nº 382 edição brasil
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ESPECIAL: NEGÓCIOS DE CARBONO NA AMÉRICA LATINA
BRASIL www.americaeconomia.com.br
No 382 DEZ./2009 R$ 8,90
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EMPRESAS DE CIMENTO APOSTAM ALTO
PAPEL E CELULOSE: BRASIL NA MIRA DE ESTRANGEIROS MERCADO DE DÓLARES
NA VENEZUELA
ONDE INVESTIREM 2010
6 AméricaEconomia Dezembro, 2009
NESTA EDIÇÃO
Ilustração de Capa SAMUEL CASAL
Onde investir em 2010 na América Latina20
CAPA
Negócios Cimento
Ano de investimentos e aquisições
México sem ressaca
Queda no consumo de tequila
Papel e celulose
Brasileiras são alvo de compra
Grupo Wong
O mapa de investimentos no Peru
Locadoras de carros
Revisão de modelo
Arconvert
Em busca da competitividade
Pesquisa clínica
Mercado em crescimento
28313234363840
Seções Carta ao leitor
Portal
Cartas
Índice de empresas
Pistas
Negócio fechado
Movimentos
I-biz
Interfaces
Clics & chips
Visões
Raio X
Capital aberto
Opinião
Linha direta
81011111213147476777879808182
Debates Linha do tempo
Os fatos que marcaram o ano
Reeleição na Bolívia
Desafi os para Evo Morales
5460
Finanças Pela integração
Chile, Peru e Colômbia querem unir suas bolsas
Dualidade cambial
Venezuela lucra com arbitragem de moedas
Governança corporativa
Injeção de efi ciência nos hospitais
646670
ESPECIAL Mercado de carbono
Trilha verde
Os negócios além-Kyoto
Entrevista
Jacques Marcovitch
4450
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8 AméricaEconomia Dezembro, 2009
CARTA AO LEITOR
RETROSPECTIVA DO FUTURO
“Um problema sempre é criado na expansão, mas se revela na re-
tração.” Quando disse essa frase, não faz muito tempo, o presidente do
Banco Central, Henrique Meirelles, não estava preocupado com a crise.
Convidado a um evento para fazer uma retrospectiva de 2009, como é
comum nessa época do ano, Meirelles quis falar para o Brasil de 2010.
Afi nal, apesar de ter sido um período em que todos os empresários
permaneceram em estado de alerta, e em que nem todos conseguiram
equilibrar ou recuperar sua operação no mesmo ritmo – nesta edição,
há exemplos que refl etem essa dinâmica desigual: da indústria auto-
motiva, com aquecimento nas vendas de carros, à de papel e celulose,
cuja queda da demanda e do preço a obrigou a engavetar projetos –,
o Brasil reagiu. Cumpriu com folga a profecia dos economistas: foi o
último a entrar e o primeiro a sair da crise econômica.
E aumentou sua projeção internacional. “O momento que o Brasil
vive ajuda a transmitir exemplos concretos que podem inspirar outros
países, especialmente os emergentes”, diz Jacques Marcovitch, ex-rei-
tor da USP, em entrevista na qual avalia a posição do Brasil no debate
global sobre as mudanças climáticas.
Na América Latina, a liderança do país se refl ete no aumento da
presença de empresários brasileiros dispostos a investir na região, tal
como demonstra nossa reportagem de capa, dinamizando a economia
de um continente que cada vez mais se inquieta e discute as formas e
os benefícios de pensar integrado.
Por isso, naquele momento em que Meirelles se dirigiu à platéia, não
quis falar sobre os problemas da crise, mas sobre os que estão implícitos
no crescimento. Mesmo com a dispersão inerente a um ano de eleição
presidencial, 2010 promete ser memorável para o país no que se refere
à retomada do crédito e à atração de investimentos. “É fácil ser compla-
cente em momentos de expansão acelerada”, disse Meirelles, alertando
para o real e complexo desafi o que o Brasil tem a partir de agora: tirar
lições do sucesso para não ter de aprendê-las com o fracasso.
E é sobre esse desafi o que queremos debater com você, leitor, hoje
e em 2010.
Boas festas e até janeiro.
José Roberto MalufPublisher
PUBLISHERJosé Roberto Maluf
CONTEÚDODiretora de Redação Tatiana EngelbrechtEditora Executiva Solange MonteiroDiretora de Arte/Projeto Gráfi co Janaína DinizEditor do Site Marcelo GalliRevisão Daltony Nóbrega e Bia PeineProdução Gráfi ca Eduardo KepplerInfografi a Rodrigo Damati
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10 AméricaEconomia Dezembro, 2009
LEIA NO PORTALEDIÇÃO: MARCELO GALLI (MGALLI@AMERICAECONOMIA.COM)
Para Alicia Bárcena, secretária-executiva da Comissão Eco-
nômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), a crise eco-
nômica demonstrou que o Estado tem de se fortalecer e
retomar seu papel estratégico no planejamento de longo
prazo dos países da região. “Isso fi cou evidente com o fi nan-
ciamento: os bancos centrais reduziram as taxas de juros,
mas os bancos privados não reagiram de imediato porque
têm de acumular e economizar. Quem garantiu crédito ao
sistema nesse período? Os bancos públicos”, diz a economis-
ta mexicana à AméricaEconomia. Alicia também defende
maior integração entre as nações latino-americanas para
melhorar sua participação na economia internacional.
A SOLIDÃO DOS CEOs Os executivos precisam reconhecer as diferenças entre estratégia e gestão para que não se sintam sozinhos na hora de tomar decisões, cobrar seus subordinados ou serem cobrados pela alta direção das empresas. Essa é a recomendação de Alexandre Fialho, diretor no Brasil da consultoria de gestão de negócios Hay Group. “Não se trata de termos estratégia ou gestão na agenda dos presidentes, mas sim ambas”, diz. Para isso, questões desse tipo devem ser discutidas separadamente. “São as questões psicológicas, sociológicas e antropológicas de uma organização que unem esses mundos sem que a gente perceba”, explica.
ROBÔS LATINOSA automação industrial na América Latina re-gistrou crescimento signifi cativo nos últimos anos devido ao desenvolvimento econômi-co do Brasil, da Colômbia e do Chile. Porém, a crise freou este avanço, principalmente nos mercados de mineração e siderurgia e papel e celulose. De acordo com José Otávio Ma-tiazzo, organizador da feira Brasil Automation ISA 2009, os projetos da Petrobras e da Vale no Brasil, a retomada de investimentos em mine-ração no Chile e a instalação de novas indús-trias na Colômbia podem reativar o setor na América do Sul.
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ACCOR INAUGURA HOTEL NA AL A francesa Accor inaugurou em Rosário, na Argentina, seu primeiro hotel Pullman na América Latina. Especializado no público corporativo, o hotel teve investimento de US$ 34 milhões. A Accor afi rma que o próximo destino do Pullman na região é Ciudad del Este, no Paraguai, com inauguração prevista para 2012. O grupo tem como meta a instalação de 300 hotéis dessa bandeira em todo o mundo até 2015.
CEPAL DEFENDE PAPEL DO ESTADO
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PORTAL
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Dezembro, 2009 AméricaEconomia 11
CARTAS ÍNDICE DE EMPRESAS
Os números referem-se à primeira vez que as empresas são citadas.
Em relação à reportagem sobre a fusão da
Avianca com a Taca (“Gigante em Forma-
ção”, AméricaEconomia n° 381, novembro,
2009), é preciso lembrar que todas as com-
panhias aéreas sul-americanas juntas so-
mam menos vendas que uma estrangeira
como American Airlines ou United. Há mui-
to espaço para mais consolidações. FRACISCO SILVA – SÃO PAULO, BRASIL
MULTILATERAIS EM DÚVIDAInteressante a reportagem sobre o futu-
ro do multilateralismo na América Latina
(“Assim Não Dá”, AméricaEconomia n° 379,
setembro, 2009). É verdade que os planos
de Obama se chocaram com a realidade
latino-americana. É preciso estar atento
ao que se passa com a OEA. Dá a sensação
de que seu secretário-geral, José Miguel In-
zulsa, tem se preocupado mais em ganhar
votos para uma reeleição (buscando os
mesmos apoios que lhe permitiram eleger-
se pela primeira vez) do que em gerar um
esquema realista para a superação da crise
em Honduras. Desse jeito, não há multila-
teralismo que aguente. FERNANDO RODRÍGUEZ – SAN JOSÉ, COSTA RICA
PRESENTE INSEGURO Vivo em Caracas. Estou de acordo com o que
vocês destacam na reportagem “Panama-
zuela”(AméricaEconomia n° 380, novembro,
2009). A insegurança, a meu ver, é um
dos principais problemas que temos. Os
policiais são os principais delinquentes. O
governo se encarregou de dar armamento
aos grupos socialistas ligados ao governo,
um erro que hoje nos mostra suas graves
consequências. Este país se converteu em
um povo sem lei. Migrar para outro país re-
almente é considerado uma opção, já que
a melhora aqui é muito incerta. MOISÉS ALE-JANDRO – CARACAS, VENEZUELA
GIGANTE LATINA
Cartas para a redação: cartas@americaeconomia.com
AccorAgrosuperAll ConsultingAlpargatasAmerican Int. GroupAracruzArconvert BrasilArpentaArqBravo Motor Co.ArtecolaAT KearneyAthon GroupBacardiBaker MackenzieBanco da VenezuelaBanco de CréditoBanco Est. Esp. SantoBanco ItaúBanco VotorantimBancolombiaBando do BrasilBanescoBertinBimboBradescoBrasil Telecom (BrT)BrasilFoodsBresciaBrüderBTGCamargo CorrêaCamino RealCapitalCaricement AntillesCazadoresCelfi nCementos ArgosCementos ArtigasCementos AvellanedaCementos CólonCementos LimaCementos PacasmayoCementos Portland V.CemexCencosudCF IndustriesChevronCinemarkCitigroupCMPCColpatriaCompañía de ChocolateComp. SuramericanacomScoreCondensaConsulting HouseCopecCorp ResearchCorfi colombianaCorporación EWCorredores AsociadosCosanCredicorpCRO International PPDCRO Venn Life S. C.CSM AutoDasaDiageoDomar Limited
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32, 46 382674207571314757265558542554265825571356297156
21, 28, 54311729314728282829
26, 282628
25, 28, 5725, 34
1812473032132525
13, 18131612332534251226414175713129
293113576813
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25, 471432133271314675131316252525343825382554322910
28, 577540707557412575771315253420301358616131265525282528362813
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46, 7113, 55
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22, 3331567775
21, 3328
10, 5454333175
28, 321815
Domar LimitedDon JulioDow CorningDuratexEcoanalíticaEconópticasEcopetrolEcosystem Marketp.Emp. Agroin. PramongaEmp. Azuc. AndahuasiEmp. Azuc. El IngenioEndesa EspañaEquity Research DeskEvercore Mex. Cap. Part.Exxon FemsaFiat do BrasilFibriaFinabankFit ResearchFleuryFortune BrandsGEQ ChileGlobal InsightGlobe Speciality MetalsGMOGOLGrumaGrupo AlfaGrupo AvalGrupo Sup. Wong (GSW)Grupo FedrigoniGrupo Financiero IxeGrupo GaforGrupo MéxicoGrupo VotorantimGuaíbaHaiti Cement HoldingHay GroupHolcimHondaHospital AC CamargoHospital de SentaraHyundaiIBIICON Clinical ResearchIM TrustIndia BajajIntelInterbolsaIntercontinental GroupInversiones ArgosIrradiaItautecIXEJaverJBOJindal Steel & PowerJindal Steel Bolívia (JSB)José CuervoKallpa SecuritiesKNOCLa PolarLafargeLANLLX AçuLocalizaLoma NegraLouis Dreyfus
LuxxotticaMarfrigMariachiMasisaMDS Pharma Serv.MedialMelhoramentosMélonMelpaperMGM InnovaMiranda Y AmadoMotorolaMultiópticas Int.Napa Wine CompanyNatsourceNaturaNew Carbon FinanceNissan-RenaultOdontoprevOiOlmecaPactualPanamá Cement Hold.PDVSAPerdigãoPernord RicardPetro Tech PeruanaPetrobrasPilgrim’sPlaza NortePorto SeguroProfuturoQualicorpRenaultRinkerRio TintoSadiaSantanderSantelisa ValeSatipelSauzaSeara AlimentosSiglaSocialCarbonSofi telSonySouthern Cross GroupStora EnsoStrategy AnalyticsSun PlanetSuzano Papel e CeluloseTallardTata MotorsTenarisTendências Consult.Tequila TepatitlánTernium DisdorTIMToyotaTrench, Rossi e Wat.UnilandValeVBC EnergiaVeracelViuda de RomeroVolkswagenVotorantimWebsenseWizard
12 AméricaEconomia Dezembro, 2009
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MAIS UMA FATIA PUBLICAMOS A compra dos ativos da Exxon no Chile garantiu à Petrobras 9% de um mercado de US$ 12 bilhões em vendas por ano. É pouco perto dos 65% da líder Copec, mas é um começo. E há oportunidades de exportação de gás e etanol. (“Além da Cordilheira”, AméricaEconomia Nº 381, novembro, 2009)
O NOVO A Petrobras voltou a atacar no mercado chileno. No começo de novembro, anunciou um acordo para comprar os ativos da norte-americana Chevron no país, por US$ 12 milhões. O acordo inclui uma fábrica de lu-brifi cantes em Santiago com capacidade de produção de 15,9 mil metros cúbicos ao ano. Na mesma época, o presidente do Peru, Alan García, anunciou uma desco-berta de gás de até 5 trilhões de pés cúbicos em lote da Petrobras – de onde futuramente a empresa poderá exportar ao Chile.
SEM FRONTEIRAS PUBLICAMOS Hoje o BNDES tornou-se um dos atores mais relevantes no processo de expansão latino-americana das em-presas brasileiras. Para se ter uma ideia, os projetos aprovados e em análise para exportações na região já somam US$ 15,6 bilhões. (“Expansão Regional”, AméricaEconomia Nº 381, novembro, 2009)
O NOVO No começo de novembro, o presidente Lula e o presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Luciano Coutinho, inauguraram uma subsidiária do banco em Londres. Segundo Coutinho, com o BNDES Limited, o banco aumentará sua visibilidade junto à comunidade fi nanceira internacional e poderá auxiliar as empresas brasileiras em processo de internacionalização. Coutinho afi rmou ainda que a instituição po-derá administrar os recursos provenientes do pré-sal em Londres, pois o Brasil receberá um fl uxo signifi cativo de capital nos próximos anos, e uma parte não deverá ser internalizada para evitar fl utuações indevidas no câmbio.
LÍQUIDO E CERTO PUBLICAMOS Para aumentar as exportações de etanol, há outro obstáculo a ser derrubado: a falta de
segurança no fornecimento. Para o ex-ministro Roberto Rodrigues, “o Brasil precisa ter uma defi nição de longo prazo do que será produzido”. (“Otimismo Verde”, AméricaEconomia Nº 378, agosto, 2009)
O NOVO O diretor comercial do grupo Cosan, Mark Lyra, declarou à mídia que as ex-portações de etanol cairão no período 2009/2010 para cerca de 3 bilhões de litros,
contra 4,5 bilhões em 2008/2009. Além da intensidade das chuvas, o executivo apontou como motivo dessa queda a preferência das usinas por produzir açúcar,
devido ao alto preço da commodity.
SEM APOIO PUBLICAMOS Se Lugo vencer as eleições no Paraguai, “terá seus projetos limitados, terá de saber negociar e chegar a consensos para con-quistar acordos: certamente o Congresso será muito diversifi cado”, diz a socióloga Milda Riva-rola. “E a cidadania está cansada de um aparelho estatal que se caracteriza pela mentalidade de pilhagem, onde reinam privilégios e nepotis-mo.” O resultado? Uma inefi ciência devastadora. (“Paraguai em seu Labirinto”, AméricaEconomia Nº 356, março, 2008)
O NOVO A falta de consenso no Paraguai es-tá dando pano para a manga. No começo de novembro, o presidente Fernando Lugo mudou a cúpula das Forças Armadas – pela quarta vez em 15 meses. Tal iniciativa foi identifi cada como uma reação ao temor de um possível golpe de Estado e uma forma de distrair a atenção da opinião pública das pressões dentro do Congresso. Ultima-mente, a oposição tem acusado assessores de Lugo de envolvimento em casos de corrupção e chegou a avaliar o pedido de impeachment contra o presidente.
Dezembro, 2009 AméricaEconomia 13
NEGÓCIO FECHADO
COLPATRIA O grupo fi nanceiro co-lombiano adquiriu por US$ 260 milhões a Crédito Fácil Condensa, uma fi lial de créditos de consumo da geradora elétrica local Condensa, por sua vez fi lial da Ende-sa España. A Condensa tomou a decisão de vender a carteira de seu programa “Crédito Fácil” porque seu rápido cresci-mento, segundo alguns analistas, estava saindo de controle, especialmente com o aumento da morosidade. VALOR: US$ 260 MILHÕES
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COMSCORE A empresa de medição de Internet comScore acertou a compra da empresa chilena Certifi ca, que tem es-critórios no México, no Brasil, na Argentina, na Colômbia e no Peru. A Certifíca, fundada em 2000, dedica-se à auditoria de tráfego na internet. A comScore disse que a aqui-sição, cujos termos fi nanceiros não foram revelados, permitirá à empresa melhorar sua presença na América Latina. VALOR: NÃO REVELADO
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DOW CORNING A empresa especia-lizada em soluções e produtos de silicone comprou duas plantas de produtos de silicone da Globe Speciality Metals, nos Estados Unidos e no Brasil, por US$ 175 milhões. A operação inclui a planta Globe Metais Indústria e Comércio, localizada no estado do Pará. VALOR: US$ 175 MILHÕES
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INTERBOLSA A empresa colombiana de serviços fi nanceiros e também a maior corretora de valores do país fi nalmente concretiza sua entrada no Brasil por meio da compra da corretora Finabank, pela qual pagará US$ 21 milhões. Embora exis-ta um acordo de compra desde 2007, ele se concretizou somente agora, ao obter a autorização dos reguladores no Brasil. A In-terbolsa espera que sua operação no mer-cado brasileiro eventualmente se torne maior do que sua operação colombiana. VALOR: US$ 21 MILHÕES
JAVER A construtora mexicana aceitou vender uma participação majoritária aos fundos de capital privado Southern Cross Group e Evercore Mexico Capital Partners. Os termos fi nanceiros do acordo não fo-ram divulgados. A Javer planeja construir 17,5 mil casas no México até o fi nal de 2009 e conta com terras sufi cientes para construir outras 100 mil.VALOR: NÃO REVELADO
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LUXOTTICA A empresa voltada à fa-bricação e distribuição de moda, luxo e se-tor ótico adquiriu 40% da propriedade da Multiópticas Internacional, que no Chile opera a GMO, Sun Planet e Econópticas. A
transação, avaliada em aproximadamente 40 milhões de euros, marca o ingresso da Luxottica nos negócios de varejo ótico na América Latina. A aquisição cobre as mais de 400 lojas da Multiópticas no Chile (197), no Peru (100), no Equador (36) e na Colômbia (70). VALOR: 40 MILHÕES DE EUROS
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OI Recebeu uma linha de crédito fi -nanceira de R$ 4,4 bilhões do banco de desenvolvimento BNDES. Segundo infor-mou o banco, os recursos vão fi nanciar os planos de investimento das quatro empresas do grupo entre 2009 e 2010. São elas: Brasil Telecom (BrT) Fixa, Brasil Telecom Móvel, Oi Fixa e Oi Móvel. VALOR: R$ 4,4 BILHÕES
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PROFUTURO A empresa mexicana administradora de fundos de pensão (afo-re) Profuturo anunciou a compra, por um montante não divulgado, das operações de previdência do Bank of Nova Scotia no México, a Scotia Afore. Com a aquisição, a Profuturo será a quarta maior afore do México. No fi nal de setembro, a Profuturo tinha US$ 8,6 bilhões em ativos de baixa administração, enquanto a Scotia tinha somente US$ 258 milhões. VALOR: NÃO REVELADO
LOUIS DREYFUSA companhia francesa se converteu no segundo maior produtor de etanol do mundo com a compra, por US$ 460 milhões, da brasileira Santelisa Vale. A Dreyfus unirá sua fi lial brasileira Louis Dreyfus Com-modities Bioenergia com a Santelisa, o que resultará na criação da LDC-SEV, que vai operar 13 plantas de etanol e terá capacidade de moagem de 40 milhões de toneladas de cana-de-açúcar por ano.
VALOR: US$ 460 MILHÕES
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14 AméricaEconomia Dezembro, 2009
MOVIMENTOS
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Daqui a cinco anos, quando o mundo recuperar o nível de
produção de carros registrado em 2008, os Brics (Brasil, Rús-
sia, Índia e China) se destacarão no mercado mundial. “Para
se ter uma ideia dessa evolução, em 2001 esses países re-
presentavam 9,8% da produção mundial e, em 2009, salta-
rão para 27,8%”, disse Cledorvino Belini (foto), presidente da
Fiat do Brasil, em reunião do Grupo de Jovens Líderes Em-
presariais (JLide), realizado em São Paulo, em novembro.
No entanto, Belini destacou que, apesar de ter centros de
desenvolvimento avançados, matriz energética limpa e ca-
deia produtiva integrada, há um gargalo que pode minar a
competitividade do Brasil: a falta de engenheiros. “Enquan-
to em 2008 o Brasil formou 43 mil engenheiros, a Rússia for-
mou 440 mil, a Índia, 430 mil, e a China, 1,7 milhão”, disse.
O presidente da Fiat também defendeu uma reforma fi scal
para combater a alta carga tributária, “que faz com que um
mesmo carro seja 40% mais caro no Brasil em relação à Ar-
gentina” e alertou para o efeito da valorização do real nas
exportações do setor. “Em 2005, o Brasil exportou 897 mil
veículos e tinha um saldo de 800 mil veículos a seu favor na
balança comercial. Este ano, vamos empatar, o que é crítico
para ganhar escala”, afi rmou. SOLANGE MONTEIRO, DE SÃO PAULO
PROCURAM-SEENGENHEIROS
Dezembro, 2009 AméricaEconomia 15
APAGÃO DE INVESTIMENTO Dessa vez não foi por falta de geração, mas o ble-
caute que deixou mais de um terço dos brasileiros
sem luz em novembro se soma a uma longa lista de
interrupções no serviço elétrico na América Latina.
Especialistas calculam que seria necessário investir
US$ 10 bilhões só para abastecer os 20% da popu-
lação que ainda não tem acesso à luz elétrica na
região, sem contar a demanda proveniente do
crescimento populacional e das economias
nas áreas que já são servidas de eletrici-
dade. “Não é um estado de crise, mas
muitos países latino-americanos vi-
vem uma situação de emergência”,
diz Ruy Varela, presidente da con-
sultoria argentina Sigla. “As reser-
vas do sistema não são sufi cien-
tes para fazer frente tanto a con-
tingências climáticas e técnicas
quanto ao crescimento do consu-
mo, que está acima dos níveis espe-
rados.” Curiosamente, quem mais pa-
dece são dois dos maiores exportadores
de petróleo da região: Venezuela e Equa-
dor. A Venezuela – que nos últimos dez anos
registrou aumento de sua demanda de 12 mil
MW para 17 mil MW – vem sofrendo diversas in-
terrupções de abastecimento de energia elétrica. Já
o Equador chegou a decretar estado de urgência
por 60 dias, depois de uma queda alarmante do ní-
vel das reservas de água da central hidroelétrica de
Paute, a maior do país. ANTONIO MARÍA DELGADO, DE MIAMI
PARA CHINÊS LER “In God We Trust”. Frases como essa, estampada na nota de dólar e tão corrente na vida do norte-americano,
estarão proibidas no material didático que a escola de idiomas Wizard levará para a China, onde em janeiro abrirá
sua primeira unidade, na cidade de Tianjin, em parceria com o Intercontinental Group. “A autoridade censurou
qualquer menção sobre sexo, política e Deus”, conta Carlos Martins, presidente da empresa com sede em Campi-
nas. A expectativa é abrir outras nove unidades ainda em 2010 no país e negociar a entrada no sistema público de
ensino em Tianjin. “Isso signifi cará 70 escolas e 84 mil alunos”, diz Martins. Este ano, a Wizard ainda expandiu sua
rede para o México, “onde tivemos acidentes de percurso com a gripe suína, que implicou cancelamento de aulas
e um receio posterior que desaqueceu a demanda”, e para a Colômbia, onde a primeira escola foi inaugurada em
novembro. “Para 2010, esperamos negociar a operação de franquias na América Central”, diz o executivo. A em-
presa fechará este ano com faturamento de US$ 1,1 bilhão, 24% a mais que em 2008. SOLANGE MONTEIRO, DE SÃO PAULO
OS MAIORESCONSUMIDORESDE ENERGIA
VENEZUELA3.175
MÉXICO1.993
EQUADOR759
BRASIL2.060
(KWH/PER CAPITA)Fonte Agência Internacional de Energia
CHILE3.207
COLÔMBIA923
PERU899
ARGENTINA2.620
16 AméricaEconomia Dezembro, 2009
MOVIMENTOS
BALANÇA DA DESIGUALDADE As mulheres são metade da população mundial e
grandes motores da atividade econômica como con-
sumidoras, empregadas e empregadoras. Mas a igual-
dade de condições no trabalho ainda está longe de
chegar para elas, e na América Latina não é diferente.
O último relatório de desigualdade de gêneros elabo-
rado pelo Fórum Econômico Mundial indica que, no
Brasil, entre outros países como Colômbia e México,
essa diferença se acentuou no último ano. Já Equa-
dor, Argentina e Costa Rica são os que apresentam o
melhor cenário para as mulheres quanto ao acesso
a oportunidades e remuneração em relação aos ho-
mens que exercem ou pleiteiam um mesmo cargo. O
Paraguai, apesar de ainda manter baixa classifi cação, é
o que mais avançou, ganhando 34 posições. FERNANDA ARAYA , DE SANTIAGO
Foto
DIV
ULG
AÇ
ÃO
2009POSIÇÃO
PAÍS
Equador
Argentina
Costa Rica
Cuba
Panamá
Peru
Uruguai
Chile
Paraguai
Venezuela
Brasil
Bolívia
México
23
24
27
29
43
44
57
64
66
69
82
83
99
35
24
32
25
34
48
54
65
100
59
73
80
97
QUEM SÃO OS MENOS DESIGUAISRanking aponta, em ordem decrescente, país com mais equilíbrio de gêneros na AL
Colômbia 56 50
Fonte Índice 2009 de Disparidade entre Gêneros do Fórum Econômico Mundial
2008POSIÇÃO
MERCADO DECOLA O mercado brasileiro de aviação deve dobrar
de tamanho nos próximos anos. A afi rmação
é do presidente da companhia aérea GOL,
Constantino Júnior (foto), que em novembro
participou de um almoço de relacionamen-
to promovido pela Consulting House, em
São Paulo. Tal otimismo se deve, segundo o
executivo, a três fatores: à infl ação estável,
aos juros controlados e ao aumento do po-
der aquisitivo da população de baixa renda.
No começo de novembro, a GOL havia anun-
ciado a revisão para cima de sua estimativa
de crescimento no mercado doméstico em
2009, de 2% a 4% para 10% a 14%. Constan-
tino, entretanto, demonstrou preocupação
com a melhora da infraestrutura aeroportu-
ária para sustentar tal expansão. “Com toda
essa expectativa, precisamos evitar um novo
colapso”, declarou, refe-
rindo-se à crise nos
aeroportos do fi nal
de 2006, quando
muitos passageiros
tiveram de cance-
lar suas férias por
não poder embar-
car. GRAZIELE DAL-BÓ, DE SÃO PAULO
LOMBRIGAS CERVEJEIRAS Não é novidade a preocupação das empresas em fo-
mentar políticas em favor do meio ambiente. Mas a
opção da fabricante artesanal de cerveja Capital para
tornar sua produção mais limpa é, ao menos, curio-
sa. A empresa chilena implementou em sua recém-
inaugurada fábrica um sistema desenvolvido pela
Universidade do Chile que usa minhocas na limpeza
de resíduos, batizado de Sistema Tohá. “Os resíduos
da produção passam para uma piscina cheia desses
vermes de terra, que os comem e produzem húmus”,
diz Álvaro Artiagoitía (foto), gerente geral da empre-
sa. “Uma vez por ano, o húmus será retirado e usado
para adubar terras.” A nova fábrica da empresa levou
um ano para ser construída, demandou US$ 600 mil
em investimentos e terá capacidade de produzir cer-
ca de 250 mil litros por ano. Em 2009, a Capital estima
faturar US$ 283 mil. “Esperamos dobrar essa cifra em
2010”, diz Artiagoitía. MATÍAS RODO Y., DE SANTIAGOFoto
MIG
UEL
CA
ND
IA
18 AméricaEconomia Dezembro, 2009
MOVIMENTOS
FERTILIZANTE MAIS BARATO Anualmente, a América Latina importa cerca de 2 milhões de toneladas métri-
cas de fertilizantes da Europa e da Ásia. Esse dado não passou despercebido
pela companhia norte-americana CF Industries, que anunciou que, em 2010,
construirá uma fábrica de fertilizantes em Marcona, ao sul de Lima. A planta terá
investimentos de US$ 2 bilhões e deverá entrar em operação em 2013, com ca-
pacidade de produção de 1,3 milhão de toneladas de ureia. A notícia agradou
os agricultores peruanos, que consomem cerca de 350 mil toneladas métricas
de fertilizantes ao ano. Segundo Ismael Benavides (foto), ex-ministro de Agri-
cultura e principal assessor da CF Industries no país, o preço dos fertilizantes
fabricados no Peru poderá ser até 40% mais baixo do que o da ureia importada,
sobretudo devido à redução no custo de frete. FERNANDO CHEVARRÍA LEÓN , DE LIMA
ESCAPADINHA VIRTUAL Hoje quem trabalha em frente ao computador difi cilmente resiste à tentação de intercalar o trabalho
com uma revisada no email pessoal. Segundo pesquisa realizada pela empresa Websense com ge-
rentes e profi ssionais de TI, os chefes costumam achar que esse tempo é maior que o declarado por
seus funcionários. Na média latino-americana, os gerentes declaram que esse tempo é de 64 minutos,
enquanto os funcionários afi rmam que é de 23 minutos. Os empregados mexicanos são os que de-
claram gastar mais tempo nesse tipo de
navegacão (84 minutos). E os chefes brasi-
leiros são os mais otimistas quanto às “es-
capadas” de seus funcionários, afi rmando
serem de apenas 23 minutos diários. Entre
os sites mais visitados, segundo a empre-
sa ComScore, estão os de notícias (88%),
seguidos pelos de bancos (84%) e sites de
email (66%). CAROLINA FUENTES, DE SANTIAGO
OS MAIS ACESSADOSARGENTINA
BRASIL
MÉXICO
Google sites
Google sites
Microsoft sites
Microsoft sites
Microsoft sites
Google sites
UOL
Yahoo! Sites
CUIDADO, OLHA O CHEFE! Países onde o uso de internet em horário comercial para fins pessoais mais aumenta
AUMENTO EM RELAÇÃO AO DECLARADO EM 2008
NÚMERO DE USUÁRIOS
Argentina Brasil México
29% 22% 14%
11 milhões13 milhões
31 milhões
Fonte ComScore
Fonte ComScore
Foto
PED
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20 AméricaEconomia Dezembro, 2009
OPORTUNIDADES AQUI AO LADO
Com o otimismo de empresários e um mercado fi nanceiro que se fortalece, a América Latina está na agenda brasileira de investimentos para 2010
O champanhe da virada para 2010 promete ser mais
refrescante para Claudio Vita, vice-presidente Comercial
Nacional e Internacional da Itautec. Apesar de a sombra da
crise ter pairado sobre a cabeça dos empresários durante este
ano em todo o mundo, a empresa fechará 2009 sem maiores
solavancos. “Vamos superar os resultados de 2008. E 2010
será ainda melhor”, diz. A confi ança de Vita se justifi ca. Além
das projeções positivas para o Brasil, boa parte dos outros
países em que a Itautec opera – sete, do total de dez – está na
América Latina. “Os sinais já existentes sobre as economias
da região só favorecem as nossas expectativas de expandir
nos mercados vizinhos”, diz.
Depois do freio temporário provocado pela crise econômi-
ca mundial em 2009, a tendência é a de que os investimentos
diretos das multinacionais brasileiras na América Latina
sejam retomados em 2010. A primeira razão é a melhoria das
condições macroeconômicas: enquanto neste ano o Produto
Interno Bruto (PIB) da região cairá entre 1,5% e 1,8%, para
o próximo espera-se crescimento entre 3,5% e 4% – um de-
sempenho dentro da média mundial, segundo previsões da
Comissão Econômica para a América Latina (Cepal), órgão da
Organização das Nações Unidas. O fato de essa recuperação
ter sido iniciada nos últimos seis meses melhora o ânimo
das empresas, neste momento voltadas à recomposição de
ganhos e consolidação das operações atuais.
“Países de economias mais maduras estão perdendo
parte de sua importância, e não somos os únicos que estamos
olhando mais para a América Latina”, diz Eduardo Kunst,
presidente da Artecola, do setor químico. A empresa, presente
em cinco países latino-americanos – que representaram 45%
Ilust
raçã
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AM
UEL
CA
SAL
NEGÓCIOS ONDE INVESTIR EM 2010
PROJETOS EM MARCHA: O INVESTIMENTO DIRETOLILIANA LAVORATTI, DE SÃO PAULO
Dezembro, 2009 AméricaEconomia 21
da receita da com-
panhia em 2008 –,
afi rma ter vários
projetos novos
para a região. Es-
te ano, anunciou
um investimento
no Chile de R$ 5
milhões até 2015
para expansão da
produção, com o
qual espera au-
mentar as vendas
no país em 148%.
“Também temos
interesse na Co-
lômbia, um dos últimos países em que iniciamos uma ope-
ração própria, mas com grande potencial”, afi rma Kunst, que
estima fechar o ano com receita total de R$ 400 milhões.
Chile, ao lado de Peru, México e Colômbia – países com
grau de investimento na região, juntamente com o Brasil –,
estão em trajetória favorável para receber os projetos das
multinacionais brasileiras. Com exceção do México, onde a
recuperação vem sendo mais lenta por sua dependência da
economia dos Estados Unidos, eles devem repetir em 2010
o crescimento observado a partir de julho deste ano (entre
4% e 5%); a infl ação está sob controle, a situação externa é
relativamente confortável pelo fl uxo de capitais externos, e o
fi nanciamento da dívida pública está equacionado.
“Não há muita alternativa, o empresariado brasileiro vai
para esses quatro países. No geral, o sistema jurídico dessas
ESTIMATIVAS MACROECONÔMICASPARA A AMÉRICA LATINA
Argentina
Brasil
Chile
Colômbia
México
Peru
2011*
3,0
4,8
4,6
4,3
3,5
5,1
Crescimento do PIB (%)
2008
6,8
5,1
3,2
2,4
1,3
9,8
2009*
0,8
0,5
-1,3
0,1
-6,8
1,0
2010*
2,2
5,3
3,7
3,0
3,0
3,8
Fonte Global Economic Weekly, do Bank of America Merrill Lynch e governos dos países* Projeção / ** Os dados dos governos variam ao longo do ano. Os apresentados são os mais recentes
Taxa básica de juros (%)
2008
19,80
13,75
8,25
9,50
8,25
6,50
2009*
12,50
8,75
0,50
4,00
4,50
1,25
2010*
11,50
8,75
4,00
6,00
5,50
3,50
2011*
9,00
8,75
6,00
7,00
6,00
5,50
Argentina
Brasil
Chile
Colômbia
México
Peru
Fonte Global Economic Weekly, do Bank of America Merrill Lynch e governos dos países* Projeção / ** Os dados dos governos variam ao longo do ano. Os apresentados são os mais recentes
nações é amigo do investimento estrangeiro. Embora exis-
tam problemas do narcotráfi co na Colômbia, são economias
que avançaram, inclusive na política de atração de capitais
externos”, afi rma Nazir Takiedine, sócio do Trench, Rossi e
Watanabe, escritório de advocacia com atuação nas áreas de
fusões e aquisições, direito bancário e fi nanceiro, que atende
investidores do Brasil e de outros 39 países. “Sobretudo se
Brasil, Chile, México e Peru crescerem, os demais pegarão
carona”, afi rma.
QUEM DEMANDA CAUTELA Já Argentina e Venezuela, segundo Takiedine, ficam em
segundo plano. No caso da Argentina, mesmo com a relação
sinérgica que muitos setores identifi cam entre o país e o
Brasil e dos últimos anúncios de investimentos de empresas
que já operam no vizinho, como a Alpargatas (aquisição da
operação completa da Alpargatas Argentina) e a Camargo
Corrêa (expansão da produção da Loma Negra). “Argentina e
Venezuela se encontram em situação ruim do ponto de vista
do investimento direto, tanto em termos de atratividade
do mercado quanto do grau de confi ança”, afi rma Frederico
Turolla, diretor da Sobeet (Sociedade Brasileira de Estudos
de Empresas Transnacionais e Globalização Econômica) e
economista-sócio da Pezco Pesquisa e Consultoria, especiali-
zada em infraestrutura.
Para o diretor da Itautec, a preocupação na Argentina é “a
taxa de juros fora do padrão regional, que obriga as operações
de multinacionais lá instaladas a serem autossustentáveis,
dado o alto custo do crédito de capital de giro e a excessiva
burocracia”. Kunst, da Artecola, também revela precaução. “De
todas as nossas operações, lá é onde estamos mais atentos. A
situação econômica não está bem resolvida, e a questão políti-
ca é muito complexa”, diz. “Também buscamos crescimento na
Argentina – afi nal, é preciso estar nesse mercado de todas as
formas –, mas mais moderado em relação aos outros países.”
VITA, DA ITAUTEC: SINAIS FAVORÁVEIS
Foto
DIV
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ÃO
22 AméricaEconomia Dezembro, 2009
Já o mercado da Venezuela é atendido pela Itautec por
Miami desde que a brasileira comprou uma distribuidora de
produtos de informática da norte-americana Tallard. Como o
governo do presidente Hugo Chávez prega o boicote ao con-
sumo de bens e serviços norte-americanos, os consumidores
acham mais confortável adquirir produtos fabricados nos
Estados Unidos de uma distribuidora brasileira, por se tratar
de uma aquisição indireta. “Nós compramos da IBM, e os
venezuelanos compram da Itautec. E não temos nenhuma
queixa dos resultados obtidos até agora”, conta Vita.
DÉFICIT, EUA E OUTROS RISCOSNesse cenário em geral promissor, um ponto de incerteza
recai sobre os défi cits fi scais do México e especialmente do
Brasil, neste caso devido às eleições presidenciais do próximo
ano. “O mais provável é que a menor solidez fi scal das duas
principais economias do continente comprometa um pouco o
crescimento, mas mesmo assim os quatro mercados mais re-
levantes do ponto de vista de investimentos estrangeiros di-
retos, inclusive de empresas brasileiras internacionalizadas,
permanecerão atraindo capitais tanto em portfólio quanto
na ampliação de suas atividades”, afi rma Turolla.
Outro fator que acabará benefi ciando indiretamente os
latino-americanos como destino de novos projetos de empre-
sas brasileiras é a dúvida que paira sobre o ritmo de recupe-
ração dos Estados Uni-
dos. “Quem concentrar
esforços no mercado
norte-americano terá
muita difi culdade, por-
que a demanda vai de-
morar muito para retor-
nar a níveis razoáveis”,
afirma o ex-ministro
da Fazenda Mailson da
Nóbrega, sócio da Ten-
dências Consultoria. Na
opinião de Nóbrega, a
economia mundial, es-
pecialmente a dos EUA
e de algumas nações da
Europa, terá um longo e
frágil período até voltar
à situação normal. Os prognósticos não são muito favoráveis.
“Existe um processo de desalavancagem que ainda pode
demorar a acabar. As famílias estão reduzindo o seu endivi-
damento, e o resultado disso é menos demanda por crédito e
menos consumo”, explica. Os bancos ainda não retomaram
sua capacidade na oferta de crédito, cujo cenário é de con-
tração. O desemprego ainda pode chegar a níveis mais altos
do que os atuais, as empresas não concluíram o processo de
ajuste, e o mercado de imóveis está demorando em retornar
ao eixo. “A dívida pública deve chegar a 100% do PIB dentro
de quatro a cinco anos, e isso infl uenciará negativamente as
decisões de investimento. Os Estados Unidos terão de lidar
com essa situação, ou via aumento de tributação ou via al-
gum nível de infl ação. Tudo isso já infl uencia visões de curto
prazo”, completa Nóbrega.
GRANDE COMPRADORA posição privilegiada do Brasil dentro da região também
abre espaço para que “tenhamos muitas notícias de compa-
nhias nacionais adquirindo empresas no exterior a preços
favoráveis enquanto a economia não estiver completamente
recuperada”, enfatiza Nazir Takiedine. Prova do poder de
capitalização das empresas que operam no Brasil é o volume
recorde de remessas de lucros e dividendos ao exterior das
multinacionais que estão no país. Em 2008, estas enviaram
US$ 35,6 bilhões para suas matrizes. Este ano, serão cerca de
US$ 29 bilhões, volume ainda elevado para um ano de crise.
“Neste momento, não resta alternativa às brasileiras
capitalizadas pela força do mercado doméstico a não ser
avançar nos vizinhos da América Latina. As companhias vão
colocar seus recursos onde existir um porto mais seguro e
onde os sistemas político, jurídico e institucional inspirarem
mais confi ança”, diz o advogado.
Além da operação direta no continente, Takiedine aponta
a infl uência do Brasil também como um centro irradiador de
investimentos para os demais países da região. Segundo ele,
as empresas brasileiras com sócios estrangeiros buscam cada
vez mais novos horizontes na América Latina. “Asiáticos e
norte-americanos que colocaram seu dinheiro em empresas
brasileiras, de agora em diante, vão aplicar os resultados a
partir do Brasil, que está se tornando o quartel-general para
atuação no restante do continente”, esclarece.
Na avaliação de Luis Afonso Lima, presidente da Sobeet,
este é um movimento de longo prazo, que terá continuidade
independentemente da conjuntura no curto prazo. “Compa-
NEGÓCIOS ONDE INVESTIR EM 2010
Fonte Global Economic Weekly, do Bank of America Merrill Lynch e governos dos países* Projeção / ** Os dados dos governos variam ao longo do ano. Os apresentados são os mais recentes
Argentina
Brasil
Chile
Colômbia
México
Peru
Inflação (%)
2008
8,6
5,7
8,7
7,0
5,1
5,8
2009*
6,0
4,9
1,6
4,5
5,4
3,1
2010*
6,7
4,1
1,4
3,9
3,9
1,4
2011*
8,0
4,4
3,6
5,0
4,2
2,6
KUNST, DA ARTECOLA: NOVOS PLANOS
Foto
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ÃO
Dezembro, 2009 AméricaEconomia 23
SAÍDAS DE INVESTIMENTOS BRASILEIROS DIRETOS
TOTAL GERAL 11.921 17 .310 100,0 5.812 100,0
JAN - SET ANO % JAN - SET %
2008 2009
Distribuição por país* (US$ milhões)
Peru
Argentina
México
Panamá
Uruguai
Chile
Bolívia
Colômbia
* Não inclui investimentos em bens e imóveis. Inclui investimentos, por empresa, acima de US$ 1 milhão. Fonte Banco Central do Brasil
26
485
30
11
108
495
3
173
26
620
54
3.079
483
547
3
173
0,1
3,6
0,3
17,8
2,8
3,2
0,0
1,0
151
150
82
31
29
20
12
8
2,6
2,6
1,4
0,5
0,5
0,3
0,2
0,1
Venezuela – 183 1,1 1 0,0
rados aos asiáticos, estamos apenas
engatinhando. O potencial de cresci-
mento adicional dos fl uxos de inves-
timentos brasileiros no exterior, seja
na América Latina ou em qualquer
outra região do mundo, é maior do
que se observa hoje”, ressalta. Portan-
to, deve permanecer a tendência de
aumento da participação de países
emergentes que são origem de inves-
timentos diretos.
Segundo o executivo da Sobe-
et, entre os fatores que difi cultam a
maior internacionalização de em-
presas brasileiras está a carência de tratados de bitributação
e de investimento entre os países da América Latina. Entre
os 24 países com os quais o Brasil mantém tratados de bitri-
butação, apenas Argentina e Equador são latino-americanos.
Além disso, Lima destaca a necessidade do desenvolvimento
de uma política de fi nanciamento da internacionalização das
empresas brasileiras.
A Sobeet ainda faz outra ressalva: a economia mundial
crescerá menos nos próximos anos do que em anos anteriores.
Isso afeta demanda, preços, crédito e planos de investimento,
inclusive de empresas brasileiras. “A crise proporciona oportu-
nidades, mas também difi culdades. A recuperação dos fl uxos
de investimentos não será imediata. Algumas economias po-
dem até ganhar, mas a maioria perde
investimentos”, relativiza.
O volume de projetos que foram
postergados e já estão sendo tira-
dos da gaveta poderá surpreender.
“Quando um ou dois grandes países
derem demonstração de estar efe-
tivamente saindo da crise, como o
Brasil, os diques serão abertos para
a avalanche de projetos represados
nos últimos 12 meses”, enfatiza Mar-
co Bassi, presidente do grupo HDI,
empresa do setor de TI que iniciou
sua internacionalização em 1990.
Quem concorda com esse prognóstico é Jorge Ramos,
vice-presidente para a América do Sul da International
Society of Automation (ISA), entidade que reúne executi-
vos especializados em automação. “Além do Brasil – com o
pré-sal e as grandes obras de infraestrutura voltadas para a
Copa do Mundo e as Olimpíadas –, Colômbia e Chile é onde se
veem maiores planos para 2010 em diante. Vários projetos de
mineração estão sendo retomados no Chile, pois a demanda
mundial pelas commodities minerais cresceu. Na Colômbia,
o capital estrangeiro começa a estimular reformas de refi na-
rias e a construção de usinas de alumínio”, diz.
Assim, otimismo é o lema para 2010. “As oportunidades
existem, e algumas não podem ser adiadas”, conclui Ramos.
TUROLLA, DA SOBEET: O RISCO DO DÉFICIT
Foto
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24 AméricaEconomia Dezembro, 2009
VERÔNICA GOYZUETA, DE SÃO PAULO
Há pouco mais de um ano, o mundo parou para ver a
derrocada dos bancos dos EUA e o inevitável cataclismo
financeiro global. Na América Latina, entretanto, o mer-
cado fi nanceiro resistiu ao golpe. Apesar de o tamanho da
gigante brasileira BM&FBovespa fazer sombra aos volumes
movimentados nas outras bolsas da região, quem parou para
observar o desempenho destas encontrou boas surpresas. O
principal destaque foi a Bolsa de Lima (BVL), que teve uma va-
lorização de 132% no seu índice geral desde janeiro deste ano.
O segundo melhor desempenho foi o da Bovespa, com 106,1%
de rentabilidade no ano. E até a bolsa argentina, que foi à lona
com as notícias de Wall Street, viu seu valor dobrar em 2009.
As principais bolsas registraram crescimento acima de três
dígitos de várias de suas ações estrela.
QUER DIVERSIFICAR?ATENÇÃO ÀS BOLSAS LATINAS
NEGÓCIOS ONDE INVESTIR EM 2010
BOLSA DE SANTIAGO: RECUPERAÇÃO REGISTRADA EM OUTUBRO PODE INDICAR UM BOM 2010
Como isso aconteceu? “Em geral, nos ciclos econômicos
liderados pelas fi nanças, pode ocorrer nos momentos de re-
tração e recuperação um descompasso entre a dinâmica dos
ativos fi nanceiros e a da economia real”, explica Marcos An-
tonio Macedo Cintra, diretor adjunto de Cooperação Técnica
e Políticas Internacionais do Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada (Ipea). Cintra identifi ca a reação desses mercados a
partir de março. “Os mercados fi nanceiros buscaram ante-
cipar – alguns estimam com seis meses – o movimento da
economia real”, diz.
O especialista acha que a região foi privilegiada por ope-
rações de carry trade – em que se toma recursos emprestados
em moedas de mercados com juros baixos para aplicá-los em
moedas e ativos de países com riscos e juros mais elevados.
Foto
JA
IME
VIL
LASE
CA
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GES
Dezembro, 2009 AméricaEconomia 25
Ações mais valorizadas em 2009
México - IPCComer Mexicana: 232%
Grupo Mexico: 236%
Grupo Alfa: 155%
Fonte Infosel Financiero / Entre janeiro e novembro
ONDE APOSTARCarlos Ponce, diretor de análise do Grupo Financiero Ixe, na
Cidade do México, afi rma que a bolsa mexicana foi a que
mais sofreu com a crise internacional, devido a sua proxi-
midade com o mercado americano. Entretanto, o analista
afi rma que observando o movimento dos últimos 24 meses,
pode-se dizer que o mercado teve bom desempenho. “Há
companhias que ainda apresentam um retrocesso importan-
te”, diz Ponce, que identifi ca potencial de crescimento entre as
empresas exportadoras, como Grupo México, Gruma, Grupo
Alfa, Bimbo, Femsa e Cemex.
Um estudo coordenado por Ponce identifi ca que 39,6%
das vendas das empresas que compõem o índice mexicano, o
IPC, são exportações. “Isso signifi ca que, se a recuperação dos
Estados Unidos for antecipada para 2010, e se esta se traduzir
verdadeiramente em uma maior demanda de produtos, tais
empresas poderão melhorar seus resultados no próximo
ano”, diz. Mesmo otimista, Ponce aposta em um crescimento
de apenas 13% para o IPC de 2010, subindo dos atuais 30.800
pontos para 34.800 pontos.
No Chile, a Bolsa de Santiago ultrapassou seu máximo
histórico em outubro, com o IPSA cotado a 3.512 pontos,
“indicando uma recuperação que proporcionará uma ope-
Ações mais valorizadas em 2009
Chile - IPSAEmpresas Iansa: 232%
Comercial Siglo XXI SA (La Polar): 147%
CAP S.A.: 110%
Fonte Bolsa de Comércio de Santiago / Entre janeiro e novembro
Compañía de Chocolates e Compañía Suramericana. Entre
as ações tradicionais, a analista prevê um bom desempenho
de Corfi colombiana, Bancolombia, e de holdings como Grupo
Aval e Inversiones Argos, que controla a produtora de cimen-
to Argos. “É uma companhia que tem surpreendido. Eles
compraram empresas nos últimos três anos a preços muito
bons (veja matéria à pág. 28) e no ano que vem devem colher
os resultados”, comenta. Sobre a petrolífera Ecopetrol, a ação
mais negociada da bolsa colombiana, Castro disse que ela
Ações mais valorizadas em 2009
Argentina - MervalBanco Macro S.A.: 199%
Banco Hipotecario: 172%
Grupo Galicia: 160%
Fonte Bolsa de Comércio de Buenos de Aires / Entre janeiro e novembro
ração dentro da normalidade para 2010”, diz Alvaro Pipino,
economista-chefe da IM Trust. Entre as ações recomendadas
por Pipino está a da companhia aérea LAN, “que irá retomar a
demanda perdida tanto no setor de passageiros quanto no de
carga, o mais afetado, podendo alcançar um EBITDA recorde
e uma valorização das ações estimada por nós em cerca de
33%”, afi rma. O analista também destaca os papéis das gran-
des companhias do varejo, como La Polar e Cencosud, “que
têm planos de potencializar sua presença em outros países da
região, além de recuperar o fôlego na atividade de crédito ao
consumidor, responsável pelas maiores margens no negócio
dessas empresas”, diz.
Já na Colômbia, 2010 será o ano das holdings, segundo
Johanna Castro, analista sênior da Corredores Asociados, em
Bogotá. Johanna diz que as ações da bolsa colombiana estão
valorizadas e alcançaram máximas históricas, mas muitas
delas têm apenas cinco anos no mercado. “É uma bolsa muito
jovem”, diz, alertando para o potencial de empresas como
Cintra ainda estima que a recuperação econômica nos países
desenvolvidos será mais lenta do que se esperava. Esse fato,
aliado às perspectivas de crescimento de 3,1% para América
Latina em 2010, segundo dados da Cepal, pode fazer com que
as bolsas latinas ganhem novo impulso. “Entretanto, como
este ano a valorização já foi muito acentuada, nos próximos
meses ela pode ser um pouco menos exuberante”, diz. “Sobre-
tudo se os países avançarem nas medidas de contenção dos
fl uxos de capitais externos, a fi m de conter possíveis bolhas
de ativos”, afi rma Cintra. O governo brasileiro, por exemplo,
introduziu o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) de
2% nas transações com moedas estrangeiras. No México,
há uma tendência de aumentar impostos em setores como
telecomunicações, bebidas alcoólicas e jogos, mas ao mesmo
tempo o governo está incentivando a entrada de fundos de
pensão no mercado.
26 AméricaEconomia Dezembro, 2009
NEGÓCIOS ONDE INVESTIR EM 2010
Ações mais valorizadas em 2009
Peru - IGBVLAndahuasi: 305%
Volcan: 278%
Morococha: 197%
Fonte Bolsa de Valores de Lima / Entre janeiro e novembro
depende do comportamento do mercado de petróleo ou de
novas descobertas. “Mas é uma ação obrigatória na carteira
de quem quiser correr risco na Colômbia.”
No Peru, Alberto Arispe, gerente geral de Kallpa Securities
Sociedad Agente de Bolsa, em Lima, acha que o crescimento
da bolsa de valores deve continuar apoiado nas mineradoras,
que compõem 74% do índice. “A Bolsa de Valores de Lima é
infl uenciada pelo movimento do preço das commodities, e
o mercado está otimista. O cobre, por exemplo, deve crescer
bastante”, diz. Arispe, que foi diretor da BVL, afi rma que as
ações dos bancos peruanos estão baratas devido ao retorno
sobre o patrimônio que registram atualmente. Por isso, reco-
menda as ações do Credicorp, holding do Banco de Crédito. O
analista ainda destaca as ações de Cementos Lima e Cemen-
tos Pacasmayo. Arispe acha que há grande espaço para um
crescimento da BVL, em função dos bons fundamentos da
economia peruana e do potencial de acesso de novos consu-
midores ao mercado nos próximos anos.
Entretanto, independentemente do bom desempenho
das suas ações, a grande notícia para as bolsas de Lima,
Colômbia e Chile é seu processo de integração, iniciado em
novembro com a assinatura de um acordo (veja matéria à pág.
64). Com essa união, as bolsas ganham uma participação de
22% na região, cerca de 560 papéis e mais diversifi cação. Hoje,
dois terços da BVL são formados por mineradoras, 50% do ín-
dice colombiano é concentrado no setor energético, e a bolsa
de Santiago se destaca nos setores de serviços e industrial.
Essa integração poderá refl etir-se na região e tirar o bri-
lho da bolsa da Argentina, cujo comportamento para 2010
será difícil de avaliar, segundo Rodolfo Acosta, analista da
corredora de bolsa Arpenta, em Buenos Aires. Para Acosta,
o principal problema para a bolsa argentina é a posição de
confronto do atual governo com setores importantes da eco-
nomia, como o agropecuário, criando um efeito negativo em
empresas do setor de alimentos. Já as de serviços sofrem com
a falta de reajustes tarifários. “É um emaranhado de coisas
que atentam contra o desenvolvimento, e isso se refl ete no
Merval”, diz o analista, para quem qualquer avaliação para
2010 vai depender de mudanças no Congresso, em março. “O
próximo ano da bolsa será de muita futurologia”, brinca. No
entanto, Acosta tende a recomendar papéis do setor fi nancei-
ro, de petrolíferas e de empresas vinculadas à construção.
Com relação ao mercado venezuelano, o destaque fi ca
para a impressionante valorização do Banesco, de 13.500%
desde janeiro. Johanna Castro, da Corredores Asociados,
atribui essa forte alta a boatos sobre sua venda. O Banesco,
no entanto, é uma exceção dentro das ações da bolsa ve-
nezuelana, onde, à diferença dos outros mercados latinos,
as valorizações máximas difi cilmente ultrapassaram 70%
desde janeiro. “Não é fácil investir em um país onde há in-
certezas e riscos operacionais”, diz Johanna. Panorama que
não será diferente em 2010.
Ações mais valorizadas em 2009
Venezuela - BVCBanesco: 13.536%
Banco Nacional de Crédito: 72%
Banco Venezolano de Crédito: 63%
Fonte Reuters / Entre janeiro e novembro
COBRE SUSTENTA O CRESCIMENTO DA BOLSA DE LIMA
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28 AméricaEconomia Dezembro, 2009
ALICERCEEXPANDIDOApesar de um ano fraco, empresas do setor de cimento apostam alto no crescimento da demanda no Brasil e no restante da América Latina
CAROLINA FUENTES, DE SANTIAGO, E GRAZIELE DAL-BÓ, DE SÃO PAULO
O ano de 2009 não foi bom para os
grandes fabricantes de cimento. Com
investimentos em infraestrutura e
construção estancados em diversos
países desde o agravamento da crise fi -
nanceira mundial, as empresas do setor
viram seus números encolherem.
A francesa Lafarge, maior fabrican-
te do mundo, registrou queda de 49%
nas vendas no primeiro semestre do
ano em relação ao mesmo período de
2008. A sueca Holcim teve de fechar
fábricas no fi nal do ano passado. E a
mexicana Cemex registrou queda mé-
dia de 27% nas vendas nos mais de 50
países em que opera.
Mesmo assim, o potencial de cres-
cimento futuro com a recuperação eco-
nômica da América Latina movimenta
o cenário. Na região, a tendência é de
que as locais ganhem mercado. Algu-
mas que já estão em pleno bote são a
colombiana Cementos Argos e a peru-
ana Cementos Lima, além das brasilei-
ras Votorantim e Camargo Corrêa, que
ampliam participação nos mercados
vizinhos e se fortalecem em seu país.
No Brasil, ainda que a elimina-
ção do Imposto sobre Produtos Indus-
trializados (IPI) não tenha provocado
o resultado esperado nas vendas de
cimento, o ano foi recheado de novi-
dades. A líder nacional Votorantim
– que também opera nos EUA, Cana-
dá, Bolívia e Chile – fez em novembro
uma oferta de 135 milhões de euros
para a aquisição dos ativos da Uniland,
subsidiária da Cementos Portland Val-
derrivas, que inclui 50% das ações da
Cementos Avellaneda (Argentina) e
50% da Cementos Artigas (Uruguai).
“Acabamos de sair de uma crise, pe-
ríodo em que as empresas ainda não
recuperaram seu valor real. É melhor
comprar agora”, diz Alcides Leite, pro-
fessor de Economia da Trevisan Escola
de Negócios. Para Leite, a estratégia da
empresa de Antônio Ermírio de Moraes
foi acertada. “Com o câmbio favorável, o
preço fi ca mais atrativo, e as empresas
brasileiras têm capital para isso. Este é
o momento para expandir.”
NEGÓCIOS CIMENTO
No Brasil, a Votorantim aumentou
sua participação de mercado este ano,
acumulando 45% do total produzido,
graças à entrada em operação de uma
nova planta em Porto Velho (RO), com
capacidade de 750 mil toneladas, e ou-
tra em Xambioá (TO), com capacidade
de 1 milhão de toneladas, que será inau-
gurada em dezembro. As fábricas fazem
parte de um plano de expansão de R$ 2
bilhões iniciado em 2007, cuja meta é
alcançar uma produção de 39 milhões
de toneladas em 2011. “A Votorantim
está preparada para atender à demanda
futura”, diz José Otávio de Carvalho,
vice-presidente executivo do Sindicato
Nacional da Indústria do Cimento.
Já a Camargo Corrêa Cimentos (CCC)
e a LLX Açu fi rmaram um acordo para
a criação de uma fábrica de cimento
no complexo do porto do Açu, no lito-
ral do estado do Rio. O grupo também
anunciou um investimento de US$ 108
milhões para expandir sua capacidade
de produção na argentina Loma Negra,
comprada em 2005. A Loma Negra de-
Os destaques regionaisProdução 2008 (milhões de toneladas)
Cementos Argos(Colômbia)
Cementos Lima(Peru)
Cemex (México)
11,6
2,97
95,50
Fonte As empresas / Inclui produção em operações no exterior
Dezembro, 2009 AméricaEconomia 29
tém 45% do mercado local e teve uma
produção de 5,5 milhões de toneladas
de cimento em 2008.
Para analistas, a sede de investimen-
to da Camargo Corrêa indica que a com-
panhia é forte candidata a fazer aquisi-
ções dentro do Brasil. “Como é um setor
que exige investimento alto e regras de
economia de escala, é natural um pro-
cesso de fusões e aquisições em um mo-
mento como o atual”, diz Leite, indicando
que o Brasil pode viver novamente uma
onda de fusões e aquisições, como acon-
teceu em meados dos anos 1990, quan-
do dez grupos tomaram a dianteira do
mercado. Tendência que inclusive está
chamando a atenção do Cade (Conselho
Administrativo de Defesa Econômica),
num cenário em que o próprio processo
de aquecimento da demanda – que se
intensifi cará com as obras para a Copa
e as Olimpíadas – naturalmente tende
a pressionar os preços do insumo para
cima. “Claro que os órgãos de fi scalização
devem fi car atentos aos processos, mas
sob a lógica da efi ciência econômica isso
é factível”, defende.
Já para Simone Escudêro, diretora de
estudos de mercado da All Consulting,
a presença de gargalos como a falta de
cimento no mercado interno em 2008
dá brecha para empresas estrangeiras
buscarem oportunidades no Brasil e
acirrarem a concorrência. “Uma coisa
é certa: o setor será benefi ciado com os
projetos previstos no Brasil, garantindo
boas perspectivas no mercado interno
para os próximos quatro anos”, diz.
No restante da América Latina, o
foco está nas empresas locais. A colom-
biana Cementos Argos, que detém 51%
do mercado de seu país e é o sexto pro-
dutor de concreto nos EUA, aposta agora
no crescimento na América Central e
no Caribe. Como parte dessa estratégia,
no último semestre comprou a partici-
pação da Holcim na Panama Cement
Holding, somando 98,86% da sociedade
nesse país. Na República Dominicana,
depois de adquirir 50% do capital da
Domar Limited, negociou a compra de
70% de participação da Cementos Colón.
Também comprou 50% do capital social
da Haiti Cement Holding, no Haiti, e
se associou à Caricement Antilles, pro-
prietária de terminais para embarque
de cimento nas ilhas Saint Maarten, St.
Thomas, Dominica e Antigua. Com essa
investida, a colombiana já se converteu
no quarto maior produtor de cimento da
América Latina. “Daqui até 2015, os pro-
jetos de infraestrutura nos permitirão
continuar crescendo”, diz José Alberto
Vélez, presidente da Cementos Argos.
INVESTIMENTOS POTENTESNo Peru, a atenção se concentra na
Cementos Lima. “Acho que ela estará
entre os ganhadores da região nos pró-
ximos anos”, diz Stephen Trent, ana-
lista do banco Citigroup. Prova disso é
que, enquanto Holcim, Cemex e Lafarge
amargam resultados negativos, a em-
presa de Lima aumentou suas vendas
em 9,5% no primeiro semestre de 2009
em relação ao mesmo período de 2008,
graças à demanda local. “Há uma longa
lista de projetos de infraestrutura que
devem sair no próximo ano”, diz Walter
Piazza, presidente da Câmara Peruana
da Construção. Um dos maiores inves-
timentos previstos é uma planta de
cobre em Toromocho, na região central
do país, de US$ 2 bilhões.
No Peru, ainda vale destacar o gru-
po Brescia, que em meados deste ano
comprou 84,2% das ações da empre-
sa chilena de cimentos Melón, então
AUMENTO DO CONSUMO DE CIMENTO ESTÁ
FORTEMENTE ATRELADO AO CRESCIMENTO DO PIB
45%do mercado argentino
é dominado pela Camargo Corrêa,
através da Loma Negra
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30 AméricaEconomia Dezembro, 2009
NEGÓCIOS CIMENTO
VOTORANTIM:
EXPANSÃO NO
BRASIL E NO
EXTERIOR
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do grupo Lafarge, ganhando 34% do
mercado local. Segundo analistas do
setor, a intenção do grupo Brescia com
a compra é exportar cimento ao Peru,
para satisfazer a demanda do setor de
construção que, segundo Piazza, “pode-
rá crescer 6% em 2010”.
Já a mexicana Cemex se concentra
em recuperar-se da infeliz investida
na compra da australiana Rinker em
2007, que resultou em um forte endivi-
damento e em um aumento de sua ex-
posição no mercado norte-americano.
“A empresa foi muito prejudicada”, diz
Patricio Rivera, analista do grupo IXE.
Em outubro, a Cemex anunciou a venda
de seus ativos na Austrália para a Hol-
cim, por US$ 1,7 bilhão, o que lhe per-
mitiu reestruturar os vencimentos de
sua dívida até 2014. No fechamento do
terceiro trimestre, a dívida líquida da
companhia era de US$ 17 bilhões. “Mas
acho que a partir do primeiro trimes-
tre de 2010 as operações da Cemex na
América do Norte voltarão a fi nanciar
seu crescimento”, diz Rivera.
Frente a esse cenário, fi ca a pergun-
ta se o mercado responderá à altura
das expectativas das empresas latino-
americanas. “Não há dúvida de que a
demanda por cimento vai se recupe-
rar”, diz Trent, do Citigroup, sem deixar
de questionar o ritmo dessa recupera-
ção, bem como sua magnitude. Como o
aumento do consumo de cimento está
muito atrelado ao crescimento do PIB,
Trent diz que é complexo garantir um
prognóstico para a região – ainda que,
por enquanto, ele seja positivo.
Produção em 2008 (milhões de toneladas) *Principais grupos no Brasil
Votorantim João Santos Cimpor Camargo Corrêa Holcim Lafarge Ciplan Itambé Outros
* Refere-se apenas à produção no Brasil
21,32
6,444,7 4,63 3,99 3,42
1,39 1,244,74
** Dados contabilizados até outubro/2009
Consumo no Brasil(milhões de toneladas)
Fonte Sindicato Nacional da Indústria do Cimento (SNIC)
2004 2005 2006 2007 2008 2009**
35,7337,60
41,02
45,09
51,48
33,36
COM AS MÃOS NA MASSA
Dezembro, 2009 AméricaEconomia 31
RESSACA DA CRISEPequenas produtoras de tequila sofrem com imposto alto e queda do consumo mexicano
ADRIANA MÉNDEZ, CIDADE DO MÉXICO
CULTIVO DE AGAVE: COLHEITA EM RISCO
DEVIDO À BAIXA DEMANDA POR TEQUILA
É um dia de calor e Eduardo Morales
olha desconsolado o campo cultivado.
“É uma pena, mas muitas dessas plan-
tas irão apodrecer aí. Não vale a pena
colher”, comenta o gerente de vendas da
Tequila Tepatitlán. Este ano, a empresa
já teve de descartar 50% do agave culti-
vado, com o qual fabrica a bebida desti-
lada mais popular do país. Com queda
de 40% nas vendas, reduziu sua pro-
dução de 1 mil para 500 litros ao mês,
demitiu oito de seus 20 funcionários e
agora busca uma saída para sobreviver.
A Tepatitlán é uma das centenas
de pequenos e médios produtores de
tequila que até o ano passado traba-
lhavam tranquilamente para atender
apenas o mercado mexicano. Mas os
efeitos da crise econômica, somados à
falta de uma política de estímulo a essa
indústria e a uma forte carga fi scal, têm
deixado poucas alternativas de recupe-
ração para essas empresas.
“Está claro que esse cenário bene-
fi cia apenas quem produz em escala e
pode exportar, já que tem isenção do Im-
posto Especial sobre Produção e Serviços
(Ieps), de 53% sobre o preço do produto”,
diz Ciro Ríos Lara, diretor de uma asso-
ciação de produtores. “Se isso continuar
assim, os peixes grandes abocanharão
os pequenos.” No caso da Tequila Tepa-
titlán, Morales conta que, descontados
os gastos com impostos, folha de paga-
mento e matéria-prima, “fi camos com
apenas 10 pesos mexicanos de cada gar-
rafa que vendemos a 100 pesos”.
80%das exportações
de tequila vão para os Estados Unidos
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OTO
NEGÓCIOS BEBIDAS
DIVERSIDADE E MERCADOA margem de manobra das grandes
companhias do setor também está no
portfolio diversifi cado de produtos, que
lhes permite equilibrar perdas e ganhos.
“Assim, quando as vendas de tequila ca-
em, as de rum ou vodka provavelmente
podem aumentar”, diz Luis Félix, diretor
geral da José Cuervo, que sozinha detém
35% do mercado mundial de tequila.
Com exceção da José Cuervo, atual-
mente as principais marcas de tequila
mexicana estão nas mãos de estrangei-
ros. A Sauza é da norte-americana For-
tune Brands; Viuda de Romero, Mariachi
e Olmeca, da francesa Pernod Ricard;
Cazadores e Camino Real, da Bacardi; e
a Don Julio, da inglesa Diageo. E a ten-
dência, segundo Félix, é de consolidação.
Segundo o Conselho Regulador da Te-
quila (CRT), hoje o México conta com 150
produtores formais de tequila, dos quais
apenas 40 têm presença no exterior.
Mesmo com a maior competitivida-
de das grandes, Ramón González Figue-
roa, diretor do CRT, defende que as boas
marcas pequenas têm chances no mer-
cado externo. “É preciso agressividade”,
diz, dando como alternativa a formação
de alianças estratégicas com redes in-
ternacionais de restaurantes e hotéis.
Para Juan Cazados Arreigotia, presiden-
te da Câmara Nacional da Indústria da
Tequila (CNIT), há espaço sobretudo em
mercados emergentes. “Só o potencial
da China é de 4,5 bilhões de litros ao ano.
Para se ter uma ideia, aos EUA vendemos
1,62 bilhão de litros, que representam
80% de nossas exportações.” No Brasil,
segundo dados do IWSR (International
Wine and Spirit Record), o mercado não
chega a 1 milhão de litros.
Para Arreigotia, na falta de apoio do
governo local, os produtores mexicanos
não devem temer as alianças e investi-
mentos estrangeiros. “Ainda que seja
nossa bebida ícone, somente aqueles
que compreenderem que a tequila tem
de se transformar em uma bebida in-
ternacional é que sobreviverão.”
32 AméricaEconomia Dezembro, 2009
CENTRONO
DASATENÇÕES
Em situação debilitada, empresas brasileiras do setor de papel e celulose viraram alvo fácil da chilena CMPC. Outras estrangeiras virão?
JUAN PABLO RIOSECO, DE SANTIAGO, E SOLANGE MONTEIRO, DE SÃO PAULO
PLANTAÇÃO DE EUCALIPTO DA SUZANO:
UMA DAS MAIORES DO BRASIL
Apesar de contar com condições
ideais de clima, disponibilidade de ter-
ras, o melhor rendimento e o maior
giro de fl oresta de eucalipto do mun-
do, as empresas do setor de papel e
celulose do Brasil não tiveram como
se blindar das difi culdades do ano de
2009. O coquetel nocivo formado pela
desvalorização do real, pela queda da
demanda e dos preços internacionais
e pelos altos estoques fez as empresas
colocarem seus planos de investimen-
tos em banho-maria e torcer por uma
rápida recuperação.
Esse, entretanto, foi o quadro ide-
al para a CMPC – empresa chilena do
grupo do empresário Eliodoro Matte,
que até então operava no Brasil apenas
como importadora –, passar pelo país
com seu carrinho de compras. A pri-
meira aquisição foi em abril, da Melho-
ramentos Papéis, por R$ 400 milhões
– dos quais a Melpaper, controladora da
empresa, levou apenas R$ 120 milhões,
sendo o restante absorvido pelo paga-
mento de dívidas.
Depois foi a vez de a CMPC tirar a
unidade gaúcha Guaíba das mãos da
Fibria – fusão da Aracruz com a Voto-
rantim Papel e Celulose que resultou na
maior fabricante de celulose do mundo,
com receita líquida de R$ 6 bilhões e
uma dívida líquida ainda mais astro-
nômica, de R$ 12 bilhões, parte dela
resultado do jogo da Aracruz com de-
rivativos fi nanceiros denominados em
dólares. “Apesar de a CMPC também ter
sido afetada pela crise, ela tem uma po-
NEGÓCIOS PAPEL E CELULOSE
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sição de caixa importante e boa capa-
cidade de envididamento”, diz Hernán
Guerrero, analista da FIT Research, em
Santiago. “Em momentos de crise, as
empresas em melhor condição fi nan-
ceira ganham vantagem para agir.”
A Guaíba custou US$ 1,43 bilhão à
CMPC e aumentou a capacidade total
0,2%do território brasileiro
é ocupado por eucalipto industrial
Dezembro, 2009 AméricaEconomia 33
MAIS EFICIENTES
País Rotação (anos)
Brasil
Chile
7
10 - 12
Atual
Rendimento (m³ hectare/ano)
41
25
Potencial
70
30
Produtividade em florestas de eucalipto*
Fonte Pöyry/*Números para espécies de celulose fibra curta
ELIODORO MATTE, DA CMPC:
AQUISIÇÕES BRASILEIRAS
GARANTEM EXPANSÃO
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da empresa para 2,6 milhões de tone-
ladas anuais de celulose, transforman-
do-se na terceira maior produtora no
mundo, depois da própria Fibria e de
outra chilena, a Arauco. “O Brasil é uma
plataforma para incrementar de forma
efi ciente nossa capacidade de produ-
ção de celulose de fi bra curta”, afi rma
por email o secretário geral da CMPC,
Gonzalo García, à AméricaEconomia. Os
ativos também compreendem uma fá-
brica de papel com capacidade para 600
mil toneladas, 212 hectares de fl orestas
e licenças já aprovadas para um projeto
de expansão.
O potencial dessa compra não para
por aí. Com planos de investir outros
US$ 1,5 bilhão na construção de uma no-
va fábrica para a Guaíba – que, por con-
trato, não poderá operar antes de 2014
–, a CMPC poderá aumentar em outros
1,3 milhão de toneladas sua produção,
concorrendo ao segundo lugar entre os
produtores mundiais. “A celulose é uma
commodity global, e o objetivo de nossa
operação brasileira é integrá-la a nossa
rede de fornecimento de fi bra a clientes
em 40 países”, diz García. “A produção
de papéis para impressão (com a Me-
lhoramentos) é pequena, e manterá seu
foco no mercado doméstico do Brasil.”
PRENÚNCIO DE NOVAS COMPRAS?O plano do Grupo Matte faz todo o sen-
tido. No Chile, praticamente não resta
nenhum metro quadrado de plantação
de árvores para cultivo industrial que
já não pertença a uma das grandes
companhias do setor; na Argentina, os
problemas políticos vividos pelo país
afastam investimentos, e o Uruguai
é muito pequeno para ser destino de
grandes expansões.
A pouca disponibilidade de terras
e o aumento de restrições da atividade
fl orestal em todo o mundo seriam en-
tão o prenúncio da chegada de novos
compradores estrangeiros ao Brasil?
Sim e não, segundo Rudolf Gabrich,
professor da Fundação Dom Cabral. “Da
atual produção de celulose, 82% já estão
concentrados nas mãos das cinco prin-
cipais companhias (Fibria, Suzano, Kla-
De qualquer forma, a recuperação
da demanda e do preço da celulose
apontam para uma retomada do fôlego
das empresas no Brasil. “Os preços já
estão se estabilizando – a fi bra curta
já chegou a US$ 700 a tonelada, depois
de valer US$ 500 no começo do ano. A
Fibria já está trabalhando para redu-
zir seu endividamento, e as restantes
estão bem paradas para investir”, diz
Bruno Resende, analista da Tendências
Consultoria. Entre os investimentos,
destaca-se para a expansão da cultura
de eucalipto da Veracel – formada pela
Fibria e pela sueco-fi nlandesa Stora En-
so –, congelada no início do ano. À Stora
Enso, por sua vez, não faltará oportu-
nidade no Brasil, sobretudo depois de
conseguir regularizar, este ano, os 45,7
mil hectares que havia comprado entre
2004 e 2005 no sul do país. “O mercado
voltará a se aquecer”, aposta Resende.
bin, Cenibra e International Paper), e se-
rá difícil ver algum novo movimento”,
diz. “Já no caso das fabricantes de papel,
há mais fragmentação, e é aí onde as
empresas estrangeiras podem entrar,
buscando uma porta que, posterior-
mente, lhes dê acesso à matéria-prima,
com a compra de terrenos para cultivo
do eucalipto.” Segundo a Associação
Brasileira de Papel e Celulose (Bracelpa),
atualmente apenas 0,2% do território
brasileiro é ocupado por florestas de
eucalipto para uso industrial.
Da própria CMPC, segundo analis-
tas, não sairia nenhuma outra propos-
ta. “Eles tiveram de captar US$ 1 bilhão
para os atuais investimentos no Brasil
e não têm costume de assumir muita
dívida”, diz Cristina Acle, chefe de es-
tudos da Corp Research, em Santiago.
Outros interessados, segundo analis-
tas, poderiam chegar da China – país
cuja participação das importações de
celulose brasileira aumentou de 18%
entre janeiro e setembro de 2008 para
33% no mesmo período de 2009.
34 AméricaEconomia Dezembro, 2009
WONG 2.0
Depois de abandonar o setor varejista do qual era ícone, grupo peruano foca novos
projetos e indica a trilha dos bons negócios no país
FERNANDO CHEVARRÍA LEÓN, DE LIMA
NEGÓCIOS PERU
As férias mais longas do peruano
Efraín Wong foram no final de 2007.
Com US$ 500 milhões no bolso depois
da venda do Grupo de Supermercados
Wong (GSW) para o chileno Cencosud,
ele e seus irmãos decidiram descansar.
“Essa pausa só durou três meses, pois
quisemos continuar nos negócios”, con-
ta Efraín, penúltimo dos seis fi lhos de
Erasmo Wong Chiang.
Hoje, em um bunker de 60 mil me-
tros quadrados no bairro limenho de La
Molina, onde funciona a Corporación
EW, os Wong reúnem executivos e téc-
nicos para avaliar novas alternativas
de investimento. Esses estudos já resul-
taram em uma variedade de negócios e
refl etem os setores de maior potencial
de crescimento do país. “A estratégia do
grupo de focar-se no mercado local já é
importante por si só”, diz o advogado
Mauricio Olaya, em Lima. “Antes, os em-
presários vendiam suas operações para
investir no exterior, pois não confi avam
na estabilidade econômica do país.”
Um desses novos negócios é o imo-
biliário. Em julho, os Wong lançaram
em Lima o Plaza Norte, maior centro
comercial do país, com investimento de
US$ 100 milhões. Em dezembro, inau-
gurarão um terminal rodoviário dentro
do shopping – o primeiro da cidade,
eliminando o estigma que Lima trazia
de ser a única capital sul-americana
que não contava com um. “A rodoviária
será uma âncora fortíssima para o mo-
vimento do shopping”, diz Efraín.
Os supermercados, negócio do qual
a família se tornou um ícone no Peru
(ver quadro), desta vez fi caram de fora.
Em novembro, fontes do mercado indi-
cavam a intenção dos Wong de vender
até os 2,5% das ações da Cencosud con-
quistados na negociação com a chilena,
por US$ 200 milhões.
No setor da pesca, a Corporación
EW já é um dos maiores exportadores
de anchovas do país, e até 2011 planeja
investir em novas fábricas para con-
gelamento do produto. No fi nanceiro,
o grupo possui a caixa rural Prymera,
que espera converter em uma fi nancei-
ra e, no longo prazo, em um banco.
CHEIO DE ENERGIAEntretanto, de todas as iniciativas da
família, nenhuma parece cobrir a apos-
ta que os irmãos Wong estão fazendo
no setor energético. Recentemente, a
Corporação EW comprou 66% das ações
da empresa Irradia, que desenvolve um
projeto para distribuição de gás natural
comprimido (GNC), com início de ativi-
dades previsto para maio de 2010.
Segundo Ramón Duggan, gerente
geral da Irradia, esse projeto tem duas
etapas de investimento. A primeira,
de US$ 20 milhões, será para garantir
a distribuição de 400 mil metros cú-
bicos de GNC, e uma segunda para a
construção de cerca de cem postos de
distribuição de gás, o que a converterá
na maior rede do país.
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EFRAÍN: INTERESSE DECLARADO
PELO SETOR ENERGÉTICO
100milhões de dólares
é o investimento no maior centro
comercial do Peru
Dezembro, 2009 AméricaEconomia 35
O FATOR NACIONALISMO A família Wong anunciou a ven-da de suas redes de supermercados à companhia Cencosud, do empresário chileno-alemão Horst Paulmann, em dezembro de 2007. Naquele ano, o grupo chileno já havia comprado a brasilei-ra GBarbosa, por US$ 430 milhões, e feito uma associação com a francesa Casino Guichard para entrar no mercado colombiano. A força dos negócios e da marca Wong que atraiu Paulmann – 48 lojas, 10 mil funcionários e vendas de US$ 900 milhões ao ano –, entretanto, pesou contra a Cencosud no início de suas operações no Peru. A venda das duas redes de supermercados mais famosas do país (Wong e Metro) fez afl orar a rivalidade
de parte dos peruanos com o vizinho, provocando mani-festações contra o que cha-maram de “invasão chilena”. A antipatia inicial chegou a tal ponto que, no tradicional desfi le promovido pela rede em comemoração às Festas Pátrias de 2008 (foto), o Gru-po de Supermercados Wong teve de abandonar a tradi-ção de levar a bandeira do Peru à frente do corso.
“Isso é importante porque o país es-
tá crescendo, e nos interessa também o
setor hidroelétrico”, diz Efraín, sem dar
detalhes sobre seus planos nesse seg-
mento. Luis Wakabayashi, diretor da
área de Mercado da Universidade Esan,
em Lima, destaca que a Corporación
também tem grande potencial para en-
trar no mercado do etanol, já que conta
com dois engenhos de açúcar. “Assim,
o grupo pode desenvolver tanto a área
agroindustrial quanto a energética”,
diz. Segundo Efraín, o grupo já exporta
parte da produção de açúcar e pretende
desenvolver novos engenhos.
Para Yohana Mendoza, gerente ge-
ral da Dvalor Consultoria, o caminho
traçado pelos Wong – que estão juntos
em todos os negócios, com 20% para ca-
da um dos irmãos homens – demonstra
amadurecimento corporativo. “Hoje
eles deixaram de ser uma empresa fa-
miliar para ser uma família empresá-
ria, com aguda visão estratégica”, diz o
consultor. Por isso, quando quiser pes-
quisar quais são os negócios promisso-
res no Peru, vale a pena acompanhar os
próximos passos dos Wong.
Empresa Setor
Plaza Norte Administração de centros comerciais
Irradia Distribuição de GNC
Inversiones Prisco Pesca
Caja Prymera Financeiro
Empresa Azucarera Andahuasi Açúcar
Empresa Azucarera El Ingenio Açúcar
Empresa Agroindustrial Pramonga Açúcar
Consorcio Alcoholero del Norte Álcool
Inversiones Fortunia Operação de máquinas caça-níqueis
Multidiversión Operação de máquinas caça-níqueis
Gelán Construtora
PRINCIPAIS EMPRESAS DA CORPORACIÓN EW
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36 AméricaEconomia Dezembro, 2009
PARADAOBRIGATÓRIALocaliza acompanha os números magros do setor de aluguel de carros no Brasil para este ano, mas espera crescer a partir de 2010
SOLANGE MONTEIRO, DE SÃO PAULO
A redução do IPI (Imposto sobre
Produtos Industrializados) para compra
de zero-quilômetros que este ano fez
a alegria de montadoras e de muitos
motoristas ávidos por um carro novo foi
uma injeção de ânimo na economia bra-
sileira. Calcula-se que, sem o benefício
fi scal, seriam vendidos cerca de 300 mil
carros a menos em 2009.
Mas a medida do governo não foi
positiva para todos. Que o diga a in-
dústria de aluguel de automóveis. Res-
ponsável por cerca de 11,5% do total de
compras de carros no Brasil, movimen-
tando quase R$ 10 bilhões ao ano, as lo-
cadoras viram seus ativos se desvalori-
zarem na mesma medida que a redução
dos preços dos carros usados.
“Até a crise, a revenda fazia parte do
negócio de muitas locadoras”, diz João
João Cláudio Bourge, presidente execu-
tivo da Associação Brasileira das Loca-
doras de Automóveis (Abla). Segundo
Bourge, o mercado brasileiro de carros
usados era mais valorizado que a média
mundial, o que gerava EBITDA (lucro
antes de juros, impostos, depreciação
e amortização) para as empresas. “O
desconto que recebiam das montadoras
por comprar em escala compensava
a desvalorização de mercado na hora
da revenda, o que garantia ao menos
atingir o break even”, afi rma.
“Vivemos uma situação atípica, não
é do core business gerar EBTIDA em
seminovos. Foi bom, mas não podemos
contar com isso”, diz Roberto Mendes,
diretor de Finanças e Relações com o In-
vestidor da Localiza. A empresa minei-
ra, maior operadora do Brasil, com 22%
NEGÓCIOS LOCAÇÃO
de mercado, registrou queda de 8,9%
na receita líquida nos nove primeiros
meses do ano. Enquanto a receita líqui-
da de aluguel registrou crescimento de
2,4%, somando R$ 440,8 milhões, a da
venda de seminovos caiu 32%, totali-
zando R$ 422 milhões. A depreciação de
veículos, que nos primeiros nove meses
de 2008 tinha sido de R$ 18,3 milhões,
11,5%é quanto o segmento de locação representa nas vendas totais de
carros no Brasil
Dezembro, 2009 AméricaEconomia 37
O SETOR DE LOCAÇÃO DE AUTOMÓVEIS NO BRASIL
Fonte Associação Brasileira de Locadoras de Automóveis (Abla); dados de 2008
Faturamento anualR$ 3,9 bilhões
1.893Número de locadoras
Frota318.865(automóveis)
Usuários16,2 milhões
subiu para R$ 62,3 milhões este ano,
com uma margem EBTIDA de 2,5%, con-
tra 7,6% no mesmo período de 2008 – no
ano de 2004, por exemplo, essa margem
chegou a 14,6%.
A reação da Localiza foi aumentar os
preços de locação de 7% para 9%. “Há dez
anos não reajustávamos as tarifas”, diz
Mendes, informando que essa é a única
mudança dentro dos planos da empresa.
“Mesmo com o fi m da redução do IPI,
estimamos que o mercado de usados
maior taxa de utilização e uma menor
depreciação dos carros”, recomendando
a ação da empresa no longo prazo.
CHANCE PARA OS COMPETITIVOS“O fato é que, com essa mudança de ce-
nário, as locadoras terão de ser compe-
titivas, pois não haverá mais como es-
conder inefi cácias”, diz Bourge, da Abla,
lembrando o excesso de fragmentação
do mercado brasileiro de locadoras.
Para se ter uma ideia, enquanto no
mercado dos Estados Unidos seis com-
panhias dominam 93% do mercado de
locação, no Brasil quatro operadores
detém 40%, enquanto os 60% restantes
estão divididos entre outras 1,9 mil
empresas. “Os que sobreviverem, en-
tretanto, terão a seu favor um mercado
com boa expectativa de crescimento,
sobretudo devido às perspectivas de
aquecimento do turismo e dos projetos
de infraestrutura no país, com a apro-
ximação da Copa do Mundo de 2014 e
das Olimpíadas.”
Mandes, da Localiza, demonstra
esse potencial, lembrando a relação di-
reta que o mercado de locação tem com
o crescimento do PIB. “De 2004 a 2008,
a Localiza registrou um crescimento
médio de 30,8% ao ano, enquanto nesse
período a média de aumento do PIB
foi de 4,4%. Se observar a elasticida-
de, nosso crescimento é de, em média,
sete vezes o do PIB”, diz, “o que nos faz
pensar em bons resultados para 2010,
já que se estima um crescimento entre
4,8% e 5% do Brasil.”
E como se preparar para essa ex-
pansão? Segundo Mendes, aumentan-
do o número de agências no mesmo
ritmo de antes de 2008, de 24% ao ano,
e a frota. “Hoje aquisições já não fazem
parte da nossa estratégia. Nossa dis-
tribuição já é maior que a do segundo,
terceiro e quarto operadores somados;
então, a possibilidade de que um con-
corrente esteja em algum lugar que não
estamos é remota”, diz.
O executivo também destaca a im-
portância das franquias Localiza em
oito países da América do Sul. “Mais do
que o lucro com royalties, essas opera-
ções nos garantem trânsito de reservas,
gerando negócios aqui a partir de ou-
tros países”, fi naliza.
FROTA DA LOCALIZA: DESVALORIZAÇÃO COM
O BENEFÍCIO FISCAL PARA O CARRO ZERO
Foto
DIV
ULG
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ÃO
não voltará ao que era antes, mas essa
medida foi suficiente para equilibrar
nossa operação”, diz, indicando que a Lo-
caliza espera um crescimento “próximo
de zero” para este ano.
Mesmo com números magros, ana-
listas ainda apontam a Localiza como
um bom modelo dentro do setor. No
começo do ano, mesmo depois de re-
gistrar perdas de R$ 29,8 milhões no
quarto trimestre de 2007, a empresa
contava com a recomendação quase
unânime do mercado, e suas ações es-
tiveram acima da média do iBovespa.
Renato Prado, analista do Banco Fator,
apontou no relatório sobre o balanço do
terceiro trimestre da Localiza que “con-
tinuamos acreditando na capacidade
da empresa de gerenciar a frota e o mix
de veículos para se benefi ciar de uma
38 AméricaEconomia Dezembro, 2009
Em busca de produtos mais competitivos, Gafor inaugura fábrica de autoadesivos no interior de São Paulo em parceria com empresa italiana
SOLANGE MONTEIRO, DE SÃO PAULO
Era 2008 e algo inquietava os exe-
cutivos da operação de distribuição e
logística do Grupo Gafor, com sede em
Jundiaí, interior de São Paulo. Os auto-
adesivos que eles revendiam do grupo
italiano Fedrigoni no Brasil e Argentina
tinham grande potencial de vendas,
mas pouca competitividade. “São produ-
tos de boa qualidade, mas prejudicados
pelos custos que implicam a zona do
euro e as tarifas de importação”, conta
Silvio Fagundes, acionista do grupo. “E
isso nos limitava a trabalhar com nichos
diferenciados, que demandam pouco
volume.” Representantes da Gafor então
viajaram para a Itália e expuseram seu
raciocínio lógico: se o mercado e a maté-
ria-prima estão no Brasil, com produção
mais barata, por que importar? E volta-
ram com uma sociedade para instalar a
primeira unidade fabril da italiana fora
da Europa, criando a Arconvert Brasil.
NEGÓCIOS JOINT VENTURE
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ÃO
MÁQUINA LAMINADORA: CAPACIDADE DE PRODUÇÃO DE 90 MILHÕES DE METROS QUADRADOS AO ANO
Dez meses, 28 contêineres e vários
intercâmbios de técnicos alemães, ita-
lianos e brasileiros depois, em novembro
a Gafor pôs em funcionamento a princi-
pal máquina da planta: uma laminado-
ra de fabricação alemã de 56 metros de
comprimento e 6 metros de altura, com
capacidade de produção de 90 milhões
de metros quadrados ao ano e com a
qual pretendem fabricar cinco produtos
diferentes, que vão do papel couché aos
VAPORA TODO
Dezembro, 2009 AméricaEconomia 39
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térmicos usados na identifi cação de ali-
mentos congelados, bem como adesivos
em PVC. Foram R$ 50 milhões de inves-
timento, com participação de 40% da
Gafor e 60% do Fedrigoni.
Os executivos não divulgam a ex-
pectativa de produção no primeiro ano
de operações, mas calculam um fatura-
mento de R$ 100 milhões em 2010 e já
fazem planos de montar outra máqui-
na igual em dois ou três anos e dobrar o
volume produzido. Mercado, garantem,
é o que não falta. “Ainda usamos muito
do tradicional rótulo de papel com co-
la”, diz Fagundes. “Para se ter uma ideia,
o consumo de autoadesivo no Brasil é
de 2,5 metros quadrados per capita; na
Europa, são 14 metros quadrados. Ou
seja, ainda demoraremos muito para
chegar ao patamar europeu.” Para Ser-
gio Tosolini, diretor geral da Artconvert
na Itália, essa substituição será cada
vez maior, já que “os rótulos autoadesi-
vos garantem maior valor agregado a
um produto”.
Roberto Restivo, diretor geral da
nova empresa, dá outro exemplo pa-
ra justificar seu otimismo. “O cresci-
mento no Brasil é de cerca de 12% ao
ano. Contando que o mercado de au-
toadesivos aqui é de 550 milhões, isso
representaria dois terços da produção
de uma máquina”, afirma. Quanto à
redução de custos, o executivo não dá
um número fechado, mas apresenta os
elementos do cálculo. “Só de imposto
de importação que deixamos de pagar,
são de 12% a 16%. Temos matéria-prima
mais barata, pois, dos insumos usados,
só importamos silicone. Além disso,
existe o custo intrínseco da logística e a
disponibilidade de tempo que o cliente
ROBERTO RESTIVO, ENTRE SÉRGIO MAGGI E O ITALIANO SÉRGIO TOSOLINI: PLANOS
PARA O MERCADO ARGENTINO E EXPANSÃO PARA O CHILE, A COLÔMBIA E O EQUADOR
12%é o crescimento
anual do mercado de autoadesivos no Brasil
precisava ter, pois nosso prazo com im-
portação não era menor que 45 dias.”
Os principais segmentos-alvo da
empresa no país são as gráficas que
atendem às indústrias cosmética, de ali-
mentos e farmacêutica. Na Argentina, o
foco é o setor vinícola – ponto positivo
para a empresa, já que essa indústria
não tem sofrido sinais de crise. Suas
exportações têm registrado aumento,
sobretudo para os EUA (de 35% em valor
e 36% em volume no primeiro semestre
de 2009), dando continuidade a uma
expansão que em 2008 posicionou o
país como o fornecedor mais dinâmico
da indústria vinícola mundial. “E, numa
segunda etapa, buscaremos outros mer-
cados sul-americanos, como Colômbia,
Chile e Equador. Como conhecemos bem
a logística da região, acredito que sabere-
mos como entrar nesses países de forma
competitiva”, diz Restivo.
40 AméricaEconomia Dezembro, 2009
MERCADOCom baixos custos e alta qualidade profi ssional, a América Latina abre caminho na indústria de ensaios clínicos
ANTONIO MARÍA DELGADO, DE MIAMI, E SOLANGE
MONTEIRO, DE SÃO PAULO FOTOS FABIANO ACCORSI
NEGÓCIOS SAÚDE
APROVADO
Para Tatiana Iafuso, o lançamento
comercial de um novo medicamento
pode ter o gostinho de vitória compar-
tilhada. Como coordenadora do Cen-
tro de Pesquisa Clínica do Hospital AC
Camargo, em São Paulo, ela acompa-
nha estudos clínicos encomendados
por várias companhias farmacêuticas
e não esconde sua alegria quando um
remédio chega às prateleiras. “Esse
processo nos permite conhecer novas
tecnologias e faz com que o médico
acompanhe a evolução de um medi-
camento e saiba como aplicá-lo”, diz.
Há oito anos trabalhando no Cen-
tro de Pesquisa, Tatiana afi rma que o
interesse de empresas internacionais
em centros de excelência brasileiros
para a execução de pesquisas clíni-
cas com medicamentos tem crescido.
“Hoje, entre estudos ativos e acompa-
nhamentos, são cerca de 30 só aqui no
AC Camargo”, afi rma.
Especialistas indicam que esse po-
der de atração do Brasil tem se replica-
do em outros países da América Latina,
sobretudo no México e na Argentina. O TATIANA: PESQUISAS AJUDAM A
CONHECER NOVAS TECNOLOGIAS
Dezembro, 2009 AméricaEconomia 41
DIFERENTEMENTE DOS EUA, PACIENTES LATINO-AMERICANOS QUE SE SUBMETEM A UMA
PESQUISA CLÍNICA TÊM RELAÇÃO MAIS ESTREITA COM O MÉDICO RESPONSÁVEL PELO ESTUDO
Jose Luis Viramontes, que lidera
as operações de desenvolvimento de
remédios no México, América Central
e Caribe para a CRO Internacional PPD
Inc., afirma que o potencial de cres-
cimento dos centros médicos que se
dedicam a realizar esse tipo de experi-
ência na região é enorme. “Mais de 80%
da população vive em áreas altamente
urbanizadas”, afi rma Viramontes, res-
saltando que a densidade de ensaios
na região é extremamente baixa: 6,2
centros por milhão de pessoas, em com-
paração com os 29 do Reino Unido e os
120 dos EUA.
Marlene Llópiz, diretora regional
para América Latina da CRO Venn Life
Sciences Clinical, afi rma que a realiza-
ção de um ensaio clínico varia de país
para país, mas que, em geral, custa en-
tre 28% e 32% menos que conduzi-lo nos
Estados Unidos. Contudo, a pesquisado-
ra é rápida em ressaltar que esse menor
preço não quer dizer que a qualidade
do serviço seja menor. “A qualidade do
profi ssional é equivalente à obtida nos
Estados Unidos.” E, o melhor, “com uma
relação de confi ança entre o médico e o
paciente que quase não se vê nos EUA e
que garante a retenção e melhor resul-
tado fi nal”.
que concordam porque acreditam que
o tratamento experimental poderá aju-
dá-las em uma doença são informadas
de que não há garantias.
A legislação brasileira não permite
pagar a um paciente que aceite partici-
par de uma pesquisa clínica. “Mesmo
porque temos de garantir uma bolsa que
cubra o tratamento inteiro, ou seja, não
podemos derivar um paciente submeti-
do a um estudo clínico para fazer qual-
quer atendimento através do SUS (Siste-
ma Único de Saúde) ou de seu plano de
saúde”, explica Ta-
tiana. E mesmo com
a demora maior que
a média para a apro-
vação de um plano
de pesquisa clínica
contratado por uma
empresa estrangei-
ra, a demanda não
estanca. “No Brasil,
a média é de nove
meses, enquanto na
Argentina esse tempo é de três meses
e nos EUA, de 45 dias”, diz Tatiana. “O
Brasil costuma ser o último a entrar, mas
sempre cumpre o target, pois tem pacien-
tes dispostos a se submeter à pesquisa e
centros de excelência dedicados a isso.”
motivo? Segundo Silvia Zieher, diretora
de Operações Clínicas na América Lati-
na da MDS Pharma Services, os Estados
Unidos estão se tornando um terreno
pouco fértil para as pesquisas clínicas.
As dificuldades em conseguir e reter
pacientes, os crescentes custos para a
realização dos estudos e o aumento dos
trâmites burocráticos estão levando as
empresas farmacêuticas a buscarem
alternativas fora do país. “Além disso,
em países como os EUA, os pacientes
costumam ser recrutados de forma im-
pessoal. Na América Latina, as pessoas
que participam dos ensaios são conduzi-
das pela mão por seus próprios médicos
de confi ança”, diz Silvia.
Devido a esse cenário, executivos
de CROs (Contract Research Organiza-
tions) que operam na região estimam
que a América Latina tem potencial
para duplicar, em questão de três ou
quatro anos, os 4,5 mil ensaios clínicos
que vinha realizando ao fi nal de 2008,
segundo números do Instituto Nacio-
nal de Saúde dos Estados Unidos. Esses
ensaios, que poderiam signifi car recei-
tas de mais de US$ 1 milhão, são reali-
zados sobretudo em fases avançadas.
TENDÊNCIA RECENTE“Esse interesse é uma tendência re-
cente, que começou a crescer há mais
ou menos cinco anos”, afirma Pablo
Hammerschmidt, diretor regional de
Operações Clínicas
para América Lati-
na da ICON Clinical
Research. Segundo
Hammerschmidt,
que trabalha em
Buenos A ires, a
ICON vinha regis-
trando entre 35%
e 50% de aumento
anual na demanda
por pesquisas clí-
nicas na região, sendo 2009 a única
exceção – com redução desse ritmo de
crescimento para 10%.
Segundo os especialistas, as mo-
tivações das pessoas que participam
dessas experiências são variadas. E as
4,5mil pesquisas
clínicas foram feitas na América Latina
em 2008
America do Norte Intra-Latam Europa Ásia África Oriente Médio CEI (Comunidade dos Estados Independentes)
O padrão das mudanças dos mercados de exportação da Latam.Fonte: Estatística Comercial Internacional da OMC 2008
2000
2003
2007
Os padrões de comércio globais mudaram de modo signifi cativo nos últimos anos. Uma das mudanças mais notáveis foi o crescimento do comércio entre a América Latina e a Ásia que superou o crescimento comercial entre todas as outras regiões do mundo. Este novo corredor comercial entre a América Latina e Ásia é o resultado natural da vantagem comparativa. A América Latina tem abundância de vários materiais brutos – tais como produtos agrícolas, de energia e de mineração – que atendem as fortes demandas emergentes da Ásia, enquanto que a Ásia emergente é um produtor de baixo custo de produtos manufaturados como eletrônicos, têxteis e de vestimentas, para os quais a América Latina é um mercado estável e crescente.
Este novo corredor comercial se desenvolveu ao passo quea China está entre os cinco maiores destinos de exportação para quase todos os maiores países da América Latina, e a China é uma das cinco maiores fontes de importação em todos os maiores países da América Latina. Em 2008, a China importou um total de US$38,4 bilhões da Argentina, Brasil, Chile e Peru, de acordo com nossos cálculos. Como uma das 5 maiores fontes de importação para a Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, México e Peru em 2008, a China exportou US$72,9 bilhões para esses países.
O Novo Corredor Comercial América Latina-Ásia
De fato, os dados comerciais mensais mais recentes do Brasil mostraram que a China é o maior cliente do Brasil, ultrapassando os Estados Unidos, que cairam para a posição número 2. Durante todo o ano de 2008, o Brasil exportou US$20 bilhões de bens para a China e importou US$16,4 bilhões de acordo com os dados da Comtrade das Nações Unidas. Enquanto os números comerciais com a China são impressionantes em qualquer defi nição, é importante notar que não é somente a China. A Coréia do Sul e o Japão também são parceiros comerciais importantes da maioria dos países da América Latina. Isto também é um desenvolvimento relativamente recente e o padrão de mercadorias comercializadas é similar àquelas comercializadas com a China. Um segundo desenvolvimento relacionado é a mutante composição dos destinos de exportação da América Latina nos últimos anos. Ocorreu uma mudança clara da América do Norte (Estados Unidos e Canadá) para a Ásia e outras economias emergentes. As Estatísticas Comerciais Internacionais da OMC para 2008 – os últimos números defi nidos consistentemente entre os países – mostram a natureza da mudança dos padrões de exportação da América Latina. A América do Norte permanece o mercado de exportação predominante em 2007, com
uma porcentagem de 30% das exportações. Contudo, esta porcentagem caiu quase 39% do total em 2000.
O declínio da porcentagem da América do Norte é o refl exo do aumento da porcentagem das exportações da América Latina destinadas a outros mercados emergentes. As exportações para a Ásia em uma porcentagem total de exportações aumentou consideravelmente de 9,7% em 2000 para 16% em 2007. As exportações para a China em particular cresceram numa margem anual média de mais de 20% entre 2000 e 2007. A composição das exportações da América Latina também mudou para outras regiões emergentes como a África, o Oriente Médio e a CEI mas com peso um pouco menor do que no caso da Ásia. A presença da América Latina como um participante signifi cativo no mercado global é relativamente nova. Enquanto que o mercado fi nanceiro dos preços das commodities é um fator presente, a maioria das economias na região se tornou mais abertas ao comércio nos últimos anos. Isto é o resultado de muitas coisas, incluindo as taxas de câmbio que estão mais fl exíveis. A mudança para uma base de comércio mais diversifi cada para a Ásia também reduz a confi ança em um número limitado de mercados de exportação,
e signifi ca que as economias estão mais fl exíveis à redução econômica dos países principais.
Um outro testemunho da importância do crescimento do comércio entre a América Latina e a Ásia é o número crescente de acordos comerciais entre as duas regiões. O Chile é sem dúvida o líder na América Latina, assinando acordos com a Malásia, Japão, China, Cingapura, Coréia e Índia. O Peru assinou um acordo comercial com a Cingapura em maio de 2008 e com a China em abril de 2009. Existe também um acordo comercial entre a união alfandegária do Mercosul (Brasil, Argentina e Uruguai) com a Índia.
Este aumento de demanda pelos serviços especializados do Standard Chartered para mercados de materiais brutos e commodities na América Latina combinam com a demanda da América Latina por produtos manufaturados da Ásia. Esperamos que essa ligação comercial continue a crescer e a posicionar o nosso negócio de modo apropriado para ajudar nossos clientes. Em particular, o Standard Chartered está levando seu conhecimento de comércio global, mercados locais e de pesquisa para os mercados emergentes a fi m de facilitar esses fl uxos de mercado e de servir os clientes corporativos e institucionais na América Latina e no resto da rede de conexões do Standard Chartered.
Douglas Smith é atualmente o Douglas Smith é atualmente o Regional Head of Research do Regional Head of Research do Standard Chartered para as Standard Chartered para as Américas, em Nova York. Com Américas, em Nova York. Com sede em Londres, o Standard sede em Londres, o Standard Chartered PLC está na Bolsa de Chartered PLC está na Bolsa de Valores de Londres e de Hong Valores de Londres e de Hong Kong e entre as 25 empresas Kong e entre as 25 empresas mais importantes de acordo mais importantes de acordo com o FTSE-100, na área de com o FTSE-100, na área de capitalização de mercados. capitalização de mercados. O banco possui um histórico O banco possui um histórico de mais de 150 anos na área de mais de 150 anos na área bancária, e tem uma rede de bancária, e tem uma rede de negócios mundial com mais de negócios mundial com mais de 1.700 fi liais em 70 países, na 1.700 fi liais em 70 países, na região Ásia Pacífi co, Sul da Ásia, região Ásia Pacífi co, Sul da Ásia, Oriente Médio, África, Reino Oriente Médio, África, Reino Unido e Américas. Unido e Américas.
Doug trabalha no banco desde Doug trabalha no banco desde 2002 e é especialista na América 2002 e é especialista na América Latina bem como representa a Latina bem como representa a equipe de Pesquisa Global para equipe de Pesquisa Global para as Américas. Antes de fazer as Américas. Antes de fazer parte do quadro de funcionários parte do quadro de funcionários do Standard Chartered, trabalhou do Standard Chartered, trabalhou por dois anos na IDEAglobal por dois anos na IDEAglobal em Nova York, onde construiu e em Nova York, onde construiu e gerenciou a equipe de Estratégia gerenciou a equipe de Estratégia para a América Latina, incluindo para a América Latina, incluindo estrategistas de renda fi xa, estrategistas de renda fi xa, estrategistas monetários e estrategistas monetários e
Douglas SmithRegional Head of Research, the Americas
economistas. De 1998 a 2000, Doug economistas. De 1998 a 2000, Doug trabalhou no US Treasury (Tesouro trabalhou no US Treasury (Tesouro Nacional dos Estados Unidos) como Nacional dos Estados Unidos) como economista internacional sênior para economista internacional sênior para a América Latina. Foi conselheiro a América Latina. Foi conselheiro do Secretário do Tesouro Bob Rubin do Secretário do Tesouro Bob Rubin e em seguida de Larry Summers e em seguida de Larry Summers durante a crise fi nanceira no Brasil, na durante a crise fi nanceira no Brasil, na propagação do mercado fi nanceiro e propagação do mercado fi nanceiro e da resposta do FMI. da resposta do FMI.
Doug é PhD em Economia Doug é PhD em Economia pela Columbia University e fez pela Columbia University e fez especializações em macroeconomia especializações em macroeconomia e econometria internacional. Participa e econometria internacional. Participa ativamente em atividades do ativamente em atividades do Conselho de Relações Exteriores, Conselho de Relações Exteriores, do Conselho das Américas e da do Conselho das Américas e da Sociedade Asiática, onde discursou Sociedade Asiática, onde discursou em painéis especializados sobre em painéis especializados sobre economia. Tem publicações economia. Tem publicações no Journal of Development no Journal of Development Economics (Jornal de Economia de Economics (Jornal de Economia de Desenvolvimento), é mundialmente Desenvolvimento), é mundialmente conhecido como um especialista conhecido como um especialista nos mercados fi nanceiros do Brasil nos mercados fi nanceiros do Brasil e já foi comentarista em programas e já foi comentarista em programas como Lou Dobbs, CNN, Bloomberg e como Lou Dobbs, CNN, Bloomberg e CNBC. CNBC.
44 AméricaEconomia Dezembro, 2009
EDUARDO THOMSON, DE SANTIAGO. COLABOROU GRAZIELE DAL-BÓ, DE SÃO PAULO
ESPECIAL MERCADO DE CARBONO
TRILHAVERDEEmpresas impulsionam cada vez mais o mercado voluntário de bônus de carbono na expectativa de uma boa notícia vinda de Copenhague
A companhia chilena Agrosuper é
uma gigante da área de alimentação.
Processa mensalmente 60 mil de tone-
ladas de frangos e suínos. Para conter
o mau cheiro e a emanação de gás me-
tano derivados do chorume produzido
na criação de porcos, a Agrosuper de-
senvolveu um sistema de biodigesto-
res e plantas de tratamento de lamas
ativadas que reduz em 80% a emissão
de gases do efeito estufa (GEE).
O sistema permitiu à empresa
emitir créditos de carbono (conheci-
dos como RCE, ou Certified Emission
Reductions), cuja unidade representa 1
tonelada equivalente de dióxido de car-
bono (CO2), comprados por companhias
que buscam compensar suas próprias
emissões, e tornou a Agrosuper uma re-
ferência pela inovação de seu modelo.
Apesar desse sucesso, Carlos An-
drés Vives, subgerente de Assuntos
Corporativos da empresa, admite que a
expansão dos projetos ambientais está
em banho-maria. “Temos planos para
o norte do Chile, onde pretendemos
aumentar a produção de suínos, mas
estamos esperando para ver como será
a recuperação da crise e o resultado da
Cúpula de Copenhague.”
A posição da Agrosuper refl ete a de
muitas empresas envolvidas em inicia-
tivas de redução dos gases causadores
do efeito estufa, que aguardam com ex-
pectativa a cúpula mundial do clima,
que acontecerá de 7 a 18 de dezembro,
na capital da Dinamarca. A esperança
dos empresários é de que se possa al-
cançar um acordo ao estilo “Kyoto-2”,
ou pelo menos a base para um novo
modelo global nos próximos anos.
Isso porque, apesar de ter conse-
guido constituir um mercado de bônus
de carbono, está claro que o setor pro-
dutivo que investe necessita de uma
referencia jurídica clara. “Se forem de-
terminadas metas em escala global,
veremos as empresas investindo em
inovação tecnológica, como já aconte-
ceu no caso do Protocolo de Montreal,
em vigor desde 1989 e que estimulou o
setor privado a reconverter os sistemas
de refrigeração, reduzindo a emissão
de gases que destroem a camada de
ozônio”, afirma Jacques Marcovitch,
ex-reitor da USP e especialista no tema
(veja entrevista à pág. 52). “Infelizmen-
te, o empresariado, que é o motor des-
sa transformação, acaba participando
do debate apenas como ouvinte”, diz
Marina Grossi, diretora do Conselho
Empresarial Brasileiro para o Desenvol-
vimento Sustentável (CEBDS).
Esse compasso de espera, entre-
tanto, está longe de signifi car paralisia.
Cada vez mais as empresas se dedicam
Ilust
raçã
o IS
TOC
KPH
OTO
Dezembro, 2009 AméricaEconomia 45
a fazer o inventário das emissões de
dióxido de carbono de suas operações e
a buscar formas de mitigá-las.
O mercado voluntário de carbono
– aquele que não se rege pelas regras do
Mecanismo de Desenvolvimento Lim-
po (MDL), isto é, as bases estabelecidas
no Protocolo de Kyoto – assinado em
1997 e em vigor desde fevereiro de 2005
–, mas no qual as empresas podem
participar voluntariamente, neutrali-
zando suas emissões de gases do efeito
estufa, está crescendo em número e
volume de transações. Por exemplo, o
número de empresas participantes no
projeto conhecido como Carbon Disclo-
sure Project (Relatório de Informações
sobre Carbono, CDP na sigla em inglês)
duplicou de 2008 para 2009, passando
de 1,4 mil para mais de 3 mil.
Na somatória de iniciativas, o Brasil
está na dianteira: é o terceiro país do
mundo em número de projetos de não
emissão de carbono em aprovação pela
ONU (Organização das Nações Unidas),
atrás de China e Índia. Dos 1.836 que
estão na mesa do Conselho Consultivo
do sistema MDL, 164 têm origem bra-
sileira. “Levando em conta que temos
uma matriz energética muito limpa,
o terceiro lugar é muito bom”, afi rma
Marina, do CEBDS.
Algumas empresas já perceberam
que o mercado de carbono é de vital im-
portância, seja para ganhar dinheiro,
para não perder mercados, ou mesmo
como um recurso de imagem pública.
E se sua empresa ainda acha que isso
é apenas uma “moda”, é provável que
dentro de poucos anos ela seja obrigada
pelo governo a adotá-la, pois, mais cedo
ou mais tarde, todos os países do mun-
do (inclusive a América Latina) terão de
ter suas metas de redução de emissões.
A pergunta é quando e quanto.
NEBULOSIDADE PARCIALO mercado de carbono não é fácil de
compreender à primeira vista. O Pro-
tocolo de Kyoto lançou os alicerces so-
bre os quais países mais poluidores
se comprometeram a reduzir em 5,2%
suas emissões de gases de efeito estufa
até 2012 (usando 1990 como ano-base),
com o objetivo de frear o processo de
aquecimento global.
Para isso, implantou-se um siste-
ma de transações cap-and-trade, que
estabelece metas de redução para os
países, e um sistema para empresas e
fundos dos países desenvolvidos com-
prarem créditos de carbono registrados
no MDL. Esses títulos são emitidos para
projetos de energia renovável, captura
de gás ou reconversão de instalações de
combustíveis mais limpos, como forma
de o mundo desenvolvido fi nanciar a
passagem dos países em desenvolvi-
mento para novas formas de energia.
A União Europeia quis assumir a
liderança na questão das mudanças cli-
máticas. Além do MDL, em 2005 pôs em
funcionamento o sistema EU ETS (Euro-
pean Union Emission Trading Scheme)
que é, atualmente, o principal mercado
para os créditos de carbono no mundo,
SUZANO PAPEL E CELULOSE Uma das maiores produtoras in-
tegradas de celulose e papel da América Latina, há seis anos mede seus
inventários de emissões de GEE (Gases do Efeito Estufa). Entre 2006 e
2007, vendeu créditos de carbono por 15 mil toneladas equivalentes
de CO2 na Chicago Climate Exchange. Diariamente, a empresa planta
220 mil mudas de eucalipto. Sua área fl orestal absorve 3,8 vezes mais
toneladas de carbono do que a empresa emite na produção, de acor-
do com o Inventário de Emissões de 2007. Em 2008, a empresa emitiu
792 mil toneladas de carbono, e as fl orestas plantadas de eucalipto
poderão “sequestrar” mais de 3,3 milhões de toneladas de carbono.
PLANTAS DE TRATAMENTO DA AGROSUPER: MODELO RECONHECIDO PELA INOVAÇÃO
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ÃO
46 AméricaEconomia Dezembro, 2009
ESPECIAL MERCADO DE CARBONO
com 4,5 mil empresas e 12,5 mil fontes
de emissão obrigadas a cumprir as me-
tas de redução. “Este mercado concen-
tra aproximadamente 70% do volume
de transações de créditos de carbono,
enquanto Kyoto representa 25%”, diz o
especialista Arturo Brandt, senior Pro-
ject Manager da GEQ Chile. Em termos
de volume negociado em 2008, o ETS
movimentou cerca de US$ 94,9 bilhões,
enquanto Kyoto representou aproxima-
damente US$ 21,7 bilhões.
Para descobrir onde estão os 5%
restantes, é preciso lembrar que o maior
emissor de gases do efeito estufa do
mundo, os Estados Unidos, na época
com George Bush na presidência, nunca
ratifi caram Kyoto, deixando de fora o
funcionamento do MDL.
Isso explica por que, de certa forma,
um dos mais importantes atores no
surgimento de um mercado voluntário
para compensar
as emissões te-
nham sido os pró-
prios EUA.
De fato, um
dos pr i nc ipa is
mercados para a
transação de cré-
ditos de carbono é
o Chicago Climate
Exchange, no qual
muitas empresas latino-americanas,
tais como as brasileiras Suzano e Ara-
cruz, do setor de papel e celulose, têm
negociado créditos.
De acordo com um estudo realizado
pela consultoria New Carbon Finance
sobre o volume do mercado voluntário,
o montante total de transações em 2008
foi de apenas US$ 705 milhões, apesar
de um aumento de quase 110% em re-
lação aos US$ 335 milhões registrados
em 2007. Cerca de 50% desse
valor correspondia a opera-
ções no mercado de Chicago
e a outra metade estava re-
lacionada a operações over-
the-counter, isto é, fora dos
mercados estabelecidos.
Um montante ínfimo
se comparado a outros mer-
cados de carbono, mas que
representa uma
grande oportu-
nidade. A parti-
cipação da Amé-
rica Latina ainda
é tímida – em
2008, apenas 4%
das transações
se or iginaram
na região –, mas
crescente.
Entre os exemplos de quem aposta
no mercado voluntário está Stefano
Merlin, diretor da consultoria ambien-
tal brasileira SocialCarbon, uma joint
venture entre a europeia CantorCO2e
e o Instituto Ecológico do Brasil. Ele ex-
plica que o mercado voluntário, embora
muito menor do que o de MDL ou de
ETS, oferece muito mais oportunidades
em termos de velocidade de execução.
“Em média, o processo de um projeto
que pretende emitir VERs (Voluntary
Emission Reductions) pode levar cerca
de oito meses, enquanto o de MDL pode
demorar vários anos”, diz. Para que um
projeto de energia renovável seja apro-
vado pelo MDL, tem de receber o aval
de uma autoridade nacional creditada
pelas Nações Unidas e pelo painel da
organização. Isso pode levar dois ou três
anos, encarecendo o processo.
A Agrosuper já
sentiu na pele os efei-
tos desses atrasos.
“Ainda estamos no
processo de avalia-
ção de projetos que
estão prontos para
emitir CERs (Redução
de Emissões Certifi ca-
das) daqui a dois ou
três anos”, diz Carlos
Andres Vives. “Mas o
gargalo diante da co-
missão que aprova o
MDL é enorme.” Emitir
instrumentos no mer-
cado voluntário seria
a solução? “Esse mer-
cado ainda tem muito
o que amadurecer e
melhorar”, responde.
ODONTOPREV A empresa brasi-
leira de serviços odontológicos come-
çou a medir suas emissões em 2007.
Naquele ano, o resultado foi de 237,9
toneladas equivalentes de CO2. Em
2008, por meio da conscientização de
seus funcionários e executivos, elas ca-
íram para 217,8 toneladas. O projeto de
neutralização de carbono teve início
com o plantio de 1.262 árvores e con-
tou com um investimento de R$ 45 mil.
Segundo a operadora odontológica, a
importância do uso consciente da água
e da ação de plantar é disseminada aos
colaboradores e cirurgiões dentistas de
sua rede credenciada.
110%foi o aumento
do montante de transações no
mercado voluntário
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O
O consenso é que este é um mer-
cado recém-nascido. “Os projetos de
redução de carbono para o mercado
voluntário na América Latina ainda
são escassos, mas, à medida que haja
mais consciência na empresas e nos
governos sobre a necessidade de se fa-
zer uma transição para uma econo-
mia com baixa emissão de carbono, o
mercado voluntário vai se tornar mais
importante, por conta das travas que o
MDL pode apresentar”, comenta o ad-
vogado Marcelo Slonimsky, da empresa
Baker Mackenzie, em Buenos Aires.
O colombiano Marco Monroy, pre-
sidente da consultoria ambiental MGM
Innova, concorda: “Ainda estamos no
início da conscientização das empresas.
Além disso, a crise fez com que esse fos-
se um tema secundário, mas cada vez
veremos mais interesse na necessidade
de reduzir ou compensar as emissões
no mercado voluntário”, comenta.
Uma atração do mercado volun-
tário over-the-counter (OTC) é uma di-
ferença entre os compradores com o
MDL e os ETS, ou mesmo com a bolsa
de Chicago. Um comprador do mercado
de complacência está atrás do carbono,
aquele que o permita cumprir as metas
que as autoridades lhe fi xam.
Em contrapartida, no mercado vo-
luntário OTC, os compradores estão
mais interessados nas características
Dezembro, 2009 AméricaEconomia 47
COMPRAR A CAUSAHá pessoas que estão trabalhando pa-
ra que esse amadurecimento ocorra.
Recentemente, a Fundación Chile, uma
entidade público-privada, e a empresa
chilena de serviços fi nanceiros Celfi n
anunciaram a criação de uma bolsa de
carbonos no Chile. Prevista para entrar
em operação em 2010, sua intenção é
oferecer uma plataforma estável, com
sistemas de medição e validação pro-
vados para empresas que querem com-
prar créditos de carbono no mercado
voluntário e, se possível, também atrair
players de outros países da região. “Le-
vando-se em conta apenas as empresas
chilenas, estimamos um volume de ne-
gócios anual de cerca de US$ 4 bilhões
em 2040”, explica Aldo Cerda, diretor de
Meio Ambiente da Fundación Chile. “Se
conseguirmos atrair empresas de fora
do país, o potencial será ilimitado.”
A pioneira nesse tipo de iniciativa
foi a BM&FBovespa, de São Paulo, que
criou um sistema eletrônico de registro
de projetos de desenvolvimento lim-
po cujo primeiro leilão aconteceu em
setembro de 2007, com a negociação
de créditos correspondentes a 808.450
RCEs gerados pelo aterro sanitário Ban-
deirantes, da Prefeitura de São Paulo.
O exemplo da brasileira, entretanto,
indica que o desenvolvimento de ações
como essa nem sempre corre na mes-
ma velocidade que as expectativas do
mercado. Hoje, o Banco de Projetos da
BM&FBovespa conta apenas com qua-
tro projetos cadastrados. A iniciativa da
instituição brasileira é ampla e permite
o registro de intenções de compra de
investidores que estão selecionando
projetos nos quais investir.
FEMSA As medidas da me-
xicana incluem a geração pró-
pria de eletricidade e vapor na
divisão Cervejaria Cuauhtémoc
Moctezuma, o que reduziu em
10% a emissão de GEE no ano de
2007. Já a divisão de bebidas Co-
ca-Cola Femsa conseguiu man-
ter estáveis suas emissões de
GEE de 2004 a 2007, apesar de
ter aumentato a produção em
11%. Em 2008, investiu US$ 22,8
milhões em novos projetos de
efi ciência energética.
CINEMARK A cadeia de
salas de cinema mexicana co-
meçou em 2008 um programa
de efi ciência energética que
inclui a troca do sistema de
ar-condicionado, dos letreiros
de iluminação neon por LEDs
e uso efi ciente da água. Suas
emissões de GEE caíram de
16.280 toneladas equivalentes
de CO2 em 2007 para 14.839
no ano passado.
48 AméricaEconomia Dezembro, 2009
ESPECIAL MERCADO DE CARBONO
sociais ou ambientais do projeto que
estão fi nanciando. Querem saber, por
exemplo, se o projeto, além de reduzir
emissões de carbono, permite melhorar
o nível de vida da comunidade local.
Consequentemente, isso pode se refl etir
no preço que o comprador está disposto
a pagar, explica Merlin, da SocialCar-
bon. Realmente, a SocialCarbon tem
desenvolvido sua própria metodologia
de avaliação dos projetos que incorpo-
ram um aspecto social, além da mera
a emissão de CO2. Entre seus clientes
estão Natura, Petrobras, Greenpeace e
Banco Mundial.
Por exemplo, o preço do crédito de
carbono “Kyoto” é perto de 20 euros. Na
bolsa de Chicago, ele pode ser inferior
MIRANDA Y AMADO A empresa de advogados perua-
na mediu seus vestígios de carbo-
no de 2007 e 2008. De 330,9 tone-
ladas de CO2 em 2007, subiu para
370,9 em 2008, mas explica que
isso se deveu a um aumento de
pessoal de 50%. Neutralizou seus
vestígios de carbono correspon-
dentes a 2008 comprando cré-
ditos de uma pequena central hi-
drelétrica do Brasil.
MASISA É a pioneira en-
tre as empresas chilenas na
Chicago Climate Exchange
e cumpriu com folga a meta
de reduzir suas emissões de
GEE em 6% para 2010. Além
disso, investiu na instalação
de fontes de energia à base
de biomassa em vez de
combustíveis fósseis. Possui
créditos de carbono certi-
fi cados que até agora não
foram vendidos.
a US$ 0,15 – isto porque, de acordo com
Aldo Cerda, da FundaciónChile, a meto-
dologia que esta bolsa tem usado para
aceitar projetos tem sido amplamente
criticada por não ser “adicional”, ou
seja, são créditos emitidos relacionados
a projetos que foram desenvolvidos
de qualquer maneira, inclusive sem
uma emissão de VERs e, portanto, não
são valorizados pelos potenciais com-
pradores. Em vez disso, de acordo com
um estudo da New Carbon Finance
e Ecosystem Marketplace, o preço do
VER no mercado OTC, em 2008, variou
entre US$ 1,20 e US$ 46,90 por tonelada
equivalente de CO2. Com essa variação,
não se pode dizer que estamos frente a
uma commodity.
Para os especialistas do setor, além
da melhora da imagem e da responsa-
bilidade social corporativa, há outros
benefícios em investir no mercado de
carbono. Seja para uma empresa que
mensura seu inventário ou que este-
ja considerando emitir VERs, ambos
os processos levam a melhorias na
eficiência energética e na vantagem
competitiva, explica o hondurenho
Jorge Barrigh, diretor para América
Latina da administradora de fundos
de investimento NatSource. “As em-
presas têm em suas mãos um ativo
ambiental que não tinham há apenas
cinco anos”, explica. “É um ativo po-
deroso e que, adicionalmente, pode
impulsionar uma melhora nos fl uxos
de caixa dos projetos, atrair novas tec-
nologias e incentivar o crescimento de
áreas de conhecimento novas.” Barrigh
acrescenta que, segundo um estudo
do Banco Mundial, um dólar investido
em fi nanças de carbono alavanca mais
US$ 3,80 de investimento. E quem quer
melhor motivo que esse para trabalhar
em prol da sustentabilidade?
4%é a participação da América Latina no
mercado voluntário
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Dezembro, 2009 AméricaEconomia 49
CONTA IMPRECISAA brasileira Heloísa Schneider, especialista em agronegócios da Cepal, fez uma
experiência pessoal. Entrou em várias calculadoras de carbono na Internet, si-
tes que calculam as emissões de dióxido de carbono, desde as tarefas rotineiras
até as de um evento corporativo. Essas calculadoras oferecem a possibilidade de
comprar offsets, créditos de carbono no mercado voluntário, cujo dinheiro vai
para o desenvolvimento de projetos ambientais.
“Usei várias calculadoras para um mesmo assunto: uma suposta viagem de ne-
gócios”, comenta, “mas a diferença de informações solicitadas era abismal. Em
uma calculadora, simplesmente me perguntaram a origem e o destino do voo,
enquanto em outras me pediam o número do voo, o modelo do avião e que
combustível usa, em que classe eu iria viajar, quantas malas eu iria levar. O resulta-
do foram cifras de emissões de carbono completamente diferentes!” E eram sites
que cobravam pelo serviço.
Ninguém está dizendo que o mercado voluntário é perfeito. Mas tem potencial
de melhorar e institucionalizar-se. Primeiro, é preciso padronizar metodologias
de emissão e verifi cação, tanto do inventário de emissão de gases das empresas
quanto das medições dos projetos que desejam emitir créditos de carbono.
QUESTÃO DE QUERER Gary Hufbauer, economista do Peterson Institute for International Economics,
um think tank em Washington D.C., estudou o mercado de carbono e seu efeito
no comércio internacional. “Não tenho dúvidas de que os mercados de carbono
crescerão em todo o mundo, não importa o que aconteça em Copenhague”,
comenta ele, que acredita que a decolagem defi nitiva não virá até que haja me-
lhor padronização das metodologias de medição. “Um recente estudo da Orga-
nização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) contabilizou
mais de 20 metodologias de medição de inventários de carbono, com resultados
completamente diferentes.”
Aqueles que apostam que o próprio mercado pode corrigir esse tipo de erro
apontam o fato de que, em 2008, uma das normas mais usadas para calcular emis-
sões de VERs, o Voluntary Carbon Standard (VCS), detinha 48% do mercado. “Em
2009, a participação do mercado de VCS superou os 96%”, explica Merlin, da So-
cialCarbon, de São Paulo. Com relação à medição de inventários de carbono, ele
afi rma que a metodologia mais imponente é a do Green House Gas Protocol, ou
GHG Protocol. Outro também utilizado é o PAS 2050, desenvolvido pelo governo
do Reino Unido e pela organização público-privada CarbonTrust. Pode ser que
não sejam as melhores formas, mas são as que a maioria está começando a usar.
Não basta estar atento para que as medições estejam bem-feitas. Um estudo
do Financial Times, de 2007, revelou que foram gastos milhões em projetos que
têm, no fi nal das contas, pouco ou nenhum benefício ambiental. Em alguns ca-
sos, paga-se por emissões que não se concretizam. O Financial Times mencio-
na que o banco HSBC, por exemplo, que neutralizou suas emissões de carbono
em 2005, preferiu evitar o mercado e fi nanciar diretamente o desenvolvimento
de um projeto.
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50 AméricaEconomia Dezembro, 2009
VERÓNICA GOYZUETA, DE SÃO PAULO
FOTOS: FABIANO ACCORSI
ESPECIAL ENTREVISTA
AméricaEconomia A decisão da Chi-na e dos EUA de adiar um acordo para 2010 tornou a reunião de Copenha-gue um fracasso antecipado? Jacques Marcovitch De um lado, te-
mos o G-20 e, do outro, uma tentativa
dos EUA e da China de se constituírem
no foco de deliberação da agenda mun-
dial. É lastimável que não tenhamos a
possibilidade de chegar a um acordo
quantitativo agora, mas, se isso implica
em um avanço mais ousado do lado
norte-americano, sairemos ganhando.
Outro aspecto que os países emergen-
tes devem analisar é se essa legisla-
ção não geraria um intervencionismo
O ex-reitor da Universidade de São
Paulo Jacques Marcovitch já pensava
sobre o pós-Kyoto antes mesmo de o
Protocolo entrar em vigor, em 2005.
Doutor em Administração pela FEA
(Faculdade de Economia, Administra-
ção e Contabilidade da Universidade
de São Paulo), Senior Adviser do World
Economic Fórum para a América Latina
e autor de Para Mudar o Futuro – Mu-
danças Climáticas, Políticas Públicas
e Estratégias Empresariais, ele defen-
de maior protagonismo do Brasil no
debate ambiental e sobre o clima e
afirma que é impossível pensar em
um projeto de redução de emissões
de carbono que não esteja atrelado à
evolução tecnológica.
AMBIENTAL
BRASILNA OFENSIVA
Dezembro, 2009 AméricaEconomia 51
cretos que podem inspirar outros países,
especialmente os emergentes.
AE Questiona-se a construção de termoelétricas. Isso desvia o Brasil da geração de energias limpas?Marcovitch O projeto de desenvolvi-
mento brasileiro demandará uma ex-
pansão da oferta, mas ainda subestima
a capacidade de elevar a efi ciência ener-
gética. Qualquer projeto a longo prazo,
entretanto, tem a ver com evolução tec-
nológica. Acredito que, à medida que as
metas forem determinadas, evoluiremos
rapidamente em direção a tecnologias
novas e limpas, porque o setor produtivo
precisa de uma referência jurídica clara.
Se o Brasil assumir esses resultados (de
36,1% a 38,9% de redução nas emissões) e
se forem determinadas metas em escala
global, deveremos ver o setor produtivo
investindo pesadamente em inovação
tecnológica, como já aconteceu no caso
do protocolo de Montreal, que estimulou
o setor privado a reconverter os sistemas
de refrigeração, reduzindo a emissão de
gases que destroem a camada de ozônio.
AE Uma hora o governo quer que o Brasil seja líder em energias limpas, e na outra, uma potência petrolífera. Não é um discurso esquizofrênico?Marcovitch A Noruega é uma socieda-
de bem consciente deste duplo objetivo:
preocupação ambiental e prospecção de
energias fósseis. A resposta está no uso
dos recursos financeiros decorrentes
do comércio de petróleo para fi nanciar
inovações orientadas ao sequestro de
carbono ou sua reinjeção no mesmo
local de onde esse petróleo foi retirado.
AE É possível cumprir as propostas feitas pelo Brasil?Marcovitch Sim. Obviamente elas en-
volvem articulações. O setor de siderur-
gia, que corresponde a 0,4% do que foi
anunciado, pode alcançar essa meta.
Cada setor tem condições de alcançá-la
(agropecuária 6%, energia 6%). Talvez
o mais difícil seja a redução do desma-
tamento (20,9%), porque envolve uma
disfarçado, sob o pretexto de que eles
não são sufi cientemente redutores da
emissão de carbono.
AE Com a decisão dos EUA e da China, surge a oportunidade para uma lide-rança brasileira em Copenhague?Marcovitch O Brasil está na ofen-
siva. Depende da transformação dos
números anunciados em lei. No caso
do município e do estado de São Paulo,
por exemplo, isso já aconteceu. Agora
cabe ao governo federal fazer o mesmo.
Assim, o Brasil passará a assumir uma
posição de liderança.
AE Uma liderança do Brasil em Cope-nhague pode ser positiva?Marcovitch O Brasil, por sua extensão
geográfi ca e pelos seus recursos naturais,
além de sua posição no Environmental
Performance Index (EPI), mostra que
tem responsabilidades e pode assumir o
papel de uma potência ambiental, fazer
parte do clube de países que têm muito
a dizer sobre o futuro do planeta.
AE Líderes como Gordon Brown e Nicolas Sarkozy têm cobrado a parti-cipação do presidente Lula no COP-15. Qual é a importância disso?Marcovitch A fi gura do Brasil é a fi gura
do presidente. O Brasil tem 16 anos de
estabilidade econômica, se afi rmou na
crise fi nanceira de 2008 e mostrou que
é capaz de gerenciar melhor seu sistema
fi nanceiro. Na dimensão social, melho-
rou seu índice de distribuição de renda.
Há uma terceira dimensão, a ambiental,
em que o país também se destacou, es-
pecialmente após a Conferência Rio 92,
da ONU. Mesmo que continue deixando
a desejar, a ação ambiental é pioneira
em muitos aspectos, e as organizações
civis têm se mobilizado para colocar
essa questão como prioritária na pauta
das políticas públicas. O fato de o Brasil
viver esse momento, somado à trajetória
do presidente Lula – que tem consegui-
do se comunicar com a opinião pública
internacional -–, ajuda a transmitir não
tanto uma retórica, mas exemplos con-
52 AméricaEconomia Dezembro, 2009
presença do Estado na Amazônia, e isso
não depende de uma vontade, nem do
governo, nem de setores organizados.
Ela ocorre através de atores menos orga-
nizados, e por isso é muito mais difícil.
AE Iniciativas como cálculo de emis-sões e reciclagem mostram que as empresas estão respondendo à de-manda por um desenvolvimento sus-tentável. O setor privado está mais adiantado que os governos?Marcovitch Sim e não. Todo modelo
de inovação mostra que há 10% de uma
comunidade que é mais inovadora. Te-
mos estudado isso no projeto Mudar
o Futuro, da USP. É uma minoria que
está na frente, geralmente de grandes
empresas que dependem do mercado
internacional e de exportações. Entre-
tanto, a grande maioria está mais pre-
ocupada em agir sem perspectiva de
longo prazo. São essas empresas que
levaram entidades como a FIESP e a CNI
a assumir posições mais conservadoras,
dizendo que, enquanto os países mais
desenvolvidos não assumirem suas
metas, o Brasil não deveria assumir
compromissos mais ousados. Ou seja,
algumas empresas mostram o cami-
nho, mas a maioria entrará na curva de
aprendizagem muito mais tarde.
AE Com a possível candidatura de Marina Silva, a eleição presidencial de 2010 está colocando o debate sobre meio ambiente numa posição privile-giada. O que o senhor acha disso?Marcovitch Evidentemente, todos os
partidos estão tratando dessa questão,
mas o fato de Marina Silva ter se mobili-
zado elevou a pauta. Houve uma mudan-
ça, e a prova é que tanto Dilma Rousseff
quanto José Serra incluíram esse tema
entre suas prioridades, também infl uen-
ciados pela agenda internacional. Tenho
a impressão que, desde os atentados de
11 de setembro de 2001, passamos a viver
várias agendas fragmentadoras. Assim,
hoje, a única agenda agregadora, em que
todos os países sentem que devem sentar
juntos, é a ambiental e a do clima.
Algumas empresas mostram o caminho (da inovação), mas a maioria
entra na curva de aprendizagem muito mais tarde
já nas bancas
CIELOÉ O CARA
USAIN BOLTBIA E BRANCA
PETKOVICCAFU
SPORT
EXCLUSIVO: OS R$ 200 MILHÕES DO AMIGO DE RICARDO TEIXEIRA
MESSIUm papo com o melhor do mundo
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54 AméricaEconomia Dezembro, 2009
O ANO DA RECESSÃO
JANEIROOBAMA SUPERSTARBarack Obama se torna o 44º presidente dos Estados Unidos, reunin-do uma multidão que acompanhou a posse do primeiro mandatário negro do país. Apesar da fascinação mundial por Obama – que em outu-bro refletiu-se em sua vitória como Prêmio No-bel da Paz – no âmbito doméstico, o presidente teve de enfrentar proble-mas que não se resolvem apenas com carisma. O mais grave: a reforma do sistema de saúde.
NEGÓCIOS DO MÊS
• O Grupo Camargo Corrêa compra do Grupo Votorantim 50% da VBC Energia
por US$ 1,1 bilhão.
• A Vale adquire a mina de ferro Corumbá da Rio Tinto por US$ 750 milhões.
• O Banco do Brasil compra 50% do Banco Votorantim por US$ 1,84 bilhão.
CUBA: A REVOLUÇÃO PERMANENTEHá 50 anos, a Revolução Cubana prometia
trazer novos ares à América Latina. Hoje,
seus mesmos líderes, agora octagenários,
são os que defendem a ausência de mu-
danças em Cuba. E comemoram um even-
to que a maioria da população da ilha não
viveu, se considerarmos que no Censo de
2002 somente 14,7% dos cubanos tinham
mais de 60 anos.
A crise econômica cria
pânico nos mercados,
mas AméricaEconomia
mostra a oportunidade
para os valentes que
decidem aproveitar o
momento de desvalo-
rização de ativos para
ir às compras.
DEBATES LINHA DO TEMPO
Nas próximas páginas, a equipe de AméricaEconomia – com
a ajuda do serviço de informação fi nanceira mergermarket.com,
do grupo Financial Times, destaca alguns dos fatos e negócios que
marcaram o ano na América Latina.
A ideia é apresentar acontecimentos que, por um lado, resumam
2009 – que, certamente, fi cará marcado como o ano da grande
recessão – e, por outro, joguem sobre esse período a luz clara da rele-
vância, que costuma ser um bom indicador do futuro.
Dezembro, 2009 AméricaEconomia 55
FEVEREIRO MARÇO
ESPIONAGEM Descobrem-se escutas telefônicas ilegais de órgãos de segurança do governo colombiano a juízes, fi scais e políticos de oposição, além de funcionários do governo e jornalistas. Uma políti-ca de segurança a qual-quer custo?
ETERNAMENTE CHÁVEZ?O presidente venezuelano obtém apoio de 54,9% da população para reformar a Constituição do país e garantir-se no poder por mais sete anos. Também conquista o direito à reeleição indefi nida. Com isso, a oposição demonstra sua incapacidade de se unir em um projeto alternativo.
VITÓRIA DA ESQUERDAMauricio Funes, da Frente Farabundo Martí para a Li-bertação Nacional (FMLN), é eleito presidente de El Salva-dor. Funes arrebata a hege-monia do Arena, tradicional partido de direita, e mantém uma política de aproximação com o Brasil.
PROTECIONISMO ARGENTINOO governo argentino dá mais um passo em sua escalada protecionista contra o Brasil, intensifi cando a apli-cação de licenças não-automáticas – aumentando o número de produtos atingidos pela medida e o tempo para liberação de carga na aduana. Entre os setores mais prejudicados estão os de móveis, calçados e têxteis.Em represália, no mês de outubro, o governo brasileiro passou a impor as mesmas licenças a produtos ar-gentinos – sobretudo a alimentos perecíveis, que fi caram bloqueados na fronteira entre os países.
BRASIL AJUDA NA LIBERAÇÃO DE REFÉNS DAS FARCO governo brasileiro conquista um ponto a favor ao conseguir –
com o apoio da Cruz Vermelha Internacional e do grupo Colom-
bianos pela Paz – a libertação do deputado Sigfredo López e de
outros quatro reféns das Farc (Forças Armadas Revolucionárias
da Colômbia) sequestrados em 2002. A liberação ainda signi-
fi cou um golpe à diplomacia do presidente Hugo Chávez, que
fi cou de fora da conversa em termos humanitários.
DOW JONES DESABAPela primeira vez desde
1997, o índice Dow Jones
Industrial cai abaixo dos
7 mil pontos, depois que
a seguradora American
International Group Inc.
divulgou perda trimestral
de US$ 61,7 bilhões. O mer-
cado dos EUA só voltou a
se recuperar em outubro,
graças aos sinais de que os
EUA saíam da recessão.
A ARGENTINA SE DESPEDE DO HOMEM DA TRANSIÇÃORaúl Alfonsín, primeiro presidente democrático argentino depois
do período ditatorial, morre aos 82 anos. Apesar de não ter con-
cluído seu mandato, submerso
em uma crise de governabilida-
de, Alfonsín conquistou grande
apreço e prestígio. Mesmo com
a transcendência moral con-
quistada por ele, seu partido
(União Cívica Radical) não con-
seguiu tirar o peronismo do ei-
xo da política argentina – tarefa
que tampouco Fernando de la
Rúa conseguiu realizar.
América-
Economia
mostra os
passos da
empresa
de te le -
c o m O i
em busca
da compe-
titividade e sua possível entrada
no mercado regional.
O desmata-
m e n t o d a
A m a z ô n i a
não acontece
somente na
parte brasilei-
ra da fl oresta.
AméricaEconomia alerta para
a necessidade de se criar uma
política regional para o tema.
NEGÓCIOS DO MÊS
• O Banco do Brasil anuncia a compra de Banco do Estado do
Espírito Santo por cerca de US$ 1,2 bilhão.
• A Ecopetrol e a KNOC compram a Petro Tech Peruana por
US$ 900 milhões.
56 AméricaEconomia Dezembro, 2009
ABRIL MAIO
A AméricaEconomia
analisa quem está
mais forte e bem-
posicionado frente
à crise econômica:
as multinacionais ou
as multilatinas.
São Paulo é novamente eleita a
melhor cidade para fazer negócios
na América Latina pelo ranking da
AméricaEconomia.
MÉXICO: CAEM NARCOS, MAS NÃO O TRÁFICOO governo mexicano consegue prender
narcotraficantes de peso, como Vicente
Carrillo (foto) e Héctor Manuel Oyarzabal.
Entretanto, o narcotráfi co não acaba: se re-
ordena em torno de novas redes e líderes.
PERU: LEVIATÃ CONDENADOO ex-presidente peruano Al-
berto Fujimori, que dominou o
país nos anos 90, é condenado
a 25 anos de prisão por crimes
de lesa humanidade pelos
massacres de Barrios Altos e La
Cantuta, que deixaram 25 mor-
tos em 1991 e 1992, bem como
pelo sequestro de um jornalista
e um empresário em 1992. O VÍDEO DA GUATEMALACaiu como bomba o vídeo
do advogado Sergio Rosen-
berg no qual acusa o Presi-
dente de Guatemala, Álvaro
Colom, de sua morte poucos
dias depois da gravação. Mas
Colon resistiu ao escândalo.
PANAMÁ ELEGE MARTINELLIApesar do crescimento, da amplia-
ção do Canal do Panamá e da po-
pularidade do presidente Martín
Torrijos, a social democracia não
conseguiu manter-se no poder:
perde as eleições para o milionário
de centro-direita Ricardo Martinelli,
que promete metrô na capital e
portos para receber cruzeiros.
NEGÓCIOS DO MÊS
• BTG fecha a compra do banco UBS Pactual por
US$ 2,5 bilhões.
NEGÓCIOS DO MÊS
• Perdigão e Sadia anunciam sua fusão, formando a empresa
Brasil Foods, operação avaliada em US$ 3,5 bilhões.
• A Venezuela nacionaliza a argentina Ternium-Sidor,
oferecendo indenização de US$ 1,97 bilhão.
O MEDO DA GRIPEUm novo vírus da gripe, popular-mente chamada de gripe suína, ou gripe A (H1N1), começa a ame-drontar o mundo. No México, país onde a doença foi identifi cada, es-colas da Cidade do México e de ou-tros estados foram fechadas. Além disso, eventos públicos, inclusive missas e partidas de futebol, foram cancelados. Cerca de 70% dos ba-res e restaurantes da capital tam-bém permaneceram sem funcio-nar. Na Argentina, o vírus colapsou
o sistema de saúde, ajudado por uma epide-mia de den-
gue. PELO DIÁLOGOEm seu primeiro gesto dirigido à América Latina, Barack Obama nomeou o chileno Arturo Valenzuela como subsecretário de As-suntos Hemisféricos Ociden-tais. A escolha foi interpreta-da como relevante para uma agenda de diálogo mais ativa que a da administra-ção de George W. Bush. Mas a nomeação não pôde ser concretizada até novembro, devido à oposição do sena-dor republicano Jim DeMint, que a bloqueou devido à posição de Obama no tema de Cuba e Honduras.
DEBATES LINHA DO TEMPO
58 AméricaEconomia Dezembro, 2009
AGOSTO SETEMBRO
SAÍDA DE MARINA SILVA DO PTDepois de 30 anos no Partido dos Tra-
balhadores, Marina Silva pede desliga-
mento para se fi liar ao Partido Verde
(PV). Embora tenha alegado que a saída
estava ligada a sua vontade de lutar pe-
lo desenvolvimento sustentável e pelo
meio ambiente, cogita-se que ela teria
trocado de partido para se candidatar à
Presidência nas eleições de 2010.
ZELAYA NÃO SE RENDEO presidente deposto de Hon-
duras, Manuel Zelaya (foto),
se infi ltra no país, refugiando-
se na embaixada do Brasil em
Tegucigalpa. Dessa forma, o
Brasil assume um papel, dese-
jado ou não, de importância
nas negociações. Houve um
acordo para que Zelaya voltas-
se ao poder antes das eleições,
que depois caiu.
POLÊMICO “PAZ SEM FRONTEIRAS EM HAVANA”Poucas vezes um show é motivo de polêmica, mas o da Paz sem
Fronteiras, realizado em Havana, soou como um apoio declarado
ao regime regime cubano. Quem mais sofreu críticas – em parti-
cular de Miami – foi o cantor colombiano Juanes.
NEGÓCIOS DO MÊS
• Banco Itaú transfere sua carteira
de seguros a uma joint venture
com a seguradora Porto Seguro.
A operação foi avaliada em US$
850 milhões.
NEGÓCIOS DO MÊS
• JBS acorda a fusão com a empresa de carne Bertin, por meio
de uma troca de ações, e compra a Pilgrim’s, dos EUA.
• Marfrig compra a Seara Alimentos por US$ 900 milhões.
QUEREM QUE EU SAIA?Na Cúpula da Unasul (União das Nações Sul-Americanas), em Quito, a maioria dos países critica a Colômbia devido aos planos de instalação de bases norte-americanas no país, o que foi respondido pelo ministro da Defesa colombiano, Gabriel Silva, com uma ameaça de saída do grupo.
ANTES DEVEDOR, AGORA CREDORO Brasil segue seu caminho para ser um peso pesado no mundo político e eco-nômico. O presidente Lula declara que o país passará a ser um credor líquido do Fundo Monetário Internacional e que está disposto a injetar US$ 10 bilhões na entidade multilateral. “Antes, nos diziam o que deveríamos fazer, mas agora nós estamos dizendo ao FMI o que se deve fazer”, afi rmou Lula, na ocasião.
A América Central
foi duramente gol-
peada pela crise. A
AméricaEconomia
vai além ao revelar
os perigos sociais
e políticos que
ameaçam a esta-
bilidade democrá-
tica da região.
Acaba o multilateralis-
mo na política exterior
dos EUA. É a aposta da
AméricaEconomia, que,
agora, prevê uma pos-
tura mais unilateral em
seu tratamento de cola-
boração com diferentes
países da região.
MARCO REGULATÓRIO DO PRÉ-SALO presidente Lula apresenta o novo mar-
co regulatório do pré-sal. Entre outras
coisas, as regras preveem um sistema
de partilha de produção entre a União
e as empresas ganhadoras das licita-
ções para as áreas do pré-sal e regiões
estratégicas. A Petrobras, presidida por
Sérgio Gabrielli (foto), teria direito à par-
ticipação mínima em cada consórcio.
Em novembro, é aprovada na Câmara
dos Deputados a criação da Petrosal,
estatal responsável pelos contratos de
exploração e de comercialização de
petróleo e gás natural do pré-sal.
DEBATES LINHA DO TEMPO
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TON
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/ABR
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Dezembro, 2009 AméricaEconomia 59
OUTUBRO NOVEMBRO
RIO GANHA O DIREITO DE ORGANIZAR OS JOGOS OLÍMPICOSO Rio de Janeiro deixou para trás Tóquio, Madri, Chicago e Lon-
dres e venceu como sede das Olimpíadas de 2016. Quando Lula
e Pelé receberam a
notícia, se abraça-
ram como crianças.
De quebra, o Brasil
ganhou o direito de
mostrar-se ao mun-
do como a potência
emergente que é.
APAGÃO MEXICANO O presidente
Felipe Calderón ordenou a liquida-
ção da elétrica estatal Luz y Fuerza
del Centro, devido à sua “compro-
vada inefi ciência” e por enormes
perdas ao fi sco. Outras fontes atri-
buem a decisão do governo como
parte de um plano para debilitar o
Sindicato Mexicano de Eletricistas.
ELO LATINO-AMERICANOO presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, visita o Brasil,
acompanhado de uma comitiva de empresários. A chegada de
Ahmadinejad
foi precedida de
manifestações
civis contra o
líder. No encon-
tro, Lula defen-
deu o direito do
Irã de desenvol-
ver seu progra-
ma nuclear.
EXPLODIU A PONTEEm um ato que promete volatili-
zar ainda mais as relações entre
Venezuela e Colômbia, autori-
dades colombianas acusam pes-
soas uniformizadas de explodir
uma ponte pênsil que conecta
os dois países. No momento, não
está claro se eram soldados do
exército venezuelano, mas cer-
tamente é algo de que a região
não precisa.
UM EX TUPAMARU NO PODERJosé “Pepe” Mujica obteve o primeiro lu-gar nas eleições presidenciais uruguaias, mas não votos sufi cientes para ganhar no primeiro turno. Deverá enfrentar em um escrutínio o ex-presidente Luis Al-berto Lacalle. Mujica, um ex-guerrilheiro tupamaru, liderou a transformação do grupo em uma força legítima.
A MUDANÇA CLIMÁTICA PODE ESPERAREra de se esperar que a Cúpula de Copenhague sobre mudanças climáticas não resultasse em acordos sobre limites de emissão, devido à difi culdade de conciliar as posturas de Estados Unidos e China. Mas os líderes do go-verno aproveitaram um encontro anterior para ofi cializar que, em Cope-nhague, não se fi rmará um grande acordo “pós-Kyoto”, mas as bases para um acordo maior em anos posteriores. Obama disse que é importante mostrar algum tipo de avanço na Cúpula, ainda que não se saiba qual. Ao que tudo indica, os defensores do meio ambiente continuarão esperando pelos Estados Unidos.
A fusão Itaú-Unibanco
cria o maior banco da
América Latina e um
player global, como
indica o Ranking de
Maiores e Melhores
Bancos da AméricaE-
conomia.
AméricaEconomia
mostra o cresci-
mento da infl uên-
cia do BNDES co-
mo fi nanciador da
expansão de em-
presas brasileiras
na América Latina .
Foto
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SÉ C
RUZ
ABR
60 AméricaEconomia Dezembro, 2009
O DESAFIO DE
Se conquistar a reeleição em 6 de dezembro, o presidente da Bolívia terá de enfrentar os desafi os da industrialização e de legitimar reformas institucionais
RODRIGO LARA SERRANO, DE BUENOS AIRES
Se poucas pessoas que foram à Bolívia experimentaram
seus “vinhos de altitude”, produzidos a 2,5 mil metros do
nível do mar na região de Tarija, a probabilidade de que
tenham provado o “leite de altitude” pode ser ainda mais
remota. A produção de leite nos arredores de La Paz, feita por
2,3 mil famílias, é relativamente nova. Por preconceito, não
se costuma associar o gado bovino às altitudes, mas este se-
tor registrou uma melhoria efetiva e
silenciosa nos últimos anos, graças
à ajuda de entidades como a CAF
(Corporação Andina de Fomento) e
a Embaixada da Holanda, por meio
da construção de estábulos, salas
de ordenha e aprimoramento das
técnicas de irrigação e armazena-
mento da forragem.
Certamente, não será o sucesso
da produção dessas vacas que fará o
presidente Evo Morales conquistar
um novo mandato nas eleições de dezembro. Esse exemplo,
entretanto, refl ete que a combinação efetiva de planos so-
ciais antes inexistentes (de aposentadoria e alimentação,
por exemplo), tranquilidade macroeconômica e o impacto
de uma ajuda internacional crescente, que oscilou entre US$
600 milhões e US$ 800 milhões anuais entre 2007 e 2009,
pode fazer a diferença. Afi nal, essa mescla resultou em uma
fórmula efi ciente para sustentar o nível de atividade e fazer
EVO
com que o país escapasse dos efeitos da crise global, com uma
estimativa ofi cial de crescimento de 4% para este ano.
Não obstante, se confi rmarem vitória frente ao principal
candidato da oposição Manfred Reyes Villa, do PPB (Plano
Progresso para a Bolívia), tanto Morales quanto seu partido, o
MAS (Movimento ao Socialismo), enfrentarão novos dilemas a
partir de 2010. Os dois maiores serão resistir à tentação de mes-
clar o Estado central com o programa
de governo, a burocracia partidária
e a fi gura de Morales, e não respon-
der às expectativas de industrializar
parcialmente suas matérias-primas,
devido a uma capacidade de investi-
mento e gestão insufi cientes.
VALOR AGREGADOEmbora essa última pareça ser uma
tarefa difícil, dado o imenso atraso
relativo e a ausência de técnicos
competentes, analistas apontam que a Bolívia tem um bom
potencial para industrializar-se. “O país conta com controles
macroeconômicos melhores que a Venezuela”, diz Enrique
García, presidente da CAF. A infl ação mensal foi de 0,11% em
setembro passado (com um acumulado de -0,09% de janeiro
a setembro). Isso em um contexto de crescimento econômico,
com reservas crescentes no Banco Central (US$ 8,45 bilhões
em setembro).
DEBATES ELEIÇÕES
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M/A
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17,3%foi quanto o investimento estrangeiro representou
no PIB da Bolívia em 2008
Dezembro, 2009 AméricaEconomia 61
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AN
TON
IO C
RUZ
/ABR
Entretanto, a Bolívia ainda sofre a barreira de atração
do investimento. Ainda que em 2008 o país tenha mostrado
certa recuperação desse índice, com o investimento represen-
tando 17,3% do PIB, “a média entre 2000 e 2008 não supera
14% do PIB”, indica García, para quem o país tem uma brecha
que deveria ser coberta pelo setor privado.
Um primeiro sinal positivo será dado se o governo de
Morales conseguir concretizar os planos da Jindal Steel
Bolívia (JSB), fi lial local da indiana Jindal Steel & Power, que
está construindo três plantas de processamento de ferro
em El Mutún, Santa Cruz, com um investimento de US$ 800
milhões até 2012 – de um total de US$ 2,1 bilhões que inclui
uma termoelétrica, com inauguração estimada para 2013.
diz que a oposição é mais uma junção de grupos com uma
liderança sujeita a discussão. “A tendência é que ela se frag-
mente muito mais, pois não existe a ideia de acordo”, diz.
O ponto é que o governo necessita aprovar, nos seis pri-
meiros meses deste segundo mandato, cinco leis orgânicas
para as quais não basta a maioria simples. Entre elas, a refor-
ma do Código Eleitoral e a Lei Marco de Autonomias.
Analistas como David Scout Palmer, professor de Relações
Internacionais e Ciências Políticas da Universidade de Boston,
pensam que existe “uma progressiva desinstitucionalização
política na Bolívia, que sai de uma combinação do populismo
personalista de Morales e de uma nova interpretação da de-
mocracia que privilegia a nomeação de pessoal no Executivo”.
Mas talvez Morales tenha uma carta na manga. Houve
uma renovação completa dos candidatos de seu partido ao
Congresso. “Não está se repetindo nem um só parlamentar,
enquanto na oposição 80% deles já vêm de um mandato
anterior”, diz Cordeiro. E também se fala de uma renovação
total de ministros.
Assim, mais do que uma reprise, um próximo mandato
de Morales promete surpresas.
MOBILIZAÇÕES CIVIS: ARTIFÍCIO QUE DEVERIA SER EVITADO POR MORALES EM UM PRÓXIMO MANDATO
FALTA CONSENSOJá no âmbito político, se reeleito, Morales deverá aguçar sua
visão de longo prazo, para evitar os riscos inerentes à sua vi-
tória. Um deles são os enfrentamentos sociais. Os adversários
do MAS criticam o uso de mobilizações civis, acusando estas
de serem um método pouco democrático. Já no Congresso,
analistas veem pouca possibilidade de construir consensos.
Carlos Cordero, diretor do Centro de Estudos Democráticos,
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64 AméricaEconomia Dezembro, 2009
FORÇA FINANCEIRAChile, Colômbia e Peru querem unifi car suas bolsas para concorrer com a BM&FBovespa e formar a terceira maior da região JUAN PABLO RIOSECO E MATÍAS RODO, DE SANTIAGO
NAHIL HIRSH, JORGE CASTAÑO E GUILLERMO LARRAÍN: UNIDAS, BOLSAS SOMAM CAPITALIZAÇÃO DE US$ 360 BILHÕES
FINANÇAS BOLSAS
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Você consegue imaginar uma bolsa de valores sul-ameri-
cana que faça frente à BM&FBovespa? Impossível. Mas nada
impede de aproveitar o impulso de um vizinho forte para
crescer também. Essa é a ideia de Chile, Peru e Colômbia, que
anunciaram a intenção de se unir e criar o terceiro maior mer-
cado fi nanceiro da América Latina, depois de Brasil e México.
Em novembro, os superintendentes de valores dos três
países se reuniram em Santiago para assinar um acordo sobre
o tema. No mais puro estilo Euronext, eles querem começar
equiparando aspectos normativos e permitindo maior fl exi-
bilidade aos operadores. A meta é chegar, até o fi m de 2010, a
“pelo menos uma etapa preliminar de integração, na qual os
intermediários de um país possam atuar como operadores
diretos ou remotos na bolsa dos outros dois”, afi rma Guillermo
Larraín, superintendente de Valores e Seguros do Chile.
No longo prazo, o objetivo é chegar a uma integração to-
tal, na qual um peruano, por exemplo, possa comprar ações
do Chile ou da Colômbia diretamente de seu país. Isso poderia
mudar o cenário fi nanceiro da América Latina. Esse mercado
fi caria atrás apenas da BM&FBovespa e da Bolsa de Valores
do México. Os três países andinos somariam uma capitaliza-
ção superior a US$ 360 bilhões (comparado à de US$ 1 trilhão
do Brasil e de US$ 400 bilhões do México) e teriam uma oferta
de mais de 560 ações.
O potencial é evidente. São mercados pouco líquidos den-
tro de economias com grandes perspectivas de crescimento,
sobretudo no Peru. “É o passo que todas as bolsas devem dar”,
afi rma Bernardo Mariano, sócio da empresa de análise de
mercado Equity Research Desk, de Nova York. “Elas vão se
transformar em um concorrente muito mais interessante na
região.” Rolf Lüders, economista da Universidade Católica do
Chile, diz que a iniciativa deve baixar os custos de operação.
“Isso poderia aumentar as transações e as novas emissões,
que nos três mercados têm níveis baixos”, afi rma.
A meta é que a integração atraia mais fl uxos de capital,
de diversos lugares do mundo. “Se tivermos sucesso, vamos
ganhar em liquidez”, diz Nahil Hirsh, presidente da Comis-
são Nacional Supervisora de Empresas e Valores do Peru, a
Conasev. “Para nossos próprios investidores, será mais fácil
adquirir valores dos outros dois países; o conceito de recipro-
cidade aqui é fundamental.” Para Jorge Castaño Gutiérrez,
diretor de Intermediários de Valores e Outros Agentes da
Superintendência Financeira da Colômbia, a mudança será
forte. “A liquidez se duplicará ou triplicará em alguns casos,
o que favorecerá muito o acesso a uma melhor estratégia de
diversifi cação de carteiras”, afi rma.
JOSÉ ANTONIO MARTÍNEZ GERENTE GERAL DA BOLSA DE COMÉRCIO DE SANTIAGO
“O projeto exige a participação e a colaboração tanto das institui-ções do setor público quanto do privado, das bolsas e de depósi-tos de valores partes do acordo. Para isso, as equipes técnicas cor-respondentes já estão trabalhan-do, e existe um apoio do mais alto nível em todas as entidades para que o projeto seja um sucesso.”
Dezembro, 2009 AméricaEconomia 65
já existem. Os especialistas lembram que, antes de conversar
com Peru e Chile, a bolsa colombiana andou fl ertando com a
do Panamá.
Também haverá aqueles que fi carão para trás. O caso
mais grave poderá ser o da Bolsa de Buenos Aires. Esta, que
por muito tempo manteve-se na segunda posição entre as
maiores da região, despencaria vertiginosamente para o
sexto lugar. Sua opção? Aliar-se ao Brasil, embora até agora
não tenha conseguido avançar nesse sentido dentro do
Mercosul. E os mercados centro-americanos deveriam, pela
lógica, estabelecer pontes com o México. Diferentes jogadas
para um novo tabuleiro de investimentos que já começou a
ser desenhado na América Latina.
Fonte World Federation of Exchanges
CAPITALIZAÇÃO DAS BOLSAS LATINO-AMERICANAS NO FECHAMENTO DE CADA ANO
BM&FBOVESPA
Colombia SE *
Lima SE
Mexican Exchange
Santiago SE
Buenos Aires SE
(em US$ bilhões)
* Dados a partir de 2003 / ** Dados de junho de 2009
2001 2003 2005 2007 2009**
186
226
474
1.369
911
126122
239
397
265
5687
136
213
195
3335
47
5734
14
50101
111
914 24
69
ETAPASO próximo passo desse projeto será uma reunião nos dias
14 e 15 de janeiro em Lima, quando equipes de trabalho
mistas começarão a discutir cerca de 18 questões específi cas.
“Enfatizaremos agora as modifi cações no âmbito normativo
que podemos realizar nas três instituições para favorecer
o processo de integração”, diz Larraín. A princípio, nada
complicado. O que poderia ser um entrave são as mudanças
legislativas que em algum momento precisarão ser aplicadas.
“Isso pode levar tranquilamente um ano”, afi rma Mariano, da
Equity Resarch Desk, recordando experiências semelhantes
na América Latina. “Por exemplo, Argentina e Brasil assina-
ram um acordo como parte do Mercosul na década passada
que nunca foi implementado”, afi rma. “Mas não acredito que
algo assim ocorra neste caso”.
Os reguladores reconhecem a questão. Para Nahil Hirsh,
a sensibilização dos congressos é uma tarefa a qual os supe-
rintendentes e suas contrapartes do setor privado deverão
começar a se dedicar desde já. “É importante que isso seja
tratado também como uma questão nacional”, afi rma. De
qualquer forma, joga a favor o ânimo dos países por refor-
mar. “Mudanças legais estão sendo realizadas no Peru desde
o ano passado: foram modifi cadas recentemente as leis do
mercado de valores e dos fundos de investimento.” No cam-
po normativo, o aspecto-chave será o acesso aos mercados
por parte dos intermediários. “Devemos ter a tranquilidade
de que serão mantidos os padrões que existem hoje para in-
vestimento em nossos mercados”, afi rma Castaño. O mesmo
deve ocorrer no caso de proteção aos investidores, transpa-
rência e eliminação de más práticas. “Quando houver a inte-
gração, esses aspectos também serão internacionalizados.”
O fato é que o nascimento desse novo ator poderá mu-
dar a dinâmica dos mercados regionais. “Com três opções
fortes, a tendência é de que os outros mercados se tornem
irrelevantes”, afi rma Mariano, o que os pressionará a se unir
a um desses três, se quiserem ganhar importância. Avanços
ROBERTO HOYLE PRESIDENTE DA BOLSA DE VALORES DE LIMA “A bolsa peruana tem foco naoferta de títulos relacionados à mineração; a bolsa colombiana, nos hidrocarbonetos e no setor bancário; e a bolsa chilena, em energia, comércio e serviços. Em um segundo passo, a integração dos mercados de renda fi xa tam-bém será vantajosa, dada a am-plitude dos mercados de renda fi xa colombiano e chileno.”
JUAN PABLO CÓRDOBA PRESIDENTE DA BOLSA DE VALORES DA COLÔMBIA
“Temos plataformas de nego-ciação facilmente integráveis. A ideia é que o investidor lo-cal não tenha de fazer nada diferente para ter acesso a seu mercado e, ao mesmo tem-po, ao dos outros dois países. Com a integração, ganhare-mos massa crítica.”
66 AméricaEconomia Dezembro, 2009
Através da arbitragem de moedas e da colaboração do governo, a indústria fi nanceira venezuelana consegue lucros históricos, mas acumula riscos
FELIPE ALDUNATE M., DE CARACAS
FINANÇAS VENEZUELA
Basta aterrissar no aeroporto de Ca-
racas para entender grande parte das
distorções da economia venezuelana.
Tudo começa ao passar por uma das
casas de câmbio localizadas junto às
esteiras de bagagem, que trocam os dó-
lares dos turistas pela taxa ofi cial: 2,15
bolívares fortes (Bs.F.) por unidade da
moeda norte-americana. “Na verdade,
é 1,98 bolívar, porque temos comissão”,
afi rma o jovem venezuelano que aten-
de do outro lado do vidro e que realiza
o trâmite burocrático: anota os dados
do turista, faz cópia do passaporte, pre-
enche alguns formulários e recolhe as
impressões digitais dos polegares das
duas mãos em dois documentos dife-
rentes, junto com a assinatura. Após
dez minutos, o turista enfi m consegue
concluir a missão: trocar US$ 100 por
198 bolívares.
Entretanto, essa troca de dinheiro
pode ser muito mais simples e rentá-
vel quando se recorre a mecanismos
alternativos presentes no mesmo aero-
porto. Taxistas, guardas e até o ofi cial
que carimba o passaporte de entrada
oferecem uma taxa mais interessante:
5 bolívares por dólar, e o trâmite dura
apenas 15 segundos.
A diferença de taxas entre o dólar
ofi cial e o paralelo gera negócios rentá-
veis para aqueles que podem comprar
pela taxa ofi cial e vender no mercado
paralelo; e o que é conveniente no mer-
cado informal torna-se ainda melhor
para o mercado financeiro da Vene-
zuela. Nos últimos anos, o mercado de-
senvolveu um sofi sticado mecanismo
para arbitrar taxas de câmbio ofi ciais e
paralelas, em um sistema do qual parti-
cipam corretoras, bancos e até o gover-
no. Embora Hugo Chávez e seu ministro
da Fazenda, Alí Rodríguez, critiquem
ferozmente essas atividades de especu-
lação, as instituições que eles presidem,
incluindo a petrolífera estatal PDVSA –
responsável por 97% da entrada de divi-
sas no país –, criaram um esquema que
permite lucros extraordinários a suas
instituições e aos agentes fi nanceiros,
às custas de um alto endividamento
público. Além disso, tal atividade au-
menta o risco sistemático da indústria
fi nanceira venezuelana, que reinveste
seus lucros em ativos cada vez mais
caros e menos sustentáveis.
MERCADO DUALA arbitragem cambial não é novidade
na América Latina. Era a regra nas eco-
nomias da região há algumas décadas,
quando o normal era ter taxas de câm-
bio fi xas para desestimular a fuga de
capitais, a especulação contra a moeda
e outros objetivos menos claros.
O caso venezuelano, entretanto,
tem uma peculiaridade. Desde que o
governo fi xou o valor do dólar, em fe-
vereiro de 2002, criou-se um mercado
duplo: um para certos importadores
de bens prioritários, como alimentos e
E O BOLÍVARENTRE O DÓLAR
Dezembro, 2009 AméricaEconomia 67
HUGO CHÁVEZ TRANSFORMOU
O PAÍS NO MAIOR EMISSOR DE
DÍVIDAS ENTRE OS EMERGENTES
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bens de capital, e também para quem
tem bons contatos políticos, que podem
comprar divisas ao preço ofi cial através
de uma instituição chamada Cadivi;
e outro paralelo, que funciona através
das instituições financeiras que tro-
cam valores denominados em dólares
e bolívares – e não a moeda em si, o que
seria ilegal –, a uma taxa de câmbio
chamada taxa de permuta.
As empresas que precisam de dóla-
res para operar – multinacionais e im-
portadoras – recorrem a esse mercado
de permuta dominado por corretoras
de ações, casas de câmbio e, em menor
grau, bancos comerciais. “Os bancos
demoraram mais para entrar nesse
mercado porque é uma zona cinza da
economia”, afi rma o diretor-executivo
de uma das maiores corretoras de ações
de Caracas, que não quis revelar seu
nome. Diferentes estimativas indicam
que esse mercado soma cerca de US$
100 milhões diariamente e está cres-
cendo. Para os intermediários, os lucros
são simples de observar: entre 0,05 e
0,1 bolívar por dólar trocado, segundo
operadores da indústria. Isso explica o
aumento do número de casas de câm-
bio hoje em Caracas, bem como o de
corretoras de ações com posto na Bolsa
de Caracas que estão ativas – um total
de 64 –, apesar de quase não haver tran-
sações de ações no mercado acionário.
PDVSA, O NOVO BANCO CENTRALEsse mercado de permuta precisa de
dólares, função da qual o próprio go-
verno e a petrolífera estatal, a PDVSA,
encarregaram-se. A forma de intervir
é através da emissão de papéis deno-
minados em dólares, mas que podem
ser comprados em bolívares no mer-
cado local. Isso permite aos agentes
financeiros comprar papéis e depois
revendê-los, geralmente a um investi-
dor estrangeiro ou a uma pessoa física
que esteja saindo de viagem, em dóla-
res. Esse papel do governo, contudo, é
68 AméricaEconomia Dezembro, 2009
comprado com um prêmio sobre o valor
nominal e vendido com uma taxa de
desconto ao investidor estrangeiro. Na
jogada, ganham o emissor, que, graças
ao prêmio, recebe mais dinheiro do
que registra em seus passivos (gerando
um lucro contábil extraordinário), o
investidor fi nal, que recebe um papel
venezuelano em dólares com altíssi-
mo rendimento, e o intermediário, que
conseguiu transformar seus bolívares
em dólares e com isso pode alimentar
o mercado de dólares de permuta, cuja
taxa é semelhante àquela que se pode
encontrar no aeroporto.
GRANDE EMISSORAO governo proíbe informações sobre
esse tipo de câmbio. Mas, assim co-
mo a indústria se encarregou de gerar
um mecanismo de informação não ofi -
cial para difundir a cotação da moeda
norte-americana (como o site bonos-
venezuela.blogspot.com), o governo se
preocupa em fornecer os bônus que
permitam o intercâmbio de moedas,
tanto que a Venezuela se transformou
no país emergente que mais emitiu
dívidas este ano em todo o mundo.
Assim como tudo na Venezuela de
hoje, o sistema carece de transparên-
cia. A Bolsa de Caracas não respondeu
as perguntas enviadas sobre o tema,
nem a Associação Bancária. Há aqueles
que reconhecem méritos no mecanis-
mo. “É uma maneira criativa de obter
fi nanciamento
barato e drenar
o mercado com
dólares, sem ne-
cessidade de des-
valorização, o que
geraria mais in-
fl ação em função
da grande quan-
tidade de produ-
tos importados
consumidos no
país”, afi rma um
alto executivo de um conhecido ban-
co comercial venezuelano, que pediu
anonimato. “Não vai funcionar para
sempre, mas por ora está bom.” Os ban-
FINANÇAS VENEZUELA
cos de fato estão se be-
neficiando, pois, para
estimular a demanda
por bônus, o governo
lhes permite adquirir
esses ativos denomi-
nados em dólares sem
que contem no limite
de 30% do patrimô-
nio para reservas em
moeda estrangeira. O
bom rendimento des-
ses papéis explica em
grande parte os bons
resultados obtidos pe-
los bancos venezuela-
nos no último ano.
O rápido aumento
da dívida venezuelana
não é tema de preocu-
pação no momento. “A
dívida pública, segun-
do o governo, está em
24,3% do PIB, mas isso
se calculamos pela ta-
xa oficial; se ajustar-
mos o valor pelos dife-
rentes tipos de câmbio,
a dívida chega a 29,8%
do PIB”, afi rma Asdrúbal Oliveros, dire-
tor da empresa de análise Ecoanalítica.
“No fi m de 2010, o governo diz que a
dívida será de 37,4% do PIB; nós acre-
ditamos que será de 44,3%.” Segundo
Oliveros, apesar do crescimento da dí-
vida, não há riscos de inadimplência
nos pagamentos
até 2012, o que
sempre esta rá
c o n d i c i o n a d o
pelo preço do pe-
tróleo cru, diante
do qual há mar-
gem para operar.
A notícia é ainda
melhor para os
investidores es-
trangeiros, que
encontraram nos
papéis da PDVSA, por exemplo, rendi-
mentos de até 15% ao ano em dólares.
É preciso estar atento ao risco que
isso pode acrescentar à incerteza já
estabelecida em operar na Venezuela.
A dualidade do mercado cambial e a
participação de empresas do governo
nele geram distorções preocupantes.
“A PDVSA é o novo Banco Central; gera
os dólares da economia e intervém no
mercado cambial”, afirma José Guer-
ra, diretor da escola de Economia da
faculdade de Ciências Econômicas da
Universidade Central da Venezuela e
ex-economista-chefe do Banco Central
da Venezuela (BCV). “O Banco Central
verdadeiro está encolhido.” Essa opi-
nião ganhou novas vozes com a recente
reforma no Banco Central da Venezue-
la, que agora pode comprar papéis da
PDVSA, apesar de sua tradição de não
fi nanciar instituições do governo.
Hoje, com cada emissão de seus
petrobônus, como são conhecidos no
mercado, a PDVSA gera lucros extra-
ordinários pelo prêmio com que seus
papéis são comprados em bolívares, o
que oculta seus problemas operacio-
44,3%do PIB pode ser a dívida pública
da Venezuela no fi nal de 2010
ALÍ RODRÍGUEZ: GOVERNO BATE E DEPOIS ASSOPRA
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Dezembro, 2009 AméricaEconomia 69
nais. Do outro lado, as empresas que
fazem sua contabilidade em bolívares,
mas precisam de dólares, devem regis-
trar prejuízos por
cada intercâmbio
de divisas, pela
necessidade de
contabilizá-lo pe-
lo câmbio ofi cial,
apesar de precisa-
rem comprá-lo a
um câmbio maior.
“É uma enorme
dor de cabeça pa-
ra as empresas
privadas, muitas das quais fazem ma-
labarismos para evitar a quebra contá-
bil”, afi rma um especialista fi nanceiro
que gerencia uma operadora de papéis
com sede em Caracas e no Panamá.
À obscuridade contábil soma-se
a ca rênc ia de
outros ativos fi-
nanceiros, além
do dólar, dentro
do sistema. “Não
existem instru-
mentos que per-
mitam proteger-
se contra a infl a-
ção, que este ano
chegará a 27%”,
afirma um ex-
operador de corretora de ações. Alguns
temem que isso esteja criando uma
caixa de Pandora, com passivos fi nan-
27%é a infl ação estimada
para a Venezuela este ano
ceiros respaldados por ativos que são
apenas artifícios criados pela pouca
transparência do mercado. As infor-
mações nesse mercado são tão escassas
que é pouco provável que as autorida-
des fi nanceiras conheçam a qualidade
dos ativos apresentados.
Alguns, conscientes dessa insus-
tentabilidade, procuram resguardo em
outros mercados, como o do Panamá,
que tem andado cheio de dólares vene-
zuelanos – e venezuelanos. Mas os atra-
tivos do jogo cambial são altos. É prová-
vel que as autoridades precisem tomar
medidas para resolver a questão, como
uma desvalorização, uma formalização
do mercado de permuta ou uma combi-
nação de ambas que desative a bomba.
Porém, até lá, a economia continuará
tendo lucros e prejuízos por atividades
de arbitragem e que levam os agentes
econômicos, assim como o rapaz do
aeroporto, a preferir realizar operações
especulativas antes de pegar seu táxi e
ir em busca de passageiros.
SEDE DA PDVSA: A PETROLÍFERA SE ENCARREGA DE DAR UMA MÃOZINHA AO MERCADO DE PERMUTA DE DÓLARES
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70 AméricaEconomia Dezembro, 2009
INJEÇÃO DEEFICIÊNCIAEmpresas do setor de saúde ganham com práticas de governança corporativa
MÁRCIA VAISMAN, DE SÃO PAULO
FOTOS: CALÉ
Nos últimos cinco anos, o Hospital
de Sentara, em Norfolk, no estado norte-
americano da Virgínia, reduziu em 95%
a incidência de pneumonias e aumentou
a efi cácia no atendimento a pacientes
graves, encurtando seu tempo de inter-
nação em 65% dos casos. A fórmula para
chegar a esses números não dependeu
apenas do avanço da medicina ou da
qualidade do corpo médico. O remédio,
nesse caso, veio da intervenção direta na
gestão do hospital. Com a adoção de prá-
ticas de governança corporativa – trans-
parência, responsabilidade corporativa
e cuidado na prestação de contas –, o
Sentara tornou o controle de qualidade
de sua operação mais efi caz. E seus pa-
cientes lucraram com isso.
Os Estados Unidos lideram o ranking
dessas práticas. Segundo o presidente
do American College of Healthcare Exe-
cutives, Thomas Dolan, o raciocínio é
simples: se um paciente toma o remédio
errado, ele fi ca mais doente e permanece
mais tempo no hospital. Por causa desse
engano, gera custos ao sistema. Já uma
gestão efi ciente melhora a qualidade dos
gastos. “Esse princípio refere-se a empre-
sas de quaisquer segmentos”, diz o médi-
co, que esteve presente no 36º Congresso
Mundial de Hospitais (IHF-Rio 2009),
promovido em meados de novembro, no
Rio de Janeiro, pela Federação Interna-
cional de Hospitais em parceria com a
Confederação Nacional de Saúde.
FINANÇAS GOVERNANÇA
JOÃO ALCEU
AMOROSO LIMA,
DO QUALICORP:
PLANOS MAIS
COMPETITIVOS
Dezembro, 2009 AméricaEconomia 71
Para os norte-americanos, esse
assunto tornou-se uma preocupação
constante, principalmente após o agra-
vamento da crise fi nanceira, em 2008.
Os EUA gastam US$ 2 trilhões em saúde
por ano. Recente pesquisa aponta que
15% desse montante destina-se a pro-
ver assistência a pessoas que não pre-
cisam de cuidados médicos. “Por isso, o
Brasil faz bem mirando a esse exemplo,
pois pode aprender e não cometer os
mesmos erros que nós”, diz Dolan.
SÓ CRESCIMENTOO Brasil, como líder de governança cor-
porativa na América Latina, também
já vê os resultados dessa tendência no
setor da saúde. Em 2004, a Dasa (Diag-
nósticos da América) foi a primeira
prestadora de serviços brasileira a abrir
seu capital nos moldes do Novo Merca-
do. Segundo o vice-presidente médico,
Luiz Gastão Rosenfeld, desde que criou
uma Sociedade Anônima, em 1999, até
abrir o capital e pulverizá-lo, a empresa
apresenta crescimento médio acumu-
lado de 30%. “Hoje, nosso Conselho de
Administração detém apenas 0,46%
das ações do grupo.”
O segredo dessa boa gestão, afi rma
Rosenfeld, é ter pessoas com conhe-
cimento administrativo trabalhando
com os especialistas da área. Presente
em 12 estados brasileiros e no Distrito
Federal, a Dasa registrou uma receita
bruta, no terceiro trimestre, de R$ 400,3
milhões ante R$ 333,9 milhões no mes-
mo período do ano passado. “Não senti-
mos a crise”, revela Rosenfeld.
De acordo com o Instituto Brasilei-
ro de Governança Corporativa (IBGC),
é crescente a preocupação por parte
de hospitais, clínicas e cooperativas
de saúde em melhorar as práticas de
governança corporativa. “O número de
alunos que atendemos provenientes do
setor da saúde tem aumentado muito
nos últimos anos, e eles se tornam mul-
tiplicadores”, explica Heloísa Dedicks,
diretora executiva do IBGC.
Quatro empresas brasileiras estão
seguindo os passos da Dasa: Medial,
Odontoprev, Fleury e Qualicorp. Há 12
anos no mercado, o grupo Qualicorp
prepara-se para abrir capital com base
nos princípios do Novo Mercado. No
ano passado, a empresa recebeu aporte
fi nanceiro não revelado do private equi-
ty norte-americano General Atlantic.
Em meados de 2009, o grupo adquiriu
a corretora de seguros empresariais
Brüder e o Athon Group, especializado
em gestão de saúde.
Todas essas ações, segundo a em-
presa, possibilitaram maior poder de
negociação, além da oferta de planos
a preços mais competitivos. “Também
pudemos monitorar pacientes crônicos
de modo mais efi caz”, afi rma João Alceu
Amoroso Lima, presidente do grupo
Qualicorp. Sem revelar o faturamento,
Lima afi rma que a empresa vem cres-
cendo entre 25% e 28% ao ano.
O executivo acha, entretanto, que o
sistema de saúde brasileiro ainda pensa
em governança corporativa como algo
atrelado às grandes empresas. “Isso é
um erro, porque somente com gestão
competente e demonstrações de resul-
tados é que as empresas podem ganhar
poder de barganha e não depender tan-
to dos recursos do governo”, conclui.
GOVERNANÇA PÚBLICAO estado e o município de São Paulo
também estão buscando melhorar a
gestão de seus hospitais por meio de
contratos com organizações sociais. É
uma iniciativa pioneira. São entida-
des sem fins lucrativos, que passam
a administrar essas instituições com
foco em metas e resultados. Na capital,
quatro hospitais já estão funcionando
sob esse conceito, entre eles o de MBoi
Mirim e o de Cidade Tiradentes.
O modelo é similar ao praticado na
região da Catalunha, na Espanha, e que
já cobre hoje 40% dos hospitais públicos
e privados. “A gestão profi ssionalizada
é sempre relevante, principalmente em
uma instituição pública, porque muitas
vezes o diretor administra pensando no
foco político, e isso não ocorre quando
os pilares da governança corporativa
são instaurados em uma corporação.
Com esses princípios, todos ganham”,
diz Boi Ruiz Garcia, presidente da União
Catalã de Hospitais, que foi um dos pa-
lestrantes do IHF-Rio 2009, que reuniu
150 palestrantes de 70 países e teve um
saldo de 2 mil participantes.
300bilhões de dólares é quanto os EUA
podem economizar em saúde
THOMAS DOLAN: GESTÃO EFICAZ
MELHORA QUALIDADE DOS GASTOS
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74 AméricaEconomia Dezembro, 2009
I-BIZ
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BOM EBARATO
As montadoras vivem uma corrida tecnológica para chegar ao automóvel de baixo custo, embora às vezes isso signifi que voltar a antigas práticas
JUAN PABLO DALMASSO, DE BUENOS AIRES
O ARGENTINO APA: CROSSOVER POR MENOS DE US$ 10 MIL
Para o argentino Miguel Angel Bravo, inovação, design e
carros sempre andam juntos. Ainda mais agora, que ele em-
barcou em um desafi o no qual não quer dar marcha-a-ré.
Tudo começou em 2006, quando o empresário apresentou
o NachOne, um carro-conceito que serve tanto para lazer
quanto para competições. Em 2008, criou a empresa ArqBra-
vo Motor Company, com o apoio de 130 microinvestidores.
Em ritmo acelerado, em meados deste ano Bravo fez outra
aposta: o Auto Popular Argentino, APA. Um crossover que
pode chegar ao mercado a um preço inferior aos US$ 10 mil.
Dezembro, 2009 AméricaEconomia 75
NANO, DA TATA:
EMPRESA QUER MERCADO
LATINO-AMERICANO
E se o projeto for um su-
cesso? “A ideia é expandir
por meio de franquias
para as quais forne-
ceremos modelo e
ferramental. Já te-
mos negociações
para o desenvol-
vimento des-
se sistema na
Guatemala, no
México e no
Uruguai”, afir-
ma o empresário.
Os analistas, porém,
são céticos quanto a esse tipo de proje-
to. “No Brasil também há estudos semelhan-
tes, mas que dificilmente evoluirão. O varejo
depende de preço somado à escala, e vender é difícil”, diz
Cardamone, da CSM Auto.
INVASÃO ASIÁTICA Exceto pela Honda, aumenta o número de marcas dispos-
tas a brigar por esse mercado, entre elas Hyundai, Toyota e
Volkswagen. A Tata Motors já declarou seu interesse pela
América Latina, e Carlos Ghosn, diretor da Renault, anunciou
que fará uma forte aposta nos automóveis de baixo custo,
para alcançar 20% do mercado brasileiro.
A Nissan-Renault trabalha junto à fabricante de motos
India Bajaj no desenvolvimento de um concorrente direto do
Nano, cuja produção começará na Ásia em 2012 e logo depois
será incorporada à fábrica brasileira para atender o mercado
latino-americano. “Fabricar automó-
veis de baixo custo é algo que chineses
e indianos sabem fazer melhor do que
ninguém,” disse Ghosn, da Renault.
Alguns especialistas, como o inglês
Ian Riches, diretor de Global Automo-
tive Practice da consultora StrategyA-
nalytics, acham que, embora o Brasil
seja um grande player no segmento de
veículos acima de US$ 5 mil, difi cilmen-
te conseguirá competir abaixo dessa
linha. “Levando em conta que a renda
per capita do brasileiro é o dobro da dos
asiáticos, o custo inicial já é signifi cativamente maior”, diz.
Assim, mais do que um carro mais barato, tudo indica
que a preocupação dos brasileiros é saber a condição das es-
tradas e se terão lugar para estacionar.
500mil carros ao ano
é a demanda mundial estimada
pela CSM Auto
O primeiro protótipo deve
ficar pronto no primeiro
semestre de 2010, e a pri-
meira série de produção, em
dois anos mais.
Como Bravo cumprirá essa meta? “Seguindo um
caminho diferente do da indústria automotiva em geral”,
diz. “Enquanto esta caminhou para a terceirização, nós te-
mos uma integração vertical que vai desde o ferramental até
o computador de bordo, exceto pela motorização e transmis-
são, que são fornecidas pela Fiat Powertrain Technologies.”
Qualquer semelhança com Henry Ford é mera coinci-
dência. O projeto de Bravo é a convergência da corrida pelo
automóvel de baixo custo iniciada pela Renault com o Logan,
com preço abaixo dos US$ 8 mil, e que a Ratam Tata potencia-
lizou com o Tata Nano, de US$ 2,5 mil. “Com a atual estrutura
de produtos, apenas 15% dos latino-americanos têm acesso a
um automóvel”, afi rma Guido Vildozo, analista da consulto-
ria Global Insight, em Boston.
Paulo Cardamone, vice-presidente para a América Latina
da consultora CSM Auto, de Campinas, calcula que as novas
categorias têm um mercado potencial de 500 mil automóveis
ao ano. Para a consultoria AT Kearney, essa demanda supe-
raria 1 milhão de unidades em 2020, dentro de um mercado
mundial de 17 milhões de carros. “As
premissas da Ford para chegar ao Ford T,
mais engenharia e menos custo, estão
na ordem do dia”, diz Dan Oxyer, analis-
ta da AT Kearney em Michigan.
O APA voltará ao esquema chassi-
carroceria abandonado pela indústria
há 30 anos, quando foi desenvolvida a
carroceria autoportante. O plano dos ar-
gentinos é desenvolver gadgets e recur-
sos de forma modular, para que o clien-
te possa comprá-los no supermercado, e
inclui a comercialização pela internet.
O serviço pós-venda será feito por franquias semirreboques
que atenderão o cliente em domicílio. “Temos de levar em
conta que nosso plano de negócios envolve, no máximo, 30
mil vendas por ano”, diz Bravo.
76 AméricaEconomia Dezembro, 2009
INTERFACES
ADOLFO WATERHOUSE
Um economista europeu do século 19, tão querido como odiado,
disse certa vez que a humanidade só conseguia reagir aos problemas
graves que surgiam em seu caminho quando os elementos práticos e
reais para solucioná-los já existiam ou estavam prestes a surgir.
Essa é uma teoria impactante, mas falsa. A história humana está
repleta de rompimentos provocados por problemas perfeitamente
identifi cáveis, mas insolúveis pela sociedade afetada.
Entre os que nos ameaçam no futuro próximo está o do abaste-
cimento energético: necessitamos cada vez mais de uma fonte de
energia barata, abundante, que não polua e seja fácil de administrar.
Nos últimos meses, alguns projetos interessantes saíram à luz. Um
deles é o de Gerald Watt, professor de química da Brigham Young
University (BYU). Ele e seu grupo de pesquisadores apresentaram
uma resposta, sem dúvida extraordinária, para a substituição dos
catalisadores de platina (insumo tão caro como escasso) nas pilhas a
combustível, que produzem eletricidade a partir de oxigênio e hidro-
gênio em seu interior, não poluindo o ambiente. Decidiram usar um
herbicida em vez de metal. E funcionou!
No modelo de Watt – que é tataraneto do inventor do motor a va-
por, James Watt – usa-se um herbicida comercial barato para quebrar
moléculas de açúcar (e outros carboidratos). Com uma taxa de con-
versão de açúcar em energia de 29%, o avanço do modelo é promissor.
“Demonstramos que se pode aproveitar muito da glicose”, comenta
Dean Wheeler, membro da equipe de Watt. “Agora buscamos obter
maior densidade energética para que essa tecnologia seja comer-
cialmente interessante.” É certo que os herbicidas são fabricados a
partir do petróleo, mas sua proporção ínfi ma no processo o tornaria
rentável do mesmo jeito, inclusive a partir do petróleo cru.
Outro avanço promissor nesse mesmo caminho foi dado em uma
demonstração prática realizada na vinícola Napa Wine Company, em
Oakville, Califórnia. Lá, ao invés de platina ou herbicida, a catálise
é realizada por uma bactéria. Trata-se de um par de eletrodos (um
anodo de carvão e um catodo de aço inoxidável). Quando a água da
lavagem da uva, dos excedentes da fabricação do vinho e da limpeza
do lugar entra na pilha a combustível, a bactéria converte os resíduos
em uma pequena corrente elétrica, e esta, através da eletrólise no
catodo de aço, separa o hidrogênio do restante dos elementos. Não
é um avanço fundamental, mas a pilha demonstra o poder de gerar
energia em fábricas que produzem muito resíduo e cuja construção
já estaria amortizada.
Assim, na corrida para encontrar uma resposta energética apli-
cável universalmente, a velocidade ganha importância. Um novo
sistema rentável e prático talvez demore para fi car pronto, caso nossa
civilização esgote os recursos tradicionais antes do tempo. Ou se a
inovação correta não for privilegiada.
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Dezembro, 2009 AméricaEconomia 77
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78 AméricaEconomia Dezembro, 2009
VISÕES
BATALHA INÚTIL
No livro, você afi rma que nem o consumo nem a vio-lência haviam aumenta-do tanto no México para justifi car o início da atual guerra contra as drogas. Qual é, então, a razão para essa guerra? Em novembro de 2006, Cal-
derón pensou que chegava
à Presidência tão limitado
pelo fraco resultado eleitoral,
pelas acusações de fraude –
todas elas, em nossa opinião,
falsas –, que precisava dar
um golpe certeiro. E o que lhe
ocorreu foi colocar o Exército
na luta contra o narcotráfi co
para mostrar que tinha con-
trole das Forças Armadas.
Seria relativamente simples
colocar o Exército, limpar um
pouco a área e depois sair.
Não foi o que aconteceu.
Quais são as perspectivas de resolução com a proxi-midade dos três anos de mandato? O que o presidente Calderón
pode fazer é ir baixando o perfi l da guerra contra o narcotráfi co
dentro do conjunto das atividades governamentais. Insistir
mais na economia. Insistir mais no emprego. Insistir mais na
luta contra os monopólios e pela concorrência. Insistir mais nas
reformas institucionais de que o México necessita desespera-
damente. Então, quase por omissão, a importância da guerra
vai diminuindo, pois não há como ganhá-la dessa forma.
Isso não poderia afetar o Exército mexicano como instituição? Não é uma ideia excelente,
mas é melhor do que conti-
nuar expondo-o a todo tipo
de desgaste, como proble-
mas de imagem. Porque as
pessoas apoiam a guerra
enquanto ela é algo abstra-
to. Isto é, os habitantes do
Distrito Federal apoiam a
guerra em Ciudad Juárez,
mas os moradores de Ciudad
Juárez não apoiam a guerra
em Ciudad Juárez.
Um saldo positivo de to-da essa guerra falida con-tra as drogas poderia ser a criação de uma polícia nacional unifi cada de me-lhor qualidade? Isso é o que várias pessoas
como eu propõem há anos.
O problema que temos aqui
é duplo: precisamos de pes-
soas treinadas, formadas,
mas também é necessário
criar condições legais e po-
líticas com os municípios e os estados. Não adianta ter 100
mil agentes da Polícia Federal ao invés de 25 mil se há 400
mil guardas municipais e estaduais corruptos. É preciso
avançar pouco a pouco, ter um processo substitutivo. Isso
não vai acontecer enquanto não houver efetivo sufi ciente, e
não haverá efetivo sufi ciente enquanto não houver condições
políticas para tanto.
Desde que Felipe Calderón assumiu a Presidência do México, em 2006, a guerra con-
tra o narcotráfi co deixou 15 mil mortos no país. Para o ex-chanceler mexicano Jorge G.
Castañeda, a estratégia do governo tem sido inútil. Em seu recém-lançado livro El Narco:
La Guerra Fallida (O Narcotráfi co, a Guerra Falida), em coautoria com Rubén Aguilar V.,
Castañeda defende que a elite política mexicana só conseguirá um avanço duradouro
contra todos os crimes se criar uma polícia nacional unifi cada. Castañeda falou sobre
esse tema em entrevista à AméricaEconomia.
EL NARCO: LA GUERRA FALLIDA
Rubén Aguilar V. e Jorge G. Castañeda
Ano: 2009 Punto de Lectura 143 páginas
Dezembro, 2009 AméricaEconomia 79
RAIO X
NA LÍNGUA DOCRESCIMENTOMéxico busca no bom desempenho brasileiro as respostas para sair da crise
EDUARDO THOMSON, DA CIDADE DO MÉXICO
Ilust
raçã
o SO
LED
AD
TIR
APE
GU
I
Nunca se falou tanto do Brasil no México. E não é só
porque o país será sede da Copa do Mundo e das Olimpíadas.
A comparação entre os dois países tem sido recorrente na
conversa dos mexicanos, já que este ano o destino das duas
maiores economias da América Latina tomou caminhos
opostos. O México, que fi cou com o pior lado, atravessa uma
das crises econômicas mais graves dos últimos tempos, com
projeções de contração econômica de 7% para 2009, e busca no
bom desempenho brasileiro respostas para se recuperar.
Em recente evento na capital mexicana, analistas levan-
taram alguns pontos que diferenciam o México do Brasil
e também do Chile. Segundo Justine Thody, diretora para
América Latina do The Economist Intelligence Unit (EIU),
uma diferença primordial, e que deixa o México em pior
posição, é a escassez de crédito, já que o desenvolvimento das
empresas pequenas e o estímulo ao consumo demandam
fi nanciamento. O país registra uma baixíssima arrecadação
fi scal – de apenas 10% do PIB, contra cerca de 35% no Brasil e
20% no Chile.
“Dessa forma, o principal motor para o crescimento do
México continuará apagado em 2010”, disse Justine. O gover-
no fez alguns esforços para diversifi car as exportações, como
melhorar o valor agregado e diversifi car os destinos, mas isso
ainda não foi sufi ciente, segundo a economista.
A dúvida que resta é se o governo de Felipe Calderón
poderá concretizar as reformas estruturais necessárias pa-
ra impulsionar o crescimento econômico ou se se transfor-
mará em mais um lame duck – expressão usada para indicar
um governo que perde força no fi nal de seu mandato. Enri-
que Peña Nieto, governador do estado do México e um dos
nomes mais cotados como candidato às próximas eleições
presidenciais pelo Partido Revolucionário Institucional (PRI),
da oposição, tem declarado que seu partido não assumirá a
corresponsabilidade da atual situação. E afi rmações como
essa darão a Calderón a possibilidade de culpar a oposição
pela falta de avanço em temas importantes.
Mas nem tudo são más notícias. No fi nal de outubro, o
Senado mexicano aprovou uma versão diluída da reforma
fi scal, incluindo um aumento do imposto de valor agregado
(IVA) de 15% para 16%, e de 28% para 30% no caso do imposto
de renda, a partir de 2010. Tais iniciativas têm como objetivo
fortalecer as fi nanças e reduzir a alta dependência que o país
tem da receita do petróleo – pontos que as agências de clas-
sifi cação têm indicado como fatores de risco que poderiam
implicar uma revisão, para baixo, do rating do país.
Além disso, ainda que timidamente, no terceiro trimestre
o país registrou um crescimento próximo dos 3% em relação
aos meses anteriores. O Banco do México tem mantido a taxa
básica de juros (4,5%), e já se fala em um possível aumento
em 2010 devido a pressões infl acionárias produzidas pelo
orçamento fi scal.
Resta saber se a incipiente recuperação econômica se
transformará em pretexto para Calderón evitar novos esfor-
ços e aprovar outras reformas. De qualquer maneira, os atle-
tas mexicanos já começaram a estudar português.
QUADRO MACROECONÔMICO DO MÉXICO
População (milhões)
PIB (var.%)
PIB per capita (US$)
PIB por PPC (US$)
Inflação (%)
Desemprego (%)
Remessas (milhões US$)
Saldo Comercial (milhões US$)Fontes FMI, Banco do México, Cepal, Projeções AE Intelligence
102,05
4,20
6.698
10.111
4,70
3,92
16.730
-8.811
2004
103,09
3,00
7.447
10.626
4,00
3,60
20.284
-7.587
2005
104,14
4,80
8.066
11.369
3,60
3,61
23.742
-6.133
2006
105,20
3,80
9.693
14.159
4,00
3,20
23.970
-11.189
2007
108,50
1,35
10.200
14.534
5,10
3,70
25.145
-31.183
2008
109,60
-7,34
8.040
13.542
5,40
4,00
11.078
-
2009(e)
110,68
3,26
8.753
14.056
3,50
-
-
-
2010(e)
* primeiro semestre de 2009 / (e) = Estimativa
*
80 AméricaEconomia Dezembro, 2009
CAPITAL ABERTO
O CUSTO DE REGULARA América Latina deve pensar duas vezes antes de seguir as novas regulamentações para o mercado fi nanceiro debatidas nos Estados Unidos
GONZALO ISLAS E MAURICIO VILLENA, UNIVERSIDADE ADOLFO IBÁÑEZ, CHILE
A análise histórica das crises econômicas nos mostra
uma série de padrões que se repetem. Um deles é que, depois
de uma crise, surgem novas iniciativas de regular o mercado
fi nanceiro. No caso dos EUA, por exemplo, a criação do banco
central (FED – Federal Reserve) foi uma consequência direta
do pânico bancário de 1907. Já a Securities and Exchange
Commission (SEC, a CVM norte-americana) e grande parte da
estrutura regulatória atual foram estabelecidas em resposta
à crise de 1929.
Mas a história também nos mostra o impacto negativo
dessas regulamentações. O exemplo mais claro é o caso da
América Latina depois da Grande Depressão. Por isso, o pro-
jeto de reforma de arquitetura fi nanceira que hoje é debatido
nos EUA deve ser analisado com cautela. Entre as propostas
incluídas no projeto, destaca-se a criação de uma autoridade
para cuidar da crise de solvência das instituições fi nancei-
ras de grande porte. Além disso, seriam criadas uma nova
agência reguladora orientada à proteção dos consumidores e
novas regulamentações para as transações de instrumentos
derivativos e para as instituições classifi cadoras de risco.
Qual pode ser o impacto dessas mudanças na América
Fonte “Financial Regulatory Reform: A New Foundation”, Department of the Treasury, 2009
NOVO PÂNICO, NOVAS REGRASAs respostas regulatórias depois de cada crise financeira
1857Pânico bancário no Reino Unido
Reforma do Bank of England;
eliminação de subsídios
1907Pânico bancário nos EUA
1913Criação do Federal Reserve (FED)
1980Crise financeiranos EUA
1989Resolution Trust Corporation
Glass-Stengall Act e Seguro Federal de Depósitos
Securities and Exchange Comission
1929Quebra da Bolsa de Nova York e Grande Depressão
1933
1934
Latina? A experiência da Lei Sarbanes-Oxley (lei de responsa-
bilidade fi scal instaurada depois do escândalo corporativo da
Enron) nos mostra que novas regras podem gerar custos de im-
plementação maiores do que o estimado, tais como os custos
monetários associados à atualização de sistemas de informa-
ção, desenvolvimento de controles internos das companhias e
auditorias externas. Isso poderia limitar o acesso de empresas
latino-americanas ao mercado dos Estados Unidos e provocar
a migração de negócios a outros centros fi nanceiros.
Assim, uma recomendação às autoridades é que se adote
uma visão crítica sobre as lições da crise para a América Lati-
na e como estas se diferenciam das que são válidas para o ca-
so dos EUA e da Europa. De fato, é irreal pensar que podemos
prevenir as crises com o simples apelo às mudanças regula-
tórias. Por exemplo, a proposta norte-americana não dá uma
resposta clara ao problema gerado pela existência de várias
agências reguladoras com sobreposição de atribuições.
Talvez, ao invés de apelar somente à ampliação de marcos
regulatórios e à intervenção estatal na indústria fi nanceira,
este seja o momento de defender a melhoria dos padrões éti-
cos e o cumprimento do marco regulatório que já existe.
Dezembro, 2009 AméricaEconomia 81
OPINIÃO
Em janeiro, Barack Obama cumprirá
o primeiro ano como presidente dos Es-
tados Unidos. É, portanto, um momento
apropriado para revisar sua política para
a América Latina. Quais foram as metas
do governo de Obama para a região?
Foram bem-sucedidas? Estas duas dúvi-
das podem ser respondidas revisando a
postura geral de Obama frente à política
exterior dos Estados Unidos.
A política exterior de Obama pode
ser resumida como um esforço para
reverter ou desfazer o que, segundo
ele, foram as falidas políticas do gover-
no de Bush. Como candidato, Obama
criticou ferrenhamente a guerra no
Iraque, fundamentando que os EUA es-
tavam combatendo na guerra equivo-
cada (a do Afeganistão era a “correta”)
e prometeu trazer as tropas de volta.
Também optou pelo uso de políticas
“brandas” e por criar algumas pontes
de comunicação com ditadores e go-
vernos não democráticos, como Coreia
do Norte, Irã, Venezuela e Cuba. Obama
ainda qualifi cou como pouco efetivo o
unilateralismo de Bush, favorecendo
soluções multilaterais aos problemas
de política exterior.
O presidente dos EUA decidiu dar
um passo atrás na política de “mu-
dança de regime”, em particular, nos
planos de seu antecessor de impor a
democracia em regimes autoritários.
E, depois da crise econômica, passou
a questionar a sabedoria de promover
economias de mercado e novos acordos
de livre comércio. Após um ano como
presidente, Obama começou a reavaliar
algumas de suas ideias de política ex-
terior, modifi cando-as a ponto de lem-
brarem políticas passadas, incluindo o
governo de seu antecessor.
Obama ainda mantém seu obje-
tivo de retirar-se do Iraque, mas em
um processo mais gradual. De ser a
guerra “correta”, o Afeganistão pas-
sou a ser uma guerra problemática,
e o presidente não pode decidir (pelo
menos enquanto escrevo esta coluna)
se envia ou não mais tropas. Sua pos-
tura com ditadores no Irã e na Coreia
do Norte não deu resultados positivos.
Hugo Chávez ainda critica o império
dos Estados Unidos e continua se in-
trometendo nos assuntos de seus vizi-
nhos, por exemplo, ao colocar um avião
à disposição do presidente deposto de
Honduras. E os esforços para fl exibilizar
a política frente a Cuba foram recebidos
novamente por este com críticas frente
ao embargo dos Estados Unidos.
Os esforços multilaterais tampouco
tiveram sucesso. O governo de Obama
inicialmente somou-se a seus vizinhos
latino-americanos ao criticar o golpe de
Estado contra Ze-
laya em Honduras,
cortar a ajuda ao
governo de fato de
Micheletti e insis-
tir no rápido retor-
no de Zelaya ao po-
der. O ponto morto
que se seguiu só
foi interrompido quando o governo de
Obama decidiu, unilateralmente, ne-
gociar um acordo que permitiu às insti-
tuições políticas hondurenhas decidir o
futuro de Zelaya, restabelecer os canais
de ajuda e reconhecer os resultados das
próximas eleições, sem se importar se
para isso Zelaya tinha sido restituído
ou não. Se não houve progressos nos
tratados de livre comércio com Pana-
má e Colômbia, houve uma troca no
sistema democrático, ao responder às
críticas cubanas de que agora liberar
o sistema político só depende deles. Os
Estados Unidos estão falando em ter-
mos mais duros com Chávez, e seguem
trabalhando com México e Colômbia
em temas de segurança.
Se tudo isso refl ete uma política
exterior concreta para a América La-
tina, é um tema de debate. Também é
questionável se o governo de Obama
pode ou deveria ter uma política exte-
rior para a América Latina. Mas talvez
seja o momento, como recentemente
propôs Hillary Clinton, de apertar o
botão “reiniciar”.
Os Estados Unidos acabam de con-
fi rmar Arturo Valenzuela, um chileno-
norte-americano com vasta experiência
na região, como seu novo subsecretário
para assuntos com o Hemisfério Oci-
dental. Uruguai,
Chile e, potencial-
mente, Colômbia
terão novos presi-
dentes em breve,
e outras eleições
v irão em 2010.
Esperemos que es-
sas trocas tragam
novas ideias e iniciativas. E, quem sa-
be desta vez, os governos amigos na
América Latina sejam mais ativos no
momento de propor e estruturar polí-
ticas hemisféricas que incluam maior
cooperação com os Estados Unidos do
que no passado.
PERDIDOANO
A política exterior de Obama se
assemelha cada vez mais à de Bush
SUSAN KAUFMAN PURCELL é diretora do Centro de Política Hemisférica da Universidade de Miami
82 AméricaEconomia Dezembro, 2009
LINHA DIRETA
Estávamos reunidos em um dos salões do Sofi tel de Bue-
nos Aires, atentos às explicações de Alberto Franicevich sobre
o perfi l da “geração Y”. “Eles nasceram entre 1980 e 2000, e seu
comportamento é muito diferente do das gerações anteriores”,
diz o professor do IAE Business School da Universidade Aus-
tral. Daniel Sierra, diretor do caderno de empregos do jornal La
Nación, confi rma. “Se eles têm um trabalho, mas desejam pas-
sar três meses no Brasil, simplesmente renunciam e se vão.”
Mas como o sistema pode permitir semelhante heresia
sem enviá-los à fogueira da condenação moral ou do desem-
prego permanente?
O que se passa é que “eles preferem os desafi os à estabili-
dade, o projeto em si à empresa onde o realizam e, para eles, a
qualidade de vida é mais importante que o dinheiro”. Frente
a tal argumento, como não ser compreensivo? Além de tudo,
depois das férias, em vez de migrar para a concorrência, eles
se entregam aos braços de alguma organização não governa-
mental que busca melhorar ou salvar o mundo. Deus! Não se
tratará de uma nova safra de garotos que se indignam porque
há gente passando fome no mundo? “Não, eles não são anár-
quicos”, me tranquiliza Serra. “Aceitam a autoridade que vem
do conhecimento e da destreza, e não da hierarquia.”
A companhia Tenaris, titã mundial do aço, está especial-
mente atenta aos “Y”. Horacio Gergero, porta-voz do sistema
de capacitação da empresa, diz que os membros dessa geração
“amam aprender e aprendem ativamente, mas não conse-
guem ultrapassar 20 minutos de atenção quando se trata de
uma aula no modelo tradicional”.
Ao que parece, chateiam-se facilmente. Mas isso, segundo
Gergero, é compensado pelo prazer que
sentem em percorrer e conhecer todos os
setores da companhia. Claro que estão
felizes com o e-learning e, para que pudes-
sem expressar seu potencial ao máximo,
a companhia decidiu abrir a possibilidade
“de que eles desenhassem sua própria
carreira e não uma que fosse imposta por
seus chefes”.
Sierra reconhece que eles podem tirar
mais de um gerente do sério por seu costu-
me de jogar nas horas de trabalho e deitar-
se nos sofás para falar da próxima viagem
às vinícolas da Nova Zelândia, mas são
perdoados porque “são muito inovado-
res, tech-savy, inclusivos, multitasking”.
E provavelmente – ainda que nenhum
empresário jamais reconheça – porque
não estão preocupados com seus direitos
trabalhistas.
A verdade é que a geração “Y” talvez
não esteja forçando uma adaptação das
empresas, mas seja exatamente o perfi l de pessoa que estas
requerem hoje. Se damos razão a Richard Sennett, entretan-
to, não se trata de um bom tipo de pessoas: “a mobilidade
mental as impede de se envolverem a fundo; a capacidade se
concentra na técnica operacional, um exercício de resolução
de problemas mais do que a descoberta de problemas”, o que
signifi ca que “uma pessoa acaba se desentendendo com a
realidade que esteja além de seu controle pessoal”.
Vistos dessa forma, os “Y” seriam incapazes de abraçar um
compromisso profi ssional, já que “o compromisso implica iso-
lamento, abstenção de possibilidades devido à concentração
em uma coisa só”. Somente se é livre, diz, cortando-se laços,
“em particular os que se formaram com o tempo”. É como
acontece com os adolescentes: cheios de vida borbulhante e
compromissos apenas exploratórios.
A apresentação está acabando. Começa a sessão de per-
guntas. O primeiro que levanta a mão dispara: “Será que eles
não são assim porque não têm fi lhos? Aposto que, quando os
tiverem, começarão a se preocupar com o dinheiro, o plano de
carreira e um bom sistema previdenciário”.
ESSA ESTRANHA
GERAÇÃO“Y”
RODRIGO LARA SERRANO, DE BUENOS AIRES
Foto
FER
NA
ND
O C
ARR
ASC
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Nossa mais importante entrega? Um futuro melhor.Na atual economia global, idéias e produtos são compartilhados e as oportunidades surgem mais rápido que nunca. A FedEx ajuda a garantir
que a geração seguinte esteja pronta para um começo promissor ao conectar pessoas, bens e informação ao redor do mundo,
colocando assim, o futuro do continente em boas mãos.
A FedEx faz entregas para um mundo em constante mudança.
experience.fedex.com/education
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009
FedE
x.
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