futebol narrado no rádio e na televisão
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UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI
DANIEL BAPTISTA MADRIGAL
FUTEBOL NARRADO NO RÁDIO E NA TELEVISÃO:
As Vozes da Paixão Brasileira
SÃO PAULO 2009
2
DANIEL BAPTISTA MADRIGAL
FUTEBOL NARRADO NO RÁDIO E NA TELEVISÃO:
As Vozes da Paixão Brasileira
Dissertação de Mestrado apresentada à Banca Examinadora, como exigência parcial para a obtenção do título de Mestre do Programa de Mestrado em Comunicação, área de concentração em Comunicação Contemporânea, da Universidade Anhembi Morumbi, sob a orientação do Prof. Dr. Rogério Ferraraz.
SÃO PAULO 2009
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4
DEDICATÓRIA
Dedico esta pesquisa a minha esposa, pela felicidade de compartilhar minha vida com uma pessoa tão especial.
Dedico à memória da minha tia, Dra. Amélia Baptista Tazaki por tudo que sempre fez pela minha educação.
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AGRADECIMENTOS
Agradeço a todos os professores do Programa de Mestrado em Comunicação pelo
conhecimento transmitido, à coordenadora do curso professora Bernadette Lyra que
auxiliou e aconselhou desde o início, quando pairava mais incertezas sobre a
definição do tema a ser estudado e, com toda a didática, me orientou de modo que
este projeto tivesse a dimensão especial.
Agradeço aos meus orientadores o professor Rogério Ferraraz, por todos os
ensinamentos, pela dedicação, incentivo e preciosas contribuições, que fizeram a
diferença neste trabalho, mesmo quando o nervosismo e a ansiedade eram muito
evidentes e o professor Marcelo G. Tassara, pelas suas sábias palavras, pela
paciência e dedicação, que foram necessárias para a realização desse trabalho,
além de sua vocação de ensinar e fazer aprender.
Ao Marcos Brandão que colaborou para que cada detalhe ficasse exatamente como
planejado e à Universidade Anhembi Morumbi pela bolsa concedida.
Ao professor Luis Antônio Vilalta por acreditar no meu trabalho e à professora Marisa
Forghieri pelas oportunidades.
Ao locutor esportivo Sílvio Luiz pela entrevista concedida e à Luciana Menna por
proporcionar o encontro.
Aos amigos da Anhembi Morumbi, Andréia Fonseca, Célia Torres, Fábio Pacheco,
Luiz Fernando e Rosana Glasser pela ajuda.
Aos meus familiares e principalmente a minha mãe Isaura, meu pai João (in
memoriam), meu irmão Rodrigo, meus avós Maria e Manuel, meu primo Adriano e a
família Correa Vericio, pela força e paciência durante todo este período.
A toda equipe do Projeto Escalada (funcional e TI) pela paciência e compreensão.
Aos amigos que fizeram parte desses momentos sempre me ajudando e
incentivando, em especial o Jefferson, a Lara, o Cristiano e a Márcia.
6
“Eééééééééééé mais um gol brasileiro, encha o peito, solte o grito da garganta e confira comigo no replay, foi, foi, foi, foi, foi, foi, foi, foi, o craque da camisa número dez, olha ele aiiiiiiiii, balançando o capim no fundo do gol”. (Silvio Luiz).
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RESUMO A proposta deste projeto é mostrar as mudanças qualitativas que a narração
esportiva brasileira, especificamente a do futebol, vem sofrendo ao longo do tempo
nos meios audiovisuais, contar sua história desde as ondas curtas do rádio até a
televisão. Apresentamos de que forma os narradores esportivos foram se
adaptando com as mudanças e com a evolução tecnológica das linguagens dos
produtos midiáticos e hipermidiáticos da comunicação áudio e audiovisuais
contemporâneos, tendo em vista as formas técnicas, estéticas e narrativas que as
organizam. Por meio de análises comparativas de partidas narradas pelo rádio e
pela televisão, observa-se que, apesar de cada meio ter características próprias,
não existe um padrão único de narração, o que acontece é que cada narrador
escolhe o seu modo de fazer essa narração. O trabalho apresenta um estudo que
visa oferecer um levantamento das “escolas” de narradores que foram se formando
a partir de alguns nomes expressivos e marcantes da transmissão do rádio e da TV
e que são reproduzidos até hoje. A pesquisa começa com uma análise na história
da narração esportiva década a década com maior ênfase nas décadas de 30 e 50,
abordando desde a primeira transmissão ao vivo de um jogo de futebol narrada
pelo jovem locutor Nicolau Tuma passando pelo impacto no mundo das
comunicações com o aparecimento da televisão, que se torna a principal
concorrência do rádio, chegando à linguagem narrativa audiovisual atual. Em
seguida, a partir de nomes importantes da locução esportiva no rádio e na TV,
estuda-se e aborda-se a linguagem utilizada na narração, que é o centro do
espetáculo. Apresenta ainda um comparativo na forma de narrar no rádio e na TV,
mostrando de que forma os narradores esportivos foram se adaptando com as
mudanças e com a evolução tecnológica das linguagens esportivas.
Palavras-chave: Rádio, Televisão. Narração Esportiva. Futebol. Brasil.
8
ABSTRACT
The proposal of this project is to show the qualitative changes that the brazilian
sport narration, specifically of the soccer, comes suffering throughout the time that
in media audiovisys, to count its history since the short waves of the radio until the
television. I present of that it forms the sports narrators had been if adpting with the
changes and the technological evolution of the languages of the myth and
supermyth products of the audio communication and audiovisys contemporaries, in
view of the forms techniques, aesthetic and narratives organize that them. By
means of comparative analyses of departures told for the radio and the television,
it is observed that, although each way to have proper characteristics, doesn´t exist
a narration standard single, what it happens is that each narrator chooses its way
to make this narration. The work presents a study that uses to offer a survey of the
“schools” of narrators who had been if forming from some expressive and marcts
names of the transmission of the radio and the TV and that they are reproduced
until today. The research starts with an analysis in the history of the sport narration
decade the decade with bigger emphasis in the decades of 30 and 50,
approaching since the first transmission to the living creature of a game of soccer
told for the young speaker Nicholas Tuma passing for the impact in the world of the
communications with the appearance of the television, that if becomes the main
competition of the radio, arriving at the language current narrative. After that,
already part of important names of the esportiva locution in the radio and the TV, is
studied and approached it language used in the narration audiovisys, that is the
center of the spectacle. He still presents a comparative degree in the form to tell in
the radio and in the TV, showing of that he forms the sports narrators had been if
adpting with the changes and the technological evolution of the esportivas
languages.
Key-words: Radio. Television. Sport Narration. Soccer. Brazil.
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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
DDD Discagem Direta a Distância DDI Discagem Direta Internacional FIFA Federation International Football Association IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística PRE-8 Rádio Nacional do RJ
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 12
CAPÍTULO I
1. PANORAMA HISTÓRICO DA NARRAÇÃO DE FUTEBOL - O RÁDIO 18
1.1. O Começo do Rádio 18
1.2. A Era do Rádio 19
1.3. Jargões/Bordões 33
1.4. Curiosidades do mundo do futebol 35
CAPÍTULO II
2. PANORAMA HISTÓRICO DA NARRAÇÃO DE FUTEBOL – A TELEVISÃO 40
2.1. A narração complementando a imagem 40
CAPÍTULO III
3. A LINGUAGEM DO JORNALISMO ESPORTIVO - A MÍDIA ESPORTIVA 49
3.1. A Linguagem do Jornal Impresso 49
3.2. A Linguagem de Rádio 52
3.2.1. Transcrições de partidas de futebol no rádio 53
3.3. A Linguagem da TV 56
3.3.1. Transcrições de partidas de futebol na TV 57
3.4. A Linguagem da Internet 59
3.4.1. Transcrições de partidas de futebol na WEB 60
CONSIDERAÇÕES FINAIS 67
REFERÊNCIAS 70
ANEXOS ANEXO I - ENTREVISTA COM O NARRADOR SÍLVIO LUIZ 77
11
INTRODUÇÃO
12
INTRODUÇÃO
O futebol é a grande paixão do brasileiro. Só mesmo no país do futebol
é que o gol no rádio poderia ter outro som. A narração de uma partida pelos
locutores brasileiros é singular. Jogando com o imaginário do fanático torcedor, o
locutor cria um lance mais bonito do que a realidade. É uma descrição sempre
emocionante, precisa e rica em detalhes.
A sociedade brasileira tem orgulho do futebol, ou seja, é a paixão da
população. O esporte tão querido é uma manifestação cultural, que leva todos ao
estádio para torcerem pelo seu time do coração.
O Brasil é exemplo de que a cultura e o futebol caminham juntos e, sempre
que o povo torce, tudo para. Todos os brasileiros esperam, por exemplo, pela copa
do mundo, há uma mobilização no país.
A origem desse esporte no país deu-se com um brasileiro de origem inglesa
chamado Charles Miller. Charles voltou de seus estudos em Southampton, na
Inglaterra, onde fora considerado craque atuando como centroavante da seleção do
condado de Hampshire. Ele trouxe a bola para cá no ano de 1894. No início, o
futebol no Brasil era só para a elite colonizada, que achava elegante copiar em tudo
os ingleses. Por exemplo, a partida era chamada de “match”, o juiz de “referee” o
atacante de “forward”, assim por diante. Essa linguagem aos poucos se
abrasileiraria, para depois ganhar expressões mistas como drible da vaca, meia-lua,
banheira, pelada, entre outros.
Mas a grande virada veio mesmo em 1923, com o Vasco da Gama, quando
comerciantes portugueses, preocupados em promover o Vasco da Gama ao
estrelato, sustentaram, na primeira divisão do Rio de Janeiro, um time formado por
negros e brancos pobres.
Quanto ao racismo, muitos foram os casos dignos de registro. Casos de
discriminação e de preconceito, manifestando-se nas atitudes humilhantes dos
dirigentes de clubes e nas reações humilhadas dos jogadores de nossos times
principais.
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Friedenreich1, por exemplo, era um mulato que recusava (ou que era obrigado
a recusar, nas circunstâncias políticas e sociais em que viveu) a sua condição
mulata. A sua luta para parecer branco é uma crônica do desespero. Entre outras
coisas, ele chegava atrasado nos jogos e se enfurnava no vestiário, tentando alisar e
prender seus cabelos crespos com brilhantina, para não ser visto pela multidão
como o mulato que era. Quão longe estávamos, então, do cabelo black power de
Jairzinho e das trancinhas "afro-reggae" de Ronaldinho Gaúcho, astros dos anos de
1970 e do inicio do século XXI, respectivamente.
O futebol, que foi marcado por práticas explicitamente racistas, passou a ter,
também, a sua função social no movimento pela superação das discriminações em
nosso país. Não são raros os que dizem que o futebol nos ensinou democracia, ao
se basear num conjunto de regras válido para todos e ao promover uma alternância
tranqüila entre vencedores e perdedores.
O futebol e a narração esportiva mexeram muito com a cultua brasileira.
Segundo Luiz Carlos Ribeiro, o profissionalismo foi um meio para levar à
emancipação dos negros, condição necessária para a constituição do futebol como
esporte 'nacional' e foi assim que teve inicio a busca por clubes melhores.
(RIBEIRO, 2003).
Como vimos, houve uma época em que foi negada a integração de negros
em times de futebol para jogar no Brasil. Contudo, depois foram feitas várias
contratações que elevaram o futebol brasileiro como o melhor do mundo.
A cultura brasileira dos negros com danças e capoeiras demonstra a
agilidade que alguns jogadores possuem, pois enfatiza a agilidade e rapidez dos
jogadores. É a inteligência corporal que vemos em ação num jogo de futebol e é a
rapidez de raciocínio que distingue craques. (RIBEIRO, 2003).
Assim, quando se fala que o povo brasileiro recriou o futebol com a
inteligência corporal específica de sua formação etnocultural, refere-se à questões
como: mestiçagem, capoeira, samba, malandragem, barroquismo, inteligência do
corpo.
O futebol brasileiro é futebol-arte (ainda que suas variações regionais não
devam ser desprezadas, entre os extremos do estilo solto e vistoso do Flamengo
1 Friedenreich - Arthur Friedenreich (São Paulo, 18 de julho de 1892 — São Paulo, 6 de setembro de 1969) foi um futebolista brasileiro. Apelidado "El Tigre" ou "Fried", foi a primeira grande estrela do futebol brasileiro na época amadora, que durou até 1933.
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de Zico, Júnior e Adílio nos anos 80 e o jogo mais preso e pesado, mais "uruguaio",
do Grêmio dirigido pelo técnico Luiz Felipe Scolari, nos anos 90). É assim que o
definimos, é assim que ele se define para o mundo inteiro, é assim que o mundo o
vê. Não é um futebol feito apenas de movimentos motores grosseiros, mas de
desempenhos de extrema habilidade.
O cientista político Luis Fernandes, considera o futebol "um dos pilares da
nossa identidade nacional", em prefácio à mais recente edição do clássico de Mario
Filho. (RIBEIRO, 2003).
No Brasil, o futebol é algo que inspira grandes paixões, por isso, a narração
assume um papel importantíssimo na história desse esporte. Tanto no rádio como
na televisão, os narradores ostentam uma posição de destaque; afinal são eles os
responsáveis por explicar ao público o que acontece ali. A transmissão no rádio,
que seduz os ouvintes com sua emoção, e a transmissão de televisão, que
encanta os telespectadores com sua imagem, consegue atrair do mesmo modo o
público mesmo com todas as diferenças entre os meios.
Afinal, o que é narrar? Segundo o dicionário Aurélio (2003), “narrar é a
exposição oral ou escrita de um fato”. Narrar profissionalmente, ou seja, observar e
comunicar. É descrever algo que se vê; contar ou relatar um fato jornalístico;
transmitir um evento qualquer; interagir com os ouvintes ou espectadores; conduzir
uma transmissão esportiva. Mas devemos considerar as diferenças entre a
narração no rádio, a narração na TV e, atualmente, até a narração on-line. Quanto
a esta última, as análises, as interpretações e o trabalho sobre os conceitos estão
apenas começando. Já é sabido, no entanto, que a narração esportiva on-line no
Brasil, embora ainda seja sintonizada por pouca parte da população, está
crescendo devido ao fácil acesso e ao aumento do número de usuários desse
meio.
Em 20 de fevereiro de 1932, Nicolau Tuma fez a primeira narração de um
jogo de futebol do rádio brasileiro, a emoção na hora do gol sempre correspondeu
ao grito que vinha das arquibancadas. Em 1938, o rádio brasileiro transmitiu pela
primeira vez um campeonato mundial de futebol: a Copa do Mundo da França.
Serviços de alto-falantes foram instalados nas praças de centenas de
municípios brasileiros, para que a população pudesse acompanhar as partidas
através da narração de Gagliano Neto.
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Das primeiras transmissões feitas por Nicolau Tuma e Amador Santos2, até
os tempos atuais, a união do futebol com a narração esportiva faz do futebol no
Brasil um espetáculo à parte. Com o tempo foram surgindo estilos próprios para a
descrição do jogo.
Narradores no rádio e na televisão utilizaram formas criativas, inventaram
bordões e buscaram, no próprio povo, expressões que pudessem facilitar a
identificação com aquilo que estavam falando.
Por meio de linguagens estereotipadas e redundantes, os narradores
conquistaram seu espaço dentro do próprio jogo.
Seja porque “você vê o jogo, ouvindo a rádio...”, ou porque “a gente se
vê por aqui”, o torcedor passou a incorporar a transmissão como parte do
espetáculo: a imagem (seja no campo ou através da TV) parece não bastar mais
se não for acompanhada de um contador da história que está sendo vista e vivida
naquele momento.
A narração esportiva pelo rádio é ver algo a mais do que a bola, o lance em
si. Já a narração feita pela TV, por dever de ofício, está, de certa forma, presa à
imagem. Nas mídias, no entanto, estilos e formas de fazer essa cobertura criaram
ídolos e gostos no torcedor, formando verdadeiras escolas. Maneiras copiadas
desde cedo pelas crianças, seja nas peladas de rua ou nas transmissões dos
jogos de futebol de botão ou videogame.
Os procedimentos metodológicos adotados no decorrer da investigação
deste estudo foram essencialmente empíricos, baseados na constatação dos fatos
a partir da observação de casos concretos de narração e do estudo da história. O
estudo também foi concretizado através de entrevistas com narradores
jornalísticos.
A dissertação subdivide-se em três capítulos, além dessa introdução e as
considerações finais. No capítulo 1, demonstraremos a história da narração
esportiva nos rádios com detalhes de surgimento e desenvolvimento desse meio
com o passar dos anos.
2 Amador Santos. Responsável pela irradiação pioneira no Estádio do Rio de Janeiro (Rádio Clube do Brasil).
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No capítulo 2, abordaremos a história da narração esportiva na televisão e
sua evolução. Já no capítulo 3, observaremos as diferenças da linguagem do
jornalismo esportivo nos diversos meios de comunicação.
17
CAPÍTULO I
18
1. PANORAMA HISTÓRICO DA NARRAÇÃO ESPORTIVA – O RÁDIO
1.1. O Começo do Rádio
Tudo começou em 1863 quando, em Cambridge - Inglaterra, James Clerck
Maxwell demonstrou teoricamente a provável existência das ondas
eletromagnéticas. James era professor de física experimental e a partir desta
revelação outros pesquisadores se interessaram pelo assunto. O alemão Henrich
Rudolph Hertz (1857-1894) foi um deles.
O princípio da propagação radiofônica veio mesmo em 1887, através de
Hertz. Ele fez saltar faíscas através do ar que separavam duas bolas de cobre. Por
causa disso os antigos "quilociclos" passaram a ser chamados de "ondas
hertzianas" ou "quilohertz". (FERRARETTO, 2000)3.
A industrialização de equipamentos se deu com a criação da primeira
companhia de rádio, fundada em Londres - Inglaterra pelo cientista italiano
Guglielmo Marconi. Em 1896, Marconi já havia demonstrado o funcionamento de
seus aparelhos de emissão e recepção de sinais na própria Inglaterra, quando
percebeu a importância comercial da telegrafia.
Até então o rádio era exclusivamente "telegrafia sem fio", algo já bastante útil
e inovador para a época, tanto que outros cientistas e professores se dedicaram a
melhorar seu funcionamento como tal. Oliver Lodge (Inglaterra) e Ernest Branly
(França), por exemplo, inventaram o "coesor", um dispositivo que melhorava a
detecção. Não se imaginava, até então, a possibilidade do rádio transmitir
mensagens faladas, através do espaço. (FERRARETO, 2000)4 .
Em 1897, Oliver Lodge inventou o circuito elétrico sintonizado, que
possibilitava a mudança de sintonia selecionando a freqüência desejada. Lee
Forest desenvolveu a válvula triodo. Von Lieben, da Alemanha e o americano
Armstrong empregaram o triodo para amplificar e produzir ondas eletromagnéticas
de forma contínua.
3 Fonte: FERRARETO, Luiz Artur. Rádio, o veiculo, a história e a técnica. São Paulo: Ed. Sagra Luzzatto, 2000. 4 Fonte: FERRARETO, 2000. Esta obra foi a principal fonte de informações e dados dos itens 1.1 e 1.2 deste capítulo. Outras fontes consideradas foram: ARAÚJO, 2001.
19
Também no Brasil o rádio crescia. Um padre-cientista gaúcho, chamado
Roberto Landell de Moura, nascido em 21 de janeiro de 1861, construiu diversos
aparelhos importantes para a história do rádio, como: o Teleauxiofono (telefonia
com fio); o Caleofono (telefonia com fio); o Anematófono (telefonia sem fio); o
Teletiton (telegrafia fonética, sem fio, com o qual duas pessoas podem comunicar-
se sem serem ouvidas por outras); e o Edífono (destinado a ducificar e depurar as
vibrações parasitas da voz fonografada, reproduzindo-a ao natural). Todos esses
aparelhos foram expostos ao público de São Paulo em 1893. (FERRARETTO,
2000) 5.
Em 1890, Landell de Moura já previa em suas teses a "telegrafia sem fio", a
"radiotelefonia", a "radiodifusão", os "satélites de comunicações" e os "raios laser".
Dez anos mais tarde, em 1900, Landell de Moura obteve do governo brasileiro a
carta patente nº 3279, que lhe reconhecia os méritos de pioneirismo científico,
universal, na área das telecomunicações. No ano seguinte, ele embarcou para os
Estados Unidos e, em 1904, o "The Patent Office at Washington" lhe concedeu três
cartas patentes: para o telégrafo sem fio, para o telefone sem fio e para o
transmissor de ondas sonoras.
Padre Landell de Moura foi precursor nas transmissões de vozes e ruídos.
Nos Estados Unidos, foram anos de pesquisas, tentativas e aprimoramentos até
Lee Forest instalar a primeira "estação-estúdio" de radiodifusão, em Nova Iorque,
no ano de 1916. Aconteceu então o primeiro programa de rádio de que se tem
notícia. Ele tinha conferências, música de câmara e gravações. Surgiu também o
primeiro registro de radio-jornalismo, com a transmissão das apurações eleitorais
para a presidência dos Estados Unidos.
1.2. A Era do Rádio
A partir de 1919 começa a chamada Era do Rádio. O microfone surge
através da ampliação dos recursos do bocal do telefone, conseguidos em 1920,
nos Estados Unidos, por engenheiro da Westinghouse.
Foi a própria Westinghouse que fez nascer, meio por acaso, a radiofusão.
Ela fabricava aparelhos de rádio para as tropas da Primeira Guerra Mundial e com
5 Fonte: FERRARETTO, 2000.
20
o término do conflito ficou com um grande estoque de aparelhos encalhados. A
solução para evitar o prejuízo foi instalar uma grande antena no pátio da fábrica e
transmitir música para os habitantes do bairro. Os aparelhos encalhados foram
então comercializados. (FERRARETTO, 2000) 6.
A primeira transmissão radiofônica oficial no Brasil foi o discurso do
Presidente Epitácio Pessoa, no Rio de Janeiro, em plena comemoração do
centenário da Independência do Brasil, no dia 7 de setembro de 1922. O discurso
aconteceu numa exposição, na Praia Vermelha - Rio de Janeiro, e o transmissor
foi instalado no alto do Corcovado, pela Westinghouse Electric Co.
Para se ter uma idéia da razão pela qual a época ficou conhecida como a
Era do Rádio, nos EUA o rádio cresceu surpreendentemente. Em 1921, eram 4
emissoras, mas no final de 1922, os americanos contaram 382 emissoras. Em 2
de novembro de 1922, surgiu a primeira emissora comercial no planeta, a WEAF,
de Nova York. Surgiu no Brasil, em 1923, a Rádio Clube Paranaense (PR) e a
Rádio Educadora Paulista (SP). Em 1924, as Rádios Sociedade Maranhense
(MA), Rádio Clube do Ceará (CE), Rádio Sociedade Riograndense (RS) e a Rádio
Sociedade da Bahia (BA). Em 1925, surgiram a Rádio Pelotense (RS), em 1926, a
Rádio Educadora do Brasil (RJ) e a Rádio Clube do Brasil (RJ), em 1927, Rádio
Sociedade Gaúcha (RS), Rádio Cruzeiro do Sul (SP), Rádio Sociedade Mineira
(MG) e a Rádio Mayrink Veiga (RJ), e, em 1928, a Rádio Clube do Pará (PA).
(FERRARETTO, 2000) 7.
Nos anos 30, havia 29 emissoras brasileiras que transmitiam basicamente
ópera, música e textos instrutivos.
Desta época, nome fundamental foi Nicolau Tuma. Nascido no dia 19 de
janeiro de 1911, em Jundiaí no estado de São Paulo, Tuma foi jornalista e político,
iniciou a carreira trabalhando como jornalista, enquanto fazia a faculdade de
direito. Foi repórter policial até vencer um concurso para ser locutor na Rádio
Educadora Paulista em 1929, aos 18 anos.
Suas transmissões ganharam tantos ouvintes que, em 1937, ele foi proibido
de entrar no estádio para narrar um jogo entre Palestra e DCB porque temia-se
perder público. Transmitiu o jogo de cima de uma escada de 14 metros, fora do
estádio.
6 Ibid 7 Ibid.
21
Com apenas um ano de existência, a Rádio Record de São Paulo transmitiu
em primeira mão o anúncio da Revolução Constitucionalista, feito pelo jovem
Tuma, de 21 anos. Juntamente com César Ladeira e Renato Maceto, formava a
equipe que lia os boletins dos revolucionários paulistas no conflito e vencia a
censura imposta em todo o País. Depois, trabalhou na Rádio Cultura e na Rádio
Difusora de São Paulo, apresentando programas.
Em 1934, narrou a primeira corrida internacional de automóveis nas ruas da
Gávea, no Rio de Janeiro. Em 1939, depois de transmitir outra corrida
internacional de automóveis, ainda na Gávea, foi à praia de Copacabana e foi
reconhecido e abraçado por Carmen Miranda, já uma estrela consagrada do show
business brasileiro.
Foi publicitário na área de rádio e diretor das Rádios Tamoio e Cultura, do
Rio de Janeiro. Durante a guerra, dirigiu a Rede de Emissoras Associadas, a
maior cadeia de rádios do Brasil na época. Em 1945, participou da campanha
civilista pela redemocratização do País e entrou definitivamente para a política. Foi
eleito vereador em São Paulo pela UDN, sendo reeleito em 1951 e 1955. No
governo Jânio Quadros foi diretor do Serviço de Trânsito de São Paulo. Em 1958,
elegeu-se deputado federal pela primeira vez, fato que se repetiu nas duas
eleições seguintes. Na Câmara, chegou a vice-líder da UDN e destacou-se na
elaboração do primeiro Código Nacional de Trânsito e do primeiro Código
Brasileiro de Telecomunicações. Foi um dos criadores da Embratel e do Conselho
Nacional de Telecomunicações, e um dos formuladores da nova telefonia
brasileira e das ligações via DDD e DDI. Deixou a política em 1969, ao ser
nomeado ministro do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo pelo governador
Roberto de Abreu Sodré.
No dia 19 de Julho de 1932, Nicolau Tuma realiza a primeira transmissão ao
vivo de um jogo de futebol diretamente do campo. Até então, as transmissões dos
jogos se limitavam a boletins esporádicos que informavam os lances principais. A
idéia da transmissão completa foi dele: antes de o jogo começar, Tuma foi aos
vestiários do Campo da Floresta, no bairro da Ponte Grande, para fixar as
características físicas dos atletas das seleções de São Paulo e do Paraná, pois na
época os uniformes não tinham números nas costas, não havia comentarista,
repórter de campo ou comerciais, o que obrigava o narrador a falar sem parar,
sem tempo para descansar. Logo na primeira transmissão, narrou 10 'goals', como
22
se dizia na época, o jogo foi vencido pela seleção paulista por 6X4. Já nessa
primeira narração, Tuma estabeleceu padrões que ainda são utilizados.
Como o futebol ainda não era muito conhecido, Tuma se preocupou em
explicar algumas regras. Foi um sucesso amplificado no Vale do Anhangabaú pela
Confeitaria Mimi, que pôs auto-falantes para reproduzir a transmissão. Tuma
narrava com tantos detalhes e tão rápido que ganhou o apelido de "speaker
metralhadora" 8.
Tuma iniciava a transmissão da seguinte maneira: “Estou aqui no reservado
da imprensa, contemplando as arquibancadas. Estou ao lado das gerais e vou
tentar transmitir para vocês que me ouvem um relato fiel do que irá acontecer no
campo". De maneira quase instintiva, levou o público ouvinte a fazer imagens
mentais que permitissem ter a noção de saber tudo o que acontecia em campo.
Para tanto, deu algumas dicas ao ouvinte. Pede que pensem em uma caixa de
fósforos e começa a dar referências sobre o espaço, explicando que do lado
direito estão os paulistas e do esquerdo, os paranaenses. No segundo tempo,
invertem-se as posições.
Tuma não gritava durante um longo período quando era marcado um gol: na
opinião dele, o ouvinte queria logo saber quem tinha feito o gol e quais eram os
detalhes da jogada. Seu modelo de narração prevaleceu durante anos.
Em 1932, Getúlio Vargas autoriza a publicidade veiculada em rádio, criando
o conceito da audiência e possibilitando o desenvolvimento de uma rádio mais
comercial. Surge aquele que pode ser considerado o primeiro jingle 9 brasileiro. O
compositor e cartunista Antonio Nássara improvisa um fado para fazer a
propaganda de uma padaria no Rio de Janeiro. Cantou: “Seu padeiro não
esqueça, tenha sempre na lembrança: o melhor pão é o da Padaria Bragança”.
Em 1934, foi criada a Rádio Difusora apelidada de "Som de Cristal". De lá,
surgiu o termo radialista, inventado por Nicolau Tuma que dizia vir da soma de
"rádio" com "idealista", uma vez que eles trabalhavam muito e não ganhavam
nada.
8 Speaker significa aquele que fala, o falante, no caso, o narrador. Speaker metralhadora seria o narrador que falava muitas palavras rapidamente. 9 Jingle - uma mensagem publicitária musicada e elaborada com um refrão simples e de curta duração, a fim de ser lembrado com facilidade. Música feita exclusivamente para um produto ou empresa. Um jingle é um slogan memorável, feito com uma melodia cativante, transmitido em rádio e, algumas vezes, em comerciais de televisão. Um jingle eficiente é feito para "colar" na memória das pessoas.
23
A Rádio Difusora foi inaugurada em 27 de outubro. Durante muitos anos, foi
propriedade dos Diários e Emissoras Associados, de Assis Chateaubriand. Em
1954, quando Getúlio Vargas morreu, a Difusora, com sede na esquina da Borges
de Medeiros com a Riachuelo (Porto Alegre/RS), foi incendiada junto com outros
veículos de comunicação que pertenciam aos Diários Associados e realizavam
campanha contra o governo Getúlio. O suicídio do presidente provocou um
tumulto em Porto Alegre e as emissoras que eram divergentes ao modelo Vargas
foram alvos destas manifestações. O resultado prático foi que a Difusora teve que
ser completamente remodelada e passou a funcionar na Rua Uruguai, nº 155.
Nesta época, um dos slogans da Difusora era “esporte, música e notícia”.
Em 31 de maio de 1958, três freis da Ordem dos Frades dos Capuchinhos
de Santo Antônio adquiriram a rádio.
No dia em 25 de setembro de 1935, Assis Chateaubriand inaugura a PRG-
3, Rádio Tupi do Rio de Janeiro e a Cacique do Ar. Chateaubriand foi o pioneiro
na formação da primeira rede nacional de comunicações no Brasil: Os Diários
Associados e Emissoras Associadas. “Alô, alô Brasil! Aqui fala a Rádio Nacional
do Rio de Janeiro!”: com esta frase, surgia a PRE-8, que foi adquirida por apenas
50 contos de réis da Rádio Philips, no dia 12 de setembro de 1936.
Em 1936, Ary Barroso começa sua carreira de narrador esportivo na Rádio
Cruzeiro do Sul que o consagrou como o Speaker da Gaitinha. Isso porque, por
diversas vezes, o locutor era obrigado a transmitir os jogos da arquibancada. A
barulheira feita pela torcida no momento do gol acabava por encobrir a voz do
narrador. Criativo, Ary Barroso soprava uma gaita no momento do gol, superando
em altura o barulho feito pela torcida. Tornou-se a marca registrada dessa figura
que, entre outras coisas, deu à nossa cultura músicas como “Aquarela do Brasil”.
Flamenguista fanático, tocava com uma vontade muito maior sua gaita quando o
gol era do time rubro-negro.
Ary Barroso tem grandes histórias, uma delas, quando a direção do Vasco o
proibiu de transmitir a partida de futebol direto de São Januário. Com sua gaitinha,
ele convenceu na véspera do jogo um vizinho do estádio vascaíno a deixá-lo fazer
seu trabalho. Os dirigentes descobriram e colocaram uma grande placa tampando
a visão que ele teria do campo, sob alegação que seria uma homenagem ao
Fluminense, adversário que fazia aniversário. Ary não desanimou e transmitiu do
telhado de um ginásio distante. Binóculo numa mão e gaitinha na outra.
24
Em um campeonato Sul-Americano em Buenos Aires no ano de 1937,
chegou a abandonar o microfone para torcer à beira do gramado em pleno campo
do inimigo, foi socado e cuspido pelos argentinos, chegou a desmaiar no meio da
transmissão e quase provocou uma "guerra". Voltou ao país como herói.
A rádio americana CBS apresentou o programa A Guerra dos Mundos, com
Arson Wells. Naquela edição, ele simulava uma invasão de marcianos aos
Estados Unidos. O realismo era tamanho que uma onda de pânico tomou conta do
país, quando o locutor anunciava: “Atenção senhoras e senhores ouvintes... os
marcianos estão invadindo a Terra...” 10
Na inicio da década de 40, estréia o primeiro jornal falado do rádio brasileiro,
o Grande Jornal Falado Tupi, de São Paulo. Também nessa década surge o
programa No mundo da bola, comandado por Antonio Cordeiro, que se tornou
bastante conhecido na época.
A primeira rádio-novela do país é transmitida em 1941 e durou cerca de três
anos, se chamava “Em Busca da Felicidade”, pelas ondas da PRE-8, Rádio
Nacional do RJ. Depois veio o grande sucesso, a novela “O Direito de Nascer”.
Nesse mesmo período surge o noticioso mais importante do rádio brasileiro
chamado de “Repórter Esso”. Às 12h45min de agosto, a voz de Romeu Fernandez
anunciava o ataque de aviões da Alemanha à Normandia, durante a Segunda
Guerra Mundial. O locutor mais famoso do programa foi o gaúcho Heron
Domingues. Em São Paulo, a transmissão era feita pela Record PRB-9 a
credibilidade do noticiário era tão grande que o público só acreditava nas notícias
se confirmadas pelo Repórter Esso.
Em 1938, a Copa da França marca um dos principais momentos da história
do rádio esportivo do Brasil. No dia 5 de junho uma partida entre Brasil e Polônia,
vencida pela nossa seleção por 6X5, tornava-se a primeira transmissão esportiva
em cadeia nacional diretamente da Europa. O locutor paulista Leonardo Gagliano
Neto, titular do Departamento de Esportes da PRA-3, Rádio Clube do Brasil do Rio
de Janeiro, foi o autor da façanha.
Único locutor sul-americano na França, as narrações de Gagliano fizeram o
Brasil parar para ouvir Leônidas da Silva e companhia na campanha que levou o
10 Histórias inusitadas envolvendo o rádio foram comuns à época. Uma das mais famosas ocorreu em 30 de outubro de 1938, quando na verdade, tratava-se de uma colaboração para o rádio dos romances de ficção cientifica”A guerra dos mundos”, de H.G. Wells.
25
Brasil ao terceiro lugar no mundial. Serviços de alto-falantes foram instalados nas
praças de centenas de municípios brasileiros, para que a população pudesse
acompanhar as partidas, o povo vibrava em poder acompanhar lance a lance o
que acontecia do outro lado do Oceano Atlântico. Reunia-se no Largo do
Paissandu, em São Paulo, na Galeria Cruzeiro, no Rio de Janeiro e em outros
lugares em que as emissoras colocavam alto-falantes para o público. Bares,
restaurantes, casas, ou qualquer lugar que tivesse um rádio transformava-se num
ponto de encontro para que as pessoas se reunissem. Os fenômenos da
popularização do futebol e do rádio caminhavam juntos e alimentavam um ao
outro, criando uma forte identidade cultural brasileira. (FERRARETTO, 2000)11.
Leônidas da Silva foi o jogador brasileiro mais brilhante do Mundial e
artilheiro da competição. Mas sua carreira no esporte continuou depois de ter
"pendurado as chuteiras". Quando parou de jogar futebol, o Diamante Negro,
como era chamado, tornou-se um dos pioneiros do rádio esportivo, como
comentarista de futebol da Rádio Pan-americana, a Emissora dos Esportes.
De lá para cá, o rádio revelou seguidas gerações de locutores, na sua
maioria formada no interior do país. Do estilo mais descritivo de Jorge Cury, Edson
Leite, Oduvaldo Cozzi e Rebello Júnior, ao ritmo alucinante de Pedro Luiz,
Geraldo José de Almeida, Waldir Amaral, Joseval Peixoto, Fiori Giglioti, Osmar
Santos e José Silvério. Estes nomes desfilaram pelo dial do rádio brasileiro ao
longo das últimas cinco décadas, despertando paixões nos ouvintes como se
fossem os próprios ídolos do futebol.
O mais que consagrado grito de gol prolongado, que se ouve hoje em todas
as rádios do Brasil, teve sua origem na década de 40, criado por Rebello Júnior.
Seu "Goooooool!!!" foi primeiro uma marca registrada do locutor, que depois se
difundiu para a transmissão de jogos de futebol entre todos os narradores. Mas
Rebello Júnior ficou conhecido como "o homem do gol inconfundível".
A disputa por audiência era grande e os locutores precisavam se esforçar
para se destacarem uns dos outros. O uso de expressões como "pimba" para
definir o chute a gol e "balançou o véu da noiva", para o momento do gol,
marcaram a carreira de Raul Longras, que se tornou famoso pelo uso delas. Mas
o pioneirismo do uso de expressões desse tipo talvez seja de Ailton Flores, o
11 Ibid.
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"Canarinho", da Rádio Cruzeiro do Sul do Rio de Janeiro, ainda que ele não tenha
sido reconhecido por elas como foi Raul Longras. A década foi muito fértil no
campo do rádio esportivo.
Em 1947, Fiori Gigliotti modernizou a narração. “O locutor da torcida
brasileira”, como era chamado, nasceu em Barra Bonita (SP) no dia 27 de
setembro de 1928.
Em sua longa carreira como radialista e locutor esportivo, Fiori narrou
partidas de dez Copas do Mundo de futebol, sendo o único cronista esportivo do
país a conseguir tal feito. Fiori sempre dizia que o maior jogo a qual assistiu foi
disputado entre Santos e Benfica, na final da Copa Intercontinental de 1962.
Celebrizou frases como "Abrem-se as cortinas e começa o espetáculo", "E o
tempo passa..." (quando uma equipe precisava fazer um gol), "Aguenta coração!",
"Crepúsculo de jogo" e "Torcida brasileira".
Ampliou seu prestígio, especialmente no interior de São Paulo, dando
grande audiência à Rádio Bandeirantes com o “escrete do rádio”, equipe de
funcionários da emissora que fazia vários amistosos e levava o nome da rádio e
da equipe de esportes. Fiori foi uma espécie de treinador e dirigente deste
“escrete”. Recebeu mais de duzentos títulos de cidadão honorário, principalmente
pelo interior de São Paulo. Trabalhou como locutor nas rádios: Rádio Clube de
Lins, Rádio Cultura de Araçatuba, Rádio Bandeirantes, Rádio Panamericana,
Rádio Tupi, Rádio Record e Rádio Capital, todas de São Paulo.
No fim de 2005, recebeu a "Medalha da Ordem Nacional do Mérito
Futebolístico" da Federação Paulista de Futebol, ocasião em que disse: "Eu
confesso que hoje vivo um momento de muita emoção. É daqueles momentos de
rara felicidade que nos fazem ter alegria de viver”. (in: ARAÚJO, 2001)12.
Fiori escolheu a véspera de uma Copa do Mundo para dizer adeus ao
futebol, ao rádio e aos milhares de torcedores que se acostumaram a ouvir suas
transmissões sempre carregadas de emoção. Na partida de estréia da Copa do
Mundo de 2006, em homenagem ao "mestre Fiori", um dia após sua morte,
Galvão Bueno iniciou a transmissão, pela TV Globo, com a inesquecível frase do
grande Fiori, "abrem-se as cortinas e começa o espetáculo”.
12 ARAÚJO, Flávio. O rádio, o futebol é a vida. São Paulo: Ed. Senac, 2001.
27
No dia 1º de abril de 1949, dois anos após Fiori modernizar a narração, o
locutor esportivo Geraldo José de Almeida, da Rádio Record, irradia um jogo
inteirinho do São Paulo, que contava com Leônidas. O jogo acaba e choca os
torcedores, o São Paulo havia perdido por 7 X 0. Só no dia seguinte a Rádio
Record anuncia que tudo não passou de uma farsa. Era uma pegadinha do dia da
mentira.
No mundo das comunicações, a década de 50 é marcada pelo aparecimento
da televisão, como veremos no capítulo seguinte, que se torna a principal
concorrência do rádio, obrigando-o a se transformar para se adaptar às novas
condições.
Nesse período, ocorre uma migração do rádio para a televisão, não só de
profissionais como do estilo de programação. Assim, programas de auditório e
novelas começam a ocupar a programação televisiva. Com o espaço deixado e o
crescente interesse do público, a programação esportiva vai ganhando terreno
dentro da rádio.
Um belo exemplo da função que o rádio adquiriu nesse período pode ser
observado em um artigo escrito pelo cantor e compositor Chico Buarque, para o
jornal O Estado de S. Paulo, a respeito de como foi ouvir a Copa de 50 pelo rádio.
Na época da Copa, Chico Buarque tinha 6 anos de idade.
Segundo ele, a emoção vinha do Maracanã, recém concluído, o maior
estádio do mundo.
A verdadeira Copa, para quem morava em São Paulo, chegava pelas ondas da Rádio Pan-americana. Mais que o locutor, era o eco do Maracanã quem narrava o jogo. O estádio fazia ÔóóóóóóóóóóóÕ, e era jogada de efeito. Fazia Ôúúúúúú"Õ, bola raspando a trave. Fazia "hhhhhhhhhhhhhhhh", Brasil de novo no ataque. Gol, e o Maracanã explodia, e a gente cantava touradas de Madri pulando na cama. No dia em que perdemos a Taça para o Uruguai, claro que desliguei o rádio e taquei a culpa no Maracanã. (BUARQUE, Chico. O Estado de S. Paulo, jun, 1994).
Nessa época, aparece o repórter de rua, que até então era desconhecido do
público brasileiro. Um dos primeiros a fazer esse tipo de reportagem foi Tico-Tico,
que ficou conhecido por garantir ao público não só a credibilidade da informação,
como também uma boa dose de entretenimento. Devido a seu talento, que unia
inteligência e bom humor, fez escola.
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Em 1955, as rádios já existentes começam a ganhar um novo concorrente
dentro do próprio rádio. Nesse ano é feita a primeira transmissão experimental de
rádio FM, pela Rádio Imprensa, do Rio de Janeiro. A responsável pelo feito foi à
empresária Anna Khoury, fundadora da Rádio Eldorado. Nessa ocasião, as
transmissões se restringiram às instalações da própria emissora, funcionando
mais ou menos como uma linha telefônica interna. Esse foi o primeiro passo das
rádios FM, que foram conquistando o público cada vez mais, a ponto de ameaçar
o futuro das rádios AM.
Na década de 60, a figura de um comentarista esportivo se tornou
popularíssima no Rio de Janeiro. Washington Rodrigues, o Apolinho, entrou para o
jornalismo de maneira acidental. Por ser jogado de futebol de salão profissional,
ou seja, um jogador reconhecido pela categoria, foi chamado por uma rádio para
explicar as regras do jogo para a equipe esportiva. Mas ninguém se interessou
muito pelo futebol de salão, um esporte amador. Por não poder jogar devido a
uma fratura na perna, Apolinho acabou sendo convidado para fazer o programa.
Começava assim, na Rádio Guanabara, sua brilhante carreira. Seu envolvimento
com o futebol era tão grande e sua figura tão popular que Apolinho chegou a
comandar o time de maior torcida do país. Em 1995, foi técnico de seu clube de
coração, o Flamengo.
Hoje, no jornalismo esportivo, o comentarista, profissional que trabalha em
conjunto com o narrador e os repórteres de campo, tem uma posição importante e
de muita credibilidade perante o público. Unindo técnica, precisão, análise
estatística e carisma.
Nas décadas de 70 e 80, surgiram novas vozes e uma delas foi a de Osmar
Santos. Com seu jeito descontraído e uma narração recheada de expressões, que
acabaram caindo no gosto popular, o "garotinho" Osmar Santos se transformou no
grande locutor de sua época. Expressões como "ripa na chulipa" e "pimba na
gorduchinha", ou "bota sal na água", começaram a ser repetidos nos estádios e
nas peladas pelo Brasil. O "pai da matéria", como também era conhecido, teve
uma passagem marcante pela Jovem Pan, onde trabalhou de 1972 a 1979. Mais
tarde foi para a Rádio Globo, onde continuou sua trajetória de grande sucesso,
chegando inclusive a fazer várias aparições na televisão, popularizando ainda
mais sua carismática figura.
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Osmar Aparecido Santos nasceu na cidade de Osvaldo Cruz (SP) no dia 28
de julho de 1949. Formado em Educação Física, Administração e Direito, Osmar
trabalhou como locutor esportivo nas rádios Jovem Pan, Record e Globo, sendo
que continua contratado pela última. Trabalhou também nas redes de televisão
Globo, Record e Manchete. Narrou a Copa do Mundo de 1986 pela Rede Globo
como primeiro locutor, na sua companhia estavam Galvão Bueno (2º locutor) e
Luiz Alfredo (3º locutor). Foi um dos melhores narradores de futebol do rádio
brasileiro. Faziam parte da equipe comandada por Osmar na Rádio Globo, na fase
de maior sucesso: Loureiro Júnior e Carlos Aymard (comentaristas), Fausto Silva,
Roberto Carmona e Henrique Guilherme (repórteres de campo). E os também
narradores: Oswaldo Maciel, Oscar Ulysses e Odinei Edson (esses dois últimos,
seus irmãos). Juarez Soares também participou da equipe, como apresentador de
um programa que falava de futebol e variedades. Com base nessa experiência,
Osmar e sua equipe passaram a apresentar o programa de variedades Balancê
(que tinha na produção Odir Cunha, com Lucimara Parisi na produção artística).
Sempre muito criativo, inovou também quando passou a narrar jogos pela
TV Record, em alguns momentos a câmera o mostrava na cabine e ele falava
diretamente com o telespectador. Também criou bordões que foram tão bem
aceitos pelo público, que ecoavam pelos estádios, como o famoso "Parou por quê,
por que parou?". Entre suas expressões inesquecíveis, estão, além da citada
“Ripa na chulipa e pimba na gorduchinha”: "Um prá lá, dois prá cá, é fogo no boné
do guarda", "Sai daí que o Jacaré te abraça, garotinho", "No carocinho do
abacate", "ai garotinho", e uma das narrações de gol mais marcante do rádio
brasileiro "E que GOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOL". Também foi Osmar
quem criou a expressão "Animal", que melhor representou o jogador Edmundo,
terminando por se tornar a sua marca registrada
O “pai da matéria” falava até 100 palavras por minuto, sem atropelar nem
engolir uma letra sequer. Vários fonoaudiólogos foram convocados para falar
sobre Osmar Santos, tratado como um fenômeno do rádio esportivo. Todos
demonstravam entusiasmo com a narração e consideravam sua locução como
uma obra-prima. Em sua homenagem, foi criado, pelo Jornal Lance!, o Troféu
Osmar Santos, concedido cada ano à equipe que termina o primeiro turno do
Campeonato Brasileiro de Futebol em primeiro lugar.
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Osmar usava a dramaticidade como elemento para reforçar a narração. Ele
atuava como verdadeiro mediador do jogo, já que precisava falar da partida tanto
para quem não a assistia como para quem estava no estádio. Osmar valorizava a
partida com muita dramaticidade, chamando a atenção do ouvinte de maneira
constante.
Osmar não só revolucionou a forma de transmitir futebol, em pleno período
em que a televisão já dominava a atenção do público e também o investimento
comercial, muitos consideram a sua criatividade como ponto alto, mas o que o
também “locutor das Diretas” 13 fazia era surpreender a todos com expressões que
criava e com as citações que fazia em plena transmissão. Algumas expressões
fazem parte do linguajar de muitos torcedores e dos narradores que seguiram a
sua “escola de narração”.
Entre os nomes que seguem o estilo Osmar Santos de narrar futebol está o
de Dirceu Maravilha, hoje um dos mais ouvidos no rádio de São Paulo. Entre as
frases utilizadas por Dirceu Maravilha estão: “Se for pro gol, me chama que eu
vou”; “Estou sentindo o cheiro de gol”; “Com ele não tem talvez, ele foi pra rede
outra vez”; “Tô por conta da alegria”.
Um grave acidente automobilístico ocorrido em 1994 afastou Osmar Santos
das locuções.
Outro nome que ainda marca profundamente as locuções esportivas no
Brasil é a de José Silvério de Andrade, ou simplesmente José Silvério. Nascido
em Lavras (SP) no dia 10 de novembro de 1945, dono de uma voz inconfundível e
de uma precisão incomparável, é considerado por muitos o mais técnico de todos
os locutores esportivos de rádio da história. Começou sua carreira nas mesas de
futebol de botão, enquanto jogava, "transmitia" o jogo para os "ouvintes". Um dia,
enquanto "irradiava" uma partida, foi ouvido pelo diretor da Rádio Cultura de
Lavras. Imediatamente foi convidado para trabalhar na rádio, oportunidade que
agarrou e que iniciou oficialmente sua vida nos microfones. A sua primeira partida
foi em julho de 1963, entre Olímpica de Lavras e Bragantino. De lá, foi para as
rádios Itatiaia e Inconfidência, ambas de Belo Horizonte, Continental, do Rio de
Janeiro, e a Rádio Tupi, de São Paulo, como correspondente no Rio.
13 Locutor das Diretas – As Diretas foi um movimento civil de reinvidicação por eleições presidenciais diretas no Brasil ocorrido em 1984.
31
Chegou em 1975 à Rádio Jovem Pan de São Paulo, onde ficou por 25 anos,
apesar de uma passagem de três meses pela Rádio Bandeirantes, em 1985. Era o
segundo locutor, atrás de Osmar Santos, mas, com a saída deste, assumiu a
titularidade em 1977. Teve ainda uma experiência na TV Manchete, sem deixar o
rádio. Desde 2000, "solta sua voz" na Rádio Bandeirantes de São Paulo, onde tem
como colegas de locução Ulisses Costa, Odinei Edson e José Maia.
Já narrou mais de 20 modalidades esportivas, mas destacou-se no futebol,
sobretudo de São Paulo. Cobriu todas as Copas do Mundo desde 1978. Em sua
carreira, passou por situações curiosas, como narrar a final do Campeonato
Brasileiro de 1979 na pista de atletismo do estádio Beira-Rio, com os cães da
polícia à sua frente. Outra situação curiosa foi durante um treino da Seleção
Brasileira para a Copa do Mundo de 1986: sem autorização para narrar do
estádio, os locutores das rádios tiveram que improvisar, e Silvério subiu em uma
árvore, de onde avistava o repórter de campo Wanderley Nogueira (hoje na Rádio
Jovem Pan e na TV Gazeta) e sempre que não conseguia ver algum lance, pedia
para que ele o ajudasse com a narração.
Autor de jargões inúmeras vezes repetidos por outros locutores, sendo o
mais notório o "Eeeeeee queeeee golaçooooooo!" que surgiu de improviso quando
um jogador fez um gol bonito em uma partida e foi incorporado ao seu repertório.
Tem uma espécie de "tique", que virou sua marca registrada: ele estende a
pronúncia das últimas sílabas das palavras. (Por exemplo, o repórter Leandro
Quesada é chamado de "Quesadaaaaannnnnnnnnn”).
Outro que ainda faz história no rádio é Nilson César Piccini Favara, ou
simplesmente Nilson César. Nascido em Sorocaba, no dia 10 de novembro de
1961, começou sua carreira naquela cidade nos anos 80, chegou à Rádio Jovem
Pan como quarto locutor da equipe (à sua frente estavam José Silvério, Edemar
Anmuseck e José Carlos Guedes) e foi durante muito tempo responsável pelas
transmissões das corridas de Fórmula 1.
Atualmente, é um dos locutores mais expressivos e importantes do rádio
brasileiro e continua fazendo história. Nilson César é o número um da Rádio
Jovem Pan, onde narra os principais clássicos do futebol e os jogos da seleção
brasileira. O rádio entra no novo milênio provando que tem o seu lugar garantido
no coração do torcedor. Seguindo a tendência iniciada no final da década de 90, o
32
futebol invade algumas das estações mais populares em seus horários nobres,
com grande resposta do público, inclusive nas FMs.
Em 2002 o rádio Transamérica FM foi uma das únicas emissoras brasileiras
que pagaram a licença de transmissão da Copa do Mundo direto do Japão e da
Coréia, reunindo-se à Rádio Globo e à Rádio Bandeirantes. Estas emissoras e
suas equipes no Oriente garantiram que a paixão brasileira em colar o ouvido no
radinho não acabará tão cedo.
Para se manter bem informado sobre futebol no Brasil, o torcedor ainda
recorre ao rádio, veículo que melhor cobre, difunde e promove este esporte no
país. No Rio de Janeiro, as Rádios Nacional, Globo e Tupi; em São Paulo, a
Bandeirantes, Jovem Pan e Record; em Belo Horizonte, a Rádio Itatiaia; em Porto
Alegre, as Rádios Farroupilha, Gaúcha e Guaíba em Recife, a Rádio Jornal do
Comercio; em Curitiba, a Rádio Clube Paranaense; todas essas emissoras
registraram sua marca na história do rádio esportivo brasileiro.
Em São Paulo, nomes que não podem ser esquecidos da narração são Hélio
Ansaldo, Otávio Muniz, Salem Júnior, Nélson Spinelli, Antônio Euclides, Aníbal
Fonseca, Bruno Sobrinho, Aurélio Campos, Wilson Brasil, Haroldo Fernandes,
Braga Júnior, Flávio Araújo, Luís Aguiar, Darci Reis, José Carlos Silva, Luís
Noriega, José Góes, Jaime Moreira Filho, Hélio Prioli, Vanderlei Ribeiro, Ademar
Anusek, Alfredo Orlando, Eder Luis, Jarbas Duarte, José Maia, Douglas Porto,
Rogério Assis, Hélio Claudino, Cleber Machado, e tantos outros.
Vale destacar aqui Rui Viotti; que marcou sua passagem pelo rádio com
grande criatividade. Foi um dos pioneiros em coberturas internacionais com
destaque para a cobertura feita na Copa de 50, disputada no Brasil.
O narrador tinha, acima de tudo, que ter muita criatividade e, às vezes,
inventar um jogo, como conta Rui:
“Era um jogo do Vasco na França. Em algumas ocasiões, a gente dublava outra estação. Eu comentava e o Júlio Delamare narrava. Como sabíamos um pouco de francês, ligamos numa rádio de lá e mandamos ver. Delamare sentiu-se mal, saiu e eu assumi a narração. Delamare voltou e eu disse: está zero a zero. No segundo tempo Delamare disse: está um a zero para eles! Eu me assustei: o cara não gritou gol. Delamare explicou que em francês não se grita gol, a palavra é outra. O jeito foi “narrar” um gol do time francês na segunda etapa, tudo invenção, não havia imagem, ninguém via nada, era o jeito. (Revista ISTO É. Comportamento – 15/06/2005)
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E completa: “Num outro jogo do Vasco, em Buenos Aires, perdi o sinal da rádio local e passei a inventar os lances enquanto o técnico procurava outra “matriz”. Como não conseguiam achar, decidi sintonizar a rival (Tupi) para dublar o locutor Doalcei Camargo. Só que eu descobri que ele, com o mesmo problema, estava me dublando, ou seja, copiando o que eu estava inventando”. (Revista ISTO É. Comportamento – 15/06/2005).
1.3. Jargões/Bordões
O estilo incomparável nas narrações esportivas
Cada locutor cria os seus ou melhora outros. Assim, temos narrações que
vão do lugar comum ao criativo, que se consagram junto à torcida. Portanto, o
locutor tem que ser, também, “bom de papo”, criativo e rápido de raciocínio,
recursos indispensáveis para manter a audiência ligada, sobretudo quando o jogo
está entediante. Aí vale prosa, poesia, anedota. Os jargões criativos foram capazes
de ditar moda entre os amantes do futebol e deixaram inúmeros discípulos, como
vimos no decorrer dessa dissertação. Abaixo alguns radialistas famosos do Rio e
de São Paulo e seus bordões:
� VALDIR AMARAL – “O relóóógio maarcaaa….”,referindo-se ao tempo de
jogo; quando alguém ia bater uma falta, ele narrava assim: “O visual é bom!
Tem bala na agulha o Roberto Dinamite! Apontou, atirou e é gol”. Depois que
saía o gol, ele continuava: “choveu na horta do Vascão, Roberto! Dez é a
camisa dele! Indivíduo competente o Roberto! Tem peixe na rede do São
Cristóvão”;
� JORGE CURI – “teeeeeempo e placaaaarr no maaaiooorrr do
muuuuundoooo” narrando jogo no Maracnã (RJ);
� MARIO VIANNA - O comentarista de arbitragem que, por sua vez,
decretaria: “gooooool legal”. Quando o juiz invertia uma marcação e Mário
Vianna era solicitado pelo narrador para opinar, ele urrava pelo microfone da
rádio Globo: “Errrrrrrroooooooouuuu! Errrrrrrroooooooouuuu”. Se algum
árbitro apitasse mal uma partida, Mário Vianna dizia: “hoje este juiz vai
comer carne de pescoço”. Sem esquecer que, quando havia um
impedimento, Vianna gritava na cabine da Globo: “banheira”. Mário Vianna
era forte” como um touro” e pertencia à Polícia Especial, que foi extinta e era
conhecida pela violência. Em um jogo, quando atuava como juiz, ao terminar
34
uma arbitragem desastrosa, favorecendo ao Botafogo (diziam que era o
clube para quem torcia) alguém foi avisá-lo: Mário não saia agora do
vestiário, a torcida está enfurecida aí fora a sua espera”. No que Mário
respondeu: “Pois bem, avise a torcida que ela é que tem de se preocupar
porque daqui a pouco eu vou sair”.
� DOALCEI CAMARGO – “Lá vem Zico, disparooooooouuu… É gooolll!!!! “
� ODUVALDO COZZI - Para o então repórter, que ficava atrás do gol: “Fala, ô
Valdir”.
� CELSO GARCIA - Com o seu famoso bordão: “atenção, garoto do placar do
Maracanã, coloque um para o Vasco, zero para o São Cristóvão”.
� FIORI GIGLIOTTI - Uma das lendas do rádio esportivo brasileiro, abria suas
transmissões com o bordão: “Abrem-se as cortinas do espetáculo”. Fiori
pode ter sido o maior narrador de gols de Pelé, e a narração característica
era: “Atenção, desce Pelé , é fogo……goooool, uma beleeeeeza de goooool
torcida brasileira”. Entre as frases e expressões mais conhecidas da Fiori
Gigliotti, estão: "O tempo passa..."; "Tenta passar, mas não passa!" ;
"Crepúsculo do Jogo" ; "Agüenta coração!" ; "Uma Beleeeeza de Gol!" ; "Um
beijo no seu coração".
� PEDRO LUIS - Fez sucesso narrando na Copa do Mundo: “É fabuloso este
futebol brasileiro. Quantas vitórias consegue pelos gramados do mundo.”
� OSMAR SANTOS - Extremamente ágil e tecnicamente perfeito nas
narrações, ganhou notoriedade pelos jargões que caíam facilmente na boca
do povo, tais como ‘ripa na chulipa e pimba na gorduchinha’, ‘é lá que a
menina mora’, ‘é fogo no boné do guarda’, ‘pisou no tomate’ e ‘bambeou mas
não caiu’. Sem falar, é claro, do inesquecível ‘e que goooooolllllllllllllllll’, a
cada vez que a bola balançava as redes. No auge, chegava a pronunciar
100 palavras por minuto sem engasgar nenhuma vez. A dramaticidade que
impunha a cada lance era capaz de prender o ouvinte durante a partida
inteira.
� EDSON LEITE – “O meu cronômetro marrrrrca…” ; “1º tempo..1 x 0…o
Corinthians vence”; “ Bola com Dorval, que passa para Pelé que atira para o
arrrrrco….seguuuuura Valdir”.
� JANUÁRIO DE OLIVEIRA - "Taí o que você queria, bola rolando...", quando
o juiz apitava o início da partida ou do segundo tempo; "Tá lá um corpo
35
estendido no chão", para o jogador que caía machucado no gramado; "Lá
vem Geraldo e Enéas para mais um carreto da tarde", quando os maqueiros
do Maracanã, Geraldo e Enéas entravam em campo para retirar um jogador
machucado; "Cruel, muito cruel...", para elogio ao artilheiro após o gol; "É
disso Fulano, é disso que o povo gosta", para o jogador que acabara de
estufar as redes; "Sinistro, muito sinistro...", para falha grave de jogador ou
árbitro; "Eu vi, eu vi...", para algum lance que ninguém viu, somente ele;
"riririkakakaka, o Juiz despirocou...", para um lance em que o juiz marcou
algo “de outro mundo”.
1.4. Curiosidades do Mundo do Futebol
As principais Copas do Mundo para o Brasil
De quatro em quatro anos, seleções de futebol de diversos países do mundo
se reúnem para disputar a Copa do Mundo de Futebol. Ver nos anexos a lista
completa de todas as Copas do Mundo.
A competição foi criada pelo francês Jules Rimet, em 1928, após ter
assumido o comando da instituição mais importante do futebol mundial: a FIFA
(Federation International Football Association). A primeira edição da Copa do
Mundo foi realizada no Uruguai em 1930. Contou com a participação de apenas
16 seleções, que foram convidadas pela FIFA, sem disputa de eliminatórias, como
acontece atualmente. A primeira partida foi entre EUA e Bélgica em Montevidéu,
partida vencida pelos americanos pelo placar de 3x0. Naquela Copa seleção
uruguaia sagrou-se campeã e pôde ficar, por quatro anos, com a taça Jules Rimet.
Nas duas copas seguintes (1934 e 1938) a Itália ficou com o título. Porém,
entre os anos de 1942 e 1946, a competição foi suspensa em função da eclosão
da Segunda Guerra Mundial
Em 1950, o Brasil foi escolhido para sediar a Copa do Mundo. Os brasileiros
ficaram entusiasmados e confiantes no título. Com uma ótima equipe, o Brasil
chegou à final contra o Uruguai. A final, realizada no recém construído
Maracanã (Rio de Janeiro - RJ) teve a presença de aproximadamente 200 mil
espectadores. Um simples empate daria o título ao Brasil, porém a celeste
olímpica uruguaia conseguiu o que parecia impossível: venceu o Brasil por 2 a 1 e
36
tornou-se campeã. O Maracanã se calou e o choro tomou conta do país do
futebol14. (PERDIGÃO, 1986).
O Brasil sentiria o gosto de erguer a taça pela primeira vez em 1958, na
copa disputada na Suécia. Neste ano, apareceu para o mundo, jogando pela
seleção brasileira, aquele que seria considerado o melhor jogador de futebol de
todos os tempos: Edson Arantes do Nascimento, o Pelé.
Quatro anos após a conquista na Suécia, o Brasil voltou a provar o gostinho
do título. Em 1962, no Chile, a seleção brasileira conquistou pela segunda vez a
taça.
Em 1970, no México, com uma equipe formada por excelentes jogadores
tornou-se pela terceira vez campeão do mundo ao vencer a Itália por 4 a 1. Ao
tornar-se tricampeão, o Brasil ganhou o direito de ficar em definitivo com a posse
da taça Jules Rimet.
Após o título de 1970, o Brasil entrou num jejum de 24 anos sem título.
Nesse período, a derrota mais sofrida foi na Copa de 1982 na Espanha. A
conquista voltou a ocorrer em 1994, na Copa do Mundo dos Estados Unidos.
Liderada pelo artilheiro Romário, nossa seleção venceu a Itália numa emocionante
disputa por pênaltis. Quatro anos depois, o Brasil chegaria novamente à final,
porém perderia o título para o país anfitrião: a França.
Em 2002, na Copa do Mundo do Japão / Coréia do Sul, liderada pelo
goleador Ronaldo, o Brasil sagrou-se pentacampeão ao derrotar a seleção da
Alemanha por 2 a 0.
Em 2006, foi realizada a Copa do Mundo da Alemanha. A competição
retornou para os gramados da Europa. O evento foi muito disputado e repleto de
emoções, como sempre. O Brasil foi eliminado pela França nas quartas-de-final. A
Itália sagrou-se campeã ao derrotar, na final, a França pelo placar de 5x3 nos
pênaltis. No tempo normal, o jogo terminou empatado em 1 a 1.
Em 2010, pela primeira vez na história, a Copa do Mundo será realizada no
continente africano. A África do Sul será a sede do evento. E em 2014, a Copa do
Mundo será realizada novamente no Brasil.
14 PERDIGÃO, Paulo. Anatomia de uma derrota – 16 de julho de 1950, Brasil x Uruguai. Porto Alegre: Ed. L & PM, 1986.
37
Algumas Estatísticas
- O alemão Gerd Muller manteve até 2006 o recorde de maior artilheiro da
história das Copas do Mundo. Ele marcou 14 gols nos dois Mundiais que
disputou (1970 e 1974), Muller foi ultrapassado por Ronaldo, que atingiu 15
gols na disputa das oitavas-de-final do Mundial de 2006, contra Gana. Em
terceiro lugar aparece o francês Just Fontaine, com 13 gols, todos
assinalados na Copa do Mundo da Suécia, em 1958. O rei Pelé, tricampeão
mundial, marcou 12 vezes, e atualmente é o quarto colocado.
- O Brasil é o único país que participou de todas as Copas do Mundo;
- O Brasil é o país com mais títulos conquistados: total de cinco;
- A Itália foi quatro vezes campeã seguida pela Alemanha com três títulos,
Argentina e Uruguai tem dois, Inglaterra e França possuem apenas um
título cada;
- A Copa do Mundo é o segundo maior evento esportivo do planeta, sendo os
Jogos que as Olímpicos é o primeiro;
- As últimas Copas do Mundo: (França (1998), Japão / Coréia do Sul (2002) e
Alemanha (2006)) foram as únicas que tiveram a participação de 32
seleções.
Os campeões de todos os tempos
Uruguai (1930) / Itália (1934) / Itália (1938) / Uruguai (1950) / Alemanha
(1954) / Brasil (1958) / Brasil (1962) / Inglaterra (1966) / Brasil (1970) / Alemanha
(1974) / Argentina (1978) / Itália (1982) / Argentina (1986) / Alemanha (1990) /
Brasil (1994) / França (1998) / Brasil (2002) / Itália (2006).
Todas as edições da Copa do Mundo de futebol
• Uruguai 1930
• Itália 1934
• França 1938
• Brasil 1950
• Suíça 1954
• Suécia 1958
38
• Chile 1962
• Inglaterra 1966
• México 1970
• Alemanha Ocidental 1974
• Argentina 1978
• Espanha 1982
• México 1986
• Itália 1990
• Estados Unidos 1994
• França 1998
• Coréia do Sul / Japão 2002
• Alemanha 2006
• África do Sul 2010
• Brasil 2014
39
CAPÍTULO II
40
2. PANORAMA HISTÓRICO DA NARAÇÃO ESPORTIVA – A TELEVISÃO
2.1. A narração complementando a imagem
Um nome importante do rádio que mais tarde migrou para a televisão e foi
de grande importância na história das transmissões é Sílvio Luiz, ele é hoje um
dos mais populares da televisão e são dele as expressões “olho no lannnnce”,
“bateu no gogó da ema”, “pelas barbas do profeta”, “pelo amor dos meus
filhinhos”, entre outras.
Conforme apresentado no decorrer do trabalho, antigamente a narração
esportiva era propagada apenas por ondas curtas de rádio e, portanto, só podia
ser ouvida. Durante muito tempo, o rádio era o meio de comunicação mais
próximo que o brasileiro tinha das narrações esportivas de futebol.
Em 1950, Assis Chateaubriand, após importar dezenas de aparelhos de
televisão para o Brasil, inaugurou a primeira emissora de televisão, a TV Tupi, que
tinha como mascote um índio. Ainda na década de 50, mais precisamente em 15
de outubro de 1955, acontecia a primeira narração de um jogo de futebol ao vivo,
direto da Vila Belmiro, em Santos, cidade do litoral paulista. Estava assim
inaugurada a primeira narração esportiva externa e ao vivo.
Para que o evento acontecesse, os engenheiros da emissora montaram um
"link" na Serra do Mar que permitia a retransmissão do sinal para São Paulo.
Porém, isso só foi possível porque Santos fica a 70 km da capital onde estava o
prédio sede da estação de TV. Ainda assim o rádio continuava a ser o maior
transmissor de jogos de futebol.
O rádio se tornava ainda mais forte, porque naquela época a programação
de televisão era ao vivo e a transmissão do futebol nos mesmos moldes era muito
trabalhosa e complicada. Copas do mundo, por exemplo, eram disputadas fora do
país e o satélite ainda não existia, pelo menos para o Brasil.
Nos início dos anos 60, os religiosos começaram a sentir a necessidade de
ampliar os negócios e de investir também em televisão e, em 1967, a Rádio
Difusora transformou-se em Rádio e TV Difusora Porto-alegrense. Nesta época,
os estúdios da rádio foram transferidos para o Morro Santo Antônio a fim de
receber também as instalações da TV. Em junho de 1969, o prédio estava no fim
de sua construção e a maioria dos equipamentos já havia sido comprada. Os
41
capuchinhos investiram muito, importando material técnico moderno e de alta
qualidade. A TV Difusora entrou no ar em 10 de outubro de 1969. Foi um dia
histórico que marcou a conclusão de um projeto iniciado em 1961, quando os freis
conquistaram a concessão do canal junto ao Ministério das Comunicações. A idéia
era criar uma programação genuinamente local que permitisse fazer de Porto
Alegre um centro de produção cultural. A inauguração da emissora foi um evento
muito bem organizado que contou com a presença do governador, Peracchi
Barcellos, do cardeal Dom Vicente Scherer e do General Emílio Garrastazu
Médici. Na oportunidade, Médici fez seu primeiro pronunciamento na televisão
após ser escolhido o presidente da República.
A partir da Copa de 1962, o Brasil passou a ter imagens através do
videoteipe, tecnologia usada em prol do futebol que ajudou a divulgar ainda mais o
esporte. Eram imagens em preto e branco, gravadas e retransmitidas pela
televisão. A desvantagem deste sistema, neste caso, é que a emoção não era a
mesma, pois o público já tinha conhecimento dos resultados. Na Copa de 1966, a
sistemática foi a mesma. Este mesmo ano fica marcado como o do lançamento do
primeiro satélite pelos Estados Unidos, o qual proporcionaria a transmissão ao
vivo, o que aconteceu para alguns países da Europa. Entretanto, o Brasil só teve a
oportunidade de assistir a uma Copa do Mundo ao vivo quatro anos mais tarde.
Ainda na Copa do Mundo de 1962, o Sr. Romero Araes inventou o painel
eletrônico na forma de telão. O painel foi instalado na Praça da Sé, um painel
diferente destes de agora, pois a tecnologia de então era incipiente. Foram
colocadas pequenas lâmpadas na tela para dar uma idéia da posição dos
jogadores em campo, e à medida que as lâmpadas acendiam visualizava-se o vai-
e-vem dos ataques e contra-ataques sempre com a voz poderosa dos famosos
locutores da época, Geraldo José de Almeira, Fiori Gigliotti, Pedro Luis, e outros.
A Praça da Sé regurgitava de gente e quando saiam os gols do Brasil, a gritaria e
os estampidos dos morteiros enlouqueciam os torcedores. Foi aí que aconteceu o
bicampeonato mundial.
As primeiras partidas transmitidas pela televisão eram consideradas sem
muita emoção e monótonas. Isso era atribuído ao fato dos locutores tentarem dar
uma nova forma para a narração, forma que a diferenciasse do rádio. Além disso,
havia o fato de os recursos serem precários, como, por exemplo, o uso de apenas
duas câmeras para a cobertura do jogo sem considerar a imagem limitada e uma
42
narrativa sempre presa ao que o telespectador estava vendo. Como o torcedor já
havia conquistado um veículo com característica bem distinta, esses recursos
mostravam a forte influência que os narradores do rádio haviam levado para a
televisão.
O surgimento do satélite tornou a transmissão das partidas ao vivo mais fácil,
é a tecnologia a serviço do futebol. Na Copa de 1970, no México, o Brasil para
diante de um aparelho de televisão para acompanhar a seleção canarinha e vê-la
fazer os quatro gols da vitória sob a azurra italiana, e é pela primeira vez que
milhões de brasileiros sentem a alegria de ver o Brasil sendo campeão mundial,
com o capitão Carlos Alberto Torres levantando a taça Jules Rimet pela terceira
vez.
As narrações televisivas, ao vivo, contribuíram ainda mais para a
popularização do futebol e para o crescimento da narração esportiva. Este foi o
lado negativo para o rádio, alguns de seus melhores narradores começaram a
migrar para televisão. Isso fez com que as emissoras de rádio perdessem muitos
de seus patrocinadores dos programas esportivos que, tais como os narradores,
migravam para a televisão.
Sílvio Luiz encontrou a fórmula de transmitir o futebol pela TV sem cair na
mesmice. Claro, com seu estilo próprio o torcedor gostou. Sílvio ousou e levou o
humor, a descontração, rompendo com o padrão clássico de narração em
televisão. Passou a fazer brincadeiras, criar bordões e até a avisar no ar que havia
problemas técnicos na transmissão. Pela primeira vez um narrador de televisão
rompia com a escola do rádio para comunicar-se de maneira inovadora.
Silvio Luiz, nome artístico de Silvio Luiz Perez Machado de Sousa nasceu no
dia 14 de julho de 1934, na cidade de São Paulo. Jornalista e locutor esportivo, é
o mais irreverente da televisão brasileira. Descendente de espanhóis, por parte de
mãe, a famosa locutora Elizabeth Darcy, que por muitos anos trabalhou na Rádio
São Paulo, TVs Paulista, Cultura e Tupi. Seu pai, o engenheiro eletricista Ademar
Machado de Souza, faleceu cedo e Silvio, que estava com sete anos, passou a
acompanhar a mãe em todos os lugares, conheceu as rádios e emissoras de
televisão. Era curioso e “fuçador”, como ele mesmo disse na entrevista que nos
concedeu (a íntegra dessa entrevista encontra-se nos anexos desta dissertação),
apaixonou-se por tudo, gostava da contra-regra, da direção de TV, da câmera, da
produção, da iluminação. Foi ator, apresentador, repórter e gostava também de
43
esportes, tinha vários times de futebol de botão e fazia os seus próprios
campeonatos narrando todos os lances, tinha até patrocinador: “Cigarros
Papagaio, cada tragada um desmaio. E isso fez com que, já adolescente, aos
domingos, fosse até a Rádio São Paulo, no largo Pérola Bayton, jogar botão com
o locutor comercial da emissora, Nelson de Arruda. Foi nessa mesma Rádio São
Paulo, agora já na Avenida Angélica, esquina com Alameda Barros, que deu os
seus primeiros passos no mundo artístico. Waldemar de Morais, novelista e
escritor, tinha um programa chamado “Teatro das 5 Horas”. Um dia cansado da
insistência do Silvio, colocou-o para fazer “uma ponta”. Era um carteiro. Sua
primeira fala: “Uma carta para o senhor!” Foi assim que tudo começou. Depois foi
para TV Paulista, onde apareceu como repórter de campo, o primeiro da TV
brasileira. TV Record, duas vezes, TV Excelsior, Rádio Bandeirantes, uma
pequena passagem pelas Rádios América, Record e Pan-americana, hoje Jovem
Pan. Silvio se diz muito inquieto, mas a verdade é que, na Record, nas duas vezes
que passou por lá ficou por muitos anos. E teve atividades variadas. Foi, por
exemplo, diretor de programação em uma época em que a TV tinha 5 estúdios, 2
caminhões e 2 teatros. Silvio coordenava tudo isso com agilidade e amor. Mas, a
verdadeira paixão, ou a verdadeira vocação, era pelo esporte.
Entretanto, a migração do rádio para a televisão não aconteceu do dia para
noite, foi um processo gradativo até porque nem todo mundo possuía aparelhos
de TV, apesar de esses terem sido vendidos a um custo baixo.
A evolução tecnológica trouxe mais câmeras, novos ângulos, novas
possibilidades de narrativas. Uma das estratégias adotadas foi aproximar o
espectador do jogo. Técnica buscada no cinema. Ver mais de perto os lances,
transformando as câmeras em olhos virtuais do torcedor, seguindo a bola e
mostrando a reação do jogador, do treinador e do próprio torcedor. Isso aproximou
a narrativa do público. A narração passou a ser mais ilustrativa e o conteúdo mais
ancorado.
Sem o recurso da fantasia, do “direito de mexer com o imaginário” do
telespectador apenas com as palavras, como o rádio sempre fez com o ouvinte
com sucesso, a televisão adotou como recurso para seus narradores e repórteres
um banco de dados com diversas informações, tornando a transmissão cheia de
números, por exemplo, a quantidade de faltas, tempo de bola rolando, quem tem
mais domínio de bola, total de finalizações, entre outros.
44
Tão logo imaginou a possibilidade de ser ameaçado pela concorrência das
transmissões dos jogos pela televisão, o rádio reagiu com o que possui de mais
forte: agilidade e imaginação. Enquanto a TV apresentou como novidade uma
infinidade de números, tira-teimas, o rádio fortaleceu a prestação de serviço, nas
concentrações, nas ruas, nos vestiários, falando de trânsito, do posto médico do
estádio, o rádio optou por trazer mais jornalismo às suas transmissões esportivas.
Tudo isso, sem abandonar a linguagem específica.
Mário Prata, articulista do jornal Folha de São Paulo, conta que um
americano assistia a um jogo de futebol pela televisão ao seu lado e ficou curioso
com a narração do locutor da TV. A seguir trecho, da crônica onde o assunto
é abordado:
- “ Por que o locutor diz que o jogador caiu?
- Porque caiu, uai.
- Sim, eu vi que ele caiu. É televisão. Ele não precisa me dizer. Olha lá,
dizendo que o goleiro pegou a bola. Eu vi! Será que ele não pode me deixar
assistir em paz? É televisão ou rádio?
- Penso:
- É que antes era rádio e eles acostumaram a narrar tudo.
- Mas então alguém precisa dizer para eles que a gente não é cego. Olha lá:
dizendo que foi falta. Eu vi!
- O americano estava certo, os nossos locutores de televisão acham que estão
transmitindo pelo rádio.
- Se o juiz já disse que vai ter mais três minutos de jogo, se o sujeito já
levantou a placa mostrando, se lá em cima da televisão está dizendo que vamos
ter mais três minutos de acréscimo, por que o locutor tem que avisar à gente que
vamos ter mais três minutos de jogo? E precisa dizer que o jogo vai até aos 48
minutos?
- Não é meio óbvio?”. (O Estado de São Paulo, 02/06/2004) 15.
15 Fonte: O Estado de S. Paulo, 02/06/2004. Gringo vendo futebol. Disponível em: < http://www.marioprataonline.com.br/obra/cronicas /gringo_vendo_futebol.htm>. Acesso em: 15/01/2009.
45
Independente da crítica, não há como negar que, também para a geração de
torcedores, criada nos tempos atuais, acostumada à imagem, fica difícil
compreender a transmissão pelo rádio. O que muitos alegam é que sentem
dificuldade para visualizar a jogada, detalhes da partida narrada pelo rádio e que
só percebem o lance quando é gol. Exageros à parte, faz sentido a dificuldade dos
que vêem desde pequenos a imagem como suporte para entendimento do mundo
o que é narrado pelo rádio.
O estudo dos órgãos de percepção registra que o ouvido humano é capaz de
discriminar cerca de 200 mil unidades de informação por segundo, considerando
as tonalidades e a intensidade, bem como o sentido de direção. Já o olho,
jogando com a discriminação espacial, as tonalidades cromáticas e os intervalos
entre os estímulos, alcança dezenas de bilhões de unidades de informação a cada
segundo. (SCHINNER, 2004) 16.
Mais do que uma questão sobre qual dos sentidos tem maior alcance, o que
pesa realmente é a questão da interpretação, que, inclusive, justifica o fato do
torcedor que vai ao estádio levar o radinho. E este torcedor, que se habituou à
transmissão do rádio, sente uma dificuldade muito grande de ajuste à narrativa da
televisão. E, neste sentido, não parece ser um “problema” nacional.
Afinal, o que vale é o locutor carro-chefe e não a equipe? Abaixo, Luciano do
Valle e Galvão Bueno são exemplos desse tipo de locutor.
Luciano do Valle, com seu estilo radiofônico e empolgante de narração,
narrou várias Copas do Mundo e trabalhou em várias emissoras de rádio e
televisão, como Rede Globo (1974-1982), Rede Record (1982-1983, 2003-2006) e
Rede Bandeirantes (1983-2003, 2006 - hoje). Foi locutor de Fórmula 1 e, ao lado
do comentarista Ciro José, transmitiu a fase áurea de Emerson Fittipaldi nessa
categoria, que o transformou em um ídolo do esporte brasileiro. Depois que saiu
da Rede Globo no início dos anos 80, desenvolveu paralelamente uma carreira de
empresário e promotor de esportes: seu primeiro grande sucesso nessa carreira
foi a promoção da seleção brasileira de voleibol, quando era chamado de Luciano
do Vôlei.
Seu trabalho tornou ídolos nacionais jogadores como Bernard, William,
Montanaro e Renan, que depois ficaram conhecidos como a "Geração de Prata"
16 Fonte: SCHINNER, C.F. Manual dos locutores esportivos. Vol 1. São Paulo: Ed. Panda Books, 2004.
46
do vôlei brasileiro. Depois, promoveria a carreira de Maguila, famoso lutador de
boxe nacional. Ao passar para a Bandeirantes foi responsável pela ênfase da
emissora nas transmissões esportivas (seu slogan passou a ser "Canal do
Esporte"), exibindo aos domingos o programa de longa duração Show do Esporte,
que apresentava todo o tipo de evento esportivo, desde boxe, automobilismo,
esportes olímpicos até jogos de sinuca. Apresentou ao Brasil a Fórmula Indy e a
Seleção Brasileira Masters de Futebol, que contava com seus grandes amigos, os
jogadores Rivelino, Edu e Dario. Durante o verão brasileiro, transmitia várias
modalidades de esportes de praia, em programas especiais dessa temporada.
Durante sua fase de empresário, Luciano ganhou dinheiro e fez sucesso.
Apresentou o programa Apito Final, pela TV Bandeirantes, durante a Copa do
Mundo de 2006, e transmitiu os jogos do Brasil na mesma competição pelo canal
de televisão a cabo chamado Band Sports. Atualmente, reduziu suas atividades
empresariais, continuando como narrador e transmitindo os Campeonatos Paulista
e Brasileiro de futebol pela Band.
Carlos Eduardo dos Santos Galvão Bueno, mais conhecido como Galvão
Bueno, é um famoso locutor esportivo e radialista brasileiro. Ele define-se como
“um vendedor de emoções”.
Começou a carreira no rádio paulista em 1974, depois de trabalhar numa
fábrica de materiais plásticos. Trabalhou na TV Gazeta, na Rede Record e na
Rede Bandeirantes. Seu primeiro trabalho na Rede Globo foi a narração da partida
entre o Clube de Regatas Flamengo e o Club Jorge Wilstermann, da Bolívia, pela
Copa Libertadores da América de 1981. No ano seguinte, já estava cobrindo sua
primeira Copa do Mundo e, logo após o Mundial realizado na Espanha, tornou-se
o narrador titular na emissora, com a saída de Luciano do Valle para a TV Record.
Em 1992, Galvão deixou a Rede Globo para atuar em outra rede de televisão, a
Rede OM (atual CNT), com sede no estado do Paraná, sempre na locução
esportiva, na época em que aquela rede se lançava no sentido de alcançar a
liderança nacional no segmento. Apesar de algum sucesso nas transmissões da
Copa Libertadores da América daquele ano, o projeto não emplacou como se
esperava, e no ano seguinte ele estava de volta à Globo.
A partir daí, como principal narrador da emissora, atuou nos grandes
momentos do esporte nacional, como as copas do mundo de 1994 e de 2002
vencidas pela Seleção Brasileira de Futebol, os títulos mundiais e o acidente fatal
47
de Ayrton Senna, além de vários jogos olímpicos. Nos últimos anos, já
consagrados, Galvão passou a apresentar o programa Bem, Amigos, no canal de
televisão a cabo SporTV.
Dentre as suas paixões esportivas, destacam-se o basquete e o
automobilismo, este último herdado por seus filhos Cacá e Popó Bueno, ambos
pilotos da categoria Stock Car.
48
CAPÍTULO III
49
3. A LINGUAGEM DO JORNALISMO ESPORTIVO – A MÍDIA ESPORTIVA
3.1. A Linguagem do Jornal Impresso
Desde quando o futebol chegou ao Brasil, a imprensa esportiva, de alguma
forma, esteve envolvida com este esporte. A parceria entre o futebol e a mídia
é muito antiga. As primeiras notícias foram divulgadas no Jornal do Comércio de
São Paulo, na edição de 17 de outubro de 1901, quando a mídia impressa, mais
especificamente o jornal, começou a divulgar as informações do futebol. Tinha um
caráter muito elitista, assim como encontramos no futebol da época, pois eram
poucos os que tinham acesso às informações e às práticas esportivas.
Até os anos 1930, a linguagem esportiva era voltada para a elite; portanto,
tinha pouco espaço na mídia daquela época. Mário Filho, responsável pela
revolução da linguagem esportiva, percebeu que o esporte, principalmente o
futebol, estava se popularizando e seria necessário adotar uma linguagem
simples, mais voltada para a população pobre.
As edições dos jornais tinham um custo elevado, a população tinha grande
dificuldade em compreender a mensagem, por falta de instrução, ou porque os
termos esportivos, na época, faziam referências às línguas estrangeiras, mais
especificamente ao inglês. Podemos notar isso em relação aos termos: córner,
pênalti, e outros tão usuais no futebol. O jornalista Paulo Vinicius Coelho relata em
seu livro que, em 1910, havia páginas de divulgação esportiva no jornal Fanfulla:
Não se tratava de periódico voltado para as elites, não formava opinião, mas atingia um público cada vez mais numeroso na São Paulo da época. Em uma das edições chamava os italianos para fundar um clube de futebol. Foi assim que nasceu o Palestra Itália, que se tornaria Palmeiras, décadas mais tarde. (COELHO, 2003, p. 08).
O jornal Fanfulla trazia relatos de página inteira num tempo em que este
esporte ainda não cativava multidões. Para se ter uma idéia, o Correio Paulistano,
por exemplo, liberava apenas uma coluna para as matérias que incluíam futebol e
duas colunas para o turfe.
50
Para alguns pesquisadores, porém o jornalismo esportivo iniciou em 1856,
com o jornal O Atleta, que difundia ensinamentos para o aprimoramento físico dos
habitantes do Rio de Janeiro. Só em 1922 é que os grandes jornais abrem a sua
primeira página às fotos de 4 e 5 colunas com lances de futebol e, segundo os
pesquisadores “sem deixar de atacar o profissionalismo que ameaça o
amadorismo”. Cinco anos antes, fora criada, em São Paulo, a Associação dos
Cronistas Esportivos, um sinal de que o noticiário esportivo crescia e que os
atores sociais deste segmento já pensavam em se organizar.
O futebol conquistara definitivamente a sociedade. Vários jornais e revistas
surgiram pelo país, especialmente no eixo Rio - São Paulo. Nas seções de
esportes dos principais jornais, o futebol substituía as notícias do remo e do turfe,
que dominavam o noticiário desde o início do século.
Na década de 30, o futebol já era um esporte bem difundido e logo chegaria
ao profissionalismo. Nessa época, o Rio de Janeiro era a cidade que mais tinha
jornais que dedicavam espaço para o futebol. Foi nos anos 30 que nasceu, no Rio
de Janeiro, o primeiro diário exclusivamente dedicado aos esportes no país: O
Jornal dos Sports.
O jornalista e dramaturgo Nelson Rodrigues teve uma ligação muito
importante com o jornalismo esportivo. Trabalhou na editoria de esportes do jornal
O Globo, sem receber salário, na verdade como colaborador de seu irmão, Mário
Filho que algum tempo depois lançou um jornal totalmente dedicado ao esporte, o
Mundo Esportivo. As crônicas recheadas de drama e de poesia estavam nas
páginas dos jornais em que os dois irmãos trabalharam. Conforme observa
Coelho:
As crônicas de Nelson Rodrigues motivavam o torcedor a ir ao estádio para o jogo seguinte e, especialmente, a ver seu ídolo em campo. A dramaticidade servia para aumentar a idolatria em relação a este ou àquele jogador. Seres mortais alçados da noite para o dia à condição de semideuses. (COELHO, 2003, p. 17)
Mário foi o responsável pela transformação das páginas de esportes, ao dar
mais espaço ao futebol; privilegiou os jornalistas que trabalhavam com o futebol,
pagando melhores salários. Sua frase “Um jornal não deve se limitar a dar
notícias, deve também produzir notícias que precisam ser a notícia” demonstra
51
como ele acabou criando o jornalismo futebolístico do futuro, ou seja, aquele que
quer que a notícia vá atrás dele.
Mário optou escrever de forma dramática as situações que poderiam parecer
corriqueiras, com isso aproximaram definitivamente o torcedor do jogador e da
vida do clube. Em suas mãos, o jornalismo esportivo ganharia novas dimensões.
Na forma, quase tudo mudava: título, subtítulo, legendas. O conteúdo abria
espaço para a vida dos personagens que faziam o espetáculo.
Mário criava uma rede de informações poderosa. O prestígio do cargo
ocupado em O Globo (responsável pela editoria de esportes) permitia contato
direto com fontes preciosas, principalmente dos dirigentes esportivos.
A inteligência de seus textos brotava de duas fontes bem distintas. Mário
frequentava os estádios, sentia de perto as emoções do espetáculo, e ao mesmo
tempo aprimorava os conhecimentos na roda de intelectuais. Em seus textos,
jogadores passaram a ser endeusados, especialmente os negros.
Um dos jornais mais conhecidos, confiáveis e lidos no cenário esportivo foi A
Gazeta Esportiva, durante décadas foi o numero 1 das bancas. Segundo o site da
Fundação Cásper Líbero, circulou pela primeira vez em 24 de dezembro de 1928.
Inicialmente era apenas um suplemento, um tablóide do Jornal A Gazeta, que ia
às bancas toda segunda-feira.
O lançamento de um suplemento específico para o esporte nos jornais era a
prova maior de que o futebol exigia um tratamento diferenciado para seus leitores.
Após alguns anos, o suplemento também passou a circular aos sábados. Nos
demais dias, A Gazeta destinava duas páginas para o noticiário esportivo, e era
essa uma das principais alavancas da circulação do diário. No dia 10 de outubro
de 1947, tornou-se um jornal diário com 12 páginas totalmente dedicadas ao
esporte.
Na década de 70, chegou a circular com 72 páginas. Um jornal completo,
com informações de todas as modalidades e coberturas dos grandes eventos
esportivos, que durou 59 anos. Hoje não está mais disponível na versão impressa
(bancas; as revistas) encontramos na versão on-line.
Presente desde o final do século XIX no país, o jornalismo esportivo já
passou por diversas transformações e hoje é um nicho importante na imprensa
brasileira. Quase todos os grandes jornais do país possuem os cadernos
52
esportivos e páginas exclusivas na internet, sem contar jornais e revistas
especializadas.
3.2. A Linguagem de Rádio
Na década de 30, o rádio contribuiu bastante para o crescimento do
jornalismo esportivo; com isso, os narradores brasileiros criaram seus próprios
estilos. Esses profissionais narravam os jogos e tentavam empolgar e causar
emoção no público. Eles distorciam bastante o fato, ou seja, exageravam na hora
de narrar um lance do jogo. Durante as transmissões, eles usavam a emoção, o
excesso de bordões e as frases cômicas para isso. Como o espectador não podia
ver o que acontecia, ele era obrigado a acreditar em tudo o que o locutor dizia.
Heródoto Barbeiro e Paulo Rodolfo de Lima fazem uma análise a respeito
dos textos de rádio. Os autores analisam o papel de cada membro envolvido na
produção de uma notícia.
O texto de rádio difere do texto da imprensa escrita, pois o ouvinte só tem
uma chance de entender a informação. Portanto, a mensagem se dissolve no
momento em que é levada ao ar:
Para que a missão de conquistar o ouvinte seja alcançada, o texto deve ser coloquial. O jornalista precisa ter em mente que está contando uma história para alguém, mas sem apelos à linguagem vulgar, e acima de tudo, respeitando as regras do idioma. (BARBEIRO; LIMA, 2001, p. 62).
Segundo Barbeiro e Lima, o que prende o ouvinte é a naturalidade como a
informação é passada, a naturalidade da fala, a simplicidade e principalmente a
pronúncia correta das palavras.
A clareza que buscamos ao redigir um texto deve estar presente na fala. Não é um belo timbre de voz que prende a atenção do ouvinte, mas a naturalidade, a simplicidade e a pronúncia correta das palavras. (BARBEIRO; LIMA, 2001, p. 79).
A linguagem radiofônica é diferente da linguagem televisiva. Na televisão, o
comunicador pode falar de certo fato mostrando-o para o telespectador. Já no
rádio isso não é possível, pois o ouvinte não está vendo nada, ele apenas está
recebendo uma informação auditiva.
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A rapidez como a informação tem que ser dada no rádio leva os profissionais
desse meio a encaminhar ao ouvinte informações quentes, e talvez o profissional
ainda não esteja preparado para dar aquela informação. Por exemplo, quando o
jornalista está transmitindo um fato ao vivo, como um jogo de futebol, ele não sabe
o que vai acontecer, por isso tem que usar uma linguagem diferenciada, para não
causar certo alarde no ouvinte. Isso é diferente da imprensa escrita, pois o
profissional desta tem mais tempo para apurar melhor o fato, que já ocorreu.
A narração esportiva é um grande entretenimento para o público. Com isso,
o jornalista que trabalha com o futebol passou ser mais polivalente, ou seja, ele
tem que passar para o telespectador muito mais que o conteúdo do jogo, precisa
agilizar a informação.
Conforme vimos no capítulo sobre a televisão, hoje em dia o jornalista
precisa esmiuçar a partida, ele tem que passar informações mais detalhadas ao
ouvinte, ao espectador. O jornalista tem que mostrar dados históricos das equipes,
estatísticas do jogo, dados dos jogadores.
Heródoto Barbeiro e Paulo Rodolfo de Lima abordam que a emoção se torna
o grande item de uma transmissão esportiva, mas, além dela, os narradores
precisam conhecer mais as regras dos esportes, buscar mais objetividade e evitar
exageros. Segundo eles, os exageros podem transformar a informação em
desinformação. Para os autores, porém as transmissões esportivas ainda estão
seguindo o mesmo estilo de antigamente e isto precisa ser mudado: “As
transmissões esportivas seguem o mesmo estilo há 50 anos.” (BARBEIRO; LIMA,
2001, p.76).
3.2.1. Transcrições de Partidas de Futebol no Rádio
A seguir, listamos alguns exemplos de narrações de partidas de futebol pelo
rádio17. I-) Jogo: Quadro Paulista 6 x 4 Bologna Futebol Clube (Itália) Rádio PRA – E / Educadora de São Paulo Narração Armando Pamplona Ano: 1934
Tempo: 01:14
17 As transcrições I, II, III, IV, V, VI, VII e VIII foram retiradas do site – http://www.locutor.info.com.br
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Gol, gol, gol, a bola o chute da ................ batido por............e foi parar nos pés de ...................... que emendou fazendo mais um belíssimo gol para o quadro paulista, e acaba de terminar o jogo internacional entre o quadro paulista e o Bologna futebol clube vencendo o quadro de São Paulo pela contagem de 6 gols a 4 a multidão invade o campo “barragando” os jogadores, transmite pela PRA – E / Educadora Paulista em combinação com o Rádio Clube Brasil do Rio de Janeiro, tecnicamente o jogo deixou muito a desejar de parte a parte as defesas foram fracas e os ataques mal organizados, temos por terminada as nossas irradiações dessa tarde. (Observação: como o material é muito antigo, tivemos dificuldades na escuta).
II-) Jogo: Final da Copa do Mundo de 1950 Brasil 1 x 2 Uruguai Narração Antonio Cordeiro Local: Maracanã Tempo: 00:33 Transmito a finalíssima da copa do mundo, Schiaffino do campo Uruguaio para Gighia, Gighia devolveu a Julio Perez que .................... na ponta direita corre Gighia aproxima-se do gol do Brasil e atira...... gol........(silêncio) gol do Uruguai .......... Gighia. Terminou o jogo com a vitória do Uruguai.........uruguaios campeões mundiais de futebol de 1950, reconquistando o título que haviam obtido em 1930.
III-) Jogo: Final da Copa do Mundo de 1958 Brasil 5 x 2 Suécia Narração Edson Leite Tempo: 00:56 No meu crônometro faltam 10 segundos, bola longa para a área brasileira fica na esquerda agora com Orlando, Orlando para Pelé, Pelé domina no peito de calcanhar para Zagallo, Zagallo prepara-se tem Pelé, levantou a Pelé entrou de cabeça para o arco é GOOOOLLLLLLLLLL (4 segundos) Pelé com uma cabeçada extraordinária marca o 5º gol do Brasil, Brasil campeão mundial de futebol, 2 gols de Vavá, 2 gols de Pelé, 1 gol de Zagallo, vitória de marca no escrete brasileiro, Brasil pela 1º vez se pode dizer, CAMPEÃO REALMENTE DO MUNDO em 1958.
IV-) Jogo: Final da Copa do Mundo de 1962 Brasil 3 x 1 Tchecoslováquia Narração Oduvaldo Cozzi Tempo: 00:29 Brasil campeão do mundo, bi-campeão do mundo, falta minuto e meio para terminar, aonde estão as bandeiras, terrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrminou, terrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrminou, terrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrrminou, Brasil bi-campeão do mundo.
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V-) Jogo: Final da Copa do Mundo de 1962 Brasil 3 x 1 Tchecoslováquia Narração Pedro Luiz Tempo: 00:33 GOOOOOLLLLLLLLLLLLLLLLLL de Vavá não deu deslizes, ................................, está decididamente de um lado só, Vavá parou .......... prendeu a bola, caiu
VI-) Jogo: Milésimo gol de Pelé Local: Maracanã Jogo: Vasco 1 x 2 Santos Partida válida pelo Torneio Roberto Gomes Pedrosa (campeonato brasileiro da época) Ano 1969. Narração Joseval Peixoto Rádio Jovem Pan Tempo: 03:24 Atenção Brasil bola na marca fatal, ele que já faturou tantas de bola parada, tanto na marca do pênalti como de longa distância, agora está preparado para a sua consagração, para entrar para a história do futebol universal, de uma vez por todas Pelé, Andrada no centro do gol o rei com a mão na cintura, a coroa levantada, abaixa-se ele o rei vai tomar distância, todos os fotógrafos para fora da grande área volta-se, ele agora demonstra estar tranqüilo, com aquela serenidade dos que conhecem, dos que sabem, agora correu de paradinha é goollllllllllllllll (a torcida ao fundo explode de alegria) goooolllllllllllllaço Pelé, é invadido o Maracanã, Geraldo Blota – (repórter de campo) “muitos gritos Pelé, Pelé, muita falação durante 36 segundos” Geraldo tenta falar “Pelé está com as nas mãos.......” Joseval volta a narrar - Pelé carregado, carregado pelos seus companheiros, vai fazer a volta olímpica, ele se recusa, ele se recusa ir de uma vez, desce pede por favor que não façam isso, mesmo assim todos os cercam, a equipe do Santos aguarda em fila indiana no centro de campo, os repórteres é que conduziam Pelé, jogo interrompido como era de se esperar, pedem que ele faça a volta olímpica, ele se recusa ir de uma vez, o capitão Carlos Alberto vai lá buscar Pelé, ele atende como atendeu tantas vezes, vai e se joga nos braços dos seus companheiros, dessa equipe que lutou com ele tantas vezes, que fez a sua história e em contrapartida viu Pelé escrever a sua história, ele vai carregado, debruça-se, chora, lagrimas profundas lá no centro do gramado, esconde o rosto das câmeras de televisão das máquinas de filmar das máquinas de fotógrafos, esconde-se por completo, tenta esconder-se na humildade que o trouxe criança um dia de Bauru para o placo também humilde da Vila Belmiro, humilde demais para a grandeza do futebol que lá ele apresentou num teatro pequeno, mais de um artista nobre, grande enorme demais torcedor do Brasil.
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VII-) Jogo: Final da Copa do Mundo de 1970 Brasil x Itália Narração Jorge Cury Rádio Globo Tempo: 00:35
Bola para Rivelino, Rivelino para Jair, correu pela ponta esquerda, Facchetti, passou por ele, lança a pelota a Pelé, Pelé dominou Carlos Alberto está livre, correu .....................golllllllll, gooooollllllllllllllll Carrrrlossss Alberrtooooo, camisa numero 4, 41 minutos e 30 eram decorridos, vibra, vibra (vinheta Brasilllll)
VIII-) Jogo: Final da Copa do Brasil 2009 Internacional 2 x 2 Corinthians Narração - José Silvério Rádio Bandeirantes Tempo 01:48 Ronaldo para Jorge Henrique para Ronaldo, Andre Santos chegou na área ajeitou bateu e que golaço, gol gol gol (fundo da rádio) e que golaço, e que golaço, goooollllllllllllllllllllll (14 segundos) do Corinthians (toca o hino de fundo) Andrééééééé Santossssss camisa 27 no toqueeeee o Corinthians enrrolou nervoso o Internacional a bola foi tocada na linha de fundo André Santos ennnncheu o pé, pelo alto, no fundo do gol do Inter, na marca de 28 minutos etapa primeira de jogo, Andrééééé Santossssss, Andrééééé Santossssss, Andrééééé Santossssss, camisa 27, Corinthians dois Internacional zero, título está quase garantido, Alexandre Pretzel (ele voltou com grande moral da seleção brasileira, numa grande jogada pelo lado esquerdo uma triangulação, André Santos entrou cara a cara com o Lauro e bateu como tem que bater em cima, Lauro nem viu a bola dois a zero, só um desastre tira o título do Corinthians Silvério)
3.3. A Linguagem da TV
Como confirma uma pesquisa do IBGE (2009), a televisão chega a 96% das
residências brasileiras, o que confirma o poder desse meio de comunicação e sua
importância na sociedade. Isso justifica a preocupação com a importância da
linguagem televisiva em seu conteúdo, mensagens e formas. A televisão brasileira
tem pouco mais de meio século de existência, é uma concessão pública, que pode
ser explorada comercialmente, e que, por causa da sua popularidade, avançou
muito em tecnologia. E é exatamente por causa desta notoriedade que a
responsabilidade ética dos profissionais do jornalismo aumenta.
A linguagem da televisão propõe ao jornalista um desafio diário, que é relatar
com precisão e síntese, transmitindo a relevância da informação de forma atraente
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e inteligível. Conforme Silvio Luiz relata na entrevista anteriormente citada, o texto
deve sempre estar “casado” com a imagem, complementando e esclarecendo a
informação visual, sem ser uma mera descrição. Na televisão, não se deve usar
palavras de difícil compreensão, estas devem ser substituídas por termos que se
empregam no dia-a-dia, como se estivesse mantendo um diálogo com os
telespectadores, de forma direta e com frases curtas para facilitar o entendimento.
O ideal é prender o telespectador já no início da matéria, como no lead 18 do jornal
impresso.
O trabalho em televisão lembra o das linhas de montagem das fábricas, em
que cada um é responsável por uma fase da produção; o repórter nem sempre
sabe qual vai ser a próxima matéria. Antes de o repórter sair para uma externa ou
atuar como narrador de um evento é checada a relevância dos temas, os dados,
os fatos e as fontes pela produção. Narradores, repórteres e cinegrafista devem
conhecer aquilo que vão transmitir e para isso é necessária uma boa interação
entre os profissionais. Boa pauta, imagens bem feitas e um repórter competente
facilitam a transmissão e a edição, que pode ser usada também nos compactos,
que são exibidos em outros programas e horários.
Na transmissão de futebol, a televisão ainda conta com vários recursos da
computação gráfica que aumentam a interação com o telespectador e auxiliam na
passagem mais clara da mensagem, como as artes para a escalação, a linha de
impedimento, o congelamento de imagens e o replay19.
Com a televisão, a narração esportiva tornou-se ainda mais um
entretenimento, e assim o jornalista futebolístico é cada vez mais polivalente.
3.3.1. Transcrições de Partidas de Futebol na Tv
A seguir, listamos alguns exemplos de narrações de partidas de futebol pela televisão20. I-) Jogo: FINAL COPA DO MUNDO DOS ESTADOS UNIDOS Ano 1994 MELHORES MOMENTOS DOS PENÂLTIS BRASIL 0 X 0 ITALIA (TEMPO NORMAL)
18 Lead – é, em jornalismo, a primeira parte de uma notícia, geralmente posta em destaque relativo, que fornece ao leitor a informação básica sobre o tema e pretende prender-lhe o interesse. É uma expressão inglesa que significa”guia” ou “ o que vem à frente” . 19 Replay – termo em inglês que significa o ato de reprisar imagens durante uma transmissão ao vivo. 20 As transcrições I e II foram retiradas do site http://www.youtube.com
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BRASIL 3 X 2 ITALIA (PÊNALTIS) REDE GLOBO (TELEVISÃO) NARRAÇÃO GALVÃO BUENO TEMPO 04:86 Final de jogo, final de 120 minutos,um drama 0 x 0 no final dos 90, 0x0 no final dos 30 da prorrogação, o capitão Baresi, ele e Taffarel, correu Baresi, vai ajeitar Baresi, partiu Baresi, é sua Taffarel, partiu Baresi bateuuuuuuuuuuuuuuuu (vinheta BRASILLLLL) e muito, o Brasil inteiro e você Marcio Santos, partiu, bateuuuuuuu, pegou Pagliuca, silêncio, pegou Pagliuca ......distância, partiuuuu, Taffareeel é gol da Itália, quis adivinhar o canto, adivinhar o canto é difícil, ele e Pagliuca, momento de angustia, partiuuu Romário pé direito bateuuuuuuuu ééééééééé gooooooollllllll, (VINHETA BRASILLLLL) gooolllllll do Brassiiiiiiillllll Romário, toma muita distância, autoriza o juiz, sai que é sua Tafarel, meio do gol, pra que se mexer é aquilo o que ei digo........lá vai Branco, vai partir a bomba da perna esquerda, partiuu Branco bateuuuuuuuu ééééééééé gooooooollllllll, (VINHETA BRASILLLLL) é gol é gol é gol do Brasil é gol de Branco.........................Taffarel, partiu Massaro pé direito, Tafffaarreeeelllll vai que é sua Taffarel, vai que é sua Taffarel, vai que é suuuuuua Taffarel........ o capitão ajeita com carinho, ajeitando Dunga, ele e Pagliuca, partiuu Dunga pé direito bateuuuuuuuu ééééééééé gooooooollllllll, ééééééééé gooooooollllllll, (VINHETA BRASILLLLL) ééééééééé gooooooollllllll golllllllllllllllllllllllllllllllllllllll do Brasil (VINHETA BRASILLLLL) Dunga........ todos no gol com Taffarel, Baggio e Taffarel, vai partir, vai que é suua Taffarel, partiuuuu, bateuuuu, acabooooooouuuuuuuuu, acaboooooooooouuuuu(tema da vitória), acaboooooooooouuuuu, é Tetraaaaaa, é Tetraaaaaa, é Tetraaaaaa o Brasilllllll é Tetra Campeão Mundial de Futebol, o Brasil 24 anos depois e Tetra Campeão Mundial de Futebol, (VINHETA BRASILLLLL), Brasillll, Brasillll, Brasillllll, para exorcizar o último fantasma que faltava, na cobrança dos pênaltis, quem é que manda no futebol do mundo, é o Brasil, é o Brasil que manda no futebol do mundo, é Tetra Campeão,
II-) Jogo: FINAL COPA DO MUNDO DA ALEMANHÃ ANO 2002 BRASIL 2 X 0 ALEMANHA REDE GLOBO DE TELEVISÃO NARRAÇÃO GALVÃO BUENO TEMPO 1:05
Ele cortou para o meio lá vem o Kleberson, Rivaldo saiu para o Ronaldinho pé direito bateu goooooooooollllllllllllllllllll, BRASIL (vinheta) goooooooooollllllllllllllllllll ééééééééééééé do BRASIL (20 segundos) BRASIL (vinheta). BRASIL (vinheta), RRRRRRRRRRooooooonalllllldinhooooooo, numero nove aos 33 do segundo tempo, o segundo gol brasileito dois a zero Brasil, dois de Ronaldinho, olhe de novo ai, cadê o Oliver Kahn, bola no canto, jogada de começou com Kleberson, passou pelo Rivaldo, que deixou espetacularmente para Ronaldinho meter para o gol.
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III-) Jogo: FINAL DO CAMPEONATO PAULISTA SANTOS 1 X 3 CORINTHIANS ANO 2009 REDE BANDEIRANTES (TELEVISÃO) NARRAÇÃO DE LUCIANO DO VALLE TEMPO 1:08
Bom lance Elias para Ronaldo em condição legal fintou o primeiro por cobertura,demaaaaiiiisssssssss,demaaaaiiiissssss,gooooooollllllllllllaaaaaççoo, gooooooooollllllllllllllllllaaaaaaaaaaaççooooooooo,goooooolllllllllllllllllllaaaaaaaaaaaaaççooooooo, ele é fora de série a gente não cansa de dizer, o que ele fez na Vila Belmiro? Ele voltou, olhe o toque sutil, matou, matou o goleiro Fábio Costa, triguinho , ficaram olhando os dois, Ronaldo, Ronaldo, é o fenômeno do Corinthians, maravilha, esse vai de novo para a galeria dos gols inesquecíveis ta lá dentro, ta lá dentro Godoy.
3.4. A Linguagem da Internet
A internet parece estar dando um novo fôlego para a narração esportiva. O
imediatismo da Web tem sido um dos principais responsáveis pela atração dos
veículos tradicionais. Mas por que, então, a narração esportiva, que tem o
imediatismo como característica, está procurando também a rede? É que a
internet tem proporcionado a narração esportiva outras características que ela não
tinha condições de ter e que eram exclusivas de outros meios. A internet aparece
como um espaço privilegiado de trocas, simbólicas ou virtuais e apresenta-se
entre as principais tendências de um mundo centrado em redes, com o
microcomputador funcionando como uma espécie de janela para esse mesmo
mundo.
Existem hoje, no mundo inteiro, cerca 1 bilhão de pessoas conectadas à
internet, só no Brasil são 44,5 milhões de pessoas . Esses números mostram que
a web ainda está distante da grande massa no Brasil21.
O último senso realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE) revelou que o país tem hoje cerca de 190 milhões de habitantes. Logo os
computadores chegam a um percentual muito pequeno da população brasileira.
Isso mostra que o público da internet é pequeno, porém seleto, que exige
qualidade. E a narração esportiva On Line sofreu e continua sofrendo
21 Ibope Nielsen Online Data de Publicação: Agosto de 2009.
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transformações qualitativas, por estar ainda em processo de adaptação, esta se
vê obrigada a oferecer algo mais ao “ouvinte-internauta”.
A Internet deu um novo fôlego para o rádio. A maioria das emissoras possui
sua própria página, onde é possível que o ouvinte-internauta, além de curtir seu
som, pesquise sobre seu time de coração, participe de promoções, É a
demonstração de que, sem perder o romantismo, as emissoras de rádio estão se
adaptando e se preparando para os novos tempos.
3.4.1. Transcrições de Partidas de Futebol na Web
A seguir, listamos alguns exemplos de narrações de partidas de futebol na WEB. (Lance Net). I-) Jogo: FICHA TÉCNICA BRASIL 1 X 0 ÁFRICA DO SUL Local: Estádio Ellis Park, em Joanesburgo (África do Sul) Data: 25 de junho de 2009, quinta-feira Horário: 15h30 (de Brasília) Árbitro: Massimo Busacca (Suíça) Assistentes: Matthias Arnet e Francesco Buragina (ambos da Suíça) Cartões amarelos: Felipe Melo, André Santos e Daniel Alves (Brasil); Masilela (África do Sul) Gols: BRASIL: Daniel Alves, aos 41 minutos do segundo tempo BRASIL: Júlio César; Maicon, Lúcio, Luisão e André Santos (Daniel Alves); Gilberto Silva, Felipe Melo, Ramires e Kaká; Robinho e Luís Fabiano (Kléberson) Técnico: Dunga ÁFRICA DO SUL: Khune; Gaxa, Mokoena, Booth e Masilela; Dikgacoi, Mhlongo, Pienaar e Tshabalala (Mphela); Modise (Mashego) e Parker Técnico: Joel Santana
• 47m41s: Fim de jogo. Brasil classificado. • 45m50s: Daniel Alves leva amarelo após a comemoração. • 42m35s: Daniel Alves cobra falta com perfeição, no ângulo esquerdo. • 42m07s: GOOOOLLLL DO BRASIL!!! • 40m57s: Ramires sofre falta na entrada da área. Grande chance para o
Brasil. • 39m35s: Robinho tenta drible, se atrapalha todo e a bola sai pela lateral. • 36m24s: Primeira alteração do Brasil: Daniel Alves entra no lugar de André
Santos. • 33m57s: Gaxa tenta de longe e manda por cima do gol. • 32m36s: O presidente da Fifa, Joseph Blatter, acompanha o jogo ao lado de
Jacob Zuma, presidente sul-africano que veste o casaco dos Bafana Bafana. • 29m34s: Robinho tabela com Luís Fabiano, mas carimba a zaga na
finalização.
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• 27m48s: Jogo segue equilibrado. Em caso de empate, a vaga na final será decidida na prorrogação.
• 24m40s: Após cruzamento da direita, Júlio César sai do gol e fica com a bola. • 22m55s: Luís Fabiano arrisca de longe. Bola se perde à esquerda do gol sul-
africano. • 20m00s: Lançamento para a área, Gilberto Silva corta de cabeça. • 17m28s: UUUHHH!! Luís Fabiano cruza, zagueiro não consegue cortar e a
bola sobra para Robinho, que bate de primeira para fora. • 16m47s: Luís Fabiano recebe na direita, gira e bate. Khune cai e faz a
defesa. • 15m31s: André Santos mata contra-ataque e leva amarelo. • 14m46s: Torcida sul-africana se anima e canta nas arquibancadas. • 12m31s: UUUHHH!! Modise chuta, a bola desvia no caminho e quase
engana Júlio César, que faz excelente defesa. • 08m57s: Felipe Melo tenta passe para Kaká, mas exagera na força e a bola
se perde pela linha de fundo. • 06m35s: Kaká desvia de cabeça cruzamento da direita, mas manda para
fora. • 04m53s: Jogo paralisado para atendimento a Pienaar. • 03m49s: Kaká avança pela esquerda e cruza para trás. Zagueiro sul-africano
tira para escanteio. • 02m55s: Robinho chuta sobre o gol de Khune. • 01m11s: Robinho bate escanteio. Felipe Melo tenta cabecear e pega mal na
bola. • 00m00s: Rola bola para o segundo tempo em Joanesburgo. • Primeiro tempo • 46m05s: Fim de primeiro tempo: 0 a 0. • 45m43s: Felipe Melo rola para André Santos, que acerta a barreira. • 44m50s: Masilela derruba André Santos na entrada da área e leva amarelo. • 43m19s: UUUHHH!! África do Sul responde: Pienaar chuta de fora da área e
a bola passa muito perto da trave direita de Júlio César. • 42m03s: UUUHHH!! Rápido contra-ataque do Brasil. Kaká recebe pela direita
e bate. Khone defende com as pontas dos dedos e salva o time da casa. • 40m24s: Mhlongo arrisca do meio da rua e errra por muito. • 37m08s: UUHHH!! Brasil chega de novo! Kaká recebe de André Santos e
tenta achar o ângulo esquerdo de Khune. A bola passou perto! • 35m26s: UUHHH!! André Santos solta uma bomba. Khune segura firme. • 32m35s: Robinho recebe de Maicon na cara do gol, mas em posição de
impedimento. • 31m18s: Felipe Melo faz falta dura em Gaxa e leva o primeiro amarelo da
seleção na Copa das Confederações. • 30m16s: UUUHHH!! Tshabalala cobra com violência e Júlio César espalma. • 28m24s: Luisão faz falta perto da meia-lua. Boa chance para o time de Joel. • 24m23s: Robinho avança pela esquerda em velocidade e tenta achar Luís
Fabiano. Defesa sul-africana aparece bem outra vez. • 22m06s: Ramires arrisca novamente de longe. Bola vai para fora, sem perigo. • 21m10s: UUUHHH!! Após cobrança de falta, Mokoena, livre, cabeceia por
cima do gol.
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• 19m07s: Robinho pedala pela direita, escapa de um marcador e cai pedindo falta. Árbitro manda o jogo seguir.
• 15m22s: Ramires toca para Luís Fabiano, que devolve com um lindo toque de calcanhar. O volante ainda tenta passe para o artilheiro, mas a zaga corta.
• 13m20s: UUHHHH!!! África do Sul responde. Gaxa chuta de longe e bola sai à direita, assustando Júlio César.
• 12m13s: UUHHHH!!! Ramires arrisca da entrada da área e Khune defende no canto. Primeira chance do Brasil.
• 11m00s: Maicon recebe de Luís Fabiano e faz cruzamento. Zaga sul-africana se atrapalha, mas consegue tirar.
• 09m29s: André Santos erra passe e permite contra-ataque da África do Sul, que não aproveita. O próprio André Santos fica com a bola.
• 07m10s: Lançamento muito forte para Robinho. Tiro de meta. • 04m31s: André Santos faz boa jogada, tenta passe para Ramires, mas toca
muito forte na bola. • 03m34s: Kaká, camisa dez brasileiro, faz falta em Pienaar, o dez dos donos
da casa. • 02m15s: Modise recebe pela esquerda e tenta cruzamento. Lúcio consegue
afastar o perigo. • 01m11s: Kaká e Robinho tentam tabela, mas zaga sul-africana faz o corte. • 00m15s: Rola a bola! A África do Sul dá a saída. • 00m00s: Agora é a vez do hino da África do Sul. Emoção no Ellis Park. • 00m00s: Hino do Brasil é executado em Joanesburgo. • 00m00s: Os capitães das duas seleções lêem uma mensagem contra o
racismo. • 00m00s: Os dois times entram em campo. • 00m00s: O barulho vuvuzelas já ecoam no Ellis Park. • 00m00s: Já o Brasil avançou com 100% de aproveitamento no grupo B e é
dono do melhor ataque da competição (dez gols). • 00m00s: A África do Sul somou apenas quatro pontos e marcou só dois gols
até o momento (contra a frágil Nova Zelândia). • 00m00s: O Brasil também já está definido. Luisão, que substitui o lesionado
Juan na zaga, é a única novidade em relação ao time que venceu a Itália por 3 a 0.
• 00m00s: Joel Santana já definiu a África do Sul. O artilheiro Parker, que reclamou de dores no último treino, se recuperou e vai para o jogo.
• 00m00s: Quem levar a melhor encara na grande final, no próximo domingo, os Estados Unidos. O selecionado norte-americano garantiu vaga na decisão ao bater a 'poderosa' Espanha por 2 a 0 na última quarta.
• 00m00s: A torcida já faz a festa em Joanesburgo. Em instantes, Brasil e África do Sul se enfrentam pela semifinal da Copa das Confederações!
Local: Estádio Ellis Park, em Joanesburgo (África do Sul) Árbitro: Massimo Busacca (Suíça) (Fonte: Agência Corinthians - 02/07/09 - 00h07).
• »Júlio César • »Maicon • »Lúcio
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• »Luisão • »André Santos (Daniel Alves) • »Gilberto Silva • »Felipe Melo • »Ramires • »Kaká • »Robinho • »Luís Fabiano • Técnico: Dunga
• »Khune • »Gaxa • »Mokoena • »Booth • »Masilela • »Dikgacoi • »Mhlongo • »Pienaar • »Tshabalala • »Modise • »Parker • Técnico: Joel Santana
II-) Jogo: FICHA TÉCNICA FINAL DA COPA DO BRASIL 2009 INTERNACIONAL 2X2 CORINTHIANS DATA:01/07/2009 Estádio: Beira-Rio, em Porto Alegre (RS). Árbitro: Ricardo Marques Ribeiro (Fifa/MG). Auxiliares: Alessandro Álvaro Rocha de Matos (Fifa/BA) e Roberto Braatz (Fifa/PR). Público: 50.286. Cartões amarelos: Índio, Taison, D'Alessandro (I); André Santos, Elias, Jean, Douglas (C). Cartão vermelho: D'Alessandro (I). Elias (C). Gols: Jorge Henrique, aos 19, e André Santos, aos 28 minutos do primeiro tempo; Alecsandro, aos 25 e aos 29 minutos do segundo tempo INTERNACIONAL : Lauro; Bolívar (Danilo Silva), Índio, Danny e Kleber; Glaydson (Alecsandro), Magrão, Guiñazu e D'Alessandro; Taison (Andrezinho) e Nilmar. Técnico: Tite CORINTHIANS : Felipe; Alessandro, Chicão, William e André Santos (Diego); Cristian (Boquita), Elias e Douglas; Dentinho (Dentinho), Ronaldo e Jorge Henrique. Técnico: Mano Menezes. Confira os lances do duelo na noite do tricampeonato da Copa do Brasil:
• Primeiro tempo • 2min – Primeiro cartão amarelo da partida. André Santos recebe por cometer
falta em D’Alessandro. • 4min – Cartão amarelo para Índio por pegada forte em Ronaldo. • 8min – André Santos tabela com Jorge Henrique e, da entrada da área, chuta
por cima.
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• 9min – Taison recebe de Nilmar na intermediaria, mas chuta para longe do gol.
• 11min – D’Alessandro arrisca da entrada da área e a bola sai à esquerda de Felipe.
• 15min – Elias cruza para Jorge Henrique e o atacante completa para as redes, mas o impedimento já havia sido marcado.
• 17min – Cartão amarelo para Elias por faltam em Taison. • 18min – Boa tabela entre Taison e Nilmar, que finaliza mal. • 19min – GOOOOOOOOOOOOOLLLLLLL!!!!! Cruzamento de André
Santos e cabeçada perfeita de Jorge Henrique: 1 a 0 e o Timão amplia sua vantagem.
• 23min – Taison recebe o amarelo por falta em Alessandro e reclamação. • 28min – GOOOOOOOOOOOOOOLLLLL!!!!!!! Jorge Henrique toca para
Ronaldo, que enfia para André Santos. O lateral fuzila o goleiro Lauro: 2 a 0 e a taça muito próxima do Parque São Jorge.
• 33min – Nilmar recebe bom passe de Taison e chuta forte para a defesa de Felipe.
• 35min – Nova enfiada de bola para Nilmar e Felipe manda para escanteio. • 36min – Ronaldo chega cara a cara com Lauro, mas desperdiça a chance do
terceiro. • 40min – Cartão amarelo para Bolivar por falta dura em André Santos. • 44min – Nilmar invade a área pela direita e chuta, mas Felipe faz outra
defesa. • 46min – Final de primeiro tempo em Porto Alegre: Corinthians 2 x 0
Internacional.
• Segundo tempo • 11min – Cruzamento da direita e Magrão cabeceia para fora. • 12min – Contra-ataque Corinthiano. A bola chega a Dentinho, que finaliza
para a defesa de Lauro. • 19min – Cruzamento de D’Alessandro para Nilmar, mas André Santos chega
antes e manda a bola para escanteio. • 20min – Escanteio da direita e Alecsandro tenta de letra, mas manda nas
redes pelo lado de fora. • 25min – Gol do Inter... A zaga alvinegra falha no corte e a bola sobra
para Alecsandro, que toca na saída de Felipe: 2 a 1. • 28min – Andrezinho recebe pela direita e finaliza à esquerda de Felipe. • 29min – Gol do Inter... Mais um cruzamento da direita e Alecsandro, de
cabeça, empata o jogo: 2 a 2. • 30min – CARTÃO VERMELHO! Confusão no gramado. D’Alessandro parte
para a briga e é expulso. • 33min – Primeira alteração no Timão: Diego entra no lugar de André Santos.
35min – Segunda troca: Boquita substitui Cristian. • 36min – Felipe faz grande defesa e evita o terceiro gol dos donos da casa. • 37min – CARTÃO VERMELHO! Elias para contra-ataque colorado e é
expulso. • 38min – Última substituição corinthiana: Dentinho sai para a entrada de Jean. • 43min – Cartão amarelo para Jean. • 45min – Diego recebe o amarelo por atrasar a reposição do jogo.
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• 46min – Ronaldo recebe em contra-ataque, mas finaliza por cima do gol. • 49min – Cartão amarelo para Douglas e Nilmar. • 51min – Final de jogo no Beira-Rio: O Timão é tricampeão da Copa do Brasil.
Corinthians empata e é tricampeão da Copa do Brasil
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Nesta dissertação, fizemos uma análise da narrativa esportiva no Brasil,
levando em conta o valor da narração para o futebol e para a sociedade, as
expressões e linguagens utilizadas, focalizando especialmente as transmissões do
jogo de futebol no rádio e na televisão.
A escassez do material bibliográfico e de trabalhos sobre o jornalismo
esportivo, especialmente sobre a narração, fez com que esse projeto adquirisse
uma grande relevância histórica e teórica, já que poderá tornar-se um estímulo
para novas indagações e uma abertura de caminho para o surgimento de outras
pesquisas nessa área.
A partir do que se discutiu aqui, foi possível concluir que o interesse do
jornalista é o que menos importa ao torcedor Ele, o jornalista, tem que ser crítico
e não o julgador. Ter responsabilidade para criticar e elogiar. Mas a cobertura
esportiva é cheia de pressões: a televisão quer o jogo na hora, que melhor lhe
convém, os patrocinadores querem faturar de todas maneiras, o que, muitas vezes
pode colocar em dúvida a lisura dos jornalistas esportivos e dos veículos que
cobrem esses eventos.
Há quem defenda que existe mais independência no texto impresso e na
palavra radiofônica do que nas “imagens compradas” da televisão. Seria difícil
uma imprensa independente econômica e politicamente, principalmente na
televisão. Não foi essa discussão, porém, que nos motivou nesta dissertação. O
foco aqui foi a narração esportiva, mais precisamente a futebolística, e como ela
se desenvolveu e se diferenciou entre os diferentes meio áudio e audiovisual, no
caso o rádio e a televisão. Através do levantamento de informações e análises das
transmissões, chegou-se à conclusão de que as narrações, seja no radio ou na
televisão, ou ainda na web, seguem uma linha de padronização, mas acabam
utilizando termos específicos de cada meio de comunicação.
Afinal, o futebol lida diretamente com a fabricação de mitos e, isto, a mídia
em geral sempre soube tratar muito bem. Trata-se de um processo comum na
comunicação. Comunicar é o ato de se expressar. A comunicação em Rádio e TV
engloba a locução, a narração e a apresentação. Locução é sinônimo de "falação"
no sentido específico da palavra. Locução em OFF é sempre quando não se
aparece no vídeo, ou quando se grava para edição posterior. Narração,
transmissão e condução podem ser usados como sinônimos, e significam o ato de
se descrever algum evento, fato ou notícia. Já a apresentação é uma forma de
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exposição de um programa ou jornal de rádio ou TV. Ancoragem é uma forma
mais completa de apresentação jornalística, onde o profissional desempenha
também as funções de editor, locutor, entrevistador e, às vezes, de narrador.
Para finalizar, recorremos a um jogo entre Corinthians e Santos, para
exemplificar as diferenças da narração no rádio (mais descritiva, trabalhando com o
imaginário do ouvinte) e na televisão (precisão de termos, que são usados numa
descrição sucinta e concisa):
NARRAÇÃO RÁDIO
Lá vai dentinho com a bola pela ponta direita, ele passa pelo zagueiro, cruza
na entrada da área para Ronaldo que olha, experimenta o chute de longe, o
goleiro Fábio Costa está mal colocado.................. E é GOOOLLLLLLLL!!!!! (RÁDIO
BANDEIRANTES/FINAL CAMPEONATO PAULISTA 2009).
NARRAÇÃO TV
Dentinho............levou o zagueiro........ cruzamento na
área..........Ronaldo........é.................... GOOOLLLLLLLL!!!!! GOOOLLLLLLLL!!!!!
GOOOLLLLLLLL!!!!!(TV GLOBO/ FINAL CAMPEONATO PAULISTA 2009).
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22 Filmes que retratam o futebol, de forma ficcional e/ou documental, que serviram de base de pesquisa para este trabalho. Site: http://www.copasb.com.br
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Assistente de Produção: Patricia Reis Produção: Palmares Produções e Jornalismo Distribuição:Pandora Filmes Site: http://www.copa58.com.br/ FIEL Gênero: Histórico Tempo de Duração: 92 minutos Direção - Andrea Pasquini Produção - Gustavo Ioschpe Roteiro - Marcelo Rubens Paiva e Serginho Groisman Direção de fotografia - Luiz Miyasaka Direção de fotografia adicional - Jay Yamashita /Rodrigo Menck /Rodrigo Toledo Som Direto - Silas Meir de Souza Som Direto Adicional - Binho Meneses / Heraldo Menezes /Marcelo Minduka Nascimento / Marcos Ferreira Da Silva Montagem - André Francioli Supervisão de Som e Mixagem - Luiz Adelmo Trilha Sonora Original - Luiz Macedo Produção Musical - Carlos Rennó Lançamento em 10 de abril Site: www.filmefiel.com.br O ANO EM QUE MEUS PAIS SAÍRAM DE FÉRIAS Gênero: Drama Tempo de Duração:110 minutos Ano de Lançamento (Brasil): 2006 Site Oficial: www.oano.com.br Estúdio: Gullane Filmes / Caos Produções Cinematográficas / Miravista / Globo Filmes Distribuição: Buena Vista International Direção: Cao Hamburger Roteiro: Cláudio Galperin, Bráulio Mantovani, Anna Muylaert e Cao Hamburger, baseado em história original de Cláudio Galperin e Cao Hamburger Produção: Caio Gullane, Cao Hamburger e Fabiano Gullane Música: Beto Villares Fotografia: Adriano GoldmanDireção de Arte: Cássio Amarante Figurino: Cristina Camargo Edição: Daniel Rezende Elenco: Michel Joelsas (Mauro)Germano Haiut (Shlomo)Daniela Piepszyk (Hanna)Caio Blat (Ítalo)Paulo Autran (Mótel) Site: http://www.oano.com.br/ O CORINTHIANO Gênero: Comédia Tempo de Duração: 98 min. Ano de Lançamento (Brasil): 1966 Direção: Milton Amaral Assistente de direção: Livio Norbert Spiegler, Pena FilhoRoteiro: Milton Amara Produção: PAM Filmes S.A Música: Hector Lagna Fietta
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Engenheiro de som: Constantino Warnowsky Microfonista: Agostinho Souza Recordista: Flavio B. Corrêa Fotografia: Rodolfo Icsey Câmera: Geraldo Gabriel Assistente de câmera: Rosalvo Caçador, Gyula Holozvary Edição: Máximo Barro Assistente de montagem: Henrique Magalhães Desenhos de animação: Marcelo G. Tassara, J. G. Carvalho Narração esportiva: Pedro Luiz Comentários esportivos: Geraldo Bretas Elenco: Mazzaropi (Mané); Elizabeth Marinho; Lucia Lambertini; Nicolau "Totó" Guzzardi; Carlos Garcia; Roberto Pirillo; Leonor Pacheco; Roberto Orosco; Augusto Machado de Campos ; Xandó Batista; Francisco Gomes; Olten Ayres de Abreu; Gláucia Maria; Herta Hille; Ziara Freire; João Batista de Souza; Humberto Militello; Rogério Camara; Augusto César Ribeiro; Kapé; Claudio Maria ; Eliza (chefe da torcida corintiana). Site: http://www.museumazzaropi.com.br/filmes/19corin.htm
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ANEXO I
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ANEXO I - ENTREVISTA COM O NARRADOR SILVIO LUIZ
No dia 28 de julho de 2009 (terça-feira) às 16h30, estive na redação da Band Sports em São Paulo para conversar com uma das pessoas mais importantes da imprensa esportiva brasileira Sylvio Luiz Peres Machado de Souza, ou simplesmente Silvio Luiz. A cada pergunta respondida, fui conhecendo uma pessoa generosa, amiga, extraordinária e engraçada. Com um Tibre de voz inconfundível Silvio narra com personalidade e sua história de vida se confunde com a história da narração esportiva na TV brasileira. Cheguei com uma hora de antecedia e tive o privilégio de assistir o programa Por Dentro da Bola (ao vivo) no qual Silvio é o ancora. DM: Silvio, boa tarde! Obrigado por me atender, sou mestrando da Universidade Anhembi Morumbi e meu trabalho relata a história da locução esportiva desde as ondas curtas do rádio, passando pela TV chegando à febre do momento que é a narração on-line (WEB), gostaria que falasse um pouco da sua história na narração esportiva.
SL: Sim vamos lá.
DM: Acerte o seu aí, que eu arredondo o meu aqui, está valendo!
SL: Rsssssssssssssssss, isso é plagio heim...
DM: Como tudo começou? Como foi o seu primeiro trabalho?
SL: Foi no rádio em 1962 e não foi locução esportiva, minha locução esportiva sempre foi na televisão, nunca no rádio. Minha mãe trabalhava em rádio, eu a acompanhava, era muito curioso e “fuçador” ia atrás de tudo, até que o “mosquito me mordeu” veio o Waldemar de Morais, está tudo escrito no livro, ali tem tudo o que você quiser é ipsis litteris23 aquilo o que aconteceu. Se você entrar no meu site vai ver a homenagem que a rádio Jovem Pan me prestou no programa do Flávio Prado “mundo da bola”. Você vai ver imagem e áudio de uma porção de perguntas que foram feitas para mim durante duas horas isso vai te dar um bom conteúdo.
DM: OK Silvio não vamos ficar na mesmice, qual foi a sua influência o porque disso o porque daquilo. Fale um pouco do Programa Tarde Esportiva no Trote?
SL: O programa era realizado na Sociedade Paulista de Trote na Vila Guilherme, a gente ia para lá e fazia a transmissão esportiva. Naquela época não existia tape nem imagem colorida.
23 Ipsis litteris é uma expressão de origem latina que significa "pelas mesmas letras", "literalmente" ou "com as mesmas palavras". Utiliza-se para indicar que um texto foi transcrito fielmente ao original. Pode-se também utilizar uma expressão de mesmo significado, ipsis verbis, que quer dizer "pelas mesmas palavras", "textualmente".
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DM: E sobre o mundialito de 1981 no Uruguai?
SL: No meu site tem uma foto desse mundialito, quem ganhou foi o Uruguai com o De León levantando a taça, eu passei o ano novo lá, a transmissão foi realizada pela Record.
DM: Nesse mundialito a Record superou a Globo na audiência, o que você diz sobre isso?
SL: Não me ligo nesse troço.............
DM: Após esse fato a Globo quis te contratar?
SL: Sim, fui almoçar com uma pessoa da Globo e ela me chamou para trabalhar, abaixo o dialogo:
Silvio: Porque você quer que eu vá se tem o Luciano lá? Funcionário: É que o Boni gosta muito de você. Silvio: Quem vai fazer a escalação do departamento de esporte e quem vai narrar à final da copa do mundo? Funcionário: Quem vai fazer a escalação é o Boni. Silvio: Então quando o Boni escalar você me avisa. Entendeu? Como é que eu vou para lá, tirar o lugar de um cara sem saber o que vou fazer, sabia exatamente que a intenção deles era me tirar do ar, diminuir a minha potencia de audiência devido à concorrência, a resposta que eu dei foi essa.
DM: Até porque a Globo tem “normas/padrões”.
SL: Naquela época tinha, hoje não sei se tem. Na época do Armando tinha, hoje em dia o Galvão fala tanta merda que não deve ter mais padrão nenhum.
DM: Rssssssssssssssss. Ninguém fala mais nada, na verdade não existe uma norma um padrão para narrar “né” Silvio?
SL: Não existe padrão nenhum, na verdade você precisa estar munido de informações, se você perceber hoje em dia o futebol e mais um bate papo, uma conversa, se você pegar recentemente, muito recentemente a transmissão de futebol da Globo é conversada, conversa o Caio, conversa o narrador, até o repórter de campo conversa, eles estão dialogando, o que não faziam antes, entendeu?, eu já vinha fazendo isso a muito tempo, porque eu me coloco no lugar do cara sentado na sala assistindo ao jogo como se estivesse no estádio.
DM: E a copa de 1982:
SL: No mundial de 1982 eu fiz rádio como se fosse televisão, com a frase: “Abaixe o som da TV e ouça a rádio Record”
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DM: Silvio a locução no rádio meche com o imaginário do ouvinte já na televisão isso não é necessário já que a imagem se diz por si só, qual o seu ponto de vista em relação a isso?
SL: Todos os caras que estão transmitindo hoje cometem esse erro, entendeu? Você pode pegar qualquer um da SporTV da Globo ou da Bandeirantes, eles cometem o mesmo erro, eles dizem aquilo que você está vendo, você não precisa dizer que o cara cabeceou, você não precisa dizer que a bola está na grande área, você não precisa dizer que o goleiro pegou a bola. Quando vou fazer palestra à primeira coisa que eu falo é a seguinte “moçada eu não transmito futebol para cego”, que me perdoem os deficientes visuais, eu sou um cara que nasci na televisão, vivo na televisão, televisão é imagem e som, às vezes você pode utilizar só imagem sem precisar do som, o som é a muleta da imagem, então eu sou um cara que legendo a imagem, eu não preciso dizer que o cara está com o dedo no nariz, “o bonitão que falta de educação é essa!!!!”, você não precisa dizer o que o cara está vendo, televisão da a imagem, entendeu? E eu criei esse sistema.
DM: Então esse é um dos motivos que quando sai um gol.....(fui interrompido).
SL: Porque eu vou dizer que a bola entrou, não preciso gritar gol.
DM: É a imagem já se mostra por si só.
SL: É isso mesmo a imagem está mostrando eu só legendo aquilo, a bola entrou no gol aonde ela que ela foi? No fundo da rede, normalmente no fundo da rede tem capim, então ela balançou o capim no fundo do gol.
DM: O que te irrita vendo uma transmissão de futebol pela TV? SL: Me irrita ser obrigado a ouvir aquilo que estou vendo. É o troço que mais me irrita. Pô, eu estou vendo que o nego chutou com a perna direita, estou vendo que o nego cabeceou, pô, é isso que me irrita. DM: O seu jeito de narrar leva a pessoa de casa para dentro da imagem?
SL: Espero que o cara que esteja assistindo não seja cego, que eu tenha que ficar explicando tudo o que está acontecendo.......... ele fica só legendando a imagem.
DM: Na verdade você chama o telespectador para o jogo?
SL: Exatamente.
DM: Em relação aos bordões como que é? É natural?
SL: Para isso não existe escola, de vez em quando aparece cada uma rssssss, no dia a dia você vai ouvindo, às vezes você ouve no transito às vezes mandam pelo
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Twiter24, veja “chupa que a cana é doce” é muita antiga, eu ouvi não sei aonde, acho que foi na várzea, o goleiro soltou a bola e cara fez o gol, eu estava apitando o jogo e gritaram da arquibancada “chupa que a cana é doce” entendeu, ai ficou, o que eu acho engraçado eu coloco.
DM: O que me chamou a atenção foi à história do limão25.
SL: Você viu que mandei o cara ir buscar o limão na vendinha ao lado? As coisas acontecem desse jeito, na hora vem na sua cabeça e se você tiver como realizar...., porra ele estava azedo para caralho, muito azedo, ai falei Gustavo vai lá e pega um limão, entendeu? Eu levava apito para o jogo e apitava antes do juiz, eu inventava esses troços....
DM: Tem o famoso caso do telefone tocando, era verdade tudo aquilo?
SL: Sim era tudo natural, nada combinado, igual ao clube dos esportistas, tudo natural, o cara entra numa casa o cachorro late o papagaio fala tudo normal do cotidiano de cada um.
DM: Quem foi a sua influência? SL: Se tivesse que ter uma influência, acho que seria do Raul Tabajara. DM: Como foi trabalhar com Raul Tabajara?
SL: Fui repórter de campo dele. O Tabajara conversa muito, conversava demais. DM: Foi o primeiro repórter de campo?
SL: Acho que fui o primeiro repórter de campo da Rede Globo alias no livro tem uma fotografia.
DM: E com o Walter Abraão?
SL: Ele ainda está vivo, o filho dele é sub prefeito da casa verde. Ele mora por lá.
DM: Geraldo José?
SL: Sim o falecido Geraldo José, alias fui diretor de TV de futebol do Geraldo José, ele tinha uma frase muito interessante “meu monitor não falha”.
24 Twitter é uma rede social e servidor para microblogging que permite aos usuários que enviem e leiam atualizações pessoais de outros contatos (em textos de até 140 caracteres contando inclusive os espaços, conhecidos como "tweets"). Tal como no MSN e no novo Windows Live Messenger, onde aparece o nick do seu amigos e uma mensagem em cinza que pode ser definida por você. 25 “O caso “limão” – Durante a transmissão do programa Por Dentro da Bola, um dos integrantes estava mal humorado, Silvio não excitou e logo pediu buscar um limão e entregar para o mal humorado, tudo ao vivo.
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DM: Qual o momento mais marcante da sua carreira? SL: Porra, Eu tinha uma amizade muito grande com o Brandão (Osvaldo Brandão, ex-técnico do Corinthians), tanto que o Brandão depois foi ser comentarista da Record. Quando ele ganhou o campeonato com o Corinthians, em 1977, eu sabia do sofrimento dele... A transmissão daquele jogo foi difícil, queria que o Corinthians ganhasse pelo Brandão, eu não torci para o Corinthians, torci para ele.. Uma figura humana incrível. Ele era um pai, não era apenas um técnico. DM: E o momento mais difícil? SL: Sem dúvida nenhuma, quando operei a garganta, eu não conseguia voltar. Começou a ficar um problema psíquico, foi foda... DM: Como foi o seu retorno? SL: Voltei como comentarista de arbitragem na Bandeirante. O Hawilla iria me contratar para narrar a Copa América do Paraguai, fomos almoçar e ele me deu uma “porrada”. Perguntei qual seria minha função e ele me disse: “Acho que você não tem mais jeito como narrador, entendeu? Vamos te contratar como comentarista de arbitragem, e ai topa?”. Fiquei puto da vida, mais o Faustão me fez aceitar, eu perguntei o que ele achava e ele disse, “Do jeito que o mercado está, pega que daqui a um mês, dois você já está narrando de novo”. Mas o Hawilla me ajudou muito na época da operação, mesmo sem contrato, ele pagou meus salários.
DM: Silvio, muito obrigado.
SL: Entre no meu site que você vai encontrar bastante coisa, mais de 700 fotos, qualquer coisa me mande um e-mail. Vamos tomar um café?26
DM: Vamos.
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