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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ 6ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE FOZ DO IGUAÇU PROTEÇÃO AO PATRIMÔNIO PÚBLICO E FUNDAÇÕES ____________________________________________________ 1 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000092-1 EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ____ª SECRETARIA DA FAZENDA PÚBLICA DA COMARCA DE FOZ DO IGUAÇU-Pr. “O ato de corrupção constitui um gesto de perversão da ética do poder e da ordem jurídica, cuja observância se impõe a todos os cidadãos desta República que não tolera o poder que corrompe nem admite o poder que se deixa corromper. Quem transgride tais mandamentos, não importando a sua posição estamental, se patrícios ou plebeus, governantes ou governados, expõe-se à severidade das leis penais e, por tais atos, o corruptor e o corrupto devem ser punidos, exemplarmente, na forma da lei” (Ministro Celso de Mello do Supremo Tribunal Federal no julgamento do Processo nº 470 - Mensalão - Revista VEJA – edição 2290 de 10 de outubro de 2012, pág. 73). O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ, por seu Promotor de Justiça que ao final assina, no uso de suas atribuições junto à PROMOTORIA ESPECIAL DE DEFESA DO PATRIMÔNIO PÚBLICO, com fulcro no artigo 129, inciso III, da Constituição Federal, artigo 25, inciso IV, letras "a" e "b", da Lei nº 8.625/93, artigos 1º e 5º, da Lei nº 7.347/85, e 17, da Lei nº 8.429/92, vem, respeitosamente, perante Vossa Excelência, propor a presente AÇÃO CIVIL PÚBLICA DE RESPONSABILIDADE POR ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

6ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE FOZ DO IGUAÇU PROTEÇÃO AO PATRIMÔNIO PÚBLICO E FUNDAÇÕES

____________________________________________________

1 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000092-1

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ____ª

SECRETARIA DA FAZENDA PÚBLICA DA COMARCA DE FOZ DO

IGUAÇU-Pr.

“O ato de corrupção constitui um gesto de perversão da

ética do poder e da ordem jurídica, cuja observância se

impõe a todos os cidadãos desta República que não tolera

o poder que corrompe nem admite o poder que se deixa

corromper. Quem transgride tais mandamentos, não

importando a sua posição estamental, se patrícios ou

plebeus, governantes ou governados, expõe-se à severidade

das leis penais e, por tais atos, o corruptor e o corrupto

devem ser punidos, exemplarmente, na forma da lei”

(Ministro Celso de Mello do Supremo Tribunal Federal no

julgamento do Processo nº 470 - Mensalão - Revista VEJA

– edição 2290 de 10 de outubro de 2012, pág. 73).

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO

DO PARANÁ, por seu Promotor de Justiça que ao final assina, no uso de suas

atribuições junto à PROMOTORIA ESPECIAL DE DEFESA DO

PATRIMÔNIO PÚBLICO, com fulcro no artigo 129, inciso III, da Constituição

Federal, artigo 25, inciso IV, letras "a" e "b", da Lei nº 8.625/93, artigos 1º e 5º,

da Lei nº 7.347/85, e 17, da Lei nº 8.429/92, vem, respeitosamente, perante

Vossa Excelência, propor a presente

AÇÃO CIVIL PÚBLICA DE RESPONSABILIDADE POR ATO DE

IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA

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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

6ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE FOZ DO IGUAÇU PROTEÇÃO AO PATRIMÔNIO PÚBLICO E FUNDAÇÕES

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2 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000092-1

em face a:

EDILIO JOÃO DALL’AGNOL, brasileiro, casado, ex-vereador, natural de

Planalto-RS, nascido aos 04/01/1962, filho de Avelino A. Dall’Agnol e Libera

Dall’Agnol, portador da Cédula de Identidade R.G. nº 7.110.179-7 (SSPPR) e

CPF/MF nº 355.052.490-00, residente na Rua Perdigão, nº 381, Vila A, nesta

cidade e Comarca de Foz do Iguaçu-Pr;

ELIEZER BATISTA, brasileiro, casado, ex-assessor parlamentar1, natural de

Nova de Foz do Iguaçu-Pr, nascido aos 28/10/1967, filho de Raul Gonçalves

Batista e Ignácia Cabrera Batista, portador da Cédula de Identidade R.G. nº

4.203.948-9 (SSPPR), e CPF/MF nº 802.118.369-15, residente na Rua Arapuã,

nº 75, Bairro Carimã, nesta cidade e Comarca de Foz do Iguaçu-Pr;

ANAMIM FRANCO BENTO, brasileiro, casado, ex-assessor parlamentar2,

natural de São Mateus-ES, nascido aos 25/10/1949, filho de José Bento Sobrinho

e Eunice Maria Franco, portador da Cédula de Identidade R.G. nº 1.142.399-0

(SSPPR), e CPF/MF nº 283.119.659-00, residente na Rua Cajati, nº 85, no

Jardim Curitibano I, nesta cidade e Comarca de Foz do Iguaçu-Pr;

JOÃO MOYSES SOARES, brasileiro, solteiro, assessor parlamentar3, natural

de Mariluz-Pr, nascido aos 25/11/1965, filho de Geraldo Soares da Silva e Elzira

Vieira de Almeida, portador da Cédula de Identidade R.G. nº 3.688.760-5

1 Vide Portaria nº 25/2011. 2 Vide Portaria nº 23/2012. 3 Vide Portaria nº 09/2011.

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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

6ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE FOZ DO IGUAÇU PROTEÇÃO AO PATRIMÔNIO PÚBLICO E FUNDAÇÕES

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3 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000092-1

(SSPPR), e CPF/MF nº 524.910.649-87, residente na Rua Pau Brasil, nº 249, no

Jardim Tropical I, nesta cidade e Comarca de Foz do Iguaçu-Pr;

VALCI GARCIA SCANES, brasileiro, casado, ex-assessor parlamentar4,

natural de Primeiro de Maio-Pr, nascido aos 01/12/1954, filho de Francisco

Garcia Scanes e Maria Garcia Punhagui, portador da Cédula de Identidade R.G.

nº 1587359-0 (SSPPR), e CPF/MF nº 238.595.399-49, residente na Rua Manoel

Bandeira, nº 35, Vila Brasília, nesta cidade e Comarca de Foz do Iguaçu-Pr;

LEONICE STEMPCOSKI BRITTO, brasileira, casada, ex-assessora

parlamentar5, natural de Salto do Lontra-Pr, nascida as 14/05/1965, filha de

Alvade Natalício Stempcoski e Jussara Zago Stempcoski, portadora da Cédula

de Identidade R.G. nº 5.217.364-7 (SSPPR) e CPF/MF nº 742.406.689-72,

residente na Avenida Juscelino Kubitschek, nº 1.819, apartamento nº 168, centro,

nesta cidade e Comarca de Foz do Iguaçu-Pr; e

EDVALDO ERNESTO RODRIGUES, brasileiro, casado, assessor

parlamentar6, natural de Assaí-Pr, nascido aos 14/06/1966, filho de Eliezer

Rodrigues Neto e Valdice Ernesto Rodrigues, portador da Cédula de Identidade

R.G. nº 4747741-7 (SSPPR), e CPF/MF nº 577.403.059-87, residente na Rua

Orminda de Freitas César, nº 96, Vila São Sebastião, nesta cidade e Comarca de

Foz do Iguaçu-Pr,

pelos fatos e fundamentos a seguir aduzidos:

4 Vide Portaria nº 14/2011. 5 Vide Portaria nº 15/2011. 6 Vide Portaria nº 236/2010.

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4 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000092-1

1. DOS FATOS:

A 6ª Promotoria de Justiça local instaurou o

Inquérito Civil Público nº MPPR 0053.12.000092-1 visando apurar suposto

descumprimento aos princípios da moralidade e proporcionalidade pela Câmara

Municipal de Foz do Iguaçu, uma vez que havia 75 (setenta e cinco) servidores

comissionados e apenas 32 (trinta e dois) concursados, caracterizando, assim,

prática de ato de improbidade administrativa.

Com isso, o Ministério Público propôs, em

fevereiro de 2012, a ação buscando obrigação de fazer, com pedido liminar, para

que a Câmara Municipal exonerasse tantos ocupantes de cargos comissionados

quanto bastassem para atender ao princípio da proporcionalidade e moralidade

administrativa, a fim de que o número de tais servidores não fosse superior ao de

providos por concurso público e também para se abstivessem de manter

funcionários nomeados em quantidade superior ao de efetivos.

Deste feito foram extraídas cópias integrais e

instaurados outros 16 (dezesseis) Inquéritos Civis Públicos (um para cada

vereador e outro para os servidores da direção da casa de leis), tudo com o

escopo de apurar a sobredita improbidade (possível excesso de cargos

comissionados na Câmara Municipal), bem como suposto desvio de função e/ou

servidores comissionados irregulares.

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5 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000092-1

Com efeito, conforme declarações prestadas no

presente Inquérito Civil Público, verificou-se que CRISTIANE SILVA DE

CAMARGO MACHADO, EDVALDO ERNESTO RODRIGUES, JOÃO

MOYSES SOARES, VALCI GARCIA SCANES, LEONICE

STEMPCOSKI BRITTO, ANAMIM FRANCO BENTO e ELIEZER

BATISTA foram nomeados para exercerem os cargos de assessores

parlamentares do gabinete do ex-Vereador EDILIO JOÃO DALL’AGNOL,

durante o seu mandato compreendido entre os anos de 2009 a 2012 (nomeações

constantes no CD de fls. 598).

Contudo, da análise dos autos, em especial do

teor das oitivas, infere-se haver manifesto desvio de função por parte dos

assessores parlamentares EDVALDO ERNESTO RODRIGUES, JOÃO

MOYSES SOARES, VALCI GARCIA SCANES, LEONICE

STEMPCOSKI BRITTO, ANAMIM FRANCO BENTO e ELIEZER

BATISTA, vez que não exerciam as atividades inerentes ao cargo a que foram

contratadas.

A Resolução Legislativa nº 015, de

17/06/2003, que “dispõe sobre a organização administrativa da Câmara

Municipal de Foz do Iguaçu”, em seu artigo 9º, prevê que:

“Art. 9º. São atribuições do Assessor

Parlamentar:

I – prestar serviços ao vereador, em atividades

externas;

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6 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000092-1

II – atender e prestar esclarecimentos a pessoas

que demandem ao gabinete;

III – agendar compromissos do titular do

gabinete;

IV – elaborar e expedir as correspondências do

gabinete;

V – manter arquivo das correspondências

recebidas e expedidas pelo gabinete e de outros

documentos de interesse deste;

VI - efetuar o controle das pautas de sessões e

de proposições legislativas de interesse do

gabinete;

VII - assistir o titular do gabinete no

desempenho de suas atribuições;

VIII – organizar as reuniões promovidas pelo

gabinete, providenciando a pauta e os convites

aos participantes;

IX – executar outras tarefas determinadas pelo

titular do gabinete, inerentes as atribuições

deste”.

Em sede de depoimento (arquivo de áudio e

vídeo em CD-ROM anexo), EDVALDO ERNESTO RODRIGUES declarou

que exerceu o cargo de assessor parlamentar do ex-Vereador EDILIO JOÃO

DALL’AGNOL desde 1º de janeiro de 20097. Indagado acerca das funções de

7 Histórico de nomeações e exonerações: Nomeado em janeiro de 2009 (Portaria nº 074/2009); Exonerado em outubro de 2010 (Portaria nº 167/2010); Nomeado em novembro de 2010 (Portaria nº 199/2010); Exonerado em janeiro de 2012 (Portaria nº 04/2012); Nomeado em novembro de 2010 (Portaria nº 236/2010).

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7 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000092-1

um assessor parlamentar, disse: “olha o serviço de um assessor parlamentar é

uma pessoa que leva mensagens da população para o vereador e do vereador à

população, então a gente faz de tudo (...) desde uma reclamação de quebra-

molas, poda de árvore, troca de lâmpada, calçada, geral (...) de repende você

está dormindo, de repente o telefone toca, você vai fazer aquele atendimento da

pessoa que o parente faleceu”. Quanto a este atendimento, afirmou que prestava

o auxílio no fornecimento de terrenos nos cemitérios. Asseverou que ia à Casa

de Leis todos os dias, mas não tinha horário fixo de trabalho, pois geralmente

estava na rua para fazer as indicações de problemas ocorridos na sociedade e ir

aos bairros para obter as reclamações formuladas pela população. Explanou que

a cidade é grande e que, por esta razão, diariamente haviam reclamações (atendia

igrejas, solicitações de emprego, etc). Garantiu que trabalhava em média de 14 a

16 horas por dia. Questionado acerca do que havia feito na semana que

antecedeu ao depoimento, atendeu pedidos de podas de árvore na região da Vila

Portes, solicitação de calçadas, creches e buracos. Disse que já havia feito de 30

(trinta) a 40 (quarenta) indicações de problemas nas comunidades (fls. 510).

Por sua vez, JOÃO MOYSES SOARES

afirmou que exerceu o cargo de assessor parlamentar do ex-Vereador EDILIO

JOÃO DALL’AGNOL desde o segundo semestre de 20118 e que ganhava

(líquido) R$ 3.790,00 (três mil setecentos e noventa reais). Assegurou que ia

diariamente à Câmara de Vereadores e lá permanecia das 08hs00min às

14hs00min. Explicou que atendia ao público encaminhando as pessoas aos 8 Histórico de nomeações e exonerações: Nomeado em janeiro de 2005 (Portaria nº 33/2005); Exonerado em novembro de 2005 (Portaria nº 191/2005); Nomeado em março de 2006 (Portaria nº 48/2006); Exonerado em dezembro de 2006 (Portaria nº 146/2006); Nomeado em janeiro de 2009 (Portaria nº 72/2009); Exonerado em janeiro de 2011 (Portaria nº 005/2011); Nomeado em janeiro de 2011 (Portaria nº 009/2011); Exonerado em dezembro de 2012 (Portaria nº 189/2012); Nomeado em dezembro de 2012 (Portaria nº 191/2012).

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8 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000092-1

órgãos competentes e, após as 14hs00min, também dava “apoio” nos bairros,

buscando “indicações de quebra-molas, redutor de velocidade, buracos que tem

que tampar”. Disse que já havia feito aproximadamente 100 (cem) indicações.

Assegurou que também prestava apoio “político” nos bairros: “cada um mora

numa região da cidade, então cada um dá sustentação nos seu bairro, buscando

indicação de quebra-molas, redutor de velocidade, semáforo”. Afirmou que é

sócio de uma fábrica de vassouras em Campos Bonitos-Pr (próximo a cidade de

Ibema-Pr) da qual são sócios: EDVALDO ERNESTO RODRIGUES e

EDILIO JOÃO DALL’AGNOL e que quase não ia até a aludida empresa

aberta em 2011, pois havia designado funcionários para fiscalizarem os trabalhos

(fls. 507).

VALCI GARCIA SCANES também

confirmou que foi assessor parlamentar9 do ex-Vereador EDILIO JOÃO

DALL’AGNOL. Disse que conhecia o então vereador há 08 (oito) anos e que

por esta razão foi convidado a exercer o cargo comissionado. Afirmou que

trabalhava diariamente das 08hs00min às 14hs00min e fazia mais trabalhos

externos do que internos, principalmente na elaboração de indicações. No

entanto, embora fosse à Câmara todos os dias, disse que nunca reparou no

enorme buraco existente nas proximidades da Casa de Leis. Indagado, ainda,

acerca do endereço e das características do imóvel do Poder Legislativo nesta

cidade, não soube declinar o logradouro e sequer a cor do prédio da Câmara.

Informou que o dia-a-dia como assessor era assistencialista: atendia as pessoas

que compareciam no gabinete, encaminhava as pessoas do “SOS” da ação social,

fazia visitas e indicações sobre os principais problemas da população, tais como: 9 Histórico de nomeações e exonerações: Nomeado em janeiro de 2011 (Portaria nº 014/2011); Exonerado em dezembro de 2012 (Portaria nº 188/2012).

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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ

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9 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000092-1

quebra-molas, buracos de ruas, “creches” para idosos, etc. Indicou que ganhava

o valor de R$ 4.500,00 (quatro mil e quinhentos reais) líquidos. Consignou que

dois projetos foram de sua autoria: “um no Bairro Cidade Nova (problemas de

buracos no asfalto) e outro na Av. JK (também relacionado à existência de

buracos nas vias urbanas)”. Por fim, alegou que, simultaneamente ao exercício

do cargo comissionado - após às 14hs00min - realizava atividades profissionais

de mecânico de automóveis e atuava como autônomo na venda de caldo de cana

na Av. Tancredo Neves das 16hs00min às 21hs00min. (fls. 508).

Em seu depoimento, LEONICE

STEMPCOSKI BRITTO declarou que foi assessora parlamentar do ex-

Vereador EDILIO JOÃO DALL’AGNOL desde janeiro de 201010. Informou

que na Câmara dos Vereadores desempenhava um trabalho para a comunidade

(assistência social na área da saúde): “visito as pessoas, encaminho até uma

pessoa de idade para receber aposentadoria, levo para encaminhar para

perícia, levo até o SUS, a pessoa não tem carro”. Indagada sobre as atividades

desempenhadas no dia do depoimento (13.08.2012), disse: “hoje cedo eu fui até

uma senhora lá na Vila C, ela está com problema de joelho, não consegue ficar

numa fila de centenas de consultas para conseguir um ortopedista, eu fui até lá,

duas pessoas: uma com problema no joelho e outra com uma “joanete” que não

está conseguindo mais andar”. Ressaltou ainda que não obteve êxito na consulta

dos pacientes, pois a fila era grande e que retornaria para conseguir pelo menos

um clínico geral. Comunicou que não ia todos os dias na Câmara, assim como

não havia horário fixo de trabalho e que a única assessora que exercia funções

internas era CRISTIANE SILVA DE CAMARGO MACHADO. Assegurou que, 10 Histórico de nomeações e exonerações: Nomeado em janeiro de 2011 (Portaria nº 015/2011); Exonerado em dezembro de 2012 (Portaria nº 187/2012).

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10 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000092-1

além de levar pessoas doentes aos médicos, utilizando de carro particular,

também atendia pessoas que precisavam de assistência funeral. Consignou, por

fim, que o salário de assessor era de R$ 4.500,00 (quatro mil e quinhentos reais)

líquidos (fls. 509).

Denota-se que, ao invés de exercer as

atribuições de seu cargo, LEONICE STEMPCOSKI BRITTO preferia levar

pessoas doentes para consultas médicas. Assim, restou demonstrado manifesto

desvio de função, pois a ré foi nomeada para o cargo de assessora parlamentar e

não para o de motorista e/ou socorrista de casa hospitalar (se é que existe

possibilidade de livre nomeação para o exercício de tais cargos).

ANAMIM FRANCO BENTO declarou que

foi nomeado assessor parlamentar do ex-Vereador EDILIO JOÃO

DALL’AGNOL em 30 de junho de 201211. Comunicou que ganhava líquido R$

3.700,00 (três mil e setecentos reais) e que ia à Câmara dos Vereadores todos os

dias para tentar resolver os problemas que apareciam. Ao ser indagado acerca de

tais problemas, disse: “a Igreja Batista lá da Vila C está com um problema lá

que está no FOZHABITA ‘né’ que precisa ser resolvido, problema de

documentos junto à Itaipu Binacional, então pediram ajuda política e me

incumbiram de falar com o vereador Edílio”.

Além de tais atribuições, explicou que fazia

“política” e pedia votos para o referido vereador, já que estavam em época de

campanha eleitoral: “como eu já disse ‘né’ eu faço política, peço voto, que 11 Histórico de nomeações e exonerações: Nomeado em junho de 2012 (Portaria nº 097/2012); Exonerado em janeiro de 2013 (Portaria nº 001/2013).

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11 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000092-1

agora é momento de pedir voto ‘né’ para o eleitor e se surge um problema

assim, a gente procura dar atenção pra pessoa mesmo que não tenha condição

de resolver (...) pode conversar, ganhar o voto da pessoa e depois tentar

resolver o problema da pessoa também”.

Para confirmar o assistencialismo e

clientelismo ao ex-vereador, disse: “meu negócio é política, pedir votos, se tiver

uma oportunidade eu ‘tô’ pedindo voto pra ele, a gente não pode perder o

eleitor”. Questionado acerca da quantidade aproximada de votos que pedia

diariamente, asseverou: “muita, muita quantidade, o máximo, uma média de 200

votos por dia, eu peço mais né, mas uma média diária assim”.

Indagado sobre a rotina de trabalho, afirmou:

“eu vou direto à Câmara, assim, não todo dia que eu fico lá, mas agora chegou

a campanha da política, então o negócio é ‘politicar’, eu vou lá pego o material,

passo na casa dele”. Garantiu que no dia 28.08.2012 (data do depoimento)

atendeu uma reclamação do meio ambiente, mas não soube declinar com sequer

o nome da pessoa que efetuou a reivindicação. No mesmo dia, atestou que só fez

isso e pediu voto para o então vereador e que assim que terminasse de prestar o

depoimento já iria “politicar”. O réu, ainda, entendeu pertinente mencionar:

“ontem à noite eu ‘politiquei’ também na Avenida Maceió, Avenida 3 e na

Avenida 9 (Região da Vila A)”.

Por fim, disse que sempre andava com

santinho do vereador no bolso, tendo a audácia de oferecer um exemplar ao

membro do Parquet durante seu depoimento (fls. 505).

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12 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000092-1

As atividades empreendidas de “politicar” nos

bairros da cidade, tal qual denominou, incluíam, como bem ressaltou ANAMIM

FRANCO BENTO em seu depoimento, pedido de votos e distribuição de

santinhos do então vereador EDILIO JOÃO DALL’AGNOL. Em verdade,

portanto, não se trata de mero atendimento à população, mas atendimento a

eleitores em potencial.

No mesmo sentido, ELIEZER BATISTA

confirmou que era assessor parlamentar12 do ex-Vereador EDILIO JOÃO

DALL’AGNOL. Disse que não ia todos os dias na Câmara, comparecendo umas

3 (três) ou 4 (quatro) vezes por semana e que entrava às 08hs30min/09hs00min

para sair por volta das 10hs00min/11hs00min. Explicou que raramente

encontrava os outros assessores, por não haver espaço suficiente para todos no

gabinete. Informou que fazia ações fora do gabinete, especialmente em razão da

falta de espaço. Aduziu que visitava os bairros da cidade, coletava reclamações e

levava algumas indicações ao vereador: “uma questão de um terminal de posto

de saúde, um atendimento que está ruim, está péssimo ou uma estrada que está

com problemas, iluminação pública, a gente traz essas reclamações”.

Afirmou que grande parte das reivindicações

estava relacionada aos problemas na área de saúde e ao sistema viário da cidade.

Indagado sobre como tinha conhecimento dos problemas da comunidade,

asseverou: “a gente vai até o povo”. Questionado acerca de suas atividades

12 Histórico de nomeações e exonerações: Nomeado em maio de 2010 (Portaria nº 055/2010); Exonerado em outubro de 2010 (Portaria nº 154/2010); Nomeado em novembro de 2010 (Portaria nº 252/2012); Exonerado em dezembro de 2010 (Portaria nº 283/2010); Nomeado em janeiro de 2011 (Portaria nº 025/2011); Exonerado em janeiro de 2011 (Portaria nº 030/2011); Nomeado em março de 2011 (Portaria nº 112/2011).

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13 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000092-1

durante época de campanha eleitoral, disse: “tenho ajuda na logística da

campanha, coletando informações dos votos que o vereador está precisando

levantar”.

Narrou que as reclamações são colhidas em

conversas com a população e, posteriormente, repassadas ao então vereador.

Ressaltou que o papel do Legislativo é provocar a atuação do Executivo quanto

às reivindicações populares.

Por fim, asseverou que quando recebe uma

reclamação de buraco: “ou passo direto para o pessoal do ‘DRM’ quando a

coisa é pequena ou informo para o Vereador para que insira no orçamento

futuro para que se faça” (fls. 504).

Denota-se, assim, que conforme as

transcrições acima, os assessores parlamentares EDVALDO ERNESTO

RODRIGUES, JOÃO MOYSES SOARES, VALCI GARCIA SCANES,

LEONICE STEMPCOSKI BRITTO, ANAMIM FRANCO BENTO e

ELIEZER BATISTA não desempenhavam as funções a eles inerentes, e sim,

faziam assistencialismo ao ex-Vereador, caracterizando uma evidente artimanha

para promovê-lo politicamente.

Verifica-se que a função de tapar os buracos

nas ruas, de melhorar a iluminação pública, constatar a necessidade de quebra-

molas e redutores de velocidade, levar pessoas doentes às casas hospitalares e/ou

postos de saúde etc., não é típica do Poder Legislativo, mas sim do Executivo.

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14 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000092-1

Sendo o Prefeito a figura máxima do

Executivo no âmbito municipal, deve atender os anseios da população, reunindo-

se constantemente com a sociedade a fim de aferir as reivindicações coletivas,

encontrando as possibilidades para a satisfação das necessidades do município.

Já o Poder Legislativo é responsável pela

elaboração e aprovação das leis. Além disso, tem como dever a fiscalização do

orçamento público e da administração do Poder Executivo.

Destarte, resta caracterizado o desvio de

função, id est, tudo acontecia com finalidade eleitoreira por parte de quem detém

o poder, ou seja, do ex-Vereador EDILIO JOÃO DALL’AGNOL.

O desvio de função é o desempenho pelo

funcionário público de serviços não inerentes ao cargo por ele ocupado.

Há dúvida, inclusive, se tais atividades foram

efetivamente prestadas pelos assessores parlamentares, tendo em vista a falta de

informações, freqüência e comprovação de eficiência em seu labor, já que suas

oitivas são confusas e vagas. Ademais, o labor seria realizado em residências e

bairros, o que, por certo, não é usual e causa estranheza.

Assim, é imperioso ressaltar que o trabalho

externo a ser desenvolvido por um assessor é mais do que fazer indicações nas

adjacências ou proximidades de sua residência, devendo auxiliar o Vereador no

exercício das funções típicas do Poder Legislativo.

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15 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000092-1

Se assim fosse permitido, necessária a

autorização para contratação de 290 assessores nesta Comarca: um para cada

bairro do Município em tela.

Observa-se que as funções de assessor

parlamentar são por eles desempenhadas como cargos em comissão, de livre

nomeação e exoneração.

Há farta prova de que o então Vereador,

desvirtuando a função pública dos cargos em comissão postos a sua disposição,

atribuiu aos seus ocupantes o exercício de atividades de natureza privada e em

proveito próprio, o que caracteriza, da mesma forma, ato ímprobo previsto no

artigo 9º, caput, e inciso IV, artigo 10, caput, e incisos I e XII, bem como artigo

11, caput, e inciso I, todos da Lei nº 8.429/92.

2. DOS FUNDAMENTOS:

2.1. DO DESVIO DE FINALIDADE:

A Carta Magna estabelece que os cargos em

comissão devem ser compatíveis com funções de confiança política para as quais

foram idealizadas. Infere-se desta assertiva que quando desprovidos destas

características configurar-se-á desvio de finalidade. Esta é a situação existente na

Câmara Municipal de Foz do Iguaçu-Pr.

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16 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000092-1

Leciona Celso Antônio Bandeira de Mello que

o desvio de poder se verifica:

“Quando o agente se serve de um ato para

satisfazer finalidade alheia à natureza do

ato utilizado. Há, em consequência, um

mau uso da competência que o agente

possui para praticar atos administrativos,

traduzida na busca de uma finalidade que

simplesmente não pode ser buscada ou,

quando possa, não pode sê-lo através do ato

utilizado13”.

A autoridade que pratica uma conduta com

finalidade diversa está praticando ato de improbidade administrativa, vez que o

desvio de finalidade nada mais é do que simulação, tentativa de mascarar a real

intenção da autoridade pública.

Ademais, preleciona a renomada doutrinadora

Maria Sylvia Zanella di Pietro14:

“O desvio de poder ocorre quando a

autoridade usa do poder discricionário

para atingir fim diferente daquele que a lei

13 MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Elementos de Direito Administrativo. 3. ed. São Paulo:

Malheiros, 1992. p. 126-127. 14 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 8. ed., São Paulo: Atlas, 1997. p. 211.

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17 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000092-1

fixou. Quando isso ocorre, fica o Poder

Judiciário autorizado a decretar a nulidade

do ato, já que a Administração fez uso

indevido da discricionariedade, ao desviar-

se dos fins de interesse público definidos na

lei”.

No presente caso, o ex-Vereador EDILIO

JOÃO DALL’AGNOL se valeu de seus funcionários, remunerados pelo Órgão

Legislativo, utilizando-os em flagrante desvio de função, isto é, com fim diverso

daquele previsto no artigo 9º da Resolução Legislativa nº 15/2003, que dispõe

sobre a organização administrativa da Câmara Municipal de Foz do Iguaçu,

incidindo, desta forma, no tipo previsto no artigo 11º, caput, e inciso I, da Lei de

Improbidade Administrativa, conforme se verá adiante.

Neste diapasão, dispõe a doutrina15:

“(...) o desvio de poder é, por definição, um

limite à ação discricionária, um freio ao

transbordamento da competência legal

além de suas fronteiras, de modo a impedir

que a prática do ato administrativo,

calcada no poder de agir do agente, possa

dirigir-se à consecução de um fim de 15 SILVA, Jarly. O desvio de finalidade do administrador público sob a ótica dos princípios

constitucionais da impessoalidade e moralidade. Disponível em: <http://www.artigonal.com/direito-artigos/o-desvio-de-finalidade-do-administrador-publico-sob-a-otica-dos-principios-constitucionais-da-impessoalidade-e-moralidade-1602407.html>. Acesso em 05/12/2012.

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18 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000092-1

interesse privado, ou mesmo de outro fim

público estranho à previsão legal”.

A utilização de assessores parlamentares para

exercerem funções como “levar pessoas para atendimento médico no SUS”,

“pedir votos e distribuir santinhos” ou “reparos em asfaltos”, caracteriza,

indiscutivelmente, desvio de finalidade, à vista da ausência de adequação do fato

ao seu fim legal.

Acrescenta, ainda, a sobredita lição:

“O poder foi conferido ao administrador

público para realizar determinado fim, por

determinados motivos e por determinados

meios, toda ação que se apartar dessa

conduta, contrariando o desejo da lei,

padece do vício de desvio de poder ou de

finalidade e, como todo ato abusivo ou

arbitrário, é ilegítimo.

(...)

O desvio de finalidade ou de poder é, assim,

a violação ideológica da lei, ou, por outras

palavras, a violação moral da lei,

colimando o administrador público fins não

requeridos pelo legislador, ou utilizando

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19 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000092-1

motivos e meios imorais para a prática de

um ato administrativo aparentemente legal.

O ato praticado com desvio de finalidade –

como todo ato ilícito ou imoral – ou é

consumado às escondidas ou se apresenta

disfarçado sob o capuz da legalidade e do

interesse público. Diante disto, há que ser

surpreendido e identificado por indícios e

circunstâncias que revelem a distorção do

fim legal, substituído habilidosamente por

um fim ilegal ou imoral não desejado pelo

legislador”.

Destaca-se que uma das formas previstas em lei

para punição do agente responsável por tais ilegalidades, objeto deste pedido, veio

regulamentada pela Lei nº 8.429/92, que complementou o artigo 37, § 4º, da

Constituição Federal, prevendo sanções de natureza não criminal para a prática de

atos de improbidade administrativa, divididos em três espécies, ou seja: os que

importam em enriquecimento ilícito (previstos no artigo 9º), os que causam lesão

ao erário (previstos no artigo 10) e os que atentam contra os princípios da

Administração Pública (previstos no artigo 11).

2.2. DOS ATOS QUE IMPORTEM EM ENRIQUECIMENTO ILÍCITO:

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20 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000092-1

Reza o artigo 9º, caput, e seu inciso IV e XI,

da Lei nº 8.429/92:

“Art. 9º: Constitui ato de improbidade

administrativa importando enriquecimento

ilícito auferir qualquer tipo de vantagem

patrimonial indevida em razão do exercício

de cargo, mandato, função, emprego ou

atividade nas entidades mencionadas no

artigo 1º desta lei, e notadamente:

(...).

IV - utilizar, em obra ou serviço particular,

veículos, máquinas, equipamentos ou

material de qualquer natureza, de

propriedade ou à disposição de qualquer das

entidades mencionadas no art. 1° desta lei,

bem como o trabalho de servidores públicos,

empregados ou terceiros contratados por

essas entidades;

XI - incorporar, por qualquer forma, ao seu

patrimônio bens, rendas, verbas ou valores

integrantes do acervo patrimonial das

entidades mencionadas no art. 1° desta lei;”

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21 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000092-1

Verifica-se que EDVALDO ERNESTO

RODRIGUES, JOÃO MOYSES SOARES, VALCI GARCIA SCANES,

LEONICE STEMPCOSKI BRITTO, ANAMIM FRANCO BENTO e

ELIEZER BATISTA foram nomeados para os cargos em comissão de

assessores parlamentares, junto ao Gabinete do ex-Vereador EDILIO JOÃO

DALL’AGNOL, sem que nunca tivessem exercido as funções relativas a esse

cargo, sendo que os vencimentos foram utilizados em proveito daqueles.

Com isso, os requeridos enriqueceram-se

ilicitamente, pois auferiram vantagem patrimonial indevida em razão do

mandato do ex-Vereador EDILIO JOÃO DALL’AGNOL e dos cargos de

assessores parlamentares, consistente no desvio da remuneração paga pela

Câmara de Vereadores de Foz do Iguaçu-Pr para o (simulado) desempenho de

funções que deveriam ter sido realizadas pelos réus.

Ainda, ocorreu a incorporação ao patrimônio

dos requeridos, de valores integrantes do acervo patrimonial da Câmara

Municipal. É que, como exaustivamente se afirmou EDVALDO ERNESTO

RODRIGUES, JOÃO MOYSES SOARES, VALCI GARCIA SCANES,

LEONICE STEMPCOSKI BRITTO, ANAMIM FRANCO BENTO e

ELIEZER BATISTA nunca trabalharam efetivamente para as funções nas quais

foram nomeados. E, em tendo os réus se aproveitado de tal situação, vieram a

incorporar, ilicitamente, valores pertencentes à Casa de Leis local.

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22 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000092-1

Os assessores réus receberam sem ‘trabalhar’,

enriqueceram ilicitamente à custa do erário e do suor do contribuinte, com

remunerações muito superiores à da maioria da população brasileira, que não

conta com o denominado "padrinho" ou "pistolão".

Assim sendo, os requeridos nunca

desempenharam as atribuições inerentes ao cargo para os quais foram nomeados,

aceitando participar de uma fraude contra a Administração Pública para atingir

finalidades particulares, desrespeitando o artigo 15, da Lei nº 8.112/90, aplicado

analogicamente, in verbis: "efetivo desempenho das atribuições do cargo público

ou da função de confiança".

Destarte, ao fazerem promoção política para o

ex-Vereador EDILIO JOÃO DALL’AGNOL, este também enriqueceu

ilicitamente, na medida em que deveria arcar com suas próprias despesas em

trabalhos políticos, e não utilizar os cargos públicos de assessores parlamentares

para esta função.

Trata-se de experiência corriqueira no Estado

brasileiro totalmente reprovável, tanto do ponto de vista da autoridade que

nomeia quanto da pessoa que aceita ser favorecido por tal ilicitude.

A conduta dos requeridos, logo, encontra plena

e perfeita caracterização nos termos do que dispõem o caput e os incisos IV e XI

do artigo 9º da Lei de Improbidade Administrativa.

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23 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000092-1

O enriquecimento ilícito dos réus ocasionou

notório prejuízo ao erário municipal, o qual desembolsou valores para o

pagamento de serviços inúteis, desempenhado pelos assessores do Gabinete do

ex-Vereador réu, não obstante a Câmara de Vereadores realizar o pagamento

desses comissionados.

O enriquecimento ilícito e consequentemente o

prejuízo da Casa de Leis local, segundo Informação de Auditoria de fls. 586/593,

foi de R$ 786.970,13 (setecentos e oitenta e seis mil, novecentos e setenta reais e

treze centavos), sendo:

R$ 13.818,63 – ANAMIM FRANCO BENTO;

R$ 110.852,24 – ELIEZER BATISTA;

R$ 145.699,87 – JOAO MOYSES SOARES;

R$ 122.646,23 – VALCI GARCIA SCANES;

R$ 122.646,23 – LEONICE STEMPCOSKI BALDISSARELLI; e

R$ 271.306,93 – EDVALDO ERNESTO RODRIGUES.

A evidente e reprovável conduta ilícita é

destacada nos seguintes julgados:

“AÇÃO CIVIL PÚBLICA.

IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA.

CÂMARA MUNICIPAL. DESIGNAÇÃO

SIMULADA DE SERVIDORES. CARGOS

EM COMISSÃO. FALTA DE

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24 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000092-1

PRESTAÇÃO REGULAR DE SERVIÇOS.

É procedente o pedido de ressarcimento,

formulado em ação civil pública, diante da

demonstração de que servidores

municipais, ocupantes, na época, de cargo

comissionado, não exerceram regularmente

suas funções. Nega-se provimento ao

agravo retido, rejeita-se a preliminar e

nega-se provimento aos recursos de

apelação” (TJMG, 4ª Câmara Cível, Apelação

nº 1.0035.00.003341-1/004, Relator DES.

ALMEIDA MELO, j. 06.09.2007, DJ

21.09.2007).

“Constitucional/Administrativo Ação de

improbidade administrativa. Legitimação

ativa do Ministério Público e demais

condições acionárias presentes.

Cerceamento defensório inocorrente.

Empresa pública municipal - Contratação

de servidora sem a realização de concurso

público ou processo seletivo - Ausência de

efetivo exercício das funções respectivas,

apesar de assinado o ponto - Recebimento

dos salários - Infringência ao art. 37,

“caput” e inciso II, da CF -

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25 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000092-1

Responsabilização de todos os envolvidos -

Penalidades bem impostas, incluso o

ressarcimento do erário - Procedência

parcial ampliada para total - Provimento

ao recurso ministerial e desprovimento dos

demais” (TJSP, 13ª Câmara de Direito

Público, Apelação com revisão nº

8944185100, Rel. Des. Ivan Sartori, j.

24.06.2009, DJ 18.08.2009).

Em razão disso, EDVALDO ERNESTO

RODRIGUES, JOÃO MOYSES SOARES, VALCI GARCIA SCANES,

LEONICE STEMPCOSKI BRITTO, ANAMIM FRANCO BENTO,

ELIEZER BATISTA e EDILIO JOÃO DALL’AGNOL ficam sujeitos às

sanções previstas no artigo 12, inciso I, da referida Lei nº 8.429/92.

2.3. DOS ATOS CAUSADORES DE PREJUÍZO AO ERÁRIO:

A Lei nº 8.429/92 disciplina a repressão aos

atos de improbidade administrativa praticados por agentes públicos que

importam em enriquecimento ilícito, que causam prejuízo ao erário e que

atentam contra os princípios da administração pública, estabelecendo as sanções

aplicáveis aos seus autores, dentre elas, a de ressarcimento integral do dano.

O artigo 10º, caput, e incisos I e XII, do

aludido diploma legal prevê:

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26 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000092-1

“Art. 10. Constitui ato de improbidade

administrativa que causa lesão ao erário

qualquer ação ou omissão, dolosa ou

culposa, que enseje perda patrimonial,

desvio, apropriação, malbaratamento ou

dilapidação dos bens ou haveres das

entidades referidas no art. 1º desta Lei, e

notadamente:

I - facilitar ou concorrer por qualquer

forma para a incorporação ao patrimônio

particular, de pessoa física ou jurídica, de

bens, rendas, verbas ou valores integrantes

do acervo patrimonial das entidades

mencionadas no art. 1º desta Lei;

(...)

XII – permitir, facilitar ou concorrer para

que terceiro se enriqueça ilicitamente;”

Assim, pode-se dizer que, ao contratar

EDVALDO ERNESTO RODRIGUES, JOÃO MOYSES SOARES, VALCI

GARCIA SCANES, LEONICE STEMPCOSKI BRITTO, ANAMIM

FRANCO BENTO e ELIEZER BATISTA em flagrante ofensa a Lei de

Improbidade Administrativa, bem como à Carta Magna, o réu EDILIO JOÃO

DALL’AGNOL facilitou a incorporação de verba pública ao patrimônio destes,

o que resultou num enriquecimento ilícito, apesar da supracitada vedação legal.

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27 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000092-1

Ora, se tais verbas legalmente não deveriam

ser suportadas pela Administração Pública, em razão das funções exercidas por

estes não serem as legalmente previstas (em flagrante desvio de finalidade), tais

gastos configuram dano ao erário, gerando ao Poder Público o direito de ser

ressarcido do que ilicitamente pagou.

Desta forma, o requerido EDILIO JOÃO

DALL’AGNOL deu causa a pagamentos de verbas indevidas a tais contratados,

id est, o que representa perda patrimonial para a Administração Pública (prejuízo

aos cofres públicos) em razão deste possuir 06 (seis) dos 07 (sete) assessores

parlamentares que exercem diariamente funções de assistencialismo no

Município de Foz do Iguaçu, conforme declarações às fls. 504/510.

Destarte, não podem os contribuintes do

Município de Foz do Iguaçu arcar com este ônus, pois o povo não deve sustentar

as ilegalidades praticadas pelos seus governantes. Assim, como o requerido

EDILIO JOÃO DALL’AGNOL foi o responsável pelas contratações ilegais e

pelos pagamentos das sobreditas verbas, bem como pelo prejuízo ao patrimônio

público do Município de Foz do Iguaçu, deve ele restituir o dano causado ao

erário.

Aliás, assim têm reconhecido a doutrina e a

jurisprudência:

"(...) o dinheiro público, exatamente por ser

res publica, há de ser gasto dentro da estrita

conformidade legal.

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28 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000092-1

(...)

'Quem quer que utilize dinheiros públicos

terá de verificar seu bom e regular emprego,

na conformidade das leis, regulamentos e

normas emanadas das autoridades

administrativas competentes', ou seja: 'quem

gastar, tem de gastar de acordo com a lei'

Isso quer dizer: quem gastar em desacordo

com a lei, há de fazê-lo por sua conta, risco e

perigos. Pois impugnada a despesa, a quantia

gasta irregularmente terá de retornar ao

Erário Público.

Não caberá a invocação, assaz de vezes

realizada, de enriquecimento ilícito da

Administração.

(...)

Se são 'nulos', ou, melhor expressão, 'não

convalidáveis', são retirados do mundo

jurídico, retroagindo os efeitos do

desfazimento ex tunc. Evidentemente, efeitos

padrônomicos ao ato, já acontecidos, não são

suscetíveis de eliminação. Daí por que os

terceiros de boa fé devem ser indenizados.

Entretanto, não bastará a invalidação

administrativa do ato, sem recomposição do

Erário, para se excluir a ação popular.

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29 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000092-1

(...)

Demais disso, há que se enfatizar que,

suprimido do mundo jurídico o ato maculado

de ilegalidade, a conseqüência será a

reposição ao erário.

(...)

Aquele que praticou os atos terá agido por

sua conta, riscos e perigos16" (grifou-se e se

destacou).

“Como corretamente anotou o Min. Mílton

Pereira, ‘a escusar-se a responsabilidade do

administrador público, pela salvaguarda de

que o empregado, em contraprestação,

prestou serviços, será construir um estranho

indene de impunidade em favor do agente

político que praticou ato manifestamente

contra a lei - nexo causal das obrigações da

relação de trabalho nascida de ato ilegal -

criando-se inusitada convalidação dos efeitos

de ato nulo. Será estimular o ímprobo a agir

porque, a final, aquela contraprestação o

resguardará contra ação de responsabilidade

civil.’

(...)

16 FERRAZ, Sérgio e FIGUEIREDO, Lúcia Valle. op. cit. p. 93, 106-107.

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30 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000092-1

Está em questão um princípio: fazendo

tabula rasa da Constituição e da lei, pode o

administrador contratar impunemente, sem

concurso, ou em período defeso..., e ficar

tudo por isso mesmo? Pode cometer tais

ilegalidades gritantes e mandar a conta para

os cofres públicos? Pode ser a execução da

própria ilegalidade o bill de indenidade que

irá beneficiar o administrador ímprobo? Isto

é absurdo.

Se o administrador pudesse assim estar

garantido, poderia contratar impunemente

seus apaniguados para ardorosamente

labutarem em sinecuras ou fazerem obras

que terceiros poderiam fazer melhor e mais

barato para a Fazenda17” (grifou-se e se

destacou).

É inquestionável que a contratação dos ditos

assessores para exercerem integralmente funções meramente assistenciais, em

desacordo com a legislação pertinente, importa em prejuízo ao erário, já que

qualquer diminuição do patrimônio público advinda de ato inválido caracteriza

dano e redunda no dever de ressarcir.

17 MAZZILLI, Hugo Nigro. A Defesa dos Interesses Difusos em Juízo. p. 161-162.

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31 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000092-1

E é aí que se inclui o dever por parte do

requerido EDILIO JOÃO DALL’AGNOL em ressarcir a Administração pelos

prejuízos causados, consoante artigos 37, § 4º, da Constituição da República e 4º

e 5º da Lei Federal nº 8.429/92.

2.4. DA VIOLAÇÃO DOS PRINCÍPIOS QUE REGEM A

ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA:

A Constituição da República estabelece, em

seu artigo 37 que:

“A administração pública direta, indireta

ou fundacional, de qualquer dos Poderes da

União, dos Estados, do Distrito Federal e

dos Municípios obedecerá aos princípios da

legalidade, impessoalidade, moralidade,

publicidade e eficiência e, também, ao

seguinte:”

Desta forma, são os princípios da legalidade,

moralidade, impessoalidade, publicidade e eficiência as vigas mestras de

orientação e regulamentação da Atividade Administrativa em qualquer dos

Poderes da República.

Diógenes Gasparini, no que se refere ao

princípio da legalidade, leciona que:

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32 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000092-1

“(...) a este princípio também se submete o

agente público. Com efeito, o agente da

Administração Pública está preso à lei e

qualquer desvio de suas imposições pode

nulificar o ato e tornar seu autor responsável

e, conforme o caso, disciplinar, civil e

criminalmente18”.

Cumpre asseverar que todo ato de agente

público deve ser realizado nos termos e limites da lei e da Constituição Federal,

pois ao administrador e à própria Administração somente é permitido fazer o que

a lei expressamente autorize.

Importante ressaltar que o princípio da

moralidade administrativa também restou lesado.

Ao tratar do tema, leciona a doutrina19:

“A moralidade administrativa é um

princípio informador da ação

administrativa, devendo se pautar na

consciência do administrador a vedação do

agir dissociado dos conceitos comuns,

18 GASPARINI, Diógenes. Direito Administrativo. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 1995. p. 6. 19 SILVA, Jarly. O desvio de finalidade do administrador público sob a ótica dos princípios

constitucionais da impessoalidade e moralidade. Disponível em: ,http://www.artigonal.com/direito-artigos/o-desvio-de-finalidade-do-administrador-publico-sob-a-otica-dos-principios-constitucionais-da-impessoalidade-e-moralidade-1602407.html> Acesso em 05/12/2012.

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33 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000092-1

ordinários, válidos, respeitando as

diferenças históricas do honesto e justo.

(...)

Tal princípio poderia ser identificado com

o da justiça, ao determinar que se trate a

outrem do mesmo modo que se apreciaria

ser tratado. O “outro”, aqui, é a sociedade

inteira, motivo pelo qual o princípio da

moralidade exige que, fundamentada e

racionalmente, os atos, contratos e

procedimentos administrativos venham a

ser contemplados à luz da orientação

decisiva e substancial, que prescreve o

dever de a Administração Pública

observar, com pronunciado rigor e a maior

objetividade possível, os referenciais

valorativos basilares vigentes, cumprindo,

de maneira precípua até, proteger e

vivificar, exemplarmente, a lealdade e a

boa-fé para com a sociedade, bem como

travar o combate contra toda e qualquer

lesão moral provocada por ações públicas

destituídas de probidade e honradez”.

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34 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000092-1

Ao agente público não basta agir

expressamente dentro da lei, exige-se que atue conforme a moralidade e

sentimento médio de justiça, de honestidade e de boa-fé. A contratação de 06

(seis) assessores para funções meramente assistenciais é, inevitavelmente, ato

não apenas ilegal, mas ainda, absolutamente imoral.

O legislador ordinário seguiu o mesmo caminho,

ao estabelecer no artigo 4º da Lei nº 8.429/92, que os agentes públicos são

obrigados a velar pela estrita observância destes princípios.

Destarte, todo administrador público tem,

necessariamente, que ter sua conduta pautada pelo respeito a estes princípios,

deles não podendo se desviar, sob pena de anulação do ato praticado e de

punição pela prática de improbidade administrativa, conforme previsto no artigo

11, da Lei nº 8.429/92, que estabelece:

“Dos atos de improbidade administrativa

que atentam contra princípios da

administração pública:

Art. 11. Constitui ato de improbidade

administrativa que atenta contra qualquer

ação ou omissão que viole os deveres de

honestidade, imparcialidade, legalidade e

lealdade às instituições, e notadamente:”

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35 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000092-1

No caso em exame, o requerido EDILIO

JOÃO DALL’AGNOL, no exercício do cargo de Vereador da Câmara

Municipal de Foz do Iguaçu, em razão de haver admitido e pago de forma

irregular diversas pessoas no serviço público, ofendendo de morte a Lei de

Improbidade Administrativa, atentou contra os princípios da legalidade e

moralidade.

Ora, se houve inobservância da Constituição e

das leis nas contratações, houve ilegalidade e, portanto, ofensa/atentado contra o

princípio e o dever de legalidade, pois, como preleciona o saudoso Hely Lopes

Meirelles20:

"A legalidade, como princípio de

administração (CF, art. 37, caput, significa

que o administrador público está, em toda sua

atividade funcional, sujeito aos mandamentos

da lei e às exigências do bem-comum, e deles

não se pode afastar ou desviar, sob pena de

praticar ato inválido e expor-se à

responsabilidade disciplinar, civil e criminal,

conforme o caso.

A eficácia de toda atividade administrativa

está condicionada ao atendimento da lei.

Na Administração Pública não há liberdade

nem vontade pessoal. Enquanto na 20 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro 20. ed. São Paulo: Malheiros, 1995. p.

82/83.

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36 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000092-1

administração particular é lícito fazer tudo

que a lei não proíbe, na Administração

Pública só é perimido fazer o que a lei

autoriza. A lei para o particular significa

‘pode fazer assim’; para o administrador

público significa ‘deve fazer assim’”.

Repise-se, EDILIO JOÃO DALL’AGNOL

não respeitou a Constituição e as leis, admitindo funcionários em flagrante desvio

de função, segundo seus critérios pessoais de escolha. Pior: praticaram atos

vedados pela Constituição e pela legislação ordinária, ao admitirem funcionários

públicos sem a observância da obrigatoriedade do respectivo concurso.

Portanto, ofendendo-se o princípio e o dever de

legalidade, fica caracterizada a prática de ato de improbidade administrativa,

atentando contra os princípios da Administração Pública, previsto no artigo 11

da Lei nº 8.429/92.

2.5. DA EXIGÊNCIA DE DEDICAÇÃO EXCLUSIVA AO EXERCÍCIO

DE CARGO EM COMISSÃO:

Nesse instante, merece especial destaque a

condição que acompanha o exercício de cargo em comissão.

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37 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000092-1

Preleciona o artigo 6º da Lei Complementar

Municipal nº 9721, de 26 de janeiro de 2005:

"Art. 6º. O exercício de cargo em comissão

exigirá de seu ocupante integral dedicação".

Referida condição, ou exigência - como

elencou o legislador - impõe ao ocupante regime de integral dedicação ao cargo,

o que significa, em outras palavras, que não poderá desempenhar o ocupante

qualquer outra atividade além daquela prevista para o cargo exercido.

A atuação profissional do assessor VALCI

GARCIA SCANES que, como declarou, exercia atividade profissional de

autônomo no período vespertino (mecânico de automóveis e vendedor de caldo

de cana), constitui vítrea incompatibilidade com o cumprimento das funções do

cargo comissionado, por força do sobredito imperativo legal.

Em idêntico diapasão, é a situação dos

assessores EDVALDO ERNESTO RODRIGUES e JOÃO MOYSES

SOARES, que são empresários (sócios de uma fábrica de vassouras da qual

também é sócio o réu EDILIO JOÃO DALL’AGNOL) - profissão habitual de

iniciativa privada que, pela sua própria natureza exige também a dedicação

21 Disponível em: http://www.leismunicipais.com.br/a2/pr/f/foz-do-iguacu/lei-complementar/2005/9/97/ lei-complementar-n-97-2005-dispoe-sobre-os-cargos-de-provimento-em-comissao-e-sobre-a-atribuicao-de-gratificacao-de-funcao-nos-orgaos-da-adminis-tracao-superior-e-centralizada-do-municipio-de-foz-do-iguacu-e-da-outras-providencias-2005-01-26.html (acesso em 26.06.2013).

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38 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000092-1

integral à atividade desempenhada no estabelecimento comercial - já que visa o

sucesso financeiro.

Não bastasse a obscuridade com relação às

funções desempenhadas junto ao Gabinete do Vereador EDILIO JOÃO

DALL’AGNOL, no caso dos assessores VALCI GARCIA SCANES,

EDVALDO ERNESTO RODRIGUES e JOÃO MOYSES SOARES, o

descumprimento do regime de trabalho de dedicação exclusiva, por si só,

configura o ato ímprobo, destoante dos princípios da administração pública.

Cinge-se, ademais, à míngua de possível

referência à eventual (in)compatibilidade de horários: a proibição à realização de

outra atividade laboral é inquestionável, não havendo lacuna para a relativização

do adjetivo usado pelo legislador para expressar a intenção de que o ocupante do

cargo comissionado a ele deverá se dedicar totalmente, por inteiro.

Por oportuno, é necessário destacar que as

atividades profissionais empreendidas pelos assessores VALCI GARCIA

SCANES, EDVALDO ERNESTO RODRIGUES e JOÃO MOYSES

SOARES não se enquadram nas exceções à regra de inacumulabilidade de

cargos e funções previstas na Constituição.

Ressalte-se, ainda, que a vedação à

acumulação de cargos ou à exigência de dedicação integral a função ocupada

justifica-se pela própria natureza do papel exercido: diz respeito à administração

e aos interesses da sociedade a ela vinculados. A execução das tarefas atribuídas

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39 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000092-1

ao assessor parlamentar, portanto, deve ser traçada com exímio emprego do

tempo e esforço, e a execução simultânea de dois labores – sejam públicos ou

privados –, por óbvio, verifica-se prejudicial a este aspecto ideal.

3. DO PEDIDO:

Ante todo o exposto, o Ministério Público requer:

a) a notificação dos requeridos nos endereços supramencionados, para que,

querendo, apresentem manifestações nos termos do §7º, do artigo 17, da Lei nº

8.429/92;

b) após as manifestações ou o decurso do prazo para apresentação das sobreditas,

seja recebida a petição inicial e determinadas as citações dos requeridos na

forma do § 9o, do precitado dispositivo legal, para, querendo, contestarem os

termos da presente, sob pena de revelia;

c) a notificação da Câmara de Foz do Iguaçu, na pessoa de seu Presidente, na

condição de pessoa jurídica interessada, para fins do artigo 17, § 3º, da Lei nº

8.429/92, isto é, para, caso queira, integrar a lide como litisconsorte ativo,

suprindo eventuais omissões e falhas contidas na inicial, bem como apresentar

provas de que disponham sobre os fatos;

d) o processamento da ação sob o rito ordinário, com as modificações

acrescentadas pela Lei de Improbidade;

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40 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000092-1

e) a produção de todos os meios de prova em direito admitidos, em especial, o

depoimento pessoal dos réus, a juntada de novos documentos, a pericial e a

testemunhal, cujo rol será oportunamente apresentado;

f) a condenação dos requeridos nas sanções previstas no artigo 12, incisos I, II e

III, da Lei nº 8.429/92, em razão da prática autônoma de atos de improbidade

administrativa, que causou enriquecimento ilícito, prejuízo ao erário e ofensa aos

princípios informadores da Administração Pública;

g) a condenação ao ressarcimento do valor de R$ 786.970,13 (setecentos e

oitenta e seis mil, novecentos e setenta reais e treze centavos) pelos requeridos;

Atribui-se à causa o valor de R$ 786.970,13

(setecentos e oitenta e seis mil, novecentos e setenta reais e treze centavos).

Termos em que se

Pede e espera deferimento.

Foz do Iguaçu, 11 de julho de 2013.

Marcos Cristiano Andrade

Promotor de Justiça

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41 Inquérito Civil Público nº MPPR – 0053.12.000092-1

DOCUMENTOS ANEXOS:

Inquérito Civil Público nº MPPR 0053.12.000092-1 (04 volumes).

Inquérito Civil Público nº MPPR 0053.09.000031-5 (02 volumes).

Notícia de fato nº MPPR 0053.12.000366-9 (01 volume).