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Post on 13-Aug-2015

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O casamento da Fogaça de Palmela com o Moscatel de Setúbal

Texto e ilustrações: Carla Susana Costa

Dedicado: Ao grupo de Trabalho das Bibliotecas Escolares do Concelho de Palmela

E a todos os que apreciam um bom doce regional e um vinho moscatel com qualidade.

Palmela não é somente terra de bom queijo e vinho, mas também de festas, romarias e do nascimento de um doce regional com

sabor q.b. a canela e uma boa dose de erva-doce. Não sabemos se foi inspirado pelos ares cimeiros da vila, lá para as para as

bandas do castelo, ou pelo vislumbre do rio Sado e cordilheira da Arrábida por um lado, e pelas planícies envolventes ao

cansado Tejo, por outro.

Há quem diga que nasceu em janeiro, que foi concebida

num ato de sabedoria de combinação de sabores, no

primeiro mês do calendário, sob a proteção de Santo

Amaro, uniram-se os ovos ao pão em massa,

adicionando-se o sumo e raspa das laranjas, a banha, o

açúcar, a canela, a erva-doce, a aguardente e a farinha.

Após momentos de levedação moldaram-se formas,

mesclando-se o amor à terra, trabalho árduo,

imaginação com uma pitada de tradição. Daí resultou

um aroma guloso transportado num tabuleiro untado

em forno moderado que sacia a fome ou gulodice de

quem o prova.

Deram-lhe o nome de fogaça, por ser um bolo cozinhado

no fogo, em cima das cinzas quentes do forno a lenha.

Familiares tem alguns, dos quais destacam-

se as famosas fogaças de Santa Maria da

Feira e Alcochete, mas que se diferenciam

dela, por serem uma espécie de pão doce ou

pastel e também pelo aspeto. A forma da

fogaça de Palmela correspondia a

promessas formuladas a Santo Amaro,

evocando-se habitualmente proteção na

saúde, colheitas e gado. Dessas aflições

resultavam diversos motivos: animais, partes

do corpo, frutos ou plantas.

É benzida, anualmente, na igreja paroquial numa

cerimónia aberta à comunidade que convida à

participação de todos.

A verba apurada revertia a favor do culto do seu santo

padroeiro.

Tal senhora tão bem conceituada, um dia foi

apresentada a um vinho generoso da região, com

alguma antiguidade, há muito apreciado por reis e

pelo povo. Foi atraída pela sua celebridade, cor,

maturidade, frescura e elegância.

Conheceram-se num final de tarde, na época das

festas das vindimas, na Casa Mãe dos Vinhos. De fora

ecoava uma melodia produzida pelas gentes das

bandas filarmónicas da região, convidando a um pé de

dança.

Foi entre esses e tortas de

Azeitão, biscoitos diversos e

frascos de mel da Arrábida

que o Sr. Moscatel descobriu

a distinta D. Fogaça, com o

seu ar delicioso e

ligeiramente tostado. Foi

amor ao primeiro pingo, ou

devo dizer, amor à primeira

migalha, pois o sentimento

de atração foi reciproco.

D. Fogaça já há muito o admirava pelas suas qualidades, mas por ser introvertida, não se atrevia a olhá-lo de soslaio mais do

que alguns segundos.

O Sr. Moscatel, curioso, resolveu aproximar-se e deu-se a conhecer. Conversaram até de madrugada, perto dos azulejos que

ilustram o labor das vindimas. Ambos tinham tanto para contar e partilhar. Licores, compotas e queijos cochichavam baixinho

sobre o sucedido.

Uma noite estrelada de final de semana, Sr. Moscatel convidou D. Fogaça para um encontro no Espaço Fortuna. No bar,

escutavam-se canções resultantes de flauta, guitarra e bateria num ambiente simpático, tranquilo e acolhedor alumiado pela

luz ténue de velas. Inspirado, já no espaço exterior, Sr. Moscatel entoou uma serenata apaixonada. Fogaça sorriu com um rubor

nas faces, estava feliz.

Mais tarde, já de mãos

dadas, visitaram a olaria

e as peças ai criadas.

Tinha-se iniciado um

eterno e harmonioso

romance.

Desde ai são quase inseparáveis, deixando-se avistar

nas ruas e vielas estreitas do centro histórico da vila e

Cineteatro S. João. A pousada e esplanada do castelo,

moinhos de vento, igreja, miradouro, adegas e salões

de chá da zona continuam a ser locais que também

testemunham esta união e dedicação mutua.

Celebrou-se então, o

casamento entre a Fogaça

de Palmela e o Moscatel de

Setúbal, combinação entre o

doce, o álcool, a qualidade e

frescura, num equilíbrio de

prazer.

E é por isso, que quem visita Palmela não deve jamais perder

a oportunidade de cometer o pecado de provar este doce

regional acompanhado pela famosa e deliciosa bebida de vinho moscatel típica desta zona tão afortunada pelos deuses

gastronómicos, nem deixar de conhecer os restantes tesouros da região.

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