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Expandindo o papel dos terapeutasocupacionais em reabilitação cardíaca.

Autora: Júnia Jorge Rjeille Cordeiro, terapeutaocupacional, aperfeiçoamento em reabilitaçãocardíaca no Reino Unido, docente licenciada do

Departamento de Fisioterapiae Terapia Ocupacionalda Escolade Educação Física, Universidade Federalde Minas Gerais.

Endereço: Rua Baronesa de Itu, 640/22-A,São Paulo, S.P.,CEP:01231-000Resumo: Uma análise das diferentes abordagens de

Terapia Ocupacional no tratamento de cardiopatasfoi obtida através de observações e levantamentosfeitos em várias instituições no Reino Unido.A autoraidentificou trêspaPéispara osterapeutasocupacionaisem reabilitaçãocardíaca: aconselhamento, educaçãodo paciente e aplicação de programa de atividades.Conclui-se que a contribuição específica dosterapeutas ocupacionais é feita através do ltSOdeatividades, uma vez que estaspermitem aopacienteavaliar suaspróprias limitações e experimentar umanova e mais saudável atitude diante da vida.

Palavras-chave: Terapia Ocupacional -Reabilitação Cardíaca - Atividade TerapêuticaObservação: Artigo originalmente publicado em

inglês sob o título Expanding the Ots'role in cardiacrehabilitation em Therapy Weekry, Londres, v. 16,11.7,p. 7,ago. 1989. Versãoemp011uguêsgentilmentecedida pelo editor do periódico e elaborada pelaautora.

Quando cheguei ao Reino Unido para um estágio

de aperfeiçoamento de um ano com o objetivo depesquisar, estudar e trabalhar com reabilitaçãocardíaca, esperava encontrar terapeutas ocupacionaisutilizando um programa de atividadesfisiologicamente controlado para auxiliar pacientes

pós-infarto do miocárdio a reassumirem suas rotinasnormais.

No Brasil, li artigos e fizobservações que reforçaram

a grande importância dos fatores fisiológicos nocuidado deste tipo de paciente.Embora tendo sido lotada no NorthwickPark Hospitalcomo

terapeuta ocupacional, visitei também os hospitaisAstleyAinslie,CharingCross,Harefield,London Chest,Royal Preston, Selly Oak e o Queen Elizabeth paraverificar como diferentes tipos de pacientes eramtratados e qual era a contribuição da TerapiaOcupacional, quando existente no programa de taisinstituições.

O primeiro fato notado foi que nem todos os hospitaisque lidam com os cardiopatas possuem um programade reabilitação cardí.aca. Entre os oito hospitaiscontactados que oferecem o programa, três CHarefield,London Chest e SellyOak Hospital) não envolvem aTerapia Ocupacional.As outras cinco instituições visitadas, apresentam

terapeutas ocupacionais executando diferentes papéisque variam em função do conteúdo e da ênfase doprograma, bem como da filosofia sobre a qual ele éestabelecido. Isto significa que, os aspectos físico,

psicológico e educacional da reabilitação cardíacavariam em termos de como e por quem eles são

providos em cada hospital. Certamente, isto afeta opapel dos terapeutas ocupacionais.Estes profissionais mostraram-se envolvidos emaconselhamento e educação do paciente em todos

os cinco hospitais. Através do uso de suas habilidadesverbais, de ensino e de solução de problemas, os

terapeutas ocupacionais prestam sua melhor e maiseSPecíficacontribuição na área de aconselhamentopara um retorno estruturadoàs atividades "normais".

Num contexto mais amplo, estes profissionais

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envolvem-se com o aconselhamento e manejo dosfatores de risco cardiovasculares de maneira geral -

um aspecto muito importante do programa paraportadores de cardiopatia isquêmica.Mas outros profissionais, como por exemplo,enfermeiros e assistentes sociais, também organizam

e executam este tipo de serviço quando não háterapeutas ocupacionais na equipe.Será que está havendo uma sobreposição de papéis?Seriam o aconselhamento e a educação papéisexclusivos dos terapeutas ocupacionais?Acredito quea provisão de informações aos pacientes - e oaconselhamento relativo aos assuntos abordados-são

de responsabilidadede qualquer profissionalda saúde.Uma outra área em que os terapeutas ocupacionaisse envolvem é a supervisão depacientes emprogramade atividades terapêuticas - fato observado em trêsdos cinco hospitais que possuem nossa categoriaprofissional na equipe. As atividades são utilizadasde formas variadas em reabilitação cardíaca.Em um dos locais, as medidas de pulso e pressãoarterial são utilizadas para monitorizar e graduar aresistência exigida do paciente durantes as atividades.Numa outra instituição, esta progressão baseia-se naausência de sinais e sintomas combinados com a

medida do pulso tomada pelo próprio paciente.Alguns dos locais visitados utilizam os resultados eníveis atingidos em testes ergométricos para procedera graduação do programa. Ou seja, a atividadeutilizada dentro de abordagem biomecânica econdizente com a fisiologia cardiovascular

ESPECIFICIDADE

Conclui que o papel específico dos terapeutas

ocupacionais no que se refere ao aconselhamento eeducação centra-se na execução das atividades devida diária - auto-cuidado, atividades produtivas elazer. O terapeuta ocupacional também podeproferir palestras sobre fatores de riscocardiovasculares assim como podem fazê-Iooutros profissionais que tenham o conhecimentoe a habilidade para ensinar, além de empatia.

Alguns terapeutas ocupacionais não ampliam suacontribuição no programa em direção a um programade atividades, em parte devido às condições detrabalho insuficientes, como por exemplo, pequenonúmero de profissionais no setor, falta de verba para

implementar a atuação, falta de apoio institucional.Entretanto, se nós realmente compreendemos porcompleto o nosso papel em reabilitação cardíaca,nós nos esfoçaríamos para ampliar ainda mais aparticipação da Terapia Ocupacional nos programase também em pesquisa nesta especialidade,envolvendo a utilização de atividades terapêuticas.

Masde que forma os terapeutas ocupacionais podemfazer melhor uso de tais atividades?A atividade deve

ser manejada de forma .dinâmica, analisada em todoo potencial de seus componentes e utilizada de umaforma digna da prática terapêutica ocupacional, ouseja, a atividade vista como um conceito e não comouma técnica para tratar uma doença e sim paraabordar uma pessoa com dificuldades de funcionarno mundo de relações. Se a atividade pode serutilizada em toda a sua riqueza como meio deavaliação e terapia, por que ser half-hearted (parcial)e utilizar somente parte do seu potencial (só obiomecânico ou o educativo)?

A informação fornecida pela educação eaconselhamento e o grau de condicionamentoalcançado via exercícios físicos serão traduzidos eaplicados em atividades de vida diária pelo paciente.Alguns cardíacosencontram dificuldadesem transferirestes ganhos para suas rotinas, particularmente,monitorizando e controlando seu próprio ritmoadequadamente. E é aqui que os terapeutasocupacionais podem fazer sua mais importante eúnica contribuição: as atividades terapêuticaspodem ser utilizadas para auxiliar os pacientesa se avaliarem em suas limitações e ajudá-los a

experimentar uma nova e mais saudável atitudediante da vida, porque elas simulam suasatividades diárias.

Quando a auto-consciência aflui como resultado

deste processo, aí sim, as mudanças reais edesejáveis nos do paciente começam a acontecer.

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BIBliOGRAFIA

Nota: O texto original em inglês não apresenta.referências bibliográficaspor se referir a um relatode uma experiência com as nossaspróprias conclusõessobre a mesma. Segue abaixo uma pequenabibliografiaque referendanossasidéias.

BRASIL.Ministérioda Saúde. SecretariadeAssistência

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