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Modernismo - Portugal
Contexto Histórico
1915 – Início: publicação da Revista Orpheu.
Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro e Almada
Negreiros.
Reações: escândalo e troça dos críticos.
Desejo de “escandalizar” o burguês;
Desajuste social e cultural;
Cosmopolitismo;
Incorporação das propostas das vanguardas;
Idolatria do poético, do não-prático, do não-burguês.
1910 - Proclamação da República
1914 - Primeira Guerra Mundial
1917 - Revolução Russa
Afirmação dos EUA no cenário internacional
Disputa pelas colônias africanas
Profundo nacionalismo em Portugal
1933 – 1974 – (Salazarismo)
Antônio de Oliveira Salazar
Estado Novo é o nome do regime político autoritário, autocrata e corporativista de Estado que vigorou em
Portugal durante 41 anos sem interrupção, desde a aprovação da Constituição de 1933 até sua derrubada
pela Revolução de 25 de Abril de 1974.
Contexto Histórico
Modernismo - Portugal
Portugal: atraso econômico
Ruralização
Influência da Igreja
Lisboa: centro cultural
Desejo de renovação cultural
Saudosismo – lembrança das antigas glórias
marítimas e lamentação pelo desconcerto
que dominou o país após o desaparecimento
de D. Sebastião.
1915 – Revista OrpheuNão tinham um programa estético definido.
Anunciavam o desejo de construir uma poesia inusitada, muitas
vezes agressiva e irreverente, capaz de desestabilizar a
estagnada cultura portuguesa.
1927 – Revista PresençaLiteratura desprendida das questões sociais, mais introspectiva,
sincera e original.
Orpheu e Presença: duas revistas, duas
gerações
As três gerações do Modernismo português
Primeira geração: Orpheu (1915 – 1927)
Principais escritores: Fernando Pessoa, Almada Negreiros e Mário de Sá-
Carneiro
Principal característica do grupo: comportamento iconoclasta.
Segunda geração: Presença (1927 – 1940)
Principais escritores: Branquinho da Fonseca, José Régio e João Gaspar
Simões.
Principal característica do grupo: elitismo, “arte-pela-arte”.
Terceira geração: Neo-realismo (1939 a seguir)
Principais escritores: Ferreira de Castro, Carlos de Oliveira, Fernando
Namora, Alves Redol, José Cardoso Pires e Virgílio Ferreira.
Principal característica do grupo: literatura engajada.
Orfismo
Domínio da Metafísica e do Mistério.
Impregnados de uma religiosidade esotérica, do gosto pelas ciências ocultas,de um sebastianismo místico, os escritores da Geração Orpheu tornaram-seherméticos (fechado/ não compreensível), pouco acessíveis. A obra deFernando Pessoa, uma das mais significativas já escritas em língua portuguesa,só foi publicada dez anos após a sua morte, que se deu em 1935.
Desejo de “escandalizar” o burguês.
Desajuste social e cultural.
Cosmopolitismo.
Elitismo.
Incorporação das propostas das vanguardas.
Idolatria do poético, do não-prático, do não-burguês.
Ortônimo = nome civil completo e correto
Pseudônimo = nome falso
=
Heterônimo = outro nome, outra
personalidade, outra individualidade
O mistério dos heterônimos
“Por qualquer motivo
temperamental que me não
proponho a analisar, nem importa
que analise, construí dentro de mim
várias personagens distintas entre si
e de mim, personagens essas que
não são como eu, nos meus
sentimentos e ideias...”
Lisboa 16 de abril de 1889
Órfão de pai e mãe
Criado pela tia no campo
Instrução primária
Falecimento 1915 Tuberculose
Alberto Caeiro
Nasceu em Lisboa, em 16 de abril de 1889, e
morreu em 1915, tuberculoso.
Teve apenas instrução primária.
Expõe o seu propósito de não pensar: abolir o
pensar para limitar-se a ver e ouvir;
Para ele as coisas são como são: anti-subjetivismo.
Valorização de uma concepção ingênua e realista
da coisas:
"Caeiro 'pensa' com os sentidos"
Contato direto com a natureza
Mundo do real-sensível ( real-objetivo)
Incessante e incansável descoberta de uma
natureza em que tudo flui, tudo está em
constante transformação
CARACTERÍSTICAS DE CAEIRO
“Sou um guardador de rebanhos.
O rebanho é os meus pensamentos
E os meus pensamentos são todos sensações.
Penso com os olhos e com os ouvidos
E com as mãos e os pés
E com o nariz e a boca.
Pensar uma flor é vê-la e cheirá-la
E comer um fruto é saber-lhe o sentido.
Por isso quando num dia de calor
Me sinto triste de gozá-lo tanto.
E me deito ao comprido na erva,
E fecho os olhos quentes,
Sinto todo o meu corpo deitado na realidade,
Sei a verdade e sou feliz.”
Ricardo Reis
Poeta Neoclássico
Temas = passagem do tempo, a
irreversibilidade do Fado (= Destino), a
necessidade de desfrutar o momento
presente.
Preocupação formal: versos com métrica,
vocabulário culto.
Referências mitológicas
Ricardo Reis
Nasceu na cidade do Porto em 19 de
setembro de 1887.
Formou-se em Medicina;
Monarquista;
Estudioso da cultura clássica.
Poeta do carpe diem - gozar o momento - já
que a vida é breve.
"Ricardo 'pensa' com a razão".
“ Mas tal como é, gozemos o momento,
Solenes na alegria levemente,
E aguardando a morte
Como quem a conhece.”
“Não matou outros deuses
O triste deus cristão.
Cristo é um deus a mais,
Talvez um que faltava.”
“Buscando o mínimo de dor ou gozo,
Bebendo a goles os instantes frescos,
Translúcidos como água
Em taças detalhadas,
Da vida pálida levando apenas
As rosas breves, os sorrisos vagos,
E as rápidas carícias
Dos instantes volúveis.”
Poeta futurista
Poesia intimista
Angústia e melancolia
Sensacionismo (sensações)
A sua primeira composição data de 1914 e ainda
em 12 de outubro de 1935 assinava poesias, ou
seja, pouco antes da morte de Fernando Pessoa.
Álvaro de Campos
Álvaro de Campos
Nasceu em Tavira, em 15 de outubro de 1890.
Engenheiro naval, formado na Escócia.
Poeta irritadiço, agressivo: simboliza a volúpia de
libertação total num mundo impregnado de ideias-
feitas.
Niilismo tenso e ofensivo.
Irreverente perante tudo e todos: as ciências, as
técnicas, Deus, o casamento, etc.
"Campos 'pensa' com a emoção".
Álvaro de Campos
Modernista;
Futurista;
Temática = as sensações do homem no mundo moderno
Prosa poética, com versos assimétricos (livres), excesso de sinais de pontuação, ritmos explosivos e linguagem coloquial.
Expressa a crise de todos os valores da vida urbana e industrial;
Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,Indesculpavelmente sujo.Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,Que tenho sofrido enxovalhos e calado,Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachadoPara fora da possibilidade do soco;Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.
Poema em linha reta
Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...
Quem me dera ouvir de alguém a voz humanaQue confessasse não um pecado, mas uma infâmia;Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?Ó príncipes, meus irmãos,
Arre, estou farto de semideuses!Onde é que há gente no mundo?
Poema em linha reta
Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?
Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.
Poema em linha reta
Não sei sentir, não sei ser humano,
Não sei conviver de dentro da alma triste, com os homens,
Meus irmãos na terra.
Não sei ser útil, mesmo sentindo ser prático, cotidiano, nítido.
Vi todas as coisas e maravilhei-me de tudo,
Mas tudo ou sobrou ou foi pouco, não sei qual, e eu sofri.
Eu vivi todas as emoções, todos os pensamentos, todos os gestos.
E fiquei tão triste como se tivesse querido vivê-los e não conseguisse.
Passagem das horas
Amei e odiei como toda a gente.
Mas para toda gente isso foi normal e instintivo.
Para mim sempre foi a exceção, o choque, a válvula, o espasmo.
Não sei se a vida é pouco ou demais para mim.
Não sei se sinto demais ou de menos,
Seja como for a vida, de tão interessante que é a todos os momentos,
A vida chega a doer, a enjoar, a cortar, a roçar, a ranger,
A dar vontade de dar pulos, de ficar no chão,
De sair para fora de todas as casas,
De todas as lógicas, de todas as sacadas
E ir ser selvagem entre árvores e esquecimentos.”
Fernando Pessoa
Nasceu em Lisboa, em 13 de junho de 1888.
Perdeu o pai aos 5 anos.
1894: Fernando Pessoa criou o seu primeiro «heterônimo», o Chevalier de Pas,
francês.
1896: família muda para Durban, África do Sul.
Lá, cursa o secundário, revelando seu pendor para a literatura.( ganha prêmios em inglês).
1905: retorna a Portugal, cursa Letras em Lisboa, mas não conclui o curso.
Trabalha como tradutor e vende mapas astrais.
1920: Conhece Ofélia Queiroz.
1927: Passa a colaborar com a revista Presença.
1929: Volta a relacionar-se com Ofélia.
1931: Rompe novamente com Ofélia.
1934: Publica Mensagem.
1935: Em 29 de Novembro, é internado com o diagnóstico de cirrose hepática.
Morre no dia 30 do mesmo mês, aos 47 anos
Sua última frase foi escrita na cama do hospital,
em inglês, com a data de 29 de novembro de 1935:
"I know not what tomorrow will bring"
("Não sei o que o amanhã trará").
Fernando Pessoa – ortônimo
ortônimo = ( ele mesmo)
Poesia Saudosista-Nacionalista;
Mensagem – 1934 ; único livro publicado
Saudosismo
Portugal potência de outrora
Nacionalismo
Místico
Antipopular: contrário ao materialismo
Sebastianismo
Modernismo - Portugal
Fernando Pessoa: ortônimo ( ele mesmo)
Mensagem:Mar Português
Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.
Modernismo - Portugal
Fernando Pessoa: ortônimo ( ele mesmo)
Mensagem:D. Sebastião
Rei de Portugal
Louco, sim, louco porque quis grandeza
Qual a Sorte a não dá.
Não coube em mim minha certeza;
Por isso onde o areal está
Ficou meu ser que houve, não o que há.
Minha loucura, outros que me a tomem
Com o que nela ia.
Sem a loucura que é o homem
Mais que a besta sadia,
Cadáver adiado que procria?
Modernismo - Portugal
Fernando Pessoa: ortônimo ( ele mesmo)
Poesia lírica
Sentimentalismo (tristeza, melancolia, nostalgia, etc.)
Musicalidade: ritmo, rimas.
Redondilhas.
Reflexões sobre a própria arte poética
(Metalinguagem).
Busca do EU
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
Lírica
Reflexão sobre a arte poética e o
papel desempenhado pelo artista
“Porque é do portuguez, pae de amplos mares,
Querer, poder só isto:
O inteiro mar, ou a orla vã desfeita –
O todo, ou o seu nada.”
Saudosista-nacionalista
Volta ao passado, resgatando a memória de Portugal
LIBERDADE
Ai que prazernão cumprir um dever.Ter um livro para lere não o fazer!Ler é maçada,estudar é nada.O sol doira sem literatura.O rio corre bem ou mal,sem edição original.E a brisa, essa, de tão naturalmente matinalcomo tem tempo, não tem pressa...
Livros são papéis pintados com tinta.Estudar é uma coisa em que está indistintaA distinção entre nada e coisa nenhuma.
Quanto melhor é quando há brumaEsperar por D. Sebastião,Quer venha ou não!
1935
Grande é a poesia, a bondade e as danças...Mas o melhor do mundo são as crianças,Flores, música, o luar, e o sol que pecaSó quando, em vez de criar, seca.
E mais do que istoÉ Jesus Cristo,Que não sabia nada de finanças,Nem consta que tivesse biblioteca...
Quando o carteiro chegou
E o meu nome gritou
Com uma carta na mão
Ante surpresa tão rude
Nem sei como pude
Chegar ao portão
Lendo o envelope bonito
O seu subscrito
Eu reconheci
A mesma caligrafia
Que me disse um dia:
-- Estou farto de ti
Mensagem
Porém não tive coragem de abrir a mensagem
Porque na incerteza
Eu meditava, dizia:
- Será de alegria?
- Será de tristeza?
Quanta verdade tristonha
Ou mentira risonha
Uma carta nos traz
E assim,pensando,
Rasguei sua carta e queimei
Para não sofrer mais...
Mensagem
“Todas as cartas de amor são
Ridículas
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas
Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.
As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.
Quem me dera o tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.
Afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor,
É que são
Ridículas.”
21/10/1935
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