ministÉrio pÚblico do estado do paranÁ · 2011 (portaria nº 009/2011); exonerado em dezembro de...
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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ
6ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE FOZ DO IGUAÇU PROTEÇÃO AO PATRIMÔNIO PÚBLICO E FUNDAÇÕES
____________________________________________________
1 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000092-1
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ____ª
SECRETARIA DA FAZENDA PÚBLICA DA COMARCA DE FOZ DO
IGUAÇU-Pr.
“O ato de corrupção constitui um gesto de perversão da
ética do poder e da ordem jurídica, cuja observância se
impõe a todos os cidadãos desta República que não tolera
o poder que corrompe nem admite o poder que se deixa
corromper. Quem transgride tais mandamentos, não
importando a sua posição estamental, se patrícios ou
plebeus, governantes ou governados, expõe-se à severidade
das leis penais e, por tais atos, o corruptor e o corrupto
devem ser punidos, exemplarmente, na forma da lei”
(Ministro Celso de Mello do Supremo Tribunal Federal no
julgamento do Processo nº 470 - Mensalão - Revista VEJA
– edição 2290 de 10 de outubro de 2012, pág. 73).
O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO
DO PARANÁ, por seu Promotor de Justiça que ao final assina, no uso de suas
atribuições junto à PROMOTORIA ESPECIAL DE DEFESA DO
PATRIMÔNIO PÚBLICO, com fulcro no artigo 129, inciso III, da Constituição
Federal, artigo 25, inciso IV, letras "a" e "b", da Lei nº 8.625/93, artigos 1º e 5º,
da Lei nº 7.347/85, e 17, da Lei nº 8.429/92, vem, respeitosamente, perante
Vossa Excelência, propor a presente
AÇÃO CIVIL PÚBLICA DE RESPONSABILIDADE POR ATO DE
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA
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6ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE FOZ DO IGUAÇU PROTEÇÃO AO PATRIMÔNIO PÚBLICO E FUNDAÇÕES
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2 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000092-1
em face a:
EDILIO JOÃO DALL’AGNOL, brasileiro, casado, ex-vereador, natural de
Planalto-RS, nascido aos 04/01/1962, filho de Avelino A. Dall’Agnol e Libera
Dall’Agnol, portador da Cédula de Identidade R.G. nº 7.110.179-7 (SSPPR) e
CPF/MF nº 355.052.490-00, residente na Rua Perdigão, nº 381, Vila A, nesta
cidade e Comarca de Foz do Iguaçu-Pr;
ELIEZER BATISTA, brasileiro, casado, ex-assessor parlamentar1, natural de
Nova de Foz do Iguaçu-Pr, nascido aos 28/10/1967, filho de Raul Gonçalves
Batista e Ignácia Cabrera Batista, portador da Cédula de Identidade R.G. nº
4.203.948-9 (SSPPR), e CPF/MF nº 802.118.369-15, residente na Rua Arapuã,
nº 75, Bairro Carimã, nesta cidade e Comarca de Foz do Iguaçu-Pr;
ANAMIM FRANCO BENTO, brasileiro, casado, ex-assessor parlamentar2,
natural de São Mateus-ES, nascido aos 25/10/1949, filho de José Bento Sobrinho
e Eunice Maria Franco, portador da Cédula de Identidade R.G. nº 1.142.399-0
(SSPPR), e CPF/MF nº 283.119.659-00, residente na Rua Cajati, nº 85, no
Jardim Curitibano I, nesta cidade e Comarca de Foz do Iguaçu-Pr;
JOÃO MOYSES SOARES, brasileiro, solteiro, assessor parlamentar3, natural
de Mariluz-Pr, nascido aos 25/11/1965, filho de Geraldo Soares da Silva e Elzira
Vieira de Almeida, portador da Cédula de Identidade R.G. nº 3.688.760-5
1 Vide Portaria nº 25/2011. 2 Vide Portaria nº 23/2012. 3 Vide Portaria nº 09/2011.
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3 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000092-1
(SSPPR), e CPF/MF nº 524.910.649-87, residente na Rua Pau Brasil, nº 249, no
Jardim Tropical I, nesta cidade e Comarca de Foz do Iguaçu-Pr;
VALCI GARCIA SCANES, brasileiro, casado, ex-assessor parlamentar4,
natural de Primeiro de Maio-Pr, nascido aos 01/12/1954, filho de Francisco
Garcia Scanes e Maria Garcia Punhagui, portador da Cédula de Identidade R.G.
nº 1587359-0 (SSPPR), e CPF/MF nº 238.595.399-49, residente na Rua Manoel
Bandeira, nº 35, Vila Brasília, nesta cidade e Comarca de Foz do Iguaçu-Pr;
LEONICE STEMPCOSKI BRITTO, brasileira, casada, ex-assessora
parlamentar5, natural de Salto do Lontra-Pr, nascida as 14/05/1965, filha de
Alvade Natalício Stempcoski e Jussara Zago Stempcoski, portadora da Cédula
de Identidade R.G. nº 5.217.364-7 (SSPPR) e CPF/MF nº 742.406.689-72,
residente na Avenida Juscelino Kubitschek, nº 1.819, apartamento nº 168, centro,
nesta cidade e Comarca de Foz do Iguaçu-Pr; e
EDVALDO ERNESTO RODRIGUES, brasileiro, casado, assessor
parlamentar6, natural de Assaí-Pr, nascido aos 14/06/1966, filho de Eliezer
Rodrigues Neto e Valdice Ernesto Rodrigues, portador da Cédula de Identidade
R.G. nº 4747741-7 (SSPPR), e CPF/MF nº 577.403.059-87, residente na Rua
Orminda de Freitas César, nº 96, Vila São Sebastião, nesta cidade e Comarca de
Foz do Iguaçu-Pr,
pelos fatos e fundamentos a seguir aduzidos:
4 Vide Portaria nº 14/2011. 5 Vide Portaria nº 15/2011. 6 Vide Portaria nº 236/2010.
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4 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000092-1
1. DOS FATOS:
A 6ª Promotoria de Justiça local instaurou o
Inquérito Civil Público nº MPPR 0053.12.000092-1 visando apurar suposto
descumprimento aos princípios da moralidade e proporcionalidade pela Câmara
Municipal de Foz do Iguaçu, uma vez que havia 75 (setenta e cinco) servidores
comissionados e apenas 32 (trinta e dois) concursados, caracterizando, assim,
prática de ato de improbidade administrativa.
Com isso, o Ministério Público propôs, em
fevereiro de 2012, a ação buscando obrigação de fazer, com pedido liminar, para
que a Câmara Municipal exonerasse tantos ocupantes de cargos comissionados
quanto bastassem para atender ao princípio da proporcionalidade e moralidade
administrativa, a fim de que o número de tais servidores não fosse superior ao de
providos por concurso público e também para se abstivessem de manter
funcionários nomeados em quantidade superior ao de efetivos.
Deste feito foram extraídas cópias integrais e
instaurados outros 16 (dezesseis) Inquéritos Civis Públicos (um para cada
vereador e outro para os servidores da direção da casa de leis), tudo com o
escopo de apurar a sobredita improbidade (possível excesso de cargos
comissionados na Câmara Municipal), bem como suposto desvio de função e/ou
servidores comissionados irregulares.
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5 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000092-1
Com efeito, conforme declarações prestadas no
presente Inquérito Civil Público, verificou-se que CRISTIANE SILVA DE
CAMARGO MACHADO, EDVALDO ERNESTO RODRIGUES, JOÃO
MOYSES SOARES, VALCI GARCIA SCANES, LEONICE
STEMPCOSKI BRITTO, ANAMIM FRANCO BENTO e ELIEZER
BATISTA foram nomeados para exercerem os cargos de assessores
parlamentares do gabinete do ex-Vereador EDILIO JOÃO DALL’AGNOL,
durante o seu mandato compreendido entre os anos de 2009 a 2012 (nomeações
constantes no CD de fls. 598).
Contudo, da análise dos autos, em especial do
teor das oitivas, infere-se haver manifesto desvio de função por parte dos
assessores parlamentares EDVALDO ERNESTO RODRIGUES, JOÃO
MOYSES SOARES, VALCI GARCIA SCANES, LEONICE
STEMPCOSKI BRITTO, ANAMIM FRANCO BENTO e ELIEZER
BATISTA, vez que não exerciam as atividades inerentes ao cargo a que foram
contratadas.
A Resolução Legislativa nº 015, de
17/06/2003, que “dispõe sobre a organização administrativa da Câmara
Municipal de Foz do Iguaçu”, em seu artigo 9º, prevê que:
“Art. 9º. São atribuições do Assessor
Parlamentar:
I – prestar serviços ao vereador, em atividades
externas;
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6 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000092-1
II – atender e prestar esclarecimentos a pessoas
que demandem ao gabinete;
III – agendar compromissos do titular do
gabinete;
IV – elaborar e expedir as correspondências do
gabinete;
V – manter arquivo das correspondências
recebidas e expedidas pelo gabinete e de outros
documentos de interesse deste;
VI - efetuar o controle das pautas de sessões e
de proposições legislativas de interesse do
gabinete;
VII - assistir o titular do gabinete no
desempenho de suas atribuições;
VIII – organizar as reuniões promovidas pelo
gabinete, providenciando a pauta e os convites
aos participantes;
IX – executar outras tarefas determinadas pelo
titular do gabinete, inerentes as atribuições
deste”.
Em sede de depoimento (arquivo de áudio e
vídeo em CD-ROM anexo), EDVALDO ERNESTO RODRIGUES declarou
que exerceu o cargo de assessor parlamentar do ex-Vereador EDILIO JOÃO
DALL’AGNOL desde 1º de janeiro de 20097. Indagado acerca das funções de
7 Histórico de nomeações e exonerações: Nomeado em janeiro de 2009 (Portaria nº 074/2009); Exonerado em outubro de 2010 (Portaria nº 167/2010); Nomeado em novembro de 2010 (Portaria nº 199/2010); Exonerado em janeiro de 2012 (Portaria nº 04/2012); Nomeado em novembro de 2010 (Portaria nº 236/2010).
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7 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000092-1
um assessor parlamentar, disse: “olha o serviço de um assessor parlamentar é
uma pessoa que leva mensagens da população para o vereador e do vereador à
população, então a gente faz de tudo (...) desde uma reclamação de quebra-
molas, poda de árvore, troca de lâmpada, calçada, geral (...) de repende você
está dormindo, de repente o telefone toca, você vai fazer aquele atendimento da
pessoa que o parente faleceu”. Quanto a este atendimento, afirmou que prestava
o auxílio no fornecimento de terrenos nos cemitérios. Asseverou que ia à Casa
de Leis todos os dias, mas não tinha horário fixo de trabalho, pois geralmente
estava na rua para fazer as indicações de problemas ocorridos na sociedade e ir
aos bairros para obter as reclamações formuladas pela população. Explanou que
a cidade é grande e que, por esta razão, diariamente haviam reclamações (atendia
igrejas, solicitações de emprego, etc). Garantiu que trabalhava em média de 14 a
16 horas por dia. Questionado acerca do que havia feito na semana que
antecedeu ao depoimento, atendeu pedidos de podas de árvore na região da Vila
Portes, solicitação de calçadas, creches e buracos. Disse que já havia feito de 30
(trinta) a 40 (quarenta) indicações de problemas nas comunidades (fls. 510).
Por sua vez, JOÃO MOYSES SOARES
afirmou que exerceu o cargo de assessor parlamentar do ex-Vereador EDILIO
JOÃO DALL’AGNOL desde o segundo semestre de 20118 e que ganhava
(líquido) R$ 3.790,00 (três mil setecentos e noventa reais). Assegurou que ia
diariamente à Câmara de Vereadores e lá permanecia das 08hs00min às
14hs00min. Explicou que atendia ao público encaminhando as pessoas aos 8 Histórico de nomeações e exonerações: Nomeado em janeiro de 2005 (Portaria nº 33/2005); Exonerado em novembro de 2005 (Portaria nº 191/2005); Nomeado em março de 2006 (Portaria nº 48/2006); Exonerado em dezembro de 2006 (Portaria nº 146/2006); Nomeado em janeiro de 2009 (Portaria nº 72/2009); Exonerado em janeiro de 2011 (Portaria nº 005/2011); Nomeado em janeiro de 2011 (Portaria nº 009/2011); Exonerado em dezembro de 2012 (Portaria nº 189/2012); Nomeado em dezembro de 2012 (Portaria nº 191/2012).
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8 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000092-1
órgãos competentes e, após as 14hs00min, também dava “apoio” nos bairros,
buscando “indicações de quebra-molas, redutor de velocidade, buracos que tem
que tampar”. Disse que já havia feito aproximadamente 100 (cem) indicações.
Assegurou que também prestava apoio “político” nos bairros: “cada um mora
numa região da cidade, então cada um dá sustentação nos seu bairro, buscando
indicação de quebra-molas, redutor de velocidade, semáforo”. Afirmou que é
sócio de uma fábrica de vassouras em Campos Bonitos-Pr (próximo a cidade de
Ibema-Pr) da qual são sócios: EDVALDO ERNESTO RODRIGUES e
EDILIO JOÃO DALL’AGNOL e que quase não ia até a aludida empresa
aberta em 2011, pois havia designado funcionários para fiscalizarem os trabalhos
(fls. 507).
VALCI GARCIA SCANES também
confirmou que foi assessor parlamentar9 do ex-Vereador EDILIO JOÃO
DALL’AGNOL. Disse que conhecia o então vereador há 08 (oito) anos e que
por esta razão foi convidado a exercer o cargo comissionado. Afirmou que
trabalhava diariamente das 08hs00min às 14hs00min e fazia mais trabalhos
externos do que internos, principalmente na elaboração de indicações. No
entanto, embora fosse à Câmara todos os dias, disse que nunca reparou no
enorme buraco existente nas proximidades da Casa de Leis. Indagado, ainda,
acerca do endereço e das características do imóvel do Poder Legislativo nesta
cidade, não soube declinar o logradouro e sequer a cor do prédio da Câmara.
Informou que o dia-a-dia como assessor era assistencialista: atendia as pessoas
que compareciam no gabinete, encaminhava as pessoas do “SOS” da ação social,
fazia visitas e indicações sobre os principais problemas da população, tais como: 9 Histórico de nomeações e exonerações: Nomeado em janeiro de 2011 (Portaria nº 014/2011); Exonerado em dezembro de 2012 (Portaria nº 188/2012).
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9 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000092-1
quebra-molas, buracos de ruas, “creches” para idosos, etc. Indicou que ganhava
o valor de R$ 4.500,00 (quatro mil e quinhentos reais) líquidos. Consignou que
dois projetos foram de sua autoria: “um no Bairro Cidade Nova (problemas de
buracos no asfalto) e outro na Av. JK (também relacionado à existência de
buracos nas vias urbanas)”. Por fim, alegou que, simultaneamente ao exercício
do cargo comissionado - após às 14hs00min - realizava atividades profissionais
de mecânico de automóveis e atuava como autônomo na venda de caldo de cana
na Av. Tancredo Neves das 16hs00min às 21hs00min. (fls. 508).
Em seu depoimento, LEONICE
STEMPCOSKI BRITTO declarou que foi assessora parlamentar do ex-
Vereador EDILIO JOÃO DALL’AGNOL desde janeiro de 201010. Informou
que na Câmara dos Vereadores desempenhava um trabalho para a comunidade
(assistência social na área da saúde): “visito as pessoas, encaminho até uma
pessoa de idade para receber aposentadoria, levo para encaminhar para
perícia, levo até o SUS, a pessoa não tem carro”. Indagada sobre as atividades
desempenhadas no dia do depoimento (13.08.2012), disse: “hoje cedo eu fui até
uma senhora lá na Vila C, ela está com problema de joelho, não consegue ficar
numa fila de centenas de consultas para conseguir um ortopedista, eu fui até lá,
duas pessoas: uma com problema no joelho e outra com uma “joanete” que não
está conseguindo mais andar”. Ressaltou ainda que não obteve êxito na consulta
dos pacientes, pois a fila era grande e que retornaria para conseguir pelo menos
um clínico geral. Comunicou que não ia todos os dias na Câmara, assim como
não havia horário fixo de trabalho e que a única assessora que exercia funções
internas era CRISTIANE SILVA DE CAMARGO MACHADO. Assegurou que, 10 Histórico de nomeações e exonerações: Nomeado em janeiro de 2011 (Portaria nº 015/2011); Exonerado em dezembro de 2012 (Portaria nº 187/2012).
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10 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000092-1
além de levar pessoas doentes aos médicos, utilizando de carro particular,
também atendia pessoas que precisavam de assistência funeral. Consignou, por
fim, que o salário de assessor era de R$ 4.500,00 (quatro mil e quinhentos reais)
líquidos (fls. 509).
Denota-se que, ao invés de exercer as
atribuições de seu cargo, LEONICE STEMPCOSKI BRITTO preferia levar
pessoas doentes para consultas médicas. Assim, restou demonstrado manifesto
desvio de função, pois a ré foi nomeada para o cargo de assessora parlamentar e
não para o de motorista e/ou socorrista de casa hospitalar (se é que existe
possibilidade de livre nomeação para o exercício de tais cargos).
ANAMIM FRANCO BENTO declarou que
foi nomeado assessor parlamentar do ex-Vereador EDILIO JOÃO
DALL’AGNOL em 30 de junho de 201211. Comunicou que ganhava líquido R$
3.700,00 (três mil e setecentos reais) e que ia à Câmara dos Vereadores todos os
dias para tentar resolver os problemas que apareciam. Ao ser indagado acerca de
tais problemas, disse: “a Igreja Batista lá da Vila C está com um problema lá
que está no FOZHABITA ‘né’ que precisa ser resolvido, problema de
documentos junto à Itaipu Binacional, então pediram ajuda política e me
incumbiram de falar com o vereador Edílio”.
Além de tais atribuições, explicou que fazia
“política” e pedia votos para o referido vereador, já que estavam em época de
campanha eleitoral: “como eu já disse ‘né’ eu faço política, peço voto, que 11 Histórico de nomeações e exonerações: Nomeado em junho de 2012 (Portaria nº 097/2012); Exonerado em janeiro de 2013 (Portaria nº 001/2013).
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11 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000092-1
agora é momento de pedir voto ‘né’ para o eleitor e se surge um problema
assim, a gente procura dar atenção pra pessoa mesmo que não tenha condição
de resolver (...) pode conversar, ganhar o voto da pessoa e depois tentar
resolver o problema da pessoa também”.
Para confirmar o assistencialismo e
clientelismo ao ex-vereador, disse: “meu negócio é política, pedir votos, se tiver
uma oportunidade eu ‘tô’ pedindo voto pra ele, a gente não pode perder o
eleitor”. Questionado acerca da quantidade aproximada de votos que pedia
diariamente, asseverou: “muita, muita quantidade, o máximo, uma média de 200
votos por dia, eu peço mais né, mas uma média diária assim”.
Indagado sobre a rotina de trabalho, afirmou:
“eu vou direto à Câmara, assim, não todo dia que eu fico lá, mas agora chegou
a campanha da política, então o negócio é ‘politicar’, eu vou lá pego o material,
passo na casa dele”. Garantiu que no dia 28.08.2012 (data do depoimento)
atendeu uma reclamação do meio ambiente, mas não soube declinar com sequer
o nome da pessoa que efetuou a reivindicação. No mesmo dia, atestou que só fez
isso e pediu voto para o então vereador e que assim que terminasse de prestar o
depoimento já iria “politicar”. O réu, ainda, entendeu pertinente mencionar:
“ontem à noite eu ‘politiquei’ também na Avenida Maceió, Avenida 3 e na
Avenida 9 (Região da Vila A)”.
Por fim, disse que sempre andava com
santinho do vereador no bolso, tendo a audácia de oferecer um exemplar ao
membro do Parquet durante seu depoimento (fls. 505).
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12 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000092-1
As atividades empreendidas de “politicar” nos
bairros da cidade, tal qual denominou, incluíam, como bem ressaltou ANAMIM
FRANCO BENTO em seu depoimento, pedido de votos e distribuição de
santinhos do então vereador EDILIO JOÃO DALL’AGNOL. Em verdade,
portanto, não se trata de mero atendimento à população, mas atendimento a
eleitores em potencial.
No mesmo sentido, ELIEZER BATISTA
confirmou que era assessor parlamentar12 do ex-Vereador EDILIO JOÃO
DALL’AGNOL. Disse que não ia todos os dias na Câmara, comparecendo umas
3 (três) ou 4 (quatro) vezes por semana e que entrava às 08hs30min/09hs00min
para sair por volta das 10hs00min/11hs00min. Explicou que raramente
encontrava os outros assessores, por não haver espaço suficiente para todos no
gabinete. Informou que fazia ações fora do gabinete, especialmente em razão da
falta de espaço. Aduziu que visitava os bairros da cidade, coletava reclamações e
levava algumas indicações ao vereador: “uma questão de um terminal de posto
de saúde, um atendimento que está ruim, está péssimo ou uma estrada que está
com problemas, iluminação pública, a gente traz essas reclamações”.
Afirmou que grande parte das reivindicações
estava relacionada aos problemas na área de saúde e ao sistema viário da cidade.
Indagado sobre como tinha conhecimento dos problemas da comunidade,
asseverou: “a gente vai até o povo”. Questionado acerca de suas atividades
12 Histórico de nomeações e exonerações: Nomeado em maio de 2010 (Portaria nº 055/2010); Exonerado em outubro de 2010 (Portaria nº 154/2010); Nomeado em novembro de 2010 (Portaria nº 252/2012); Exonerado em dezembro de 2010 (Portaria nº 283/2010); Nomeado em janeiro de 2011 (Portaria nº 025/2011); Exonerado em janeiro de 2011 (Portaria nº 030/2011); Nomeado em março de 2011 (Portaria nº 112/2011).
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13 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000092-1
durante época de campanha eleitoral, disse: “tenho ajuda na logística da
campanha, coletando informações dos votos que o vereador está precisando
levantar”.
Narrou que as reclamações são colhidas em
conversas com a população e, posteriormente, repassadas ao então vereador.
Ressaltou que o papel do Legislativo é provocar a atuação do Executivo quanto
às reivindicações populares.
Por fim, asseverou que quando recebe uma
reclamação de buraco: “ou passo direto para o pessoal do ‘DRM’ quando a
coisa é pequena ou informo para o Vereador para que insira no orçamento
futuro para que se faça” (fls. 504).
Denota-se, assim, que conforme as
transcrições acima, os assessores parlamentares EDVALDO ERNESTO
RODRIGUES, JOÃO MOYSES SOARES, VALCI GARCIA SCANES,
LEONICE STEMPCOSKI BRITTO, ANAMIM FRANCO BENTO e
ELIEZER BATISTA não desempenhavam as funções a eles inerentes, e sim,
faziam assistencialismo ao ex-Vereador, caracterizando uma evidente artimanha
para promovê-lo politicamente.
Verifica-se que a função de tapar os buracos
nas ruas, de melhorar a iluminação pública, constatar a necessidade de quebra-
molas e redutores de velocidade, levar pessoas doentes às casas hospitalares e/ou
postos de saúde etc., não é típica do Poder Legislativo, mas sim do Executivo.
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14 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000092-1
Sendo o Prefeito a figura máxima do
Executivo no âmbito municipal, deve atender os anseios da população, reunindo-
se constantemente com a sociedade a fim de aferir as reivindicações coletivas,
encontrando as possibilidades para a satisfação das necessidades do município.
Já o Poder Legislativo é responsável pela
elaboração e aprovação das leis. Além disso, tem como dever a fiscalização do
orçamento público e da administração do Poder Executivo.
Destarte, resta caracterizado o desvio de
função, id est, tudo acontecia com finalidade eleitoreira por parte de quem detém
o poder, ou seja, do ex-Vereador EDILIO JOÃO DALL’AGNOL.
O desvio de função é o desempenho pelo
funcionário público de serviços não inerentes ao cargo por ele ocupado.
Há dúvida, inclusive, se tais atividades foram
efetivamente prestadas pelos assessores parlamentares, tendo em vista a falta de
informações, freqüência e comprovação de eficiência em seu labor, já que suas
oitivas são confusas e vagas. Ademais, o labor seria realizado em residências e
bairros, o que, por certo, não é usual e causa estranheza.
Assim, é imperioso ressaltar que o trabalho
externo a ser desenvolvido por um assessor é mais do que fazer indicações nas
adjacências ou proximidades de sua residência, devendo auxiliar o Vereador no
exercício das funções típicas do Poder Legislativo.
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15 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000092-1
Se assim fosse permitido, necessária a
autorização para contratação de 290 assessores nesta Comarca: um para cada
bairro do Município em tela.
Observa-se que as funções de assessor
parlamentar são por eles desempenhadas como cargos em comissão, de livre
nomeação e exoneração.
Há farta prova de que o então Vereador,
desvirtuando a função pública dos cargos em comissão postos a sua disposição,
atribuiu aos seus ocupantes o exercício de atividades de natureza privada e em
proveito próprio, o que caracteriza, da mesma forma, ato ímprobo previsto no
artigo 9º, caput, e inciso IV, artigo 10, caput, e incisos I e XII, bem como artigo
11, caput, e inciso I, todos da Lei nº 8.429/92.
2. DOS FUNDAMENTOS:
2.1. DO DESVIO DE FINALIDADE:
A Carta Magna estabelece que os cargos em
comissão devem ser compatíveis com funções de confiança política para as quais
foram idealizadas. Infere-se desta assertiva que quando desprovidos destas
características configurar-se-á desvio de finalidade. Esta é a situação existente na
Câmara Municipal de Foz do Iguaçu-Pr.
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16 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000092-1
Leciona Celso Antônio Bandeira de Mello que
o desvio de poder se verifica:
“Quando o agente se serve de um ato para
satisfazer finalidade alheia à natureza do
ato utilizado. Há, em consequência, um
mau uso da competência que o agente
possui para praticar atos administrativos,
traduzida na busca de uma finalidade que
simplesmente não pode ser buscada ou,
quando possa, não pode sê-lo através do ato
utilizado13”.
A autoridade que pratica uma conduta com
finalidade diversa está praticando ato de improbidade administrativa, vez que o
desvio de finalidade nada mais é do que simulação, tentativa de mascarar a real
intenção da autoridade pública.
Ademais, preleciona a renomada doutrinadora
Maria Sylvia Zanella di Pietro14:
“O desvio de poder ocorre quando a
autoridade usa do poder discricionário
para atingir fim diferente daquele que a lei
13 MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Elementos de Direito Administrativo. 3. ed. São Paulo:
Malheiros, 1992. p. 126-127. 14 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 8. ed., São Paulo: Atlas, 1997. p. 211.
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17 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000092-1
fixou. Quando isso ocorre, fica o Poder
Judiciário autorizado a decretar a nulidade
do ato, já que a Administração fez uso
indevido da discricionariedade, ao desviar-
se dos fins de interesse público definidos na
lei”.
No presente caso, o ex-Vereador EDILIO
JOÃO DALL’AGNOL se valeu de seus funcionários, remunerados pelo Órgão
Legislativo, utilizando-os em flagrante desvio de função, isto é, com fim diverso
daquele previsto no artigo 9º da Resolução Legislativa nº 15/2003, que dispõe
sobre a organização administrativa da Câmara Municipal de Foz do Iguaçu,
incidindo, desta forma, no tipo previsto no artigo 11º, caput, e inciso I, da Lei de
Improbidade Administrativa, conforme se verá adiante.
Neste diapasão, dispõe a doutrina15:
“(...) o desvio de poder é, por definição, um
limite à ação discricionária, um freio ao
transbordamento da competência legal
além de suas fronteiras, de modo a impedir
que a prática do ato administrativo,
calcada no poder de agir do agente, possa
dirigir-se à consecução de um fim de 15 SILVA, Jarly. O desvio de finalidade do administrador público sob a ótica dos princípios
constitucionais da impessoalidade e moralidade. Disponível em: <http://www.artigonal.com/direito-artigos/o-desvio-de-finalidade-do-administrador-publico-sob-a-otica-dos-principios-constitucionais-da-impessoalidade-e-moralidade-1602407.html>. Acesso em 05/12/2012.
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18 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000092-1
interesse privado, ou mesmo de outro fim
público estranho à previsão legal”.
A utilização de assessores parlamentares para
exercerem funções como “levar pessoas para atendimento médico no SUS”,
“pedir votos e distribuir santinhos” ou “reparos em asfaltos”, caracteriza,
indiscutivelmente, desvio de finalidade, à vista da ausência de adequação do fato
ao seu fim legal.
Acrescenta, ainda, a sobredita lição:
“O poder foi conferido ao administrador
público para realizar determinado fim, por
determinados motivos e por determinados
meios, toda ação que se apartar dessa
conduta, contrariando o desejo da lei,
padece do vício de desvio de poder ou de
finalidade e, como todo ato abusivo ou
arbitrário, é ilegítimo.
(...)
O desvio de finalidade ou de poder é, assim,
a violação ideológica da lei, ou, por outras
palavras, a violação moral da lei,
colimando o administrador público fins não
requeridos pelo legislador, ou utilizando
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19 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000092-1
motivos e meios imorais para a prática de
um ato administrativo aparentemente legal.
O ato praticado com desvio de finalidade –
como todo ato ilícito ou imoral – ou é
consumado às escondidas ou se apresenta
disfarçado sob o capuz da legalidade e do
interesse público. Diante disto, há que ser
surpreendido e identificado por indícios e
circunstâncias que revelem a distorção do
fim legal, substituído habilidosamente por
um fim ilegal ou imoral não desejado pelo
legislador”.
Destaca-se que uma das formas previstas em lei
para punição do agente responsável por tais ilegalidades, objeto deste pedido, veio
regulamentada pela Lei nº 8.429/92, que complementou o artigo 37, § 4º, da
Constituição Federal, prevendo sanções de natureza não criminal para a prática de
atos de improbidade administrativa, divididos em três espécies, ou seja: os que
importam em enriquecimento ilícito (previstos no artigo 9º), os que causam lesão
ao erário (previstos no artigo 10) e os que atentam contra os princípios da
Administração Pública (previstos no artigo 11).
2.2. DOS ATOS QUE IMPORTEM EM ENRIQUECIMENTO ILÍCITO:
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20 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000092-1
Reza o artigo 9º, caput, e seu inciso IV e XI,
da Lei nº 8.429/92:
“Art. 9º: Constitui ato de improbidade
administrativa importando enriquecimento
ilícito auferir qualquer tipo de vantagem
patrimonial indevida em razão do exercício
de cargo, mandato, função, emprego ou
atividade nas entidades mencionadas no
artigo 1º desta lei, e notadamente:
(...).
IV - utilizar, em obra ou serviço particular,
veículos, máquinas, equipamentos ou
material de qualquer natureza, de
propriedade ou à disposição de qualquer das
entidades mencionadas no art. 1° desta lei,
bem como o trabalho de servidores públicos,
empregados ou terceiros contratados por
essas entidades;
XI - incorporar, por qualquer forma, ao seu
patrimônio bens, rendas, verbas ou valores
integrantes do acervo patrimonial das
entidades mencionadas no art. 1° desta lei;”
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21 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000092-1
Verifica-se que EDVALDO ERNESTO
RODRIGUES, JOÃO MOYSES SOARES, VALCI GARCIA SCANES,
LEONICE STEMPCOSKI BRITTO, ANAMIM FRANCO BENTO e
ELIEZER BATISTA foram nomeados para os cargos em comissão de
assessores parlamentares, junto ao Gabinete do ex-Vereador EDILIO JOÃO
DALL’AGNOL, sem que nunca tivessem exercido as funções relativas a esse
cargo, sendo que os vencimentos foram utilizados em proveito daqueles.
Com isso, os requeridos enriqueceram-se
ilicitamente, pois auferiram vantagem patrimonial indevida em razão do
mandato do ex-Vereador EDILIO JOÃO DALL’AGNOL e dos cargos de
assessores parlamentares, consistente no desvio da remuneração paga pela
Câmara de Vereadores de Foz do Iguaçu-Pr para o (simulado) desempenho de
funções que deveriam ter sido realizadas pelos réus.
Ainda, ocorreu a incorporação ao patrimônio
dos requeridos, de valores integrantes do acervo patrimonial da Câmara
Municipal. É que, como exaustivamente se afirmou EDVALDO ERNESTO
RODRIGUES, JOÃO MOYSES SOARES, VALCI GARCIA SCANES,
LEONICE STEMPCOSKI BRITTO, ANAMIM FRANCO BENTO e
ELIEZER BATISTA nunca trabalharam efetivamente para as funções nas quais
foram nomeados. E, em tendo os réus se aproveitado de tal situação, vieram a
incorporar, ilicitamente, valores pertencentes à Casa de Leis local.
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22 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000092-1
Os assessores réus receberam sem ‘trabalhar’,
enriqueceram ilicitamente à custa do erário e do suor do contribuinte, com
remunerações muito superiores à da maioria da população brasileira, que não
conta com o denominado "padrinho" ou "pistolão".
Assim sendo, os requeridos nunca
desempenharam as atribuições inerentes ao cargo para os quais foram nomeados,
aceitando participar de uma fraude contra a Administração Pública para atingir
finalidades particulares, desrespeitando o artigo 15, da Lei nº 8.112/90, aplicado
analogicamente, in verbis: "efetivo desempenho das atribuições do cargo público
ou da função de confiança".
Destarte, ao fazerem promoção política para o
ex-Vereador EDILIO JOÃO DALL’AGNOL, este também enriqueceu
ilicitamente, na medida em que deveria arcar com suas próprias despesas em
trabalhos políticos, e não utilizar os cargos públicos de assessores parlamentares
para esta função.
Trata-se de experiência corriqueira no Estado
brasileiro totalmente reprovável, tanto do ponto de vista da autoridade que
nomeia quanto da pessoa que aceita ser favorecido por tal ilicitude.
A conduta dos requeridos, logo, encontra plena
e perfeita caracterização nos termos do que dispõem o caput e os incisos IV e XI
do artigo 9º da Lei de Improbidade Administrativa.
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23 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000092-1
O enriquecimento ilícito dos réus ocasionou
notório prejuízo ao erário municipal, o qual desembolsou valores para o
pagamento de serviços inúteis, desempenhado pelos assessores do Gabinete do
ex-Vereador réu, não obstante a Câmara de Vereadores realizar o pagamento
desses comissionados.
O enriquecimento ilícito e consequentemente o
prejuízo da Casa de Leis local, segundo Informação de Auditoria de fls. 586/593,
foi de R$ 786.970,13 (setecentos e oitenta e seis mil, novecentos e setenta reais e
treze centavos), sendo:
R$ 13.818,63 – ANAMIM FRANCO BENTO;
R$ 110.852,24 – ELIEZER BATISTA;
R$ 145.699,87 – JOAO MOYSES SOARES;
R$ 122.646,23 – VALCI GARCIA SCANES;
R$ 122.646,23 – LEONICE STEMPCOSKI BALDISSARELLI; e
R$ 271.306,93 – EDVALDO ERNESTO RODRIGUES.
A evidente e reprovável conduta ilícita é
destacada nos seguintes julgados:
“AÇÃO CIVIL PÚBLICA.
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA.
CÂMARA MUNICIPAL. DESIGNAÇÃO
SIMULADA DE SERVIDORES. CARGOS
EM COMISSÃO. FALTA DE
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24 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000092-1
PRESTAÇÃO REGULAR DE SERVIÇOS.
É procedente o pedido de ressarcimento,
formulado em ação civil pública, diante da
demonstração de que servidores
municipais, ocupantes, na época, de cargo
comissionado, não exerceram regularmente
suas funções. Nega-se provimento ao
agravo retido, rejeita-se a preliminar e
nega-se provimento aos recursos de
apelação” (TJMG, 4ª Câmara Cível, Apelação
nº 1.0035.00.003341-1/004, Relator DES.
ALMEIDA MELO, j. 06.09.2007, DJ
21.09.2007).
“Constitucional/Administrativo Ação de
improbidade administrativa. Legitimação
ativa do Ministério Público e demais
condições acionárias presentes.
Cerceamento defensório inocorrente.
Empresa pública municipal - Contratação
de servidora sem a realização de concurso
público ou processo seletivo - Ausência de
efetivo exercício das funções respectivas,
apesar de assinado o ponto - Recebimento
dos salários - Infringência ao art. 37,
“caput” e inciso II, da CF -
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25 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000092-1
Responsabilização de todos os envolvidos -
Penalidades bem impostas, incluso o
ressarcimento do erário - Procedência
parcial ampliada para total - Provimento
ao recurso ministerial e desprovimento dos
demais” (TJSP, 13ª Câmara de Direito
Público, Apelação com revisão nº
8944185100, Rel. Des. Ivan Sartori, j.
24.06.2009, DJ 18.08.2009).
Em razão disso, EDVALDO ERNESTO
RODRIGUES, JOÃO MOYSES SOARES, VALCI GARCIA SCANES,
LEONICE STEMPCOSKI BRITTO, ANAMIM FRANCO BENTO,
ELIEZER BATISTA e EDILIO JOÃO DALL’AGNOL ficam sujeitos às
sanções previstas no artigo 12, inciso I, da referida Lei nº 8.429/92.
2.3. DOS ATOS CAUSADORES DE PREJUÍZO AO ERÁRIO:
A Lei nº 8.429/92 disciplina a repressão aos
atos de improbidade administrativa praticados por agentes públicos que
importam em enriquecimento ilícito, que causam prejuízo ao erário e que
atentam contra os princípios da administração pública, estabelecendo as sanções
aplicáveis aos seus autores, dentre elas, a de ressarcimento integral do dano.
O artigo 10º, caput, e incisos I e XII, do
aludido diploma legal prevê:
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26 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000092-1
“Art. 10. Constitui ato de improbidade
administrativa que causa lesão ao erário
qualquer ação ou omissão, dolosa ou
culposa, que enseje perda patrimonial,
desvio, apropriação, malbaratamento ou
dilapidação dos bens ou haveres das
entidades referidas no art. 1º desta Lei, e
notadamente:
I - facilitar ou concorrer por qualquer
forma para a incorporação ao patrimônio
particular, de pessoa física ou jurídica, de
bens, rendas, verbas ou valores integrantes
do acervo patrimonial das entidades
mencionadas no art. 1º desta Lei;
(...)
XII – permitir, facilitar ou concorrer para
que terceiro se enriqueça ilicitamente;”
Assim, pode-se dizer que, ao contratar
EDVALDO ERNESTO RODRIGUES, JOÃO MOYSES SOARES, VALCI
GARCIA SCANES, LEONICE STEMPCOSKI BRITTO, ANAMIM
FRANCO BENTO e ELIEZER BATISTA em flagrante ofensa a Lei de
Improbidade Administrativa, bem como à Carta Magna, o réu EDILIO JOÃO
DALL’AGNOL facilitou a incorporação de verba pública ao patrimônio destes,
o que resultou num enriquecimento ilícito, apesar da supracitada vedação legal.
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27 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000092-1
Ora, se tais verbas legalmente não deveriam
ser suportadas pela Administração Pública, em razão das funções exercidas por
estes não serem as legalmente previstas (em flagrante desvio de finalidade), tais
gastos configuram dano ao erário, gerando ao Poder Público o direito de ser
ressarcido do que ilicitamente pagou.
Desta forma, o requerido EDILIO JOÃO
DALL’AGNOL deu causa a pagamentos de verbas indevidas a tais contratados,
id est, o que representa perda patrimonial para a Administração Pública (prejuízo
aos cofres públicos) em razão deste possuir 06 (seis) dos 07 (sete) assessores
parlamentares que exercem diariamente funções de assistencialismo no
Município de Foz do Iguaçu, conforme declarações às fls. 504/510.
Destarte, não podem os contribuintes do
Município de Foz do Iguaçu arcar com este ônus, pois o povo não deve sustentar
as ilegalidades praticadas pelos seus governantes. Assim, como o requerido
EDILIO JOÃO DALL’AGNOL foi o responsável pelas contratações ilegais e
pelos pagamentos das sobreditas verbas, bem como pelo prejuízo ao patrimônio
público do Município de Foz do Iguaçu, deve ele restituir o dano causado ao
erário.
Aliás, assim têm reconhecido a doutrina e a
jurisprudência:
"(...) o dinheiro público, exatamente por ser
res publica, há de ser gasto dentro da estrita
conformidade legal.
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28 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000092-1
(...)
'Quem quer que utilize dinheiros públicos
terá de verificar seu bom e regular emprego,
na conformidade das leis, regulamentos e
normas emanadas das autoridades
administrativas competentes', ou seja: 'quem
gastar, tem de gastar de acordo com a lei'
Isso quer dizer: quem gastar em desacordo
com a lei, há de fazê-lo por sua conta, risco e
perigos. Pois impugnada a despesa, a quantia
gasta irregularmente terá de retornar ao
Erário Público.
Não caberá a invocação, assaz de vezes
realizada, de enriquecimento ilícito da
Administração.
(...)
Se são 'nulos', ou, melhor expressão, 'não
convalidáveis', são retirados do mundo
jurídico, retroagindo os efeitos do
desfazimento ex tunc. Evidentemente, efeitos
padrônomicos ao ato, já acontecidos, não são
suscetíveis de eliminação. Daí por que os
terceiros de boa fé devem ser indenizados.
Entretanto, não bastará a invalidação
administrativa do ato, sem recomposição do
Erário, para se excluir a ação popular.
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29 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000092-1
(...)
Demais disso, há que se enfatizar que,
suprimido do mundo jurídico o ato maculado
de ilegalidade, a conseqüência será a
reposição ao erário.
(...)
Aquele que praticou os atos terá agido por
sua conta, riscos e perigos16" (grifou-se e se
destacou).
“Como corretamente anotou o Min. Mílton
Pereira, ‘a escusar-se a responsabilidade do
administrador público, pela salvaguarda de
que o empregado, em contraprestação,
prestou serviços, será construir um estranho
indene de impunidade em favor do agente
político que praticou ato manifestamente
contra a lei - nexo causal das obrigações da
relação de trabalho nascida de ato ilegal -
criando-se inusitada convalidação dos efeitos
de ato nulo. Será estimular o ímprobo a agir
porque, a final, aquela contraprestação o
resguardará contra ação de responsabilidade
civil.’
(...)
16 FERRAZ, Sérgio e FIGUEIREDO, Lúcia Valle. op. cit. p. 93, 106-107.
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30 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000092-1
Está em questão um princípio: fazendo
tabula rasa da Constituição e da lei, pode o
administrador contratar impunemente, sem
concurso, ou em período defeso..., e ficar
tudo por isso mesmo? Pode cometer tais
ilegalidades gritantes e mandar a conta para
os cofres públicos? Pode ser a execução da
própria ilegalidade o bill de indenidade que
irá beneficiar o administrador ímprobo? Isto
é absurdo.
Se o administrador pudesse assim estar
garantido, poderia contratar impunemente
seus apaniguados para ardorosamente
labutarem em sinecuras ou fazerem obras
que terceiros poderiam fazer melhor e mais
barato para a Fazenda17” (grifou-se e se
destacou).
É inquestionável que a contratação dos ditos
assessores para exercerem integralmente funções meramente assistenciais, em
desacordo com a legislação pertinente, importa em prejuízo ao erário, já que
qualquer diminuição do patrimônio público advinda de ato inválido caracteriza
dano e redunda no dever de ressarcir.
17 MAZZILLI, Hugo Nigro. A Defesa dos Interesses Difusos em Juízo. p. 161-162.
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31 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000092-1
E é aí que se inclui o dever por parte do
requerido EDILIO JOÃO DALL’AGNOL em ressarcir a Administração pelos
prejuízos causados, consoante artigos 37, § 4º, da Constituição da República e 4º
e 5º da Lei Federal nº 8.429/92.
2.4. DA VIOLAÇÃO DOS PRINCÍPIOS QUE REGEM A
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA:
A Constituição da República estabelece, em
seu artigo 37 que:
“A administração pública direta, indireta
ou fundacional, de qualquer dos Poderes da
União, dos Estados, do Distrito Federal e
dos Municípios obedecerá aos princípios da
legalidade, impessoalidade, moralidade,
publicidade e eficiência e, também, ao
seguinte:”
Desta forma, são os princípios da legalidade,
moralidade, impessoalidade, publicidade e eficiência as vigas mestras de
orientação e regulamentação da Atividade Administrativa em qualquer dos
Poderes da República.
Diógenes Gasparini, no que se refere ao
princípio da legalidade, leciona que:
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32 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000092-1
“(...) a este princípio também se submete o
agente público. Com efeito, o agente da
Administração Pública está preso à lei e
qualquer desvio de suas imposições pode
nulificar o ato e tornar seu autor responsável
e, conforme o caso, disciplinar, civil e
criminalmente18”.
Cumpre asseverar que todo ato de agente
público deve ser realizado nos termos e limites da lei e da Constituição Federal,
pois ao administrador e à própria Administração somente é permitido fazer o que
a lei expressamente autorize.
Importante ressaltar que o princípio da
moralidade administrativa também restou lesado.
Ao tratar do tema, leciona a doutrina19:
“A moralidade administrativa é um
princípio informador da ação
administrativa, devendo se pautar na
consciência do administrador a vedação do
agir dissociado dos conceitos comuns,
18 GASPARINI, Diógenes. Direito Administrativo. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 1995. p. 6. 19 SILVA, Jarly. O desvio de finalidade do administrador público sob a ótica dos princípios
constitucionais da impessoalidade e moralidade. Disponível em: ,http://www.artigonal.com/direito-artigos/o-desvio-de-finalidade-do-administrador-publico-sob-a-otica-dos-principios-constitucionais-da-impessoalidade-e-moralidade-1602407.html> Acesso em 05/12/2012.
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33 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000092-1
ordinários, válidos, respeitando as
diferenças históricas do honesto e justo.
(...)
Tal princípio poderia ser identificado com
o da justiça, ao determinar que se trate a
outrem do mesmo modo que se apreciaria
ser tratado. O “outro”, aqui, é a sociedade
inteira, motivo pelo qual o princípio da
moralidade exige que, fundamentada e
racionalmente, os atos, contratos e
procedimentos administrativos venham a
ser contemplados à luz da orientação
decisiva e substancial, que prescreve o
dever de a Administração Pública
observar, com pronunciado rigor e a maior
objetividade possível, os referenciais
valorativos basilares vigentes, cumprindo,
de maneira precípua até, proteger e
vivificar, exemplarmente, a lealdade e a
boa-fé para com a sociedade, bem como
travar o combate contra toda e qualquer
lesão moral provocada por ações públicas
destituídas de probidade e honradez”.
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34 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000092-1
Ao agente público não basta agir
expressamente dentro da lei, exige-se que atue conforme a moralidade e
sentimento médio de justiça, de honestidade e de boa-fé. A contratação de 06
(seis) assessores para funções meramente assistenciais é, inevitavelmente, ato
não apenas ilegal, mas ainda, absolutamente imoral.
O legislador ordinário seguiu o mesmo caminho,
ao estabelecer no artigo 4º da Lei nº 8.429/92, que os agentes públicos são
obrigados a velar pela estrita observância destes princípios.
Destarte, todo administrador público tem,
necessariamente, que ter sua conduta pautada pelo respeito a estes princípios,
deles não podendo se desviar, sob pena de anulação do ato praticado e de
punição pela prática de improbidade administrativa, conforme previsto no artigo
11, da Lei nº 8.429/92, que estabelece:
“Dos atos de improbidade administrativa
que atentam contra princípios da
administração pública:
Art. 11. Constitui ato de improbidade
administrativa que atenta contra qualquer
ação ou omissão que viole os deveres de
honestidade, imparcialidade, legalidade e
lealdade às instituições, e notadamente:”
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No caso em exame, o requerido EDILIO
JOÃO DALL’AGNOL, no exercício do cargo de Vereador da Câmara
Municipal de Foz do Iguaçu, em razão de haver admitido e pago de forma
irregular diversas pessoas no serviço público, ofendendo de morte a Lei de
Improbidade Administrativa, atentou contra os princípios da legalidade e
moralidade.
Ora, se houve inobservância da Constituição e
das leis nas contratações, houve ilegalidade e, portanto, ofensa/atentado contra o
princípio e o dever de legalidade, pois, como preleciona o saudoso Hely Lopes
Meirelles20:
"A legalidade, como princípio de
administração (CF, art. 37, caput, significa
que o administrador público está, em toda sua
atividade funcional, sujeito aos mandamentos
da lei e às exigências do bem-comum, e deles
não se pode afastar ou desviar, sob pena de
praticar ato inválido e expor-se à
responsabilidade disciplinar, civil e criminal,
conforme o caso.
A eficácia de toda atividade administrativa
está condicionada ao atendimento da lei.
Na Administração Pública não há liberdade
nem vontade pessoal. Enquanto na 20 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro 20. ed. São Paulo: Malheiros, 1995. p.
82/83.
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administração particular é lícito fazer tudo
que a lei não proíbe, na Administração
Pública só é perimido fazer o que a lei
autoriza. A lei para o particular significa
‘pode fazer assim’; para o administrador
público significa ‘deve fazer assim’”.
Repise-se, EDILIO JOÃO DALL’AGNOL
não respeitou a Constituição e as leis, admitindo funcionários em flagrante desvio
de função, segundo seus critérios pessoais de escolha. Pior: praticaram atos
vedados pela Constituição e pela legislação ordinária, ao admitirem funcionários
públicos sem a observância da obrigatoriedade do respectivo concurso.
Portanto, ofendendo-se o princípio e o dever de
legalidade, fica caracterizada a prática de ato de improbidade administrativa,
atentando contra os princípios da Administração Pública, previsto no artigo 11
da Lei nº 8.429/92.
2.5. DA EXIGÊNCIA DE DEDICAÇÃO EXCLUSIVA AO EXERCÍCIO
DE CARGO EM COMISSÃO:
Nesse instante, merece especial destaque a
condição que acompanha o exercício de cargo em comissão.
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Preleciona o artigo 6º da Lei Complementar
Municipal nº 9721, de 26 de janeiro de 2005:
"Art. 6º. O exercício de cargo em comissão
exigirá de seu ocupante integral dedicação".
Referida condição, ou exigência - como
elencou o legislador - impõe ao ocupante regime de integral dedicação ao cargo,
o que significa, em outras palavras, que não poderá desempenhar o ocupante
qualquer outra atividade além daquela prevista para o cargo exercido.
A atuação profissional do assessor VALCI
GARCIA SCANES que, como declarou, exercia atividade profissional de
autônomo no período vespertino (mecânico de automóveis e vendedor de caldo
de cana), constitui vítrea incompatibilidade com o cumprimento das funções do
cargo comissionado, por força do sobredito imperativo legal.
Em idêntico diapasão, é a situação dos
assessores EDVALDO ERNESTO RODRIGUES e JOÃO MOYSES
SOARES, que são empresários (sócios de uma fábrica de vassouras da qual
também é sócio o réu EDILIO JOÃO DALL’AGNOL) - profissão habitual de
iniciativa privada que, pela sua própria natureza exige também a dedicação
21 Disponível em: http://www.leismunicipais.com.br/a2/pr/f/foz-do-iguacu/lei-complementar/2005/9/97/ lei-complementar-n-97-2005-dispoe-sobre-os-cargos-de-provimento-em-comissao-e-sobre-a-atribuicao-de-gratificacao-de-funcao-nos-orgaos-da-adminis-tracao-superior-e-centralizada-do-municipio-de-foz-do-iguacu-e-da-outras-providencias-2005-01-26.html (acesso em 26.06.2013).
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integral à atividade desempenhada no estabelecimento comercial - já que visa o
sucesso financeiro.
Não bastasse a obscuridade com relação às
funções desempenhadas junto ao Gabinete do Vereador EDILIO JOÃO
DALL’AGNOL, no caso dos assessores VALCI GARCIA SCANES,
EDVALDO ERNESTO RODRIGUES e JOÃO MOYSES SOARES, o
descumprimento do regime de trabalho de dedicação exclusiva, por si só,
configura o ato ímprobo, destoante dos princípios da administração pública.
Cinge-se, ademais, à míngua de possível
referência à eventual (in)compatibilidade de horários: a proibição à realização de
outra atividade laboral é inquestionável, não havendo lacuna para a relativização
do adjetivo usado pelo legislador para expressar a intenção de que o ocupante do
cargo comissionado a ele deverá se dedicar totalmente, por inteiro.
Por oportuno, é necessário destacar que as
atividades profissionais empreendidas pelos assessores VALCI GARCIA
SCANES, EDVALDO ERNESTO RODRIGUES e JOÃO MOYSES
SOARES não se enquadram nas exceções à regra de inacumulabilidade de
cargos e funções previstas na Constituição.
Ressalte-se, ainda, que a vedação à
acumulação de cargos ou à exigência de dedicação integral a função ocupada
justifica-se pela própria natureza do papel exercido: diz respeito à administração
e aos interesses da sociedade a ela vinculados. A execução das tarefas atribuídas
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ao assessor parlamentar, portanto, deve ser traçada com exímio emprego do
tempo e esforço, e a execução simultânea de dois labores – sejam públicos ou
privados –, por óbvio, verifica-se prejudicial a este aspecto ideal.
3. DO PEDIDO:
Ante todo o exposto, o Ministério Público requer:
a) a notificação dos requeridos nos endereços supramencionados, para que,
querendo, apresentem manifestações nos termos do §7º, do artigo 17, da Lei nº
8.429/92;
b) após as manifestações ou o decurso do prazo para apresentação das sobreditas,
seja recebida a petição inicial e determinadas as citações dos requeridos na
forma do § 9o, do precitado dispositivo legal, para, querendo, contestarem os
termos da presente, sob pena de revelia;
c) a notificação da Câmara de Foz do Iguaçu, na pessoa de seu Presidente, na
condição de pessoa jurídica interessada, para fins do artigo 17, § 3º, da Lei nº
8.429/92, isto é, para, caso queira, integrar a lide como litisconsorte ativo,
suprindo eventuais omissões e falhas contidas na inicial, bem como apresentar
provas de que disponham sobre os fatos;
d) o processamento da ação sob o rito ordinário, com as modificações
acrescentadas pela Lei de Improbidade;
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e) a produção de todos os meios de prova em direito admitidos, em especial, o
depoimento pessoal dos réus, a juntada de novos documentos, a pericial e a
testemunhal, cujo rol será oportunamente apresentado;
f) a condenação dos requeridos nas sanções previstas no artigo 12, incisos I, II e
III, da Lei nº 8.429/92, em razão da prática autônoma de atos de improbidade
administrativa, que causou enriquecimento ilícito, prejuízo ao erário e ofensa aos
princípios informadores da Administração Pública;
g) a condenação ao ressarcimento do valor de R$ 786.970,13 (setecentos e
oitenta e seis mil, novecentos e setenta reais e treze centavos) pelos requeridos;
Atribui-se à causa o valor de R$ 786.970,13
(setecentos e oitenta e seis mil, novecentos e setenta reais e treze centavos).
Termos em que se
Pede e espera deferimento.
Foz do Iguaçu, 11 de julho de 2013.
Marcos Cristiano Andrade
Promotor de Justiça
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DOCUMENTOS ANEXOS:
Inquérito Civil Público nº MPPR 0053.12.000092-1 (04 volumes).
Inquérito Civil Público nº MPPR 0053.09.000031-5 (02 volumes).
Notícia de fato nº MPPR 0053.12.000366-9 (01 volume).
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