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Faculdades Cearenses
Centro de Ciências Sociais Aplicadas
FRANCISCA ODACILDA LEITE LIMA
SERVIÇO SOCIAL E EDUCAÇÃO: NA LUTA POR DIREITOS
Fortaleza
2014
FRANCISCA ODACILDA LEITE LIMA
SERVIÇO SOCIAL E EDUCAÇÃO: NA LUTA POR DIREITOS
Trabalho de Conclusão de Curso,
apresentado como requisito parcial para
obtenção do grau de bacharel em Serviço
Social. Faculdades Cearenses, Centro de
Ciências Sociais Aplicadas.
Orientadora: Ms. Gislania de Freitas Silva
Fortaleza
2014
FRANCISCA ODACILDA LEITE LIMA
EDUCAÇÃO E SERVIÇO SOCIAL:
NA LUTA POR DE DIREITOS
Trabalho de Conclusão de Curso,
apresentado como requisito parcial para
obtenção do grau de bacharel em Serviço
Social. Faculdades Cearenses, Centro de
Ciências Sociais Aplicadas.
Orientadora: Ms. Gislania de Freitas Silva
Aprovado em: _____/_______/____
Banca Examinadora
____________________________________________________________
Ms. Gislania de Freitas Silva (orientadora)
_____________________________________________________________
Ms. Lenha Aparecida Silva Diógenes
____________________________________________________________
Ms. Denilson Portácio
Dedico o resultado deste trabalho à minha querida e
amada mãe, Josefa Leite Lima, que em sua grande
sabedoria soube com a simplicidade de quem não teve a
oportunidade de estudar, ensinar-me o caminho libertador
pela busca do conhecimento. Dedico também a meu pai
Otacílio Ferreira Lima, exemplo vivo de coragem e luta
como trabalhador pela sobrevivência diária nesse mundo
cão, que exige mais suor e dor daqueles que, desde muito
cedo, tiveram que experimentar o lado difícil da vida. Em
especial, dedico as minhas irmãs Odacilia e Odailda, pela
fé depositada em mim em todos os momentos de
fraqueza. Por fim, dedico a todos aqueles que, como eu,
persistiram em desafiar os obstáculos que enfrentam
todos os filhos de pessoas simples a participar dos
direitos a educação superior, com muito esforço
enfrentando, como nossos pais, grandes desafios, como
trabalhar para sobreviver, estudar para aprender e ainda
tentar ser feliz, pra ser feliz!
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus, presente vivo em minha vida, exemplo maior
de humildade e sabedoria.
Um agradecimento especial a Luiz Carlos, marido e companheiro de todas as
horas, Karen e Lucas, filhos amados, motivo maior que me faz lutar por dias
melhores.
Agradeço a todos que aceitaram gentilmente participar da banca examinadora:
minha orientadora e, sobretudo, amiga, Gislania Freitas, que desde o início me
apoiou para a realização deste TCC, fornecendo subsídios e toda dedicação
possível. Aos professores Lenha Aparecida Silva Diógenes e Denilson
Portacio, pela gentileza e atenção ao meu convite.
Agradeço também a todos que contribuíram e se dispuseram a participar dessa
pesquisa, a saber: minha querida amiga Marilac Bezerra, por sua amizade e
força durante a execução desse trabalho. Aos colegas professores Danilo
Celedônio e Janaina pelo apoio material a mim oferecido. Agradeço a querida
professora Jeane Maria Mendonça por sua indiscutível atenção e zelo na
revisão e organização dessa pesquisa, bem como por sua amizade e
humildade ao colaborar com a mesma. A todos os professores da FAC que
contribuíram para esse processo de amadurecimento teórico. A todos as
amigas de sala de aula que foram e espero que permaneçam sendo dádivas
vivas em minha vida, com especial carinho a Aline Maria, amiga que nos
momentos decisivos desse TCC soube com seu carinho e atenção amparar-me
como uma verdadeira irmã, Suyanny Pereira pelo prazer de sua atenção e
carinho, Suzane Targino pelo companheirismo e a leveza de sempre, Irlene e
Kelliane pela amizade e credibilidade, Marcos pela alegria e amizade e a
Marcelo Michellis pela atenção e gentileza de sua contribuição na construção
desse projeto.
Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mais
ao lidar com uma alma humana, seja somente outra alma
humana.
(Carl Gustav Jung)
RESUMO
Esta pesquisa relata brevemente a história da educação no Brasil, apontando
aspectos que permitem uma análise das transformações pelas quais passou
em termos de evolução, bem como a inserção do Serviço Social nas lutas pela
efetivação de direitos e garantia de acesso ao ensino gratuito e de qualidade.
Na oportunidade, vem também apresentar o olhar dos gestores educacionais
dos Liceus de Maracanaú- CE, Professor Francisco Oscar Rodrigues e Liceu
Municipal, no intuito de evidenciar variadas demandas apresentadas pelas
instituições em seu cotidiano, promovendo assim o debate e a análise a partir
do discurso dos gestores acerca das refrações da questão social, bem como
contribuir para a reflexão sobre a contribuição dos profissionais do serviço
social no âmbito da educação, a partir dos relatos concretos apresentados e
interpretados por esses sujeitos.
Palavras-chave: Educação. Serviço Social. Refrações da questão social.
ABSTRACT
This research relates shortly the education’s history at Brazil, indicate some
aspects which allow a transformations’ analysis that it passed through in
evolution’s terms, as the insert of Social Service in the fight for the rights’ hire
and for the guarantee of access for the free and quality education. On the
opportunity, it comes too to introduce the school’s administrators’ look upon the
Lyceums of Maracanaú – CE, Professor Francisco Oscar Rodrigues and
Municipal Lyceum, on the interest of evidence varied demands introduced for
the institutions in your quotidian, promoting the debate and the analysis after
the speeches from school’s administrators upon the refractions of the social
question, as it contributes for the reflection about the contribution from the
professionals of social service on the education’s context, after the concrete
reports which were interpreted by these subjects.
Keywords: Education. Social Service. Refractions of the social question.
Lista de Abreviaturas e siglas
ABE – Associação Brasileira de Educação
CFESS – Conselho Federal de Serviço Social
CRESS - Conselho Regional de Serviço Social
ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente
ENEM – Exame Nacional do Ensino Médio
Fundef – Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e
de Valorização dos Profissionais do Magistério
LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação
MEC – Ministério da Educação
PAE – Programa de Apoio ao Estudante
PDE - Plano de Desenvolvimento da Escola
PDDE – Programa Dinheiro Direto na Escola
UFC – Universidade Federal do Ceará
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 11
2 O ASSISTENTE SOCIAL E A ESCOLA ....................................................... 13
3 PANORAMA DA EDUCAÇÃO NO BRASIL ................................................. 18
3.1 Os novos rumos da educação: a Constituição “cidadã” de 1988 ............... 28
4 EDUCAÇÃO NO CEARÁ .............................................................................. 31
5 PERCURSO METODOLÓGICO DA PESQUISA .......................................... 36
5.1 Os cenários da pesquisa: os liceus de Maracanaú .................................... 39
6 APRESENTAÇAO, ANÁLISE E DISCURSSÃO DOS DADOS .................... 42
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................... 51
REFERÊNCIA .................................................................................................. 58
ANEXOS .......................................................................................................... 61
11
1. INTRODUÇÃO
As razões que motivam essa pesquisa se encontram no desafio de
evidenciar inúmeras demandas sociais apresentadas ao cotidiano de duas
instituições educacionais localizadas no município de Maracanaú, região
metropolitana de Fortaleza – CE: o Liceu Municipal, que trabalha com o ensino
fundamental II, e o Liceu Estadual Professor Francisco Oscar Rodrigues, que
se destina ao ensino médio. Tais demandas ou problemas nos foram
apresentadas por meio do discurso dos gestores das duas instituições em
questão, dentre os quais destacamos as drogas, exploração sexual, violência,
preconceito, negligencia familiar, problemas de saúde, dentre outros. É
também nosso objetivo perceber ou observar o nível de sensibilização desses
sujeitos quanto ao reconhecimento dessas demandas de ordem social, uma
vez que tal postura vai além das atribuições que lhes competem. Essas
instituições foram escolhidas levando-se em consideração critérios como a
localização, facilidade de acesso ao campo, bem como conhecimento prévio do
mesmo. Ademais, optamos por trabalhar com uma instituição de ensino
fundamental e outra de ensino médio, com o intuito de observar quais
demandas essas instituições compartilham, quais são superadas na transição
do ensino fundamental para o ensino médio e quais permanecem.
Assim, uma vez identificada tais problemáticas, procura-se refletir
sobre as diversas possibilidades de contribuição que os profissionais do serviço
social poderiam proporcionar através de sua inserção nesse espaço, como
agentes articuladores capazes de problematizar criticamente as demandas
junto aos docentes, equipe gestora, discentes, família e comunidade,
enfatizando o compromisso e posicionamento direto desse profissional diante
das demandas postas, na busca por sua superação. Diante disso, a pesquisa
também vem reforçar, através das inúmeras reflexões e debates que o
Conselho Federal de Serviço Social- CFESS e seus profissionais travam em
torno das políticas públicas e da compreensão das instituições de ensino como
mais um campo carente de intervenção, necessitando de uma equipe
multiprofissional composta por assistentes sociais e psicólogos, como uma
ferramenta para subsidiar a promoção de uma educação de qualidade, que
12
possa, também, estar oferecendo caminhos para a emancipação e autonomia
dos sujeitos sob uma dimensão de direitos.
Assim, com o objetivo de expor a trajetória e o resultado deste
trabalho, apresento no segundo capítulo a importância da atuação do
assistente dentro do ambiente escolar em seguida, no terceiro capítulo, faço
um breve panorama da história da educação no Brasil, enfocando a educação
como direito social e os embates para a efetivação do mesmo, até a
Constituição “cidadã” de 1988, marco na luta por direitos sociais em nossa
sociedade. No quarto capítulo, discuto a educação no Ceará, a fim de elucidar
os contornos que circunscrevem meu campo, os dois liceus de Maracanaú.
Dessa forma, a reconstrução do cenário se deu amparada em dados históricos,
o que propiciou uma melhor compreensão do presente e dos problemas
enfrentados por essas instituições. No quinto capítulo apresento os
procedimentos metodológicos desta pesquisa de cunho qualitativo, e,
finalmente, nos capítulos de discussão dos dados e das considerações finais,
retomo a discussão acerca da inserção dos profissionais do Serviço Social nas
instituições de ensino, as demandas enfrentadas e as possibilidades de
atuação, no intuito de problematizar nosso compromisso para a efetivação de
direitos sociais.
13
2. O ASSISTENTE SOCIAL E A ESCOLA
Sabe- se que o profissional de serviço social traz consigo o
compromisso de colocar-se na busca por ampliação de direitos, partindo daí o
interesse em inserir- se dentro dos mais diversos espaços sociais, criando,
assim, possibilidades de trabalhar o projeto ético-político que representa a
categoria, bem como o interesse dos sujeitos envolvidos na expectativa de uma
forma mais justa de democracia, nessa sociedade repleta de contradições.
Os assistentes sociais trabalham com a questão social nas mais
diversas expressões quotidianas, tais como os indivíduos as
experimentam no trabalho, na família, na área habitacional, na saúde,
na assistência social pública etc.(...). (IAMAMOTO, 2012, p.28)
Temos, portanto, um serviço social que inserido diretamente no
cotidiano da sociedade, vem desenvolver, através de sua atuação, seu papel
educativo e social; que ao ser transformado também transforma o ambiente
educacional passível de mudanças e possível de relações democráticas
(FREIRE, 2006).
Nesse diálogo, estabelecido entre o fazer profissional e a
realidade contraditória da sociedade, o serviço social e seus profissionais
posicionam-se como profissão representante da luta por uma educação de
direito e qualidade, contribuindo para a mesma numa dimensão mais ampla e
pretensa de transformações.
(...) dimensão educativa do assistente social deve ser considerada
não apenas em termos da valorização da sua inserção nas unidades
educacionais, mas do seu envolvimento com os processos sociais,
em curso, voltados para a construção de uma nova hegemonia no
campo da educação e da cultura, dos quais os educadores trazem
significativos acúmulos e, tradição, seja no campo do pensamento
14
intelectual, seja nas ações profissionais e políticas. (ALMEIDA, 2005,
p.25).
Sabendo como se apresenta a educação e as instituições
educacionais, que se deparam com as mais variadas refrações da questão
social, o serviço social vem se manifestar intransigentemente diante da política
educacional, de modo a atuar para facilitar as condições de acesso e
permanência ao ensino, a gestão democrática e a qualidade da educação
(CFESS, 2011), na defesa por uma transformação social junto aos indivíduos a
ela envolvidos, na busca constante por uma democracia social justa dentro dos
espaços educacionais, assim como os demais espaços que formam a estrutura
de nossa sociedade.
Essa pesquisa mostra-se relevante, pois vem problematizar a
ausência de articulações das políticas públicas dentro de campos essenciais
como a educação. Faz-se necessário considerar as instituições educacionais
como espaços dinâmicos na realidade social, conflituoso e caótico, como
tantos outros passíveis de análise e intervenções sociais. Contudo, é enquanto
estudante do curso de serviço social da Faculdade Cearense - FAC e
funcionária terceirizada inserida na área da educação, na instituição Liceu
Professor Francisco Oscar Rodrigues, que nos interessa apontar medidas que
poderão ser adotadas, diante do quadro de agravamento dos problemas
sociais apresentados às instituições de ensino, em meio as mais variadas
situações que permeiam a realidade do espaço educacional.
Através da contextualização histórica em torno das instituições
educacionais no Brasil, procuram-se respostas para entender ou mesmo
justificar as limitações que hoje rodeiam o ambiente educacional. Esse espaço,
considerado responsável pela formação de cidadãos e provedor do
conhecimento, é também hoje o que enfrenta grandes dificuldades em seu
cotidiano. Desde sua passagem pela emergente industrialização até o seu
reconhecimento como um direito social, a educação no Brasil é resultado das
inúmeras fases vivenciadas historicamente em nosso país, e traz no seu
legado resquícios de suas funcionalidades determinadas anteriormente.
15
Partindo desse princípio, entende-se que muitas foram as dificuldades
enfrentadas pelas instituições educacionais, que estiveram presentes desde os
processos de adequação ao sistema econômico, regimes militares até a tão
atual deficiência de políticas públicas no âmbito da educação.
Mais que conhecer as profundas transformações que sofreu a
educação no Brasil, é importante discutir até que ponto esta ainda encontra-se
fragilizada em suas funções. É necessário reconhecer que muitos foram os
avanços desde seu surgimento, com os primeiros colonizadores e catequistas,
até a Constituição de 1988, momento em que passa a ser concebida como um
direito social fundamental, que deve ser resguardo pela família e pelo Estado.
Dito isso, as instituições educacionais inserem-se no cenário do cotidiano
brasileiro como instrumento de viabilização desse direito.
Contudo, junto com seu valoroso reconhecimento, enquanto uma
instituição normativa pautada sob as mais referendadas funções sociais, temos
ainda um espaço que continua a enfrentar os novos desafios sociais. É
situando o processo educativo e suas instituições educacionais em nossa
contemporaneidade, que encontramos no seio de sua atuação o retrato de uma
instituição que se depara não só com a deficiência e fragilidade de suas
funções, mas exposta às mais variadas refrações da questão social, tais como:
violência, desemprego na família, problemas de saúde, entre outros.
Entendendo o caráter comprometido junto à sociedade na busca pelo direito à
educação de qualidade, as escolas brasileiras encontram-se diante de um
grande desafio: garantir essa qualidade. Compreendendo o ser humano
enquanto um ser social que também depende que sejam garantidos outros
direitos como saúde, alimentação, lazer, habitação e vários outros, essas
instituições se deparam não somente com suas próprias carências, mas com
outras que acompanham a vivência de seus alunos em sua totalidade.
Resultando como problema, temos hoje um verdadeiro aparato de
descaso educacional, refletido nas inúmeras fragilidades encontradas nas
instituições educacionais e na educação como um todo. Permeado não só com
suas deficiências, o ambiente educacional encontra-se rodeado de tantas
outras problemáticas trazidas por seus alunos, demandas estas muitas vezes
16
despercebidas ou reduzidas a problemas morais ou individuais, trazendo para
esse ambiente mais desafios às suas já difíceis funções.
É a partir do reconhecimento da questão social como um conjunto
de desigualdades existentes na sociedade, que a mesma precisa ser entendida
de maneira mais ampla, de modo que sua análise e compreensão possam
contribuir para as relações nos diversos espaços em sociedade. Não
naturalizar a questão social nos permite entendê-la melhor, dentro de seus
contextos e movimentos. Portanto, compreendê-la historicamente é de
importância fundamental.
Para pensar historicamente a “questão social” é necessário romper
com as constatações vazias, com a enumeração de fatos que,
pretendendo ser objetiva, reduz a história a uma mera sucessão
cronológica de acontecimentos do passado, a um anedotário. (...).
(PASTORINI, 2010, p.103)
Nesse campo conflituoso encontram-se as diversas instituições
educacionais existentes no Brasil, uma realidade repleta de desigualdades,
estas que afetam a grande maioria da população, que se depara com os
frágeis e deficientes direitos sociais minimamente garantidos, resultando em
instituições que carregam a responsabilidade de cumprir sua função social
independente das demais necessidades apresentadas ao seu redor.
Não obstante, o fato é que apesar de todas essas complexas
situações, o ambiente educacional ainda se mostra resistente às mudanças, à
leitura crítica da realidade, pois insiste em enquadrar-se a velhos hábitos. A
autonomia concedida frente ao processo educativo permite preservá-lo, ao
passo que cada instituição de ensino é um universo particular, sendo
necessário o compromisso de todos que fazem parte da comunidade escolar,
para fazer frente aos problemas enfrentados e romper com o passado de
apatia e de reprodução de valores não questionados que corroboram a
manutenção de privilégios.
17
Contudo, percebemos a presença de um rastro histórico de controle
sobre os indivíduos e suas ações, que interferem no complexo universo situado
entre estudante e instituição. Geralmente, o alunado deve necessariamente
adequar-se às normas e regimentos preliminarmente firmados no núcleo
interno das instituições. Dessa forma, estas acabam justificando suas
pretensões junto a seu público, ficando muitas vezes inexistente os interesses
relacionados às dificuldades que enfrentam seus alunos.
A grande questão é responder se essas instituições estão realmente
abertas para discutir, dialogar sobre as diversas demandas apresentadas por
seus alunos, seu público alvo, e ser protagonista de um novo projeto
educacional, abrindo questionamento quanto a sua viabilidade.
Sabendo que as instituições educacionais são um dos veículos
viabilizadores do direito à educação, cabe aqui destacarmos o interesse que o
serviço social tem de buscar dentro desse veículo uma forma de garantir uma
maior amplitude de direitos, de articulá-los a outras políticas públicas para
melhoria e fortalecimento do sistema educacional, partindo do entendimento
que a educação deve considerar seu público estudantil em toda sua
integralidade, garantindo a seus alunos o pleno alcance de uma educação
digna e de qualidade.
18
3. PANORAMA DA EDUCAÇÃO NO BRASIL
A história da educação brasileira nos ajuda a compreender os
dilemas com que se deparam atualmente as instituições de ensino. Assim, ao
acompanhar seus percalços, percebemos aspectos que revelam um tom
conservador em sua forma de entendimento, considerando o legado deixado
pelos jesuítas desde o período colonial, reflexo do elementar contexto sócio–
cultural ao qual se encontravam as ações educativas no Brasil.
As condições educativas objetivas que, portanto, favoreceram essa
ação educativa foram, de um lado , a organização social e, de outro,
o conteúdo cultural que foi transportado para a colônia, através da
formação mesma dos padres da companhia de Jesus. A primeira
condição consistia na predominância de uma minoria de donos de
terra e senhores de engenho sobre uma massa de agregados e
escravos. Apenas àqueles cabia o direito à educação e, mesmo
assim, em número restrito, porquanto deveriam estar excluídos dessa
minoria as mulheres e os filhos primogênitos, aos quais se reservava
a direção futura dos negócios paternos. [...] era portanto, a um
limitado número grupo de pessoas pertencentes a classe dominante
que estava destinada a educação escolarizada. (ROMANELLI, 2001,
p. 33)
É necessário ressaltar a importância da cultura brasileira sob o
processo educativo, uma vez que traços dessa tradição cultural, a nós legada
pela colonização, foram ao poucos tendo que se confrontar com as mudanças
ocorridas em seu contexto econômico. Neste sentido, o sistema escolar
brasileiro viria a sofrer suas primeiras crises, representados sob dois
adversários: a tradição, arraigada no modelo escravagista/monocultor; e as
novas exigências educacionais brasileiras, fruto do incremento industrial.
Surgidas da necessidade de transmitir as vivências e resultados de
suas primeiras gerações, as instituições educacionais brasileiras
experimentaram uma cultura implantada, sem ligação com nossa realidade,
19
que viria a afetar suas funções e capacidade criativa. A expansão do ensino
nesse contexto tratou de garantir o aumento das desigualdades, privilegiando
as classes dominantes e precarizando as grandes camadas populacionais, as
quais foram influenciadas pela herança cultural conservadora, com traços de
uma ordem social escravocrata (que estigmatiza o trabalho manual) e a
introdução da indústria.
Fundamentadas sob antigas implicações da política e de ordens
sociais marcantes advindas da economia colonial (elite econômica), era esta
também a detentora da cultura importada. Constatadas todas essas
implicações, como fatores que influenciaram diretamente o desenvolvimento do
ensino brasileiro, ficou o entrave que define seu processo como um dos mais
marcantes até nossos dias atuais, uma vez que o fator cultural permitiu
alcançar no ensino brasileiro o ensejo de influências, trocas culturais diferentes,
transferência de padrões, um verdadeiro transplante.
Do que foi exposto, percebe-se a estagnação do sistema de poder e
da demanda social por educação, fatores condizentes com o período que o
representava, ao qual veio dar forma ao modelo sócio- econômico, cultural e
político da época.
Uma vez que a economia não fazia exigências à escola em termos de
demanda econômica de recursos humanos; que a herança cultural
havia sido criada a partir da importação de modelos de pensamento
provenientes da Europa; que a estratificação social,
predominantemente dual na época colonial, havia destinado à escola
apenas parte da aristocracia ociosa; que essa demanda social de
educação, mesmo quando englobou no seu perfil os estratos médios
urbanos, procurou sempre na escola uma forma de adquirir ou manter
status, alimentando, além disso, um preconceito contra o trabalho que
não fosse intelectual e uma vez, enfim, que todos esses aspectos se
integravam, é possível afirmar-se que a educação escolar existente,
com origem na ação pedagógica dos jesuítas, correspondia às exatas
necessidades da sociedade como um todo. (ROMANELLI, 2001, p.
45)
20
Com o passar do tempo, o choque entre a ideologia que marcava o
sistema educacional com seu próprio contexto ficou evidente, visto a evolução
da economia, da cultura (sobretudo letrada), como também das implicações
constatadas no sistema político da época. O sistema colonial viu-se desafiado
a desenvolver-se como metrópole, uma vez que países como França e
Inglaterra já haviam deslanchado seus processos de revolução industrial. Tal
dilema enfrentado no contexto Brasil - colônia o colocou diante da necessária
modernização, como objetivo de diminuir a defasagem em relação aos países
mais desenvolvidos. Com isso Portugal introduziu seus primeiros passos para
tornar o Brasil independente, implantando o flexível modelo que garantisse a
permanência das antigas tradições e ao mesmo tempo a continuação do
domínio da vida na nação.
(...) Num primeiro momento, a tarefa urgente era de dar estrutura
jurídico-administrativa ao novo país. Nessa conjuntura o liberalismo
pôde impor-se porque o jogo político ficou restrito as elites. Assim, “o
liberalismo existiu no berço do estado brasileiro e permaneceu até
mais ou menos a maioridade de D. Pedro II” (DEBRUN, 1983,
pp.124-125). Mas, a partir dos anos de 1830, manifestaram-se
revoltas e agitações nas províncias em que “varias categorias de
dominados (inclusive a dos mais humildes) que chegaram a ser
mobilizados por alguns dominantes, que, por uma ou outra razão,
contestavam o poder central” (...). (SAVIANI, 2011, p.118)
É possível perceber que a educação e o desenvolvimento naquela
época estavam destinados a uma defasagem, pois a função social da escola
aparece apenas como um espaço que subsidiaria o regime posto.
A função social da escola era, então, a de fornecer os elementos que
iriam preencher os quadros da política, da administração pública e
formar a “inteligência” do regime. É possível, assim, pensar na
21
ausência de uma defasagem entre educação e desenvolvimento,
nessa época, ou seja, é possível, pensar numa ausência de
defasagem entre os produtos acabados oferecidos pela escola e a
demanda social e econômica de educação. (ROMANELLI, 2001, p.
46).
Foi somente com as novas exigências produtivas vivenciadas a
partir do fim do período imperial e começo da primeira república (1891), que a
questão da instrução pública pode ser debatida, sob um propósito de gerar um
sistema nacional de ensino, a fim de substituir a antiga mão de obra escrava
que se desdobrava na economia açucareira/cafeeira de outrora pelo novo
trabalhador livre que viria representar a cafeicultura brasileira como o setor da
economia em destaque da época. Contudo, foi no regime Republicano que as
oligarquias rurais ascenderam ao poder, numa aliança em que representantes
dos partidos republicanos paulistas e mineiros consolidam a estrutura
econômica do país, promovendo cada vez mais lucros e ao mesmo tempo um
desordenado crescimento populacional, sob o escudo de um sistema que
refletia a expansão do capitalismo no mundo.
Somente a partir da intensificação do processo de urbanização se
percebe a modificação no perfil que representava as camadas médias e
populares da sociedade pela expansão da educação. O aspecto econômico,
em seu recente modelo urbano industrial contribuiu para influenciar o sistema
educacional à medida que novas exigências lhe foram apresentadas (recursos
humanos), gerando uma crise. Foram, assim, esses dois aspectos – demanda
social de educação e demanda de recursos humanos que acentuaram a crise
do sistema educacional, representado por sua vez pela discriminação social do
sistema, pela pequena oferta e pelo baixo rendimento em termos quantitativos,
uma vez que o aspecto estrutural não acompanhava a já expansão econômica
e diversa estratificação social.
A expansão do ensino, a partir de 1930, seguiu sob a influência da
revolução capitalista, trazendo novas exigências educacionais a pedido da
industrialização. Portanto, se faz indispensável uma análise sobre a relação
22
entre educação e desenvolvimento, pois dessa forma resgatamos mais uma
vez a defasagem que marcou esses dois elementos. A historiografia brasileira
revela que o fator que mais contribuiu para essa defasagem foi o trajeto
ocorrido de um modelo econômico a outro em nosso país. É delimitando esse
contexto (implementação de um parque industrial nacional) que exibiremos a
real situação do ensino no Brasil na época e as novas exigências do modelo
capitalista.
O século XIX é o marco histórico que assinalou definitivamente a
implantação nos países mais desenvolvidos da escola pública, gratuita e
universal, fato que evidencia a figura de um Estado com ares de educador. O
fato é que a sociedade industrial exigia do Estado modificações na maneira de
pensar a educação. As mudanças sofridas nas relações de produção e o
gradativo aumento da população nos centros urbanos impuseram,
necessariamente, aos sujeitos a mínima qualificação em número máximo para
a demanda trabalho, tornando o analfabetismo um problema a ser superado
diante das aspirações da indústria.
(...) O capitalismo, notadamente o capitalismo industrial, engendra a
necessidade de fornecer conhecimento a camadas cada vez mais
numerosas, seja pelas exigências da própria produção, seja pelas
necessidades do consumo que essa produção acarreta. Ampliar a
área social de atuação sistema capitalista industrial é condição de
sobrevivência dele. Ora isso só é possível na medida em que as
populações possuam condições mínimas de concorrer no mercado de
trabalho e de consumir. Onde, pois, se desenvolvem relações
capitalistas, nasce a necessidade da leitura e da escrita, como pré–
requisito de uma melhor condição para concorrência no mercado de
trabalho. (ROMANELLI, 2001, p. 59).
Para o proletariado creditou-se de alguma forma um
progresso, uma vez que a oferta de trabalho assalariado foi ampliada, vindo a
aumentar ainda mais a demanda por educação. No Brasil, o capitalismo
industrial aliado à revolução de 30, determinou a necessidade tanto da
23
população quanto do poder público de superar a falta de aspirações sociais de
outrora, como registrado anteriormente pela estrutura oligárquica, em que
poucas foram as mudanças com relação à evolução do ensino no Brasil.
A forma como se instalou o regime republicano no Brasil e como se
conduziram no poder das elites, em nada modificando a estrutura
sócio-econômica, influiu para que de um lado, não houvesse pressão
de demanda social de educação, e, de outro, não se ampliasse a
oferta, nem se registrasse real interesse pela educação pública,
universal e gratuita. Não é, pois, a falta de recursos materiais que se
deve imputar maior soma de responsabilidade pela ausência de
educação do povo, mas à estrutura sócio-econômica que sobreviveu
com a república. (ROMANELLI, 2001, p.60).
Partindo da compreensão que a organização escolar brasileira é
fenômeno social, um elemento situado dentro de uma estrutura maior que é a
sociedade, nossa contextualização histórica revelou que, no início do século
XX, a educação no Brasil foi marcada pela maciça influência do modelo
nacional desenvolvimentista, com base na industrialização (1920-1937) e
mantida por seus distintos elementos: burguesia industrial e operariado.
Socialmente ela representa a consolidação de dois componentes: a
burguesia industrial e o operariado. O componente da burguesia
industrial apresenta pontos de contato com outros setores da classe
dominante, não só pelo fato de muitos dos industriais serem ou terem
sido fazendeiros, como também por se colocarem numa relação de
dominação no que diz respeito à mão-de-obra. (...) O significado do
outro componente social - o operariado - está no fato de representar a
existência, a partir daí, do povo enquanto expressão política (...).
(RIBEIRO, 2003, p.97)
24
A partir desses componentes (burguesia e operariado) que,
inegavelmente, surgiram distintos choques de interesses, daqueles
intrinsecamente econômicos e sociais que, por sua vez, viriam a atingir a área
política como um todo. Com a presença agora do operariado, surgiram também
suas manifestações em torno de responder os anseios e insatisfações gerais
por justiça e novas mudanças em torno da organização política do Brasil, bem
como ao insuficiente atendimento escolar elementar e os altos índices de
analfabetismo.
Partindo dessa identificação, o problema da educação no país é
tratado pelos próprios educadores como problema de profissão, isto é, como
uma ideologia que acreditava ser a sistematização das instituições
educacionais uma máquina fortalecedora para o progresso da nação e que,
segundo Ribeiro (2003), vem representar uma deficiência:
Uma limitação teórica assinalada está no fato de representar mais
numa forma de transplante cultural e de pedagogismo, isto é, de
interpretação do fenômeno educacional sem ter claro as verdadeiras
relações que ele estabelece com o contexto do qual é parte. Assim
sendo, acabam por acreditar ser a educação um fator determinante
na mudança social. E tal crença evidencia que, em realidade, o
fenômeno educacional está sendo concebido como isolado do
contexto, uma vez que este exerce sobre aquele não é bem definida.
(RIBEIRO, 2003, p.101)
O Regime Republicano trouxe para a história da educação
brasileira um modelo decisivo para se pensar a escolarização como um todo,
tornando-a seriada, pensando numa escola normal, num ginásio e várias outras
realizações, estabelecendo novas perspectivas para a educação em nosso
país (BASTOS & STEPHANOU, 2005).
A tendência daquele período registra um formato novo de escola,
marcado por discursos republicanos a respeito das instituições da época. As
orientações pedagógicas, os currículos e normas, todos esses elementos
25
serviram de base para diferentes disputas sobre o trabalho escolar. Nomes
como de Anísio Teixeira, Fernando de Azevedo, Sampaio Dória, Antônio
Carneiro Leão e Manoel B. Lourenço Filho, foram um dos que mais se
destacaram durante a década de 20, em meio as reformas estaduais como
defensores da “Escola Nova”1.
Os representantes do movimento “escolanovista” buscavam, de
um lado, renovar questões pedagógicas de se pensar novas instituições e, de
outro, visavam à consolidação de uma república desejada. Sabe-se que as
várias disputas entre educadores já se desdobravam desde meados da década
de 20 (1924), quando fundação da Associação Brasileira de Educação – ABE,
montando entre os principais atores (católicos-intelectuais católicos militantes e
os liberais-intelectuais não católicos) uma verdadeira arena de conflitos,
calcados em diferentes posicionamentos políticos.
O movimento “escolanovista” veio anunciar a carência de uma
política nacional de educação compatível com as mudanças da época,
apresentando a proposta de uma nova política educacional, demonstrando o
interesse de uma reorganização nesta área e a preocupação de um grupo de
educadores que enxergaram a educação como um problema social, ao tentar
diminuir as disparidades de acesso a mesma.
Diante disso, percebemos que havia naquele momento inicial, a
ausência de planos de governo direcionados a investimentos diretos em
educação, resultando no descontentamento dos educadores mais atuantes
(participaram do movimento de reformas na década de 20) e representantes
dos setores populares que, tomados pela necessidade de mudanças, lançaram
o manifesto dos pioneiros da educação nova, o que reflete os anseios da
categoria em torno do âmbito educacional o que, segundo Ribeiro (2003), não
representava ausência de resoluções educacionais, mas demonstrar que
direitos não estavam sendo respeitados ou efetivamente executados:
1 O Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova foi publicado em 1932. Segundo Freitas (2005),
a análise desse documento permite perceber sua importância estratégica representada pelas expressões das (in)definições republicanas, que associadas ou não a escola, tornavam-se expressões legitimamente políticas. O manifesto surge com um documento que trouxe aquestão da educação e do desenvolvimento em compatível relação, uma vez não
enxergavam progresso nacional sem o correlato desenvolvimento educacional.
26
Isto que acaba de ser afirmado não quer dizer que nenhuma medida
educacional havia sido tomada. Quer demonstrar a necessidade e
conveniência de que as medidas fossem tomadas em decorrência de
um programa mais amplo e portanto, que tivesse uma unidade de
propósitos e uma sequência bem-determinada de legalização. Foi dito
que não equivalia à denúncia de ausência de resoluções
educacionais porquejá em 1930 é criado o Ministério da Educação e
Saúde (...) (Ribeiro, 2003:107).
Entre 1931 a 1937, durante o primeiro governo de Getúlio Vargas
(período que compreende a ditadura do Estado novo), é notávela indefinição no
que concerne a projetos de educação em âmbito nacional. Nesse contexto,
surgem debates que problematizam a orientação educacional. A partir desses
debates, o que entrava em conflito eram as orientações em torno da educação,
representado dois grupos: educadores católicos e educadores que defendiam
novas ideias, ambos defensores de suas ideologias, onde católicos defendiam
uma educação sob as orientações da doutrina religiosa e os idealizadores de
novas ideias defendiam um ensino laico, gratuidade e responsabilidade pública
em relação a mesma. Porém, também inserida numa dimensão
desenvolvimentista, como sendo o modelo ideal.
Mas é com a participação ativa das duas correntes frente à pretensa
orientação educacional em âmbito nacional, que surgem novos debates,
enfatizados por Vieira (2002) da seguinte forma:
Nesse ambiente começam a ganhar mais visibilidade duas correntes
que, embora já existissem, passam a predominar no debate
educacional das décadas seguintes- “os católicos e os liberais”. No
bojo desse processo está embutido o conflito entre o público e o
privado, que se explicitaria nos encaminhamentos em torno da
formulação da primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional (LDB) do país, (...). (VIEIRA, 2002, p.166)
27
Foram os fatos políticos precedentes que deram novos rumos a
educação. A decisão política de intervenção na educação veio da Revolução
de 30, cenário que a União retoma as rédeas de formulação das políticas de
educação, traçando as marcas de centralidade e aspirações de viés autoritário
em suas reformas (VIEIRA, 2002).
Instalado definitivamente o capitalismo industrial no Brasil, fez surgir
também novas aspirações para a população brasileira, sobretudo para os
espaços em que a industrialização alcançou por primeiro. Entretanto, apesar de
já instalada, a expansão capitalista deixou suas lacunas, uma vez que a própria
expansão não alcançou por completo o território nacional, comprometendo por
sua vez o ensino, visto que seu desenvolvimento esteve diretamente ligado a
industrialização.
Percebemos assim que, tanto a industrialização como a expansão
do ensino no Brasil, traz consigo a marca de um desenvolvimento tardio, que
gerou e continua gerando grandes contradições, exigindo respostas para
diferentes situações, como o analfabetismo e a renitente defasagem estrutural.
Outro fato que podemos destacar com a expansão capitalista, é a cristalizada
luta de classes, registro que revela ser a educação apenas uma das
reivindicações sociais diante de um cenário em desenvolvimento, em que o
Estado tratou tão somente de atender as pressões ao invés de investir na
política nacional de educação.
Assim, trazendo esse debate para nossos dias, temos necessidade
de discutir e tentar compreender o processo educativo de modo mais crítico,
pois o mesmo requer agregar outros elementos como: política, direitos,
cidadania, participação, fatores que se apresentam indissociáveis, no contexto
educacional. A educação formal tem como orientação a formação de cidadãos.
Diante disso, passa a ser o centro das atenções do Estado, dos empresários e
das demais instancias organizativas (Andrade, 2008). No entanto, tanto a
educação formal quanto a profissional segue, atualmente, orientadas pelos
mesmos traços históricos de outrora, em que a educação servia de base para o
fortalecimento do mercado econômico, como promessa de um Estado que
28
oferece uma educação ideal de qualidade associando, por sua vez, ao
desenvolvimento econômico.
As novas configurações sofridas na base produtiva de nosso país,
sob novos moldes, apoiados na flexibilização do processo de trabalho e nas
novas tecnologias, principalmente a partir da década de 80, reforçando como
um fenômeno. Tal condição vem dar base a um projeto que visa preparar os
sujeitos para as demandas de pessoal preparado para lidar com as novas
tecnologias e organizações.
Portanto, entender que a luta por uma educação em sentido pleno
necessita bem mais que investimentos econômicos na área da educação, exige
mobilização por parte de toda a sociedade, no sentido de lutar por direitos reais
e socialmente capazes de refletir os interesses e necessidades de todos os
sujeitos na sociedade inseridos e expostos às mais variadas necessidades
humanas.
3.1 Os novos rumos da educação: a Constituição “cidadã” de 1988
É sabido que a presença de políticas sociais é de fundamental
importância, uma vez que estas tentam minimizar as diversas contradições que
se apresentam em sociedade, sejam estas vivenciadas na saúde, educação,
habitação e nos demais âmbitos que formam os direitos sociais.
A partir desse entendimento, todo esforço realizado em prol do
fortalecimento das políticas, partem da necessidade de oferecer respostas a
uma demanda que exige uma ação transformadora. No âmbito da educação,
sua devida execução segue sob a orientação legitima em considerar a
educação como um direito social, isto é, com o devido valor que o mesmo
exige.
A política de educação vigente segue sob as orientações do texto
expresso na Constituição da República do Brasil -1988 e da Lei de Diretrizes e
Bases da Educação (LDB/1996). No documento da Constituição em seu
29
capítulo III, a educação é mencionada como um direito de todos e dever do
Estado, que deve garantir que a mesma seja ofertada com qualidade e atenda
as necessidades da população.
Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. (Constituição Federal, 1988)
Partindo do que está previsto em Lei como sendo direito de todos,
esta pesquisa vem evidenciar algumas das problemáticas enfrentadas pelas
instituições educacionais, com o intuito de refletir sobre as mesmas, apontando
os obstáculos para uma efetiva garantia do direito à educação, pois mesmo
com gradativos investimentos, o Brasil é o 8º país em número de analfabetos,
segundo dados da UNESCO (Organização das Nações Unidas para a
educação, a ciência e cultura), comprovando a grande defasagem que ainda
assola nossa nação e evidenciando que muito preciso ser feito para reverter o
quadro.
Somos testemunhas das fortes mudanças ocorridas ao longo do
tempo, como a revolução científica e tecnológica, fato que veio repercutir sobre
as relações em sociedade. Experimentamos transformações no mundo do
trabalho, na concepção dos direitos, nas lutas e desafios que a
contemporaneidade apresenta à trajetória de nosso país. Com a política de
educação não foi diferente, novos paradigmas foram lançados, como afirma
Lira (1997) a seguir:
Na perspectiva da construção do saber, da ideia estanque de
conteúdo aprendido, evoluiu-se para a noção de capacidade para
inovação. Em decorrência, a educação era instada a buscar novos
paradigmas capazes de preparar trabalhadores com alta qualificação,
íntimos de tecnologias nascentes. Aprender a lição passou a ser
pensar, criar, imaginar e, não memorizar apenas. (LIRA, 1997, p. 15)
30
Para alcançar uma concordância com os novos tempos, O
Ministério da Educação – MEC, conferiu a educação brasileira uma legislação
que, a partir de quatro eixos, vem garantir as condições possíveis diante das
mudanças de nossa época, são eles:
I – Descentralização da gestão educacional;
II – Democratização e flexibilização do sistema nacional de
educação;
III - Garantia de insumos básicos a fim de oferecer, de fato,
uma educação de qualidade e;
IV – Desenvolvimento de um robusto sistema de avaliação,
capaz de conferir o adequado acompanhamento dos processos
educacionais.
Dito isto, instrumentos normativos como a Emenda Constitucional
14 (criadora do FUNDEF) e a LDB puderam ser elaboradas. Assim, a Lei de
Diretrizes e Bases – LDB de nº 9.394, foi aprovada em 20 de Dezembro de
1996 e trouxe entre seus grandes eixos o conceito abrangente de educação,
padrões mínimos de qualidade do ensino, definição das responsabilidades da
União, dos Estados, Municípios, escolas e docentes, entre outros
direcionamentos.
Portanto, a Constituição Federal de 1988, trouxe para o Brasil, um
sentido mais amplo de cidadania, no que diz respeito à educação, delineou a
orientação educacional a partir de princípios fundamentais, como: igualdade,
liberdade, valorização dos profissionais de ensino, gestão democrática e
garantia de qualidade na educação.
31
4. EDUCAÇÃO NO CEARÁ
Falar da história da educação no cenário cearense é uma tarefa um
tanto desafiadora, se considerarmos as lacunas nos registros documentais,
desde seu povoamento (período colonial), até meados do século XIX, o que
dificulta o levantamento de dados no que concerne a formação de uma política
educacional.
Poucos, é verdade, são os registros. Para este período inicial
da educação, que marca a passagem dos jesuítas pelo Brasil,
é praticamente impossível reconstituir ‘fatos’ que sequer estão
disponíveis nas fontes da memória documental cearense.
Nestes termos, a história parece começar apenas quando o
Ceará se transforma em província (séc. XIX), a partir de
quando existem relatórios, leis e resoluções da instrução
pública. (VIEIRA, 2002, p. 54)
O Ceará não foge à realidade dos outros estados da região
nordeste, este trouxe em sua história traços de violência, tanto em termos de
descaso de investimentos, quanto expressos através dos poucos professores
nomeados para o ensino que integrava a educação da época (1810), o castigo
e sujeição ao mando, relatos esses que foram observados durante o período
imperial no Brasil. O fato é que a violência na educação cearense, desde seu
surgimento até o início do século XX, deixando marcas na memória e práticas
institucionais arraigadas.
Assim pode-se dizer que a educação cearense, no contexto imperial,
foi marcada pelo descaso do poder público, a seca, a peste e a fome, que
contribuía para o flagelo humano, tornando o problema da instrução pública
difícil de ser superado. Na verdade, a educação cearense seria um vir a ser,
algo a ser montado desde as bases físicas aos métodos do ensino a serem
aplicados.
32
O que restou daquela época foram poucos registros, a contar pelas
mínimas nomeações para os cargos de professor de ensino, precisamente
treze professores e três professoras, que expressa a negligencia dos órgãos
competentes no que tange a educação.
Em 1823, foi apontada por D. Pedro I a necessidade de criar uma
legislação especial que tratasse da instrução pública. A partir de então, surgiu a
proposta de criar as bases para mitigar os problemas da educação pública para
a juventude brasileira, que carecia de soluções urgentes. Contudo, como
aponta Carneiro (2013), as ideias não saíram do papel e, apesar de significar
avanços, pouco foi realizado.
Em 1826, lançaram-se propostas que visavam regular o ensino no
Brasil a partir de quatro graus, a saber: 1º grau (pedagogias); 2º grau (Liceus);
3º grau (Ginásios) e 4º grau (academias). Tais propostas ecoaram também no
Ceará e, em 1827, foi proposto por alguns deputados a criação de um liceu na
vila de Viçosa, bem como também a abertura de uma escola normal, ambos
sem sucesso. Somente em 1844 foi criado o primeiro Liceu no Ceará.
A ideia de criação de um Liceu já existia a muito, vindo a instituição
agregar cadeiras já existentes e assumir responsabilidades de
inspeção junto as escolas e aos professores de toda a província. Este
duplo papel de ensino e de administração geral da administração
pública oferece elementos para que se perceba sua importância no
momento histórico que lhe dá origem. (VIEIRA, 2002, p.108)
Mais tarde, a Lei nº 361 de 12 de setembro de 1845, veio
regulamentar o funcionamento e competências das instituições educacionais
naquele período, destacando as questões disciplinares e definindo o calendário
escolar. Tal registro reforça a ideia de uma instituição que foi pensada a partir
de ideários antigos, em que professores exercem hierarquias sobre os alunos e
elementos como o toque do sino para o término das aulas, as proibições de
33
chapéus nas cabeças dos alunos e o silêncio davam moldes da conduta diária
no funcionamento das instituições. A criação dos Liceus veio referendar um
modelo de instituição de reconhecido valor.
Guardadas as devidas proporções no tempo e no espaço, a criação
do Liceu tem importância simbólica e material semelhante a criação
da Universidade Federal do Ceará (UFC), no século XX. É a partir
deste marco que as escolas ganham identidade, passando a ser
nomeadas não pelos seus mestres (ainda que o recurso à criação de
cadeiras prossiga),mas por um nome próprio [...]. A análise permite
constatar que o Liceu vem representar um modelo de escola da
erudição, da ordem e da disciplina, para onde convergem os filhos da
elite cearense. (VIEIRA, 2002, pg. 110)
Mesmo marcando positivamente aquele período (Segundo
Reinado), a criação do Liceu foi apenas uma das diversas mudanças, dentre as
quais destacamos a criação de escolas particulares (educandários), novas
cadeiras e concessão de bolsas de estudo vindo, por sua vez, a afetar Liceu
como instituição pública, percebido na diminuição do número de matrículas nos
anos que se seguiram, levando-o a quase decadência.
Contudo, são espaços como o cenário cearense, que ainda
continuam a acolher inúmeras instituições educacionais como os Liceus,
espaços de significativo valor e resistência até os dias atuais, sendo desafiados
cada vez mais pelas demandas apresentadas ao exercício da educação
pública. Mais que a tentativa de entender como se tratou a educação em seu
início no Estado do Ceará, nossa pesquisa tenta elucidar os novos desafios
que se apresentam a mesma.
Devidamente reconhecido como uma das instituições marcantes
do final do século XIX, o Liceu e os vários outros colégios públicos continuam
por representar durante o período republicano no Estado do Ceará a boa
qualidade do ensino, servindo de exemplo o Liceu do Ceará e a Escola Normal
34
do Ceará2. Vale ressaltar que, nesse contexto, a educação pública ainda era
um privilégio da elite, contando com poucos estudantes, o que garantia a
qualidade do ensino.
Em 1919, a educação cearense também contou com o registro de
educandários como a Escola Militar do Ceará sob a égide da reorganização do
ensino militar no país, vindo a sofrer também as mesmas reduções em suas
matrículas diante do número alarmante de criação de escolas particulares em
nosso Estado.
Outro fato relevante na história da educação cearense é surgimento
das escolas de formação profissional Fênix Caixeral e a Escola Aprendizes e
Artífices (1918).
A Escola de Aprendizes e Artífices (1918) teve várias denominações
que bem expressam as distintas fases de sua história. Foi
posteriormente o Liceu Industrial de Fortaleza (1977), Liceu Industrial
do Ceará (1941), Escola Industrial de Fortaleza (1942), Escola
Industrial Federal do Ceará (1965), depois Escola Técnica Federal do
Ceará (1968) e, a partir de 1997, Centro Federal de Educação
Tecnológica/CEFET. (VIEIRA, 2000, p.144)
A respeito do Ensino Superior no Ceará, sabe-se que a criação de
suas primeiras Faculdades foi somente nos anos posteriores a 1900, tendo
como precursores desse movimento Antônio Augusto, Thomas Pompeu de
Sousa Brasil, Farias Brito e vários representantes da família Accioly.
Embora as primeiras idéias no sentido de se criar uma instituição de
ensino superior já fossem ventiladas em 1891, a Faculdade Livre de
Direito do Ceará seria criada somente em 1903. [...] cujos membros
em sua maioria, pertenciam a família Accioly, do diretor aos
estudantes [...] (2000, p. 145)
2 Posteriormente, Instituto de Educação do Ceará (Lei nº 8.559).
35
Foram estes o curso de Direito (1903), Farmácia e Odontologia nos
anos superiores (1916) e Agronomia (1918), que vieram a integrar a estrutura
de organização da Universidade Federal do Ceará (UFC) aprovada de forma
legal no ano de 1954.
36
5. PERCURSO METODOLÓGICO DA PESQUISA
Entre tantos papéis que hoje me compõem enquanto pessoa:
mulher, esposa, mãe, trabalhadora... Mais um se lançou como um novo
desafio: ser pesquisadora. Longe de todas as pretensões e utopias em
desvendar os porquês da vida que desde a infância me instigava, o fascínio
pelo novo, sempre despertou minha curiosidade. Viver tal desafio só foi
possível depois que me permiti ver a vida, as pessoas, o mundo de outra
maneira, em sua forma concreta, condição fortalecida à medida que me
aproximei do curso de Serviço Social - ganho mais que precioso.
Foi na condição de funcionária terceirizada, prestando serviços
burocráticos na secretaria do Liceu Estadual de Maracanaú, agora Liceu
Professor Francisco Oscar Rodrigues, há oito anos, e enquanto estudante do
curso de Serviço Social da Faculdade Cearense- FAC, desde 2010, fui
surpreendida por meu objeto de pesquisa: as problemáticas enfrentadas pelas
instituições educacionais em seu cotidiano. Antes reduzidas somente a
problemas que não me diziam respeito, supostamente justificada pela função
que me limitava somente aos tramites burocráticos, fui tocada pelo interesse de
compreender melhor tais problemáticas. Meu olhar tornou-se crítico,
direcionado, sensibilizado...
Os pés que me levaram a meu campo de pesquisa foram os
primeiros e os mesmos a serem impulsionados pelo desejo de captar a
realidade cotidiana de uma instituição educacional mais profundamente.
Começo então uma nova etapa.
A pesquisa de campo foi realizada em duas escolas da periferia de
Maracanaú, região metropolitana de Fortaleza - CE. Buscou-se com isso
aproximar-se as instituições, observando a hierarquia da organização e
percebendo qual é o lugar dos estudantes dentro do processo pedagógico e
como a escola se posiciona diante de problemas que têm suas origens fora dos
muros das instituições. Diante das pretensões, foram realizadas entrevistas
com a equipe gestora e, através de perguntas, levantamos um debate sobre
37
questões do cotidiano das instituições, fazendo uso durante todo o tempo da
pesquisa de observação participante e conversas informais no sentido de
enriquecer melhor a discussão em torno do pesquisado. Não podemos
esquecer que a realidade é viva e caótica, sempre em constante transformação
e, portanto, não podemos engessá-la e enquadrá-la em esquemas analíticos
rígidos. Captar a vida pulsante na escola é imprescindível para a execução de
uma intervenção mais humana e responsável.
Meu processo de busca segue sob o objetivo de identificar as várias
problemáticas apresentadas ao cotidiano de duas instituições educacionais, a
partir do olhar direcionado de seus gestores, instituições estas que são
referências no município de Maracanaú. Por se tratar de um cenário familiar,
meu objetivo à frente da pesquisa carrega consigo uma responsabilidade
maior: abster-me dos conceitos e pressupostos à cerca das instituições em
suas vivências e dificuldades já tão cristalizados durante todos esses anos de
serviços prestados.
Assim, observando o objeto com o distanciamento e isenção
necessários ao rigor científico, busquei aproximar-me de seus movimentos a
partir das demandas postas em seu dia a dia, para melhor problematizá-lo.
Como toda pesquisa exige um bom método, minha ida ao campo a princípio foi
fortalecida por uma exaustiva revisão bibliográfica em torno da história da
educação brasileira, em suas lutas por seu processo de ensino.
Assim, a imersão no campo se deu a partir da coleta de dados,
observação participante e entrevistas semi-estruturadas, elementos que julgo
necessários para levar-me a uma aproximação maior diante de meu objeto:
identificar as mais variadas refrações da questão social vivenciadas pelas
instituições educacionais em seu cotidiano. Nesse sentido, a escolha e o uso
correto dos métodos/técnicas empregados, apresentam-se como
procedimentos importantíssimos para a pesquisa, pois a metodologia deve
conduzir o pesquisador e a própria pesquisa, proporcionando condições para
uma melhor exploração do campo analisado, de modo que entender sua
importância é quesito imprescindível (Barbosa, 2001).
38
Dessa forma, interessa identificar as mais variadas expressões da
questão social no âmbito da educação, perceber o nível de sensibilização dos
gestores que estão à frente das unidades de ensino pesquisadas, buscando
compreender, a partir do olhar dos gestores, o que pensam sobre a
necessidade ou não de inserção outros profissionais, como assistentes sociais,
dentro das unidades de ensino como possibilidade de enfrentamento das
problemáticas apresentadas.
Com tal intuito, foi traçado um percurso para a realização da
pesquisa permitindo criar condições que possibilitassem sua elaboração.
Desse modo, utilizando a metodologia como um caminho que subsidia o
alcance ou busca da finalidade/objetivo do projeto, percebê-la corretamente se
apresenta de suma importância, vindo a justificar sua definição.
A metodologia trata das formas de se fazer ciência. Cuida dos
procedimentos e métodos aplicáveis numa ciência. A finalidade da
ciência é tratar da realidade teórica e praticamente. Para atingir-se tal
finalidade, abrem-se vários caminhos. A metodologia é o caminho do
pensamento e a prática exercida na abordagem da realidade.
Consiste em concepções teóricas de abordagem, no conjunto de
técnicas que possibilitam a construção da realidade. Diz respeito não
só a fase de pesquisa/exploração de campo, como à definição de
instrumentos e procedimentos para análise dos dados. Disto trata a
metodologia. ( BARBOSA, 2001, p.172)
Sob a pretensão de analisar as refrações da questão social
experimentadas pelos sujeitos da pesquisa nas instituições educacionais,
abordarmos a identificação dos problemas sociais mais comuns que enfrentam
a instituição, apontados por seus gestores (diretor e coordenadores). Contudo,
a imersão no campo permitiu que nosso olhar se estendesse ao corpo docente,
uma vez que estão diariamente em contato com as crianças e jovens. Seus
relatos serviram para contrabalançar os discursos oficiais da gestão,
39
favorecendo uma gama maior de esclarecimentos sobre as problemáticas
enfrentas pelas instituições de ensino.
Em termos metodológicos, utilizou-se uma abordagem de natureza
qualitativa, na perspectiva de obter melhor apreensão e compreensão do
fragmento da realidade que proponho analisar. Através da coleta de dados
buscou-se perceber a dos sujeitos (equipe gestora) quanto ao reconhecimento
das inúmeras dificuldades/problemas que os envolvem na fase que
compreende o processo de aprendizagem.
A pesquisa mostra-se inovadora e relevante à medida que busca
compreender os elos entre as instituições educacionais e as refrações da
questão social, elementos que se entrelaçam no cotidiano de gestores,
docentes, discentes, comunidade e famílias, tendo muito a contribuir para a
compreensão dos problemas enfrentados e, principalmente, para a orientação
de futuras intervenções.
5.1 Os cenários da pesquisa: os liceus de Maracanaú
Na intenção de evidenciar as instituições educacionais como mais
um dos espaços que se apresentam carentes de investimentos públicos, essa
pesquisa vem apresentar como cenário exploratório duas das mais antigas
instituições de ensino do município de Maracanaú, “os Liceus”: Liceu Professor
Francisco Oscar Rodrigues e Liceu Municipal de Maracanaú.
Localizados em duas ruas perpendiculares, a saber: Rua Oriente,
s/nº e Rua Novo Oriente, também sem número, ambos localizados no bairro
Piratininga, no município de Maracanaú – CE, região metropolitana de
Fortaleza, são modelos de referência da qualidade de ensino nesse município.
Funcionando em dois turnos (manhã e tarde), o Liceu Municipal de Maracanaú
com ensino Fundamental e o Liceu Francisco Oscar Rodrigues com o ensino
Médio, oferecem o ensino regular a população maracanauense e adjacências.
Ao passo que busquei descrever essas duas instituições, optei por
explorar primeiro o Liceu Professor Francisco Oscar Rodrigues, a maior escola
40
do município de Maracanaú, com 1.252 alunos matriculados e distribuídos em
três séries: 1ª, 2ª e 3ª séries do ensino médio3.
Em suas imediações, encontram-se a lagoa de Maracanaú,
localizada a sua frente, o Liceu Municipal, o Cartório Guerreiro, o Fórum
Eleitoral, a Câmara de Vereadores, o Teatro Dorian Sampaio, a Coordenadoria
Regional de Educação – 1ª CREDE e uma extensa área desabitada. A
descrição do entorno da escola permitiu perceber que aquela localidade foi
estrategicamente organizada pelo poder público local, uma vez que reuniu e
aproximou o complexo de equipamentos administrativos existentes no
município. O atual funcionamento da instituição em dois turnos (manhã e tarde)
se deve ao ajuste necessário, realizado a partir do segundo semestre de 2012,
em fechar o turno noite devido a insegurança da área.
Fundado em 22 de Março de 1999, o Liceu Estadual de Maracanaú4,
foi o 9º colégio a ser entregue naquele ano, com o intuito de atender a política
educacional do Estado do Ceará na pretensão de ofertar um maior número de
vagas para o ensino médio. O liceu, que tem sua estrutura física padronizada
junto aos demais liceus de nosso Estado5, possui desde 2000 sua sede
própria, com estacionamento, quadra poliesportiva, laboratórios de informática
(2), laboratórios de física, química e biologia, auditório climatizado, sala de
multimeios, anfiteatro, 14 salas de aula, sala de direção, sala de coordenação,
sala de secretaria, sala de Tecnologia da Informação - T.I., almoxarifado, sala
de esporte, sala da rádio (local utilizado para as reuniões e ações do grêmio
escolar), banheiros para alunos e funcionários, rampas de acesso, oferecendo
o ensino médio regular.
O colégio traz à frente de sua direção o professor M.D.A.,
conduzindo sua primeira gestão, iniciada em julho de 2013 com previsão de
término no ano de 2017, resultado da última eleição realizada dia 10 de junho
de 2013. A instituição, apesar de ofertar o ensino regular, distribui suas
3 A 3ª serie foi a mais procurada para o ano letivo de 2014. 4 Anteriormente, a escola se chamava Liceu Estadual de Maracanaú, mas desde 2010 a escola passou a chamar-se Liceu Professor Oscar Rodrigues. 5 Ao todo, no Estado do Ceará existem 18 liceus, localizados nos bairros Jacarecanga, Vila
Velha, Conjunto Ceará, Messejana, Pantanal e Bom Jardim, em Fortaleza, e nos municípios de Maracanaú, Caucaia, Baturité, Camocim, Barbalha, Tauá, Itarema, Acaraú, Ararendá, Quixeramobim, Acopiara e Crato.
41
disciplinas sob o regime da semestralidade (divisão de disciplinas por
semestre), sistema adotado desde a antiga Gestão, que consiste em dividir as
turmas entre dois grupos de disciplina, em que durante um semestre uma parte
dos alunos ver as disciplinas de Exatas (Química, Física, Matemática e
Biologia) e a outra parte as de Linguagens e Códigos e Humanas (Língua
Portuguesa, Língua Estrangeira, História, Geografia, Sociologia e Filosofia),
com o intuito de potencializar as habilidades dos alunos nas áreas de seu
interesse. No entanto, adaptado pela atual gestão, hoje oferece as disciplinas
de português e matemática durante o ano todo, como resposta às
reivindicações de seu corpo discente que se via prejudicado em exames como
o ENEM. Sob dados estatísticos, a escola é uma das que mais aprova alunos
em vestibulares de universidades públicas e faculdades particulares dentre as
escolas públicas do município. Representada por uma nova gestão, a escola
experimenta novas metodologias e postura, priorizando principalmente a
gestão democrática como marca de sua atuação.
42
6. APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS
A pesquisa seguiu com realização de entrevistas semi-estruturadas
e observação participante, direcionada a “equipe gestora” (Diretor e
Coordenadores) - nomenclatura utilizada pela atual gestão em substituição a
antiga “núcleo gestor”, fato que demonstra o reconhecimento do trabalho
coletivo realizado por todos os membros dessa gestão. A equipe gestora é
composta pelo diretor e por três coordenadores.
O dia marcado para entrevista foi 24 de Março, uma segunda feira
de movimentado trabalho, como de costume naquela instituição. Sabia que a
missão de entrevistar o diretor de uma escola do porte do Liceu Professor
Francisco Oscar Rodrigues não seria uma tarefa fácil, e não foi mesmo. Logo o
professor M.D.A. tratou de remarcar a entrevista para um dia mais tranquilo,
visto que naquele momento aquele jovem diretor não tinha condições de
atender-me. Passaram-se dias, semanas e essa data parecia não chegar.
Apesar de aquele ser também meu ambiente de trabalho, e os sujeitos da
pesquisa encontrarem-se próximos a mim, pude perceber que foram as
demandas diárias apresentadas à equipe gestora que acabaram por distanciar-
me cada vez mais dessas pessoas, ao ponto de, em determinado momento,
acreditar que não realizaria as entrevistas. Até que no dia 14 de maio, em meio
a outro dia agitadíssimo de trabalho no Liceu, me atrevi a abordá-lo na sala dos
professores durante o intervalo e, minutos depois, caminhamos até a sala da
direção e finalmente realizei minha entrevista6.
Na ocasião, foi perguntado a M.D.A. entre algumas interrupções por
telefone, batidas na porta e quase invasão de alunos e funcionários, quais são
as principais problemáticas sociais enfrentadas na instituição, e esse
respondeu da seguinte forma: “Nesta escola nos deparamos com as mais
diferenciadas demandas. Uma delas, e a mais desafiadora, é a devastação da
violência, não reduzindo a violência física, que não é nosso caso, mas
vinculada ou não ao uso de drogas, a falta de perspectivas de valores
humanos, tanto de profissionais da educação quanto de educandos, e o
individualismo. No entanto, a violência, dentro e no entorno da escola, tem
6 As entrevistas foram gravadas com a autorização de todos os entrevistados.
43
aumentado de forma assustadora. A pouca experiência me revela que a
escola, antes considerada como um ambiente destinado à aprendizagem e ao
desenvolvimento social e coletivo, na atualidade passa a ser vista como um
espaço de angústia, e isso, pode gerar insegurança, impotência, medo e
desânimo.”
Foi perguntado em seguida se ele, enquanto diretor à frente daquela
instituição, sentia a necessidade de intervenção de outros profissionais que
pudessem estar contribuindo para o enfrentamento das problemáticas
identificadas, e quais profissionais ele poderia citar, e M.D.A. respondeu: “Hoje
na escola o diretor escolar é o ícone central para promover essa transformação
de que a educação tanto necessita e, sua rotina está cada vez mais complexa.
Dia a dia este profissional deve dar conta da gestão escolar, que eu posso
simplificar pra você como: a gestão do espaço físico, a gestão dos recursos
financeiros, dos processos educacionais, das questões legais, da interação
com a comunidade, da gestão do entorno e das secretarias (como um todo),
gestão das relações interpessoais (com professores, funcionários, famílias)...
gestão disso, daquilo e daquilo outro, tudo isso em função de uma gestão
maior: gerir a aprendizagem dos alunos... É muita responsabilidade para
apenas um profissional.”
Referindo-se à contribuição de outros profissionais para responder,
segundo M.D.A., as demandas de cunho social que respingam na escola, como
a evasão escolar pela necessidade de antecipar o trabalho, o desinteresse pelo
aprendizado desencadeado por problemas familiares ou pelo interesse em
outros assuntos não educacionais, como insubordinação a qualquer limite ou
regra, vulnerabilidade ao consumo ou ao tráfico de drogas, e atitudes
comportamentais de agressividade e de violência dentro da escola, que
poderiam ser solucionados ou amenizados por profissionais que tivessem
formação acadêmica voltada para estes desafios. Ele completa suas
considerações dizendo que “diretor não teve esta formação e, que se as
políticas públicas fossem sensíveis à necessidade de profissionais como
psicólogos, psicopedagogos e assistentes sociais nas escolas, propiciaria o
bem estar social, através da busca dos direitos sociais e de políticas públicas,
44
como consequência da formação da consciência sobre os direitos e deveres do
cidadão”.
Ao anunciar o fim da entrevista, o professor gentilmente justificou
sua demora em me receber, afirmando que a dificuldade devia-se ao fato da
existência de inúmeras demandas a ele apresentadas.
A condição de pesquisadora permitiu perceber que os olhares e
justificativas para as afirmações feitas por M.D.A. revelaram que, enquanto
gestor daquela instituição, ele também se tornou testemunha legítima dos
movimentos e obstáculos que podem ser vistos no cotidiano escolar como
verdadeiros desafios. Com a atribuição de administrar uma escola pública ele,
como tantos outros gestores, enfrenta as dificuldades das múltiplas funções
que lhes são impostas. Contudo, não se limitou a questão da violência, lugar
comum no cenário educacional brasileiro, mas apontou a necessidade de se
trabalhar valores humanos e a problemática do individualismo, fatores
importantes no tocante ao processo de ensino aprendizagem.
Dando continuidade às entrevistas, no dia 27 de maio, consegui
rapidamente entrevistar outro membro da gestão, o coordenador S.V.B. Figura
bastante requisitada dentro do liceu, é ele o responsável por organizar o
trabalho de funcionários e professores, S.V.B. foi bastante direto comigo e
disse que poderia responder minha entrevista desde que esta fosse rápida. No
entanto, a entrevista durou cerca de 35 a 40 minutos. Iniciei perguntando quais
as principais problemáticas apresentadas pelos alunos a que respondeu, sem
delongas: “necessidade de trabalhar cedo dos alunos, isto por conta da
precariedade familiar e falta de perspectivas de estudo e trabalho após o
ensino médio”. Na ocasião ele também citou a baixa escolaridade dos pais.
Na opinião do coordenador, a questão do trabalho dificulta a
aprendizagem dos alunos, uma vez que suas famílias passam por dificuldades
financeiras, os jovens se veem obrigados a conseguir estágios no contraturno
das aulas, o que favorece o desinteresse pelas matérias escolares que não
fazem sentido diante das atividades cotidianas. Ele justifica dificuldade
econômica enfrentada pelas famílias relacionando com baixa escolaridade dos
pais ou responsáveis.
45
A resposta do coordenador permitiu entender seu posicionamento
como uma crítica que aponta a baixa escolaridade dos pais, como um entrave
marcante que tende a favorecer mais a inclinação para o trabalho do que ao
estudo e a carreira acadêmica, que demanda tempo e, principalmente, dinheiro
(não dinheiro gasto, mas o que os filhos deixam de ganhar com trabalho),
prolongando a dependência dos filhos.
Como o fator família foi citado, perguntei como avalia a participação
dos pais na escola. Expressando preocupação com o tema, respondeu: “Os
pais são ausentes, a maioria vem à escola quando convocados em reunião ou
por outras questões disciplinares, a maioria não acompanha o cotidiano escolar
do filho, valorizam e priorizam outras situações.” Com a resposta de S.V.B.
percebi que o fator família é muito importante para o ambiente escolar e que as
questões por ele mencionadas poderiam ser melhor trabalhadas se a
participação da família fosse maior, o que demonstra que a articulação entre
escola e família vem sendo evidenciada como um dos principais fatores para
um desenvolvimento escolar satisfatório, tanto no que tange ao bom
comportamento dos estudantes como no desenvolvimento intelectual dos
mesmos. Agradeci a S.V.B. pela atenção e ele, gentilmente, disse que ficou
feliz por contribuir.
O objetivo era entrevistar toda a equipe gestora, mas as obrigações
do cotidiano escolar não permitiram que todas as entrevistas fossem
realizadas. Contudo, as explanações do diretor M. D. A. e do coordenador S. V.
B. permitem evidenciar algumas das principais demandas apresentadas pelo
corpo discente e dos problemas enfrentados cotidianamente pela equipe
gestora, como a violência que invade as instituições educacionais e dificultam
seu funcionamento, bem como a ausência dos familiares no acompanhamento
dos estudantes.
Seja pelo caráter profissional ou pela necessidade, o fato é que os
gestores desenvolvem suas atribuições com múltiplas responsabilidades. Seu
trabalho tornou-se flexibilizado, uma vez que sua atuação se estende para
além de suas atribuições legais, e reconhecem que grandes são os desafios
diários enfrentados numa instituição de ensino do porte o Liceu, e que a
46
contribuição de outros profissionais como psicólogos, psicopedagogos e
assistentes sociais iriam contribuir positivamente.
Dando prosseguimento a pesquisa, visitei o Liceu Municipal, a fim de
evidenciar demandas e continuidades na transição do ensino fundamental para
o ensino médio. Criado pelo decreto nº 42 de 12 de fevereiro de 1988, o Liceu
Municipal de Maracanaú, oferece ensino fundamental do 6º ao 9º ano a
comunidade maracanauense.
A escola atende atualmente 827 alunos, funcionando em dois turnos,
manhã e tarde, e em seu horário noturno oferece a comunidade local
informática educativa e práticas esportivas, independente de faixa etária. O
liceu municipal traz a frente de sua direção, a professora T.R.S., em sua
primeira gestão, após a saída do professor A.C., que dirigiu a escola por 8
anos. A escola conta em seu quadro funcional com aproximadamente
cinquenta profissionais, entre servidores e professores.
O Liceu é uma das escolas mais requisitadas para o exercício do
ensino fundamental no município de Maracanaú, sua regularização, bem como
funcionamento, estão diretamente ligadas à esfera municipal. Esse é um fator
bastante interessante de ser observado, uma vez que todos os outros Liceus
seguem sob os cuidados da esfera estadual. Isto se deve a responsabilidade
que os municípios carregam de garantir o ensino fundamental, deixando o
ensino médio a cargo da supervisão estadual. Também ao contrário dos
demais Liceus, sua estrutura física segue os moldes padronizados das outras
instituições de ensino publico e municipal daquela cidade, deixando bem claro
a que âmbito pertence seu funcionamento. A manutenção da nomenclatura
Liceu se manteve apesar do desmembramento realizado em 2000, quando a
escola deixou de oferecer o ensino médio.
A escola, reconhecida como exemplo de excelência na educação
fundamental, é beneficiada com alguns recursos financeiros: PDDE, PAE,
Mais Educação, Relação Comunidade Escola (escola aberta) e Escola
Sustentável. Com 26 anos de atividades prestadas, a escola carrega o lema:
“Servindo a comunidade com responsabilidade”, trazendo como missão
assegurar um ensino de qualidade, participativo, com responsabilidade,
visando a excelência dos serviços prestados.
47
Para ter acesso à escola e aos seus arquivos, contei com a
colaboração da professora Marilac Bezerra, uma vez que esta trabalha como
professora naquela instituição. Como mediadora de minha entrevista,
apresentou-me à diretora geral da instituição, a senhora T.R.S.
Na tarde de terça-feira, 30 de abril, fui ao encontro de T.R.S., para
mais uma entrevista. Na ocasião fui atendida por ela na sala da direção e,
bastante solícita, atendeu-me de maneira muito simpática. Ao abordá-la,
expliquei a princípio o objetivo de minha pesquisa, de maneira a justificar minha
ida ao campo. Surpreendida pela tamanha organização e cordial recepção,
senti-me voltando ao passado, num período bem saudoso que tratou por fazer
de cenários como aquele, o ambiente de muitos adolescentes de minha época,
um segundo lar, que era a sensação que nossos pais queriam que
sentíssemos, uma extensão de nossa casa, família.
O núcleo gestor é composto pela diretora, duas coordenadoras e o
coordenador administrativo-financeiro. Em suas instalações, contabilizamos
salas de aula, pátio interno, quadra esportiva, sala de informática, diretoria e
exposto no centro da escola fixada a parede da cozinha, um mural que exibia
as ações da gestão sob a forma de gráficos e planilhas, titulada como:
“GESTÃO A VISTA 2014”.
Superadas todas as minhas ótimas impressões sobre a escola,
começo a entrevista com a diretora, com a primeira pergunta: Quais os
principais problemas sociais enfrentados pela escola? T.R.S. respondeu da
seguinte forma: “Problemas sociais, são vários. Não dentro da escola, mas
sabemos que existem na família e isso interfere no trabalho da escola e faz
com que o foco, que é o ensino-aprendizagem, seja desviado para absorver
outros que nada tem a ver com a escola, mas respinga de forma bastante
negativa. Citamos as drogas, desemprego, desestruturação familiar, gravidez
precoce, homossexualismo e outros. Como consequência, diagnostica índices
insatisfatórios de repetência, evasão, abandono e indisciplina.”
Não tencionando emitir qualquer julgamento, pois isso não compete
a um trabalho científico, deparar-me com opiniões diversas se apresentou
como um desafio. Na condição de aluna do curso de Serviço Social, o que
permite entender tais questões de outra maneira, deparar-se com
48
posicionamentos arraigados no tradicionalismo sexista, possibilitou exercitar
uma escuta sensível e necessária para ações de meu futuro exercício
profissional. No entanto, diante das falas de T.R.S., novas reflexões puderam
surgir para compreendermos melhor como são diversos os olhares daqueles
que estão à frente das nossas instituições de ensino. Possibilita discutir como a
postura e visão dos gestores podem contribuir para perpetuar desigualdades,
preconceitos e ignorância diante das transformações que hoje se apresentam
em seus espaços de trabalho e na sociedade como um todo.
Dando continuidade a entrevista, pergunto como avalia a presença
dos pais na escola. “Mínima. A escola muitas vezes tem que insistir bastante
para que o responsável pelo aluno venha à escola para conversar com
professores e/ou direção sobre formas comportamentais e atitudes indevidas
dos mesmos, ou ainda seu baixo rendimento, que por esses só vão dar conta
quando chega o fim do ano letivo e o resultado for negativo”. A diretora termina
o assunto, dizendo: “Tudo na família é prioridade menos o acompanhamento
diário ao aluno”.
A ausência de pais e/ou responsáveis na escola é um dos grandes
problemas apontados por T.R.S. e dificulta o processo ensino-aprendizagem.
Adiante, aprofundei o questionamento perguntando a que se devia as principais
dificuldades enfrentadas pelos estudantes no cotidiano escolar: “A falta de
acompanhamento familiar e o protecionismo das leis, que os favorece em tudo.
Os alunos/ filhos têm o conhecimento na ponta da língua, mas somente do que
os beneficia, pois direitos eles sabem que têm, difícil saber deveres e
obrigações, fazendo sempre por não lembrar.”
A resposta de T.R.S. enfatiza a cobrança direcionada à família no
que se refere à responsabilidade desta no processo educacional. Porém,
atribui à família e ao protecionismo das leis a responsabilidade pelas
dificuldades que enfrentam seus alunos dentro da escola. Ao ouvi-la, tentei
interpretar sua resposta como reflexo da insegurança e fragilidade diante da
relativa autonomia concedida a ela como gestora de uma escola, com o
compromisso de administrá-la com excelência. No entanto, quem trabalha com
crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade e em processo de
desenvolvimento, tem de ter conhecimentos que ultrapassem os trâmites
49
burocráticos e organizacionais, dispensando atenção especial no que tange a
preservação da integridade física e moral dos estudantes, como o Estatuto da
Criança e do Adolescente – ECA, instrumento norteador no tocante aos
deveres e direitos desses indivíduos.
Dando prosseguimento, foi perguntado se sentia a necessidade da
intervenção de outros profissionais e ela respondeu: “Sempre, pois na maioria
das vezes, recebe-se alunos com NE (Necessidade Especial) e na escola não
tem profissional para tratar, e/ou fazer atendimento, dar suporte para que seja
feito o trabalho com esse aluno”. T.R.S. acrescentou que, no momento,
contava com alunos hiperativos, surdos (esses tinham intérpretes), autistas,
que têm laudos médico, e outros sem laudos, que “não é preciso ser
especialista, para que seja detectado distúrbios de forma moderada”. Diante de
sua resposta, perguntei como a escola poderia contribuir para a melhoria do
desempenho dos alunos. Sem demora, T.R.S. contestou: “Com certeza,
precisa-se ter clareza de que a escola é um espaço importante para aquisição
e construção de conhecimento e de valores pertinentes ao exercício pleno da
cidadania e que toda ação deve ser um esforço coletivo”. A diretora completou
afirmando que, para isso, faz-se necessário o compromisso de todos os
envolvidos no processo ensino-aprendizagem e que a efetiva parceria entre
escola e família resultaria numa escola ideal.
Para finalizar a entrevista, perguntei se na escola era oferecido
mecanismos/instrumentos de participação democrática aos estudantes. “Temos
as lideranças de sala de aula (líder e vice-líder). Estamos em construção do
grêmio, por acreditar que esse seja a representatividade dos discentes e estes
possam ter oportunidade de participar e se posicionar de forma crítica e
consciente. Temos ainda o conselho escolar, eleito por um biênio, com
representação de todos os seguimentos da escola e o conselho de classe.”
Pode-se perceber que existe um esforço em se trabalhar os mecanismos
participativos dentro do Liceu municipal. Contudo, T.R.S. afirma ser muito difícil
a organização de um grêmio estudantil, uma vez que não há muito interesse
por parte dos discentes.
Agradeci a cordial atenção dedicada a minha entrevista, mostrando
a relevância de sua participação para que se possa compreender a
50
necessidade de intervenção de outros profissionais dentro das instituições
educacionais, propiciando a construção de um ambiente benéfico para o
desenvolvimento integral dos estudantes.
51
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O cenário que engloba as transformações econômicas, as relações
entre sociedade e Estado, apresentam- se ao serviço social como um campo
que vem moldar as novas condições de trabalho do assistente social, exigindo
respostas que possam efetivamente acompanhar as demandas postas.
(Iamamoto, 2007)
São essas mesmas configurações que demandam aos assistentes
sociais novas abordagens para o enfrentamento das refrações da questão
social.
(...) Requisita um repensar coletivo do exercício e da formação
profissional, no sentido de construir respostas acadêmicas, técnicas e
ético- políticas, calçadas nos processos sociais em curso. Respostas
essas que resultem em um desempenho competente e crítico, capaz
de fazer frente, de maneira efetiva e criadora, aos desafios dos novos
tempos, nos rumos da preservação e ampliação das conquistas
democráticas na sociedade brasileira. (Iamamoto, 2007, p.10)
Instâncias como saúde, habitação, educação, dentre outros,
aparecem para atuação do assistente social como cenários desafiadores
nesses novos tempos. À inserção de assistentes sociais somam-se as suas
intervenções e contribuições dentro desses espaços, na luta pela garantia de
direitos, uma vez que sua atuação visa à ampliação dos direitos humanos nas
práticas cotidianas da sociedade.
Tendo também como um dos princípios fundamentais do código de
ética que orienta a profissão o posicionamento em favor da equidade e justiça
social, que assegure universalidade de acesso a bens e serviços relativos aos
programas e políticas sociais, bem como gestão democrática, o interesse da
categoria em inserir-se na política de educação vem, pois, analisar a posição
que a educação ocupa diante das exigências que legitimam a chamada
globalização (Código de ética do/a assistente social, 2011, p. 23).
52
Como discussão há pelo menos duas décadas (desde meados dos
anos 90), a inserção de assistentes sociais dentro da política de educação, se
desdobra ampliando e fortalecendo suas ações à medida que esses espaços
vão sendo compreendidos. Desse modo, o conjunto CFESS- CRESS, diante
dos debates nessa área, organizam-se num grupo de trabalho sobre o serviço
social na educação e, em consonância com as lutas sociais e as bandeiras que
a categoria defende, vem também manifestar-se pela garantia de uma
educação de qualidade (CFESS, 2011). Contudo, perceber como se expressa
questão social dentro de espaços como o ambiente educacional, exige desse
profissional a importante tarefa de visualizar como os sujeitos a vivenciam.
Foi afirmando que apreender a questão social é também apreender
como os sujeitos a vivenciam. Ora, desvelar as condições de vida dos
sujeitos, grupos e coletividades com as quais se trabalha é um dos
requisitos para que se possam decifrar as diversas formas de luta,
orgânicas ou não, que estão sendo gestadas e alimentadas, com
inventividade, pela população. É condição ainda para se perceber as
aspirações, os núcleos de contestação, a capacidade de imaginação
e de invenção da sociedade aí presentes, que contém misturados
elementos de recusa e afirmação do ordenamento social vigente.
Esta parece ser uma das condições para que o assistente social
possa romper com a relação tutelar e de estranhamento com os
sujeitos junto aos quais se trabalha em um caminho fértil para a
formulação de propostas novas de trabalho. (Iamamoto, 2007)
Levando-se em consideração os impulsos que nortearam a reflexão
da atuação do assistente social nas escolas públicas, a saber, o projeto de Lei
nº 3.688 de 2000, que dispõe sobre a introdução de assistente social no quadro
de profissionais da educação e o projeto de Lei 837 de julho de 2005, que
propõe a introdução de assistentes e psicólogos nas escolas, venho enfatizar a
proposta desafiadora desses profissionais em participar mais ativamente sobre
a política de educação. Nesse sentido, ao inserir-se na educação, o assistente
social precisa estar atento a todos os sujeitos que compõem o ambiente
escolar, uma vez que para o alcance de um exercício democrático, os
53
interesses e necessidades sociais dos envolvidos, refletem tamanha
responsabilidade desse profissional que trabalha diretamente pela defesa dos
direitos.
A escola que hoje vem enfrentando a questão da violência, das
drogas, da negligência familiar, do bullying, da desconstrução dos valores, dos
mínimos investimentos financeiros, da supervalorização dos resultados
desconsiderando a aprendizagem em seu processo, é um ambiente repleto de
demandas e conflitos. Para tanto, temos o código de ética profissional, como
instrumento normativo que indica os direcionamentos éticos e políticos dos
assistentes sociais, implicando como desafio, evidenciar o compromisso dos
profissionais com os usuários em questão, trabalhando sob a perspectiva de
promover dentro da escola autonomia e emancipação dos sujeitos.
O código de ética nos indica um rumo ético- político, um horizonte
para o exercício profissional. O desafio é a materialização dos
princípios éticos na cotidianidade do trabalho, evitando que se
transformem em indicativos abstratos, deslocados do processo social.
Afirma como valor ético central, o compromisso com a nossa parceira
inseparável, a liberdade. Implica a autonomia, emancipação e a plena
expansão dos indivíduos sociais, o que tem repercussões efetivas
nas formas de realização do trabalho profissional e nos rumos a ele
impressos. (Iamamoto, 2007. p.77)
Desse modo, o profissional de serviço social deve observar e
enxergar, a partir dos sujeitos e suas demandas, fazeres condizentes que
expressem seu compromisso com os usuários e a defesa intransigente pelos
direitos humanos, em qualquer que seja o espaço onde esteja inserido, sendo
a escola, gestores, discentes, educadores, pais e comunidade, o corpo que
vem representar uma instituição que carrega consigo uma identidade própria,
representada pelas relações e diálogos estabelecidos, suas dificuldades diárias
com as mazelas sociais e as acrescidas demandas apresentadas dentro do
contexto escolar.
54
A pesquisa buscou evidenciar os elementos que relacionam a
educação e o Serviço Social, no que tange ao processo de ensino-
aprendizagem e as instituições de ensino em nosso país, mostrando a
centralidade das lutas pela qualidade dos serviços educacionais oferecidos. Em
um breve panorama histórico, demonstraram-se as dificuldades encontradas
para a organização do ensino no Brasil, uma vez que este esteve, desde o
início, atrelado às exigências do desenvolvimento econômico.
Desse modo, a educação, durante muito tempo aparece apenas
como mero coadjuvante em relação aos interesses econômicos com vistas ao
desenvolvimento, demonstrado no descaso das políticas públicas voltadas para
a organização de um sistema nacional de ensino e mesmo as dificuldades para
o estabelecimento de diretrizes e bases que norteasse o oferecimento dos
serviços educacionais em âmbito estadual e municipal.
Durante os diversos momentos históricos houve vários embates
entre os atores sociais, até que se chegasse ao reconhecimento da educação
como direito que deve ser garantido pelo Estado. Foi a partir do
reconhecimento da educação como um direito social, que instigou o interesse
do serviço social acerca dos problemas que dificultam sua garantia e
efetivação.
Assim, o serviço social ao identificar-se pela defesa de uma
educação pública, laica, gratuita e de qualidade, compreende a inserção dos
profissionais de serviço social na política de educação como positiva, diante
das mudanças de nossos tempos, para a superação de obstáculos e a garantia
de direitos.
Nesse trabalho, educação e serviço social aparecem como
sinônimos de lutas, de modo que ao apresentar a educação como um direito
fundamental, logo também se evidencia as problemáticas sociais que
inviabilizam a qualidade do ensino. Na intenção de destacar os problemas
sociais dentro do ambiente escolar através do olhar dos gestores que a
administram, foram encontradas outras relações que dificultam a realização de
um trabalho com qualidade.
55
Parecem dispensáveis/frágeis pesquisas como essa, que a princípio
somente comprovem que as mazelas sociais também estão presentes no
ambiente educacional. No entanto, buscou-se nessa pesquisa envolver os
gestores como sujeitos que pudessem mostrar como profissionais, que estão
diretamente inseridos na implementação de políticas educacionais, enxergam
as demandas presentes em seu cotidiano, quais entraves dificultam seu
trabalho e o que poderia ser feito para responder a tantas demandas.
Buscou-se verificar o grau de sensibilização dos gestores diante dos
diversos problemas sociais que ultrapassam os muros da escola e mexem com
o funcionamento da mesma. Nessa trajetória de aproximação com o ambiente
escolar, permitiu-se ao serviço social e a mim enquanto estudante, muito mais
que identificar problemas sociais nesses espaços, foram percebidos outros
elementos que também merecem ser objetos de discussão, como a
importância de se considerar os indivíduos que a compõem como sujeitos de
opinião, sujeitos de direito, passo importante para a garantia de cidadania
dentro de uma sociedade mutável como a nossa.
No propósito de colocar os assistentes sociais como categoria que
defende os direitos humanos, considera-se que problematizar questões que
fortaleçam o debate pelo reconhecimento do ambiente escolar como carente de
intervenções é de fundamental importância, uma vez que não bastam somente
seguir diretrizes formalmente estabelecidas para que o processo educacional e
de formação cidadã aconteça. É necessário compreender que as instituições
de ensino são resultado de um processo histórico e que, por isso segue
acompanhada por outras lutas como: requisitar novas parcerias profissionais,
mais investimentos, valorização de seus profissionais, estruturas físicas que
favoreçam o ensino de qualidade, ampliação de acesso à educação entre
outros. Com a proposta de ampliar a discussão sobre as diversas demandas
enfrentadas pelas unidades de ensino a partir do olhar dos gestores, pode-se
mostrar que a realidade das instituições de ensino é mais complexa do que o
velho discurso da falta de recursos. É necessário o estímulo para a constante
revitalização dos profissionais que atuam no processo educativo (professores e
gestores).
56
Dentre os obstáculos para a realização dessa pesquisa, posso citar
a dificuldade para realizar as entrevistas com os gestores devido às demandas
na realização cotidiana de seus trabalhos. Esses profissionais são chamados e
cobrados a responder por tudo dentro da escola, independente de sua
atribuição ou competência. Outro desafio foi analisar as falas dos dois gestores
entrevistados, ambos em suas primeiras gestões naquelas instituições,
responsabilidade que demanda maior zelo, uma vez que seus relatos também
são suas primeiras impressões. Seus posicionamentos mostraram que na
imperfeição de minha pesquisa ao citar tantas vulnerabilidades sociais
(violência, drogas, preconceito e outras), quando direcionamos nossa busca
sob olhar de outros sujeitos podemos encontrar muito mais.
Os mesmos sujeitos que percebem a dinâmica cotidiana podem ser
os que também acabam por legitimar grandes contradições ou denunciam
tantas outras que persistem a revelia do bom trabalho executado. Esses
olhares mostraram a necessidade das instituições educacionais da participação
dos familiares no processo educativo. É o olhar de quem aponta a questão da
violência cada vez mais presente na escola, o mesmo olhar que, de outro lado,
enxerga a homossexualidade como problema. Olhares que relacionam a
condição de vida de seus alunos e familiares como fator que interfere na
educação, que não isolaram a presença da evasão escolar, repetência,
abandono, desinteresse e defasagem, que são problemas perenes que
enfrentam o ensino.
Diante das considerações dos gestores, pude perceber que não
houve de nenhuma das partes a intenção de apagar, esconder os problemas
que enfrentam tais unidades de ensino, ao contrário, suas respostas
denunciavam e cobravam providências, utilizando a proposta de minha
pesquisa, ao mencionar a inserção de assistentes sociais e outros
profissionais, como medidas positivas para o enfrentamento das demandas.
Os desafios que enfrentam o ambiente educacional em seu dia a
dia são uma luta constante por um ensino de qualidade que depende muito
mais do que leis que o regulamentam, mas do compromisso dos que prestam
esses serviços à sociedade. A esse entendimento soma-se o interesse dos
57
assistentes sociais em contribuir para a garantia do direito a uma educação de
qualidade, como expressão de resistência a todas as contradições que insistem
em fazer dessa luta por reconhecimento de direitos apenas uma batalha sem
sentido.
58
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60
RIBEIRO, Maria Luisa Santos. História da educação brasileira: a organização
escolar. -18ª Ed. - Campinas-SP: autores associados, 2003. (Coleção
Memórias da Educação)
ROMANELLI, Otaiza de Oliveira. História da educação no Brasil. – 13ª Ed. –
Petrópolis: Vozes, 1991.
SAVIANI, Dermeval. A Nova Lei da Educação: trajetória, limites e
perspectivas. – 8ª. Ed. – Campinas, SP: Autores Associados, 2003. – (Coleção
Educação Contemporânea)
________. História das ideias pedagógicas no Brasil. -3.ª Ed. - Campinas,
SP: Autores Associados, 2001. (Coleção Memórias da Educação)
VIEIRA, Sofia Lerche. História da educação no Ceará: sobre promessas fatos
e feitos. Fortaleza: Edições Demócrito Rocha, 2002.
61
ANEXO
Faixada Liceu Professor Francisco Oscar Rodrigues
Escada de Acesso Interno Anfiteatro
Rampa e Pátio Interno Corredor de Acesso as Salas de Aula
Faixada EMEF Liceu de Maracanaú
Pátio Interno Quadra Poliesportiva
Laboratório de Informática Painel Informativo
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