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20/12/2015 Mestres do canto lírico falam da profissão e dão dicas a iniciantes Diversão e Arte Correio Braziliense
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Mestres do canto lírico falam da profissão e dão dicas a iniciantes
postado em 01/09/2010 07:00
Francisco tocava guitarra com a banda Scalasom, de Campinas (SP), e chegou até a se apresentar no programa do Ronnie
Von, na época da Jovem Guarda. Já André era baterista e participava de um grupo de rock em Fortaleza, onde nasceu. Janette
também tinha alma roqueira e começou a carreira cantando ao lado da amiga Cássia Eller aqui mesmo em Brasília. Os três
têm no rock a sua origem musical e profissional, mas foi na ópera (1) que acabaram se encontrando e hoje são referências no
assunto.
O barítono Francisco Frias, de 61 anos, o tenor André Vidal, 38, e a soprano Janette
Dornellas, 45, estão entre os principais professores de canto lírico da cidade. E nem
passava pela cabeça de nenhum deles algum dia enveredar para essa área da
música. “Sempre gostei de música erudita, de ópera, mas tinha vergonha de
cantar.Achava até cafona. Mas, um dia, eu ensaiava com minha banda no teatro lá
em Campinas e estavam montando a ópera La Traviata. Comecei a imitar o tenor, de
gozação, quando a professora e cantora lírica Niza Tank me ouviu e gostou muito.
Relutei bastante, mas não teve jeito. Lá se vão 35 anos nessa profissão”, lembra
Francisco.
No caso de André Vidal, a primeira vez que ele viu algo ligado ao canto lírico foi pela televisão na final da Copa da Itália, em
1990, quando três tenores Luciano Pavarotti, Plácido Domingo e José Carreras, se apresentaram e achou aquilo lindo, apesar
de não ter se interessado. Era o rock que o encantava. “Eu era baterista, estudei em colégio de padre e tinha que cantar em
coral. E olha que ironia, eu não gostava nem um pouco daquilo. Nunca imaginei me enveredar para o canto lírico”, conta.
André revela que, certa vez, uma amiga que era apaixonada por um professor de canto o chamou para fazer aulas com ela só
para poder flertar com o mestre. E foi dessa forma inusitada que André se descobriu no canto lírico. “Acabou que o professor
nem deu bola pra ela, mas se interessou pela minha voz. Falou que eu tinha jeito pra coisa. Aí não saí mais”, diz ele, que se
prepara para apresentar de 3 a 7 de setembro, a ópera O barbeiro de Sevilha, com a Cia. Brasileira de Ópera, no Teatro
Nacional Claudio Santoro.
Janette Dornellas teve um começo até engraçado. Estavam montando a ópera Porgy and Bess, do compositor norte-
americano George Gershwin, em Brasília, e ela foi para a Sala Villa-Lobos do Teatro Nacional participar da audição.
Entretanto, o elenco, por uma exigência de Gershwin, tinha que ser negro e ela acabou não sendo selecionada. “Mesmo
assim eu acabei fazendo. E o interessante é que nessa mesma montagem estavam eu, Cássia Eller e Zélia Duncan. Todas
tiveram que pintar a cara de preto para poder cantar. Foi bem divertido”, recorda.
Formação
Ser um cantor lírico requer uma série de exigências e, principalmente, dedicação. Os professores são unânimes em afirmar
que é fundamental buscar algum aprimoramento fora do país, já que o Brasil não tem muita tradição nesse gênero musical.
“É um investimento muito alto. Tem que saber de tudo um pouco. Idiomas, ter noção de teatro, literatura, cenário, como se
portar em cena”, destaca Francisco Frias.
Leonardo Arruda/Esp. CB/D.A Press
Janette, Vidal e Frias: para quem
quer seguir carreira é necessário
também um aprimoramento no
exterior
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Isso sem falar no trabalho vocal, já que a voz precisa ser muito mais potente do que a de um cantor popular, por exemplo. “O
trabalho de amplificação da voz é muito maior. Um cantor de ópera tem que conseguir se sobressair, sem usar microfone,
diante de um coro de 60 vozes e de uma orquestra de 60 pessoas. Não é fácil. Tem que conseguir furar esse som”, completa o
professor.
Leia matéria completa na versão impressa do Correio
Janette concorda e acredita que os cantores líricos são praticamente atletas da voz, já que o esforço físico e vocal é bem
intenso e, muitas vezes, o público não reconhece. “É até meio ingrata essa profissão. Mas a gente brinca que quando o vírus
do palco nos pega, não tem jeito. Ali se dá o encantamento”, acredita. André Vidal também se questiona diariamente, o que
faria se tivesse escolhido outro caminho. Apesar dos pesares, não imagina viver se cantar e ensinar. “Mesmo com todas as
dificuldades, é o que a gente faz. Aquilo de estar no palco, ser aplaudido é algo único. Quando o povo aplaude, é a glória. O
palco não tem explicação”, resume.
1 - A origem
A ópera é uma peça de teatro de caráter dramático, caracterizada pela presença de música. Os atores interpretam e cantam
ao mesmo tempo, acompanhados de uma orquestra. A ópera teria surgido na Itália, no começo do século 17, por isso, grande
parte delas, até hoje, é apresentada em latim ou italiano. Em latim, a palavra ópera significa obras.
Cinqüenta anos sem Leonard Warren - Um senhor barítono...
Eurico de Andrade Neves Borba
Seu nome era Leonard Warren. Nasceu em 1911. Estudou canto na Itália. Faleceu em 1960, cantando "La Forza del Destino",
de Verdi, no palco do Metropolitan Opera House, em Nova York. Estreara, em 1939, também cantado Verdi, em "Simon
Bocanegra".
Seu Rigolleto, no papel principal da ópera, era precioso. Seu Conde de Luna, no Il Trovatore, era soberbo. Seu Tonio em Il
Pagliacci, inesquecível. Encantava.
Warren apresentou-se na época áurea da ópera – de 1946 até o início dos anos de 1980 – grandes cantoras, excelentes
cantores, apoiados por tecnologia teatral inigualável de cenários, de iluminação e de acústica. Havia um mercado
operístico... Hoje o público escasseia, os espetáculos são caros para a montagem exigente dos cenários e da indumentária.
Cantou com Maria Callas, Renata Tebaldi, Ana Mofo, Leontyne Price, Monserrat Caballé, Gigli, Tagliavini, Cappucili, Peerce,
Bjoerling, Del Mônaco. Era um prazer imenso ouvi-los – poesia, música, canto e teatro juntos, coordenados por maestros
exigentes, Túlio Serafin à frente, para homenagear o belo, como só a ópera sabe e pode fazer. Um momento civilizacional
impar. Restam-nos as gravações.
Só o escutei em reproduções antigas e na não mais existente Rádio Difusora de Porto Alegre que, lá pelos anos de 1950,
apresentava programas líricos da melhor qualidade. Vi algumas fotos suas – sorriso contido, olhar penetrante, cabelos bem
penteados.
A bela mulher e maravilhosa soprano, Renata Tebaldi, com quem contracenava na noite em que faleceu, dizia que Warren
tinha "voz aveludada e era verdadeiramente estupendo...". De personalidade forte discutia com os colegas a interpretação
teatral, com os maestros os andamentos das partituras, com os cenógrafos as concepções dos cenários, com seus agentes sua
programação. Não era figura simpática nos backstages...
Se sua voz me fascinava, sua morte, no palco do Met, em plena interpretação, encheu meu coração de jovem amante e
estudioso do bel canto de magia indescritível. Suprema glória para um ator, para um cantor – a tragédia levada ao ápice pelo
desempenho adicional, que não constava do libretto... Morrer cantando. E cantando, até o fim a ária que se inicia com as
palavras proféticas, como se constataria logo a seguir: -"Morir! Tremenda cosa! Si intrépido, si prode, ei pur morrà...".
Encerra as frases, a estrofe, para, olha o chão, pede ajuda e cai. Pouco depois morria vitima do derrame cerebral violento que
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o acometera. O espetáculo se encerra. O mundo da ópera veste luto e escreve mais uma pagina de dramática beleza. Silencia
a orquestra, fecha o pano, apagam as luzes, permanece, no entanto, o canto do barítono que lembramos com saudades.
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