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Lixão de Gramacho e os impactos do seu encerramento na vida dos
catadores que permanecem no Polo de Reciclagem
Aluna: Zaira Souza de Mattos
Orientadores: Valéria Pereira Bastos
Rafael Soares Gonçalves
Introdução
O presente relatório tem como objetivo descrever a nossa experiência como aluna
bolsista de Iniciação Científica no projeto de pesquisa intitulado “Estudo da viabilidade
técnica operativa do trabalho desenvolvido pelos catadores de materiais recicláveis do extinto
lixão de Jardim Gramacho em relação ao processo de gestão integrada de resíduos sólidos do
município de Duque de Caxias, conforme preceitua a Política Nacional de Resíduos Sólidos -
PNRS – Lei 12.305/2010”.
Neste sentido, iremos apresentar resultados parciais da nossa investigação que busca
compreender quais são os impactos socioeconômicos ocorridos na vida dos catadores após o
encerramento do lixão, tendo como ponto de partida o potencial de viabilidade técnica
operativa do trabalho que seria instalado através do Pólo de Reciclagem, estrutura física
erguida no mesmo bairro, para que os catadores pudessem efetivar sua participação como co-
participantes no processo de gestão integrada dos resíduos sólidos no município de Duque de
Caxias, conforme preceitua a política pública setorial, uma vez que foi o primeiro a atender a
exigência legal de ser encerrado.
Embora no caso do lixão de Jardim Gramacho tenha ocorrido o cumprimento do Art. 54
da Lei 12.305/2010 em relação à encerrar os lixões no prazo de quatro anos a partir da sua
sanção, tal fato não se materializou em todo território nacional, visto que em 2016 ainda se
contabiliza um total de 1559 “lixões” espalhados em todo Brasil. (ABRELPE 2015).
Certamente estes espaços também abrigam inúmeros trabalhadores que sobrevivem
informalmente com suas famílias, exercendo função insalubre penosa e perigosa, sem nenhum
amparo previdenciário, sendo assistidos na grande maioria das vezes apenas pelas políticas de
assistência, quando são visibilizados.
Neste sentido, partimos da premissa que o encerramento dos lixões é um fator legal, que
atende efetivamente a questão ambiental, pois já que sua existência era considerada prática
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irregular desde 1981, quando foi regulamentada a Política Nacional de Meio Ambiente.
Passando, inclusive a ser considerado crime ambiental em 1998.
No entanto, já era sabido também, que o atendimento da legislação afetaria diretamente
as atividades dos catadores, tendo em vista que é o produto da catação que ainda os mantém,
visto que segundo dados oficiais do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais
Recicláveis – MNCR e também do IPEA1 esta população supera os quantitativos de 400 a 800
mil trabalhadores que permanecem na informalidade em todo o país. E o modo como são
identificados traz consigo uma pesada carga de estigmatização, e por conta disso, suas
condições de vida revelam uma enorme demanda da atuação de políticas públicas específicas
a serem destinadas para resolução das suas necessidades mais urgentes.
Apesar da contribuição social e ambiental gerada pela prática da atividade de coleta,
separação e reciclagem de resíduos sólidos, realizada por eles, possuir papel incontestável, seu
trabalho não se torna mais valorizado por isso. Muito menos recebe condições adequadas para
ser realizado e tampouco influi positivamente na qualidade de vida desses trabalhadores,
fazendo com que os mesmos possam se tornar sujeitos de um processo produtivo.
Sendo assim, essa pesquisa referente ao estudo dos impactos socioeconômicos na vida
dos catadores que atualmente estão inseridos no Pólo de Reciclagem após o encerramento do
lixão de Jardim Gramacho, se torna importante, tendo em vista ser considerado o maior da
América Latina, e também por ter sido o primeiro a atender a determinação legal de
encerramento das atividades de despejo irregular de resíduos sólidos.
Desenvolvimento
A realidade dos catadores antes do encerramento e nos dias atuais no pólo de reciclagem
O lixão de Jardim Gramacho recebia diariamente cerca de nove mil toneladas de
resíduos sólidos oriundos de cinco municípios da região metropolitana da cidade do Rio de
Janeiro e a atividade desenvolvida pelos catadores chegou a recuperar em torno de 200
toneladas por dia de resíduos recicláveis. E essa atividade movimentava no bairro uma
economia que sustentava mais de 15.000 pessoas inseridas nas atividades diretas de catação e
1 Informações disponíveis em :
http://www.ipea.gov.br/agencia/images/stories/PDFs/situacao_social/131219_relatorio_situacaosocial_mat_recic
lavel_brasil.pdf
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nas indiretas decorrentes destas, por meio de uma rede local de serviços e comércio que
atendia aos trabalhadores e aos moradores da localidade.
Neste sentido, a pesquisa busca entender no pós-encerramento todos os avanços e
retrocessos ocorridos na vida dos catadores através dos seus relatos, inclusive, procurando
saber como eles se vêem e se reconhecem atualmente, enquanto profissionais reconhecidos na
Lei de Resíduos Sólidos como co-participantes no processo de gestão integrada dos resíduos e
acreditamos que será possível registrar qual é o nível do potencial operativo que o grupo
detém para estabelecer parceria com o poder público nesse processo de gestão, já que são
oficialmente apontados como co-gestores do processo.
Com nossos olhares voltados para esse universo, consideramos um desafio de suma
importância investigar a realidade atual dos catadores e o que mudou em suas vidas e em sua
forma de trabalhar visando se adaptar à nova condição que lhes foi imposta. Sabemos ser a
catação informal perversa, mas era o que mantinha o lugar em movimento, sobretudo, do
ponto de vista econômico. E a partir de 03 de junho de 2012 esses trabalhadores não contam
mais com o lixão para retirar seu sustento, embora a Política Nacional de Resíduos Sólidos os
reconheçam como um dos parceiros importantes na gestão integrada de resíduos.
Neste sentido, iniciamos nossa vivência de campo no mês de Novembro de 2015 e
realizamos visita ao Pólo de Reciclagem para conhecer os espaços e a realidade, e fomos
apresentados pela Professora Valéria Bastos, nossa orientadora, aos catadores e as lideranças
das cooperativas presentes no Polo.
Foto 1: Primeira visita ao Pólo de Reciclagem em Novembro de 2015.
Fonte: Zaira Mattos (arquivos pessoais)
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Paralelo ao trabalho de campo, estamos realizando de forma sistemática o
levantamento bibliográfico a respeito de várias questões ligadas ao tema central do estudo, e
os pontos mais relevantes estão centrados nas seguintes temáticas: Resíduos Sólidos Urbanos,
Política Social, Educação Ambiental, Pobreza, Cidadania e seus desdobramentos para nortear
a investigação e assim dar início à pesquisa de campo, que segundo (NETO, 1994), “se
apresenta como uma possibilidade de conseguirmos não só uma aproximação com aquilo que
desejamos conhecer e estudar, mas também de criar um conhecimento, partindo da realidade
presente no campo”.
Para garantir o acompanhamento teórico metodológico na pesquisa, são realizados
encontros semanais alternados com a orientadora, pois ora acontecem no campo de estudo ora
na Universidade para discutir sobre alguns artigos acadêmicos a respeito do tema de estudo,
sobre os avanços no trabalho e as atividades a serem realizadas no desenvolvimento da
pesquisa. E ainda, mensalmente, o grupo do Laboratório de Estudos Urbanos e
Socioambientais – LEUS, também se reúne para compartilhar conhecimento e ter informações
sobre as demais pesquisas e ainda de participar de palestras promovidas pelo Laboratório.
Construímos em conjunto com a Professora Valéria Pereira Bastos, o instrumental de
pesquisa a ser aplicado em cada cooperativa que faz parte do Pólo com intuito de verificarmos
os aspectos qualiquantitativos referente à coleta e o tratamento dos materiais recicláveis para
cruzar com os ganhos efetivos que permitem o sustento familiar de cada um, bem como a
sustentabilidade do trabalho socioambiental promovido pelos catadores, conforme preceitua a
Lei 12.305/2010.
Como técnica de pesquisa, nos valemos da observação participante, pois tem nos
permitido realizar uma efetiva interação com os sujeitos envolvidos diretamente no projeto de
pesquisa, em especial os catadores integrantes das cooperativas no Pólo de Reciclagem, pois
participamos diretamente de reuniões com eles e efetivos e/ou prováveis parceiros tanto do
poder público como das organizações do terceiro setor.
E pretendemos, a partir do mês de setembro, iniciar a aplicação de questionário do tipo
semiestruturado, pois consideramos que através da fala dos sujeitos seja possível
identificarmos quais impactos socioeconômicos foram produzidos na vida dessas pessoas com
o encerramento do lixão e se efetivamente eles se constituem como parceiros das ações
preceituadas pela PNRS.
Também temos acompanhado presencialmente as ações realizadas pelos catadores em
busca de soluções para as mais urgentes necessidades, tanto as suas como de seus familiares, e
neste sentido, participamos de reunião realizada no Fórum Comunitário de Jardim Gramacho
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em 21 de Março de 2016, com o objetivo de discutir a futura implantação do projeto
denominado “Meninas Mães”, cuja finalidade seria atender filhas de catadores que tiveram
gravidez na adolescência, fator que no território de Jardim Gramacho tem grande incidência.
Buscando com isso capacitá-las para inclusão futura no mercado de trabalho de forma mais
qualificada. A reunião ocorreu no espaço do Fórum Comunitário, pois o objetivo era envolver
todas as representatividades dos grupos de trabalho atuantes no Pólo e contou com a presença
das seguintes lideranças comunitárias, além da ONG desenvolvedora do projeto, a saber:
Isabel Monteiro – Assistente Social – coordenadora do projeto e representante do
Instituto Brasileiro de Inovação da Saúde Social - IBISS
Valéria Pereira Bastos – Assistente Social - Professora do Departamento de Serviço
Social da PUC- Rio e Assessoramento Técnico dos Catadores no Pólo de Reciclagem
Zaira Mattos – Aluna PIBIC orientanda da Professora Valéria Bastos – PUC RJ
Gabriela Gabriel Valério – Assistente Social - CRAS Jardim Gramacho
Fátima Andréa – Agente de Saúde Comunitária - Programa de Saúde da Família
Eliane da Silva – Professora - Escola de Reforço Escolar de Jardim Gramacho
Pascoal - AREX
Maria Rosinete dos Santos – Cooperativa de Catadores de Materiais Recicláveis de
Jardim Gramacho - COOPERJARDIM
Foto 2: Sala de Reuniões do Fórum Comunitário de Jardim Gramacho - Março de 2016
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Fonte: Zaira Mattos (arquivos pessoais)
Outro evento externo do qual participamos e consideramos significativo mencionar foi a
reunião realizada no dia 19 de Julho de 2016 com o Secretário de Meio-Ambiente de Duque
de Caxias, o Senhor Luis Renato, seus assessores e as lideranças dos catadores para discutir
tópicos pertinentes e relevantes para o funcionamento do Pólo, a saber:
Coleta pela Prefeitura de rejeitos não recicláveis inativos no terreno do Pólo.
Emissão de alvará com possível isenção de taxa para o funcionamento legal das
cooperativas.
Criação de projetos sociais e captação de parceiros que, em consórcio com o Pólo,
produzam renda para os catadores.
Estavam presentes na reunião, além do Secretário e sua equipe:
Glória Cristina dos Santos – Presidente da Mais Verde Cooperativa
Ana Paula Serafim da Silva – Presidente da COOPER NOVA ERA
João Luiz de Almeida – Vice- Presidente da COOPERCAMJ
Sebastião dos Santos – Presidente da Associação de Catadores de Jardim Gramacho
Luciana dos Santos – Vice-Presidente da COOPERCAXIAS
Elzi – Auxiliar da Sra. Andréa, Contadora do Pólo
Luciana Lopes – Instituto de Projetos e Pesquisas Socioambientais – IPESA
Zaira Mattos - Aluna PIBIC orientanda da Professora Valéria Bastos – PUC RJ
Foto 3: Reunião na Secretaria Municipal de Meio Ambiente em Julho de 2016
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Fonte: Zaira Mattos (arquivos pessoais)
Foto 4: Reunião na Secretaria Municipal de Meio Ambiente em Julho de 2016
Fonte: Zaira Mattos (arquivos pessoais)
Temos observado que a ausência de interação entre a Prefeitura e o Pólo decorrente de
divergências políticas, e também a falta de parceiros que destinem as cooperativas o seu lixo
reciclável para que os catadores possam, com isso, gerar renda, vem causando um estado
crescente de evasão por parte dos trabalhadores e de conseqüente abandono nas instalações do
Pólo. A atual renda média dos trabalhadores ativos no Pólo gira em torno de R$283,00
mensais, valor esse que não atende às necessidades mínimas para a subsistência dos catadores
e suas famílias e nem sempre é complementada por benefíciosda Política Pública de
Assistênncia Social ou de outros projetos de apoio.
Após a citada reunião com os funcionários da Prefeitura de Duque de Caxias na qual
alguns acordos positivos para o Pólo foram fechados, os catadores esperam a estabilização
desse quadro socioeconômico negativo que se abate sobre as cooperativas já há alguns meses.
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A título de ilustrar o nosso posicionamento a partir da observação, seguem algumas
imagens recentes do Pólo nas quais ficam evidentes a precariedade na infraestrutura local, a
ausência de atividade efetiva e a sensação de abandono.
Foto 5: Instalações do Pólo de Reciclagem em Abril de 2016
Fonte: Zaira Mattos (arquivos pessoais)
Foto 6: Instalações do Pólo de Reciclagem em Abril de 2016
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Fonte: Zaira Mattos (arquivos pessoais)
Foto 7: Instalações do Pólo de Reciclagem em Abril de 2016
Fonte: Zaira Mattos (arquivos pessoais)
Foto 8: Instalações do Pólo de Reciclagem em Abril de 2016
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Fonte: Zaira Mattos (arquivos pessoais)
Metodologia
Em nossa abordagem metodológica, optamos por trabalhar com a pesquisa de base
qualiquantitativa por acreditar que esta possibilitará a compreensão a respeito dos sujeitos
sociais, seu agir, suas percepções, além de nos permitir cruzar alguns dados a resepito de
recebimento, comercialização e ganhos, porque o que se pretende entender quais foram os
impactos socioecômicos com o encerramento do lixão, mas para então saber como na
atualidade estes segmentos estão construindo o processo de fortalecimento da categoria, para
garantir o real enfrentamento da questão que é de cumprir o que preceitua a legislação no
sentido dos catadores e catadoras se transformarem em agentes efetivos da gestão integrada de
resíduos e também de garantir sobrevivência.
Todas as pessoas que participam da pesquisa são reconhecidas como sujeitos que
elaboram conhecimentos e produzem práticas adequadas para intervir nos problemas que
identificam. Pressupõe-se, pois, que elas têm um conhecimento prático, de senso comum e
representações relativamente elaboradas que formam uma concepção de vida e orientam as
suas ações individuais. Isto não significa que a vivência diária, a experiência cotidiana e os
conhecimentos práticos reflitam um conhecimento crítico que relacione esses saberes
particulares com a totalidade, as experiências individuais com o contexto geral da sociedade.
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No contexto das abordagens diretas com os sujeitos envolvidos no estudo pretendemos
utilizar rodas de conversas, e ainda a utilização da coleta e análise de dados através de
aplicação de questionário semiestruturado, na garantia de obtermos o maior número de
informações contidas na fala de cada um. Em relação à escuta de representantes do poder
público, consideramos importante, tendo em vista precisarmos identificar qual é o atual
envolvimento dos catadores na gestão integrada, no sentido de verificar se sua atuação se
constitui mais como limite ou possibilidades e para tanto, intencionamos realizar uma ou duas
entrevistas com a Secretaria Municipal de Meio Ambiente de D. de Caxias.
Para tanto, estamos nos baseando em Minayo (2003) que sinaliza:
…o trabalho de campo permite a aproximação do pesquisador da realidade sobre a qual
formulou uma pergunta, mas também estabelecer uma interação com os atores que conformam
a realidade e, assim, constrói um conhecimento empírico importantíssimo para quem faz
pesquisa social..(MINAYO, 2003, p. 15).
Vivenciamos no campo exatamente o que nos diz o texto de Minayo (2003), visto que
percebemos a importância da interação com os sujeitos da pesquisa, a estreita convivência
com sua realidade cotidiana e a participação direta em sua busca de soluções para as
demandas mais urgentes nos propicia um entendimento maior sobre a situação vivida por
essas pessoas das quais procuramos compreender a atual posição socioeconômica dentro do
contexto relativo à sua atuação profissional como co-participantes reconhecidos no processo
de gestão integrada à Lei de Resíduos Sólidos.
Ainda de acordo com MINAYO (2003):
... embora hajam muitas formas e técnicas de realizar o trabalho de campo, dois são os
instrumentos principais desse tipo de trabalho: a observação e a entrevista. Por isso que na
pesquisa qualitativa, a interação entre o pesquisador e os sujeitos pesquisados é essencial...
(MINAYO, 2003, p. 19).
Lançar mão da observação participante é essencial para o pesquisador que almeje um
resultado mais abrangente e positivo no que se refere à coleta de dados realmente
substanciais, pois estarmos profundamente inseridos no grupo pesquisado é o diferencial que
nos garante o nível dos resultados ao final do projeto.
Enfim, temos procurado seguir os passos metodológicos proposto por Minayo (2003),
que nos orienta enfocando que:
O bom pesquisador é o que indaga muito, lêe com profndidade para entender o pensaento dos
autores, é crítico frente ao que lê e que elabora sua proposta de pesquisa informado pelas
teorias, mas de forma pessoal e criativa (MINAYO, 2003, p. 19).
Considerações Finais
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Sabemos ser a questão ambiental um assunto recorrente nas últimas décadas e que a
necessidade da preservação dos ecossistemas se tornou uma demanda crescente das
sociedades modernas ao redor do Globo terrestre. Mas também se faz urgente observar as
demandas sociais atreladas às questões ambientais: moradia, trabalho e renda, saúde,
catástrofes naturais, para citar algumas. Nossa participação neste projeto voltado para
compreender as questões socioambientais existentes na realidade dos catadores do extinto
lixão de Jardim Gramacho tem nos permitido ampliar o conhecimento sobre as questões de
meio ambiente, tão urgentes nos tempos atuais, assim como nos desperdado para a realidade
de inúmeros trabalhaadores informais que tiram daquilo que é desprezado por muitos seu
sustento.
Nos grandes centros o consumismo entra em conflito com a sustentabilidade a partir
do momento em que se produz muito lixo. Esse excesso produzido em demasia e sem
necessidade, causa sérios impactos ambientais, sobretudo se descartado em locais
inapropriados. Em contrapartida, descobriu-se nesse nicho social durante tanto tempo
relegado ao descaso, uma enorme fonte de trabalho e renda para trabalhadores que viviam à
margem do mercado de trabalho, irremediavelmente e permanentemente atingidos pelo
desemprego, aos quais ficaram destinadas as funções informais, secundárias e marginalizadas
não desempenhadas pelo contingente especializado que se encontra inserido no mercado
profissional formal.
E é a atual realidade dessa população esquecida ou atendido precariamente pelas
políticas públicas que pretendemos conhecer e documentar ao final de nossa pesquisa social
com o objetivo de entender os mecanismos que tem movimentado as engrenagens da coleta
seletiva e da reciclagem consciente. E se essa máquina tem sido acionada de forma a atender
as questões relativas a garantia de trabalho e renda para os trabalhadores atuantes no mercado
de reciclagem. Em especial para os que atuam no Pólo de Reciclagem de Jardim Gramacho.
Ressaltamos também ser de primordial importância para a nossa futura formação
profissional enquanto alunos graduandos do Curso de Serviço Social, essa atuação “in loco”, a
interatividade com os sujeitos e a vivência da pesquisa no campo. Tais experiências ampliam
a nossa visão das vastas possibilidades de atuação do profissional de Serviço Social no
mercado de trabalho. E essas experiências somadas à prática do campo de estágio são
decisivas na escolha do ramo de atuação e na construção do nosso perfil como futuros
membros ativos da categoria de Serviço Social.
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É também importante frisar que como alunos de Iniciação Científica temos a
oportunidade de agregar e ampliar conhecimento teórico a partir da leitura de diversos artigos
acadêmicos, além de nos ser oportunizado a participação em encontros em grupo com
professores e outros alunos envolvidos nos diversos projetos do Departamento propiciando a
troca de experiências e de conhecimentos que, apesar de serem referentes a outras pesquisas,
não deixam de ser pertinentes e contribuir para nossa reflexão, assim como os encontros com
a orientadora são excelentes oportunidades de esclarecimento e de aprendizado relativos às
questões teórico-práticas que nos capacitam enquanto pesquisadores.
A elaboração do relatório baseado em todas essas experiências ainda nos confere, além
de tudo citado, segurança na prática de construção de textos utilizando a linguagem técnica
pertinente à nossa profissão, embasados em conhecimentos teórico-metodológicos do Serviço
Social e utilizando corretamente as normas técnicas de redação. Todo esse conteúdo
apreendido foi e está sendo, sem dúvidas, de suma importância para a ampliação de nosso
conhecimento e formação enquanto futuros profissionais. Afirmamos sem titubear ser um
grande privilégio poder participar desse grupo de pesquisas através do PIBIC. É uma
oportunidade que além de conferir mais excelência à formação do graduando, desperta nele o
interesse por uma futura carreira científica que se estenderá além do curso de graduação, visto
que fomenta nas almas questionadoras o desejo de conhecer, compreender, intervir e, quiçá,
transformar questões sociais de forma positiva para a comunidade onde se está inserido.
Concomitantemente às atividades desenvolvidas no Pólo junto aos catadores e à futura
aplicação do questionário que colherá subsídios que nos fornecerão a real situação
socioeconômica dos trabalhadores, também estamos organizando e catalogando todos os
documentos existentes nos arquivos do Serviço Social do Pólo, resultado de cerca de 20 anos
de atividades desenvolvidas pela Professora Valéria Pereira Bastos como Assessora Técnica /
Social dos Catadores no Pólo de Reciclagem. O acervo é precioso e composto por inúmeros
Diários de Campo, Relatórios Sociais, Fichas de Recadastramento dos Trabalhadores,
Questionários de Pesquisa e outros documentos com inestimável valor social e histórico já
que descrevem em detalhes o perfil socioeconômico dos catadores, todo o cotidiano das
atividades do antigo Lixão e o desenrolar do processo de sua transformação em Pólo de
Reciclagem.
Objetivando possibilitar o real entendimento de todas as questões aqui levantadas, que
se constituem como objeto de investigação da pesquisa, esperamos que o resultado final desse
estudo seja positivo para todos os envolvidos e que se apresente em forma de conhecimento
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técnico / científico para os alunos inseridos no PIBIC e em forma de garantia de direitos para
os catadores que atuavam no extinto Lixão de Jardim Gramacho, e, atualmente, estão no Polo
de Reciclagem, assim como, se não for pretensioso de nossa parte, que possa nortear as ações
de tantos outros catadores atuantes no território nacional na busca de melhores condições de
trabalho, novas parcerias que possam viabilizar uma digna geração de renda, uma vez que são
eles os conhecedores da matéria prima do seu trabalho.
A título de ilustrar, segue mais uma foto do Polo de Reciclagem, que foi reestruturado
a partir do encerramento do lixão de Jardim Gramacho em junho de 2012, mas este pequeno
prédio da foto 9 já havia sido construído em anos anteriores para iniciar o processo de
transferência dos catadores, antes do encerramento.
Foto 9: Instalações do Pólo de Reciclagem em Abril de 2016
Fonte: Zaira Mattos (arquivos pessoais)
Referências
BASTOS, Valéria Pereira. Profissão: Catador. Um Estudo do Processo de Construção da
Identidade. Letra Capital, Rio de Janeiro, 1ª edição, 2014.
______.O fim do lixão de Gramacho: além do risco ambiental.O Social em Questão, v. 15,
Rio de Janeiro, jan 2006.
15
______.O lixão de Gramacho e os catadores de materiais recicláveis: território extraordinário
do lixo.
RIBEIRO, Ricardo Laino. DO CARMO, Maria Scarlet. O impacto do encerramento do aterro
metropolitano de Jardim Gramacho para os comerciantes do setor informal de alimentos da
região. Belo Horizonte. Gestão e Sociedade, v. 7, n. 17, p. 220-248, mai – ago 2013.
BORTOLI, Aparecida Mari. Processos de Organização de Catadores de Materiais
Recicláveis: Lutas e Conformações. Ucsal – Programa de Pós-Graduação em Políticas
Sociais e Cidadania. Salvador. v. 16, n. 2, p. 248-257, jul - dez 2013.
Texto da Política Nacional de Resíduos Sólidos - PNRS. Lei nº 12.305/2010.
PORTO, Marcelo Firpo de Souza et al. Lixo, trabalho e saúde: um estudo de caso com
catadores em um aterro metropolitano no Rio de janeiro, Brasil. Caderno de Saúde Pública,
Rio de Janeiro, 20(6):1503-1514, nov-dez 2004.
MINAYO, Maria Cecília de Souza et al. Pesquisa Social: Teoria, Método e Criatividade.
22.ed. Petrópolis: Vozes, 2003.
DE CARVALHO, Wildson Barcellos. O lixo como fonte de riqueza e pobreza do aterro
sanitário de Jardim Gramacho – Duque de Caxias. Trabalho de Pós-Graduação em
Educação Ambiental. Universidade Candido Mendes. Rio de Janeiro. 2012.
CORRÊA, Deborah Cristina. O debate ambiental no Serviço Social: construindo novos
caminhos ou reatualizando velhos paradigmas? Tese de Mestrado em Serviço Social.
Universidade Federal de Juiz de Fora. Juiz de Fora. 2010.
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