o brasil de betinho
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Betinhorasil
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No quero viver obrigado obedincia a nenhuma ideia de nao,ptria, partido, igreja ou grupo. Quero viverde acordo com princpios democrticosfundados na solidariedade, na liberdade,igualdade, participao e diversidade. HERBERT DE SOUZA, O BETINHO, EM ESCRITOS INDIGNADOS, P. 24
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Rio de Janeiro, 2012
Todos os direitos reservados ao Ibase.
permitida a reproduo total ou parcial dos textos aqui reunidos, desde que seja
citado(a) o(a) autor(a) e que se inclua a referncia ao artigo original.
Visite o hotsite do livro em: www.ibase.br/obrasildebetinho
Ibase Instituto Brasileiro de Anlises Sociais e EconmicasAv. Rio Branco, 124 / 8 andar20040-916 Rio de Janeiro RJTel.: (21) 2178-9400Fax: (21) 2178-9402
www.ibase.brcomunicacao@ibase.org
ORGANIZAO:Dulce PandolfiAugusto GazirLucas Corra
PRODUO GRFICA:
Mrula Editorial
ILUSTRAO DA CAPA:
France Martin
IMPRESSO:
Grfica WalPrint
PRODUO DO HOTSITE:
Isis Reis
PRODUO DO DVD:
CinePoesia
O Brasil de Betinho / organizadores: Dulce Pandolfi, Augusto Gazire Lucas Corra; ilustrador: France Martin; apresentao: CndidoGrzybowski. Rio de Janeiro: Mrula Editorial, 2012.
228 p.: il. (color) 28 cmInclui bibliografia.
ISBN 978-85-65679-03-9
1. Cidadania. 2. Desigualdades sociais Brasil. 3. Favelas Riode Janeiro Aspectos sociais. 4. Juventude. 5. Cultura. 6. Habitao. 7.Souza, Herbert Jos de, 1935-1997. I. Pandolfi, Dulce. II. Gazir, Augusto. III.Corra, Lucas. IV. Grzybowski, Cndido.
CDD: 323.6
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Ao completar 60 anos, o Banco Nacional de Desenvolvimento
Econmico e Social (BNDES) tem a honra de patrocinar O Brasil
de Betinho, projeto que contribui para divulgar a ao e o pensa-mento do socilogo Herbert de Souza (1935-1997), um dos mais
notveis defensores dos direitos humanos que o pas j conheceu.
Sob a responsabilidade do Instituto Brasileiro de Anlises Sociais e Eco-
nmicas (Ibase), entidade fundada pelo prprio Betinho no ano de 1981, a
iniciativa contempla no apenas o lanamento do presente livro e DVD, mastambm a criao de um hotsiteque, gratuitamente, compartilhar com opblico as informaes levantadas pela pesquisa.
Por meio desse conjunto de aes, os interessados tero acesso a entre-
vistas, textos, fotografias, matrias jornalsticas, cartazes, ilustraes e docu-
mentos que registram a trajetria de Betinho, dos anos 1950, quando eleinicia a sua militncia poltica, dcada de 1990, perodo no qual lidera a
Campanha contra a Fome.
O material associa as passagens da vida do socilogo aos principais fatos
da histria nacional, destacando seu papel junto a movimentos de grande
relevncia para a sociedade brasileira.Ao promover a memria de uma personalidade que dedicou sua vida s
mais nobres causas, o BNDES reafirma seu compromisso com o desenvolvi-
mento social do pas e espera que os ideais humanitrios de Betinho possam
inspirar muitas outras empresas e indivduos.
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Olivro O Brasil de Betinho um sopronas brasas vivas da lembrana. Lem-
brar viver. Betinho se foi, docemen-te, em casa, com amigos e Maria, 15
anos atrs. Mas a lembrana de sua ousadia em
pensar e fazer, em sonhar e propor, em criticar e
agir, sem perder o humor, ficar sempre viva. Ele
encampou em seu corpo franzino uma motivaoprofundamente humana e tica, uma enorme ca-
pacidade de indignar-se frente mnima injustia,
e uma corajosa e generosa luta na promoo dos
direitos e da cidadania. No foi um carrancudo,
pelo contrrio, soube emocionar-se diante dasnossas crianas de rua, dos deserdados, dos que
vivem em lixes, dos que lutam por seu direito de
viver, dos que praticam a solidariedade, dos que
exprimem tudo isto na msica, na arte, na dana,
na literatura. Sua fina crtica do humanamenteinaceitvele sua luta incansvel pela democra-
cia combinaram ousadia de sonho, determinao,
ironia, poesia e prazer de viver. Enfim, uma esp-
cie de heri na sua exemplaridade cidad. Foi um
privilgio conviver com o Betinho e compartilharos seus sonhos e ideias.
A sensao que a gente tem folheando este li-
vro que estamos diante da histria do Brasil dos
anos 50 ao final dos 90, do sculo passado, sen-do vivida, feita e pensada na singularidade de um
intelectual militante como o Betinho. So fios de
histria que surgem nos momentos, imagens, op-
es, aes e reflexes do Betinho, que agregamsentido e revelam dimenses importantes para
entender tanto as contradies em ao no per-
odo, como o diferencial que faz a ao humana.
No livro, Betinho se revela plenamente como ator
e testemunha, ator que tece a ao e reflete sobreela, entre muitos atores e fazeres de seu tempo.
O Ibase, organizao de cidadania ativa, pblica e
no estatal, parte direta desta histria do Betinho e
do Brasil. Com este livro procuramos, ns mesmos,resgatar o que ele nos legou, sobretudo a dimenso
da poltica, da cidadania viva, da construo demo-crtica, com ousadia e humanidade, com gentileza,
por assim dizer. uma satisfao socializar tal lega-
do de uma histria de busca generosa vivida plena-mente, no dia a dia, apesar das adversidades de um
mundo melhor, de felicidade para todos e todas, na
diversidade com igualdade cidad.
CNDIDO GRZYBOWSKI
SOCILOGO E DIRETOR DO IBASE
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S
APRESENTAO
O R Vida e morte juntas
A ,
A AP e a UNE 35
S O Brasil de JK 47
O estado de circo 51Reforma ou revoluo? 57
O
A O AI-5 e o Milagre 77
Da distenso Abertura 83
D Ao exlio 93
Anistia 101
A Diretas J 113
A Nova Repblica 117Constituinte 125
Tragdia, de novo 129O fim da desgraa 133
A Reforma agrria 145
Rio de Janeiro 151
Eco-92 157Ao da Cidadania 163
O que democracia 175Um socilogo no poder 181
A, O caso do jogo do bicho 203
O fim da mudana 207
CRONOLOGIA
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OBrasil de Betinhomarca os 15 anos da morte de
Herbert Jos de Souza, o Betinho, completados
em 2012. O livro rene pensamentos, tiradas,
falas de Betinho sobre 60 anos de histria re-
cente do Brasil. Selecionadas de livros, textos e entrevistas de
diferentes pocas, as citaes de Betinho tratam de eventos
ocorridos do seu nascimento, em 3 de novembro de 1935,
at a sua morte, aos 61 anos, em 9 de agosto de 97. O fun-
dador da Ao Popular, o militante maosta, o exilado polti-
co, o criador do Ibase, o coordenador da Ao da Cidadania
contra a Fome, o ativista da aids, o socilogo Betinho par-
ticipou de muitos dos momentos por ele aqui comentados.
Em O Brasil de Betinho, o relato e a reflexo do socilogo
sobre os fatos histricos se confundem com a descrio e a
anlise dele sobre a sua prpria trajetria, j que ela foi to
marcada pelas distintas conjunturas polticas, quanto as in-
fluenciou e definiu. Vida e histria nesse caso revelam muito
uma sobre a outra.Apesar de agrupadas de formas temtica e cronolgica,
as citaes de Betinho mantm certa soberania entre elas e
em relao aos demais contedos da publicao. No h um
texto-guia que as costure ou algo do gnero. A opo foi pelo
mosaico. Os organizadores se limitam a uma descrio do
contexto histrico no incio de cada captulo e subcaptulo
e s legendas das imagens. Fotografias, ilustraes,reprodues de documentos so parte destacada do mosaico.
O papel delas menos ilustrar as aspas de Betinho, e
mais estabelecer o clima e o ambiente do perodo sobre o
qual os comentrios tratam e ao qual eles pertencem. Na
composio entre imagens e citaes, O Brasil de Betinho
propicia a contemplao e o passeio histricos.
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norteia o livro a exposio Betinho e o Ibase, mon-tada em 2011 na Caixa Cultural Rio de Janeiro,
por conta dos 30 anos de vida da entidade criada
por Betinho. O esforo de seleo e organizao domaterial para a mostra muito ajudou na empreita-
da desta publicao. A terceira referncia marcante
Um abrao, Betinho(2005), livro no qual DulcePandolfi e Luciana Heymann navegam pelas car-
tas, documentos e materiais diversos do ArquivoHerbert de Souza, que se encontra no Centro de
Pesquisa e Documentao de Histria Contempo-rnea do Brasil (CPDOC) da Fundao Getlio
Vargas (FGV).
Por fim, fica aqui registrado o agradecimento es-pecial a pessoas e instituies que colaboraram de
forma decisiva com a organizao e a edio de OBrasil de Betinho. O CPDOC da FGV cedeu a grandemaioria das imagens histricas deste livro. A genero-
sidade do CPDOC, a gentileza e a pacincia dos es-tagirios e pesquisadores da instituio foram chaves
para que O Brasil de Betinhofosse viabilizado. Cley-de Afonso, do Canal Imaginrio, foi incentivadora e
companheira do projeto, como tem sido de Betinhoe do Ibase h dcadas. France Martin, uma das pou-
cas caricaturistas mulheres do Brasil, no hesitou em
nos ceder o desenho que ilustra a capa do livro. Mui-
to obrigado tambm a Izabel Ferreira e Raquel Sil-
va, ao Museu Histrico da Ordem dos Advogados doBrasil (OAB), ao Museu da Comunicao Hiplito
Jos da Costa, ao Centro de Pesquisa e Documenta-
o (CPDoc) doJornal do Brasil, revista Isto e Fundao Maurcio Grabois.
Bem-vindos ao Brasil de Betinho. Boa leitura.
Boa viagem.
O livro se divide em nove captulos: O nas-
cimento na Revolta, A revoluo se faz, no
acontece, Sem a poltica no se vive, O patri-
cdio, A ditadura e os seus turnos, Da guer-ra popularao exlio, A tragdia grega, A vez
da cidadania e, por ltimo, Aids, luta polti-
ca. Neles, Betinho fala da Revolta Comunista
de 1935, ocorrida no ms em que ele nasceu, da
sua infncia, da militncia poltica catlica, daUnio Nacional dos Estudantes (UNE), da fun-
dao da Ao Popular, dos governos de Get-lio Vargas, JK, Jnio Quadros e Joo Goulart, do
golpe de 1964, do regime militar, do combate
ditadura, da clandestinidade, do exlio, da re-democratizao, da ascenso e da derrocada de
Fernando Collor, do Ibase, da Campanha contra
a Fome, da Presidncia de Fernando Henrique
Cardoso, da tragdia da aids e da luta contra a
doena. Encartado na publicao, h um DVDcom quatro vdeos: O dia da cura, um curta defico sobre a aids, em que Betinho faz partici-
pao especial, Super-Betinho, em que o prprio entrevistado, e dois filmes da Ao da Cidadania,um deles com o depoimento do socilogo.
O Brasil de Betinho devedor de uma srie deoutras iniciativas, que lhe serviram como fonte,
parmetro, inspirao. Ele s foi possvel graas
especialmente a trs projetos anteriores sobre Be-tinho. A principal referncia e fonte deste livro
Os caminhos da democracia(2009), filme do CanalImaginrio, em que Betinho discute a histria do
Brasil. Os realizadores do documentrio gravaram
quase 20 horas de entrevistas com o socilogo,
pouco antes de ele morrer. O segundo projeto que
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O R
OS REVOLTOSOS DE 1935NA PRAIA VERMELHA,
NO RIO DE JANEIRO
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(Mas a verdade
que 1935 um anoque tem seu charme:a nascia em plena ordem e progresso,
contra um bando de latifundirios, a ideia
de uma revoluo que nunca foi capaz
de transformar-se em realidade.
BETINHO, EM SEM VERGONHA DA UTOPIA, P. 15
(
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Um dos nove filhos de Henrique Jos de Souza e Maria da Con-ceio Figueiredo de Souza, Herbert Jos de Souza, o Betinho,
nasceu em novembro de 1935, ms da Revolta Comunista,chamada por alguns de Intentona, ao da Aliana Nacional
Libertadora (ANL) para tomar o poder no Brasil. O movimento tinha
como lder o comunista Lus Carlos Prestes. O levante foi reprimido e
derrotado pelo regime de Getlio Vargas, que dois anos depois instalaria o
Estado Novo no pas.
QUARTEL DA FORA PBLICA MILITARDO RIO GRANDE DO NORTE DEPOIS DOATAQUE DOS REVOLTOSOS DE 1935
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A poca de Getliofoi um tempo de
grande acirramentodas lutas ideolgicas,poca em que houve o integralismo, que era a verso
cabocla do nazismo, com Plnio Salgado de um lado
e o Partido Comunista de outro. Aquilo foi a guerra
fria, foi a guerra ideolgica, a luta ideolgica. No
Brasil isso estava presente de forma muito viva, com
conflitos, com tentativas de assalto ao poder, com
debates ideolgicos, com mobilizaes de rua.
Era realmente um tempo quente.
BETINHO, EM OS CAMINHOS DA DEMOCRACIA, P. 7
INTEGRALISTAS DE VIOSA DO CEAR
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MEMBROS DO GOVERNO REVOLUCIONRIO NO RN
HINO DA ANL
Nosso povo que vive oprimidoJ no pode sofrer tanta dor preciso fazer do gemidoUma voz de esperana e amor;Nosso peito h de ser a muralhaContra quem explorar a Nao.
Esse povo que vive e trabalhaQuer justia, quer Terra, quer Po!
Aliana! Aliana!Contra vinte ou contra mil!Mostraremos nossa pujana!
Libertemos o Brasil!
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COMODECLNIODOMOVIMENTOARMADODONORDESTE,VOLTAVAAPO
PULAOA
TRANQUILIZARSE,QUANDOONTEM,PELAMANH,
ACIDADEAMANHECEUALARMADAPELOLEVANTEDA
PRAIAVERMELHAEDAESCOLADEAVIAO.
COMADMIRVELESPRITODEORDEM,FIRMEMENTEAO
LADODALEGALIDADE,OPOVOPRESTIGIOUOGOVERNO,
PELACONFIANACOMQUEASSISTIUSMEDIDAS
TOMADASPARASEREMJUGULADOSOSREBELDES.
TEXTODOJORNALDOBRASILDE28/11/1935
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A Aliana Nacional Libertadora (ANL) foi criada emmaro de 1935. O seu presidente de honra era o lder co-munista Lus Carlos Prestes. A ANL defendia propostasnacionalistas e tinha como bandeira a luta pela reformaagrria. Embora liderada pelos comunistas, conseguiucongregar os mais diversos setores da sociedade e rapida-mente tornou-se um movimento de massas. Muitos desi-ludidos com o rumo do processo poltico iniciado em 1930,quando Getlio Vargas, pela fora das armas, assumiu aPresidncia da Repblica, aderiram ao movimento.
Em julho de 1935, a ANL foi posta na ilegalidade. Em agos-to, a organizao intensificou os preparativos para um movi-mento armado com o objetivo de derrubar Vargas. O primeirolevante militar foi deflagrado no dia 23 de novembro de 1935,
na cidade de Natal (RN). No dia seguinte, outro ocorreu emRecife (PE). No dia 27, a revolta eclodiu no Rio de Janeiro, en-to Distrito Federal. As rebelies foram rapidamente debela-das. A partir da, uma forte represso se abateu no s contraos comunistas, mas contra todos os opositores do governo.
A revolta forneceu pretexto para o endurecimento do re-gime, o que culminou com o golpe de Estado de 10 de no-vembro de 1937, que fechou o Congresso, cancelou eleiese manteve Vargas no poder. Instituiu-se assim uma ditadura
no pas, o chamado Estado Novo, que foi at 1945.
LUS CARLOS PRESTES, LDERDO LEVANTE DE 1935, NO
TRIBUNAL DE SEGURANA
NACIONAL, EM 36
Eu nasci para
o desastre, pormcom sorte.Nasci vivo ehemoflico em Bocaiva, Minas Gerais.
Era uma madrugada de 3 de novembro
de 1935. Lus Carlos Prestes iniciava
sua coluna, e eu, minha vida. No nosconhecamos. Pensando bem, Prestes,
em 35, no estava na Coluna, mas na
Intentona, assim chamada pelos militares,
que, na quinta linha de meu texto, j
comeam a perseguir a minha memria.
BETINHO, EM SEM VERGONHA DA UTOPIA, P. 14
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(Quando nasci, e sa comea a histria,
a hemofilia comeou.Vida e morte juntas na mesma pessoa: a hemorragia
no umbigo foi o comeo, j que no umbigo que
tudo comea. (...) Era eu de nome Herbert, uma
homenagem de meu pai a um artista de cinema
alemo. Meu pai era o pioneiro do cinema mudo em
Bocaiva, e Herbert, o artista, vivia em algum Reich.
Eu, hemoflico, em Bocaiva.
BETINHO, EM EU, ARQUIVO HERBERT DE SOUZA, CPDOC/FGV
(
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Em 3 de novembro de 1935, Betinho nasceu em Bocaiva (MG).
Nasceu hemoflico, como os seus irmos. A hemofilia, gentica
e hereditria, consiste na ausncia de fatores sanguneos respon-sveis pela coagulao. Ela [a hemofilia] muito concreta. So
hemorragias intra-articulares que distendem os msculos, os tendes, os
nervos e a pele. Estes sangramentos enchem e incham a parte afetada, o
p, por exemplo, ou o joelho, e provocam dores insuportveis , definiu
certa vez Betinho.
V
O registro do nome deBetinho na certido denascimento (ao lado) ficouerrado: Herbet. Apesar doengano, Betinho usaria oHerbert com os dois erres.Abaixo, Betinho, criana,e a casa da sua famlia.
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A nossa experincia deinfncia uma experincia
onde isso que se chama morte,tragdia, tudo que denominam de anormal, fazia parte do nosso cotidiano. O
meu cotidiano na infncia foi viver numa penitenciria. Isso no cotidianopara ningum. Na minha adolescncia, o meu cotidiano passou a ser viver numa
funerria. Ali estava ningum mais ningum menos que o meu prprio pai.
Ento, onde que meu pai trabalhava, que a pessoa que voc mais quer viva?
Numa funerria. A nossa casa pertencia Santa Casa de Misericrdia e era uma
extenso da funerria. O Henfil sempre brincou ali, entre os caixes. Brincar com
a morte. Ns brincvamos com os smbolos da morte. E a prpria ideia da mortese confundia com as nossas brincadeiras. O gerente da morte era o nosso pai. (...)
O nosso comeo estava no fim, e o nosso fim no comeo.
BETINHO, EM SEM VERGONHA DA UTOPIA, P. 8 E 9
Betinho contraiu aos15 anos de idadetuberculose. Ficou trs
anos confinado em casapor causa da doena.Na pgina ao lado,Betinho, doente,no quintal de casa.
Tive uma infncia marcada (...)
pelo fato de ter passado oito anosmorando com minha famlia
numa penitenciria, onde meu pai
trabalhava. Uma parte da infncia e
da adolescncia eu vivi num outro
ambiente inusitado, uma funerria.
Acho que ningum nasceu numa
penitenciria e se criou numafunerria. Eu acho que uma
combinao altamente poltica.
BETINHO, NA REVISTA TEORIA EDEBATE, N 16
ACIMA E DIREITA, BETINHO NA INFNCIA
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Ao ler o ltimo nmero da revista semanal
O Cruzeiro, a mais importante na poca,do grupo de Assis Chateaubriand, eu vi o
anncio de um remdio, Idrazida, apesentadocomo a mais nova descoberta na cura da
tuberculose. Deu-se ento em mim uma certeza
instantnea: este remdio vai me curar. Entre
ver o anncio e estar tomando o primeiro
comprimido se passaram outros trs meses detensa expectativa, at que a Idrazida chegou
ao comrcio de Belo Horizonte. O efeito foi
igualmente fulminante. Logo nas doses iniciais
eu comecei a engordar. Trs meses mais tarde
eu tirei uma radiografia limpa, a mancha haviadesaparecido completamente.
BETINHO, EM SEM VERGONHA DA UTOPIA, P. 51
Naquele sanatrio particularssimo, eu escuteitodas as novelas do rdio. Li todos os livros que
me chegavam s mos, fiz aeromodelismo, aprendiradiotcnica, tentei a escultura. Trs vezes ao dia
eu tomava a temperatura. Invariavelmente 37 a 38
graus de febre. (...) As minhas chances de salvaoeram muito poucas, ou quase nenhuma. Todo
mundo chorava. Ningum desconhecia o
resultado desta equao fatal: hemofilia mais
tuberculose igual morte.
BETINHO, EM SEM VERGONHA DA UTOPIA, P. 49
A famlia chorouminha morte e decidiu
que eu no iria paraum sanatrio, mas para o fundodo quintal, para o quarto de Maria Leal [empregada da
casa], agora transformado em meu sanatrio particular, o
nico de Belo Horizonte. Um quarto com duas camas, na
outra dormia seu Henrique [pai de Betinho], declaradominha companhia. Foi construda uma porteira de
madeira que me isolava, atrs das grades, de meus irmos
e irms. (...) Durante trs anos aquele quarto foi minha
trincheira onde poucos entravam. O mundo para mim
estava dividido entre os tuberculosos e os sos.
BETINHO, EM EU, ARQUIVO HERBERT DE SOUZA, CPDOC/FGV
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FIDEL CASTRO VISITA O BRASIL E DISCURSA EMREUNIO DA UNIO NACIONAL DOS ESTUDANTES
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UNE, NO RIO DE JANEIRO, EM MAIO DE 1959
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(A grande novidade poltica
da Amrica Latina foi aRevoluo Cubana.Uma novidade que sinalizava o seguinte: a revoluo se faz,
ela no acontece. Portanto, quem faz a revoluo so os
revolucionrios, e fazer a revoluo uma tarefa concreta, que
tem que ser programada, organizada e feita.
BETINHO, EM OS CAMINHOS DA DEMOCRACIA, P. 10
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Avitria da Revoluo Cubana, em janeiro de 1959, provocou
um grande impacto na esquerda brasileira e, consequentemen-
te, no movimento catlico de esquerda, no qual Betinho milita-
va desde 1953. Betinho integrou a Juventude Estudantil Catli-ca (JEC) e, depois, a Juventude Universitria Catlica (JUC). Tivemos na
JEC um comeo, que se politizou mesmo e virou movimento estudantil na
JUC, quando disputvamos a direo da UNE
, relembraria Betinho.
FAIXAS DE PROTESTO NA FACHADA DA UNE,NOS ANOS 1960
31A ,
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Companheiros operriose camponeses, esta a revoluo
socialista e democrtica doshumildes, com os humildes e para os
humildes. E por esta revoluo dos
humildes e pelos humildes e para oshumildes estamos dispostos a dar avida. () Viva a revoluo socialista!
Viva Cuba livre! Ptria ou morte!
DISCURSO DE FIDEL CASTRO EM 16 DE ABRIL DE 1961,QUANDO ELE DECLARA PELA PRIMEIRA VEZ O CARTER
SOCIALISTA DA REVOLUO CUBANA
Desde o momentoem que entrei paraa Ao Catlica, sercatlico para mim
era ser revolucionrio.No era simplesmente comungar e obedecer regras.Era tambm transformar o mundo e a sociedade.
BETINHO, EM BETINHO SERTANEJO, MINEIRO, BRASILEIRO, P. 82
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Aquela ideia deorganizao revolucionria
dos anos 1960 era o quedefinia a Ao Popular.O que fazer a revoluo? um grupo revolucionrio que
chega ao poder e muda tudo. Acaba com a fome, acaba com
a misria, acaba com a explorao do homem pelo homem.
Era uma espcie de messianismo poltico. Ento, ns que jestvamos na Ao Catlica, uma religio a mais, uma religio
a menos, no fazia grande diferena.
BETINHO, EM OS CAMINHOS DA DEMOCRACIA, P. 10
(
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Betinho ingressou no curso de Sociologia, na Faculdade de CinciasEconmicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG),
em 1958. A faculdade no s foi o ncleo principal da JUC,
como formou uma gerao de importantes cientistas sociais. En-
tre o caminho acadmico e a militncia poltica, Betinho ficou com a se-gunda. Em 1962, ele ajudou a fundar a Ao Popular (AP), que seria uma
das principais organizaes de combate ditadura militar, e tornou-se um
dos seus dirigentes nacionais. Betinho passaria a dedicar cada vez mais
tempo aos temas da UNE, sediada no Rio de Janeiro.
A AP UNE
SENTADO, DE GRAVATA, O PRESIDENTE DA UNE EM1962, ALDO ARANTES, COMPANHEIRO DE BETINHONO MOVIMENTO ESTUDANTIL E NA AO POPULAR
35A ,
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Em 1961, a AP no existia, estavasendo criada. A AP s realmente
comeou a ter existncia poltica ps-Jnio, no perodo do Joo Goulart.
A surgiu a Ao Popular.
BETINHO, EMOS CAMINHOS DA DEMOCRACIA, P. 10
A Ao Popularfoi um movimento
que tratou de retirara poltica do campoda Igreja,porque na
Ao Catlica nsramos subordinados
hierarquia.E houve muitos problemas entre a nossa
postura poltica e a hierarquia catlica. Ento
ns achvamos que a poltica no devia estarsubordinada Igreja, quer dizer, ns ramos contra
o confessionalismo na poltica.
BETINHO, EM OS CAMINHOS DA DEMOCRACIA, P. 9
BETINHO DANA NO BAILE DE FORMATURA
36 O Brasil de Betinho
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No mundo contemporneo a
cultura popular, tal como surge, a
expresso da conscincia crtica do
mundo social e das suas contradies.O homem em sua existncia social,
construindo socialmente a si mesmo,
segundo projetos definidos. ,
portanto, no s uma conscincia
crtica da realidade, mas umaconscincia que dinamiza uma luta
pela superao concreta das alienaes
sociais: assim tambm uma viso
poltica. (...) A cultura popular um
projeto de cultura universal e plural,em sua origem, porque surge da luta
pela ascenso das grandes massas
humanas; experimental e dialtica
porque tem como fim a superao detodas as contradies (...); finalmente
a cultura popular evolutiva porque
acompanha o projeto humano na
criao de sua Histria.
BETINHO, EM TRIBUNA UNIVERSITRIA,16/04/1962
BETINHO ESCREVEU EM 1962 UM ARTIGO PARA OJORNAL DO DIRETRIO CENTRAL DOS ESTUDANTESDCE DA UFMG, TRIBUNA UNIVERSITRIA, CHAMADOCULTURA POPULAR
Percebemos que, para
a UNE crescer, suainfluncia no poderiase limitar Guanabara.Nasce da a ideia da UNE Volante. Comeamos a pensar
na reforma universitria e a estruturar o Centro Popularde Cultura (CPC), que j existia. Sua proposta era a
formulao de uma poltica de cultura popular. Tudo
isso em busca da participao em nvel nacional da
massa estudantil, faculdade por faculdade, assembleia
por assembleia, do Rio Grande do Sul ao Amazonas. Era
um poder nacional solidamente enraizado que queramoscriar. O CPC marcou poca! O Oduvaldo Vianna Filho
e outros, todo esse pessoal que cria a arte engajada no
Brasil nasce no CPC da UNE.
BETINHO, EM SEM VERGONHA DA UTOPIA, P. 65
37A ,
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S
FUNERAL DE GETLIO VARGAS
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(Quando ele morreuque me dei conta de que a poltica era uma coisasem a qual no podia se viver, sem a qual no
podia se passar. A poltica era fundamental.
Era 1954. Nasci em 1935, eu tinha 19 anos.
BETINHO, EM OS CAMINHOS DA DEMOCRACIA, P. 7
(
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Opresidente Getlio Vargas se suicidou em 24 de agosto de 1954.
Hostilizado pelos conservadores, pela imprensa e por setores mi-
litares, que pediam o seu impeachment, Vargas se matou com
um tiro. Ele, que havia governado o pas da Revoluo de 1930
at 45, se elegera em 1950 pelo PTB (Partido Trabalhista Brasileiro) e o PSP(Partido Social Progressista), do lder paulista Adhemar de Barros. O seu prin-
cipal opositor foi o brigadeiro Eduardo Gomes, da UDN (Unio Democrtica
Nacional), o partido anti-Vargas por excelncia.
CARRO DO JORNAL O GLOBO, DE OPOSIO AOGOVERNO, VIRADO POR SIMPATIZANTES DE VARGASAPS A MORTE DO PRESIDENTE
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PROPAGANDA DA
CAMPANHA DEVARGAS EM 1950
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G l f
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Getlio foi
toda uma poca,Getlio foi 30, 40 anos de histria brasileira.
Getlio foi o nascimento do Estado moderno,
do Estado-nao, do Estado com a questo do
desenvolvimento. Getlio foi Volta Redonda, foi
Petrobras, essa noo de que o desenvolvimento
se faz sob a regncia do Estado, e a ordem social
tambm se faz sob a regncia do Estado.
BETINHO, EM OS CAMINHOS DA DEMOCRACIA, P. 7
O perodo Vargassintetiza o processo onde desenvolvimento
industrial, nacionalismo e autoritarismoandam juntos.
BETINHO, EM ESCRITOS INDIGNADOS, P. 15
ACIMA, MORTE DE VARGAS: CORTEJO DA POPULAO CARIOCA. ESQUERDA, MULHER PASSA MAL DURANTE O FUNERAL DE VARGAS
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JK, DE COSTAS, ABRAA GETLIO VARGAS
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Dos anos 30 at o fim da
Segunda Guerra Mundiala industrializao se deugraas ao de umaincipiente burguesia local,protegida, amparada pela ao e interveno do Estado naeconomia. A nova burguesia industrial nasce tambm, em
grande medida, da velha burguesia agrria, que reorienta os
seus investimentos para novas oportunidades. O capital muda
de forma, mas no muda o esprito autoritrio. (...) O fim da
Segunda Guerra enterrou as pretenses expansionistas de algumas
naes capitalistas e abriu o mundo para a expanso do capitaldesacompanhado dos Exrcitos de suas respectivas naes.
Comeava a era da internacionalizao do capital produtivo, das
chamadas empresas multi ou transnacionais. O Brasil se entrega a
esse processo com Juscelino Kubitschek (1956-60), que abre o pas
ao investimento direto estrangeiro.
BETINHO, EM ESCRITOS INDIGNADOS, P. 15 E 16
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(A partir de JK,industrializao e
internacionalizaose transformaram em sinnimos perfeitos.
O primeiro carro brasileiro era brazileiro.
BETINHO, EMESCRITOS INDIGNADOS, P.33
(
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Se comparados com outros perodos da histria brasileira, os anos JKpodem ser considerados de estabilidade poltica, apesar de persistirem
alguns focos de conflito. De 1945 a 64, Juscelino foi o nico presidente
civil que comeou e terminou o mandato. O seu programa de governo,
centrado no Plano de Metas, recebeu apoio do Congresso e das Foras Ar-
madas. Graas aliana do Partido Social Democrtico (PSD) com o PTB, o
governo aprovou os seus principais projetos no Legislativo. JK atendeu reivin-
dicaes de salrios e equipamentos dos militares.
O B JK
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Foi a era do desenvolvimento que Juscelino
encarnou e realizou de alguma maneira, atravs
de um acontecimento indito, que foi fundar uma
cidade no planalto, mudar a capital federal do Riopara Braslia e chamar, atrair capitais estrangeiros
para a indstria automobilstica e outros setores.
BETINHO, EM OS CAMINHOS DA DEMOCRACIA, P. 48
JK SEGUNDO DA DIR. PARA A ESQ. ANALISA PLANO DE CONSTRUO DE BRASLIA
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Durante o seu mandatoJuscelino jogou o Brasil
para cima. Ele disse:
O Brasil vai mudar 50 anosem cinco. Vamos construir Braslia. No tempo de JK, fazamos
profundas crticas aos partidos polticos (...). Tanto que nos anos
1960 surgiram vrias ideias de organizao revolucionria, que
eram a AP, a Polop, o Movimento Tiradentes, ligado s Ligas
Camponesas (...). Essa juventude que surgiu criando essas coisas
tinha um sopro de audcia muito grande, e ela queria fazer a
revoluo. (...) Nesse perodo ns achvamos que tudo era possvel,
e o Estado brasileiro tambm achava que tudo era possvel. E
esse tudo, tudo, tudo possvel foi o sorriso do JK, uma poltica
bem-humorada, quer dizer, no era uma poltica trgica. Era uma
poltica que achava que podia fazer o desenvolvimento.
BETINHO, EM OS CAMINHOS DA DEMOCRACIA, P. 48
JK, DE TERNO CLARO, NO LOCAL DA
FUTURA RODOVIA BELMBRASLIA
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(Ele criou um
estado de circo.Em vez de um estado de stio,foi um estado de circo.
BETINHO, EM OS CAMINHOS DA DEMOCRACIA, P. 48
(
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Adespeito do crescimento do pas, JK no conseguiu fazer o seusucessor. Apoiado pela UDN, Jnio Quadros foi eleito em 1960.
Ele prometia com uma vassoura, smbolo da sua campanha,
combater a corrupo. Como se votava em separado para vi-
ce-presidente, Joo Goulart (Jango), herdeiro poltico de Vargas, levou avice. Em 25 de agosto de 1961, Jnio renunciou e abriu uma crise institu-
cional no pas. Betinho partiu para o Rio Grande do Sul, onde participou
da Campanha da Legalidade, que exigia a posse de Jango. Os ministros
militares tentavam impedir que o vice assumisse.
O
JNIO QUADROS EM BRASLIA COMCHE GUEVARA, A QUEM CONDECOROU
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Jnio era o homem damdia. Era do espetculo.(...) O governo Jnio era assim: notcia todo dia, proibio do
biquni, da briga de galo, incertezas, era uma festa da mdia.De repente condecorou Che Guevara, fez uma poltica econmica
muito ortodoxa, muito tradicional, e ps Clemente Mariani,
que era um banqueiro, para ser o ministro da Fazenda.
BETINHO, EM OS CAMINHOS DA DEMOCRACIA, P. 48
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Jnio criou as condies paraque o golpe de 1964 se desse,
ao ser o presidente que tentava encarnar o poder absoluto na sua
pessoa, na sua vontade, na sua loucura, e ao subestimar e menosprezar
todos os mecanismos e instituies democrticas.
BETINHO, EM OS CAMINHOS DA DEMOCRACIA, P. 50
Joo Goulart (de perfil)acabou tomando possecomo presidente em1961, mas depois de feitoum acordo para evitar umconflito interno. Jangoassumiu o Planalto,mas o Brasil adotou oparlamentarismo.O pessedista TancredoNeves (ao lado, comJango) virou primeiro-ministro.
53S
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Aldo [Arantes] e eu, representando a UNE, fomos para Porto Alegre,
assim que Brizola montou a Rede da Legalidade, e ficamos ao seu lado,
no Palcio Piratini. Foi um momento inesquecvel. Havia cem mil
pessoas na praa, defronte sede do governo. Mais de 70 mil se alistaram
para lutar na guerra civil, se necessrio. E quando tudo terminou com
a instituio do parlamentarismo e a designao de Tancredo para
primeiro-ministro, ainda havia gente treinando marcha unida nas
ruas da capital gacha. Uma experincia emocionante. A liderana de
Brizola era indiscutvel porque ele dominava a situao tanto no mbito
civil quanto no militar. O sucesso da resistncia, no entanto, se deveu
adeso em massa da populao. Foi um movimento s comparvel
com o da Campanha das Diretas, em 1984. Se houvesse outros agentesmobilizadores como aconteceu no Rio Grande do Sul, o pas inteiro se
levantaria. Como ocorreu em Goinia, onde o governador Mauro Borges
tambm liderou um amplo foco de resistncia. A diferena que ele no
conseguiu, como Brizola, neutralizar ou capitalizar a participao militar.
O importante, de qualquer maneira, foi a gigantesca adeso civil.
BETINHO, EM SEM VERGONHA DA UTOPIA, P. 66
DA ESQUERDA PARA A DIREITA:
O GOVERNADOR DO RS, LEONEL BRIZOLA,DISCURSA DA JANELA DO PALCIO PIRATINI APSA RENNCIA DE JNIO QUADROS;
MANIFESTAO PBLICA EM FRENTE AO PALCIO
PIRATINI FAVORVEL A JOO GOULART;SOLDADO PROTEGE BARRICADA MONTADA NOPALCIO PIRATINI
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E o soldado do Rio Grande
do Sul ia atirar na massa?Ia atirar em seus parentes, primos, irmos? Mas, de jeito nenhum. Alis,nenhum soldado do Brasil quis atirar em tempo algum. Eu costumo
dizer que militar brasileiro detesta briga, detesta guerra. Se pudessem, os
militares brasileiros ficavam sem arma, s com o poder. Guerra no o
seu forte. Na poca, entretanto, a ameaa de tiros, brigas e guerras parecia
bem real. Ns fomos para a capital gacha de avio, o ltimo a descer l.
Chegamos, entramos no Palcio e ficamos. Saamos para comer e dormir,
mediante uma senha que nos permitia o livre trnsito. Ainda vivemos uns
dez dias, escrevendo e divulgando manifestos pelo rdio, acompanhando
o desenrolar dos acontecimentos em nveis nacional e internacional e
observando aquela mobilizao histrica. noite amos comer churrasco.
BETINHO, EM SEM VERGONHA DA UTOPIA, P. 66
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(No que ele fosse umrevolucionrio, Jangoera um democrata.
Ele era um institucional, ele queria o caminho institucional.
Colocar Jango como uma pessoa que queria dar o golpe
uma grande injustia com a memria dele, com o
passado dele. Ele queria resolver tudo na base da lei.
Ns que s vezes queramos na lei ou na marra.
BETINHO, EM OS CAMINHOS DA DEMOCRACIA, P. 51
(
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Empossado em 7 de setembro de 1961, o presidente Joo Goulartse comprometeu com as chamadas reformas de base, entre elas, a
mais importante, a agrria. No decorrer do seu mandato, a pres-
so dos movimentos sociais pelas reformas s cresceu. No dia 13
de maro de 1964, 200 mil pessoas se reuniram em frente Central doBrasil e ao Ministrio do Exrcito, no Rio de Janeiro, num comcio a favor
das reformas de base, para pressionar o Legislativo a votar as medidas.
Dias depois, Jango seria destitudo pelos militares.
R
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E f i d d d i d [ i i t
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BETINHO O SEGUNDO DA DIR. PARA A ESQ. NUMA REUNIO DO GOVERNO JANGO
Participar do governo Joo Goulart
foi uma experincia fascinante.Eu fiquei sete meses no Ministrio da Educao e foi a minha primeira experinciana mquina estatal burocrata. Foi a, por exemplo, que descobri que Tancredo Neves
e vrios senadores brigavam l dentro do ministrio por borracha e caderno. (...) No
para eles. Para eles ganharem votos. Mas tambm tive o lado positivo, que foi o Paulo
Freire. O plano de alfabetizao do Paulo Freire era para um milho de novos eleitores
na prxima eleio. E ele ia fazer isso se o golpe no tivesse ocorrido. Mas ns ramos
muitos divididos. Por exemplo, a UNE e eu ramos muito ligados ao Brizola. Agora, o
Brizola naquela poca j era criador de caso, principalmente com o cunhado dele.
BETINHO, NO PROGRAMA RODA VIVA, 23/12/1996
Eu fui coordenador da assessoria do [ministro
da Educao,] Paulo [de Tarso,] durante o tempo emque ele esteve no ministrio, sete meses. A assessoria
era chamada os meninos do poder, porque era
toda uma moada, uns sete ou oito. (...) Mas nose pode dizer que tenha havido algum tipo de
influncia mais organizada da AP no governo Jango.
Fora o Ministrio da Educao, onde tnhamos
uma influncia grande, ns atuvamos muito mais
como presso em torno do governo Jango, na Frentede Mobilizao Popular, na Frente Parlamentar
Nacionalista, etc. A representao poltica da AP
correspondia muito mais a uma fora de base.
BETINHO, NA REVISTA TEORIA E DEBATE, N 16
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Se algum pegasse as propostas mais radicais que existiam na poca
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Se algum pegasse as propostas mais radicais que existiam na poca,
se elas fossem realizadas, realizaria algumas reformas, e bem moderadas.Melhoraria o ensino, democratizaria um pouco mais o capital dos bancos,
faria uma modesta reforma agrria em terras pblicas, em terras de grandes
latifundirios. Era um conjunto de respostas que hoje so perfeitamenteassimilveis, por exemplo, numa proposta social-democrata. Na verdade,
o que se fez foi um grande clima de histeria poltica, produzida e dirigida
exatamente por aqueles que temiam que seus privilgios fossem afetados.
claro que essas reformas mudariam o Brasil. Nisso eles estavam certos:
se queria mudar o Brasil. Nos anos 60 se percebeu que o pas no podiacontinuar como estava. Esses setores, que so a histria velha do Brasil,
eles jamais concordariam com isso e tinham muito poder, e um dos
principais poderes que eles tinham era o poder da mdia.
BETINHO, EM OS CAMINHOS DA DEMOCRACIA, P. 79
LDER DAS LIGAS CAMPONESAS,FRANCISCO JULIO ESQ.,COM TANCREDO NEVES,DURANTE CONGRESSO DETRABALHADORES RURAIS. PARAJULIO, ERA REFORMA AGRRIANA LEI OU NA MARRA
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PRIMEIRO PRESIDENTE DA DITADURA, CASTELO BRANCO,SEM FARDA, EM VISITA A OURO PRETO MG. ENTRE ELE EO GENERAL ERNESTO GEISEL, O GOVERNADOR MINEIRO,
MAGALHES PINTO, ENCARA A CMERA
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O
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(O que o golpe fez
foi praticamenteum patricdio.Foi tentar matar uma ptria,
matar uma nao, matar um povo,
matar o sentido de cidadania.
BETINHO, EM OS CAMINHOS DA DEMOCRACIA, P. 74
(
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Em 31 de maro de 1964, Betinho foi pela manh ao Palcio Laran-
jeiras, no Rio de Janeiro, onde estava o presidente Jango. Perto do
meio-dia, com a certeza de que o golpe estava em curso, seguiu para o
Departamento de Correios e Telgrafos, na Praa XV, onde seria pos-
svel acompanhar telefonemas e telegramas trocados entre os principais diri-gentes do pas. L estavam o presidente da UNE, Jos Serra, e o lder do PTB,
Neiva Moreira, entre outros. Da Praa XV, eles saram para a sede da UNE, na
Praia do Flamengo, que foi destruda.
SEDE DA UNE NO RIO DE JANEIRO INCENDIADA DURANTE OGOLPE. A DIREITA ESTAVA HISTRICA, AFIRMARIA BETINHO
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Esse golpe poderia ter sidobarrado se houvesse uma
reao firme do Jango.A reao a um golpe tem que ser dada pelo presidente.
Se o presidente no reagiu ao golpe, ao contrrio, viajou para o sul
e saiu do pas, na verdade ele foi quem consumou o golpe. Jangotinha apoio militar. O golpe de 64 no era uma unanimidade
militar. No Sul, em vrios lugares, em vrios nveis, podia-se contar
com militares que fariam uma reao ao golpe. Mas isso, dentro da
ideologia militar, s seria possvel se o presidente ordenasse. Se no
houve ordem do presidente, no houve reao. Poderia haver guerra
civil, mas no era isso que estava colocado no cenrio (...). No caso
do Chile, no houve condies de dirigir a reao porque mataram
o presidente. No caso do Brasil, no mataram, mas Jango no teve
essas condies polticas, e ele abandonou o campo. Jango no soube
sair dessa, ele acabou saindo para o Uruguai.
BETINHO, EM OS CAMINHOS DA DEMOCRACIA, P. 51
DEZ ANOS ANTES DO GOLPE,JANGO NO FUNERAL DE VARGAS
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Aquilo foi uma mutilao.Foi isso que eu senti, se mutilou todo o processo de geraes e geraes que
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q , p g g q
quiseram fazer do pas um outro pas. (...) O golpe produziu um resultado
poltico, econmico e social extremamente grave para o pas. At hoje ns
estamos recuperando aquilo que nos foi tomado, at hoje ns estamos
recuperando o sentido da dignidade, o sentido de direitos individuais e sociais.
At hoje ns estamos distribuindo cesta bsica para acabar com a misria, com
a misria que no foi criada pelo golpe de 1964, mas que foi profundamente
acrescentada e resultou de uma poltica econmica criminosa, (...) altamenteconcentradora de renda e de poder.
BETINHO, EM OS CAMINHOS DA DEMOCRACIA, P. 74
CASTELO BRANCO DIR. ESEU CHEFE DA CASA MILITAR,GENERAL ERNESTO GEISEL
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Ao longo do tempo,o golpe foi se transformandonaquilo que no incio ele dizia que no era. Ele foi se transformando numa
ditadura militar clssica, com todas as caractersticas de uma ditadura.
BETINHO, EM OS CAMINHOS DA DEMOCRACIA, P. 73
Do ponto de vista da influncia externa, o golpe do Chile metade
americano. No Brasil no precisavam ter essa influncia americana
porque o Ipes (Instituto de Pesquisa e Estudos Sociais) [organizao,
criada por empresrios, responsvel por propaganda e mobilizao
contra o governo Jango] j era essa prpria presena. Quer dizer, elestinham (...) articulaes polticas com a CIA (agncia de inteligncia
norte-americana), com o Pentgono, com o diabo. Dizem quequando o golpe estava acontecendo havia na Baa de Guanabara
alguns navios de guerra americanos, que estavam ali prontos para
uma interveno. Mas o golpe foi brasileiro.
BETINHO, EM OS CAMINHOS DA DEMOCRACIA, P. 80 E 81
ANTES DE PARTICIPAR DO GOLPEDE 1973 NO CHILE, AUGUSTOPINOCHET SE ENCONTROU
NO BRASIL COM O GENERALERNESTO GEISEL
O PRESIDENTE CASTELO BRANCOEM DISCURSO NA PRESENA DOGENERAL QUE IRIA SUCEDLO,
COSTA E SILVA ESQ. DE CULOSESCUROS, E DO GENERAL
ERNESTO GEISEL, QUE ASSUMIRIAO PLANALTO NOS ANOS 1970
66 O Brasil de Betinho
A Igreja Catlica, no fundamental, apoiou o
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golpe de 1964. (...) Uma outra parte, minoritria,foi contra. Inclusive, logo depois do golpe foiperseguida, foi torturada, foi colocada fora do
cenrio. (...) O problema era Deus, propriedade
e famlia. Diga-se de passagem que essa era uma
trilogia que tinha sido levantada numa pesquisa
de opinio, coisa nova tambm no Brasil. Fizeramuma pesquisa em vrias capitais do Brasil, vendo
quais eram os valores que a populao mais prezava.(...) Se a famlia era o valor, diziam que o governo
Goulart queria destruir a famlia, o comunismo
queria destruir a famlia. Se era a propriedade,falavam ento que se estava querendo acabar com
a propriedade (...). Esse golpe no visava apenas
criar uma opinio pblica, mas mobilizar a opinio
pblica. Ento, nesse sentido, o golpe foi precursor,e ele foi uma espcie de escola de outros golpes que
vieram na Amrica Latina.
BETINHO, EM OS CAMINHOS DA DEMOCRACIA, P. 80
Carlos Lacerda, Adhemar de Barrose Magalhes Pinto. Esses trs lderes, que representavam Rio de
Janeiro, So Paulo e Minas Gerais, respectivamente, disputavam a paternidade da revoluo.
Na verdade, eles foram os grandes mobilizadores e articuladores, mas no tinham o poder dedeciso, que estava na mo dos militares. (...) A partir de um determinado momento, esses
atores comeam a fazer a crtica do prprio golpe que eles tinham dado e comeam a se
distanciar, a gerar conflitos com esse poder, e os militares foram se fechando cada vez mais
em seu prprio mundo.
BETINHO, EM OS CAMINHOS DA DEMOCRACIA, P. 7881
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BRIZOLA, EM 1961. A CAMPANHA DALEGALIDADE NO FOI REEDITADA EM 64
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Ns fomos para o
Uruguai para iniciar aluta contra a ditadura,
(...) estava a esquerda brasileira toda no Uruguai. (...) A gente fazia
reunio com todo mundo, s faltava o povo, s faltava o pas, mas a
chamada direo poltica do passado estava l.
BETINHO, EM OS CAMINHOS DA DEMOCRACIA, P. 75 E 76
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Para o Uruguai foram, logo depois do golpe, todas as lideranasconhecidas do CGT (Comando Geral dos Trabalhadores), PUA
(Pacto de Unidade e Ao), UNE, AP, Polop, trotskistas, o grupo
d B i l t t d A t F l i
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do Brizola, representantes do Arraes, etc. Fazamos l a reunioda Frente de Mobilizao Popular. Basicamente, foram formados
dois grupos: um articulado em torno do Jango (...) e outro quese articulava em torno do Brizola. Ns estvamos neste. A linha
da mobilizao propunha uma insurreio. O Brizola entraria em
Porto Alegre e formaria a Rede da Legalidade de novo. O Brizola
trabalhava intensamente nisso. Havia contatos com setores das
Foras Armadas, da Brigada Militar do Rio Grande do Sul, com
sindicatos. medida que essa linha no apresentava resultados,que o dia da insurreio era desmarcado sucessivamente e que
o golpe ia se consolidando, ns comeamos a ler Mao. Eu me
lembro que l no Uruguai eu li Escritos militares.
BETINHO, NA REVISTA TEORIA E DEBATE, N 16
Decidimos voltar parapropor AP a guerrilha.Viemos para So Paulo, retomamos a direo da Ao
Popular e foi a que se decidiu que o caminho da revoluo
era o da luta armada. (...) A nossa viso era muito
esquemtica, e eu diria que profundamente equivocada.Ns achvamos que devamos fazer a luta armada, por
intermdio da guerrilha, (...) e este conflito jogaria a
ditadura contra ns, mas a revelaria sociedade. Esta,
sob o impacto da revelao, iria nos apoiar e se rebelar.
BETINHO, NA REVISTA TEORIA E DEBATE, N 16
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REUNIO DE GABINETE: O PRESIDENTE ERNESTO GEISEL,
NA CABECEIRA DA MESA, COM GOLBERY DO COUTO E SILVA,
SUA DIREITA, E HUGO ABREU, SUA ESQUERDA. AO LADO
DE GOLBERY, JOO BAPTISTA FIGUEIREDO, SENTADO DE
FRENTE PARA JOO PAULO DOS REIS VELLOSO
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A
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(A ditadura militar
brasileira era militar,era ditadura, mas tinha perodos. Cada general tinha seuturno. Havia uma formalidade, que era uma coisa mais
simblica: a ditadura escolhia o presidente, mas queria que
o Congresso participasse, (...) que o Congresso ratificasse
a deciso que era feita pelo Comando Militar.
BETINHO, EM OS CAMINHOS DA DEMOCRACIA, P. 101
(
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Os militares ocuparam o Palcio do Planalto de 1964 a 1985. Fo-
ram ao todo cinco presidentes-generais, governos que estimu-
laram o crescimento e concentraram como nunca a renda no
pas. O regime manteve, de forma limitada, alguns mecanismos
da democracia representativa. O Congresso, apesar de cerceado, permaneceuem funcionamento. Embora a eleio para a Presidncia fosse indireta, por
meio do Colgio Eleitoral, as legislativas eram diretas. Implantou-se o biparti-
darismo. De um lado, o partido governista, a Aliana Renovadora Nacional, a
Arena, e, do outro, o Movimento Democrtico Brasileiro (MDB), de oposio.
O GENERAL JOO BAPTISTA FIGUEIREDO, J NA
PRESIDNCIA DA REPBLICA, EM CONVERSACOM O EXPRESIDENTE EMLIO MDICI
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Pretendia-se queo Brasil no tinhavivido um golpe.
Essa era a questo do perodo Castelo Branco.
BETINHO, EM OS CAMINHOS DA DEMOCRACIA, P.100
74 O Brasil de Betinho
FOTO OFICIAL: O MINISTRIO DE CASTELO BRANCO
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At hoje tem gente
que diz que Casteloera um democrata.Ora, no pode ser democrata quem acaba com a
democracia. A histria tem que ser rigorosa na avaliao
dos atos polticos e das consequncias polticas desses
atos. A ditadura brasileira, 1964, chama-se Castelo
Branco. No h outra forma de caracterizar. (...) Os
militares pretendiam que isso fosse somente uma
soluo provisria, para depois se restabelecer o processo
democrtico. Nos primeiros dias do golpe houve muita
violncia, mas no o estabelecimento de um regime
repressivo claro. Setores da sociedade achavam que
isso era absolutamente normal, que era necessrio, e,portanto, achavam que o governo Castelo Branco devia
existir mesmo. A ele colocou Roberto Campos como
ministro da Economia [na foto, o 2 da esq. para a dir.
na ltima fila]. (...) Roberto Campos estabeleceu todas as
premissas do que depois viria a ser o Milagre Brasileiro.
Em poucos meses ele realizou todos os sonhos da vidadele: abrir para o capital estrangeiro, cumprir o programa
liberal diante de uma inflao que era 90% ao ano e que
era considerada uma ameaa segurana nacional. (...)
O Congresso assimilouisso tudo.
BETINHO, EM OS CAMINHOS DA DEMOCRACIA, P. 99
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(Comeou a se dar,no interior do golpe,
uma grande lutaentre o que se chamou linha-dura, cuja cabea eraCosta e Silva, e linha-mole, que era o presidente
[Castelo]. Essa luta foi radicalizando o golpe para a
direita. (...) A linha-mole queria um projeto mais
institucional, mais internacionalista, mais aberto.
A linha-dura tinha conotaes mais nacionalistas.
BETINHO, EM OS CAMINHOS DA DEMOCRACIA, P. 100
(
O GENERAL COSTA E SILVA BEIJADO PELA NETA
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Com o general Costa e Silva, sucessor de Castelo Branco, veio o AI-5
em dezembro de 1968. O ato, uma resposta a greves e manifesta-
es que ocorriam no pas, concedeu poderes ilimitados ao presi-
dente da Repblica e imps forte censura sobre os meios de comu-
nicao. Inmeros oposicionistas foram presos, torturados e mortos. Quase a
metade dos representantes do MDB no Congresso tiveram os seus mandatoscassados. Com a sociedade silenciada, Emlio Garrastazu Mdici substituiria
Costa e Silva e comandaria o Milagre Econmico, perodo de crescimento,
concentrao de renda e prosperidade para as classes mais altas. A represso se
intensificaria, assim como a propaganda poltica do governo.
O AI- M
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O perodo
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O perodoCosta e Silva foi um
perodo em que todas
as contradies quetinham ficado maisou menos congeladasno perodo Castelo Branco voltaram a se manifestar.
Houve manifestaes sindicais de oposio, houvemanifestaes estudantis, teve a Passeata dos Cem Mil.
(...) A sociedade comeou no s a descobrir a dimenso
do golpe, como a reagir contra. Se no perodo Castelo
Branco o movimento estudantil no reagiu de forma
massiva, no governo Costa e Silva reagiu. (...) Juntaram-se
na luta contra a ditadura: Carlos Lacerda, Juscelino, Jango,
e j iam chegando junto outros apoios tambm. Era uma
frente poltica que queria criar uma alternativa e fazer
com que a ditadura militar chegasse a seu fim, acabasse o
perodo de recesso e voltasse ao que era antes. A Frente
Ampla foi cassada pelo governo Costa e Silva.
BETINHO, EM OS CAMINHOS DA DEMOCRACIA, P. 102
CARLOS LACERDA DIR. FAZ CAMPANHA PARA OSEU CANDIDATO A GOVERNADOR EM 1965, FLEXA
RIBEIRO ESQ., QUE ACABARIA DERROTADO
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Foi o perodo emque, por exemplo,O Estado de S. Paulo,censurado,(...) editava Camese oJornal da Tardepublicava receitas de bolo. Foiquando surgiu tambm, e foi censurado, mas surgiu
como uma reao ditadura, o humor no Pasquim,
que atacou a ditadura com as armas do riso, do
deboche, da ironia e da produo cultural.
BETINHO, EM OS CAMINHOS DA DEMOCRACIA, P. 137
ATO INSTITUCIONAL N 5,DE 13 DE DEZEMBRO DE 1968
O PRESIDENTE DA REPBLICA FEDERATIVA DO BRASIL,
ouvido o Conselho de Segurana Nacional, eCONSIDERANDO que a Revoluo Brasileira de 31 de mar-o de 1964 teve, conforme decorre dos Atos com os quaisse institucionalizou, fundamentos e propsitos que visa-vam dar ao pas um regime que, atendendo s exignciasde um sistema jurdico e poltico, assegurasse autnticaordem democrtica, baseada na liberdade, no respeito dignidade da pessoa humana, no combate subverso e sideologias contrrias s tradies de nosso povo, (...)
Resolve editar o seguinte ATO INSTITUCIONAL
(...) Art. 2 O Presidente da Repblica poder decretaro recesso do Congresso Nacional, das Assembleias Le-gislativas e das Cmaras de Vereadores, por Ato Com-plementar, em estado de stio ou fora dele, s voltandoos mesmos a funcionar quando convocados pelo Presi-dente da Repblica.
(...) Art. 3 O Presidente da Repblica, no interessenacional, poder decretar a interveno nos Estados eMunicpios, sem as limitaes previstas na Constituio.
(...) Art. 4 No interesse de preservar a Revoluo, oPresidente da Repblica, ouvido o Conselho de Seguran-a Nacional, e sem as limitaes previstas na Constitui-o, poder suspender os direitos polticos de quaisquercidados pelo prazo de dez anos e cassar mandatos ele-tivos federais, estaduais e municipais.
(...) Art. 10 Fica suspensa a garantia de habeas corpus,nos casos de crimes polticos, contra a segurana nacio-nal, a ordem econmica e social e a economia popular.
Art. 11 Excluem-se de qualquer apreciao judicialtodos os atos praticados de acordo com este Ato Ins-titucional e seus Atos Complementares, bem como osrespectivos efeitos. (...)
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O governo Mdiciestabeleceu uma
terrvel dicotomiaentre o Brasil oficial, o Brasil do Milagre, o Brasil
potncia, de um lado, e a sociedade, do outro.
Foi o perodo em que (...) mais se concentrou
riquezas, mais se concentrou a renda, mais
se excluiu a populao dos benefcios dodesenvolvimento. a famosa poca do bolo, quer
dizer, primeiro o bolo cresce, depois se divide o
bolo, e depois o bolo tomou Doril e sumiu.
E ningum mais dividiu coisa nenhuma.
BETINHO, EM OS CAMINHOS DA DEMOCRACIA, P. 104
Ulysses Guimares, do MDB, discursano Colgio Eleitoral que elegeu ErnestoGeisel como o sucessor de Mdici. Mesmosabendo que no ganharia, Ulyssesdisputou com Geisel a eleio, se disse oanticandidato e tornou-se smbolo daresistncia ditadura.
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O BRASIL: AMEO OU DEIXEOFOI UMA MARCA DO PERODO
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(As portas da
Abertura no se
abriram de repente,elas foram se abrindo, tal como previa Geisel,
lenta, gradual, segura. E foi assim. E foi assim
que chegamos Anistia, em 1979, que marcou
o perodo do general Figueiredo e praticamente
assinalou o fim da ditadura.
BETINHO, EM OS CAMINHOS DA DEMOCRACIA, P. 107
(
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Opresidente Ernesto Geisel, nove meses depois da sua posse, teve
em outubro de 1974 um primeiro e importante revs poltico. O
MDB conquistou uma vitria consagradora nas eleies legislati-vas. Com a crise econmica internacional, o Milagre Econmico
se fazia miragem. Geisel iniciou uma distenso lenta e gradual do regime. Ele
passaria a faixa ao general Joo Baptista Figueiredo, o presidente que exerceuo mais longo mandato da ditadura, seis anos. No mesmo ano em que chegou
ao poder, Figueiredo proclamou a Lei da Anistia. A sociedade civil havia feito
uma grande campanha por anistia ampla, geral e irrestrita, mas o regime
concedeu apenas uma parcial. Mesmo assim, a distenso virava a Abertura.
D A
FIGUEIREDO E GEISEL SE CUMPRIMENTAMDURANTE VISITA A UMA PLANTAO DE SOJA
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O perodo Geisel tem como
caracterstica bsica ter
passado de uma ditadura la Mdici para um regime
autoritrio altamente cioso
do seu poder, mas com
abertura para a imprensa erepresso represso.
BETINHO, EM OS CAMINHOSDA DEMOCRACIA, P. 106
Geisel descobriu quea ditadura no podia
seguir daquele jeito,que haveria que se fazer um processo de distenso, como
eles chamavam, tinha que haver uma distenso, que o
nome antigo, e que hoje se chama flexibilizao. Distenso
lenta, gradual e segura. Mais tarde ele admitiu a abertura
democrtica, lenta, gradual e segura. Sempre assim: lenta,
gradual e segura, isto , controlada por ele.
BETINHO, EM OS CAMINHOS DA DEMOCRACIA, P. 105
O PRESIDENTE JOO FIGUEIREDO,EM VISITA A MINAS GERAIS,COM O GOVERNADOR MINEIRO,TANCREDO NEVES
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BETINHO, NO EXLIO NO CANAD, EMCONVERSA COM O JORNALISTA RODOLFO
KONDER; HENFIL ESQ. OBSERVA
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(Viver na
clandestinidade eratenso permanentee uma preocupao absolutamente constante (...).
No explico como consegui viver nessa poca e
principalmente como consegui escapar dessa poca.
BETINHO, EM OS CAMINHOS DA DEMOCRACIA, P. 136
(
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Betinho ficou exilado de 1971 a 79, no Chile, Panam, Canad
e Mxico. Voltou ao Brasil com a Lei da Anistia. At sair para oexlio, ele militou na clandestinidade na Ao Popular. Em 67,
foi a Cuba para representar a AP num evento da Organizao La-
tino-americana de Solidariedade (Olas), encontro que acabou no acon-tecendo. Ao retornar de Cuba, Betinho trabalhou como operrio numa
fbrica paulista, como exigia a nova linha maosta da AP.
BETINHO COM O FILHO DANIEL NO EXLIO
89D
[Che Guevara] era o piv de toda a articulao da Olas.Na verdade ela estava articulada tendo como centro a luta
guerrilheira do Che na Bolvia. Quando ele morreu, morreu
a Olas. S que os cubanos no enterraram, e eu fiquei
esperando onze meses a Olas se reunir, e a organizao
nunca se reuniu. At que eu decidi que no tinha nadapara fazer l e vim embora ( ) Quando eu cheguei a Ao
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para fazer l e vim embora (...). Quando eu cheguei a Ao
Popular estava totalmente dividida entre a linha maosta e a
linha cubana. Eu aderi linha maosta (...). S havia duas
alternativas: ou aderia a tudo o que ela fazia, que era uma
espcie de guerra santa, um negcio de um furor ideolgico
incrvel, ou ento eu tinha que sair da AP. Sair da AoPopular naquelas circunstncias era como pedir para algum
sair de seu prprio corpo. Porque eu era fundador. S depois,
em 71, que eu elaborei a ideia de sair.
BETINHO, NA REVISTA TEORIA E DEBATE, N 16
A Ao Popular no fim dos anos 1960se dividiu em duas tendncias: uma
prxima da Revoluo Cubana, defensorada guerrilha, e outra alinhada com aRevoluo Chinesa, liderada por Mao Ts-Tung. O grupo maosta terminou vitorioso.Eles pregavam que o melhor caminhopara o socialismo era uma guerrapopular prolongada, como havia ocorridona China, e no via um foco guerrilheiro.
Nosso slogan na poca
eras a luta armadaderruba a ditadura.
Ns viramos maostas, e a o lema passou a ser s a
guerra popular derruba a ditadura. (...) A gente fazia
trabalho de oposio sindical, fazamos trabalhos nos
bairros, com jovens, trabalhvamos j com igrejas, mas,
obviamente que guerra, no sentido que ns pensvamos e
propnhamos, obviamente, no havia. Quem acreditava
muito na guerra era a represso, e achava que amos fazer
guerra mesmo e vinha em cima.
BETINHO, EM OS CAMINHOS DA DEMOCRACIA, P. 135
Betinho conheceu a sua segunda mulher,Maria Nakano, numa reunio da AP,
quando os dois viviam na clandestinidade.Ele era Wilson, e ela, Marli. Na foto direita, os dois exilados no Panam.
90 O Brasil de Betinho
Eu fui trabalhar numafbrica de porcelana
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A clandestinidade to difcil de ser entendida
por quem no a viveu, como a doena para quemsempre esteve so. Clandestinidade uma situao
anormal, invertida em todos os seus aspectos. O
normal para qualquer pessoa ter seu nome e
a sua histria, o reconhecimento social da sua
individualidade. O clandestino deve ao contrrioocultar seu prprio nome e buscar que a sua prpria
histria no seja conhecida. (...) Em permanente
situao de perigo, vivendo a tenso cotidiana do
risco de ser localizado, isolado de seus ambientes
anteriores, cortado em sua histria pessoal, vivendoartificialmente uma histria em parte verdadeira e
em parte inventada, o clandestino acaba por sofrer
uma srie de condicionamentos que o testam sob
muitos aspectos.
BETINHO, EM SOBRE A CLANDESTINIDADE, ARQUIVOHERBERT DE SOUZA, CPDOC/FGV
A coisa em Mau comeou a ficar meio tensa, porque a gente
fazia trabalho de panfletagem, pregando a luta armada. Eu memudei para Santo Andr, e, em dezembro de 1970, caiu todo o
trabalho em Mau. (...) Prenderam 60 caras, batendo, torturando.
(...) Eu sa da casa onde estava. Segundo soube, algumas horas
depois a polcia chegou l. Eu ainda fiquei em So Paulo um
ano criando as condies de sada para o exterior, porque aorganizao no tinha condies de dar nada (...). E foi a que
eu comecei a tomar uma conscincia clarssima do quo suicida
era a nossa situao. A gente pensava: Se eu cair, eu tenho duas
chances: ou eu falo, e me transformo num traidor, ou eles vo me
matar. (...) Foi a que eu realmente tive medo.
BETINHO, NA REVISTA TEORIA E DEBATE, N 16
fbrica de porcelana,em Mau, onde fiquei seis meses. (...) Na primeira semana,
eu carregava caixotes com loua. Eu que nunca tinha carregado
caixote na minha vida punha no ombro e saa. No primeiro dia
comeou uma hemorragia no joelho. Eu trabalhei de segunda a
sbado com hemorragia. No sbado eu no conseguia nem andar.
Fui transferido para outro trabalho. Passei a ser lixador de xcara.
BETINHO, NA REVISTATEORIA E DEBATE, N 16
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Betinho partiu para o Chile em novembro de 1971. Viver no Chi-
le foi fantstico, definiria ele. Betinho foi assessor do gover-no socialista de Salvador Allende. Com o golpe contra Allende,
em setembro de 1973, Betinho e Maria Nakano passaram cinco
meses no Panam e, em fevereiro de 1974, desembarcaram no Canad.L, Betinho iniciou o doutorado em Cincia Poltica e criou com outros
exilados a Latin American Research Unit (Laru), centro de pesquisas sobre
a Amrica Latina. Depois de por alguns meses dar aulas na Esccia, ele e
Maria se mudaram para o Mxico, ltima parada antes de voltar ao Brasil.BETINHO E HENFIL ENTREVISTARAM FRANCISCOJULIO PARA O PASQUIM, NO MXICO
A
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O Chile era uma espcie
de cu quando a gente chegava,porque a gente saa da ditadura militar (...) e encontrava um pas democrtico,(...) com manifestaes de massa por toda parte. Ento era como se tivesse
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sado do inferno e chegado no cu (...). Passei a viver a experincia mais
fantstica que se possa imaginar: um clandestino chamado Wilson [nome
de guerra de Betinho], perseguido por todo mundo, perseguido pela polcia,
sair do Brasil, chegar no Chile e ir trabalhar com o assessor do presidente daRepblica (...) Discuti com ele ideias e propostas, elaborando textos, tendo
ideias numa tera-feira e vendo o presidente Allende anunciar essa ideia na
quinta-feira, na imprensa (...). O golpe dado no Chile foi uma das maiores
tragdias da histria contempornea da Amrica Latina.
BETINHO, EM OS CAMINHOS DA DEMOCRACIA, P. 179 E 180
O Jos Serra era o coordenador
da Ao Popular. Todos os grupos
brasileiros se reuniam numa espcie
de frente, com representantes de 40ou 50 grupos de esquerda. Era uma
loucura. Comeou nessa poca o meu
processo de desengajamento da Ao
Popular. Depois do golpe do Chile, fui
para o Canad. Meu desengajamentoj era total. A partir da, voltar a falar
da AP sempre penoso.
BETINHO, NA REVISTATEORIA E DEBATE, N 16
Jos Serra (em p), no Chile, companheiro deexlio de Betinho. Tomei muito vinho dele, diria
Betinho sobre a relao com Serra no pas.
94 O Brasil de Betinho
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Amorzinho lindo,Aproveito aqui uma conferncia do F. H.
[Fernando Henrique] Cardoso para escrever uma
cartinha para voc. (...) Vamos aos pontos:
(...) 5- Fernando acabou sua conferncia
e agora o pessoal est colocando perguntas...
Foi interessante e bastante provocativo.
A sala aqui est cheia de gente, e Fernando
realmente visto como uma star... para a moada.
Por falar nisso, o Serra est no Brasil, por um ms.
Foi interrogado quatro horas no aeroporto e saiu...
(...) Houve vrias manifestaes da massa
estudantil em vrias cidades e em So Paulo duasmanifestaes, uma com dez mil estudantes.
(...) Tenha certeza que estes dois meses foram
a ltima separao... Vou comprar a correntinha
de ouro pra prender voc no meu pescoo e
o meu no teu... Mas veja: no pense triste, no pense
saudade triste, pense no reencontro, lembre alegre etrabalhe tudo que voc puder. Vou enviar agora
um beijo que condensa todos os que tenho, e um
abrao geral para todos os companheiros a.
Bet.
ARQUIVO HERBERT DE SOUZA, CPDOC/FGV
Durante os meses em que Betinho foiprofessor em Glasgow, na Esccia,Maria Nakano prestou assessoria parao novo governo de So Tom e Prncipe,na frica. O perodo ficou marcado pelaintensa correspondncia entre os dois.A carta ao lado datada de 23 de maiode 1977. Os grifos so originais.
96 O Brasil de Betinho
Em carta de maio de 1978, Henfil buscaanimar o irmo com a poltica brasileira
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A verdade que o exlio
criou um circuito,criou uma rede de comunicao e informao que eraalimentada pelas entidades, quer dizer, pelas organizaes
e pelas famlias (...). Durante todo o meu perodo no
Canad, fui informado semanalmente por pacotes de
materiais enviados pelo Henfil para mim. Eu nunca li tanto
sobre o Brasil como nesse perodo, porque o Henfil era um
sistemtico, ele seguia todos os jornais, todas as publicaes.
BETINHO, EM OS CAMINHOS DA DEMOCRACIA, P. 185 E 186
animar o irmo com a poltica brasileirae a campanha pela Anistia. No trechoabaixo, os grifos so do prprio Henfil:
Mano, t difcil seguir os fatos. Toda hora(hora no dia, hora) acontece novidade.Eu disse: basta um empurro. Quem em-purra? Perguntou voc... (...) Mas chamoateno na sua leitura a para a confedera-o dos xavantes empurradores (...). Pres-ta ateno na sua leitura para as seguintespedras: OAB (t cada dia mais mais), Igrejade Base (...) est ocupando um imenso ter-reno (...). Imprensa (...). Estamos vendo naTV, horrio nobre, at denncias de maustratos a presos... Os programas humorsti-cos j gozam o salrio mnimo... Novidadede trs meses pra c... Outro dia a RdioJB entrevistou o Mrcio Moreira Alves! EM-PRESRIOS esto aumentando no quei-xume bem articulado. (...) 114 milhes debrasileiros vo votar em massa no MDBem nov. 78 e criar um puta impasse. (...)SINDICATOS ta uma novidade! A oposi-o sindical est toda hora se elegendo. (...)ANISTIA a campanha incontrolvel. Su-bestimada no incio, vem crescendo tantoque quase ficou mais importante que o ha-beas corpus. (...) Ento? Que me diz? Temquem empurre?
ARQUIVO HERBERT DE SOUZA, CPDOC/FGV
HENFIL E SUA MULHER, BERENICE, VISITAM MARIA E BETINHO NO CANAD
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O cientista social RenDreyfuss foi uma daspessoas que maistrocaram cartas com
Betinho durante o exlio.Betinho revisou a tesedele, que depois setornaria o livro clssico1964: a conquista do
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qEstado. Nesta carta de1979 (1 pgina ao lado),Dreyfuss, alm de falardo trabalho, cobra que
Betinho termine a suaprpria tese. Abaixo,trecho da mensagem.
Manda brasa na tua tese, faz espao paraela, importantssimo para voc funcionar
como Doutor de Souza (sem gozao), muito importante. Descarrega os detalhesdo ativismo com outras pessoas, pede um
pouco de compreenso e manda brasa na tuatese. Voc tem que passar a ser um politlogofalando, no um ex-lder da AP. Teu status de
intelectual nesta briga que vem agora temque ser enfatizado, no teu lado de poltico.Voc um poltico intelectual que triunfou no
mundo acadmico, essa imagem necessriapara a tua legitimao. Sugesto de amigo.
ARQUIVO HERBERT DE SOUZA, CPDOC/FGV
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PASQUIMDE JUNHO DE 1979 DESTACOUENTREVISTA COM BETINHO
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No Mxico, fui professor no
doutorado de Economia, fizemos um
centro l tambm, mas foi muito
tumultuado. O Mxico um turbilho.Veio a Anistia, eu queria terminar a
minha tese, mas quando vi j estava
tomando o avio para vir embora.
BETINHO, NA REVISTA TEORIA E DEBATE, N 16
Acredito que nenhum exilado imaginou que
pudesse morrer no pas onde estivesse, todospensavam que iam voltar para o Brasil, podia
demorar. Eu, por exemplo, fui surpreendido pelo
fim da ditadura, praticamente, e pela Anistia,
porque eu imaginava que eu teria que viver no
Mxico mais uns trs ou quatro anos.
BETINHO, EM OS CAMINHOS DA DEMOCRACIA, P. 180 E 181
Acho que,se quiser voltar
agora, volto,mas daqui a um ano estamoscorrendo de novo. S com anistia no d.
Quero democracia. A seco, no! (...)
No fiquem me esperando com banda,
que s com anistia no volto!
BETINHO, NO PASQUIM, N 519
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(Estar fora do pas uma questo que
di, profundamente.Talvez seja um dos piores castigos que a pessoa possa ter.
(...) Aquela rua, aquele bairro, aquela famlia, aquele
espao, aquela histria que voc faz num determinado
lugar. Tirar isso de uma pessoa uma violncia terrvel.
Quem viveu o exlio sabe disso.
BETINHO, NO PROGRAMA RODA VIVA, 14/12/1987
(
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CERTIDO PSANISTIA QUE RESTITUIUOS DIREITOS POLTICOS DE BETINHO
A Betinho e vrios outros exilados retornaram ao Brasil em 1979, com
a Lei da Anistia. No aeroporto, ele foi recepcionado ao som de O
bbado e a equilibrista, de Aldir Blanc e Joo Bosco, cuja letra pedia
a volta do irmo do Henfil. A msica virou o hino da Anistia.
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O bbado e a equilibrista
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O bbado e a equilibrista
CaaA tarde feito um viadutoE um bbado trajando lutoMe lembrou Carlitos
A luaTal qual a dona do bordelPedia a cada estrela friaUm brilho de aluguel
E nuvensL no mata-borro do cuChupavam manchas torturadasQue sufoco
LoucoO bbado com chapu-coco
Fazia irreverncias milPra noite do Brasil
Meu Brasil
Que sonhaCom a volta do irmo do HenfilCom tanta gente que partiuNum rabo-de-foguete
ChoraA nossa ptria me gentilChoram Marias e ClarissesNo solo do Brasil
Mas seiQue uma dor assim pungenteNo h de ser inutilmenteA esperana
DanaNa corda bamba de sombrinhaE em cada passo dessa linhaPode se machucar
AzarA esperana equilibristaSabe que o show de todo artistaTem que continuar
102 O Brasil de Betinho
Para mim hoje estar aqui algoabsolutamente fundamental.
Eu evito at viajar para fora, porque eu j perdi nove anos fora.
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Isso obra do Henfil.Ele tinha uma forma muito interessante de fazer aluta poltica (...). Ele escrevia as cartas ao mano e
simbolizava a volta de todos do exlio na minha volta, ele
personalizava. O Aldir pegou aquilo e fez. Eu no conhecia
o Aldir. Eu vim conhec-lo rencentemente, quando voltei.
(...) E eu durante muito tempo passava nas ruas e as
pessoas diziam: L vai o irmo do Henfil. Tinha alguns
que ainda me chamavam de Henfil. At hoje tem gente
que fala assim: Oi, Henfil. Eu digo: Oi.
BETINHO, NO PROGRAMA RODA VIVA, 23/12/1996
BETINHO, NO PROGRAMA RODA VIVA, 14/12/1987
ACIMA: CARTEIRA DE IDENTIDADE DE BETINHO, TIRADA EM 1979, QUANDOELE REGRESSOU AO BRASIL; BETINHO NA PRAIA EM NATAL RN, EM 1980,
COM O IRMO HENFIL
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(Acho que ele jnasceu candidatoa alguma coisa.
E foi amadurecendo, foi se transformando numa
liderana expressiva, at que ele conseguiu ser
eleito presidente. Na vspera da posse ele adoeceu.Adoeceu e a situao dele se agravou dia a dia,
e ele morreu sem ver realizado o grande sonho
da vida dele. E essa morte foi acompanhada pela
opinio pblica, ela foi visualizada pela opinio
pblica como uma grande tragdia nacional.
Era uma tragdia grega, era algo que no podiaacontecer. O presidente no podia morrer.
Tancredo, que tinha simbolizado tantas lutas,
fosse ele o que fosse, ele no podia morrer.
BETINHO, EM OS CAMINHOS DA DEMOCRACIA, P. 221
(
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Sarney era vice de Tancredo
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Sarney era vice de Tancredono Colgio Eleitoral.
Morreu Tancredo, assumiu o vice. Essa foi a grande tragdia do Brasil.
O Brasil teve duas tragdias numa s: a morte de Tancredo
e a eleio do vice. Ele vinha pela Arena, ele vinha pela direita,
ele vinha pelo golpe. Ele era liderana do golpe militar,
que tomava carona no processo de democratizao.
BETINHO, EM OS CAMINHOS DA DEMOCRACIA, P. 199
ESQUERDA, CAIXO COM TANCREDO NEVESEM BRASLIA. ACIMA, FAIXA DE SOLIDARIEDADEA RISOLETA NEVES, MULHER DE TANCREDO,DURANTE A INTERNAO DO PRESIDENTE ELEITO
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A dcada comeou ainda tendo que aguentar
o general Figueiredo no poder. De 1979 a 83tivemos que conviver com o desenvolvimento
do processo democrtico e a sobrevivncia do
autoritarismo em nvel do Executivo federal,
ainda senhor absoluto do Estado, apesar de
quase ignorado pela sociedade. Figueiredo
terminou o seu perodo pedindo sociedadeque o esquecesse. A alternncia no poder se
deu atravs de negociaes entre a ditadura e
o Congresso e se realizou de forma dramtica
com a escolha e a morte de Tancredo na portado poder que tanto aspirou durante toda a
sua vida. Sarney colocado no cenrio e nele
fica durante cinco anos para desgraa do pas
e felicidade de uns poucos que do poder se
serviram como nunca.
BETINHO, EM ESCRITOS INDIGNADOS, P. 26
ESQUERDA, JOS SARNEY AJUDA A FECHAR O CAIXO DETANCREDO NEVES. ACIMA, HOMENAGEM DA POPULAO. ABAIXO,MENSAGEM DE TANCREDO, INTERNADO, AO PRESIDENTE EMEXERCCIO, SARNEY: A NAO EST REGISTRANDO O EXEMPLOIRREPREENSVEL QUE O PREZADO AMIGO LHE TRANSMITE NOEXERCCIO DA PRESIDNCIA DA REPBLICA
109A
EM 1974, QUANDO TEM INCIO ADISTENSO DE GEISEL, BETINHO
ESCREVE NO EXLIO O TEXTO,10 ANOS E 4 GENERAIS 1 PGINA
AO LADO, NO QUAL DISCUTE ADEMOCRACIA NO BRASIL
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Desde o golpe militar de abril de 1964,o Brasil j teve quatro militares na Presidncia da Repblica. Todos os militares abrem a perspectivade um processo de democratizaodo pas, que se daria se as condies estivessem maduras para
receber a recompensa da Democracia. (...) Porm falar de Democracia no Brasil uma questo de
saber Democracia para quem.(...) Nunca como agora os grandes proprietrios, a grande burguesia,
principalmente estrangeira, gozaram de uma Democraciato ampla e to profunda. Podem dizer
sem medo de exagerar ou errar que tm no Brasil a democracia que tanto sonharam, sem os riscos dademocracia que sempre temeram (como a de antes de 1964). (...) No entanto, se falamos de povo, de
80% ou 90% da populao brasileira, o quadro calamitoso, e no h muito a acrescentar na denncia
internacional que vem sendo feita em relao ao Brasil. Porm a Democracia no somente um
problema de tica, e sim de opo: como propiciar ou permitir a Democracia para a classe trabalhadora
brasileira e ao mesmo tempo garantir o mximo de liberdade para o grande capital internacional (...)?
Como permitir liberdade de reunio, de associao e reivindicao para a classe trabalhadora do Brasile ao mesmo tempo construir um pas onde a fora de trabalho possa ser explorada ao mximo (...) ?
Os dados que esto sendo revelados pouco a pouco na imprensa brasileira sobre as
condies de vida e de trabalho da massa assalariada so de espantar.
BETINHO, EM 10 ANOS E 4 GENERAIS, ARQUIVO HERBERT DE SOUZA, CPDOC/FGV
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O desenvolvimento
das desigualdadeschegou a tal ponto que o Estado se desgarroutotalmente da sociedade, e uma crise geral de
legitimidade e governabilidade obrigou a ditadura a
abrir o caminho para a democratizao. verdade
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Desde o comeo dos anos 1980 que o capitalmundial se reconcentra nas economias
desenvolvidas. (...) Isso foi o suficiente para
que o Brasil grande ficasse pequeno, e o Milagrebrasileiro fizesse gua.
BETINHO, EM ESCRITOS INDIGNADOS, P. 17
que cerca de 10% a 15% da populao ganharam
com a industrializao internacionalizada.
s custas do resto que ficou na margem.
BETINHO, EM ESCRITOS INDIGNADOS, P. 17
ACIMA, GEISEL NO FUNERAL DE TANCREDO. ESQUERDA, NO PRIMEIROPLANO, TANCREDO E O PRESIDENTE FIGUEIREDO
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(A ditadura no
entregou a rapaduraporque quis.Essa rapadura foi sendo tomada dela,
aos pedaos, mas foi sendo tomada dela.
BETINHO, EM OS CAMINHOS DA DEMOCRACIA, P. 195
(
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MANIFESTAO NA PRAA DA S, EM SO PAULO,PELAS ELEIES PRESIDENCIAIS DIRETAS
D J
Um dos maiores movimentos populares da histria brasileira, a
campanha Diretas J, cujo pice foi em 1984, reivindicou o votodireto para a escolha do prximo presidente. A proposta foi, no
entanto, derrotada no Congresso. O Colgio Eleitoral, formado por
parlamentares, escolheria o prximo mandatrio.
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A campanha das eleiesdiretas foram manifestaes
da oposio poltica,era a oposio poltica que queria a eleio direta, eram os estudantes, os
artistas, os intelectuais, o movimento sindical, enfim, as chamadas foras
sociais democrticas, essas que pressionavam pelas eleies diretas e
que foram crescendo de baixo para cima. Cada vez mais se falava das
diretas, a surgiu o slogan Diretas J, e esse slogan passou a dominar o
cenrio poltico durante todo o tempo. No foi nada que tivesse surgido
das elites polticas ou nas direes dos partidos. Ela veio de baixo.
BETINHO, EM OS CAMINHOS DA DEMOCRACIA, P. 198
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TANCREDO NEVES VITORIOSO NO COLGIO ELEITORAL
A N R
No Colgio Eleitoral de 1985, Tancredo Neves era o candidato
da oposio, e Paulo Maluf, da situao. A base poltica doregime militar rachou, e vrios polticos importantes da di-
reita apoiaram a chapa de Tancredo e Sarney. A coalizo foi
batizada de Aliana Democrtica e fundaria a Nova Repblica.
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EM SENTIDO HORRIO, TANCREDOE GETLIO VARGAS, TANCREDO E JK,TANCREDO E JANGO,TANCREDO E JNIO
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Tancredo Neves, quandofoi eleito, tinha mais de50 anos de vida pblica.Ele veio da poca do Getlio. Ele foi a pessoa que ficou com a
caneta, a famosa caneta de Getlio, da carta.
O Tancredo andava com ela o tempo todo para mostrar que
ele tinha essa histria. Ele lutou no processo poltico brasileiro
para ser governador, presidente, todos os cargos.
BETINHO, EM OS CAMINHOS DA DEMOCRACIA, P. 199
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O perodo Sarney foi um dos desgovernos mais prolongados
da histria brasileira, caracterizado pela produo da crise social
mais profunda, pelo agravamento da crise econmica, por todas
as tentativas de continusmo e de desmoralizao do processo de
democratizao em curso da sociedade. Em cinco anos, consegue
enviar para o sistema financeiro mundial mais de 56 bilhesde dlares a ttulo de juros e amortizaes da dvida externa,
enquando aprofunda a falncia do sistema pblico de ensino,
sade, habitao e saneamento. (...) O governo Sarney s no
acabou com o pas porque o Brasil maior que a crise.
BETINHO, EM ESCRITOS INDIGNADOS, P. 26 E 27
EM SENTIDO HORRIO: JOS SARNEYREUNIDO COM O MINISTRIO;SARNEY E LEONEL BRIZOLA; SARNEYCOM FIGUEIREDO EM EVENTO DOPARTIDO DO GOVERNO; SARNEYENTRE GEISEL E CASTELO NO INCIODA DITADURA
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PRESIDENTE DA ASSEMBLEIA CONSTITUINTE,ULYSSES GUIMARES, DIANTE DE UMA PILHA DEEMENDAS POPULARES PARA A CONSTITUIO
C
Um dos principais eventos durante a chamada Nova Repblica
foi a Assembleia Constituinte (1986-88). Presidida por UlyssesGuimares, ela foi responsvel por elaborar uma Carta demo-
crtica para o Brasil, depois de tantos anos de autoritarismo.
Betinho foi um dos que trabalharam por uma Constituio com preocu-
paes sociais e pelo envio de emendas populares Assembleia.
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