nexo causal na responsabilidade civil
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Resumo
O presente artigo tem como finalidade tratar do nexo de causalidade na
responsabilidade civil compreendendo primeiramente o que vem a ser a
responsabilidade civil, bem como seus requisitos caracterizadores: conduta humana,
nexo causal e o dano. É estudada a nova forma de responsabilização
prevista no novo Código Civil de 2002, que prevê além da
responsabilidade subjetiva, caso em que é analisada a culpa do ofensor, a
responsabilização objetiva.
São consideradas teorias mais relevantes sobre o nexo causal: a
teoria da equivalência das condições, a teoria da causalidade adequada e a teoria
do dano direto e imediato, sendo esta última adotada pelo Código Civil
Brasileiro que clareiam o tema.
Contudo, não resolve o problema, pois o nexo causal é o ponto onde se
encontra muitas divergências, as teorias apenas fornecem um parâmetro para o juiz,
no caso concreto, aplica-las da melhor forma possível valendo-se da
razoabilidade sempre.
NEXO CAUSAL NA RESPONSABILIDADE CIVIL
A responsabilidade civil esta está ligada à conduta que provoca dano às
outras pessoas, é a obrigação de alguém responder pelas próprias ações ou de
outrem devido um descumprimento de um dever que foi violado, gerando a
obrigação de reparar o dano.
Gladston Mamede conceitua a responsabilidade ao dispor que: “Na ordem
jurídica, onde estiver presente um dever de conduta, sua violação acarreta ao
infrator a obrigação de responder por sua reparação, ou pelas suas consequências
definidas nas diferentes áreas do Direito” e acrescenta ainda o conceito da
responsabilidade na esfera civil especificadamente: “quando, porém, se cogita
especificadamente da responsabilidade civil, o que se tem em mira é a violação do
dever geral de não lesar o patrimônio alheio, em seus aspectos econômicos e
morais” (2011, p. 18). O professor Cristiano Sobral define de forma mais precisa os
aspectos da responsabilidade civil:
A responsabilidade civil está atrelada à conduta humana que produz danos, de modo que somente os fatos jurídicos voluntários, isto é, os atos jurídicos lato sensu, são abrangidos pelo instituto. Os atos jurídicos lato sensu podem ser comissivos ou omissivos, lícitos ou ilícitos. Os atos ilícitos são os que mais interessam à responsabilidade civil, mas os atos lícitos também podem produzir dever de indenizar (2012, online).
A Responsabilidade Civil tem seu fundamento no fato de que ninguém pode
lesar interesse ou direito de outrem. Descreve o artigo 927 do Código Civil brasileiro
que: “aquele que, por ato ilícito (artigos 186 e 187), causar dano a outrem, fica
obrigado a repará-lo” e segue em seu parágrafo único: “haverá obrigação de reparar
o dano, independentemente de culpa, nos casos específicos em lei, ou quando a
atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza,
risco para os direitos de outrem”.
No regime atual a responsabilidade civil se identifica a partir de três requisitos:
a conduta humana, o nexo causal e o dano. Maria Helena Diniz define conduta
humana como sendo "o ato humano, comissivo ou omissivo, ilícito ou lícito,
voluntário e objetivamente imputável, do próprio agente ou de terceiro, que cause
dano a outrem, gerando o dever de satisfazer os direitos do lesado” (2003, pag. 37).
O nexo de causalidade é o vínculo existente entre a conduta do agente e o
resultado por ela produzido. Assim, para se dizer que alguém causou um
determinado fato, faz-se necessário estabelecer a ligação entre a sua conduta e o
resultado gerado, isto é, verificar se de sua ação ou omissão adveio o resultado.
Sílvio de Salvo Venosa ao definir nexo de causalidade ensina que:
O conceito de nexo causal, nexo etimológico ou relação de causalidade deriva das leis naturais. É o liame que une a conduta do agente ao dano. É por meio do exame da relação causal que concluímos quem foi o causador do dano. Trata-se de elemento indispensável. A responsabilidade objetiva dispensa a culpa, mas nunca dispensará o nexo causal. Se a vítima, que experimentou um dano, não identificar o nexo
causal que leva o ato danoso ao responsável, não há como ser ressarcida (2003, pag. 39).
A conduta do agente para acarretar responsabilidade civil deve
comprovadamente causar dano ou prejuízo à vítima. Sem o dano não há que se
falar em responsabilidade civil, pois sem ele não há o que reparar. Sílvio de Salvo
Venosa afirma que:
Somente haverá possibilidade de indenização se o ato ilícito ocasionar dano. Cuida-se, portanto, do dano injusto. Em concepção mais moderna, pode-se entender que a expressão dano injusto traduz a mesma noção de lesão a um interesse, expressão que se torna mais própria modernamente, tendo em vista ao vulto que tomou a responsabilidade civil. Trata-se, em última análise, de interesse que são atingidos injustamente. O dano ou interesse deve ser atual e certo; não sendo indenizáveis, a principio, danos hipotéticos. Sem dano ou sem interesse violado, patrimonial ou moral, não se corporifica a indenização. A materialização do dano acorre com a definição do efetivo prejuízo suportado pela vítima (2003, pag. 28).
Inicialmente a noção de nexo causal na responsabilidade civil se ligava a ideia
de que o dano era resultado da conduta culposa e deveria ser reparado. O Código
Civil de 1916 por meio do artigo 159 consagrou como regra geral a responsabilidade
subjetiva. Nessa época a ideia de culpa era que determinava a responsabilidade do
agente causador do dano, o nexo causal tinha um papel secundário, muitas vezes,
nem mesmo se fazia a avaliação do nexo causal entre o agente e o dano, bastando
que aquele tenha atuado com culpa, somente a responsabilidade subjetiva era
indenizável.
Com o passar do tempo a multiplicação das máquinas, a crescente
quantidade de empresas industrializadas, a evolução da tecnologia aumentou-se os
benefícios para humanidade, mas por outro lado houve uma expansão dos riscos de
acidentes danosos (Mamede, et al, 2011, pp. 106,107).
Surge, então, a necessidade do legislador ampliar as hipóteses. Assim,
surgem as teorias da responsabilidade civil objetiva onde o causador do dano
responderá objetivamente, sem necessidade de análise da culpa. Na
responsabilidade civil objetiva observa-se não mais o ofensor e sua culpa, mas o
ofendido e a extensão do prejuízo, para a reparação do dano.
Carlos Roberto Gonçalves cita as três teorias principais quais sejam: a
teoria da equivalência das condições, teoria da causalidade adequada e a teoria dos
danos diretos e imediatos. A primeira teoria ele define como: “toda e qualquer
circunstância que haja concorrido para produzir o dano é considerado como causa.
A sua equivalência resulta de que, suprimida uma delas, o dano não se verificaria”
(2011, p. 349). Para esta teoria todas as condutas conduzem ao resultado danoso.
Desta feita, suprimindo uma conduta, o resultado não acontecerá. Essa teoria tem
vários equívocos e sofreu muitas criticas, pois ela poderia levar a conclusões
absurdas, haja vista que todas as condições são necessárias ao resultado.
A segunda teoria, a da causalidade adequada, Gonçalves conceitua como:
“somente considera como causadora do dano a condição por si só apta a produzi-lo”
(2011, p. 350). Para esta teoria a conduta originaria do dano será considerada sua
causa desde que tal resultado decorra naturalmente desta conduta. Imputa-se ao
agente a responsabilidade por um dano, quando a ciência e a técnica existente à
época entendem que aquela conduta provoca normalmente aquele resultado
danoso. Portanto, a condição deve ser adequada à produção do efeito.
Por fim, a terceira teoria chamada danos diretos e imediatos Gonçalves define
como: “nada mais é do que um amálgama das anteriores, uma espécie de meio-
termo, mais razoável. Requer ela haja, entre a conduta e o dano, uma relação de
causa e efeito direta e imediata” (2011, p. 350). Para esta teoria consideram-se
causas apenas aquelas vinculadas ao dano direta e imediatamente.
Das diversas teorias apresentadas sobre o nexo causal, o Código Civil adotou
a do dano direto e imediato conforme dispõe o artigo 403 ao prevê: “Ainda que a
inexecução resulte de dolo do devedor, as perdas e danos só incluem os prejuízos
efetivos e os lucros cessantes por efeito dela direto e imediato, sem prejuízo do
disposto na lei processual”. Porém, a teoria dos danos diretos e imediatos, não tem
o condão de resolver todas as questões práticas que surgir. Enneccerus pondera:
A difícil questão de saber até onde vai o nexo causal não se pode resolver nunca, de uma maneira plenamente satisfatória, mediante
regras abstratas, mas em casos de dúvida o juiz há de resolver segundo sua livre convicção, ponderando todas as circunstâncias (GONÇALVES, apud, ENNECCERUS, 2011, p. 353).
Segundo Sergio Cavalieri Filho, apesar das teorias existentes acerca do nexo
causal e tudo o que já foi efetivamente escrito sobre o tema, o problema da
causalidade não encontra um solução simples e única, que seria válida para todos
os casos. Este constatou que o nexo causal é o ponto onde se encontra maiores
divergências entre os julgadores de todos os graus. Sendo assim, as teorias apenas
fornecem um parâmetro, mas a solução do conflito exige do julgador bom senso,
portanto o julgador necessitaria de um juízo de adequação, que seria aplicado com
base na lógica do razoável (2010, p. 142).
Atualmente a prova do nexo causal, apesar de ser a mais importante
quando se fala de responsabilidade civil, ainda é muito difícil e insegura de
ser feita. Tantas foram as teorias criadas para definir os limites do nexo causal, que
não raras vezes os tribunais brasileiros se confundem. A investigação do nexo
causal no Brasil é feita de forma intuitiva e atécnica, sob a influência de muitas
teorias.
O objetivo deste trabalho parece estar cumprido, qual seja, tecer um estudo
aprofundado sobre o nexo de causalidade, apontando a problemática do tema.
Foram apresentadas definições e o cerne do presente artigo reside na dificuldade do
reconhecimento do nexo causal.
BIBLIOGRAFIA
CAVALIERI FILHO, Sergio. Programas de Responsabilidade Civil.9 ed. São Paulo: Atlas, 2010.
DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito civil Brasileiro: Responsabilidade Civil. Vol.7. 17°ed. São Paulo: Saraiva, 2003.
Gonçalves, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro: respondabilidade civil. Vol. 4. 6ª Ed. São Paulo: Saraiva. 2011.
Mamede, Gladston. Responsabilidade Civil Contemporânea: Em Homenagem a Sílvio de Salvo Venosa. 1º Ed. São Paulo. Atlas, 2011.
VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: Responsabilidade Civil. Vol.4. 3°ed. São Paulo: Atlas S.A., 2003.
Sobral, Cristiano. Responsabilidade Civil. Disponível em: http://www.professorcristianosobral.com.br/matdiv/ResponsabilidadeCivil.pdf. Acessado em: 10/03/2013.
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