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Moluscos de água doce da Ilha Grande,
Angra dos Reis, Rio de Janeiro, Brasil:
diversidade e distribuição
Igor Christo Miyahira
Rio de Janeiro
Setembro - 2009
UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
INSTITUTO DE BIOLOGIA ROBERTO ALCANTARA GOMES
DEPARTAMENTO DE ZOOLOGIA
LABORATÓRIO DE MALACOLOGIA LÍMNICA E TERRESTRE
ii
Igor Christo Miyahira
Moluscos de água doce da Ilha Grande, Angra dos Reis,
Rio de Janeiro, Brasil: Diversidade e Distribuição.
Orientadora: Profa. Dra. Sonia Barbosa dos Santos
Monografia apresentada ao Instituto de Biologia Roberto
Alcantara Gomes da Universidade do Estado do Rio de
Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do
grau de Bacharel em Ciências Biológicas.
Rio de Janeiro
Setembro – 2009
iii
Igor Christo Miyahira
Moluscos de água doce da Ilha Grande, Angra dos
Reis, Rio de Janeiro, Brasil: Diversidade e Distribuição
Resultado: _________________________com grau _______
Monografia submetida como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em
Ciências Biológicas pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, avaliada pela comissão
formada pelos professores:
Orientadora: ______________________________________________ Dra. Sonia Barbosa dos Santos (UERJ) 1° Examinador ______________________________________________ Dr. Timothy Peter Moulton (UERJ) 2° Examinador ______________________________________________ M.Sc.. Monica Ammon Fernandez (Fiocruz) 3° Examinador ____________________________________________________
Dra. Sandra Aparecida Padilha Magalhães Fraga (Fiocruz) Suplentes: ______________________________________________
Dr. Francisco José de Figueiredo (UERJ)
______________________________________________ M.Sc. Gleisse Kelly Meneses Nunes (UERJ)
Rio de Janeiro, 30 de setembro de 2009.
iv
Dedicado a todos aqueles que
de uma forma ou de outra lutam pela
preservação e pelo conhecimento da
Ilha Grande
v
O universo e o mundo são
lugares extremamente belos e quanto
mais entendemos sobre eles, mais
belos eles parecem ser.
-Richard Dawkins
vi
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais, Renato Miyahira e Lucia V. C. Miyahira, por incentivar meus
estudos, pelo apoio incondicional ao meu trabalho e, é claro, todo amor e carinho,
depositado em mim ao longo dos anos. Ao meu irmão Eric C. Miyahira que foi um
amigo para todas as horas.
À minha Orientadora, a Profa. Sonia B. dos Santos, por ter me aceito em seu
laboratório, ter me ajudado e me aturado durante esses anos. Os seus ensinamentos,
conselhos e broncas nestes primeiros passos no mundo da ciência levarei por toda a
vida.
À Carla Freitas, minha companheira e amiga, por todo carinho, apoio e
compreensão nestes anos. Seu estímulo e apoio foi essencial por todo o caminho.
À toda a minha família, avô, tios e primos por me apoiar e entender as minhas
ausências nos aniversários quando estava em trabalho de campo, que não foram
poucos!
Ao amigo e companheiro de laboratório, Luiz E. M. de Lacerda pelo
companheirismo e amizade de todos esses anos. Este trabalho certamente não existiria
se não fosse pela sua ajuda.
Aos integrantes do Laboratório de Malacologia da UERJ, meus amigos,
Gleisse K. M. Nunes, Amilcar B. Barbosa, Tiago A. Viana, Francielle C. da Fonseca,
Jaqueline L. de Oliveira, Patrícia do S. dos S. da Silva, Isabela C. B. Gonçalves,
Renata F. Ximenes, Claudia L. Rodrigues e Luciane Guilhermino, a amizade de vocês,
a ajuda no trabalho de campo e as conversas na hora do almoço foram vitais para este
trabalho. O espaço aqui se torna diminuto para demonstrar toda a gratidão.
vii
Aos meus amigos da inesquecível turma Bio 2003/2 em especial André,
Alexandre, Danielle, Juliana, Lívia, Maíra, Marcelle, Marcela, Michelle, Michelly e
Pablo, certamente nunca existiu outra turma igual!
Sendo bem clichê... Aos professores, Julio Monteiro, Valéria Gallo, Francisco
Figuereido, Timothy Moulton e Rui Santos que não foram só professores e sim
mestres, suas influências moldaram muito do meu pensamento biológico.
À toda equipe do Centro de Estudos Ambientais e Desenvolvimento
Sustentável da Ilha Grande (CEADS) pela infra-estrutura e apoio logístico.
À bióloga Norma C. Maciel pela licença de coleta na Reserva Biológica
Estadual da Praia do Sul. Aos fiscais, Antonio C. de Souza e Clementino Silva, por
nos levarem através da Pedra do Demo em direção a Praia do Sul. À administradora
Deise Benevides pelo apoio logístico.
À Brigada Mirim da Ilha Grande pela carona na volta de Provetá.
A todos os moradores da Ilha Grande que nos ajudaram, emprestaram seus
quintais, nos permitiram acessar “seus” rios e nos deram valiosas informações.
Agradeço em especial ao seu Silvio, Jorge e João (Parnaioca); Nei (Praia Grande de
Araçatiba); Mestre Hernani (Provetá); Vadinho (Matariz) e Nélia (Praia da Longa).
À Universidade do Estado do Rio de Janeiro e Instituto de Biologia Roberto
Alcântara Gomes pela infraestrutura básica.
Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)
pela bolsa de Iniciação Cientifica concedida no período de 2005-2007.
Obrigado a todos!!!
viii
SUMÁRIO
4.3. Lista sistemática.......................................................................................... 46
4.4. Breve descrição e distribuição das espécies encontradas............................ 48
4.5. Distribuição dos moluscos de água doce na Ilha Grande............................ 52
4.6. Preservação dos corpos d’ água e ameaças à conservação da malacofauna
de água doce................................................................................................
57
5. CONCLUSÕES............................................................................................................ 66
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................................ 68
LISTA DE TABELAS........................................................................................................
Página
ix
LISTA DE QUADROS...................................................................................................... x
LISTA DE FIGURAS........................................................................................................ xi
RESUMO........................................................................................................................ xii
ABSTRACT..................................................................................................................... xiii
1.INTRODUÇÃO.............................................................................................................. 14
1.1. Mata Atlântica e a Ilha Grande................................................................... 14
1.2. Diversidade de moluscos de água doce...................................................... 18
2. OBJETIVO.................................................................................................................. 25
3. MATERIAL E MÉTODOS............................................................................................. 26
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO....................................................................................... 33
4.1. Localidades................................................................................................ 33
4.2. Diversidade de moluscos de água doce na Ilha Grande.............................. 40
ix
LISTA DE TABELAS
Página Tabela I. Espécies de moluscos de água doce existentes no Brasil de acordo com o
catálogo de Simone (2006)..................................................................................................
18
Tabela II. Classificação dos ambientes da Ilha Grande pesquisados neste
trabalho...............................................................................................................................
29
Tabela III. Localidades visitadas durante este trabalho, também são apresentadas as
referências geográficas (GPS), as datas de coleta e o ambientes amostrados em cada
localidade. .........................................................................................................................
33
Tabela IV. Moluscos de água doce encontrada na Ilha Grande separados por
localidades. As localidades estão ordenadas na ordem decrescente do número de
espécies encontradas...........................................................................................................
52
Tabela V. Localidades visitadas na Ilha Grande aonde foram encontrados moluscos
associadas com os impactos encontrados em cada lugar ...................................................
57
Tabela VI. Resultado do Protocolo de Avaliação Rápida .................................................
60
x
LISTA DE QUADROS
Página Quadro I. Protocolo de avaliação rápida dos ambientes lóticos da Ilha Grande aonde
foram encontrados moluscos............................................................................................
61
xi
LISTA DE FIGURAS
Página
Figura 1. Mapa da baia da Ilha Grande, mostrando a localização da ilha em relação às
localidades vizinhas.............................................................................................................
17
Figura 2. Mapa do município de Angra dos Reis mostrando sua hidrografia...................
17
Figura 3. Anoitecer próximo a Aroeiras. Nesta foto é possível observar o desenho da
costa em vários trechos da Ilha Grande..............................................................................
28
Figura 4. Localidades e pontos de coleta. A –Vila do Abraão. B –Parnaioca. C –
Matariz. D –Vila do Abraão. E –Provetá. F –Vila do Abraão...........................................
37
Figura 5. Localidades e pontos de coleta. A – Praia do Sul. B – Lagoa do Sul. C – Vila
Dois Rios. D – Lopes Mendes. E – Praia do Perequê. F – Saco do
Céu......................................................................................................................................
38
Figura 6. Mapa das 28 localidades de coleta na Ilha Grande.............................................
39
Figura 7. Moluscos de água doce encontrados na Ilha Grande. A – Melanoides
tuberculatus. B – Heleobia australis. C – Heleobia sp. D – Biomphalaria tenagophila.
E – Antillorbis nordestensis...............................................................................................
44
Figura 8. Moluscos de água doce encontrados na Ilha Grande. A - Ferrissia sp. B –
Burnupia sp. C – Gundlachia ticaga. D – Uncancylus concentricus. E – Pisidium
punctiferum.........................................................................................................................
45
Figura 9. Escalonamento multidimensional das localidades da Ilha Grande onde foram
encontrados moluscos usando como base os parâmetros avaliados no Protocolo de
Avaliação Rápida................................................................................................................
62
xii
RESUMO
O objetivo deste trabalho foi identificar a diversidade e a distribuição da fauna
de moluscos de água doce ocorrentes na Ilha Grande, Angra dos Reis, Rio de Janeiro,
Brasil. Foram visitadas 28 localidades na Ilha Grande onde os moluscos foram
coletados através de uma metodologia de coleta direta. O grau de conservação dos
ambientes de água doce também foi avaliado através do Protocolo de Avaliação
Rápida (PAR). Ocorrem na Ilha Grande nove gastrópodes e uma espécie de bivalve de
água doce, totalizando dez espécies. As espécies encontram-se distribuídas em cinco
grupos: Thiaridae, Melanoides tuberculatus (Müller, 1774); Hydrobiidae, Heleobia
autralis (d´Orbigny, 1835) e Heleobia sp.; Planorbidae, Biomphalaria tenagophila
(d´Orbigny, 1835) e Antillorbis nordestensis (Lucena, 1954); Ancylidae, Gundlachia
ticaga (Marcus & Marcus, 1962), Uncancylus concentricus (d´Orbigny, 1835),
Ferrissia sp. e Burnupia sp. e Sphaeriidae, Pisidium punctiferum (Guppy, 1867).
Ancylidae foi o grupo mais diversificado e P. punctiferum foi o molusco mais comum
ocorrendo em nove das 28 localidades visitadas. Duas espécies, Burnupia sp. e
Heleobia sp., provavelmente são endêmicas da região, também identificamos espécies
exóticas na Ilha Grande. O resultado do PAR indicou uma maior quantidade de
ambientes caracterizados como “naturais” na Ilha Grande.
Palavras chave: Mollusca, Ilha Grande, moluscos de água doce, diversidade,
distribuição, Protocolo de Avaliação Rápida
xiii
ABSTRACT
The main goal of this work was to identifiy the diversity and distribution of
freshwater molluscan fauna on Ilha Grande, Angra dos Reis, Rio de Janeiro, Brazil.
We visited 28 localities around Ilha Grande. We searched for molluscs using a handled
metallic scoop by three collectors. The conservation degree of freshwater habitats was
evaluated by a Rapid Access Protocol (RAP). We found nine snails and one bivalve,
summing ten species. The species were distributed in five groups: Thiaridae,
Melanoides tuberculatus (Müller, 1774); Hydrobiidae, Heleobia autralis (d´Orbigny,
1835) e Heleobia sp.; Planorbidae, Biomphalaria tenagophila (d´Orbigny, 1835) and
Antillorbis nordestensis (Lucena, 1954); Ancylidae, Gundlachia ticaga (Marcus &
Marcus, 1962), Uncancylus concentricus (d´Orbigny, 1835), Ferrissia sp. and
Burnupia sp. and Sphaeriidae, Pisidium punctiferum (Guppy, 1867). Ancylidae was
the more diversified group. Pisidium punctiferum was the most common mollusc
occurring in nine of 28 localities. Two species, Burnupia sp. and Heleobia sp,
probably were endemic to Ilha Grande region, we also identified exotic species. RAP´s
results indicates a high number of Ilha Grande localities classified as preserved.
Keywords: Mollusca, Ilha Grande, freshwater molluscs, diversity, distribution, Rapid
Access Protocol
Moluscos de água doce da Ilha Grande
14
1 – INTRODUÇÃO
1.1 - MATA ATLÂNTICA E A ILHA GRANDE
A Ilha Grande está localizada ao sul do estado do Rio de Janeiro (23° 05´ e 23°
15´ S; 44° 05´ e 44° 23´ W), no município de Angra dos Reis, inserida na mesorregião
sul do estado do Rio de Janeiro. Esta mesorregião possui uma grande quantidade de
remanescentes da Mata Atlântica, onde o município de Angra dos Reis se destaca por
possuir 81% de sua área coberto por remanescentes da Mata Atlântica (SOS Mata
Atlântica & INPE, 2009; Fig. 1). O domínio da Mata Atlântica é considerado um
hotspot de biodiversidade, ou seja, uma área de grande biodiversidade (Myers et al.,
2000) apesar do pouco conhecimento científico no caso do Brasil (Bergallo et al.,
2000).
A Mata Atlântica da Ilha Grande é composta não só por floresta ombrófila
densa, mas também por mangues, restingas e alagados. As áreas de floresta primária
encontram-se principalmente nas cotas mais altas das montanhas (Alho et al. 2002;
Oliveira, 2002).
Existem diversas iniciativas para proteger remanescentes dos ecossistemas da
Ilha Grande. Nos 192 km2 da ilha existem quatro diferentes unidades de conservação.
Somente o Parque Estadual da Ilha Grande possui 32 microbacias hidrográficas (INEA,
2009), demonstrando o grande potencial hídrico da região (Fig. 2). As principais
localidades inclusas nesta área de proteção são Palmas, Pouso, Mangues, Lopes
Mendes, Caxadaço, Vila Dois Rios e Parnaioca, além de trecho mais interno que inclui
o Pico do Papagaio e o Pico da Pedra d’Água. As outras unidades de conservação são: a
Reserva Biológica Estadual da Praia do Sul, que inclui além da praia de mesmo nome, a
Praia do Leste, a Praia do Demo e o Aventureiro; o Parque Estadual Marinho do
Igor Christo Miyahira Setembro/2009
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Aventureiro e a Área de Proteção Ambiental dos Tamoios, sendo esta última de ampla
abrangência, incluindo todas as ilhas da Baia da Ilha Grande e uma parte continental do
município de Angra dos Reis. Este grande número de Unidades de Conservação em
uma única região demonstra a importância da preservação da Ilha Grande, assim como a
importância do estudo dos seus ecossistemas.
A Ilha Grande sofre com as pressões antrópicas desde a época de seu
descobrimento. A colonização da ilha por índios do tronco tupinambá ocorreu por volta
de 1000 anos atrás, estes instalaram na ilha roças de corte e queima. Com a chegada dos
portugueses foi realizada na ilha o corte de pau-brasil. As construções que haviam
ficavam próximas aos portos devido ao comércio e a extração de óleo de baleia que
também ocorria na região. Nos séculos XVIII e XIX foram instaladas lavouras na Ilha
Grande, principalmente de café e cana de açúcar, havendo intenso desmatamento. No
final do século XIX e começo do XX foram instaladas as prisões da Ilha Grande, função
esta que ela sustentou até o final da década de 90 do século XX. A primeira, o Lazareto,
foi construída por ordem do imperador Dom Pedro II nas proximidades da Vila do
Abraão, obra que impulsionou o crescimento da vila, pois, até então, o principal
povoado da ilha era o de Freguesia de Santana. Inicialmente o Lazareto funcionou como
hospital de quarentena sendo depois transformado em presídio político. Posteriormente,
este presídio foi desativado, sendo os cárceres transferidos para o presídio de Vila Dois
Rios, a Colônia Penal Rural Cândido Mendes. Entre as décadas de 40 e 80 do século
XX, a ilha teve um crescimento acentuado da pesca de sardinha, foram instaladas em
sua orla 25 fábricas de processamento de sardinha; com o declínio da pesca, as fábricas
fecharam (Mello, 1987). Em 1994 foi desativado o presídio de Vila Dois Rios, desta
forma o turismo na ilha foi estimulado. O número de pousadas na Vila do Abraão antes
do encerramento do presídio era de apenas meia dúzia tendo aumentado para mais de 80
Moluscos de água doce da Ilha Grande
16
atualmente (Prado, 2003a). Assim, aumentou o fluxo de pessoas na ilha e a construção
civil. A grande quantidade de turistas gera uma grande quantidade de lixo, que é um
problema não resolvido na Ilha Grande (Oliveira & Feichas, 2005). A ocupação das
encostas da ilha também é notória, repetindo o processo de ocupação que aconteceu em
Angra dos Reis.
Podemos identificar algumas “fases” correspondentes aos ciclos econômicos. A
floresta da Ilha Grande, e consequentemente seus riachos e córregos, ficou protegida até
a derrubada intensiva da floresta nos ciclos do café e da cana de açúcar. Após o término
destes ciclos a floresta passou por um processo de regeneração visto que as atividades
econômicas realizadas posteriormente faziam uso principalmente do mar (pesca) ou
protegiam a floresta de forma indireta (presídios) (Wunder, 2006), apesar de, no entorno
dos presídios a mata ter sido completamente alterada e ter havido corte seletivo das
madeiras mais nobres. O turismo feito de forma descontrolada vem novamente ameaçar
as matas da Ilha Grande (Prado, 2003 a,b).
O conhecimento sobre a fauna e flora da Ilha Grande ainda é muito incipiente
apesar de ser maior do que em outras áreas de conservação do estado (Rocha et al.
2003). Muitos destes estudos foram impulsionados pela instalação do Centro de Estudos
Ambientais e Desenvolvimento Sustentado da Ilha Grande (CEADS), campus avançado
da Universidade do estado do Rio de Janeiro na Vila Dois Rios.
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Moluscos de água doce da Ilha Grande
18
1.2 - DIVERSIDADE DE MOLUSCOS DE ÁGUA DOCE
Os moluscos são o segundo grupo em diversidade sendo só ultrapassados pelos
artrópodes (Brusca & Brusca, 2007). As estimativas do número de espécies de moluscos
são muito variáveis podendo chegar até 200.000 espécies (Strong et al. 2008). Apesar
de toda essa diversidade, estudos sobre o grupo não são comuns; é estimado que metade
das espécies de moluscos existentes não tenha ainda sido descrita (Brusca & Brusca,
2007). Calcula-se que existam 4.000 espécies válidas de gastrópodes de água doce em
todo o mundo, sendo creditadas para o Neotrópico 533 espécies (Strong et al. 2008). O
número de bivalves de água doce em todo o mundo é de aproximadamente de 1.026
espécies (Bogan, 2008). No Brasil são reconhecidas 193 espécies de gastrópodes de
água doce (Simone, 1999) e 115 espécies de bivalves de água doce (Avelar, 1999).
Simone (2006) em seu catálogo de tipos das espécies que ocorrem em território
brasileiro aponta a existência de 224 espécies nominais de gastrópodes de água doce e
127 de bivalves. A tabela I apresenta maiores detalhes.
Tabela I. Número de espécies de moluscos de água doce existentes no Brasil de acordo com o catálogo
de Simone (2006). Na primeira coluna são apresentadas as famílias de Gastropoda (Ampulariidae até
Ancylidae) e Bivalvia (Hyriidae até Lyonsiidae), na segunda coluna são apresentados os gêneros
encontrados no Brasil e na última coluna o número total de espécies nominais.
Família Gêneros Número de
espécies
Ampulariidae Pomacea Perry, 1811; Asolene d´Orbigny, 1837;
Pomella Gray, 1847; Felipponea Dall, 1919; Marisa
Gray, 1824
53
Pleuroceridae Dorysa H. & A. Adams, 1854 37
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19
Thiaridae Aylacostoma Spix, 1827 33
Hydrobiidae Potamolithus Pilsbry, 1826; Littoridina Eydoux &
Souleyet, 1852; Lyrodes Döring, 1824; Sioliella Haas,
1949
34
Pomatiopsidae Idiopyrgus Pilsbry, 1911 2
Chilinidae Chilina Gray, 1827 14
Lymnaeidae Lymnaea Lamarck, 1799 3
Physidae Physa Draparnaud, 1801; Aplexa Fleming, 1820 4
Planorbidae Biomphalaria Preston, 1910; Drepanotrema Crosse &
Fischer, 1880; Acrobis Odhner, 1937; Plesiophysa
Fischer, 1883
26
Ancylidae Anisancylus Pilsbry, 1824; Burnupia Walker, 1912;
Ferrissia Walker, 1903; Gundlachia Pfeiffer, 1849;
Hebetancylus Pilsbry, 1913; Lavaepex Walker, 1903;
Uncancylus Pilsbry, 1913
18
Hyriidae Prisodon Schumacher, 1817; Paxyodon Schumacher,
1817; Callonaia Simpson, 1900; Castalia Lamarck,
1819; Castaliella Simpson, 1900; Diplodon Spix,
1827; Rhipidodonta Mörch, 1853
37
Mycetopodidae Diplodontites Marshall, 1922; Anodontites Bruguère,
1792; Lamproscapha Swainson, 1840; Bartlettia A.
Adams, 1866; Fossula Lea, 1870; Mycetopoda
d´Orbiny, 1835; Leila Gray, 1840; Monodondylaea
d´Orbigny, 1835; Tamsiella Haas, 1932;
Mycetopodella Marshall, 1927; Iheringiella Pilsbry,
34
Moluscos de água doce da Ilha Grande
20
1923; Haasica Strand, 1932
Dreissenidae Mytiolopsis Conrad, 1857; Congeria Partsch, 1835 2
Corbicullidae Cyanocyclas Blainville, 1818 2
Pisidiidae (=
Sphaeriidae)
Pisidium Pfeiffer, 1821, Eupera Bourguignat, 1854;
Byssanodonta d´Orbigny, 1846; Musculium Link, 1807
36
Lyonsiidae Anticorbula Dall, 1898 1
Apesar de existir grande potencial hídrico na Ilha Grande (Fig. 2) e um
considerável número de Unidades de Conservação, a malacofauna de água doce foi
pouco estudada, estando o conhecimento restrito a cinco trabalhos, sendo três destes
trabalhos (Santos et al. 1999; Santos et al. 2007; Santos et al. 2009) realizados pelo
Laboratório de Malacologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. O último
destes trabalhos (Santos et al. 2009) é decorrência do encontrado no presente estudo,
sendo recentemente publicado, desta forma tratamos dele na seção de resultados. Nosso
laboratório tem realizado estudos na Ilha Grande desde 1995, principalmente por causa
da implementação do CEADS na Ilha Grande.
Haas (1953) publicou o primeiro catálogo de moluscos da Ilha Grande, porém
com ênfase nos marinhos. Foram citadas apenas duas espécies de água doce, um
bivalve, Pisidium globulus Clessin, 1888 (Sphaeriidae) e um gastrópode, Burnupia
(Anisancylus) obliquus (Broderip & Sowerby, 1832) (Ancylidae). Somente após 46
anos a malacofauna voltou a ser estudada. Santos et al. (1999) assinalaram a existência
de uma espécie de planorbídeo, Antillorbis nordestensis (Lucena, 1954), na área do
CEADS – UERJ. Thiengo et al. (2004a) citaram a existência de três espécies de
ancilídeos, Gundlachia ticaga (Marcus & Marcus, 1962), Gundlachia sp. e Ferrissia sp.
e um planorbídeo, A. nordestensis na Vila do Abraão, principal vilarejo da Ilha Grande.
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21
Santos et al (2007) identificaram a presença de duas espécies exóticas, Melanoides
tuberculatus (Müller, 1774) e Biomphalaria tenagophila (d´Orbigny, 1835),
recentemente introduzidas na Vila do Abraão, sendo uma das evidências para esta
afirmação a ausência destas espécies no trabalho de Thiengo et al. (2004a) que
investigou áreas semelhantes três anos antes e não as encontrou. É importante ressaltar
que B. tenagophila ocorre naturalmente no sudeste do Brasil, porém a consideramos
como exótica na Ilha Grande pelo motivo explicitado acima.
Percebe-se desta forma a escassez de bibliografia no tocante a este grupo de
invertebrados aquáticos, fato este que ocorre em diversas áreas do estado do Rio de
Janeiro (Moulton et al. 2000).
Os diversos ciclos antrópicos que ocorreram na Ilha Grande certamente tiveram
forte influência sobre a sua fauna e flora. Atualmente outra forma de ameaça a fauna e
flora da Ilha Grande se dão através da instalação de espécies exóticas na ilha, muitas
vezes trazidas de forma inadvertida. Sabe-se que algumas espécies, como os jacarés,
existiram na ilha em um tempo pretérito e foram extintos localmente (Mello, 1987),
sendo recentemente introduzido o jacaré-de-papo-amarelo. Caracóis de jardim exóticos
entre eles, Beckianum beckianum (Pfeiffer, 1846), Bradybaena similaris (Férussac,
1821) e Subulina octona (Bruguière, 1792) podem ser encontrados em Vila Dois Rios
provavelmente vindo junto com mudas de plantas (Fonseca et al., 2009; Nunes, 2007).
O caramujo gigante africano, Achatina fulica Bowdich, 1822 foi introduzido
recentemente na ilha e pode representar um risco à saúde pública e a diversas espécies
nativas (Santos et al. 2002). No tocante à flora exótica podemos destacar a presença de
jaqueiras, Artocarpus heterophyllus Lamarck, que dominam várias áreas suprimindo
espécies vegetais nativas (Abreu, 2008).
Moluscos de água doce da Ilha Grande
22
A modificação ambiental promovida pelo homem representa um sério risco aos
moluscos de água doce (Lydeard et al. 2004). Avaliando o número de extinções em
proporção com a diversidade do grupo, percebemos que os gastrópodes de água doce
estão desaparecendo mais rápido do que seus parentes marinhos e terrestres (Strong et
al. 2008). A biodiversidade em áreas tropicais é surpreendente (Myers et al. 2000),
porém muito vem sendo perdido sem ao menos ser conhecido pela ciência; isto é
verdade principalmente no caso dos invertebrados, grupo no qual os trabalhos ainda são
mais escassos (Coimbra-Filho, 1998; Moulton et al. 2000; Amaral et al. 2008). Segundo
a listagem do Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção (Amaral et al.
2008) existem 29 espécies de moluscos ameaçados no Brasil, dos quais 27 são espécies
de água doce, sendo 26 bivalves e um gastrópode. O desenvolvimento desordenado, a
poluição, a construção de reservatórios e usinas hidrelétricas e as espécies exóticas só
vem a contribuir com o aumento deste número, devido à fragilidade deste grupo,
principalmente dos bivalves, frente aos impactos trazidos pelo homem.
Levantamentos de fauna representam a parte inicial de qualquer trabalho de
zoologia ou ecologia, porém, não tem sido dada a devida atenção aos levantamentos
faunísticos, que são considerados por muitos pesquisadores como trabalhos de menor
importância. Entretanto, sem eles, não podem ser realizados outros trabalhos mais
“valorizados”. Os levantamentos são a forma mais direta de acessar a biodiversidade
local. Bergallo et al. (2000) apontou os levantamentos de fauna como essenciais para a
elaboração de listas de espécies ameaçadas. O conhecimento da fauna de um
determinado local pode ajudar a indicar áreas prioritárias para conservação através do
mapeamento das espécies.
Levantamentos faunísticos de moluscos de água doce em Unidades de
Conservação do estado do Rio de Janeiro são poucos. Santos et al. (2003) forneceram o
Igor Christo Miyahira Setembro/2009
23
levantamento prévio das espécies do Parque Estadual da Pedra Branca (PEPB), região
Metropolitana do Rio de Janeiro. Este trabalho encontrou oito espécies de gastrópodes e
um bivalve, a saber: Heleobia sp., M. tuberculatus; Pomacea sordida (Swaisson, 1823),
Physa cubensis Pfeiffer, 1839 (= Physa acuta Draparnaud, 1805), A. nordestensis, B.
tenagophila, G. ticaga, Ferrissia sp. e Pisidium sp. Braun (2005) acrescenta a esta lista
Drepanotrema cimex (Moricand, 1839); Physa marmorata Guilding, 1828; Lymnaea
columella Say, 1817; Heleobia davisi Silva & Thomé, 1985 e Pisidium punctiferum
(Guppy, 1867). Somando estes dois trabalhos temos um total de 14 espécies para o
PEPB. Para o Parque Nacional de Itatiaia, Barth (1957) apresentou duas espécies,
Australorbis inflexus Paraense & Deslandes, 1956 (= Biomphalaria peregrina
(d´Orbigny, 1835)) e Aplexa brasiliensis Kock in Küster, 1844 (= Physa papaveroi
Leme, 1966). Andreata & Marca (1993) tratando da ictiofauna dos riachos e lagos do
Parque Nacional da Tijuca, reporta a existência de duas espécies de moluscos, M.
tuberculatus e Pomacea sp. Este último autor classifica a malacofauna da Tijuca como
pouco diversa, mas o número de espécies encontradas foi o mesmo de Barth (1957).
Como contraponto a estes poucos trabalhos em unidades de conservação podemos citar
os trabalhos da carta planorbídica do estado do Rio de Janeiro, onde foram investigadas
as principais áreas dos municípios do Rio de Janeiro. O número de espécies em cada
município variou de 17 espécies (Campos e Cambuci) até localidades sem espécies
(Nilópolis) (Thiengo et al. 2001, 2002a, 2002b, 2004a, 2004b, 2006).
Na Ilha Grande levantamentos faunísticos abrangentes são raros, entendendo-se
abrangentes como trabalhos que vistoriaram várias áreas na Ilha Grande. Entre eles
podemos citar Esberard et al. (2006) que levantaram os morcegos e Creed et al. (2007)
que trataram da fauna marinha. Os demais trabalhos abordam a ecologia e/ou biologia
de um determinado animal ou planta em uma ou poucas localidades da ilha (e.g. Santos
Moluscos de água doce da Ilha Grande
24
& Monteiro, 2001; Rocha et al., 2004; Nunes-Freitas et al., 2006; Rezende & Mazzoni,
2006; Nunes, 2007).
Este trabalho constitui o primeiro levantamento abrangente dos moluscos de
água doce da Ilha Grande, sendo fundamental para o desenvolvimento de futuros
trabalhos de conservação e manejo na ilha, melhor compreensão da sua biodiversidade,
assim como da biologia das espécies que a compõe.
Igor Christo Miyahira Setembro/2009
25
2 – OBJETIVO
O objetivo deste trabalho foi esclarecer a composição e a distribuição da fauna
de moluscos de água doce da Ilha Grande, Angra dos Reis, Rio de Janeiro, Brasil.
Moluscos de água doce da Ilha Grande
26
3 – MATERIAL E MÉTODOS
Analisando o mapa com curvas de nível da Ilha Grande, selecionamos as
localidades a serem trabalhadas, de modo a abranger o maior número de localidades
possíveis. Foram priorizadas áreas de baixadas e planícies, pois nossa experiência na
Ilha Grande nos indicou serem estes os ambientes mais propícios ao aparecimento de
moluscos. Em diversos trechos do entorno da ilha, o declive é acentuado, sem áreas de
planícies e, nestas áreas o costão está em contato direto com a floresta (Fig. 3). Estes
pontos não são favoráveis a moluscos de água doce, pois não há a formação de corpos
perenes de água doce nem o acúmulo de nutrientes; assim, devido a essas características
e também a dificuldade de acesso, estas áreas foram descartadas como localidades de
coleta. Desta forma foram privilegiamos em nosso trabalho áreas de baixada em
detrimentos de áreas de altitude. Nossa experiência em trabalhos prévios na Ilha Grande
também apontou que áreas altas não sustentam populações de moluscos.
As coletas foram iniciadas em agosto de 2005 e foram encerradas em setembro
de 2007. As coletas não foram realizadas com periodicidade pré-definida e em alguns
locais a amostragem foi repetida. A repetição da amostragem ocorreu quando não
conseguíamos investigar todos os corpos hídricos da localidade em uma única visita ou
quando havia interesse especial nas espécies ocorrentes em cada localidade. A seleção
das localidades de coleta visou abranger toda a diversidade de corpos d’água existentes
na Ilha Grande, indo de rios e córregos até brejos, mangues e lagoas salinas.
A busca pelos moluscos nas diversas localidades foi feita através de duas
modalidades de coleta direta. A primeira era constituída de três coletores pesquisando o
substrato e a vegetação ripária com a concha de captura de moluscos e a segunda,
constituída pela procura dos moluscos onde a concha de captura não é indicada, como
em substratos duros, galhos caídos, entre outros. Cada metodologia foi realizada durante
Igor Christo Miyahira Setembro/2009
27
15 minutos, perfazendo um total de 45 minutos por metodologia em cada ponto de
coleta. Quando o corpo d’água a ser amostrado era muito grande, caso dos rios e lagoas,
mais de um ponto de coleta foi feito no mesmo corpo hídrico para estes não ficarem
sub-amostrados. Em pequenos córregos e brejos, a situação é oposta sendo um único
ponto suficiente para amostrar todo o corpo d’água. A equipe de trabalho, sempre que
possível, era constituída dos mesmos coletores, visto que a coleta direta depende da
experiência do coletor. As referências geográficas de cada ponto foram tomadas com o
auxílio do GPS (Garmin eTrex Summit). Cada ponto foi fotografado e foi feita uma
breve descrição do local.
Os moluscos coletados foram acondicionados em frascos plásticos com pequena
quantidade de água do local de coleta para a manutenção da umidade ou a seco, no caso
de representantes da família Thiaridae. O transporte dos moluscos para o laboratório foi
realizado nos mesmos frascos. Em laboratório os animais foram identificados seguindo
a literatura disponível para cada grupo e ajuda de especialistas. Posteriormente eles
foram anestesiados em mentol ou nembutal e fixados em álcool 70° GL (parte mole +
concha), álcool 90° GL (partes moles para estudos moleculares) ou solução de Railliet-
Henry (partes moles para dissecção). Os lotes foram depositados na Coleção de
Moluscos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Col. Mol. UERJ).
Moluscos de água doce da Ilha Grande
28
Fig. 3 – Anoitecer próximo a Aroeiras. Nesta foto é possível observar o desenho da costa em vários trechos da Ilha Grande. Nestes trechos o costão rochoso esta em contato direto com a floresta.
Igor Christo Miyahira Setembro/2009
29
Na Ilha Grande é encontrada uma grande variedade de ambientes aquáticos
continentais, neste trabalho incluímos também os ambientes de água salobra, como
estuários e mangues. Espécies como Neritina virginea (Linnaeus, 1758)
tradicionalmente incluída nos trabalhos de ambientes marinhos não foram incluídas no
trabalho, esta espécie ocorre na Vila Dois Rios (Absalão et al. 2009).
Os corpos d’água de cada localidade foram classificados de acordo com o tipo
de ambiente, como descrito na Tabela II.
Tabela II. Classificação dos ambientes da Ilha Grande pesquisados neste trabalho.
Ambiente Descrição
Riacho, córrego Ambiente lótico, volume pequeno de água, corpo
d’água perene ou não com menos de quatro metros
de largura.
Rio Ambiente lótico, volume grande de água, corpo
d’água perene com mais de quatro metros de
largura.
Alagado, brejo Ambiente lêntico, pequeno volume de água,
grande quantidade de matéria orgânica, sem
influência salina, corpo d’água perene ou não.
Lagoa Ambiente lêntico, grande volume de água, corpo
d´água perene.
Manguezal Ambiente com forte influência salina e aporte de
água doce, vegetação característica.
Para a avaliação do grau de preservação dos corpos d’água nas diferentes
localidades utilizamos duas abordagens. A primeira foi uma descrição do local baseada
em observações superficiais e no histórico do local, sendo consultada a literatura. Como
resultado foi avaliado os principais impactos históricos de cada localidade. A segunda
Moluscos de água doce da Ilha Grande
30
metodologia visou abordar especificamente os corpos d’água e foi utilizado um
Protocolo de Avaliação Rápida (PAR) desenvolvido por Callisto et al. 2002. Este
protocolo pontua 22 parâmetros físicos dos corpos d’água e seu entorno. A seguir são
fornecidos os parâmetros e uma breve descrição de cada um. Para maiores detalhes
sobre as descrições dos parâmetros, aplicabilidade do protocolo e detalhes
metodológicos consultar Callisto et al. (2002).
1. Tipo de ocupação das margens do corpo d’água (principal atividade) –
Condição das margens.
2. Erosão próxima e/ou nas margens do rio e assoreamento em seu leito – Grau
de erosão nas margens.
3. Alterações antrópicas – Alterações de origem doméstica, industrial ou
ausente.
4. Cobertura vegetal no leito – Presença ou ausência de vegetação ripária.
5. Odor da água - Presença ou ausência de odores na água.
6 .Oleosidade da água - Presença ou ausência de oleosidade na água.
7. Transparência da água – Cor da água.
8. Odor do sedimento (fundo) - Presença ou ausência de odor no sedimento.
9. Oleosidade do fundo – Presença ou ausência de oleosidade no fundo.
10. Tipo de fundo - Caracterização física do fundo relacionando o tipo de
substrato encontrado.
11. Tipos de fundo - Diversificação dos habitats disponíveis para os
macroinvertebrados bentônicos
12. Extensão de rápidos – Tamanho das áreas de correntezas no trecho estudado.
13. Frequência de rápidos – Frequência de áreas de correntezas no trecho
estudado.
Igor Christo Miyahira Setembro/2009
31
14. Tipos de substrato – Material predominante no fundo do rio (seixos, lamoso,
pedregoso,...)
15. Deposição de lama – Quantidade dos depósitos de lama no fundo do rio.
16. Depósitos de sedimentos – Porcentagem de cada tipo de substrato no fundo
do rio.
17. Alterações no canal do rio – Existência ou não de alterações como
retificação do canal do rio.
18. Características do fluxo do rio – Homogeneidade do fluxo de água em toda a
largura do rio.
19. Presença de mata ciliar – Porcentagem de mata ciliar. Também é avaliado o
tamanho das plantas encontradas.
20. Estabilidade das margens – Estabilidade das margens. Presença ou não de
erosão nas margens.
21. Extensão de mata ciliar – Largura da vegetação ripária. Avalia também a
presença de impactos antrópicos.
22. Presença de plantas aquáticas – Presença de macrófitas aquáticas, musgos ou
algas.
A pontuação dos parâmetros é categórica e não contínua. Nos dez primeiros
parâmetros são possíveis três categorias (0 ponto, 2 pontos e 4 pontos) e do parâmetro
11 ao 22 são possíveis quatro categorias (0 ponto, 2 pontos, 3 pontos e 5 pontos).
Quanto mais pontos a localidade obter mais preservado é o local. A pontuação
resultante da análise é dividida em três grupos: 0 a 40 pontos – impactado, 41 a 60
pontos – alterado, e acima de 61 pontos – naturais.
Moluscos de água doce da Ilha Grande
32
O protocolo desenvolvido por Callisto et al. (2002) avalia trechos de rios. Em
nosso trabalho consideramos as localidades baseados no corpo hídrico, ou trecho deste,
na qual encontramos o maior número de moluscos. Na maioria das localidades
encontramos moluscos em apenas um corpo hídrico. A comparação de diferentes
trechos, entre diferentes rios, poderia acarretar em problemas, pois muitas vezes existem
mais diferenças internas dentro de cada rio do que entre rios. Porém, na Ilha Grande, os
moluscos ocorrem nas partes planas dos riachos, tendo estes características similares.
Na Praia do Sul não levamos em conta a Lagoa do Sul, pois trata-se de um ambiente
lêntico e o PAR foi desenvolvido para ambientes lóticos.
Para avaliar a semelhança entre as localidades foi feita uma análise de
Escalonamento Multidimensional (MDS) com a tabela resultante do Protocolo de
Avaliação Rápida.
Igor Christo Miyahira Setembro/2009
33
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1 – LOCALIDADES
Foram visitadas 28 localidades na Ilha Grande (Figs. 4, 5 e 6). Na Tabela III são
fornecidas as coordenadas geográficas de cada localidade, assim como a(s) data(s) de
coleta e os tipos de ambiente encontrados em cada localidade. A distribuição dos pontos
ao redor da ilha é ilustrada na Figura 6. Nestas 28 localidades foram feitos 119 pontos
de coleta, logo foi realizado mais de um ponto de coleta por localidade. O número de
pontos de coleta por localidade foi baseado na variedade e tamanho dos corpos hídricos.
Rios demandam um maior número de pontos de coleta ao passo que pequenos brejos
conseguem ser avaliados com um único ponto. O grande número de coletas em Vila do
Abraão se explica pelo fato que concomitante a este trabalho começou a ser realizado
um trabalho de acompanhamento da espécies exóticas encontradas em um riacho desta
vila. Como nosso trabalho tem cunho prioritariamente qualitativo, este grande número
de coletas em uma mesma localidade não influencia o resultado, pois todas espécies
encontradas neste riacho já haviam sido assinaladas na primeira coleta.
Tabela III: Localidades visitadas durante este trabalho, também são apresentadas as referências
geográficas (GPS), as datas de coleta e o ambientes amostrados em cada localidade. As coordenadas da
Praia da Julia, Abraãozinho e Praia do Leste foram adquiridas no Google Earth.
Nº Localidade Coordenadas
geográficas
Data Tipo(s) de
Ambiente
1 Vila do Abraão
S23°8´49.5´´
W044°10´13.4´´
Agosto/05,
Setembro/05,
Riacho, rio,
brejo
Moluscos de água doce da Ilha Grande
34
Outubro/05,
Dezembro/05,
Janeiro/06,
Março/06,
Maio/06
2 Praia da Julia S23°08´28.12´´
W044°09´37.72´´
Maio/06 Brejo,
riacho
3 Abraãozinho S23°08´05.99´´
W044°09´07.62´´
Maio/06 Riacho
4 Palmas S23°08´50.2´´
W044°08´50.2´´
Janeiro/06 Riacho
5 Pouso S23°09´45.4´´
W044°08´55.0´´
Janeiro/06 Riacho
6 Mangues S23°09´56.1´´
W044°08´36.7´´
Janeiro/06 Riacho
7 Itaoca S23°09´60.1´´
W044°08´21.0´´
Janeiro/06 Riacho
8 Aroeiras S23°09´69.9´´
W044°07´64.0´´
Janeiro/06 Riacho,
brejo
9 Lopes Mendes S23°10´48.1´´
W044°07´32.9´´
Janeiro/06,
Março/06
Riacho,
brejo
10 Caxadaço S23°10´72.8´´
W044°10´76.9´´
Outubro/05
Riacho
11 Vila Dois Rios S23°11´01.8´´
W044°11´63.5´´
Agosto/05,
Setembro/05
Riacho, rio,
brejo,
manguezal
12 Parnaioca S23°11´56.7´´
W044°14´98.3´´
Dezembro/05, Riacho, rio,
Igor Christo Miyahira Setembro/2009
35
Julho/06 brejo
13 Praia do Leste S23°10´41.28´´
W044°16´53.05´´
Março/07 Lagoa salina
14 Praia do Sul S23°10´62.0´´
W044°18´64.2´´
Novembro/06,
Março/07
Riacho,
lagoa salina
15 Praia do Demo S23°10´96.5´´
W044°18´91.4´´
Novembro/06
Riacho,
brejo
16 Aventureiro S23°11´34.9´´
W044°19´16.4´´
Novembro/06 Riacho
17 Provetá S23°10´70.5´´
W044°20´61.5´´
Março/06,
Maio/06
Riacho, rio
18 Araçatiba S23°09´43.0´´ W044°20´03.9´´
Março/06 Riacho
19 Praia Grande de
Araçatiba
S23°09´13.9´´
W044°19´40.1´´
Março/06 Riacho
20 Longa S23°08´26.6´´
W044°18´62.4´´
Setembro/07 Riacho
21 Sítio Forte S23°08´40.7´´
W044°16´86.5´´
Setembro/07 Riacho
22 Matariz S23°06´91.4´´
W044°15´41.4´´
Setembro/07 Riacho,
manguezal
23 Bananal S23°06´43.0´´
W044°14´88.7´´
Setembro/07 Riacho
24 Araçá / Freguesia de
Santana
S23°05´64.7´´
W044°14´39.8´´
Setembro/07 Riacho
25 Saco do Céu S23°06´19.0´´
W044°12.92.2´´
Janeiro/06 Riacho,
manguezal
26 Praia do Perequê S23°06´95.8´´
W044°12´28.1´´
Janeiro/06 Rio
Moluscos de água doce da Ilha Grande
36
27 Feiticeira S23°07´44.3´´
W044°11´25.1´´
Janeiro/06 Riacho
28 Praia Preta S23°08´13.3´´
W044°10´50.9´´
Dezembro/05 Rio, brejo
O levantamento foi feito de forma a abranger toda a variedade de ambientes de
cada localidade. Porém em determinadas localidades alguns corpos d´água não puderam
ser alcançados devido a dificuldades no acesso, um exemplo é o rio Capivari, principal
tributário da Lagoa do Sul.
Igor Christo Miyahira Setembro/2009
37
Moluscos de água doce da Ilha Grande
38
Igor Christo Miyahira Setembro/2009
39
Moluscos de água doce da Ilha Grande
40
4.2 - DIVERSIDADE DE MOLUSCOS DE ÁGUA DOCE NA ILHA GRANDE
Ocorrem na Ilha Grande nove gastrópodes e uma espécie de bivalve de água
doce (Figs. 7 e 8), totalizando dez espécies. As espécies encontradas encontram-se
distribuídas em cinco famílias: Thiaridae, Melanoides tuberculatus (Müller, 1774);
Hydrobiidae, Heleobia autralis (d´Orbigny, 1835) e Heleobia sp.; Planorbidae,
Biomphalaria tenagophila (d´Orbigny, 1835) e Antillorbis nordestensis (Lucena, 1954);
Ancylidae, Gundlachia ticaga (Marcus & Marcus, 1962), Uncancylus concentricus
(d´Orbigny, 1835), Ferrissia sp. e Burnupia sp. e Sphaeriidae, Pisidium punctiferum
(Guppy, 1867).
Comparando a diversidade da Ilha Grande com outras Unidades de Conservação
do estado do Rio de Janeiro, percebemos que a quantidade de moluscos observados na
ilha é equivalente à do Parque Estadual da Pedra Branca (Santos et al. 2003; B.S. Braun
et al. dados não publicados) ou maior que a de outras, como o Parque Nacional da
Tijuca (Andreata & Marca, 1993) e Parque Nacional de Itatiaia (Barth, 1957). Porém,
deve se observar que existem muitas áreas do Rio de Janeiro subamostradas ou sem
nenhum conhecimento. Entre as áreas de importância sem amostragem de moluscos de
água doce está à maior Unidade de Conservação de uso restrito do estado, o Parque
Estadual dos Três Picos.
No tocante à riqueza, observamos a predominância das espécies de Ancylidae
sobre os demais táxons. Segundo o catálogo de Simone (2006), Ancylidae é o grupo
com maior diversidade genérica, entre os gastrópodes, no Brasil, esta mesma
diversidade é refletida na fauna da Ilha Grande, onde os ancilídeos apresentam o maior
número de gêneros, quatro. Santos (2003) também ressaltou a diversidade deste grupo.
Igor Christo Miyahira Setembro/2009
41
Burnupia sp. provavelmente trata-se de uma nova espécie, visto que estes
exemplares diferem das poucas espécies descritas para esse gênero no Brasil (Santos,
2003). Ferrissia sp., por outro lado, deve se tratar de Ferrissia fragilis (Tryon, 1863),
uma espécie de ampla distribuição, de origem norte-americana e exótica em vários
países (Walther et al., 2006; Son, 2007). Porém ainda é necessário um estudo da
anatomia das partes moles destes animais para confirmar estas hipotéses. G. ticaga é
uma espécie com ampla distribuição no Rio de Janeiro (Thiengo et al. 2001, 2002a,
2002b, 2004a, 2004b, 2006). U. concentricus foi citado pela primeira vez para o estado
do Rio de Janeiro por Santos et al. (2009), sendo esta publicação fruto deste trabalho.
M. tuberculatus é uma espécie exótica no Brasil, introduzida na década de 1960
(Vaz et al., 1986), o primeiro registro no Rio de Janeiro ocorreu em Guapimirim em
1968 (Thiengo et al. 1998), a introdução na Ilha Grande foi registrada por Santos et al.
(2007). Esta espécie foi utilizada como controle biológico de Biomphalaria spp., com
resultados variáveis (Cowie, 2001). Ela também é conhecida por formar grandes
agregados populacionais, podendo deslocar espécies nativas (Dudgeon, 1986;
Fernandez et al. 2001; Freitas et al. 1987; Pointier et al. 1992). Esta espécie tem
apresentado um comportamento invasivo neste rio como demonstrado por Miyahira et
al. (2009).
B. tenagophila é um dos possíveis vetores da esquistossomose no Brasil. Sua
ocorrência no Rio de Janeiro é ampla (Thiengo et al. 2001, 2002a, 2002b, 2004a,
2004b, 2006).
H. australis é uma espécie típica de ambientes estuarinos (Rios, 1994), sendo
uma espécie com grande variação morfológica, provavelmente por influência da
salinidade (Aguirre & Urrutia, 2002). Trata-se de uma espécie bacteriófaga (Rios,
1994). Os exemplares de Heleobia sp. foram examinados pela especialista do grupo no
Moluscos de água doce da Ilha Grande
42
Brasil (Dra. Maria Cristina Pons da Silva), que os identificou como pertencentes ao
gênero Heleobia, porém com grandes chances de se tratar de uma espécie nova para a
ciência.
P. punctiferum é um bivalve de água doce de proporções diminutas. Sua
utilização como sentinela no monitoramento de alterações ambientais foi sugerida por
Mansur et al. (2001), sendo fornecidos dados ecológicos da espécie.
Como já citado anteriormente, eram reconhecidas para Ilha Grande as seguintes
espécies de moluscos de água doce: P. globulus, B. (Anisancylus) obliquus, A.
nordestensis, G. ticaga, Gundlachia sp., Ferrissia sp., U. concentricus, M. tuberculatus
e B. tenagophila (Hass, 1953; Santos et al., 2003; Thiengo et al., 2004; Santos et al.
2007). Ambas as espécies citadas por Haas (P. globulus e B. (Anisancylus) obliquus)
são possivelmente erros de identificação (Santos et al. 1999, 2007). Santos et al. (2007)
com base na opinião da especialista no grupo (Dra. Maria Cristina Dreher Mansur)
sugeriu que P. globulus na verdade seria P. punctiferum. O presente trabalho também é
o primeiro registro da taxonomia correta desta espécie no estado. O ancilídeo citado por
Haas (1953), B. (Anisancylus) obliquus, possivelmente trata-se de G. ticaga (Santos et
al. 1999). São citadas pela primeira vez para a Ilha Grande ambas as espécies de
Hydrobiidae e Burnupia sp. Este também é o primeiro registro de Heleobia australis e
de Burnupia sp. para a mesorregião sul do Rio de Janeiro. Thiengo et al. (2004a) citam
a presença de Heleobia sp. no município de Paraty (também incluindo na mesorregião
sul do estado do Rio de Janeiro), porém não podemos afirmar que se trata da mesma
espécie porque não foi feita uma comparação entre o material proveniente das duas
localidades. Uncancylus concentricus foi citado pela primeira vez para o estado do Rio
de Janeiro por Santos et al. (2009) sendo anteriormente citada, no Brasil, nas regiões
Centro-Oeste, Sul e alguns estados do Sudeste (Santos, 2003; Santos et al. 2009). Entre
Igor Christo Miyahira Setembro/2009
43
as espécies citadas anteriormente para a Ilha Grande só não encontramos Gundlachia
sp., que Thiengo et al. (2004a) havia identificado na Vila do Abraão.
O material coletado está depositado na Coleção de Moluscos da Universidade do
Estado do Rio de Janeiro (Col. Mol. UERJ), estando os números de coleção descritos
abaixo.
Material coletado: BRASIL, Rio de Janeiro, Angra dos Reis, Ilha Grande. Col.
Mol. UERJ nº 4215-4234, 4241-4247, 4258-4260 e 7475-7507.
Moluscos de água doce da Ilha Grande
44
Igor Christo Miyahira Setembro/2009
45
Moluscos de água doce da Ilha Grande
46
4.3 - L ISTA SISTEMÁTICA
A seguir segue a listagem taxonômica de cada espécie, assim como a sua
distribuição geográfica. A classificação dos gastrópodes seguiu Bouchet & Rocroi
(2005). O esquema de bivalves foi feito utilizando o apresentado por Schneider (2001).
Mollusca L.
Gastropoda Cuvier, 1797
Caenogastropoda Cox, 1960
Sorbeoconcha Ponder & Lindberg, 1997
Cerithoidea Fleming, 1822
Thiaridae Gill, 1871
Melanoides Oliver, 1804
Melanoides tuberculatus (Müller, 1774)
Hypsogastropoda Ponder & Lindberg, 1997
Littorinomorpha Golikov & Srarobogatov, 1975
Rissoidea Gray, 1847
Hydrobiidae Stimpson, 1865
Heleobia Stimpson, 1865
Heleobia australis (d´Orbigny, 1835)
Heleobia sp.
Heterobranchia Gray, 1840
Pulmonata Cuvier, 1814
Basommatophora Kefferstein, 1864
Hygrophila Férussac, 1822
Igor Christo Miyahira Setembro/2009
47
Planorboidea Rafinesque, 1815
Planorbidae Rafinesque, 1815
Biomphalaria Preston, 1910
Biomphalaria tenagophila (d´Orbigny, 1835)
Antillorbis Harry & Hubendick, 1964
Antillorbis nordestensis (Lucena, 1954)
Ancylidae Rafinesque, 1815
Burnupia Walker, 1912
Burnupia sp.
Ferrissia Walker, 1903
Ferrissia sp.
Gundlachia Pfeiffer, 1849
Gundlachia ticaga (Marcus & Marcus, 1962)
Uncancylus Pilsbry, 1913
Uncancylus concentricus (d´Orbigny, 1835)
Bivalvia L.
Heterodonta Neumayr, 1884
Veneroida H. Adams & A. Adams, 1856
Corbiculacea Gray, 1847
Sphaeriidae Deshayes, 1852
Pisidium Pfeiffer, 1821
Pisidium punctiferum (Guppy, 1867)
Moluscos de água doce da Ilha Grande
48
4.4 – BREVE DESCRIÇÃO E DISTRIBUIÇÃO DAS ESPÉCIES ENCONTRADAS
4.4.1 - Melanoides tuberculatus – Fig. 7A
Distribuição: Originalmente era distribuída pelo norte e leste da África, Oriente
Médio, sul da Ásia e algumas ilhas do Pacifico (Pilsbry & Bequaert, 1927). Atualmente,
possui uma distribuição mais ampla incluindo as Américas do Norte, Central e do Sul; e
Oceânia (Dundee & Paine, 1977; Duggan, 2002; Facon et al. 2003; Fernandez et al.
2003; Santos et al. 2007).
Caracterização: Concha moderadamente grossa, alongada, em forma de torre
(turriforme), com 12-16 voltas, ápice e voltas pós-nucleares frequentemente erodidas ou
descoloradas. As voltas são convexas ou quase planas; elas crescem regulamente em
tamanho. Base da concha arredondada. O umbílico é fechado. O perióstraco é
amarronzado, amarelado ou oliva. Existem flamas e bandas marrons na volta corporal.
A escultura consiste de muitas cristas espirais (verticais), as quais são frequentemente
cortadas por costelas obtusas (horizontais). A abertura é oval, perístoma afiado e
columela curvada. A fórmula radular é 2.1.1.1.2. Opérculo córneo, oval, paucispiral e
de cor marrom-escuro (Bethem-Jutting, 1956; Brandt, 1974).
4.4.2 – Heleobia australis – Fig. 7B
Distribuição: Rios (1994) cita a área de ocorrência da espécie de São Paulo até
a Baia San Blas (Argentina). Já Simone (2006) informa a distribuição como indo de
Truma (PE) até a Patagônia, esta segunda deve ser mais próxima do real, pois além do
nosso trabalho fora da área de ocorrência citada por Rios (1994) existem outros
trabalhos (Gonçalves et al. 1998; Figueiredo-Barros et al. 2006).
Igor Christo Miyahira Setembro/2009
49
Caracterização: Concha cônica-ovalada e alongada (4,5mm de altura por 2mm
de largura), com quase 6 voltas, ângulo apical de 40°. A sutura não é profunda.
Umbílico é subperfurado, sendo a área umbilical deprimida. Superfície da concha lisa
com marcas de crescimento (Rios, 1994).
4.4.3 – Heleobia sp. – Fig. 7C
Distribuição: Não podemos precisar a distribuição desta espécie, pois ainda não
foi completamente identificada. Acreditamos que possivelmente seja endêmica da Ilha
Grande.
Caracterização: Descrição do gênero Heleobia. Conchas pequenas, menos de 5
mm, oval-cônico ou oval-alongado, lisa e umbílico fechado. A volta corporal é bem
desenvolvida. Abertura é oval-arredondada. Geralmente o dente central da rádula com
três pares cúspides basais (Davis et al., 1982).
4.4.4. – Biomphalaria tenagophila – Fig. 7D
Distribuição: América do Sul (Simone, 2006) e no Brasil nos seguintes estados:
Bahia, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, Rio de
Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo e no Distrito Federal (Paraense,
1975; Carvalho et al. 2008).
Caracterização: Sete a oito voltas carenadas, crescendo lentamente em
diâmetro, visível de ambos os lados. Lado esquerdo geralmente mais côncavo que o
direito, podendo ser o direito quase plano. Sutura bem marcada. Periferia da concha
arrendondada. Abertura deltóide, transversal nas conchas mais largas e cordiforme nas
mais estreitas. As conchas mais estreitas apresentam um aplainamento das carenas e
uma tendência ao achatamento do lado direito (Paraense, 1975).
Moluscos de água doce da Ilha Grande
50
4.4.5 – Antillorbis nordestensis – Fig. 7E
Distribuição: Ocorre nos estados de Alagoas, Goiás, Minas Gerais, Paraná,
Pernambuco, Rio Grande do Sul, São Paulo e no Distrito Federal (Paraense, 1975). Foi
também identificada no Rio de Janeiro (Thiengo et al. 1997, 2001, 2002a,b, 2004a,b,
2006) e na Ilha Grande (Santos et al. 1999).
Caracterização: Aproximadamente 5mm de diâmetro com quatro giros
arredondados. Lado direito muito ligeiramente côncavo, tendendo a aplainado com o
giro central superficial ou apenas ligeiramente deprimido. Lado esquerdo mais profundo
que o direito, suturas bem marcadas em ambos os lados. Periferia um tanto subangulosa,
medial ou tendendo para a esquerda. Abertura ovóide, notavelmente larga em proporção
ao giro subjacente, frequentemente defletida para a esquerda. (Paraense, 1975).
4.4.6 – Burnupia sp. – Fig. 8B
Distribuição: Não podemos precisar a distribuição desta espécie, pois ainda não
foi completamente identificada. Acreditamos que possivelmente seja endêmica da Ilha
Grande.
Caracterização: Descrição do gênero Burnupia. Concha com ápice elevado e
arredondado situado no quadrante posterior direito e flexionado para direita, sem
ultrapassar a margem da concha. Protoconcha com pequena depressão apical, seguida
por área com pontuações radiais (Hubendick, 1962).
4.4.7 – Ferrissia sp. – Fig. 8A
Distribuição: Não podemos precisar a distribuição desta espécie, pois ainda não
foi completamente identificada.
Igor Christo Miyahira Setembro/2009
51
Caracterização: Descrição do gênero Ferrissia. Ápice elevado e arredondado,
situado no quadrante posterior direito e flexionado para direita sem ultrapassar a
margem da concha. Protoconcha com fina escultura de linhas radiais microscópicas
(Hubendick, 1962).
4.4.8 – Gundlachia ticaga – Fig. 8C
Distribuição: Sudeste do Brasil até a Argentina (Santos, 2003).
Caracterização: Concha frágil, oval, moderadamente elevada. A altura é menor
que a metade da largura, Concha translúcida, opaca com perióstraco marrom. Ápice
arredondado e proeminente, achatamento dorsal e com área de pontuações
irregularmente dispostas. Na teleoconcha só há linhas concêntricas de crescimento.
(Marcus & Marcus, 1962; Lanzer, 1996; Santos, 2003).
4.4.9 – Uncancylus concentricus – Fig. 8D
Distribuição: Espécie com ampla distribuição, indo da Costa Rica até a
Patagônia argentina. No Brasil só não possui registros confirmados para o Norte e
Nordeste (Santos, 2003; Santos et al. 2009).
Caracterização: Concha alongada-ovalada. Linhas radiais bem marcadas,
periostraco amarelo-âmbar. Presença de pelos periostracais. Ápice fino, fortemente
curvado para o quadrante posterior direito. Pode ser liso ou com pontuações. (Pilsbry,
1924; Lanzer 1996; Santos 2003).
4.4.10 – Pisidium punctiferum – Fig. 8E
Moluscos de água doce da Ilha Grande
52
Distribuição: Américas do Norte, Central (Guatemala e Antilhas Francesas) e
Sul (Uruguai) (Herrington, 1962). No Brasil existem registros para o Sul do Brasil e
para Amazônia (Mansur et al. 2001; Simone, 2006).
Caracterização: Concha fina e pequena, os umbos variam em proeminência,
indo de subcentral até um pouco mais atrás. Estrias fracas ou pouco marcadas,
uniformemente espaçadas, perióstraco opaco. Margem dorsal arredondada e margem
ventral bem arredondada. Charneira equitativamente longa, moderadamente a
consideravelmente curvada, a placa da charneira é fina na altura dos dentes cardinais,
estes são de largura e comprimento moderados. Os dentes laterais são um tanto longos,
com cúspides distintas, de altura moderada, mas não afiados. Espécie com grande
variação intraespecífica (Herrington, 1962).
4.5 - DISTRIBUIÇÃO DOS MOLUSCOS DE ÁGUA DOCE NA ILHA GRANDE
Na tabela IV podemos ver as localidades visitadas e as espécies que foram
encontradas em cada uma delas.
Tabela IV. Moluscos de água doce encontrada na Ilha Grande separados por localidades. As localidades
estão ordenadas na ordem decrescente do número de espécies encontradas.
Localidade Espécies encontradas
Vila do Abraão Heleobia australis Melanoides tuberculatus Biomphalaria tenagophila Gundlachia ticaga Ferrissia sp. Pisidium punctiferum
Vila Dois Rios Antillorbis nordestensis Gundlachia ticaga Pisidium punctiferum
Igor Christo Miyahira Setembro/2009
53
Parnaioca Gundlachia ticaga Ferrissia sp. Pisidium punctiferum
Praia do Sul Heleobia sp. Gundlachia ticaga Uncancylus concentricus
Lopes Mendes Burnupia sp. Pisidium punctiferum
Feiticeira Gundlachia ticaga Pisidium punctiferum
Provetá Gundlachia ticaga Pisidium punctiferum
Araçá (Freguesia de Santana)
Antillorbis nordestensis Pisidium punctiferum
Aroeiras Pisiium punctiferum
Araçatiba Pisidium punctiferum
Matariz Heleobia australis
Praia do Perequê Gundlachia ticaga
Bananal Gundlachia ticaga
Das 28 localidades pesquisadas foram encontrados moluscos em apenas 13. Na
Vila do Abraão, principal porto de entrada da Ilha Grande, encontramos seis espécies, o
maior número de espécies para uma única localidade da Ilha Grande. Por ser um local
com muito movimento de pessoas, é fácil ocorrer a introdução acidental de espécies
como o que ocorreu com B. tenagophila e M. tuberculatus (Santos et al., 2007). Na Fig.
4A pode ser observado o grande número de barcos ancorados na Enseada do Abraão.
Logo, das seis espécies encontradas duas delas são introduzidas, se for confirmada a
suspeita sobre Ferrissia sp., metade das espécies desta localidade seriam introduzidas.
A introdução por aves também poderia acontecer, já que este tipo de vetor para
Moluscos de água doce da Ilha Grande
54
moluscos de água doce é descrito por Rees (1965). Outra questão é se o maior número
de espécies na Vila do Abraão não é em decorrência do maior número de investigações.
Como já foi explanado, as espécies encontradas na Vila do Abraão, foram todas
avistadas logo na primeira coleta nesta localidade. O maior número de coletas nesta
localidade é em função do trabalho de acompanhamento da população de M.
tuberculatus.
Na Parnaioca, Vila Dois Rios e Praia do Sul foram encontradas três espécies.
Nas demais localidades na qual foram encontrados moluscos, a riqueza foi ainda mais
baixa, aparecendo somente uma ou duas espécies, normalmente uma espécie de
ancilídeo ou o bivalve, a exceção ocorreu em Matariz onde encontramos H. australis.
A espécie com mais ampla distribuição foi P. punctiferum que ocorreu em nove
(Vila do Abraão, Vila Dois Rios, Parnaioca, Lopes Mendes, Aroeiras, Feiticeira,
Araçatiba, Provetá, Araçá) das 28 localidades pesquisadas, ocorrendo em uma ampla
gama de ambientes, indo de ambientes preservados como os de Vila Dois Rios até
ambientes degradados como o da Vila do Abraão. Esta espécie suporta baixos valores
de pH e dureza da água (Mansur et al. 2001), o que pode explicar sua ampla
distribuição. A outra espécie com ampla distribuição foi G. ticaga que ocorreu em oito
localidades (Vila do Abraão, Vila Dois Rios, Parnaioca, Feiticeira, Provetá, Praia do
Sul, Praia do Perequê, Bananal), ocorrendo tanto em áreas degradas como em áreas
preservadas. A “falta” destas espécies de ampla distribuição em algumas localidades da
Ilha Grande pode ter sido ocasionada por impactos atuais ou históricos. As demais
espécies possuem distribuição mais restrita ocorrendo em uma ou duas localidades, H.
australis ocorreu na Vila do Abraão e Matariz; Ferrissia sp. na Vila do Abraão e na
Parnaioca; A. nordestensis em Vila Dois Rios e no Araçá; Burnupia sp. em Lopes
Igor Christo Miyahira Setembro/2009
55
Mendes; B. tenagophila e M. tuberculatus na Vila do Abraão e U. concentricus e
Heleobia sp. na Praia do Sul.
Antillorbis nordestensis, Heleobia sp., U. concentricus e Burnupia sp. só
ocorreram em ambientes não-impactados da Ilha Grande. Por outro lado, B. tenagophila
e M. tuberculatus só ocorreram em um rio impactado da Vila do Abraão. Acreditamos
que, devido ao intenso movimento turístico, estas tenham capacidade de atingir outros
corpos hídricos da Ilha Grande, já que ambas as espécies se encontram amplamente
distribuídas na região sul do estado do Rio de Janeiro (Thiengo et al., 2004a). É
necessária a adoção de medidas de controle para impedir (ou pelo menos dificultar) a
expansão destas espécies para outros corpos d’água, assim como a entrada de outras
espécies exóticas na Ilha Grande, pois o efeito da ampliação da distribuição destas
espécies na Ilha Grande teria efeito negativo sobre a fauna nativa (Cowie, 1998; Cowie,
2001; Lockwood et al. 2006; Santos et al., 2007). Além das implicações ecológicas
desta expansão, ela também teria complicações referentes a saúde pública, já que ambas
as espécies podem ser hospedeiras intermediárias de parasitos que afetam o homem. No
caso da B. tenagophila ela atua como hospedeiro intermediário da esquistossomose e
existem casos de esquistossomose na região sul do Rio de Janeiro (Thiengo et al.
2004a). No caso de M. tuberculatus ele atua na transmissão da paragonimíase e da
clonorquíase. Ainda não há registros destas doenças transmitidas por M. tuberculatus no
Brasil, porém já foram encontrados parasitos sem importância médica (Bógea et al.
2005). Uma outra doença que pode ter este molusco como vetor é a centrocestíase
(Fernandez et al. 2003).
Melanoides tuberculatus (Vila do Abraão), B. tenagophila (Vila do Abraão),
Burnupia sp. (Lopes Mendes), Uncancylus concentricus (Praia do Sul) e Heleobia sp.
(Praia do Sul) são espécies exclusivas destas localidades, aparecendo uma única vez.
Moluscos de água doce da Ilha Grande
56
Existem dois fatos quem limitam a distribuição dos moluscos de água doce na
Ilha Grande. O primeiro é referente aos impactos antrópicos ocorridos na Ilha e o
segundo devido a sua formação geológica. Este segundo se aplica a quase todo o estado,
pois a formação geológica é similar.
A Ilha Grande foi formada nos mesmos eventos geológicos que deram origem as
serras do Mar e da Mantiqueira, sendo as rochas predominantes semelhantes (Amador,
1998). Estas rochas (quartzos e gnaisses) são pouco friáveis, liberando poucos minerais
para água, esta situação não favorece o estabelecimento de moluscos de água doce, pois
estes necessitam de valores elevados de carbonato dissolvido e condutividade, por
exemplo, para a formação da concha. As exceções são as regiões de praia, podendo ser
destacado a região da Praia do Sul e da Praia do Leste que é formada por sedimentos de
origem marinha (Amador, 1998). Desta forma, as águas continentais da Ilha Grande têm
valores baixos de diversos fatores físico-químicos da água, incluindo a condutividade.
Moluscos de água doce dependem de um mínimo de condutividade e valores baixos
podem ser limitantes para diversas espécies (Macan, 1961). Isto pode explicar a
distribuição limitada de algumas espécies na Ilha Grande, por exemplo, Burnupia sp. e
Uncancylus concentricus, ambas restritas a uma única localidade. Por outro lado, como
P. punctiferum, é tolerante a baixos valores de condutividade (Mansur et al. 2001),
apresenta ampla distribuição.
Além destes fatores podem ser considerados nesta distribuição dos moluscos na
Ilha Grande fatores históricos e estocásticos. Extinções ocorrem de forma natural e
como a região em estudo é uma ilha a re-colonização se torna mais difícil devido ao
isolamento. Existem casos de transporte de moluscos por aves aquáticas ou
macroinvertebrados (Rees, 1965) que poderiam auxiliar nesta recolonização.
Igor Christo Miyahira Setembro/2009
57
4.6 – PRESERVAÇÃO DOS CORPOS D’ÁGUA E AMEAÇAS À CONSERVAÇÃO DA
MALACOFAUNA DE ÁGUA DOCE
Como explanado na introdução, a Ilha Grande já serviu de diversas formas ao
homem, indo de local de plantio até presídios. Apesar de a Ilha Grande ser protegida por
diversos dispositivos legais, os impactos sobre a fauna e a flora são visíveis em diversas
localidades. Estes impactos podem ter extinguido algumas espécies localmente, mas
também podem ter contribuído para o estabelecimento de outras espécies.
O descarte de esgoto doméstico aumenta a quantidade de nutrientes na água. Na
Vila do Abraão aonde há a maior diversidade de moluscos também é o local aonde há
um descarte acentuado de matéria orgânica nos rios. Nesta mesma localidade é aonde
encontramos a maior população de uma única espécie na Ilha Grande, tratando-se da
população de M. tuberculatus, que ocorre em um único riacho.
A tabela V ilustra os impactos históricos nas localidades aonde foram
encontrados moluscos. Observamos duas localidades aonde a qualidade de preservação
é melhor, trata-se de Feiticeira e Praia do Sul. Os locais classificados como
intermediários são locais aonde houve severos impactos no passado, mas atualmente
encontra-se em fase de recuperação, neste caso temos, por exemplo, Parnaioca e Vila
Dois Rios. As áreas classificadas como degradadas são áreas de severo impacto atual,
tratando-se principalmente dos assentamentos humanos na Ilha Grande.
Tabela V. Localidades visitadas na Ilha Grande aonde foram encontrados moluscos associadas com os
imapctos encontrados em cada lugar. A ordem da tabela segue o mesmo padrão da Tabela II, ou seja, as
localidades mais acima da tabela são aonde foram encontrados um maior número de espécies. As
localidades que não aparecem na tabela não apresentaram moluscos.
Localidade Impactos Grau de Preservação
Moluscos de água doce da Ilha Grande
58
Vila do Abraão Esgoto doméstico, grande povoamento
urbano, turismo descontrolado, introdução de
espécies, alteração da vegetação ripária,
desmatamento, plantações e colônia penal no
passado.
Degradado
Vila Dois Rios Desmatamento, retirada seletiva de madeira,
pequena vila, plantações e colônia penal no
passado.
Intermediário
Parnaioca Desmatamento, alteração da vegetação
ripária, pequena vila, retirada seletiva de
madeira, plantações e uma grande vila no
passado.
Intermediário
Praia do Sul Retirada seletiva de madeira. Preservado
Lopes Mendes Desmatamento, alteração da vegetação
ripária, retirada seletiva de madeira,
plantações no passado.
Intermediário
Feiticeira Pontos artificiais de retenção do rio e
alteração da vegetação ripária.
Preservado
Proveta Esgoto doméstico, desmatamento acentuado,
alteração da vegetação ripária, grande
povoamento urbano.
Degradado
Araçá (Freguesia
de Santanna)
Desmatamento, alteração da vegetação
ripária, plantações e uma vila no passado.
Intermediário
Aroeiras Desmatamento, alteração da vegetação ripária
e pequena vila.
Intermediário
Igor Christo Miyahira Setembro/2009
59
Araçatiba Desmatamento, alteração da vegetação ripária
e fábrica de processamento de sardinha no
passado
Intermediário
Matariz Esgoto doméstico, povoado urbano,
desmatamento, alteração da vegetação ripária
e fábrica de processamento de sardinha no
passado.
Degradado
Praia do Perequê Desmatamento, alteração da vegetação ripária
e pequena vila
Intermediário
Bananal Esgoto doméstico, povoamento urbano,
desmatamento, alteração da vegetação ripária,
fábrica de processamento de sardinha no
passado
Degradado
O Protocolo de Avaliação Rápida visou avaliar a situação atual dos corpos
hídricos da Ilha Grande. O score dado para cada parâmetro é visto no Quadro I. Na
tabela VI vemos o resultado do PAR e a classificação sugerida.
Moluscos de água doce da Ilha Grande
60
Quadro I. Protocolo de avaliação rápida dos ambientes lóticos da Ilha Grande onde foram encontrados moluscos. O código das características está descrito no Material e Métodos.* Oleosidade natural. **Áreas próximas a estradas ou trilhas que impactam o riacho, porém em ambos os casos tratam-se de estradas e trilhas de pequeno porte e pouco movimento.
Par
âmet
ro Vila do
Abraão Vila Dois Rios
Parnaioca Praia do Sul
Lopes Mendes
Feiticeira Provetá Araçá (Freguesia de Santanna)
Aroeiras Araçatiba Matariz Praia do Perequê
Bananal
1 0 4 2 4 4 4 0 2 2 2 0 2 0 2 2 2 2 4 4 4 2 2 2 4 2 2 2 3 2 0 0 0 0 0 2 2 0 2 2 2 2 4 4 2 4 2 4 4 0 4 4 2 4 4 0 5 2 4 4 4 4 4 2 4 4 4 2 4 2 6 4 4 4 4 2* 4 4 4 4 4 4 4 4 7 4 4 4 4 4 4 2 4 4 4 4 4 4 8 2 4 4 4 4 4 2 4 4 4 2 4 2 9 2 4 4 4 2* 4 4 4 4 4 4 4 4 10 2 4 2 4 2 4 2 4 2 2 2 2 2 11 3 3 3 5 5 3 3 3 3 3 3 3 3 12 2 2 2 3 2 3 2 2 2 2 2 2 2 13 2 2 2 3 2 3 2 2 2 2 2 2 2 14 0 2 2 3 2 2 0 2 2 2 0 2 0 15 3 5 5 5 5 5 3 5 5 5 3 5 3 16 2 3 3 3 3 3 2 3 3 3 2 3 2 17 0 5 5 5 5 3 0 5 5 5 2 5 2 18 2 3 3 5 5 5 2 3 3 3 2 3 2 19 0 2 0 5 0 3 0 2 0 2 0 2 0 20 3 3 3 5 3 3 2 3 3 3 3 3 3 21 0 3 0 5 2** 3 0 0 2** 2** 0 0 0 22 2 3 3 5 3 3 2 3 3 3 2 3 2
Igor Christo Miyahira Setembro/2009
61
Tabela VI. Resultado do Protocolo de Avaliação Rápida. A avaliação foi feita da seguinte forma: 0 a 40
pontos – impactado, 41 a 60 – alterado e acima de 61 pontos – naturais. Maiores detalhes em Callisto et
al. (2002).
Avaliando a tabela VI temos uma predominância dos ambientes preservados,
uma menor porção é alterada e somente uma localidade foi avaliada como impactada.
As localidades qualificadas como alteradas e impactadas correspondem aos principais
núcleos urbanos da Ilha Grande. Em todos esses ambientes encontramos diferentes
graus de impactos domésticos. Na Ilha Grande não observamos impactos de origem
industrial. Vila do Abraão, Matariz e Bananal (43, 47 e 43 pontos, respectivamente)
foram classificados como alterados, porém estão próximos do limite inferior desta
categoria. Estas localidades guardam mais semelhança com o ambiente impactado que
Localidade Pontuação Avaliação
Vila do Abraão 43 Alterado
Vila Dois Rios 68 Preservado
Parnaioca 61 Preservado
Praia do Sul 86 Preservado
Lopes Mendes 67 Preservado
Feiticeira 75 Preservado
Proveta 38 Impactado
Araçá 67 Preservado
Aroeiras 63 Preservado
Araçatiba 67 Preservado
Matariz 47 Alterado
Perequê 65 Preservado
Bananal 43 Alterado
Moluscos de água doce da Ilha Grande
62
com os ambientes preservados. Para elucidação destes padrões de relação entre as
localidades foi realizado uma análise de Escalonamento Multidimensional (MDS).
A Figura 9 apresenta o MDS, neste observamos a separação das localidades em
dois grupos principais. O agrupamento da esquerda engloba as localidades com algum
nível de impacto doméstico. Apesar do resultado do PAR apontar Provetá em uma
categoria diferente de Bananal, Matariz e Vila do Abraão, o MDS forma um único
grupo com estas quatro localidades.
Fig. 9. Escalonamento multidimensional das localidades da Ilha Grande onde
foram encontrados moluscos usando como base os parâmetros avaliados no
Protocolo de Avaliação Rápida.
Igor Christo Miyahira Setembro/2009
63
O segundo grande grupo identificado pelo MDS, o grupo localizado a direita, é
formado pelas localidades que foram classificadas como preservadas no PAR. Neste
segundo grupo observamos um núcleo principal composto por Vila Dois Rios,
Araçatiba, Araçá, Feiticeira, Praia do Perequê, Aroeiras e Parnaioca. Fora deste núcleo
principal temos a Praia do Sul e Lopes Mendes. Praia do Sul se destaca por ser um
ambiente mais preservado que os demais, fato este refletido no maior valor no PAR.
Lopes Mendes se destacou devido a características peculiares deste ambiente como um
aspecto oleoso da água e a presença deste mesmo óleo no sedimento. Estas duas
características são naturais neste ambiente e não tem relação com impactos antrópicos.
A realização do MDS após o PAR vem a complementar esta segunda análise. O
PAR categorizou as localidades fornecendo um índice para cada uma delas. Porém este
tipo de análise fica sujeita a falhas na avaliação quando a pontuação fornecida encontra-
se muito próxima dos extremos das faixas de pontuação. O MDS forneceu uma visão
espacial sobre a relação de impacto entre as localidades da Ilha Grande mostrando que
as localidades classificadas como alteradas estão mais próximas de Provetá classificada
como impactada que das demais áreas. O MDS provou ser um bom complemento para a
metodologia proposta por Callisto et al. (2002).
Comparando as duas metodologias de análise vemos uma coerência entre elas. A
avaliação feita sobre os dados históricos (Tabela V) classificava as áreas em três
categorias: Impactado, Intermediário e Preservado. A PAR (Tabela VI) também
presume três categorias: Impactado, Alterado e Preservado. O que foi avaliado como
preservado no PAR foi avaliado como intermediário e preservado na outra análise. As
localidades avaliadas como preservadas na análise histórica (Praia do Sul e Feiticeira)
correspondem aos maiores valores de pontuação no PAR. As áreas classificadas como
impactadas e alteradas no PAR correspondem às áreas impactadas da análise histórica.
Moluscos de água doce da Ilha Grande
64
De posse das duas análises podemos tecer conclusões semelhantes. Percebe-se
que a presença de moluscos na Ilha Grande não está diretamente relacionada com a
conservação do habitat, ou seja, não necessariamente os locais mais preservados
apresentam o maior número de espécies. Por exemplo, a Vila do Abraão foi a localidade
onde encontramos um maior número de espécies e se trata de um ambiente alterado,
segundo o PAR, apesar de ter um score próximo do limite inferior. O grande trânsito de
pessoas na vila favorece a introdução de espécies como comprovadamente ocorreu com
M. tuberculatus e B. tenagophila na Ilha Grande (Santos et al. 2007).
Impactos antrópicos como o desmatamento das margens dos rios, ocasionado
pela presença de lavouras, por exemplo, no passado recente da Ilha Grande tem
influência sobre a fauna, visto que a condição da vegetação ripária há 50 anos atrás é
um preditivo da atual riqueza e abundância da fauna (Harding et al., 1998). As espécies
recentemente introduzidas na Ilha Grande constituem outra possível fonte de influência
sobre as espécies nativas. A dispersão destas espécies para outros corpos d'água pode
representar uma ameaça para as demais espécies de água doce. Cowie (1998, 2001)
expôs a fragilidade dos ecossistemas insulares frente aos problemas trazidos pela
introdução de espécies. Outro problema que afeta a ilha nos dias de hoje é o turismo
sem controle. O grande número de pessoas transitando na ilha facilita a introdução de
espécies e sobrecarrega o frágil sistema de tratamento de esgoto da Vila do Abraão. Nos
outros vilarejos a situação é ainda mais crítica, pois não existe nenhum sistema de
tratamento de esgoto. São necessárias atitudes para controlar o turismo e prevenir a
entrada de espécies exóticas, senão a degradação da ilha vai ser cada vez maior. O
investimento também deve ser feito no sentindo de instruir os turistas a realizar um
turismo sustentável. Também é de extrema urgência melhorar a eficiência do sistema de
tratamento de esgoto da Vila do Abraão e implantar o tratamento de esgoto em outros
Igor Christo Miyahira Setembro/2009
65
vilarejos da ilha como forma de melhorar a saúde dos rios da Ilha Grande. Esta
necessidade de aprimorar o tratamento de esgotos é evidenciada pelo estado dos rios nos
principais núcleos urbanos da Ilha Grande.
A presença de espécies exclusivas em localidades como a Praia do Sul e Lopes
Mendes realça a importância da preservação destas localidades. Mesmo com a
degradação sofrida no passado, ambas as localidades ainda comportam espécies que
talvez não sejam encontradas em nenhum outro lugar. Estas mesmas localidades são
amparadas por dispositivos legais de preservação, sendo Lopes Mendes incluída no
Parque Estadual da Ilha Grande e a Praia do Sul na Reserva Biológica Estadual da Praia
do Sul. Uma ação humana maior nestas áreas poderia levar a extinção das espécies
exclusivas que nela ocorrem.
Moluscos de água doce da Ilha Grande
66
5. CONCLUSÕES
A diversidade de moluscos de água doce é equivalente a outras áreas do estado
do Rio de Janeiro, como o Parque Estadual da Pedra Branca, sendo as espécies
ocorrentes na Ilha Grande as seguintes: Melanoides tuberculatus, Heleobia australis,
Heleobia sp., Biomphalaria tenagophila, Antillorbis nordestensis, Gundlachia ticaga,
Ferrissia sp., Burnupia sp., Uncancylus concentricus e Pisidium punctiferum. Porém é
menor que a diversidade total do estado.
As espécies com distribuições mais ampla na Ilha Grande foram Pisidium
punctiferum e Gundlachia ticaga, as demais espécies foram restritas a poucas ou a uma
única localidade.
A distribuição dos moluscos de água doce da Ilha Grande está limitada a 13 das
28 localidades visitadas, sendo que na maioria das localidades ocorre apenas uma ou
duas espécies.
A maior diversidade foi encontrada na Vila do Abraão, porém duas espécies,
Melanoides tuberculatus e Biomphalaria tenagophila, são introduzidas. Estas espécies
só ocorrem nesta localidade.
Duas áreas apresentaram espécies exclusivas e provavelmente endêmicas: Praia
do Sul (Heleobia sp.) e Lopes Mendes (Burnupia sp.). As duas áreas são preservadas,
ressaltando a importância da conservação destas localidades.
Apesar de todos os impactos pretéritos e atuais da Ilha Grande, ela ainda possui
importantes áreas no tocante a preservação de moluscos de água doce.
A análise dos ambientes de água doce da Ilha Grande feito pelo Protocolo de
Avaliação Rápida (PAR) seguida pelo Escalonamento Multidimensional (MDS)
mostrou que uma maior parte dos ambientes da Ilha Grande foram caracterizados como
“preservados”.
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O MDS se revelou um bom complemento ao PAR ajudando a identificar os
padrões obtidos com a avaliação do PAR, principlamentre quando o valor obtido no
PAR for perto dos limites de cada categoria.
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