informativo mensal abril 2015
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Informativo STF Mensal
Braslia, abril de 2015 - n 48
Compilao dos Informativos ns 780 a 783
O Informativo STF Mensal apresenta todos os resumos de julgamentos divulgados pelo Informativo STF concludos no ms a que se refere e organizado por ramos do Direito e por assuntos.
SUMRIO
Direito Administrativo
Agentes Pblicos
Cesso de servidor e nus remuneratrio
Aposentadorias e Penses
EC 20/1998 e acumulao de proventos civis e militares
Concurso Pblico
PSV: provimento de cargo pblico e exigncia de concurso pblico (Enunciado 43 da Smula Vinculante)
PSV: exame psicotcnico e concurso pblico (Enunciado 44 da Smula Vinculante)
Questes de concurso pblico e controle jurisdicional
Princpios da Administrao Pblica
Servidor pblico e divulgao de vencimentos
Sistema Remuneratrio
Teto constitucional e base de clculo para incidncia de imposto e contribuio - 1
Teto constitucional e base de clculo para incidncia de imposto e contribuio - 2
Teto constitucional e base de clculo para incidncia de imposto e contribuio - 3
Direito Constitucional
Competncia Originria da STF
Porte de arma de magistrado e competncia - 3
Conselho Nacional do Ministrio Pblico
Controle de constitucionalidade e rgo administrativo - 2
Controle de constitucionalidade e rgo administrativo - 3
Controle de Constitucionalidade
Policiais temporrios e princpio do concurso pblico - 5
Policiais temporrios e princpio do concurso pblico - 6
Policiais temporrios e princpio do concurso pblico - 7
Art. 27 da Lei 9.868/1999 e suspenso de julgamento - 4
ADI e softwares abertos - 3 ADI e softwares abertos - 4 ADI e submisso de membros da Administrao Pblica ao Poder Legislativo - 2
Subsdio vitalcio a ex-governador - 3
Organizaes sociais e contrato de gesto - 7
Organizaes sociais e contrato de gesto - 8
Organizaes sociais e contrato de gesto - 9
Organizaes sociais e contrato de gesto - 10
Policiais civis e militares do sexo feminino e aposentadoria - 1
Policiais civis e militares do sexo feminino e aposentadoria - 2
Publicidade de bebidas alcolicas e omisso legislativa - 1
Publicidade de bebidas alcolicas e omisso legislativa - 2
Extradio
Extradio e prescrio da pretenso punitiva
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Repartio de Competncia
PSV: crimes de responsabilidade e competncia legislativa (Enunciado 46 da Smula Vinculante)
Sistema Financeiro Nacional
Plano Real: contrato de locao comercial - 3
Plano Real: contrato de locao comercial - 4
Plano Real: contrato de locao comercial - 5
Tribunal de Contas
TCU: anulao de acordo extrajudicial e tomada de contas especial
Direito Civil
Direitos Reais
Usucapio de imvel urbano e norma municipal de parcelamento do solo - 4
Usucapio de imvel urbano e norma municipal de parcelamento do solo - 5
Direito do Trabalho
Princpios e Garantias Trabalhistas
Plano de dispensa incentivada e validade da quitao ampla de parcelas contratuais
Direito Penal
Tipicidade
Desobedincia eleitoral e absolvio sumria
Direito Processual Civil
Ao Rescisria
Ao rescisria e reviso geral anual de vencimentos
Desistncia da Ao
Provimento de serventias extrajudiciais e desistncia de mandado de segurana
Direito Processual Penal
Ao Penal
Ao penal e princpio da durao razovel do processo
Competncia
Criao de nova vara e perpetuatio jurisdictionis - 4 Execuo da Pena
Inadimplemento de pena de multa e progresso de regime - 1
Inadimplemento de pena de multa e progresso de regime - 2
Inadimplemento de pena de multa e progresso de regime - 3
Investigao Preliminar
Arquivamento de inqurito e requerimento do PGR
Priso Processual
Priso cautelar: requisitos e medidas alternativas - 1
Priso cautelar: requisitos e medidas alternativas - 2
Priso cautelar: requisitos e medidas alternativas - 3
Priso cautelar: requisitos e medidas alternativas - 4
Priso cautelar: requisitos e medidas alternativas - 5
Tribunal do Jri
PSV: tribunal do jri e foro por prerrogativa de funo (Enunciado 45 da Smula Vinculante)
Direito Tributrio
Imunidade Tributria
PSV: imunidade tributria e instituies de assistncia social
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DIREITO ADMINISTRATIVO
Agentes Pblicos
Cesso de servidor e nus remuneratrio O Plenrio julgou procedente pedido formulado em ao civil originria na qual se pleiteava a
condenao da Unio ao ressarcimento dos valores dispendidos no pagamento da remunerao e demais
encargos sociais decorrentes da cesso de servidora de rgo distrital para rgo da Unio. No caso, a
cesso fora realizada com a condio de que o rgo cessionrio assumisse todos os encargos decorrentes
da cesso, mas a Unio deixara de proceder os repasses e pleiteara a devoluo dos valores j pagos.
Alegava-se que, em virtude do contido no art. 93, I e 1, da Lei 8.112/1990, o nus remuneratrio
derivado de cesso de servidores pblicos deveria ser suportado pelo rgo cessionrio, uma vez que seria
esse o beneficirio do trabalho desempenhado pelo agente. Ademais, afirmava que a prpria Unio
reconhecera ser dela o nus financeiro pelos servidores por ela requisitados quando da edio da Medida
Provisria 1.573-9/1997, que acrescentou o 5 ao art. 93 da Lei 8.112/1990. O Plenrio asseverou que o
rgo cedente deixara claro ser encargo do rgo cessionrio arcar com todos os proventos da servidora.
ACO 555/DF, rel. Min. Dias Toffoli, 23.4.2015. (ACO-555)
(Informativo 782, Plenrio)
Aposentadorias e Penses
EC 20/1998 e acumulao de proventos civis e militares O Plenrio, por deciso majoritria, negou provimento a embargos de divergncia opostos em face de
deciso proferida pela Primeira Turma, na qual decidido que a acumulao de aposentadorias civil e militar
admissvel se o reingresso no servio pblico se der antes da publicao da EC 20/1998, ainda que a
aposentadoria tenha ocorrido j sob a vigncia da emenda. No caso, o embargado fora transferido para a
reserva remunerada do Exrcito em 1980 e, naquele mesmo ano, fora transferido para a Secretaria de Assuntos
Estratgicos da Presidncia da Repblica, para ser posteriormente lotado no Comando do Exrcito. Sua
aposentadoria compulsria se dera no cargo civil de analista de informaes, em 2004. O Colegiado constatou
haver precedentes da Primeira Turma no mesmo sentido do acrdo embargado. Por outro lado, em sentido
contrrio, a Segunda Turma teria julgado a afirmar a impossibilidade de acumulao de proventos civis e
militares quando a aposentadoria ocorresse sob a gide da EC 20/1998. Explicou que o 10 do art. 37 da CF,
inserido com a referida emenda, vedaria a percepo simultnea de proventos. No entanto, haveria ressalva
quanto situao dos inativos, servidores e militares, que, at a data da publicao da EC 20/1998, tivessem
ingressado novamente no servio pblico (EC 20/1998, art. 11). Com base nesse dispositivo, a jurisprudncia
da Corte assentara-se no sentido da possibilidade de acumulao de proventos civis e militares quando a
reforma se dera sob a gide da CF/1967 e a aposentadoria ocorrera antes da vigncia da EC 20/1998. Nesses
casos, no se aplicaria a proibio do art. 11 da emenda, pois no se trataria de percepo de mais de uma
aposentadoria pelo regime previdencirio do art. 40 da CF, mas sim da percepo de proventos civis e
militares. Assim, seria irrelevante que a aposentadoria civil tivesse se dado na vigncia da EC 20/1998,
bastando que o reingresso no servio pblico ocorresse antes do advento da alterao constitucional, de forma a
ensejar a incidncia da ressalva do art. 11 da emenda, cuja aplicao incidiria aos membros de poder e aos
inativos, servidores e militares, que, at a publicao da emenda, tivessem ingressado novamente no servio
pblico. Assim, no caso em exame, seria plenamente possvel a acumulao de proventos civis e militares, uma
vez que a reforma do embargado ocorrera sob a gide da CF/1967, e seu reingresso no servio pblico, antes da
publicao da EC 20/1998. Vencido o Ministro Marco Aurlio, que provia os embargos. Entendia no ser
relevante distinguir a poca em que o recorrido alcanara o que percebido antes da reforma, mas perquirir se,
sob a vigncia da Constituio atual, ele teria direito a dupla aposentadoria.
AI 801096 AgR-EDv/DF, rel. Min. Teori Zavascki, 22.4.2015. (AI-801096)
(Informativo 782, Plenrio)
Concurso Pblico
PSV: provimento de cargo pblico e exigncia de concurso pblico (Enunciado 43 da Smula Vinculante) O Plenrio, por maioria, acolheu proposta de edio de enunciado de smula vinculante com o
seguinte teor: inconstitucional toda modalidade de provimento que propicie ao servidor investir-se, sem prvia aprovao em concurso pblico destinado ao seu provimento, em cargo que no integra a carreira na
qual anteriormente investido. Assim, tornou vinculante o contedo do Verbete 685 da Smula do STF. Vencidos os Ministros Marco Aurlio e Crmen Lcia, apenas no que tange redao do enunciado.
PSV 102/DF, 8.4.2015. (PSV-102)
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(Informativo 780, Plenrio)
PSV: exame psicotcnico e concurso pblico (Enunciado 44 da Smula Vinculante) O Plenrio acolheu proposta de edio de enunciado de smula vinculante com o seguinte teor: S
por lei se pode sujeitar a exame psicotcnico a habilitao de candidato a cargo pblico. Assim, tornou vinculante o contedo do Verbete 686 da Smula do STF.
PSV 103/DF, 8.4.2015. (PSV-103)
(Informativo 780, Plenrio)
Questes de concurso pblico e controle jurisdicional Os critrios adotados por banca examinadora de concurso pblico no podem ser revistos pelo
Poder Judicirio. Essa a concluso do Plenrio que, por maioria, proveu recurso extraordinrio em que
discutida a possibilidade de realizao de controle jurisdicional sobre o ato administrativo que corrige
questes de concurso pblico. No caso, candidatas de concurso para provimento de cargo do Executivo
estadual pretendiam fosse declarada a nulidade de dez questes do certame, ao fundamento de que no
teria havido resposta ao indeferimento de recursos administrativos. Ademais, defendiam que as questes
impugnadas possuiriam mais de uma assertiva correta, uma vez que o gabarito divulgado contrariaria leis
federais, conceitos oficiais, manuais tcnicos e a prpria doutrina recomendada pelo edital do concurso. O
Colegiado afirmou ser antiga a jurisprudncia do STF no sentido de no competir ao Poder Judicirio
substituir a banca examinadora para reexaminar o contedo das questes e os critrios de correo
utilizados, salvo ocorrncia de ilegalidade e inconstitucionalidade. Nesse sentido, seria exigvel apenas
que a banca examinadora desse tratamento igual a todos os candidatos, ou seja, que aplicasse a eles,
indistintamente, a mesma orientao. Na espcie, o acrdo recorrido divergira desse entendimento ao
entrar no mrito do ato administrativo e substituir a banca examinadora para renovar a correo de
questes de concurso pblico, a violar o princpio da separao de Poderes e a reserva de Administrao.
Desse modo, estaria em desacordo com orientao no sentido da admissibilidade de controle jurisdicional
de concurso pblico quando no se cuidasse de aferir a correo dos critrios da banca examinadora, a
formulao das questes ou a avaliao das respostas, mas apenas de verificar se as questes formuladas
estariam no programa do certame, dado que o edital seria a lei do concurso. Vencido o Ministro Marco
Aurlio, que, preliminarmente, no conhecia do recurso, por falta de prequestionamento e, no mrito, o
desprovia, por entender que a banca examinadora entrara em contradio ao adotar certa linha doutrinria
no edital, mas no o faz-lo quanto soluo das questes impugnadas.
RE 632853/CE, rel. Min. Gilmar Mendes, 23.4.2015. (RE-632853)
(Informativo 782, Plenrio, Repercusso Geral)
Princpios da Administrao Pblica
Servidor pblico e divulgao de vencimentos legtima a publicao, inclusive em stio eletrnico mantido pela Administrao Pblica, dos
nomes de seus servidores e do valor dos correspondentes vencimentos e vantagens pecunirias. Esse o
entendimento do Plenrio ao dar provimento a recurso extraordinrio em que discutida a possibilidade de
se indenizar, por danos morais, servidora pblica que tivera seu nome publicado em stio eletrnico do
municpio, em que teriam sido divulgadas informaes sobre a remunerao paga aos servidores pblicos.
A Corte destacou que o mbito de proteo da privacidade do cidado ficaria mitigado quando se tratasse
de agente pblico. O servidor pblico no poderia pretender usufruir da mesma privacidade que o cidado
comum. Esse princpio bsico da Administrao publicidade visaria eficincia. Precedente citado: SS 3902/SP (DJe de 3.10.2011).
ARE 652777/SP, rel. Min. Teori Zavascki, 23.4.2015. (ARE-652777) (Informativo 782, Plenrio, Repercusso Geral)
Sistema Remuneratrio
Teto constitucional e base de clculo para incidncia de imposto e contribuio - 1 Subtrado o montante que exceder o teto ou subteto previstos no art. 37, XI, da CF, tem-se o valor que
serve como base de clculo para a incidncia do imposto de renda e da contribuio previdenciria (XI - a remunerao e o subsdio dos ocupantes de cargos, funes e empregos pblicos da administrao direta,
autrquica e fundacional, dos membros de qualquer dos Poderes da Unio, dos Estados, do Distrito Federal e
dos Municpios, dos detentores de mandato eletivo e dos demais agentes polticos e os proventos, penses ou
outra espcie remuneratria, percebidos cumulativamente ou no, includas as vantagens pessoais ou de
qualquer outra natureza, no podero exceder o subsdio mensal, em espcie, dos Ministros do Supremo
Tribunal Federal, aplicando-se como limite, nos Municpios, o subsdio do Prefeito, e nos Estados e no Distrito
Federal, o subsdio mensal do Governador no mbito do Poder Executivo, o subsdio dos Deputados Estaduais
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e Distritais no mbito do Poder Legislativo e o subsdio dos Desembargadores do Tribunal de Justia, limitado
a noventa inteiros e vinte e cinco centsimos por cento do subsdio mensal, em espcie, dos Ministros do
Supremo Tribunal Federal, no mbito do Poder Judicirio, aplicvel este limite aos membros do Ministrio
Pblico, aos Procuradores e aos Defensores Pblicos). Essa a concluso do Plenrio, que negou provimento a recurso extraordinrio em que discutida a definio do montante remuneratrio recebido por servidores
pblicos, para fins de incidncia do teto constitucional. No caso, servidores pblicos estaduais aposentados,
vinculados aos quadros do Executivo local, pretendiam que seus proventos lquidos fossem limitados ao
subsdio bruto do governador. O Colegiado registrou, preliminarmente, que a aplicao do redutor da
remunerao ao teto remuneratrio, conhecido como abate-teto, previsto no art. 37, XI, da CF e alterado pela EC 41/2003, seria objeto de outros recursos extraordinrios com repercusso geral reconhecida. No entanto, o
caso em exame seria distinto dos demais, porque a matria no seria relacionada submisso de determinadas
parcelas remuneratrias ao teto, mas definio da base remuneratria para a aplicao do teto: se o total da
remunerao ou se apenas o valor lquido, apurado depois das dedues previdencirias e do imposto de renda.
A respeito, reputou que a EC 19/1998 modificara o sistema remuneratrio dos agentes pblicos, com a criao
do subsdio como forma de remunerar agentes polticos e certas categorias de agentes administrativos civis e
militares. A expresso espcies remuneratrias compreenderia o subsdio, os vencimentos e a remunerao. A fixao de limites e tetos para a remunerao de agentes pblicos seria um dos mecanismos usados para
tolher abusos, na medida em que poucos servidores perceberiam vencimentos muito acima da mdia do
funcionalismo, enquanto os demais seriam mal remunerados. Assim, qualquer tipo de remunerao dos
servidores deveria sujeitar-se ao teto remuneratrio, alm de proventos e penses, percebidos cumulativamente
ou no, includas as vantagens pessoais ou de qualquer outra natureza.
RE 675978/SP, rel. Min. Crmen Lcia, 15.4.2015. (RE-675978) (Informativo 781, Plenrio, Repercusso Geral)
Teto constitucional e base de clculo para incidncia de imposto e contribuio - 2 O Tribunal enfatizou, no que se refere ao termo remunerao, que a legislao lhe daria sentidos
diversos, de carter mais amplo ou mais restrito. Numa acepo mais extensiva, remunerao seria a
designao genrica dada totalidade de valores pecunirios recebidos pelo servidor, ativo ou inativo, como
retribuio pelo exerccio do respectivo cargo pblico. Em carter mais restrito, remunerao seria o
vencimento do cargo efetivo, acrescido das vantagens pecunirias permanentes estabelecidas em lei. Dessa
forma, definido que a remunerao constituiria os valores recebidos como contraprestao pelos servios
prestados Administrao e que o subsdio seria a remunerao paga aos agentes polticos e aos membros de
Poder em parcela nica ambos compreendendo o valor total previsto para o cargo , de acordo com o art. 37, XI, da CF, o teto remuneratrio deveria incidir sobre o montante integral pago ao servidor, ou seja, sobre
sua remunerao bruta. Nos termos da redao constitucional, o redutor teria aplicao sobre a remunerao e o
subsdio dos ocupantes de cargos, funes e empregos pblicos da Administrao direta, autrquica e
fundacional. Essa concluso seria reforada, inclusive, pelo fato de que o parmetro para a incidncia do limite
remuneratrio o subsdio dos Ministros do STF seria verificado em sua totalidade, sem quaisquer descontos, e no seria razovel realizar a comparao para fins de reduo com o valor lquido a ser recebido
pelo servidor. Seria necessrio, portanto, comparar valores da mesma ordem: valor bruto com valor bruto, para,
em seguida, aplicar os descontos devidos. Se assim no fosse, dar-se-ia norma do limite remuneratrio
exegese mais elstica do que se permite, uma vez que a imposio do teto remuneratrio teria tambm entre
seus propsitos hierarquizar o servio pblico, de forma a evitar distores como a do subordinado que
percebesse mais do que seu superior mximo. Portanto, as dedues de imposto de renda e de contribuies
previdencirias deveriam incidir aps a aplicao do abate-teto. Alm disso, aplicar o redutor remuneratrio aps as dedues devidas afrontaria o princpio da capacidade contributiva (CF, art. 145, 1). Por outro lado,
o art. 43 do CTN dispe que o imposto sobre a renda e proventos de qualquer natureza teria como fato gerador
a aquisio da disponibilidade econmica ou jurdica de renda e de proventos de qualquer natureza. Nessa
linha, imposto de renda somente poderia incidir quando ocorresse acrscimo patrimonial. No se poderia
considerar, para fins de incidncia tributria, os montantes no percebidos em virtude da aplicao do teto
constitucional. Essas verbas no adentrariam o patrimnio dos servidores e nem seriam por eles usufrudas, de
modo que no se poderia cogitar da incidncia de tributo sobre elas. Se fosse possvel a ultimao dessas
retenes em momento anterior aplicao do abate-teto, o Estado faria incidir tributos sobre base econmica no disponibilizada pelo sujeito passivo, em ofensa aos princpios da capacidade contributiva e da
vedao da utilizao do tributo com efeito de confisco. Nessa hiptese, ao final, o valor pago pelo servidor se
daria sobre uma base econmica maior do que aquela efetivamente posta sua disposio. Assim, o Estado
enriqueceria ilicitamente e o contribuinte sofreria decrscimo patrimonial sem causa legtima. Ademais, a
reteno do imposto de renda, bem como da contribuio previdenciria, somente poderia ocorrer aps a
aplicao do teto, de forma a incidir o redutor, portanto, sobre a remunerao bruta do servidor.
RE 675978/SP, rel. Min. Crmen Lcia, 15.4.2015. (RE-675978)
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(Informativo 781, Plenrio, Repercusso Geral)
Teto constitucional e base de clculo para incidncia de imposto e contribuio - 3 O Plenrio acrescentou que a discusso sobre a exegese do art. 37, XI, da CF seria antiga no mbito do
STF, que reiteradamente afirmara a autoaplicao dos limites traados pela EC 41/2003. A expresso
remunerao percebida no deveria ser lida como o valor lquido da remunerao. Isso porque, em primeiro lugar, o art. 37, XI, da CF seria taxativo ao fixar que a remunerao e o subsdio de servidores
pblicos no poderiam exceder o subsdio mensal, em espcie, dos Ministros do STF. Em segundo lugar,
porque o subsdio mensal pago aos Ministros do STF e adotado como teto mximo para todos os servidores
pblicos e agentes polticos corresponderia a um valor bruto fixado em lei, sobre o qual incidiria o imposto
de renda e a contribuio previdenciria. Entendimento contrrio implicaria afronta aos princpios da
igualdade e da razoabilidade. Sucede que os prprios Ministros do STF pagariam imposto de renda e
contribuio previdenciria sobre o valor integral de seus subsdios, no limite estipulado em lei como teto
geral constitucional. Alm disso, o princpio da razoabilidade seria afrontado pela desobedincia aos
fundamentos do sistema tributrio, previdencirio e administrativo na definio e onerao da renda dos que
seriam remunerados pelos cofres pblicos. Essa limitao constitucional do valor pago a ttulo de
remunerao, proventos ou subsdio importaria tambm limitao ao poder de tributar do Estado, que no
poderia exigir tributo sobre valor que no poderia pagar ao particular. Ademais, se o valor lquido das
remuneraes e subsdios de qualquer servidor pudesse atingir o valor bruto dos subsdios das autoridades,
elas deixariam de ocupar os respectivos cargos. A observncia das normas constitucionais atinentes aos tetos
fixados no sistema remuneratrio nacional decorreria da necessidade de o cidado saber a quem paga e
quanto paga a cada qual dos agentes estatais. Por sua vez, a remunerao que eventualmente superasse o teto
ou o subteto constitucional no seria necessariamente ilegal, porque as parcelas que a compem, em geral,
estariam pautadas em atos normativos cuja presuno de constitucionalidade no se poria em questo. Por
isso, o STF j admitira a possibilidade de recebimento automtico de parcelas em decorrncia de futura
elevao do subsdio de Ministro do STF e dos demais agentes polticos do art. 37, XI, da CF.
RE 675978/SP, rel. Min. Crmen Lcia, 15.4.2015. (RE-675978) (Informativo 781, Plenrio, Repercusso Geral)
DIREITO CONSTITUCIONAL
Competncia Originria do STF
Porte de arma de magistrado e competncia - 3 O STF tem competncia para processar e julgar causas em que se discute prerrogativa dos juzes de
portar arma de defesa pessoal, por se tratar de ao em que todos os membros da magistratura so direta ou
indiretamente interessados (CF, art. 102, I, n). Esse o entendimento do Plenrio que, em concluso de
julgamento e por maioria, deu provimento a agravo regimental e julgou procedente pedido formulado em
reclamao, para reconhecer como prerrogativa da magistratura a desnecessidade de submisso a certos
requisitos gerais, aplicveis a todas as outras pessoas, para obter o porte ou a renovao do porte de arma. No
caso, associaes estaduais de juzes impetraram mandado de segurana cuja ordem fora concedida para
assegurar, aos substitudos, a renovao simplificada de registros de propriedade de armas de defesa pessoal
(inscrio no SINARM), com dispensa dos testes psicolgicos e de capacidade tcnica e da reviso peridica
de registro. Esses requisitos para manter arma de fogo estariam dispostos no art. 5, 2, da Lei 10.826/2003
(Lei do Desarmamento). Alm disso, a prerrogativa dos magistrados de portar arma de defesa pessoal estaria
prevista no art. 33, V, da LC 35/1979 - Loman v. Informativo 712. A Corte destacou que a compreenso de matria de privativo interesse da magistratura no poderia ser afastada pelo fato de determinada prerrogativa
ser eventualmente estendida a outras carreiras. A prerrogativa deveria ser interpretada como direito ou
obrigao inerente condio de magistrado. Em relao necessidade de que a deciso afetasse todos os
membros da magistratura, o Tribunal asseverou que o Poder Judicirio seria uno, no entanto, possuiria
segmentaes decorrentes da estrutura federativa brasileira. Apenas quando a matria dissesse respeito a
determinada segmentao especfica do Poder Judicirio que se poderia cogitar do afastamento da
competncia da Corte. Na espcie, no se trataria de prerrogativa prpria dos juzes integrantes das associaes
que impetraram o mandado de segurana, mas de todos os magistrados do pas. A pretenso estaria baseada na
Loman, de abrangncia nacional. Trataria de interesse potencial de toda a classe, j que a prerrogativa de portar
arma de defesa pessoal estaria prevista na referida lei orgnica. Vencidos os Ministros Rosa Weber (relatora),
Marco Aurlio e Celso de Mello, que negavam provimento ao agravo regimental por entenderem no ter
havido usurpao da competncia do Tribunal. Apontavam que os efeitos do ato praticado pela autoridade tida
como coatora no afetariam o interesse de todos os magistrados. Mencionavam que seriam diretamente
interessados apenas os magistrados substitudos, quais sejam, os associados s entidades impetrantes, e
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indiretamente, quando muito, os magistrados domiciliados em determinada unidade federativa, eventualmente
interessados em registrar ou renovar o registro de arma de fogo.
Rcl 11323 AgR/SP, rel. orig. Min. Rosa Weber, red. p/ o acrdo Min. Teori Zavascki, 22.4.2015. (Rcl-11323)
(Informativo 782, Plenrio)
Conselho Nacional do Ministrio Pblico
Controle de constitucionalidade e rgo administrativo - 2 O direito subjetivo do exercente da funo de Promotor de Justia de permanecer na comarca elevada
de entrncia no pode ser analisado sob o prisma da constitucionalidade da lei local que previu a ascenso,
mxime se a questo restou judicializada no STF. Com base nessa orientao, a Primeira Turma concedeu a
ordem em mandado de segurana impetrado por procurador-geral de justia contra deciso do Conselho
Nacional do Ministrio Pblico CNMP, que declarara a inconstitucionalidade de norma local e glosara a pretenso do impetrante de permanecer na comarca que fora elevada de entrncia v. Informativo 745. A Turma asseverou que o CNMP no ostentaria competncia para efetuar controle de constitucionalidade de
lei, haja vista se tratar de rgo de natureza administrativa, cuja atribuio se circunscreveria ao controle da
legitimidade dos atos administrativos praticados por membros ou rgos do Ministrio Pblico federal e
estadual (CF, art. 130-A, 2). Assim, o CNMP, ao declarar a inconstitucionalidade do art. 141, in fine, da Lei Orgnica do Ministrio Pblico de Santa Catarina (O membro do Ministrio Pblico ter garantida a sua permanncia na comarca cuja entrncia for elevada e, quando promovido, nela ser efetivado, desde que
formalize a opo no prazo de cinco dias) teria exorbitado de suas funes, que se limitariam ao controle de legitimidade dos atos administrativos praticados por membros do parquet.
MS 27744/DF, rel. Min. Luiz Fux, 14.4.2015. (MS-27744) (Informativo 781, 1 Turma)
Controle de constitucionalidade e rgo administrativo - 3 O Ministro Roberto Barroso acompanhou o Ministro Luiz Fux (relator) para conceder a ordem,
porm, com fundamentao diversa. Aduziu que no houvera, na espcie, controle abstrato de
constitucionalidade. A declarao de inconstitucionalidade da parte final do art. 141 da LC estadual
197/2000 fora feita incidenter tantum e desconstitura, de forma especfica, determinadas promoes virtuais. Assinalou que o acrdo atacado no alcanara promoes pretritas ou futuras, mas apenas aquelas havidas poca do Processo de Controle Administrativo - PCA, por no terem as respectivas
promotorias de justia sido ofertadas aos demais membros do Ministrio Pblico estadual. Dessa forma, o
controle teria se realizado no caso concreto. Defendeu que quem tem a incumbncia de aplicar a norma a
uma situao concreta no poderia ser compelido a deixar de aplicar a Constituio e aplicar a norma que
com ela considerasse incompatvel. Concluiu ser razovel que os membros do Ministrio Pblico, ao
serem promovidos, pudessem permanecer nas promotorias que j ocupassem, sem que fossem obrigados a
deix-las apenas porque teriam sido pr-elevadas de entrncia. Do contrrio, alm de acarretar gastos
pblicos com remoo e trnsito, a medida prejudicaria a continuidade da linha de atuao ministerial
local e a manuteno das unidades familiares dos promotores.
MS 27744/DF, rel. Min. Luiz Fux, 14.4.2015. (MS-27744) (Informativo 781, 1 Turma)
Controle de Constitucionalidade
Policiais temporrios e princpio do concurso pblico - 5 Em concluso de julgamento, o Plenrio julgou procedente pedido formulado em ao direta para
declarar a inconstitucionalidade da Lei 17.822/2012 do Estado de Gois, que institui o Servio de Interesse
Militar Voluntrio Estadual - SIMVE na Polcia Militar e no Corpo de Bombeiros Militar do Estado-
Membro v. Informativo 779. Quanto inconstitucionalidade material da norma, o Colegiado assinalou que, anteriormente edio da lei em comento, o governo estadual lanara concurso pblico de provas e
ttulos para provimento de cargos de policial militar, com a subsequente seleo de candidatos. A lei
adversada, por sua vez em vigor durante o prazo de validade do concurso , a pretexto de ter fundamento de validade na Lei 4.735/1964 (Lei do Servio Militar), institura uma classe de policiais
temporrios, cujos integrantes, aps serem aprovados em seleo e em curso de formao, passariam a
ocupar cargo de natureza policial militar. Esses temporrios seriam remunerados por subsdio, sujeitos
legislao militar e s normas especficas da Polcia Militar e do Corpo de Bombeiros Militar estaduais.
Intentara-se, assim, a realizao de um corte de gastos relacionados com a segurana pblica. Ao possibilitar
que voluntrios tivessem funo de policiamento preventivo e repressivo, alm de terem o direito de usar os
uniformes, insgnias e emblemas utilizados pela corporao, com a designao SV, recebendo subsdio, a lei objetivara criar policiais temporrios, disfarados sob a classificao de voluntrios, para a execuo de
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atividades militares, em detrimento da exigncia constitucional de concurso pblico. O Colegiado sublinhou,
ademais, que as Foras Armadas seriam instituies nacionais, regulares e permanentes (CF, art. 142), no
admitida a existncia de foras temporrias. Seus membros seriam chamados de militares, termo tambm empregado constitucionalmente para designar policiais militares e bombeiros militares (CF, art. 42).
Entretanto, no se poderia confundir os membros das Foras Armadas com os militares estaduais. A
Constituio vedaria que os Estados-Membros possussem Exrcito, Marinha e Aeronutica. Todavia,
admitiria que eles constitussem polcias militarizadas para segurana interna e manuteno da ordem no
territrio (CF, art. 144, 5). Assim, os militares estaduais seriam destinados funo de segurana pblica,
integrariam a estrutura do Poder Executivo estadual e no seguiriam o mesmo regime constitucional alusivo
s Foras Armadas. Essa diferena tambm diria respeito forma de ingresso na carreira. Enquanto a
admisso nas Foras Armadas dar-se-ia tanto pela via compulsria do recrutamento oficial quanto pela via
voluntria de ingresso nos cursos de formao, os servidores militares estaduais seriam submetidos, sempre
voluntariamente, a concurso pblico. Com o advento da EC 18/1998, houvera a distino entre servidores
pblicos civis e militares e, em relao a estes, distinguiram-se os dos Estados e do Distrito Federal e os das
Foras Armadas. Da o art. 42 da CF determinar a aplicao, aos militares estaduais, do art. 142, 2 e 3, e
remeter lei estadual a disciplina das matrias do art. 142, 3, X, da CF. Portanto, o constituinte no optara
por excluir a obrigatoriedade do concurso pblico para ingresso na Polcia Militar e no Corpo de Bombeiros
Militar. O seu objetivo original, ao estabelecer o postulado do concurso pblico, seria traduzido na
necessidade essencial de o Estado conferir efetividade ao princpio constitucional da igualdade. Seria
vedada, desse modo, a prtica inaceitvel de concesso de privilgios arbitrrios.
ADI 5163/GO, rel. Min. Luiz Fux, 8.4.2015. (ADI-5163) (Informativo 780, Plenrio)
Policiais temporrios e princpio do concurso pblico - 6 O Colegiado assinalou que o concurso pblico seria uma forma de a Administrao assegurar os
princpios maiores da isonomia e da impessoalidade na concorrncia dos candidatos aos cargos pblicos.
Todos os Poderes estariam jungidos observncia do preceito, inclusive o Executivo estadual ao contratar
policiais militares. Alm disso, o constituinte previra expressamente excees quanto obrigatoriedade
de concurso pblico. Assim, estabelecera genericamente a possibilidade de nomeao para cargo em
comisso declarado em lei de livre nomeao e exonerao (CF, art. 37, II) e previra a contratao por
tempo determinado para atender a necessidade temporria de excepcional interesse pblico (CF, art. 37,
IX). Haveria outras excees, como, por exemplo os cargos eletivos. Em todas as hipteses, a base
constitucional seria taxativa, e entre elas no estariam os policiais militares. Ademais, sequer a lei
impugnada configuraria o permissivo do art. 37, IX, da CF. No estariam presentes os requisitos e limites
para esse tipo de contratao. A necessidade temporria de excepcional interesse pblico no dependeria
de mera escolha discriminatria da Administrao. Ela exigiria o atendimento de um fim prximo e a
demonstrao da impossibilidade de consecuo desse fim com os recursos humanos de que disporia a
Administrao. Na situao dos autos, a lei em debate permitira a contratao de 2.400 policiais
temporrios, embora houvesse cerca de 1.400 concursados aprovados em cadastro reserva aguardando
convocao. Alm disso, no caso dos contratados em carter temporrio, tratara-se de contratao para
atividade previsvel, permanente e ordinria. Assim, seria inconstitucional a lei que, a pretexto de
satisfazer o art. 37, IX, da CF, no estabelecesse prazo determinado ou no especificasse a contingncia
ftica que evidenciasse a situao emergencial.
ADI 5163/GO, rel. Min. Luiz Fux, 8.4.2015. (ADI-5163) (Informativo 780, Plenrio)
Policiais temporrios e princpio do concurso pblico - 7 O Tribunal reputou que, no tocante inconstitucionalidade formal, o diploma em questo violaria o
art. 24 da CF, ao usurpar a competncia da Unio para legislar sobre o tema. Aos Estado-Membros a
Constituio permitiria o estabelecimento de regras ou disposies que permitissem a aplicao das
diretrizes gerais e principiolgicas impostas pela Unio. Nas hipteses constitucionalmente previstas de
competncia legislativa concorrente entre Unio e Estados-membros, situao em que caberia Unio
estabelecer normas gerais e a estes normas suplementares, a nica situao permissiva de exame de
constitucionalidade em sede de fiscalizao normativa abstrata seria aquela a configurar
inconstitucionalidade direta, imediata e frontal. o que ocorreria na espcie. A norma federal a cuidar do
tema Lei 10.029/2000 fora editada para trazer os parmetros de organizao de servio voluntrio nas Polcias Militares e Corpos de Bombeiros Militares. Assim, a lei estadual deveria ser expungida no
que divergisse ou inovasse em relao lei federal. Esta, alm de restringir o exerccio do servio militar
voluntrio a atividades administrativas e auxiliares, proibiria porte de arma de fogo e exerccio de poder
de polcia pelos voluntrios, estabeleceria auxlio mensal de carter indenizatrio no superior a dois
salrios mnimos e impossibilitaria a caracterizao de vnculo empregatcio e de natureza previdenciria
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pela prestao dos servios voluntrios. O contraste com a norma estadual seria, portanto, radical e
insanvel. Por fim, o Colegiado no modulou os efeitos da declarao de inconstitucionalidade, uma vez
no atingido o nmero de votos necessrio para tanto.
ADI 5163/GO, rel. Min. Luiz Fux, 8.4.2015. (ADI-5163) (Informativo 780, Plenrio)
Art. 27 da Lei 9.868/1999 e suspenso de julgamento - 4 Em ao direta de inconstitucionalidade, com a proclamao do resultado final, se tem por
concludo e encerrado o julgamento e, por isso, invivel a sua reabertura para fins de modulao. Com
base nesse entendimento, o Plenrio, por maioria, resolveu questo de ordem no sentido de afirmar que o
exame da presente ao direta fora concludo e que no seria admissvel reabrir discusso aps o
resultado ter sido proclamado. Na espcie, na data do julgamento estavam presentes dez Ministros da
Corte, porm, no se teria obtido a maioria de dois teros (oito votos) para se modular os efeitos da
deciso, nos termos do art. 27 da Lei 9.868/1999 (Ao declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, e tendo em vista razes de segurana jurdica ou de excepcional interesse social, poder o
Supremo Tribunal Federal, por maioria de dois teros de seus membros, restringir os efeitos daquela
declarao ou decidir que ela s tenha eficcia a partir de seu trnsito em julgado ou de outro momento
que venha a ser fixado) e o julgamento fora encerrado Na sesso subsequente, tendo em conta o comparecimento do Ministro ausente da sesso anterior, cogitou-se prosseguir no julgamento quanto
modulao v. Informativos 481 e 776. A Corte destacou que a anlise da ao direta de inconstitucionalidade seria realizada de maneira bifsica: a) primeiro se discutiria a questo da
constitucionalidade da norma, do ponto de vista material; e, b) declarada a inconstitucionalidade, seria
discutida a aplicabilidade da modulao dos efeitos temporrios, nos termos do art. 27 da Lei 9.868/1999.
Assim, se a proposta de modulao tivesse ocorrido na data do julgamento de mrito, seria possvel
admiti-la. Ressalvou que no teria havido erro material e, uma vez que a apreciao do feito fora
concluda e proclamado o resultado, no se poderia reabrir o que decidido. Por conseguinte, estaria
preclusa, luz do postulado do devido processo legal, a possibilidade de nova deliberao. Vencidos os
Ministros Gilmar Mendes, Menezes Direito e Teori Zavascki, que admitiam a retomada do julgamento
quanto modulao dos efeitos. Para o Ministro Teori Zavascki, teria havido error in procedendo. Apontava que, em caso de modulao, se no fosse alcanado o qurum e houvesse magistrado para
votar, o julgamento deveria ser adiado.
ADI 2949 QO/MG, rel. orig. Min. Joaquim Barbosa, red. p/ o acrdo Min. Marco Aurlio, 8.4.2015. (ADI-2949) (Informativo 780, Plenrio)
ADI e softwares abertos - 3 A preferncia pelo software livre, longe de afrontar os princpios constitucionais da
impessoalidade, da eficincia e da economicidade, promove e prestigia esses postulados, alm de
viabilizar a autonomia tecnolgica do Pas. Com base nessa orientao, o Plenrio reputou improcedente
pedido formulado em ao direta ajuizada contra a Lei 11.871/2002 do Estado do Rio Grande do Sul, que
estabelece regime de preferncia abstrata em favor de softwares livres quando da aquisio de programas de computador pela Administrao Pblica gacha v. Informativo 686 (medida cautelar noticiada no Informativo 343). De incio, o Plenrio distinguiu os softwares livres dos softwares proprietrios. Enquanto os softwares proprietrios (tambm conhecidos como fechados) apenas permitiriam a utilizao pelo seu destinatrio, os softwares livres (cognominados abertos) viabilizariam, alm da utilizao, a sua cpia, sua alterao e a sua redistribuio para a Administrao. Esclareceu que
um mesmo programa de computador poderia configurar-se como software livre ou proprietrio, a depender da extenso dos direitos conferidos ao seu usurio no contrato de licenciamento. A distino,
portanto, diria respeito formatao jurdica da licena, ou seja, extenso dos poderes facultados ao
licenciado pelo negcio jurdico que possibilitasse acesso ao programa de computador. Lembrou que a
Lei 11.871/2002 criara regras de preferncia para a aquisio de softwares livres por parte da Administrao Pblica direta, indireta, autrquica e fundacional daquela entidade federativa, assim como
os rgos autnomos e empresas sob o controle do Poder Pblico estadual. A preferncia, no entanto, fora
apenas relativa porque a prpria Lei 11.871/2002, em seu artigo 3, admitira a contratao de programas
de computador com restries proprietrias, nas seguintes hipteses especficas: a) quando o software analisado atender a contento o objetivo licitado ou contratado; e b) quando a utilizao de programa livre
e/ou cdigo fonte aberto causar incompatibilidade operacional com outros programas utilizados pela
Administrao. O Tribunal asseverou que a norma questionada no afrontaria o art. 61, II, b, da CF, na
medida em que versa tema de licitao no mbito da Administrao Pblica estadual, e no de matria
oramentria, menos ainda de organizao administrativa. Ademais, a iniciativa legislativa prevista no
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aludido dispositivo constitucional teria sido reservada ao Presidente da Repblica apenas por se tratar de
matria adstrita aos Territrios.
ADI 3059/RS, rel. orig. Min. Ayres Britto, red. p/ o acrdo Min. Luiz Fux, 9.4.2015. (ADI-3059) (Informativo 780, Plenrio)
ADI e softwares abertos - 4 A Corte entendeu que tampouco haveria ofensa ao art. 22, XXVII, da CF, uma vez no haver
contrariedade s normas gerais sobre licitaes e contrataes pblicas em vigor. Frisou que a falta de
previso expressa no art. 24 da CF no representaria impedimento constitucional atividade legiferante
dos entes federativos sobre a matria de licitaes e contratos administrativos. Alm disso, a Lei
gacha 11.871/2002 apenas concretizaria o princpio da padronizao j insculpido no art. 15, I, da Lei
8.666/1993 (Art.15. As compras, sempre que possvel, devero: I - atender ao princpio da padronizao, que imponha compatibilidade de especificaes tcnicas e de desempenho, observadas,
quando for o caso, as condies de manuteno, assistncia tcnica e garantia oferecidas). Assim, a norma questionada tambm no teria afrontado o devido processo legislativo por vcio de iniciativa e o
princpio da separao de Poderes. Segundo o Tribunal, em nenhum momento a regra legal teria
excludo do universo de possveis contratantes pelo Poder Pblico qualquer sujeito. O que a lei do
Estado do Rio Grande do Sul fizera fora reconhecer que o contrato de licenciamento a ser celebrado
pelo Poder Pblico deveria ter contedo amplo, a viabilizar no apenas a utilizao do software, mas tambm sua modificao e distribuio. No haveria, na hiptese, qualquer restrio competitividade.
Ainda, no haveria afronta aos princpios da eficincia e da economicidade (CF, artigos 37, caput e 70, caput) porque, ao optar por um software livre, a Administrao Pblica teria garantido sua: a) liberdade de execuo, por poder executar o programa para qualquer propsito; b) liberdade de
conhecimento, por poder estudar o funcionamento do programa e adapt-lo livremente s suas
necessidades; e c) liberdade de compartilhamento, porque uma nica cpia do programa poderia ser
utilizada por todos os funcionrios de um mesmo rgo pblico ou por qualquer outro ente, fosse ele
pessoa fsica ou jurdica, sem custos adicionais. Nesse cenrio, existiriam razes suficientes para que o
legislador, em nome do postulado constitucional da eficincia, determinasse que os contratos de
licenciamento de softwares livres fossem preferencialmente adotados pela Administrao Pblica, em detrimento dos contratos de licenciamento proprietrio.
ADI 3059/RS, rel. orig. Min. Ayres Britto, red. p/ o acrdo Min. Luiz Fux, 9.4.2015. (ADI-3059) (Informativo 780, Plenrio)
ADI e submisso de membros da Administrao Pblica ao Poder Legislativo - 2 Em concluso de julgamento, o Plenrio conheceu em parte de pedido formulado em ao direta,
e, na parte conhecida, julgou-o procedente, para declarar a inconstitucionalidade dos incisos XXXI e
XXXII do art. 33 da Constituio do Estado de Roraima, na redao dada pelas EC 23/2009 e EC
30/2012 v. Informativo 777. De incio, o Colegiado afirmou, no tocante ao art. 111, 1 e 2, do mesmo diploma, que o pleito no deveria ser conhecido, por ausncia de fundamentao pelo
requerente. De igual modo, o pedido tambm no deveria ser conhecido quanto ao inciso XVIII do art.
33, haja vista que o dispositivo, trazido em aditamento inicial, teria sido impugnado, em sua redao
original, em outra ao direta (ADI 2.167/RR, pendente de julgamento), mas no teria sido questionado
na inicial da presente ao. Relativamente s demais normas, reputou sua inconstitucionalidade. O
inciso XXXI dispe sobre o afastamento e nulidade dos atos praticados por pessoas indicadas para
certos cargos da alta Administrao direta e indireta, caso seus nomes no sejam submetidos
Assembleia Legislativa estadual. J o inciso XXXII obriga os titulares da Universidade Estadual de
Roraima, da Companhia de gua e Esgoto, alm de outros membros da Administrao Pblica a
comparecer anualmente ao Poder Legislativo para prestar contas, sob pena de serem sumariamente
destitudos do cargo. O Colegiado afirmou que esses incisos, por tratarem de regime jurdico de
servidores pblicos sem observncia da iniciativa privativa do Chefe do Executivo, ofenderiam a
Constituio, em seu art. 61, 1, c, mesmo porque os preceitos no adviriam da redao originria do
texto estadual, mas sim de emendas Constituio local, que deveriam observar as regras de iniciativa
privativa. Do ponto de vista material, o inciso XXXI seria invlido em relao ao Procurador -Geral do
Estado e aos presidentes de empresas pblicas e sociedades de economia mista, mas no no que diz
respeito a dirigentes de autarquias e fundaes. No que se refere ao inciso XXXII, prescreveria modelo
de fiscalizao exacerbado e incompatvel com o princpio da separao de Poderes. Reajustou seu
voto o Ministro Ricardo Lewandowski (Presidente e relator).
ADI 4284/RR, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 9.4.2015. (ADI-4284) (Informativo 780, Plenrio)
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Subsdio vitalcio a ex-governador - 3
Em concluso de julgamento, o Plenrio, por maioria, deferiu medida acauteladora em ao direta de
inconstitucionalidade para suspender a eficcia do art. 305 da Constituio do Estado do Par, o qual dispe
que cessada a investidura no cargo de Governador, quem o tiver exercido em carter permanente far jus, a ttulo de representao, a um subsdio mensal e vitalcio igual remunerao do cargo de Desembargador do
Tribunal de Justia do Estado e, por arrastamento, de seu 1 (O pagamento de subsdio estabelecido neste artigo ser suspenso durante o perodo em que o beneficirio estiver no exerccio de mandato eletivo
ou em cargo em comisso, salvo direito de opo) v. informativo 616. Afastou, de incio, a assertiva de que o subsdio em apreo teria natureza de representao. Embora assim mencionado na norma questionada,
a representao teria causas jurdicas e funcionais inocorrentes para ex-detentor de cargo poltico, porquanto
no haveria remisso a um gabinete responsvel por custeios a serem aperfeioados com aquele pagamento
e, tampouco, o recebimento de remunerao cuja parcela pudesse ser integrada por essa representao. Alm
disso, no se poderia cogitar de penso previdenciria, porquanto, no servio pblico, o benefcio somente
seria conferido ao dependente do agente pblico em razo de sua morte (CF, art. 40, 7). De igual modo,
no haveria possibilidade de enquadramento do subsdio como penso civil, haja vista que esta seria devida
para o caso de leso ou outra ofensa sade (CC, art. 949). Ademais, a remisso ao vencimento de
desembargador para a fixao do subsdio em comento significaria a extenso dessa espcie remuneratria a
quem no mais trabalharia no Estado. No haveria parmetro constitucional nacional para o benefcio
adversado, que configuraria inaugurao de padro normativo estadual em desconformidade com princpios
constitucionais, notadamente os relativos Administrao Pblica e s regras oramentrias. Por fim, o
Colegiado assentou a higidez do 2 do artigo impugnado ao fundamento de ser regra autnoma (O Presidente e os ex-Presidentes do Poder Legislativo, o Governador e os ex-Governadores do Estado, o
Presidente e os ex-Presidentes do Tribunal de Justia, em caso de acidente ou doena, tero custeadas pelo
Estado as despesas com o tratamento mdico e hospitalar). Vencido o Ministro Dias Toffoli, que concedia a medida cautelar em parte para: a) atribuir interpretao conforme a Constituio primeira parte do
caput do art. 305 da Constituio estadual, que concede subsdio mensal e vitalcio a ex-governadores, para que se entendesse por constitucional a penso fixada nas hipteses de comprovada insuficincia
financeira do ex-mandatrio, aferida a partir de critrios razoveis a serem definidos na legislao ordinria;
b) suspender a expresso igual remunerao do cargo de Desembargador do Tribunal de Justia do Estado contida no caput do art. 305 da Constituio estadual; e c) suspender a expresso salvo direito de opo contida no 1 do mencionado art. 305, bem como conferir interpretao conforme a Constituio ao dispositivo, para explicitar que o pagamento da penso seria suspenso durante o perodo em que o
beneficirio estivesse no exerccio de atividade remunerada a afastar o critrio da insuficincia econmica.
ADI 4552 MC/DF, rel. Min. Crmen Lcia, 9.4.2015. (ADI-4552) (Informativo 780, Plenrio) 1 Parte: 2 Parte:
Organizaes sociais e contrato de gesto - 7 Em concluso de julgamento, o Plenrio, por maioria, acolheu, em parte, pedido formulado em ao
direta de inconstitucionalidade para conferir interpretao conforme a Constituio Lei 9.637/1998 que dispe sobre a qualificao como organizaes sociais de pessoas jurdicas de direito privado, a
criao do Programa Nacional de Publicizao, a extino dos rgos e entidades que menciona, a
absoro de suas atividades por organizaes sociais, e d outras providncias e ao inciso XXIV do art. 24 da Lei 8.666/1993 com a redao dada pelo art. 1 da Lei 9.648/1998, que autoriza a celebrao de contratos de prestao de servios com organizaes sociais, sem licitao , para explicitar que: a) o procedimento de qualificao das organizaes sociais deveria ser conduzido de forma pblica, objetiva e
impessoal, com observncia dos princpios do caput do art. 37 da CF, e de acordo com parmetros fixados em abstrato segundo o disposto no art. 20 da Lei 9.637/1998; b) a celebrao do contrato de
gesto fosse conduzida de forma pblica, objetiva e impessoal, com observncia dos princpios do
caput do art. 37 da CF; c) as hipteses de dispensa de licitao para contrataes (Lei 8.666/1993, art. 24, XXIV) e outorga de permisso de uso de bem pblico (Lei 9.637/1998, art. 12, 3) deveriam ser
conduzidas de forma pblica, objetiva e impessoal, com observncia dos princpios do caput do art. 37 da CF; d) a seleo de pessoal pelas organizaes sociais seria conduzida de forma pblica, objetiva e
impessoal, com observncia dos princpios do caput do art. 37 da CF, e nos termos do regulamento prprio a ser editado por cada entidade; e e) qualquer interpretao que restringisse o controle, pelo
Ministrio Pblico e pelo Tribunal de Contas da Unio, da aplicao de verbas pblicas deveria ser
afastada v. Informativos 621 e 627 (medida cautelar noticiada nos Informativos 421, 454 e 474).
ADI 1923/DF, rel. orig. Min. Ayres Britto, red. p/ o acrdo Min. Luiz Fux, 15 e 16.4.2015. (ADI-1923) (Informativo 781, Plenrio) 1 Parte: 2 Parte: 3 Parte:
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Organizaes sociais e contrato de gesto - 8 A Corte admitiu a possibilidade de contratos serem celebrados por organizao social com terceiros,
com recursos pblicos, desde que fossem conduzidos de forma pblica, objetiva e impessoal, com
observncia dos princpios do art. 37, caput, da CF, e nos termos do regulamento prprio a ser editado por cada entidade. Destacou a necessidade de se averiguar o que constitucionalmente imposto de forma
invarivel e o que suscetvel de escolha pela maioria poltica no que tange interveno do Estado nos
domnios sociais. Aduziu que a Constituio permitiria interpretao, fundada no pluralismo poltico, a
ensejar a prtica de projetos polticos diferentes. Destacou serem os setores de cultura, desporto, lazer,
cincia, tecnologia e meio ambiente atividades-deveres do Estado e tambm da sociedade. A Constituio
conteria dispositivos em que seria facultada a livre iniciativa, inclusive pelo setor privado, nos servios de
sade e educao. Os referidos setores seriam os chamados servios pblicos sociais, de natureza no exclusiva e no privativos, em que a titularidade poderia ser compartilhada pelo Poder Pblico e pela
iniciativa privada. Assim, o Plenrio optou por dar interpretao conforme a alguns dispositivos porque, na
essncia, aduziriam ao que aconteceria com determinadas entidades extintas e seu patrimnio. Ponderou
que, se fossem transformadas todas as organizaes sociais em rgos da Administrao Pblica e se fossem
assumidos todos os seus empregados e servios por elas prestados, o Estado no teria como arcar com essas
despesas. Por outro lado, as organizaes sociais exerceriam papel relevante, pela sua participao
coadjuvante em servios que no seriam exclusivos do Estado, e a Constituio admitiria essa
coparticipao particular. Haveria, hoje, uma flexibilizao das atividades que no seriam exclusivas do
Estado, no que reconhecido como um novo modelo gerencial da Administrao Pblica. Dessa forma, o
programa de publicizao permitiria ao Estado compartilhar com a comunidade, as empresas e o terceiro
setor a responsabilidade pela prestao de servios pblicos, como os de sade e de educao. Reconheceu
que a atuao da Corte no poderia traduzir forma de engessamento e de cristalizao de um determinado
modelo pr-concebido de Estado, a impedir que, nos limites constitucionalmente assegurados, as maiorias
polticas prevalecentes no jogo democrtico pluralista pudessem pr em prtica seus projetos de governo, de
forma a moldar o perfil e o instrumental do Poder Pblico conforme a vontade coletiva. Os setores de sade,
educao, cultura, desporto e lazer, cincia e tecnologia e meio ambiente (CF, artigos 199, caput; 209, caput; 215; 217; 218 e 225, respectivamente) configurariam servios pblicos sociais, em relao aos quais a Constituio, ao mencionar que seriam deveres do Estado e da Sociedade e que seriam livres iniciativa privada, permitiria a atuao, por direito prprio, dos particulares, sem que para tanto fosse necessria a delegao pelo Poder Pblico, de forma que no incidiria o art. 175, caput, da CF (Art. 175. Incumbe ao Poder Pblico, na forma da lei, diretamente ou sob regime de concesso ou permisso, sempre
atravs de licitao, a prestao de servios pblicos).
ADI 1923/DF, rel. orig. Min. Ayres Britto, red. p/ o acrdo Min. Luiz Fux, 15 e 16.4.2015. (ADI-1923) (Informativo 781, Plenrio)
Organizaes sociais e contrato de gesto - 9 O Tribunal apontou que a atuao do Poder Pblico no domnio econmico e social poderia ser
viabilizada por interveno direta ou indireta, quando disponibilizasse utilidades materiais aos
beneficirios, no primeiro caso, ou quando fizesse uso, no segundo caso, de seu instrumental jurdico para
induzir que os particulares executassem atividades de interesses pblicos por meio da regulao, com
coercitividade, ou do fomento, pelo uso de incentivos e estmulos a comportamentos voluntrios. Em
qualquer das situaes, o cumprimento efetivo dos deveres constitucionais de atuao estaria,
invariavelmente, submetido ao que a doutrina contempornea denomina de controle da Administrao
Pblica sob o ngulo do resultado. O fomento pblico no domnio dos servios sociais seria posto em
prtica pela cesso de recursos, bens e pessoal da Administrao Pblica para as entidades privadas, aps
a celebrao de contrato de gesto, o que viabilizaria o direcionamento, pelo Poder Pblico, da atuao do
particular em consonncia com o interesse pblico, pela insero de metas e de resultados a serem
alcanados, sem que isso configurasse qualquer forma de renncia aos deveres constitucionais de atuao.
A extino das entidades mencionadas nos artigos 18 a 22 da Lei 9.637/1998 no afrontaria a
Constituio, dada a irrelevncia do fator tempo na opo pelo modelo de fomento se simultaneamente ou aps a edio da lei em comento porque essas atividades distintas poderiam optar por serem qualificadas como organizaes sociais. O procedimento de qualificao de entidades, na sistemtica da
lei em questo, consistiria em etapa inicial e embrionria, pelo deferimento do ttulo jurdico de
organizao social, para que Poder Pblico e particular colaborassem na realizao de um interesse comum, ausente a contraposio de interesses, com feio comutativa e com intuito lucrativo, que
consistiria no ncleo conceitual da figura do contrato administrativo, o que tornaria inaplicvel o dever
constitucional de licitar (CF, art. 37, XXI). As dispensas de licitao institudas no art. 24, XXIV, da Lei
8.666/1993 e no art. 12, 3, da Lei 9.637/1998 teriam a finalidade hoje denominada funo regulatria
da licitao, a significar que esse procedimento passaria a ser visto como mecanismo de induo de
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determinadas prticas sociais benficas, a fomentar a atuao de organizaes sociais que j ostentassem,
poca da contratao, o ttulo de qualificao, e que por isso fossem reconhecidamente colaboradoras do
Poder Pblico no desempenho dos deveres constitucionais no campo dos servios sociais. O afastamento
do certame licitatrio no eximiria, porm, o administrador pblico da observncia dos princpios
constitucionais, de modo que a contratao direta deveria observar critrios objetivos e impessoais, com
publicidade de forma a permitir o acesso a todos os interessados. As organizaes sociais, por integrarem
o terceiro setor, no fariam parte do conceito constitucional de Administrao Pblica, razo pela qual
no se submeteriam, em suas contrataes com terceiros, ao dever de licitar. Por receberem recursos
pblicos, bens pblicos e servidores pblicos, porm, seu regime jurdico teria de ser minimamente
informado pela incidncia do ncleo essencial dos princpios da Administrao Pblica (CF, art. 37,
caput), dentre os quais se destacaria o princpio da impessoalidade, de modo que suas contrataes deveriam observar o disposto em regulamento prprio (Lei 9.637/1998, art. 4, VIII), que fixara regras
objetivas e impessoais para o dispndio de recursos pblicos (Art. 4 Para os fins de atendimento dos requisitos de qualificao, devem ser atribuies privativas do Conselho de Administrao, dentre outras:
... VIII - aprovar por maioria, no mnimo, de dois teros de seus membros, o regulamento prprio
contendo os procedimentos que deve adotar para a contratao de obras, servios, compras e alienaes e
o plano de cargos, salrios e benefcios dos empregados da entidade).
ADI 1923/DF, rel. orig. Min. Ayres Britto, red. p/ o acrdo Min. Luiz Fux, 15 e 16.4.2015. (ADI-1923) (Informativo 781, Plenrio)
Organizaes sociais e contrato de gesto - 10 A Corte frisou que os empregados das organizaes sociais no seriam servidores pblicos, mas sim
empregados privados, por isso sua remunerao no deveria ter base em lei (CF, art. 37, X), mas nos
contratos de trabalho firmados consensualmente. Por identidade de razes, tambm no se aplicaria s
organizaes sociais a exigncia de concurso pblico (CF, art. 37, II). A seleo de pessoal, da mesma
maneira como a contratao de obras e servios, deveria ser posta em prtica atravs de um procedimento
objetivo e impessoal. Inexistiria violao aos direitos dos servidores pblicos cedidos s organizaes
sociais, na medida em que preservado o paradigma com o cargo de origem, desnecessria a previso em
lei para que verbas de natureza privada fossem pagas pelas organizaes sociais. Os artigos 4, caput, e 10 da Lei 9.637/1998, ao disporem sobre a estruturao interna da organizao social e o dever de
representao dos responsveis pela fiscalizao, no mitigariam a atuao de ofcio dos rgos
constitucionais. De igual forma, a previso de percentual de representantes do Poder Pblico no conselho
de administrao das organizaes sociais no afrontaria o art. 5, XVII e XVIII, da CF, uma vez que
dependente, para se concretizar, de adeso voluntria das entidades privadas s regras do marco legal do
terceiro setor. Vencidos, em parte, o Ministro Ayres Britto (relator), que o julgava parcialmente
procedente, e os Ministros Marco Aurlio e Rosa Weber, que julgavam procedente o pedido em maior
extenso, para declarar a) a inconstitucionalidade dos artigos 1; 2, II; 4, V, VII, VIII; 5; 6, caput e pargrafo nico; 7, II; 11 a 15; 17; 20 e 22 da Lei 9.637/1998; b) a inconstitucionalidade do art. 1 da Lei
9.648/98, na parte em que inserira o inciso XXIV ao art. 24 da Lei 8.666/1993; c) a inconstitucionalidade,
sem reduo de texto, dos artigos 4, X, 9 e 10, caput, da Lei 9.637/1998, de modo a afastar toda e qualquer interpretao no sentido de que os rgos de controle interno e externo em especial, o Ministrio Pblico e o Tribunal de Contas fossem impedidos de exercer a fiscalizao da entidade de forma independente das instncias de controle previstas no mencionado diploma.
ADI 1923/DF, rel. orig. Min. Ayres Britto, red. p/ o acrdo Min. Luiz Fux, 15 e 16.4.2015. (ADI-1923) (Informativo 781, Plenrio)
Policiais civis e militares do sexo feminino e aposentadoria - 1 O Plenrio, por maioria, julgou improcedente pedido formulado em ao direta de
inconstitucionalidade por omisso, ajuizada com o objetivo de ser declarada a mora legislativa do Estado
de So Paulo na elaborao de lei complementar estadual sobre os critrios diferenciados para
aposentadoria de policiais civis e militares do sexo feminino, nos termos do art. 40, 1 e 4, da CF. No
tocante ao regime das policiais civis, o Colegiado mencionou a existncia da LC estadual 1.062/2008, que
dispe sobre requisitos e critrios diferenciados para a concesso de aposentadoria voluntria aos policiais
civis locais. Por outro lado, no plano federal, apontou haver a LC 144/2014, em alterao LC 51/1985,
que cuida da aposentadoria do funcionrio policial, para regulamentar a aposentadoria da mulher
servidora policial. A edio de lei complementar nacional, na atual configurao centralizadora da
Federao, seria impositiva, pois a matria exigiria regramento uniforme, de carter geral, mediante
edio de lei pela Unio, a fim de evitar criao de regras distintas pelos Estados-Membros para
servidores em situaes semelhantes. Assim, se a lei federal sobre a matria regulamenta o tempo de
contribuio para efeito de aposentadoria dos policiais de forma exaustiva, no poderia a lei estadual
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dispor de modo diverso, sob pena de afrontar as regras de repartio de competncia firmadas pela
Constituio. Quanto s servidoras policiais civis, o pleito aduzido no sentido de que se adotassem
critrios diferenciados para aposentadoria de policiais do sexo feminino j teria sido atendido pela LC
144/2014, que possui abrangncia nacional e incide, portanto, sobre servidores do Estado de So Paulo.
Ademais, no haveria de se falar em perda superveniente de objeto, porque a LC 144/2014 fora editada
em data anterior ao ajuizamento da presente ao, a evidenciar a inexistncia de omisso inconstitucional.
Sequer poderia se falar em inconstitucionalidade da referida lei complementar, objeto da ADI 5.129/DF,
pendente de julgamento. A constitucionalidade da norma seria presumida at eventual julgamento pelo
STF em sentido diverso.
ADO 28/SP, rel. Min. Crmen Lcia, 16.4.2015. (ADO-28) (Informativo 781, Plenrio)
Policiais civis e militares do sexo feminino e aposentadoria - 2 O Plenrio asseverou que, relativamente s policiais militares, o parmetro de controle de
inconstitucionalidade por omisso no se mostraria adequado. Com o advento das EC 18/1998 e EC
20/1998, os militares teriam sido excludos do conceito de servidores pblicos anteriormente concedido pela Constituio, para que no mais houvesse vnculo com os servidores civis. A organizao e o regime
jurdico dos militares, desde a forma de investidura at as formas de inatividade, diferiria
fundamentalmente do regime dos servidores civis. A Polcia Militar e o Corpo de Bombeiros Militar
seriam foras destinadas execuo dos servios de segurana pblica. Especificamente, as Polcias
Militares estaduais seriam instituies de natureza perene, com a competncia constitucional de polcias
ostensivas. Seus membros integrariam carreira tpica estadual (CF, art. 42). Assim, haveria a necessidade
jurdica de um regime previdencirio prprio dos militares estaduais, a ser normatizado em lei estadual
especfica, diversa da lei que regulasse o regime prprio dos servidores pblicos. Nesse sentido, conforme
jurisprudncia da Corte, a interpretao do 1 do art. 42 da CF impor-se-ia no sentido da
inaplicabilidade da regra de aposentadoria especial prevista no art. 40, 4, da CF em favor de policial
militar estadual. Esse entendimento fora confirmado tambm em julgamentos de aes nas quais o STF
analisara a possibilidade de cumulao de proventos decorrentes de aposentadoria na condio de
servidor pblico civil com proventos oriundos de aposentadoria na carreira militar. Fosse de se
reconhecer a identidade do regime previdencirio a que submetida essa aposentadoria, no poderia a
Corte ter garantido o direito de acumulao pleiteado na origem, pela vedao expressa do art. 40, 6, da
CF. Desse modo, existiriam duas espcies de regimes previdencirios prprios: um para servidores civis e
outro para militares. Por isso, o art. 40, 2, da CF somente permite a existncia de um regime prprio de
previdncia social para os servidores titulares de cargos efetivos, ressalvado o disposto no art. 142, 3,
X, da CF. Portanto, no haveria omisso inconstitucional quanto ao art. 40, 1 e 4, da CF, porque essa
norma constitucional seria inaplicvel aos militares. Ademais, a aposentadoria dos policiais militares
paulistas seria regulamentada pelo Decreto-Lei estadual 260/1970 e pela LC estadual 1.150/2011.
Vencido o Ministro Marco Aurlio, que no conhecia do pedido formulado. Entendia que o STF no teria
competncia para julgar a ao, tendo em vista suposta omisso do governador e da assembleia legislativa
estadual. Reputava que seria competente o Judicirio local. No mrito, julgava o pedido procedente.
ADO 28/SP, rel. Min. Crmen Lcia, 16.4.2015. (ADO-28) (Informativo 781, Plenrio)
Publicidade de bebidas alcolicas e omisso legislativa - 1 O Plenrio, por maioria, conheceu de ao direta de inconstitucionalidade por omisso, e, no mrito,
julgou improcedente pedido formulado em face de alegada omisso legislativa parcial do Congresso
Nacional, tendo em vista ausncia de regulamentao acerca da propaganda de bebidas de teor alcolico
inferior a 13 graus Gay Lussac (13 GL), em desacordo com o comando constitucional previsto no art.
220, 4, da CF ( 4 - A propaganda comercial de tabaco, bebidas alcolicas, agrotxicos, medicamentos e terapias estar sujeita a restries legais, nos termos do inciso II do pargrafo anterior, e
conter, sempre que necessrio, advertncia sobre os malefcios decorrentes de seu uso). O Tribunal, de incio, asseverou que estaria assentada na jurisprudncia do STF, com fundamento na interpretao dos
princpios da harmonia e independncia entre os Poderes, a impossibilidade de, em sede jurisdicional,
criar-se norma geral e abstrata em substituio ao legislador, reiterado o quanto decidido na ADI
1.755/DF (DJU de 18.5.2001). No entanto, no caso em comento, o primeiro item a ser considerado
deveria ser a real existncia da alegada omisso inconstitucional em matria de propaganda de bebidas
alcolicas. O legislador federal, no exerccio da atribuio a ele conferida pelo poder constituinte
originrio, aprovara a Lei 9.294/1996, que dispe sobre as restries ao uso e propaganda de produtos
fumgeros, bebidas alcolicas, medicamentos, terapias e defensivos agrcolas, nos termos do 4 do art.
220 da CF. Da anlise do trmite do projeto que dera origem referida lei constatar-se-ia que a matria
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teria sido amplamente debatida durante sete anos nas casas do Congresso Nacional. A elaborao da lei
em anlise teria sido, inclusive, seguida de: a) aprovao do Decreto 2.018/1996, que a regulamenta; b)
instituio da Poltica Nacional sobre o lcool que dispe sobre as medidas para reduo do uso indevido de lcool e respectiva associao com a violncia e criminalidade , aprovada pelo Decreto 6.117/2007; e c) regulamentao e fiscalizao implementadas pelo Conselho Nacional de
Autorregulamentao Publicitria - Conar. No se demonstraria, pois, omisso inconstitucional na
espcie.
ADO 22/DF, rel. Min. Crmen Lcia, 22.4.2015. (ADO-22) (Informativo 782, Plenrio)
Publicidade de bebidas alcolicas e omisso legislativa - 2 A Corte destacou que a anlise dos dados constantes da norma vigente e mesmo do elemento
histrico o qual no seria o melhor critrio de interpretao, mas fator demonstrativo da ao legislativa, a deitar por terra, no caso, a afirmativa de omisso do legislador , comprovariam que a questo estaria afeita ao exerccio de competncia legtima e prioritria do Poder Legislativo. Ademais,
a irresignao quanto ao critrio fixado no pargrafo nico do art. 1 da Lei 9.294/1996 bebidas alcolicas, para efeitos da lei, seriam as bebidas potveis com teor alcolico superior a 13 GL no seria suficiente para evidenciar a alegada omisso inconstitucional, dado que, como dito, estaria
demonstrado nos autos ter sido a matria relativa propaganda de bebidas alcolicas objeto de amplos
debates em ambas as Casas do Poder Legislativo. Ainda que se pudessem considerar relevantes as
razes sociais motivadoras da ao direta em apreciao, o pedido no poderia prosperar. Isso porque,
to importante quanto a preservao da sade daqueles que se excedem no uso de bebidas alcolicas, e
que poderiam consumi-las em nveis menores, seria a observncia de princpios fundamentais do
direito constitucional, como o da separao dos Poderes. Assim, para afirmar a omisso
inconstitucional na espcie, o STF teria de analisar a convenincia poltica de normas legitimamente
elaboradas pelos representantes eleitos pelo povo. Portanto, no se estaria diante de uma omisso, mas
diante de uma opo, ou seja, o que teria havido seria uma opo do legislador na escolha das
propagandas que seriam viveis, ou no. Outrossim, a Lei 9.294/1996 no contraditaria a Lei
11.705/2008, pela qual instituda a chamada Lei Seca, estabelecendo-se restries ao uso de lcool por motoristas. No caso, estaria em discusso a questo da liberdade de expresso com relao
propaganda. No se estaria a julgar teor alcolico de bebida, e, sim, at que limite poderia ir sua
publicidade. Vencido, em parte, o Ministro Marco Aurlio, que no conhecia da ao direta, dado que
seu autor seria carecedor de ao.
ADO 22/DF, rel. Min. Crmen Lcia, 22.4.2015. (ADO-22) (Informativo 782, Plenrio)
Extradio
Extradio e prescrio da pretenso punitiva Por no atendido o requisito da dupla punibilidade, a Segunda Turma indeferiu pedido de
extradio formulado pelo Governo da Itlia. Na espcie, o estrangeiro fora condenado pela justia
italiana por crimes de falncia fraudulenta. Embora presente o requisito da dupla tipicidade, os delitos
teriam sido praticados sob a vigncia do Decreto-Lei 7.661/1945 (Lei de Falncias). A referida norma
previa o prazo prescricional de dois anos para os crimes em comento, tempo esse j transcorrido. A
Turma reputou extinta a pretenso executria da pena nos termos da legislao vigente no Brasil,
poca dos fatos.
Ext 1324/DF, rel. Min. Dias Toffoli, 7.4.2015. (Ext-1324) (Informativo 780, 2 Turma)
Repartio de Competncia
PSV: crimes de responsabilidade e competncia legislativa (Enunciado 46 da Smula Vinculante) O Plenrio acolheu proposta de edio de enunciado de smula vinculante com o seguinte teor: A
definio dos crimes de responsabilidade e o estabelecimento das respectivas normas de processo e
julgamento so da competncia legislativa privativa da Unio. Assim, tornou vinculante o contedo do Verbete 722 da Smula do STF, acolhida a proposta redacional do Ministro Ricardo Lewandowski
(Presidente).
PSV 106/DF, 9.4.2015. (PSV-106) (Informativo 780, Plenrio)
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Sistema Financeiro Nacional
Plano Real: contrato de locao comercial - 3 O Plenrio, em concluso de julgamento e por maioria, negou provimento a recursos extraordinrios
em que discutida a incidncia da Medida Provisria 542/1994, instituidora do Plano Real, em relao aos
contratos de aluguel de imveis comerciais firmados anteriormente sua edio, ante o questionamento
sobre a constitucionalidade do art. 21 da Lei 9.069/1995, resultante da converso da referida Medida
Provisria v. Informativos 116 e 781. Alegava-se que a aplicao dessas normas aos contratos em curso de execuo comprometeria a garantia constitucional de preservao do direito adquirido e do ato jurdico
perfeito. O Colegiado, inicialmente, destacou que o art. 21 da Lei 9.069/1995 seria um dos mais importantes
conjuntos de preceitos normativos do Plano Real, um dos seus pilares essenciais, justamente o que fixaria os
critrios para a transposio das obrigaes monetrias, inclusive contratuais, do antigo para o novo sistema
monetrio. Seria, portanto, preceito de ordem pblica, e seu contedo, por no ser suscetvel de disposio
por atos de vontade, teria natureza estatutria, a vincular de forma necessariamente semelhante todos os
destinatrios. Desde logo se deveria registrar que, pelo seu teor, no haveria dvida de que a norma fora
editada para ter aplicao sobre os contratos em curso. Alis, seria justamente essa a sua finalidade
especfica. A questo posta, portanto, no seria apenas de direito intertemporal. Se a finalidade da norma
fosse disciplinar o regime de correo monetria de contratos em curso, qualquer juzo que importasse a no
aplicao a esses contratos suporia, necessariamente, a prvia declarao de sua inconstitucionalidade. O art.
5, XXXVI, da CF (A lei no prejudicar o direito adquirido, o ato jurdico perfeito e a coisa julgada) norma de sobredireito editada com a finalidade de nortear a produo de outras normas diria respeito no apenas ao poder de legislar sobre direito privado, mas tambm ao de editar normas de direito pblico. Todos
os preceitos normativos infraconstitucionais, independente da matria que versassem, deveriam estrita
obedincia referida clusula limitativa. Portanto, tambm as normas de direito econmico, como as que
editassem planos econmicos, haveriam de preservar os direitos adquiridos e o ato jurdico perfeito.
Ademais, no se poderia confundir aplicao imediata com aplicao retroativa da lei. A aplicao retroativa
seria a que fizesse a norma incidir sobre suportes fticos ocorridos no passado. Essa incidncia seria
ilegtima, salvo se dela no resultasse violao a direito adquirido, a ato jurdico perfeito ou a coisa julgada.
Assim, no seria vedada a incidncia retroativa de norma nova que, por exemplo, importasse situao de
vantagem ao destinatrio. Por outro lado, aplicao imediata seria a que se desse sobre fatos presentes,
atuais, no sobre fatos passados. Em princpio, no haveria vedao alguma a essa incidncia, respeitada,
evidentemente, a clusula constitucional antes referida.
RE 212609/SP, rel. Min. Carlos Velloso, red. p/ o acrdo Min. Teori Zavascki, 29.4.2015. (RE-212609)
RE 215016/SP, rel. Min. Carlos Velloso, red. p/ o acrdo Min. Teori Zavascki, 29.4.2015. (RE-215016)
RE 211304/RJ, rel. Min. Marco Aurlio, red. p/ o acrdo Min. Teori Zavascki, 29.4.2015. (RE-211304)
RE 222140/SP, rel. Min. Marco Aurlio, red. p/ o acrdo Min. Teori Zavascki, 29.4.2015. (RE-222140)
RE 268652/RJ, rel. Min. Marco Aurlio, red. p/ o acrdo Min. Teori Zavascki, 29.4.2015. (RE-268652) (Informativo 783, Plenrio)
Plano Real: contrato de locao comercial - 4 O Plenrio acentuou que a jurisprudncia do STF sempre teria resolvido a questo fazendo ntida
distino entre: a) situaes jurdicas individuais, formadas por ato de vontade especialmente os contratos , cuja s celebrao, quando legtima, j lhes outorgaria a condio de ato jurdico perfeito e, portanto, imune a modificaes legislativas supervenientes; e b) situaes jurdicas formadas segundo normas gerais e
abstratas, de natureza cogente denominadas situaes institucionais ou estatutrias , em cujo mbito os direitos somente poderiam ser considerados adquiridos quando inteiramente formado o suporte ftico
previsto na lei como necessrio sua incidncia. A orientao adotada pelo STF estaria perfeitamente
ajustada aos critrios tcnicos definidos na doutrina. Com efeito, a configurao do direito adquirido e do
ato jurdico perfeito no ocorreria de maneira uniforme em todas as situaes jurdicas. Em matria de
direito intertemporal, seria indispensvel que se traasse a essencial distino entre direito adquirido
fundado em ato de vontade contrato e direito adquirido fundado em preceito normativo, de cunho institucional, para cuja definio o papel da vontade individual seria absolutamente neutro. Alis, mesmo
nas situaes de natureza contratual nunca encontrveis em estado puro a lei nova incidiria imediatamente sobre as clusulas nele incorporadas por fora de preceito normativo cogente, ou seja,
aquelas cujo contedo fugisse ao domnio da vontade dos contratantes. Realmente, em casos de situaes
jurdicas oriundas de contratos, notadamente em se tratando de contratos de trato sucessivo e execuo
diferida, a incorporar clusulas regradas por lei, seria pacfica a jurisprudncia no sentido de que no haveria
direito adquirido manuteno de tais clusulas. Disciplinadas em lei de forma abstrata e geral, elas seriam
suscetveis de alterao com eficcia imediata, inclusive em relao aos contratos em curso de execuo.
Assim, o caso em anlise haveria de ser enfrentado e resolvido com base no pressuposto de que as normas
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que tratassem do regime monetrio inclusive as de correo monetria , teriam natureza institucional e estatutria, insuscetveis de disposio por ato de vontade, razo pela qual sua incidncia seria imediata, a
alcanar as situaes jurdicas em curso de formao ou de execuo. Seria, inclusive, irrelevante, para esse
efeito de aplicao imediata, que a clusula estatutria estivesse reproduzida em ato negocial, eis que essa
no seria circunstncia juridicamente apta a modificar a sua natureza.
RE 212609/SP, rel. Min. Carlos Velloso, red. p/ o acrdo Min. Teori Zavascki, 29.4.2015. (RE-212609)
RE 215016/SP, rel. Min. Carlos Velloso, red. p/ o acrdo Min. Teori Zavascki, 29.4.2015. (RE-215016)
RE 211304/RJ, rel. Min. Marco Aurlio, red. p/ o acrdo Min. Teori Zavascki, 29.4.2015. (RE-211304)
RE 222140/SP, rel. Min. Marco Aurlio, red. p/ o acrdo Min. Teori Zavascki, 29.4.2015. (RE-222140)
RE 268652/RJ, rel. Min. Marco Aurlio, red. p/ o acrdo Min. Teori Zavascki, 29.4.2015. (RE-268652) (Informativo 783, Plenrio)
Plano Real: contrato de locao comercial - 5 O Plenrio destacou, por fim, que as normas sobre correo monetria editadas no mbito de planos
econmicos, como no caso, teriam, de modo geral, a importante e necessria funo de manter o
equilbrio da equao financeira das obrigaes pecunirias legais e contratuais nascidas anteriormente.
Essas obrigaes, formadas em poca de profunda crise inflacionria, sofreriam, com a edio desses
planos, o impacto de uma nova realidade, que seria a estabilizao ou, pelo menos, a brusca desacelerao dos preos, imposta por congelamento ou por outros mecanismos com funo semelhante. Portanto, considerando que as normas em questo constantes do art. 21 da Lei 9.069/1995 editadas no mbito da implantao de novo sistema monetrio, chamado Plano Real, teriam natureza institucional ou estatutria, no haveria inconstitucionalidade em sua aplicao imediata que no se confundiria com aplicao retroativa , para disciplinar as clusulas de correo monetria de contratos em curso. Vencidos no RE 211.304/RJ, no RE 222.140/SP e no RE 268.652/RJ , os Ministros Marco Aurlio (relator) e Ricardo Lewandowski (Presidente), e no RE 212.609/SP e no RE 215.016/SP , os Ministros Carlos Velloso (relator) e Marco Aurlio, que davam provimento aos recursos, porquanto entendiam estar configurada a ofensa ao art. 5, XXXVI, da CF.
RE 212609/SP, rel. Min. Carlos Velloso, red. p/ o acrdo Min. Teori Zavascki, 29.4.2015. (RE-212609)
RE 215016/SP, rel. Min. Carlos Velloso, red. p/ o acrdo Min. Teori Zavascki, 29.4.2015. (RE-215016)
RE 211304/RJ, rel. Min. Marco Aurlio, red. p/ o acrdo Min. Teori Zavascki, 29.4.2015. (RE-211304)
RE 222140/SP, rel. Min. Marco Aurlio, red. p/ o acrdo Min. Teori Zavascki, 29.4.2015. (RE-222140)
RE 268652/RJ, rel. Min. Marco Aurlio, red. p/ o acrdo Min. Teori Zavascki, 29.4.2015. (RE-268652) (Informativo 783, Plenrio)
Tribunal de Contas
TCU: anulao de acordo extrajudicial e tomada de contas especial O TCU tem legitimidade para anular acordo extrajudicial firmado entre particulares e a Administrao
Pblica, quando no homologado judicialmente. Com base nessa orientao, a Primeira Turma, por maioria,
denegou mandado de segurana impetrado em face de ato do TCU, que, em procedimento de tomada de
contas especial, declarara a ilegalidade de acordo extrajudicial firmado entre os ora impetrantes e o Poder
Pblico, e determinara a devoluo de valores recebidos e a aplicao de multa. A Turma, inicialmente,
assentou a possibilidade de o TCU apurar a responsabilidade de administradores e particulares que tivessem
firmado acordo extrajudicial tido como irregular, sendo permitida a aplicao de sanes. A celebrao de
transao entre as partes, na forma do art. 269, III, do CPC, no retiraria a competncia jurisdicional para a
anlise da legalidade do ato, a fim de homologar o acordo celebrado. Na espcie, no haveria prova de
homologao judicial do acordo firmado entre os impetrantes e a Administrao Pblica, tendo ocorrido
somente a desistncia de ao judicial na qual se discutia a responsabilidade do Poder Pblico por supostos
prejuzos sofridos pelos impetrantes, discusso esta que dera ensejo celebrao do acordo extrajudicial em
discusso. Assim, no haveria que se falar em julgamento do mrito da questo pelo Poder Judicirio, a
afastar a atuao do TCU, que ocorreria em sede administrativa. Seria certo, ademais, que a jurisprudncia
do STF seria pacfica no sentido da independncia entre as instncias cvel, penal e administrativa.
Outrossim, haveria, na hiptese, uma incompatibilidade absoluta entre o valor pago pela Administrao no
bojo do acordo extrajudicial e o dano efetivo que estaria sendo discutido em juzo quando de sua celebrao,
desproporcionalidade esta cuja avaliao demandaria o revolvimento de matria probatria, incabvel em
sede de mandado de segurana. Vencido o Ministro Marco Aurlio, que deferia a segurana por entender
que, na espcie, no se teria situao jurdica em que o TCU, rgo administrativo, tivesse imposto sano.
No caso, aquele tribunal simplesmente teria determinado a particulares, que no eram administradores, a
devoluo de certo numerrio recebido. Esse procedimento no seria possvel, porquanto a atuao daquela
Corte de Contas referir-se-ia aos administradores, como previsto na Constituio. Tendo o pronunciamento
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do TCU fora de ttulo executivo, por esta via, sem o envolvimento de servidor ou de administrador,
obstaculizar-se-ia o que poderia ser um processo de conhecimento no Judicirio para discutir-se a
controvrsia e o conflito de interesses. No caberia, portanto, ao TCU, quer impor sano a particular, quer
determinar a este a devoluo de numerrio.
MS 24379/DF, rel. Min. Dias Toffoli, 7.4.2015. (MS-24379) (Informativo 780, 1 Turma)
DIREITO CIVIL
Direitos Reais
Usucapio de imvel urbano e norma municipal de parcelamento do solo - 4 Preenchidos os requisitos do art. 183 da CF (Aquele que possuir como sua rea urbana de at
duzentos e cinqenta metros quadrados, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposio, utilizando-a para
sua moradia ou de sua famlia, adquirir-lhe- o domnio, desde que no seja proprietrio de outro imvel
urbano ou rural), o reconhecimento do direito usucapio especial urbana no pode ser obstado por legislao infraconstitucional que estabelea mdulos urbanos na respectiva rea em que situado o imvel
(dimenso do lote). Esse o entendimento do Plenrio que, em concluso de julgamento e por maioria, proveu
recurso extraordinrio, afetado pela 1 Turma em que discutida a possibilidade de usucapio de imvel urbano em municpio que estabelece lote mnimo de 360 m para o parcelamento do solo para reconhecer aos recorrentes o domnio sobre o imvel, dada a implementao da usucapio urbana prevista no art. 183 da
CF. No caso, os recorrentes exercem, desde 1991, a posse mansa e pacfica de imvel urbano onde
edificaram casa, na qual residem. Contudo, o pedido declaratrio, com fundamento no referido preceito
constitucional, para que lhes fosse reconhecido o domnio, fora rejeitado pelo tribunal de origem. A Corte
local entendera que o aludido imvel teria rea inferior ao mdulo mnimo definido pelo Plano Diretor do
respectivo municpio para os lotes urbanos. Consignara, no obstante, que os recorrentes preencheriam os
requisitos legais impostos pela norma constitucional instituidora da denominada usucapio especial urbana v. Informativos 772 e 782. O Colegiado afirmou que, para o acolhimento da pretenso, bastaria o preenchimento dos requisitos exigidos pelo texto constitucional, de modo que no se poderia erigir
obstculo, de ndole infraconstitucional, para impedir que se aperfeioasse, em favor de parte interessada, o
modo originrio de aquisio de propriedade. Consignou que os recorrentes efetivamente preencheriam os
requisitos constitucionais formais. Desse modo, no seria possvel re
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