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FACULDADE DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA- FESP CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO
LUIZ EDUARDO DE MENEZES SOARES
O BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO DA ASSISTÊNCIA SOCIAL: RENDA FAMILIAR COMO REQUISITO OBJETIVO
JOÃO PESSOA
2014
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LUIZ EDUARDO DE MENEZES SOARES
O BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO DA ASSISTÊNCIA SOCIAL: RENDA FAMILIAR COMO REQUISITO OBJETIVO
Trabalho de Conclusão de Curso em forma de Artigo científico apresentado à Coordenação do Curso de Bacharelado em Direito, pela Faculdade de Ensino Superior da Paraíba - FESP, como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Direito.
Área: Processo Civil Orientador: Profº. Esp. José Antônio Cavalcanti
JOÃO PESSOA
2014
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LUIZ EDUARDO DE MENEZES SOARES
O BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO DA ASSISTÊNCIA SOCIAL: R ENDA FAMILIAR
COMO REQUISITO OBJETIVO
Artigo Científico apresentado à Banca Examinadora de Artigos Científicos da Faculdade de Ensino Superior da Paraíba - FESP, como exigência para a obtenção do grau de Bacharel em Direito.
APROVADO EM _____/_______2014
BANCA EXAMINADORA
___________________________________________
Profº. Esp. José Antônio Coelho Cavalcanti
Orientador
___________________________________________
MEMBRO- FESP
___________________________________________
MEMBRO- FESP
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AGRADECIMENTOS
À Deus, por ter nos abençoado com a graça da vida.
À minha amada esposa Catarina pela dedicação e cobrança para que
nunca desistisse desse longo caminho que juntos percorremos, e aos meus filhos,
Ana Luiza e Luiz Antonio por ser fonte de toda minha energia.
Aos meus pais (Lula e Raquel - in memorian), que já partiram para o
plano superior, e na nossa caminhada juntos sempre desempenharam um papel
fundamental em minha vida, pois sem eles nada seria, espero sempre poder alegrá-
los com minhas vitórias e conquistas.
Ao meu querido padastro Celso Peixoto, por todo carinho que sempre me
dedicou, apoiando e demonstrando cada vez mais amor e confiança.
À Marcos Inácio, meu sogro, que ao longo desses dezoito anos de
convivência aprendi a paixão e a dedicação pelo trabalho, com foco na ética e
compromisso, apoiando e orientando nos momentos de decisão.
A toda minha família e amigos pela torcida e motivação.
Aos funcionários da Fesp Faculdades, por toda paciência, compreensão e
apoio.
Ao meu orientador, Profº. José Antônio Coelho Cavalcanti e a
coordenadora do TCC, Profª. Socorro Menezes, pela paciência, dedicação e
interesse no bom desempenho deste trabalho.
Aos que não cito, mas sabem que são de grande importância em minha
vida.
6
Você precisa ter sonhos, para que possa se levantar, todas as vezes que cair. Acreditar que, a toda hora, acontecerão coisas boas, e mudar o rumo da sua vida. Você precisa ter sonhos grandes e pequenos. Os pequenos são as felicidades mais rápidas, os grandes são os que dão força para suportar o fracasso dos sonhos pequenos.
(Autor Desconhecido)
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SUMÁRIO
1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS ................................................................ 8
2 SEGURIDADE SOCIAL ........................................................................ 10
2.1 CONCEITO E PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS................................. 11
2.1.1 Princípio da Universalidade da Cobertura e do Atendimento ......... 12
2.1.2 Princípio da Uniformidade e Equivalência dos Benefícios e
Serviços às populações Urbanas e Rurais .......................................
13
2.1.3 Princípio da Irredutibilidade do Valor dos Be nefícios ..................... 13
2.1.4 Princípio da Equidade na Forma de Participaçã o no Custeio ......... 13
2.1.5 Princípio da Seletividade e Distributividade na Prestação dos
Benefícios ...............................................................................................
14
2.1.6 Princípio do Caráter Democrático e Descentral izado da
Administração ........................................................................................
14
2.1.7 Princípio da Preexistência de Custeio ................................................. 14
3 ASSISTÊNCIA SOCIAL .......................................................................... 15
3.1 ASPECTOS CONCEITUAIS.................................................................... 15
3.2 PRINCÍPIOS............................................................................................ 17
3.3 CUSTEIO................................................................................................. 18
3.4 ESPÉCIES DE BENEFÍCIOS.................................................................. 18
3.4.1 Amparo ao Deficiente Físico ................................................................. 19
3.4.2 Amparo ao Idoso .................................................................................... 21
4 CRITÉRIO OBJETIVO PARA AFERIÇÃO DA RENDA PREVISTA NO
ART. 20 DA LEI Nº. 8742/93 ...................................................................
21
4.1 REQUISITO OBJETIVO DA RENDA FAMILIAR COMO CRITÉRIO
MÍNIMO...................................................................................................
22
4.2 ENTENDIMENTO JURISPRUDENCIAL ACERCA DA LEGALIDADE
DO REQUISITO OBJETIVO DA RENDA FAMILIAR...............................
24
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................... 27
REFERÊNCIAS ................................................................................................ 28
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O BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO DA ASSISTÊNCIA SOCIAL: R ENDA FAMILIAR COMO REQUISITO OBJETIVO
Luiz Eduardo Menezes Soares*
José Antônio Coelho Cavalcanti**
RESUMO
O presente trabalho consiste num trabalho científico jurídico elaborado com o objetivo de analisar, através de pesquisa bibliográfica e método indutivo, e a partir do exame dos conceitos e requisitos legais, o amparo assistencial garantido na Lei nº. 8.742/1993, em seu art. 20, § 3º, que alude dever ser a renda mensal per capita para a aferição do benefício inferior a ¼ do salário mínimo vigente. Discorrendo sobre a regra geral, utilizada pelos doutrinadores e julgadores, procedendo a uma interpretação das diversas linhas de entendimento jurisprudencial nos Tribunais Superiores, enunciando as hipóteses em que se admitem outros meios para aferição da renda e consequente recebimento do benefício. Dando ênfase ao tratamento desta questão no âmbito da legislação vigente. Por ser um tema de tamanha relevância faz-se necessário uma análise quanto aos aspectos gerais da seguridade social, passando a minudenciá-la através do seu conceito e princípios. Sequencialmente, tratou-se sobre a assistência social, conceito, princípios, custeios -e benefícios que podem ser concedidos. Em terceiro plano, discorreu-se sobre requisito objetivo da renda familiar para aferição do benefício da assistência social e entendimento dos Tribunais Pátrios Superiores quanto a sua legalidade e quanto a aplicabilidade de critérios diferenciados para aferição do benefício.Concluiu-se através do estudo realizado que o Supremo Tribunal Federal entende como inconstitucional o artigo mencionado e a doutrina, e jurisprudência, são divergentes quanto a possibilidade de aplicação de diferentes critérios para consecução do benefício assistencial. PALAVRAS CHAVE: Previdência Social. Benefício Assistencial. Hipossuficiência. Divergência Jurisprudencial. 1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Atualmente, entende-se que a seguridade social é formada por um
conjunto integrado de ações de iniciativa dos poderes públicos e da sociedade,
destinado a assegurar o direito relativo à saúde, à previdência e à assistência social,
abrangendo a lógica da assistência e do seguro social. No Brasil, dispõe o artigo 194
da Constituição Federal de 1988 que a Seguridade Social abrange a Previdência, a
Saúde e a Assistência Social. A primeira possui caráter contributivo e retributivo, * Aluno concluinte do Curso de Bacharelado em Direito da FESP Faculdades, semestre 2014.2. e-mail:
luizeduardomsoares@gmail.com **
Profº Especialista em Direito Previdenciário, professor da Fesp Faculdades, atuou como orientador desse TCC. E-mail: jose.cavalcanti@gmail.com
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sendo assim, só fará jus a algum benefício desse sistema aquele que é filiado como
segurado da Previdência Social e realizou contribuições para tanto.
A saúde, segundo o artigo 196, caput, da CF/88, é "direito de todos e
dever do Estado" (BRASIL, 2014a), sendo marcada essencialmente pela
universalidade. Através do Sistema Único de Saúde (SUS), que é regulamentado
pela Lei nº 8.080/90, sendo assim todas as pessoas têm direito ao acesso à rede
pública de saúde, não sendo preciso demonstrar qualquer contribuição específica ou
a condição de miserabilidade.
Por sua vez, a assistência social constitui numa espécie da seguridade
social. A principal característica da assistência social é o caráter não contributivo
para ter assistência social, pois ela é devida a quem dela necessitar. Quanto a este
benefício assistencial, muito se tem discutido acerca da inconstitucionalidade do § 3º
do artigo 20 da Lei nº 8.742/93, que informa que a renda mensal per capita para a
concessão do benefício deve ser inferior a 1/4 (um quarto) do salário mínimo.
Contudo, o Supremo tribunal Federal, em julgamento da Reclamação
4.374/PE, ajuizada pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), com o objetivo
de suspender uma contribuição de um salário mínimo a um trabalhador rural, a
despeito das divergências doutrinárias e jurisprudenciais, até então existentes, onde
ainda vigoravam os critérios objetivos estabelecidos no artigo 20 da Lei 8742/93, do
§ 3º, declarou inconstitucional o parâmetro objetivo da renda inferior a ¼ do salário
mínimo para a aferição do benefício assistencial.
Para a realização da pesquisa, alguns procedimentos metodológicos
foram utilizados, tal como o emprego da natureza da vertente metodológica
qualitativa, tendo em vista que, ao avaliar a problemática, o estudo não utilizou
dados estatísticos como principal objeto de análise do problema, mas sim da
apreciação da Lei nº 8.742/93 avaliando os modos para aferição de miserabilidade
de uma família.
No que concerne à classificação da pesquisa quanto ao objeto geral e
procedimentos técnicos, foi utilizada pesquisa bibliográfica e exploratória, além de
uma pesquisa doutrinária e jurisprudencial, ao mesmo tempo em que é realizada
uma descrição minuciosa dos aspectos de relevância sobre a problemática
analisada, são expostos comentários a respeito dos aspectos descritos, havendo um
paralelo entre os dois procedimentos mencionados e considerações sobre os
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diversos entendimentos provenientes do tema. Isso justifica, ainda, o uso da técnica
de pesquisa da documentação indireta.
Não há pretensão de esgotar o tema proposto e sim de contribuição com
a discussão levantada.
2 SEGURIDADE SOCIAL
Conforme Martins (2012), a proteção social no Brasil teve seu pioneirismo
em 1543, quando foram criados os planos de pensão para os empregados da Santa
Casa de Santos. Deste momento inicial, para as primeiras leis que tratassem da
assistência sem a vinculação religiosa foram mais de três séculos. Em 1835,
segundo Vianna (2012), surgiu o MONGERAL, Montepio Geral dos Servidores do
Estado, que foi considerado como o início das entidades de previdência privada do
Brasil, contendo uma grande parte dos institutos privados securitários que existem
nas legislações modernas.
Tem-se na Constituição de 1891 a utilização do instituto da aposentadoria
em seu artigo 75, o qual discorria: “A aposentadoria só poderá ser dada aos
funcionários públicos em caso de invalidez no serviço da Nação”. (BRASIL, 2014b).
Não havendo o caráter contributivo presente nos dias atuais, caracterizava-se por
uma característica compensatória, sendo concedida aos servidores que se
tornassem inválidos para o labor.
Em 1923, foi criada a Lei Eloy Chaves, através do Decreto nº. 4.682/1923,
onde foram instituídas as Caixas de Aposentadorias e pensões para os ferroviários
de nível nacional prevendo os benefícios de aposentadoria por invalidez, pensão por
morte e assistência médica para os empregados das empresas ferroviárias.
Com a promulgação da Constituição Federal de 1934, foi estabelecida a
forma de custeio tríplice, realizada através do ente público, dos empregadores e dos
trabalhadores. Nesta Carta, também foi prevista a aposentadoria compulsória para
os funcionários públicos com mais de 68 (sessenta e oito) anos de idade e a
aposentadoria por invalidez, com o salário integral, para os funcionários que
tivessem um mínimo de 30 anos de trabalho.
Em 1974, a Lei nº. 6.125, autorizou o Poder Executivo a instituir a
Empresa de Processamento de Dados da Previdência Social (DATAPREV) que está
em funcionamento até os dias atuais. No mesmo ano citado, a Lei nº. 6.179, instituiu
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o amparo previdenciário, como renda mensal vitalícia, aos maiores de 70 anos ou
inválidos.
A atual Constituição Federal de 1988 foi bastante minuciosa ao tratar do
assunto, com um capítulo intitulado de Ordem Social trazendo, pela primeira vez,
referência no Texto Constitucional à Seguridade Social. Havendo, posteriormente,
modificações substanciais realizadas pela Emenda Constitucional nº. 20/98 e pela
Emenda Constitucional nº. 41/2003.
Com o surgimento da Lei nº 8.029, de 12 de abril de 1990, e do Decreto
nº 99.350, de 27 de junho de 1990, criou-se o Instituto Nacional do Seguro Social
(INSS), autarquia federal vinculada ao então Ministério do Trabalho e Previdência
Social, mediante a fusão dos seguintes órgãos: Instituto de Administração Financeira
da Previdência Social (IAPAS) e Instituto Nacional de Previdência Privada (INPS).
Martins (2012) traz que em 24 de julho de 1991, entraram em vigor a Lei nº 8.212,
que trata de custeio do sistema da seguridade social, e a Lei nº 8.213, que versa
sobre os benefícios previdenciários, visando atender o art. 59 do ADCT.
2.1 CONCEITO E PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS
Segundo Martins (2012), entende-se por seguridade social o conjunto
integrado de princípios, de regras e de instituições de iniciativa dos poderes públicos
e da sociedade com o objetivo de assegurar o direito relativo à saúde, previdência e
assistência social. O objetivo primordial da seguridade social é assegurar aos
indivíduos, e aos seus familiares, os meios básicos de subsistência.
A Carta Magna de 1988, em seu artigo 194, fracionou o sistema
previdenciário em três áreas, quais sejam: saúde, assistência social e previdência
social, constituindo assim a composição, o tripé, da seguridade social. Constitui a
previdência social na cobertura de contingências advindas de doença, invalidez,
velhice, morte, privação de liberdade, maternidade sendo necessária a realização de
contribuições prévias para o recebimento do benefício.
Quanto à assistência social, será prestada a quem dela necessitar
independente de contribuição e atendendo assim aos hipossuficientes, ou seja,
aqueles que não podem por si só ou com a ajuda de seus familiares, obterem seu
sustento, tendo como seu requisito básico a necessidade do assistido.
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O direito à saúde é obrigação do Estado que deve socorrer a todos os
que se encontrem em situação de ameaça de dano ou de dano já consumado à sua
saúde. Acrescenta-se o amparo a saúde independe de contribuição, sendo irrestrita,
ou seja, todos os sujeitos em território brasileiro, mesmo que aqui não residam,
podem utilizar o serviço público de saúde. O SUS – Sistema Único de Saúde é quem
administra a saúde, sendo ele financiado com recursos dos orçamentos da
seguridade social estabelecidos pela União, Estados, e dos Municípios.
2.1.1 Princípio da Universalidade da Cobertura e do Atendimento
O princípio da universalidade comporta duas abordagens: objetivamente
indica que os riscos sociais devem ter cobertura e, subjetivamente, que todas as
pessoas devem ter garantia de proteção social, universalidade de atendimento. Em
relação à previdência, a universalidade é restrita, pois há o caráter contributivo,
significando que a pessoa para ter direito ao benefício prestado pelo sistema deve
contribuir com uma parcela de renda por certo período além de preencher os
requisitos para concessão do mesmo.
Discorre Martins (2012, p.55), em sua obra Direito da Seguridade Social,
quando trata do princípio da universalidade, o seguinte:
Todos os residentes no país farão jus a seus benefícios, não devendo existir distinções, principalmente entre segurados urbanos e rurais. Os segurados facultativos, se recolherem a contribuição, também terão direito aos benefícios da previdência social. Os estrangeiros residentes no país também devem ser contemplados com as disposições da Seguridade Social, e não só aqueles que exercem atividade remunerada.
É importante salientar que na Previdência Social é imprescindível o status
de contribuinte para ter a sua proteção, enquanto a seguridade Social, no caso da
saúde e assistência social, estende-se a todos os cidadãos do território,
independentemente de contribuição ou vínculo empregatício.
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2.1.2 Princípio da Uniformidade e Equivalência dos Benefícios e Serviços às
populações Urbanas e Rurais
O princípio da uniformidade caracteriza-se por ser uma partição do
princípio da igualdade, visto que busca acabar com as desigualdades de tratamento,
devendo haver uniformidade e equivalência entre os benefícios prestados. Este
princípio também atende aos três ramos da seguridade social.
Quanto à equivalência não significa igualdade, pois vai basear-se no
aspecto pecuniário, podendo-se ter os mesmos benefícios com valor diferenciado,
ou seja, o critério para concessão da prestação de serviços serão os mesmos, mas
o valor não será necessariamente igual dependerá do aspecto contributivo.
2.1.3 Princípio da Irredutibilidade do Valor dos Be nefícios
O artigo 194 da Constituição Federal, em seu parágrafo único, IV,
estabelece que a seguridade social destina-se a assegurar os direitos relativos à
saúde, previdência e assistência social, enfatizando no inciso do citado parágrafo
que não pode haver a redução quanto aos valores dos benefícios (BRASIL, 1988).
Sendo assim, os benefícios previdenciários não podem ter seu valor
reduzido e também serem objetos de desconto (salvo os casos determinados por lei
ou por ordem judicial), nem de arresto, penhora ou sequestro. Visando a
manutenção do valor real dos benefícios prestados pela seguridade social,
objetivando não ter o valor aquisitivo dos beneficiários reduzido.
2.1.4 Princípio da Equidade na Forma de Participaçã o no Custeio
O princípio da equidade no custeio é um desdobramento do princípio da
igualdade, tendo em vista que cada contribuinte participará da previdência na
medida das suas igualdades, desta feita, as contribuições realizadas por empresas
serão sempre superiores às realizadas pelos trabalhadores, não havendo
equivalência absoluta entre o que se contribui e a proteção concedida pelo sistema
da previdência social (BRASIL, 1990).
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2.1.5 Princípio da Seletividade e Distributividade na Prestação dos Benefícios
Pelo princípio da seletividade o legislador infraconstitucional terá
competência para decidir quais serão os benefícios e serviços a serem oferecidos
pelo sistema de acordo com a capacidade contributiva do Estado.
Já o princípio da distributividade caracteriza-se por ter a função de
redistribuição de renda para as camadas sociais mais necessitadas, realizando a
justiça redistributiva. Os princípios citados possuem uma aplicação mais condizente
com a assistência social, tendo em vista que os benefícios sociais serão concedidos
de forma seletiva a quem realmente necessite (BRASIL, 1990).
2.1.6 Princípio do Caráter Democrático e Descentral izado da Administração
O caráter democrático é atingido através da participação dos
trabalhadores, empregadores, aposentados e o governo nos órgãos colegiados,
formando uma gestão quadripartite, estando presentes todos os atores sociais
interessados na seguridade social, expressando a democracia participativa a qual é
garantia constitucional.
A gestão dos programas e ações da Seguridade Social deve ser realizada
mediante discussão com a sociedade que deve aprovar todas as ações de saúde,
previdência e assistência social (BRASIL, 1990).
2.1.7 Princípio da Preexistência de Custeio
Estabelece o artigo 195, §5º, da Constituição Federal que “nenhum
benefício ou serviço da seguridade social poderá ser criado, majorado ou estendido
sem a correspondente fonte de custeio total”, este deve ser vinculado ao art. 203 da
CF/88 (que determina não haver a condição restritiva de contribuição com a
previdência social para que o segurado obtenha as vantagens da previdência) para
que haja uma completa aferição do princípio de preexistência do custeio, sendo
assim, depreende-se que não há a obrigatoriedade de contribuição pelo segurado
para que sejam obtidas as vantagens ofertadas, mas o custeio da previdência social
é necessário, mesmo que seja realizado de maneira indireta. (BRASIL, 2014a).
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Segundo esse princípio, para a criação ou majoração de algum benefício
ou prestação da seguridade social, sempre é necessária a indicação prévia de
recursos financeiros necessários para seu pagamento. Este princípio também é
conhecido como regra de contrapartida, pois garante o equilíbrio contábil do sistema,
permitindo o equilíbrio financeiro e atuarial. A saúde e a assistência social também
devem obedecer a este princípio.
3 ASSISTÊNCIA SOCIAL
Uma das diretrizes norteadoras da assistência social foi a previsão na
Constituição Federal em seu artigo 203, inciso V, do benefício de prestação
continuada concedido aos deficientes e aos idosos que não tenham condição de
prover o próprio sustento ou de tê-lo suprido por auxílio da família de forma
satisfatória (BRASIL, 1988).
A assistência social é realizada por um conjunto interligado de ações
entre o poder público e a sociedade civil com o objetivo de garantir que sejam
atendidas às necessidades básicas dos hipossuficientes, sendo este seu requisito
primordial.
Contudo, a norma foi considerada de eficácia limitada, tendo sido
necessária a regulamentação através do artigo 20 da Lei nº 8.742/93 (Lei Orgânica
da Assistência Social - LOAS) para que ela se tornasse de eficácia plena.
A base da assistência social é a própria Constituição Federal de 1988,
que fornece as diretrizes, e a Lei Nº 8.742/93, que estabelece os objetivos, princípios
e diretrizes das ações a serem desenvolvidas. É importante salientar que a LOAS foi
alterada recentemente pela Lei nº 12.435, de 2011.
3.1 ASPECTOS CONCEITUAIS
Martinez (1992, p.83 apud MARTINS, 2012, p. 486) conceitua a
assistência social do seguinte modo:
Um conjunto de atividades particulares e estatais direcionadas para o atendimento dos hipossuficientes, consistindo os bens oferecidos em pequenos benefícios em dinheiro, assistência à saúde, fornecimento de alimentos e outras pequenas prestações. Não só complementa os serviços da Previdência Social, como a amplia, em razão da natureza da clientela e das necessidades providas.
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A assistência social compõe uma das bases formadoras do tripé que
constitui a previdência social. A principal característica daquela é o caráter não
contributivo, ou seja, não há a obrigatoriedade da contribuição ao sistema
previdenciário tendo em vista que o constituinte originário garantiu sua abrangência
aos que dela necessitarem. A assistência social só passou a ter legislação
específica com a entrada em vigor da Lei nº 8.742/93, Lei Orgânica da Assistência
Social (LOAS).
O doutrinador Martins (2012, p.478) define a assistência social como:
[...] um conjunto de princípios, de regras e de instituições destinado a estabelecer uma política social aos hipossuficientes, por meio de atividades particulares e estatais, visando à concessão de pequeno benefício e serviços, independente de contribuição por parte do interessado.
Na legislação que informa acerca da organização da seguridade social
(Lei nº 8.212/91), em seu título IV, há a seguinte disposição:
Art. 4º A Assistência Social é a política social que provê o atendimento das necessidades básicas, traduzidas em proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência, à velhice e à pessoa portadora de deficiência, independentemente de contribuição à Seguridade Social (BRASIL, 2014c).
Sendo assim, a assistência social está caracterizada por ser direito
fundamental previsto na Constituição Federal com estrutura de planos e programas
assistenciais promovidos pelo Estado, visando ao amparo das pessoas necessitadas
sem condições de sustento e de uma vida, no mínimo, digna.
Como já informado, a assistência social não tem caráter contributivo,
sendo custeada pelo Estado com apoio de particulares; o caráter não contributivo
característico da assistência social é definido pelo próprio texto constitucional, no já
citado o art. 203, caput:
Art. 203. A assistência social será prestada a quem dela necessitar, independentemente de contribuição à seguridade social, e tem por objetivos:
I - a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice; II - o amparo às crianças e adolescentes carentes; III - a promoção da integração ao mercado de trabalho; IV - a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a promoção de sua integração à vida comunitária;
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V - a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à própria manutenção ou de tê-la provida por sua família, conforme dispuser a lei (BRASIL, 2014a).
A assistência social tem sua base no assistencialismo público visando o
amparo dos mais desprovidos da sociedade com o objetivo de prover uma vida mais
digna sem haver distinções entre os beneficiados.
3.2 PRINCÍPIOS
Os princípios que orientam a assistência social são idênticos aos
norteadores da seguridade social e anteriormente elencados. Contudo, a LOAS
elenca outros dispositivos aplicáveis à assistência social em seu art. 4º, são eles:
I - supremacia do atendimento às necessidades sociais sobre as exigências de rentabilidade econômica; II - universalização dos direitos sociais, a fim de tornar o destinatário da ação assistencial alcançável pelas demais políticas públicas; III - respeito à dignidade do cidadão, à sua autonomia e ao seu direito a benefícios e serviços de qualidade, bem como à convivência familiar e comunitária, vedando-se qualquer comprovação vexatória de necessidade; IV - igualdade de direitos no acesso ao atendimento, sem discriminação de qualquer natureza, garantindo-se equivalência às populações urbanas e rurais; V - divulgação ampla dos benefícios, serviços, programas e projetos assistenciais, bem como dos recursos oferecidos pelo Poder Público e dos critérios para sua concessão (BRASIL, 2014d).
O princípio do primeiro inciso salienta que as necessidades sociais devem
ser atendidas e tratadas como prioridade, pois visam à proteção do cidadão e a
oferta de melhor qualidade de vida, devendo sobrepor-se às exigências da ordem
econômica, previstas no art. 170 da Constituição Federal.
O segundo inciso visa assegurar às pessoas o atendimento de suas
necessidades, concedendo um maior alcance das políticas públicas dos que delas
realmente necessitam visando uma adequada inserção social. Já o terceiro inciso
esclarece que o respeito ao cidadão e à dignidade humana são imprescindíveis para
a previdência social, devendo-se evitar comprovações vexatórias.
Ao conferir igualdade no atendimento às populações urbanas e rurais, o
inciso IV estabeleceu-se como tentativa de superar grandes diferenças históricas,
em especial a discriminação sofrida pela população rural. Por fim, o inciso V dispõe
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acerca da divulgação dos benefícios que deve ser assegurada pelo poder público
para que todos saibam e possam ter acesso à proteção social.
3.3 CUSTEIO
O financiamento da assistência social é realizado como um encargo de
modo direto ou indireto por toda a sociedade, organizado com recursos da União,
Estados e Municípios e demais financiamentos preconizados pelo art. 195 da
Constituição Federal, como disposto no artigo 28 da LOAS. A forma de custeio da
assistência social está discriminada no capítulo V da LOAS.
De acordo com a nova redação da LOAS, os recursos são direcionados
para o Fundo Nacional de Assistência Social (FNAS) e cabe ao órgão da
Administração Pública responsável pela coordenação da Política de Assistência
Social nas 3 (três) esferas de governo gerir os recursos para acobertar as despesas
referentes à assistência social sob orientação e controle dos Conselhos de
Assistência Social (CNAS).
Salienta Martins (2012, p. 495) que:
Para o repasse dos recursos decorrentes da Lei nº. 8.742/93 aos Municípios, aos Estados e ao Distrito Federal, é necessária a efetiva instituição e o funcionamento do Conselho de Assistência Social, de composição paritária entre governo e a sociedade civil, do Fundo de Assistência Social, com orientação e controle dos respectivos Conselhos de Assistência Social, do Plano de Assistência Social.
Os recursos que ficam a cargo da União poderão ser transferidos pelo
Ministério da Previdência Social diretamente para o INSS, que é o órgão que
mantém e executa os benefícios.
3.4 ESPÉCIES DE BENEFÍCIOS
Com já salientado alhures, a assistência social tem como objetivo prover
o mínimo necessário para os hipossuficientes garantirem uma vida digna para si e
para sua família através de um sistema não contributivo. Este auxílio é concretizado
através dos Benefícios de Prestação Continuada (BPC) ao deficiente e ao idoso,
garantido na Constituição Federal em seu art. 203, V.
O principal benefício prestado pela assistência social é o amparo
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assistencial. Tal benefício independe de contribuição para a sua concessão e está
previsto no art. 20 da Lei nº 8.742, conforme disposto abaixo:
Art. 20. O benefício de prestação continuada é a garantia de um salário-mínimo mensal à pessoa com deficiência e ao idoso com 65 (sessenta e cinco) anos ou mais que comprovem não possuir meios de prover a própria manutenção nem de tê-la provida por sua família (BRASIL, 2014d).
O amparo é devido mensalmente. O benefício deverá sofrer revisão a
cada 02 (dois) anos para justificar se as situações que o ensejaram ainda
permanecem e tem como beneficiários as pessoas portadoras de deficiência e os
idosos. Acrescenta-se que o BPC é de caráter personalíssimo não podendo ser
gerada pensão em qualquer hipótese.
Em sua obra, Direito da Seguridade Social, Martins (2012) salienta a
existência dos benefícios eventuais que possuem caráter provisório e suplementar
prestados às famílias em situação de morte, nascimento, doença, privação de
liberdade e vulnerabilidade temporária.
Acrescenta que a concessão e o valor estabelecido para os benefícios
são decidido pelos Estados, Distrito Federal e Municípios sendo previamente
formulado nas leis orçamentárias anuais baseando-se em critérios e diretrizes
estabelecidos nos Conselho de Assistência Social.
3.4.1 Amparo ao Deficiente Físico
Como já salientado em linhas anteriores, o benefício de prestação
continuada é devido mensal e sucessivamente, não havendo a obrigatoriedade do
beneficiário ter contribuído para a seguridade social, e não pode ter outra fonte de
renda, ou seja, o amparo não serve como complementação de renda.
Segundo a Lei nº. 12.435/2011 em seu art.20 entende-se por família:
Art. 20. O benefício de prestação continuada é a garantia de um salário-mínimo mensal à pessoa com deficiência e ao idoso com 65 (sessenta e cinco) anos ou mais que comprovem não possuir meios de prover a própria manutenção nem de tê-la provida por sua família. § 1o Para os efeitos do disposto no caput, a família é composta pelo requerente, o cônjuge ou companheiro, os pais e, na ausência de um deles, a madrasta ou o padrasto, os irmãos solteiros, os filhos e enteados solteiros e os menores tutelados, desde que vivam sob o mesmo teto. (BRASIL, 2014e).
20
Conforme esclarece o dispositivo legal, o benefício da assistência social é
devido ao idoso com 65 anos e à pessoa com deficiência que não possuam meios
de prover seu sustento, nem o da sua família.
O conceito de deficiente previsto na lei é mais abrangente do que o
conceito de deficiência física, tendo em vista que o benefício não é concedido
apenas para os deficientes físicos e mentais.
O amparo ao deficiente é o benefício concedido às pessoas portadoras de
deficiência que estejam incapacitadas para a vida independente e para o trabalho.
(LOAS, 1993). Essa redação foi alterada pela Lei nº 12.435 de 2011, em seu art.20,
§ 2o, conforme pode ser visualizado adiante:
Art. 20 [...] § 2o Para efeito de concessão deste benefício, considera-se: I - pessoa com deficiência: aquela que tem impedimentos de longo prazo de natureza física, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade com as demais pessoas; II - impedimentos de longo prazo: aqueles que incapacitam a pessoa com deficiência para a vida independente e para o trabalho pelo prazo mínimo de 2 (dois) anos (BRASIL, 2014e).
Sendo assim, ser deficiente não significa dizer que a pessoa é incapaz,
pois existem outros fatores que são analisados além da capacidade, uma vez que a
deficiência deve prejudicar a pessoa no desenvolvimento de suas atividades laborais
e no caso de crianças, no seu relacionamento com o meio social em que vive e até
com crianças da mesma faixa etária. Na incapacidade, o que é verificado é se a
pessoa consegue ou não expressar sua vontade.
É válido informar também que a jurisprudência vem entendendo que a
falta de condições para trabalhar é suficiente para caracterizar a deficiência e
posterior concessão do benefício, conforme aduz Súmula nº 29 da Turma Nacional
de Uniformização dos Juizados Especiais Federais:
Para os efeitos do art. 20, § 2º, da Lei n. 8.742, de 1993, incapacidade para a vida independente não é só aquela que impede as atividades mais elementares da pessoa, mas também a impossibilita de prover ao próprio sustento (BRASIL, 2014f).
Salienta Martins (2012) que o benefício será suspenso pelo órgão que o
concede quando a pessoa com deficiência passar a exercer atividade remunerada.
O benefício só é concedido após a realização de perícia médica pelo INSS.
21
Ademais, a renda familiar mensal per capita deve ser inferior a ¼ do salário mínimo
(LOAS, 1993).
3.4.2 Amparo ao Idoso
Em relação à concessão do amparo social ao idoso, o requisito exigido é
o etário. Vale salientar que a idade para ser concedido o amparo a idoso sofreu
modificações ao longo do tempo, pois antes a idade mínima era de 70 (setenta)
anos. Entretanto, com a LOAS, a idade foi reduzida para 67 (sessenta e sete) anos
e, enfim, com o Estatuto do Idoso, a idade mínima passou para 65 (sessenta e
cinco) anos.
Para comprovar a idade, o idoso deve apresentar: certidão de casamento
ou de nascimento, carteira de reservista, carteira de identidade ou CTPS emitida há
mais de 05 (cinco) anos ou através de certidão eleitoral.
4 CRITÉRIO OBJETIVO PARA AFERIÇÃO DA RENDA PREVISTA NO ART. 20
DA LEI Nº. 8742/93
O artigo, 20 §§ 1º e 3º da Lei nº 8.742/93 dispõe acerca do requisito da
miserabilidade do grupo familiar para concessão do benefício assistencial ao idoso e
deficiente. Conforme a disposição legal faz-se necessário que o que venha a ser
beneficiado com o amparo tenha renda per capita familiar inferior a ¼ do salário
mínimo, considerando-se como família as pessoas que habitem com o requerente
do benefício, discriminadas legalmente (BRASIL, 1993).
Em sede de julgamento da Reclamação 4.374 - PE o Supremo Tribunal
Federal considerou como inconstitucional o critério objetivo estabelecido na Lei nº.
8.742/93 tendo em vista que a Carta Magna de 1988 delegou ao legislador a função
de estabelecer os requisitos presentes no art. 203, V (BRASIL, 1993).
Não obstante o Supremo Tribunal Federal ter declarado inconstitucional o
critério previsto no artigo 20 da Lei Orgânica da Assistência Social, acrescenta-se
que este já não vinha sendo utilizado como a única forma para aferição do BPC.
O benefício da assistencial apresenta, especialmente, uma característica de
função social com o objetivo de prover ao deficiente e ao idoso o mínimo necessário
22
para que possa viver com dignidade; desta forma, a aferição da miserabilidade como
via única afronta o princípio constitucional da dignidade da pessoa humana, pois é
uso único de tal critério excluiria um grande número de pessoas que não preenchem
tal critério, mas não conseguem do mínimo para se manter.
Desta forma, já está pacificado na jurisprudência dos Tribunais Pátrios que
quando o requerente, ou sua família, são incapazes de proverem sua subsistência
pode provar tal situação de várias maneiras, sendo preciso que o operador do Direito
esteja aberto para tanto.
Neste contexto, parece ter restado pacificado o entendimento, anterior a
declaração de inconstitucionalidade, que o critério para aferição da miserabilidade
estabelecido no artigo 20 § 3º da Lei nº 8.742/93, pode ser evidenciado por outras
formas, uma vez que a renda familiar per capita inferior a ¼ do salário mínimo
apenas traduz presunção de hipossuficiência econômica, não suprimindo outros
meios de prova desta situação (BRASIL, 1993).
4.1 REQUISITO OBJETIVO DA RENDA FAMILIAR COMO CRITÉRIO MÍNIMO
Como já salientado anteriormente, para ter direito ao benefício
assistencial é necessário que a renda per capita da família não seja superior a ¼
(um quarto) do salário mínimo - conforme preleciona o § 3º do art. 20 da Lei nº
8.742⁄93, in verbis: “Considera-se incapaz de prover a manutenção da pessoa com
deficiência ou idosa a família cuja renda mensal per capita seja inferior a 1/4 (um
quarto) do salário-mínimo)” (BRASIL, 2014d).
Conforme entendimento do doutrinador Martins, para a concessão do
benefício é necessário que a pessoa comprove não possuir meios de prover a
própria manutenção ou de não tê-la provida por seus familiares (MARTINS, 2012, p.
498). Esta ampliação do dispositivo legal é devida ao grande dispêndio que ocorre
na prática, para a vivência dos idosos ou deficientes como gastos com remédios,
fraldas, tratamentos, próteses, alimentação especial entre outros fatores que devem
ser considerados caso a caso.
Alguns doutrinadores têm entendido, com razão, que, para efeito de
cálculo da renda mensal familiar, devem ser incluídas todas as pessoas que vivam
no mesmo grupo familiar, sob o mesmo teto, que efetivamente participam dos gastos
23
e não apenas as que estão dispostas no art. 16 da Lei nº. 8.213/93.
O art. 20 da Lei nº 8.742, em seu § 1º, recentemente alterado, menciona
que família é aquela composta pelo requerente, o cônjuge ou companheiro, os pais
e, na ausência de um deles, a madrasta ou o padrasto, os irmãos solteiros, os filhos
e enteados solteiros e os menores tutelados, desde que vivam sob o mesmo teto
(BRASIL, 1993).
Feitas as considerações acerca da renda e da família, passa-se à análise
da principal problemática do estudo, pois muito se discute acerca da
constitucionalidade ou não do § 3º do art. 20 da Lei nº 8.742/93, que considera
incapaz de prover a manutenção da pessoa com deficiência ou idosa a família cuja
renda mensal per capita seja inferior a ¼ (um quarto) do salário-mínimo, tendo em
vista que para alguns doutrinadores é impossível uma família sobreviver apenas com
um salário mínimo, ainda mais se no núcleo familiar existe um idoso e/ou um
deficiente (BRASIL, 1993).
A doutrina pátria tem entendimento não pacificado quanto à aplicação do
requisito de renda inferior a ¼ do salário mínimo vigente, tendo em vista que alguns
entendem não ser possível a sobrevivência com tal renda.
Devido à controvérsia existente, a Turma Nacional de Uniformização dos
Juizados Especiais Federais editou a seguinte súmula:
Súmula 11: A renda mensal, per capita, familiar, superior a ¼ (um quarto) do salário mínimo não impede a concessão do benefício assistencial previsto no art. 20, § 3º da Lei nº. 8.742 de 1993, desde que comprovada, por outros meios, a miserabilidade do postulante (BRASIL, 2014g).
Devido à polêmica, a supracitada súmula foi cancelada em 2006. Muitos
se posicionam contrariamente ao § 3º do art. 20 da Lei nº 8.742/93, pois informam
que ela seria inconstitucional por inviabilizar o próprio inciso V do art. 203 da Carta
Magna e, principalmente, por afrontar o princípio constitucional da dignidade da
pessoa humana, que é vetor de interpretação e sustentação de todo o ordenamento
jurídico, pois é um dos fundamentos do Estado Democrático de Direito.
Em meio a tantas discussões, o Supremo Tribunal Federal havia se
posicionado no sentido de que, para o requisito da renda familiar per capita inferior a
¼ (um quarto) do salário mínimo, não devem ser admitidas outras formas de
apuração de miserabilidade, pois julgou improcedente a Ação Direta de
24
Inconstitucionalidade – ADIn nº 1.232, e declarou que o dispositivo (§ 3º do art. 20
da Lei nº 8.742/93) é constitucional.
Contudo, em julgado recente da Reclamação 4.374/ PE entendeu a Corte
Suprema que o mencionado dispositivo é inconstitucional por gerar um estado de
proteção insuficiente à garantia constitucional ilimitada por restringir a miserabilidade
à renda inferior a ¼ do salário mínimo, desta feita, o magistrado quando do
julgamento fático pode fazer uma análise dos autos podendo ultrapassar o valor
estabelecido no art. 20, § 3º da Lei nº. 8742/93.
Tal precedente aflorou ainda mais as discussões que já existiam acerca
do tema, surgindo assim duas interpretações doutrinárias e jurisprudenciais: a
objetiva, que não permite à flexibilização da norma, e a que permite a utilização de
outros meios de prova para a demonstração inequívoca da situação de
miserabilidade do requerente e de seu grupo familiar, ou seja, subjetiva que é
atualmente adotada pelo STF.
4.2 ENTENDIMENTO JURISPRUDENCIAL ACERCA DA LEGALIDADE DO
REQUISITO OBJETIVO DA RENDA FAMILIAR
Conforme o STF, a corrente que entende ser a renda familiar per capita
inferior a ¼ (um quarto) do salário mínimo uma condição objetiva, não se pode
admitir outras formas de apuração da miserabilidade além da renda per capita de ¼
o salário mínimo:
PREVIDÊNCIA SOCIAL. Benefício assistencial. Lei nº 8.742/93. Necessitado. Deficiente físico. Renda familiar mensal per capita. Valor superior a ¼ (um quarto) do salário mínimo. Concessão da verba. Inadmissibilidade. Ofensa à autoridade da decisão proferida na ADI nº 1.232. Liminar deferida em reclamação. Agravo improvido. Ofende a autoridade do acórdão do Supremo na ADI nº 1.232, a decisão que concede benefício assistencial a necessitado, cuja renda mensal familiar per capita supere o limite estabelecido pelo § 3º do art. 20 da Lei federal nº 8.742/93.(STF, Rcl 4.427-MC-AgR, rel. Min. Cezar Peluso, j. 06⁄06⁄07, DJ de 29⁄06⁄07)
No mesmo sentido alguns julgados do Tribunal Regional da 4º Região:
PREVIDENCIÁRIO. BENEFÍCIO ASSISTENCIAL. ART. 203, INCISO V, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. REQUISITOS. Comprovada que a renda familiar per capita da demandante é superior a ¼ do valor do salário mínimo vigente, ultrapassando, pois, o limite previsto no § 3º do art. 20 da Lei n.º 8.742/93, não há que se falar em concessão do benefício (TRF4, APELREEX 0003613-69.2011.404.9999, Quinta Turma, Relator Ricardo Teixeira do Valle Pereira, D.E. 26/05/2011).
25
Para estes Tribunais, somente têm direito à percepção do amparo social
àquelas pessoas cuja renda familiar per capita seja realmente inferior a ¼ (um
quarto) do salário mínimo vigente; não admitem qualquer outro meio de prova que
demonstre a situação de miserabilidade. Esse entendimento é inclusive o mesmo
utilizado pelo INSS. A norma legal é aplicada friamente, sem a observância da
situação fática de cada caso concreto, e da real necessidade dos indivíduos.
Entretanto, vale salientar que, em um mesmo tribunal, o entendimento
acerca do assunto é divergente, conforme demonstra esse julgado também do TRF
da 4ª Região:
PREVIDENCIÁRIO. BENEFÍCIO DE PRESTAÇÃO CONTINUADA. NECESSIDADE. AFERIÇÃO. PRECEDENTES. POSSIBILIDADE. 1. A existência de renda familiar superior a ¼ do salário mínimo, não pode receber valoração a fulminar a garantia constitucional de amparo assistencial. 2. No cálculo da renda familiar per capita, deve ser excluído o valor auferido por pessoa a título de benefício assistencial ou benefício previdenciário de renda mínima. 3. Não podem ser incluídos no cálculo da renda familiar os rendimentos auferidos por irmãos ou filhos maiores de 21 anos e não inválidos, bem assim por avós, tios, sobrinhos, primos e outros parentes não relacionados no art. 16 da Lei de Benefícios. (TRF4, AC 0015289-48.2010.404.9999, Quinta Turma, Relator Hermes Siedler da Conceição Júnior, D.E. 26/05/2011).
Conforme salientado alhures, diante de tantas decisões divergentes, em
18 de abril de 2013, o Supremo Tribunal Federal, por maioria, negou provimento ao
RE 567.985-MT, julgando improcedente a Reclamação 4.374-PE e declarou a
inconstitucionalidade do §3º do art. 20 da Lei nº 8.742/93.
Fazendo-se possível depreender dos fundamentos da Suprema Corte,
que reviu o posicionamento anterior, reconhecimento do parâmetro legal de renda
mensal inferior a ¼ do salário mínimo sofreu processo de inconstitucionalização e
que, portanto, os benefícios assistenciais podem ser concedidos quando
comprovada a situação de miserabilidade social das famílias com entes idosos ou
deficientes, ainda que não seja preenchido o requisito legal.
Entendeu o STF que a norma seria limitadora de garantia constitucional,
por restringir à renda inferior a ¼ do salário mínimo o conceito de miserabilidade, ou
seja, de quem necessita deste auxílio. O que se afirmou, pois, é que a lei editada, no
tocante ao §3º do art. 20, cumpriria apenas de forma parcial o comando
26
constitucional, ou seja, que o critério em questão seria insuficiente para a efetividade
do direito fundamental à assistência.
Abalizado por este raciocínio, chegou-se a propor, que se estabelecesse
uma margem de flexibilidade de 5% sobre o limite legal para que os magistrados,
quando da análise dos pleitos, concedessem a benesse. Por fim, não se concretizou
qualquer parâmetro substitutivo para o critério legal tido por inconstitucional; decidiu-
se, em síntese, pela possibilidade de o juiz, diante de cada caso concreto, aferir a
existência ou não de miserabilidade passível de preenchimento do contorno
constitucionalmente previsto para percepção do benefício.
A jurisprudência vem se firmando no sentido de que o requisito da renda
admite a análise da necessidade assistencial em cada caso concreto, mesmo que o
quantum da renda per capita eventualmente ultrapasse o valor de ¼ (um quarto) do
salário mínimo; contudo, tendo em vista a ausência de parâmetros legais
delineadores da hipossuficiência econômica, na decisão do STF, vem sendo gerado
variáveis decisões que estão ocasionando insegurança jurídica tendo em vista a
subjetividade dos critérios adotados.
Em decisões dos Tribunais Pátrios, já há entendimento de que ao realizar
a análise dos autos, o magistrado exclua gastos mensais corriqueiros do requerente
como gastos com aluguel, alimentação, medicamento, quando da realização do
quantum da renda familiar per capita, realizando o cálculo através da renda líquida.
Sob este prisma, seria conveniente consolidar tal prática abonando da
renda mensal do interessado não os gastos corriqueiros, e sim aqueles que são
inadiáveis, como a compra de medicamentos, cuidados médicos, aluguel, a partir daí
o que gerar desta subtração seria um parâmetro objetivo e coerente para a análise
da miserabilidade.
Outra linha de raciocínio existente é a de que a renda per capita de ¼ do
salário mínimo serviria como um norteador para a aferição da situação familiar, não
havendo óbice para que, na via judicial, sejam reconhecidos diferentes indicadores
que revelem a necessidade de amparo assistencial, entendimento que já vinha
sendo utilizado nos tribunais pátrios antes da decisão de inconstitucionalidade
prolatada pelo Supremo Tribunal Federal através da Reclamação 4.374-PE.
27
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Lei nº 8.742/93 trouxe grande evolução no que diz respeito à
assistência social, fazendo-se assistir aos hipossuficientes que necessitam de
amparo estatal para estabelecer uma vida digna.
Neste trabalho, se analisa a assistência social através de uma breve
evolução histórica no Brasil, como também o tripé formador da Previdência Social
culminando na análise da Assistência Social e os benefícios concedidos aos
hipossuficientes.
A concessão do amparo ao deficiente e do amparo ao idoso tem como
principal requisito a renda, de acordo com o § 3º do art. 20 da Lei nº 8.742⁄93,
devendo ser a renda mensal da família não pode ultrapassar ¼ (um quarto) do
salário mínimo.
Com o julgamento da Reclamação 4.374/PE, na qual o STF se
pronunciou pela inconstitucionalidade do citado artigo, houve o surgimento de
diversos critérios para o cálculo de aferição da renda mínima tendo em vista que em
sua decisão a Suprema Corte não determinou parâmetros norteadores da
concessão do amparo assistencial, contudo entendeu que o benefício assistencial
de um salário mínimo possui caráter de norma subjetiva.
Aqui, optou-se pela filiação ao entendimento do Supremo Tribunal
Federal, tendo em vista que a interpretação meramente literal de uma norma, muitas
vezes, não se mostra como forma mais adequada de aplicação da lei, deve-se
sempre procurar a intenção do legislador e, sobretudo, observar os princípios
norteadores do ordenamento jurídico pátrio. Entendendo que, para o cálculo do
quantum da renda per capita por família, devam ser excluídos os gastos inadiáveis
do requerente para que o benefício cumpra a sua função social coerentemente.
PENSION BENEFIT FROM SOCIAL ASSISTANCE: FAMILY INCO ME AS A REQUIREMENT PURPOSE
ABSTRACT
The present work consists of a scientific legal work prepared with the purpose of analyzing, through bibliographical research and inductive method, and from the examination of concepts and legal requirements, the amparo guaranteed assistance in law nº. 8,742/1993, in his art. 20, §3, which alludes to be the monthly income per capita for the measurement of the benefit of less than .25 of the current minimum
28
wage. Discussing the general rule used by jurists and judges by an interpretation of the various lines of understanding jurisprudence in higher courts, stating the assumptions on which they admit other means for income measurement and subsequent receipt of the benefit. Giving emphasis to the treatment of this issue in the context of existing legislation. For being a subject of such importance it is necessary an analysis about general aspects of social security, passing the minudenciá it through its concept and principles.Sequentially, we treat about welfare, concept, principles, costs and benefits can be granted. Third plan, we speak about objective requirement of family income for gauging the benefit of social assistance and understanding courts upper land as to its legality and how the applicability of different criteria for gauging the benefit.Concluded through the study that the Supreme Court understands how unconstitutional the article mentioned and the doctrine and jurisprudence, are divergent as the possibility of applying different criteria for achievement of welfare benefit. KEY WORDS: Social Security. Welfare Benefit. Weaker Position. Divergent
Jurisprudence.
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29
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30
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29f Orientador: Profº Esp. José Antonio Coelho Cavalcanti. Artigo Científico (Graduação em Direito) Faculdade de Ensino
Superior da Paraiba. 1. Previdência Social. 2. Benefício Assistencial. 3.
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BC/Fesp CDU:34:331(043)
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