mÁrcio meira brandÃo a influÊncia das competÊncias
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MÁRCIO MEIRA BRANDÃO
A INFLUÊNCIA DAS COMPETÊNCIAS EMPREENDEDORAS E DOS SISTEMAS
DE RELAÇOES SOCIAIS NA DECISÃO DE EMPREENDER
NA ÁREA DE SERVIÇOS DE FISIOTERAPIA
Belo Horizonte
Universidade FUMEC
Faculdade de Ciências Econômicas, Administrativas e Contábeis de Belo Horizonte
2007
MÁRCIO MEIRA BRANDÃO
A INFLUÊNCIA DAS COMPETÊNCIAS EMPREENDEDORAS E DOS SISTEMAS
DE RELAÇOES SOCIAIS NA DECISÃO DE EMPREENDER
NA ÁREA DE SERVIÇOS DE FISIOTERAPIA
Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado da
Faculdade de Ciências Econômicas,
Administrativas e Contábeis de Belo Horizonte da
Universidade FUMEC, como requisito parcial
para obtenção de grau de Mestre em
Administração.
Área de Concentração: Gestão Estratégica de
Organizações
Orientador: Prof. Dr. Daniel Jardim Pardini
Belo Horizonte
Universidade FUMEC
Faculdade de Ciências Econômicas, Administrativas e Contábeis de Belo Horizonte
2007
Universidade FUMEC
Faculdade de Ciências Econômicas, Administrativas e Contábeis de Belo Horizonte
A INFLUÊNCIA DAS COMPETÊNCIAS EMPREENDEDORAS E DOS SISTEMAS DE
RELAÇOES SOCIAIS NA DECISÃO DE EMPREENDER
NA ÁREA DE SERVIÇOS DE FISIOTERAPIA
Dissertação de Mestrado apresentada por Márcio Meira Brandão, em 19 de abril de 2007, ao
Mestrado da Faculdade de Ciências Econômicas, Administrativas e Contábeis de Belo
Horizonte da Universidade FUMEC, aprovada pela Banca Examinadora constituída pelo
Professores:
Prof. Dr. Daniel Jardim Pardini (Orientador) Universidade FUMEC
Prof. Dr. Fernando Gomes de Paiva Junior Universidade Federal de Pernambuco
Prof. Dr. Irineu Dário Staub Universidade Federal do Paraná
Prof. Dr. Jersone Tasso Moreira Universidade FUMEC
Belo Horizonte, 19 de abril de 2007.
Prof. Dr. Luiz Antônio Antunes Teixeira
Coordenador do Curso de Mestrado em Administração
Aos meus pais (in memoriam),
Marcilio e Mercês,
pelo exemplo de vida e amor incondicional,
a minha eterna gratidão.
À minha Tchuca (Celsita),
pelo sentido que deu à minha vida,
o meu amor.
AGRADECIMENTOS
A Deus, razão da minha existência, por me guiar com saúde, discernimento e força
para que eu possa continuar com o firme propósito de ser um instrumento de sua palavra.
Ao Prof. Dr. Daniel Jardim Pardini, meu orientador, pelo exemplo de liderança,
dedicação e responsabilidade, pela paciência e respeito às minhas limitações, pelo incentivo e
amizade e pela criteriosa orientação dada em cada etapa da minha formação acadêmica e
desse estudo.
Aos meus pais Marcilio Nunes Brandão (in memoriam) e Mercês da Conceição
Meira Brandão (in memoriam) pelo apoio, amor incondicional, exemplo de vida e fonte de
luz.
À Celsita Baeta Lopes, administradora do meu coração, paciente, amiga,
companheira de todos os momentos, pelo imensurável apoio em todas as etapas deste trabalho
e por permitir que eu compartilhe de sua vida e seja mais feliz. Aos seus filhos, Ízila, Vitor e
Caio, por se privarem da sua companhia, a meu favor.
A todos os meus familiares, por acreditarem nas minhas competências e visão de
que é possível abrir novos caminhos e conquistar novos horizontes.
Aos meus irmãos Lila, Maurício (in memoriam), Naná e Xó, por contribuírem
significantemente na minha formação; Iza, Birinha e Maurinho, por me tomarem como filho
nos momentos difíceis da minha caminhada.
Às Professoras Taís Almeida Marra, Luciana Moreno, Margareth Lazzarini,
Juciany Rodrigues Ramalho e Carla Renata Soares, pela amizade e por terem assumido
funções e responsabilidades minhas, possibilitando a conclusão deste trabalho.
À Semíramis Baeta, Patrícia Brandão, David Macintyre e Ubiraci Bagno, pelo
apoio prático e emocional na conclusão deste trabalho.
À Professora Lívia Ribeiro Borges Lazzarotto, coordenadora do Curso de
Fisioterapia do Centro Universitário UNIBH, pelo “trote” - como reconhecimento e
celebração das minhas conquistas, pela compreensão dos momentos em que estive ausente,
pelo exemplo, amizade e apoio.
À direção da Faculdade Pitágoras, pela compreensão e apoio na concretização
desta qualificação.
Ao Prof. Dr. Luiz Antônio Antunes Teixeira, Coordenador do Curso de Mestrado
da FACE/FUMEC, e à sua equipe docente, por tornarem possível o desenvolvimento e
conclusão desta etapa profissional.
Aos colegas da “turma dois”, pela agradável convivência e participação ativa na
minha formação acadêmica.
Pelo sonho é que vamos
Pelo sonho é que vamos,
comovidos e mudos.
Chegamos? Não chegamos?
Haja ou não haja frutos,
pelo sonho é que vamos.
Basta a fé no que temos.
Basta a esperança naquilo
que talvez não teremos.
Basta que a alma demos,
com a mesma alegria,
ao que desconhecemos
e ao que é do dia a dia.
Chegamos? Não chegamos?
Partimos. Vamos. Somos.
Sebastião da Gama
RESUMO
Este estudo analisa as competências empreendedoras e a rede de relações sociais
no processo de decisão do exercício profissional do fisioterapeuta. Na literatura sobre
empreendedorismo as pesquisas existentes focam em separado, ora no construto competências
empreendedoras (DRUCKER, 1986; PAIVA et al, 2006), ora no construto relações sociais
(GRANOVETER, 1985; VASCONCELOS 2005). Neste trabalho busca-se entender como
esses dois atributos são edificados nos serviços de fisioterapia e quais associações podem ser
feitas entre competência empreendedora e sistemas de relações com a opção do profissional
fisioterapeuta em ter ou não o seu próprio negócio. O segmento fisioterápico, além de ser a
área de atuação do pesquisador, possibilita uma série de alternativas de negócios para o
formando, o que se traduz em um rico campo de investigação para os objetos em estudo.
Utilizou-se uma metodologia de natureza qualitativa, realizada por meio de entrevistas semi-
estruturadas com profissionais fisioterapeutas. Os entrevistados foram assim classificados em
relação ao estágio do negócio: inicial nascente; inicial novo; estabelecidos e outros no sentido
de permitir uma análise estratificada que refletisse as etapas do exercício profissional e os
tipos de negócios definidos pelo fisioterapeuta. Para gerar os resultados foi utilizada a análise
de conteúdo clássica. Para agrupar os construtos fez-se uso da técnica de análise temática que
permitiu agrupar os depoimentos evidenciados em sub-temas e núcleos de sentidos associados
às competências empreendedoras e os sistemas de relações no campo fisioterápico. Em
paralelo a essa análise exclusivamente qualitativa, onde se buscou abstrair os dados subjetivos
das entrevistas, realizou-se também uma análise estatística simples. Nessa análise foram
levantados os percentuais que representaram o nível de freqüência/recorrência nas respostas,
sobre cada item dos construtos pesquisados no trabalho. Os resultados obtidos demonstram
que entre as competências empreendedoras associadas à visão do ambiente, 62% dos
entrevistados utilizaram a habilidade de aproveitar uma oportunidade no mercado e mais da
metade não fizeram uso de informações preliminares sobre o negócio. Já a opção pela carreira
fisioterápica e sua a inclinação em se estabelecer como proprietários de um negócio foram
fortemente influenciadas pela rede de relações sociais, sendo que a dimensão acadêmica se
mostrou como mais influenciadora.
Palavras-chave: Competências Empreendedoras; Empreendedorismo; Segmento Fisioterápico;
Sistema de Relações.
ABSTRACT
This study analyzes the entrepreneur’s competencies and the social relation network in
the decision process of the physiotherapist’s professional work. In the literature about
entrepreneurs, the existing researches focus separately. Sometimes on entrepreneur’s
competencies construct (DRUCKER, 1986; PAIVA et al., 2006) and other times on the social
relations’ construct (GRANOVETER, 1985; VASCONCELOS, 2005). This paper tries to
understand how these two attributes are constructed in the physiotherapy services and which
associations can be made between the entrepreneur’s competencies and the relation systems in the
professional option of a physiotherapist in having or not his own business. The physiotherapy
sector, apart from being a research area for a researcher, offer a series of alternative business
possibilities for the newly graduated, which can be translated into a rich field of investigation for
the objects that are being studied. The methodology that was used was o qualitative nature, using
semi-structured interviews with professional physiotherapists. The professionals that were
interviewed were classified according to the stage of their business: incipient initial, new initial,
established and others (GEM, 2006), in the sense that this will allow a stratified analysis that
reflects the stages in the exercise of the profession and the types of businesses defined by the
physiotherapist. To create the results, the analysis of the classical content was used. The technique
of thematic analysis was used to gather the constructs, which permitted to gather the evidenced
testimonies in sub-themes and meaning nucleuses associated to the entrepreneur’s competencies
and the relation systems in the physiotherapy field. Beside the exclusive qualitative analysis,
where the idea was to extract the subjective data of the interviews, a simple statistic analysis was
also completed. In this analysis the percentages that represented the level of frequency/recurrence
of the answers were investigated, about each of the items researched in this paper. The results
which were obtained show that among the entrepreneur’s competencies associated the viewing of
the environment, 62% of the interviewed use the ability of taking advantage of a market
opportunity and more that half did not use the preliminary information about the business. Yet the
option for the physiotherapist career and the tendency to establish themselves as owners of their
own business were strongly influenced by the social relation network, being that the academic
dimension showed itself as being the one with more influence.
Key-words: Entrepreneur’s Competence, Entrepreneurship, Physiotherapy Segment, Relations’
System.
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1 As Três Categorias da Visão Empreendedora . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
FIGURA 2 Elementos de Suporte do Processo Visionário . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . 32
FIGURA 3 O Processo Gerencial dos Empreendedores. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
FIGURA 4 O Sistema de Relações Sociais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
LISTA DE QUADROS
QUADRO 1 Categoria e Formação dos Entrevistados. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
QUADRO 2 Quantificação das Recorrências de Competências Empreendedoras -
Sistemas de Relações. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
75
QUADRO 3 Demonstrativo de Categorias de Profissionais Entrevistados. . . .. . . . . . 76
QUADRO 4 Demonstrativo de Recorrências dos Construtos - Competências
Individuais Empreendedoras e Sistemas de Relações.. . . . . . . . . . . . . . .
76
QUADRO 5 Demonstrativo de Recorrências das Competências Associadas ás
Competências Individuais Empreendedoras. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
77
QUADRO 6 Demonstrativo de Recorrências das Competências Associadas à Visão
do Ambiente. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
78
QUADRO 7 Demonstrativo de Recorrências das Competências de Oportunidade. . . 78
QUADRO 8 Demonstrativo de Recorrências de Conhecimento Antecipado do
Negócio e o Uso de Informações Preliminares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
79
QUADRO 9 Demonstrativo de Recorrências de Competência de Avaliar e Assumir
Riscos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
80
QUADRO 10 Demonstrativo de Recorrências de Competências Individuais
Empreendedoras. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
81
QUADRO 11 Demonstrativo de Recorrências dos Sistemas de Relações Sociais . . . . 82
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
CES Censo de Educação Superior
CNE Conselho Nacional de Educação
CREFITO 4 MG Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional da 4ª Região -
Minas Gerais
ENADE Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes
FACE Faculdade de Ciências Empresariais
FUMEC Fundação Mineira de Educação e Cultura
GEM Global Entrepreuneurship Monitor
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira
RPG Reeducação Postural Global
SEBRAE Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas
TO Terapia Ocupacional
UFMG Universidade Federal de Minas Gerais
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
2 COMPETÊNCIAS EMPREENDEDORAS E SISTEMAS DE
RELAÇOES – MOTIVAÇÕES PARA SE ESTUDAR A SUA
EMERGÊNCIA NO SEGMENTO DE FISIOTERAPIA. . . . . . . . . . . . . . . 19
3 OBJETIVOS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
3.1 Objetivo Geral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
3.2 Objetivos Específicos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
4 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
4.1 Empreendedorismo, Empreendedor e Ação Empreendedora. . . . . . . . . . . . . . . 25
4.2 Competências Individuais Empreendedoras. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
4.2.1 Competências Associadas à Visão do Ambiente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
4.2.1.1 Competência de Oportunidade. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
4.2.1.2 O Conhecimento Antecipado do Negócio e o Uso de Fontes Preliminares de
Informações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
4.2.1.3 Competência de Avaliar e Assumir Riscos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
4.2.2 Competências Associadas à Ação Estratégica. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
4.3 Sistemas de Relações - As Redes Sociais e a Influência na Atividade
Empreendedora. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
5 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
5.1 Estratégia da Pesquisa. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
5.2 Coleta de Dados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
5.3 Tratamento e Análise dos Dados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
5.3.1 Técnica de Análise . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
5.3.2 Análise Temática . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
4
6 COMPETÊNCIAS EMPREENDEDORAS E SISTEMAS DE
RELAÇÕES NA ÁREA DE SERVIÇOS DE FISIOTERAPIA. . . . . . . . . . 52
6.1 Antecedentes do processo de escolha do profissional fisioterapeuta. . . . . . . . . 52
6.2 Competências empreendedoras no exercício da fisioterapia . . . . . . . . . . . . . . . 56
6.2.1 Competências associadas à visão do ambiente. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56
6.2.2 Competências associadas à ação estratégica. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62
6.3 Sistemas de relações – As redes sociais e sua influência na atividade
fisioterápica. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67
6.4 Análise de recorrência dos temas “competências empreendedoras” e
“sistemas de relações” . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74
7 CONCLUSÕES, LIMITAÇÕES DA PESQUISA E SUGESTÕES PARA
ESTUDOS FUTUROS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83
REFERÊNCIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87
ANEXO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 94
15
1. INTRODUÇÃO
O tema empreendedorismo tem cada vez mais alcançado espaço na academia e na
mídia por representar uma relevante alternativa para o desenvolvimento econômico e social
do Estado de Minas Gerais. O Brasil, em especial, ocupa lugar de destaque mundial pelo
número de empreendedores que anualmente são identificados no mercado de negócios.
Segundo relatório gerado pelo GEM (2005) o país ocupa a sétima posição entre os países com
maior taxa de atividade empreendedora no mundo. Enquanto um em cada oito brasileiros em
idade adulta está pensando em abrir um negócio (PAIVA JR, 2004), em torno de 50% da
população do país conhece alguém que iniciou um novo negócio nos últimos dois anos
(GEM, 2007).
Atualmente, são várias as instituições que registram e pesquisam o fenômeno do
empreendedorismo, buscando entender o perfil e a motivação das pessoas que se sobressaem
utilizando a capacidade de empreender seja dentro das organizações ou na estruturação do
próprio negócio. A crescente necessidade das pessoas em buscar algo diferenciado do que é
oferecido pela maioria das organizações, também tem contribuído para o interesse nos estudos
que pesquisam os comportamentos voltados para colocar em prática soluções tecnológicas
empreendedoras.
A academia não tem ficado à margem dessa investigação. Nos estudos sobre
empreendedorismo uma série de “Escolas” de pensamentos tem buscado estruturar as
pesquisas sobre a temática (KURATKO e HODGGETTS, 1995; FILLION, 1999b). São
linhas que associam a atividade empreendedora ao desenvolvimento econômico, à ação
estratégica e ao comportamento de indivíduos e organizações. O foco de interesse desta
16
pesquisa permeia as correntes que estudam o comportamento e a ação estratégica
empreendedora, em especial as competências individuais e as relações sociais que
influenciam na decisão dos indivíduos da área de fisioterapia.
A competência empreendedora está relacionada à capacidade do indivíduo de
identificar e colocar em prática aquelas ações que podem estimular o progresso das
sociedades (SCHUMPETER, 1984). Nesse processo, uma série de variáveis, entre elas as
interações sociais, auxilia o desenvolvimento da formação visionária. A concretização de um
empreendimento visionário pode estar associada, tanto ao esforço próprio que independe da
utilização mais efetiva de interações sociais, como da viabilização exclusiva pela rede de
contatos de que o indivíduo dispõe.
Um dos desafios presentes na literatura sobre empreendedorismo diz respeito à
influência que os sistemas de relações sociais têm na decisão dos profissionais em optar por
possuir vínculo empregatício ou assumir individualmente a condução de uma solução
tecnológica. Alguns estudos mostram que as esferas sociais – família, amigos, colegas de
trabalho e de formação educacional – cumprem um importante papel na edificação e
alavancagem de um negócio (BIRLEY, 1986; ALDRICH e ZIMMER, 1986; FILION, 1993).
Pouco se sabe, no entanto, de que maneira as relações sociais interferem na decisão pessoal de
levar adiante a idealização de um projeto de trabalho voltado para o ato de empreender.
O propósito dessa dissertação consiste em ampliar a compreensão de como a
formação do empreendedor e os contatos pessoais influenciam no futuro profissional do
indivíduo. No sentido de contribuir para essa investigação, a pesquisa objetiva analisar os
17
impactos das competências empreendedoras e dos sistemas de relações na escolha dos
caminhos a serem trilhados pelo profissional de fisioterapia no mercado de trabalho.
Para analisar os impactos desses dois construtos na concepção de um
empreendimento optou-se por estudar o setor de serviços fisioterápicos da Região
Metropolitana de Belo Horizonte. Em geral, o recém-formado do curso de Fisioterapia, ao se
defrontar com o mercado de trabalho, depara-se com o dilema das diversas alternativas
existentes: exercer a profissão em hospitais, clínicas, academias de ginásticas, clubes
desportivos, centros de saúde, indústria e instituições de ensino superior, ou conduzir o seu
próprio negócio. Nesse entremeio diversas redes de relações são construídas no sentido de
viabilizar as idéias propostas.
Assim, foram entrevistadas 23 pessoas entre fisioterapeutas e gestores de clínicas
fisioterápicas e por meio da análise clássica de conteúdo identificaram-se as principais
competências que ampararam o processo de decisão profissional. Da mesma maneira,
utilizando a técnica de análise temática aprofundou-se na investigação de como os sistemas de
relações interferem na viabilização do negócio. Nos resultados finais são discutidos como as
competências individuais e o sistema de relações sociais influenciam ou não na decisão do
fisioterapeuta em montar o seu próprio negócio.
Este trabalho está dividido em sete capítulos. Além da introdução apresentada
nesta sessão, o Capítulo dois aborda as motivações para se estudar as competências
empreendedoras e os sistemas de relações. No Capítulo três são descritos os objetivos gerais e
específicos do trabalho, bem como a delimitação da amostra da pesquisa. O capítulo quatro
abrange a fundamentação teórica e é dividido em tópicos que comportam conceitos sobre
empreendedorismo, empreendedor e ações empreendedoras e a revisão da literatura associada
18
às competências individuais e às redes de relações sociais que impactam na formação do
negócio. No Capítulo cinco são abordados os procedimentos metodológicos utilizados na
pesquisa. O Capítulo seis revela as competências empreendedoras e os sistemas de relações na
área de serviços de fisioterapia e por fim, no capítulo sete, apresentar-se-ão as conclusões,
limitações da pesquisa e sugestões para os estudos futuros.
19
2. COMPETÊNCIAS EMPREENDEDORAS E SISTEMAS DE RELAÇÕES –
MOTIVAÇÕES PARA SE ESTUDAR A SUA EMERGÊNCIA NO SEGMENTO
DE FISIOTERAPIA
No Brasil, um contingente considerável da população encontra-se em idade ativa
de trabalho. Segundo IBGE (2006), em recente pesquisa considerando as Regiões
Metropolitanas de Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto
Alegre, aproximadamente 39,6 milhões de pessoas foram consideradas aptas ao exercício de
atividades laborais.
As crises econômicas, o avanço da tecnologia e o acirramento da concorrência
decorrente da globalização têm feito com que as empresas tenham estruturas organizacionais
caracterizadas por uma redução dos níveis hierárquicos, diminuição de funcionários e
racionalização de funções. Com essa tendência de diminuição das estruturas de pessoal nas
grandes organizações e possível desemprego, as pessoas têm buscado no mercado de trabalho
novas formas de ocupação.
Assim, os profissionais atingidos pelo desemprego passam a ter a necessidade de
recorrer a fontes alternativas de renda. Uma das opções é a criação de um negócio próprio,
normalmente na forma de micro ou pequena empresa (DORNELAS, 2005). A percepção da
oportunidade para a criação de novos empreendimentos acarreta intensa mobilização dos
indivíduos envolvidos na obtenção dos recursos necessários para concretizá-los (JARILLO,
1989; SHANE e VENKATARAMAN 2000).
20
Benedetti et al. (2005) descrevem como, a partir da década de 1980, aumentou o
número de micro e pequenas empresas no Brasil. De acordo com os autores, esse modelo
gerador de empregos e multiplicador de recursos importantes para o desenvolvimento
econômico do país tem movido a expansão do tema empreendedorismo na mídia
especializada e na academia. Em 2003, uma variedade de centros de capacitação
empreendedora já se encontravam espalhados pelo território nacional (BRITTO e WEBER,
2003).
A captação dos recursos monetários para a sobrevivência familiar, além de uma
melhor qualidade de vida são frutos de uma busca por resultados a partir do exercício das
atividades empreendedoras (MENEZES, 2004). Dentro da perspectiva epistemológica
cunhada por Burrel e Morgan (1979), o ator social seria o criador da realidade estruturada por
meio da interação social com outros atores. Para alcançar os objetivos pessoais, que nem
sempre transparecem muito claros, as pessoas se sentem motivadas a empreender pelo desejo
de serem valorizadas em relação ao potencial produtivo despendido (BERGAMINI, 1997).
Nessa empreitada, o que está em jogo é como desenvolver as capacidades necessárias para a
realização pessoal. Com este estudo pretende-se aprofundar em dois fatores que podem ser
decisivos na implementação de um empreendimento: o desenvolvimento de competências
empreendedoras e a influência dos sistemas de relações sociais na implantação de um
negócio.
Na literatura de empreendedorismo a capacidade de percepção do ambiente e os
sistemas de relações são tratados como componentes das competências empreendedoras
(FILION, 1991; BRUSH et al., 2001; PAIVA JR. et al., 2006). As competências podem ser
edificadas no processo de aprendizagem oferecido pelos cursos de formação educacional ou
21
na própria experiência pessoal e profissional. Em todas essas situações as relações pessoais –
familiares, afetivas e intelectuais - exercem forte influência na elaboração do negócio que se
deseja implementar. São ainda poucos os estudos que buscam compreender essa dinâmica. O
que se necessita explorar é como esses dois construtos são levados em conta na decisão pela
assunção de um novo negócio. No sentido de realizar essa investigação, optou-se por estudar
o segmento de serviços fisioterápicos. A formação de profissionais fisioterapeutas apresentou
um crescimento vertiginoso nos últimos 15 anos. Dados extraídos do Instituto Nacional de
Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) e do IBGE, demonstram que em
1991 existia, no Brasil, 48 cursos de graduação presenciais de fisioterapia. Em 2004 o número
de cursos oferecidos passou para 339, representando um aumento da ordem de 685,58 % em
13 anos. No mesmo período o número de estudantes que concluíram o curso saltou de 3.121,
em 1991, para 29.863 concluintes em 2004 (HADDAD, 2006).
O profissional fisioterapeuta, segundo o Conselho Federal de Fisioterapia e
Terapia Ocupacional, órgão representativo da classe, tem uma significativa participação na
sociedade, responsável pelas ações fisioterápicas privativas a ele atribuídas. Dentre as
atividades privativas dos profissionais fisioterapeutas está o de executar métodos e técnicas
fisioterápicos com a finalidade de restaurar, desenvolver e conservar a capacidade física do
paciente. No exercício dessas funções o profissional de fisioterapia deve fazer uso de algumas
competências e habilidades adquiridas na sua formação, segundo Diretrizes Curriculares
Nacionais do Curso de Graduação em Fisioterapia.- Resolução CNE/CES no. 4/2002, a
saber:
a) aptidão para desenvolver ações de prevenção, promoção, proteção e
reabilitação da saúde, tanto em nível individual quanto coletivo;
22
b) capacidade para avaliar, sistematizar e decidir as condutas mais adequadas,
baseadas em evidências cientificas;
c) habilidade de interagir com outros profissionais de saúde e público em geral,
de ter acessibilidade e manutenção da confidencialidade das informações;
d) disposição para assumir posições de liderança, tendo em vista o bem estar da
comunidade, com compromisso, responsabilidade, empatia, habilidade para
tomada de decisões, comunicação e gerenciamento de forma efetiva e eficaz;
e) aptidão de serem empreendedores, gestores, empregadores ou lideranças na
equipe de saúde e ter a capacidade para a tomada de iniciativa, gerenciar e
administrar a força de trabalho, os recursos físicos, materiais e informação;
f) capacidade de aprender continuamente, tanto na formação, quanto na prática,
de aprender a aprender e ter responsabilidade e compromisso com a educação
própria e das futuras gerações de profissionais.
Cabe também ao fisioterapeuta dirigir e assessorar serviços em órgãos e
estabelecimentos públicos ou particulares, exercer o magistério nas disciplinas de formação
de nível superior e médio e supervisionar profissionais e alunos em trabalhos técnicos e
práticos (CREFITO 4 MG, 2002). Apesar da crescente expansão das diversas áreas de atuação
do profissional fisioterapeuta, Rebelatto e Botomé (1999) relatam a inexistência no Brasil, de
estudos que norteiam os modelos de atuação profissional, questionando quais as atividades
que podem e devem ser criadas por eles.
De acordo com Nascimento et al (2006), a história da profissionalização da
fisioterapia, sobretudo em Minas Gerais, registra a hegemonia médica e a ocorrência de
diversos conflitos internos e externos, motivados pela indefinição das atribuições e
23
competências da classe. A mesma autora confirma que para a afirmação efetiva da profissão é
essencial que se delimite melhor os diversos papéis exercidos pelos fisioterapeutas.
Muniz e Teixeira (2003) enfatizam que há muito o fisioterapeuta deixou de ser um
simples assalariado para tornar-se empresário, assumindo funções de chefia e
responsabilidade técnica de diversos serviços. A variedade de funções que o fisioterapeuta
pode exercer e as inúmeras relações profissionais com que se envolve nas diversas
organizações favoreceram a escolha desse setor para o nosso estudo. Nesse sentido,
pretende-se responder à seguinte questão de pesquisa:
Como as competências empreendedoras e os sistemas de relações influenciam
na decisão de empreender do profissional fisioterapeuta?
A proposta da investigação visa contribuir para com o debate sobre a influência da
formação das competências empreendedoras e do sistema de redes sociais nas decisões de
empreender do profissional fisioterapeuta. A pesquisa pode vir a apontar os atributos que
perfazem o processo de escolha dos caminhos existentes do exercício profissional, bem como,
as competências e as relações que interferem nessa decisão. Os objetivos do trabalho são a
seguir discriminados.
24
3. OBJETIVOS
3.1 Objetivo Geral
Analisar o processo de decisão do exercício profissional do fisioterapeuta da
grande Belo Horizonte sob as influências das competências empreendedoras e dos sistemas de
relações.
3.2 Objetivos Específicos
a) Identificar as características que definem as competências empreendedoras do
profissional fisioterapeuta;
b) Analisar os sistemas de relações sociais dos profissionais de fisioterapia
estabelecidos no mercado;
c) Estabelecer a influência da associação entre competência empreendedora e
sistemas de relações com a opção do profissional fisioterapeuta em ter ou não o
seu próprio negócio.
25
4. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A revisão da literatura buscou resgatar conceitos e teorias associadas aos
construtos competências empreendedoras e sistema de relações sociais. O primeiro item
aborda as concepções de empreendedorismo e sua evolução em outros países e no Brasil. O
segundo tópico da fundamentação teórica abrange os conceitos de competência e as instâncias
em que são manifestadas: ao nível das pessoas e das organizações. No terceiro item são
evidenciados os significados e componentes das competências empreendedoras e dos sistemas
de relações sociais, bem como, a importância dessas redes na formação de um
empreendimento.
4.1 Empreendedorismo, Empreendedor e Ação Empreendedora
A existência de um mercado cada vez mais competitivo, fazendo com que os
dirigentes das organizações se sintam pressionados por resultados financeiros de curto prazo
cresceu e, com ela, as metas tornaram-se mais difíceis e a vida do trabalhador mais
estressante. Essa instabilidade no ambiente interno organizacional gerou uma procura maior
por oportunidades no ambiente externo.
Diante desse quadro, muitos negócios foram criados pelos profissionais atingidos
pelo desemprego e que se viram obrigados a buscar fontes alternativas de renda que
possibilitassem a sua sobrevivência (DORNELAS, 2005). A criação de novos
empreendimentos muitas vezes decorre das oportunidades que são percebidas e aproveitadas
por meio de uma intensa mobilização para a obtenção dos recursos necessários para
26
concretizá-los (JARILLO, 1989; SHANE e VENKATARAMAN 2000). Esse fenômeno, que
impulsiona o desenvolvimento da economia nacional possivelmente pode ter sido um dos
responsáveis pela mobilização de pesquisadores interessados nos estudos sobre
empreendedorismo (BRITTO e WEBER, 2003).
O empreendedorismo consiste então no processo de criação de novos
empreendimentos, dentre outros, suportados por redes cooperativas geradas pelo governo,
pelas instituições de ensino e pelas organizações (KURATKO e HODGETTS, 1995). Pode
ser estudado por meio das dimensões individual, organizacional, ambiental e processual.
Timmons (1990) defende que o empreendedorismo é a habilidade para criar e construir uma
visão, um ato criativo. A visão empreendedora deve comportar atividades corporativas que
envolvem o desenvolvimento da economia e da sociedade (SCHUMPETER, 1984). Nesse
contexto, ela é propulsora do progresso, definindo as bases do desenvolvimento
organizacional, projetada pelas metas audaciosas que o empreendedor deseja alcançar
(FILION, 1991; COLLINS e PORRAS, 1994, PARDINI, 2005). O empreendedor seria o
catalisador das mudanças econômicas que utiliza o planejamento e a execução de ações
inovadoras para conduzir o processo empreendedor.
Segundo Schumpeter (1984), o empreendedor se distingue pela capacidade de
modificar a ordem econômica existente, seja por meio da exploração dos recursos materiais e
tecnológicos existentes ou pela introdução de novos produtos e serviços e a criação de novas
formas de organização.Essa mudança é considerada por Drucker (1986), como resultado das
divergências de opiniões e interesses, uma característica do empreendedor de estar sempre
“perturbando” e “desorganizando” a ordem natural das coisas, fenômeno denominado por
Schumpeter (1984) de “destruição criativa”.
27
A história do empreendedorismo no mundo e no Brasil auxilia a entender as
origens da atividade empreendedora. Para Filion (1991) a palavra “empreendedor” apresenta
conceitos que variam de acordo com o país e a época. No século XII, na França, o termo
entreprenuer era utilizado para se referir àquele que incentivava brigas. Ao final do século
XVII, o propósito de fazer qualquer coisa significava empreender. No século XVIII,
empreendedor dizia respeito àquela pessoa responsável pela criação e direcionamento dos
projetos e empreendimentos. Já no século XIX e inicio do século XX, surgem os chamados
capitães da indústria, os empreendedores do setor automobilístico que definitivamente
incorporam a ação empreendedora no ambiente organizacional.
No Brasil, a atividade empreendedora cresceu em decorrência do significativo
aumento de novos negócios que culminou com a multiplicação de empreendimentos de
pequeno e médio porte. No ano de 2002, conforme boletim estatístico de micro e pequenas
empresas (Sebrae, 2005), os micros e pequenos negócios representavam 99,2 % das empresas
implantadas no país, responsáveis por 69,2 % da ocupação de pessoas. Entretanto, é ainda
significativo o número de negócios que encerram suas atividades. De acordo com dados do
Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE), a mortalidade dos
negócios com até três anos de vida alcançou 56,4 % em 2005 (SEBRAE, 2005).
Para este estudo, a classificação utilizada pelo GEM (2006) dos
empreendedores por estágio do negócio e remuneração servirá de parâmetro para a
escolha da unidade de observação. O estágio de amadurecimento do empreendedor em
relação ao seu negócio pode gerar manifestações diferenciadas em relação ao objeto em
análise. De acordo com o GEM (2006) os empreendedores são tipificados como
28
empreendedores iniciais e empreendedores estabelecidos. Os empreendedores iniciais são
aqueles que possuem empreendimento há menos de três anos e meio (42 meses), tempo
considerado como vital para a sobrevivência do negócio. Eles são subdivididos em
empreendedores nascentes e empreendedores novos. São denominados nascentes aqueles
empreendedores que geraram alguma remuneração do negócio por menos de três meses.
Os empreendedores novos são aqueles já geram remuneração há pelo menos três meses.
Por sua vez, os empreendedores estabelecidos são considerados aqueles que estão à frente
dos empreendimentos há mais de 42 meses.
4.2 Competências Individuais Empreendedoras
O conceito de competência vem sendo amplamente explorado nos últimos anos em
discussões acadêmicas. No contexto deste estudo a construção do arcabouço teórico da
competência se justifica pelo entendimento de como a sua estruturação influencia na decisão
profissional das pessoas. Competência, derivada do inglês competence, é definida pelo
dicionário Webster (1999) como uma condição ou qualidade de suficiência de conhecimentos,
habilidades ou sucesso.
O Moderno Dicionário da Língua Portuguesa Michaelis (2004) revela, em sua
definição, que competência é a faculdade para apreciar e resolver qualquer assunto. Ducci
(1996) acrescenta a esse significado a capacidade para enfrentar e resolver problemas com
sucesso em situações novas, incertas ou irregulares. O especialista competente seria aquele
em que se reconhece particular habilidade em determinado campo de conhecimento, o que
marca a ruptura entre aquele que a detém e os que não a possuem ou a têm de forma
incompleta (LUZ, 2003). Competência pode ser concebida como uma característica que
29
engloba diferentes traços de personalidade, habilidades e conhecimentos, influenciados pela
experiência, capacitação, educação, história familiar e aspectos demográficos peculiares à
pessoa (KETS DE VRIES, 1996; MAN e LAU, 2000).
Incorporando o sentido de resultado ao conceito alguns autores associam a
competência como um meio de se obter transformações no mundo social e das organizações. Para
Barato (1998) as competências envolvem os saberes que compreendem um conhecimento capaz
de produzir determinados desempenhos, assim como de assimilar e produzir informações
pertinentes. Além disso, as competências alinham as capacidades de buscar, interpretar,
transformar e produzir processos e performances com o poder de executar corretamente uma
variedade de tarefas que representam as possibilidades concretas de uso do conhecimento,
pressupondo ainda a capacidade de transferência de aprendizagem e de adaptação a um novo
cenário (PARDINI, 2004).
Originada da psicologia, a competência, de acordo com Elliot e Dweck (2005),
pode ser observada nos indivíduos por meio de diferentes perspectivas. Ser competente diz
respeito às pessoas que utilizam um padrão específico na realização de tarefas ou ao indivíduo
que utiliza padrões de comportamento interpessoais para gerar mudanças ambientais e
normativas. Para alguns autores, as competências não se limitam apenas ao estoque de
conhecimentos teóricos e empíricos do indivíduo; ela diz respeito também, à ação de colocar
em prática o conhecimento em uma determinada situação (FLEURY e FLEURY, 2004).
Na literatura sobre empreendedorismo uma gama de características é encontrada
para definir o perfil do empreendedor. A noção de competência empreendedora está associada
ao misto de conhecimentos, habilidades e atitudes que desencadeiam ações eficazes na
30
consolidação de um negócio (RUAS, 2001; PAIVA et al., 2006). No entanto, o que se
percebe nos estudos que abordam as competências do empreendedor é uma miscelânea de
significados apresentados de maneira ampla e variada. Na tentativa de estruturar as
perspectivas conceituais existentes, neste tópico será proposta uma abordagem que engloba
dimensões de natureza comportamental e processual na formação da competência estratégica
da ação empreendedora. Com este estudo assume-se o pressuposto que o desenvolvimento
das competências na opção por uma determinada ação empreendedora envolve dois
momentos: o exercício da capacidade de perceber o ambiente do negócio e a aptidão para
colocar em prática as ações idealizadas.
4.2.1 Competências Associadas à Visão do Ambiente
Entre as competências do empreendedor, destaca-se a capacidade de visualizar o
ambiente que antecede e ampara o processo de decisão. Filion (1991) classifica a visão
empreendedora em três categorias: visão emergente, visão central e visão complementar
(FIG. 1). A visão emergente diz respeito ao desenvolvimento de produtos e serviços que
apresentem potencial de mercado. A visão central seria decorrente do resultado de uma ou
mais visões emergentes, podendo ser originada de uma visualização externa – faixa de
mercado a ser ocupada por um produto ou serviço - e outras interna – que indica os
caminhos para viabilizar o negócio. A visão complementar estaria associada às atividades
gerenciais necessárias para dar suporte à visão central. As competências relativas às visões
complementares serão tratadas em uma categoria específica no item 4.3.2.
31
FIGURA 1 – As Três Categorias da Visão Empreendedora. FONTE - Filion, 1993.
A concepção e a implementação do processo visionário distinguem o
empreendedor do gerente tradicional. Filion (1999a) argumenta que os empreendedores têm
visões, cuja elaboração demanda tempo, comprometimento e imaginação sobre o objetivo a
ser perseguido e os caminhos necessários para realizá-lo. Diferentemente dos gerentes e
executivos tradicionais, que normalmente utilizam habilidades administrativas para atingir
metas a partir dos recursos disponíveis na estrutura organizacional (FILION, 1999b), o
empreendedor está voltado para a definição de contextos e a organização dos recursos
necessários para fazer frente às oportunidades e ameaças ambientais (DORNELLAS, 2005).
Diante deste cenário, são desenvolvidas algumas competências que serão tratadas a seguir.
4.2.1.1 Competência de Oportunidade
Uma das principais fontes de elucidação da visão empreendedora são as
oportunidades presentes no ambiente dos negócios (DESCHAMPS e NAYAK, 1996). Paiva
Jr., Leão e Mello (2003) classificam o desenvolvimento da capacidade de se antecipar ao
VISÃO CENTRAL
EXTERNA
INTERNA
VISÕES EMERGENTES
VISÕES COMPLEMENTARES
VISÕES EMERGENTES
VISÕES COMPLEMENTARES
32
mercado e estruturar ações para concretizar um determinado empreendimento como
competência de oportunidade. A oportunidade é uma idéia que está vinculada a um produto
ou serviço que agrega valor ao consumidor, seja por meio da inovação ou da diferenciação.
Para Filion (1991) a identificação de oportunidades compõe uma das etapas do
processo visionário. Inicialmente o indivíduo identifica e entende um determinado tipo de
negócio com potencialidade de ser explorado. Percebida a oportunidade ele focaliza o nicho
de negócio, aprofunda o conhecimento na sua dinâmica de funcionamento, elabora cenários
para por em prática o negócio e, por fim, planeja a execução da idéia. Dentro de uma
perspectiva cognitivista, nessa empreitada alguns elementos atuam como suporte à formação
da visão (FIG. 2), são eles: o conceito de si, a energia, a liderança, a compreensão do setor e
as relações sociais.
FIGURA 2 – Elementos de Suporte do Processo Visionário.
FONTE - Filion, 1991.
Compreensão do setor
Visão
Relações
Conceito de si
Energia
Liderança
33
O conceito de si ou a auto-imagem se traduz na manifestação dos valores pessoais
do indivíduo, da sua forma de ver o mundo. A energia diz respeito à quantidade e qualidade
do tempo dedicado ao desenvolvimento da visão. Já a liderança confere ao empreendedor
maior capacidade de estabelecer e de tornar concreta a visão. Ao compreender o setor de
atuação do negócio são elucidadas as ameaças, as oportunidades, as tendências tecnológicas, o
funcionamento e os concorrentes do mercado. As relações são necessárias para melhorar,
desenvolver e programar sua visão. Pela importância que ela adquire na implementação de um
negócio e, por se tratar de um dos construtos principais dessa pesquisa, será tratada em uma
seção específica mais adiante.
Kuratko e Hodgetts (1995) tratam a oportunidade como uma das Escolas do
Pensamento Empreendedor. Para os autores, as pesquisas sobre as fontes de idéias, o
desenvolvimento de conceitos e a implementação das oportunidades formam importantes
áreas de interesse dessa Escola. A criatividade e a conscientização para o mercado são vistas
como essenciais para desvendar potenciais idéias de negócios. De acordo com essa Escola, o
desenvolvimento da idéia certa, no momento certo, para um determinado nicho emergente
de mercado é um elemento chave para o sucesso do negócio (KURATKO e HODGETTS,
1995). A habilidade consiste em reconhecer as oportunidades quando elas aparecem e
implementar posteriormente os passos necessários à sua consolidação.
A origem das oportunidades pode ser classificada em duas categorias: demanda
de mercado e oferta de tecnologia (DESCHAMPS e NAYAK, 1996). A demanda do
mercado refere-se à procura pelo mercado de produtos ou serviços que não foram ainda
oferecidos. A oferta de tecnologia está associada à disponibilidade de novas tecnologias que
gerem oportunidades de inovação.
34
A pesquisa de mercado pode levar à descoberta de necessidades não atendidas.
Stevenson e Gumpert (1985) confirmam que a competência empreendedora de
reconhecimento de oportunidade pressupõe a convergência de fatores controláveis - como o
domínio do ambiente, seleção da equipe de trabalho e estudos de risco – com aqueles não
controláveis, a exemplo dos aspectos culturais, sociais e econômicos.
As oportunidades podem ser especificadas indicando as soluções inovadoras, os
custos, os benefícios resultantes de sua exploração e os fatores que determinam o sucesso
empresarial do produto ou serviço. Seria uma forma de conhecer antecipadamente
determinado ambiente de negócio.
4.2.1.2 O Conhecimento Antecipado do Negócio e o Uso de Fontes Preliminares de
Informações
Uma tarefa crítica antes de iniciar um negócio é analisar e avaliar a viabilidade
da idéia do produto ou serviço. Na maior parte das situações a combinação de variáveis
influencia nos resultados. Em função disto torna-se importante que essas variáveis sejam
identificadas e investigadas antes de uma nova idéia ser colocada em prática. A construção
de uma abordagem de viabilidade pode vir a incorporar fatores externos que auxiliem na
compreensão preliminar do negócio. Kuratko e Hodgetts (1995) propõem as seguintes áreas
de análise que configuram a viabilidade de uma nova concepção:
a) técnica: análise de viabilidade do produto ou serviço;
b) mercado: determinação das oportunidades e riscos do mercado;
c) financeira: análise da viabilidade financeira;
35
d) organizacional: análise das capacidades organizacionais e das necessidades de
pessoal;
e) competitividade: análise dos fatores de competitividade.
Entender as necessidades dos consumidores é fundamental para a compreensão
prévia do ambiente de negócios. Isso é feito por meio de levantamentos qualitativos e
quantitativos do negócio. O processo avaliativo consiste também da utilização de fontes de
informações necessárias à percepção das tendências emergentes no ambiente e do
conhecimento antecipado da oportunidade alvo (KETS DE VRIES, 1996). Três fontes de
dados amparam a percepção que antecipa a ação empreendedora: publicações acadêmicas e
populares, observações diretas da prática de empreendedores e a participação em seminários
sobre a temática (KURATKO e HODGETTS, 1995). As fontes de publicações impressas
incluem:
a) periódicos e revistas acadêmicas;
b) livros e textos sobre empreendedorismo;
c) biografias ou auto-biografias sobre empreendedores;
d) revistas especializadas em novos negócios;
e) publicações de conferências sobre o tema;
f) publicações governamentais sobre pequenos negócios.
g) fontes Web (espaço virtual)
A segunda fonte de informação refere-se à observação direta da prática
empreendedora. Pode ser obtida por meio de entrevistas, estudos de casos ou pelo
depoimento pessoal das experiências do empreendedor. A análise dessas experiências
oferece pistas sobre as características e personalidades de empreendedores individuais e
36
possibilita a descoberta de possíveis padrões no exercício de uma ação empreendedora
futura. A terceira fonte de informação compreende palestras e apresentações de experiências
narradas por empreendedores. Essa fonte de dados possibilita oportunidades para a aquisição
de conhecimentos sobre as características que identificam o empreendedor.
4.2.1.3 Competência de Avaliar e Assumir Riscos
Um componente importante da competência de visualizar o ambiente refere-se à
habilidade de saber lidar com situações de risco. Paiva Jr. et al. (2003) incorporam a
avaliação do risco como uma competência conceitual do empreendedor . A capacidade de
visualizar o todo, permite ao detentor dessa competência conhecer o impacto de suas
decisões no negócio. São indivíduos capazes de encontrar alternativas pelo desenvolvimento
analítico obtido por visualizações de ângulos diversos sobre determinada oportunidade. O
desvendar dos possíveis caminhos que antecedem ao processo decisório auxilia a contornar
os riscos da empreitada.
A concepção de risco no processo de empreender muitas vezes é percebida de
maneira distorcida. Embora transpareça que o empreendedor joga com uma oportunidade em
potencial do mercado, o fato é que usualmente há um trabalho de moderação e cálculo do
risco envolvido no negócio. A maioria dos empreendedores de sucesso faz uso do
planejamento e da preparação para minimiza os riscos de forma a obter um maior controle do
destino de sua visão.
Liles (1974) identifica diferentes tipos de riscos encontrados pelos
empreendedores:
37
a) riscos financeiros: em grande parte dos novos empreendimentos os indivíduos
colocam uma significativa porção de seus recursos; capital que será perdido no
caso de falhas do negócio;
b) riscos da carreira: um dos dilemas para se tornar empreendedor está associado
a qual o momento apropriado para abandonar a estabilidade do emprego para
se aventurar em um novo negócio;
c) risco social e familiar: em geral empreendedores que são casados ou
constituíram famílias acabam expondo seus familiares ao se arriscarem em um
novo empreendimento;
d) riscos de natureza física: o insucesso de um negócio pode implicar em
impactos de ordem física e psicológica.
4.2.2 Competências Associadas à Ação Estratégica
Como visto no tópico anterior o empreendedor é uma pessoa que imagina,
concebe e desenvolve visões. A visão é uma imagem projetada no futuro do lugar a ser
ocupada pelos produtos ou serviços oriundos de uma determinada idéia, bem como dos
meios necessários para se conquistar a projeção desejada (FILION, 1991). Para colocar o
produto ou serviço concebido no plano visionário em ação, o empreendedor faz uso de
competências associadas à implementação de estratégias. Paiva Jr. et al. (2006) evidenciam
a dimensão de competências estratégicas como aquelas ações escolhidas na implementação
do planejamento estratégico. A abordagem da formulação estratégica na teoria
empreendedora enfatiza o processo de planejamento e execução bem-sucedido do
empreendimento (LYLES, BAIRD, ORRIS e KURATKO, 1993).
38
No processo de aprendizagem das competências necessárias à colocação da
proposta em prática, o modelo sugerido por Filion (1991) possibilita algumas reflexões
importantes sobre a concretização da idéia (FIG. 3). A materialização da visão em ação
perpassa o desenvolvimento das habilidades de visualização, monitoramento, criação e
motivação. Transformar a visão em ação demanda um processo de criação do produto ou
serviço e controle da viabilização do negócio.
FIGURA 3 - O Processo Gerencial dos Empreendedores. FONTE - Filion, 1991.
Degen (1989), Drucker (1986), Bernardi (2003) e Bergamini (1997) relatam que a
criatividade, a motivação e a inovação são essenciais para a concretização da visão
empreendedora. A criatividade consiste na geração de idéias que resultam no aprimoramento
da eficiência e da eficácia de um sistema (WHITING, 1988). Dois importantes elementos
afetam a criatividade: os processos e as pessoas. Os processos são orientados para o objetivo e
APRENDER
MONITORAR
ANIMAR/DAR VIDA
CRIAR
VISUALIZAR
APRENDER
39
estruturados para solucionar problemas. As pessoas constituem os recursos humanos que
determinam as soluções.
É por meio da criatividade que o empreendedor viabiliza a idéia originária da
análise do potencial do mercado. De acordo com Degen (1989) a criatividade é resultante do
monitoramento incansável dos produtos e serviços demandados pelos consumidores, da
identificação de potenciais clientes e dos possíveis concorrentes do negócio a ser colocado em
prática. A predisposição funciona como um fator propulsor do processo criativo, da
aprendizagem de observação e da avaliação dos negócios.
Para Bergamini (1997) as motivações se manifestam por meio de um conjunto
complexo de fatores que se correlacionam entre si e que diferentes indivíduos buscam como
fonte de valorização do potencial produtivo e conquista dos objetivos pessoais. Entre as
principais razões que levam os indivíduos a se sentirem motivados, Bernardi (2003) enumera:
(1) a necessidade de realização, (2) a implementação de propostas (3) a fuga da rotina
profissional, (4) a assunção de maiores responsabilidades e riscos, (5) o reconhecimento de
capacidades adquiridas, (6) o aumento da renda, (7) o status e o controle da qualidade de vida.
Dentro dessa mesma perspectiva comportamentalista, os estudos realizados por
Benedetti et al. (2005) indicam que alguns empreendedores encontram motivação a partir das
necessidades de auto-realização. A orientação para a realização é fundamentada na busca de
ações projetadas para a construção de um projeto de vida. As recompensas alcançadas com a
execução dos planos estabelecidos reforçam a autoconfiança em realizar mais ações, bem
como procurar novas possibilidades em direção à realização.
40
O terceiro componente necessário para materializar a visão empreendedora está
associado a estabelecer os meios que viabilizem o exercício da inovação em um determinado
negócio. Drucker (1986) revela que a inovação é a atividade central do empreendedor.
Inovações ocorrem por idéias originadas da observação, da percepção e da criatividade.
Consolidam-se da pesquisa consciente em torno das oportunidades disponíveis no mercado.
No desenvolvimento da habilidade de criação, a racionalidade, as rotinas e o uso de antigos
padrões e costumes podem impedir ou dificultar a viabilização de capacidades inovadoras
(BERNARDI, 2003).
4.3 Sistemas de Relações - As Redes Sociais e a Influência na Atividade Empreendedora
A atenção dedicada pelo empreendedor à gestão de seus relacionamentos pessoais
parece ser uma das condições determinantes para a formação de um novo negócio. Para
Granovetter (1985, 1992) a relação de um indivíduo com o ambiente de negócios está
amparada por dois tipos de inserção social: a relacional - que envolve as relações entre duas
pessoas, entre pessoas e organizações ou entre organizações - e a estrutural que se refere à
estrutura de rede social que determinado indivíduo está inserido. No caso deste estudo o
objetivo é desvendar a influência do sistema de relação social na definição do fisioterapeuta
ao optar por seu destino profissional.
As inserções sociais, relacionais e estruturais, desempenham importantes papéis na
geração de confiança no contexto das relações de negócios entre pessoas e organizações.
Nesse ponto, as construções sociais influenciam as ações dos indivíduos inseridos na rede de
relacionamentos pessoais (GRANOVETTER, 1985, 1992). Alguns estudos têm analisado a
inserção de atores sociais, firmas e indivíduos em um determinado meio social
41
(JOHANNISSON, 1998). Outros autores têm estudado os vários arranjos de redes sociais
realizados entre empresas e pessoas (DACIN, VENTRESCA e BEAL, 1999).
Diante da oportunidade de criação de novos negócios os indivíduos recorrem às
pessoas do seu relacionamento próximo tais como familiares, amigos, colegas de trabalho,
bem como as demais que não estão no seu círculo de convivência, para que os recursos
necessários - físicos, informação, suporte emocional, capital, contatos de negócios, sejam
obtidos (BIRLEY, 1986; ALDRICH e ZIMMER, 1986). Esses contatos objetivam, além da
obtenção de recursos econômicos para iniciar o empreendimento, o apoio de idéias,
aconselhamentos e suporte social e emocional para a consolidação da idéia (JOHANNISSON,
1998; BARNIR e SMITH, 2002). Larson, (1991) e (1992) sugerem que a história e as
experiências vividas pelo indivíduo são de extrema importância para a concretização do novo
empreendimento. Pesquisas realizadas por Vasconcelos (2005) reiteram a importância da
inserção relacional e a existência da dependência dos indivíduos de sua rede de
relacionamentos para a obtenção de recursos para a criação de novos negócios.
Filion (1991) estabelece três níveis de relações sociais: primárias, secundárias e
terciárias (FIG. 4). As relações primárias envolvem os familiares e as pessoas mais próximas
do relacionamento e estão associadas a diversos tipos de envolvimento exercido pela pessoa.
Abrangem ligações tanto afetivas como intelectuais, esportivas e de lazer, influenciando o
conceito de si do futuro empreendedor. As secundárias englobam amizades e conhecimentos
ligados a uma atividade específica como clube social, atividade religiosa, trabalho ou política.
O aumento da intensidade do relacionamento eleva a interação para o nível primário. As
terciárias não são necessariamente relações entre pessoas, mas contatos com um campo de
42
interesse, de acordo com uma necessidade. Acontecem por intermédio de cursos, viagens,
exposições industriais, feiras e congressos (FILION, 1991).
FIGURA 4 - O Sistema de Relações Sociais. FONTE - Filion (1991)
Filion (1991) descreve que o sistema de relações é aparentemente um dos fatores
mais influentes para explicar a evolução da visão. O trabalho de Van Gigch (1987) pode ser
considerado como referência para se entender a importância dos sistemas de relações na
construção da visão empreendedora. Para os autores a família é considerada o fundamento
básico do sistema de relações do empreendedor. Valores e comportamentos absorvidos no
seio familiar muitas vezes influenciam na sedimentação da visão de negócio que o indivíduo
pretende desenvolver.
Próximos
Familiares
Outros
Colegas
Externas
Sociais
Religiosas
Imediatos
Afastados
Profissionais Esportivas
Ideológicas
De amizade
s Políticas Relações
Internas
Superiores
Direção
Pares
Subordinados
43
O interesse deste estudo está em verificar de que maneira as competências
empreendedoras e o sistema de relações sociais interferem na decisão profissional das
pessoas. Sabe-se que os sistemas de relações é um dos pilares básicos na construção das
competências empreendedoras. A proposta deste estudo é investigar como as competências e
as relações do indivíduo podem influenciar na opção dos caminhos profissionais a serem
trilhados, em especial, do prestador de serviços fisioterápicos. O capítulo seguinte detalha a
metodologia de investigação que foi utilizada na pesquisa.
44
5. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
O propósito do presente estudo foi o de analisar as decisões dos profissionais do
segmento de fisioterapia, quer sejam autônomos, bacharéis, administradores de clínicas,
funcionários públicos ou de empresa privada, em relação aos possíveis caminhos a serem
trilhados no mercado de trabalho. Buscou-se identificar e analisar como as competências
empreendedoras e o sistema de relações interferem na opção profissional dos indivíduos que
atuam em atividades da área de fisioterapia na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Entre
as justificativas para a escolha desse segmento, além do pesquisador ser originário da área,
encontra-se as várias alternativas de ocupação profissional disponibilizadas para o recém-
formado. Entre essas, o fisioterapeuta pode optar por ter o seu próprio negócio ou prestar
serviços em locais vinculados a outras atividades fisioterápicas. O que se quer analisar é como
o desenvolvimento de competências empreendedoras e as relações sociais do fisioterapeuta
influenciam na decisão sobre o tipo de negócio ou atividade que será desenvolvida.
Os procedimentos metodológicos utilizados na pesquisa foram de caráter
qualitativo. Segundo Gonçalves e Meirelles (2004), esse tipo de pesquisa se preocupa em
oferecer informações de natureza mais subjetiva e latente, por meio da análise dos
depoimentos dos entrevistados e da sua postura diante das questões que lhe são
apresentadas. Para Cooper e Schindler (2003) o estudo qualitativo é utilizado para
caracterizar um fenômeno através do seu significado, da sua definição ou modelo. Bauer
e Gaskell (1999) defendem que os estudos qualitativos fornecem dados básicos para o
desenvolvimento e a compreensão das relações entre os atores sociais e suas situações. A
pesquisa qualitativa é utilizada regularmente quando se tem o objetivo de compreender
45
processos envolvendo um grupo, uma comunidade ou instituição (ALVES-MAZZOTTI e
GEWANDSZNADJDER, 2004).
Minayo (2002) cita que a abordagem qualitativa trabalha com o universo de
significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, que correspondem a um espaço
mais profundo das relações dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à
operacionalização de variáveis. A autora diferencia a pesquisa qualitativa da quantitativa.
Assim, os pesquisadores que trabalham estatísticas, ou seja, pesquisas quantitativas
aprendem fenômenos visíveis, ecológicos, morfológicos e concretos. Já os cientistas sociais
que trabalham a abordagem qualitativa aprofundam em questões que se baseiam no mundo
dos significados das ações e relações humanas (MINAYO, 2002). Muitas vezes essa
perspectiva pode ser enriquecida por técnicas de natureza objetiva e sistemática, como será
proposto na metodologia desta pesquisa.
5.1 Estratégia da Pesquisa
Para explorar a dinâmica que envolve a utilização de competências e os sistemas
de relações sociais do fisioterapeuta na escolha do seu caminho profissional buscou-se
identificar os bacharéis estabelecidos na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Na seleção
da unidade de análise definiu-se um escopo de entrevistados que abarcassem quatro
momentos distintos do exercício da atividade fisioterápica. Tendo como referência a
classificação do GEM - Global Entrepreuneurship Monitor (2006) foram selecionados os
seguintes tipos de profissionais:
1. Nascentes - aqueles que geraram alguma remuneração e atuam no negócio há
menos de três meses;
46
2. Novos - aqueles que geraram remuneração e estão à frente do negócio há mais
de três meses e menos que 42 meses;
3. Estabelecidos - aqueles que estão à frente dos empreendimentos há mais de 42
meses;
4. Outros - prestadores de serviços ou autônomos que não possuem negócio
próprio.
A divisão nessas quatro categorias atende ao entendimento de se visualizar
diversas dimensões associadas à situação diferenciada do profissional no momento atual. A
intenção foi analisar também se a influência das competências e dos sistemas de relações
pode estar relacionada ao estágio profissional do fisioterapeuta. A identificação dos
entrevistados que atendessem à estratificação sugerida para a amostra foi realizada com o
agrupamento das pessoas, o que foi facilitado pelo conhecimento, formação e a atuação do
pesquisador na área da fisioterapia.
Além da identificação sugerida pelo pesquisador utilizaram-se ainda como fonte
para seleção dos entrevistados, informações fornecidas pelo Conselho Regional de
Fisioterapia e Terapia Ocupacional – CREFITO 4 MG e indicações de outros profissionais
por aqueles inicialmente entrevistados. Interrompeu-se a coleta quando se percebeu a
redundância de informações e conseqüente saturação dos dados (ALVES-MAZZOTTI e
GEWANDSZANADJDER, 2004).
47
5.2 Coleta de Dados
No processo de coleta de dados, utilizou-se a entrevista semi-estruturada. Para
Cruz Neto (2002) esse o procedimento considerado como o mais usual e indicado para a
pesquisa qualitativa, uma vez que, a obtenção de respostas objetivas e proveitosas na fala dos
atores sociais não se dá simplesmente por meio de uma conversa despretensiosa ou neutra e
sim, por meio de uma participação ativa do investigador conduzindo as entrevistas de forma
interativa, flexível e estrategicamente direcionadas.
Segundo Minayo (2006) a entrevista no sentido mais amplo de comunicação
verbal, e no sentido restrito de coleta de informações sobre determinado tema científico, é a
estratégia mais usada no processo de trabalho de campo. Elas podem ser consideradas
conversas com finalidade e se caracterizam pela sua forma de organização. A autora define
as entrevistas semi-estruturadas aquelas que combinam perguntas fechadas e abertas, onde o
entrevistado tem possibilidade de discorrer sobre o tema em questão sem se prender à
indagação formulada. Alves-Mazzotti e Gewandsznajder (2004) denominam as entrevistas
semi-estruturadas como focalizadas, onde o entrevistador faz perguntas específicas, mas
deixa que o entrevistado responda em seus próprios termos. O cuidado que se deve ter,
segundo Minayo (2006) é de que no momento da análise dos dados de uma entrevista semi-
estruturada, os pesquisadores não se prendam apenas aos temas previamente estabelecidos,
mas também às estruturas de relevância dos entrevistados trazidas do campo.
Com o propósito de conhecer a influência das competências adquiridas pelo
condutor do negócio e do seu sistema de relações sociais, estruturou-se um roteiro de
entrevistas com questões abordando as habilidades e características que definem as
48
competências individuais empreendedoras do fisioterapeuta, bem como questões que
pudessem auxiliar no entendimento das redes de interação social do profissional. Foi
utilizada também uma ficha de identificação que possibilitou classificar o tipo de profissional
entrevistado (ANEXO A).
No total entrevistou-se 23 profissionais, sendo 21 fisioterapeutas e 02
administradores de empresas. O QUAD. 1 mostra a estratificação da amostra por categoria.
Categoria dos Entrevistados Formação Entrevistados
1 – Inicial
1.1 – Nascente
Fisioterapeutas 1 2
8
Administrador de Empresas 1
1.2 – Novo Fisioterapeutas 6 6
2 – Estabelecido
Fisioterapeutas 5 6
6
Administrador de Empresas 1
3 – Outros
3.1 – Autônomo Fisioterapeutas 1
9
9
3.2 - Funcionário Público Fisioterapeutas 1 3.3 – Funcionário de Empresa Privada
3.3.1- Ex-Empreendedor estabelecido
Fisioterapeutas
4
3.3.2 – Nunca teve negócio próprio
Fisioterapeutas 3
Total de Entrevistados Fisioterapeutas 21
23
23
Administrador de Empresas 2
QUADRO 1 – Categoria e Formação dos Entrevistados FONTE - Dados de Pesquisa, 2006.
49
5.3 Tratamento e Análise dos Dados
5.3.1 Técnica de Análise
A técnica utilizada para a análise de dados no presente trabalho foi a de análise de
conteúdo. De acordo com Minayo (2006) este é o método que tem sido mais comumente
adotado no tratamento de dados de pesquisas qualitativas. A autora acredita que a grande
importância da análise de conteúdo está na tentativa de impor um corte entre as intuições e as
hipóteses que encaminham para interpretações mais definitivas, sem, contudo, se afastar das
exigências atribuídas a um trabalho científico. Minayo (2006) argumenta que a análise de
conteúdo oscila entre os pólos que envolvem a investigação científica abrangendo o rigor da
objetividade e a fecundidade da subjetividade possuindo a mesma lógica das metodologias
quantitativas, uma vez que busca a interpretação cifrada do material de caráter qualitativo.
Conforme Bardin (1979), a Análise de Conteúdo pode ser definida como:
Um conjunto de técnicas de análise de comunicação visando obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção dessas mensagens. (BARDIN, 1979, p. 42)
5.3.2 Análise Temática
Minayo, (2006) cita a existência de várias modalidades de Análise de Conteúdo,
como a análise lexical, a análise de expressão, a análise de relações, a análise de enunciação e
50
a análise temática, que segundo a autora é mais apropriada para as investigações qualitativas
em saúde.
Bardin (1979) define o tema como a unidade de significação que se liberta
naturalmente de um texto analisado segundo critérios relativos à teoria que serve de guia à
leitura. A noção de Tema está ligada a uma afirmação a respeito de determinado assunto.
(MINAYO, 2006). Assim, Minayo (2006) sintetiza que fazer uma análise temática consiste
em descobrir os núcleos de sentido que compõem uma comunicação, cuja presença ou
freqüência são representativos para o objeto analítico visado.
Na busca de desenvolver a análise temática da pesquisa dessa dissertação dentro
das etapas operacionais e de atender algumas normas de validade citadas por Minayo (2006),
os dados coletados receberam o seguinte tratamento:
a) transcrição e revisão dos relatos dos entrevistados;
b) exaustiva leitura e valorização do material coletado;
c) estruturação dos dados registrados nas entrevistas dividindo os dois construtos
centrais: Competências Individuais Empreendedoras e Sistemas de Relações
em “Núcleos Temáticos”, “Sub-Núcleos Temáticos” e “Núcleos de Sentido”;
d) organização do material, de forma a contemplar todos os aspectos levantados no
roteiro (exaustividade), representar o universo pretendido (representatividade),
obedecer a critérios precisos de escolha em termos de temas, técnicas e
interlocutores (homogeneidade), adequar os documentos analisados ao objetivo
do trabalho (pertinência).
A reunião de respostas por afinidade específica das diversas categorias
(COLOGNESE, 1998), coletadas das informações contidas nas entrevistas semi-estruturadas,
51
possibilitou a identificação de grupos semelhantes tendo como referência as categorias
identificadas em GEM (2006) e a as competências descritas por Paiva Jr. et al. (2006). A
seleção das diversas evidências sobre as mesmas competências (CORTES, 1998) permitiu a
comparação das informações coletadas de acordo o agrupamento das categorias identificadas.
Na etapa seguinte buscou-se por meio de uma operação classificatória alcançar o
núcleo de compreensão do texto. Para isso foi realizada uma análise dos construtos, seus
núcleos temáticos, dos sub-núcleos e ainda dos núcleos de sentido, organizando-os em formas
de registros e ou expressões mais significativas. Posteriormente, os resultados brutos foram
submetidos a análises estatísticas simples permitindo que as informações obtidas fossem
colocadas em relevo. Em seguida, foram propostas inferências e interpretações relacionando
os resultados com o campo teórico elaborado nessa dissertação. Esse banco de dados serviu de
base para a análise de como as competências individuais empreendedoras e os sistemas de
relações influenciaram na decisão sobre o negócio assumido por esses profissionais. Os dois
capítulos seguintes tratam dos resultados do estudo.
52
6. COMPETÊNCIAS EMPREENDEDORAS E SISTEMAS DE RELAÇÕES NA
ÁREA DE SERVIÇOS DE FISIOTERAPIA
A análise das competências evidenciadas nos depoimentos dos entrevistados foi
agrupada em três grandes temas:
(1) Antecedentes do processo de escolha da opção do profissional fisioterapeuta;
(2) As competências associadas à visão do ambiente;
(3) Exercício de empreender no segmento fisioterápico.
Os antecedentes de uma ação empreendedora muitas vezes podem ser identificados
antes mesmo do processo de formação em uma área profissional específica. Assim, em função
de uma série de depoimentos que evidenciaram a escolha pelo ramo fisioterápico, a primeira
parte da análise abrangeu o agrupamento de enunciações que podem ter justificado
posteriormente a opção pela formação empreendedora.
6.1 Antecedentes do processo de escolha do profissional fisioterapeuta
Antes de optar pela formação em fisioterapia, os postulantes, em um processo de
aproximação com a área pretendida, desenvolvem um arcabouço de idéias que buscam
justificar a sua opção. Essa etapa muitas vezes pode representar a semente da visão
desenvolvida na fase subseqüente de amadurecimento do negócio.
No caso do segmento fisioterápico a escolha pela atividade pode estar
relacionada a um campo de atuação semelhante ao pretendido. Assim, o contato do indivíduo
com especialidades afins nos serviços de saúde (ex: medicina, medicina veterinária e
farmácia) acaba germinando no profissional o desejo de migrar para uma área próxima. O
53
depoimento abaixo revela como a escolha do entrevistado baseou-se na complementação de
uma experiência de aprendizagem em áreas correlatas:
“Eu fazia Educação Física inicialmente, e achei que seria um curso que ia dar uma complementação boa pro curso da Educação Física, que eu achava que não ia suprir toda a minha necessidade de trabalho. Assim, então, eu pensei numa coisa que poderia juntar Fisioterapia, Educação Física e desenvolver uma coisa mais com o corpo.” (Inicial Novo 06)
A breve experiência com o ramo de Educação Física antes de cursar Fisioterapia
auxiliou o entrevistado acima, que atualmente possui uma clínica especializada em Esportes, a
alinhar os conhecimentos do estudo do movimento humano com a avaliação e tratamento
fisioterápico de lesões esportivas. Esse cruzamento de habilidades pode ter despertado no
fisioterapeuta a definição pelo seu negócio atual. A relação com outra área afim se dá também
pela experiência absorvida na trajetória de vida. O fato de ter desenvolvido atividades esportivas
e ter atuado com técnicas similares à utilização de recursos fisioterápicos funcionaram como
válvulas propulsoras para as opções dos entrevistados abaixo:
“Eu sempre me identifiquei muito na questão do esporte, o meu primeiro foco era a questão do esporte. Eu gostava muito de praticar esporte, gosto ainda. Quando eu estava no ensino médio uma coisa que eu pensava: eu quero mexer com alguma coisa que me vincula ao esporte. Naquele primeiro momento me veio a Educação Física, e ai eu conheci um pouco da fisioterapia, de tratamentos principalmente voltados ao esporte, pelo fato de eu ter sido um atleta. Então veio a questão da importância do trabalho, eu me identifiquei com aquilo; eu falei: vou tentar fisioterapia pelo fato de estar atrelado à questão do tratamento da fisiologia. Eu poderia estar seguindo um caminho dentro do próprio esporte. E ai eu escolhi, optei pela fisioterapia naquele momento.” (Estabelecido 06) “Sempre gostei da área física. Sempre dancei balé, gostava muito dessa parte de consciência corporal. Eu já dei aula de dança, então eu sempre gostei muito disso.” (Estabelecido 02) “Eu gostava de fazer massagem. Eu interessava por qualquer coisa que trabalhasse com o corpo. Eu tinha vontade de ter um contato... quando eu estava fazendo colégio, eu tive contato com massagem oriental, com Do-In. Fiquei apaixonada por aquilo: Do-In, Shiatsu. Essas técnicas propunham alguma coisa de saúde, por movimento, por atividade física, pela saúde como contato, que é diferente do médico. Eu gostava da área de saúde, mas não queria o contato do médico porque eu achava aquilo muito distante. Então eu fui na Fisioterapia porque era o que trabalhava com o corpo, trabalhava com a saúde de uma forma mais próxima.”(Outros 05) “A Terapia Ocupacional sempre me atraiu muito, porque eu sempre gostei de artes, então são duas coisas assim que eu acho que casam muito bem, que é a terapia associada e a
54
Terapia Ocupacional. Agora eu faço a terapia de mão, que é reabilitação de mão. Eu consegui conciliar a Terapia Ocupacional com a Fisioterapia, é basicamente isso a minha escolha para Fisioterapia.” (Estabelecido 02)
Além das vivências anteriores com outras atividades correlatas que influenciam na
escolha da formação fisioterápica, a definição pelo negócio pode estar associada à observação
do exercício profissional e aos benefícios proporcionados pela atividade empresarial. As
declarações abaixo expressam essa constatação:
“Eu comecei a perceber que ele [o fisioterapeuta] era o grande pilar dos atletas, pelo fato dele conviver diariamente com o atleta, por estar reabilitando um atleta dentro da própria concentração, dentro do centro de treinamento ou dentro de um quarto de hotel. Ele tratando de um atleta de manhã, de tarde, de noite, de madrugada na expectativa que esse atleta consiga jogar no final de semana. Pelo fato de eu vivenciar isso muito ao longo da trajetória de vida como criança, adolescente e uma parte adulta me chamou a atenção e eu resolvi escolher a profissão de fisioterapia.” (Inicial Nascente 02) “Quando eu tinha 15 para 16 anos a minha avó sofreu um acidente de carro e ela fazia fisioterapia diariamente. Então, o meu primeiro contato com a fisioterapia, que para mim até então era uma profissão desconhecida, foi com essa profissional que fazia um atendimento em domicilio. [...] desenvolvi uma admiração muito grande pela profissão acompanhando essa pessoa. Ela tirou a minha avó de uma posição onde ela não tinha perspectiva de andar, pelo tipo de fratura, e não tinha indicação de cirurgia, para uma possibilidade assim, de melhora funcional, melhorar a qualidade de vida, então a partir daí eu interessei pela profissão e fui procurar conhecer um pouco mais.” (Inicial Novo 01)
O espelhamento em uma referência ou em uma situação específica pode estar
relacionado a uma experiência observada no âmbito das relações sociais. A sedimentação da
construção de um negócio futuro, muitas vezes se inicia no âmago do ambiente familiar, por
influência das atividades exercidas pelos entes familiares:
“Meu pai era médico, então na minha casa todo mundo esperava que tivesse um médico, esse alguém seria eu, mas, talvez eu não tivesse tão disposto a fazer medicina, e eu gostava muito da área de educação física. Eu encontrei a fisioterapia de uma maneira bem simples, como um elo entre a medicina e a educação física, na minha concepção na época. Estava entre essas duas ciências entre a medicina e a educação física, então foi uma forma de conciliar essas duas coisas.” (Outros 09) “Eu tinha uma coisa que era de referência por causa de um tio meu que fazia Fisioterapia, mas eu não tinha muita noção. Resolvi fazer, mas sem muita segurança daquilo que eu queria fazer.” (Outros 2)
55
As relações sociais, denominadas por Filion (1991) de secundárias, também se
materializam como fontes de inspiração para ações empreendedoras futuras no campo da
fisioterapia:
“Eu gostava muito de atividade física. Comecei a freqüentar uma academia e nessa academia conheci alguns alunos que faziam lá e faziam o curso de Fisioterapia. Por intermédio deles eu fui conhecer a Fisioterapia. Tive visitando algumas clínicas, alguns setores que trabalhavam com atletas na área de ortopedia e, então, eu decidi que era isso que eu queria, eu gostava dessa parte de reabilitação, eu queria estar envolvido em alguma coisa na área dos esportes.” (Outros 08) “... eu não tinha conhecimento realmente do quê que era fisioterapia, comecei a me informar um pouco, mas principalmente no âmbito esportivo. Comecei a me informar mais, a pesquisar, a conversar. Como eu era muito ligado ao esporte, eu jogava nos clubes. Dentro do próprio clube aonde eu joguei que foi no Atlético, no América, eu comecei a manter um relacionamento mais próximo com os fisioterapeutas desses clubes ainda como atleta, na época de juvenil, júnior. Essa profissão foi me chamando atenção, a figura mais presente dentro do departamento médico de um clube de futebol é, sem sombra de dúvida, o fisioterapeuta.” (Inicial Nascente 02)
Os antecedentes da escolha e adoção definitiva por um empreendimento podem
sugerir pistas das bases que levaram o empreendedor a visualizar o negócio e a utilizar os
sistemas de relações sociais na construção inicial de sua idéia. A passagem preliminar por
uma área correlata, a experiência com técnicas similares às utilizadas no exercício profissional
e o processo de observação da atividade fisioterápica sendo executada por outros ilustram
algumas situações que contribuíram na aquisição de alguns dos componentes constituintes da
visão empreendedora. Por outro lado, as influências familiares e as relações em atividades
sociais específicas instigaram alguns dos entrevistados a definirem posteriormente seus
negócios influenciados por esses contatos.
56
6.2 Competências empreendedoras no exercício da fisioterapia
Para entender as competências necessárias para a atuação no segmento de
serviços de fisioterapia os depoimentos foram agrupados em dois temas: as competências
associadas à visão do segmento fisioterápico e a aquelas condizentes com a ação de
empreender. Dentro desse contexto duas etapas se distinguem: os núcleos temáticos que
derivam do desenvolvimento da visão do ambiente e aqueles originários da definição dos
meios necessários para viabilizá-la.
6.2.1 Competências associadas à visão do ambiente
A habilidade relacionada a perceber no ambiente as oportunidades de negócios
podem ser adquiridas no período de formação profissional, por meio de um processo
intuitivo originado da experiência da pessoa no ramo de atividade, ou mesmo derivado de
pesquisas que o indivíduo faz sobre a demanda pelo negócio de interesse.
No período de formação que antecede a escolha da atividade fisioterápica
algumas competências desenvolvidas influenciam na decisão profissional. Como revelam os
depoimentos que se seguem, o interesse por atividades de cunho acadêmico e a aproximação
com uma área de especialização durante o período da graduação determinaram a escolha de
alguns fisioterapeutas:
“[...] antes de fazer mestrado me interessei pela docência. Na verdade docência sempre foi uma coisa que eu sempre gostei. Na própria faculdade fiz três monitorias de algumas disciplinas, então foi uma coisa que foi me despertando desde minha graduação.” (Outros 09)
57
“Quando eu formei, nós montamos uma clínica. A gente trabalhava em uma clínica que nós vislumbrávamos. Nós saímos de lá e montamos a nossa clínica. Quando eu estava na graduação, a gente tem um ideal da gente estar montando a clínica. E eu já tinha muito bem assim na minha cabeça que eu queria trabalhar com neurológico, criança.” (Inicial Nascente 01) “[...] comecei a montar a clínica na coragem, com a experiência que eu tive do Belo Horizonte [referindo-se ao hospital que trabalhou]. Quer dizer, sabia tudo, sabia onde tinha aparelho, sabia preço de tudo. Nunca tive medo de abrir. O que eu mais sei numa clínica é fazer cobrança, como marcar horário, como marcar consulta, esse aspecto que ninguém sabe Fisioterapeuta não sabe. Eu sabia, esse foi o meu diferencial.” (Estabelecido 03)
O fato de atuar no negócio, de ter tido uma experiência anterior, mesmo como
empregado, possibilita a aquisição de conhecimentos que podem auxiliar na ampliação da
visualização de oportunidades futuras e o gerenciamento do empreendimento. O caso abaixo
ilustra uma situação da transição da condição de empregado para acionista:
“Na época a clínica era a menina dos olhos de quem gostava de geriatria, então você falava que trabalhar lá dava um certo status, era um trabalho que eu via que estava muito dentro do que a gente idealiza, que é o trabalho individualizado, então eu arrisquei, eu investi, não era porque o dinheiro não era meu que ia jogar fora, mas eu investi. Aquilo ali ia me dar um retorno.” (Outros 01)
A antecipação da escolha do negócio implica na construção de uma série de
possibilidades a serem trabalhadas. Os propósitos da estruturação de um negócio no campo
fisioterápico evidenciados nas entrevistas derivaram de oportunidades identificadas em
relação à demanda de organizações diretamente envolvidas com a ciência da saúde e da
necessidade de atender segmentos específicos de mercado. As narrativas de fisioterapeutas
estabelecidos no negócio há mais de 42 meses, registram o desenvolvimento dessas
competências de oportunidade:
“A gente sentiu essa demanda assim de ter um espaço maior e do lado do hospital. Tinha uma demanda muito grande de reabilitação e alguns casos estavam sendo encaminhados para mim. Então absorveu também, não só a demanda do hospital, como a demanda da clínica.” (Estabelecido 02) “No inicio, todas [as sócias] trabalhavam com a mulher, com a gestante, mas cada uma em locais diferentes, isoladamente. A gente tinha uma vasta experiência na área, já tínhamos uma clientela própria. Na realidade nós somaríamos a clientela aqui e, se pudéssemos, a
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partir daí, aumentar a nossa clientela... Foi pensando nisso sim. Porque não tinha um espaço destinado à mulher com vários outros atendimentos no mesmo local, realmente não existia não.” (Estabelecido 05) “A única coisa que eu enxerguei é que eu tinha espaço ocioso e que existia um nicho de mercado.... eu observei o seguinte.....ele é um cara bom de serviço....[referindo-se ao Fisioterapeuta da academia que fazia ginástica e que seria o sócio] Tem alguma clínica aqui perto? Não tem. E assim fomos aproveitando o espaço que a gente tinha.” (Estabelecido 04) “O que mais me motivou a comprar o serviço foi justamente esta questão de um serviço dentro de uma academia. De uma academia que você tinha um fluxo de 300, 400 pessoas lá dentro. Isso mobilizava a gente a trabalhar, a comprar o setor. Porque você tinha uma rotatividade de pessoas dentro da academia, então era mais fácil da gente poder fidelizar o cliente. Pelo fato de eu estar dentro de um setor privado, de um setor montado, se eu tivesse que montar a minha clínica, talvez eu teria feito um estudo administrativo maior.” (Estabelecido 06)
As oportunidades no segmento de Fisioterapia manifestadas pelos entrevistados
referem-se às competências em perceber as necessidades de determinadas organizações
(hospitais e academias de ginástica) que necessitam do serviço e às demandas específicas de
um determinado segmento social (crianças e mulheres gestantes). Não necessariamente a
oferta do serviço pressupõe a abertura de um negócio. As oportunidades percebidas envolvem
também o arranjo de parcerias com outras empresas (hospital e academia).
Outra fonte de oportunidade explorada está associada à demanda demográfica,
determinadas localizações geográficas que ainda não contam com os serviços de fisioterapia.
Os depoimentos seguintes retratam algumas investigações e intuições antecipadas que
levantaram essas demandas:
“[...] o Prado, na época era uma região que não tinha Fisioterapia. Tinha no Felício Rocho, mas, não tinha clínicas que atendiam pacientes sem ser no hospital. A gente fez um apanhado da região, porque a gente tinha muito paciente dali, e a gente não podia ir muito longe dali, a gente tinha que ficar naquelas imediações, por isso que nós ficamos no Prado.” (Inicial Nascente 01) “O prédio era novo, o prédio tem 20 andares, sendo que a única clínica de fisioterapia era a nossa. A gente não chegou a fazer nenhuma consulta porque só tinha a gente. A gente sabia que era só a gente, então era um investimento assim por oportunidade que a gente acabou tendo e que se tornou um grande sucesso, graças a Deus.” (Outros 08)
59
Se em relação ao local do estabelecimento há uma preocupação em buscar uma
demanda de oportunidade, o mesmo não ocorre quanto ao levantamento de informações
preliminares que justifiquem a elaboração de um plano para a implementação do negócio. A
maioria dos entrevistados, tanto iniciais como estabelecidos e outros, não fez uso de recursos de
planejamento para orientar a decisão sobre os tipos de negócios escolhidos. Os relatos abaixo
mostram algumas manifestações de desconsideração pelo conhecimento prévio do negócio:
“A gente não fez uma pesquisa de mercado. A gente não fez um planejamento estratégico. A gente deu um tiro no escuro, nem pesquisa, nem nada, nós não fizemos a respeito disso.” (Inicial Novo 02) “Nós montamos essa clínica sem fazer pesquisa de mercado, sem procurar saber do bairro como que era. A gente só sabia que existia aqui uma clínica e que atenderia também na mesma área que a gente atuaria e até surpreendeu o crescimento que a gente teve durante esse pouco tempo...” (Inicial Novo 03) “A gente ia montando, a gente ia vendo a possibilidade e ia fazendo. A gente não fez estudo de mercado não. Foi uma coisa aqui... foi mais uma conseqüência da necessidade de expandir, tinha uma clientela boa, um volume de pacientes bons, então a gente viu a necessidade de expandir, aí expandiu.” (Inicial Novo 06) “[...] não fiz essa pesquisa de mercado, mas eu tinha essa impressão que a coisa ia dar certo.” (Estabelecido 02) “[...] num precisei [referindo-se a necessidade de fazer pesquisa de mercado], já sabia. [...] como profissional o meu crescimento dentro da administração, dentro da empresa, ela começou... não sei se é normal..., começou primeiro pelo reconhecimento profissional. Por isto a minha segurança, jamais tive medo de abrir clínica própria.” (Estabelecido 03) “Não fizemos nada [referindo-se a pesquisa de mercado] ...cê acredita... abrimos o negócio assim no tapa....” (Estabelecido 04) “Não fiz nenhuma avaliação, não procurei saber. Já entrei com ela [sócia] 50% a 50%, não coloquei maldade, não conhecia ela bem, coloquei ela como administradora da minha empresa e já coloquei como sócia de 50%, 50% exatamente por não ter feito esse planejamento que deveria ter sido feito né?” (Estabelecido 01) “[...] nós fizemos um contrato com o hospital. Eu continuaria prestando serviço pro hospital e eles seriam a fonte dos meus pacientes, então eu não me preocupei realmente em pesquisar o mercado de trabalho. Hoje a minha idéia é completamente diferente.” (Outros 07) “Para te falar assim com toda a sinceridade, eu não tinha muita noção não. Eu procurei saber, mas eu não tinha informação administrativa para entender aquilo que foi explicado. Ninguém falou mentira comigo, talvez alguma coisa tenha sido ocultada, mas eu não tinha informação para entender a grandiosidade da coisa. Só depois, à medida que os problemas foram aparecendo que a gente tinha que resolver aqueles problemas, é que a gente foi aprendendo a lidar com essas coisas e entendendo um pouco daqueles problemas administrativos.” (Outros 04)
60
Os depoimentos demonstram que os entrevistados agiram com a intuição ao
decidirem pelo tipo de empreendimento. A elaboração de planos de negócios é ainda hoje
descartada por aqueles que estão iniciando os seus empreendimentos. Uma das alegações do
Estabelecido 3 recorre à experiência profissional anterior como motivo de segurança para
amparar a decisão de abrir o próprio negócio. O compartilhamento do negócio com outro
sócio da área de gestão, situação ilustrada pelo Estabelecido 01, também é utilizado como
justificativa para a ausência de um planejamento mais detalhado. Muitas vezes a falta de
tempo ou informações suficientes para antever possíveis cenários do negócio acaba levando o
dirigente a ir se adaptando e solucionando os problemas do empreendimento no decorrer de
sua instalação.
Aqueles poucos fisioterapeutas entrevistados que utilizaram as habilidades de
rastreamento do ambiente buscaram verificar possíveis nichos ainda não explorados no
mercado, ou utilizaram experiências anteriores na área para a realização de amplas pesquisas
sobre a área de atuação:
“A gente foi fazer uma pesquisa de mercado, o que quê existia na área. Então a gente visitava outras clínicas, tanto instituição de longa permanência para idosos quanto os serviços que se aproximavam daquilo que a gente queria. O quê a gente queria? A gente só conhecia um lugar em Belo Horizonte que oferecia [prestação de serviço específica para idosos] e a gente não considerava uma qualidade boa de atendimento. Nós pensamos: deve ter outras pessoas trabalhando com isso e se não tem, é porque não estão trabalhando com isto.” (Inicial Novo 01) “Eu fui delegado do conselho [Regional de Fisioterapia] e subdelegado, então eu tinha isso em minhas mãos. Nós tínhamos um estudo de como era o número de profissionais e o número de clínicas na região. Eu fiz, nós fizemos [se referindo à esposa, também sócia] uma avaliação do número de clínicas de Ipatinga.” (Estabelecido 06) “Nós fizemos, nós consultamos catálogos, vizinhança, perguntamos no comércio como era o perfil, se tinha idoso se não tinha. Fomos à farmácia, açougue, na padaria, a gente perguntou como que era nos restaurantes, basicamente uma pesquisa informal.” (Inicial Novo 04)
61
A utilização de instrumentos básicos de avaliação do ambiente restritos ao
potencial de demanda do mercado demonstra que nenhum dos entrevistados optou por um
detalhamento mais complexo que envolvesse as análises de viabilidade financeira,
organizacional ou competitiva sugeridas por Kuratko e Hodgetts (1995). Da mesma maneira o
aspecto moderador do risco não aparece nas falas dos fisioterapeutas. As decisões sobre a
abertura dos negócios foram conduzidas “na cara e na coragem”, “no tapa” e “no peito”. Uma
forma identificada de contornar os riscos foi analisar as potencialidades para assumir o
empreendimento de dentro do próprio negócio:
“Eu me propus antes de adquirir o negócio, antes de comprar, ficar trabalhando como fisioterapeuta sem receber nada por isso, só para ver como é que funcionava a academia, a quantidade de alunos. Eu tinha que saber o que o proprietário estava querendo me vender, se o que ele estava querendo dizer era verdade, e a única forma de fazer isso era estando lá dentro. Fazia avaliação para ver o que o aluno fazia. Algumas perguntas relacionadas à academia, o que tinha levado ele até lá, e acompanhava, ficava durante o dia dentro da academia vendo o movimento e, quando decidi comprar, esse que seria o meu sócio, que eu trabalhava na academia dele, desistiu do negócio. Eu já estava empolgado na hora que ele desistiu e eu acabei sozinho assumindo e comprando na cara e na coragem mesmo.” (Outros 09)
Essa característica de optar por correr o risco de aprender por meio da tentativa e
erro ao iniciar as atividades do negócio predominou na maioria dos depoimentos dos
fisioterapeutas entrevistados. A escolha por tomar uma decisão em relação ao
empreendimento pode ser facilitada pela vivência diária com a dinâmica de funcionamento do
estabelecimento em termos do conhecimento da clientela, processos gerenciais e
potencialidades do negócio. Vale frisar que o desenvolvimento de competências e a absorção
de várias informações que amparem decisões posteriores servem também como fatores
motivadores para a abertura de um negócio próprio. O tópico seguinte retrata as competências
manifestadas nos depoimentos relativas às ações utilizadas para a viabilização das idéias no
campo da Fisioterapia.
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6.2.2 Competências associadas à ação estratégica
A transformação da visão em ação é realizada por meio de processos criativos que
auxiliam na materialização do negócio proposto. O desenvolvimento de competências
associadas às inovações e aos diferenciais em relação aos outros produtos ou serviços
existentes no mercado representa um importante passo para a consolidação da visão
empreendedora. No processo visionário o idealizador estabelece estratégias que demandam de
habilidades específicas na estruturação das ações de viabilização do empreendimento.
Colocar em prática um novo negócio ainda não explorado no mercado pode-se
constituir em uma ação empreendedora de sucesso. A atividade fisioterápica antes de obter o
seu reconhecimento era exercida por profissionais da medicina física. O depoimento do
Estabelecido 04 aponta para a oportunidade percebida e concretizada que o levou a ser um dos
pioneiros nos serviços fisioterápicos:
“[...] a fisioterapia em 1985, 1986 estava na mão de fisiatras, tinha muitos poucos fisioterapeutas com clínica constituída, com nome. A maioria das clínicas eram só de médicos. Não se dava uma atenção aos fisioterapeutas, ou seja, a atividade fim era medicina, não era a reabilitação. A gente criou a clínica com a atividade fim de reabilitação, então dai a o diferencial nosso em relação as outras clínicas do mercado.” (Estabelecido 04)
Não necessariamente o empreendedor é o inventor (KURATKO e HODGETTS,
1995). A pessoa que aprimora ou busca um nicho ainda desconhecido no negócio aumenta as
chances de acertar com a implantação da idéia. Os fragmentos abaixo retratam a experiência
de alguns precursores de segmentos de especialização da fisioterapia:
“Logo após me formar, como não tinha aqui no Brasil o setor especializado em reabilitação de mão, eu fui pro exterior, eu fui pro Estados Unidos, fiquei lá dois, três meses e eu acompanhei quatro serviços de reabilitação de mão. Aí aconteceu de eu estar investindo bastante na área de reabilitação de mão, sendo que meio a pioneira aqui, porque não tinha quase nada aqui no Brasil. A gente não tem livros, a gente não tem referência. A gente montou um setor, a gente ia lá no mercado central e pegava bolinha de gude, então
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essa parte da terapia, sempre trabalhei com uma TO do meu lado. A gente montou um setor bem criativo com material mais primitivo.” (Estabelecido 02) “Quando eu resolvi trabalhar com geriatria numa época que quase ninguém trabalhava com geriatria, eu acho que isso foi um diferencial, o fato foi uma coisa que eu sempre prezei tentar. Estar ligada às pessoas que eram importantes naquelas áreas onde eu atuava, inclusive às vezes sem ter nenhum retorno financeiro.” (Outros 04)
A produção de idéias desenvolvida no processo criativo pode gerar outros tipos de
serviços dentro do empreendimento. À medida que se percebe o surgimento de demandas
associadas ao serviço central oferecido pelo negócio é assegurada a expansão para outros
atendimentos. O desenvolvimento dessa habilidade é reforçado pelos fisioterapeutas
entrevistados abaixo, diferenciais que reforçam a imagem do serviço com o consumidor, no
caso do depoente recém instalado no mercado, e com outras áreas afins da fisioterapia como
ocorreu com os entrevistados estabelecidos (03) e (05):
“[...] Um paciente basicamente na área de estética, o quê que a gente faz? A gente não oferece para ele só a fisioterapia dermato funcional, a gente oferece a nutrição, que é uma avaliação de nutrição com a nutricionista. A gente oferece grupo de atividade física, a gente oferece três vezes por semana para aquele paciente. Faz uma ficha sobre os objetivos do paciente, se é emagrecimento, se é fortalecimento. A gente faz uma ficha associada à reeducação alimentar. E tem outras coisas também, bronzeamento artificial, a gente tenta agregar tudo aquilo para aquele paciente, e que é possível ele poder encontra dentro da clínica. Se é um paciente que tem o abdômen protuso, que necessita da estética e a gente vê a postura, a gente trata da postura. Chega [cliente] de ortopedia ele está vendo que está atacando a coluna, está vendo que tem um problema no pé, a gente indica uma palmilha, então a gente oferece tudo para o paciente aqui.” (Inicial Novo 03) “[...] além dos atendimentos específicos, como hidroterapia para gestante, hoje nós estamos ministrando cursos para profissionais como se fosse até uma consultoria nas áreas afins. Hoje existe curso e até consultoria na área de fisioterapia aplicada a ginecologia, obstetrícia, na odonto pediatria, na odontologia e na enfermagem.” (Estabelecido 05)
Na montagem do negócio, a criatividade se traduz em diferencial ao ser utilizado
como atividade original não explorada pelos concorrentes. O relato abaixo descreve uma
estratégia utilizada por uma depoente para oferecer um diferencial no serviço prestado:
“Eu imaginava ter uma clínica, trabalhar num lugar legal, assim de preferência parecendo uma sala de artes, eu sempre gostei de mudar as coisas. De repente, o lugar que eu estava atendendo virava brinquedoteca, cheio de coisa. [...] eu sempre levava alguma coisa da Terapia Ocupacional para o setor de Fisioterapia para ver se a coisa ficava um pouco mais interativa.” (Estabelecido 02)
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A estrutura física do empreendimento que receberá a idéia proposta para o
empreendimento, quando trabalhada de forma diferenciada, torna-se uma atratividade para a
clientela. Saber manter o ambiente de trabalho em condições propícias ao exercício da
atividade fisioterápica ajuda na empreitada de possibilitar a harmonia necessária para garantir
boas condições de trabalho e satisfação do cliente. Alguns depoentes relatam a importância de
observar a qualidade e a manutenção constante do local de atendimento na área de saúde:
“Conhecendo as outras instituições, o que existe no mercado, nós procuramos inovar de alguma forma. Primeiro a questão do ambiente: é uma casa, é uma clínica, um local de residência, então esse ambiente tem que se aproximar do máximo. Ele tem que ser um lugar onde as pessoas chegam e elas se sintam bem, a gente procura manter um ambiente que ele é diferenciado do que existe no mercado.” (Inicial Novo 01) [...] a gente tinha um espaço físico único, uma piscina muito grande para ser utilizada, uma pista de cooper, uma instalação que era até bonita, muito bonita, toda adaptada para receber pacientes com deficiências físicas e no mais era isso, era a qualidade do estabelecimento, da estrutura, a informatização dos sistemas de prontuário e qualidade no atendimento do fisioterapeuta.” (Outros 08) “[...] é uma clínica que está extremamente moderna, como se diz, ela está toda bem equipada. Todo ano eu reformo ela, todo ano os equipamentos são melhorados, ou são limpos, ou são reformados, ou são trocados. Cada ano tem um objetivo: tem ano que é melhorar o aspecto da piscina, então melhora tudo, troca os azulejos, troca tudo.” (Estabelecido 03)
Manutenção e aprimoramento do ambiente organizacional constituem-se em
competências de execução estratégica importantes para a viabilização da visão
empreendedora. Em relação à estrutura que ampara a consolidação do negócio, a tecnologia
consistiu em outro núcleo de sentido evidenciado nos depoimentos:
“O [Fisioterapeuta] tem lá a câmera digital dele, que faz as filmagens. Nenhuma clínica aqui fazia isso, nenhuma. Tira fotos, todas as fotos, frente e verso. Tem a esteira, filmamos todas as marchas das pessoas, de lado, de costas, de frente, com câmera lenta. Eu sou referência nisso em Belo Horizonte. Eu tenho em Belo Horizonte hoje a melhor avaliação de análise de marcha.” (Inicial Novo 02)
Assim como os recursos tecnológicos, as pessoas que atuam no negócio compõem
os elementos críticos do empreendimento. No segmento fisioterápico as competências
associadas à capacitação de pessoal são fundamentais para o bom funcionamento dos
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serviços. O diferencial da prestação do serviço de fisioterapia muitas vezes pode envolver o
uso de profissionais de outros especialistas em segmentos que diferenciam a atividade
oferecida aos pacientes. A habilidade demandada corresponde em saber aproveitar as
fronteiras existentes com outras áreas da saúde e conhecer as especialidades dos funcionários
de modo a alocá-los na função correta. As narrativas a seguir revelam algumas competências
empregadas para capacitar recursos humanos e habilitá-los a atenderem pacientes:
“[...] fazemos uma reunião semanal com as cuidadoras. Elas discutem os pontos que elas têm dúvidas, as dificuldades, tanto do cuidado, como da relação com esses idosos. Isso eu sei que não tem em outras clínicas. É um ponto que eu mantenho: essa capacitação dos funcionários. Nós temos a profissional da terapia ocupacional e a estagiária. A estagiária só está presente quando a profissional está também, então ela faz grupo de culinária, grupo de memória ai depois de três meses muda esse grupo, ai faz outro tipo de oficina. Uma coisa que eu acho que é importante é o atendimento externo, o acompanhamento externo. A gente tem pelo menos uma vez por mês um teatro, um jantar fora, um baile.” (Inicial Novo 01) “O maior diferencial foi investir na qualidade do atendimento, a gente prestava um atendimento com toda uma base muito cientifica, coisas que às vezes na nossa área não tinha muito. As pessoas às vezes faziam uma coisa assim sem saber justificar as coisas, então pelo fato da titulação das pessoas que trabalhavam na clínica, pela vivência cientifica e pela vivência acadêmica, a gente investiu no atendimento com comprovação cientifica e no atendimento ao cliente, na qualidade ao atendimento ao cliente. A gente tentava atender no máximo um ou dois pacientes, um fisioterapeuta para cada dois pacientes. A gente selecionou os estagiários, então teria um atendimento praticamente individual com a ajuda dos estagiários. O maior diferencial era a qualidade de atendimento que a gente tinha.” (Outros 08)
Os diferenciais apresentados pelos entrevistados dizem respeito aos investimentos
em especialização e modelos de acolhimento. Na prestação de serviços, as técnicas envolvem
atividades criativas destinadas a atrair e acolher públicos específicos (pessoas da terceira
idade) ou mesmo de procedimentos que diferenciem a forma de atendimento como o uso da
medicina com base em evidências enfatizadas pelo segundo depoente.
O papel do estagiário na atividade fisioterápica é ressaltado nos depoimentos. Em
uma das entrevistas um fisioterapeuta faz menção a não utilização de estagiários como
diferencial na prestação de serviços da clínica. Neste caso as justificativas remetem ao foco no
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atendimento prestado por profissionais experientes, ou mesmo, às tentativas de exploração de
uma mão-de-obra barata. Por outro lado, os relatos acima do Inicial Novo 01 e Outros 08
demonstram haver uma preocupação desses fisioterapeutas em preservar a função de
aprendizagem que o estágio representa.
Entre os entrevistados, o grupo de pessoas que atuam como autônomos
(denominados de Outros) também utilizam estratégias para exercer de maneira
empreendedora suas atividades profissionais. A qualificação e a permanente atualização de
conhecimentos são frisadas como competências conceituais a serem desenvolvidas pelos
profissionais que atuam em instituições de ensino superior:
“[...] Fiz curso de RPG, participava como ouvinte de eventos, principalmente ligado à geriatria. Sempre que tinha algum Congresso a gente fazia um trabalho, mandava isso para apresentação em pôster. Hoje em dia o que eu faço é continuar estudando, correndo atrás da minha qualificação. Fiz o mestrado, já estou pensando em fazer disciplina isolada para fazer doutorado. Eu sempre participo de Congresso nas áreas, como ouvinte e mandando trabalho também. Como eu dou aula fica muito mais fácil de mandar um volume maior de trabalhos, porque eu tenho os trabalhos de conclusão de curso. Isso é uma coisa que gera uma certa produção. Nas extensões também eu tenho uma produção dos Congressos, porque tenho pessoas, eu tenho uma equipe que trabalha comigo, então a gente tem um volume razoável de trabalhos em eventos.” (Outros 01) “[...] eu ando fazendo alguns cursos, não só curso de atuação na área da fisioterapia. Eu ando estudando um pouco sobre metodologia do ensino superior, eu ando estudando um pouco do porque da mudança do perfil do aluno principalmente das escolas particulares. Ando estudando o que eu posso fazer com a minha didática para que eu possa melhorar a forma de passar a informação, para facilitar o aprendizado desse aluno. A gente vê que hoje os alunos estão chegando ao curso superior com uma base de formação muito fraca. Na verdade é esse o público que nós temos para atender.” (Outros 08) “[...] eu me mantenho atualizado nos artigos, nos Congressos, fóruns de discussão com os colegas, troca de artigos, de experiências, cursos na parte técnica, na parte de conteúdo teórico. Eu preciso estar atualizado, eu preciso estar por dentro disso ai para poder passar para os alunos. Tento passar para o aluno uma responsabilidade social dentro da comunidade e dentro da profissão também, do papel dele dentro da profissão, dentro da sociedade, no Brasil como um todo, como um cidadão, então eu tento ser diferente, eu tento criar esse diferencial nesse aspecto.” (Outros 03)
As competências associadas à execução estratégica no segmento fisioterápico
funcionam como meios para que o empreendedor consolide a visão idealizada para o negócio,
seja diferenciando-se em relação ao serviço prestado ou inovando em termos dos processos de
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aprendizagem repassados a futuros fisioterapeutas. As inovações envolvem o pioneirismo no
exercício da profissão e na exploração de nichos não existentes na prestação do serviço. Os
diferenciais incorporam novas modalidades de atendimento e o uso da criatividade para
constituir a estrutura do negócio em termos das instalações, tecnologia e formas de
acolhimento do paciente. Na seção seguinte são abordadas as influências das relações sociais
na concepção e implantação de empreendimentos de serviços de fisioterapia.
6.3 Sistemas de relações – As redes sociais e sua influência na atividade fisioterápica
A formação de um novo negócio pode estar associada à influência de
relacionamentos pessoais do empreendedor. Assim, as relações sociais no ambiente de
negócio acontecem entre indivíduos ou entre pessoas de duas ou mais organizações
(GRANOVETTER, 1992). Antes de tomar uma decisão sobre o empreendimento os
indivíduos, muitas vezes, recorrem às suas redes de relacionamento construídas nas interações
sociais presentes na trajetória de vida. Essa rede de relações, que abrange os contatos
familiares, acadêmicos e sociais, pode influenciar na definição do caminho a ser seguido em
um determinado negócio.
Para Ostgaard e Birley (1994) os inter-relacionamentos sociais são muitas vezes
utilizados como meios para acessar os recursos necessários ao desenvolvimento do negócio
ou ainda para se buscar informações úteis e confiáveis para o aproveitamento das
oportunidades do mercado. Além desses objetivos os indivíduos recorrem à família e aos
amigos o apoio às idéias e o aconselhamento social e emocional necessário nos momentos que
antecedem a escolha profissional. Parentes próximos ou mais distantes, colegas de escola,
professores ou outras pessoas que “cruzem” de alguma forma os caminhos dos indivíduos são
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influenciadores no desenvolvimento do negócio. Essas relações afetivas podem incentivar o
postulante a sedimentar o desejo de conceber um novo empreendimento.
No exame das entrevistas constatou-se a influência predominante de dois tipos de
relações sociais nos serviços de fisioterapia: as familiares e as acadêmicas. A relações
familiares se evidenciam em dois momentos da escolha profissional do fisioterapeuta: no
período de formação e na etapa que precede à decisão pelo negócio a ser constituído. Os
depoimentos abaixo ilustram a influência da família no período de formação dos
entrevistados:
“Olha, a influência maior que tive foi a dos meus pais. Meus pais, desde pequena me incentivaram, principalmente meu pai. Ele me incentivou a fazer o que eu quisesse no sentido profissional e no sentido de estudo. Quando eu decidi fazer fisioterapia, ele sentou comigo e disse: você quer fazer esse curso? O que você quer? Quais são os prós, quais são os contras?” (Inicial Novo 01) “[...] até eu começar a trabalhar quem fez todo o investimento foi a minha família. Não só o apoio acadêmico daquilo que era necessário para que eu formasse, mas dando incentivo de ir para um Congresso que não era em Belo Horizonte. De estar arcando com os custos dessas coisas, de fazer um curso, que era às vezes um curso caro. Eu vejo que em todos os sentidos, financeiros, emocional, etc... a minha família sempre me apoiou e me incentivou.” (Outros 04)
A relação familiar são as mais influentes no que diz respeito à maneira de ver o
mundo e às escolhas posteriormente realizadas (FILION, 1991). A presença do pai no início
do empreendimento exercendo o papel de incentivador e facilitador é marcante em alguns
depoimentos:
“Quando eu fui montar a clínica, eu tive esse apoio. Ele [o pai] falou: você vai montar? Você já olhou isso? Você já olhou aquilo? Quem é a sua sócia? É isso que você quer? Então vai embora. Foi um apoio no sentido, assim de orientar, mas também de me dar uma liberdade de escolha.”(Inicial Novo 01) “Meu pai sempre foi um empreendedor. Quando eu falei com ele que eu ia montar uma clínica, na mesma hora ele falou: então eu vou te ajudar. Ele mexe com engenharia, ele me ajudou no projeto, ajudou a gente na rampa. Acho que a influência familiar, isto é, a
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minha família me deu muito apoio desde o inicio que eu quis montar, então isso que me ajudou muito também.” (Inicial Novo 04) “Ele falou assim: atende um paciente meu hoje. Comecei a atender um ou outro, eu como estudante já estava assumindo os casos. No último ano eu comecei a atender. Comecei a pegar clínica de reabilitação de mãos dentro do hospital [...] eu fui direcionando essa demanda do hospital [...], no caso do meu pai, ele foi ali me puxando para a área dele, eu achei que eu ia mexer com a ortopedia geral e eu acabei me especializando na área de mão.” (Estabelecido 02)
As influências familiares derivam de auxílios que vão desde uma orientação mais
atuante até uma participação de aconselhamento ou gerada pela experiência profissional do
familiar (nos casos acima, o engenheiro e o médico). Observou-se também situações de
depoentes que declararam não terem sido influenciados pelas relações familiares na opção
pela área ou mesmo na subseqüente criação do negócio:
“[...] meus pais sempre deixaram as escolhas por minha conta, assim, nunca comentaram nada em relação as minhas decisões, tudo que fiz... escolhi... foi meio que sozinha.” (Outros 03) “Não teve nenhuma participação familiar nisso, porque o meu pai não tem escolaridade nenhuma, meu pai não tem nem primeiro grau completo, ele é balconista de farmácia. A minha mãe é costureira. Eles não têm nenhuma habilidade, são pessoas que eram muito pobres e que fizeram de tudo para poder me dar estudo. Falaram comigo: a única forma que o pobre tem de vencer na vida é estudando, não tem outra forma, não tem quem indica, não tem quem arruma emprego, não tem nada. Eu não tive nenhuma ajuda a não ser ajuda com relação à formação de caráter, a apoio em casa, carinho, educação, todo esse apoio eu tive, mas incentivo administrativo de ensinamento administrativo ou de ensinamento técnico, eu não tive não. O apoio que eles me deram foi todo apoio familiar mesmo.” (Outros 08)
O sistema de relações engloba também as amizades e os companheiros de trabalho
ou de escola. A análise dos dados evidenciou que na área da fisioterapia essa dimensão se
concentra quase que especificamente no meio acadêmico, sendo essas relações compostas por
colegas ou professores da área. As influências das relações advindas dos contemporâneos de
formação acadêmica podem ser percebidas nos relatos abaixo:
“Um dia eu estava conversando com um colega que já estava tentando fazer o vestibular que também era envolvido no meio futebolístico, que já estava mais adiantado nos estudos. Ele comentou que gostaria de ficar no meio esportivo e gostaria de fazer Fisioterapia. Nesse belo dia
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isso me chamou a atenção, porque até então nunca tinha ouvido falar na Fisioterapia.” (Inicial Nascente 02) “[...] eu me lembro que com os colegas de turma, primeira turma oficialmente formada na Faculdade de Ciências Médicas, a gente conversava muito com um grupinho de colegas que tinha o ideal de montar um grande centro de reabilitação e, posteriormente, até mesmo um hospital.” (Outros 06)
O exame dos fragmentos mostra como as amizades no meio acadêmico auxiliam
na construção de visões conjuntas que muitas vezes se transformam em negócios
empreendedores posteriormente. A consolidação de empreendimentos se mostrou mais efetiva
nas interações sociais mantidas com os professores durante o curso:
“[...] a professora solicitou voluntários para estar atuando num projeto de extensão num asilo. Eu fui voluntária, fui selecionada e trabalhei lá. A partir daí eu me engrenei na geriatria, fiz o trabalho de conclusão de curso com a professora, depois eu fiz o curso de especialização na UFMG, onde a professora também dava aula. Com certeza, eu encontrei uma pessoa que me influenciou, eu me espelhei nela, então eu acho que foi um impulso a mais.” (Outros 01) “[...] tive muita influência também durante a faculdade dos professores. Eles me ajudaram tanto que eu consegui muita coisa na área de respiratória. Se eu quisesse continuar trabalhando, eu estaria trabalhando ainda em outro hospital.” (Inicial Novo 05) “O dono da clínica era um professor que me auxiliou muito; com quem eu aprendi a parte técnica da fisioterapia, o professor e a esposa dele. Ela foi a minha orientadora de mestrado e sempre me estimulou muito não só a estudar, como também ter uma vida clínica, porque é da prática clínica que a gente tem as dúvidas para estudar no mestrado, na academia. Essas pessoas me auxiliaram muito no meu crescimento profissional, na parte técnica e na parte administrativa.” (Outros 08) “Eu fui professor substituto alguns anos e assim que eu formei a gente montou uma clínica em frente ao Extra. Foi eu e mais dois colegas de sala e mais dois professores. A gente fez uma clínica desde quando eu formei.” (Inicial Novo 06)
As relações com docentes possibilitaram nortear alguns dos empreendimentos
analisados, tanto na formação posterior em docência (Outros 01), como na escolha da
especialização (Inicial Novo 05) e na abertura e desenvolvimento de negócios (Outros 08 e
Inicial Novo 06). Os relatos demonstram ser o ambiente acadêmico um local profícuo para a
visualização e consolidação de ações empreendedoras na área fisioterápica.
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Os contatos estabelecidos nas redes sociais são cruciais para o reconhecimento de
oportunidades pelos empreendedores (PAIVA JR, 2004). Segundo o autor o que de fato
define a vivência do sujeito empreendedor na sua esfera profissional é o sentido que ele
vislumbra nas relações que coincidem com seu projeto de vida. Os inter-relacionamentos
sociais são muitas vezes utilizados, tanto como forma de acesso aos recursos inexistentes para
o desenvolvimento do negócio (OSTGAARD E BIRLEY, 1994), como para fonte de
informações úteis, confiáveis e exclusivas no sentido de aproveitar novas oportunidades de
mercado.
Os testemunhos transcritos abaixo evidenciam momentos nos quais os
profissionais fisioterapeutas empregaram contatos oriundos do local de trabalho exercido
antes da opção pelo atual empreendimento, das relações com integrantes de associações de
classes e das interações com outros profissionais que atuam no segmento fisioterápico:
“[...] eu tive alguns amigos que me indicavam pacientes assim que me formei ou me indicavam uma academia que estava precisando de um fisioterapeuta. Além disso, as pessoas com que quem eu trabalhava me influenciaram muito no sentido assim... do que fazer, de indicações, de falar, de me indicar para eu estar numa atividade, para eu estar fazendo alguma coisa.” (Outros 04) “[...] eu participo de algumas listas de discussão pela Internet como, por exemplo, da Associação Mineira de Fisioterapia Esportiva. Agora entrei na Sociedade Nacional de Fisioterapia Esportiva, exatamente para estabelecer bons relacionamentos e daí crescer mais ainda profissionalmente.” (Outros 09) “Eu fui com o meu marido na época, ele foi fazer um curso na Alemanha. Procurei o hospital no qual esse livro era baseado [mostrando o livro], e ai o quê que aconteceu? Eu conheci os neo terapeutas que atendiam nesse hospital, nessa maternidade, e eles faziam esse trabalho muito bonito logo depois do parto, durante a gravidez, foi quando eu voltei pro Brasil e resolvi de peito aberto implantar esse serviço.” (Estabelecido 05)
As influências acima transpostas advêm de relações sociais externas, de
relacionamentos originados em atividades que serviram de base para a construção visionária
do negócio e para o seu próprio aprimoramento. A área da fisioterapia, como qualquer outra
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das ciências da saúde, envolve um maior aprofundamento das relações pessoais terapeuta-
paciente, que se reverte também para um criterioso processo de seleção da rede de pessoas
responsáveis pela prestação do serviço. O dirigente do negócio elabora estratégias para
estruturar seu sistema de relações sociais internas tendo como referência critérios de
confiabilidade, comprometimento e competência profissional. Os depoimentos que se seguem
revelam como as indicações da rede de relacionamentos, a dedicação e a experiência
profissional interferem na estruturação da rede interna no serviço fisioterápico:
“Eu tenho alguns critérios, eu primeiro sigo a indicação de alguém, depois vejo a questão da empatia. Outro fator importante é saber se o outro é bom de serviço. Graças a Deus, eu estou com uma equipe excelente. São pessoas que às vezes fizeram o curso [de cuidador de idosos], eu fico observando, sou muito observadora neste aspecto.” (Inicial Nascente 01) “Na empresa, eu acho que o critério que existe aqui seria compromisso. Se eu vejo que é uma pessoa de compromisso, que ela está engajada no nosso trabalho, em fazer a clínica crescer, esta pessoa vai estar junto comigo em tudo. Mas, se eu vejo que é uma pessoa não engajada, eu não vou insistir, não vou colocar no meu círculo de relações, nos meus negócios. Por exemplo, em alguns empreendimentos, se eu vejo que esta pessoa não é uma pessoa interessada, ela não entra, eu simplesmente vou excluir.” (Estabelecido 04) “[...] a minha rede de relações ela é muito baseada na finalidade, na afinidade profissional, na questão de estar um junto com o outro, igual eu estou te falando... um ajudando o outro, crescendo com o outro e não aquela coisa de sonegar informação. Eu não sou assim, acho que eu não combino com gente que é assim.” (Outros 01)
“[...] eu vejo quem trabalha bem, por exemplo. A gente precisou de uma massagista para trabalhar com a gente, contratei uma que eu já fazia massagem com ela, ela trabalha bem, ela é profissional. Para contratar os fisioterapeutas que trabalham com a gente o critério é o mesmo a indicação de amigos da faculdade que a gente tinha, que sabiam o que a gente falava: ‘esse vai dar um excelente profissional’, ‘esse a gente sabe que não vai ser tão bom’, ‘esse não vou trabalhar com ele’, ‘esse não vou indicar.’” (Inicial Novo 05)
O critério da indicação como fator de ampliação da rede interna de relacionamento
remete aos laços de confiança existentes com a pessoa que sugere a contratação de um novo
integrante para o empreendimento. Paralelo à confiabilidade que permeia esse processo
estabelece-se algumas condições para receber o componente e mecanismos que avaliem os
níveis de idoneidade, comprometimento e empenho do pretendente.
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A construção do sistema de relações pressupõe também objetivos de cunho
comercial. A intimidade que marca as relações fisioterapeuta-paciente acaba, muitas vezes,
tornando-se um multiplicador da clientela. Como explica o depoente abaixo, isso ocorre
quando o fisioterapeuta passa a fazer parte da rede de relações do paciente:
“Tem alguns critérios, por exemplo, relacionamento com médico, pessoas que te encaminham pacientes. A forma como você atende o seu cliente, como você explica para o seu cliente é uma forma de se manter um relacionamento com ele e fazer com que ele te encaminhe também outros pacientes, isso sempre teve na minha cabeça. Eu sempre pensei assim e ajo assim. Isso me traz um retorno. Quanto mais seguro ele sente com você, ele vai te encaminhar outros clientes, então essas são coisas importantes do relacionamento inter-pessoal.” (Outros 07)
Conforme visto neste tópico a rede de relações no meio fisioterápico auxilia na
construção da visão, na edificação do negócio e na sua ampliação. No início do
empreendimento a interação com familiares é realizada com o propósito de orientação,
transferência de experiências e, no caso de famílias com melhores condições financeiras, de
capitalização do negócio.
Pelas entrevistas foi possível perceber que as relações acadêmicas, em termos dos
colegas de formação, funcionaram como fatores propulsores de idéias para novos negócios e,
os contatos mais efetivos com os professores ajudaram na aquisição de conhecimentos da área
profissional fisioterápica e na definição de nichos de serviços ainda não explorados. Em
relação aos sistemas internos de relações, as indicações e as formas de avaliação do potencial
dos futuros componentes da rede social compõem as estratégias mais utilizadas pelos
condutores dos negócios.
O tópico seguinte esboça uma análise das recorrências dos atributos “competências
empreendedoras” e “relações sociais” identificados na pesquisa.
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6.4 - Análise de recorrência dos temas “competências empreendedoras” e “sistemas de
relações”
Conforme descrito no QUADRO 1 – Categoria e formação dos entrevistados, foram
ouvidos 23 profissionais, sendo 21 fisioterapeutas e 02 administradores de empresas, sócios-
proprietários de empreendimentos fisioterápicos com outros fisioterapeutas.
Um dos passos utilizados no tratamento dos dados foi submeter as informações
coletadas a uma estatística simples buscando colocar em relevo os diversos grupos utilizados
na pesquisa, unificados no QUADRO 2 e representados separadamente de acordo com a sua
classificação como “Temas Centrais do Estudo”, “Núcleos Temáticos”, “Sub-Núcleos Temáticos” e
“Núcleos de Sentido” nos QUADROS de 3 a 11, a seguir:
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CÓDIGO CLASSIFICAÇÃO
CATEGORIAS DE PROFISSIONAIS
TOTAL Inicial
Estabelecido Outros Nascente Novo
Frequência %
2 6 6 9 23 100
5.2 Categoria dos entrevistados 8 6 9
6.2 Competências individuais empreendedoras 9 21 24 23 77 64
6.2.1 Competências associadas à visãodo ambiente
6 10 14 11 41 53
6.2.1.1 Competências de oportunidade 2 1 6 4 13 32 6.2.1.1.1 Influência na formação da visão 1 0 2 2 5 38 6.2.1.1.2 Oportunidade de demanda 1 1 4 2 8 62
6.2.1.2
Conhecimento antecipado do negócio e o uso de informações preliminares
1 6 5 5 17 41
6.2.1.2.1 Informar sobre a localização 1 1 0 0 2 12 6.2.1.2.2 Fazer pesquisa de mercado 0 2 2 1 5 29 6.2.1.2.3 Não fazer pesquisa de mercado 0 3 3 4 10 59
6.2.1.3 Competência de avaliar e assumir riscos 3 3 3 2 11 27
6.2.1.3.1 Planejar o negócio 1 1 1 1 4 36 6.2.1.3.2 Utilizar a intuição 1 0 1 0 2 18 6.2.1.3.3 Não planejar 1 2 1 1 5 45
6.2.2 Competências associadas a ação estratégica 3 11 10 12 36 47
6.2.2.1 Inovações e estabelecimento de diferenciais 3 11 10 12 36 100
6.2.2.1.1 Qualificar e capacitar o profissional 0 3 4 8 15 42
6.2.2.1.2 Diversificar e ampliar a qualidade dos serviços
1 4 4 3 12 33
6.2.2.1.3 Otimizar espaços e modernizar recursos físicos 2 3 1 1 7 19
6.2.2.1.4
Consolidar a marca da empresa e aprimorar questões administrativas
0 1 1 0 2 6
6.3
Sistemas de relações – As redes sociais e a influencia na atividade empreendedora
3 13 11 16 43 36
6.3.1 Fonte de influências 3 13 11 16 43 100
6.3.1.1 Influência familiar 1 6 4 7 18 42
6.3.1.2 Influência acadêmica 1 5 6 8 20 47
6.3.1.3 Influência da rede social 1 2 1 1 5 12
Total de Recorrências de Competências Individuais Empreendedoras e Sistemas de Relações 120 100 QUADRO 2 - Quantificação das Recorrências de Competências Empreendedoras - Sistemas de Relações FONTE: Dados de pesquisa, 2006.
76
Segundo classificação de GEM (2006), do total dos entrevistados, demonstrados no
QUADRO 3, 08 foram classificados na categoria “Inicial”, sendo dois da categoria “Inicial
Nascente” e 06 correspondentes à categoria “Inicial Novo”. Nas categorias “Estabelecidos”
e “Outros” foram ouvidos respectivamente, 06 e 09 pessoas.
CÓDIGO CLASSIFICAÇÃO
CATEGORIAS DE PROFISSIONAIS
TOTAL Inicial
Estabelecido Outros Nascente Novo
Frequência %
2 6 6 9 23
100
5.2 . Categoria dos Entrevistados 8 6 9
Total de Profissionais Entrevistados 23 100 QUADRO 3 - Demonstrativo de Categorias dos Profissionais Entrevistados FONTE: Dados de pesquisa, 2006.
No estudo, como demonstrado no QUADRO 4, foram encontradas 120
recorrências, sendo que 77 delas, ou 64% do total da amostra estão relacionadas ao construto
“competências empreendedoras”, e 43 ao construto “sistemas de relações”,
correspondendo aos 36% restantes.
CÓDIGO CLASSIFICAÇÃO
CATEGORIAS DE PROFISSIONAIS
TOTAL Inicial
Estabelecido Outros Nascente Novo
Frequência %
2 6 6 9 23 100
5.2 Categoria dos entrevistados 8 6 9
6.2 Competências individuais empreendedoras 9 21 24 23 77 64
6.3
Sistemas de relações - As redes sociais e a influencia na atividade empreendedora
3 13 11 16 43 36
Total de Recorrências de Competências Individuais Empreendedoras e Sistemas de Relações 120 100 QUADRO 4 - Demonstrativo de Recorrências dos Construtos - Competências Individuais Empreendedoras e Sistemas de Relações. FONTE: Dados de pesquisa, 2006.
77
Os núcleos temáticos “competências associadas à visão do ambiente”, e
“competências associadas à ação estratégica”, ambos pertencentes ao construto
“competências empreendedoras”, apresentaram 41 e 36 citações, correspondendo,
respectivamente a 53% e 47% das 77 incidências desse tema (QUADRO 5).
CÓDIGO CLASSIFICAÇÃO
CATEGORIAS DE PROFISSIONAIS
TOTAL Inicial
Estabelecido Outros Nascente Novo
Frequência %
2 6 6 9 23 100
5.2 Categoria dos entrevistados 8 6 9
6.2 Competências individuais empreendedoras 9 21 24 23 77 64
6.2.1 Competências associadas à visãodo ambiente
6 10 14 11 41 53
6.2.2 Competências associadas a ação estratégica 3 11 10 12 36 47
QUADRO 5 - Demonstrativo de Recorrências das Competências Associadas ás Competências Individuais Empreendedoras FONTE: Dados de pesquisa, 2006
Três sub-núcleos temáticos, segundo QUADRO 6, foram evidenciados do tema
“competências associadas à visão do ambiente”: a competência de oportunidade, o
conhecimento antecipado do negócio e o uso de informações preliminares e a competência de
avaliar e assumir riscos.
De acordo com o QUADRO 7, o primeiro sub-núcleo temático, “competências
de oportunidade”, aparece 13 vezes nos depoimentos. O desenvolvimento da habilidade de
identificar oportunidades está associado à intuição de demanda para 62% dos entrevistados.
Para 38% que registraram “competências de oportunidade” essa habilidade está associada à
influência na formação da visão.
78
CÓDIGO CLASSIFICAÇÃO
CATEGORIAS DE PROFISSIONAIS
TOTAL Inicial
Estabelecido Outros Nascente Novo
Frequência %
2 6 6 9 23 100
5.2 Categoria dos entrevistados 8 8 9
6.2.1 Competências associadas à visão do ambiente
6 10 14 11 41 53
6.2.1.1 Competências de oportunidade 2 1 6 4 13 32
6.2.1.2
Conhecimento antecipado do negócio e o uso de informações preliminares
1 6 5 5 17 41
6.2.1.3 Competência de avaliar e assumir riscos 3 3 3 2 11 27
QUADRO 6 - Demonstrativo de Recorrências das Competências Associadas à Visão do Ambiente FONTE: Dados de pesquisa, 2006.
ÓDIGO CLASSIFICAÇÃO
CATEGORIAS DE PROFISSIONAIS
TOTAL Inicial
Estabelecido Outros Nascente Novo
Frequência %
2 6 6 9 23 100
5.2 Categoria dos Entrevistados 8 6 9
6.2.1 Competências associadas à visão do ambiente
6 10 14 11 41 53
6.2.1.1 Competências de oportunidade 2 1 6 4 13 32 6.2.1.1.1 Influência na formação da visão 1 0 2 2 5 38 6.2.1.1.2 Oportunidade de demanda 1 1 4 2 8 62
QUADRO 7 - Demonstrativo de Recorrências das Competências de Oportunidade FONTE: Dados de pesquisa, 2006.
O segundo sub-núcleo temático, “conhecimento antecipado do negócio e o uso
informações preliminares”, descrito no QUADRO 8, surge com 17 registros e evidencia
três núcleos de sentido. Dos 17 pessoas que buscaram antecipar informações sobre o
negócio, 12 % se informaram sobre a melhor localização, 29% fizeram pesquisa de mercado
e 59% não realizaram nenhum estudo sobre o potencial do empreendimento.
79
CÓDIGO CLASSIFICAÇÃO
CATEGORIAS DE PROFISSIONAIS
TOTAL Inicial
Estabelecido Outros Nascente Novo
Frequência %
2 6 6 9 23 100
5.2 Categoria dos entrevistados 8 6 9
6.2.1 Competências associadas à visãodo ambiente
6 10 14 11 41 53
6.2.1.2
Conhecimento antecipado do negócio e o uso de informações preliminares
1 6 5 5 17 41
6.2.1.2.1 Informar sobre a localização 1 1 0 0 2 12 6.2.1.2.2 Fazer pesquisa de mercado 0 2 2 1 5 29 6.2.1.2.3 Não fazer pesquisa de mercado 0 3 3 4 10 59
QUADRO 8 - Demonstrativo de Recorrências de Conhecimento Antecipado do Negócio e o Uso de Informações Preliminares FONTE: Dados de pesquisa, 2006
O QUADRO 9 demonstra o terceiro sub-núcleo temático “competências de
avaliar e assumir riscos”, com 11 incidências, nos mostrou que 45% dos entrevistados
neste sub-núcleo temático assumiram não ter feito qualquer tipo de planejamento anterior à
abertura do seu negócio, iniciando-o “no peito e na raça”, na “coragem”. Outros 36%, em
contrapartida, manifestaram a preocupação inicial com os cuidados necessários para o
sucesso do seu negócio, mesmo que para isto tenham recorrido a indivíduos da sua rede de
relacionamentos, por não se sentirem competentes ou com formação administrativa
compatível. A intuição, acreditando que a experiência profissional e/ou possibilidades de
demanda do mercado seriam indicadores de resultados positivos do seu empreendimento, a
despeito de um planejamento prévio, também foi descrito por 18% dos indivíduos.
80
CÓDIGO CLASSIFICAÇÃO
CATEGORIAS DE PROFISSIONAIS
TOTAL Inicial
Estabelecido Outros Nascente Novo
Frequência %
2 6 6 9 23 100
5.2 Categoria dos entrevistados 8 6 9
6.2.1 Competências associadas à visãodo ambiente
6 10 14 11 41 53
6.2.1.3 Competência de avaliar e assumir riscos 3 3 3 2 11 27
6.2.1.3.1 Planejar o negócio 1 1 1 1 4 36 6.2.1.3.2 Utilizar a intuição 1 0 1 0 2 18 6.2.1.3.3 Não planejar 1 2 1 1 5 45
QUADRO 9 - Demonstrativo de Recorrências de Competência de Avaliar e Assumir Riscos. FONTE: Dados de pesquisa, 2006
O núcleo temático “competências associadas à execução estratégica”,
responsável por 47% das recorrências relacionadas às “competências empreendedoras”
dos indivíduos entrevistados, evidencia as ações adotadas pelos mesmos no sentido de
inovar e estabelecer diferenciais no mercado. Dentre as alternativas utilizadas para tal
finalidade, a busca de qualificação e capacitação profissional foi descrita por 42% do
montante da amostra representativa desse núcleo, enaltecidas e relatadas como de vital
importância, sobretudo pelos profissionais envolvidos com a formação acadêmica, também
objeto do nosso estudo. Outros 33% procuram melhorar a qualidade dos seus serviços
ampliando a sua demanda de pacientes e/ou valorizando as suas competências, enquanto
profissional fisioterapeuta, diversificando o seu atendimento através da implementação de
novos recursos e técnicas fisioterápicas que deixem evidentes, através dos resultados obtidos
e feed-back dos usuários ou contratantes da sua mão de obra. Atributos investigados nos
núcleos de sentido mais afetos às questões administrativas como a necessidade de otimizar
os espaços existentes e modernizar recursos físicos também foram descritos por 19% dos
entrevistados no sub-núcleo destinado ao conhecimento das competências inovadoras dos
81
indivíduos investigados. A deficiência ou ausência de experiência familiar ou de formação
acadêmica focada no planejamento, gestão e ações empreendedoras, observada na fala dos
depoentes, talvez seja uma das responsáveis pelo reduzido interesse ou envolvimento da
maioria dos entrevistados nas questões administrativas, anteriormente já descritas. A baixa
recorrência, apenas 5,6%, evidenciada no núcleo de sentido destinado à avaliação das ações
de aprimoramento dessas questões e consolidação da marca da empresa, é percebida pelos
entrevistados, como uma deficiência na formação e do desenvolvimento de competências
empreendedoras dos profissionais pertencentes às categorias estudadas no presente trabalho
(QUADRO 10).
CÓDIGO CLASSIFICAÇÃO
CATEGORIAS DE PROFISSIONAIS
TOTAL Inicial
Estabelecido Outros Nascente Novo
Frequência %
2 6 6 9 23 100
5.2 Categoria dos entrevistados 8 9 9
6.2 Competências individuais empreendedoras 9 21 24 23 77 64
6.2.2 Competências associadas a execução estratégica 3 11 10 12 36 47
6.2.2.1 Inovações e estabelecimento de diferenciais 3 11 10 12 36 100
6.2.2.1.1 Qualificar e capacitar o profissional 0 3 4 8 15 42
6.2.2.1.2 Diversificar e ampliar a qualidade dos serviços
1 4 4 3 12 33
6.2.2.1.3 Otimizar espaços e modernizar recursos físicos 2 3 1 1 7 19
6.2.2.1.4
Consolidar a marca da empresa e aprimorar questões administrativas
0 1 1 0 2 6
QUADRO 10 - Demonstrativo de Recorrências de Competências Individuais Empreendedoras FONTE: Dados de pesquisa, 2006
82
Já o núcleo temático “fonte de influências”, único componente do construto
“sistemas de relações”, descrito no QUADRO 11, apresentou 43 incidências, sendo 42%
relativos às influências familiares, 47% referentes às influências acadêmicas e 12%
associadas ao outros contatos da rede social. Resultados que demonstram a forte influência
da academia em ações empreendedoras, mesmo considerando que o acadêmico de
fisioterapia não tenha tido formação específica em administração.
CÓDIGO CLASSIFICAÇÃO
CATEGORIAS DE PROFISSIONAIS
TOTAL Inicial
Estabelecido Outros Nascente Novo
Frequência %
2 6 6 9 23 100
5.2 Categoria dos entrevistados 8 6 9
6.3
Sistemas de relações sociais – As redes sociais e a influencia na atividade empreendedora
3 13 11 16 43 36
6.3.1 Fonte de influências 3 13 11 16 43 100
6.3.1.1 Influência familiar 1 6 4 7 18 42
6.3.1.2 Influência acadêmica 1 5 6 8 20 47
6.3.1.3 Influência da rede social 1 2 1 1 5 12
QUADRO 11 - Demonstrativo de Recorrências dos Sistemas de Relações Sociais FONTE: Dados de pesquisa, 2006
O levantamento estatístico realizado juntamente com a análise das entrevistas
sugere algumas respostas ao problema de pesquisa deste trabalho. O capítulo a seguir traz as
conclusões geradas através dessas respostas, as limitações percebidas na execução da pesquisa
e as sugestões para estudos futuros.
83
7. CONCLUSÕES, LIMITAÇÕES DA PESQUISA E SUGESTÕES PARA ESTUDOS
FUTUROS
O objetivo principal desse estudo foi analisar o processo de decisão do exercício
profissional do fisioterapeuta tendo como parâmetro as competências empreendedoras e as
redes de relações sociais. Pelos depoimentos foi possível entender como o desenvolvimento
de competências individuais e os sistemas de relações do fisioterapeuta influenciam na
decisão de empreender.
Os resultados da pesquisa demonstram que a visão do negócio empreendimento
fisioterápico muitas vezes pode se iniciar antes do período de sua formação. Contribuem para
essa construção visionária a vivência do indivíduo com outras áreas afins de formação
(Educação Física, Terapia Ocupacional e Medicina Veterinária) e com experiências em
atividades correlatas ao exercício profissional da fisioterapia. Nessa etapa, o sistema de
relações pode também vir exercer influência sobre a edificação da idéia, seja por meio de
referência no âmbito familiar, de relacionamentos oriundos da trajetória do indivíduo nos
esportes e escola.
Na fase que antecede a escolha da atividade fisioterápica a ser exercida, as
competências do fisioterapeuta são adquiridas no ambiente acadêmico e organizacional. Entre
as competências associadas à visão do ambiente, cabe destacar o desenvolvimento de
habilidades especialistas e aquelas obtidas por meio da experiência profissional. Em relação
ao mercado o fisioterapeuta desenvolve competências relacionadas à visualizar oportunidades
de demandas de serviços organizacionais ou relativas a um segmento social específico. As
84
oportunidades podem ser trabalhadas também em relação a área necessitadas de atendimento
fisioterápico.
Mais do que agir de forma planejada, a maioria dos fisioterapeutas entrevistados se
decidem intuitivamente na decisão sobre o empreendimento. Isto pode ser observado pela
ausência de fontes de informação preliminares que amparam a opção profissional. Uma das
possíveis explicações para essa falta de investigação sobre os fatores externos que afetam um
empreendimento pode estar associada à própria formação do fisioterapeuta, que não
aprofunda em disciplinas ligadas ao empreendedorismo, planejamento e gestão
organizacional. A ação intuitiva prevalece também após a abertura do negócio, na maioria das
vezes enfrentado com “cara e a coragem” respondendo aos problemas, na “medida em que
eles aparecem”.
As competências associadas à ação estratégica dizem respeito a se antecipar ao
mercado e oferecer serviços pioneiros e especializados. Por outro lado, dentro de um processo
criativo, a diversificação de serviços pode representar um diferencial em relação aos
concorrentes. Ambiente de trabalho, recursos tecnológicos e forma de atendimento
representam elementos da estrutura do negócio que quando bem utilizados asseguram a
qualidade de execução do processo estratégico.
As competências relacionadas para diferenciar o atendimento aos clientes são
evidenciadas, por exemplo, na concepção de um modelo de capacitação de pessoal e na
própria criatividade expressada para atrair e manter a demanda de pacientes. Em termos dos
profissionais que atuam na área de formação acadêmica, as atividades de qualificação se
traduzem em diferenciais estratégicos desses docentes.
85
As redes de relações, em especial, familiar e acadêmica, exercem forte influência
na decisão profissional do fisioterapeuta nos períodos que antecedem a formação e a opção
pelo tipo de serviço a ser prestado. As influências familiares predominam no início do
empreendimento, derivadas principalmente da orientação e apoio financeiro prestado pelos
pais. Já as relações acadêmicas originadas de contato com professores e colegas de curso,
exercem influência na constituição e manutenção do empreendimento.
O sistema de relações sociais envolve também interações com finalidades de
crescimento e proliferação do negócio. Internamente, o fisioterapeuta seleciona a rede de
profissionais com que atuará. Os relacionamentos com outros profissionais da área de saúde
acontecem no sentido de impulsionar a procura pelos serviços e possibilitar o fluxo de
indicações de clientes. O estreitamento das relações com o paciente permite também o
aumento da escala de atendimentos decorrente da qualidade do serviço prestado.
Este estudo apresenta algumas limitações de pesquisa. Uma das dificuldades na
coleta de dados refere-se à seleção de fisioterapeutas “inicial nascente”, aqueles que estão à
frente de seu empreendimento a menos de três meses, o que ocasionou a redução da
amostragem referente a esta categoria pesquisada. Em função do escasso tempo disponível de
alguns entrevistados, informações importantes poderiam ter sido mais bem exploradas. A
impossibilidade de generalização dos resultados também é considerada uma restrição do
trabalho. Pelo fato da análise comportar aspectos subjetivos, o fenômeno pode vir a ser
interpretado de maneira diferente pelos entrevistados.
Algumas sugestões futuras cabem ser ressaltadas. O foco da investigação em
algumas das categorias pesquisadas; inicial nascente, inicial novo, estabelecido e outros,
86
possibilitariam uma análise mais aprofundada da evolução do negócio em determinado
estágio. Sugere-se também a utilização de pesquisas quantitativas que mensurem as relações
de influência entre os dois atributos investigados: competências empreendedoras e sistemas de
relações.
87
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SCHUMPETER, J.A. Capitalismo, socialismo e democracia. Rio de Janeiro: Zahar, 1984.
SEBRAE – Economia Informal e Urbana – Observatório Sebrae – jul. 2005.
SHANE, S,; VENKATARAMAN, S. The promise of entrepreurship as a field of research. The
Academy of Management Review, Mississippi State, v. 25, n. 1, p. 217 -226, Jan. 2000.
STEVENSON, H. H.; GUMPERT, D. E. The Heart of Entrepreneurship. Harvard Business
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TIMMONS, J. A. New Venture Creation. Homewood, IL: Irwin, 1990, 3. ed.
VAN GIGCH, J.P. Decision making about decision making: metamodels and metasystems.
Cambridge: Mas and Tunbridge Wells, Kent, Abacus Press, 1987.
VASCONCELOS, G. M. R. Inserção Social e Recursos: um estudo de caso comparativo da
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WHITING, B. G. Creativity and entrepreneurship: how do they relate? Journal of Creative
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94
ANEXO A
FICHA DE IDENTIFICAÇÃO
Categoria:
1.Empreendedores Iniciais 1.1.Empreendedores Iniciais Nascentes
1.2. Empreendedores Iniciais Novos
2.Empreendedores Estabelecidos 3.Quanto à Formação:
3.1.Profissionais Fisioterapeutas
3.2.Outros. Se outros, especificar Formação: _________________________
Nome: ________________________________________________________________
Sexo: Masculino Feminino
Idade: _________________________
Local de graduação: ______________________________________________________
Ano de formatura: ________________
Dados do Empreendimento: (Para as categorias 1 e 2)
Nome da empresa: _______________________________________________________
Número de sócios: ________________
Número de funcionários:
Fisioterapeutas: ___________________________
Outros de nível superior: ____________________
Outros de nível médio: ______________________
Ano de abertura da empresa: _______________________
(Para categoria 3)
Tipo de organização em que atua: ______________________________________________
Atividades fisioterápicas que desenvolve: _____________________________________
_______________________________________________________________________
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ROTEIRO DE ENTREVISTA SOBRE COMPETÊNCIAS EMPREENDEDORAS
Questões associadas à identificação das competências empreendedoras
1. Antes de tomar sua decisão profissional você procurou conhecer o negócio em que você atua?
2. Ao fazer a opção pela sua trajetória profissional você chegou a avaliar possíveis riscos da empreitada?
3. Você chegou a analisar em detalhes o negócio em que está engajado atualmente?
4. Você utilizou fontes de informações do mercado para tomar a decisão sobre o caminho profissional a ser trilhado?
5. Quando você decidiu sobre o negócio em que atua hoje foi levado em conta os possíveis cenários dessa atividade no futuro?
6. Você busca inovar no exercício das suas atividades profissionais? De que maneira?
7. Você busca se diferenciar ou se distinguir no exercício das atividades?
8. De que forma você busca se atualizar em relação ao negócio em que atua?
ROTEIRO DE ENTREVISTA SOBRE SISTEMAS DE RELAÇÕES Questões associadas aos sistemas de relações
1. De que maneira as relações sociais o auxiliaram na escolha da sua opção profissional?
2. Como a família ou pessoas do âmbito mais afetivo (primária) influenciaram na sua decisão profissional?
3. Pessoas ligadas a suas atividades de lazer ou trabalho interferiram no negócio escolhido?
4. Algum contato com pessoas de seu campo de atuação te auxiliou na decisão pelo negócio que você atua hoje?
5. Qual a influência que a formação acadêmica na graduação teve na escolha profissional?
6. Quais são os critérios que você utiliza para construir uma rede de relações?
7. Como que as relações sociais influenciaram em cada etapa das atividades profissionais que você exerce hoje?
8. Os relacionamentos sociais chegaram a facilitar ou dificultar o desenvolvimento de suas atividades?
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