miranda e miranda_construindo a relação de ajudatexto
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CONSTRUINDO,
A RELAÇÃO
DE AJUDA
Clara Feldman de M i randa Márc io Lúcio de Miranda
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Aprendemos a leir, a .escr-ever. a somàr, a subt 1rair . Ensinaram-nos a t raçar mapas. a descrever eventos h istórícos.. a falar outras línguas e muitas coisas mais.. __, ... :
Por que não nos ensinaram a nos irelacíonarmos uns com os óutros?
Por que não aprendem os a conviver de maneira construtiva com as pessoas que nos são próximas? ·
C lara. psicó loga. e Márcio. médi:co. coirnp anheirt>s no trabalho e na v ida. acreditam que é possível construir-se uma relação verdadeira com as · ·.-:p essoas <lUe nos rod eiam. seja nos contatos profissionais. seja nos encontros do dia-a-d ia. Basta, para isso. q ue sejam aprendidas a lgumas hab il idades int e.-pessoais. a presentadas aqui de m aneira sistemática e o bjetiva.
Este livro dest ina-se a pai1s. professores. psicólogos, orien tadores. prufíssionais de saúde. amigos, parcei ros - a todos aqueles que, nas suas relações com pessoas. pretendem constru i r. ao invés de destr-u1r; a todos os C!Jind idatos a encontros humanos _; p rofundos e verdadeiros.
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CONSTRUINDO A RELACÃO DE AJ1UOA-'
2~ EDIÇÃO
C lara Feldman de IVtirancla IVlérci o Lúc1io de IV1iranda
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OONSTRU,INDO A RELACAO DE AJUDA N~R\A A!ViAD
V. Co.-npra, Vendo, Troca~</ Uvros novos e LlE<.d9'S
RU.A TAMÓIOS> 74 8 Tels. : 3201-8 186 I _j27 l -0486
83 AN f1S NA VH)P. CULTURAL / DE B H - ,_,e
11 fl .. ~ ~i .- ,,. .- : .,.., . .... -- -- ... .,., . . -.-- -- ... -
Copyright © 1983 de Clara Feldman de Miranda Márcio Lúcio de M iranda
Capa e Ilustrações Regina Coeli Rennó
Rua do Ou~o. 104 conj. 605 - Fone: C031 I 221 -9235 Bel.o Horizonte - 30.000 - M inas Gerais Brasil
Ao Márcio , com quem vivo minha mais profunda relação de ajuda; a um só tempo. o ajudadormais efetivo, o ajudado mais terno.
À Cfara, que me ajudou a perder o medo de perder, condição fundamental para ganhar.
Agradecimentos
A Wofber de Alvarerrga -terapeuta, mesue. amigo.
A B ernard G . Berens.on e Robert R . Carkhuff -1T1estres.
Aos nossos a lunos, clientes e creinandos ·-ajudados.que rorarn, tantas vezesl nossos melhores aju dadore.s.
Neste livro, vamos falar de como podem ser const<u<das as relações entre as pessoas. especialmente aquelas 'relações em que uma pessoa tem a intenção de ajudar a outra.
Mas. antes de mais nada, vamos construir uma relação com você, leitor. Nossa intenção é ajudá-lo, seja de que forma for. Podemos ser bem sucedidos nessa tarefa ou não.
Antes que você comece a ler as páginas seguintes. gostari'amos de fazer uma observação a respeito de tudo o que você vai encontrar neste livro - isto é, se você chegar a lê-lo até o f im.
Os aspectos que vamos abordar são fruto de nossa experiência na vida pessoal, no consultório. nas salas de aula. no trabalho com grupos. Dessa experiência nasceu a crença de que esses aspectos sãà importantes nas relações humanas. em geral, e nas relações de ajuda, em particular. Isso não signi fica. no entanto, que as crenças devam ser tomadas como regras. Aliás. uma de nossas crenças é de que as regras não funcionam.
Nossa intenção é apenas compartilhar com você algumas coisas em que acreditamos. Algumas delas podem servir a você. outras não. t a esse processo de discr iminação e seleção que nos submetemos cada vez que lemos e escutamos outras p essoas failando de suas crenças. Absorvemos. das experiências alheias e de nossa própria só aquilo que se mostro u efetivo e, ao mesmo t empo, condizente com nosso sistema de valores. estilo de vida, jeito de ser. A partir disso, constru ímos nosso estilo de trabalho.
Esse é nosso convite a você - per1gunte-se. a cada l inha:
"O que isso tem a ver comigo?"' A bsorva o que encontrar de bom nestas páginas. jogue fora o que não o for e construa seu próprio estilo.
Belo Horizonte. março 1983.
C.F. M. M.L.M.
1,. COMPREENDENDO A RELAÇÃO DE AJUDA De que são feitas as pessoas si'gn ificati\olas? Como tudo começou Quem precisa de ajuda? Q uem pode ajudar? Alguns princípios dai relação interpessoal
2. ATENDENDO e abrindo as portas da percepçã"ol Preparando o ambiente f ísico Acolhendo A tenden do fisicamente Observa ndo Escutando
3. RESPONDENDO (abrindo as portas da comunicação) R1espondendo ao conteúdo, Respondendo ao sentiment o Respondendo ao sentimento e conteúdo Respondendo oom imagens Respondendo ao comportamento Respondendo, ás perguntas R espondendo c om os próprios sen timentos
4 ., PERSONALIZANDO (abrindo as portas da comp reensão) Transformando a vítima em agente A s fases do personalizar
5. OR I ENTANDO
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(a brindo as ponas da ..-ealização) Orientando formalmente O significado da mudança Existe fim para o processo de ajuda?·
1 e o M p R E E N D E N D o
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"O sentido de ligação a outra pessoa é um requisito básico para o crescimento individual. O relacionamento deve ser tal que cada pessoa seja considerada um individuo com recursos para o seu próprio desenvo.Jvlmento. O crescimento, às vezes, envolve urna lura interna entre necessidades de d ependência e de autono.rnia; mas o indivf'duo se sente· livre para se encarar se tiver um relacionamento em que sua capacidade seja reconhecida e valorizada e em que ele seja aceito e a.rnado. Então ele estará apto a desenvolver seu próprio potencial de vida, a tornar-se mais e mais singular, aut'odeterminado e espontâneo. "'
Clark Moustakas
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DE QUE SÃO FEIT AS AS PESSOAS SIGN IFICATIVAS?
Pare por um momento - empreenda uma busca no seu arqu,ivo pessoa l - esse .arnorntoad'o de vivências, marcantes o suficiente para teriem sid'o r1eg i1stradas ao longo de su1a vida. Se você· se pergun-· tar : "Qual foi a Pessoé!l_!!la is~gnificatiya ~~ minh~vi,da? Ouem foi aquela pessoa que me ajudou em momentos d e crise ou com quem mantive uma convi vência ta"o construtiva a ponto de jamaís ter-me esquecido dela? Um v izinho? Um t io? Um ps:ofessor? Um médico? Meu pai? Minha mãe? Meu parceiro? Aquele jornaleiro da esquina que me viu crescer? Ou . .. qualquer outra pessoa?"
~ provável que sua resposta seja semelhante às de muitas outras pessoas a quem foi feita essa mesma pergunta - clientes; alunos de Psico logia. Odontologia, Medioina; enfermei ras; professores; médi cos e muit,os outros .• no decorrer de processos, de terapia, ,em cursos regulares na Universidade ou encontros esporádicos para treinamentos ou palestras.
Não importa quem foi essa pessoa significativa. 12
O que imponaé saber o que a mornou tão mar· conte cm suo vid2. E é esse quê o ponto comum a todas as resposcas : ela se tornou importante. não pela aparência física. sexo. idade. atividade pr-ofissional. conhecimentos teóricos ou grau de paren· tesco; sua importância reside. certamente. em determinadas caracterist}ça~ R~~is ou .. !!ª~ de personalidade .. que deram direção ao relacionamen to que ela manteve com v~. ~ Talvez você a descrevesse como uma pessoa; humana e calorosa; como uma pessoa acolhedora.! aceitativa. estimulante; ou. Quem sabe. como alguém Que sabia escutar muito bem. oompreender muito bem; alguém que era capaz d e perceber sua aflição e sintonizar com você sem que uma úni-. ca palavra _fosse dita; e. até mesmo. como alguém' cujos conselhos sempre funcionavam. _
Enf im. oertamel'"'te você escolheu como a pessoa significaitiva em sua vida alguém que possuía. em alto grau. o que chamamos de habilidades interpessoais - como o própri o cermo índ ica, habilidades e .ntre pessoas. aquelas habilidades Que nos permitem um relacionamento integral e construtivo com o outro.
E agora talvez seja a sua vez de ser essa pessoa significativa para alguém - um vizinho. úm sobdnho. um aluno, um cliente. um filho. o par-ceiro - ou a próxima pessoa aflita que você encontrar. Qualquer pessoa que precise de você ou que busque sua ajuda. de maneira explicira ou não. e para quem você esteja dispon ível.
Se esse é o seu caso. então você precisa de certas habilidades para ajudar. E cla ro. muitas dessas habilidades já fazem parte de você. in tegradas à sua pessoa ao longo de sua vida e aprendidas. quem sabe. com aqu ela pessoa significa tiva de quem você se lembrou. Talvez até mesmo sem perceber. você tenha passado a fazer com os outros o que fizeram com vooê. Ao avaliar suas próprias ha· bilidades interpessoais. você pode-se perceber como uma pessoa humana, calorosa. acolhedora. aceitativa. esti mui ante.
Ainda ass im. você pode ser muito mais do 13
q u e isso. Você pode não só desenvolver todas as habi lidades que iá tem. como também adqu iri r novas e incorporá-tas à sua pessoa.
Essa é a proposta básica do livro - ajudar vo· cê a : - identificar habilidades interpessoais presentes em
seu relacionamento com as pessoas; - desenvolver ou reforçar essas habil idades; - adqui r ir n ovas habi l idades interpessoais.
A c ima de tudo. você pode tornar-se atento para as relações de causa e efeito q ue estabelece com o mundo a seu redor . Você pode. a cada m omento. peq:1u n ta r-se :
- "Que efeito p roduzem em mim as pessoas com quem convivo?"
- " Q ue efeito produ zo nas pessoas com quem convivo?"
Em outras palavras, você pq_d~ap_c~nde!:.J!_qe· tectar. em vooê meS'!J!!()JJJ..O.SJlUtr.O...s.._ aqueJa_s_babiti i -
• dades que " puxam para cim~ .. ª-9 _invés ~e _"Q!,!Xa_rem p ara baixQ"; aquelas habilidades que. constru-indo ao invés de destrui r. nos ajudam a viver melhor n este mund o em c r ise e a encontrar um senti· do mriior para a própria vida.
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COMO TUDO COME 1ÇOU
A abordagem mais sistemática às habil idad es interpessoais foi desenvolvida por R o bert R. Carkhuff e Bernard G . Berenson através de seu "modelo de ajuda". fonte principal d o nosso t rabal ho, e cuja h istória passamos a resumir .
Felizmente para a ciência. muitas vezes são os próprios profissionais de uma determinad a área que reso lvem questionar e investigar melhor seu próprio trabalho. sem medo das descobertas que possam vir a fazer.
Assim fo i com a Psicoterapia. que viu seu campo de trabalho vasculhado e questionado nas ú l t imas décadas. a parti r de pesquisas feitas pelos próprios psicoterapeut as.
U m dos estudos mais importantes nessa área foi real izado por Car l Rogers. de 1962 a 1967: Client es de terapeutas trabalhando com abord agens teór icas d iferentes liveifam seu f unciona mento avaliado de acorc1o com detP.rminridos critérios~ antes. durante e depois de se submeterem ao processo psicoterápico. Durante a pesquisa. foram gravadas horas e horas de sessões de cada cliente. Ao final da pesquisa, segundo novas ava l iações de seu f uncionamen t o . esses clientes foram divididos em dois grupos: aqueles que t inham .. melh°'ado" e aqueles que tin ham .. piorado" sign ificativamente em rela-
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ção ao início do processo pstcoterápico. Esse· foi o pnmeiro ach~o i mpo! tante : . Em muitos casos, a Ps1coterapta tem· efeitos
destruiivoS_.sgpre õs c líenfes. - - -- -Restava saber Quais eram oselemenms comuns
a esse grupo e quais eram os elementos comu_ns ao grupo de clientes cujos resultados foram considera·
dos positivos. . Surpreendentemente. esses eleme~tos. <:feter-
rninados a parti r das gravações das sessoes ps1c;o_terápicas. não estavam ligados à abordage~ t~raca ou ás técnicas usadas pelos terapeutas. As:s•m : que. no grupo dos que "melhoraram ... havia_ clientes provenientes de terapias de abordagens d•fe.~e':'tes. 0 mesmo acontecendo no grupo dos que piora-
ram" Esse era. en tão. um segundo ac hado : O c.rescim 1]1J.to-d9-Cli.e.nte-não--é-fum;ãa_da
ª bp rdagem t!!órica -º~ d4f!.S t écnicas usadª-.SJJPlo---te rapeu ta... _ .• - - E o que se encontrou de comum. enrao, 1a que não era a linha teórica de trabalho do terapeu· ta que fazia a d iferença? _
o que se encontrou foram tao somente algu-mas características individuais dos terapeutas no seu relacionamento com o cliente .. algo a Que :se
• poderia chamar de posturas ou_ at1t~des _ t~apeuU..-at{o"""-~-- ticayidcpeAà~ente da denom 1na_çao_ teonca que
4 õ terapeuta usava. Tínhamos. a partir disso. um ter-ceiro achado:
o crescimento do cliente é Funcão de determi.:... nadas atitudes assumidas pç[Q_!_erapeµta _ cturan-te _o p m cesso psic ot-erápico.
: .. -. - l
As posturas terapêuticas foram c::iassificadas em seis dimensões básicas - aqu elas atitudes co~stru tivas assumidas pelo terapeu t a na sua relaçao com o cliente. As três primeiras dimensões fora~ ideotificadas por Roge.-s ( 1967}. enquanto as tres ú l timas foram identificadas por Carkhuff ( 1 9 69) :
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E mpatia : capacidade de se colocar no lugar do 1 outro. de modo a sentir o que se sentiria casó
se estivesse em seu lugar. ·
,1 A ceit ação incondiciona l ou resp eito: capacida-
2 de de acolher o outro integralmente. sem que lhe sejam co:ocadas qua isquer condições e sem julgá-lo pe!o que sente. per.sa, fala ou faz.
Congruência: capacidadedeser real. de se mos-3 trar ao outro de maneira autêntica e genuína.
expressando. através de palavras e atos. seus verdadeiros sentimentos.
onfrontação: capacidRde de perceber e comucar ao outro certas d iscrepâncias ou incoe·
4 ri cias em seu componamento - d istância cre o que ele fala e faz. entre o que ele fala
e o que é na realidade. entre o que ele ·fala e m ostra.
lmed1a (icidade: capacidade de trabalhar a pró-5 pria relação terapeuta-cliente. abordando os
sentimentos imediatos que um experimenla p elo outro durante o processo.
Concreticidade: capacidade de decodificar a experiência do outro em elementos específi·
6 cos. objetivos e concretos. para que ele mesmo possa compreender melhor sua experiência, às vezes confusa.
Além de terem sido categorizadas as dimensões. determinou-se também a importância de dois outros aspectos ligados a P.s...as dimensões: - o grau ou nível em que elas eram apresentadas
p elo terapeuta. demonstrando-se Que Quanto mais alco era esse nível. maior o crescimento por parte do cliente;
- o momento em que eram introduzidas na reiação terapêutica: as três prime! ras (empail ia. aoei tação e congruência) caracterizando uma fase inicial
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do processo. e as outras três aparecendo em fases mais avançadas.
Essas dimensões. dependendo do nível em que eram apresentadas pelo terapeuta. foram consideradas responsivas ou iniciativas_ Resoonsivas.Jlj.J.ao_90 ç terapeuta resp_Qnçlia ao cl~r1te......n.o_J))esm0-nível em que este estava se coJocando;_e. iniciativas. quando o terapeutã se tornaya '}]ais diretivo. permitindo-se acrescentar sua própria experiência às raspostas que formu lava ao cliente:- ·
Enfim. é como se as dimeilsões responsivas estabelecessem a base do relacionamento terapeutac l ien te e se tornassem pré-requisito para fases mais avançadas do processo. quando as dimensões iniciativas desempenhavam um papel decisivo no crescimento do cliente_
Da mesma forma que determinaram as dimen·soes presentes nos ce,rapeutas 1ef etivos. os pesquisa- -dores tentaram descobrir o que se passava com os clientes. à medida que se desenrolava seu relacionamento com esses terapeutas,. Assim. tentaram estabelecer as 'elações de causa e efeito a que já nos refel"imos. se um terapeuta é empático. respei toso, congruente. concreto. imediato e capaz de confrontação. que e feitos provoca em seu cliente?
Mudança nos construtos pessoais: t ransformação das cren ças e valo res que orientam o rela-
1 cionamento do cliente consigo mesmo e com o mundo à sua volta. no sent ido de uma maior f lexibilidade desses valo res, inicialmente rígidos.
Proximidade da expenencia: habilid ade do
2 cliente de desenvolver o autoconhecimento através de um contato cada vez mais próximo com sua própria experiência_
Entrega ao relacion·amento: confiança do cl i en-3 te 1em relação ao terapeuta. de modo a se .abrir
l ivremente· com e le no deco rrer do p rocesso.
18.
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Mudança n.a expressão dos problemas: movimento do clien te quanto ao con teúdo de suas
4 verbalizações. no sentido de expressar. cada vez mais. conteúdo interno freferente a sua própria pessoa) e menos conteúdo ex temo.
Em resumo. seria exatamente o somatório dessas mudanças por parte do cliente que o levar ia a um crescimento emocional, através da aquisição de habilidades com as quais pudesse l idar melhor com seus problemas_ Enfim. transportando as novas aprendizagens da sala de terapia para seu mundo, o cliente poderia chegar a seu objetivo final: uma vida mais plena e mais satisfatória.
-ra :;foro:H:1ndo as ~t:n ensõe:;, ..:r r omoo r tamentos
Uma vez identificadas as dimensões do terapeuta e seus efeitos sobre as pessoas, ocorreram uma ·compreensão maior do processo terapêutico e uma maior organização no estudo das psicoterapias_ Elementos até então desconhecidos ou apenas suspeitados vieiram à luz. transformando-se em padrões confiáveis para a real ização de novas pesquisas_
IV\as isso não era ainda o bastante - um aspecto fundamental no campo da Psicoterapia estava ainda deficitário: o processo de aprendizagem dessas dimensões pelas pessoas que pretendiam tornarse terapeutas efetivos. Elas já sabiam o que fazer -mas não sabiam como fazer. A verdade é que as dimenscSes não eram concretas o suficiente para serem treinadas e exercitadas pelos candidatos a tera~ peutas efetivos. Só havia um caminho para que fosse implementado um verdadeiro programa de treinamento - a transformação das dimensões em comp ortamentos ou habilidades tão visíveis e mensuráveis que não houvesse dúvida sobre sua aprendizagem por parte de quem quer que fosse_
E assim foi feito ; desenvolvendo seu .. modelo de ajuda". Robert R . Carkhuff buscou incessantemente uma operacionalização. cada vez maior. das habilidades interpessoais. Não se tratava então de sonegar informações e conhecimentos aos interes-
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sados em ajudar. mas. ao contrário, ~o~ar.ti· lhar as habilidades de aiu?a c~n)J> ma1~r n umero possível de pessoa<!>. Estas mc!mam ta~bem_ os ch_?mados leigos. uma vez que essas d1mens?e:' na? eram privi légio ou exclusividada dos prof1ss1ona1s d e ajL1da. Não só eram encontradas _ em qua~quer segmento da população. como hav~a também a enorme necessidade de serem aprendidas ~elas pessoas significa!Civas !pais. professores. patroes. profissionais de saúde. religiosos. etcJ - aquelas pessoas que n ormalmente exercem influência marcant e na vida d os outros - além. n atur-almente, d os próprios profissionais da área da "saúde menta~ .. -psi qu ia eras. psi có I ogos. or ien t~d ~ r~s .. ~nse 1 hei ros . A todo esse grupo de pessoas s1grnficat1vas chamou se de ajudadores; e ao grupo de pessoas que. de uma forma ou de outra. sofrem sua influência. de ajudados. _ _ . _
A partir da operaciona!1zaçao das d 1mensoes do terapeuta e dos efeitos por e!as pro_vocados n_os clientes. desenvolveu-se o modelo de a1uda. que ir11 -
clui os comportamentos do ajudado dura_nte seu processo d e mudança. e as habilidade~ c:Iº a1udador que possibilitarn essa mudança - habilidades essas observáveis. ~nsuráveis e. acima de tudo. ti-ansm issíveis ou treináveis.
Guar-dando. em sua essência. uma estreita ligação com as dimensões já cita?~s. ~ foram os quatr-o grupos principais de hab1hdades interpessoais do ajudador formulados pelo modelo (cada u m dos quatro grupos se subdivide em habilidades específicas que serão destri nchadas ao !ongo do livro). ·
Atender: comunicar. de maneiras não-verbais. 1 disponibilidad.ft e interesse pelo aj,udado.
Responder: comunicar. corpor.al e verbalmen· 2 te. comp reensão pelo ajudado.
Personalizar: mostrar ao a judado sua par-cela 3 de responsabilidade no problema que está vi
vendo.
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Orientar_· avaliar. com o ajudado. as alternati 4 vas de ação possíveis e facilitai- a escolha de
uma d elas.
A mesma classificação das dimensões em responsivas e iniciativas foi mantida para as habilidades. Assim é que as duas primeiras - atender e responder - são consideradas habilidades responsivas. enquan to que as duas últimas - personalizar e o rientar - são consideradas iniciativas.
A medida que o ajudador atende. respnruie. R:§rsonaViza e orienta .. o ajuda..do.....c.a.rneça também ..::-- - --ê.._..29ffiQQ.i0ar.zSe ...d.e._ma.da..a .,pro.mover s.ua_próprja ~udªf'J;9. Essas são as fases pelas quais ele passa duraf} te o desenrolar do _p.rooes~Q de_ajL.Lcl.a:
Envolver-se : capacidade de se entregar a0 p rol oesso de ajuda. iniciando a expressão corporal
e verbal de seus p roblemas.
Explorar: capacidade de avaliar a situação real
2 em que se encon tra no momento do processo de ajud a - seu s problemas. déficits. insatisfações - e de defin ir. com c lareza. onde está.
Compreeoder: escabeleoer ligações de causa e efeito entre os vários elementos presentes em
3 sua vida - como se estivesse juntando as p eças de um quebra-cabeça - da modo a definir sua meta: onde quer chegar.
Agir: movimentar-se do ponto onde está p ara
4 onde quer chegar. escolhendo. para isso. o melhor caminho o u programa de ação - como chegar lá ..
As in cer-relações entre as habilidades do aju dador e os comportam entos do ajudado podem ser representadas da seguin te maneira:
AJUDADOR: atende ~ responde -+ penonali%a ~ orienta
1 ~ ! / ! / ! AJUDADO: envolve-se--+ explora --+ oon>preende --+ a ge
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l
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A cada habilid ade do ajud ador corresponde um comportamento do ajudado. ranto essas habilidades quanto os comportamentos obed ecem a uma certa seqüência. de tal modo que u ns se tornam prérequisi tos para os out.·os.. Por exemplo: p arao ajudador. não é possível p ersonalizar sem antes_atf:D~
_der ~ _!!!Y!onder; ~ra p -ªÍ!Jd2dº--. rião_ é_ pos.sL\lel !!fjir de_ manei r.:a efetiva ~n'Lsm.t~mp.ceender_su~ p rópria..expeciência.
Qg~n~ando·s~ _me~~?~ a~ ~i':'.'.ec~~-X€1~ do pro~º d e a1uda. fica mais facil c9mpreender. por exempJo. por quê os "conselh~" (orien_:tarl_ .n~m sempre funcionam. 1 sso ocorre porque_estes forani 9fereciqo~ $?~ necessária base de comprêênsão P-?r p arte das pessoas:
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Conselho
.Não colhe agora a botão que,
somente amanhã, promete desabrochar.
Dá seiva à roseira que,
por si só, a rosa se abrirá num sorriso a .te oferecer
suas pétalas . . . seu perfume. . .
Dócil e incegraknr::n te.
Cláudia Myriam Botelho
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Por outro lado. ao final de uma fase do processo. quando o ajudado age em alguma dir eção. todo esse processo se recicla novamente: os resultados de sua nova ação se tornam os dad os para o começo de mais um ciclo. em que ele vai explorar esses dados. compreendê-los e agir novamente - e assim sucessivamente. até q u e ele se sinta em condições de andar por si mesmo. Em outras palavras. o final do ..QI.QGe$5.Q.de aj).Jda ocorre quªnd9 o_ aju<Jado se ILOLíl.a seu p róprio a judador - ele já é cap az çte se atender. se responder. personal izar sua exp eriência e se orientar . Enfim. ele já sabe fazer consigo mesmo aquilo que o a judador fez conn el'e ao longo de todo o processo de ajuda.
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QUEM PRECISA DE AJU DA?
Nem melhor. nem pior. Apenas em falta de alguma coisa que. quando
encontrada. irá mudar sua v ida para melhor. O ajudado é. antes de mais nada. um~ p~so~~
quem falltam algumas habilidades de_viçta. Isso o te~ a entrar em c r ises SÜoessivas de_ i0~_! i_sf~ão cons_fgo mesmo. cõm os outros e com o mundq_. Às vezes, par-ece-lhe que a faitã é ex terna - ele bus~_::;empre coisas e mudanças fora de sua_Qessoa. Muda de emprego. de casa:-d.e cidade. de parceiro. Compra carro novo# roupa nova. um novo som. E, ai nda assim. a falta persiste. Dela nascem a ansiedade e a confusão. Ele se sente perdido. Gastou toda sua força. e energia na busca de coisas fora dele. Talvez tenha alcançado tudo aquilo que se prometeu um dia, na esperança de preencher o vazio - dinheiro, "status". sucesso. às vezes aplauso e admiração.
Mas o vazio começou "há muito tempo atrás e cresceu com ele e sua história. Na verdade, o vazio começou com as pessoas significativas de sua vida. a quem também faltaram habilidades para estabelecer com ele uma relação saudável e construtiva. Entre essas habilidades. é provável que tenha faltado uma crucia l a seu desenvolvimento como pessoa: amor incondicional. Se os adultos que o cercaram não foram capazes dt:? expressar afeto e de transmitir mensagens de amor incondicional, ele cresoeu se percebendo como uma pessoa "não,-gos-
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tável". De acordo com essas mensagens, ele só seria amado se preenchesse determinadas condições impostas pelos adultos: "Se você fizer isso ... Se você fizer aquilo ... Se você não fizer aquilo outro ... ". Ele seria amado desde que fizesse determinadas coisas. e seu valor como pessoa não estava em simplesmente ser quem era ... mas em Fazer o que esperavam que Fizesse - em ações que deveria executar parai atender às expectativas dos outros. Não tendo sido realmente amado, não aprendeu a se amar.
Quando se tornou adulto# seu vazio era a falta de alguma coisa tão indispensável quanto o ar que respirava : o amor a si mesmo. a que chamamos auto~stima.
Essa falta é a fonte de toda a insatisfação e infelici9ade que o acompanham pela vida afora. até o dia em que ele decide pedir ajuda. Para isso. é preciso que haja uma pré-disposição interna para ser ajudado.. Ou seja. ~ó pode rece6er ajuda quem admite que realme.nt;e precisa ser ajudado. Se é esse o caso. é hora de pedir socorro. Em meio à confusão e ansiedade. ele nem mesmo sabe o que lhe falta. Ou onde está se refletindo essa falta : se em sua área física. emocional ou intelectual. Se alguma coisa nao vai bem com seu corpo, seu déficit é Hsico. Ele pode descobrir que não está bem suprido de sono, de descanso ; que sua a1imentação não está saudável; que sua resistência física está baixa, sua energ ia e vigor para o t rabalho estão pequenos; que seu peso está abaixo ou acima do que deveria; ou que sua própria saúde 1esil:á abalada por sintomas físicos ou por alguma doe'°ça que o impede de viver todo o seu potencial.
Seu déficit pode ser também eryiocional : seu relacionamento consigo mesmo e com os outros pode estar insatisfatório; ele pode estar sempre ansioso. angustiado. sem nem mesmo saber por quê. Pode ser que se sin ta sempre sozinho. Ou sua pfópria situação objetiva de vida. no momento, pode estar muito difícil.
Sua área intelectual pode ser também o foco de seu problema - ele pode eslar tendo dificulda-
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des de aprnndizagem. de aquisição de conhecimentos e informações importantes para viver uma vida melhor. Enfim. o mais provável é que as três áreas estejam deficitá r ias. tal a interdependência entre elas.
E: hora de encontrar uma pessoa Que faça com ele aqui lo que nunca fizeram antes - alguém que o atenda e responda à sua experiência. d e modo a explorar onde está ; alguém que. personalizando. o leve a compreernder sua pró pria contribuição a seus problemas e a identificar onde que r chegar; e a lguém que possa o..-ientá-lo, ajudando-o a encontrar a me lho..- maneira de chegar lá.
Quem p ode ajudá-lo agora?
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OUEM PODE AJUDAR?
A~tes de mais oada. é importante retomarmos. neste ponto, aqu ela velha d iscussão do hered itário versus ap..-endido. Tão velha q u anto os primórdios da Psicologia e uma de suas primeiras indagações, ouviu -se, muitas vezes, a pe..-gunta : " A final , o q ue importa mais - a ca..-ga genética ou o ambiente? Certos traços individuais são determinados pelas combinações genéticas. no momento da concepção, ou pelas aprendizagens ocorr idas no meio ambiente desde o n ascimento? Assi m , como qualquer ou1ira. atividad e, a habilidade de ajudar seria um 'dom inato', uma vocação e uma tendência natural, ou p o d eria ser u m comp ortamento passível de aprend izagem e treinamento? ..
Não é nossa intenção solucionar essa controvérsia, que p erman ece até hoje sem uma conclusão definitiva, apesar dos esforços d e tantos pesquisadores nesse sen t ido.
O importante é avaliarmos as implicações de uma ou de outra resposta e daí c1a..-mos di..-eção a nos.so trabalho.
Digamos gu~_@_nascernos sçib_engo ajudar~ que ~habil idade é realmente fruto de nossa carga h e_recfitárja. E eniãõ? O que nos resta senão c ruzarmos os braços e esperarmos as pessoas irem nascendo, com o u sem o "gen" da ajuda? Quando muito. nosso papel seria apenas o de aval iarmos a presença ou ausência desse gen numa certa altura d a vida
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das pessoas. encaminhando-as ou não para as profissões de ajuda.
Ou digamos. pelo contrário. que a habilidade de -ª juda .é _ap.ceDc!Jd'a , seia de maneira sistemática (nos diversos c u rsos destinados aos prof issionais de ajuda). seja de m aneira íllllformal. durante a vi da. Por maneira informal entendemos t odos os encontros que a pessoa manteve com pessoas s ign i f icativas durante a sua vida. Ser-ia uma aprendizagem casual de habilidades através da identificação e imitaÇão de modelos - a mãe. o pai. o professor ou qualquer outra pessoa - fazendo com os o u tros o -qu e fizeram com ela.
Se ajudar é rea l mente uma habi l idade a ser dese·nvolvida. podernos aumentar o controle sobre sua aprendizagem. ao invés de d eixarmos essa aprendizagem p or conta do acaso. Mesmo porq ue isso não seria justo com aquelas pessoas que gostariam de saber ajudar. mas. por azar. não t iveram encontros bastante significativos para adq u iri rem as habi l i dades necessárias à ajuda.
Assim, urna primeira resposta à questão sob~e quem pode ajudar seria essa:
Pode iliudar aquele qpe aprendeu a~_h_qf)i_li_dades c;/e ajuda - seja de Fna~Í!3!. fOCWÊlo'-! t_nfonEªl
. !Vilais éspec:l'.flcameinte. ~bf:! __ f:!iudar o outr_o aquele que sabe ajudar a si mesmo. · Como conseqüência dos encontros significativos. a pessoa passa a fazer consigo mesjm a aqui lo que os outros fizeram com ela. O que a diferencia dos outros não é o fa to de não ter problemas em sua vida - mas sua habilidade em lidar com eles. Q uem sabe ajudar-Si:L§Q..b.e,. an_t~ d_e .!fl?_i~ na~~'- a_te~derr a _.si mesmo; sabe responder.à sua própria expe-ri~cia~ . identificand o onde está e-.o -cluê I~ :~~a -par a d hegar onde precisa. Sabe qual é a sua parcela de respon:Sabi lidade nas c r ises em que v ive e sabe agir de· maneira efetiva para sair delas.
Além disso, o ajudador tem c_amo-caracI.e.u~.tica básica uma bQ,a dose_ @ ~uJ.:Q~~tifl}gl-:_]SSQ_s.ig-_ ·n-i fica g1,1~ .,êle -ªRr.~Qf1~u- ª-~ amar acim~ de tudo e í n dependentemente das circunstâncias externas de sua ºv id-ãi. E é esse o ensinamento básiéo que vai
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uansm111r ao ajudado durante o processo de ajuda: amar--se. l1sso só é possível quando o ajudadorr é capaz de amar o outro. Como de amor não se tal.a. mas_ S.§_fª~-·-Q..Ê~..!-'lQ-P_!3?f..~SS2:_ de ªj1,.1_ç_la,_ "~jq_z" Õu se operacionaliza através das_habilidades inter· pessoais do aTudadÔ.Í . -E: u m - verdadeiro- "ciclodo ãínõr " que poderia ser representado assim:
sign i'ficativa a111la o
ajudadoir
ajudado se
ama
aiudadlor se
ama
ajudado ama outros -tomai-S>e aju dlador
ajudador am.a o
ajudado
Com isso. chegamos a um úl!~'ingred ien-1e·:_QQ_ªjy_dador: ._ele precisa ter dispoojh/ lidade inf_t:rna par:a ajudar o m1tr~aLJLéHJ2ª1Q..EO decorrq da p ™s;sP..-.f!e ajuda. Sem isso. nenhurna habilidade interpessoal é efetiva. da mesma forma que nenhum amor é suficiente para ajudar quando não foram adquiridas as habilidades necessárias ao processo.
Aqui é bom lembrar que !WOhuro aj1 •dadQ.r tem a obrigação de aj1 •daL.O_teroQ:9_J_odo ou a.J.Qd_as j!s...Q.ess.QQ_~ Como tudo mais em sua vida. a ajuda é uma opção que ele faz a cada momento - se quer ou não usar suas habilidades. com quem. quando. onde. Ass1m.-chegamos à equação final do processo de a j uda:
AJUDA: disponibilidade· intel"na + amor +habilidades
A partir deste ponto. vamos falar de habi l ida· des de ajuda. E importante saber-se que essas h abi · !idades obedecem a uma cer ta seqüência Olll cronologia no desenrolar do processo de ajuda e. conseqüen temente. na organização do livro_
Como já vimos no tópico "Transformando as Dimensões em· Comportamentos". não podemos. por exemplo. personal izar sem antes re~ponder; o r i-
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entar sem antes atend er. É nesses "'saltos" que está, muitas vezes .. a causa du fracasso de uma relação de ajuda.
O importante aqui é não p erdeirmos de vista as hab ilidades mais básicas quando estivermos aboi-dando as mais complexas. Talvez possamos compreendei- melhoi- a seqüência das habilrdades se as v ii-mos como cumulativas - cada uma sendo pré-requisito parn a próxima. Ou se as compa rarmos oom uma escada em que cada habilidade é um degira u , sendo que só pisamos nodecimadepoisdepisarmos no de baixo - 'lembrando sempre que precisamos p_as3c_ poJ ..l_Q.do_s.....os...degr_fil!~- ~r.ê_ ~til}g_irmos nosso objetivo - no caso, ajudar alguém. - - - ~ - -
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ALGU NS PR1NCft>tOS DA RELAÇÃO INTERPESSOAL
1 - A pessoa é, em grande parte, resultado das relações interpessoais que estabeleceu durnnte sua vida.
2- Ninguém sai ileso de um encontro com o utra pessoa.
3 - H á sempre uma relação de causa e ef~ito acontecendo entre duas pessoas - uma causa efe itos sobre a outra e víoe-veirsa.
4 - ·:ES:s:es efeitos podem ser para methorr ou para pior, construtivos ·-ou destrutivos, para uma das partes ou para ambas_ .
5 - Esses efeitos são eSpecialmente marcaotesquando uma das pessoas é conside<ada significativa - aquela que tem maioJ" influência-sob~re a outra devido ao papeE social que desem-.
~ penha. · u~- Numa relação de .ajuda. a responsabilidade \ . . -
maior · pelos. r·esultados do encontro é ·do aju-_ dador.
· 7 - O resultado do enoontro depende de suas ha-;-. - ·bilidades mn terpessoais. . .{• . 8 - Essas habi lidades podem':Ser a·pcendidas. 9 ~ ·p Ma sere m -aprendidasl essas habil idades de
~ .... ~ ;vem sér· ó peracionaltzadas e m . compOi-tameotos observáveis e mensuráveis.. .
1 O - No processo -de ajuda, o ajudador atende, res' - pondé, personaliza e orienta .o.ajudado; como
conseqüência, este~ e nvolve, -explora onde está. compreende onde quer chegar e age para chegar1á.
11 - A falta do ajudado pode esta r l'ocal izada em uma ou mais de suas áreas de funcionamento: ffsica .. emocional. intelectual.
12- Os ingredientes do ajudador são: di,sponib iLidade interna, amor pelo a judado e habilidades intei-pessoais em alto nível.
13 - Essas habilidades, apesar de caracterizarem a relação de ajuda, são básicas a qualquei- encontro entre duas pessoas. mesmo que não lhe seja dada a conotação de a juda - são e las que determinam a qualidade desse encontro.
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"Quão bela, quão intensa e libertadora é a ex- 1 periência de se aprender a ajudar o outro. E impos-s/vel descrever-se a necessidade imensa que têm as pessoas de serem realmente ouvidas, levadas a sério, compreendidas.
A Psicologia de nossos dias nos tem, cada vez mais, chamado a .atenção para esse aspecto. Bem no cerne de toda psicoterapia permanece esse tipo de relacionamento em que alguém pode falar tudo a seu p róprio respeito, como uma criança Fala tudo à sua mãe.
Ninguém pode se· desenvolver livremente nesse mundo, nem encontrar urna vida plena~ sem sentir-se corr1preendido por uma pessoa, pelo menos . ..
Aquele que quiser se perceber com clareza deve se abrir a um c onfidente, escolhido livremente e merecedor de tal confiança.
Ouça todas as conversas desse mundo, tanto entre· nações quanto entre casais. São, na maior parte, diálogos entre surdos."
Paul Tournier, M.D.
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(abrindo as portas da pereepção}
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Neste primeiro grupo de habilidades .. vamos ver como o aj_udador inicia seu_trabaliho .. muito antes de interagir verbalmente CQ!!L.0 aj.udatj_o e a té m~mo acnes d~_enco~IÕ. - - -
Inúmeras mensagens são transmitidas o temp o todo pelo oorpo do ajudador e pela extensão desse corpo. que é seu ambiente de t rabalho.
O corpo não mente. N ão importa se as palavras estão send o ditas ou como estão sendo ditas. o corpo está lá e v ai estar sempre. dizendo suas próprias coisas. sem jamais ment ir-.
Posso tornar-me ciente de meu corpo e aprender ex>m ele um pouco mais a m eu próprio respeito. Posso saber. at1ravés dele. o .que ando dizendo às pessoas. Posso também escolher o que d izer a cada uma. a cada m omento. com esse corpo. Posso fazer dele o retrato do meu coração.
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PREPARANDO O AMBIENTE FISICO
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Q _primeir9 e:oi::i_tato d? _aju_d~~º- CQ[T'l 9 ~juqa,dor se faz através do amb~ec:n~ f1s1co ~rr:! -~~~ este exerce sua atividade. Nesse caso. o ambiente de trabalho é como se .fosse a própria extensão do seu atendimento. Ou seja. o a judador começa a atender a pessoa antes mesmo de entrar em contato d i reto com ela - ele está presente em cada móvel , em cér da objeto. em cada detalhe que compõe seu ambiente.
O ambiente físico nunca é neutro - ele emi-te, o tempo todo, mensagens para o ajudado. Essas mensagens tanto podem ser de cuidado e de interresse como de extremo descuido e desinteresse. Essa ausência de neutralidade não é exclusiva do ambiente d e ajuda. Costuma-se dizer. por exemplo, que "a casa é o retrato do dono".-. isso porque cada pessoa imprime suas caractenst1cas a_ tudo qu~ faz. inclusive à maneira pela qual arranja o ambiente em que virve.
Independente do estilo e dô ousto. a decoração do ambiente é extremamente reveladora em
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relação à pessoa do ajudador. . ~ A partir. do i n!'>tante em Que o aJudado entra
em contato com o lugar em que vai ser atendido, oomeça a experimentar sensações de bem~tar o~• de mal-estar. provocadas pelo ambiente~Õde ' 1 perceber ~ ambiente como aconchegante e.s;a_!o- 1 !.OSO~ Q.U OQJ!lO_ t1j9_ ~- j~I. _Essa peroepçao. ! por sua vez. pode desencadear _sen~1mentos de espe- , rança. ai ívio. acolhimento. ace1taçao; ou de preocu- 1 pação, rejeição e até medo. .
A decoração inclui as cores usadas no ambiente - como são combinadas, se são suficientes para dar vida ao lugar ou se são tão fortes que chegam a desviar. por completo. o foco de atenção do ajuda-do.
A disposição dos móveis é fundamental para a relação de ajuda. É importante que as cadeiras estejam de frente uma para a outra e que sua d_ist_ância seja adequada ao tipo de ~noontro; a p:rox1m1~ade entre elas aumenta à med 11da Que aumenta o v1 ncu-
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lo entre ajudador e ajudado. Essa proximidade pressupõe também a ausência de barreiras físicas entre os dois. especialmente quando o vínculo já se tornou grande o suficiente para dispensar. por exemplo, a presença da escrivaninha ou qualquer outra coisa entre eles. Também em sa la de aula. essa disposição é pré-requisito para que se estabeleça uma ~elaçã<:> de ajuda efetiva_ entre pr~fes:sor e aluno . .f;f\~,.,_r,_\;.,.., ideal e c.oJQ.Ca.C.. ~cadeira~ ~m circulo de. rn.OOo _a 1~ k~ gu~ -.!.<?<12~-~jam~ sem. que um tenha de dar.. ~s(~~ ~v.~ <:.Q.stas_ aQ._Ol!tro_,__g>JJ1_0~9CO.oteoe quando as carte:1-.1(~ ...... .,., ras-são enfilelcadas. '
Outro aspecto importante está ligado a uma razoável igualdade entre as cadeiras usadas pelo ajudador e pelo ajudado. Essa igualdade está ausente. por exemplo. num consultório em que a cadeira ·do profissional é muito mais alta do que a do ajudado ou numa sala de aula em que o professor se assen1a sempre atrás de uma mesa. Tanto numa situação como na outr.a há uma mensagem. muitas vezes não-intencional, de superioridade por parte do aijudador. IÉ como se ele estivesse dizendo, do alto de sua cadeira. ou de trás de sua mesa: "Eu sou me1hor do que você".
Naturalmente. essa igualdade nõo pode ignorar que os papéis ali desempenhados são diferentes - ao ajudado é oferecido maior conforto, e sua cadeira é um convite ao relaxamento e ao aHvio de tensões. Por outro lado. esse não pode ser o convite da cadeira do ajudador. Est~. pêlo contrário. está num momento de extrema atenção. não de descanso ou descontração. Tudo isso deve ser levado em conta na escolha dos móveis para um e para outro.
Também fazem parte da decoração a limpeza e conservação do ambiente. Uma sala de aula cheia de papéis e pontas de cigarro no chão. ou um consultório com vidros quebrados e estofados rasgados, emitem mensagens de extremo descuido por parte do ajudador. Talvez possa ocorrer ao ajudado a seguinte indagação: "Posso acreditar que essa pessoa vai saber cuidar de mim melhor do que cuida do própnio ambiente em que trabalha?"
Um último tópico referente à decoração diz 391
respei to aos quadros e objetos usados para enfeitar o ambiente. São essenciais para dar aconchego ao lugar ,e se tornam especialmente importantes quando dizem do tipo de ajuda prestada no local. t o caso por exemplo. de "posters" com mulheres grávida~ ou amamentando num consultório obstétrico; ou dos brinquedos. num consultório pediátrico. São detalhes que individualizam o ajudado e o fazem lembrar da importância que tem naquele lugar específico.
Além do cuidado direto. o ajudador pode ter alguns cuidados indiretos para com ? ajudado antes que se inicie o con t.a to en ue os dois.
Esses cuidados podem incluir. por exemplo. revis tas na sa 1 a de espera; água ou café. se for poss íve I; um banheiro. em caso de necessidade; música ambiente. também na sala de espera. Em outros lugares mais amplos. como um hospital ou uma escola. esses cuidados podem incluir a sinalização adequada das salas. para que o ajudado não se sinta perdido.
Já durante o contato direto. uma caixa de lenços de papel significa cuidado e. mais do que isso. a permissão para o ajudado expressar livremente suas emoções.
Cuidar do ajudado jnch 1i também elimi.oau:IQ ambiente aualquer fonte de desconforto físico. Seu próprio papel de ajudado pressupoe a existência de um desconforto que o levou a buscar ajuda. Esse desconforto pode ser físico. emocional ou de qual quer outra natureza. Não é necessário. nem mesmo justo, que o ambiente de ajuda lhe propicie um_ desconforto a mais. Pelo contrário. esse.-~º ~m!?~~nt~ que, em meio a todos os problemas, y:sú -se tornar seu lugar de paz e tranqüilidade; um oásis em meio a seu deserto de aflições. Esses desconfortos podem estar -ligados à temperatura do ambiente (especial mente em ambientes muito quentes ou muito frios) ; a ru Idos excessivos (barulhos da rua ou vozerrio de pessoas) ; à estimulação 'externa muito intensa '(um grande movímento de pes-soas. por exemplo) e até
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mesmo à claridade excessivê. (nesse caso. basta uma mera troca nas posições das cadeiras para aliv iar o ajudado).
Enfim, são pequenas atenções por parte do ajudador. mas de grande significado para o ajudado. A mensagem que ele recebe é algo como : "Estou ai para você e me importo com seu bem-estar muito antes de nos encontrarmos".
Nem sempre a decisão de buscar ajuda é fácil ou tranqüila para o ajudado. Admitir sua própria "fraqu eza" e dizer a respeito dela para alguém é mais difícil ainda.
As pessoas geralmente se sentem embaraçadas diante de seus problemas e por isso os escondem dos otitros. Quando. finalmente, decidem entregarse ao ajudador. é porque estão dispostas a confiar nele. E o ajudado.r..não._Qode trair ~ua _c~a....D.? início o_ mfcümQ que pode oferecer-lhes e_a total --:.&.-- .... garaDti'!_(~!!:.Qr_!Yacidé!,d~ -:-. a ~r~za de ql:'e i:-ain_~~m. ãTém deJe próprio~ vai compa[tilh_9r ~ua 1nt1m1dad_e.
Essa garantia é dada. basicamente, através do ambiente: isso quer dizer que a vedação acústica entre a sala onde os dois se encontram e as outras °Salas deve ser perfeita. Não se admite que qualquer outra pessoa possa escutar o que está sendo dito entre os dois. Isso quer dizer também que a '_'.i,reda-
s ão visa 1al" não pode ~r - não se admite que qu-ãiQuer outra pessoa possa ver o interior da sala onde os dois se encontram. especialmente em consultórios onde se realizam exames físicos do ajudado.
Além disso. privacidade significa que o ajudado vai relacionar-se sozinho com o ajudador e que os acompanhantes - pai. mãe. filhos. marido, mulher - apesar de muitas vezes insistentes. vão ficar esper-ando do lado de fora. A não ser que sua companhia seja requisitada pelo próprio ajudado -ele é o foco da relação de ajuda e é quem dá adireção.
Isso se aplica também a quaisquer outras pessoas que façam parte do ambiente de ajuda : secr-e-
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tárias. serventes. outros prof,issionais. etc . A partir do momento em que ajudado e ajudador se encontram. não deve haver o menor risco de serem interrompidos p or qualquer o u tra pessoa - e deverem sua privacidade quebrada.
Até esse ponto. temos nos referido aos profissionais de ajuda - méd icos. dentistas. psicólogos. p rofessores. orientadores educacionais e outros - e a seus ambientes de trabalho. Isso não quer dizer. no entanto. que foram excluídos os outros ajudadores - pais. colegas. amigos. parceiros, etc. - a q ue poderíamos c hamar de ajudadores informais. A d i ferença entre uns e outros. quanto ao preparo do ambiente. está apenas na existência de locais cuja f inalidade bá<Sica é a ajuda, para os primeiros; e na improvisação d e outros locais. p ara os segundos. Mesmo improvisado, o ambiente e m que o ajudador informal e seu ajudado vão encontrar-se pode - e deve - manter algumas condições às quais nos referimos: posições adequadas tanto para um quanto para outro (a proximidade compatível com o vínculo). a possibilidade de um ver o outro sem barreiras. a el iminação de desconf o rtos flsicos e, ac ima de iludo, a privaddade.
Vale aqui lembrar John PoW"ell . "Se eu e xponho a você minha nudez como pessoa. não me faça sentir ve rgonha"
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' \ ~~ _ -.LC>-- "'~ --~ -~ ~~'-'.lc, . J \ :\..--- '), ~ ~ '-!>("' "" - - ~ .... « - ~ ' ~- -
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Prepar ando o.ambiente físico · ~i.i't~
O que é: ~-.• e>· • ....r.
Arranjar o ambiente físico em que o àju.dadatv·ãi , ser. atendido. levanq.ó'~_ém •oonta quê -esse. ambíén'~ te e a extensão do ~tendimento do aju dador. ·"'"" .. ~"
y "Q~> .. -, ...
Para que: ~n .... Se ~idlo do amb iente tisico. cuido indiretamente do aiudado. de modo~ fazê-f'& _sentir~::Valor'izáOd. _•
Como : 1. Estar atento à d e.coração. 2 .. C?mbinar as cores do ambiente_,. ~ '> .':' ~~-'t:;; ;, " 3. Dispor os móveis d e maneira adeqt~tâôa"':" ~ ~m ~ 4. Mant er o ambiente lim po e bem conservado:~ 5. ~sar objetos decorativos relacionados com o
ai udado. · '\:'<. i?i.'.c·.:i; • """ h"'~';
6 . Of'.er~cer pequeno$ c u idados ao ajudàd b.> .. n"l -~~ 7. El1m1nar qualquer desconfono do ambiente. 8 . Garantir privacidpde ao ajudado.
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Refúgio
"'Quando t'odos parecem conSPirar contra você, quando o mundo parece desabar a seu r:edor, haverá ainda um lugar aonde ir.
Lá você pode sentir e chorar e falar da dor e esvaziar o peito cheio de mágoa.
Lá é trégua de guerra é refUgio tranquilo é porto seguro.
Vem, e ancora aqui seu coração .. "
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C.F.M.
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É nos primeiros momentos de cada encQ.OJJí.o que o ajudad9_;.r Y._ql aç_pJtíei º~judac:f~ e. ·a·l~avés c;!es~ $a acolh ida. constru i r a base da relacão entre os dois no n~staoie -dÔ- tem.Ro_qu~ têm p~lá firentª. Isso vale par-a qualquer encontro e. em especial, para o primei ro - quando um vai conhecer o ouitro.
Esses momentos poderiam ser compa:rados ao aquecimento de um motor, que só funciona quando bem aquecido a cada manhã. Da mesma forma. o relaciQnamentcL.de-,aj.uda é a_guecic::io..--a. cac@_ei::i:
_con t.-o, de ..modo a_ r:eno.er:: o .mfus:.Uno _para a j u dad9:r e ajudada. É como se o primeiro formasse uma imagem do segunrlo nesses primeiros momentos, checando o quanto de aberturn e disponibilidade pode esperar dele. E é a partir dessa imagem que o ajuçjado vai decidir o quanto de entrega vai-lhe oferecer no restante do tempo. Sendo assim, hã algumas coisas que o ajudador pode fazer para au· mentar a chance de o ajudado se entregar.
Ê o mame a primeira coisa que identifica a pessoa para ela mesma e para os outros. E uma das primeiras palavras que a criança escuta e aprende desde muito cedo. e que a destaca do r-esto do mundo.
Aprender o nO!!!_e do aill,ÇJaçlo_e_dl.amá.:to sew· P!"~J?!J!: _esse ri.ç>m~-~ ~.~m~m a primei!a q:>~ 9.!:Le
-~- ajud~Ç.19.!_pode ih:~z~r_ .e_ara t<?rna_r !3 rei.ação de ajuda um.eo_contro mais pessoal - -des1;acando o ajuda-dç» ~m_o u_m~ p~oa ~nica. ~· u~a tarefa que o aj~dador deve executar antes mesmo de se encontrar com e le. de modo a chamá-lo pelo nome desde o iníoio do primeiro contato. No caso de ambulatórios e enfeílmarias em que os pacientes são numerados. por exemplo, é muito importante que os pro· f issionais sa ibam seus nomes antes de começarem o artendimento.
Essa tarefa se torna um pouco mais d ifícil quando a re lação de ajuda não 'envolve apenas duas pessoas. Na relação professor-aluno ou no atendimento a grupos. o número de ajudados, às vezes. é grande. Nesses cãsos. é exigido do aju:dador um
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esforço maior para apre,nder o nome de 1oc:t~s. H á. -' · m~~ .!JJ.!_e face l 1 ta m a no entanto, ,alguns Qrocc,...1 __
tarefa: _ pedir aos ajudados que se assentem sem_Pre nos
mesmos lugares. pelo menos nos pnme•_ros e~contros. de modo a associar os nomes as posi-ções ocupadas; - . · d fazer uma "chamada" sempre no in1c10 o en-contro. dizendo cada nome e par~~do po_r um momento na pessoa para fixar sua í1s1onom1a; pe<gunwr e repetir ~ nome da pessoa cada ve~ que ela se dirigir ao a1udador ou cada vez que es re se dirigir a ela;
_ repelir 0 nome várias vezes durante cada interação; nomeai cada ajudado quando algum matcr-al for entregue ao grupo - nomeando primeiro. entregando depois; •
_associar a p essoa e seu nome a algu~a ~arac _erística marcan Le - por exemplo. Joao e o que usa óculos. Márcia usa aparelho nos dentes. Antônio tem barba. Cláudia tem cabelo comprido·
_ qu~ndo se esquecer-. não te~ vergonha de perguntar n ovamente o nome do a1ud<1du. _
_avisar. no inicio do contato. que_ vai pergunta_r e repetir os nomes várias ~ez~ ~te aprender. _?1-zendo também o quanto isso e importante para uma boa relação. .
Acima de tudo. quando o ajudad_or n.c;me1c: ~ ajudado. emite uma men~g:m do t1p? Voce e uma pessoa importante e unrc~. para m1 m no mom ento em que nos encontramos .
SãO- - O:? _çurnpcicn..e.rrtgs SH!~--~rgJr:'-2 i':'ício de catia..eocoQtro._ Eê,__ !!!!PQ®!lte S1U~_se1a o aJud_?_dor- 9 pessoa que vai ·.~b~scar·· o aju~adq_ q_n_çle e le estiv.er - numa sala de espera. num corredor. etc_ -As vezes. basta chegar até a porta de <:>nde se pode ver 0 ajudado e acenar para ele. cumprimentando-o e convidando-o a entrar . - _
Além do aspecto verbal. faz parte do cumpri-
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_f!!ento algum tipo ge_contato físico_çocn~~j~dado . E sse contato vai depend er da profundidade e da na tureza da relação - om aperto de mãe. um " tapi nha" nas costas. um abraço. às vezes um beijo.
O aperto de mão. em esp ecial. é uma forma não só de t ransmitir segu.-ança e apoio para a pessoa. como também de captar- os sentimentos que e la está experimentando no momento. Talvez seja essa uma forma de contato muito antiga na história da pessoa. que a faz lembra r do aperto de mão do pai e da mãe e da segurança que eles l h e ti-ansmi t iam dessa manei ra. Para o ajudador. o toque é uma das primeiras c hances não só de perceber o outro. como também de emiti r a seguinte mensagem: "E bom ver você neste momento ; estou aq1 Ji para ajudá-lo".
1 ndivídualizar o ajudado. apesar dr..: ser uma habil ,idade verbal. vai ser mencionada aqui porque vem. no geral. junco do cumprimento .
_!!!div id• 1aJi7ac o ajudada signifiCQ-'1erceber algumas de...suas caracterlsticas pre~n!_~_a dete(minado einconti:o. Isso é especial m en te importante quando houver alguma mudança senslvel em sua aparência em relação ao ú ltimo encon t ro. Por exemplo. "Você cortou o cabelo. está-se v estindo com muito cuidado. está gripado. machuc04..J-se. etc.". Assim. quando. a lém de perneber. o ajudador com unica essa percepção, dá ao ajudado a sensação de ser semprE> lembrado e de ser. por isso. i mportan te p ara o ajudador.
Às vezes. uma pessoa em crise deixa a té mesmo de atender a su as necessidades básicas - n~a raro. por exemplo. e!a deixa de se ai i mentar.
Na medida do passivei. o élljudador deve nutrir fisicamente Q ~udado no in 1"cio d Q..encant'rQ. Até mesmo para recê6er ãjuda. é n ec°êssário ter um mlnimo de energia e as necessidad es básicas a tendidas. No processo de apre ndizagem. por exemplo, a alimentação é pré-requ isito para que essa apren-
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dizagem ocor ra . É por isso que. nas escolas d e nlvel sócio-econômico mais baixo. as crianças são a i imentadas antes de in"ciarem qua quer ativ oade.
Oferecer um copo d'água ou uma xícara de chá. leite. café; agasalhar; oferecer remédio ou fazer um curativo para aliviar a dor; oferecer um lugar confonável para Que o ajudado poSSél relaxarse e descansar são cuidados que fazem parte do que chamamos de nutr i r fisicamente. A lém do a i 1-vio que trazem ao a1udado. representam. simbolicamente~ toda a nutrição emocional que o ajuda· dor e~tá d isposto a lhe oferecer.
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Acolhendo
O que é: R~ceber o ajudado calorosamente ao se iniciar o encontro com ele.
Para Que: Se acolho o ajudado. eu lhe transmito receptividade e interesse. de modo a ele se sentir valorizado .
Como : 1. Dirigir-se ao ajudado usando seu nome. 2. Cumprimentá .... o. 3. 1 ndividualizá-lo. 4. Nu tri-lo fisicamente .
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"Tente, de alguma maneira, Fazer alguém feliz. Aperte a maõ; dê um abraço, um passo em sua direção. Aproxime-se; sem cerimônia. Dê um pouco do calor de seu coração. Assente-se bem perto e deixe-se ficar, rnuito t:ernpo, ou pouco t:ernpo. Não conre o tempo de se dar. Deixe o SO'rr:íso acontecer. E não se espante se a pessoa mais feliz for você. "
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ATENDENCX> FISICAMENTE
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Em se tratando de mensagens, nada é rnais sig:nif i cativo do que o co.-po. Já v erificamos como as mensagens são tr-ansmitida·s nos pequenos detalhes - na maneira oomo o ambiente é arranjado, nos ouidados que são ofereci:dos ao ajudado, na maneira como ele é cumprimentado. percebido, nutrido. J::'.lada, no ent:anto....!_em a força ~a me_o_~~m çor:QÇ>ral. Isso fica bem ilustrado no própr-io título do li--~o de Pierre Wei l, "O Corpo Fala".
Uma das razões dessa força pode estar simplesmente na enorme verdade que reside no corpo dle cada um. O corpo não só fala_;_Q_g>rpo nunca mente. Podemos, à;s vezes, duvidar das palavras, mas "'íião do corpo. Sua mensagem é tão clara e verdadeira que não deixa margem a dúvidas.
O corpo é nossa parte acim.a de q u a lq uer suspei ta.
Isso talvez se explique através do controle: assim como exercemos um razoável oontrole sobre as palavras - pe.n sanda sobre elas. esco 1 hendo-as. medindo como vamos pronunciá-la's - o mesmo não acontece com o corpo. Por não ter-mos um espelho permanentemente à nossa frente. dizendonos, a cada momento, como estamos corporalmente. aS'St.Jmimos posturas impensadas sem nos dai-mos conta do que estamos falando a 11ravés do nosso COlí
po. 9u~nqo falta Q contrQI~. surge a yerdaqe. Atender fisicamente, então, significa empres
tar ao corpo posturas tais que comuniquem ao ajudado disponibilidade, abertura, interesse - caso isso tudo esteja presente no aj,udador, é daro. Como vimos anteriormente, nenhum pmoesso de ajuda pode ser iniciado sem que haja d isponi b ilidade interna por parte do ajudador.
Quando essa disponibi 'lidade existe, é muito pr-ovãvel que o aju dador transforme seu corpo num reflexo de seu interior. Ao fazer isso, ele "ajeita" seu corpo de maneira intuitiva. escolhendo a postura que melhor transmita sua mensag~m e. ao mesm o tempo, lhe ofei-eça um mínimo de conforto para o atendimento.
O grande problema. e'ntretanto, é quando o ajudador está disponível internamente mas. por ra-
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zões várias. não consegue comunicar sua d~sponi bilidade ao ajud;:irio. Este. por sua vez. se r_:iao consegue perceber o interesse por parte do a1udador. fecha-se sem nem mesmo começar a se envolver no processo de ajuda.
Essas "razões várias" podem incluir um certo cansaço do ajudador ou uma necessi~ade de mu~to conforto físico que o leva a assumir posturas incompatíveis com seu desejo de ajudar.
~ necessário. então, est ar atento para aquelas posturas que realmente comunicam sua disposição de ajudar. Há alguns comportamentos que faci l i tam essa comunicação.
Como já fo i visto no tópico sobre disposição das cadeiras. há uma "distância ótima·· a ser estabelecida a cada encontro e a cada momento num mesmo encontro. Uma distância mui to grande pode d iiicultar a expressãoªº ajudado. ROr signif:_car. paraéle. uma distancia emocional e afetiva do aj~dador. Por outro .!_a_çlQ.. u_ma distância muito P.:e-CU!_~ na dificulta igualmente, por signifi_~um~_j!]vas{io de sua intimidade, um oeSl-e$peil:õ- a seu es~ç_o.
A proximidade adeqüãda e estabelecida a partir de um pedido. também corporal. do ajudado. Através da observação. o ajudador percebe se a dist ância que determinou a princípio está adequada à necessidade do ajudado. Caso não esteja, faz ajustes na sua posição até que a proximidade seja a ideal para aquele momento.
E importante que todo o çorpo dQ.J).i.!,i_dador esteja de frente. paLa._Q_ç:tjudaçl9 - literalmente da cabeça aos pés.
Às ve7es. voltamos apenas a cabeça para a pes· soa com quem estamos falando, esquecendo-nos do res10 do corpo. Essa posição de lateralidade pode soar como pouca disponibilidade para o ajudado.
Um dos elementos m a is significativos na po.s: 56
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tura do ajudador é a po_:;jção de seu_!_r:_onc~ . Es~ posição pode variar d~t: u t:ncoslé:li--se para ti-as na cadeira até uma grande inclinação. passando pela posição ereta. A mensagem transmitida. em cada uma delas. muda sensivelmente.
Quando alguém está "escarrapachado" ou mesmo recostado na cadeira, a impressão Que se tem é de cansaço, sono. desânimo. A pessoa muito ereta pode comunicar afastamento ou até mesmo um.a certa superioridade. Sem dúvida. é quando inclina seu corpo para a frente que o ajudador comunica total atenção pelo ajudado.
São Q$_oJb_o_s_ª-. f9Dte maior de comunicaçã~ Pode.;:;os nos abstrair de qualquer outro traço fi sionômico - boca. nariz. sobrancelhas. queixo. testa - mas não dos olhos. que dão vida ao rosto.
No momento em que o ajudador olha nos olhos do ajudado. não só comunica seu desejo de oontato. como também capta as mensagens que ele lhe transmite. Além disso. aumenta a sua concentração. evitando a dispersão por ouilíos estímulos que não o ajudado.
Há algumas abordagens ao processo te rapêut ico que acreditam que a melhor posição para o terapeuta é aquela em que ele não é visto pelo cliente. A j ustificativa seria o cliente não se deixar cont rolar pelas possíveis reações do terapeuta e. ao mesmo tempo, ser o único foco de sua própria atenção durante o processo.
Mas. desde que acreditamos que o processo de mudança tem como base a própria relação entre ajudador e ajudado. não seria coerente dispensarmos. nessa relação. qualquer contato possível entre os dois - em especial através dos olhos.
Como no caso da distância ótima. deve haver também uma dosagem adequada de contato visual durante cada encontro. As vezes. o ajudado se sente embaraçado diante do olhar do ajudador. r-eceoso de que este descubra. em seus olhos. coisas que ainda não está pronto para dizer. Se for esse o caso. em certos momen1os. o ajudador comunica
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respeito deixando de encará-lo ..
Muit:o ligada ao contato visual, .a fisionomia receptiva é _~_quela que transmitH o inteiresse jocondlcional do a j,udador não só através dos o lhos. mas de todos Õs tiraços fisionômicos.
Sobr-ancelhas levantadas, boca caída. testa franzida são também sinais do que o aj1udador pode estar sen tindo ou pensando.
Por outro lado. esse é o e flemento fís!oo que mais foge ao controle : a expressão fisionômica é a menos susceptív.el ã mentira. ou sejfa. não podemos controlar nossos traços fisionô1m icos de modo a transmitir uma mensagem fallsa. Não se trata aqu i de suger ir ao ajudlador que "faça cara boa". mas apenas que esteja atento à sua fisionomia e ciente de que e la pode traí-lo caso esteja obrigando-se a atender a lguém sem a necessária disponibilidade. Ou caso estej,a experimentando sentimentos tã:o fortes que eles se reflitam em sua fisionomia e o impeçam de atender o outro .. Nessa situação. para preservar a congruência e imediaticidade. o ajuda- dor pode falar desses sentimentos ao ajudado (ver · mais adiante err> "respondendo com os próprios sentimentos") .
No tópico referente ao contato visual. já mencionamo•s que olhar nos olhos evita a dispersão. ConcentJrar-se significa exatamente não fazer nada que não se.ia prestar atenção ao ajudado.
Qualquer QlJ.J:ra a_llvjdade simultânea ao ateudi~or: _pequena _que. seiar _~divide ª-ªtenç~ó
-do aju dadpr. g1t,1e perde. por instantes. a fg4 m_ siri.ai. s'igrj"ifí~t~o do ajudado. Este. por sua vez. pode perceber a distração do ajudlador como uma mensag.em do tipo: "Não estou i'11teiro para você. por isso outras coiisas chamam minha atençãO" _ Ainda que isso não seja verdade. é assim que o ajudado se sentJe - pouco importante para o ajudador ..
Isso inclui desde pequenas distrações - rabiscar um papel. brincar com aLg,um objeto. segurar
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alguma coisa .. es1talar os dedos. olhar o relógio. fu-1mar - até at:ivi d ades que ex ig;em maior atenção -escrever, bater a máquina. folhear um livro. fa ilar- ao telefone. pma.Jrar a lguma coisa.
Afgumas dessas observações se aplicam diretame n te à ãrea da saúde. onde, durante a anamnese. o profissional escreve ou datilografa o que o ci ie111te está dizendo; ou atende a telefonemas de outr.as pessoas durante a consulta.
T ambém bastante iintU1nvo. o movimento_d_g_ C9. b!i'Ca. :QUiàruJº~v·ersamos _ _c_QITJ_algué rn ._indica gue estamos realmente acompanhando tudo o que está sendo -d itq, .. QJ!. c;:9n"COrda[ldõ oo_m _g_g t.,1e-está .se:.o.d-º-ielaitaçl_p.
Na 1relação de ajuda. esse gesto dá a sensação ao ajudado de que está sendo escutado com atenção integral.
1i= um traço individual. ao mesmo tem po natural em certas pessoas e desconfortável para outras, para quem o movimento ele cabeça seria forçado e desneoessá rio.
Já foi mencionado o contato físiico no tópico sobre ·cumprimento i líl icial.
Mesmo no desenrolar de um encontro, há momentos em que nenhuma palavra é boa o bastante para expressarmos ao outro que estamos a seu lado. Especijalmente em momentos de intensa tristJeza e angústia. tocar o ajudado emite a mensagem: "Posso não ter a solução de seu problema. mas posso compreendê-lo; estou com vooê" ..
Durante o contato oom o ajudado. qualquer que seja sua duração. é impo,rtante...Q_ue o ajudador ~taj;:i __ no_ me.sm...Q. ajy_Etl .tisi_ço _gu__e_ele~ Em outras palavras. se o ajudado está sentado. é importante que o ajudado:r se assente também_ Se ele permanecede pé, pode dar ao a judado a impressão de que está com pressa. Isso é especialmente impor1ante
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q u ando o ajudado é um paciente e está acamad o. em cuso ou no hospital. Puxar uma cade ira e colocá-la em frente à cama íacilita a expressão do ajudado (paciente}. que percebe. nesse gesto, a disponib ilidade do ajudador.
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Como nenhuma postura é destituíd a de signif icado. vamos lembrar aqui algumas posições que, quando adotadas pelo ajudador. podem em itir m ensagens negat ivas (de distâAc1a. rejeição. ausência de disponibilidade. pressa. desinteresse) . q ualquer p osição em que o ajudador tenha sua musculatura contraída; pernas cruzadas; braços crul:ados; cotovelos apontados na direção do ajudado; pés em posição de and<lr. etc.
Neste ponto. gostaríamos de fazer uma observação a respeito desses elementos ligados à postu ra física do ajudador : nós os consideramos como ingred ientes do atendimen m. podendo ser usad os todos ao mesmo tempo ou apenas algu ns deles de cad a vez. Isso vai depender do estilo individual de cada ajudador. Não es tamos apresentando regras. apenas algumas "dicas" para serem ava liadas pelo lei tor. O faro de vu& atertder recoslado na cadeira ou fumand o não quer dizer q ue isso vai comprometer a qualidade de seu atendimento. Existem muitas outras características suas que vão tornar seu encontr o com o ajudado u m encontro efetivo.
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Atendend o fisit:.amente
O que é: Com unicar ao aju~ado d isponibilidade e inte resse ~través do corpo .•
~ ?ara .que: S~·- aten d 9 aq ajudado fisrcan:ien te , tra.osmi to.-\lhe mensagens de interesse~ de modo a envo lv ê-lo no pro~_d_e ajuda ..
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COrJ;lO,i,,, • 1., Ap(oximar-se . . 2._, Ficãr de tr"ente'. ·· 3 "' 1 n.?i':!ar o c;:orJ?~ para fr~nte. ~r!Vlanter .c9ntato v_i sua\. ~- .... • 5 _ Manter a fisionomia rece~t,iv~. 6 . Concentrar-se. -·- · · -7. Assentir com a cabeça. 8. Tocar. 9 . Man ter a m esma altu ra do ajudado.
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" Quando me sento junto de alguém, sei que isso é algu ma coisa, mesmo que eu nada tenha de valioso a dizer. Não necessito da evidência constante de que estou sendo efetivo e útil. Posso apenas me sentar e oferecer minha companhia. Já vivi situações em que minha dor não podia ser compreendida, mas em que me sentia confortável apenas estando com alguém realmente disponível para mim, alguém que nada exigia, alguém que não podia compreender meu coração dilacerado, mas que era urna companhia - como urn lugar aonde · ir quando se está f r aco e só - urna presença humano, a civil ização depois do deserto. E muito quando eu apenas me sento junto de alguém_ Mas acredito que ajuda dizer que pretendo sentar em silênci o. Ajuda a fazer do nada alguma coisa. "
Eugene T. Gendlin
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OBSERVANDO
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Ovando falamos de atender fisicarren te. o foco era o corpo do aju dador e como ele podia u sálo para transmitir mensagen's ao ajudado.
Agora. invertemos o foco : nossa preocupação aqui é captar as men sagen s d o ajudado atr avés de seu corpo. q u e- tãmbém f a la como o do ajudador . . ESte: ã&stra indo-se d as palav rras do ajudado, podese indagar - "Que mensagens não-verb ais e ajudado está me
transmi cindo?" - .. O que esta me dizendo seu corpo e que. às ve
zes. suas palavras não podem me dizer~" Aí reside o papel crucial da observação na re
lação d e a1uda:
Se quero encender a pessoa, devo primeiro olhar seu corpo para depois ouvir suas palavras, pois à verdade está, acim 3 de tudo, no primeiro.
Como muitas outras habilidades de aju da. observar faz parte do nosso dia-a-dia. e nós a usamos. com freqüência. no contato com as pessoas. No entanto. não tanto quant o poderíamos. Segundo Powell. a tristeza básica da familia humana é que muito poucas são as pessoas que aproveitam todo o seu po;.enciéê'I; a estimativa é de que elas usam. em gerai. apends dez por cento do que poderiam. 1 sso vale Também para o que vêem - apenas dez por cento da beleza do mundo à sua volta .
Assim. o objetivo. ao abordarmos a observação é recuperarmos nossa capacidade de ver. perdida ao longo de nosso desenvolvimento. Dois fatores parecem ter contribuído para essa perda : 1 • A i ncoerencia dos adultos que, em nossa infânc ia, se comportavam de uma maneira diferente daquilo que nos diziam. Fazendo urna coisa e falando outra. eles nos levaram a ficar confusos e a acredi tar que tinharnos "visto errado" · - .. Mamãe, você está muito triste. seus olhos estão molhados e vermelhos de tanto chorar." - "Bobagem. meu filho. isso é porque estou gripada hoje .. ...
De incoerência em incoerência. f.omos arrofi-65
ando nossos olhos e nossa habilidade natural de observair. Infelizmente. por serem autor ida des para nós os adultos nos Levar-am a acreditar mais em sua~ pal avras do que naquilo que víamos e nos fizeram descrentes de nossos o lhos. 2. O sofrimento .que, às 'Vezes, r:esulta de nossa observação. Quando vemos de verdade. P?~e~os ver. a lém da incoerência . a indiferença. a re1e1çao. o de· samor. A ssim. preferimos não ·,,er para não sofrer e escolhemos v iver ••tampando o sol corn a peneira'".
Como d iz o provéribio. "a verdade o lilber-tará. mas. antes. o deixará infel iz"'_
Treinando a habi•idade de o bservar . vamos re· cuperar a c red ibilidade de nossos olhos, checando pacientemente com nosso ajudado o que ,estamos vendo.
.. ,. ~ .-Antes de começarmos a ver o ou tro. é fun dta
men ta 1 estabelecer-mos a diferença entre observar e inferir.
Quando o bservamos. estamos ~ena~_ o~nstatando a existência de algu!!ia~i ~i-~ visf~ei~-n~ pessoa· ob:Se~?d)?: sua aparência (a manei,~a como está vestida e pen teada). seus gestos, movimentos. sua expressão fisionômica. o ritmo de sua respiração e d e seus bat1imentos cardíacos. :sua posil:ura .. a delimitação de seu t ·erritório corporal ..
A par t i r desses dados objetivos. colet:adlos através da observação. podemos fazer i nferêrncias - hipóteses sobre o possível significado de cada um desses dados.
A observação é objetiva. não deixa malígem a dúvidas: "Eu realmente vi seus o lhos cheios d ··água".
A inferência é subjeüva. pode estar certa ou 1e<ra da em rel1aç.ao à verdade da pessoa observada : "Será tristeza o que vi em seus o lhos? Será ternura? Ou simplesmente uma conjuntivite?" Só ela pode dizer-me. Isto é . se souber o que é e se quiser com-parti lhar isso comigo.. .
A part ir dos elementos observados. o a1udador po de inferir o n1ível de ener~ia de ~ma pessoa, que t ipo de sentimento _ela esta experimentando.
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sua p rontidão para determinada tareia, seu rel acionamento com o próprio ajudador e com outras pessoas (caso estej a em grupo) e, acima de tudo. a coe.rência entre o que fala seu corpo e o que d izem suas palavras. Vamos detalhar mais cada uma das inferências e relacioná -las aos dados observados.
O nível de e.nergia se refere ao tônus museu· @L.OU d)~pGsjÇ;ãq _físi~- da Qessoa. A grosso modo. podemos c lassificá -lo con:'.'o alil:!)., m_~jo q_~ llai~~. a partir de sua postura (especificamente os ombros). de seus movimentos e de sua expressão fisionômica. ,especialmente os olhos.
Os sentimentos, também numa d assi ticação maís abrangente. podem ser agradáveis ou desagra dáveis para a pessoa que os expêrimentã·; -poéfê -ser bpm- oÜ~BÚJll_ senti los .. Essa inferência po de ser fei ta- a partir de todos os elementos obsetvados. em especial a expressão f is ionôm ica, o r i tmo cardíaco e respiratório.
A prontidão se refere à d isponibi lidade da pessoa para executâr qualquer tarefa g~~..!:~'=1fla pê=la frente: faz.er um exercício. assisti r à aula. submeter-se a um exame. etc. Posso supor sua presença ou ausência a part ir da postura e da expressão fisionô mica dia pessoa observada ..
O r:elacionamento do ajudado com o ajudador e com o utras pessoas. se fizelí parte de um grupo. pode ser negativo ou p~sit ivo. Ele pode estar c:i!Jerto ou 1fechado para esse relacionamento. Isso pode ser inferidÓ através de seu contato v isual com as pessoas (se ele o mantém ou não) e da delim itação dP. seu territó1rio c orpora l . Este pode ser infe1rido se traçarmos uma linha i maginálíia em volta do ajudadlo e o bseTVarmos sua relação com as pessoas a seu redor, incluindo.o ajudador. Assim. não é por acaso que ·ele fica semprre próx imo de algumas pessoas e d istante de outras .. Também não é coincidência. numa sa la de aula. que um a luno se assente sempre na plíimeira fifa e um out.ro. sempre na ú1l t ima. Observando seu território corporal. podemos inferir sua relação com o prof.essor e com os colegas.
Toda vez que o a~udado atende fisicamente. õ7
quer ao ajudador quer a outras pessoas do grupo. podemos dizer que o seu rel acionamento é posi ti vo; caso contrário. que ele está fechado para a relação.
~:;. A inda u m bom exercício. para se inferir are-lação de uma pessoa com as outras. é observar-se diversas fotografias. Estudando a inclinação do tronco e câbeça. o afastamento, a distância, onde estão colocadas mãos e pés, podemos supor muitas coisas a riespeito das pessoas fotografadas. Isso vale especialmente para o estudo das relações num núcleo familiar. através dos á lbuns de íam Ilia. Além de todos os dados acima. podemos verificar a freqüência com que uns membros da familia se aproximam e se afastam de outros.
Quanto ao últiino item a ser infer ido a co· erênc ia entre o corpor al e o verbal - como já foi dito anteriormente. é o mais revelador em relação ao ajudado. Há momerúo-s- em que ele nos diz determinada coisa e nos mostra outra. às vezes in · versa . Com o o corpo é ma is genu í ns:i __ do que o _i_ntelecto. que dita as palavras. é também mais digno de c rédito· . .M11itâs vezês:-o g u"ê mê__traz...,a.)lerdadei_ra__çojnpreensão sobre ~-p~soa é aquilo que ve.: j o e não aqui lo que escuto . Vamos falar. adiante. ~dà i~portância de decidirmos se vamos ou não dizer ao ajudado a respeito do que vimos. especialmente quando isso contradiz o que ele fala.
1. O ajudador dev.e ser discreto ao observar o ajudado .
A d iscriça.o se r:_efere à natu_rªlidade com que_o ªiudador:.. capta as mensagens d o ajl!d_ado. Encarálo com cur iosidade vai fazer oom que ele se sinta to lhido e se feche. Se ele se sentir "vigindo". vai também mudar seu comportamento. deixando de ser espon tâneo na relação com o ajudador. 2'. O ajudador deve ser persistente e pac iente na
sua observação. Já q u e a capacidade d e o bservar foi parcial
memte perdida ao long,o de seu desenvolvimento. ~imQQ'.il:~~-te agora que o ajudad or seja persisten· 68
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te e paciente na recuperação da h ab ilidade perdid_9. I sso sfgn ificaum trein o ÓOnstante =- nao só durant:e o iempô em que está tra balhando. mas durante todo o tempo. Encon t ros. reuniões ou qualquer atividade q u e envolva gente são boas oportunidades para se observare m as pessoas e suas in t erações umas com as out ras. 3 . As inferência$ só se tornam verdades q uando
confirmadas pelo, ajudado. Acima de tudo, Q...ajudador d eve seL.llymilde
,e_ara __ adm!jir _çi_ue não é dC?no da verdade _de nTnguém e gu~ só o ~uda~o ~be .Qe_sj. Quando o ajudador decide c h ecar suas inferências com o ajudado. várias coisas podem acontecer: O ajudado confirma suas inferências.
- Quando isso ocorre. ou o ajudado já sabe a respeito do q ue o ajudador está colocando e se sente verdadeiramen te compreen did o por ele. ou o ajud ado não sabe e. concordando com a inferência. está tornando-se mais ciente de seus senti m entos, mais próximo de si mesmo e de sua experiência. O ajudado nega suas inferências. porque: - O ajudador se enganou; suas suposições a respei
to .do ajudado não correspondem à verdade. O significado do que ele viu é outro que não aquele inferid o ~Os olhos rasos d'água não são de uisteza. rnas a s imples reação a um cisco caído no olh o) .
- O ajudado concorda internamente. mas não q u e r ad mitir o que foi inferido perante o ajudador. Ele não quer .. dar o braço a torcer", ou talvez se envergonhe daquilo que o ajudador descobriu a seu respeito. M ais tarde. quando sua entrega n a rel ação for maior , ele vai poder admi t ir o que agora nega.
- O ajudador acertou na sua inferência. mas cedo d emais - o ajudado não está pronto ainda para adm itir. nem par a ele mesmo, q ue aqui lo que o a jud ador inferiu pode ser verdade. Assim, negan do p ara si mesmo. nega. conseqüentemente, para o aju d ador. Ele precisa de mais tempo para trabalhar suas vivência<S até ficar pronto para
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aceitar o que malmente está se passando com ele. Novamente aqui. diante de uma r~usa do
ajudado em aceitar sua inferência. o ajudado~eve continua~~nd9_bumilde e re~ito5?· nao di~·cutindo com ele nem tentando convence-lo a acei tar sua inferência. Mais tarde. o ajudador pode perceber que se eng,anou. ou o ajudado pode aceitar a inferência. Se esse é o caso. ambos sairão enriquecidos: o ajudado. por ler descoberto mais a seu p róprio respei to e por estar entregando-se mais na relação; o aju dador. por ter sabido respeitar ,e esperar pelo momento certo.
O mais imponante para o ajudaclor é não ficar preso à inferência recusada. pois essa p risão pode significar a perda de outras descobertas importantes a resp~ito do ajudado e que estão por acontecer. 4 . H á o momento exato para se comunicar ao aju
dado alguma observaç,ão a seu r espei to . Além das inferências. mesmo os dados mais
óbvios observados pelo ajudador podem não ser aceitos pelo ajudado. Ajudador: - "Toda vez que você fa 1la sobre isso. fica ofegante." Ajudado: - "Impressão sua. isso não é nem um pouco importante para mim ...
Também aqui prevaleoe o mesmo respeito mencionado no tópico anterior.Às vezes basta gue_Q ajudador a.rguive 2 _que viu ... esperando o momento em que o ajudado vai estar p ,ronil:o para ver também. 5 . Algumas observações nunca serão comunicadas
ao ajudado. Se relembrarmos aqui o fim ú ltimo da relação
de ajuda - levar o ajudado a crescer física. emocional, intelectualmente - esse deve ser o critério para decidirmos, muitas vezes. que não vamos dizer a ele o que vimos.
Como tudo o que o ajudador faz durante o processo de ajuda. esse tipo de comunicação também pode ser para melhor o u para pior em relação ao ajuda~ do. Se for para melhor. basta esperar o momento adequado. Caso contrário. o que foi visto é arquivado, servindo apenas como um dado a mais para compreendê-lo_ 70
Observando
O que é : LJ;;ar os olhos para captar as mensagen s não-verbais úansmitidas pelo ajudado.
Para que: Se observo o ajudado, posso receber mensagens sign ificativas sobre o que ele estávivendo, de modo a conhecê-lo melhor. r ~- ·
Como : 1 . Olhar a aparência do ajudado. 2. Olhar o comportamento do ajudado. 3 .. 1 nferi r:
- nlvel de energia; - senil:imento; - pro 11tidão; - relacionamento; - coerência.
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"Olhe para mim. Por favor, me veia. Não rninhas roupas ou unhas curtas Ou minha face descuidada. Abra seu coração, de modo a ver o meu. Não estou lhe pedindo para concordar com Ou compreender tudo o que vê, Pois nern mesmo eu faço i sso. Apenas o lhe para o que está realff1t1nte aqui E permita ser."
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( L Prepara~do o ambiente fii'sico
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Atr:é aqui. referimo-nos. basicamente. à parte não-verbal da in teração entre ajudador e ajudado. Ao preparar o ambiente e atenáe- lo fisicamente, o ajuoadõr ·está i?:.ª..P!'ffli!indo1TT1e_n·~9é.fls_~~yg_!~1s. Ao obseiVãr. está captando mensagens não-verbais.
Ao escutar . nÕ e ntantÓ.- ·comeÇãmOS--a- lidàr com o aspecto verbal da interação. ainda que só dia parte do ajudado.
Enquanto observar é captar suas mensagens não-verbais. escu tar refere-se a captar a~ men~ns '!~rbais que ele transmite. 1retendlo na memória os D,On!Os mais importantes de seu relato.
Ou ando associamos as mensagens verbais às não-verbais, aumen t amos a chance de oompreender realmen te o que se passa com o ajudado. Ao esoutari:nos. comunicamos. mais uma vez, nosso de· sejo de ajudá-lo.
Se ficarmos atentos às oess.oas.~ue-oos_ce(cam. vamo_s _pe;Qe_ber _ tJl.!J~Jlll.JI i tO_ J>..()t,,JgliS _5ªQ. ai:t-ueJas que têm a capacidade de escut<;,l.r~ verdade iraimente. Muitas "táz.em de êonta" -q-ue escutam. E suficien-1!e um pequeno teste p<lra verificarmos que absorveram uma parcela (nfima do que foi dito ou. às vezes. nem isso. Outiras nem mesmo simulam : auando são procuradas por alguém que precisa muito dizer das suas coisas, começam imediatamente a falar de si mesmas. ao invés de escutarem.
Da mesma forma que tentamos compreender a perda da capacidade de observar .. podemos tentar descobrir o que nos impediu de· aprender a escu-tar.
Antes d e mais nada. não tivemos_mo.delos..e:fet ivo~::d.e_~~sc__utadores''. Provavelmente nossos pais não nos escutaram. nem amigos.. Perdemos, assim, a chance de aprender por imitação.
Além d isso, escutar é um r isco de se entrnr em in ti m idade com _aquf!le qi.:;-efâJa~ Ouàndo aou áÕ õutrÕ ~a chance d e falar de si mesmo. vou escutar- coiisas que p o dem amedrontar-me porque não sei como responder ou lidar- com elas. Por out ro la do. a p essoa que fala de s i faz um convite para que
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eu fale de mim .. Ela se entrega a mim 'e ,espera que. em .-c·torno. eu me entiregue a ela. E disso eu tenho muito medo. Não aprendi a d izer as minhas coisas. receoso de mem~rãr~rrãCOê-nooser aceit o . por iSsó. AS.sim~ êstâ fo rmadã-ã êadeia - nao esCU to: para que v.ooê não fale a seu r·espeiio. para q u e eu não fa le a meu respeito. Ao invés disso. falo em primeiro 'lugar. para ter o controle d a converrsa. ,e escolho temas tão superficiais que não corro o rrisco de ter de entrar em intimidade e me expor ao outro.
Quanto a essa superficialidade. Po\!'!Je l l c lassHica a co.municação entre as pessoas em c inco níveis de profundidade. indo da mais superficial à mais íntí1ma ou profunda: N l vel 5 : conversa clichê - é aquela que se faz através d e frases prontas e thavões. em que as palavras soam vazias porque na verdade, não representam o que sentijmos. ou o que queremos dizer realmente: "Apareça lá em casa um dia desses. _ :· N í vel 4 : c omentários sobre outras p essoas · - é o que chamamos. habitualmente. de "fofoca"_ Uma pessoa se encontra com outra e fala a respeito de uma teroeira. nunca a respeito de si meS'fTia : "Você nem imagina com quem ele estava ontem .. :· /\Hvef 3 : idéias e julgamentos - é o início da autoexp osição. quando a pessoa começa a falar das coisas que pensa, de suas idéias. de suas crenças: '·Na minha opinião. sexo não deve se" ensinado na escola". Ni'vel 2 : sentimentos e .emoções - além de idéias e pensamentos. há mui to mais para a pessoa oferecer de si mesina e que a torna u m ser único: seus sentimentos e emoções. Ela tem medo de· expressálos. pois pode não ser aceita por isso: "F ico muito e1mlbaraçado quando meus f ilhos faiam de sexo comigo".
N1~vel 1: comunicação perfei t'a - são os momentos em que as duas pessoas q ue interagem conreguem sentir uma empatia tão recípl'oca e verdadeira, que cada uma compartilha inteiramente sua experiência e é capaz de sent1ir inteiramente a do outrro : 76
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- "Tenho medo de te perder . por isso sinto tanto cíúme." - "t assim que me sinto também : ameaçado cada1 vez que você conhece uma pessoa nova. com medo de você il' embora."
Os níveis mais profundos de relacionamento exigem que as pessoas envolvidas saibam ·escutar.~ melhor 1maneira de superfic ial tzar um encontro é não...e~ar. apenas fafar de coisas irrelevantes em relação à própria experiência.
Pode parecer contraditória. mas é verdadreira a afirmação de que quanto mais necessito (e te,mo) falar. menos escuto o outro. cnm medo de que "chegue a minha vez".
... . · ... Às vezes. nos surprreendemos quando •. depois
de um enoontro em que escutamos uma pessoa .sem dizermos nada, ela nos agradece:. a l iiviadla. pela ajuda que prestamos. Não conreguimos entender oomo. mesmo "sem fazer nada·~. conseguimos ajudar.
Muitas vezes. a pessoa necessita çpen~~r escutãaa para que possa ordenar e organizar sua própria experiência. Quando ela encontra alguém pela frente disposto simplesmente a parar e escu· tá-la, começa a dizer coisas. antes de mais nada. para ela mesma. À medida que vai falando. escuta sua· própria voz. e vai oo1ocando em o rdem pensamentos que. contidos. estavam confusos. Sem dizermos nada. ela não só ordena sua experiência~ como também se compreende melhor e clhega a encontrar uma saída para seus prroblemas. Ao final de seu "monólogo.". sua sensação é de alegria por ter achado a luz ao fi nal do túnel.
Mesmo nos casos em que urna solução parece distante ou até impossível . o mero falar traz um ai ívio imediato. Fica para .a pessoa .a sensação de que encontrou. no mínimo. alguém interessado em seu problema. Se não desçobriu a so1ução. encontrou alento e esperança. A imagem que ílusua bem a situação é aquela de um reservatório prestes a se romper p e lo acúmulo de água represada. Se permi-
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tirmos que essa água se ,escoe por uma pequena br-echa. haver-á um "alívio:'' no reservatório. que não mais se rompei-á. Esse processo também ocorre com a pessoa sobrecarregada de emoções - se pode expressai--se. encontlía alívio; se o nív,el de tensão sobe acima de seu limite. sem possibilidade de dividir o peso com alguém. ela expLocte. desestru tu rando-se.
Quan to a .. não fazermos nada" e a " apenas .. escutarmos. isso não passa de uma subestimação de nossa capacidade. Estamos. isso sim. fazendo muita coisa quarndo escutamos o outro com int·eres.se e atenção. Estamos abrindo espaço ·para que ocorra esse alívio a que nos referimos... Temos a tendência .a buscar técnicas complexas e sofisticadas. quando as habilidades mais simp les são as mais efetivas - e estiio ao n osso alcance .
..E. im;pq_r:ta11_~ qu_e o ajudçdor. tenlfi_p em rri~n te _a_o._e~u~r. que .9!:!.aJg!Jer ooisa dit.a._pe1o. ajudaéi~ tem uma raitiío d e ser. Não existe "mentira·· no que ,ele diz. Se algum fato rrelatado não corresponde à i-eal idade o bjetiva. nãO cabe ao a!udlado:i: desmenti r ou dis.oordar do ajudado. Se ele diz que e o sol que ilumina a noite. é porque pi-ecisa v ,er- ª:> coisas dessa maneira. Só aorroitaodo nele e oont1-nua11do a seu lado. sem tentar convencê-lo do contr.ário. é que vamos poder compreendê-lo. E ta 1-ve.z ajudá-lo. algum dia. a ver a noite como ela é -rnão ilu minada pelo sol. mas peta lua e pe'las estrelas.
Vale aqui lembrar o ajudado rotulado como "paciente psiquiátrí'ico... T alvez sua principal caracter ística seja a distância entre o que vive e o que chamamos de real idade objetiva. Se ele diz que está vendo umâ aranha a percorreir-lhe o corpo. não ca~ be ao· ajudador d izer-U1e que isso é mentira e que não há nenhuma aranha em seu corpo. nesse momento. Aci-editandlo que e la está lá e tentando ver o seu significa-do na vida ·do ajudado. talvez o aju dador possa. mais tarde. levá-lo a l ibertar-se dela.
A base do processo _de_ ajuda é tentai-_ ~er ~
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mundo com os olhos do ajudado. não importa com Õ. c!c o vej a . O pape'I do ajudador nao é mostrar aõ aj udado o que é certo ou errado. verdade ou mentirr a, mas apenas estar a seu lado e compreendê-l o .
O que ele diz ao ajudador é o que ele p recisa dizer-lhe. num dado momento: talvez seja o que ele mesmo precisa de acreditar. para sobreviver. e sua esperança é que o ajudador ac redite tam bém. _Q, gue e le .diz . .é.~acima .deJ:u.da. a sua_verdªçl_ê. E é nela que o ajudador vai acreditar se qui1ser aiudlá-lo.
Quando escuto uma pessoa. posso dividir sua fala em duas partes: o conteúdo verbal ou o conju~Ho das palavras. que oorr-e!ipÕnde à letra de uma canção ; ~ 9'. -_:!!!~si~~ : q~e a_companha ~ ~OQ~eú: do. formada da entonação da voz. de sua altura. intensidade e timbre, do rirmo das palavrras. das p âu sas entre uma e outra e da respiração. ·· · -
---:t:\linguagem escrita· poderia ser e.amparada a uma canção sem música, só com letra. ~ a língua· gem falada que ganha vida com a melodia que cada pesso a lhe empresta.
Uma mesma frase pode ser dita de maneiras mui to diferentes quando falada por pessoas diferentes; pode comunicar alegria. tristeza. raiva ou qualquer outra coisa - depende de como é dita.
Cada. el1emento dessa músiica tem um s~gnificado especial - ~ fal~ -~~p~~~osso estar ansioso; se faço pausas ou gaguejo .. posso estar embaraçado ; se taio baixo, pôSso êstar -envergonhado ·e. se miflha respiraÇãõ é olêgãnte. posso estar emóc10-nado. · · ·
.§_e_o -~iudador qu.eir capt~ C?~xirno.da e;x~ riência de seu ajudado. deveestarr a1en_:tQ..a .wdo...o qu~_ele dj~_..e ÇQ.ato . .el.e diz.
à medida que o ajudado< escuta. vai selecionando. em meio à fala do ajudado. aqueles pontos. mais relevantes .à sua expenencia. Se aval iar-mos a expressão verbal de uma pessoa. vamos perceber
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que alguns pontos são fundamentais. enquanto outros são seoundários e aparecem .apenas como com-p lementos dos primei ros. . _ .
Ao ~cutac._o_ajudador separa os...top1cos _mais importantes dos menos importantes. tenta~do identificar o que é realmente relevante para o a1ud~do.
Dois cri té r ios podem ajudá-lo nessa seleçao: 19 - tudo o que é impor tante se repete. várias ve
zes na fala do ajudado - é o terna central. qu~ vai e volta. ainda que sob formas diferentes. até que ele o tenha exp lorad o i n teiramen-te e possa passar para outr o tema; . .
2Q - O que é importante é d i to com grande intensidade pelo ajudado - ele pode alterar o tom de sua voz. ter seus olhos cheios d'água. fazer uma pausa. enfim. cada vez que ele tocar num ponto relevante. haverá uma mudança marcante na música que acompanha suas palavras.
Há ainda um ouu-o aspecto fundamental a ser lembrado quando se aborda o escutar : a fala de uma pessoa é. quase sempre. expressa em dois ní-veis.
Num primeiro ni'vel, captamos a mensagem explicita. E sta consiste no conjunto <!e palavras objetivas e audíveis para quem escuta; _e_ o Que parece que a pessoa está querendo transm1t1r: - "Engraçado. acho que ando mesmo sem sorte; sem pre que lhe telefono. a secretária me diz que você está ocupado".
A mensagem explícita. no entanto. não vem sozinha_
Seu propósi to é esconder a lgu~ ou~a mensagem que a pessoa. por algur;ia_ i:azc:_o. _ n~o ~od-~ transmitir diretamente_ E la e apenas o veiculo ãtravés do · quãl a pessoa vai tentar dizer o que realmente está sentindo e querendo dizer - a m ensagem implícita. que é a verdadeira m"._!nsage~ : - "Penso que não soül"ffiportant e para voce. porque você nunca me atende quando telefono".
Escutar é. acima de tudo. a busca permanente da ve·rél•adeira mensagem. que a pessoa esconde
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atrás de palavras por não poder revelá-la abertamente
F icar calado
A relação fjtlai:..:gscutar ~ ~.!!!ª sirl1ples questão de ~aço~ Se preencho esse espaço falando. não existe a menor possibilidade de que outra pessoa o faça_ Quando duas ou mais pessoas se encontram. a fala se torna fator de competição. Cada uma dispu ta o mair:- espaço possível para que. falando. possa receber atenção, e. às vezes. testa r o quanto está sendo aceita e amada pelos outros.-
Em se tratando de uma relação de ajuda. o espaço maior pertence ao ajudado_ t ele que precida d.e ajuda e a está buscando. e o mínimo que tem a faz~r _é falai-; quanto ao ajÜdador. o . m i'nl mo que tem a fazer é calar-se. até o momento em qüe o ajudado- lhe ceda o espaço_
Não interromp.er
Ouando o ajudado fala. segue uma linha de raciocínio com princípio. meio e fim. como se "falasse em parágrafos". Quando o ajudador corta essa linha ao meio, dispersa o ajudado e o afasta do foco de seu problema. Ele vai voltar sua atenção para as palavras do aiudador no momento em que mais precisava de estar consigo mesmo_ A in1errupção é um corte no contato que o ajudado estabeleceu consigo mesmo. uma perda da p_r_Qprj?_ Qessoa.
Não interromper significa discriminar o momento exato em que o ajudado. expressando-se verbal e corporalmente. não só cede o espaço para o ajudador, como também lhe pede que fale. Ele agora é quem quer escutar. até o momento em que indicar que precisa de espaço novamente_
Enfim. o ajudado é que administra o espaço na relação de ajuda - usando-o e cedendo-o de acordo com suas necessidades_
Evitar d istrações externas
Tanto no tópico sobre privacidade (preparan-
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do o ambiente flsico) quanto no tópico sobre concentração (atendendo fisicamente). já nos referimos à imponância de se diminuir. tan to quanto poss1'vel. a estimu lação externa durante o encontro de ajuda.
O ajudador deve cu idar desses dois aspectos para evitar que sua atenção se desvie do ajudado: preparar o ambiente d e modo a eliminar. ao máx imo. quaisquer estímulos visuais e auditivos; estar atento à sua própria concentração. de modo a não se distrair com qualquer ouua atividade. por menor que seja_
As vezes. esses cuidados. apesçir de simples. são mui to e fetivos para a redução de estímulos. Numa sala de aula. por exemplo. manter a porta aberta é um convite à dispersão tanto para o professor quanto para os alunos - é difícil impedir que a atenção se volte para quem passa no corredor ou para os ruídos Que vêm de fora. Um simples fechar de porta faL uma enorme diferença. Numa enfermaria. há também uma maneira simples de se cortar um pouco a estimulação proveniente do movimen m intenso de médicos. enfermeiras. alunos. seiven tes. visitas e dos outros pacientes. Apesar de não ser o lug,ar idea! para um encontro de ajuda. pode-se tanto aumentar a privacidade do paciente como rnmbém d iminuir pelo menos parte da estimulação visual se for usado o "biombo". E ssa divisória móvel. que faz parte das enfermarias. é usada. em geral. para a troca de curarivos e para os exames em que o paciente precisa ficar sem roupa; às vezes. é tam~m usada para isolar um paciente terminal. que cansei tui estímulo doloroso e ameaçador para os outros. Esse mesmo biombo. quando colocado entre a cama do aiudado e o resto da enfermaria. facilita bastante sua relação com o ajudador. ~ como se ambos se esquecessem que há tanta coisa acontecendo do lado de lá do biombo.
Para o ajudador. cortar as distrações externas aumenta muito sua capacidade de escutar e de manter sua atenção voltada só para o ajudado por períodos de tempo mais longos.
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Evitar d istrações internas
. O ª12:1biente ex terno não é a única fonte de e:st1mulaçao para o ajudador. Seu próprio ambiente interno - seu corpo e seu coração - às vezes
lhe oferece estlmulos tão intensos que o impede de esc~tar- o outro. Quando isso acon1eoe. seu momento e de escutar. _mas a si mesmo - a seu corpo. que carece de_ atençao. ou a seu coração. que lhe demanda c uadado.
_ As disuações internas podem ser de ordem fí-src~ ou emocional. Ouando são ffsicas. há alguma co isa acon_tecendo com o corpo que exige uma parada do a1_udador na sua própr-ia pesso<J. Ele pode esy:~r precisando de satisfazer alguma necessidade bas1ca -_ sono. repouso. alimentação. eliminação. E Quase impossível escutar alguém quando estamos com sono. cansados. com f ome, com sede ou com a bexiga cheia.
Além disso. oualguer desconforto Qu incômodo físico_divider.nJambé_m , nQ~ate_n<;ã.o : roupãs ou sapatos apertados, dores, febre. qualquer tipo de mal-estar_ Até Que as necessidades sejam satisfeita_:; e ?S incômodos sejam el1iminados. o ajudador nao vaa estar inteiro para o a iudado.
. O mesmo ocorre com as distrações emocionais. Ouando o ajudador está vivendo intensamente alguma d ifiouldade, precisa de se escutar. Ouvindo sua própria voz. não vai estar pronto para ouvir a voz dos outros. Às vezes, precisa até mesmo de buscar um ajudador que facilite a resolução de seus p~oblemas. Nesse momento. ele precisa de falar. n~o de escutar ; ele se transforma num ajudado e nao pode ser. ao mesmo tempo. ajudador. Se ele se forçar a escutar alguém. sua própria voz vai comp~tir com a voz do outro - ambas pr-ecisam ser ouvidas, e. nessa competição. é a sua voz que vai ganhar_ Escutar o outro. nessa hora. é uma tarefa imposslvel. PC:is ~u espaço inter-no já está ocupado com ~.<! pr?pr!a fala. t prec iso que o ajudador .. se e~az1e primeiro. se quiser oferecerr seu espaço ao a1udado novamente.
_ t imponante lembrarmos que o profissional .de a1uda não é um .. super-homem" nem um "semi-
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caus" _ E feito da mesma massa que as outras pessoas: sofre. passa por momentos difíceis. entra em crises. A única coisa que o difere ncia dos outros é o conjunto de habiiidades que possui para l idar com os próprios problemas. a facilidade com que aprende a través da própria dor e a efeüvidade com que sai de suas crises: mais maduro. mais crescido. mais inteiro.
..Be~uroindlo. só.. posso atender o outro depojs de atender a miJ"O__m.esmQ; quando estou em fa lta comigo e tento ajudar alguém. seremos dois ajudados e a fundaremos. juntos. no mesmo barco.
S u spender iulgamen tos Toda pessoa possui seu próprio sistema de
valores - aquele conjunto de crenças e princípios a respeito de si mesma, dos outros, da vida e do mundo que a oP.rca. Esse sistema é dividido em .. certos" e .. errados" - aquilo que a pessoa se permi1e viver. e que é a .. coisa cena". e aquilo que ela não aceita para si mesma (e. às vezes. para o s out:-os). e que é a .. coisa errada". É esse sistema de val or-es que dá a dir-eção ~ sua vida.
Nu ma relação de ajuda. entre outras coisas. ocor-re o encontro entre dois sistemas de valo,..es quase sempre dife:-entes - o do aiudador- e o do ajudado.
Se. ao escutar. o ajudador permit:e que o seu sistema de valores aflore e venha â tona. vai começar a julgar o que escuta de acordo com esses valores. classi f icando o que o outro diz em certo e errado. bom ou ruim.
Quando isso ocorre. o ajudador deixa de escutá-lo para escuta:- sua própria voz. como acontece com as distracões internas. Se. ao invés de ouvir -º relato do ajudado •. começa ã avaliar esse relãto. está ouvindo a si mesmo e perde. portanto. tudo 9 ·mais que o ajudado tem a dizer ..
Essa tendência ao julgamento está presente na maior parte das pessoas e é -uma das causas mais comuns da dific u Idade de escu lar e de ajudar o outro. A dificuldade fica ainda maior quando esse julgamento é explícito. ou seja. quando o ajudador
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o tra111smi te verbalmente para o ajudado. Esse vai sentir-se incompreendido e pede querer procurar alguém que seja mais capaz de compreendê-lo.
Jul9_§1r é exatament~atitude inversa às posturas de aceitação incondicional e de empatia en.:contradas nos ajud adores efet ivos. Não sé trata aqu 1 de se aorir mao do pl-óprío sistema de valores. -mas apenas de esquecê-lo durante o encontro com o ajudado. Fazendo isso. o ajudador abre as portas de seu coração sem restrições. deixando que as palavras do ajudado entrem inteiramente sem qualquer censura.
T rata-se aqui~ também. de sermos su ficientemente humildes para sabermos. mais uma vez. que não somos donos da verdade - o que é l::K>m para mim pode não o ser para o ajudado e vice-versa. Ajudar não é impor meu sistema de valores à outra pessoã:mas apena~ ajudá~la ã-construir o -seü -pró-p rio e viver em coerência e harmonia com ele. - -
Escutando
O gue é: _ ~ . .. ' i
Usar os ouvidos para captar as mensagens verbais 'transmitidas pelo aj~dado.
.. Para que : . Se escuto o ajudado. deixo entrar tudo o que ele quer transmi t ir-me. de modo a compreendê-lo-~ melhor.
Como: l _ Ficar calado. 2_ Não interromper_ 3. Evitar distrações externas. 4_ Evirar distrações internas (físicas e emocionais). 5_ Suspender julgamentos.
ºAssim, o primeiro e mais simples sentimento que quero compartilhar com você é minha satisfação quando consigo realmente escutar alguém. C reio que, essa tem sido uma característica an#ga em mim. Ocorrem-me meus primeiras dias de escola. Uma criança fazia uma pergunta à professora, e esta dava uma resposra perfeita a uma pergunra completarnente diferente. Nessas ocasiões, um sentirnenro de dor e angústia sempre me invadia. Minha reação era: 'Mas você nem mesmo o escutou! ,. Eu sentia urna espécie de desespero infantil diante da falta de comunicação que era (e ainda é} tão co~ mum."
Car l. R . Roger-s
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Vimos. neste capt'tulo. as cinco habil idades que fazem pane do atender: preparar o ambiente físico , acolher. atender fisicamente. observar e escutar. É através delas que o ajudador deixa que o mundo do ajudado penetre no seu. Comunicandolhe sua disponibilidade. vendo-o claramente e ouvindo o que 'ele tem a dizer. o ajudador vai poder formar um quadro mais preciso do ajudado. E com esse quadro em mente que ele vai poder começar a responder.
Relembrando aqui o ti'tulo do 1 ivro - Const ru;ndo a R elação d e Ajuda - poderi'amos comparas as habilidades não-verbais aos alicerces de uma construção. Além de indispensáveis, é de sua qualidade que depende a firmeza do edifício. Isso é também verdade para as habilidades de atender -quanto mais desenvolvidas por parte do ajudador. maior a chance de ele ser efetivo para o ajudado. Se elas não estiverem presentes no processo de ajuda, pelo menos num n i'vel m i'nimo. faltarâ a própria base desse processo. que irá. sem dúvida. fracassar.
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Estamos in iciando. neste capítulo, a abordag,em das ~_ab ilidades verba is Que o ajudad1or precisa desenvolver em- suai .. nterãçãÕ- com o ajudado - as habilidades de responder. --- - Apesar de extremarmente importantes e ind ispensáveis ao p rooes5o de ajuda, as habi l idades de atender. na maior pane dos casos. não são suficientes para uma condução efetiva desse processo ..
Mesmo reconhecendo o enorme significado d a i nteração corporal entre as pessoas. não podemos esquecer-nos de que 91 oomu .!:!_!~~~º·- ~~!'~ser~~ f!u-: manos .. é feita basicament.e através d~ palavra.
O ajudado~- ão tef"minãr-·éada uma de suas colocações verbaís. espef"a um retorno do aj udador. tam bê m verba 1.. É certo que a necess idade básica do ojudado é fo lar - mas vai chegar o momento em que vai quer-er escutar. Ele pod .. e_gJ.J._e l'."er-.. lJl..m~ p rova coftcreta de_ q_ue _fQ i cornp_reend ifio. IE_ essa prÓva é Verbal. E le pode querer escutar algo a lém daqui lo que já sabe a seu respei to para se si tua r melhor. o u decidir melhor. Esse algo mais só o ajudador pode lhe trnnsmi t i r. verbalmente ..
Se prestarmos a tenção às respos-tas que as pessoas- dão umas às outras no d ia -a-dia. vamos perceb e r que pouco têm a ver co1m o que foi dito.
As vezes. a distância entre as verbalizações das pessoas que conversam é tão gr an de. q ue parecem estar fa lando 1 íngu as d iferentes,. Isso pode ooorrer- por vá·rias razões : - não apr,endemos a escutar e é im possível respon
det"mos corretamen te se não escutamos; - não aprendemos a respondec da m esma forma
que não a p :rendlem os as ou tras habi 1 id ades; - p recisamos t.anto d e falar a nosso respeito, que
não podemos responder ao outro; quando este termina uma colocação sobre si próprio. inicia mos outra que· nada tem a ver com ele. e sim com a nossa pessoa.
Constatando essa dificuldade, vamos ver. nest e capltu~o . o que podemos fazer para desenvolvermos as habi lidades de responde.- e para facilita rmos. com nossas respostas, o crescime111to do outro.
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RESPONDENDO AO CONTEÚDO
/ !Respondendo ao conteú do ~' 1r (/"
/ IES1Cutando ? 't:::::L============~C/
/ Qbsen.iando, ~ ~L ----===i,C/ . t Atendendo fis~am.ente (?
(' Aoolhendo 7 t?=='Pr=e=pa=ra=n=do= º=ª=m=. =bi=-e=n=te=·e=is=ioo=::::i.~
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Uma das características que estão presentes na m.aior parte dos ajudados é o r 'elato confuso d e sua pr~priª expe.-iência. Essa confusão "reflete Ümã ôê.-ta desordem inil:erna e uma dificuldade para .separar oselementosrelevantesdos que não o são. Na maroi-ia _dç_s _vez_es. 9 !3iudado está pe.-dido ern seu próprio mundo. Uma das expectativas que ele tem do ajudador é que este o leve a encontrar um caminho. Para que i1sso ocorra. !JIIla.das _prirn_eir~...1acefas .Q_o ajudador é refazelí a ~-)'.<pressão verbal do ajt..tdadq_çle um modo novo. resum indo-e organizando o que ele lhe disse.
Responder ao conteúdo. então. é buscar na fala do ajudado. o verdadei ro motivo que o ~evou a se m-anifestar veribalmente ou a té mesmo o motivo que o levou a procurar ajuda .
Conteúdo. nesse sentido. se .-efere ao tema central de sua fala -esse tema em torno do qual as pessoas contam suas estórias . às vezes longas e confusas. Refere-se. tamOém. àquele conjunto de temas comuns .que mendonamos no tópico sobre escutarr. Como essa habilidade ~ eSOJLta.-_- .é p.-é-r~qu isi to para _o _irespÔnd~ , __ sQ esq.,i ~ndo oom atenÇão total vamos ser c.apazes de separar o joio do trigo. ou seja. çl_~_ i.§entificar. ern meio à fala do aiudado. os elementos ffiâís importantes. São esses ele-mentos que compõem a v,erdadeira mensagem que ele quer nos t.-anS1Tiítir.
A resQ.OSJa _ _ de_ÇPflt'e(lçl'Q _não implica repetir. mas riillêtir esse conteúdo .• através-de formatos do tipo: "Você está me dizendo que. _ :· ou "Em outras palavras .. _" ou ''Parece-me. então. que o mais importante é . __ ,,._
Como na interação enti-e pessoas não existe causa sem ef,eito. podemos identificar algumas conseqüências. tanto por parte do ajudado. quarnto por parte do ajudado.-. quando este responde ao conteúdo: - Por parte do ajudador :
Aqui a palavra-chave é compreensão - o aju -
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dador tem como tarefa básica compreender o ajudado. Muicas vezes. é o ajudador a primeira µt?ssoa ã fazer isso, em toda a vida do aiudado. Como ele vai saber se realmente captou a mensagem do outro? Como vai saber se realmente escutou? Quando responde ao conteúdo. ele obtém do ajudado respostas a essas indagações. Este vai confirmar ou negar a percepção do ajudador, corporal e verbal mente. Quando ele diz : "E isso mesmo! .. ou rela xa sua fisionomia (e aqui a habilidaç9-e d~_o~rvar continua presen le). está confirmando sua percepÇão. Quando ele ·diz : "Bem. não é ºexatamente assim". ou franze a sobrancelha. está negando a percepção do ajudador. E como se este usasse a resposta de conteúdo como uma bússola através da qual faz sucessivas correções de rumo até que o caminho certo seja encontrado. - Por parte do ajudado :
Já d•ssemos que o aj,udado geralmente está confuso. Oian te de uma resposta correta, ele dá o primeiro passo na direção de seu crescimento : começa a explorarr sua própria expe,-iência. organizando-a para descobrir onde está. Aqyi também a palavra-chave P. CQ.mpreensão - ele começa a se compr-eendef . encontrando uma certa ordem em meio ao caos..
Se "faço comigo o que fozem oomigo", é através da compreensão do ajudado,. que ele começa a se com preender: o ajud9do faz consigo o que o ajudador faz com ele.
Mesmo nos casos em que ele não está confuso. a resposta de conteúdo vai lhe comunicar a atenção do ajudador - é como se essa resposta reforçasse verbalmente a comunicação corporal da postura de atender. A mensagem é a mesma : "Estou junto de você". Como conseqüência, o ajudado se sente mais confiante, seguro e disposto a continua,. fa· lando de si mesmo, aprofundando. cada vez mais. suas verbalizações.
Por outro lado. às vezes a resposta de conteúdo parece não provocar qualquer efeito sobre o ajudado, seja verbal ou co·rpof"al. Ele está tão en· volvido nas próprias verbalizações. que precisa
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ainda d izer mais a seu respeito. Nesse momento é impossível esou~a r a resposta do ajudador. por m~is acertada Que seja. A su9 pirópria ausência de reação à rnsposta tem um significado - é como se ele estiv.esse dizendo: "Fique calado. não acabei de lhe dizer tudo o que preciso; espere até que eu esteja p ronto para escutar você".
t muito importante que o ajudador esteja atento ao tamanho de sua resposila : esta deve ser sempre menor do qu~ a colocação feita pelo ajudado.
Em primeiro lugar. a resposta de conteúdo é u~~e~u~o_da_ falé?. Ço a1uaado·. Como todo borri r,esumo. deve ser sintética e formulada em poucas palavras. sem detalhes ou divagações. Compete ao ~iudador . id~n!ificar o "miolo" dessa fala e devól vê-~o com o menor nú me,-o possi'vel de palavras. para que o ajudado simplifique e perceba, com clareza. o que está vivendo naquele momento. Aqui. por exemplo, podef"iamos formular uma resposta de oonteúdo ao que foi dito nos dois primeiros parágrafos:
"Você está me dizendo que as pessoas falam mais do que o necessário puru expressar o essencial e que o ajudadorr pode devolver ao ajudado apenas o que é fundamental em sua fala". Com relação ao tamanho. foram gastas 14 linhas para expressarmos uma idéia nos.,dois primeiros parágrafos. enquanto foram gastas apenas 4 para respondermos ao conteúdo desses mesmos parágrafos.
Além disso. como já foi mencionad o antes há u~specto_qásico na relação de ajuda que nã~ i5õãê ser esgueçido..=- -2 distril:;l.l!ição do espaço {ou tempo). Essa distribuição-não pode ser eqüitativa -a parcela maior é sempre do ajudado, Que precisa de muito mais espaço na relação. Uma resposta grande não só dificulta a organização de sua expe,.i,ência. como lhe rouba pane de um espaço que é so seu.
Ouando buscamos o conteúdo fatual da expressão do ajudado, podemos ou não captar esse
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conteúdo de forma oorreta. Quando captamos o m iolo de sua fala. ~•e elabora sua pr-óxima colocação verbal sem ter de voltar atrás para tentar uma nova explicação. Ouando isso acontece. dizemos que nossa resposta não desfo ca/;zou o processo do ajudado. isto é. não o afastou de sua experiência. Pelo contrário, essa resposta o ajudou em seu i-aciocínio e o fez caminhar. para frente em seu próprio entendimento.
Por outro lado. quando não conseguimos captar o conteúdo, o ajudado volta atrás. tentando ser mais claro dessa vez. para o ajudador e para si mesmo. O importante aqui é lembrarmos que. mes!TIº diante de uma resposta "incorreta" (aquela que não captou o miolo). o ajudado continua reciebendo uma mensagem de atenção e interesse por parte do ajudador. ~como se este estivesse dizendo: "Estou realmente interessado em compreender o que vooê está me d izendo. ainda que. às vezes. não o consiga da primeira vez ... Essa é a mensagem mais importante, e. por isso , o fato de o ajudador não acertar . em nada invalida sua inil:eração com o ajudado.
Nesse sentido. não há, realmente. respostas "erradas". Todas são corretas. desde que expressem um empenho verdadeiro do ajudador em compreender o ajudado. não importa quantas tentativas ele faça até encontrar-o conteúdo de -sua fala.
Novamente aqui podemos formular uma resposta de oonteúdo a todo este tópico: "Você está me dizendo que o que impo rta é o empenho real de compreender o ajudado e que ele peroebe esse empenho. não se incomcdando de repetir sua fala para ·se fazer entender melhor".
Entre as d imensões mencionadas no primeiro capítulo, duas estão especialmente p resentes quando formulamos respostas de conteúdo: A ceitação i:ncondic ional ou respeito - quando o ajudador responde usando o ponto de referência do ajudado e não o seu próprio, está lhe dizendo : "Eu o aceito como você é. v ivendo qualquer coisa
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~ for ~mportante para você". Isso leva o ajudado a se sentir livre na relação,. perdendo gradativamente o medo de se expor, pois sabe que não será reprovado ou criticado, diga·o que d isser. Acima de tudo, ele passa a se aceitar. como o ajudador faz com ele. Concreticidade - ao sintetizar o conteúdo, o ajudador torna:se concreto e específico em suas respostas. refletindo o que é fundamental e abandonando o que é secundário.
Como ilu stração das respostas de conteúdo, vamos apresentar falas. de três ajudados e as respectivas respostas do ajudador : 1 .. Ana :
" Nem sei como começar. sabe. não falei disso a ninguém. é d ifícil pra mim contar o que houve. O problema é que comecei a trabalhar numa firma desde o ano passado, com um salário muito bom e um serviço fácil de fazer. agradável até. O ambiente também era bom. meus colegas eram pessoas legais. O patrão sempre muito educado e atencioso. eu não tinha queixas dele. até quando começou com uns comportamentos meio estranhos nos últimos meses. Me trazia uns presentes de vez em quando. dizia que era porque estava muito satisfeito com o meu serviço; às vezes me pedia para fazer hora extra. dispensava os outros e ficava sozinho comigo no escritório até tarde e outras coisas assim . . Até que. na semana passada, numa dessas horas extras. ele se assentou muito peno de mim. Estava meio ofegante, de repente me agarrou, queria me bei jar de todo jeito, diõendo que me queria. desde a primeira vez que me viu. Entrei em pânico. saí oorrendo do escritório, não voltei lá até hoje porque não sei o que vou fazer. Preciso muito do e~prego. não poss~ ficar sem ganhar. mas também nao quero me relacionar com ele. afinal tenho meu noivo. a quem amo demais. estamos até pensando en: nos casar no ano que vem .. . Realmente. não sei o que devo fazer . . . "
Resposta de conteúdo : .. Você está me dizendo que não sabe o que fazer:
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por um lado. precisa manter seu emprego. por outro. não quer se relacionar com seu patrão .. -
2_ Lúcia : "As vezes. penso que vou f icar louca. F oram
anos e anos de espera. f azendo tratamentos. cirurgias arriscadas_ Tomei quilos de remédios. gastamos o que tínhamos e o que não t í nhamos_ Até o carro tivemos de vender. A ansi edade foi enorme até sabermos. pelo exame. que eu estava grávida. Nossa alegria não tinha tamanho. só pen sávamos e talávamos no nenen o dia inteiro. Mas durou pouco. Abortei com t<ês meses. e agora o sonho acabou_ Não sei como vou faLer para conl inuar viven-do ___ "_
Resposta de c onteúdo :
"Você quer me d izer que perdeu o que tinha de mais importante - seu filho - e que agora sua vida não tem mais sentido". 3. Paulo :
"Você sabe. já não f oi fácil pra mim desfazer o primei ro casamento_ Todo aquele problema com os meninos. aquela culpa com a pr imeira mulher ; afinal era eu que a estava deixando. Custei a refazer minha vida_ Fui me acostumando a ver os meninos só nos fins de semana. aprendi a me virar- sozinho. até que apareceu a IR osa. minha segunda mulher. E nfrentamos urna barra juntos. foi um custo até que os meninos a aceitassem e eu pudesse refazer minha família. A c hegada do filho nos uniu ainda mais. a nós dois e aos meninos todos_ Agora ela vem e me diz que vai emborn. que não m e ama ma is. A s vezes. penso que isso é demais par-a mim. tenho medo de não aguentar".
Resposta de conteúdo: '"Em o utras patavrns. você fui capaz de vencer- a crise d o primeiro casamento desfei to. mas desfazer um segundo e perder a mulher a quem ama parece demais pra você" .
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Respondendo ao conteúdo
0-qoe e:- --:oo ·- - ~
jdentifiCar- os -1)ontÕs""mais important es da fala do •. ~judado ~ . refleti-los paia ele. de ·maneira resumida
~\. - .. e organfzâda. ' · ',-r• , · - .,.._ ' , ..... rr;-- - .....
·P~ra gqe:" -se r-e~nd9 ao êontootlo. ver ifico .se captei <:itr~o a mensâgém do aí uc;:fad o e or-gani7ó pa ra efe o que está corifuS.O neSsà ~~nSâQem. -~ .. •
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"Seres humanos não s-ão máquinas de fios soltos ou válvulas queimadas, que um cirurgião ideal pode tocar e consertar, ou ajustar, retirar ou reconectar_ Somos o:rga·nismos interativos, experienciais. Quando eu respondo ao que se pôSSa com alguma pessoa, então alguma coisa se passa dent1ro de.la. É claro, alguma coisa também já está acontecendo· antes que eu responda. Ela est.á magoada, ansiosa ou deprimida; ela perdeu seu próprio sentido; pode .não estar sentindo coisa alguma; tudo pode estar soando insípido. Quando eu respondo (ou diga.mos, quando eu consigo responder, pois às vezes tento e falho durante semanas e meses), então algo mais está .• de repente, acontecendo; ela sente, realmente, alguma coisa, há um sentido surpree.ndente do próprio eu e e/a sente: " Puxa, talvez eu não esteja perdida. _ _ "
Eugene T . Gendli n
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RESPONDENDO AO SENTIMENT O
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1 - Quando me r-elaciono comigo Se nos indagarmos. num dado momento.
qual é o verdadeir o sentido da vida. poderíam os responder que são os sentimentos a essência da própria vida. É o sentir · qL;e faz a d iferença entre ·as p essoas e as plantas. ou entre as pessoas e as pedras. O que é a nossa vida senão o alternar cons· tante entre a tristeza e a alegria. a raiva e o m edo. a frustração e a esperança? E o que dizer do amor • sentido maior da própria vida?
E quase impossível imaginarmos a vida oomo um mero desenrolar de "eventos neuuos" - ga~ nhos. perdas. encontros, desencon tros. vitórias. derrotas - sem que esses eventos sejam acompanhados de algum tipo d e sentimento. Se isso 1fosse passivei. seria vida. at inai?
Segundo A lbert Ellis. psicólogo americano que desenvolveu a Psicoterap ia Racional--emotiva, Q__que importa não são os fptos~ mas como nos $entimos dianre deles. Assim é que um mesmo fato pode provocar sentimentos diferentes em pessoas diferentes. dependendo das circunstâncias de vida de cada uma. Ou '!.!~me~ f~tQ_pode pr9duzir sen t imentos dif~rentes numa me.sma pessoa. em d iferentes momen tos de sua vida. Talvez seja essa uma das mudanças fundamentais que as pessoas buscam alcançar através da relação de aiuda: sentirem-se de modo .diferente d iante de uma situação que nãÓ vai mudar. Quando não é possível mudar as coisas externas. e se essas coisas provocam sen· timen tos de incôm,odo e desconfo,rto. nada nos res· ta senão lidar com os sentimentos. q ue são mutáveis.
Ellis, at,avés da abordagP-m racional -emotiva. procura explicar a fonte dos sentimentos através do que chama de "princípio do ABC" :
8 - © Acontec imento Conseqüência
(sen timento e/ou ação)
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Diante de A - um aoontedmento qualqu:er -a pessoa sofre conseqüênci~s (C! em dois níveis: sentimentos e ações. No d1a-a -cha, as p~oªs~xplicam_o qll_e~entero e _o_ que f~zen:-, usando A com? causa de. e . da seguinte maneira: Estou com mu 1-tâ. raiva (sentimentol ,e vou largar- meu empr~o (açãoL porque meu patr-ão me chamou a atençao (acontecimento)". Portanto. A causa C.
Segundo Enis, no entanto. se um mesmo acontecimento teva a conseqüências tão diferentes ,em pessoas diferentes. não po<le ser A a causa de C. Há. portanto. um elemento fa ltando 111e~ relação A -+ C. E esse elemento seria a verdade11ra causa dos sentimentos e ações das pessoas:
0+0-+© acontedmeinto "belief.. conseqüência
(crença) B . do i ng1ês "bel iet•• ~crença l. !§?f e.-~-s~ às id~i
as. pensamen 10s _ qu cnmças presentes nas pe~sÉ Cü-ii)ê)seestãs construíssem. ao longo de sua vida. um arquivo onde acumulassem idéias a i-espeito de tudo. Esse arquivo varia de pessoa para pessoa e é formado basicamente. através das .experiên_cias ind lviduâis de êaêja U.f'l1c d.iretas (aquilo que a pessoa viveu na 1~rópria pele ) ~ indiretas ( o que v i u e ouviu de pessoas importantes em sua vid a). O casamento. por exemplo. pode ser um evento muito bom e desejável para uma pessoa (que viu o casamento satisfatório dos pais) e muito i ndesej1ável para a out.-a (que sempre ouviu a mãe dizendo que o casamento estragou suia vida) .
Assim. seriam ~-ídéj~ que as pessoas tên:_11 das coisas, e não.as própi-ias CQisas, que as levaJ"iam a -expei-imentarem sentimentos d ive.-sos. Estes seriam determinados pela in te rprntação pessoal que cada individuo tem a respeito do mundo em que virve.
Ainda segundo E llis, as idéias a .-espeito d as coisas podem sei- de dois t ipos: .-acionais e irrncionais. As p.-imeiras sei-iam interpretações lógicas a respeito dos eventtos e poderiam levar a sentimentos moderados de fru.st.-ação. tristeza, etc. As se-
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gundas seriam ín terpiretaçoes i rraojonais a respeito dos eventos, levando a foi-tes conseqüências e mocionais. freqüentemente d esagradáveis e desgastantes para quem as experimenta.
Entre as idéias (irracipnais. a lg;um as são encontradas com maior freqüência entre as pessoas, causand o -lhes ansíedàde. oulpa. autoêensura,, etc.: 1. Necessi tamos ser amados por todas as pessoas.. 2 . Devemos ser bem-suoed idos em tudo que faze-
mos. 3. É terrlvel que as coisas não sejam exatamen1te
como gostai-íamos que fossem. O objetivo da terapia racional-emotiva é iden
tificar::- qúestíõnar · ê eliminar essas e outras idéias _il:Í:acioflais _Q.ue...i.JTme<J~!Tl ªs_pessoas de viverem- uma vida· satisfatór.ia...e _f e liz. Essa tarefa sÓ é --possi've1 na medida em q ue os sentimentos são também identi f icados e expressos pela própria pessoa ou com a ajuda de alguém capaz de pei-cebê-1 os.
Com.o o obse,rvar e o e seu ta r, :mmbém o ~nt ir sofre mQQ.if.icaç.Qes ao_ longo do processoA~fe ~volvim.ento--d.as .. p_~_as_ A crilança pequena é inteiramente l ivre para senti r e exp.-essar o que senr te. A fonte de seus sentimentos se locali za, basicamente, nos seus órgãos de sentido : seus olhos, ouvidos. nai- iz. boca e pele lhe dizem o que é bom e o que é ruim. e daí nascem seus sentimentos,. pur-os e livr,es de quaisquer outras interferências. Livre também é sua expressão : e•a cho.-a . .-i • .-epete o que l he dá pr_azer e rejeita o que não dá Mais tai-de, quando já faz uso da palavra. d iz abenamente o que sente. de uma maneira tão direta e verdadeira. que chega a embaraçar os adultos.
O que acon;ece às pessoas e que as leva a esconderem seus sentimentos d e si mesm as e dos o u t ros?
Mui to cedo. as crianças começam a ser punidas por expressarem seus sen timentos . . A punição
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pode ser e)ÇpJ ícit~ (repreensões, agressões física~) o u imph'cita (o levantar de sobrancelhas. franl:ir de testa e outras expressões de desagradQ). t como se os adultos as educassem para seguirem, não para sent:irem. Seguir ~ignitic:a não f~gir aos P:=!· drões sociais. ao que e considerado adequado -Nesse contexto. a criança que sente e se expressa pode ser conside<ada subversiva.
Além de ser punida e rejeitada, ela peroebe, também . que os adultos à sua volta não expressa'!l o que sentem. Pelo contrário, rnl!itos Jh~ _çomu~_!cam 9u..e o s~l}timentÇ> _.? 2tn.ô.nüno __ d_e fraqueza. H o-mem não cho<a. Sem modelo dP. pessoa verdadeira, punid a e rejeitada cada vez que é honesta quanto ao que sente, a criança vai en~olhend'?~ pouco a pouco, reprimindo ~as emo_çoes; No ini cio, temerosa de não ser aceita. depois ate culpada por estar sentindo, acaba tão impossibílitada de ser ela mesma quanto os adultos que estão à sua volta.
Os efeitos dessa repressão não tardam a se fazer presentes.. Quando !~J?!_im? minha~ ~mo_ç<?es, escondendo-as de mim _mesm o e dos outros, isso não me garante que essas emoções se acabem. ~manchando:Se no ar , sin:ipl~SJTI~nte. Pelo con!rário elas continuam em algum Jugar dentro de mim, me~mo que eu não saiba. Levam-rrie a uma insa t isfação geral e difusa, para a qual não tenho uma explicação. As vezes. quando todas as coisas externas parecem perfeitas - um bom emprego, o casamento ajustado. orianças saudáveis ... uma bela casa e o último carro do ano - a insatisfação per siste, sem uma explicação aparente. Em outros casos. é oco~po que começa a mostrar os sinais - dores inexplicáveis, insônia, inapetência e até mesmo doenças sem qualquer causa orgân ica. que denominamos de "psicossomáticas". Algumas vezes. o resul tado final é um "estouro" inesperado: o casamento desfeito. o emprego abandonado. a mudança brusc~ de vida e. às vezes. a per-da do contato com a real1· dade. que traz para a pessoa a conseqüente rotu~ação de "paciente psiquiátrico". São _ps efT!OÇO~ (eprimidas durante toda uma vida e que. acumuladas, explodem diante de um estímulo qualquer.
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... -... ; -Já d issemos anteriormente que o processo de
ajuda tem como fina lidade a mudança do ajudado e que a base desse processo está na exploração e compreensão d e· suas vivências. Ao exploirar e compreender a si própria. a pessoa atinge o au"'tõronneéirnento-.qu_eT ãntes de mais ·nada. o rreconhecimento dos próprios sent1imentos. ·Quando me observo e me escuto. posso perguntar -me: "O que estou sentindo neste momento? De onde vem meu sentimento? O que quero? O que não quero? O que é i mportante para mim?" Quando entr o em conta· t o comigo mes.mo. faço o que é melhor para mim. Quando não me conheço, acabo fazendo aquilo que esperam que eu faça e não o que quero fazer. de verdade.
~ó_ posso mu~ar de Q'laneirn construtiva quando me conheÇ~o suficiente para escolher-a minhá própria direçã:_o.
~ , :. - do " ·· • - <.~-
Segundo John Powell. há alguns aspectos que devo levar em conta se quiser expressar minhas próprias emoções ou sentimentos:
1 ._1!1.eus sentimentos ..!!if.o_ se d;victem ..em_ce..rt..Q.$..J! err:ades,e/es..sirnplesrnen te__ ex~tem.
A maior parte das pessoas tende a julgar seus próprios sentimentos, como se alguns fossem bons e outros maus: Quando geoso que.meu sentimento é mau ou enrado. tenho· verqonh<! oi,,i me culpo por experimentá-lo.
É; i!!!QQ.l'!<!i:ite saber que todo e qualquer sen_timentQ, se brota dentro de mim. é apenas Üma parte natural da própria condição humana. Preciso dar-me permissão, porta11to. pai-o- sentir. para experienciar, reconhecer e aceitar qualquer emoção que seja minha. 2. Meus sent"imentos nem sempre determinam minha
-:ação. ~ importante aqui fazermos uma distinção en
tre sen tfr e agir. O fato de. eu .me peTmiti r exp_~ri mentar meu sentimento em sua totalidade não sig-
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nífica que eu deva agir de acordo cof"1'1 ele: Esse é o mêéto que impede muitêlS pessoas ?e sentires:' : cios temem que. se deixarem os sentimentos_ v1rem à tona, vão agir de acordo com el~. mesmo q~e- sejam des triu l ivos. Se estou e~ m r~ 1~a de voce. isso não quer dizer que vou agredi-lo f1s1camente.
M inha ação é o resultado de uma escolh~ que eu mesmo faço : posso ou não agir em _determinada d ireção. Reprimir as emoções, o~ agir sempre de acordo com elas são. ~mbas, atitudes extremas. não-saudáveis e destrutivas para a pessoa.
3. i; deseit!xeJ. . qye eu _t;:xpre~~ meus s,entimeotDs_ a outra pessoa. . . - ..Eaz-pru:.lfuie umõ .-e1ação _ç:qnstruuva a poss1-
bilid~e de eu dizer à outra pessoa o que es!9u_~ntindo em relação a ela. Mais do que isso. e da comunicação de meus sentimentos que depende o sucesso de meu relacionamento com outra pessoa.
Se reprimo minhas emoções. cor:' medo de ser rejeitado, punido ou mal compreen~:hdo. vou est~.r apenas .. varrnndo a poeira para debaixo do tapete . Isso significa que, depois de algum tempo, corro o risco de tropeçar. cair e me machucar por causa dos montes de poeira que eu mesmo fiz . _
Já1 nos referimos ao "'estouro" das emoçoes reprimidas. O caminho '"!"'ªi_s c~rto para ~traga: um relacionamento é reprimir minhas emoçoes-ate
0 dia em que elas explodem com tal violência que destroem, irreversivelmente. a relação que eu pretendia preservar.
4 . Posso muctar minbas-em~-Como Powell. também Ellis afirma que os
sentimentos não são padrões biológicos imutáveis. Se experimento emoções que me desgastam e _cne ·fazem sofrer, posso fazer CXlm Que essas emoçoes af,orem e eu as conheça. Conhecendo-as e descobrindo sua font~osso_decid i.L.trocá:l~s l?Qí_ º~!r~ G!Je não sejam tão destrutivas p_ari) m1nha_p[_Ç>pna
pessoa. . Enfim a base do relacionamento que estabele-
ço oÕmigo · rn~mo es•á em meus senti~ntos: só posso conheoer-me e relacionar-me comigo quando
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sou capaz de escutá-los e identificá-los; quando sou capaz de aceitá-los em sua totalidade; e quando sou capaz de expressá-los livremente a mim mesmo e a outra pessoa.
11 - Oua.ndo me relaciono com o outro
O sentímento ex is te, sempre. Ao se relacio11ª-r:._.cam..o ajudado_, é_i_~ortante
. que o ajudador tenoa sempre em men!e que não existe n ínguém vazio de sentimento : atrás de cada palavra e de cada silêncio, está presente um sentimento ou uma mistura de mui li.os. Ainda que o ajudado não expresse esses sentimentos de maneira explícita. e ainda que o ajudador não seja capaz de captar os sentimentos escondidos, é importante par~ _ 9 __ co1]1p reensão do __§lj udado lembrar quee le está Sempre experimentando -sensações~ sentimentos de incômodo ou desconforto que o levar am a buscar ajuda. Assim. são os sentimentos que levam a pess.oa a buscar ajuda.
Por isso, é fundamental que cada sentimento seja percebido e captado e que sua percepção seja comunicada ao ajudado.
Na área de saúde. por exemplo. os profissionais tendem a investigar e cuidar apenas da parte física d o ajudado. O paciente procura o médicc queixando-se de alg.um sintoma físico. O médico. por sua vez, limita-se a dar atenção a esse sintoma. a algum órgão afetado ou à doença aprnsentada pelo paciente. Não sendo treinado para cuidar do aspecto emocional de seu ajudado, ele se esquece d e que. atrás do sin toma. existe uma pessoa sentindo alguma coisa a nível emocional. O sintoma desperta um sentimento. e é esse sentimento que leva o paciente a buscar o médico. Um sintoma Hsico que não provoque preocupação. medo ou ansiedade não é o suficiente para levar o paciente a pedir ajuda. Além disso, sabemos Que. muitas vezes. não existe nem mesmo um sin toma físico que justifique a consulta. O pacien te está .. apenas sentindo" e busca o profissional na esperança de ser escutado e de resolver seu problema. Em muitos casos, o sin11.oma é "inventado" ou serve apenas de pretex-
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to para a marcação da consulta. O paciente começa a se queixar desse s intoma. mas. se encont1rar um médico cap~ de esoutá-lo e de perceber ~us sentimentos, vai passar rapidamente ao p~oblema que 0 preocupa e que é a verdade!r~ raz~o que o ~evou a buscar ajuda. Caso contrario. va11 embora msatisfeito, continuando a procurar, d~ porta em porta. um profissional que. enfim, se1a capaz de compreendê~lo. A express~o d-:>s 5:2•.11-:-.o:::r.u .. :>
Como já toi visto neste capítulo. po~cas são as pessoas que sabem expressar seus sentimentos de 1maneira direta. Essas inciuem, em seus relato~, não só os fatos. mas os sentimentos que expenmentam diante desses fatos. A mcaior parte d~s pessoas se expressa de maneira indi reta. atraves d e seus relatos vei-bais ou através de seu corpo. Muitas vezes. o ajudado nem mesmo sabe o que está sentindo. Ou sabe e não quer admitir para si mesmo. pois o reconhecimento daquilo que sente vai levá-lo a sofrer ou a considerar-se um fraco. E. é claro, quando seus sentimentos não são a~r:iitidos nem para si mesmo. não podem ser adm1t1dos e 1nuito menos expressos ao ajudador. Prepara!~do .::) aj!..!·:iado n~,..e ;de·1t r· -ar ~;::l .;5 s'!;,,t:i
rr.er.tos E im_g9_r1a.nJ!Lqu~c!!Qr:. seia __ capa_z--não
só de · detec;;tar_ ess.es_sentiroeotos-"-~s. taf!l~~-m d~ ciiscrimina.r o momento ex_ac:Q __ d?_ çorn_!Jn_!..~-•gs_ ao ájudado. Este pode não esta< pronto a1'!da para escutar suas próprias verdades. Ouand~ isso oco_rre, são as respostas de conteúdo que vao comun~ca• compreensão ao ajudado, sem que este se sm2a ameaçado. Essas re~ostj:l~ .facilit§lri) _ê_C()~tri~çao de um relacionaroelíltO . firme e oons1.st~nte enue os dois de ta l modo que. mais tarde. o a1u'.dador pos-sa o~municar sua percepção Êí)tegral ao a1udado.
A lém das respostas de conteúdo. há um ou~ro aspecto que deve ser Lev~do e~ co~ta: à. n:ied1da que é construída a relaçao ~e a1uda . _h'.:3 vanos n~veis de sentimentos. do mais superf1c1al ao mais profundo. e esses níveis podem ser apresentados
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pouco a pouco ao ajudado, dependendo de sua prontidão para aceitá-los. E. como se houvesse "camadas de sentimentos". uns por baixo dos outros. Por exemplo, o a judador pode aprofundar os níve is de sentimento com um ajudado diante da poss ibi lidade de abandono por par~e do paroeiro. da seguinte maneira: "Você está se sentindo incomodado -+ irritado -+ enciumado -+ ameaçado". E. como se o ajuda.dor levasse o ajudado a contactar sua própria experiência de maneira cuidadosa, preparando-o para ver. cada vez mais. a seu próprio respeito.
Quando o ajuda.dor percebe que o ajudado es-tá pronto para ºenêOntrãr-secom seus sent ime!}tõs. 'Seja em que n ível for. oomeça à responder .~ ~sses sentimentos.. Em resumo. responder ao sentimento se refere à habilidade de c:aptar o que o ajudado es-tá sentindo a cada momento e comunicar isso a ele_ Novamente aqui a palavra-chave é comunicação. De na?a ad ianta _o ajuda_dor compreen_der uma~...!~t<...co1sas a respeito do a1udad0: e pre_(_?1so q~~a1b"! a:.;...,.,'".:>-'~ que o ajudador o compreende. A inda que não ~,. e:Xlstam"soluções mágicâs a -serem oferecidas, já vi- '>..;1
mos a imponância de o ajudado podei' expressar-se livremente e entrar em contato consigp mesmo. Quando o ajudador responde a seu sentimento, está tàcilitândo esse contato. - - ·- - - - --- Para responder oom o máximo de precisão posslvel . há al.guns passos que o ajudador deve seguir a fi m de desenvolver e exercitar essa habilidade: 1. Identif icar a categoria do sentimento. 2. ldentificar a intensidade do sentimento. 3. Escolher a ··palavra-sen"timento'' apropriada. 4. Responder ao ajudado usando o formato :
"Você está se sentindo. . . " Já vimos anteriormente como as habilidades
interpessoais se tornam pré-requisitos umas para outras. _AQ resQO_!l_tj_e_i:. __ <? . _ajuda.dqr continua atendendo fisicamente ao ajudaao. Por outro lado, seus olhos (.observar) e · seus ouvidos (escutar) são as
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duas- foot~s básicas que lhe permitem captar o sentimen to do ajudado_ Observando todas as suas rnensagenS - não-verbais e escutando a música e a letra de seu relato verbal, ele vai aumentar a chanoe de sintonizar com o ajudado_ A música aqui é fundamental: uma mesma frase pode refletir os mais diferentes sentimentos. até mesmo c ontrários. dependendo da entonação que a acompanha.
Quanto à cat'egorfa do sentimento, sua identificação pode ser útil quando o ajudador está tend o d ificuldade em perceber o que o ajudado está realmente sentindo, ou quando está começando a se treinar nesse tipo de habi l i d ade. A categoria se refere a uma classificação geral dos sentimentos. Para efeitos didáticos. foram determinadas cinco categorias : alegria. tristeza, raiva, medo, confusão_ Qua~ 9 _aju~ador. ao observar e ~:;ou~c.o ajudado!. fica em dúvida quantQ ao que este es.tá sentindo. pode. pelo mênos, tentar identificar a natureza de seu sentimento : "Será rairva o que ele est:'.I sentindo? Ou serrá medo? Ou ele parece triste?" A d ivisão em categorias. no entanto. não signi·fica que todos os sentimentos sejam sem pre enquadrados em algum a delas_ Há alguns que não se encaixam em nenhurna ou, às vezes, se encaixam em mois de uma. "Ansioso". por exemplo. pode ser um sentimento l igado a medo, confusão o u raiva. Por outro lado. "culpado" pode não estar enquadrado em nenhuma categoria. Çorno já toi _dito ... _a di~isão é sl!!'plesmente didática . ..-- :-.D~pi_s _de escolher uma catego_ria mais provável, o ajudador pode se perguntar com que intensidade o ajudado está experimentando o sentimento_ E ste é muito forte. fraco ou mode<ado? A intensidade com que ele se expressa. corporal e verbalmente. vai lhe dizer a intensidade com que ele está sentindo.
Q u ando o ajudador identifica uma categoria e u ma Intensidade mais prováveis, pode escol,her a "palavra-sentimento" - aquela palavra, em geral um adjetivo, que mais se encaixa ao que a pessoa está sen t indo no momento. Se a categoria é tristeza. por exemplo. e a intensidade é fone. uma boa
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palavra para descrever o sentimento pode ser_ "arrasado"_ Numa mesma categoria há várias palavras que expressam intensidades diferentes d omesmo sen timen to. Quando a categoria é ra iva, posso estar enfurecido. aborrecido ou apenas irritado_
No geral. as pessoas têm um pobre e limitado vocabu lário dêpâlavras-sentimento. Mesmo que te~ nham aprendido muitas dessas palavras. "têm 1pouco hábito de usá-las no dia-a-dia, exatamente pela dificuldade em reconhecer e exprnssar sentimentos. Podem estar sentindo ou vendo alguém sentir , mas não conseguem expressar esse sentimento atr avés de uma palavra adequada. Esse vocabulário pode ser desenvolvido_ Basta que o ajudador se p roponha a escrever. num papel. todas as palavras-sentimen to de que se lembrar. em cada categoria e com - 1intensidades forte. fraca. moderada. Na categoria de confusão, por exemplo, vão aparecer palavras como indecisa. incerta. perdida. confusa. "barauinada". dividida, desorientada. 1etc. Ao final de algum tempo, o ajudador vai descobrir que seu vocabulário se enriqueceu com palavras que estavam registradas. em sua memória e das quais não se lembrava de início.
Um ase~!.9 impor_!~-n~_aQ_escQli]e< a palavr-asentimento, é verificar sua adequação ao ajudado específico que o ajudador tem à sua frente. Deve-se levar em conta sua idade. seu nível social, estilo de v ida. sua procedência. E o caso da gíria. que pode captar. oom exatidão. o sentimento de uma pessoa mais jovem ("bodeado'; por exemplo). mas pode ser in íntelegível ou mesmo ofensiva a uma pessoa que não a usa no seu dia-a -dia. Por outro lado. uma palavra como "estupefacto" pode ser entendida por pessoas com um certo nível acadêmico. m as não ser compreendida por outras que não tiveram a chance de estudar. Os regionalismos também devem ser levados em conta na interação verbal com o ajudado_ Dependendo da região de onde ele procede. a terminologia para descr-ever determinados eventos é específica e diferente daquela usada pelo ajudador. Como i lustração. podemos lemb:rar o caso de um paciente proveniente da zona rural in-
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11:ernado num hospital de c idade grande. Foi necessária uma boa dose de paciência por parte de seus ajudadores. alunos do curso de Medicina. até que pudessem compreender a que ele~ referia quando dizia estar acometido de "pé l igeiro". Depois de várias tentativas de compreensão, conseguiram d escobrir que "pé ligeiro" se referia a desarranjo intestinal ou diarréia.
Há ainda uma outra estratégia que facilita ao ajudador a escolha da melhor palavra. Observando e escutando o outro. ele pode se perguntar: "Se eu fosse essa pessoa, vivendo o que ela está vivendo e relatando a vivência da maneira como relata. como me sentiria?". A resposta a essa pergunta pode levá-to a encontrnr uma palavra de sentimento pelo menos próxima do que o ajudado está experimentando tresposta empática).
Como último passo, o ajudador pode responder ao ajudado usando um formato que facilita sua comunicação: "Vooo está se sentindo. . . " obriga o ajudador a usar realmente uma palavrasentimento. que acompanha o pronome reflex ivo se . No início do treinamento, existe o risco de o ajudador acabar dando uma resposta de conteúdo ("Você está sentindo que . .... ) quando queria dar uma resposta de sentimento.
E. importante r-eafirmar aqui que esses passos apenas facilitam o desenvolvimento da habil idad e numa fase de tireinamento. Via de regra, captar e reSQQnder ao sentimento do outro é uma h-ªbilid~: de que brota natura!m.ente.._do J:1iudador depois de ãtgumâ_ p rática. como brotam todas as ~tras- ha.bilidades de ajuda.
r Algumas vezes, temos a tendência de cuidar " ))>~ mais do ajudado quando este vive m-omentos d.ifí• f · t_çeis. Preocupados com seu bem--estar e: às vezes. ~ ansiosos por vê-lo superar uma crise. damos aten-')- ção integrnl a seus sentimentos desagradáveis. ten
tando compreendê-lo e comunicando-lhe nossa percepção da melhor maneira possível.
No entanto.~ Q.Qro LembraLa-extr.ema impor·
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tância qu~ têm. as_mornentos de alegria_ e esperança _em seu processo de c·rescimento. E nesses momentos Q~e ele está descobrindo soluções e alternativas de açao para mudar nu ma direção melhor. E quando está descobrindo seus pontos fortes. E essencial que o ajudador responda a essa situação com o mesmo cuidado com que responde à crise. A isso chamam?s d~ usa~ a força do ajudado para "puxálo para cima • ao rnvés de apenas enfatizarmos seus pontos fracos.. _§ _tão ií!}Qorjg_ole para o..-ªiudaÇo po~~r ~ompar_tilhar a dor e o desespero ~uanto a ale-
_gna e a esperança. O ajudador P.fetivo está a seu lado em ambos os momentos.
. Retomando as falas dos ajudados da seção anterior. vamos formular respostas de Sefltimento a cada um deles: 1. Ana
F~nal da fal~ : " . .. Preciso muito do emprego, nao posso ficar sem ganhar. mas também não quero me re-lacionar com ele. afinal tenhv meu noivo, a quem amo demais. estamos até pensando e~ nos casar no .ano que vem . .. Realmente, não ser o que devo fazer ... " Resposta de sentimento : "Você está se sentindo desorientada". ou
"Vore está se sentindo ameaçada ... 2. Lúcia
Final da fala : "Abortei com três meses, e agora o S?nho acabou. Não se~ como vou fazer parn continuar vivendo .....
Resposta de sentimento : "Você está se sentindo desesperada··-, ou "Vooo está se sentindo arrasada".
3. Paulo Final da fala: "Agora ela vememedizquevai em~ra, ,que não me ama mais. As vezes. penso que isso e demai s para mim. tenho medo de não agüentar . .. "
Resposta de sentimento: "Você está se sentindo angustiado ... ou "Vooo ·está se sent~ndo sufocado".
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Respondendo ao sentimento
"eara que . ·- - ~. SEt l"espoodo #ao sentfmento do ajudado. ele.~ãi se sentir cbmpreendido -e: ao ~mo """têrhpo.~iam-1:rar em có.._nta 11:0 corilsigo me5mo.
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" Meus sentimentos são como minha impressão digital,. co.mo a cor dos meus olhos e o tom de mi'nha' voz : únicos e irrepetfveis. Para você me conhecer,. é preciso que conheça meus sentimentos.
Minhas emoções são a chave para a minha pessoa. Quando lhe dou essa chave,. v:ocê pode entrar e compartilhar com,igo o que tenho de mais precioso para lhe oferecer: eu mesmo".
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RESPONDENDO AO SENTIMENTO E CONTEÚDO
- / Resp . ao sent. e conteúdo /
Z Responde<ndo "'° sen-cinrwtnto 7 ' L Respondendo ao conteódo 7
/ Escutando 7 ~/-=====~~~
t;=L=====:=Ob5=ervai=ndo~7 / Atendendo f~icamente 7 •
tt/'===========A=oo==lh=e=n=d=o=· ====~;:::> ( Prepairando 0 ambiente f1saoo (f?
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. -, .. -Responder a sentimento e conteúdo é o soma
tório das duas habilidades anteriores. Quando o ajudador responde a sentimento e conteúdol comunica_ que comprêende, ao mesmo tempo: como o ajüdado está se sentindo e por que ele esta se sentindo assi111. Através dessa respostâ, o ajudaáor càpta a razão para o sentimento do ajudado, que é exatamente o conteúdo de sua fala.
Se a finalidade da resposta é comunicar a compreensão total da experiência do ajudado, nem a resposta de sentimento, nem a de conteúdo, isoladamente, são suficientes para se fazer essa comunicação. ~ss!_rn co_rrio não exi~ cpriteúdo d~provi do de sentimento. não existe também sentimento sem. u ma razão de ser~ A resposta de sentimento e conteúdo é, portanto. a mais completa em termos da comp reensão do ajudado. ~ através dela que se faz a ligação entre o mundo interno do ajudado (seus sentimentos~ e o mundo externo em que ele vive (as pessoas. fatos ,e situações que desencadeiam seus sentimentos).
Estabelecendo uma ligação entre o princípio do ABC. de Ellis, e a resposta de sentimento e cont~údo, vamos verificar que os sentimentos do ajudado const ituem C - a conseqüência a nível emocional - e o conteúdo constitui A - o acontecimento que desencadeia a conseqüência. Mais tarde. na habilidade de personalizar. será incluído o elemento B - o sistema de crenças do ajudado.
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Uma outra denominação usada para esse t ipo de resposta é o que chamamos de resposta intercambi ável - aquela que é formulada no mesmo nível em que o ajudado está se expressand o, nem mais, nem menos. Além da resposta intercambiá111el . o ajudador pode oferecer respostas aditivas - aquelas em que ele acrescenta alguma coisa além daqui lo que foi expresso pelo ajudado. Essas respustas serão abordadas a partir do personalizar. que é considerada uma habilidade iniciativa. diferente das habilidades vistas até agora, que são respons ivas. Há
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t:ambém as respostas subtrativas - 1essas. porém. não caracter-izam o ajudado.- efetivo. Como o próDri9_ nome ir:id jça. ~º- resp.ostas_que subtraem~alguma ooisa à experiência do ajudado, ou seja. Que oortam sua fala e o impedem de continuar em sua aut:o-exploração.
Talvez pudésseirnos i lustrar isso melhor. usando uma classificação mais simples para os vários ti pos de resposta que as pessioas dão umas às outras:
Examinando a r1elação entre algumas dimensoes do ajudador e as respostas de sentimento e conteúdo, poderíamos classificar as interações do dia-a-dia em três categorias.. Essa dassificação seria feita de acordo com a presença ou ausência dessas dimensões em cada interação. Se prestarmos aten· ção às re~ost:as que as pessoas dão umas às outras. vamos verificar que se enquadram em alguma das categorias ou se aproximam delas. As mais comuns seriam as respostas do tipo simpática e antipática, e a menos comum. provavelmente. seria a empática ..
Resp,osta Slmpá~ica - ~ess~a-que rewo:ncle pc_ooura :;;ei:_ag:radá_y~I a QL1emJãlã; mas desfocaliza i11tei@men te a experiência1 .d:Q_Qutro; é como se ela se sentisse embaraçada diante do irelato da outra pessoa, tentando, através de sua resposta simpá1tica .• interromper esse re1ato, ou superficializá-lo. e passar para outro assunt.o. Seu efeito é cortar quem está falando.
Resposta Antipática - essa também le.v_a_a_pessoa ª ÇQrtqr__u_ .. seu .. re..lato~ Il1ª5·.-é.. for~_u ladjl d'e _ IT)aneira des~mradável,.. No geral. tem uma conotação de críifoa à pessoa, tanto nas palavras quanto na entonação de voz e a deixa frequentemente "com um gosto ruim na boca··. arrependida por ter começado a falar . Resposta Empática - como já a definimos é a .úini~ .9~~ dá permis_são à ~<:'·- P._a_ra .se expr~r e . corntinuar seu re1lato; comunLca oompree111sao por. parte de quem a escuta. que tenta colocar-se no lugar do outro, como se pudes:se entrar debaixo
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de sua pele paira sentir o que ele está sentindo. Se retomarmos a fala de Paulo. o ajudado que
está prestes a desfazer seu segundo casamento. pode.íamos formular as respos1:as dos três t i pos diante de seu relato: Resposta simpática : "Não l iga não. Paulo, as mulheres são todas iguais • não vale a pena você esquentar a cabeça com elas. Logo você ajeita sua vida outra vez. mulher é o que não falta. Olha. vamos sentar al i e tomar uma cerveja geladii nha. que isso logo passa. . . " Resposta antipática : "Bem f ,eito. isso é que dá faz,er bobagem duas vezes na vida. Já não chegou o primeiro casamenil:O, não serviu de lição. tem mais é que sofrer as conseqüências .agora. Vê lá se não vai cair num terceiro. hein .....
Resposta empát.ica: "lmag,ino como você deve estar se sentindo. Paulo, angustiado e sem saber o que fazer diante da possibilidade de desfazer seu segundo casamento".
Ao conjunto de respostas intercambiáveis que o ajudador oferece ao ajudado chamamos de base intercambiável. E essa base. no relacionamento en_tre -~s 0_01~~~-..@~mn•r~a.Q...ajy_dador p.ii§sarE?.a ra hab ilidades iD.iciaitivas~ --q1,.1an_dp~ o_ a~.f_Jad'o _ _:S}l!.~l!zar que -está pronto para ilsso. -· É como se a base intercambiável fosse o ingr-esso para o ajudador passar a níveis mais profundo5 em seu relacionamento oom o aíudado. quando vai poder acrescentar a sua própria percepção à compreensão que comunica ao ajudado {respostas ad it iv.as~.
Nã.o há um tempo pré-estabeleoido para a construção dessa base na relaçãO de ajuda. Pode levar de alg,uns m inutos até meses ou anos. Tudo vai degender ..da.RCQ'1tjd_?-q _çlo _aju.dstQ9~ d~ temp_q total de que os dois dispõem para construir sua relac;ã"o. Numa consulta médica de cinqüenta m inutos. essa base pode ocupar vinte a trinta minuto5 do tempo total. Num processo de terapia mais pro~
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longado, pode Levar algumas semanas ou .meses. E num ponto de ônibus, apenas algun s minutos._ :--'-... ~ ··- .. ...:: : -:.., > • t , i ·~-! .... :1 ;- :;» c:;-... -~t: ~ ....
1. ldent;ficar o sentimento. 2. 1 dentificar a razão para o sentimento . . 3. Responder usando o forrriat9:
"Você está se sentindo ... porque ..... ::rambém aqui os passos sã.o sugeridos apenas
para efeito de treinamento. O formato. Que aiuda a identificação tanto do sentimento quanto do con· teúido. pode ser trocado por qualquer outro que inclua os dois elementos: "Di<tnte de ... você se sente; quando ... acontece. você se sente ... ; você se sente. . . to~a veL que. . . " .
Dizemos que o reste_da-r-esposta--do ajuda.dor se taiz· atia'Lés..da repção do ajudad9. Se a ~esposta ..,funciona" para o ajudado. elecvai continu a.- .-elatando suas vivências. em níve•s cada vez mais profundos. i= como se cada resposta fosse um convite à sua expressão. é como se cada resposta "desse corda" ao ajudado, em analogia com bf-inquedos que ·con linuam a se movi mentar-~cada vez que a c ri-ançà lhes "dá ·co.-da". ·
Q~.9.ç_>~ajy_dad.2 .!~~sa~ a resl2_osta ou_ i'2 terrompe seu .-elato~ e sin~I d~ gue o ajutjador nao o ~compreendeu ou .não co~seg'uiu/comunicar sua compreensão através da resposta e deve continuar tentando até aoerrnr. L.
. O "erro .. na resposta de sentimento e conteúdo funciona como na resposta de conteúdo: não exisle. no sentido de que o ajudador semp.-e rice.-ta pelo simples fato de esta.- empenhado em comp.-eende.- e ajudar.
Se o se11timen10 capl.ado e comunic ado pe lo ajudador não c orresponde ao que o ajudado está sentindo, este mesmo se encarrega de corrigir ou de relatar melhor o Que está vivendo. Muitas vezes, é nessa hora de "corrnção" que ele descobre seu 1 2~
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ve.-dadeiro sentimento, até então desconhecido. Além disso, só o empenho do ajudador em ace.-ta r já o faz sentir-se amparado e valorizado como pessoa.
Uma boa analogia para a s tentativas do ajudador é o atvo usado no treinamento de tiro.
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fa respostas podem guarda.- d istâncías variáveis d Q alyo., o u do verãáãêirÔ sentimento e contetJdo do ajudado. A cada tentativa . o "tiro" pode ficar mais próximo, até que uma determinada resposta atinja realmente o centro do X : o alvo ou o miolo de suz fala.
Por último, é importante lembrar aqui o cuidado com Que.. o aju-dador dêve fo.-mular· suas respostas. Essas nunca devem ter a conotação de afirmações taxativas sobre aquilo que o ajudado está vivendo. 1 niciar as respostas com "Parece-me que; Ouem sabe você está se _sentjndo: Talvez isso faça você sentir; Não sei se é isso mesmo, mas percebo que você se sente, etc." transmite uma atitude fundamental do ajudador: a consciência de que o único dono de sua verdade é o próp.-io ajudado; que ele, o ajudador. está tentando apenas facil itar a compreensão do ajudado em relação a si mesmo: Se ele confirma sua resposta, isso significa que o a1udador captou sua expef"iêncía; caso contrário, nada lhe resta senão fazer novas tentativas até encontrar a resposta acertada. Isso em nada prejudica a relação entre os dois; pelo contrário, reflete apenas a postura de humildade do ajudador. que reco~ nhece que a verdade pertence a seu próprio dono -o ajudado.
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"A pessoa inteira é aquela que estabelece um contato significativo e profundo com o m u ndo .à
sua volta. Ela não só escut,a a·si mesma, como também às vozes de seu mundo.
A extensão de sua própria experiência é infinitamente multiplicada pela empatia que sente em relação aos outros. E la sofre com os infelizes .e se .alegra com os bem-aventurados. Ela nasce a
cada primavera e sente o impacto dos mis.térios da rdda: o nascimento, o crescimento, o a.1nor, o
sofrimento, a morte. Seu coração bate com os enamorados, e ela
conhece a alegria .que está com eles. Ela conhece também o desespero, a solidão dos que sofrem sem
alívio; e os sinos, quando tocam, ressoam de maneira .singular para ela."
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RESPONDENDO COM IMAGENS
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Muitas vezes. à medida que escuto uma pessoa. ocor re-me uma imagem que capta. de maneira simbólica. sua experiência. ~S§sLí.fr!agefll_seria como uma representação ériada pelo pensamento dãqu1lo q ue a peSS9a rel~ta es~r_vívênd~-9~~fltir:iél~: · - -
N em sempre. apenas refletir o oonteúdo ou encontrar uma palavrn-sentimento é suficiente para cap ta r inteiramente a experiência do ajudado. A imagem que brota espontaneamente no ajudador enq uanto escuta o outro tem. às vez1es. um poder muito maior de comunicar compreensão do que as respostas de conteúdo e sentimento.
É por brotar com tanta respontaneidade q u e' a imagem reflete um alto grau de empatia por parte do ajudador: é como s e. de repente. ele captasse. visual e viscer,almente. todo o relato do ajudado. corri uma empatia total. Visceralmente. porque a i m agem nasce dentro de _s,y:as_pIDpi:.~í_~_s. d e maneira inesperada e como resu l tado de uma s intonização perfeita com o ajudado.
C ompr1eendendo com tanta clareza a vivêrncia do outro e comunicando a ele essa compreensão. o ajudador faci li ta ao aj udado o 1entendimento do que se passa com ele. °"~tr9Y.és d_ajcnag_em •. am'bos.:vi suail izam com enorm~ _nitidez. aqui lo que-o ajudado esiá v ivendo- e -relá tândo. As vezes. responder com 'imagem é a manei ra mais efetiva de levá-lo a 1en t rar em contato profundo com a própria pessoa. /
Relacionando resse t ipo de resposta ã dimensão de concreticidade. poderíamos dizer que a imagem torna ooncireta uma exper iência até então indefinida, que o ajudado tem dificuldadle de· visu a l izar para ele mesmo.
Por outro lad o. nos momentos em que a imagem se, refere a a lgu ma ação que o ajudado pretende iniciar. é como se ele. através da imagem. "ensaiasse" essa ação. E quando e le consegue· visual izar-se fazendo alguma coisa num futuro próx imo. mas para a qual não est á pronto a inda. Nesse caso. a imagem o aiu.cia.a_aoJ~cipar ~ª ac;ãü p~lo m enos na imagina~o. dando-lhe .. infÕrmações sobre como va i séSerítir ao executá-la.
Também nos momentos em que o ajudado co-
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meça a relatar mudanças em sua vida. pequenas mas ao mesmo t empo significativas. o ajudador pode enfatizar seu processo usando uma resposta de imagem (semelhante ao que vimos 1110 tópico sobre responder a sentimentos positivos). Po' exemplo: Beatriz : "Nas primeiras vezes em que eu vim aqui, pênsei que jamais conseguiria esquecê-lo e ser feliz novamente. Só pensava em morrer. Mas ontem, quando me peguei rindo pela primeira vez em tanto tempo e satisfoita ao lado de outro homem. comecei a pensar que talve.z eu até possa refazer minha v ida afetiva ...
Resposta de imagem : "Que bom, Beatriz. é como se. pela primeira vez em mui Lo tempo. você começasse êl enxergar uma luz ao final do túnel!"
...AL,es..Qosta de i"1ª9.eJD-POde ser formul~..2_ara Q ajud(!do isQl9çlam.en~e. o.u .acompanhada_de.res,e.Õstas de sentimento. de conteúdo. ou de ambas. Os respectivos formatos seriam estes:
1. Resposta de imagem : ··~como se ... "
2. Resposta de imagem e conteúdo: "Quando ... (conteúdo). é como se ... "
3. Resposta de imagem e sentimento: "Você se sente ... como se ... "
4. Resposta de imagem, sentimento e conteúdo: "Diante de ...• você se sente. _ . como se. . ...
Vamos ilustrar usando falas de ajudados e formulando uma resposta de imagem para cada uma delas:
1. Pedro: "Ando muito em dúvida quanto ao curso que devo fazer. As veces, penso que o melhor ses-ia Medicina. Acho uma profissão bonita. e meu pai poderia ajudar~me, por ser médico. Mas o curso é muito pesado. e a vida de médico não é fáci l. Por outro lado. gosto também de Odontologia. acho que poderia ser um bom dentista. O curso é só de quatro anos. e eu poderia ter uma vida
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mais tranquila. depois de formado. Não sei mesmo o que fazer. é uma escolha d i fíci l para mim."
Ajudador: "E como se você estivesse numa encruzilhada. Ped..-o. Tem diante de você duas estradas e não sabe qual delas vai levá-lo ao melhor lugar. " (resposta de imagem)
2.João : "Cada vez que meus colegas me cnt1cam. fico péssimo. Me dá um mal-estar muito grande. tenho vontade de avançar neles. Também não gosto de brincadeiras. Tudo que as pessoas me dizem me incomoda muito, às vezes fico pensando, o dia in teiro. naquilo que alguém me falou. não consigo nem estudar".
Ajudador : "Você se sente 'fisgado' diante do que as pessoas lhe dizem. João. como se você fosse um peixe e as palavras fossem um anzol. que o fisgam quando você as ,escuta ... (resposta de imagem. sentimento e conteúdo).
3. Teresa : "E. engraçado. antes. eu vivia pensando em como eu ia me sentir livre ao me desquitar. Agora. consegui o que eu queria, meu marido assinou o desquite. mas não sei o que fazer com a liberdade que eu tanto queria".
Ajudador : "Quando você se vê sol te ira de novo. é como se você fosse um passarinho que. depois de muito tempo de prisão, vê a porta da gaiola aberta, mas não sabe para onde voar". (resposta de imagem e conteúdo)
4. Roberto: "E. uma situação que acontece sem o meu controle. Eu vejo as pessoas fazendo coisas erradas. ou que me desagradam, todos os dias. Não consigo falar às pessoas sobre o que me incomoda. Um dia. de repente. por causa de uma bobagem, eu estouro. e aí vai tudo por água abaixo".
Ajudador : "Você se sente oprimido como se fosse água fer-
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vendo dentro da chaleira e com a tampa fechada. Quando a ebulição é mui to grande. faz a tampa saltar e toda a água entorna da chaleira" fresp~ta de imagem e sentimento) .
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Respondendo com imagens -,. t -
O que é :
Captar a experiência do ajudado. através de uma r~ presentação simbólica. e transmiti-la a ele.
Para Que:
Se respondo com imagens ao ajudado. oomunicOlhe um alto grau de compreensãe, de modo a ele entrar em contato profundo oom sua próprj~-C.X.P,€-:'• riência e torná-la mais concreta.
Como :
J . Encontrar uma representação ~ncreta,i.:pa.ra º ""' relato do ajudado. - . '
_"·2. Transformá.~la em palavras. ;:;'.B .• Responder- usando o(s} fo rmatoCsJ :
nE-- como se. . . .. ..,,~ ::-Ovando. _ ., é como se . .. " ~ .. Você se sente . . . como se ... ..
.. Díante de .. . você se sente ... como se ... ··
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Livre, como um balão que sobe ao céu, sem dono.
Perdido, como um barc o en1 meio à tempestade, sem leme.
Tr iste, como um órfão em noi t:e de Natal~ sozinho.
Esperançoso, c orno um náufrago ~rn força s, avistando a ilha.
fmagem: numa só l i nha, em poucas palavras, a mágica de fazer entrar o mundo inteiro.
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C. F. M.
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RESPONDEN DO AO COMPORT AMENTO
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11 Respondendo com imagens (f? / Resp . ao .sen t . e conceúdo ~
t::::::I-========'(/ L Respondendo ao sentimenco (?
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Antes de concei tuarmos a habilidade de responder ao comportamento. vamos examinar as maneir as pelas quais o ajudado se expressa quando está diante do ajudado:-:
1. O ajudado se expressa co:rporat?~ecbal.nJ.ê.!l.!e . 2 .· O a~udado não se e x pressa verbalmente, apenas
corpor-almente. através do que chama·mos de ·~R.fil.9fto" - quase nao há movimento em seu corpo. Os únicos dados de que díspomos a seu respeito são a sua aparência (modo corn o está vestido. penteado e sua postura~ e sua expressão fisionômica_
3. O a~udado não se exp.-essa verbalmente, apenas cqrporalmente, através de um "silêncio movi· men tad o·· : e le pode chorar.. rir. ton::::e.- as mãos • mexer pe•nás.braços- e caõeÇã:- re$p_i.rar de maneira- Ófegante-:·su$pirar:· a•ndar de um lado para outrÕ. -às vezes até mesmo agredir o ajudador. São inúmeros sinaís. cada um oom um significado e uma mensagem diforrente.
Levand o isso em conta. podemos detenminar o que é responder ao comportamento ne~e contexto.
0 ._- :,. ~ res~._,r1cSP.r <--:"(" =..:o -- .. 1r-r-aí~~r;;o
Já d issemos. no tópico sobre a habil idade de ob:se.-var . que o ajudador pr-ecisa sabeir discr-iminar quando deve arquivar e quando deve confrontar o .ajudado. oferecendo-lhe os dados de suas observacões e/ou infe·rências. · Responder ao comporrtam~tcLé .a habil idade de oferece;.-· ao aj~dado esses dados e /ou ínferên-
_:-cTãs.- nos momentos em quê 1sS.o tõr benéfico p ara ele.
Quando o ajudado está se expressando verbal-. mente. o ajudador pode responder simultaneamen
te à sua expressão verba l e corporal . Se existe co~ r-ência entre as duas. o ajudador responde ao que está vendo e. com isso. apenas confi·rma o que está 1escutando. Por exemplo. "Você está me dízendo que as coisas melhoraram muito; e realmente pos-
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so ver que seus olhos estão b r ilhando e sua fisiono~ mia está alegre"_
Se os dados corporais não estão compatíveis com os dados verbais, e o ajudador acred ita que isso vai ser efet ivo para o ajudado 'e que seu relacionamen to já lhe dá esse dlir,eito, ele pode confrontálo com sua p ercepção: " Por um lado, .você me diz que está tudo m u ito bem , por outro, estou vendo você triste e abatido hoje". Como já vimos também no observar, cabe ao ajudado confirmar ou n egar essa inferência.
H á também alguns sinais do ajudado que não têm, no momento, qualquer ligação com o quP. ele está dizendo, mars que são dignos de nota e devem ser mencionados. porque podem ter um sign ificado importante. Por exemplo ... ta primeira vez. que o vejo com uma roupa vermelha; como você só usava cores escuras, estou pensando que talvez você tenha r,esolvido se enfeirar mais"_ Ou, "Você cortou o cabelo; será que isso faz pane da sua decisão em cuidar mais de seu corpo?"
J á dissemos da importância de "pu xarmos para cima" o ajudado. Quando o ajudador observa pequenas mudanças e comunica isso a ele. está lhe d izendo algo como "Você é importante para mim, estou muito ate•Ho à sua pessoa e valorizo cada mudança sua".
Até agarrai fa lamos d e responder ao comportamento quando há exprnssão verbal do ajudado. Há muitos momentos, no entanto, em que ele não se expressa dessa maneira; vamos. então, responder a seu oomportamento, respondendo a seu silêncio, "parado .. ou "movimencado". Aqui, vamos precisar. mais do qye nunca. de nossa habi lidade de o bservar - diante de seu silêncio. é a única habilidade a nosso alcance para captarmos suas mensagens.
1 - Quan do o si lêncio está ligado à sua relação c onsigo mesmo (ele não tem a intenção de usar o si lêncio p ara transmitir qualquer mensagem ao aju dador).
1. O ajudado não sabe o que dizer no primeis o con-
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tato_ Em se tratando de uma relação d e ajuda profissional, a pessoa q ue busca essa aju da pela primeira vez pode não saber o que se espera dela nesse contato. Ela não sabe se deve falar em primeiro lugar, se deve esperar q ue o ajudad o r fal e ou se d eve apenas r-esp onder a perguntas. Com (lledo de "errar", ela se cala, esperando que o ajudad or lhe diga o que fazer.
2. O ajudado está inteiram ente voltado para si mesmo. t quando e le n ão está interessado em interagir com o a judador ou com qualquer outra pessoa: está tão absorvido consigo mesmo. que se compona como se estivesse sozinho. Usando uma imagem. poderiamas dizer que ele está com "inversão do globo ocular", ou seja, seus olhos estão volt ados para seu interior, de tal modo q u e só enxerga a si mesmo e a ninguém mais.
3 . O aju dado está d eprimido. As vezes. no pico de sua crise, o ajudado está com o nível de energia tão baixo, que n ão tem força para coisa algu ma. nem mesmo para se expressar verbalmente.
4. O ajudado está confuso. Quando sua experiência está m uito con fusa, ele pode perder-se no meio dela, sem saber por onde oomeçar.
5. O ajudado está organizando seu pensament o. Algumas pessoas não querem falar de sua própria con fusão. Preferem organizar suas idéias p r imei ro, para depois expressá-las de maneira mais ordenada.
6. O ajudad o está sentindo com mui ta int ensid ade. Quando experimenta sentimentos muito intensos. o ajudado nem sempre encontra palavras p& ra traduzi-los. Prefere calar-se ou se expressar de outras maneiras (ctlorando, por exemplo).
7. O ajudado está com "ressaca de entrega". As vezes o ajudado coloca um limite para a própria entrega. Quando ele já se entiregou tanto quanto q ueria ou mais do que pretendia. prefere
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calar-se. &::: como se ele tivesse bebido muito e deixasse de b eber. dur-ante o período de "ressaca". De acordo com Powell .. _ . . Eu quero seguir a prescrição inteira. mas em pequenas doses. Eu quero a estória inteira. mas só posso ler um capítulo de cada vez . Não me sin to forte o bastan te. nem me amo o bastante p a.-a me defrontar com tudo de uma só vez."
11 - Quando o si lêncio está ligado à sua relação com o aj udador /sendo usado para lhe enviar mensagens especi f icas) .
1. O aiudado está com medo do ajudador. Quando a inda não se estabeleceu um clima de inteira con"fiança na relação. o ajudado pode ter medo da reação do ajudador d iance d e seu relato . Ou ele pode ter medo de o ajudador não manter sigilo absoluto. Quando ·esse medo é maior do que o desejo de fala.-, ele se cala.
2. O ajudado se sen te enve<gonhado diant1:e do ajudador. Uma das característica1S do a~udado é sua inaceitação quanto às coisas que está vivendo. Dessa inaoei tação. surge a vergonha de sua própria experiência e de sua pessoa. Temeroso de que o ajudador o julgue como ele mesmo está se julgando. o ajudado fica ansioso e embaraçado e não consegue relatar suas vivências.
3. O ajudado está com raiva do ajudador. N um certo momento da relação. o ajudado pode voltar-se contra o ajudador por várias razões. Nesse caso. ele u sa o silêncio como punição. ~a maneira de reieitar o ajudador e de dizer a ele que está magoado ou irritado. O ajudador não correspondeu a suas expectativas e agora é castigado por isso.
4. O ajudado está testando o ajudador. Faz pane do prooesso de ajuda. especialmente no m ício. uma fase em que o ajudado tes1a o ajudador para decidirr se pode ou não se entregar a ele. llm dos instrumentos de teste P?<1e s.er seu silênc io. A pergunta implícita é do tipo:
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1
"Você é capaz de me aceitar incondicionalmente;> Você vai querer me c.:nmpreender e se interessar po..- mim. mesmo que eu permaneça em silêncio?"
Para o ajudador que observa o t~mpo todo. não é difícil perceber quando o silêncio tem a ver com o próprio ajudado e quando tem a ver com a relação entre os dois. No primeiro caso. o ajudado não tem intenção de manter qualquer contato. e sua postura revela isso. No segundo. mesmo quando olha para outro lugar ou fica de costas. o ajudado mantém contatos visuais ..-ápidos e esporádicos para confer ir qual é o efeito que está causando no ajudadoc Se a tinahdade é incomodà-lo. ele quer checar o quanto está atingindo seu objetivo.
Se retomarmos aqui o princípio do ABC. vamos veriificar que o silêncio do ajudado tem significados d i ferentes para cada ajudador.
Para alguns. o silênc io pode soar como uma mensagem do tipo: "Não estou gostando de você. não quero compartilhar minhas coisas com você ... mesmo quando não é isso o que o ajudado está querendo transmit i r. E no caso d e ele querer transmitir exatamente isso. usando o silêncio para punir o ajudador. este pode sentir-se reieitado e cul pado. como se tivesse fracassado em suas funções. Su a tendência é quebrar o silêncio o mais rápido passivei para baixar sua ansiedade. Com isso. está perdendo a chance não apenas de respeitar o ajudado cerno também de trabalhar a relação ent re os d ois.
. :..._, . -.-:: 1 . F i cando em silênc io t ambém
Quando interpreta o si lêncio de maneira racional. o ajudador se torna capaz de suportá-lo. transmitindo ao ajudado mensagens de respeito e aceitacão. Isso va le especialmente para algumas das ·situações já descrilas ante..-iormente (quando o ajudado está voltado para si mesmo. está organizando suas idéias. está sentindo com muita intensidade. ou não quer entregar-se mais
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naquele momer.to}. Em algumas situ~ções, qualquer resp osta verbal pode soar como uma cobrança para que o ajudado fale. O melhor é esperar até que este lhe envie qualquer mensagem. verbal ou corporal, no sentido de rntomar a interação verbal entre os dois. Por outro lado. isso não quer dizer que o ajudador não possa. também. responder ao comportamento do ajudado em cada uma dessas situações. desde que o faça de maneira respeitosa. dando um tempo para o silêncio do outro antes de responder.
2. Respondendo ao comportamento Nas situações já descri1as. se o ajudador decide que o melhor é rest>onder ao ajudado. ele pode formular respostas do tipo: " Parece-me que você está precisando de ficar sozinho com você mesmo" ou "Você prefere colocar suas idéias em ordem primeiro e falar depois" ou "Esse sentimento é grande demais para ser expresso em palavras" ou .. Hoje você falou de coisas mui to pesadas e prefere não falar mais a esse respeito por agora". Diante das respostas. o ajudado decide continuar em si lêncio. ou retomai- sua expressão verbal.
Ouan lo às outras si tu ações. precisani !:ãer l• o· balhadas para facilitar o próprio crescimento d o ajudado. e por isso. o ajudador deve responder a cada uma delas: - No primeiro contato - "Você talvez não saiba o
que fazer e gostaria que eu lhe dissesse. Pois aqui quem dá a direção é você. Se quiser. pode dizer-me por que motivo me procurou. ou.pode começar de pnde achar melhor".
- Com o ajudado deprimido - " Parece-me que hoje você está triste e abatido".
- Com o ajudado con fuso - "Você me parece perdido dentro da sua experiência. Talvez possa m e dizer como é isso. para tentarmos organizar as coisas juntos".
Quando o ajudador perc ebe que o silêncio está ligado ã sua relação com o ajudado. deve usar a d imensão de imediaticidade - o que está aconte· cendo aqu,i e agora en1re os dois - e aproveitar 146
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a oportunidade para trabalhar a relação. Desse trabalho depende toda a continuidade do processo de ajuda e o próprio crescimento do ajudado. Também aqui, o ajudaaor deve responder a cada uma das situações: - O ajudado está com medo - "Você talvez esteja
receoso de me relatar o que está vivendo; é um medo de eu não ser capaz de aceitá-lo. ou. Quem sabe. um medo de eu não guardar isso só para - _, .. mim.
- O ajudado está envergonhado - "E difícil para você falar dessas coisas, parece-me que você se sente embaraçado; há um receio de eu me sentir embaraçado também?"
- O ajudado está com raiva - "Parece~me que você está aborrecido ou magoado comigo; será que foi por alguma coisa que eu fiz. ou falei com você? ..
- O ajudado está testando - "Talvez você esteja se perguntando se eu vou aoeitá- l o de qualquer jeito, mesmo ficando em silêncio assim".
O importante aqui é como vão ser formu lladas e~s respostas. Um tom interrogativo significa compreensão e aceitação por J.Jê:nl~ do ajudador e, ao mestno tempo, o reconhecimento de que só o ajudado sabe a verdade a seu respeito.
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Respondendo ao comportamento
O que é: Comunicar ao ajudado que suas mensagens não-verbais-foram captadas.
Para que : Se respondo ao componamernto do .ajücfudo ~ - ere póde àliviar sua tensão. de modo a facil itar
sua comu(licaç.ão verbal; ".)., - pôSSÜ avaliar, junto com eJe, algumaºinooerência
entre seu comportamento verbal e-oorp0<at. de modo a ele se conhecer melhor;
- po5SO avaliar nosso relacionamento.
Como: 1. Observar. 2. Iden tificar mensagens não-verbais. 3. Comunicar essas mensagens ao ajudado. de acor
do com o form ato:
"Estou percebendo você . .. ". ou "Você está1 me parecendo ... " No caso de incoerência: "Por um lado v<>d! me diz que . ..• por outro você me parece . . . "
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~'A realidade do outro não está naquilo que ele revela a você1 mas naquilo que ele não lhe pode revelar.
Portantol se você qu:;ser compreendê-lol escute não o que ele diz. rna.s o que ele não diz. n
Kalil Gibran
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A interação verbal entre as pessoas não se faz apenas através d e relatos e afirmativas. As perguntas servem também de meio de comunicação entre e las. As raz.ões que as levam a fazer perguntas são várias e é imp ortante sabermos que ninguém indaga n ada à -toa.
1 . Porque precisam da resposta. Em alguns casos ( t alvez a menor parte deles). as pessoas precisam apenas de uma informação objetiva . A resposta vai ajud á-l as a tomarem uma decisão ou a iniciarem alguma <li;ão. Por exemp lo : - .. Onde fica essa rua? " - _ .. A que horas passa o próximo ônibus? .. - .. Quanto c u sta?" São perguntas objet ivas. sem qualquer outra in~ tenção que não a de obter exatamente a resposta pedida. a não ser em situações esoeciais.
2. Porque querem mant,er contato com o outro. Muitas vezes. a resposta é o menos importante para quem indaga. A pessoa deseja apenas se aproximar do outro. conhecê-lo. ganhar afeto e compreensão. Nos contatos sociais. são f ormuladas algumas pergun tas-padr-ão do t ipo :
"Como é o seu nome?" - "'O que. você faz? " - "'Ond e você mora?" As respostas a essas pergunta s nem sempre sao muit o importantes para quem pergunta. Tenha o nome que tiver. mor-e onde m orar e seja qual for- a ativ idade profissional do ou tro. quem pergunta está apenas fazendo um convite para se relacionar. Algumas vezes a pessoa que indaga já tem alé rnesrno a resposta. Sua pergunta é apenas u m pretexto para se aproximar de quem responde.
3. Porque quer em e xpressar alguma coisa e não conseguem. Nesse caso. a pessoa quer- o contato descrito acima e algo mais além disso : comunicar alguma coisa que não consegue expre ssa r diretamente.
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Por exemplo. um diente peiíguntando ao dentista : - "Doutor. será que esse tratamento vai ficar
muito caro?"' Comunicação implícita na pergunta: - "Eu não tenho muito dinheiro e gostaria que
o senhor não cobrasse mui to caro de mim .. _ 4. Porque querem saber alguma outrn coisa e não
conseguem perguntar diretamente_ Também aqui há uma camuflagem. em que a pergun]a formulada esconde a vontade da pessoa de saber outra coisa. Por exemplo. a mulher perguntando ao marido: - "A que horas você saiu do serv1iço? .. Pergunta implícita: "V~ veio direto para casa. ou fez alguma outra ooisa antes de vir?" Às vezes. atrás de uma pergunta implícita. ex i ste outra ainda mais implícita:
"Você está se encontrando com outra mulher?" Não so existem uma ou mais perguntas implí
citas. como também existe uma comunicação escondida : "T cn ho rmu i to medo de você gostar de outra pessoa e não me querer mais"_
Como a pessoa tem medo ou vergonha de perguntar o que realmente quer saber. ou de comunicar o que realmente está sentindo. ela usa a pergunta p ara obter respostas às suas dúvidas e inseguranças.
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Já rnencionamos. no tópico sobre escutar. que a expressão verbal é formu lada em dois níveis_ No primeiro. temos uma mensagem explícita ou apar rente. que está contida na superfície das palavras que estão sendo ditas. E a esse nível que gera lmente escutamos e respondemos.. No segundo. temos uma mensagem implícita ou ~ubjacente. que é a verdadeira mensagem - é o que a pessoa realmen te está querendo nos dizer. A essa. raramente estamos atentos e por isso. não podemos responder a ela.
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As pessoas usam a mensagem aparente porque têm d ificuldade de comunicar direta e abertamente o que realmente estão sentindo.
Tudo isso vale para as p.erguntas. Por baixo de cada indagação, está escondida a verdadeira mensagem ou pedido da pessoa que pergunta. As palavras objetivas usadas na formu'lação da pergunta servem apenas de veía.i lo através do q ual a mensagem real é transmit ida à pessoa que escuta. A ela cabe desvendar essa mensagem.
N esse contexto. responder à pergunta é a habilidade cie : - perceber a mensagem su bj acen te a essa pergunta; - comunicar essa percepção ao outro; - responder. se necessár io. à pane objetiva da ques-
tão ( mensagem aparente). A identificação da m ensagem subjacente en
v olve a percepção de sentimentos e conteúdos que estão atrás da pergunta. Muitas vezes. quando o ajudador capta essa mensagem e comunica sua compreensão ao ajudado. este nem mesmo vai querer resposta à pergunta objetiva que formulou. Ele queria apenas compreensão. e não informação. Se. no entanto. essa informação objetiva for imponante também. ele vai voltar a ela. perguntando no vamente. Nesse momento. já tendo respondido a sent imento e/ou conteúdo. o ajudador fornece a informação pP.dida_
Quando o aiudador responde apenas à mensagem aparente. perd e. ao mesmo tempo. duas chances: a dle comunicar sua compreensão ao ajudado. dando-lhe espaço para se expressar diretamente, e a de facilitar sua exploração. levando-o a entrar em contato com sentimentos q u e. às vezes, nem ele mesmo conhece. ~ como se o ajudador "tirasse a roupa .. da pergunta para encontrar. junto com o ajudado. o "corpo" de sua mensagem_
N ovament e aqui vamos lembrar a importância de for mular respostas em 1om interrogat ivo_ Dessa maneira. n ossa postura d iante do ajudado con t inua ::.endo de humildade. diante da verdadP que é só dele.
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Vamos ilustirar- essa habilidade. respondendo às pe,.guntas de Elizabete e Carlos_
Elizabete : _ "Vore acha que a mulher. quando per-de a vir-gindade. tem mais dific~ldade em se casa:?"
Se o ajudador esta atento apenas a part e objetiva da questão. pode formular uma resposta do tipo: _ - "Não. Elizabete. acredito que um homem pode amar uma mulhe< e querer casar-se com ela mesmo se ela não for virgem".
Essa resposta pode resultar no corte da comunicação do ajudado_ Elizabete pode estar q':-'e.r~ndo comunicar. através da pergunta. um fato d1f1c1 I de ser relatado - a perda de sua própria virgindade -e seus sentimentos diante disso - pr-eocupação e medo de não se casar -
Se, por outro lado. o ajudadoir está atento à mensagem su bjacenme. pode responder de _modo a levar o ajudado a trazer ã tona seus verdadeiros sentimentos : - "Par,ece-me que a virgindade é um aspecto com o qual você tem se preocupado''. (conteúdo) - "t:: i,mportante para voc.ê que a mulher se c~se. ~ a ausêilcia da virgindade pode ser um empecilho . (ccnteúdo) - "Isso deixa vare preocupada?" (sentimento}
Outro aspeçto importante é a cautela com que 0 ajudador formula a resposta. Uma maneira m_uito direta ou muito rápida de abordar o verdadeiro problema pode assustar o ajudado e l~vá:lo a fechar-se. Por exemplo: "Você perdeu a v1 rgindade e está com medo de não se casar". pode ser uma maneira descuidada e desr-espeitosa d e confrontar o ajudado com o problema GUe é real, mas que ele não quer abrir para o ajudador nesse momento. Sua tarefa. nesse caso. é apenas oferecer condições pa~a que o ajudado seja capaz de colocar o seu própno problema. Carlos: - "Você acha que é normal uma pessoa ter ódio do seu próprio pai?"'
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Resposta à mensagem apar,ente: - "Claro. Carlos. se uma pessoa odeia o pai é porque tem razões para isso".
Respostas à mensagem subjacente: - "Parece-me que vore acha estranho ver uma pessoa com ódio do pai" _ {conteúdo) - "Vooo está preocupado com o tipo de sentimento Que as pessoas experimentam em relação a seus pais?" (sentimento e conteúdo)
Uma vez aberta a comunicação. tanto com El izabete como com Carlos. e depois de explorado o problema de cada um. o ajudador pode responder. de maneira objetiva. às perguntas, caso isso ainda seja importante para eles: - "Não. El izabete. não creio que a ausência da virgindade impeça a mulher de se casar". - "Aoh.o normal. Carlos, pois acredito que todos os sentimentos que brotam das pessoas são naturais e cêm uma raz.ão de ser".
E ... ,., q ... •: 5-.. L?2'·~:0 ,__;. ~~ 1 .... 1drl -
l _Quando não entendeu alguma coisa_ Se o ajudador não escutou bem. ou não compreendeu alguma coisa expressa pelo ajudado, deve pe,.guntar sobre a parte que perdeu_ Isso não significa desatenção. mas justamente o contrário: seu desejo de captar cada palavra do ajudado. de modo a compreendê-lo da m e lhor forma possível.
2_ Quando o ajudado quer, mas não consegue se expressar. Muitas vezes o ajudado está repleto de coisas para colocar. mas algo o impede - vergonha. medo de crit ica, falta de costume de falar a seu respeito. etc_ (ver .. respondendo ao comportamento"). Nesses momentos. uma pergunra (tanto quanto uma resposta ao compoirtamen 10) pode aliviar a tensão e facilitar a expressão do ajudado-
3. Quando o ojudado tem d if iculdade de explorar seus sentimentos_ A s vezes. o ajudado não consegu e det ectar seus próprios sentimentos_ N esse caso, as perguntas podem facilitar a tarefo. Por ex emplo. "Como é
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esse incômodo?" ou "De onc:!le vem sua ansiedade?" são perguntas que podem levá-lo a exp lorar melhor sua própria experiénC:a.
4 . Quando o ajudado se expreSSCt de maneira abs· trata. O ajudado. às vezes. se expressa através de divagações e abstrações. Lembrando a dimensão de concreticidade, o ajudador pode levá-lo a se tornar mais específico em suas colocações através de pergun tas- N o geral. falta ao a judado fazer ligações entre sentimentos e conteúdos. Por exemplo : "Como a ausência dele faz você se sentir?" o u " O que você exper i m enta quando pensa em recomeçar a trabalhar? " ou "O que faz você 1ícar tão preocupado?'·
Deixamos apenas um pequeno espaço para este último tópico p or acreditarm os que o ajudador e fetivo é capaz de c aptar as mensagens do ajudado sem que. para isso, tenha de fazer perguntas. a não ser nos casos d escritos acima. Vol ta:1do às habilida· des básicas. quanto melhor o a judador atende. observa e escuta. m enor é a necessid ade de per-guntar. Da mesma forma. são as respostas d o a judador. e não su as p erguntas. que comunicam uma verdadeira compreensão ao ajudado.
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Re~cnderrdo às perguntas
O que é : Responder. ao mésmo tempo, à mensagem súb)a
<aente e à mensagem ap~rente transmitida pelo aju_~dado.
Para que : Se ~espondo às pergun~ do ajudado. facilito-,lhe a comunicação de conteúdo impl ícito ,e c-.omunico-lhe compreensão. ·- "...... "'·
-COmo: · ,, '(' ~ -~~ lft"!. .. .. ..
1. ldentifi_car sentiment~ -ê/ou oonteúdo. -si:Jbja-centes a pergunta. .
2. ResJ)onder a sentimento e/ou conteúdo. 3. Responder à questão objetiva. se neoessário.
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'Seja paciente com as coisas não-resolvidas em seu coração ... ..
Tente amar as próprias questões . . .
Não procure agora as respostas que não podem ser dadas pois você não seria capaz de vivê-las.
E o mais importante, é viver tudo.
Viva as questões agora. Talvez você possa,. então,
pouco a pouco, sem mesmo perceber,
Conviver, algum dia distante, _ com as respostas. "
Rainer Maria Rilke
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RESPONDENDO COM OS PRÓPR IOS SENTIMENTOS
~-pendendo ao componamoenl"?'
/ R espondendo com i m,ageM 7 •
/ R.esp. ao sent. e ·conreúdo 7 ~ :s
/ 'filesporrode ru::IA:I .ao s'ent im.en·co (? / Responden.do ao conteúdo 7
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/ Escu tandlo ~
l==_, ===============~~ /,...---Obse-rv-ando--7~
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/ Atende ndo fisicamente 7 f
/ A colhendo (:! ri\
/ P repara n cfo ·o aimbiern e físico
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Há uma tendência anitiga de se ver o pap el d o ajudador como uma posição de superioridade na relação de ajuda. As vezes. é o p.-óprio ajudador que quer ser visto como o elemento superior da relação. e tanto suas mensagens verbais quanto corporais são nesse sentido. Out1ras ve·zes. é o ajudado que tende a se sentir inferior como pessoa diant e do ajuda dor.
A verdade é que não há n inguém melhor ou pior como pessoa na relação de .ajuda. O ajudadlor não é melhor. da mesma forma que o ajudado não é pior. O que existe é apenas uma diferença entre os repertórios dos dois. Isso quer dizer que o ajudador sabe faze·r coisas que o ajudado não sabe. e são essas coisas que este quer aprender - basicamente. hab ilidades de vida. Po:r sua vez, o ajudado também sabe fazer coisas que o ajudadar provavelmente não sabe. Esses repertórios estão l igados à atividade profissional de cada um. A diferença está. portanto. nesses repertórios e não na qualidade como pessoa.
Existem várias formas de se quebrar essa ima· gem de superioridade. Uma delas está1 na genuinidade do ajudador. Entre outras coisas. ser genuíno implica a habilidade de expressar os próprios sentimentos ao ajudado. Ouando e1e faz isso. coloca sua parte de pessoa em contato com a pessoa do ajudado. O relacionamento. então. não é entre dois papéis. mas ent.-e duas pessoas vivendo um encontro v,errdadeiro.
Já d issemos arntes que ninguém vive vazio de serntimentos. O ajudador experimenta uma série de sentimentos quando está diante do ajudado. Querendo ou não. esses sentimentos brotam e são ,expressos •. ainda que apenas corporalmente. Quando são muito intensos e o ajudadlor os expressa ve["bal mente, está ape n.as afi rm,a ndo oom pa 1 avras o que já transmit iu com o corpo; está sendo também coerente com suas atitudes d iante dele .. Quando o ajudado capta nossas mensa.gens corporais e nega-
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mos a ele o que estamos vivendo. é como se o estivéssemos convidando a nos negar também seus sen-timentos e suas vivências. .
Algumas vez.es. o ajudado pergunta ao a1_udador a respeito de sua vida pessoal. Vol~ando a habilidade de responder às perguntas. o a1udador pode começar respondendo à mensagei:i subi.acente. _ "Disseram-me que você tem sete filhos. e verda-
de?" - "Isto te deixa surpresso?" Exp•orando com o ajudado C<?mo esse event~ o ~faz sentir. o ajudador pode depots responder ob1et1va-mente à pergunta : _ "É verdade. sim. Como sou casado pela segunda vez. tenho quatro f i lhos do primeiro casaf'!'len~o. uma filha do segundo e dois filhos ~o primeiro casamento de minha mulher. que considero c<?mo se fossem meus também. A soma de todos da se-
te". - d -o relato de experiências pessoais, quan_ o tem a ver com as do ajudado ou qua~do questionadas pur ele. desmistifica a pessoa do a1udador e o aproxima do ajudado.
_i:.,_:v~ . .. "'.J
É importante que o ajudador sa iba c:Jiscriminar quais sentimentos devem ser c~m~n1cado~ e quando comunicá-los ao ajudado. Tao importante quanto ser coerente é ser cuidadoso con: ele._
Cuidado. aqui, se refere a duas snuaço:s : na primeira. o ajuda dor é_ cu idadoso_ quando nao ex_pressa os próprios sentimentos se 1~0 for destn~t1-vo para 0 ajudado. Por exemplo. !""orro _de raiva de você quando me conta como esta agredindo seu. marido" não vai facilitar em nada a abertu".3 do ajudado. f. preciso verificar ~né_ que f?Onto o a1uda· dor está misturando suas proprias coisas com as?º outro ( implicitamente. "E. essa a ra iva que eu sinto quando minha mulher me agr-ide"L Quando el~ sabe separar o que é seu d~ qu~ é do ou_tro. vai contro lar-se quanto à comunicasao de sent1~entos que possam destiruir sua relaçao com o ª!uda~o. Muito provavelmente. vai deixar de sentir raiva
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quando descobrir a fonte de seus sentimentos. Até que ele descubra essa fonte. o melhor é não expressá-los. especialmente quando está confuso. Na segunda situação. o ajudador é cuidadoso quando expressa sentimentos que vão comunicar interesse peilo- ajudado. Em alguns momentos. o ajudador pode dizer como se sente diante das vivências do ajudado. "Fico preocupado quando penso que você está vivendo uma situação 1tão pesada e que precisa suportá-la por mais algum temp o". "Estou triste por saber que o que você mais temia aconteceu".
Ainda que o ajudador n ão possa oferecer soluções mágicas. é reconfortante para o ajudado saber que alguém está a seu lado. sentindo junto com ele. com um grau profundo de empat ia. -
Há uma pergunta básica que o ajudador deve fazer a si mesmo antes de expressar seus sentimentos ao ajudado.
"Essa comunicação vai ser-lhe úti l ou não?" "Estou sendo construt1ivo ou destrut ivo?" "Estou sendo efetivo ou inefetivo?"
Só quando se responde a essas questões. é que o ajudador pode expressar-se tranquilamente.
~ imp ortante também q ue ele saiba as razões que o levam a expressar seus sentimentos ao ajudado.
Há duas razões que não deveriam levá-lo a esse tipo de comunicação: manipulação (q,uerer causar mudanças no ajudado)' e desabafo ~inverter os papéis na relação e usar os ouvidos do ajudado como se este fosse ajudador).
Por outro lado, há uma boa razão pela· qual o ajudador deve expressar-se ao ajudado : quando sua expressão é um convite para que o outro também se exp ..-esse. A auto-expressão íoi até mesmo transformada numa técnica de abertura por um psiquiatra amer icano. Segundo Goldbrunner. é possível ter-se acesso à parte mais profunda das pessoas em poucos ·minutos. Basta. para i!>So. que o ajudador comece abrindo-se ao ajudado. dizendo-lhe honesta e abertamente sobre seus próprios sentimentos.
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Também segundo Powell ". . . Se estou d isposto a expor minha pane mais pr-oifunda a outra pessoa, o resultado é quase sempre automático e imedia~ to: ela se sente autorizada a se revelar para mim. Ten do escutado meu segredo e meus mais profundos sentimentos. ela ganha cor~em para comunicar os seus. E. a isso. em ú ltima análise, que charmamos d e' enoontro"'.
Acima de tudo. há aq ui uma questão básica: n u ma rel~ão de aj uda, o ajudador é ante$ de mais nada um modelo para o aj udado. Isso se apl ica não só à expressão de sentimentos, mas a tudo o mais: M il palavras de u ma pes.so;1 não valem um .só de seu s atos.
Voltando à coerência. é importante sabermos que. numa re lação de ajuda - e aqui vale lembrarmos a relação professor-a:luno - a aprendiizag,em ooorre através daquilo que o ajudado nos vê 'fazendo, e não daquilo que ele nos ,escuta falando.
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Respo n dend o com os p róprios sentimentos V .. ' ... -·::.::.~ ...... - .... -_ ..... ::-~..:..-
O que é: · · Identificar meus p .róprios sentimentos d~anfe do aj~dado e expressá-los a -eie: -~ ·:F ~- ~ --.< -.~
..,.'$ ,.·.- • -~ ~'l .... ~ ..
..... . "'· ........ Para que: .~ .,... __ - -- . -
-- , Se expresso m~~~piê~-i ~ca~~nYn;~rí~~s- q~.~j\i,d,ado. ~.,, :_-rorno-me mais proxim~ 1.ê.~~1peuv.!_~q;p-~~pres-
--::- sar os seus_ .U-"e "'- (;r~~~-~f
c-. :t.~~ -~-; .. - ~ --3:~ -'".;~ t.\-~l. "
..: ,Como: - ... ~r!' .... - . -! 0 .. 1 ~ s-- .. :..~ ~~ ~ s ~~ t-_ JdentiJicar 1meús sêniínieni:,Q?. •) ::..-:··-• ::.. ~~-..... "()? ~4-. Expressã~lo~ãb~Jru'Qiãé,:a~ês·-cre;,'foffu"§t'b:'~
'! • ._ e "Eu me sinil:o_ . _ quando __ . porque_ ..
"'i~ .. ~~ . ,"".,1_\">';l '.;;:a..:,· _ u ra~ 111.e u~. _ .
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CONVITE
"?'ois fica decretado, a partir de hoje, que terapeuta é gente tainbém. Sofre e chora, aina e sente, e , às vezes, precisa falar.
O .olhar atento, o ouvido aberto escutando a tristeza do outro quando, às vezes, a tristeza maior está dentro do seu peito.
Quanto a mim, fico triste e fico alegre e sinto raiva também. Sou de carne e sou de osso e quero que você saiba isso de mim.
E agora, que já sabe que eu sou gente, quer falar de você p .ra mim?"
C.F.M ..
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PERSONALIZANDO
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Person.al i zando
~esp. com os próprios sentan.en«;f'
L Respondendo ás pe.-guntas '? ./Respondendo ao compommenf?
L Resporu:len.clo 00«n imagens. 7 ,;" Resp. ao sentimento e conteúdo(!>
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Respondendo ao sentimen10 (f> ,/ Respon~do ao conteúdo· ,/
L E~tando ~
sL=======Obse======rvan==dº ~7 L Atendendo fisicamente (?" L A Q>lhe"do 7 L .Pntpara ndo o ambiente físi<X> (f?
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(abrindo as portas da compreensão)
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' z A N D o
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Vamos rever as fases do processo de ajuda e localizar até onde caminhamos neste livf"O.
Orie nta A rend e -+ Responde -+ Personaliza -+ A j udador-+
.J, u i ~ .J, • ,li. ,,,,.
1 l Ajudado-+ Age Envolve -se-+ e >Cplora -": Cocnpreende ' -
Fase responsiva Fase inic iativa
Abordamos. até aqui. as chamadas habilidades responsivas - atender e responder - a t ravés das quais o ajudador responde ao ajudado no mesmo nível em que este está se expressando. sem Qual quer acréscimo_ Isso é verdade para a maior parte das habilidades incluídas no atender e responder_ Não é verdade. no entanto. para a,s três últimas. que já se caracterizam por um toque de iniciaciva por parte do ajudador - respond er ao comportamento. responder às pergum.as e responder com os próprios sentimen tos. _ . . _ .
Antes de enrr-armos na fase m1c1at1va propriamente dita. é bom que sejam enfatizados alguns pontos importantes relativos ao desenvolvimento do processo de ajuda ·
1 - As hab ilidades inclu ia as no atender e responder são as rnais importantes na relação de ajuda: são elas que vão estabelecer a base de todo o processo. 2 - Com freqüência
1 quando ,o ajudador atende e
responde rnuit o bem ao ajudado: não prf!C1sa de usar suas habilidades de personalizar e or1ent'ar.· o próprio ajudado personaliza sua experiência e c omeça a agir sem pedir orientação ao ajudador. 3 - Isso se torna poss1'vel quando as r espostas do ajudador são tão efeti vas que levam o ajudado a n(veis profundos d e c ompreensão quan to à su ares-ponsabilidade na própria vida. _ 4 - Quando o ajudad o_ não chega a perso na/Jzar para si mesmo. o ajudador pode fazê-lo~ desde q '!'! tenha adquirido esse d ireito ,através de suas hab1/1-dades de a tender e responder.
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T R ANSFORMANDO A V Í T IMA E M AGENTE
Chegamos fina lmente ao ponto culminante do processo de ajuda. seja personalizando para o ajudado. seja vendo-0 personalizar para si mesmo.
Esse é tambê-m o ponto culminante do processo de amadureci mento da pessoa. vivendo ou não uma relação de ajuda formal. Esse prooesso é arnálogo ao desenvolvimento da criança. Que amadurece gradativamente. Seu choro. por exemp 1lo. d iminui pouco a pouco com seu crescimento. à medida que aumenta seu repertório de habilidades diante da vida. Nos primeiros meses. o recém-nascido chora de fome e frio. E le não sabe suprir suas próprias necessidades. como não sabe pedir. de outra forma. aquilo de que necessita. Seu choro é proporcional à falta de respostas em seu repenório de vida. À medida que cresoe. a criança aprende primeiro a pedir . dep o is a fazer por si mesma. Alimentar-se e agasalhar-se deixam de ser problemas quando 1ela adquire o repertório que lhe possibi lita viver sem ajuda externa; não precisa mais chorar para ganhar. ela me5'na age para obter o que precisa.
O mesmo ocorre no processo de ajuda. Há um choro e um lamento do ajudado por não saber fazer. para si mesmo. alguma coisa necessária a uma vida satisfatória. Ele depende do ouiro para supri r suas necessidades. como o recém-nascido. A partir d o momento em que o ajudador o leva a identificarr o que está faltando. ele troca o choro pela es-
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perança - esperança de quem descobre que as soluções estao dentro de si mesmo e. por isso. podem ser alcançadas.
Assim também. q uando eu choiro é porque não estou sabendo fazer algur:na coisa por mim -não estou personalizando minha experiência. ou seja. não estou conseguindo identificar o meu papel dentro do meu própr io p roblema.
Personalizar, então. é identificar e assumir minha parcela de responsabi lidade d iante da s~tuação q ue estou vivendo. E tomar minha vida nas minhas próp rias m ãos. percebendo minha cont ribuição para os eventos que ocor rem à minha voha.
E. acima de tudo, abandonar o papel da víti· mó que passivamente se submete a condições de vida insalisfatórias e se transforma.- no agente da p róp,-ia m udança.
Assum indo a responsabilidade por r 1in ,os emo1,.ues
Segundo Powell. ninguém ,pode causar ou ser responsável por minhas emoções. A tendência para responsabilizar o outro pelo que sinto está claramente expressa na linguagem do dia-a-dia: "Vore me fez ficar com raiva, você me deixou ciumento. vooê me fez sofrer, etc." A verdade é que ninguém pode faz·er nada comigo. O outro apenas estimula as emoções que estão d entro de m im, esperando para virem à tona. A diferença entre causar e estimular emoções é crucial para o meu processo de au toconhecimento e para o meu relacionamento com o outro. Se acredi to que o outro é que cêlusa m inhas emoções, ou o acuso por isso, considero-o culpado pelo meu sofrimento e me afasto dele, ou torn o nossa convivência insup ortável. Se, por outro lado, admito que o outr o apenas estünula emoções que já estão latent es em m im, eu as reconheço e aproveito a oportu nidade para me tornar responsável por mim mesmo-e me conhecer um pouco mais. perguntando-me: "De onde vem o meu medo? Por que essa raiva tão gran de? Em que ponto vulnerável o outro me tocou?"
Quando acredito nisso. posso 1 ida,- com mi-
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n_h as emoções de maneira saudável; não preciso f ugir de mim mesmo, julgando e condenando os outros. Posso ficar. cada vez mais. em contato comigo mesmo.
. O import_ante é saber que cada emoção me diz _alguma co1~ .ª meu respeito Preciso aprender a '2.ªº responsabilizar outJras pessoas por minhas rnaç<;>es. acusan~o-as. ao invés de aprender alguma coisa sobre mim. As reações emocionais de vá r ias pessoa.s são diferentes por causa de algu ma coisa que está den!ro '!e cada uma delas. O máximo q ue posso fazer e estimular essas emoções. Da mesma mane_i ra, se qu~ro saber alguma coisa a meu próprio respe110, preciso escutar cuidadosamen te minhas e~?ções, s_em fazer das acusações 20 outro um ref ug1q_ de mim mesmo.
L .. .,c ~-•: ;-,
Já mencionamos antes a importância das habilidades básicas - atender e responder-. São elas que formam a base do personalizar no processo de aj1:1da, especialmente através das respostas intercambiáveis - aquelas que estão no mesmo nlvel em que o ajudado se expressa.
E le nos indica sua prontidão para iniciar essa fase quando se torna capaz de manter seu prôprio com~ortamento de auto-expiorac;ão. Pcdemos personalizar sua experiência quando ele mesmo se dá respostas intercambiáveis, ou seja, quando faz por si o que fazíamos por ele.
No início do processo. o ajudado fala, o tempo todo. a respeito de outras pessoas. Elas são. ge-rallmernte, :·culpadas .. ou responsáveis por seus. problemas. Ja sabemos que isso não é verdade. Essa postu ra de vitima reflete apenas a falta de autoconheci mento e a falta de habilidades para conduz ir a própria vida. Além do mais. dificilmente poderíamos mudar o comportamento de uma ou mais pessoas que estão forn da relação de ajuda. Nosso trabalho se faz diretamente com o ajudado. A medida que caminhamos c om ele em seu crescimento podemos levá-lo a as"St.Jmir a responsabilidade pel~ própria vida.
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AS FASES DO PERSONAL;IZAR
(ou t rocando pronomes}
Ao personalizar o con_teúdo. _nossa tarefa é dar respostas aditivas que mternallzam. cad a vez mais. os temas da Cala do ajudado. E~ses 1ema~. que a princípio são externos. tornam-se internos a med ida que acrescentamos alguma coisa além do niv~I em que o ajudado se exp ressa. É quand_~· '!epo1s de juntarmos as várias peças de sua experie~c1a. som os capazes de lhe oferecer nossa percepçao dessa experiência como um to d o; e de lhe oferecer. tam bém. nossa p ercepção de qual é a sua parcela d e contribuição ao seu problema._ _
As perguntas básicas_ aqu1_sao : _ , .. " Qual é o efeito da snuaçao sobre o a1udado . "Como suas vivências o afetam?" _ _ . se. na rase das respostas intercamb 1ave1s .• '?
formato era do tipo "Você s~ _sen:_e. - - porque. - -. agora há uma pequena mod1f1caçao. d~ gra.':'de significado: "Vocêse se,nte. _ . porque voce. - - A mudança do p ronome é o primeiro s inal de que .º conteúdo está sendo internalizado. Ouando o a1udado personali za para ele meS<no. aban?ana os pronomes na terceira pessoa ("Eu m e sinto. - - porq~ v~. __ .. e "Eu me sinto ...• porque :!e· e la. el~. · · ) e passa a usá-lo na p r imeira pessoa : Eu me sinto. - ·
_ porque eu. ··
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É por essa modificação que passam também a~ r-=-" postas do ajudador quando é ele que pcrsona liza P<)ra o ajudado_ De "Você se sente . . _ porque ele. ela. eles. etc .. _ ... o formato passa para .. Você se sente .. _ porque você.
Per-sonalizando a falta
O passo seguinte é levar o ajudado a identifi car a próor-ia falta. Aqui . "falta" não tem a conota ção de erro. mas de dé(ici t o u ausência. Esse passo se rerere à descoberta daquilo que o ajudad o não sabe. ou não consegue fazer-. e que o leva a seu pr-ob lema_
Aqui. n ner9unta básica é : .. Como o ajudado está contribuindo para seu
problema? .. ou
·:o Qu e lhe falta e que o leva a viver o seu problema'"
É esse o momento exato em que o aiudado assume inteira responsabi l idade pela própria v ida. E o momento em que "o mundo dei x a de ser mau·· para ser apenas o lugar em que ele mesmo se torna responsável por sua exper iência.
O formato aqui é do t ipo : .. Você se sente. _ . porque você não sabe
consegue é (;a paz de. _ ...
:: -;..Jo o obje t . • o
A últ ima fase do personalizar envolve a meta do ajudado. que é. no geral. inversa à faha.
A peTgunta aqui é a seguinte : "O que o ajudado pode fazer par-a resolver o
seu problema?" Se lhe falra alguma coisa. é preciso ident ificar
um objetivo que. q uando alcançado. o levará apreenoher a !acuna.
O formato inclui o sentimento. a falta e o obje1ivo "Você se sen te. __ porque você não sabe. __ e você gostari a de _ . _ (objetivo) ..
O objetivo é o úlrimo elemen to do processo. c u ja •denlificação vai possibi litar ao ajudado elabor-ar seu p rograma de ação. ou determinar a-d ireção d e sua mudança_ lt a m eita que lhe diz "onde ele
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quer ohegar". O como vai ser abordado no próximo capítulo.
Vamos ilustrar essa fase com o exemplo de um ajudado. Marta (fala inicial) :
"BefTI que me avisaram sobre a Ilusão da Universidade. A gente entra pensando que é um.a coisa. quando chega lá vê que é outra. O sistema em q ue vivemos é teuível. e a Universidade é seu r-eflexo. Não tem nem um professor que preste. São todos incompetentes. não sabem dar a matéria e depois exigem o que não deram. Desse jei to. acho que vou acabar saindo do curso sem saber nada".
Resposta intercambiável de sencimenlo e conteúdo: ''Você fica revoltada. Marta. porque a U n iversidade não é aquilo que você esperava".
Resposta personaliizada de conteúdo : "Você est á se sentindo frustrada porque você não está tendo o aproveitamento que gostaria com o curso".
Resposta personalizada de falta : "Vo~ fica insatisfeita. Marta. porque você n ao est á sabendo oomo aprender as coisas que precisa em condições de ensino tão desfavoráveis".
Resposta persor\al i zada de objetivo: "Vooê está preocupada. Marta, porque não está saibendo como aprende< em circunstâncias tão desfarvoráveis e você gost:aria de saber elaborar um programa de estudo real para você mesma ...
Naturalmente. esses exemplos são esqu:emáti1-cos e simplificados em relação à v i da real. apenas para ilustrar os níveis de personalização e os vários tipos de resPostas.
Numa interação real. as respostas personalizaidas nem sempr,e ooor..-em próximas uma das outras. Na maior parte das ve.zes. o aíuoodor vol ta às intercambiáveis entre as respostas personalizadas que for-mu la. Isso per-mite ao ajudado assimilar gradual mente a sua responsabilidade diante da situação em que vive. Apesar de saudável e indispensável a uma vida satisfatória. a personalização é um processo
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doloroso que deve ser conduzido com extremo cui dado pe,lo ajudado..-. Não há dúvida de que é mais confonáve.I. apesar de inefeti•Ja, a posição de tornar os outros responsáveis PBIO próprio sofrinnernto. Deixar de acusá-l os e assumir a responsabil idade pela própria vida é um processo gradual e lento. por causa da dor que provoca. A verdade a respeito de nós mesmos é certamente a que mais nos fere : por isso. deve ser-· "tomada em pequenas doses".
Tudo isso deve ser levado em conta pelo ajudador. especialmente nos momentos em que o ajudado nega suas respostas persona 1 izadas. Sua recusa em aceitá·lae> é o sina 1I de que efle não está pronto a inda para ver sua próp1ria verdade; é o silf'la l de que o ajudador se enganou. ~ensando que já era hora de· ajudá-lo a ver sua parcela. Isso em nada p rejudica o prooes5o. desd e que· o ajudador volte a níveis intercambiáveis de resposta. Isso significa apenas que esse p rocesso precisa caminhar num ritmo mais lento. que é o r i tmo do ajudado. Mais tarde. o ajudado..- faz novas tentativas. até que o ajudado esteja pronto para personal i zar sua experiência.
Um último ponto que gostaríamos de mencionar é como os sentimentos do ajudado se modif i cam à m edida Que se desenrola o pr-ocesso de personalização. Marta. por exemplo. sente-se revoltada a pr-incípio. depois frustr-ada e por fim insatisfeita consigo mesma. No início. os sentimentos são dirigidos para fora. em espec ial para as pessoas que convivem com o ajudado. Este cosruma experimen· tar ra iva. revolta. mágoa. ressentimento. desde que responsabiliza as outras pessoas por sua vida, e e1las raramente atendem a suas expectativas. Mais tarde. ele se volta par-a dentro de si mesmo e se sente preocupado. ameaçado. insatisfeito. E um m o v imento de fora para dentro - caracteriza a metamorfose da vítima. que se transforma em agente e muda a d ireção da própr ia v ida.
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Personalizando
O que é :
~ostrar a~ aju~ag~ ,~ua par~la de .r~~Gop~f?ik°tfide , . . diante Ça_ Sl~u açaq· !3~1!.I que vive, ... ,__ _ ~
- oe-- ·,.;,.- pW - - • • • ,~-- - ....., _...., -b "-' ..
.;.· 2 !:."'~ ~ ,~ .. =r~ -,z_ ;t" • r ~~";\""\ f; •• ~,7:.-r.~ ~~Ha que~- . ~i ;:~ .• u:::-~ .1 t \ •_.:,_ :-e~· _..,._ 01'.l Se Pe<sonalizo·.para...o ajudado. faciHto sEJa c6inpre<.1 ensão do· papel que desempenha oo~~róprio pooble~a. de modo a pQder resot\lê-lo. ._.- , • , , q,r.q
__ .. ~ ~l . ..... ~~'- "": • \ _'T\.,..,:. .... ~ ~..,i.-.nG .~'3t-1.1 .· c.•1
-. • .-.."Y-":.··v.S· ~'r),I .-i-~m~,,..\'7.'- :>(", ,t">~\~"t r,~ ,~~tl ).,. \' .... ,..... ~.,... '- ...__. • ,,, . . ...... ..:>. i< ...... -;\ ., .. --C:Omo : '"r..>... . · · -- .....- ' ...-::~..> .. ~·:.:J ""'., .,._1._...~, -\
1 .' bançãríúma ~ irtter~mbiável. " - :--' ... ,,~ \ r'" l""'!':5 ~~ :; .. e. .. - - .. -."\.. •MO\ ... : .. • r-.. ' 2 .., lntêinãftzàr .o 'o eudo: 'Vóc:ê se senre. -: ':;.por-
~ .. "\ -- , ... -~~fria #.1. •b ,\, ~--~ .:.·\'-...."'..)~Q~\"'t ~ -=-~--~..J --gue~o~-- . --~ , . - .. ".:'l -
3_-rõéntiffüar- ã'-mim: "'Vó~·~ 5eO't1L :·_por~'êt'~- ,--~ ce não Sabe ... ~~ • , ~:. ~ '"' ~Ç' -l'. e:· -,.. ~
" ~- Identificar a meta: "Você se sente. . porque vo-:: cê não sabe ... e você gostaria de.
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"Sou eu que Faço você sofrer? Ou é você que soFre por minha causa? Ou, aüyda, é você que sofre por sua própáa causa?
Chegar a essa pergunta (leva anos e anos) é essencial na refação de amor. A respos.t:a demandará muito tempo, sofrimento e , em cada caso, será diferente. Mas, se enconr-rada, melhorará qualquer relação. Ou constatará o seu término.
Proponho, como exerckio, urna atitude de troca. Onde se lê sofrer, leia-se feliçar (eu feliço, tu feliças, ele feliça, nós feliçamos, vós feliçais, eles re/içam} . .Por .que re/icidacle não cem verbo?
A pergunta, então, ficaria: Sou eu que faço você .feliz, ou é você que feo/iça por minha causa?
Curiosa e masoquista a vida. O verbo sofrer é complicado. Feliçar é simples. Por que a gente prefere conjugar o sofrer?"
Anur da Távola
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(abrindo as portas da realização)
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OR1E'NT ANDO
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,/ Respondendo com imagens 7 /Resp. ao sentâment o e conteúdo;>
I Respondendo ao sern.imento (f:f> I Respondendo ao conteúdo (f?
L Escuundo ? / o~ando 7 •
/ Atendendo fisicamente 7 1
l::.L====A=·oo=•in.e=ndO::::::::. ==~;/ 7 ( Preparando 0 .ambiente físico
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Qr <:? 1!3r nao"lidade opc1ora Assim como todo processo d e ajuda efetive;>
tem como resu l tado uma ou várias mudanças por parte do ajudado. nem sempre essas mudanças ocorrem med iante a orientação do ajudad or. Isso quer dizer que. tendo explorado sua si tuação insatisfatória e compreend ido as várías peças dessa situação. o ajudado. m uitas vezes. elabora soz inho seu p rograma de ação. Seu processo de exploração e compreensão só foi possível porque as habilidades de atender e responder do ajudador f oram efet ivas no decorrer da relação de ajuda. As dimensões de aceitação. empatia. respeito e genuinidade encontradas na re lação propiciaram um ambiente ri co em calor humano e o levaram a descobertas inédita.s a seu próprio respeito. A partir d o processo de autoconhecimento facilitado pelo ajudador. ele foi capaz. a lgumas vezes. de personalizar sua pirópria experiência. Agora. também na fase de ação. sua mudan ça p ode brotar espontaneamente de dentro dele. sem que. para isso. seja necessária a orientação do ajudador. Cada passo de seu programa de ação flui naturalmente numa seqüência har_'!loniosa. como resl.11tado das etapas b ásicas do processo de ajuda . o atender e o responder. por parte do ajudador . com a conseqüente exploração e compreensão por parte d o ajudado.
Em outros momentos e em algumas áreas específicas de ajuda a hab ilidade d e orientar é indispensá· vel para que a ação seja desencadeada. Isso é especialmen1e verdade nas situações em que o ajudado não tem o domínio da á rea em que a ajuda está ocorrendo ; o aluno e o paciente são ajudados que i l ~tram bem essa sjtu ação. O professor pode ser a melhor pessoa para ajudar o aluno a e laborar um programa dees· tudo;ou a levan t ar todas as al ternativas de lugares em que el e pode fazer estágios l igados à_ sua área acadêmica. Por o utro lado.só o médico pode apresentar as vár ias so luções para a c u ra do paciente. Ou só o dentista pode sugeri r o melhor material a ser usado na restauração ora 1 de seu cliente. Mesmo ne::.ses casos. a decisão última é do ajudado :o ajudador o orienta. e ele escolhe seguir o u não ::.ua or ie ntação.
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''Não siga por onde o caminho o levar. Ande, melhor, onde não há caminho e deixe, por onde passar, uma trilha. "
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ORI ENTANDO F ORMALME NTE
O ajudado,. sempre. . . o papel do ajudador ao orientar e apenas fa
cilitar a decisão do ajudado ou elaborar, t:_º1'!7 ele. um ou vários planos de ação. nunca dec1d1r por efe·.
Mesmo quando o ajudado não tem conhecimentos técnicos de uma deter'!li~da área. e o a judador lhe aponta a melhor d1reçao {sub~et~rse a uma cirurgia. por exemplo}: cabe _ao primeiro decidir se vai ou -não seguir a onentaçao do segun do.
Cada pessoa é a maior auroridade em sua p ró -pria vida. . . .
o ajudado tem o dir·eito de dec~d~r o _que _e melhor para ele. mesmo que sua d~1sao nao se1aa melhor de acordo com a visão do aJudad_or. Este pode. quando muito. e~p.-essar ~us sen_t1mentos diante da direção que o a1udado vai t?mar. ~ .
"Fico preocupad1a quand o ve10 vooe adiar muito essa cirurgia". . . _
"Sinto-me pesaroso por você ter dec1d1do nao participar do grupo". .
~ muito importante tambem que o a.iuda_d?r expresse sentimentos positivos diante da decrsao t omada pelo ajudado: . .
"Fico alegre por você ter resolvido f rear com esse emprego". _ . ·d1
"Sinto-me aliviado por voce ter dec1d1 'ºex-190
1 . . '
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pressa.- tudo isso a ele". Em algumas situ~ções. o ajud ado.- pode tam
bém avaliar. com o ajudado. quais serão as conseqüências por seguir uma ou outra direção :
"'Se você resolver que é melhor não fazer o repouso. sua giravidez corre o risco de seF interi-ompida''.
"Se você fizer estágio nessa empresa? aum enta a chance d e ser contratado depois de formado".
De resto, com ou sem conseqüências. é o aju· dado que dá a d i reção à sua vida.
Algumas vezes. no momento em <1ue o ajudado decide agir numa determinada direção, há algumas informações p or parte do ajudado.- que lhe faciJitam a ação.
Orientar, então. seria fornecer ao ajudado os dados necessários à obtenção do objetivo que ele mesmo escolheu.
Esse objetivo jã foi identificado quando o ajudado personalizou sua experiência. percebendo sua falta e determinando a meta a ser a lcançada.
Às vezes. o ajudado percebe o objetivo.como estando muito distante dele. ou com o sendo muito gra11de para ser alcançado de uma só vez. Se o ajudador orientá~lo de modo a decompor esse objetivo em pequenos passos. vai aumentar sua ohance de sucesso. As vezes. basta que o ajudador o leve a encontrar o p r •imeiro passo. Tendo exerutado esse primeiro passo. todos os outros brotam em seguida.
Algumas informações também facilitam esse processo de ação: quem. onde. como. quando. quanto. etc. De p osse d elas. o ajudado se sente mais pronto para começar a agir.
~ importante que o ajudador, nessa fase. não se esqueça das outras h abilid ades .. Lembrando que o modelo d~ ajuda é cumulat1ivo e que cada habili dade é pré-requisito para a seguinte, o ajudador deverá continuar atendendo. observando e escutando as possíveis reações do ajudado. respondendo intercambiavelmente e personalizando novamente. se necessã ri o.
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Por fim, quando o ajudado executa s~a a~o e volta co1m os r-esultados. todo o prnci:s_c:;o 'P. rrec•clado: a análise desses resultados consiste em n~va exploração e comp reensão. origin_a_ndo novas ª?Oes med iante a reciclagem das hab1l1dades de aauda {atender, resp onder, etc.). . . _ _
Outro ponto a ser !lemb rado~ a 1mpoi-tanc!a de 0 ajudador comparti lhar com o a1udado a ai~~'ª diante do sucesso de sua ação: ou, caso contrario. de aceitar o seu firacasso e tentar determinar. junto com ele, onde e por que ~racassou . _o ~undamental é estar sempre junto do ajudado. nao 1mp_ortam as circunstâncias.
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O SIGNI F ICADO DA MUDANÇA
NinguP.m procura ajuda se não estiver pretendendo algum tipo de m u dança em sua vida. N enhu m processo de a juda ter-á sido ef etivo se sairmos como entramos : do mesmo tamanho, sem que· tenha havido crescimento -seja tisico, emocional. intelectual.
O fim último da relação de ajuda é a mudança do ajudado.
Já vimos como a exploração o leva a saber onde está; como a com preensão o leva a escolher aonde quer chegaF. Q uando ele tem. diante de si, esses dois pontos,_é hora de traçar o caminho que vai levá-lo de u m ao outro .. E hora de agir_
Agir, aqu i, significa : - encontrar uma direção na vida; - mudar para melhor; - crescer. Ouando a mudança não ocor ne, alguma ooisa
falhou nas fases ant eriores d o processo: pod e não ter havido compreensão ·suficiente. ou exploração suficiente. N inguém pode decidir como chegar a algum lugar se não sabe onde fica esse lugar , ou se nem sabe qual é o ponto de partida. N esse caso. a solução é vol ta r ao ponto em q u e o processo falhou : é co"1o dar a ré num carro q u e vai pegar "embalada" para subir o m orro. Voltar atrás significa, às vezes. ganhar mais força para agir depois com mais segu rança.
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Uma das habil idades de vida mais características da pessoa em crescimento é sua capacidade de
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diferenciar aquilo que está sob seu controle d aquilo que não está.
N ós. seres humanos tal íve is. temos a pretensão, às vez es. de cont1rolar o mundo e as pessoas que nos rodeiam. E tão insuportável a idéia de nossa p rópria imp o tência. que preferimos " dar murro em ponta de faca" ao invés de aceitarmos nossas l i m itações - e acabamos po:r descobrir que nada mudou; e que. além disso. nossas mãos sangram e doem d e tanto esmurrar. i n uti lmente. as facas da v ida.
E fun damental , antes de iniciarmos q ualquer mudança, que possamos determinar Qual é o nível dessa mudança - interno ou externo.
Quando a situação externa é passível de mudança. com eço a agir d ire tamente sobre ela. dandolhe a d ireção que melho r m e atende. Ao final de um processo de ajuda. posso descobrir que não trabalho no melhor lugar; que não faço o cur so que realmente q ueria; que não vivo com a melhor pessoa; ou que não me permito d esfrutar de tudo a que ten ho d irei to. Quando trabalhei o bastante nos meus sentim entos e nos significados d e minhas vivências, posso decidir largar atividades. coisas e p essoas. trocá-las por outras ou adquirir novas. N o m omento em que fizer isso. vou estar l iVTe para viver uma vida mais plena, mais sat isfatória.
Por outro lado. h á situações ex ternas imutáveis. Delas fazem parte, por exemplo. os sentimentos. pensamentos. palavras, decisões. e atos d e outras pessoas. sobre as quais não temos controle. Não p osso nem consigo imp or minha vontade sobre o o u tro como se fosse seu dono. As pessoas são livres e não vieram ao mundo para atender minhas exp ectat ivas. Se o fazem. não é porque me atendem. mas p orque a t endem a elas próp1·ias e. coincidentemente, queremos as mesmas coisas. Fe l izmente. o que é bom para m im. às vezes, é bom também para o outro.
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" Eu faço minhas coisas, você faz as suas N ão estou neste mundo para viver de acordo co·n i
suas expectativas E você não está neste mundo para viver de acordo
com as minhas Você é você, e eu sou eu E se por acaso nos encontrarmos, é lindo Se não, nada há .a faze.r ."
F 1ritz Perls
Além de p essoas. há situ ações também irreversíveis e eventos irrevogáveis: a mort e d e a lguém, a perda de um braço num acidente, uma cirurgia mutiladora. uma doença incurável. Então. nada n os resta senão aceitar. conviver com e admitir, humildemente. nossa impotência. Posso tentar tornar-me m enos vulnerável aos eventos externos. Quando, num processo de ajuda, admito m inha impossibili dade de mudar o mundo e decid o aceitar a realidade que me cerca. posso recicla r esse processo, íni iando uma nova etapa de crescim ento na qual a ação se passa dentro. e não fora de mim.
Fato
Não é justo! Não é bom, Não I! certo, Não I! l impo! Não I! coere.nte, Não é maduro, Não é sincero, .~desumano! Não I! decente, Não I! v iável, Não tem razão, Não há quem entenda, N'ão há q uem aceire, Nao há quem aprove, N íngvdrn gosta! J
Não engulo!
M as I! fato. E co.nrra os faros não há argumentos.
Cláudia M yriam Botelho
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Um último ponto a resp eito de mudança e ação : quando vivemos uma situação incômoda. nossa tendência é agir o mais rápido possível para "nos vermos l•vres" da situação. Ouando isso ocorre. acabamos tomando decisões apressadas e impeituosas. sem a necessária base de exploração e compreensão. As conseqüências dessas ações não tardam : são resultados desastrosos q ue poderíamos ter evitado se soubéssemos lidar melhor com os momentos de crise. E: quando não Fazer nada t'ambém é Fazer alguma coisa . Não agir. em d ireção alguma, tam bém é uma decisão. " N ão faze r nada" externamente significa fazer mui t as coisas internamente. de modo a nos compreendermos melhor e podermos. mais tarde. agir na melhor direção.
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O que é : Fornecer a o aju dad o os :dados necessádos à ob'teo-ção de sua m eta.
Com o.: _ -;& • Deoo1W9r '9 1obje'tiv~ ern.JDas&I>s. 2. ld en:fificar .o :pr1meijn ipasso. 3. 1 n'formar. 0 q we. QEllem~ unde. Quantci~tc:. . '
4. Reciclar.:..
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Oração da Serenidade
"Deus me dê a serenidade de aceitar as coisas que não posso mudar~
a coragem de mudar as coh;as que posso mudar e a sabedoria para reconhecer a diferença."
Oração dos Alcoólatras Anônimos
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EXISTE F I M PARA O PROCESSO DE AJUDA?
Sim e não.
S im, para a relação dê ajuda formal. em que ajudador e ajudado se encontrarram regularmente durante um certo tempo com a finalidade de caminharem juntos no processo de autoconhecimento do ajudado.
Nessa relação, o momento de parar chega quando o ajudado se transforrma em ajudador - é quando ele é capaz de fazer. consigo e com os outros, o que o ajudador fez por e le todo esse tempo. Ele já sabe acolher-se. atender-se, observar-se, escutar-se e assim por diante. Ele é capaz de identi f icar seus próprios sentimentos e as r.azões pelas quais os experimenta. Ele já sabe qual é sua parcela de responsabilidade em cada situação e age para mudar. sempre. para melhor.
N ão. para a ·relação de ajuda que a pessoa estabelece informalmente consigo m esma e com os outros. a parti r do modelo oferecido pelo ajudador. Num processo efet ivo. as habilidades de ajuda i m pregnam de tal forma o ajudado. que se tornam o seu próprio estilo de vida. Ele não as esquecerá jamais e passará o resto de sua vida sendo seu próprio ajudador e o ajudador daqueles que o rodeiam.
Ele será a pessoa essencialmente humana que
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Powell define como aquela capaz de manter o equi-1 íbrio entre sua "interior idade" e a sua ··exteriori dade" : interioridade na medida em que vive em níveis P'ofundos de auto-aceitação; exterioridade. na medida em que sintoniza com o outro em alto grau de empatia.
Ele será a pessoa plena - que sabe. ao mesmo tempo. escutar os caminhos do coração e decidir, a cada momento, se deve ou não segui-los. Ele será a pessoa madura que se permite sentir tudo que é seu e. ao mesmo tempo, discriminar quais sentimentos devem ser transformados em ação e quais devP.m ser apenas guardados do lado esquerdo do pei to.
Acima de tudo. ele será a pessoa inteira, capaz de ireformular. a cada dia, sua própria d ireção_ Sua bússola são seus sentimentos. e seus caminhos são os do coração. Afinal, há uma coisa que ele pode fazer, e ternamente. sem limitações: cresceir, sempre crescer .
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" O nromento de se_ 1n1c1ar uma vida autêntica e de abandonar a traição e a alienação está sempre presente.. Não importa º ' quão arraigada está uma pessoa .n.o mundo da outra, o· quanto ela racionaliza, an·alisa e intelectuaHza; .não importa o quanto está submersa nos padrões, valores e objetivos do sistema, ela ainda pode, no momento seguinte, decidir alterar todo 'º curso de sua vida. Ela ainda pode tornar-se aquilo que realrnenre é , criando sentidos e valores e desenv.olrvendo potenciaHdades .coerentes com seu próprio eu. Ninguém pode lhe roubar isso. E., a ninguém· em particular, pode-se predizer o que o indiv,fduo fará. lndepe.ndente de seu passado, em qualquer .situação, a pessoa pode escolher ativar as verdadeiras direções do seu eu. E verdade, para todo indivíduo, que ele pode,. a qualquer .momento,, escolher tornar-se ele mesmo, que é a única maneira de se viver uma vida autentica."
C la.-k Moustakas
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Segundo lançamento da
Por Oue Tenho Medo de
lhe Dizer Quem Sou
Autor: John Powell
1? Edição 1985
2~ Ed ição 1986
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