pessoal.educacional.com.brpessoal.educacional.com.br/up/4660001/1072003/o li… · web viewsó lhe...

Post on 22-Aug-2020

1 Views

Category:

Documents

0 Downloads

Preview:

Click to see full reader

TRANSCRIPT

O LIVRO VIDAS SECAS DE GRACILIANO RAMOS

Publicado em 1938, denuncia problemas sociais brasileiros a partir de uma família de retirantes que fogem da seca, migrando de tempos em tempos. A animalização e a incomunicabilidade dos personagens dramatizam a questão da fome e da miséria com que sofrem os retirantes oprimidos pela seca, pelos latifundiários (representados pelo patrão de Fabiano) e pelas autoridades exploradoras (representadas pelo soldado amarelo). A animalização fica evidente em diversas passagens de Vidas secas, como, por exemplo, no capítulo “Fabiano” em que o personagem-título afirma para si mesmo: “Você é um bicho, Fabiano”.

2.1 RESUMO DO LIVRO O primeiro capítulo, “Mudança”, mostra o ambiente nordestino de seca, apresenta os

personagens que estão migrando e mostra a chegada à fazenda em que se instalam. O segundo capítulo, “Fabiano”, acompanha as divagações de Fabiano, suas

preocupações e sua autodegradação. O terceiro capítulo também se passa sobre a perspectiva de Fabiano. Ele vai à cidade

comprar querosene, fica bêbado e acaba arranjando confusão com o soldado amarelo, é agredido e preso.

O capítulo “Sinhá Vitória” acompanha esta personagem e mostra a vontade dela de ter uma cama de couro.

O quinto capítulo, “O menino mais novo”, gira em torno deste, de sua admiração pelo pai e de sua tentativa de se destacar montando numa égua.

“O menino mais velho” é um capítulo sobre este e suas investigações a respeito do significado da palavra inferno.

No sétimo capítulo, “Inverno”, a incomunicabilidade dos personagens fica evidente, já que eles estão reunidos em volta do fogo, mas não se comunicam entre si, suas falas apenas se misturam.

O oitavo capítulo, “Festa”, mostra a ida da família à cidade e o modo como eles ficam excluídos em meio à sociedade urbana.

“Baleia” é um capítulo que mostra que a cachorra chamada Baleia está doente. Para tristeza dos meninos, Fabiano resolve matá-la.

O décimo capítulo, “Contas”, mostra Fabiano sendo explorado pelo patrão na hora do pagamento.

No capítulo “O soldado amarelo”, Fabiano encontra o homem que o agrediu (vide capítulo 3), pensa em vingar-se, mas acaba se curvando.

O capítulo “O mundo coberto de penas” mostra Fabiano, na esperança de combater a seca, atirando em pássaros que bebem a água de onde ele mora.

O ultimo capítulo, “Fuga”, acompanha a saída da família da fazenda, novamente fugindo da seca.

Fabiano, Sinhá Vitória, o menino mais novo e o menino mais velho são personagens alegóricos, pode-se vê-los como representantes dos brasileiros excluídos socialmente pela pobreza. Representam também todos os retirantes nordestinos da época de Graciliano Ramos e das décadas seguintes. Eles inclusive continuam ainda personificações de uma parcela considerável de brasileiros, já que ainda há seca, pobreza e excluídos. Eles se veem como bichos por terem sido maltratados durante a vida toda.

Essa condição de quase bichos, maltratados pela vida, pobres, muitas vezes famintos e sem instrução fá-los não conseguir se comunicar com as outras pessoas. A família de retirantes sente uma penosa insegurança com o gênero da comunicação da “gente da cidade”. Uma

passagem do capítulo “Fabiano” mostra a postura dele com relação às pessoas da cidade: “Na verdade falava pouco. Admirava as palavras compridas e difíceis da gente da cidade, tentava reproduzir algumas, em vão, mas sabia que elas eram inúteis e talvez perigosas” (RAMOS, 1989, p.20).

Uma passagem do livro de quando Fabiano está na cadeia mostra que ele mesmo vê a falta de instrução como um dos motivos de sua exclusão social e seu sofrimento: “Nunca vira uma escola. Por isso não conseguia defender-se, botar as coisas nos seus lugares.” (RAMOS, 1989, p.36).

Excluídos da sociedade a família de retirantes vive em um “mundo fechado” entre si. Mas mesmo no ambiente familiar não há espaço para afeto, a vida é dura, eles são duros uns com os outros. Eles não se comunicam além do básico, são quietos, com seus próprios pensamentos.

A família vai à cidade no oitavo capítulo, “Festa”, eles não interagem com as pessoas da cidade, fica claro que pertencem a mundos diferentes. Os meninos estranham a situação.

Os dois meninos espiavam os lampiões e adivinhavam casos extraordinários. Não sentiam curiosidade, sentiam medo, e por isso pisavam devagar receando chamar a atenção das pessoas. Supunham que existiam mundos diferentes da fazenda, mundos maravilhosos na serra azulada. Aquilo, porém, era esquisito. Como podia haver tantas casas e tanta gente? Com certeza os homens iriam brigar. Será que o povo ali era brabo e não consentia que eles andassem entre as barracas? Estavam acostumados a agüentar cascudos e puxões de orelhas. Talvez as criaturas desconhecidas não se comportassem como Sinhá Vitória, mas os pequenos retraíram-se, encostavam-se às paredes, meio encandeados, os ouvidos cheios de rumores estranhos. (RAMOS, 1989, p.73 e p.74)

Fabiano também não pertencia ao mundo da cidade: “Evidentemente as criaturas que se juntavam ali não o viam, mas Fabiano sentia-se rodeado de inimigos, temia envolver-se em questões e acabar mal a noite.” (RAMOS, 1989, p.75). “Comparando-se aos tipos da cidade, Fabiano reconhecia-se inferior. Por isso desconfiava que os outros mangavam dele. Fazia-se carrancudo e evitava conversas. Só lhe falavam com o fim de tirar-lhe qualquer coisa” (RAMOS, 1989, p.76).

Até mesmo a cachorra Baleia sentia desconforto naquele ambiente: “Achava é que perdiam tempo num lugar esquisito, cheio de odores desconhecidos” (RAMOS, 1989, p.83)

A incomunicabilidade do ser humano é uma questão bastante complexa que em Vidas Secas aparece ligada fortemente a problemáticas sociais, tais como a necessidade de reforma agrária e os pobres retirantes, tão característicos do nosso país. Observe-se o caráter alegórico de Fabiano e de sua família: representantes dos retirantes nordestinos, dos excluídos por causa da miséria, dos camponeses que se sentem deslocados na cidade, dos analfabetos, pobres e dos que passam fome no Brasil. http://www.rua.ufscar.br/vidas-secas-a-incomunicabilidade-no-livro-e-no-filme/]

“Vidas Secas” denuncia o descaso social e a exploração humanaObra de Graciliano Ramos retrata o drama de uma família nordestina, comum ainda hoje no Brasil

Por Leila Kiyomura

Editorias: Cultura - URL Curta: jornal.usp.br/?p=108162

Sem nome e sobrenome, eles carregam a “identidade” das famílias que ainda hoje vivem o descaso social e a exploração humana no País...Escrita em 1938, a narrativa que reflete a aridez do sertão abre uma janela para o leitor. O apuro estético do autor dá liberdade para quem quiser começar a história do final ou do meio ou pelas páginas que escolher. Cada um dos 13 capítulos tem o seu próprio enredo. A estética do romance não propõe fim nem começo. Assim, o escritor, entre os mais importantes da segunda fase modernista, desenha a vida do sertanejo em um círculo. Ou uma espiral. Como uma roda viva.Para refletir com o leitor empenhado nas leituras para o vestibular, o Jornal da USP entrevista Thiago Mio Salla, doutor em Letras e Ciências da Comunicação e professor da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP. “Para além das exigências da prova, a expectativa é de que o vestibulando se deixe fascinar pela beleza do texto de Graciliano, que, tal como um artesão meticuloso, vai esculpindo e colocando em sequência os quadros da vida de Fabiano, de Sinha Vitória, da cachorra Baleia, dos meninos”, observa Salla. “Ao mesmo tempo, faz ressoar a voz de todos esses personagens juntamente com sua própria voz de narrador, por meio de uma linguagem concisa, substantiva. Paralelamente, espero que os leitores vestibulandos se sensibilizem com a forte mensagem social que dá vida e atualidade ao livro.”

Não se trata de um romance típico sobre a seca, mas sobre vidas secas..“Mais do que a seca causada pela inclemência da natureza, o que oprimiria Fabiano e sua família seriam as relações de dominação estabelecidas pelos próprios homens”, explica Salla. “Por isso não se trata de um romance típico sobre a seca, mas sobre vidas secas. Vidas apresentadas em toda sua complexidade enquanto partes de um processo sistemático de exploração, humilhação e alienação. Em resumo, dessa mescla entre artesania da palavra e problematização de feridas tão vivas da realidade brasileira, o artista extrai sua força, que o engrandece e o coloca como um dos principais artistas de nossa literatura.”

Retirantes, 1944, de Candido Portinari/Coleção Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand..“O modo como Graciliano articula os capítulos confere unicidade ao todo. Creio que perdem

força se lidos em separado, sobretudo quando se considera o caráter a um só tempo caleidoscópico e cíclico da obra. Ou seja, a família foge da seca no início e ao final do livro.”.O título escolhido, conforme esclareceu o próprio Graciliano Ramos, destaca a “existência miserável de trabalho, de luta, sob o guante da natureza implacável e da injustiça humana”. O pesquisador ressalta: “Vidas Secas materializa muito bem aquilo que, na minha opinião, é o grande legado de Graciliano: a conjunção entre rigor formal, introspecção e problematização de diferentes temas de caráter social, tais como a miséria, a exploração, a humilhação, entre outros ingredientes que compõem um caldeirão de conflitos bem brasileiro, prestes a explodir”.

https://jornal.usp.br/cultura/vidas-secas-denuncia-o-descaso-social-e-a-exploracao-humana/

Vidas ainda secas...

RÔMULO RADICCHIANO VII, Nº 46, SETEMBRO DE 2008Há 70 anos foi publicada a primeira edição do livro Vidas Secas. Escrita por Graciliano Ramos, entre 1937 e 1938, a obra tem como tema a luta pela sobrevivência de uma família camponesa contra os flagelos da seca e a exploração e opressão do latifúndio. Vidas Secas é o último romance do "Velho Graça". Em suas páginas, ele evidencia a honra dos camponeses e a justeza de suas lutas. Resgatando a sua importância literária, vemos em suas páginas a preocupação deste autêntico escritor brasileiro com as massas exploradas e oprimidas de nosso país e a sua atualidade e valor histórico.

Latifúndio: inimigo comumAo longo do romance, são apresentados vários fatores que conspiram para a separação e degradação da família: a incomunicabilidade familiar, a incompreensão entre pais e filhos, a impotência do homem diante da realidade dura e desafiadora a sugerir destruição e morte, reduzindo as aspirações à possibilidade de sobrevivência.

Naquele período ainda era incipiente a organização dos camponeses em nosso país. Os povos do mundo travavam batalhas de morte contra o fascismo e a III Internacional Comunista já apontava no célebre discurso de G. Dimitrov ao seu VII Congresso a necessidade de os comunistas e revolucionários buscarem estudar e organizar a luta dos camponeses no nordeste brasileiro como grande força para a luta antifeudal e anti-imperialista. No entanto, estes apontamentos não foram profundamente estudados e compreendidos pelos revolucionários brasileiros à época.

O leitor que se debruçar sobre o texto de Graciliano Ramos, sem dúvida alguma, assemelhará o Soldado Amarelo ao atual Estado brasileiro burocrático e atrasado, além de perceber que as vidas ainda são secas, porém esperançosas.

EXEMPLO DE DISSERTAÇÃO COM PREDOMINÂNCIA CRÍTICA

top related