homoparentalidade novas luzes sobre o parentesco

Post on 30-Jun-2015

484 Views

Category:

Education

0 Downloads

Preview:

Click to see full reader

DESCRIPTION

Artigo escrito para a mesa redonda: “Parentalidades e conjugalidades homossexuais no mundo contemporâneo” no VII Reunião de Antropologia do Mercosul; Um revisitar de diferentes noções da “Família que escolhemos

TRANSCRIPT

HOMOPARENTALIDADE: NOVAS LUZES SOBRE O PARENTESCO

Claudia FonsecaUniversidade Federal do Rio Grande do Sul

Disciplina: Casamento e relações IntrafamiliaresMinistrante: Miriã AlcântaraMestranda: Karine Nascimento Silva

CLAUDIA LEE WILLIAMS FONSECA

Possui graduação em Letras - University of Kansas (1967), mestrado em Estudos Orientais - University of Kansas (1969), doutorado em Sociologia - Ecole des Hautes Etudes en Sciences Sociales (1981) e doutorado em Ethnologie - Université de Nanterre (1993). Atualmente é professora titular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Tem experiência na área de Antropologia, com ênfase em Antropologia Urbana, atuando principalmente nos seguintes temas: grupos populares, família, antropologia, adoção e gênero, antropologia do direito, antropologia das ciências.

Endereço para acessar este CV: http://lattes.cnpq.br/8620249965221608

Pesquisa: http://claudialwfonseca.webnode.com.br/

ESTRUTURA DO TEXTO:

Artigo escrito para a mesa redonda: “Parentalidades e conjugalidades homossexuais no mundo contemporâneo” no VII Reunião de Antropologia do Mercosul;

Um revisitar de diferentes noções da “Família que escolhemos”(Kath Weston);

1ª Parte: Exemplos do quanto certos casais lésbicos recorrem as novas possibilidades legislativas e tecnológicas recriando as ideologias de parentesco;

2ª Parte: A adoção internacional questionamento da ideia de escola individual;

A Homoparentalidade assim como outras formas familiares contemporâneas vislumbradas como coproduções que envolvem além de culturais a lei, tecnologia e dinheiro.

(p. 769)

HOMOPARENTALIDADE: NOVAS LUZES SOBRE O PARENTESCO

FONSECA, Claudia. Homoparentalidade: novas luzes sobre o parentesco. Revista: Estudos Feministas, ISSN 0104 – 026X, (Setembro-Dezembro), Florianópolis, Brasil, 2008.

Organizaçãofamiliar

Parentela

HeterossexualHomossexual

(p. 769)

CONCEITUAÇÕES - PARENTELA

Janet Carten (2004) : relatedness/ conexidade, sentimento de solidariedade difusa e duradoura que existe nas mais diversas culturas entre pessoas que se consideram parentes;

Kath Weston (1992): laços duradouros entre pessoas que se aceitam “tais como são”, ideologia da família gay;

(p. 770)

LAÇOS DURADOUROS? CONTRATANDO O PARENTESCO

A adoção de filhos por casais gays tornou-se banal nos EUA, exceto na Flórida onde não é permetido;

O caso inusitado no final dos anos 70 na Califórnia, o casal: Olive Watson (43 anos, adotante) e Patrícia Spado (44 anos, adotada);

(p. 771)

Enquanto o arranjo se restringiu as relações pessoais do casal, foi tacitamente aceito.

No momento em que a adoção passou a ter repercussões para os negócios da família extensa foi negado a sua validade.

CONSIDERAÇÕES DE FONSECA(2008) SOBRE O CASO WATSON & SPATO

Portanto, torna-se imprescindível repensar a ideia de durabilidade nas diferentes relações familiares, pois o conflito é inerente como também a ideia de durabilidades das relações.

(p. 771)

A filiação na legislação não é condicional como nos casamentos;

A noção de família moderna prima pelo “afeto”, tendo-o como indicador de terminalidade nas relações, o que não ocorre com as relações filiais;

Novos arranjos familiares atentam mudanças no debate sobre consanguinidade e a antropologia do parentesco;

A formalização do vínculo familiar, uma obsessão americana pela legalidade e tendo perdido a solidez natural torna-se uma questão contratual;

As dificuldades ao projeto homoparental: apenas a Dinamarca, Holanda e Espanha reconhecem o direito dos homossexuais adotarem crianças, França em 2000, nos EUA a metade dos estados já reconhecem tanto o casamento quanto a adoção.

(p. 772- 773)

TORNANDO O AGREGADO EM UNIDADE

Os casais lésbicos interagindo com as novas tecnologias reprodutivas travam maneiras para combater a possível efemeridade das relações familiares.

“ ... Uma das fantasias mais recentes entre jovens lésbicas (no Brasil) é a inseminação artificial com o esperma do cunhado (ou seja, do irmão da parceira) como forma de garantir a consanguinidade da criança com os traços físicos e emocionais da família) e sobretudo, um lugar socialmente garantido no parentesco através da nominação dentro de ambas as famílias, uma vez que avós, tios e primos são consanguíneos” (GROSSI, 2003, p. 274) .

(p. 773)

Caso do casal lésbico Beth e Pat descrito por Charis Thompson (2005): Pat forneceria o óvulo e Beth gestaria, o tratamento de alto custo foi concedido pelo seguro saúde após o casal comprovarem a suposta e subjetiva infertilidade;

Caso do casal Beverley (branca concederia tanto o óvulo quanto gestaria) e Fiona (afro-caribenha), encontraram percalços para manterem um laço biogenético.

(p. 773 - 774)

ALÉM DAS NORMAS HEGEMÔNICASSerá que esses exemplos refletem e reforçam as

normas hegemônicas, mostrando como os casais lésbicos tentam seguir práticas héteros?

NÃO!

Thompson (2001)

David ScneiderMarilyn Strathern (1997)

ARRANJOS HOMOAFETIVOS

Kath Weston

(p. 776)

A FAMÍLIA GAY ...

Não seria apenas uma adaptação de alguma norma hegemônica;

Nem uma alternativa revolucionária;

Seria um processo complexo que exige um método investigativo a altura;

Algo além da análise do que as pessoas querem dizer quando evocam categorias como : “sangue”, “amor”, “escolha” ou para “sempre”.

“ as práticas de parentalidade são consequência de muito mais do que valores do casal. São resultado também das possibilidades institucionais que circudam a reprodução” (FONSECA, 2008, p. 776)

HOMOPARENTALIDADE E ADOÇÃO: REEXAMINANDO O “O DIREITO A SER

MÃE”

Na “família que escolhemos” existe um lado avesso: ideologias de hierarquia, discriminação social e desigualdade política no campo da adoção;

Questionamentos suscitados por Fonseca (2008) no Congresso em Barcelona (2006):

As barreiras legislativas e xenofobia por parte dos países do “Terceiro mundo” com suas crianças pobres esperando por uma salvação contra o questionamento;

A autora demonstra uma preocupação com os discursos e debates realizados no Congresso: se eram de cunho dos “direitos humanos” ou “direitos do consumidor”???. (p. 777)

(p. 778)

As ideias disseminadas nos EUA de que as crianças do serviço local, negras e mais velhas são produtos inferiores ocasionaram :

A China extingui as possibilidades de adoção por candidatos solteiros, gays, lésbicas, obesos e negros;

A Romênia não oferecia “produto de boa qualidade”;

Surge a preferência pelas crianças da Guatemala.

Nesse contexto, Laura Brigg (2005) avalia...

As atitudes de mães e pais, prontos a pagar o preço necessário por um filho ao seu gosto.

“Os direitos de mães pobres que estão fornecendo o grosso de crianças adotáveis. Justapõe, por um lado, pessoas gays e lésbicas querendo forjar uma vida familiar, e , por outro, mães biológicas, geralmente pobres, muitas vezes negras, relutando em abrir mão de de seus filhos” (BRIGG, 2005, p. 8-9)

Questões envolvendo: A adoção

aberta X casais homoafetivas .

(p. 779 - 780)

Parentalidade

Questões políticas

Apela para reflexão coletiva

Extravasa os limites dos conflitos

interpessoais

(p. 780)

Para não concluir ...

Recente avanços no combate aos preconceitos as aspirações familiares homoafetivas, seguindo as tendências internacionais o Brasil a partir 2005 e 2006 a adoção é concedida aos referidos casais;

No campo das novas formas familiares, há dilemas a serem confrontados;

No campo da adoção há políticas hegemônicas e silêncios que se alimentam da desigualdade política entre a família de origem e a nova adotiva;

A Homoparentalidade não é muito diferente de qualquer outra forma familiar;

O parentesco se torna uma questão política tanto cultural ao qual somos obrigados a repensar: “quais famílias escolhemos”!!!!!

(p. 781)

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRIGGS, Laura. Gay Families, Neoliberalism, and Organ Theft. University of Arizona, LGBT Studies, Brown Bag, 2005.Disponível em: http://www.u.arizona.edu/~lbriggs/.______. “Adopción transnacional: robo de criaturas, familias homoparentales y neoliberalismo”. trans. Gloria Elena Bernal. Debate Feminista, v. 33, p. 46-68, 2006.

CARSTEN, Janet (Org.). Cultures of Relatedness: New Approaches to the Study of Kinship. New York and Cambridge: Cambridge University Press, 2000.CARSTEN, Janet. After Kinship. New York and Cambridge: Cambridge University Press, 2004.

FONSECA, Claudia. Família, fofoca e honra. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2000.______. “Uma virada imprevista: o ‘fim’ da adoção internacional no Brasil”. Dados, v. 49, n. 1, p. 41-66, 2006a.______. “Da circulação de crianças à adoção internacional: questões de pertencimento e posse”. Cadernos Pagu, v. 26, p. 11-44, 2006b.

GAILEY, Christine. The Search for Baby Right: Race, Class, and Gender in US International Adoption. Paper presented on the panel “Kinship and Consumption”, Annual Meeting of the AAA, Philadelphia, December 2-6, 1998.

GROSSI. Miriam Pillar. “Gênero e parentesco: famílias gays e lésbicas no Brasil”. Cadernos Pagu, v. 21, p. 261-280,2003.HORRIDGE, Lynn. Open Adoption and Lesbian Adopters in the US: Trends and Implications. Paper presented at the Conference “Reproductive Disruptions: Childlessness, Adoption, and Other Reproductivie Complexities”, University of Michigan, Ann Arbor, May 19-22, 2005.JASANOFF, Sheila (ed.). States of Knowledge: The Co-Production of Science and Social Order. London and New York: Routledge, 2004.JONES, Caroline. “Looking Like a Family: Negotiating Bio- Genetic Continuity in British Lesbian Families Using Licensed Donor Insemination”. Sexualities, v. 8, n. 2, p. 221-237, 2005.KENYON, Gail L., CHONG, Kerry-Ann, ENKO-SAGE, Melanie, HILL, Clifton, MAYS, Carrie, and ROCHELLE, Lauren. “Public Adoption by Gay and Lesbian Parents in North Carolina: Policy and Practice.” Families in Society: The Journal of Contemporary Human Services, v. 84, n. 4, 2003. p. 571- 575.PELETZ, Michael. “Ambivalence in Kinship since the 1940s.” In: FRANKLIN, Sara, and MCKINNON, Susan (eds.). Relative Values: Reconfiguring Kinship Studies. Durham: Duke University Press, 2001. p. 413-444.RAMIREZ, Martha. Novas tecnologias reprodutivas conceptivas: fabricando a vida, fabricando o futuro. 2003. Tese (Doutorado em Ciências Sociais) – Universidade Estadual de Campinas.STRATHERN, Marilyn. “Dear David... [comment on D.M. Schneider].” Cultural Anthropology, v. 12, 1997. p. 281- 282.THOMPSON, Charis. “Strategic Naturalizing: Kinship in an Infertility Clinic.” In: FRANKLIN, Sara, and MCKINNON, Susan (eds.). Relative Values: Reconfiguring Kinship Studies. Durham: Duke University Press, 2001. p. 175-202 ______. Making Parents: The Ontological Choreography of Reproductive Technologies. London: MIT Press, 2005.UZIEL, Anna Paula; MELLO, Luiz; GROSSI, Miriam Pilar. “Conjugalidades e parentalidades de gays, lésbicas e transgêneros no Brasil”. Revista Estudos Feministas, v. 14, n. 2, p. 481-487, 2006.UZIEL, Ana Paula. Homossexualidde e adoção. Rio de Janeiro: Garamond, 2007.WESTON, Kath. Families We Choose: Lesbians, Gays, Kinship. New York: Columbia University Press, 1992.______. “Forever Is a Long Time: Romancing the Real in Gay Kinship Ideologies.” In: YANAGISAKO, Sylvia, and DELANEY, Carole (eds.). Naturalizing Power: Essays in Feminist Cultural Analysis. New York: Routledge, 1995. p. 87-110.ZAMBRANO, Elizabeth; LOREA, Roberto; MYLIUS, Leandra; MEINERZ, Nádia; BORGES, Priscilla. O direito à homoparentalidade – Cartilha sobre as famílias constituídas por pais homossexuais. Porto Alegre: Venus, 2006.

Muito obrigada pela atenção!!!!

Karine N. Silva, Pedagoga (UESB).Especialista em Gestão e Supervisão Escolar (FIEF).

Especializanda em Educação a Distância (UNEB).Mestranda em Família na Sociedade Contemporânea (UCSAL)

Contatos: karinensilva@hotmail.com/ karynsilva9@yahoo.com.br(073) 35252075/ 88042364 e 91041667

top related