fernando pessoa e seus heterÔnimos professora: suzete beppu

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FERNANDO PESSOA E SEUS HETERÔNIMOS

PROFESSORA: Suzete Beppu

Alberto Caeiro (o poeta-filósofo) Prega a simplicidade da vida; Eliminação do ato de pensar; O mais importante é ver e sentir; O mundo reduz-se às coisas que

percebemos através dos sentidos; A sensação é a forma de conhecimento do

mundo. Sem subjetivismo ou idealizações vive

apenas o presente.

III - Ao Entardecer    Ao entardecer, debruçado pela janela,

     E sabendo de soslaio que há campos em frente,      Leio até me arderem os olhos      O livro de Cesário Verde.  

    Que pena que tenho dele! 

Ele era um camponês      Que andava preso em liberdade pela cidade.      Mas o modo como olhava para as casas,      E o modo como reparava nas ruas,      E a maneira como dava pelas cousas,      É o de quem olha para árvores,      E de quem desce os olhos pela estrada por onde vai andando      E anda a reparar nas flores que há pelos campos ...

     Por isso ele tinha aquela grande tristeza      Que ele nunca disse bem que tinha,      Mas andava na cidade como quem anda no campo      E triste como esmagar flores em livros      E pôr plantas em jarros...

As sensações...

O essencial é saber ver, Saber ver sem estar a pensar,Saber ver quando se vê,E nem pensar quando se vêNem ver quando se pensa.

Mas isso (tristes de nós que trazemos a alma vestida!)Isso exige um estudo profundo, Uma aprendizagem de desaprender.

"A nossa única riqueza é ver"  Há quanto tempo não entravas no meu Mundo, Caeiro?Ora pois, cá estás de volta.É bom ou é mau este retorno?Não sei. E tento não pensar.Tento descontrair. Basicamente tento ser feliz. O melhor que consigo. "Da minha aldeia vejo quanto da Terra se pode ver do Universo..Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer,Porque eu sou do tamanho do que vejoE não do tamanho da minha altura... Nas cidades a vida é mais pequenaQue aqui na minha casa no cimo deste outeiro.Na cidade as grandes casas fecham a vista à chave,Escondem o horizonte, empurram o nosso olhar para longe de todo o céu,Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos podem dar,E tornam-nos pobres porque a nossa única riqueza é ver." Alberto Caeiro

VI - Pensar em Deus

                                 Pensar em Deus é desobedecer a Deus,                                  Porque Deus quis que o não conhecêssemos,

                                 Por isso se nos não mostrou...                                  Sejamos simples e calmos,                                  Como os regatos e as árvores,                                  E Deus amar-nos-á fazendo de nós                                  Belos como as árvores e os regatos,                                  E dar-nos-á verdor na sua primavera,                                  E um rio aonde ir ter quando acabemos! ... (O Guardador de Rebanhos)

(A visão de mundo de Caeiro reside no objeto, nas coisas.)

XVI

Quem me dera que a minha vida fosse um carro de boisQuem vem a chiar, manhãzinha cedo, pela estrada,E que para de onde veio volta depoisQuase à noitinha pela mesma estrada.

Eu não tinha que ter esperanças – tinha só que ter rodas...A minha velhice não tinha rugas nem cabelo branco...Quando eu já não servia , tiravam-me as rodasE eu ficava virado e partido no fundo de um barranco.(Poemas completos de Alberto Caeiro)

Análise

Poema que tematiza o conflito entre o “ser” e o “querer ser”. O que Caeiro almejava era a objetividade total, apenas existir como coisa da natureza, ser um homem são (não pensar); no entanto, às vezes, descobre-se “doente”, impregnado de cultura/civilização, tendo sonhos e esperanças: “Quem me dera que a minha vida fosse um carro de bois (...) / Eu não tinha que ter esperanças – tinha só que ter rodas...”

(Fuvest/Unicamp)

Ricardo Reis Representa a faceta

clássica da obra de Pessoa; É indiferente à vida social; Valoriza a vida campestre e

a simplicidade das coisas;

Sente-se fruto de uma civilização cristã em decadência, que caminha fatalmente para a destruição.

Há a consciência da passagem do tempo e da inevitabilidade da morte. Na resta a fazer, pois o destino de cada um já está traçado pelo fado (fatalidade)

De acordo com as teorias do filósofo grego Epicuro, o homem deve buscar uma vida de prazeres naturais, de equilíbrio, sem paixões violentas.

Ricardo Reis desconfia da felicidade extrema; por isso a evita ou a controla com a razão

Ricardo Reis é um neo-clássico: pelo espírito grave e estilo elevado; pela busca de perfeição e equilíbrio; pelo intelectualismo e convencionalismo; pela frieza e distanciamento na relação amorosa; pela presença da milotogia pagã.

"Acima da verdade estão os deuses.     Nossa ciência é uma falhada cópia

    Da certeza com que eles     Sabem que há o Universo.” 

A CADA QUALA cada qual, como a 'statura, é dada A justiça: uns faz altos O fado, outros felizes. Nada é prêmio: sucede o que acontece. Nada, Lídia, devemos Ao fado, senão tê-lo.

(A visão de mundo de Reis é extraída das próprias idéias, da abstração filosófica)

ANTES DE NÓSAntes de nós nos mesmos arvoredos Passou o vento, quando havia vento, E as folhas não falavam De outro modo do que hoje. Passamos e agitamo-nos debalde. Não fazemos mais ruído no que existe Do que as folhas das árvores Ou os passos do vento. Tentemos pois com abandono assíduo Entregar nosso esforço à Natureza E não querer mais vida Que a das árvores verdes. Inutilmente parecemos grandes. Salvo nós nada pelo mundo fora Nos saúda a grandeza Nem sem querer nos serve. Se aqui, à beira-mar, o meu indício Na areia o mar com ondas três o apaga, Que fará na alta praia Em que o mar é o Tempo?

ÁLVARO DE CAMPOS: a energia futurista É um homem voltado para o presente,

embora traga consigo saudades do tempo de menino;

É o mais afinado com a tendência modernista, particularmente com o Futurismo;

Emprega o verso livre (como o Mestre Caeiro);

Procura transmitir o espírito do mundo moderno, um mundo de máquinas, multidões e de velocidade;

É sensacionista moderno, pois transmite sensações obtidas a partir da vida urbana e industrial.

"À dolorosa luz das lâmpadas elétricas da fábrica    Tenho febre e escrevo.    Escrevo rangendo os dentes, fera para a beleza disto,    Para a beleza disto totalmente desconhecida dos antigos."

Às Vezes     Às vezes tenho idéias felizes, 

    Idéias subitamente felizes, em idéias      E nas palavras em que naturalmente se despegam...        Depois de escrever, leio...      Por que escrevi isto?      Onde fui buscar isto?      De onde me veio isto?  Isto é melhor do que eu...      Seremos nós neste mundo apenas canetas com tinta      Com que alguém escreve a valer o que nós aqui traçamos?...

FASES DE CAMPOS DECADENTISTA, LIGADA À POESIA

DO FINAL DO SÉCULO XIX; FUTURISTA (ODE MARÍTIMA) PESSOAL, DE

DESCONTENTAMENTO E ARIDEZ INTERIOR

FINAL: COSMOPOLITA MELANCÓLICO E DEVANEADOR (PRESENÇA DA SAUDADE DA INFÂNCIA E DA DOR DE PENSAR

 "Não sou nada.    Nunca serei nada.

   Não posso querer ser nada.    À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo."

POEMA EM LINHA RETA

Nunca conheci quem tivesse levado porrada. Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil, Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,

Indesculpavelmente sujo, Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,

Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo, Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,

Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante, Que tenho sofrido enxovalhos e calado,

Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;

Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel, Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,

Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,

Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado Para fora da possibilidade do soco; Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas, Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo. Toda a gente que eu conheço e que fala comigo Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho, Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida... Quem me dera ouvir de alguém a voz humana Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia; Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia! Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam. Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?

Ó príncipes, meus irmãos, Arre, estou farto de semideuses! Onde é que há gente no mundo? Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra? Poderão as mulheres não os terem amado, Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca! E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído, Como posso eu falar com os meus superiores sem

titubear? Eu, que venho sido vil, literalmente vil, Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.

FERNANDO PESSOA ELE-MESMO AUTOPSICOGRAFIA

O poeta é um fingidor. Finge tão completamente

Que chega a fingir que é dor A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve, Na dor lida sentem bem,

Não as duas que ele teve, Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de rodaGira, a entreter a razão,Esse comboio de corda

Que se chama o coração.

As rosas amo dos jardins de Adônis

As rosas amo dos jardins de Adônis,Essas volucres amo, Lídia, rosas,

Que em o dia em que nascem,Em esse dia morrem.

A luz para elas é eterna, porqueNascem nascido já o sol, e acabam

Antes que Apolo deixeO seu curso visível.

Assim façamos nossa vida um dia,Inscientes, Lídia, voluntariamente

Que há noite antes e apósO pouco que duramos.

MAR PORTUGUÊS Ó mar salgado, quanto do teu sal

São lágrimas de Portugal!Por te cruzarmos, quantas mães choraram,

Quantos filhos em vão rezaram!Quantas noivas ficaram por casarPara que fosses nosso, ó mar!

Valeu a pena? Tudo vale a penaSe a alma não é pequena.

Quem quere passar além do BojadorTem que passar além da dor.

Deus ao mar o perigo e o abismo deu,Mas nele é que espelhou o céu.

D. SEBASTIÃO, REI DE PORTUGAL Louco, sim, louco, porque quis grandeza

Qual a Sorte a não dá.Não coube em mim minha certeza;

Por isso onde o areal estáFicou o meu ser que houve, não o que há.

Minha loucura, outros que me a tomemCom o que nela ia.

Sem a loucura que é o homemMais que a besta sadia,

Cadáver adiado que procria?

CARACTERÍSTICAS

Nacionalismo, saudosismo (Mensagem, 1914)

Ceticismo, nostalgia, tédio, solidão, infância, vida e arte (Cancioneiro)

OBRA “MENSAGEM”

POEMAS NACIONALISTAS; DESEJO DE PRODUZIR UM POEMA

ÉPICO; CITAÇÃO AOS GRANDES NOMES DA

HISTÓRIA DE PORTUGAL, PRINCIPALMENTE OS RELACIONADOS ÀS GRANDES NAVEGAÇÕES;

CANTO A UM SONHO: O DA RETOMADA DO PODERIO POLÍTICO PORTUGUÊS.

BIBLIOGRAFIA

CEREJA&MAGALHÃES, William Roberto e Thereza Cochar. Português: Linguagens. Vol. 3. Ed. Atual.

PASSONI, Célia A. N. Literatura: Fuvest/Unicamp-2008. Ed. Núcleo

FARACO&MOURA. Língua e Literatura. Vol.3. Ed. Ática.

IMAGENS

www.camoes.com www.jornaldapoesia.com.br www.literaturaportuguesa.com.br www.fernandopessoa.com

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