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São Paulo, 14 de dezembro de 2020. Ao MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPÚBLICA EM GOIÁS 3º Ofício do Núcleo da Tutela Coletiva Excelentíssimo Senhor Procurador da República AILTON BENEDITO DE SOUZA Resposta ao Ofício nº 5422/2020/MPF/PRGO/3ºONTC Assunto: Inquérito Civil nº 1.18.000.000947/2020-82
Excelentíssimo Procurador,
Cumprimentando cordialmente Vossa Excelência, a SOCIEDADE BRASILEIRA
DE INFECTOLOGIA (SBI), vem por meio desta responder ao solicitado no Ofício n°
1.18.000.000947/2020-82, cumprindo com a sua finalidade em colaborar com as
autoridades governamentais, judiciárias e com as funções essenciais à justiça em
assuntos pertinentes à Infectologia e correlatos, em especial para informar e
esclarecer no tocante à publicação do dia 09 de dezembro de 2020, com relação ao
Boletim Informativo dessa Sociedade, no tocante às “Atualizações e Recomendações
sobre a COVID-19”, e o faz a seguir:
Antes de prestar as informações ao ofício, cumpre esclarecer que a Sociedade
Brasileira de Infectologia foi fundada em 1980. De acordo com o seu Estatuto, trata-
se uma associação de caráter científico, visando promover o desenvolvimento da
especialidade de Infectologia, promovendo intercâmbios científicos, técnicos,
culturais e sociais, contando, para tanto, com a cooperação de instituições
congêneres, vinculada à Associação Médica Brasileira e filiada às entidades de
Infectologia de âmbito internacional.
O destacado nível da Infectologia brasileira é reconhecido
internacionalmente, sendo que, há vários anos, associados da SBI são convidados
para palestrar em grandes congressos pelo trabalho desenvolvido e, mais
recentemente, a própria entidade tem sido chamada para chancelar mesas redondas
dos mais importantes congressos internacionais.
Durante estas quatro décadas de existência, associados da Sociedade
Brasileira de Infectologia vêm servindo ativamente à nação, com participação
pautada nas evidências científicas em importantes departamentos e programas do
Ministério da Saúde, inclusive na atual gestão, atuando no Departamento de
Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis e no
Departamento de Imunização e Doenças Transmissíveis e na Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (ANVISA). Na ANVISA, aliás, vale o destaque da ativa participação
em documentos de referência durante a pandemia de COVID-19, como as Notas
Técnicas GVIMS/GGTES/ANVISA Nº 04/2020, 06/2020 e 07/2020.
Também é importante destacar que a SBI é completamente a favor do
“tratamento precoce” para a COVID-19, assim que qualquer fármaco demonstrar
segurança e eficácia do seu uso nos primeiros dias de sintomas, o que,
infelizmente, até a presente data não ocorreu. Algumas pesquisas estão em
andamento nesta fase inicial da doença (“tratamento precoce”) e, ainda temos
esperança, que, no futuro próximo, possamos comemorar juntos tal avanço
científico.
Por outro lado, a SBI foi a primeira sociedade científica brasileira a anunciar a
eficácia, com impacto em diminuir a mortalidade, do uso da dexametasona
(corticóide) em pacientes com pneumonia e hipóxia causada pela COVID-19, que
geralmente ocorre entre o 5º e 9º dia de sintomas.
O informe 14 da SBI, de 16/06/2020, foi publicado no mesmo dia,
imediatamente após a carta informativa da Universidade de Oxford anunciando os
resultados extraordinários do estudo clínico denominado RECOVERY, que na
sequência levou a publicação na revista The New England Journal of Medicine no dia
17/07/2020. Na ocasião, repercutimos com destaque e entusiasmo: “temos uma
medicação barata, de acesso universal e amplo nos hospitais brasileiros, já bem
conhecida pelos médicos, que salva vidas nos pacientes com COVID-19 e hipóxia”.
Lamentamos que a discussão sobre “tratamento precoce” superou assuntos
mais importantes abordados no documento “Atualizações e Recomendações sobre a
COVID-19”, tais como:
• Sobre o diagnóstico e evolução dos pacientes, com orientação aos médicos
na solicitação de exames corretos e tê-los disponíveis, principalmente no
sistema público de saúde, com destaque para o RT-PCR na 1ª semana de
sintomas;
• Sobre hipóxia e hipóxia silenciosa, que destaca a importância de todos os
pacientes com COVID-19, em especial os com fatores de risco para a doença
grave, de monitorar a oximetria digital para a detecção precoce, internação e
intervenção terapêutica com oxigenioterapia e dexametasona;
• Sobre isolamento respiratório, com a “regra dos 10 dias” de isolamento
domiciliar para pacientes com a doença COVID-19, para os assintomáticos
com RT-PCR positivo e para os contactantes próximos;
• Sobre as vacinas, em que recomendamos que toda vacina eficaz e segura
contra a COVID-19 deva ser almejada e que todos os esforços sejam
empenhados para a sua disponibilidade para a população brasileira e que
estamos otimistas para que isso ocorra nos próximos dias.
Por outro lado, agradecemos a oportunidade que V. Ex.a nos dá de dirimir
suas dúvidas e indagações e, por ser um assunto da maior relevância de saúde
pública atual, de esclarecer toda a sociedade brasileira.
Para tal, seguem as respostas aos quesitos solicitados no ofício,
notadamente:
I) Da atribuição de posicionamento a diversos órgãos e entidades
Conforme disponível no seu site de domínio público e atualizado em
02/12/2020, as diretrizes da Sociedade de Infectologia dos EUA (IDSA), intituladas
Infectious Diseases Society of America Guidelines and Management of Patients with
COVID-19 recomendam contra o uso de hidroxicloroquina com ou sem azitromicina
para pacientes hospitalizados, incluindo pacientes com doença leve, moderada,
grave ou crítica. O mesmo em relação ao uso de lopinavir/ritonavir.
Um dos estudos clínicos randomizados constatou que indivíduos que
receberam hidroxicloroquina (HCQ) demoraram mais tempo para receber alta do
hospital (16 dias vs. 13 dias) e menor probabilidade de receberem alta vivos dentro
do período de 28 dias após início do tratamento. O grupo de pacientes que recebeu
HCQ e não estava em ventilação mecânica no início do estudo, teve mais chance de
evoluir para necessidade de ventilação mecânica ao longo do estudo. Quatro
estudos clínicos randomizados demonstraram que o tratamento com HCQ pode
aumentar o risco de eventos adversos, incluindo prolongamento do intervalo QT e
arritmias cardíacas. Segue o texto original do IDSA Guidelines, em que há referência
aos estudos acima citados:
A azitromicina, sozinha ou em combinação com HCQ, também pode estar
associada a significativo risco de prolongamento do QT no eletrocardiograma e risco
de arritmias relevantes. O uso de cinco dias de azitromicina num grande grupo de
pacientes com COVID-19 aumentou o risco de morte súbita por problema cardíaco,
comparado a quem não recebeu antibiótico ou recebeu amoxicilina, que é um outro
antibiótico. Essas preocupações com a toxicidade levaram à forte recomendação
(strong recommendation) contra o uso de hidroxicloroquina + azitromicina. Segue
o texto original do IDSA Guidelines:
Segue tabela com as recomendações da IDSA em relação a medicamentos
disponíveis no Brasil:
NA significa “not applicable” que, em tradução livre, pode ser traduzido por não aplicável, algo não definido, desconhecido, duvidoso; que não pode ser aplicado, posto em prática
A Organização Mundial de Saúde (OMS) e a Organização Pan-Americana de
Saúde (OPAS) em seu site de domínio público https://www.paho.org/pt/covid19, na
Folha informativa COVID-19 – Escritório da OPAS e OMS no Brasil, atualizada em 11
de dezembro de 2020 publica que “As evidências disponíveis sobre benefícios do uso
de cloroquina ou hidroxicloroquina são insuficientes, a maioria das pesquisas até
agora sugere que não há benefício e já foram emitidos alertas sobre efeitos
colaterais do medicamento.” No recente documento intitulado: Ongoing Living
Update of Potential COVID-19 Therapeutics: Summary of Rapid Systematic
Reviews RAPID REVIEW, 30 November 2020, a OMS / OPAS publica que há
muito pouca certeza de que vários medicamentos tragam benefício na evolução
clínica do paciente com CVOID-19, incluindo ivermectina, lopinavir-ritonavir,
interferon beta-1a, plasma de convalescente, colchicina e famotidina.
O National Institutes of Health (NIH), conglomerado de centros de pesquisa
que formam a agência governamental de pesquisa biomédica do Departamento de
Saúde e Serviços Humanos dos EUA, um dos maiores centros de pesquisa biomédica
do mundo , em relação ao tratamento da COVID-19, conforme disponível em seu
site de domínio público www.covid19treatmentguidelines.nih.gov e atualizado em
03/12/2020, em relação a medicamentos disponíveis no Brasil faz recomendação
contra o uso de cloroquina/hidroxicloroquina com ou sem azitromicina em
pacientes hospitalizados com força de recomendação A1 (recomendação forte
baseada em pelo menos um ensaio clínico randomizado com desfechos clínicos e/ou
desfechos laboratoriais validados).
Além disso, faz recomendação contra o uso de cloroquina/hidroxicloroquina
com ou sem azitromicina para pacientes não hospitalizados, com exceção de ensaios
clínicos também com força de recomendação A1. Entre as 22 referências que
embasaram essas recomendações, as que são citadas como mais importantes foram:
• Cavalcanti AB, Zampieri FG, Rosa RG, Azevedo LCP, Veiga VC, Avezum A, et al. Hydroxychloroquine with or without Azithromycin in Mild-to-Moderate Covid-19. N Engl J Med. 2020;383:2041–52. doi:10.1056/nejmoa2019014.
• Tang W, Cao Z, Han M, Wang Z, Chen J, Sun W, et al. Hydroxychloroquine in patients with mainly mild to moderate coronavirus disease 2019: open label, randomised controlled trial. BMJ. 2020:m1849. doi:10.1136/bmj.m1849.
• Borba MGS, Val FFA, Sampaio VS, Alexandre MAA, Melo GC, Brito M, et al. Effect of High vs Low Doses of Chloroquine Diphosphate as Adjunctive Therapy for Patients Hospitalized With Severe Acute Respiratory Syndrome Coronavirus 2 (SARS-CoV-2) Infection. JAMA Netw Open. 2020;3:e208857. doi:10.1001/jamanetworkopen.2020.8857.
• Skipper CP, Pastick KA, Engen NW, Bangdiwala AS, Abassi M, Lofgren SM, et al. Hydroxychloroquine in Nonhospitalized Adults With Early COVID-19. Ann Intern Med. 2020;173:623–31. doi:10.7326/m20-4207.
• Mitjà O, Corbacho-Monné M, Ubals M, Tebé C, Peñafiel J, Tobias A, et al. Hydroxychloroquine for Early Treatment of Adults With Mild Coronavirus Disease 2019: A Randomized, Controlled Trial. Clin Infect Dis. 2020. doi:10.1093/cid/ciaa1009.
• Rosenberg ES, Dufort EM, Udo T, Wilberschied LA, Kumar J, Tesoriero J, et al. Association of Treatment With Hydroxychloroquine or Azithromycin With In-Hospital Mortality in Patients With COVID-19 in New York State. JAMA. 2020;323:2493. doi:10.1001/jama.2020.8630.
• Geleris J, Sun Y, Platt J, Zucker J, Baldwin M, Hripcsak G, et al. Observational Study of Hydroxychloroquine in Hospitalized Patients with Covid-19. N Engl J Med. 2020;382:2411–8. doi:10.1056/nejmoa2012410.
• Mahévas M, Tran V-T, Roumier M, Chabrol A, Paule R, Guillaud C, et al. Clinical efficacy of hydroxychloroquine in patients with covid-19 pneumonia who require oxygen: observational comparative study using routine care data. BMJ. 2020:m1844. doi:10.1136/bmj.m1844.
• Arshad S, Kilgore P, Chaudhry ZS, Jacobsen G, Wang DD, Huitsing K, et al. Treatment with hydroxychloroquine, azithromycin, and combination in patients hospitalized with COVID-19. Int J Infect Dis. 2020;97:396–403. doi:10.1016/j.ijid.2020.06.099.
• Dexamethasone in Hospitalized Patients with Covid-19 — Preliminary Report. N Engl J Med. 2020. doi:10.1056/nejmoa2021436.
Com relação à ivermectina, as diretrizes do NIH fazem recomendação contra
o uso de ivermectina para o tratamento de COVID-19, com exceção de ensaios
clínicos (força de recomendação A3 – recomendação forte, baseada na opinião de
especialistas). Sobre o uso de vitamina C, vitamina D e Zinco, as diretrizes do NIH
consideram que não existem dados suficientes para se posicionar a favor ou contra o
uso dessas substâncias.
O Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA - CDC (em inglês Centers for
Disease Control and Prevention), que é uma agência do Departamento de Saúde e Serviços
Humanos dos Estados Unidos e que trabalha na proteção da saúde pública e da segurança
da população norte-americana, provendo informações para embasar decisões quanto à
saúde, recomenda seguir as recomendações de tratamento dos NIH, anteriormente citados.
O CDC Europeu, agência similar ao CDC norte-americano, porém é uma agência da
União Europeia, no seu site de domínio público https://www.ecdc.europa.eu/en/covid-
19/latest-evidence/vaccines-and-treatment, publica que só há evidência de estudo
experimental in vitro da ação da hidroxicloroquina/cloroquina para inibir o novo
coronavírus SARS-Cov-2 e que os estudos clínicos, tanto em pacientes hospitalizados
(estudos WHO SOLIDARITY e RECOVERY), como 2 estudos randomizados no “tratamento
precoce” (até 5 dias do início dos sintomas) não demonstraram benefício. O resultado da
falta de benefício nos estudos WHO SOLIDARITY e RECOVERY, levou a suspender a inclusão
de pacientes no grupo da hidroxicloroquina (HCQ) por considerarem anti-ético continuar a
oferecer uma medicação que não traz benefício. Segue o texto original:
A agência britânica de saúde pública (NHS, National Health Service), no seu
site de domínio público https://www.england.nhs.uk/coronavirus/secondary-
care/management-confirmed-coronavirus-covid-19/clinical-medical-management/,
informa que não existe tratamento específico para o coronavírus até o momento,
que antibióticos (azitromicina é um antibiótico) não funcionam contra vírus, que o
tratamento é sintomático para aliviar os sintomas, enquanto seu corpo “briga”
contra a doença e que as pessoas necessitam de isolamento, longe das outras
pessoas, enquanto se recuperam. Segue o original:
There is currently no specific treatment for coronavirus.
Antibiotics do not help, as they do not work against viruses.
Treatment aims to relieve the symptoms while your body fights the illness.
You’ll need to stay in isolation, away from other people, until you have recovered.
II) Do uso de analgésicos e antitérmicos em pacientes infectados
A COVID-19 em 80 a 85% dos casos apresenta manifestação clínica branda
(COVID leve) semelhante a outras infecções virais agudas do trato respiratório alto,
como resfriados comuns ou síndrome gripal. Nesse tipo de situação, as infecções
respiratórias virais agudas têm o manejo terapêutico divido em 1-7:
a) Tratamento etiológico específico: indicado quando existem fármacos
com eficácia comprovada em impedir complicações de uma doença
que geralmente tem curso clínico benigno 8;
b) Tratamento coadjuvante sintomático: medicações que tem como o
objetivo mitigar a sintomatologia na fase inicial da doença, dando
mais conforto e bem-estar ao paciente no decorrer do processo
agudo de adoecimento 7.
Na COVID-19 leve, os cinco principais achados clínicos (sinais e sintomas) e
frequência estimada na fase inicial são: tosse (50%), febre referida ou aferida maior
que 38°C (43%), mialgia, que significa dor muscular generalizada (36%), cefaleia, que
significa dor de cabeça (34%), dor de garganta (20%). Como já mencionado, em cerca
de 80 a 85% dos infectados a doença se limita a esses achados, com recuperação
espontânea sem necessidade de tratamento específico 1,9.
A explicação fisiopatológica para os sintomas acima inclui a invasão tecidual
direta do vírus no trato respiratório, e a consequente produção de citocinas,
potentes mediadores inflamatórios que circulam pelo corpo todo, sinalizando ao
sistema imune as vias de resposta para a eliminação do patógeno, mas trazendo
consigo os fenômenos reativos de febre, mialgia, cefaleia e dor de garganta 10.
Importante destacar que a magnitude da febre, mialgia, cefaleia e dor de
garganta, ainda que potencialmente autolimitadas, pode levar a uma experiência
extremamente impactante e desagradável à pessoa adoecida. Sendo, portanto,
indicado o tratamento sintomático para dor e febre em pacientes com sintomas
clínicos sugestivos de COVID-19 com fármacos de eficácia e segurança reconhecida
de longa data para esses sintomas, independentemente da etiologia infecciosa
aguda, tendo justamente esses fármacos indicação em bula pela ANVISA para essa
finalidade, como no caso da dipirona e do paracetamol, entre outros 11,12.
Na bula aprovada pela ANVISA, a dipirona tem ações analgésica (controla a
dor) e antipirética (reduz a febre) cientificamente comprovadas, incluindo sua
indicação para infecções respiratórias agudas causadas por diferentes agentes
infecciosos (bacterianos, virais, fungos, protozoários etc.). A dipirona age na inibição
da ciclo-oxigenase (COX-1, COX-2 ou ambas) e na inibição de síntese de
prostaglandinas, que clinicamente a ação resultante é o desaparecimento da febre
ou da dor COX-3 11.
Da mesma forma, o paracetamol tem na bula aprovada pela ANVISA ações
analgésica e antipirética, novamente contemplando uso do tratamento sintomático
de infecções respiratórias agudas, sendo que o mecanismo de ação da analgesia é a
elevação do limiar da dor e a antipirese através de ação no centro hipotalâmico que
regula a temperatura 12.
Diversos documentos oficiais de entidades governamentais e científicas
recomendam o uso de medicações para o controle dos sintomas na COVID-19,
destacando inicialmente a Organização Mundial de Saúde, que em seu documento
“Manejo Clínico da COVID-19”, destaca: “Nós recomendamos que os pacientes como
COVID-19 leve recebam tratamento sintomático para febre e dor, nutrição adequada
e hidratação apropriada” 13.
A Harvard Medical School recomenda em seu documento intitulado
“Tratamento para COVID-19 - O que ajuda, o que não funciona e o que está por vir”
que o tratamento sintomático deva ser feito com paracetamol ou ibuprofeno, outra
medicação com ação antipirética e analgésica 14.
De forma geral, o tratamento sintomático da COVID-19 leve está indicado,
portanto, com paracetamol, dipirona, ibuprofeno ou anti-inflamatórios não
esteroides para controle da dor e/ou da febre nesses pacientes, considerando o uso
cuidadoso em indivíduos sabidamente alérgicos a um desses grupos farmacológicos
15.
Ainda não existem ensaios clínicos randomizados para avaliação de
medicações sintomáticas na COVID-19, pois seria antiético e contraproducente no
atual momento desenhar ou mesmo discutir estudos controlados com placebo, ou
mesmo análises comparativas entre drogas para dor e febre, visto a abundância de
medicações antipiréticas e analgésicas comprovadamente eficazes e disponíveis no
mercado mundial, utilizados com o mesmo objetivo para outras doenças e com
baixo custo de aquisição em todas essas opções16.
As referências bibliográficas que sustentam as afirmações deste tópico são:
1. Chan JF-W, Yuan S, Kok K-H, To KK-W, Chu H, Yang J, et al. A familial cluster of pneumonia associated with the 2019 novel coronavirus indicating person-to-person transmission: a study of a family cluster. Lancet. 2020;395:514–23. doi:10.1016/s0140-6736(20)30154-9.
2. Bajema KL, Oster AM, Mcgovern OL, Lindstrom S, Stenger MR, Anderson TC, et al. Persons Evaluated for 2019 Novel Coronavirus — United States, January 2020. MMWR Morb Mortal Wkly Rep. 2020;69:166–70. doi:10.15585/mmwr.mm6906e1.
3. Huang C, Wang Y, Li X, Ren L, Zhao J, Hu Y, et al. Clinical features of patients infected with 2019 novel coronavirus in Wuhan, China. Lancet. 2020;395:497–506. doi:10.1016/s0140-6736(20)30183-5.
4. Chen N, Zhou M, Dong X, Qu J, Gong F, Han Y, et al. Epidemiological and clinical characteristics of 99 cases of 2019 novel coronavirus pneumonia in Wuhan, China: a descriptive study. Lancet. 2020;395:507–13. doi:10.1016/s0140-6736(20)30211-7.
5. Wang D, Hu B, Hu C, Zhu F, Liu X, Zhang J, et al. Clinical Characteristics of 138 Hospitalized Patients With 2019 Novel Coronavirus–Infected Pneumonia in Wuhan, China. JAMA 2020;323:1061. doi:10.1001/jama.2020.1585.
6. Liu K, Fang YY, Deng Y, Liu W, Wang MF, Ma JP, et al. Clinical characteristics of novel coronavirus cases in tertiary hospitals in Hubei Province. Chin Med J (Engl). 2020;133(9):1025-1031. doi: 10.1097/CM9.0000000000000744.
7. Yang X, Yu Y, Xu J, Shu H, Xia J, Liu H, et al.. Clinical course and outcomes of critically ill patients with SARS-CoV-2 pneumonia in Wuhan, China: a single-centered, retrospective, observational study. Lancet Respir Med. 2020;8:475–81. doi:10.1016/s2213-2600(20)30079-5.
8. Thomas M, Bomar PA. Upper Respiratory Tract Infection. [Updated 2020 Oct 28]. In: StatPearls [Internet]. Treasure Island (FL): StatPearls Publishing; 2020 Jan- NCBI Bookshelf. A service of the National Library of Medicine, National Institutes of Health.
9. Uyeki TM, Bernstein HH, Bradley JS, Englund JA, File TM, Fry AM, et al. Clinical Practice Guidelines by the Infectious Diseases Society of America: 2018 Update on Diagnosis, Treatment, Chemoprophylaxis, and Institutional Outbreak Management of Seasonal Influenzaa. Clin Infect Dis. 2019;68:e1–47. doi:10.1093/cid/ciy866.
10. Stokes EK, Zambrano LD, Anderson KN, Marder EP, Raz KM, Felix SEB, et al. Coronavirus Disease 2019 Case Surveillance - United States, January 22-May 30, 2020. MMWR Morb Mortal Wkly Rep. 2020; 69:759.
11. Wiersinga WJ, Rhodes A, Cheng AC, Peacock SJ, Prescott HC. Pathophysiology, Transmission, Diagnosis, and Treatment of Coronavirus Disease 2019 (COVID-19). JAMA. 2020;324:782. doi:10.1001/jama.2020.12839.
12. Agência Nacional de Vigilância Sanitária - Dipirona (Bula Profissional).
13. Agência Nacional de Vigilância Sanitária - Paracetamol (Bula Profissional).
14. World Health Organization - Clinical management of COVID-19.
15. Harvard Medical School - Treatments for COVID-19 - What helps, what doesn't, and what's in the pipeline.
16. Cohen P, Blau J. Coronavirus disease 2019 (COVID-19): Outpatient evaluation and management in adults - UpToDate - Topic 127759 Version 50.0 - Wolters Kluwer – Autalizado em 30/11/2020.
III) Do tratamento farmacológico
Estudos clínicos randomizados com grupo controle são a base para se
aprovar qualquer medicamento ou vacina na Medicina. Quando se avalia a eficácia e
segurança de determinado fármaco (novo ou já usado em outras doenças) para uma
doença nova, como é o caso da COVID-19, o ideal é que o comparador seja placebo.
A maioria dos estudos clínicos randomizados que recomendam nenhum
tratamento farmacológico específico para COVID-19 nos primeiros dias de sintomas
(“tratamento precoce”) já foram citados e disponibilizadas cópias através do seu
acesso virtual nos outros itens deste documento, pois representam os fundamentos
para as recomendações das diversas sociedades médicas científicas e outros
organismos sanitários, como anteriormente citado (IDSA, NIH, OMS, CDC).
Em relação ao uso de corticóide na COVID-19, pode-se resumir sua indicação
afirmando-se que ele não traz benefício no “tratamento precoce”, podendo até ser
deletério, mas pode salvar vidas se usado nos pacientes que evoluem com
pneumonia e hipóxia. Neste caso, o corticóide que demonstrou benefício, em estudo
clínico randomizado com grupo controle, com impacto em reduzir a mortalidade foi
a dexametasona na dose de 6 mg ao dia, por via oral ou endovenosa, por até 10 dias.
A COVID-19, nos casos mais graves, está associada a complicações
inflamatórias sistêmicas, além do comprometimento pulmonar. Os corticosteroides
podem modular o quadro inflamatório sistêmico e, assim, reduzir a progressão para
insuficiência respiratória, com necessidade de ventilação mecânica e morte.
Em pacientes hospitalizados com COVID-19, o uso de dexametasona resultou
em menor mortalidade em 28 dias entre aqueles que estavam recebendo ventilação
mecânica invasiva ou que necessitavam de suplementação de oxigênio, mas não
entre aqueles que não precisam de suplementação de oxigênio ou suporte
respiratório. Assim, recomendações da Sociedade Brasileira de Infectologia, da
Sociedade Americana de Doenças Infecciosas (IDSA), National Institutes of Health
(NIH) e da Organização Mundial da Saúde (OMS), baseados em estudos clínicos
apresentados a seguir, não recomendam o uso de corticosteroide como terapêutica
inicial nos casos leves a moderados que não necessitam de suplementação de
oxigênio. Seguem artigos sobre o uso da dexametasona:
• Dexamethasone in Hospitalized Patients with Covid-19 — Preliminary Report. N Engl J Med. 2020. doi:10.1056/nejmoa2021436.
• Villar J, Ferrando C, Martínez D, Ambrós A, Muñoz T, Soler JA, et al.
Dexamethasone treatment for the acute respiratory distress syndrome: a multicentre, randomised controlled trial. Lancet Respir Med. 2020;8(3):267-276. doi: 10.1016/S2213-2600(19)30417-5.
• Cantini F, Goletti D, Petrone L, NajafiFard S, Niccoli L, Foti R. Immune Therapy, or Antiviral Therapy, or Both for COVID-19: A Systematic Review. Drugs. 2020;80(18):1929-1946. doi:10.1007/s40265-020-01421-w.
• Alhazzani W, Møller MH, Arabi YM, Loeb M, Gong MN, Fan E, et al. Surviving Sepsis Campaign: guidelines on the management of critically ill adults with coronavirus disease 2019 (COVID-19). Crit Care Med. 2020;48(6): e440-e469.
• Jeronimo CMP, Farias MEL, Val FFA, Sampaio VS, Alexandre MAA, Melo GC, et al. Methylprednisolone as adjunctive therapy for patients hospitalized with COVID-19 (Metcovid): a randomised, double-blind, phaseIIb, placebo-controlled trial. Clin Infect Dis. 2020:ciaa1177. doi: 10.1093/cid/ciaa1177.
• Tomazini BM, Maia IS, Cavalcanti AB, Berwanger O, Rosa RG, Veiga VC, et al.
Effect of Dexamethasone on Days Alive and Ventilator-Free in Patients With Moderate or Severe Acute Respiratory Distress Syndrome and COVID-19. JAMA 2020;324:1307. doi:10.1001/jama.2020.17021.
• Dequin P-F, Heming N, Meziani F, Plantefève G, Voiriot G, Badié J, et al. Effect of Hydrocortisone on 21-Day Mortality or Respiratory Support Among Critically Ill Patients With COVID-19. JAMA 2020;324:1298. doi:10.1001/jama.2020.16761.
• WHO Rapid Evidence Appraisal for COVID-19 Therapies (REACT) Working Group, Sterne JAC, Murthy S, Diaz JV, Slutsky AS, Villar J, et al. Association Between Administration of Systemic Corticosteroids and Mortality Among Critically Ill Patients With COVID-19: A Meta-analysis. JAMA. 2020;324(13):1330-1341. doi: 10.1001/jama.2020.17023.
Em relação ao uso de ivermectina no tratamento de COVID-19, não existem
estudos randomizados publicados no PubMed até o momento. Alguns aguardam
revisão (peer-review) e, se aceitos, publicação. PubMed é um serviço da U.S.
National Library of Medicine (NLM). Inclui cerca de 21 milhões de citações de artigos
de periódicos. O maior componente é a base de dados MEDLINE que indexa cerca de
5.000 revistas publicadas nos Estados Unidos e mais de 80 outros países.
O uso de ivermectina para o tratamento de viroses vem sendo investigado há
alguns anos. Mais recentemente foi demonstrada a sua capacidade de inibir o SARS-
CoV2 em cultura de células, no entanto, a dose usada no referido estudo era 35
vezes maior que a aprovada para o seu uso em humanos. O fato de ser uma droga
pouco hidrossolúvel, em sua atual apresentação, gera dúvidas quanto à sua
biodisponibilidade a nível pulmonar. Alguns autores propõem que a administração
da ivermectina possa ser eficaz nos estágios iniciais ou na prevenção da COVID-19,
sugerindo a necessidade de ensaios clínicos adicionais. Dentre os poucos ensaios
clínico publicados sobre o uso da ivermectina no tratamento da doença, encontra-se
um que foi retratado pelo periódico que o publicou por questões de ordem ética.
Outros estudos apresentam falhas metodológicas importantes, como o uso de
bancos de dados diferentes, impossibilitando correlações, estudo observacional com
vieses de seleção, estudo multicêntrico sem randomização e estudo com número
reduzido de participantes e ausência de desfecho clínico. Em Barcelona, a
administração de ivermectina não resultou em melhora dos desfechos clínicos e
virológicos em pacientes com COVID grave em um estudo retrospectivo. Ainda
esperamos resultados de estudos duplo cegos randomizados controlados por
placebo como o estudo SAINT, na Espanha, que podem esclarecer o verdadeiro
papel da ivermectina no tratamento da COVID-19. Seguem as referências
bibliográficas sobre a ivermectina:
• Mastrangelo E, Pezzullo M, De Burghgraeve T, Kaptein S, Pastorino B, Dallmeier K, et al. Ivermectin is a potent inhibitor of flavivirus replication specifically targeting NS3 helicase activity: new prospects for an old drug. J Antimicrob Chemother. 2012;67(8):1884-94. doi: 10.1093/jac/dks147.
• Wagstaff KM, Sivakumaran H, Heaton SM, Harrich D, Jans DA. Ivermectin is a specific inhibitor of importin α/β-mediated nuclear import able to inhibit replication of HIV-1 and dengue virus. Biochem J. 2012;443(3):851-6. doi: 10.1042/BJ20120150.
• Tay MY, Fraser JE, Chan WK, Moreland NJ, Rathore AP, Wang C, et al. Nuclear localization of dengue virus (DENV) 1-4 non-structural protein 5; protection against all 4 DENV serotypes by the inhibitor Ivermectin. Antiviral Res. 2013;99(3):301-6. doi: 10.1016/j.antiviral.2013.06.002.
• Caly L, Druce JD, Catton MG, Jans DA, Wagstaff KM. The FDA-approved drug ivermectin inhibits the replication of SARS-CoV-2 in vitro. Antiviral Res. 2020;178:104787. doi:10.1016/j.antiviral.2020.104787.
• Schmith VD, Zhou J (Jessie), Lohmer LRL. The Approved Dose of Ivermectin Alone is not the Ideal Dose for the Treatment of COVID‐19. Clin Pharmacol Ther. 2020;108:762–5. doi:10.1002/cpt.1889.
• Formiga FR, Leblanc R, De Souza Rebouças J, Farias LP, De Oliveira RN, Pena L. Ivermectin: an award-winning drug with expected antiviral activity against COVID-19. J Control Release. 2020. doi:10.1016/j.jconrel.2020.10.009.
• Heidary F, Gharebaghi R. Ivermectin: a systematic review from antiviral effects to COVID-19 complementary regimen. J Antibiot. 2020;73:593–602. doi:10.1038/s41429-020-0336-z.
• Patel AN, Desai SS, Grainger DW, Mehra MR. Usefulness of Ivermectin in COVID-19 Illness. Retracted paper NEJM, 2020.
• Hellwig MD, Maia A. A COVID-19 prophylaxis? Lower incidence associated with prophylactic administration of ivermectin. Int J Antimicrob Agents. 2020:106248. doi:10.1016/j.ijantimicag.2020.106248.
• Bernigaud C, Guillemot D, Ahmed-Belkacem A, Grimaldi-Bensouda L, Lespine A, Berry F, et al. Bénéfice de l’ivermectine: de la gale à la COVID-19, un exemple de sérendipité. Ann Dermatol Venereol. 2020;147(12):A194. French. doi: 10.1016/j.annder.2020.09.231.
• Carvallo H, Hirsch R, Alkis P, Veronica C. Study of the efficacy and safety of topical ivermectin + iota-carrageenan in the prophylaxis against COVID-19 in Health Personnel. J Biomed Res. 2020;2(1.1007).
• Ahmed S, Karim MM, Ross AG, Hossain MS, Clemens JD, Sumiya MK, et al.. A five day course of ivermectin for the treatment of COVID-19 may reduce the duration of illness. Int J Infect Dis 2020. doi:10.1016/j.ijid.2020.11.191.
• Camprubí D, Almuedo-Riera A, Martí-Soler H, Soriano A, Hurtado JC, Subirà C, et al. Lack of efficacy of standard doses of ivermectin in severe COVID-19 patients. PLoS One. 2020;15:e0242184. doi:10.1371/journal.pone.0242184.
• Chaccour C, Ruiz-Castillo P, Richardson M-A, Moncunill G, Casellas A, Carmona-Torre F, et al.. The SARS-CoV-2 Ivermectin Navarra-ISGlobal Trial (SAINT) to Evaluate the Potential of Ivermectin to Reduce COVID-19 Transmission in low risk, non-severe COVID-19 patients in the first 48 hours after symptoms onset: A structured summary of a study protocol. Trials. 2020;21. doi:10.1186/s13063-020-04421-z.
Já em relação à azitromicina para COVID-19, ressalta-se que ela é um
antibiótico. Os antibióticos são antimicrobianos indicados para infecções bacterianas
e a COVID-19 é causada por um vírus (SARS-CoV-2). Não se indica o uso de
antibióticos para doenças virais. Estudos clínicos bem desenhados não tiveram
sucesso em provar benefício do seu uso no tratamento da COVID-19. Azitromicina
não é recomendada pelas principais sociedades e organizações internacionais
envolvidas no controle da pandemia como OMS, CDC, NIH e IDSA. Os trabalhos que
sugerem algum benefício do seu uso têm falhas metodológicas e estudaram um
pequeno número de casos. Deve-se alertar para seu eventual risco de eventos
adversos como cardiotoxicidade, este último em especial em pacientes com doença
cardiovascular pré-existente, manifestada por arritmia cardíaca, condição clínica
potencialmente grave, com necessidade de internação em unidade de terapia
intensiva. A própria COVID-19 também pode causar danos cardíacos, incluindo
miocardite (inflamação do músculo cardíaco), isquemia miocárdica,
descompensação da insuficiência cardíaca, entre outras alterações cardiológicas. A
azitromicina pode causar prolongamento do intervalo QTc no eletrocardiograma, e
consequentemente arritmias cardíacas. Tal efeito colateral também pode ocorrer
com a hidroxicloroquina. Por isso, o uso de ambos em combinação pode ter um
efeito potencializador de tal evento adverso. Embora incomum, quando ocorre,
pode ter consequências clínicas graves. A prescrição de antibióticos deve seguir
critérios rigorosos, como as indicações da azitromicina para casos de infecções
respiratórias bacterianas, incluindo exacerbação da DPOC (doença pulmonar
obstrutiva crônica). O seu uso em massa e inadequado pode levar a aumento da
resistência bacteriana a níveis incontroláveis tanto na comunidade quanto no
ambiente hospitalar. Seguem as referências bibliográficas sobre a azitromicina:
• Horby PW, Roddick A, Spata E, Staplin N, Emberson JR, Pessoa-Amorim G, et al. Azithromycin in Hospitalised Patients with COVID-19 (RECOVERY): a randomised, controlled, open-label, platform trial 2020. doi:10.1101/2020.12.10.20245944.
• Furtado RHM, Berwanger O, Fonseca HA, Corrêa TD, Ferraz LR, Lapa MG, et al. Azithromycin in addition to standard of care versus standard of care alone in the treatment of patients admitted to the hospital with severe COVID-19 in Brazil (COALITION II): a randomised clinical trial. The Lancet 2020;396:959–67. doi:10.1016/s0140-6736(20)31862-6.
• Cavalcanti AB, Zampieri FG, Rosa RG, Azevedo LCP, Veiga VC, Avezum A, et al. Hydroxychloroquine with or without Azithromycin in Mild-to-Moderate Covid-19. New England Journal of Medicine 2020;383:2041–52. doi:10.1056/nejmoa2019014.
• Gautret P, Lagier J-C, Parola P, Hoang VT, Meddeb L, Mailhe M, et al. Hydroxychloroquine and azithromycin as a treatment of COVID-19: results of an open-label non-randomized clinical trial. Int J Antimicrob Agents 2020;56:105949. doi:10.1016/j.ijantimicag.2020.105949..
• Sekhavati E, Jafari F, Seyedalinaghi S, Jamalimoghadamsiahkali S, Sadr S, Tabarestani M, et al. Safety and effectiveness of azithromycin in patients with COVID-19: An open-label randomised trial. Int J Antimicrob Agents. 2020;56:106143. doi:10.1016/j.ijantimicag.2020.106143.
• Taylor SP, Sellers E, Taylor BT. Azithromycin for the Prevention of COPD Exacerbations: The Good, Bad, and Ugly. Am J Med. 2015;128(12):1362.e1-6. doi: 10.1016/j.amjmed.2015.07.032. 9.
• Doan T, Worden L, Hinterwirth A, Arzika AM, Maliki R, Abdou A, et al. Macrolide and Nonmacrolide Resistance with Mass Azithromycin Distribution. N Engl J Med. 2020;383:1941–50. doi:10.1056/nejmoa2002606.
• Arshad M, Mahmood SF, Khan M, Hasan R. Covid -19, misinformation, and antimicrobial resistance. BMJ 2020:m4501. doi:10.1136/bmj.m4501.
A hidroxicloroquina, assim como a cloroquina, do mesmo grupo
farmacológico, foram as medicações mais estudadas e avaliadas para COVID-19. Com
resultados preliminares de ação in vitro e alguns estudos observacionais iniciais
promissores, infelizmente quando foram avaliados em estudos randomizados com
grupo controle não demonstraram benefício, principalmente em pacientes
hospitalizados com doença leve, moderada (no início da pandemia, em alguns
países, mesmo pacientes com as formas leve e moderada da doença foram
internados, possibilitando tais estudos), grave ou crítica (internados em Unidade de
Terapia Intensiva), assim como em pacientes ambulatoriais nos primeiros dias de
sintomas (“tratamento precoce”) e para profilaxia pós-exposição, o que levou as
diversas sociedades médicas científicas e organismos sanitários internacionais a
recomendarem contra seu uso em COVID-19 até o presente momento, como
referenciado anteriormente e no item a seguir. Seguem as referências bibliográficas
sobre hidroxicloroquina e cloroquina:
• Abd-Elsalam S, Esmail ES, Khalaf M, Abdo EF, Medhat MA, Abd El Ghafar MS, et al. Hydroxychloroquine in the Treatment of COVID-19: A Multicenter Randomized Controlled Study. Am J Trop Med Hyg. 2020;103:1635–9. doi:10.4269/ajtmh.20-0873.
• Boulware DR, Pullen MF, Bangdiwala AS, Pastick KA, Lofgren SM, Okafor EC, et al. A Randomized Trial of Hydroxychloroquine as Postexposure Prophylaxis for Covid-19. N Eng J Med. 2020;383:517–25. doi:10.1056/nejmoa2016638.
• Cavalcanti AB, Zampieri FG, Rosa RG, Azevedo LCP, Veiga VC, Avezum A, et al. Hydroxychloroquine with or without Azithromycin in Mild-to-Moderate Covid-19. N Engl J Med. 2020;383:2041–52. doi:10.1056/nejmoa2019014.
• Hydroxychloroquine with or without Azithromycin in Mild-to-Moderate Covid-19. Correction. N Engl J Med. 2020;383:e119. doi:10.1056/nejmx200021.
• Fernandes ACL, Vale AJM, Guzen FP, Pinheiro FI, Cobucci RN, De Azevedo EP. Therapeutic Options Against the New Coronavirus: Updated Clinical and Laboratory Evidences. Front Med. 2020;7. doi:10.3389/fmed.2020.00546.
• Mitjà O, Corbacho-Monné M, Ubals M, Tebé C, Peñafiel J, Tobias A, et al. Hydroxychloroquine for Early Treatment of Adults With Mild Coronavirus Disease 2019: A Randomized, Controlled Trial. Clin Infect Dis. 2020. doi:10.1093/cid/ciaa1009.
• Omrani AS, Pathan SA, Thomas SA, Harris TRE, Coyle PV, Thomas CE, et al. Randomized double-blinded placebo-controlled trial of hydroxychloroquine with or without azithromycin for virologic cure of non-severe Covid-19. EClinicalMedicine. 2020;29-30:100645. doi:10.1016/j.eclinm.2020.100645.
• RECOVERY Collaborative Group, Horby P, Mafham M, Linsell L, Bell JL, Staplin N, et el. Effect of Hydroxychloroquine in Hospitalized Patients with Covid-19. N Engl J Med. 2020;383(21):2030-2040. doi: 10.1056/NEJMoa2022926.
• Skipper CP, Pastick KA, Engen NW, Bangdiwala AS, Abassi M, Lofgren SM, et al.. Hydroxychloroquine in Nonhospitalized Adults With Early COVID-19. Ann Intern Med. 2020;173:623–31. doi:10.7326/m20-4207.
• Tang W, Cao Z, Han M, Wang Z, Chen J, Sun W, et al. Hydroxychloroquine in patients with mainly mild to moderate coronavirus disease 2019: open label, randomised controlled trial. BMJ. 2020:m1849. doi:10.1136/bmj.m1849.
• WHO Solidarity Trial Consortium, Pan H, Peto R, Henao-Restrepo AM, Preziosi MP, Sathiyamoorthy V, et al. Repurposed Antiviral Drugs for Covid-19 - Interim WHO Solidarity Trial Results. N Engl J Med. 2020. doi: 10.1056/NEJMoa2023184.
A nitazoxanida inibe, in vitro, a replicação de uma ampla variedade de vírus
respiratórios, incluindo SARS-CoV-2. Dois estudos de fase 3 para prevenção de
COVID-19 estão sendo avaliados em populações de alto risco, incluindo idosos
residentes em instituições de longa permanência e profissionais de saúde. Além dos
estudos de prevenção, um ensaio para o tratamento precoce de COVID-19 está
planejado. Outro estudo multicêntrico, randomizado, duplo-cego de fase 3 foi
iniciado em agosto de 2020 para o tratamento em maiores de 12 anos de idade e
que tenham febre e sintomas respiratórios consistentes com COVID-19. As análises
de eficácia examinarão os participantes com infecção por SARS-CoV-2 confirmada
em laboratório. Aguardamos a publicação dos estudos que se encontram em
avaliação e revisão pelos editores de revistas científicas (peer review) e o que avaliou
o uso de nitazoxanida em fases recentes da COVID-19. Assim que tiver publicado e
revisado por editores, avaliaremos seus resultados. Seguem as referências:
• Trial to Evaluate the Efficacy and Safety of Nitazoxanide (NTZ) for Pre- or Post Exposure Prophylaxis of COVID-19 and Other Viral Respiratory Illnesses (VRI) in Healthcare Workers. ClinicalTrials.gov.
• Romark initiates new phase 3 clinical trial of NT-300 for the treatment of COVID-19. Romark Pharmaceuticals. 2020 Aug 11.
• Caly L, Druce JD, Catton MG, Jans DA, Wagstaff KM. The FDA-approved drug ivermectin inhibits the replication of SARS-CoV-2 in vitro. Antiviral Res. 2020 Jun;178:104787. doi: 10.1016/j.antiviral.2020.104787.
Em relação a outros fármacos (como anticoagulante), zinco, vitaminas e
procedimentos (ozônio por via retal), como citado no documento “Atualizações e
Recomendações sobre a COVID-19”, publicado em 9 de dezembro de 2020, não
existe comprovação científica até o momento de que esses medicamentos sejam
eficazes contra a COVID-19.
É importante ressaltar que o uso de anticoagulante profilático nos pacientes
internados com COVID-19 grave ou crítica, há indicação de seu uso, dependendo do
risco de complicações trombóticas ou tromboembólicas, a ser avaliado
individualmente paciente a paciente. Principalmente em idosos, há tal indicação
para a maioria deles.
IV) Das orientações do Ministério da Saúde
A SBI tem conhecimento sobre as orientações do Ministério da Saúde,
especialmente quanto ao manuseio medicamentoso apontado na Nota Informativa
nº 17/2020 - SE/GAB/SE/MS, sobre as quais faz as considerações abaixo, tendo em
vista que daquela data até a presente, novos estudos científicos foram publicados.
Cumpre ressaltar que Nota Informativa nº 17/2020 - SE/GAB/SE/MS -
“Orientações do Ministério da Saúde para manuseio medicamentoso precoce de
pacientes com diagnóstico da Covid-19”, reconhecia naquele momento:
4. (...) a ausência de evidências científicas robustas que possibilitem a
indicação de terapia farmacológica específica para a COVID-19;
5. (...) que a manutenção do acompanhamento da comunidade científica dos
resultados de estudos com medicamentos é de extrema relevância para atualizar
periodicamente as orientações para o tratamento da COVID-19,
6. (...) que existem muitos medicamentos em teste, com muitos resultados
sendo divulgados diariamente, e vários destes medicamentos têm sido promissores
em testes de laboratório e por observação clínica, mesmo com muitos ensaios
clínicos ainda em análise;
7. (...) que alguns Estados, Municípios e hospitais da rede privada já
estabeleceram protocolos próprios de uso da cloroquina e da hidroxicloroquina para
tratamento da COVID-19;
20. (...) que não dispomos, até o momento, de tratamento específico para a
COVID-19 em gestantes ou destinado aos pacientes pediátricos;
23. (...) que diversas instituições, tanto internacionais quanto nacionais,
preconizam o uso da cloroquina ou da hidroxicloroquina em pacientes com
diagnóstico de COVID-19”
Apesar do reconhecimento da ausência de “evidências científicas robustas
de tratamento da COVID-19” (item na Apresentação - pág. 3), o referido documento
justifica como base para a construção deste o fato da orientação de “uso de
cloroquina e da hidroxicloroquina para tratamento da COVID-19” em protocolos de
hospitais e instituições. Outra consideração do referido documento é que a
“manutenção do acompanhamento da comunidade científica dos resultados de
estudos com medicamentos é de extrema relevância para atualizar periodicamente
as orientações para o tratamento da COVID-19”.
Cabe destacar pelo citado no parágrafo anterior que nos últimos quatro
meses diversas publicações revisadas por cientistas renomados em revistas
indexadas, incluindo estudos anexados em resposta aos quesitos anteriores deste
ofício, não demonstraram nenhum benefício do tratamento da COVID-19 com uso de
cloroquina, hidroxicloroquina, azitromicina, dentre outros medicamentos testados.
Tais publicações balizaram a decisão de sociedades científicas, instituições
governamentais, hospitais públicos e privados, bem como, a própria OMS a
retirarem tais medicamentos de suas orientações terapêuticas. Por outro lado, não
houve qualquer atualização no documento "Orientações do Ministério da Saúde
para manuseio medicamentoso precoce de pacientes com diagnóstico da Covid-19”.
Tal fato por si, já destaca a importância das notas de atualização emitidas pela SBI e
por outras sociedades científicas relacionadas ao atendimento da COVID-19 para a
orientação dos profissionais brasileiros.
Como a publicação de novas evidências científicas sobre a COVID-19 é
dinâmica e ruma numa velocidade ímpar na história da Medicina, novas informações
da comunidade científica, referenciadas e difundidas nas notas e orientações da SBI
e de outras instituições científicas, deveriam ser atualizadas pelo Ministério da
Saúde. A própria Nota confere valor a recomendações de CCIH (que são as
Comissões de Controle de Infecção Hospitalar, quase invariavelmente elaborados
pelos infectologistas) e de outras sociedades e entidades científicas que, apesar de
constarem no documento, não são seguidas, o que põe em risco os pacientes que
recebem estes medicamentos sem comprovação científica de sua utilidade.
“5. NOTAS EXPLICATIVAS
(...)
14. Para pacientes hospitalizados, observar e iniciar o tratamento precoce
para pneumonia nosocomial, conforme protocolo da Comissão de Controle de
Infecções Hospitalares (CCIH) local.
(...)
21. A Sociedade Brasileira de Cardiologia recomenda a realização de
Eletrocardiograma (ECG) em adultos no primeiro, terceiro e quinto dias do
tratamento com cloroquina ou hidroxicloroquina com associação eventual com
azitromicina (...)”
Até o momento da elaboração da Nota com orientações pelo Ministério da
Saúde, a Sociedade Brasileira de Infectologia já havia publicado em seu site várias
notas técnicas (listadas a seguir e anexadas a este documento), sempre destacando a
importância e os resultados de estudos clínicos e estudos randomizados para nortear
suas diretrizes técnicas, em consonância com sociedades internacionais de
Infectologia e entidades, como a Organização Mundial de Saúde (OMS), sendo, no
entanto, tais notas ou publicações referenciadas não avaliadas ou inclusas na nota
ministerial.
Seguem documentos citados anteriormente:
• Falavigna M, Colpani V, Stein C, Azevedo LCP, Bagattini AM, Brito GVD, et al. Guidelines for the pharmacological treatment of COVID-19. The task force/consensus guideline of the Brazilian Association of Intensive Care Medicine, the Brazilian Society of Infectious Diseases and the Brazilian Society of Pulmonology and Tisiology. Rev Bras Terap Intensiva 2020;32. doi:10.5935/0103-507x.20200039.
• INFORME DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE INFECTOLOGIA SOBRE O NOVO CORONAVÍRUS N° 13: ESCLARECIMENTOS CIENTÍFICOS SOBRE ORIENTAÇÕES QUE PROPÕEM O USO UNIVERSAL DA CLOROQUINA OU HIDROXICLOROQUINA PARA O TRATAMENTO DA COVID-19 Elaborado em 20/05/2020.
• INFORME DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE INFECTOLOGIA SOBRE O NOVO CORONAVÍRUS N° 14: DEXAMETASONA NO TRATAMENTO DA COVID-19 Elaborado em 16/06/2020.
• INFORME DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE INFECTOLOGIA SOBRE O NOVO CORONAVÍRUS N° 15: USO DE MEDICAMENTOS PARA COVID-19 Elaborado em 30/06/2020.
Em relação à solicitação de esclarecimento se os estudos científicos que a
embasam não têm valor científico para a entidade, cabe destacar que:
1) A Nota Informativa nº 17/2020 - SE/GAB/SE/MS inclui 93 referências
bibliográficas, sendo apenas quatro estudos observacionais (incluindo estudos in
vitro) e duas revisões sistemáticas com artigos disponíveis nos primeiros meses da
pandemia. Como já citado, embora de amplo conhecimento do meio científico e
difundido em notas da SBI e de outras sociedades científicas, nenhum resultado de
estudo randomizado com grupo controle, com maior valor científico pelo desenho
do estudo foi avaliado para a construção do referido documento. Pelo contrário,
seus resultados foram desconsiderados para a formulação de uma proposta
terapêutica.
2) O valor científico de cada referência da Nota Informativa nº 17/2020 -
SE/GAB/SE/MS é indicado quando contextualizado na cronologia da pandemia e
diante de publicações disponíveis até a data de sua formulação. Deste modo, são
reconhecidos pela SBI e pela comunidade cientifica com validade devida, os estudos
experimentais e in vitro, estudos prévios à pandemia e as recomendações cientificas.
No entanto, diante dos resultados de estudos randomizados em seres humanos,
estes destacam-se na qualidade e relevância da informação para a construção de
guias terapêuticos e recomendação de tratamento de qualquer doença, incluindo a
COVID-19. Tal princípio norteador garante a adequada utilização de recursos em
benefício e segurança da assistência em saúde.
3) Segue abaixo uma distribuição e análise dos estudos referenciados na Nota
Informativa nº 17/2020 - SE/GAB/SE/MS para adequada avaliação por todos os
interessados nesta questão:
• 33 citações da referência bibliográfica consistem em
publicações que não avaliam a eficácia clínica de tratamento medicamentoso
em pacientes com COVID-19 (ref. 3, 4, 5, 9, 12, 24, 25, 29, 30, 41, 43, 45, 46,
48, 49, 50, 56, 59, 61, 63, 68, 69, 70, 71, 72, 73, 74, 75, 76, 78, 86, 89, 93);
• 12 citações da referência bibliográfica consistem em artigos
pré-impressos na ocasião, disponíveis em sites como MedRxiv, ChemRxiv e
Preprints (ref. 11, 14, 21, 22, 40, 44, 47, 51, 55, 60, 83, 91). Destaca-se que no
caso da ref. 22, os autores retiraram o artigo da plataforma e solicitaram
expressamente que ele não fosse citado. Como mensagem no próprio site da
MedRxiv, estes artigos não foram revisados por pares e relatam novas
pesquisas médicas que ainda precisam ser avaliadas e, portanto, não devem
ser usadas para orientar a prática clínica;
• 10 citações da referência bibliográfica consistem em
protocolos ou publicações de sociedades cientificas diversas disponíveis até a
data de elaboração, nem todas relacionadas a tratamento:
o Associação Brasileira de Nutrologia (ref.1);
o Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e
Obstetrícia (ref. 28);
o Sociedade Brasileira de Cardiologia (ref. 52) - Diretriz
não relacionada ao tratamento, apenas discorre sobre uso de
telemedicina;
o International Federation of Gynecology and Obstetrics
(ref. 62);
o Royal College of Obstetricians and Gynaecologists
(ref.66 - guia atualizada em 14/10/2020) - não há recomendações de
uso de qualquer droga antiviral;
o Royal College of Paediatrics and Child Health (ref. 67) -
guia do Colégio de Pediatria Britânico para Síndrome Inflamatória
associada à COVID-19; não há indicação de tratamento antiviral;
o Sociedad Latino Americana de Cuidados Intensivos
Pediátricos (ref. 79) - destacava que, naquele momento, não existia
evidência procedente de ensaios clínicos controlados para
recomendar um tratamento específico em pacientes com suspeita ou
confirmação de COVID-19. A revisão mais completa e recente naquela
data havia sido publicada em 13/04/2020, revisando mais de 1300
artigos. Ressaltavam que mais de 300 ensaios clínicos estavam em
curso e que poderiam mostrar alguma evidência no futuro breve.
o Sociedade Brasileira de Pediatria (Departamentos
Científicos de Infectologia e Reumatologia) (ref. 80) – sugeria o uso
dos protocolos locais de manejo da COVID-19 suspeita ou confirmada
e diretrizes para antibioticoterapia empírica, além de tratamento de
suporte para doença leve ou moderada.
o Sociedade Brasileira de Pediatria (Departamento
Científico de Pneumologia) (ref. 81) - Não existem relatos sobre o uso
da cloroquina e da hidroxicloroquina para tratamento da COVID-19
em crianças. Em estudos anteriores, a azitromicina demonstrou ser
eficaz in vitro contra os vírus da Zika e Ebola, além de prevenir
infecções graves do trato respiratório quando administrada a
pacientes com infecção viral. O uso de azitromicina, isoladamente ou
associada a outras drogas, deve ainda ser melhor explorada para o
tratamento da COVID-19, especialmente em crianças;
o Sociedade Brasileira de Pediatria (Departamento
Científico de Terapia Intensiva) (ref. 82) - Trata-se de uma publicação
da SBP de 20/05/2020 e naquela ocasião indicava administrar
sintomáticos, preferencialmente APENAS paracetamol ou dipirona
nos casos leves ou moderados, sendo considerado o uso de
oseltamivir nos casos em que houvesse a hipótese de síndrome
respiratória aguda grave (SRAG) por Influenza. Nos casos graves com
desconforto respiratório e/ou hipóxia (síndrome respiratória aguda
grave) indicavam considerar o uso de hidroxicloroquina/cloroquina (5
– 10 mg/Kg/dia de cloroquina base, por 10 dias) + azitromicina (10
mg/Kg no primeiro dia e, depois, 5 mg/Kg/dia por 4 dias – dose
máxima total de 30 mg/Kg ou 1.500 mg. Tal sugestão foi considerada
diante de duas publicações avaliadas na época (um estudo aberto não
randomizado e um artigo publicado em 2005 e não relacionado com
COVID-19);
• 5 citações da referência bibliográfica consistem em
documentos ou sites de instituições que já atualizaram suas recomendações
diante da ineficácia de medicamentos incluídos na Nota do Ministério da
Saúde. Alguns já não referenciavam tratamento naquela ocasião fora de
ensaios clínicos:
o EMA (ref. 27) - Trata-se da página de notícias desta
agência no qual a própria agência desencoraja o uso de cloroquina e
hidroxicloroquina fora de protocolos de pesquisa;
o The Centre for Evidence-Based Medicine, vinculado a
University of Oxford (ref. 32) destaca a ineficácia do uso de cloroquina
e hidroxicloroquina;
o Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ) (ref. 33);
o NIH (Ref. 58);
o Organização Mundial da Saúde (ref. 88). Multisystem
inflmmatory syndrome in children and adolescents temporally related
to COVID-19.
• 4 citações da referência bibliográfica consistem em cadastro
de pesquisa clínica, não apresentando qualquer resultado que possa ser
avaliado (ref. 37, 39, 65, 92). Cabe destacar que da pesquisa referenciada na
citação 39 derivou-se um outro estudo publicado que não demonstrou
benefício da azitromicina contra COVID-19 na população estudada a saber:
“Azithromycin in addition to standard of care versus standard of care alone in
the treatment of patients admitted to the hospital with severe COVID-19 in
Brazil (COALITION II): a randomised clinical trial. Lancet 2020;396
(10256):959-967);
• 4 citações da referência bibliográfica consistem em consenso
de especialistas, artigos de opinião ou documentos de sociedades cientificas
com base em literatura cientifica (ref. 15, 16, 17, 85);
• 3 citações da referência bibliográfica consistem em
publicações anteriores do próprio Ministério da Saúde sem evidências
cientificas de eficácia terapêutica de medicamentos na COVID-19 (ref. 6, 7,8).
• 3 citações da referência bibliográfica consistem em protocolo
ou apresentações de instituições privadas, não publicados em periódicos
científicos e sem citar referências (ref. 26, 31, 38);
• 3 citações da referência bibliográfica consistem em artigo de
opinião com discussão teórica (ref. 23, 34, 64);
• 3 citações da referência bibliográfica consistem em artigos já
retratados pelos próprios autores, pois frente a novas evidências não mais
indicando tratamento com hidroxicloroquina em associação ou não a
azitromicina (ref. 19, 22, 54). A referência 54 consiste na retratação de um
artigo previamente publicado que não observava benefício terapêutico da
hidroxicloroquina.
• 2 citações da referência bibliográfica consistem em artigos de
revisão sistemática com os poucos estudos disponíveis até aquela data, sem
nenhum resultados de ensaios clínicos (ref. 20 – incluiram six articles (one
narrative letter, one in-vitro study, one editorial, expert consensus paper, two
national guideline documents) and 23 ongoing clinical trials in China; ref. 77 –
revisão sistemática de artigos publicados até 21/03/2020 - os autores
propuseram que ambos os medicamentos fossem usados em ensaio clínico
para tratamento e, cuidadosamente considerados para uso clínico como
drogas experimental).
• 2 citações da referência bibliográfica consistem em carta ao
editor (ref. 53, 87);
• 1 citação da referência bibliográfica consiste em um Parecer
do CFM (ref. 18);
• 1 citação da referência bibliográfica consiste em capítulo do
UpToDate já atualizadas desde então e que atualmente não indica
tratamento (ref. 2)
• 1 citação da referência bibliográfica consiste em Editorial (ref.
84);
• 4 citações da referência bibliográfica consistem em estudos
observacionais, alguns in vitro e com viéses metodológicos que
comprometem os resultados (ref. 10, 13, 35, 57).
Com o objetivo de auxiliar o Ministério da Saúde (MS), a SBI sempre
se colocou e se coloca à disposição para atualizar todos os aspectos relacionados à
COVID-19, incluindo tratamento farmacológico em todas as fases da doença. Dada à
enorme gama de publicações, é fundamental que o MS atualize frequentemente
suas recomendações.
V) Da ausência de conflito
A Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) declara e afirma não possuir
nenhum conflito de interesse quer de natureza interna entre seus membros
diretores (Presidente e Diretores), quer de natureza externa com empresas que
desenvolvem, produzem ou vendem medicamentos, vacinas, insumos e
equipamentos destinados ao enfrentamento da pandemia causada pelo Coronavírus,
sendo que seu interesse é genérico e impessoal sobre medicamentos que devem e
que não devem ser consumidos de maneira precoce no tratamento de infecções ou
sintomas de infecções referentes à COVID-19, não possuindo absolutamente
nenhuma pretensão de se colocar contra essa ou aquela empresa ou laboratório ou
qualquer órgão oficial, no que se refere a métodos de pesquisa ou medicamentos
consolidados ou ainda em experiência no País ou em outras Nações tomadas pela
referida pandemia.
Os estudos clínicos no Brasil são regulamentados pela Comissão Nacional de
Ética em Pesquisa (CONEP) e pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA).
Nesse sentido, atendendo a solicitação de V. Ex.a, a SBI declara, ainda, não só
a participação de membros diretores, mas de vários associados como médicos
pesquisadores nos estudos clínicos relacionados à COVID-19 no Brasil, os quais têm
por objetivo avaliar a eficácia e segurança de medicamentos e vacinas, que possam
mudar o curso dessa devastadora pandemia.
A participação dos diretores da SBI nesses estudos está ligada à sua atuação
como médicos pesquisadores das instituições de pesquisa a que estão relacionados e
não constitui ação ligada ou intermediada pela SBI.
Os três estudos a seguir citados foram avaliados, aprovados e autorizados
pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP) e pela Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (ANVISA) para sua realização no Brasil e tem a participação de
médicos infectologistas diretores da SBI como pesquisadores clínicos, o que nos dá
muito orgulho de contribuir cientificamente num momento tão importante da
história da Medicina e da Humanidade. São eles:
• Fase 2 do ensaio clínico NITFQM320OR de prova de conceito,
multicêntrico, paralelo, randomizado e duplo-cego para avaliação de
segurança e eficácia da nitazoxanida 600mg em relação ao placebo no
tratamento de participantes da pesquisa com COVID-19 hospitalizados em
estado não crítico. O estudo é patrocinado pela Farmoquímica;
• Fase 3 do estudo clínico VAC31518COV3001, chamado
de ENSEMBLE, da candidata à vacina da empresa contra a COVID-19, JNJ-
78436735, também conhecida como Ad26.COV2.S. O ENSEMBLE é um
estudo clínico randomizado, duplo-cego e controlado por placebo
desenhado para avaliar a segurança e eficácia da vacina em dose única
versus placebo. Ao todo, o estudo contará com a participação de
aproximadamente 60 mil adultos com idades acima de 18 anos, incluindo
uma parcela significativa de voluntários com mais de 60 anos. A pesquisa
incluirá, além do Brasil, participantes na Argentina, Chile, Colômbia, México,
Peru, África do Sul e Estados Unidos. O estudo é patrocinado pela Janssen.
No Brasil, a princípio, até 7 mil voluntários podem participar dessa etapa do
estudo nos estados de São Paulo, Bahia, Distrito Federal, Rio de Janeiro,
Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do
Norte, Rio Grande do Sul e Santa Catarina, distribuídos em 28 centros de
pesquisa. Esse estudo encerrou a inclusão de participantes no Brasil em 9
de dezembro de 2020.
• Fase 3 do estudo clínico REMDACTA, conduzido pelo
laboratório Roche em parceria com a Gilead Sciences. O objetivo desse
ensaio multicêntrico é avaliar a segurança e a eficácia do tocilizumabe em
associação com o antiviral experimental remdesivir versus placebo e
remdesivir em pacientes hospitalizados com pneumonia grave por COVID-
19. A meta é incluir aproximadamente 450 pacientes em todo o mundo,
sendo 150 no Brasil. Esse estudo está em fase de recrutamento de
participantes.
VI) Dos documentos
Tendo em vista que o objetivo de V. Ex.a é conhecer os estudos clínicos que
embasaram as recomendações divulgadas pela entidade, incluímos extensas e
atualizadas listas de referências bibliográficas para que cada recomendação esteja
amparada em publicações científicas. Entretanto, não temos como enviar cópias de
todos os artigos, pois estaríamos cometendo o crime de violação de direito autoral,
previsto no art. 184 do Código Penal, para aqueles artigos que tem direitos autorais
acessados mediante pagamento à revista científica na qual foi publicado. A maioria
deles, porém, é de domínio público e podem ser facilmente acessados
eletronicamente, clicando na referência bibliográfica citada neste documento.
Caso não seja esse o entendimento de V. Ex.a, requer prazo de 10 (dez) dias
úteis para a juntada de todos os documentos de domínio público cujos links de
acesso foram ora disponibilizados nas citadas referências bibliográficas.
Sendo a COVID-19 uma doença viral e, portanto, da área da Infectologia,
sente-se a SBI na obrigação de contribuir com recomendações quanto ao seu
diagnóstico, tratamento e prevenção, como fizemos no documento “Atualizações e
Recomendações sobre a COVID-19” publicado em 9 de dezembro de 2002, bem
como neste documento em que tivemos a oportunidade de ampliar os
esclarecimentos e as referências bibliográficas que as norteiam e lhes dão
sustentação científica.
Porém, a prescrição de tratamento para todas as doenças no Brasil, inclusive
a COVID-19, é direito e responsabilidade do médico prescritor, o qual pode ou não
seguir nossas recomendações, assim como ocorre nas outras especialidades
médicas.
O documento “Atualizações e Recomendações sobre a COVID-19” de 9 de
dezembro de 2020 tem o apoio e a concordância de todos os ex-Presidentes vivos da
SBI, a saber: Prof. Adauto Castelo Filho, Prof. Celso Ramos Filho, Prof. João
Mendonça, Prof. Juvêncio Furtado, Prof. Marcelo Simão Ferreira, Prof. Érico Arruda,
Prof. Sergio Cimerman, bem como de todos atuais médicos infectologistas
Presidentes das Federadas (de cada estado) que compõem o Conselho Deliberativo
da SBI, aqui elencados:
✓ Alagoas (AL): Dra. Vania Rogeria Simões Pires;
✓ Amazonas (AM): Dr. Guilherme Augusto Pivoto João;
✓ Bahia (BA): Dra. Miralba Freire;
✓ Ceará (CE): Dr. Guilherme Alves de Lima Henn;
✓ Distrito Federal (DF): Dra. Heloisa Costa Ravagnani;
✓ Espírito Santo (ES): Dr. Alexandre Rodrigues da Silva;
✓ Goiás (GO): Dra. Christiane Reis Kobal;
✓ Maranhão (MA): Dra. Graça Maria de Castro Viana;
✓ Mato Grosso do Sul (MS): Dra. Andrea de Siqueira Campos Lindemberg;
✓ Minas Gerais (MG): Dr. Estêvão Urbano Silva;
✓ Pará (PA): Dr. Alessandre de Jesus Beltrão Guimarães;
✓ Paraíba (PB): Dra. Maria Benalva de Medeiros;
✓ Paraná (PR): Dra. Carla Sakuma de Oliveira;
✓ Pernambuco (PE): Dr. Francisco Leone de Souza Valença Filho;
✓ Piauí (PI): Dr. Kelsen Dantas Eulalio;
✓ Rio de Janeiro (RJ): Dra. Tânia Regina Constant Vergara;
✓ Rio Grande do Norte (RN): Dr. Igor Thiago Queiroz;
✓ Rio Grande do Sul (RS): Dra. Alexandre Vargas Schwarzbold;
✓ Roraima (RR): Dr. Luis Enrique Bermejo Galán;
✓ Santa Catarina (SC): Dr. Fábio Gaudenzi de Faria;
✓ São Paulo (SP): Dr. Eduardo Alexandrino Servolo de Medeiros;
✓ Sergipe (SE): Dra. Angela Maria da Silva;
✓ Tocantins (TO): Dra. Olívia Maria Veloso Costa Coutinho.
A Sociedade Brasileira de Infectologia está certa de vossa compreensão e
declara o absoluto interesse e disponibilidade para dialogar nos fóruns adequados e
com o Ministério da Saúde acerca das questões tratadas no informativo, sempre
com o objetivo de contribuir para o melhor enfrentamento desta pandemia
devastadora que está sendo a COVID-19.
A Sociedade Brasileira de Infectologia reitera votos de elevada estima e
consideração.
Atenciosamente,
➢ Diretores da SBI:
• Presidente: Clóvis Arns da Cunha (PR);
• Vice-Presidente: Alberto Chebabo (RJ);
• 1° Secretária: Lessandra Michelin (RS);
• 2ª Secretário: Antonio Carlos de Albuquerque Bandeira (BA);
• 1ª Tesoureira: Priscila Rosalba Domingos de Oliveira (SP);
• 2° Tesoureiro: Marcos Antonio Cyrillo (SP);
• Coordenador de Comunicação: Christiane Reis Kobal (GO);
• Coordenador de Informática: Estevão Urbano Silva (MG);
• Coordenador Científico: Sérgio Cimerman (SP).
➢ Médicos consultores da SBI:
• Alexandre Lima Rodrigues da Cunha (DF);
• Alexandre Naime Barbosa (SP);
• Alexandre Rodrigues da Silva (ES);
• Carlos Ernesto Ferreira Starling (MG);
• Décio Diament (SP);
• Eduardo Alexandrino Servolo de Medeiros (SP);
• Elizabeth S. Neves (RJ);
• Jaime Luís Lopes Rocha (PR);
• Karen Mirna Loro Morejón (SP);
• Leonardo Weissmann (SP);
• Marcelo Gomes dos Santos (RJ);
• Marcelo Simão Ferreira (MG);
• Raquel Silveira Bello Stucchi (SP);
• Rodrigo Schrage Lins (RJ);
• Roseane Pôrto Medeiros (SP);
• Tânia do Socorro Souza Chaves (PA);
• Tânia Regina Constant Vergara (RJ).
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