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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ
BRUNO MIOLA DA SILVA
O INCIDENTE DE DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA:
genealogia, fundamentos e interpretação
Rio de Janeiro
2018
BRUNO MIOLA DA SILVA
O INCIDENTE DE DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA:
genealogia, fundamentos e interpretação
Tese apresentada como requisito parcial para a obtenção do título de Doutor em Direito, pela Universidade Estácio de Sá. Orientador: Prof. Dr. Aluisio Gonçalves de Castro Mendes
Rio de Janeiro
2018
S586i Silva, Bruno Miola da
O incidente de desconsideração da personalidade
jurídica: genealogia, fundamentos e interpretação. /
Bruno Miola da Silva. – Rio de Janeiro, 2018.
160 f.
Tese (Doutorado em Direito) – Universidade
Estácio de Sá, 2018.
1. Contraditório. 2. Desconsideração. 3. Efetividade.
4. Incidente. 5. Personalidade. I. Título.
CDD 340
AGRADECIMENTOS
Muitas pessoas se fizeram importantes neste longo e árduo percurso de
quatro anos de doutoramento. Estas serão aqui agradecidas, mesmo correndo o risco
de esquecer de outras, pedindo, desde já, minhas sinceras desculpas.
Ao Grande Arquiteto do Universo por me proporcionar as possibilidades
necessárias para a construção deste trabalho.
Ao meu orientador Professor Doutor Aluisio Gonçalves de Castro Mendes,
que com todo seu rigor, conhecimento, profissionalismo e experiência me orientou
com preciosos conselhos acadêmicos e pessoais, sem os quais não conseguiria
concluir este trabalho. Muito obrigado.
À minha família, em especial meu pai Olair, mãe Mercedes, padrasto Jacinto
e irmã Nathália, que mesmo diante da distância física, o amor sempre esteve presente,
incentivando-me nos momentos difíceis de isolamento. Tudo o que faço é por vocês.
À minha amada Mayane, que apareceu como um anjo num dos momentos
mais tensos e importantes da minha vida, contribuindo significativamente para a
realização deste sonho.
À Faculdade Guanambi, na pessoa de seu Diretor Geral Georgheton Melo
Nogueira, por todo apoio material e pessoal que sempre me dedicaram, característica
de uma instituição de ensino que investe e se preocupa com seus profissionais, e
também aos demais colegas docentes pelas contribuições nesta etapa.
Aos professores e funcionários do Programa de Pós-Graduação em Direito da
Universidade Estácio de Sá, muito obrigado pelos ensinamentos e ótimos serviços
prestados.
Aos amigos e amigas que fiz durante o doutoramento, especialmente as
doutoras Larissa Pochmann e Érica Guerra e amigo Arthur, por todo apoio intelectual
e pessoal.
Aos meus queridos alunos, pelo carinho sempre motivante.
Muito obrigado.
RESUMO
SILVA, Bruno Miola da Silva. O incidente de desconsideração da personalidade jurídica: genealogia, fundamentos e interpretação. 162 fls. Tese (Doutorado em Direito). Programa de Pós-graduação em Direito da Universidade Estácio de Sá, 2018. A tese objetiva analisar o incidente de desconsideração da personalidade jurídica, instrumento processual novo trazido a lume pelo atual Código de Processo Civil, a partir de pesquisa documental e bibliográfica, com a finalidade de identificar a sua gênese legislativa, seus fundamentos e o tratamento dado pela doutrina sobre o tema. Iniciou-se a pesquisa explicitando o tratamento dado à pessoa jurídica, à personalidade jurídica, às sociedades e à teoria da desconsideração da personalidade jurídica, a fim de contextualizar a razão da criação do incidente. Seguiu-se com a análise documental das atas das reuniões da comissão de juristas responsável pela elaboração do anteprojeto do Código de Processo Civil e dos documentos referentes ao processo legislativo do referido Código, com a intenção de identificar a criação e o desenvolvimento legislativo do incidente. Buscou-se também constatar os princípios constitucionais que dão fundamento a sua criação. Em seguida, procurou-se identificar sua natureza no ordenamento processual brasileiro para melhor compreensão e aplicação do instituto. Por fim, foram analisados os dispositivos legais pertinentes e correlatos ao incidente de desconsideração da personalidade jurídica, abordando-os de forma sistemática e diante de pontos polêmicos já apontados por parte da doutrina, contribuir com possíveis soluções para os temas enfrentados. Nesse sentindo, pôde-se constatar que a hipótese se confirma no sentido de que o incidente de desconsideração da personalidade jurídica se revela como um importante instrumento processual garantidor dos princípios constitucionais processuais do devido processo legal, contraditório, ampla defesa, efetividade e eficiência, mostrando-se necessária sua positivação, interpretação e aplicação para uma melhor realização de direitos no plano material. Palavras-chave: Contraditório. Desconsideração. Efetividade. Incidente.
Personalidade.
ABSTRACT SILVA, Bruno Miola da Silva. The incident of disregard of legal personality: genealogy, fundamentals and interpretation. 162 fls. Doctoral Thesis (Doctorate in Law). Graduate Program in Law of Estácio de Sá University, 2018. This Doctoral Thesis aims to analyze the incident of disregard of legal personality, new procedural instrument brought to light by the current Brazilian Code of Civil Procedure, based on documentary and bibliographic research, with the purpose of identifying its legislative genesis, its foundations and the treatment given by the legal doctrine on the subject. The investigation was initiated, explaining the treatment given to the legal person, legal personality, societies and the theory of disregarding the disregard of legal personality, to contextualize the reason for the creation of the incident. This was followed by a documentary analysis of the minutes of the commission of jurists responsible for drawing up the legislative project of the Code of Civil Procedure and the documents related to it, with the intention of identifying the creation and legislative development of the incident. It was also sought to establish the constitutional principles that underpin its creation. Next, it was sought to identify its nature in the Brazilian procedural order for a better understanding and application of the institute. Finally, we analyzed the pertinent legal provisions and related to the incident of disregard of legal personality, approaching them systematically and in the face of controversial points already pointed out by the legal doctrine, contribute with possible solutions to the issues faced. In this sense, it can be verified that the hypothesis is confirmed in the sense that the incident of disregard of legal personality is revealed as an important procedural instrument guarantor of the constitutional principles of the due process of law, such as adversarial, ample defense, effectiveness and efficiency, showing its necessity interpretation and application for a better realization of rights in the material plane.
Keywords: Contradictory. Disregard. Effectiveness. Incident. Personality.
RIASSUNTO SILVA, Bruno Miola da Silva. L'incidente del superamento della personalità giuridica: genealogia, fondamenti e interpretazione. 162 fls. Tesi (dottorato in giurisprudenza). Laurea in giurisprudenza presso l'Università di Estácio de Sá, 2018. Questa tesi di dottorato si propone di analizzare l'incidente superamento della personalità giuridica, un nuovo strumento procedurale portato alla luce dalla corrente Codice di Procedura Civile brasiliano, basato su ricerche documentarie e bibliografiche, con lo scopo di identificare la sua genesi legislativa, le sue basi e il trattamento dato dalla dottrina legale sull'argomento. L'inchiesta è stata avviata, spiegando il trattamento riservato alla persona giuridica, alla personalità giuridica, alle società e alla teoria di ignorare il superamento della personalità giuridica, per contestualizzare la ragione della creazione dell'incidente. Questa è stata seguita con un'analisi documentale dei verbali delle riunioni del comitato avvocati incaricato di preparare la bozza del codice di procedura civile e documenti relativi al processo legislativo del Codice, con l'intento di identificare la creazione legislativo e lo sviluppo della vicenda. È stato anche cercato di stabilire i principi costituzionali che sono alla base della sua creazione. Poi, abbiamo cercato di individuare la sua natura nel diritto processuale brasiliana ad una migliore comprensione e l'applicazione dell'istituto. Infine, abbiamo analizzato le disposizioni giuridiche pertinenti e relative all'incidente di noncuranza della personalità giuridica, avvicinandole sistematicamente e di fronte a punti controversi già evidenziati dalla dottrina giuridica, contribuendo con possibili soluzioni ai problemi affrontati. In questo senso, si può verificare che l'ipotesi sia confermata nel senso che l'incidente di superamento della personalità giuridica è rivelato come un importante strumento procedurale garante dei principi costituzionali del giusto processo di legge, come la contraddittorio, ampia difesa, efficacia ed efficienza, mostrando la sua necessità di interpretazione e applicazione per una migliore realizzazionedei diritti sul piano materiale. Parole chiave: Contraddittorio. Superamento. Efficacia. Incidente. Personalità.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO...........................................................................................................11
CAPÍTULO I
1 Sociedades, personalidade jurídica e sua desconsideração............................14
1.1 Sociedade e personalidade jurídica.....................................................................14
1.2 Personalidade jurídica e limitação da responsabilidade patrimonial...................16
1.3 A teoria da desconsideração da personalidade jurídica e seus pressupostos de
aplicação no Direito brasileiro...............................................................................23
1.3.1 A teoria maior da desconsideração da personalidade jurídica..........................27
1.3.2 A teoria menor da desconsideração da personalidade jurídica........................28
CAPÍTULO II
2 A teoria da desconsideração no plano processual: análise genealógica do
incidente de desconsideração da personalidade jurídica....................................33
2.1 Posição doutrinária da aplicação da desconsideração da personalidade jurídica
antes do atual Código de Processo Civil....................................................................33
2.2 Posição dos tribunais na aplicação da desconsideração da personalidade jurídica
antes do atual Código de Processo Civil....................................................................35
2.3 A genealogia do incidente de desconsideração da personalidade jurídica: da
comissão de juristas à sanção do atual Código de Processo Civil............................37
2.3.1 Do surgimento e evolução do incidente no anteprojeto do Código de Processo
Civil à aprovação no Senado Federal........................................................................38
2.3.2 Da tramitação na Câmara dos Deputados........................................................47
2.3.3 Do retorno ao Senado Federal à sanção presidencial e a positivação do incidente
de desconsideração da personalidade jurídica...........................................................51
CAPÍTULO III
3 O incidente de desconsideração da personalidade jurídica e seus fundamentos
processuais constitucionais...................................................................................53
3.1 Os princípios fundamentais do processo e o Código de Processo Civil..............53
3.1.1 O devido processo legal....................................................................................58
3.1.2 O contraditório...................................................................................................62
3.1.2.1 O princípio do contraditório no Código de Processo Civil: cooperação,
contraditório efetivo, garantia de influência e decisão não surpresa.........................64
3.1.3 Princípio da eficiência e efetividade do processo.............................................68
CAPÍTULO IV
4 Natureza do incidente de desconsideração da personalidade jurídica...........75
4.1 O incidente de desconsideração da personalidade jurídica e a responsabilidade
patrimonial..................................................................................................................75
4.1.1 O incidente de desconsideração e o responsável tributário..............................82
4.2. A natureza do incidente de desconsideração da personalidade jurídica............91
4.2.1 O incidente de desconsideração da personalidade jurídica como intervenção de
terceiros......................................................................................................................91
4.2.2. O incidente de desconsideração da personalidade jurídica como demanda...93
4.2.3 O incidente de desconsideração da personalidade jurídica como um processo
incidente.....................................................................................................................95
CAPÍTULO V
5 A aplicação do incidente de desconsideração da personalidade
jurídica.......................................................................................................................99
5.1 A legitimidade ativa para o pedido de instauração do incidente..........................99
5.1.1 A instauração de ofício do incidente................................................................102
5.2 A legitimidade passiva do incidente...................................................................105
5.3 O pedido de desconsideração observará os pressupostos previstos em lei.....109
5.3.1 O pedido de desconsideração inversa............................................................110
5.4 Do cabimento do incidente de desconsideração da personalidade jurídica......111
5.4.1 Do cabimento de forma originária ou incidental..............................................111
5.4.2 Do cabimento do incidente de forma subsidiária e supletiva em outros ramos do
direito........................................................................................................................114
5.4.3 Do cabimento em fase recursal e em sede de tribunais.................................117
5.4.4 Do cabimento do incidente nos Juizados Especiais.......................................118
5.5 O requerimento de instauração, momento de instauração e suspensão do
processo...................................................................................................................119
5.5.1 O requerimento de instauração do incidente..................................................119
5.5.1.1 Custas para instauração...............................................................................121
5.5.2 O momento de instauração do incidente e sua finalidade..............................121
5.5.3 Instauração e suspensão do processo............................................................123
5.6 A “manifestação” do sócio ou da pessoa jurídica e seus limites de defesa.......124
5.7 Da decisão que resolve o incidente de desconsideração e recursos cabíveis..126
5.7.1 A natureza da decisão que resolve o incidente...............................................128
5.7.2 Das verbas sucumbenciais..............................................................................129
5.8 A desconsideração da personalidade jurídica e a fraude à execução...............130
5.9 Breves notas das propostas legislativas em trâmite sobre o procedimento para
desconsideração da personalidade jurídica..............................................................132
5.9.1 Projeto de Lei da Câmara nº. 3.401, de 2008, do deputado Bruno Araújo......132
5.9.2 Projeto de Lei da Câmara nº 1.572, de 2011, do deputado Vicente
Cândido....................................................................................................................133
5.9.3 Projeto de Lei do Senado nº. 487, de 2013, do senador Renan
Calheiros..................................................................................................................133
Conclusão...............................................................................................................134
Referências.............................................................................................................137
Anexo
11
INTRODUÇÃO
Desde antes da entrada em vigência do atual Código de Processo Civil, muitos
dos temas por ele criados ou reformulados já instigavam a comunidade jurídica.
Conforme consta da exposição de motivos do anteprojeto do atual Código,
este teve como uma de suas principais linhas de trabalho a finalidade de resolver
problemas, realizando os valores constitucionais1.
O incidente de desconsideração da personalidade jurídica (IDPJ) foi
concebido como um dos principais instrumentos da nova codificação processual para
cumprir sua finalidade2. Teve sua gênese por obra da Comissão de Juristas nomeada
pelo Senado Federal no mês de setembro de 2009, comissão presidida pelo Ministro
Luiz Fux e integrada pelos juristas Adroaldo Fabrício, Benedito Pereira Filho, Bruno
Dantas, Elpídio Donizete, Humberto Theodoro Junior, Jansen Almeida, José Miguel
Medina, José Roberto Bedaque, Marcus Vinícius Coelho, Paulo Cezar Pinheiro
Carneiro e Teresa Arruda Alvim, que elaborou o anteprojeto do atual Código de
Processo Civil.
Após a apresentação do anteprojeto com a previsão do incidente de
desconsideração da personalidade jurídica ao Senado Federal, o incidente sofreu
várias alterações durante o processo legislativo, em especial na Câmara dos
Deputados, advindas das emendas propostas pelos parlamentares, inclusive de sua
supressão, passando por longo e profundo debate, culminando com o texto
sancionado da atual codificação processual.
Devido à sua novidade no sistema processual, o incidente de
desconsideração vem causando intensos debates na doutrina sobre diversos temas
envolvendo sua aplicação.
Neste sentido, a presente tese se desenvolverá de modo a procurar contribuir
para o conhecimento, interpretação e aplicação desse novo instrumento processual.
Para o desenvolvimento da tese, parte-se da hipótese de que a compreensão
da genealogia, dos princípios fundamentais e da natureza do incidente de
1BRASIL. Congresso Nacional. Senado Federal. Comissão de Juristas Responsável pela Elaboração de Anteprojeto de Código de Processo Civil. Código de Processo Civil: anteprojeto/comissão de juristas responsável pela elaboração do anteprojeto do Código de Processo Civil. Brasília: Senado Federal, 2010. Disponível em:< http://www.senado.gov.br/senado/novocpc/pdf/anteprojeto.pdf>. Acesso em 13 mar 2015, p. 13. 2 Ibidem, p. 15.
12
desconsideração da personalidade jurídica contribuirão para justificar sua criação e
positivação como instrumento adequado para a realização do direito substancial.
Utilizou-se, para isso, de pesquisa bibliográfica e documental, com um
tratamento qualitativo das informações obtidas. Priorizaram-se os raciocínios dialético
e indutivo, tendo como marco teórico o contraditório efetivo, comparticipativo, com
poder de influência e não surpresa e a efetividade do processo.
Para essa finalidade, o primeiro capítulo do trabalho tratará da pessoa jurídica,
personalidade jurídica, tipos societários e a teoria da desconsideração da
personalidade jurídica no direito brasileiro, de modo a demonstrar a relevância da
personalização e a excepcionalidade de sua desconsideração
O segundo capítulo expõe como se dava a desconsideração da personalidade
jurídica no âmbito processual, identificando uma possível inadequação procedimental
violadora dos princípios constitucionais processuais, a qual enseja a criação de um
procedimento próprio para a desconsideração da personalidade jurídica. Em seguida,
no mesmo capítulo, através da análise documental, a genealogia do instituto é
resgatada e analisada visando identificar a razão de criação do instituto e resgatar
fundamentos dos debates da comissão de juristas e do processo legislativo que
contribuirão para melhor interpretação e aplicação do instituto.
O terceiro capítulo analisa a positivação do incidente de desconsideração sob
a ótica de um novo modelo de processo constitucional, visando constatar seu
alinhamento no atual sistema processual.
No quarto capítulo inicia-se a análise do incidente da forma como está
positivado no Código de Processo Civil, partindo da identificação das normas
processais que possibilitam a responsabilização, a natureza desta responsabilidade,
bem como a investigação de sua natureza como intervenção de terceiros e processo
incidente.
O quinto e último capítulo trata de uma análise de como ocorre a aplicação do
incidente de desconsideração da personalidade jurídica, suas hipóteses de
cabimento, de legitimidade, procedimentos, decisão, seus efeitos e recursos,
enfrentando temas polêmicos, já levantados pela doutrina, visando contribuir com
possíveis soluções fundamentadas na base genealógica e teórica anteriormente
versada.
13
Conclusões acerca da tese serão apontadas, intentando a compreensão de
que o incidente de desconsideração da personalidade jurídica encontra-se em estreita
relação com o atual modelo de processo constitucional, conciliando o direito ao
contraditório e à efetividade do processo, demonstrando a necessidade de sua criação
e positivação.
14
CAPÍTULO I
1 Sociedades, personalidade jurídica e sua desconsideração
Nesta parte inicial do trabalho serão delineadas premissas sobre o surgimento
das sociedades como modo de desenvolvimento de atividades, sua personificação,
tipos societários e a teoria da desconsideração da personalidade jurídica no direito
brasileiro, de modo a demonstrar a relevância da personalização e a excepcionalidade
de sua desconsideração.
1.1 Sociedades e personalidade jurídica
A pessoa humana tem suas potencialidades limitadas por fatores físicos,
econômicos e técnicos, o que a inviabiliza de realizar determinadas atividades
individualmente.
Na qualidade de ser social e em busca de realizar feitos cada vez maiores,
uma pessoa se associa a outras, multiplicando quase ao infinito suas forças,
realizando obras e negócios de maior vulto em benefício da comunidade3.
A reunião de pessoas com uma finalidade em comum passou-se a denominar
como pessoa jurídica ou pessoa moral4.
Da ideia de pessoa jurídica em Roma surgiram na Idade Média as sociedades
com finalidade econômica, nas quais o pai exercia sua atividade com o auxílio dos
filhos, sentado à mesma mesa e comendo do mesmo pão. Com o falecimento do pai,
a sociedade continuava, mas com a necessidade de um regramento sobre a
possibilidade de ingresso de estranhos, fator que fez com que surgisse a necessidade
de haver contrato escrito como forma de se registrar nas corporações de ofício e dar
publicidade de sua existência, além de separar os negócios praticados pela sociedade
daqueles praticados pelos seus sócios individualmente, atribuindo-se, assim, a origem
da expressão em “nome coletivo” pela firma social, designando a atuação pela
sociedade5.
3 MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de direito civil. São Paulo: Saraiva, 1997, p. 97. 4 CORDEIRO, António Menezes. Direito das sociedades. Coimbra: Almedina, 2016, p. 555. 5 GONÇALVES NETO, Alfredo de Assis. Direito de Empresa: comentários aos artigos 966 a 1.195 do Código Civil. 4. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2012, p. 139-140.
15
Nesta evolução histórica, em certa época da Idade Média os modestos
comerciantes viajavam juntos com suas mercadorias para comercializá-las em
quantidades reduzidas, costume que aos poucos deu lugar à commenda, em que um
ou mais comerciantes confiavam dinheiro ou mercadorias a outro comerciante, que as
vendia além-mar e, em seu retorno, partilhava os resultados com os demais sócios6.
Como meio de constituir uma base de crédito, passou-se a diferenciar o
patrimônio da sociedade do patrimônio dos sócios devido às proporções que tomava
a admissão de pessoas estranhas à família na companhia. A partir de então
estabeleceu-se os livros contábeis, diferenciando as entradas e saídas da companhia
e da família, fixando um determinado capital para a empresa, denominando-se este
patrimônio como corpo della compagnia, origem do conceito de capital social7.
Assim, na commenda, que evoluiu para a atual comandita, o intuito era
justamente limitar a responsabilidade patrimonial dos sócios investidores8, podendo-
se nela a primeira forma de limitação da responsabilidade patrimonial dos sócios pelas
perdas sociais9.
Nesta linha histórico-evolutiva, embora esboçada com a criação do Banco São
Jorge, no século XV, a real limitação da responsabilidade dos sócios pelas obrigações
da sociedade se deu em momento posterior, com o surgimento das grandes
companhias coloniais dos séculos XVII e XVIII, constituídas inicialmente para a
exploração do comércio marítimo e, posteriormente, para as conquistas da navegação
como verdadeiras sociedades de economia mista, formadas pela comunhão de
recursos públicos e privados, dando origem às atuais companhias ou sociedades
anônimas10.
Neste sentido, como primeira sociedade anônima ou companhia colonial de
que se tem conhecimento como típico instrumento da economia moderna tem-se a
Companhia Holandesa das Índias Orientais, de 1602, ligada à colonização do Oriente,
6 WEBER, Max. História geral da economia. São Paulo: Centauro, 2006, p. 200-201. 7 WEBER. Ibidem, p. 219-220. 8 GONÇALVES NETO. Op. cit., p. 140. 9 PARENTONI, Leonardo Netto. Desconsideração contemporânea da personalidade jurídica: dogmática e análise da jurisprudência brasileira (Jurimetria/Empirical Legal Studies). São Paulo: Quartier Latin, 2014, p. 29. 10 GONÇALVES NETO. Op. cit., p. 140.
16
cujas principais características, distinguindo-a das demais sociedades, eram a
responsabilidade limitada dos sócios e a divisão do capital em ações11-12.
Tem-se neste modelo o Estado como “dono” da companhia e os demais
sócios apenas como investidores com responsabilidade limitada ao valor de suas
ações, sendo meros credores do Estado gestor da sociedade.
Esta pluralidade anônima de interessados, os quais são responsáveis apenas
pelo valor das ações subscritas, é a razão histórica da criação da pessoa jurídica como
sociedade e a limitação da responsabilidade dos sócios, desde a Idade Média até a
os dias atuais13.
Isto mostra que a separação de imputação de direitos e deveres é secular e
tem fundamento, em especial o econômico no final da Idade Média, ao franquear
maiores investimentos de forma segura pelos comerciantes, os quais, ao investirem
numa empresa, sabiam que o risco era militado ao valor de seu investimento.
1.2 Personalidade jurídica e limitação da responsabilidade patrimonial
Por se tratar de pesquisa que versa sobre a desconsideração da
personalidade jurídica, em especial da sua aplicação processual, é importante saber
em quais situações há que se falar em limitação da responsabilidade patrimonial.
Destarte, haverá situações em que, mesmo existindo personalidade jurídica, esta não
precisará ser desconsiderada para que seus sócios venham a responder
patrimonialmente de forma ilimitada.
A personalidade jurídica é apenas uma das formas de se limitar a
responsabilidade patrimonial que afete parte do patrimônio geral de uma pessoa,
como se dá com o patrimônio de afetação das incorporações imobiliárias instituído
pela Lei nº 10.931/2004 (art. 31-A)14.
Neste sentido, a personalidade jurídica é uma técnica jurídica para a
consecução de determinados objetivos como a autonomia e limitação da
11 ASCARELLI, Tulio. Problemas das sociedades anônimas e direito comparado. Campinas: Bookseller, 1999, p. 452. 12 Parentoni afirma que não foi a Companhia das Índias Orientais que teve a nítida característica de pessoa jurídica com a separação patrimonial entre sua pessoa jurídica e seus acionistas, atribuindo este feito à Companhia das Índias Ocidentais, em que a limitação da responsabilidade patrimonial alcançou todos os sócios. PARENTONI. Op. cit., p. 30. 13 Idem. 14 PARENTONI. Op. cit.., p. 34-35.
17
responsabilidade patrimonial15.
Atribuindo-se personalidade jurídica à sociedade, os sócios não possuirão
titularidade sobre negócios por ela praticados no exercício da atividade. Será a própria
sociedade devidamente constituída que será titular de tais obrigações, como nos
casos das titularidades obrigacional, processual e patrimonial16.
Na titularidade obrigacional, os vínculos produzidos pelo desenvolvimento da
atividade empresarial serão pela sociedade suportados, como no caso do aluguel de
um imóvel para a exploração de certa atividade. Na titularidade processual é a
sociedade que constará do polo passivo ou ativo da demanda. No exemplo citado,
caso a sociedade não pague o aluguel em que se encontra estabelecida é ela que
constará do polo passivo da demanda. Finalmente, quanto a responsabilidade
patrimonial é a sociedade que responderá com o patrimônio de que é titular, e não os
bens dos sócios17. O princípio da autonomia patrimonial da sociedade é que alicerça
o direito societário18.
O que importa, então, falar em pessoa jurídica e sua personificação?
Importa dizer que ser pessoa jurídica não significa, necessariamente, que
haverá separação patrimonial entre a sociedade e os sócios que a compõem; e que
ser sociedade não personificada não importa, necessariamente, a responsabilidade
patrimonial direta dos sócios. Tudo vai depender se há regularidade ou não da pessoa
jurídica e do tipo societário adotado para o desenvolvimento de determinada atividade.
Assim, há sociedades com ou sem personalidade jurídica e a
responsabilidade patrimonial dos sócios será regida de acordo com o modelo
societário adotado.
Pela literalidade de que dispõe a lei brasileira, o que atribui personalidade
jurídica à determinada sociedade não é o tipo societário em si, mas sim o ato formal
da inscrição de seu ato constitutivo no registro próprio, nos termos dos artigos 45, 985
e 1.150 do Código Civil19.
15 COMPARATO, Fábio Konder. O poder de controle na sociedade anônima. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1977, p. 268. 16 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial: direito de empresa. São Paulo: Saraiva. 2013, v.2, p.. 32. 17 Salvo os casos de responsabilidade subsidiária. 18 COELHO. Ibidem, p. 32-34. 19 BRASIL. Lei n. 10.406, de 10 de dezembro de 2002. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406compilada.htm>. Acesso em 10 dez. 2016. Art. 45. Começa a existência legal das pessoas jurídicas de direito privado com a inscrição do ato constitutivo no respectivo registro, precedida, quando necessário, de autorização ou aprovação do Poder Executivo, averbando-se no registro todas as alterações por que passar o ato constitutivo.
18
No Código Civil, da forma como é dividido, consta da sua Parte Especial, Livro
II (Direito de Empresa), Título II (Da Sociedade), Subtítulo I, a existência da sociedade
não personificada, especificamente a sociedade em comum e a sociedade em conta
de participação, e seu Subtítulo II versa sobre as sociedades personificadas.
Tendo em vista que o Código Civil se refere às sociedades personificadas e
às não personificadas, significa que a sociedade existe, por óbvio, diferenciando-se
apenas no tocante à personificação.
Sobre as sociedades que não possuem personalidade, pelo Código Civil,
estas são consideradas pessoas jurídicas e podem ser titulares de direitos e
obrigações, inclusive podendo ser decretada sua falência, havendo apenas uma
limitação de sua capacidade de direito diante de sua irregularidade antes do
arquivamento de seus atos constitutivos20-21, sendo esta limitação uma forma de
sanção pela falta de regularidade.22
Em relação às sociedades regidas pela Lei das Sociedades por Ações (Lei n.
6.404/1976), não havendo o cumprimento de todas as formalidades para a
constituição, tais sociedade não serão consideradas irregulares, mas sim como se não
existisse, ainda em organização (art. 91 da Lei das S.A.), , sendo excluída do Direito
brasileiro a facto corporation23 (não registrada), respondendo diretamente seus
administradores pelos atos praticados, nos termos do artigo 99, parágrafo único, da
Lei nº 6.404/1976 (Lei das S.A)24, não podendo os terceiros agirem contra a
sociedade, mas apenas com quem contratou em nome dela.
Então, o que importa dizer se a sociedade é ou não personificada?
Quando se adquire personalidade, a pessoa jurídica está apta para praticar
tudo o que não é proibido pela ordem jurídica, pois possue plena capacidade como
Art. 985. A sociedade adquire personalidade jurídica com a inscrição, no registro próprio e na forma da lei, dos seus atos constitutivos (arts. 45 e 1.150). Art. 1.150. O empresário e a sociedade empresária vinculam-se ao Registro Público de Empresas Mercantis a cargo das Juntas Comerciais, e a sociedade simples ao Registro Civil das Pessoas Jurídicas, o qual deverá obedecer às normas fixadas para aquele registro, se a sociedade simples adotar um dos tipos de sociedade empresária. 20OLIVEIRA, José Lamartine Corrêa de. A dupla crise da pessoa jurídica. São Paulo: Saraiva, 1979, p. 249. . 21 Esta afirmação só se aplica à sociedade em comum, pois a sociedade em conta de participação, mesmo tendo seu contrato a registro, não possuirá personalidade jurídica, nos termos do artigo 993 do Código Civil. 22 ASCARELLI. Op. cit., p. 515. 23 ASCARELLI. Ibidem, p. 516. 24 BRASIL. Lei n. 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6404consol.htm>. Acesso em: 20 dez. 2016.
19
sujeito de direito. Quando despersonalizada, estes só podem fazer o que é permitido
e essencial para o seu funcionamento e manutenção25.
Em uma sociedade empresária pode-se identificar de forma mais clara esta
limitação de poderes entre a sociedade personificada e não personificada tomando-
se como exemplo a aplicação da Lei de Falência. Uma sociedade regularmente
constituída tem legitimidades ativa e passiva numa ação falimentar e pode requerer a
recuperação judicial. Já uma sociedade irregular pode sofrer uma ação falimentar e
ter sua falência decretada (legitimidade passiva), bem como pedir sua autofalência
(art. 105, V LF), mas não tem legitimidade ativa para pedir a falência de outro
empresário ou sociedade empresária, pois para tanto precisa provar sua regularidade,
nos termos do artigo 97, § 1º, da Lei de Falências26, e também não pode requerer a
recuperação judicial (art. 51, V, da Lei de Falência).
Contudo, e para o escopo deste trabalho, constata-se que a principal
consequência de considerar uma sociedade com personalidade jurídica está na sua
autonomia patrimonial e na responsabilidade patrimonial atribuída aos sócios de forma
limitada ou ilimitada, porém subsidiária neste caso27.
Uma sociedade que não tenha seus atos constitutivos arquivados no registro
próprio será regida pelas normas da sociedade em comum28, prevista na parte
especial do Código Civil, Livro II (Do Direito de Empresa), Título II (Da Sociedade),
Subtítulo I (Da Sociedade Não Personificada), artigos 986 a 990. Neste tipo societário,
o sócio responde ilimitadamente com seu patrimônio pessoal pelas obrigações
sociais.
De acordo com o artigo 1.024 do Código Civil, regra geral da sociedade
simples e subsidiária às demais sociedades quando expressamente indicado, os bens
particulares dos sócios não podem ser executados por dívidas da sociedade, senão
depois de executados os bens sociais, ou seja, a regra é a subsidiariedade quando os
sócios responderem pelas obrigações sociais, a depender do tipo societário escolhido
25 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial: direito de empresa [livro eletrônico]. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016. 26 BRASIL. Lei n. 11.101, de 09 de fevereiro de 2005. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm>. Acesso em 10 jan. 2017. 27 REQUIÃO, Rubens. Abuso de direito e fraude através da personalidade jurídica. Revista dos Tribunais. São Paulo: RT, v. 410, dez/1969, p. 15. 28 Exceto a anônima, como visto anteriormente.
20
para desenvolver a empresa29. Assim, sempre será necessário excutir os bens sociais
para depois atingir os bens dos sócios.
No caso da sociedade em comum, ela possui regra própria em seu artigo
99030, prevendo que apenas o sócio que contratou pela sociedade responderá com
seus bens de forma solidária com o patrimônio social, não se valendo do benefício de
ordem. Esgotados os bens sociais, apenas neste momento é que o credor poderá
acionar o(s) outro(s) sócio(s) que não contratou(aram) pela sociedade.
Outra espécie societária não personificada é a sociedade em conta de
participação, regida pelos artigos 991 a 996 do Código Civil31, obrigando-se perante
terceiro somente o sócio ostensivo.
Assim, tratando-se de sociedades não personificadas, conclui-se que não há
que se falar em desconsideração da personalidade jurídica32 para que seus sócios
respondam patrimonialmente. Não se deve confundir a ideia de pessoa jurídica com
personalidade jurídica. A personalidade jurídica é um atributo da pessoa jurídica33.
É em relação às sociedades personificadas, ou seja, aquelas que possuem
personalidade jurídica decorrente do registro dos seus atos constitutivos no registro
próprio, que se ocupa a incidência do instituto da desconsideração da personalidade
jurídica.
Contudo, em que pese a personalização com a consequente autonomia
patrimonial entre a sociedade e seus sócios, finalidade intrínseca da personalização,
há tipos societários personificados em que os sócios respondem de forma ilimitada,
podendo, então, quanto à responsabilidade dos sócios, as sociedades serem
classificadas como de responsabilidades ilimitada, mista e limitada34.
29 Sociedade em nome coletivo, ex vi. 30 Art. 990. Todos os sócios respondem solidária e ilimitadamente pelas obrigações sociais, excluído do benefício de ordem, previsto no art. 1.024, aquele que contratou pela sociedade. 31 Coelho critica a sua classificação como sociedade por entender que ela não passa de um contrato de investimento comum, pois, devido à natureza secreta de seu ato constitutivo, mesmo levado a registro, não lhe atribuirá personalidade jurídica, não possui nome empresarial, não possui, necessariamente capital social e sua liquidação se dá via prestação de contas e não por ação de dissolução e apuração de haveres. COELHO. Op. cit, p. 513. 32 Ainda que se encontre algumas decisões judiciais versando sobre a desconsideração da personalidade jurídica do empresarial individual, a teoria também não se aplica ele, pois “empresário, sua empresa individual, a então denominada firma individual não são nem em algum momento foram alçadas à condição de pessoa jurídica. Personalidade jurídica é tema que diz respeito às sociedades em geral”. GONÇALVES NETO. Op. cit., p. 80. 33 Para Coelho, “a disciplina legal do início da personalização das sociedades empresárias é, em termos outros, ilógica, incoerente e destoante em relação ao conceito de pessoa jurídica”. COELHO. Op. cit., p, 36. 34 COELHO. Op. cit., p. 50-51.
21
Nas sociedades que possuem sócios com responsabilidade ilimitada, estes
respondem ilimitadamente pelas obrigações contraídas pela sociedade. Nesta
classificação encontram-se a sociedade simples (art. 1.023 e 1.024 do CC) e a
sociedade em nome coletivo. Nesta, os sócios, sempre pessoas físicas, responderão
solidária e ilimitadamente pelas obrigações sociais, conforme artigo 1.039 do Código
Civil.
Observe-se que o termo “solidária” no citado dispositivo legal significa que os
sócios respondem solidariamente perante terceiros, de acordo com o regramento das
obrigações solidárias regidas pelo Direito Civil. No entanto, primeiro deverá ser
observada a regra da subsidiariedade, a teor do artigo 1.024 do Código Civil
Na sociedade simples pura35, ou seja, aquela que não exerce atividade própria
de empresário, exercendo atividade intelectual de natureza científica, literária ou
artística (advogados, médicos, escritores, músicos etc.), como regra comporta sócios
com responsabilidade ilimitada, podendo optar pela responsabilidade solidária, em
interpretação conjunta dos artigos 997, inciso VIII e 1.023 do Código Civil36.
Ainda nesta classificação pode ser encontrada a sociedade cooperativa que
contemple cooperados com responsabilidade ilimitada, os quais responderão de
forma subsidiária37, solidária e ilimitada, conforme determina o artigo 1.095 e seu
parágrafo segundo, do Código Civil.
Nestes casos, não haverá necessidade de desconsideração da personalidade
jurídica para que os sócios sejam responsabilizados patrimonialmente pelas
obrigações sociais, já que esta responsabilidade é subsidiária pelo próprio regramento
societário que lhe é pertinente.
As sociedades classificadas como mistas pelo tipo de responsabilidade
comportam duas espécies de sócios, uns que respondem ilimitadamente pelas
obrigações sociais e outros que respondem limitadamente pelas obrigações sociais”38.
Encontram-se nesta classificação a sociedade em comandita simples e a sociedade
em comandita por ações39.
35 Sociedade simples que não optou pelo regramento das sociedades empresárias, conforme artigo 983, segunda parte, do Código Civil. 36 GONVALVES NETO. Op. cit., p. 197. 37 Código Civil, artigo 1.096 combinado com artigo 1.024. 38 NEGRÃO, Ricardo. Manual de direito comercial e de empresa. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 293-294. 39 A sociedade em conta de participação, não personificada, comporta esta classificação por contar com sócios que respondem ilimitadamente, o sócio ostensivo, e os sócios participantes que respondem limitadamente pelas perdas com o valor que contribuiu, e ausência completa de responsabilidade
22
A sociedade em comandita simples comporta duas categorias de sócios: os
comanditados, que têm responsabilidade subsidiária, solidária entre si e ilimitada
pelas obrigações sociais; os comanditários, que respondem de forma limitada pelo
valor de suas quotas (art. 1.045 do CC).
Na sociedade em comandita por ações, em que o capital é dividido por ações,
o acionista que não participa da administração responde de forma limitada ao preço
de emissão das ações que subscreveu e adquiriu. O acionista que exerce a função de
diretor (ou administrador) responde pelas obrigações da sociedade constituídas
durante sua gestão, de forma subsidiária, ilimitada e solidária (art. 282 da LSA).
Neste sentido, havendo hipótese de desconsideração da personalidade
jurídica, esta se daria para imputar a responsabilidade patrimonial aos sócios
comanditários, na comandita simples, e aos apenas acionistas, na comandita por
ações, vez que os comanditados e acionistas administradores já responderiam de
forma subsidiária pelo tipo societário escolhido.
No entanto, as espécies societárias que comportam sócios com
responsabilidade ilimitada pelas obrigações sociais são raramente constituídas para
o desenvolvimento de uma atividade, pois desta forma o patrimônio pessoal dos
sócios (todos ou alguns) estariam vinculados ao resultado da empresa, o que
desestimula empreender em alguns casos.
Já as sociedades classificadas como limitadas são aquelas em que os sócios
respondem até o limite de sua contribuição ao capital social ou ao preço das ações
subscritas ou adquiridas40, compondo esta classificação a sociedade limitada e a
sociedade anônima. Em termos de limitação da responsabilidade pode-se inserir
nesta classificação a Empresa Individual de Responsabilidade Limitada – EIRELI,
criada pela Lei nº 12.441, de 11 de julho de 2011, em que o titular responderá de
forma limitada ao valor limite de sua contribuição ao capital social, por interpretação
do artigo 980-A, § 6º, combinado com o artigo 1.052, ambos do Código Civil, e que
adiante será tratada como sociedade para facilitar o desenvolvimento do texto.
Esta limitação de responsabilidade patrimonial encontra sua razão de ser no
estímulo ao desenvolvimento da atividade econômica. O desenvolvimento de uma
atividade empresarial envolve investimento de capital e, por consequência, riscos ao
perante terceiros, salvo dolo ou fraude. Neste sentido: NEGRÃO, Ricardo. Manual de direito comercial e de empresa. 9 ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 294. 40 NEGRÂO. Ibidem, p. 293-294.
23
patrimônio dos investidores. Assim, a limitação da responsabilidade patrimonial, na
ordem capitalista, é o que viabiliza investimentos na produção e circulação de bens
ou serviços. Não havendo limitação da responsabilidade empresarial no caso de
insucesso empresarial, os investidores procurariam negócios mais sólidos e seguros
para aplicarem parte de seu patrimônio, implicando no não desenvolvimento de novos
e melhores produtos ou serviços, prejudicando o próprio mercado consumidor41.
No entanto, as pessoas que se utilizam da forma societária para
desenvolveram atividades com a limitação de sua responsabilidade patrimonial podem
desvirtuar a função para a qual ela foi criada, contraindo obrigações de forma
fraudulenta em nome da sociedade, mas em benefício próprio.
Sendo a limitação da responsabilidade patrimonial através da personalidade
jurídica uma técnica jurídica de estímulo para o desenvolvimento empresarial, sua
disfuncionalidade deve ser combatida pelo Direito, criando-se teorias e instrumentos
processuais para tal fim, responsabilizando aqueles sócios que praticaram atos
fraudulentos sob o manto da personalidade jurídica, o que ocorreu com a criação da
teoria da desconsideração da personalidade jurídica e do incidente de
desconsideração da personalidade jurídica, objetos da pesquisa nos capítulos
seguintes.
1.3 A teoria da desconsideração da personalidade jurídica e seus pressupostos de
aplicação no Direito brasileiro
A constituição de uma pessoa jurídica, como técnica criada pelo Direito para
facilitar as relações humanas no desenvolvimento de atividades de maior vulto42, deve
servir para os fins estabelecidos pela lei e pelo contrato com objeto lícito.
O desvirtuamento de sua função como pessoa jurídica pode abrir espaço para
que as pessoas que a constituíram sejam responsabilizadas pessoalmente, não
podendo a pessoa jurídica servir de manto para encobertar fraudes praticadas por
seus constituintes, surgindo então a teoria da desconsideração da personalidade
jurídica originariamente através do sistema jurídico do commow law no Reino Unido e
41 COELHO. Ibidem, p. 187-188. 42 GONÇALVES NETO. Op. cit., p. 159.
24
Estados Unidos da América, com base no sistema da equity43-44
Surgiu com o êxito das sociedades por quotas de responsabilidade limitada
criadas pelo Direito alemão, cujo maior problema deste tipo societário seria o da
unipessoalidade, situação em que todas as quotas do capital seriam titularizadas por
uma única pessoa, o que colocaria em xeque a distinção entre os direitos da
sociedade e do único sócio, decorrente da provável confusão de esferas jurídicas
entre a pessoa jurídica e seu titular45.
Tem-se registro de que foi em 1920 que a Suprema Corte alemã46 aplicou a
teoria da desconsideração da personalidade jurídica envolvendo uma sociedade
unipessoal, entendendo que o único titular das quotas poderia ser responsabilizado,
pois haveria de se dar maior valor aos fatos do que à forma jurídica, sendo esta
decisão considerada a certidão de batismo da desconsideração da personalidade
jurídica no continente europeu.
Na linha de surgimento via tribunal da desconsideração da personalidade
jurídica, o caso mais conhecido na temática é o caso Salomon vc. Salomon & Co.
Ltda, na Inglaterra, em 1897, o qual foi retratado por Rubens Requião, em 1969,
primeiro doutrinador brasileiro a tratar do assunto.
De acordo com a narrativa de Requião47, Aaron Salomon era um comerciante
individual que posteriormente constituiu uma sociedade denominada Salomon & Co.
Ltd., juntamente com outras seis pessoas, sua esposa, sua filha e mais quatro filhos,
sendo que Salomon detinha 20 mil ações, enquanto os outros detinham uma ação.
Aaron Salomon pagou suas ações com a transferência de seu fundo de comércio.
43 BRASIL, Deilton Ribeiro; GAMA, Guilherme Calmon Nogueira da Gama. Aspectos relevantes (materiais e processuais) da teoria da desconsideração da personalidade jurídica. In: GAMA, Guilherme Calmon Nogueira (Coord). Desconsideração da personalidade jurídica: visão crítica da jurisprudência. São Paulo: Atlas, 2009, p. 4. 44 “A equity está fundada em soluções surgidas nos séculos XV e XVI em suprimento às lacunas e imprecisões no sistema da Common Law, sem desvirtuar, contudo, os princípios gerais do direito [...] Nos casos em que as regras da Common Law não trazem justiça para a parte e a satisfação do direito, o demandante tinha a possibilidade de pedir a intervenção do rei, em atenção às regras de sua consciência e a fim de ser feita justiça”. ALVES, Alexandre Ferreira de Assunção. Fundamentos da desconsideração da personalidade jurídica no sistema jurídico do Common Law e sua aplicação nos direitos inglês e norte americano – influência no Código Brasileiro de Defesa do Consumidor. In: ALVES, Alexandre F. de A.; GAMA, Guilherme C. N. da (Coords). Temas de direito civil-empresarial. Rio de Janeiro: Renovar: 2008, p. 6. 45 CORDEIRO, António Menezes. O levantamento da personalidade colectiva no direito civil e comercial. Coimbra: Livraria Almedina, 2000, p. 103-104. 46 Idem. Cordeiro cita a decisão de 22 de junho de 1920, RGZ 99 (1920), 232-235 (234), assim referenciada e várias outras decisões no decorrer do século XX. Neste sentido, vide OLIVEIRA, José Lamartine Corrêa de. A dupla crise da pessoa jurídica. São Paulo: Saraiva, 1979, p. 284. 47 REQUIÃO. Op. cit., p. 12-24.
25
Como o valor deste fundo de comércio era superior ao valor das ações, Aaron se
tornou credor pela diferença do valor com garantia real. Após sua constituição, a
sociedade começou a atrasar os pagamentos e, com apenas um ano de existência,
entrou em liquidação. Contudo, verificou-se que a sociedade não tinha bens suficiente
para adimplir as suas obrigações. Nestas circunstâncias, o liquidante sustentou que
Salomon deveria ser condenado ao pagamento das obrigações da sociedade, pois
era atividade pessoal Aaron, sendo a sociedade apenas figurante em seus negócios.
Em primeira instância foi acolhido o pedido, sendo confirmada pela Corte de Apelação,
mas a decisão foi reformada, sendo favorável a Aaron Salomon48.
Este caso influenciou fortemente o desenvolvimento da doutrina da
desconsideração da personalidade jurídica, ainda que se tenha decidido pela
consideração da personalidade jurídica, pois no caso foi aplicado categoricamente o
princípio da personalidade jurídica entre sócio e sociedade (autonomia subjetiva),
afastando a responsabilização de Salomon sob o argumento de que a companhia foi
legitimamente constituída por seus sócios e não havia indícios de fraude na
constituição e utilização da pessoa jurídica criada49.A sistematização da teoria surgida
nos tribunais se deu por Rolf Serick, em decorrência de sua tese de doutorado
defendida perante a Universidade de Tübingen, na Alemanha, em 1953
Rolf Serick relaciona quatro princípios que sintetizaram a sua teoria da
desconsideração da personalidade jurídica. No primeiro, a personalidade jurídica pode
ser desconsiderada quando ocorrer abuso com a finalidade de consumar objetivos
ilícitos. Já o segundo princípio diz respeito à preservação da personalidade, em que
somente a falta de concretização de uma norma ou contrato não pode dar ensejo à
desconsideração. O terceiro princípio desconsidera a personalidade jurídica para que
se chegue às pessoas naturais que a compõem, a fim de aplicar normas que versem
sobre valores humanos às pessoas jurídicas. Finalmente, o quarto estabelece que, no
caso de a forma da pessoa jurídica ser utilizada para ocultar quem de fato tiver
praticado determinado ato, a personalidade deve ser desconsiderada para aplicar a
norma que estabelece a diferenciação efetiva entre quem participou do negócio
jurídico50, como pode se dar no caso de licitação em que há proibição de participação
de funcionários de determinado órgão público, cuja participação se daria através de
48 OLIVEIRA, José Lamartine Corrêa de. A dupla crise da pessoa jurídica. São Paulo: Saraiva, 1979, p. 456-457. 49 Idem. 50 SERICK, Rolf. Forma e realtà della persona giuridica. Milão: Giuffrè, 1966, p. 275-295.
26
uma pessoa jurídica51.
Deste cotejo do surgimento da teoria desconsideração da personalidade
jurídica, passa-se a expor sua positivação no direito brasileiro e os pressupostos de
sua aplicação.
O artigo 50 do Código Civil52 é o que retrata a teoria da desconsideração tal
qual como foi criada em suas concepções subjetiva (abuso/fraude)53 e objetiva
(confusão patrimonial)54, ao prever que em caso de abuso da personalidade jurídica,
caracterizado pelo desvio de finalidade, ou pela confusão patrimonial, formulações
que são compatíveis entre si55, até porque, ao fim e ao cabo, a desconsideração da
personalidade jurídica está substanciada em ato fraudulento56-57.
No entanto, da mera leitura do citado dispositivo não se extrai todos os
pressupostos de aplicação da teoria da desconsideração, havendo outros que em
conjunto contemplam os requisitos para aplicação, sendo (i) constituição regular da
pessoa jurídica, a fim de que se adquira personalidade jurídica, pois sem esta não há
que se falar em teoria da desconsideração; (ii) abuso ou fraude no exercício das
atividades da pessoa jurídica; (iii) prejuízo a terceiro em decorrência do ato praticado
pela pessoa jurídica; (iv) a impossibilidade de sanção de modo diverso da
desconsideração58, como nos casos já citados de responsabilidade subsidiária dos
51 SOUZA, André Pagani de. Desconsideração da personalidade jurídica: aspectos processuais. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2011, p. 66. 52 BRASIL. Lei n. 10.406, de 10 de dezembro de 2002. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406compilada.htm>. Acesso em 10 mar. 2017. 53 Intuito fraudulento combatido por Serick. 54 A teoria objetiva de Fábio Konder Comparato é no sentido de que a constituição de uma sociedade deve ser compreendida de formas genérica e especifica. A primeira diz respeito a separação patrimonial, sendo este o principal requisito para a desconsideração. Já segunda é mais restrita ao analisar a finalidade do objeto social, descrito no contrato ou no estatuto da empresa. Neste sentido, defende o autor que a existência de uma sociedade deve ser observada pela possiblidade de realização de seu objeto. Ocorrendo a inobservância dos critérios apresentados deve-se entrar em cena o instituto da desconsideração da personalidade jurídica. COMPARATO, Fábio Konder. O poder de controle na sociedade anônima. 2 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1977, p. 270-275. 55 SOUZA. Op. cit., p. 93. 56 DINAMARCO, Candido Rangel. Fundamentos do processo civil moderno. 3. ed. t. II. Desconsideração da personalidade jurídica, fraude e ônus da prova. São Paulo: Malheiros, 2001, p.183. 57 Fábio Ulhoa Coelho dá uma solução adequada à diferença entre os pressupostos da prova em Juízo do abuso da personalidade jurídica. Para este autor, a formulação subjetiva da teoria da desconsideração é mais ajustada à teoria como formulada em seus primórdios, com base no intuito fraudulento do sócio, o que demanda certa dificuldade probatória. A formulação objetiva, ou seja, a utilização disfuncional da pessoa jurídica constatada objetivamente serve como meio facilitador de prova do abuso. COELHO. Op. cit., p. 67. 58 GAMA, Guilherme Calmon Nogueira. Incidente de desconsideração da personalidade jurídica. Revista de Processo São Paulo: RT. v. 262, p. 61-85, dez/2016. Disponível em: <https://www.thomsonreuters.com.br>. Acesso em: 01 mar. 2017. No mesmo sentido, dentre outros, PARENTONI, Leonardo Netto. Desconsideração contemporânea da personalidade jurídica:
27
sócios ou na responsabilidade tributária, conforme será visto no item 4.1.1.
Além destes pressupostos, outros estão previstos em diplomas legais que
visam tutelar outros interesses com a aplicação da desconsideração da personalidade
jurídica.
Diante destes outros pressupostos de aplicação da desconsideração no
direito brasileiro, passou-se a diferenciá-los através da divisão da teoria da
desconsideração em teoria maior e menor, as quais serão tratadas nos próximos dois
itens.
1.3.1 A teoria maior da desconsideração da personalidade jurídica
O Código Civil brasileiro não foi o primeiro diploma legal a dispor sobre a
desconsideração da personalidade jurídica, cabendo ao Código de Defesa do
Consumidor prever o referido instituto em seu artigo 28.
O que o Código Civil fez foi positivar a teoria da desconsideração como
concebida, em especial quanto às formulações objetivas e subjetivas da teoria59,
sendo esta positivação com os pressupostos de aplicação citados no item que se
denomina a teoria maior da desconsideração da personalidade jurídica.
Para a denominada teoria maior, o requisito para aplicação da teoria da
desconsideração é o abuso da personalidade jurídica.
O mesmo Estado que atribui a personalidade jurídica para a realização de
uma atividade, também a desconsidera para coibir abusos e responsabilizar os
verdadeiros agentes60.
dogmática e análise da jurisprudência brasileira (Jurimetria/Empirical Legal Studies). São Paulo: Quartier Latin, 2014, p. 62-72. 59 O que se aplica no direito tributário, Lei do Desporto, em seu artigo 27 (Lei n. 9.615, de 24 de março de 1998), Lei de Defesa da Concorrência, em seu artigo 34, caput (Lei n. 12.529, de 30 de novembro de 2011) e pela Lei nº 12.846, de 1º de agosto de 2013, chamada de Lei Anticorrupção, em seu artigo 14 e Lei do PROFUT (Programa de Modernização da Gestão e de Responsabilidade Fiscal do Futebol Brasileiro), em seu artigo 24. Não se desconhece o intenso debate sobre a desconsideração da personalidade jurídica no âmbito administrativo. Neste sentido, ver decisão publicada em 13 de novembro de 2013 do Supremo Tribunal Federal relatada pelo Ministro Celso de Mello no Mandado de Segurança n. 32.494-MC/DF que cautelarmente suspendeu decisão do Tribunal de Contas da União que desconsiderou a personalidade jurídica de uma sociedade. In: BRASIL. Supremo Tribunal Federal. TCU – Desconsideração da Personalidade Jurídica – Poderes Implícitos – Princípio da Legalidade. Mandado de Segurança n. 32.494-MC/DF. Disponível em: < http://www.stf.jus.br//arquivo/informativo/documento/informativo732.htm>. Acesso em: 05 jul. 2017. 60 JUSTEN FILHO, Marçal. Desconsideração da personalidade societária no direito brasileiro. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1987, p. 95: Na tentativa de formular os pressupostos para a incidência da desconsideração, afirmamos, então, que a personificação societária não se caracteriza como dado
28
Apesar do grau de subjetividade que lhe é inerente em razão de ter que se
buscar o intuito fraudulento do(s) sócio(s) é que a teoria maior se mostra mais
condizente com a realidade empresarial, em especial em relação aos credores
negociais, os quais podem acrescer ao preço dos seus produtos ou serviços o risco
da contratação com uma pessoa jurídica que possua sócio com responsabilidade
patrimonial limitada.
A teoria maior da desconsideração da personalidade jurídica se sustenta da
forma como ela foi concebida em sua gênese nos tribunais e sistematizada por
diversos doutrinadores, sempre no intuito de impedir o abuso ou fraude através da
pessoa jurídica e, ao mesmo tempo, preservar o instituto da pessoa jurídica, pois o
problema não está nele, mas sim em seu mau uso61, conforme demonstrado no item
anterior.
Por outro lado, aos credores não negociais (consumidores, empregados,
tutela do meio ambiente) mais se adequa a teoria menor, a qual dispõe que não devem
ser assumidos os mesmos riscos daquela teoria maior por não abarcar os mesmos
meios de absorção do risco, facilitando a responsabilização dos sócios pelas
disfuncionalidades da pessoa jurídica, conforme será a seguir abordado, o que será
abordado no item seguinte.
1.3.2 A teoria menor da desconsideração da personalidade jurídica
Para a denominada teoria menor da desconsideração da personalidade
jurídica tem-se requisitos menos subjetivos, centrando-se no prejuízo e na autonomia
patrimonial como critérios de sua aplicação.
A aplicação da teoria menor tendo como pressuposto o mero prejuízo vem
prevista em dispositivos legais do Código de Defesa do Consumidor62, da Lei de
de inerência, mas exsurge como manifestação da atividade promocional do Estado. Concebendo a atribuição da personalidade jurídica (a instituição do regime das sociedades personificadas, melhor dizendo) como uma sanção positiva, pela qual o Estado busca incentivar os integrantes da comunidade a adotarem certas condutas mais desejáveis, fornecendo instrumental jurídico para o desenvolvimento econômico, suprimem-se os empecilhos para a definição dos pressupostos da desconsideração da personalidade jurídica. 61 BRASIL e GAMA. Op. cit., p. 7. 62 Art. 28. O juiz poderá desconsiderar a personalidade jurídica da sociedade quando, em detrimento do consumidor, houver abuso de direito, excesso de poder, infração da lei, fato ou ato ilícito ou violação dos estatutos ou contrato social. A desconsideração também será efetivada quando houver falência, estado de insolvência, encerramento ou inatividade da pessoa jurídica provocados por má administração.
29
Proteção ao Meio Ambiente63, Lei de Fiscalização das Atividades Relativas ao
Abastecimento Nacional de Combustíveis 64, Lei de Defesa da Concorrência, nos
termos do parágrafo único de seu artigo 3465, aplicando-se também no Direito do
Trabalho por força do artigo 855-A da Consolidação das Leis Trabalhistas, dispositivo
introduzido pela chamada reforma trabalhista66.
Constatando-se grande semelhança entre os dispositivos, em especial os
posteriores ao Código de Defesa do Consumidor, nele inspirados, qual a razão de se
estabelecer pressupostos que aparentemente afastam o princípio da limitação
patrimonial dos sócios nestes ramos do Direito, fazendo com que haja até um certo
desestímulo ao empreendedorismo, já que é certo que o desenvolvimento de uma
atividade empresarial ensejará relações jurídicas com consumidores, meio ambiente,
concorrentes e trabalhadores?
[...] § 5° Também poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica sempre que sua personalidade for, de alguma forma, obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados aos consumidores. In: BRASIL. Lei n. 8.078, de 11 de setembro de 1990. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8078.htm>. Acesso em: 20 mar. 2017. 63 Art. 4º Poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica sempre que sua personalidade for obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados à qualidade do meio ambiente. In: BRASIL. Câmara dos Deputados. Lei n. 9.605, de 12 de fevereiro de 1998. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9605.htm>. Acesso em: 20 mar. 2017. 64 Art. 18. Os fornecedores e transportadores de petróleo, gás natural, seus derivados e biocombustíveis respondem solidariamente pelos vícios de qualidade ou quantidade, inclusive aqueles decorrentes da disparidade com as indicações constantes do recipiente, da embalagem ou rotulagem, que os tornem impróprios ou inadequados ao consumo a que se destinam ou lhes diminuam o valor. [...] § 3o Poderá ser desconsiderada a personalidade jurídica da sociedade sempre que esta constituir obstáculo ao ressarcimento de prejuízos causados ao abastecimento nacional de combustíveis ou ao Sistema Nacional de Estoques de Combustíveis. In: BRASIL. Câmara dos Deputados. Lei n. 9.847, de 26 de outubro de 1999. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9847.htm>. Acesso em 20 mar. 2017. 65 Art. 34. A personalidade jurídica do responsável por infração da ordem econômica poderá ser desconsiderada quando houver da parte deste abuso de direito, excesso de poder, infração da lei, fato ou ato ilícito ou violação dos estatutos ou contrato social. Parágrafo único. A desconsideração também será efetivada quando houver falência, estado de insolvência, encerramento ou inatividade da pessoa jurídica provocados por má administração. BRASIL. Lei n. 12.529, de 30 de novembro de 2011. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/Lei/L12529.htm>. Acesso em: 20 mar. 2017. 66Art. 855-A. Aplica-se ao processo do trabalho o incidente de desconsideração da personalidade jurídica previsto nos arts. 133 a 137 da Lei no 13.105, de 16 de março de 2015 - Código de Processo Civil. § 1o Da decisão interlocutória que acolher ou rejeitar o incidente: I - na fase de cognição, não cabe recurso de imediato, na forma do § 1o do art. 893 desta Consolidação; II - na fase de execução, cabe agravo de petição, independentemente de garantia do juízo; III - cabe agravo interno se proferida pelo relator em incidente instaurado originariamente no tribunal. § 2o A instauração do incidente suspenderá o processo, sem prejuízo de concessão da tutela de urgência de natureza cautelar de que trata o art. 301 da Lei no 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil) . In: BRASIL. Decreto-lei n.º 5.452, de 1º de maio de 1943. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del5452.htm>. Acesso em 20 mar. 2017.
30
Uma forma de se conquistar o progresso econômico é através do incremento
da atividade empresarial, incentivada pelo Estado através da atribuição de
personalidade jurídica à coletividade para limitar a responsabilidade de seus
integrantes. Porém, haverá casos em que o interesse será inversamente proporcional,
cedendo a limitação da responsabilidade patrimonial através da pessoa jurídica aos
interesses elencados pelo Estado como de maior prevalência.
Nesta escala de sacrifício de interesses, o Estado elege alguns preferentes a
outros, o que no caso em apreço é o interesse de determinadas pessoas ou bens
juridicamente tutelados em detrimento do interesse da pessoa jurídica
Partindo da óptica consumerista, como primeiro dispositivo a tratar
diretamente sobre o assunto, tem-se uma redação que gera muita polêmica sobre o
assunto, pois a primeira parte do caput do artigo 28 contém disposições com
pressupostos diversos ao constar que a pessoa jurídica será desconsiderada quando
houver abuso de direito, excesso de poder, infração da lei, fato ou ato ilícito ou
violação dos estatutos ou contrato social. O abuso de direito se enquadra
perfeitamente na teoria clássica da desconsideração. O excesso de poder, infração
da lei, fato ou ato ilícito ou violação dos estatutos ou contrato social se enquadram
nos casos de responsabilidade do sócio ou administrador por ato próprio, não sendo
a pessoa jurídica apta à responsabilização, não havendo que se falar em
desconsideração da personalidade jurídica.
A segunda parte do caput dispõe que a desconsideração também será
efetivada quando houver falência, estado de insolvência, encerramento ou inatividade
da pessoa jurídica provocados por má administração, ou seja, só poderá haver
desconsideração se ocorrer um destes fatos decorrentes má administração da pessoa
jurídica. A dificuldade prática de interpretação desta parte do dispositivo é saber o que
se entende por má administração, pois não há no ordenamento jurídico uma definição
de atos que correspondam à má administração, situações que podem impactar
negativamente na atividade empresarial independentemente da vontade dos sócios,
levando à quebra.
Problema maior reside no parágrafo quinto do citado artigo 2867, no qual
consta que também poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica sempre que sua
personalidade for, de alguma forma, obstáculo ao ressarcimento de prejuízos
67 Os demais parágrafos do artigo 28 não versam sobre desconsideração da personalidade jurídica, razão pela qual não serão aqui tratados.
31
causados aos consumidores. Ora, sabe-se que o interesse em desconsiderar a
personalidade jurídica é para que, no esgotamento de seu patrimônio, os sócios
venham a responder com o patrimônio pessoal. Se o dispositivo dispõe que sempre
haverá desconsideração caso, de alguma forma, a pessoa jurídica não puder ressarcir
o consumidor, de nada adianta perquirir sobre a ilicitude dos atos dos sócios ou se
houve má administração, bastando o não ressarcimento de um prejuízo.
Critica-se esta teoria menor no sentido de que ela pode ser considerada “uma
negativa contundente do princípio da autonomia patrimonial enquanto efeito da
personificação”68, devido ao seu caráter utilitarista na busca do crédito exequendo69.
No entanto, adverte-se que na aplicação da desconsideração da
personalidade jurídica, mesmo nas relações de consumo, é de suma importância que
se verifique a fraude ou o abuso de direito, pois, ao contrário, comprometeria a
essência da teoria da pessoa jurídica70.
Três razões justificam para que a interpretação da teoria menor não seja de
forma literal, considerando o mero prejuízo. Primeiro, em razão de contrariar os
fundamentos teóricos da desconsideração. Em segundo lugar, tal intepretação
tornaria letra morta o caput do dispositivo. Em terceiro, eliminaria o instituto da pessoa
jurídica e a limitação patrimonial no campo do Direito do Consumidor e, se assim o
quisesse, não precisaria remeter ao instituto da desconsideração, bastando que
atribuísse responsabilidade subsidiária e solidária dos sócios perante os
consumidores71
No entanto, ainda que com aparente grau de atecnia legislativa que acaba
68 GONÇALVES, Oksandro. Desconsideração da personalidade jurídica. In. COELHO, Fábio Ulhoa (Coord). Tratado de direito comercial: tipos societários, sociedade limitada e sociedade anônima. v. 1. São Paulo: Saraiva, 2015, p. 359-381. Coelho chega a dizer que a teoria menor é uma aplicação incorreta da teoria da desconsideração, pois reflete, na verdade, a crise do princípio da autonomia patrimonial, quando referente às sociedades empresárias, o que não pode ser admitido, pois a teoria da desconsideração é um aprimoramento do instituto da pessoa jurídica, e não sua negação. COELHO. Op. cit., p. 69 69 O utilitarismo imanente à essa teoria menor é ululante, porquanto tem em mira exclusivamente a satisfação do crédito exequendo. E ainda que conte com base legal (para ilustrar, art. 28, em especial seu § 5º CDC), o fato é que os dispositivos que lhe conferem amparo não se mantêm incólumes se submetidos a uma filtragem constitucional, e assim porque achincalham o devido processo – é como se o legislador infraconstitucional estive a dizer que o contraditório e ampla defesa são despiciendos em determinadas causas (meio ambiente, consumidores). DELFINO, Lúcio; STRECK, Lenio Luiz. Novo CPC e STJ corrigem anomalia de canhões apontados contra sócios. Consultor Jurídico. Disponível em: < https://www.conjur.com.br/2015-abr-12/cpc-stj-corrigem-anomalia-canhoes-apontados-socios>. Acesso em: 12 abr. 2017. 70BRASIL. Op. cit., p. 23. 71 COELHO. Op. cit., p. 75.No mesmo sentido: BIANCHI. Op. cit., p. 65-66 e BRUSCHI, Gilberto Gomes. Desconsideração da personalidade jurídica: aspectos processuais. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 69.
32
transformando a exceção (parágrafo 5º) em regra em relação ao caput do artigo 28 do
Código de Defesa do Consumidor, fato é que ele está vigente e possui respaldo
doutrinário e jurisprudencial para sua literal aplicação, sendo uma verdadeira norma
de garantia de ressarcimento de danos72.
A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça é no mesmo sentido, a
começar pelo emblemático caso do Shopping Center de Osasco (SP), que explodiu
em 11 de junho de 1996, matando e ferindo dezenas de consumidores.
Na busca judicial pela reparação civil, o caso chegou ao Superior Tribunal de
Justiça versando sobre a desconsideração da personalidade jurídica, em decisão que
ficou assentado que, pela teoria menor, a desconsideração da personalidade jurídica
“incide com a mera prova de insolvência da pessoa jurídica para o pagamento de suas
obrigações, independentemente da existência de desvio de finalidade ou de confusão
patrimonial”, não devendo o consumidor suportar os riscos da atividade empresarial,
mas sim os sócios e administradores da pessoa jurídica, ainda que estes tenham
agido de forma proba73, raciocínio que se estende aos outros casos de aplicação da
teoria menor.
Em que pese posições contrárias, esta é a forma de aplicação da teoria menor
da desconsideração da personalidade jurídica. São interesses coletivos que se visa
tutelar em detrimento da limitação do risco empresarial. De certa forma, a teoria menor
faz com que os investidores procurem desenvolver seus produtos e serviços com
melhor qualidade, a fim de não lesar os consumidores, o meio ambiente, a
concorrência e os trabalhadores.
72 MIRAGEM, Bruno. Curso de direito do consumidor. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2013, p. 609. 73 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Responsabilidade civil e direito do consumidor. Recurso Especial n. 279.273/SP. Recorrente: B Sete Participações S/A. Recorrido: Ministério Público do Estado de São Paulo. Relator: Min. Ari Pargendler. Brasília, 04 de dezembro de 2003. Disponível em: <http://www.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/doc.jsp?livre=279273&b=ACOR&p=true&l=10&i=27>. Acesso em 20 mar. 2017.
33
CAPÍTULO II
2 A teoria da desconsideração no plano processual: análise genealógica do
incidente de desconsideração da personalidade jurídica.
O estudo histórico da criação do incidente de desconsideração da
personalidade jurídica se mostra importante por três razões. A primeira, diz respeito a
contextualizar como se aplicava a desconsideração antes da criação do incidente de
desconsideração da personalidade jurídica. A segunda, refere-se à documentação e
perpetuação de todo o processo prévio e legislativo que resultou na criação do
instituto. Já a terceira, que decorre da segunda, “está relacionada ao fornecimento de
elementos que propiciem a melhor compreensão do instituto, a partir de uma
interpretação autêntica e sistemática”74.
2.1 Posições doutrinárias sobre a aplicação da desconsideração da personalidade
jurídica antes do atual Código de Processo Civil
Conforme acima demonstrado, a doutrina se debruçou de forma significativa
sobre os pressupostos materiais para aplicação da teoria da desconsideração da
personalidade jurídica previstos em diversos textos de lei.
No entanto, até antes do atual Código de Processo Civil não havia texto de lei
que versasse sobre a forma processual de aplicação da teoria da desconsideração da
personalidade jurídica.
Antes do atual Código existia um grande debate na doutrina e no Judiciário
sobre o tema, no sentido de saber se a desconsideração da personalidade jurídica
deveria ser um incidente processual ou um processo incidente.
Isto porque grande parte dos pedidos de desconsideração da personalidade
jurídica ocorre em ações de execução de título executivo extrajudicial, cumprimento
de sentença ou falência, em que o descumprimento das obrigações pode ter sido
causado por fraudes (intuito fraudulento, teoria maior), caracterizadas pelo desvio de
finalidade ou confusão patrimonial entre a pessoa jurídica e seus sócios, ou a mera
74 MENDES, Aluisio Gonçalves Castro. Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas: sistematização, análise e interpretação do novo instituto processual. Rio de Janeiro: Forense, 2017, p. 61.
34
falta de patrimônio para cumprimento das obrigações (relação de consumo, teoria
menor).
Se o pressuposto para a desconsideração é a fraude, parte minoritária da
doutrina entendia que a desconsideração deveria ser alegada e provada em ação
própria contra os sócios, de caráter cognitivo, pois contra estes o credor ainda não
possuía título executivo para responsabilizá-los75, não sendo correta a
desconsideração, constrição de bens dos sócios e diferindo o contraditório para
eventuais embargos à execução ou de terceiros.
Por outro lado, parte da doutrina que entendia ser necessária uma ação
autônoma para desconsiderar a personalidade jurídica partia de uma premissa
correta, que era a aplicação dos princípios do devido processo legal, contraditório e
ampla defesa, para se chegar a uma premissa equivocada, que era a necessidade de
uma ação autônoma76.
Assim, passou-se a ser entendido majoritariamente que sendo a
desconsideração pedida e decidida no bojo da demanda executiva, o sócio teria os
meios adequados para se defender, atendendo plenamente ao contraditório, por
exemplo, com embargos de terceiro, impugnação de sentença ou embargos à
execução77, inclusive a exceção de pré-executividade78, não necessitando de ação
autônoma para isso, pois a desconsideração seria uma questão incidental79.
Esta forma de aplicar a desconsideração através uma decisão interlocutória
no curso da execução tinha como fundamento a busca por uma melhor efetividade do
processo, que é justamente dos fundamentos para a aplicação da desconsideração80,
bastando que o credor trouxesse aos autos as provas que tivesse e fizesse o pedido
de desconsideração por simples petição e o magistrado, através de uma análise
superficial81, já decidisse, sem que o sócio se manifestasse antes da decisão,
postergando o direito de defesa.
A análise superficial de provas e o deferimento da desconsideração, da
maneira como eram feitos, iam de encontro aos princípios do devido processo legal,
75 Por todos, COELHO. Op. cit.,p. 78 76 BIANCHI. Op. cit., p. 119. 77 BIANCHI. Ibidem, p. 119, 178 e 181. 78 Atribui-se a Pontes de Miranda a criação da exceção de pré-executividade em parecer encomendado pela Siderúrgica Mannesmann. In: MIRANDA, Francisco Cavalcanti Pontes de. Dez anos de pareceres. v. 4. n. 95. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves Editora S.A, 1975, 125-139. 79 SOUZA. Op. cit., p. 151. 80 BRUSCHI. Op. cit., p. 90. 81 BRUSCHI. Ibidem, p. 100.
35
do contraditório e da ampla defesa, bem como da construção teórica secular da
pessoa jurídica e do princípio da autonomia patrimonial da sociedade.
Neste sentido, percebe-se que, em busca de uma possível efetividade do
processo para o cumprimento de obrigações, imputava-se objetivamente ato
fraudulento a alguém, decidia-se pela desconsideração e postergava o direito o direito
de defesa.
Assim, conclui-se que a doutrina majoritária era no sentido de não ser
necessária ação autônoma ou um processo incidental para que fosse aplicada a
desconsideração da personalidade jurídica, podendo esta ser aplicada através de
simples petição e decidida de forma interlocutória já com possível constrição de bens,
situação em que, somente após esta situação, é que a pessoa atingida poderia se
defender
2.2 Posições dos tribunais sobre a aplicação da desconsideração da personalidade
jurídica antes do atual Código de Processo Civil
Em relação aos posicionamentos dos tribunais brasileiros, era entendimento
assente que a desconsideração da personalidade jurídica prescinde de ação
autônoma, sendo aplicada no curso do processo de execução ou cumprimento de
sentença, decidindo-se de forma interlocutória, desde que verificados os pressupostos
para a desconsideração e sólida prova documental82-83.
Embora tenha havido consenso na forma processual de se aplicar a
desconsideração sem necessidade de ação autônoma, o mesmo não ocorre com os
meios de defesa para combate-la, sendo utilizado os mais variados meios como
agravo de instrumento, embargos à execução, de terceiros ou exceção de pré-
executividade, constatando-se uma desigualdade de armas na mesma guerra
processual.
82 Em pesquisa coordenada por Guilherme Calmon Nogueira da Gama, em que se analisou a jurisprudência dos Tribunais de Justiça do Estado de Minas Gerais, Rio de Janeiro e do Superior Tribunal de Justiça, entre os anos de 1995 a 2007, pode-se constatar que este era o posicionamento pelos tribunais, não encontrando, ainda que incidentalmente, posicionamento contrário. In: GAMA, Guilherme Calmon Nogueira da. Desconsideração da personalidade da pessoa jurídica: visão crítica da jurisprudência, São Paulo: Atlas, 2009. 83 Referido posicionamento ainda se aplicava em decisões mais recentes, como se constata no Recurso Especial n. 1.326.201-RJ, Relatora a Ministra Nancy Andrighi, julgado em 7/5/2013, no sentido de que “O juiz pode determinar, de forma incidental, na execução singular ou coletiva, a desconsideração da personalidade jurídica de sociedade. De fato, segundo a jurisprudência do STJ, preenchidos os requisitos legais, não se exige, para a adoção da medida, a propositura de ação autônoma”.
36
Isto porque como o pedido de desconsideração se dava por simples petição
nos autos da execução, por simples petição também deveria ser aceita a defesa do
sócio, o que não ocorria, imputando-lhe a necessidade de defesa técnica prevista no
ordenamento jurídico84, ferindo o princípio da isonomia, exigindo-se formas de defesa
que se caracterizam como ação85 e seus ônus processuais86.
Este cenário acima descrito demonstra as incertezas que pairavam sobre a
aplicação da desconsideração da personalidade jurídica, em especial quanto à defesa
do sócio em face da decisão que desconsiderava a personalidade.
Pelo exposto, constata-se uma grande tendência em dar efetividade ao
processo de execução ou cumprimento de sentença com o deferimento liminar do
pedido de desconsideração. Por outro lado, ainda mais por se estar imputando a
prática de ato fraudulento a alguém, verificou-se uma grande problemática no tocante
à defesa dos sócios, o que fez com que Paulo Cezar Pinheiro Carneiro dissesse, em
reunião da Comissão de Juristas responsável pela elaboração do anteprojeto do atual
Código de Processo Civil, presidida pelo ministro Luiz Fux, que na “jurisprudência o
que tem ocorrido são coisas terríveis”, pois “têm juízes que desconsideram na
84 BRASIL. Rio de Janeiro. Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro Exceção de Pré-Executividade. Discussão Sobre Desconsideração da Pessoa Jurídica. Descabimento. Só se admite a chamada exceção de pré-executividade quando a nulidade do título executivo for insanável, estiver prescrito, ou a discussão envolver pressupostos processuais e condições da ação. Matéria envolvendo a desconsideração da pessoa jurídica ou penhora dos bens do sócio não se enquadra entre aquelas que podem ser examinadas pela via da exceção, desafiando defesa técnica. Desprovimento do recurso. Agravo de Instrumento n. 0026898-17.2001.8.19.0000 (17.552/2001), da 2ª Câmara Cível, RJ, 04 abr. 2002. Disponível em: < http://www4.tjrj.jus.br/EJURIS/ImpressaoConsJuris.aspx?CodDoc=167267&PageSeq=1>. Acesso em 18 jul 2017 e BRASIL. Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro. Processual Civil. Agravo de Instrumento. Desconsideração da Personalidade Jurídica. Decisão fundamentada diante da qual não houve qualquer recurso. Pretensão de terceiro na revogação da decisão. Impossibilidade manifesta à vista da ilegitimidade de parte. Agravo a que se dá provimento. I - O juiz pode julgar ineficaz a personificação societária, sempre que for usada com abuso de direito, para fraudar a lei ou prejudicar terceiros. Assim fazendo, se dessa decisão não há qualquer recurso, descabe a terceiro, dizendo-se emitente do título, pleitear e obter a revogação daquele reconhecimento, revelando-se ilegal, na espécie, a reconsideração do despacho, à mingua de legitimidade de parte; II- Agravo a que se dá provimento para manter a decisão que decretou a desconsideração da personalidade jurídica e consequente penhora, discutindo-se a matéria pelas vias dos embargos à execução. Agravo de Instrumento nº 0041337-04.1999.8.19.0000 (12062/99). Relator: Des. Ademir de Paulo Pimentel. Rio de Janeiro, Rio De Janeiro, 29 de fevereiro de 2000. Dj-rj. Disponível em: <http://www4.tjrj.jus.br/EJURIS/ImpressaoConsJuris.aspx?CodDoc=167267&PageSeq=1>. Acesso em: 18 jul. 2017. 85 NERY JUNIOR, Nelson; NERY, Rosa Maria de Andrade. Código de processo civil comentado. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais: 2016, p. 1522 e 1597. 86 ANDRADE, Paulo José Cabana de Quiroz. Análise dos acórdãos do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro. In: GAMA, Guilherme Calmon Nogueira da (Org). Desconsideração da personalidade da pessoa jurídica: visão crítica da jurisprudência, São Paulo: Atlas, 2009,p. 101-102.
37
execução sem dar o direito ao contraditório87”, palavras que culminaram no
surgimento do incidente de desconsideração da personalidade jurídica no atual
Código de Processo Civil, tema que será trabalhado no próximo item
2.3 A genealogia do incidente de desconsideração da personalidade jurídica: da
comissão de juristas à sanção do atual Código de Processo Civil
Diante da problemática acima apresentada quanto à forma de se aplicar a
desconsideração da personalidade jurídica, constatando-se posições antagônicas
tanto para o pedido de desconsideração quanto à forma de defesa da pessoa atingida
pela desconsideração, restava evidenciado que a aplicação da desconsideração
necessitava de um regramento legal claro e objetivo, com os contornos pelos quais se
aplicaria a desconsideração.
Neste sentido, o Poder Legislativo já havia se atentado para esta
necessidade, conforme se percebe pelo Projeto de Lei nº 2.426, de 200388, de autoria
do deputado Ricardo Fiuza, apresentado à Câmara dos Deputados a fim de
regulamentar o artigo 50 do Código Civil, mas que mesmo diante de sua importância
para o Direito brasileiro foi arquivado em 31 de janeiro de 2007.
Em maio de 2008, o deputado Bruno Araújo apresentou o Projeto de Lei nº
3.401, de 2008, que também visava a disciplinar o procedimento da declaração judicial
da desconsideração da personalidade jurídica, justificando que o projeto pretendia
resgatar o PL 2.426/2003, com o objetivo de instituir um procedimento judicial
específico para a desconsideração da personalidade jurídica para assegurar o
contraditório e a ampla defesa e para que não seja utilizado em hipóteses outras de
mera responsabilidade direta, solidária ou subsidiária89
Este projeto de lei foi aprovado na Câmara dos Deputados, em maio de 2014,
87 BRASIL. Senado Federal. Ata da segunda reunião da Comissão de Juristas responsável pela elaboração de anteprojeto de Código de Processo Civil. Disponível em: <http://legis.senado.leg.br/diarios/BuscaPaginasDiario?codDiario=2462&seqPaginaInicial=252&seqPaginaFinal=333>. Acesso em 05 jun de 2017, p. 12. 88 BRASIL. Câmara dos Deputados. Projeto de Lei n. 2.426, de 2003, que regulamenta o disposto no artigo 50 do Código Civil. Disponível em: <http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fic http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=141005 hadetramitacao?idProposicao=141005>. Acesso em: 5 jul. 2017. 89 BRASIL. Câmara dos Deputados. Projeto de Lei n. 3.401, de 2008, que disciplina o procedimento de declaração judicial de desconsideração da personalidade jurídica e dá outras providências. Disponível em: <http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=562997&filename=PL+3401/2008>. Acesso em: 5 jul. 2017.
38
enviado ao Senado Federal e recebido como Projeto de Lei da Câmara n. 69, de 2014,
cuja última tramitação se encontra com parecer de aprovação pela Comissão de
Constituição e Justiça, relatado pelo senador Ricardo Ferraço em 03 de agosto de
201690.
No entanto, a Comissão de Juristas responsável pela elaboração do
anteprojeto do atual Código de Processo Civil, presidida pelo ministro Luiz Fux, se
incumbiu de, dentro na nova sistemática processual então vindoura, criar um
procedimento para aplicação da desconsideração da personalidade jurídica, chamado
desde seu nascedouro de “incidente de desconsideração da personalidade jurídica”,
cujos importantes detalhes serão a seguir trabalhados.
2.3.1 Do surgimento e evolução do incidente no anteprojeto do Código de Processo
Civil à aprovação no Senado Federal
O incidente de desconsideração da personalidade jurídica previsto no atual
Código de Processo Civil foi inserido em seu texto logo no seu anteprojeto de forma
sucinta, com apenas cinco dispositivos legais91 versando sobre este novo instituto,
mas em busca de solucionar a contenda que incidia sobre a desconsideração da
personalidade jurídica que era, em regra, a inobservância do princípio constitucional
do devido processo legal, em especial o contraditório e a ampla defesa, quando se
pleiteava tal medida em Juízo, conforme demonstrado no item anterior.
Instituída a Comissão de Juristas pelo então presidente do Senado, o senador
José Sarney, pelo ato n. 379, de 30 de setembro de 200992, iniciaram-se as reuniões
dos juristas para elaborar o anteprojeto do Código de Processo Civil, tendo sido a
primeira reunião realizada em 30 de novembro de 200993, na qual se definiu as linhas
mestras do novo código processual.
90 BRASIL. Senado Federal. Projeto de Lei da Câmara n. 69, de 2014, que disciplina o procedimento de declaração judicial de desconsideração da personalidade jurídica e dá outras providências. Disponível em: <http://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/118236>. Acesso em: 19 jul. 2017 91 Artigos 62 a 65 e 719, parágrafo quarto, do anteprojeto. 92 BRASIL. Senado Federal. Ato do Presidente n. 379, de 2009. Institui Comissão de Juristas responsável pela elaboração de anteprojeto de Código de Processo Civil. Disponível em: <http://legis.senado.leg.br/diarios/BuscaDiario?tipDiario=1&datDiario=03/10/2009&paginaDireta=49265>. Acesso em: 5 jun. 2017. 93 BRASIL. Senado Federal. Ata da primeira reunião da Comissão de Juristas responsável pela elaboração de anteprojeto de Código de Processo Civil. Disponível em: < http://legis.senado.leg.br/diarios/BuscaDiario?tipDiario=1&datDiario=03/02/2010&paginaDireta=00542>. Acesso em: 5 jun. 2017.
39
O tema sobre a desconsideração da personalidade jurídica foi suscitado na
segunda reunião dos juristas94, datada de 14 de dezembro de 2009, oportunidade em
que foram tratados assuntos sobre o processo de execução, quando, por intervenção
do membro da comissão Paulo Cezar Pinheiro Carneiro, foi proposto “regular o
problema da desconsideração, que é um tema muito polêmico”95.
Nos debates que se seguiram ficou claro a preocupação dos juristas em
relação ao tema da desconsideração, em especial a forma como se aplicava
processualmente, como se constata nas palavras de Humberto Theodoro Junior,
corroborada pelas de Luiz Fux, identificando a necessidade de um procedimento em
contraditório para regrar a aplicação da desconsideração da personalidade jurídica96.
Pela análise da ata desta reunião dos juristas, constata-se a grande
importância atribuída ao tema da desconsideração da personalidade jurídica, cujas
contribuições dos experientes membros da comissão de juristas fizeram com que se
chegasse à conclusão de que a sistematização processual da desconsideração da
personalidade jurídica era extremamente necessária para se fazerem valer
nitidamente os princípios do contraditório e ampla defesa.
Após longo debate, o ministro Luiz Fux ressaltou que a regulação da temática
é uma opção política, e que adotando uma posição radical poderia ser definido que
na insolvência da pessoa jurídica responderiam os bens dos sócios. No entanto, ao
final, concluiu-se que a proposta para o incidente seria “não desconsiderar sem firmar
um contraditório sobre o tema”97, restando, assim, fixada a viga mestra do incidente
de desconsideração da personalidade jurídica.
94 BRASIL. Senado Federal. Ata da segunda reunião da Comissão de Juristas responsável pela elaboração de anteprojeto de Código de Processo Civil. Disponível em: < http://legis.senado.leg.br/diarios/BuscaPaginasDiario?codDiario=2462&seqPaginaInicial=252&seqPaginaFinal=333>. Acesso em: 5 jun. 2017. 95 BRASIL. Ibidem, p. 6514. 96 SR. HUMBERTO THEODORO JÚNIOR: Presidente, eu acho que nós esparramamos aqui a discussão, mas o ponto é um só que está preocupando nós que militamos na advocacia, é só o contraditório, não é mudar nem direito material, nem execução e nem conhecimento. É não permitir que se resolva esse problema unilateralmente, autoritariamente, como tem sido resolvido. Ainda que o juiz reconheça que precisa de descumprir a... SR. MINISTRO LUIZ FUX: De redirecionar. SR. HUMBERTO THEODORO JÚNIOR: Ele tem que abrir o incidente com o direito de defesa, não é obrigar como atualmente chega a propor uma ação de embargos de terceiros, qualquer uma ação ordinária para vir justificar que ele não é, que ele não praticou a violação da posição dele, de sócio. SR. MINISTRO LUIZ FUX: Quer dizer, a desconsideração sempre perpassará por um contraditório. SR. HUMBERTO THEODORO JÚNIOR: É. Incidentalmente. Não precisa haver ação para isso, mas
há de dar uma oportunidade para aquele que vai sofrer a agressão patrimonial de defender‑se.
BRASIL. Ibidem, p. 6522. 97 BRASIL. Ibidem, p. 6525.
40
Diante dos debates realizados nas reuniões dos juristas encarregados da
elaboração do anteprojeto e das contribuições de diversos estudiosos do Direito
processual, na sétima audiência pública, realizada em 15 de abril de 2010, em Porto
Alegre/RS, Teresa Arruda Alvim Wambier, relatora da comissão de juristas, explanou
que a criação do novo código seguiria alguns parâmetros, essencialmente a
organicidade, a resolução de problemas, a simplificação, o processo justo e seguro.
Na sétima audiência pública, realizada em 15 de abril de 2010, em Porto
Alegre/RS, Teresa Arruda Alvim Wambier, relatora da comissão de juristas,
manifestou-se quanto à criação do incidente como um dos destaques do anteprojeto,
com um procedimento seguro em contraditório e ainda prevendo a desconsideração
inversa98.
Assim, após a segunda reunião dos juristas em que se mostrou a necessidade
de criação de um procedimento para a desconsideração da personalidade jurídica,
somente na oitava reunião a comissão de juristas voltou a tratar do tema, procurando
traçar minuciosamente como se daria o processamento da desconsideração,
alinhando as seguintes vigas mestras para posterior redação dos respectivos
dispositivos legais: (i) valorização do contraditório; (ii) ônus de provar dos fatos
constitutivos para o pedido de desconsideração; (iii) intimação da pessoa jurídica e
dos sócios para manifestação no prazo de 15 (quinze) dias e produção de provas; (iv)
recurso de agravo de instrumento contra a decisão sobre a desconsideração, salvo se
no processo de conhecimento for apreciada na sentença; e (v) um processo
incidente99, sendo assim aprovada a proposta, conforme acima demonstrado.
Aprovada as proposições, coube à comissão de juristas presidida pelo
ministro Luiz Fux elaborar o texto do anteprojeto100 que seria submetido ao Senado
Federal como Projeto de Lei n. 166, de 2010, cujo relatório final foi votado e aprovado
pelos membros da comissão na 14ª Reunião, em 01 de junho de 2010101.
98 BRASIL. Senado Federal. Ata circunstanciada da sétima audiência pública, realizada em 15.04.2010, na cidade de Porto Alegre/RS. Disponível em: < http://legis.senado.leg.br/diarios/BuscaPaginasDiario?codDiario=529&seqPaginaInicial=929&seqPaginaFinal=930>. Acesso em: 5 jun. 2017. 99 BRASIL. Ibidem, p. 21078-21084. 100 BRASIL. Congresso Nacional. Senado Federal. Comissão de Juristas Responsável pela Elaboração de Anteprojeto de Código de Processo Civil. Código de Processo Civil: anteprojeto/comissão de juristas responsável pela elaboração do anteprojeto do Código de Processo Civil. Brasília: Senado Federal, 2010. Disponível em: < http://www.senado.gov.br/senado/novocpc/pdf/anteprojeto.pdf>. Acesso em 13 mar 2015. 101 BRASIL. Senado Federal. Ata circunstanciada da décima quarta reunião da comissão de juristas, realizada em 01.06.2010. Disponível em: <
41
Na exposição de motivos do anteprojeto consta que os trabalhos da comissão
se orientaram precipuamente por cinco objetivos a fim estabelecer sintonia fina entre
o Código e a Constituição Federal, converter o processo como instrumento no meio
social, simplificação dos procedimentos, maior rendimento a cada processo e maior
organicidade ao sistema102.
A exposição de motivos seguiu a ordem acima. Assim, logo na exposição do
primeiro objetivo buscou-se demonstrar a necessidade de harmonia entre o então
futuro código em relação à Constituição Federal, incluindo-se expressamente no
código princípios constitucionais em sua versão processual103.
Neste sentido, expõe-se que muitas regras foram concebidas a fim de dar
concretude aos princípios constitucionais processuais, dando como primeiro exemplo
destas regras “as que preveem um procedimento, com contraditório e produção de
provas, prévio à decisão que desconsidera da pessoa jurídica (sic), em sua versão
tradicional, ou “às avessas””104, o que denota a relevância dada pela comissão de
juristas ao novel incidente de desconsideração da personalidade jurídica.105
Apresentada a exposição de motivos e o texto do novo código, o incidente de
desconsideração da personalidade jurídica constou do Livro I (Parte Geral), Título IV
(Das Partes e Dos Procuradores), Capítulo II (O Incidente de Desconsideração da
Personalidade Jurídica), artigos 62 a 65, e 719, parágrafo quarto, parte do Código que
http://legis.senado.leg.br/diarios/BuscaPaginasDiario?codDiario=591&seqPaginaInicial=352&seqPaginaFinal=358 >. Acesso em: 5 jun. 2017. 102 1) estabelecer expressa e implicitamente verdadeira sintonia fina com a Constituição Federal; 2) criar condições para que o juiz possa proferir decisão de forma mais rente à realidade fática subjacente à causa; 3) simplificar, resolvendo problemas e reduzindo a complexidade de subsistemas, como, por exemplo, o recursal; 4) dar todo o rendimento possível a cada processo em si mesmo considerado; e, 5) finalmente, sendo talvez este último objetivo parcialmente alcançado pela realização daqueles mencionados antes, imprimir maior grau de organicidade ao sistema, dando-lhe, assim, mais coesão. BRASIL. Op. cit., p. 14. 103 BRASIL. Ibidem, p. 15. 104 Idem. 105 Em nota de rodapé ainda consta o que segue: O Novo CPC prevê expressamente que, antecedida de contraditório e produção de provas, haja decisão sobre a desconsideração da pessoa jurídica, com o redirecionamento da ação, na dimensão de sua patrimonialidade, e também sobre a consideração dita inversa, nos casos em que se abusa da sociedade, para usá-la indevidamente com o fito de camuflar o patrimônio pessoal do sócio. Essa alteração está de acordo com o pensamento que, entre nós, ganhou projeção ímpar na obra de J. LAMARTINE CORRÊA DE OLIVEIRA. Com efeito, há três décadas, o brilhante civilista já advertia ser essencial o predomínio da realidade sobre a aparência, quando “em verdade [é] uma outra pessoa que está a agir, utilizando a pessoa jurídica como escudo, e se é essa utilização da pessoa jurídica, fora de sua função, que está tornando possível o resultado contrário à lei, ao contrato, ou às coordenadas axiológicas” (A dupla crise da pessoa jurídica. São Paulo: Saraiva, 1979, p. 613).
42
versava sobre responsabilidade patrimonial no processo de execução106.
Assim, pela primeira vez foi apresentado de forma sistematizada um
procedimento que, mesmo diante da redação de poucos dispositivos, buscaria garantir
os princípios constitucionais do devido processo legal, contraditório e ampla defesa
Apresentado o Projeto de Lei n. 166/2010 ao Senado Federal, em 08 de junho
de 2010, iniciou-se o seu processo legislativo.
Diversas outras contribuições foram profícuas no sentido de se efetivar a
construção do incidente, proporcionando um contraditório efetivo, como se constata
pelas contribuições de outros juristas como José Anchieta da Silva107, Paulo Henrique
dos Santos Lucon108, Honnie Hebert Barros Soares, Helio Rubens Batista Ribeiro109,
Jaime Vicaci e Newton Janke110.
Após os debates nas audiências públicas e sugestões enviados ao Senado,
os senadores apresentaram 220 (duzentas e vinte) emendas ao projeto do novo
Código, das quais três eram de autoria do senador Cícero Lucena e versavam sobre
o incidente de desconsideração da personalidade jurídica (Emendas 207, 208 e 217),
sendo estas rejeitadas no Parecer Final Substitutivo n. 1624, de 2010, de relatoria do
senador Valter Pereira111.
A Emenda nº 208 merece comentários, pois pretendia alterar a redação do
parágrafo único do artigo 63 do PLS n. 166, de 2010, a fim de aproveitar o incidente
106 Sobre todos os dispositivos legais do anteprojeto até a sanção presidencial, vide anexo. 107 BRASIL. Senado Federal. Ata circunstanciada da sexta reunião da comissão temporária do Senado, destinada a examinar o Projeto de Lei do Senado n. 166, de 2010, realizada em 03 de setembro de 2010. Disponível em: < http://legis.senado.leg.br/diarios/BuscaPaginasDiario?codDiario=2971&seqPaginaInicial=384&seqPaginaFinal=410>. >. Acesso em: 5 jun. 2017, p. 55078. 108 BRASIL. Senado Federal. Sugestão do Professor Dr. Paulo Henrique dos Santos Lucon, da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, encaminhadas ao Relator-Geral, Senador Valter Pereira, por ocasião da Audiência Pública realizada na cidade de São Paulo em 09 de setembro de 2010. Disponível em: < http://legis.senado.leg.br/sdleg-getter/documento?dm=4550459&disposition=inline>. >. Acesso em: 5 jun. 2017. 109 BRASIL. Senado Federal. Ata circunstanciada da sétima reunião da comissão temporária do Senado, destinada a examinar o Projeto de Lei do Senado n. 166, de 2010, realizada em 09 de setembro de 2010. Disponível em: < http://legis.senado.leg.br/diarios/BuscaPaginasDiario?codDiario=2971&seqPaginaInicial=410&seqPaginaFinal=433>. >. Acesso em: 5 jun. 2017, p. 55103-55113. 110 BRASIL. Senado Federal. Ata circunstanciada da oitava reunião da comissão temporária do Senado, destinada a examinar o Projeto de Lei do Senado n. 166, de 2010, realizada em 10 de setembro de 2010. Disponível em: < http://legis.senado.leg.br/diarios/BuscaPaginasDiario?codDiario=2971&seqPaginaInicial=433&seqPaginaFinal=453>. >. Acesso em: 5 jun. 2017, p. 55123 e 55131. 111 BRASIL. Senado Federal. Parecer nº 1624/2010 da CTRCPC, Relator Senador Valter Pereira, pela aprovação do Projeto de Lei do Senado (PLS) nº 166, de 2010. Disponível em: < http://legis.senado.leg.br/sdleg-getter/documento?dm=4550666&disposition=inline>. >. Acesso em: 5 jun. 2017.
43
de desconsideração da personalidade jurídica, com fundamento no devido processo
legal, contraditório e ampla defesa, para que também fosse aplicado nos casos de
responsabilidade direta dos sócios ou administradores por infração da lei, contrato ou
estatuto, englobando, por exemplo, as situações previstas nos artigos 1.080 do
Código Civil e o 158 da Lei nº 6.404/1976112. Como a Emenda apenas exemplifica os
casos de responsabilidade direta, também pode se incluir a situação prevista no artigo
135, inciso III do Código Tributário Nacional.
No entanto, a Emenda foi rejeitada no Relatório Geral Substitutivo, Parecer n.
1.624, de 2010, elaborado pelo senador Valter Teixeira sob o argumento de que “o
caput do dispositivo, tal qual redigido no projeto original é suficientemente claro a
respeito de sua hipótese de incidência, sempre a depender da existência de regra de
direito material que autorize a desconsideração”113, indicando que o incidente só se
aplicaria nos típicos casos de desconsideração da personalidade jurídica114 e não nos
casos de responsabilidade direta dos sócios.
No parecer substitutivo de autoria do senador Valter Teixeira, dentre várias
novidades e propostas apresentadas115, o relator ressaltou a importante novidade
112 BRASIL. Senado Federal. Emendas de n.s 206 a 217 do Senador Cícero Lucena. Disponível em: < http://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/97249>. >. Acesso em: 5 jun. 2017. EMENDA n. 208: Dá-se nova redação ao parágrafo único do artigo 63 do Projeto de Lei do Senado n. 166 de 2010, que dispõe sobre a reforma do Código de Processo Civil, conforme segue: Art. 63 [...] Parágrafo único. O procedimento desta Seção é aplicável também nos casos em que a desconsideração é requerida em virtude de abuso de direito por parte do sócio, ou nas hipóteses de imputação direta da responsabilidade do sócio ou administrador, em razão da prática de ato violador da lei, do contrato social ou do estatuto. JUSTIFICAÇÃO: A Emenda visa aproveitar o mesmo procedimento, com respeito ao devido processo legal, ao contraditório prévio e a ampla defesa, nas hipóteses de imputação direta da responsabilidade a sócio ou a administrador pela prática de ato ilícito. Com a proposição estar-se-ia, por exemplo, englobando no procedimento as situações previstas nos artigos 1.080 do Código Civil e o 158 da Lei n. 6.404/76. 113 BRASIL. Senado Federal. Parecer nº 1624/2010 da CTRCPC, Relator Senador Valter Pereira, pela aprovação do Projeto de Lei do Senado (PLS) nº 166, de 2010. Disponível em: < http://legis.senado.leg.br/sdleg-getter/documento?dm=4550666&disposition=inline>. >. Acesso em: 5 jun. 2017, p. 237. 114 Código Civil, artigo 50; Código de Defesa do Consumidor, artigo 28; Lei de crimes ambientais, artigo 4º; Lei antitruste, artigo 34; Lei anticorrupção, artigo 14. 115 a) condições de um diálogo mais atual entre as diversas funções essenciais à Administração da Justiça; b) criação de faixas de valores para remessa necessária; c) os honorários advocatícios quando for parte a Fazenda Pública também foram alterados; d) com relação às partes, tratamento jurídico igual entre união estável e casamento. Na substituição processual, intimação do substituído; e) recuperação da dicotomia hoje existente entre o “chamamento ao processo” e a “denunciação da lide”; f) desconsideração da personalidade jurídica e “amicus curie”; g) limitação dos casos de flexibilização procedimento; i) alteração no regime das audiências de conciliação; j) alteração no regime da audiência de instrução e julgamento; k) criação da ação de dissolução parcial de sociedade; l) supressão de dispositivos sobre a separação judicial; m) alteração do início da fase de cumprimento de sentença; n) o cumprimento de sentença de obrigação pecuniária contra a Fazenda Pública foi disciplinado em estreita observância ao regime constitucional; o) nova disciplina na execução de alimentos; p) ajustes
44
trazida no projeto primitivo, que foi o incidente de desconsideração da personalidade
jurídica, mantendo-o com pequenos ajustes, os quais se deveram fundamentalmente
às diversas sugestões e ideias que “a prática do foro já vem, de uma forma ou de
outra, consagrando e utilizando em larga escala”116, cujos novos dispositivos legais
foram assim apresentados no substitutivo em comparação com o projeto original, com
destaques no que foi alterado ou inserido:
Projeto de Lei do Senado n. 166, de 2010 Substitutivo do Senado – Parecer n. 1624, de 2010
TÍTULO IV DAS PARTES E DOS PROCURADORES
CAPÍTULO II DO INCIDENTE DE DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE
JURÍDICA
TÍTULO IV DAS PARTES E DOS PROCURADORES
CAPÍTULO II DO INCIDENTE DE DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE
JURÍDICA
Art. 62. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado na forma da lei, o juiz pode, em qualquer processo ou procedimento, decidir, a requerimento da parte ou do Ministério Público, quando lhe couber intervir no processo, que os efeitos de certas e determinadas obrigações sejam estendidos aos bens particulares dos administradores ou dos sócios da pessoa jurídica.
Art. 77. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado na forma da lei, o juiz pode, em qualquer processo ou procedimento, decidir, a requerimento da parte ou do Ministério Público, quando lhe couber intervir no processo, que os efeitos de certas e determinadas obrigações sejam estendidos aos bens particulares dos administradores ou dos sócios da pessoa jurídica ou aos bens de empresa do mesmo grupo econômico. Parágrafo único. O incidente da desconsideração da personalidade jurídica: I – pode ser suscitado nos casos de abuso de direito por parte do sócio; II – é cabível em todas as fases do processo de conhecimento, no cumprimento de sentença e também na execução fundada em título executivo extrajudicial.
Art. 63. A desconsideração da personalidade jurídica obedecerá ao procedimento previsto nesta Seção. Parágrafo único. O procedimento desta Seção é aplicável também nos casos em que a desconsideração é requerida em virtude de abuso de direito por parte do sócio.
O parágrafo único do artigo 63 corresponde ao inciso I do artigo 77 acima.
Houve renumeração dos artigos, mas manteve-se o incidente de
desconsideração no título que versa sobre as partes e procuradores.
No artigo 77 foi inserida a previsão de que a desconsideração também poderia
se estender aos bens de empresa117 do mesmo grupo econômico.
O inciso primeiro reproduz o sentido do parágrafo único do artigo 63, tratando
na penhora “on-line” de dinheiro; q) introdução de um incidente para que, havendo pluralidade de credores de um devedor comum e insuficiência de patrimônio para adimplemento de todas as dívidas, haja uma execução concursal; r) pequenos ajustes no Livro IV (“dos processos nos Tribunais e dos meios de impugnação das decisões judiciais”); s) o fim do “efeito suspensivo” dos recursos em geral — sobretudo o da apelação — foi retrabalhado como nova sistemática para a obtenção, caso a caso, do efeito suspensivo perante o órgão julgador; t) alteração no regime de recursos; u) ajustes com relação ao complexo tema do direito intertemporal. In: BRASIL. Senado Federal. Parecer nº 1624/2010 da CTRCPC, Relator Senador Valter Pereira, pela aprovação do Projeto de Lei do Senado (PLS) nº 166, de 2010. Disponível em: < http://legis.senado.leg.br/sdleg-getter/documento?dm=4550666&disposition=inline>. >. Acesso em: 5 jun. 2017, p. 142-148. 116 BRASIL. Ibidem, p. 144. 117 O mais correto seria utilizar a expressão pessoa jurídica ao invés de empresa, pois este, no direito empresarial, tem significado técnico de atividade.
45
da desconsideração inversa da personalidade jurídica.
Inovou ao prever seu cabimento em todas as fases do processo de
conhecimento, cumprimento de sentença ou execução fundada em título executivo
extrajudicial, tema que foi debatido na comissão de juristas, mas não previsto no
projeto apresentado ao Senado.
Projeto de Lei do Senado n. 166, de 2010 Substitutivo do Senado – Parecer n. 1624, de 2010
Art. 64. Requerida a desconsideração da personalidade jurídica, o sócio ou o terceiro e a pessoa jurídica serão intimados para, no prazo comum de quinze dias, se manifestar e requerer as provas cabíveis.
Art. 78. Requerida a desconsideração da personalidade jurídica, o sócio ou o terceiro e a pessoa jurídica serão citados para, no prazo comum de quinze dias, se manifestar e requerer as provas cabíveis.
Importante alteração se deu no substitutivo apresentado no sentido de que os
sócios ou terceiros e a pessoa jurídica seriam citados e não intimados, como previa o
projeto da comissão de juristas.
A alteração é significativa pois atribui um sentido de que o incidente de
desconsideração da personalidade jurídica não seria apenas um incidente processual,
mas sim um processo incidente, devendo se submeter aos elementos constitutivos da
demanda como as partes, causa de pedir e pedido, cujo tema será melhor abordado
quando do estudo da natureza jurídica do incidente.
Projeto de Lei do Senado n. 166, de 2010 Substitutivo do Senado – Parecer n. 1624, de 2010
Art. 65. Concluída a instrução, se necessária, o incidente será resolvido por decisão interlocutória impugnável por agravo de instrumento.
Art. 79. Concluída a instrução, se necessária, o incidente será resolvido por decisão interlocutória impugnável por agravo de instrumento.
Exceto o número do artigo, não houve alteração no que se refere à natureza
da decisão do sobre o incidente e seu respectivo recurso.
Projeto de Lei do Senado n. 166, de 2010 Substitutivo do Senado – Parecer n. 1624, de 2010
DOS EMBARGOS DE TERCEIRO EMBARGOS DE TERCEIRO
Art. 615. Quem, não sendo parte no processo, sofrer turbação ou esbulho na posse de seus bens ou direitos por ato de constrição judicial poderá requerer lhe sejam manutenidos ou restituídos por meio de embargos. * Inciso III sem correspondência sobre o tema da desconsideração da personalidade jurídica
Art. 660. Quem, não sendo parte no processo, sofrer constrição sobre bens que possua ou sobre os quais tenha direito incompatível com o ato constritivo, poderá requerer o seu desfazimento por meio de embargos de terceiro. (...) § 2º Considera-se terceiro, para ajuizamento dos embargos: III – quem sofre constrição judicial de seus bens por força de desconsideração da personalidade jurídica e que não é parte no processo em que realizado o ato constritivo;
A inserção do inciso III ao artigo 660 no substitutivo do Senado foi importante
para selar a discussão que havia antes da vigência do novo CPC. Isto porque, como
visto, a doutrina vacilava em relação ao meio pelo qual o sócio deveria se defender
46
de tal ato, pugnando ser por simples petição, exceção de pré-executividade, embargos
de terceiros, embargos do executado, impugnação ou agravo de instrumento118.
Assim, o dispositivo deixa claro que aquele que sofre a constrição judicial de
bens por força da desconsideração da personalidade jurídica de cujo processo não
seja parte poderá requerer o desfazimento da constrição via embargos de terceiro.
Contudo, ainda que louvável a previsão do referido dispositivo, sua redação
foi aprimorada na Câmara dos Deputados e assim convertida em lei, deixando claro
que se refere à parte que não participou do processo incidente de desconsideração
da personalidade jurídica
Projeto de Lei do Senado n. 166, de 2010 Substitutivo do Senado – Parecer n. 1624, de 2010
Da Responsabilidade Patrimonial Da Responsabilidade Patrimonial
Art. 719. Os bens particulares dos sócios não respondem pelas dívidas da sociedade, senão nos casos previstos em lei. (...) § 4º Para a desconsideração da personalidade jurídica é obrigatória a observância do incidente previsto neste Código.
Art. 752. Os bens particulares dos sócios não respondem pelas dívidas da sociedade, senão nos casos previstos em lei. (...) § 4º Para a desconsideração da personalidade jurídica é obrigatória a observância do incidente previsto neste Código.
Exceto o número do artigo, não houve alteração no que se refere à
obrigatoriedade de observância do incidente para a desconsideração da
personalidade jurídica, que, combinado com o artigo 77, veda a desconsideração de
ofício119.
Projeto de Lei do Senado n. 166, de 2010 Substitutivo do Senado – Parecer n. 1624, de 2010
Do Agravo de Instrumento Do Agravo de Instrumento
Art. 929. Cabe agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias: * Sem correspondência sobre o tema da desconsideração da personalidade jurídica
Art. 969. Cabe agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias que versarem sobre: (...) IV – o incidente de resolução de desconsideração da personalidade jurídica;
Tendo em vista a previsão no artigo 79 de que o incidente de desconsideração
da personalidade jurídica será resolvido mediante decisão interlocutória, inseriu-se um
inciso nas hipóteses de cabimento do agravo de instrumento.
Com as alterações acima apresentadas no substitutivo, o projeto foi aprovado
pelo Senado Federal em 15 de dezembro de 2010 e encaminhado para à casa
revisora, a Câmara dos Deputados.
118 Neste sentido: BIANCHI. Op. cit., p. 156-158; BRUSCHI. Op. cit., p. 101-114; SOUZA. Op. cit., p. 172-180. 119 Sobre a desconsideração de ofício, ver item 5.1.1.
47
2.3.2 Da tramitação na Câmara dos Deputados
Recebido o Projeto de Lei do Senado n. 166/2010 pela Câmara dos
Deputados, em 22 de dezembro do mesmo ano, identificado como Projeto de Lei n.
8.046/2010, tramitando conjuntamente com o Projeto de Lei n. 6.025/2005,
designando-se em 17 de agosto de 2011, uma Comissão Especial foi constituída e
presidida pelo deputado Fábio Trad destinada a proferir parecer sobre os projetos de
lei que versavam sobre o novo Código de Processo Civil
Iniciados os debates sobre as proposições do projeto do novo Código de
Processo Civil na casa legislativa, alguns números se mostram importantes registrar
para demonstrar o caráter democrático que revela o novo código: foram realizadas 15
audiências públicas na Câmara dos Deputados; 13 conferências estaduais com a
palestra de 133 especialistas em processo civil, além das mesas redondas; 146
projetos de lei apensados ao projeto; através do Portal e-Democracia, qualquer
pessoa pode participar como sugestões ao projeto, sendo registrados 25.300 acessos,
282 sugestões, 143 comentários e 90 e-mails; diversos eventos jurídicos120.
Findada esta fase de discussão pública, os deputados apresentaram 900
emendas ao projeto121, das quais 12 versavam sobre o incidente de desconsideração
da personalidade jurídica122.
Apresentadas as emendas, coube aos relatores parciais apresentarem seus
relatórios, e tendo em vista que o incidente de desconsideração da personalidade
jurídica constava na parte geral do projeto, o deputado Efrain Filho apresentou seu
relatório, que para a análise dos artigos 1º a 291 do projeto e das emendas propostas
contou com o auxílio dos seguintes juristas: Rinaldo Mouzalas, George Morais,
Marcelo Weick, Cláudio Lucena e Rogério Abreu, tendo contribuído também Fredie
Didier Junior com a disponibilização de estudo específico sobre os artigos submetidos
a este relator123, aprovando-se apenas as Emendas n.s 106 e 118, modificadas nos
120 BRASIL. Câmara dos Deputados. Parecer e Substitutivo do Relador-Geral Sérgio Barradas Carneiro, de 07.11.2012. Disponível em: < http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1037367&filename=SBT+3+PL602505+%3D%3E+PL+6025/2005>. Acesso em: 5 jun. 2017, p. 2-3 121 BRASIL. Câmara dos Deputados. Emendas ao Projeto de Lei n. 8046/2010. Disponível em: < http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/prop_emendas?idProposicao=490267&subst=0>. Acesso em: 5 jun. 2017. 122 Emendas de n. 68, 102, 106, 118, 245, 422, 490, 491, 530, 622, 782 e 866/11. 123 BRASIL. Câmara dos Deputados. Relatório parcial do Deputado Efraim Filho, de 09.08.2012. Disponível em: <
48
termos da emenda proposta pelo referido relator, alterando significativamente o texto
originário do Senado Federal sobre o incidente e que se tornou o texto de referência
para o que consta no atual Código de Processo Civil124.
Ponto importante do relatório do deputado Efraim Filho foi o da manutenção
do incidente de desconsideração no loco em que se encontrava, Livro I (Parte Geral),
Título IV (Das Partes e Dos Procuradores), Capítulo II (O Incidente de
Desconsideração da Personalidade Jurídica), e não o alterando para o capítulo da
intervenção de terceiros sob o argumento se assim o fizesse, conduziria à premissa
de que ele não poderia ser aplicado ao rito dos Juizados Especiais, conforme artigo
10 da Lei n. 9.099/95125.
A alteração para o capítulo da intervenção de terceiros foi feita no relatório
final como substitutivo n. 03 apresentado pelo relator-geral, deputado Sérgio Barradas
Carneiro, acatando a sugestão explanada por Leonardo Carneiro da Cunha na 5ª
Conferência Estadual, realizada em João Pessoa (PB), em 11/11/2011, por se
entender que o incidente gerava uma ampliação subjetiva do processo, sendo então
um caso de intervenção de terceiro.126-127.
Outra relevante emenda proposta foi a de n. 782/11, do deputado Vicente
Cândido, inserindo um parágrafo no artigo 749 do projeto, que versava sobre a fraude
à execução. A proposta era para que, nos casos de desconsideração da
personalidade jurídica, o marco temporal para que a alienação ou oneração de bens
que reduzisse o de devedor à insolvência e caracterizasse fraude à execução fosse o
momento da decisão que decretasse a desconsideração128.
http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1104516&filename=PRP+5+PL602505+%3D%3E+PL+6025/2005>. Acesso em: 5 jun. 2017, p. 2. 124 Quadro comparativo em anexo ao qual se remete o leitor. 125 BRASIL. Câmara dos Deputados. Relatório parcial do Deputado Efraim Filho, de 09.08.2012. Disponível em: < http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1104516&filename=PRP+5+PL602505+%3D%3E+PL+6025/2005>. Acesso em: 5 jun. 2017. 126 BRASIL. Câmara dos Deputados. Relatório-Geral Substitutivo n. 03, de relatoria do Deputado Sérgio Carneiro Barradas, de 07.11.2012. Disponível em: < http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1037367&filename=SBT+3+PL602505+%3D%3E+PL+6025/2005>. Acesso em: 5 jun. 2017. 127 “A Câmara, corretamente, coloca-o ao lado das demais modalidades de intervenção de terceiros. BUENO, Cassio Scarpinella. Projetos do novo Código de Processo Civil comprados e anotados: Senado Federal (PLS n. 166/2010) e Câmara dos Deputados (PL n. 8.046/2010). São Paulo: Saraiva, p. 71. 128 BRASIL. Câmara dos Deputados. Emenda n. 782/11 ao PL 8046/10. Altera o art. 749, do Código de Processo Civil, acrescentando os §§ 2º, 3º, 4º e 5º, renumerando como §1º o parágrafo único do referido artigo. Disponível em: < http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=955415&filename=EMC+782/2011+PL602505+%3D%3E+PL+8046/2010>. Acesso em: 5 jun. 2017.
49
No entanto, tal como proposta a emenda, esta foi aprovada, mas com
modificação para que o marco temporal para ser considerada fraude129 à execução
fosse o momento da citação da parte cuja personalidade se pretende desconsiderar,
nos termos da subemenda proposta pelo relator parcial Arnaldo Faria de Sá, cujo texto
se manteve no atual Código.
Neste relatório parcial apresentado pelo deputado Arnaldo Faria de Sá
constou ainda outra relevante emenda de n. 4, aprovada no relatório geral, inserindo
o inciso VII no artigo 748 do projeto para os bens do responsável, nos casos de
desconsideração da personalidade jurídica, também ficassem sujeitos à execução,
pois já tendo a legislação brasileira adotado os conceitos de devedor e responsável,
o responsável que tiver seu bem atingidos na execução terá a condição de parte nesta,
podendo exercer de modo amplo o contraditório e a defesa130.
Apresentados os relatórios parciais com as emendas e subemendas dos
respectivos relatores, foram apresentados os relatórios finais e substitutivos pelo
relator-geral deputado Sérgio Barradas Carneiro e relator-geral substituto, o deputado
Paulo Teixeira.
No relatório apresentado pelo relator-geral, em 07 de novembro de 2012,
foram feitas considerações sobre as revoluções normativas (jurídicas), científicas,
tecnológicas e sociais pelas quais o país e o mundo passaram e que inspiraram o
novo Código de Processo Civil, citando como uma das quatro revoluções jurídicas o
incidente de desconsideração da personalidade jurídica, sobre o qual a “Câmara dos
Deputados se debruçou na construção de um modelo adequado para a disciplina
processual”131, considerando-o como uma das boas novidades do novo CPC, fazendo
alguns ajustes na proposta inicial ao eliminar as previsões das hipóteses de
desconsideração, no sentido de não ser tarefa do Código de Processo Civil cuidar dos
pressupostos materiais para a desconsideração, bem como harmonizá-lo com a
fraude à execução132 e prever o recurso cabível no caso da decisão dor proferida por
129 BRASIL. Câmara dos Deputados. Relatório parcial do Deputado Arnaldo Faria de Sá, de 04.07.2012. Disponível em: < http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1013151&filename=PRP+4+PL602505+%3D%3E+PL+6025/2005>. Acesso em: 5 jun. 2017, p. 104-105. 130 BRASIL. Ibidem, p. 6 e 71. 131 BRASIL. Câmara dos Deputados. Relatório-Geral Substitutivo n. 03, de relatoria do Deputado Sérgio Carneiro Barradas, de 07.11.2012. Disponível em: < http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1037367&filename=SBT+3+PL602505+%3D%3E+PL+6025/2005>. Acesso em: 5 jun. 2017, p. 5-6. 132 BRASIL. Ibidem, p. 24-25.
50
relator133”..
Assim, o incidente passou a ser considerado uma espécie de intervenção de
terceiro, alocando-o na Parte Geral, Livro III (Dos Sujeitos do Processo), Título III (Da
Intervenção de Terceiros) Capítulo IV (Do Incidente de Desconsideração da
Personalidade Jurídica), artigos 133 a 137.
O artigo 133, parágrafo único, remete aos pressupostos da desconsideração
previstos em lei, tendo em vista que não cabia fazer tal previsão no Código de
Processo, norma que parece ter se repetido no § 4º do artigo 134.
O § 3º do artigo 134 previu a suspensão do processo quando instaurado o
incidente, exceto se a desconsideração for requerida na petição inicial.
O artigo 135 passou a prever que o sócio ou a pessoa jurídica será citada no
incidente para se manifestar no prazo comum de 15 dias e requerer as provas
cabíveis, sendo que no projeto do Senado o sócio e a pessoa jurídica seriam citados.
O artigo 136, em seu parágrafo único, previu a possibilidade de agravo interno
quando a decisão for proferida pelo relator.
O artigo 137, combinado com o § 3º do artigo 808, passou a regular a fraude
à execução nos casos de desconsideração da personalidade jurídica.
Foi aprimorada a redação em relação à legitimidade no caso de
desconsideração da personalidade jurídica, deixando claro que terceiro é aquele que
não fez parte do incidente, nos termos do § 2º do artigo 689, inciso III do referido
substitutivo.
Em relação à responsabilidade patrimonial foi inserida a hipótese do
responsável nos casos de desconsideração da personalidade jurídica, nos termos do
artigo 806, inciso VII, diferenciando da hipótese prevista no inciso II do mesmo artigo
que trata dos bens dos sócios, nos termos da lei.
No inciso VI do artigo 945 ficou prevista a hipótese de o relator decidir o
incidente quando este for instaurado originariamente perante o Tribunal.
Por último, nas disposições finais e transitórias, no artigo 1.071, previu-se que
o incidente de desconsideração da personalidade jurídica pode ser aplicado ao
processo nos Juizados Especiais. Caso não houvesse essa previsão, e tendo em vista
que o incidente foi alocado como forma de intervenção de terceiro, sua aplicação se
mostraria inviável por força do artigo 10 da Lei nº 9.099/1995.
133 BRASIL. Ibidem, p. 194.
51
No Relatório Geral e Substitutivo nº 04, relatado pelo deputado Paulo Teixeira
e apresentado em 08/05/2013, não houve qualquer alteração.
O Relatório Geral e Substitutivo nª 05, relatado pelo deputado Paulo Teixeira
e apresentado em 2 de julho de 2013, assim como o texto-base aprovado em 26 de
março de 2014, pela Câmara dos Deputados tiveram pouquíssimas alterações
textuais, as quais estão destacadas na tabela comparativa em anexo, o qual foi
encaminhado novamente ao Senado Federal.
2.3.3 Do retorno ao Senado Federal à sanção presidencial e a positivação do incidente
de desconsideração da personalidade jurídica.
Tendo em vista que o PLS 166/2010 foi aprovado na Câmara dos Deputados
com substitutivo, este retornou ao Senado como casa iniciadora do projeto134, o qual
foi recebido e lido em plenário em 1º de abril de 2014, criando-se nova Comissão
Temporária para exame e parecer, sob a presidência do relator senador Vital do Rêgo.
Para acompanhar a redação final do novo Código de Processo Civil e com
base na Comissão de Juristas instituída pelo Ato do Presidente do Senado Federal nº
379, de 2009, o presidente do Senado destacou os juristas Luiz Fux, Teresa Arruda
Alvim, Paulo Cesar Pinheiro Carneiro, José Roberto dos Santos Bedaque, Bruno
Dantas135 e Aluisio Gonçalves de Castro Mendes136.
Nesta fase legislativa foram propostas 186 emendas, nenhuma versando
sobre o incidente de desconsideração da personalidade jurídica, sendo que a única
alteração havida entre o substituto da Câmara dos Deputados e o Parecer nº 956, de
2014, da Comissão Temporária do Senado, relatado pelo senador Vital do Rego137 foi
a supressão da expressão “impugnável por agravo” do artigo 136, sob o argumento
de que, em razão de já haver previsão de cabimento de agravo de instrumento no
134 Constituição Federal, artigo 65, parágrafo único. 135 BRASIL. Senado Federal. Ato do Presidente do Senado Federal n. 08, de 2014, de 28 de maio de 2014. Disponível em: <http://legis.senado.leg.br/sdleg-getter/documento?dm=3475104&disposition=inline>. Acesso em: 5 jun. 2017. 136 BRASIL. Senado Federal. Ato do Presidente do Senado Federal n. 09, de 2014, de 18 de junho de 2014. Disponível em: <http://legis.senado.leg.br/sdleg-getter/documento?dm=3475104&disposition=inline>. Acesso em: 5 jun. 2017. 137 BRASIL. Senado Federal. Parecer nº 956, de 2014-CTCPC, relator Senador Vital do Rêgo, favorável ao Substitutivo da Câmara ao Projeto de Lei do Senado nº 166, de 2010, com os ajustes indicados no capítulo 2.3.2. do parecer; pela rejeição das emendas indicadas no capítulo 2.3.1. do parecer e pelo acolhimento das demais na forma explicitada no capítulo 2.3.2.; na forma do texto que apresenta. Disponível em: <http://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/116731>. Acesso em: 5 jun. 2017, p. 79.
52
artigo 1.028 do SCD, da decisão que decide o incidente de desconsideração da
personalidade jurídica seria desnecessária a previsão no artigo 136, sendo, portanto,
aprovado o texto-base em 4 de dezembro de 2014.
Em 16 de dezembro de 2014, o relator senador Vital do Rego apresentou
adequações redacionais ao texto-base aprovado138 através do Parecer nº 1099, de
2014, encaminhando adequações redacionais e manifestação em relação aos
destaques apresentados.
No dia 17 de dezembro de 2014 foram votados os 16 destaques e aprovada
a redação final do substitutivo da Câmara dos Deputados ao Projeto de Lei do Senado
nº 166, de 2010, conforme o Parecer nº 1.111, de 2014139, encaminhando o texto para
sanção presidencial em 25 de fevereiro de 2015, sancionado e transformado na Lei
nº 13.105, de 16 de março de 2015, publicano no Diário Oficial da União em 17 de
março de 2015, e com vacatio legis de um ano, entrando em vigor no dia 17 de março
de 2017, trazendo ao mundo jurídico o incidente de desconsideração da
personalidade jurídica, instituto objeto deste estudo.
138 BRASIL. Senado Federal. Parecer nº 1.099, de 2014, em adendo ao Parecer 956, de 2014-CTCPC, relator Senador Vital do Rêgo. Disponível em: <http://legis.senado.leg.br/sdleg-getter/documento?dm=4202783&disposition=inline>. Acesso em: 5 jun. 2017. 139 BRASIL. Senado Federal. Parecer da Comissão Diretora nº 1.111, de 2014, que presenta a redação final do Substitutivo da Câmara dos Deputados ao Projeto de Lei do Senado nº 166, de 2010 (nº 8.046, de 2010, naquela Casa) – Código de Processo Civil, nos termos do texto consolidado pela Comissão Temporária do Código de Processo Civil, com as adequações propostas pelo Relator e os destaques aprovados pelo Plenário. Disponível em: < http://legis.senado.leg.br/sdleg-getter/documento?dm=4202802&disposition=inline>. Acesso em: 5 jun. 2017.
53
CAPÍTULO III
3 O incidente de desconsideração da personalidade jurídica e seus fundamentos
processuais constitucionais
Considerando o que se identificou no capítulo anterior em relação aos
objetivos que nortearam a elaboração do atual Código de Processo Civil e
consequentemente o incidente de desconsideração, neste capítulo se buscará
identificar as matrizes processuais constitucionais que fundamentam a criação do
incidente, visando demonstrar que este se encontra em consonância com a
contemporânea sistemática processual constitucional.
3.1. Os princípios fundamentais do processo e o Código de Processo Civil
Em termos de direito substancial sobre o tema da desconsideração da
personalidade jurídica já se demonstrou que o seu pilar fundamental é a fraude
cometida através da pessoa jurídica140.
Adentrando-se mais especificamente no objeto desta pesquisa, que é o
incidente de desconsideração da personalidade jurídica, necessário se faz descobrir
seus fundamentos processuais para que seja melhor compreendido e aplicado,
buscando os princípios que lhe dão origem e sustentação141.
Este desiderato será realizado por meio do método do Direito Processual
Constitucional, visando examinar o novel instituto processual à luz da Constituição e
especialmente dos princípios processuais constitucionais que o regem142.
A Constituição Federal é a ordem jurídica fundamental. Assim, realiza três
tarefas essenciais. A primeira, de integração, estabelecendo unidade ao Estado; a
140 DINAMARCO, Candido Rangel. Fundamentos do processo civil moderno. 3. ed. São Paulo: Malheiros, 2000, p. 1183. 141 Sobre os princípios constitucionais do processo de geral, ver: MENDES, Aluisio Gonçalves de Castro. Teoria geral do processo. Rio de Janeiro: Lumem Juris, 2009, p. 15-36, e NERY JUNIOR, Nelson. Princípios do processo na Constituição Federal: processo civil, penal e administrativo. 12. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2016. Para os objetivos deste trabalho, “cabe notar elegemos os princípios a serem tratados no livro porque se traduzem nos preceitos constitucionais que englobam e sistematizam os principais e mais elementares direitos fundamentais a serem observados na realização e no desenrolar de todo e qualquer processo (judicial e administrativo) no âmbito da Constituição Federal” (p. 45). 142 DINAMARCO. Candido Rangel. Instituições de Direito Processual Civil. v. 1. São Paulo: Malheiros, 2016, p. 316.
54
segunda, de organização, dispondo sobre a ordem de ação e de incidência dos órgãos
estatais no cumprimento de seus fins; e a terceira tarefa é a direção jurídica, em que
os direitos fundamentais vinculam todo o ordenamento jurídico, notadamente o direito
processual, fixando seus princípios e bases sobre as quais se deve construir o edifício
normativo143, pois as normas inferiores devem corresponder ao conteúdo das normas
superiores, exteriorizando-se o conteúdo destas por aquelas144.
Considerando que “um princípio é uma norma que aponta para um estado
ideal de coisas a ser promovido, sem, no entanto, indicar os comportamentos cuja
adoção irá contribuir para a promoção gradual desse ideal”145, cabe ao legislador
infraconstitucional indicar estes comportamentos para dar maior ou menor concretude
aos princípios constitucionais, como o fez através do Código de Processo Civil.
Isto porque tutela constitucional do processo é representada pelos princípios
e garantias constitucionais que ditam padrões políticos para a vida daquele, razão
pela qual devem prevalecer a processos de toda a espécie, a saber, os princípios do
devido processo legal, da inafastabilidade do controle jurisdicional, da igualdade, da
liberdade, do contraditório e da ampla defesa, do juiz natural, da publicidade, da
proporcionalidade e da razoabilidade, os quais convergem para um núcleo central
comum, que é o devido processo legal, este, sim, um autêntico princípio, uma vez que
a observação dos padrões estabelecidos na Constituição e na lei significa oferecer
todos eles146, sendo o processo um instrumento a serviço da ordem constitucional.147.
Os direitos e garantias fundamentais da Constituição no âmbito processual,
como os casos dos direitos à igualdade, do acesso à justiça, ao contraditório e à ampla
defesa, são opções valorativas do constituinte que visam, em última análise, promover
o Estado Democrático de Direito148.
Assumindo como imperioso o paradigma do Estado Democrático de Direito,
perdendo-se no passado a tendência de centralidade dos Códigos (Civil, Processual
Civil, Penal e Processual Penal), na aplicação do Direito, diante da imposição de
143 NERY JUNIOR. Op. cit., p. 50-52. 144 ÁVILA. Humberto. Teoria dos princípios: da definição à aplicação dos princípios jurídicos. São Paulo: Malheiros, 2016, p. 171. 145 ÁVILA. Ibidem, p. 50. 146 DINAMARCO. Candido Rangel. Instituições de Direito Processual Civil. v. 1. São Paulo: Malheiros, 2016, p. 317-327 147 DINAMARCO. Candido Rangel. A instrumentalidade do processo. São Paulo: Malheiros, 2013, p. 27. 148 RODRIGUES, Marco Antonio. A Fazenda Pública no Processo Civil. São Paulo: Atlas, 2016, p. 16.
55
centralidade do constitucionalismo no curso do século XX149, um dos pilares da
democratização processual é abandono de perspectivas de protagonismo e a
assunção de um perfil comparticipativo e democrático da estrutura processual150,
envolvendo a efetiva participação de todos os sujeitos processuais (partes e juiz) na
construção da decisão judicial.
Este modelo constitucional do Direito Processual Civil não se trata de opções
teórica, filosófica ou meramente metodológica, correntes de pensamento ou
doutrinárias, devendo atuar de forma impositiva, sob pena de inconstitucionalidade151,
devendo as regras processuais sempre serem criadas e interpretadas de acordo com
a Constituição Federal152.
Assim, seguindo esta linha exegética, o novo Código de Processo Civil, foi
pensado como um instrumento de participação democrática, em que o juiz, ouvindo e
dialogando com partes e interessados, promova uma decisão efetivamente
apaziguadora153, estabelecendo expressa e implicitamente verdadeira sintonia fina
com a Constituição Federal, considerada esta sintonia com a Constituição o primeiro
objetivo que orientou a comissão de juristas responsável pela elaboração do
anteprojeto do atual Código de Processo154.
Ao tratar deste primeiro objetivo, a comissão buscou evidenciar a
necessidade de o novo Código de Processo estar em sintonia fina com a Constituição
Federal, referindo-se expressamente no texto do anteprojeto aos princípios
constitucionais do contraditório, da efetividade, publicidade, celeridade e segurança
jurídica, “afinal, é na lei ordinária e em outras normas de escalão inferior que se
explicita a promessa de realização dos valores encampados pelos princípios
constitucionais”, construindo-se um modelo constitucional de processo155.
149 NUNES, Dierle José Coelho. Comparticipação e policentrismo: horizontes para a democratização processual civil. 2008. 217 f. Tese (Doutorado em Direito). Programa de Pós-Graduação em Direito. Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2008, p. 163. 150 NUNES. Ibidem, p. 170. 151 BUENO, Cassio Scarpinella. Das normas fundamentais do processo civil. In: BUENO, Cassio Scarpinella (Coord). Comentários ao Código de Processo Civil. São Paulo: Saraiva, 2017, p. 22. 152 BUENO. Ibidem, p. 27. 153 FUX. Luiz. O novo processo civil. Revista do Tribunal Superior do Trabalho. v. 80. n. 4. p. 264-290, out-dez 2014, p. 278. 154 BRASIL. Congresso Nacional. Senado Federal. Comissão de Juristas Responsável pela Elaboração de Anteprojeto de Código de Processo Civil. Código de Processo Civil: anteprojeto/comissão de juristas responsável pela elaboração do anteprojeto do Código de Processo Civil. Brasília: Senado Federal, 2010. Disponível em:< http://www.senado.gov.br/senado/novocpc/pdf/anteprojeto.pdf>. Acesso em: 13 mar. 2015, p. 14. 155 BRASIL. Ibidem, p. 13-18
56
Assim, desde seu anteprojeto até a sanção presidencial, o atual Código de
Processo Civil visou dar concretude aos princípios constitucionais processuais, o que
pode se constatar na Parte Geral, com seu Título Único denominado Das Normas
Fundamentais e da Aplicação das Normas Processuais, dividido em Capítulo I – Das
Normas Fundamentais do Processo Civil, artigos 1° ao 12 – e Capítulo II – Da
Aplicação das Normas Processuais, artigos 13 a 15.
Assim, em seus doze primeiros artigos sobre as normas fundamentais156 o
Código de Processo Civil dispõe principiologicamente da seguinte forma: o artigo 1º
versa sobre como o processo civil será ordenado, disciplinado e interpretado, ou seja,
de acordo com a Constituição Federal; o artigo 2º trata do princípio dispositivo,
também denominado princípio da inércia ou da demanda; o artigo 3º trata do princípio
da inafastabilidade do controle jurisdicional; o artigo 4º do princípio da razoável
duração do processo; o artigo 5º do princípio da boa-fé ou lealdade processual, no
sentido de que, sendo o processo “composto de pessoas, é evidente que quanto mais
adequado for o comportamento destas maior será a probabilidade daquele alcançar a
sua finalidade”157; o artigo 6º versa sobre o princípio da cooperação, em que as partes
156 Art. 1° O processo civil será ordenado, disciplinado e interpretado conforme os valores e as normas fundamentais estabelecidos na Constituição da República Federativa do Brasil, observando-se as disposições deste Código. Art. 2° O processo começa por iniciativa da parte e se desenvolve por impulso oficial, salvo as exceções previstas em lei. Art. 3º Não se excluirá da apreciação jurisdicional ameaça ou lesão a direito. [...] Art. 4º As partes têm o direito de obter em prazo razoável a solução integral do mérito, incluída a atividade satisfativa. Art. 5º Aquele que de qualquer forma participa do processo deve comportar-se de acordo com a boa-fé. Art. 6º Todos os sujeitos do processo devem cooperar entre si para que se obtenha, em tempo razoável, decisão de mérito justa e efetiva. Art. 7° É assegurada às partes paridade de tratamento em relação ao exercício de direitos e faculdades processuais, aos meios de defesa, aos ônus, aos deveres e à aplicação de sanções processuais, competindo ao juiz zelar pelo efetivo contraditório. Art. 8º Ao aplicar o ordenamento jurídico, o juiz atenderá aos fins sociais e às exigências do bem comum, resguardando e promovendo a dignidade da pessoa humana e observando a proporcionalidade, a razoabilidade, a legalidade, a publicidade e a eficiência. Art. 9° Não se proferirá decisão contra uma das partes sem que ela seja previamente ouvida. [...] Art. 10. O juiz não pode decidir, em grau algum de jurisdição, com base em fundamento a respeito do qual não se tenha dado às partes oportunidade de se manifestar, ainda que se trate de matéria sobre a qual deva decidir de ofício. Art. 11. Todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade. [...] Art. 12. Os juízes e os tribunais deverão obedecer à ordem cronológica de conclusão para proferir sentença ou acórdão. 157 CARNEIRO, Paulo Cezar Pinheiro. Livro I: das normas processuais civis. In: DANTAS, Bruno; DIDIER JR, Fredie; TALAMINI, Eduardo; WAMBIER, Teresa Arruda Alvim (Coord). Breves
57
e terceiros devem construir, juntamente com o juiz, a decisão judicial158”; o artigo 7º
versa sobre o princípio da isonomia, igualdade de armas no processo, constituindo
núcleo central do devido processo legal159, possibilitando que o órgão julgador
intervenha no processo para promover o efetivo contraditório e, por consequência a
igualdade processual160; o artigo 8° é uma consolidação de diversos enunciados
normativos divididos em três partes distintas, sendo a primeira uma reprodução quase
literal do artigo 5º da Lei de Introdução às Normas de Direito Brasileiro161, versando
sobre o princípio da instrumentalidade, não representando o processo como um fim
em si mesmo, mas sim um meio, um instrumento para permitir a justa composição do
litígio, remetendo às “finalidades do ordenamento jurídico em geral, agora
expressamente direcionadas ao processo162. Já a segunda parte se refere à promoção
da dignidade da pessoa humana e à observância da proporcionalidade e
razoabilidade, no sentido de proporcionar às partes uma atuação efetiva, paritária e
respeitosa, interpretando a lei de forma a proteger os direitos da personalidade,
observar a impenhorabilidade de determinados bens, prisões irregulares etc., sempre
ponderando as situações do caso concreto. A terceira aborda a observância da
legalidade, publicidade e eficiência, visando dar segurança jurídica, proteger as partes
contra juízos arbitrários e gerenciar o processo da melhor forma para alcançar o
melhor resultado no menor espaço de tempo, respectivamente163. Prosseguindo, os
artigos 9° e 10 tratam dos princípios do contraditório como garantia de influência na
decisão judicial e não surpresa; o artigo 11 trata dos princípios da publicidade e da
motivação das decisões judiciais; e o artigo 12 trata do princípio da isonomia e da
duração razoável do processo. Tais fundamentos se compatibilizam com a redação
original do dispositivo, que previa observância obrigatória da ordem cronológica dos
processos. A Lei nº 13.256/2016 deu nova redação ao dispositivo, passando a tratar
a ordem cronológica de julgamento como preferencial e não obrigatória em razão da
ideia de que a regra anterior poderia gerar algum comprometimento no julgamento de
comentários ao novo Código de Processo Civil. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2016, p. 86. 158 CARNEIRO. Ibidem, p. 88. 159 CARNEIRO. Ibidem, p. 90. 160 DIDIER JUNIOR. Op. cit., p. 98. 161 Art. 5º - Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum. In: BRASIL. Decreto-lei n. 4.657, de 4 de setembro de 1941. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del4657compilado.htm>. Acesso em: 7 set. 2017. 162 CARNEIRO. Op. cit., p. 92. 163 CARNEIRO. Ibidem, p. 92-95.
58
demandas simples ou complexas, as quais podem atravancar o julgamento de
centenas de outras demandas164.
Desta forma, positivou-se na parte inicial do Código as principais garantias
constitucionais que fundamentam o sistema processual165, devendo assim ser o
Código de Processo Civil ordenado, disciplinado e interpretado166, atribuindo
concretude à efetividade à Constituição Federal167.
Em razão de o Código de Processo Civil visar a dar maior efetividade às
normas constitucionais através da positivação infraconstitucional e da forma de
aplicação destas normas, o arcabouço normativo principiológico nele contido irradia
seus efeitos para todo o Código, inclusive com a criação de novos institutos
processuais, como se dá com o incidente de desconsideração da personalidade
jurídica que, conforme acima exposto, está diretamente fundamentado nos princípios
do devido processo legal, do contraditório, ampla defesa e da efetividade, como se
pôde constatar pelos debates nas casas legislativas, os quais serão analisados em
seus possíveis novos contornos.
3.1.1. O devido processo legal
O devido processo legal “surge a partir do artigo 39, da Magna Carta de 1215,
na Inglaterra, que estabelecia, em suma, que nenhum homem livre poderia ser privado
de sua liberdade, exilado, condenado ou de qualquer modo aniquilado168” sem a
referida proteção judicial, ainda que não tenha se utilizado expressamente da locução
164 CARNEIRO. Ibidem, p. 107. 165 CARNEIRO. Ibidem, p. 73. 166 Art. 1º O processo civil será ordenado, disciplinado e interpretado conforme os valores e as normas fundamentais estabelecidos na Constituição da República Federativa do Brasil, observando-se as disposições deste Código. In: BRASIL. Lei n. 13.105, de 16 de março de 2015. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm>. Acesso em: 7 set. 2017. 167 É claro que “a ausência de dispositivo semelhante no CPC não significaria, obviamente, que o CPC pudesse ser interpretado em desconformidade com a Constituição”. DIDIER JR., Fredie. Das normas fundamentais do Processo Civil (arts. 1º a 12). In: CABRAL, Antonio do Passo; CRAMER, Ronaldo (Coord.). Comentários ao novo Código de Processo Civil. Rio de Janeiro: Forense, 2016, p. 3. “Do ponto de vista simbólico, no entanto, o enunciado é importante. Embora se trate de uma obviedade, é pedagógico e oportuno o alerta de que as normas de direito processual civil não podem ser compreendidas sem o confronto com o texto constitucional, sobretudo no caso brasileiro, que possui um vasto sistema de normas constitucionais processuais, todas orbitando em torno do devido processo legal, também de natureza constitucional”. BUENO, Cassio Scarpinella. Das normas fundamentais do processo civil. In: BUENO, Cassio Scarpinella (Coord.). Comentários ao Código de Processo Civil. São Paulo: Saraiva, 2017, p. 22. 168 MENDES, Aluisio Gonçalves de Castro. Teoria geral do processo. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009, p. 16.
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“devido processo legal” em seu texto169.
O termo devido processo legal (due processo of law) somente foi utilizado em
lei inglesa de 1354, baixada no reinado de Eduardo III, denominada Statue of
Westminster of the Liberties of London”170, posteriormente constando em diversos
outros documentos171.
O devido processo legal se caracteriza em sentido genérico, material e
processual. Em sentido genérico pelo trinômio vida-liberdade-propriedade, pois tudo
que disser respeito a eles estará sob proteção do devido processo legal, como o caso
da liberdade, que pode significar liberdade de opinião, de imprensa, religião etc.,
sendo este o sentido que a Constituição Federal brasileira adotou em seu texto. Em
sentido material tem-se a aplicação do devido processo no âmbito do Direito
Administrativo, pois a administração só pode agir no sentido positivo da lei172. No
sentido processual a expressão alcança significado mais restrito, nominando devido
processo, sendo este o sentido da norma constitucional173, a qual aplicada ao
processo civil caracteriza-se pela observância dos seguintes princípios: a) igualdade
de partes; b) garantia do jus actions; c) respeito ao direito de defesa; d)
contraditório174.
Assim, tendo o devido processo legal como o princípio fundamental do
processo civil175, bastaria a Constituição Federal tê-lo enunciado que o caput e os
incisos do artigo 5º, em sua grande maioria, seriam prescindíveis, mas a anunciação
de outros princípios decorrentes do devido processo enfatiza a importância dessas
garantias como dever de observância da administração pública, o Legislativo e o
Judiciário176.
Neste sentido, todos os outros princípios convergem para um núcleo central
169 NERY JUNIOR. Op. cit., p. 107. 170 Idem. 171 NERY JUNIOR. Ibidem, p. 106-108. 172 Neste sentido, “Processo é método de exercício de poder normativo. As normas jurídicas são produzidas após um processo (conjunto de atos organizados para a produção de um ato final). As leis, após o processo legislativo; as normas administrativas, após um processo administrativo; as normas individualizadas jurisdicionais, enfim, após um processo jurisdicional. Nenhuma norma jurídica pode ser produzida sem a observância do devido processo legal. Pode-se, então, falar em devido processo legal legislativo, devido processo legal administrativo e devido processo legal jurisdicional. O devido processo legal é uma garantia com o exercício abusivo do poder, qualquer poder. In. DIDIER JUNIOR. Ibidem, p. 74. 173 DIDIER JUNIOR. Idem, p. 110-113. 174 MELLO FILHO, José Celso de. A tutela judicial da liberdade. Doutrinas Essenciais de Direitos Humanos. v. 5. p. 885-904. Ago. 2011, p. 892. 175 NERY JUNIOR. Op. cit., p. 106. 176 NERY JUNIOR. Ibidem, p. 114.
60
comum, que é o devido processo legal, qualificando-se como uma garantia-síntese,
que é o acesso à justiça177.
A Constituição Federal de 1988, em seu Título II (Dos direitos e garantias
fundamentais), no artigo 5º, inciso LIV, garante que ninguém será privado de sua
liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal178, devendo este dispositivo
ser lido no sentido de um princípio unicamente procedimental, mas composto de três
parte de significação: (i) deve haver um processo; (ii) o processo deve ser justo179-180-
177 DINAMARCO. Candido Rangel. Instituições de Direito Processual Civil. v. 1. São Paulo: Malheiros, 2016, p. 317-327. 178 Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: [...] LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal; 179 Nelson Nery Junior faz importante ressalva quanto à expressão “justo processo” ou “processo justo” afirmando que “o direito comunitário europeu, bem como o direito interno italiano vem desenvolvendo estudos acerca do devido processo legal, dando-lhe a denominação de justo processo. Tal denominação do instituto do devido processo tem encontrado adeptos na doutrina brasileira. Justo processo – ou fair procedure, ou faires Verfahren – nada mais é do que a procedural due process clause, ou seja, o devido processo legal processual, ou, mais simplesmente, devido processo. A doutrina italiana, na tentativa de traduzir o termo due, sugere as ideias de processo regular ou correto e propõe que a expressão seja traduzida como justo em razão do conteúdo e significado da cláusula processual do devido processo legal. A ideia é de processo justo, processo entendido aqui, em seu sentido estrito, como meio pelo qual se exerce o direito de ação. Mas a terminologia parece apequenar o instituto, cuja magnitude do conteúdo é de Direito material e de Direito processual. A crítica que se faz à vetusta doutrina brasileira que, por traduzir literalmente a expressão inglesa process por processo, via no devido processo legal apenas sua manifestação processual, olvidando-se de que, no aspecto material ínsito à cláusula, em certa medida, pode ser transferida a setores da doutrina brasileira contemporânea, quando se utilizam da expressão justo processo. Deve-se abstrair esta discussão e entender-se a ideia italiana do justo processo como significado, para nós, devido processo, razão pela qual parece ser desnecessário lançar-se mão do artifício de adotar-se a terminologia italiana, já que o texto constitucional brasileiro, também por empréstimo, denomina o instituto devido processo legal (CF 5º LIV). A precisão terminológica na utilização dos institutos jurídicos atende aos ditames científicos e, ao observar-se a nomenclatura dada pelo sistema da lei, agrega-se a isso a segurança jurídica. Por isso, em havendo a lei batizado determinado instituto, conferindo-lhe nome jurídico, parece adequado seguir-se a terminologia legal (NERY JUNIOR. Op. cit., p. 115). 180 Arenhart, Marinoni e Mitidiero preferem a nova expressão processo justo, como se percebe do capítulo da obra intitulado “O direito fundamental ao processo justo. Do devido processo legal ao processo justo”, quando afirmam que o art. 5º, LIV, da Constituição Federal instituiu o direito fundamental ao processo justo no Direito brasileiro, embora com redação inspirada no Direito norte-americano, criticando a referida expressão sob o argumento de que, “em primeiro lugar, porque remete ao contexto cultural do Estado de Direito (Rechtsstaat, État Légal), em que o processo era concebido unicamente como um anteparo ao arbítrio estatal, ao passo que hoje o Estado Constitucional (Verfassungsstaat, État de Droit) tem por missão colaborar na realização da tutela efetiva dos direitos mediante a organização de um processo justo. Em segundo lugar, porque dá azo a que se procure, por conta da tradição estadunidense em que colhida, uma dimensão substancial à previsão (substantive due process of law), quando inexiste necessidade de pensá-la para além de uma dimensão processual no direito brasileiro. Daí a razão pela qual prefere a doutrina falar em direito ao processo justo (giusto processo, procès équitable, faires Verfahren, fair trial) – além de culturalmente consentânea ao Estado Constitucional, essa desde logo revela o cariz puramente processual do seu conteúdo (In: ARENHART, Sérgio Cruz; MARINONI, Luiz Guilherme. MITIDIERO, Daniel. Novo curso de processo civil: teoria do processo civil. v. 1. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2016, p. 491-492).
61
181; (iii) deve ter como base o ordenamento jurídico, em especial os direitos
fundamentais182.
Em outras palavras, para que algo possa ser judicialmente decidido, deve
haver o cumprimento de um processo regrado através da lei processual em
contraditório183.
O processo é assim devido em razão de no Estado Democrático de Direito a
atividade jurisdicional não poder se dar de qualquer forma, mas sim se submetendo a
um modelo preconcebido no qual o devido processo legal deve ser o princípio regente
do Estado, desde o início até o fim do processo, de modo que os interessados na
decisão judicial possam exercer todas as possibilidades de ataque e de defesa que
lhe pareçam necessárias184.
Modernamente se compreende a cláusula do devido processo legal como o
direito a um procedimento adequado, não somente sob o pálio do contraditório, mas
também deve se afeiçoar com a realidade social e consentâneo em relação ao direito
material visado185.
Analisando a forma como ocorria a desconsideração da personalidade jurídica
antes da existência do incidente de desconsideração, constata-se que havia uma
mitigação do devido processo legal, pois não havia o respeito aos princípios
constitucionais aludidos devido à falta de um regramento para tal mister, acarretando
a mitigação de outros princípios decorrentes do devido processo legal, o que gerava
demasiada insegurança jurídica no exercício da atividade empresarial com a sujeição
patrimonial de pessoas que, em tese, não deveriam ser privadas de seus bens sem
que antes passassem por todas as etapas do devido processo.
Sendo a desconsideração da personalidade jurídica uma sanção àqueles que
se utilizaram disfuncionalmente da pessoa jurídica, a perquirição e possível aplicação
181 Fredie Didier Junior registra que “a locução “devido processo legal” corresponde à tradução para o português da expressão inglesa due process of law. Law, porém, significa Direito, e não lei (statute law). A observação é importante, uma vez que o processo há de estar em conformidade com o Direito como um todo, e não apenas em consonância com a lei. “Legal, então, é adjetivo que remete a “Direito”, e não a lei. Há outras traduções da expressão inglesa. Os portugueses optaram por “processo equitativo”; os italianos, por processo giusto; na Europa utiliza-se muito também a expressão fair trial” (In: DIDIER JUNIOR. Op. cit., p. 73). 182 ÁVILA. Humberto. O que é “devido processo legal”?. Revista de Processo. v. 163, p. 50-59, set. 2008. Disponível em: <https://www.thomsonreuters.com.br>. Acesso em: 01 mar. 2017. 183 BORGES, José Souto Maior. O contraditório no processo judicial: uma visão dialética. São Paulo: Malheiros, 2013, p. 56. 184 BUENO. Op. cit., p. 30. 185 CINTRA, Antonio Carlos de Araújo; DINAMARCO, Cândido Rangel; GRINOVER, Ada Pellegrini. Teoria Geral do Processo. São Paulo: Malheiros, 2010, p. 88.
62
da pena de privação de bens de terceiros deve passar pelo devido processo legal,
justamente o que se buscou com a positivação do incidente de desconsideração da
personalidade jurídica
3.1.2. O contraditório
Pôde-se perceber pelas transcrições das reuniões da comissão de juristas
encarregada de elaborar o atual Código de Processo Civil que, ao tratar da criação de
um regramento para a desconsideração da personalidade jurídica, o princípio jurídico
destacado foi o do contraditório, o qual está insculpido no artigo 5º, inciso LV, da
Constituição Federal186.
Ressalte-se que ao mencionar o princípio do contraditório como um princípio
constitucional prestigiado no anteprojeto, demonstrando concretamente a pretensão
de sua positivação como norma infraconstitucional, a comissão de juristas mencionou
diretamente a criação do incidente de desconsideração da personalidade jurídica187.
O termo grego diálogos deriva da junção dia, significando “om”, – e logo,
significando “falo” (falo com), originando o latim dialogue(m) significando a conversa
entre duas ou mais pessoas, conhecida no vernáculo como dialética, como a arte do
diálogo e da discussão, sendo assim a dialética é a arte da argumentação regrada188.
Dialética é então a regra norteadora do diálogo em que há pontos de vista
contraditórios189.
Em Direito, a dialética se dá no processo, por comando normativo
constitucional. Sem contraditório, não há processo. Colocada a questão e recortada
pela regra de pertinência, o processo segue seu movimento dialético através da
186 Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: [...] LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes; 187 BRASIL. Congresso Nacional. Senado Federal. Comissão de Juristas Responsável pela Elaboração de Anteprojeto de Código de Processo Civil. Código de Processo Civil: anteprojeto/comissão de juristas responsável pela elaboração do anteprojeto do Código de Processo Civil. Brasília: Senado Federal, 2010. Disponível em:< http://www.senado.gov.br/senado/novocpc/pdf/anteprojeto.pdf>. Acesso em: 13 mar. 2015, p. 15. 188 BORGES, José Souto Maior. O contraditório no processo judicial: uma visão dialética. São Paulo: Malheiros, 2013, p. 45. 189 BORGES. Ibidem, p. 52.
63
audiência das partes em contraditório190, sendo o processo em contraditório
depositário de um incomparável legado, condição sine qua non para a aplicação de
normas191.
Esta garantia de participação no processo (contraditório) pode ser
decomposta em duas garantias: de participação formal (audiência, comunicação,
ciência); e de participação com possibilidade de influência192.
A dimensão formal de participação decorrente do princípio do contraditório se
manifesta nas garantias de ser comunicado, de ser ouvido, de poder falar no processo,
conteúdo mínimo do princípio do contraditório e de visão tradicional193conhecida como
bilateralidade de audiência
Em sua dimensão substancial, o princípio do contraditório é concebido como
uma garantia de poder de influência na decisão do órgão jurisdicional, evitando-se a
decisão surpresa194.
É o contraditório um princípio segundo o qual ninguém pode ser atingido por
uma decisão judicial sem que tenha tido a possibilidade de influir de forma eficaz na
sua formação e em igualdade de condições com a parte contrária, sendo a expressão
processual do princípio político de participação democrática diante do Estado
Democrático de Direito195.
Abandona-se a perspectiva de protagonismo no processo e assume um perfil
comparticipativo e democrático da estrutura processual196, impondo-se ao juiz um
dever de consulta às partes a fim de fomentar o debate preventivo e a submissão de
todos os fundamentos da futura decisão ao contraditório197.
Esta nova visão do contraditório comparticipativo (cooperação) é embasada
no princípio do contraditório dinâmico (como garantia de influência, debates e não
surpresa) como necessária participação dos sujeitos no processo fundado nos
190 BORGES. Ibidem, p. 84. 191 BORGES. Ibidem, p. 87. 192 DIDIER JUNIOR. Ibidem, p. 92. 193 Idem. 194 Idem. 195 GRECO, Leonardo. Instituições de processo civil: introdução ao direito processual civil. v. 1. Rio de Janeiro: Forense, 2016, p. 539-541 e RODRIGUES, Marco Antonio. A Fazenda Pública no Processo Civil. São Paulo: Atlas, 2016, p.27. 196 NUNES, Dierle José Coelho. Comparticipação e policentrismo: horizontes para a democratização processual civil. 2008. 217 f. Tese (Doutorado em Direito). Programa de Pós-Graduação em Direito. Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2008, p. 170. 197 NUNES Ibidem, p. 172-173.
64
princípios processuais constitucionais198.
Assim, concretizando a visão de interpretação e aplicação das normas
processuais sob o prisma constitucional democrático, com maior participação de todos
os sujeitos processuais (contraditório efetivo), pode-se afirmar que o atual Código de
Processo Civil foi construído nesta perspectiva, devendo servir de espaço de
participação ativa e racional dos sujeitos processuais (partes e juiz)199.
Então, afora a ideia formal do princípio do contraditório como mera
bilateralidade de audiência, já se via uma dimensão que necessitava reconhecer o
contraditório no Direito brasileiro como garantias de influência, de não surpresa e de
aproveitamento da atividade processual200, dimensões positivadas no Código de
Processo Civil, ensejando, inclusive, a necessária criação do incidente de
desconsideração da personalidade jurídica, como se verá a seguir.
3.1.2.1. O princípio do contraditório no Código de Processo Civil: cooperação,
contraditório efetivo, garantia de influência e decisão não surpresa
Conforme se verificou nos debates da comissão de juristas para elaboração
do anteprojeto do atual Código de Processo Civil, o incidente de desconsideração da
personalidade jurídica surgiu pela necessidade de se estabelecer um efetivo
contraditório201 para que os sujeitos atingidos pelos efeitos da desconsideração não
sejam pegos de surpresa com suas inclusões no polo passivo da demanda ou, pior,
com a grave surpresa de constrição de seus bens, afastando-se o vetusto contraditório
mitigado ou postergado, com flagrante prejuízo à ideia de processo devido.
Na visão constitucional e democrática do processo, o efetivo contraditório se
dá primeiramente com a ideia de cooperação processual como uma nova forma de
198 BAHIA, Alexandre Melo Franco; NUNES, Dierle; PEDRON, Flávio Quinaud; THEODORO JR; Humberto. Novo CPC: fundamentos e sistematização. Rio de Janeiro: Forense, 2016, p. 88. 199 ALMEIDA, Marcelo Pereira; LUZ SEGUNDO, Elpidio Paiva; MENDES, Aluisio Gonçalves de Castro. Notas aos artigos 1 a 41. In: ALMEIDA, Marcelo Pereira; MENDES, Aluisio Gonçalves de Castro; SILVA, Larissa Clare Pochmann da (Coords). Novo Código de Processo Civil: comparado e anotado. Rio de Janeiro: LMJ Mundo Jurídico, 2015, p. 3. 200 NUNES, Dierle Jose Coelho; THEODORO JUNIOR, Humberto. Uma dimensão que urge reconhecer ao contraditório no direito brasileiro: sua aplicação como garantia de influência, de não surpresa e de aproveitamento da atividade processual. Revista de processo. v. 189, p. 107-141, fev/2009. Disponível em: <https://www.thomsonreuters.com.br>. Acesso em: 01 mar. 2017. 201 GAMA, Guilherme Calmon Nogueira. Incidente de desconsideração da personalidade jurídica. Revista de Processo. v. 262, p. 61-85, dez/2016. Disponível em: <https://www.thomsonreuters.com.br>. Acesso em: 01 mar. 2017.
65
debate processual202 situação em que os sujeitos processuais discutirão os
argumentos normativos para a decisão mais justa ao caso203.
A cooperação ou comparticipação processual não deve ser lida de forma
desacoplada da realidade, em que se espelha uma visão irrefletida daquilo que
realmente acontece no processo, onde as partes ali se encontram para ver exitosas
suas pretensões, sendo utópica uma solidariedade processual para um resultado mais
justo.204
A colaboração no processo que é devida no Estado Constitucional é a
colaboração do juiz para com as partes205. Esta estrutura processual é então
identificada como um terceiro modelo: o modelo cooperativo de processo. Terceiro
modelo porque se identificam outros dois modelos de processo: o modelo adversarial
e o modelo inquisitorial206. O modelo adversarial de processo é tido como uma forma
de competição ou disputa, desenvolvendo-se em conflito pelas partes mediante o juiz
como espectador, cuja principal função será decidir o caso, razão pela qual prevalece
o princípio dispositivo, de forma que se atribui às partes as principais tarefas
relacionadas à condução e à instrução do processo. No modelo inquisitorial (não
202 NUNES; THEODORO JUNIOR. Op. cit.. 203 NUNES. Op. cit., p. 160. 204 BAHIA; NUNES; PEDRON; THEODORO JR. Op. cit., p. 89. 205 Mitidiero faz a diferenciação esclarecedora acerca das colaborações entre as partes e entre o juiz e as partes nos seguintes termos: enquanto os deveres de colaboração no plano do Direito material tiveram sua origem no campo obrigacional a partir de estudos ligados à boa-fé, o que acabou desaguando na construção de deveres cooperativos entre as partes, no processo estes deveres não se originam da boa-fé e não podem ser concebidos como deveres que gravam as partes entre si. É que no plano do Direito material as partes constroem vínculos jurídicos com uma finalidade comum. Vale dizer, os interesses são convergentes. O adimplemento é o fim do processo obrigacional e domina toda a sua estruturação. Inexiste, a princípio, qualquer crise que afete as partes da finalidade comum no plano do Direito material. O plano do processo, porém, pressupõe justamente uma ameaça de crise ou uma efetiva crise na realização do Direito material. E a partir desse exato momento os interesses das partes deixam de ser convergentes e passam a ser divergentes. Isso obviamente não dispensa as partes de agirem com boa-fé no processo. No entanto, daí para a exigência de colaboração entre as partes existe uma significativa distância (MITIDIERO, Daniel. Ibidem, p. 2-3). 206 Didier Jr. esclarece que é difícil “estabelecer um critério identificador da dispositividade ou inquisitoriedade que não comporte exceção”. Isto se dá por motivos como a distinção entre o processo penal (inquisitorial) e o processo civil (adversarial); relação entre o adversarial com o commow law e o inquisitorial como o civil law; manifestação da dispositividade ou inquisitoriedade em relação à temas como: a) instauração do processo; b) produção de provas; c) delimitação do objeto litigioso (questão discutida no processo); d) análise de questões de fato e de direito; e) recursos etc., ou ainda, com fundamento em Barbosa Moreira e Bedaque, um dimensão substancial, relacionando ao princípio dispositivo/inquisitivo à situação jurídica discutida (se disponível, processo dispositivo; se indisponível, processo inquisitivo). Assim, “não há sistema totalmente dispositivo ou inquisitivo: os procedimentos são construídos a partir de várias combinações de elementos adversarias e inquisitoriais. Não é possível afirmar que o modelo processual brasileiro é totalmente dispositivo ou inquisitivo. O mais recomendável é falar em predominância em relação a cada um dos temas: em matéria de produção de provas, no efeito devolutivo dos recursos, na delimitação do objeto litigioso [...] No conjunto, há bastante equilíbrio – por isso, entendemos que o modelo brasileiro é o cooperativo” (DIDIER JUNIOR Op. cit., p 138-139).
66
adversarial) organiza-se como uma pesquisa oficial, sendo o o juiz o grande
protagonista do processo207.
Este modelo cooperativo de processo define o modo como o processo civil
deve estruturar-se no Direito brasileiro208, sendo expressamente adotado pelo atual
Código de Processo Civil, em seu artigo 6º. O modelo cooperativo e o princípio da
colaboração que a ele é inerente são as linhas centrais para a organização de um
processo civil Estado Constitucional209, estruturando um processo justo com a divisão
de trabalho entre o juiz e as partes210, impondo deveres que devem ser seguidos para
a boa condução processual, formando uma comunidade de trabalho entre as partes e
juiz211.
Quanto aos deveres impostos ao juiz tanto pelo modelo como pelo princípio
cooperativos podem ser assim elencados212: a) dever de esclarecimento: dever de o
juiz aclarar as dúvidas que eventualmente tenha sobre a posição das partes a respeito
da narração dos fatos ou sobre os pedidos formulados (art. 321, CPC); b) dever de
diálogo: o órgão jurisdicional precisa dialogar e consultar as partes antes de decidir
sobre qualquer questão, possibilitando que estas o influenciem a respeito do rumo a
ser dado à causa (arts. 9º, 10 e 489, §§ 1º e 2º, CPC); c) dever de prevenção: prevenir
as partes do perigo de o êxito de seus pedidos ser barrado pelo uso equivocado do
processo (arts. 317 e 932, parágrafo único, CPC); d) dever de auxílio: auxiliar as partes
na transposição de eventuais obstáculos que dificultem ou impeçam o exercício de
direitos, o cumprimento de deveres ou o desempenho de ônus processuais (art. 772,
III, CPC)213.
207 DIDIER JUNIOR. Ibidem, p 136-137. 208 DIDIER JUNIOR. Ibidem, p. 141. Do mesmo autor: Os três modelos de direito processual: inquisitivo, dispositivo e cooperativo. Revista de processo. v. 198/2011. p. 213-226, ago/2011. Disponível em: <https://www.thomsonreuters.com.br>. Acesso em: 01 mar. 2017. 209 ARENHART; MARINONI; MITIDIERO, Op. cit., p. 162 210 Idem. 211 BAHIA, Alexandre Melo Franco (et al). Op. cit. p. 88. No mesmo sentido Arenhart, Marinoni e Mitidiero ao afirmarem que: “O processo civil é uma comunidade de trabalho e é ainda especificamente uma comunidade argumentativa de trabalho: isso porque as partes têm o ônus de alegar e o juiz tem o dever de decidir invocando razões jurídicas. Vale dizer: em ambos os casos, existe a necessidade dessas interpretações estarem fundadas no Direito (arts, 1º, CF/1988 e 1º e 8º, CPC). Daí que se o juiz tem o dever de fundamentação analítica (arts. 93, IX, CF/1988, e 489, §§ 1º e 2º, CPC), as partes tem o ônus de alegação específica (arts. 6º e 9º e, analogicamente, 489, §§ 1º e 2º, CPC)”. ARENHART; MARINONI; MITIDIERO. Ibidem, p. 166). 212 ARENHART; MARINONI; MITIDIERO. Ibidem, p. 165. 213 Outras formas de expressar os deveres de cooperação, mas cujos sentidos podem ser extraídos dos citados, são encontradas exemplificativamente nas seguintes obras: CUNHA, Leonardo Carneiro da. O princípio do contraditório e a cooperação no processo. Revista Brasileira de Direito Processual. Belo Horizonte, n. 79, jul./set. 2012; DIDIER JUNIOR, Fredie. Fundamentos do princípio da cooperação no direito processual civil português. Coimbra: Coimbra Editora, 2010; BAHIA,
67
Este novo olhar sobre o contraditório pode ser mais bem compreendido se
analisado ao longo de três fases marcantes. A primeira, denominada formal,
caracterizada pela necessidade de informar; a segunda, material, que se caracteriza
pela possibilidade de participação; e a terceira, constitucional, identificada pelo direito
de influenciar a decisão judicial214. Dessa maneira, o juiz tem o dever de se manifestar
sobre todas às questões suscitadas pelas partes através dos argumentos e provas
dos autos215.
Com o atual Código de Processo Civil, este redimensionamento do
contraditório se dá de forma muito evidente, uma vez que foram inseridos no capítulo
das normas fundamentais do processo civil os artigos 7º (parte final)216, 9º217 e 10218
(além de outros, como o artigo 933219), os quais atribuem um novo sentido ao conceito
de contraditório, numa dimensão dinâmica de contraditório efetivo, de influência e não
surpresa220.
A interpretação conjunta desses três dispositivos legais (arts. 7º, 9º e 10)
impõe ao julgador o diálogo com as partes durante todo o procedimento221,
especialmente no momento da decisão, fundamentando-a diante das questões e
argumentos suscitados pelas partes.
O juiz, ao decidir sobre questões às quais foram dadas às partes a
oportunidade prévia de se manifestarem, faz com que o contraditório se torne efetivo
Alexandre Melo Franco; NUNES, Dierle; PEDRON, Flávio Quinaud; THEODORO JR; Humberto. Novo CPC: fundamentos e sistematização. Rio de Janeiro: Forense, 2016. 214 RIBEIRO, Darci Guimarães. A dimensão constitucional do contraditório e seus reflexos no projeto do novo CPC. Revista de Processo. v. 232/2014. p. 13-35, jun/2014. Disponível em: <https://www.thomsonreuters.com.br>. Acesso em: 01 mar. 2017. No mesmo sentido: WAMBIER, Teresa Arruda Alvim (et al) (Coords). Primeiros comentários ao novo Código de Processo Civil: artigo por artigo. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2015, p. 66. 215 FRANCO, Marcelo Veiga. JAYME, Fernando Gonzaga. O princípio do contraditório no projeto do novo Código de Processo Civil. Revista de Processo. v. 227/2014. p. 335-359, jan/2014. Disponível em: <https://www.thomsonreuters.com.br>. Acesso em: 01 mar. 2017. 216 Art. 7º É assegurada às partes paridade de tratamento em relação ao exercício de direitos e faculdades processuais, aos meios de defesa, aos ônus, aos deveres e à aplicação de sanções processuais, competindo ao juiz zelar pelo efetivo contraditório. 217 Art. 9º Não se proferirá decisão contra uma das partes sem que ela seja previamente ouvida. 218 Art. 10. O juiz não pode decidir, em grau algum de jurisdição, com base em fundamento a respeito do qual não se tenha dado às partes oportunidade de se manifestar, ainda que se trate de matéria sobre a qual deva decidir de ofício. 219 Art. 933. Se o relator constatar a ocorrência de fato superveniente à decisão recorrida ou a existência de questão apreciável de ofício ainda não examinada que devam ser considerados no julgamento do recurso, intimará as partes para que se manifestem no prazo de 5 (cinco) dias. 220 THEODORO JR. Op. cit., p. 85. 221 OLIANI, José Alexandre Manzano. O contraditório no NCPC. In: WAMBIER, Luiz Rodrigues. WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Te mas essenciais do Novo CPC: análise das principais alterações do sistema processual brasileiro (Coords). São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2016, p. 48.
68
(art. 7º)222, pois foi oportunizado à parte influenciar na decisão (art. 9º), fazendo com
que ela não seja surpreendida pela referida decisão judicial, evitando-se a decisão-
surpresa (art. 10)223.
Neste sentido, o contraditório contemporâneo como direito de influenciar e de
não ser surpreendido é uma das vigas mestras do atual Código de Processo Civil,
espraiando-se através de outros dispositivos legais, especialmente o artigo 135 que
prevê a citação dos sócios ou da pessoa jurídica no incidente de desconsideração da
personalidade jurídica, chamando a parte para o processo, a fim de que ela possa
efetivamente participar na construção da decisão judicial, afastando do ordenamento
jurídico as violações dos princípios constitucionais processuais que ocorria
anteriormente ao atual Código nos casos de desconsideração.
Assim, entende-se que o modelo constitucional, democrático e cooperativo de
processo que considera o contraditório como método de influência e não surpresa
(arts. 9º, 10 e 933), garantindo a influência das partes na formação das decisões (art.
489) influenciou e é um dos fundamentos para a criação e a positivação do incidente
de desconsideração da personalidade jurídica.
3.1.3. Princípio da eficiência e efetividade do processo
Conforme visto, da cláusula geral do devido processo legal como norma
fundamental do processo podem ser extraídos diversos outros princípios que regem
o Direito processual, ainda que se dê atenção especial ao contraditório e à ampla
defesa224.
Dentre outros princípios, também pode se extrair o princípio da efetividade, a
222 Conforme consta do texto do referido dispositivo legal, é assegurada às partes a paridade de tratamento (paridade de armas), competindo ao juiz zelar pela igualdade no processo para que o contraditório se torne efetivo. Apesar de a disposição contida no Código ser nova, Fredie Didier Junior adverte que, “como se não bastasse, o art. 139, I, ratifica, que o juiz dirigirá o processo conforme as disposições deste Código, incumbindo-lhe: I – assegurar às partes igualdade de tratamento”. A disposição normativa é nova, embora a norma pudesse ser compreendida como concretização dos princípios constitucionais da igualdade e do contraditório. É que essas normas de direitos fundamentais impõem ao órgão jurisdicional o dever de protegê-los. Logo, o referido dispositivo apenas concretiza essa exigência. Não é por acaso que a norma decorre do mesmo artigo que consagra o princípio da igualdade processual, a qual revela-se na “paridade de armas” (para usar uma expressão clássica, que denota uma preocupação com a igualdade formal) e no “equilíbrio processual”. Em suma, é preciso que as partes possam exercer o contraditório em condições iguais” (DIDIER JUNIOR, Fredie. Curso de direito processual civil: introdução ao direito processual civil, parte geral e processo de conhecimento. Salvador: Juspodivm, 2016, p. 97-98). 223 THEODORO JUNIOR. Op. cit., p. 86-87. 224 DIDIER JUNIOR. Op. cit., p. 128.
69
fim de que o processo dê, “quanto for possível praticamente, a quem tenha um direito,
tudo aquilo e exatamente aquilo que tenha direito de conseguir”225.
Querer que o processo seja efetivo é querer que desempenhe com eficiência
o papel que lhe compete na economia do ordenamento jurídico”, e devido ao seu
caráter instrumental em relação ao Direito material também se costuma falar da
instrumentalidade do processo, no sentido de que é efetivo o processo que constitua
instrumento eficiente de realização de direito material226
A busca pela eficiência227 do processo expressada pela comissão de juristas
responsável pela elaboração do anteprojeto do Código de Processo Civil constitui um
dos objetivos orientadores na sua elaboração, no sentido de dar todo o rendimento
possível a cada processo em si mesmo228.
Tendo suas bases fundadas no Direito Administrativo, o princípio da
eficiência229 é uma faceta de um princípio mais amplo tratado no Direito italiano: o
225 CHIOVENDA, Giuseppe. Instituições de direito processual civil. Campinas: Bookseller, 2002, v. 1, p. 67. 226 MOREIRA, José Carlos Barbosa. Por um processo socialmente efetivo. Revista de processo. v. 105, p. 181-190, jan-mar/2002. Disponível em: <https://www.thomsonreuters.com.br>. Acesso em: 01 ago. 2017. Para o cumprimento desta finalidade efetiva do processo, Barbora Moreira eleca cinco itens considerados como um programa básico em prol da efetividade, a saber: a) o processo deve dispor de instrumentos de tutela adequados, na medida do possível, a todos os direitos (e outras posições jurídicas de vantagem) contemplados no ordenamento, quer resultem de expressa previsão normativa, quer se possam inferir do sistema; b) esses instrumentos devem ser praticamente utilizáveis, ao menos em princípio, sejam quais forem os supostos titulares dos direitos (e das outras posições jurídicas de vantagem) de cuja preservação ou reintegração se cogita, inclusive quando indeterminado ou indeterminável o círculo dos eventuais sujeitos; c) impende assegurar condições propícias à exata e completa reconstituição dos fatos relevantes, a fim de que o convencimento do julgador corresponda, tanto quanto puder, à realidade; d) em toda a extensão da possibilidade prática, o resultado do processo há de ser tal que assegure à parte vitoriosa o gozo pleno da específica utilidade a que faz jus segundo o ordenamento; e) cumpre que se possa atingir semelhante resultado com o mínimo dispêndio de tempo e energias. 227 Dos itens apontados por Moreira sobre a efetividade do processo faz-se um destaque em relação ao item “e”, pois, de acordo com o artigo 8º do atual Código de Processo Civil esta pode ser vista também como o princípio da eficiência227, distinguindo-se, mas caminhando junto, do princípio da efetividade contido em seu artigo 4º. 228 BRASIL. Congresso Nacional. Senado Federal. Comissão de Juristas Responsável pela Elaboração de Anteprojeto de Código de Processo Civil. Código de Processo Civil: anteprojeto/comissão de juristas responsável pela elaboração do anteprojeto do Código de Processo Civil. Brasília: Senado Federal, 2010. Disponível em:< http://www.senado.gov.br/senado/novocpc/pdf/anteprojeto.pdf>. Acesso em: 13 mar. 2015, p. 14. 229 Eduardo José da Fonseca Costa faz clara distinção entre eficácia, eficiência e efetividade aplicadas ao Direito processual. Ao fim, conclui que a eficiência, diferentemente da efetividade, não é um princípio, mas sim um postulado aplicativo-normativo da eficiência, uma meta-norma, no sentido de que a “eficiência não é um estado ideal de coisas em si, qualificado positivamente e que se deseja atingir progressivamente. Não se trata de um valor, no plano axiológico ou meramente teleológico, o qual, transportado para o plano deontológico, assumiu o ônus de princípio. Noutras palavras, a eficiência não é um valor em si, mas um instrumento de estruturação de ações, concretizadora de valores”. In: As noções jurídico-processuais de eficácia, efetividade e eficiência. Revista de Processo. v. 121, p. 275-301, mar/2005. Disponível em: <https://www.thomsonreuters.com.br>. Acesso em: 15 set. 2017. No mesmo sentido: ÁVILA, Humberto. Moralidade, razoabilidade e eficiência na atividade administrativa.
70
princípio da boa administração230.
O referido princípio foi inserido na Constituição Federal entre os princípios
constitucionais da Administração pública pela Emenda Constitucional nº 19/1998,
conforme consta em seu artigo 37231, aplicando-se também ao Poder Judiciário,
segundo a literalidade do enunciado ao mencionar “qualquer dos poderes”232,
apresentando-se sob dois aspectos: o primeiro, como modo de atuação do agente
público na busca de desenvolver suas atividades com melhor desempenho para obter
melhores resultados e, o segundo, como modo de a Administração pública se
organizar, estruturar e se disciplinar para alcançar os melhores resultados na
prestação do serviço público.233
Aplicando-se o princípio da eficiência234-235 ao Poder Judiciário236, ele
Revista Eletrônica de Direito do Estado (REDE). Salvador, n. 4, p. out-nov-dez/2005. Disponível em: <www.direitodoestado.com.br>. Acesso em: 15 set. 2017. Contudo, e com fundamento em Didier Junior, utilizar-se-á a expressão “princípio da eficiência” por duas razões: “a) o texto constitucional o menciona expressamente; b) norma é sentido que se dá a um texto; do dispositivo constitucional, pensamos que tanto se possa extrair um postulado como um princípio – uma norma que vise à obtenção da eficiência, no caso uma gestão processual eficiente, como estado de coisas a ser alcançado. In: DIDIER JUNIOR, Fredie. Ibidem, p. 113. 230 MELLO, Celso Antonio Bandeira de. Curso de direito administrativo. São Paulo: Malheiros, 2000, p. 92. 231 Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: 232 DIDIER JUNIOR. Op. cit., p. 113. 233 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. São Paulo: Atlas, 2012, p. 84. 234 O princípio da eficiência pode ser considerado uma versão contemporânea do conhecido princípio da economia processual. Neste sentido foi o texto produzido por Alexandre Freitas Câmara sobre o seminário “Tendências recentes sobre economia e eficiência no processo civil”, realizado nos dias 09 e 10 de maio de 2013, em Vilnius, Lituânia, em que destacaram-se, dentre outros, os seguintes pontos: a) especialização dos juízes como mecanismo de eficiência do processo; b) a função do advogado na geração de eficiência processual; c) a posição do juiz, de proeminência em relação às partes, como um fator gerador de eficiência, garantindo economia processual e evitando condutas dilatórias; d) visão do recurso como uma meio para de financiamento barato de dívidas, aumentando-se os juros nos casos de desprovimento; e) julgamento monocrático de recursos em face do valor da condenação; f) comparticipação entre as partes e o juiz; g) legitimação nos processos coletivos; h) simplificação de procedimentos e processo eletrônico. In: CÂMARA, Alexandre Freitas. Seminário “Tendências recentes sobre economia e eficiência no processo civil”. Revista de Processo. v. 223, p. 463-466, set/2013. Disponível em: <https://www.thomsonreuters.com.br>. Acesso em: 15 set. 2017. Noutra obra do mesmo autor há as seguintes orientações: “Por fim, o art. 8º faz menção ao princípio da eficiência. Este é o princípio que tradicionalmente era conhecido como princípio da economia processual, e sua incidência no sistema processual decorre do art. 37 da CRFB. Pode-se compreender a economia processual como a exigência de que o processo produza o máximo de resultado com o mínimo de esforço”. In: CÂMARA, Alexandre Freitas. O novo processo civil brasileiro. São Paulo: Atlas, 2017, p. 16. 235 Neste sentido também sãs as palavras de Aluisio Mendes ao versar sobre o princípio da economia processual ou da instrumentalidade das formas, ao afirmar que “o direito processual contemporâneo vem procurando ser um efetivo instrumento para a consecução da justiça, buscando, principalmente, a realização das suas finalidades bem servir para a realização do bom direito, afastando-se do excessivo formalismo”. MENDES, Aluisio Gonçalves de Castro. Teoria geral do processo. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009, p. 34. 236 Conforme previsto no artigo 8º do CPC.
71
repercutirá em duas dimensões: a) a administração judiciária e b) gestão de
determinado processo237.
Na dimensão de administração judiciária a eficiência se investe no sentido de
norma de Direito Administrativo, numa visão do Poder Judiciário como ente da
Administração, devendo também ser assim eficiente, criando-se instrumentos para
sua realização, a exemplo do Conselho Nacional de Justiça238
Na segunda dimensão, o princípio da eficiência se presta a gestão do
processo pelo órgão jurisdicional, tornando o mais eficiente possível, obtendo o
melhor resultado com o mínimo de recursos (custo e tempo)239, medindo-se a relação
entre os meios empregados e os resultados alcançados.
O princípio da eficiência é legitimador de institutos processuais como o
litisconsórcio facultativo, a cumulação objetiva de demandas, a denunciação da lide
etc.240, podendo ser incluído nestes exemplos o incidente de desconsideração da
personalidade jurídica241.
Percebe-se que eficiência e efetividade possuem conceitos distintos, mas que
caminham juntos para a boa realização da justiça. Assim, pode-se distinguir eficiência
de efetividade como sendo efetivo o processo que concretiza o direito buscado pela
parte242, e eficiente é o processo que atingiu seu resultado de modo satisfatório para
a parte, podendo haver processos efetivos, mas ineficientes (excessiva demora, por
exemplo). Situação inversa não é possível, pois não há possibilidade de ser eficiente
e não ser efetivo243.
As reformas processuais com tendências metodológicas no Direito Processual
Civil em busca da efetividade do processo se volta para a ideia de que o processo
deve cumprir a sua função sócio-político-jurídica, atingindo seus escopos
237 DIDIER JUNIOR. Op. cit., p. 113. 238 Idem. 239 DIDIER JUNIOR. Op. cit., p. 115-116. 240 CÂMARA. Op. cit., p. 16. 241 BUENO, Cassio Scarpinella. Da intervenção de terceiros. In: BUENO, Cassio Scarpinella (Coord.). Comentários ao Código de Processo Civil. São Paulo: Saraiva, 2017, p. 527. 242 Nesta visão de efetividade do processo, Dinamarco traz a ideia de processo civil de resultados, pois “falar em processo civil de resultados é, portanto, lançar o foco sobre a garantia constitucional da efetividade do processo (Const., art. 5, inc. XXXV, em sua leitura atual. Assim também deve ser interpretado o artigo 8º do novo Código de Processo Civil quando inclui a eficiência entre os predicados que devem estar presentes nos provimentos jurisdicionais”. DINAMARCO, Candido Rangel. Instituições de direito processual civil: São Paulo: Malheiros, 2016, v. 1, p. 198. 243 DIDIER JUNIOR. Op. cit., p. 117.
72
institucionais com plenitude244-245.
Neste sentido, pensado o processo como instrumento de realização do Direito
substantivo246, não se transformando em fonte de decepções, pois o processo e o
Direto se complementam, devendo ser compreendidos conjuntamente, superando-se
a fase autonomista do Direito Processual, o que faz com que a visão instrumentalista
do processo liberte dos velhos preconceitos formalistas e para que do processo
possam ser extraídos melhores proveitos247.
Considerando-se a temática deste trabalho e sabendo que é no cumprimento
da obrigação (cumprimento de sentença ou execução de título extrajudicial) que se
encontra terreno fértil para o inadimplemento, pode-se afirmar que é na fase satisfativa
da obrigação que se deve buscar maior eficiência e efetividade do processo, princípio
fundamental do processo civil, conforme consta na parte final do artigo 4º do CPC.
Assim, é na execução por quantia certa que o processo deverá ser efetivo de forma a
assegurar ao exequente a soma em dinheiro a que faz jus, sob o princípio da
efetividade da execução forçada248.
Pela prática forense pode-se perceber que nos casos de execução por quantia
certa contra devedor solvente não raras vezes há dificuldade de se localizar bens do
devedor, seja por realmente inexistirem ou por terem sido ocultados de forma escusa,
tendo o sistema processual criado vários instrumentos para a consecução de tal fim
como o Bacenjud e Renajud.
No caso de execução proposta contra pessoa jurídica em que os sócios têm
responsabilidade patrimonial limitada, a não localização de bens da pessoa jurídica
pode resultar num processo sem efetividade, por óbvio.
No entanto, caso a insatisfação da obrigação tenha ocorrido por atos
fraudulentos praticados pelos sócios, a situação pode dar ensejo à desconsideração
da personalidade jurídica como “instrumento para a efetividade do processo
244 DINAMARCO, Candido Rangel. A instrumentalidade do processo. São Paulo: Malheiros, 2013, p. 319. 245 No mesmo sentido, Mendes diz que “para o pleno funcionamento do Estado Democrático de Direito, a possibilidade de solução de conflitos mediante o devido processo legal deve ser efetiva e não apenas formal. Para tanto, devem ser equacionadas as modificações sociais, econômicas, políticas e culturais existentes”. MENDES, Aluisio Gonçalves de Castro. Ações coletivas e meios de resolução coletiva de conflitos no direito comparado e nacional. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2012, p. 32. 246 SILVA, Ovídio Araujo Batista. Jurisdição e execução na tradição romano-germânica. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1997, p. 164-165. 247 DINAMARCO. Op. cit., 2013, p. 320-321. 248 CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de direito processual civil. v. 2 São Paulo: Atlas, 2014, p. 165.
73
executivo”249, “consistindo em garantir a efetividade do processo de execução por
meio da criação de hipótese excepcional de responsabilidade executória de bens
existentes em patrimônio de terceiro”250.
A grande questão que se colocava nos casos de desconsideração da
personalidade jurídica é que ela era aplicada através do contraditório diferido251, sob
o argumento de que, aplicado o contraditório pleno, haveria possibilidade de
dilapidação patrimonial e total inefetividade do processo executivo. Ou seja, os sócios
deveriam ser “pegos de surpresa”.
A busca pela efetividade não pode ser confundida com rapidez a qualquer
custo. O processo em contraditório exige tempo. A dilação probatória demanda tempo.
Processo rápido que não produz resultados constitucionalmente adequados não é
processo efetivo e eficiente252.
Conforme demonstrado no item anterior, a criação do incidente de
desconsideração se fundamentou expressamente sobre o princípio do contraditório
(exposição de motivos do anteprojeto), o que pode levar a uma falsa ideia de que este
instrumento processual contraria o princípio da efetividade, por parecerem princípios
aparentemente antagônicos, mas que, em verdade, se complementam253.
Na busca pela efetividade do processo não se pode afastar as outras
garantias processuais devendo todos os princípios ser conciliados na medida do
possível 254.
Neste sentido, é possível identificar que, na busca de tornar o processo
executivo mais efetivo, o incidente de desconsideração da personalidade jurídica se
249 SALOMÃO FILHO, Calixto. O novo Direito societário. São Paulo: Malheiros, 2015, p. 263. 250 AMADEO, Rodolfo da Costa M. R; BRUSCHI, Gilberto Gomes; NOLASCO, Rita Dias. Fraudes patrimoniais e a desconsideração da personalidade jurídica no Código de Processo Civil de 2015. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2016, p. 145. 251 Conforme já exposto e por todos: 251 BRUSCHI, Gilberto Gomes. Desconsideração da personalidade jurídica: aspectos processuais. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 96-101. 252 CÂMARA, Op. cit., 2017, p. 8-9. 253 HOMMERDING, Adalberto. Fundamentos para uma compreensão hermenêutica do processo civil. Porto Alegre: Livraria do Advogado: 2007, p. 196-197: “Significa dizer que a ampla defesa deve ser vista no contexto da Constituição e do “meio” (lide ou tipo de processo) onde estiver inserida, pois também é “condição de possibilidade” para a efetividade do processo [...] Os autores também têm direito a um processo célere e efetivo, que lhes assegure a realização do seu direito. O contraditório e a ampla defesa, portanto, não são óbices à efetividade do processo, uma vez que “custo processual” que deriva do tempo para resolver a lide, deve ser, tanto quanto possível, equilibrado. Portanto, entre a alternativa de privilegiar o réu, penalizando o autor com o tempo, a fim de chegar a um juízo (metafísico) de “certeza”, e privilegiar o autor, com a efetividade processual em prejuízo do réu e da “segurança jurídica”, esta segunda opção deve ser a mais adequada”. 254 DIDIER JUNIOR, Fredie. Aspectos processuais da desconsideração da personalidade jurídica. Disponível em: <http://www.frediedidier.com.br/wp-content/uploads/2012/02/aspectos-processuais-da-desconsideracao-da-personalidade-juridica.pdf>. Acesso em: 5 mar. 2016.
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mostra como importante instrumento para a satisfação do credor.
Isto porque se criou um instrumento processual com regras próprias e
distintas das de um processo de conhecimento, visando uma maior economia e
celeridade255 no procedimento desconsiderante sem descurar do devido processo
legal, contraditório e ampla defesa, mostrando-se um instrumento necessário,
eficiente e equilibrado para a finalidade que foi criado.
255 Não previsão da audiência de conciliação e mediação do artigo 334 do CPC, por exemplo.
75
CAPÍTULO IV
4 Natureza do incidente de desconsideração da personalidade jurídica
Após ter analisado bases da teoria da desconsideração, a genealogia do
incidente e suas matrizes fundamentais, neste ponto do trabalho serão analisados os
fundamentos processuais para a responsabilização patrimonial de terceiros e a
natureza do incidente de desconsideração da personalidade jurídica, visando a
identificar sua classificação processual e os reflexos inerentes.
4.1 O incidente de desconsideração da personalidade jurídica e a responsabilidade
patrimonial
Salvo raras exceções, em regra a desconsideração da personalidade jurídica
é aplicada em processos de execução ou cumprimento de sentença, premissa que
será seguida para expor as ideias a seguir, ainda que se reconheça a possibilidade
de cabimento no processo de conhecimento (art. 134, CPC).
O Código de Processo Civil, ao tratar do processo de execução, elenca os
devedores que serão legitimados256 para figurar no polo passivo da demanda
executiva, conforme dispõe o artigo 779
Dentro da sistemática do Código, a legitimidade passiva pode ser dividida em:
devedores originários, segundo a relação obrigacional de direito substancial constante
no título executivo; sucessores do devedor originário, como nos casos dos incisos II e
256 Para elucidar o que se afirma, Bastos assim diz: “2. Legitimidade passiva ordinária primária (ou originária). De maneira análoga à legitimidade ordinária e originária ativa, a leitura do título executivo permite inferir quem é o sujeito que possui legitimação passiva, ordinária e primária. Não poderia ser diferente, na medida em que o título estabelece os limites objetivos e também subjetivos da demanda executiva. Nesta qualidade enquadra-se o emitente e os endossantes de cheques ou notas promissórias, por exemplo. O dispositivo também se aplica aos títulos judiciais, atribuindo-se a legitimação ao réu contra quem foi reconhecida a existência de obrigação de fazer, não fazer, entregar ou pagar, estabelecida numa decisão judicial. 3. Legitimidade ordinária derivada (ou superveniente. Assim como se pode cogitar dela na transferência do direito objeto do título, também se pode cogitar na transmissão da obrigação, caracterizando a legitimidade passiva ordinária e derivada. Para tanto, a obrigação, há de ser transmissível. Caso não seja, apenas o sujeito originariamente legitimado deverá figurar no polo passivo da demanda executiva; ou em caso de morte deste, acontecerá a extinção das obrigações”. In: BASTOS, Antonio Adonias Aguiar. Do processo de execução (arts 771 a 805). In: CABRAL, Antonio do Passo; CRAMER, Ronaldo. Comentários ao novo Código de Processo Civil. Rio de Janeiro: Forense, 2016, p. 1106-1107.
76
III do artigo sob análise; apenas responsáveis (e não obrigados pela dívida)257, como
o fiador convencional258 e o responsável tributário.
No entanto, os artigos 789 a 796 do Código de Processo Civil, ao tratar da
responsabilidade patrimonial, instituto de direito processual259, que possibilita a
sujeição de um patrimônio às medidas executivas260, invoca em seu artigo 790
situações que têm por finalidade fazer com que o patrimônio de terceiros, não
devedores (art. 789), mas responsáveis patrimonialmente, sofram a excussão
patrimonial para solver o débito.
Esta sistemática adotada pelo Código decorre da distinção entre débito e
responsabilidade, teoria formulada pelo alemão Alois Brinz, que divide a obrigação em
débito e responsabilidade261, surgindo a visão dualista do vínculo obrigacional,
decomposto em dois elementos o débito (Schuld) e a responsabilidade (Haftung)262,
sendo aquele o dever de satisfazer a obrigação e este a destinação do patrimônio
para satisfazer o direito do credor quando do inadimplemento263.
O elemento dívida supõe a atividade espontânea do devedor em contraí-la,
que também pode descumpri-la, mas da responsabilidade não se pode esquivar264.
O que se pode depreender é que normalmente o patrimônio do devedor
responde pela sua dívida. No entanto, o ordenamento jurídico prevê situações nas
quais bens de pessoa estranha ao vínculo obrigacional responda por este, surgindo
daí a classificação em responsabilidade primária, na qual o devedor é o obrigado e o
responsável, ao mesmo tempo, e responsabilidade secundária, na qual a pessoa
responsável apenas responde com seu patrimônio, não se confundindo com a pessoa
257 THEODORO JUNIOR, Humberto. Partes e terceiros na execução – responsabilidade patrimonial. Revista de processo. v. 100, p. 139-165, out-dez 2000. Disponível em: <https://www.thomsonreuters.com.br>. Acesso em: 01 ago. 2017. 258 Sobre o fiador judicial, Paula Sarno Braga (et al) assim afirmam: “Embora o inciso IV não se refira ao fiador judicial, aquele que presta fiança em juízo, por termos nos autos, em favor de um dos sujeitos do processo, também ele é um legitimado superveniente. Neste sentido é o enunciado n. 445 do Fórum Permanente de Processualistas Civis: “O fiador judicial também pode ser sujeito passivo na execução”. In: Curso de direito processual civil: execução. Salvador: Juspodivm, 2017, p. 324. 259 BUZAID, Alfredo. Do concurso de credores no processo de execução. São Paulo: Saraiva, 1952, p. 19. 260 AMADEO, Rodolfo da Costa M. R; BRUSCHI, Gilberto Gomes; NOLASCO, Rita Dias. Fraudes patrimoniais e a desconsideração da personalidade jurídica no Código de Processo Civil de 2015. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2016, p. 38. 261 RODRIGUES FILHO, Otávio Joaquim. Desconsideração da personalidade jurídica e processo: de acordo com o Código de Processo Civil de 2015. São Paulo: Malheiros, 2016, p. 165-169. 262 BRAGA, Paula Sarno et al. Curso de direito processual civil: execução. Salvador: Juspodivm, 2017, p. 332. 263 AMADEO; BRUSCHI; NOLASCO. Op. cit., p. 38.. 264 RODRIGUES, Silvio. Direito civil: parte geral das obrigações. São Paulo: Saraiva, 2002, p. 5.
77
do devedor265. A responsabilidade é desvinculada da obrigação e alcançar terceiro
não devedor266.
A responsabilidade patrimonial primária (devedor e responsável) e
secundária (não devedor e responsável) se encontram nos artigos 779 e 790 do
Código de Processo Civil, respectivamente267.
No entanto, há situações que, apesar de constarem no dispositivo (art. 790)
em que se atribui responsabilidade secundária (bens de terceiros), na verdade se trata
de responsabilidade primária, como é o caso dos incisos III, V e VI268.
No caso de bens do devedor em poder de terceiro (art. 790, III), o artigo 845
do Código de Processo Civil diz que a penhora efetuar-se-á onde se encontrarem os
bens, ainda que sob a posse, detenção ou guarda de terceiros. Neste sentido, pode-
se afirmar que o bem continua no domínio do devedor, só que a posse ou detenção
do bem se encontra com terceiro 269-270, típica hipótese de responsabilidade
patrimonial primária271.
Igual é a situação dos incisos V (fraude à execução) e VI (fraude contra
credores) do artigo 790 do Código de Processo Civil, pois, no caso da fraude à
execução, os bens alienados a terceiros integrarão o patrimônio do devedor em razão
da ineficácia (art. 792, § 1º, do CPC) perante o exequente272, o que a distingue da
fraude contra credores em razão desta se situar no plano da validade. Em ambos os
casos os bens integrarão o patrimônio do executado273.
O que se pode inferir é que nas hipóteses dos incisos I, III, V e VI do artigo
790 a responsabilidade patrimonial é a primária, pois os bens atingidos pela execução
compõem o patrimônio do obrigado (Schuld), aquele que tem o dever de prestar e,
por isso, é também responsável (Haftung), não havendo que se falar em
265 AMADEO; BRUSCHI; NOLASCO. Op. cit., p. 39. 266 LIEBMAN, Enrico Tullio. Processo de execução. São Paulo: Saraiva, 1980, p. 95. 267 Neste sentido: AMADEO; BRUSCHI; NOLASCO. Op. cit., p. 55; NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Novo Código de Processo Civil. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2016, p. 413; BRAGA. Op. cit., p. 342. ARENHART, Sérgio Cruz; MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel. Novo Código de Processo Civil comentado. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2017, p. 875. 268 ASSIS, Araken de. Manual da Execução [livro eletrônico]. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2017. 269 BRAGA. Op. cit., p. 345. 270 Como o comodatário ou locatário. 271 NEVES. Op. cit., p. 413. 272 ASSIS. Op. cit. 273 Idem. No mesmo sentido: ARENHART, Sérgio Cruz; MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel. Novo Código de Processo Civil comentado. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2017, p. 875; BRAGA, Op. cit., p. 341.
78
responsabilidade de terceiros.
Nos casos de responsabilidade patrimonial secundária, esta se encontra
especificamente nos incisos II, IV e VII do artigo 790 do Código de Processo Civil274.
Excetuando a situação do cônjuge ou companheiro em que seus bens
próprios respondam pela dívida (art. 790, IV CPC) quando contraída em benefício da
família (Código Civil, artigos 1.643 e 1.644), na qual se considera como típico caso de
responsabilidade secundária275, as situações previstas nos incisos II (sócios, nos
termos da lei) e VII (do responsável, nos casos de desconsideração da personalidade
jurídica) suscitam divergências doutrinárias quanto à responsabilidade patrimonial ser
primária ou secundária, em especial pela responsabilidade prevista nos casos de
desconsideração da personalidade jurídica ter previsão em dispositivo legal novo, sem
correspondente no Código de 1973, conforme exposto a seguir.
Quanto à responsabilidade patrimonial dos sócios prevista no inciso II do
artigo 790 do Código de Processo Civil, que se dará de acordo com o direito material
correspondente, o sócio responderá com seu patrimônio pelas obrigações da
sociedade. Citam-se, como exemplos, os casos das sociedades personificadas em
nome coletivo, em que os sócios, pessoas naturais, respondem solidária e
ilimitadamente pelas obrigações sociais (art. 1.039 CC); a das sociedades em
comandita simples, em que o sócio comanditado, pessoa física, responde solidária e
ilimitadamente (art. 1.045 CC); das comandita por ações, em que o acionista diretor
responde de forma subsidiária, ilimitada e solidariamente pelas obrigações da
sociedade (art. 1.091 do CC e art. 282 da Lei nº 6.404/1976)276; das sociedades
274 ARENHART, Sérgio Cruz; MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel. Novo Código de Processo Civil comentado. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2017, p. 875. 275 IV: 6. Responsabilidade secundária. A meação do cônjuge ou do companheiro responde pela dívida do outro, quando contraída em benefício da família. Neste caso, ocorre a responsabilidade secundária, de que trata a norma sob comentário. 7. Embargos do devedor e de terceiro. O cônjuge ou companheiro do executado tem legitimidade para, em tese, para opor, alternativamente, tanto embargos do devedor como embargos de terceiro, dependendo da situação jurídica que ostente. O cônjuge pode opor embargos de devedor: a) quando tiver sido citado como codevedor e coexecutado; b) quando for responsável secundário (CPC 790 IV); quando alegar que o aval dado pelo outro não foi em benefício do casal; d) quando alegar a ilegitimidade da dívida. O cônjuge poderá alegar embargos de terceiro: a) mesmo quando for parte na execução, se quiser livrar sua meação (CPC 674 § 2º I); b) quando não for parte na execução; c) quando for simplesmente intimado da penhora, nos termos do CPC/1973 655 § 2º. (Destaques no original). Observação: O dispositivo correspondente ao CPC/1973 655 § 2º no atual Código é o artigo 835, § 3°. In: NERY JUNIOR, Nelson; NERY, Rosa Maria de Andrade. Código de processo civil comentado. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais: 2016, p. 1.771. 276 CÂMARA, Alexandre Freitas. O novo processo civil brasileiro. São Paulo: Atlas, 2017, p. 344.
79
cooperativas (art. 1.095, § 1º do CC)277; da sociedade simples (art. 977 do CC). Assim,
os sócios que têm responsabilidade ilimitada responderão sempre de forma
subsidiária (secundária)278, nos termos do artigo 1.024 do Código Civil e do art. 795
do Código de Processo Civil.
Por outro lado, há quem impute a responsabilidade patrimonial dos sócios
como primária, por entender que os sócios são codevedores solidários com a
sociedade279. No entanto, esta não parece ser a melhor interpretação, porque a
sociedade adquire direitos, assume obrigações e procede judicialmente (art. 1022 do
CC) em nome próprio, respondendo com todo seu patrimônio de forma primária (arts.
779 e 789 do CPC) e os sócios poderão responder, nos termos da lei, de forma
secundária, se os bens da sociedade não lhe cobrirem as dívidas, salvo cláusula de
responsabilidade solidária (art. 1.023 do CC).
Assim, constata-se que a responsabilidade patrimonial nos casos acima
citados não se funda em ilícito, fraude ou abuso, mas decorre da vontade dos sócios
em contratar sociedade na qual imputa tal responsabilidade por força de lei nos casos
de insucesso empresarial da sociedade280 e, efetuando o pagamento da dívida da
sociedade, o sócio terá direito de regresso contra esta, executando nos mesmos autos
do processo, conforme previsto no § 3º do artigo 795 do Código de Processo Civil.
Em relação à responsabilidade do responsável nos casos de desconsideração
da personalidade jurídica, a situação se mostra conturbada na definição quanto a ser
responsabilidade primária ou secundária, implicando a possibilidade, ou não, no
benefício de ordem e direito de regresso do sócio contra a sociedade (art. 795 do
CPC).
Pode se entender que é caso de responsabilidade primária porque o sócio, ao
desrespeitar a autonomia da sociedade como centro de decisões, é sancionado pela
desconsideração e atrai para sua esfera de responsabilidade pessoal as
277 ASSIS, Araken de. Processo civil brasileiro: parte geral: institutos fundamentais. v. 2. t. 1. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2016, p. 139-140. 278 No mesmo sentido: THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil. v. III. Rio de Janeiro: Forense, 2017, p. 319; BRAGA Op. cit., p. 358-364; ARENHART; MARINONI; MITIDIERO Op. cit., p. 876; SOUZA, André Pagani de. Desconsideração da personalidade jurídica: aspectos processuais. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2011, p. 87-92; BASTOS, Antonio Adonias Aguiar. Do processo de execução (arts. 771 a 805). In: CABRAL; CRAMER. .Op. cit., p. 1.139. 279 AMADEO; BRUSCHI; NOLASCO., Op. cit., p. 57; COSTA, Daniel Carnio. Responsabilidade patrimonial primária e secundária pelas dívidas da empresa. In: Bruschi, Gilberto Gomes (et al) (Coord.). Direito processual empresarial: estudos em homenagem ao professor Manoel de Queiroz Pereira Calças. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012, p. 176. 280 ASSIS. Ibidem, p. 140.
80
consequências deste tipo de conduta, respondendo por dívida própria por uma
atividade abusiva, tratando-se, assim, de responsabilidade societária281.
Também não é o fato de constar no rol do artigo 790 do CPC que
necessariamente se estará diante de casos de responsabilidade secundária, a
exemplo dos incisos I, III, V e VI do CPC, conforme acima demonstrado, em que se
reconhece como responsabilidade primária.
Por outro lado, considera-se como responsabilidade secundária sob a ótica
da concepção dualista da obrigação, pois no caso de desconsideração da
personalidade jurídica o sócio responderia subsidiariamente por débito alheio em
decorrência do pressuposto da insuficiência patrimonial da pessoa jurídica para que
haja a desconsideração282. Não por menos, se a obrigação já preexistia em relação à
pessoa jurídica e desvinculada dos sócios, a responsabilidade destes será subsidiária
e secundária, pois apenas responderá patrimonialmente283.
Uma possível solução pode ser dada através de uma interpretação
sistemática dos dispositivos legais sobre o tema, como se lê no artigo 795 do CPC
que os bens particulares dos sócios não respondem pelas dívidas da sociedade,
senão nos casos previstos em lei. Não há dificuldade em identificar que os sócios a
que se referem o caput e os três primeiros parágrafos do citado dispositivo são os
sócios constantes do artigo 790, inciso II, do CPC.
O parágrafo 4º do artigo 795 obriga a aplicação do incidente (133 a 137 do
CPC) para a desconsideração da personalidade jurídica. No caso da responsabilidade
281 BRAGA. Op. cit., p. 361-365; PARENTONI, Leonardo Netto. Desconsideração contemporânea da personalidade jurídica: dogmática e análise da jurisprudência brasileira (Jurimetria/Empirical Legal Studies). São Paulo: Quartier Latin, 2014, p. 57; SALOMÃO FILHO, Calixto. O novo Direito societário. São Paulo: Malheiros, 2015, p. 262; SOUZA, André Pagani de. Desconsideração da personalidade jurídica: aspectos processuais. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2011, p. 91-92. 282 OLIVEIRA, José Lamartine Corrêa de. A dupla crise da pessoa jurídica. São Paulo: Saraiva, 1979, p. 610-611. No mesmo sentido: AMADEO; BRUSCHI; NOLASCO. Op. cit., p. 144-146; BIANCHI, Pedro Henrique Torres. Desconsideração da personalidade jurídica no processo civil. São Paulo: Saraiva, 2011, p. 52 e 171; PATIÑO, Ana Paula Corrêa; VEZZONI, Marina. A desconsideração da personalidade jurídica à luz do novo Código de Processo Civil/2015. Revista de Processo. v. 76/2017, p. 219-236, abr-jun/2017. Disponível em: <https://www.thomsonreuters.com.br>. Acesso em: 01 ago. 2017; ANDRADE JUNIOR, Mozart Vilela. A obrigatoriedade (?) do incidente de desconsideração da personalidade jurídica. Revista dos Tribunais. v. 977, p. 393-415, mar/2017. Disponível em: <https://www.thomsonreuters.com.br>. Acesso em: 01 ago. 2017. THEODORO JUNIOR, Humberto. Partes e terceiro na execução – responsabilidade patrimonial. Revista de processo. v. 100, p. 139-165, out-dez 2000. Disponível em: <https://www.thomsonreuters.com.br>. Acesso em: 01 ago. 2017; COSTA, Daniel Carnio. Responsabilidade patrimonial primária e secundária pelas dívidas da empresa. In: BRUSCHI, Gilberto Gomes (et al) (Coord). Direito processual empresarial: estudos em homenagem ao professor Manoel de Queiroz Pereira Calças. Rio de Janeiro: Elsevier, 2012, p. 178; CÂMARA, Alexandre Freitas. O novo processo civil brasileiro. São Paulo: Atlas, 2017, p. 105. 283 RODRIGUES FILHO, Otávio Joaquim. Desconsideração da personalidade jurídica e processo: de acordo com o Código de Processo Civil de 2015. São Paulo: Malheiros, 2016, p. 174.
81
patrimonial através da desconsideração da personalidade jurídica, o artigo 790, inciso
VII, do CPC utiliza a expressão “responsável”, e não “sócio”.
Conjugando estes dispositivos, indaga-se então se, havendo
desconsideração da personalidade jurídica, o sócio que irá responder pelo débito terá
direito ao benefício de ordem e direito de regresso contra a sociedade
desconsiderada? A resposta a esta pergunta contribui para a identificação da
responsabilidade no caso da desconsideração da personalidade jurídica.
Sendo a desconsideração da personalidade uma sanção ao sócio decorrente
de uma atividade lesiva e que o beneficiário desta atividade é o próprio sócio, então
ele é o próprio devedor e não apenas responsável, não se podendo falar em benefício
de ordem e direito de regresso dele contra a pessoa jurídica.284-285.
Autorizar o sócio a se valer do benefício de ordem286 e do direito de regresso
seria como “premiar aquele que praticou a fraude e fez mau uso da pessoa jurídica”
287, penalizando a própria pessoa jurídica em benefício daquele que a prejudicou.
Não se mostra viável aplicação do benefício de ordem e do direito de regresso
do sócio no caso de desconsideração da personalidade jurídica, pois esta visa
também a proteção do instituto da pessoa jurídica bem como a tutela dos sócios que
não contribuíram para a atividade fraudulenta, em detrimento do sócio fraudador.
Contudo, mesmo nos casos de mera insuficiência patrimonial para aplicação
da desconsideração da personalidade jurídica (teoria menor) 288, o direito de regresso
do sócio poderá se mostrar inviável diante do caso concreto. Isto porque, mesmo nos
casos de aplicação da teoria menor para a desconsideração, poderá ter havido a
prática de uma atividade fraudulenta, mas que não será necessária sua prova pelo
credor, bastando a insuficiência patrimonial. Nesta hipótese, quando do exercício do
284 SALOMÃO FILHO. Ibidem, p. 262-263. 285 No mesmo sentido: CÂMARA JUNIOR, José Maria. Da reponsabilidade patrimonial. In: DANTAS, Bruno; DIDIER JR, Fredie; TALAMINI, Eduardo; WAMBIER, Teresa Arruda Alvim (Coord.). Breves comentários ao novo Código de Processo Civil. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2016, p. 2.030; BIANCHI. Op. cit., p. 171. No entanto, Bianchi reconhece a possibilidade do benefício de ordem. Já Humberto Theodoro Junior diz que o benefício de ordem não pode ser suscitado na hipótese de desconsideração, não fazendo menção quanto ao direito de regresso (THEODORO JUNIOR. Op. cit., p. 320). 286 DUARTE, Fernanda; IORIO FILHO, Rafael Mario; LOURENÇO, Haroldo. Incidente de desconsideração da personalidade jurídica e a Lei de Execução Fiscal. Revista Juris Poiesis. n. 18, p.119-129, jan-dez/2015, p. 122. 287 SOUZA. Op. cit., p. 91. 288 ANDRADE JUNIOR, Mozart Vilela. A obrigatoriedade (?) do incidente de desconsideração da personalidade jurídica. Revista dos Tribunais. v. 977, p. 393-415, mar/2017. Disponível em: <https://www.thomsonreuters.com.br>. Acesso em: 01 ago. 2017 e RODRIGUES FILHO. Op. cit., p. 176..
82
direito de regresso pelo sócio contra a sociedade, ao sócio bastará provar que
respondeu patrimonialmente por dívida da sociedade, ainda que tenha praticado uma
atividade fraudulenta. Caberia, então, à sociedade provar a atividade fraudulenta do
sócio em sua defesa para o não ressarcimento, invertendo-se toda a lógica do sistema
da desconsideração da personalidade jurídica.
Por tudo, a natureza da responsabilidade do responsável no caso de
desconsideração da personalidade jurídica se mostra como responsabilidade primária
pela sanção que lhe é imputada em decorrência da desconsideração da personalidade
fundada na atividade fraudulenta, restando inviável o exercício do benefício de
ordem289 e, consequentemente, de direito de regresso do sócio contra a sociedade,
4.1.1. O responsável tributário e o incidente de desconsideração da personalidade
jurídica
Com a introdução do incidente de desconsideração da personalidade jurídica
no sistema jurídico brasileiro calorosas discussões doutrinária e judicial290 ocorreram
a respeito da (im)possibilidade de sua aplicação no âmbito das execuções fiscais para
que administradores, diretores ou sócios possam ser responsabilizados
patrimonialmente pelas dívidas da sociedade. Assim, ainda que não seja o escopo
deste trabalho, neste ponto se faz necessária uma abordagem introdutória quanto à
responsabilidade tributária e, em seguida, apresentar os argumentos favoráveis e
contrários à aplicação do incidente para a referida imputação de responsabilidade com
possíveis conclusões.
Em Direito Tributário, “o sujeito passivo da obrigação tributária é a pessoa,
natural ou jurídica, a quem a lei atribui o dever de pagar, ou a responsabilidade pelo
289 Até porque não haverá bens a indicar e, sem insuficiência patrimonial, não há que se falar em desconsideração. BEDAQUE, José Roberto dos Santos. Sucessão de empresas e desconsideração da personalidade jurídica. In: PEREIRA, Guilherme Setoguti J. Pereira; YARSHEL, Flávio Luiz (Coords.). Processo Societário. São Paulo: Quartier Latin, 2012, p. 451. 290 Cabe registrar a admissão do Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas – IRDR (NUT: IRDR nº 4.03.1.000001) pelo Órgão Especial do Tribunal Regional Federal da 3ª Região, em 08/02/2017, tendo como processo paradigma o de nº 0017610-97.2016.4.03.0000 e com questão submetida a julgamento “o redirecionamento de execução de crédito tributário da pessoa jurídica para os sócios dar-se-ia nos próprios autos da execução fiscal ou em sede de incidente de desconsideração da personalidade jurídica”, por meio do qual foi determinada a suspensão dos Incidentes de Desconsideração da Personalidade Jurídica em trâmite na Justiça Federal da 3ª Região, o que demonstra a ampla repercussão do tema (BRASIL. Tribunal Regional Federal da 3ª Região. Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas – IRDR N. 4.03.1.000001). Disponível em: <http://www.trf3.jus.br/documentos/vipr/IRDR.pdf>. Acesso em: 18 ago. 2017.
83
pagamento, ou, ainda, o dever de adotar o comportamento legalmente indicado291”.
A partir desta definição, o artigo 121 do Código Tributário Nacional292
especifica como sujeitos passivos duas espécies: o contribuinte, quando, tenha
relação pessoal e direta com a situação que constitui o respectivo fator gerador; e o
responsável, quando, sem revestir a condição de contribuinte – “vale dizer, sem
relação pessoal e direta com o fato gerador do tributo293” – sua obrigação decorra de
disposição legal expressa. Assim, pode-se dizer que “a sujeição passiva se subdivide
em direta, referindo-se ao contribuinte, e indireta”, referindo-se ao responsável294.
No caso de sujeição indireta, esta divide-se em dois modelos: por
substituição295 e por transferência, esta última subdividindo-se em: responsabilidade
por sucessão (arts. 129 a 133 do CTN)296; responsabilidade por imputação legal ou
de terceiros (arts. 134 e 135 do CTN); e responsabilidade por infração (arts. 136 a 138
do CTN)297.
Para fins do objeto desta pesquisa, a questão que se coloca é em relação à
responsabilização dos diretores, gerentes ou representantes de pessoas jurídicas de
direito privado por atos praticados com excesso de poderes ou infração de lei, contrato
social ou estatutos (art. 135, III do CTN)298, , cuja responsabilidade é subjetiva,
291 MACHADO, Hugo de Brito. Teoria geral do direito tributário. São Paulo: Malheiros, 2015, p. 256. 292 Art. 121. Sujeito passivo da obrigação principal é a pessoa obrigada ao pagamento de tributo ou penalidade pecuniária. Parágrafo único. O sujeito passivo da obrigação principal diz-se: I - contribuinte, quando tenha relação pessoal e direta com a situação que constitua o respectivo fato gerador; II - responsável, quando, sem revestir a condição de contribuinte, sua obrigação decorra de disposição expressa de lei. 293 MACHADO. Op. cit., p. 258. 294 CARNEIRO, Cláudio. Curso de direito tributário. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2016, p. 542. 295 “Pode-se conceituar a substituição tributária como a modalidade de sujeição passiva indireta em que, por questões técnicas de arrecadação (praticidade), o legislador impõe o dever jurídico de adimplir o tributo a pessoa diversa daquela que praticou o evento (contribuinte) [...] No artigo 128, ao contrário das demais hipóteses de responsabilidade em que a materialidade foi definida exaustivamente, o CTN possibilitou, ao legislador ordinário, a criação de hipóteses de responsabilidade por substituição especificamente para determinados tributos” (QUEIROZ, Mary Elbe; SOUZA JUNIOR, Antonio Carlos F de. O incidente de desconsideração da personalidade jurídica no CPC-2015 e a responsabilidade tributária: primeiras impressões. In: CUNHA, Leonardo Carneiro da; SOUZA JUNIOR; Antonio Carlos F. de (Coords.). Novo cpc e o processo tributário. São Paulo: FocoFiscal, 2015, p. 258-259). 296 Na reponsabilidade por sucessão, um determinado evento sucessório descrito na hipótese normativa (morte, fusão, incorporação) cria um liame entre sucessor (terceiro) e a relação jurídica tributária originalmente constituída, transferindo para ele a obrigação de quitar o crédito tributário (QUEIROZ; SOUZA JUNIOR. Ibidem, p. 258). 297 Na responsabilidade por infração, um terceiro é ligado à obrigação tributária, bem assim às multas pelo descumprimento dos deveres instrumentais dela decorrentes, em face do cometimento de uma infração tipificada na legislação. Idem. 298 Art. 135. São pessoalmente responsáveis pelos créditos correspondentes a obrigações tributárias resultantes de atos praticados com excesso de poderes ou infração de lei, contrato social ou estatutos: I - as pessoas referidas no artigo anterior;
84
devendo ser comprovada a atitude dolosa, fraudulenta, culposa ou irregular para
imputação da responsabilidade. Logo, o inadimplemento de um tributo e a
responsabilização destes sujeitos depende da prova de alguma das hipóteses
previstas em lei, responsabilidade pessoal, por ato que constitua infração à lei ou
excesso de poderes na administração, nos termos do artigo 135, III, do CTN299-300.
Apurada a responsabilidade tributária do sócio-gerente ou diretor em prévio
procedimento administrativo com as respectivas garantias constitucionais e constando
seu nome na Certidão de Dívida Ativa, a execução fiscal poderá ser contra ele
proposta301, nos termos dos artigos 4º, inciso V, da Lei nº 6.830/1980 (Lei de Execução
Fiscal) e do 779, inciso VI, do Código de Processo Civil, cabendo-lhe questionar
qualquer aspecto da dívida através dos embargos à execução, com todos os
requisitos e consectários legais.
O problema que se põe é quando estes sujeitos não tenham participado do
processo administrativo e, consequentemente, não constem da Certidão de Dívida
Ativa, havendo posterior inclusão e redirecionamento302 da execução fiscal contra os
II - os mandatários, prepostos e empregados; III - os diretores, gerentes ou representantes de pessoas jurídicas de direito privado. 299 CUNHA, Leonardo Carneiro da. A Fazenda Pública em juízo. Rio de Janeiro: Forense, 2017, p. 419.. 300 Não se busca neste trabalho detalhar os aspectos materiais/fáticos que podem ensejar a responsabilidade. Para tanto, indica-se CARNEIRO, Cláudio. Curso de direito tributário. 6 ed. São Paulo: Saraiva, 2016, p. 572-598 Contudo, colaciona-se os temas consolidados pelo Superior Tribunal de Justiça sobre o tema: Súmula 430: O inadimplemento da obrigação tributária pela sociedade não gera, por si só, a responsabilidade solidária do sócio-gerente; Súmula 435: Presume-se dissolvida irregularmente a empresa que deixar de funcionar no seu domicílio fiscal, sem comunicação aos órgãos competentes, legitimando o redirecionamento da execução fiscal para o sócio-gerente; Tese firmada em Recurso Repetitivo REsp 1.104.900/ES (Tema 103): Se a execução foi ajuizada apenas contra a pessoa jurídica, mas o nome do sócio consta da CDA, a ele incumbe o ônus da prova de que não ficou caracterizada nenhuma das circunstâncias previstas no art. 135 do CTN, ou seja, não houve a prática de atos 'com excesso de poderes ou infração de lei, contrato social ou estatuto; Tese firmada em Recurso Repetitivo REsp 1.110925/SP (Tema 108): Não cabe exceção de pré-executividade em execução fiscal promovida contra sócio que figura como responsável na Certidão de Dívida Ativa - CDA. 301 CUNHA. Op. cit., p. 420. 302 Não constando no nome do responsável na Certidão de Dívida Ativa, a Fazenda Nacional seguirá contido na Portaria PGFN n. 180, de 25 de fevereiro de 2010, alterada pela Portaria PGFN n. 713, de 14 de outubro de 2011, que dispõe sobre a atuação da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional no tocante à responsabilização de codevedor, prevendo, dentre seus sete artigos, que: Art. 2º A inclusão do responsável solidário na Certidão de Dívida Ativa da União somente ocorrerá após a declaração fundamentada da autoridade competente da Secretaria da Receita Federal do Brasil (RFB) ou da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN) acerca da ocorrência de ao menos uma das quatro situações a seguir: I – excesso de poderes; II - infração à lei; III - infração ao contrato social ou estatuto; IV - dissolução irregular da pessoa jurídica. Parágrafo único. Na hipótese de dissolução irregular da pessoa jurídica, os sócios-gerentes e os terceiros não sócios com poderes de gerência à época da dissolução, bem como do fato gerador, deverão ser considerados responsáveis solidários. Parágrafo único. Na hipótese de dissolução irregular da pessoa jurídica, deverão ser considerados responsáveis solidários: I - os sócios-gerentes e os terceiros não sócios com poderes de gerência à
85
diretores, gerentes ou representantes de pessoas jurídicas, situação em que se
debate se este redirecionamento prescinde ou não do novel incidente de
desconsideração da personalidade jurídica.
Mesmo reconhecendo que a hipótese prevista no artigo 135, III, do CTN difere
da teoria da desconsideração da personalidade jurídica, mas que ao fim produz os
mesmos efeitos303, há posição doutrinária no sentido que a execução fiscal não pode
ser simplesmente redirecionada contra quem se imputa a responsabilidade, havendo
que ser instaurado o referido incidente de desconsideração para que se assegure o
contraditório antes de inserir o responsável tributário como parte no processo de
execução304, e ainda estendendo sua aplicação a todas aquelas situações em que o
sócio possa responder por dívidas da sociedade305.
Constata-se que o principal argumento dos autores que sustentam a aplicação
do incidente de desconsideração da personalidade jurídica nas hipóteses de
responsabilidade tributária é o respeito ao princípio do contraditório, uma vez que,
após ajuizada a execução fiscal contra a sociedade, e não sendo satisfeito o crédito,
a imputação de responsabilidade a terceiros e o redirecionamento da execução após
a constituição do crédito tributário não estaria mais de acordo com o novo sistema
processual constitucional306, por violar os princípios constitucionais do devido
época da dissolução irregular; II - os sócios-gerentes e os terceiros não sócios com poderes de gerência à época da dissolução irregular, bem como os à época do fato gerador, quando comprovado que a saída destes da pessoa jurídica é fraudulenta. [...] Art. 5º Ajuizada a execução fiscal e não constando da Certidão de Dívida Ativa da União o responsável solidário, o Procurador da Fazenda Nacional responsável, munido da documentação comprobatória, deverá proceder à sua inclusão na referida certidão. BRASIL. Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional. Portaria PGFN Nº 180, de 25 fevereiro DE 2010. Disponível em: <http://www.pgfn.gov.br/noticias/Portaria%20PGFN%20180-2010.pdf>. Acesso em: 10 out. 2017. Ainda, quanto à hipótese de dissolução irregular, deve-se observar a Portaria PGFN n. 948, de 15 de setembro de 2017, que regulamenta, no âmbito da Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional, o Procedimento Administrativo de Reconhecimento de Responsabilidade – PARR, prevendo em seu artigo 1° que este procedimento é para “apuração de responsabilidade de terceiros pela prática de infração à lei consistente na dissolução irregular da pessoa jurídica devedora de créditos inscritos em dívida ativa administrados pela PGFN”. BRASIL. Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional. PGFN n. 948, de 15 de setembro de 2017. Disponível em: < http://normas.receita.fazenda.gov.br/sijut2consulta/link.action?idAto=86309&visao=original>. Acesso em: 10 out. 2017. 303 No mesmo sentido, por todos: QUEIROZ. Op. cit., p. 269. 304 CUNHA. Op. cit., p. 423. 305 Idem. 306 Vários autores neste sentido: ALBUQUERQUE SÁ, Renata Gomes de. A aplicação do incidente de desconsideração da personalidade jurídica no processo de execução fiscal. In: BOMFIM, Gilson; DUARTE, Fernanda; MURAYAMA, Janssen (Orgs.). A LEF e o novo CPC: reflexões e tendências: o que ficou e o que mudará. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2016, p. 251-260; ASSIS, Araken de. Manual da Execução [livro eletrônico]. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2017; BONITO, Raphael Frattari. A Aplicação do incidente de desconsideração da personalidade jurídica na execução fiscal:
86
processo legal, do contraditório e da ampla defesa, bem como pela subsidiariedade e
supletiva do Código de Processo Civil em face da Lei de Execução Fiscal.
Noutro sentido, mostra-se inviável a aplicação do incidente de
desconsideração nas execuções fiscais primeiramente porque o artigo 135 do Código
Tributário Nacional não tem a finalidade de desconsiderar a personalidade jurídica307-
defesa do contraditório e novo Código de Processo Civil. In: BONITO, Rafhael Frattari (et al) (Coords.). Os impactos no novo CPC sobre o processo judicial tributário. Belo Horizonte: Editora D´Placido, 2016, p. 103-125; BORZINO, Caratina de Lima e Silva. O incidente de desconsideração da personalidade jurídica e a sua aplicação ao processo de execução fiscal de crédito tributário. In: BOMFIM, Gilson; DUARTE, Fernanda; MURAYAMA, Janssen (Orgs.). A LEF e o novo CPC: reflexões e tendências: o que ficou e o que mudará. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2016, p. 173-184; BUENO, Cassio Scarpinella. Da intervenção de terceiros. In: BUENO, Cassio Scarpinella (Coord). Comentários ao Código de Processo Civil. São Paulo: Saraiva, 2017, p. 573; CAVALCANTE; Denise Lucena; GRUPENMACHER, Betina Treiger. A responsabilidade tributária e o incidente de desconsideração da personalidade jurídica. In. Novo CPC e o processo tributário. São Paulo: FocoFiscal, 2015, p. 33-50; CORDEIRO, Gustavo Fernandes. Aspectos controversos do novo Código de Processo Civil e a Lei de Execuções Fiscais. In: BONITO, Rafhael Frattari (et al) (Coords.). Os impactos no novo CPC sobre o processo judicial tributário. Belo Horizonte: Editora D´Placido, 2016, p. 319-336; COUTO, Monica Bonetti; Teixeira, Laís Santana da R. S. A legitimidade passiva na execução fiscal, a admissibilidade do redirecionamento da ação e o novo Código de Processo Civil. In: BOMFIM, Gilson; DUARTE, Fernanda; MURAYAMA, Janssen (Orgs.). A LEF e o novo CPC: reflexões e tendências: o que ficou e o que mudará. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2016op. cit., p. 185-194; FERREIRA FILHO, Marcílio da Silva. A aplicação subsidiária e supletiva do novo CPC ao processo tributário. In: BUENO, Cassio Scarpinella; RODRIGUES, Marco Antonio. Processo tributário. Salvador: Juspodivm, 2017, p. 315-329; LORENZONI, Brunno; ROCHA, Sergio Andre. O incidente de desconsideração da personalidade jurídica e sua aplicação no processo de execução fiscal. In: BOMFIM, Gilson; DUARTE, Fernanda; MURAYAMA, Janssen (Orgs.). A LEF e o novo CPC: reflexões e tendências: o que ficou e o que mudará. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2016, p. 157-172; MAURÍCIO JUNIOR, Alceu; MORAES, Francisco de Assis Basílio de. A desconsideração da personalidade jurídica na execução fiscal conforme o novo Código de Processo Civil. In: BOMFIM, Gilson; DUARTE, Fernanda; MURAYAMA, Janssen (Orgs.). A LEF e o novo CPC: reflexões e tendências: o que ficou e o que mudará. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2016op. cit., p. 209-234; PAES, Victor de Lina; RIVITTI, Maria Augusta da Matta. Do incidente de desconsideração da personalidade jurídica e ônus da prova na área tributária. In: BUENO, Cassio Scarpinella; RODRIGUES, Marco Antonio. Processo tributário. Salvador: Juspodivm, 2017op. cit., p. 331-350; PELUZO, Renato; TERCIOTTI, Maurício. O incidente de desconsideração da personalidade jurídica e o impacto no processo de execução fiscal. In: BOMFIMGilson; DUARTE, Fernanda; MURAYAMA, Janssen (Orgs.). A LEF e o novo CPC: reflexões e tendências: o que ficou e o que mudará. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2016, p. 195-208; PENCAK, Nina. Breves considerações sobre o incidente de desconsideração da personalidade jurídica e sua aplicação às execuções fiscais. In: BOMFIM, Gilson; DUARTE, Fernanda; MURAYAMA, Janssen (Orgs.). A LEF e o novo CPC: reflexões e tendências: o que ficou e o que mudará. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2016, p. 235-250; QUEIROZ, Mary Elbe; SOUZA JUNIOR, Antonio Carlos F de. O incidente de desconsideração da personalidade jurídica no CPC-2015 e a responsabilidade tributária: primeiras impressões. In: CUNHA, Leonardo Carneiro da; SOUZA JUNIOR; Antonio Carlos F. de (Coords). Novo CPC e o processo tributário. São Paulo: Foco Fiscal, 2015, p. 255-278; SILVA, Ronaldo Campos e. O incidente de desconsideração da personalidade jurídica e o redirecionamento da execução fiscal. In: BUENO, Cassio Scarpinella; RODRIGUES, Marco Antonio. Processo tributário. Salvador: Juspodivm, 2017, p. 657-671; ZICA, Viviane Angélica Ferreira. O incidente de desconsideração da pessoa jurídica e a responsabilidade de terceiros por débitos das pessoas jurídicas. In: BONITO, Rafhael Frattari (et al) (Coords). Os impactos no novo CPC sobre o processo judicial tributário. Belo Horizonte: Editora D´Placido, 2016, p. 233-262. 307 TÔRRES, Heleno Taveira. Regime tributário da interposição de pessoas e da desconsideração da personalidade jurídica: os elementos do art. 135, II e III, do CTN. In: QUEIROZ, Mary Elbe; TÔRRES, Heleno Taveira (Coords). Desconsideração da personalidade jurídica em matéria tributária. São Paulo: Quartier Latin, 2005, p. 59.
87
308, pois este dispositivo legal imputa responsabilidade pessoal a determinados
sujeitos por atos praticados com excesso de poderes, infração à lei, contrato social ou
estatutos309-310.
Ainda, o artigo 135 do CTN traz a expressão “pessoalmente responsáveis”,
significando que a responsabilidade do contribuinte originário é afastada, restando
apenas o responsável tributário com o dever de pagar o tributo311-312.
308 Escola da Magistratura Regional Federal 2ª Região – Fórum de Execuções Fiscais. Enunciado n. 6. A responsabilidade tributária regulada no art. 135 do CTN não constitui hipótese de desconsideração da personalidade jurídica, não se submetendo ao incidente previsto no art. 133 do CPC/2015. (FOREXEC/2015). In: BRASIL. Escola da Magistratura Regional Federal 2ª Região. Fórum de Execuções Fiscais (FOREXEC/2015). Enunciado 06. Disponível em: < http://emarf.trf2.jus.br/site/documentos/enunciadosforexec2015.pdf>. Acesso em: 15 set. 2017. Outros enunciados no mesmo sentido: Associação dos Juízes Federais do Brasil – Fórum Nacional de Execução Fiscal: Enunciado 20. O incidente de desconsideração da personalidade jurídica, previsto no art. 133 do NCPC, não se aplica aos casos em que há pedido de inclusão de terceiros no polo passivo da execução fiscal de créditos tributários, com fundamento no art. 135 do CTN, desde que configurada a dissolução irregular da executada, nos termos da súmula 435 do STJ (Aprovado no II FONEF) e Enunciado 21. O incidente de desconsideração da personalidade jurídica, previsto no art. 133 do NCPC, é aplicável aos casos em que há pedido de redirecionamento da execução fiscal da dívida ativa, com fundamento na configuração de grupo econômico, ou seja, nas hipóteses do art. 50 do CC (Aprovado no II FONEF). In: BRASIL. Associação dos Juízes Federais do Brasil. Fórum Nacional de Execução Fiscal. Disponível em: < http://www.ajufe.org.br/images/compilados/enunciados/FONEF-enunciados.pdf>. Acesso em: 15 set. 2017. 309 TÔRRES. Op. Cit., p. 64. 310 No mesmo sentido: BALEEIRO, Aliomar. Direito Tributário Brasileiro. Rio de Janeiro: Forense, 2009, p. 755; BOMFIM, Gilson Pacheco. O redirecionamento da execução fiscal e o incidente de desconsideração da personalidade jurídica previsto no novo Código de Processo Civil. In: BOMFIM, Gilson; DUARTE, Fernanda; MURAYAMA Janssen (Orgs.). A LEF e o novo CPC: reflexões e tendências: o que ficou e o que mudará. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2016, p. 135; DELGADO, José Augusto. A desconsideração da personalidade jurídica e os seus reflexos na ordem tributária. In: QUEIROZ, Mary Elbe; TÔRRES, Heleno Taveira (Coords). Desconsideração da personalidade jurídica em matéria tributária. São Paulo: Quartier Latin, 2005, p. 192-193; FERRAGUT, Maria Rita. Responsabilidade tributária e o Código Civil de 2002. São Paulo: Noeses, 2005, p. 118-119; HENNING, Bruno Filartiga; PEREIRA; Jane Reis Gonçalves. O novo Código de Processo Civil, a execução fiscal e o incidente de desconsideração da personalidade jurídica. In. BOMFIM, Gilson; DUARTE, Fernanda; MURAYAMA, Janssen (Orgs.). A LEF e o novo CPC: reflexões e tendências: o que ficou e o que mudará. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2016; MACHADO JUNIOR, Dario Ribeiro. O incidente de desconsideração da personalidade jurídica previsto no CPC/2015 e sua aplicação no âmbito da execução fiscal. In: BUENO, Cassio Scarpinella; RODRIGUES, Marco Antonio. Processo tributário. Salvador: Juspodivm, 2017. p. 183; MORAES, Luiza Rangel de Moraes; WALD, Arnaldo. Desconsideração da personalidade jurídica e seus efeitos tributários. In: QUEIROZ, Mary Elbe; TÔRRES, Heleno Taveira (Coords). Desconsideração da personalidade jurídica em matéria tributária. São Paulo: Quartier Latin, 2005, p. 255; PILLAR, Fernanda Machado. O incidente de desconsideração da personalidade jurídica e a execução fiscal. In: BUENO, Cassio Scarpinella; RODRIGUES, Marco Antonio. Processo tributário. Salvador: Juspodivm, 2017. p. 238-241; RODRIGUES, Marco Antonio. A Fazenda Pública no Processo Civil [Livro eletrônico]. São Paulo: Atlas, 2016. 311 BECHO, Renato Lopes. Artigos 121 a 137. In: LACOMBE, Rodrigo Santos Masset; PEIXOTO, Marcelo Magalhães. Comentários ao Código Tributário Nacional. São Paulo: MP Ed., 2008. p. 1.044. 312 Hugo de Brito Machado, mesmo entendendo se tratar de responsabilidade solidária, faz importante apontamento sobre o tema, que pela sua extensão será aqui transcrito: “Destaca-se que a simples condição de sócio não implica responsabilidade tributária. O que gera a responsabilidade, nos termos do art. 135, III, do CTN, é a condição de administrador de bens alheios. Por isto a lei fala diretores, gerentes ou representantes. Não em sócios. Assim, se o sócio não é diretor, nem gerente, isto é, se
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Pode-se constatar que nestes casos apontados os diretores e gerentes são
responsabilizados diretamente pela norma tributária, não sendo necessária a retirada
do manto da personalidade jurídica para se chegar aos sócios, pois só será necessária
quando de outra forma não puder responsabilizar diretamente o sócio313.
Outros argumentos de caráter processual apontam para a não aplicação do
incidente às execuções fiscais como, por exemplo, ao elencar terceiros responsáveis
patrimoniais por débito alheio, o CPC relacionou o sócio e o responsável nos casos
de desconsideração da personalidade jurídica em dispositivos legais distintos (art.
795, incisos II e VII, respectivamente), mas quando o mesmo Código de Processo
Civil fez referência ao responsável tributário, o inseriu no artigo 779, inciso VI, como
legitimado passivo direto, do mesmo modo como o faz a Lei de Execução Fiscal, em
seu artigo 4º, inciso V. Ou seja, a responsabilidade do responsável tributário
independe de tipo societário (ilimitada ou limitada), pois lhe é atribuída diretamente
por força da lei tributária.
Tendo em vista o caráter da especialidade da Lei de Execução Fiscal e de
nela haver previsão de aplicação subsidiária do Código de Processo Civil (art. 1º),
poderia se cogitar a aplicação do incidente. Mas o fato de se entender que a
responsabilidade no caso aqui versado não é de desconsideração, afasta-se também
sua aplicação.
Quisesse também haver a aplicação obrigatória do incidente, mesmo nos
casos em que não se trata de desconsideração da personalidade jurídica, e a fim de
sanar qualquer controvérsia, teria o Código feito expressamente esta determinação
em relação aos executivos fiscais, como se deu no caso de aplicação no procedimento
não pratica atos de administração da sociedade, responsabilidade não tem pelos débitos tributários desta [...] Também não basta ser diretor, ou gerente, ou representante. É preciso que o débito tributário em questão resulte de ato praticado com excesso de poderes ou infração de lei, contrato social ou estatutos [...] As leis societárias, mesmo quando limitam a responsabilidade dos sócios, atribuem aos administradores responsabilidade pelos atos praticados com violação da lei, com contrato ou estatuto. E o próprio art. 135, III, do CTN estabelece que os diretores, gerentes ou representantes de pessoas jurídicas de direito privado respondem pessoalmente pelos créditos correspondentes a obrigações tributárias resultantes de atos praticados com excesso de poderes ou infração de lei, contrato social ou estatutos [...] Assim, as obrigações tributárias decorrentes de atos praticados com excesso de poderes ou infração de lei, contrato social ou estatutos nascem com mais de um sujeito passivo, sendo um contribuinte, conforme definição do art. 121, I, e um ou mais responsáveis, conforme definição do art. 121, II, do CTN” (MACHADO, Hugo de Brito. Curso de direito tributário. São Paulo: Malheiros, 2014, p. 164-166). No mesmo sentido da solidariedade, CARNEIRO, Cláudio. Curso de direito tributário. 6 ed. São Paulo: Saraiva, 2016, p. 573-579. 313 DUARTE; IORIO FILHO; LOURENÇO. Op. cit., p. 122.
89
dos Juizados Especiais314, nos termos do artigo 1.062 do CPC315.
Ainda que não o fizesse expressamente, algo no sentido de aplicação do
incidente nos executivos fiscais poderia ter sido extraído dos debates da comissão de
juristas responsável pela elaboração de anteprojeto de Código de Processo Civil, o
que não ocorreu. Ao contrário, conforme exposto na parte do trabalho que analisou o
processo legislativo, houve a proposta de Emenda nº 208, de autoria do senador
Cícero Lucena, para que o incidente de desconsideração fosse estendido também aos
casos de responsabilidade diretas dos sócios e administradores, sendo a emenda
rejeitada no Relatório Geral Substitutivo Parecer nº 1.624, de 2010, elaborado pelo
senador Valter Pereira, sob o argumento de que o disposto, tal como redigido, era
suficientemente claro a respeito de sua incidência, sempre a depender da previsão de
direito material sobre a desconsideração.
Também não há na Lei de Execução Fiscal (LEF) previsão quanto à
desconsideração para redirecionamento da execução. Contudo, em seu o art. 16,
parágrafo 3º, veda a apresentação de reconvenção, bem como a criação de incidentes
processuais, devendo tais matérias serem analisadas quando do julgamento dos
embargos316.
Ademais, a discussão da dívida ativa da Fazenda Pública somente é permitida
na própria execução, na forma da Lei de Execução Fiscal, salvo nas hipóteses de
mandado de segurança, ação de repetição do indébito ou ação anulatória do ato
declarativo da dívida, esta última precedida do depósito preparatório do valor do
débito, monetariamente corrigido e acrescido dos juros e multa de mora e demais
encargos317, nos termos do artigo 38 da referida Lei.
Isso porque a discussão da responsabilidade tributária através do incidente
de desconsideração da personalidade jurídica acarretaria a suspensão da execução,
por força do § 3º do artigo 134 do CPC, efeito somente possível nos executivos fiscais
com a garantia do Juízo (arts. 9º, 16 e 38 da LEF) para oferecimentos dos embargos,
314 BERTAGNOLLI, Ilana; BOMFIM, Gilson Pacheco. Da não aplicação do incidente de desconsideração da personalidade jurídica aos casos de responsabilização tributária por ato ilícito. Revista de Direito Privado. v. 78/2017, p. 169 – 188, Jun / 2017. Disponível em: <https://www.thomsonreuters.com.br>. Acesso em: 01 ago. 2017. 315 Art. 1.062. O incidente de desconsideração da personalidade jurídica aplica-se ao processo de competência dos juizados especiais. 316 DUARTE; IORIO FILHO; LOURENÇO. Op. cit., p. 127. 317 Idem.
90
postergando de forma indevida a cobrança do crédito fiscal318-319.
Diante do que foi exposto, constata-se que (i) a responsabilidade tributária
não se confunde com a desconsideração da personalidade jurídica, sendo aquela
imputada de forma direta ao sujeito; (ii) a execução fiscal tem regramento próprio, não
havendo previsão para aplicação do incidente e a sua gênese aponta neste sentido;
(iii) a aplicação do incidente causaria suspensão da execução fiscal de forma não
prevista em lei e (iv) as discussões envolvendo o crédito tributário inscrito em dívida
ativa se dão via embargos à execução fiscal, mandado de segurança, ação de
repetição de indébito ou ação anulatória, importando na inaplicabilidade do incidente
de desconsideração da personalidade jurídica aos executivos fiscais.
Neste sentido, e não constando o responsável na Certidão de Dívida Ativa, a
Fazenda Pública deverá, como ocorre com a Fazenda Nacional através da Portaria
PGFN Nº 180, de 25 fevereiro de 2010, requerer a inclusão do responsável no polo
passivo da execução fiscal de forma fundamentada, provando a situação ensejadora
da responsabilidade (arts. 2º e 5° da Portaria) e, como forma de garantir os direitos
fundamentais do contraditório e ampla defesa, citar o responsável, possibilitando-lhe
a oferta de embargos, após garantida a execução320 ou, no caso de dissolução
irregular, aplicar o Procedimento Administrativo de Reconhecimento de
Responsabilidade – PARR previsto na Portaria PGFN Nº 948, de 15 de setembro de
2017, em que prevê a notificação do terceiro para apresentar impugnação contra a
imputação da responsabilidade e eventual recurso, garantindo o contraditório em fase
administrativa.
318 Neste sentido “Não seria aplicável, no presente caso, o incidente de desconsideração da personalidade jurídica, na forma dos arts. 133 a 137 do CPC/2015, uma vez que o redirecionamento da execução não estaria sendo requerido com fundamento no art. 50, do Código Civil, que prevê a extensão dos efeitos das obrigações ao patrimônio dos sócios, na hipótese de utilização abusiva da personalidade jurídica, e sim em virtude da responsabilidade solidária decorrente da conduta contrária à lei praticada pelos sócios-gerentes, ao promoverem a dissolução irregular da sociedade. Observe-se, ainda que o incidente seria incompatível com o rito previsto na Lei 6.830/80, uma vez que possibilitaria a suspensão do processo de execução e a dilação probatória sem a prévia garantia do Juízo” (BRASIL. Tribunal Regional Federal da 2ª Região. Agravo de Instrumento n. 0009032-41.2017.4.02.0000. Agravante: ANP - Agencia Nacional de Petróleo, Gás natural e Biocombustiveis. Agravado: Posto de Gasolina Liquinho da Primavera Ltda. Relator: Aluisio Gonçalves de Castro Mendes. Rio de Janeiro, 22 de agosto de 2017). Disponível em: <http://www10.trf2.jus.br/consultas>. Acesso em: 05 set. 2017. 319 Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados. Enunciado n. 53. O redirecionamento da execução fiscal para o sócio-gerente prescinde do incidente de desconsideração da personalidade jurídica previsto no art. 133 do CPC/2015. (ENFAM/2015). In: BRASIL. Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados. Enunciado 53. Disponível em: <http://www.enfam.jus.br/wp-content/uploads/2015/09/ENUNCIADOS-VERS%C3%83O-DEFINITIVA-.pdf>. Acesso em: 15 set. 2017. 320 RODRIGUES. Op. cit.
91
4.2. A natureza do incidente de desconsideração da personalidade jurídica
4.2.1 O incidente de desconsideração da personalidade jurídica como intervenção de
terceiros
Tendo em vista que, costumeiramente, a desconsideração da personalidade
jurídica se dá em processos de execução, parte-se desta premissa para a abordagem
a seguir, ainda que haja previsão de se dar no processo de conhecimento, conforme
dispõe o artigo 134 do CPC.
Constando o incidente de desconsideração no Código de Processo Civil como
uma espécie de intervenção de terceiros, para esta identificação necessária se faz
compreender a conceituação de parte e terceiro.
A ideia de parte se extra da própria relação processual, como aquela que
demanda em próprio nome a atuação da lei e contra quem essa atuação é
demandada321.
No processo de execução forçada, parte é aquela busca da realização de um
direito subjetivo (credor), e aquela em cujo patrimônio deverá recair a atividade
jurisdicional executiva (devedor), cujos sujeitos estarão previamente legitimados de
acordo com o título executivo322 (judicial ou extrajudicial), requisito indispensável e
apto a embasar a execução323.
Terceiros, na execução ou não, são aqueles que não são partes porque nada
demandaram em juízo ou em nada foram demandados judicialmente324-325.
321 CHIOVENDA, Giuseppe. Instituições de direito processual civil. Campinas: Bookseller, 2002, v II, p. 278. 322 Não se desconhece a legitimação derivada ou superveniente ordinária ou extraordinária, conforme algumas situações tratadas no item anterior, inclusive. Neste sentido: “Em princípio, o título identifica as partes na ação executória, localizando os figurantes da relação jurídica material e, correlatamente, os titulares da capacidade de conduzir o processo ativa e passivamente. A execução tem lugar, portanto, somente a favor e contra as pessoas designadas no título [...] Consoante determinado alvitre, a coincidência das posições subjetivas, entre o título e a relação processual, revela-se virtual. Com efeito, existem outras pessoas sujeitas à eficácia do título, haja vista a transmissão do crédito, causa
mortis ou por negócio inter vivos, ou por força de lei, a exemplo do sócio (art. 790, II) (ASSIS, Araken
de. Manual da Execução [livro eletrônico]. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2017). 323 THEODORO JUNIOR, Humberto. Partes e terceiros na execução – responsabilidade patrimonial. Revista de processo. v. 100, p. 139-165, out-dez 2000. Disponível em: <https://www.thomsonreuters.com.br>. Acesso em: 01 ago. 2017. 324 BUENO, Cassio Scarpinella. Da intervenção de terceiros. In: BUENO, Cassio Scarpinella (Coord). Comentários ao Código de Processo Civil. São Paulo: Saraiva, 2017, p. 526. 325 Do mesmo autor: “Nessas condições, o conceito de parte é formulado em contraposição ao terceiro: é-se parte e, pois, não se é terceiro. E vice-versa. E parte é quem pede e em face de quem se pede a prestação da tutela jurisdicional. Terceiro é todo aquele que não pede ou em face de quem não se pede
92
Neste sentido, tendo o exequente um título executivo contra uma sociedade
cuja responsabilidade patrimonial dos sócios não seja subsidiária solidária ou
subsidiária por forca de lei em que também os referidos sócios não constem do título,
resta claro que o exequente não poderá pedir a tutela jurisdicional contra estes, pois
não haverá título executivo hábil para responsabilizá-los, portanto, estranhos ao título
executivo. Contudo, na hipótese de se desconsiderar a personalidade jurídica, o
exequente deverá provocar a intervenção destes terceiros no processo executivo
através do incidente de desconsideração da personalidade jurídica, ampliando
subjetivamente326 a demanda executiva após a decisão desconsiderante, legitimando-
os como partes na execução, sujeitos ao contraditório perante o juiz327, passando a
responder patrimonialmente pelo débito, sendo, então, acertada a inclusão do referido
instituto de desconsideração como uma das formas de intervenção de terceiro no
processo civil.
Isto porque no caso do incidente de desconsideração trata-se de intervenção
de terceiro provocada328, que transforma o sócio em parte no processo de execução
por vontade do exequente, ficando sujeito aos atos executivos329.
Ressalta-se que inicialmente não foi esta a posição adotada em sua gênese.
No anteprojeto do atual Código de Processo Civil elaborado pela comissão de juristas,
no Projeto de Lei do Senado (PLS 166/2010), o substitutivo do Senado (Parecer nº
1.624/2010), o incidente foi apresentado na Parte Geral do Código, Título IV (Das
Partes e dos Procuradores), Capítulo II (Do Incidente de Desconsideração da
Personalidade Jurídica).
Aprovado e encaminhado ao Senado Federal, e apresentadas as emendas no
a prestação da tutela jurisdicional” (BUENO, Cassio Scarpinella. Amicus curiae no processo civil brasileiro: um terceiro enigmático. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 344-345 326 CÂMARA, Alexandre Freitas. Do incidente de desconsideração da personalidade jurídica. In: Breves comentários ao novo Código de Processo Civil. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2016, p. 478. No mesmo sentido: REQUIÃO, Maurício. O incidente de desconsideração da personalidade jurídica: o novo Código de Processo Civil entre a garantia e a efetividade. Revista de Direito Civil Contemporâneo. v. 10, p. 31-50, jan-mar/2017. Disponível em: <https://www.thomsonreuters.com.br>. Acesso em: 01 ago. 2017. 327 DINAMARCO, Candido Rangel; LOPES, Bruno Vasconcelos Carrilho. Teoria geral do novo Processo Civil. São Paulo: Malheiros, 2016, p. 152. 328 Trata-se de intervenção provocada, pois o terceiro é trazido a Juízo através de citação promovida pela parte primitiva (denunciação da lide, chamamento ao processo e desconsideração da personalidade jurídica), ou de intervenção espontânea, quando a iniciativa é do terceiro, como geralmente ocorre na assistência, no recurso de terceiro e, às vezes, na intervenção do amicus curiae. Por todos: THEODORO JUNIOR. Humberto. Curso de direito processual civil: teoria geral do direito civil, processo de conhecimento e procedimento comum. Rio de Janeiro: Forense, 2016, v. 1. p. 357. 329 BUENO. Op. cit., p. 572.
93
sentido de realocá-lo como intervenção de terceiros, o relatório parcial do deputado
Efraim Filho manteve o incidente como fora apresentado, sob o argumento de que o
incidente não poderia ser aplicado ao rito dos Juizados Especiais, por expressa
vedação legal no artigo 10 da Lei nº 9.099/1995330.
No entanto, acatando a sugestão explanada por Leonardo Carneiro da Cunha,
o relatório final como substitutivo nº 03, apresentado pelo relator-geral, o deputado
Sérgio Barradas Carneiro, alocou o incidente como intervenção de terceiros, tendo em
vista que o instituto “gera a ampliação subjetiva do processo, o incidente é,
rigorosamente, um caso de intervenção de terceiro. Por isso, seu regramento merece
ser deslocado para esse capítulo do Código”331.
Com efeito, consignado que os sócios não constam do título executivo e que
o exequente pretende responsabilizar patrimonialmente um terceiro estranho à
demanda executiva, de modo a ampliá-la subjetivamente, o legislador agiu
acertadamente ao inserir o incidente de desconsideração da personalidade jurídica
como uma das espécies de intervenção de terceiros.
4.2.2 O incidente de desconsideração da personalidade jurídica como demanda
A identificação de uma demanda “é de grande importância, especialmente na
verificação da existência de coisa julgada anterior ou da litispendência”332.
A demanda é o ato de pedir a tutela jurisdicional, tendo por conteúdo uma
pretensão de quem o realiza, exigindo que o interesse alheio se subordine ao
interesse próprio333.
São basicamente três os elementos que identificam a demanda: as partes, o
pedido e a causa de pedir334.
Entende-se por parte o sujeito em contraditório perante o juiz. Já autor
330 BRASIL. Câmara dos Deputados. Relatório parcial do Deputado Efraim Filho, de 09.08.2012. Disponível em: <http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1104516&filename=PRP+5+PL602505+%3D%3E+PL+6025/2005>. Acesso em: 5 jun. 2017. 331 BRASIL. Câmara dos Deputados. Relatório-Geral Substitutivo n. 03, de relatoria do Deputado Sérgio Carneiro Barradas, de 07.11.2012. Disponível em: < http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1037367&filename=SBT+3+PL602505+%3D%3E+PL+6025/2005>. Acesso em: 5 jun. 2017. 332 MENDES, Aluisio Gonçalves de Castro. Teoria geral do processo. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009, p. 73. 333 DINAMARCO; LOPES, Op. cit., p. 170. 334 MENDES. Op. cit., p. 73.
94
(exequente, denunciante, embargante etc.) é quem pede algo ao juiz, quem formula a
demanda. Enquanto réu (executado, denunciado, embargado etc.) é aquele contra o
qual o pedido se dirige, contra quem se formula a demanda335.
O pedido pode ser composto ou subdividido em pedido imediato e mediato,
sendo o primeiro a espécie de providência jurisdicional que se pretende (uma
declaração, alteração da situação jurídica, uma condenação, execução ou uma
medida cautelar), enquanto o segundo é o próprio bem da vida que se pretende336.
Por sua vez, a causa de pedir, ou seja, o fundamento do pedido é conceituado
como “o fato ou conjunto de fatos jurídicos narrados que, em tese, se enquadram em
determinada norma jurídica, produzindo, portanto, efeitos jurídicos previstos no
ordenamento jurídico e que devem corresponder ao pedido formulado”337.
No caso do incidente de desconsideração da personalidade jurídica em decorrência
da frustração da execução ajuizada contra uma sociedade, o autor exercitará seu
direito de ação338 contra o(s) réu(s) (sócio(s) – partes no incidente – através da
jurisdição339, narrando os fatos que se subsumam na hipótese legal do instituto de
desconsideração (causa de pedir do incidente), pedindo para que o juiz desconsidere
a personalidade jurídica da sociedade (pedido), responsabilizando os sócios
acobertados pelo manto da personalidade, que passarão a ser parte em outra
demanda, a execução340.
É o que ocorre de forma análoga com a denunciação da lide, prevista também
“como uma intervenção de terceiro provocada: o terceiro é chamado a integrar o
335 MITIDIERO, Daniel; OLIVEIRA, Carlos Alberto Alvaro de. Curso de processo civil: teoria geral do processo civil e parte geral do direito processual civil. São Paulo: Atlas, 2010, v.1, p. 160. 336 MENDES. Ibidem, p. 75-76. 337 Idem. 338 Conforme Mendes, “A ação pode ser definida como o direito, de natureza pública, abstrato, autônomo e assegurado pela Constituição, que se tem de exigir do Estado-juiz a prestação da atividade jurisdicional (MENDES. Op. cit., p. 37). 339 “A jurisdição é uma das funções do Estado, mediante a qual o Poder Público, substituindo os titulares dos interesses em conflito, resolve, imparcialmente, a lide. O Estado irá dizer, afirmar ou efetivar o direito a ser protegido”. Idem. 340 O mesmo se dá em relação aos sócios no incidente de desconsideração, pois “ainda que genericamente se possa falar em “defesa” do terceiro, o que ele efetivamente exercita é – também ele – o direito de ação”, pois busca a certeza jurídica de que seu patrimônio não está sujeito à responsabilidade patrimonial via desconsideração. YARSHEL, Flávio Luiz. Do incidente de desconsideração da personalidade jurídica. In: CABRAL, Antonio do Passo. CRAMER, Ronaldo. Comentários ao novo Código de Processo Civil. Rio de Janeiro: Forense, 2016, p. 231-232. Do mesmo autor: O incidente de desconsideração da personalidade jurídica: busca de sua natureza jurídica. Carta Forense. Disponível em: < http://www.cartaforense.com.br/conteudo/colunas/incidente-de-desconsideracao-da-personalidade-juridica-busca-de--sua-natureza-juridica/15298>. Acesso em: 11 nov. 2015; O incidente de desconsideração da personalidade jurídica no novo CPC. Revista da CAASP. n. 16, p. 52-53, abr/2015. Disponível em: < http://www.caasp.org.br/RevistaDigital/ed12/revista_caasp_12.html>. Acesso em: 11 nov. 2015.
95
processo, porque uma demanda lhe é dirigida”. É uma demanda, já que por meio dela
se exercita o direito de ação341, assim como se faz no incidente de desconsideração
da personalidade jurídica342. A diferença entre as duas formas de intervenção é que
na denunciação o terceiro intervém diretamente no processo, já no incidente de
desconsideração a intervenção do terceiro se dará após a decisão da demanda
incidental.
Dessa forma, determinados os elementos da demanda e identificados estes
no incidente de desconsideração da personalidade jurídica343, pode-se concluir pela
sua natureza como demanda (incidental) resultante do exercício do direito de ação
que será decidida através da atividade jurisdicional, decisão apta a fazer coisa julgada
material e desafiar ação rescisória, devido a sua natureza decisória de sentença,
como se verá no item 5.7.1.
4.2.3 O incidente de desconsideração da personalidade jurídica como um processo
incidente
Quando foram analisados os debates da comissão de juristas responsável
pela elaboração do anteprojeto do Código de Processo Civil, por diversas vezes o
tema da desconsideração da personalidade entrou em questionamento, e quando
optaram pela sua procedimentalização ficou consignado que seria via incidente, para
que o terceiro respondesse patrimonialmente na execução como parte após a
desconsideração, sendo-lhe assegurado o contraditório344.
O Ministro Luiz Fux, presidente da comissão, chegou a mencionar que a
criação de um procedimento para a desconsideração uma opção política, passando
por exceções de pré-executividade e recurso correspondente, até optar por uma
posição radical, diante da insolvência da sociedade, isto é, ir diretamente aos bens
dos sócios. Seria uma posição adotada345.
341 DIDIER JUNIOR, Fredie. Curso de direito processual civil: introdução ao direito processual civil, parte geral e processo de conhecimento. Salvador: Ed. Juspodivm, 2017, p. 555 342 DIDIER JUNIOR. Ibidem, p. 587. 343 VIEIRA, Christian Garcia. Desconsideração da personalidade jurídica no novo CPC: natureza, procedimentos e temas polêmicos. Salvador: Juspodivm, 2016, p. 101-107. 344 BRASIL. Senado Federal. Ata da segunda reunião da Comissão de Juristas responsável pela elaboração de anteprojeto de Código de Processo Civil. Disponível em: < http://legis.senado.leg.br/diarios/BuscaPaginasDiario?codDiario=2462&seqPaginaInicial=252&seqPaginaFinal=333>. Acesso em: 5 jun. 2017. 345 BRASIL. Ibidem, p. 6525.
96
|A questão é saber se a forma como foi positivado como incidente realmente
lhe atribui esta natureza ou se é simplesmente uma questão de nomenclatura que lhe
foi dado como forma de simplificar seu procedimento, mas cuja real natureza possa
ser de um processo incidente e seus consectários.
O termo “incidente processual” pode ser compreendido como o “conjunto de
atos formalmente ordenados a serem realizados no curso do processo. É um pequeno
procedimento inserido no contexto do procedimento maior”346.
No entanto, o fato de ser um pequeno procedimento no contexto de um
procedimento maior não lhe atribui a natureza de mero incidente, devendo sua
caracterização passar pelo conceito de processo como “uma relação jurídica dinâmica
e progressiva entre sujeitos parciais (partes) e imparcial (juiz), na qual se presta a
jurisdição” 347.
Por vários fatores, como valor da causa, a natureza da demanda, a pretensão
da parte etc., o processo pode se desenvolver de várias formas através do
procedimento previsto em lei. Assim, procedimento é sinônimo de rito do processo 348.
Como opção política, a criação deste procedimento como um incidente foi a
escolha técnica processual destinada à busca da tutela jurisdicional envolvendo a
desconsideração da personalidade jurídica349.
Neste sentido, mais uma vez buscando a genealogia do instituto, Humberto
Theodoro Junior, membro da comissão de juristas e responsável por conduzir os
trabalhos sobre o instituto de desconsideração, ao tratar do recurso de agravo cabível
contra a decisão posicionou-se no sentido de que ele seria um incidente com vida
própria350 e que na verdade esse agravo é uma apelação porque é um processo
346 DINAMARCO, Candido Rangel; LOPES, Bruno Vasconcelos Carrilho. Teoria geral do novo Processo Civil. São Paulo: Malheiros, 2016, p. 242. (Destaques no original) 347 MENDES, Op. cit., p. 103. 348 THEODORO JUNIOR. Humberto. Curso de direito processual civil: teoria geral do direito civil, processo de conhecimento e procedimento comum. v. 1. Rio de Janeiro: Forense, 2016, 740-741. 349 “O procedimento como técnica e a necessidade de sua observância constituem fatores de segurança dos litigantes, sem os quais se abriria caminho para abusos, arbitrariedades e consequente insegurança. Devem, no entanto, ser afastados os exageros de um apego irracional à rigidez formal, do culto à forma pela forma, em prejuízo da efetividade do processo (DINAMARCO, Candido Rangel; LOPES, Bruno Vasconcelos Carrilho. Teoria geral do novo Processo Civil. São Paulo: Malheiros, 2016, p. 242). 350 “Processo incidente é um processo novo, instaurado em razão de um processo existente, que dele se desgarra, mas nele produz efeitos. É um processo filhote: nasce de um processo existente, mas adquire vida própria”. In: DIDIER JUNIOR, Fredie. Curso de direito processual civil: introdução ao direito processual civil, parte geral e processo de conhecimento. Salvador: Ed. Juspodivm, 2017, p. 538-539.
97
incidente351.
O que se pode constatar é que a utilização do termo “incidente” não quis
relegar a desconsideração da personalidade jurídica à mera questão incidente352.
Como se viu no item anterior, o incidente de desconsideração comporta outras
partes, outra causa de pedir e pedido em relação à demanda em que se busca a
satisfação de uma obrigação, ou seja, há outra demanda.
Não é demais notar que o artigo 135 do CPC dispõe que, após instaurado o
incidente, o sócio ou a pessoa jurídica será citado353, compreendendo-se por este ato
processual como aquele “pelo qual alguém é convocado a participar do processo na
qualidade de parte354” (art. 238 e seguintes do CPC).
A opção da comissão de juristas de criar um procedimento próprio, menos
formal e de menor complexidade do que qualquer ação ordinária355, foi tornar o
procedimento mais eficiente356 e efetivo, sempre respeitando o “contraditório sobre a
própria desconsideração”357, denominando-o como incidente e incluindo-o junto a
outros procedimentos incidentais por questão sistemática do Código. O seu nome não
351 BRASIL. Senado Federal. Ata circunstanciada da oitava reunião da comissão de juristas, realizada em 12 e 13.04.2010. Disponível em: < http://legis.senado.leg.br/diarios/BuscaDiario?tipDiario=1&datDiario=14/05/2010&paginaDireta=20917 >. Acesso em: 5 jun. 2017, p. 21.084. 352 “Questão incidente. Ponto duvidoso de fato ou de direito (questão) a ser objeto de decisão no curso do processo ou fase recursal. Geralmente as questões incidentes dizem respeito a preliminares processuais e não ao mérito da causa” (DINAMARCO; LOPES. Op. cit., p. 253). 353 Conforme visto na pesquisa sobre o processo legislativo do incidente, inicialmente foi previsto que o sócio ou a pessoa jurídica seriam intimados para se manifestar e requerer provas, conforme o Projeto de Lei do Senado nº 166/2010. No entanto, na apresentação do parecer substitutivo nº 1624/2010, alterou-se a redação, incluindo a citação como ato de convocação dos sócios ao processo. 354 MITIDIERO, Daniel; OLIVEIRA, Carlos Alberto Alvaro de. Curso de processo civil: volume 1: teoria geral do processo civil e parte geral do direito processual civil. São Paulo: Atlas, 2010, p. 301. 355 Palavras de Humberto Theodoro Junior, In: BRASIL. Senado Federal. Ata da segunda reunião da Comissão de Juristas responsável pela elaboração de anteprojeto de Código de Processo Civil. Disponível em: < http://legis.senado.leg.br/diarios/BuscaPaginasDiario?codDiario=2462&seqPaginaInicial=252&seqPaginaFinal=333>. Acesso em: 5 jun. 2017, p. 6525. 356 Esta é a posição de Nelson Nery Junior e Rosa Maria de Andrade Nery, ao afirmarem que “antes da edição do CPC, a doutrina controvertia sobre a forma de requerimento da desconsideração da personalidade jurídica: bastaria um pedido incidental, durante a execução, ou seria necessário fazer um pedido à parte num processo autônomo” (BRUSCHI. Aspectos processuais da desconsideração p. 83). O CPC adotou a opção mais econômica, temporal e financeiramente: o pedido incidente. In: NERY, Rosa Maria de Andrade; NERY JUNIOR, Nelson. Código de processo civil comentado. São Paulo: Editora Revisa dos Tribunais, 2016, p. 622. 357 Palavras de Luiz Fux, Ibidem, BRASIL. Senado Federal. Ata da segunda reunião da Comissão de Juristas responsável pela elaboração de anteprojeto de Código de Processo Civil. Disponível em: < http://legis.senado.leg.br/diarios/BuscaPaginasDiario?codDiario=2462&seqPaginaInicial=252&seqPaginaFinal=333>. Acesso em: 5 jun. 2017, p. 6525.
98
dita seu conteúdo e essência358.
Não seria demais cogitar que poderia ter sido inserido como um dos
procedimentos especiais, como se deu com a oposição, que no Código anterior
constava no capítulo da intervenção de terceiros.
Porém, tal opção legislativa (procedimento comum ou outra forma especial)
poderia ir de encontro ao que vinha sendo construído, no sentido de que seria
desnecessária uma ação autônoma para a desconsideração da personalidade.
Preferiu-se, então, tratá-lo como um incidente, de forma mais simples, não prevendo
audiência de conciliação e mediação, podendo, inclusive, dispensar a instrução, caso
desnecessária (CPC art. 136)359.
Corrobora para sua compreensão como processo incidente o fato de a
demanda de desconsideração da personalidade jurídica ser cumulada com uma
demanda condenatória, que se dará via processo de conhecimento, nos termos do
artigo 134 do CPC. Neste caso, é processo autônomo com cumulação de demandas,
devendo o incidente (desconsideração de forma incidental) seguir a mesma sorte
Assim, conciliando os conceitos anteriormente versados, e considerando que
“a jurisdição, depois de provocada mediante o exercício do direito de ação, é prestada
mediante uma relação jurídica denominada processo360”, e “para que haja processo é
necessário que se formule uma demanda perante um órgão judicial”361, o incidente de
desconsideração apresenta-se com características de processo, incidental.
Por fim, pode-se concluir que o incidente de desconsideração da
personalidade jurídica tem natureza de processo incidente, pois: (i) é o que se pode
extrair da sua genealogia; (ii) exerce-se o direito de ação através da demanda com
partes, causa de pedir e pedidos próprios, com atuação da jurisdição; e (iii) a sua
denominação como incidente se apresenta no sentido de que ele será instaurado no
curso da demanda executiva, mas de forma autônoma e visa atribuir um aspecto
menos complexo a este processo.
358 YARSHEL, Flávio Luiz. Do incidente de desconsideração da personalidade jurídica. In: CABRAL, Antonio do Passo. CRAMER, Ronaldo. Comentários ao novo Código de Processo Civil. Rio de Janeiro: Forense, 2016, p. 232. 359 Art. 136. Concluída a instrução, se necessária, o incidente será resolvido por decisão interlocutória. 360 MENDES. Op. cit., p. 91. 361 MENDES. Ibidem, p. 93.
99
CAPÍTULO V
5 A aplicação do incidente de desconsideração da personalidade jurídica
O presente capítulo abordará os aspectos práticos para a aplicação do
incidente de desconsideração da personalidade jurídica, analisando os dispositivos
legais pertinentes e correlatos, adotando-se como critério para a exposição a
sequência dos dispositivos na forma como estão dispostos no Código de Processo
Civil, aprofundando-se nos temas polêmicos debatidos pela doutrina sobre a temática,
quando necessário, procurando contribuir para a interpretação e aplicação dos com
base na genealogia e fundamentos anteriormente tratados.
5.1 A legitimidade ativa para o pedido de instauração do incidente
O artigo 133 do Código de Processo Civil inaugura o capítulo (IV) sobre o
incidente de desconsideração da personalidade jurídica, prevendo que o incidente
“será instaurado a pedido da parte ou do Ministério Público, quando lhe couber intervir
no processo”.
Sobre legitimidade ativa, constata-se que o dispositivo legal utiliza o termo
“parte” e não partes, autor, credor ou exequente, o que se mostra relevante.
Como se percebe na prática forense, os pedidos de desconsideração da
personalidade jurídica se dão em processos de execução ou fase de cumprimento de
sentença após o exequente ter contra a pessoa jurídica a frustração do recebimento
do crédito362.
Considerando que um dos pressupostos para a aplicação da sanção da
desconsideração é o prejuízo a terceiro em decorrência de ato abusivo ou fraudulento
praticado pela pessoa jurídica através de seus sócios363, não resta dúvida quanto à
legitimidade do exequente para instaurar o pedido de desconsideração contra os
sócios ou administradores da pessoa jurídica, pois é ele quem sofreu o prejuízo e
362 Para tornar mais fluída a exposição utilizar-se-á como parâmetro uma execução contra uma pessoa jurídica e o incidente contra os sócios, sem deixar de abordar a possibilidade de desconsideração inversa, conforme o artigo 133, § 2º, do CPC, subentendendo a remissão a esta modalidade todas as vezes que o texto se referir à desconsideração. 363 GAMA, Guilherme Calmon Nogueira. Incidente de desconsideração da personalidade jurídica. Revista de Processo. v. 262, p. 61-85, dez/2016. Disponível em: <https://www.thomsonreuters.com.br>. Acesso em: 01 mar. 2017.
100
possui legítimo interesse na desconsideração. É da razão de existir do deste instituto
a efetividade da execução para o credor.
No entanto, questão que se coloca é se a pessoa jurídica executada pode
pedir a instauração da desconsideração da personalidade jurídica para que os sócios
respondam patrimonialmente perante o exequente, a fim de que ela proteja seu
patrimônio em face dos atos fraudulentos praticados pelo(s) sócio(s), tendo em vista
que ela também foi prejudica por estes atos, havendo, assim, interesse da pessoa
jurídica na desconsideração364-365.
O Enunciado 285, aprovado na IV Jornada de Direito Civil, realizada pelo
Centro de Estudos Judiciários do Conselho da Justiça Federal, ao dispõe que “a teoria
da desconsideração, prevista no art. 50 do Código Civil, pode ser invocada pela
pessoa jurídica, em seu favor”366.
Este enunciado é anterior (2006) ao novo Código de Processo Civil, situação
em que não havia a previsão do incidente de desconsideração da personalidade
jurídica, devendo ser feita uma leitura atual coerente com os fundamentos do referido
incidente.
A desconsideração da personalidade jurídica e o seu respectivo incidente têm
como um de seus fundamentos a efetividade do processo de execução para
satisfação do crédito do exequente. O interesse processual na desconsideração é do
exequente bem como o ônus da instauração do incidente como a suspensão do
processo executivo e consequente demora na solução do incidente.
Instaurar o incidente sem que seja por iniciativa do exequente irá de encontro
à princípio da efetividade. Não é demais cogitar a instauração pela executada com o
mero intuito protelatório e má-fé entre a pessoa jurídica e seus sócios, ainda que
possa haver posterior responsabilização (arts. 79 a 81 do CPC)
364 Idem. 365 Em obra anterior, Brasil e Gama afirmaram que a pessoa jurídica não teria legitimidade para requerer a desconsideração, não tendo também “legitimidade e interesse para recorrer da decisão que decretou a desconsideração da personalidade, eis que os efeitos da desconsideração atingirão o patrimônio do sócio ou administrador responsável pela fraude ou pelo abuso, e não o patrimônio social”, tendo apenas
o credor esta legitimidade (BRASIL, Deilton Ribeiro; GAMA, Guilherme Calmon Nogueira da. Aspectos
relevantes (materiais e processuais) da teoria da desconsideração da personalidade jurídica. In: GAMA, Guilherme Calmon Nogueira (Coord.). Desconsideração da personalidade jurídica: visão crítica da jurisprudência. São Paulo: Atlas, 2009, p. 25. 366 BRASIL. Centro de Estudos Judiciários do Conselho da Justiça Federal. Disponível em: < file:///C:/Users/PC-01/Downloads/IV%20JORNADA%20DE%20DIREITO%20CIVIL%202013%20ENUNCIADOS%20APROVADOS.pdf>. Acesso em: 15 out. 2017.
101
Há também que se considerar que sendo o incidente de desconsideração um
instrumento processual para tornar efetiva a execução no interesso próprio do credor,
parece ser inviável a pessoa jurídica executada se legitimar no pedido da sua própria
desconsideração, pois estaria pedindo em nome próprio direito alheio, hipótese
vedada pelo artigo 18 do Código de Processo Civil367.
No processo legislativo do atual Código de Processo Civil, não se cogitou a
possibilidade de instauração do incidente ser a pedido da pessoa jurídica ré. Buscou-
se sempre a melhor forma de, no interesse do exequente e por sua iniciativa,
desconsiderar a personalidade jurídica para satisfazer o credor e se evitar os
problemas processuais que rondavam o instituto da desconsideração.
Situação aparentemente excepcional como esta poderia ter sido tratada
expressamente368, da forma como ocorreu no caso da desconsideração da
personalidade jurídica inversa e da aplicação do incidente no rito dos juizados
especiais.
Uma possível atuação da pessoa jurídica executada seria ela prestando
informações ao exequente para que ele instaure requeira a instauração do incidente,
ou então se apresentar no incidente de desconsideração como assistente simples do
requerente369 ou recorrendo como terceira prejudicada na decisão que a
desconsiderar, sempre no interesse de afirmação de sua autonomia, vale dizer, de
proteção de sua personalidade, e não para infirmá-la370
Quanto à legitimidade do Ministério Público para instauração do incidente,
este se mostra legitimado nos casos em que figurar como autor da demanda, como
367 Uma hipótese de legitimidade pelo demandado para pedir a desconsideração seria a situação em que o autor (credor) possa ser obrigado a prestar – pagar quantia – nos casos de reconvenção, ações dúplices e na possível improcedência da demanda em que o autor será condenado nas custas e despesas processuais. Neste caso, estaria pleiteando direito próprio. YARSHEL, Flávio Luiz. Do incidente de desconsideração da personalidade jurídica. In: CABRAL, Antonio do Passo. CRAMER, Ronaldo. Comentários ao novo Código de Processo Civil. Rio de Janeiro: Forense, 2016, p. 234. 368 FLUMIGNAN, Silvano José Gomes. O incidente de desconsideração da personalidade jurídica no novo Código de Processo Civil. Revista Jurídica da Seção Judiciária de Pernambuco. n. 8, p. 225-249, 2015, p. 240. 369 BUENO, Cassio Scarpinella (Coord.). Comentários ao Código de Processo Civil. São Paulo: Saraiva, 2017, p. 583. 370 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº 1.421.464-SP. A pessoa jurídica tem legitimidade para impugnar decisão interlocutória que desconsidera sua personalidade para alcançar o patrimônio de seus sócios ou administradores, desde que o faça com o intuito de defender a sua regular administração e autonomia - isto é, a proteção da sua personalidade -, sem se imiscuir indevidamente na esfera de direitos dos sócios ou administradores incluídos no polo passivo por força da desconsideração. Relator: Rel. Min. Nancy Andrighi. Brasília, DF, 24 de abril de 2014. Informativo de Jurisprudência N. 544. Brasília. Disponível em: <https://ww2.stj.jus.br/jurisprudencia/externo/informativo/?acao=pesquisar&livre;=@cnot='14891'>. Acesso em: 15 out. 2017.
102
nos casos de ação civil pública, de improbidade administrativa e outras, de acordo
com o artigo 129 da Constituição Federal371 e artigo 178 do atual Código de Processo
Civil372, como nos casos de ação de alimentos de incapaz (art. 201, inciso III, do
Estatuto da Criança e do Adolescente373.
Afora estas hipóteses, e se tratando de direitos patrimoniais privados, não
caberá ao Ministério Público instaurar o incidente de desconsideração como mero
fiscal da ordem jurídica, sob pena de desvirtuar sua função prevista
constitucionalmente.
5.1.1 A instauração de ofício do incidente
Tema de destaque na aplicação do incidente de desconsideração é a análise
da possibilidade de instauração de forma oficiosa nas hipóteses em que a legislação
substancial admite(ia) aplicação da desconsideração, a exemplo das relações
consumeristas374, e que somada a outras normas que reconhecem a sua
vulnerabilidade do consumidor e sua hipossuficiência no processo, possibilitando a
inversão do ônus da prova como meio de facilitar a defesa de seus interesses, seria
mais uma forma de dar efetividade ao processo na proteção do consumidor
Quando o Código de Processo Civil prevê que o pedido de desconsideração
observará os pressupostos previstos em lei375, resta evidenciado que se remete aos
pressupostos de direito material para a desconsideração da personalidade jurídica,
pois as regras de direito processual para a desconsideração serão as previstas no
Código de Processo Civil, nos termos do seu artigo 795, parágrafo 4º.
371 YARSHEL. Op. cit.. p. 232. 372 Enunciado nº 123 do Fórum Permanente de Processualistas Civis: Desnecessária a intervenção do Ministério Público, como fiscal da ordem jurídica, no incidente de desconsideração da personalidade jurídica, salvo nos casos em que deva intervir obrigatoriamente, previstos no art. 178. In: BRASIL. Fórum Permanente de Processualistas Civis. Disponível em: < http://www.cpcnovo.com.br/wp-content/uploads/2016/06/FPPC-Carta-de-Sa%CC%83o-Paulo.pdf>. Acesso em: 15 out. 2017. 373 Conforme enunciado da Súmula n. 594 do Superior Tribunal de Justiça: O Ministério Público tem legitimidade ativa para ajuizar ação de alimentos em proveito de criança ou adolescente independentemente do exercício do poder familiar dos pais, ou do fato de o menor se encontrar nas situações de risco descritas no art. 98 do Estatuto da Criança e do Adolescente, ou de quaisquer outros questionamentos acerca da existência ou eficiência da Defensoria Pública na comarca. (Súmula 594, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 25/10/2017, DJe 06/11/2017). 374 GAMA, Guilherme Calmon Nogueira. Incidente de desconsideração da personalidade jurídica. Revista de Processo. v. 262, p. 61-85, dez/2016. Disponível em: <https://www.thomsonreuters.com.br>. Acesso em: 01 mar. 2017 e XAVIER, José Tadeu Neves. A processualização da desconsideração da personalidade jurídica. Revista de Processo. v. 254, p. 151-191, abr/2016. Disponível em: <https://www.thomsonreuters.com.br>. Acesso em: 01 ago. 2017. 375 Artigo 133, parágrafo 1º, do CPC.
103
No entanto, mesmo que não se trate de desconsideração de ofício, afastando
episodicamente a personalidade da pessoa jurídica, mas apenas da instauração do
incidente de forma oficiosa376, esta não parece viável por várias razões.
A primeira razão pode ser dada pela literalidade do artigo 133 do Código de
Processo Civil, onde consta que o incidente será instaurado a pedido da parte ou do
Ministério Público377, em que pese uma interpretação literal ou gramatical possa
parecer simplista em face dos direitos que podem ser tutelados caso a regra seja
interpretada de uma forma mais ampla.
Segundo que uma das razões para se criar o procedimento foi dar um basta
na forma que se vinha aplicando a desconsideração da personalidade jurídica, em
especial quando se aplicava a teoria menor, conforme se constatou nos debates da
comissão de juristas. A ideia era frear a desconsideração378.
Frear a desconsideração não no sentido de se criar obstáculos ou até
inviabilizar a realização do direito material, mas no sentido de que não continuasse da
376 Gama diz que para a instauração de ofício “será baixada portaria judicial com a descrição dos fatos supostamente hábeis a ensejar a aplicação da desconsideração da personalidade jurídica, com posterior citação da pessoa cuja personalidade se pretenda desconsiderar, permitindo a produção de provas e, em seguida, a solução judicial do incidente pelo magistrado”, conclusão reforçada pela determinação contida no artigo 133, § 1º, do Código de Processo Civil, pois “o novo Código de Processo não interfere em tais pressupostos, aí incluída a parte referente à possibilidade de o magistrado agir de ofício nos casos que envolvam interesse coletivo ou difuso”. GAMA. Op. cit.. No mesmo sentido: SILVA, Joseane Suzart Lopes da. O incidente de desconsideração da personalidade jurídica no novo CPC e a efetiva proteção dos consumidores. Revista de Direito do Consumidor. v. 113, p. 213-248, set-out/2017. Disponível em: <https://www.thomsonreuters.com.br>. Acesso em 15 nov. 2017 e ARENHART, Sérgio Cruz; MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel. Novo Código de Processo Civil comentado. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2017, p. 278. 377 Esta é a posição adotada por grande parte da doutrina, a saber: CAMARA, Alexandre Freitas. O novo processo civil brasileiro. São Paulo: Atlas, 2017, p. 97; SAMPAIO, Marcus Vinícius de Abreu. IDPJ – Incidente de desconsideração da personalidade jurídica. In: WAMBIER, Luiz Rodrigues; WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Temas essenciais do novo CPC: análise das principais alterações do sistema processual brasileiro. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2016, p. 145; AMADEO, Rodolfo da Costa M. R; BRUSCHI, Gilberto Gomes; NOLASCO, Rita Dias. Fraudes patrimoniais e a desconsideração da personalidade jurídica no Código de Processo Civil de 2015. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2016, p, 160; THEODORO JUNIOR. Humberto. Curso de direito processual civil: teoria geral do direito civil, processo de conhecimento e procedimento comum. v. 1. Rio de Janeiro: Forense, 2016, p. 404; BRASILINO, Fábio Ricardo Rodrigues; CARVALHO, Thiago Ribeiro. O incidente de desconsideração da personalidade jurídica no novo Código de Processo Civil brasileiro (Lei 13.105/2015). Revista de Direito Empresarial. v. 13, p. 181-197, jan-fev/2016. Disponível em: <https://www.thomsonreuters.com.br>. Acesso em: 01 ago. 2017; NERY JUNIOR, Nelson; NERY, Rosa Maria de Andrade. Código de processo civil comentado. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais: 2016, p. 623; DIDIER JUNIOR, Fredie. Curso de direito processual civil: introdução ao direito processual civil, parte geral e processo de conhecimento. Salvador: Ed. Jus Podivm, 2017, p. 539. 378 BRASIL. Senado Federal. Ata da segunda reunião da Comissão de Juristas responsável pela elaboração de anteprojeto de Código de Processo Civil. Disponível em: < http://legis.senado.leg.br/diarios/BuscaPaginasDiario?codDiario=2462&seqPaginaInicial=252&seqPaginaFinal=333>. Acesso em: 5 jun. 2017.
104
forma como vinha sendo feita a qualquer custo e de qualquer forma, especialmente
no direito do consumidor e do trabalho, por isso a necessidade de criação de um
procedimento com instauração a pedido da parte interessada.
Terceiro que durante o processo legislativo do Código de Processo Civil na
Câmara dos Deputados, o deputado Junior Coimbra propôs a Emenda nº 491/2011,
para, dentre outros temas, inserir um parágrafo no artigo 77 do PL nº 8.046/2010 para
deixar clara a vedação da desconsideração de ofício por ser ínsito à natureza do
instituto que somente a pessoa prejudica pelo abuso da pessoa jurídica que poderia
pedir a instauração do incidente379-380.
No entanto, no Parecer Geral e Substitutivo do relator-geral Sérgio Barradas
Carneiro, a citada Emenda nº 491/2011 foi rejeitada por ser desnecessário dispositivo
que vedasse expressamente a desconsideração ou a instauração de ofício, pois no
projeto já havia dispositivo prevendo que a desconsideração dependeria de pedido da
parte ou do Ministério Público, o que tornaria a nova regra repetitiva381.
Quarto, considerando que a desconsideração da personalidade jurídica
envolve interesses patrimoniais, e quem tomar a iniciativa de demandar contra terceiro
assumirá todo ônus de uma possível improcedência desta demanda incidental como
as custas e despesas processuais e, inclusive, ser responsável por um possível dano
processual382, o que inviabiliza a instauração do incidente de ofício, pois seria
demasiado pensar em ser o Estado responsabilizado por estes custos na busca da
satisfação de um interesse privado estritamente patrimonial.
Por último, considerando a natureza do incidente como demanda incidental,
379 BRASIL. Câmara dos Deputados. Parecer e Substitutivo do Relador-Geral Sérgio Barradas Carneiro, de 07.11.2012. Disponível em: < http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=1037367&filename=SBT+3+PL602505+%3D%3E+PL+6025/2005>. Acesso em: 5 jun. 2017. 380 O atual Código de Processo Civil em que se encontra o incidente de desconsideração é o primeiro Código (de processo civil) elaborado em um regime democrático, em que se procura efetivar as disposições constitucionais e que foi precedido de ampla participação380, por isso a importância da análise de sua genealogia e de se considerar as premissas nela encontradas. ALMEIDA, Marcelo Pereira; MENDES, Aluisio Gonçalves de Castro; SILVA, Larissa Clare Pochmann da (Coords). Novo Código de Processo Civil: comparado e anotado. Rio de Janeiro: LMJ Mundo Jurídico, 2015, p. 5. 381 Idem. 382 ASSIS, Araken de. Processo civil brasileiro: parte geral: institutos fundamentais. v. 2. t. 1. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2016, p. 147. No mesmo sentido: MACHADO, Lorruane Matuszewski; VITA, Jonathan Barros. Desconsideração da personalidade jurídica e as alterações do novo Código de Processo Civil: uma análise à luz da função social da empresa. Revista de Processo. v. 266, p. 153-173, Abr/2017. Disponível em: <https://www.thomsonreuters.com.br>. Acesso em: 01 ago. 2017; CUNHA, Leonardo Carneiro da. A Fazenda Pública em juízo. Rio de Janeiro: Forense, 2017, p. 420.
105
sua instauração de ofício violaria o princípio da demanda383 e da inércia da jurisdição
derivada do artigo 2° do Código de Processo Civil384.
Assim, a instauração de ofício do incidente de desconsideração da
personalidade jurídica não se mostra viável por (i) estar previsto que somente será
instaurado a pedido da parte ou do Ministério Público, conforme previsto no artigo 133
do Código de Processo Civil, intepretação não apenas gramatical, mas também
histórica de seu processo legislativo, (ii) a análise genealógica do instituto também
leva a esta conclusão, (iii) o Estado-juiz poderá ser responsabilizado civilmente caso
a desconsideração não seja possível e (iv) considerando a natureza do incidente como
demanda, sua instauração de ofício violaria o princípio da demanda e da inércia da
jurisdição.
5.2 A legitimidade passiva do incidente
O § 1º do artigo 133 do Código de Processo Civil estabelece que “o pedido de
desconsideração da personalidade jurídica observará os pressupostos previstos em
lei”, remetendo, assim, aos diversos ramos do Direito que preveem os pressupostos
para sua incidência, como ocorre com o Código Civil, o Código de Defesa do
Consumidor, a Consolidação das Leis Trabalhistas, a Lei de Crimes Ambientais, a Lei
Anticoncorrência, a Lei Anticorrupção, Lei do Abastecimento dos Combustíveis, Lei
do Desporto e Lei do Programa de Modernização da Gestão e de Responsabilidade
Fiscal do Futebol Brasileiro (PROFUT), sendo estas bases legais de direito material
que definirão quais serão as pessoas legitimamente atingidas pelos efeitos da
desconsideração, cabendo ao Direito processual, através de seu incidente, tão
somente regular o procedimento para se chegar a esta responsabilização385.
No entanto, dentro do escopo desta pesquisa, algumas considerações podem
383 Idem. 384 BUENO, Cassio Scarpinella. Da intervenção de terceiros. In: BUENO, Cassio Scarpinella (Coord.). Comentários ao Código de Processo Civil. São Paulo: Saraiva, 2017, p. 572. No mesmo sentido, BAIOCCO, Elton; CASTRO, Carlos Alberto Farracha de. A (desconsideração da) personalidade jurídica e o novo Código de Processo Civil: segurança jurídica e devido processo legal. Crise Econômica e Soluções Jurídicas. n. 118, mar-2016. Disponível em: <https://www.thomsonreuters.com.br>. Acesso em: 01 ago. 2017; PIRAJÁ, André Bedin. A interface civil e processual do “novo” incidente de desconsideração da personalidade jurídica. Revista de Direito Privado. v. 79, p. 165-179, jul/2017. Disponível em: <https://www.thomsonreuters.com.br>.. 385 CÂMARA, Alexandre Freitas. Do incidente de desconsideração da personalidade jurídica. In: Breves comentários ao novo Código de Processo Civil. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2016, p. 475.
106
ser feitas a fim de delimitar alguns critérios para identificar quem poderá ser parte
passiva no incidente de desconsideração, até porque o artigo 135 do Código de
Processo Civil diz que, instaurado o incidente, o sócio ou pessoa jurídica será citado
e, a exemplo, o artigo 50 do Código Civil menciona administradores ou sócios da
pessoa jurídica.
O questionamento que se faz é no sentido de que havendo pedido de
desconsideração da personalidade jurídica de uma determinada sociedade, deveriam
todos os sócios figurar no polo passivo da demanda? O administrador não sócio pode
ser atingido pela desconsideração da personalidade jurídica386?
A desconsideração da personalidade jurídica é sanção que visa combater o
uso abusivo ou fraudulento da pessoa jurídica. Visa corrigir o desvio de função para o
qual ela foi criada.
Na constituição de sociedades para o desenvolvimento de uma atividade, é
comum que estas possuam dois tipos de sócios, os sócios investidores, como aqueles
que apenas aportam capital e objetivam o lucro, sem participar dos atos de gestão, e
os sócios empreendedores, como aqueles que desenvolvem a atividade através dos
atos de gestão em nome da sociedade como administradores387, que normalmente
também será o sócio majoritário.
Por sua vez, desconsideração da personalidade jurídica é sanção que visa
combater o uso abusivo ou fraudulento da pessoa jurídica. Visa corrigir o desvio de
função para o qual ela foi criada.
Neste sentido, o que se deve levar em consideração para saber quem deverá
constar do polo passivo do incidente de forma legítima é averiguar como se deu o ato
ou a atividade lesiva, quem praticou os atos ou que tenha deles se beneficiado388.
O fato de ser apenas sócio da pessoa jurídica não o torna responsável na
desconsideração da personalidade jurídica porque esta visa sancionar a fraude que
386 GAMA, Guilherme Calmon Nogueira. Incidente de desconsideração da personalidade jurídica. Revista de Processo. v. 262, p. 61-85, dez/2016. Disponível em: <https://www.thomsonreuters.com.br>. Acesso em: 01 mar. 2017. 387 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito comercial: direito de empresa [livro eletrônico]. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016. 388 ARMANI, Wagner José Penereiro. O incidente de desconsideração da personalidade jurídica como forma de fortalecimento do princípio da autonomia patrimonial. Revista de Direito Bancário e do Mercado de Capitais. v. 77, p. 163-184, Jul–set/2017. Disponível em: <https://www.thomsonreuters.com.br>. Acesso em: 01 nov. 2017 e AMADEO, Rodolfo da Costa M. R; BRUSCHI, Gilberto Gomes; NOLASCO, Rita Dias. Fraudes patrimoniais e a desconsideração da personalidade jurídica no Código de Processo Civil de 2015. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2016, p. 148.
107
deverá recair sobre quem a praticou389.
A conclusão acima também se aplica ao administrador não sócio. O
administrador não sócio é executor da vontade societária, a qual é deliberada pelos
sócios ou acionistas controladores, caracterizando sua atividade como uma prestação
de serviço à sociedade390.
Considerando que o instituto da desconsideração da personalidade jurídica
surgiu para levantar o véu da personalidade jurídica que encobre seus sócios que
praticaram atos fraudulentos, não serviria a desconsideração para atingir o patrimônio
dos administradores não sócios, pois eles não estão acobertados pelo véu, são
apenas as pessoas que executam as ordens de quem podia decidir por elas391.
Ainda, a aplicação da desconsideração da personalidade jurídica é medida
excepcional, subsidiária, só se aplicando quando não houver outra forma de sanção
no ordenamento jurídico. Para os administradores existe um regime jurídico próprio
definindo seus direitos e obrigações392 que se for descumprido e gerar prejuízo, a
responsabilização pelos atos que praticou de forma lesiva se dará na seara da
responsabilidade civil393, conforme se pode depreender da regra do artigo 1.016 do
Código Civil394 ou do artigo 158 da Lei das Sociedades por Ações395.
389 Neste sentido são os enunciados das Jornadas de Direito Civil promovidas pelo Conselho da Justiça Federal: Enunciado n. 7: Só se aplica a desconsideração da personalidade jurídica quando houver a prática de ato irregular e, limitadamente, aos administradores ou sócios que nela hajam incorrido. Enunciado n. 406: A desconsideração da personalidade jurídica alcança os grupos de sociedade quando estiverem presentes os pressupostos do art. 50 do Código Civil e houver prejuízo para os credores até o limite transferido entre as sociedades. BRASIL. VII Jornada de Direito Civil. Brasília: Conselho da Justiça Federal, Centro de Estudos Judiciários, 2015. Disponível: < http://www.cjf.jus.br/cjf/corregedoria-da-justica-federal/centro-de-estudos-judiciarios-1/publicacoes-1/jornadas-cej/vii-jornada-direito-civil-2015.pdf>. Acesso em: 15 ago. 2017. Posicionamento também adotado pelo Superior Tribunal de Justiça no Recurso Especial n. 1.325.663-SP. BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial n. 1.325.663-SP. Relator: Min. Nancy Andrighi. Brasília, DF, 11 de junho de 2013. Disponível em: <http://www.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/doc.jsp?livre=1325663&b=ACOR&p=true&l=10&i=8>. Acesso em: 01 nov. 2017. 390 GONÇALVES NETO, Alfredo de Assis. Direito de Empresa: comentários aos artigos 966 a 1.195 do Código Civil. 4. ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2012, p. 226-227. 391 MACHADO, Hendel Sobrosa. Responsabilidade dos administradores e sócios: além da desconsideração da personalidade jurídica. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2016, p. 139. 392 PARENTONI, Leonardo Netto. Desconsideração contemporânea da personalidade jurídica: dogmática e análise da jurisprudência brasileira (Jurimetria/Empirical Legal Studies). São Paulo: Quartier Latin, 2014, p. 145. 393 GONÇALVES NETO. Ibidem, p. 246. 394 Art. 1.016. Os administradores respondem solidariamente perante a sociedade e os terceiros prejudicados, por culpa no desempenho de suas funções. 395 Art. 158. O administrador não é pessoalmente responsável pelas obrigações que contrair em nome da sociedade e em virtude de ato regular de gestão; responde, porém, civilmente, pelos prejuízos que causar, quando proceder: I - dentro de suas atribuições ou poderes, com culpa ou dolo; II - com violação da lei ou do estatuto.
108
No caso das sociedades anônimas, mesmo o acionista controlador que estiver
sob as vestes da personalidade jurídica da sociedade poderá ser responsabilizado
direta e pessoalmente perante terceiros pelos atos que praticar com abuso de
poder396, conforme o disposto no artigo 117 da Lei das Sociedades Anônimas397,
dispensando a aplicação da desconsideração da personalidade jurídica.
Não se pode deixar de cogitar que, no caso de ser admitida a desconsideração
em face dos administradores não sócios, a sociedade também poderia ser
responsabilizada nos casos de desconsideração inversa, o que se mostra inviável a
responsabilização dos administradores não sócios com fundamento na
desconsideração da personalidade jurídica.
Quanto aos sócios que já se retiraram da sociedade (ex-sócios), o credor
também poderá se valer do incidente de desconsideração da personalidade jurídica
para a responsabilização destes, legitimando-os passivamente no incidente.
Nesta hipótese o que deverá ser observado é a definição do marco temporal
da origem da dívida, ou seja, a origem da dívida deve ser contemporânea à situação
de sócio e que tenha praticado os atos ensejadores da desconsideração398.
Esta responsabilização se mostra salutar para que se evite a superposição de
sócios a fim de dificultar a responsabilização daqueles que realmente tenham
praticado atos fraudulentos.
Por último, no caso da desconsideração inversa da personalidade jurídica, por
óbvio, é a pessoa jurídica quem será a parte legitima passiva. Porém, na falta de regra
positivada neste sentido, não se mostra viável a responsabilização de todo o
patrimônio societário, mas tão somente da parte correspondente a participação
societária do sócio fraudador, sob pena de penalizar a participação societária do sócio
que não praticou ato fraudulento ou dele não se beneficiou399.
Ainda que tais pontos sejam critérios de Direito material, o que se busca
demonstrar é a atenção que se deve ter ao instaurar o incidente de desconsideração
da personalidade jurídica por se tratar de medida excepcional, e, principalmente,
quem será incluído no polo passivo da demanda, pois uma eventual improcedência
396 GONÇALVES NETO. Op. cit., p. 153. 397 Art. 117. O acionista controlador responde pelos danos causados por atos praticados com abuso de poder. 398 AMADEO. Op. cit., p. 149-150. 399 LARONKA, Vanessa Lumertz; NASCIMENTO, Carlota Bertoli. Desconsideração inversa da personalidade jurídica e a limitação ao patrimônio dos sócios minoritários. Revista de Direito Privado. v. 81, p. 69-99, set/2017. <https://www.thomsonreuters.com.br>. Acesso em: 01 ago. 2017.
109
da demanda acarretará encargos processuais que serão suportados pelos
demandantes.
Neste sentido, mostram-se como legitimados passivos os sócios
administradores e aqueles sócios que contribuíram ou se beneficiaram da prática
abusiva ou fraudulenta através da pessoa jurídica, ainda que minoritários, não se
admitindo os administradores não sócios, pois estes não estão cobertos pelo manto
da personalidade, respondendo pelas regras da responsabilidade civil própria a eles.
5.3 O pedido de desconsideração observará os pressupostos previstos em lei
Nos debates da comissão de juristas responsável pela elaboração do
anteprojeto, após várias intervenções sobre as possibilidades de desconsideração
previstas no Direito brasileiro (teorias maior e menor), registrou-se que possíveis
problemas de desconsideração seriam de Direito de material e a comissão não
deveria tratar disso, pois estavam tratando da elaboração de um Código de Processo
Civil400, sendo assim feito na ocasião em que o anteprojeto foi apresentado contendo
o incidente, ao mencionar que “em caso de abuso da personalidade jurídica,
caracterizado na forma da lei”, e que as posteriores alterações durante todo o
processo legislativo culminaram com a redação em análise prevista no § 1º do artigo
134 do Código de Processo Civil.
Desta forma, coube ao Código de Processo Civil tratar do procedimento
através do incidente, indicando expressamente ao requerente da demanda incidental
que os pressupostos substanciais para a desconsideração serão os definidos em cada
ramo do Direito material cuja demanda principal se funda, em especial sobre as teorias
denominadas como maior e menor401.
Estes pressupostos há muito vêm sendo tratados pela jurisprudência, doutrina
e legislação de forma sólida, ainda que sujeita à crítica, como ocorre com a
denominada teoria menor da desconsideração, conforme exposto no item 1.3.2.
Ao Código de Processo Civil coube tão somente disciplinar a forma de
400 BRASIL. Senado Federal. Ata da segunda reunião da Comissão de Juristas responsável pela elaboração de anteprojeto de Código de Processo Civil. Disponível em: < http://legis.senado.leg.br/diarios/BuscaPaginasDiario?codDiario=2462&seqPaginaInicial=252&seqPaginaFinal=333>. Acesso em: 5 jun. 2017, p. 6520. 401 CÂMARA, Alexandre Freitas. Do incidente de desconsideração da personalidade jurídica. In: Breves comentários ao novo Código de Processo Civil. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2016, p. 475.
110
aplicação da desconsideração da personalidade jurídica, criando um procedimento
próprio, visando a efetividade do processo, mas sem descurar do devido processo
legal, contraditório efetivo e ampla defesa, alinhando-se aos princípios constitucionais
do processo que sustentaram sua elaboração, o que demonstra a sintonia entre o
incidente de desconsideração da personalidade jurídica e os princípios norteadores
do processo e do atual Código.
5.3.1 O pedido de desconsideração inversa
Mesmo não cabendo ao Código de Processo tratar de questões de direito
material, como expressamente o fez no parágrafo 1º do artigo 133, deixou expresso
em seu no parágrafo 2º que o incidente também se aplicaria no caso de pedido de
desconsideração inversa.
A desconsideração da personalidade jurídica inversa ou invertida402 é aquela
pretendida por credores do sócio para atingir bens da sociedade403-404.
Considerando que a desconsideração da personalidade jurídica deverá ser
aplicação de forma subsidiária e excepcional quando não houver outra forma de
satisfazer o credor e sancionar o devedor, há que se atentar para a previsão contida
no artigo 1.026 do Código Civil que prevê, na falta de outros bens, a possibilidade de
penhora das quotas do sócio pelo credor particular, previsão também contida no
Código de Processo Civil, artigo 835, inciso IX e artigo 861, hipótese que não se
configura como desconsideração da personalidade jurídica inversa, pois as quotas
compõem o patrimônio do sócio.
Embora a penhora da quotas seja a regra em relação à desconsideração
inversa, aquela pode se mostrar demasiadamente complexa, custosa e demorada,
pois de acordo com o artigo 861 do CPC, penhorada as quotas, a sociedade terá 03
402 Expressão utilizada por Lamartine Correa, fazendo referência aos estudos anteriores de Rolf Serick e Ulrich Drobnig. In: OLIVEIRA, José Lamartine Corrêa de. A dupla crise da pessoa jurídica. São Paulo: Saraiva, 1979, p. 341-342. 403 Enunciado n. 283 da IV Jornada de Direito Civil – Centro de Estudos Judiciários do Conselho da Justiça Federal: É cabível a desconsideração da personalidade jurídica denominada “inversa” para alcançar bens de sócio que se valeu da pessoa jurídica para ocultar ou desviar bens pessoais, com prejuízo a terceiros. BRASIL. Centro de Estudos Judiciários do Conselho da Justiça Federal. Disponível em: < file:///C:/Users/PC-01/Downloads/IV%20JORNADA%20DE%20DIREITO%20CIVIL%202013%20ENUNCIADOS%20APROVADOS.pdf>. Acesso em: 15 out. 2017. 404 Situação comum ocorre nos casos de divórcio em que um dos cônjuges coloca seus bens no nome de uma sociedade da qual é sócio com o objetivo de fraudar a partilha de bens. GAMA. Op. cit.
111
meses para apresentar balanço especial, ofereça as quotas ou as ações aos demais
sócios, observado o direito de preferência legal ou contratual e não havendo interesse
dos sócios na aquisição das ações, proceda à liquidação das quotas ou das ações,
depositando em juízo o valor apurado, em dinheiro.
Sendo a desconsideração inversa a forma excepcional de atingir os bens da
sociedade para satisfação do credor particular do sócio, será o caso concreto que
permitirá a apuração da ocorrência dos pressupostos para a desconsideração inversa,
devendo o credor verificar a via pertinente para satisfação do seu crédito, podendo
ser utilizada a penhora de quotas em detrimento do pedido de desconsideração.
5.4. Do cabimento do incidente de desconsideração da personalidade jurídica
O caput do artigo 134 do Código de Processo Civil prevê que “o incidente de
desconsideração é cabível em todas as fases do processo de conhecimento, no
cumprimento de sentença e na execução fundada em título executivo extrajudicial’.
O Código deu ampla abertura para o pedido de desconsideração, podendo
ser desde a petição inicial do processo de conhecimento (art. 134, § 2º, do CPC) até
a fase recursal, e em qualquer fase do cumprimento de sentença ou execução.
Em regra, as intervenções de terceiro só são admitidas até um determinado
momento processual, qual seja, a resposta do réu. Essa regra foi excepcionada pelo
incidente de desconsideração405, pois permite sua instauração até a fase recursal, e
também excepciona a regra da estabilização da demanda (art. 329 do CPC)406.
Para tanto, o Código previu duas formas de pedido de desconsideração, uma
de forma originária e outra de forma incidental, as quais serão analisadas a seguir.
5.4.1 Do cabimento de forma originária ou incidental
No pedido de desconsideração de forma originária, a demanda de
405 MACHADO, Lorruane Matuszewski; VITA, Jonathan Barros. Desconsideração da personalidade jurídica e as alterações do novo Código de Processo Civil: uma análise à luz da função social da empresa. Revista de Processo. v. 266, p. 153-173, Abr/2017. Disponível em: <https://www.thomsonreuters.com.br>. Acesso em: 01 ago. 2017 406 VIEIRA, Christian Garcia. Desconsideração da personalidade jurídica no novo CPC: natureza, procedimentos e temas polêmicos. Salvador: Juspodivm, 2016, p. 144; RODRIGUES FILHO, Otávio Joaquim. Desconsideração da personalidade jurídica e processo: de acordo com o Código de Processo Civil de 2015. São Paulo: Malheiros, 2016, p. 259.
112
desconsideração contra os sócios (ou pessoa jurídica, na desconsideração inversa)
se daria na petição inicial no processo de conhecimento, cumulada com outra
demanda condenatória contra a pessoa jurídica. A previsão quanto ao cabimento do
incidente no processo de conhecimento pode gerar certa estranheza, mas é
perfeitamente possível407.
Em uma situação concreta na qual um sujeito necessite da prestação
jurisdicional contra uma pessoa jurídica para vê-la condenada a uma prestação, mas
que já tem conhecimento de sua falta de patrimônio devido aos atos fraudulentos
praticados pelo sócio(s) que ensejariam a desconsideração da personalidade jurídica,
a lei reconhece a utilidade do pedido mesmo antes da prática de atos que vise a
invasão patrimonial em bens dos sócios408, visando dar maior efetividade já a este
processo de conhecimento, caracterizando uma situação de litisconsórcio passivo
originário entre sócios e sociedade409.
No entanto, alguns inconvenientes podem ser identificados como a
necessidade de provar os pressupostos para a desconsideração sendo que não há
sequer certeza do débito e a consequente desnecessidade da atividade
jurisdicional410.
Desconsiderar a personalidade sem ter configurado o pressuposto do efetivo
prejuízo ao credor viola as razões da própria da teoria, mostrando-se temerária a
cumulação de demandas no processo de conhecimento.
Contudo, o pedido de desconsideração de forma originária é uma faculdade
do autor para já tentar obter certeza tanto acerca do débito quanto da
responsabilidade, atraindo para si encargos correspondentes como custas
processuais, honorários advocatícios, multas e até indenização por prejuízos,
devendo o autor agir de forma séria e apresentar demanda bem fundamentada em
seus pressupostos411.
Não sendo pleiteada a desconsideração na petição inicial do processo de
conhecimento, será, então, considerada a demanda como incidental ao processo em
407 GAMA, Op. cit. 408 YARSHEL, Flávio Luiz. Do incidente de desconsideração da personalidade jurídica. In: CABRAL, Antonio do Passo; CRAMER, Ronaldo. Comentários ao novo Código de Processo Civil. Rio de Janeiro: Forense, 2016, p. 235. 409 CÂMARA. Op. cit., p. 478. 410 DIAS, Handel Martins. Análise crítica do projeto do novo Código de Processo Civil com relação à desconsideração da personalidade jurídica. Revista Síntese de Direito Empresarial. n. 32, p. 31-76, mai-jun/2013, p. 70. 411 YARSHEL. Op cit., p. 235.
113
curso, em especial na fase de cumprimento de sentença e execução de título
executivo extrajudicial, momento em que mais facilmente se constata a falta de bens
da pessoa jurídica (ou sócio, na inversa), ensejando o incidente de desconsideração.
Tratando-se de fase de cumprimento de sentença ou ação de execução,
também há possibilidade de o requerimento de desconsideração ser feito na petição
inicial da execução ou no cumprimento de sentença, mesmo não constando os sócios
no título executivo412, até como forma de economia processual. Nesta hipótese, a
parte elaborará sua petição inicial de cumprimento de sentença ou execução e em
capítulo próprio demonstrará os pressupostos da desconsideração e os consequentes
pedidos. O juiz, verificando o preenchimento dos pressupostos para sua admissão,
instaurará o incidente, suspendendo a execução até a decisão apta a constituir o título
executivo em face dos terceiros, agora partes na execução, dando seu normal
prosseguimento413.
A decisão sobre a escolha do momento ou fase processual que se pedirá a
desconsideração da personalidade jurídica, seja na petição inicial do processo de
conhecimento, na inicial da execução em qualquer fase do processo em curso,
dependerá necessariamente da identificação do preenchimento dos pressupostos
para a desconsideração, o que mais facilmente se dá na fase de cumprimento da
obrigação pecuniária e a correspondente insatisfação pela falta de bens.
Assim, não sendo a desconsideração da personalidade jurídica e o seu
incidente uma panaceia, a parte deverá tomar as cautelas necessárias para se
assegurar das provas necessárias dos pressupostos da desconsideração, escolhendo
o momento e forma adequados para instauração do incidente, sob pena de se
aventurar juridicamente, respondendo nos consectários legais da improcedência
desta demanda.
412 THEODORO JUNIOR. Humberto. Curso de direito processual civil: teoria geral do direito civil, processo de conhecimento e procedimento comum. Rio de Janeiro: Forense, 2016, v. 1. p. 405. 413 Em ambas as hipóteses se estará diante de um litisconsórcio passivo facultativo, e na hipótese de a desconsideração ser de forma incidente, será também ulterior. REQUIÃO, Maurício. O incidente de desconsideração da personalidade jurídica: o novo Código de Processo Civil entre a garantia e a efetividade. Revista de Direito Civil Contemporâneo. v. 10, p. 31-50, jan-mar/2017. Disponível em: <https://www.thomsonreuters.com.br>. Acesso em: 01 ago. 2017 e Enunciado nº 125 do Fórum Permanente de Processualistas Civis: Há litisconsórcio passivo facultativo quando requerida a desconsideração da personalidade jurídica, juntamente com outro pedido formulado na petição inicial ou incidentemente no processo em curso. BRASIL. Fórum Permanente de Processualistas Civis. Disponível em: < http://www.cpcnovo.com.br/wp-content/uploads/2016/06/FPPC-Carta-de-Sa%CC%83o-Paulo.pdf>. Acesso em: 15 out. 2017.
114
5.4.2 Do cabimento do incidente de forma subsidiária e supletiva em outros ramos do
direito
Devido à aplicação supletiva e subsidiária do Código de Processo Civil
prevista em seu artigo 15414, há também o cabimento do incidente de desconsideração
em outros ramos do Direito, bem como a previsão em leis especiais sobre a aplicação
do Código de Processo Civil, a exemplo a Lei de Ação Civil Pública, em seu artigo
19415.
Pontos que se destacam quanto ao cabimento em outros ramos do direito
dizem respeito ao processo tributário e ao processo do trabalho.
Em relação ao cabimento do incidente no processo tributário, em especial nos
executivos fiscais, ficou registrada a inviabilidade de cabimento do incidente de
desconsideração quando se trata de responsabilidade tributária imputada de forma
direta ao sócio, justamente por não ser caso de desconsideração da personalidade
jurídica, conforme item 4.1.1 deste trabalho.
Em relação ao processo do trabalho, não se vê maiores dificuldades do
cabimento do incidente de desconsideração em processos sobre esta disciplina
processual416.
Neste ponto ressalta-se a Resolução nº. 203, de 15 de março de 2016, que
editou a Instrução Normativa nº 39/2016, dispondo sobre as normas do Código de
Processo Civil aplicáveis e inaplicáveis ao Processo do Trabalho417.
Consta no artigo 6º da referida instrução normativa que o incidente de
desconsideração da personalidade jurídica se aplica ao processo do trabalho,
“assegurada a iniciativa do juiz do trabalho na fase de execução (CLT, art. 878)”.
A referida Instrução foi editada antes da chamada “reforma trabalhista”
414 Art. 15. Na ausência de normas que regulem processos eleitorais, trabalhistas ou administrativos, as disposições deste Código lhes serão aplicadas supletiva e subsidiariamente. 415 Como se deu a desconsideração da personalidade jurídica no famoso caso da explosão do Shopping de Osasco, Recurso Especial n. 279.273/SP. BRASIL. Op. Cit. 416 Enunciado n. 124 do Fórum Permanente de Processualistas Civis: A desconsideração da personalidade jurídica no processo do trabalho deve ser processada na forma dos arts. 133 a 137, podendo o incidente ser resolvido em decisão interlocutória ou na sentença. BRASIL. Fórum Permanente de Processualistas Civis. Disponível em: < http://www.cpcnovo.com.br/wp-content/uploads/2016/06/FPPC-Carta-de-Sa%CC%83o-Paulo.pdf>. Acesso em: 15 out. 2017. 417 BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Resolução n. 203, de 15 de março de 2016. Edita a Instrução Normativa n. 39, que dispõe sobre as normas do Código de Processo Civil de 2015 aplicáveis e inaplicáveis ao processo do trabalho, de forma não exaustiva. Disponível em: < http://www.tst.jus.br/documents/10157/429ac88e-9b78-41e5-ae28-2a5f8a27f1fe>. Acesso em: 12 jan. 2017.
115
promovida pela Lei nº 13.467, de 13 de julho de 2017. Antes da reforma, o artigo 878
da CLT previa que o juiz poderia, ex officio, promover a execução do crédito
trabalhista. Após a reforma, o citado artigo passou a prever que o juiz só pode
promover a execução de ofício caso a parte não esteja representada por advogado418.
A questão é que o incidente de desconsideração não é uma fase da execução,
mas sim uma demanda incidente, encontrando óbice nos argumentos utilizados para
a instauração do incidente de forma oficiosa em qualquer processo, conforme
demonstrado no item 5.1.1, ao qual se remete.
Assim, duas constatações podem ser feitas: a primeira é que, por óbvio, o
incidente é aplicável ao processo do trabalho; a segunda é que devido à natureza
como demanda do incidente, este não poderá ser instauração de ofício pelo juízo
trabalhista porque não é uma mera fase no processo executivo, da mesma forma
como se dá na impossibilidade de instauração oficiosa em quaisquer outros
procedimentos.
Ainda que a natureza alimentar da verba salarial tenha uma proteção maior
pelo Estado, a demanda incidental de desconsideração tem a mesma natureza da
reclamação trabalhista, em que depende da vontade da parte em exercer seu direito
de ação através da demanda, não podendo o Estado-juiz se substituir neste direito da
parte.
Por último, há que se fazer nota em relação ao incidente de desconsideração da
personalidade e seu cabimento no processo falimentar. Tratando-se de processo em
que se busca a satisfação dos credores de forma concursal justamente pela
impossibilidade de solver integralmente todos os créditos419, o que enseja o
preenchimento de um dos pressupostos para a desconsideração, que é a insolvência,
a aplicação do incidente se mostra perfeitamente cabível420. O que se deve notar é
que o incidente de desconsideração da personalidade da desconsideração também
não se confunde com o procedimento para apuração da responsabilidade dos sócios,
418 Art. 878. A execução será promovida pelas partes, permitida a execução de ofício pelo juiz ou pelo Presidente do Tribunal apenas nos casos em que as partes não estiverem representadas por advogado. (Redação dada pela Lei nº 13.467, de 2017). 419 Ainda que se reconheça que a decretação da falência se dá pelo conceito de insolvência jurídica, ou seja, a depender do preenchimento das condições do artigo 94 da Lei de Falências. 420 Enunciado n. 247 do Fórum Permanente de Processualistas Civis: Aplica-se o incidente de desconsideração da personalidade jurídica no processo falimentar. BRASIL. Fórum Permanente de Processualistas Civis. Disponível em: < http://www.cpcnovo.com.br/wp-content/uploads/2016/06/FPPC-Carta-de-Sa%CC%83o-Paulo.pdf>. Acesso em: 15 out. 2017.
116
controladores e administradores previsto no artigo 82 da Lei de Falências421.
Os requisitos para apuração da responsabilidade civil por ilícito prevista na Lei
de Falências são diversos dos requisitos para a desconsideração da personalidade
jurídica. Para a ação de responsabilização prevista na Lei de Falências, não há como
pressuposto a insuficiência patrimonial para a responsabilização dos sócios422. Nesta
ação não só os sócios serão responsabilizados, mas também administrador da
sociedade limitada, acionista controlador da sociedade anônima e administrador da
sociedade anônima. E este procedimento também se aplica aos casos em que não
houve integralização do capital social, situações que não se compatibilizam com a
desconsideração da personalidade jurídica423.
Ademais, para a ação de responsabilização há o prazo prescricional de dois
anos, contados do trânsito em julgado da sentença de encerramento da falência,
conforme o parágrafo 1º do artigo 82 da Lei de Falências, diversamente do que
ocorre com o pedido de desconsideração da personalidade jurídica, em que não há
prazo prescricional ou decadencial para o exercício deste direito potestativo, nasce o
direito potestativo de ingerência na esfera jurídica de terceiros, reclamando do Juízo
uma tutela constitutiva positiva, nascedoura mesma de uma nova relação jurídica
entre o credor e os sócios, conduzindo à conclusão de que tal pedido estaria, em
tese, sujeito a prazo decadencial, o que não ocorre, conforme decido pelo Superior
Tribunal de Justiça no Recurso Especial n. 1.180.191 – RJ, relatado pelo ministro
Luiz Felipe Salomão424-425, sob o fundamento de que como não há previsão legal de
421 Enunciado nº 48 da I Jornada de Direito Comercial do Conselho da Justiça Federal: A apuração da responsabilidade pessoal dos sócios, controladores e administradores feita independentemente da realização do ativo e da prova da sua insuficiência para cobrir o passivo, prevista no art. 82 da Lei n. 11.101/2005, não se refere aos casos de desconsideração da personalidade jurídica. BRASIL. Conselho da Justiça Federal. I Jornada de Direito Comercial. Disponível em: <file:///C:/Users/PC-01/Downloads/Enunciados_aprovados-Referencia_Legislativa-Justificativa_II_Jornada.pdf>. Acesso em: 12 jun. 2017. 422 Ainda que se entenda esgotado seus bens, justamente por isso estar a sociedade em estado falimentar. 423 COELHO, Fábio Ulhoa. Comentários à lei de falências e de recuperação de empresas [Livro eletrônico]. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2017. 424 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº 1.180.191 - RJ. Relator: Min. Luis Felipe Salomão. Brasília, DF, 05 de abril de 2011. Diário Oficial da União. Brasília. Disponível em: <http://www.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/toc.jsp?livre=1180191&&tipo;_visualizacao=RESUMO&b=ACOR>. Acesso em: 26 ago. 2011. 425 Sobre prescrição e decadência, vide AMORIM FILHO, Agnelo. Critério científico para distinguir a prescrição da decadência para identificar as ações imprescritíveis. Revista dos Tribunais. v. 744, p. 725-750, out/1997. Disponível em: <https://www.thomsonreuters.com.br>. Acesso em: 01 ago. 2017. Veja-se também: THEODORO JUNIOR, Humberto. Distinção científica entre prescrição e decadência. Um tributo à obra de Agnelo Amorim Filho. Revista dos Tribunais. v. 836, p. 49-68, jun/2005. Disponível em: <https://www.thomsonreuters.com.br>. Acesso em: 01 ago. 2017.
117
prazo para o pedido de desconsideração, contrariamente do que ocorre com a ação
revocatória falencial e pauliana, prevalece a regra geral da inesgotabilidade ou da
perpetuidade, segundo a qual os direitos não se extinguem pelo não-uso.
Do que foi exposto se conclui que mesmo diante da vastidão de possibilidade
de cabimento do incidente de desconsideração nos mais diversos ramos do direito, o
aplicador do direito deverá estar atento à excepcionalidade da desconsideração da
personalidade jurídica para não pretender aplicar o incidente de desconsideração em
hipóteses de responsabilização de sócios e administradores que possuem os meios
próprios para tal finalidade, sob de desvirtuar as razões e os fundamentos da criação
do novel instituto.
5.4.3 Do cabimento em fase recursal e em sede de tribunais
O Código de Processo Civil, prevendo que o incidente é cabível em qualquer
fase do processo de conhecimento, cumprimento de sentença ou execução, expõe
claramente a intenção de não estabelecer barreiras processuais para a efetivação da
desconsideração da personalidade jurídica, sendo possível até mesmo na fase
recursal426, intepretação que se extrai do artigo 134, combinado com o artigo 136,
parágrafo único, ambos do Código de Processo Civil.
Porém, diante da previsão contida no artigo 932, inciso VI, do Código de
Processo, de que cabe ao relator decidir o incidente quando for instaurado
originariamente no tribunal, pode-se concluir que a instauração, processamento e
julgamento do incidente diretamente no tribunal só se dará quando este for
competente de forma originária, como poderia se dar na instauração de forma
incidental em uma ação rescisória427.
Desta forma, a instauração, processamento e julgamento do incidente
diretamente no tribunal só se dará quando este for competente de forma originária,
como poderia se dar na instauração de forma incidental em uma ação rescisória428.
Por outro lado, quando o requerente pretender instaurar o incidente em
426 XAVIER, José Tadeu Neves. A processualização da desconsideração da personalidade jurídica. Revista de Processo. v. 254, p. 151-191, abr/2016. <https://www.thomsonreuters.com.br>. Acesso em: 01 ago. 2017. 427 Não se vislumbra competência originária para instauração do incidente no âmbito do Superior Tribunal de Justiça e do Supremo Tribunal Federal. CÂMARA. Op cit., p. 483. 428 Não se vislumbra competência originária para instauração do incidente no âmbito do Superior Tribunal de Justiça e do Supremo Tribunal Federal. CÂMARA. Op cit., p. 483.
118
processo que estiver em fase recursal (de forma não originária), a instauração deverá
se dar no juízo originariamente competente429, que fará o juízo de admissibilidade,
instaurando-o e oficiando ao relator do processo em segundo grau para que suspenda
a demanda até o julgamento do incidente em primeiro grau, facilitando inclusive o
processamento, a produção de provas e a redução de despesas para as partes, o que
melhor se coaduna com o incidente430-431, garantido o acesso à parte sucumbente a
todos os graus recursais das decisões que resolvem o incidente.
5.4.4 Do cabimento do incidente nos Juizados Especiais
A previsão do incidente de desconsideração da personalidade jurídica como
uma espécie de intervenção de terceiros poderia criar claro entrave para sua aplicação
nos ritos dos Juizados Especiais, por expressa vedação legal contida no artigo 10 da
Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995432.
A vedação se justifica porque as intervenções podem ampliam objetivamente
o subjetivamente o processo, acarretando maior complexidade e morosidade para a
causa433, indo de encontro aos princípios informadores do rito dos Juizados Especiais.
No entanto, tendo em vista que um dos princípios informadores do incidente
de desconsideração da personalidade jurídica é o da efetividade, em especial no
grande número de demandas executivas de consumidores contra fornecedores
pessoas jurídicas, o Código de Processo Civil previu de forma clara e objetiva que o
incidente se aplica aos processos de competência dos Juizados Especiais, conforme
estabelece o artigo 1.062434.
429 YARSHEL. Op. cit., p. 241. 430 CÂMARA. Op cit., p. 483. 431 No tocante à instauração do incidente quando o processo estiver em fase recursal, Araken de Assis assinala que “caberia à parte aguardar o julgamento e requerer a instauração do incidente na fase de cumprimento de sentença, sendo assim uma faculdade da parte”. In: ASSIS, Araken de. Processo civil brasileiro: parte geral: institutos fundamentais. v. 2. t. 1. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2016, p. 147-148. É uma faculdade realmente viável, pois, tratando-se de um processo de conhecimento contra o possível devedor, a instauração na fase de cumprimento de sentença já haveria a certeza do débito e a possível insuficiência de bens da pessoa jurídica, o que mais se coaduna com o instituto da desconsideração da personalidade jurídica. 432 Art. 10. Não se admitirá, no processo, qualquer forma de intervenção de terceiro nem de assistência. Admitir-se-á o litisconsórcio. BRASIL. Lei n. 9.099, de 26 de setembro de 1995. Disponível em < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9099.htm>. Acesso em 15 jul. 2017. 433 FIGUEIRA JUNIOR, Joel Dias; TOURINHO NETO, Fernando da Costa. Juizados especiais federais cíveis e criminais: comentários à Lei n. 10.259, de 12.07.2001. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2010, p. 162. 434 Art. 1.062. O incidente de desconsideração da personalidade jurídica aplica-se ao processo de competência dos juizados especiais.
119
Tendo em vista que o rito do Juizado é para causas de menor complexidade,
pode ocorrer de o processo principal tenha mesmo esta característica, como uma
execução. No entanto, pode ocorrer que eventual demanda incidente de
desconsideração no processo de execução se mostre de maior complexidade pela
necessidade da realização de prova pericial para constatação de fraude e a
desconsideração da personalidade jurídica, o que tornaria incompatível a demanda
incidente no Juizado Especial435.
Neste caso, considerando que o incidente de desconsideração é demanda
autônoma em relação à demanda executiva e diante da complexidade da demanda
incidental, o juiz deverá declinar de sua competência, cabendo a parte, se assim
pretender, demandar os sócios na justiça comum pelo procedimento previsto para o
incidente.
Outra possibilidade dada ao exequente é que, na falta de bens penhoráveis,
pede-se a extinção da execução436 e promova seu ajuizamento na justiça comum já
com o pedido de desconsideração na petição inicial da execução, conforme
possibilidade demonstrada no item 5.4.1.
5.5 O requerimento de instauração, momento de instauração e suspensão do
processo
O caput do artigo 134 do Código de Processo Civil trata do cabimento do
incidente, conforme exposto no item anterior.
Seus quatro parágrafos versam sobre a instauração do incidente e
comunicação ao distribuidor (§ 1º), dispensa de instauração (§ 2º), suspensão do
processo (§ 3º) e do requerimento de instauração (§ 4º).
A ordem dos parágrafos não parece muito lógica. Assim, procurando realizar
uma abordagem mais adequada, a ordem será a que se segue nos próximos itens.
5.5.1 O requerimento de instauração do incidente
Conforme já dito, pode ser que o pedido de desconsideração seja feito de
forma originária, cumulado com outro pedido, por exemplo, pedindo a condenação da
435 XAVIER. Op. cit. 436 Art. 53, parágrafo 4º da Lei n. 9.099/95.
120
pessoa jurídica e a desconsideração da personalidade jurídica em face dos sócios.
Nesta situação, a petição observará como qualquer outra os requisitos dos artigos 319
e 320 do Código de Processo Civil.
Por outro lado, pode ser que o pedido seja de forma incidente, com demanda
única sobre a desconsideração, da qual o demandante deverá lançar mão do
requerimento assinalado no § 4º do artigo 134 do Código de Processo Civil.
Este requerimento não se dará por simples petição autônoma437-438,
protocolada no curso da ação, como parece lhe atribuir esta característica pelo
exclusivo fato de ser o procedimento para desconsideração denominado como
“incidente”. A desconsideração da personalidade jurídica é fato complexo.
Tratando-se de exercício de direito de ação pela demanda, o autor terá que
elaborar a petição com relato da situação de Direito material com as provas
documentais que já possuir, cabendo ainda indicar o juiz ou tribunal ao qual será
dirigida, a qualificação das partes, os fatos e fundamentos do pedido, o pedido e suas
especificações, as provas que pretende produzir, a opção por audiência de
conciliação439, a citação do réu e o valor da causa440.
O cumprimento dos requisitos do artigo 319 do CPC se mostra necessário
pois o requerimento (petição) de instauração do incidente da origem a um novo
processo incidente. Assim, em se tratando de desconsideração da personalidade
jurídica, as partes devem estar devidamente identificadas com os documentos que
comprovem suas qualidades para que sofram a responsabilização patrimonial, os
fatos deverem estar bem esclarecidos na petição, com as provas documentais
necessárias, os pedidos bem formulados, tudo para o bom sucesso do pedido.
Como visto, poderá haver situações em que o incidente não será processado
437 THEODORO JUNIOR. Humberto. Curso de direito processual civil: teoria geral do direito civil, processo de conhecimento e procedimento comum. Rio de Janeiro: Forense, 2016, v. 1, p. 401-402. 438 No mesmo sentido de Theodoro, não sendo necessária nova petição inicial, bastando um requerimento simples nos autos, inclusive em sede recursal: PATIÑO, Ana Paula Corrêa; VEZZONI, Marina. A desconsideração da personalidade jurídica à luz do novo Código de Processo Civil/2015. Revista de Processo. v. 76/2017, p. 219-236, abr-jun/2017. Disponível em: <https://www.thomsonreuters.com.br>. Acesso em: 01 ago. 2017. 439 Não há previsão de audiência de conciliação no procedimento para a desconsideração da personalidade jurídica, mas esta deverá ser sempre incentivada, nos termos do artigo 1º, parágrafo 3º do Código de Processo Civil. 440 Entendendo não haver necessidade de indicação do valor da causa: VIEIRA, Christian Garcia. Desconsideração da personalidade jurídica no novo CPC: natureza, procedimentos e temas polêmicos. Salvador: Juspodivm, 2016, p. 150-151. Entende-se necessária a indicação do valor da causa por expressa previsão do artigo 319, inciso V, do CPC, até para fins arbitramento das verbas sucumbenciais. Também, considerando sua natureza como demanda incidental, sua petição inicial deve preencher todos os requisitos do ato da demanda.
121
junto com o processo principal, como nos casos de processos em fase recursal ou no
juizado especial, devendo, portanto, se formar um processo em apenso ao processo
principal441, o que exigirá um bom instrumento para seu adequado processamento.
5.5.1.1 Custas para instauração
Na distribuição ou protocolo do requerimento, o autor deverá se atentar para
o fato de seu respectivo tribunal já ter adotado o regime de custas para o incidente de
desconsideração da personalidade jurídica, como já ocorre no Estado do Rio de
Janeiro com valor fixo442 ou com base no valor atribuído à causa (incidente), conforme
regime de custas do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios443.
Não se identifica a cobrança de custas processuais na maioria dos tribunais
para a instauração do incidente444. Esta falta de cobrança ainda pode ser atribuída a
não compreensão da real natureza do incidente e como ele se desenvolverá na prática
judiciária, em que será necessária atividade das partes, advogados, eventualmente
do Ministério Público e do Poder Judiciário, situação em todos agirão como em
qualquer outro processo com citações, publicações, intimações, deslocamentos e
principalmente do a atividade de todo o aparato judiciário, o que necessariamente
demandará a cobrança de custas para a instauração do incidente.
5.5.2 O momento de instauração do incidente e sua finalidade
Prevê o § 1º do artigo 134 do CPC que a instauração do incidente será
imediatamente comunicada ao distribuidor para as anotações devidas. A finalidade de
constar a instauração do incidente no cartório distribuidor judicial é necessariamente
para que terceiros tenham conhecimento de que determinada pessoa está sendo
demandada e a procedência desta demanda resultará na responsabilização de seu
patrimônio, produzindo determinados efeitos de direito material445.
441 Ainda que em tempos de processos digitais estas barreiras de tramitação em apenso ou apartados se mostrem diminuídas na operacionalização dos processos. 442 Disponível em: <http://cgj.tjrj.jus.br/documents/1017893/1415195/novas-custas-jud-29-12-2016.pdf>. Acesso em: 15 nov. 2017. 443 Disponível em: <http://www.tjdft.jus.br/servicos/custas-judiciais/saiba-sobre/tabelas-de-custas/tabela-de-regimento-de-custas-completa/view>. Acesso em 15 de nov. 2017. 444 Pesquisa realizada via sítios eletrônicos dos tribunais estaduais e federais. 445 GAMA. Op. cit.
122
Sabe-se que para se evitar surpresas negociais desagradáveis como a fraude
contra credores ou fraude à execução, a extração de certidões de distribuição de
ações nos cartórios distribuidores se mostra como boa cautela, a fim de provar a boa-
fé do adquirente de determinado bem.
Assim, esta comunicação ao distribuidor, que deveria ser automática com a
instauração do incidente, é medida que acarreta segurança jurídica nos negócios
daqueles que contratem com sócios de determinada pessoa jurídica.
O que ainda pode gerar certa dúvida é o momento em que se considera
instaurado o incidente para fins de comunicação ao distribuidor, se é com a
distribuição por dependência do requerimento ao processo principal, ou quando o juiz
fizer seu juízo de admissibilidade, instaurando e comunicando ao distribuidor.
O momento mais apropriado para se considerar instaurado o incidente e haver
a comunicação ao distribuidor para a finalidade acima citada é o momento em que foi
deduzida a demanda em juízo, através do distribuidor, como acontece com as demais
petições iniciais, momento em que o próprio distribuidor fará as anotações
necessárias, tornando-se pública a demanda contra os terceiros446-447. Por conta disto
que o requerente deverá observar com atenção os pressupostos da desconsideração,
pois a indevida inserção de terceiro no incidente poderá acarretar prejuízos e
consequente responsabilidade civil do requerente448.
Após a distribuição do incidente, caso o juiz entenda não constarem
elementos para firmar seu juízo de admissibilidade do incidente, em prestígio ao
contraditório, deverá dar vista ao requerente para que se manifeste neste sentido e,
então, posteriormente, decidir ou não pela instauração do incidente449.
É possível constatar dois momentos distintos: o primeiro é a distribuição do
incidente pelo cartório distribuidor, momento em que se fará as anotações devidas em
relação à demanda incidental; No segundo momento, o juiz fará seu juízo de
admissibilidade e havendo a instauração do incidente, sua comunicação se fará
necessária unicamente para que conste a suspensão da execução ou do cumprimento
446 VIEIRA. Op. cit., p. 156-157. 447 Gama entende que “o magistrado deverá verificar a presença dos pressupostos para tanto, não sendo automática a sua instauração em razão de simples requerimento apresentado pelo interessado ou Ministério Público”. GAMA. Op. cit. No mesmo sentido: CÂMARA, Alexandre Freitas. O novo processo civil brasileiro. São Paulo: Atlas, 2017, p. 99. 448 YARSHEL, Flávio Luiz. Do incidente de desconsideração da personalidade jurídica. In: CABRAL, Antonio do Passo; CRAMER, Ronaldo. Comentários ao novo Código de Processo Civil. Rio de Janeiro: Forense, 2016, p. 235. 449 Idem.
123
de sentença, esta sim devendo constar no cartório distribuidor, pois os em relação ao
incidente de desconsideração as anotações já estarão realizadas.
Sabe também que em alguns juízos o lapso temporal entre a distribuição de
uma demanda e sua primeira apreciação pelo juiz pode demorar dias ou meses, o que
faria com que a comunicação ao distribuidor não cumpra sua finalidade em tempo
razoável.
Esta parece ser a melhor opção até para fins de operacionalizar os trabalhos
judiciários, seguindo a rotina forense de distribuição no cartório competente,
realização das anotações devidas por este e posterior conclusão ao juiz para sua
apreciação.
5.5.3 Instauração e suspensão do processo
O procedimento do incidente prevê que a sua instauração suspenderá o
processo450. O processo que se suspenderá é necessariamente o processo de
execução ou o cumprimento de sentença, como forma de suspensão imprópria451.
A previsão desta suspensão no procedimento do incidente é necessária para
não haja a suspensão da execução pela falta de bens penhoráveis do executado, que
perdurará pelo prazo de 01 ano, durante o qual a prescrição também estará suspensa.
Transcorrido este prazo, o juiz arquivará o processo e também se iniciará a correr o
prazo da prescrição intercorrente452.
Não houvesse referida previsão de suspensão, haveria grande
incompatibilidade entre o processamento do incidente e o reconhecimento da
prescrição intercorrente da dívida, pois ao final do incidente com a desconsideração
da personalidade jurídica, a responsabilização dos sócios poderia se dar em vão,
mostrando-se benéfica ao exequente a suspensão prevista no incidente, não havendo
que se falar na suspensão do artigo 921 do CPC e seus efeitos nas situações que
envolva o incidente.
Caso a execução seja ajuizada contra vários executados e sendo um deles
pessoa jurídica com a possibilidade de instauração do incidente de desconsideração
contra seus sócios, esta suspensão se dará somente em relação à pessoa jurídica
450 Art. 134, § 2° do CPC. 451 CÂMARA. Op. cit., p. 101 452 Artigo 921, inciso III, parágrafos 1º, 2º e 4º do Código de Processo Civil.
124
que se pretende desconsiderar, prosseguindo a execução contra os demais
executados, devido ao caráter impróprio desta suspensão.
Assim, a suspensão será no processo executivo apenas em relação aos atos
que não estejam relacionados com o processo incidente e suas partes.
Por óbvio, no mesmo dispositivo foi previsto que, ao ser feito o pedido na
petição inicial, o processo não se suspenderá, pois não há razão para a suspensão
por ainda não haver atos expropriatórios contra os réus cuja responsabilidade se quer
imputar via desconsideração
5.6 A “manifestação” do sócio ou da pessoa jurídica e seus limites de defesa
O artigo 135 do Código de Processo Civil prevê que, após instaurado o
incidente, o sócio ou a pessoa jurídica será citado para manifestar-se e requerer as
provas cabíveis no prazo de 15 (quinze) dias.
O referido dispositivo consagra os princípios do contraditório e da ampla
defesa ao chamar o sócio ou pessoa jurídica (inversa) para o processo através da
citação, tema já abordado no capítulo III.
Dentro da especificidade deste procedimento incidental, verifica-se que a
parte será citada para se manifestar, e não para comparecer à audiência de
conciliação ou mediação prevista no procedimento comum (art. 334). No entanto,
nada impede o requerente de pedir a sua realização, conforme já mencionado.
Quanto à forma desta manifestação, restou claro que a comissão de juristas
responsável pela elaboração do anteprojeto tentou dar características mais simples
ao processo de desconsideração da personalidade denominando-o como incidente,
sua petição inicial como requerimento e a defesa como manifestação, pois a parte
será citada para “manifestar-se” (art. 135 do CPC).
No entanto, “a “manifestação” referida no dispositivo sob análise é, em
verdade, a contestação, a ser apresentada pelo sócio ou pessoa jurídica, a qual
deverá juntar as provas e documentos nesta oportunidade (art. 434)”453, exercendo
453 BUENO, Cassio Scarpinella. Da intervenção de terceiros. In: BUENO, Cassio Scarpinella (Coord). Comentários ao Código de Processo Civil. São Paulo: Saraiva, 2017, p. 579. No mesmo sentido: NERY JUNIOR, Nelson; NERY, Rosa Maria de Andrade. Código de processo civil comentado. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais: 2016, p. 627.
125
também seu direito de ação454 para obter a certeza jurídica de que não praticou atos
ensejadores da desconsideração da personalidade jurídica455.
Como a petição inicial do incidente deve observar os requisitos de qualquer
petição, a petição da defesa também se mostra com a mesma exigência técnica, sob
pena de os requeridos sofrerem as consequências de sua inobservância.
Havendo litisconsórcio passivo na demanda incidente, será aplicável a regra
do art. 229 (prazo em dobro) se representados por diferentes procuradores de
escritórios de advocacia distintos456.
Questão de relevo diz respeito aos limites da defesa que o requerido poderá
deduzir na manifestação (contestação), em especial quando o pedido de
desconsideração for feito de forma incidental
Uma forma de apresentação da defesa seria atacar não apenas a demanda
sobre a desconsideração da personalidade jurídica, mas também todas as matérias
cabíveis em relação ao título em que se funda a dívida457. No entanto, esta forma de
defesa só se mostra viável quando o pedido de desconsideração for formulado
cumulativamente com outro na petição inicial do processo de conhecimento458 e não
no pedido de forma incidental na execução.
Isto porque os procedimentos para discussão da dívida em processo de
execução ou cumprimento de sentença são outros com pressupostos e procedimentos
próprios nos quais as pessoas afetadas pela desconsideração se tornarão parte e
poderão se defender pelo meio adequado para tanto459.
454 MENDES, Aluisio Gonçalves de Castro. Teoria geral do processo. Rio de Janeiro: Lumem Juris, 2009, p. 88-89. 455 YARSHEL. Op. cit., p. 232. 456 REQUIÃO, Maurício. O incidente de desconsideração da personalidade jurídica: o novo Código de Processo Civil entre a garantia e a efetividade. Revista de Direito Civil Contemporâneo. v. 10, p. 31-50, jan-mar/2017. Disponível em: <https://www.thomsonreuters.com.br>. Acesso em: 01 ago. 2017. 457 YARSHEL. Op. cit., p. 240. 458 Enunciado nº 248 do Fórum Permanente de Processualistas Civis: quando a desconsideração da personalidade jurídica for requerida na petição inicial, incumbe ao sócio ou a pessoa jurídica, na contestação, impugnar não somente a própria desconsideração, mas também os demais pontos da causa. BRASIL. Fórum Permanente de Processualistas Civis. Disponível em: < http://www.cpcnovo.com.br/wp-content/uploads/2016/06/FPPC-Carta-de-Sa%CC%83o-Paulo.pdf>. Acesso em: 15 out. 2017. 459 Referindo-se aos embargos à execução ou impugnação ao cumprimento de sentença: ASSIS, Araken de. Processo civil brasileiro: parte geral: institutos fundamentais. v. 2. t. 1. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2016, p. 150; CÂMARA, Alexandre Freitas. Do incidente de desconsideração da personalidade jurídica. In: Breves comentários ao novo Código de Processo Civil. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2016, p, 481; CUNHA, Leonardo Carneiro da. A Fazenda Pública em juízo. Rio de Janeiro: Forense, 2017, p. 424; RODRIGUES FILHO, Otávio Joaquim. Desconsideração da personalidade jurídica e processo: de acordo com o Código de Processo Civil de 2015. São Paulo: Malheiros, 2016, p. 322-324; VIEIRA, Christian Garcia. Desconsideração da personalidade jurídica no novo CPC: natureza, procedimentos e temas polêmicos. Salvador: Juspodivm, 2016, p. 168-174;
126
Tome-se como exemplo os embargos à execução que não suspendem
automaticamente a execução, salvo concessão de efeito suspensivo quando
verificados os requisitos para a concessão da tutela provisória e desde que a
execução já esteja garantida por penhora, depósito ou caução suficientes460, o que
não é compatível com o procedimento criado para decidir sobre a desconsideração
da personalidade jurídica.
A partir dos debates da Comissão de Juristas responsável pela elaboração do
anteprojeto do atual Código pôde se extrair que a ideia era criar o incidente de
desconsideração para que nele fosse tratado somente o tema da desconsideração,
conforme as palavras de Luiz Fux, ao dizer que criaria um incidente só sobre a
legitimidade antes de começar a execução até a expropriação461.
A genealogia do incidente e a especificidade de seu procedimento levam a conclusão
de que sua criação foi para se decidir estritamente sobre a desconsideração da
personalidade jurídica (responsabilidade), não havendo espaço para discussão de
outra questão que não a da desconsideração, ressalvada a hipótese de ocorrência
prescrição da pretensão executiva, o que se mostra salutar sua alegação já no
incidente e nele decidida como forma de economia processual.
Por fim, se não for apresentada a manifestação, operar-se-ão os efeitos da
revelia.
5.7 Da decisão que resolve o incidente de desconsideração e recursos cabíveis
Conforme consta do artigo 136 do Código de Processo Civil, concluída a
instrução, se necessária, o incidente será resolvido por decisão interlocutória.
A primeira observação que se faz é em relação à eventual desnecessidade
de instrução do incidente, ao utilizar a expressão “se necessária” no dispositivo.
Cogita-se como desnecessária a instrução em quatro hipóteses: a primeira,
no caso de improcedência liminar do pedido; a segunda, quando a parte requerida
XAVIER, José Tadeu Neves. A processualização da desconsideração da personalidade jurídica. Revista de Processo. v. 254, p. 151-191, abr/2016. <https://www.thomsonreuters.com.br>. Acesso em: 01 ago. 2017. 460 Artigo 919, parágrafo 1º do CPC. 461 BRASIL. Senado Federal. Ata da segunda reunião da Comissão de Juristas responsável pela elaboração de anteprojeto de Código de Processo Civil. Disponível em: < http://legis.senado.leg.br/diarios/BuscaPaginasDiario?codDiario=2462&seqPaginaInicial=252&seqPaginaFinal=333>. Acesso em: 5 jun. 2017.
127
reconhecer o pedido do requerente; a terceira, quando a parte requerida for revel; e,
a quarta, quando se tratar de demanda que verse sobre os pressupostos pautados na
teoria menor. Nesta hipótese, o obstáculo para o ressarcimento ao credor deverá estar
provado documentalmente já com a petição inicial, não necessitando de dilação
probatória.
Havendo pedido de desconsideração formulado originariamente (petição
inicial em processo de conhecimento) com outro pedido, portanto, ocorrendo o cúmulo
objetivo e subjetivo de demandas, não haverá processo incidente e a decisão sobre a
desconsideração poderá se dar de duas formas: (i) acolhido o pedido no curso do
processo de conhecimento não caberá recurso de imediato, pois não se trata de
incidente, cabendo à parte vencida manifestar sua irresignação no recurso de
apelação ou contrarrazões, nos termos do artigo 1.009 do Código de Processo Civil.
Desacolhido no curso do processo, a decisão equivalerá como exclusão de
litisconsorte, recorrível através de agravo de instrumento, nos termos do artigo 1.015,
inciso VII, do Código de Processo Civil462. Se a decisão, de procedência ou não, se
der ao final do processo, será uma típica sentença recorrível através de apelação,
aplicando-se o § 3º do artigo 1.009 do Código de Processo Civil463-464.
Caso o pedido seja feito de forma incidental (processo incidente), o incidente
será resolvido por decisão interlocutória465.
Sendo o incidente instaurado originariamente no tribunal, a decisão caberá ao
relator, recorrível por agravo interno, nos termos do artigo 136, parágrafo único,
combinado com o artigo 1.021, ambos do Código de Processo Civil.
Aqui vale dizer novamente466 sobre a possibilidade de a pessoa jurídica ou o
sócio (na inversa) recorrer da decisão que desconsidere a personalidade jurídica a fim
462 XAVIER, José Tadeu Neves. A processualização da desconsideração da personalidade jurídica. Revista de Processo. v. 254, p. 151-191, abr/2016. <https://www.thomsonreuters.com.br>. Acesso em: 01 ago. 2017. 463 BUENO, Cassio Scarpinella. Da intervenção de terceiros. In: BUENO, Cassio Scarpinella (Coord.). Comentários ao Código de Processo Civil. São Paulo: Saraiva, 2017, p. 581-582. 464 Resolvida a desconsideração da personalidade jurídica na sentença, caberá apelação. In: BRASIL. Fórum Permanente de Processualistas Civis. Disponível em: <http://www.cpcnovo.com.br/wp-content/uploads/2016/06/FPPC-Carta-de-Sa%CC%83o-Paulo.pdf>. Acesso em: 15 out. 2017. 465 Cumpre mencionar o Enunciado nº 126, que trata da aplicação da decisão do incidente no processo do trabalho que está de acordo com a IN nº 39/2016 do TST: No processo do trabalho, da decisão que resolve o incidente de desconsideração da personalidade jurídica na fase de execução cabe agravo de petição, dispensado o preparo. In: BRASIL. Fórum Permanente de Processualistas Civis. Disponível em: <http://www.cpcnovo.com.br/wp-content/uploads/2016/06/FPPC-Carta-de-Sa%CC%83o-Paulo.pdf>. Acesso em: 15 out. 2017. 466 Veja-se o item 5.1.
128
de afirmar sua personalidade, nos termos do artigo 996 do Código de Processo Civil.
Estas são as balizas em relação ao sistema recursal envolvendo o incidente
de desconsideração, devendo apenas ser identificado o exato procedimento adotado
e o momento em que há a decisão para que maneje adequadamente o recurso
cabível, pois como se demostrou, nem sempre será o caso de se recorrer através do
recurso de agravo.
5.7.1 A natureza da decisão que resolve o incidente
Ultrapassadas as questões práticas, discorre-se sobre a natureza da decisão
que resolve o incidente e suas implicações.
Nos debates da comissão responsável pela elaboração do anteprojeto do
Código de Processo Civil, na parte que versou sobre as diferenças entre os recursos
de agravo e apelação, Humberto Theodoro Junior467 se manifestou no sentido de que
a diferença entre agravo e apelação se deu no Código de Processo Civil de 1973 não
pelo conteúdo de ambos os recursos, mas pelo procedimento em que eles incidiam.
Em ambos os recursos poderia haver matéria de mérito, mas em determinados casos
o processo estaria encerrado e em outro não. Caso houvesse decisão em que não se
encerrasse o processo, este não deveria ir para o tribunal, mas somente o recurso,
daí o agravo de instrumento. Havendo encerramento do processo, todo o processo
iria para tribunal através da apelação468.
Por isto que se registrou nos debates da comissão que a decisão que resolve
o incidente é, na verdade, uma apelação, já que resolve o mérito de um processo
incidente469.
Constar no Código que o incidente será resolvido por decisão interlocutória
não altera a questão de mérito decidida (a desconsideração), significando apenas que
467 BRASIL. Senado Federal. Ata da segunda reunião da Comissão de Juristas responsável pela elaboração de anteprojeto de Código de Processo Civil. Disponível em: < http://legis.senado.leg.br/diarios/BuscaPaginasDiario?codDiario=2462&seqPaginaInicial=252&seqPaginaFinal=333>. Acesso em 05 jun. de 2017, p. 6564. 468 É o que se dá com a sentença que declara a falência, cujo recurso cabível é o recurso de agravo, nos termos do artigo 100 da Lei de Falência, não estando o nome da decisão relacionada ao seu conteúdo, mas sim ao procedimento adotado. COELHO, Fábio Ulhoa. Comentários à lei de falências e de recuperação de empresas [Livro eletrônico]. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2017. 469 BRASIL. Senado Federal. Ata circunstanciada da oitava reunião da comissão de juristas, realizada em 12 e 13.04.2010. Disponível em: < http://legis.senado.leg.br/diarios/BuscaDiario?tipDiario=1&datDiario=14/05/2010&paginaDireta=20917 >. Acesso em: 5 jun. 2017, p. 21.084.
129
através do recurso de agravo o incidente vai subir470 ao tribunal para ser decidido,
enquanto o processo principal terá seu seguimento naquilo que não estiver suspenso
(suspensão imprópria).
Neste sentido, a decisão de mérito proferida no incidente tem natureza de
sentença, pois ao acolher ou rejeitar a desconsideração, decide o mérito da demanda
incidente, sendo apta a alcançar a autoridade da coisa julgada material, tornando-se
imutável e indiscutível471, podendo apenas ser desconstituída via ação rescisória472.
Esta constatação tem importante resultado prático pois a criação do incidente
visa dar uma maior racionalidade à desconsideração da personalidade jurídica, não
mais se aplicando da forma desenfreada e sem o devido critério técnico como se via
anteriormente ao atual Código.
Traçando estas características do novo instituto, deverá importar em um grau
técnico mais apurado por parte dos operadores do direito sobre o tema (partes e juiz),
pois uma vez decido o mérito da demanda que envolva a desconsideração, pela coisa
julgada estará acobertada a decisão, demandando extremo cuidado no tocante aos
seus pressupostos e provas dos fatos, sob pena de não conseguir responsabilizar os
sujeitos que se utilizaram fraudulentamente da pessoa jurídica.
5.7.2 Das verbas sucumbenciais
O atual Código de Processo Civil não previu o pagamento de verbas
sucumbenciais pelo vencido no caso do incidente de desconsideração, como o fez
com a denunciação da lide.
No entanto, isto não afasta a possibilidade de o vencido no incidente de
desconsideração ser condenado nas verbas sucumbenciais como as custas,
despesas e honorários advocatícios.
De acordo com o Código de Processo Civil, apenas a sentença poderá
condenar o vencido em pagar os honorários do vencedor (art. 85), o que poderia fazer
pensar que no incidente de desconsideração não haveria condenação em honorários
por ser decidido por decisão interlocutória
Porém, mais uma vez, não é nome atribuído às coisas que lhe dão essência.
470 Com o processo eletrônico estas particularidades desaparecem. 471 CÂMARA, Alexandre Freitas. O novo processo civil brasileiro. São Paulo: Atlas, 2017, p. 104. 472 GAMA. Op. Cit.
130
Na hipótese de uma decisão interlocutória que exclua o litisconsorte ou
terceiro interveniente antes da sentença, cuja decisão será atacada via recurso de
agravo de instrumento473, esta decisão tem natureza de sentença porque pôs fim a
relação processual entre as partes, encerrando o processo em relação a elas,
devendo haver a condenação nas verbas sucumbenciais474.
No caso do incidente de desconsideração da personalidade jurídica a
sistemática deve ser a mesma475 em razão de que houve uma demanda (incidental) e
através de atividade jurisdicional se resolveu o mérito por uma decisão com natureza
de sentença, pois encerrará esta demanda, devendo, portanto, haver a condenação
da parte vencida nas despesas e honorários advocatícios.
Seria contraditório não haver condenação nas verbas sucumbenciais quando
o pedido de desconsideração se desse de forma incidental e decido de forma
interlocutória e haver condenação quando o pedido de desconsideração fosse feito de
forma originária na petição inicial do processo de conhecimento e decidido por
sentença. Os efeitos de ambas decisões são os mesmos, por isso possuem a mesma
natureza.
Assim, a decisão interlocutória que decide o incidente deverá condenar o
vencido nas custas, despesas e honorários advocatícios, nos termos do artigo 85 do
Código de Processo Civil.
5.8 A desconsideração da personalidade jurídica e a fraude à execução
O artigo 137 do Código de Processo Civil prevê que se o pedido de
desconsideração for acolhido, a alienação ou a oneração de bens, havida em fraude
de execução, será ineficaz em relação ao requerente.
O referido artigo cuida dos efeitos da desconsideração da personalidade
jurídica no patrimônio da parte atingida. É bem possível que o sócio, mesmo antes da
desconsideração, mas já conhecedor do estado de insolvência da sociedade da qual
faz parte, busque proteger seu patrimônio pessoal através de atos fraudulentos ou
seja, que pratique fraude dilapidando ou onerando seu próprio patrimônio a fim de
473 Artigo 1.015, incisos XII e IX do CPC. 474 THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil: teoria geral do direito processual civil, processo de conhecimento e procedimento comum. vol. 1. Rio de Janeiro: Forense, 2016, p. 305. 475 BUENO. Op. cit., p. 585.
131
prejudicar credores.
Diante da possibilidade deste cenário, o legislador fez incidir as regras da
fraude à execução476 na pessoa do sócio mesmo não tendo ele qualquer demanda
contra si, mas sim contra a pessoa jurídica da qual seja sócio.
Isto porque a regra do artigo 137 deve ser lidar harmonicamente com a regra
do parágrafo 3º do artigo 792 do Código de Processo Civil, ao prever que “nos casos
de desconsideração da personalidade jurídica, a fraude à execução verifica-se a partir
da citação da parte cuja personalidade se pretende desconsiderar”.
Levando-se em conta que a desconsideração da personalidade jurídica, em
regra, dá-se em momento bem posterior ao do ajuizamento da execução contra a
pessoa jurídica, propiciando ao sócio fraudador a possibilidade de praticar atos
fraudulentos também em relação ao seu patrimônio durante o período em que ainda
não é demandado, andou bem o legislador em classificar estes atos como
fraudulentos quando da citação da pessoa a ser desconsiderada (pessoa jurídica ou
sócio, na inversa) 477, aumentando o lapso temporal de proteção do credor.
No entanto, a citação da pessoa jurídica pode ter acontecido no processo de
conhecimento e eventual desconsideração de sua personalidade ter ocorrido anos
depois na execução, retroagindo à data da citação da pessoa que se desconsiderou
para fins de fraude à execução, podendo atingir negócios jurídicos praticados pelos
sócios que na época da citação ou próximo a ela não ensejaria ineficácia pela fraude
à execução se fosse considerada a sua pessoa individualmente478.
Na prática de atos negociais do cotidiano, o que se constata é que os sujeitos
deverão ter cada vez mais cautela para a realização de negócios jurídicos que
476 Art. 792. A alienação ou a oneração de bem é considerada fraude à execução: I - quando sobre o bem pender ação fundada em direito real ou com pretensão reipersecutória, desde que a pendência do processo tenha sido averbada no respectivo registro público, se houver; II - quando tiver sido averbada, no registro do bem, a pendência do processo de execução, na forma do art. 828; III - quando tiver sido averbado, no registro do bem, hipoteca judiciária ou outro ato de constrição judicial originário do processo onde foi arguida a fraude; IV - quando, ao tempo da alienação ou da oneração, tramitava contra o devedor ação capaz de reduzi-lo à insolvência; V - nos demais casos expressos em lei. 477 Enunciado nº 52 da Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados: “A citação a que se refere o art. 792, § 3º, do CPC/2015 (fraude à execução) é a do executado originário, e não aquela prevista para o incidente de desconsideração da personalidade jurídica”. In: BRASIL. Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados. Enunciado 52. Disponível em: <http://www.enfam.jus.br/wp-content/uploads/2015/09/ENUNCIADOS-VERS%C3%83O-DEFINITIVA-.pdf>. Acesso em: 15 set. 2017. 478 YARSHEL. Op. cit., p. 242.
132
envolvam a transferência ou oneração de bens, devendo obter informações e
certidões de protestos e dos cartórios distribuidores não apenas dos sócios com quem
realiza o negócio, mas também das pessoas jurídicas das quais compõem o quadro
societário, mesmo sabendo que na prática empresarial é muito comum a pessoa
jurídica sofrer ações das mais variadas espécies (cíveis, trabalhistas, tributárias etc.),
em especial quando se trata de grandes empresas, devendo também ser levada em
conta a boa-fé do adquirente (aquele que adquiriu bens do responsável via
desconsideração), nos termos do § 2º do artigo 792 do CPC.
5.9 Breves notas das propostas legislativas em trâmite sobre o procedimento para
desconsideração da personalidade jurídica.
5.9.1 Projeto de Lei da Câmara nº 3.401, de 2008, do deputado Bruno Araújo
O Projeto de Lei nº 3401/2008, de autoria do deputado federal Bruno Araújo,
que visa a disciplinar o procedimento de declaração judicial de desconsideração da
personalidade jurídica e dá outras providências, teve seu texto aprovado pela Câmara
dos Deputados em 27/05/2014, e encontra-se em tramitação no Senado Federal sob
Projeto de Lei da Câmara nº 69/2014, recebendo parecer favorável pela sua
aprovação e elaborado pelo senador Ricardo Ferraço479.
Dos pontos que merecem destaque em relação ao incidente previsto no
Código de Processo Civil, menciona-se que: (i) estende a aplicação do referido
procedimento de desconsideração da personalidade jurídica aos casos de
responsabilidade direta, em caráter solidário ou subsidiário a membros instituidores,
sócios ou administradores pelas obrigações da pessoa jurídica (art. 1º, § único); (ii)
impossibilidade de decretar de ofício a desconsideração da personalidade jurídica (art.
4º); (iii) obrigatoriedade de manifestação do Ministério Público (art. 5º); (iv) limita a
desconsideração às pessoas que tenham praticado o ato abusivo em detrimento dos
credores (art. 6º); (v) a fraude à execução tem como termo inicial a citação das
pessoas que serão atingidas pela desconsideração (art. 7º).
A virtude do projeto é no sentido de deixar claro que este procedimento em
479 BRASIL. Senado Federal. Parecer nº 723, de 2016. Relator Senador Ricardo Ferraço. Disponível em: <http://legis.senado.leg.br/sdleg-getter/documento?dm=4454233&disposition=inline>. Acesso em: 15 dez. 2017.
133
contraditório se presta tanto aos casos de desconsideração da personalidade jurídica
como nos casos de responsabilidade direta, expressa a impossibilidade de decretação
de ofício e limita os legitimados passivos.
5.9.2 Projeto de Lei da Câmara nº 1.572, de 2011, do deputado Vicente Cândido
O Projeto de Lei nº 1.572, de 2011, de autoria do deputado Vicente Cândido
visa a instituir o novo Código Comercial, e dentre os quatro dispositivos legais que
versam sobre a desconsideração da personalidade jurídica, duas são de matéria
processual480.
Pela leitura se constata que o texto reproduz normas já existentes no atual
Código de forma bem mais elaborada.
5.9.3 Projeto de Lei do Senado nº 487, de 2013, do senador Renan Calheiros
O Projeto de Lei do Senado nº 487, de 2013, de autoria do senador Renan
Calheiros, tem por finalidade alterar o atual Código Comercial, e dentre os dispositivos
quer versam sobre a desconsideração da personalidade jurídica, merecem destaque:
(i) será responsável apenas o sócio ou administrador que praticou irregularidade (art.
196, §1º); (ii) a desconsideração só poderá ser decretada pelo juiz, em ação própria
ou incidente próprio, depois de assegurado à ampla defesa e contraditório (art. 198);
(iii) decretada a desconsideração, o nome do sócio ou administrador a quem se
imputou a responsabilidade deverá ser incluído no processo (art. 199).
O referido projeto de lei se mostra alinhado com o que já vem sendo aplicado
sobre a desconsideração da personalidade jurídica e seu procedimento judicial.
480 Art. 130. A imputação de responsabilidade ao sócio ou administrador, em decorrência da desconsideração da personalidade jurídica da sociedade empresária, só poderá ser determinada pelo juiz depois de assegurado o direito à ampla defesa e ao contraditório. Art. 131. No mesmo ato em que deferir pedido de desconsideração da personalidade jurídica de sociedade empresária, o juiz determinará a comunicação ao distribuidor, com a identificação do sócio ou administrador a quem imputou responsabilidade.
134
CONCLUSÃO
O incidente de desconsideração da personalidade jurídica se mostra como
uma das grandes novidades do atual Código de Processo Civil. Sua criação foi no
sentido de concretizar uma das linhas de trabalho da comissão de juristas
encarregada de elaborar o anteprojeto do atual Código: resolver problemas.
A forma como se aplicava a desconsideração da personalidade antes da
criação do incidente, gerava demasiada insegurança jurídica, seja por violar princípios
constitucionais do processo, em especial o do contraditório, seja por sequer haver
uma forma específica de defesa contra a desconsideração, variando conforme o caso.
Pelos debates da comissão de juristas, pôde-se constatar que realmente a
criação do incidente se deu para resolver o “problema” da desconsideração enfrentado
diariamente pelos advogados, juízes e, especialmente, pela parte.
Incipientemente o que a comissão de juristas buscou foi criar uma forma de
efetivar o princípio do contraditório antes de se aplicar a sanção da desconsideração,
elaborando uma redação diminuta no anteprojeto, o que ganhou volume durante o
processo legislativo do atual Código.
Considerando que o novo Código foi concebido em sintonia fina com a
Constituição Federal, mostrou-se necessária a criação do incidente com a finalidade
de se garantir os princípios do devido processo legal, contraditório e ampla defesa,
para que a parte possa influenciar no provimento judicial sobre a desconsideração,
sem surpresas.
Mas, pensando não apenas nestes princípios, pois poderiam ser garantidos
através de uma ação autônoma através do processo de conhecimento, sua criação
também se fundou nos princípios da economia processual, efetividade e eficiência,
através de um procedimento próprio, menor, com características específicas para sua
finalidade, justificando assim a necessidade de sua criação, confirmando a tese então
proposta.
O incidente de desconsideração da personalidade jurídica se mostra então
como um instrumento com suas bases realmente forjadas pelos ditames
constitucionais do Estado Democrático em decorrência do longo trâmite legislativo
pelo qual passou e foi se formando, refletindo na sua base fundamental democrática
que é o contraditório, contraditório efetivo em que as partes participarão efetivamente
135
na construção da decisão desconsiderante, afastando a prática vetusta que se via no
passado.
Firmadas as bases genealógica e os fundamentos do novel instituto, outras
conclusões puderam ser extraídas no decorrer do trabalho, conclusões estas de
cunho prático na aplicação do incidente, o que se expõe a seguir.
Sua denominação como incidente não atribui sua natureza, que pode ser
afirmada como processo incidente, uma vez que, no caso concreto se estará diante
de partes, causa de pedir e pedidos diversos de outro processo, em que se exercerá
o direito de ação através de demanda incidental que será decidida através da atividade
jurisdicional, decisão apta a fazer coisa julgada material e desafiar ação rescisória,
devido a sua natureza decisória de sentença.
A instauração do incidente não pode se dar de forma oficiosa, devendo
sempre depender de requerimento da parte (credor) e do Ministério Público, quando
este for legitimado.
A pessoa jurídica ré/executada (ou sócio, na inversa), não tem legitimidade
para a instauração do incidente, podendo atuar como assistente do credor, sob pena
de sua de sua efetividade em favor do credor se transformar em instrumento ardil dos
devedores.
São legitimados passivos no incidente aqueles que estiverem sob o manto da
personalidade jurídica, como os sócios administradores ou qualquer sócio que tenha
praticado ou se beneficiado do ato fraudulento, não se aplicando o incidente àqueles
que não se encontram por trás da personalidade jurídica.
A instauração do incidente se aplica em todos os ramos do direito, desde que
seja caso típico de desconsideração da personalidade jurídica. Isto porque, o incidente
de desconsideração não é instrumento para imputar responsabilidade patrimonial
quando por outras formas legais o sujeito já estiver vinculado à obrigação ou à
responsabilidade de forma direta, solidária ou subsidiária, como se dá nos casos de
redirecionamento da execução fiscal ou de responsabilidade civil.
É cabível em todas as fases do processo de conhecimento, cumprimento de
sentença ou execução de título executivo extrajudicial, inclusive na fase recursal, não
se mostrando viável sua instauração em sede dos tribunais superiores.
É possível o pedido de desconsideração da personalidade jurídica na petição
inicial da execução ou cumprimento de sentença, cuja instauração será considerada
incidental e suspenderá os referidos processos.
136
As anotações cabíveis quanto ao incidente de desconsideração no cartório
distribuidor deverão ocorrer no momento de sua distribuição, cabendo ao juiz instaurá-
lo e comunicar sua instauração para fins de suspensão do processo que sofreu o
incidente.
Alguns tribunais já exigem o pagamento de custas processuais para sua
instauração, devendo a parte se atentar para as regras de custas do respectivo
tribunal.
No incidente, a petição inicial e a defesa deverão se cingir somente quanto à
demanda da desconsideração da personalidade jurídica, não sendo a via adequada
para discutir outras demandas, como por exemplo, a dívida, que poderá ser atacada
via embargos à execução ou cumprimento de sentença, pois após a decisão favorável
à desconsideração, o terceiro se tornará parte passiva legítima nestes procedimentos.
Caso o pedido seja originário, a decisão será dada por sentença e o recurso
cabível será a apelação. Sendo o pedido de forma incidental, a decisão será
considerada interlocutória, recorrível pelo recurso de agravo de instrumento, cuja
natureza é de sentença.
Devido à natureza do incidente e de sua decisão, o vencido deverá ser
condenado nas verbas sucumbenciais, inclusive honorários advocatícios.
O marco temporal para a fraude à execução envolvendo a desconsideração
da personalidade jurídica é a citação do devedor do processo principal, e não a citação
da parte no incidente.
Após a exploração dos temas até então abordados, espera-se que este
trabalho possa contribuir para uma adequada compreensão do incidente de
desconsideração da personalidade jurídica, instituto novo que depende da fixação de
suas bases fundamentais para sua melhor interpretação e aplicação, cujo
amadurecimento se dará com o tempo nos debates doutrinários e posicionamento dos
tribunais.
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http://www.cartaforense.com.br/conteudo/colunas/incidente-de-desconsideracao-da-personalidade-juridica-busca-de--sua-natureza-juridica/15298>. Acesso em 11 nov. 2015.
__________________. O incidente de desconsideração da personalidade jurídica no novo CPC. Revista da CAASP. n. 16, p, 52-53, abr/2015. Disponível em: < http://www.caasp.org.br/RevistaDigital/ed12/revista_caasp_12.html>. Acesso em: 11 nov. 2015.
ZICA, Viviane Angélica Ferreira. O incidente de desconsideração da pessoa jurídica e a responsabilidade de terceiros por débitos das pessoas jurídicas. In: BONITO, Rafhael Frattari (et al) (Coords). Os impactos no novo CPC sobre o processo judicial tributário. Belo Horizonte: Editora D´Placido, 2016.
ANEXO – TABELA COMPARATIVA DAS ALTERAÇÕES DO INCIDENTE NO PROCESSO LEGISLATIVO
Projeto de Lei do Senado n.
166, de 2010
Substitutivo aprovado no
Senado
Relatório Parcial Dep. Efraim
Filho – Proposta de Emenda n.
40
Relatório Geral e Substitutivo
Dep. Sérgio Barradas Carneiro
- 07/11/2012
Relatório Geral e Substitutivo
Dep. Paulo Teixeira –
08/05/2013
Relatório Geral e Substitutivo
Dep. Paulo Teixeira –
02/07/2013
Redação final aprovada na
Câmara dos Deputados –
25.03.2014
Parecer n. 956, de 2014, do
Senado Federal e conforme a
Lei n.13.105/2015
TÍTULO IV
DAS PARTES E DOS
PROCURADORES
CAPÍTULO II
DO INCIDENTE DE
DESCONSIDERAÇÃO DA
PERSONALIDADE
JURÍDICA
TÍTULO IV
DAS PARTES E DOS
PROCURADORES
CAPÍTULO II
DO INCIDENTE DE
DESCONSIDERAÇÃO DA
PERSONALIDADE
JURÍDICA
TÍTULO IV
DAS PARTES E DOS
PROCURADORES
CAPÍTULO II
DO INCIDENTE DE
DESCONSIDERAÇÃO DA
PERSONALIDADE
JURÍDICA
TÍTULO III
DA INTERVENÇÃO DE
TERCEIROS
CAPÍTULO IV
DO INCIDENTE DE
DESCONSIDERAÇÃO DA
PERSONALIDADE
JURÍDICA
TÍTULO III
DA INTERVENÇÃO DE
TERCEIROS
CAPÍTULO IV
DO INCIDENTE DE
DESCONSIDERAÇÃO DA
PERSONALIDADE
JURÍDICA
TÍTULO III
DA INTERVENÇÃO DE
TERCEIROS
CAPÍTULO IV
DO INCIDENTE DE
DESCONSIDERAÇÃO DA
PERSONALIDADE
JURÍDICA
TÍTULO III
DA INTERVENÇÃO DE
TERCEIROS
CAPÍTULO IV
DO INCIDENTE DE
DESCONSIDERAÇÃO DA
PERSONALIDADE
JURÍDICA
TÍTULO III
DA INTERVENÇÃO DE
TERCEIROS
CAPÍTULO IV
DO INCIDENTE DE
DESCONSIDERAÇÃO DA
PERSONALIDADE
JURÍDICA
Art. 62. Em caso de abuso da
personalidade jurídica,
caracterizado na forma da lei, o
juiz pode, em qualquer
processo ou procedimento,
decidir, a requerimento da parte
ou do Ministério Público,
quando lhe couber intervir no
processo, que os efeitos de
certas e determinadas
obrigações sejam estendidos
aos bens particulares dos
administradores ou dos sócios
da pessoa jurídica.
Art. 77. Em caso de abuso da
personalidade jurídica,
caracterizado na forma da lei, o
juiz pode, em qualquer
processo ou procedimento,
decidir, a requerimento da parte
ou do Ministério Público,
quando lhe couber intervir no
processo, que os efeitos de
certas e determinadas
obrigações sejam estendidos
aos bens particulares dos
administradores ou dos sócios
da pessoa jurídica ou aos bens
de empresa do mesmo grupo
econômico.
Parágrafo único. O incidente
da desconsideração da
personalidade jurídica:
I – pode ser suscitado nos
casos de abuso de direito por
parte do sócio;
II – é cabível em todas as fases
do processo de conhecimento,
no cumprimento de sentença
e também na execução
fundada em título executivo
extrajudicial.
Art. 77. O incidente de
desconsideração da
personalidade jurídica será
instaurado a pedido da parte
ou do Ministério Público,
quando a este couber intervir
no processo, e será regulado
pelos seguintes artigos.
§1.º Os pressupostos da
desconsideração da
personalidade jurídica serão
previstos em lei.
§2.º Aplica-se o disposto nesta
Seção à hipótese de
desconsideração inversa da
personalidade jurídica.
Art. 78. O incidente de
desconsideração é cabível em
qualquer fase do processo.
§1.º A instauração será
imediatamente comunicada
ao distribuidor para as
anotações devidas.
§2.º Dispensa-se a
instauração do incidente se a
desconsideração da
personalidade jurídica for
requerida já na petição
inicial, caso em que o sócio ou
a pessoa jurídica deverá ser
citado.
§3.º O incidente não
suspenderá o processo.
Art. 133. O incidente de
desconsideração de
personalidade jurídica será
instaurado a pedido da parte ou
do Ministério Público, quando
lhe couber intervir no processo.
§ 1º. Os pressupostos da
desconsideração da
personalidade jurídica serão
previstos em lei.
§ 2º Aplica-se o disposto neste
capítulo à hipótese de
desconsideração inversa da
personalidade jurídica.
Art. 134. O incidente de
desconsideração é cabível em
todas as fases do processo de
conhecimento, no
cumprimento de sentença e
na execução fundada em
título executivo extrajudicial.
§ 1º. A instauração do incidente
será imediatamente
comunicada ao distribuidor
para as anotações devidas.
§ 2º Dispensa-se a instauração
do incidente se a
desconsideração da
personalidade jurídica for
requerida já na petição inicial,
caso em que será citado o sócio
ou a pessoa jurídica.
§3º Salvo na hipótese do §2º, a
instauração do incidente
suspenderá o processo.
§4º O requerimento deve
demonstrar o preenchimento
dos pressupostos legais
específicos para a
desconsideração da
personalidade jurídica.
Art. 133. O incidente de
desconsideração de
personalidade jurídica será
instaurado a pedido da parte ou
do Ministério Público, quando
lhe couber intervir no processo.
§ 1º. Os pressupostos da
desconsideração da
personalidade jurídica serão
previstos em lei.
§ 2º Aplica-se o disposto neste
capítulo à hipótese de
desconsideração inversa da
personalidade jurídica.
Art. 134. O incidente de
desconsideração é cabível em
todas as fases do processo de
conhecimento, no cumprimento
de sentença e na execução
fundada em título executivo
extrajudicial.
§ 1º. A instauração do incidente
será imediatamente
comunicada ao distribuidor
para as anotações devidas.
§ 2º Dispensa-se a instauração
do incidente se a
desconsideração da
personalidade jurídica for
requerida já na petição inicial,
caso em que será citado o sócio
ou a pessoa jurídica.
§3º Salvo na hipótese do §2º, a
instauração do incidente
suspenderá o processo.
§4º O requerimento deve
demonstrar o preenchimento
dos pressupostos legais
específicos para a
desconsideração da
personalidade jurídica.
Art. 133. O incidente de
desconsideração de
personalidade jurídica será
instaurado a pedido da parte ou
do Ministério Público, quando
lhe couber intervir no processo.
§ 1º. Os pressupostos da
desconsideração da
personalidade jurídica serão
previstos em lei.
§ 2º Aplica-se o disposto neste
capítulo à hipótese de
desconsideração inversa da
personalidade jurídica.
Art. 134. O incidente de
desconsideração é cabível em
todas as fases do processo de
conhecimento, no cumprimento
de sentença e na execução
fundada em título executivo
extrajudicial.
§ 1º. A instauração do incidente
será imediatamente
comunicada ao distribuidor
para as anotações devidas.
§ 2º Dispensa-se a instauração
do incidente se a
desconsideração da
personalidade jurídica for
requerida já na petição inicial,
hipótese em que será citado o
sócio ou a pessoa jurídica.
§3º A instauração do
incidente suspenderá o
processo, salvo na hipótese do
§ 2°.
§4º O requerimento deve
demonstrar o preenchimento
dos pressupostos legais
específicos para a
desconsideração da
personalidade jurídica.
Art. 133. O incidente de
desconsideração de
personalidade jurídica será
instaurado a pedido da parte ou
do Ministério Público, quando
lhe couber intervir no processo.
§ 1º O pedido de
desconsideração da
personalidade jurídica
observará os pressupostos
previsto em lei.
§ 2º Aplica-se o disposto neste
capítulo à hipótese de
desconsideração inversa da
personalidade jurídica.
Art. 134. O incidente de
desconsideração é cabível em
todas as fases do processo de
conhecimento, no cumprimento
de sentença e na execução
fundada em título executivo
extrajudicial.
§ 1º. A instauração do incidente
será imediatamente
comunicada ao distribuidor
para as anotações devidas.
§ 2º Dispensa-se a instauração
do incidente se a
desconsideração da
personalidade jurídica for
requerida já na petição inicial,
hipótese em que será citado o
sócio ou a pessoa jurídica.
§3º A instauração do incidente
suspenderá o processo, salvo na
hipótese do § 2°.
§4º O requerimento deve
demonstrar o preenchimento
dos pressupostos legais
específicos para a
desconsideração da
personalidade jurídica.
Art. 133. O incidente de
desconsideração de
personalidade jurídica será
instaurado a pedido da parte ou
do Ministério Público, quando
lhe couber intervir no processo.
§ 1º O pedido de
desconsideração da
personalidade jurídica
observará os pressupostos
previsto em lei.
§ 2º Aplica-se o disposto neste
capítulo à hipótese de
desconsideração inversa da
personalidade jurídica.
Art. 134. O incidente de
desconsideração é cabível em
todas as fases do processo de
conhecimento, no cumprimento
de sentença e na execução
fundada em título executivo
extrajudicial.
§ 1º. A instauração do incidente
será imediatamente
comunicada ao distribuidor
para as anotações devidas.
§ 2º Dispensa-se a instauração
do incidente se a
desconsideração da
personalidade jurídica for
requerida já na petição inicial,
hipótese em que será citado o
sócio ou a pessoa jurídica.
§3º A instauração do incidente
suspenderá o processo, salvo na
hipótese do § 2°.
§4º O requerimento deve
demonstrar o preenchimento
dos pressupostos legais
específicos para a
desconsideração da
personalidade jurídica.
Art. 63. A desconsideração da
personalidade jurídica
obedecerá ao procedimento
previsto nesta Seção.
Parágrafo único. O
procedimento desta Seção é
aplicável também nos casos em
que a desconsideração é
requerida em virtude de abuso
de direito por parte do sócio.
O parágrafo único do artigo 63
corresponde ao inciso I do
artigo 77 acima.
Art. 64. Requerida a
desconsideração da
personalidade jurídica, o sócio
ou o terceiro e a pessoa jurídica
serão intimados para, no prazo
comum de quinze dias, se
manifestar e requerer as provas
cabíveis.
Art. 78. Requerida a
desconsideração da
personalidade jurídica, o sócio
ou o terceiro e a pessoa jurídica
serão citados para, no prazo
comum de quinze dias, se
manifestar e requerer as provas
cabíveis.
Art. 79. Requerida a
desconsideração da
personalidade jurídica no curso
do processo, o sócio ou a
pessoa jurídica serão citados
para manifestar-se no prazo de
quinze dias e requerer provas.
Art. 135. Requerida a
desconsideração da
personalidade jurídica, no curso
do processo, o sócio ou a pessoa
jurídica serão citados para, no
prazo comum de quinze dias,
manifestar-se e requerer as
provas cabíveis.
Art. 135. Requerida a
desconsideração da
personalidade jurídica, no curso
do processo, o sócio ou a pessoa
jurídica serão citados para, no
prazo comum de quinze dias,
manifestar-se e requerer as
provas cabíveis.
Art. 135. Requerida a
desconsideração da
personalidade jurídica, no curso
do processo, o sócio ou a pessoa
jurídica serão citados para, no
prazo comum de quinze dias,
manifestar-se e requerer as
provas cabíveis.
Art. 135. Requerida a
desconsideração da
personalidade jurídica, no curso
do processo, o sócio ou a pessoa
jurídica serão citados para, no
prazo comum de quinze dias,
manifestar-se e requerer as
provas cabíveis.
Art. 135. Requerida a
desconsideração da
personalidade jurídica, no curso
do processo, o sócio ou a pessoa
jurídica serão citados para, no
prazo comum de quinze dias,
manifestar-se e requerer as
provas cabíveis.
Art. 65. Concluída a instrução,
se necessária, o incidente será
resolvido por decisão
interlocutória impugnável por
agravo de instrumento.
Art. 79. Concluída a instrução,
se necessária, o incidente será
resolvido por decisão
interlocutória impugnável por
agravo de instrumento.
Art. 80. Concluída a instrução,
se necessário, o incidente será
resolvido por decisão
interlocutória
impugnável por agravo.
Parágrafo único. Se a decisão
for proferida pelo relator,
caberá agravo interno.
Art. 136. Concluída a instrução,
se necessária, o incidente será
resolvido por decisão
interlocutória impugnável por
agravo.
Parágrafo único. Se a decisão
for proferida pelo relator, cabe
agravo interno.
Art. 136. Concluída a instrução,
se necessária, o incidente será
resolvido por decisão
interlocutória impugnável por
agravo.
Parágrafo único. Se a decisão
for proferida pelo relator, cabe
agravo interno.
Art. 136. Concluída a instrução,
se necessária, o incidente será
resolvido por decisão
interlocutória, contra a qual
caberá agravo de
instrumento.
Parágrafo único. Se a decisão
for proferida pelo relator, cabe
agravo interno.
Art. 136. Concluída a instrução,
se necessária, o incidente será
resolvido por decisão
interlocutória impugnável por
agravo.
Parágrafo único. Se a decisão
for proferida pelo relator, cabe
agravo interno.
Art. 136. Concluída a instrução,
se necessária, o incidente será
resolvido por decisão
interlocutória. (Redação
suprimida em parte)
Parágrafo único. Se a decisão
for proferida pelo relator, cabe
agravo interno.
Sem correspondência Sem correspondência Sem correspondência Art. 137. Acolhido o pedido
de desconsideração, a
alienação ou oneração de
bens, havida em fraude de
execução, após a instauração
do incidente, será ineficaz em
relação ao requerente.
Art. 137. Acolhido o pedido de
desconsideração, a alienação ou
oneração de bens, havida em
fraude de execução, após a
instauração do incidente, será
ineficaz em relação ao
requerente.
Art. 137. Acolhido o pedido de
desconsideração, a alienação ou
oneração de bens, havida em
fraude de execução, após a
instauração do incidente, será
ineficaz em relação ao
requerente.
Art. 137. Acolhido o pedido de
desconsideração, a alienação ou
oneração de bens, havida em
fraude de execução, será
ineficaz em relação ao
requerente. (Redação
suprimida em parte)
Art. 137. Acolhido o pedido de
desconsideração, a alienação ou
oneração de bens, havida em
fraude de execução, será
ineficaz em relação ao
requerente. (Redação suprimida
em parte)
DOS EMBARGOS DE
TERCEIRO
EMBARGOS DE TERCEIRO EMBARGOS DE TERCEIRO EMBARGOS DE TERCEIRO EMBARGOS DE TERCEIRO EMBARGOS DE TERCEIRO EMBARGOS DE TERCEIRO EMBARGOS DE TERCEIRO
Art. 615. Quem, não sendo
parte no processo, sofrer
turbação ou esbulho na posse de
seus bens ou direitos por ato de
constrição judicial poderá
requerer lhe sejam manutenidos
ou restituídos por meio de
embargos.
* Inciso III sem
correspondência sobre o tema
da desconsideração da
personalidade jurídica
Art. 660. Quem, não sendo
parte no processo, sofrer
constrição sobre bens que
possua ou sobre os quais tenha
direito incompatível com o ato
constritivo, poderá requerer o
seu desfazimento por meio de
embargos de terceiro.
(...)
§ 2º Considera-se terceiro, para
ajuizamento dos embargos:
III – quem sofre constrição
judicial de seus bens por força
de desconsideração da
personalidade jurídica e que
não é parte no processo em
que realizado o ato
constritivo;
A Emenda não altera este
dispositivo
Art. 689. Quem, não sendo
parte no processo, sofrer
ameaça de constrição ou
constrição sobre bens que
possua ou sobre os quais tenha
direito incompatível com o ato
constritivo, poderá requerer sua
inibição ou o seu desfazimento
por meio de embargos de
terceiro.
(...)
§ 2º Considera-se terceiro, para
ajuizamento dos embargos:
(...)
III – quem sofre constrição
judicial de seus bens por força
de desconsideração da
personalidade jurídica, de cujo
incidente não fez parte;
Art. 689. Quem, não sendo
parte no processo, sofrer
ameaça de constrição ou
constrição sobre bens que
possua ou sobre os quais tenha
direito incompatível com o ato
constritivo, poderá requerer sua
inibição ou o seu desfazimento
por meio de embargos de
terceiro.
(...)
§ 2º Considera-se terceiro, para
ajuizamento dos embargos:
(...)
III – quem sofre constrição
judicial de seus bens por força
de desconsideração da
personalidade jurídica, de cujo
incidente não fez parte;
Art. 689. Quem, não sendo
parte no processo, sofrer
ameaça de constrição ou
constrição sobre bens que
possua ou sobre os quais tenha
direito incompatível com o ato
constritivo, poderá requerer sua
inibição ou o seu desfazimento
por meio de embargos de
terceiro.
(...)
§ 2º Considera-se terceiro, para
ajuizamento dos embargos:
(...)
III – quem sofre constrição
judicial de seus bens por força
de desconsideração da
personalidade jurídica, de cujo
incidente não fez parte;
Art. 689. Quem, não sendo
parte no processo, sofrer
ameaça de constrição ou
constrição sobre bens que
possua ou sobre os quais tenha
direito incompatível com o ato
constritivo, poderá requerer sua
inibição ou o seu desfazimento
por meio de embargos de
terceiro.
(...)
§ 2º Considera-se terceiro, para
ajuizamento dos embargos:
(...)
III – quem sofre constrição
judicial de seus bens por força
de desconsideração da
personalidade jurídica, de cujo
incidente não fez parte;
Art. 674. Quem, não sendo
parte no processo, sofrer
ameaça de constrição ou
constrição sobre bens que
possua ou sobre os quais tenha
direito incompatível com o ato
constritivo, poderá requerer sua
inibição ou o seu desfazimento
por meio de embargos de
terceiro.
(...)
§ 2º Considera-se terceiro, para
ajuizamento dos embargos:
(...)
III – quem sofre constrição
judicial de seus bens por força
de desconsideração da
personalidade jurídica, de cujo
incidente não fez parte;
Da Responsabilidade
Patrimonial
Da Responsabilidade
Patrimonial
Da Responsabilidade
Patrimonial
Da Responsabilidade
Patrimonial
Da Responsabilidade
Patrimonial
Da Responsabilidade
Patrimonial
Da Responsabilidade
Patrimonial
Da Responsabilidade
Patrimonial
Sem correspondência Sem correspondência Sem correspondência Art. 806. Ficam sujeitos à
execução os bens:
(...)
VII – do responsável, nos
casos de desconsideração da
personalidade jurídica.
Art. 806. Ficam sujeitos à
execução os bens:
(...)
VII – do responsável, nos casos
de desconsideração da
personalidade jurídica.
Art. 806. Ficam sujeitos à
execução os bens:
(...)
VII – do responsável, nos casos
de desconsideração da
personalidade jurídica.
Art. 806. Ficam sujeitos à
execução os bens:
(...)
VII – do responsável, nos casos
de desconsideração da
personalidade jurídica.
Art. 790. Ficam sujeitos à
execução os bens:
(...)
VII – do responsável, nos casos
de desconsideração da
personalidade jurídica.
Sem correspondência Sem correspondência Sem correspondência Art. 808. Considera-se fraude à
execução a alienação ou a
oneração de bens:
(...)
§ 3º Nos casos de
desconsideração da
personalidade jurídica, a
fraude à execução verifica-se
a partir da citação da parte
cuja personalidade se
pretende desconsiderar.
Art. 808. Considera-se fraude à
execução a alienação ou a
oneração de bens:
(...)
§ 3º Nos casos de
desconsideração da
personalidade jurídica, a fraude
à execução verifica-se a partir
da citação da parte cuja
personalidade se pretende
desconsiderar.
Art. 808. Considera-se fraude à
execução a alienação ou a
oneração de bens:
(...)
§ 3º Nos casos de
desconsideração da
personalidade jurídica, a fraude
à execução verifica-se a partir
da citação da parte cuja
personalidade se pretende
desconsiderar.
Art. 808. Considera-se fraude à
execução a alienação ou a
oneração de bens:
(...)
§ 3º Nos casos de
desconsideração da
personalidade jurídica, a fraude
à execução verifica-se a partir
da citação da parte cuja
personalidade se pretende
desconsiderar.
Art. 792. Considera-se fraude à
execução a alienação ou a
oneração de bens:
(...)
§ 3º Nos casos de
desconsideração da
personalidade jurídica, a fraude
à execução verifica-se a partir
da citação da parte cuja
personalidade se pretende
desconsiderar.
Art. 719. Os bens particulares
dos sócios não respondem pelas
dívidas da sociedade, senão nos
casos previstos em lei.
(...)
§ 4º Para a desconsideração da
personalidade jurídica é
obrigatória a observância do
incidente previsto neste
Código.
Art. 752. Os bens particulares
dos sócios não respondem pelas
dívidas da sociedade, senão nos
casos previstos em lei.
(...)
§ 4º Para a desconsideração da
personalidade jurídica é
obrigatória a observância do
incidente previsto neste
Código.
A Emenda não altera este
dispositivo
Art. 811. Os bens particulares
dos sócios não respondem pelas
dívidas da sociedade, senão nos
casos previstos em lei.
(...)
§ 4º Para a desconsideração da
personalidade jurídica é
obrigatória a observância do
incidente previsto neste
Código.
Art. 811. Os bens particulares
dos sócios não respondem pelas
dívidas da sociedade, senão nos
casos previstos em lei.
(...)
§ 4º Para a desconsideração da
personalidade jurídica é
obrigatória a observância do
incidente previsto neste
Código.
Art. 811. Os bens particulares
dos sócios não respondem pelas
dívidas da sociedade, senão nos
casos previstos em lei.
(...)
§ 4º Para a desconsideração da
personalidade jurídica é
obrigatória a observância do
incidente previsto neste
Código.
Art. 811. Os bens particulares
dos sócios não respondem pelas
dívidas da sociedade, senão nos
casos previstos em lei.
(...)
§ 4º Para a desconsideração da
personalidade jurídica é
obrigatória a observância do
incidente previsto neste
Código.
Art. 795. Os bens particulares
dos sócios não respondem pelas
dívidas da sociedade, senão nos
casos previstos em lei.
(...)
§ 4º Para a desconsideração da
personalidade jurídica é
obrigatória a observância do
incidente previsto neste
Código.
Da Ordem dos Processo no
Tribunal
Da Ordem dos Processo no
Tribunal
Da Ordem dos Processo no
Tribunal
Da Ordem dos Processo no
Tribunal
Da Ordem dos Processo no
Tribunal
Sem correspondência Art. 945. Incumbe ao relator:
(...)
VI - decidir o incidente de
desconsideração da
personalidade jurídica,
quando este for instaurado
originariamente perante o
Tribunal;
Art. 945. Incumbe ao relator:
(...)
VI - decidir o incidente de
desconsideração da
personalidade jurídica, quando
este for instaurado
originariamente perante o
Tribunal;
Art. 945. Incumbe ao relator:
(...)
VI - decidir o incidente de
desconsideração da
personalidade jurídica, quando
este for instaurado
originariamente perante o
Tribunal;
Art. 945. Incumbe ao relator:
(...)
VI - decidir o incidente de
desconsideração da
personalidade jurídica, quando
este for instaurado
originariamente perante o
Tribunal;
Art. 932. Incumbe ao relator:
(...)
VI - decidir o incidente de
desconsideração da
personalidade jurídica, quando
este for instaurado
originariamente perante o
Tribunal;
Do Agravo de Instrumento Do Agravo de Instrumento Do Agravo de Instrumento Do Agravo Do Agravo de Instrumento Do Agravo de Instrumento Do Agravo de Instrumento Do Agravo de Instrumento
Art. 929. Cabe agravo de
instrumento contra as decisões
interlocutórias:
* Sem correspondência sobre o
tema da desconsideração da
personalidade jurídica
Art. 969. Cabe agravo de
instrumento contra as decisões
interlocutórias que versarem
sobre:
(...)
IV – o incidente de resolução
de desconsideração da
personalidade jurídica;
A Emenda não altera este
dispositivo
Art. 1028. Além de outros
casos previstos em lei, cabe
agravo contra decisão
interlocutória que:
(...)
IV – decidir o incidente de
desconsideração da
personalidade jurídica;
Art. 1028. Além de outros casos
previstos em lei, cabe agravo
contra decisão interlocutória
que:
(...)
IV – decidir o incidente de
desconsideração da
personalidade jurídica;
Art. 1028. Além de outros casos
previstos em lei, cabe agravo
contra decisão interlocutória
que:
(...)
IV – decidir o incidente de
desconsideração da
personalidade jurídica;
Art. 1028. Além de outros casos
previstos em lei, cabe agravo
contra decisão interlocutória
que:
(...)
IV – decidir o incidente de
desconsideração da
personalidade jurídica;
Art. 1015. Além de outros
casos previstos em lei, cabe
agravo contra decisão
interlocutória que:
(...)
IV – decidir o incidente de
desconsideração da
personalidade jurídica;
Das Disposições Finais e
Transitórias
Das Disposições Finais e
Transitórias
Das Disposições Finais e
Transitórias
Das Disposições Finais e
Transitórias
Das Disposições Finais e
Transitórias
Sem correspondência Sem correspondência Sem correspondência Art. 1071. O incidente de
desconsideração da
personalidade jurídica
aplica-se ao processo dos
Juizados Especiais.
Art. 1074. O incidente de
desconsideração da
personalidade jurídica aplica-se
ao processo dos Juizados
Especiais.
Art. 1074. O incidente de
desconsideração da
personalidade jurídica aplica-se
ao processo dos Juizados
Especiais.
Art. 1074. O incidente de
desconsideração da
personalidade jurídica aplica-se
ao processo dos Juizados
Especiais.
Art. 1062. O incidente de
desconsideração da
personalidade jurídica aplica-se
ao processo dos Juizados
Especiais.
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