o fim da arte como um começo - redescrições

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Sobre o fim da história da arte de Arthur Danto

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  • 11 Revista Redescries Revista on line do GT de Pragmatismo Ano 5, Nmero 2, 2014

    O FIM DA ARTE COMO UM COMEO Rachel Costa

    1

    RESUMO O artigo interpreta a teoria acerca do fim da arte de Arthur Danto, apontando, ao final,

    crticas proposta do filsofo, sem esquecer de mostrar em que medida a teoria se

    mostra frutfera para pensar a arte contempornea.

    Palavras-Chave: Pluralismo, Narrativa, Histria.

    ABSTRACT The paper interprets the theory about the end of art Arthur Danto, pointing at the end,

    criticism of the proposal of the philosopher, not forgetting to show to what extent the

    theory proves fruitful for thinking about contemporary art.

    Key-words: Pluralism, Narrative, History.

    Introduo

    A afirmao acerca do fim da arte, pelo seu prprio teor, necessita ser

    pormenorizada. Durante as ltimas dcadas surgiram teorias, tanto elogiosas quanto

    drsticas, tendo o fim da arte ou como objetivo, ou como justificativa.Arthur Danto

    um dos que afirmou o fim da arte como justificativa de um processo histrico,

    utilizando a filosofia hegeliana como inspirao para realizao de sua prpria. Este

    artigo pretende analisar a tese do fim da arte na perspectiva de Arthur Danto, mostrando

    como ele a constri e quais so os principais problemas derivados da forma como ele o

    faz. As questes que surgem dessa escolha so: em quais termos essa afirmao foi

    feita? O que ela representa? Quais os benefcios de propor algo to drstico? Essas

    questes colocam o eixo temtico de desenvolvimento deste artigo.

    1 Sobre a autora: Graduou-se pela Pontifcia Universidade Catlica de Minas Gerais no curso de

    Publicidade e Propaganda, e mestre e doutora pelo Departamento de Filosofia da Universidade Federal

    de Minas Gerais na linha de Esttica e Filosofia da Arte. Sob orientao do Prof. Dr. Rodrigo Duarte,

    desenvolveu a dissertao intitulada Imagem e Linguagem na Ps-histria de Vilm Flusser e a tese de

    doutoramento denominada Trs questes sobre a arte contempornea. Morou seis meses na Frana

    para um doutorado sanduche na Universit Paris I - Pantheon-Sorbonne, sob orientao do Prof. Dr.

    Marc Jimenez. professora de Esttica e Filosofia da Arte da Escola Guignard da Universidade do

    Estado de Minas Gerais.Para mais informaes: https:/uemg.academia.edu/RachelCosta e

    http:/lattes.cnpq.br/4437860296445521. Contato: rachelcocosta@gmail.com.

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    A histria em narrativas e suas particularidades

    Para comear a desenvolver os problemas que emergem dessas questes,

    preciso partir da afirmao dantiana de que ele um essencialista histrico, o que

    significa que a histria, sua estrutura e o que ela representa na forma de pensar a arte,

    so a chave para a compreenso de sua esttica. Tendo a histria como a base de sua

    investigao, a declarao acerca de seu fim feita no momento da aceitao de objetos

    exatamente iguais a objetos cotidianos como obras de arte, o que Danto chama de

    indiscernveis. O fato que uma obra de arte poder ser exatamente igual a um objeto

    qualquer, aponta uma ruptura com o processo da histria toda. O que leva ao fato de que

    o fim da arte no o fim da arte propriamente dita, at porque essa seria uma declarao

    despropositada, j que obras de arte continuam a serem feitas e o prprio Hegel,

    influenciador desse tipo de posio, afirmou a morte da arte como ele conhecia e no o

    fim da mesma. Danto diz que Hegel nunca se preocupou com a arte do futuro, somente

    afirmou que a vocao da arte estava terminada em seu momento histrico.

    importante compreender que a no preocupao de Hegel com a arte do futuro, no

    significa que ela acabou. Hegel diz que a Idade da Arte estava terminada, e Arthur

    Danto interpreta essa afirmao como: a idade da arte como ele a conheceu estava

    terminada (DANTO, 2004, p.84). O que acaba para Danto a histria da arte, a

    organizao teleolgica de modos de faz-la e pens-la. E esse fim extremamente

    profcuo, pois se constitui como uma espcie de liberdade por

    autocompreenso.Autocompreenso porque a distino fsica entre mimesis e realidade

    funciona como a base mesma da histria da arte, e os indiscernveis apontam para a

    impossibilidade de considerar esse critrio como parte da definio de arte, porque so

    eles que modificam a forma como a histria da arte pensava sobre a arte. O que permite

    declarar o fim da arte a ideia de que s possvel responder questo acerca da

    identidade da arte aps o surgimento dos indiscernveis (DANTO, 2006a, p. xix).

    O problema que se sobrepe a esse o da compreenso do que seria histria

    nessa conjuntura.Uma caracterstica ele explicita j em seus primeiros textos sobre o

    assunto, impossvel pensar a arte do futuro, pois qualquer tentativa de imaginar o que

    ser o futuro est arraigada no prprio presente. Para exemplificar essa afirmao,

    Danto utiliza a srie de imagens do artista francs Albert Robida, denominada Le

    VingtimeSiecle, que tem o intuito de retratar, em 1883, como seria o mundo em 1952.

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    Albert Robida, Teatro em casa via Telefonoscpio, 1883; Casa suspensa e giratria, 1883

    As imagens, alm de demonstrarem que toda a tentativa de imaginao se

    ancora, em seus pressupostos mais simples, na situao presente, mostram tambm que

    seria impossvel ao artista vislumbrar que em 1915,Duchamp faria After a brokenarm

    (DANTO, 2004, p.83-4). Elas chegam a serem cmicas, pois pressupem um mundo

    quase como o da srie de televiso Os Jetsons, mas totalmente impregnado das

    caractersticas do sculo XIX. O que permiteDanto concluir que, qualquer compreenso

    histrica deve se dar do presente em direo ao passado e no o contrrio. exatamente

    isso que LydiaGoehr afirma no prefcio da nova edio de NarrationandKnowledge.

    Ela diz que Danto faz filosofia da histria de posfcio, ou seja, que ele parte do que

    aconteceu para compreender o que est acontecendo agora, e no o contrrio (DANTO,

    2007, p. XIX). A anlise dantiana da arte est fundada na anlise do passado, para que

    este sirva como base de uma teoria que funciona para o presente e que possa almejar

    funcionar tambm para o futuro.

    Essa ideia se explica devido suaclara inspirao hegeliana para a estruturao

    de uma histria dialtica. A tese do projeto dantiano pode ser resumida pela seguinte

    citao: H uma espcie de essncia transhistrica da arte, sempre a mesma em todo

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    lugar, mas ela s se revela por meio da histria2 (DANTO, 1997, p.28). A essncia da

    arte s se torna clara com o fim da histria, pois ela se mostra de acordo com as

    caractersticas de cada momentoatravs da histria. a conscincia dessa essncia que

    acaba com a histria, pois ela se configura como a essncia por traz dos tloi

    particulares de cada narrativa. Aquilo que une as narrativas dentro da mesma ideia de

    arte justamente a tentativa de conhecer a essncia, e essa tentativa a prpria histria.

    Segundo o filsofo, toda a histria da arte, da forma como ela aconteceu, no permitiu

    que a filosofia da arte se desenvolvesse dentro da prpria arte, pois cada perodo ou

    movimento artstico possui todo um pensamento errado sobre a totalidade da arte. Ele

    errado, pois serve somente para pensar aquele movimento ou perodo (DANTO, 2006a,

    p. xiii). Assim, a histria precisou terminar para que a caracterstica filosfica da arte se

    tornasse clara.

    nessa perspectiva que se encontra a ideia de um movimento histrico

    sistemtico da arte rumo a sua autocompreenso. Danto entende que sua proposio

    corrobora o resultado alcanado por Hegel de que a arte deve ser consumida pela sua

    prpria filosofia. Assim, a importncia da arte est no fato de ela gerar uma filosofia da

    arte. Essa caractersticano relativa apenas arte contempornea, mas a toda arte

    produzida pelo mundo Ocidental, visto que toda ela depende de uma teoria para existir.

    importante ressaltar que essa teoria no algo externo, mas parte da prpria

    manifestao artstica (DANTO, 2004a, p.17). A diferena da arte contempornea para

    os perodos da histria que esse o momento da conscincia dessa natureza filosfica,

    a qual sempre existiu, mas que era mascarada por caractersticas relativas a cada um dos

    movimentos. Danto atribui esse pensamento ao prprio Hegel, que afirma, no segundo

    tomo dos Cursos de Esttica, que a arte convida ao pensamento, e isso no se

    relaciona com a criao de novas obras de arte, mas com a compreenso filosfica do

    que ela seria. Para Danto, a histria da arte uma confirmao das anlises hegelianas

    (DANTO, 1997, p.32).

    Consequentemente, ele apresenta dois momentos da histria da arte para,

    atravs da dialtica histrica,demonstrar o terceiro, o qual responde positivamente

    afirmao acerca do fim da arte (DANTO, 2004a, p.3). Os dois momentos da histria

    so chamados de narrativas, i.e., a histria da arte possui duas narrativas mestras, uma

    2() there is a kind of transhistorical essence in art, everywhere and always the same, but it only discloses itself through history.

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    subsequente outra. O fim da arte acontece porque, ao chegarem ao fim, cada uma

    delas permite a tomada de conscincia sobre um aspecto essencial da arte. Otlos maior

    da histria atingido com os indiscernveis, visto que eles so a conscincia da

    caracterstica filosfica da arte, mas eles s foram possveis, devido a todo o

    desenvolvimento histrico pregresso. Nesse sentido, a ideia de contextualizao

    histrica da obra de arte transforma-se em chave para a interpretao de obras de arte,

    poissua localizao, como em um grfico de coordenadas, condio sinequa non de

    sua compreenso como arte.

    Obviamente, pensar a histria teleologicamente uma opo restritiva, pois

    significa que ela possui um tlos a ser alcanado, e se desenvolve com o objetivo de

    atingi-lo. Para minimizar a situao, Dantousa a afirmao de Hegel de que algumas

    partes do mundo no faziam parte do mundo histrico, para dizer que algumas formas

    de arte no fazem parte da arte historicamente, pois esto fora dos limites da arte

    (DANTO, 1997, p.26). Essa expresso, os limites da arte (thepaleofhistory), que aparece

    no subttulo de seu livro sobre o assunto, tambm vem da filosofia hegeliana. O filsofo

    tem conscincia das limitaes de sua proposta, mas, mesmo assim, considera-a

    utilizvel. Logo, dentro da estrutura da histria da arte apenas uma forma de arte

    correta, aquela que se adqua ao tlos da histria.E o que caracteriza o fim da arte ,

    justamente, a ausncia de tlos, permitindo afirmar que todas as formas de arte so

    corretas e coexistentes (DANTO, 1997, p.27). Por isso, qualquer narrativa aps o fim da

    arte ser falsa, visto que no h uma forma histrica que se imponha (DANTO, 1997,

    p.28). O fim da arte no funciona como algo negativo, ou descredenciador, muito pelo

    contrrio, funciona como o incio de um perodo em que arte se desvincula de suas

    amarras histricas.

    Em contrapartida estrutura hegeliana dos momentos da arte, Danto constri

    narrativas que possuem algumas particularidades. A diferena principal que o tlos de

    Hegel, no somente est pressuposto desde o incio, mas tambm guia o

    desenvolvimento da arte, ou seja, os momentos da histria da arte so movimentos rumo

    ao tlos, enquanto em Danto, as narrativas parecem uma srie de acasos que deram

    certo, pois seus objetivos esto associados ao progresso de tcnicas especficas que no

    fim do processo levam compreenso da essncia da arte (DANTO, 1997, p.62). Ento,

    a histria se constitui como um movimento nico rumo compreenso do que seria

    essencial na arte pela prpria arte.

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    Para atingir tal objetivo ele aponta a existnciadas narrativas, as quais so tlos

    que, naquele determinado momento da histria, eram considerados como a essncia

    mesma da arte. A necessidade de progresso aparece pelo fato de que esses objetivos no

    demonstravam o que era, realmente, essencial na arte. Seria necessrio, ento, que eles

    fossem alcanados para que a compreenso de sua no adequao tambm fosse

    atingida. Dessa forma, os limites da histria fazem sentido dentro desse contexto, pois

    tudo que est fora dos limites da histria, est fora da busca da arte de conhecer sua

    essncia (DANTO, 1997, p.64).

    A ideia de progresso s existe quando um parmetro fixado como critrio,

    seno seria somente uma espcie de evoluo natural (DANTO, 1997, p.62). Ento,

    cada narrativa funciona como uma espcie de histria da arte inteira. Dessa forma, as

    narrativas so estruturas histricas objetivas, as quais so definidas em sua fundao

    (DANTO, 1997, p.43) e terminam por gerar uma leitura a-histrica da arte como um

    todo, por conferir essencialidade a suas caractersticas e desconsiderar todas as outras

    (DANTO, 1997, p.29).

    A organizao exterior das narrativas funciona como a teoria dos paradigmas

    de Thomas Kuhn (DANTO, 1997, p.29). Cada narrativa um paradigma que, ao ser

    superado por outro, passa por um processo de transio. J, para pensar o interior de

    cada narrativa Danto utiliza a teoria do falibilismopopperiana. O crescimento do terreno

    da arte pode ser representado de forma narrativa porque ele se d, progressivamente,

    rumo tentativa de produzir algo que se adque, cada vez mais, ao objetivo que a

    sustenta (DANTO, 1997, p.50). E, como a estrutura progressiva, obviamente a ideia

    do falibilismo se encaixa, tendo em vista que cada novo movimento dentro da narrativa

    pode mostrar a fraqueza do movimento anterior. Ento, o objetivo no est relacionado

    com a capacidade de dizer o que correto ou no, mas em dizer o que j se mostra no

    to adequado assim.

    E exatamente por esse motivo que Danto diz que h teorias, como a de

    Panofsky, que no funcionam para pensar o interior das narrativas, apenas a estrutura

    como um todo. Panofsky constri uma histria da arte como consequncia de formas

    simblicas que substituem uma as outras sem caracterizar desenvolvimento (DANTO,

    1997, p.65), ou seja, na perspectiva do filsofo, a teoria de Panofsky funciona para a

    arte do mesmo modo que a teoria dos paradigmas de Kuhn para a cincia.

  • 17 Revista Redescries Revista on line do GT de Pragmatismo Ano 5, Nmero 2, 2014

    Para construir as narrativas Danto adota Gombrich como base terica. Este j

    havia aplicado a estrutura dafilosofia hegeliana arte atual, em seu livro Arte e

    Iluso. Com Gombrich, o filsofo associa a histria da arte histria da arte de fazer

    alguma coisa melhor que seus antepassados, e esse fazer basicamente tcnico

    (DANTO, 1997, p.50).A histria da arte uma tentativa de fazer cada vez melhor o que

    est sendo feito em cada narrativa, e a avaliao de que algo melhor do que o algo

    anterior pensada a partir do falibilismo.

    Utilizando essa srie de referncias cruzadas juntamente com a ideia de

    filosofia de posfcio, Danto desenvolve as narrativas a partir de seu fim, ou seja, se a

    histria da arte progressiva, pelo menos a histria da pintura terminou (DANTO,

    2004a, p.3). Isso deixa antever que ele constri uma histria especificamente da pintura

    e est consciente disso, porque acredita que ela funciona como uma espcie de estrutura

    central, na qual as outras artes atuam em posio secundria (DANTO, 1997, p.62).

    importante compreender as narrativas enquanto estruturas, pois o seu

    contedo no rgido no curso do pensamento do filsofo. Em seu primeiro texto O

    fim da arte, ele elege Vasari e Croce, respectivamente para embasarem as narrativas.

    Em Aps o fim da arte, a discusso se d com Vasari e Greenberg. Em Whatartis,

    ele troca ambas as narrativas, tanto a da modernidade, quanto a da arte tradicional.

    Substitui Vasari por Alberti e a teoria da pintura como janela para o mundo (DANTO,

    2013, p.1), e afirma que a modernidade tem dois conceitos de abstrao, os quais ele

    constri sem recorrer ao Greenberg (DANTO, 2013, p.11). A segunda narrativa passa

    por vrias opes na obra do filsofo. No prprio Aps o fim da arte, ele afirma como

    narrativas modernistas, a de Greenberg e as de Malevich, Mondrian, Reinhardt entre

    outras (DANTO, 1997, p.28). O que significa que ele oscilou entre a afirmao de uma

    narrativa nica para a modernidade at mesmo no livro que prope a greenbergiana

    como sendo a leitura mais efetiva do perodo.

    O interessante nessa situao que ela permite duas concluses: a primeira,

    que as escolhas tericas que constroem o objetivo de uma narrativa no so

    cristalizadas; e a segunda, que a ideia hegeliana de uma estrutura progressiva o

    esqueleto de seu projeto filosfico, i.e., as narrativas podem ser repensadas, mas no

    descartadas. Alm disso, as narrativas so imprescindveis, pois ele pressupe a

    necessidade de uma teoria credenciadora para cada forma de arte (DANTO, 1997, p.54).

    A primeira narrativa contextualizada historicamente por Arthur Danto atravs

    da afirmao, com base na anlise da obra de Hans Belting denominada O Fim da

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    Arte, de que a arte antes de, aproximadamente, o sculo XV no era compreendida

    enquanto uma realizao humana, mas como algo miraculoso. S no Renascimento a

    arte passa a ser realizao humana e ganha contornos prximos do que seria a arte

    atualmente. O mesmo filsofo, em seu livro A imagem antes da Era da arte, fala do

    que seria arte no pensamento contemporneo desde os romanos at 1400 d.C. Como

    mostra o ttulo de seu livro, at esse momento a relao cultural com as imagens era

    outra. Elas eram compreendidas como possuindo origem divina. Alm disso, o conceito

    de artista s se torna central com Giorgio Vasari e seu livro A vida dos mais excelentes

    pintores, escultores e arquitetos3 (DANTO, 1997, p. 3).

    Dessa forma, os conceitos de artista e de arte, como so conhecidos hoje,

    somente se formam a partir da Renascena, mais propriamente com Vasari(DANTO,

    2006, p. 4). Arthur Danto argumenta que o que aconteceu foi uma descontinuidade entre

    a arte de antes da era da arte e a arte da era da arte. Assim como h uma

    descontinuidade entre a arte da era da arte e a arte aps o trmino dessa era (DANTO,

    2006, p. 5). Essa anlise inicia o livro Aps o fim da arte e atesta a ideia de haver um

    modelo histrico da arte que comea no Renascimento, visto que a prpria concepo

    de arte teria surgido nesse momento. O que significa que toda e qualquer manifestao

    artstica anterior ao Renascimento foi nomeada como tal a partir de critrios elaborados

    posteriormente. A partir disso, Danto argumenta que no h qualquer impossibilidade

    de se pensar o fim da arte, pois ela possui um comeo, e um comeo bastante delimitado

    temporalmente.

    O caminho para o fim

    A narrativa de Vasari se inicia com o objetivo Renascentista, a partir da

    inveno4 da perspectiva, de produzir obras o mais equivalentes realidade que lhes do

    origem. O que torna o Renascimento parte de uma narrativa que a arte grega

    utilizada como influncia, mas as imagens produzidas so melhores no que se refere

    adequao ao referente (DANTO, 1997, p.48), ou seja, Danto encontra no

    Renascimento um objetivo e o atribui arte imitativa como um todo. Assim, a

    finalidade da primeira narrativa realizar a aproximao entre representao e realidade

    3Le Vite de Piu Eccellenti Pittori, Scultori e Architettori.

    4 Eu uso a palavra inveno, mas o Danto no texto O fim da arte coloca a possibilidade de a

    perspectiva ser algo natural que deve apenas ser descoberto (2004a, p.4-6).

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    e, por isso, denominada equivalncia tica (DANTO, 2004, p.86). O que significa

    que existe na histria da arte um progresso tcnico em prol da iluso do movimento e

    esse progresso a organiza (DANTO, 2004a, p.4).

    O fato de o filsofo ter escolhido Vasari como teoria embasadora da primeira

    narrativa no aleatrio, mas tambm no definitivo. O que deve ser observado que

    o que interessa para configurar a narrativa a iluso do movimento. Com Alberti a

    proposta continua a mesma, pois utiliza a ideia contida em seu livro Da Pintura, e que

    foi apropriada por Gombrich, da pintura como janela para o mundo, no devendo haver

    diferena entre olhar para uma pintura e olhar para o mundo.

    A primeira narrativa chega ao fim com a inveno da fotografia, pois o tlos

    perde o sentido com a existncia de um instrumento que o efetiva (DANTO, 2004,

    p.87). A fotografia alcana a retratao da realidade o mais fidedignamente possvel e o

    cinema alcana a iluso do movimento (DANTO, 2013, p.3), apenas subentendida na

    fotografia. Eles expressam o alcance do objetivo de Alberti, pois no incio da

    reproduo de imagens em movimento as pessoas no conseguiam diferenciar a

    imagem, da realidade, correndo e se abaixando para projees de trens ou avies. Logo,

    a arte convencional perdeu sua funo de representao da realidade, assim como seu

    objetivo, e, por isso, o mundo da arte redefinido (DANTO, 2004a, p.11).

    Com o objetivo de contextualizar historicamente o surgimento do modernismo

    e, consequentemente, justificar a escolha de uma narrativa, Danto cita Roger Fry e sua

    teoria do modernismo como o fim da imitao e o incio da criao em arte. Uma nova

    narrativa surge, porque a anterior se mostrou equivocada em sua compreenso do que

    seria a essncia da arte. atravs de Fry que Danto explicita a contribuio da primeira

    narrativa, por ele associar a arte a algo pensvel e no imitado (DANTO, 1997, p.53),

    ou seja, o alcance do objetivo da primeira narrativa leva compreenso de que no est

    no aspecto tcnico a essncia da arte. Com isso, a iluso do movimento passa a ser

    apenas uma caracterstica e no parte de sua essncia.

    Acontece que a dificuldade de eleger uma narrativa para a modernidade

    bastante grande, pois o perodo tem mais de mil manifestos vanguardistas diferentes, e o

    que os une justamente a busca pela definio do que seria arte. Atravs da eleio de

    critrios e modos de fazer especficos, cada um deles leva afirmao de que aquela e

    nenhuma outra mais seria a verdadeira arte, a essncia da arte (DANTO, 1997, p.28).

    Para tanto, Danto trabalha com uma noo de estilo especfica. Ao entender estilo como

    um conjunto de propriedades de um determinado movimento, que so, posteriormente,

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    utilizadas para definir filosoficamente arte, ele vai chamar os modos de fazer arte de

    cada vanguarda de estilos. At porque a mimesis no um estilo durante o perodo da

    arte tradicional, mas sim, a resposta para a pergunta o que arte. Ela s passa a ser um

    estilo durante o modernismo (DANTO, 1997, p.46).

    E, dentre os vrios estilos que fazem parte do perodo, Danto, a partir de

    Greenberg, afirma que todos possuem uma mesma tendncia, a tendncia abstrao. O

    porqu de escolher Greenberg como base terica da narrativa modernista s tem uma

    resposta possvel: a estrutura de sua filosofia possui as caractersticas necessrias para

    isso, ela funciona como anttese e pressupe uma histria progressiva. A teoria de Croce

    possui a dificuldade de no ser progressiva, o que o levou a Greenberg. Acredito que

    devido srie de crticas recebidas pela escolha do ltimo, ele props uma nova leitura,

    mas sua leitura tambm considera a abstrao como tlos da modernidade artstica5, ou

    seja, a ideia de que todos os estilos vanguardistas apontam para uma mesma tendncia

    permanece.

    Greenberg caracteriza o modernismo como o momento de a arte se

    autoquestionar (DANTO, 1997, p.67). Ele compreendeu que o objetivo dos movimentos

    criar uma nova forma de arte, e, com isso, tentou criar a sua prpria definio

    (DANTO, 1997, p.68). Seu argumento sustenta que h uma caracterstica

    fundacionalista na modernidade que leva cada medium da arte a eliminar as

    caractersticas emprestadas de outros media (DANTO, 1997, p.69). A caracterstica do

    medium pintura denominada planaridade, ou seja, a essncia da pintura est na

    explorao da qualidade bidimensional da tela e, com isso, eliminar a

    tridimensionalidade tomada emprestada da escultura. Logo, a planaridade no exclui a

    representao, exclui apenas a iluso espacial (DANTO, 1997, p.68). E justamente a

    busca pela pureza de cada meio, que Danto afirma ser o tlos da narrativa moderna.

    O fim da arte acontece no momento em que os indiscernveis surgem, ou seja,

    no momento do desenvolvimento da histria da arte em que um objeto exatamente igual

    a outro objeto do cotidiano ganha status de obra de arte. Danto afirma que isso ocorre

    em 1964 com a exposio da Pop Art em Nova York, em que Andy Wharol expe a

    5 A teoria greenbergiana traz muitas dificuldades, mas a principal delas o fato de desconsiderar vrios

    dos movimentos artsticos modernistas. Sua discusso com o surrealismo e o fato de ter ignorado

    Duchamp so exemplos disso.

  • 21 Revista Redescries Revista on line do GT de Pragmatismo Ano 5, Nmero 2, 2014

    Brillo Box6. A questo : porque os indiscernveis surgem? Segundo Danto, porque a

    planaridade alcanou a tautologia. Seu principal exemplo para afirmar a caracterstica

    tautolgica da planaridade na dcada de 1960 o artista Daniel Buren:

    Daniel Buren, Murs de peinture, 1966-7

    Buren um artista conceitual que leva a ideia da bidimensionalidade ao

    extremo. Ele pinta listras coloridas de exatamente 8,7 centmetros de largura

    intercaladas por 8,7 centmetros de branco. Danto afirma que com a repetio contnua

    de listras exatamente iguais, Buren atesta o fim da pintura (DANTO, 1997, p.138). E,

    como a pintura o veculo da histria, no uma surpresa que ela fosse atacada

    (DANTO, 1997, p.114). Logo, o fim da narrativa modernista acontece quando a

    distino entre pinturas e meras paredes no mais possvel.

    Danto explica que a conscincia da essncia da arte fruto de um caminho de

    erros que vo sendo abandonados a partir do momento em que se toma conscincia dos

    mesmos e essa estrutura progressiva s termina quando so conhecidos seus limites

    (DANTO, 1997, p.107). E, o que vem tona com o fim da narrativa modernista so

    esses limites. O fim da narrativa leva compreenso de que aceitar a arte como arte

    significa tambm aceitar a filosofia que a credencia (DANTO, 1997, p.30). Essa a

    contribuio da narrativa para o conhecimento da essncia da arte. A arte tradicional

    permitiu, ao chegar a seu fim, a dissociao das tcnicas ilusionistas, abrindo para a

    necessidade de compreender qual seria ento a caracterstica da arte enquanto tal. A

    modernidade, ao tentar encontrar essa essncia mostrou a caracterstica terica e

    6Em diferentes textos, Danto aponta datas distintas para demarcar o incio da arte ps-histrica. Em

    alguns momentos ela se d na dcada de 1960, outros na dcada de 1970 e at 1980. Independentemente

    dessa marcao oscilante, a Brillo Box se constitui como um indicador do novo processo, pois ela o

    primeiro exemplo da pluralidade criativa. A partir de ento, a sensao de no pertencimento a uma

    narrativa se consolida (DANTO, 1997, p. 5).

  • 22 Revista Redescries Revista on line do GT de Pragmatismo Ano 5, Nmero 2, 2014

    histrica de qualquer obra de arte, em qualquer tempo. O fim da histria se d com o

    esgotamento do objetivo histrico e a conscincia das duas coisas que as narrativas

    trouxeram tona, e ambas podem ser visualizadas na Brillo Box. A Brillo tanto um

    posicionamento a respeito da relao entre iluso e realidade, quanto requer uma base

    terica que a possibilite, pois sem a ltima ela apenas uma caixa qualquer. Alm

    disso, Warhol no somente se apropriou da caixa de Brillo, mas tambm se apropriou

    do trabalho de outro artista. James Harvey, artista abstrato, o designer responsvel pela

    caixa de Brillo. A questo que se coloca a partir disso : o que caracteriza uma obra de

    arte? A resposta certamente no a capacidade de faz-la ou a caracterstica tcnica

    daquilo que foi feito. Essa a chave para a compreenso da filosofia dantiana.

    Portanto, Danto mostra que o fim da arte a autoconscincia da verdade

    filosfica da arte (DANTO, 1997, p.122) e a ps-histria o fim do progresso e da

    inevitabilidade histrica (DANTO, 1997, p.73). Assim, o fim da arte uma

    reivindicao sobre o futuro da arte, pois reclama que a histria progressiva chegou ao

    fim (DANTO, 1997, p.43).

    A arte aps o fim da histria da arte

    Ficou claro que o fim da arte no implica sua extino, mas sim o fim de um

    processo histrico. Dessa forma, necessrio investigar o que a arte aps o fim da

    histria da arte. Danto vai denominar o novo perodo de ps-histrico, ou seja, ele d

    continuidade sua influncia hegeliana, adotando a terminologia cunhada por Kojve,

    em sua Introduction lalecture de Hegel, de 19477. Ao contrrio de Hegel, que no

    falou sobre o que seria a arte aps a sua morte, essa a principal tarefa de Arthur Danto.

    Dando sequncia proposta hegeliana, o tempo ps-histrico a confirmao da tese

    hegeliana de que a arte morreria por se transformar em filosofia, com a diferena que

    mesmo ela tendo se transformado em filosofia, ela continua sendo arte. Parece

    contraditria a afirmao, mas duas coisas auxiliam o filsofo a sair de uma possvel

    dificuldade: o conceito de mundo da arte e a compreenso de que a caracterstica

    filosfica da arte est no fato de a arte ter se tornado sua prpria filosofia. O conceito de

    mundo da arte permite pensar a arte stricto sensu, ou seja, mesmo que a arte tenha se

    transformado em filosofia, as manifestaes artsticas so diferentes das filosficas, o

    7 Emuma entrevista Danto afirma ter participado dos cursos de Kojve na dcada de 1950 em Paris.

  • 23 Revista Redescries Revista on line do GT de Pragmatismo Ano 5, Nmero 2, 2014

    que justifica no somente sua continuidade, como tambm sua diferena. O fato de a

    arte ter se tornado sua prpria filosofia implica que a arte realiza um movimento de

    autoanlise, ou seja, ela filosfica porque assumiu essa responsabilidade ao se dar

    conta de que essa sua essncia.

    Por conseguinte, a arte ps-histrica possui caractersticas diferentes das duas

    narrativas anteriores, primeiro por no implicar progresso e segundo por propor

    pensamento, ou seja, o tempo ps-histrico coloca fim s modalidades denticas

    (DANTO, 1997, p.141) e diviso entre sujeito e objeto, no importando () muito se

    a arte filosofia em ao ou se a filosofia arte em pensamento (DANTO, 2004a,

    p.19). A questo que se coloca porque adotar um adjetivo diferente para tratar da arte

    atual se, no caso das narrativas, ele adotou os adjetivos tradicionais, clssico e

    moderno?

    Danto explicita a necessidade de marcar essa diferena no primeiro captulo de

    Aps o fim da arte. Para tanto, ele considera outros adjetivos utilizados, como

    moderno, contemporneo e ps-moderno. Afirma que o termo moderno no utilizado

    referindo-se apenas questo temporal, assim como contemporneo tambm no o

    (DANTO, 1997, p. 9). A fraqueza do termo contemporneo fez com que o termo ps-

    moderno fosse criado. Sua fraqueza est justamente no fato de que ele no demarca um

    estilo e justamente isso que torna o termo interessante para as artes visuais do

    momento (DANTO, 1997, p. 11-12).Para exemplificar essa questo Danto ilustra a capa

    do Aps o fim da arte com o trabalho do artista David Reed:

    David Reed, Fotografia de Vertigo de Alfred Hitchcock, (1958), com insero da pintura de David Reed

    #328, 1990-93

  • 24 Revista Redescries Revista on line do GT de Pragmatismo Ano 5, Nmero 2, 2014

    Reed troca a imagem de fundo de uma pintura qualquer em um quarto de hotel

    de uma cena de Hitchcock, por umapintura sua e projeta a cena em uma instalao

    montada igual ao quarto do filme (DANTO, 1997, p. xi). Segundo Danto, a pintura de

    Reed mostra a diferena entre o moderno e o contemporneo, pois no primeiro existia a

    necessidade de manter a pureza do meio, o que no acontece com o segundo.

    Isso pode ser percebido na afirmao de Arthur Danto de que no h critrio

    estilstico na arte contempornea que permita a confeco de uma narrativa acerca do

    perodo. A caracterizao da arte como ps-histrica se d justamente por isso

    (DANTO, 2006, p.15). A modernidade possui uma relao com a histria da arte de

    continuidade, o que leva proclamao da morte da arte clssica. Isso no faz sentido

    na contemporaneidade, pois tudo que j foi feito est disposio para ser refeito

    (DANTO, 1997, p. 5).

    A ideia de adequao contemporaneidade, ou de a arte merecer o adjetivo

    ps-histrico est diretamente relacionada com a ausncia de narrativa, ou seja, com a

    pluralidade. Esse seria o esprito do tempo atual. O contemporneo uma espcie de

    narrativa mestra, uma forma de usar estilos disponveis (DANTO, 1997, p. 10), isto , a

    era ps-narrativa caracterizada pela existncia de inumerveis possibilidades artsticas,

    sendo que o artista no precisa escolher apenas uma (DANTO, 1997, p.148). Ento o

    contemporneo , na perspectiva de alguns, um perodo de desordem informacional,

    uma condio de perfeita entropia esttica. Mas , tambm, um perodo de quase

    perfeita liberdade. Hoje no h mais os limites da histria8 (DANTO, 1997, p. 12).

    Portanto, o fim da histria a liberao para que os artistas possam fazer o que

    quiserem (DANTO, 1997, p.125). Tudo se tornou possvel, at a viso de Danto do

    futuro da arte uma probabilidade (DANTO, 1997, p.123). A estrutura pluralista do fim

    da arte uma torre de babel de conversaes artsticas no convergentes (DANTO,

    1997, p.148). Assim, no existe critrio a priori para a arte ps-histrica (DANTO,

    2006, p.7), e, por isso, Arthur Danto diz que nem ps-moderno, nem contemporneo so

    adjetivos suficientes para designar a arte que est sendo produzida agora (DANTO,

    2006, p.14-15).

    Toda organizao, em prol de uma definio acerca dos critrios que

    determinam um perodo artstico, est diretamente associada com a necessidade de

    8So the contemporary is, from one perspective, a period of information disorder, a condition of perfect aesthetic entropy. But it is equally a period of quite perfect freedom. Todaythereis no

    longerpaleofhistory

  • 25 Revista Redescries Revista on line do GT de Pragmatismo Ano 5, Nmero 2, 2014

    pressupor um critrio ontolgico, que permita realizar a atitude valorativa de afirmar

    que um objeto obra de arte e outro no . E isso exatamente o que Arthur Danto

    pretende com a pressuposio de uma arte ps-histrica, ele diz que [p]arte do que

    significa o fim da arte a libertao do que se encontrava para alm do limite, em que

    a prpria ideia de um limite uma barreira excludente (...) (DANTO, 2006, p.11).

    Desse modo, a verdade filosfica atual que (...) no existe arte mais

    verdadeira que nenhuma outra, e nem um nico modo de estar9 (DANTO, 1997, p.34).

    O que leva ao questionamento que constitui o cerne da investigao dantiana: qual a

    diferena entre uma obra de arte e algo que no o quando no h nenhuma diferena

    perceptiva entre ambos? (DANTO, 1997, p.35). O problema filosfico migrou da

    pergunta o que uma obra de arte, para o porqu de um objeto como outro qualquer

    pode ser considerado como obra de arte, pois s com a resposta da segunda a primeira

    questo pode ser alcanada. Logo, so duas as consequncias da conscincia de sua

    prpria essncia: a arte no tem mais como responsabilidade a sua prpria definio e

    no h aparncia necessria para uma obra de arte (DANTO, 1997, p.36).

    preciso mais que a capacidade de ver, ler ou escutar para apreciar a arte

    (DANTO, 1997, p.158), pois no h possibilidade de identificar condies necessrias e

    suficientes para os predicados estticos (DANTO, 1997, p.159).Portanto, o estilo no

    serve como condio para a definio de arte, visto que fisicamente (estilisticamente)

    duas obras de arte podem ser muito prximas, mas terem estilos (significados

    incorporados) completamente diferentes.O que faz de sua proximidade fsica algo

    apenas casual (DANTO, 1997, p.167).

    Obviamente, essa pluralidade indefinida possui um limite. A afirmao de que

    tudo uma obra de arte no condizente com a perspectiva essencialista de Danto. Ao

    mesmo tempo, a pluralidade caracterstica constituinte da arte ps-histrica. Essa

    dificuldade resolvida atravs da afirmao de que tudo pode ser arte, mas nem tudo .

    Logo, a pluralidade de estilos de toda a histria da arte est disponvel, mas eles no

    podem ser reproduzidos (DANTO, 1997, p.197), devem ser contextualizados, porque

    imaginar uma forma de arte tambm imaginar uma forma de vida10

    (DANTO, 1997,

    p.202).

    9 Como Danto um essencialista, considero necessria a traduo do verbo ser para o portugus levando

    em considerao as outras possibilidades verbais menos permanentes, como o caso de estar, parecer,

    ficar, haver e existir. 10Ramme argumenta que, em O mundo da arte, Danto combina historicismo com o conceito de formas de vida de Wittgenstein. Forma de vida pode significar, entre outras coisas, o conjunto de aes que

  • 26 Revista Redescries Revista on line do GT de Pragmatismo Ano 5, Nmero 2, 2014

    (...) Uma forma de vida algo vivido e no apenas conhecido. Para que a arte desempenhe

    um papel em uma forma de vida, deve haver um sistema bastante complexo de significados

    no qual ela faz isso, e pertencendo a uma outra forma de vida significa que se pode

    compreender o significado das obras de arte de uma forma de vida anterior somente

    reconstituindo o mais relevante sistema de significado que consigamos11

    (DANTO,

    1997,p.203).

    Assim, utilizar o modo de fazer arte de Da Vinci uma coisa, fazer uma cpia

    de Da Vinci outra completamente diferente (DANTO, 1997, p.198). Porque ao fazer a

    mesma coisa que ele fez, na verdade, o que se faz apenas uma reproduo sem

    significado, visto que possvel copiar a tcnica, mas no a forma de vida de um

    determinado perodo. Inclusive, a relao com a histria se d de forma exterior,

    preciso que se aprenda minimamente sobre aquela determinada forma de vida para

    apreciar outros perodos artsticos (DANTO, 1997, p.203). Apesar de a histria ter

    chegado ao fim, a necessidade de contextualizao histrica continua a vigorar

    (DANTO, 1997, p.44). Nesse momento, o carter filosfico da arte verificvel

    enquanto pressuposto ontolgico da mesma, e ele s se apresenta devido s conjunes

    do processo histrico no qual ela se encontra. como mostrou o filsofo em relao ao

    artista Albert Robida, ou seja, cada manifestao artstica fruto do processo histrico

    no qual se encontra, mesmo que esse tenha chegado a seu fim. Deste modo, [] parte

    do que define a arte contempornea, que a arte do passado esteja disponvel para uso tal

    qual desejado pelos artistas. O que no lhes est disponvel o esprito no qual a arte foi

    feita12 (DANTO, 1997, p. 5). Essa a nica restrio do perodo ps-histrico

    (DANTO, 1997, p.199).

    justamente pela juno da contextualizao histrica com a impossibilidade

    de eleio de critrios fsicos que Danto afirma que a histria da arte precisa ser

    progressiva. Isso porque a escolha de diferentes obras de arte, de diferentes perodos e

    que se assemelham na superfcie, apenas diz que elas se assemelham fisicamente, nada

    acompanha um jogo de linguagem ou que constitui uma linguagem, mas pode significar mais amplamente

    o conjunto de condies sociais ou culturais que produz e sustenta uma linguagem (RAMME, 2009, p.201). Ela defende que, a ideia de contextualizao histrica que fundamenta o conceito de Mundo da

    Arte uma derivao da teoria Wittgensteiniana atravs do seguinte argumento: Como a histria da arte acabou em 1964, com a Brillo Boxde Andy Warhol, Danto reformula a sua tese dizendo que a arte se

    relaciona agora no com um momento histrico, mas com uma forma de vida (RAMME, 2009, p.203). 11() a form of life is something lived and not merely known about. For art to play a role in a form of life, there must be fairly complex system of meanings in which it does so, and belonging to another form

    of life means that one can grasp the meaning of works of art from an earlier form only by reconstituting

    as much of relevant system of meanings as we are able. 12It is part of what defines contemporary art that the art of the past is available for such use as artists care to give it. What is not available to them is the spirit in which the art was made

  • 27 Revista Redescries Revista on line do GT de Pragmatismo Ano 5, Nmero 2, 2014

    mais (DANTO, 1997, p.163). Os conceitos de mundo da arte e de matriz estilstica so

    incompatveis (DANTO, 1997, p.165), pois a informao histrica necessria para a

    apreciao da obra (DANTO, 1997, p.168).

    Portanto, o conceito de paradigma de Kuhn, adotado por Danto para

    compreender a relao entre as narrativas, mostra-se bastante propcio nesse caso. Para

    o filsofo, obras de arte clssicas e modernistas continuam a fazer parte do mundo da

    arte ps-histrico. Isso porque eles so remanescentes dos paradigmas passados, apesar

    de serem contemporneos. Nesse sentido, no haveria qualquer propsito em obras de

    arte como essas, alm de diverso imediata (DANTO, 1997, p.34). E, em relao s

    teorias, Danto um tanto mais ousado. Apesar de no afirmar, peremptoriamente, ele

    acredita que sua teoria a embasadora do paradigma ps-histrico. Tanto que afirma:

    Minha nica reivindicao sobre o futuro que este o estado final, a concluso de um

    processo histrico, cuja estrutura torna-se visvel de uma s vez"13

    (DANTO, 1997,

    p.46). Logo, aps o fim da arte nada vai acontecer, pois com o fim do progresso, no

    existem mais estgios a serem alcanados (DANTO, 1997, p.140), ou seja, se nada vai

    acontecer seu paradigma perdurar indefinidamente.

    Anlise crtica

    Em primeiro lugar preciso confessar que devido s enormes dificuldades

    trazidas pelo modo como Danto props sua filosofia da histria da arteescolhi um

    caminho de anlise que considerei profcuo, eliminando todos os argumentos que no se

    mostrassem estritamente necessrios para o desenvolvimento do mesmo. O caminho

    escolhido, o foi, tendo como objetivo final alcanar um dos principais argumentos da

    filosofia dantiana em relao arte contempornea: a pluralidade. O que precisa ser

    respondido porque chegar pluralidade pelo caminho da histria se Danto a

    subentende em todos os seus textos? Defendo que, dentro da proposta dantiana, a

    pluralidade s possvel de ser sustentada por meio de sua anlise da histria. Isso

    porque antes da tese do fim da histria seu essencialismo o fez propor caractersticas

    estilsticas para a arte, como tambm, a retomada da ideia de gnio. Em Aps o fim da

    arte o filsofo deixa claro, como foi exposto acima, que a ideia mesma de estilo

    incongruente com a pluralidade. Isso, em detrimento de ter utilizado o estilo como

    13My only claim on the future is that this is the end state, the conclusion of an historical process whose structure it all at once renders visible

  • 28 Revista Redescries Revista on line do GT de Pragmatismo Ano 5, Nmero 2, 2014

    critrio tanto em seu texto O mundo da arte, quanto em A transfigurao do lugar

    comum, sua principal obra filosfica. com a histria queDanto consegue colocar a

    pluralidade como pressuposto da ausncia de narrativa sem que essa se choque com seu

    essencialismo. O problema est em como ele o faz.

    O filsofo, ao propor narrativas, as escolhe de outras pessoas. Ele parece

    querer mostrar o realismo dessas narrativas ao afirmar, implicitamente, que no

    somente ele quem pensou a arte nesses moldes, mas que a histria da arte dessa

    forma. O problema que as narrativas, mesmo que sejam citadas como pertencentes a

    outras pessoas, foram construdas por ele. No existe a possibilidade de afirmar que

    Vasari construiu uma narrativa. O que Vasari fez foi uma teoria que se adqua forma

    como Danto compreende a histria e ele o elegeu para justificar e esclarecer o seu ponto

    de vista.

    Ao montar a narrativa de Vasari, Danto deixa entrever uma caracterstica

    realista, ao afirmar que a perspectiva algo natural ao homem. Mesmo que os artistas

    tenham tido que dominar a tcnica, ele considera que sua percepo instantnea, ou

    seja, com a hiptese da perspectiva como algo natural.Danto pressupe que a

    capacidade de ver esse tipo de iluso universal e inata. Ele tenta defender a fidelidade

    tica atravs de sua universalidade, dando exemplos de culturas que tambm a

    buscavam. E, como algo natural, o progresso rumo a seu desenvolvimento tambm

    parece natural. Os problemas que derivam da adoo desse ponto de vista so que, ele

    confunde o desenvolvimento tcnico com o desenvolvimento da arte, pressupe o

    progresso como condio inerente a essa forma de arte, coloca a perspectiva como a

    nica forma de arte coerente e explicita sua relao naturalista da percepo esttica.

    A segunda narrativa mostra-se ainda mais restritiva que a primeira, ao

    desconsiderar grande parte da arte mundial, inclusive a europeia, como parte do que

    Greenberg entendia como a tendncia da produo artstica. Dessa forma, a eleio de

    tal paradigma parece ainda mais arbitrria que a anterior, mostrando que ele , no

    mnimo, insatisfatrio para se pensar a arte, pois a planaridade no tem sequer a

    desculpa de ser natural percepo humana. O principal livro de Greenberg utilizado

    para a construo da narrativa Arte e Cultura, de 1965, onde ele desenvolve o

    caminho da arte rumo abstrao. A arte moderna tomada como conscincia coletiva

    do que a arte pode ser, sendo Pollock aquele que atinge esse objetivo. Vrias crticas

    podem ser feitas a essa proposta. A primeira que impossvel reduzir a arte moderna

  • 29 Revista Redescries Revista on line do GT de Pragmatismo Ano 5, Nmero 2, 2014

    planaridade, a segunda que Greenberg trabalha com uma noo essencialista de arte que

    ele no explica, a terceira que ele tenta transformar a anlise de um movimento em

    anlise da arte como um todo, a quarta que sua teoria no serve nem como ontologia

    nem como histria da arte, pois ele no explica seu essencialismo e prope uma histria

    que no corresponde histria da arte, a quinta que a planaridade , no mximo, a

    essncia do medium pintura; e por ltimo, a sexta, o crtico Harold Rosenberg falou da

    abstrao em termos quase contrrios aos do Greenberg e props a expresso

    actionpainting, o que mostra a fragilidade da utilizao da teoria greenbergiana, a

    qual Danto respeita e elogia com frequncia, como explicao de um perodo

    controverso e multplice como foi a modernidade.

    Na histria da arte, tradicionalmente14

    , foram elencadas especificidades e

    caractersticas para cada perodo bastante claras. E elas foram tomadas, erroneamente,

    como definies para a mesma. Erroneamente porque, se considerarmos as

    caractersticas de um perodo como uma definio da arte, vrias das obras de arte

    realizadas naquele mesmo perodo no sero consideradas enquanto tal. Como exemplo,

    o italiano Giuseppe Arcimboldo.

    Giuseppe Arcimboldo, Primavera, 1563

    14

    Existem outros modos de pensar a histria da arte, como por exemplo, a histria da arte anacrnica de

    George Didi-Huberman (ver: O que vemos, o que nos olha, So Paulo, Editora 34, 1998) e Panofsky

    com sua histria da arte como sucesso de formas simblicas, sendo a anlise de cada uma individual e

    determinada por um processo de trs etapas (ver: Estudos em Iconologia: temas humanistas na arte do

    Renascimento. Lisboa: Estampa, 1986.). Apesar de que, no Brasil e em outros pases do mundo, os

    estudos de histria da arte so realizados, principalmente, utilizando como referncia as obras de Giulio

    Argan e Ernest Gombrich, ambos adeptos da periodizao e determinao clara e distinta de movimentos

    especficos.

  • 30 Revista Redescries Revista on line do GT de Pragmatismo Ano 5, Nmero 2, 2014

    A obra de Arcimboldo no se adqua s caractersticas do Renascimento e foi

    produzida nesse momento. Como Arcimboldo, possvel apontar vrios outros artistas

    que, apesar de no se adequarem ao perodo, fizeram obras de arte. Ento, o problema

    no est, necessariamente, na forma como a histria da arte feita, mas na forma como

    ela interpretada. dentro dessa perspectiva que, a crtica estrutura de narrativas da

    histria criada por Danto pode ser compreendida. A ideia de limite da histria por si

    s elucidativa. Arcimboldo, por exemplo, estaria fora dos limites da histria, pois no se

    adqua ao tlos da mesma. O problema que as narrativas tm propsitos criados

    posteriormente, como que descobertos pela contemporaneidade. O progresso

    pressuposto em ambas dificilmente justificvel. Afirmar a existncia de um progresso

    tcnico que gera modificaes devido a sua utilizao uma coisa, aquesto que

    Arthur Danto estende a ideia de progresso da tcnica para a histria, dentro do esprito

    hegeliano. A dificuldade dessa afirmao est no fato de que a prpria histria da arte a

    nega. Dentro da minha perspectiva, impensvel afirmar o Barroco como uma tentativa

    mais bem sucedida de representar a realidade do que o Renascimento, e exatamente

    isso que est implcito na progressividade histrica das narrativas.A conjectura de que a

    arte progride rumo a uma representao cada vez mais fiel da realidade, mostra-se no

    mnimo incua se forem recordados, minimamente, os perodos da histria da arte e

    suas caractersticas. O mesmo acontece ao considerar a abstrao. Como afirmar que

    Pollock representa um progresso em relao aGorky? Logo, a questo que coloco a

    seguinte: realmente necessrio propor uma estrutura to questionvel para justificar a

    afirmao acerca do fim da arte?

    Sim e No, depende da perspectiva. A primeira resposta seria a correta se

    pensarmos na ideia de fim como diretamente vinculada histria, o que considero ser a

    perspectiva dantiana, mesmo acreditando na segunda resposta como a mais coerente.

    Isso porque ele prope formas diferentes para cada uma das narrativas. Sua perspectiva

    de que a histria acabou, e se a histria acabou deve existir um motivo inerente

    prpria essncia da histria que justifique isso. No se pode esquecer que o filsofo

    essencialista, ou seja, que no acredita em modificaes que no se adquem essncia

    prpria das coisas. Dessa forma, seria possvel se abster das narrativas especficas, mas

    no das narrativas em si.

    Se a resposta for no, pode-se considerar que o carter progressivo da histria

    em Arthur Danto serve apenas como suporte para correspondncia do advento do fim da

  • 31 Revista Redescries Revista on line do GT de Pragmatismo Ano 5, Nmero 2, 2014

    arte. A ideia da autoconscincia da arte pressuposta na filosofia hegeliana como

    justificao da aproximao da mesma da verdade do esprito absoluto expressa, na

    filosofia dantiana,por meio da aproximao entre arte e filosofia. Logo, essa

    aproximao culminaria no fim da histria, ou, no fim da arte. Retirando do todo apenas

    esse ncleo duro, existem duas possveis leituras, uma que se caracteriza como uma

    releitura da prpria estrutura teleolgica dantiana, e outra que funciona como uma

    espcie de tentativa de salvao da sua teoria do problema que o progresso implica.

    A primeira leitura se refere ao problema da representao que acompanha toda

    a histria da arte e que vem tona com os indiscernveis. Se se compreende a

    representao como o verdadeiro tlos da histria, ento a estrutura hegeliana pode ser

    utilizada ipsis literise as narrativas passam a ser dispensveis, pois pode-se pensar em

    termos de perodos como no caso do sistema hegeliano. O problema dessa opo que

    o incio seria a arte grega, e a teoria da mimesis como imitao, a anttese aconteceria no

    perodo da arte tradicional com a teoria da mimesis como representao e o fim seria

    alcanado com Duchamp ao unir o imitado e seu referencial na mesma obra de arte, ou

    seja, as demarcaes dantianas deixam de ser vlidas.

    A segunda leitura tem objetivo salvacionista. A arte ps-histrica poderia ser

    justificada enquanto resultado de um processo histrico no teleolgico ou progressivo,

    pois mesmo sem isso os indiscernveis podem vir a fazer parte da histria da arte, e

    nesse momento que seu carter propriamente filosfico se apresenta. O que no pode ser

    pensado a justificao de tal teoria sem historicidade. Ela pode ser pensada dentro de

    outro vis, porque a importncia real das narrativas para a configurao de um momento

    ps-histrico est no fato de que todo perodo/estilo/narrativa da histria da arte

    pressupe uma definio de arte de acordo com os pressupostos de aparncia do objeto

    artstico, isso se forem consideradas as artes visuais, como costuma faz-lo o prprio

    Arthur Danto. E qualquer tentativa de fazer tal tipo de definio recai no problema de

    no abarcar a pluralidade do mundo da arte atual, principalmente, aps os

    indiscernveis. O que configuraria, da mesma forma, a emergncia dos mesmos, como o

    fim da histria da arte, pois, a partir do momento em que qualquer coisa pode ser uma

    obra de arte, a histria da arte enquanto fisicalidade deixa de fazer sentido, e uma nova

    forma de pensar a arte surge.

    Por ltimo, necessrio falar sobre a ideia dantiana de que a sua filosofia a

    ltima teoria da arte. Essa proposio vai contra ele prprio, pois em O fim da arte,

    como foi mostrado, afirma no ser possvel falar sobre a arte do futuro. Alm disso, ele

  • 32 Revista Redescries Revista on line do GT de Pragmatismo Ano 5, Nmero 2, 2014

    comete o erro de aplicar arte ps-histrica a estrutura objetiva que atribui histria.

    Isso porque as narrativas da forma como ele as criou so facilmente enquadrveis nessa

    ideia, mas a arte ps-histrica a arte sem histria, ento no h como pressupor uma

    estrutura objetiva para ela e ele o faz. E essa estrutura objetiva a afirmao de que

    tudo possvel (DANTO, 1997, p.44). Seria plausvel argumentar que isso d amplitude

    suficiente para qualquer coisa e penso que isso foi o que Danto imaginou, o que ele no

    imaginou que a estrutura histrica da forma como ele montou, no existe mais e, na

    verdade, nunca existiu. O que significa que a ausncia de progresso no leva

    necessariamente estagnao e, ao contrrio do que ele pensou, a sua no e nem ser

    a ltima filosofia da arte. A ausncia de progresso apenas retira o tlos, o que no se

    relaciona, em nada, com o fato de que coisas acontecem no tempo e se modificam nesse

    mesmo tempo. Ao propor uma condio para a arte ps-histrica, ele tenta aliar o

    pluralismo ao essencialismo, o que se mostrou inoperante. Danto caiu em sua prpria

    armadilha.

    Concluso

    Portanto, em detrimento das dificuldades geradas pela proposta dantiana, sua

    tese acerca do fim da arte aponta vrios caminhos propcios para pensar a arte

    contempornea. A tese do pluralismo, aliada ausncia de periodizao e de

    caractersticas estilsticas, permitevislumbrar a necessidade de reestruturao da forma

    como a histria da arte construda. Acredito, inclusive, que a precariedade das

    narrativas que constituem a histria auxilia nessa questo. Alm disso, a necessidade de

    pensar a arte para alm de suas caractersticas fsicas abre espao para construes

    filosficas cada vez mais intricadas prpria produo artstica, haja vista a dificuldade

    do prprio Danto de separar arte e filosofia.

    REFERNCIAS

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