o regime de enfiteuse e a extraÇÃo da renda da terra em ... · a renda da terra é um lucro...
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O REGIME DE ENFITEUSE E A EXTRAÇÃO DA RENDA DA TERRA EM
APARECIDA DO TABOADO (MS)
Letícia Alves Leonardo
Graduanda em Geografia- Licenciatura pela Universidade Federal do Mato Grosso do Sul
(UFMS/CPTL)
leh_al95@hotmail.com
1- APRESENTAÇÃO
Aparecida do Taboado localiza-se na porção leste do Estado de Mato Grosso do Sul,
na latitude 20º05’12” Sul e longitude de 51°05’37” Oeste, e possui área de 2.750,130 km²,
com população estimada, em 2014, de 24.078 habitantes. O município integra a
Microrregião Geográfica de Paranaíba1 e o Território Rural do Bolsão2. Na sede do
município, desde a sua fundação, instalou-se o regime de enfiteuse na parte central da
cidade, configurando-se uma característica peculiar entre os municípios que integram a
porção leste de Mato Grosso do Sul.
O presente trabalho resulta de projeto de pesquisa elaborado na disciplina de Prática
de Ensino em Geografia IV, do Curso de Licenciatura em Geografia da Universidade
Federal de Mato Grosso do Sul, campus de Três Lagoas e da realização de atividades junto
ao Núcleo de Extensão em Desenvolvimento Territorial (NEDET) do Território Rural do
Bolsão, resultante de chamada pública do CNPq/MDA/2014, realizou-se com o intuito de
compreender a produção do espaço na cidade de Aparecida do Taboado/MS, bem como seu
processo de fundação por meio de pioneiros oriundos dos estados de São Paulo e Minas
Gerais e analisar a contribuição da Igreja Católica na produção desse espaço, assim como,
1 A Microrregião é composta pelos municípios de: Aparecida do Taboado, Inocência, Paranaíba e Selvíria.
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Disponível em:
<http://www.cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?codmun=500100&search=mato-grosso-do-
sul%7Caparecida-do-taboado&lang=>. Acesso em: 08 mai. 2015. 2 O Território Rural do Bolsão é composto por 08 municípios: Água Clara, Aparecida do Taboado,
Cassilândia, Chapadão do Sul, Inocência, Paranaíba, Selvíria e Três Lagoas.
desvendar as formas de extração da renda nas terras de santo por meio do regime de
enfiteuse.
Para tanto, foi necessário o embasamento teórico sobre a temática, bem como
realizou-se a revisão de alguns conceitos importantes para elucidar a realidade da produção
do espaço urbano. Os referenciais teóricos também foram importantes na compreensão do
papel da Igreja na produção do espaço, pois a Igreja Católica se caracteriza como agente
produtor do espaço, e na cidade de Aparecida do Taboado (MS), sua influência foi
significativa, pois parte dos imóveis, sobretudo no centro, foi comercializado por esta
instituição e gravado o regime de enfiteuse, rendendo ganhos extraordinários por meio da
cobrança de laudêmio, resultando em renda da terra.
Com o intuito de verificar a legalidade das doações de terras à Igreja e compreender
como se deu o processo de doação e a instalação de contratos de enfiteuse no primeiro
loteamento do município, foram analisados alguns documentos, como escrituras,
fotografias, que foram disponibilizados pelo Santuário Diocesano de Nossa Senhora
Aparecida.
Figura 1- Localização do município de Aparecida do Taboado (MS).
2- PRODUÇÃO DO ESPAÇO URBANO
Por espaço urbano, entende-se, na visão de Corrêa (2005), como os diferentes usos
da terra, ou seja, as diferentes espacialidades, reflexo da sociedade, reflexo das ações
promovidas pela sociedade ao longo do tempo, esse espaço é fragmentado e ao mesmo
tempo articulado, é formado por agentes que, ao mesmo tempo em que produzem o espaço,
o consomem, ou seja, é um espaço socialmente produzido e reproduzido (NARDOQUE,
2007, p. 316)3.
Corrêa (2012, p.43)4, ao escrever sobre a produção do espaço, relatou que o espaço,
seja ele urbano ou intraurbano “[...] É consequência da ação de agentes sociais concretos,
3NARDOQUE, Sedeval. Renda da terra e produção do espaço urbano em Jales - SP. 2007. Tese
(Doutorado em Geografia) – Instituto de Geociências e Ciências Exatas/Universidade Estadual Paulista, 2007. 4CORRÊA, Roberto Lobato. Sobre agentes sociais, escala e produção do espaço: um texto para discussão. In:
CARLOS, Ana Fani Alessandri; SOUZA, Marcelo Lopes de; SPOSITO, Maria Encarnação Beltrão. A
históricos, dotados de interesses, estratégias e práticas sociais próprias, portadores de
contradições e geradores de conflitos entre eles mesmos e com outros segmentos da
sociedade”.
Beltrão Sposito (1991, p. 181)5 e Corrêa (2005, p.12)6 elencam vários atores sociais
na produção do espaço, entre eles os agentes privados – os proprietários fundiários, os
corretores imobiliários, os empreendedores, os agentes financeiros, entre outros; os agentes
públicos – no caso, o governo federal, estadual e municipal e a sociedade civil – os
trabalhadores, moradores em geral, assim como os movimentos sociais e as associações de
bairro.
A produção do espaço em Aparecida do Taboado, nos seus primeiros anos de
formação, foi determinada por três agentes principais: o poder público, principalmente o
municipal, por meio da produção de uma legislação específica que regulamenta o uso do
solo no perímetro urbano, como por exemplo, o código de postura, também por meio da
implantação de infraestruturas, principalmente viárias, e também na construção de
loteamentos populares e na disponibilização de créditos à habitação; os proprietários, rurais
com a disponibilização de porções de terras para loteamento e, consequentemente,
expansão da cidade e a ação da Igreja Católica com o primeiro loteamento do município e
os mecanismos de extração de renda da terra urbana, baseadas na comercialização de lotes
de terras e na implantação do regime de enfiteuse nesses lotes, localizados na área central,
originando Aparecida do Taboado.
3- OS MECANISMOS DE EXTRAÇÃO DE RENDA DA TERRA URBANA
produção do espaço urbano: agentes e processos, escalas e desafios. São Paulo: Contexto, 2012. Cap. 11, p.
234. 5BELTRÃO SPOSITO, Maria Encarnação. O chão arranha o céu: a lógica da (re)produção monopolística
da cidade. Tese (Doutorado em Geografia). FFLCH/USP, São Paulo, 1991. 6 CORRÊA, Roberto Lobato. O espaço urbano. São Paulo: Ática, 2005.
Nardoque (2002, p. 58-59)7, ao escrever sobre renda da terra, descreveu- a como:
A renda da terra é um lucro extraordinário, suplementar, permanente, que
ocorre tanto no campo como na cidade. Ela é também denominada de
renda territorial ou renda fundiária. Sendo, pois, a renda da terra um lucro
extraordinário permanente, ela é produto do trabalho excedente, ou seja, é
fração da mais-valia. É, mais precisamente, componente particular e
específico da mais-valia.
A renda da terra se caracteriza como um pagamento, por parte dos indivíduos que
não possuem terra, mas que necessitam da mesma para trabalhar ou para morar, aos
proprietários de terras, pelo direito de uso desta terra. Dessa forma, bem como dizia
Oliveira (2010, p.6), quando o capitalista compra a terra, está comprando o direito de
extrair a mais-valia social, uma vez que é um tributo pago por toda a sociedade.
Nardoque (2003, p.59) relata que a renda da terra pode aparecer sob diferentes
formas: Renda absoluta, renda diferencial I e II e renda de monopólio. A renda absoluta se
caracteriza quando existe o monopólio sobre a terra e para que a mesma seja posta para
produzir, por aqueles que não possuem terra, o proprietário, o senhor de terras realiza a
cobrança de tributos. A renda absoluta é obtida pelas características físicas do solo, como
relevo, área, entre outras e só ocorre quando há uma elevação maior nos preços dos
produtos do que nos preços da produção, dessa forma, extraindo fração da mais-valia dos
trabalhadores.
A renda diferencial, classificada em renda diferencial I e II, ocorre mediante
concorrência entre produtores. A renda diferencial I é determinada pelas diferentes
características do solo, como fertilidade, uma vez que solos mais férteis resultam em
maiores rendimentos aos produtores, pois permitem menores gastos para produzir, e a
localização, ou seja, a proximidade das terras em relação aos mercados consumidores, pois
quanto mais distantes, maior o gasto com transporte dos produtos. A renda diferencial II
ocorre devido à intensificação de investimentos feitos pelos proprietários nas terras a fim de
7 NARDOQUE, Sedeval. Apropriação capitalista da terra e a formação da pequena propriedade em
Jales-SP. 2002. Dissertação (Mestrado em Geografia) - Universidade Estadual Paulista, Faculdade de
Ciências e Tecnologia, 2002.
melhorar o processo produtivo, ou seja, a quantidade de capital investido no melhoramento
das qualidades naturais do solo, com equipamentos de drenagem, de irrigação, etc. A renda
de monopólio , segundo Nardoque (2007, p. 323) “resulta do preço de monopólio de uma
certa mercadoria produzida, que é determinado pelo desejo e pela capacidade de pagamento
dos compradores, não dependendo do valor dos produtos ou mesmo do preço geral de
produção”.
Essas formas de renda da terra são extraídas tanto no campo como na cidade. Ao
atualizar esses tipos de renda da terra (agrícola) para a terra urbana, tem-se a renda
diferencial I determinada pela potencialidade de um terreno para se construir algo, como
edifícios, casas, ou algum outro empreendimento, ou seja, seus atributos físicos (terrenos
mais planos, por exemplo) ou de boa localização. Os terrenos com maior potencialidade
auferirão maior renda em relação aqueles com menor potencial construtivo. A renda
diferencial II se caracteriza pelos investimentos de capital, como infraestrutura,
possibilitando aumento do seu preço.
O regime de enfiteuse e a cobrança do laudêmio, que se caracterizam como formas
de se extrair renda da terra, surgiram no Direito Romano, durante o império Romano8. No
Brasil, o regime de enfiteuse e a cobrança de laudêmio foram introduzidos com a chegada
dos portugueses, pois, devido à necessidade de ocupar o território, a colônia portuguesa
cedeu porções de terras, primeiramente com as capitanias hereditárias e, posteriormente,
com as sesmarias, a particulares por meio de contratos de enfiteuse. O domínio útil ficava
com os sesmeiros, pessoas nobres ou de confiança da coroa, contudo o domínio direto ou
pleno ficava com a Coroa Portuguesa. Mas, alguma ou outra vez, ocorria a posse direta da
terra, ou seja, alguns homens livres, sem condições de produzirem em grandes
propriedades, se instalavam em pequenas propriedades para produzirem em menor
quantidade, apenas para o abastecimento do mercado interno, era uma apropriação por meio
da posse e não por doação da coroa. A igreja e as câmaras municipais também tinham
permissão para realizar contratos de enfiteuse nas terras que eram cedidas a elas.
(NARDOQUE, 2007, 358).
8 Consultar Nardoque (2007).
Segundo Gadelha (1989)9, até 1822 o acesso à terra se dava por meio de doações
com as capitanias hereditárias e as sesmarias, contudo a partir da criação da Lei de Terras
de 1850, lei que unificou a posse (uso da terra ou imóvel) e o domínio (titularidade da terra)
em uma só pessoa, no caso, o proprietário. Desde então, só poderia haver ocupações de
terras por meio da compra, ou seja, foi instituída a propriedade capitalista da terra, não
sendo mais permitidas concessões de sesmarias e a ocupação por posse.
Contudo, a Lei de terras de 1850 não suprimiu o regime de enfiteuse, pois nessa lei,
as terras urbanas não foram tratadas da mesma forma, como afirma Nardoque (2007,
p.360):
Todavia, pela Lei de 1850, as terras nas cidades continuaram com
tratamento diferenciado, permanecendo como patrimônio municipal ou
religioso, de acordo com o Artigo 77. Os artigos 78 e 79 regulamentaram
a cobrança do foro anual e do laudêmio, revertidos para a municipalidade
ou para a Igreja, para melhoramentos e obras nas cidades.
Com o Código Civil de 1916, na República, a enfiteuse foi regulamentada. O artigo
678 do Código Civil de 191610 define o regime como:
Dá se a enfiteuse, aforamento, ou emprazamento, quando por ato entre
vivos, ou de última vontade, o proprietário atribui a outro o domínio útil
do imóvel, pagando a pessoa, que o adquire, e assim se constitui enfiteuta,
ao senhorio direto uma pensão, ou foro, anual, certo e invariável.
Nesse tipo de contrato, o senhorio (quem possui o domínio da terra) transfere a
posse do terreno ou imóvel ao enfiteuta ou foreiro, contudo o domínio ainda permanece
com o senhorio. O Código Civil de 1916 não vedou a instalação de novos contratos de
enfiteuse, foi somente com o novo Código Civil aprovado em 2002 que a instituição de
novos contratos foi vedada, mas respeitando os que já haviam sido instituídos.
(NARDOQUE, 2007, 358).
9 GADELHA, Regina M. d’Aquino Fonseca. A lei de terra (1850) e a abolição da escravidão, capitalismo e
força de trabalho no Brasil do século XIX. Revista de História, São Paulo, n.120, p. 153-162, jan./jul. 1989. 10 Código Civil de 1996, disponível em: <http://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/1910-1919/lei-3071-1-
janeiro-1916-397989-publicacaooriginal-1-pl.html>. Acesso em: 09 de junho 2015.
O Código Civil de 1916 ainda definiu algumas características desse regime de
extração de renda da terra. De acordo com o referido Código Civil, o contrato de enfiteuse é
perpétuo, sendo transferido aos herdeiros; só pode ser objeto de enfiteuse terras que não são
cultiváveis e destinadas a construção de casas e edifícios; o imóvel aforado não pode ser
revendido sem aviso prévio ao senhorio direto, pois esse tem o direito de comprar o imóvel,
e possui o prazo de trinta dias para declarar se irá querer comprar o imóvel, unificando o
domínio e a posse, ou não. Assim como o enfiteuta também possuiu direito de compra caso
o senhorio queira se desfazer do domínio direto.
O laudêmio se caracteriza como o direito do recebimento da taxa, o valor é de 2,5 %
sobre o preço da alienação, esse pagamento é feito quando o senhorio direto renuncia do
seu direito de recompra do objeto e só pode ser cobrado o imposto sob o valor venal do
terreno, tal como ele era no momento da realização do contrato, não podendo o senhorio
cobrar por benfeitorias realizadas no terreno ou imóvel. Nardoque (2007, p. 366) destacou
outra característica do regime enfiteutico:
Outra modalidade de taxação imposta pelo regime enfitêutico é o foro
anual ou pensão, taxa devida pelo foreiro ou enfiteuta ao senhorio direto,
certa e invariável. Portanto, o foro tinha que ser determinado no ato do
contrato de enfiteuse, não podendo mais ser reajustado. Na maioria dos
casos, o foro não é cobrado, pois, com o passar do tempo, os valores
tornam-se irrisórios [...].
4- O REGIME DE ENFITEUSE EM APARECIDA DO TABOADO (MS)
No caso de Aparecida do Taboado, o foro anual ou pensão não é cobrado, sendo
cobrado somente o laudêmio. O regime de enfiteuse foi implantado em Aparecida do
Taboado desde a sua fundação.
Aparecida do Taboado tem sua gênese na antiga fazenda Córrego do Campo e sua
fundação ocorreu por meio da vinda de pioneiros oriundos dos estados de São Paulo e
Minas Gerais no ano de 1900, esses pioneiros se fixaram às margens do Rio Paraná, no
Porto Presidente Vargas, denominado anteriormente de Porto Taboado. Devido à
intensidade do fluxo do porto, uma vez que era passagem obrigatória de gado para do
noroeste paulista, como para Barretos e São José do Rio Preto, surgiu nas suas
proximidades, o povoado de Lagoa Suja que, posteriormente, daria origem a Aparecida do
Taboado. O povoado recebia esse nome devido à existência de uma lagoa, nas
proximidades, coberta por vegetais. (CUNHA, 2007, p. 29).
Na década de 1910, mas especificamente no ano de 1911, um dos pioneiros,
Antônio Leandro de Menezes e sua mulher, Ana Maria do Nascimento, fizeram doação de
uma gleba de terras de 48,4 hectares a Nossa Senhora Aparecida, em razão do cumprimento
de uma promessa feita à santa, pois o filho do casal, Chico Leandro, tinha grave doença no
ouvido, e aos doze anos de idade foi curado e, a fim de cumprir a promessa feita à santa,
Antônio Leandro de Menezes doou os hectares de terras. Contudo, as terras só foram
escrituradas no nome da santa em 192511. Marley Cunha (2007, p. 31)12, descreveu a
doação:
No dia 03 de agosto de 1925, Antônio Leandro de Menezes, sua esposa
Ana Maria do Nascimento e o Reverendo Padre José Giardélli
compareceram no cartório de Paranaíba para fazer a escritura de doação
de 48.4 quarenta e oito hectares e quatro ares de terra a Nossa Senhora
Aparecida, terra estas pertencentes à Fazenda Córrego do Campo, no
lugar denominado Cabeceira Suja, onde encontra o cruzeiro com aguada
no Rondina, vertente da Lagoa Suja.
João Alves Lara e sua esposa Izaura Lopes Lara também doaram 9.68,00 hectares
de terras a Nossa Senhora Aparecida no ano de 194013. Juntas, as doações somaram
57.615,450 ha de terras em nome da santa, que foram loteadas pela Mitra Diocesana de
Corumbá, em 1948, conforme a figura 2.
11 A doação ficou registrada na folha nº 93 do livro de notas nº 31, do Tabelião de Notas da Comarca de
Paranaíba/MS, conforme indicação do livro Aparecida do Taboado – O Portal do Desenvolvimento, do
escritor Marley Cunha. 12CUNHA, Marley. Aparecida do Taboado – O Portal do Desenvolvimento. Aparecida do Taboado/MS,
acervo municipal, 2007. 13 Escritura pública lavrada no livro 02 de notas, folhas 9 a 11, no cartório de Aparecida do Taboado/MS.
Em 1928, pela Lei Estadual nº. 1012, de 01 de agosto de 1928, foi criado o Distrito
de Paz de Aparecida do Taboado, cuja área foi desmembrada do município de Paranaíba
(MS) e, em 28 de setembro de 1948, foi elevado a município pela Lei Estadual nº. 130.14
Figura 2 – Aparecida do Taboado (MS): quarteirões aforados com regime de enfiteuse.
Fonte: Santuário Diocesano de Nossa Senhora Aparecida.
5- CONSIDERAÇÕES FINAIS
14 Importante ressaltar que, na época em que foi criado o munícipio de Aparecida do Taboado, o mesmo
pertencia ao estado de Mato Grosso, sendo que, no dia 11 de outubro de 1977, o presidente Geisel criou o
estado do Mato grosso do Sul através de lei complementar nº31, com capital em Campo Grande, tendo sua
instalação ocorrida no dia 1º de janeiro de 1979.
Durante todo o processo de fundação e de formação do município de Aparecida do
Taboado, a Igreja Católica exerceu grande influência, pois possui terras sob seu domínio na
região central da cidade e, com isso, apropria-se de renda da terra por meio de contratos de
enfiteuse e a cobrança do laudêmio.
A extração de renda da terra, por meio do regime de enfiteuse, em Aparecida do
Taboado, é realizada na área central da cidade, e se dá por meio da cobrança do laudêmio,
onde a Igreja Católica aforou sob o regime enfitêutico.
O que mais impressiona é o fato de que, mesmo estando sob um Estado neoliberal,
ainda existem resquícios do colonialismo, do patrimonialismo e do sistema feudal, como o
regime de enfiteuse. Regime este que representa barreiras ao capitalismo para, como afirma
Nardoque (2007, p.362), “a apropriação e (re)produção do espaço”, pois O regime
enfitêutico se mostra como um problema ao capitalismo devido ao fato de estabelecer uma
barreira ao sistema, impossibilitando a apropriação total do território pelo capital, pois
separam posse e domínio, alicerces da propriedade capitalista da terra.
6- BIBLIOGRAFIA
BELTRÃO SPOSITO, Maria Encarnação. O chão arranha o céu: a lógica da
(re)produção monopolística da cidade. Tese (Doutorado em Geografia). FFLCH/USP,
São Paulo, 1991.
CORRÊA, Roberto Lobato. O espaço urbano. São Paulo: Ática, 2005.
_______. Sobre agentes sociais, escala e produção do espaço: um texto para discussão. In:
CARLOS, Ana Fani Alessandri; SOUZA, Marcelo Lopes de; SPOSITO, Maria Encarnação
Beltrão. A produção do espaço urbano: agentes e processos, escalas e desafios. São
Paulo: Contexto, 2012. Cap. 11, p. 234.
CUNHA, Marley. Aparecida do Taboado – O Portal do Desenvolvimento. Aparecida do
Taboado, acervo municipal, 2007.
FUNDAÇÃO INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Cidades.
Disponível em: <
http://www.cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?codmun=500100&search=mato-grosso-do-
sul%7Caparecida-do-taboado&lang=>. Acesso em: 08 mai.2015.
GADELHA, Regina M. d’Aquino Fonseca. A lei de terra (1850) e a abolição da escravidão,
capitalismo e força de trabalho no Brasil do século XIX. Revista de História, São Paulo,
n.120, p. 153-162, jan./jul. 1989.
LEI Nº 3.071, DE 1º DE JANEIRO DE 1916: Código Civil dos Estados Unidos do Brasil.
Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/1910-1919/lei-3071-1-janeiro-
1916-397989-publicacaooriginal-1-pl.html>. Acesso em: 08 mai.2015.
NARDOQUE, Sedeval. Apropriação capitalista da terra e a formação da pequena
propriedade em Jales-SP. 2002. Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual Paulista,
Faculdade de Ciências e Tecnologia, 2002.
NARDOQUE, Sedeval. Renda da terra e produção do espaço urbano em Jales - SP.
2007. Tese (Doutorado em Geografia) – Instituto de Geociências e Ciências
Exatas/Universidade Estadual Paulista, 2007.
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