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1º Simpósio Brasileiro de Tecnologia da Informação e Comunicação na Construção
10º Simpósio Brasileiro de Gestão e Economia da Construção
8 a 10 de novembro de 2017 - Fortaleza - Ceará - Brasil
EXPERIÊNCIA DIDÁTICA DE USO DE FERRAMENTAS BIM
PARA SIMULAÇÃO ENERGÉTICA NAS ETAPAS INICIAS DE
PROJETO
MOTTA, Silvio Romero Fonseca (1); FIDELES, Carolina Cunha (2); ACHABAL,
Michelle Medeiros (3); CARVALHO, Natalia Cardoso de (4); PEREIRA JUNIOR,
Mário Lúcio (5)
(1) Doutor em Arquitetura e Urbanismo, PUC Minas, (31) 98838.9008, e-mail: silvio@pucminas.br; (2)
Graduanda em Arquitetura e Urbanismo, PUC Minas, (31) 99105.0599, e-mail:
carolina.fideles@sga.pucminas.br; (3) Graduanda em Arquitetura e Urbanismo, PUC Minas, (31)
99613.3018, e-mail: michelle.achabal@sga.pucminas.br; (4) Bacharel em Arquitetura e Urbanismo, PUC
Minas, (31) 99418.2415, e-mail: carvalhocnatalia@gmail.com; (5) Mestre em Engenharia de Produção,
PUC Minas, (31) 999812868, e-mail: mario@pucminas.br.
RESUMO
Os modelos BIM (Building Information Modeling) permitem considerar e modelar vários parâmetros
envolvidos em uma obra arquitetônica. Assim, o modelo do projeto em BIM é uma representação virtual
da obra e de seu processo construtivo. Através dele podemos simular tanto etapas do processo (custos,
prazos, etc.), quanto o desempenho da obra arquitetônica (adequação ambiental, acústica, gastos de
recursos naturais, etc.). Ambos os tipos de simulação trazem contribuições para a problematização das
possíveis soluções projetuais. A simulação de desempenho tem um grande potencial de contribuição em
melhores soluções projetuais. As simulações de desempenho por modelos BIM são normalmente
associadas a modelagem com nível avançado de detalhamento e especificação construtiva, ou seja, utiliza
a representação de modelos de fases avançadas do processo de projeto, momento em que é possível
especificar de modo mais preciso as propriedades dos elementos construtivos. O presente artigo defende a
hipótese de que metodologias que utilizem ferramentas de simulação BIM podem ser utilizadas em etapas
iniciais de investigação de soluções arquitetônicas, onde o nível de detalhe construtivo é pouco necessário
e deve ser flexível para permitir liberdade na exploração projetual. Para isso, foi desenvolvido um método
de modelos de simulação de eficiência energética que utiliza ferramentas BIM nas etapas iniciais do
processo de projeto. O presente trabalho apresenta a experiência didática de uso desse método em oficinas
e atelier do curso de Arquitetura e Urbanismo da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Por
fim, são apresentados os resultados e discutidos as possibilidades e contribuições do método para as
etapas inicias de processo de projeto do objeto arquitetônico.
Palavras-chave: Modelo de Informação da Construção, simulação energética, ensino de arquitetura.
ABSTRACT
BIM (Building Information Modeling) allows modelling several parameters in an architectural work.
Correspondingly, the BIM project model is a project virtual representation of the work and constructive
processes. With this concept we can simulate any stages of the process - like costs, deadlines and other -
and the project performance, linked with environmental control, acoustics, and spending of natural
resources. Both kinds of simulation bring contributions for different alternatives solutions. The
performance simulation has a big potential to point at the best option. The performance simulation using
BIM technology is associated with detailed models and constructive specification, in an advanced stage
of the design process, in which it is possible to specify the element properties in a more precise way. This
paper defends that method that uses BIM tools can be used in the initial phases of design, when precision
construction specification is not necessary and a it must be flexible to permit exploration in design
solution. For this, a method for the use of simulations models of energetic efficiency was developed using
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BIM models in its initial steps. This article presents the experience using this methodology in workshops
at the graduation course of architecture and urbanism at Pontifícia Universidade Católica de Minas
Gerais. We present the results and discuss the possibilities and contributions brought about by the
method for the initial steps of the design process of an architectural object.
Keywords: Building Information Modeling, building energy performance, Architecture Pedagogy.
1 INTRODUÇÃO
A utilização das tecnologias de informação (TI) para representação do mundo real ou
imaginário na construção civil e no trabalho de Engenheiros e Arquitetos tem
significado profundas mudanças no pensar e produzir o objeto arquitetônico, trazendo
mudanças a todas as fases do projeto, da concepção ao descarte, passando pela obra e
envolvendo todo o ciclo de vida do edifício. Além disso, as demandas contemporâneas
de eficiência e racionalização de recursos e processos no setor de Arquitetura,
Engenharia e Construção (AEC) mostram a importância de considerar todo o ciclo de
vida de um edifício em sua concepção. Incorporar essas considerações no processo de
projeto pode ser facilitado através da tecnologia BIM (Building Information Modeling
ou Modelagem de Informação da Construção). O BIM foi originado nos anos 1980, mas
popularizado nos anos 2000, e permite o armazenamento e o compartilhamento dos
dados referentes ao projeto em um único modelo, que pode ser acessado e modificado a
qualquer momento por qualquer integrante do processo, mantendo-o sempre atualizado
(EASTMAN, 2013).
Na tecnologia BIM, é produzido um modelo da edificação dotado de propriedades e
parâmetros que possibilitam planejar, quantificar, testar alternativas de projeto e estudar
seu comportamento. Assim, podemos buscar soluções projetuais para diversas
demandas contemporâneas. Entre essas se destaca a demanda por edifícios com
adequação ambiental e eficiência energética. Para avaliação da adequação ambiental e
eficiência energética podemos realizar simulações computacionais do comportamento
energético da edificação. Existem hoje várias ferramentas disponíveis para simulação do
comportamento da edificação quanto ao seu desempenho energético como, por
exemplo, Energy Plus, E-Quest, DesignBuilder, Open Studio, Green Building Studio,
entre outros. Entretanto, a relativa complexidade destas ferramentas dificulta seu uso
(MENDES et al., 2005), fato que se torna mais crítico nas etapas iniciais do projeto e
junto aos estudantes de Arquitetura e Urbanismo.
O presente artigo busca discutir as possibilidades de interação da simulação energética
nas etapas iniciais de concepção de projeto junto aos estudantes de Arquitetura e
Urbanismo. A hipótese defendida aqui é que simulação de caráter qualitativo e
comparativo das diversas opções surgidas nas etapas de investigação projetual pode
contribuir para o aprendizado e busca de melhores soluções. Essa hipótese se contrapõe
a abordagem tradicional de simulação energética detalhada. Exigências e dificuldades
de simulação energética detalhada, como por exemplo, a especificação precisa das
propriedades térmicas dos materiais, poderiam ser relevadas nos estudos iniciais, desde
que previstas metodologicamente, sendo somente consideradas em etapa posteriores ao
direcionamento conceptivo. Para verificação da hipótese foi feito um estudo de caso no
curso de Arquitetura e Urbanismo da PUC Minas (Pontifícia Universidade de Minas
Gerais). O experimento realizou oficinas de simulação energética de massas conceituais
junto aos alunos. As oficinas têm caráter optativo e flexível, abertas a alunos de
diferentes períodos, realizadas pela equipe do Laboratório de Conforto Ambiental do
curso. Devido às especificidades do currículo da PUC Minas, a interação da simulação
com as etapas de concepção envolveu diferentes disciplinas de um mesmo semestre. A
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observação do experimento mostrou o potencial de contribuição da simulação
energética qualitativa e comparativa na concepção arquitetônica. Também foi observado
o potencial de integração horizontal entre as disciplinas do curso.
2 METODOLOGIA
A pesquisa apresentada no presente artigo é um estudo de caso com o objetivo de
analisar a aplicação prática da técnica de simulação qualitativa no processo de projeto.
Para isso, o artigo é estruturado em duas etapas. Na primeira é apresentado um
background, uma breve descrição dos principais elementos definidores da tecnologia
BIM, destacando a possibilidade de uso na concepção de projeto e na simulação
energética. Na segunda etapa é apresentado o experimento realizado no curso de
Arquitetura e Urbanismo da PUC Minas, detalhando as especificidades das disciplinas
de projeto e a dinâmica das oficinas realizadas. Por fim, a partir dos aspectos levantados
nas duas etapas, é discutido as possibilidades observadas frente as hipóteses iniciais.
3 BIM, PROCESSO DE PROJETO E SIMULAÇÃO ENERGÉTICA
A tecnologia de informação ou TI introduziu novas possibilidades de avanço no
conhecimento em várias áreas da atividade humana. Identificando, analisando e gerindo
informações através de sistemas computadorizados, a TI dá suporte a tomada de decisão
e a geração de conhecimento. Na área de AEC, a plataforma BIM é a tecnologia de
informação que vem sendo apontada como a mais promissora e como novo paradigma
para o processo criativo do ambiente construído.
A tecnologia BIM tem sua origem nas pesquisas desenvolvidas por Chuck Eastman
(EASTMAN et al., 2013) para incorporação do conceito de modelo de informação de
produto nos setores de AEC. Para o autor, a tecnologia BIM é um dos desenvolvimentos
mais promissores em AEC pois trabalha com um modelo virtual preciso do edifício,
construído digitalmente e que, quando completo, contém não só a geometria, mas
também diversos dados ou informações relevantes necessárias à construção, fabricação
e demais atividades para realização da construção. O BIM é definido por Eastman et al.
(2013) como uma tecnologia de modelagem associada a um conjunto de processos para
produzir, comunicar e analisar modelos da construção. Sua estrutura conceitual é de um
modelo que contém várias informações necessárias ao planejamento e à construção da
edificação. O modelo busca considerar todos os aspectos relativos à edificação em seu
ciclo de vida, como produtos, processos, registros documentais desses processos,
características de desempenho e outros. Esse modelo deve ser uma referência única para
todo o processo de projeto ao longo do ciclo de vida do empreendimento, envolvendo
idealmente todos os seus agentes. Na elaboração deste modelo, devem estar envolvidos
os diversos profissionais das diferentes disciplinas relativas ao projeto. Deste modo,
pode-se definir BIM como uma prática de projeto integrada e colaborativa na qual os
envolvidos no processo convergem suas habilidades para elaboração de um modelo
único (BARLISH e SULLIVAN, 2012; ANDRADE e RUSCHEL, 2009). Com isto, se
estabelecem três aspectos fundamentais do BIM: a modelagem paramétrica para
desenvolvimento do “modelo único”, a interoperabilidade para integração e colaboração
e troca de informações dos envolvidos, e a possibilidade de gestão e avaliação do
projeto em todo seu ciclo de vida.
A tecnologia BIM permite que sejam gerenciadas as informações do objeto construído
em todo seu ciclo de vida, envolvendo o projeto, da concepção ao as buit, passando pela
execução ou obra, sua utilização ou vida útil, até seu descarte. Com isso, podem ser
realizadas avaliações e análises do empreendimento considerando seu ciclo de vida. O
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projeto representaria um protótipo virtual do empreendimento considerando aspectos e
dimensões físicas, de custo, de desempenho, de tempo, entre outras, protótipo este útil
mesmo depois da obra concluída e do edifício em uso.
A evolução da tecnologia BIM face às potencialidades apresentadas é caracterizada por
Tobin (2008) em três momentos evolutivos, que foram denominados pelo autor como
BIM 1.0, BIM 2.0 e BIM 3.0.
No BIM 1.0, a tecnologia é utilizada mais como uma ferramenta do que como um
processo e uma estrutura conceitual de trabalho. O processo ainda é individualizado,
restrito ao projetista, sem o envolvimento e colaboração de profissionais de outras
disciplinas. Ele é utilizado principalmente para coordenação de documentos, adição de
informações aos objetos e produção de documentos técnicos (ANDRADE e RUSCHEL,
2009). Considera-se uma subutilização da tecnologia, pois não é utilizada em todo seu
potencial.
Na fase BIM 2.0, a tecnologia é expandida a várias disciplinas, áreas de conhecimento e
profissionais. Com isso, a interoperabilidade e cooperação tornam-se essenciais no
processo, de modo a permitir a correta troca de informações entre os envolvidos. Uma
característica importante deste grau de adoção do BIM é a possibilidade de análise e
avaliações do projeto já em suas etapas iniciais, com maior nível de colaboração.
Na fase BIM 3.0 a tecnologia seria utilizada de modo a permitir uma prática integrada
no processo de projeto. Os aspectos e soluções do projeto seriam discutidos em tempo
real. Deste modo, os fluxos de informação das equipes multidisciplinares envolvidas
aconteceriam de forma contínua, sem perdas e sobreposição (ANDRADE e RUSCHEL,
2009). O BIM 3.0 permite um protótipo virtual do empreendimento, a partir do uso das
potencialidades dos três aspectos fundamentais da tecnologia: modelagem paramétrica,
interoperabilidade e gestão das informações ao longo do ciclo de vida.
A adoção do BIM apenas como uma ferramenta de desenho e gestão de documentos e
informação permite que o mesmo participe apenas da fase de linguagem do processo
criativo do ambiente construído. Ele irá permitir que os desenhos, documentos e
representação sejam coerentes e adequados para a realização da construção. Pode ainda
promover a colaboração e troca de informação entre as disciplinas do projeto.
Porém, apesar do benefício de adotar o BIM como ferramenta de desenho e gestão, para
aproveitar todo seu potencial o BIM deve participar da fase da concepção. Motta (2013)
discute a contribuição, no processo de projeto, de modelos e simulação flexíveis através
da plataforma BIM. Para o autor, a simulação deve acontecer nas etapas de
ideia/concepção (FIGURA 1).
Figura 1 – Diagrama inserção de simulações BIM no processo de projeto
Fonte: MOTTA, 2013
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As oficinas realizadas buscaram introduzir a tecnologia BIM na fase da idéia/concepção
dos trabalhos desenvolvidos pelos estudantes de Arquitetura e Urbanismo da PUC MG
através de simulação energética.
4 EXPERIMENTO DIDÁTICO
As oficinas de simulação energética para aos alunos de Arquitetura e Urbanismo da
PUC Minas foram realizadas pela equipe do Laboratório de Conforto Ambiental do
curso. A programação das oficinas aconteceu frente ao objetivo de pesquisar um método
de simulação energética qualitativa para etapas de concepção de projeto pelos alunos.
Para isso, a organização para a preparação das oficinas aconteceu através das seguintes
etapas (FIGURA 2):
Figura 2 – Etapas de preparação das oficinas
Fonte: autores
Foi definida como escopo das oficinas a simulação do bloco 3 do próprio edifício do
curso de Arquitetura e Urbanismo (prédio 47), situado no campus Coração Eucarístico
da PUC Minas, na cidade de Belo Horizonte. A simulação deveria considerar a
volumetria existente e também outras possíveis volumetrias para o mesmo programa e
local. A volumetria existente é basicamente um pavilhão retangular de 3 pavimentos
com fachadas principais orientadas para noroeste e sudeste.
A definição da ferramenta de simulação considerou a disponibilidade e possível
familiaridade dos alunos. O curso já trabalha com softwares da Autodesk, entre eles o
Revit. Assim, decidiu-se utilizar na oficina a modelagem no Revit e a simulação no
Green Building Studio.
A partir da escolha do escopo e da ferramenta, foi organizada uma oficina teste. A
oficina teste aconteceu no dia 26 de outubro de 2016, fazendo parte das atividades da
Semana de Arquitetura1.
A oficina teste na Semana de Arquitetura foi realizada pelos monitores do Laboratório
de Conforto Ambiental e envolveu 7 alunos. Os alunos inicialmente modelaram a
volumetria do bloco 3 do prédio 47 como massa e realizaram a simulação energética no
Green Building Studio, configurando apenas a localização do edifício e o percentual de
abertura da fachada, deixando os demais parâmetros da simulação (materiais, sistema de
condicionamento, etc.) como padrão. Após a simulação da volumetria existente, os
alunos realizaram a simulação de outras soluções volumétricas, mantendo a área
construída do edifício e o percentual de abertura da fachada.
1 A Semana de Arquitetura é realizada pelo Diretórios Acadêmico (DA) do curso. Nela são realizadas
palestras e atividades relacionadas a arquitetura. No ano de 2016 a Semana de Arquitetura foi organizada
de forma conjunta pelos DAs de 6 escolas de arquitetura de Belo Horizonte.
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4.1 Oficinas
A partir da oficina teste realizada na Semana de Arquitetura foi definido um roteiro
metodológico para incentivar o uso de simulação energética nas disciplinas de projeto
do curso.
No currículo do curso de Arquitetura e Urbanismo da PUC Minas são sistematizadas as
disciplinas em 5 eixos temáticos: Teoria, Representação, Urbano, Tecnologia e Projeto.
As disciplinas do eixo Teoria acontecem através de aulas teóricas, com carga horária de
68 horas-aula e relação professor/alunos de 1/60. As disciplinas do eixo Representação
acontecem através de aulas práticas, com carga horária de 68 horas-aula e relação
professor/alunos de 1/20. As disciplinas do eixo Urbano acontecem em aulas de ateliê
com carga horária de 68, 85, 102, 136 horas-aula e relação de 1/20 e 1/15 alunos. As
disciplinas do eixo Tecnologia trabalham teoria e prática através de exercícios
projetuais que acontecem em aulas de ateliê, com 68 horas-aula e relação 1/20 alunos. E
as disciplinas do eixo Projeto trabalham o processo de projeto em sua totalidade, em
aula de ateliê, com carga horária de 102 e 136 horas-aula e relação 1/15 alunos.
Para a pesquisa é importante entender a contribuição da simulação contextualizada em
todo processo de projeto. Assim, objetivo final do roteiro deveria ser o uso de simulação
nas disciplinas do eixo de Projeto. Devido às características das atividades
desenvolvidas nessas disciplinas, optou-se por não introduzir a oficina diretamente nas
atividades das mesmas e sim lhe dar um caráter externo.
Foi considerado introduzir a oficina como uma atividade relacionada ao ensino do Revit
ou ao ensino de estratégias de adequação ambiental e eficiência energética. O ensino do
Revit acontece na disciplina Modelos Digitais 3, do eixo de Representação. Já as
estratégias e exercícios relacionados à eficiência energética acontecem na disciplina
Arquitetura Bioclimática, do eixo Tecnologia. Porém, avaliou-se que seria importante
uma maior integração horizontal entre essas disciplinas e as disciplinas do eixo de
Projeto. Assim, decidiu-se adotar inicialmente um roteiro metodológico onde as
oficinas seriam ofertadas como Atividades Complementares de Graduação2 e, também
seria elaborado um tutorial e disponibilizada monitoria para auxiliar demandas das
disciplinas do curso. Decidiu-se ainda realizar uma pesquisa no final das oficinas e da
monitoria de modo a levantar as percepções dos alunos e ter dados para melhorias
futuras na metodologia. A figura 3 apresenta o fluxograma do roteiro metodológico.
Figura 3 – Fluxograma do roteiro metodológico
Fonte: autores
2 As Atividades Complementares de Graduação estão previstas no currículo como atividades flexíveis
não vinculadas a uma determinada disciplina, sendo obrigatória o crédito de carga horária mínima
(somada) para a formatura.
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O tutorial busca descrever de forma didática o passo a passo para realizar um estudo de
eficiência energética utilizando os programas Revit e Green Building Studio. Toda a
simulação é realizada utilizando massas conceituais. As massas conceituais são
localizadas no local e orientação real do projeto. Nas configurações do modelo de
energia são definidos, em valores iguais para todas as massas estudas, os dados de: fase
do projeto; uso da edificação; percentual de abertura da fachada; altura do peitoril;
sombreamento das aberturas; percentual de claraboia. Os demais valores do modelo de
energia (sistema de refrigeração/aquecimento; resolução da zona analítica; profundidade
da zona térmica, etc.) são mantidos na configuração padrão para todas as massas
conceituais estudadas. O tutorial utilizou basicamente imagens da interface do Revit,
destacando os locais de comando, como estratégia comunicação didática.
A divulgação das oficinas aconteceu através de e-mail enviados pela secretaria do curso,
diretamente a todos alunos. O tutorial ficou disponível em versão impressa no
Laboratório de Conforto Ambiental e sua versão digital foi enviada aos alunos que
efetivamente participaram das oficinas.
Foram realizadas 4 oficinas e estas aconteceram nos dias 21 e 23 de março de 2107 e 16
e 17 de abril de 2017, no Laboratório de Conforto Ambiental. Foram abertas a alunos de
todos os períodos e turnos do curso. No total, 30 alunos realizaram as oficinas. Os
alunos eram de diversos períodos, do 3º ao 10º período. Não houve participação de
alunos do 1º e 2º período.
Além das oficinas, foi divulgada, junto ao corpo docente, a elaboração do tutorial e a
organização das oficinas. Essa divulgação aconteceu através de e-mail enviado pelo
coordenador do eixo Tecnologia e além de informar sobre o mesmo, fez um convite
incentivando que as disciplinas de projeto a utilizarem simulação energética na etapa de
concepção. Apenas uma disciplina (Projeto de Edifício) adotou a simulação como parte
dos estudos iniciais, sendo que os alunos apresentaram as maquetes volumétricas
escolhidas a partir da simulação realizada.
Após a realização das oficinas e monitoria foi realizada uma pesquisa de percepção dos
alunos acerca da metodologia adotada. A pesquisa aconteceu através de formulário
online. O link do formulário foi enviado por e-mail apenas aos alunos que participaram
das oficinas e da disciplina de Projeto de Edifício. No formulário, foram feitas duas
perguntas objetivas: 1) se a metodologia é útil na etapa de concepção; 2) se utilizaram a
metodologia de simulação energética em algum projeto realizado no semestre.
Onze alunos responderam o questionário. Das respostas obtidas, 100% considerou útil a
metodologia de simulação para o uso nas etapas de concepção. Porém, apenas 27,3%
utilizaram a simulação energética em algum projeto desenvolvido no semestre.
5 CONCLUSÃO
Este trabalho analisou práticas de simulação energética nas etapas iniciais de concepção
de projeto realizadas por estudantes de Arquitetura e Urbanismo através de ferramentas
BIM. Com um caráter exploratório, visando aumentar a familiaridade com o tema,
apresentou uma experiência didática em oficinas e atelier do curso de Arquitetura e
Urbanismo da PUC Minas. Foi possível observar que a simulação de caráter qualitativo
e comparativo das diversas opções surgidas nas etapas de investigação projetual pode
contribuir para o aprendizado e para a busca de melhores soluções.
Apesar dos resultados serem iniciais de um processo de pesquisa mais amplo, percebeu-
se um potencial de contribuição da simulação energética qualitativa e comparativa na
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fase de concepção arquitetônica, e possível alternativa à abordagem tradicional de
simulação energética a partir de modelos representados detalhadamente.
Nas aulas de ateliê, a ferramenta BIM (Green Building Studio) foi utilizada apenas com
o objetivo de comparar qualitativamente as opções volumétricas e de implantação. As
simulações adotaram o princípio da padronização de valores de input para as diversas
alternativas de volumetria e a comparação relativa dos melhores e piores resultados, não
sendo importante a acurância de seus valores absolutos. A comparação qualitativa
contribuiu para a escolha pelos alunos da implantação do projeto.
Durante a experiência didática, apenas uma disciplina de ateliê adotou a simulação
como estratégia projetual. Isso possivelmente refletiu no fato, indicado pelo
questionário, de poucos alunos utilizaram da simulação no desenvolvimento dos
projetos, mesmo que percebam a utilidade das simulações. A integração horizontal das
disciplinas do curso, um dos objetivos do desenvolvimento da metodologia, mostrou
potencial, porém com a resalva de resultados ainda insuficiêntes. A divulgação da
metodologia e sensibilização do tema junto aos professores das disciplinas de ateliê é
uma estratégia importante para a continuidade da pesquisa, melhoria dos resultados e
promoção da intregração horizontal das disciplinas no curso.
REFERÊNCIAS
ANDRADE, M.; RUSCHEL, R. BIM: Conceitos, cenário das pesquisas publicadas
no Brasil e tendências. Simpósio Brasileiro de Qualidade do Projeto no Ambiente
Construído. São Carlos: Rima Editora. 2009. p. 602-613.
BARLISH, B.; SULLIVAN, K. How to measure the benefits of BIM — A case study
approach. Automation in Construction, v. 24, p. 149-159, July 2012. ISSN 0926-5805.
EASTMAN, C. et al. Manual de BIM: um guia de modelagem da informação da
construção para arquitetos, engenheiros, gerentes, construtores e incorporadores.
Porto Alegre: Bookman, 2013. 500p.
MENDES, Nathan ; WESTPHAL, F. S. ; LAMBERTS, Roberto ; CUNHA NETO, José
Antônio Bellini da . Uso de instrumentos computacionais para análise do
desempenho térmico e energético de edificações no Brasil. Ambiente Construído
(São Paulo. Impresso), Porto Alegre, v. 5, n.4, p. 47-68, 2005.
MOTTA, S. R. F.. Information Modeling in Creative Process. Innovative possibility
of BIM in architectural and urban design processes. Disegnarecon, v. 6, p. 149-160,
2013.
TOBIN, J. Proto-Building: To BIM is to Build. www.aecbytes.com, 28 May 2008.
Disponivel em: <http://www.aecbytes.com/buildingthefuture/2008/ProtoBuilding.html>
Acesso em: 12 dez. 2012.
ORIGEM DO ARTIGO
O presente artigo é originado de uma pesquisa do Laboratório de Conforto PUC-MG.
AGRADECIMENTOS
A pesquisa agradece a Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas),
a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG), ao CNPq e
à CAPES, pelo apoio recebido.
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