módulo 16 as fases da vida: relação entre família e sociedade
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Eloíza oliveira chavesFabiana Maria dos santos Souza
Jhonathan Antonny de S. S. Machado Lígia Albuquerque Queiroz Monalisa Barboza Santos
ALUNO(A):________________________________________________ www.clicletras.blogspot.com
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Texto 01
POEMA: AS QUATRO FASES DA VIDA Pompeu Lustosa de Aquino Cantarelli
Todos nós passamos pelas quatro estações do ano:
primavera, verão, outono e inverno.
Na primavera, que é encantadora quadro das flores,
vemos extasiados o desabrochar da natureza;
ai temos o período da infância com a sua inocência, graça e beleza.
No verão, a temperatura é quente e suave
para que as criaturas sintam o calor e a alegria de viver;
nessa fase temos a mocidade exuberante,
explodindo de entusiasmo pela vida.
No outono, época das colheitas,
o ser humano entra na plenitude da sua maturidade,
quando busca a experiência e a sabedoria,
com equilíbrio e bom senso.
O inverno, tempo da neve e do frio,
podemos compara-lo a velhice,
derradeira quadra da existência humana,
acaso da vida a sucumbir nas fimbrias do horizonte...
E na velhice que a criatura,
após ter passado pelos outros quartéis da vida,
vai perdendo o vigor físico, entrando para a senilidade,
até o instante da sua desencarnação,
quando o espírito se liberta das peias da matéria e,
se esclarecido, parte imediatamente para o seu mundo de luz.
Disponível em: http://gotasdeorvalhoarmindalopes.blogspot.com.br/2010/01/as-quatro-fases-da-vida.html. Acesso em: Set. 2015.
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Texto 02 CRÔNICA: TODA A VIDA Luís Fernando Veríssimo
Disse o homem: “Fiquei velho na época errada. Toda a minha vida foi assim. Cheguei às
diferentes fases da vida quando elas já tinham perdido suas vantagens. Ou antes de adquirirem
vantagens novas. Passei minha vida com aquela impressão de quem entrou na festa quando ela
já tinha acabado ou saiu quando ela ia ficar boa.
“Veja você: a infância. Houve um tempo em que crianças, assim, da minha classe eram
tratadas como príncipes e princesas. Está certo, elas também apanhavam muito. Mas havia as
compensações. Geralmente uma avó morava junto ou morava perto e as consolava com colo e
doces. E as mães não trabalhavam fora nem faziam academia ou tsao-tse-qualquer coisa.
Ficavam em casa, inventando maneiras de estragar os filhos.
“Você alguma vez teve roupa de veludo? Nem eu. Sou da
geração pós-veludo e pré-jeans. Às vezes olho fotografias
daquelas crianças antigas com roupas ridículas, golas rendadas e
babados, e me dá uma inveja... Aquilo sim era maneira de tratar
criança. Acho que minha geração deu no que deu porque nunca
usou roupa de veludo. Ou cacho nos cabelos.
“Outra coisa: psicologia. Fui da primeira geração criada
com psicologia. Nada de castigo – conversa. Ele rabiscou toda a
parede? Está tentando expressar alguma coisa. E usou o batom da
mãe? Ih, cuidado, uma surra agora pode deflagrar um processo de
introjeção edipiana e traumatizá-lo para sempre. Também fui da
primeira geração que, com a invenção da calculadora de bolso,
não precisou decorar a tabuada. Resultado: cresci sem a noção de
duas coisas importantíssimas: pecado e matemática.
“Cheguei tarde à infância e muito cedo à adolescência. A revolução sexual começou
exatamente um dia depois que eu casei com a minha mulher porque era a única maneira de
poder dormir com ela. Nos casamos num sábado e a revolução sexual começou no domingo.
Ainda tentei desfazer o casamento, já que não precisava mais, mas não deu, estava feito.
“Minha adolescência foi um martírio. Me lembro dela como uma única e interminável
tentativa de desengatar sutiãs. Os sutiãs eram presos atrás de mil maneiras. Ganchos, presilhas,
botões, solda. Você precisava de um curso de engenharia para desengatá-los. Uma namorada
minha usava um sutiã com uma fechadura atrás. Com combinação, como um cofre, juro.
Dezessete para a esquerda, cinco para a direita, rápido que a mãe vem vindo! Você, garoto,
nem deve saber o que é sutiã.
“Eu pensava ser um jovem adulto sério, engajado nas melhores causas, talvez até um
ativista político, um guerrilheiro. Quando cheguei à idade, os jovens adultos estavam cuidando
das suas carreiras e das suas carteiras de ações. Fui da primeira geração que quando falava em
ir para as montanhas queria dizer para o fim de semana. E a última que ainda usou a palavra
‘alienação’, mas já sem saber bem o que queria dizer.
“Tudo bem, pensei. Vou me preparar para a velhice e os seus privilégios, com minha
pensão e meus netos. Mas a Previdência está quase quebrando e minha aposentadoria é uma
piada, e meus netos, quando me olham, parecem estar me medindo para um asilo geriátrico. E
há meia hora que eu estou aqui chateando você com toda essa conversa e você ainda não se
levantou para me dar o seu lugar.”
E disse o garoto: “Pô, qual é, coroa? Esse negócio de dar lugar pra velho já era.”
E suspirou o homem: “Eu não disse? Também cheguei tarde à velhice.” Disponível em: http://www.cremesp.org.br/?siteAcao=Revista&id=680. Acesso em: Set. 2015.
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Texto 03
ARTIGO: CADÊ A INFÂNCIA QUE ESTAVA AQUI? O GATO COMEU! Ângela Maria Costa
O ser humano não nasce pronto para a vida natural. Por isso é
considerado, ao nascer, o animal mais imaturo e dependente dentre todos os animais. Apesar de
nascer com pés e mãos e com todos os seus sentidos (visão, audição e tato), tal como outros
animais, necessita de pelo menos oito anos de cuidados e atenção
da mãe, da família ou de substitutos, para poder sobreviver, em
seu meio natural. Precisará, portanto, passar por um 2º
nascimento, emergindo da vida natural para imergir no mundo da
cultura recebido como herança do grupo do qual faz parte.
Estudos também revelam que ser criança não significa,
necessariamente, ter infância. O historiador francês, Philippe
Àries, revelou em seu estudo – História Social da Criança e da
Família - que o conceito de criança não está relacionado com o de
infância, porque, enquanto a criança existe desde o nascimento do
primeiro ser humano, a infância é uma construção social que só passou a existir nos séculos
XVII e XVIII. Considerada uma das grandes idéias da Renascença. Na Idade Média as crianças
tinham um papel social mínimo e eram geralmente representadas como “pequenos homens”,
tanto na vestimenta quanto na participação na vida social. Tiveram que se adaptar e viver em
um mundo que não era seu, nem fora feito para o seu tamanho. A própria permissão de
compartilhar o mundo adulto representava, de fato, a própria ausência de direitos da criança.
A partir desses estudos, pode-se afirmar que o conceito de infância altera-se,
historicamente, em função de determinantes sociais, culturais, políticos e econômicos. O seu
entendimento dependerá sempre do contexto em que estiver inserido.
O que significa, então, ser criança nos dias de hoje - século XXI? Como situar a infância
nesse contexto?
Nossa sociedade tem uma visão adultocêntrica da criança, isto é, uma visão redutora da
criança, a criança como um – vir a ser – um ser inacabado e incompleto que precisa amadurecer
e evoluir. Que precisa se educar segundo nossos próprios modelos. Foi assim que fomos
apagando a infância de nossas crianças e caindo nas armadilhas culturais de nosso tempo.
Hoje o que se vê são crianças sobrecarregadas de atividades, aulas de balé, inglês,
natação, futebol, computação; sem tempo para brincarem; vestindo roupas; cantando e
dançando músicas de adultos (erotizadas), jogando jogos de adultos pelo prazer da competição.
Estão cada vez mais cedo em contato direto com a mídia, videogames e com o computador.
Será que esses fatos não nos levam ao questionamento: não estaríamos voltando à Idade
Média?
Sim! Acabamos com a infância e por conta disso podemos perceber nos
comportamentos das crianças os resultados: crianças hiperativas (déficit de atenção);
agressivas; estressadas; com depressão; tristes e apáticas. Onde está a infância em nossa
sociedade? E nas escolas? Quem é essa criança? O que é educação? A antecipação da idade
para as crianças entrarem no Ensino fundamental (5 anos), com a priorização da leitura e da
escrita desde o maternal com crianças de 2 anos, demonstram também a cumplicidade da escola
com o fim da infância .
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É triste constatar que ser criança hoje não significa ter infância e que estar em uma
instituição de educação infantil não significa ter infância! Permitir que uma criança seja infantil
é a melhor pré-condição para que ela se torne realmente um indivíduo pleno, e não somente
parte de uma sociedade organizada. Proteger a infância, lutar pelos direitos da criança, pelo
direito de ser criança, pode nos ajudar a descobrir novamente, dentro de nós, as qualidades
infantis (honestidade, confiança, compaixão) trazendo-as para o mundo adulto, a fim de
humanizar nossa cultura.
Em tempo, dia 31 de maio é comemorado o Dia Internacional do Brincar. De quê
nossos filhos brincam hoje? Em nossa infância brincamos muito, de roda, de pique, amarelinha,
cabra-cega, e todas essas brincadeiras foram repassadas oralmente, para nós, de geração em
geração. E Nós?!
Quando o mundo inteiro comemora o Dia do Brincar, importante e necessário fazer essa
reflexão.
Disponível em: https://www.docelimao.com.br/site/especial-kids/educacao/683-cade-a-infancia-que-estava-aqui.html. Acesso em: Set. 2015.
Texto 04 MÚSICA: PEDOFILIA
Titãs
ar legenda
Ele disse: 'eu tenho um brinquedo
Vem aqui, vou mostrar pra você'
Ele disse: 'esse é o nosso segredo
E ninguém mais precisa saber'
'Eu não vou te fazer nenhum mal', ele disse
E então me pegou pela mão
Ele disse que era normal que pedisse
E eu não tinha por que dizer não
Não sou eu mais em mim
Não sou eu mais
Sou só nojo de mim
Só nojo, por dentro
Não sou eu mais em mim
Não sou eu mais
Sou só nojo de mim
Só esquecimento
Ele disse: 'eu tenho um presente
Vem comigo que eu vou te mostrar'
Ele disse: 'isso é só entre a gente
E não é pra ninguém escutar'
'Eu não vou fazer nada de errado, eu te juro
Vem aqui, vamos nos conhecer'
'Vem aqui, fica aqui do meu lado, no escuro
Eu prometo cuidar de você'
Não sou eu mais em mim
Não sou eu mais
Sou só nojo de mim
Só nojo, por dentro
Não sou eu mais em mim
Não sou eu mais
Sou só nojo de mim
Só esquecimento
Não, não, não
Disponível em: http://www.vagalume.com.br/titas/pedofilia.html#ixzz3kgSMruPD. Acesso em: Set. 2015.
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Texto 05
CHARGE
Disponível em: http://www.africaeafricanidades.com.br/edicao7.html. Acesso em: Set. 2015.
ANOTAÇÕES
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TEXTO 06 ARTIGO: O ADOLESCENTE NO MUNDO ATUAL... Maria Elizabeth Jereissati
A adolescência é um processo, crítico e turbulento, de transformações e mudanças, pelas quais o
ser humano passa, até atingir a vida adulta. O corpo do adolescente, agora capaz de uma sexualidade
procriativa, interage com uma mente, onde o cenário é dor e angústia, sonhos e esperanças. Os apelos de
seus impulsos sexuais emergentes, a constatação que é um indivíduo separado dos pais, a superação do
sentimento de dependência e desamparo são fenômenos, com os quais, o jovem vai ter que lidar, em favor
de seu desenvolvimento.
Agora, ele vai procurar descobrir quem ele é, este ser em potencial, com todas as dificuldades,
satisfações e inquietudes que esta busca determina. Vai à procura de uma identidade própria, do sentido
da vida e de sua própria existência, vivenciando seus potenciais e suas limitações.
Embora ele tema abandonar o casulo seguro e protetor do meio familiar, o mundo se apresenta
como um desafio e uma atração irresistível.
A dependência começa a se romper e o jovem passa a se rebelar contra dois pólos: o ser criança e
o ser adulto.
O adolescente, ávido de novos referenciais, tem necessidade de se voltar para os pares e para os
grupos. Como vão ser supridas suas necessidades grupais, vai depender dos tipos de grupo que estão à sua
disposição.
Essa experiência de socialização pode ser construtiva, ajudando o jovem a realizar seus anseios,
suas aspirações e a expressar sua criatividade, ou, ao contrário, pode ser destrutiva, na medida em que for
um espaço, em que, amparado pelo grupo, incentive sua agressividade e violência.
No mundo atual, a sociedade e a cultura encontram-se sem recursos necessários para dar conta do
conjunto de transformações e necessidades, impostos pelos atuais processos de desenvolvimento.
As mudanças rápidas e constantes na sociedade, geradas pelos avanços tecnológicos, ameaçam a
estabilidade necessária, para que haja uma convivência social harmônica, solidária, segura e coesa. O
sentimento de continuidade se encontra ameaçado. O que tem valor é o “momento”.
A cultura do consumo, leviano e irresponsável, a banalização do sexo, das relações afetivas, da
vida e da agressividade, veiculadas através da mídia e sustentadas por poderosos interesses de mercado,
estimula a conquista do prazer imediato e de um falso estado de plenitude e independência.
Existe uma grande falta de compromisso, quanto ao impacto psicossocial, que toda essa situação
acarreta.
Os atos de vandalismo, as gangues, as pichações, os rachas, o uso de drogas são expressões da
realidade social em que o adolescente se encontra. Os jovens desnorteados vivem a filosofia do “vale
tudo”, num estado confuso, em que não sabe mais o que deve ou não fazer, como fazer, e, ainda, não
consegue diferenciar o bom do mau, o certo do errado, o construtivo do destrutivo. E o pior, é que eles
não têm a quem recorrer, pois a sociedade se encontra como ele, confusa, perdida, desnorteada…
É preciso estar alerta para isso, para que o jovem adolescente não seja uma vítima de nosso tempo.
Se faz necessário recuperar nossa capacidade de “pensar” e se “questionar” frente aos
“verdadeiros e profundos” valores da vida.
O amor, a solidariedade, a moral e a ética necessitam ser resgatados, para que o adolescente, em
sua vulnerabilidade, possa adquirir modelos de identificação, que o leve a um processo de experiências,
que possam prepará-los para uma sobrevivência sadia e para propagação da sua espécie.
Disponível em: http://www.anitamulher.com.br/anita/o-adolescente-no-mundo-atual/. Acesso em: Set.
2015.
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Texto 07 ARTIGO: Mídia X Sexualidade: o que você assiste, ouve e lê também interfere no seu jeito de agir e pensar
Jaqueline Magalhães e Cristiane Rosa
TV, rádio, revistas, jornais, celulares e internet. Quase todos nós acabamos passando algumas horas
envolvidos com alguma dessas mídias, seja em busca de informações sobre o mundo, algum tema de
interesse específico, diversão, bate-papo ou um simples passa tempo. Não há como negar a importância
dos meios de comunicação em nossas vidas nos tempos atuais, nem a facilidade que eles muitas vezes
trazem ao nosso dia a dia, além de permitirem trocas cada vez mais rápidas de informações e ideias, que
influenciam comportamentos pelo mundo.
E é nesse ponto que estamos pensando aqui: a influência da mídia, em seus diversos formatos, no
comportamento dos adolescentes, principalmente no que se refere à sexualidade. Por exemplo: formas de
se relacionar, de se vestir, de dançar, namoros, traições, primeira transa, primeiro beijo, diversidade, entre
outros, são temas frequentes em novelas, filmes, seriados, programas voltados para jovens, blogs e sites.
Cada um desses meios apresenta ideias, conceitos, valores sobre como “se deve” ou “não se deve” viver a
própria sexualidade, sobre o que está na moda, e o que é um mico total, sobre como ser popular etc. É
como se houvesse um único “certo ou errado”, e quem estivesse fora
do modelo, teria um valor menor. Percebe a influência?
Esta pergunta é essencial, porque, se é verdade que a mídia
está aí nos influenciando o tempo todo, é super importante que a
gente possa perceber esta influência, para poder refletir sobre o que
assistimos, ouvimos e lemos, antes de tomar tudo como verdade e
único modelo a seguir.
Você já parou pra refletir sobre como o que você assiste, ouve
e lê interfere no seu jeito de agir e pensar?
No “Manual de Atenção à Saúde do Adolescente”, feito pela
Coordenação de Desenvolvimento de Programas e Políticas de
Saúde de São Paulo em 2006, um trecho diz o seguinte: “Os jovens
têm recebido um alto conteúdo sexual nas programações e
propagandas veiculadas pela TV, através de mensagens que
valorizam o sensacionalismo, a erotização, as relações casuais [...].
Nas novelas e seriados, a maioria dos atores são jovens e belos,
mudam constantemente de parceiros, não usam métodos contraceptivos nem de proteção contra DST e,
mesmo assim, não se contaminam, não engravidam e os finais são sempre felizes”.
A gente acaba assistindo a tudo isso e acreditando que tem que ser assim pra ser legal. Questões de
gênero, que falam sobre os comportamentos esperados para homens e mulheres, também são marcantes
nas propagandas e novelas, mas muitas vezes passam despercebidas, afinal estamos acostumados com
mulheres e seus produtos de limpeza, homens e seus carros de luxo, cervejas e mulheres com corpos
esculturais ao redor. Parece tudo muito natural, mas não é. São ideias que se criam ao longo da história, e
que se transformam com a história também.
Como já ressaltamos lá no início, a mídia também tem grande importância na atualidade, quando
trata de temas polêmicos e essenciais ao debate e desenvolvimento social, como a diversidade sexual, o
enfrentamento à violência sexual contra crianças e adolescentes, a prevenção às DST/aids, entre outros.
Embora isso aconteça às vezes ainda de um jeito muito estereotipado – forçado, sensacionalista – ou
superficial, acaba nos ajudando a refletir sobre estas questões. Refletir, pensar, discutir, questionar, ou
seja, nunca aceitar simplesmente a informação como ela vem, “mastigadinha”, pronta. Isso é ser
influenciado apenas, sem perceber a influência, que pode não ser muito legal.
Por exemplo, as revistas que são direcionadas aos adolescentes, muito mais voltadas às meninas,
quando tratam de sexualidade falam sobre prevenção de doenças, sobre como agradar o parceiro, sobre a
importância de um corpo perfeito etc. Mas, pouco se fala de prazer, planejamento, questões de gênero e
diversidade sexual, menos ainda sobre direitos sexuais. Você já se perguntou porque estes temas não são
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abordados? Ou já questionou os modelos de comportamento apresentados por estas revistas como sendo
os únicos que “valem”?
Muitas músicas seguem no mesmo caminho. Têm um forte apelo sexual, falam da mulher como um
objeto para satisfação do homem, de homens que exibem dinheiro e esbanjam prazer, banalizando a
sexualidade. E são um sucesso.
A mídia está aí, com um potencial enorme para trazer informações e influenciar crianças, jovens e
adultos, seja de forma positiva, com debates, reflexões, programações que promovam discussões em casa,
na escola ou na roda de amigos, ou seja de forma negativa. Seja qual for sua mídia favorita – o que
importa é fazer escolhas conscientes e questionar sobre o que assistimos, ouvimos ou lemos, antes de
simplesmente “ir na onda” do senso comum.
Disponível em: http://www.agenciajovem.org/wp/?p=15379. Acesso em: Set. 2015.
Texto 08 Gravidez na adolescência
Jefferson Ferreira
Cada vez mais adolescentes se tornam mães no nosso país e as soluções para este problema
estão longe de serem alcançadas. Basta dizer que denomina-se gravidez na adolescência a gestação
ocorrida em jovens de até 201 anos. Esta gravidez, em geral, não é planejada, tampouco desejada e
acontece quase sempre em meio a relacionamentos sem estabilidade.
Para Danielle Apolinário, que engravidou aos 19 anos de idade, sem ter programado, o
momento mais dificultoso foi no período em que se manteve grávida. “para mi, o estresse foi nos
cuidados com a gravidez. Alem de eu ser mãe de primeira viagem, eu era muito jovem e tinha de
conciliar os estudos com o trabalho doméstico. Fazer tudo isso grávida era muito complicado. Os homens
podem achar que não, mais a barriga pesa”, diz ela com sorrisos, aos 23 anos e já com seu segundo filho.
Para ela, o apoio da sua família foi fundamental, ajudando-a a levar adiante a gravidez, uma vez que
naquela situação até pensou em aborto. “se eu não os tivesse por perto não sei o que teria acontecido”,
comenta.
Cabe destacar que a gravidez precoce não é um problema exclusivo das meninas. Não se pode
esquecer que,embora os rapazes não possuam as condições biológicas necessárias ara engravidar, um
filho não é concebido por uma única pessoa. E se a menina que cabe a difícil missão de “carregar” o filho
no ventre durante toda a gestação, enfrentando as dificuldades e as dores no parto, sem falar da
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amamentação da criança após o nascimento, o rapaz não pode se eximir de sua parcela de
responsabilidade. Por isso, quando uma adolescente engravida não é apenas a sua vida que sofre
mudanças. O parceiro, assim como as famílias de ambos, também passa pelo difícil processo de
adaptação a uma situação imprevista.
Para o psicólogo clinico do hospital universitário Alcides carneiro (HUAC), Eugenio Felipe (35),
a fase da adolescência é um período extremamente complicado para jovens,isto porque o corpo esta
passando por profundas transformações , assim como a mente, e está em transição para a fase adulta.
“as vezes, a jovem não quer engravidar. No entanto, inconscientemente, é possível que este desejo
esteja tão palpitante que a leve a se tornar mãe antes do tempo”, completa o psicólogo.
Eugênio atenta para a hipótese de uma adolescente que viva em um lar desestruturado,onde
acontecem diversas brigas, os pais são muito severos ou tem algum histórico de alcoolismo. Então,
inconscientemente, ela se entrega demais a um determinado relacionamento para se livrar de um
problema grave, mas, de certa forma, estará criando um problema ainda maior.
Atualmente, falar sobre sexo deixou de ser um tabu.a informação hoje é uma arma poderosa
para mudar esse quadro de adolescentes grávidas no país. Mas, essa é uma via de duas mãos. o excesso
de informações e liberdade recebida por esses jovens os levam a banalização de assuntos como o
sexo,acompanhada a falta delimite e de responsabilidade é um dos motivos que favorece a incidência
de gravidez na adolescência.
A consciência deve partir de cada um e os jovens dêem se prevenir para pode lidar coma
sexualidade na adolescência, principalmente as meninas,uma vez que elas são as mais
responsabilizadas pelas conseqüências. É difícil torna-se mãe quando ainda se está vivendo a condição de
filha.
FERREIRA JEFFERSON. Gravidez na adolescência. Por exemplo, Campina Grande, PB, ano V, n. 7, p. 31, mar. 2010.
ANOTAÇÕES
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Texto 09
MÚSICA: PRA SONHAR Marcelo Jeneci
Quando te vi passar fiquei paralisado
Tremi até o chão como um terremoto no
Japão
Um vento, um tufão
Uma batedeira sem botão
Foi assim, viu
Me vi na sua mão
Perdi a hora de voltar para o trabalho
Voltei pra casa e disse adeus pra tudo que
eu conquistei
Mil coisas eu deixei
Só pra te falar
Largo tudo
Se a gente se casar domingo
Na praia, no sol, no mar
Ou num navio a navegar
Num avião a decolar
Indo sem data pra voltar
Toda de branco no altar
Quem vai sorrir?
Quem vai chorar?
Ave Maria, sei que há
Uma história pra sonhar
Pra sonhar
O que era sonho se tornou realidade
De pouco em pouco a gente foi erguendo o
nosso próprio trem
Nossa Jerusalém
Nosso mundo, nosso carrossel
Vai e vem vai
E não para nunca mais
De tanto não parar a gente chegou lá
Do outro lado da montanha onde tudo
começou
Quando sua voz falou
Pra onde você quiser eu vou
Largo tudo
Se a gente se casar domingo
Na praia, no sol, no mar
Ou num navio a navegar
Num avião a decolar
Indo sem data pra voltar
Toda de branco no altar
Quem vai sorrir?
Quem vai chorar?
Ave Maria, sei que há
Uma história pra contar
Domingo
Na praia, no sol, no mar
Ou num navio a navegar
Num avião a decolar
Indo sem data pra voltar
Toda de branco no altar
Quem vai sorrir?
Quem vai chorar?
Ave Maria, sei que há
Uma história pra contar
Pra contar Disponível em: http://letras.mus.br/marcelo-jeneci/1545067/. Acesso em Set. 2015.
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Texto 10
REPORTAGEM: CASAMENTO, UMA INVENÇÃO CRISTÃ Michel Rouche (Tradução: Marly N. Peres)
A união indissolúvel, celebrada por um sacramento, substituiu antigos costumes de poligamia,
provocando grande mudança nos hábitos europeus.
Casamento de Felipe da Macedônia com Olimpia. Miniatura do séc. XV Em 392, o cristianismo
foi proclamado religião oficial. Entre 965 e 1008 eram batizados os reis da Dinamarca, Polônia, Hungria,
Rússia, Noruega e Suécia.
Desses dois fatos resultou o formato do casamento, em princípios do
ano 1000, com uma face totalmente nova. Durante o Sacro Império Romano
Germânico - que sucedeu ao desaparecido Império Romano -, dirigido por Oto
III de 998 a 1002, houve uma fabulosa transformação das sociedades urbanas
romanas e das sociedades rurais germânicas e eslavas. As uniões entre homens
e mulheres eram, então, o resultado complexo de renitências pagãs, de
interesses políticos e de uma poderosa evangelização.
"Amor: desejo que tudo tenta monopolizar; caridade: terna unidade;
ódio: desprezo pelas vaidades deste mundo." Esse breve exercício escolar,
escrito no dorso de um manuscrito do início do século XI, exprime bem o
conflito entre as concepções pagã e cristã do casamento. Para os pagãos,
fossem eles germânicos, eslavos ou ainda mais recentemente vikings
instalados na Normandia desde 911, o amor era visto como subversivo, como
destruidor da sociedade. Para os cristãos, como o bispo e escritor Jonas de Orléans, o termo caridade
exprimia, com o qualificativo "conjugal", um amor privilegiado e de ternura no interior da célula
conjugal. Esse otimismo aparecia em determinados decretos pontificais, por meio de termos como afeto
marital (maritalis affectio) ou amor conjugal (dilectio conjugalis). Evidentemente, o ideal cristão era abrir
mão dos bens deste mundo desprezando-os, o que constituía um convite ao celibato convencional.
A Europa pagã, mal batizada no ano 1000, apresentava portanto uma concepção do casamento
totalmente contrária à dos cristãos. O exemplo da Normandia é ainda mais revelador, por ser muito
semelhante ao da Suécia ou da Boêmia. Os vikings praticavam um casamento poligâmico, com uma
esposa de primeiro escalão que tinha todos os direitos, e com esposas ou concubinas de segundo escalão,
cujos filhos não tinham nenhum direito, a menos que a oficial fosse estéril, ou tivesse sido repudiada. As
cerimônias de noivado organizavam a transmissão de bens, mas não havia casamento verdadeiro a não ser
que tivesse havido união carnal. Na manhã da noite de núpcias, o esposo oferecia à mulher um conjunto
muitas vezes bastante significativo de bens móveis. Ele era chamado de presente matinal (Morgengabe),
que os juristas romanos batizaram de dote. Portanto, o papel da esposa oficial era bem importante,
sobretudo se ela tivesse muitos filhos, já que o objetivo principal era a procriação. Essas uniões eram
essencialmente políticas e sociais, decididas pelos pais. Tratava-se de constituir unidades familiares
amplas, no interior das quais reinasse a paz. Por isso, as concubinas de segundo escalão eram chamadas
de Friedlehen ou Frilla, ou seja, "cauções de paz". Na verdade, elas vinham de famílias hostis de longa
data. A partir do momento em que o sangue de ambas as famílias se misturava, a guerra já não era mais
possível. Assim, as mães escolhiam as esposas dos filhos, ou os maridos, das filhas, sempre nos mesmos
grupos clássicos, a fim de salvaguardar essa paz. Se uma esposa morresse, o viúvo se casaria com a irmã
dela. Dessa forma, pouco a pouco as grandes famílias tornavam-se cada vez mais chegadas por laços de
sangue (consangüinidade), pela aliança (afinidade) e, finalmente, completamente incestuosas.
Acrescentemos a esse quadro as ligações entre os homens, a adoção pelas armas, o juramento de
fidelidade e outras ligações feudais que triunfaram no século X como um verdadeiro "parentesco
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suplementar", segundo a expressão de Marc Bloch, e teremos a prova de que esses casamentos pagãos
não deixavam nenhum espaço livre para o sentimento.
Amor subversivo
Assim, quando o amor se manifestava, ele só podia ser adúltero, ou assumir a forma de um
estupro, maneira de tornar o casamento irreversível, ou de um rapto mais ou menos combinado entre o
raptor e a "raptada", a fim de ludibriar a vontade dos pais. Nesses casos o amor era efetivamente
subversivo, uma vez que destruía a ordem estabelecida. Ele se tornava sinônimo de morte e de ruína
política, como prova o romance, de fundo histórico verdadeiro, Tristão e Isolda, transmitido oralmente
pelo mundo europeu de então - celta, franco e germânico. Tristão, sobrinho do rei e seu vassalo, cometeu
ao mesmo tempo incesto, adultério e traição para com o rei Marco, o marido de Isolda. Aliás, ele mesmo
diz, após seu primeiro encontro: "Que venha a morte". Nas sociedades antigas, obcecadas pela sobrevida,
a vontade de potência, de poder, era mais importante do que a vontade de prazer, pois aquelas tribos de
imensas famílias não conheciam nenhuma limitação administrativa ou externa.
Esse quadro deve ter sido abrandado pelo fato de eles terem estado em contato com países
cristãos, ou povos de regiões mergulhadas no cristianismo, como por exemplo os normandos batizados do
século X. Em decorrência, duas estruturas coexistiam, mais ou menos confundidas. Por volta do ano
1000, o bispo da Islândia teve muita dificuldade para separar um chefe de tribo, já casado, de sua
concubina, especialmente porque ela era sua própria irmã - fato que sustentava a opinião de que seu
irmão, o bispo, não passava de um tirano. Nos séculos X e XI, os duques da Normandia tinham dois tipos
de união, regularmente: uma esposa oficial, franca e batizada, e uma ou várias concubinas.
Guilherme, o Conquistador, que tomou a Inglaterra em 1066, tinha o codinome de bastardo, por
ter nascido de uma união desse tipo. À entrada de Falésia, seu pai, Roberto, o Demônio, teve a atenção
chamada por uma jovem que, no lavadouro da cidade, calcava a roupa com os pés, nua como suas
companheiras de tarefa, para melhor sovar a roupa. Naquela mesma noite, com a autorização de seu pai,
Arlette, a jovem, se viu no quarto do duque, usando uma camisola aberta na frente, "a fim de que", nos
diz o monge Wace, que contou a história, "aquilo que varre o chão não possa estar à altura do rosto de seu
príncipe". Esses amores "à dinamarquesa" demonstram que as mulheres eram livres, com a condição de
aceitar uma posição secundária.
Essa duplicidade de situação num mundo ocidental oficialmente cristão, mas ainda pagão,
complicou-se quando as mulheres conquistaram poder, algo facilitado pela matrilinearidade das origens
germânicas. Algumas incentivavam os maridos a se proclamarem reis, por serem elas de origem imperial
carolíngia. Castelãs, senhoras de grandes propriedades, ou mulheres de alta nobreza, elas utilizavam o
casamento como trampolim para sua ambição. Em Roma, Marozia (ou Mariuccia) foi mãe do papa João
XI, filho de sua ligação com o também papa Sérgio III. Viúva do primeiro marido, Guido da Toscana,
meio-irmão do rei da Itália, Hugo, ela convidou este a se casar com ela. Mas Alberico II, seu filho do
primeiro casamento, expulsou do castelo de Santo Ângelo onde foram celebradas as núpcias, aquele
intruso manipulado por sua mãe. Punição para a libido
Aos olhos de inúmeros escritores eclesiásticos, como o bispo Ratherius de Verona, a libido
feminina era perigosa e devia ser reprimida severamente. O fato de que velhos países como a Espanha, a
Itália e o reino dos Francos, embora cristãos havia já cinco séculos, não tivessem ainda integrado a
doutrina do casamento - a ponto, por exemplo, de o rei Hugo ter tido duas esposas oficiais e três
concubinas - prova o quanto essa doutrina estava na contramão de seu tempo. E contudo ela fora
claramente afirmada e repetida desde que Ambrósio declarara em 390 que "o consentimento faz as
bodas". A isso, o Concílio de Ver acrescentara, em 755: "Que todas as bodas sejam públicas" e "Uma
única lei para os homens e mulheres".
Reclamar a liberdade do consentimento dos esposos e a condição de igualdade do homem e da
mulher era utópico, sobretudo numa sociedade romana patriarcal. Todavia, progressos importantes
ocorreram no século X, graças à repetição da apologia do casamento, símbolo da união indissolúvel entre
Cristo e a Igreja. Após a atitude irredutível do arcebispo Hincmar e do papa Nicolau I, o divórcio de
Lotário II por repúdio a sua esposa Teutberga - devido a sua esterilidade - tornou-se impossível após 869,
ano de sua morte. Incompreensível para os contemporâneos, o casamento não se baseava somente na
procriação. A aliança era mais importante do que um filho. Mais do que ninguém, longe dos discursos
15
sobre a superioridade da virgindade, Hincmar havia demonstrado que um consentimento livre sem união
carnal consecutiva não era um casamento. Ele prefigurava assim a noção de nulidade instituída pelo
decreto de Graciano, em 1145. Em decorrência, os rituais, como escreveu Burchard de Worms por volta
do ano 1000, traduziam no nível da disciplina do casamento a doutrina otimista dos moralistas
carolíngios.
A união carnal, consequência do consentimento entre um homem e uma mulher (e não várias), é o
espaço de santificação dos esposos. O ideal de monogamia, de fidelidade e de indissolubilidade tornou-se
tanto mais possível porque no final do século X desapareceu a escravidão de tipo antigo, nos países
mediterrâneos. Um novo espaço se abria para o casamento cristão, graças ao surgimento do concubinato
com as escravas, que não tinham nenhuma liberdade. Essa foi também a época em que as determinações
dos concílios tornaram obrigatória a validade do casamento dos não libertos.
Mas um outro combate chegava a seu ponto culminante no ano 1000: a proibição do incesto.
Iniciada a partir do século VI e quase bem-sucedida na Itália, na Espanha e na França, essa interdição
enfrentou contudo forte oposição na Germânia, na Boêmia e na Polônia. Proibidos em princípio até o
quarto grau entre primos irmãos, os casamentos de consanguinidade e de afinidade foram punidos, e os
culpados separados. Mais tarde, a partir de Gregório II (715-735), a proibição foi estendida ao sétimo
grau (sobrinhos à moda da Bretanha), assim como aos parentes espirituais (padrinho e madrinha): não
haveria mais aliança a não ser com estranhos, com quem fosse outro (Deus ou o próximo de sexo
diferente), mas de modo algum com aquele ou aquela com quem já existisse um tipo de ligação. As
consequências sociais de tal doutrina foram incalculáveis. Ela obrigou cada um a procurar um cônjuge
longe de sua aldeia e de seu castelo. Acabou por destruir as grandes famílias, de dezenas de pessoas, que
viviam sob o mesmo teto, e por favorecer a formação de um grupo nuclear, do tipo conjugal. Ela
suprimiu, assim, as sucessões matrilineares e a escolha dos esposos pelas mulheres. A exogamia tornou-
se obrigatória. A Europa se abriria para o exterior.
Elogio da virgindade
Na Alemanha, desde os concílios de Mogúncia, em 813, e de Worms, em 868, os casos de
casamentos incestuosos mantidos pela obstinação das mulheres eram numerosos. Na Boêmia, o segundo
bispo de Praga, Adalberto, grande amigo do imperador Oto III, havia conseguido, em 992, um edito
público que o autorizava a julgar e separar os casais incestuosos. Foi um insucesso tão retumbante que ele
se desgostou para sempre de sua tarefa episcopal. Preferiu ir evangelizar os prussianos, que o
martirizaram em 23 de abril de 997.
A dinastia dos Oto, que havia restaurado o império em 962 na Alemanha e na Itália, nem por isso
deixou de apoiar a Igreja em sua empresa de transformação e cristianização. E suas esposas deram o
exemplo, já que Edite (946), Matilde (968) e Adelaide (999) foram consideradas santas. Os clérigos que
relataram suas vidas, em particular a de Matilde, insistem não na viuvez ou nos atos de fundação de
mosteiros, mas sim no papel de esposa e mãe. Sua santidade provinha essencialmente do casamento e do
papel de conselheira, junto a seu imperial esposo. A leitura dos ofícios de passagens da vida de santa
Matilde não teve uma influência desprezível sobre as audiências populares.
Se a Alemanha foi então uma frente pioneira na cristianização do casamento, não foi bem esse o
caso do reino dos francos. Ema, esposa traída do duque da Aquitânia, Guilherme V, vingou-se de sua
rival mandando que ela fosse violada por toda sua guarda pessoal. Berta, filha do rei da Borgonha, mal
tendo enviuvado, pousou seu olhar sobre o jovem Roberto, filho de Hugo Capeto, para fazer um
casamento hipergâmico. Esse exemplo é revelador. A legislação da Igreja acerca do casamento cristão ia
de encontro à mentalidade da época. E no entanto o amor conjugal de caridade (dilectio caritatis)
começava a sobressair ao amor de posse (libido dominandi). Por volta do ano 1000, a expansão urbana e
o início do desbravamento e da cultura dos campos permitiram que a família nuclear monogâmica se
multiplicasse. As células rurais foram destruídas pela necessidade de ir buscar um cônjuge mais longe.
Somente a nobreza e as famílias reinantes mais antigas resistiram, fechadas em suas relações feudais, ao
contrário dos recém-chegados ao poder, os Oto, que acolheram e adotaram a doutrina cristã como uma
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liberação e se lançaram com ousadia na direção do leste, para além do rio Elba, a nova fronteira da
expansão europeia.
Dessa forma, da concepção do amor como subversivo e criador de morte passamos à de um amor
construtivo, promotor de vida. O desejo foi integrado no casamento com a união carnal, espaço de gozo
mútuo. A procriação tornou-se um bem do casamento, entre outros. A poligamia desapareceu. A
publicidade do casamento se instalou. As proibições de incesto permitiram que se descobrisse a
necessidade de alteridade e a afirmação da diferença sexual como força de construção. Esse momento de
otimismo e de vitória sobre o amor de morte pagão, à moda de Tristão, explica o elã prodigioso da Europa
no início do ano 1000. Mas ele não iria além do final do século XI. Também por volta do ano 1000, as
diatribes de São Pedro Damião e Ratherius de Verona contra o casamento dos padres anunciavam um
outro combate que terminaria na reforma gregoriana e no triunfo do celibato convencional.
Em consequência, o elogio da virgindade passou a ser mais e mais preponderante, a ponto de fazer
triunfar uma visão pessimista do casamento. Tanto isso é verdade que a história do casamento cristão é
feita de alternâncias entre sucessos e crises.
Disponível em: http://www2.uol.com.br/historiaviva/reportagens/casamento_uma_invencao_crista.html. Acesso em: Set. 2015.
ANOTAÇÕES
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Texto 11
CRÔNICA: CASAR-SE DE NOVO Arnaldo Jabor
Meus amigos separados não cansam de perguntar como consegui ficar casado 30 anos com a
mesma mulher. As mulheres sempre mais maldosas que os homens, não perguntam a minha esposa como
ela consegue ficar casada com o mesmo homem, mas como ela consegue ficar casada comigo. Os jovens
é que fazem as perguntas certas, ou seja, querem conhecer o segredo para manter um casamento por tanto
tempo. Ninguém ensina isso nas escolas, pelo contrário. Não sou um especialista do ramo, como todos
sabem, mas dito isso, minha resposta é mais ou menos a que segue:
Hoje em dia o divórcio é inevitável, não dá para escapar. Ninguém aguenta conviver com a mesma
pessoa por uma eternidade. Eu, na realidade já estou em meu terceiro casamento – a única diferença é que
casei três vezes com a mesma mulher.
Minha esposa, se não me engano está em seu quinto, porque ela pensou em pegar as malas mais
vezes que eu. O segredo do casamento não é a harmonia eterna. Depois dos inevitáveis arranca-rabos, a
solução é ponderar, se acalmar e partir de novo com a mesma mulher.
O segredo no fundo é renovar o casamento e não procurar um casamento novo. Isso exige alguns
cuidados e preocupações que são esquecidos no dia-a-dia do casal.
De tempos em tempos, é preciso renovar a relação. De tempos em tempos é preciso voltar a
namorar, voltar a cortejar, seduzir e ser seduzido. Há quanto tempo vocês não saem para dançar? Há
quanto tempo você não tenta conquistá-la ou conquistá-lo como se seu par fosse um pretendente em
potencial?
Há quanto tempo não fazem uma lua-de-mel, sem os filhos eternamente brigando para ter a sua
irrestrita atenção?
Sem falar dos inúmeros quilos que se acrescentaram a você depois do casamento. Mulher e marido
que se separam perdem 10 kg em um único mês, por que vocês não podem conseguir o mesmo?
Faça de conta que você está de caso novo. Se fosse um casamento novo, você certamente passaria
a frequentar lugares novos e desconhecidos, mudaria de casa ou apartamento, trocaria seu guarda-roupa,
os discos, o corte de cabelo, a maquiagem. Mas tudo isso pode ser feito sem que você se separe de seu
cônjuge.
Vamos ser honestos: ninguém aguenta a mesma mulher ou o mesmo marido por trinta anos com a
mesma roupa, o mesmo batom, com os mesmos amigos, com as mesmas piadas. Muitas vezes não é a sua
esposa que está ficando chata e mofada, é você, são seus próprios móveis com a mesma desbotada
decoração.
Se você se divorciasse, certamente trocaria tudo, que é justamente um dos prazeres da separação.
Quem se separa se encanta com a nova vida, a nova casa, um novo bairro, um novo circuito de amigos.
Não é preciso um divórcio litigioso para ter tudo isso. Basta mudar de lugares e interesses e não se
deixar acomodar. Isso obviamente custa caro e muitas uniões se esfacelam porque o casal se recusa a
pagar esses pequenos custos necessários para renovar um casamento.
Mas se você se separar, sua nova esposa vai querer novos filhos, novos móveis, novas roupas e
você ainda terá a pensão dos filhos do casamento anterior.
Não existe essa tal “estabilidade do casamento” nem ela deveria ser almejada. O mundo muda, e
você também, seu marido, sua esposa, seu bairro e seus amigos.
A melhor estratégia para salvar um casamento não é manter uma “relação estável”, mas saber
mudar junto. Todo cônjuge precisa evoluir, estudar, aprimorar-se, interessar-se por coisas que jamais teria
pensado em fazer no início do casamento. Você faz isso constantemente no trabalho, porque não fazer na
própria família?
18
É o que seus filhos fazem desde que vieram ao mundo. Portanto descubra a nova mulher ou o
novo homem que vive ao seu lado, em vez de sair por aí tentando descobrir um novo interessante par.
Tenho certeza que seus filhos os respeitarão pela decisão de se manterem juntos e aprenderão a
importante lição de como crescer e evoluir unidos apesar das desavenças. Brigas e arranca-rabos sempre
ocorrerão: por isso de vez em quando é necessário se casar de novo, mas tente fazê-lo sempre com o
mesmo par.
Como vê, NÃO EXISTE MÁGICA – EXISTE COMPROMISSO, COMPROMETIMENTO E
TRABALHO – é isso que salva casamentos e famílias”.
O casamento une duas pessoas e os dois precisam manter seus corações unidos pelos laços não só
do amor, mas, do carinho, do afeto, do afago, do namoro, das brincadeiras e dos pequenos gestos que
segurem a relação. Disponível em: http://pensador.uol.com.br/frase/MTI5NzEzNw/. Acesso em: Set. 2015.
Texto 12
POEMA: SONETO DE SEPARAÇÃO Vinícius de Moraes
De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.
De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.
De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.
Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.
Disponível em: http://www.viniciusdemoraes.com.br/pt-br/poesia/poesias-avulsas/soneto-de-separacao. Acesso em: Set. 2015.
ALIENAÇÃO PARENTAL
O que é a Síndrome de Alienação Parental (SAP)?
É termo proposto por Richard Gardner, em 1985, para a
situação em que a mãe ou o pai de uma criança a treina
para romper os laços afetivos com o outro cônjuge, criando
fortes sentimentos de ansiedade e temor em relação ao
outro genitor.
Lei da Alienação Parental: A lei prevê medidas que vão
desde o acompanhamento psicológico até a aplicação de
multa, ou mesmo a perda da guarda da criança a pais que
estiverem alienando os filhos. A Lei da Alienação Parental, 12.318 foi sancionada no dia 26 de agosto de
2010.
Disponível em: http://www.alienacaoparental.com.br/. Acesso em: Set. 2015.
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Texto 13
AMOR DEPOIS DO DIVÓRCIO Fabrício Carpinejar
Os promotores de justiça sabem. Os juízes sabem. Os
terapeutas sabem. Os massoterapeutas sabem. As faxineiras
sabem.
Nunca houve tanta reconciliação. Mais do que casamento
e divórcio.
A reconciliação é o amor autêntico. O amor bandido que
se converteu à lei. O amor bêbado que largou o álcool. O amor
drogado que fugiu dos vícios.
A reconciliação é o amor depois das férias, recuperado da
perseguição dos defeitos e da distorção das conversas.
É o amor depois da mentira, depois do tribunal, depois da
maldade da sinceridade, depois da carência.
Casais que se prometeram o inferno, que disputaram a
guarda na Justiça, que enlouqueceram os filhos com suas conspirações, decidem voltar a morar
junto, para temor dos vizinhos, para o susto da parentada.
A reconciliação é uma moda entre os divorciados.
Mal se acostumam com o nome de solteiro e se envolvem com os mesmos parceiros. Mas os
mesmos parceiros são outros. Outros novos.
A distância elimina a culpa. A falta filtra a cobrança.
Eles experimentaram um tempo sozinhos para descobrir que se matavam por uma idealização.
Enfrentaram relacionamentos diferentes, exageros e excessos, contemporizaram os medos e as
rejeições, provaram de frustrações amorosas.
Viram que o príncipe se vestia mal, e o sapo coaxava bonito.
Viram que não existe demônio ou santo no amor. Não existe certo ou errado, existe o amor e
ponto.
Este amor provisório, inconstante, inacabado e vivo.
Este amor pano de prato, não toalha de mesa, mas que serve para secar a louça e as lágrimas.
Quem era ciumento retorna equilibrado, quem era indiferente regressa atento.
A trégua salva e refina o comportamento. O casal passa a adotar no dia-a-dia aquilo que não
admitia fazer e que o outro recomendava.
O que soava como crítica antigamente passa a ser conselho.
Gordos emagrecem com exercícios físicos, brabos examinam seus ataques de fúria.
A saudade era um recalque e se transforma em sabedoria.
O par percebe que é melhor ser inexato do que inexistente.
Durante a separação, ninguém aceita ressalva e exame de consciência.
A separação é soberba, escandalosa, arrogante. Todos gritam e espalham os motivos da
discórdia.
Já a reconciliação é humilde, ouvinte, discreta. Os amantes cochicham juras e esquecem as
falhas. Baixam as exigências para aperfeiçoar o entendimento.
A reconciliação é o amor maduro, o amor que ressuscitou, o amor que desistiu de brigar por
besteiras e intrigas.
O amor que é mão dada entre o erro e o perdão. Mas que agora pretende envelhecer de mãos
dadas para sempre. CARPINEJAR, Fabrício. Amor depois do divórcio. Jornal Zero Hora. Coluna semanal, Revista Donna, p. 6. Porto Alegre (RS),
Edição N° 17374, 2013.
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Texto 14 CRÔNICA: MULHER BOAZINHA
Martha Medeiros
Qual o elogio que uma mulher adora receber?
Bom, se você está com tempo, pode-se listar aqui uns setecentos: mulher adora que
verbalizem seus atributos, sejam eles físicos ou morais.
Diga que ela é uma mulher inteligente, e ela irá com a sua cara.
Diga que ela tem um ótimo caráter e um corpo que é uma provocação, e ela decorará o seu
número.
Fale do seu olhar, da sua pele, do seu sorriso, da sua presença de espírito, da sua aura de
mistério, de como ela tem classe: ela achará você muito observador e lhe dará uma cópia da chave
de casa.
Mas não pense que o jogo está ganho: manter o cargo vai depender da sua perspicácia para
encontrar novas qualidades nessa mulher poderosa, absoluta.
Diga que ela cozinha melhor que a sua mãe, que ela tem uma voz que faz você pensar
obscenidades, que ela é um avião no mundo dos negócios.
Fale sobre sua competência, seu senso de oportunidade, seu bom gosto musical.
Agora quer ver o mundo cair?
Diga que ela é muito boazinha.
Descreva aí uma mulher boazinha.
Voz fina, roupas pastel, calçados rente ao chão.
Aceita encomendas de doces, contribui para a igreja, cuida dos sobrinhos nos finais de
semana.
Disponível, serena, previsível, nunca foi vista negando um favor.
Nunca teve um chilique.
Nunca colocou os pés num show de rock.
É queridinha.
Pequeninha.
Educadinha.
Enfim, uma mulher boazinha.
Fomos boazinhas por séculos.
Engolíamos tudo e fingíamos não ver nada, ceguinhas.
Vivíamos no nosso mundinho, rodeadas de panelinhas e nenezinhos.
A vida feminina era esse frege: bordados, paredes brancas, crucifixo em cima da cama, tudo
certinho.
Passamos um tempão assim, comportadinhas, enquanto íamos alimentando um desejo
incontrolável de virar a mesa.
Quietinhas, mas inquietas.
Até que chegou o dia em que deixamos de ser as coitadinhas.
Ninguém mais fala em namoradinhas do Brasil: somos atrizes, estrelas, profissionais.
Adolescentes não são mais brotinhos: são garotas da geração teen.
Ser chamada de patricinha é ofensa mortal.
Pitchulinha é coisa de retardada.
Quem gosta de diminutivos, definha.
Ser boazinha não tem nada a ver com ser generosa.
Ser boa é bom, ser boazinha é péssimo.
As boazinhas não têm defeitos.
Não têm atitude.
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Conformam-se com a coadjuvância.
PH neutro.
Ser chamada de boazinha, mesmo com a melhor das intenções, é o pior dos desaforos.
Mulheres bacanas, complicadas, batalhadoras, persistentes, ciumentas, apressadas, é isso que
somos hoje.
Merecemos adjetivos velozes, produtivos, enigmáticos.
As “inhas” não moram mais aqui.
Foram para o espaço, sozinhas.
Disponível em: http://www.recantodasletras.com.br/cronicas/1728951. Acesso em: Set. 2015.
Texto 15
CONTO: AMOR Clarice Lispector
Um pouco cansada, com as compras deformando o novo saco de tricô, Ana subiu no bonde.
Depositou o volume no colo e o bonde começou a andar. Recostou-se então no banco procurando
conforto, num suspiro de meia satisfação.
Os filhos de Ana eram bons, uma coisa verdadeira e sumarenta. Cresciam, tomavam banho,
exigiam para si, malcriados, instantes cada vez mais completos. A cozinha era enfim espaçosa, o
fogão enguiçado dava estouros. O calor era forte no apartamento que estavam aos poucos pagando.
Mas o vento batendo nas cortinas que ela mesma cortara lembrava-lhe que se quisesse podia parar e
enxugar a testa, olhando o calmo horizonte. Como um lavrador. Ela plantara as sementes que tinha
na mão, não outras, mas essas apenas. E cresciam árvores. Crescia sua rápida conversa com o
cobrador de luz, crescia a água enchendo o tanque, cresciam seus filhos, crescia a mesa com
comidas, o marido chegando com os jornais e sorrindo de fome, o canto importuno das empregadas
do edifício. Ana dava a tudo, tranqüilamente, sua mão pequena e forte, sua corrente de vida.
Certa hora da tarde era mais perigosa. Certa hora da tarde as árvores que plantara riam dela.
Quando nada mais precisava de sua força, inquietava-se. No entanto sentia-se mais sólida do que
nunca, seu corpo engrossara um pouco e era de se ver o modo como cortava blusas para os meninos,
a grande tesoura dando estalidos na fazenda. Todo o seu desejo vagamente artístico encaminhara-se
há muito no sentido de tornar os dias realizados e belos; com o tempo, seu gosto pelo decorativo se
desenvolvera e suplantara a íntima desordem. Parecia ter descoberto que tudo era passível de
aperfeiçoamento, a cada coisa se emprestaria uma aparência harmoniosa; a vida podia ser feita pela
mão do homem.
No fundo, Ana sempre tivera necessidade de sentir a raiz firme das coisas. E isso um lar
perplexamente lhe dera. Por caminhos tortos, viera a cair num destino de mulher, com a surpresa de
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nele caber como se o tivesse inventado. O homem com quem casara era um homem verdadeiro, os
filhos que tivera eram filhos verdadeiros. Sua juventude anterior parecia-lhe estranha como uma
doença de vida. Dela havia aos poucos emergido para descobrir que também sem a felicidade se
vivia: abolindo-a, encontrara uma legião de pessoas, antes invisíveis, que viviam como quem
trabalha — com persistência, continuidade, alegria. O que sucedera a Ana antes de ter o lar estava
para sempre fora de seu alcance: uma exaltação perturbada que tantas vezes se confundira com
felicidade insuportável. Criara em troca algo enfim compreensível, uma vida de adulto. Assim ela o
quisera e o escolhera.
Sua precaução reduzia-se a tomar cuidado na hora perigosa da tarde, quando a casa estava
vazia sem precisar mais dela, o sol alto, cada membro da família distribuído nas suas funções.
Olhando os móveis limpos, seu coração se apertava um pouco em espanto. Mas na sua vida não
havia lugar para que sentisse ternura pelo seu espanto — ela o abafava com a mesma habilidade que
as lides em casa lhe haviam transmitido. Saía então para fazer compras ou levar objetos para
consertar, cuidando do lar e da família à revelia deles. Quando voltasse era o fim da tarde e as
crianças vindas do colégio exigiam-na. Assim chegaria a noite, com sua tranqüila vibração. De
manhã acordaria aureolada pelos calmos deveres. Encontrava os móveis de novo empoeirados e
sujos, como se voltassem arrependidos. Quanto a ela mesma, fazia obscuramente parte das raízes
negras e suaves do mundo. E alimentava anonimamente a vida. Estava bom assim. Assim ela o
quisera e escolhera.
O bonde vacilava nos trilhos, entrava em ruas largas. Logo um vento mais úmido soprava
anunciando, mais que o fim da tarde, o fim da hora instável. Ana respirou profundamente e uma
grande aceitação deu a seu rosto um ar de mulher.
O bonde se arrastava, em seguida estacava. Até Humaitá tinha tempo de descansar. Foi então
que olhou para o homem parado no ponto.
A diferença entre ele e os outros é que ele estava realmente parado. De pé, suas mãos se
mantinham avançadas. Era um cego.
O que havia mais que fizesse Ana se aprumar em desconfiança? Alguma coisa intranqüila
estava sucedendo. Então ela viu: o cego mascava chicles... Um homem cego mascava chicles.
Ana ainda teve tempo de pensar por um segundo que os irmãos viriam jantar — o coração
batia-lhe violento, espaçado. Inclinada, olhava o cego profundamente, como se olha o que não nos
vê. Ele mascava goma na escuridão. Sem sofrimento, com os olhos abertos. O movimento da
mastigação fazia-o parecer sorrir e de repente deixar de sorrir, sorrir e deixar de sorrir — como se
ele a tivesse insultado, Ana olhava-o. E quem a visse teria a impressão de uma mulher com ódio.
Mas continuava a olhá-lo, cada vez mais inclinada — o bonde deu uma arrancada súbita jogando-a
desprevenida para trás, o pesado saco de tricô despencou-se do colo, ruiu no chão — Ana deu um
grito, o condutor deu ordem de parada antes de saber do que se tratava — o bonde estacou, os
passageiros olharam assustados.
Incapaz de se mover para apanhar suas compras, Ana se aprumava pálida. Uma expressão de
rosto, há muito não usada, ressurgia-lhe com dificuldade, ainda incerta, incompreensível. O
moleque dos jornais ria entregando-lhe o volume. Mas os ovos se haviam quebrado no embrulho de
jornal. Gemas amarelas e viscosas pingavam entre os fios da rede. O cego interrompera a
mastigação e avançava as mãos inseguras, tentando inutilmente pegar o que acontecia. O embrulho
dos ovos foi jogado fora da rede e, entre os sorrisos dos passageiros e o sinal do condutor, o bonde
deu a nova arrancada de partida.
Poucos instantes depois já não a olhavam mais. O bonde se sacudia nos trilhos e o cego
mascando goma ficara atrás para sempre. Mas o mal estava feito.
A rede de tricô era áspera entre os dedos, não íntima como quando a tricotara. A rede perdera
o sentido e estar num bonde era um fio partido; não sabia o que fazer com as compras no colo. E
como uma estranha música, o mundo recomeçava ao redor. O mal estava feito. Por quê? Teria
esquecido de que havia cegos? A piedade a sufocava, Ana respirava pesadamente. Mesmo as coisas
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que existiam antes do acontecimento estavam agora de sobreaviso, tinham um ar mais hostil,
perecível... O mundo se tornara de novo um mal-estar. Vários anos ruíam, as gemas amarelas
escorriam. Expulsa de seus próprios dias, parecia-lhe que as pessoas da rua eram periclitantes, que
se mantinham por um mínimo equilíbrio à tona da escuridão — e por um momento a falta de
sentido deixava-as tão livres que elas não sabiam para onde ir. Perceber uma ausência de lei foi tão
súbito que Ana se agarrou ao banco da frente, como se pudesse cair do bonde, como se as coisas
pudessem ser revertidas com a mesma calma com que não o eram.
O que chamava de crise viera afinal. E sua marca era o prazer intenso com que olhava agora
as coisas, sofrendo espantada. O calor se tornara mais abafado, tudo tinha ganho uma força e vozes
mais altas. Na Rua Voluntários da Pátria parecia prestes a rebentar uma revolução, as grades dos
esgotos estavam secas, o ar empoeirado. Um cego mascando chicles mergulhara o mundo em escura
sofreguidão. Em cada pessoa forte havia a ausência de piedade pelo cego e as pessoas assustavam-
na com o vigor que possuíam. Junto dela havia uma senhora de azul, com um rosto. Desviou o
olhar, depressa. Na calçada, uma mulher deu um empurrão no filho! Dois namorados entrelaçavam
os dedos sorrindo... E o cego? Ana caíra numa bondade extremamente dolorosa.
Ela apaziguara tão bem a vida, cuidara tanto para que esta não explodisse. Mantinha tudo em
serena compreensão, separava uma pessoa das outras, as roupas eram claramente feitas para serem
usadas e podia-se escolher pelo jornal o filme da noite - tudo feito de modo a que um dia se seguisse
ao outro. E um cego mascando goma despedaçava tudo isso. E através da piedade aparecia a Ana
uma vida cheia de náusea doce, até a boca.
Só então percebeu que há muito passara do seu ponto de descida. Na fraqueza em que estava,
tudo a atingia com um susto; desceu do bonde com pernas débeis, olhou em torno de si, segurando a
rede suja de ovo. Por um momento não conseguia orientar-se. Parecia ter saltado no meio da noite.
Era uma rua comprida, com muros altos, amarelos. Seu coração batia de medo, ela procurava
inutilmente reconhecer os arredores, enquanto a vida que descobrira continuava a pulsar e um vento
mais morno e mais misterioso rodeava-lhe o rosto. Ficou parada olhando o muro. Enfim pôde
localizar-se. Andando um pouco mais ao longo de uma sebe, atravessou os portões do Jardim
Botânico.
Andava pesadamente pela alameda central, entre os coqueiros. Não havia ninguém no
Jardim. Depositou os embrulhos na terra, sentou-se no banco de um atalho e ali ficou muito tempo.
A vastidão parecia acalmá-la, o silêncio regulava sua respiração. Ela adormecia dentro de si.
De longe via a aléia onde a tarde era clara e redonda. Mas a penumbra dos ramos cobria o
atalho.
Ao seu redor havia ruídos serenos, cheiro de árvores, pequenas surpresas entre os cipós. Todo
o Jardim triturado pelos instantes já mais apressados da tarde. De onde vinha o meio sonho pelo
qual estava rodeada? Como por um zunido de abelhas e aves. Tudo era estranho, suave demais,
grande demais.
Um movimento leve e íntimo a sobressaltou — voltou-se rápida. Nada parecia se ter movido.
Mas na aléia central estava imóvel um poderoso gato. Seus pêlos eram macios. Em novo andar
silencioso, desapareceu.
Inquieta, olhou em torno. Os ramos se balançavam, as sombras vacilavam no chão. Um
pardal ciscava na terra. E de repente, com mal-estar, pareceu-lhe ter caído numa emboscada. Fazia-
se no Jardim um trabalho secreto do qual ela começava a se aperceber.
Nas árvores as frutas eram pretas, doces como mel. Havia no chão caroços secos cheios de
circunvoluções, como pequenos cérebros apodrecidos. O banco estava manchado de sucos roxos.
Com suavidade intensa rumorejavam as águas. No tronco da árvore pregavam-se as luxuosas patas
de uma aranha. A crueza do mundo era tranqüila. O assassinato era profundo. E a morte não era o
que pensávamos.
Ao mesmo tempo que imaginário — era um mundo de se comer com os dentes, um mundo
de volumosas dálias e tulipas. Os troncos eram percorridos por parasitas folhudas, o abraço era
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macio, colado. Como a repulsa que precedesse uma entrega — era fascinante, a mulher tinha nojo, e
era fascinante.
As árvores estavam carregadas, o mundo era tão rico que apodrecia. Quando Ana pensou que
havia crianças e homens grandes com fome, a náusea subiu-lhe à garganta, como se ela estivesse
grávida e abandonada. A moral do Jardim era outra. Agora que o cego a guiara até ele, estremecia
nos primeiros passos de um mundo faiscante, sombrio, onde vitórias-régias boiavam monstruosas.
As pequenas flores espalhadas na relva não lhe pareciam amarelas ou rosadas, mas cor de mau ouro
e escarlates. A decomposição era profunda, perfumada... Mas todas as pesadas coisas, ela via com a
cabeça rodeada por um enxame de insetos enviados pela vida mais fina do mundo. A brisa se
insinuava entre as flores. Ana mais adivinhava que sentia o seu cheiro adocicado... O Jardim era tão
bonito que ela teve medo do Inferno.
Era quase noite agora e tudo parecia cheio, pesado, um esquilo voou na sombra. Sob os pés a
terra estava fofa, Ana aspirava-a com delícia. Era fascinante, e ela sentia nojo.
Mas quando se lembrou das crianças, diante das quais se tornara culpada, ergueu-se com uma
exclamação de dor. Agarrou o embrulho, avançou pelo atalho obscuro, atingiu a alameda. Quase
corria — e via o Jardim em torno de si, com sua impersonalidade soberba. Sacudiu os portões
fechados, sacudia-os segurando a madeira áspera. O vigia apareceu espantado de não a ter visto.
Enquanto não chegou à porta do edifício, parecia à beira de um desastre. Correu com a rede
até o elevador, sua alma batia-lhe no peito — o que sucedia? A piedade pelo cego era tão violenta
como uma ânsia, mas o mundo lhe parecia seu, sujo, perecível, seu. Abriu a porta de casa. A sala
era grande, quadrada, as maçanetas brilhavam limpas, os vidros da janela brilhavam, a lâmpada
brilhava — que nova terra era essa? E por um instante a vida sadia que levara até agora pareceu-lhe
um modo moralmente louco de viver. O menino que se aproximou correndo era um ser de pernas
compridas e rosto igual ao seu, que corria e a abraçava. Apertou-o com força, com espanto.
Protegia-se tremula. Porque a vida era periclitante. Ela amava o mundo, amava o que fora criado —
amava com nojo. Do mesmo modo como sempre fora fascinada pelas ostras, com aquele vago
sentimento de asco que a aproximação da verdade lhe provocava, avisando-a. Abraçou o filho,
quase a ponto de machucá-lo. Como se soubesse de um mal — o cego ou o belo Jardim Botânico?
— agarrava-se a ele, a quem queria acima de tudo. Fora atingida pelo demônio da fé. A vida é
horrível, disse-lhe baixo, faminta. O que faria se seguisse o chamado do cego? Iria sozinha... Havia
lugares pobres e ricos que precisavam dela. Ela precisava deles... Tenho medo, disse. Sentia as
costelas delicadas da criança entre os braços, ouviu o seu choro assustado. Mamãe, chamou o
menino. Afastou-o, olhou aquele rosto, seu coração crispou-se. Não deixe mamãe te esquecer,
disse-lhe. A criança mal sentiu o abraço se afrouxar, escapou e correu até a porta do quarto, de onde
olhou-a mais segura. Era o pior olhar que jamais recebera. Q sangue subiu-lhe ao rosto,
esquentando-o.
Deixou-se cair numa cadeira com os dedos ainda presos na rede. De que tinha vergonha?
Não havia como fugir. Os dias que ela forjara haviam-se rompido na crosta e a água
escapava. Estava diante da ostra. E não havia como não olhá-la. De que tinha vergonha? É que já
não era mais piedade, não era só piedade: seu coração se enchera com a pior vontade de viver.
Já não sabia se estava do lado do cego ou das espessas plantas. O homem pouco a pouco se
distanciara e em tortura ela parecia ter passado para o lados que lhe haviam ferido os olhos. O
Jardim Botânico, tranqüilo e alto, lhe revelava. Com horror descobria que pertencia à parte forte do
mundo — e que nome se deveria dar a sua misericórdia violenta? Seria obrigada a beijar um
leproso, pois nunca seria apenas sua irmã. Um cego me levou ao pior de mim mesma, pensou
espantada. Sentia-se banida porque nenhum pobre beberia água nas suas mãos ardentes. Ah! era
mais fácil ser um santo que uma pessoa! Por Deus, pois não fora verdadeira a piedade que sondara
no seu coração as águas mais profundas? Mas era uma piedade de leão.
Humilhada, sabia que o cego preferiria um amor mais pobre. E, estremecendo, também sabia
por quê. A vida do Jardim Botânico chamava-a como um lobisomem é chamado pelo luar. Oh! mas
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ela amava o cego! pensou com os olhos molhados. No entanto não era com este sentimento que se
iria a uma igreja. Estou com medo, disse sozinha na sala. Levantou-se e foi para a cozinha ajudar a
empregada a preparar o jantar.
Mas a vida arrepiava-a, como um frio. Ouvia o sino da escola, longe e constante. O pequeno
horror da poeira ligando em fios a parte inferior do fogão, onde descobriu a pequena aranha.
Carregando a jarra para mudar a água - havia o horror da flor se entregando lânguida e asquerosa às
suas mãos. O mesmo trabalho secreto se fazia ali na cozinha. Perto da lata de lixo, esmagou com o
pé a formiga. O pequeno assassinato da formiga. O mínimo corpo tremia. As gotas d'água caíam na
água parada do tanque. Os besouros de verão. O horror dos besouros inexpressivos. Ao redor havia
uma vida silenciosa, lenta, insistente. Horror, horror. Andava de um lado para outro na cozinha,
cortando os bifes, mexendo o creme. Em torno da cabeça, em ronda, em torno da luz, os mosquitos
de uma noite cálida. Uma noite em que a piedade era tão crua como o amor ruim. Entre os dois
seios escorria o suor. A fé a quebrantava, o calor do forno ardia nos seus olhos.
Depois o marido veio, vieram os irmãos e suas mulheres, vieram os filhos dos irmãos.
Jantaram com as janelas todas abertas, no nono andar. Um avião estremecia, ameaçando no
calor do céu. Apesar de ter usado poucos ovos, o jantar estava bom. Também suas crianças ficaram
acordadas, brincando no tapete com as outras. Era verão, seria inútil obrigá-las a dormir. Ana estava
um pouco pálida e ria suavemente com os outros. Depois do jantar, enfim, a primeira brisa mais
fresca entrou pelas janelas. Eles rodeavam a mesa, a família. Cansados do dia, felizes em não
discordar, tão dispostos a não ver defeitos. Riam-se de tudo, com o coração bom e humano. As
crianças cresciam admiravelmente em torno deles. E como a uma borboleta, Ana prendeu o instante
entre os dedos antes que ele nunca mais fosse seu.
Depois, quando todos foram embora e as crianças já estavam deitadas, ela era uma mulher
bruta que olhava pela janela. A cidade estava adormecida e quente. O que o cego desencadeara
caberia nos seus dias? Quantos anos levaria até envelhecer de novo? Qualquer movimento seu e
pisaria numa das crianças. Mas com uma maldade de amante, parecia aceitar que da flor saísse o
mosquito, que as vitórias-régias boiassem no escuro do lago. O cego pendia entre os frutos do
Jardim Botânico.
Se fora um estouro do fogão, o fogo já teria pegado em toda a casa! pensou correndo para a
cozinha e deparando com o seu marido diante do café derramado.
— O que foi?! gritou vibrando toda.
Ele se assustou com o medo da mulher. E de repente riu entendendo:
— Não foi nada, disse, sou um desajeitado. Ele parecia cansado, com olheiras.
Mas diante do estranho rosto de Ana, espiou-a com maior atenção. Depois atraiu-a a si, em
rápido afago.
— Não quero que lhe aconteça nada, nunca! disse ela.
— Deixe que pelo menos me aconteça o fogão dar um estouro, respondeu ele sorrindo.
Ela continuou sem força nos seus braços. Hoje de tarde alguma coisa tranqüila se rebentara, e
na casa toda havia um tom humorístico, triste. É hora de dormir, disse ele, é tarde. Num gesto que
não era seu, mas que pareceu natural, segurou a mão da mulher, levando-a consigo sem olhar para
trás, afastando-a do perigo de viver.
Acabara-se a vertigem de bondade.
E, se atravessara o amor e o seu inferno, penteava-se agora diante do espelho, por um instante
sem nenhum mundo no coração. Antes de se deitar, como se apagasse uma vela, soprou a pequena
flama do dia...
Disponível em: http://www.releituras.com/clispector_amor.asp. Acesso em: Set. 2015.
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Texto 16
MÚSICA: AI QUE SAUDADE DA AMÉLIA Mário Lago
Nunca vi fazer tanta exigência
Nem fazer o que você me faz
Você não sabe o que é consciência
Não vê que eu sou um pobre rapaz
Você só pensa em luxo e riqueza
Tudo o que você vê, você quer
Ai meu Deus que saudade da Amélia
Aquilo sim que era mulher
As vezes passava fome ao meu lado
E achava bonito não ter o que comer
E quando me via contrariado dizia
Meu filho o que se há de fazer
Amélia não tinha a menor vaidade
Amélia que era a mulher de verdade
Disponível em: http://www.vagalume.com.br/mario-lago/ai-que-saudades-da-amelia.html#ixzz3lrY67NnA. Acesso em:
Set. 2015.
ANOTAÇÕES
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Texto 17
MÚSICA: PAGU Rita Lee
Mexo, remexo na inquisição
Só quem já morreu na fogueira
Sabe o que é ser carvão
Hum! Hum!
Eu sou pau pra toda obra
Deus dá asas à minha cobra
Hum! Hum! Hum! Hum!
Minha força não é bruta
Não sou freira, nem sou puta
Porque nem toda feiticeira é corcunda
Nem toda brasileira é bunda
Meu peito não é de silicone
Sou mais macho que muito homem
Nem toda feiticeira é corcunda
Nem toda brasileira é bunda
Meu peito não é de silicone
Sou mais macho que muito homem
Ratatá! Ratatá! Ratatá!
Taratá! Taratá!
Sou rainha do meu tanque
Sou Pagu indignada no palanque
Hanhan! Ah! Hanran!
Fama de porra louca, tudo bem!
Minha mãe é Maria Ninguém
Hanhan! Ah! Hanran!
Não sou atriz, modelo, dançarina
Meu buraco é mais em cima
Porque nem toda feiticeira é corcunda
Nem toda brasileira é bunda
Meu peito não é de silicone
Sou mais macho que muito homem
Nem toda feiticeira é corcunda
Nem toda brasileira é bunda
Meu peito não é de silicone
Sou mais macho que muito homem (2x)
Disponível em: http://letras.mus.br/rita-lee/81651/. Acesso
em 15/09/2015 ás 23h07min.
______________________________
Texto 18
MÚSICA: GAROTOS Leoni
Seus olhos e seus olhares
Milhares de tentações
Meninas são tão mulheres
Seus truques e confusões
Se espalham pelos pelos
Boca e cabelo
Peitos e poses e apelos
Me agarram pelas pernas
Certas mulheres como você
Me levam sempre onde querem
Garotos não resistem
Aos seus mistérios
Garotos nunca dizem não
Garotos como eu
Sempre tão espertos
Perto de uma mulher
São só garotos
Seus dentes e seus sorrisos
Mastigam meu corpo e juízo
Devoram os meus sentidos
Eu já não me importo comigo
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Então são mãos e braços
Beijos e abraços
Pele, barriga e seus laços
São armadilhas
E eu não sei o que faço
Aqui de palhaço
Seguindo seus passos
(Refrão)
Se espalham pelos pelos
Boca e cabelo
Peitos e poses e apelos
Me agarram pelas pernas
Certas mulheres como você
Me levam sempre onde querem
(Refrão 3x)
Disponível em: www. letras.mus.br/leoni/47015/. Acesso em 15/09/2015 ás 23h17min.
______________________________________
Texto 19
MÚSICA: DESCONSTRUINDO A AMÉLIA PITTY
Já é tarde, tudo está certo
Cada coisa posta em seu lugar
Filho dorme, ela arruma o uniforme
Tudo pronto pra quando despertar
O ensejo a fez tão prendada
Ela foi educada pra cuidar e servir
De costume esquecia-se dela
Sempre a última a sair
Disfarça e segue em frente
Todo dia, até cansar
E eis que de repente ela resolve então mudar
Vira a mesa,
Assume o jogo
Faz questão de se cuidar
Nem serva, nem objeto
já não quer ser o outro
hoje ela é um também
A despeito de tanto mestrado
Ganha menos que o namorado
E não entende o porquê
Tem talento de equilibrista
ela é muitas, se você quer saber
Hoje aos trinta é melhor que aos dezoito
Nem Balzac poderia prever
Depois do lar, do trabalho e dos filhos
Ainda vai pra night ferver
Disfarça e segue em frente
Todo dia, até cansar
E eis que de repente ela resolve então mudar
Vira a mesa,
Assume o jogo
Faz questão de se cuidar
Nem serva, nem objeto
já não quer ser o outro
hoje ela é um também
Disponível em: http://www.vagalume.com.br/pitty/desconstruindo-amelia.html. Acesso em 15/09/2015 ás 23h24min.
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Texto 20
MÚSICA: Who run the world? Girls! TRADUÇÃO: Comandam o Mundo (Garotas)
Beyonce
Garotas,nós comandamos !
Garotas,nós comandamos!
Garotas,nós comandamos!
Garotas,nós comandamos!
Garotas!
Quem comanda o mundo?
Garotas!
Quem comanda o mundo?
Garotas!
Quem comanda o mundo?
Garotas!
Quem comanda o mundo?
Garotas! (3x)
Alguns homens pensam que
detonam nisso
Como nós fazemos
Mas não, eles não detonam
Joguem seu dinheiro na cara
deles
Nos desrespeitar?
Não, eles não irão
Garoto, nem mesmo tente
tocar nisso
Garoto, essa batida é louca
É assim que me criaram
Em Houston, Texas,
querido
Essa vai para todas as
minhas garotas
Que estão na boate curtindo
as novidades
Que pagam suas compras
E ganham mais dinheiro
depois
Eu acho que vou tirar umas
férias
Nenhum desses caras
conseguem me derrotar
Eu sou tão boa nisso
Vou te lembrar como sou
esperta
Garoto, estou só brincando
Vem aqui, querido
Espero que ainda goste de
mim
Caso você me pague
Minha persuasão
Pode construir uma nação
Poder infinito
Com nosso amor podemos
devorar
Você vai fazer qualquer
coisa por mim
(Refrão 3x)
O clima está fervendo aqui
DJ
Não tenha medo de mandar
essa,mandar essa de novo
Eu estou representando as
garotas
Que estão dominando o
mundo
Deixe-me fazer um brinde
Às graduadas
Amigo, uma rodada
E eu te deixo saber que
horas são
Você não pode me segurar
Trabalhei o dia todo, melhor
ir pegar meu cheque
Essa vai para todas as
mulheres
Que estão vencendo
E alcançando seus objetivos
Para todos os homens que
respeitam
O que eu faço
Por favor, aceitem meu
brilho
Garoto, você sabe que ama
O quanto somos espertas o
suficiente para fazer
milhões
Fortes o suficiente para ter
filhos
E depois voltar aos
negócios
Veja, é melhor não brincar
comigo
Oh,vem aqui, querido
Espero que ainda goste de
mim
Caso você me pague
Minha persuasão
Pode construir uma nação
Poder infinito
Com nosso amor podemos
devorar
Você vai fazer qualquer
coisa por mim
(Refrão 3x)
Disponível em: http://letras.mus.br/beyonce/1870591/traducao.html. Acesso em 15/09/2015 ás 23h38min.
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Texto 21
MÚSICA: SÓ UM TAPINHA Bonde do Tigrão
Vai vamos lá
Cruza os braços no ombrinho
Lança eles pra frente e desce bem devagarinho
Dá, dá, dá uma quebradinha e sobe devagar
Se te bota maluquinha
Um tapinha eu vou te dar porque
Dói, um tapinha não dói
Um tapinha não dói
Um tapinha não dói
Um tapinha não dói, só um tapinha
Dói, um tapinha não dói
Um tapinha não dói
Um tapinha não dói
Um tapinha não dói, só um tapinha
Vai vamos lá
Cruza os braços no ombrinho
Lança eles pra frente e desce bem devagarinho
Dá, dá, dá uma quebradinha e sobe devagar
Se te bota maluquinha
Um tapinha eu vou te dar porque
Dói, um tapinha não dói
Um tapinha não dói
Um tapinha não dói
Um tapinha não dói, só um tapinha
Dói, um tapinha não dói
Um tapinha não dói
Um tapinha não dói
Um tapinha não dói, só um tapinha
Em seu cabelo vou tocar
Sua boca vou beijar
Vou visando tua bundinha
Maluquinho pra apertar
Vai vamos lá
Cruza os braços no ombrinho
Lança eles pra frente e desce bem devagarinho
Dá, dá, dá uma quebradinha e sobe devagar
Se te bota maluquinha
Um tapinha eu vou te dar porque
Dói, um tapinha não dói
Um tapinha não dói
Um tapinha não dói
Um tapinha não dói, só um tapinha
Dói, um tapinha não dói
Um tapinha não dói
Um tapinha não dói
Um tapinha não dói
Vai vamos lá
Cruza os braços no ombrinho
Vai, vai glamurosa
Cruza os braços no ombrinho
Vai glamurosa
Cruza os braços no ombrinho
Lança eles pra frente e desce bem devagarinho
Dá, dá, dá uma quebradinha
Dá, dá, dá uma quebradinha e sobe devagar
Se te bota maluquinha
Um tapinha eu vou te dar porque
Só um tapinha
Disponível em: Disponível em: http://www.vagalume.com.br/bonde-do-tigrao/so-um-tapinha.html. Acesso em: Set. 2015.
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TEXTO 22 TEXTO INFORMATIVO: TIPOS DE VIOLÊNCIAS
O que é violência?
No mundo existem várias formas de
violência, por exemplo: o preconceito, as
agressões físicas e verbais, o bullying, a
homofobia e a violência contra a mulher,
entre outras. Elas acontecem quando alguém
ou um grupo de pessoas utiliza
intencionalmente a força física ou o poder
para ameaçar, agredir e submeter outras
pessoas, privando as de liberdade, causando
algum dano psicológico, emocional,
deficiência de desenvolvimento, lesão física
ou até a morte.
Vamos conhecer algumas formas de
violência:
Violência física- Ação ou omissão que
coloque em risco ou cause danos à integridade
física de uma pessoa.
Violência institucional- tipo de violência
motivada por desigualdades (de gênero,
étnico-raciais, econômicas etc.)
Predominantes em diferentes sociedades.
Essas desigualdades se formalizam e
institucionalizam nas diferentes organizações
privadas e aparelhos estatais, como também
nos diferentes grupos que constituem essas
sociedades.
Violência intrafamiliar- acontece dentro de
casa ou unidade doméstica e geralmente é
praticada por um membro da família que viva
com a vítima. As agressões domésticas
incluem: abuso físico, sexual e psicológico, a
negligência e o abandono.
Violência moral- ação destinada a caluniar,
difamar ou injuriar a honra ou a reputação da
mulher.
Violência patrimonial- ato de violência que
implique dano, perda, subtração, destruição
ou retenção de objetos, documentos pessoais,
bens e valores.
Violência psicológica- ação ou omissão
destinada a degradar ou controlar as ações,
comportamentos, crenças e decisões de outra
pessoa por meio de intimidação, manipulação,
ameaça direta ou indireta, humilhação,
isolamento ou qualquer outra conduta que
implique prejuízo à saúde psicológica, à
autodeterminação ou ao desenvolvimento
pessoal.
Violência sexual- ação que obriga uma
pessoa a manter contato sexual, físico ou
verbal, ou a participar de outras relações
sexuais com uso da força, intimidação,
coerção, chantagem, suborno, manipulação,
ameaça ou qualquer outro mecanismo que
anule ou limite a vontade pessoal. Considera-
se como violência sexual também o fato de o
agressor obrigar a vítima a realizar alguns
desses atos com terceiros.
Não pense duas vezes, se você está sendo
vítima de uma violência ou conhece alguém
que está,
DENUNCIE - LIGUE 180
Disponível em: Disponível em: http://www.adolescencia.org.br/site-pt-br/tipos-de-violencias. Acesso em: Set. 2015.
32
Texto 23 TEXTO INFORMATIVO: LEI MARIA DA PENHA
A Lei Maria da Penha estabelece que
todo o caso de violência doméstica e
intrafamiliar é crime, deve ser apurado através
de inquérito policial e ser remetido ao
Ministério Público. Esses crimes são julgados
nos Juizados Especializados de Violência
Doméstica contra a Mulher, criados a partir
dessa legislação, ou, nas cidades em que ainda
não existem, nas Varas Criminais. A lei
também tipifica as situações de violência
doméstica, proíbe a aplicação de penas
pecuniárias aos agressores, amplia a pena de
um para até três anos de prisão e determina o
encaminhamento das mulheres em situação de
violência, assim como de seus dependentes, a
programas e serviços de proteção e de
assistência social. A Lei n. 11.340,
sancionada em 7 de agosto de 2006, passou a
ser chamada Lei Maria da Penha em
homenagem à mulher cujo marido tentou
matá-la duas vezes e que desde então se
dedica à causa do combate à violência contra
as mulheres. O texto legal foi resultado de um
longo processo de discussão a partir de
proposta elaborada por um conjunto de ONGs
(Advocacy, Agende, Cepia, Cfemea,
Claden/IPÊ e Themis). Esta proposta foi
discutida e reformulada por um grupo de
trabalho interministerial, coordenado pela
Secretaria Especial de Políticas para as
Mulheres (SPM), e enviada pelo Governo
Federal ao Congresso Nacional. Foram
realizadas audiências públicas em assembleias
legislativas das cinco regiões do país, ao
longo de 2005, que contaram com
participação de entidades da sociedade civil,
parlamentares e SPM. A partir desses debates,
novas sugestões foram incluídas em um
substitutivo. O resultado dessa discussão
democrática foi a aprovação por unanimidade
no Congresso Nacional.
Em vigor desde o dia 22 de setembro
de 2006, a Lei Maria da Penha dá
cumprimento à Convenção para Prevenir,
Punir, e Erradicar a Violência contra a
Mulher, a Convenção de Belém do Pará, da
Organização dos Estados Americanos (OEA),
ratificada pelo Brasil em 1994, e à Convenção
para Eliminação de Todas as Formas de
Discriminação contra a Mulher (Cedaw), da
Organização das Nações Unidas (ONU). Para
garantir a efetividade da Lei Maria da Penha,
o CNJ trabalha para divulgar e difundir a
legislação entre a população e facilitar o
acesso à justiça à mulher que sofre com a
violência. Para isso, realiza esta campanha
contra a violência doméstica, que focam a
importância da mudança cultural para a
erradicação da violência contra as mulheres.
Entre outras iniciativas do Conselho Nacional
de Justiça com a parceria de diferentes órgãos
e entidades, destacam-se a criação do manual
de rotinas e estruturação dos Juizados de
Violência Doméstica e Familiar contra a
Mulher, as Jornadas da Lei Maria da Penha e
o Fórum Nacional de Juízes de Violência
Doméstica e Familiar contra a Mulher
(Fonavid).
Principais inovações da Lei Maria da
Penha
Os mecanismos da Lei:
• Tipifica e define a violência doméstica e
familiar contra a mulher.
• Estabelece as formas da violência doméstica
contra a mulher como física, psicológica,
sexual, patrimonial e moral.
• Determina que a violência doméstica contra
a mulher independe de sua orientação sexual.
33
• Determina que a mulher somente poderá
renunciar à denúncia perante o juiz.
• Ficam proibidas as penas pecuniárias
(pagamento de multas ou cestas básicas).
• Retira dos juizados especiais criminais (Lei
n. 9.099/95) a competência para julgar os
crimes de violência doméstica contra a
mulher.
• Altera o Código de Processo Penal para
possibilitar ao juiz a decretação da prisão
preventiva quando houver riscos à integridade
física ou psicológica da mulher.
• Altera a lei de execuções penais para
permitir ao juiz que determine o
comparecimento obrigatório do agressor a
programas de recuperação e reeducação.
• Determina a criação de juizados especiais de
violência doméstica e familiar contra a mulher
com competência cível e criminal para
abranger as questões de família decorrentes da
violência contra a mulher.
• Caso a violência doméstica seja cometida
contra mulher com deficiência, a pena será
aumentada em um terço.
A autoridade policial:
• A lei prevê um capítulo específico para o
atendimento pela autoridade policial para os
casos de violência doméstica contra a mulher.
• Permite prender o agressor em flagrante
sempre que houver qualquer das formas de
violência doméstica contra a mulher.
• À autoridade policial compete registrar o
boletim de ocorrência e instaurar o inquérito
policial (composto pelos depoimentos da
vítima, do agressor, das testemunhas e de
provas documentais e periciais), bem como
remeter o inquérito policial ao Ministério
Público.
• Pode requerer ao juiz, em quarenta e oito
horas, que sejam concedidas diversas medidas
protetivas de urgência para a mulher em
situação de violência.
• Solicita ao juiz a decretação da prisão
preventiva.
O processo judicial:
• O juiz poderá conceder, no prazo de
quarenta e oito horas, medidas protetivas de
urgência (suspensão do porte de armas do
agressor, afastamento do agressor do lar,
distanciamento da vítima, dentre outras),
dependendo da situação.
• O juiz do juizado de violência doméstica e
familiar contra a mulher terá competência
para apreciar o crime e os casos que
envolverem questões de família (pensão,
separação, guarda de filhos etc.).
• O Ministério Público apresentará denúncia
ao juiz e poderá propor penas de três meses a
três anos de detenção, cabendo ao juiz a
decisão e a sentença final.
Disponível em: http://www.cnj.jus.br/programas-e-acoes/lei-maria-da-penha/sobre-a-lei-maria-da-penha. Acesso em: Set. 2015.
Texto 24
CHARGE: VIOLÊNCIA DOMICILIAR Humortadela
Disponível em: http://www.apav.pt/cansada/index.php/features. Acesso em: Set. 2015
34
Texto 25
MÚSICA: CANSADA Rodrigo Guedes de Carvalho
Estou cansada - ainda agora chorei tanto
Outra noite - o terror andou à solta
Vai e volta e promete que não volta
Vai e volta e promete que não volta
Estou cansada - chorei tanto outra vez
Outra vez a pensar que hoje talvez
Haja paz - que o terror só vai não volta
Que a tua mão não se fecha contra mim
Estou cansada - não há fim nesta demência
Ou ciência que preveja que me mates
E quem bate depois chora e promete
Que não mais a mão se levanta fechada
Estou cansada - acho que não quero nada
Que não seja uma noite descansada
Sem ter medo ou chorar na almofada
Sem pensar no amor como uma espada
Tão cansada de remar contra a maré
O amor não é andar a pé na noite escura
Sempre segura que a tortura me espera
Insegura tão desfeita humilhada
Tão cansada de não dar luta à matança
À dança negra que me dizes que é amor
Que não concebes a tua vida sem mim
E que isto assim é normal numa paixão
E eu cansada nem sequer digo que não
Já não consigo que uma palavra te trave
Não tenho nada que não seja só pavor
Talvez o amor me espere noutra estrada
Mas tão cansada não consigo procurá-la
Já tão sem força de tentar não ser escrava
Já sei que hoje fico suspensa outra vez
Outra vez a pensar que hoje talvez…
Disponível em: http://www.apav.pt/cansada/index.php/features. Acesso em: Set. 2015.
ANOTAÇÕES
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Texto 26
ARTIGO: A NOVA CARA DA FAMÍLIA BRASILEIRA Vinicius Boreki
Em 15 anos, número de casais com
filhos caiu 11,2% no país. Relatório mostra
que outros arranjos familiares vêm ganhando
força
As famílias brasileiras estão se
transformando. Em 15 anos, entre 1992 e
2007, o número de casais com filhos, o
estereótipo da família tradicional, caiu 11,2%.
A queda foi compensada pelo aumento dos
novos arranjos familiares: casais sem filhos,
mulheres solteiras, mães com filhos, homens
solteiros e pais com filhos. Os dados fazem
parte do Relatório de Desenvolvimento
Humano 2010, divulgado na terça-feira pelo
Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento (Pnud). A nova organização
familiar, contudo, não se relaciona com o fato
de 23% dos brasileiros temerem a violência
dentro de casa.
As famílias são apontadas pelos
brasileiros como principais responsáveis por
ensinar os valores. A passagem desses
conceitos, contudo, independe das diversas e
dinâmicas estruturas familiares, pois o afeto é
um ponto nevrálgico. “O ponto central é a
carga de afetividade gerada pela família, que
permite aos pais influência, pelo menos
inicial, na formação dos valores dos filhos”,
diz o estudo.
Segundo Flavio Comim, coordenador
do relatório, as famílias reconstituídas vivem,
em geral, com pressões adicionais. “Existem
novas dificuldades a ser superadas em cada
caso, como por exemplo a gravidez precoce”,
afirma. No entanto, o fato de uma criança ser
criada sem a presença dos pais não implica
em dificuldade para transmissão dos valores.
“Nossa definição de família é de uma rede de
cuidados e de afeto. Se não houver isso, não
adianta ser criado por pai e mãe ao lado dos
irmãos”, diz.
Para a mestre em Psicologia da Infância
e da Adolescência Vera Regina Miranda,
outra palavra-chave determina a passagem de
valores: limite. “São dois pontos importantes
para o desenvolvimento e a estruturação da
personalidade. O limite auxilia na
socialização, e o afeto dá estrutura”, comenta.
Conciliar esses aspectos é fundamental,
independentemente do tipo de família.
O psicanalista e professor de Psicologia
Leonardo Ferrari afirma que, embora seja
positivo receber afeto, não se pode
generalizar. “Quando se analisa o ser humano,
vê-se mais de perto as particularidades de
cada um”, diz. “Funda-mental é saber como
cada um vai transformar o afeto que recebe.”
A auxiliar de serviços gerais Marisa
Cosmo do Nascimento, 33 anos, cria sozinha
as duas filhas, de 7 e 10 anos, desde o
nascimento da caçula. “Ele disse que não teria
condições de criar outra filha. Tive de
escolher entre meu casamento e as minhas
filhas”, conta. “Conheço famílias com pai e
mãe que não são estruturadas como a minha.”
Para isso, ela tem o apoio de outros membros
da família. “Minhas filhas são muito apegadas
ao meu irmão e ao padrinho. Buscam uma
figura masculina, que corresponde ao amor
delas”, diz.
As novas famílias integram a realidade
brasileira de tal modo que a nova Lei de
Adoção já valoriza o conceito de família
estendida. A criação por avós maternos e
paternos, tios e tias ou duplas de
homossexuais já é aceita. “O mais importante
é valorizar quem dá carinho”, diz Ariel de
Castro Alves, membro do Conselho Nacional
dos Direitos da Criança e do Adolescente.
Disponível em: http://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/a-nova-cara-da-familia-brasileira-0jkvbd0x965zv14ldufuq1bny
Acesso em: Set. 2015.
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Texto 27
MÚSICA: VALEU AMIGO Pikeno e Menor
Eu ouvi palavras ditas com carinho
De que na vida ninguém é feliz sozinho
E você é um alguém que sempre me fez bem
Me protegeu e me tirou de todo perigo
E quando eu precisei você chorou comigo
Valeu por você existir, é tão bom te ter aqui
Eu rezo e peço pra Deus cuidar
A sua vida abençoar
Vou correr por você até o fim
Me quis tirar do mal, eu percebi
Disse verdades que eu mereci
Então pra sempre amigos, sim
Se Deus quiser
Vou ter você guardado no meu coração
Até nos seus conselhos de irmão
E é pra você que eu dedico essa canção
Eu rezo e peço pra Deus cuidar, cuidar
A sua vida abençoar, abençoar
Vou correr Por você até o fim
Assim eu sei que pra você também
Sou alguém que te faz tão bem
Mais que amigo e irmão meu, valeu
Eu rezo e peço pra Deus cuidar, cuidar
A sua vida abençoar, abençoar
Vou correr com você até o fim
Assim eu sei que pra você também
Sou alguém que te faz tão bem
Mais que amigo e irmão meu, valeu
Quando todos se forem, eu vou estar lá com você,
Amigos até depois do fim!
Valeu amigo.
Disponível em: http://www.vagalume.com.br/pikeno-e-menor/valeu-amigo.html Acesso em: Set. 2015.
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ANOTAÇÕES
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Texto 28
ARTIGO : AMIGOS - FAMÍLIA DO CORAÇÃO Juliana Garcia
Amizade é uma forma de amor tão genuína quanto os laços de sangue
Alguns amigos são tão íntimos, que fazem parte de nosso cotidiano de forma tão natural e parecem
membros da nossa família. Mesmo que não sejam "sangue do nosso sangue", certas pessoas nos parecem
conhecidas de longa data, uma simpatia gratuita brota e se instala.
O amigo está ao nosso lado para compartilhar momentos únicos e transformá-los em inesquecíveis.
Afinal, não é muito melhor presenciar um lindo pôr-do-sol tendo alguém especial ao lado para
compartilhar aquela visão? Em certos momentos o amigo se converte um pouco em pai e mãe, dá
conselhos, puxa a orelha, cuida da gente. Em outros, estamos mais de igual para igual e temos uma
relação de quase irmãos: conversamos, sonhamos, brigamos, nos abrimos para pensar e solucionar,
curtimos, corremos atrás, compartilhamos.
PARTE DA FAMÍLIA
Essas pessoas especiais não substituem seus familiares, mas sim se tornam uma extensão de seus
laços de amor, ampliam sua noção de família e de fraternidade. Por vezes, acabam fazendo parte mesmo
da família. É aquele amigo-irmão que ganha espaço no colo de uma segunda mãe e tem cadeira cativa nos
eventos familiares. Amigo-irmão que já não sente vergonha de abrir a geladeira de sua casa se for preciso,
sabe as datas de aniversário dos seus familiares, conhece o humor das pessoas da casa. De certo,
acompanhará de perto as novas situações e estará por perto quando for preciso. Está presente para as
conquistas e também nos momentos de dificuldade. Está junto para o silêncio e também para longas
conversas.
Podemos até dizer que o amigo é um irmão que a vida nos dá a chance de escolher. Pensando por
outro lado, a amizade, por ser uma forma de amor, não é bem escolha. Acontece e reconhecemos, é um
presente da vida que optamos por aceitar."Podemos até dizer que o amigo é um irmão que a vida nos
dá a chance de escolher. Pensando por outro lado, a amizade, por ser uma forma de amor, não é
bem escolha. Acontece e reconhecemos, é um presente da vida que optamos por aceitar.
" Um presente de enorme valor, é preciso ressaltar. Uma verdadeira amizade é um grande tesouro
que traz mais humanidade às nossas vidas. Quem tem um amigo-irmão tem mais que companhia, tem um
companheiro. Tem um laço que suplanta a existência ou não de laços consanguíneos, é a irmandade de
valores, de ideais, um sentimento sincero de torcida pela felicidade do outro.
Aumentar nossa família através dos laços do coração é aumentar também a possibilidade de nos
sentirmos à vontade e em casa ao lado de mais pessoas ao longo de nossa caminhada pela vida.
Disponível em: http://www.personare.com.br/amigos-familia-do-coracao-m482 Acesso em: Set. 2015.
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Texto 29
MÚSICA: MINHA HERANÇA: UMA FLOR Vanessa da Mata
Achei você no meu jardim
Entristecido
Coração partido
Bichinho arredio
Peguei você pra mim
Como a um bandido
Cheio de vícios
E fiz assim, fiz assim
Reguei com tanta paciência
Podei as dores, as mágoas, doenças
Que nem as folhas secas vão embora
Eu trabalhei
Fiz tudo, todo meu destino
Eu dividi, ensinei de pouquinho
Gostar de si, ter esperança e persistência
Sempre
A minha herança pra você
É uma flor com um sino, uma canção
Um sonho, nem uma arma ou uma pedra
Eu deixarei
A minha herança pra você
É o amor capaz de fazê-lo tranquilo
Pleno, reconhecendo o mundo
O que há em si
E hoje nos lembramos
Sem nenhuma tristeza
Dos foras que a vida nos deu
Ela com certeza estava juntando
Você e eu
(2x)
Achei você no meu jardim
Disponível em: http://letras.mus.br/vanessa-da-mata/1003517/. Acesso em: Set. 2015.
Texto 30
CHARGE: DIA NACIONAL DA ADOÇÃO Amarildo
Disponível em: Amarildo.com.br. Acesso em: Set. 2015.
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Texto 31 TEXTO INFORMATIVO: REQUISITOS PARA SE ADOTAR UMA CRIANÇA
1º PASSO: Encaixar-se no perfil exigido.
Quem pode ser adotado
a) Crianças ou adolescentes com, no máximo, 18 anos de idade à
data do pedido de adoção e independentemente da situação jurídica;
b) Pessoa maior de 18 anos que já estivesse sob a guarda ou tutela
dos adotantes;
c) Maiores de 18 anos, nos termos do Código Civil.
Quem pode adotar
a) Homem ou mulher maior de idade, qualquer que seja o estado
civil e desde que 16 anos mais velho do que o adotando;
b) Os cônjuges ou concubinos, em conjunto, desde que sejam casados civilmente ou mantenham
união estável, comprovada a estabilidade da família;
c) Os divorciados ou separados judicialmente, em conjunto, desde que acordem sobre a guarda e o
regime de visitas e desde que o estágio de convivência tenha sido iniciado na constância da
sociedade conjugal;
d) Tutor ou curador, desde que encerrada e quitada a administração dos bens do pupilo ou
curatelado;
e) Requerente da adoção falecido no curso do processo, antes de prolatada a sentença e desde que
tenha manifestado sua vontade em vida;
f) Família estrangeira residente ou domiciliada fora do Brasil;
g) Todas as pessoas que tiverem sua habilitação deferida, e inscritas no Cadastro de Adoção.
Não podem adotar
a) Avós ou irmãos do adotado;
b) Adotantes cuja diferença de idade seja inferior a 16 anos do adotando.
2º PASSO: Procurar o fórum da sua cidade ou região
Este é o primeiro passo prático para uma adoção. Confira no site do Tribunal de Justiça
(www.tj.sc.gov.br) a lista dos fóruns existentes em Santa Catarina. É necessário levar RG e
comprovante de residência. O interessado receberá então informações iniciais a respeito dos
documentos necessários para dar continuidade ao processo.
3º PASSO: Apresentação de documentação – Toda a documentação exigida deve ser apresentada.
Veja a listagem abaixo:
Identidade
CPF
Requerimento conforme modelo
Estudo social elaborado por técnico do Juizado da Infância e da Juventude do local de
residência dos pretendentes;
Certidão de antecedentes criminais
Certidão negativa de distribuição cível
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Atestado de sanidade física e mental
Comprovante de residência
Comprovante de rendimentos
Certidão de casamento (ou declaração relativo ao período de união estável) ou nascimento
(se solteiros)
Fotos dos requerentes (opcional)
Demais documentos que a autoridade judiciária entender pertinente
4º PASSO: Análise da documentação – Os documentos apresentados serão minuciosamente
analisados para aprovação.
5º PASSO: Entrevista – Avaliação das motivações e expectativas dos requerentes à adoção.
É uma das fases mais importantes e esperadas pelos interessados em adotar, que serão
entrevistados por uma equipe técnica da Vara da Infância e da Juventude, composta por
profissionais da área da psicologia e do serviço social. As entrevistas visam conhecer as motivações
e expectativas dos candidatos à adoção no imaginário parental. A partir disto, as entrevistas
objetivam conciliar as características das crianças/adolescentes que se encontram aptas à adoção
com as famílias que pretendem adotar. O objetivo é de avaliar, por meio de uma cuidadosa análise,
se o pretendente à adoção pode vir a receber uma criança na condição de filho e qual lugar ele
ocupa características das crianças pretendidas pelos adotantes, identificar possíveis dificuldades ao
sucesso da adoção e fornecer orientações.
6º PASSO: Curso – Os interessados em adotar têm que participar de um curso preparatório de 10
horas, que é obrigatório para os requerentes.
7º PASSO: Ingresso no cadastro de habilitados – Efetuado após passar na entrevista e frequentar
todo o curso.
8º PASSO: Achando a criança – Será feito um estudo para confrontar crianças com cadastros.
Um estudo psicossocial será confrontado com o cadastro de crianças disponíveis à adoção.
Importante: é muito mais fácil encontrar uma criança que se adapte ao perfil de um candidato que
tenha poucas restrições quanto à criança/adolescente que se disponha a adotar.
9º PASSO: O Encontro – Após apreciação favorável, pode-se encontrar a criança.
Depois de uma apreciação favorável da criança indicada pelos profissionais da Vara, o
pretendente poderá encontrar-se com ela na própria Vara, no abrigo ou no hospital, conforme a
decisão do juiz.
10º PASSO: A Adoção – O momento de construir novas relações.
O tempo que transcorre até que a criança seja levada para o lar adotivo varia, respeitando-se
as condições da criança. Recomenda-se uma aproximação gradativa, tendo em vista que a adoção é
um processo mútuo, que exige tanto uma despedida dos vínculos amorosos estabelecidos até então
seja – no abrigo, seja na família guardiã – quanto um tempo de construção de novas relações.
Disponível em: http://www.portaladocao.com.br/. Acesso em: Set. 2015.
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Texto 32
CRÔNICA: PARENTE E FAMÍLIA Fabricio Carpinejar
Sempre me emociono quando reparo o quanto filhos adotivos passam a se parecer com os
seus responsáveis. Ninguém diz que foram adotados: o mesmo olhar, o mesmo andar, a mesma
forma de soletrar a respiração. Há um DNA da ternura mais intenso do que o próprio DNA. Os
traços mudam conforme o amor a uma voz ou de acordo com o aconchego de um abraço.
Não subestimo a força da convivência. Família é feita de presença mais do que de registro.
Há pais ausentes que nunca serão pais, há padrastos atentos que sempre serão pais.
Não existem pai e mãe por decreto, representam conquistas sucessivas. Não existem pai e
mãe vitalícios. A paternidade e a maternidade significam favoritismo, só que não se ganha uma
partida por antecipação. É preciso jogar dia por dia, rodada por rodada. Já perdi os meus filhos por
distração, já os reconquistei por insistência e esforço.
Família é uma coisa, ser parente é outra. Identifico uma diferença fundamental. Amigos
podem ser mais irmãos do que os irmãos ou mais mães do que as mães.
Família vem de laços espirituais; parente se caracteriza por laços sanguíneos. As pessoas
que mais amo no decorrer da minha existência formarão a minha família, mesmo que não tenham
nada a ver com o meu sobrenome.
Família é chegada, não origem. Família se descobre na velhice, não no berço. Família é
afinidade, não determinação biológica. Família é quem ficou ao lado nas dificuldades enquanto a
maioria desapareceu. Família é uma turma de sobreviventes, de eleitos, que enfrentam o mundo em
nossa trincheira e jamais mudam de lado.
Já parentes são fatalidades, um lance de sorte ou azar. Nascemos tão somente ao lado deles,
que têm a chance natural de se tornarem família, mas nem todos aproveitam.
Árvore genealógica é o início do ciclo, jamais o seu apogeu. Importante também pousar,
frequentar os galhos, cuidar das folhagens, abastecer as raízes: trabalho feito pelas aves
genealógicas de nossas vidas, os nossos verdadeiros familiares e cúmplices de segredos e desafios.
Dividir o teto não garante proximidade, o que assegura a afeição é dividir o destino.
Disponível em: http://zh.clicrbs.com.br/rs/noticia/2015/09/carpinejar-parente-e-familia-4842961.html. Acesso em: Set. 2015.
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Texto 33
CONTO: FELIZ ANIVERSÁRIO Clarice Lispector
A família foi pouco a pouco chegando. Os que vieram de Olaria estavam muito bem
vestidos porque a visita significava ao mesmo tempo um passeio a Copacabana. A nora de Olaria
apareceu de azul-marinho, com enfeite de paetês e um drapeado disfarçando a barriga sem cinta. O
marido não veio por razões óbvias: não queria ver os irmãos. Mas mandara sua mulher para que
nem todos os laços fossem cortados e esta vinha com o seu melhor vestido para mostrar que não
precisava de nenhum deles, acompanhada dos três filhos: duas meninas já de peito nascendo,
infantilizadas em babados cor-de-rosa e anáguas engomadas, e o menino acovardado pelo terno
novo e pela gravata.
Tendo Zilda - a filha com quem a aniversariante morava - disposto cadeiras unidas ao longo
das paredes, como numa festa em que se vai dançar, a nora de Olaria, depois de cumprimentar com
cara fechada aos de casa, aboletou- se numa das cadeiras e emudeceu, a boca em bico, mantendo
sua posição de ultrajada. "Vim para não deixar de vir", dissera ela a Zilda, e em seguida sentara-se
ofendida. As duas mocinhas de cor-de-rosa e o menino, amarelos e de cabelo
penteado, não sabiam bem que atitude tomar e ficaram de pé ao lado da mãe,
impressionados com seu vestido azul-marinho e com os paetês.
Depois veio a nora de Ipanema com dois netos e a babá. O marido viria
depois. E como Zilda - a única mulher entre os seis irmãos homens e a única que,
estava decidido já havia anos, tinha espaço e tempo para alojar a aniversariante -
e como Zilda estava na cozinha a ultimar com a empregada os croquetes e
sanduíches, ficaram: a nora de Olaria empertigada com seus filhos de coração
inquieto ao lado; a nora de Ipanema na fila oposta das cadeiras fingindo ocupar-
se com o bebê para não encarar a concunhada de Olaria; a babá ociosa e uniformizada, com a boca
aberta.
E à cabeceira da mesa grande a aniversariante que fazia hoje oitenta e nove anos.
Zilda, a dona da casa, arrumara a mesa cedo, enchera-a de guardanapos de papel colorido e
copos de papelão alusivos à data, espalhara balões sungados pelo teto em alguns dos quais estava
escrito "Happy Birthday!", em outros "Feliz Aniversário!" No centro havia disposto o enorme bolo
açucarado. Para adiantar o expediente, enfeitara a mesa logo depois do almoço, encostara as
cadeiras à parede, mandara os meninos brincar no vizinho para não desarrumar a mesa.
E, para adiantar o expediente, vestira a aniversariante logo depois do almoço. Pusera-lhe
desde então a presilha em torno do pescoço e o broche, borrifara-lhe um pouco de água-de-colônia
para disfarçar aquele seu cheiro de guardado sentara-a à mesa. E desde as duas horas a
aniversariante estava sentada à cabeceira da longa mesa vazia, tesa na sala silenciosa.
De vez em quando consciente dos guardanapos coloridos. Olhando curiosa um ou outro balão
estremecer aos carros que passavam. E de vez em quando aquela angústia muda: quando
acompanhava, fascinada e impotente, o vôo da mosca em torno do bolo.
Até que às quatro horas entrara a nora de Olaria e depois a de Ipanema.
Quando a nora de Ipanema pensou que não suportaria nem um segundo mais a situação de
estar sentada defronte da concunhada de Olaria que cheia das ofensas passadas não via um motivo
para desfitar desafiadora a nora de Ipanema entraram enfim José e a família. E mal eles se
beijavam, a sala começou a ficar cheia de gente que ruidosa se cumprimentava como se todos
tivessem esperado embaixo o momento de, em afobação de atraso, subir os três lances de escada,
falando, arrastando crianças surpreendidas, enchendo a sala e inaugurando a festa.
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Os músculos do rosto da aniversariante não a interpretavam mais, de modo que ninguém
podia saber se ela estava alegre. Estava era posta á cabeceira. Tratava-se de uma velha grande,
magra, imponente e morena. Parecia oca.
- Oitenta e nove anos, sim senhor! disse José, filho mais velho agora que Jonga tinha morrido.
Oitenta e nove anos, sim senhora! disse esfregando as mãos em admiração pública e como sinal
imperceptível para todos.
Todos se interromperam atentos e olharam a aniversariante de um modo mais oficial. Alguns
abanaram a cabeça em admiração como a um recorde. Cada ano vencido pela aniversariante era
uma vaga etapa da família toda. Sim senhor! disseram alguns sorrindo timidamente.
- Oitenta e nove anos!, ecoou Manoel que era sócio de José. É um brotinho!, disse espirituoso
e nervoso, e todos riram, menos sua esposa.
A velha não se manifestava.
Alguns não lhe haviam trazido presente nenhum. Outros trouxeram saboneteira, uma
combinação de jérsei, um broche de fantasia, um vasinho de cactos nada, nada que a dona da casa
pudesse aproveitar para si mesma ou para seus filhos, nada que a própria aniversariante pudesse
realmente aproveitar constituindo assim uma economia: a dona da casa guardava os presentes,
amarga, irônica.
- Oitenta e nove anos! repetiu Manoel aflito, olhando para a esposa.
A velha não se manifestava.
Então, como se todos tivessem tido a prova final de que não adiantava se esforçarem, com um
levantar de ombros de quem estivesse junto de uma surda, continuaram a fazer a festa sozinhos,
comendo os primeiros sanduíches de presunto mais como prova de animação que por apetite,
brincando de que todos estavam morrendo de fome. O ponche foi servido, Zilda suava, nenhuma
cunhada ajudou propriamente, a gordura quente dos croquetes dava um cheiro de piquenique; e de
costas para a aniversariante, que não podia comer frituras, eles riam inquietos. E Cordélia?
Cordélia, a nora mais moça, sentada, sorrindo.
- Não senhor! respondeu José com falsa severidade, hoje não se fala em negócios!
- Está certo, está certo! recuou Manoel depressa, olhando rapidamente para sua mulher que de
longe estendia um ouvido atento.
- Nada de negócios, gritou José, hoje é o dia da mãe!
Na cabeceira da mesa já suja, os copos maculados, só o bolo inteiro ela era a mãe. A
aniversariante piscou os olhos.
E quando a mesa estava imunda, as mães enervadas com o barulho que os filhos faziam,
enquanto as avós se recostavam complacentes nas cadeiras, então fecharam a inútil luz do corredor
para acender a vela do bolo, uma vela grande com um papelzinho colado onde estava escrito "89".
Mas ninguém elogiou a idéia de Zilda, e ela se perguntou angustiada se eles não estariam pensando
que fora por economia de velas ninguém se lembrando de que ninguém havia contribuído com uma
caixa de fósforos sequer para a comida da festa que ela, Zilda, servia como uma escrava, os pés
exaustos e o coração revoltado. Então acenderam a vela. E então José, o líder, cantou com muita
força, entusiasmando com um olhar autoritário os mais hesitantes ou surpreendidos, "vamos! todos
de uma vez!" e todos de repente começaram a cantar alto como soldados. Despertada pelas vozes,
Cordélia olhou esbaforida. Como não haviam combinado, uns cantaram em português e outros em
inglês. Tentaram então corrigir: e os que haviam cantado em inglês passaram a português, e os que
haviam cantado em português passaram a cantar bem baixo em inglês.
Enquanto cantavam, a aniversariante, à luz da vela acesa, meditava como junto de uma
lareira.
Escolheram o bisneto menor que, debruçado no colo da mãe encorajadora, apagou a chama
com um único sopro cheio de saliva! Por um instante bateram palmas à potência inesperada do
menino que, espantado e exultante, olhava para todos encantado. A dona da casa esperava com o
dedo pronto no comutador do corredor - e acendeu a lâmpada.
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- Viva mamãe!
- Viva vovó!
- Viva D. Anita, disse a vizinha que tinha aparecido.
- Happy birthday! gritaram os netos, do Colégio Bennett. Bateram ainda algumas palmas
ralas.
A aniversariante olhava o bolo apagado, grande e seco.
- Parta o bolo, vovó! disse a mãe dos quatro filhos, é ela quem deve partir! assegurou incerta a
todos, com ar íntimo e intrigante. E, como todos aprovassem satisfeitos e curiosos, ela se tornou de
repente impetuosa: parta o bolo, vovó!
E de súbito a velha pegou na faca. E sem hesitação , como se hesitando um momento ela toda
caísse para a frente, deu a primeira talhada com punho de assassina.
- Que força, segredou a nora de Ipanema, e não se sabia se estava escandalizada ou
agradavelmente surpreendida. Estava um pouco horrorizada.
- Há um ano atrás ela ainda era capaz de subir essas escadas com mais fôlego do que eu, disse
Zilda amarga.
Dada a primeira talhada, como se a primeira pá de terra tivesse sido lançada, todos se
aproximaram de prato na mão, insinuando-se em fingidas acotoveladas de animação, cada um para
a sua pazinha.
Em breve as fatias eram distribuídas pelos pratinhos, num silêncio cheio de rebuliço. As
crianças pequenas, com a boca escondida pela mesa e os olhos ao nível desta, acompanhavam a
distribuição com muda intensidade. As passas rolavam do bolo entre farelos secos. As crianças
angustiadas viam se desperdiçarem as passas, acompanhavam atentas a queda.
E quando foram ver, não é que a aniversariante já estava devorando o seu último bocado?
E por assim dizer a festa estava terminada. Cordélia olhava ausente para todos, sorria.
- Já lhe disse: hoje não se fala em negócios! respondeu José radiante.
- Está certo, está certo! recolheu-se Manoel conciliador sem olhar a esposa que não o
desfitava. Está certo, tentou Manoel sorrir e uma contração passou-lhe rápido pelos músculos da
cara.
- Hoje é dia da mãe! disse José.
Na cabeceira da mesa, a toalha manchada de coca-cola, o bolo desabado, ela era a mãe. A
aniversariante piscou. Eles se mexiam agitados, rindo, a sua família. E ela era a mãe de todos. E se
de repente não se ergueu, como um morto se levanta devagar e obriga mudez e terror aos vivos, a
aniversariante ficou mais dura na cadeira, e mais alta. Ela era a mãe de todos. E como a presilha a
sufocasse, ela era a mãe de todos e, impotente à cadeira, desprezava- os. E olhava-os piscando.
Todos aqueles seus filhos e netos e bisnetos que não passavam de carne de seu joelho, pensou de
repente como se cuspisse. Rodrigo, o neto de sete anos, era o único a ser a carne de seu coração,
Rodrigo, com aquela carinha dura, viril e despenteada. Cadê Rodrigo? Rodrigo com olhar sonolento
e intumescido naquela cabecinha ardente, confusa. Aquele seria um homem. Mas, piscando, ela
olhava os outros, a aniversariante. Oh o desprezo pela vida que falhava. Como?! como tendo sido
tão forte pudera dar á luz aqueles seres opacos, com braços moles e rostos ansiosos? Ela, a forte,
que casara em hora e tempo devidos com um bom homem a quem, obediente e independente, ela
respeitara; a quem respeitara e que lhe fizera filhos e lhe pagara os partos e lhe honrara os
resguardos. O tronco fora bom. Mas dera aqueles azedos e infelizes frutos, sem capacidade sequer
para uma boa alegria. Como pudera ela dar à luz aqueles seres risonhos, fracos, sem austeridade? O
rancor roncava no seu peito vazio. Uns comunistas, era o que eram; uns comunistas. Olhou-os com
sua cólera de velha. Pareciam ratos se acotovelando, a sua família. Incoercível, virou a cabeça e
com força insuspeita cuspiu no chão.
- Mamãe! gritou mortificada a dona da casa. Que é isso, mamãe! gritou ela passada de
vergonha, e não queria sequer olhar os outros, sabia que os desgraçados se entreolhavam vitoriosos
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como se coubesse a ela dar educação à velha, e não faltaria muito para dizerem que ela já não dava
mais banho na mãe, jamais compreenderiam o sacrifício que ela fazia. Mamãe, que é isso! disse
baixo, angustiada. A senhora nunca fez isso! acrescentou alto para que todos ouvissem, queria se
agregar ao espanto dos outros, quando o galo cantar pela terceira vez renegarás tua mãe. Mas seu
enorme vexame suavizou-se quando ela percebeu que eles abanavam a cabeça como se estivessem
de acordo que a velha não passava agora de uma criança.
- Ultimamente ela deu pra cuspir, terminou então confessando contrita para todos.
Todos olharam a aniversariante, compungidos, respeitosos, em silêncio.
Pareciam ratos se acotovelando, a sua família. Os meninos, embora crescidos provavelmente
já além dos cinqüenta anos, que sei eu! os meninos ainda conservavam os traços bonitinhos. Mas
que mulheres haviam escolhido! E que mulheres os netos ainda mais fracos e mais azedos haviam
escolhido. Todas vaidosas e de pernas finas, com aqueles colares falsificados de mulher que na hora
não agüenta a mão, aquelas mulherezinhas que casavam mal os filhos, que não sabiam pôr uma
criada em seu lugar, e todas elas com as orelhas cheias de brincos nenhum, nenhum de ouro! A
raiva a sufocava.
- Me dá um copo de vinho! disse.
O silêncio se fez de súbito, cada um com o copo imobilizado na mão.
- Vovozinha, não vai lhe fazer mal? insinuou cautelosa a neta roliça e baixinha.
- Que vovozinha que nada! explodiu amarga a aniversariante. Que o diabo vos carregue, corja
de maricas, cornos e vagabundas! me dá um copo de vinho, Dorothy! ordenou.
Dorothy não sabia o que fazer, olhou para todos em pedido cômico de socorro. Mas, como
máscaras isentas e inapeláveis, de súbito nenhum rosto se manifestava. A festa interrompida, os
sanduíches mordidos na mão, algum pedaço que estava na boca a sobrar seco, inchando tão fora de
hora a bochecha. Todos tinham ficado cegos, surdos e mudos, com croquetes na mão. E olhavam
impassíveis.
Desamparada, divertida, Dorothy deu o vinho: astuciosamente apenas dois dedos no copo.
Inexpressivos, preparados, todos esperaram pela tempestade.
Mas não só a aniversariante não explodiu com a miséria de vinho que Dorothy lhe dera como
não mexeu no copo. Seu olhar estava fixo, silencioso. Como se nada tivesse acontecido.
Todos se entreolharam polidos, sorrindo cegamente, abstratos como se um cachorro tivesse
feito pipi na sala. Com estoicismo, recomeçaram as vozes e risadas. A nora de Olaria, que tivera o
seu primeiro momento uníssono com os outros quando a tragédia vitoriosamente parecia prestes a
se desencadear, teve que retornar sozinha à sua severidade, sem ao menos o apoio dos três filhos
que agora se misturavam traidoramente com os outros. De sua cadeira reclusa, ela analisava crítica
aqueles vestidos sem nenhum modelo, sem um drapeado, a mania que tinham de usar vestido preto
com colar de pérolas, o que não era moda coisa nenhuma, não passava era de economia.
Examinando distante os sanduíches que quase não tinham levado manteiga. Ela não se servira de
nada, de nada! Só comera uma coisa de cada, para experimentar.
E por assim dizer, de novo a festa estava terminada. As pessoas ficaram sentadas
benevolentes. Algumas com a atenção voltada para dentro de si, à espera de alguma coisa a dizer.
Outras vazias e expectantes, com um sorriso amável, o estômago cheio daquelas porcarias que não
alimentavam mas tiravam a fome. As crianças, já incontroláveis, gritavam cheias de vigor. Umas já
estavam de cara imunda; as outras, menores, já molhadas; a tarde cala rapidamente. E Cordélia,
Cordélia olhava ausente, com um sorriso estonteado, suportando sozinha o seu segredo. Que é que
ela tem? alguém perguntou com uma curiosidade negligente, indicando-a de longe com a cabeça,
mas também não responderam. Acenderam o resto das luzes para precipitar a tranqüilidade da noite,
as crianças começavam a brigar. Mas as luzes eram mais pálidas que a tensão pálida da tarde. E o
crepúsculo de Copacabana, sem ceder, no entanto se alargava cada vez mais e penetrava pelas
janelas como um peso.
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- Tenho que ir, disse perturbada uma das noras levantando-se e sacudindo os farelos da saia.
Vários se ergueram sorrindo.
A aniversariante recebeu um beijo cauteloso de cada um como se sua pele tão infamiliar fosse
uma armadilha. E, impassível, piscando, recebeu aquelas palavras propositadamente atropeladas
que lhe diziam tentando dar um final arranco de efusão ao que não era mais senão passado: a noite
já viera quase totalmente. A luz da sala parecia então mais amarela e mais rica, as pessoas
envelhecidas. As crianças já estavam histéricas.
- Será que ela pensa que o bolo substitui o jantar, indagava-se a velha nas suas profundezas.
Mas ninguém poderia adivinhar o que ela pensava. E para aqueles que junto da porta ainda a
olharam uma vez, a aniversariante era apenas o que parecia ser: sentada à cabeceira da mesa
imunda, com a mão fechada sobre a toalha como encerrando um cetro, e com aquela mudez que era
a sua última palavra. Com um punho fechado sobre a mesa, nunca mais ela seria apenas o que ela
pensasse. Sua aparência afinal a ultrapassara e, superando-a, se agigantava serena. Cordélia olhou-a
espantada. O punho mudo e severo sobre a mesa dizia para a infeliz nora que sem remédio amava
talvez pela última vez: É preciso que se saiba. É preciso que se saiba. Que a vida é curta. Que a vida
é curta.
Porém nenhuma vez mais repetiu. Porque a verdade era um relance. Cordélia olhou-a
estarrecida. E, para nunca mais, nenhuma vez repetiu enquanto Rodrigo, o neto da aniversariante,
puxava a mão daquela mãe culpada, perplexa e desesperada que mais uma vez olhou para trás
implorando à velhice ainda um sinal de que uma mulher deve, num ímpeto dilacerante, enfim
agarrar a sua derradeira chance e viver. Mais uma vez Cordélia quis olhar.
Mas a esse novo olhar - a aniversariante era uma velha à cabeceira da mesa.
Passara o relance. E arrastada pela mão paciente e insistente de Rodrigo a nora seguiu-o
espantada.
- Nem todos têm o privilégio e o orgulho de se reunirem em torno da mãe, pigarreou José
lembrando-se de que Jonga é quem fazia os discursos.
- Da mãe, vírgula! riu baixo a sobrinha, e a prima mais lenta riu sem achar graça. Nós temos,
disse Manoel acabrunhado sem mais olhar para a esposa.
- Nós temos esse grande privilégio disse distraído enxugando a palma úmida das mãos.
Mas não era nada disso, apenas o mal-estar da despedida, nunca se sabendo ao certo o que
dizer, José esperando de si mesmo com perseverança e confiança a próxima frase do discurso. Que
não vinha. Que não vinha. Que não vinha. Os outros aguardavam. Como Jonga fazia falta nessas
horas José enxugou a testa com o, lenço como Jonga fazia falta nessas horas! Também fora o único
a quem a velha sempre aprovara e respeitara, e isso dera a Jonga tanta segurança. E quando ele
morrera, a velha nunca mais falara nele, pondo um muro entre sua morte e os outros. Esquecera-o
talvez. Mas não esquecera aquele mesmo olhar firme e direto com que desde sempre olhara os
outros filhos, fazendo-os sempre desviar os olhos. Amor de mãe era duro de suportar: José enxugou
a testa, heróico, risonho.
E de repente veio a frase:
- Até o ano que vem! disse José subitamente com malícia, encontrando, assim, sem mais nem
menos, a frase certa: uma indireta feliz!
- Até o ano que vem, hein?, repetiu com receio de não ser compreendido.
Olhou-a, orgulhoso da artimanha da velha que espertamente sempre vivia mais um ano.
- No ano que vem nos veremos diante do bolo aceso! esclareceu melhor o filho Manoel,
aperfeiçoando o espírito do sócio. Até o ano que vem, mamãe! e diante do bolo aceso! disse ele bem
explicado, perto de seu ouvido, enquanto olhava obsequiador para José. E a velha de súbito
cacarejou um riso frouxo, compreendendo a alusão.
Então ela abriu a boca e disse:
- Pois é.
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Estimulado pela coisa ter dado tão inesperadamente certo, José gritou-lhe emocionado, grato,
com os olhos úmidos:
- No ano que vem nos veremos, mamãe!
- Não sou surda! disse a aniversariante rude, acarinhada.
Os filhos se olharam rindo, vexados, felizes. A coisa tinha dado certo.
As crianças foram saindo alegres, com o apetite estragado. A nora de Olaria deu um cascudo
de vingança no filho alegre demais e já sem gravata. As escadas eram difíceis, escuras, incrível
insistir em morar num prediozinho que seria fatalmente demolido mais dia menos dia, e na ação de
despejo Zilda ainda ia dar trabalho e querer empurrar a velha para as noras pisado o último degrau,
com alívio os convidados se encontraram na tranqüilidade fresca da rua. Era noite, sim. Com o seu
primeiro arrepio.
Adeus, até outro dia, precisamos nos ver. Apareçam, disseram rapidamente. Alguns
conseguiram olhar nos olhos dos outros com uma cordialidade sem receio. Alguns abotoavam os
casacos das crianças, olhando o céu à procura de um sinal do tempo. Todos sentindo obscuramente
que na despedida se poderia talvez, agora sem perigo de compromisso, ser bom e dizer aquela
palavra a mais que palavra? eles não sabiam propriamente, e olhavam-se sorrindo, mudos. Era um
instante que pedia para ser vivo. Mas que era morto. Começaram a se separar, andando meio de
costas, sem saber como se desligar dos parentes sem brusquidão.
- Até o ano que vem! repetiu José a indireta feliz, acenando a mão com vigor efusivo, os
cabelos ralos e brancos esvoaçavam. Ele estava era gordo, pensaram, precisava tomar cuidado com
o coração. Até o ano que vem! gritou José eloqüente e grande, e sua altura parecia desmoronável.
Mas as pessoas já afastadas não sabiam se deviam rir alto para ele ouvir ou se bastaria sorrir mesmo
no escuro. Além de alguns pensarem que felizmente havia mais do que uma brincadeira na indireta
e que só no próximo ano seriam obrigados a se encontrar diante do bolo aceso; enquanto que outros,
já mais no escuro da rua, pensavam se a velha resistiria mais um ano ao nervoso e à impaciência de
Zilda, mas eles sinceramente nada podiam fazer a respeito: "Pelo menos noventa anos", pensou
melancólica a nora de Ipanema. "Para completar uma data bonita", pensou sonhadora.
Enquanto isso, lá em cima, sobre escadas e contingências, estava a aniversariante sentada à
cabeceira da mesa, erecta, definitiva, maior do que ela mesma. Será que hoje não vai ter jantar,
meditava ela. A morte era o seu mistério.
Disponível em: http://www.escoladacrianca.com.br/sites/default/files/Feliz%20Anivers%C3%A1rio%20-%20Clarice%20Lispector.pdf. Acesso em: Set. 2015.
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Texto 34 POEMA: COMO SE MORRE DE VELHICE
Cecília Meireles Como se morre de velhice
ou de acidente ou de doença,
morro, Senhor, de indiferença.
Da indiferença deste mundo
onde o que se sente e se pensa
não tem eco, na ausência imensa.
Na ausência, areia movediça
onde se escreve igual sentença
para o que é vencido e o que vença.
Salva-me, Senhor, do horizonte
sem estímulo ou recompensa
onde o amor equivale à ofensa.
De boca amarga e de alma triste
sinto a minha própria presença
num céu de loucura suspensa.
(Já não se morre de velhice
nem de acidente nem de doença,
mas, Senhor, só de indiferença.)
Disponível em: http://www.citador.pt/poemas/como-se-morre-de-velhice-cecilia-meireles. Acesso em: Set. 2015.
Texto 35
ARTIGO: O IDOSO MERECE NOSSA ATENÇÃO, NOSSO RESPEITO E CARINHO Getúlio Oliveira
A mídia através dos seus veículos de comunicação vem mostrando os crescentes maus tratos
que os idosos vêm sofrendo em todo mundo, principalmente no Brasil. Maus tratos que deixa a
todos perplexos com tanta crueldade que vem sendo praticado contra as aquelas pessoas que diante
de uma enfermidade se acham indefesos e a mercês de pessoas que não estão capacitadas e nem
qualificadas para ser um acompanhante de um idoso. Respeito é um direito e dever de todo ser
humano independente de sua idade, sexo, raça, crença religiosa e condição socioeconômica.
Como já ouvi dizer, é respeitando que se é respeitado, e acho isto uma grande verdade. Como seres
humanos, somos iguais, mas ao mesmo tempo diferentes. Iguais por sermos da mesma espécie,
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carregarmos constituição genética semelhante, sermos Filhos de um mesmo Pai, como pregam
várias religiões.
Somos diferentes na personalidade, na aparência física, nos gostos, nas preferências e nas atitudes.
O idoso precisa ser respeitado como indivíduo e em suas particularidades, que muitas vezes é vítima
de desrespeito, negligência, omissão, ou mesmo violência física e/ou psicológica. Respeitar é
aceitar, acolher, amar e querer bem. Falamos que o idoso precisa envelhecer com dignidade, mas
devemos ir além: todos nós precisamos viver e envelhecer com dignidade.
Falar em envelhecimento é referir-se aos idosos de hoje e nos colocarmos no lugar de idosos num
futuro a curto, médio ou longo prazo. Viver com dignidade é ter sua condição de ser humano
respeitado, com qualidade de vida e sem constrangimentos (uso esta palavra num sentido bem
amplo, já que muitos ainda enxergam a velhice como caduquice e vergonha em relação ao corpo, à
mente e aos pensamentos envelhecidos). Envelhecer com dignidade é ter respeitada a sabedoria que
pode ser adquirida com os anos de experiência de vida. O idoso também precisa ter oportunidades:
para viver, amar, ser amado e envelhecer com qualidade de vida, independente de estar passando
por um processo de envelhecimento bem sucedido ou patológico.
E quem pode oferecer estas oportunidades ao idoso?
Todos nós: a sociedade em geral, que respeita e insere o idoso em seu meio, a família que cuida
integralmente do idoso e faz esforços por sua qualidade de vida e, principalmente, devemos cobrar
das autoridades a concessão destas oportunidades. Para envelhecer bem o idoso precisa de políticas
públicas de saúde voltadas para a prevenção, a promoção e a reabilitação da saúde específica para
esta faixa etária; precisa ter segurança, acesso à educação, sempre que desejar.
Necessita de uma Previdência que lhe garanta condições para um envelhecimento de qualidade.
Enfim, o idoso precisa que lhe concedam uma série de oportunidades que, na realidade, já seriam
dele por direito. Precisamos que todos lutem pelos direitos dos nossos idosos e pelos nossos
próprios direitos daqui a uns anos.
Será que somos capazes de lembrarmos desse tempo, quando éramos bem pequeno, eles gastavam
horas nos ensinando a usar talheres na refeição. Ensinando a nos vestir, amarrar os cadarços dos
sapatos, fechar os botões da camisa, limpando nós quando sujávamos nossas fraldas, ensinando a
fazer a nossa higiene pessoal e principalmente os valores morais. Por isso, quando eles ficarem
velhos um dia, e seria bom que todos pudessem chegar até aí, (não preciso explicar não é?) quando
eles começarem a ficar mais esquecidos e demorarem a responder, não se chateiem com eles,
quando eles começarem a se sujar nas refeições, quando as mãos deles começarem a tremer
enquanto penteiam os cabelos, por favor, não se apresse! Porque você está crescendo aos poucos, e
eles envelhecendo.
Basta sua presença, sua paciência, sua generosidade, sua retribuição, para que os corações deles
fiquem aquecidos. Se um dia eles não conseguirem se equilibrar ou caminhar direito, segura firme
as mãos deles e os acompanhe bem devagar, respeitando o ritmo deles durante a caminhada, da
mesma forma que eles respeitaram o seu ritmo quando lhe ensinaram a andar.
Fique perto deles, assim como eles sempre estiveram presentes em sua vida, sofrendo por você,
torcendo por você e vivendo por você.
Disponível em: http://www.vittabella.com.br/noticias. Acesso em: Set. 2015.
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