fonetica e fonologia
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Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa
Lucirene da Silva Carvalho
UESPI2010
Licenciatura Plena em Letras Espanhol
UAB – UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASILUESPI – UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍNEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIALICENCIATURA PLENA EM LETRAS ESPANHOL
UESPI2010
Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa
Lucirene da Silva Carvalho
Carvalho, Lucirene da Silva. Fonética e fonologia da língua portuguesa / Lucireneda Silva Carvalho. – Teresina: UAB/UESPI, 2010.135 p. (Licenciatura em Letras Espanhol)
ISBN: 978-85-61946-09-8
1. Língua Portuguesa – Fonética e Fonologia. 2.-Fonética. 3.- Fonologia. I. Título.
CDD: 414
C331f
Presidente da RepúblicaLuiz Inácio Lula da Silva
Vice-presidente da RepúblicaJosé Alencar Gomes da Silva
Ministro da EducaçãoFernando Haddad
Secretário de Educação à DistânciaCarlos Eduardo Bielschowsky
Diretor de Educação à Distância CAPES/MECCelso José da Costa
Governador do PiauíWilson Nunes Martins
Secretária Estadual de Educação e Cultura do PiauíMaria Pereira da Silva Xavier
Reitor da UESPI – Universidade Estadual do PiauíProf. Carlos Alberto Pereira da Silva
Vice-reitor da UESPIProf. Nouga Cardoso Batista
Pró-reitor de Ensino de Graduação – PREGProf. Manoel Jesus Memória
Coordenadora da UAB-UESPIProf. Bárbara Olímpia Ramos de Melo
Coordenador Adjunto da UAB-UESPIProf. Marivaldo de Oliveira Mendes
Pró-reitor de Pesquisa e Pós-graduação – PROPProf. Isânio Vasconcelos de Mesquita
Pró-reitora de Extensão, Assuntos Estudantis e Comunitários – PREXProf. Francisca Lúcia de Lima
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Coordenador do curso de Licenciatura Plena em Letras Espanhol – EADProf. Omar Mário Albornoz
EdiçãoUAB - FNDE - CAPESUESPI/NEAD
Diretora do NEADProfª. Dra. Bárbara Olímpia Ramos de Melo
Coordenador AdjuntoProf. M.sC. Raimundo Isídio de Sousa
Coordenadora do Curso de LicenciaturaPlena em Letras – EspanholProfª. Ms.C. Margareth Torres de Alencar Costa
Coordenador de T utoriaProf. Esp. Omar Mário Albornoz
Coordenação de Produção de MaterialDidáticoProf. Esp. Marivaldo de Oliveira Mendes
Autora do FascículoProfª. Dra. Lucirene da Silva Carvalho
RevisãoProfª. M.sC. Teresinha de Jesus Ferreira
MATERIAL PARA FINS EDUCACIONAISDISTRIBUIÇÃO GRATUITA AOS CURSISTAS UAB/UESPI
UAB/UESPI/NEAD
Campus Poeta Torquato Neto(Pirajá), NEAD, Rua João Cabral,2231, bairro Pirajá, Teresina (PI).
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Prof. M.sC. Raimundo Isídio de SousaProfª. M.sC. Leonildes Pessoa Facundes
DiagramaçãoProf. Esp Roberto Denes Quaresma RêgoLuiz Paulo de Araújo Freitas
CapaLuiz Paulo de Araújo Freitas
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
FIGURAS
Figura 01 Relação entre linguagem: língua e fala.......................................................17
Figura 02 Tela de abertura do programa Wave Surfer 1.5.3......................................25
Figura 03 Pregas vocais.................................................................................................28
Figura 04 Movimento da glote........................................................................................28
Figura 05 Órgãos envolvidos no processo de realização dos sons..........................30
Figura 06 Cavidade oral e cavidade nasal..................................................................33
Figura 07 Articuladores ativos e passivos....................................................................34
Figura 08 Ponto bilabial.................................................................................................42
Figura 09 Ponto labiodental..........................................................................................42
Figura 10 Ponto dental/alveolar....................................................................................43
Figura 11 Ponto palato-alveolar.....................................................................................43
Figura 12 Ponto palatal..................................................................................................44
Figura 13 Ponto velar......................................................................................................44
Figura 14 Ponto glotal.....................................................................................................44
Figura 15 Ponto de articulação...........................................................................................54
Figura 16 Alfabeto fonético internacional.........................................................................59
Figura 17 Posicionamento dos lábios..........................................................................77
Figura 18 Representação esquemática da área vocálica..........................................79
Figura 19 Representação da sílaba na corrente estruturalista...............................130
Figura 20 Representação da sílaba: o aclive e o ápice...........................................130
Figura 21 Representação da sílaba: o ápice e o declive.........................................130
Figura 22 Representação da sílaba: o ápice............................................................130
QUADROS
Quadro 01 Diferenças entre Fonética e Fonologia.....................................................20
Quadro 02 Resumo das funções dos sistemas do aparelho fonador........................31
Quadro 03 Classificação dos sons consonantais quanto ao ponto de
articulação........................................................................................................................45
Quadro 04 Classificação dos sons consonantais quanto ao modo de
articulação........................................................................................................................48
Quadro 05 Símbolos Consonantais da Língua Portuguesa......................................49
Quadro 06 Variações do “r” e dos “rr” ortográficos....................................................50
Quadro 07 Transcrição fonológica e transcrição fonética..............................................63
Quadro 08 Alfabeto fonético do português.................................................................66
Quadro 09 Classificação das vogais............................................................................78
Quadro 10 Classificação das vogais tônica orais.....................................................85
Quadro 11 Vogais pretônicas orais.............................................................................86
Quadro 12 Vogais postônicas orais mediais.............................................................86
Quadro 13 Vogais postônicas orais............................................................................87
Quadro 14 Vogais tônicas reduzidas...........................................................................88
Quadro 15 Vogais postônicas orais mediais.............................................................88
Quadro 16 Vogais nasais do Português.....................................................................90
Quadro 17 Arquifonemas do Português....................................................................107
Quadro 18 Estrutura silábica......................................................................................127
DIAGRAMAS
Diagrama 01 Comparação entre sons e fonemas....................................................102
Diagrama 02 Representação da sílaba no modelo autossegmental.........................131
Diagrama 03 Representação da palavra susto......................................................131
Diagrama 04 Representação silábica no modelo autossegmental........................132
Diagrama 05 Representação silábica do tipo CV com ataque e núcleos
preenchidos...................................................................................................................132
Diagrama 06 Representação silábica de núcleo preenchido................................133
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO ...............................................................................................................11
UNIDADE 11FONÉTICA, FONOLOGIA E APARELHO FONADOR ...............................................151.1 FONÉTICA E FONOLOGIA: UMA VISÃO SAUSSURIANA.....................................151.2 DIFERENÇA ENTRE FONÉTICA E FONOLOGIA...................................................161.2.1 Diferenças: fonética x fonológica .......................................................................191.2.2 Importância da fonética e da fonologia .............................................................201.2.2.1 Domínio da fonética..............................................................................................221.2.2.2 Domínio da fonologia............................................................................................241.3 APARELHO FONADOR..............................................................................................251.3.1 Constituição do ap arelho fonador ......................................................................251.3.2 Funcionamento do ap arelho fonador ...............................................................291.4 SÍNTESE DA UNIDADE.............................................................................................32
UNIDADE 22 CONSOANTES DO PORTUGUÊS..................................................................................392.1 CONSOANTES DO PORTUGUÊS............................................................................392.1.1 Lugar de articulação .............................................................................................402.1.2 Modo de articulação ..............................................................................................442.2 VARIAÇÃO DE ALGUNS SONS CONSONANTAIS...............................................482.2.1 Variações do “r” e dos “rr” ortográficos ...........................................................482.2.2 Variações do “s” ortográfico ................................................................................492.2.3 Variação do “l” ortográfico em final de sílaba .................................................502.3 SINTESE DA UNIDADE ..............................................................................................51
UNIDADE 33 TRANSCRIÇÃO FONÉTICA .............................................................................................553.1 ALFABETO FONÉTICO INTERNACIONAL...............................................................553.1 OS DIACRÍTICOS.........................................................................................................583.2 TRANSCRIÇÃO FONÉTICA: UTILIDADES..............................................................593.3 TRANSCRIÇÃO FONOLÓGICA.................................................................................593.4 TRANSCRIÇÃO FONÉTICA E FONOLÓGICA........................................................593.4.1 Transcrição fonética do português ...................................................................633.5 SÍNTESE DA UNIDADE..............................................................................................66
UNIDADE 44 VOGAIS E SEMIVOGAIS DO PORTUGUÊS ................................................................744.1 INTRODUÇÃO..............................................................................................................714.2 CLASSIFICAÇÃO DAS VOGAIS DO PORTUGUÊS..............................................714.3 SEMIVOGAIS...............................................................................................................71
4.3.1 Classificação ...........................................................................................................774.3.1 Análise de alguns aspectos das semivogais ......................................................784.3.1.1 Antes e depois de vogal tônica............................................................................804.3.1.2 Antes ou depois de vogal átona...........................................................................804.3.1.3 Antes e depois de vogal tônica............................................................................804.3.1.4 Antes e depois de vogal átona.............................................................................804.4 VOGAIS ORAIS DO PORTUGUÊS...........................................................................814.4.1 Vogais tônicas orais ...............................................................................................814.4.2 Vogais pretônicas orais .........................................................................................824.4.3 Vogais postônicas orais médias .........................................................................834.4.4 Vogais postônicas orais finais ............................................................................844.4.5 Vogais nasais ..........................................................................................................864.5 DITONGOS....................................................................................................................884.6 SÍNTESE DA UNIDADE..............................................................................................90
UNIDADE 55 FONOLOGIA: FONEMA, ALOFONE, ARQUIFONEMA...........................................975.1 INTRODUÇÃO.............................................................................................................975.2 FONEMA.......................................................................................................................975.2.1 Identificação dos fonemas ..................................................................................995.3 ALOFONE....................................................................................................................1005.4 NEUTRALIZAÇÃO E ARQUIFONEMA....................................................................1025.5 SÍNTESE DA UNIDADE...........................................................................................105
UNIDADE 66 PROCESSOS DE MUDANÇAS FONOLÓGICAS ..................................................1116.1 INTRODUÇÃO.............................................................................................................1116.2 PROCESSOS FONOLÓGICOS...............................................................................1116.2.1 Acréscimos de traços ..........................................................................................1126.2.2 Perda de traço ........................................................................................................1126.2.3 Mudanças de traços ............................................................................................1136.3 SÍNTESE DA UNIDADE............................................................................................116
UNIDADE 7ESTRUTURA SILÁBICA DO PORTUGUÊS ..............................................................1217.1 INTRODUÇÃO...............................................................................................................1217.2 DEFINIÇÃO DE SÍLABA................................................................................................1217.3 ESTRUTURA DA SÍLABA.........................................................................................1227.4 CLASSIFICAÇÃO DAS SÍLABAS...........................................................................1237.5 ORGANIZAÇÃO INTERNA DA SÍLABA..................................................................1237.6 ESTRUTURA E REPRESENTAÇÃO DA SÍLABA.................................................1247.7 SÍNTESE DA UNIDADE.............................................................................................128
REFERÊNCIAS...............................................................................................................136
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UESPI/NEAD Letras Espanhol
APRESENTAÇÃO
Caros acadêmicos de Letras, apresentamos a você mais uma
disciplina: Fonética e Fonologia da Língua portuguesa, que integra a grade
curricular do seu curso. Este fascículo faz parte do material de apoio pedagógico
desenvolvido pela Universidade Estadual do Piauí - UESPI, do Curso de
Licenciatura Plena em Língua Espanhola, na modalidade Educação a Distância.
Ele foi organizado e sistematizado em unidades. Damos especial atenção à
primeira, segunda e quarta unidades, porque é nela que você verá as diferenças
entre Fonética e Fonologia, aparelho fonador, consoantes e vogais do português.
Com relação à Fonética, o estudo será dedicado à fonética
articulatória aplicada ao português, que compreende a composição e
funcionamento do aparelho fonador, características da articulação dos
segmentos consonantais e vocálicos, variações dialetais e transcrição fonética.
No tocante à Fonologia, você estudará o fonema – os segmentos
consonantais e vocálicos. Aprenderá também que os fonemas sofrem
variações e podem formar classes, como os arquifonemas. Além disso, fará
transcrição fonológica e conhecerá, ainda, os processos de mudanças fonológicas
e estrutura silábica.
Com o objetivo de colaborar com a sua metodologia de estudo,
sugerem-se alguns passos: observe os objetivos de cada unidade e faça as
atividades propostas no final de cada uma delas, isso ajudará você a
compreender e a assimilar o assunto melhor.
Para alcançar sucesso nos estudos, empenhe-se, tanto nos trabalhos
de grupo, quanto nas reflexões individuais; compartilhe ideias; atente para as
referências bibliográficas e, se necessitar, recorra a elas para aprofundar os
conteúdos.
Finalmente, leia, reflita, analise criticamente cada ideia aqui
apresentada. Suas dúvidas poderão ser colocadas junto ao seu tutor.
Desejamos a você bons estudos.
Profª Drª. Lucirene da Silva Carvalho
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UESPI/NEAD Letras Espanhol
UNIDADE 1
FONÉTICA E FONOLOGIA E APARELHO FONADOR
• Diferenças e características entre fonética e fonologia;
• Funcionamento do aparelho fonador;
• Importância do aparelho fonador;
• Importância da disciplina fonética e fonologia para o futuro professor
de língua materna.
OBJETIVOS
• Caracterizar fonética e fonologia;
• Compreender as diferenças entre fonética e fonologia;
• Entender o funcionamento do aparelho fonador;
• Reconhecer a importância da fonética e da fonologia para o processo
ensino-aprendizagem do futuro professor.
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Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa
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UESPI/NEAD Letras Espanhol
1 FONÉTICA, FONOLOGIA E APARELHO FONADOR
1.1 FONÉTICA E FONOLOGIA: UMA VISÃO SAUSSURIANA
A preocupação com o estudo da linguagem é antiga,
contudo os estudos linguísticos só obtiveram um valor científico entre
o final do século XIX para o início do século XX, que se deu com os
estudos linguísticos de Ferdinand de Saussure. Através das análises
linguísticas de Saussure – o pai da linguística – é que se pôde
entender melhor a diferença entre fonética e fonologia.
Segundo Saussure a linguagem humana compreende dois
aspectos essenciais: a língua e a fala. Para ele, a língua é um
conjunto de código comum produzido socialmente. Por essa razão,
o falante não pode nem criá-lo, nem modificá-lo,
cabe-lhe apenas registrar passivamente.
Enquanto a fala é um “ato individual de vontade e
inteligência” (CLG, 1977, p.22), realizada
concretamente através da língua. Noutras
palavras, isso quer dizer que a língua funciona
como um arquivo de informações adquiridos ao
longo da nossa vida em sociedade, que ficam
guardados no cérebro, enquanto fala é a
realização puramente física e psico-acústica de
dados fornecidos pelo cérebro, como demonstra
a figura 01.
Para o linguista suíço, a língua e a fala
são interdependentes, elas não se separam, funcionam de forma
interligada, visto que “[...] a língua é ao mesmo tempo o instrumento
e o produto da fala”, portanto ambas constituem a linguagem
humana (MORI, 2003, p. 147). Como você vê, a partir da dicotomia
Figura 01: Relação entre
linguagem: língua e fala
16
Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa
saussuriana, pode-se depreender que a fonética relaciona-se à
fala ao passo que a fonologia diz respeito à língua. Neste sentido,
pode-se dizer também que os sons da fala são estudados pela
fonética e os da língua pela fonologia. Assim, pode-se dizer que o
conhecimento de língua(gem) já nasce com o ser humano, não haveria
como aprendê-lo só através da observação das coisas. Se a linguagem
fosse aprendida como em um jogo de repetição, só seríamos capazes de
falar o que ouvíssemos. Do contrário não seríamos capazes de falar o que
ouvimos, contudo – de fato – quando falamos uma língua demonstramos
saber muito mais do que aquilo que ouvimos.
1.2 DIFERENÇA ENTRE FONÉTICA E FONOLOGIA
Os estudos de fonética são tão antigos quanto os da
gramática. Desde a antiguidade, existe o interesse em descrever
a função de letras e dos sons, explicando o funcionamento do
aparelho fonador e os mecanismos de produção da fala (MASSINI-
CAGLIARI, CAGLIARI, 2003).
Em 1928, é que a diferença entre fonética e fonologia foi
consolidada e que se deu a partir de análises de três lingüistas
russos: Jakobson, Trubetzkoy e Karcevsky. Eles entenderam que
havia necessidade de estabelecer diferenças entre as duas áreas.
Desse modo, a fonética passou a se preocupar do estudo dos sons
da fala, enquanto que a fonologia se voltou para a análise dos sons
da língua. (CALLOU E LEITE, 2001).
Assim, pode-se dizer que a fonética estuda as
características dos sons da fala, enquanto a fonologia estuda os
sistemas de sons da língua. Ou ainda: a fonologia concentra-se
nos sons capazes de distinguir significados como observado, por
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UESPI/NEAD Letras Espanhol
exemplo, em [g]ato / [p]ato, o que diferencia uma palavra da outra
é a troca que ocorre entre os fonemas /g/ e /p/.
Noutra perspectiva, a Fonética é a ciência que descreve
os sons, o modo como eles são articulados. Já a Fonologia, é uma
ciência explicativa, interpretativa. Estuda o funcionamento do som
em uma dada língua, ou melhor, como os sons são utilizados no
sistema de pronúncia de uma língua.
As unidades básicas da Fonética são os fones, que são
entendidos como o menor segmento discreto perceptível de som
em uma corrente da fala. Na transcrição, são representados entre
colchetes [b], [p]. Ao passo que as unidades básicas da Fonologia
são os fonemas, denominadas as unidades mínimas do sistema de
sons de uma língua, representados entre barras inclinadas /b/, /p/.
Apesar de a Fonética e a Fonologia serem ciências distintas,
há uma relação de interdependência entre elas, visto que o estudo
fonológico de uma dada língua precisa considerar os aspectos
fonéticos. Do mesmo modo, ao descrever a fonética de uma língua, o
estudioso não pode desconsiderar aspectos do sistema fonológico.
No quadro 01, a seguir, será apresentado um resumo das
diferenças entre fonética e fonologia.
Ressalte-se a importância de se mencionar, aqui, os traços
distintivos . Em Fonologia, traços distintivos ou funcionais referem-
se a unidades mínimas contrastivas, que são aqueles que servem
para distinguir entre si os elementos lexicais. Nesta perspectiva, o
fonema pode ser realizado por vários traços de sons. Na concepção
de Callou e Leite (2001), a presença ou ausência de certos traços
opõe o fonema a todos os demais da língua. Eles constituem as
unidades mínimas e indivisíveis.
18
Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa
Esses traços articulatórios ou acústicos servem para
caracterizar um fonema em face de outro que tem com ele traços
comuns. (CALLOU; LEITE, 2001). Segundo essas mesmas autoras,
“é a partir desses traços que se organizam os sistemas fonológicos
das línguas” (p. 38). Neste caso, uma diferença mínima entre duas
unidades da língua constitui um traço distintivo, que no entendimento
de Callou e Leite (2001, p.38) se estabelece quando “mediante
um ou outro traço distintivo uma unidade linguística opõe-se a outros
elementos”. Por exemplo, a consoante [b] em português funciona
como sonora – e não surda – em relação ao [p], e como não nasal
em relação ao [m]. As características comuns aos três segmentos
fônicos é o traço articulação labial, os três são articulados nos
lábios, e o que os diferencia é que [b] e [p] são orais, em oposição
a [m], que é nasal.
Quadro 01 – Diferenças entre Fonética e Fonologia
Tem como tarefa investigar os sons da
fala, do ponto de vista fisiológico, físico e
psico-acústico.
Descreve os órgãos que intervêm na
produção dos sons (produção).
Mostra o caminho e os órgãos pelos
quais o som passa até a sua
exteriorização (processo de realização).
Investiga a propagação do som no espaço
falante-ouvinte (propagação).
As unidades básicas são os fones (menor
segmento discreto perceptível de som na
cadeia da fala), devem vir sempre
representados entre colchetes [p], [b].
Distingue significações por meio de
diferenças de sons.
Descreve as combinações possíveis
dos sons.
Inventaria os sons que têm
funcionalidade, isto é, o sistema
fonológico.
Explica e interpreta o funcionamento do
som em uma dada língua.
As unidades básicas são os fonemas
(unidades mínimas do sistema de sons de
uma língua), devem vir sempre representados
entre barras inclinadas /p/, /b/.
FONÉTICA FONOLOGIA
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UESPI/NEAD Letras Espanhol
1.2.1 Diferenças: fonética x fonológica
Diz-se que há diferença fonética quando duas unidades
mínimas distintas, colocadas no mesmo ponto do contexto, não
produzem mudança de significado, isto é, “a diferença por elas
provocada se restringe às propriedades físicas de cada unidade”,
como assevera Paulino (1987).
Um exemplo claro disso é verificado, quando comparamos
os enunciados /mi ‘niânu/ e /mE‘niânu/. As duas unidades em
questão são /i/ e /E/.
Podemos observar que a permuta de /i/ por /E/, nesse
contexto, não produz nova significação, embora fisicamente sejam
distintas. Pode-se dizer, portanto, que entre esses dois enunciados
há diferença fonética.
De outro modo, diz-se que há diferença fonológica entre
dois enunciados, “quando duas unidades mínimas distintas,
situadas no mesmo ponto do contexto, produzirem significações
diferentes”. (PAULINO, 1987, p. 19).
Para exemplificar essa diferença, tomemos o exemplo de
/‘bala/ e /‘mala/. As duas unidades mínimas distintas são /b/ e /m/
que estão no mesmo contexto: início de palavra, sílaba tônica,
seguido por – ala. Observemos que, partindo-se do contexto /‘_ala/
se colocarmos /b/, teremos uma forma linguística com uma
significação determinada, ou seja, bala = “projétil”; por outro lado,
se trocarmos por /m/ teremos outra significação, que é a palavra
mala = “espécie de caixa para transporte”. Como resultado disso,
entre os enunciados / ‘bala/ e / ‘mala/ há uma diferença fonológica.
A propósito, a título de esclarecimento, o diacrítico (‘ ) serve
para indicar a sílaba tônica, e deve ser usado sempre antes da
sílaba tônica, e não em cima da sílaba, com é feita com a transcrição
20
Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa
ortográfica. Por exemplo, observe a diferença de uso nas palavras
para /‘pa\a / e Pará /pa ‘\a/.
Veja que o que as diferencia é o acento tônico, na primeira
palavra o acento recai na primeira sílaba, já na última, ele recai na
segunda.
1.2.2 Importância da fonética e da fonologia
A pergunta que você fará, caro aluno, é: por que devo
estudar fonética e fonologia? A resposta é simples, o professor de
língua quer de língua materna ou segunda língua precisa conhecer
a língua que ensina e quando se trata de segunda língua, a exigência
é ainda maior, pois como ensinar a fonética e a fonologia de outra
língua, se não sabe a da sua própria. Ao estudar fonética e
fonologia, você compreenderá melhor o funcionamento sonoro das
línguas.
Mori (2003) aponta quatro aspectos importantes a respeito
da aplicação da teoria fonológica. Ei-las:
• As teorias fonológicas são aplicadas na criação de
ortografias de línguas ágrafas, isto é, línguas sem escrita.
• A fonologia auxilia no conhecimento do sistema
fonológico da língua materna. Através dela, podemos estabelecer
a relação entre os fonemas e os símbolos gráficos. É importante o
professor conhecer bem o sistema fonológico para explicar os
problemas de ortografia. Na língua portuguesa, por exemplo, não
há correspondência entre o fonema /z/ e a representação gráfica.
Ele pode ser representado por ‘z’ como zebra ‘s’ como em casa e
por ‘x’ como em exercício.
• Ela pode também ajudar na aprendizagem de uma língua
estrangeira. Por essa razão, o professor precisa conhecer bem o
21
UESPI/NEAD Letras Espanhol
sistema fonológico tanto da língua materna, quanto da língua
estrangeira. Esse conhecimento irá auxiliá-lo a fazer o aluno superar
a tendência de transpor o sistema fonológico da língua materna
para a língua que está aprendendo. Por exemplo, um falante espanhol
que conhece superficialmente o português, não distingue o /E/ de pé e
o /e/ de você, uma vez que na língua dele o “e” é representado apenas
pelo fonema /e/, ou seja, tem apenas este fonema.
• A teoria fonológica é usada por especialistas em patologias
da linguagem para entender as desordens fônicas, tais como gagueira,
troca de sons, na fala de pessoas com distúrbios da linguagem.
Massini-Cagliari e Cagliari destacam que a Fonética serve
de suporte para os estudos de fonologia e de outras áreas da
linguística. Neste sentido, enfatizam que:
tem contribuído enormemente para o desenvolvimentode tecnologias que se utilizam dos elementos sonorosda fala, como a engenharia de telecomunicações,sobretudo a telefonia, as ciências da computação,com especial referência à produção de programas deprodução e de reconhecimento da fala. (MASSINI-CAGLIARI E CAGLIARI, 2003, P. 107)
Como observamos a Fonética e a Fonologia têm
contribuído muito não só para a ciência, mas também para a área
tecnológica, surgindo no panorama científico-tecnológico outras
contribuições, que não se restringem ao estudo dos sons e
fonemas, servindo apenas como critério a sua classificação e
caracterização. Hoje, por exemplo, através da fonética forense
pode-se identificar o interlocutor, através da captura de áudio, sendo
possível saber se aquela voz é de quem se diz ser ou não.
Em síntese, podemos afirmar que tanto a Fonética quanto
a Fonologia são duas áreas da linguística que têm o mesmo objeto
de estudo, o som, porém com enfoques e abordagens diferentes.
22
Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa
Em última análise, qualquer aluno de Letras, precisa conhecer as
duas áreas, visto que vai lidar com a língua e o seu funcionamento.
1.2.2.1 Domínio da fonética
Em outras palavras, a Fonética é o estudo sistemático dos
sons da fala, ou seja, trabalha com os sons propriamente ditos, levando
em consideração a maneira como são produzidos, percebidos e quais
aspectos físicos estão envolvidos na sua produção.
A Fonética classifica-se basicamente em três domínios:
1. Fonética articulatória - estuda os sons do ponto de
vista fisiológico. Assim, ao descrevermos a realização de um som,
por exemplo [p], podemos afirmar que durante a sua articulação
não houve vibração das cordas vocais, por isso ele é não-vozeado,
e o fluxo de ar seguiu o caminho do trato vocal, o que o caracteriza
como som oral, havendo obstrução pelos dois lábios, por essa razão
é classificado como oclusivo e bilabial. Esse é o papel da fonética
articulatória: o de descrever e classificar os sons.
2. Fonética acústica - leva em conta as propriedades
físicas do som, como os sons da fala chegam ao ouvido. Quando
realizamos qualquer som, a sua propagação se dá através de ondas
sonoras até chegar ao ouvido do interlocutor. A análise desse som
e sua propagação é realizada com o auxílio de programas
computacionais específicos, tais como PRAAT e WAVE SURFER.
Estes programas permitem avaliar a altura e intensidade da voz
humana.
3. Fonética auditiva - preocupa-se em estudar a percepção
do aparelho auditivo, ou seja, como o ouvido capta o som, visto que,
muitas vezes, nem sempre percebemos o mesmo som de forma
semelhante. Somente uma análise mais apurada permitirá identificá-
P r o g r a m a sComputacionaisa d q u i r i d o sg r a t u i t a m e n t eatravés dos siteswww.p raa t . o rgpara o programaPRAAT; www.speech.kth.se/wavesurfer, paraWavesurfer.
23
UESPI/NEAD Letras Espanhol
lo. Este tipo de estudo cabe à Fonética Auditiva, campo de pesquisa
ainda muito pouco explorado.
Estes três tipos de estudos são pouco implementados
concomitantemente. Isso se deve à falta de especialização, de
pessoas qualificadas para atuarem na área, observada, sobretudo,
nos estudos acústicos e auditivos. Por essa razão, os estudos na
área articulatória são os mais adotados no meio acadêmico, uma
vez que é a área da fonética mais fácil de ser detectada e verificada,
por dizer respeito à produção dos sons. No entanto, para
empreender um estudo mais detalhado da produção de alguns
sons, é necessário recorrer a estudos acústicos. No passado, tais
estudos necessitavam de aparelhos sofisticados, e, muitas vezes,
de difícil acesso. Atualmente, com um computador equipado com
programas específicos que dispõem de softwares para realizar
análises acústicas, como as realizadas pelo PRAAT, por exemplo,
podem-se obter excelentes resultados. Uma demonstração desse
tipo de programa pode ser observada na figura abaixo.
Figura 02: Tela de abertura do programa Wave Surfer 1.5.3.Fonte disponível em: <http://www.cefala.org/fonologia/acustica_software_wavesurfer.php>
24
Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa
Por se tratar de um curso de graduação e considerando,
também, as dificuldades em encontrar especialistas na área, a
disciplina Fonética e Fonologia, concentrar-se-á na parte
articulatória dos sons, ou melhor, na fonética articulatória. Esta
parte da fonética, como já mencionado, volta-se para a produção
dos sons, levando em conta seu modo de articulação, seu ponto, o
caráter vozeado ou não e ainda a configuração nasal ou oral. Para
isso, iniciaremos com a apresentação da realização dos sons.
Antes, porém, é necessário destacar o domínio de estudo da
Fonologia.
1.2.2.2 Domínio da fonologia
Há basicamente duas linhas de estudo da Fonologia, uma
denominada segmental, que compreende o estudo das vogais e
consoantes; e a supra-segmental, que se concentra em estudar o
acento, o ritmo e a entoação. No nível segmental, estuda-se a forma
como os sons se organizam para formar unidades linguísticas
maiores (sílabas, morfemas – unidades mínimas das palavras,
como radical, prefixo, sufixo, palavras e sentenças. Além disso,
estuda as variações que os fonemas podem apresentar. Já o nível
supra-segmental ou prosódico é aquele que não se realiza como
segmento específico na cadeia de sons, ocorrendo vários
segmentos ao longo da cadeia. Isso significa dizer que em qualquer
enunciado, além dos fonemas segmentais, temos outras unidades.
Ninguém fala sem imprimir uma modulação de maior ou menor
força em certas unidades enunciadas. Há uma acentuação,
entonação e juntura. Portanto, essas diferentes variações são ou
podem ser os fonemas supra-segmentais. Destacam-se três
fenômenos prosódicos:
25
UESPI/NEAD Letras Espanhol
a) Quantidade ou duração – É o tempo de pronúncia de um
segmento, que pode ser longo ou breve. Registram-se os
segmentos longos através do sinal diacrítico [:] colocado logo após
o som alongado. Assim, pode-se registrar a maior duração da vogal
[o], por exemplo, na palavra gol, como pronunciada pelos locutores
de futebol, da seguinte forma: [go:w].
b) Intensidade – resulta da maior ou menor força expiratória,
ao longo da cadeia da fala, determinando segmentos tônicos e
átonos. Costuma-se indicar a sílaba tônica por um apóstrofo anterior
a ela: [‘sapU], [ka ‘f]
c) Altura – resulta da frequência de vibrações das cordas
vocais em uma dada unidade de tempo, determinando diferentes
tons e entonações.
1.3 APARELHO FONADOR
Falar é um ato tão natural para o ser humano como o uso de
qualquer um dos cinco sentidos (tato, paladar, audição, visão,
olfato). Essa capacidade o particulariza entre os animais. A fala é
um sistema simbólico diferente de outros sistemas usados também
na comunicação, como os gestos, a linguagem das abelhas. Essa
diferença se dá em virtude de o sistema da fala poder ser
segmentado em unidades menores. Por exemplo, a palavra “bola”
contém quatro fonemas [b], [o],[ l],[ a]. A partir de agora,
estudaremos a composição e o funcionamento do aparelho fonador,
que produz essas unidades sonoras.
1.3.1 Constituição do aparelho fonador
A primeira pergunta que pode vir a sua cabeça é: como se
realiza o som? Para responder a essa pergunta, temos que
entender o caminho que o fluxo de ar segue na respiração. É
26
Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa
importante lembrarmos que os sons não se realizam no momento
de “inspiração”, mas na “expiração”. O oxigênio, que é vital ao ser
humano, chega até os pulmões pela traqueia. Em seu caminho de
volta, ainda ar, ele sofre a primeira deformação ao chegar à laringe.
É na laringe que definimos dois tipos de sons.
O ar expelido pelos pulmões chega à laringe e atravessa a
glote, que fica na altura do chamado pomo-de-adão ou gogó. O ar,
então, chega à abertura entre as duas pregas musculares das paredes
superiores da laringe, conhecidas pelo nome de cordas vocais (ou
pregas vocais). O fluxo de ar pode encontrá-las fechadas ou abertas,
em virtude de estarem aproximadas ou afastadas. Caso estejam
fechadas, o ar força sua passagem, fazendo-as vibrar e produzir os
sons chamados de vozeados. No segundo caso, quando relaxadas, o
ar escapa, com pouca vibração das cordas vocais, produzindo sons
chamados de não-vozeados, como ilustra a figura 03.
Figura 03: Pregas vocais.
Figura 04: Movimento da glote.Fonte: http://www.studiomel.com/17f.html
27
UESPI/NEAD Letras Espanhol
As pregas vocais estão situadas no interior da laringe e
se constituem em um tecido esticado com duas pregas. O expulsar
do ar por elas as faz vibrarem produzindo o som pelo qual nos
comunicamos. As pregas são fibras elásticas que se distendem
ou se relaxam pela ação dos músculos da laringe com isso
modulando e modificando o som e permitindo todos os sons que
produzimos enquanto falamos ou cantamos.
Todo o ar inspirado e expirado passa pela laringe e as pregas
vocais, estando relaxadas, não produzem qualquer som, pois o ar passa
entre elas sem vibrar. Quando falamos ou cantamos, o cérebro envia
mensagens através dos nervos até os músculos que controlam as
cordas vocais que fazem a aproximação das cordas de modo que
fique apenas um espaço estreito entre elas. Quando o diafragma e os
músculos do tórax empurram o ar para fora dos pulmões, isso produz
a vibração das cordas vocais e consequentemente o som, como
demonstra a figura 03, na página anterior.
De acordo com Cristófaro-Silva (2002), os órgãos usados
na produção da fala não têm apenas função de produzir sons. Na
verdade, a função primária deles é mastigar, sentir o paladar,
engolir, respirar ou cheirar.
A autora divide os órgãos do corpo humano que compõem
o aparelho fonador em três grupos: sistema respiratório, fonatório
e articulatório. O sistema respiratório , que se situa abaixo da glote,
é constituído pelos pulmões, músculos pulmonares, traqueia. Os
músculos pulmonares produzem a pressão para os pulmões
liberarem a corrente de ar, que passa pelos brônquios e traqueia.
Sem a corrente de ar os sons não poderiam existir.
O sistema fonatório é composto pela laringe, que é uma
câmara oca onde a voz é produzida. Nela estão as cordas vocais,
que determinam a sonoridade dos sons (surdos ou sonoros).
28
Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa
O sistema articulatório é formado pela faringe, cavidade
bucal, cavidade nasal (nariz), palato mole, úvula, (conhecida como
campainha), dentes, língua, lábios e palato duro (céu da boca). A função
da cavidade nasal e bucal e o da faringe é a de ampliar o som. Palato
mole, língua, palato duro, dentes e lábios têm a função de articular o
som. Observe a constituição do aparelho fonador na figura 05.
Outros autores, contudo, ampliam a constituição do
aparelho fonador. Dentre esses, destaca-se a opinião de Oliveira
e Brenner (1988), ao informar que a constituição do aparelho
fonador é feita de partes de órgãos do aparelho digestivo, do
aparelho respiratório, do aparelho circulatório e do sistema nervoso.
De modo sucinto, podemos dizer que o aparelho fonador
pode ser definido como um mecanismo de produção da fala, sendo
a sua formação feita por diferentes partes, algumas das quais
pertencem ao aparelho digestivo, outras ao aparelho respiratório.
A boca e a faringe, órgãos do aparelho digestivo, desempenham
papel essencial na formação das vogais e consoantes. As
dimensões dessas cavidades podem ser modificadas pela ação
dos músculos da língua, do palato mole e da faringe.
Figura 05: Órgãos envolvidos no processo de realização dos sons.
29
UESPI/NEAD Letras Espanhol
O aparelho respiratório participa integralmente da
produção do som da fala.
Os pulmões produzem a corrente de ar comprimido
utilizado para a geração do som.
A laringe, que se destina originariamente à passagem de
ar; e a glote cuja função original é, de fato, a prevenção da queda
de corpos estranhos no interior do aparelho respiratório, também
participa ativamente da produção da fala. Como vemos, não há
uma predisposição fisiológica para a fala.
O quadro 02 apresenta o resumo dos três sistemas que
compõem o parelho fonador.
1.3.2 Funcionamento do aparelho fonador
Quando queremos falar alguma coisa a alguém, entra em
funcionamento o sistema nervoso. Esse sistema emite estímulos
para os músculos pulmonares, produzindo, assim, pressão para
que os pulmões liberem o ar que passa pelos brônquios para
penetrar na traquéia e chegar à laringe. Nela, o ar encontra a
primeira barreira a sua passagem, chegando à glote. Ela fica na
Quadro 02 Resumo dos órgãos e funções do aparelho fonador
Pulmões, músculospulmonares, traqueia.
Laringe (cordas vocais,glote).
Faringe, cavidade bucal,
cavidade nasal.
Palato mole, língua, palatoduro, dentes e lábios.
Produção de pressão no ar que sai dospulmões (sem a corrente do ar não existiriamos sons.
Determinação da sonoridade de sons(surdos ou sonoros).
Ampliação do som.
Articulação dos sons.
ÓRGÃOS FUNÇÕES
30
Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa
altura do chamado pomo-de-adão ou gogó. A glote é uma abertura
entre duas pregas musculares das paredes superiores da laringe,
denominadas cordas vocais. O nome corda é impróprio. Trata-se,
na realidade de lábios ou dobras, simetricamente situados à direita
e à esquerda da linha mediana. Esses lábios são dois músculos
gêmeos elásticos, formados pela capa muscular que reveste
interiormente as cartilagens da laringe. Quando o ar sai dos
pulmões, elas podem permitir a passagem livre, se estiverem
abertas, e, desse modo, não vibrarão. Se, ao contrário, oferecem
resistência, entrarão em vibração. No primeiro caso, o ar força a
passagem fazendo as cordas vocais vibrarem e produzirem sons
sonoros ou vozeados. No segundo caso, com as cordas vocais
separadas, o ar passa sem provocar vibração, dando origem aos
sons surdos ou desvozeados. Esse funcionamento pode ser
observado na figura 05, ilustrada na página anterior.Para
compreender melhor esse fenômeno, você pode colocar os dedos
no pomo-de-adão ou gogó e dizer [b] e [p], sem emitir vogais,
somente repetindo esses sons. Repita cada um várias vezes. Note
que, ao dizer [b], as cordas vocais vibram, quer dizer, o som é sonoro,
enquanto ao dizer [p], elas não vibram, o som produzido é surdo.
Ao sair da laringe, o ar entra na faringe, onde se depara
com uma encruzilhada, que lhe oferece duas vias de acesso: a
entrada para a cavidade bucal e a cavidade nasal. Entre essas
cavidades, fica o palato mole. Se a úvula estiver abaixada, o ar
penetrará na cavidade nasal, então teremos o som nasal; se a úvula
estiver levantada, impedirá a passagem pela cavidade nasal,
obrigando o ar a passar pela boca, daí teremos o som oral. Você
poderá perceber essa diferença ao dizer as palavras lá e lã (repita
cada uma várias vezes). Ao pronunciar a primeira palavra, o ar sai
pela boca; e ao pronunciar a segunda, o ar sai pelo nariz. Portanto,
31
UESPI/NEAD Letras Espanhol
em lá temos um som oral, enquanto em lã temos som nasal. Na
figura 06, a seguir, podemos verificar onde se realizam os sons
orais e nasais.
Observemos que o ar que está na boca tem a função de
caixa de ressonância. Nela, através dos dentes, língua e lábios
podem ser produzidos variados sons. Para essa produção, usa-
se o palato mole e os alvéolos, que é a parte alta que fica atrás dos
dentes superiores, através dos quais se chega ao palatoduro. A
língua é o principal órgão da articulação do som. É ela que interfere
na formação dos sons das vogais e das consoantes. No trato vocal,
temos o conjunto de articuladores. Tais articuladores, como
observados na figura 06, podem ser classificados como ativos e
passivos.
Articuladores ativos são denominados aqueles
articuladores que na realização do som se movimentam. São eles:
maxilar inferior, com os dentes, língua, lábios, palato mole e úvula.
Ao contrário, são denominados articuladores passivos os que não
se movimentam, tais como maxilar superior com os dentes, alvéolos
e palato duro, conforme demonstra a figura 07.
Figura 06: Cavidade oral e cavidade nasal.
32
Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa
De acordo com Cristófaro-Silva (2002, p. 31), a relação
entre articuladores ativos e passivos se dá a partir “da posição do
articulador ativo em relação ao articulador passivo (podendo ou
não haver contato entre eles)”, podemos determinar o lugar de
articulação dos segmentos consonantais.
Em síntese, o ser humano não possui um órgão específico
para a fonação. Ele conta com vários órgãos: parte do aparelho
digestivo, respiratório, circulatório e até do sistema nervoso central,
a fim de elaborar o processo de fonação. Neste aspecto, podemos
dizer, ainda que, de acordo com os estudos de Rosetti (1974, p.
43) “a voz humana é provocada pelos influxos do nervo recorrente
transmitidos à laringe, sendo que a célula nervosa transforma a
energia química produzida pela nutrição em energia elétrica”.
1.4 SÍNTESE DA UNIDADE
O aparelho fonador é composto por três sistemas:respiratório, fonatório e articulatório. O sistema respiratório é
constituído pelos pulmões, músculos pulmonares e traqueia. Os
Figura 07: Articuladores ativos e passivos.
33
UESPI/NEAD Letras Espanhol
músculos pulmonares produzem a pressão para os pulmões
liberarem a corrente de ar. Ela passa pelos brônquios e traqueia
(sem a corrente do ar, os sons não existiriam).
O sistema fonatório é composto pela laringe, que é uma
câmara oca, onde a voz é produzida. Nela estão as cordas vocais
que determinam a sonoridade dos sons. Se elas estiverem
próximas, o ar força a passagem fazendo-as vibrar e produzir o
som sonoro. Se elas estiverem separadas, o ar passa sem
vibrações, dando origem aos sons surdos.
O sistema articulatório é formado pela faringe, trato vocal
(cavidade bucal), cavidade nasal, palato mole, dentes, língua, lábios
e palato duro. Na faringe, o ar se depara com uma encruzilhada,
que lhe oferece duas vias de acesso: a entrada para a cavidade
bucal e a cavidade nasal. Entre essas cavidades, fica o palato mole.
Se a úvula estiver abaixada, o ar penetrará no nariz e teremos o
som nasal. Se ela estiver levantada, impedirá a passagem pela
cavidade nasal, obrigando o ar a passar pela boca e teremos o
som oral.
FÓRUM DE DISCUSSÃO
1) Mostrar que determinado som da LP não tem
funcionalidade é uma tarefa da Fonética ou da Fonologia? Dê
exemplos.
ATIVIDADE I
1) Reconheça as atividades de pesquisa a seguir
discriminadas como sendo da competência da Fonética ou da
Fonologia:
34
Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa
ÓRGÃOS FUNÇÕESSistema respiratórioLaringeCordas vocaisFaringeCavidade bucalCavidade nasalDentes, língua, lábios, alvéolos,palato duro.
a) Parte da linguística que trata dos sons da fala, ou seja, em relação
às funções que eles exercem numa dada língua ( ).
b) É adotada para distinguir significações por meio de diferenças
de sons ( ).
c) Tem como tarefa a investigação dos sons da fala, de um ponto
de vista puramente fisiológico, ou mais precisamente psico-
acústico ( ).
d) Preocupa-se com a produção e processo de realização, com a
propagação e a percepção do som da fala ( ).
e) Descreve os órgãos que intervêm na produção dos sons ( ).
f) Descreve as combinações possíveis de sons ( ).
2) Preencha o quadro apontando as funções dos órgãos do
aparelho fonador
ATIVIDADE II
1) Relacione as colunas: (1) Fonética; (2) Fonologiaa) ( ) Estuda o som da fala.b) ( ) Estuda o som da língua.c) ( ) Concentra-se no estudo de sons responsáveis pela distinção
de significados.
35
UESPI/NEAD Letras Espanhol
d) ( ) Analisa como o som é produzido pelo aparelho fonador.
e) ( ) O fone é representado entre colchetes [f].
f) ( ) O fonema é representado entre barras /f/.
2) Faça a diferença entre fonética e fonologia. Apresente
exemplos.
ATIVIDADE III
1) Estabeleça a diferença entre fonética acústica e fonética
articulatória.
2) Após pesquisa em textos que tratem sobre o aparelho fonador,
utilize o código abaixo para determinar as respostas corretas:
2.1 ( ) A laringe faz parte do aparelho respiratório.
2.2 ( ) Nas cavidades supraglotais há somente órgãos do
aparelho digestivo.
2.3( ) As aritenoides são cartilagens pequenas que se
situam na laringe.
2.4 ( ) As cordas vocais são músculos cobertos por uma
membrana e que se movem no sentido horizontal e vertical.
2.5 ( ) As cavidades supraglotais, que são caixas de
ressonância, compreendem a faringe, as fossas nasais, a
cavidade bucal e a projeção dos lábios para a frente;
a) F, V, V, V, F
b) V, F, F, F, V
c) V, F, F, V, V
d) V, F, V, V, V
36
Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa
Anotações
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UESPI/NEAD Letras Espanhol
UNIDADE 2
CONSOANTES DO PORTUGUÊS
• Classificação dos sons consonantais da língua portuguesa quanto ao
ponto e ao modo de articulação;
• Estabelecimento da diferença entre ponto e modo de articulação;
• Identificação de fones consonantais.
OBJETIVOS
• Classificar os sons consonantais da língua portuguesa quanto ao ponto
e modo de articulação;
• Conhecer a diferença entre ponto e modo de articulação;
• Reconhecer os símbolos de fones consonantais.
38
Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa
123456789012345678901234567890121123456789012345678901234567890121123456789012345678901234567890121123456789012345678901234567890121123456789012345678901234567890121123456789012345678901234567890121123456789012345678901234567890121
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UESPI/NEAD Letras Espanhol
2 CONSOANTES DO PORTUGUÊS
O fluxo do ar é modificado de diferentes maneiras. E
segundo Callou e Leite (2001, p. 23) “os diferentes modos por que
o fluxo de ar é modificado permitem o estabelecimento de duas
grandes classes de sons”. É ele, portanto, que permite o
estabelecimento entre as duas grandes classes de sons: as vogais
e as consoantes. Acrescenta-se a estas, outra classe de sons, as
semivogais, também denominada como a dos glides. Neste
aspecto, uma primeira pergunta se poderia fazer: o que diferencia
as três classes? Nas vogais a produção de sons se dá sem
bloqueio à passagem de ar na cavidade do trato vocal. Nas
consoantes, a produção de sons se dá com bloqueio total ou parcial
à passagem do ar no trato vocal. Nas semivogais ou glides sons
fracos de [i] e [u] que formam sílabas com uma vogal ficam a meio
caminho entre vogais e consoantes.
Ainda, segundo Cristófaro-Silva (2002), as semivogais são
analisadas somente no nível fonológico.
2.1 CONSOANTES DO PORTUGUÊS
Do ponto de vista fonético, as consoantes são produzidas
por um fechamento ou estreitamento do aparelho fonador, de modo
que a passagem do ar seja total ou parcialmente bloqueada.
Ao caracterizar um som consonantal, é relevante
considerar se há ou não vibração das cordas vocais (sons sonoros
ou surdos), se o som é nasal ou oral e em qual lugar e modo se deu
a articulação (CALLOU; LEITE, 2001). Nesta aula, examinaremos
o lugar e o ponto de articulação. Iniciaremos pelo ponto de
articulação.
40
Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa
2.1.1 Lugar de articulação
Lugar de articulação é o local em que os dois articuladores
entram em contato. Um articulador é qualquer parte do aparelho
fonador que participa da produção do som. Ele pode ser ativo
(dotado de movimento) ou passivo (sem movimento) (CALLOU;
LEITE, 2001).
Quanto ao ponto de articulação, o português apresenta os
seguintes sons:
Bilabial - a passagem do ar é obstruído pelos dois lábios.
O som é produzido pela junção dos lábios. Os sons bilabiais são
[p, b, m]. Podemos afirmar também que são sons produzidos com
um estreitamento ou fechamento produzido pelo contato dos lábios.
Exemplos: [p]ata, [b]ola, [m]oca.
Labiodental - há sons que são produzidos pela obstrução
Figura 08: Ponto bilabial
Figura 09: Ponto labiodental
41
UESPI/NEAD Letras Espanhol
parcial do ar. Desta forma, o som é produzido pela aproximação do
lábio inferior e a arcada dentária superior. São labiodentais: [f,v].
Exemplos: [f]aca, [v]aca .
Dental /alveolar - som produzido com a ponta da língua entreos dentes superiores e inferiores, ou com a língua contra a parteposterior dos dentes incisivos superiores, ou com os alvéolos. Sãoeles: [t, d, s, z, l, n, r, {, }]. Exemplos: [t]atu, [d]ado, [n]ada, ma[l]a,ca[r]o (caro, de caro amigo), ca[äääää]ne (dialeto caipira) “carne”, [s]apo,[z]ebra. Chamamos a atenção para o som do “r”. Você deve ternotado que ele tem vários tipos de sons, ou seja, várias realizações.Ele pode ser alveolar, velar ou glotal. Sobre ele e outras variações
de sons, trataremos nas próximas aulas.
Palato-alveolar - som produzido na região imediatamenteanterior à região onde se articulam os sons palatais. Trata-se de umsom palatal ao qual se acrescenta a característica alveolar. Sãopalato-alveolares: [tS, dZ, S, Z]. Exemplos: [tStStStStS]ia (tia), [dZdZdZdZdZ]ia (dia),
Figura 11: Ponto palato-alveolar.
Figura 10: Ponto dental/alveolar.
42
Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa
[SSSSS]a (chá), [ZZZZZ]a (já).
Palatal - som produzido com o contato da parte central da línguacom o palato duro. Ou ainda pode-se dizer que são sons produzidoscom a lâmina da língua tocando o palato duro, como os observado em[´, ø]. Exemplos: ba[ø]o ou ba[y)]o (banho)* (depende do dialeto); ma[´́́́́]a
ou ma[lJlJlJlJlJ]a (malha)* (depende do dialeto).
Velar - som produzido com o dorso da língua, ou seja, a partede cima da língua (centro da língua), contra o palato mole. São velares:[k], [g],[x]. Exemplos: [k]asa, [g]ato, [X]ato* “rato” (realização (velar)pertinente ao dialeto carioca); [h]ato* (realização (aspirada ou glotal –
comum no nordeste brasileiro).
Figura 14: Ponto Glotal.
Figura 12: Ponto palatal.
Figura 13: Ponto velar.
43
UESPI/NEAD Letras Espanhol
Glotal - Podemos também registrar a realização glotal –
que é o som produzido com a articulação das cordas vocais, ou melhor,
o som é glotal, quando as duas cordas vocais articulam-se entre si.São sons glotais: [h,î]. Exemplos: [h]ato “rato”, ba[h]Iga “barriga” eca[î]ga* “carga”, articulação que também depende do dialeto. Nodialeto piauiense, por exemplo, a glotal é a realização predominante,conforme pesquisas de Carvalho (2009).
Os sons linguísticos ainda podem ser classificados quantoao modo de articulação. Utilizaremos apenas os sons realizados naLíngua Portuguesa.
Na unidade III, daremos mais explicações sobre esses sonslinguísticos e os símbolos que usamos para representá-los na línguaportuguesa.
Resumindo melhor o exposto, apresentaremos, a seguir, um
quadro com a classificação dos pontos de articulação.
Quadro 03 – Classificação dos sons consonantaisquanto ao ponto de articulação
PONTO DEARTICULAÇÃO
EXEMPLOS DE FONESCONSANATAIS
Som produzido com umestreitamento ou fechamentoproduzido pelo contato dos lábios.
[p]ato, [b]ola, [m]ala
[f]aca, [v]açaSom produzido com o contato do lábioinferior com os dentes superiores.
Som produzido com a ponta dalíngua entre os dentes superiores einferiores, ou com a língua contra aparte posterior dos dentes incisivossuperiores, ou com os alvéolos.
Som produzido na regiãoimediatamente anterior à região ondese articulam os sons palatais. Trata-se de um som palatal ao qual seacrescenta característica alveolar.
[t]atu, [d]ado, [n]ada,ma[l]a, ca[R]o, ca[Ó]ne(dialeto caipira), [s]opa,[z]ebra.
[tS]ia, [dZ]ia, [S]a (chá),[Z]a (já).
ba[ø]o ou ba[y)]o (banho)*,ma[´]a ou ma[lJ]a (malha),(*Depende do dialeto)
[k]asa, [g]ato, [X ]ato(rato)*, ca[Ä]ga* (carga).(*Depende do dialeto)
[h]ato* (rato), ba[h]iga*(barriga), ca[ú ]ga*(carga) (*Depende dodialeto)
Som produzido com o contato da partacentral da língua com o palato duro.
Som produzido com o dorso (teto oucentro da boca) da língua contra opalato mole.
Som produzido coma articulação dascordas vocais.
PONTO DEARTICULAÇÃO
Bilabiais
Dentaisou
alveolares
Alveolopalatais
Palatais
Velares
Glotais
Labiodentais
44
Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa
2.1.2 Modo de articulação
a) Oclusiva ou Plosiva - são as que resultam de uma
oclusão momentânea da passagem de ar, seguida de uma abertura
brusca (explosão). Nesse caso, o fluxo de ar encontra uma
interrupção total, seja pelo fechamento dos lábios, seja pela pressão
da língua sob a arcada dentária ou sob o palato duro. São elas:
[p,b, t, d, k, g].
Esta oclusão é realizada em português, nos seguintes
pontos: Oclusão bilabial – um lábio contra o outro –[p], [b] Oclusão
ápico-dental – a ponta da língua contra os dentes ou gengivas – [t]
e [d]. Oclusão dorso-palatal – o dorso da língua contra o palato
duro – [k] e [g] sempre diante vogal anterior, como no exemplo das
palavras quilo e guia.
b) Fricativas – são as caracterizadas por um estreitamento
da passagem do ar, que produz um ruído de fricção ao passar entre
dois articuladores. São fricativas: [f, v, s, z, S, Z, x). As fricativas do
português são as seguintes:
• Fricativas labiodentais [f] e [v];
• Fricativas alveolares [s] e [z];
• Fricativas álveo-palatais [S] e [Z];
• Fricativa velar [x] de carro, realizada no dialeto carioca.
Note que, comumente, o [s] e o [z] recebem a denominação
de sibilantes, enquanto o [S] e o [Z] de chiantes.
c) Africada – é a combinação entre oclusivo e fricativo. É o
que acontece na realização de: [tS, dZ], observada na fala de
piauienses da Capital e do norte do estado, ao pronunciarem [tS]ia
e [dZ]ia, “tia” e “dia”, por exemplo.
d) Nasal – aquele som que, na sua realização, parte do ar
sai pelo trato vocal (boca) e parte pelas fossas nasais (nariz). São
exemplos desses sons: [m, n, ø]. Em português, temos a
possibilidade de produzir nasais:
45
UESPI/NEAD Letras Espanhol
• Bilabiais - [m] (mala);
• Ápico–dental - [n] (nada);
• Palatal - [ø] (banho);
• Velar [N] (manga)
e) Lateral – som produzido quando a língua ao tocar os
alvéolos, obstrui a passagem do ar nas vias superiores, mas permite
que o ar passe através das paredes laterais da boca. São laterais
[l, ́ ]. Em português, podem-se produzir laterais:
Ápico-dental [l] (leite)
Palatal [´] (palha)
f) Vibrante – Caracteriza-se pelo movimento vibratório e
rápido da língua, provocando, desse modo, breves interrupções
na corrente de ar. A vibrante é representada pelo‘r’. Em português,
existem as vibrantes:
• Anterior ou apical [r] de “caro” – pronunciado de
maneira que a ponta da língua ao tocar os alvéolos empurra para
fora a corrente de ar.
• Pode também haver uma batida única, cuja
denominação é a de flap [R] (vibrante simples).
• Ou uma multiplicidade de batidas denominadas de
trill de vibrante múltipla [}].
g) Tepe – Ao contrário da vibrante, o tepe se caracteriza
por apenas uma batida da ponta da língua contra os alvéolos. É o
caso do [R]. Este som é aquele sempre usado nos encontros
consonantais em palavras como prato e fraco .
h) Retroflexa – Caracteriza-se pelo levantamento e
encurvamento da ponta da língua em direção ao palato duro,
representado foneticamente pelo símbolo [}]. Este é o “erre”
encontrado comumente no falar de algumas comunidades de são
Paulo, do Paraná e também Minas Gerais.
Para facilitar a compreensão do que fora até agora
estudado, vamos resumir, através de um quadro, o modo de
articulação das consoantes.
46
Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa
A partir do que estudamos nesta aula, podemos sintetizar
um quadro com a classificação das consoantes do português do
Brasil com seus respectivos símbolos.
Quadro 04 – Classificação dos sons consonantais quanto ao modo dearticulação
47
UESPI/NEAD Letras Espanhol
Quadro 05 – Símbolos Consonantais da Língua Portuguesa
Fonte: Adaptação de Cristófaro-Silva (2002)
48
Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa
Os símbolos que representam os fones não correspondem,muitas vezes, às letras que representam. Por exemplo, [´]representa o som das letras “lh”, assim como o símbolo [ø]representa o som das letras “nh”. Esses símbolos são estabelecidospor convenções.
2.2 VARIAÇÃO DE ALGUNS SONS CONSONANTAIS
Os sons consonantais, em português, podem variar de acordocom o dialeto, que envolvem as variações regionais ou idioleto(variações individuais). Essas variações são comumente maispercebidas com os fonemas “r” e “s”. Em seguida, veremos nos itensda sequência, algumas dessas variações, a partir de estudos deCristófaro Silva (2002).
2.2.1 Variações do “r” e dos “rr” ortográficos
Você notou que o “r” e os “rr” ortográficos têm váriossímbolos fonéticos para representá-los. Isso se dá devido à variaçãodialetal de pronúncia das duas formas ortográficas. Vamos analisar
as variações?
Fonte: Quadro elaborado a partir de informações de Cristófaro-Silva (2002).
Quadro 06 Variações do “r” e dos “rr” ortográficos
AMBIENTE
Seguido de consoante na mesmasílaba ou em posição intervocálica(maioria dos dialetos)
Final de sílaba ou palavra (algunsdialetos).
Início de palavras, em posiçãointervocálica (“rr”), seguido deconsoante surda em sílabadiferente ou final de palavra.
Final de sílaba antes de consoantesonora.
Início de palavra, em posiçãointervocálica (“rr”) ou seguido deconsoante em sílaba diferente.
Final de sílaba ou palavra.
SÍMBOLOFONÉTICO
[RRRRR]
[x, h]
[FFFFF, úúúúú]
[r)r)r)r)r)]
[ÓÓÓÓÓ](caipira)
EXEMPLOS
c[R]avo, ca[R]a
ca[R]ta, ma[R]
[X]apaz ou [h]apazca[X]o ou ca[h]o (“carro”)Is[X]ael, Is[h]aelma[X], ma[h]
go[F]dura ou go[ú] dura
[r)] apaz, Ca[r)]o, Is[r]ael
ma[Ó], go[Ó]do
49
UESPI/NEAD Letras Espanhol
2.2.2 Variações do “s” ortográfico
Segundo ainda Cristófaro-Silva (2002), os segmentos
[s,S,z] pode ser representada ortograficamente pelo “s”. Isso ocorre
principalmente em final de palavra, com as denominadas fricativas
sibilantes. Por exemplo, ao observar as palavras paz, gás e rapaz ,
observamos que a pronúncia delas pode variar, dependendo do
dialeto. Ao pronunciar paz [pAs], um carioca pode dizer [AS] ou
ainda ser realizada a variante [pAz] entre falantes da região de
Teófilo Otoni, como destaca a mesma autora. Em grande parte da
região Nordeste, esse mesmo segmento é realizado como [pAys],
para a mesma palavra. Neste caso, observamos o aparecimento
do glide. O glide corresponde a um ditongo, sobre o qual trataremos
na seção dedicada às vogais.
O “s” ortográfico, em limite de sílaba, pode manifestar-se
de duas maneiras na língua portuguesa: fricativa alveolar, como na
pronúncia de pasta [pAstA], observada na fala de pessoas do sul
e sudeste do País, ou como fricativa palatal, observada na
realização de [pAStA] em grande parte do Nordeste e na fala do
carioca, por exemplo. Cristófaro-Silva (2002) ressalta também que
o “s” ortográfico pode comportar-se de duas maneiras, ao se
observar os seguintes grupos de palavras:
a) Casca – aspas – pasta
b) Rasga – asma – Gasbrás
Ela afirma que a primeira alternativa é a ocorrência de uma
das fricativas desvozeadas [s,S], isso sempre ocorre quando a
consoante seguinte for desvozeada, como nas palavras do grupo
a, alternando com a ocorrência de uma das fricativas vozeadas
50
Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa
[z,Z] quando a consoante seguinte for vozeada, conforme se
observa nas palavras do grupo b. Na opinião da autora (2002, p.
53), “esta alternativa é selecionada, por exemplo, pelo dialeto de
Belo Horizonte”. Já entre falantes do dialeto do Rio de Janeiro
verificamos a “ocorrência da fricativa alveopalatal desvozeada [S]
quando a consoante seguinte for vozeada”, como apresentam os
exemplos do grupo b. (CRISTÓFARO-SILVA, 2002, p.53).
2.2.3 Variação do “l” ortográfico em final de sílaba
O “l” ortográfico em final de sílaba pode ter o som de [Â] ou
[w] tem o som de consoante lateral alveolar ou dental com
articulação secundária de velarização, que é o levantamento da
parte posterior da língua em direção ao véu palatino. Essa pronúncia
é usada no Sul do Brasil e em Portugal. Podemos observá-la,
também, em pessoas mais velhas provenientes ou que moram na
zona rural.
Na maioria dos dialetos brasileiros, ocorre a vocalização,
ou seja, o “l” ortográfico é pronunciado como vogal [u], realização
observada, por exemplo, nas palavras bolsa [‘bowsA] e calça
[‘kawsA]. Essa pronúncia é representada pelo símbolo fonético [w].
Desse modo, o “l” ortográfico da palavra “calça” pode ser
representadas tanto por [‘bowsA] quanto por [‘boÂsA], dependendo,
é claro, do dialeto.
Até aqui descrevemos como se realizam as consoantes.
Na próxima aula trataremos do sistema vocálico da língua
portuguesa, bem como do sistema semivocálico. Na seção
seguinte, passaremos a tratar do alfabeto fonético internacional e
de transcrição fonética.
51
UESPI/NEAD Letras Espanhol
2.3 SÍNTESE DA UNIDADE
Os sons produzidos pelo aparelho fonador classificam-seem três subsistemas: vogais, consoantes e semivogais (ou glides).Esses três subsistemas formam o sistema de sons da línguaportuguesa.
As consoantes são classificadas quanto ao modo e pontode articulação. Ponto de articulação é o local onde é realizado obloqueio à passagem da corrente do ar. Os sons consonantais, apartir do ponto de articulação, são classificados em labial oubilabial (estreitamento ou fechamento produzido pelo contato doslábios –[p], [b], [m]); labiodental (contato do lábio inferior com osdentes superiores – [f], []); dental ou alveolar (a ponta da línguaentre os dentes incisivos superiores e inferiores, ou a língua contraa parte posterior dos dentes incisivos superiores ou contra osalvéolos – [t], [d], [n], [ä], [r], [s], [z]); alveopalatais (regiãoimediatamente anterior á região onde se articulam os sons palatais.Trata-se de um som palatal ao qual é acrescido a característicaalveolar – [tS], [dZ], [S], [Z]; palatal (contato da parte central da línguacom o palato duro – [ø], [y)], [´], [lJ]); velar (dorso da língua em contatocom o palato mole – [k], [g], [X], [Ä]); glotal (articulação das cordasvocais –[h], [ú]).
FÓRUM DE DISCUSSÃO1) Que papel tem a úvula na produção dos sons
linguísticos? Explique.
ATIVIDADE I1) Qual o papel das cordas vocais na produção dos
fonemas vocálicos e consonantais?
2) Como atuam os alvéolos na produção de fonemas em
português?
ATIVIDADE II
1) Classifique os fones consonantais do português quanto
ao lugar de articulação.
52
Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa
2) Os fonemas /f/, /m/ e /k/ são produzidos mediante o
mesmo modo de articulação?
ATIVIDADE III
1) Apresente duas palavras para os sons ‘r’ e ‘s’, nas quais
pode haver variação de pronúncia. Procure identificar a região onde
esses sons são realizados.
2) Localize na, figura abaixo, os pontos de articulação,
nomeando-os.
Fonte: Massini-Cagliari e Cagliari (2003, p.124).
FONES CONSONANTAIS LUGAR DE ARTICULAÇÃO
[f ] , [v]
[k], [g]
[S], [Z]
[tS], [dZ]
[ø], [´]
Figura 15: Ponto de articulação
53
UESPI/NEAD Letras Espanhol
UNIDADE 3
VOGAIS E SEMIVOGAIS DO PORTUGUÊS
• Alfabeto Fonético Internacional;
• Transcrição fonética e transcrição fonológica;
• Símbolos fonéticos de acordo com o IPA;
• Transcrição fonética e variação linguística.
OBJETIVOS
• Caracterizar Fonética e Fonologia;
• Compreender as diferenças entre Fonética e Fonologia;
• Entender o funcionamento do aparelho fonador;
• Reconhecer a importância da Fonética e da Fonologia para o
processo ensino-aprendizagem do futuro professor.
12345678901234567890123456789011234567890123456789012345678901123456789012345678901234567890112345678901234567890123456789011234567890123456789012345678901123456789012345678901234567890112345678901234567890123456789011234567890123456789012345678901
54
Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa
55
UESPI/NEAD Letras Espanhol
3 TRANSCRIÇÃO FONÉTICA
Para falarmos de transcrição fonética, é necessário antes
tratarmos de representação fonética dos sons, que somente
poderão ser realizados com o apoio do Alfabeto Fonético
Internacional. Vamos ver o porquê.
3.1 ALFABETO FONÉTICO INTERNACIONAL
Uma das dificuldades mais flagrantes da língua escrita está
na representação gráfica dos fonemas, fato que ocorre,
praticamente, com todos os “sistemas ortográficos de línguas cuja
ortografia é fono-representativa”, como esclarece Cavaliere (2005,
p. 44). Por exemplo, o fonema /s/ em português pode ser
representado pelas letras s (seda), c (cedo), x (máximo), ç (ração),
além dos dígrafos SC (nascer), xç (exceção), sx (exsudar). Já a
letra x pode representar tanto a consoante /s/, como na palavra
máximo, ou o grupo consonantal /ks/, presente na palavra axioma.
Em alguns idiomas, como o francês, o sistema ortográfico tem forte
influência etimológica, isto é, baseia-se na origem da palavra para
justificar a sua escrita.
Considerando que os estudos fonéticos e fonológicos
exigem uma representação gráfica biunívoca do fonema, ou seja,
procura-se representar cada fonema a apenas um grafema e para
que esse grafema corresponda apenas a um fonema, surgiu a
necessidade de se criar um alfabeto fonético. Desse modo, o
alfabeto fonético é o resumo de uma série de símbolos
convencionais de que se utilizam os foneticistas e fonólogos para
representar graficamente os sons da língua.
Com vistas a unificar as transcrições dos sons,
considerando que suas realizações podem variar de uma língua
56
Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa
Figura 16 Alfabeto fonético internacional
para outra, foi criado o Alfabeto Fonético Internacional (AFI) emportuguês, tendo em inglês a sigla IPA, que quer dizer, InternacionalPhonetic Alphabet. Uma pergunta que pode surgir é: por que usarum alfabeto diferente do alfabeto que se usa para escrever? Aresposta é simples. Como a fonética lida com a substância daexpressão, devemos tentar registrá-la o mais fielmente possível.Portanto, esse sistema permite ao se fazer uso da transcriçãofonética que qualquer falante conhecedor de seus símbolos realizesons de quaisquer línguas. Este alfabeto apresenta tanto asconsoantes quanto as vogais utilizadas nas diferentes línguas domundo.
Na figura a seguir, encontramos a tabela fonéticaInternacional (IPA) com a revisão de 1993 e atualizado em 1996. Atabela está organizada conforme os traços envolvidos na produçãodos sons, isto é, para as consoantes, leva-se em conta o modo dearticulação, o lugar de articulação e a vibração ou não das cordasvocais (surdas ou sonoras). Já para as vogais, levavamos em contao grau de abertura, o grau de arredondamento dos lábios e aposição relativa da língua na boca. Na tabela abaixo, encontramosos símbolos correspondentes aos sons que são produzidos pela
conjunção dos traços.
57
UESPI/NEAD Letras Espanhol
Fonte: http://www.unilang.org/card.php?lang=ia&res=45
Como em nenhuma língua do mundo, a ortografia
corresponde perfeitamente à fonologia nem à fonética, podemos
recorrer, convencionalmente, a esse alfabeto demonstrado acima
com vistas a proceder a uma transcrição fonética ou fonológica.
Caro aluno, você poderia perguntar qual a diferença entre a
transcrição fonológica e a fonética. Diremos que a escrita fonológica
procura reproduzir apenas a língua em sua parte de unidades mínimas
distintivas, já a fonética é muito mais complexa. Ela procura reproduzir
tudo o que um falante nativo diz e da maneira como diz, isto é,
58
Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa
alofonicamente, com todos os dados de fala regional, dialetal e até
idioletal. É a escrita adotada comumente em pesquisa de campo.
3.1 OS DIACRÍTICOS
Geralmente, para fazermos transcrição fonológica ou
fonética, necessitamos de alguns sinais específicos para
representá-la, os quais são denominados diacríticos. Segue abaixo
uma lista desses diacríticos, para facilitar a compreensão dessas
transcrições realizadas neste fascículo:
• [ ] = transcrição fonética entre colchetes, cada unidade
representa um som.
• / / = transcrição fonológica ou fonêmica: entre barras
inclinadas, cada unidade representa um fonema da Língua Portuguesa;
• ‘ = indicação de sílaba tônica: a tônica é a que segue ao
sinal. Ex.: para /‘paRa/ é diferente de Pará /pa ‘Ra/. Note que o que as
diferencia é a posição do acento tônico. Na primeira palavra o
acento recai na primeira sílaba, já na segunda, na última sílaba.
• ~ = indica que uma palavra pode ter mais de uma
possibilidade de realização, significa alterna com. Ex.: [mu ‘´Eh] ~
[mu ‘lE], ou seja, são formas variantes.
• ’! transforma-se ou resulta em. Ex.: [ay] ’! [a]
• ..... = indicação do limite de sílaba. Ex.: [ma.ka.ku]
• * = realização que depende do dialeto. Ex.: ba[ø]o ou
ba[y)]o* (banho) (depende do dialeto).
3.2 TRANSCRIÇÃO FONÉTICA: UTILIDADES
A transcrição fonética é de grande utilidade, visto ser
expressiva não somente nos estudos linguísticos, mas também na
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UESPI/NEAD Letras Espanhol
didática das línguas modernas. Na linguística, a transcrição
possibilita uma referência acurada ao som em estudo, de tal sorte
que não seja confundido com sons semelhantes ou de proximidade
articulatória. Na didática, a transcrição informa, por exemplo, ao
aluno de qualquer língua estrangeira a pronúncia exata de uma
palavra, bem como as variações que essa palavra pode sofrer em
determinada área geolinguística , visto que sua acuidade inclui a
fidedigna expressão dos alofones e marcas prosódica.
3.3 TRANSCRIÇÃO FONOLÓGICA
A transcrição fonológica é diferente da fonética. Na
transcrição fonológica, “apenas os fonemas são presentes. Os
alofones são apresentados por seus respectivos fonemas [...]”
(CRISTÓFARO-SILVA, 2002, p.132). Os fonemas são transcritos
entre barras, enquanto que os fones e alofones entre colchetes.
Caro aluno, você perguntaria: por que ocorrem essas diferenças?
Como já mencionado na unidade I, a Fonética representa as
particularidades da fala de cada indivíduo, ao passo que a
Fonologia relaciona-se à língua, que é o sistema linguístico
compartilhado por todos os falantes.
3.4 TRANSCRIÇÃO FONÉTICA E FONOLÓGICA
A transcrição fonética exige uma acuidade muitogrande, pois é preciso registrar toda e qualquer nuança depronúncia.
O pesquisador deve possuir todos os conhecimentosfonéticos, pois terá que transcrever tudo e tal como o informante fala.
A linguagem humana é articulada, por isso podemos dividir
qualquer enunciado em seus fonemas componentes. Mas, na
É o estudo dasvariações nautilização da línguapor indivíduos ougrupos sociais deo r i g e n sg e o g r á f i c a sd i f e r e n t e s ,conforme registraDubois et al.(2007).
60
Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa
realidade, todo enunciado é um contínuo, é uma sequência em que
os segmentos se inter-relacionam e sofrem influências mútuas.
Estas influências aparecem na fonética. Qualquer vogal, por exemplo,
sofre alteração fonética de acordo coma tonicidade ou atonicidade,
com sua posição relativa às consoantes. Assim, o fonema /a/ sofre
alteração fonética em casa [kaz�]. O primeiro a está em posição tônica
e o segundo, em posição átona, que faz com este seja reduzido.
Vamos, à guisa de ilustração, reproduzir algumas palavras e
frases em ambas as escritas. Lembre-se: nas transcrições fonológicas
adotam-se as barras inclinadas, enquanto na fonética os colchetes.
Há de ressaltarmos que, dependendo da região de origem
do falante, a realização do “r” pode variar e, consequentemente, a
transcrição fonética, por isso a realização do r nas palavras carta e
sair, por exemplo, é apenas uma possibilidade, dentre tantas outras
que o fonema r comporta no português falado do Brasil. No caso,
das duas palavras, o segmento r aparece representado
foneticamente por [h], apontando para uma realização fricativa
aspirada, que é a realizada por pessoas que moram em estados
do sudeste e do nordeste, predominando no nordeste,
principalmente, em Recife e Salvador, conforme constataram as
pesquisas de Callou, Moraes e Leite (1996).
Observemos, a seguir, a transcrição fonética de algumas
palavras isoladas, verificando a forma ortográfica de cada uma das
palavras, seguida de algumas descrições.
a) carreta - [ka ‘het�] = o símbolo [h] representa o som
ortográfico “rr”. É o som produzido com a articulação das cordas
vocais. É também, denominado fricativa glotal surda.
61
UESPI/NEAD Letras Espanhol
b) cisterna - [sis ‘tEún�] = que pode variar a pronúncia para [siS
‘tún�], na primeira o ‘s’ tem uma realização alveolar, no segundo palatal. É
considerado alveolar porque a ponta da língua entre os dentes incisivos
superiores e inferiores, ou a língua contra a parte posterior dos dentes
incisivos superiores toca contra os alvéolos, produzindo o som alveolar. E
será palatal, quando ocorre o contato da parte central da língua com o
palato duro. A primeira realização descrita é comumente adotada no sul e
sudeste; e a segunda, no nordeste brasileiro.
c) escola - [is ‘k�l�] ~ [es ‘k�l�] ~ [Es ‘k�l�] = no caso
destas palavras, pode ocorrer as três realizações, pois trata-se de
um alofone – que é uma realização diferente de um fonema no
mesmo ambiente fonológico. Esta realização vai variar, levando-
se em conta a região geográfica de origem do falante. Geralmente,
quem mora no sul e sudeste tende a fechar as vogais, já quem
mora no nordeste tende a abri-las. Neste aspecto, quem nasceu
no nordeste e, principalmente, se ele for do Ceará as vogais serão
realizadas com um grau de abertura maior, diferentemente,
ocorrerá com que nasceu em outras regiões do sul e sudeste.
d) desisti - [dZ ‘ziStSI] = na realização dessa palavra
aparecem dois símbolos, que representam os sons africados, o
Quadro 07 Transcrição fonológica e transcrição fonética
Transcrição fonológica Transcrição fonética
(1) Anda ! / ‘a)ndA/ [‘a)nd�]
(2) Livro ! / ‘livRo/ [‘livRu]
(3) Vou escrever uma carta - /‘vow eskRe ‘ver ‘uma ‘karta/..... [‘voiskRe ‘ve ‘u)A ‘kaht�]
- ./p�so sa ‘ir ‘oZe/ [p�susA ‘ih ‘oZi]
(4) Posso sair hoje
62
Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa
[dZ] e o [tS], diz-se que o som é africado quando ocorre bloqueio
total à corrente do ar em sua parte inicial e uma obstrução que
produz fricção na parte final de sua articulação, que é exatamente
o que ocorre com sons [dZ] e [tS], quando estiverem sempre
seguidos e pronunciados como [i]. Mas caso alguém não realize
esses segmentos acompanhados de [i], a pronúncia para esta
mesma palavra sofre alteração, que passará a ter a transcrição:
[de ‘ziStSI] ~ [dE ‘iStSI], pelo menos para o primeiro segmento africado
[dZ], dando lugar a [d] ou [dE], produzindo ora som fechado, ora
aberto. Observando-se, portanto, mais um exemplo de alofonia.
e) baralho - [ba ‘Ra´U] = o símbolo [´] representa o som
ortográfico “lh”. É um som palatal, como já dito anteriormente, é aquele
em que a parte central da língua entra em contato com o palato duro.
Além desse som, há aquele representado pelo símbolo [R], que
ortograficamente, representa “rr”. Trata-se de um som vibrante simples,
ou melhor, som resultante de uma batida rápida da ponta da língua na
parte alveolar. Ele é geralmente usado em posição intervocálica, ou
seja, entre vogais, ou seguida de consoante. Servem como exemplo
as palavras: caro, prato garfo etc.
f) chave - [‘Savi] = o símbolo [S] representa ortograficamente
as palavras com “ch” e “x” na língua portuguesa. É um som palatal,
e como já dito, é um som em que a parte central da língua entra em
contato com o palato duro.
Em síntese, para analisarmos a língua do ponto de vista da
oralidade, da fala, registrando todos os detalhes da fala, tal como o
sujeito a realizou, é necessário que façamos sua transcrição fonética.
Para isso, uma possibilidade é lançarmos mão dos símbolos fonéticos
63
UESPI/NEAD Letras Espanhol
que constituem o IPA. Essa transcrição, algumas vezes, pode variar,
dependendo do sistema fonético que está sendo utilizado.
Temos dois tipos de transcrição fonética: um mais amplo e outro
mais restrito. De acordo com Cristófaro-Silva (2002, p.36), elas podem
ser restritas quando “explicita os detalhes observados articulatoriamente”
e amplo é “aquela transcrição que explicita apenas aspectos que não sejam
condicionados por contexto ou características específicas da língua ou
dialeto”. Um exemplo seria a palavra “quilo”, que na transcrita ampla é
[‘kilU], enquanto na restrita seria [‘kJilWU]. Nesta última transcrição aparecem
os detalhes da palatalização de [k] seguidos de [i] e também a labialização
de [l] seguido de [U]. Como podemos ver, na transcrição ampla não levamos
em conta aqueles aspectos considerados secundários na produção dos
sons, a exemplo da palatalização, labialização, velarização etc. Em geral,
é este tipo de transcrição que mais utilizamos no dia-a-dia da sala de aula
ou em pesquisa de caráter dialetal.
3.4.1 Transcrição fonética do português
Para sintetizar o que falamos até aqui, apresentaremos o
alfabeto fonético da língua portuguesa, observando, no quadro
abaixo, os seguintes aspectos para compreendê-lo: na primeira
coluna aparecem as letras do nosso alfabeto; na segunda,
apresentamos a classificação dos símbolos; na terceira,
apresentamos o símbolo fonético das letras. Na quarta,
apresentamos um exemplo ortográfico. As letras em negrito, no
exemplo ortográfico, correspondem ao símbolo fonético. E na quinta
coluna expomos a transcrição fonética do exemplo.
64
Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa
Quadro 08 Alfabeto fonético do Português
65
UESPI/NEAD Letras Espanhol
66
Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa
3.5 SÍNTESE DA UNIDADE
Nesta aula, analisamos a transcrição fonética do alfabeto
da língua portuguesa brasileira. Transcrição fonética é a escrita
realizada com auxílio de símbolos entre colchetes de um alfabeto
estabelecido por uma convenção. É uma tentativa de se registrar
de forma clara o que se passa na fala de qualquer língua. A
convenção bastante difundida é o alfabeto proposto pela sociedade
internacional de fonética, denominado alfabeto fonético
internacional.
Para verificar o que estudamos nesta unidade, passemos
agora às atividades com vistas a checar o que aprendemos.
Comecemos pelo fórum de discussão.
FÓRUM DE DISCUSSÃO
1) Sabemos que os falantes nativos de uma língua
distinguem-se em face do que popularmente se denomina sotaque.
Um levantamento dos variados sotaques dos brasileiros é de caráter
fonético ou fonológico? Explique.
ATIVIDADE I
1) De acordo com a sua pronúncia, transcreva foneticamente
as palavras que se seguem:
a) Exílio:
b) Mangueira:
c) Casamento:
d) Ajudante:
e) Chave:
67
UESPI/NEAD Letras Espanhol
f) Costa:
g) Congelados:
h) Tia:
i) Diário:
2) Indique a forma ortográfica de cada uma das palavras
que se seguem:
a) [‘sEk«]
b) [‘hEt«]
c) [‘p�sI]
d) [‘mi)tU]
e) [‘bRuS«]
f) [is ‘kl«]
g) [‘aZ«]
h) [‘sop«]
i) [‘tSi«]
j) [dZiabU]
l) [‘SeRU]
ATIVIDADE II
1) Apresente para cada um dos sons, abaixo, uma palavra
ortográfica.
a) [tS] =
b) [m] =
c) [k] =
d) [Z] =
e) [R] =
f) [S] =
68
Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa
2) Dê exemplos em forma ortográfica e fonética de cada
um dos sons consonantais do português listados a seguir:
Som Ortografia Fonética
a) [p]
b) [dZ]
c) [t]
d) [z]
e) [ø]
f) [l]
g) [h]
h) [s]
i) [d]
j) [Z]
k) [S]
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UESPI/NEAD Letras Espanhol
UNIDADE 4
VOGAIS E SEMIVOGAIS DO PORTUGUÊS
• Funcionamento do sistema vocálico da língua portuguesa;
OBJETIVOS
• Compreender o funcionamento do sistema vocálico da língua
portuguesa no Brasil;
• Classificar os sons vocálicos da língua portuguesa;
• Identificar palavras que apresentam semivogais; Identificar palavras
que apresentam ditongos;
• Reconhecer as vogais orais do português brasileiro;
• Apontar as vogais nasais do português brasileiro.
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70
Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa
1234567890123456789012345678912345678901234567890123456789123456789012345678901234567891234567890123456789012345678912345678901234567890123456789123456789012345678901234567891234567890123456789012345678912345678901234567890123456789
71
UESPI/NEAD Letras Espanhol
4 VOGAIS E SEMIVOGAIS DO PORTUGUÊS
4.1 INTRODUÇÃO
De imediato você poderia perguntar: em que se difere
afinal um som consonantal de um vocálico? Na aula anterior, vimos
que as consoantes são sons produzidos por um fechamento ou
estreitamento do aparelho fonador, ou melhor, se dá com bloqueio
total ou parcial à passagem do ar no trato vocal. Já a produção dos
sons vocálicos ocorre sem bloqueio à passagem de ar na cavidade
do trato vocal. Diferentemente das consoantes, as vogais
constituem núcleo de sílaba e sobre elas pode recair o acento
(CALLOU; LEITE, 2001).
O português tem uma das fonologias mais ricas das línguas
românicas. As vogais do português classificam-se em: orais e
nasais. As vogais são orais quando o palato mole está levantado,
impedindo a passagem do ar pela cavidade nasal, obrigando-o
passar pela boca. Os sons são nasais, quando se dá o
abaixamento do palato mole e a corrente do ar entre na cavidade
nasal, que é expulso pelo nariz. A nasalidade, em português, é
marcada com um til acima da vogal, como se verifica, por exemplo,
em [a)] (CRISTÓFARO-SILVA, 2002).
4.2 CLASSIFICAÇÃO DAS VOGAIS DO PORTUGUÊS
Para a descrição dos sons vocálicos, levamos em conta
três fatores: altura do corpo da língua, posição da língua e
arredondamento dos lábios.
A altura do corpo da língua diz respeito à altura que a
língua ocupa no trato vocal durante a produção de um som.
72
Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa
Quando, por exemplo, dizemos pi, pé, pa, notamos que a língua
vai abaixando no trato vocal. Desse modo, “o espaço vertical oral
para o escape de ar em [a] é maior do que em [i]”, como informam
Santos e Souza (2003, p.23). Os graus de altura da língua são
quatro:
a) Alto : são os sons em que a língua está mais alta e,
portanto, o trato vocal está mais fechado para o escape do ar. Por
essa razão, esses sons também são denominados de fechados.
São exemplos de sons vocálicos altos os primeiros sons vocálicos
em Ivo e chuva.
b) Médio-alto : Conhecidos, também, como meio-fechado.
Ao pronunciarmos o “e” e o “o” note que ocorre uma leve abertura,
a língua abaixa um pouco em relação aos sons de “i” e “u”. Logo, o
“e” e o “o”, quanto á altura, são vogais média-altas, representadas
através dos símbolos fonéticos [e] e [o]. Servem como exemplos de
vogais média-altas as primeiras vogais das palavras pêssego e poço.
c) Médio-baixo : essa abertura aumenta mais quando
articulamos o é e o ó. Por isso essas vogais, quanto à altura, são
média-baixas. É conhecido também como um som meio-aberto.
Os primeiros sons vocálicos de peça e posso são exemplos de
sons vocálicos médio-baixos, representadas pelos símbolos
fonéticos [E] e [�].
d) Baixo : é o maior grau de abertura vertical, em que a
língua se encontra mais baixa . É também conhecido como aberto.
Há, portanto, o maior grau de abertura à passagem da corrente do
ar. É exemplo de som vocálico baixo o primeiro som vocálico de
casa. Esse som é representado pelo símbolo fonético [a].
Somente a altura não é suficiente para a classificação dos
sons vocálicos, visto que não distingue os sons [i] e [u], já que
ambos são altos. “Quando esses sons são pronunciados, percebe-
73
UESPI/NEAD Letras Espanhol
se que há duas diferenças entre eles: a posição da língua e o
arredondamento dos lábios” (SANTOS E SOUZA, 2003, P.23).
A posição da língua compreende o eixo horizontal da área
vocálica, visto que está relacionada à movimentação da língua para
frente (anterior) ou para trás (posterior), o que altera a cavidade
oral. Neste aspecto, quanto à posição, a língua apresenta três
critérios:
a) Anterior : a língua se projeta em direção aos lábios. Ao
pronunciarmos o “e”, o “é” e o “i”, a língua eleva-se na região
localizada à frente da cavidade bucal. Portanto, essas vogais são
anteriores, representadas pelos símbolos fonéticos [e], [E] e [i]. São
exemplos de sons anteriores os sons vocálicos de ser e café.
b) Posterior : a língua está mais retraída, em direção à
faringe. Quando articulamos o “o”, o “ó” e o “u”, a elevação se dá na
parte final do trato vocal. Por essa razão, o “o”, “ó” e o “u” são vogais
posteriores, representadas pelos símbolos fonéticos [o], [�] e [u].
São exemplos de sons posteriores os primeiros sons vocálicos de
poço, posso e tu.
c) Central : a língua está em posição neutra, nem projetada
para a frente, nem retraída. Ao pronunciarmos o “a”, a língua eleva-
se entre a parte anterior e a posterior. Nesse caso, a língua está
em posição de descanso. Portanto, o “a” é uma vogal central,
representada pelo símbolo fonético [a]. Por exemplo, a primeira
vogal da palavra cama identifica a vogal central.
Por fim, o último aspecto a ser considerado na produção
dos sons vocálicos é o arredondamento dos lábios. Como já
mencionado, [i] e [u] não diferem apenas em relação à posição do
corpo da língua, elas servem também se diferenciarem quanto ao
arredondamento: enquanto o [u] é produzido com os lábios
arredondados, a produção do [i], por exemplo, configura-se com
74
Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa
os lábios estendidos, ou não arredondados. Portanto, são essas
as duas formas de protusão labial:
a) Arredondados : é quando os lábios f icam
arredondados. Ao pronunciarmos o “o”, o “ó” e o “u” percebemos
o arredondamento dos lábios. Portanto, o “o”, o “ó” e o “u” são
vogais arredondadas, representadas pelos símbolos fonéticos
[o], [�] e [u]. Servem como exemplo desse tipo de vogal as
palavras ovo, posso e uva.
b) Não-arredondados : é quando os lábios ficam
estendidos. Ao pronunciarmos o “a”, o “e”, o “é” e o “i”. Por isso
essas vogais são não-arredondadas, representadas pelos símbolos
fonéticos [a], [e], [E] e [i], respectivamente.
Vejamos a representação das vogais arredondadas
e não-arredondadas nas figuras a seguir.
No quadro 09, a seguir, apresentaremos uma síntese da
classificação das vogais faladas no português do Brasil, como
descrita na seção anterior.
Figura 17 - Posicionamento dos lábios
75
UESPI/NEAD Letras Espanhol
Sintetizando, para se descrevermos os sons vocálicos,
levamos em consideração a posição da língua, em termos de altura
e de anterioridade/posterioridade, e o arredondamento dos lábios.
Em relação à altura da l íngua, as vogais são
classificadas em alta , que significa menor abertura à passagem
do ar, pois a língua está no alto da boca – [i] e [u]; média–alt a,
leve abertura, a língua abaixa um pouco – [e] e [o]; média–baixa ,
é quando a abertura aumenta mais, representada pelos fonemas
[E] e [�]; baixa , a língua está totalmente baixa, há maior grau de
abertura à passagem do corrente do ar – representado pelo
segmento [a].
Na produção dos sons vocálicos, anterioridade e
posterioridade referem-se à posição da língua na horizontal. A
língua é dividida em três partes simétricas: anterior – elevação da
língua na região localizada à frente da cavidade bucal –[e], [E] e [i],
posterior – elevação da língua na região localizada na parte final
da cavidade bucal – [o], [�] e [u] e central – elevação da língua na
região entre a parte anterior e a posterior – [a].
Quanto ao arredondamento dos lábios, temos as vogais
não-arredondadas – posição em que os lábios ficam estendidos
– [], [e], [E] e [i] e arredondadas – os lábios ficam arredondados,
ocorre, como já dito, uma protusão labial, conforme ilustra a figura
a figura 14, na página anterior.
ANTERIOR CENTRAL POSTERIOR
ALTA [i], [i)] [u], [u)]MÉDIA-ALTA [e], [e)] [o], [o)]MÉDIA-BAIXA [E] [�]BAIXA [a], [a)]
NÃO-ARREDONDADAS ARREDONDADAS
Quadro 09 classificação das vogais
76
Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa
Na figura 18, as vogais aparecem representadas em um
triângulo. Você pode perceber a posição das vogais para entender
melhor o que acabamos de analisar, por exemplo, [a] vogal mais baixa,
[i] e [u] vogais mais altas, [a] vogal central, [o] e [u] vogais posteriores.
Na próxima seção, trataremos das semivogais. A semivogal se
apresenta com uma vogal em uma única sílaba e, juntas, formam o ditongo.
4.3 SEMIVOGAIS
As semivogais são fonemas assilábicos que se aproximam
de um som de vogal, mas soam fracamente, assemelham-se porque
se juntam a uma vogal para formar uma sílaba. Por exemplo, na palavra
mau, a letra “u” é uma semivogal e “a” é uma vogal.
De acordo com Crystal (2000, p. 234), a semivogal é termo
usado na classificação dos sons consonantais, baseado em seu
modo de articulação. Assim, segundo ele:
Figura 18 – Representação esquemática da área vocálica.
77
UESPI/NEAD Letras Espanhol
refere-se aos sons que funcionam com umaconsoante, mas não tem características FONÉTICASnormalmente associados às consoantes (comofricção e fechamento); ao contrário, apresentam aQUALIDADE fonética de uma vogal, ainda que, porocorrerem nas MARGENS de uma SÍLABA, a suaDURAÇÃO SEJA MUITO MENOR DO QUE A DASVOGAIS TÍPICAS (grifos do autor).
Pela definição acima, percebemos que as semivogais,
também denominadas glides, não têm características tão precisas
quanto as consoantes ou as vogais. Elas podem apresentar
características fonéticas de vogais e de consoantes. Contudo, no
português elas são classificadas como sons vocálicos.
(CRISTÓFARO-SILVA, 2002).
Podemos acrescentar que a semivogal se apresenta com
uma vogal em uma única sílaba e, juntos, formam o ditongo.
Portanto, os sons vocálicos, diferentemente dos consonantais, são
produzidos sem bloqueio à passagem do ar e são classificados
conforme o movimento da língua e o dos lábios.
As semivogais, também denominadas de glides, podem
apresentar características de vogais e consoantes. No português,
elas são classificadas como sons vocálicos. Elas são transcritas
foneticamente por [I,U].
4.3.1 Classificação
As semivogais para alguns especial istas são
classificadas ora como consoantes ora como vogais, e alguns
lhes dão classificação à parte, como informa Paulino (1987).
A classificação dos fonemas decorre de traços fonéticos
acústicos e/ou articulatórios; por essa razão, consideramos
inadequada a inclusão delas entre as consoantes, uma vez que as
78
Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa
características fonéticas das semivogais se assemelham às das
vogais [i] e [u]. Desse modo, incluí-las entre as vogais pode levar o
iniciante a conclusões falsas no estudo da sílaba, ou mesmo a não
distinguir o [y] do [i], o [w] do [u]. Neste sentido, é mais coerente
classificá-las à parte, visto que quando a análise se restringir ao
aspecto fonético, “considerá-las-emos entre as vogais; quando se
referir ao aspecto fonológico, considera-las-emos consoantes”,
como assegura Paulino (1987, p. 83).
Tomando a análise nesta perspectiva, um único critério é
necessário para distinguir as duas semivogais, a posição da língua.
Nesta ótica, como o [y] equivale, foneticamente, a [i], e [w], o primeiro
à ANTERIOR e o segundo, POSTERIOR. Logo:
/y/ = semivogal, anterior;
/w/ = semivogal, posterior.
4.3.2 Análise de alguns aspectos das semivogais
Uma das maiores dificuldades encontradas pelo iniciante no
estudo dos fonemas, principalmente, os semivogais, decorre em virtude
da forte influência da modalidade escrita, norma culta. Isso ocorre porque
no uso escrito, esses fonemas não possuem um grafema definido que os
represente. Além disso, em alguns enunciados orais, as semivogais “não
gozam de qualquer representação gráfica”, no entendimento de Paulino
(1987, p. 84). Vejamos alguns exemplos extraídos também de Paulino
(1987, p.84), abaixo relacionados:
1) [abe)s ‘oy] = abençoe [pay] = pai [paw] = pau
2) [Z�h ‘naw] = jornal [‘pay�] = palha [Eyu] = velho
3) [‘ka)ta)w] = cantam [be ‘beRa)w] = beberam [ta) ‘be)y] =
também
79
UESPI/NEAD Letras Espanhol
Podemos depreender que em (1), entre as letras vogais, o [y]
tem dois símbolos: E e I, o [w], também dois: O e U. Isso quer dizer
que, dentre as cinco letras-vogais, apenas A não representa semivogal.
Nos exemplos de (2), o [w] poderá ser representado por L
ou R, enquanto o [y], pelo conjunto das letras LH. A transcrição
fonética aproximada das palavras palha e velho, por exemplo, pode
ser verificada, com alta frequência, entre indivíduos de baixa
escolaridade em certas regiões geográficas do Brasil.
Já em (3), o [w], em sílaba átona e em final de palavra, é
representado, na escrita, pela letra M, quando antes dela vier o
segmento fônico [a)]; o [y], em sílaba tônica ou átona e em final de
palavra, é representado pela letra M ou N.
Pelo apresentado acima, confirmamos a natureza híbrida
da semivogal, até na relação oral-escrita, representada por letra-
vogal ou letra-consoante.
Além desses exemplos arrolados anteriormente, outros
podem ser apontados, tais como:
(4) [meys] ~ [meyS]= mês [pays] ~ [payS]= paz
Exemplos como os de (4), em que o [s] ou [S] final é
antecedido por uma vogal tônica, na modalidade oral, é freqüente,
aqui no Brasil, a presença do [y] entre a vogal tônica e o [S] final.
Contudo, essa semivogal não tem qualquer representação na
escrita. (PAULINO, 1987).
Observemos que as semivogais podem ocorrer em quatro
posições em relação à vogal:
Antes ou depois de vogal tônica;
Antes ou depois de vogal átona;
Antes e depois de vogal tônica;
Antes e depois de átona.
80
Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa
4.3.1.1 Antes e depois de vogal tônica
/’kwahtu/ = quarto
/sEh ‘ta)w/ = sertão
/E ‘bRayku/ = hebraico
4.3.1.2 Antes ou depois de vogal átona
/saw ‘dah/ = saudar ou saldar
/pay ‘zaZe)y/ = paisagem
/ya ‘ya/ = Iaiá
4.3.1.3 Antes e depois de vogal tônica
/igwaw/ = igual /i ‘gways/ = iguais
Além disso, merece destaque um fenômeno que envolve
as combinações [y + vogal + vogal] ou [y + vogal + w]. Elas são
eventuais na Língua portuguesa. Isto significa que estão
dependentes da situação de comunicação, e para analisá-las
devemos levar em conta, também, aspectos da influência regional
ou cultura, como informa Paulino (1987).
4.3.1.4 Antes e depois de vogal átona
/‘agwa)w/ = águam (verbo) /‘agwe)y/ = ágüem (verbo)
Merece destaque ainda a situação em que a semivogal
se encontra entre duas vogais, como ilustram os exemplos a
seguir:
81
UESPI/NEAD Letras Espanhol
/may ‘�h/ = maior /g�y ‘ab�/ = goiaba /piaw ‘i/ = Piauí
Observemos que, pronunciando-se lentamente cada um
desses exemplos, “perceberemos que a semivogal se apoia nas
duas vogais, havendo, portanto, um prolongamento, como se ela
funcionasse” como uma “ponte de transição entre duas sílabas”,
na interpretação de Paulino (1987, p. 87). O mesmo não se verifica
na divisão sílaba gráfica, quando se percebe que a semivogal fica
na sílaba anterior: mai-or, goi-a-ba, etc.
4.4 VOGAIS ORAIS DO PORGUTUÊS
Na língua portuguesa, as vogais orais classificam-se em
tônicas , pretônicas ou postônicas . Por exemplo, na palavra café
[ka ‘fE], a sílaba tônica é a última. As vogais tônicas têm o acento
primário.
As vogais pretônicas são aquelas que vêm antes da sílaba
tônica. Por exemplo, na palavra abacaxi [abaka ‘Si], a vogal tônica é
‘i’, logo em todas as outras, o [a] é pretônico.
As vogais postônicas são as que se apresentam depois
da tônica. Elas podem ser postônicas medial ou final. A postônica
medial aparece em palavras proparoxítonas entre a tônica e a
pretônica final. A postônica final aparece no final da palavra. Por
exemplo, na palavra “matemática”, a vogal tônica é o segundo [a].
Portanto, o [i] é postônico medial, e o último [a] é postônico final.
4.4.1 Vogais tônicas orais
Como vimos anteriormente, as vogais tônicas carregam
o acento primário das palavras. De maneira geral, elas se
82
Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa
apresentam de forma homogênea em todas as variedades da
língua portuguesa. Nos exemplos ortográficos a seguir, elas
aparecem destacadas em negrito: pé [‘pE], pó [p�], você [vo ‘se],
alô [a ‘lo], urubu [uRu ‘u] (CRISTÓFARO-SILVA, 2002). O quadro
10, abaixo, apresenta as vogais tônicas orais da língua portuguesa.
Ressaltemos que, como em toda língua, verificamos a
variação dialetal, e com relação às vogais tônicas orais, essa
variação ocorre em um grupo restrito. Por exemplo, em palavras
como “ele” [eli], “fecha” que pode tanto se realizar como [‘feSa]
ou como [‘fESa]. O mesmo ocorre com a palavra “extra” realizada
ora [‘eStRa] ou [‘EStRa]. Como percebemos, há sempre duas
pronúncias possíveis para as vogais tônicas orais [e, o] ou [E, �].
(CRISTÓFARO-SILVA 2002).
4.4.2 Vogais pretônicas orais
As vogais pretônicas são aquelas que vêm sempre antes
da sílaba tônica. A gosso modo, as vogais [i,e, a,o,u] pretônicas
são pronunciadas de maneira idêntica nas variedades da língua
portuguesa, como assegura Cristófaro-Silva (2002). Nos exemplos
“Pelé” [pE ‘lE], você [vo ‘se], urubu [uRuuuuu ‘bu], podemos verificá-las na
primeira sílaba de cada uma das palavras.
Quadro 10 Classificação das vogais tônicas orais
ANTERIOR CENTRAL POSTERIOR
ALTA [i] [u]MÉDIA-ALTA [e] [o]MÉDIA-BAIXA [E] [�]BAIXA [a]
NÃO-ARREDONDADAS ARREDONDADAS
83
UESPI/NEAD Letras Espanhol
Contudo, em alguns dialetos, as vogais pretônicas [e] e [o] podem
variar. Por exemplo, nas palavras “menino” e “moleque”, elas podem ser
realizadas com [e,o], [i,u] ou [E,�], respectivamente. A seguir, apresentaremos
o quadro das vogais pretônicas orais do português do Brasil.
Desse quadro, algumas ocorrem apenas em algumas variações
dialetais. É o caso das vogais médias-baixa [E] e [�], e da vogal central [«],
realização observada na palavra como cama, por exemplo.
4.4.3 Vogais postônicas orais médias
As vogais postônicas mediais aparecem sempre em palavras
proparoxítonas entre a tônica e a postônica final. Na concepção de
Cristófaro-Silva (2002), ocorre uma grande variação de pronúncia das
vogais nessa posição. O uso formal dessas vogais corresponde ao
da grande maioria dos nossos dialetos. Por exemplo, no Nordeste,
há com frequência o uso das vogais [E,�]. O quadro 12, a seguir,
apresenta as vogais postônicas orais do Português.
Quadro 11 Vogais pretônicas orais
ANTERIOR CENTRAL POSTERIOR
ALTA [i] [I] [u] [U]
MÉDIA-ALTA [e] [o]
MÉDIA-BAIXA ([E])* ([«])* ([�])*
BAIXA [A]
NÃO-ARREDONDADAS ARREDONDADAS
Quadro 12 Vogais postônicas orais mediais ANTERIOR CENTRAL POSTERIOR
ALTA [i] [I] [u] [U]
MÉDIA-ALTA [e] [o]
MÉDIA-BAIXA [E] [«] [�]
BAIXA [A]
NÃO-ARREDONDADAS ARREDONDADAS
84
Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa
A grande maioria dos dialetos do Português brasileiro
adota as vogais postônicas mediais [i,A,u] na sua forma reduzida:
[I,«,U],, respectivamente. Algumas vogais reduzem-se a zero, como
observamos nas palavras “chácara” e “fósforo”, que na língua falada,
muitas vezes, é pronunciada “chacra” e “fosfro”, sem a postônica
medial, resultando, então, no processo de síncope .
4.4.4 Vogais postônicas orais finais
As vogais postônicas finais são aquelas que se
apresentam depois da tônica. A postônica final aparece no final da
palavra. Ela corresponde ao gênero de substantivos e adjetivos (i,
e, a, o) e à vogal temática de verbos (a, e, i).
Em posição postônica, a pronúncia das vogais [i,e,a,o],
ocorre em poucos dialetos. Nesses poucos dialetos, elas são
pronunciadas do mesmo modo que as vogais tônicas.
Os falantes não têm consciência do uso das vogais. Para
a maioria, as vogais postônicas são diferentes das pretônicas e
das tônicas. As vogais [i, e] apresentam a pronúncia [I], a vogal [a]
é pronunciada [«], e as vogais [o, u] realizam-se como [U], como
nos informa Cristófaro-Silva (2002). Isso pode ser observado na
pronúncia das seguintes palavras: “biquíni” [bi ‘kinI], “fome” [fo)mI],
“rosa” [‘h�z«] e “mato” [‘matU]. O quadro 13, abaixo, apresenta as
vogais postônicas orais do Português.
Quadro 13 – Vogais postônicas orais
ANTERIOR CENTRAL POSTERIOR
ALTA *([i]) [I] [u] [U]
MÉDIA-ALTA ([e])* ([o])*
MÉDIA-BAIXA [«]
BAIXA ([A])
NÃO-ARREDONDADAS ARREDONDADAS
A síncope é umfenômeno muitofrequente dedesaparecimentode um ou maisfonemas no interiorde uma palavra. Asvogais e sílabasátonas estãoparticularmentesujeitas a isso,como informaDubois et al(2007).
85
UESPI/NEAD Letras Espanhol
Destacamos que as vogais que aparecem entre parênteses
e com asteriscos apresentam variação dialetal, pois elas aparecem
somente em alguns dialetos falados no português brasileiro.
Segundo Hora (2009), o sistema vocálico apresentado por
Câmara Jr.(1977) é o mais reduzido. Das sete vogais em posição
tônica, resta apenas três: /i,a,u/, que poderão ser apresentadas, no
quadro 14, assim:
De acordo com informações colhidas em Hora (2009,
p.22), “considerando os estudos realizados no sul do Brasil, este
quadro não se revela categórico”, visto que é possível encontrar
variáveis médias de segundo grau e altas convivendo. Tal variação
é resultado, sobretudo, da colonização, conforme Hora (2009). Um
exemplo disso são as variações de pronúncias arroladas pelo
mesmo linguista, como mostra o quadro 15, abaixo:
A compreensão da variabilidade apresentada pelas vogais
é apenas uma etapa mais essencial para se realizar futuros estudos,
na língua portuguesa, com vistas a uma sistematização do
português falado no Brasil, sendo também uma forma de avaliar
os processos adotados na língua em geral.
Quadro 14 Vogais tônicas reduzidas
Altas /i/ /u/Baixas /a/
Variação (1) Variação (2)
Leit[e] Leit[I]
Dent[e] Dent[I]
Gat[o] Gat[U]
Post[o] Post[U]
Quadro 15 Vogais postônicas orais mediais
86
Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa
4.4.5 Vogais nasais
Há muitas discussões em torno das vogais nasais. Duas são as
teorias mais importantes. Uma delas afirma que as vogais nasais são
fonemas de direito e de fato, independentes das vogais orais. Outra
argumenta em sentido contrário: são apenas alofones das vogais orais,
alofones por posição. Esta última nos parece a melhor e mais acertada.
Esta também é defendida por Câmara Jr. (1977), considerado o mais
eminente linguista brasileiro. Segundo este linguista há uma distinção entre
nasalidade fonética e nasalidade fonológica.
A nasalidade fonética é a que não estabelece distinção
de significado, como a que ocorre nas palavras “camelo” e
“banana”, que se realizam alternativamente como [ka)melU], [ba)na)n«]
ou como [kamelU], [bana)n«], respectivamente.
Enquanto na nasalidade fonológica ocorre alteração de
significado, a exemplo de “canto” realizada [ka)tU] e “cato”
pronunciada [katU]. Notemos que a não nasalização da vogal
[a], no segundo exemplo, gerou outro item lexical com significado
totalmente diferente do anterior.
De fato, se observarmos a ocorrência de vogais nasais,
ou melhor, nasaladas, verificaremos que sua posição é bem
determinada e até predizível. Sempre que uma vogal oral vem
seguida de uma consoante nasal, esta exerce sua influência
sobre a vogal, nasalando-a: cata – canta; casa – cansa; teso –
tenso; lido – lindo; sito- sinto, etc.
Nos casos em que houver um par mínimo em que a
oposição está entre vogal oral e nasal, teremos um novo fonema.
É o caso observado para a nasalidade fonológica.
Do ponto de vista articulatório, uma vogal nasal é verificada
quando ocorre o abaixamento do palato mole, que deixa a corrente
87
UESPI/NEAD Letras Espanhol
do ar entrar na cavidade nasal. A nasalidade é marcada com um til
acima da vogal [a)].
As vogais nasais ocorrem em final de palavra tônica,
como em “lã” [‘la)]; em sílaba postônica final, como em “irmã” [ih
‘ma)]; no interior da palavra como tônica, a exemplo de “canto”
[‘ka)tU] ou pretônica, como em “cantora” [ka)toRA] (CRISTÓFARO-
SILVA, 2002).
A nasalidade pode ocorrer como variação dialetal.
Geralmente isso ocorre quando a vogal é seguida por uma
consoante nasal [m, n, ø], como em “banana”, que pode ser
pronunciada com o primeiro “a” nasal ou não, como [ba)na)n«] ou
[bana)n«]. O quadro 16 exibirá as vogais nasais do português
brasileiro.
Como não há distinção entre as vogais nasais médias-
baixas [E,�] e as médias-altas [e, i], adotou-se apenas os símbolos
[ ), i)] (CRISTÓFARO-SILVA, 2002).
Em geral, os estudos variacionistas realizados e os que
ainda serão implementados, certamente terão aplicabilidade no
futuro próximo, no ensino do português, especialmente no nível
fundamental, pois muitas vezes os alunos fazem certos
questionamentos sobre determinado aspecto da língua e nós,
professores, silenciamos pela falta do conhecimento teórico, e
ficamos sem responder a essas perguntas.
Quadro 16 Vogais nasais
ANTERIOR CENTRAL POSTERIOR
ALTA [i)] [u)]
MÉDIA [e)] [o)]
BAIXA [a)]
NÃO-ARREDONDADAS ARREDONDADAS
88
Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa
4.5 DITONGOS
O ditongo se caracteriza pelo encontro de uma vogal
silábica, quer tônica, quer átona e uma vogal assilábica. Em outras
palavras, o ditongo é um termo comumente utilizado para designar
um encontro vocálico em uma mesma sílaba. De acordo com a
Gramática Tradicional, os ditongos são classificados em
crescentes e decrescentes. São crescentes quando há uma
semivogal, seguida de uma vogal, e decrescentes quando a vogal
é precedida da semivogal.
Na linguística, os ditongos são também caracterizados
como uma sequência se fonemas vocálicos. No entanto, tais
fonemas assumem qualidade diferente na realização, sendo uma
das vogais da sequência realizada como semivogal, denominada
e conhecida de glide.
As semivogais são vogais assilábicas, isto é, não ocupam a
margem do núcleo silábico, pois não apresentam proeminência
acentual para ser o centro da sílaba, como ocorre com as vogais. De
acordo com Hora (2009, 24) “o português apresenta dois segmentos
que se caracterizam como semivogal: o [j], que muitas vezes é
representada pelo [y], e o [w]”, como ilustram os exemplos (1)
(1) le[j]te
bo[j]
pa[w]ta
me[w]
Em torno do glide, há uma discussão acirrada: eles devem
ser considerados segmentos vocálicos ou consonantais? Para
responder a essa questão mais uma vez recorre-se a Câmara Jr.
Termo do inglêsusado em fonéticapara indicar umsom det r a n s p o s i ç ã oquando os órgãosda fala semovimentam emdireção a umaarticulação ou seafastam dela.Como não sãonem consoantesnem vogais, osglides costumamser denominadossemiconsoantesou semivogais (têmuma qualidadevocálica e umad i s t r i b u i ç ã oc o n s o n a n t a l )(CRYSTAL, 1988,
p.126).
89
UESPI/NEAD Letras Espanhol
(1983), que adota o argumento do comportamento do “r” na palavra,
e segundo o qual o glide como segmento vocálico, em fronteira de
sílaba, o “r” é sempre realizado como brando depois de vogal, a
exemplo de “mora” e forte depois de consoante, como observamos,
por exemplo, na palavra “honra”. Quando o r aparece depois de um
ditongo, este é realizado como brando, como observamos na palavra
“europeu”, o que justifica o status vocálico de glide (HORA, 2009).
Desse modo, os ditongos definem-se pela presença de
uma vogal mais um glide numa sequência. Vale frisar que esses
dois segmentos fazem parte da mesma sílaba, diferindo do que se
costuma de hiato, que são duas vogais em sequência, porém
mantêm a sua qualidade, ou melhor, nenhuma das duas é semivogal,
estando em sílabas distintas. Observemos as palavras “pais” [‘pajs]
e país [pa ‘js], em que na primeira, temos um ditongo, já na segunda
um hiato (HORA, 2009).
Há outra discussão sobre os ditongos na língua portuguesa,
a que classifica como verdadeiros ditongos somente os
decrescentes. Eles são formados por vogal + semivogal; diferindo-
se dos ditongos crescentes (semivogal + vogal), não existindo na
origem das palavras e, por essa razão, podem variar livremente
com o hiato. Temos como exemplo a palavra “suar”, que pode ser
realizada ora como [‘swah] e ora [su ‘ah]. No português, há somente
um tipo de ditongo crescente que não alterna com hiato, são os
formados pela seqüência de consoantes oclusivas /k/ ou /g/ mais a
semivogal /w/, seguida de /a/ ou /o/. Um exemplo é a palavra “qual”
[‘kwaw], conforme Hora (2009).
Os ditongos nasais são sempre decrescentes, como você
pode observar nos exemplos a seguir: “mãe” [ma)j], “bem” [be)j].
Observe que o som de [e] e [m] nas duas palavras realizam-se
como [I].
90
Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa
Outro fato interessante a ser destacado aqui é o do glide
originado da vocalização do “l”, para o qual chama atenção
Cristófaro-Silva (2002). No caso da vocalização, o “l” é
representado foneticamente por [w]. Dessa forma, na palavra bolsa,
a transcrição fonética desta palavra é [‘bowsA], em que se observa
a vocalização desse som, ou seja, o “l” passa a realizar-se como
[w], portanto, como vogal.
Para finalizar, vamos falar do tritongo. O tritongo
caracteriza-se como o encontro de dois ditongos com a mesma
vogal silábica, sendo as outras duas, a anterior e a posterior
assilábicas. Para Cristófaro-Silva (2002), eles são denominados
de consoantes complexas. Por exemplo, segundo essa linguista, na
palavra “quais”, há “uma sequência de oclusiva velar-glide (consoante
complexa) seguida de um ditongo decrescente: [kWAIs]”.
4.6 SÍNTESE DA AULA
Nos sons vocálicos, ocorre o estreitamento da cavidade
bucal devido à aproximação da língua e do palato sem qualquer
bloqueio à passagem do ar. As vogais constituem núcleo de sílaba
e sobre elas pode recair acento. Elas podem ser orais (o ar sai
pela boca) ou nasais (o ar sai pelo nariz).
Para descrevermos os sons vocálicos, levamos em
consideração a posição da língua, em termos de altura e de
anterioridade/posterioridade, e de arredondamento dos
lábios.
Em relação à altura da língua, as vogais são classificadas
em: alta (menor abertura à passagem do ar, pois a língua está no
alto da boca – [i] e [u]; média-alta (leve abertura, a língua abaixa
um pouco –[e] e [o]); média-baixa (abertura aumenta mais –[E] e
91
UESPI/NEAD Letras Espanhol
[�]); baixa (a língua está totalmente baixa, há o maior de e abertura
à passagem da corrente de ar – [a]).
Na produção dos sons das vogais, anterioridade e
posterioridade referem-se à posição da língua na horizontal. A língua
é dividida em três partes simétricas: anterior (elevação da língua
na região localizada à frente da cavidade bucal – [e], [E] e [i]),
posterior (elevação da língua na região localizada na parte final
da cavidade bucal – [o], [�] e [u]) e central (elevação da língua na
região entre a parte anterior e a posterior – [a]).
Quanto ao arredondamento dos lábios, temos as vogais
não-arredondadas (os lábios ficam estendidos –[a], [e], [E] e [i])
e arredondada s (os lábios ficam arredondados –[o], [�], e [u]).
As semivogais, também denominadas de glides, podem
apresentar características fonéticas de vogais e consoantes. No português,
elas são classificadas como sons vocálicos. A semivogal se apresenta
com uma vogal em uma única sílaba e, juntas, formam o ditongo.
FÓRUM DE DISCUSSÃO
1) O que você entende por Sistema fonológico? Explique.
ATIVIDADE I
1) Nas palavras a seguir, grife as vogais tônicas e indique
o símbolo fonético delas.
a) [ ] balé
b) [ ] japonês
c) [ ] poço
d) [ ] índio
e) [ ] pássaro
92
Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa
2) Indique o símbolo fonético das vogais postônicas finais
das seguintes palavras:
a) [ ] vida
b) [ ] camelo
c) [ ] doce
d) [ ] gola
e) [ ] cofre
ATIVIDADE II
1) Quanto à classificação dos sons vocálicos, marque a
alternativa incorreta.
a) O “i” em sac[i] é uma vogal alta anterior não-arredondada.
b) O “a” em amanh[ã] é vogal baixa central nasal.
c) O “o” em h[o]je é vogal média-baixa posterior não-arredondada.
d) O “e” em portugu[ê]s é vogal média-alta anterior não arredondada.
2) Classifique as vogais seguindo os dois primeiros
exemplos. Note que a ordem notacional é quanto à altura,
anterioridade-posterioridade, arredondamento e nasalidade.
SÍMBOLO FONÉTICO CLASSIFICAÇÃO DA VOGAL
[i] Vogal alta anterior não arredondada
[i)] Vogal alta anterior não-arredondada nasal
[e]
[E]
[�]
[a]
[a)]
[o]
[u]
[u)]
93
UESPI/NEAD Letras Espanhol
3) Marque a alternativa em que todas as palavras
apresentem semivogal.
a) pais, país, países.
b) mau, baú, Itaú.
c) mãe, pão, balões.
d) lua, mágoa, saí.
ATIVIDADE III
1) Marque os itens que apresentam ditongo e indique os
símbolos fonéticos do glide e da vogal (ditongo crescente) ou da
vogal e do glide (ditongo decrescente).
a) [ ] sua
b) [ ] põe
c) [ ] também
d) [ ] saúde
e) [ ] muito
f) [ ] série
g) [ ] céu
h) [ ] vácuo
2) Apresente uma palavra ortográfica com os seguintes
símbolos vocálicos:
a) [«] =
b) [i] =
c) [e] =
d) [a] =
e) [E] =
f) [U] =
g) [u] =
h) [i] =
94
Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa
Anotações
95
UESPI/NEAD Letras Espanhol
UNIDADE 5
FONOLOGIA: FONEMA, ALOFONE, ARQUIFONEMA
• Funcionamento do sistema fonológico da língua portuguesa;
• Identificação dos fonemas e alofones;
• Reconhecimento dos arquifonemas;
• Conhecimento sobre neutralização.
OBJETIVOS
• Compreender o processo de identificação de fonemas e alofones;
• Identificar os alofones da Língua Portuguesa;
• Entender o processo de neutralização na Língua Portuguesa;
• Reconhecer um arquifonema.
123456789012345678901234567123456789012345678901234567123456789012345678901234567123456789012345678901234567123456789012345678901234567123456789012345678901234567123456789012345678901234567123456789012345678901234567
96
Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa
12345678901234567890123456789123456789012345678901234567891234567890123456789012345678912345678901234567890123456789123456789012345678901234567891234567890123456789012345678912345678901234567890123456789
97
UESPI/NEAD Letras Espanhol
5 FONOLOGIA: FONEMA, ALOFONE, ARQUIFONEMA
5.1 INTRODUÇÃO
A Fonologia explica que os usuários da língua conseguem
reconhecer, dentro de uma infinidade de sons diferentes, aqueles
que funcionam na língua como unidades do sistema, permitindo a
comunicação. Na visão de Cristófaro-Silva (2002), uma das
finalidades da fonologia é determinar quais são os sons de uma
língua que diferenciam as palavras. É exatamente sobre isso que
trataremos nesta aula, dando, desse modo, início ao estudo de
fonologia: fonema, alofone e arquifonema.
5.2 FONEMA
No campo do estudo linguístico, podemos estudar uma
macro ou uma micro estrutura. Por exemplo, a Linguística textual
analisa a construção do texto; a Sintaxe, a construção da
sentença, já a Fonologia estuda unidades mínimas do sistema
de sons de uma língua, ou seja, unidades menores que não
podem ser analisadas em outras unidades menores e
indivisíveis, denominadas fonemas . Essas unidades menores
servem para distinguir significados entre palavras. Portanto,
podemos acrescentar que fonema é a menor distintiva, não
contendo em si mesmo nenhum significado. Um exemplo de
fonema é o r. Esse fonema pode-se realizar ora como /R/ que é
fraco, diferenciando-se do /r/ forte, pois servem para distinguir
significados como, por exemplo, nas palavras caro [kaRU] e carro
[karU], que pode ser realizado de várias formas, no português
brasileiro:
98
Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa
Como observamos, há uma possibilidade de realização
infinita dos fonemas pelos indivíduos – variante livre ou individual.
Há uma possibilidade de variação no discurso condicionado pela:
• Região de origem – dialeto caipira, observado, por
exemplo, na realização da palavra porta [‘p�}tA].
• Camada social – tendência ao rotacismo como
observamos em framengo ao invés de flamengo.
• Idade – dimensões dos órgãos do aparelho fonador.
• Sexo – as mulheres têm voz mais aguda, os homens
mais graves.
No entanto, os falantes reconhecem nas diferentes
realizações de um mesmo fonema, uma relação de identidade com
este fonema. Logo, diferentes realizações fônicas de um mesmo
fonema são consideradas sempre como correspondentes ao
mesmo modelo mental, resultando, consequentemente, em
diferentes significantes de fala de um mesmo signo em sucessivas
atualizações. Desse modo, os fonemas permanecem estáveis e
são reconhecidos como idênticos a si mesmo pelos falantes –
Vibrante múltipla alveolar [r]
Vibrante múltipla uvular [{]
/r/ Fricativa velar [x]
Fricativa gotal (aspirada) [h]
Retroflexa (dialeto caipira) [}]
99
UESPI/NEAD Letras Espanhol
ouvintes da comunidade. O diagrama 01, a seguir, resume a
comparação entre sons e fonemas.
5.2.1 Identificação dos fonemas
Para identificar os fonemas de uma língua, é necessário
realizar vários testes, tais como: critérios de oposição, distribuição
complementar, semelhanças fonéticas e variação livre, de acordo
com Mori (2003).
Pelo critério de oposição, podemos identificar fonemas em
ambiente idêntico ou em ambientes análogos. O primeiro consiste
em encontrar um par mínimo , isto é, duas palavras que se diferenciem
em apenas um segmento. Por exemplo, nas palavras “bala” e “mala”
se diferenciam apenas no uso do [b] e do [m], ou seja, a troca de um
som pelo outro faz com que haja a diferença de significados entre as
duas palavras. A troca de um som por outro permite interpretar que os
fones [b] e [m] são fonemas da língua portuguesa. Por essa razão,
dizemos que o par mínimo “bala/mala” caracteriza os fonemas /b, m/
por contraste em ambiente idêntico .
Diagrama 01: Comparação entre sons e fonemas
100
Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa
Caso não encontremos pares mínimos, devemos buscar
pares que contrastem em ambientes similares, “desde que os sons
diferentes não sejam condicionados pelos seus vizinhos”, segundo
informações de Biazotto e Schier (2007, p.56). Tais pares se
caracterizam por oposição em ambientes análogos. Eles apresentam
diferenças em mais de um segmento. Por exemplo, as palavras “sumir”
e “zunir” apresentam mais de uma diferença: [s] e [z] e [m] e [n]. Através
desse par em oposição, que se deu em ambiente análogo, podemos
dizer que a troca de [s] por [z] no início da palavra faz com que ocorram
diferenças de sentido entre as duas palavras. (BIAZOTTO E SCHIER,
2007). Portanto os fones [s] e [z] são fonemas por contraste em
ambiente análogo.
É importante destacar que, para identificarmos os fonemas de
uma língua, basta encontrar pares mínimos ou análogos. No entendimento
de Cristófaro-Silva (2002, p.126), “um par de palavras é suficiente para
caracterizar dois fonemas”.
5.3 ALOFONE
Quando não encontramos pares mínimos ou análogos para
sons foneticamente semelhantes, esses sons não são fonemas.
Caso não conseguirmos caracterizar dois sons como fonemas
distintivos, devemos procurar evidência para caracterizá-los como
variante ou alofone . O alofone são os vários sons de um mesmo
fonema, ou melhor, realizações diferentes para um mesmo fonema
no mesmo ambiente fonológico. Neste caso, se duas ou mais
unidades mínimas puderem figurar no mesmo ponto do contexto
do plano de expressão, sem que haja diferença no significado,
então as duas unidades, naquele contexto, são alofones (variantes)
entre si.
101
UESPI/NEAD Letras Espanhol
Os alofones são condicionados por determinados
contextos fonológicos, como posição do fonema na palavra,
qualidade dos fonemas vizinhos. Segundo Callou e Leite (2001),
as variações dos fonemas podem ser decorrentes das diferenças
regionais, estilísticas livres ou facultativas.
De modo geral, os estudos linguísticos apontam dois tipos
de alofone (ou variantes): combinatório ou contextual e livre ou
facultativo.
O alofone combinatório ou contextual é o que decorre
do contexto fônico, da posição em que se encontra numa
determinada cadeia sonora e condicionado pela vizinhança de
outros sons. Por exemplo, a co-ocorrência de [t] e [tS] “está
condicionada à presença da vogal /i/ no centro silábico. Aparece
[tS] somente quando está seguido de /i/, ou seja, ele está
condicionado pelo fonema vizinho, em outros contextos usa-se [ ].
Neste caso, podemos afirmar que [t] e [tS] são alofones, ou seja,
são dois fones de um único fonema. Este tipo de alofone é
denominado por alguns linguistas de distribuição complement ar.
São os que ocorrem em ambientes exclusivos. Em outras palavras,
quer dizer que, “onde uma das variantes ou alofone ocorre, a outra
variante não ocorrerá”, como declara Mori (2003, p. 129).
O livre ou facult ativo “ocorre quando o contexto não previr,
com certeza, qual a variante”, conforme declara Paulino (1987, p.
26). As variações facultativas, ou livres, “podem existir em todas
as posições onde o fonema é atestado, ou podem aparecer em
posições particulares apenas, sendo neste caso conjuntamente
facultativas e combinatórias”, como assevera Martinet (1976, p.
359). Podemos apresentar como exemplo o caso do “r” velar,
pronunciado na região superior da garganta, que pode manifestar-
se pelo alofone [{] vibrante, sobretudo, nas áreas da região Sul do
102
Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa
País – ou pelo alofone laríngeo aspirado [h], típico do falar carioca
e do falar piauiense, também, como constatou a pesquisa de
Carvalho (2009), em sua tese de doutorado sobre as realizações
do “r”. Isso quer dizer que,- independentemente da vizinhança
fonológica – antes de qualquer vogal , por exemplo – ou da posição
na palavra – seja em início ou em fim de sílaba, sílaba inicial, medial
ou final – sempre ocorrerá [{], podendo ocorrer também [h]: catar
[kA ‘ta{, [kA ‘tah]; rato [‘{atU], [‘atU] etc. Esse tipo de alofone é também
denominado de variantes livres. As variações livres são
condicionadas por fatores extralinguísticos, dentre eles mencionem-
se: o grau de escolaridade, sexo, idade, classe social e região de
origem do falante (MORI, 2003).
Na visão de Câmara Jr. (1983), os alofones são livres
“quando dependem dos hábitos articulatórios um tanto diversos
dos falantes da língua” e posicionais “quando dependem da posição
do fonema na unciação, onde a contiguidade de certos outros
fonemas ou a sua posição na sílaba altere a articulação”.
5.4 NEUTRALIZAÇÃO E ARQUIFONEMA
Ao tomarmos a palavra gás, por exemplo, podemos
verificar que a sua pronúncia varia bastante nas diferentes áreas
geolinguísticas brasileiras. Ela varia devido à consoante final [‘gays],
[‘gaS], [‘gaz], [‘gaZ]. Verificamos, portanto, que as consoantes /s/, /S/,
/z/ e /Z/, em posição de coda final, ou melhor, em travamento silábico
perdem a distinção entre si; não importando se usamos a sonora
ou a surda, a palatal ou a alveolar. “O único traço pertinente dessas
consoantes que se mantém é o da modalidade fricativa: a este
fato denomina-se neutralização de traços distintivos”
103
UESPI/NEAD Letras Espanhol
(CAVALIERE, 2005, p. 50). Então, podemos dizer que ocorre
neutralização quando, em um determinado ambiente fonológico,
dois ou mais fonemas perdem a distinção entre si.
Para Callou e Leite (2001), a neutralização é a eliminação
das oposições entre dois ou mais fonemas. É o que observamos
também com a palavra “boneca”, pronunciada ora [b� ‘nEkA] ou [bu
‘nEkA], podendo ainda realizar-se como [bo) ‘nEkA].
Apesar dessas variadas realizações, a troca do [o] pelo [u]
ou mesmo a nasalização [õ], o significado da palavra não mudou. Por
isso, dizemos que houve neutralização, isto é, o [o] e o [u] se
neutralizaram, perdendo a sua função distintiva. Outro exemplo que
vale mencionar é o uso das vogais [e, o] fechadas no Sul do país, e
das vogais [E, �] abertas no Nordeste. Como se vê, a diferença no
som, não altera o sentido das palavras.
Podemos acrescentar ainda que, aos fonemas que perdem
a capacidade de distinguir palavras, damos o nome de arquifonema .
O arquifonema é uma classe de fonemas que geralmente é
representado por uma letra maiúscula entre barras, conforme nos
ensina Cristal (2000). No quadro 17, a seguir, destacaremos alguns
arquifonemas do português.
Observe que todos os arquifonemas apresentados são
todos consoantes posvocálicas.
A partir do que foi analisado nesta aula, podemos concluir
que os fonemas são os sons da língua capazes de distinguir
significados entre as palavras, sons capazes de variar e até formar
classes.
104
Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa
ARQUIFONEMAS CONTEXTO EXEMPLOS
/S/ e/S/barrode/S/vio
/S/ pa/S/tamê/S/Lu/S/co S/ta
/S/ lu/S/ES
/R/ ba/{/bagO/{/do
/R/
to/{/tofa/{/as
/L/ sa/;/tasa/;/
/N/
Neutralização de [z] ou [Z]no final de sílabas seguido
por consoante sonora.
Neutralização de /s/ ou /S/em final de sílabas
seguido por consoantesurda ou final de palavra.
Neutralização de /z/ quando,inicialmente em sílaba final,passa a ocupar a posição
inicial de sílaba.
Neutralização de [Ä] ou [h]que ocorrem em final de
sílabas antes deconsoantes sonoras
Neutralização de [x] ou [h]que ocorrem em final de
sílaba antes deconsoantes surdas
Neutralização de [Â] ou [w]em final de sílabas ou
palavras
Neutralização de vogais nasaisque ocorrem seguidas de
consoantes nasais
Quadro 17 Arquifonemas do português
sa/N/toe/N/tradapi/N/turao/N/da
105
UESPI/NEAD Letras Espanhol
5.5 SÍNTESE DA UNIDADE
Fonemas são unidades mínimas do sistema de sons de
uma língua que têm a função de determinar a diferença de
significado de uma palavra em relação a outra. Para determinar
quais são os sons de uma língua que diferenciam as palavras,
devem-se realizar vários testes, tais como: critérios de oposição e
distribuição complementar, variante livre.
A oposição consiste em encontrar um par mínimo, ou seja,
duas palavras que se diferenciem em apenas um segmento, com
vistas a estabelecer a identificação dos fonemas da língua em
estudo. Quando não encontramos pares mínimos, devemos buscar
pares que contrastem em ambientes similares, desde que os sons
diferentes não sejam condicionados pelos seus sons vizinhos.
O alofone são os vários sons de um mesmo fonema. Eles
são condicionados por determinados contextos fonológicos, tais
como: posição do fonema na palavra, qualidade dos fonemas
vizinhos, diferenças regionais, estilísticas livres e facultativas, que
são identificados através da distribuição complementar.
Outro tipo de alofonia são as variantes livres – pronúncias
diferentes de um fonema sem mudança de significados. Elas são
condicionadas por fatores extralinguísticos: grau de escolaridade,
sexo, idade, classe social e região de origem do falante.
Em determinados usos da língua, ocorre neutralização, que
é a perda do traço que serve para distinguir dois fonemas. Os
fonemas que perdem a capacidade de distinção são denominados
de arquifonema.
106
Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa
FÓRUM DE DISCUSSÃO
1) Que procedimentos um fonólogo adota para identificar
os fonemas de uma língua? Cite exemplos.
ATIVIDADE I
1) Os sons de [l] e [w], respectivamente, de “calo” e “caldo”
são fonemas ou alofones?
2) Identifique os fonemas e alofones nos corpus abaixo.
Critérios de análise:
• Selecione os pares mínimos, nos dados a seguir:
• Verifique a diferença dos sons entre si e os demais, se
possível.
• A ocorrência de um único par mínimo prova a existência
daqueles dois fonemas entre si.
(a) /si)tU/
(b) /mi)tU/
(c) /’h�sA/
(d) /’h�zA/
(e) /pe) ‘deh/
(f) /ve) ‘seh/
(g) /ve) ‘deh/
ATIVIDADE II
1) Diferencie, de modo geral, FONEMA de ALOFONE. Dê
exemplos da língua portuguesa.
107
UESPI/NEAD Letras Espanhol
2) Os alofones influenciam a modalidade escrita.
Exemplifique.
ATIVIDADE III
1) Identifique os fonemas e alofones nos corpus a seguir:
(a) /mu ‘ElA/
(b) /so) ‘nEkA/
(c) /mo ‘ElA/
(d) /bo ‘nEkA/
(e) pay/
(f) /bu ‘nEkA/
(g) /pA ‘katU/
(h) /say/
(i) /nA ‘seh/
(j) /pA ‘latU/
(k) /fA ‘zeh/
2) De que modo o alofone caracteriza uma região do Brasil?
3) Por que o fonema não tem significado?
4) Pesquise se, tecnicamente, existe diferença entre SOM,
FONEMA, LETRA e GRAFEMA.
108
Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa
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Anotações
109
UESPI/NEAD Letras Espanhol
UNIDADE 6
PROCESSOS DE MUDANÇA FONOLÓGICA
• Processos de mudança fonológica da língua;
• Classificação dos processos fonológicos.
OBJETIVOS
• Identificar os processos de mudança fonológica da língua;
• Reconhecer os processos fonológicos da língua portuguesa;
• Analisar por quais mudanças os sons da língua portuguesa
passaram.
12345678901234567890123456123456789012345678901234561234567890123456789012345612345678901234567890123456123456789012345678901234561234567890123456789012345612345678901234567890123456
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Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa
1234567890123456789012345678901212123456789012345678901234567890121212345678901234567890123456789012121234567890123456789012345678901212123456789012345678901234567890121212345678901234567890123456789012121234567890123456789012345678901212
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UESPI/NEAD Letras Espanhol
6 PROCESSOS DE MUDANÇAS FONOLÓGICAS
6.1 INTRODUÇÃO
A língua não é imutável e homogênea. Ela está em
constantes modificações. A nossa língua originou-se do latim vulgar
que, por sua vez, veio de outra língua. Quando ocorrem
modificações linguísticas, são determinadas por fatores fonéticos,
morfológicos e sintáticos.
Nesta aula, estudaremos alguns processos fonológicos
que contribuem para a mudança das línguas. Examinaremos, entre
outros processos, a assimilação (nasalização, harmonização
vocálica, redução vocálica) e dissimilação.
6.2 PROCESSOS FONOLÓGICOS
Ao analisarmos as mudanças de sons da língua,
precisamos considerar tanto os aspectos fônicos que ocorrem nas
palavras isoladamente, quanto às modificações sofridas por elas
influenciadas por outras palavras da sentença, segundo
informações colhidas em Callou e Leite (2001).
As modificações ocorridas podem ser sistemáticas e atuar
sobre o nível fonológico da língua, outras podem ser assistemáticas
e afetar apenas o nível fonético. Podemos agrupar os processos
fonológicos em três grupos:
• Acréscimos de traços;
• Perda de traços;
• Mudanças de traços.
112
Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa
6.2.1 Acréscimos de traços
A partir de agora analisaremos cada um deles. Os processos
por acréscimos de traços podem ser:
Prótese - surgimento de um fonema no início da palavra,
como em mostrar > amostrar , levant ar > alevant ar etc . No
português corrente, estas formas protéticas denotam linguagem
popular, no entanto, algumas sejam consideradas bem tradicionais
como, por exemplo, alevantar, que “tem registro de datação no
século XIII”, como nos informa Cavaliere (2005, p. 58).
Epêntese - surgimento de um fonema no interior da palavra,
caso típico de destruição de grupos consonantais no português do
Brasil. É comum ouvir as pessoas de pouca escolarização dizer:
“adevogado” ao invés de “advogado”; “peneu” no lugar de “pneu”.
Ou até nós mesmos, sem nos dar contar, dizermos: “decepição”
ao invés de “decepção”; “ritimo” por “ritmo”.
Paragoge - consiste na inclusão de um fonema no fim da
palavra. No latim tinha-se “entonce”, resultando “então”; “mal” que
se originou de mali. Processo comum no português hodierno no
caso de estrangeirismos terminados em consoante, como club >
clube; stand > estande.
6.2.2 Perda de traço
Os processos que se dão por perda de traços podem ser:
Aférese - trata-se da supressão de um ou mais fonemas
iniciais, como em “ta” por “estar”. Ressaltemos que, por exemplo,
a palavra cajá vem do tupi acajá, por sinal ainda presente sem a
aférese em muitas cidades nordestinas, como destaca Cavaliere
(2005).
113
UESPI/NEAD Letras Espanhol
Sincope - ocorre supressão do fonema no interior da
palavra, caso de “xicra”, por xícara, “fosfro”, ao invés de “fósforo”, e
também “abobra”, por “abóbora”. A síncope geralmente busca
encurtar um polissílabo, sobretudo quando for uma proparoxítona.
“Por tal motivo, não raro se manifesta em diminutivos longos:
“principinho” por “principezinho”, “facinho” por “facilzinho”, como nos
relata, também, Cavaliere (2005, p. 58).
Apócope - resulta da queda de um fonema final, como em:
“vizim” por “vizinho”, “comê”, por “comer”, “mandá”, por “mandar”.
Crase - processo muito comum na língua atual, em que uma
de duas vogais idênticas é suprimida, como em “alcol” por “álcool”.
6.2.3 Mudanças de traços
No processo de mudança de traços, conforme Callou e
Leite (2001), a assimilação é responsável por um grande número
de alterações fônicas. Na visão de Crystal (2000, p. 33) o processo
de assimilação é tratado como um “termo geral da fonética que
se refere à influência exercida por segmento de som sobre a
articulação de outro, de forma que os sons se tornem parecidos,
ou mesmo idênticos”.
Na concepção de Bagno (2000, p. 77), a assimilação é “a
força que tenta fazer com que dois sons diferentes, mas com algum
parentesco, se tornem iguais, semelhantes”. Podemos afirmar que
a assimilação faz com que um som assuma os traços distintivos
de um som vizinho. Dessa forma, uma consoante assimila os traços
distintivos de uma; uma vogal assimila os traços distintivos de uma
consoante; ou uma vogal pode afetar outra vogal.
Por vezes, o processo assimilatório nasaliza uma vogal,
como em “indentidade” ao invés de “identidade”; ocorre ainda a
114
Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa
situação oposta, em que uma vogal sofre desnasalização, é o caso
de “home” por “homem”. Esse processo divide as opiniões. Alguns
julgam que a tônica oral atue no sentido de desnasalizar a átona
final; outros preferem ver nesses casos uma causa morfológica,
que busca a “tematização” de palavras “atemáticas”. Há casos de
nasalização assimilatória mais complexos, como o da forma
popular “vinhemos”, por “viemos”, em que a consoante palatal
resultaria de uma prévia nasalização da vogal tônica em face do /
m/ da última sílaba: “viemos” > vi)emos >vinhemos. É o mesmo
fenômeno ocorrido na passagem de outras palavras do latim vulgar
para o português: vinu > vi)u > vinho.
O processo assimilatório está presente no processo de
nasalização, da harmonia vocálica. (CALLOU; LEITE, 2001). A
nasalização por assimilação ocorre quando a vogal que é seguida
de uma consoante nasal, ou seja, a vogal assimila a nasalidade
dessa consoante. A nasalização é obrigatória quando a vogal é
tônica e opcional quando é pretônica, conforme destaca Cristófaro-
Silva (2002). Os exemplos são as palavras “cama” [ka)m«], “sono”
[o)nU], “banana” [ba)nan«] ou [ba ‘nan]. Observe que nas sílabas tônicas
seguidas de consoante nasal, todas as vogais são nasais e, na
pretônica, a nasalidade é opcional.
A harmonia vocálica ocorre quando uma vogal assimila
os traços distintivos de outra vogal. A vogal de uma sílaba torna-se
mais semelhante à vogal de uma outra. Bagno (2000, p. 98) explica
que “a presença de um I ou U na sílaba tônica faz com que as vogais
átonas pretônicas escritas E ou O se reduzam e sejam
pronunciadas i e u”. Segundo o autor, isso ocorre, em virtude de o
[i] e o [o] serem vogais mais altas e fechadas do português. Quando
são usadas na sílaba tônica, elas “puxam para cima” as vogais
pretônicas [e] e [o], formando um grupo harmônico, com um único
115
UESPI/NEAD Letras Espanhol
som. Podemos verificar esse processo nas seguintes palavras:
av[e]nida > av[i]nida; f[e]liz > f[iliz]; c[o]ruja > c[u]ruja; f[o]rtuna >
f[u]rtuna; f[o]rmiga > [fu]rmiga etc. Portanto, nesse processo, perde-
se a distinção da vogal pretônica.
Outro caso de redução de perda de distinção da vogal
pretônica analisada por Bagno (2000) é [o] átono pretônico
pronunciado como [u] antecedido de [m] ou [b]. Podemos observar
esse processo em b[o]lacha > b[u]lacha; m[o]eda >m[u]eda. Essa
variação se dá em razão de as consoantes [b] e [m] bilabiais serem
produzidas com um movimento de fechamento e abertura dos
lábios. Bagno (2000, p. 101) esclarece que “para não terem de
passar de um fechamento muito grande para um arredondamento
muito grande, os lábios ‘espremem’ um pouco o ‘o’ e abrem-se
menos, já que produzem um ‘u’, que é [...] uma vogal também
redonda mas mais fechadas que o ‘o’” (grifo nosso).
O autor também aponta a redução de dois ditongos [oU9] e
[eI9]. Os dois sons desses ditongos transformam-se em um só, ou
seja, ocorre a monotongação. Os ditongos formados por [oU] são
pronunciados apenas [o]. Podemos verificar isso na pronúncia das
palavras p[oU9]co> p[o]co, [oU9]tro > [o]tro, r[oU9]pa > r[o]pa, [oU9]ro >
[o]ro.
Diferentemente da monotongação de [oU9], que ocorre em
todos os contextos, a de [eI9], segundo as análises de Bagno (2000),
acontece apenas antecedida de [Z,S, r]. Isso se dá porque essas
consoantes têm o mesmo ponto de articulação da semivogal.
Podemos perceber essa redução melhor nos exemplos a seguir:
b[eI9]jo > b[e]jo, qu[eI9]jo > qu[e]jo, ch[eI9]ro > ch[e]ro, prim[eI9]ro > prim[e]ro,
p[eI9]xe > p[e]xe. Você notou que houve a redução dos sons em um
só? Análise estas outras palavras: s[eI9]va, p[eI9]to, b[eI]co. Observou
que não ocorre monotongação com elas? Claro que não, pois
116
Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa
ninguém fala s[e]va, p[e]to, b[e]co. Note que as consoantes que
aparecem após o ditongo é que explicariam o não emprego da
monotongação.
Além do processo de assimilação, há também a
dissimilação como um tipo de processo de mudança de traços.
No entendimento de Crystal (2000, p.85), a dissimilação é “termo
geral da fonética que indica a influência exercida por um segmento
de som sobre a articulação de outro, de maneira que os sons se
tornem menos parecidos, ou diferentes”. Dito de outro modo, a
dissimilação é o processo em que um segmento fonético perde
um ou mais traços que tinha em comum com o vizinho.
6.3 SÍNTESE DA UNIDADE
A língua não é imutável e homogênea. Ela está em
constantes modificações. Os processos fonológicos de mudanças
de sons da língua são divididos em três grupos: acréscimos de
traços, perda de traços e mudanças de traços. Os processos por
acréscimo de traços são: prótese (no inicio da palavra); epêntese
(no interior da palavra); paragoge ( no final da palavra). Os
processos de perda de traços são aférese (no inicio da palavra);
síncope (no interior da palavra); apócope (no final da palavra).No processo de mudança de traços, a assimilação se
refere à influência exercida por segmento de som sobre aarticulação de outro, de forma que os sons se tornem maisparecidos, ou mesmo idênticos. O processo assimilatório estápresente no processo de nasalização (a vogal assimila anasalidade de uma consoante nasal [m, n, ø]; da harmonizaçãovocálica (uma vogal de uma sílaba torna-se mais semelhante àvogal de uma outra); e também em casos de monotongação(redução de ditongos [oU9] – em todos os contextos – e [eI9] –antecedida de [Z, S, r]).
No processo de mudanças de traços, além da assimilação,
há a dissimilação, considerado processo em que um segmento
117
UESPI/NEAD Letras Espanhol
fonético perde um ou mais traços que tinha em comum com o
vizinho.
FÓRUM DE DISCUSSÃO
1) Discuta com seus colegas se os processos fonológicos
estão única e exclusivamente relacionados ao português popular
do Brasil ou se alguém com escolaridade alta é capaz de produzir
alguns destes processos fonológicos, em situação espontânea de
fala. Levante os argumentos favoráveis ou não.
a) amostrar
b) alevantar
c) vinhemos
d) indentidade
ATIVIDADE I
1) Reconheça os processos fonológicos que se manifestam
nos seguintes exemplos do português popular no Brasil.
a) Amostra < mostrar
b) Vinhemos < viemos
c) Peneumonia < pneumonia
d) Lava jato < lava a jato
e) Indentidade < identidade
f) ) dizê < dizer
2) Analise as mudanças que ocorreram nas palavras a
seguir e identifique o(s) processo(s) fonológico(s) que justifique (m)
essa(s) mudança(s).
a) preguiça > priguiça
b) fósforo > fosfro
c) touro > toro
d) panela > pãnela
e) reparar > arreparar
118
Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa
f) jantar > jantá
g) advogado > adevogado
h) beijo > bejo
ATIVIDADE II
1) Assinale a alternativa que apresenta um exemplo de
assimilação no processo de harmonia vocálica, de nasalização e
monotongação, respectivamente.
a) rodear > arrodear, panela > panela; deixe > dexe.
b) pepino > pipino; banana > bãnana; chero > chero
c) administração > adiministração; janela > janela: loiro >
loro.
d) costume > costume; banheira > banhera, levantar >
alevantar.
2) Aponte e explique quais os processos por perda de traços,
dando exemplos do português atual.
ATIVIDADE III
1) Na lista das palavras a seguir aparecem somente
exemplos de processos por acréscimo de traços. Identifique quais
são os tipos de processos por acréscimos.
a) alimpar
b) amostrar
c) peneu
d) adevogado
2) O que é nasalização? Nasalização é um tipo de
assimilação ou não? Explique e dê exemplos do português
contemporâneo.
119
UESPI/NEAD Letras Espanhol
UNIDADE 7
ESTRUTURA SILÁBICA DO PORTUGUÊS
• Apresentação da estrutura silábica da língua portuguesa;
• Representação e classificação da estrutura silábica do português.
OBJETIVOS
• Conhecer a sílaba em português;
• Definir e reconhecer uma sílaba do português;
• Representar a estrutura silábica do português;
• Classificar sílaba.
120
Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa
121
UESPI/NEAD Letras Espanhol
7 ESTRUTURA SILÁBICA DO PORTUGUÊS
7.1 INTRODUÇÃO
Os fonemas – unidades mínimas indivisíveis da língua –
organizam-se em unidades maiores: sílabas, morfemas e palavras.
A combinação dos fonemas não se dá de maneira aleatória. Os
fonemas combinam-se a partir de princípios da gramática interna
e da estrutura fonológica da língua. Segundo Mori (2003), o primeiro
nível de organização dos fonemas refere-se à formação de sílabas.
Cada língua tem padrões silábicos próprios, como enuncia Callou
e Leite (2001). Nesta aula, apresentaremos o estudo sobre sílaba,
sua estrutura, classificação e representação da estrutura silábica.
7.2 DEFINIÇÃO DE SÍLABA
A sílaba é a unidade mais espontânea da série fônica.
“Sílaba é o conjunto de fonemas emitidos a cada corrente de ar
expirada”, de acordo com Simões (2006, p.27). É uma entidade
sonora e sua depreensão só é possível na língua oral captável
materialmente pelos ouvidos. Conforme Paulino (1987, p.118) em
termos articulatórios, “ainda não foi possível definir, com absoluta
precisão, o término de uma sílaba e início de outra durante o
desempenho lingüístico oral do falante”. O autor explica que tal
dificuldade reside no fato de que cada som lingüístico emitido
encerra três fases: intensão – corresponde à preparação dos
órgãos articulatórios; e a distensão – é o relaxamento dos órgãos
articuladores, simultaneamente com a emissão propriamente dita
do som. Para Callou e Leite (2001), também não é fácil definir
sílaba. Segundo as autoras, a sílaba é um aumento da pressão do
122
Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa
ar expulso dos pulmões. Esse aumento causa a saída descontínua
do ar, em forma de jatos sucessivos. Cristófaro-Silva (2002, p.28)
ressalta que “cada contração e cada jato de ar expelido dos pulmões
constitui a base de uma sílaba”. Já na visão de Bisol (2005, p. 245),
sílaba é a “menor categoria prosódica”, sendo, portanto uma
unidade fonológica, isto quer dizer, uma unidade prosódica.
Do ponto de vista da percepção, a sílaba é considerada
uma cadeia de aclives (subidas), ápices (o mais alto grau) e
declives (descidas) de sonoridade.
Aclives e declives funcionam como delimitadores de
fronteiras de sílabas, isto é, onde começam e onde terminam,
posição ocupada, especificamente, pelas consoantes. O ápice é
o núcleo da sílaba. No português, essa posição é ocupada pelas
vogais. Cristófaro-Silva (2002) chama os aclives e declives de
periféricos, e segundo ela, são opcionais. O núcleo é a parte
obrigatória dentro de uma sílaba.
7.3 ESTRUTURA DA SÍLABA
As sílabas são constituídas de
vogais (V), consoantes (C) e
glides (V´). no português, as
vogais são obrigatoriamente,
as consoantes e os glides são
opcionais. A sílaba pode conter
vários tipos de estruturas: V,
CV, CVC, CCV, CVCC,
CCVCC. O glide pode
aparecer em qualquer uma
dessas estruturas silábicas,
como mostra o quadro 18.
Quadro 18 Estrutura silábica
ESTRUTURA SILÁBICA EXEMPLOS
V. CVC a. mor
CV.CV ma.la
CVC.CVC pas.tel
CCV.CV cra.vo
CVCC.CVC.CV.CV pers.pec.ti.va
CCVCC.CVC.CV trasn.por.te
VV’.CV ou.ro
CCVV.CV frau.de
123
UESPI/NEAD Letras Espanhol
7.4 CLASSIFICAÇÃO DAS SÍLABAS
Quanto à estrutura, as sílabas podem ser: simples ou
complexas, abertas (livres) ou fechadas (travadas) (MORI, 2003).
Vejamos a definição de cada uma delas.
• Simples – é constituído apenas pelo núcleo. No português,
é representada por uma vogal. Podemos observar sílaba simples nas
primeiras sílabas de “amigo”, “época”, “ilha”, “ovo”, “uva”.
• Complexo – é constituída por um núcleo antecedido e/ou
seguida de consoantes(s). Notamos a presença de sílabas complexas
em todas as sílabas das palavras “português”, “tratar”, “somente”.
• Abert a – é a sílaba que termina com vogal. Ela se
encontra em todas as sílabas de “sílaba”, “fogo”, “lixo”.
• Fechadas – é a sílaba que termina com consoante. Ela
está presente nas primeiras sílabas das palavras “car ta”, “gar fo”,
“pas ta”.
A sílaba quanto à acentuação classifica-se em:
• Átona – é a não marcada pelo acento tônico. Pode ser
pretônica, que vem antes da tônica ou postônica, que vem depois
das tônicas. No português, temos elementos átonos, como “me”,
“se”, “o”, “a”, “lhe”.
• Tônica – é a sílaba marcada pelo acento tônico. Ela está
presente nas sílabas destacadas nas seguintes palavras: café,
menino, urubu , português . Na palavra “menina”, o “me” é pretônico
e o “na” é postônico.
7.5 ORGANIZAÇÃO INTERNA DA SÍLABA
Do ponto de vista fonético, cada sílaba tem um pico de
sonoridade, ou seja, um segmento que é mais sonoro do que outro.
124
Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa
Então, a sonoridade é uma propriedade relativa. Em termos
auditivos, o pico de sonoridade é mais proeminente do que os
segmentos vizinhos, formando o elemento silábico. No caso do
Português, por exemplo, as vogais são mais sonoras do que as
consoantes e somente elas podem constituir o pico silábico. Há
línguas, como o inglês, por exemplo, em que os segmentos com
sonoridade espontânea, podem ser o pico silábico. É o caso do /
r/ e do /l/.
7.6 ESTRUTURA E REPRESENTAÇÃO DA SÍLABA
No exemplo (1), constatamos a existência de duas sílabas
com apenas uma emissão de ar, pronunciando-o lentamente,
observa-se que o abdômen se contrai duas vezes, correspondendo
a dois impulsos articulatórios. Temos, então, /pA. ‘s/, para a palavra
“país”. Já no exemplo, na palavra Uruguai (2), temos três impulsos,
correspondendo a três sílabas. Representada, assim: /u.Ru.gway/.
Neste exemplo, as sílabas se organizam de modo diferenciado:
• /u/ - 1 segmento fônico = vogal;
• /Ru/ - 2 segmentos fônicos =consoante + vogal;
• /gway/ - 4 segmentos fônicos = consoante +
semivogal + vogal + semivogal.
Daí duas estruturas: incompleta – as duas iniciais; e
completa – a terceira sílaba. Observe que na figura 18, a sílaba
está completa, já nas figuras 19,20 e 21 exemplifica-se a sílaba
incompleta:
A vogal, na língua portuguesa, é o ponto de maior
sonoridade de uma sílaba, por essa razão ela, a vogal,
tecnicamente se denomina ponto vocálico, centro silábico ou núcleo
silábico. Então, na estrutura, localiza-se no ápice (= ponto mais
125
UESPI/NEAD Letras Espanhol
alto). Os outros segmentos fônicos que, ocasionalmente, se
encontram ao lado da vogal em uma determinada sílaba, estarão
abrindo (aclive) ou fechando (declive) essa sílaba.
A figura 19 representa a sílaba de estrutura completa,
porque encerra os três momentos: aclive, ápice e declive. As figuras
20, 21 e 22 representam sílabas de estrutura incompleta, ou seja,
aquela que não possui três momentos.
Além de podermos representar a sílaba no modelo
supracitado, ou seja, no estruturalista, há outros modelos para
representar as sílabas. O modelo que apresentaremos, aqui, é
conhecido como fonologia autossegmental . Nesse modelo, a
estrutura silábica é formada pelo núcleo, pelo ataque e pela coda.
A vogal representa o núcleo (NUC). As consoantes que
Figura 19: Representação da sílaba na corrente estruturalista
Figura 20: Representação da sílaba: o aclive e o ápice
Figura 21: Representação da sílaba: o ápice e o declive
Figura 22: Representação da sílaba: o ápice
ápice
126
Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa
acompanham o núcleo são conhecidas como ataque (ou onset) e
coda. Ataque (ou onset) é a consoante que vem antes do núcelo.
Coda é a consoante que vem após o núcleo.
Na representação da estrutura silábica, usamos a letra
grega [s] para indicar o constituinte silábico, que se ramifica em
ataque (A) e rima (R). A rima ramifica-se em núcleo (NUC)
(obrigatório) e coda (CO) (opcional) (MORI, 2003). Vejamos a
representação silábica no modelo autossegmental no diagrama 02.
Assim, a primeira camada é a (s) da (s) sílaba (s), que se
ramifica (m) em ataque (A) e rima (R). A terceira camada se ramifica
em núcleo (NUC) e coda (CO). Entre essa camada e a dos fonemas,
há a intermediária, chamada esqueleto CV (consoante/vogal).
Podemos visualizar essas camadas na representação das sílabas
da palavra “susto”, como representado no diagrama 03.
Diagrama 02: Representação da sílaba no modelo autossegmental
Diagrama 03: Representação da palavra susto
ó
A
R
127
UESPI/NEAD Letras Espanhol
Há outras propostas esboçadas sobre a representação
fonológica da sílaba; uma delas e semelhante ao que apresentamos
acima é a adotada por Selkirk (1982, apud Hora 2009) “segundo a
qual, a sílaba pode ter os seguintes constituintes: há uma divisão
principal da sílaba em ataque e rima, e a rima, por sua vez se divide
em núcleo e coda”, conforme ilustra o diagrama 04, a seguir:
Há de ressaltarmos que nem todas as sílabas do português
preenchem todas as posições, como foi também verificado para o
modelo estruturalista. Há estruturas silábicas do tipo CV, como em
“cá”, em que apenas o ataque e o núcleo são preenchidos, a
exemplo do que representa o diagrama 05:
Diagrama 04: Representação da silábica no modeloautossegmental
Diagrama 05: Representação silábica do tipo CV comataque e núcleos preenchidos
128
Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa
Há algumas em que apenas o núcleo é preenchido, a
exemplo de “a” no diagrama 06.
Como vemos, ao examinarmos a organização dos fonemas
em unidades menores, percebemos mais uma vez que essa
organização não é aleatória.
7.7 SÍNTESE DA UNIDADE
O primeiro nível de organização dos fonemas refere-se à
formação de sílabas. Do ponto de vista articulatório , a sílaba é
cada corrente de ar expirada que vem dos pulmões. Do ponto de
vista da percepção , a sílaba é considerada uma cadeia de aclives
(subidas), ápices (o mais alto grau), declives (descidas) de
sonoridade. A posição de aclives e declives é ocupada
preferencialmente pelas consoantes, e de ápice, obrigatoriamente,
pelas vogais.
As sílabas são constituídas de vogais (V), consoantes (C)
e glides (V’). No português, a presença das vogais é obrigatória
na sílaba, as consoantes e os glides são opcionais. A sílaba pode
conter vários tipos de estruturas: V, CV, CVC, CCV, CVCC,
CCVCC, e o glide pode aparecer em qualquer uma. Quanto à
Diagrama 06: Representação silábica de núcleo preenchido
129
UESPI/NEAD Letras Espanhol
estrutura, as sílabas podem ser: simples, ou complexas; abertas
ou fechadas. Quanto à acentuação, as sílabas podem ser átonas
ou tônicas.
Na representação da estrutura silábica, a primeira camada
é a da sílaba (ó), que se ramifica em ataque (A) e rima (R). A
terceira camada se ramifica em núcleo (NUC) e coda (Co). Entre
essa camada e a dos fonemas, há a intermediária, chamada
esqueleto CV (consoante/ vogal).
FÓRUM DE DISCUSSÃO
1) Por que tem sido difícil, num enunciado, delimitar a
sílaba? Discuta com seus colegas.
ATIVIDADE I
1) Qualquer segmento fônico vocálico pode ser centro
silábico? Justifique.
2) Por que, na Língua Portuguesa, um enunciado terá tantas
sílabas quantas forem os fonemas-vogais?
ATIVIDADE II
1) Classifique cada sílaba das palavras abaixo,
considerando a seguinte sequência: quanto à estrutura silábica
quanto ao padrão silábico; quanto à tonicidade.
a) amor
b) vida
c) Uruguai
d) pasteizinhos
130
Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa
2) Que significa “sílaba de estrutura incompleta”? Dê três
exemplos.
ATIVIDADE III
1) Qualquer sílaba de estrutura completa tem o mesmo
padrão silábico? Esclareça com exemplos.
2) A partir do modelo autossegmental apresentado nesta
aula, faça a representação da estrutura silábica das palavras: amor
e vida.
131
UESPI/NEAD Letras Espanhol
REFERÊNCIAS
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Fichamento do Livro
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Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa
Possui graduação em Licenciatura Plena em Letras, com
habilitação em inglês pela Universidade Federal do Piauí
– UFPI (1988), com Mestrado em Língua Portuguesa pela
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC
/Minas (2000) e Doutorado em Linguística pela
Universidade Federal da Paraíba – UFPB (2009).
Atualmente é professora adjunta da Universidade
Estadual do Piauí – UESPI. Atua na área de Lingüística,
com ênfase em Teoria e Análise Linguística, desenvolvendo suas atividades
acadêmicas principalmente em Sociolinguística, Variação e Mudança
Lingüística, Fonética e Fonologia.
LUCIRENE DA SILVA CARVALHO
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Unidade: _______________________ Município:__________________Disciplina:___________________________ Data:____/____/______
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