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FACULDADE ASSIS GURGACZ
JOSÉ CARLOS CINTRA
TANATOPRAXIA SOB A ÓTICA DA FAMÍLIA ENLUTADA
CASCAVEL
2011
FACULDADE ASSIS GURGACZ
JOSÉ CARLOS CINTRA
TANATOPRAXIA SOB A ÓTICA DA FAMÍLIA ENLUTADA
Trabalho de Conclusão de Curso, do Curso de Ciências Biológicas Bacharelado, da Faculdade Assis Gurgacz – FAG.
Professor (a) Orientador (a): Greicy Kiel
CASCAVEL
2011
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ........................................................................................ 4
2. MATERIAIS E MÉTODOS ...................................................................... 6
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO .............................................................. 7
4. CONCLUSÃO .......................................................................................... 12
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................ 13
ANEXO .................................................................................................... 15
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TANATOPRAXIA SOB A ÓTICA DA FAMÍLIA ENLUTADA José Carlos CINTRA1
Greicy KIEL2
RESUMO Essa pesquisa objetivou compreender o que significa para a família enlutada a realização da tanatopraxia para o cerimonial fúnebre. O estudo constituiu-se de uma pesquisa qualitativa realizada por meio de entrevista aberta, gravada, com doze pessoas, familiares que utilizaram o serviço de tanatopraxia. Os participantes foram inquiridos com a seguinte questão norteadora: “O que significou o preparo do corpo do seu ente querido?”, a qual foi formulada de acordo com o objetivo. Após a análise os dados foram agrupados conforme repetição dos conteúdos encontrado nos discursos, resultando nas unidades temáticas: “Prorrogando a ‘vida’ do falecido” e “Preservando a imagem do ente”. Evidenciamos que, quando as famílias decidem-se por realizar tal prática, vislumbram o desejo de conservação do corpo da pessoa por mais tempo, para que o velório seja realizado com tranqüilidade e quando no caso de algum acometimento físico traumático, vislumbram obter uma imagem muito próxima do que o ente era em vida, realizando a tanatopraxia com o intuito de prestar uma última homenagem ao falecido. Palavras-chave: morte, ritual fúnebre, tanatopraxia.
1- INTRODUÇÃO
Assim como o nascer, a morte faz parte do processo de vida do ser
humano, é algo extremamente natural do ponto de vista biológico. Entretanto, o
ser humano caracteriza-se também e, principalmente, pelos aspectos simbólicos,
ou seja, pelo significado ou pelos valores que ele imprime às coisas
(COMBINATO; QUEIROZ, 2006).
Ao pensar na morte, seja a simples idéia da própria morte ou a expectativa
mais do que certa de morrer um dia, seja a idéia estimulada pela morte de um
ente querido ou mesmo de alguém desconhecido, o ser humano maduro
normalmente é tomado por sentimentos e reflexões (BALLONE, 2002).
Nesse sentido Polato (2009, p.1) diz que: “Não existe nenhuma pessoa no planeta que não tenha passado pela
experiência da perda de um ente querido. É uma experiência
profundamente dolorosa, mesmo quando a pessoa está adoecida há
1 Acadêmico de Ciências Biológicas – Bacharelado. Faculdade Assis Gurgacz. E-mail: cintraa@bol.com.br 2 Mestre em Microbiologia. Docente da Faculdade Assis Gurgacz. E-mail: greicy@fag.edu.br
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tempos e a morte é “esperada” porque já se tentou de tudo ou porque
seja portadora de uma patologia fatal. Ainda assim, a morte nunca é
esperada, ou melhor, é, porém, com esperanças de que seja postergada
ou até, que aconteça uma espécie de milagre e evite o ciclo natural
evidente no fato.”
Segundo a ciência, morrer é deixar de existir. Quando o corpo acometido
por uma patologia ou acidente qualquer tem a falência de seus órgãos vitais,
tendo uma parada progressiva de toda atividade do organismo, podendo ser de
uma forma súbita ou lenta (MOREIRA; LISBOA, 2006).
Bretas, Oliveira e Yamaguti (2006) contudo, destacam que a morte não é
somente um fato biológico, mas um processo construído socialmente, que não se
distingue das outras dimensões do universo das relações sociais, ela está
presente em nosso cotidiano, independente de suas causas ou formas.
Nesse sentido, o impacto da morte produz emoções complexas, às vezes
até aparentemente contraditórias e em geral, diferentes de cultura para cultura, ou
seja, apesar de evidências de similitudes, nos diferentes contextos sociais, as
performances e rituais de morte variam de acordo, como as concepções sobre o
mundo, a vida e a morte.
Do mesmo modo, difere o tratamento dado aos cadáveres, sendo mais
comuns rituais em que cadáveres são enterrados ou queimados com ou sem
sacrifícios (nomeadamente de animais); outros são conservados embalsamados
ou defumados; outros ainda são deixados apodrecer (MELO, 2008).
Independente do tratamento dado ao cadáver, os ritos fúnebres são
marcados por cerimônias que têm por objetivo reunir parentes e familiares em
torno de uma pessoa em comum, os quais manifestam a tristeza pela perda de
um ente querido. Além disso, a morte representa o último rito de passagem da
existência humana, sendo assim, o cerimonial se constitui na passagem do morto
do mundo dos vivos para o mundo dos mortos (BAYARD, 1996).
A tanatopraxia é uma ciência pouco discutida na atualidade. Considerando
que os rituais variam de cultura para cultura, e que os mesmos se modificam ao
longo do tempo, este estudo objetivou compreender o que significa para a família
enlutada a realização da tanatopraxia para o cerimonial fúnebre.
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2- MATERIAIS E MÉTODOS
O estudo constituiu-se de uma pesquisa de caráter qualitativa realizada por
meio de entrevista aberta com familiares que utilizaram o serviço de tanatopraxia
junto à Tanato – Serviço de Tanatopraxia e Recomposição Cadavérica de
Cascavel Ltda, mediante consentimento do responsável pela empresa, no ano de
2010.
Antes de iniciar o trabalho junto aos sujeitos participantes, o projeto foi
encaminhado ao CEP – Comitê de Ética em Pesquisa, da Faculdade Assis
Gurgacz, em cumprimento a Resolução 196/96, sendo aprovado sob protocolo nº
192/2010.
Os dados foram coletados nos domicílios dos sujeitos participantes, após
um primeiro contato por telefone, onde se fez a apresentação da proposta do
estudo.
Participaram da pesquisa doze pessoas, que tiveram morte de familiares
no ano de 2010, que utilizaram a tanatopraxia, residentes em Cascavel – Paraná,
que concordaram em participar e assinaram o termo de consentimento livre e
esclarecido.
Os participantes da pesquisa foram inquiridos com a seguinte questão
norteadora: “O que significou o preparo do corpo do seu ente querido”, a
qual foi formulada de acordo com o objetivo da pesquisa.
Os discursos foram gravados por meio de gravador digital e posteriormente
transcritos em sua íntegra.
Na sequência realizou-se a classificação e organização das informações
obtidas, considerando o objetivo da pesquisa. Esta análise seguiu os passos
descritos por Bardin (1991) e deu-se em três momentos:
a) Pré-análise;
b) Estabelecimento das relações existentes entre os dados coletados;
c) Tratamento e interpretação dos dados coletados.
Segundo Bardin, 1977 apud GIL (1994 p. 163-64), as fases acima são
definidas como:
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“A pré-análise é a fase de organização. Inicia-se geralmente com os
primeiros contatos com os documentos (leitura flutuante). A seguir,
procede-se à escolha dos documentos, à formulação de hipóteses e à
preparação do material para análise. A exploração do material constitui,
geralmente, uma fase longa e fastidiosa que tem como objetivo
administrar sistematicamente as decisões tomadas na pré-análise.
Refere-se fundamentalmente às tarefas de codificação, envolvendo: o
recorte (escolha das unidades), a enumeração (escolha das regras de
contagem) e a classificação (escolha de categoria). O tratamento dos
dados, a inferência e a interpretação, por fim objetivam tornar os dados
válidos e significativos...”
Os dados foram agrupados conforme repetição dos conteúdos encontrado
nos discursos, resultando em duas unidades temáticas e posteriormente realizou-
se a interpretação.
3- RESULTADOS E DISCUSSÃO
Nessa etapa da construção da pesquisa, foram analisadas as
temáticas para as quais foram utilizados referenciais teóricos com o intuito de
enriquecer o estudo e para preservarmos o anonimato dos sujeitos optou-se por
identificá-los por nome de flores.
Na análise das falas emergiram duas unidades temáticas: “prorrogando a ‘vida’ do falecido” e “preservando a imagem do ente”.
Escolhemos nomear essa temática como “prorrogando a ‘vida’ do falecido”, uma vez que o ato de preparar o corpo refere-se estritamente a uma
necessidade de manter o falecido o maior tempo possível no meio dos vivos,
conforme ficou evidenciado na fala de Jasmim: “...quando ele foi pra casa
mortuária isso já era meio-dia então a gente resolveu fazer o preparo no corpo por
que já tava vencendo o prazo dele ser sepultado daí a gente optou pra fazer...o
preparo do corpo por que senão não daria tempo... ia começar a vazar e como a
gente queria que ele ficasse mais tempo daí a gente optou pra fazer o preparo do
corpo”.
Para entendermos o processo biológico da decomposição humana após a
morte é oportuno citar Scheve (2008, p.1) que explica:
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“Três horas após a morte, começa o rigor mortis, que é o endurecimento
dos músculos. Após 12 horas, o corpo esfria e dentro de 24 horas
(dependendo da gordura corporal e das temperaturas externas) perde
todo o calor interno em um processo chamado algor mortis. Depois de
36 horas, o tecido corporal começa a perder sua rigidez e, dentro de 72
horas, a rigidez cadavérica diminui. Conforme as células morrem, as
bactérias dentro do corpo começam a desintegrá-lo. Enzimas no
pâncreas fazem com que o órgão se dissolva sozinho. O corpo logo
assume uma aparência horrível e começa a cheirar mal. Tecidos em
decomposição liberam uma substância esverdeada e gases como
metano e sulfeto de hidrogênio. Os pulmões expelem um fluído pela
boca e pelo nariz”.
O horror da decomposição do cadáver, suscita rituais para amenizá-lo,
desde a pré-história, período em que foram inventadas algumas práticas que
visavam apressar o processo de decomposição mediante a cremação e
canibalismo, evitá-la mediante o embalsamamento ou ainda afastá-lo do convívio
com os vivos através do sepultamento. Se essa presença “pútrida” do morto,
sempre foi sentida e contagiosa, muitas das práticas funerárias e pós-funerárias
visam proteger os vivos do espectro maléfico ligado ao cadáver (BELATTO;
CARVALHO, 2005).
Essa temática também foi percebida no relato de Narciso quando o mesmo
fala: “A preparação foi feita pra conservar um pouco mais o corpo...tinha uns
parentes para chegar de longe e pra poder dar um pouco mais de tranqüilidade
durante o velório”, ou ainda naquelas afirmadas por Magnólia “...devido o corpo
estar com vazamentos com cheiro...com cheiro forte foi lacrado o caixão... e
porque os filhos ‘tavam’ vindo ‘pro’ velório...ia ficar constrangedor eles virem no
velório e não se despedir da mãe...da mãe deles e daí depois que foi feito o
serviço foi tudo a contento deu pra velar normalmente a minha tia...”.
Nesse sentido, Naletto e Oliveira (2006) colocam que: os rituais fúnebres
aproximam a família da dor da perda, também favorecem uma segurança
psicológica aos enlutados, na medida em que dão um direcionamento ao
processo de luto, validando locais e momentos para a dor e o pesar.
Ainda podemos observar que as falas de Hortência e Tulipa, também
corroboraram com a temática acima as quais foram citadas respectivamente:
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- “Bom, como ela faleceu aqui em C. e o corpo iria ser transportado pra T.,
nós resolvemos fazer pra garantir... pra que o corpo chegasse bem lá e que se
mantivesse bem durante todo o velório...”
-“Bom a preparação foi boa porque a gente não tava na cidade e tinha mais
parente também pra chegar de viagem e nós precisávamos que o corpo dela
agüentasse mais tempo sem... dar problema durante o velório e pra não dar mau
cheiro...”
Além do sentido prático de organizar o ritual fúnebre, a tanatopraxia
manifesta o desejo dos familiares de manter o morto por mais tempo, entre os
vivos, o que é revelado especialmente na preocupação desses em obter maior
tempo junto ao morto, retardar o processo de decomposição e consequentemente
o enterro.
O ritual fúnebre, tem como propósito dar um sentido à morte, sendo um
acontecimento particular, favorecendo a aproximação e a intimidade entre os
membros da família e sua rede de relações, tornando o velório um evento público,
minimizando a sensação de isolamento dos parentes e enfatizando que a
impossibilidade de realizá-lo poderá predispor à família a não assimilação
adequada da perda (TAVARES, 2005). Frente a isso Rezende et al (1996) enfatizam que os rituais fúnebres tem a
função de marcar e facilitar o momento em que acontece a separação dos vivos e
dos mortos, pois quando um dos familiares não tem a oportunidade de participar
desses rituais, geralmente há maior dificuldade em aceitar o fato, lamentando-se
durante muito tempo, pela sua ausência na cerimônia de despedida do ente
querido.
Ainda com relação aos discursos apresentados acima Bayard (1996, p.13)
diz que: “Os ritos de retenção do morto (tempo antes do enterro) –
cuidados dispensados ao corpo, velório...todos esses ritos têm
como efeito retardar a separação. Os ritos de retenção do morto
procedem do desejo de atenuar o traumatismo da perda, portanto,
de poupar os parentes aflitos. Além disso, os cuidados
dispensados ao cadáver dão a imagem enaltecida da morte,
imagem muito próxima da vida, no caso de nossas técnicas
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modernas. Isso nos tranqüiliza quanto à eventualidade de nossa
própria morte”.
A segunda temática revelada foi “preservando a imagem do ente”; tal
fato se evidencia nas falas de Cravo e Estrelícia, “...a gente optou por fazer este
serviço porque é o último contato que você tem, e você quer ter a melhor
aparência possível do seu ente querido...”
-“...porque antes você via assim...bem desconfigurado ...e realmente o
trabalho que foi feito foi quase para configurar o rosto e ver que era a pessoa
mesma que tava no caixão”
- e também no discurso de Dália “...eu queria ter aquela imagem dele
arrumado,...uma última imagem boa dele, a visão dele no caixão arrumado... pra
mim proporcionou o que...uma imagem boa ... uma coisa serena ele tava com um
semblante assim bem sereno... a gente queria... um caixão adequado, uma roupa
adequada e depois aquela visão dele bem, não a visão cadavérica que quando
sai do hospital que tá assim caquético, cadavérico, manchado, então para as
pessoas lembrarem dele com uma fisionomia boa...”
Para Naletto e Oliveira (2006, p.1): “As cerimônias e os rituais do velório e sepultamento, mesmo
sofrendo variações de cultura, religião ou costumes familiares, são
uma maneira de compartilhar a passagem da vida para a morte,
de socializar a dor e iniciar um longo e doloroso processo de
desvinculação para os familiares – conhecido como luto. Neste
sentido, é o funeral que dispara o início deste processo, marcando
concretamente esses acontecimentos, além de propiciar
oportunidade para as últimas homenagens ao morto”.
Ainda nesse sentido, Louzette e Gatti (2007) afirmam que a morte
considerada como perda nos mostra em primeiro lugar um vínculo que se rompe,
de maneira irreversível, sobretudo quando ocorre perda real e concreta. Nessa
representação de morte há o envolvimento de dois sujeitos: um que é ‘perdido’ e
outro que lamenta essa falta, um pedaço de si que se foi. O outro é em parte
internalizado nas memórias e lembranças.
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É oportuno ressaltar que, em todas as sociedades, desde os primórdios até
os dias de hoje, o ser humano sempre teve, efetivamente, dois tipos de morte:
uma biológica, que representa o fim do organismo humano, e uma morte social,
que representa o fim da identidade social do indivíduo. Essa última se dá através
de um processo que compreende as cerimônias, incluindo aí o funeral, no qual a
sociedade oficializa e ritualiza a despedida dos seus e reafirma sua continuidade
sem ele (BELATTO; CARVALHO, 2005).
Considerando que a morte de um ente querido é um momento tão doloroso
e marcante, é oportuno salientar que os familiares também tentam preservar a
imagem do ente através “embelezamento” do corpo, conforme observamos na
fala de Azaléa “No seu A. foi mais por estética por que ele tinha problema de
câncer e tava muito magro... foi feito um tratamento... uma preparação pra ficar
uma aparência mais natural como ele era” e no relato de Hortência “...e também
pela questão estética como ele passou vários dias internado...já tava com
bastante barba e coisa assim então a aparência ficou bem melhor...” ”A beleza do cadáver foi – e ainda é – muito importante. Inicialmente,
indicava a morte do Justo [...]. Uma face tranqüila e bela era considerada
uma prova de que a alma se encontrava em paz, no reino dos céus.
Entretanto, posteriormente essa beleza torna-se “um aspecto banal,
mais reconfortante, da morte do ser amado. Quantas vezes, ainda hoje,
os visitantes, quando ainda os há, murmuram com admiração diante do
morto exposto: ‘Dir-se-ia que dorme”(ARIÈS,1981, p. 341).
Essa última lembrança da imagem do ente querido morto, apresentando
uma aparência de serenidade, poderá servir de conforto aos familiares e amigos
pois segundo Ariès (2003, p. 269), “...hoje, as técnicas químicas de conservação
servem para fazer esquecer o morto e criar a ilusão do vivo”.
Então a fisionomia no caixão, aparentando estar dormindo e descansando
confere à morte um aspecto positivo, sendo a bela imagem do defunto uma
espécie de triunfo sobre todo tipo de sofrimento e agonia que ele possa ter
suportado nos momentos anteriores a essa passagem.
Segundo Morin apud Belatto e Carvalho (2005, p. 100): “A morte sempre suscitou emoções que se socializaram em práticas
fúnebres, e o não-abandono dos mortos implica uma crença na sua
sobrevivência, não existindo praticamente qualquer grupo, por muito
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‘primitivo’ que seja, que abandone os seus mortos ou que os abandone
sem ritos. Esses ritos trazem a imagem de ‘passagem’ para um outro
estágio, sempre como metáfora de prolongamento da vida, seja ela
através de um sono, uma viagem, um nascimento, uma doença, seja
através de uma entrada para a morada dos antepassados. Projeta-se,
assim, a vida para um tempo indefinido, mas não necessariamente
eterno”.
O ato de morrer, além de um fenômeno biológico natural, apresenta
intimamente uma dimensão simbólica, relacionada tanto à psicologia como às
ciências sociais. Enquanto tal, a morte apresenta-se como um fenômeno
impregnado de valores e significados dependentes do contexto sócio-cultural e
histórico em que se manifesta (COMBINATO; QUEIROZ, 2006).
4 – CONCLUSÃO
Nessa trajetória evidenciamos que apesar de todas as mudanças que as
civilizações atravessam ao longo dos tempos, a morte, admitida como única
certeza que temos na vida, é sentida como um acontecimento triste, que
representa a finalização de um ciclo, e os rituais fúnebres ainda permeiam as
sociedades, independentemente da cultura.
Considerando que a tanatopraxia é uma forma de preparo do corpo para o
velório, nesse estudo constatou-se que é realizada pelos familiares, a fim de
proteger o corpo do ente querido, para que este se mantenha conservado bem
por mais tempo após o óbito, sem que venha apresentar extravasamento de
líquidos ou exalar odores fétidos durante o ritual fúnebre.
Mostrou-se evidente também o fato de que as famílias optam por realizar
tal procedimento porque há a preocupação com relação a despedida e o
velamento do ente, que deve ser participado por todos os parentes, incluindo os
que residem mais distantes.
Enfim, quando as famílias decidem-se por realizar tal prática,
vislumbram o desejo de conservação do corpo da pessoa por mais tempo, para
que o velório seja realizado com tranqüilidade e quando no caso de algum
acometimento físico traumático, vislumbram obter uma imagem muito próxima do
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que o ente era em vida, realizando a tanatopraxia com o intuito de prestar uma
última homenagem ao falecido.
5 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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14
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ANEXO
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