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Interpretação Textual

Coesão e Coerência textuais

Prof.ª Marcela Coimbra

Coesão textual Se refere ao modo como palavras, frases, parágrafos e ideias presentes no texto estão conectados de forma a constituir um todo harmonioso e de significado completo. A continuidade estabelecida pela coesão é, fundamentalmente, uma continuidade de sentido, isto é, semântica, expressa, geralmente, em diferentes níveis e por meio de variadas relações como reiteração, associação e conexão.

Recursos coesivos de reiteração

Proporcionam a retomada de elementos do texto, favorecem o fluxo de continuidade da leitura e podem ocorrer por meio de uma repetição ou de uma substituição.

Exemplo: Veja como o jornalista se refere à rainha e à autora da obra.

Epítetos - uma palavra ou expressão que qualifica uma pessoa ou objeto.

Uma rainha de verdade

Nova biografia analisa o governo de dona Maria I

em Portugal e mostra que ela não foi só "a louca"

Dona Maria I (1734-1816) é personagem pouco estudada e muito folclorizada,

tanto em Portugal quanto no Brasil. Lá, é vista como a rainha carola e medíocre que,

um belo dia, depois de quinze anos de governo, surtou e deixou o trono. Aqui, como

"Dona Maria, a Louca", mãe de dom João VI, que chegou ao país em 1808, junto com

a família real portuguesa, e gritava com os escravos dizendo que o diabo estava no

topo do Pão de Açúcar. Essas duas partes da história da soberana são normalmente

contadas de forma estanque, separadas pela loucura que a acometeu em 1792 e

acabou por afastá-la definitivamente do poder. D. Maria I, a Rainha

Louca, biografia lançada em Portugal pela editora Esfera dos Livros, traça um

retrato de corpo inteiro da rainha. A autora, a historiadora Maria Luísa de Paiva

Boléo, reavalia o reinado de dona Maria – trabalho que a historiografia moderna já se

encarregara de fazer por seu filho, dom João VI, dissipando a caricatura de rei

covarde e preguiçoso, que carregava coxinhas de galinha nos bolsos do casaco. BORTOLOTI, Marcelo. Uma rainha de verdade. Veja, São Paulo, 22 abr. 2009.

Palavras ou expressões sinônimas ou quase sinônimas – Uma

expressão do texto é repetida por meio do uso de um sinônimo.

Exemplo: Os quadros de Gauguin pertencem ao chamado pós-impressionismo. Em suas

telas, o pintor apresenta um mundo primitivo, marcado por cores vibrantes.

Nominalizações – É o emprego de um substantivo que remete a um verbo

enunciado anteriormente, ou a um verbo que retoma um substantivo já mencionado.

Exemplo: A literatura renascentista libertou-se da visão religiosa medieval. Tal

libertação é retratada por uma linguagem que busca o belo por meio da

harmonia e do equilíbrio.

Repetição de uma palavra – Pode se repetir quando não for possível substituí-

la por outra.

Exemplo: A propaganda, seja ela comercial ou ideológica, está ligada a objetivos e

interesses da classe dominante. Essa ligação está disfarçada por uma inversão:

a propaganda sempre mostra que quem sai ganhando com o consumo não é o

dono da empresa, mas, sim, consumidor. Assim, a propaganda é mais um

veículo da ideologia dominante. ARANHA, M.L.A. MARTINS, M.H.P. Filosofando: introdução a filosofia. São Paulo: Moderna, 1999, p. 50.

Termo-síntese – É aquele que faz um resumo de alguns termos precedentes.

Exemplo: Camões escreveu sobre o amor, a poesia, dilemas humanos, a impotência ante

o destino e o desconcerto do mundo. Todos estes temas foram, mais tarde,

abordados por outros poetas.

Pronome – São utilizados para referir a um termo que já foi dito ou ainda será dito.

A presença do pronome reitera o referente.

Exemplo: Fernando Pessoa foi um excelente escritor português. Ele possuía várias

personalidades: seus heterônimos. Entretanto, há uma notável diferença entre

Pessoa e Camões. Este pertenceu ao Classicismo, enquanto aquele pertenceu ao

Modernismo.

Numerais – Para identificar um outro termo já citado.

Exemplo: Recebi dois telefonemas naquela tarde. O primeiro foi de um velho amigo; o

segundo, por engano.

Advérbios Pronominais– Para determinar lugar. Se usa mais aqui, aí, lá, ali.

Exemplo: Viajamos para o Rio de Janeiro. Lá conhecemos o Cristo Redentor e o

Corcovado.

Elipse – É caracterizada pela omissão de um termo facilmente identificado pelo

contexto, podendo ocorrer com formas verbais e nominais e até mesmo com orações.

Exemplo: termo elíptico

Camões reflete sobre o amor e tenta conceituá-lo. (Ele) Expõe os próprios

sofrimentos e (ele) analisa a essência do sofrimento dos apaixonados. termo elíptico

Repetição do nome próprio (ou parte dele) – Reitera um nome próprio

total ou parcialmente a fim de enfatizá-lo.

Exemplo: John Ronald Reuel Tolkien é autor do livro que virou filme: O Senhor dos anéis.

Tolkien criou uma nova mitologia em um mundo inventado que demonstrou

possuir um poder de atração atemporal.

Paráfrase – Acontece sempre que se recorre ao procedimento de voltar a dizer o

que já foi dito antes.

Exemplo: Para uma pessoa obter o título de doutor numa universidade, ela tem de fazer

uma grande pesquisa na sua área de conhecimento [...] E essa pesquisa tem de

ser inédita, isto é, precisa trazer alguma contribuição nova àquele campo de

estudos. Marcos Bagno

Metonímia – É o processo de substituição de uma palavra por outra, com qual

possui uma relação sintática.

Exemplo:

Recursos coesivos de associação

Associação – A associação estabelece relações ou vínculos de significação entre as

palavras do texto. São muitas as relações semânticas que podem existir entre as palavras.

Antonímia – São os significados opostos das palavras e o seu uso pode auxiliar a

manutenção do assunto abordado, como no exemplo a seguir.

Exemplo: Amor é fogo que arde sem se ver

é ferida que dói e não se sente

é um contentamento descontente

é dor que desatina sem doer. CAMÕES, Luís de. Amor é um fogo que arde sem se ver.

Partonímia – São as relações que se associam a parte com o todo, estão presentes

em quase todos os textos e podem se apresentar de diferentes maneiras.

Exemplo: [...]Olha a chuva que chega!

É a enchente.

Olha o chão que foge com a chuva...

Olha a chuva que encharca a gente.

Põe a chave na fechadura.

Fecha a porta por causa da chuva,

olha a rua como se enche![...] MEIRELES, Cecília. Enchente.

Coerência textual É a relação que se estabelece entre as partes de um texto, criando uma unidade de sentido. Significa conexão , união entre as várias partes e ideias, de modo a relacioná-las harmoniosamente. Quando as partes do texto não estabelecem sentido, há uma incoerência.

Incoerência externa – Incompatibilidade entre os significados inscritos no texto e os dados de realidade; isto é, entre o que diz o texto e o conhecimento de mundo do indivíduo. Exemplo:

No outdoor existe uma incoerência entre o texto e a maneira como foi veiculado, pois é contraditório. No entanto, a contradição foi empregada como recurso para interpelar o leitor.

Incoerência interna – Incompatibilidade entre os significados no interior do texto, ou seja, contradição. Exemplo:

Em entrevista à rádio Cidade, o quarto-zagueiro do Paraná Clube, Edinho

Baiano, foi questionado pelo repórter sobre o que tinha acontecido na partida,

pois seu time havia levado uma goleada do Guarani de Campinas. Edinho,

então, disse ao jornalista:

– Como a gente esperava, fomos surpreendidos pelo ataque do Guarani.

A coerência envolve fatores lógico-semânticos e cognitivos (memória, raciocínio) e está relacionada com o conhecimento que é compartilhado entre as pessoas que produzem e as pessoas que recebem o texto. Para uma interpretação textual satisfatória, considera-se coerente o texto em que o conhecimento de mundo partilhado entre os interlocutores é compatível, em outras palavras, o texto é construído por meio da relação entre os interlocutores e o mundo que os cerca (o contexto).

Interpretação Textual

Interferências Tirinhas

Surgidas na América do Norte, no início do século XX, as tirinhas apresentam, até os dias de hoje características relativamente estáveis.

Características linguísticas e textuais da tirinha

Observe a tira de O Menino Maluquinho, de Ziraldo.

Em geral, a tira consiste em um tipo de caráter humorístico, com circulação

em jornais, revistas e outras publicações. Na tira, percebe-se, na fala da

professora, uma referência à questão eleitoral. Note como algumas palavras

recebem destaque, tecendo um eixo temático sobre as eleições, embora o efeito

de humor esteja ligado à surpresa de Maluquinho ao receber o boletim com

notas baixas. Nas tiras, as letras representam um recurso importantíssimo. E, conforme a

expressão que o cartunista deseja dar à ação da personagem, podem aparecer

maiores, deformadas ou destacadas.

Observe a tira de Dik Brone.c

Nesse exemplo, pode-se perceber que as tiras são constituídas por meio da

combinação de frases curtas, – geralmente de efeito ambíguo – com desenhos

que ilustram e complementam o sentido do texto como um todo.

Analisando-se as tiras apresentadas até aqui, nota-se que os elementos mais

comuns são os balões e os tipos diferentes de letras, recursos que possibilitam a

identidade verbal da personagem. A tira a seguir, de Edgar Vasques, intitulada de

Rango, reproduz marcas próprias de oralidade.

Em certos casos, os aspectos visuais da tira se sobrepõem aos verbais, ou

ainda, pode-se não recorrer ao uso de elementos verbais. Observe as duas

tirinhas a seguir. A leitura e interpretação estão relacionadas à leitura visual e às

inferências que são permitidas.

Interpretação de texto

Inferências Charges e cartuns

De forma bem humorada e, ao mesmo tempo, sarcástica, a charge retrata

uma realidade política: as ações, muitas vezes, ocorrem de forma tardia, o que

faz com que percam sentido e eficácia. Note que, para se inferir a informação,

é necessário estar a par da realidade circundante.

Observe as charges a seguir.

Há, nas charges, críticas e comportamentos sociais e à política. Na

primeira , chama-se a atenção a conduta dos motoristas dirigirem

embriagados. Nas outras, aborda-se a desigualdade social gerada pela má

distribuição de renda.

Charge 3

Cartum Consiste em um texto humorístico na qual o autor realiza a crítica social,

de costumes, focalizando uma realidade genérica, e por isso, desconhece os

limites de tempo que a crítica a personagens, fatos e acontecimentos políticos

impõe.

Às vezes pode ser confundido com charge. No entanto é possível

considerar algumas marcas próprias. No cartum, as personagens não são

caricaturadas e são anônimas, na charge as personagens são identificáveis e

caricaturadas; a charge é temporal e o cartum atemporal.

No cartum a seguir são apresentadas duas personagens – um garoto

vitimado pela seca e um urso polar – não caricaturados, assemelhando-se à

realidade, o tema é o aquecimento global. Ambos, mesmo distante

geograficamente, têm sua realidade modificada pela elevação da

temperatura.

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