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Caro estudante,
Desde a criação da Unifacs, acreditamos que formação é muito mais do que
preparação técnico-científica e que nossa missão como Universidade é proporcio-
nar ao estudante uma educação para toda a vida, embasada no domínio do conhe-
cimento, na fixação de valores e no desenvolvimento de habilidades e atitudes. É
proporcionar o desenvolvimento integral do indivíduo.
Mais do que profissionais, queremos formar pessoas com visão abrangente
do mundo e das transformações da dinâmica social, com competência para avaliar
de forma crítica e criativa as questões que nos cercam. Pessoas capazes de enfren-
tar os desafios que se coloquem ao longo de sua vida e de sua trajetória profissio-
nal, e de aprender permanentemente e de forma autônoma.
Buscamos atingir este objetivo - fundamentados na nossa missão e no nos-
so Projeto Pedagógico Institucional - por intermédio das diversas atividades acadê-
micas, dentro e fora da sala de aula, que compõem o Currículo Unifacs e que desen-
volvem e fortalecem habilidades essenciais para a formação do perfil do egresso
Unifacs; como um “DNA” reconhecido pela sociedade e pelo mercado de trabalho.
Este Currículo compõe-se dos elementos descritos a seguir:
Disciplinas de Formação Humanística: oferecidas em todos os cursos de gradua- �
ção da Unifacs;
Disciplinas de Formação Básica: conferem conhecimentos e competências comuns �
aos cursos de uma mesma área do conhecimento, para o futuro exercício profissio-
nal;
Disciplinas de Formação Específica: proporcionam a formação técnica e o desen- �
volvimento de habilidades e atitudes necessárias ao perfil profissional do curso;
Atividades integradoras: permitem vivenciar na prática os conteúdos teóricos tra- �
balhados em sala de aula, através do desenvolvimento de projetos específicos;
Atividades Complementares: oferecem oportunidades de ampliação do conheci- �
mento fora da sala de aula, a exemplo da Iniciação Científica, ações comunitárias,
programas de intercâmbio, cursos de extensão e participação em Empresas Junio-
res, entre outras;
Estágio Supervisionado; �
Trabalho de Conclusão de Curso e demais atividades acadêmicas. �
As disciplinas de Formação Humanística, em especial, cumprem um papel
fundamental na consecução desse perfil. Preparam uma sólida base de conheci-
mentos gerais que permitirão uma compreensão mais ampla da formação técnica
de cada curso, estimulando o pensamento crítico e sensibilizando o estudante para
as questões sociais, políticas, culturais e éticas que envolvem sua atuação como
cidadão e profissional; motivando à busca do saber perene.
Em complementação, portanto, à formação técnico-profissional proporcio-
nada pelas disciplinas de Formação Básica e Específica, as disciplinas de Forma-
ção Humanística possibilitarão ao estudante adquirir quatro importantes saberes:
aprender a aprender, aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a ser.
Esta é a concretização do nosso compromisso de formar pessoas melhores,
cidadãos atuantes e profissionais comprometidos para a construção de um mundo
melhor.
Cordialmente,
Prof. Manoel J. F. Barros Sobrinho
Chanceler
FORMAÇÃO HUMANÍSTICA UNIFACS
Conforme explicitado no Projeto Pedagógico Institucional da Unifacs, as dis-
ciplinas de Formação Humanística têm como objetivo:
Possibilitar aos discentes a visão abrangente do mundo e da
sociedade, propiciando aquisição de competências relativas ao
processo de comunicação e raciocínio lógico, necessárias para
a formação profissional; bem como conhecimentos inerentes
aos direitos humanos, à ética, às questões sócio-ambientais
que envolvam aspectos ecológicos, psicológicos, legais, políti-
cos, sociais, econômicos, científicos e culturais, delineando a
formação cidadã.
As disciplinas de Formação Humanística e seus objetivos são:
1. Comunicação
Desenvolver a capacidade de ler criticamente e produzir textos de forma
autônoma, adequando-se às diversas situações comunicativas presentes no dia-a-
dia, e reconhecer a importância do desenvolvimento destas habilidades para sua
vida pessoal e profissional.
2. Introdução ao Trabalho Científico
Despertar o interesse pela ciência, apontando seu papel na construção do
conhecimento e mostrar como o método científico pode ser utilizado para a solu-
ção de questões cotidianas.
3. Sociedade, Direito e Cidadania.
Promover uma reflexão sobre o exercício da cidadania e os mecanismos que
garantem sua efetividade, bem como a participação nos processos sociais, de for-
ma a interferir positivamente na sociedade.
4. Conjuntura Econômica
Habilitar à compreensão da dinâmica da economia e do impacto das suas
diversas variáveis e características no dia-a-dia de países, empresas e cidadãos.
5. Arte e Cultura
Proporcionar o conhecimento e a valorização das manifestações artísticas e
culturais e ampliar a percepção estética como habilidade relevante para profissio-
nais de qualquer área do conhecimento.
6. Meio Ambiente e Sustentabilidade
Transmitir conceitos fundamentais sobre ambiente, sustentabilidade e suas
relações com o desenvolvimento e despertar atitude político-ambiental nos estu-
dantes, a partir do entendimento de seu papel como profissionais e cidadãos.
7. Psicologia e Comportamento
Estudar as interações dos indivíduos no cotidiano, nos grupos dos quais fa-
zem parte, e avaliar papeis e funções nas relações pessoais e profissionais.
8. Filosofia
Discutir as grandes questões da vida humana pela compreensão das diver-
sas correntes de pensamento filosófico e de suas contribuições.
9. Empreendedorismo
Desenvolver a atitude empreendedora como elemento indispensável para
o sucesso pessoal e profissional, seja trabalhando em organizações ou como em-
presário.
10. Saúde e Qualidade de Vida
Enfatizar a importância dos cuidados preventivos com a saúde para obter uma
melhor qualidade de vida dando a base para o pleno desenvolvimento dos projetos
pessoais e profissionais.
INTRODUÇÃO AO TRABALHO CIENTÍFICO
Autores: André Santanchè, Maria Luiza Coutinho Seixas e Gismália Marcelino Mendonça
Sumário
FORMAÇÃO HUMANÍSTICA UNIFACS ...............................................................................................................................................3
INTRODUÇÃO AO TRABALHO CIENTÍFICO ....................................................................................5
INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................................................9O QUE É CIÊNCIA? ................................................................................................................................................................................ 19CIÊNCIA NO COLÉGIO – WEBQUEST ............................................................................................................................................ 23COMPREENDENDO A CIÊNCIA ATRAvÉS DO MITO E DA FILOSOFIA .............................................................................. 27MÉTODO CIENTÍFICO ......................................................................................................................................................................... 39A ESCOLHA DO TEMA E A FORMULAÇÃO DO PROBLEMA ................................................................................................. 43PESQUISA DE DADOS E CONHECIMENTOS ............................................................................................................................... 53REFERENCIAL TEÓRICO: REvISÃO DE LITERATURA ................................................................................................................ 55vEÍCULOS DE DIvULGAÇÃO CIENTÍFICA: FONTES PRIMÁRIAS ......................................................................................... 59BUSCA E SELEÇÃO DE MATERIAL: FONTES SECUNDÁRIAS ................................................................................................ 63FICHAMENTOS, RESUMOS E RESENHAS: ORGANIzAÇÃO DE PUBLICAÇõES CONSULTADAS ............................. 69LEvANTAMENTO E SELEÇÃO DE DADOS ................................................................................................................................... 81CONSTRUÇÃO DE UM MODELO TEÓRICO ................................................................................................................................. 87SÍNTESE – GALILEU E O PLANO INCLINADO ............................................................................................................................ 91CONSTRUÇÃO DO MODELO TEÓRICO – PREvISõES ...........................................................................................................107ORGANIzANDO OS DADOS DA PESQUISA EM CAMPO .....................................................................................................115PROvA DA SOLUÇÃO .......................................................................................................................................................................127DELINEAMENTO DA PESQUISA – PARTE 1: QUADRO DE REFERÊNCIA EPISTEMOLÓGICA ..................................133DELINEAMENTO DA PESQUISA – PARTE 2: ELABORAÇÃO DO PROJETO DE PESQUISA .......................................139APRESENTAÇÃO E DIvULGAÇÃO DOS RESULTADOS DA PESQUISA.............................................................................153APRESENTAÇÃO DE TRABALHOS ACADÊMICOS E CIENTÍFICOS ....................................................................................155CITAÇõES E REFERÊNCIAS .............................................................................................................................................................159
INTRODUÇÃO
você está ingressando em uma disciplina que resulta de um trabalho in-
tenso de uma equipe multidisciplinar, que não mediu esforços para que, além de
trazer informações relevantes para sua formação acadêmica e profissional, ela seja
muito interessante.
Imagine-se em uma sala de aula na qual, ao invés de ter um único profes-
sor, você tem um batalhão envolvendo autores, revisores, designers, animadores e
cinegrafistas, todos envolvidos na tarefa de construí-la. Foi um trabalho de meses
envolvendo debates, revisões e ajustes, e agora estamos todos atrás deste seu mo-
nitor, na expectativa de que você goste do que vai ver. Por isto escrevemos esta
apresentação, não apenas para lhe dar as boas-vindas, mas para dar algumas orien-
tações para que você aproveite o máximo do que preparamos.
É possível que você esteja se perguntando: qual o propósito desta disciplina
na minha formação? Esta é uma questão importante, e por isso vamos começar
tratando dela.
Se você traz uma percepção da ciência tal como ela é tratada na maioria das
escolas de ensino fundamental e médio do nosso país, pode achar que a ciência
interessa apenas a quem trabalha com química, física ou biologia. Se você tem uma
visão um pouco mais ampla, saberá que a ciência atinge muitas outras áreas, no
entanto ainda terá a ideia de que uma matéria como esta interessa, essencialmen-
te, aos acadêmicos ou pesquisadores profissionais. De fato, a ciência interessará a
quem pretende seguir tais carreiras, mas nossa disciplina, tal como foi preparada,
tem uma ambição muito maior do que esta.
você já deve ter percebido que em diversas ocasiões, tanto em sua vida pes-
soal quanto na profissional, você se defronta com situações novas ou coisas que
desconhece, diante das quais é necessário tomar uma decisão ou resolver um pro-
blema, não é mesmo? Em outras vezes, você recebe informações de diversas fontes
e precisa filtrar e decidir em quais você deve confiar ou, ainda, compreender como
estas informações podem afetá-lo pessoal ou coletivamente.
Podemos citar inúmeros exemplos cotidianos que traduzem essa nossa ne-
cessidade, mas, no momento, destacaremos um deles para que você possa com-
preender melhor o que estamos falando: o consumo de alimentos transgênicos em
nosso país foi “arrazoado” a partir do momento em que consumidores passaram a
questionar se este tipo de alimento é prejudicial à saúde humana e, consequente-
mente, a consumi-lo comedidamente, até que processo produtivo e comercializa-
ção seguissem normas de biossegurança. Nesse caso, o papel da ciência foi funda-
mental porque possibilitou, a todos nós, seres humanos, uma compreensão mais
alargada do que implicava, no âmbito individual, consumir alimentos transgênicos.
O tratamento dessa questão pelo viés da ciência permitiu que fossem reveladas
questões que extrapolaram a dimensão do indivíduo (esse tipo alimento pode ou
não fazer mal ao meu corpo?) e alcançaram a esfera coletiva (a quem interessa o
consumo dos alimentos transgênicos? Aos governos? Aos produtores?). Nos dias
atuais, investigar qualquer questão sem considerar o olhar da ciência é uma possi-
bilidade muito remota.
Existem, de fato, diversas maneiras de lidar com o desconhecido, de decidir
em quais informações você confia e como deve tomar suas decisões. A sua cultura
e crença cumprem papéis importantes neste processo. Em muitos casos você faz
uso da sua experiência ou intuição. Mas como a ciência entra neste meio? Ela en-
tra como um ingrediente adicional, um modo de proceder diante do mundo, tão
importante quanto todos os outros. Muitas pessoas, no entanto, não entendem o
papel da ciência por inteiro. Alguns a supervalorizam, lançando-a como moeda no
enfrentamento de questões que não lhe cabem, ou elevando-a ao patamar de ver-
dade absoluta; outros a subestimam ou lhe fazem oposição, como se um de seus
resultados a representasse por inteiro.
O propósito desta disciplina é ressaltar o devido lugar à ciência e mostrar
que conhecê-la e conhecer o seu método pode ser uma ferramenta inestimável
em muitos aspectos da sua vida. Conhecer o método científico lhe dará autonomia
para julgar, por si mesmo, a ciência e seus resultados — com os quais você inte-
rage todos os dias —, incentivando-o a desenvolver um posicionamento crítico
e pessoal em sua vida pessoal e profissional. O método sistematizado e objetivo,
idealizado pela ciência, será apresentado a você. A prática de pesquisa científica
geralmente é uma atividade realizada por quem resolve seguir a carreira de pes-
quisador que, no Brasil, usualmente está vinculada a uma instituição acadêmica.
Ainda que o método seja um processo inerente à pesquisa, demonstraremos como
a sua aplicação pode ser igualmente importante no seu campo profissional.
Ao estudar como fazer revisão da literatura, você exercitará boas práticas
de aquisição de conhecimento, que serão muito importantes no restante do seu
curso e também depois disso, dado que estamos em uma sociedade em contínua
transformação, na qual estudar passou a ser uma constante.
Finalmente, a disciplina também trata de aspectos relacionados ao pla-
nejamento e à divulgação de resultados da pesquisa. Nas respectivas seções são
apresentadas boas práticas para que você aprenda a planejar adequadamente o
seu trabalho e a divulgar os resultados de sua pesquisa com a devida clareza e for-
malismo. Estes são, do mesmo modo, conhecimentos importantes para você, pois
certamente será requisitado a apresentar novos projetos e relatórios de resultados
na organização em que for atuar (ou já estiver atuando!) profissionalmente.
Esperamos que a esta altura você já esteja convencido da importância desta
disciplina, porque isso é muito importante para nós. De qualquer modo, durante
o próprio curso lhe ofereceremos muitos outros elementos para refletir sobre a
importância do que você está aprendendo.
Esta introdução oferece uma panorâmica de como a disciplina está organi-
zada. Mais do que um catálogo de seções, concentra informações e recomenda-
ções importantes para que ocorram muitas aprendizagens.
Imagine o conteúdo que lhe será apresentado
neste curso como uma composição coerente de
diversas unidades menores. Decidimos agrupar estas
unidades conforme o enfoque do trabalho na forma
de esferas temáticas, que estão organizadas dentro
do seu ambiente virtual de aprendizagem, o Moodle,
e são identificadas por imagens.
A mesma unidade pode aparecer em mais de uma esfera, a fim de facilitar
o seu acesso ao conteúdo. Por exemplo, alguns projetos experimentais aparecerão
na esfera “Mapa de Navegação”, associados ao conteúdo do curso, mas aparecerão
novamente na esfera “Laboratório Mundo”, que concentra todos os projetos expe-
rimentais. Não se preocupe, você não vai se perder!
As esferas foram criadas para facilitar o seu trabalho e tudo que precisa sa-
ber é que o conteúdo principal está estruturado na esfera Mapa de Navegação. As
esferas também lançam destaques sobre aspectos importantes da disciplina que
você está estudando e realizam hiperlinks com o conteúdo. O ambiente está orga-
nizado conforme as seguintes esferas:
Mapa de Navegação. Organiza
o conteúdo principal da
disciplina de forma linear para
orientá-lo na seqüência a ser
seguida em seus estudos.
O mapa de navegação está
organizado em tópicos e sub-
tópicos, seguindo a mesma
organização apresentada no
plano de ensino.
Ciência do Colégio. Roteiro
para reflexão sobre o modo
como você aprendeu ciências
no colégio. Esta será a base
para que você compreenda a
abordagem da práxis científica,
permitindo que seja ampliada a
sua perspectiva de ciência.
Ombro de Gigantes. Esta
esfera se inspira na clássica
afirmação de Isaac Newton:
“Se eu consegui ver além foi
porque me apoiei no ombro de
Gigantes”. Ela reúne orientações
relacionadas à prática do
pesquisador no estudo de
trabalhos relacionados à sua
pesquisa, incluindo orientações
sobre como encontrar material
de leitura, como avaliar a sua
qualidade e como referenciá-lo.
Materialização da Ideia. Aqui
estão reunidas orientações e
ferramentas que irão ajudá-lo
a materializar seus projetos
e resultados de pesquisa. A
materialização faz referência
a dois momentos, o primeiro
é o do projeto, quando você
precisa transformar uma idéia
ou uma inquietação em um
plano concreto de execução, e
o segundo é o da divulgação,
que compreende toda a ação
de compartilhar suas conquistas
com a comunidade através de
publicações e apresentações.
Laboratório Mundo. A
experimentação é uma das
etapas mais marcantes do
trabalho científico. Cientistas
são conhecidos por suas
abordagens inteligentes e
criativas para testar hipóteses
e provar suas teorias. Por este
motivo, essa esfera reúne a
apresentação dos experimentos
científicos apresentados na
disciplina e outros que estão
disponíveis na rede.
Apreciação da Aprendizagem.
Aqui são explicadas, em
detalhes, cada uma das três
avaliações a que você será
submetido; é apresentado
o calendário das avaliações,
bem como os conteúdos que a
comporão.
Multiteca. A disciplina faz
uso ou referência a diversos
tipos de mídias. Entre elas
destacamos: textos e livros
disponíveis on-line, imagens e
vídeos. Achamos conveniente
reagrupá-los nesta esfera. Mas
a esfera Multiteca não se limita
a um reagrupamento. Nela,
você encontrará comentários e
recomendações relacionados às
mídias, orientações sobre como
encontrar livros na biblioteca
da universidade e indicações
de livros para a sua biblioteca
particular. Em resumo, a esfera
Multiteca é uma porta de acesso
a recursos para expandir seus
conhecimentos, além daqueles
apresentados no material desta
disciplina, é claro!
Além de conhecer as esferas temáticas é importante que você compreenda
como o conteúdo do curso e as avaliações estão organizados no AvA – Ambiente
virtual de Aprendizagem:
O Conteúdo principal compreende o material textual produzido por nós,
autores. Esse material cobre os principais assuntos do curso e deve ser lido por
completo. O conteúdo aí presente fará parte das três avaliações principais desta
disciplina. você receberá todos os textos do conteúdo principal também em for-
mato impresso para a sua maior comodidade na leitura. Além disso, há recursos
multimídia diretamente associados a este material, que o ajudará a compreender
o seu conteúdo.
O Conteúdo recomendado compreende vários outros textos e recursos
multimídia aos quais o conteúdo principal faz referência e recomenda a leitura.
Por exemplo, em muitos casos o texto principal indica textos de outros autores
para leitura, ou recomenda que você assista a algum vídeo disponível na rede. Este
conteúdo complementa a sua formação e, portanto, a sua leitura é recomendada.
O conteúdo recomendado só estará disponível no ambiente virtual de aprendiza-
gem (Moodle) e você não recebe uma cópia impressa dos mesmos.
Projetos experimentais. O curso foi projetado em torno de três projetos
experimentais principais. Dois deles são apresentados gradativamente na medida
em que se apresentam as etapas do método científico, de modo que você tenha
uma visão prática dos conceitos apresentados. O terceiro projeto experimental será
utilizado no final do curso, quando fizermos algumas reflexões sobre a ciência. Os
projetos experimentais também lhe guiarão na forma como você deve conduzir o
seu próprio projeto experimental. Como você verá adiante este será o teor de uma
das avaliações do curso.
Desafios. Durante o curso são propostos desafios para você. Os desafios
servem para motivar a sua participação ativa no processo, através da resolução
de problemas ou de pequenos jogos. Cada desafio foi planejado para enriquecer
o seu aprendizado em uma parte do curso e, por isso, recomendamos fortemente
que você resolva todos eles. O conhecimento obtido em cada desafio será vincula-
do com o conteúdo apresentado no curso, o que permitirá que você faça uma au-
toavaliação do seu desempenho e verifique o que aprendeu. Queremos evidenciar
que você não receberá uma nota pela resolução dos desafios e, por isso, não será
exigido o envio do seu resultado para o seu tutor; mas você pode pedir orientação
a ele se tiver dificuldades e será estimulado a debater, em fórum apropriado, sobre
dificuldades e descobertas relacionadas ao desafio.
Avaliações Principais. você realizará três avaliações principais - dois traba-
lhos submetidos através do ambiente virtual e uma prova realizada presencialmen-
te - e receberá uma nota por cada uma delas. Estas notas irão compor a sua média
final na disciplina. Cada uma das avaliações tem uma data agendada no calendário
da disciplina que está recebendo. você será estimulado a desenvolver os trabalhos
gradativamente durante o semestre e a interagir com os seus colegas e seu tutor
para debater idéias, solicitar orientações, compartilhar descobertas etc. Entretanto,
você produzirá uma versão final de cada um dos seus trabalhos, que será submeti-
da integralmente até a respectiva data estabelecida no calendário.
Um Mapa Conceitual como este que você está vendo na imagem a seguir
será usado como base para a construção de todo o curso. Mapas conceituais po-
dem ser entendidos como diagramas que representam relações entre conceitos
(MOREIRA; ROSA, 1986). Nesta disciplina, eles aparecem em dois momentos. Na
esfera Mapa de Navegação do ambiente virtual de aprendizagem, como guia mais
abrangente do curso, e nos textos que integram o conteúdo principal da disciplina,
nos quais recortes do mapa aparecem para orientar a sua leitura.
Para finalizar esta introdução, achamos conveniente lhe dar algumas expli-
cações sobre a forma como este curso será conduzido e o papel dos diversos atores
no mesmo.
Como dissemos no início deste texto, o conteúdo deste curso foi criado por
professores autores em colaboração com uma extensa equipe que realiza revisão,
seleção e produção de mídias, roteiros e gravação de vídeo, montagem do am-
biente virtual de aprendizagem etc. Em seguida, entra em cena o professor do cur-
so, que acompanha a produção do conteúdo e será o responsável pela condução
da disciplina durante este semestre. O professor do curso é assessorado por uma
equipe de tutores. Cada tutor conduz uma turma de alunos e essas turmas são or-
ganizadas em um ambiente virtual de aprendizagem. Deste modo, você faz parte
de uma turma alocada num ambiente virtual que é acompanhada diretamente por
um tutor.
O tutor tem formação e preparo para dar orientação e suporte completos
em todo o desenvolvimento da disciplina. Ele responderá a suas perguntas, lhe au-
xiliará nas dificuldades e lhe dará um feedback das atividades que você submeter. O
tutor também acompanhará os fóruns de discussão, contribuindo e orientando os
debates sempre que necessário. Além disso, o tutor está em contato constante e di-
reto com o professor da disciplina, tendo sido preparado para solicitar orientação e
encaminhar questões que exijam uma ação direta desse professor. Por intermédio
dos tutores, o professor tem uma percepção global do andamento da disciplina e
dá as diretrizes gerais para a condução da mesma.
Esta disciplina foi desenvolvida partindo do pressuposto que você dedicará
algumas horas semanais do seu tempo para o estudo de seu conteúdo. Para plane-
jar corretamente o tempo considere que, assim como você faz em uma disciplina
presencial, deve dedicar algumas horas da semana para estar em “sala de aula”. No
nosso caso, a sala de aula é o ambiente virtual de aprendizagem, espaço no qual
está sistematizado o conteúdo (principal e recomendado) que foi preparado para
você. Além disso, este é um espaço para participar das oportunidades de interação.
Lembre-se que, assim como acontece no curso presencial, será preciso dedicar um
tempo extra “fora da sala” na realização de exercícios, elaboração de trabalhos e
preparação para a prova, estudos, pesquisas etc.
Concluímos aqui a nossa introdução declarando que estamos muito felizes
com a sua participação. Desejamos que você obtenha sucesso e fique satisfeito
com a disciplina. Durante todo o semestre, mas principalmente ao final dele, você
terá a oportunidade de contribuir para a melhoria desta disciplina avaliando-a e
nos dando feedback de suas impressões.
Bom estudo!
André Santanchè
Maria Luiza Coutinho Seixas
Gismália Marcelino Mendonça
rEFErÊNCiAS
MOREIRA, Marco Antônio; ROSA, Paulo. Mapas Conceituais. Caderno Brasileiro de Ensino de Fí-
sica. Florianópolis, v. 3, n. 1, p. 17-25, 1986. Disponível em: <http://www.periodicos.ufsc.br/index.
php/fisica/article/view/7934/7300> Acesso em: 26 jun. 2010.
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O QUE É CIÊNCIA?
Autores: André Santanchè e Maria Luiza Coutinho Seixas
Na maioria das vezes, quando somos confrontados com essa pergunta, somos
levados a, de imediato, confundir ciência com tecnologia. Isso é muito habitual porque
estes dois campos estão inexoravelmente entrelaçados; um é produto/resultado do
outro. É tão habitual, que muitos estudiosos da ciência já se propuseram a escrever
sobre essa “confusão”. Andery et al (2006), por exemplo, e outros estudiosos, nos lem-
bram que existem, no mínimo, dois tipos de opinião, muito difundidos nos tempos
atuais, sobre a ciência. No primeiro, a ciência é considerada como uma fonte de bene-
fício para a humanidade; no outro, contraditoriamente, é percebida como uma força
de opressão, como fonte de destruição da natureza e do próprio homem.
Os resultados tangíveis da ciência lhe cercam por todos os lados. você mora em
uma casa ou apartamento, anda em automóveis, atravessa viadutos, viaja de avião, vai
a um médico ou hospital, toma medicamentos receitados, utiliza artefatos de plástico
e inox, usa eletrodomésticos e computadores. Poderíamos citar uma lista interminável
de produtos da tecnologia que o cercam e que são consequência da ciência.
É muito comum enfatizar os resultados, em detrimento do processo, porque
os resultados da ciência lhe atingem de forma mais íntima. você consome alimentos
naturais cujas características sofreram influência direta de estudos científicos: seleção
artificial, transgênicos etc.; ou produtos artificiais: adoçantes, conservantes etc. você lê
ou assiste notícias que se relacionam com a ciência o tempo todo: clonagem, energia
atômica, novas curas, formas corretas de se alimentar etc.
Tudo isso conduz a uma questão importante: você não acha que compreender
a ciência pode ser muito importante, tanto no campo profissional, quanto no campo
pessoal? Compreender a ciência lhe dará autonomia crítica de decidir por si mesmo
como encarar as informações que recebe ou as decisões que deve tomar com relação
à ciência.
Mais do que isso, a formação desse entendimento muito se deve à forma como
compreendemos a ciência quando frequentamos a escola. Como já nos referimos no
texto de Introdução desta disciplina, o que está definido, na escola, com o nome de
ciências é um conjunto estruturado de conhecimentos que são resultados da ciência,
isto é, o aprimoramento tecnológico. Para além dessa definição, a ciência compreende
o modo como estes resultados foram alcançados.
Se ampliarmos nossa visão saindo de uma perspectiva individual e partindo
para uma perspectiva da comunidade que nos cerca, podemos nos perguntar: a ci-
ência pode nos ajudar na nossa atuação na sociedade? Como você já deve estar ima-
ginando, a resposta é sim novamente. você pode ajudar uma comunidade a resolver
problemas práticos de alimentação, saúde, infra-estrutura; você pode melhorar um
processo dentro da empresa que você trabalha.
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você pode se considerar um indivíduo que nada tem a ver com a ciência, mas
isso com certeza não é verdade, principalmente, porque prova dar algum valor a ela
no momento em que se matriculou nesta universidade. O que você aprendeu até aqui
não é, em grande parte, conhecimento científico acumulado e aperfeiçoado por ge-
rações? Talvez você já se considere conhecedor da ciência, ou talvez esteja pensando:
tarde demais, nunca demos atenção àquelas disciplinas de ciências que estudamos
na escola. Neste ponto é introduzida a segunda parte deste texto, que trata das ques-
tões: “Por que eu estudei ciências na escola?”; “Que aspectos da ciência eu estudei na
escola?”; “Ao conhecer química, física ou biologia, passamos automaticamente a saber
o que é ciência?”.
Antes de prosseguirmos na leitura, planejamos uma pequena atividade, a qual
está descrita no quadro a seguir. É muito importante que você faça essa atividade an-
tes de dar seguimento ao estudo.
CIÊNCIA DO COLÉGIO
A forma como você aprendeu ciência no colégio tem uma grande influência sobre como
você a vê hoje. Antes de seguirmos adiante, achamos importante uma atividade de análise
e reflexão sobre ciência no ensino fundamental e médio. Utilizaremos os resultados desta
reflexão como base para o que apresentaremos em seguida.
Trata-se de uma atividade do tipo WebQuest. você encontrará tudo o que precisa para realizar
a atividade na esfera temática Ciência do Colégio (recomendamos) ou nas instruções que
aparecem no final do capítulo.
Autor: Mehran Moghtadai - Arad Mojtahedi
Fonte: Wikimedia Commons
Se você seguiu nossas recomendações na execução deste WebQuest, perce-
berá que o colégio projetou em sua mente uma imagem de ciência. Em grande parte
dos casos, a forma como você usará a ciência na sua vida pessoal e profissional pode
ser bem diferente da que você concebe hoje. você pode achar que serão necessários
conhecimentos profundos em uma das ciências que você estudou na escola, ou quem
sabe em todas elas, tal como o Macgyver1. De fato, conhecimentos deste tipo são úteis,
mas não é em uma extensa biblioteca de conhecimentos científicos que estamos inte-
ressados, mas sim na ciência e seu método, a fábrica destes conhecimentos científicos.
voltando à metáfora, a nossa expectativa que você aja mais como Sherlock Holmes,
1 Se você não é da geração que teve a oportunidade de assistir Macgyver, ele era um agente secreto que utilizava conhecimentos científicos
para encontrar saídas nas ocasiões mais inusitadas. veja mais sobre Macgyver em http://www.imdb.com/title/tt0088559/ ou então na nossa
videoteca.
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que combina observações e raciocínio para produzir conhecimento, do que como Ma-
cgyver, que apenas os utiliza.
Se você limita a noção de ciência que aprendeu no colégio, achará que o co-
nhecimento científico está relacionado com áreas específicas, como física, química e
biologia; ou então que ciência é algo que interessa a acadêmicos e pesquisadores.
Quando estas classificações não se aplicam a você, é natural que seja levado a pensar
que a ciência não lhe diz respeito.
Usualmente, o que aprendemos no colégio com o nome de ciências é um con-
junto estruturado de conhecimentos que são resultados da ciência. Não é à toa que
chamamos de “ciências” no plural, ao invés de “ciência” no singular. Estas “ciências” se
referem às aplicações da ciência nas diversas áreas de conhecimento. Como veremos,
a ciência na verdade abrange muito mais do que isso. Para compreendê-la em sua am-
plitude é necessário aprofundar o modo como os resultados que você aprendeu foram
alcançados. No ensino fundamental e médio é muito comum a ênfase aos resultados.
Se por um lado eles são muito importantes, por outro, são uma parte do que chama-
mos de ciência. Eventualmente, somos apresentados a alguns elementos das ciências
em si. No seu WebQuest você deve ter visto um experimento em ciências (Telecurso
2000 - aula 69. vendo o invisível), no qual é obtida uma conclusão a partir de um ex-
perimento; o primeiro tópico (1. A matéria e suas propriedades) do “Programa Educ@r”
que estimula o estudante à observação; ou o vídeo “Ciência por miúdos Programa
zero” que estimula a realizar um experimento que simula a formação da chuva. Mas
este tipo de abordagem é esporádico em sala de aula, dado o volume de conteúdo
que o professor precisa apresentar ao aluno. Além disso, a ciência em si e seu método
são tratados de forma ainda primária e fragmentada.
Se você estudou física no colégio, deve ter sido apresentado a uma dezena de
fórmulas matemáticas que o conduziram a utilizá-las ora na resolução do problema de
um carrinho, ora para analisar a trajetória do lançamento de uma pedra, e assim por
diante. Entregaram-lhe algumas equações atribuídas a um antigo sujeito chamado
Isaac Newton e o máximo que lhe contaram foi a estória de uma maçã – a respectiva
aula que você viu no WebQuest, Telecurso 2000, (08. Eu tenho a força! Será?) deve ter
refrescado a sua memória. Talvez você tenha perdido algum tempo, na época, ten-
tando entender de onde foi que Newton tirou aquelas equações. Pense sobre isso: de
onde foi que Newton tirou aquelas equações? Ele as inventou do nada? Retorne à aula
08 do Telecurso e veja como o tema é apresentado. Reflita sobre isto: de onde vieram
estas fórmulas?
Neste ponto, você pode ter pensado que a física é uma espécie de ramo da
matemática e talvez tenha extrapolado isto para as ciências. Então pode parecer que o
perfil do pesquisador é daquele sujeito versado em ciências exatas ou matemática, e
isto é um equívoco. A matemática é, sem dúvida, uma ferramenta importante na mão
do pesquisador, mas principalmente por ser uma poderosa linguagem para descrever
relações de forma simples e compacta.
A parte da ciência que vamos lhe mostrar neste curso está menos voltada às
equações de Newton e mais voltada a responder: por que ele as fez e como ele as fez.
Não tanto do ponto de vista da matemática, mas do momento em que ele olhou para
o universo e para a terra e se perguntou: será que existe alguma força comum que faz
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cair a maçã e que atrai a Lua ao planeta Terra? Como ele procedeu desde o momen-
to que se fez esta pergunta, passando por observações e experimentos, até produzir
uma teoria poderosa? A partir daí será possível mostrar que, apesar de a ciência ter se
estabelecido inicialmente em áreas como física, química e biologia – daí os principais
exemplos sempre se inclinarem para estas áreas –, seu método vai muito além, poden-
do ser aplicado a muitas outras áreas de conhecimento, inclusive a sua.
SÍNTESE
Neste capítulo você foi conduzido a fazer uma reflexão da sua imagem de ciên-
cia baseada no que você estudou no colégio. Apresentaremos a você uma perspectiva
mais ampla de ciência, que vai além dos seus resultados e que poderá lhe ser útil nos
diversos aspectos da sua vida.
Esperamos que você tenha ficado satisfeito com os resultados que obteve no
WebQuest porque a partir de agora entraremos em um percurso para ampliar a sua
percepção de ciência e a reflexão sobre o passado será muito valiosa.
QuESTÃo PArA rEFLEXÃo
Diariamente você sai de casa e vai à universidade e precisa, de algum modo,
garantir que chegará no horário. você acha que a rotina que você desenvolveu para
conseguir isso tem algo a ver com a ciência? Pense sobre isso e nos encontramos de
novo na próxima seção para tratar desse assunto.
rEFErÊNCiAS
ANDERY, Maria Amélia et. al. Para compreender a ciência: uma perspectiva histórica. 15. ed. Rio de
Janeiro: Garamond, 2006.
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CIÊNCIA NO COLÉGIO – WEBQUEST
Autor: André Santanchè
Esta é uma atividade do tipo WebQuest. Se você ainda não participou de uma
atividade deste tipo, faremos uma pequena introdução.
Um WebQuest consiste em um formato para o desenvolvimento de uma in-
vestigação orientada, na qual a maior parte das informações que o estudante traba-
lha vem da Web. Ele foi proposto por Bernie Dodge em 1995 (DODGE, 1995; DODGE,
2001). Se você quiser se aprofundar mais neste modelo poderá encontrar informações
úteis no site oficial (em inglês) http://webquest.org ou no site em português da Escola
do Futuro da USP1.
Nas páginas seguintes apresentaremos o nosso WebQuest.
Autor: Mehran Moghtadai - Arad Mojtahedi
Fonte: Wikimedia Commons
Uma das características marcantes de um pesquisador é o costume de coletar dados,
classificá-los e sistematizá-los. Neste WebQuest você vai praticar um pouco deste papel.
Seu objeto de estudo: livros e conteúdo didático utilizado no ensino fundamental e médio.
Sua tarefa: traduzir o conceito de ciências a partir do olhar de um estudante de ensino
fundamental e médio.
TAREFA
O objetivo deste WebQuest é analisar amostras de livros didáticos, vídeos e tex-
tos sobre ciências, direcionados a professores do ensino fundamental e médio, que
estão disponíveis em sites na Web. Diferentemente de como aconteceu na sua época
de colégio, agora você vai assumir uma atitude externa de pesquisador e seu objeto de
estudo é o conteúdo das ciências estudadas. você vai praticar também o ato de tentar
se distanciar do objeto de estudo para analisá-lo, ou seja, não importa se você gosta
ou não das ciências que aprendeu na escola, seu papel é “dissecá-las”.
Esta será uma análise direcionada e não estamos considerando que você irá
ler todo o material. Na próxima seção você será orientado sobre o que deve ler o que
analisar e como obter os resultados esperados.1 http://www.webquest.futuro.usp.br
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Depois de analisar os livros e material sugerido você responderá as seguintes
perguntas:
O que é ciência e quais as suas características? �
Por que nos referimos à “ciência” no singular neste texto e utilizamos “ciências” para �
nos referir ao que estudamos no colégio?
Note que para que esta atividade seja bem sucedida você não deve procurar a
definição de ciência em outros sites, pelo contrário, se você fizer isso vai atrapalhar os
resultados de sua atividade. Não tenho nenhuma intenção que você construa o con-
ceito correto de ciência, não é este o propósito.
PROCESSO
Montamos o quadro a seguir, no qual estão organizadas as referências para os
sites e sugestões de tópicos para a leitura.
Título do livro ou material Tópicos sugeridos para leitura
Telecurso 2000
http://www.bibvirt.futuro.usp.br/textos/
telecurso_2000
Ciências – Ensino Fundamental
(está com o título trocado como Ciências – Ensino
Médio)
Biologia – Ensino Médio
Física – Ensino Médio
Química – Ensino Médio
Analise como os conteúdos são
organizados; escolha uma ou
duas amostras de aula e veja seu
conteúdo.
Ciências no ensino fundamental:
veja a primeira aula (01. Por dentro
da ciência); veja a penúltima (69.
vendo o invisível) e última aulas (70.
Ciência: produto ou método?).
Física no ensino médio: veja a
primeira aula do volume 1 (01. O
mundo da física) e as leis de Newton
oitava aula deste volume (08. Eu
tenho a força! Será?).
Programa Educ@r
Ciências para Professores do Ensino
Fundamental
http://educar.sc.usp.br/ciencias/
Analise como os conteúdos são
organizados; veja como é abordada
a primeira aula (1. A matéria e suas
propriedades); escolha uma ou duas
amostras e veja seu conteúdo.
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Wikibooks – biologia, física e química
http://pt.wikibooks.org/wiki/Biologia
http://pt.wikibooks.org/wiki/F%C3%ADsica
http://pt.wikibooks.org/wiki/Qu%C3%ADmica
O conteúdo da Wikipedia e sites relacionados deve
ser usado com cautela e trataremos sobre esse
assunto na seção onde abordamos como deve
ser avaliada a qualidade de um texto. Como o
propósito desta atividade não é aprender ciências
através dos textos do Wikibook e sim analisá-los,
eles poderão ser usados para esta atividade sem
restrições.
Analise como é organizado o
conteúdo de biologia, física e
química.
Ciência por miúdos Programa zero
http://www.youtube.com/watch?v=ZaHizBvf1sI
Analise a forma como o experimento
científico é apresentado às crianças
e como eles foram conduzidos a tirar
conclusões.
AVALIAÇÃO
Nesta atividade você não receberá uma nota pelos seus resultados. Esta estra-
tégia foi adotada para que você se concentre no principal objetivo da tarefa, ou seja,
realizar uma reflexão sobre o seu aprendizado de ciências no colégio. É possível que
uma nota nesta avaliação desviasse sua atenção e você se preocupasse mais em pro-
duzir um resultado para satisfazer a nossa expectativa do que para a sua aprendiza-
gem pessoal. Contudo, esta é uma atividade muito importante para a continuidade de
seus estudos nesta disciplina.
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CONCLUSÃO
Espero que este WebQuest tenha sido proveitoso para você, principalmente
porque você vai retornar ao nosso texto e iremos transformar os resultados desta ati-
vidade na matéria-prima para reflexões na introdução e em outros textos durante o
curso.
rEFErÊNCiAS
DODGE, Bernie. WebQuests: a technique for internet – based learning. San Diego: The Distance Edu-
cator, 1995. p. 10-13.
DODGE, Bernie. FOCUS: five rules for writing a great webquest. Learning & Leading With Technology,
2001. p. 6-9.
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COMPREENDENDO A CIÊNCIA ATRAVÉS DO MITO E DA FILOSOFIA
Autora: Maria Luiza Coutinho Seixas
Para iniciarmos nossa conversa sobre essa temática, convidamos você para algo
inusitado. O texto em destaque abaixo é um dos diálogos de um filme. você consegue
descobrir a que obra estamos nos referindo?
Fonte: http://www.webcine.com.br/filmesc1/webl1155.jpg
[...]
- disse que a máquina está aqui...
- exato.
- Por que não a vemos?
- porque estamos em 31 de dezembro de
1899 e a máquina está a centenas de anos a
nossa frente.
- talvez esta casa não exista daqui a 100 anos.
- porém a máquina ocupa o mesmo espaço
que ocupava antes da viagem.
- se ocupa o mesmo espaço, por que não
posso tocá-la?
- Porque este espaço é o espaço de hoje e não
pode tocar no espaço de amanhã.
- O espaço não se altera! Este espaço estará
aqui para sempre.
- Não! o tempo altera o espaço!
- Este lugar pode ter estado no fundo do mar
tempos atrás... - e em um milhão de anos,
quem sabe, seja o interior de uma montanha.
- Se isto é verdade, que pretende que façamos
com sua máquina?
- máquina? tenho a intenção de viajar ao
futuro.
- Ou, quem sabe, o doutor se ofereça como
voluntário? [...]
Bem, se você não conseguiu descobrir, vamos soltar uma pista... o seu roteiro
foi adaptado de um best seller, editado pela primeira vez em 1895 e seu título acabou
por se tornar uma meta perseguida por muitos cientistas de várias partes do mundo
desde que foi cogitada como algo possível a ser construído.
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Ah... agora você matou a charada, não foi? É isso mesmo! Estamos falando do
filme “A máquina do tempo”. Tudo bem! você deve estar estranhando a referência a
esse filme de gosto duvidoso, que não faz jus ao romance de ficção científica escrito
por H. G. Wells e certamente ganhou o prêmio Framboesa de Ouro1 de 2003, mas isso
tem um motivo muito plausível. O que você faria se tivesse uma máquina do tempo
estacionada na garagem de sua casa ou de seu prédio? Certamente não resistiria e
sairia para dar uma volta, não é mesmo?
O destino dessa viagem poderia ser o futuro (afinal, todos queremos saber
como seremos daqui a dez anos, quais serão as nossas conquistas, ou quem será o
campeão da Copa Mundial de Futebol de 2014), mas, como temos uma necessidade
emergencial nessa disciplina - ... - destacaremos /retomaremos /retornaremos a alguns
momentos da história da civilização ocidental para compreender o que é a ciência e
como ela chegou a ser o que é.
MITO E LOGOS: BASES PARA EXPLICAR E COMPREENDER O MUNDO
A ciência, como a conhecemos hoje, é algo que passou a ser produzida apro-
ximadamente a partir do século X d.C., mas tem origens muito anteriores a isso, num
tempo identificado como Antigüidade. Estamos falando do momento em que surgiu,
no ser humano, a necessidade de explicar racionalmente o mundo e a natureza que o
cercava.
Pelas configurações social e produtiva características do momento histórico
anterior (período micênico, configurado séculos XII a vIII a.C.) a essa necessidade - gru-
pos organizados por relações de parentesco e em torno do totem (animal, planta ou
instrumento de trabalho importante para a economia do grupo, organizada de forma
a garantir apenas o consumo necessário para a sobrevivência deste), bastava a esse
ser humano uma explicação/compreensão de mundo baseada na crença e na fé: a
narrativa mítica ou, como mais comumente conhecemos, o mito. Conforme Andery et
al (2006, p. 20),
[...] o mito é uma narrativa que pretende explicar, por meio de
forças de seres considerados superiores aos humanos, a origem,
seja de uma realidade completa como o cosmos, seja de partes
dessa realidade; [que] pretende explicar efeitos provocados pela
interferência desses seres ou forças.
O mito era baseado na transmissão do conhecimento (principalmente para ex-
plicar o mundo e as formas de produzir condições para a sobrevivência) por meio de
gerações e reforçava a idéia da coletividade: o que era produzido pelo grupo, era con-
sumido por este mesmo grupo.
1 O Framboesa de Ouro, prêmio dado ao pior filme do ano, é uma versão escrachada do Oscar, o mais famoso e cobiçado prêmio do cinema.
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Você sabia que:
Através do mito foi possível estabelecer uma relação pessoal e intransferível entre alguns
homens (representados pela figura do herói e do rei) e os deuses, fosse no exercício da
justiça, fosse no exercício da religião?
Pois é, os poemas de Homero (Ilíada e Odisséia) e os de Hesíodo (Os trabalhos e os dias e
Teogonia) revelam-se documentos importantes para a compreensão histórica deste período
e também permitem desvelar as características do conhecimento até então produzido.
vejamos, abaixo, um trecho da Teogonia, de Hesíodo:
Em verdade, no princípio veio o Caos, mas depois veio Gaia
(Terra) de amplos seios, base segura para sempre oferecida a
todos os seres vivos [...].De Caos nasceram Érebo (treva) e a
negra Noite. E da Noite, por sua vez, saíram Éter e Dia (que ela
concebeu e deu à luz unida por amor a seu irmão Érebo) [...]
(HESÍODO, 116-132).
Por conta de um melhor uso de ferramentas, utensílios e do desenvolvimento
de técnicas que possibilitaram uma conseqüente produção excedente, as formas de
produzir, fundamentadas nos princípios da coletividade referidos no parágrafo ante-
rior, foram paulatinamente abandonadas. Produzir em quantidade maior do que se
pode consumir, implicou o desenvolvimento da relação mercantil e de muitos dos as-
pectos que posteriormente a acompanharão: a divisão social do trabalho, apropriação
de produtos baseada na propriedade privada...
O período seguinte, o arcaico (séculos vII e vI a.C.), caracterizou-se, principal-
mente, pelo desenvolvimento das pólis gregas, ou as denominadas cidades-Estado. As
pólis possuíam uma economia monetária bem definida: cunharam moedas que eram
usadas na troca de produtos e que representavam a garantia de autonomia econômi-
ca e política, autonomia esta que num primeiro momento, esteve pautada em princí-
pios oligárquicos, mas que também contribuiu para o desenvolvimento da noção de
cidadania e de democracia.
[...] implicados na vida da pólis, o homem grego tornava-se ca-
paz de transpor para o pensamento as várias instâncias presen-
tes em sua vida: tornava-se capaz de reconhecer como distintos
o próprio homem, a sociedade, a natureza, o divino; tornava-se
capaz de refletir no conhecimento que produzia abstrações que,
cada vez, marcavam as várias instâncias de sua vida (ANDERY et
al, 2006, p. 35).
Está evidente, no trecho acima, que a nova configuração política e econômica,
ocasionou uma nova organização social, na qual a narrativa mítica não era mais pre-
dominante e que, a partir do século vI a.C., provocou o surgimento de tentativas para
explicar racionalmente o mundo, que culminaram no que ficou conhecido como o
pensamento primordialmente sistematizado pelos gregos.
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Em contraponto à narrativa mítica surge o pensamento racional. A razão - ou
logos, em seu sentido original - possui dois significados etimológicos: por um lado,
reunir, ligar e, por outro, calcular, medir. Nos dois significados está claro que ambos
relacionam-se com o pensar, capacidade intrínseca e atividade fundamental do ser
humano. Razão, para os gregos, opõe-se ao ilusório e ao conhecimento que é dado
pelo sentido; o conhecimento racional é aquele que faz ultrapassar as aparências e
alcançar a realidade:
O conhecimento racional opõe-se ao mítico, pois é um conheci-
mento sobre o qual se problematiza, não simplesmente se crê;
um conhecimento no qual a explicação demonstrada por meio
da discussão, da exposição clara de argumentos [...] um conhe-
cimento em que as explicações deixam de ser frutos da ação de
seres sobrenaturais e divinos que agem a despeito do próprio
homem, para se tornarem explicações baseadas em mecanismos
imanentes à natureza ou ao próprio homem em sua ação sobre a
natureza (ANDERY et al, 2006, p. 21).
Fundamentada nessas bases, nasce a Filosofia, uma nova forma de ver/perce-
ber o mundo.
A FILOSOFIA
vamos colocar nossa máquina do tempo para funcionar...
zás! Chegamos num período que é considerado, até os dias atuais, como um
divisor de águas no que se refere à maneira como as sociedades produziam conheci-
mento: o período em que surgiu a Filosofia.
Temos como o primeiro filósofo importante Sócrates, mas antes dele, no âmago
da sociedade grega que se ergue entre os séculos vII e v a.C., vários outros buscaram
explicar racionalmente a natureza. Dentre eles, temos:
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Tales � e Anaximandro, que se preocuparam em desenvolver conhecimentos no cam-
po da Astronomia, da Geometria e da Matemática.
Anaxímenes � , um dos primeiros a pensar o homem a partir da sua composição quími-
ca e que tenta explicar a questão da vida e o que a compõe.
Pitágoras � , que traz a noção de número; de harmonia, no sentido da música, mas que
se desloca para ajudar na compreensão do universo; e a noção de alma, como elemento
que garante a vida;
A noção de número introduzida por Pitágoras fez com que o pensamento racio-
nal alcançasse um maior poder de abstração, pois permitiu que os gregos pudessem
ir além dos elementos sensíveis e compreendessem o que é fundamental na natureza.
Por se caracterizar como elemento não sensível (isto é originado pela abstração), a
noção de número implicou na valorização da razão (logos) no processo de produção
do conhecimento.
Ainda no século v a.C., a Grécia entra em guerra com a Pérsia. O cenário das
investigações filosóficas divide-se. Um deles passa a ser Éfeso (Grécia asiática) e o ou-
tro Eléia, no sul da Itália. Geograficamente opostas, estas regiões simbolizam as duas
direções contrárias que a filosofia tomará, nos séculos seguintes. Essas direções têm
o mesmo ponto de partida: o questionamento acerca da existência de “um princípio
único que explique o mundo em seus diversos aspectos” (ABRÃO, 1999, p. 31).
Originários de Éfeso e Eléia, dois grandes pensadores pré-socráticos merecem
destaque, pois além de suas relevantes contribuições para esta questão filosófica/
científica, tornaram mais convincentes os argumentos de um dos principais sistemas
filosóficos na antiguidade. Estamos nos referindo a Parmênides e Heráclito. você já
ouviu falar neles?
Por conta do seu pensamento (exposto num poema filosófico intitulado Sobre a
Natureza2, à Parmênides de Eléia (530 a.C. - 460 a.C.) é atribuído o próprio surgimento
da ontologia; porque não se contentava com a aparência das coisas (busca da essên-
cia), Parmênides inaugura a metafísica e a lógica. Por sua vez, Heráclito de Éfeso (540
a. C - 470 a.C) foi quem problematizou o dinamismo da physis (natureza), já percebido
anteriormente por Tales e Anaximandro.
Heráclito acreditava que tudo é mutável. Ele exemplifica esta afirmação dizen-
do que nenhuma pessoa pode entrar duas vezes no mesmo rio, porque, na segunda
vez, não serão as mesmas águas e a pessoa mesma já será diferente. Parmênides afir-
mava que toda a mutação é ilusória, ou seja, que nada é mutável. As palavras a seguir
expressam o seu pensamento:
Indícios existem, bem muitos, de que ingênito sendo, é também imperecível, pois é todo
inteiro, inabalável e sem fim.
No ano de 479 v a.C. Atenas venceu a guerra contra a Pérsia. Esta vitória marca
2 Este poema está dividido em duas partes distintas: uma que trata do caminho da verdade (alétheia) e outra que trata do caminho da opinião
(dóxa), ou seja, daquilo onde não há nenhuma certeza.
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a consolidação da democracia na cidade. Andery et al (2006) sinaliza que nesse con-
texto de crescente participação política, tornou-se necessário formar cidadãos aptos à
vida pública. A filosofia torna-se um instrumento de educação nas mãos de um grupo
de sábios, os sofistas3. Exímios argumentadores, para eles bastava que seus discípulos
aprendessem a falar e a convencer sua platéia com seu discurso.
Por serem estrangeiros, e, assim, excluídos da condição de cidadãos, não se pre-
ocupavam com o destino das cidades nem o que a argumentação podia ter de injusto
ou imoral. Aliás, justeza e moralidade pouco importavam para eles. Por isso, eram con-
siderados por muitos representantes da filosofia como inimigos, mercenários da arte
do bem falar.
Um aspecto, entretanto, depõe em benefício dos sofistas e não pode ser des-
considerado: para alguns historiadores da filosofia, a exemplo de Abrão (1999), foram
os primeiros a se convencerem (e a defenderem!) que as verdades e os valores são
instáveis e relativos. A afirmação de Protágoras (485-410 a.C.), considerado o primeiro
sofista, expressa muito bem o pensamento deste grupo:
O homem é a medida de todas as coisas, das que são enquanto são, e das que não são,
enquanto não são.
você pode estar pensando com seus botões: Muito interessante, mas qual a
importância que isso pode ter? Por mais que pareça óbvio e irrelevante para os dias
atuais, isso significou dizer que o que estabelece uma verdade, por exemplo, é o con-
texto no qual ela surge. Para a época, essa percepção, sem sombra de dúvida, era mui-
to inovadora.
Então, a filosofia passa a se ocupar das questões propriamente humanas (como
a linguagem, importante ferramenta do homem para exercer a democracia, na qual
diferenças sociais e econômicas não contam), se afasta das investigações dos pré-so-
cráticos acerca da natureza e do universo.
Após a vitória sobre os persas, Atenas se tornou uma grande potência, esten-
dendo sua influência por quase toda a Grécia. É neste clima de apogeu da civilização
grega que viveu Sócrates (469-399 a.C. aproximadamente). você já deve ter ouvido
falar sobre ele, mas, pela importância que teve para a filosofia, e, conseqüentemente,
para a ciência, vamos conhecer, agora, mais detalhes da sua história.
OS FILÓSOFOS E A CIÊNCIA
Sócrates nasceu em Atenas, em uma família que não pertencia à aristocracia da
pólis. Seu pai era pedreiro e sua mãe, uma parteira. Alguns autores dizem que seu pai
era escultor, mas, como veremos adiante, esta não é a única nem a principal controvér-
sia de sua biografia.
Apontado pelo Oráculo de Delfos como o homem mais sábio do mundo, Só-
crates sempre dizia que sua sabedoria era limitada a sua própria ignorância - nosce te
3 O sentido original da palavra sofista é sábio.
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ipsum -, que traduzida diz “só sei que nada sei”.
Existe a suspeita de que Sócrates nunca existiu e que o pensamento a ele atri-
buído, sua história e sua morte se configuram como alegorias utilizadas por outros
pensadores para disseminar suas próprias idéias.
Mas, alguns estudiosos como Jaeger (2001), interpretam o fato de Sócrates
nunca ter escrito uma só linha como parte do seu compromisso com o método por
ele proposto, a maiêutica, que exigia um autoconhecimento provocado por meio do
diálogo constante e da troca de idéias. Dizia ele: Conhece-te a ti mesmo.
Observemos um trecho do diálogo que trava com Trasímaco:
— E então, Trasímaco? - repliquei – Não repara que os restantes cargos, ninguém quer
exercê-los por sua vontade, mas exigem um salário, pensando que, do seu exercício,
nenhum proveito pessoal lhes advirá, mas sim para seus súditos? E depois, diz-me:
afirmamos nós sempre que cada uma das artes se diferencia das outras pelo fato de ter uma
polêmica específica? [...]
— Diferenciam-se por isso, sim.
— E não é verdade que cada uma das artes nos proporciona qualquer vantagem específica,
e não comum, como a da medicina, a saúde, a do piloto, a segurança de navegação, e assim
por diante?
— Exatamente.
— Portanto, também a arte dos lucros tem o seu salário? Pois é esse o efeito que lhe é
peculiar. Ou dás a mesma designação à arte de curar e à arte de pilotar? [...]
— Certamente que não.
— Nem chamarás assim à arte de lucros, segundo julgo, se alguém ficar são ao exercer uma
profissão lucrativa?
— Com certeza que não.
— E então, chamarás à medicina arte dos lucros se alguém, ao curar uma pessoa, ganhar
um salário?
— Não.
— Acaso não concordamos que há uma vantagem peculiar a cada arte?
— Seja.
— Se há uma vantagem de que gozam todos os artífices, em comum, é manifesto que
devem empregar alguma faculdade adicional, comum a todos, e daí derivarem a vantagem.
— Assim parece.
— Ora nós afirmamos que a vantagem dos artífices, quando ganham um salário, lhes
advém de empregarem uma faculdade adicional à arte dos lucros.
Concordou a custo.Fonte: Trecho extraído da obra “A República”, de Platão.
Como você pode perceber, através da maiêutica, Sócrates apenas questiona.
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Não se propõe a ensinar, quer aprender e, por isso, seu pensamento parece desprovido
de conteúdo. Contudo, quando põe em questionamento as verdades dos que com ele
dialogam, acaba por demonstrar que o pensamento deve ser prudente.
Sócrates opunha-se radicalmente ao relativismo dos sofistas e também duvida-
va da idéia destes de que a arete (virtude) podia ser ensinada. Para o filósofo ateniense
existiam valores e virtudes permanentes, que precisavam ser conhecidos e seguidos
em defesa do bem comum e não somente de alguns:
[...] o conhecimento das virtudes humanas, como a coragem, a
justiça, dependia, para Sócrates, do conhecimento da virtude,
do Bem. E isso era visto como algo imutável e universal [...]. O
conhecimento era, portanto, visto como mecanismo de aprimo-
ramento do homem e da sociedade, e, para Sócrates, o conheci-
mento era autoconhecimento, porque os homens já traziam em
sua alma, necessitando apenas descobri-lo pelo esforço da busca
de si mesmo (ANDERY et al, 2006, p. 63).
Através da utilização do seu método, Sócrates ganhou muitos seguidores. Foi
acusado, entretanto, de corromper a mente dos jovens atenienses e por isso, foi con-
denado a escolher entre o exílio e a morte. Todos esperavam que ele fugisse da cidade,
mas optou pela morte.
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Imagem:David_-_The_Death_of_Socrates.jpg
Sua morte foi drástica, mas foi bela, quem sabe se não uma metáfora para a
decadência da democracia e da própria Atenas, que chegava a mais um momento de
conflito: a guerra do Peloponeso. A tela de Jacques David (1787), intitulada ‘ A morte
de Sócrates ‘, retrata esse momento. Nem o carcereiro, que representava as pessoas
que o condenaram, parecia convencido de que aquela morte era necessária e era pos-
sível.
Após a sua morte, os seus discípulos, dentre eles Platão, deram continuidade ao
trabalho que ele começou. Mas a importância do pensamento socrático deve-se não
só pelo fato de ter influenciado os pensadores que o sucederam (Aristóteles, inclusive,
destaca que é Sócrates que introduz a questão dos conceitos universais e da indução,
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que fizeram parte da ciência até a Idade Média). Está, sobretudo, em ter sido capaz
de fazer com que a visão naturalista de homem fosse complementada por uma visão
ética do homem, ética esta que é transformada em conhecimento rigoroso.
DICA!!!
Quer saber a história de Sócrates, considerado o pai da filosofia? Acesse o endereço
eletrônico a seguir:
Disponível em: http://www.acessasp.sp.gov.br/blog/index.php?itemid=240;
Platão nasceu em Atenas, mas diferente de seu mestre, filho de uma família
aristocrática. Elaborou uma vasta obra escrita que, além do imenso valor literário, tem
inenarrável importância para a filosofia e a ciência.
Como seu mestre, atribuía ao diálogo um estatuto metodológico, pois através
dele era permitido demonstrar que o conhecimento — resultado da reflexão do ho-
mem consigo mesmo — “para ser atingido [dependia] da argumentação e da discus-
são que eram formas de se validar cada passo da reflexão” (ANDERY et al, 2006, p. 67).
Assim se configurou a sua dialética.
Dentre os discípulos de Sócrates, Platão é o que mais ganhou destaque, pois
além de consolidar uma imagem definitiva de Sócrates, apresentando toda a origina-
lidade de seu pensamento, elaborou um sistema filosófico que articulava princípios
opostos: o de Heráclito, que afirma que tudo é mutável, e o de Parmênides, afirmando
que nada se modifica e que o movimento não existe.
Platão conseguiu dissolver essa tensão a partir da compreensão de que a reali-
dade que nos cerca está dividida em dois mundos: o inteligível, no qual o conceito não
pode ser mudado (este é também conhecido como o das idéias), e o outro, o mundo
sensível, no qual é possível a mutabilidade.
Para Platão, os conceitos universais e a verdade estão no mundo inteligível,
acessível a todos, mas não sai de lá... como ele próprio afirmava, o que existe no mun-
do concreto, ou sensível, é uma pálida reprodução do mundo das idéias. Ele explica a
existência desses dois mundos, através do mito da caverna, conhecido também como
alegoria da caverna.
DICA!!!
você quer conhecer o mito da caverna, de Platão? Então, leia o livro vII, da obra “A
República”, de Platão. O texto está disponível na internet, como por exemplo, no endereço
eletrônico a seguir:
Disponível em:
http://educaterra.terra.com.br/voltaire/cultura/caverna.htm http://educaterra.terra.com.br/
voltaire/cultura/caverna.htm
Platão indica que para encontrar a verdade e o conhecimento é preciso afastar-
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se da vida prática dos homens, desviando o olhar para um outro lugar, fazendo dela
teoria de contemplação (theoría). E é nessas bases que funda a sua Academia, nos ar-
redores de Atenas.
Detalhe de obra do período renascentista
O detalhe da tela pintada
por Rafaello Sanzio, no
período renascentista, ao
lado, traz Platão apontando
para o céu com o indicador,
falando do conceito
absoluto.
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Imagem:Sanzio_01_Plato_Aristotle.jpg
Ampliando a imagem e trazendo outros elementos da tela produzida por Ra-
faello, se vê Platão apontando para o céu e, ao seu lado, Aristóteles, seu mais ilustre
discípulo, fazendo um gesto como se dissesse: você está enganado, a realidade e o co-
nhecimento só podem existir a partir do mundo prático.
É nesse ponto que Aristóteles discorda de Platão e vai dizer que o sistema orga-
nizado por ele é um equívoco muito forte, porque a separação entre mundo inteligível
e mundo sensível não existe, e o conhecimento só é válido a partir da nossa experiên-
cia concreta. Esse é o princípio do pensamento aristotélico presente na frase a seguir:
O que está além da nossa experiência sensível não pode ser nada para nós.
Na mão esquerda, Platão segura o Timeu, um tratado teórico na forma de um
diálogo socrático, que apresenta especulações sobre a natureza do mundo físico, en-
quanto Aristóteles segura sua obra Ética a Nicômaco, na qual expõe sua concepção
teleológica4 de racionalidade prática, a concepção da virtude e as considerações sobre
o papel da prudência e do hábito na Ética.
Aristóteles nasceu em Estagira, cidade grega sob o domínio macedônico, e foi
o filósofo que mais influenciou o pensamento ocidental. Ao contrário de seu mestre
Platão, que fazia essa distinção entre mundo inteligível e sensível, ele defendia a exis-
tência de um único mundo.
A partição do pensamento filosófico entre platônico, de um lado, e o aristóte-
lico do outro, inaugurou uma tensão que perpassou a produção do conhecimento e
4 Doutrina que estuda os fins últimos da sociedade, da humanidade e da natureza.
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da ciência na Idade Antiga, passou pela Idade Média, chegou na Idade Moderna e na
Contemporaneidade como as duas principais correntes epistemológicas, que se tem
na Filosofia e na Ciência: o Racionalismo e o Empirismo.
Também, forneceu as bases para que o pensamento teológico/religioso cristão
se desenvolvesse e dominasse o mundo ocidental por aproximadamente 11 séculos...
mas esta história já está longa demais e você deve estar cansado. Por isso, continua-
mos no próximo texto. Até lá!
SÍNTESE
Nesse texto apresentamos a contribuição do mito e da filosofia para a compre-
ensão do mundo e a produção da ciência.
QuESTÃo PArA rEFLEXÃo
Para você, a construção do conhecimento pelo sujeito parte, como afirma Pla-
tão, da reflexão teórica ou, como destaca Aristóteles, da experiência concreta? Tente
refletir sobre sua resposta...
LEiTurAS iNDiCADAS
Sugerimos a leitura do capítulo 3 “Para compreender a ciência: uma perspectiva
histórica”, de Maria Amélia Andery.
rEFErÊNCiAS
ABRÃO, Bernadette Siqueira. História dos pensadores. São Paulo: Nova Cultural, 1999. (Coleção Nova
Cultural).
A MÁQUINA do Tempo. The time machine (título original). Direção e Roteiro: George Pal. Elenco Rod
Taylor, Alan Young, Yvette Mimieux, Sebastian Cabot, Tom Helmore. Ficção Científica, 103 min, Estados
Unidos/Inglaterra: Warner Home video, Dolby Digital Stereo, Color., 1960.
ANDERY, Maria Amélia et. al. Para compreender a ciência: uma perspectiva histórica. 15. ed. Rio de
Janeiro: Garamond, 2006.
JAEGER, Werner. Paideia: a formação do homem grego. 4. ed., São Paulo: Martins Fontes, 2001.
PLATÃO. A república. Tradução de Pietro Nasseti. São Paulo: Martin Claret, 2003.
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MÉTODO CIENTÍFICO
Autor: André Santanchè
você acorda de manhã às 6h, come, toma banho e se arruma para sair; sabe que
tem que chegar ao ponto de ônibus umas 6h50min, então se apressa e sai de casa às
6h45min; chega no ponto e toma o ônibus das 6h55min; às 7h20min chega na univer-
sidade. Todos os dias da semana são assim, com variações menores para mais e para
menos, e então perguntamos: como você consegue?
Provavelmente você dará uma explicação mais ou menos assim:
— Depois de algum tempo aprendi que levo mais ou menos quarenta minu-
tos para sair de casa depois que acordo, digamos que são uns vinte minutos para
tomar banho e me arrumar, mais outros quinze a vinte minutos para tomar café,
escovar os dentes e sair. O ônibus leva uns vinte e cinco minutos para chegar à
universidade. Tem um que passa entre 6h50min e 7h05min. Se eu conseguir pegar
esse, chego no horário, senão, é na base da sorte. O ônibus seguinte pode chegar
7h10min, mas costuma chegar entre 7h15min e 7h2min e daí chego atrasado na
certa. Por este motivo, acordo às 6h e tento me aprontar em menos de quarenta
minutos. Assim terei uma margem de segurança para chegar no horário.
Esta explicação parece bastante razoável e fundamentada em uma experiência
sólida. As previsões são mais ou menos acertadas, uma vez que você acorda às 6h e
consegue regularmente chegar no horário à universidade. A pergunta seguinte é: este
é um conhecimento científico?
Aqui apresentaremos o que é considerado por pesquisadores e pensadores
uma característica distintiva da ciência em relação a outras formas de conhecimento:
o método científico.
Historicamente diversos cientistas e filósofos fizeram análises e críticas ao que
chamamos de método científico. Muitas destas propostas atuam sobre aspectos dife-
rentes do método e, em muitos casos, de forma complementar. Salvatore D’Onofrio
(1999) faz, no capítulo 2 do seu livro, uma síntese interessante das diferentes pers-
pectivas do método na história, iniciando com Pitágoras, há mais de quinhentos anos
antes de Cristo; passando pelos filósofos Sócrates, Platão e Aristóteles; seguindo por
René Descartes e Francis Bacon; e alcançando os pensadores mais modernos.
O que apresentaremos aqui é a nossa perspectiva em relação ao método. Note
que esta é apenas uma sistematização de ideias, ou seja, uma perspectiva particular,
ordenada da maneira que apresentamos, para que você compreenda como se proces-
sa o método científico. Não é uma seqüencia rígida seguida por todos os cientistas e
nem mesmo a única perspectiva para o método.
A sistematização que fizemos para apresentar o método científico está apresen-
tada na Figura 1 e traz idéias principalmente da sistematização feita por Bunge (2008)
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e é retomado e debatido por Marconi e Lakatos (2005). Recomendamos a leitura do
capítulo 4 de Marconi e Lakatos (2005) para um aprofundamento sobre aspectos do
método científico tratados neste tópico.
A Figura 1 mostra um segmento do mapa conceitual desta disciplina ilustrando
a nossa perspectiva sobre o ciclo de eventos que compõem o método científico. Para
facilitar a compreensão dos eventos, os ordenamos em certa seqüencia de apresen-
tação. Tal seqüencia não é necessariamente aquela em que acontecem os eventos no
método científico, por dois principais motivos: primeiro porque, em muitos casos, ele
não acontece nesta ordem e segundo porque estes eventos podem acontecer em pa-
ralelo ou se repetirem mais de uma vez se intercalando.
Figura 1. Mapa conceitual da nossa perspectiva de Método Científico.
Cada um destes eventos será detalhado em um capítulo específico, no qual
apresentaremos o respectivo segmento deste mapa conceitual para você se orientar.
A seguir apresentamos uma síntese de cada um dos eventos:
Formulação do Problema � : envolve o levantamento de dados, percepção de lacunas
no conhecimento e formulação do problema a ser pesquisado, geralmente na forma de
uma questão a ser respondida ou validada nas etapas subsequentes.
Pesquisa de Dados e Conhecimentos � : compreende a busca por dados relevantes re-
lacionados ao problema em questão, como também a pesquisa de teorias e outras pes-
quisas ligadas ao mesmo; aqui se faz mais presente a revisão da literatura relacionada.
Construção de um Modelo Teórico � : a partir dos dados coletados e analisados, este
evento consiste na formulação de uma ou mais hipóteses que de forma genérica expli-
quem o comportamento do que foi observado.
Prova da Solução � : as hipóteses formuladas são comprovadas e validadas de forma
sistematizada.
Apresentação de Resultados: � os resultados alcançados são sistematizados, analisa-
dos e sintetizados para a apresentação para o público.
rEFErÊNCiAS
BUNGE, Mario. La ciencia: su método y su filosofia. Disponível em: <http://www.dcc.uchile.
cl/~cgutierr/cursos/INv/bunge_ciencia.pdf>. Acesso em: 02 ago. 2008. p. 41-43.
D’ONOFRIO, Salvatore. Metodologia do trabalho intelectual. São Paulo: Atlas, 1999. p. 26-39.
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MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Fundamentos de metodologia científica. 6. ed.
São Paulo: Atlas, 2009. p. 83-85.
vANCLEAvE, Janice. Janice VanCleave’s guide to the best science fair projects. New York: John Wiley
& Sons, Inc., 1997.
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A ESCOLHA DO TEMA E A FORMULAÇÃO DO PROBLEMA
Autores: André Santanchè e Maria Luiza Coutinho Seixas
“Saibamos honrar os problemas...”
(GOETHE, 2003)
Olá,
A formulação de um problema parece talvez a etapa mais simples, mas, ao con-
trário, é uma etapa crítica na pesquisa. Formular corretamente o problema, de forma
clara, simples e objetiva pode ser determinante no sucesso da pesquisa. Por este mo-
tivo, já ouvimos mais de uma vez a afirmação de que um problema bem definido é a
metade do caminho para a solução. Neste texto apresentaremos os aspectos necessá-
rios para esta formulação. vamos lá!
ENCONTRANDO UM PROBLEMA DE PESQUISA
Não estamos certos de que possamos lhe orientar em um procedimento es-
pecífico para encontrar um problema de pesquisa, pois existem várias maneiras de
se encontrar um problema e elas estão intimamente relacionadas com o contexto do
pesquisador, mas um ponto é indiscutível: ele sempre nasce de uma inquietação que
o pesquisador possui com relação a algo que não compreende (ou conhece) o tanto
quanto gostaria ou a uma busca encontrar uma solução eficaz para algo, como encon-
trar um combustível menos poluente ou mais eficiente, quais os produtos que substi-
tuem o açúcar e não têm calorias.
O mais interessante é que, não necessariamente, um problema científico está
passível de surgir no âmbito de um laboratório secreto (como temos a impressão
quando assistimos a programas de Tv ou filmes de ficção científica); ele pode surgir, e
certamente surgirá, dentro do próprio ambiente em que o pesquisador está inserido,
quer seja na organização que estuda ou na empresa em que trabalha.
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Muitos problemas são identificados a partir da ação coletiva da ciência. Pesqui-
sadores compartilham os resultados de suas pesquisas e nesse processo, novos pro-
blemas despontam como conseqüência de resultados encontrados em outras pesqui-
sas; lacunas são identificadas; muitas vezes surgem discordâncias entre pesquisadores
que atuam sobre o mesmo problema em perspectivas diferentes.
No campo da ciência, os problemas são compreendidos a partir da coleta, sis-
tematização e análise dos dados. Como veremos na próxima etapa, a ciência pode ser
entendida como uma busca por padrões. Por este motivo, o problema pode ser resul-
tante justamente da percepção de um padrão de ocorrência ou comportamento. Isaac
Newton percebeu um padrão na forma como os corpos se comportam em queda-livre
para então elaborar sua teoria em torno da gravidade; biólogos estão, o tempo todo,
atrás de padrões na classificação dos seres vivos, seu comportamento e a relação entre
eles (o que há por trás destas classificações senão a percepção de padrões: mamíferos
têm pelos, aves põem ovos etc.).
Como o método científico é um ciclo, significa também que os resultados al-
cançados por uma pesquisa irão produzir novos problemas de pesquisa. Isto porque
as fronteiras da ciência estão em constante crescimento.
Para se formular um problema é preciso encontrá-lo. Não existe uma receita
exata e um método único para se encontrar um problema. Buscar um problema é bus-
car uma lacuna em uma área do conhecimento de seu interesse, transformando-a em
um objeto de estudo. você deve estar pensando nesse momento: “Certo, concordo...
mas como fazer isso?”.
Marconi e Lakatos (2005, p. 161) definem problema como “uma dificuldade, te-
órica ou prática, no conhecimento de alguma coisa de real importância para a qual se
deve encontrar uma solução.” O primeiro passo para chegarmos à formulação de um
problema científico, idéia central da investigação, é a escolha do tema, que deve ser
claro e preciso. Escolher um tema pode parecer fácil, mas não se engane, pois indiscu-
tivelmente não é! Por isso mesmo, é imprescindível que o pesquisador dedique tempo
suficiente para realizar esta etapa.
Podemos considerar o comportamento humano um tema de pesquisa? Não! E
sabe por quê? Porque embora este seja um assunto que interesse muitos profissionais,
principalmente das áreas da Psicologia e da Publicidade, por exemplo, ele não se apre-
senta com a devida exatidão. Para a escolha e a delimitação de um tema de pesquisa
devemos organizar nossas idéias como se elas percorressem um caminho que se es-
treita a cada passo, isto é, criar um foco. Observe o esquema:
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Como você pode perceber, o comportamento é um ponto de investigação situ-
ado entre uma vasta área do conhecimento (Administração, Psicologia, Antropologia,
Educação e Biologia são alguns exemplos de área do conhecimento e vale lembrar
que podemos realizar estudos sobre comportamento em qualquer área) e o tópico
específico que, a depender do interesse e da aptidão do pesquisador, vai ser focado
(no âmbito dessa área do conhecimento, o comportamento do consumidor), isto é,
é necessário que ele faça aquilo que se costumou chamar de “recorte do objeto” e
explicite o que está incluído e o que fica de fora da sua pesquisa.
Uma perspectiva de se tratar um problema é encará-lo como a relação entre
duas ou mais variáveis (ALvES-MAzzOTT; GEWANDSzNAJDER, 2002, p. 149), (MARCO-
NI; LAKATOS, 2005, p. 162). Por exemplo, qual a relação entre o “hábito de fumar” (vari-
ável 1) e o “câncer no pulmão” (variável 2).
Uma recomendação útil para a caracterização de um problema é colocá-lo na
forma de uma pergunta. Isto nos permite pensar na pesquisa como a busca para uma
resposta à pergunta formulada.
A fim de diferenciar problemas bem caracterizados daqueles que não são tão
bem caracterizados, vamos a alguns exemplos práticos. No primeiro, apresentaremos
as etapas para a composição de um problema para a ciência experimental; no segun-
do, focaremos a sua delimitação através da perspectiva mais frequentemente utilizada
nas Ciências Humanas.
A QUESTÃO DO ôNIBUS
Primeira tentativa de caracterização do problema:
Chegarei no horário ao trabalho?
Esta caracterização está demasiadamente imprecisa; não dá para saber:
Quais as condições a partir das quais eu pretendo saber se chegarei no horário ao �
trabalho?
A que “horário” eu me refiro no problema? �
vamos tentar melhorar a caracterização para:
Qual o horário máximo em que devo acordar para que consiga chegar ao trabalho às �
8h no máximo?
Está bem melhor assim, mas ainda está parecendo um problema pessoal. É con-
veniente generalizá-lo para:
Qual o horário que uma pessoa adulta deve acordar para que consiga chegar ao tra- �
balho às 8h no máximo?
Uma orientação muito importante é que você deve aprender a limitar o proble-
ma da sua pesquisa. Do jeito que está caracterizado, estão inclusas quaisquer locali-
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dades, quaisquer meios de transporte e qualquer tipo de pessoa adulta. Isto produzirá
uma infinidade de possibilidades, impossibilitando a pesquisa. Podemos então partir
para:
Qual o horário máximo em que um adulto saudável, com no máximo sessenta anos �
de idade deve acordar para que consiga, saindo do local X, chegar ao local Y de ônibus
às 8h no máximo?
Bem melhor assim. Mas uma análise detalhada mostrará que ainda há aspectos
imprecisos. No entanto, não tentaremos avançar na caracterização deste problema.
Por quê? Porque em toda a caracterização você deve perceber o ponto em que irá
parar. Qualquer definição de problema sempre possuirá aspectos subjetivos, pois ele
trata de abstrações (tratamos a questão da abstração em mais detalhes aqui). Nosso
propósito não é eliminar toda a subjetividade (porque isso não será possível!), mas
minimizá-la.
Abstração
A importância deste tópico pode ser resumida nesta afirmação: a ciência trata o real através
de abstrações.
Ainda hoje me recordo de uma aula que tivemos no laboratório de física, na qual o
professor solicitou que utilizássemos um paquímetro para realizar sucessivas medições no
diâmetro de uma esfera metálica. A esfera era um daqueles rolamentos de alta precisão.
Imaginei que seria uma tarefa inútil, porque todas as medidas resultariam no mesmo valor.
Mas fiquei surpreso ao perceber que, mesmo tendo feito dezenas de medições, nenhuma
delas resultava no mesmo valor.
O que aprendi deste experimento? Que o mundo real é incrivelmente complexo. Ao
contrário dos nossos modelos, não existem esferas de forma exata, chão perfeitamente
plano, espaço com atrito constante para a queda de um corpo etc.
Então, o que concluímos? Que a física que aprendemos na escola é inútil porque trata de
um modelo que não tem paralelo no mundo real?
Aí entra a questão da abstração.
vamos consultar a excelente definição do dicionário Aurélio (2004) sobre o verbete
abstração: “Ato de separar mentalmente um ou mais elementos de uma totalidade
complexa (coisa, representação, fato), os quais só mentalmente podem subsistir fora dessa
totalidade”.
O ato da abstração implica separar alguns elementos de uma totalidade complexa;
geralmente os mais significativos para o contexto em que a abstração é utilizada. Um
problema de física no qual adotamos esferas perfeitas, com pesos e medidas exatos,
desconsiderando atrito, vento etc. é uma abstração da realidade.
Para que serve então uma abstração? Posso lhe dar dois bons motivos.
Em primeiro lugar, como a realidade é incrivelmente (senão infinitamente) complexa, torna-
se impossível tratar mentalmente tal realidade, em um tempo finito e de forma prática
sem apelar para abstrações. Em segundo lugar, os nossos instrumentos de representação e
tratamento de dados e o nosso próprio cérebro são finitos. Torna-se impossível lidar com a
complexidade do mundo real senão através de abstrações.
É importante lembrar que cada abstração despreza alguns aspectos da totalidade complexa
que representa.
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Janice vanCleave (1996) dá uma orientação importante: procure um tipo de
problema que possa ser resolvido experimentalmente. Existem problemas que preci-
sam de uma solução, mas muitos deles não exigem uma pesquisa científica. Por exem-
plo, se o nosso problema fosse:
Qual é o primeiro ônibus do dia X que sai da local Y para o local z? �
Este não é um problema que exige qualquer tipo de experimentação, basta
uma consulta em algum órgão oficial ou companhia de ônibus responsável pela mon-
tagem da programação dos ônibus.
Todo o avanço da ciência começa a partir dos problemas. Então vamos tomar
alguns exemplos como ponto de partida. Como sabemos que existem vários tipos de
leitores, com interesses diversos, tentaremos tratar de exemplos diversificados. Uti-
lizaremos exemplos mais clássicos de ciência associados à física, por exemplo. Mas
também traremos exemplos na área das ciências sociais. Isso será importante para que
você, que não estuda ciências exatas, entenda que a ciência não está restrita aos sujei-
tos que trabalham dentro dos laboratórios fazendo experimentos físicos ou químicos.
Começaremos com um exemplo de física e depois um exemplo em ciências
sociais. Ambos os exemplos tratam as mesmas questões, mas sugerimos que você leia
ambos, porque eles se enriquecem mutuamente.
O PROBLEMA DA QUEDA LIVRE
Nosso primeiro problema não é novo. vamos tentar refazer a rota de grandes
cientistas. A questão é a seguinte: desde criança observamos que qualquer corpo cai
em direção ao chão quando o soltamos, exceto, é claro, aqueles balões que flutuam
(até hoje eu espero um que se perdeu no céu quando eu era criança :-) ). vamos deixar
convenientemente a questão dos balões que flutuam de lado e nos concentrar nos
corpos que caem.
Novamente tentaremos formular um problema de pesquisa. vou repetir o mes-
mo caminho de antes. Como formularemos um problema cuja solução já foi extensa-
mente pesquisada na ciência, vamos imaginar que estamos nos deslocando no tempo,
para antes de qualquer especulação sobre a ação da gravidade sobre os corpos. Inicia-
remos com a seguinte tentativa:
Por que os objetos caem? �
Genérico e subjetivo demais. O que procuramos? Uma força, um princípio?
Como vamos experimentar e provar o que queremos?
Tentativa de aperfeiçoamento:
Como a força da gravidade faz os objetos caírem? �
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Existe um risco ao se definir um problema desta maneira: misturar o problema
que pesquisamos com alguma hipótese sobre as causas do problema. Por exemplo,
considerando que estamos em uma época em que ainda não sabemos se existe uma
força da gravidade que atua sobre os corpos, então assumir isto como existente no
tratamento do nosso problema é arriscado.
Tentaremos utilizar outro exemplo para esclarecer nosso ponto aqui: suponha
que um pesquisador tenha constatado um índice elevado de mortes numa certa cida-
de do interior do Brasil. Então ele resolve fazer uma pesquisa para entender o que está
elevando o índice de mortalidade. Considere que o pesquisador está ainda no início
da pesquisa, ainda não visitou a cidade, nem coletou dados específicos. Sua formula-
ção do problema poderia ser assim:
Por que a Dengue aumentou o índice de mortalidade na cidade X? �
Se o pesquisador não tem nenhum elemento ainda, considerar a priori que a
Dengue está causando estas mortes significa descartar outras causas que ainda não
foram verificadas, como a desnutrição, por exemplo. Então não é adequado em um
primeiro momento estabelecer a Dengue como parte do problema. Se estivermos in-
teressados em uma investigação da Dengue, é imprescindível que ela seja apresenta-
da como parte da pergunta, que vai ser respondida a partir da pesquisa:
O Aparecimento da Dengue favoreceu o aumento do índice de mortalidade na cidade X, no
período Y?
voltando ao nosso problema dos corpos que caem, é importante o cuidado em
saber limitar o problema. Ainda que definir as causas que fazem um corpo cair seja
legitimamente um problema de pesquisa científica, trata-se de um problema bastante
amplo. Em 1637, René Descartes ao escrever o seu Discurso do Método (DESCARTES,
1903) já propunha em seu método cartesiano que um problema deve ser dividido em
quantas partes for possível; cada parte é então tratada individualmente e o conheci-
mento obtido pelas partes é depois combinado em um conhecimento mais comple-
xo.
Retrato de René Descartes
Autor: Frans Hals
Museu do Louvre, Paris
(veja reprodução na Wikipedia)
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René Descartes escreveu em 1637 o clássico Discurso do Método (DESCARTES, 1963),
no qual propõe um método com quatro preceitos:
(1) “nunca aceitar como verdadeiro nada que eu não saiba claramente que o seja” 1;
(2) “dividir cada um dos problemas examinados em tantas partes quanto possível e
necessárias para a sua solução adequada” 2;
(3) iniciar obtendo o conhecimento dos objetos mais simples e, gradualmente,
associá-los para se obter conhecimentos mais complexos;
(4) “em cada caso fazer enumerações tão completas, e inspeções tão gerais, que eu
possa estar seguro de que nada foi omitido” 3.
Os preceitos de Descartes refletem a forma como a ciência atua, e devem lhe
servir sob dois aspectos: primeiro na forma como você vai conduzir a sua pesquisa,
que possivelmente também será dividida em pedaços menores de estudo, segundo
na formulação do seu problema, na medida em que você toma consciência de que
seu problema é parte de um esforço maior (um problema maior) e que a sua pesquisa
contribuirá com um bloco do edifício. A questão é dimensionar corretamente o bloco.
Como seu tempo e os recursos são limitados, você deve aprender a ser comedido.
Então, o nosso problema pode ser formulado assim:
Considerando que soltemos um corpo qualquer em queda livre em uma altura A, quanto
tempo ele leva para chegar na altura B?
Queremos agora retomar uma observação feita no início deste capítulo: que o
problema pode ser visto como uma relação entre duas ou mais variáveis. Neste caso
estamos interessados em relacionar a variável altura com a variável tempo.
Castro (2006) indica que todo pesquisador deve considerar, no momento da
escolha do tema, três critérios:
Importância: � no campo científico/acadêmico, um tema é considerado relevante
quando está relacionado a uma questão que afeta um “segmento substancial das socie-
dades” ou, ainda, de uma questão teórica que esteja merecendo atenção continuada na
literatura especializada;
Originalidade: � um tema é considerado original quando tem possibilidades de sur-
preender tanto àquele que o realiza, como àquele que se beneficiará dele. Acontece
algo curioso com relação a esse critério: para ser original não basta que um determinado
tema nunca tenha sido trabalhado anteriormente; se não fosse dessa maneira, não terí-
amos, a cada ano, incontáveis monografias, teses e dissertações que versam/discutem
temáticas semelhantes; contudo, deve-se buscar focar a pesquisa nas frestas/brechas
teóricas que os estudos antecedentes não desenvolveram. Por exemplo, já foram realiza-
dos incontáveis estudos que enfocaram a contribuição de Adam Smith para o campo da
1 Tradução para o português feita pelo autor de versão traduzida para o inglês: “never to accept anything for true which I did not clearly know
to be such” (Descartes, 1903).
2 Tradução para o português feita pelo autor de versão traduzida para o inglês: “to divide each of the difficulties under examination into as many
parts as possible, and as might be necessary for its adequate solution” (Descartes, 1903).
3 Tradução para o português feita pelo autor de versão traduzida para o inglês: “in every case to make enumerations so complete, and reviews
so general, that I might be assured that nothing was omitted” (Descartes, 1903).
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administração, contudo, o pesquisador pode querer tomar como base as contribuições
desse economista para analisar uma questão que esteja relacionada a seu campo de
atuação profissional – e por isso, muito específica - que não foi tratada anteriormente
por outros pesquisadores.
Viabilidade: � esse é o critério mais tangível para a escolha do tema, pois só é possível
concluir a pesquisa, considerando recursos financeiros e humanos, prazos suficientes,
tempo disponível para realização da pesquisa etc.
Assim, quando escolhemos um tema e definimos um problema a ser investiga-
do com relação a esse tema, é necessário que, além do seu interesse, o pesquisador
faça, a si mesmo, os seguintes questionamentos:
Trata-se de um problema relevante? �
Ainda que seja “interessante”, é adequado para mim? �
Existem possibilidades reais e concretas para executar tal estudo? �
Por fim, existem recursos (financeiros, materiais, humanos, etc.) para o estudo? �
PROBLEMAS EM CIÊNCIAS SOCIAIS
Já foram apresentados a você problemas que foram ou podem ser desenvolvi-
dos, nos campos das Ciências Exatas e das Ciências da Saúde. vamos agora, formular
um problema no âmbito das Ciências Humanas.
Suponhamos que um estudante de Ciências Sociais tenha que desenvolver um
Trabalho de Conclusão de Curso, e, para isso, precise definir um tema para seu trabalho
monográfico. Resolve dissertar sobre um tema atual, relevante para a área de conheci-
mento em que está se graduando: a violência.
vai para sua primeira reunião com o seu orientador e, ao ser questionado sobre
o tema que desenvolverá no estudo, diz: “Bem, pretendo fazer um estudo sobre a vio-
lência”. Certamente, ao ouvir sua declaração, o orientador observará que seu tema está
muito amplo, será necessário definir inúmeros aspectos, para que ele, o graduando,
tenha condições de realizá-lo: qual o tipo de violência, qual o lugar que será definido
campo de pesquisa, qual período será tomado como referência etc.
Fazer esse recorte no momento da formulação do problema é muito importan-
te quando se pretende fazer uma investigação científica no campo das Ciências Sociais
e Humanas porque esta possui uma configuração bem diferente (principalmente por-
que o que mais importa não é uma busca por padrões ou por controle das variáveis)
daquela que é produzida pelas Ciências Exatas. Considerando todos os aspectos que
devem ser considerados no processo de formulação do problema, este estudante po-
deria tê-lo definido da seguinte maneira:
A presença e a ação da Polícia Comunitária favoreceram o aumento da violência no Bairro
da Paz, município de Salvador, nos cinco primeiros anos do séc. XXI?
Bem, esperamos que esse texto tenha sido elucidativo para você. Por ora, fica-
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mos por aqui, mas não esqueça que ainda nos encontraremos muitas e muitas vezes.
SÍNTESE
Nesse texto discutimos aspectos relevantes acerca da escolha do tema e da for-
mulação do problema de pesquisa. Dentre eles: estabelecer um problema com clare-
za e de forma objetiva é fundamental para a condução adequada de uma pesquisa;
uma das formas de pensarmos em um problema é encarando-o através da relação
entre duas ou mais variáveis; é importante delimitar o universo espacial e temporal
do problema, bem como escolher problemas que possam ser tratados através de uma
pesquisa.
Nesse capítulo apresentamos vários exemplos práticos de definição de um pro-
blema e agora você está pronto para definir o seu e seguir para a próxima etapa, para
a Pesquisa de Dados e Conhecimentos.
Até a próxima!
QuESTÃo PArA rEFLEXÃo
Diante de tudo que foi discutido nesse texto, sugerimos que você faça uma
reflexão acerca das palavras do respeitado professor Cláudio Moura e Castro: “[....] uma
escolha infeliz do tema torna a pesquisa inviável, metodologicamente insolvente ou
irrelevante”; e tente delinear um problema que você gostaria de investigar em sua área
de formação.
Dentre as atividades que você fará neste curso está incluído o desenvolvimento
de um projeto de pesquisa. Por esse motivo, acho conveniente que você tente, neste
momento, definir o problema de sua pesquisa.
LEiTurAS iNDiCADAS
Para aqueles que querem mais orientações sobre como delimitar um problema
no âmbito da ciência pode ser interessante a leitura:
dos capítulos 3 (De tópicos a perguntas) e 4 (De perguntas a problemas) do livro “ � A
arte da pesquisa”, de Wayne C. Booth e outros autores (2005, p. 45).
do capítulo 3 (A escolha do tema e o risco de um erro fatal), do livro “A prática da pes- �
quisa” de Cláudio de Moura Castro.
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rEFErÊNCiAS
ALvES-MAzzOTTI, A. J.; GEWANDSzNAJDER. O método nas ciências naturais e sociais: pesquisa
quantitativa e qualitativa. 2. ed. São Paulo: Pioneira Thomson, 2002.
BOOTH, W. C.; COLOMB, G.G.; WILLIAMS, J. M. A arte da pesquisa. São Paulo: Martins Fontes, 2005.
CASTRO, C. M. A prática da pesquisa. 2. ed., São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2006.
DESCARTES, R. Discourse on the method of rightly conducting the reason, and seeking truth in
the sciences. Londres: Chicago, Open court pub. co., 1963.
MARCONI, M. A.; LAKATOS, E. M. Fundamentos de metodologia científica. 6. ed. São Paulo: Atlas,
2005.
vANCLEAvE, J. Janice Vancleave’s guide to the best science fair projects. New York: John Wiley &
Sons Inc., 1996.
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PESQUISA DE DADOS E CONHECIMENTOS
Autor: André Santanchè
Cada pesquisa científica não é uma ilha isolada no universo do conhecimen-
to. Ao contrário, ela envolve duas dimensões complementares: uma em direção ao
passado - no estudo do trabalho de outros que nos precederam, seja na pesquisa de
registros de dados das mais diversas naturezas coletados e minuciosamente arquiva-
dos por pesquisadores, seja na pesquisa de conhecimento produzido por outros pes-
quisadores - e outra em direção ao futuro, na coleta de novos dados e na investigação
do novo.
Isaac Newton disse que “Se eu consegui ver além foi porque me apoiei no om-
bro de Gigantes”. Assim funciona a ciência, ela é um processo de construção incremen-
tal. O cientista tem consciência de que qualquer trabalho científico deve ser precedido
de um minucioso estudo do que já foi pesquisado sobre o tema.
O vídeo “Legendas da Ciência – Emergir – Parte 1 de 5” faz uma interessante
analogia da construção da Ciência com a formação de um rio. Recomendamos que
você faça uma pausa e assista ao vídeo que está disponível em http://br.youtube.com/
watch?v=jX9Av3_bqzA.
E como a ciência caminha para o futuro? Aí entra a visão mais ampla do méto-
do científico. Novas hipóteses, teorias e experimentos podem ser produzidos sobre
dados e estudos passados, como também novos dados são coletados, analisados e
experimentados.
Esta etapa da metodologia científica que intitulamos “Pesquisa de Dados e Co-
nhecimentos” envolve principalmente este processo de levantamento e seleção de
dados (passados e novos) relevantes à pesquisa, como também a pesquisa e estudo
de conhecimento produzido por outros pesquisadores que esteja relacionado com o
tema pesquisado (referencial teórico).
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O mapa conceitual da Figura 1 ilustra alguns aspectos relevantes desta etapa
que aprofundaremos em capítulos específicos.
Figura 1. Mapa conceitual relacionado à Pesquisa de Dados e Conhecimentos.
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REFERENCIAL TEÓRICO: REVISÃO DE LITE-RATURA
Autora: Maria Luiza Coutinho Seixas
Olá!
você já sabe que, de forma genérica, pesquisar significa buscar por uma infor-
mação que não se sabe, e que se precisa saber. Para isso, quem busca pela informação
consultará livros, revistas, examinará documentos, conversará com pessoas... Quando,
por exemplo, resolvemos adquirir um aparelho eletrônico, não efetuamos a compra
na primeira loja que entramos. Estamos acostumados a procurar por menores preços,
condições de pagamento e prazos de entrega porque, de posse destas informações,
certamente fecharemos o negócio mais vantajoso. Portanto, estamos realizando “pes-
quisas” a todo o tempo.
Um processo similar - mas com maior aprofundamento, rigor e método - aconte-
ce quando propomos produzir conhecimentos de base científica: existe uma questão
a ser elucidada e, para isso, o pesquisador não pode ficar satisfeito com uma primeira
percepção acerca do objeto estudado. Neste caso, é necessário recorrer às fontes e aos
métodos para que se chegue mais rapidamente e com segurança à informação dese-
jada. Carvalho (1989, p. 100) nos lembra que “sem um método eficiente de obtenção
de informações, perde-se um precioso tempo acadêmico”.
Como você sabe, embora existam diferentes formas de iniciar uma pesquisa
científica, o processo de investigação e a construção do conhecimento no espaço
acadêmico partem, inicialmente, da definição/delineamento de um projeto no qual
o pesquisador deve apresentar o tema escolhido, o problema formulado, os objetivos
definidos, a justificativa para que o estudo a que propõe seja realizado...
Quando o pesquisador chega nesse ponto do trabalho, é muito provável que
ele sinta que será preciso examinar mais intensamente como o tema e o seu objeto de
estudo são tratados por outros estudiosos. Muitos autores, a exemplo de Boaventura
(2004), vão considerar que a maneira mais eficaz para que o pesquisador realize esse
aprofundamento será buscar pela literatura da área específica, tendo em mente duas
questões:
O que já se publicou acerca do meu tema de estudo?
Quais as lacunas existentes?
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Já foram dadas para você pistas sobre o que, em processos de pesquisa, deno-
minamos de revisão de literatura; mas, ainda é necessário aprofundar nossa compre-
ensão em alguns aspectos. vamos a eles!
A BUSCA POR FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A revisão de literatura consiste num texto que analisa e sintetiza informações,
estabelecendo nexos entre conhecimentos existentes, ou já publicados, e o assunto
pesquisado.
Como a expressão indica, Boaventura (2004) sinaliza que a revisão de literatura
analisa a produção bibliográfica – composta por livros e artigos científicos, publicados
em suporte papel e/ou disponíveis na internet1 - numa área temática, que fornece
um panorama geral sobre um tema específico, possibilitando ao pesquisador tomar
conhecimento do que tem ocorrido periodicamente no campo estudado.
O processo de análise e compilação da literatura existente acompanha aquele
que realiza a investigação em todas as etapas da pesquisa - em seu planejamento, na
sua execução e, ainda, publicização/socialização -, contudo, em cada uma delas tem
uma função muito específica. você, certamente, neste momento está perguntando-se:
Como assim? Calma!! vamos explicar essas especificidades.
Na fase de planejamento da pesquisa (ou elaboração do projeto), a revisão da
literatura tem por função auxiliar o pesquisador na elaboração da justificativa do es-
tudo. A partir dela, poderá potencializar seus argumentos (por que é interessante a
realização desse estudo?), demonstrar o “estado da arte” em relação ao foco/tema es-
colhido, indicando de que lugar específico sua pesquisa partirá, e, também, sinalizar
quem serão os seus “companheiros de viagem”, isto é, os autores serão imprescindíveis
para que consiga dar conta do estudo que está propondo. Por exemplo:
Se decidirmos fazer um estudo antropológico sobre a formação do povo brasileiro,
certamente, vamos/podemos ter como referência três obras: “Casa grande e senzala”, de
Gilberto Freyre, “Raízes do Brasil”, de Sérgio Buarque de Holanda, ou, ainda, “viva o povo
brasileiro”, de João Ubaldo Ribeiro.
Na etapa de execução do estudo, a revisão de literatura se assemelha a uma das
técnicas de que o pesquisador pode se valer para realizar o seu estudo – a pesquisa
bibliográfica – e tem como função auxiliá-lo no aprofundamento teórico das principais
questões tratadas por ele.
O levantamento bibliográfico pode ser realizado através das fontes de informa-
ção que Umberto Eco (1992) chama de fontes de primeira e segunda mão e que outros
autores, denominam de primárias e secundárias.
1 Apesar de se configurar num espaço aberto para a difusão e disseminação de informações e de ser necessário ter muito cuidado quando
utilizamos a como fonte, existem muitos sites confiáveis e produções interessantes na internet. Ao longo das aulas, socializaremos alguns deles
com você.
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Fontes primárias - têm a função de publicar e divulgar as informações produ-
zidas diretamente por autores através de revistas, livros, monografias, dissertações,
teses, normas técnicas, patentes e outros documentos.
Fontes secundárias - têm como função auxiliar os pesquisadores na identifica-
ção e localização o que foi publicado nas fontes primárias, através de bases de dados
especializadas e buscadores da internet, ferramentas que catalogam documentos
como: artigos de revistas, trabalhos de congressos, etc.
SÍNTESE
Nesse texto apresentamos aspectos relacionados ao processo de revisão de li-
teratura, destacando sua importância em diferentes fases da pesquisa científica. No
próximo texto apresentaremos a você alguns dos principais recursos de divulgação
científica, que serão muito importantes na revisão da literatura.
QuESTÃo PArA rEFLEXÃo
Pensando no tema que escolhemos para pesquisar, quais seriam as fontes/au-
tores imprescindíveis para compor a revisão da literatura de nosso trabalho?
LEiTurAS iNDiCADAS
Para aprofundar seus conhecimentos acerca da temática discutida nesse texto
sugerimos a leitura do capítulo 3 do livro “Como se faz uma tese”, de Umberto Eco,
editado em 1992.
rEFErÊNCiAS
BOAvENTURA, Edivaldo M. Metodologia da pesquisa: monografia, dissertação e tese. São Paulo:
Atlas, 2004.
CARvALHO, Maria Cecília M. de (org.). Construindo o saber – metodologia científica: fundamentos e
técnicas. 8. ed. São Paulo: Papirus, 1989.
ECO, Umberto. Como se faz uma tese. 9. ed. São Paulo: Perspectiva, 1992.
LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Fundamentos de metodologia científica. 6. ed.
São Paulo: Atlas, 2005.
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VEÍCULOS DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA: FONTES PRIMÁRIAS
Autor: André Santanchè
É importante conhecer os principais tipos de divulgação da ciência para que
você saiba não apenas onde buscar informações relevantes, mas onde você também
poderá, futuramente, publicar os seus trabalhos.
REVISTAS CIENTÍFICAS
É importante que você saiba diferenciar dois tipos de revistas: aquelas que rece-
bem um tratamento de revisão pela comunidade científica e as demais revistas.
você está acostumado a ler revistas que são vendidas em bancas, tais como
veja e Istoé, ou até mesmo revistas especializadas em pesca, música, literatura etc. Al-
gumas destas revistas, ainda mais especializadas, geralmente voltadas para o público
profissional, não estão disponíveis em bancas e são adquiridas através de assinaturas.
Mas é importante que você aprenda a diferenciar um outro conjunto bem distinto de
revistas, que são usualmente chamadas de revistas científicas.
As revistas científicas ou periódicos científicos recebem um tratamento bem
diferente das demais revistas. Ela é produzida a partir de artigos que são escritos por
pesquisadores da área em questão. Os artigos são submetidos a um corpo editorial,
formado usualmente por pesquisadores especializados no domínio de conhecimento
da revista. Este corpo avalia os artigos submetidos e eventualmente encaminha, tam-
bém, para revisores externos, que têm conhecimento atestado no tema. Os membros
do corpo editorial e revisores seguem critérios bem definidos para avaliar cada artigo
submetido. Usualmente são atribuídas notas a cada um dos aspectos do artigo. Cada
artigo submetido pode ser aprovado, rejeitado, ou pode ser pedida uma revisão (mais
superficial ou profunda) de aspectos do artigo que não estão claros, ou que os revi-
sores discordam. A depender da revista, o artigo pode passar por mais de um ciclo de
revisão, até que atinja a qualidade desejada. Por este motivo, é comum que artigos
levem dois ou três anos desde a sua submissão, até que sejam publicados.
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CONGRESSOS ACADÊMICOS E CIENTÍFICOS
Congressos acadêmicos e científicos têm principalmente dois propósitos simul-
tâneos. O primeiro é reunir periodicamente pesquisadores e interessados em torno de
um domínio específico de conhecimento, para promover o intercâmbio de idéias e
experiências, proporcionando uma sinergia e motivação para o crescimento conjunto
das pesquisas naquele domínio.
Este tipo de congresso pode ser organizado de diversas formas. Uma das formas
mais usuais tem um cronograma que inicia muito antes do congresso em si, no que de-
nominamos “Chamada de Trabalhos”. Nessa chamada é fixada uma data e formato para
que autores submetam seus artigos para o congresso. Em seguida, os artigos passam
por uma revisão semelhante à descrita anteriormente para a revista. Todo o congresso
tem um comitê de programa formado por especialistas na área, que realizam a revisão
e avaliação dos artigos. Como usualmente os congressos são realizados anualmente, o
tempo entre a submissão do trabalho e a sua aceitação ou rejeição é bem menor que a
das revistas (geralmente varia de um a três meses). Por esse motivo, não é usual que o
congresso realize mais que um ciclo de revisão de artigos. Geralmente o artigo é aceito
(com solicitações de ajustes) ou rejeitado. Esta característica geralmente confere mais
dinâmica aos congressos, quando comparados a revistas. Por outro lado, revisões rea-
lizadas por revistas podem ser mais primorosas, dado o tempo dedicado à sua revisão
e o fato de que os revisores têm a oportunidade de reavaliar modificações solicitadas,
para ver se os autores atenderam as suas expectativas.
Os artigos selecionados para o congresso são apresentados no evento pelos
autores e usualmente são publicados no que se denomina “anais do congresso”.
DISSERTAÇõES E TESES
São documentos originados das atividades dos cursos de pós-graduação. Es-
tes cursos visam principalmente a capacitar professores para o ensino superior, além
de pesquisadores de alta qualificação em vários níveis. No nível de mestrado, o aluno
deve produzir uma tese.
PUBLICAÇÃO GOVERNAMENTAIS E jURÍDICAS
Os órgãos públicos em geral, no exercício de suas atividades, são responsáveis
pela publicação de documentos, que objetivam tanto orientar o público na utilização
de serviços, como prestar contas à sociedade das ações que desenvolvem. As publi-
cações originadas de órgãos governamentais são numerosas e são apresentadas em
diversos formatos. Com as facilidades de acesso oferecidas pela internet, grande parte
desses documentos pode ser acessada via online através do site do Senado, ministé-
rios, secretarias e diversas entidades governamentais brasileiras.
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ORGANIzAÇõES EDUCACIONAIS E DE PESQUISA
Universidades, centros de pesquisa, bibliotecas, arquivos, museus, ONGs, socie-
dades científicas e entidades de profissionais também produzem um grande volume
de documentos técnicos de suas especialidades e que também podem ser acessados
via internet.
Ao selecionar as fontes de informação para pesquisa é preciso analisar critica-
mente a confiabilidade das informações levantadas, observando a credibilidade dos
autores e dos veículos de divulgação. Do ponto de vista científico, uma informação
é confiável, quando ela foi produzida a partir da utilização de métodos científicos, e
julgada pela comunidade científica.
SÍNTESE
você foi apresentado aos principais veículos de divulgação de informação. No
próximo texto trataremos de aspectos relacionados à busca e seleção de material,
principalmente em meios digitais. Os conceitos que você aprendeu aqui serão muito
importantes para o próximo texto.
QuESTÃo PArA rEFLEXÃo
Procure se informar quais são os principais congressos acadêmicos e revistas
científicas da sua área. Conhecê-los é uma etapa importante para você aprimorar o
modo como se informa e como você vai divulgar o que produzir.
LEiTurAS iNDiCADAS
CAMPELLO, Bernadete Santos; CENDÓN, Beatriz valadares; KREMER, Jeannette Marguerite (Org.) Fon-
tes de informação para pesquisadores e profissionais. Belo Horizonte: UFMG, 2003, 319 p.
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BUSCA E SELEÇÃO DE MATERIAL: FONTES SECUNDÁRIAS
Autor: André Santanchè
A pesquisa e a seleção de material é uma tarefa que está intimamente relacio-
nada à revisão da literatura e é uma atividade que pode ser tão motivante e interessan-
te quanto a própria atividade de buscar o novo. Resolvemos dedicar uma atenção es-
pecial a esta tarefa dada a sua importância dentro do processo de revisão da literatura.
A busca eficiente de material e a seleção de boas referências serão determinantes para
a qualidade do que você vai produzir. Neste tópico trataremos das questões de onde
procurar material para revisão e orientações para a seleção de material relevante.
As tarefas de pesquisar e selecionar material podem ser comparadas à ativida-
de de um caçador em busca de uma presa. Por esse motivo, vamos adotar a metáfora
do caçador para apresentar cada um dos tópicos a seguir.
Atualmente existem dois principais tipos de material a serem pesquisados: im-
presso e digital.
Existem várias maneiras de se ter acesso a material impresso e a mais impor-
tante é sem dúvida a biblioteca. Na biblioteca você encontra não apenas livros, como
também revistas especializadas, revistas científicas e anais de congressos (apresenta-
dos anteriormente). você pode também comprar livros em livrarias, assinar revistas
(científicas ou não) e participar de congressos, em que usualmente são distribuídos
anais em papel ou formato digital.
O principal meio de compartilhamento de material digital é sem dúvida a Inter-
net e por este motivo vamos gastar mais tempo discutindo onde encontrar material
de relevância na Internet. A Internet tem uma gigantesca quantidade de material pu-
blicado de todo tipo e procedência. Na Internet está disponível material de excelente
qualidade, como também uma grande quantidade de material ruim, de procedência
duvidosa, com erros e sem respeitar a autoria. Então como proceder neste território
tão heterogêneo?
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CONHECENDO O TERRITÓRIO DE CAÇA
Um bom caçador não caça em qualquer lugar. Ele sabe onde buscar e encontrar
a sua presa. Caçar em qualquer lugar é uma tarefa que fará você desperdiçar tempo e
energia. Mas quais são os lugares em que você deve pesquisar o material na Internet?
MECANISMOS DE PESQUISA ESPECIALIzADOS
O Google Acadêmico (http://scholar.google.com.br) é um mecanismo de pes-
quisa direcionado a publicações acadêmicas. Diferentemente do mecanismo Google,
mais geral, o Google Acadêmico indexa publicações com alguma procedência acadê-
mica, tais como artigos de revistas científicas, artigos publicados em anais de congres-
sos, publicações apoiadas por universidades e assim por diante. Esse direcionamento
na pesquisa, por si só, torna mais eficiente a busca por material relevante.
Por exemplo, suponha que você queira pesquisar material relevante sobre o
tema “mapas conceituais”. Uma abordagem que foi utilizada na construção deste ma-
terial. A Figura 1 apresenta os resultados desta pesquisa.
Figura 1. Tela do Google Acadêmica com resultados da pesquisa “mapas conceituais”.
vamos analisar uma destas entradas mais de perto na Figura 2. No topo aparece
o formato do conteúdo, que neste caso é PDF. Logo em seguida aparece o título da pu-
blicação, que é um link para a mesma. Abaixo do título aparecem, em verde, resumidos
alguns dados relacionados à publicação (autores, meio de publicação e site). Abaixo
deste resumo aparece um seguimento do texto no qual foram encontradas as palavras
que você digitou na pesquisa (em negrito).
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Figura 2. Ampliação de resultado retornado pelo Google Acadêmico.
Na última linha aparecem dados e links que podem ser muito importantes para
uma primeira avaliação do documento. Primeiro aparece quantos artigos, que estão
disponíveis na base do Google Acadêmico, citam o artigo em questão. O número de
citações pode ser um indicador de qualidade ou popularidade do artigo. Mas lembre-
se de que isoladamente nenhum destes indicadores é significativo. O link leva para a
relação dos artigos que citaram este artigo. O link “Artigos relacionados” leva para arti-
gos semelhantes a este, conforme um critério de avaliação do mecanismo de pesquisa.
Os dois últimos links levam para uma versão HTML do artigo ou para uma pesquisa no
Google sobre este artigo, respectivamente.
O Google Livros (http://books.google.com.br) disponibiliza acesso parcial ou
integral de texto de livros que fazem parte do programa de parceria do Google junto
a autores, editoras e bibliotecas.
BIBLIOTECAS DIGITAIS
Além dos mecanismos de pesquisa, contamos também com bibliotecas digitais
que são especializadas na área acadêmica.
SciELO
Scientific Eletronic Library Online (SciELO) é uma biblioteca eletrônica que reú-
ne uma coleção selecionada de periódicos científicos do Brasil e diversos outros países
(http://www.scielo.br). A seleção dos periódicos que irão compor a biblioteca SciELO é
feita por um comitê de consultores que estabelece critérios rígidos de qualidade para
seleção das publicações que compõem a base de dados.
A Figura 3 ilustra o resultado de uma pesquisa por mapas conceituais. Note que
o SciELO retorna uma ficha completa da publicação, contendo sua referência, resumo,
além de uma série de serviços relacionados listados à direita.
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Figura 3. SciELO apresentando um artigo sobre mapas conceituais disponível em sua biblioteca.
BDTD
A Biblioteca Digital de Teses e Dissertações (BDTD) (http://bdtd.ibict.br) é uma
biblioteca eletrônica que integra e um mesmo portal, em texto completo teses e dis-
sertações defendidas na maioria das universidades brasileiras. Integra também base
de dados internacional Networked Digital Library of Theses and Dissertations (NDLTD)
(http://www.ndltd.org).
PORTAIS
Portal Capes
Portal Capes (http://www.periodicos.capes.gov.br) reúne mais de 15 mil títulos
de periódicos em texto completo e cerca de 100 bases de dados referenciais em di-
versas áreas do conhecimento, inclui também uma seleção de importantes fonte de
informações para pesquisa como patentes, teses e dissertações, estatísticas e outras
publicações de acesso, mantidos por importantes instituições científicas e profissio-
nais e por organismos governamentais e internacionais.
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BVS
A Biblioteca virtual de Saúde (http://www.bireme.br) rede brasileira de infor-
mação em ciências da saúde em que em parceria com a Organização Mundial de Saú-
de e diversos países da América Latina e do Caribe oferecer acesso livre e gratuito à
informação técnico-científica integrada em um único portal
AVALIANDO O ALVO
Utilizar qualquer material encontrado na Internet de forma indiscriminada é
como atirar indiscriminadamente para todos os lados, na esperança de que alguma
bala atinja por si própria o alvo.
Graham e Metaxas (2003) escreveram um artigo com o curioso título “É Claro
que é verdade; Eu vi na Internet!”1. Este artigo reflete uma questão moderna relaciona-
da à pesquisa de dados na grande rede. Há uma tendência à busca e uso de conteúdo
da Internet de forma indiscriminada. Para muitos, a Internet tem um poder “mágico” de
dar credibilidade ao conteúdo encontrado.
Hoje em dia qualquer pessoa pode publicar conteúdo na Internet. Isso significa
que o simples fato de que uma informação foi encontrada nesta rede, não dá a ela
qualquer status de informação confiável.
Quando você estiver procurando material científico relevante para pesquisa na
Internet, deve considerar quem atesta a qualidade da informação que lhe está sendo
fornecida. No capítulo de divulgação científica lhe apresentamos diversos meios de
divulgação, como revistas e congressos, que são validados por especialistas da área. A
maioria do conteúdo produzido por estes meios está disponível na Internet e no início
deste texto lhe apresentamos alguns mecanismos que permitem encontrá-los.
A QUESTÃO DA WIkIPEDIA
A Wikipedia (http://wikipedia.org) é uma enciclopédia construída de forma
colaborativa por pessoas do mundo todo. Desde a sua criação tem ganhado muitos
adeptos e críticos. De fato, devido ao vasto número de autores espalhados por todo o
mundo, a Wikipedia tornou-se uma enciclopédia bastante rica e ilustrada e, por esse
motivo, grande fonte de consulta para muitas pessoas.
Do ponto de vista de publicação científica, a Wikipedia encontra alguns proble-
mas, uma vez que seu conteúdo não é validado por nenhum comitê especializado nos
assuntos que nela são publicados.
Isto não quer dizer que necessariamente o conteúdo encontrado na Wikipedia
seja incorreto, mas ele carece do rigor científico mínimo necessário, para que seja utili-
zado como fonte segura e referenciado em qualquer trabalho científico.
Talvez uma aplicação interessante para a Wikipedia seja utilizá-la como ponto
1 Tradução feita pelo autor do original “Of Course it’s True; I Saw it on the Internet!” (Graham & Metaxas, 2003).
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de partida. Muitos assuntos estão bem delineados e estruturados nesta enciclopédia.
Deste modo, você pode partir do conhecimento encontrado na Wikipedia e, a par-
tir daí, buscar fontes de informações que atestem as informações encontradas. Mas
lembre-se que, de uma forma geral, referências diretas a conteúdo da Wikipedia não
são bem aceitas pela comunidade acadêmica em geral.
SEGUINDO TRILHAS
Retomando a metáfora do caçador. Usualmente a presa deixa rastros caracterís-
ticos que permitem ao caçador encontrá-la. Muitas vezes encontrar um artigo deseja-
do pode ser resultado de um paciente trabalho de seguir trilhas.
Há duas formas de seguir trilhas, mas elas sempre estão relacionadas às cita-
ções. A primeira começa a partir de um artigo que você considera que trate um tema
de forma consistente. você pode verificar as referências deste artigo e ir atrás delas,
a fim de conhecer as bases teóricas que foram usadas como subsídios para o artigo.
Seguir este tipo de trilha também pode ser usado como indicador de qualidade, uma
vez que um artigo qualificado usualmente cita outros trabalhos qualificados.
A outra forma de seguir trilhas é ao inverso. Considere novamente que você
leu um artigo qualificado. Usando sistemas como o Google Acadêmico ou SciELO que
relacionam outros artigos que citam o artigo que você leu, você pode encontrar traba-
lhos que tomam como base o que você leu e levam o tema adiante.
SÍNTESE
Neste tópico apresentamos a importância de você saber realizar busca e se-
leção de material, principalmente na Internet. Nele mostramos que você deve saber
onde procurar. você deve avaliar a qualidade do que lê - analisando a procedência e
outros indicadores - e deve aprender a seguir trilhas.
No próximo texto, discutiremos as formas que o pesquisador dispõe para iden-
tificar, escolher e organizar os textos e obras consultadas por ele no processo de inves-
tigação, especialmente na etapa de revisão de literatura. Até lá!
rEFErÊNCiAS
GRAHAM, Leah; METAXAS, P. Takis. Of course it’s true; I saw it on the internet!: critical thinking in the
internet era. Communications of ACM, 46(5):70-75, 2003.
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FICHAMENTOS, RESUMOS E RESENHAS: OR-GANIzAÇÃO DE PUBLICAÇõES CONSULTA-DAS1
Autora: Maria Luíza Coutinho Seixas
Olá!
Já apresentamos a você alguns aspectos relacionados ao processo de revisão
de literatura. Agora, seguindo com as informações acerca do tratamento do material
“bibliográfico”, discutiremos as formas/instrumentos de que o pesquisador dispõe
para identificar, escolher e organizar os textos e obras consultadas por ele nos proces-
sos de investigação, especialmente na etapa de revisão de literatura, e de produção de
escrita acadêmica/ científica.
você certamente está se perguntando: por que esta ressalva com relação à fase
de revisão de literatura? Ela não está presente no processo de planejamento, execução
e finalização da investigação científica? A nossa resposta é: “Sim, ela está!”. Contudo,
como já dissemos anteriormente, existem textos que podem ser consultados e que
não são considerados como referência bibliográfica, como por exemplo, documentos
oficiais, leis, cartas etc.
Por isso, antes de tratarmos sobre os aspectos concernentes às formas de orga-
nização do material consultado (fichamentos, resumos e resenhas), discorremos sobre
os passos iniciais do que é denominado revisão de literatura/pesquisa bibliográfica
na investigação científica, aqui se confundindo com os passos seguidos para todo e
qualquer processo de estudo: a identificação e de escolha das referências que serão
utilizadas. vamos lá!
A IDENTIFICAÇÃO E A ESCOLHA DAS FONTES DE INFORMA-ÇÃO
Se você teve acesso a essa disciplina é fato que já possui e faz uso de um dos
fatores decisivos para iniciar e implementar qualquer programa de estudo, quer seja
ele sugerido por um de seus professores, quer seja incitado por um tema pelo qual
desenvolveu um interesse pessoal/profissional: a capacidade de utilizar a leitura como
1 Tomamos como base para a elaboração deste texto a aula “Suporte para elaboração de trabalhos acadêmicos: resumos e resenhas”, produzida
pela professora Noemi Santana.
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fonte de novas idéias e saberes.
Pode parecer que estamos, como expressa o dito popular, “chovendo no mo-
lhado”, mas não é bem assim. No trabalho que desenvolvemos no âmbito acadêmico,
como confirmam Lakatos e Marconi (2005, p. 19), ler, significa “[...] conhecer, interpre-
tar, decifrar, distinguir os elementos mais importantes dos secundários, [...] através dos
processos de busca, assimilação, retenção, comparação, verificação, e integração do
conhecimento”.
Apesar da certeza de você realiza leituras cotidianas “desde que se entende por
gente”, outro dito da sabedoria popular, consideramos que é imprescindível expor
acerca dos elementos que, ao serem considerados no processo de leitura, favorece-
rão/facilitarão o desenvolvimento de trabalhos acadêmicos e da pesquisa científica.
Isso porque, na maioria das vezes, a escrita acadêmica é bastante diferente daquela a
que estamos acostumados a utilizar. Em minha percepção, por exemplo, existem dois
tipos de leitura: a que fazemos por prazer/deleite e aquela que fazemos por obrigação;
acontece que, para realizar uma boa revisão de literatura, você não pode selecionar
suas obras a partir desse critério (excluir textos “obrigatórios”).
Porque não podemos contar com nossa afeição em relação à leitura por obriga-
ção, insistimos em descrever esses elementos. Lakatos e Marconi (2005) destacam que
são seis os elementos auxiliares na identificação de textos no momento de busca de
material adequado à investigação e/ou estudos, a saber:
o � título: apresentando-se acompanhado (ou não) de subtítulo, estabelece o assunto,
e, às vezes, a intenção do autor;
a � data de publicação: a qual fornece elementos quanto à atualidade obra, bem
como a sua aceitação na área específica através do número de edições, salvo quando
o texto/obra é um clássico – A crítica da razão pura, de Immanuel Kant, por exemplo,
pois o que menos importa é atualidade;
a � orelha/contracapa, que permite que as credenciais ou qualificações do autor pos-
sam ser verificadas;
o � índice/sumário, que apresenta os assuntos/pontos tratados na obra;
o � prefácio da obra, que proporciona indícios sobre os objetivos do autor, bem como
sobre a metodologia utilizada para elaborar a sua obra;
a � bibliografia, que revela as obras consultadas pelo autor para elaborar a sua obra.
Fonte: Adaptado de Lakatos e Marconi (2005)
Para trazer resultados satisfatórios, cinco aspectos fundamentais devem ser
considerados no processo de leitura. A atenção é o primeiro deles, porque é muito di-
fícil apreender um texto plenamente se não estiver concentrado para isso. É certo que
existem pessoas que conseguem dividir a sua atenção e realizam duas ou mais coisas
ao mesmo tempo, como, por exemplo, ouvir música e ver televisão, ou ainda, ouvir
música e estudar, mas isso não é predominante; para a maioria delas é preciso escolher
ente o que é prioritário e o que pode vir depois; dirigir a atenção para o que está lendo,
portanto, pode garantir que a sua elucidação seja mais rápida e eficiente.
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A intenção é mais um aspecto que deve ser considerado. É importante que o
leitor não perca de vista o propósito do estudo/investigação que está realizando. Re-
flexividade e criticidade são aspectos também muito importantes, pois é imprescin-
dível que o leitor pondere sobre o que leu, observando todos os ângulos, descobrindo
novas perspectivas, o que favorece a assimilação das ideias que o texto traz. Da mesma
forma, é necessário que o texto seja avaliado; ler implica julgar, comparar, indicando se
aquele(a) que lê aprova, reprova, aceita ou refuta as idéias que o autor apresenta.
Por fim, o leitor não pode esquecer que ler implica proceder à análise – seg-
mentação do tema em partes, determinando as relações que existem entre essas; e a
síntese, que se configura na reconstituição das partes decompostas no processo de
análise, isto é, na elaboração de um resumo que retoma os pontos essenciais do texto,
sem perder de vista a logicidade do pensamento do autor.
Por conta da complexidade que caracteriza os textos científicos, recheados de
termos técnicos e/ou específicos de uma área do conhecimento, o leitor pode sentir
que ele (o texto) não será compreendido “de primeira”. Quando isso acontecer, não
duvide da sua capacidade de compreensão: retome o texto quantas vezes forem ne-
cessárias para compreendê-lo, faça a sua leitura tentando identificar e separar a idéia
central do que é secundário...
Somente depois que fizer essa diferenciação você deverá marcar os trechos que
considera mais importantes (confecção de esquema de compreensão), primeiro passo
para organizar o material consultado. A respeito disso, vale dizer que, ao sublinhar (ou
marcar) um texto, para destacar algo de seu interesse, deve-se fazer isso com critério,
pois se você sai sublinhando tudo, equivale a não ter sublinhado nada! Quando estiver
sublinhando, cabe ter alguns cuidados:
Se encontrar considerações importantes sobre mais de um assunto, cabe utilizar es- �
tratégias de marcação;
Use siglas para marcar trechos mais importantes ou pontos que devem ser retoma- �
dos;
Marcar as ideias sublinhadas é perfeitamente viável para textos muito exten-
sos, a exemplo de livros e teses. Nestes casos, é aconselhável trabalhar por parágrafo,
sendo preciso desenvolver duas capacidades: a de síntese do assunto e a de análise de
partes do texto (ANDRADE; HENRIQUES, 1996).
MAS, ATENÇÃO!!!!!
Se o livro não for seu, ou mesmo se for, mas representar uma obra rara ou antiga... NÃO
ANOTE, NEM RISQUE!
Depois que fez a leitura do material e que já elaborou seu esquema de com-
preensão do texto, o pesquisador deve considerar a oportunidade de organizar suas
leituras, de modo que tenha consigo um material de consulta permanente. Por isso,
veremos agora alguns instrumentos que podem auxiliar o pesquisador na organização
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das obras e dos textos a que teve acesso, objetivando a produção acadêmica.
UMA DICA!!!!!
Sugerimos que leia o texto “Sugestões úteis: leitura rápida”, do livro a arte da pesquisa, de
Wayne Booth e outros autores. Nele os autores indicam os passos para que você faça uma
primeira avaliação da fonte a ser consultada.
FICHAMENTOS
O fichamento é a transcrição em fichas, com o máximo de exatidão e cuidado,
de dados/informações das fontes de referência. Nele, o pesquisador deve registrar os
trechos do texto que mais chamaram sua atenção, e que fazem parte do seu esquema
de compreensão do texto. Observe o exemplo:
Como podemos perceber na representação acima, existem algumas informa-
ções que não podem deixar de constar num fichamento. São elas:
1) Indicações bibliográficas precisas. Para que não corra o risco de perder a referência
da obra que está fichando, esta é a primeira informação que aparece na ficha. A
disposição das informações da obra deve seguir o padrão da NBR 6023 da ABNT, que
trataremos detalhadamente mais adiante.
2) Identificação do tema/conceito a que os trechos destacados fazem referência. Isso
permite a ordenação do assunto;
3) Transcrição dos trechos destacados da obra, com indicação da(s) página(s); isso vai
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permitir que você utilize o trecho destacado numa produção escrita, com facilidade.
Outras informações podem ser incluídas, como por exemplo:
comentários pessoais no começo, meio ou fim da citação. Para não confundi-los com �
as palavras do autor, coloque-os [entre colchetes];
informações sobre o autor (quando não se tratar de uma autoridade notória); �
quando existir, o número de registro do livro na biblioteca; �
endereço eletrônico do documento na Internet. �
Com o fichamento de qualquer obra e/ou texto, você conseguirá resumi-lo,
resenhá-lo, ou elaborar textos fundamentados teoricamente com muito mais facilida-
de. Ainda, se o pesquisador organizar corretamente as suas leituras, ele terá consigo
um material de consulta permanente, que poderá ser utilizado quando você estiver
elaborando diferentes tipos de textos acadêmicos relacionados ao seu curso (Relató-
rios Técnicos, TCCs, Monografias, Teses e Dissertações) e/ou de comunicação científica
(artigos, capítulos de livros ou obras completas), dentre outros.
Qualquer um de nós que já se propôs à escrita de um desses tipos textuais, deve
saber que esta não é uma tarefa fácil! Um cientista experiente em uma determinada
área do conhecimento, por exemplo, pode ver rejeitado um artigo científico que sub-
meteu a uma revista especializada de outra área – as Ciências Humanas – porque não
atendeu às normas concernentes dessa comunidade científica.
Machado, Lousada e Abreu-Tardelli (2004a, p. 13) nos lembram que a complexi-
dade característica do processo de elaboração textual na/da ciência “exige que sejam
desenvolvidas múltiplas capacidades, que vão muito além da mera organização ou do
uso das normas gramaticais do português padrão”. Como dissemos anteriormente, o
estudante/pesquisador deve proceder à análise, à reflexividade e à crítica. Hum... você
pode estar, nesse momento, se perguntando: “Mas como fazer isso?”.
E nossa resposta não podia ser outra: apesar de entendermos que o processo
de escrita é marcado pela subjetividade, produzir bons textos acadêmicos/científicos
é algo que vai depender (e aí destacamos, com o mesmo grau de importância!) do do-
mínio técnico que cada um possui. É necessário que siga uma disciplina para a leitura
e a esquematização do material, e também, que utilize mais dois instrumentos obriga-
tórios de trabalho: o resumo e a resenha. Lakatos e Marconi (2005) sinalizam que essas
ferramentas têm uma função muito especial na produção da escrita acadêmica. Elas
auxiliam o pesquisador na:
compreensão e fixação de leituras realizadas; �
reelaboração de informações; �
síntese de idéias; �
consulta a dados para produção de conhecimento; �
organização de material de consulta. �
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Saber como essas ferramentas podem nos ajudar, não basta. Passaremos, a se-
guir, a descrever as características dos resumos e das resenhas. vamos começar tratan-
do dos resumos.
RESUMOS
Tal e qual o fichamento, resumos e resenhas se configuram como ferramentas
que facilitam a vida do pesquisador: organizam as leituras e podem se tornar material
de consulta permanente, caso o texto resumido apresente idéias ou posições impor-
tantes para desenvolver as diversas etapas do estudo/investigação a que se dedica.
Como o próprio nome sugere, resumir é uma atividade que exige a capacidade
de condensar as informações, destacando suas principais idéias.
O autor de um resumo deve ser fiel ao desenvolvimento de conteúdo original
destacando apenas seus elementos essenciais. Para realizar este intento com êxito, é
preciso considerar alguns pontos.
O primeiro deles é que você deve evitar a elaboração do resumo antes de levan-
tar o esquema do texto ou de preparar as anotações, o que requer leitura preliminar
para identificação de palavras-chave. Em outras palavras, separar o joio do trigo, bus-
cando perceber as idéias principais e quais são as idéias secundárias.
O resumista precisa familiarizar-se com o assunto e deve apresentar o assunto
da obra, respeitando a ordem das ideias e fatos apresentados, bem como evitando a
transcrição de frases do texto original procurando apresentar idéias principais.
Na comunicação do resumo é muito importante tentar reproduzir com clareza
as ideias do autor, utilizando-se, para atingir este intento, recursos como a supressão
de elementos supérfluos, valorizando-se as idéias que registram informações mais ge-
rais e explicitam de forma sintética os destaques do assunto abordado.
Um resumo deve vir precedido da referência bibliográfica do texto original. É
preciso adicionar uma apresentação breve, concisa e seletiva de um conteúdo traba-
lhado, permitindo ao destinatário (o leitor) tomar conhecimento do assunto aborda-
do, sem a necessidade de que o trabalho original seja consultado.
Além disso, não podemos esquecer, como bem dizem Machado, Lousada e
Abreu-Martelli (2004b), um resumo é sempre um texto sobre outro texto. Sendo
assim, para que o leitor não se confunda e considere as ideias originais do texto como
pertencentes ao resumista, é relevante que o autor do texto que é resumido seja fre-
quentemente citado. Observe o exemplo:
ROCCO, Maria Thereza Fraga. Crise na linguagem: a redação no vestibular. São Paulo:
Mestre Jou, 1981. 184 p.
RESUMO
Neste estudo, Maria Thereza Rocco examina redações de vestibu-
landos da FUVEST, com base nas novas tendências dos estudos
da linguagem, buscando construir uma gramática e uma teoria
do texto. Os focos de seu estudo são a coesão, o clichê, a frase
feita, o “não-texto” e o discurso indefinido. [...]
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De acordo com a NRB 6028/2003 da ABNT, há vários tipos de elaboração de
resumos que atendem a finalidades determinadas: o indicativo ou descritivo; o infor-
mativo ou analítico; e o resumo crítico. vamos desdobrar cada uma delas, a partir da
percepção de Lakatos e Marconi (2005).
RESUMO DESCRITIVO OU INDICATIVO
Este tipo de resumo descreve os principais componentes do texto original em
frases curtas, indicando-se com brevidade sua natureza e seus objetivos, de preferên-
cia sem ultrapassar o limite de 15 a 20 linhas.
O resumo descritivo ou indicativo segue as recomendações da Associação Bra-
sileira de Normas Técnicas - ABNT e está previsto pela NBR 6028/2003. Esta norma de-
fine que o resumo é a “apresentação concisa dos pontos relevantes de um texto” e
deve ser composto por um único parágrafo, observando-se algumas regras quanto à
extensão, que estão associadas à finalidade da apresentação:
- Notas e comunicações breves: o resumo deve possuir até 100 palavras;
Exemplo:
Para Henri Cartier-Bresson, o objetivo da fotografia era captar o momento decisivo de uma
cena ou evento. Geoff Dyer, que não é fotógrafo mas escritor, está interessado em captar
o oposto - a continuidade, os temas que se repetem e se renovam, as fotos que dialogam
umas com as outras ao longo da história da fotografia. Longe do manual acadêmico e
dentro da melhor tradição do ensaio, este livro é como uma conversa, em que um assunto
puxa outro livremente, ao sabor da inspiração.
Fonte: Catálogo on-line da Livraria Cultura.
http://www.livrariacultura.com.br/scripts/cultura/resenha/resenha.asp?nitem=2509925&sid=01121725210717695768288967&k
5=1B12FB6B&uid=
- Monografias e artigos extensos: o resumo deve possuir até 250 palavras;
Exemplo:
RESUMO
O trabalho discute, numa abordagem filosófica, a formação ética, a partir das possibilidades
da arte de viver. Explicita que a arte de viver tem uma dimensão estética em que própria
obra da vida tem a arte como modelo, por meio da criação de diferentes estratégias (desde
as interativas até as literárias), articuladas com princípios universais. Esta ética, com seu
apelo às condições concretas da vida e aos sentimentos, não exclui o reconhecimento
de uma normatividade que ultrapassa as regras criadas pelo próprio sujeito, ou seja,
universalidade e particularidade não se excluem. O texto apresenta (1) a contribuição
helenística para a arte de viver, por meio do modelo terapêutico de filosofar, e (2) o papel
das emoções e da phronesis na articulação entre o universal e o particular, para apontar
que (3) uma educação ético-estética se constitui pelo reconhecimento da tensão entre o eu
singular e o nós (ethos comum).
Fonte: Hermann (2008)
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- Relatórios, dissertações ou teses, até 500 palavras.
Exemplo:
RESUMO
O estudo discute a evolução da Web como um espaço para publicação/consumo de
documentos para um ambiente para trabalho colaborativo, por meio do qual o conteúdo
digital pode viajar e ser replicado, adaptado, decomposto, fundido e transformado.
Designamos esta perspectiva por Fluid Web. Esta visão requer uma reformulação geral da
abordagem típica orientada a documentos que permeia o gerenciamento de conteúdo
na Web. Esta tese apresenta nossa solução para a Fluid Web, que permite nos deslocarmos
de uma perspectiva orientada a documentos para outra orientada a conteúdo, onde
“conteúdo” pode ser qualquer objeto digital. A solução é baseada em dois eixos: (i)
uma unidade auto-descritiva que encapsula qualquer tipo de artefato de conteúdo
- o Componente de Conteúdo Digital (Digital Content Component - DCC); e (ii) uma
infraestrutura para a Fluid Web que permite o gerenciamento e distribuição de DCCs na
Web, cujo objetivo é dar suporte à colaboração na Web. Concebidos para serem reusados e
adaptados, os DCCs encapsulam dados e software usando uma única estrutura, permitindo
deste modo composição homogênea e processamento de qualquer conteúdo digital,
seja este executável ou não. Estas propriedades são exploradas pela nossa infra-estrutura
para a Fluid Web, que engloba mecanismos de descoberta e de anotação de DCCs em
múltiplos níveis, gerenciamento de configurações e controle de versões. Nosso trabalho
explora padrões de Web Semântica e ontologias taxonômicas, que servem como uma
ponte semântica, unificando vocabulários para gerenciamento de DCCs e facilitando as
tarefas de descrição/indexação/descoberta de conteúdo. Os DCCs e sua infra-estrutura
foram implementados e são ilustrados por meio de exemplos práticos, para aplicações
científicas. As principais contribuições desta tese são: o modelo de Digital Content
Component; o projeto da infra-estrutura para a Fluid Web baseada em DCCs, com suporte
para armazenamento baseado em repositórios, compartilhamento, controle de versões e
gerenciamento de configurações distribuídas; um algoritmo para a descoberta de conteúdo
digital que explora a semântica associada aos DCCs; e a validação prática dos principais
conceitos desta pesquisa, com a implementação de protótipos.
Fonte: Santachè (2006)
Consideramos relevante lembrar que o resumo indicativo se configura em um
componente obrigatório de trabalhos elaborados para obtenção de títulos acadêmi-
cos (graduação, mestrado e/ou doutorado) e também na publicação de artigos/textos
científicos em periódicos. Algumas dicas podem lhe ajudar nessa elaboração:
Abstenha-se de frases negativas, fórmulas, símbolos, citações bibliográficas; �
A frase de abertura deve ressaltar o tema abordado e indicar sua categoria (memória, �
estudo de caso etc.);
Expresse-se na terceira pessoa do singular, preservando o verbo na voz ativa; �
Apresente, no final, as palavras-chaves, representativas do conteúdo, extraídas da fi- �
cha catalográfica.
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Observe, em seguida, outras normas de comunicação requeridas na elaboração
de resumos.
RESUMO INFORMATIVO OU ANALÍTICO
No processo de formação universitária, graduação e pós-graduação, é muito
comum que os professores solicitem a elaboração de resumos informativos ou analíti-
cos como atividades avaliativas.
Este tipo de resumo é uma proposta que reduz o texto a um terço (1/3) ou um
quarto (1/4) do original. Ao elaborá-lo, o resumista deve ter bastante cuidado: deve
empregar linguagem clara e objetiva, apontar as conclusões do autor, sem assumir
juízos ou comentários pessoais.
É estruturado por parágrafos, apresentando as idéias discutidas no texto, se-
guindo a estruturação lógica construída pelo autor. Como no resumo indicativo, ainda
que se mantenha a estrutura das idéias principais, deve-se excluir gráficos e evitar ci-
tações.
Lakatos e Marconi (2005) assinalam que por se apresentar como uma conden-
sação do texto, o resumo informativo ou analítico não deve conter comentários pes-
soais, juízos valorativos ou críticas. veja, abaixo, os pontos que são importantes para a
sua elaboração:
seja seletivo, isto é, atenha-se à explicitação das principais idéias tratadas; �
utilize, preferencialmente, suas próprias palavras; �
caso cite algum trecho do texto que está resumindo, na íntegra, coloque as palavras �
do autor entre aspas;
componha o resumo com uma seqüência de frases concisas e nunca em tópicos; �
ao final do resumo, assim como no resumo indicativo, devem-se mencionar as pala- �
vras-chaves do texto.
RESUMOS CRÍTICOS E RESENHAS
Certamente um de seus professores já solicitou a você que fizesse um resumo
ou uma resenha. Tão comum como esta solicitação é a sensação de não saber, com
clareza, o que deve ser feito. Isso porque não são raras as situações em que não é sina-
lizado para você qual o tipo de resumo ou qual a diferença que estes têm com relação
à resenha. você já sabe o que é um resumo indicativo ou um resumo informativo... Por
isso, destacaremos os aspectos referentes aos resumos críticos e às resenhas.
Em primeiro lugar, vale dizer que resumos críticos e resenhas possuem a mes-
ma finalidade: reúnem informações sobre o conteúdo de um texto ou obra e o seu au-
tor, buscando, não somente, sintetizar a mensagem e posições adotadas, mas também
expor posicionamentos críticos, fundamentados em conhecimentos sólidos sobre o
tema abordado.
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você deve estar perguntando: então: são a mesma coisa? No sentido que nos
referimos acima, sim! Mas eles têm uma diferença muito importante.
Quando resumimos um texto, um artigo científico ou parte de uma obra, por
exemplo, produzimos um resumo crítico; quando nosso foco recai sobre uma obra
completa – um livro, um filme –, produzimos uma resenha.
Tal como o resumo informativo, o resumo crítico condensa o texto original em
1/3 ou 1/4 de sua extensão. Isto quer dizer que um artigo com 12 páginas, será produ-
zido um resumo de aproximadamente de três ou quatro páginas. É evidente que essa
métrica não funciona para uma resenha!
Como você já deve ter percebido, resumos críticos e resenhas possuem dois
movimentos básicos: a descrição da obra e os comentários de quem os produz.
A resenha, conforme Lakatos e Marconi (2005), é antes de tudo uma descrição
minuciosa que se atem a determinado número de fatos passiveis de crítica no que diz
respeito à apresentação de uma obra. Admite-se, portanto ser de dois tipos: descritiva
ou crítica, considerando-se quase imperceptíveis as diferenças entre as duas modali-
dades. vejamos alguns detalhes sobre os dois tipos.
A resenha descritiva busca demonstrar a estrutura da obra, sua perspectiva
teórica, o método adotado, sem dispensar, contudo, a criticidade. Muitas vezes, a re-
senha descritiva se configura como uma estratégia de vendas: as editoras convidam
especialistas com experiência, capacidade de juízo crítico e conhecimento profundo
do assunto para elaborarem resenhas, divulgando, dessa forma, as obras e livros que
lançam no mercado literário.
A resenha crítica possui todos os elementos da descritiva, mas toma a forma
de uma apreciação que consiste no julgamento da obra, na qual procura-se destacar
o seu mérito (contribuições) e como se situa o autor em relação ao conjunto da abor-
dagem.
É certo que não existe uma “receita” para elaborar resenhas. Nem queremos si-
nalizar isso, mas há algumas indicações de procedimentos que podem auxiliá-lo nesta
tarefa.
O resenhista deve dominar o assunto tratado pela obra e ter habilidade para,
além de resumir as idéias fundamentais, reconhecer falhas e méritos, o que requer
capacidade de juízo de valor necessário à crítica de caráter construtivo. Com estes re-
quisitos, certamente é possuidor de “ferramentas” que podem facilitar a elaboração da
resenha e do resumo crítico.
Todo trabalho científico requer planejamento e método para facilitação do pro-
cesso de construção do conhecimento e a resenha crítica, na medida em que integra o
rol das atividades acadêmicas, não dispensa esta característica de normalização.
Uma apresentação bastante objetiva da estrutura de resenhas é a apresentada
por Lakatos e Marconi (2005). Estes autores sugerem um tipo de composição integra-
da por seis itens com desdobramentos de subitens. São eles:
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- Referência Bibliográfica: Autor (es), título (subtítulo), Imprensa (local da edição, editora,
data); número de páginas; ilustrações (tabelas, gráficos, fotos etc.)
- Credenciais do Autor: Informações gerais sobre o autor; autoridade no campo científico:
quem fez o estudo? Quando? Por quê? Onde?
- Conhecimento: Resumo detalhado das idéias principais (de que trata a obra, o que diz?
Possui alguma característica especial? Como foi abordado o assunto?, Exige conhecimentos
prévios para entendê-lo?)
- Conclusão do Autor: O autor faz conclusões? (ou não?), Onde foram colocadas? (final do
livro ou dos capítulos?), Quais foram?
- Quadro de referências/modelo teórico do Autor: (que teoria serviu de embasamento?
Qual o método utilizado?).
- Apreciação
a) Julgamento da obra: como se situa o autor em relação às escolas ou correntes científicas,
filosóficas, culturais e às circunstâncias culturais, sociais, econômicas, históricas etc.?
b) Mérito da obra: qual a contribuição dada? Idéias verdadeiras, originais, criativas?
Conhecimentos novos, amplos, abordagem diferente?
c) Estilo: conciso, objetivo, simples? Claro, preciso, coerente?
Linguagem correta? Ou o contrário?
d) Forma: lógica, sistematizada? Há originalidade e equilíbrio na disposição das partes?
e) Indicação da Obra: a quem é dirigida: grande público, especialistas, estudantes?
Fonte: Lakatos e Marconi (2005, p. 266)
Depois que apresentamos os aspectos que você deve considerar ao organi-
zar suas leituras, chegamos ao final do texto. Antes, porém, queremos chamar a sua
atenção para mais uma coisa: ao escrever um resumo ou uma resenha, leve em con-
sideração que seu professor conhece a obra indicada e, sendo assim, estará atento e
perceberá se você se dedicou à tarefa e a sua capacidade de opinar sobre ela. Bem, é
isso aí... até à próxima!
SÍNTESE
Nesse texto apresentamos aspectos relacionados à organização de textos e
obras consultadas no processo de investigação, com destaque para a elaboração de
fichamentos, resumos e resenhas.
No próximo texto trabalharemos em um contexto diferente, mas que tem re-
lações com o que apresentamos até agora. Trata-se do Levantamento e Seleção de
Dados.
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QuESTÃo PArA rEFLEXÃo
Sugerimos que você inicie a busca por possíveis fontes para que desenvolva um
projeto de pesquisa na sua área de estudo.
LEiTurAS iNDiCADAS
Para ampliar seus conhecimentos, recomendamos que você consulte as seguin-
tes obras:
- “Resenha” e “Resumo”, Anna Rachel Machado (Coord.) e outros autores, publicadas
em 2004.
- livro “Fundamento de metodologia científica”, de Eva Lakatos e Marina Marconi,
publicada em 2005.
rEFErÊNCiAS
ANDRADE, M.M.; HENRIQUES, A. Língua portuguesa: noções básicas para cursos superiores. 5. ed. São
Paulo: Atlas, 1996.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6028: informações e documentação: referên-
cias: elaboração. Rio de Janeiro, 2002, 24 p.
______. NBR 6023: informações e documentação: resumo: apresentação. Rio de Janeiro, 2003, 2 p.
HERMANN, Nadja. Ética: a aprendizagem da arte de viver. Educ. Soc. , Campinas, v. 29, n.
102, 2008 . Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-
73302008000100002&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 17 Jul 2008. doi: 10.1590/S0101-
73302008000100002
MACHADO, Anna Rachel (Coord.); LOUSADA, Eliane G.; ABREU-TARDELLI, Lília Santos. Resenha. 4. ed.,
São Paulo: Parábola Editorial, 2004a.
________. Resumo. 5. ed., São Paulo: Parábola Editorial, 2004b.
MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Metodologia do trabalho científico: procedi-
mento básico, pesquisa bibliográfica, projeto e relatório, publicação e trabalhos científicos. 6. ed., São
Paulo: Atlas, 2001. 220 p.
SANTANCHÈ, André. Fluid Web e componentes de conteúdo digital: da visão centrada em do-
cumentos para a visão centrada em conteúdo. Tese de Doutorado. Programa de Pós-graduação do
Instituto de Ciência de Computação. Campinas: Universidade de Campinas, 2006.
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LEVANTAMENTO E SELEÇÃO DE DADOS
Autor: André Santanchè
Dados compõem um elemento essencial para qualquer pesquisa científica. Por
isso merecem um tratamento específico neste capítulo. Ao realizar uma pesquisa você
pode utilizar dados levantados e tabulados por terceiros; são chamados dados secun-
dários. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE (http://www.ibge.gov.br)
é uma instituição federal cuja missão é “Retratar o Brasil com informações necessárias
ao conhecimento da sua realidade e ao exercício da cidadania.” (http://www.ibge.gov.
br/home/disseminacao/eventos/missao/default.shtm) Deste modo, o IBGE é o princi-
pal provedor de dados para estatísticas do país. Como está ilustrado na Figura 1, você
pode ter acesso a muitos destes dados e estatísticas no site de downloads, no endere-
ço: http://www.ibge.gov.br/servidor_arquivos_est/.
Figura 1. Tela de download de resultados de levantamentos de dados e estatísticas do IBGE.
Em muitas situações, os dados desejados não estão disponíveis e é necessário
coletá-los em primeira mão. Esses são os dados primários. Em todos os casos, cuidados
específicos são necessários no levantamento e seleção destes dados, conforme trata-
remos a seguir.
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VARIÁVEIS
Um desafio na observação e compreensão de um problema e do caminho para
a sua solução é a percepção de como certos aspectos de um fenômeno variam e como
a variação de um elemento afeta outro. Usualmente utilizamos a noção de variável
para representar cada elemento que varia dentro do fenômeno observado.
Uma variável é um conceito abstrato que pode ser interpretado sob várias pers-
pectivas. Ela pode ser associada a uma característica que sofre mudanças observáveis
(JARRARD, 2001, p. 15), como por exemplo, o tempo, uma medida espacial, ou a in-
tensidade de um fenômeno. Marconi e Lakatos (2005) consideram que uma variável
pode ser:
[...] uma classificação ou medida; uma quantidade que varia; um
conceito operacional, que contém ou apresenta valores; aspecto,
propriedade ou fator, discernível em um objeto de estudo e pas-
sível de mensuração. (MARCONI; LAKATOS, 2005, p.139).
Apesar de ser um conceito abstrato, a noção de variável é uma ferramenta im-
prescindível para interpretar como fenômenos se comportam. vamos retomar a pers-
pectiva tratada no capítulo de “Formulação do Problema” de um problema como uma
relação entre variáveis. Thurstone (1925, p. 187) dizia que “Cada problema científico é
a busca de um relacionamento entre variáveis”1.
Considere que estamos analisando um conjunto de dados que envolvem duas
variáveis X e Y, no qual pretendemos estabelecer que a variável Y é determinada, afeta-
da ou influenciada por X. Chamamos então X de variável independente, que está asso-
ciada à causa e Y variável dependente, que está associada à conseqüência (JARRARD,
2001, p. 15) (MARCONI; LAKATOS, 2005, p. 140).
Por exemplo, se estamos tentando relacionar o efeito da vitamina C sobre a
doença escorbuto. Nesse caso, a vitamina C é a variável independente e o escorbuto é
a variável dependente.
AMOSTRA
Imagine que você viajou em uma nave espacial para um planeta distante para
observar um animal que você nunca viu na vida, um asdruborrino. A nossa nave está
muito próxima do solo e dela você só consegue observar um único asdruborrino. você
vê um animal que nunca viu na vida, de cor vermelha, como mostra a Figura 22.
Figura 2. Um asdruborrino.
Daí eu lhe pergunto, que cor têm os asdruborrinos? você me dirá: cor verme-
lha.
1 Tradução do original em inglês feita pelo autor: “Every scientific problem is a search for the relationship between variables” (Thurstone, 1925,
p. 187).
2 Se você está lendo a versão impressa não verá as cores. Recomendo que leia na versão on-line colorida.
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A nave se afasta do solo e agora você pode ver 9 asdruborrinos, 6 vermelhos e
3 marrons, conforme a Figura 3.
Figura 3. Nove asdruborrinos.
Então você aprimora a sua resposta dizendo alguns são vermelhos, outros mar-
rons. Em que proporção? Eu pergunto. Provavelmente 2/3 são vermelhos e 1/3 é mar-
rom.
A nave vai se afastando mais e mais, e você vê 25 asdruborrinos, sendo 16 ver-
melhos, 7 marrons e 2 amarelos, como apresentado na figura:
Figura 4. Vinte e cinco asdruborrinos.
Então você corrige a sua resposta dizendo: provavelmente a maioria é verme-
lha, existem alguns marrons e raros amarelos. Se eu perguntar: existem asdruborrinos
azuis? você dirá: não.
você se afasta mais e consegue agora ver 49 asdruborrinos, 27 vermelhos, 10
marrons, 5 amarelos, 4 azuis e 3 verdes.
Figura 5. Quarenta e nove asdruborrinos.
A esta altura você tem certeza de que a maioria dos asdruborrinos são verme-
lhos, não importa o quanto se afaste. Mas então a nave pára de se afastar e começa a
planar sobre o planeta. você decide fechar a janela e descansar um pouco. Quando a
abre de novo, vê a imagem da Figura 6, com 49 asdruborrinos, sendo 31 azuis, 7 ver-
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des, 6 amarelos, 3 marrons e 2 vermelhos.
Figura 6. Quarenta e nove asdruborrinos, segunda vista.
Agora você fica confuso. você achou que a maioria dos asdruborrinos eram ver-
melhos e vê uma amostra com a maioria azul. Suponha que a população de asdrubor-
rinos está toda apresentada na Figura 7 e que os retângulos em cinza representam os
recortes das janelas mencionados anteriormente.
Figura 7. População de asdruborrinos e demarcações das janelas de observação3.
Estes recortes produzidos pela janela da nossa espaçonave é uma metáfora
para o que chamamos de amostra. Chamamos de amostra a um subconjunto de um
certo universo ou população analisada (MARCONI; LAKATOS, 2005, p. 165).
Note que em nenhuma das amostras foi possível perceber a real distribuição
das cores de asdruborrinos na amostra. Pense comigo, o que você aprendeu neste
exemplo?
você é capaz de intuitivamente perceber duas coisas que nos ensina a estatís-
tica:
Quanto maior a amostra analisada tanto mais seu comportamento estará correlacio- �
nado com o da população completa (AJENEYE, 2006, p.988).
Devemos considerar que a forma como escolhemos os elementos da amostra pode �
3 Esta imagem foi gerada por uma aplicação on-line chamada Candies (http://lstat.kuleuven.be/env2exp/intro/index.html) que faz parte da
coleção de applets (programas Java que rodam no navegador) do catálogo env2exp – environments to experiment (ambientes de experimen-
tação).
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afetar na correlação entre a amostra e a população.
Em relação à forma como os elementos da amostra são escolhidos, deve-se
considerar que nem sempre os indivíduos estão uniformemente distribuídos por toda
a amostra. veja, por exemplo, na Figura 7 que na parte norte (parte superior da figu-
ra) estão mais concentrados asdruborrinos vermelhos, enquanto na parte sul (parte
inferior da figura) estão os azuis. Diversos fatores podem causar uma distribuição não
homogênea, que variam em cada tipo de pesquisa. Por exemplo, pode ser que o norte
tenha clima mais quente que o sul e que os asdruborrinos vermelhos prefiram o norte,
enquanto os azuis o sul. Uma seleção aleatória de indivíduos, em geral, produz uma
melhor correlação da distribuição da amostra em relação à distribuição da população,
mas nem sempre isto é um aspecto imperativo. veja uma discussão a respeito no livro
de Cláudio de Moura Castro (2006).
Com esta observação sobre o tamanho da amostra você pode inferir porque
cada vez mais empresas dão importância a um registro histórico de seus dados, para
utilizá-los em projeções futuras. Existe até mesmo uma área da computação, conhe-
cida como datawarehousing que se dedica a este assunto. Mas isto não está limitado
a empresas: economistas registram dados econômicos históricos, diariamente são
catalogados milhões de registros dos mais variados fenômenos naturais, vão até os
pólos na busca de dados climatógicos de milhões de anos atrás. você já se perguntou
por que isso? Por que os seres humanos se tornaram ávidos colecionadores de tantos
dados? A primeira resposta que me vem à mente é: reconhecer melhor padrões de
comportamento e fazer previsões mais precisas.
Se você assistiu ao filme intitulado “O Dia Depois de Amanhã”4, viu um clássi-
co exemplo do que eu acabei de mencionar. Um cientista paleoclimático (que estuda
fenômenos climáticos pré-históricos) reconheceu um padrão de comportamento do
clima da terra nos últimos milhões de anos que, somado a acontecimentos recentes,
levou à previsão de uma nova era glacial na terra. Recomendo que você assista e pres-
te atenção na coleta de amostras feita no início que são a chave para o estudo de
climas pré-históricos.
SÍNTESE
Tratamos aqui de duas questões fundamentais relacionadas ao levantamento e
seleção de dados: a questão das variáveis e aspectos relacionados à seleção da amos-
tra (tamanho e distribuição). Diversos outros textos neste curso remeterão aos aspec-
tos aqui apresentados, você verá que a qualidade dos dados é fundamental para que
se obtenha sucesso em uma pesquisa.
QuESTÃo PArA rEFLEXÃo
Uma parte da pesquisa de campo é definir as variáveis e as características da
amostra. Este é um bom momento para você fazê-lo.
4 Original em inglês “The Day After Tomorrow”. veja detalhes sobre o filme nos sites: http://www.foxhome.com/dayaftertomorrow/ e http://
www.imdb.com/title/tt0319262/.
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LEiTurAS iNDiCADAS
Existem técnicas estatísticas para se definir tamanhos de amostra a depender
do nível de confiança que se deseja no resultado. Este tema não será detalhado nes-
te curso, mas você encontrará mais detalhes relacionados ao tamanho da amostra e
como calculá-lo no livro de Mario F. Triola (2008, p. 250).
SiTES iNDiCADoS
Sample Size Calculator - Este site possui um programa que, baseado em téc-
nicas estatísticas, calcula o tamanho da amostra automaticamente. Para usá-la, você
precisará de mais conhecimentos de estatística do que aqueles que obteve aqui. Para
obtê-los veja a leitura de Mario F. Triola (2008, p. 250) indicada no tópico anterior. Ape-
sar de estar em inglês, você pode ativar à esquerda dele um tradutor do Google.
http://www.surveysystem.com/sscalc.htm
rEFErÊNCiAS
AJENEYE, Francis. Power and sample size estimation in research. The biomedical scientist. Novembro,
2006. on-line: http://www.ibms.org/pdf/bs_articles_2006/power_sample_size_nov06.pdf. Acessado
em julho de 2008.
CASTRO, Cláudio de Moura. A prática da pesquisa. 2. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2006.
JARRARD, Richard D. Scientific Methods. 2001. Disponível em: https://webct.utah.edu/webct/Relative-
ResourceManager/288712009021/Public%20Files/sm/sm0.htm. Acesso em julho de 2008.
MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Fundamentos de metodologia científica. 6. ed.
São Paulo: Atlas, 2005.
TRIOLA, Mario F. Introdução à estatística. 10. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2008.
THURSTONE, Louis Leon. The fundamentals of statistics. New York: Macmillan Co., 1925.
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CONSTRUÇÃO DE UM MODELO TEÓRICO
Autores: André Santanchè e Maria Luiza Coutinho Seixas
Em etapas anteriores você coletou dados, fez uma revisão de trabalhos relacio-
nados e formulou um problema. Agora chega o momento chave, em que você deve
propor um modelo teórico que será a chave da solução do problema formulado. Este
é um processo que envolve uma combinação de criatividade, trabalho meticuloso e
rigor em algumas partes. Para entender como acontece a construção de um modelo
teórico, vamos utilizar um exemplo na área industrial. Apesar deste exemplo não po-
der ser considerado ciência num senso estrito, ele está sendo utilizado como recurso
pedagógico por envolver a aplicação de aspectos do método científico.
ARMAzENANDO O MÍNIMO
Qualquer empresa que mantém um estoque de produtos, para produção ou venda, compartilha
o problema de decidir a quantidade que deve ter disponível em estoque de cada produto. Manter
um estoque excessivo significa: desperdiçar espaço, investimento desnecessário de capital e
aumentar a depreciação média dos produtos. Por outro lado, manter um estoque insuficiente
significa principalmente a possibilidade de não atender à demanda dos clientes. Ambos os
extremos são igualmente indesejáveis, por isso a grande questão é: como alcançar o equilíbrio?
A solução desta questão pode não ser trivial e envolve uma meticulosa observação, registro e
análise de como se comporta a produção na empresa, a relação com os fornecedores e o processo
de vendas. Por este motivo, eu acho que a melhor maneira para entender esta questão é através de
um desafio.
A seguir lançaremos um desafio para você. Recomendamos fortemente que você tente resolver
o desafio antes de prosseguir adiante na leitura. Depois do desafio descreveremos a sua solução,
porque ela será necessária para você entender como se constrói um modelo teórico.
A ciência é um desafio para a nossa mente. Existe uma especial satisfação em descobrir por
si mesmo padrões por trás das observações, em usar a lógica para desvendar o mundo e em
constatar a aplicação prática do conhecimento que produzimos (não é à toa que o famoso
Sherlock Holmes faz uso de instrumentos comuns à ciência para desvendar casos misteriosos).
Para isso, não são necessárias grandes descobertas científicas. Se pudermos fazer uma empresa
funcionar melhor já é uma grande satisfação.
você pode se sentir tentado a pular do desafio imediatamente para a solução, mas irá perder a
oportunidade de experimentar por si mesmo, ainda que em pequena escala, o que acabamos
de descrever. Nosso objetivo é que você se defronte com os principais aspectos relacionados à
construção de um modelo teórico, para que depois possamos partir da prática para a teoria. Por
isso nós lhe pedimos que resista à tentação e só prossiga na leitura depois que resolver por si
mesmo o desafio.
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PADRõES DE COMPORTAMENTO E PREVISõES
Encontrar padrões de comportamento a fim de prever comportamentos futu-
ros faz parte da essência da metodologia científica. Note que apesar de a ciência siste-
matizar esta prática, ela não é uma exclusividade da mesma. Mais do que isso, todo o
comportamento humano e de qualquer ser vivo do planeta depende da previsibilida-
de. Pense comigo o seguinte: você observa, desde que nasceu, uma tendência que as
coisas mais pesadas que o ar têm de serem atraídas ao chão; esta tendência se aplica
também a você. Então você formulou na sua mente a seguinte previsão: dado um dia
qualquer no futuro, se você pular de cima de uma cadeira, você cairá em direção ao
chão. É uma previsão tão segura que o seu próprio organismo é construído baseado
nestas previsões. O seu aparelho locomotor, por exemplo, é todo construído baseado
no pressuposto da existência da força que te atrai para o chão. Seu aparelho digestivo
é construído baseado na previsibilidade da interação dos componentes químicos. En-
tão observe que a previsibilidade é tão importante que se ela não fosse possível você
simplesmente não existiria.
E onde entra a ciência neste contexto? Ela tem a tarefa de perceber tais padrões
de comportamento, de formalizá-los em modelos e de testar sua validade, provando a
sua capacidade de prever comportamentos futuros.
Pense sobre isso. O que é que as ciências que você conhece tentam fazer o tem-
po todo (a física, a química, a biologia, as ciências sociais e econômicas)? Não tentam
criar modelos para prever a posição de um objeto lançado, como irão interagir dois
componentes químicos, como se comportará um organismo vivo, ou uma sociedade?
É claro que a depender do problema em questão o modelo pode ser mais ou menos
complexo e as previsões mais ou menos precisas.
vamos introduzir algumas noções relacionadas à construção do modelo teórico
sintetizando a questão da seguinte maneira: reconhecer padrões de comportamento
permite estimar comportamentos futuros. É fácil entender esta afirmação a partir de
alguns exemplos simples. Na Figura 2 é apresentada uma sequência de formas geo-
métricas1.
Figura 1. Início de uma seqüencia que segue um padrão de comportamento.
Considerando que existe um padrão de comportamento, você pode deduzir
quais as formas que ocupam os espaços numerados de 6 a 16?
Esta é uma tarefa que seu cérebro consegue fazer rapidamente e o resultado é
apresentado na Figura 2.
1 Esta é uma tela e as três subseqüentes são capturadas da atividade interativa Pattern Generator (Gerador de Padrões) da SHODOR Interactive
(http://www.shodor.org/interactivate/activities/PatternGenerator/).
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Figura 2. Sequência completa que segue um padrão de comportamento.
A fim de enfatizar a capacidade singular do cérebro humano, vamos tornar a
sequência um pouco mais complexa. veja a Figura 3 e tente deduzir as figuras que
ocupam os espaços numerados de 8 a 15.
Figura 3. Início de uma seqüencia mais avançada que segue um padrão de comportamento.
você vai provavelmente deduzir a sequência que está ilustrada na Figura 4.
Figura 4. Seqüência completa mais avançada que segue um padrão de comportamento.
Na sua mente você conseguiu perceber um padrão de comportamento e, a par-
tir dele, prever ou estimar os elementos que ocupam os espaços vazios. O diagrama da
Figura 5 ilustra de forma simplificada a sequência de eventos que se passaram na sua
mente nesta tarefa.
Generalização Previsãorepete-se
Figura 5. Diagrama ilustrando a seqüencia mental do reconhecimento de um padrão.
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Primeiro você tenta formar na sua mente um modelo abstrato que generalize
o comportamento do que você observou. Em seguida você o aplica na previsão das
unidades que não aparecem na figura. Essa seqüência é uma síntese simplificada do
que denominamos construção do modelo teórico.
Nas seções seguintes, vamos analisar etapas parciais desta construção, primeiro
apresentando a síntese como processo de generalização que produz hipóteses, em
seguida, veremos como as hipóteses são usadas para a previsão de comportamentos
futuros. Na Figura 6 é apresentado um mapa conceitual que guiará o detalhamento
que faremos a seguir.
Figura 6. Mapa conceitual de Construção do Modelo Teórico.
SÍNTESE
A construção do modelo teórico está no núcleo da metodologia científica. Es-
sencialmente um modelo teórico consiste em uma generalização concebida a partir
da percepção de padrões de comportamento. Tal generalização é posteriormente a
chave para a previsão de comportamentos futuros.
Neste ponto você já deve ter tentado resolver ou já resolveu o problema do
estoque mínimo. Nos tópicos a seguir trabalharemos na solução deste problema mos-
trando como a síntese, as hipóteses e a previsão atuam neste contexto.
SiTES iNDiCADoS
Shodor Interactive
http://www.shodor.org/interactivate/
Os exemplos iniciais de reconhecimento de padrões utilizaram o Pattern Generator
(Gerador de Padrões) da SHODOR Interactive. (http://www.shodor.org/interactivate/
activities/PatternGenerator/).
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SÍNTESE – GALILEU E O PLANO INCLINADO
Autor: André Santanchè
Muito bem. Já lhe apresentamos a noção de síntese. vamos agora trabalhar esta
noção com exemplos mais específicos aplicados à ciência, começando com um exem-
plo clássico da física.
Para isso vamos nos transportar para o tempo de Galileu Galilei e nos colocar
em seu lugar, ao observar e tentar entender a lógica por detrás dos objetos que inva-
riavelmente caem em direção ao solo. O objetivo não é replicar exatamente o racio-
cínio de Galileu, mas deixar temporariamente para trás os conhecimentos que temos
hoje sobre a ação da gravidade sobre os corpos, e tentar reconstruí-los com os co-
nhecimentos disponíveis na época de Galileu. A nossa vantagem será dispor de um
grande aparato tecnológico que Galileu não dispunha em seu tempo.
GALILEU
Deixe-me lhe situar no tempo
e no espaço. Galileu nasceu em
1564 em Pisa (ANDERY, 2004)
e foi uma figura central na
revolução científica do século 17
(MACHAMER, 2008). Dentre os
seus experimentos e estudos, ele
se interessou pelo movimento dos
corpos em queda livre e escreveu
um manuscrito intitulado De Motu
(Do Movimento)1. Isso ocorreu
quase um século antes de Isaac
Newton formular o princípio
da gravitação universal, em sua
clássica publicação chamada
Principia (Princípios) (ANDERY,
2004), na qual mudou a história da
ciência e da física trazendo uma
visão unificada para a força que
rege o movimento dos astros e
ao mesmo tempo faz os objetos
caírem: a gravidade.
Galileo Galilei florentino por Ottavio Leoni (1578-1630)
Fonte: Wikimedia Commons
1 veja uma bela versão digitalizada deste manuscrito na biblioteca digital do Istituto e Museo di Storia della Scienza: http://fermi.imss.fi.it/rd/
bdv?/bdviewer/bid=354789.
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Então estamos fazendo parte de um tempo em que a natureza desta força que
atrai corpos para o solo ainda é pouco conhecida. Nosso trabalho será observar os
corpos que caem na busca de padrões de comportamento, tal como fizemos com o
problema do estoque mínimo. vamos iniciar relembrando o nosso problema formula-
do anteriormente:
Considerando que eu solte um corpo qualquer em queda livre em uma altura A, quanto
tempo ele leva para chegar na altura B?
Galileu não tinha em sua época um ferramental tão sofisticado quanto o que
temos agora e que utilizaremos neste estudo. Por esse motivo, ele teve que fazer uso
de técnicas criativas para superar estes obstáculos. Nós também vamos utilizar a cria-
tividade para registrar observações de movimento em queda livre utilizando equipa-
mentos domésticos, de tal maneira que você possa reproduzi-los em casa se quiser.
Uma forma bastante interessante de observar o comportamento de um corpo
em queda livre é através do registro das posições de um objeto solto em queda livre à
medida que o tempo varia. O problema que temos que resolver é que este objeto cai
em uma velocidade muito alta, o que dificulta tal registro. A depender da altura o obje-
to chega ao solo em menos de um segundo. Foi por este motivo que Galileu desenvol-
veu uma técnica engenhosa para medir este aceleração utilizando planos inclinados.
Antes de seguir adiante, recomendamos que você perca algum tempo conhecendo
um pouco mais sobre Galileu e especialmente seus experimentos em torno do plano
inclinado. Fizemos uma seleção de museus, animações multimídia e vídeos para você ver. É
importante ressaltar que esta é uma atividade bastante recomendada, mas não obrigatória,
dado que a maioria dos recursos está em inglês ou italiano.
Poeira das Estrelas – Parte 02
http://br.youtube.com/watch?v=LkYrmgkJp5c
Neste episódio da série Poeira nas Estrelas programa Fantástico da Rede Globo é
apresentado Galileu em seu contexto histórico e ideológico. O programa apresenta como
algumas idéias de Galileu se opuseram às idéias estabelecidas de Aristóteles. Este vídeo
é excelente para contextualizar Galileu e suas idéias dentro do seu tempo. Ele também
apresenta a experiência de queda-livre feita por Galileu que detalharei neste material.
Galileo Portal
http://brunelleschi.imss.fi.it/portalegalileo/
Fonte de referência riquíssima sobre Galileu organizada pelo Institute and Museum of the
History of Science em Florença – Itália. Inclui acesso a uma biblioteca digital com cópias
digitalizadas completas das obras de Galileu.
The Galileo Project
http://galileo.rice.edu
Projeto mantido pela Rice University no Texas – EUA, reúne uma grande variedade de
recursos multimídia sobre Galileu.
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Galileo Galilei’s Notes on Motion
http://www.imss.fi.it/ms72/
Digitalização de notas sobre estudos de movimento (Notes on Motion) feitos por Galileu.
Excelente sistema de navegação que permite visualizar as páginas em diferentes resoluções.
Galileu e o Plano Inclinado
Galileo’s Inclined Plane
http://www.teachersdomain.org/resources/phy03/sci/phys/mfw/galileoplane/
Dentre os vídeos sobre plano inclinado que assisti este é o melhor e mais completo, mas
você precisa saber inglês para assisti-lo. Há uma opção de ativação de legendas em inglês.
From Aristotle to Galileo
http://www.teachertube.com/view_video.php?viewkey=10da82c15dca2f86a138
Apresenta o método experimental de Galileu como uma oposição às idéias de Aristóteles
(não testadas experimentalmente). Apresenta e equaciona de forma muito didática o
experimento do plano inclinado. Este é o vídeo que apresenta melhor a equação de
velocidade x tempo alcançada por Galileu.
The Experiment Group’s Exciting Experiments
Grupo que reproduz alguns experimentos feitos por Galileu relacionados a movimento dos
corpos. O grupo detalha como os experimentos foram construídos, como os dados foram
coletados e as conclusões alcançadas. Este relato aparece como parte do portal Galileo
Project.
http://galileo.rice.edu/lib/student_work/experiment95/
Visita virtual ao Istituto e Museo di Storia della Scienza
Este museu apresenta experimentos que permitem alcançar as mesmas conclusões de
Galileu em seus experimentos. Dentre eles está um interessante plano inclinado com sinos
(será comentado adiante) em:
http://brunelleschi.imss.fi.it/museum/esim.asp?c=404013
http://brunelleschi.imss.fi.it/museum/esim.asp?c=100198
Além disso, há alguns vídeos sobre o tema com links para peças da exposição relacionadas:
Galileo and the science of motion (Galileu e a ciência do movimento)
http://brunelleschi.imss.fi.it/museum/esim.asp?c=500012
Law of free-falling bodies (Lei dos corpos em queda livre)
http://brunelleschi.imss.fi.it/museum/esim.asp?c=500065
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REPRODUzINDO O EXPERIMENTO DE GALILEU
Neste nosso estudo reproduziremos o experimento de Galileu de forma mais
simplificada e utilizando material caseiro, de modo que você possa realizá-lo em casa,
se quiser. O experimento consiste em fazer uma bola rolar por um plano inclinado e
medir o seu deslocamento conforme o tempo varia. Como está ilustrado na Figura 1,
foi utilizada uma tábua de cozinha como plano inclinado e uma bola de frescobol. Um
livro não muito espesso foi utilizado como suporte para inclinar o plano e uma régua
foi utilizada para permitir medições de posição. O experimento foi registrado por uma
webcam e você pode assisti-lo no ambiente virtual de aprendizagem.
Figura 1. Fotografia de uma tela do experimento do plano inclinado.
A webcam permite registrar posições consecutivas da bola em intervalos de
tempo aproximadamente regulares. É importante que você perceba que este experi-
mento tem propósitos pedagógicos e é apenas uma ilustração, portanto, os seguintes
aspectos irão afetar a precisão dos dados coletados:
A webcam não é um equipamento com precisão adequada para um experimento mais �
apurado. Ela não garante que a captura dos quadros será em intervalos regulares.
A tábua de cozinha possui imperfeições que provocam uma descida irregular da �
bola.
A bola de frescobol é bastante irregular. �
Estamos chamando a sua atenção para este fato, pois tais fatores irão causar al-
gumas irregularidades nos resultados observados. Em um experimento mais apurado
todos estes fatores podem ser minimizados (nunca eliminados). De qualquer modo, as
irregularidades não invalidam o procedimento que pretendo lhe mostrar.
Como já foi feito no caso anterior do estoque mínimo, nosso objetivo nesta
etapa é sair à procura de padrões de comportamento. vamos realizar isto em partes e,
nesta primeira parte, vamos responder a seguinte pergunta: o tempo que a bola leva
para descer a ladeira é regular?
Para responder esta pergunta deixamos a bola rolar quatorze vezes pelo plano
e medimos seu tempo. Os resultados obtidos estão apresentados na Figura 2. Note
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que nos adiantamos e colocamos ao lado dos dados coletados o gráfico, de modo que
você possa observar o padrão de comportamento. Utilizaremos esta prática daqui por
diante.
número do experimento
tempo (seg.)
1 2,32 2,23 2,14 2,25 2,36 2,27 2,18 2,39 2,3
10 2,311 2,312 2,113 2,114 2,1
média 2,2
1,51,61,71,81,92,02,12,22,32,42,52,62,72,82,93,0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14
tem
po to
tal d
e de
scid
a (s
eg.)
número do experimento
Tempo de descida no plano inclinado
Figura 2. Dados de tempo de descida registrados no experimento do plano inclinado.
Note que, mesmo com as imprecisões causadas pelas condições em que foi fei-
to o experimento, observa-se um padrão de comportamento no tempo de descida,
que é em média 2,2 segundos de descida e varia no máximo de 0,1 segundo para mais
ou menos. Deste modo, podemos concluir que o tempo de descida se comporta em
um padrão estável e suscetível a previsões.
Muito bem, mas pretendemos alcançar mais do que isso. Precisamos estabele-
cer como um corpo se desloca em função do tempo. Se você assistiu ao vídeo percebeu
que o corpo iniciou parado e gradativamente foi se deslocando mais rápido. A Figura
3 apresenta uma seqüência de quadros capturados pela webcam no experimento do
plano inclinado. O tempo transcorrido entre um quadro e outro é aproximadamente
o mesmo. você percebe intuitivamente que a variação de deslocamento vai aumen-
tando, mesmo se o tempo entre um quadro e outro é aproximadamente o mesmo. A
questão é: de quanto é este aumento?
Figura 3. Seqüencia de imagens capturadas do experimento do plano inclinado.
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Para tentar descobrir um padrão de comportamento no aumento da veloci-
dade da bola, vamos tabular os dados e analisá-los mais detalhadamente. A Figura 4
apresenta as mesmas imagens da Figura 3 sobrepostas por um registro das posições
da bola em cada um dos quadros (visite a esfera Laboratório Mundo no ambiente vir-
tual de aprendizagem, em que estão disponíveis imagens de maior resolução e dados
mais detalhados deste experimento).
Figura 4.Registro das posições da bola em intervalos de tempo regulares.
Os dados registrados da Figura 4 foram tabulados em uma planilha apresenta-
da na Figura 5. Na coluna com o título “tempo (ut)” está registrado o tempo. Na coluna
“posição (uda)” está registrada a posição verificada na régua.
Se você observar na tabela, não utilizamos medidas convencionais (tais como segundos e
centímetros) para medir o tempo e a posição. Ao contrário, usamos duas medidas chamadas
ut (unidade de tempo) e ud (unidade de deslocamento). Inventamos estas unidades de
medida para este exemplo e elas têm o propósito de simplificar a explicação. Se você está
curioso para saber quais são estas medidas:
1 ut = 65 milisegundos (tempo entre cada quadro da webcam) �
1 ud � a = 1 cm
Ou seja, a distância de tempo entre cada quadro da captura corresponde a um ut. Quanto
a unidade ud, ela é como se fosse uma escala. Nesse caso, a escala é simples um uda
corresponde exatamente a um centímetro. Daqui para adiante, utilizaremos a letra subscrita
depois de ud para diferenciar as diferentes escalas.
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tempo (ut)
posição (uda)
0 01 1,52 4,93 9,34 15,85 25,3
Observado
0
5
10
15
20
25
30
1 2 3 4 5 6
Posi
ção
(ud)
Tempo (ut)
Posição × tempo no plano inclinado
Observado
Figura 5. Posição da bola de frescobol no plano inclinado em função do tempo.
O reconhecimento deste padrão é um pouco mais desafiador do que os ante-
riores. Não se trata apenas de reconhecer uma média de comportamento, mas uma
relação entre duas variáveis. você se lembra da nossa discussão tratada no capítulo
Coleta e Seleção de Dados, em que Thurstone (1925, p. 187) define problemas cien-
tíficos como uma busca de relações entre variáveis? Pois bem, é exatamente isto que
estamos tentando fazer aqui.
Não existe um método padronizado para reconhecer um padrão de compor-
tamento. vários fatores estão envolvidos neste processo, tais como, uma observação
meticulosa dos dados, criatividade na concepção de modelos e experiência baseada
em casos anteriores analisados. Outro aspecto importante, que não está sendo con-
templado neste material por questões didáticas, é que geralmente uma observação é
repetida várias vezes em condições diferentes a fim de se perceber um padrão entre
as diferentes observações.
O EXPERIMENTO DA QUEDA LIVRE
Para enriquecer a nossa análise, vamos inserir um segundo exemplo. Desta vez
utilizaremos recursos que vão um pouco além da época de Galileu, utilizando a web-
cam para capturar o deslocamento de uma bola de papel em queda livre. A Figura 6
ilustra as imagens desta captura.
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Figura 6. Seqüência de imagens de uma bola de papel em queda livre.
Mais uma vez é possível observar um efeito semelhante à sequência anterior: a
bola de papel cai cada vez mais rápida à medida que o tempo passa.
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Figura 7. Registro das posições da bola em queda livre em intervalos de tempo regulares.
Os dados da Figura 7 foram tabulados e estão apresentados na Figura 8. Na
coluna posição está registrada a posição vertical da bola. Considere que a posição ini-
cial onde a bola foi solta é a posição zero e esta posição aumenta à medida que ela se
aproxima do chão. O tempo também foi registrado na medida ut, equivalente àquela
do plano inclinado. A posição foi registrada em udb. Como a escala utilizada aqui foi
diferente, neste caso:
1 ud � b = 2,3 cm
tempo (ut)
posição (udb)
0 0,01 1,72 4,13 8,84 15,05 24,26 36,5
Observado
0,0
5,0
10,0
15,0
20,0
25,0
30,0
35,0
40,0
1 2 3 4 5 6 7
posi
ção
(ud)
tempo (ut)
Posição × tempo na queda livre
Observado
Figura 8. Posição da bola de papel em função do tempo.
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Com estes dados já é possível tirarmos algumas conclusões. Observe a tabela a
seguir e compare os valores de posição obtidos no experimento do plano inclinado e
da queda livre. Note como os valores se aproximam.
Plano Inclinado Queda Livre
tempo (ut) posição (uda) posição (udb)
0 0,0 0,0
1 1,5 1,7
2 4,9 4,1
3 9,3 8,8
4 15,8 15,0
5 25,3 24,2
É importante notar que as unidades de medida de posição (uda e udb) usadas
foram diferentes nos dois experimentos, ou seja, trabalhamos com escalas diferentes
em cada um dos casos. Isso foi feito de propósito, pois como a bola de papel em queda
livre cai mais rápido que a bola de frescobol desce no plano inclinado, usando escalas
diferentes podemos verificar a mesma variação de deslocamento.
O PAPEL DA ESCALA
você deve entender o papel que cumpre a escala nestes nossos experimentos.
A escala é um recurso freqüentemente utilizado por cartógrafos, arquitetos e engenheiros
para representar mapas e plantas que não podem ser representadas no tamanho real. Desse
modo, eles utilizam um artifício equivalente ao que utilizamos aqui, definindo que uma
unidade na planta ou mapa corresponde a X metros ou quilômetros na situação real.
O recurso da escala não altera os resultados obtidos, ela apenas permite ver os resultados
em uma perspectiva diferente. Por exemplo, no caso da queda livre utilizamos uma escala
1 udb = 2,3 cm. A Figura 11 ilustra o efeito da escala sobre o resultado. Ela causa um efeito
de diminuição do tamanho. É como se nos afastássemos da imagem e a víssemos menor do
que é.
Figura 11. Sequência de imagens da queda livre em escalas diferentes.
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O mesmo resultado aferido por escalas diferentes no espaço também vale para diferentes
escalas no tempo.
Mas é muito importante que você perceba que, neste caso, o uso de diferentes escalas não
afeta o padrão de comportamento que pretendemos observar.
Os resultados traçados nos gráficos dos dois experimentos produziram curvas
semelhantes, o que nos leva a pensar em um mesmo padrão de comportamento.
É importante que você note que organizamos este experimento de tal forma a
conduzi-lo naturalmente a observar os padrões de comportamento que regem o mo-
vimento dos corpos em queda livre. Do modo que organizamos, pode parecer simples
o processo de observar um fenômeno natural e extrair dele um padrão de comporta-
mento. Tal como acontece com os melhores trabalhos científicos, Galileu gastou anos
da sua vida em um longo processo de observação, experimentação e registro, para
alcançar os resultados que agora reproduzimos. Alguns de seus experimentos e con-
clusões se opunham a ideias de Aristóteles (MACHAMER, 2008) que viveu quase dois
mil anos antes de Galileu.
A chave da questão para perceber o padrão de comportamento é perceber que
existe uma relação direta entre a variação do tempo e o aumento na velocidade que
o corpo desce o plano inclinado, ou cai em queda livre, ou seja, estamos procurando
uma relação entre uma variável independente (tempo) e uma variável dependente
(posição).
Repetiremos os valores da Figura 5 com um ajuste para facilitar a sua observa-
ção: vou arredondar os valores.
Tempo Posição0 01 12 53 94 165 25
Destes valores, o único que ficou fora do padrão com os erros resultantes das
imperfeições da captura e com o arredondamento foi a posição relativa ao tempo dois.
Não queremos alterar os dados originais que coletamos (um pesquisador nunca deve
fazer isso), mas pedimos para você imaginar que esse número é o quatro, ao invés do
cinco. Agora pedimos que você dê uma boa olhada nestes números e nas curvas da
Figura 5 e da Figura 8 (você já viu alguma curva parecida com estas na escola?). Ten-
te identificar por conta própria uma relação entre os valores antes de seguir adiante
neste texto.
INDUzINDO UM MODELO GENÉRICO
Talvez você tenha percebido por conta própria o que Galileu percebeu há mais
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de quatro séculos atrás: a posição aumenta na proporção do quadrado do tempo. va-
mos rever os números apresentados anteriormente:
você deve estar se perguntando como concluiria isso com o cinco (aproxima-
ção de 4,9) no lugar do quatro. Se você se recorda do exemplo dos asdruborrinos no
capítulo de Coleta e Seleção de Dados, então deve estar lembrando da relação que
fizemos do tamanho da amostra com a precisão dos dados. O mesmo acontece neste
caso. Se aumentássemos o número de observações o valor de aproximaria de quatro.
Usualmente trabalhamos com médias de valores de várias observações e não fizemos
isso aqui para simplificar a explicação.
Observe agora o gráfico da Figura 9 onde confrontamos as posições observa-
das e calculadas usando o quadrado do tempo. veja como os gráficos se aproximam e
como alcançamos a percepção de um padrão.
Calculadotempo
(ut)posição
(uda) tempo2
0 0 01 1,5 12 4,9 43 9,3 94 15,8 165 25,3 25
Observado
0
5
10
15
20
25
30
1 2 3 4 5 6
Posi
ção
(ud)
Tempo (ut)
Posição × tempo no plano inclinado
Observado
Calculado
Figura 9. Posição observada x calculada da bola de frescobol no plano inclinado em função do tempo.
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Observaremos como a posição também varia em função do quadrado do tem-
po na queda livre:
veja graficamente na Figura 10 como a curva calculada se aproxima da observa-
da no caso da bola de papel em queda livre.
Calculadotempo
(ut)posição
(udb) tempo2
0 0,0 01 1,7 12 4,1 43 8,8 94 15,0 165 24,2 256 36,5 36
Observado
0,0
5,0
10,0
15,0
20,0
25,0
30,0
35,0
40,0
1 2 3 4 5 6 7
posi
ção
(ud)
tempo (ut)
Posição × tempo na queda livre
Observado
Calculado
Figura 10. Posição observada x calculada da bola de papel em função do tempo.
Então note que, tal como Galileu já havia observado, a posição varia proporcio-
nalmente ao quadrado do tempo.
Tal como fizemos no problema anterior do estoque mínimo, usando a síntese
vou partir de observações específicas e propor uma hipótese. Esta hipótese tem o for-
mato da seguinte proporção:
posição ~ tempo2
O símbolo de ~ indica proporcional, ou seja, indica que a posição é proporcio-
nal ao quadrado do tempo.
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Mas, por que não dizemos que a posição é igual ao quadrado do tempo?
Como mencionamos anteriormente, ao invés de medir o tempo em uma medi-
da convencional usamos a medida ut. A distância também foi medida em ud. Fizemos
isso de propósito para trabalhar com escalas diferentes e para facilitar a percepção de
um padrão. Usando nossas medidas adaptadas, o tempo ao quadrado, sem nenhum
cálculo adicional, resulta na posição. Mas é muito importante ressaltar que, se não ti-
véssemos adaptado as escalas, o cálculo não seria tão direto assim. Isso se deve ao fato
de que a posição – em uma escala qualquer – não é sempre exatamente o quadrado
do tempo – em uma escala qualquer.
Para resolvermos as diferenças de escala podemos utilizar uma constante as-
sim:
posição = constante x tempo2
Esta constante ajusta as diferenças de escala entre a posição e o tempo. Não va-
mos trabalhar com esta versão porque não estamos interessados em cálculos precisos
de física, mas apenas em conceitos.
Para o nosso trabalho neste curso vamos dispensar a constante e considerar
que ajustaremos o tempo e a posição para escalas que a tornem desnecessária (como
fizemos nos exemplos). Deste modo a nossa hipótese será simplificada da seguinte
maneira:
posição = tempo2
Note que fazendo isso não estamos alterando os fatos reais. Apenas os observa-
remos na escala que nos parecer mais adequada.
É muito importante que você entenda que esta não é uma aula de física. Não
esperamos, com o que foi apresentado, que você seja capaz de resolver problemas
de física. Esperamos que ao final desta apresentação você seja capaz de compreen-
der como, a partir de observações individuais, Galileu formulou uma relação genérica
entre o tempo e o deslocamento entre os corpos. Estas fórmulas são muito usuais na
ciência porque estabelecem relações entre variáveis.
Nem sempre um modelo teórico ou hipótese tem a forma de uma fórmula. Por
exemplo, quando Charles Darwin propôs seu modelo de evolução baseado na seleção
natural ele não utilizou uma fórmula.
Nesta hipótese estamos tirando conclusões baseadas em um conjunto bastante
limitado de dados. Adotamos um conjunto limitado para simplificar o exemplo, já que
o nosso enfoque é no aprendizado do processo e não tanto na precisão do modelo.
O modelo poderia ser mais preciso se tivéssemos um número maior de observações.
você será apresentado a esta questão no capítulo de Coleta e Seleção de Dados. De
qualquer modo, esse é apenas o primeiro estágio. Nos próximos estágios nossa hipó-
tese passará por testes para verificar a sua validade.
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SÍNTESE
Seguindo a rota de Galileu no seu experimento com o plano inclinado, foi pos-
sível perceber o papel da síntese no método científico. A partir do registro minucioso
de dados e de sua análise percebemos um padrão de comportamento na forma como
a bola de frescobol e a bola de papel se deslocam com o tempo, e estabelecemos uma
hipótese para descrever a relação entre a variável tempo e posição.
A esta altura você já teve condições de compreender como funciona a síntese.
No próximo tópico iremos explorar como hipóteses são utilizadas para realizar previ-
sões.
EXERCÍCIOS
Na Pesquisa de Campo existe uma etapa em que você deve, a partir de dados
coletados por questionários, estabelecer relações entre as variáveis analisadas. Este é
um bom momento para você aplicar o que aprendeu aqui.
SiTES iNDiCADoS
Teachers’ Domain
http://www.teachersdomain.org
Reúne uma grande variedade de recursos multimídia para suporte a atividades em
sala de aula. Aqui está disponível um excelente vídeo mostrando o experimento do
plano inclinado de Galileu Galilei em http://www.teachersdomain.org/resources/
phy03/sci/phys/mfw/galileoplane/
rEFErÊNCiAS
MACHAMER, Peter. Galileo Galilei (Summer 2008 Edition), Edward N. zalta (ed.), Disponível em: http://
plato.stanford.edu/archives/sum2008/entries/galileo/
THURSTONE, Louis Leon. The fundamentals of statistics. New York: Macmillan Co., 1925.
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CONSTRUÇÃO DO MODELO TEÓRICO – PRE-VISõES
Autor: André Santanchè
As hipóteses do nosso modelo teórico devem ser capazes de prever algum tipo
de resultado que seja passível de teste. Como utilizamos as hipóteses para realizar
previsões? Em geral deduzindo as conseqüências da aplicação da hipótese em um
caso específico.
Este processo de construção de hipóteses e dedução de conseqüências da apli-
cação da hipótese
Desafio de Dedução: vAMU na “Casa do Chapéu”
Antes de prosseguir adiante, recomendo que faça uma pausa para tentar resolver o Desafio
de Dedução. Trata-se de um desafio baseado em um clássico chamado Einstein Puzzle.
A realização deste desafio não é obrigatória e se por algum motivo você não o resolver, isto
não prejudicará o bom andamento do seu curso.
Entretanto, nós estamos certos de que resolver este desafio pode ser uma atividade
interessante e até divertida. você pode formar grupos com seus colegas para tentar
resolvê-lo. O desafio tem o objetivo de ilustrar de forma descontraída alguns conceitos que
trataremos a seguir.
Se você trabalhou no Desafio de Dedução foi capaz de perceber um compo-
nente essencial nesta etapa de pesquisa. Pense a respeito. Quais as habilidades mais
exigidas neste desafio? (i) você teve que ser capaz de relacionar variáveis (lembra-se
que relacionar variáveis é uma forma de encarar problemas de pesquisa?); (ii) você
teve que deduzir fatos a partir de evidências encontradas. Deduzir fatos a partir de
evidências é justamente o que vamos tratar agora.
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A dedução pode ser compreendida como um processo que funciona de forma
complementar à síntese. O dicionário Houaiss (2006) traz a seguinte definição de de-
dução:
[...] processo de raciocínio através do qual é possível, partindo de
uma ou mais premissas aceitas como verdadeiras (p.ex., A é igual
a B e B é igual a C) a obtenção de uma conclusão necessária e
evidente (no ex. anterior, A é igual a C).
Desse modo, a dedução é um processo da lógica. Ela pressupõe a existência de
premissas verdadeiras para, a partir delas, alcançar uma conclusão. Leia as seguintes
declarações:
Todos os vegetais precisam de água para crescer.
A alface é um vegetal.
O que você consegue deduzir a partir delas? Exatamente o que você pensou:
A alface precisa de água para crescer.
No contexto do método científico utilizamos a síntese para obter um conjunto
de hipóteses. Estas hipóteses assumem um caráter genérico, tais como as premissas
apresentadas anteriormente. Ou seja, podemos considerar a premissa “Todos os vege-
tais precisam de água para crescer” como uma hipótese da nossa pesquisa. Como se
trata de uma hipótese e não uma premissa verdadeira, utilizamos a dedução não para
alcançar outra conclusão verdadeira, mas para validar a premissa (hipótese).
Por exemplo, considere a nossa hipótese “Todos os vegetais precisam de água
para crescer”. Se “o alface é um vegetal”, então eu faço uma previsão de que “o alface
precisa de água para crescer”. Ora, se por acaso eu encontrar algum alface que não
precise de água para crescer, então eu invalido a hipótese.
Por enquanto, vamos nos concentrar em estudar como utilizamos as hipóteses
para realizar as previsões. Mais adiante estudaremos a questão dos testes na seção de
Prova da Solução.
vamos retomar os exemplos trabalhados na síntese, para compreender como
uma hipótese aliada à dedução é utilizada para a previsão de novas ocorrências.
UTILIzANDO A DEDUÇÃO NO PROBLEMA DO ESTOQUE MÍ-NIMO
No tópico de síntese obtivemos a seguinte hipótese, que define como estabe-
lecer o estoque mínimo de um produto a partir do volume de vendas e tempo de
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entrega de um fornecedor:
Estoque Mínimo = Média volume vendas Diário * Média Tempo de Entrega
Esta equação foi uma generalização obtida através da análise da matéria pri-
ma Primatonina e do produto final Criptotex. Uma vez que ela assume este formato
genérico, podemos aplicar a dedução para estabelecer o estoque mínimo de outros
produtos. Por exemplo, considere os seguintes produtos:
Matéria prima Outranina média de tempo de entrega = 5 dias
Produto final Maisumtex média de volume de vendas = 20 kg/dia
Considerando a fórmula e os dados apresentados acima como premissas dedu-
zimos o estoque mínimo da Outranina da seguinte maneira1:
Estoque Mínimo Outranina = 20 kg/dia * 5 dias = 100 kg
Seguindo esta lógica utilizamos a dedução para prever o estoque mínimo de
qualquer produto com as mesmas características de produção do Criptotex usando
Primatonina.
UTILIzANDO A DEDUÇÃO NA QUEDA LIVRE
vamos agora nos deslocar para o problema do plano inclinado e da queda livre.
Como ambos os casos temos o mesmo padrão de comportamento, vamos nos con-
centrar na queda livre.
Ao final do capítulo que tratamos sobre este assunto deduzimos a seguinte hi-
pótese:
posição = tempo2
A fim de analisar como esta equação pode ser usada para deduzir a posição de
um objeto em queda livre em um certo momento do tempo, vou utilizar um software
auxiliar chamado Modellus.
1 Para fins de simplificação estamos considerando as mesmas condições do Criptotex, ou seja, cada quilo de Outranina produz um quilo de
Maisumtex e o seu tempo de produção é de uma hora.
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O Modellus é um software educacional que permite a criação interativa de modelos
matemáticos. Tais modelos podem ser usados como base para simulações. Trata-se de um
software que tem versão em português e está disponível para download no site:
http://modellus.fct.unl.pt/
Neste site você também encontrará documentação em português sobre o software.
O primeiro passo é registrar na janela de modelos a equação apresentada ante-
riormente, conforme está ilustrado na Figura 1.
Figura 1. Janela de descrição matemática do modelo no software Modellus.
A variável “t” registrada no modelo é uma variável interna do Modellus que varia
conforme o tempo passa.
O próximo passo é criar uma janela de animação, na qual iremos animar uma
bola de acordo com a equação que digitamos na janela de modelos. A Figura 2 ilustra
uma tomada mais ampla do Modellus em que está sendo apresentada a janela de mo-
delos (apresentada anteriormente), mais a janela de controle do tempo (rótulo “Con-
trolo”) e a de animação (rótulo “Animação 1”). A bola que aparece dentro da janela de
animação, representa um objeto que se deslocará de acordo com a equação da janela
de modelos. Para isso informamos ao software que a posição vertical da bola é defini-
da pela variável posição da janela de modelos. Além disso, também definimos que o
valor da posição aumenta de cima para baixo.
Figura 2. Janelas do software Modellus relacionadas com a simulação de queda livre (antes simulação).
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Na janela de controle do tempo existe um botão de execução (símbolo de clás-
sico de play), que inicia a simulação fazendo o tempo correr, a cada variação do tem-
po:
o valor do tempo (t) é aplicado na equação e é calculada a posição; �
a posição vertical da bola é atualizada conforme o valor da variável posição. �
A Figura 3 ilustra a tela do Modellus ao final da execução da simulação. Note
que a janela de controle do tempo registra o tempo=6, indicando que se passaram 6
unidades de tempo, e janela de animação registra a posição da bola em cada um dos
instantes de tempo.
Figura 3. Janelas do software Modellus relacionadas com a simulação de queda livre (depois simulação).
Para analisar o quanto esta simulação corresponde ao que foi observado no
mundo real, decidimos colocar as imagens capturadas da bola de papel em queda
livre ao lado das imagens capturadas pela nossa webcam da bola de papel em queda
livre. A Figura 4 apresenta o resultado. Note que a escala da simulação foi ajustada
para ficar compatível com a fotografia. Conforme comentado no capítulo de Síntese,
se não pudéssemos ajustar a escala internamente no Modellus, seria necessária uma
constante na equação.
Figura 4. Simulação de queda livre no Modellus ao lado de imagens reais capturadas.
Este é um exemplo prático de como utilizamos uma hipótese, que é resultante
da etapa de síntese, para fazer uma dedução. Nesse caso, deduzimos as posições em
que a bola de papel em queda livre apareceria.
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Se você é observador perceberá que não utilizamos neste caso a dedução para
prever um acontecimento que desconhecíamos. De fato, o modelo foi extraído justa-
mente deste experimento da bola de papel em queda livre. Para testarmos o verda-
deiro potencial de previsão do modelo, temos que testá-lo em outro experimento, no
qual desconheçamos, a priori, as posições do corpo em queda livre.
O EXPERIMENTO DA BOLA DE BASQUETE
Para isso utilizaremos um experimento cujo autor é MichaelMaggs (http://com-
mons.wikimedia.org/wiki/User:MichaelMaggs), que foi executado com uma bola de
basquete e está disponível na Web, mais especificamente no Wikimedia Commons, no
endereço2:
http://commons.wikimedia.org/wiki/Image:Falling_ball.jpg
Neste experimento uma bola de basquete foi solta
em queda livre e foi usada uma técnica fotografia com luz
estroboscópica. Esta é uma técnica de fotografia em que algo se
desloca num local escuro (usualmente sobre um fundo preto),
em que uma luz estroboscópica emite flashes de luz em tempos
regulares. Uma máquina fotográfica mantém o filme exposto
durante todo o processo de movimento e captura as diversas
posições do que está se deslocando, cada vez que o flash o ilumina3.
As imagens ficam sobrepostas no filme, causando um efeito que
você vê na Figura 5.
Este experimento foi realizado nas seguintes condições:
A queda durou meio segundo. �
A luz estroboscópica emitiu 20 flashes por segundo. �
O autor do experimento utilizou a mesma técnica que apre- �
sentamos no capítulo de síntese, ou seja, adotou uma esca-
la própria de medida em que cada unidade corresponde a
12mm (as medidas apresentadas na fotografia ao lado usam
esta medida).
Figura 5
3 Se você quer ver um vídeo onde um professor de física realiza um experimento como este com luz estroboscópica, visite o site: http://ocw.
mit.edu/OcwWeb/Physics/8-01Physics-IFall1999/videoLectures/index.htm e assista o vídeo número 2 de título “ 1D Kinematics - Speed - velo-
city - Acceleration”.
A fotografia apresentada foi colocada ao lado da nossa simulação no Modellus
e foram feitos dois ajustes no modelo:
O tempo foi aumentado de 6 para 10 unidades. �
A escala da animação foi ajustada para se tornar compatível com a escala da fotogra- �
fia.
2 Se você não conhece o Wikimedia Commons esta é uma boa oportunidade. Trata-se de um repositório de recursos multimídia (principalmente
imagens) que em sua maioria são de uso livre. Acesse o endereço: http://commons.wikimedia.org; para versão em português acesse o endereço
http://commons.wikimedia.org/wiki/P%C3%A1gina_principal.
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O resultado você pode observar na Figura 6. Desta vez utilizamos o modelo
para deduzir o comportamento da bola de basquete. Nesse caso, podemos considerar
que fizemos uma previsão de comportamento, cujo resultado se aproxima bastante
do observado no mundo real.
Figura 6. Simulação de queda livre no Modellus ao lado da fotografia de MichaelMaggs.
A técnica aqui empregada para deduzir as posições da bola é um excelente
exemplo para você perceber como as hipóteses, produzidas como parte do método
científico, são utilizadas para realizar previsões de comportamento. Seguindo este
mesmo raciocínio cientistas começaram a perceber que poderiam modelar o movi-
mento dos astros, o comportamento da luz, a ação dos componentes químicos etc.
SÍNTESE
Neste capítulo definimos dedução como um processo de se obter conclusões a
partir de hipóteses. Estudamos exemplos de como este processo se liga as hipóteses
formuladas pelo processo anterior (a síntese), a fim de se realizar previsões de com-
portamento.
No capítulo seguinte estudaremos como estas hipóteses passam por testes ri-
gorosos, a fim de serem corroboradas, ajustadas ou refutadas.
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QuESTÃo PArA rEFLEXÃo
Recomendamos como exercício que você tente fazer ou reproduzir por si mes-
mo alguns destes experimentos. Se você está interessado, todos os dados coletados e
os modelos produzidos no Modellus estão disponíveis para download no ambiente.
LEiTurAS iNDiCADAS
Se você tem interesse no uso de software educacional para o aprendizado de
matemática e/ou física, então recomendamos um texto produzido por um dos autores
deste curso, que está disponível para download no ambiente virtual:
SANTANCHE, André. O computador como ambiente para exploração da matemática
e física. In: SIMPÓSIO BRASILEIRO DE INFORMÁTICA NA EDUCAÇÃO - SBIE 112, vitória,
ES, 2001.
Neste texto você encontrará o mesmo problema de física sendo tratado de di-
versas perspectivas. Uma atividade interessante pode ser aplicar a mesma técnica nos
experimentos realizados neste capítulo.
SiTES iNDiCADoS
Se você achou interessante o desafio de dedução e quer outros desafios como
esse, provavelmente vai querer conhecer o Einstein Puzzle. O jogo clássico conhecido
como “Who owns the fish?” pode ser encontrado em sua versão em inglês neste en-
dereço: http://www.atkielski.com/inlink.php?/ESLPublic/, ou na versão em português
no endereço: http://rachacuca.com.br/teste-de-einstein/. Esta versão em português é
feita para funcionar on-line, enquanto a versão em inglês é feita em papel (eu prefiro
em papel).
No site do Modellus (http://modellus.fct.unl.pt/) está disponível não apenas o
software para download, mas diversas atividades relacionadas com matemática e fí-
sica. Trata-se de uma excelente ferramenta para aprofundar os temas tratados neste
capítulo.
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ORGANIzANDO OS DADOS DA PESQUISA EM CAMPO
Autor: André Santanchè
você está acompanhando ou acompanhou a execução de uma pesquisa com-
pleta relacionada à queda livre. Nessa pesquisa você propositalmente assume a posi-
ção de expectador. Agora estou lhe propondo participar desta segunda pesquisa ado-
tando uma postura diferente: você se torna agora co-participante do experimento.
A proposta é a seguinte: nós dois vamos desenvolver esta pesquisa juntos; eu
do meu lado vou conduzir uma pesquisa passo a passo e vou lhe explicando como
você fará o mesmo de sua parte. As duas pesquisas (a minha e a sua) seguem a mesma
metodologia, mas deverão ser diferentes no conteúdo. Isto significa que você não vai
reproduzir exatamente o que eu faço, apenas seguirá a mesma metodologia.
O produto final desta atividade será apresentado na forma de um relatório, que
deve utilizar um arquivo modelo (template) do Word. Clique aqui para baixar o arquivo
modelo.
Este arquivo modelo é diferente do documento convencional do Word. Ele tem
também uma extensão diferente (extensão .dot ao invés de .doc). Para usá-lo você
deve primeiro gravar em seu computador e, em seguida, dar um duplo clique no ar-
quivo para abri-lo. O Word abrirá um arquivo novo seguindo as especificações do ar-
quivo de modelo.
Esta pesquisa será desenvolvida de acordo com os seguintes passos:
1 Conhecendo as Tecnologias
2 Formulação do Problema
3 Definição da Amostra
4 Montagem e Distribuição do Formulário
5 Tabulação dos Dados
6 Análise dos Dados Tabulados
7 Apresentação dos Resultados
EtApA 1 - ConhECEndo AS tECnoLoGiAS
O nosso experimento gira em torno de um conjunto de tecnologias específicas,
por este motivo, eu lhe convido a conhecê-las.
É importante que você note que o uso específico das ferramentas aqui apresen-
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tadas foi uma escolha nossa para trazer para você uma perspectiva da aplicação das
mais novas tecnologias aplicadas à pesquisa.
Serão utilizadas principalmente as seguintes ferramentas:
planilhas eletrônicas �
formulários de pesquisa pela Internet �
Mais especificamente utilizaremos o Google Spreadsheet que combina ambas
as tecnologias em um formato dinâmico através da Web. O Google Spreadsheet faz
parte de um projeto mais amplo da Google (http://www.google.com) para a disponi-
bilização de um pacote de aplicativos de produtividade disponíveis on-line chamado
Google Docs (http://docs.google.com), no qual estão inclusos o processador de textos,
a planilha eletrônica e o software de apresentação. Esse projeto envolve não apenas
o uso de tecnologias interativas que estão sendo denominadas de Web 2.0, como
também provê um espaço na rede para o armazenamento e compartilhamento dos
documentos produzidos. Ele também possibilita a autoria colaborativa, controlando
múltiplos autores e versões.
Especificamente o Google Spreadsheet traz uma planilha eletrônica completa,
com recursos de fórmulas, funções e gráficos. Além disso, ele inclui uma funcionali-
dade extra que é a possibilidade de se elaborar questionários on-line que podem ser
respondidos pela Web por pessoas específicas (através de convites personalizados) ou
pelo público em geral.
O propósito desta etapa é que você conheça o Google Spreadsheet e as tec-
nologias a ele relacionadas, antes de prosseguir no trabalho. Para isso, você deve criar
uma conta no Google (se ainda não tem), ler o nosso Tutorial do Google Spreadsheet
e experimentar por si mesmo.
EtApA 2 - ForMuLAção do probLEMA
Esta etapa parte do pressuposto de que você já leu o capítulo “A Escolha do
Tema e a Formulação do Problema” no qual tratamos em detalhes a questão da formu-
lação do problema.
Para formular o nosso problema nesta pesquisa vamos partir da perspectiva
de um problema como a relação entre variáveis. Por exemplo, eu quero estabelecer
uma relação entre o gênero (masculino ou feminino) de indivíduos (variável 1) e o seu
comportamento na Internet (variável 2). Ao invés de definir o problema logo de cara,
vamos usar a mesma técnica de refinamento adotada no capítulo de formulação do
problema.
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Primeira tentativa de formulação do problema:
O gênero de um indivíduo influencia em sua confiança em utilizar a Internet?
Esta definição de problema precisa melhorar em dois aspectos. Primeiro, pre-
cisamos limitar o universo da pesquisa tanto no tempo quanto no espaço, pois não
pretendemos entrevistar pessoas em todo o mundo, nem podemos estabelecer esta
influência sem caracterizar a que período temporal ou histórico estamos nos referindo,
já que esta relação pode mudar com o tempo. Segundo, que: “confiança em utilizar a
Internet” é uma expressão por demais subjetiva. O que quer dizer exatamente isso?
Segunda tentativa:
No ano de 2005, o gênero dos brasileiros influenciou em sua opção de comprar ou
encomendar bens ou serviços pela Internet?
Note que agora este problema pretende relacionar duas variáveis bem defini-
das: o gênero e a opção por comprar ou encomendar bens ou serviços pela Internet.
Neste ponto precisamos definir de onde vêm os nossos dados, pois a depender
da origem dos dados o universo de indivíduos o problema precisará ser mais limitado
ainda. Além disso, se estes dados não foram coletados em 2005, não será possível fazer
a coleta.
Escolhi este problema de propósito, pois eu já sabia que estes dados foram co-
letados pelo IBGE em 2005 e está disponível na base deles. veja no link: http://www.
ibge.gov.br/servidor_arquivos_est/ que está ilustrado na Figura 1.
Figura 1. Tela de download de resultados de coletas de dados e estatísticas do IBGE.
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Há uma pesquisa rotulada como Acesso_a_Internet_e_posse_celular. Esta pes-
quisa coletou em 2005, no Brasil inteiro, dados relativos ao acesso à Internet e posse
de celular. Então vou fazer um paralelo entre a pesquisa do IBGE e uma realizada por
nós mesmos. Este paralelo tem propósitos didáticos. De sua parte, você não precisará
fazer este paralelo na sua pesquisa.
Com os dados do IBGE poderemos trabalhar em um escopo maior: o Brasil. Mas
em paralelo vamos conduzir uma pesquisa na qual coletaremos dados por nós mes-
mos. Nesse caso, vamos limitar o problema da seguinte maneira:
No ano de 2008, o gênero dos colaboradores da Unifacs influenciou em sua opção de
comprar ou encomendar bens ou serviços pela Internet?
Com relação a este problema pode surgir a seguinte indagação: para que eu
vou estabelecer esta relação entre variáveis?
Lembre-se que este problema pode fazer parte da solução de um problema
maior, que relaciona de forma mais ampla o gênero de um indivíduo e seu comporta-
mento frente às novas tecnologias, por exemplo.
Pronto, conforme combinamos, agora é a sua vez. Nesta etapa você deve definir
o seu problema de pesquisa.
EtApA 3 - dEFinição dA AMoStrA
A técnica para a coleta de dados que empregaremos envolve a aplicação de
questionários de pesquisa, que serão enviados e preenchidos por uma amostra sele-
cionada de indivíduos. Para isso, é necessário o planejamento do tamanho da amostra
e de como selecionaremos os indivíduos que compõem a mesma.
Portanto, antes de prosseguir é necessário que você tenha lido o capítulo sobre
Coleta e Seleção de Dados, a fim de compreender como a escolha do tamanho da
amostra e a forma como você selecionará os indivíduos da mesma afetará nos resul-
tados.
Como o material deste curso não trata especificamente de detalhes para cal-
cular o tamanho da amostra, para alcançar o nível de confiança desejado, para fins de
simplificação não realizaremos este cálculo aqui. Entretanto, a consciência de como
a amostra deve ser escolhida contribuirá no confronto dos dados que iremos coletar
com os dados do IBGE, bem como permitirá a construção de uma declaração clara e
precisa sobre as nossas opções na escolha da amostra e suas limitações.
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EtApA 4 - MontAGEM E diStribuição do ForMu-Lário
O formulário é etapa importante do processo. As questões devem ser escolhi-
das com cautela para que possibilitem a obtenção dos dados desejados com clareza
e objetividade.
As recomendações e a técnica específica para a construção de bons formulá-
rios de pesquisa vão além do escopo deste curso. Deste modo, caso se interesse no
aprofundamento deste assunto recomendamos a leitura do texto “Como Elaborar um
Questionário” (GÜNTHER, 2003) que está disponível on-line.
O questionário que adotamos na nossa pesquisa de campo foi inspirado na
pesquisa Acesso_a_Internet_e_posse_celular realizada pelo IBGE, conforme está des-
crito na etapa 2. A Figura 2 ilustra o formulário de pesquisa que construí utilizando o
Google Spreadsheet.
Figura 2. Formulário de Pesquisa no Google Spreadsheet.
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O questionário possui as seguintes questões:
Gênero: masculino ou feminino �
Idade �
Frequência de utilização da Internet no local de trabalho �
Pelo menos uma vez por dia �
Pelo menos uma vez por semana, mas não todo dia �
Pelo menos uma vez por mês, mas não toda semana �
Menos de uma vez por mês �
Não acesso no trabalho �
Frequência de utilização da Internet em seu domicílio �
(mesmas opções da anterior) �
Frequência de utilização da Internet na lan house �
(mesmas opções da anterior) �
Finalidade do acesso à Internet (múltipla escolha) �
Educação e aprendizado �
Comunicação com outras pessoas �
Atividade de lazer �
Leitura de jornais e revistas �
Interação com autoridades públicas ou órgãos do governo �
Comprar ou encomendar bens ou serviços �
Transações bancárias ou financeiras �
Buscar informações e outros serviços �
Indique como a Internet afetou e modificou seu modo de vida (questão �
aberta)
O questionário foi enviado para uma amostra de 44 pessoas (27 homens e 17
mulheres) todos eles da Unifacs. Escolher apenas o universo da Unifacs causa sem dú-
vida uma tendência nos resultados. Para saber mais sobre tendência leia o nosso texto
sobre Prova da Solução. Temos consciência de que os resultados terão uma tendência,
mas como esta é apenas uma ilustração didática, trabalharemos mesmo assim com
esta tendência.
Nesta etapa a sua tarefa será criar um formulário de pesquisa. Note que aqui
há uma diferença essencial entre a minha opção para construir o formulário e a sua.
Na minha opção me baseei em uma pesquisa prévia do IBGE para fins didáticos. Por-
que posteriormente irei estabelecer um confronto entre esta coleta de dados e a do
IBGE. Entretanto no seu caso você deve construir um formulário por si mesmo, sem se
basear em uma pesquisa prévia do IBGE. Caso você faça escolhas que impliquem em
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tendência é importante que você as relate para que fique claro que tem consciência
delas.
Se você não sabe utilizar o Google Spreadsheet para construir formulários de
pesquisa, acompanhe o tutorial a seguir.
EtApA 5 - tAbuLAção doS dAdoS
Agora chegou a etapa em que os dados resultantes dos questionários recebi-
dos. De todos os questionários enviados, recebemos 28 questionários preenchidos.
Se o Google foi um precioso aliado na aplicação dos questionários também será na
tabulação dos resultados. Como você vê ilustrado na Figura 3, os resultados dos ques-
tionários são automaticamente lançados na planilha. Isso é muito interessante. Deixei
a minha planilha aberta por algumas horas enquanto trabalhava e percebi que sempre
que alguém preenchia um questionário ele atualizava on-line.
Figura 3. Tela ilustrando planilha no Google Spreadsheet com resultados da aplicação dos formulários.
Metade do processo de tabulação já foi feito pelo Google. Agora você precisa-
rá utilizar conhecimentos de planilha eletrônica para tabular os resultados obtidos.
Se você se sentir mais confortável trabalhando com o Microsoft Excel ou OpenOffice
poderá utilizar a opção “Arquivo > Exportar “ para exportar a planilha para o formato
que desejar.
Agora faremos estatísticas sobre os dados coletados. você pode fazê-las utili-
zando os recursos da própria planilha (para isso retome o tutorial da planilha) ou então
manualmente. Alguns recursos da planilha descritos no tutorial, tais como: somatório,
média, contagem e tabulação condicional serão bastante úteis nesse momento.
Nesta etapa a sua tarefa será tabular os dados resultantes dos questionários. Al-
gumas tabulações podem exigir o conhecimento de técnicas mais sofisticadas, como
o uso de condicionais. Por esse motivo, você pode alternativamente realizar toda a
tabulação à mão. Como não pretendemos que você trabalhe com uma amostra muito
grande (entre 15 a 20 pessoas), a tabulação manual nesse exercício pode ser mais sim-
ples que o uso da planilha. Entretanto, será um aprendizado muito rico para você uti-
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lizar a planilha, mesmo que dê mais trabalho. Lembre-se que quando você for realizar
pesquisas deste tipo com muitos dados a tabulação manual pode não valer a pena.
O que você vai tabular depende dos resultados que pretende obter. Na próxima
seção discutiremos isso.
Um lugar onde você pode encontrar modelos de referência interessantes de
formas de tabulação de dados é no IBGE. veja na Figura 4 uma das tabulações de pes-
quisa realizada pelo IBGE sobre acesso à Internet, conforme comentado na Etapa 2.
Norte Nordeste S udeste S ul C entro-Oeste
Total 32 109 939 1 365 237 4 912 172 17 492 193 5 829 100 2 511 237
E ducação e aprendizado (1) 23 020 966 1 058 687 3 711 981 12 153 852 4 219 384 1 877 062
C omunicação com outras pessoas (1) 22 040 184 787 955 3 190 456 12 256 394 4 177 432 1 627 947
Atividade de lazer (1) 17 432 108 704 579 2 679 747 9 244 718 3 397 421 1 405 643
Leitura de jornais e revistas (1) 15 065 370 671 780 2 406 969 7 943 552 2 731 423 1 311 646
Interação com autoridades públicas ou órgãos do governo (1) 8 810 894 337 697 1 353 124 4 931 563 1 435 401 753 109
C omprar ou encomendar bens ou serviços (1) 4 395 891 213 752 561 372 2 474 798 761 160 384 809
T ransações bancárias ou financeiras (1) 6 135 728 185 125 728 162 3 642 728 1 075 187 504 526
B uscar informações e outros serviços (1) 7 852 581 269 414 1 156 760 4 422 158 1 372 709 631 540
Homens 16 211 545 676 930 2 454 082 8 874 190 2 939 889 1 266 454
E ducação e aprendizado (1) 11 092 119 496 190 1 785 551 5 866 884 2 042 253 901 241
C omunicação com outras pessoas (1) 11 152 684 387 236 1 590 577 6 236 974 2 112 040 825 857
Atividade de lazer (1) 9 474 549 378 376 1 446 071 5 056 935 1 833 905 759 262
Leitura de jornais e revistas (1) 7 810 649 334 274 1 237 900 4 157 079 1 412 685 668 711
Interação com autoridades públicas ou ou órgãos do governo (1) 4 763 704 178 220 732 258 2 660 293 781 915 411 018
C omprar ou encomendar bens ou serviços (1) 2 680 897 129 038 351 861 1 487 932 475 662 236 404
T ransações bancárias ou financeiras (1) 3 521 881 110 203 422 797 2 073 180 623 068 292 633
B uscar informações e outros serviços (1) 3 876 254 134 487 584 072 2 174 785 674 726 308 184
Mulheres 15 898 394 688 307 2 458 090 8 618 003 2 889 211 1 244 783
E ducação e aprendizado (1) 11 928 847 562 497 1 926 430 6 286 968 2 177 131 975 821
C omunicação com outras pessoas (1) 10 887 500 400 719 1 599 879 6 019 420 2 065 392 802 090
Atividade de lazer (1) 7 957 559 326 203 1 233 676 4 187 783 1 563 516 646 381
Leitura de jornais e revistas (1) 7 254 721 337 506 1 169 069 3 786 473 1 318 738 642 935
Interação com autoridades públicas ou órgãos do governo (1) 4 047 190 159 477 620 866 2 271 270 653 486 342 091
C omprar ou encomendar bens ou serviços (1) 1 714 994 84 714 209 511 986 866 285 498 148 405
T ransações bancárias ou financeiras (1) 2 613 847 74 922 305 365 1 569 548 452 119 211 893
B uscar informações e outros serviços (1) 3 976 327 134 927 572 688 2 247 373 697 983 323 356
F onte: IB G E , Diretoria de P esquisas , C oordenação de T rabalho e R endimento, P esquisa Nacional por Amostra de Domicílios 2005.
(1) Inclus ive as pessoas que utilizaram a Internet para mais de uma finalidade.
dos últimos três mes es , por G randes R egiões , s egundo o s exo e a finalidade
S exo e finalidadedo acesso à Internet
B ras il
T abela 1.26.1 - P es s oas de 10 anos ou mais de idade que utilizaram a Internet, no período de referênc ia
do ac es s o à Internet - 2005
P essoas de 10 anos ou mais de idade que utilizaram a Internet,no período de referência dos últimos três meses
G randes R egiões
Figura 4. Uma das tabulações de pesquisa de acesso à Internet realizada pelo IBGE em 2005.
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Dentre as tabulações de dados que fizemos, apresentamos:
Mulheres Homens Total
Responderam o
questionário10 18 28
Selecionaram
“Comprar ou
encomendar bens
ou serviços” para a
pergunta “Finalidade
do acesso à Internet”
7 17 24
EtApA 6 - AnáLiSE doS dAdoS tAbuLAdoS
Esta etapa corresponde ao que apresentamos nos textos de Síntese, Previsões e
Prova das Hipóteses. Nestes textos fizemos uma divisão de como o trabalho científico
se processa para fins puramente didáticos. Na prática, a síntese de um modelo teóri-
co pode ocorrer concomitante com o processo em que tentamos realizar previsões.
Muitas vezes a síntese exige o levantamento de muitos dados, que servem ao mesmo
tempo como teste e prova das hipóteses.
você virá exatamente esta combinação nesta etapa. Uma vez que coletamos
uma quantidade significativa de dados, o próximo passo é tentar perceber padrões de
comportamento. Como já tratamos antes, esta percepção se dará na forma de relacio-
namento entre variáveis.
Como já anunciamos no problema, pretendemos definir se o gênero (mascu-
lino ou feminino), que é a nossa variável independente, influenciou a sua opção de
comprar ou encomendar bens ou serviços pela Internet. Como faremos isso?
Note que não existe uma forma padrão de estabelecer relações entre variáveis.
Nesse caso, computaremos qual percentual entre as mulheres entrevistadas respon-
deu que uma das finalidades de acesso à Internet é “Comprar ou encomendar bens ou
serviços”. Faremos o mesmo com os homens.
Neste tipo de problema em que se conhece (mesmo que aproximadamente) o
tamanho da população, a estatística define técnicas precisas de testar a forma como
uma variável afeta outra. Este tema em estatística é conhecido como Teste de Hipó-
tese. Usando técnicas estatísticas é possível testar a nossa hipótese para uma proba-
bilidade de erro específica. Pesquisas profissionais deste tipo, tais como as realizadas
pelo IBGE, utilizam teste de hipótese. Neste curso não aprofundaremos esta questão,
mas se você está interessado no assunto veja o capítulo Teste de Hipótese de Mário
Triola (2008, p. 304) que possui uma explanação completa sobre o assunto do ponto
de vista da estatística. Alves-Mazzotti e Gewandsznajder (2002, p. 74) também têm
uma explanação interessante sobre o assunto, ainda que não aprofundem muito os
aspectos estatísticos.
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Aqui apresentaremos uma análise mais superficial, apenas para que você en-
tenda o que exatamente se busca neste tipo de pesquisa. Pela tabulação realizada
anteriormente, percebemos que 70% das mulheres entrevistadas usam a Internet para
comprar ou encomendar bens e serviços, contra 94,4% dos homens. Isto pode apontar
para o fato de que os homens no universo Unifacs têm uma tendência maior a realizar
compras deste tipo pela Internet, mas temos consciência de que nossa pesquisa nesse
sentido é demasiadamente limitada por três motivos: o tamanho da amostra é muito
pequeno, a escolha dos indivíduos não foi aleatória e um número muito maior de ho-
mens foi entrevistado que o de mulheres.
Quando você fizer a sua pesquisa, provavelmente terá as mesmas limitações.
Como o propósito da pesquisa é apenas a aprendizagem da técnica, sabemos que
você terá as mesmas limitações que nós na pesquisa. Deste modo, você também pode
trabalhar com uma amostra pequena (entre 15 a 20 pessoas) e com tendências, tal
como fizemos. Mas tal como estamos fazendo aqui, você deve relatar que tem consci-
ência das limitações e tendências da sua pesquisa.
Apenas a título didático, vamos comparar a nossa pesquisa com a do IBGE, que
selecionou uma amostra verdadeiramente significativa e aleatória. Na pesquisa do
IBGE 10,8% das mulheres compram bens e serviços pela Internet, contra 16,5% dos
homens. Esta pesquisa aponta para um percentual maior de homens e por outro lado,
comparada com a nossa pesquisa, um percentual global bem menor de pessoas que
compram pela Internet. A diferença pode estar relacionada a duas questões: (1) a nos-
sa pesquisa foi feita em 2008 e a do IBGE em 2005 - espera-se naturalmente um cres-
cimento; (2) a nossa pesquisa foi feita no universo da Unifacs que tem um perfil bem
diferente da população em geral (mais uma vez lembre-se que o tamanho da nossa
amostra é bem pequeno e sujeito a tendências).
Note que, com os resultados que obtivemos, podemos realizar um rico con-
junto de análises, comparando variáveis das mais diversas maneiras e é isso que es-
peramos que você faça na sua análise. Apresentamos aqui análises principalmente
quantitativas, mas as pesquisas deste tipo não se restringem a este tipo de análise.
você se lembra que o formulário define a seguinte questão aberta?: “Indique como a
Internet afetou e modificou seu modo de vida”. Pois bem, esta questão foi criada para
realizar um outro tipo de análise que não envolve estatísticas com números. Trata-se
de uma pesquisa qualitativa que envolve uma leitura da resposta de cada pergunta
e análise dos resultados. A análise qualitativa atua de forma complementar à quan-
titativa. Ela permite a percepção de elementos e nuances no universo analisado, que
não pudemos prever quando fizemos o nosso questionário. O que será analisado do
ponto de vista qualitativo está fortemente atrelado com o domínio da sua pesquisa e
foge do escopo deste texto detalhá-la. Se você quer aprofundar este estudo deve ler a
segunda parte do livro de Alves-Mazzotti e Gewandsznajder (2002, p. 109) que detalha
o assunto.
ETAPA 7 - APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS
Esta é uma etapa estratégica do seu trabalho porque aqui você dá visibilidade
a tudo o que fez. Em uma pesquisa a apresentação dos resultados usualmente envol-
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ve a construção de tabelas e/ou gráficos, nos quais são apresentados não apenas os
dados levantados, mas os resultados obtidos. Nesta etapa você organiza, formata e
apresenta tudo o que você fez nas etapas anteriores, sem esquecer de mencionar as
condições em que você fez sua pesquisa (características e tamanho da amostra), como
você levantou os dados (detalhes sobre o formulário), tabulações dos dados, análise
dos resultados e as considerações finais sobre o seu trabalho.
Lembre-se de deixar claras as limitações do seu trabalho. É importante deixar
registrado para quem lê quais as limitações observadas, tais como: tamanho reduzido
da amostra, tendências etc. e as possíveis interferências disso nos resultados que você
está apresentando.
rEFErÊNCiAS
ALvES-MAzzOTTI, Alda Judith; GEWANDSzNAJDER, Fernando. O método nas ciências naturais e
sociais: pesquisa quantitativa e qualitativa. 2. ed. São Paulo: Pioneira Thomson, 2002.
GÜNTHER, Hartmut. Como elaborar um questionário (Série: Planejamento de Pesquisa nas Ciências
Sociais, Nº 01). Brasília, DF: UnB, Laboratório de Psicologia Ambiental, 2003. On-line: http://www.psi-
ambiental.net/pdf/01Questionario.pdf. Acessado em 28/07/2008.
TRIOLA, Mário F. Introdução à estatística. 10. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2008.
SubmiSSÃo DA TArEFA
Uma vez que você concluiu a sua tarefa, clique no link a seguir para submetê-la,
ou então a submeta através do link específico no ambiente Moodle cujo título é “Sub-
missão da Atividade: Pesquisa em Campo”.
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PROVA DA SOLUÇÃO
Autor: André Santanchè
No século XIX existia um acalorado debate em torno da seguinte questão: como
somos capazes de ver em três dimensões? O que parece uma questão simples implica
em uma discussão bem mais complexa. De um lado estavam aqueles que defendiam a
idéia de que a percepção de três dimensões era resultante do fato de que temos dois
olhos. Como cada olho vê a mesma imagem em uma perspectiva levemente diferente,
o cérebro combina as duas e forma uma imagem mental tridimensional. Em outras
palavras, somo capazes de ver em três dimensões porque temos dois olhos. Do outro
lado, estavam aqueles que acreditavam que características da imagem vista, tais como
o efeito de perspectiva, as sombras e o tamanho relativo da imagem, nos permitem
perceber a tridimensionalidade.
A realização de experimentos científicos para comprovar uma ou outra hipóte-
se (ou ambas) seria uma solução. Mas neste caso, como acontece em muitos na ciên-
cia, não parecia possível a separação das variáveis, para analisá-las individualmente.
No final da década de 50 entra neste cenário Bela Julesz (SIEGEL, 2004) que
formulou um experimento bastante criativo para resolver a questão. Ele utilizou uma
técnica conhecida como estereogramas de pontos aleatórios. Por enquanto, não va-
mos nos adiantar nos detalhes de como ele fez isso. vamos pedir apenas que você faça
um experimento simples. Olhe um exemplo deste tipo de estereograma na Figura 1.
Aparentemente você só está vendo um conjunto de pontos coloridos1, mas se você
aplicar uma técnica especial de visualização verá surgir, como que por encanto, uma
imagem tridimensional. Cada um consegue ver de uma forma diferente; algumas pos-
síveis técnicas são:
Imagine que existe um objeto atrás desta imagem bem distante. Tente focalizar neste �
objeto que não existe. Os seus olhos vão desfocalizar do estereograma, mas é este mes-
mo o propósito.
Algumas pessoas relatam que se cruzarem o ângulo de visão esquerda e direita, como �
se estivessem estrábicos, em seguida conseguem ver a imagem.
A terceira forma é tentar entender o que você tem que fazer e tentar aplicar a técnica. �
você precisa olhar com o olho esquerdo a metade da esquerda da imagem e com o olho
direito a metade da direita. Não é algo que os seus olhos estejam acostumados e isto
exige algum esforço.
Desenvolver a habilidade de conseguir ver este tipo de imagem é geralmente
uma técnica que exige tempo e paciência. Poucas pessoas conseguem ver a imagem
1 Na versão impressa este estereograma aparece em preto e branco e não sabemos se isto afetará o resultado do experimento. Por este motivo,
recomendamos que você olhe a versão a cores no ambiente virtual.
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em pouco tempo.
Não se preocupe muito se você não conseguir visualizar a imagem, porque esta
é apenas uma atividade interessante para enriquecer o debate que faremos no final
deste texto. Mas visualizar a imagem não é essencial para a compreensão do texto e
você pode seguir adiante mesmo que não tenha conseguido ver nada.
Figura 1. Estereograma de pontos aleatórios (autor: Fred Hsu, março/2005)
Fonte: Wikimedia Commons
TESTANDO HIPÓTESES
Na medida em que evoluímos no método científico vamos percebendo como
ele se delineia. Primeiro identificamos um problema, em seguida coletamos dados e
estudamos materiais relacionados, depois partimos para a construção de um mode-
lo teórico, primeiro tentando generalizar as nossas observações (síntese), para depois
aplicar a nossa generalização na previsão de eventos (dedução). Isto pode ter lhe pa-
recido o suficiente, mas ainda não é. Chegamos agora no ponto nevrálgico do método
científico no qual teremos que colocar à prova o nosso modelo.
vamos retomar o exemplo da queda livre que tratamos anteriormente. Será
que baseados apenas nas observações que fizemos: podemos afirmar com segurança
que a nossa hipótese é verdadeira? O teste das hipóteses é justamente uma forma
sistemática de aumentar a confiança que temos nas hipóteses levantadas. Seguindo a
concepção de Karl Popper (1975) que tratamos no texto sobre síntese, nunca podere-
mos afirmar com certeza que uma hipótese é verdadeira; o que fazemos na prova das
hipóteses é aplicar os testes mais rigorosos para tentar invalidá-la. Se ela passar nestes
testes, então ela será corroborada e integrada no nosso referencial teórico.
Neste contexto devem ser considerados diversos aspectos para garantir o rigor
dos testes.
ISOLANDO VARIÁVEIS
Como tratamos no início deste curso, problemas de pesquisa podem ser vistos
em uma perspectiva de relações entre variáveis. Mas quando tratamos da perspectiva
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dos testes, precisamos considerar que, no mundo real, múltiplas variáveis atuam sobre
o nosso objeto que será testado e precisamos criar meios de isolar o máximo possível
a variável que pretendemos testar das demais. Por exemplo, no caso do nosso expe-
rimento da queda livre, existem múltiplas forças atuando e o que parece uma relação
simples entre tempo e deslocamento, mostrar-se-á com testes mais minuciosos, bem
mais complexa. Considere a seguinte situação: ao invés de soltarmos em queda livre
uma bola de papel, que soltemos uma folha aberta. O que acontecerá? A folha de
papel não cairá da mesma forma. Ela provavelmente sairá deslizando lateralmente e
certamente não observaremos o mesmo padrão de comportamento visto até então.
Note que isto acontece porque outras forças (o atrito do ar), além daquela que obser-
vamos inicialmente, estão atuando. Neste caso, para alcançar testar adequadamente a
nossa hipótese precisaremos isolar a variável que pretendemos estudar. Uma possível
forma de fazer isso é testar as quedas livres no vácuo.
O experimento de Bela Julesz, ilustrado na Figura 1, é um exemplo de como
cientistas desenvolvem técnicas geniais para testar suas hipóteses. No caso de Bela,
ele precisava isolar uma variável particular para provar que vemos em três dimensões
porque temos dois olhos. Para fazer isto ele utilizou o recurso de estereograma de pon-
tos aleatórios ilustrados na Figura 1. Um esterograma é uma projeção de uma imagem
(fotografia ou ilustração) em duas partes. Cada uma delas representa a perspectiva de
um dos olhos humanos. veja o exemplo da Figura 2. Trata-se de uma fotografia aérea
na forma de estereograma. A imagem da esquerda corresponde à perspectiva do olho
esquerdo e a da direita à do olho direito. Utilizando a mesma técnica explicada ante-
riormente para o estereograma de pontos aleatórios, você conseguirá ver o lago em
três dimensões.
Figura 2. Stereograma de uma fotografia aérea do lago Palanskoye Landslide, Kamchatka Peninsula, Russia - Fonte: NASA
(http://visibleearth.nasa.gov/view_rec.php?id=338).
Retornando ao experimento de Bela, ele se baseou nesta técnica para fazer o
seu experimento. Mas no caso de Bela, ele precisava isolar qualquer outra variável que
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possibilitasse uma visão tridimensional, ou seja, efeito perspectiva, sombra etc.
Para fazer isso criou um tipo de estereograma especial, no qual uma imagem
tridimensional, produzida por computador, é coberta por pontos aleatórios. O fundo
sobre o qual esta imagem está também é coberto pelo mesmo padrão de pontos. En-
tão, ele monta um estereograma (projeção da esquerda e da direita lado a lado) sem
qualquer outra pista visual, como a sombra da imagem. Deste modo, a única forma
de você ver a imagem em três dimensões é se você puder fazer seu olho esquerdo
ver a projeção da esquerda e seu olho direito a projeção da direita. As dicas que lhe
demos para visualizar os estereogramas servem exatamente para que você alcance
este efeito.
Bela provou que as pessoas conseguem ver estes estereogramas e que a única
hipótese que torna isso possível é que somos capazes de ver em três dimensões por-
que possuímos dois olhos (SIEGEL, 2004). Ou seja, com este experimento, Bela conse-
guiu isolar a única variável que lhe interessava testar, a visão binocular (visão por dois
olhos).
QUANTIDADE DE EXPERIMENTOS
Não existe uma métrica específica de quantidade de experimentos que garanta
a validade de uma hipótese. Mesmo porque, como apresentamos anteriormente, uma
hipótese não se torna verdadeira, apenas corroborada.
Entretanto, alguns parâmetros devem ser considerados, principalmente quan-
do as variáveis que estão sendo testadas envolvem uma população cujo tamanho é
conhecido. Nesse caso, remeteremos-lhe novamente ao texto que você já deve ter
lido sobre Levantamento e Seleção de Dados no qual é tratada a questão da amostra.
Os mesmos critérios que guiam o levantamento de dados devem guiar a seleção de
amostras para testes.
VARIEDADE DE CONDIÇõES
Outro aspecto relevante a ser considerado no planejamento do experimento
é submeter as hipóteses à maior variedade de condições possíveis. No caso da queda
livre, por exemplo, é conveniente testá-la com diferentes objetos, de diferentes tama-
nhos, em diferentes alturas. Realizar testes em diferentes lugares, sob diferentes con-
dições ambientais.
TENDÊNCIA
Todo o teste, por mais bem planejado que seja, sofre influência direta ou indire-
ta do observador, o que causa distorções nos resultados obtidos.
O que denominamos tendência ou viés de informação (tradução da palavra bias
em inglês) resulta de uma determinação incorreta de um resultado (GRIMES; SCHULz,
2002). Gluud (2006) define uma tendência na perspectiva de testes clínicos como um
erro sistemático. Tal erro pode conduzir a conclusões incorretas sobre resultados.
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Diversos aspectos podem causar uma tendência na observação. Muitas vezes o
pesquisador no afã de provar a sua hipótese despreza (ainda que inconscientemente)
dados relevantes, faz aproximações tendenciosas ou seleciona os resultados que mais
lhe convém.
Tendências podem ser causadas também no processo de seleção das amos-
tras. Em muitos casos, ao invés de ser realizada uma seleção aleatória, o pesquisador
seleciona amostras mais convenientes, que podem distorcer os resultados. Por este
motivo, fazer uma seleção aleatória pode contribuir para a redução da tendência.
EXPERIMENTO CEGO
No contexto de pesquisas médicas, por exemplo, de efeitos de medicamentos
em pacientes, é muito comum o uso de “experimentos cegos”. Um experimento é con-
siderado cego quando as pessoas que o estão executando não sabem a priori que tipo
de intervenção está sendo realizada (GLUUD, 2006).
É usual em experimentos realizados com medicamentos que se trabalhe com
dois grupos distintos: no primeiro, os pacientes tomam o medicamento e no segundo,
os pacientes tomam o que se chama de placebo, ou seja, algum produto que imite
características de apresentação, cheiro e gosto do medicamento, mas que não tenha
nenhum efeito sobre os pacientes. Um experimento é considerado “cego simples”
quando os pacientes que estão tomando o medicamento não sabem, a priori, quem
está tomando o medicamento de verdade e quem está tomando o placebo. Além dis-
so, um experimento pode ser “duplo cego” quando nem os pacientes, nem as pessoas
que estão executando o experimento sabem quem está tomando o medicamento e
quem está tomando o placebo.
Um teste duplo cego bem feito minimiza a interferência do observador nos re-
sultados do experimento, reduzindo a tendência do mesmo.
SÍNTESE
Neste texto, tratamos a importância dos experimentos na prova das hipóteses.
Tratamos aspectos como a importância de se isolar variáveis, a influência do tama-
nho da amostra e variedade de condições em que se realiza o experimento. Por fim,
tratamos da questão da tendência ou viés, sua influência nos testes e técnicas para
minimizá-lo, tal como o experimento cego.
LEiTurAS iNDiCADAS
Os artigos citados nas referências (GLUUD, 2006) e (GRIMES; SCHULz, 2002)
tratam em mais detalhes a questão da tendência e os recomendamos para leitura.
O artigo de (GLUUD, 2006) trata especificamente de experimentos clínicos e fala dos
experimentos cegos.
rEFErÊNCiAS
ALvES-MAzzOTTI, Alda Judith; GEWANDSzNAJDER, Fernando. O método nas ciências naturais e
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sociais: pesquisa quantitativa e qualitativa. 2. ed. São Paulo: Pioneira Thomson, 2002.
GLUUD, Lise Lotte. Bias in clinical intervention research. American Journal of Epidemiology Advance
Access. v. 163, n. 6, p. 493-501, 2006.
GRIMES, David A.; SCHULz, Kenneth F. Bias and casual associations in observational research. The
Lancet. v. 359, n. 9302, p. 248-252, 2002.
POPPER, Karl. A lógica da pesquisa científica. São Paulo: EdUSP, 1975.
SIEGEL, Ralph M. Choices: the science of bela julesz. PLoS Biol. 2004 Junho; v. 2, n. 6, p. 172, 2004.
Disponível: http://www.pubmedcentral.nih.gov/articlerender.fcgi?artid=423145.
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DELINEAMENTO DA PESQUISA – PARTE 1: QUADRO DE REFERÊNCIA EPISTEMOLÓGICA
Autora: Maria Luiza Coutinho Seixas
“o que distingue o pior arquiteto da melhor abelha é que ele figura
na mente sua construção antes de transformá-la em realidade”
Karl Marx
Olá!
Já indicamos para você como uma pesquisa se inicia e, por isso, esperamos que
se lembre quais são os primeiros passos de um processo investigativo: a escolha do
tema e a formulação do problema de uma pesquisa científica. Também esperamos
que você já saiba como deve proceder para fazer uma revisão de literatura eficiente e
proveitosa. Pois bem, começar um trabalho de pesquisa é fruto do querer do pesqui-
sador... implementá-lo com êxito e finalizá-lo, porém, requer que ele ponha ordem nas
suas idéias.
Não se iluda, não basta que tenhamos boas idéias (ou bons temas) para que
a ciência se efetive. Boaventura (2004, p. 61) nos lembra que é através desse delinea-
mento que o pesquisador/estudante consegue atender a pelo menos uma finalidade:
“traçar o caminho a seguir na investigação”. Por isso, vamos adiante! Eis a etapa que dá
seguimento aos passos iniciais: delineamento da pesquisa, ou se quiser que sejamos
mais claros, a elaboração do projeto de pesquisa.
Antes de apresentarmos os itens que, junto àqueles que você já conhece, cons-
tituem o projeto da investigação (justificativa, objetivos descrição metodológica e cro-
nograma) que pretende realizar, precisamos assinalar alguns pontos. O primeiro deles
será esclarecer algumas das perspectivas epistemológicas que podemos assumir na
prática investigativa. vamos lá!
De modo geral, quando tentamos conceituar o processo de pesquisa, quase
sempre o definimos como aquele cercado de ritos especiais, cujo acesso é particular
a poucos iluminados. Fazem parte desses ritos certa trajetória acadêmica, domínio de
sofisticadas técnicas de investigação, de exame estatístico e desenvoltura informáti-
ca... É certo que esses aspectos são importantes, mas não são as únicas coisas que
contam.
A pesquisa é a parte intrínseca do processo de apreensão/construção do conhe-
cimento e, por isso, é necessária a adoção de uma atitude investigativa. Compreendida
como instituinte desses processos, devemos perceber a prática científica, a partir de
uma multiplicidade de horizontes (embora seja comum prendê-la à sua construção
empírica, experimental). E isso é facilmente compreensível! Principalmente porque,
até bem pouco tempo atrás, para fazer Ciência se deveria, inexoravelmente, estabele-
cer processos controlados, isto é, ser científico corresponde àquilo que é mensurável,
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experimental, observável...
É claro que, por sermos indivíduos imersos na contemporaneidade, não pen-
samos dessa maneira, não é mesmo? Mesmo tendo essa certeza, consideramos im-
prescindível trazer outros argumentos: a ciência não pode estar aliada apenas a uma
dimensão empírica, nem tampouco a uma preocupação teórica somente; não pode
estar restrita a apresentar números estatísticos através de textos áridos, mas deve bus-
car estabelecer uma relação dialógica com o cotidiano, permitindo olhar profunda e
amplamente a realidade que nos cerca.
É evidente que para consolidar uma nova forma de produzir ciência, faz-se ne-
cessário, em primeiro lugar, percebê-la a partir de um prisma diferente daquele que
serviu de base para o que já foi instituído. Foi mais ou menos isso que aconteceu quan-
do o Positivismo perdeu o status de única perspectiva epistemológica válida para a
produção da ciência. Positivismo... será o mesmo positivismo que é responsável pela
inscrição “Ordem e Progresso” na bandeira brasileira? E o que é epistemológico mes-
mo? Hum! Começou a complicar, não é mesmo? Mas vamos com calma...
O POSITIVISMO
A palavra epistemologia (do grego episteme, ciência, conhecimento; + logos,
razão, discurso) é um ramo da filosofia que estuda a origem, a estrutura, os métodos e
a validade do conhecimento (daí ser também designada de filosofia do conhecimen-
to). Conforme o dicionário Houaiss (2008, s.p.), a palavra significa “estudo dos postula-
dos, conclusões e métodos dos diferentes ramos do saber científico, ou das teorias e
práticas em geral”.
Agora, se você associou a perspectiva positivista da ciência àquela que inspirou
a inscrição em nossa bandeira, acertou parcialmente! O Positivismo, corrente inaugu-
rada por Augusto Comte (1798-1857), representa umas das bases do Iluminismo, das
crises social e moral do fim da Idade Média e, também, do nascimento da sociedade
industrial. Entretanto, não podemos deixar de mencionar o neopositivismo (também
conhecido como positivismo lógico), instaurado pelo Círculo de viena, que teve como
um de seus membros mais proeminentes Rudolf Carnap (1891-1970), que traz muitas
contribuições para o que vamos conhecer como perspectiva positivista da ciência. va-
mos pontuar algumas delas. Para o neopositivismo:
a realidade é formada por partes isoladas e o mundo se configura como um “amonto- �
ado de coisas separadas, fixas” (TRIvIÑOS, 1987, p. 36);
é inaceitável outra realidade que não sejam os fatos que possam ser observados; �
as causas dos fenômenos não devem ser objeto de interesse da ciência. À ciência cabe �
descobrir como se produzem as relações entre os fatos, buscando suprimir qualquer
subjetividade nesta descoberta (princípio da objetividade científica);
não interessa, também à ciência, conhecer a conseqüência de suas “descobertas”. �
Triviños (1987) comenta que este propósito engendrou o que ficou conhecido como
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neutralidade da ciência. A partir dessa compreensão, o papel do cientista é exprimir a
realidade, não julgá-la.
Ainda, foi o neopositivismo que formulou o princípio da verificação, a partir
do qual, considera-se como verdadeiro aquilo que é empiricamente verificado. Mes-
mo desnecessário, vale salientar que todos os postulados atribuídos à ciência por essa
perspectiva se “ajustaram” mais perfeitamente a uma área do conhecimento (as ciên-
cias naturais, por exemplo) do que às ciências sociais. Como realizar estudos no campo
da Antropologia, por exemplo, que não busquem conhecer as causas do fenômeno
cultural? Ou então, como podemos atestar, a um fenômeno social, o princípio da ve-
rificação?
Por conta dessas questões e, principalmente, por perceberem que não há pos-
sibilidade de o conhecimento produzido pela ciência ser neutro, é que estudiosos da
área das ciências sociais foram os primeiros a combater a perspectiva epistemológica
positivista. Como contraponto à forma de produção da ciência, surgem a Fenomeno-
logia e o Materialismo Dialético.
A FENOMENOLOGIA
A Fenomenologia representa uma tendência do idealismo filosófico e traz,
como um dos conceitos fundamentais, a intencionalidade: A psique está sempre dirigi-
da para algo, “é intencional”, diria Husserl, seu precursor e um de seus maiores expoen-
tes. Como esta intencionalidade é, inexoravelmente, da consciência em direção a um
objeto, conclui-se que não existe objeto sem o sujeito e, por conseguinte, não existe a
objetividade destacada da subjetividade, tal e qual assinalava a perspectiva positivista
da ciência. Sobre esse aspecto, Bardin (s.d. apud TRIvIÑOS, 1987, 43) vai afirmar:
[...] tudo o que sei do mundo, mesmo devido à ciência, o sei a par-
tir da minha visão pessoal ou de uma experiência do mundo sem
a qual os símbolos da ciência nada significariam. Todo o univer-
so da ciência é construído sobre o mundo vivido e, se quisermos
pensar na própria ciência com rigor, apreciar exatamente seu
sentido seu alcance, convém despertarmos primeiramente esta
experiência do mundo da qual ela é expressão segunda...
A Fenomenologia husserliana nasce da tentativa de fazer da filosofia uma ciên-
cia rigorosa e, sendo assim, deveria ter como tarefa o estabelecimento de categorias
puras do pensamento científico. Trata-se, portanto, da “ambição de uma filosofia que
pretende ser uma ciência exata” (TRIvIÑOS, 1987, p. 43). Mais tarde voltou-se para a
investigação do “mundo vivido”.
Como abordagem epistemológica para a produção da ciência e do conheci-
mento, não pretende explicar, nem analisar fatos, mas, antes de qualquer coisa, des-
crever os fenômenos. É uma abordagem que exalta a interpretação. Como método,
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deve seguir dois passos: um é a questionabilidade do conhecimento; o outro é a redu-
ção fenomenológica.
Ao contrário do que possa parecer, questionar o conhecimento não é a mesma
coisa de negá-lo ou ter uma concepção cética a respeito dele, mas tomá-lo a partir da
idéia de que é possível descrever o dado (a consciência intencional perante o obje-
to) em toda a sua pureza. O segundo passo (a redução fenomenológica) fornece uma
nova objetividade (a da essência) para que surja a consciência pura.
A respeito da Fenomenologia, Triviños (1987, p. 47) faz a seguinte observação:
[...] os positivistas reificaram o conhecimento, transformaram-no
num mundo objetivo, de ‘coisas’. A fenomenologia, com sua ênfa-
se no ator, na experiência pura do sujeito, realizou a desreificação
do conhecimento, mas a nível da consciência.
Por priorizar a busca da essência, ou seja, o que o fenômeno é após ter sofrido
o isolamento da redução, através da qual se elimina o “eu” que vivencia, a cultura e o
mundo..., fica evidente que não está preocupada em relevar a historicidade dos fenô-
menos, o que vai se configurar numa das críticas dirigidas a ela e, também, ponto de
partida para o surgimento de uma nova perspectiva epistemológica: o Marxismo.
O MARXISMO
A perspectiva marxista figura como uma tendência do materialismo filosófico
e tem como base filosófica o materialismo dialético. Este último tenta buscar explica-
ções racionais, lógicas e coerentes para os fenômenos da natureza, da sociedade e do
pensamento, a partir de uma concepção científica da realidade enriquecida pela prá-
tica social. Ter ressaltado a prática social (portanto, histórica) como critério de verdade
é, sem sombra de dúvida, uma de suas idéias mais originais, porque criou um forte
argumento para compreender que as verdades científicas significam graus de conhe-
cimento limitados pela história.
Conforme Triviños (1987), de forma geral, podemos dizer que a concepção ma-
terialista de ciência está pautada em três aspectos:
o primeiro deles diz respeito à � materialidade do mundo, isto é, a compreensão de
que todos os fenômenos, objetos e processos são materiais;
o segundo assinala que a � matéria é anterior à consciência, ou seja, o que existe ob-
jetivamente é a matéria e a consciência é apenas um reflexo desta;
o terceiro aspecto refere-se à afirmação de que � o mundo é conhecível e o homem
realiza este conhecimento de forma gradativa.
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Alguns pesquisadores compreendem, a exemplo de Demo (1987, p. 98), que o
materialismo é a perspectiva epistemológica mais condizente com as ciências sociais,
porque se configura em uma “forma mais criativa e versátil de construir uma realidade
também criativa e versátil”. Essa abordagem, portanto, trata-se de uma interpretação
possível, que participa do jogo interminável de aproximações sucessivas e crescentes
do objeto, rumo à cientificidade. Como metodologia, este autor destaca algumas ca-
racterísticas, que veremos a seguir:
como problematiza a relação sujeito-objeto, superando posições estereotipadas liga- �
das à objetividade e à neutralidade, o materialismo faz do conhecimento um processo;
considera que para uma realidade dinâmica é preciso um instrumental de captação �
também dinâmico e, para isso, opera através da concepção de unidade dos contrários,
assumindo a contradição como categoria teórica;
percebe que as teorias científicas não são produtos acabados e, portanto, sua supera- �
ção é tão natural quanto a superação histórica;
encontra certo meio termo entre os condicionamentos objetivos da realidade (o que �
está posto) e a possibilidade de o homem planejar a história. “Nesse sentido, não reduz
a história social a uma estática repetitiva, nem coloca os subjetivismos como o mais im-
portante” (DEMO, 1987, p. 98);
convive com estruturas, nas quais vê a fonte do dinamismo histórico, e adapta-se me- �
lhor ao conceito de regularidade, ao contrário do de determinação, que está à sombra
da relação causa/efeito;
desde que não seja concebida como regra única, não vê a necessidade de combater a �
postura científica adotada pelas ciências naturais e exatas (o positivismo);
propõe a visão de totalidade, no sentido de não perceber a realidade de forma estan- �
que e fragmentada; a realidade social é dinâmica, complexa, totalizante e conflituosa e,
sendo assim, excede a possibilidade de quantificação, classificação, de teste;
compreende que a participação humana é um fenômeno de configuração própria, �
contraditório, versátil, para além de qualquer equação matemática;
Por fim, o materialismo se configura como uma metodologia mais crítica e autocrítica, �
como demanda uma dinâmica realidade social. Sobre essa característica, Demo (1987,
p. 100) vai dizer “[...] é chão da boa discussão, da polêmica construtiva, da visão mul-
tifacetal, que exige o constante estado de alerta contra posturas fechadas, pequenas,
medíocres”.
SÍNTESE
O que fizemos nesse texto foi apresentar, brevemente, as características prin-
cipais das três perspectivas que mais comumente fundamentam a prática científica e,
conseqüentemente os procedimentos metodológicos de nosso estudo. Mas, não pára
por aí, não! Continuaremos no próximo texto, seguindo os passos do delineamento da
pesquisa. Até lá!
QuESTÃo PArA rEFLEXÃo
Sugerimos que você reflita e identifique qual a perspectiva que mais se aproxi-
ma da sua concepção de mundo e de ciência. Que tal registrar essa reflexão? Ela pode-
rá ser valiosa no momento que você estiver construindo seu projeto de pesquisa.
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LEiTurAS iNDiCADAS
Sugerimos a leitura do capítulo 1 da obra Introdução à pesquisa em ciências sociais,
de Augusto Triviños.
rEFErÊNCiAS
DEMO, Pedro. Introdução à metodologia da ciência. 2. ed., São Paulo: Atlas, 1987.
BOAvENTURA, Edivaldo M. Metodologia da pesquisa: monografia, dissertação e tese. São Paulo:
Atlas, 2004.
EPISTEMOLOGIA (verbete) Dicionário Houaiss. Disponível em http://houaiss.uol.com.br/busca.jhtm?ve
rbete=epistemologia&stype=k Acesso em 21 jul.2008.
TRIvIÑOS, Augusto N. S. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em educa-
ção - o positivismo, a fenomenologia, o marxismo. São Paulo: Atlas, 1987.
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DELINEAMENTO DA PESQUISA – PARTE 2: ELABORAÇÃO DO PROjETO DE PESQUISA
Autora: Maria Luiza Coutinho Seixas
Olá!
Na primeira parte desse texto apresentamos, brevemente, as características
principais das três perspectivas que mais comumente fundamentam a prática científi-
ca e, conseqüentemente, os procedimentos metodológicos de nossos estudos. Conti-
nuaremos seguindo os passos do delineamento da pesquisa. vamos lá!
você já sabe que para produzir conhecimento científico é necessário mais do
que boas idéias ou temas originais e que é preciso colocar essas idéias em ordem, isto
é, planejar suas ações.
Em qualquer tempo que você deseje elaborar um projeto de pesquisa deve fa-
zer, a si mesmo, as seguintes questões:
o que � pesquisar? Esse questionamento esclarece e define o tema a ser estudado;
para que � realizar essa pesquisa? Diz respeito às finalidades do estudo;
por que � desejo realizar esse estudo? A essa pergunta associamos o texto de justifica-
tiva;
como � vou pesquisar? Que se refere à definição dos procedimentos metodológicos;
em quanto tempo vou realizar esse estudo � ? Que supõe a definição de um cronogra-
ma para execução do estudo.
Portanto, para constituir um projeto de pesquisa, deve apresentar, além de to-
dos os elementos que você já conhece (tema, problema, variáveis...), três elementos: os
objetivos, a justificativa e a metodologia.
OS OBjETIVOS DO ESTUDO
Como indicamos acima, a definição dos objetivos da pesquisa responde à
questão “para que realizar essa pesquisa?”. Em outras palavras, os objetivos indicam
as metas que se deseja alcançar: o que se pretende conhecer, ou medir, ou provar no
decorrer da pesquisa.
Objetivos sempre são compostos de duas partes: uma ação a ser aplicada sobre
um conteúdo. Por isso, os verbos iniciais e estão sempre postos no modo infinitivo. Na
elaboração do projeto, os objetivos são de dois tipos: os Gerais e os Específicos.
Os objetivos gerais estão diretamente relacionados ao tema e ao problema da
pesquisa. Esse tipo de objetivos constitui a espinha dorsal do trabalho. Mas queremos
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ilustrar a sua composição com algo mais concreto. você se lembra do problema re-
lacionado à violência que apresentamos anteriormente? Não? Então será necessário
relembrá-lo. O problema a que estamos nos referindo é esse:
Se o problema de nossa pesquisa for esse:
A presença e a ação da Polícia Comunitária favoreceram o aumento da violência no Bairro
da Paz, município de Salvador, nos cinco primeiros anos do séc. XXI?
... o objetivo geral de nosso estudo pode ser esse:
Analisar a relação existente entre presença/ação da Polícia Comunitária e o aumento dos
índices de violência no Bairro da Paz, município de Salvador, nos cinco primeiros anos do
séc. XXI.
Como você pode perceber, na prática, organizar o objetivo geral consiste em
antepor à hipótese (ou à questão principal do estudo) um verbo que expresse uma
ação intelectual. No caso do objetivo geral que formulamos, a ação intelectual é “ana-
lisar”.
Outros verbos podem ser usados nessa condição. São eles: estudar, explicar,
entender, compreender, avaliar, conhecer.
Se os objetivos gerais estão diretamente relacionados ao tema e ao problema
da pesquisa, os objetivos específicos relacionam-se aos procedimentos metodológi-
cos. Isto é, se temos uma ”meta” a ser alcançada com a pesquisa, os objetivos espe-
cíficos indicarão os passos que serão dados para que esta meta seja alcançada. Mais
uma vez, forneceremos um exemplo prático. Tomando o problema e o objetivo geral
apresentados acima, nossos objetivos específicos podem ser os seguintes:
Levantar os índices de violência; �
Identificar os tipos de violência; �
Relacionar os tipos de violência existentes com as ações realizadas pela Polícia Co- �
munitária.
Outros verbos podem ser utilizados, como por exemplo, distinguir, numerar,
identificar, classificar, caracterizar, comparar, relacionar, verificar, listar, levantar.
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A jUSTIFICATIVA
Como é possível perceber em nossa experiência cotidiana, justificar é oferecer
razões suficientes para que algo venha a acontecer ou tenha acontecido. No âmbito da
pesquisa científica, a justificativa representa uma apresentação de bons motivos para
que o estudo acerca do tema seja desenvolvido. Por isso, quando estiver elaborando a
justificativa de um projeto, não deixe de considerar os aspectos abaixo relacionados.
O primeiro deles refere-se à importância que a realização do estudo possui.
Nesse aspecto é sempre interessante indicar a relevância social, acadêmica etc., ou se
ele poderá trazer contribuições para a solução de um tema atual. Sobre esse aspecto,
Santos (2006,) vai afirmar que, além dessas dimensões, o estudo pode beneficiar:
[...] de imediato a ciência, contribuindo com as informações para
o avanço de determinado estudo científico. Pode, ainda, bene-
ficiar o processo acadêmico, facilitando ou inovando o ensino/
aprendizado de um assunto (SANTOS, 2006, p. 82).
Um segundo aspecto que pode oferecer elementos para a construção da justifi-
cativa é a abrangência do tema, isto é, quem mais, além do autor da pesquisa conside-
ra, o tema do estudo relevante. A abrangência do tema é demonstrada pela inserção
do tema no contexto atual. A incidência de eventos sociais, científicos e/ou acadêmi-
cos para discutir com questões relacionadas ao tema escolhido por aquele que propõe
a pesquisa pode expressar a sua abrangência.
O que se pretende, com a justificativa, é que o leitor se convença da relevância
do estudo a partir dos argumentos que o pesquisador expressou. E, sendo assim, é
importante que ele demonstre que o tema realmente o interessa e que, de alguma
maneira, o afeta. Por isso, não tente realizar um estudo somente porque ele é relevante
ou possui a abrangência. Antes disso, tenha a certeza que você tem vínculos com ele.
você verá que será muito mais fácil executar a pesquisa.
A METODOLOGIA
A partir deste ponto, nos dedicaremos a compreender a etapa que se configura,
indubitavelmente, naquela que vai dar contornos mais definidos para o trabalho cien-
tífico: a definição da metodologia.
Esta etapa se configura, sem sombra de dúvida, naquela que vai dar contornos
mais definidos para o trabalho científico. você já sabe que o pesquisador não pode
deixar de explicitar o paradigma teórico-epistemológico (positivismo, fenomenologia
ou materialismo) que sustentará a investigação; mas que outras informações devem
constar nesse item?
Em linhas gerais, deverá fazer o traçado do caminho que seguirá para se aproxi-
mar do objeto (foco) de sua pesquisa, indicando, principalmente, quais os métodos e
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técnicas serão utilizados para levantar, organizar e analisar informações e dados cole-
tados. Em outras palavras, é preciso definir:
a caracterização da pesquisa quanto aos seus objetivos (É exploratória? Descritiva? �
Explicativa?)
qual o tipo, no que diz respeito aos procedimentos, será realizado: Levantamento/ � Sur-
vey? Documental? Estudo etnográfico?
que técnicas/instrumentos de coleta de dados (ou levantamento de informações) se- �
rão utilizados? Pesquisa on-line? Questionários? Entrevistas? Grupos focais?
vamos tratar detalhadamente cada um desses aspectos.
TIPOS DE PESQUISAS
Antônio Raimundo Santos (2006) classifica os tipos de pesquisas considerando
dois critérios: com base em seus objetivos e com base nos procedimentos técnicos
adotados.
Quanto à classificação com base em seus objetivos, as pesquisas podem ser ex-
ploratórias, descritivas e explicativas. A pesquisa é exploratória quando proporciona
maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito. Geralmente,
assume a forma de pesquisa bibliográfica e de estudo de caso.
A pesquisa é do tipo descritiva quando expõe características de determinada
população ou de determinado fenômeno. Não tem compromisso de explicar os fe-
nômenos que descreve, embora sirva de base para tal explicação. Um exemplo claro
desse tipo de pesquisa são os estudos etnográficos.
A preocupação central da pesquisa explicativa é identificar os fatores que de-
terminam ou que contribuem para a ocorrência dos fenômenos. É o tipo que mais
aprofunda o conhecimento da realidade, porque explica a razão, o porquê das coisas.
Quanto à classificação com base nos procedimentos técnicos adotados propos-
ta por Santos (2006), além da pesquisa experimental, os tipos de pesquisa podem ser:
PESQUISA BIBLIOGRÁFICA
Já apresentamos para você a pesquisa bibliográfica no texto dedicado à revisão
da literatura, mas consideramos que ainda é necessário pontuar mais um aspecto: de-
senvolvida com base em material já elaborado, constituído principalmente de livros
e artigos científicos, a pesquisa bibliográfica é o primeiro estágio de toda e qualquer
investigação científica, devendo ser realizada em paralelo à pesquisa de campo ou de
laboratório.
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PESQUISA DOCUMENTAL
Muito parecida com a bibliográfica. Há quem diga, inclusive, que uma é varia-
ção da outra. A diferença está na natureza das fontes: vale-se de materiais que não
receberam ainda um tratamento analítico, como por exemplo, cartas, diários, docu-
mentos encontrados em arquivos públicos, documentos institucionais...
PESQUISA EXPERIMENTAL
Quando se determina um objeto de estudo, selecionam-se as variáveis que se-
riam capazes de influenciá-lo e definem-se as formas de controle e de observação dos
efeitos que a variável produz no objeto.
A PESQUISA DE CAMPO
Desenvolvimento de coleta de dados e registro de variáveis in loco através da
observação dos fatos e registro de informações através de aplicação de técnicas espe-
cíficas como entrevistas e questionários.
Como dissemos anteriormente, a pesquisa de campo, aplicável nas diferentes
áreas como psicologia, educação, sociologia etc., não prescinde da investigação bi-
bliográfica.
LEVANTAMENTO
É a pesquisa que busca informação diretamente com um grupo de interesse a
respeito dos dados que se deseja obter. Trata-se de um procedimento útil, especial-
mente em pesquisas exploratórias e descritivas. (SANTOS, 2006).
ETNOGRAFIA
Consiste num método/técnica de pesquisa em que o pesquisador procura o
conhecimento de uma realidade específica a partir de sua imersão nesta realidade.
Os estudos etnográficos se originaram na Antropologia Social, por conta da
necessidade que esta área de conhecimento possui em compreender as relações so-
cioculturais, os comportamentos, ritos, técnicas, saberes e práticas das sociedades até
então desconhecidas.
A etnografia, pautada na perspectiva interacionista da Escola de Chicago, con-
tribuiu para “dar legitimidade às técnicas e métodos quantitativos na pesquisa socioló-
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gica em grandes centros urbanos” (GOLDEMBERG, 2005, p. 25). De forte preocupação
empírica, a Escola de Chicago foi a responsável pelo desenvolvimento de métodos
bastante originais para a pesquisa de abordagem qualitativa, principalmente no que
se refere às fontes de investigação, passando a utilizar cientificamente documentos
pessoais, como cartas e diários íntimos, bem como desenvolver trabalho de campo
sistemático no espaço urbano.
ESTUDO DE CASO
Consiste no estudo profundo e exaustivo (intensivo) de um ou poucos objetos,
de maneira que permita seu amplo e detalhado conhecimento.
O que vai determinar a estratégia que será utilizada na pesquisa dependerá
do objeto focado e da perspectiva que o pesquisador imprimirá no estudo. O estudo
de caso é indicado quando as situações da vida real são complexas demais para que
sejam tratadas através de estratégias experimentais ou de levantamento de dados.
PESQUISA-AÇÃO
Tipo de pesquisa cooperativa ou colaborativa, com base empírica, que é con-
cebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um
problema coletivo.
Tendo compreendido que existem várias formas de investigação e de formas de
obtenção de dados vamos destacar dois tipos de pesquisa: a Bibliográfica e a Pesquisa
de campo.
Mas não esqueça! Independentemente do tipo de pesquisa que seja escolhido,
o plano geral da pesquisa deve prever:
Adoção de um modelo teórico; �
Universo ou população: grupo dos indivíduos que podem participar da pesquisa; �
Amostragem: parcela, ou subconjunto da população, que realmente será alvo de in- �
vestigação.
TÉCNICAS E INSTRUMENTOS DE INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA
você já conhece e sabe como elaborar um questionário, não é mesmo? Ele é
um instrumento de investigação que pode atender à maioria dos tipos de pesquisa de
campo satisfatoriamente e, por isso, é muito utilizado. Contudo, nem sempre o ques-
tionário vai possibilitar que o pesquisador tenha acesso às informações necessárias à
elucidação que o seu estudo se propôs.
Por isso, além do questionário, que você já teve a oportunidade de conhecer,
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vamos apresentar outros instrumentos que o pesquisador pode utilizar para levantar
as informações necessárias ao seu estudo. O pesquisador pode lançar mão de
Diários de campo. �
Observação participante, que permite, ao pesquisador, adentrar nas tarefas realiza- �
das pelos indivíduos no seu cotidiano, conhecendo mais de perto suas expectativas,
atitudes e condutas diante de determinados estímulos. Caso seja uma técnica de coleta
escolhida pelo pesquisador para o seu estudo, ele deve agir com naturalidade dentro
do grupo pesquisado, incorporando-se às atividades que desenvolvem seus integrantes
(SORIANO, 2004). O uso desse instrumento de coleta é sempre estará articulado a outras
formas de coleta, como por exemplo, a entrevista ou o grupo focal.
Entrevista individual: técnica que tem como princípio o encontro entre duas pessoas �
que tem como finalidade a obtenção de informações por uma delas (o pesquisador)
mediante uma conversação de natureza profissional;
Grupos focais: grupo de discussão informal e de tamanho reduzido, com o propósito �
de obter informações de caráter qualitativo em profundidade;
Coleta de narrativas e histórias de vida: técnica que substitui as entrevistas tradicionais �
e através da qual o sujeito protagonista (o informante) retorna às suas próprias lembran-
ças para que “o pesquisador conheça de forma mais exata fatos importantes e peculiares
que o entrevistado viveu e experimentou de perto” (SORIANO, 2004, p. 189)
Dentre os instrumentos citados, apresentaremos com mais detalhes dois deles:
as entrevistas e os grupos focais.
O pesquisador pode optar pela adoção de entrevistas como instrumento para
levantamento das informações do seu estudo quando ele pretende:
conhecer o que as pessoas pensam ou acreditam a respeito de fatos que ocorreram ou �
como estas percebem determinados fenômenos;
compreender a conduta de alguém, através de seus sentimentos e anseios; �
descobrir, por meio das definições individuais dadas, qual a conduta adequada em �
determinadas situações, a fim de prever qual seria a sua;
inferir que conduta a pessoa terá no futuro, conhecendo a maneira pela qual ela se �
comportou no passado ou se comporta no presente, em determinadas situações.
TIPOS DE ENTREVISTAS
Padronizada ou estruturada � : é aquela em que o entrevistador segue um roteiro pre-
viamente estabelecido, isto é, as perguntas feitas aos indivíduos são predeterminadas;
Não-estruturada � : é aquela em que o entrevistador tem liberdade para desenvolver
cada situação, em qualquer direção, que considere adequada;
Entrevista focalizada � : há um roteiro de tópicos relativos ao problema que se vai es-
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tudar e o entrevistador, a depender do andamento da entrevista, tem a liberdade de
improvisar e fazer as perguntas que quiser, desde que seja para o esclarecimento ou
aprofundamento de algum aspecto relacionado ao foco de seu trabalho;
Como qualquer técnica de coleta de dados, a entrevista oferece vantagens e
limitações. As suas principais vantagens são:
A técnica da entrevista pode ser utilizada com todos os segmentos da população: �
analfabetos ou alfabetizados; assim, fornece uma amostragem muito melhor da popu-
lação geral, pois ao contrário do questionário, que precisa que o informante domine as
técnicas de leitura e de escrita para preencher o formulário.
Como a entrevista é realizada com a presença do entrevistador, há possibilidade de �
conseguir informações mais precisas, podendo ser comprovada, de imediato, as discor-
dâncias que o informante possa ter com relação ao que foi perguntado.
Oferece maior oportunidade para avaliar atitudes, condutas, podendo o entrevistador �
observar o seu informante e relacionar o que ele diz e como diz; isto é, num caderno de
anotações – ou diário de campo – registrar as reações, gestos etc. do informante quando
a este é solicitado responder as questões que provoquem melindres;
Dá oportunidade para obtenção de dados que não se encontram em fontes documen- �
tais e que sejam relevantes e significativos;
Há maior flexibilidade, podendo o entrevistador repetir ou esclarecer perguntas, for- �
mular de maneira diferente; especificar algum significado, com garantia de estar sendo
compreendido. Por exemplo, se foi feita uma pergunta que, por algum motivo, o infor-
mante não entendeu, o entrevistador pode reformulá-la, usar outros termos e, assim,
garantir que a pergunta seja respondida;
Em contrapartida, na utilização de entrevistas também existem limitações. As
principais são:
Dificuldade de expressão e comunicação de ambas as partes; isso geralmente acon- �
tece quando o entrevistador não se aproxima do universo lexical do entrevistado. Da
mesma forma, se o entrevistador não for uma pessoa sensível, poderá interpretar erro-
neamente os termos utilizados pelo informante (uso de gírias, por exemplo);
Incompreensão, por parte do informante, do significado das perguntas, da pesquisa, o �
que pode levar a uma falsa interpretação;
A possibilidade de o informante ser influenciado, consciente ou inconscientemente �
pelo entrevistador, devido a seu aspecto físico, suas atitudes, idéias, opiniões etc. é maior
do que se o instrumento utilizado fosse o questionário, por exemplo;
Disposição do entrevistado em dar as informações necessárias ou retenção de alguns �
dados importantes, pelo informante, receando que sua identidade seja revelada. Isso
geralmente acontece quando o entrevistador não consegue estabelecer uma relação de
confiança com o seu informante;
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Quando o entrevistador consegue estabelecer uma relação de confiança com
entrevistado, pode-se obter informações que talvez não fossem possíveis. Então, para
que inspire confiança a seu informante acerte nos detalhes! Por isso, eis algumas dicas
que você pode adotar quando for realizar alguma entrevista:
Contato inicial: � você já ouviu falar que a primeira impressão é a que fica? Pois bem,
quando necessitar que alguém seja o seu informante isso é verdade! Por isso, o pesqui-
sador deve estabelecer, com o entrevistado uma relação amistosa, cordial, respeitosa
(em diversos sentidos. Por isso nem pense em realizar uma entrevista com a roupa que
você iria para a praia; da mesma forma que você não deve ir para um ambiente mais
despojado de terninho ou gravata. isto é, o entrevistador deve manter a compostura). É
extremamente relevante que o entrevistador se identifique e explicite os fins e a impor-
tância da pesquisa que está realizando.
Formulação de perguntas � : as perguntas devem ser feitas de acordo com o tipo de
entrevista. Muito cuidado também para não induzir a resposta do informante com a sua
pergunta. Por exemplo, nunca comece uma pergunta com “você não acha...” “você per-
cebe que”... Pois há uma possibilidade maior em influenciar a resposta do informante.
Registro de respostas: � se possível, as respostas devem anotadas no momento da en-
trevista. Por isso, sempre tenha em mãos um caderno para anotações;
Término da entrevista: � a entrevista deve terminar como começou, isto é, em ambien-
te de cordialidade para que o entrevistador possa voltar a obter novos dados.
Uma outra possibilidade é a realização de grupos focais, que se configura como
uma entrevista aberta e centrada (SIDNEI, 2000, p. 178), o grupo focal é uma técnica rá-
pida e de baixo custo para avaliação e obtenção de dados e informações qualitativas.
Suas principais características são:
é organizado com pequeno número de pessoas (entre 7 e 12) para incentivar a intera- �
ção entre os membros;
a conversação concentra-se em poucos tópicos (no máximo 5 assuntos); �
cada sessão não deve ultrapassar a duração de duas horas; �
o moderador tem uma agenda onde estão delineados os principais tópicos a serem �
abordados. Estes tópicos são geralmente pouco abrangentes, de modo que a conversa-
ção sobre os mesmos se torne relevante;
pode haver a presença de observador externo (que não se manifesta, nem interage �
com os outros) para captar reações dos participantes
Também é preciso definir, na metodologia, os procedimentos metodológicos
referentes às técnicas que serão adotadas pelo pesquisador quando este chegar ao
momento de análise e tabulação de informações. Por isso, vamos tratar algumas delas
para você.
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ANÁLISE E TABULAÇÃO DE INFORMAÇõES
Após reunir as informações acerca do seu objeto o pesquisador chega a um
momento crucial da pesquisa: o de tabular e analisar os dados e informações que teve
acesso.
Booth, Colomb e Williams (2005) nos lembram que o que determina a forma
como sistematizaremos o material coletado durante a pesquisa depende de três as-
pectos: os tipos dos dados/informações levantadas; como seus leitores poderão en-
tendê-los melhor; e como você quer que seus leitores reajam a eles. Esses autores vão
dizer:
você comunica melhor com palavras quando a informação é
qualitativa e não facilmente apresentada de modo formal, ou
quando seus leitores são fortemente orientados para a palavra.
[...] com outros leitores, você pode se comunicar de forma eficien-
te com tabelas, gráficos ou diagramas (BOOTH; COLOMB; WILLIA-
MS, 2005, p. 229)
Uma exigência metodológica na realização de uma pesquisa qualitativa, por
exemplo, é a formação de categorias, ou áreas de significação. Minayo (2004, p.94), por
exemplo, enuncia que as categorias podem ser analíticas ou empíricas:
As primeiras são aquelas que retêm historicamente as relações
sociais fundamentais e podem ser consideradas balizas para o
conhecimento do objeto nos seus aspectos gerais. Elas mesmas
comportam vários graus de abstração, generalização e de apro-
ximação. As segundas são aquelas construídas com finalidade
operacional, visando ao trabalho de campo (a fase empírica) ou
a partir do trabalho de campo. Elas têm a propriedade de con-
seguir apreender as determinações e as especificidades que se
expressam na realidade empírica. (MINAYO, 2004, p. 94)
Já foram vistos, em alguns textos dessa disciplina, métodos quantitativos para
a análise de dados. Contudo, convém apresentar a você outras técnicas de análise.
Quando a pesquisa tem uma abordagem quantitativa, você ainda pode se valer de
uma técnica pouco difundida, que é a análise de conteúdos.
A análise de conteúdo é uma técnica para análise de textos que busca exami-
nar minuciosa e numericamente a freqüência de ocorrência de determinados termos,
construções e referências em um dado texto.
Na área da Comunicação, é freqüentemente usada como contraponto à análise
do discurso, técnica eminentemente qualitativa, proposta a partir da filosofia materia-
lista.
Análise do Discurso ou Análise de Discursos é um campo (e uma prática)
da lingüística e da comunicação especializado em examinar construções ideológicas
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expressos em um texto. Para compreender como se dá esta análise, convém definir,
primeiro, o que considera como discurso.
Discurso é a prática social de produção de textos. Isto significa que todo discur-
so é uma construção social, não individual, que deverá ser analisado considerando o
seu contexto histórico-social e suas condições de produção; significa ainda dizer que o
discurso é resultado de um processo de elaboração, através do qual o sujeito eviden-
cia suas formas de ver (e refletir sobre) o mundo, de senti-lo e de percebê-lo. Além da
técnica de análise de discurso, pode ser usada na pesquisa de abordagem qualitativa,
a hermenêutica.
A Hermenêutica, originalmente método de interpretação da Bíblia e de outros
textos religiosos, ganhou estatuto de teoria da interpretação de textos e do discurso
filosófico-científico através de Friedrich Schleiermacher (1768-1834).
Posteriormente, Wilhelm Dilthey (1833-1911) buscou aplicá-la a todos os atos e
produtos humanos. Mais adiante, Heidegger estendeu a compreensão hermenêutica
ao ser humano (Dasein).
É importante ressaltar que técnicas de análise quantitativas e qualitativas não
estabelecem, entre si, contraposição. Elas podem (em muitos casos, devem!) conviver.
Exemplo disso são as chamadas pesquisas quanti-qualitativas, nas quais os pesquisa-
dores propõem uma articulação de técnicas dessas duas abordagens.
Quer saber mais sobre técnicas qualitativas de análise? Então, acesse o endereço eletrônico
a seguir. Aposto que você vai gostar!
http://www.cin.ufpe.br/~pcart/metodologia/pos/Mayring043.pdf
Por fim, fechando as informações que devem constar no projeto, vem o crono-
grama. vamos fazer referência.
O CRONOGRAMA
Se você propõe uma investigação, certamente deverá definir em quanto tempo
você vai executá-la. Esta definição diz respeito ao Cronograma de execução. Aqui você
responde à questão: “Quando ou em quanto tempo será realizada a pesquisa?” Para
tanto, você deve elencar as etapas da pesquisa e relacionar com o tempo necessário
para executar cada uma. Geralmente um cronograma de pesquisa é apresentado em
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forma de tabela, por exemplo:
Ações
Período de implementação
Ago. Set. Out. Nov. Dez.
1. Pesquisa bibliográfica e/ou documental
2. Leitura e fichamento da bibliografia
3. Elaboração dos instrumentos de coleta
dos dados (questionário, entrevista)
5. Levantamento dos índices de violência
6. Identificação dos tipos de violência
7. Processamento e análise dos dados
8. Escrita do relatório
9. Entrega do relatório
Como você pode perceber, no cronograma estão previstas todas as etapas que
o pesquisador planejou para sua pesquisa, desde que definiu os objetivos. Lembra
que nós dissemos que os objetivos específicos estão diretamente relacionados aos
procedimentos metodológicos? Pois é, as etapas definidas naquele momento devem
compor a relação de ações que devemos expor no cronograma.
Considerando todas as informações que dispomos para você nesse texto, creio
que você ampliou seus conhecimentos acerca dos elementos que devem compor um
projeto de pesquisa. Agora, é colocar a mão na massa!
SÍNTESE
Bem, nesse texto apresentamos aspectos relacionados ao delineamento da
pesquisa, em especial, à definição dos objetivos, à elaboração da justificativa do estu-
do, à metodologia e ao cronograma de execução.
LEiTurAS iNDiCADAS
GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4 ed. São Paulo: Atlas,
2002, 175 p.
rEFErÊNCiAS
BOOTH, Wayne C.; COLOMB, Gregory G.; WILLIAMS, Joseph M. A arte da pesquisa. São Paulo: Martins
Fontes, 2005.
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GOLDENBERG, Mirian. A arte de pesquisar: como fazer pesquisa qualitativa em Ciências Sociais. 9. ed.
Rio de Janeiro: Record, 2005.
MACEDO, Roberto Sidnei. Etnopesquisa crítica e multirreferencial nas ciências humanas e na
educação. Salvador: EDUFBA, 2000.
MINAYO, Maria Cecília de S. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 8. ed., São
Paulo: Hucitec, 2004.
SANTOS, Antônio Raimundo dos. Metodologia científica: a construção do conhecimento. 6. ed. rev.,
Rio de Janeiro: DP&A, 2006.
SORIANO, Raúl Rojas. Manual de pesquisa social. Petrópolis: vozes, 2004.
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APRESENTAÇÃO E DIVULGAÇÃO DOS RESUL-TADOS DA PESQUISA
Autora: Gismália Marcelino Mendonça
Agora que você já conhece as diversas etapas que envolvem a produção de
uma pesquisa científica, vamos falar das formas de apresentação e divulgação dos re-
sultados das pesquisas. Talvez você possa estar pensado que ainda é muito cedo para
aprender estes recursos, mas mesmo que você não pretenda realizar uma pesquisa
científica neste momento, essas informações serão bastante úteis ao longo da sua for-
mação acadêmica, pois durante o seu curso de graduação os professores de diversas
disciplinas solicitarão a elaboração de trabalhos acadêmicos que deverão seguir as
mesmas orientações normativas dos trabalhos científicos.
NORMALIzAÇÃO DE TRABALHOS CIENTÍFICOS
A normalização está ligada à origem das civilizações. Desde a formação dos pri-
meiros grupos humanos, fazia-se necessária a criação de regras para troca de produtos
e serviços, visando à sobrevivência. Com o uso de sinais padronizados, o homem con-
seguiu descrever formas, figuras e outras maneiras de se comunicar.
Através da comunicação, torna-se possível a materialização do conhecimento,
que registrado fora da memória biológica do homem, pode ultrapassar os limites ge-
ográficos e de tempo possibilitando a interlocução entre povos de contextos sociais
e históricos diferentes. Para minimizar as barreiras de comunicação como diversidade
de línguas, culturas e realidades sócio-históricas, foi necessário estabelecer normas
para facilitar a disseminação, o acesso, a leitura e a compreensão de textos científicos.
A falta de conhecimento sobre a importância e necessidade de adoção destas normas
para padronização normalização de documentos científicos faz com que alguns estu-
dantes vejam essa etapa do trabalho de forma reducionista, representado para eles
uma mera formalidade acadêmica. Mas a normalização não deve ser encarada como
um obstáculo ou, como uma amarra à criatividade do pesquisador, e sim como um
processo necessário ao sucesso de sua ação comunicativa. (GOMES, 1999).
A normalização de documentos visa à padronização e simplificação no proces-
so de elaboração de qualquer trabalho científico. Facilita também o processo de co-
municação e intercâmbio dentro da comunidade científica, possibilitando o processo
de transferência de informação. Sendo assim, a normalização não tem o propósito de
cercear a criatividade e a liberdade dos autores, mas sim o de facilitar aos diferentes
leitores das diversas culturas o acesso às suas ideias e concepções científicas. A norma-
lização não só confere um grau e qualidade aos documentos produzidos como facilita
as operações documentais e diminui o custo e o tempo necessários para realizá-las,
viabilizando o intercâmbio e a recuperação de informações (CURTY; BOCATTO, 2005,
p. 96).
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No Brasil, a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) atua como foro
nacional para normalização. A ABNT é constituída de 60 comitês em diversas áreas
do conhecimento onde a padronização se faz necessária como: construção civil, mi-
neração, petroquímica, transporte, segurança só para citar algumas. Para a produção
de trabalhos acadêmicos existe um conjunto de normas, denominadas normas sobre
Informação e Documentação que orientam a padronização de elaboração de docu-
mentos.
A seguir são indicadas as normas da ABNT que lhe auxiliarão na apresentação
de trabalhos acadêmicos no decorrer do seu curso. Algumas destas normas serão
apresentadas de forma detalhada.
Número da
Norma/DataTítulo
NBR 6022/2003 Apresentação de Artigo em Publicação Periódica Científica
NBR 6023/2002 Elaboração de Referência
NBR 6024/2003 Numeração Progressiva das Seções de um Documento Escrito
NBR 6027/2003 Sumários
NBR 6028/2003 Resumos
NBR 10520/2002 Citações em Documentos
NBR 10719/2009 Apresentação de Relatórios Técnicos ou Científicos
NBR 14724/2005 Apresentação de Trabalhos Acadêmicos
NBR 15287/2005 Apresentação de Projeto de Pesquisa
SÍNTESE
Neste texto tratamos da importância da normalização e indicamos as normas
técnicas da ABNT que orientam a produção dos trabalhos acadêmicos e científicos.
LEiTurAS iNDiCADAS
DIAS, M. M. K. Normas técnicas. In: CAMPELLO, B. S.; CENDÓN, B. v.; KREMER, J. M.
(Org.) Fontes de informação para pesquisadores e profissionais. Belo Horizonte:
UFMG, 2000. p. 137-151.
rEFErÊNCiAS
CURTY, M. G.; BOCCATO, v. R. C. O artigo científico como forma de comunicação do conhecimento na
área de ciência da informação. Perspectiva da Ciência da Informação, Belo Horizonte, v. 10, n. 1, p.
94-107, jan./jun. 2005. Disponível em:<http://revista.ibict.br/pbcib/index.php/pbcib/article/view/20>
Acesso em: 30 jun 2010.
GOMES, H. F. A normalização do trabalho científico: algumas reflexões sobre a indicação das fontes na
documentação pessoal do autor e no texto final. In: MATOS, M. T. N. B. Saúde e informação. Salvador:
EDUFBA, 1999. p. 97-105.
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APRESENTAÇÃO DE TRABALHOS ACADÊMI-COS E CIENTÍFICOS
Autora: Gismália Marcelino Mendonça
Conforme propomos anteriormente, apresentaremos a seguir os elementos
que compõem a estrutura dos trabalhos acadêmicos e científicos, especialmente
aqueles que você será solicitado a desenvolver durante seu curso e que poderão servir
de apoio a várias atividades futuras. Mas antes, leia no quadro abaixo a descrição dos
documentos da comunicação científica mais utilizados na área acadêmica. Isto certa-
mente vai facilitar a sua compreensão.
Documentos Descrição
Artigos
Texto com autoria declarada que apresenta resultado de
pesquisa e/ou revisão de literatura destinado à publicação e à
divulgação através de periódicos
Dissertações
Documento que representa o resultado de um trabalho
experimental, de tema bem delimitado em sua extensão, com o
objetivo de reunir e interpretar informações publicadas sobre o
assunto. O autor deve evidenciar a capacidade de sistematizar os
conhecimentos adquiridos para obtenção do título de mestre.
Livros
É uma publicação de conteúdo científico, literário ou artístico
formada por um conjunto sequenciado de folhas impressas e
revestida por capa.
Monografias/TCC
Documento que descreve um estudo minucioso sobre
determinado tema. Solicitado como trabalho de conclusão nos
cursos de graduação e pós-graduação lato sensu.
Paper
Texto elaborado sobre um tema determinado ou resultado de
um projeto de pesquisa para ser comunicado em congressos ou
outras reuniões científicas.
Periódicos ou Revistas
Científicas
Publicações editadas em intervalos prefixados, por tempo
determinado, com a colaboração de diversos autores, sob a
responsabilidade de um editor e/ou comissão editorial.
Projeto de PesquisaDocumento que descreve os planos, fases e procedimentos de
um processo de investigação científica a ser realizado.
Relatórios Técnicos e
Científicos
Documento que relata formalmente os resultados ou progressos
obtidos em investigação de pesquisa, ou que descreve uma
observação técnica como estágio ou viagem.Quadro 1 - Tipos de trabalhos acadêmicos e científicos
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ESTRUTURA DOS TRABALHOS ACADÊMICOS E CIENTÍFICOS1
Os trabalhos acadêmicos e científicos descritos no quadro 1, com exceção dos
artigos e paper, possuem a mesma estrutura de apresentação, são construídos de ele-
mentos pré-textuais, textuais, de apoio e pós-textuais. vejamos, então, as várias divi-
sões de cada um desses elementos para apresentação dos trabalhos relacionados no
quadro no capítulo anterior.
Os elementos pré-textuais são aqueles que antecedem o texto e fornecem da-
dos de identificação dos autores e do conteúdo do trabalho. Estes elementos devem
ser apresentados na seguinte ordem:
A capa deve conter sempre as seguintes informações essenciais para a identi-
ficação de um trabalho: nome da instituição, nome do autor, título e subtítulo, cidade
em que está localizada a instituição e ano de produção.
A folha de rosto deve conter: nome do autor; título e subtítulo do trabalho; na-
tureza do trabalho (tese, dissertação, trabalho de conclusão de curso, etc.) e objetivo
(aprovação em disciplina, grau pretendido, etc.); nome da instituição à qual é submeti-
do o trabalho, área de concentração; nome do orientador; cidade da instituição; ano;
Se for um trabalho final de conclusão de curso como monografia, dissertação
e tese deve ser apresentada também: folha de aprovação do trabalho, dedicatórias,
agradecimentos e uma epígrafe.
É comum que os trabalhos acadêmicos apresentem um resumo em português
e uma versão para o inglês, denominada abstract, sua elaboração é orientada pela
NBR 6027. O resumo deve apresentar concisamente os pontos relevantes do trabalho,
fornecendo sempre uma visão rápida e clara do seu conteúdo e das suas conclusões.
Deve-se utilizar, de preferência, a terceira pessoa do singular e verbo na voz ativa.
Deve-se evitar o uso de parágrafos. O resumo deve ter no máximo 500 palavras e ser
seguido de palavras-chave.
O trabalho pode também apresentar listas (relações seqüenciais dos títulos ou
legendas) de ilustrações, tabelas, reduções e símbolos, acompanhadas sempre dos
respectivos números de páginas.
O sumário deve ser o último elemento pré-textual, sua elaboração é orientada
pela NBR 6028. O sumário deve enumerar as principais divisões, seções e outras partes
do trabalho, sempre indicando os números das páginas.
1 Se desejar ver exemplos e modelos de apresentação destes elementos consulte o Manual de Normalização de Apresentação de Trabalhos
Acadêmicos da UNIFACS disponível em: http://www.unifacs.br/upload/biblioteca/ManualdeNormalizacao.pdf
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Os elementos textuais representam a parte do trabalho em que é exposto o
conteúdo da pesquisa na seguinte ordem:
A introdução é o primeiro elemento propriamente textual do trabalho, tem a
função de antecipar o conteúdo apresentado, as principais ideias discutidas, permitin-
do que o leitor tenha uma visão de conjunto do trabalho.
O desenvolvimento é a parte mais extensa do trabalho, é onde o autor deve
apresentar as ideias de forma bem encadeadas, de modo que o leitor possa acompa-
nhar seu raciocínio e entender seus argumentos. Para facilitar a exposição do assunto
deve ser adotado o sistema de numeração progressiva das seções de um documento
que é orientada pela NBR 6024. Desta forma, o assunto principal será indicado por
um número e a sua hierarquização, pela subdivisão deste número formando assim, as
seções primárias, secundárias, terciárias e outras.
Diversos recursos podem servir de apoio no desenvolvimento do texto como:
notas de rodapé, reduções (abreviaturas e siglas), equações e fórmulas, ilustrações
(incluindo desenhos, imagens, gravuras, esquemas, diagramas, fluxogramas, organo-
gramas, fotografias, retratos, gráficos, mapas e plantas), quadros e tabelas.
A conclusão é o último elemento textual. É nesta parte que o autor deve expor
claro e conciso seu ponto de vista sobre o que conseguiu demonstrar no desenvolvi-
mento do trabalho.
Os elementos pós-textuais destinam-se a esclarecer e a complementar o texto,
sem, contudo, fazer parte deste:
A lista de referências deve aparecer após a conclusão, indicando as fontes con-
sultadas, utilizadas e citadas no trabalho. A elaboração das referências é orientada pela
NBR 6023 e será apresentada no próximo capítulo.
O glossário é constituído de uma relação de palavras ou expressões técnicas
de uso restrito ou de sentido obscuro, utilizadas no texto, e acompanhadas das respec-
tivas definições. Este item é opcional.
Os apêndices (elaborados pelo autor) e os anexos (não elaborados pelo autor)
são textos ou documentos que servem de fundamentação, comprovação ou ilustração
do trabalho. Devem ser identificados por letras maiúsculas consecutivas, travessão, e
pelos respectivos títulos. Assim como o glossário, este item é opcional.
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Conforme informado no início deste capítulo, os artigos e papers possuem for-
ma de apresentação diferente dos demais trabalhos acadêmicos. Embora sua estru-
tura também seja constituída de elementos pré-textuais, textuais e pós-textuais,
definidos pela NBR 6022, a formatação destes elementos é mais flexível. Isto aconte-
ce porque os artigos e papers são publicados em revistas especializadas ou anais de
eventos que possuem suas próprias normas de editoração. No entanto, ao submeter
um artigo ou um paper para avaliação e publicação, você deve observar os critérios e
normas estabelecidas pelo conselho editorial da revista ou do evento, pois essa fle-
xibilidade não se aplica para a apresentação de citações e referências, normas que
trataremos no próximo capítulo.
SÍNTESE
Neste texto abordamos os elementos necessários para organização e apresen-
tação de trabalhos científicos, especialmente, os acadêmicos que você será solicitado
a desenvolver durante seu curso, e que poderão servir de apoio a várias atividades
acadêmicas e científicas que você poderá fazer no futuro.
LEiTurAS iNDiCADAS
MENDONÇA, Gismália Marcelino. Manual de normalização para apresentação de
trabalhos acadêmicos. Salvador: Unifacs, 2009. 83 p. Disponível em: http://www.
unifacs.br/upload/biblioteca/ManualdeNormalizacao.pdf> Acesso em: 01 abr. 2010.
rEFErÊNCiAS
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6022: informação e documentação: artigo em
publicação periódica científica impressa: apresentação. Rio de Janeiro, 2003. 5 p.
______. NBR 6023: informação e documentação: referências: elaboração. Rio de Janeiro, 2002. 24 p.
______. NBR 6024: informação e documentação: numeração progressiva das seções de um documen-
to escrito. Rio de Janeiro, 2003. 3 p.
______. NBR 6027: informação e documentação: sumário: apresentação. Rio de Janeiro, 2003. 2 p..
______. NBR 6028: informação e documentação: resumo: apresentação. Rio de Janeiro, 2003. 2 p.
______. NBR 10520: informação e documentação: citações em documentos: : apresentação. Rio de
Janeiro, 2002. 7 p.
______. NBR 15287: informação e documentação: projeto de pesquisa: apresentação. Rio de Janeiro,
2005.
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CITAÇõES E REFERÊNCIAS
Autora: Gismália Marcelino Mendonça
você já deve ter observado, não só aqui como em outras publicações, que parte
do texto vem acompanhado de indicação de sobrenomes de autores e datas. Este tipo
de indicação é denominado Citação, que é uma das características dos trabalhos aca-
dêmicos e científicos. As citações devem ser acompanhadas também das Referências
das fontes indicadas e utilizadas no trabalho. A elaboração de Citações e de Referên-
cias é orientada, respectivamente, pelas NBR 10520 e NBR 6023 da ABNT que serão
detalhadas a seguir.
CITAÇõES
Para realizar seus trabalhos, os autores precisam conhecer a produção de seus
pares. O famoso matemático e físico inglês Isaac Newton não desconheceu as contri-
buições dos que o antecederam, especialmente as de Kepler e Galileu. Por este motivo,
vale repetir sua frase: “Se vi mais longe que os outros homens, foi porque me coloquei
sobre os ombros de gigantes”. Ou seja, assim com Isaac Newton, ao publicar os resul-
tados de suas pesquisas, os pesquisadores fazem citações a outros autores que funda-
mentaram o seu trabalho.
As citações são introduzidas no texto com o propósito de fundamentar, esclare-
cer e fornecer exemplos de pontos de vista semelhantes ou divergentes sobre o assun-
to da pesquisa. Ao elaborar um trabalho acadêmico e científico o autor do texto não
pode deixar de informar as fontes de informações usadas para o embasamento teórico
do trabalho. Indicar as fontes de onde foram extraídas as informações é, antes de tudo,
dar créditos aos autores pesquisados, respeitando assim a Lei de Direitos Autorais - Lei
9.610 de 1988.
A citação pode ocorrer em forma de transcrição literal ou como paráfrase. A
transcrição literal (citação direta ou textual) ocorre quando são produzidas as pró-
prias palavras do autor do texto citado. A paráfrase (citação indireta ou livre) ocorre
quando se reproduzem ideias e informações do documento, sem, contudo, reproduzir
as próprias palavras do texto citado.
As citações devem ser indicadas no texto por um dos seguintes sistemas de
chamada: numérico ou autor-data. Embora as duas formas sejam orientadas pela
ABNT, apresentaremos a seguir mais exemplos do sistema autor-data por ser o mais
utilizado nos trabalhos acadêmicos, por sua simplicidade e facilidade de compreen-
são. No Manual de Normalização de Apresentação de Trabalhos Acadêmicos da UNI-
FACS e na NBR 10520 da ABNT você encontrará informações mais detalhadas sobre os
dois sistemas.
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No sistema numérico, a identificação da fonte da qual foi extraído o trecho cita-
do é feita com a utilização de algarismos arábicos, inserido no final da citação, corres-
pondendo ao respectivo item na lista de referências.
Para Chiavenato habilidade técnica “é a habilidade de fazer coisas concretas e práticas,
como desenhar um projeto, compor um cronograma, elaborar um programa de produção,
entre outras.” (1)
Ou
Para Chiavenato habilidade técnica “é a habilidade de fazer coisas concretas e práticas,
como desenhar um projeto, compor um cronograma, elaborar um programa de produção,
e outras.” 1
_______
1 CHIAvENATO, Idalberto. Administração: teoria, processo e prática. 4. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007.
No sistema autor-data, a chamada da fonte de informação citada é feita pelo
sobrenome do autor ou pela instituição responsável pelo mesmo ou até mesmo pelo
título da publicação, se não for identificada a autoria, na sequência o ano de publica-
ção e o número da página onde foi retirado o trecho, entre parêntese e separadas por
vírgula.
De acordo com Nassar (2005, p.26) nos anos 80, a Administração Japonesa se consolida no
mundo ocidental.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) (2008, p.12), o Brasil
terá uma produção de 12 milhões de toneladas de arroz em 2008.
Nos anos 60, nos EUA e na Europa, o repúdio da população à guerra do vietnã deu início a
um movimento de boicote à aquisição de produtos e ações de algumas empresas ligadas
ao conflito (BALANÇO..., 2008, p.24).
Quando a citação literal ou direta possui até 3 três linhas, acompanha o corpo
do texto e se destaca com “aspas duplas”. Para as citações diretas longas, com mais de
3 três linhas, deve-se fazer um recuo de 4,0 cm na margem esquerda, diminuindo a
fonte e sem as aspas, utilizando espaço simples entrelinhas, conforme demonstrados
nos seguintes exemplos:
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você já deve ter observado em alguns textos que as citações dos sobrenomes
dos autores, às vezes, são grafadas de forma diferente, como nos exemplos a seguir.
A diferença é a seguinte: quando o sobrenome do autor da citação faz parte do texto,
este deve ser grafado com a primeira letra em Maiúscula e as demais em minúscula e
quando o sobrenome do autor citado estiver entre parênteses deve ser grafado em
letras MAIÚSCULAS.
Eco (1999, p. 5) destaca que “fazer uma tese significa aprender a por as idéias em ordem”.
“Fazer uma tese significa aprender a por as idéias em ordem.” (ECO, 1999, p. 5)
Nas paráfrases (citação livre ou indireta) se reproduzem as informações, sem
transcrever as palavras do autor texto original. Neste caso, não é necessário o uso de
aspas e a indicação das páginas consultadas é opcional.
Moreira (2003) destaca em um estudo realizado sobre atendimento a menores, que as
creches comunitárias expressam uma relação diferente dos orfanatos.
As fontes de informação são classificadas em primárias, secundárias e terciárias (CAMPELLO,
2003)
Sempre que possível a citação deve ser feita a partir de documentos originais,
mas na impossibilidade de ter acesso direto à fonte, você pode reproduzir uma in-
formação já citada por outros autores. Este tipo de procedimento é denominado de
citação de citação onde é transcrito, de forma direta ou indireta, trecho do texto em
que não se teve acesso ao documento original. Deve-se citar o sobrenome do autor e
a data do texto original (documento que você não consultou) seguindo da expressão
latina apud, que significa “citado por”, e logo após, o sobrenome do autor e a data do
texto onde você encontrou a citação.
“É impossível argumentar que a ciência, a alquímica e a teologia representavam aspectos
complementares na busca do divino”. (DOBBS, 1991, p. 293 apud GLEISER, 1997, p. 169).
Para Silva (1983 apud ABREU, 1993, p.8) de forma geral, existem, e continuarão a existir,
dificuldades na implantação de programas efetivos de educação continuada.
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rEFErÊNCiAS
As referências são o conjunto padronizado de elementos descritivos, retirados
de um documento, que permitem a identificação das obras citadas, consultados, ou
cuja leitura é sugerida em determinado trabalho.
A elaboração das referências é orientada pela NBR 6023 da ABNT. Esta norma
estabelece regras específicas e relaciona modelos e exemplos de referência para diver-
sos tipos de documentos impressos e eletrônicos.
veja a seguir um exemplo de referência com os elementos descritivos essen-
ciais de um livro que faz parte da bibliografia da disciplina Introdução a Pesquisa Cien-
tífica.
E por falar nisto, você sabe qual é a diferença entre referência e bibliografia?
Bibliografia é o conjunto de publicações que registram a literatura produzida sobre um
determinado assunto. Referências é lista das publicações selecionadas da bibliografia
do tema da pesquisa que foram utilizadas na elaboração de um trabalho acadêmico e
científico. Ainda ficou confuso? vamos dar um exemplo para esclarecer melhor.
você vai a uma biblioteca ou a uma livraria e se dirige às estantes onde as pu-
blicações estão organizadas por grandes assuntos como: administração, computação,
direito, engenharia e muitas outras, pois bem, o conjunto das publicações reunidas
em grandes assuntos são bibliografias, e a seleção de algumas publicações dessas
bibliografias que você utiliza para fazer seu trabalho são as referências.
Para elaborar referências de documentos em meio eletrônico, a NBR 6023 orien-
ta que deve ser seguido o mesmo padrão indicado para documentos impressos, acres-
centando as informações relativas à descrição física do meio (DvD, CD-ROM etc). Já
para os documentos consultados via online, deve ser indicado o endereço eletrônico,
entre os sinais < > precedido da expressão Disponível em: e da data do acesso ao
documento (dia, mês, ano) e da expressão Acesso em:
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Os elementos para elaboração da referência devem ser retirados do próprio do-
cumento. Nas publicações impressas como livros e outros trabalhos monográficos, os
elementos para elaboração da referência podem ser retirados da folha de rosto ou da
ficha catalográfica. Nos periódicos científicos (revistas) essas informações geralmente
estão disponíveis no cabeçalho ou no rodapé do artigo.
A localização das referências dependerá do sistema de chamada utilizado para
indicação das citações:
caso seja usado o sistema numérico para citação no texto, as referências podem
aparecer em nota de rodapé e no fim do texto, apresentadas na ordem em que cada
obra aparece no texto;
as citações do sistema autor-data devem figurar no fim do documento em or-
dem alfabética única de autor(es) e/ou título(s).
veja a seguir alguns exemplos de citações autor-data e suas respectivas refe-
rências:
Citação no texto:
“É preciso que se saiba com muita clareza por onde corre a fronteira atingida pela ciência”.
(GOMES, 2000, p. 6).
Referência de artigo de revista:
GOMES, H. M. Desenvolvimento da ciência. Revista Bahiana de Ciências. Salvador, v. 3, n. 8, p.5-12,
jan, 2000.
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Citação no texto:
Para veiga e Ribeiro (1996) “o saber pedagógico não é simplesmente a aplicação de técnicas
de educação”.
Referência de paper apresentado em congresso:
vEIGA, P. O; RIBEIRO, B. M. Analisando proposta de cursos de pedagogia. In: CONGRESSO NACIONAL
DE EDUCAÇÃO, 8, 1996, Curitiba. Anais ... Curitiba, ABEC, 1996. (CD-ROM)
Citação no texto:
Uma atualização da A Lei do Direito Autoral ocorreu em 19 de fevereiro de 1998,
quando entrou em vigor a Lei 9.610/98 que amplia os suportes possíveis para difusão da
informação, englobando as novas tecnologias. (BRASIL, 1988).
Referência de documento jurídico:
BRASIL. Lei 9.610, de 19 de fevereiro de 1998. Altera, atualiza e consolida a legislação sobre direitos
autorais. Disponível em: <http://www.mct.gov.br/legis/leis/9610_98.htm>. Acesso em: 12 jun 2008.
Para conhecer as regras de elaboração de referência consulte a NBR 6023 ou o
Manual de Normalização de Apresentação de Trabalhos Acadêmicos da UNIFACS e/ou
o site da Biblioteca da Universidade de Santa Catarina, estas fontes oferecem diversos
exemplos de referências.
SÍNTESE
Neste capítulo, apresentamos as normas técnicas que lhe auxiliarão na elabo-
ração de citações e referências das fontes de informação utilizadas para fundamentar
seus trabalhos acadêmicos. A utilização correta desses recursos garantirá o reconheci-
mento da qualidade de seus trabalhos por parte da comunidade acadêmica.
LEiTurAS iNDiCADAS
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6023: informação e
documentação: referências: elaboração. Rio de Janeiro, 2002. 24 p.
______. NBR 10520: informação e documentação: citações em documentos:
apresentação. Rio de Janeiro, 2002. 7 p.
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MENDONÇA, Gismália Marcelino. Manual de normalização para apresentação de
trabalhos acadêmicos. Salvador: Unifacs, 2009. 83 p. Disponível em: http://www.
unifacs.br/upload/biblioteca/ManualdeNormalizacao.pdf> Acesso em: 01 abr. 2010.
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