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Anais do X Encontro de Geógrafos da América Latina – 20 a 26 de março de 2005 – Universidade de São Paulo
O TERRITÓRIO INFORMACIONAL NO CONTEXTO LATINO AMERICANO
Paulo Celso da Silva1
ESPAÇOS DE FLUXOS NO MEDITERRÂNEO
A fluidez, hoje necessária para a garantia do papel de cidade contemporânea, está
focalizado nas redes telemáticas. Partindo dessa premissa, que é mundial, Barcelona, a
partir de 1998, inicia um processo de transformar um espaço, antes industrial, com a
tecnologia exigida para as chamadas cidades do conhecimento. A gênese desse processo
pode ser buscada já em 1992 quando o COOB’92 percebe, acertadamente, a necessidade
de dotar a cidade com a mais avançada tecnologia de comunicação existente, para a
eficiente cobertura dos jogos pelos meios de comunicação. Percebeu que era necessário
“processar a felicidade” como uma informação que estaria contida no fluxo de pessoas e
idéias, ou seja, “a felicidade construída” para ser distribuída pelo mundo através dos muitos
turistas e profissionais que aqui aportaram2.
Nesse sentido o suporte fixo foi construído visando a flexibilização dos usos, ou seja,
que após os jogos, os prédios, Vila Olímpica, hotéis etc. pudessem ser aproveitados para
outras atividades. A desindustrialização da cidade e os investimentos no setor terciário,
principalmente no turismo internacional, foram a tônica dos últimos anos. As informações
contidas no MPGM – Text Refós indicam que entre 1993 -1998 o setor de serviços cresceu
20% enquanto o industrial reduziu 17%, isso em relação à quantidade de m² utilizados.
Assim temos: Indústria, 5.000.821m² em 1993 e 4.166.545m² em 1998 e Serviços,
9.473.953m² em 1993 e 11.413.221m² em 1998. Dentro desse setor, as atividades que
apresentaram maior crescimento em ocupação territorial foram: de serviços culturais, ócio
e feiras com um total de 57%, de 771.820m² em 1993 para 1.210.853m² em 1998; serviços
de promoção imobiliário de 52.804m² em 1993 para 90.633 em 1998, indicando um
crescimento de 72%.
Por outro lado, os serviços de ensino e investigação sofreram um aumento de 9%,
passando de 1.228.850m² em 1993 para 1.341.578m² em 1998, ficando a frente apenas
dos serviços de segurança, aluguel de bens imóveis e serviços financeiros. Este último
com um decréscimo de 5%, de 805.422m² para 768.766m² em 1993 e 1998, 1 Universidade de Sorocaba Avenida General Osório, 35 – Trujillo - Sorocaba paulo.silva@uniso.br 2 Para utilizar uma imagem mais próxima do que estamos tentando exprimir, podemos citar a música do compositor Tom Zé , Menina Jesús, quando afirma “ Vai, viaja, foge daqui que a felicidade vai atacar pela televisão”.
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respectivamente. Em relação aos postos de trabalho, os números indicam que em 1999,
Barcelona tinha 78% dos locais de trabalho na cidade no setor terciário, quando em 1991
era de 66%. A flexibilidade e o direcionamento para os serviços trouxeram também uma
“nova forma de viver” em Barcelona: os Lofts.
A TRANSFORMAÇÃO DO POBLENOU
A Calle Pellaires, 30 onde Xavier Mariscal montou seu loft no entusiasmo dos Jogos
Olímpicos de 1992 em Barcelona, está em um dos extremos do Poblenou, próximo à
Diagonal Mar. Rebatizado de Palo Alto, o discurso universal, desregulando um uso, pôde
preservar o antigo edifício fabril.
A Calle de Llull, 133 próxima ao centro do Poblenou na Rambla Poblenou tem outro
conjunto de lofts. A antiga fábrica, o Vapor Llull foi reabilitada pelos arquitetos Cristian Cirici
e Carles Bassó, entre 1996-1997, ganhando os prêmios Ciutat de Barcelona de arquitetura
e urbanismo e o Prêmio Bonaplata de reabilitação em 1997. Constitui-se em 18 módulos
para oficinas, escritórios, estudos e espaços habitáveis onde estão, por exemplo, Ana
Coelho Llobet (arquiteta), Nous Espais Arquitectònics SL (engenharia civil), Zindara
Producciones SL (produtora de vídeo, cinema e espetáculos). Esses novos fluxos e fixos
no Poblenou, que anteriormente era identificado como a Manchester Catalã, por suas
indústrias, fazem parte do esforço de dotar a cidade com espaços de tecnologia e ao
mesmo tempo garantir a tradição. Dessa forma, para a necessária modificação do PGM de
Barcelona, já que o Poblenou era considerado zona industrial, ou 22a na simbologia do
PGM, a direção do Ajuntament contou com um estudo do Institut Català de Tecnologia
intitulado Estudi Ciutat Digital (s/d). O estudo está assim dividido:
1. Introdução aos principais conceitos.
2. A nova cidade do conhecimento.
3. Análise Territorial.
4. O novo setor produtivo: espaço e atividades.
5. Conclusões.
6. Anexos.
Vale a pena uma análise mais detalhada desses cinco capítulos, já que serviram
para a Modificação do PGM, definindo uma postura teórica importante para o futuro do
Poblenou como materialidade a ser modificada e, também, como universalidade a ser
adotada.
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INTRODUCÃO. JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS DO ESTUDO
A introdução inicia com duas frases que servem como indicadores da linha mestra
do trabalho. A primeira é da obra de Drucker, La sociedad postcapitalista, onde somente
pelo título da obra já poderíamos perguntar se o estudo parte do pré-suposto da economia
pós-capitalista. A frase citada indica a transformação dos valores básicos da sociedade, da
estrutura política e social, da visão de mundo, etc. E seria precipitado afirmar os pré-
supostos sem apresentar o trabalho. A segunda frase na verdade é um verbete do
Diccionari General de la Llengua Catalana: Revoluciò, canvi total, radical.
Ambas, sugerem que o grupo elaborador do estudo acredita que realmente estamos
vivendo um momento de câmbio total, de mudanças na raiz da sociedade, naquilo que a
forma para o presente e o futuro, distinto do momento próximo anterior. Dessa forma, o
estudo explica que o primeiro capítulo “aborda os elementos que modelam o
câmbio”...começando com o primeiro e mais importante: o estudo da nova sociedade da
informação e conhecimento (sic), sobre três pontos de vista: a explicação do processo e
suas implicações (subitem 1.1), a infra-estrutura necessária (subitem 1.2) e as novas
atividades produtivas (subitem 1.3). Com isso, do primeiro conceito – sociedade da
informação e conhecimento – o próximo é a sustentabilidade (subitem 1.4) para abordar no
subitem seguinte (1.5) o planejamento urbano e a arquitetura adaptável ao século XXI.
O capítulo dois estuda a cidade do conhecimento em uma abordagem da produção
do conhecimento local, “esta é a base da cidade do conhecimento”, razão de ser da
economia e de localização. Aponta a importância da mudança do paradigma educacional –
de enciclopédico para analítico – e o papel das universidades e das empresas
interrelacionadas nesse processo. O terceiro capítulo faz a análise territorial apresentando
dois conceitos para tratar a cidade: cidade difusa X cidade compacta. A proposta é de uma
Barcelona como cidade mediterrânea compacta e densa, heterogênea em sua extensão.
No quarto capítulo, fechando o estudo, as propostas concretas para Barcelona (Região
Metropolitana) e o bairro Poblenou.
Em seu conjunto, o estudo tem como objeto a definição do conjunto de condições
urbanas da Região Metropolitana de Barcelona que possa unir:
- desenvolvimento sustentável e melhora de qualidade de vida.
- As vantagens e necessidades da tecnologia de informação
- Que atuem como catalisadores dos novos setores produtivos e modelo para a nova
sociedade do conhecimento.
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Pela definição do objeto de estudos, o Institut Català de Tecnologia reafirma o que
dissemos sobre sua contribuição fundamental no direcionamento das Modificações do
PGM.
Passemos então aos pontos mais elucidativos ou críticos do estudo.
1. INTRODUÇÃO AOS PRINCIPAIS CONCEITOS
1.1 A SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO CONHECIMENTO: ELEMENTOS E OBJETIVOS
O primeiro capítulo é o teórico, o embasamento que vai permitir considerar o bairro Poblenou como paradigma de um novo solo industrial da Catalunha (p.88).
Sendo paradigma a série de conceitos, formulações e métodos aceitos pelas
comunidades científicas (cada qual em sua área de atuação), a definição do objeto de
estudo deve possibilitar a passagem do modelo industrial para um modelo pós-indústrial,
baseado nas tecnologias da informação, portanto informacional. Porém, sem que se
constitua um dualismo com a industrial vigente, mesmo que em transformação também. O
estudo, que passaremos a chamar pela sigla ECD (Estudi Ciutat Digital) define, baseado
em alguns autores como Castells, Mayó, Drucker, o que é e como deve ser entendido o
termo tecnologia da informação e comunicação ou TIC simplesmente: “ o conjunto
convergente de tecnologias da microeletrônica, informática (máquinas e software),
telecomunicações/rádio/televisão e ótico-eletrônica. Alguns autores também incluem a
engenharia genética no grupo das TIC...” E, mais importante, al voltant3 das tecnologias da
informação, uma revolução está se processando:
a. pela própria natureza da tecnologia e a sua implantação.
b. por implicações sociais.
No caso do item a, aponta ainda duas características intrínsecas das TIC que
contribuem para a revolução:
1. A sua capacidade de portar qualquer tipo de informação no formato digital.
2. A possibilidade de interação com o resto dos setores produtivos.
Em relação à característica 1, o fato possibilitou o intercâmbio de várias linguagens
e o surgimento do setor de multimedia e, a característica 2 possibilitou um melhor
aproveitamento dos setores produtivos tradicionais racionalizando ainda mais os serviços
3 A tradução de al voltant é ao redor, porém, falta na tradução o peso da palavra catalã. Mesmo o castelhano al derredor não consegue, ao nosso ver, passar a “ligação sem estar dentro”, unicamente das TIC.
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rotineiros através da automação. Fecha o Item A com mais cinco características que,
conforme Castells (1996) “constituem o núcleo do novo paradigma tecnológico”:
1. São tecnologias por atuar sobre a informação, não mais informação para atuar sobre
a tecnologia como era o caso das revoluções anteriores.
2. A capacidade de penetração dos efeitos das novas tecnologias.
3. A lógica da interconexão.
4. A flexibilidade.
5. A convergência crescente de tecnologias específicas em um sistema altamente
integrado.
O item b, sobre as implicações nos diferentes âmbitos da sociedade, apresenta
algumas afirmações gerais e muito difundidas quando o tema é o mundo interconectado: a
desnecessária presença física em tempo real e que desde qualquer ponto se pode ter
acesso aos dados. A Internet é o exemplo mais claro de uma rede mundial, ou como afirma
o texto, “a rede das redes”, o que a definição de Esther Dyson citada reforça, “a Internet é
sobretudo um entorno onde milhares de pequenos lares e comunidades se formam e se
autodefinem” (1997). Outra novidade é a linguagem, o hipertexto, que conforme Millán
(1998) “exige novas formas de interpretação e também novas formas de ensino e
aprendizagem”. Isso culmina na Era da Informação que, para Castells (1997) “em que a
geração, o processamento e a transmissão da informação se converteram nas fontes
fundamentais de produtividade e do poder”. E Joan Mayó (1997) completa: “a era da
informação implica que esta não é somente um fator de produção senão também um fator
direto de consumo, com todas as implicações que isso comporta. Ademais, como fator de
produção tem características que o diferenciam dos clássicos terra, trabalho e capital: a
informação não é escassa e é compartilhável”. Finaliza essa primeira parte com a equação
de Alfons Cornella onde Sociedade da Informação = (Economia da Informação) * (Cultura
da Informação), com os seguintes aspectos:
Economia da Informação
- Desregulação das telecomunicações
- Infra-estrutura
- Custo de acesso à Internet
- Ambiente regulatório (nacional e da UE)
Cultura da Informação
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- Atitude ante a tecnologia
- Formação
- Cultura multilíngue
- Capacidade de buscar e ordenar informação
Definido isto, faz-se necessário que os dois termos da equação tenham condições de
crescer de maneira igualitária, a sociedade chegue a todos sem exclusões e que os
diferentes agentes sociais estejam implicados. Esses são objetivos a serem atingidos para
que a informação possa melhorar a qualidade de vida de todos. O quadro abaixo mostra os
elementos e os objetivos a serem atingidos (p.7):
ELEMENTOS OBJETIVOS
TIC TIC
Aportação
crescente do PIB
Ativar o mercado (massa
crítica)
Convergência de
formatos
Evitar a integração vertical
Influência a outros
setores
Câmbio de atitude
tecnológica de empresas e
pessoas
REDE(interconexão
)
REDE(interconexão)
Internet Estimular o consumo (com
políticas de preços e infra-
estrutura)
Globalização da
Economia
Conseguir posição
competitiva ao novo modelo
Modelo de
organização flexível
Câmbio nas organizações
Interação Participação
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Os itens 1.2 e 1.3, O setor das tecnologias da informação e comunicação e as novas
atividades produtivas, respectivamente, dão conta do crescimento do setor relacionado às
TIC, destacando como exemplo principal o caso norte-americano e apontam as novas
atividades e as dificuldades inerentes às classificações, e a proposta feita pelos
professores da Universitat Politècnica de Catalunya (p.21) para os serviços avançados.
Além dos serviços avançados, teremos os Centros de Saber e os relacionados às
TIC, na tentativa de relacionar as novas atividades. Como Centro de Saber, além daqueles
ligados ao ensino e à pesquisa, também os que atuam como processadores, receptores e
difusores do conhecimento (museus, bibliotecas, editoras, empresas de criação e
audiovisual, associações profissionais), a missão é formar e oferecer meios para o
desenvolvimento das pessoas.
Nos campos relacionados com as TIC estão destacados, o setor multimedia,
desenvolvimento de software, redes, serviços de telecomunicações.
O item 1.4, Desenvolvimento sustentável e qualidade de vida adentra ao tema da
urbanização propondo uma definição desse conceito para o item 1.5 fazer uma reflexão
sobre o urbanismo e propor um câmbio do modelo atual. Esses dois itens encerram o
capítulo 1 e o que se segue é uma abordagem sobre a nova cidade do conhecimento no
capítulo 2. Porém, é interessante demarcar como o ECD vai entender o desenvolvimento
sustentável pois, é um conceito que permeia todo o estudo. Na busca do conceito a ser
utilizado, o ECD cita uma gama muito extensa de autores que trabalharam esse conceito e
seus diferentes usos e também os encontros internacionais sobre a relação entre cidade e
sustentabilidade, começando em 1987 com o projeto Cidades Saudáveis da Organização
Mundial da Saúde, a ECO 92 no Rio de Janeiro, o HABITAT II em Istambul de 1996, a
Rede de Cidades e Povoamentos Sustentáveis de Barcelona em 1997, a conferência Euro-
Mediterrânea de Cidades Sustentáveis em Sevilha de 1999.
Depois disso tudo, o modelo urbanístico proposto segue o esquema
Cidade do Conhecimento
MODELO
CIDADE DIGITAL
Cidade Sustentável Novos Setores Industriais
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Cidade Sustentável – com mínimo impacto ambiental e riscos nos suportes. Um novo
modelo de desenvolvimento: racional e coerente, compacta e diversa, máximo contato e
intercâmbio de informação e também a sua transformação em conhecimento aplicável a
todas as atividades que tem lugar ao ecossistema urbano. Ao mesmo tempo com a cidade
do conhecimento receptora, geradora e transmissora. Dessa forma é possível dotar as
pessoas de mais e maior qualidade de vida que serão cidadãos competitivos e dotarão competitividade ao território.
Novos setores industriais – setores tipicamente urbanos com necessidade de espaço e
localização e também não contaminantes, precisam de espaços urbanos com infra-
estrutura para seu desenvolvimento.
2. A CIDADE DO CONHECIMENTO (p. 33-49)
O segundo capítulo divide-se em quatro subitens: 2.1 Introdução, 2.2 A sociedade do
conhecimento, 2.3 A função das cidades na sociedade do conhecimento, 2.4 Elementos
essenciais da nova cidade. Com base nos conceitos já apresentados o ECD parte para
uma caracterização da cidade e da sociedade do conhecimento baseadas nas TIC.
A informação passa a ter um papel destacado na constituição da cidade, se antes a
quantidade e qualidade da informação eram secundárias ou pareciam estar em segundo
plano, hoje a matéria prima e o produto com que se elabora o conhecimento é justamente a
informação (p.34). Não nos parece correta essa afirmação do papel secundário da
informação na “era industrial”. A informação e o conhecimento, incluindo o conhecimento
espacial e temporal, sempre foram fatores de diferenciação entre pessoas, países,
empresas, etc. Ocorre que hoje a informação e, consequentemente, o conhecimento que
dela pode ser extraído ou adquirido, tomou um impulso muito grande através da maior
distribuição que agora temos. Mesmo assim, ainda devemos relativizar esse acesso total
tão difundido. Na mesma afirmação de que a informação é matéria prima e produto com
que se elabora o conhecimento está o “segredo”. Ou seja, se é matéria e produto, tem
preço. E se tem preço, o acesso é restrito.
A experiência de qualquer internauta um pouco mais experiente ou deveríamos dizer
com mais horas frente ao computador conectado à rede, confirma que a Internet comercial
é uma rede de banalidades em sua maior parte. Facilitando a linguagem, através do html a
World Wide Web facilitou o uso da rede através de uma aparência mais atrativa e
interativa, com imagens, sons, movimentos, aliados à máquinas, placas, cabos, ondas de
rádio, cada vez mais rápidos e eficientes. De um lado, essa “banalização” da ciência da
computação ajudou a desmitificar e desmistificar máquina e rede e, rapidamente,
desapareceram postos de trabalho que chegaram, em certo momento, a ter uma
remuneração razoável, como foi o caso do digitador. Imprescindível nos começos, a
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mesma indústria que o criou, também o extinguiu com o desenvolvimento dos programas
baseados em ícones e mais e mais interativos. Neste momento parece que é o caminho
dos chamados web designers. Programas muito simples ajudam os usuários na
“construção de páginas” pessoais ou empresariais, até com certo grau de sofisticação, sem
que o usuário domine todas as linhas que estão sendo impressas. Linhas que o usuário
não vê, pois já estão transformadas em imagens, frases, textos, pelo próprio programa.
Por outro lado é necessário reconhecer as muitas facilidades que a rede oferece no
intercâmbio, principalmente de mensagens. Assim, é no segredo que está a “matéria prima
e o produto” com que se elabora o conhecimento e, por mais contraditório que pareça, um
segredo é “estar em rede para existir”. Dessa forma, a sociedade do conhecimento parte
de algumas demandas necessárias: capacidade de compreensão, recursos de adaptação,
responsabilidade para mensurar os processos e compreender seu funcionamento. O
exemplo utilizado pelo ECD para o fim do “ensino enciclopédico é o fato de “quando um
exemplar dominical porta mais informação do que podia conhecer ao longo de sua vida um
estudioso monge medieval, o ensino enciclopédico deixa de ter sentido” (p.37).
Acreditamos que essa conclusão não esteja muito condizente com o exemplo dado, não
está lógica. A quantidade de informação possível para um estudioso monge medieval não
implica em nada na derrocada do ensino enciclopédico, por mais que não concordemos
com ele. A premissa é verdadeira, porém o predicado é falso, isso é uma tautologia... A
formação permanente e continuada passa a ser o ideal de ensino-aprendizagem como
relação importante na constituição da cidade do conhecimento.
Emergem com isso também outras formas do conhecer além da intelectual (reflexão,
criatividade, imaginação), das habilidades de gestão (pessoais, organizacionais, trabalho)
aceitando também as capacidades emocionais (afetividade, convenções pessoais). O
câmbio é tão grande que o ECD afirma:
“Os indivíduos enfrentam a uma importante troca cultural com o desaparecimento do
status quo, a qualquer nível. Nenhum sobe definitivamente em nenhuma parte. A única
norma é a troca permanente e a da adaptação constante a cada novo momento (p.37)”.
O ECD até aqui está sugerindo que a sociedade do conhecimento será sempre
processo?
Vejamos a política do conhecimento:
“O respeito à pluralidade informativa e ao intercâmbio real da informação sem
imposições dogmáticas e de forma plural é o único que pode garantir a plena realização da
sociedade do conhecimento (p.38)”.
E,
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“A crescente importância que adquirem as interelações entre diversos elementos fará
que os poderes públicos centrem, em boa parte, sua atuação em propiciar o
estabelecimento destas relações e velar por seu equilíbrio (p.38)”.
Esse item 2.2 encerra levantando questões e fazendo afirmações contraditórias, pelo
posicionamento político que defende. Vejamos. Primeiro o “desaparecimento do status
quo”. Literalmente status quo significa o estado em que, e está relacionado à diplomacia
para designar o estado de coisas em determinado momento e na sociologia às relações
sociais ou a cultura em um momento determinado. Pela própria definição do termo já
vemos a impossibilidade do desaparecimento de uma situação de coisas ou relações
sociais em momento determinado, e esse momento é hoje! Aprofundando ainda mais, a
afirmação fala de indivíduos. Em latim individuum significa o indiviso, denotando uma
unidade essencialmente indivisa e indivisível porque é uno, enquanto tal, nunca pode
existir multiplicado e, por conseguinte, várias vezes4.
Para um projeto que deve buscar a unidade social, optar pelo uno se apresenta
como uma escolha duvidosa ou mesmo equivocada quando a proposta é uma “troca
permanente e a adaptação constante a cada momento”. Troca entre indivíduos? Parece
difícil. A seguir reforça nossa impressão de que falava, ou deveria falar, em sujeitos e não
indivíduos. Aqui as teses libertárias(?) defendidas sobre o respeito à pluralidade esvaziam-
se quando o “Estado é chamado a velar pelo equilíbrio”. Mais ainda, se o ECD “põe fim” ao
status quo, a quem o Estado vai defender? Que demandas sociais seriam essas na nova
sociedade sem status quo? Ainda nos resta responder, ou pelo menos refletir sobre a
pergunta proposta anteriormente sobre a sociedade do conhecimento como sempre em
processo. Óbvio está que não estamos pensando em começo-meio-fim. Mas o próprio
ECD, por todo texto, visto até agora, insiste em câmbios e revolução. É de supor uma
revolução dentro de outra?
O processo hegemônico que o ECD tenta passar como possibilidade para a
população do Poblenou e de Barcelona no geral, é resultado da homogeneização por sobre
outros processos, ou seja, a posição do ECD implica em aceitar um pensamento único que
é a lógica da tecnologia da informação sem levar em conta os demais processos, inclusive
o industrial que, para o ECD, está superado. Não percebe o estudo que a alta tecnologia
não irá moldar o bairro, ao contrário, é o Poblenou quem está possibilitando sua
implantação em Barcelona. Com isso, a constância do processo, ou o Poblenou como
paradigma do novo solo industrial da Catalunha, será hegemônico e aceito até que um
novo paradigma o substitua e, será interpenetrado também pela lógica do espaço banal, o
espaço do cotidiano, que não pode ser medido pelo mesmo tempo do tempo hegemônico 4 BRUGGER, Walter – Diccionario de Filosofía. Barcelona:Herder, 14ª ed, España, 2000, p. 306 (tradução nossa)
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da sociedade informacional. Como já tentamos mostrar, o segredo não está acessível a
todos e, mais uma vez, a matéria prima do conhecimento não atingirá todos no bairro e em
Barcelona.
Dois são os tipos de conhecimento apresentados pelo ECD (p.36). Como
codificado, aquele que se pode estruturar como uma mensagem e tratar posteriormente
como uma informação e possível de ser colocado em um suporte externo, possível de
converter-se em produto, e o conhecimento tácito ou o que é implícito e não formal, que
dificilmente pode ser configurado em um suporte e transmitido como informação pois
‘sabem mais do que são capazes de expressar’, tendo como exemplo o Know How. Muito
bem, esses “dois conhecimentos” estão inter-relacionados na realidade vivida, desde que
possamos ampliar o conhecimento tácito para além do Know How e que o conhecimento
codificado inclua o suporte humano, pleno de experiências, o único – ainda – possível de
transmitir emoções e que o produto final gere outras maneiras de conhecimento tácito.
Nessa dialética pode estar a geração de valor, porém valor agregado e na interação entre o
espaço transformado e as pessoas que nele vivem. Também pode ser uma maneira de
integrar o espaço banal na lógica do “espaço único”, que o MPGM de Barcelona espera.
O subitem 2.3 trata da função das cidades na sociedade com conhecimento, tendo a
cidade como o “âmbito de referência da cidade do conhecimento” (p.39). Essa afirmação,
quase uma definição de cidade, pois âmbito implica um conjunto de circunstâncias,
relações e conhecimentos relacionados por um ponto em comum, aqui o conhecimento e,
ao mesmo tempo, pode ser um espaço determinado, Barcelona. Não é um processo novo
eleger a cidade como o local ideal para desenvolvimento das atividades produtivas e de
conhecimento. Já na primeira fase da revolução industrial na Inglaterra, entre 1760 e 1860,
a cidade será o palco da concentração da atividade industrial, da aglomeração de pessoas
e das transformações tecnológicas, como por exemplo a ferrovia, em 1825. Esse processo
que comprometeu a ordem social, então vigente, se estendeu, entre crises e superações
por todo o globo como o modo de produção capitalista, evidente que os tempos não foram
os mesmos para todos os espaços.
De volta ao ECD, eleger a cidade não constitui algo excepcional, porém, a forma de
elegir é o que realmente interessa. Aceitando o que foi dito anteriormente como uma
definição de cidade, o estudo prossegue para chegar às suas funções, considerando o
novo contexto que as TIC abriram para o mundo. Essa internacionalização “gera uma
interdependência cada vez maior entre as áreas urbanas e convertem a competência entre
as cidades em um jogo que tem lugar no tabuleiro da economia internacional” (p.39).
E, mais importante:
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A cidade deixa de ser uma mera localização geográfica para vir a ser uma estrutura dinâmica e complexa 5 que participa ativamente na criação de recursos e
competências ...A cidade funciona como uma grande engrenagem difícil de construir e
que demanda uma constante atenção e um serviço permanente de renovação (p.40).
Dois pontos precisam ser destacados por sua importante posição teórica no estudo.
O primeiro é uma simplificação e é o que foi destacado sobre a “mera localização
geográfica”. A cidade sempre foi complexa. Entendida como estrutura (Escola de
Chicago), sistema (Milton Santos), palimpsesto (Carles Carreras), interação (Paul Claval),
ponto de concentração (Lewis Mundford), forma (Marcel Roncayolo), signo (Lucrésia
D’Ambrósio), subjetiva (Felix Guattari), informacional (Manuel Castells), apenas para
citarmos alguns exemplos, a cidade sempre exigiu uma abordagem complexa para poder
ser analisada. Nos momentos cruciais de transformações tecnológicas, e esse é somente
um aspecto, a cidade é o palco onde a possibilidade está aberta. Assim, quando adiante, o
estudo afirma a “sociedade do conhecimento pode ter nas cidades a sua ponta de
lança...e...a primeira condição indispensável, imposta pela globalidade, é existir no mapa,
ser um ponto de referência e atração” (p.40), na verdade está reproduzindo o discurso
universal do qual falávamos anteriormente e isso somente tem lugar nas cidades.
Existir no mapa representa estar na rota do capital internacional e com as
adequações que esse capital necessita: flexibilidade, redes, inversões em infra-estrutura. É
o que sugere o ECD utilizando os 3C de Kanter, que afirma: “os centros urbanos deverão
investir nos 3C: conceitos, capacidades e conexões, isto é, investir em inovação e
criatividade (conceitos), fomentar a aplicação e a difusão das experiências e os
conhecimentos tácitos e garantir as capacidades de produção e de consumo (capacidades)
e, finalmente, dispor das vias de comunicação e acesso aos outros pólos mundiais de
atividade para assegurar as relações com o resto do mundo (conexões). Essa “bonita idéia”
é compatível com a desregulação da economia e as conseqüências sociais disso, como a
diminuição ou o fim do Estado de bem estar e está muito perto da gestão empresarial
nipônica, com os 5S, que visam atingir um nível e índice produtivo alto através de objetivos
previamente estipulados para os setores produtivos nas fábricas. Isso fica claro na
afirmação de que “a cidade funciona como uma engrenagem difícil de construir”, que é uma
metáfora industrial e, mais grave, vai contradizer o abordado adiante afirmando a cidade
como um ecossistema (p.51). A cidade é mais que uma engrenagem, poderíamos
dizer que é parte e todo ao mesmo tempo, dialogando constantemente nestas duas
escalas, conforme o movimento social.
5 grifo nosso
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Adiante vai afirmar que a “cidade do conhecimento está em processo evolutivo”
(p.40). Ora, uma engrenagem sugere algo acabado, mecânico, funcionando dentro de uma
máquina que a contém, parte de um todo, retroalimentado por fator externo. Como pode
estar em processo? E ainda, processo evolutivo? As metáforas usadas são, como afirma
Milton Santos, flashes isolados e não permitem teorizar... O processo evolutivo está
relacionado ao aparecimento de uma coisa, entendendo coisa no sentido filosófico amplo
do objeto do qual podemos falar, pensar ou emitir juízos, como o Ding que tem conexão
com o Denken (pensar, em alemão) e significa o pensado para evitarmos uma discussão
existencial sem fim sobre o ser. Essa coisa tem um começo, meio e um fim. No caso aqui
estudado, da cidade do conhecimento, o fim é a própria cidade do conhecimento
implantada?
Parece-nos um dualismo entre cidade industrial X cidade do conhecimento, como se
o modelo industrial estivesse encerrado ou, como se o modelo baseado no conhecimento
fosse a rendição para a cidade de Barcelona. Ocorre que a sugestão do ECD é para um
bairro, com prazo de 10 anos para a sua efetivação e na verdade é um processo que já
vem em curso desde 1992 (para fixarmos uma data) e culmina hoje no MPGM. Mesmo
quando o ECD afirma que “o novo câmbio que conduz a um tipo de desenvolvimento
baseado no conhecimento também pode gerar seqüelas em forma de desequilíbrios entre
setores da população (os que têm acesso e os que podem ficar marginais na sociedade do
conhecimento) e entre atividades produtivas. A estratégia global da cidade deve basear-se
em sua capacidade de inteligência, quer dizer, em aproveitamento de recursos que
proporcionem um amálgama de conhecimentos e as suas interelações, previamente
identificadas”., retomamos a questão evolutiva: há que prover condições para que todos
evoluam?
A resposta, sem dúvida, é afirmativa. Mas devemos ter claro que o capitalismo não é
distributivo mas cumulativo. Dessa forma, a flexibilização, o pós-fordismo de que Harvey
fala, foi a maneira encontrada pelo capital para continuar acumulando e não para propiciar
a distribuição. No caso do bairro Poblenou, toda transformação em curso dotará a
população mais velha de condições de aproveitar seu potencial? Talvez a pergunta inicial
seja, tudo isso diz respeito às gerações mais velhas? Quando vemos os elementos
essenciais da nova cidade, que é o item 2.4, do qual o ECD destaca três que mais se
relacionam ao projeto, temos:
a) o sistema educativo e de formação permanente.
b) o sistema R+D.
c) os serviços avançados (p.42).
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Anais do X Encontro de Geógrafos da América Latina – 20 a 26 de março de 2005 – Universidade de São Paulo
De maneira simplificada podemos dizer que os três elementos destacados têm em
seu centro a empresa. O gráfico da página 46 é muito elucidativo para isso. Esse esquema
evidencia o que já foi dito até aqui. No item A, a formação permanente, ou utilizando a
proposta da UNESCO com o aprender a aprender, é o que está em jogo. Os centros de
ensino devem capacitar seus alunos (ou clientes?) para aquilo que mais será essencial em
tecnologia e humanidades, em uma relação direta com a sociedade onde está inserida e
dentro da especialização donde melhores resultados estiver obtendo: “sendo muito realista
para saber que não se pode ser bom em tudo, deveria concentrar os esforços naquelas
disciplinas em que a especialização tem mais sentido, e onde estejam concentrados as
melhores condições”. Como eleger critérios para onde as especializações tenham mais
sentido? Afinal, públicos ou privados os centros de ensino são empresas e as inversões
são feitas a partir da demanda de mercado, daí a ocorrência de alguns cursos de moda. A
alteração na forma de acesso à universidade vem ao encontro desse exemplo proposto
pelo gráfico, ao menos teoricamente. Do mesmo modo as mudanças que dificultam ou
impossibilitam a “repetência”, partindo da premissa de que não existe conhecimento zero
ou nulo, seguem na mesma direção.
Aqui entra o papel relevante da formação permanente, ou seja, o de ser competente
para o capital. O ECD informa do que é possível fazer dentro da empresa, porém é preciso
ampliar para a importância do capital cultural doméstico, ou a bagagem de conhecimento e
informação que capacitam as crianças e jovens para serem competentes para o capital no
futuro. Em Dewey já víamos a importância da escola na socialização, para viver em
sociedade, pois a escola repete todas, ou a maioria das situações que as crianças
encontram quando crescem: disputas, brigas, vitórias e fracassos, negociações para atingir
objetivos, seleção de pessoas por hierarquia, por temperamento, classe social, etc.
O item C, dos serviços avançados, aborda a aplicação da tecnologia desenvolvida na
produção e circulação de mercadorias e idéias, reduzindo custos e tamanho das empresas
com a terceirização e a criação de pequenas empresas prestadoras de serviços. Dessa
maneira, “ainda que definidos como geradores de conhecimento e fluxos e informação
(Normam,1993) e portanto independentes, a priori, do território que ocupam, estudos
demonstram que seguem um modelo de concentração nas áreas urbanas. Estes serviços
estão no centro de todos os processos econômicos e são um dos atores mais rentáveis da
cidade do conhecimento” (p.49). A cidade passa a ser o lugar do desenvolvimento do
conhecimento por excelência. O capítulo 3 – Análise Territorial – vai definir a qual cidade o
estudo está se referindo: “ a cidade que é um ecossistema” (p.51), esse é o título que abre
o subitem 3.1, sobre a necessidade de um modelo territorial de usos compartilhados.
Começa definindo o ser da cidade:
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Anais do X Encontro de Geógrafos da América Latina – 20 a 26 de março de 2005 – Universidade de São Paulo
“A cidade é, sobretudo contato, regulação, intercâmbio e comunicação”6.
Esta é a base epistemológica sobre a qual se sustenta depois o resto dos
componentes que acabam por constituí-la. A estrutura, a forma de produzir a cidade, a
paisagem urbana, a sua monumentalidade, a mobilidade e todo o mercado são aspectos
secundários ou parciais em relação com aquilo que é essencial na cidade, que é a
interação entre os cidadãos e as suas atividades e instituições. E como sistema define:
“Em essência o contato, a regulação, o intercâmbio e a comunicação estão no marco
da relação entre pessoas, coletivos e instituições, que são portadores principais de
informação da cidade diferentes que se alimentem, regulem e controlem pela transmissão
de informação entre eles. É o que dizemos sistema” (p.51)
Finalmente, ecossistema:
“Efetivamente, um sistema é formado por elementos e por interações que ponham
em relação uns elementos com os outros. Quando um sistema conta com organismos
vivos, dizemos ecossistema. No caso de que nos ocupamos, ao sistema dizem-lhe cidade
e dado que o principal componente da cidade é o homem (um organismo vivo) fica claro
que os sistemas urbanos também são um ecossistema” (p.51).
Apesar de longos, parece-nos importante e oportuno citar todos esses conceitos
textualmente para podermos verificá-los com mais precisão.
As três citações indicam o que é:
- a cidade.
- a base epistemológica seguida.
- um ecossistema.
E ainda incluem outros conceitos não definidos:
- estrutura.
- forma de produzir a cidade.
- paisagem urbana.
- monumentalidade.
- território (esse no próprio título do subitem).
6 grifo nosso
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Anais do X Encontro de Geógrafos da América Latina – 20 a 26 de março de 2005 – Universidade de São Paulo
Pela definição de cidade e também das outras definições, fica claro que não se está
retornando à visão naturalista da cidade. Ao contrário, o estudo busca uma teorização para
pensar a “nova cidade do conhecimento”. Essa visão ecossistêmica permite abordar a
cidade a partir do conceito de sustentabilidade que será apresentado mais adiante e se
mostra, praticamente, central no novo setor produtivo das TIC, uma sinergia entre
desenvolvimento sustentável e sociedade do conhecimento.
Conforme apresentado por Castells em sua trilogia sobre a Era da Informação, o
discurso ambientalista pode ser resumido em quatro linhas:
a) uma relação estreita e ao mesmo tempo ambígua com a ciência e tecnologia.
b) o ambientalismo é um movimento com base na ciência.
c) os conflitos sobre a transformação estrutural são sinônimos da luta pela redefinição
histórica das duas expressões fundamentais e materiais da sociedade: o tempo e o
espaço.
d) Da mesma forma que o espaço, o controle sobre o tempo está em jogo na sociedade
em rede, e o movimento ambientalista é provavelmente o protagonista do projeto de uma
temporalidade nova e revolucionária (CASTELLS, vol.2, p. 155-7).
Os conceitos definidos, de modo geral, encaixam-se nessas quatro linhas citadas
pelo autor espanhol, desde o ser da cidade até o ecossistema. Partem da relação entre
cidadãos e suas atividades e as instituições, o que seria a essência da e na cidade. Isso
vai implicar, para os experts que prepararam o MPGM de Barcelona, superar o confronto
entre o tempo e espaço locais e os globais. Prevalecendo o primeiro, que é a essência, o
segundo fica comprometido em sua funcionalidade produtiva, pois controla os fluxos que
definem o território de atuação e geração da mais valia, baseada nas TIC. Caso prevaleça
o segundo, desloca-se a essência da cidade para as atividades que ali estão sendo
desenvolvidas e compromete a visão ecossistêmica.
A base epistemológica: contato, regulação, intercâmbio e comunicação implica por
seu lado, na maneira como o conhecimento da cidade vai ser possível e suas categorias ou
os modos de ser da cidade. O sistema, como conhecimentos articulados e múltiplos, busca
uma totalização. É esse sistema articulado que vai permitir reconhecer a cidade como um
ecossistema, ou seja, a categoria analítica interna que, junto às outras, deve possibilitar as
modificações no PGM de Barcelona. Ao considerar o homem como um organismo vivo e
principal na cidade, o que implica reconhecer a cidade como um ecossistema, o ECD evita
recair na “cidade como um organismo vivo”, uma visão naturalista da cidade e pode, a
partir do Poblenou, articular a sustentabilidade sem contrariar a forma de acumulação que
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se dará na cidade. Isso sustenta a tese do Poblenou como o “novo solo industrial da
Catalunha” que, aqui, é o território.
Dessa maneira, o território está entendido como uma “porção do espaço” donde as
muitas relações estão se processando na direção determinada pelas mudanças na cidade
– a regulação, intercâmbio e comunicação. Sendo que esta última situação traz, com o
aumento quantitativo e qualitativo, maior complexidade ao sistema com menor gasto de
energia. Duas formas de fazer a cidade são citadas: a cidade difusa atual e a cidade
compacta e diversa mediterrânea.
A cidade difusa atual, conforme o ECD, é aquela que “aumenta a complexidade do
conjunto da cidade e simplifica a complexidade das partes, consumindo grande quantidade
de energia e outros recursos materiais como solo, materiais, etc. Sem obter um aumento
da complexidade equivalente a quantidade de recursos consumidos” (p.52). A cidade
difusa é aquela que expande sem a preocupação do uso racional do solo, aumentando em
tamanho sem que haja condições estruturais para tanto. Isso compromete o espaço rural e
produtor de alimento diretamente. Ressaltamos que há um bom tempo a relação campo-
cidade já modificou para a cidade do campo, e não ao contrário, pela difusão de
informação, ciência e tecnologia já citados. Não é o caso, então, de segregar o homem ao
campo idílico, isso e esse não existem mais. O que vemos na cidade difusa atual é a
expansão em tamanho sem possibilitar que o ganho urbano em comodidade e serviços
atinja a todos e, disso resulta, a diluição da complexidade pela monofuncionalidade dos
espaços dificultando os contatos entre os diversos usos e os cidadãos que dele e nele
participam. Como exemplo temos áreas industriais, áreas residenciais, áreas universitárias,
bancárias, hipermercados, separados fisicamente pela cidade.
Os gastos são muito maiores para conseguir a complexidade, nos termos propostos
aqui. Gastos em tempo de deslocamento, energia, infra-estrutura, priorizando o particular
em detrimento do público. É comum pessoas se deslocarem das residências solitárias em
seus automóveis, assim como é comum o resultado disso em grandes congestionamentos
nas cidades de maior porte. Os contatos pessoais também perdem em qualidade nessa
situação, já que os bairros residenciais passam a ser refúgios e a casa é a fortaleza maior.
“A execução do modelo funcionalista revela profundas disfunções não resolvidas e
assim os espaços com uma função predominante ficam desertos e sem vida em períodos
temporais determinados (certas horas do dia, férias, etc.). Outros espaços, por exemplo o
centro ou algumas periferias vêem como a sua população envelhece, ao mesmo tempo
que se degrada o parque edificado e o espaço público. A degradação física é precursora
da ocupação dessa áreas por pessoas com poucos recursos e em situações marginais
com poucas possibilidades de crescer individual e coletivamente” (p.56).
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O resultado disso é:
“A concentração de cidadãos com estas características tanto no centro como na
periferia pode criar graves problemas de instabilidade, violência e insegurança, atividades
marginais e delitos e em situações de desobediência civil. Quando isso ocorre é fácil que
as ruas estejam dominadas por grupos com interesses não regulados pelo estado de
direito e que os direitos democráticos se ressintam” (idem).
O modelo proposto pelo ECD para a modificação do PGM é a cidade mediterrânea
compacta.
A CIDADE MEDITERRÂNEA COMPACTA
A cidade mediterrânea compacta é um modelo urbano que possibilita a
sustentabilidade social, econômica e ambiental: “compacta e densa, com continuidade
formal, multifuncional, heterogênea e diversa em toda a sua extensão” (ibidem), pois
contempla o essencial da cidade – regulação, intercâmbio e comunicação. O ECD utiliza
seis pontos para tratar e examinar esse modelo:
a. Proximidade e economia de recursos.
b. A cidade compacta aproveita melhor os recursos para manter e fazer mais complexa a
cidade.
c. Estabilidade e aumento da complexidade em todo território urbano.
d. Lentidão e qualidade no crescimento dos sistemas urbanos.
e. Competitividade, exploração e sustentabilidade da cidade compacta e diversa: um
modelo para a nova cidade do conhecimento.
f. Qualidade urbana e qualidade de vida.
Com esses pontos, o ECD retoma a máxima de que não é necessária uma cidade
grande, mas uma grande cidade.
O item a responde pela questão da distância entre o lazer e o morar, o trabalhar e o
morar que são facilitadas pela melhor distribuição dos equipamentos sociais e o
melhoramento das vias de acesso, que podem ser vencidas caminhando, inclusive
melhorando as áreas verdes, não necessariamente grandes, “não é necessário que sejam
grandes praças nem grandes parques, pequenas praças e perspectivas com pontos de
verde entrelaçados são suficientes” (p.58). Com essa possibilidade, o número de carros
particulares diminui nas ruas e, em conseqüência, diminui a concentração de CO2,
melhorando a qualidade de ar e de vida.
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Anais do X Encontro de Geógrafos da América Latina – 20 a 26 de março de 2005 – Universidade de São Paulo
Outras redes de transporte são passíveis de melhora para garantir a qualidade
desejada, são as redes de energia, água, telefone, esgoto e também a rede de fibra óptica.
Informa o ECD que a rede de alta voltagem ocupa hoje 100 km², o que eqüivale a todo
município de Barcelona, utilizando em espaço que poderia ser melhor aproveitado se fosse
subterrâneo, tanto pelo impacto visual (estético) quanto pela segurança (técnico) dos
66.000 volts ao ar livre. A última afirmação desse item é categórica:
“Em uma outra ordem de coisas o acesso às redes de serviços telemáticos deve
ser um direito de todos os cidadãos como um dos direitos básicos que oferece a cidade
quando se faz uso do princípio de igualdade7” (p.58).
Isso é importante para garantir a não-segregação tecnológica das pessoas, tanto no
momento de transição quanto após sua implantação. Retoma a “banalização” de que
dizíamos anteriormente, ou seja, que a tecnologia não seja apenas para uma minoria de
iniciados.
O item b, sobre o melhor aproveitamento da energia na cidade compacta e,
consequentemente, aumento da complexidade, indica uma fórmula onde H=diversidade e
E=energia consumida. Assim, por meio do quociente E/H, o seu aumento ou diminuição em
um espaço pode converter-se em energia para todo o sistema. Aumentando o H temos
idéia de maior proximidade, com uma diversidade espacial maior. Isto é importante quando
o maior dispêndio de energia na cidade é o transporte mecanizado e, reduzindo a distância
por meio das TIC, a economia passa a ser maior. Conclui que a “planificação do território,
base das ações, que diminuíssem o quociente E/H permitiriam corrigir, em parte, as
disfunções do sistema atual e fazer flexíveis algumas das variáveis que hoje mais
condicionam o funcionamento do ecossistema urbano e seu entorno. A sua lógica interna
inclui:
.aumento da complexidade em espaços relativamente reduzidos;
.diminuição em ocupação do solo, realizando as mesmas funções;
.redução do tempo para o contato entre os diversos;
.redução de energia consumida para manter e fazer mais complexo o sistema;
.reduzir a instabilidade por que proporciona um número maior de circuitos reguladores
(p.59).
7 O termo catalão utilizado no texto é equitat (equidad no castelhano) que pressupõe uma igualdade jurídica, diferente de equidade em português que é igualdade, retidão para repartir coisas ou para tratar pessoas. Portanto, o termo catalão tem muito mais “peso” do que a tradução poderia sugerir.
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Anais do X Encontro de Geógrafos da América Latina – 20 a 26 de março de 2005 – Universidade de São Paulo
Neste ponto (item c) o estudo já começa a direcionar suas afirmações para a
aplicação do modelo proposto em um bairro, pois este possibilita uma análise mais
apurada das vantagens e desvantagens. Aumentando a diversidade de usos no bairro,
num mix de residências, atividades econômicas, serviços e equipamentos, proporciona
maior complexidade e sustentabilidade. O fato de existir informações anteriores
materializadas na paisagem – as rugosidades – não dificulta a implantação do modelo
proposto visto que a complexidade sem aumento do solo urbano utilizado é fator de
desenvolvimento e competitividade das cidades, utilizando menos e melhor a energia
disponível. A justificativa utilizada pelo ECD é que não convence muito, pois busca nas
ciências naturais aquilo que é sócio-cultural, exemplificando que várias árvores podem se
mesclar mesmo que uma espécie domine “grande parte do espaço de um território” (p.64).
Em nosso entender, o fato de uma atividade econômica dominar um espaço não prejudica
as outras, ao contrário, o que temos são várias atividades dividindo o mesmo espaço. Isto
não implica que todas as atividades sejam hegemônicas. Nesse ponto, a industrialização
no Poblenou foi garantindo gradualmente sua hegemonia, naquele território e na cidade de
Barcelona, junto às outras áreas (Sants, Gràcia, Raval).
A questão principal é a teórica. A busca de um naturalismo, mesmo que tenha sido
“apenas uma maneira de se expressar” ou de se fazer entender. O estudo, como
lembramos várias vezes, foi uma das bases para o MPGM de Barcelona e, nesse sentido,
não é possível admitir um exemplo desses, pois implica naturalizar aquilo que é
sociocultural e, por seu turno, pode levar a uma simplificação do processo por parte
daqueles que o dirigem. Isso facilitaria ações de especulação imobiliária, segregação
tecnológica, desmobilização de vizinhos, contrário a tudo que o ECD vem afirmando até o
momento e o que ainda virá. Também devemos lembrar que anteriormente foi colocada a
cidade como ecossistema devido ao homem ser um corpo vivo. No caso da especulação
imobiliária, a simplificação do processo da cidade do conhecimento pode ser entendido
como possibilitar uma área com edificações de determinada infra-estrutura para morar e/ou
trabalhar (os lofts) ou gerar uma corrida em novas construções, conforme as normas
aprovadas permitissem. Se é certo que em Barcelona os PGM não destroem a cidade para
construir outra, também é certo que o solo urbano é mercadoria e esse movimento é
internacional. A segregação tecnológica já foi tratada aqui quando falamos do segredo.
Essa e a questão sobre a desmobilização dos vizinhos e, claro, a especulação, estão todas
imbricadas. Em todo esse processo não é possível e nem desejável a simplificação, pois a
complexidade deve ser um dos objetivos a ser alcançado através de uma nova forma de
fazer urbano.
O item f trata de qualidade urbana e qualidade de vida enlaçando o que estávamos
dizendo anteriormente. Ambas as qualidades dependem de fatores sócio-econômicos e
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Anais do X Encontro de Geógrafos da América Latina – 20 a 26 de março de 2005 – Universidade de São Paulo
físico-espaciais e se faz necessário orientar sua forma, gestão, a saúde pública, fomentar o
contato, intercâmbio e comunicação, segurança, preservando nos bairros os espaços
públicos e edifícios com significados históricos e culturais. Pelo exposto, vê-se a dura
tarefa de promovê-los, pois é necessário aliar os objetivos físico-espaciais e os sócio-
econômicos. Os primeiros que o MPGM deve adequar em seus projetos de modificação
territorial de maneira que o solo urbano atinja o esperado, sem danos maiores a longo
prazo. Isso pode esbarrar em problemas políticos de continuidade administrativa (eleições,
liberação de verbas, atrasos etc.) Tampouco os objetivos sócio-econômicos não estão com
menos problemas, já que, ao mesmo tempo que precisam responder às demandas
imediatas, precisam também prever e prover as de médio e longo prazos. Assim, os
objetivos mais técnicos (físico-espaciais) precisam estar respondendo e movimentando os
outros dois (sócio-econômicos). Isso representa um movimento de responder, oferecer e
voltar a perguntar pelas demandas. Dessa maneira, a qualidade torna-se um constructo
permanente, sem o qual arriscaríamos aprisionar a qualidade em padrões temporais que
estariam rapidamente superados e apenas idealizados. Ao atingir um objetivo na qualidade
urbana e de vida, outro se apresenta de imediato.
Ainda buscando justificativa para a esse item, o ECD cita Quim Larrea e Juli Capela,
para quem os objetos do futuro ou nos próximos 15 anos – eles escreveram em 1996 -
serão “pequenos, leves, perduráveis, reparáveis, desmontáveis, portáteis, degradáveis,
eficientes, multiusos, recicláveis, reciclados, reutilizáveis, compartidos e afetivos, não
tóxicos e nem perigosos” (p.67).
Concordamos com tudo isso e acrescentamos: rentáveis e produzíveis em escala
industrial...
Sem ironias, desde que o desenho industrial é estudado e projetado dentro de
critérios mais científicos, isso é o que todos os designers buscam. Uma olhada no Museu
do Design de New York comprova as raras vezes em que isso foi alcançado até hoje.
Será que nessa primeira década do século, finalmente, alcançaremos?
Era desse tipo de idealização de que falávamos anteriormente... O papel da ciência
não é prever o futuro, mas antecipar. Porém, nos importa a qualidade de vida e a qualidade
urbana discorrida no item f. Pelo exposto, vê-se a dura tarefa de promovê-los, pois é
necessário aliar objetivos físico-espaciais e sócio-econômicos.
O próximo item – 3.6 – é importante por que oferece os objetivos e propostas jurídico
urbanísticas e, destaca o Poblenou, como paradigma do novo solo urbano (no item 3.7)
deixando outras áreas possíveis para poucas páginas do final do estudo. Assim, Mataró,
Sabadell e Terrasa, áreas industriais da região metropolitana, são tratadas em conjunto
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Anais do X Encontro de Geógrafos da América Latina – 20 a 26 de março de 2005 – Universidade de São Paulo
apenas no item 3.8. Isso reforça mais a proposta e posição do ECD em relação ao
Poblenou como a melhor opção para o 22@ BCN.
Construindo a cidade do conhecimento
Os estudos sobre a transformação do bairro do Poblenou, através do projeto
22@BCN, prosseguem. Até aqui apresentamos nossos estudos dos textos de extrema
importância para a execução das obras em Barcelona: o ECD8 - Estudi Ciutat Digital do
Institut Català de Tecnologia (ICT) do ano de 1999. Consideramos como os mais
importantes por serem a base teórica e a oficialização das mudanças, respectivamente. O
primeiro serviu de base para o segundo e, juntos, requalificam uma área da cidade e a
renovação pode ser executada no espaço ou, dizendo de outra maneira, formam as duas
potencialidades necessárias: a potencialidade do conhecimento técnico e a potencialidade
da ação, isto é, a política (SANTOS:2000,93-4).
Analisamos os dois estudos a partir dos conceitos de território informatizado e
Cidade do Conhecimento, este último muito utilizado, no sentido de que tanto as redes
telemáticas quanto as cidades que oferecem infra-estrutura para atividades TIC, são assim
denominadas. Dessa forma, a web page da Universidade de São Paulo
(www.cidade.usp.br) informa que é uma cidade do conhecimento, definindo os objetivos a
serem alcançados com a iniciativa, da mesma forma que na web page da cidade de
Barcelona podemos ter uma idéia do que a prefeitura está fazendo e oferecendo no bairro
do Poblenou (www.bcn.es). Enquanto informação disponível ao usuário da Internet, as
duas estão realmente explicitando maneiras de fazer a Cidade do Conhecimento, porém, é
na materialidade que as coisas se tornam diferentes sendo necessária uma teorização para
sabermos do que realmente estamos falando quando tratamos de Cidades do
Conhecimento.
O conceito de território pode ser abordado de diversas maneiras, considerado em si-
mesmo, e nesse caso, separado da vida que o faz ter sentido material e histórico ou, como
território utilizado, conforme o faz Milton Santos9 para afirmar a vida que movimenta o
território e a “inseparabilidade entre a materialidade, que inclui a natureza, e o seu uso, que
inclui a ação humana, isto é, o trabalho e a política”. Aqui utilizamos o conceito de território
informatizado aceitando a materialidade do território utilizado. O recorte através do território
informacional possibilita entender como determinados processos foram possíveis ali e não
em outro local, mas não estão alheios ao todo. Podemos mesmo dizer que, num primeiro
8 Conforme já indicado no início deste texto, o Estudi Ciutat Digital será grafado como ECD. 9 SANTOS, Milton & SILVEIRA, Maria L. Brasil. Território e Sociedade no início do século XXI. SãoPaulo:Record, 2001
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Anais do X Encontro de Geógrafos da América Latina – 20 a 26 de março de 2005 – Universidade de São Paulo
momento, foi o território informacional, ainda virtualizado, o que possibilitou o surgimento
ou a idéia da Cidade do Conhecimento e não ao contrário.
O que o distingue conceitualmente das outras maneiras de abordagem é a carga de
informação e conhecimento, encarada como um recurso desse território que o distingue de
outras áreas que – ainda – não possuem esse recurso, implicando uma transformação
radical em toda a sua área de atuação e muito além de suas fronteiras físicas. O território
informatizado está ligado por outras formas de redes de fluxos, podemos dizer mais fluídas,
em comparação às redes de tráfego de automóveis, trens etc., que também o compõem.
O território informacional é uma construção importante para a formação da Cidade do
Conhecimento e, no exemplo estudado mais ainda, pois é uma cidade “já formada”, isto é,
onde não é possível e nem desejável uma transformação radical, derrubando grandes
áreas para construção de novos projetos. O que trafega nas redes de fibra ótica desse
território informacional forma outra materialidade que se expressa também de maneira
diferente nos territórios, conforme as propostas das empresas e, em certa medida, da
sociedade para execução do Ajuntament de Barcelona no Poblenou.
É dessa maneira que o território informacional pode ser chamado de Cidade do
Conhecimento.
Por outro lado, o conceito de Cidade do Conhecimento não pode ser tomado de
imediato como uma metáfora para as cidades com esse componente informacional. Isso
porque em um prazo muito curto toda a cidade estará envolvida com os fluxos gerados no
território informacional. Este não está além e nem mesmo fora do âmbito urbano das
cidades que os acolhe, ao contrário, são possíveis dentro de processos mais gerais do
desenvolvimento delas. Dessa maneira, não podemos “retirar” o Poblenou de Barcelona ou
ainda entendê-lo fora de um contexto mais geral que é a globalização.
Podemos também pensar o território informacional como o resultado de uma área
não valorizada pelo capital nos processos anteriores vividos pela cidade e, nesse sentido,
seria como área de reserva que precisou esperar novos fluxos espaciais e temporais para
se consolidar como estratégica em sua cidade e região. O que este primeiro momento nos
mostra é a utilização de um local anteriormente destinado às indústrias e depois
abandonado por essa atividade, porém, neste momento a informação (o recurso) configura
o Poblenou como uma área de abundância pela qualidade técnica da informação
disponibilizada e a ser disponibilizada: a informação vertical que é operada através de
satélites, cabos e outros aparatos tecnológicos, ao mesmo tempo em que também deve
garantir a informação horizontal, baseada na co-presença (Idem:Idem)
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Anais do X Encontro de Geógrafos da América Latina – 20 a 26 de março de 2005 – Universidade de São Paulo
Os territórios informacionais ocupam os fixos de um tempo que não será esquecido
através da preservação de antigos edifícios industriais, mas que não mais irá gerar os
mesmos resultados sociais e econômicos. Tudo indica que passado esse primeiro
momento de aproveitamento dos fixos industriais, o território informacional necessitará
dispor de outros locais da cidade e esse crescimento se voltará mais para a infra-estrutura
que para a arquitetura disponível, como ocorre hoje, o que estará em jogo é a possibilidade
de compor outras áreas de abundância em Barcelona.
A cidade de Celebration (EUA), para buscar uma experiência contrastante,
comprova essa tendência quando é construída inteiramente com componentes de alta
tecnologia. O fato é que Celebration inverte o caminho, de cidade projetada aos moldes de
Cidade do Conhecimento, passará a ser um território informatizado quando for “repassado”
para Osceola County10. A rua de mão dupla (para lembrar Walter Benjamim11) que os
territórios informacionais possibilitam, denotam a flexibilização dos processos urbanos em
curso e futuros. A contra corrente dessa rua de mão dupla é a retradicionalização através
da arquitetura do século XIX de Celebration e das naves industriais transformadas em
apartamentos, escritórios, lofts de Barcelona.
De toda maneira, o projeto de atuação no território informacional visa dotar a
metrópole com aquilo que hoje é necessário para os investimentos de origem nacional ou
transnacional. Por exemplo, é quase unânime a voz de arquitetos e urbanistas em
Barcelona quanto a necessidade de fazer metrópoles compactas, densas, heterogêneas
em sua extensão tendo em vista sempre que a “cidade é, sobretudo, contato, regulação,
intercâmbio e comunicação”12, em oposição àquelas difusas, homogêneas e
especializadas.
Também o território informatizado distingue-se dos fluxos gerados nas cidades
virtuais, às vezes chamadas também de, Cidades do Conhecimento que existem na rede
mundial de computadores que é a Internet13 e, portanto, diferentes da materialidade de que
falamos, também diferem dos tecnopólos que se formaram em muitas cidades do mundo.
No primeiro caso são redes telemáticas envolvidas em processos de difusão e criação de
conhecimentos específicos da cultura em rede, como é o caso do exemplo paulista citado.
Já no segundo caso, a materialidade dos tecnopólos é visível no território, porém foram
projetados para compor a periferia da cidade, muitas vezes com a construção de espaços
10 Esta cidade foi objeto de minha pesquisa de doutoramento e pode ser consultada em: SILVA, Paulo Celso. Como anjos caídos... Mensageirias em espaços de flexibilidade e redes. Tese de doutoramento, USP/DG/FFLCH, São Paulo, 1999. 11 Benjamin, Walter. Obras Escolhidas II – Rua de mão única. São Paulo:Brasiliense, 1994. 12 INSTITUT CATALÀ DE TECNOLOGIA (ICT). Estudi Ciutat Digital. Barcelona: 1999. Pág. 51 13 Para uma reflexão aprofundada sobre a Internet ver CASTELLS, Manuel. La Galaxia Internet. Reflexiones sobre Internet, empresa e sociedad. Barcelona: Areté, 2001.
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específicos para isso. Utilizando a teoria sugerida por Pierre Lèvy14 podemos dizer que
ambas são atualizações, mas também virtualizações do que hoje se configura como
território informatizado.
Essas atualizações contemporâneas, baseadas em componentes de informação e
conhecimento fixadas nos territórios informatizados, também diferenciam das cidades
virtuais telemáticas porque são atualizações reguladas por muitos agentes envolvidos,
como aconteceu na normatização dos planos diretores das cidades definindo e redefinindo
áreas e, evidentemente, incluindo o cidadão comum e não somente aqueles que
dependem do território para a criação da plus valia.
A plus valia nesse caso também diferencia a sua forma de acumulação, de prazos e
de resultados produtivos em uma escala temporal que inclui o tempo real. Esse último e
decantado tempo pós-moderno gera outros tempos ainda mais fragmentários e em
velocidades também fragmentárias entre os agentes envolvidos e no território, dessa forma
o território informatizado não gera os mesmos fluxos nem para todas as pessoas e nem ao
mesmo tempo. Esse fato já é esperado, principalmente porque a informação e o
conhecimento são as matérias primas dos territórios informacionais e a necessidade do
tempo real não será igual para todos e nem mesmo é o desejado pelas empresas.
Como em todas as grandes transformações urbanas, temos muitos discursos e
propagandas sobre as vantagens do proposto. Com o MPGM estamos diante de uma
racionalidade técnica que está modificando a vida das pessoas envolvidas direta ou
indiretamente. Diretamente podemos considerar aquelas pessoas que, com as novas
normas urbanas, tiveram seus terrenos urbanos e edificações comprometidas, seja para
legalizar, já que muitas delas no Poblenou ficaram ilegais a partir de 1976 com a aprovação
do PGM ou foram desvalorizadas por serem consideradas como solo urbano não
consolidado e atualmente tentam resolver essa questão na Justiça. Indiretamente as
modificações atingirão as cidades da área metropolitana de Barcelona e as demais cidades
espanholas, européias e americanas através das atividades desenvolvidas no local e das
relações que se estabelecerão.
As pessoas de comando na cidade apostam muito na influência de Barcelona como
Cidade Mediterrânea Compacta, em oposição às cidades extensas e pouco operacionais.
A cidade compacta e não especializada ou complexa traz mais vantagens que
desvantagens, ao menos isso é consenso entre arquitetos e governo local. Porém, para a
população as transformações ainda não estão claras e muitos duvidam do sucesso da
empreitada. Principalmente porque as transformações não envolvem somente o bairro do
Poblenou mas atacam em várias frentes: 22@BCN, Forum de Culturas 2004, reforma do
14 LEVY, Pierre. O que é o virtual? Rio de Janeiro: Editora 34, 1997. pág. 1
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aeroporto, trem de alta velocidade na estação La Sagrera etc. Aliada a todas essas
transformações urbanas, a cidade de Barcelona recebe dia a dia uma quantidade enorme
de imigrantes legais e ilegais vindos da Europa, América Latina e África, mas,
principalmente do Marrocos e da Romênia.
Estas pessoas buscam, para habitar, exatamente as áreas que hoje são foco de
transformação devido ao baixo custo de aluguel e comércio. O Poblenou sempre
configurou-se como uma área de atração migratória por ter em seu território muitas
indústrias e moradias compondo a paisagem do bairro, não havendo a separação entre os
lugares para indústrias e casas, com isso resolvia-se um problema de custo de transporte
para os operários. Os projetos em curso atuarão também nesse ponto, modificando as
estruturas de morar de Barcelona e as relações sociais entre os diversos grupos que
formam hoje a sociedade barcelonesa. Soma-se a isso ainda a questão lingüistica para os
estrangeiros: o uso do catalão obrigatório na escola e no trabalho, sem o qual não se
arranja emprego. A iniciativa da Generalitat de Catalunya de oferecer cursos de catalão
para adultos ameniza o problema das classes mais baixas. Colocamos em questão a
situação dos “novos moradores”, que se espera para os Lofts, apartamentos e também as
empresas multinacionais que devem se instalar no Poblenou, em relação a obrigatoriedade
do idioma.
As atividades TIC não se desenvolvem e são divulgadas em inglês, em sua
maioria?
Parecem problemas menores, porém não aqui. Buscando respaldo nas pesquisas
de Manuel Castells em A Era da Informação – O poder da identidade, onde dedica dez
páginas para mostrar a possibilidade de uma Nação sem Estado, vemos que o idioma na
Catalunha é fator de identidade nacional e cita Prat de la Riba: “ Catalunya é a grande
seqüência de gerações unidas pela língua e tradição catalãs, que se sucederam no
território em que vivemos” (p.65). Em outro estudo, agora com Díaz, sobre o impacto da
Internet na Catalunha, o mesmo autor mostra, através da Distribuição da Internet de acordo
com a linguagem das webs visitadas (pág. 15) o seguinte uso :
Catalão – 48,9%
Espanhol – 82,7%
Inglês – 44,5%
Outras – 7,6%
Não é apenas a técnica que vai mudar, não serão apenas mais “prédios
emblemáticos” na cidade, como La Torre AGBAR, nem mesmo apenas mais um rótulo de
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Cidade do Conhecimento. O que se pretende e já se executa são mudanças muito mais
radicais em médio prazo e de longo alcance. Do que pudemos observar, viver e conviver, o
“modelo Barcelona” se mostra bastante apropriado para cidades médias brasileiras e para
bairros menos valorizados de metrópoles, porém que sejam mais ou menos centrais, isto é,
que não estejam tão distantes dos centros de decisão. Finalizando, podemos reafirmar
a importância dos dois textos em seus conteúdos teóricos e práticos pois possibilitam uma
reflexão sobre a maneira como as políticas urbanas estão sendo implementadas na cidade
ao mesmo tempo que respondem ao imperativo da técnica deste momento técnico
informacional para garantir a continuidade dos ganhos e investimento no espaço
barcelonês.
PALAVRAS FINAIS
As Cidades do Conhecimento apontam uma nova situação para as metrópoles de
muitas partes do mundo. Hoje ainda não podemos falar literalmente em uma Cidade do
Conhecimento, mas de um território informacional com grandes chances de estender-se de
seu bairro para toda a cidade. Tal extensão também está relacionada com o próprio
produto-matéria prima – a informação – e os consumidores-produtores de outras áreas das
cidades, hoje mais valorizadas pelo capital imobiliário e ligados às classes médias e altas.
Durante um período de desenvolvimento e adaptação, os territórios informacionais
poderão funcionar “paralelos” ao restante da cidade, porém, a infra-estrutura, destinada a
esses locais, não demorará a ser reclamada nos bairros (redes de fibra óptica, energia
solar etc.) mais valorizados. Também a gentlification das áreas chamadas degradadas
deverá contribuir para a extensão da infra-estrutura.
Provavelmente o conceito e a situação de território informacional fiquem mais bem
demonstrados em metrópoles como São Paulo e Rio de Janeiro que atingem e influem
diretamente em todo o Brasil. Isto é, metrópoles como Barcelona têm o seu papel
destacado dentro de seus respectivos países e mesmo globalmente, porém, concorrem
com outras de igual importância quando o tema é relacionado às atividades TIC. O território
informacional, a maneira como foi exposto, se configura como um momento da metrópole -
ou pós-metrópole como sugere Edward Soja. Momento em que os paradigmas que
nortearam as metrópoles fordistas e, conseqüentemente os investimentos econômicos e
humanos, estão mudando para fazer frente às exigências das novas demandas globais.
A mudança na infra-estrutura trará uma reorganização territorial com conseqüências
diretas para toda a população. A esperança de uma educação continuada, uma distribuição
mais eqüitativa do conhecimento, a melhora do nível de vida urbano estão entre os fatores
positivos, e uma certa imposição tecno-comunicacional, a aceleração no tempo de
acumulação de dados pelas pessoas, entre os pontos negativos a serem superados,
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possivelmente através da cultura, desde que a aposta seja nas pessoas e não nas
tecnologias desenvolvidas, que são ferramentas e não fins em si-mesmas.
A cidade continua a ser o palco privilegiado de mudanças importantes na vida de
todos. A ampliação das chamadas Cidades do Conhecimento pelo mundo todo mostra-se,
não como uma fase, mas como uma exigência dos vários setores sociais envolvidos. As
empresas buscam locais onde possam desenvolver e produzir (principalmente
desenvolver) e isso demanda uma outra oferta de mão de obra que, consequentemente,
reclama informação e conhecimento para poder colocar-se melhor no mercado de trabalho,
na formação educacional e no lazer direcionado.
Todas essas circunstâncias geram distâncias entre as cidades que oferecem as
condições e tecnologia para sua população daquelas que não podem oferecer de maneira
mais generalizada. Como afirmou Castells sobre a Internet e ampliamos para as redes de
uma maneira geral : “a Internet não se come, mas em nosso mundo sem Internet não se
come”15, isso implica em uma dificuldade cada vez maior para a realização de muitos
objetivos humanistas, entre eles uma melhor distribuição da riqueza.
A Cidade do Conhecimento, como criadora, palco e atriz num só tempo, continuará
atraindo grandes contingentes de pessoas em busca de formação, informação e
conhecimento, mas igualmente aumentará a circulação de pessoas tanto com
conhecimento de interesse para outros lugares como aquelas que não conseguiram atingir
o que buscavam. Um nomadismo urbano baseado em redes, conhecimento e informação
diferente dos momentos anteriores de deslocamento entre cidade-campo, cidade-cidade e
país-país. Este será um deslocamento de um ponto a outro da rede mundial (de um nó a
outro) porém, como nos momentos anteriores, será possível apenas aqueles que têm
condições de se deslocar: física e economicamente e que possam agregar sempre algum
plus valor ao lugar de chegada.
O território informacional caminha para ser a Cidade do Conhecimento. As
tendências apontadas por esses territórios não são meras expectativas e sim ações
concretas que os prazos propostos apenas indicam serem princípios.
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