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DOMADOR DE SONHOS maio de 2010 número segundo edição: Manuel Almeida e Sousa e Bruno Vilão UM PROJECTO: MandrágorA

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DOMADOR DE SONHOS

m a i o d e 2 0 1 0 n ú m e r o s e g u n d o e d i ç ã o :Manuel Almeida e Sousa e Bruno Vilão

UM PROJECTO:M a n d r á g o r A

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DOM

ADOR

DE S

ONHO

S

Poéticas - fernando aguiar

Poemas com fósforos - Manuel Almeida e Sousa

3 fotos-acção - António Gomez

Arteséries - um projecto no Algarve (josé Bivar)

perco-me em mim - Gonçalo Mattos

A maçã de Éris (teatro) - M. Almeida e Sousa

design - Luísa Coder & Jojé Russell

2 poemas - Manuel d’Luísa

1 Poema - Victor Cardeira

3 poemas - Nicolau Saião

Mandrágora em Edita 2010

auto-poesis - Jorge Vicente

[email protected]

por cá os projecto

s no domador

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ONHO

S fernando aguiar

poética

LHE

lhe talho lhe tralha lhe ilha lhe filho

lhe telha lhe bilha lhe rolha lhe ralho

lhe folho lhe cilha lhe milha lhe milho

lhe tulha lhe tolho lhe trolha lhe falho

- lhe

lhe atulho lhe batalho lhe matilha lhe perfilho

lhe repolho lhe recolho lhe gorgulho lhe baralho

lhe serralho lhe retalho lhe serrilha lhe partilho

lhe vasculho lhe galhofo lhe empilho lhe chocalho

- lhe

lhe olho lhe molho lhe colho lhe quilha

lhe ilhéu lhe pulha lhe bolha lhe valho

lhe gralha lhe grelha lhe brilha lhe trilha

lhe selha lhe solha lhe folha lhe malho

- lhe

lhe esmigalho lhe bisbilhoto lhe esguedelho lhe maltrapilho

lhe guilhotino lhe alho-porro lhe ensarilho lhe rebotalho

lhe aconselho lhe calhamaço lhe gargantilha lhe trocadilho

lhe pingarelho lhe redondilha lhe empecilho lhe enxovalho

- lhe [email protected]

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poética

O EXCESSO INEXCEDÍVEL

(:o amor que, de resto, pode ser abominável)

Décio Pignatari

se o amor pode ser abominávela dor é uma sensação adorável.

se o excesso pode ser inexcedívelo pouco é com certeza algo incrível.

se o ostensivo pode ser exigívelo redutor é certamente repreensível.

se a tónica pode ser aconselhávelo inverso é quase sempre miserável. se a nudez pode ser apetecívelo universo é algo de indizível.

se a palavra é por vezes imperceptívelo que não diz será sempre indiscutível.

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poética

L’ÁGUA

Para Mariella Bettarini

L’ACQUA

ÁGUA.

LÍNGUA

D’ÁGUA.

LINGUAGEM

DE BOCA.

L’ÁGUA.

BOCA

D´ÁGUA.

ÁGUA

NA BOCA.

ÁGUA

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poética

S OU NÃO SE É

é-se ou não se é;

ou s, mas não se vê.

vê-se mas não se lê;

ou lê-se, mas não se aprende.

aprende-se mas não se sente;

ou sente-se, mas não se põe.

opõe-se, e não se dá;

ou dá-se, mas não se acha.

acha-se mas não se liga;

ou liga-se, mas não se faz.

faz-se, mas não se quer;

ou quer-se, mas não se pensa.

pensa-se mas não se age;

ou age-se sem se pensar.

gosta-se mesmo que doa;

e dói quando não se gosta.

casa-se, e não se faz caso;

ou o ocaso quando se casa.

julga-se mas não se sabe;

ou sabe-se o que se julga.

cai-se e não se levanta;

ou levanta-se onde calha.

reflecte-se, o não oculto;

ou é inculto na reflexão.

termina-se quando se atira;

ou atira-se, se se determina.

morre-se e nada fica;

ou fica-se. com a [email protected]

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UM ESPAÇO DE TEMPO NUM TEMPO SEM ESPAÇO

Para o Augusto de Campos

neste decurso de tempo que se mantém a compassoum outro espaço invento, mas que nem sempre enlaço que respira no pensamento e num suspiro repasso que sacudo no instante, em momentos que ameaço.

em toda a razão que sustento perspectivo o embaraçona separação que intento, causo o soltar do estilhaçoretomo o conceito do sopro, reponho no ar o cansaçode fazer, do não ter, e de querer ser num só traço.

no limite, o proceder, o sedimento que amordaço o fazer tudo valer, num sentido que trespassoa frustração do ter que ser no desmembramento do açoque sem senso e contra o vento se encerra no regaço.

do tanto que em vão perco, de tudo o que não façona recusa em ficar parado nem que seja um pedaço na precisão do que tenho, que é sempre tão escassoe por muito que não queira, destruo a cada passo.

desesperar o que penso que pressupõe o fracassono momento olhar o laço que me consome e desfaço resultando num percalço, a derrota que estéril abraçotornando o espaçotempo no sentimento que retraço.

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VARIAÇÕES SOBRE A PEDRA E A ÁGUA(Com Leonor - a formosa - à mistura)

I

se é tão mole assim a águase é assim tão dura a pedratanto me dá se é mágoaou raiva o que me medra.

II

quem bebe a água molee engole a pedra dura não tarda que rebolep’las ruas da amargura.

III

se áspera e dura é a pedra,escorreita e mole é a águap’los caminhos de Pontevedranão chego à Nicarágua.

IV

se a água é tanta e tão molee a pedra pouca e tão durapor muito que se esfolequem bate, não a perfura.

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V

sobre a água mole do montep’los caminhos de pedra duraLeonor leva o pote à fontevai formosa e não segura.

VI

nos trilhos de pedra durasob a chuva de água moleLeonor cheia de ternuradesespera por quem a viole.

VII chorosa Leonor anda a montena água mole, p’la pedra duratantas vezes vai à fontedar a bilha, e ninguém a fura.

VIII

no caminho de pedra durajunto à fonte de água moleLeonor com jeito o segura,chupa com força e engole.

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S arteseries

um projecto

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Aos 37º 0149.16 Norte 7º 51 54 44 W

Filocafé /café de amigos

Estávamos todos a filar poesia dita por cada um à vez, e, de vez em quando, quando a mandrágora entrou. Esse Manuel trovejante, couraçado Art(a)ur diano o Vilão Bruno deslizante e saleroso sibilando boquilhas de chapéu pelo ar, e na cama os lençóis sujos de Cesariny.

Amor frio sobre a laje do chão ardente

Gonçalo a espreitar o Sol no corpo andrógeno em esquina.

Uma multidão hilariante com os dentes cravados no riso, assobiando pelo olhar cócegas fecais.

Sombras bruxuleantes, evocando velhos ritos luxuriosos, rostos inquisidores, derramavam a noite sem orgia, prenha de pecados místicos e gastronómicos

A Baba, fez o resto: Filou o Café!

Estamos à espera do Porto (de honra), com a incomunidade!

Nas terras do belo lençol (belamandil), com ele acenamos para outra noite que seja bela de…mandil,

Os anfitriãos

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Os 3 culpadosgonçalo mattosbruno vilãomanuel almeida e sousa

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gonçalo mattos

perco-me em mim

mais uma v

ez che

gaste

a

horas

como d

e cost

ume.

quando

chegas

perco-me

em mim e a m

inha ros

a

dos ven

tos deix

a cair

todas

as sua

s pétalas

.

vou mexe

r o destino

e

encont

rar o m

eu nor

te

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dramas discordianos

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ÉrisÉris (Ἔρις) é a deusa que personifica a discórdia na mitologia grega. Corresponde à deusa romana Discórdia. Seu oposto é Harmonia, correspondente à divindade Concórdia do impé´rio romano.Hesíodo in: "Os Trabalhos e os Dias e Teogonia" aponta Éris como filha primogénita da deusa Nix (deusa da noite e das trevas) irmã de Nemesis (deusa dos “zumbis”). Éris é mãe de inúmeros outros flagelos. Éris pariu o doloroso Ponos (Pena), Lete (esquecimento), Limos (fome), Algos (Dor), as Hisminas (Disputas), as Macas (Batalhas), as Fonos (Matanças), as Androctasias (Massacres), os Neikea (ódios), os Pseudologos (Mentiras), as Anfilogias (Ambiguidades), a Disnomia (Desordem) e a Ate (a Ruína e a Insensatez) - todos eles companheiros inseparáveis. Também é tida como mãe de Horcos (Juramento), aquele que mais problemas causa aos homens...

Homero, porém, refere-se a Éris como irmã de Ares, portanto, presume-se, filha de Zeus e Hera.

A lenda mais famosa (sobre Éris) relata o seu papel como causa primeira da Guerra de Tróia... Diz a lenda que as deusas Hera, Atena e Afrodite haviam sido convidadas para o casamento de Peleu e Tétis (pais de Aquiles). Éris, porém, não é convidada devido ao seu temperamento controverso - a discórdia, naturalmente, não é bem-vinda às festas nupciais. Mesmo assim, compareceu aos festejos e lançou no meio

dos presentes o Pomo da Discórdia - uma maçã dourada com a inscrição καλλίστη (kallisti, ou "à mais bela"), tal situação fez com que as deusas disputassem, entre si, a destinatária. Páris, príncipe de Tróia, foi designado por Zeus para fazer a escolha. E, cada uma das três deusas presentes procurou suborná-lo: Hera ofereceu-lhe poder político; Atena, habilidade na batalha; e Afrodite, a mais bela mulher do mundo - Helena, esposa de Menelau de Esparta. Páris elegeu Afrodite para receber o Pomo, condenando, assim, a sua cidade à destruição.

Éris e Athena sempre nutriram grande rivalidade. Quando Athena inventou a justiça humana, Éris inventou os advogados e a contestação. Talvez... graças a isso, os processos demoram anos...Éris tem belos olhos azuis, uma pele de tom azul, um cabelo ondulado também azul, mas usa uma bela túnica vermelho escarlate... um LUXO! Ela também apareceu recentemente no Filme Simbad "o Marujo", com uma bela túnica lilás. Às vezes, a deusa gosta de tomar a aparência de uma loira fatal...mas, segundo a mitologia, diz-se ter ela um aspecto cadavérico...

nós não sabemos.

dramas

discor

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nota in

trodut

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Se religiões organizadas são o ópio do povo, então religiões desorganizadas são o haxixe da turba lunática.

—Kerry Thornley

O Discordianismo é uma religião moderna, baseada no caos. Já foi descrito como "Zen para ocidentais".

Converge com algumas das interpretações mais absurdas da escola Rinzai.

O documento fundamental do Discordianismo é "o Principia Discordia", escrito por Malaclypse the Younger (pseudônimo de Greg Hill?...). Este livro contém muitas referências a uma fonte anterior, The Honest Book of Truth (HBT, "O Livro Honesto da Verdade").

"O Principia" inclui (na página 00041) um capítulo do "Livro de Explicações", que conta como o HBT foi revelado a Lord Omar Khayyam Ravenhurst ( Kerry Thornley?...).

nota: Éris, conhecido oficialmente como 136199 Eris, é um planeta anão nos confins do sistema solar, numa região conhecida como disco disperso. É o maior planeta anão do sistema solar... quando descoberto, passou a ser conhecido como o "décimo planeta". Éris tem um período orbital de cerca de 560 anos. O seu satélite (lua) - transporta o nome de sua filha - Disnómia.

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I

os sacos de plástico riem e as navalhas espreguiçam-se no leite derramado. o espaço escurece para dar entrada a páris que avança até à boca de cena. senta-se. abre um jornal. lê.do fundo surge éris (a deusa da discórdia) que avança suavemente sobre dois bancos de cozinha. enquanto caminha dirá com a sua voz enrouquecida pelas noites perdidas com o deus da guerra:

- acorda-me com os esconjuros da noite perdida.bebe-me debaixo dos cortinados.despeja a raiva nua que transportas no teu balde.eu sou éris a deusa. uma tonelada de linho é a minha moedaporqueeu sou o décimo planeta do sistema solarenuma ogiva perfeita gira dysnómiaminha filha

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quando próximo de párisacaricia-o e oferece-lhe uma maçã (o pomo da discórdia).páris segura o fruto. a mão treme.ao fundo (à direita) ulisses. do outro lado uma marioneta. estão frente-a-frente quando ulisses dedilha o seu discurso:

- miro e remiro o vapor da migração florestaloh!...copulam os frascos dos condimentossim...o almoço é sempre um sonho de Da Vinci.aquele vulto que se ergue à minha frente é o meu corpoo meu corpo de madeiraedentro dele entrarei em tróiae vingarei a morte de aquiles!...bombeio como semprea cauda do teu vestido de baile.

ulisses aproxima-se da marioneta. com ela desenha um largo passo de dança. a cena demora. muito. e para a ilustrar deveremos ouvir vozes próximas da demência. só então ulisses pintará a cara de preto com uma trincha e dirá:

- sentemo-nos no vão da porta com os olhos postos no teu sono.ah!...esta é a raiva que despes para catapultar a subsistência?

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II

páris e éris mantêm-se em cena. éris deslisa para o fundo. páris prende o seu olhar à maçã. ri.do bolso do seu casaco tira uma pequena imagem de afrodite. oferece-lhe o fruto:

- bela és bela ésss bela ésssss bela ésssssss bela ésssssssss bela beeeeeeeeeeeela como sempre.nóse todos os troianos construiremos um novo império numa botanós e todos os...e todosnós

sai. um relógio que se faz ouvir:

tloc tloctloc tloctloc tloc

segue-se a gargalhada de éris e o toque das trombetas.na penumbra e ao fundo, podemos ver éris e ulisses.

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dirá ulisses: - que serei eu sem orelhas?

responde éris: - serás simples e honesto.formoso e duvidoso de todo o tinteiro portador dos teus sorrisos.

ulisses (depois de muito pensar) dirá:

- nenhum de nós deve seguir o outro... caminhemos juntos até ao destino encosta acima eno topo... estaremos aptos para escorregar.

assim começa o fim da guerra de tróia.

III

Sentada sobre o parapeito com os pés suspensos - por cima da multidão, éris. parece observar os sonhos do mundo. com a mutação de luz evaporar-se-à rapidamente. uma projecção de paisagens interiores, cemitérios e depósitos de telas nunca antes pintadas nem vistas. entrementes a voz da deusa faz-se sentir:

- tudo o que me descreveste, não reconheço. empresta-me os teus olhos para decorar aquela moldura descascada e muitas vezes olvidada...empresta-meempresta-me...

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é aqui que o minotauro se liberta do seu labirinto indecifrável e, entra em cena. na sua solidão reconhece por trás da máscara de um espectador um asterion. num segundo golpe de vista descobre europa. europa, inclina a face para o sol distorcido, levanta-se com as mãos em concha ao redor da boca para gritar:

- os nossos filhos!... asterion!... onde estão os nossos filhos?!

o minotauro sai de cena derretendo-se em lágrimas e, o espectador vem ao palco:

- elaestacionou

sobre o parapeitoatrás do tempo que passa

nas escadarias busca respostase justifica a revoada de aves em tumulto

só depois emergem as sete longas badaladassemicerrou os olhos para avistar as primeiras horas

as que admiram suspiros tão longos quanto os que brotamdos redemoinhos de vento que agitam silêncios e cabelos brancos

- O que sabem vocês? – grita europa- O que sabem vocês? – repete enfática.

confusasalta do parapeito para o chãoeassustada, a paisagem, perde pouco a pouco a cor.os pássaros cansados, numa sequência desconhecida, não deixam espaço livre para apoiar as mãos. chilreiam apenas.a voz de éris acompanha a sua entrada:

- o vento forte bateu à porta

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estou desorientada vou gritar:...disparem os botões da camisa!nãoas espadas as espadas são tão absurdas quanto apressadase os carros na rua permanecem esquecidos do sinal aberto meu amor!... (para o espectador)quando passo pela tua porta dormes de mansinho sonhas com uns prados frescos como se fosse já domingoah!... como te amo...

com a fatalidade de uma folha, a última a cair da árvore, éris inicia a retirada do palco e, com um ligeiro movimento do pescoço, vira a cabeça em direcção à marioneta de ulisses. mantém as distâncias - olha apenas o tempo suficiente para se certificar de que os seus olhos não a enganam. exibe aquele olhar penetrante que nos surpreendeu logo no primeiro retrato.

IV

uma voz sobrepõe-se à imagem que espelha o movimento da cidade:

- descobriremos, sem grande dificuldade, que a canela é o doce por excelência dos foragidos e piratas de congelador. a canela sempre esteve destinada aos eleitos. vulgar será haver quem não deseje os seus ossos nos sonhos dos outros.reneguemos, pois, a certeza e em troca

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apoderemo-nos dos gestos. porque chegou a hora... ea bondade sente-se já orgulhosa do seu discurso proferido atrás das tumbas... cerrai os olhos porque donde vos falo apenas valem os que viajam sós, ainda que precipitados.

escuro. entra ulisses empunhando uma colher enferrujada e uma tigela de sopa derretida. olhar fixo. seu rosto e seu comportamento inflamam-se de tal forma que provocarão medo:

- lançou-me à cara aquele seu olhar áspero...eu,por momentos,esqueci por completo como os pássaros desenvolvem seus hinos e em poucos minutos se tornam de pedra...eu respiro. ainda estou vivo. ainda posso ver. ele virá na minha direcção... enum único impulso, após um lapso de tempo, cá estarei sob a moldura da porta. cá estarei... pronto para entrar no meu corpo de madeira e engrandecido pela posição do sol, entrarei vitorioso nas muralhas de tróia.

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V

páris está sentado a ler o jornal. levanta-se. dirige-se à janela em passos miúdos - cabisbaixo. ao chegar, debruça-se sobre o parapeito para olhar os céus. o infinito. como se estivesse a desculpar-se de algo indesculpável:

- cada minuto que se perde a dormir é uma vida que se consome sem mim. sem ti.que falta me faz este quotidiano hostil?... que falta me faz aquela construção psicológica implantada nas profundidades na propaganda que transforma os outros em inimigos na compra de promessas vazias?...

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o filho de Éris

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todo este processo tem raiz em imagens pouco humanizadas... estereotipadas?... talvez.imagens do outro daquilo que nos apresenta esse outro um ser, desprezível um... todo-poderoso, diabólico um monstro abstracto que constitui a ameaça radical às nossas crenças, nossos valores...ehá tanto amortanta ternura por descobrir atrás das coisas atrás... do mundo...todavia chegou a era do massacre... é essa a tese desclassificada da minha missão aqui sinto-me no duche com roupaea minha capacidade de conectar e desconectar...há quantos anos estou eu com um saco de plástico na cabeça? ehelena?... ela é...o alvo preferido das balas...alguém salvou a minha vida entre tanto caos. alguém curou os venenos, o isolamento...

páris sai da cena depois de enrolar e acender um cigarro.

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VI

como sempre acontece, nestas coisas, éris antes de abrir qualquer porta, respira profundamente e baixa as pálpebras de forma suave. depois... estende um dos braços na direcção da porta e com uma das mãos, muito lentamente, segura a maçaneta. gira-a e só então desfere o golpe. a porta abre-se. ouve-se a rajada de vento.

- toda ascensão requer uma certa liberdade. disse

- sinto pressa e preguiça. reforçou

ansiosa, percorre o espaço. contempla, curiosa, a sua imagem no espelho oval pendurado na parede. o espelho está de frente para um outro espelho semelhante o que deverá provocar uma cadeia infinita de imagens... éris olha à sua volta e dá costas à porta. girando sobre a ponta dos pés, pergunta:

- que aconteceu?- ... que aconteceu? responde um eco.- está alguém no palácio?- ... está alguém no palácio? responde, de novo, o eco.

enão. não estava.então disse para quem a quis ouvir:

- um bando de aves saiu em revoada rompendo o silêncio com o seu murmúrioum sino tocou cinco longas badaladastão longas que não era possível lembrar as que haviam sido

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eno céuum pássaro rasgou as minhas imagenspois...a curva da segunda esquina é um recordarpedala... com o coração nos dentese no momento exactolevanta-se uma pesada colher dourada pelo medo ele...ele é um esboço traçado pelo esquecimento o seu olhar fulminou-me eestarrecida eu... ah!...jamais esquecerei aquele olhar, aquela agressão visual embrulhada num guardanapo. a boca deleprojectava-se no ar.movimentos imprecisos. vermelhos. gelados.ea colher adivinhava mecânicas movimentações em torno dum eixo inconsciente...

melhor será ficar por aqui.

cascais, fevereiro de 2009

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Luísa coder &

José Russell designEncaramos o design como

expressão social e também como disciplina criativa global, passível de gerar riqueza. D i s c i p l i n a c o m u m a componente poética que lhe serve de contra-ponto a um obrigatório pragmatismo. Os nossos produtos assumem a s s i m d u a s v e r t e n t e s aparentemente antagónicas: uma claramente racionalista que procura uma estética durável e uma linguagem formal adaptada às exigências mais imediatas do consumidor, o u t r a m a i s l ú d i c a e experimental onde nos surge por vezes a vontade de romper c o m c e r t o s c o n c e i t o s consagrados por um tipo de racionalismo monótono, onde os objectos são muitas vezes utilizados como uma farda - todos iguais, só diferenciados entre si por uma posição h ierárquica. Com esse e c l e t i s m o c o n c e p t u a l , assumimos um protesto contra um racionalismo de cariz economicista promotor de uma padronização formal de marcas descaracterizadas, sustentadas por boas estratégias de marketing das quais o «público alvo» é sempre a «vítima feliz».

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S Luísa coder &

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S manuel d’luísa

2 poemas

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Borboleta preta

vinda de repentelá do fundo do nadauma borboletapretade asa rendilhadatransparentedelicadapousou sobre o teu corponu

e turiste deslumbradae divertidaao veres-te ainda maisdespida

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S manuel d’luísa

2 poemas

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Lentamente

Aos poucos, a minha bocavai deixando, lentamente,as marcas, na tua virilha,do desejo impaciente

que despertaste em mim.E quanto mais lentamente,mais tu, para chegares ao fim,te tornas impaciente.

Paciente de impaciente,faço aos poucos, lentamente,do meu fim aquele fim

que, ao sobrevir de repente,jorra de ti, docemente,como uma parte de mim.

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S Victor cardeira

1 poema

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trago nas mãos os rostos rasgados dos tempos

histórias de ruas que desembocam na escuridão dos corpos

esmagando a ossatura divergente das eras nupciais

prenúncio da conflitualidade latente nos arquétipos sinais da lonjura

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S Victor cardeira

1 poema

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nas mãos mergulho a idade do medo comunitário

contexto manipulador na volúpia dos sentimentos virtuais

nas mãos recolho a inutilidade da passagem das horas

confundo a realidade tornada maresia

sussurrando sobejos de poemas onde repousam

murmúrios da noite edipiana, vestígio

desassossegado de eros arrancando o sexo

às criaturas ambulantes que adormecem nas perplexidades

nos paralelepípedos do sono

Eram mãos representando a primeva ereção humana

mãos semi-afundadas no ego das plantas por parir

na pendente hipocrisia da eternidade.

VítorGilCardeira(Tavira)

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S nicolau saião

3 poemas

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3 POEMAS DE “CAIXA DE CORES”

TRÍPTICO PARA MARIA HELENA VIEIRA DA SILVA

Alguns traços podem matar, é o que dizem.Alguns traços são como cadeiras sangrentas.E na verdade eles erguem, podem erguer, o tempoe transformar-se (por exemplo) em substâncias brevescomummente sagradas: um peixe metralhadouma lata de bolachas, um pequeno dedaltrês ou quatro rostos humanosuma pirâmide da cidade santa do Peruou, apenas, a imagem (real) da tradiçãopara a qual um morto (usado ou virgem) é tão belo como o destino(vamos lá) a intervalos regulares.

Mas que sabem, que sabem (eles) da floresta?Eles, os do pessegueiro feito plácido azeiteos da enfeitada confirmação acessória, os da matéria queprovê as mais cegas necessidades dear (digamos) sete vezes por semana.Terá de haver, é certo, uma razãopara tudo isto. Isto, serve dizer: um deslumbrantesom, uma casa que fica sendo o quase princípio das coisasou, por antítese, a velocidade completadum sol rude e destroçado. Mascom que alegria! a cor tem também o seu lugar:- a ilusão viva desta mão, um copo (é exacto) azulbem mais que aterrador, sendo como que a espáduaduma figura marítima ou deuma qualquer linguagem irredutível.

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S nicolau saião

3 poemas

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Tantos anos passeisem conhecer esta cerâmica inquietante. Tantos anosque incluem aliás os meus anos repletos de chapéus e segredose toda uma filosofia de amargura, às vezes uma realidade verdadeiramente (?) retratada e

os longos passeios (doridos) pelas quentes, sonolentasexistentes vilas falando (suavemente), abrigosque são para diferentes caminhos de (in) submissãoa um incerto deus.

Um desejo afinal que a cidade afastou, essa cidadeexaurida de medo.

E sei bem que não bastaque à palavra se junte outra vontadeinterrogada não pelo elementoque tudo irá ligar: outra vontadeà semelhança de muita gente (havida), de multidões talhadasnesses riscos ardentes, geografia altiva, vivos de ferocidade, vivos deinumeráveis quartos, praças, canaviais, inúmeráveis mares

onde um morto (de acaso?) se multiplica pelos séculos inatingíveis.

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BRAQUE

Olha o Georgesdiziam os colegas a andar de bicicleta

Mas isso era muitos anos depoise na infância não se sabia comoembora estivesse em relevo essa figuraentre peixe e cavalo.

Georges passava tranquilamentede uma sala para um quartode cabelos eriçados

enquanto as flores e os frutosse multiplicavamna madrugada

Mas Georges não sabia nada dissoum prato de legumes lhe bastava

Havia uma grande e silencioso alegriauma palpável tranquilidadena casa onde o Verão caírasem que ninguém se desse conta.

Mas Georges ainda nada sabiade jarras e de janelas

Limitava-se a deixar que até elechegassem silhuetas de animais

que sobre as suas mãos de criançadeixariam talvez mistérios de outrora.

Georges sabia, afinal, o necessáriopara traçar a unidade da luzângulos

e maravilhas abandonadas.

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DUSAN MATIC

Para Dusan Matic a mais ágil palavrano óleo das ruas imperatriz da auroraPara Dusan Matic o beijo sem receiosa taça ruidosa dos invernos livres

Para Dusan Matic imperador da noitetudo o que em pé esteja selvaticamentecomo a chave violando a nudez do futuro

como a chave rebentando a pobreza dos pomares.

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S mandrágora

em Edita 2010

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Da presença de MandrágorA

em EDITA 2010

fomos 44 em espanha…. em edita (o encontro internacional de editores independentes)

4 de mandrágora4 numa performance4 a viver a poética de dois surrealistas portugueses

antónio maria lisboamário cesariny de vasconcelos

fomos 4

igor almeida e sousacom o seu didgiridoo

a marcar um ritmo

bruno vilãogonçalo mattosmanuel almeida e sousa

na acção

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mandrágora

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Jorge Vicente auto-poesis

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1. sei que as mãos se mantêmno mesmo lugar subliminar,adiante das palavras e mais pertodo poema que gira sei que há uma árvoree que existem troncos que dizem daárvore [dizer é caminhar incólumeentre os versos] sei que há palavras,mas não digo delassenão para decifrarque tudo o que escreve morre cedo.

2. as coisas valem de si própriassem as palavras e mesmo se palavras existirem,serão essas palavras o poemaou as coisas ou a representaçãona caneta do que existe no humano? uma coisa é uma palavrae uma pedra toda a linguagem,mesmo que a linguagem não digada caneta nem da folha de papelem branco o poema são todas as pedrase todas as formas  e tudo oque visceral existe assim, sem metáforasno grito primordial davivência.

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Jorge Vicente auto-poesis

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3.

(para o manuel de freitas)

quando disseres pedra, diz antes poema

quando disseres rosa, diz antes poema

quando disseres homem, diz antes linguagem

quando disseres veia, diz antes sílaba

quando disseres a montanha, diz antes palavra

quando disseres dança, diz antes:

 

o verso é tudo o que de real existe

e auto recria-se sempre no sangue.

 

quando disseres livro, diz antes ilusão

quando disseres papel, diz antes morte

quando disseres ordem, diz antes a treva

quando disseres apolo, diz antes controlo.

 

quando disseres poema, diz antes vida.