fonetica e fonologia

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Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa Lucirene da Silva Carvalho UESPI 2010 Licenciatura Plena em Letras Espanhol

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Page 1: Fonetica e Fonologia

Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa

Lucirene da Silva Carvalho

UESPI2010

Licenciatura Plena em Letras Espanhol

Page 2: Fonetica e Fonologia

UAB – UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASILUESPI – UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍNEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIALICENCIATURA PLENA EM LETRAS ESPANHOL

UESPI2010

Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa

Lucirene da Silva Carvalho

Page 3: Fonetica e Fonologia

Carvalho, Lucirene da Silva. Fonética e fonologia da língua portuguesa / Lucireneda Silva Carvalho. – Teresina: UAB/UESPI, 2010.135 p. (Licenciatura em Letras Espanhol)

ISBN: 978-85-61946-09-8

1. Língua Portuguesa – Fonética e Fonologia. 2.-Fonética. 3.- Fonologia. I. Título.

CDD: 414

C331f

Page 4: Fonetica e Fonologia

Presidente da RepúblicaLuiz Inácio Lula da Silva

Vice-presidente da RepúblicaJosé Alencar Gomes da Silva

Ministro da EducaçãoFernando Haddad

Secretário de Educação à DistânciaCarlos Eduardo Bielschowsky

Diretor de Educação à Distância CAPES/MECCelso José da Costa

Governador do PiauíWilson Nunes Martins

Secretária Estadual de Educação e Cultura do PiauíMaria Pereira da Silva Xavier

Reitor da UESPI – Universidade Estadual do PiauíProf. Carlos Alberto Pereira da Silva

Vice-reitor da UESPIProf. Nouga Cardoso Batista

Pró-reitor de Ensino de Graduação – PREGProf. Manoel Jesus Memória

Coordenadora da UAB-UESPIProf. Bárbara Olímpia Ramos de Melo

Coordenador Adjunto da UAB-UESPIProf. Marivaldo de Oliveira Mendes

Pró-reitor de Pesquisa e Pós-graduação – PROPProf. Isânio Vasconcelos de Mesquita

Pró-reitora de Extensão, Assuntos Estudantis e Comunitários – PREXProf. Francisca Lúcia de Lima

Pró-reitor de Administração e Recursos Humanos – PRADProf. Acelino Vieira de Oliveira

Pró-reitor de Planejamento e Finanças – PROPLANProf. Raimundo da Paz Sobrinho

Coordenador do curso de Licenciatura Plena em Letras Espanhol – EADProf. Omar Mário Albornoz

Page 5: Fonetica e Fonologia

EdiçãoUAB - FNDE - CAPESUESPI/NEAD

Diretora do NEADProfª. Dra. Bárbara Olímpia Ramos de Melo

Coordenador AdjuntoProf. M.sC. Raimundo Isídio de Sousa

Coordenadora do Curso de LicenciaturaPlena em Letras – EspanholProfª. Ms.C. Margareth Torres de Alencar Costa

Coordenador de T utoriaProf. Esp. Omar Mário Albornoz

Coordenação de Produção de MaterialDidáticoProf. Esp. Marivaldo de Oliveira Mendes

Autora do FascículoProfª. Dra. Lucirene da Silva Carvalho

RevisãoProfª. M.sC. Teresinha de Jesus Ferreira

MATERIAL PARA FINS EDUCACIONAISDISTRIBUIÇÃO GRATUITA AOS CURSISTAS UAB/UESPI

UAB/UESPI/NEAD

Campus Poeta Torquato Neto(Pirajá), NEAD, Rua João Cabral,2231, bairro Pirajá, Teresina (PI).

CEP: 64002-150, Telefones:(86) 3213-5471, 3213-7398 (ramal

294).http://ead.uespi.br

E-mails:[email protected]

[email protected]

Prof. M.sC. Raimundo Isídio de SousaProfª. M.sC. Leonildes Pessoa Facundes

DiagramaçãoProf. Esp Roberto Denes Quaresma RêgoLuiz Paulo de Araújo Freitas

CapaLuiz Paulo de Araújo Freitas

Page 6: Fonetica e Fonologia

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

FIGURAS

Figura 01 Relação entre linguagem: língua e fala.......................................................17

Figura 02 Tela de abertura do programa Wave Surfer 1.5.3......................................25

Figura 03 Pregas vocais.................................................................................................28

Figura 04 Movimento da glote........................................................................................28

Figura 05 Órgãos envolvidos no processo de realização dos sons..........................30

Figura 06 Cavidade oral e cavidade nasal..................................................................33

Figura 07 Articuladores ativos e passivos....................................................................34

Figura 08 Ponto bilabial.................................................................................................42

Figura 09 Ponto labiodental..........................................................................................42

Figura 10 Ponto dental/alveolar....................................................................................43

Figura 11 Ponto palato-alveolar.....................................................................................43

Figura 12 Ponto palatal..................................................................................................44

Figura 13 Ponto velar......................................................................................................44

Figura 14 Ponto glotal.....................................................................................................44

Figura 15 Ponto de articulação...........................................................................................54

Figura 16 Alfabeto fonético internacional.........................................................................59

Figura 17 Posicionamento dos lábios..........................................................................77

Figura 18 Representação esquemática da área vocálica..........................................79

Figura 19 Representação da sílaba na corrente estruturalista...............................130

Figura 20 Representação da sílaba: o aclive e o ápice...........................................130

Figura 21 Representação da sílaba: o ápice e o declive.........................................130

Figura 22 Representação da sílaba: o ápice............................................................130

QUADROS

Quadro 01 Diferenças entre Fonética e Fonologia.....................................................20

Quadro 02 Resumo das funções dos sistemas do aparelho fonador........................31

Page 7: Fonetica e Fonologia

Quadro 03 Classificação dos sons consonantais quanto ao ponto de

articulação........................................................................................................................45

Quadro 04 Classificação dos sons consonantais quanto ao modo de

articulação........................................................................................................................48

Quadro 05 Símbolos Consonantais da Língua Portuguesa......................................49

Quadro 06 Variações do “r” e dos “rr” ortográficos....................................................50

Quadro 07 Transcrição fonológica e transcrição fonética..............................................63

Quadro 08 Alfabeto fonético do português.................................................................66

Quadro 09 Classificação das vogais............................................................................78

Quadro 10 Classificação das vogais tônica orais.....................................................85

Quadro 11 Vogais pretônicas orais.............................................................................86

Quadro 12 Vogais postônicas orais mediais.............................................................86

Quadro 13 Vogais postônicas orais............................................................................87

Quadro 14 Vogais tônicas reduzidas...........................................................................88

Quadro 15 Vogais postônicas orais mediais.............................................................88

Quadro 16 Vogais nasais do Português.....................................................................90

Quadro 17 Arquifonemas do Português....................................................................107

Quadro 18 Estrutura silábica......................................................................................127

DIAGRAMAS

Diagrama 01 Comparação entre sons e fonemas....................................................102

Diagrama 02 Representação da sílaba no modelo autossegmental.........................131

Diagrama 03 Representação da palavra susto......................................................131

Diagrama 04 Representação silábica no modelo autossegmental........................132

Diagrama 05 Representação silábica do tipo CV com ataque e núcleos

preenchidos...................................................................................................................132

Diagrama 06 Representação silábica de núcleo preenchido................................133

Page 8: Fonetica e Fonologia

SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO ...............................................................................................................11

UNIDADE 11FONÉTICA, FONOLOGIA E APARELHO FONADOR ...............................................151.1 FONÉTICA E FONOLOGIA: UMA VISÃO SAUSSURIANA.....................................151.2 DIFERENÇA ENTRE FONÉTICA E FONOLOGIA...................................................161.2.1 Diferenças: fonética x fonológica .......................................................................191.2.2 Importância da fonética e da fonologia .............................................................201.2.2.1 Domínio da fonética..............................................................................................221.2.2.2 Domínio da fonologia............................................................................................241.3 APARELHO FONADOR..............................................................................................251.3.1 Constituição do ap arelho fonador ......................................................................251.3.2 Funcionamento do ap arelho fonador ...............................................................291.4 SÍNTESE DA UNIDADE.............................................................................................32

UNIDADE 22 CONSOANTES DO PORTUGUÊS..................................................................................392.1 CONSOANTES DO PORTUGUÊS............................................................................392.1.1 Lugar de articulação .............................................................................................402.1.2 Modo de articulação ..............................................................................................442.2 VARIAÇÃO DE ALGUNS SONS CONSONANTAIS...............................................482.2.1 Variações do “r” e dos “rr” ortográficos ...........................................................482.2.2 Variações do “s” ortográfico ................................................................................492.2.3 Variação do “l” ortográfico em final de sílaba .................................................502.3 SINTESE DA UNIDADE ..............................................................................................51

UNIDADE 33 TRANSCRIÇÃO FONÉTICA .............................................................................................553.1 ALFABETO FONÉTICO INTERNACIONAL...............................................................553.1 OS DIACRÍTICOS.........................................................................................................583.2 TRANSCRIÇÃO FONÉTICA: UTILIDADES..............................................................593.3 TRANSCRIÇÃO FONOLÓGICA.................................................................................593.4 TRANSCRIÇÃO FONÉTICA E FONOLÓGICA........................................................593.4.1 Transcrição fonética do português ...................................................................633.5 SÍNTESE DA UNIDADE..............................................................................................66

UNIDADE 44 VOGAIS E SEMIVOGAIS DO PORTUGUÊS ................................................................744.1 INTRODUÇÃO..............................................................................................................714.2 CLASSIFICAÇÃO DAS VOGAIS DO PORTUGUÊS..............................................714.3 SEMIVOGAIS...............................................................................................................71

Page 9: Fonetica e Fonologia

4.3.1 Classificação ...........................................................................................................774.3.1 Análise de alguns aspectos das semivogais ......................................................784.3.1.1 Antes e depois de vogal tônica............................................................................804.3.1.2 Antes ou depois de vogal átona...........................................................................804.3.1.3 Antes e depois de vogal tônica............................................................................804.3.1.4 Antes e depois de vogal átona.............................................................................804.4 VOGAIS ORAIS DO PORTUGUÊS...........................................................................814.4.1 Vogais tônicas orais ...............................................................................................814.4.2 Vogais pretônicas orais .........................................................................................824.4.3 Vogais postônicas orais médias .........................................................................834.4.4 Vogais postônicas orais finais ............................................................................844.4.5 Vogais nasais ..........................................................................................................864.5 DITONGOS....................................................................................................................884.6 SÍNTESE DA UNIDADE..............................................................................................90

UNIDADE 55 FONOLOGIA: FONEMA, ALOFONE, ARQUIFONEMA...........................................975.1 INTRODUÇÃO.............................................................................................................975.2 FONEMA.......................................................................................................................975.2.1 Identificação dos fonemas ..................................................................................995.3 ALOFONE....................................................................................................................1005.4 NEUTRALIZAÇÃO E ARQUIFONEMA....................................................................1025.5 SÍNTESE DA UNIDADE...........................................................................................105

UNIDADE 66 PROCESSOS DE MUDANÇAS FONOLÓGICAS ..................................................1116.1 INTRODUÇÃO.............................................................................................................1116.2 PROCESSOS FONOLÓGICOS...............................................................................1116.2.1 Acréscimos de traços ..........................................................................................1126.2.2 Perda de traço ........................................................................................................1126.2.3 Mudanças de traços ............................................................................................1136.3 SÍNTESE DA UNIDADE............................................................................................116

UNIDADE 7ESTRUTURA SILÁBICA DO PORTUGUÊS ..............................................................1217.1 INTRODUÇÃO...............................................................................................................1217.2 DEFINIÇÃO DE SÍLABA................................................................................................1217.3 ESTRUTURA DA SÍLABA.........................................................................................1227.4 CLASSIFICAÇÃO DAS SÍLABAS...........................................................................1237.5 ORGANIZAÇÃO INTERNA DA SÍLABA..................................................................1237.6 ESTRUTURA E REPRESENTAÇÃO DA SÍLABA.................................................1247.7 SÍNTESE DA UNIDADE.............................................................................................128

REFERÊNCIAS...............................................................................................................136

Page 10: Fonetica e Fonologia

11

UESPI/NEAD Letras Espanhol

APRESENTAÇÃO

Caros acadêmicos de Letras, apresentamos a você mais uma

disciplina: Fonética e Fonologia da Língua portuguesa, que integra a grade

curricular do seu curso. Este fascículo faz parte do material de apoio pedagógico

desenvolvido pela Universidade Estadual do Piauí - UESPI, do Curso de

Licenciatura Plena em Língua Espanhola, na modalidade Educação a Distância.

Ele foi organizado e sistematizado em unidades. Damos especial atenção à

primeira, segunda e quarta unidades, porque é nela que você verá as diferenças

entre Fonética e Fonologia, aparelho fonador, consoantes e vogais do português.

Com relação à Fonética, o estudo será dedicado à fonética

articulatória aplicada ao português, que compreende a composição e

funcionamento do aparelho fonador, características da articulação dos

segmentos consonantais e vocálicos, variações dialetais e transcrição fonética.

No tocante à Fonologia, você estudará o fonema – os segmentos

consonantais e vocálicos. Aprenderá também que os fonemas sofrem

variações e podem formar classes, como os arquifonemas. Além disso, fará

transcrição fonológica e conhecerá, ainda, os processos de mudanças fonológicas

e estrutura silábica.

Com o objetivo de colaborar com a sua metodologia de estudo,

sugerem-se alguns passos: observe os objetivos de cada unidade e faça as

atividades propostas no final de cada uma delas, isso ajudará você a

compreender e a assimilar o assunto melhor.

Para alcançar sucesso nos estudos, empenhe-se, tanto nos trabalhos

de grupo, quanto nas reflexões individuais; compartilhe ideias; atente para as

referências bibliográficas e, se necessitar, recorra a elas para aprofundar os

conteúdos.

Finalmente, leia, reflita, analise criticamente cada ideia aqui

apresentada. Suas dúvidas poderão ser colocadas junto ao seu tutor.

Desejamos a você bons estudos.

Profª Drª. Lucirene da Silva Carvalho

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Page 11: Fonetica e Fonologia

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UESPI/NEAD Letras Espanhol

UNIDADE 1

FONÉTICA E FONOLOGIA E APARELHO FONADOR

• Diferenças e características entre fonética e fonologia;

• Funcionamento do aparelho fonador;

• Importância do aparelho fonador;

• Importância da disciplina fonética e fonologia para o futuro professor

de língua materna.

OBJETIVOS

• Caracterizar fonética e fonologia;

• Compreender as diferenças entre fonética e fonologia;

• Entender o funcionamento do aparelho fonador;

• Reconhecer a importância da fonética e da fonologia para o processo

ensino-aprendizagem do futuro professor.

Page 12: Fonetica e Fonologia

14

Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa

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Page 13: Fonetica e Fonologia

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UESPI/NEAD Letras Espanhol

1 FONÉTICA, FONOLOGIA E APARELHO FONADOR

1.1 FONÉTICA E FONOLOGIA: UMA VISÃO SAUSSURIANA

A preocupação com o estudo da linguagem é antiga,

contudo os estudos linguísticos só obtiveram um valor científico entre

o final do século XIX para o início do século XX, que se deu com os

estudos linguísticos de Ferdinand de Saussure. Através das análises

linguísticas de Saussure – o pai da linguística – é que se pôde

entender melhor a diferença entre fonética e fonologia.

Segundo Saussure a linguagem humana compreende dois

aspectos essenciais: a língua e a fala. Para ele, a língua é um

conjunto de código comum produzido socialmente. Por essa razão,

o falante não pode nem criá-lo, nem modificá-lo,

cabe-lhe apenas registrar passivamente.

Enquanto a fala é um “ato individual de vontade e

inteligência” (CLG, 1977, p.22), realizada

concretamente através da língua. Noutras

palavras, isso quer dizer que a língua funciona

como um arquivo de informações adquiridos ao

longo da nossa vida em sociedade, que ficam

guardados no cérebro, enquanto fala é a

realização puramente física e psico-acústica de

dados fornecidos pelo cérebro, como demonstra

a figura 01.

Para o linguista suíço, a língua e a fala

são interdependentes, elas não se separam, funcionam de forma

interligada, visto que “[...] a língua é ao mesmo tempo o instrumento

e o produto da fala”, portanto ambas constituem a linguagem

humana (MORI, 2003, p. 147). Como você vê, a partir da dicotomia

Figura 01: Relação entre

linguagem: língua e fala

Page 14: Fonetica e Fonologia

16

Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa

saussuriana, pode-se depreender que a fonética relaciona-se à

fala ao passo que a fonologia diz respeito à língua. Neste sentido,

pode-se dizer também que os sons da fala são estudados pela

fonética e os da língua pela fonologia. Assim, pode-se dizer que o

conhecimento de língua(gem) já nasce com o ser humano, não haveria

como aprendê-lo só através da observação das coisas. Se a linguagem

fosse aprendida como em um jogo de repetição, só seríamos capazes de

falar o que ouvíssemos. Do contrário não seríamos capazes de falar o que

ouvimos, contudo – de fato – quando falamos uma língua demonstramos

saber muito mais do que aquilo que ouvimos.

1.2 DIFERENÇA ENTRE FONÉTICA E FONOLOGIA

Os estudos de fonética são tão antigos quanto os da

gramática. Desde a antiguidade, existe o interesse em descrever

a função de letras e dos sons, explicando o funcionamento do

aparelho fonador e os mecanismos de produção da fala (MASSINI-

CAGLIARI, CAGLIARI, 2003).

Em 1928, é que a diferença entre fonética e fonologia foi

consolidada e que se deu a partir de análises de três lingüistas

russos: Jakobson, Trubetzkoy e Karcevsky. Eles entenderam que

havia necessidade de estabelecer diferenças entre as duas áreas.

Desse modo, a fonética passou a se preocupar do estudo dos sons

da fala, enquanto que a fonologia se voltou para a análise dos sons

da língua. (CALLOU E LEITE, 2001).

Assim, pode-se dizer que a fonética estuda as

características dos sons da fala, enquanto a fonologia estuda os

sistemas de sons da língua. Ou ainda: a fonologia concentra-se

nos sons capazes de distinguir significados como observado, por

Page 15: Fonetica e Fonologia

17

UESPI/NEAD Letras Espanhol

exemplo, em [g]ato / [p]ato, o que diferencia uma palavra da outra

é a troca que ocorre entre os fonemas /g/ e /p/.

Noutra perspectiva, a Fonética é a ciência que descreve

os sons, o modo como eles são articulados. Já a Fonologia, é uma

ciência explicativa, interpretativa. Estuda o funcionamento do som

em uma dada língua, ou melhor, como os sons são utilizados no

sistema de pronúncia de uma língua.

As unidades básicas da Fonética são os fones, que são

entendidos como o menor segmento discreto perceptível de som

em uma corrente da fala. Na transcrição, são representados entre

colchetes [b], [p]. Ao passo que as unidades básicas da Fonologia

são os fonemas, denominadas as unidades mínimas do sistema de

sons de uma língua, representados entre barras inclinadas /b/, /p/.

Apesar de a Fonética e a Fonologia serem ciências distintas,

há uma relação de interdependência entre elas, visto que o estudo

fonológico de uma dada língua precisa considerar os aspectos

fonéticos. Do mesmo modo, ao descrever a fonética de uma língua, o

estudioso não pode desconsiderar aspectos do sistema fonológico.

No quadro 01, a seguir, será apresentado um resumo das

diferenças entre fonética e fonologia.

Ressalte-se a importância de se mencionar, aqui, os traços

distintivos . Em Fonologia, traços distintivos ou funcionais referem-

se a unidades mínimas contrastivas, que são aqueles que servem

para distinguir entre si os elementos lexicais. Nesta perspectiva, o

fonema pode ser realizado por vários traços de sons. Na concepção

de Callou e Leite (2001), a presença ou ausência de certos traços

opõe o fonema a todos os demais da língua. Eles constituem as

unidades mínimas e indivisíveis.

Page 16: Fonetica e Fonologia

18

Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa

Esses traços articulatórios ou acústicos servem para

caracterizar um fonema em face de outro que tem com ele traços

comuns. (CALLOU; LEITE, 2001). Segundo essas mesmas autoras,

“é a partir desses traços que se organizam os sistemas fonológicos

das línguas” (p. 38). Neste caso, uma diferença mínima entre duas

unidades da língua constitui um traço distintivo, que no entendimento

de Callou e Leite (2001, p.38) se estabelece quando “mediante

um ou outro traço distintivo uma unidade linguística opõe-se a outros

elementos”. Por exemplo, a consoante [b] em português funciona

como sonora – e não surda – em relação ao [p], e como não nasal

em relação ao [m]. As características comuns aos três segmentos

fônicos é o traço articulação labial, os três são articulados nos

lábios, e o que os diferencia é que [b] e [p] são orais, em oposição

a [m], que é nasal.

Quadro 01 – Diferenças entre Fonética e Fonologia

Tem como tarefa investigar os sons da

fala, do ponto de vista fisiológico, físico e

psico-acústico.

Descreve os órgãos que intervêm na

produção dos sons (produção).

Mostra o caminho e os órgãos pelos

quais o som passa até a sua

exteriorização (processo de realização).

Investiga a propagação do som no espaço

falante-ouvinte (propagação).

As unidades básicas são os fones (menor

segmento discreto perceptível de som na

cadeia da fala), devem vir sempre

representados entre colchetes [p], [b].

Distingue significações por meio de

diferenças de sons.

Descreve as combinações possíveis

dos sons.

Inventaria os sons que têm

funcionalidade, isto é, o sistema

fonológico.

Explica e interpreta o funcionamento do

som em uma dada língua.

As unidades básicas são os fonemas

(unidades mínimas do sistema de sons de

uma língua), devem vir sempre representados

entre barras inclinadas /p/, /b/.

FONÉTICA FONOLOGIA

Page 17: Fonetica e Fonologia

19

UESPI/NEAD Letras Espanhol

1.2.1 Diferenças: fonética x fonológica

Diz-se que há diferença fonética quando duas unidades

mínimas distintas, colocadas no mesmo ponto do contexto, não

produzem mudança de significado, isto é, “a diferença por elas

provocada se restringe às propriedades físicas de cada unidade”,

como assevera Paulino (1987).

Um exemplo claro disso é verificado, quando comparamos

os enunciados /mi ‘niânu/ e /mE‘niânu/. As duas unidades em

questão são /i/ e /E/.

Podemos observar que a permuta de /i/ por /E/, nesse

contexto, não produz nova significação, embora fisicamente sejam

distintas. Pode-se dizer, portanto, que entre esses dois enunciados

há diferença fonética.

De outro modo, diz-se que há diferença fonológica entre

dois enunciados, “quando duas unidades mínimas distintas,

situadas no mesmo ponto do contexto, produzirem significações

diferentes”. (PAULINO, 1987, p. 19).

Para exemplificar essa diferença, tomemos o exemplo de

/‘bala/ e /‘mala/. As duas unidades mínimas distintas são /b/ e /m/

que estão no mesmo contexto: início de palavra, sílaba tônica,

seguido por – ala. Observemos que, partindo-se do contexto /‘_ala/

se colocarmos /b/, teremos uma forma linguística com uma

significação determinada, ou seja, bala = “projétil”; por outro lado,

se trocarmos por /m/ teremos outra significação, que é a palavra

mala = “espécie de caixa para transporte”. Como resultado disso,

entre os enunciados / ‘bala/ e / ‘mala/ há uma diferença fonológica.

A propósito, a título de esclarecimento, o diacrítico (‘ ) serve

para indicar a sílaba tônica, e deve ser usado sempre antes da

sílaba tônica, e não em cima da sílaba, com é feita com a transcrição

Page 18: Fonetica e Fonologia

20

Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa

ortográfica. Por exemplo, observe a diferença de uso nas palavras

para /‘pa\a / e Pará /pa ‘\a/.

Veja que o que as diferencia é o acento tônico, na primeira

palavra o acento recai na primeira sílaba, já na última, ele recai na

segunda.

1.2.2 Importância da fonética e da fonologia

A pergunta que você fará, caro aluno, é: por que devo

estudar fonética e fonologia? A resposta é simples, o professor de

língua quer de língua materna ou segunda língua precisa conhecer

a língua que ensina e quando se trata de segunda língua, a exigência

é ainda maior, pois como ensinar a fonética e a fonologia de outra

língua, se não sabe a da sua própria. Ao estudar fonética e

fonologia, você compreenderá melhor o funcionamento sonoro das

línguas.

Mori (2003) aponta quatro aspectos importantes a respeito

da aplicação da teoria fonológica. Ei-las:

• As teorias fonológicas são aplicadas na criação de

ortografias de línguas ágrafas, isto é, línguas sem escrita.

• A fonologia auxilia no conhecimento do sistema

fonológico da língua materna. Através dela, podemos estabelecer

a relação entre os fonemas e os símbolos gráficos. É importante o

professor conhecer bem o sistema fonológico para explicar os

problemas de ortografia. Na língua portuguesa, por exemplo, não

há correspondência entre o fonema /z/ e a representação gráfica.

Ele pode ser representado por ‘z’ como zebra ‘s’ como em casa e

por ‘x’ como em exercício.

• Ela pode também ajudar na aprendizagem de uma língua

estrangeira. Por essa razão, o professor precisa conhecer bem o

Page 19: Fonetica e Fonologia

21

UESPI/NEAD Letras Espanhol

sistema fonológico tanto da língua materna, quanto da língua

estrangeira. Esse conhecimento irá auxiliá-lo a fazer o aluno superar

a tendência de transpor o sistema fonológico da língua materna

para a língua que está aprendendo. Por exemplo, um falante espanhol

que conhece superficialmente o português, não distingue o /E/ de pé e

o /e/ de você, uma vez que na língua dele o “e” é representado apenas

pelo fonema /e/, ou seja, tem apenas este fonema.

• A teoria fonológica é usada por especialistas em patologias

da linguagem para entender as desordens fônicas, tais como gagueira,

troca de sons, na fala de pessoas com distúrbios da linguagem.

Massini-Cagliari e Cagliari destacam que a Fonética serve

de suporte para os estudos de fonologia e de outras áreas da

linguística. Neste sentido, enfatizam que:

tem contribuído enormemente para o desenvolvimentode tecnologias que se utilizam dos elementos sonorosda fala, como a engenharia de telecomunicações,sobretudo a telefonia, as ciências da computação,com especial referência à produção de programas deprodução e de reconhecimento da fala. (MASSINI-CAGLIARI E CAGLIARI, 2003, P. 107)

Como observamos a Fonética e a Fonologia têm

contribuído muito não só para a ciência, mas também para a área

tecnológica, surgindo no panorama científico-tecnológico outras

contribuições, que não se restringem ao estudo dos sons e

fonemas, servindo apenas como critério a sua classificação e

caracterização. Hoje, por exemplo, através da fonética forense

pode-se identificar o interlocutor, através da captura de áudio, sendo

possível saber se aquela voz é de quem se diz ser ou não.

Em síntese, podemos afirmar que tanto a Fonética quanto

a Fonologia são duas áreas da linguística que têm o mesmo objeto

de estudo, o som, porém com enfoques e abordagens diferentes.

Page 20: Fonetica e Fonologia

22

Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa

Em última análise, qualquer aluno de Letras, precisa conhecer as

duas áreas, visto que vai lidar com a língua e o seu funcionamento.

1.2.2.1 Domínio da fonética

Em outras palavras, a Fonética é o estudo sistemático dos

sons da fala, ou seja, trabalha com os sons propriamente ditos, levando

em consideração a maneira como são produzidos, percebidos e quais

aspectos físicos estão envolvidos na sua produção.

A Fonética classifica-se basicamente em três domínios:

1. Fonética articulatória - estuda os sons do ponto de

vista fisiológico. Assim, ao descrevermos a realização de um som,

por exemplo [p], podemos afirmar que durante a sua articulação

não houve vibração das cordas vocais, por isso ele é não-vozeado,

e o fluxo de ar seguiu o caminho do trato vocal, o que o caracteriza

como som oral, havendo obstrução pelos dois lábios, por essa razão

é classificado como oclusivo e bilabial. Esse é o papel da fonética

articulatória: o de descrever e classificar os sons.

2. Fonética acústica - leva em conta as propriedades

físicas do som, como os sons da fala chegam ao ouvido. Quando

realizamos qualquer som, a sua propagação se dá através de ondas

sonoras até chegar ao ouvido do interlocutor. A análise desse som

e sua propagação é realizada com o auxílio de programas

computacionais específicos, tais como PRAAT e WAVE SURFER.

Estes programas permitem avaliar a altura e intensidade da voz

humana.

3. Fonética auditiva - preocupa-se em estudar a percepção

do aparelho auditivo, ou seja, como o ouvido capta o som, visto que,

muitas vezes, nem sempre percebemos o mesmo som de forma

semelhante. Somente uma análise mais apurada permitirá identificá-

P r o g r a m a sComputacionaisa d q u i r i d o sg r a t u i t a m e n t eatravés dos siteswww.p raa t . o rgpara o programaPRAAT; www.speech.kth.se/wavesurfer, paraWavesurfer.

Page 21: Fonetica e Fonologia

23

UESPI/NEAD Letras Espanhol

lo. Este tipo de estudo cabe à Fonética Auditiva, campo de pesquisa

ainda muito pouco explorado.

Estes três tipos de estudos são pouco implementados

concomitantemente. Isso se deve à falta de especialização, de

pessoas qualificadas para atuarem na área, observada, sobretudo,

nos estudos acústicos e auditivos. Por essa razão, os estudos na

área articulatória são os mais adotados no meio acadêmico, uma

vez que é a área da fonética mais fácil de ser detectada e verificada,

por dizer respeito à produção dos sons. No entanto, para

empreender um estudo mais detalhado da produção de alguns

sons, é necessário recorrer a estudos acústicos. No passado, tais

estudos necessitavam de aparelhos sofisticados, e, muitas vezes,

de difícil acesso. Atualmente, com um computador equipado com

programas específicos que dispõem de softwares para realizar

análises acústicas, como as realizadas pelo PRAAT, por exemplo,

podem-se obter excelentes resultados. Uma demonstração desse

tipo de programa pode ser observada na figura abaixo.

Figura 02: Tela de abertura do programa Wave Surfer 1.5.3.Fonte disponível em: <http://www.cefala.org/fonologia/acustica_software_wavesurfer.php>

Page 22: Fonetica e Fonologia

24

Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa

Por se tratar de um curso de graduação e considerando,

também, as dificuldades em encontrar especialistas na área, a

disciplina Fonética e Fonologia, concentrar-se-á na parte

articulatória dos sons, ou melhor, na fonética articulatória. Esta

parte da fonética, como já mencionado, volta-se para a produção

dos sons, levando em conta seu modo de articulação, seu ponto, o

caráter vozeado ou não e ainda a configuração nasal ou oral. Para

isso, iniciaremos com a apresentação da realização dos sons.

Antes, porém, é necessário destacar o domínio de estudo da

Fonologia.

1.2.2.2 Domínio da fonologia

Há basicamente duas linhas de estudo da Fonologia, uma

denominada segmental, que compreende o estudo das vogais e

consoantes; e a supra-segmental, que se concentra em estudar o

acento, o ritmo e a entoação. No nível segmental, estuda-se a forma

como os sons se organizam para formar unidades linguísticas

maiores (sílabas, morfemas – unidades mínimas das palavras,

como radical, prefixo, sufixo, palavras e sentenças. Além disso,

estuda as variações que os fonemas podem apresentar. Já o nível

supra-segmental ou prosódico é aquele que não se realiza como

segmento específico na cadeia de sons, ocorrendo vários

segmentos ao longo da cadeia. Isso significa dizer que em qualquer

enunciado, além dos fonemas segmentais, temos outras unidades.

Ninguém fala sem imprimir uma modulação de maior ou menor

força em certas unidades enunciadas. Há uma acentuação,

entonação e juntura. Portanto, essas diferentes variações são ou

podem ser os fonemas supra-segmentais. Destacam-se três

fenômenos prosódicos:

Page 23: Fonetica e Fonologia

25

UESPI/NEAD Letras Espanhol

a) Quantidade ou duração – É o tempo de pronúncia de um

segmento, que pode ser longo ou breve. Registram-se os

segmentos longos através do sinal diacrítico [:] colocado logo após

o som alongado. Assim, pode-se registrar a maior duração da vogal

[o], por exemplo, na palavra gol, como pronunciada pelos locutores

de futebol, da seguinte forma: [go:w].

b) Intensidade – resulta da maior ou menor força expiratória,

ao longo da cadeia da fala, determinando segmentos tônicos e

átonos. Costuma-se indicar a sílaba tônica por um apóstrofo anterior

a ela: [‘sapU], [ka ‘f]

c) Altura – resulta da frequência de vibrações das cordas

vocais em uma dada unidade de tempo, determinando diferentes

tons e entonações.

1.3 APARELHO FONADOR

Falar é um ato tão natural para o ser humano como o uso de

qualquer um dos cinco sentidos (tato, paladar, audição, visão,

olfato). Essa capacidade o particulariza entre os animais. A fala é

um sistema simbólico diferente de outros sistemas usados também

na comunicação, como os gestos, a linguagem das abelhas. Essa

diferença se dá em virtude de o sistema da fala poder ser

segmentado em unidades menores. Por exemplo, a palavra “bola”

contém quatro fonemas [b], [o],[ l],[ a]. A partir de agora,

estudaremos a composição e o funcionamento do aparelho fonador,

que produz essas unidades sonoras.

1.3.1 Constituição do aparelho fonador

A primeira pergunta que pode vir a sua cabeça é: como se

realiza o som? Para responder a essa pergunta, temos que

entender o caminho que o fluxo de ar segue na respiração. É

Page 24: Fonetica e Fonologia

26

Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa

importante lembrarmos que os sons não se realizam no momento

de “inspiração”, mas na “expiração”. O oxigênio, que é vital ao ser

humano, chega até os pulmões pela traqueia. Em seu caminho de

volta, ainda ar, ele sofre a primeira deformação ao chegar à laringe.

É na laringe que definimos dois tipos de sons.

O ar expelido pelos pulmões chega à laringe e atravessa a

glote, que fica na altura do chamado pomo-de-adão ou gogó. O ar,

então, chega à abertura entre as duas pregas musculares das paredes

superiores da laringe, conhecidas pelo nome de cordas vocais (ou

pregas vocais). O fluxo de ar pode encontrá-las fechadas ou abertas,

em virtude de estarem aproximadas ou afastadas. Caso estejam

fechadas, o ar força sua passagem, fazendo-as vibrar e produzir os

sons chamados de vozeados. No segundo caso, quando relaxadas, o

ar escapa, com pouca vibração das cordas vocais, produzindo sons

chamados de não-vozeados, como ilustra a figura 03.

Figura 03: Pregas vocais.

Figura 04: Movimento da glote.Fonte: http://www.studiomel.com/17f.html

Page 25: Fonetica e Fonologia

27

UESPI/NEAD Letras Espanhol

As pregas vocais estão situadas no interior da laringe e

se constituem em um tecido esticado com duas pregas. O expulsar

do ar por elas as faz vibrarem produzindo o som pelo qual nos

comunicamos. As pregas são fibras elásticas que se distendem

ou se relaxam pela ação dos músculos da laringe com isso

modulando e modificando o som e permitindo todos os sons que

produzimos enquanto falamos ou cantamos.

Todo o ar inspirado e expirado passa pela laringe e as pregas

vocais, estando relaxadas, não produzem qualquer som, pois o ar passa

entre elas sem vibrar. Quando falamos ou cantamos, o cérebro envia

mensagens através dos nervos até os músculos que controlam as

cordas vocais que fazem a aproximação das cordas de modo que

fique apenas um espaço estreito entre elas. Quando o diafragma e os

músculos do tórax empurram o ar para fora dos pulmões, isso produz

a vibração das cordas vocais e consequentemente o som, como

demonstra a figura 03, na página anterior.

De acordo com Cristófaro-Silva (2002), os órgãos usados

na produção da fala não têm apenas função de produzir sons. Na

verdade, a função primária deles é mastigar, sentir o paladar,

engolir, respirar ou cheirar.

A autora divide os órgãos do corpo humano que compõem

o aparelho fonador em três grupos: sistema respiratório, fonatório

e articulatório. O sistema respiratório , que se situa abaixo da glote,

é constituído pelos pulmões, músculos pulmonares, traqueia. Os

músculos pulmonares produzem a pressão para os pulmões

liberarem a corrente de ar, que passa pelos brônquios e traqueia.

Sem a corrente de ar os sons não poderiam existir.

O sistema fonatório é composto pela laringe, que é uma

câmara oca onde a voz é produzida. Nela estão as cordas vocais,

que determinam a sonoridade dos sons (surdos ou sonoros).

Page 26: Fonetica e Fonologia

28

Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa

O sistema articulatório é formado pela faringe, cavidade

bucal, cavidade nasal (nariz), palato mole, úvula, (conhecida como

campainha), dentes, língua, lábios e palato duro (céu da boca). A função

da cavidade nasal e bucal e o da faringe é a de ampliar o som. Palato

mole, língua, palato duro, dentes e lábios têm a função de articular o

som. Observe a constituição do aparelho fonador na figura 05.

Outros autores, contudo, ampliam a constituição do

aparelho fonador. Dentre esses, destaca-se a opinião de Oliveira

e Brenner (1988), ao informar que a constituição do aparelho

fonador é feita de partes de órgãos do aparelho digestivo, do

aparelho respiratório, do aparelho circulatório e do sistema nervoso.

De modo sucinto, podemos dizer que o aparelho fonador

pode ser definido como um mecanismo de produção da fala, sendo

a sua formação feita por diferentes partes, algumas das quais

pertencem ao aparelho digestivo, outras ao aparelho respiratório.

A boca e a faringe, órgãos do aparelho digestivo, desempenham

papel essencial na formação das vogais e consoantes. As

dimensões dessas cavidades podem ser modificadas pela ação

dos músculos da língua, do palato mole e da faringe.

Figura 05: Órgãos envolvidos no processo de realização dos sons.

Page 27: Fonetica e Fonologia

29

UESPI/NEAD Letras Espanhol

O aparelho respiratório participa integralmente da

produção do som da fala.

Os pulmões produzem a corrente de ar comprimido

utilizado para a geração do som.

A laringe, que se destina originariamente à passagem de

ar; e a glote cuja função original é, de fato, a prevenção da queda

de corpos estranhos no interior do aparelho respiratório, também

participa ativamente da produção da fala. Como vemos, não há

uma predisposição fisiológica para a fala.

O quadro 02 apresenta o resumo dos três sistemas que

compõem o parelho fonador.

1.3.2 Funcionamento do aparelho fonador

Quando queremos falar alguma coisa a alguém, entra em

funcionamento o sistema nervoso. Esse sistema emite estímulos

para os músculos pulmonares, produzindo, assim, pressão para

que os pulmões liberem o ar que passa pelos brônquios para

penetrar na traquéia e chegar à laringe. Nela, o ar encontra a

primeira barreira a sua passagem, chegando à glote. Ela fica na

Quadro 02 Resumo dos órgãos e funções do aparelho fonador

Pulmões, músculospulmonares, traqueia.

Laringe (cordas vocais,glote).

Faringe, cavidade bucal,

cavidade nasal.

Palato mole, língua, palatoduro, dentes e lábios.

Produção de pressão no ar que sai dospulmões (sem a corrente do ar não existiriamos sons.

Determinação da sonoridade de sons(surdos ou sonoros).

Ampliação do som.

Articulação dos sons.

ÓRGÃOS FUNÇÕES

Page 28: Fonetica e Fonologia

30

Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa

altura do chamado pomo-de-adão ou gogó. A glote é uma abertura

entre duas pregas musculares das paredes superiores da laringe,

denominadas cordas vocais. O nome corda é impróprio. Trata-se,

na realidade de lábios ou dobras, simetricamente situados à direita

e à esquerda da linha mediana. Esses lábios são dois músculos

gêmeos elásticos, formados pela capa muscular que reveste

interiormente as cartilagens da laringe. Quando o ar sai dos

pulmões, elas podem permitir a passagem livre, se estiverem

abertas, e, desse modo, não vibrarão. Se, ao contrário, oferecem

resistência, entrarão em vibração. No primeiro caso, o ar força a

passagem fazendo as cordas vocais vibrarem e produzirem sons

sonoros ou vozeados. No segundo caso, com as cordas vocais

separadas, o ar passa sem provocar vibração, dando origem aos

sons surdos ou desvozeados. Esse funcionamento pode ser

observado na figura 05, ilustrada na página anterior.Para

compreender melhor esse fenômeno, você pode colocar os dedos

no pomo-de-adão ou gogó e dizer [b] e [p], sem emitir vogais,

somente repetindo esses sons. Repita cada um várias vezes. Note

que, ao dizer [b], as cordas vocais vibram, quer dizer, o som é sonoro,

enquanto ao dizer [p], elas não vibram, o som produzido é surdo.

Ao sair da laringe, o ar entra na faringe, onde se depara

com uma encruzilhada, que lhe oferece duas vias de acesso: a

entrada para a cavidade bucal e a cavidade nasal. Entre essas

cavidades, fica o palato mole. Se a úvula estiver abaixada, o ar

penetrará na cavidade nasal, então teremos o som nasal; se a úvula

estiver levantada, impedirá a passagem pela cavidade nasal,

obrigando o ar a passar pela boca, daí teremos o som oral. Você

poderá perceber essa diferença ao dizer as palavras lá e lã (repita

cada uma várias vezes). Ao pronunciar a primeira palavra, o ar sai

pela boca; e ao pronunciar a segunda, o ar sai pelo nariz. Portanto,

Page 29: Fonetica e Fonologia

31

UESPI/NEAD Letras Espanhol

em lá temos um som oral, enquanto em lã temos som nasal. Na

figura 06, a seguir, podemos verificar onde se realizam os sons

orais e nasais.

Observemos que o ar que está na boca tem a função de

caixa de ressonância. Nela, através dos dentes, língua e lábios

podem ser produzidos variados sons. Para essa produção, usa-

se o palato mole e os alvéolos, que é a parte alta que fica atrás dos

dentes superiores, através dos quais se chega ao palatoduro. A

língua é o principal órgão da articulação do som. É ela que interfere

na formação dos sons das vogais e das consoantes. No trato vocal,

temos o conjunto de articuladores. Tais articuladores, como

observados na figura 06, podem ser classificados como ativos e

passivos.

Articuladores ativos são denominados aqueles

articuladores que na realização do som se movimentam. São eles:

maxilar inferior, com os dentes, língua, lábios, palato mole e úvula.

Ao contrário, são denominados articuladores passivos os que não

se movimentam, tais como maxilar superior com os dentes, alvéolos

e palato duro, conforme demonstra a figura 07.

Figura 06: Cavidade oral e cavidade nasal.

Page 30: Fonetica e Fonologia

32

Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa

De acordo com Cristófaro-Silva (2002, p. 31), a relação

entre articuladores ativos e passivos se dá a partir “da posição do

articulador ativo em relação ao articulador passivo (podendo ou

não haver contato entre eles)”, podemos determinar o lugar de

articulação dos segmentos consonantais.

Em síntese, o ser humano não possui um órgão específico

para a fonação. Ele conta com vários órgãos: parte do aparelho

digestivo, respiratório, circulatório e até do sistema nervoso central,

a fim de elaborar o processo de fonação. Neste aspecto, podemos

dizer, ainda que, de acordo com os estudos de Rosetti (1974, p.

43) “a voz humana é provocada pelos influxos do nervo recorrente

transmitidos à laringe, sendo que a célula nervosa transforma a

energia química produzida pela nutrição em energia elétrica”.

1.4 SÍNTESE DA UNIDADE

O aparelho fonador é composto por três sistemas:respiratório, fonatório e articulatório. O sistema respiratório é

constituído pelos pulmões, músculos pulmonares e traqueia. Os

Figura 07: Articuladores ativos e passivos.

Page 31: Fonetica e Fonologia

33

UESPI/NEAD Letras Espanhol

músculos pulmonares produzem a pressão para os pulmões

liberarem a corrente de ar. Ela passa pelos brônquios e traqueia

(sem a corrente do ar, os sons não existiriam).

O sistema fonatório é composto pela laringe, que é uma

câmara oca, onde a voz é produzida. Nela estão as cordas vocais

que determinam a sonoridade dos sons. Se elas estiverem

próximas, o ar força a passagem fazendo-as vibrar e produzir o

som sonoro. Se elas estiverem separadas, o ar passa sem

vibrações, dando origem aos sons surdos.

O sistema articulatório é formado pela faringe, trato vocal

(cavidade bucal), cavidade nasal, palato mole, dentes, língua, lábios

e palato duro. Na faringe, o ar se depara com uma encruzilhada,

que lhe oferece duas vias de acesso: a entrada para a cavidade

bucal e a cavidade nasal. Entre essas cavidades, fica o palato mole.

Se a úvula estiver abaixada, o ar penetrará no nariz e teremos o

som nasal. Se ela estiver levantada, impedirá a passagem pela

cavidade nasal, obrigando o ar a passar pela boca e teremos o

som oral.

FÓRUM DE DISCUSSÃO

1) Mostrar que determinado som da LP não tem

funcionalidade é uma tarefa da Fonética ou da Fonologia? Dê

exemplos.

ATIVIDADE I

1) Reconheça as atividades de pesquisa a seguir

discriminadas como sendo da competência da Fonética ou da

Fonologia:

Page 32: Fonetica e Fonologia

34

Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa

ÓRGÃOS FUNÇÕESSistema respiratórioLaringeCordas vocaisFaringeCavidade bucalCavidade nasalDentes, língua, lábios, alvéolos,palato duro.

a) Parte da linguística que trata dos sons da fala, ou seja, em relação

às funções que eles exercem numa dada língua ( ).

b) É adotada para distinguir significações por meio de diferenças

de sons ( ).

c) Tem como tarefa a investigação dos sons da fala, de um ponto

de vista puramente fisiológico, ou mais precisamente psico-

acústico ( ).

d) Preocupa-se com a produção e processo de realização, com a

propagação e a percepção do som da fala ( ).

e) Descreve os órgãos que intervêm na produção dos sons ( ).

f) Descreve as combinações possíveis de sons ( ).

2) Preencha o quadro apontando as funções dos órgãos do

aparelho fonador

ATIVIDADE II

1) Relacione as colunas: (1) Fonética; (2) Fonologiaa) ( ) Estuda o som da fala.b) ( ) Estuda o som da língua.c) ( ) Concentra-se no estudo de sons responsáveis pela distinção

de significados.

Page 33: Fonetica e Fonologia

35

UESPI/NEAD Letras Espanhol

d) ( ) Analisa como o som é produzido pelo aparelho fonador.

e) ( ) O fone é representado entre colchetes [f].

f) ( ) O fonema é representado entre barras /f/.

2) Faça a diferença entre fonética e fonologia. Apresente

exemplos.

ATIVIDADE III

1) Estabeleça a diferença entre fonética acústica e fonética

articulatória.

2) Após pesquisa em textos que tratem sobre o aparelho fonador,

utilize o código abaixo para determinar as respostas corretas:

2.1 ( ) A laringe faz parte do aparelho respiratório.

2.2 ( ) Nas cavidades supraglotais há somente órgãos do

aparelho digestivo.

2.3( ) As aritenoides são cartilagens pequenas que se

situam na laringe.

2.4 ( ) As cordas vocais são músculos cobertos por uma

membrana e que se movem no sentido horizontal e vertical.

2.5 ( ) As cavidades supraglotais, que são caixas de

ressonância, compreendem a faringe, as fossas nasais, a

cavidade bucal e a projeção dos lábios para a frente;

a) F, V, V, V, F

b) V, F, F, F, V

c) V, F, F, V, V

d) V, F, V, V, V

Page 34: Fonetica e Fonologia

36

Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa

Anotações

Page 35: Fonetica e Fonologia

37

UESPI/NEAD Letras Espanhol

UNIDADE 2

CONSOANTES DO PORTUGUÊS

• Classificação dos sons consonantais da língua portuguesa quanto ao

ponto e ao modo de articulação;

• Estabelecimento da diferença entre ponto e modo de articulação;

• Identificação de fones consonantais.

OBJETIVOS

• Classificar os sons consonantais da língua portuguesa quanto ao ponto

e modo de articulação;

• Conhecer a diferença entre ponto e modo de articulação;

• Reconhecer os símbolos de fones consonantais.

Page 36: Fonetica e Fonologia

38

Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa

123456789012345678901234567890121123456789012345678901234567890121123456789012345678901234567890121123456789012345678901234567890121123456789012345678901234567890121123456789012345678901234567890121123456789012345678901234567890121

Page 37: Fonetica e Fonologia

39

UESPI/NEAD Letras Espanhol

2 CONSOANTES DO PORTUGUÊS

O fluxo do ar é modificado de diferentes maneiras. E

segundo Callou e Leite (2001, p. 23) “os diferentes modos por que

o fluxo de ar é modificado permitem o estabelecimento de duas

grandes classes de sons”. É ele, portanto, que permite o

estabelecimento entre as duas grandes classes de sons: as vogais

e as consoantes. Acrescenta-se a estas, outra classe de sons, as

semivogais, também denominada como a dos glides. Neste

aspecto, uma primeira pergunta se poderia fazer: o que diferencia

as três classes? Nas vogais a produção de sons se dá sem

bloqueio à passagem de ar na cavidade do trato vocal. Nas

consoantes, a produção de sons se dá com bloqueio total ou parcial

à passagem do ar no trato vocal. Nas semivogais ou glides sons

fracos de [i] e [u] que formam sílabas com uma vogal ficam a meio

caminho entre vogais e consoantes.

Ainda, segundo Cristófaro-Silva (2002), as semivogais são

analisadas somente no nível fonológico.

2.1 CONSOANTES DO PORTUGUÊS

Do ponto de vista fonético, as consoantes são produzidas

por um fechamento ou estreitamento do aparelho fonador, de modo

que a passagem do ar seja total ou parcialmente bloqueada.

Ao caracterizar um som consonantal, é relevante

considerar se há ou não vibração das cordas vocais (sons sonoros

ou surdos), se o som é nasal ou oral e em qual lugar e modo se deu

a articulação (CALLOU; LEITE, 2001). Nesta aula, examinaremos

o lugar e o ponto de articulação. Iniciaremos pelo ponto de

articulação.

Page 38: Fonetica e Fonologia

40

Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa

2.1.1 Lugar de articulação

Lugar de articulação é o local em que os dois articuladores

entram em contato. Um articulador é qualquer parte do aparelho

fonador que participa da produção do som. Ele pode ser ativo

(dotado de movimento) ou passivo (sem movimento) (CALLOU;

LEITE, 2001).

Quanto ao ponto de articulação, o português apresenta os

seguintes sons:

Bilabial - a passagem do ar é obstruído pelos dois lábios.

O som é produzido pela junção dos lábios. Os sons bilabiais são

[p, b, m]. Podemos afirmar também que são sons produzidos com

um estreitamento ou fechamento produzido pelo contato dos lábios.

Exemplos: [p]ata, [b]ola, [m]oca.

Labiodental - há sons que são produzidos pela obstrução

Figura 08: Ponto bilabial

Figura 09: Ponto labiodental

Page 39: Fonetica e Fonologia

41

UESPI/NEAD Letras Espanhol

parcial do ar. Desta forma, o som é produzido pela aproximação do

lábio inferior e a arcada dentária superior. São labiodentais: [f,v].

Exemplos: [f]aca, [v]aca .

Dental /alveolar - som produzido com a ponta da língua entreos dentes superiores e inferiores, ou com a língua contra a parteposterior dos dentes incisivos superiores, ou com os alvéolos. Sãoeles: [t, d, s, z, l, n, r, {, }]. Exemplos: [t]atu, [d]ado, [n]ada, ma[l]a,ca[r]o (caro, de caro amigo), ca[äääää]ne (dialeto caipira) “carne”, [s]apo,[z]ebra. Chamamos a atenção para o som do “r”. Você deve ternotado que ele tem vários tipos de sons, ou seja, várias realizações.Ele pode ser alveolar, velar ou glotal. Sobre ele e outras variações

de sons, trataremos nas próximas aulas.

Palato-alveolar - som produzido na região imediatamenteanterior à região onde se articulam os sons palatais. Trata-se de umsom palatal ao qual se acrescenta a característica alveolar. Sãopalato-alveolares: [tS, dZ, S, Z]. Exemplos: [tStStStStS]ia (tia), [dZdZdZdZdZ]ia (dia),

Figura 11: Ponto palato-alveolar.

Figura 10: Ponto dental/alveolar.

Page 40: Fonetica e Fonologia

42

Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa

[SSSSS]a (chá), [ZZZZZ]a (já).

Palatal - som produzido com o contato da parte central da línguacom o palato duro. Ou ainda pode-se dizer que são sons produzidoscom a lâmina da língua tocando o palato duro, como os observado em[´, ø]. Exemplos: ba[ø]o ou ba[y)]o (banho)* (depende do dialeto); ma[´́́́́]a

ou ma[lJlJlJlJlJ]a (malha)* (depende do dialeto).

Velar - som produzido com o dorso da língua, ou seja, a partede cima da língua (centro da língua), contra o palato mole. São velares:[k], [g],[x]. Exemplos: [k]asa, [g]ato, [X]ato* “rato” (realização (velar)pertinente ao dialeto carioca); [h]ato* (realização (aspirada ou glotal –

comum no nordeste brasileiro).

Figura 14: Ponto Glotal.

Figura 12: Ponto palatal.

Figura 13: Ponto velar.

Page 41: Fonetica e Fonologia

43

UESPI/NEAD Letras Espanhol

Glotal - Podemos também registrar a realização glotal –

que é o som produzido com a articulação das cordas vocais, ou melhor,

o som é glotal, quando as duas cordas vocais articulam-se entre si.São sons glotais: [h,î]. Exemplos: [h]ato “rato”, ba[h]Iga “barriga” eca[î]ga* “carga”, articulação que também depende do dialeto. Nodialeto piauiense, por exemplo, a glotal é a realização predominante,conforme pesquisas de Carvalho (2009).

Os sons linguísticos ainda podem ser classificados quantoao modo de articulação. Utilizaremos apenas os sons realizados naLíngua Portuguesa.

Na unidade III, daremos mais explicações sobre esses sonslinguísticos e os símbolos que usamos para representá-los na línguaportuguesa.

Resumindo melhor o exposto, apresentaremos, a seguir, um

quadro com a classificação dos pontos de articulação.

Quadro 03 – Classificação dos sons consonantaisquanto ao ponto de articulação

PONTO DEARTICULAÇÃO

EXEMPLOS DE FONESCONSANATAIS

Som produzido com umestreitamento ou fechamentoproduzido pelo contato dos lábios.

[p]ato, [b]ola, [m]ala

[f]aca, [v]açaSom produzido com o contato do lábioinferior com os dentes superiores.

Som produzido com a ponta dalíngua entre os dentes superiores einferiores, ou com a língua contra aparte posterior dos dentes incisivossuperiores, ou com os alvéolos.

Som produzido na regiãoimediatamente anterior à região ondese articulam os sons palatais. Trata-se de um som palatal ao qual seacrescenta característica alveolar.

[t]atu, [d]ado, [n]ada,ma[l]a, ca[R]o, ca[Ó]ne(dialeto caipira), [s]opa,[z]ebra.

[tS]ia, [dZ]ia, [S]a (chá),[Z]a (já).

ba[ø]o ou ba[y)]o (banho)*,ma[´]a ou ma[lJ]a (malha),(*Depende do dialeto)

[k]asa, [g]ato, [X ]ato(rato)*, ca[Ä]ga* (carga).(*Depende do dialeto)

[h]ato* (rato), ba[h]iga*(barriga), ca[ú ]ga*(carga) (*Depende dodialeto)

Som produzido com o contato da partacentral da língua com o palato duro.

Som produzido com o dorso (teto oucentro da boca) da língua contra opalato mole.

Som produzido coma articulação dascordas vocais.

PONTO DEARTICULAÇÃO

Bilabiais

Dentaisou

alveolares

Alveolopalatais

Palatais

Velares

Glotais

Labiodentais

Page 42: Fonetica e Fonologia

44

Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa

2.1.2 Modo de articulação

a) Oclusiva ou Plosiva - são as que resultam de uma

oclusão momentânea da passagem de ar, seguida de uma abertura

brusca (explosão). Nesse caso, o fluxo de ar encontra uma

interrupção total, seja pelo fechamento dos lábios, seja pela pressão

da língua sob a arcada dentária ou sob o palato duro. São elas:

[p,b, t, d, k, g].

Esta oclusão é realizada em português, nos seguintes

pontos: Oclusão bilabial – um lábio contra o outro –[p], [b] Oclusão

ápico-dental – a ponta da língua contra os dentes ou gengivas – [t]

e [d]. Oclusão dorso-palatal – o dorso da língua contra o palato

duro – [k] e [g] sempre diante vogal anterior, como no exemplo das

palavras quilo e guia.

b) Fricativas – são as caracterizadas por um estreitamento

da passagem do ar, que produz um ruído de fricção ao passar entre

dois articuladores. São fricativas: [f, v, s, z, S, Z, x). As fricativas do

português são as seguintes:

• Fricativas labiodentais [f] e [v];

• Fricativas alveolares [s] e [z];

• Fricativas álveo-palatais [S] e [Z];

• Fricativa velar [x] de carro, realizada no dialeto carioca.

Note que, comumente, o [s] e o [z] recebem a denominação

de sibilantes, enquanto o [S] e o [Z] de chiantes.

c) Africada – é a combinação entre oclusivo e fricativo. É o

que acontece na realização de: [tS, dZ], observada na fala de

piauienses da Capital e do norte do estado, ao pronunciarem [tS]ia

e [dZ]ia, “tia” e “dia”, por exemplo.

d) Nasal – aquele som que, na sua realização, parte do ar

sai pelo trato vocal (boca) e parte pelas fossas nasais (nariz). São

exemplos desses sons: [m, n, ø]. Em português, temos a

possibilidade de produzir nasais:

Page 43: Fonetica e Fonologia

45

UESPI/NEAD Letras Espanhol

• Bilabiais - [m] (mala);

• Ápico–dental - [n] (nada);

• Palatal - [ø] (banho);

• Velar [N] (manga)

e) Lateral – som produzido quando a língua ao tocar os

alvéolos, obstrui a passagem do ar nas vias superiores, mas permite

que o ar passe através das paredes laterais da boca. São laterais

[l, ́ ]. Em português, podem-se produzir laterais:

Ápico-dental [l] (leite)

Palatal [´] (palha)

f) Vibrante – Caracteriza-se pelo movimento vibratório e

rápido da língua, provocando, desse modo, breves interrupções

na corrente de ar. A vibrante é representada pelo‘r’. Em português,

existem as vibrantes:

• Anterior ou apical [r] de “caro” – pronunciado de

maneira que a ponta da língua ao tocar os alvéolos empurra para

fora a corrente de ar.

• Pode também haver uma batida única, cuja

denominação é a de flap [R] (vibrante simples).

• Ou uma multiplicidade de batidas denominadas de

trill de vibrante múltipla [}].

g) Tepe – Ao contrário da vibrante, o tepe se caracteriza

por apenas uma batida da ponta da língua contra os alvéolos. É o

caso do [R]. Este som é aquele sempre usado nos encontros

consonantais em palavras como prato e fraco .

h) Retroflexa – Caracteriza-se pelo levantamento e

encurvamento da ponta da língua em direção ao palato duro,

representado foneticamente pelo símbolo [}]. Este é o “erre”

encontrado comumente no falar de algumas comunidades de são

Paulo, do Paraná e também Minas Gerais.

Para facilitar a compreensão do que fora até agora

estudado, vamos resumir, através de um quadro, o modo de

articulação das consoantes.

Page 44: Fonetica e Fonologia

46

Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa

A partir do que estudamos nesta aula, podemos sintetizar

um quadro com a classificação das consoantes do português do

Brasil com seus respectivos símbolos.

Quadro 04 – Classificação dos sons consonantais quanto ao modo dearticulação

Page 45: Fonetica e Fonologia

47

UESPI/NEAD Letras Espanhol

Quadro 05 – Símbolos Consonantais da Língua Portuguesa

Fonte: Adaptação de Cristófaro-Silva (2002)

Page 46: Fonetica e Fonologia

48

Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa

Os símbolos que representam os fones não correspondem,muitas vezes, às letras que representam. Por exemplo, [´]representa o som das letras “lh”, assim como o símbolo [ø]representa o som das letras “nh”. Esses símbolos são estabelecidospor convenções.

2.2 VARIAÇÃO DE ALGUNS SONS CONSONANTAIS

Os sons consonantais, em português, podem variar de acordocom o dialeto, que envolvem as variações regionais ou idioleto(variações individuais). Essas variações são comumente maispercebidas com os fonemas “r” e “s”. Em seguida, veremos nos itensda sequência, algumas dessas variações, a partir de estudos deCristófaro Silva (2002).

2.2.1 Variações do “r” e dos “rr” ortográficos

Você notou que o “r” e os “rr” ortográficos têm váriossímbolos fonéticos para representá-los. Isso se dá devido à variaçãodialetal de pronúncia das duas formas ortográficas. Vamos analisar

as variações?

Fonte: Quadro elaborado a partir de informações de Cristófaro-Silva (2002).

Quadro 06 Variações do “r” e dos “rr” ortográficos

AMBIENTE

Seguido de consoante na mesmasílaba ou em posição intervocálica(maioria dos dialetos)

Final de sílaba ou palavra (algunsdialetos).

Início de palavras, em posiçãointervocálica (“rr”), seguido deconsoante surda em sílabadiferente ou final de palavra.

Final de sílaba antes de consoantesonora.

Início de palavra, em posiçãointervocálica (“rr”) ou seguido deconsoante em sílaba diferente.

Final de sílaba ou palavra.

SÍMBOLOFONÉTICO

[RRRRR]

[x, h]

[FFFFF, úúúúú]

[r)r)r)r)r)]

[ÓÓÓÓÓ](caipira)

EXEMPLOS

c[R]avo, ca[R]a

ca[R]ta, ma[R]

[X]apaz ou [h]apazca[X]o ou ca[h]o (“carro”)Is[X]ael, Is[h]aelma[X], ma[h]

go[F]dura ou go[ú] dura

[r)] apaz, Ca[r)]o, Is[r]ael

ma[Ó], go[Ó]do

Page 47: Fonetica e Fonologia

49

UESPI/NEAD Letras Espanhol

2.2.2 Variações do “s” ortográfico

Segundo ainda Cristófaro-Silva (2002), os segmentos

[s,S,z] pode ser representada ortograficamente pelo “s”. Isso ocorre

principalmente em final de palavra, com as denominadas fricativas

sibilantes. Por exemplo, ao observar as palavras paz, gás e rapaz ,

observamos que a pronúncia delas pode variar, dependendo do

dialeto. Ao pronunciar paz [pAs], um carioca pode dizer [AS] ou

ainda ser realizada a variante [pAz] entre falantes da região de

Teófilo Otoni, como destaca a mesma autora. Em grande parte da

região Nordeste, esse mesmo segmento é realizado como [pAys],

para a mesma palavra. Neste caso, observamos o aparecimento

do glide. O glide corresponde a um ditongo, sobre o qual trataremos

na seção dedicada às vogais.

O “s” ortográfico, em limite de sílaba, pode manifestar-se

de duas maneiras na língua portuguesa: fricativa alveolar, como na

pronúncia de pasta [pAstA], observada na fala de pessoas do sul

e sudeste do País, ou como fricativa palatal, observada na

realização de [pAStA] em grande parte do Nordeste e na fala do

carioca, por exemplo. Cristófaro-Silva (2002) ressalta também que

o “s” ortográfico pode comportar-se de duas maneiras, ao se

observar os seguintes grupos de palavras:

a) Casca – aspas – pasta

b) Rasga – asma – Gasbrás

Ela afirma que a primeira alternativa é a ocorrência de uma

das fricativas desvozeadas [s,S], isso sempre ocorre quando a

consoante seguinte for desvozeada, como nas palavras do grupo

a, alternando com a ocorrência de uma das fricativas vozeadas

Page 48: Fonetica e Fonologia

50

Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa

[z,Z] quando a consoante seguinte for vozeada, conforme se

observa nas palavras do grupo b. Na opinião da autora (2002, p.

53), “esta alternativa é selecionada, por exemplo, pelo dialeto de

Belo Horizonte”. Já entre falantes do dialeto do Rio de Janeiro

verificamos a “ocorrência da fricativa alveopalatal desvozeada [S]

quando a consoante seguinte for vozeada”, como apresentam os

exemplos do grupo b. (CRISTÓFARO-SILVA, 2002, p.53).

2.2.3 Variação do “l” ortográfico em final de sílaba

O “l” ortográfico em final de sílaba pode ter o som de [Â] ou

[w] tem o som de consoante lateral alveolar ou dental com

articulação secundária de velarização, que é o levantamento da

parte posterior da língua em direção ao véu palatino. Essa pronúncia

é usada no Sul do Brasil e em Portugal. Podemos observá-la,

também, em pessoas mais velhas provenientes ou que moram na

zona rural.

Na maioria dos dialetos brasileiros, ocorre a vocalização,

ou seja, o “l” ortográfico é pronunciado como vogal [u], realização

observada, por exemplo, nas palavras bolsa [‘bowsA] e calça

[‘kawsA]. Essa pronúncia é representada pelo símbolo fonético [w].

Desse modo, o “l” ortográfico da palavra “calça” pode ser

representadas tanto por [‘bowsA] quanto por [‘boÂsA], dependendo,

é claro, do dialeto.

Até aqui descrevemos como se realizam as consoantes.

Na próxima aula trataremos do sistema vocálico da língua

portuguesa, bem como do sistema semivocálico. Na seção

seguinte, passaremos a tratar do alfabeto fonético internacional e

de transcrição fonética.

Page 49: Fonetica e Fonologia

51

UESPI/NEAD Letras Espanhol

2.3 SÍNTESE DA UNIDADE

Os sons produzidos pelo aparelho fonador classificam-seem três subsistemas: vogais, consoantes e semivogais (ou glides).Esses três subsistemas formam o sistema de sons da línguaportuguesa.

As consoantes são classificadas quanto ao modo e pontode articulação. Ponto de articulação é o local onde é realizado obloqueio à passagem da corrente do ar. Os sons consonantais, apartir do ponto de articulação, são classificados em labial oubilabial (estreitamento ou fechamento produzido pelo contato doslábios –[p], [b], [m]); labiodental (contato do lábio inferior com osdentes superiores – [f], []); dental ou alveolar (a ponta da línguaentre os dentes incisivos superiores e inferiores, ou a língua contraa parte posterior dos dentes incisivos superiores ou contra osalvéolos – [t], [d], [n], [ä], [r], [s], [z]); alveopalatais (regiãoimediatamente anterior á região onde se articulam os sons palatais.Trata-se de um som palatal ao qual é acrescido a característicaalveolar – [tS], [dZ], [S], [Z]; palatal (contato da parte central da línguacom o palato duro – [ø], [y)], [´], [lJ]); velar (dorso da língua em contatocom o palato mole – [k], [g], [X], [Ä]); glotal (articulação das cordasvocais –[h], [ú]).

FÓRUM DE DISCUSSÃO1) Que papel tem a úvula na produção dos sons

linguísticos? Explique.

ATIVIDADE I1) Qual o papel das cordas vocais na produção dos

fonemas vocálicos e consonantais?

2) Como atuam os alvéolos na produção de fonemas em

português?

ATIVIDADE II

1) Classifique os fones consonantais do português quanto

ao lugar de articulação.

Page 50: Fonetica e Fonologia

52

Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa

2) Os fonemas /f/, /m/ e /k/ são produzidos mediante o

mesmo modo de articulação?

ATIVIDADE III

1) Apresente duas palavras para os sons ‘r’ e ‘s’, nas quais

pode haver variação de pronúncia. Procure identificar a região onde

esses sons são realizados.

2) Localize na, figura abaixo, os pontos de articulação,

nomeando-os.

Fonte: Massini-Cagliari e Cagliari (2003, p.124).

FONES CONSONANTAIS LUGAR DE ARTICULAÇÃO

[f ] , [v]

[k], [g]

[S], [Z]

[tS], [dZ]

[ø], [´]

Figura 15: Ponto de articulação

Page 51: Fonetica e Fonologia

53

UESPI/NEAD Letras Espanhol

UNIDADE 3

VOGAIS E SEMIVOGAIS DO PORTUGUÊS

• Alfabeto Fonético Internacional;

• Transcrição fonética e transcrição fonológica;

• Símbolos fonéticos de acordo com o IPA;

• Transcrição fonética e variação linguística.

OBJETIVOS

• Caracterizar Fonética e Fonologia;

• Compreender as diferenças entre Fonética e Fonologia;

• Entender o funcionamento do aparelho fonador;

• Reconhecer a importância da Fonética e da Fonologia para o

processo ensino-aprendizagem do futuro professor.

12345678901234567890123456789011234567890123456789012345678901123456789012345678901234567890112345678901234567890123456789011234567890123456789012345678901123456789012345678901234567890112345678901234567890123456789011234567890123456789012345678901

Page 52: Fonetica e Fonologia

54

Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa

Page 53: Fonetica e Fonologia

55

UESPI/NEAD Letras Espanhol

3 TRANSCRIÇÃO FONÉTICA

Para falarmos de transcrição fonética, é necessário antes

tratarmos de representação fonética dos sons, que somente

poderão ser realizados com o apoio do Alfabeto Fonético

Internacional. Vamos ver o porquê.

3.1 ALFABETO FONÉTICO INTERNACIONAL

Uma das dificuldades mais flagrantes da língua escrita está

na representação gráfica dos fonemas, fato que ocorre,

praticamente, com todos os “sistemas ortográficos de línguas cuja

ortografia é fono-representativa”, como esclarece Cavaliere (2005,

p. 44). Por exemplo, o fonema /s/ em português pode ser

representado pelas letras s (seda), c (cedo), x (máximo), ç (ração),

além dos dígrafos SC (nascer), xç (exceção), sx (exsudar). Já a

letra x pode representar tanto a consoante /s/, como na palavra

máximo, ou o grupo consonantal /ks/, presente na palavra axioma.

Em alguns idiomas, como o francês, o sistema ortográfico tem forte

influência etimológica, isto é, baseia-se na origem da palavra para

justificar a sua escrita.

Considerando que os estudos fonéticos e fonológicos

exigem uma representação gráfica biunívoca do fonema, ou seja,

procura-se representar cada fonema a apenas um grafema e para

que esse grafema corresponda apenas a um fonema, surgiu a

necessidade de se criar um alfabeto fonético. Desse modo, o

alfabeto fonético é o resumo de uma série de símbolos

convencionais de que se utilizam os foneticistas e fonólogos para

representar graficamente os sons da língua.

Com vistas a unificar as transcrições dos sons,

considerando que suas realizações podem variar de uma língua

Page 54: Fonetica e Fonologia

56

Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa

Figura 16 Alfabeto fonético internacional

para outra, foi criado o Alfabeto Fonético Internacional (AFI) emportuguês, tendo em inglês a sigla IPA, que quer dizer, InternacionalPhonetic Alphabet. Uma pergunta que pode surgir é: por que usarum alfabeto diferente do alfabeto que se usa para escrever? Aresposta é simples. Como a fonética lida com a substância daexpressão, devemos tentar registrá-la o mais fielmente possível.Portanto, esse sistema permite ao se fazer uso da transcriçãofonética que qualquer falante conhecedor de seus símbolos realizesons de quaisquer línguas. Este alfabeto apresenta tanto asconsoantes quanto as vogais utilizadas nas diferentes línguas domundo.

Na figura a seguir, encontramos a tabela fonéticaInternacional (IPA) com a revisão de 1993 e atualizado em 1996. Atabela está organizada conforme os traços envolvidos na produçãodos sons, isto é, para as consoantes, leva-se em conta o modo dearticulação, o lugar de articulação e a vibração ou não das cordasvocais (surdas ou sonoras). Já para as vogais, levavamos em contao grau de abertura, o grau de arredondamento dos lábios e aposição relativa da língua na boca. Na tabela abaixo, encontramosos símbolos correspondentes aos sons que são produzidos pela

conjunção dos traços.

Page 55: Fonetica e Fonologia

57

UESPI/NEAD Letras Espanhol

Fonte: http://www.unilang.org/card.php?lang=ia&res=45

Como em nenhuma língua do mundo, a ortografia

corresponde perfeitamente à fonologia nem à fonética, podemos

recorrer, convencionalmente, a esse alfabeto demonstrado acima

com vistas a proceder a uma transcrição fonética ou fonológica.

Caro aluno, você poderia perguntar qual a diferença entre a

transcrição fonológica e a fonética. Diremos que a escrita fonológica

procura reproduzir apenas a língua em sua parte de unidades mínimas

distintivas, já a fonética é muito mais complexa. Ela procura reproduzir

tudo o que um falante nativo diz e da maneira como diz, isto é,

Page 56: Fonetica e Fonologia

58

Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa

alofonicamente, com todos os dados de fala regional, dialetal e até

idioletal. É a escrita adotada comumente em pesquisa de campo.

3.1 OS DIACRÍTICOS

Geralmente, para fazermos transcrição fonológica ou

fonética, necessitamos de alguns sinais específicos para

representá-la, os quais são denominados diacríticos. Segue abaixo

uma lista desses diacríticos, para facilitar a compreensão dessas

transcrições realizadas neste fascículo:

• [ ] = transcrição fonética entre colchetes, cada unidade

representa um som.

• / / = transcrição fonológica ou fonêmica: entre barras

inclinadas, cada unidade representa um fonema da Língua Portuguesa;

• ‘ = indicação de sílaba tônica: a tônica é a que segue ao

sinal. Ex.: para /‘paRa/ é diferente de Pará /pa ‘Ra/. Note que o que as

diferencia é a posição do acento tônico. Na primeira palavra o

acento recai na primeira sílaba, já na segunda, na última sílaba.

• ~ = indica que uma palavra pode ter mais de uma

possibilidade de realização, significa alterna com. Ex.: [mu ‘´Eh] ~

[mu ‘lE], ou seja, são formas variantes.

• ’! transforma-se ou resulta em. Ex.: [ay] ’! [a]

• ..... = indicação do limite de sílaba. Ex.: [ma.ka.ku]

• * = realização que depende do dialeto. Ex.: ba[ø]o ou

ba[y)]o* (banho) (depende do dialeto).

3.2 TRANSCRIÇÃO FONÉTICA: UTILIDADES

A transcrição fonética é de grande utilidade, visto ser

expressiva não somente nos estudos linguísticos, mas também na

Page 57: Fonetica e Fonologia

59

UESPI/NEAD Letras Espanhol

didática das línguas modernas. Na linguística, a transcrição

possibilita uma referência acurada ao som em estudo, de tal sorte

que não seja confundido com sons semelhantes ou de proximidade

articulatória. Na didática, a transcrição informa, por exemplo, ao

aluno de qualquer língua estrangeira a pronúncia exata de uma

palavra, bem como as variações que essa palavra pode sofrer em

determinada área geolinguística , visto que sua acuidade inclui a

fidedigna expressão dos alofones e marcas prosódica.

3.3 TRANSCRIÇÃO FONOLÓGICA

A transcrição fonológica é diferente da fonética. Na

transcrição fonológica, “apenas os fonemas são presentes. Os

alofones são apresentados por seus respectivos fonemas [...]”

(CRISTÓFARO-SILVA, 2002, p.132). Os fonemas são transcritos

entre barras, enquanto que os fones e alofones entre colchetes.

Caro aluno, você perguntaria: por que ocorrem essas diferenças?

Como já mencionado na unidade I, a Fonética representa as

particularidades da fala de cada indivíduo, ao passo que a

Fonologia relaciona-se à língua, que é o sistema linguístico

compartilhado por todos os falantes.

3.4 TRANSCRIÇÃO FONÉTICA E FONOLÓGICA

A transcrição fonética exige uma acuidade muitogrande, pois é preciso registrar toda e qualquer nuança depronúncia.

O pesquisador deve possuir todos os conhecimentosfonéticos, pois terá que transcrever tudo e tal como o informante fala.

A linguagem humana é articulada, por isso podemos dividir

qualquer enunciado em seus fonemas componentes. Mas, na

É o estudo dasvariações nautilização da línguapor indivíduos ougrupos sociais deo r i g e n sg e o g r á f i c a sd i f e r e n t e s ,conforme registraDubois et al.(2007).

Page 58: Fonetica e Fonologia

60

Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa

realidade, todo enunciado é um contínuo, é uma sequência em que

os segmentos se inter-relacionam e sofrem influências mútuas.

Estas influências aparecem na fonética. Qualquer vogal, por exemplo,

sofre alteração fonética de acordo coma tonicidade ou atonicidade,

com sua posição relativa às consoantes. Assim, o fonema /a/ sofre

alteração fonética em casa [kaz�]. O primeiro a está em posição tônica

e o segundo, em posição átona, que faz com este seja reduzido.

Vamos, à guisa de ilustração, reproduzir algumas palavras e

frases em ambas as escritas. Lembre-se: nas transcrições fonológicas

adotam-se as barras inclinadas, enquanto na fonética os colchetes.

Há de ressaltarmos que, dependendo da região de origem

do falante, a realização do “r” pode variar e, consequentemente, a

transcrição fonética, por isso a realização do r nas palavras carta e

sair, por exemplo, é apenas uma possibilidade, dentre tantas outras

que o fonema r comporta no português falado do Brasil. No caso,

das duas palavras, o segmento r aparece representado

foneticamente por [h], apontando para uma realização fricativa

aspirada, que é a realizada por pessoas que moram em estados

do sudeste e do nordeste, predominando no nordeste,

principalmente, em Recife e Salvador, conforme constataram as

pesquisas de Callou, Moraes e Leite (1996).

Observemos, a seguir, a transcrição fonética de algumas

palavras isoladas, verificando a forma ortográfica de cada uma das

palavras, seguida de algumas descrições.

a) carreta - [ka ‘het�] = o símbolo [h] representa o som

ortográfico “rr”. É o som produzido com a articulação das cordas

vocais. É também, denominado fricativa glotal surda.

Page 59: Fonetica e Fonologia

61

UESPI/NEAD Letras Espanhol

b) cisterna - [sis ‘tEún�] = que pode variar a pronúncia para [siS

‘tún�], na primeira o ‘s’ tem uma realização alveolar, no segundo palatal. É

considerado alveolar porque a ponta da língua entre os dentes incisivos

superiores e inferiores, ou a língua contra a parte posterior dos dentes

incisivos superiores toca contra os alvéolos, produzindo o som alveolar. E

será palatal, quando ocorre o contato da parte central da língua com o

palato duro. A primeira realização descrita é comumente adotada no sul e

sudeste; e a segunda, no nordeste brasileiro.

c) escola - [is ‘k�l�] ~ [es ‘k�l�] ~ [Es ‘k�l�] = no caso

destas palavras, pode ocorrer as três realizações, pois trata-se de

um alofone – que é uma realização diferente de um fonema no

mesmo ambiente fonológico. Esta realização vai variar, levando-

se em conta a região geográfica de origem do falante. Geralmente,

quem mora no sul e sudeste tende a fechar as vogais, já quem

mora no nordeste tende a abri-las. Neste aspecto, quem nasceu

no nordeste e, principalmente, se ele for do Ceará as vogais serão

realizadas com um grau de abertura maior, diferentemente,

ocorrerá com que nasceu em outras regiões do sul e sudeste.

d) desisti - [dZ ‘ziStSI] = na realização dessa palavra

aparecem dois símbolos, que representam os sons africados, o

Quadro 07 Transcrição fonológica e transcrição fonética

Transcrição fonológica Transcrição fonética

(1) Anda ! / ‘a)ndA/ [‘a)nd�]

(2) Livro ! / ‘livRo/ [‘livRu]

(3) Vou escrever uma carta - /‘vow eskRe ‘ver ‘uma ‘karta/..... [‘voiskRe ‘ve ‘u)A ‘kaht�]

- ./p�so sa ‘ir ‘oZe/ [p�susA ‘ih ‘oZi]

(4) Posso sair hoje

Page 60: Fonetica e Fonologia

62

Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa

[dZ] e o [tS], diz-se que o som é africado quando ocorre bloqueio

total à corrente do ar em sua parte inicial e uma obstrução que

produz fricção na parte final de sua articulação, que é exatamente

o que ocorre com sons [dZ] e [tS], quando estiverem sempre

seguidos e pronunciados como [i]. Mas caso alguém não realize

esses segmentos acompanhados de [i], a pronúncia para esta

mesma palavra sofre alteração, que passará a ter a transcrição:

[de ‘ziStSI] ~ [dE ‘iStSI], pelo menos para o primeiro segmento africado

[dZ], dando lugar a [d] ou [dE], produzindo ora som fechado, ora

aberto. Observando-se, portanto, mais um exemplo de alofonia.

e) baralho - [ba ‘Ra´U] = o símbolo [´] representa o som

ortográfico “lh”. É um som palatal, como já dito anteriormente, é aquele

em que a parte central da língua entra em contato com o palato duro.

Além desse som, há aquele representado pelo símbolo [R], que

ortograficamente, representa “rr”. Trata-se de um som vibrante simples,

ou melhor, som resultante de uma batida rápida da ponta da língua na

parte alveolar. Ele é geralmente usado em posição intervocálica, ou

seja, entre vogais, ou seguida de consoante. Servem como exemplo

as palavras: caro, prato garfo etc.

f) chave - [‘Savi] = o símbolo [S] representa ortograficamente

as palavras com “ch” e “x” na língua portuguesa. É um som palatal,

e como já dito, é um som em que a parte central da língua entra em

contato com o palato duro.

Em síntese, para analisarmos a língua do ponto de vista da

oralidade, da fala, registrando todos os detalhes da fala, tal como o

sujeito a realizou, é necessário que façamos sua transcrição fonética.

Para isso, uma possibilidade é lançarmos mão dos símbolos fonéticos

Page 61: Fonetica e Fonologia

63

UESPI/NEAD Letras Espanhol

que constituem o IPA. Essa transcrição, algumas vezes, pode variar,

dependendo do sistema fonético que está sendo utilizado.

Temos dois tipos de transcrição fonética: um mais amplo e outro

mais restrito. De acordo com Cristófaro-Silva (2002, p.36), elas podem

ser restritas quando “explicita os detalhes observados articulatoriamente”

e amplo é “aquela transcrição que explicita apenas aspectos que não sejam

condicionados por contexto ou características específicas da língua ou

dialeto”. Um exemplo seria a palavra “quilo”, que na transcrita ampla é

[‘kilU], enquanto na restrita seria [‘kJilWU]. Nesta última transcrição aparecem

os detalhes da palatalização de [k] seguidos de [i] e também a labialização

de [l] seguido de [U]. Como podemos ver, na transcrição ampla não levamos

em conta aqueles aspectos considerados secundários na produção dos

sons, a exemplo da palatalização, labialização, velarização etc. Em geral,

é este tipo de transcrição que mais utilizamos no dia-a-dia da sala de aula

ou em pesquisa de caráter dialetal.

3.4.1 Transcrição fonética do português

Para sintetizar o que falamos até aqui, apresentaremos o

alfabeto fonético da língua portuguesa, observando, no quadro

abaixo, os seguintes aspectos para compreendê-lo: na primeira

coluna aparecem as letras do nosso alfabeto; na segunda,

apresentamos a classificação dos símbolos; na terceira,

apresentamos o símbolo fonético das letras. Na quarta,

apresentamos um exemplo ortográfico. As letras em negrito, no

exemplo ortográfico, correspondem ao símbolo fonético. E na quinta

coluna expomos a transcrição fonética do exemplo.

Page 62: Fonetica e Fonologia

64

Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa

Quadro 08 Alfabeto fonético do Português

Page 63: Fonetica e Fonologia

65

UESPI/NEAD Letras Espanhol

Page 64: Fonetica e Fonologia

66

Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa

3.5 SÍNTESE DA UNIDADE

Nesta aula, analisamos a transcrição fonética do alfabeto

da língua portuguesa brasileira. Transcrição fonética é a escrita

realizada com auxílio de símbolos entre colchetes de um alfabeto

estabelecido por uma convenção. É uma tentativa de se registrar

de forma clara o que se passa na fala de qualquer língua. A

convenção bastante difundida é o alfabeto proposto pela sociedade

internacional de fonética, denominado alfabeto fonético

internacional.

Para verificar o que estudamos nesta unidade, passemos

agora às atividades com vistas a checar o que aprendemos.

Comecemos pelo fórum de discussão.

FÓRUM DE DISCUSSÃO

1) Sabemos que os falantes nativos de uma língua

distinguem-se em face do que popularmente se denomina sotaque.

Um levantamento dos variados sotaques dos brasileiros é de caráter

fonético ou fonológico? Explique.

ATIVIDADE I

1) De acordo com a sua pronúncia, transcreva foneticamente

as palavras que se seguem:

a) Exílio:

b) Mangueira:

c) Casamento:

d) Ajudante:

e) Chave:

Page 65: Fonetica e Fonologia

67

UESPI/NEAD Letras Espanhol

f) Costa:

g) Congelados:

h) Tia:

i) Diário:

2) Indique a forma ortográfica de cada uma das palavras

que se seguem:

a) [‘sEk«]

b) [‘hEt«]

c) [‘p�sI]

d) [‘mi)tU]

e) [‘bRuS«]

f) [is ‘kl«]

g) [‘aZ«]

h) [‘sop«]

i) [‘tSi«]

j) [dZiabU]

l) [‘SeRU]

ATIVIDADE II

1) Apresente para cada um dos sons, abaixo, uma palavra

ortográfica.

a) [tS] =

b) [m] =

c) [k] =

d) [Z] =

e) [R] =

f) [S] =

Page 66: Fonetica e Fonologia

68

Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa

2) Dê exemplos em forma ortográfica e fonética de cada

um dos sons consonantais do português listados a seguir:

Som Ortografia Fonética

a) [p]

b) [dZ]

c) [t]

d) [z]

e) [ø]

f) [l]

g) [h]

h) [s]

i) [d]

j) [Z]

k) [S]

Page 67: Fonetica e Fonologia

69

UESPI/NEAD Letras Espanhol

UNIDADE 4

VOGAIS E SEMIVOGAIS DO PORTUGUÊS

• Funcionamento do sistema vocálico da língua portuguesa;

OBJETIVOS

• Compreender o funcionamento do sistema vocálico da língua

portuguesa no Brasil;

• Classificar os sons vocálicos da língua portuguesa;

• Identificar palavras que apresentam semivogais; Identificar palavras

que apresentam ditongos;

• Reconhecer as vogais orais do português brasileiro;

• Apontar as vogais nasais do português brasileiro.

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Page 68: Fonetica e Fonologia

70

Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa

1234567890123456789012345678912345678901234567890123456789123456789012345678901234567891234567890123456789012345678912345678901234567890123456789123456789012345678901234567891234567890123456789012345678912345678901234567890123456789

Page 69: Fonetica e Fonologia

71

UESPI/NEAD Letras Espanhol

4 VOGAIS E SEMIVOGAIS DO PORTUGUÊS

4.1 INTRODUÇÃO

De imediato você poderia perguntar: em que se difere

afinal um som consonantal de um vocálico? Na aula anterior, vimos

que as consoantes são sons produzidos por um fechamento ou

estreitamento do aparelho fonador, ou melhor, se dá com bloqueio

total ou parcial à passagem do ar no trato vocal. Já a produção dos

sons vocálicos ocorre sem bloqueio à passagem de ar na cavidade

do trato vocal. Diferentemente das consoantes, as vogais

constituem núcleo de sílaba e sobre elas pode recair o acento

(CALLOU; LEITE, 2001).

O português tem uma das fonologias mais ricas das línguas

românicas. As vogais do português classificam-se em: orais e

nasais. As vogais são orais quando o palato mole está levantado,

impedindo a passagem do ar pela cavidade nasal, obrigando-o

passar pela boca. Os sons são nasais, quando se dá o

abaixamento do palato mole e a corrente do ar entre na cavidade

nasal, que é expulso pelo nariz. A nasalidade, em português, é

marcada com um til acima da vogal, como se verifica, por exemplo,

em [a)] (CRISTÓFARO-SILVA, 2002).

4.2 CLASSIFICAÇÃO DAS VOGAIS DO PORTUGUÊS

Para a descrição dos sons vocálicos, levamos em conta

três fatores: altura do corpo da língua, posição da língua e

arredondamento dos lábios.

A altura do corpo da língua diz respeito à altura que a

língua ocupa no trato vocal durante a produção de um som.

Page 70: Fonetica e Fonologia

72

Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa

Quando, por exemplo, dizemos pi, pé, pa, notamos que a língua

vai abaixando no trato vocal. Desse modo, “o espaço vertical oral

para o escape de ar em [a] é maior do que em [i]”, como informam

Santos e Souza (2003, p.23). Os graus de altura da língua são

quatro:

a) Alto : são os sons em que a língua está mais alta e,

portanto, o trato vocal está mais fechado para o escape do ar. Por

essa razão, esses sons também são denominados de fechados.

São exemplos de sons vocálicos altos os primeiros sons vocálicos

em Ivo e chuva.

b) Médio-alto : Conhecidos, também, como meio-fechado.

Ao pronunciarmos o “e” e o “o” note que ocorre uma leve abertura,

a língua abaixa um pouco em relação aos sons de “i” e “u”. Logo, o

“e” e o “o”, quanto á altura, são vogais média-altas, representadas

através dos símbolos fonéticos [e] e [o]. Servem como exemplos de

vogais média-altas as primeiras vogais das palavras pêssego e poço.

c) Médio-baixo : essa abertura aumenta mais quando

articulamos o é e o ó. Por isso essas vogais, quanto à altura, são

média-baixas. É conhecido também como um som meio-aberto.

Os primeiros sons vocálicos de peça e posso são exemplos de

sons vocálicos médio-baixos, representadas pelos símbolos

fonéticos [E] e [�].

d) Baixo : é o maior grau de abertura vertical, em que a

língua se encontra mais baixa . É também conhecido como aberto.

Há, portanto, o maior grau de abertura à passagem da corrente do

ar. É exemplo de som vocálico baixo o primeiro som vocálico de

casa. Esse som é representado pelo símbolo fonético [a].

Somente a altura não é suficiente para a classificação dos

sons vocálicos, visto que não distingue os sons [i] e [u], já que

ambos são altos. “Quando esses sons são pronunciados, percebe-

Page 71: Fonetica e Fonologia

73

UESPI/NEAD Letras Espanhol

se que há duas diferenças entre eles: a posição da língua e o

arredondamento dos lábios” (SANTOS E SOUZA, 2003, P.23).

A posição da língua compreende o eixo horizontal da área

vocálica, visto que está relacionada à movimentação da língua para

frente (anterior) ou para trás (posterior), o que altera a cavidade

oral. Neste aspecto, quanto à posição, a língua apresenta três

critérios:

a) Anterior : a língua se projeta em direção aos lábios. Ao

pronunciarmos o “e”, o “é” e o “i”, a língua eleva-se na região

localizada à frente da cavidade bucal. Portanto, essas vogais são

anteriores, representadas pelos símbolos fonéticos [e], [E] e [i]. São

exemplos de sons anteriores os sons vocálicos de ser e café.

b) Posterior : a língua está mais retraída, em direção à

faringe. Quando articulamos o “o”, o “ó” e o “u”, a elevação se dá na

parte final do trato vocal. Por essa razão, o “o”, “ó” e o “u” são vogais

posteriores, representadas pelos símbolos fonéticos [o], [�] e [u].

São exemplos de sons posteriores os primeiros sons vocálicos de

poço, posso e tu.

c) Central : a língua está em posição neutra, nem projetada

para a frente, nem retraída. Ao pronunciarmos o “a”, a língua eleva-

se entre a parte anterior e a posterior. Nesse caso, a língua está

em posição de descanso. Portanto, o “a” é uma vogal central,

representada pelo símbolo fonético [a]. Por exemplo, a primeira

vogal da palavra cama identifica a vogal central.

Por fim, o último aspecto a ser considerado na produção

dos sons vocálicos é o arredondamento dos lábios. Como já

mencionado, [i] e [u] não diferem apenas em relação à posição do

corpo da língua, elas servem também se diferenciarem quanto ao

arredondamento: enquanto o [u] é produzido com os lábios

arredondados, a produção do [i], por exemplo, configura-se com

Page 72: Fonetica e Fonologia

74

Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa

os lábios estendidos, ou não arredondados. Portanto, são essas

as duas formas de protusão labial:

a) Arredondados : é quando os lábios f icam

arredondados. Ao pronunciarmos o “o”, o “ó” e o “u” percebemos

o arredondamento dos lábios. Portanto, o “o”, o “ó” e o “u” são

vogais arredondadas, representadas pelos símbolos fonéticos

[o], [�] e [u]. Servem como exemplo desse tipo de vogal as

palavras ovo, posso e uva.

b) Não-arredondados : é quando os lábios ficam

estendidos. Ao pronunciarmos o “a”, o “e”, o “é” e o “i”. Por isso

essas vogais são não-arredondadas, representadas pelos símbolos

fonéticos [a], [e], [E] e [i], respectivamente.

Vejamos a representação das vogais arredondadas

e não-arredondadas nas figuras a seguir.

No quadro 09, a seguir, apresentaremos uma síntese da

classificação das vogais faladas no português do Brasil, como

descrita na seção anterior.

Figura 17 - Posicionamento dos lábios

Page 73: Fonetica e Fonologia

75

UESPI/NEAD Letras Espanhol

Sintetizando, para se descrevermos os sons vocálicos,

levamos em consideração a posição da língua, em termos de altura

e de anterioridade/posterioridade, e o arredondamento dos lábios.

Em relação à altura da l íngua, as vogais são

classificadas em alta , que significa menor abertura à passagem

do ar, pois a língua está no alto da boca – [i] e [u]; média–alt a,

leve abertura, a língua abaixa um pouco – [e] e [o]; média–baixa ,

é quando a abertura aumenta mais, representada pelos fonemas

[E] e [�]; baixa , a língua está totalmente baixa, há maior grau de

abertura à passagem do corrente do ar – representado pelo

segmento [a].

Na produção dos sons vocálicos, anterioridade e

posterioridade referem-se à posição da língua na horizontal. A

língua é dividida em três partes simétricas: anterior – elevação da

língua na região localizada à frente da cavidade bucal –[e], [E] e [i],

posterior – elevação da língua na região localizada na parte final

da cavidade bucal – [o], [�] e [u] e central – elevação da língua na

região entre a parte anterior e a posterior – [a].

Quanto ao arredondamento dos lábios, temos as vogais

não-arredondadas – posição em que os lábios ficam estendidos

– [], [e], [E] e [i] e arredondadas – os lábios ficam arredondados,

ocorre, como já dito, uma protusão labial, conforme ilustra a figura

a figura 14, na página anterior.

ANTERIOR CENTRAL POSTERIOR

ALTA [i], [i)] [u], [u)]MÉDIA-ALTA [e], [e)] [o], [o)]MÉDIA-BAIXA [E] [�]BAIXA [a], [a)]

NÃO-ARREDONDADAS ARREDONDADAS

Quadro 09 classificação das vogais

Page 74: Fonetica e Fonologia

76

Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa

Na figura 18, as vogais aparecem representadas em um

triângulo. Você pode perceber a posição das vogais para entender

melhor o que acabamos de analisar, por exemplo, [a] vogal mais baixa,

[i] e [u] vogais mais altas, [a] vogal central, [o] e [u] vogais posteriores.

Na próxima seção, trataremos das semivogais. A semivogal se

apresenta com uma vogal em uma única sílaba e, juntas, formam o ditongo.

4.3 SEMIVOGAIS

As semivogais são fonemas assilábicos que se aproximam

de um som de vogal, mas soam fracamente, assemelham-se porque

se juntam a uma vogal para formar uma sílaba. Por exemplo, na palavra

mau, a letra “u” é uma semivogal e “a” é uma vogal.

De acordo com Crystal (2000, p. 234), a semivogal é termo

usado na classificação dos sons consonantais, baseado em seu

modo de articulação. Assim, segundo ele:

Figura 18 – Representação esquemática da área vocálica.

Page 75: Fonetica e Fonologia

77

UESPI/NEAD Letras Espanhol

refere-se aos sons que funcionam com umaconsoante, mas não tem características FONÉTICASnormalmente associados às consoantes (comofricção e fechamento); ao contrário, apresentam aQUALIDADE fonética de uma vogal, ainda que, porocorrerem nas MARGENS de uma SÍLABA, a suaDURAÇÃO SEJA MUITO MENOR DO QUE A DASVOGAIS TÍPICAS (grifos do autor).

Pela definição acima, percebemos que as semivogais,

também denominadas glides, não têm características tão precisas

quanto as consoantes ou as vogais. Elas podem apresentar

características fonéticas de vogais e de consoantes. Contudo, no

português elas são classificadas como sons vocálicos.

(CRISTÓFARO-SILVA, 2002).

Podemos acrescentar que a semivogal se apresenta com

uma vogal em uma única sílaba e, juntos, formam o ditongo.

Portanto, os sons vocálicos, diferentemente dos consonantais, são

produzidos sem bloqueio à passagem do ar e são classificados

conforme o movimento da língua e o dos lábios.

As semivogais, também denominadas de glides, podem

apresentar características de vogais e consoantes. No português,

elas são classificadas como sons vocálicos. Elas são transcritas

foneticamente por [I,U].

4.3.1 Classificação

As semivogais para alguns especial istas são

classificadas ora como consoantes ora como vogais, e alguns

lhes dão classificação à parte, como informa Paulino (1987).

A classificação dos fonemas decorre de traços fonéticos

acústicos e/ou articulatórios; por essa razão, consideramos

inadequada a inclusão delas entre as consoantes, uma vez que as

Page 76: Fonetica e Fonologia

78

Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa

características fonéticas das semivogais se assemelham às das

vogais [i] e [u]. Desse modo, incluí-las entre as vogais pode levar o

iniciante a conclusões falsas no estudo da sílaba, ou mesmo a não

distinguir o [y] do [i], o [w] do [u]. Neste sentido, é mais coerente

classificá-las à parte, visto que quando a análise se restringir ao

aspecto fonético, “considerá-las-emos entre as vogais; quando se

referir ao aspecto fonológico, considera-las-emos consoantes”,

como assegura Paulino (1987, p. 83).

Tomando a análise nesta perspectiva, um único critério é

necessário para distinguir as duas semivogais, a posição da língua.

Nesta ótica, como o [y] equivale, foneticamente, a [i], e [w], o primeiro

à ANTERIOR e o segundo, POSTERIOR. Logo:

/y/ = semivogal, anterior;

/w/ = semivogal, posterior.

4.3.2 Análise de alguns aspectos das semivogais

Uma das maiores dificuldades encontradas pelo iniciante no

estudo dos fonemas, principalmente, os semivogais, decorre em virtude

da forte influência da modalidade escrita, norma culta. Isso ocorre porque

no uso escrito, esses fonemas não possuem um grafema definido que os

represente. Além disso, em alguns enunciados orais, as semivogais “não

gozam de qualquer representação gráfica”, no entendimento de Paulino

(1987, p. 84). Vejamos alguns exemplos extraídos também de Paulino

(1987, p.84), abaixo relacionados:

1) [abe)s ‘oy] = abençoe [pay] = pai [paw] = pau

2) [Z�h ‘naw] = jornal [‘pay�] = palha [Eyu] = velho

3) [‘ka)ta)w] = cantam [be ‘beRa)w] = beberam [ta) ‘be)y] =

também

Page 77: Fonetica e Fonologia

79

UESPI/NEAD Letras Espanhol

Podemos depreender que em (1), entre as letras vogais, o [y]

tem dois símbolos: E e I, o [w], também dois: O e U. Isso quer dizer

que, dentre as cinco letras-vogais, apenas A não representa semivogal.

Nos exemplos de (2), o [w] poderá ser representado por L

ou R, enquanto o [y], pelo conjunto das letras LH. A transcrição

fonética aproximada das palavras palha e velho, por exemplo, pode

ser verificada, com alta frequência, entre indivíduos de baixa

escolaridade em certas regiões geográficas do Brasil.

Já em (3), o [w], em sílaba átona e em final de palavra, é

representado, na escrita, pela letra M, quando antes dela vier o

segmento fônico [a)]; o [y], em sílaba tônica ou átona e em final de

palavra, é representado pela letra M ou N.

Pelo apresentado acima, confirmamos a natureza híbrida

da semivogal, até na relação oral-escrita, representada por letra-

vogal ou letra-consoante.

Além desses exemplos arrolados anteriormente, outros

podem ser apontados, tais como:

(4) [meys] ~ [meyS]= mês [pays] ~ [payS]= paz

Exemplos como os de (4), em que o [s] ou [S] final é

antecedido por uma vogal tônica, na modalidade oral, é freqüente,

aqui no Brasil, a presença do [y] entre a vogal tônica e o [S] final.

Contudo, essa semivogal não tem qualquer representação na

escrita. (PAULINO, 1987).

Observemos que as semivogais podem ocorrer em quatro

posições em relação à vogal:

Antes ou depois de vogal tônica;

Antes ou depois de vogal átona;

Antes e depois de vogal tônica;

Antes e depois de átona.

Page 78: Fonetica e Fonologia

80

Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa

4.3.1.1 Antes e depois de vogal tônica

/’kwahtu/ = quarto

/sEh ‘ta)w/ = sertão

/E ‘bRayku/ = hebraico

4.3.1.2 Antes ou depois de vogal átona

/saw ‘dah/ = saudar ou saldar

/pay ‘zaZe)y/ = paisagem

/ya ‘ya/ = Iaiá

4.3.1.3 Antes e depois de vogal tônica

/igwaw/ = igual /i ‘gways/ = iguais

Além disso, merece destaque um fenômeno que envolve

as combinações [y + vogal + vogal] ou [y + vogal + w]. Elas são

eventuais na Língua portuguesa. Isto significa que estão

dependentes da situação de comunicação, e para analisá-las

devemos levar em conta, também, aspectos da influência regional

ou cultura, como informa Paulino (1987).

4.3.1.4 Antes e depois de vogal átona

/‘agwa)w/ = águam (verbo) /‘agwe)y/ = ágüem (verbo)

Merece destaque ainda a situação em que a semivogal

se encontra entre duas vogais, como ilustram os exemplos a

seguir:

Page 79: Fonetica e Fonologia

81

UESPI/NEAD Letras Espanhol

/may ‘�h/ = maior /g�y ‘ab�/ = goiaba /piaw ‘i/ = Piauí

Observemos que, pronunciando-se lentamente cada um

desses exemplos, “perceberemos que a semivogal se apoia nas

duas vogais, havendo, portanto, um prolongamento, como se ela

funcionasse” como uma “ponte de transição entre duas sílabas”,

na interpretação de Paulino (1987, p. 87). O mesmo não se verifica

na divisão sílaba gráfica, quando se percebe que a semivogal fica

na sílaba anterior: mai-or, goi-a-ba, etc.

4.4 VOGAIS ORAIS DO PORGUTUÊS

Na língua portuguesa, as vogais orais classificam-se em

tônicas , pretônicas ou postônicas . Por exemplo, na palavra café

[ka ‘fE], a sílaba tônica é a última. As vogais tônicas têm o acento

primário.

As vogais pretônicas são aquelas que vêm antes da sílaba

tônica. Por exemplo, na palavra abacaxi [abaka ‘Si], a vogal tônica é

‘i’, logo em todas as outras, o [a] é pretônico.

As vogais postônicas são as que se apresentam depois

da tônica. Elas podem ser postônicas medial ou final. A postônica

medial aparece em palavras proparoxítonas entre a tônica e a

pretônica final. A postônica final aparece no final da palavra. Por

exemplo, na palavra “matemática”, a vogal tônica é o segundo [a].

Portanto, o [i] é postônico medial, e o último [a] é postônico final.

4.4.1 Vogais tônicas orais

Como vimos anteriormente, as vogais tônicas carregam

o acento primário das palavras. De maneira geral, elas se

Page 80: Fonetica e Fonologia

82

Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa

apresentam de forma homogênea em todas as variedades da

língua portuguesa. Nos exemplos ortográficos a seguir, elas

aparecem destacadas em negrito: pé [‘pE], pó [p�], você [vo ‘se],

alô [a ‘lo], urubu [uRu ‘u] (CRISTÓFARO-SILVA, 2002). O quadro

10, abaixo, apresenta as vogais tônicas orais da língua portuguesa.

Ressaltemos que, como em toda língua, verificamos a

variação dialetal, e com relação às vogais tônicas orais, essa

variação ocorre em um grupo restrito. Por exemplo, em palavras

como “ele” [eli], “fecha” que pode tanto se realizar como [‘feSa]

ou como [‘fESa]. O mesmo ocorre com a palavra “extra” realizada

ora [‘eStRa] ou [‘EStRa]. Como percebemos, há sempre duas

pronúncias possíveis para as vogais tônicas orais [e, o] ou [E, �].

(CRISTÓFARO-SILVA 2002).

4.4.2 Vogais pretônicas orais

As vogais pretônicas são aquelas que vêm sempre antes

da sílaba tônica. A gosso modo, as vogais [i,e, a,o,u] pretônicas

são pronunciadas de maneira idêntica nas variedades da língua

portuguesa, como assegura Cristófaro-Silva (2002). Nos exemplos

“Pelé” [pE ‘lE], você [vo ‘se], urubu [uRuuuuu ‘bu], podemos verificá-las na

primeira sílaba de cada uma das palavras.

Quadro 10 Classificação das vogais tônicas orais

ANTERIOR CENTRAL POSTERIOR

ALTA [i] [u]MÉDIA-ALTA [e] [o]MÉDIA-BAIXA [E] [�]BAIXA [a]

NÃO-ARREDONDADAS ARREDONDADAS

Page 81: Fonetica e Fonologia

83

UESPI/NEAD Letras Espanhol

Contudo, em alguns dialetos, as vogais pretônicas [e] e [o] podem

variar. Por exemplo, nas palavras “menino” e “moleque”, elas podem ser

realizadas com [e,o], [i,u] ou [E,�], respectivamente. A seguir, apresentaremos

o quadro das vogais pretônicas orais do português do Brasil.

Desse quadro, algumas ocorrem apenas em algumas variações

dialetais. É o caso das vogais médias-baixa [E] e [�], e da vogal central [«],

realização observada na palavra como cama, por exemplo.

4.4.3 Vogais postônicas orais médias

As vogais postônicas mediais aparecem sempre em palavras

proparoxítonas entre a tônica e a postônica final. Na concepção de

Cristófaro-Silva (2002), ocorre uma grande variação de pronúncia das

vogais nessa posição. O uso formal dessas vogais corresponde ao

da grande maioria dos nossos dialetos. Por exemplo, no Nordeste,

há com frequência o uso das vogais [E,�]. O quadro 12, a seguir,

apresenta as vogais postônicas orais do Português.

Quadro 11 Vogais pretônicas orais

ANTERIOR CENTRAL POSTERIOR

ALTA [i] [I] [u] [U]

MÉDIA-ALTA [e] [o]

MÉDIA-BAIXA ([E])* ([«])* ([�])*

BAIXA [A]

NÃO-ARREDONDADAS ARREDONDADAS

Quadro 12 Vogais postônicas orais mediais ANTERIOR CENTRAL POSTERIOR

ALTA [i] [I] [u] [U]

MÉDIA-ALTA [e] [o]

MÉDIA-BAIXA [E] [«] [�]

BAIXA [A]

NÃO-ARREDONDADAS ARREDONDADAS

Page 82: Fonetica e Fonologia

84

Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa

A grande maioria dos dialetos do Português brasileiro

adota as vogais postônicas mediais [i,A,u] na sua forma reduzida:

[I,«,U],, respectivamente. Algumas vogais reduzem-se a zero, como

observamos nas palavras “chácara” e “fósforo”, que na língua falada,

muitas vezes, é pronunciada “chacra” e “fosfro”, sem a postônica

medial, resultando, então, no processo de síncope .

4.4.4 Vogais postônicas orais finais

As vogais postônicas finais são aquelas que se

apresentam depois da tônica. A postônica final aparece no final da

palavra. Ela corresponde ao gênero de substantivos e adjetivos (i,

e, a, o) e à vogal temática de verbos (a, e, i).

Em posição postônica, a pronúncia das vogais [i,e,a,o],

ocorre em poucos dialetos. Nesses poucos dialetos, elas são

pronunciadas do mesmo modo que as vogais tônicas.

Os falantes não têm consciência do uso das vogais. Para

a maioria, as vogais postônicas são diferentes das pretônicas e

das tônicas. As vogais [i, e] apresentam a pronúncia [I], a vogal [a]

é pronunciada [«], e as vogais [o, u] realizam-se como [U], como

nos informa Cristófaro-Silva (2002). Isso pode ser observado na

pronúncia das seguintes palavras: “biquíni” [bi ‘kinI], “fome” [fo)mI],

“rosa” [‘h�z«] e “mato” [‘matU]. O quadro 13, abaixo, apresenta as

vogais postônicas orais do Português.

Quadro 13 – Vogais postônicas orais

ANTERIOR CENTRAL POSTERIOR

ALTA *([i]) [I] [u] [U]

MÉDIA-ALTA ([e])* ([o])*

MÉDIA-BAIXA [«]

BAIXA ([A])

NÃO-ARREDONDADAS ARREDONDADAS

A síncope é umfenômeno muitofrequente dedesaparecimentode um ou maisfonemas no interiorde uma palavra. Asvogais e sílabasátonas estãoparticularmentesujeitas a isso,como informaDubois et al(2007).

Page 83: Fonetica e Fonologia

85

UESPI/NEAD Letras Espanhol

Destacamos que as vogais que aparecem entre parênteses

e com asteriscos apresentam variação dialetal, pois elas aparecem

somente em alguns dialetos falados no português brasileiro.

Segundo Hora (2009), o sistema vocálico apresentado por

Câmara Jr.(1977) é o mais reduzido. Das sete vogais em posição

tônica, resta apenas três: /i,a,u/, que poderão ser apresentadas, no

quadro 14, assim:

De acordo com informações colhidas em Hora (2009,

p.22), “considerando os estudos realizados no sul do Brasil, este

quadro não se revela categórico”, visto que é possível encontrar

variáveis médias de segundo grau e altas convivendo. Tal variação

é resultado, sobretudo, da colonização, conforme Hora (2009). Um

exemplo disso são as variações de pronúncias arroladas pelo

mesmo linguista, como mostra o quadro 15, abaixo:

A compreensão da variabilidade apresentada pelas vogais

é apenas uma etapa mais essencial para se realizar futuros estudos,

na língua portuguesa, com vistas a uma sistematização do

português falado no Brasil, sendo também uma forma de avaliar

os processos adotados na língua em geral.

Quadro 14 Vogais tônicas reduzidas

Altas /i/ /u/Baixas /a/

Variação (1) Variação (2)

Leit[e] Leit[I]

Dent[e] Dent[I]

Gat[o] Gat[U]

Post[o] Post[U]

Quadro 15 Vogais postônicas orais mediais

Page 84: Fonetica e Fonologia

86

Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa

4.4.5 Vogais nasais

Há muitas discussões em torno das vogais nasais. Duas são as

teorias mais importantes. Uma delas afirma que as vogais nasais são

fonemas de direito e de fato, independentes das vogais orais. Outra

argumenta em sentido contrário: são apenas alofones das vogais orais,

alofones por posição. Esta última nos parece a melhor e mais acertada.

Esta também é defendida por Câmara Jr. (1977), considerado o mais

eminente linguista brasileiro. Segundo este linguista há uma distinção entre

nasalidade fonética e nasalidade fonológica.

A nasalidade fonética é a que não estabelece distinção

de significado, como a que ocorre nas palavras “camelo” e

“banana”, que se realizam alternativamente como [ka)melU], [ba)na)n«]

ou como [kamelU], [bana)n«], respectivamente.

Enquanto na nasalidade fonológica ocorre alteração de

significado, a exemplo de “canto” realizada [ka)tU] e “cato”

pronunciada [katU]. Notemos que a não nasalização da vogal

[a], no segundo exemplo, gerou outro item lexical com significado

totalmente diferente do anterior.

De fato, se observarmos a ocorrência de vogais nasais,

ou melhor, nasaladas, verificaremos que sua posição é bem

determinada e até predizível. Sempre que uma vogal oral vem

seguida de uma consoante nasal, esta exerce sua influência

sobre a vogal, nasalando-a: cata – canta; casa – cansa; teso –

tenso; lido – lindo; sito- sinto, etc.

Nos casos em que houver um par mínimo em que a

oposição está entre vogal oral e nasal, teremos um novo fonema.

É o caso observado para a nasalidade fonológica.

Do ponto de vista articulatório, uma vogal nasal é verificada

quando ocorre o abaixamento do palato mole, que deixa a corrente

Page 85: Fonetica e Fonologia

87

UESPI/NEAD Letras Espanhol

do ar entrar na cavidade nasal. A nasalidade é marcada com um til

acima da vogal [a)].

As vogais nasais ocorrem em final de palavra tônica,

como em “lã” [‘la)]; em sílaba postônica final, como em “irmã” [ih

‘ma)]; no interior da palavra como tônica, a exemplo de “canto”

[‘ka)tU] ou pretônica, como em “cantora” [ka)toRA] (CRISTÓFARO-

SILVA, 2002).

A nasalidade pode ocorrer como variação dialetal.

Geralmente isso ocorre quando a vogal é seguida por uma

consoante nasal [m, n, ø], como em “banana”, que pode ser

pronunciada com o primeiro “a” nasal ou não, como [ba)na)n«] ou

[bana)n«]. O quadro 16 exibirá as vogais nasais do português

brasileiro.

Como não há distinção entre as vogais nasais médias-

baixas [E,�] e as médias-altas [e, i], adotou-se apenas os símbolos

[ ), i)] (CRISTÓFARO-SILVA, 2002).

Em geral, os estudos variacionistas realizados e os que

ainda serão implementados, certamente terão aplicabilidade no

futuro próximo, no ensino do português, especialmente no nível

fundamental, pois muitas vezes os alunos fazem certos

questionamentos sobre determinado aspecto da língua e nós,

professores, silenciamos pela falta do conhecimento teórico, e

ficamos sem responder a essas perguntas.

Quadro 16 Vogais nasais

ANTERIOR CENTRAL POSTERIOR

ALTA [i)] [u)]

MÉDIA [e)] [o)]

BAIXA [a)]

NÃO-ARREDONDADAS ARREDONDADAS

Page 86: Fonetica e Fonologia

88

Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa

4.5 DITONGOS

O ditongo se caracteriza pelo encontro de uma vogal

silábica, quer tônica, quer átona e uma vogal assilábica. Em outras

palavras, o ditongo é um termo comumente utilizado para designar

um encontro vocálico em uma mesma sílaba. De acordo com a

Gramática Tradicional, os ditongos são classificados em

crescentes e decrescentes. São crescentes quando há uma

semivogal, seguida de uma vogal, e decrescentes quando a vogal

é precedida da semivogal.

Na linguística, os ditongos são também caracterizados

como uma sequência se fonemas vocálicos. No entanto, tais

fonemas assumem qualidade diferente na realização, sendo uma

das vogais da sequência realizada como semivogal, denominada

e conhecida de glide.

As semivogais são vogais assilábicas, isto é, não ocupam a

margem do núcleo silábico, pois não apresentam proeminência

acentual para ser o centro da sílaba, como ocorre com as vogais. De

acordo com Hora (2009, 24) “o português apresenta dois segmentos

que se caracterizam como semivogal: o [j], que muitas vezes é

representada pelo [y], e o [w]”, como ilustram os exemplos (1)

(1) le[j]te

bo[j]

pa[w]ta

me[w]

Em torno do glide, há uma discussão acirrada: eles devem

ser considerados segmentos vocálicos ou consonantais? Para

responder a essa questão mais uma vez recorre-se a Câmara Jr.

Termo do inglêsusado em fonéticapara indicar umsom det r a n s p o s i ç ã oquando os órgãosda fala semovimentam emdireção a umaarticulação ou seafastam dela.Como não sãonem consoantesnem vogais, osglides costumamser denominadossemiconsoantesou semivogais (têmuma qualidadevocálica e umad i s t r i b u i ç ã oc o n s o n a n t a l )(CRYSTAL, 1988,

p.126).

Page 87: Fonetica e Fonologia

89

UESPI/NEAD Letras Espanhol

(1983), que adota o argumento do comportamento do “r” na palavra,

e segundo o qual o glide como segmento vocálico, em fronteira de

sílaba, o “r” é sempre realizado como brando depois de vogal, a

exemplo de “mora” e forte depois de consoante, como observamos,

por exemplo, na palavra “honra”. Quando o r aparece depois de um

ditongo, este é realizado como brando, como observamos na palavra

“europeu”, o que justifica o status vocálico de glide (HORA, 2009).

Desse modo, os ditongos definem-se pela presença de

uma vogal mais um glide numa sequência. Vale frisar que esses

dois segmentos fazem parte da mesma sílaba, diferindo do que se

costuma de hiato, que são duas vogais em sequência, porém

mantêm a sua qualidade, ou melhor, nenhuma das duas é semivogal,

estando em sílabas distintas. Observemos as palavras “pais” [‘pajs]

e país [pa ‘js], em que na primeira, temos um ditongo, já na segunda

um hiato (HORA, 2009).

Há outra discussão sobre os ditongos na língua portuguesa,

a que classifica como verdadeiros ditongos somente os

decrescentes. Eles são formados por vogal + semivogal; diferindo-

se dos ditongos crescentes (semivogal + vogal), não existindo na

origem das palavras e, por essa razão, podem variar livremente

com o hiato. Temos como exemplo a palavra “suar”, que pode ser

realizada ora como [‘swah] e ora [su ‘ah]. No português, há somente

um tipo de ditongo crescente que não alterna com hiato, são os

formados pela seqüência de consoantes oclusivas /k/ ou /g/ mais a

semivogal /w/, seguida de /a/ ou /o/. Um exemplo é a palavra “qual”

[‘kwaw], conforme Hora (2009).

Os ditongos nasais são sempre decrescentes, como você

pode observar nos exemplos a seguir: “mãe” [ma)j], “bem” [be)j].

Observe que o som de [e] e [m] nas duas palavras realizam-se

como [I].

Page 88: Fonetica e Fonologia

90

Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa

Outro fato interessante a ser destacado aqui é o do glide

originado da vocalização do “l”, para o qual chama atenção

Cristófaro-Silva (2002). No caso da vocalização, o “l” é

representado foneticamente por [w]. Dessa forma, na palavra bolsa,

a transcrição fonética desta palavra é [‘bowsA], em que se observa

a vocalização desse som, ou seja, o “l” passa a realizar-se como

[w], portanto, como vogal.

Para finalizar, vamos falar do tritongo. O tritongo

caracteriza-se como o encontro de dois ditongos com a mesma

vogal silábica, sendo as outras duas, a anterior e a posterior

assilábicas. Para Cristófaro-Silva (2002), eles são denominados

de consoantes complexas. Por exemplo, segundo essa linguista, na

palavra “quais”, há “uma sequência de oclusiva velar-glide (consoante

complexa) seguida de um ditongo decrescente: [kWAIs]”.

4.6 SÍNTESE DA AULA

Nos sons vocálicos, ocorre o estreitamento da cavidade

bucal devido à aproximação da língua e do palato sem qualquer

bloqueio à passagem do ar. As vogais constituem núcleo de sílaba

e sobre elas pode recair acento. Elas podem ser orais (o ar sai

pela boca) ou nasais (o ar sai pelo nariz).

Para descrevermos os sons vocálicos, levamos em

consideração a posição da língua, em termos de altura e de

anterioridade/posterioridade, e de arredondamento dos

lábios.

Em relação à altura da língua, as vogais são classificadas

em: alta (menor abertura à passagem do ar, pois a língua está no

alto da boca – [i] e [u]; média-alta (leve abertura, a língua abaixa

um pouco –[e] e [o]); média-baixa (abertura aumenta mais –[E] e

Page 89: Fonetica e Fonologia

91

UESPI/NEAD Letras Espanhol

[�]); baixa (a língua está totalmente baixa, há o maior de e abertura

à passagem da corrente de ar – [a]).

Na produção dos sons das vogais, anterioridade e

posterioridade referem-se à posição da língua na horizontal. A língua

é dividida em três partes simétricas: anterior (elevação da língua

na região localizada à frente da cavidade bucal – [e], [E] e [i]),

posterior (elevação da língua na região localizada na parte final

da cavidade bucal – [o], [�] e [u]) e central (elevação da língua na

região entre a parte anterior e a posterior – [a]).

Quanto ao arredondamento dos lábios, temos as vogais

não-arredondadas (os lábios ficam estendidos –[a], [e], [E] e [i])

e arredondada s (os lábios ficam arredondados –[o], [�], e [u]).

As semivogais, também denominadas de glides, podem

apresentar características fonéticas de vogais e consoantes. No português,

elas são classificadas como sons vocálicos. A semivogal se apresenta

com uma vogal em uma única sílaba e, juntas, formam o ditongo.

FÓRUM DE DISCUSSÃO

1) O que você entende por Sistema fonológico? Explique.

ATIVIDADE I

1) Nas palavras a seguir, grife as vogais tônicas e indique

o símbolo fonético delas.

a) [ ] balé

b) [ ] japonês

c) [ ] poço

d) [ ] índio

e) [ ] pássaro

Page 90: Fonetica e Fonologia

92

Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa

2) Indique o símbolo fonético das vogais postônicas finais

das seguintes palavras:

a) [ ] vida

b) [ ] camelo

c) [ ] doce

d) [ ] gola

e) [ ] cofre

ATIVIDADE II

1) Quanto à classificação dos sons vocálicos, marque a

alternativa incorreta.

a) O “i” em sac[i] é uma vogal alta anterior não-arredondada.

b) O “a” em amanh[ã] é vogal baixa central nasal.

c) O “o” em h[o]je é vogal média-baixa posterior não-arredondada.

d) O “e” em portugu[ê]s é vogal média-alta anterior não arredondada.

2) Classifique as vogais seguindo os dois primeiros

exemplos. Note que a ordem notacional é quanto à altura,

anterioridade-posterioridade, arredondamento e nasalidade.

SÍMBOLO FONÉTICO CLASSIFICAÇÃO DA VOGAL

[i] Vogal alta anterior não arredondada

[i)] Vogal alta anterior não-arredondada nasal

[e]

[E]

[�]

[a]

[a)]

[o]

[u]

[u)]

Page 91: Fonetica e Fonologia

93

UESPI/NEAD Letras Espanhol

3) Marque a alternativa em que todas as palavras

apresentem semivogal.

a) pais, país, países.

b) mau, baú, Itaú.

c) mãe, pão, balões.

d) lua, mágoa, saí.

ATIVIDADE III

1) Marque os itens que apresentam ditongo e indique os

símbolos fonéticos do glide e da vogal (ditongo crescente) ou da

vogal e do glide (ditongo decrescente).

a) [ ] sua

b) [ ] põe

c) [ ] também

d) [ ] saúde

e) [ ] muito

f) [ ] série

g) [ ] céu

h) [ ] vácuo

2) Apresente uma palavra ortográfica com os seguintes

símbolos vocálicos:

a) [«] =

b) [i] =

c) [e] =

d) [a] =

e) [E] =

f) [U] =

g) [u] =

h) [i] =

Page 92: Fonetica e Fonologia

94

Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa

Anotações

Page 93: Fonetica e Fonologia

95

UESPI/NEAD Letras Espanhol

UNIDADE 5

FONOLOGIA: FONEMA, ALOFONE, ARQUIFONEMA

• Funcionamento do sistema fonológico da língua portuguesa;

• Identificação dos fonemas e alofones;

• Reconhecimento dos arquifonemas;

• Conhecimento sobre neutralização.

OBJETIVOS

• Compreender o processo de identificação de fonemas e alofones;

• Identificar os alofones da Língua Portuguesa;

• Entender o processo de neutralização na Língua Portuguesa;

• Reconhecer um arquifonema.

123456789012345678901234567123456789012345678901234567123456789012345678901234567123456789012345678901234567123456789012345678901234567123456789012345678901234567123456789012345678901234567123456789012345678901234567

Page 94: Fonetica e Fonologia

96

Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa

12345678901234567890123456789123456789012345678901234567891234567890123456789012345678912345678901234567890123456789123456789012345678901234567891234567890123456789012345678912345678901234567890123456789

Page 95: Fonetica e Fonologia

97

UESPI/NEAD Letras Espanhol

5 FONOLOGIA: FONEMA, ALOFONE, ARQUIFONEMA

5.1 INTRODUÇÃO

A Fonologia explica que os usuários da língua conseguem

reconhecer, dentro de uma infinidade de sons diferentes, aqueles

que funcionam na língua como unidades do sistema, permitindo a

comunicação. Na visão de Cristófaro-Silva (2002), uma das

finalidades da fonologia é determinar quais são os sons de uma

língua que diferenciam as palavras. É exatamente sobre isso que

trataremos nesta aula, dando, desse modo, início ao estudo de

fonologia: fonema, alofone e arquifonema.

5.2 FONEMA

No campo do estudo linguístico, podemos estudar uma

macro ou uma micro estrutura. Por exemplo, a Linguística textual

analisa a construção do texto; a Sintaxe, a construção da

sentença, já a Fonologia estuda unidades mínimas do sistema

de sons de uma língua, ou seja, unidades menores que não

podem ser analisadas em outras unidades menores e

indivisíveis, denominadas fonemas . Essas unidades menores

servem para distinguir significados entre palavras. Portanto,

podemos acrescentar que fonema é a menor distintiva, não

contendo em si mesmo nenhum significado. Um exemplo de

fonema é o r. Esse fonema pode-se realizar ora como /R/ que é

fraco, diferenciando-se do /r/ forte, pois servem para distinguir

significados como, por exemplo, nas palavras caro [kaRU] e carro

[karU], que pode ser realizado de várias formas, no português

brasileiro:

Page 96: Fonetica e Fonologia

98

Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa

Como observamos, há uma possibilidade de realização

infinita dos fonemas pelos indivíduos – variante livre ou individual.

Há uma possibilidade de variação no discurso condicionado pela:

• Região de origem – dialeto caipira, observado, por

exemplo, na realização da palavra porta [‘p�}tA].

• Camada social – tendência ao rotacismo como

observamos em framengo ao invés de flamengo.

• Idade – dimensões dos órgãos do aparelho fonador.

• Sexo – as mulheres têm voz mais aguda, os homens

mais graves.

No entanto, os falantes reconhecem nas diferentes

realizações de um mesmo fonema, uma relação de identidade com

este fonema. Logo, diferentes realizações fônicas de um mesmo

fonema são consideradas sempre como correspondentes ao

mesmo modelo mental, resultando, consequentemente, em

diferentes significantes de fala de um mesmo signo em sucessivas

atualizações. Desse modo, os fonemas permanecem estáveis e

são reconhecidos como idênticos a si mesmo pelos falantes –

Vibrante múltipla alveolar [r]

Vibrante múltipla uvular [{]

/r/ Fricativa velar [x]

Fricativa gotal (aspirada) [h]

Retroflexa (dialeto caipira) [}]

Page 97: Fonetica e Fonologia

99

UESPI/NEAD Letras Espanhol

ouvintes da comunidade. O diagrama 01, a seguir, resume a

comparação entre sons e fonemas.

5.2.1 Identificação dos fonemas

Para identificar os fonemas de uma língua, é necessário

realizar vários testes, tais como: critérios de oposição, distribuição

complementar, semelhanças fonéticas e variação livre, de acordo

com Mori (2003).

Pelo critério de oposição, podemos identificar fonemas em

ambiente idêntico ou em ambientes análogos. O primeiro consiste

em encontrar um par mínimo , isto é, duas palavras que se diferenciem

em apenas um segmento. Por exemplo, nas palavras “bala” e “mala”

se diferenciam apenas no uso do [b] e do [m], ou seja, a troca de um

som pelo outro faz com que haja a diferença de significados entre as

duas palavras. A troca de um som por outro permite interpretar que os

fones [b] e [m] são fonemas da língua portuguesa. Por essa razão,

dizemos que o par mínimo “bala/mala” caracteriza os fonemas /b, m/

por contraste em ambiente idêntico .

Diagrama 01: Comparação entre sons e fonemas

Page 98: Fonetica e Fonologia

100

Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa

Caso não encontremos pares mínimos, devemos buscar

pares que contrastem em ambientes similares, “desde que os sons

diferentes não sejam condicionados pelos seus vizinhos”, segundo

informações de Biazotto e Schier (2007, p.56). Tais pares se

caracterizam por oposição em ambientes análogos. Eles apresentam

diferenças em mais de um segmento. Por exemplo, as palavras “sumir”

e “zunir” apresentam mais de uma diferença: [s] e [z] e [m] e [n]. Através

desse par em oposição, que se deu em ambiente análogo, podemos

dizer que a troca de [s] por [z] no início da palavra faz com que ocorram

diferenças de sentido entre as duas palavras. (BIAZOTTO E SCHIER,

2007). Portanto os fones [s] e [z] são fonemas por contraste em

ambiente análogo.

É importante destacar que, para identificarmos os fonemas de

uma língua, basta encontrar pares mínimos ou análogos. No entendimento

de Cristófaro-Silva (2002, p.126), “um par de palavras é suficiente para

caracterizar dois fonemas”.

5.3 ALOFONE

Quando não encontramos pares mínimos ou análogos para

sons foneticamente semelhantes, esses sons não são fonemas.

Caso não conseguirmos caracterizar dois sons como fonemas

distintivos, devemos procurar evidência para caracterizá-los como

variante ou alofone . O alofone são os vários sons de um mesmo

fonema, ou melhor, realizações diferentes para um mesmo fonema

no mesmo ambiente fonológico. Neste caso, se duas ou mais

unidades mínimas puderem figurar no mesmo ponto do contexto

do plano de expressão, sem que haja diferença no significado,

então as duas unidades, naquele contexto, são alofones (variantes)

entre si.

Page 99: Fonetica e Fonologia

101

UESPI/NEAD Letras Espanhol

Os alofones são condicionados por determinados

contextos fonológicos, como posição do fonema na palavra,

qualidade dos fonemas vizinhos. Segundo Callou e Leite (2001),

as variações dos fonemas podem ser decorrentes das diferenças

regionais, estilísticas livres ou facultativas.

De modo geral, os estudos linguísticos apontam dois tipos

de alofone (ou variantes): combinatório ou contextual e livre ou

facultativo.

O alofone combinatório ou contextual é o que decorre

do contexto fônico, da posição em que se encontra numa

determinada cadeia sonora e condicionado pela vizinhança de

outros sons. Por exemplo, a co-ocorrência de [t] e [tS] “está

condicionada à presença da vogal /i/ no centro silábico. Aparece

[tS] somente quando está seguido de /i/, ou seja, ele está

condicionado pelo fonema vizinho, em outros contextos usa-se [ ].

Neste caso, podemos afirmar que [t] e [tS] são alofones, ou seja,

são dois fones de um único fonema. Este tipo de alofone é

denominado por alguns linguistas de distribuição complement ar.

São os que ocorrem em ambientes exclusivos. Em outras palavras,

quer dizer que, “onde uma das variantes ou alofone ocorre, a outra

variante não ocorrerá”, como declara Mori (2003, p. 129).

O livre ou facult ativo “ocorre quando o contexto não previr,

com certeza, qual a variante”, conforme declara Paulino (1987, p.

26). As variações facultativas, ou livres, “podem existir em todas

as posições onde o fonema é atestado, ou podem aparecer em

posições particulares apenas, sendo neste caso conjuntamente

facultativas e combinatórias”, como assevera Martinet (1976, p.

359). Podemos apresentar como exemplo o caso do “r” velar,

pronunciado na região superior da garganta, que pode manifestar-

se pelo alofone [{] vibrante, sobretudo, nas áreas da região Sul do

Page 100: Fonetica e Fonologia

102

Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa

País – ou pelo alofone laríngeo aspirado [h], típico do falar carioca

e do falar piauiense, também, como constatou a pesquisa de

Carvalho (2009), em sua tese de doutorado sobre as realizações

do “r”. Isso quer dizer que,- independentemente da vizinhança

fonológica – antes de qualquer vogal , por exemplo – ou da posição

na palavra – seja em início ou em fim de sílaba, sílaba inicial, medial

ou final – sempre ocorrerá [{], podendo ocorrer também [h]: catar

[kA ‘ta{, [kA ‘tah]; rato [‘{atU], [‘atU] etc. Esse tipo de alofone é também

denominado de variantes livres. As variações livres são

condicionadas por fatores extralinguísticos, dentre eles mencionem-

se: o grau de escolaridade, sexo, idade, classe social e região de

origem do falante (MORI, 2003).

Na visão de Câmara Jr. (1983), os alofones são livres

“quando dependem dos hábitos articulatórios um tanto diversos

dos falantes da língua” e posicionais “quando dependem da posição

do fonema na unciação, onde a contiguidade de certos outros

fonemas ou a sua posição na sílaba altere a articulação”.

5.4 NEUTRALIZAÇÃO E ARQUIFONEMA

Ao tomarmos a palavra gás, por exemplo, podemos

verificar que a sua pronúncia varia bastante nas diferentes áreas

geolinguísticas brasileiras. Ela varia devido à consoante final [‘gays],

[‘gaS], [‘gaz], [‘gaZ]. Verificamos, portanto, que as consoantes /s/, /S/,

/z/ e /Z/, em posição de coda final, ou melhor, em travamento silábico

perdem a distinção entre si; não importando se usamos a sonora

ou a surda, a palatal ou a alveolar. “O único traço pertinente dessas

consoantes que se mantém é o da modalidade fricativa: a este

fato denomina-se neutralização de traços distintivos”

Page 101: Fonetica e Fonologia

103

UESPI/NEAD Letras Espanhol

(CAVALIERE, 2005, p. 50). Então, podemos dizer que ocorre

neutralização quando, em um determinado ambiente fonológico,

dois ou mais fonemas perdem a distinção entre si.

Para Callou e Leite (2001), a neutralização é a eliminação

das oposições entre dois ou mais fonemas. É o que observamos

também com a palavra “boneca”, pronunciada ora [b� ‘nEkA] ou [bu

‘nEkA], podendo ainda realizar-se como [bo) ‘nEkA].

Apesar dessas variadas realizações, a troca do [o] pelo [u]

ou mesmo a nasalização [õ], o significado da palavra não mudou. Por

isso, dizemos que houve neutralização, isto é, o [o] e o [u] se

neutralizaram, perdendo a sua função distintiva. Outro exemplo que

vale mencionar é o uso das vogais [e, o] fechadas no Sul do país, e

das vogais [E, �] abertas no Nordeste. Como se vê, a diferença no

som, não altera o sentido das palavras.

Podemos acrescentar ainda que, aos fonemas que perdem

a capacidade de distinguir palavras, damos o nome de arquifonema .

O arquifonema é uma classe de fonemas que geralmente é

representado por uma letra maiúscula entre barras, conforme nos

ensina Cristal (2000). No quadro 17, a seguir, destacaremos alguns

arquifonemas do português.

Observe que todos os arquifonemas apresentados são

todos consoantes posvocálicas.

A partir do que foi analisado nesta aula, podemos concluir

que os fonemas são os sons da língua capazes de distinguir

significados entre as palavras, sons capazes de variar e até formar

classes.

Page 102: Fonetica e Fonologia

104

Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa

ARQUIFONEMAS CONTEXTO EXEMPLOS

/S/ e/S/barrode/S/vio

/S/ pa/S/tamê/S/Lu/S/co S/ta

/S/ lu/S/ES

/R/ ba/{/bagO/{/do

/R/

to/{/tofa/{/as

/L/ sa/;/tasa/;/

/N/

Neutralização de [z] ou [Z]no final de sílabas seguido

por consoante sonora.

Neutralização de /s/ ou /S/em final de sílabas

seguido por consoantesurda ou final de palavra.

Neutralização de /z/ quando,inicialmente em sílaba final,passa a ocupar a posição

inicial de sílaba.

Neutralização de [Ä] ou [h]que ocorrem em final de

sílabas antes deconsoantes sonoras

Neutralização de [x] ou [h]que ocorrem em final de

sílaba antes deconsoantes surdas

Neutralização de [Â] ou [w]em final de sílabas ou

palavras

Neutralização de vogais nasaisque ocorrem seguidas de

consoantes nasais

Quadro 17 Arquifonemas do português

sa/N/toe/N/tradapi/N/turao/N/da

Page 103: Fonetica e Fonologia

105

UESPI/NEAD Letras Espanhol

5.5 SÍNTESE DA UNIDADE

Fonemas são unidades mínimas do sistema de sons de

uma língua que têm a função de determinar a diferença de

significado de uma palavra em relação a outra. Para determinar

quais são os sons de uma língua que diferenciam as palavras,

devem-se realizar vários testes, tais como: critérios de oposição e

distribuição complementar, variante livre.

A oposição consiste em encontrar um par mínimo, ou seja,

duas palavras que se diferenciem em apenas um segmento, com

vistas a estabelecer a identificação dos fonemas da língua em

estudo. Quando não encontramos pares mínimos, devemos buscar

pares que contrastem em ambientes similares, desde que os sons

diferentes não sejam condicionados pelos seus sons vizinhos.

O alofone são os vários sons de um mesmo fonema. Eles

são condicionados por determinados contextos fonológicos, tais

como: posição do fonema na palavra, qualidade dos fonemas

vizinhos, diferenças regionais, estilísticas livres e facultativas, que

são identificados através da distribuição complementar.

Outro tipo de alofonia são as variantes livres – pronúncias

diferentes de um fonema sem mudança de significados. Elas são

condicionadas por fatores extralinguísticos: grau de escolaridade,

sexo, idade, classe social e região de origem do falante.

Em determinados usos da língua, ocorre neutralização, que

é a perda do traço que serve para distinguir dois fonemas. Os

fonemas que perdem a capacidade de distinção são denominados

de arquifonema.

Page 104: Fonetica e Fonologia

106

Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa

FÓRUM DE DISCUSSÃO

1) Que procedimentos um fonólogo adota para identificar

os fonemas de uma língua? Cite exemplos.

ATIVIDADE I

1) Os sons de [l] e [w], respectivamente, de “calo” e “caldo”

são fonemas ou alofones?

2) Identifique os fonemas e alofones nos corpus abaixo.

Critérios de análise:

• Selecione os pares mínimos, nos dados a seguir:

• Verifique a diferença dos sons entre si e os demais, se

possível.

• A ocorrência de um único par mínimo prova a existência

daqueles dois fonemas entre si.

(a) /si)tU/

(b) /mi)tU/

(c) /’h�sA/

(d) /’h�zA/

(e) /pe) ‘deh/

(f) /ve) ‘seh/

(g) /ve) ‘deh/

ATIVIDADE II

1) Diferencie, de modo geral, FONEMA de ALOFONE. Dê

exemplos da língua portuguesa.

Page 105: Fonetica e Fonologia

107

UESPI/NEAD Letras Espanhol

2) Os alofones influenciam a modalidade escrita.

Exemplifique.

ATIVIDADE III

1) Identifique os fonemas e alofones nos corpus a seguir:

(a) /mu ‘ElA/

(b) /so) ‘nEkA/

(c) /mo ‘ElA/

(d) /bo ‘nEkA/

(e) pay/

(f) /bu ‘nEkA/

(g) /pA ‘katU/

(h) /say/

(i) /nA ‘seh/

(j) /pA ‘latU/

(k) /fA ‘zeh/

2) De que modo o alofone caracteriza uma região do Brasil?

3) Por que o fonema não tem significado?

4) Pesquise se, tecnicamente, existe diferença entre SOM,

FONEMA, LETRA e GRAFEMA.

Page 106: Fonetica e Fonologia

108

Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa

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Anotações

Page 107: Fonetica e Fonologia

109

UESPI/NEAD Letras Espanhol

UNIDADE 6

PROCESSOS DE MUDANÇA FONOLÓGICA

• Processos de mudança fonológica da língua;

• Classificação dos processos fonológicos.

OBJETIVOS

• Identificar os processos de mudança fonológica da língua;

• Reconhecer os processos fonológicos da língua portuguesa;

• Analisar por quais mudanças os sons da língua portuguesa

passaram.

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Page 108: Fonetica e Fonologia

110

Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa

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Page 109: Fonetica e Fonologia

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UESPI/NEAD Letras Espanhol

6 PROCESSOS DE MUDANÇAS FONOLÓGICAS

6.1 INTRODUÇÃO

A língua não é imutável e homogênea. Ela está em

constantes modificações. A nossa língua originou-se do latim vulgar

que, por sua vez, veio de outra língua. Quando ocorrem

modificações linguísticas, são determinadas por fatores fonéticos,

morfológicos e sintáticos.

Nesta aula, estudaremos alguns processos fonológicos

que contribuem para a mudança das línguas. Examinaremos, entre

outros processos, a assimilação (nasalização, harmonização

vocálica, redução vocálica) e dissimilação.

6.2 PROCESSOS FONOLÓGICOS

Ao analisarmos as mudanças de sons da língua,

precisamos considerar tanto os aspectos fônicos que ocorrem nas

palavras isoladamente, quanto às modificações sofridas por elas

influenciadas por outras palavras da sentença, segundo

informações colhidas em Callou e Leite (2001).

As modificações ocorridas podem ser sistemáticas e atuar

sobre o nível fonológico da língua, outras podem ser assistemáticas

e afetar apenas o nível fonético. Podemos agrupar os processos

fonológicos em três grupos:

• Acréscimos de traços;

• Perda de traços;

• Mudanças de traços.

Page 110: Fonetica e Fonologia

112

Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa

6.2.1 Acréscimos de traços

A partir de agora analisaremos cada um deles. Os processos

por acréscimos de traços podem ser:

Prótese - surgimento de um fonema no início da palavra,

como em mostrar > amostrar , levant ar > alevant ar etc . No

português corrente, estas formas protéticas denotam linguagem

popular, no entanto, algumas sejam consideradas bem tradicionais

como, por exemplo, alevantar, que “tem registro de datação no

século XIII”, como nos informa Cavaliere (2005, p. 58).

Epêntese - surgimento de um fonema no interior da palavra,

caso típico de destruição de grupos consonantais no português do

Brasil. É comum ouvir as pessoas de pouca escolarização dizer:

“adevogado” ao invés de “advogado”; “peneu” no lugar de “pneu”.

Ou até nós mesmos, sem nos dar contar, dizermos: “decepição”

ao invés de “decepção”; “ritimo” por “ritmo”.

Paragoge - consiste na inclusão de um fonema no fim da

palavra. No latim tinha-se “entonce”, resultando “então”; “mal” que

se originou de mali. Processo comum no português hodierno no

caso de estrangeirismos terminados em consoante, como club >

clube; stand > estande.

6.2.2 Perda de traço

Os processos que se dão por perda de traços podem ser:

Aférese - trata-se da supressão de um ou mais fonemas

iniciais, como em “ta” por “estar”. Ressaltemos que, por exemplo,

a palavra cajá vem do tupi acajá, por sinal ainda presente sem a

aférese em muitas cidades nordestinas, como destaca Cavaliere

(2005).

Page 111: Fonetica e Fonologia

113

UESPI/NEAD Letras Espanhol

Sincope - ocorre supressão do fonema no interior da

palavra, caso de “xicra”, por xícara, “fosfro”, ao invés de “fósforo”, e

também “abobra”, por “abóbora”. A síncope geralmente busca

encurtar um polissílabo, sobretudo quando for uma proparoxítona.

“Por tal motivo, não raro se manifesta em diminutivos longos:

“principinho” por “principezinho”, “facinho” por “facilzinho”, como nos

relata, também, Cavaliere (2005, p. 58).

Apócope - resulta da queda de um fonema final, como em:

“vizim” por “vizinho”, “comê”, por “comer”, “mandá”, por “mandar”.

Crase - processo muito comum na língua atual, em que uma

de duas vogais idênticas é suprimida, como em “alcol” por “álcool”.

6.2.3 Mudanças de traços

No processo de mudança de traços, conforme Callou e

Leite (2001), a assimilação é responsável por um grande número

de alterações fônicas. Na visão de Crystal (2000, p. 33) o processo

de assimilação é tratado como um “termo geral da fonética que

se refere à influência exercida por segmento de som sobre a

articulação de outro, de forma que os sons se tornem parecidos,

ou mesmo idênticos”.

Na concepção de Bagno (2000, p. 77), a assimilação é “a

força que tenta fazer com que dois sons diferentes, mas com algum

parentesco, se tornem iguais, semelhantes”. Podemos afirmar que

a assimilação faz com que um som assuma os traços distintivos

de um som vizinho. Dessa forma, uma consoante assimila os traços

distintivos de uma; uma vogal assimila os traços distintivos de uma

consoante; ou uma vogal pode afetar outra vogal.

Por vezes, o processo assimilatório nasaliza uma vogal,

como em “indentidade” ao invés de “identidade”; ocorre ainda a

Page 112: Fonetica e Fonologia

114

Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa

situação oposta, em que uma vogal sofre desnasalização, é o caso

de “home” por “homem”. Esse processo divide as opiniões. Alguns

julgam que a tônica oral atue no sentido de desnasalizar a átona

final; outros preferem ver nesses casos uma causa morfológica,

que busca a “tematização” de palavras “atemáticas”. Há casos de

nasalização assimilatória mais complexos, como o da forma

popular “vinhemos”, por “viemos”, em que a consoante palatal

resultaria de uma prévia nasalização da vogal tônica em face do /

m/ da última sílaba: “viemos” > vi)emos >vinhemos. É o mesmo

fenômeno ocorrido na passagem de outras palavras do latim vulgar

para o português: vinu > vi)u > vinho.

O processo assimilatório está presente no processo de

nasalização, da harmonia vocálica. (CALLOU; LEITE, 2001). A

nasalização por assimilação ocorre quando a vogal que é seguida

de uma consoante nasal, ou seja, a vogal assimila a nasalidade

dessa consoante. A nasalização é obrigatória quando a vogal é

tônica e opcional quando é pretônica, conforme destaca Cristófaro-

Silva (2002). Os exemplos são as palavras “cama” [ka)m«], “sono”

[o)nU], “banana” [ba)nan«] ou [ba ‘nan]. Observe que nas sílabas tônicas

seguidas de consoante nasal, todas as vogais são nasais e, na

pretônica, a nasalidade é opcional.

A harmonia vocálica ocorre quando uma vogal assimila

os traços distintivos de outra vogal. A vogal de uma sílaba torna-se

mais semelhante à vogal de uma outra. Bagno (2000, p. 98) explica

que “a presença de um I ou U na sílaba tônica faz com que as vogais

átonas pretônicas escritas E ou O se reduzam e sejam

pronunciadas i e u”. Segundo o autor, isso ocorre, em virtude de o

[i] e o [o] serem vogais mais altas e fechadas do português. Quando

são usadas na sílaba tônica, elas “puxam para cima” as vogais

pretônicas [e] e [o], formando um grupo harmônico, com um único

Page 113: Fonetica e Fonologia

115

UESPI/NEAD Letras Espanhol

som. Podemos verificar esse processo nas seguintes palavras:

av[e]nida > av[i]nida; f[e]liz > f[iliz]; c[o]ruja > c[u]ruja; f[o]rtuna >

f[u]rtuna; f[o]rmiga > [fu]rmiga etc. Portanto, nesse processo, perde-

se a distinção da vogal pretônica.

Outro caso de redução de perda de distinção da vogal

pretônica analisada por Bagno (2000) é [o] átono pretônico

pronunciado como [u] antecedido de [m] ou [b]. Podemos observar

esse processo em b[o]lacha > b[u]lacha; m[o]eda >m[u]eda. Essa

variação se dá em razão de as consoantes [b] e [m] bilabiais serem

produzidas com um movimento de fechamento e abertura dos

lábios. Bagno (2000, p. 101) esclarece que “para não terem de

passar de um fechamento muito grande para um arredondamento

muito grande, os lábios ‘espremem’ um pouco o ‘o’ e abrem-se

menos, já que produzem um ‘u’, que é [...] uma vogal também

redonda mas mais fechadas que o ‘o’” (grifo nosso).

O autor também aponta a redução de dois ditongos [oU9] e

[eI9]. Os dois sons desses ditongos transformam-se em um só, ou

seja, ocorre a monotongação. Os ditongos formados por [oU] são

pronunciados apenas [o]. Podemos verificar isso na pronúncia das

palavras p[oU9]co> p[o]co, [oU9]tro > [o]tro, r[oU9]pa > r[o]pa, [oU9]ro >

[o]ro.

Diferentemente da monotongação de [oU9], que ocorre em

todos os contextos, a de [eI9], segundo as análises de Bagno (2000),

acontece apenas antecedida de [Z,S, r]. Isso se dá porque essas

consoantes têm o mesmo ponto de articulação da semivogal.

Podemos perceber essa redução melhor nos exemplos a seguir:

b[eI9]jo > b[e]jo, qu[eI9]jo > qu[e]jo, ch[eI9]ro > ch[e]ro, prim[eI9]ro > prim[e]ro,

p[eI9]xe > p[e]xe. Você notou que houve a redução dos sons em um

só? Análise estas outras palavras: s[eI9]va, p[eI9]to, b[eI]co. Observou

que não ocorre monotongação com elas? Claro que não, pois

Page 114: Fonetica e Fonologia

116

Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa

ninguém fala s[e]va, p[e]to, b[e]co. Note que as consoantes que

aparecem após o ditongo é que explicariam o não emprego da

monotongação.

Além do processo de assimilação, há também a

dissimilação como um tipo de processo de mudança de traços.

No entendimento de Crystal (2000, p.85), a dissimilação é “termo

geral da fonética que indica a influência exercida por um segmento

de som sobre a articulação de outro, de maneira que os sons se

tornem menos parecidos, ou diferentes”. Dito de outro modo, a

dissimilação é o processo em que um segmento fonético perde

um ou mais traços que tinha em comum com o vizinho.

6.3 SÍNTESE DA UNIDADE

A língua não é imutável e homogênea. Ela está em

constantes modificações. Os processos fonológicos de mudanças

de sons da língua são divididos em três grupos: acréscimos de

traços, perda de traços e mudanças de traços. Os processos por

acréscimo de traços são: prótese (no inicio da palavra); epêntese

(no interior da palavra); paragoge ( no final da palavra). Os

processos de perda de traços são aférese (no inicio da palavra);

síncope (no interior da palavra); apócope (no final da palavra).No processo de mudança de traços, a assimilação se

refere à influência exercida por segmento de som sobre aarticulação de outro, de forma que os sons se tornem maisparecidos, ou mesmo idênticos. O processo assimilatório estápresente no processo de nasalização (a vogal assimila anasalidade de uma consoante nasal [m, n, ø]; da harmonizaçãovocálica (uma vogal de uma sílaba torna-se mais semelhante àvogal de uma outra); e também em casos de monotongação(redução de ditongos [oU9] – em todos os contextos – e [eI9] –antecedida de [Z, S, r]).

No processo de mudanças de traços, além da assimilação,

há a dissimilação, considerado processo em que um segmento

Page 115: Fonetica e Fonologia

117

UESPI/NEAD Letras Espanhol

fonético perde um ou mais traços que tinha em comum com o

vizinho.

FÓRUM DE DISCUSSÃO

1) Discuta com seus colegas se os processos fonológicos

estão única e exclusivamente relacionados ao português popular

do Brasil ou se alguém com escolaridade alta é capaz de produzir

alguns destes processos fonológicos, em situação espontânea de

fala. Levante os argumentos favoráveis ou não.

a) amostrar

b) alevantar

c) vinhemos

d) indentidade

ATIVIDADE I

1) Reconheça os processos fonológicos que se manifestam

nos seguintes exemplos do português popular no Brasil.

a) Amostra < mostrar

b) Vinhemos < viemos

c) Peneumonia < pneumonia

d) Lava jato < lava a jato

e) Indentidade < identidade

f) ) dizê < dizer

2) Analise as mudanças que ocorreram nas palavras a

seguir e identifique o(s) processo(s) fonológico(s) que justifique (m)

essa(s) mudança(s).

a) preguiça > priguiça

b) fósforo > fosfro

c) touro > toro

d) panela > pãnela

e) reparar > arreparar

Page 116: Fonetica e Fonologia

118

Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa

f) jantar > jantá

g) advogado > adevogado

h) beijo > bejo

ATIVIDADE II

1) Assinale a alternativa que apresenta um exemplo de

assimilação no processo de harmonia vocálica, de nasalização e

monotongação, respectivamente.

a) rodear > arrodear, panela > panela; deixe > dexe.

b) pepino > pipino; banana > bãnana; chero > chero

c) administração > adiministração; janela > janela: loiro >

loro.

d) costume > costume; banheira > banhera, levantar >

alevantar.

2) Aponte e explique quais os processos por perda de traços,

dando exemplos do português atual.

ATIVIDADE III

1) Na lista das palavras a seguir aparecem somente

exemplos de processos por acréscimo de traços. Identifique quais

são os tipos de processos por acréscimos.

a) alimpar

b) amostrar

c) peneu

d) adevogado

2) O que é nasalização? Nasalização é um tipo de

assimilação ou não? Explique e dê exemplos do português

contemporâneo.

Page 117: Fonetica e Fonologia

119

UESPI/NEAD Letras Espanhol

UNIDADE 7

ESTRUTURA SILÁBICA DO PORTUGUÊS

• Apresentação da estrutura silábica da língua portuguesa;

• Representação e classificação da estrutura silábica do português.

OBJETIVOS

• Conhecer a sílaba em português;

• Definir e reconhecer uma sílaba do português;

• Representar a estrutura silábica do português;

• Classificar sílaba.

Page 118: Fonetica e Fonologia

120

Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa

Page 119: Fonetica e Fonologia

121

UESPI/NEAD Letras Espanhol

7 ESTRUTURA SILÁBICA DO PORTUGUÊS

7.1 INTRODUÇÃO

Os fonemas – unidades mínimas indivisíveis da língua –

organizam-se em unidades maiores: sílabas, morfemas e palavras.

A combinação dos fonemas não se dá de maneira aleatória. Os

fonemas combinam-se a partir de princípios da gramática interna

e da estrutura fonológica da língua. Segundo Mori (2003), o primeiro

nível de organização dos fonemas refere-se à formação de sílabas.

Cada língua tem padrões silábicos próprios, como enuncia Callou

e Leite (2001). Nesta aula, apresentaremos o estudo sobre sílaba,

sua estrutura, classificação e representação da estrutura silábica.

7.2 DEFINIÇÃO DE SÍLABA

A sílaba é a unidade mais espontânea da série fônica.

“Sílaba é o conjunto de fonemas emitidos a cada corrente de ar

expirada”, de acordo com Simões (2006, p.27). É uma entidade

sonora e sua depreensão só é possível na língua oral captável

materialmente pelos ouvidos. Conforme Paulino (1987, p.118) em

termos articulatórios, “ainda não foi possível definir, com absoluta

precisão, o término de uma sílaba e início de outra durante o

desempenho lingüístico oral do falante”. O autor explica que tal

dificuldade reside no fato de que cada som lingüístico emitido

encerra três fases: intensão – corresponde à preparação dos

órgãos articulatórios; e a distensão – é o relaxamento dos órgãos

articuladores, simultaneamente com a emissão propriamente dita

do som. Para Callou e Leite (2001), também não é fácil definir

sílaba. Segundo as autoras, a sílaba é um aumento da pressão do

Page 120: Fonetica e Fonologia

122

Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa

ar expulso dos pulmões. Esse aumento causa a saída descontínua

do ar, em forma de jatos sucessivos. Cristófaro-Silva (2002, p.28)

ressalta que “cada contração e cada jato de ar expelido dos pulmões

constitui a base de uma sílaba”. Já na visão de Bisol (2005, p. 245),

sílaba é a “menor categoria prosódica”, sendo, portanto uma

unidade fonológica, isto quer dizer, uma unidade prosódica.

Do ponto de vista da percepção, a sílaba é considerada

uma cadeia de aclives (subidas), ápices (o mais alto grau) e

declives (descidas) de sonoridade.

Aclives e declives funcionam como delimitadores de

fronteiras de sílabas, isto é, onde começam e onde terminam,

posição ocupada, especificamente, pelas consoantes. O ápice é

o núcleo da sílaba. No português, essa posição é ocupada pelas

vogais. Cristófaro-Silva (2002) chama os aclives e declives de

periféricos, e segundo ela, são opcionais. O núcleo é a parte

obrigatória dentro de uma sílaba.

7.3 ESTRUTURA DA SÍLABA

As sílabas são constituídas de

vogais (V), consoantes (C) e

glides (V´). no português, as

vogais são obrigatoriamente,

as consoantes e os glides são

opcionais. A sílaba pode conter

vários tipos de estruturas: V,

CV, CVC, CCV, CVCC,

CCVCC. O glide pode

aparecer em qualquer uma

dessas estruturas silábicas,

como mostra o quadro 18.

Quadro 18 Estrutura silábica

ESTRUTURA SILÁBICA EXEMPLOS

V. CVC a. mor

CV.CV ma.la

CVC.CVC pas.tel

CCV.CV cra.vo

CVCC.CVC.CV.CV pers.pec.ti.va

CCVCC.CVC.CV trasn.por.te

VV’.CV ou.ro

CCVV.CV frau.de

Page 121: Fonetica e Fonologia

123

UESPI/NEAD Letras Espanhol

7.4 CLASSIFICAÇÃO DAS SÍLABAS

Quanto à estrutura, as sílabas podem ser: simples ou

complexas, abertas (livres) ou fechadas (travadas) (MORI, 2003).

Vejamos a definição de cada uma delas.

• Simples – é constituído apenas pelo núcleo. No português,

é representada por uma vogal. Podemos observar sílaba simples nas

primeiras sílabas de “amigo”, “época”, “ilha”, “ovo”, “uva”.

• Complexo – é constituída por um núcleo antecedido e/ou

seguida de consoantes(s). Notamos a presença de sílabas complexas

em todas as sílabas das palavras “português”, “tratar”, “somente”.

• Abert a – é a sílaba que termina com vogal. Ela se

encontra em todas as sílabas de “sílaba”, “fogo”, “lixo”.

• Fechadas – é a sílaba que termina com consoante. Ela

está presente nas primeiras sílabas das palavras “car ta”, “gar fo”,

“pas ta”.

A sílaba quanto à acentuação classifica-se em:

• Átona – é a não marcada pelo acento tônico. Pode ser

pretônica, que vem antes da tônica ou postônica, que vem depois

das tônicas. No português, temos elementos átonos, como “me”,

“se”, “o”, “a”, “lhe”.

• Tônica – é a sílaba marcada pelo acento tônico. Ela está

presente nas sílabas destacadas nas seguintes palavras: café,

menino, urubu , português . Na palavra “menina”, o “me” é pretônico

e o “na” é postônico.

7.5 ORGANIZAÇÃO INTERNA DA SÍLABA

Do ponto de vista fonético, cada sílaba tem um pico de

sonoridade, ou seja, um segmento que é mais sonoro do que outro.

Page 122: Fonetica e Fonologia

124

Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa

Então, a sonoridade é uma propriedade relativa. Em termos

auditivos, o pico de sonoridade é mais proeminente do que os

segmentos vizinhos, formando o elemento silábico. No caso do

Português, por exemplo, as vogais são mais sonoras do que as

consoantes e somente elas podem constituir o pico silábico. Há

línguas, como o inglês, por exemplo, em que os segmentos com

sonoridade espontânea, podem ser o pico silábico. É o caso do /

r/ e do /l/.

7.6 ESTRUTURA E REPRESENTAÇÃO DA SÍLABA

No exemplo (1), constatamos a existência de duas sílabas

com apenas uma emissão de ar, pronunciando-o lentamente,

observa-se que o abdômen se contrai duas vezes, correspondendo

a dois impulsos articulatórios. Temos, então, /pA. ‘s/, para a palavra

“país”. Já no exemplo, na palavra Uruguai (2), temos três impulsos,

correspondendo a três sílabas. Representada, assim: /u.Ru.gway/.

Neste exemplo, as sílabas se organizam de modo diferenciado:

• /u/ - 1 segmento fônico = vogal;

• /Ru/ - 2 segmentos fônicos =consoante + vogal;

• /gway/ - 4 segmentos fônicos = consoante +

semivogal + vogal + semivogal.

Daí duas estruturas: incompleta – as duas iniciais; e

completa – a terceira sílaba. Observe que na figura 18, a sílaba

está completa, já nas figuras 19,20 e 21 exemplifica-se a sílaba

incompleta:

A vogal, na língua portuguesa, é o ponto de maior

sonoridade de uma sílaba, por essa razão ela, a vogal,

tecnicamente se denomina ponto vocálico, centro silábico ou núcleo

silábico. Então, na estrutura, localiza-se no ápice (= ponto mais

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alto). Os outros segmentos fônicos que, ocasionalmente, se

encontram ao lado da vogal em uma determinada sílaba, estarão

abrindo (aclive) ou fechando (declive) essa sílaba.

A figura 19 representa a sílaba de estrutura completa,

porque encerra os três momentos: aclive, ápice e declive. As figuras

20, 21 e 22 representam sílabas de estrutura incompleta, ou seja,

aquela que não possui três momentos.

Além de podermos representar a sílaba no modelo

supracitado, ou seja, no estruturalista, há outros modelos para

representar as sílabas. O modelo que apresentaremos, aqui, é

conhecido como fonologia autossegmental . Nesse modelo, a

estrutura silábica é formada pelo núcleo, pelo ataque e pela coda.

A vogal representa o núcleo (NUC). As consoantes que

Figura 19: Representação da sílaba na corrente estruturalista

Figura 20: Representação da sílaba: o aclive e o ápice

Figura 21: Representação da sílaba: o ápice e o declive

Figura 22: Representação da sílaba: o ápice

ápice

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Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa

acompanham o núcleo são conhecidas como ataque (ou onset) e

coda. Ataque (ou onset) é a consoante que vem antes do núcelo.

Coda é a consoante que vem após o núcleo.

Na representação da estrutura silábica, usamos a letra

grega [s] para indicar o constituinte silábico, que se ramifica em

ataque (A) e rima (R). A rima ramifica-se em núcleo (NUC)

(obrigatório) e coda (CO) (opcional) (MORI, 2003). Vejamos a

representação silábica no modelo autossegmental no diagrama 02.

Assim, a primeira camada é a (s) da (s) sílaba (s), que se

ramifica (m) em ataque (A) e rima (R). A terceira camada se ramifica

em núcleo (NUC) e coda (CO). Entre essa camada e a dos fonemas,

há a intermediária, chamada esqueleto CV (consoante/vogal).

Podemos visualizar essas camadas na representação das sílabas

da palavra “susto”, como representado no diagrama 03.

Diagrama 02: Representação da sílaba no modelo autossegmental

Diagrama 03: Representação da palavra susto

ó

A

R

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Há outras propostas esboçadas sobre a representação

fonológica da sílaba; uma delas e semelhante ao que apresentamos

acima é a adotada por Selkirk (1982, apud Hora 2009) “segundo a

qual, a sílaba pode ter os seguintes constituintes: há uma divisão

principal da sílaba em ataque e rima, e a rima, por sua vez se divide

em núcleo e coda”, conforme ilustra o diagrama 04, a seguir:

Há de ressaltarmos que nem todas as sílabas do português

preenchem todas as posições, como foi também verificado para o

modelo estruturalista. Há estruturas silábicas do tipo CV, como em

“cá”, em que apenas o ataque e o núcleo são preenchidos, a

exemplo do que representa o diagrama 05:

Diagrama 04: Representação da silábica no modeloautossegmental

Diagrama 05: Representação silábica do tipo CV comataque e núcleos preenchidos

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Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa

Há algumas em que apenas o núcleo é preenchido, a

exemplo de “a” no diagrama 06.

Como vemos, ao examinarmos a organização dos fonemas

em unidades menores, percebemos mais uma vez que essa

organização não é aleatória.

7.7 SÍNTESE DA UNIDADE

O primeiro nível de organização dos fonemas refere-se à

formação de sílabas. Do ponto de vista articulatório , a sílaba é

cada corrente de ar expirada que vem dos pulmões. Do ponto de

vista da percepção , a sílaba é considerada uma cadeia de aclives

(subidas), ápices (o mais alto grau), declives (descidas) de

sonoridade. A posição de aclives e declives é ocupada

preferencialmente pelas consoantes, e de ápice, obrigatoriamente,

pelas vogais.

As sílabas são constituídas de vogais (V), consoantes (C)

e glides (V’). No português, a presença das vogais é obrigatória

na sílaba, as consoantes e os glides são opcionais. A sílaba pode

conter vários tipos de estruturas: V, CV, CVC, CCV, CVCC,

CCVCC, e o glide pode aparecer em qualquer uma. Quanto à

Diagrama 06: Representação silábica de núcleo preenchido

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estrutura, as sílabas podem ser: simples, ou complexas; abertas

ou fechadas. Quanto à acentuação, as sílabas podem ser átonas

ou tônicas.

Na representação da estrutura silábica, a primeira camada

é a da sílaba (ó), que se ramifica em ataque (A) e rima (R). A

terceira camada se ramifica em núcleo (NUC) e coda (Co). Entre

essa camada e a dos fonemas, há a intermediária, chamada

esqueleto CV (consoante/ vogal).

FÓRUM DE DISCUSSÃO

1) Por que tem sido difícil, num enunciado, delimitar a

sílaba? Discuta com seus colegas.

ATIVIDADE I

1) Qualquer segmento fônico vocálico pode ser centro

silábico? Justifique.

2) Por que, na Língua Portuguesa, um enunciado terá tantas

sílabas quantas forem os fonemas-vogais?

ATIVIDADE II

1) Classifique cada sílaba das palavras abaixo,

considerando a seguinte sequência: quanto à estrutura silábica

quanto ao padrão silábico; quanto à tonicidade.

a) amor

b) vida

c) Uruguai

d) pasteizinhos

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130

Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa

2) Que significa “sílaba de estrutura incompleta”? Dê três

exemplos.

ATIVIDADE III

1) Qualquer sílaba de estrutura completa tem o mesmo

padrão silábico? Esclareça com exemplos.

2) A partir do modelo autossegmental apresentado nesta

aula, faça a representação da estrutura silábica das palavras: amor

e vida.

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Fichamento do Livro

Page 132: Fonetica e Fonologia

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Fonética e Fonologia da Língua Portuguesa

Possui graduação em Licenciatura Plena em Letras, com

habilitação em inglês pela Universidade Federal do Piauí

– UFPI (1988), com Mestrado em Língua Portuguesa pela

Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – PUC

/Minas (2000) e Doutorado em Linguística pela

Universidade Federal da Paraíba – UFPB (2009).

Atualmente é professora adjunta da Universidade

Estadual do Piauí – UESPI. Atua na área de Lingüística,

com ênfase em Teoria e Análise Linguística, desenvolvendo suas atividades

acadêmicas principalmente em Sociolinguística, Variação e Mudança

Lingüística, Fonética e Fonologia.

LUCIRENE DA SILVA CARVALHO

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AVALIAÇÃO DO LIVRO

Prezado(a) cursista:

Visando avaliar a qualidade do fascículo, solicitamos que responda àsquestões a seguir. A sua participação é importante nesse processo.Após proceder à avaliação, destaque esta folha e entregue-a ao seu tutor.Não é necessário identificar-se.

Unidade: _______________________ Município:__________________Disciplina:___________________________ Data:____/____/______

1. A qualidade gráfica deste material está:( ) ÓTIMO ( ) BOM ( ) RAZOÁVEL ( ) RUIM

2. O conteúdo estabelece relação entre teoria e prática?( ) ÓTIMO ( ) BOM ( ) RAZOÁVEL ( ) RUIM

3. As atividades do fascículo estão compreensíveis e relacionadasaos conteúdos estudados?( ) ÓTIMO ( ) BOM ( ) RAZOÁVEL ( ) RUIM

4. Atribua uma not a de 0 a 10 para este fascículo: ( )

5. Apresente sugestões p ara os próximos fascículos.____________________________________________________________________________________________

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