas
polêmicos a sociedade sempre se divide, como você faz?
Eu tenho a minha opinião da mesma forma que o cidadão tem. Isso que é legal. Eu
tenho a liberdade, como em determinados momentos dizer que “sai o apresentador e entra
o Giulliano”. O Giulliano é contra o aborto, é a favor da redução da maiorida, é contra
invasão, seja de rico ou de pobre, é contra transporte pirata. Em alguns momentos essa
opinião pode até divergir. Por exemplo, eu fiz um comentário sobre a volta das vans que
recentemente a Câmara Legislativa aprovou na CCJ a volta das vans, não como transporte
pirata mas como transporte alternativo. Eu falei “eu sou contra, se for pra ficar aquela
bagunça que era antes eu sou contra”. Eu apanhei dois dias no facebook. Eu percebi que
naquele caso específico a maioria da população é a favor da volta das vans. Vai acontecer,
105
às vezes, da minha opinião ser diferente, mas é minha opinião. Eu só deixo claro que não
estou falando em nome da emissora, estou falando como Giulliano Cartaxo.
12) E você acha que ao fazer isso, dizer a opinião como Giulliano Cartaxo, você se
retira da responsabilidade social como jornalista, de falar algo que possa afetar o
público, prejudicá-lo?
Não, de maneira nenhuma. No meu contrato está previsto que eu respondo pelos meus
atos. Por isso, eu faço questão de deixar claro que se eu falei algo pela emissora que deu
errado, a emissora me defende. Nós temos um corpo jurídico muito bom. Se, por um
acaso, eu falar algo enquanto cidadão que alguém quiser me processar, eu estou aberto,
vou receber tranquilamente. O único processo que recebi até agora foi falando pela TV,
foi uma situação que eu falei que o motorista deixou o local sem prestar socorro e ele
jurava que estava lá. Mas eu tenho o depoimento de quatro policiais dizendo que não tinha
ninguém no local, tenho as imagens do nosso cinegrafista que ninguém estava no local,
então assim, eu não saio falando qualquer coisa. Eu sei do que estou falando e sei o que
isso implica para mim. (24m38)
13) Você acha que é uma tendência dos telejornais serem mais conversados, mais
opinativos, para essa aproximação com o público?
Demais e não é novidade. O Brasil tem o custme de copiar modelos de jornalismo. É
uma tendencia mundial e você fazer esse jornalismo mais conversado, mais próximo ao
cidadão é só você assistir cinco minutos da CNN latina, o próprio jornalismo inglês que
sempre foi mais sisudo, a SBS ou qualquer outra emissora, você vai perceber que aquele
modelo quadrado aos poucos vai perdendo espaço. O jornalista quer dar opinião, ele quer
fala,r o apresentador quer mostrar como ele é e quer dar a sua cara para o telejornal, mas
no caso, algumas vezes, o formato do jornal não permite. Isso é uma tendência. Cada vez
isso acontece mais. É algo cada vez mais comum de se ver. Tem muitos jornais que já são
feitos especificamente na internet e tem colegas jornalistas, que não encontram espaço
nas emissoras para falar isso, e eles vão vomitar a opinião de qualquer forma na internet,
nas redes sociais, youtube, twitter. Agora com mais espaço vem mais responsabilidade.
Uma coisa é você amparado por uma emissora atrás de você, outra coisa é você começar
a dar opinião. Seguir telepronter é fácil, agora falar o que pensa é bem mais complicado
e requer muito mais peito, muito mais coragem, porque você nunca vai agradar todo
mundo. Eu me recuso a comentar política no ar, deixo o telespectador formar a opinião
dele sobre isso, até pra não gerar qualquer tipo de tendência. Quando você fala com a
Brunna, eu e você aqui, fala alguma besteira, o máximo que pode acontecer é virar uma
fofoca. Quando você fala na frente das camêra, no ar, é uma fofoca compartilhada por
quase 180 mil pessoas no Distrito Federal, então a resposta é bem maior.
106
14) Você acha que isso tem alguma coisa a ver com a internet, que o telejornalismo
quer se adaptar mais a essa interatividade?
Não pela internet em si, mas o momento pede. O telespectador cansou de ficar vendo
aquela coisa chata, aquele jornal quadrado, ele quer bater-papo, quer conversar com você.
O legal da internet é a interatividade, porque muitas vezes as pessoas viam o apresentar
como alguém fora da realidade, em outra esfera dele. A internet veio para aproximar. Eu
converso com o telespectador na hora do programa, eu gerenciou cinco páginas enquanto
estou no ar. Mano beijos para qem eu converso no facebook no programa. Essa linguagem
informal de conversar com o telespectador já é uma tentativa de aproximar a televisão,
não perder tanto público assim para a internet. Temos que trazer as redes sociais para o
nosso lado. Estou terminando agora um curso de gestão de mídias sociais, justamente
para aprender a otimizar as mídias no meu trabalho e na televisão.
Comentário final: às vezes eu reviro de desespero quando vejo colegas que querem
fazer esse tipo de jornalismo que não sabem a diferença entre Detran, Batalhão de
Trânsito, DER, não sabe até onde vai o nosso quadradinho (DF), confundem Planaltina
com Planaltina de Goiás, com Brasilinha. Você quer fazer um jornalismo comentado,
você quer dar opinião, seja você mesmo. Eu faço o que 200 milhões de brasileiros têm
vontade de fazer todos os dias, a diferença é que eu tive essa chance, já que estou aqui, já
que não posso falar pelos 200 milhões, deixa eu falar para os 2 milhões e meio do DF,
pelo 1 milhão e meio do entorno, são 4 milhões de pessoas que precisam de alguém para
falar pra eles, e é isso que eu tento fazer.
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