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Geração de Energia Elétrica em Estações de Tratamento de Esgoto
Urbanas da SANESUL: Proposta de Desenvolvimento para o MS
Resumo
Embora o foco da produção de biogás no estado de Mato Grosso do Sul esteja concentrado
basicamente na suinocultura, há outros meios de geração de biogás que podem beneficiar o
estado de forma direta. Sendo assim, a partir de um estudo de caso na empresa de Saneamento
Básico de Mato Grosso do Sul (SANESUL) pode-se verificar a viabilidade de geração de
energia elétrica nas estações de tratamento de esgoto urbanas oriunda do aproveitamento do
biogás gerado. Para tanto, foram utilizados indicadores econômicos que demonstraram ser
totalmente viáveis investimentos em inovação tecnológica para a produção dessa energia mais
limpa, apontando o ganho em benefícios sociais, ambientais e econômicos, além de promover
o desenvolvimento sustentável do estado e, também, a diversificação na matriz elétrica
brasileira.
Palavras-chaves: Estação de Tratamento de Esgoto Urbanas; Geração de Energia Elétrica;
Desenvolvimento Sustentável.
1. Introdução
O foco da produção de biogás no estado de Mato Grosso do Sul tem se concentrado
basicamente na suinocultura, em especial na cidade de São Gabriel do Oeste por meio da
Cooperativa de São Gabriel do Oeste (COOASGO). Dar um destino aos dejetos suínos era um
problema a ser sanado, já que o aumento do rebanho aumenta gradativamente. Com contrato
estabelecido em 2005 com empresa internacional AgCert foi possível custear as instalações de
biodigestores nas propriedades dos cooperados, sendo assim, a empresa estrangeira recebeu o
direito de comercializar 90% dos Certificados de Emissões Reduzidas (CERs) em bolsa de
valores. Em contrapartida, os cooperados poderiam utilizar o biogás para geração de energia
elétrica (EE) e ao término do contrato de 10 anos, os equipamentos seriam doados aos
produtores (LIMA, 2007). Nota-se que o ganho que o estado de Mato Grosso do Sul têm com
esta geração de biogás em São Gabriel do Oeste é indireto, já que não é possível mensurar tais
ganhos, exceto o ganho ambiental com o processo em questão. Vale salientar que este
processo é de cooperativismo e visa a economia somente dos cooperados.
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Dado ao crescimento populacional e ao crescente apelo ambiental, as estações de
tratamentos de esgotos (ETE) têm se tornado um potencial energético a ser explorado sob a
ótica da geração distribuída (GD), entende-se aqui como geração distribuída a geração de EE
descentralizada, ou seja, vários pontos de geração em localidades distintas. Uma alternativa
para um ganho efetivo econômico, ambiental e social seria a geração de EE em Estações de
Tratamento de Esgoto Urbanas, mais especificamente nas ETE’s da SANESUL, já que ela
efetivamente pertence ao governo de MS.
No Brasil, ainda são poucos os exemplos de estações de tratamento de efluentes que
utilizam o biogás como energia, situação esta bem diferente de alguns países que utilizam o
biogás como uma fonte renovável de energia contribuindo assim para a redução das emissões
do metano e gerando eletricidade de modo limpo (MACEDO, 2010).
Neste contexto, este trabalho avaliará a importância da geração de EE em ETE
urbanas sob o domínio do governo do estado de MS. Os resultados tomam como base um
estudo de caso desenvolvido com dados da SANESUL associado às ETE’s da cidade de
Dourados-MS. Neste estudo são utilizados, sob a ótica da rentabilidade do projeto o indicador
VPL e sob a ótica associada ao risco do projeto a TIR, o Pay-back simples e o Pay-back
descontado. Os indicadores auxiliam no processo decisório e visam demonstrar a viabilidade
de geração de EE em ETE urbanas diante da nova legislação do setor energético.
2. Utilização de biogás em MS
O Estado de Mato Grosso do Sul (MS) têm se destacado a nível nacional no que diz
respeito à geração de biogás, principalmente o proveniente da suinocultura. Um dos casos de
sucesso, que inclusive foi motivo de discussão e apresentação no evento Rio+20 em 2012 por
parte da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul (FAMASUL) e
Federação das Indústrias de MS (FIEMS), foi o da cidade de São Gabriel do Oeste, onde
cerca de cinquenta e oito criadores de suínos se utilizam dos dejetos dos animais para geração
de energia elétrica (EE), ou seja, todos os produtores atualmente possuem biodigestores
instalados em suas propriedades (COOASGO, 2013).
O objetivo inicial do contrato celebrado em 2005 entre a Cooperativa de São Gabriel
do Oeste (COOASGO) e seus cooperados e a empresa canadense AgCert foi o de dar uma
destinação final aos dejetos suínos. Lima (2007) destaca que dentre os objetivos do contrato
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estão: a redução dos gases do efeito estufa; geração de energia elétrica nas propriedades e a
comercialização dos créditos de carbono no “mercado verde”.
Além dos criadores de suínos se beneficiarem com a geração de EE, o próximo passo
seria comercializar o biogás excedente para abastecer os fornos das indústrias do polo
cerâmico de Rio Verde, que fica a cerca de 70 quilômetros de São Gabriel do Oeste, isso
agregaria valor ao biogás gerado. Com a medida, a produção de cerâmica poderia abandonar o
uso da lenha, considerando que, atualmente são 200.000 animais capazes de gerar até 50.000
m³ de biogás por dia. Entretanto, existem diversos entraves para o avanço deste projeto,
dentre eles: logística; a criação de uma instituição capaz de armazenar, transportar e distribuir
o biogás e por último, a falta de um arcabouço legislativo voltado para o gás produzido a
partir da biomassa, pois toda a referência atual no País a nível legislativo é a referente ao gás
GLP (COOASGO, 2013).
No entanto, existem outras formas de se gerar biogás por meio de biodigestores,
como: Aterros Sanitários (AS’s) e Estações de Tratamento de Esgoto Urbanas (ETE’s).
Ambas as formas podem ser utilizadas visando o desenvolvimento direto do estado de MS.
Recentemente foi criada uma resolução normativa por parte da Agência Nacional de Energia
Elétrica (REN 482/12) que beneficia os pequenos produtores de EE, em especial as ETE
urbanas. Entende-se como pequenos produtores a geração de EE de até 1MW. Neste sentido
apenas as ETE’s poderiam se enquadrar na legislação, já que os AS’s geram energia acima de
1MW.
Com essa nova resolução não há possibilidade de vender EE, mas há possibilidade de
se gerar energia elétrica para o abatimento da conta de energia elétrica do próprio local de
geração. Se uma ETE alcançar autossuficiência energética, e se porventura ela gerar mais
energia do que consumiu, o restante de energia (créditos gerados) pode ser utilizado para
abater o consumo de outras estações do mesmo grupo. Na lei, isto é permitido, desde que as
várias empresas de um mesmo grupo possuam o mesmo CNPJ (ANEEL, 2012), é o caso da
SANESUL. Percebe-se aqui que gerar EE em uma ETE pode abater não só o consumo da
ETE que irá receber o sistema de geração de EE, mas também o consumo de outras ETE’s de
um mesmo grupo. Este processo é denominado na Resolução Normativa 482 de compensação
de energia elétrica. A criação desta resolução beneficia diretamente o governo de MS.
Em algumas ETE’s analisadas no estado de Mato Grosso do Sul, como em Dourados
(segunda maior cidade do estado), e em Ponta Porã, verificou-se que é possível alcançar a
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autossuficiência em EE, com a possibilidade, inclusive, de se gerar créditos que podem ser
utilizados em outras ETE’s do mesmo grupo da Empresa de Saneamento de Mato Grosso do
Sul (TEDESCO, 2013).
A partir de dados obtidos em análises do efluente antes e após seu tratamento no
biodigestor, tais como DQO (Demanda Química de Oxigênio) e Eficiência de Remoção dos
materiais orgânicos, além do Volume de esgoto da ETE, é possível estimar o volume de
biogás gerado, com isso é possível escolher o tipo de tecnologia que será utilizada para
geração de EE. Este conhecimento será determinante para saber o tempo em que a tecnologia
ficará em operação dado o volume de biogás produzido. No caso do estudo realizado em
ETE’s da cidade de Dourados, o biogás gerado é suficiente para o funcionamento de um
Grupo Gerador (GG) Ciclo Otto de 32 kW operando 24h/dia.
3. Proposta em conformidade com o plano estratégico da SANESUL
Dentre as metas a serem atingidas no plano estratégico estabelecido pela SANESUL
para o quadriênio 2011-2015, pode-se citar: o fornecimento de serviços de qualidade em
abastecimento de água e esgotamento sanitário; contribuir para saúde pública; contribuir para
a preservação ambiental e o desenvolvimento social e econômico de Mato Grosso do Sul;
ampliar o atendimento com esgoto para 60% até 2014 e estudar oportunidades de atuação em
novos negócios e mercados. Gerar energia elétrica nas Estações de Tratamento de Esgoto
Urbanas é um novo tipo de negócio a ser implantado no estado e que mostra um retorno não
somente financeiro, mas também social e ambiental, além de propiciar novas discussões a
respeito de melhorias nas legislações vigentes (SANESUL, 2013).
De acordo com Macedo (2010), no Brasil, ainda são poucos os exemplos de estações
de tratamento de efluentes que utilizam o biogás como fonte renovável de energia. Neste
sentido, ressalta-se que o uso de biogás proveniente de ETE urbanas, além de reduzir as
emissões do gás metano e gerar uma forma de energia renovável, propicia a criação de
políticas que aproveitem o biogás e assim, contribuem para melhorar o saneamento básico no
Brasil.
4. Oportunidade de desenvolvimento: geração de EE em ETE’s
A utilização do biogás como geração de energia elétrica é extremamente importante,
tanto para o meio ambiente como para as empresas de saneamento que desejem aportar
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recursos como micro ou minigeradores de energia. Diminuir a dependência de combustíveis
fósseis e não renováveis e buscar soluções ambientalmente corretas, como a utilização da
biomassa como fonte de energia, não apenas reduzirá os impactos globais pela queima de
combustíveis fósseis como também contribuirá com a matriz energética dos países
(FIGUEIREDO, 2007).
Além dos benefícios ambientais e da diversificação da matriz elétrica Brasileira, a
Pesquisa Nacional de Saneamento Básico (PNSB, 2008) nos mostra que, de 2000 a 2008,
houve um pequeno aumento no número de municípios com rede coletora de esgoto, mas nas
Grandes Regiões alguns avanços foram consideráveis. Na Região Norte, a proporção quase
dobrou no período, passando de 7,1%, em 2000, para 13,4%, em 2008. Destaca-se um
aumento significativo na Região Centro-Oeste, de 17,9% para 28,3%, conforme observado no
Gráfico 1.
Ainda, de acordo com o PNSB (2008), é importante ressaltar que para se obter
condições sanitárias adequadas, não basta que o esgoto seja adequadamente coletado por meio
de uma rede geral, mas é necessário também que seja tratado, caso contrário, recursos hídricos
ficarão poluídos e haverá proliferação de doenças. Com a redução dos custos proporcionados
pela geração de EE nas ETE’s é possível investir em mais biodigestores e consequentemente
reduzir os impactos no meio ambiente.
Apesar disso, apenas 28,5% dos municípios brasileiros fizeram tratamento de seu
esgoto, o que impacta negativamente na qualidade de nossos recursos hídricos. Mesmo na
Região Sudeste, onde 95,1% dos municípios possuíam coleta de esgoto, menos da metade
desses (48,4%) o trataram. Além da Região Sudeste, o melhor desempenho nesse sentido foi
observado nas Regiões Centro-Oeste (25,3%) e Sul (24,1%).
O Gráfico 2 mostra o percentual de municípios com tratamento de esgotos em ordem
decrescente e por regiões.
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Gráfico 1: Percentual de municípios com rede coletora de esgoto, segundo as Grandes Regiões – 2000/2008
Fonte: PNSB, 2008.
Diante desses dados disponibilizados a sociedade, percebe-se que a geração de
energia elétrica em ETE’s trará inúmeros benefícios a todos, e poderá, com a redução de
custos em EE nas estações haver um investimento em tratamento de esgotos com a compra de
novos biodigestores, melhorando assim a qualidade de vida da população.
Gráfico 2: Percentual de municípios com tratamento de esgoto, em ordem decrescente, segundo as
Unidades da Federação – 2008
Fonte: PNSB, 2008.
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A geração de EE em Estações de Tratamento de Esgoto Urbanas traz inúmeros
benefícios para o MS e estes podem ser distribuídos em pelo menos quatro grandes blocos
(Figura 1). Dentre eles:
Benefícios ambientais: Dentro dos benefícios ambientais, o fato de se gerar
energia elétrica contribui para a promoção da utilização de fontes renováveis
de energia, isso influencia diretamente na redução dos impactos ambientais
como a queima, por exemplo, de combustíveis fósseis;
Benefícios sociais: Dentro do bloco social, é possível elencar como um
benefício da geração de EE garantia a um maior acesso da população ao
saneamento básico, e agir sobre esta realidade, implica em saúde pública e
melhora a qualidade de vida das pessoas;
Benefícios econômicos: Como por meio da REN 482/12 não é possível a
venda de EE por parte dos produtores de energia, as empresas de saneamento
obteriam seus benefícios econômicos/financeiros através do abatimento do
proporcional gerado versus os gastos associados do custo da energia consumida
em kWh/mês nos locais de geração. Com isso, o “deixar de gastar” com EE se
torna receita do empreendimento, a qual pode ser redirecionada para um
melhor uso da empresa em outros setores de interesse. É importante ressaltar
que diante da REN 482/12, realizar tratamento de esgotos se torna um negócio
atrativo, beneficiando diretamente a qualidade dos recursos hídricos. Sendo
assim, observa-se que há uma relação estreita entre o bloco econômico e o
bloco ambiental;
Outros benefícios: Neste contexto, é possível elencar a promoção de um
constante aprimoramento da legislação vigente, influenciando de certa forma
em legislações relativas aos autoprodutores de energia, ou seja, com geração
acima de 1 MW, onde há a possibilidade de venda de EE.
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Outros benefícios
Benefícios ambientais
Benefícios econômicos
Benefícios sociais
Geração de EE em
ETE Urbanas
Promove a utilização
de fonte renovável de
energia
Redução dos Impactos
ambientais pela
queima dos
combustíveis fosseis
Promove a
diversificação da
matriz elétrica
brasileira
Desenvolvimento para
o Brasil
Garante benefícios
financeiros aos
investidores das
empresas de
saneamento
Saúde pública e
qualidade de vida
Garante maior acesso
ao saneamento básico
Mais investimentos em
qualquer setor da
empresa
Promove um constante
aprimoramento na
legislação vigente
(REN 482)
Influencia no
aprimoramento de
outras legislações
ligadas a GD
Tratamento de esgotos
se torna atrativo
financeiramente
Qualidade dos recursos
hídricos
Figura 1: Benefícios da geração de EE em ETE Urbanas distribuído em quatro grandes blocos.
Fonte: Própria.
5. Impacto positivo do ambiente regulatório para o desenvolvimento da SANESUL
Antes de 2012 havia falta de um arcabouço claro e objetivo de normas e regras que
permitisse a disponibilização da energia elétrica (com geração de até 1 MW, pois acima disto
ainda há entraves regulatórios) produzida a partir do metano proveniente de ETE’s, isso
inviabilizava a implantação do sistema de geração por seus altos custos na fase inicial. Com a
criação da REN 482/12 tem-se a vantagem da inserção de EE em baixa tensão e isso por si só
reduz consideravelmente os custos com o sistema de geração.
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Diante da não possibilidade da venda de EE, de acordo com a legislação vigente,
tem-se a possibilidade de créditos gerados, que são compensados em primeira instancia na
ETE geradora de EE, logo após nas unidades previamente cadastradas. Sendo assim, em uma
análise de viabilidade financeira, têm-se que as despesas evitadas são equivalentes as receitas
oriundas da geração de energia através do biogás.
Neste trabalho, considerou-se a instalação de um grupo gerador com potência
instalada de 32 kW em uma ETE da cidade de Dourados – MS. Esta potência foi definida
após o levantamento da produção de biogás, realizada pela empresa SANESUL em uma de
suas ETE´s na cidade.
Após ser feito um levantamento da conta de energia das ETE´s de Dourados,
conforme pode ser observado na Figura 2, foi considerado que no mês “zero” há o
investimento no Grupo Gerador e que somente dentro de um período de três meses haverá o
start-up do GG. Este período pode ser entendido como adequações ou adaptações para o
correto funcionamento do equipamento ou até mesmo como um atraso para o início do
projeto.
A partir do terceiro mês a ETE já tem condições de gerar EE e de injetá-la na rede de
distribuição, sendo assim, as receitas são resultantes da diferença entre o montante gerado de
energia e o consumo de cada ETE. Tomando como base o consumo de energia das ETE´s de
Dourados no ano de 2012, verificou-se que o consumo em kWh/mês na “ETE 1” é
minimizado ao equivalente valor de conexão, e a despesa evitada em R$ se torna receita no
terceiro mês, ou seja, R1=D1.
No quarto mês, os créditos excedentes da ETE 1 são utilizados para compensar o
gasto na ETE 2, pois a REN 482 especifica que os créditos que restarem de um ponto de
geração devem ser abatidos em meses subsequentes, ou no próprio local de geração, ou em
outros locais previamente cadastrados. Desta forma, a despesa 2 (D2) da ETE 1 somada a
despesa da ETE 2 se tornam a Receita 2 (R2). Este processo se repete para os demais meses e
pontos de consumo da empresa até que todo o crédito associado à energia gerada na ETE 1
seja abatido nas contas associadas aos pontos de consumo da empresa.
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Figura 2: Fluxo de caixa típico para ETE’s que geram EE, baseado na REN 482/12
Fonte: Própria
6. Metodologia
A. Indicadores financeiros
Souza (2008) afirma que a decisão ou não de se fazer um investimento de capital é
parte de um processo que envolve a geração e a avaliação das diversas alternativas que
atendam as especificações técnicas dos investimentos. Depois de relacionadas as alternativas
viáveis tecnicamente é que se analisam quais delas são atrativas financeiramente. É nessa
última parte que os indicadores gerados auxiliarão o processo decisório.
Ainda, segundo Souza (2008), os indicadores de análise de projetos de investimentos
podem ser subdivididos em dois grandes grupos: indicadores associados à rentabilidade do
projeto e indicadores associados ao risco do projeto. No primeiro grupo se encontram o Valor
Presente Líquido (VPL); o Valor Presente Líquido Anualizado (VPLa); o Índice
Benefício/Custo (IBC) e o Retorno Adicional sobre o Investimento (ROIA). No segundo
grupo estão a Taxa Interna de Retorno (TIR), o Período de Recuperação do Investimento
(Pay-back) e o Ponto de Fisher.
O estudo de caso abordado neste artigo utilizará sob a ótica da rentabilidade do
projeto o indicador VPL e sob a ótica associada ao risco do projeto a TIR, o Pay-back simples
e o Pay-back descontado. Os indicadores auxiliam no processo decisório e visa demonstrar a
viabilidade de geração de EE nas ETE urbanas do estado de MS diante da nova legislação do
setor energético.
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B. Estudo de Caso
Para a realização deste trabalho foi utilizado dados reais de consumo de EE de cinco
estações de tratamento de esgotos da cidade de Dourados em Mato Grosso do Sul. A “ETE
506” (tratado como nome técnico adotado pela SANESUL) no qual será instalado um Grupo
Gerador de 32 kW possui três reatores modelo RAFA, vazão de esgoto aproximada de 5951
m³/dia. O DQO do afluente é igual a 421,14 mg/l e o DQO do efluente é igual a 80,25 mg/l. O
suficiente para se gerar cerca de 14.853,53 m³/mês de biogás. Através deste volume de biogás
tem-se um potencial de geração de EE de cerca de 36 kW. O volume de biogás produzido é
suficiente para o funcionamento de um Grupo Gerador de 32 kW operando 24h/dia com um
consumo de biogás exigido pela tecnologia de 17 m³/h. O Grupo Gerador escolhido foi o
SG40B da empresa Fockink (FOCKINK, 2012). A Tabela 1 contém a média de consumo em
kWh/mês das cinco ETE’s que mais consomem energia elétrica em Dourados. A partir destes
dados é possível realizar a análise da viabilidade financeira do projeto.
Tabela 1: de consumo das ETE's que mais consomem EE em Dourados – MS
Fonte: TEDESCO, 2013.
7. Resultados e discussões
No estudo realizado nas ETE’s em Dourados – MS verificou-se que a geração de 32
kW na ETE 506 gera créditos o suficiente para abater o consumo da ETE 505, além de reduzir
em aproximadamente 73% o consumo em kWh/mês da ETE 509. Nota-se que há também
uma pequena redução na ETE Olinda 2308. A Figura 3, visando um maior entendimento do
real valor que é economizado por deixar de gastar EE nas ETE’s, mostra os valores em reais
anuais que passam a ser receita do empreendimento. Portanto o que se deixou de gastar em R$
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na ETE 506, 505 e parte da 509 se torna em receita, ou seja, a despesa evitada é igual a
receita, conforme explicado na Figura 2 (já vista).
Assumindo um investimento inicial de R$ 118.000,00 no grupo gerador modelo
SG40B da Fockink de 30 kW, a tarifa de EE constante de 435,98 R$/MWh em um horizonte
de 2 anos, valores dos impostos praticados no estado de Mato Grosso do Sul (ICMS=17%;
PIS=0,974%; COFINS=4,5% e CIP fixa no valor de 43,6 R$/mês) e um custo capital anual de
20%/ano, foi obtido o comportamento do VPL em função da Taxa de Descapitalização (TMA,
Taxa Mínima de Atratividade), conforme observado no Gráfico 3.
ETE 505
ETE 509
ETE 506
Unidade geradora de EE
Motor Otto / Microturbina
2° Prioridade
1° Prioridade
OLINDA 23083° Prioridade
Créditos gerados
Créditos gerados
Créditos gerados
Não há receita
Receita anual com
o abatimento dos
créditos = R$ 69.145,86
ETE “N”N° Prioridade
Considerando 1 gerador de 32 kW
operando 24h/diaReceita anual com
o abatimento dos
créditos = R$ 40.589,05
Receita anual com
o abatimento dos
créditos = R$ 17.451,67
Receita anual com
o abatimento dos
créditos = R$ 275,74
Figura 3: Valores em R$ deixados de gastar após a implantação do sistema de geração de EE na ETE 506
em Dourados – MS sob a concessão da SANESUL
Fonte: Própria.
Por definição a Taxa Interna de Retorno (TIR) é a taxa que torna o Valor Presente
Líquido (VPL) de um fluxo de caixa igual a zero, portanto a TIR para este projeto, conforme
o Gráfico 3 é de 6% e o VPL é de R$ 13.444,49. O VPL encontrado significa que o projeto
consegue recuperar o investimento inicial (Grupo Gerador no valor de R$ 118.000,00) e ainda
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sobram, em valores monetários de hoje R$ 13.444,49. Em princípio, um VPL maior do que
zero indica que o projeto merece continuar sendo analisado.
O Pay-back nada mais é do que o número de períodos necessários para que o fluxo
de benefícios supere o capital investido (SOUZA, 2008). Portanto para este caso analisado
verificou-se que o investimento inicial seria recuperado entre 16 e 17 meses. Já para o Pay-
back descontado que traz todos os fluxos de caixa ao mesmo momento de tempo (a valor
presente) e considerando um custo capital de 20%/ano temos o investimento inicial
recuperado entre 19 e 20 meses. Nota-se que o Pay-back é atrativo para ambos os casos, ainda
mais considerando que a SANESUL pondera que um retorno em qualquer projeto dentro de
24 meses é extremamente viável e o projeto se torna então aprovado (TEDESCO, 2013).
Gráfico 3: Comportamento do VPL em função da TMA
Fonte: Própria.
8. Conclusão
A criação da Resolução Normativa 482/12 por parte da Aneel alterou de forma
significativa o ambiente de geração de EE para os pequenos produtores de energia, e um
importante local a ser beneficiado com esta resolução, para a geração de biogás, é em
Estações de Tratamento de Esgotos (ETE’s) da SANESUL, pois dependendo da vazão de
esgoto de entrada da ETE e a da análise DQO (Demanda Química de Oxigênio) é possível
verificar que a ETE possui um considerável potencial de geração de biogás e
consequentemente de EE, não tanto quanto a geração estimada de biogás dos produtores
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produtores de suinocultura, mas o suficiente para gerar créditos que podem ser compensados.
E o melhor, a conexão com a rede de distribuição se dá em baixa tensão, ou seja, os custos
envolvidos para a injeção de EE caem consideravelmente.
O Estado de Mato Grosso do Sul tem se desenvolvido bastante na questão do
aumento da rede coletora de esgoto. Investir em geração de energia elétrica em ETE’s trará
inúmeros benefícios a todos, e poderá, com a redução de custos em EE nas estações haver um
novo investimento em tratamento de esgotos com a compra de novos biodigestores,
melhorando assim a qualidade de vida da população.
No estudo de caso de Dourados – MS, verificou-se que a ETE 1 possui biogás
suficiente para acionar um Grupo Gerador de 32 kW, zerando assim não somente a conta de
energia da ETE geradora, mas também na ETE 2 (1° prioridade) e reduzindo por volta de
73% os kWh/mês consumidos na ETE 3 (2° prioridade). No total são mais de R$ 125.000,00
anuais a menos nas despesas da empresa. E como pode ser observado no Gráfico 3 o retorno
sobre o investimento se mostrou atrativo, pois a TIR encontrada para o estudo de caso
analisado foi de 6% e o VPL de R$ 13.444,49. Cada empresa possui uma estimativa para
aprovar seus projetos que considera viável, no caso da SANESUL, obter um retorno sobre um
investimento em aproximadamente 24 meses é considerável extremamente viável. Portanto, o
projeto obteve na pior das hipóteses, analisando o indicador Pay-back descontado, um retorno
de 19 a 20 meses. Isso para um investimento inicial de R$ 118.000,00 em um Grupo Gerador,
considerado extremamente baixo, se comparado aos mais de R$ 100 milhões por ano em
investimentos propostos pela SANESUL para o quadriênio 2011-2015 (SANESUL, 2013).
Os benefícios da geração de EE em ETE urbanas podem ser distribuídos em pelo
menos quatro grandes blocos: Benefícios ambientais, Benefícios sociais, Benefícios
econômicos, e Outros benefícios. No bloco ambiental promove-se a utilização de fontes
renováveis de energia, no bloco social, tratar o esgoto coletado melhora a saúde pública e
qualidade de vida de todos, no bloco econômico temos um retorno financeiro atrativo para os
investidores em saneamento, e no bloco benefícios tem-se um estimulo a um constante
aprimoramento da REN 482/12, além de promover é claro a diversificação da matriz elétrica
brasileira.
É importante ressaltar que os benefícios que se tem com a implantação de um
sistema de geração de EE nas ETE’s da SANESUL são diretos ao estado de Mato Grosso do
Sul, podendo inclusive ser estendida a grande maioria das ETE’s no estado sob a concessão
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da empresa, já que o estudo realizado neste trabalho considerou a implantação de apenas um
sistema de geração na ETE que mais consume EE em Dourados, e a partir desta única geração
foi possível suprir energeticamente (por meio de créditos gerados) os consumos de mais duas
ETE’s da mesma cidade. É possível implantar mais sistemas em outras ETE’s, de forma a
abater o consumo da maioria das ETE’s do estado.
Neste contexto, ressalta-se que este trabalho avaliou a viabilidade econômica da
implantação de um sistema de geração de EE nas ETE’s da SANESUL, focando os diversos
benefícios oferecidos ao estado de Mato Grosso do Sul.
Referências
ANEEL. Resolução normativa 482/12. Disponível em:
http://www.aneel.gov.br/cedoc/bren2012482.pdf. Acesso em: 04/10/2013.
COOASGO. Cooperativa de São Gabriel do Oeste. Disponível em:
http://www.cooasgo.com.br/noticias/suina/149-biogas-produzido-por-granjas-de-suinos-pode-
abastecer-polo-ceramico-em-ms. Acesso em: 03/10/2013.
FIGUEIREDO, N. J. V. de. “Utilização do biogás de aterro sanitário para Geração de
energia elétrica e iluminação a gás – Estudo de caso”. Monografia (Graduação em
Engenharia Mecânica). Escola de Engenharia, Universidade Presbiteriana Mackenzie. São
Paulo, 2007.
FOCKINK. Modelos, preços e características técnicas dos grupos geradores. Disponível
em: http://www.fockink.ind.br/. Acesso em: 17/10/2012.
LIMA , E. B. J. Mecanismos de desenvolvimento limpo em São Gabriel D’Oeste – MS.
Dissertação (Mestrado em Agronegócios) - Universidade Federal de Mato Grosso do Sul –
UFMS, Campo Grande, 2007.
MACEDO, L. V. de (Coord.). Manual para aproveitamento do biogás: volume dois,
efluentes urbanos. ICLEI - Governos Locais pela Sustentabilidade, Secretariado para América
Latina e Caribe, Escritório de projetos no Brasil, São Paulo, 2010.
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