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ESTUDO DE VIABILIDADE ECONÔMICA
PROJETO CAJU É GERAÇÃO DE RENDA E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NO BAIXO ACARAÚ - CE
2010 - 2012
1
ESTUDO DE VIABILIDADE
PROJETO CAJU É GERAÇÃO DE RENDA E DESENVOLVIMENTO
SUSTENTÁVEL NO BAIXO ACARAÚ – CE
Associação Alternativa Terrazul / IEES-UVA (Sobral-CE)
2
SUMÁRIO
1. Introdução ………………..…………………………………….……………………………………………………………. 03
2. Metodologia …..………………………………………………….…………………………………………………………. 08
3. Análise de Dados ……..……………………………....………………………………………………………………….. 12
4. Considerações Finais ………………………………………………………………………………………………..…… 22
5. Anexos ……………..…………………………………………………………………………………………………………… 24
5.1. Acaraú ………………………………………………………………………………………………….... 24
5.2. Bela Cruz ……………………………………………..……………………………….………………….. 30
5.3. Cruz ………………………………………………………………………………………………………… 36
5.4. Itarema …………………………………………………………………………………………………….. 43
5.5. Jijoca …………………………………………………………………………………………………….… 49
5.6. Marco …………………………………………………………………………………………………..… 55
5.7. Morrinhos …………………………………………………………………………………………….… 61
5.8. Santana do Acaraú ……………………………………………………………………………….… 68
3
1. INTRODUÇÃO
O objeto de contratação entre a ASSOCIAÇÃO CIVIL ALTERNATIVA TERRAZUL (ora
abreviadamente denominada TERRAZUL) e o Instituto de Apoio ao Desenvolvimento da
Universidade Estadual Vale do Acaraú – IADE/UVA (ora IADE/UVA), agora apreciado,
constituiu-se no ESTUDO DE VIABILIDADE ECONÔMICA1. Seu objetivo é compor análises e
informações para respaldar as ações pertinentes ao Projeto “Caju é Geração de Renda e
Desenvolvimento Sustentável no Baixo Acaraú (CE)” (que para todos os efeitos, utiliza apenas
a o acrônimo CAJUS no decorrer do presente documento).
O Projeto CAJUS é uma iniciativa da Associação Civil Alternativa Terrazul, com apoio do
CEAT (Centro de Estudos e Apoio ao Trabalhador e Trabalhadora), e financiamento da União
Européia, tendo como objetivo melhorar a qualidade de vida, proporcionando ocupação
laboral e geração de renda para trabalhadoras rurais de 8 municípios, sejam eles: Santana do
Acaraú, Morrinhos, Marco, Bela Cruz, Cruz, Acaraú, Jijoca de Jericoacoara e Itarema) da região
noroeste do Estado do Ceará (Nordeste do Brasil) denominada Baixo Acaraú (observando-se
que Santana do Acaraú é considerado “médio-baixo Acaraú”, ou seja, em transição dentro
dessa convenção geográfica).
Através deste projeto, pretende-se capacitar, no decorrer de 3 anos, através de cursos
de processamento de caju, trabalhadoras rurais nestas 8 localidades para realizar o
beneficiamento e comercialização do pedúnculo do caju e, acessoriamente, para os períodos
de seca ou entressafra, outras frutas, pertencentes à flora, ou à cultura de plantio da região.
A produção agroflorestal orgânica e certificada se destaca como uma de suas
principais qualidades, já que, seu objetivo final é realizar uma produção e beneficiamento das
frutas sem a intervenção de agrotóxicos, como forma de manejo mais racional e sustentável
dos recursos da terra.
O CAJUS também realizará cursos de Capacitação, de Organização Comunitária,
Associativismo, Cooperativismo e Economia Solidária, e oficinas de Gênero, Organização
Comunitária e Capacitação e Organização para Lideranças Jovens. O artesanato e o ecoturismo
comunitário estarão presentes como atividades complementares, que vão fornecer ocupação
para o período de entressafra, e para as trabalhadoras que desejem engajar-se em outras
1 Ver Contrato e Anexos I e II.
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atividades catalisadas pelo projeto, que não o beneficiamento do caju. Vale destacar que a
produção de artesanato deve considerar matéria-prima da região, como o coco e a palha da
carnaúba.
Assim, o referido trabalho, agora relatado, é parte de um processo que conta com a
interveniência técnica e de gerência da Incubadora Universitária de Empreendimentos
Econômicos Solidários – IEES-UVA (Sobral-CE), na condição de executora física do referido
ESTUDO e contrato, e com o acompanhamento permanente da TERRAZUL2, através de
representante(s) indicado(s) a participar em todas as fases do trabalho, no sentido de
assegurar a sua concretização com o melhor aproveitamento possível para necessidades do
projeto.
Tal fato se apresenta devido ao elevado número de perguntas no questionário
aplicado – 64, com subdivisões e “informações complementares” – tornando-o extremamente
abrangente em seus aspectos gerais, de forma a dificultar a edificação de tamanho volume de
informações, para o fornecimento dados claros e concretos, a serem abordados para
diferentes fins e em momentos variados no decorrer dos três anos do CAJUS.
Portanto, quando transparece a dinâmica complexa e a extensão assumida pelo
Projeto na Região, é relevante destacar a abrangência do levantamento (pesquisa) para fins de
utilizações futuras em diversas intervenções que se fizerem necessárias, acarretando o que já
se pode concretamente visualizar como um Banco de Dados do Projeto CAJUS, composto a
partir deste trabalho na forma de:
707 Questionários aplicados, lançados e arquivados (por ordem de
lançamento) separadamente por cada um dos 08 municípios;
08 “Plataformas Excel”, que receberam, respectivamente, os dados dos
Questionários aplicados por município, observando-se ao final das colunas (que correspondem
às perguntas e/ou a subdivisão destas no Questionário) os seus resultados, que passarão a
fases finais de análise compondo relatório(s) geral(ais) e/ou outro(s) específico(s);
“Análises dos Dados” de cada município de per si (ANEXOS ao Relatório Final,
subitem 5.3);
2 Ver PROTOCOLO ORIENTADOR QUE ENTRE SI CELEBRAM A ASSOCIAÇÃO CIVIL ALTERNATIVA TERRAZUL E A INCUBADORA IEES-UVA.
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01 “Plataforma/Tabela” em programa Word, consolidando o resultado das
respostas dos 08 municípios a cada pergunta;
O RELATÓRIO FINAL – setembro de 2010 (primeira abordagem ao Banco de
Dados Cajus).
Institui-se, portanto, no bojo do referido trabalho, a criação de uma base inaugural de
informações, um “Banco de Dados Cajus” para consultas diversas, à posteriori, assim como
para possíveis acréscimos, correções, e críticas, no decorrer do Projeto.
Contudo, o ESTUDO DE VIABILIDADE ECONÔMICA, em seu primeiro momento, lança
olhar sobre tais dados, para perpetrar um contorno inicial das realidades a serem abordadas e
trabalhadas pelo CAJUS, ou seja, neste dado momento, as análises que se seguem,
desempenham um papel de “marco zero” para o projeto. Esta apreciação inicial proporcionará
subsídios para comparações temporais avaliativas do cumprimento e progresso – ou não – das
metas a serem atingidas pelas atividades propostas, nas perspectivas de curto, médio e longo
prazo, a que se prestam.
Portando, no ESTUDO, além dos seus aspectos gerais há orientação para metas
específicas do projeto, que se tornam prioridades mais imediatas, merecendo atenção e
tratamento igualmente imediatos, a saber:
1) Identificação geográfica das áreas dos 08 municípios abrangidos pelo Projeto onde
haja produção de caju e potencialidade para trabalhar com seu pedúnculo; produção de outras
frutas regionais, as quais teriam a possibilidade de substituir e/ou complementar o trabalho
com o pedúnculo no caso de eventual dificuldade no beneficiamento do mesmo, por conta de
secas, pragas, etc.; potencial para o ecoturismo comunitário, mapeando quais comunidades
específicas teriam interesse em participar das atividades propostas; potencial para o
artesanato, mapeando quais comunidades específicas teriam interesse em participar das
atividades propostas;
2) Mapeamento geográfico do público-alvo do projeto, ou seja, mulheres em situação
de pobreza, integrantes de comunidades da zona rural dos 08 municípios supracitados;
famílias interessadas em praticar o ecoturismo comunitário e/ou trabalhadores(as)
interessados em participar das atividades ligadas ao artesanato; jovens interessados em
tornarem-se liderança em suas comunidades ou participar dos cursos de juventude.
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3) Mapeamento das políticas públicas, nos municípios abrangidos pelo projeto, em
agricultura familiar, economia solidária e comercialização de pequenos produtores.
4) Mapeamento e análise das práticas ambientais costumeiras em todas as etapas do
plantio, pelos agricultores, e nos afazeres domésticos, pela família dos entrevistados.
Observam-se assim, na conformação ou perfil do ESTUDO, em seu “marco zero”, os
assuntos básicos: mulheres em situação de pobreza e integrantes de comunidades (sobretudo
rurais), cajucultura, pedúnculo, frutas da cultura local, agricultura familiar e seus produtos,
organização comunitária, ecoturismo e turismo, artesanato, juventude, e práticas e noções
relativas ao meio ambiente.
Desta feita, de acordo com as premissas relatadas acima, aliadas aos princípios e
metas definidos pelo projeto CAJUS, foram extraídos, dos assuntos básicos, 12 (doze) tópicos
norteadores das presentes análises, tanto na consolidação regional do ESTUDO, quanto no
exame de cada município per si, contidos nos anexos do trabalho, sendo eles:
1. IDENTIFICAÇÃO, contendo dados gerais dos municípios, como as fronteiras,
população, distritos, etc.;
2. ASPECTOS SOCIOECONÔMICOS, apresentando informações importantes para o
projeto, tais como, a porcentagem de mulheres da amostra, a média de moradores por
residência, e a quantidade de entrevistados que possuem, TV, rádio, celular, internet, etc.,
3. FORMAÇÃO, que relata a escolaridade dos entrevistados de cada município,
perpassando também pelo conteúdo “extra-escolar”, ou seja, cursos similares aos ofertados
pelo projeto CAJUS;
4. OCUPAÇÃO E RENDA, exibindo, talvez, os dados mais importantes deste
trabalho, como as ocupações, não só as principais, como as secundárias, dos entrevistados,
além de revelar as fontes das quais provêm sua renda, e qual é essa renda;
5. AGRICULTURA FAMILIAR, apreciando a situação dos agricultores e suas
plantações;
6. PRODUTOS DA AGRICULTURA FAMILIAR, observando as culturas plantadas,
consumidas, e comercializadas pelos agricultores e familiares;
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7. SISTEMAS DE PRODUÇÃO, adentrando a questão do sistema produtivo e práticas
de manejo adotadas;
8. APROVEITAMENTO DO PEDÚNCULO DO CAJU, que salienta outra parte essencial,
da realidade local, para o projeto, apresentando, principalmente, a presença de cajueiros nas
propriedades, a porcentagem de pedúnculos desperdiçados, e a porcentagem de pedúnculo
comercializado e processado;
9. ORGANIZAÇÃO COMUNITÁRIA, que demonstra a força da organização das
comunidades, como associações e grupos produtivos, e suas divisões decorrentes, sejam
grupos de mulheres, de jovens, etc.;
10. POTENCIAL PARA O ARTESANATO, denotando a presença e as particularidades
dessa atividade nas comunidades;
11. POTENCIAL PARA O ECOTURISMO COMUNITÁRIO, identificando a imagem que
os entrevistados têm do turismo e de sua possibilidade em suas localidades; e
12. PERCEPÇÃO E PRÁTICAS AMBIENTAIS, observando as práticas cotidianas,
pessoais e comunitárias, relativas ao desenvolvimento sustentável e à ecologia.
Desta forma, crê-se alcançar aos objetivos finais deste ESTUDO, quais sejam, a
construção de um Banco de Dados do CAJUS, possibilitando novas leituras e releituras de
informações valiosas para a região e para o projeto; a criação do “marco zero” possibilitando o
acompanhamento futuro dos processos e atividades propostas, por meios comparativos e
temporais; e, por fim, uma base informativa concatenada, lógica, e conclusiva – mesmo que
bastante específica – das realidades sociais, culturais, e econômicas, com as quais se pretende
trabalhar nos próximos 3 anos.
Nestes três pilares, tem-se a oportunidade de se proceder à consulta de dados que
sejam importantes para determinar o contexto e indicarem um norte, uma orientação, um
viés, não só para cada atividade no processo de implementação do CAJUS, como para qualquer
percalço ou limitação que venham a se apresentar, em breve ou futuramente, e que, em seu
propósito final, estima-se que auxiliem o relevante propósito a que se propõe a iniciativa sob
responsabilidade da TERRAZUL.
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2. METODOLOGIA
2.1 Objetivos do estudo
- Obter informações sobre a realidade socioeconômica da população envolvida no
projeto CAJUS.
- Obter dados para, através de comparações futuras, avaliar a realização, ou não, das
metas inicialmente propostas e dar subsídios para a tomada de decisões, norteando
as ações dos projetos.
- Criar um banco de dados para posteriores consultas
- Avaliar o potencial das comunidades envolvidas no que diz respeito aos objetivos do
projeto CAJUS
2.2 Tipo de estudo
As informações foram obtidas através de fontes primárias e secundárias. Quanto ao
método utilizado configurou-se como levantamento, ao interrogar diretamente as pessoas
cujas informações seriam/serão úteis, e, em seguida, os dados obtidos foram tratados de
forma quantitativa; de acordo com as fontes de informação foi uma pesquisa de campo, com
o(a) pesquisador(a) presente onde ocorre o fenômeno para diretamente obter as informações
necessárias; e, de acordo com a natureza dos dados pode-se classificar como pesquisa
qualitativa e quantitativa concomitantemente, quando a entrevista alargou a captação de
vivências, práticas, entendimentos peculiares a valores e conceitos numa perspectiva
qualitativa e, é também quantitativa desde que informações numéricas foram obtidas para, a
seguir, participarem da análise respectiva.
A pesquisa de campo foi escolhida por possibilitar a aquisição do conhecimento
através da coleta direta frente à realidade dos fatos, permitindo um contato direto com o
informante e diminuindo a possibilidade de interpretações subjetivas, importando em relativa
rapidez e significativa quantidade de dados em um menor espaço de tempo, que podem ser
objetivamente consolidados e relacionados.
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Na pesquisa de campo foram utilizadas entrevistas com abordagem, parte direcionada,
parte aleatória, como será detalhado mais adiante.
2.3 Ambiente do estudo
A região do Baixo Acaraú (litoral noroeste do Estado do Ceará), localizada no Semi-
Árido nordestino, caracteriza-se pela pequena propriedade rural. Por conta desta configuração
agrária diferenciada, a maior parte do contingente populacional se organiza em torno da
agricultura familiar. O calor excessivo, os longos períodos de estiagem, e o regime intermitente
de chuvas tornam o cultivo de culturas de subsistência bastante limitado, sobretudo no
contexto de drástica mudança climática em que vivemos. Os 8 municípios objeto da proposta
constituem uma das áreas mais pobres do Brasil (com IDH médio de 0,615, semelhante ao do
Gabão, na África: fonte IPECE), com taxas de analfabetismo em torno de 58% (fonte: INEP), PIB
per capita na faixa de US$1200,00 (bem inferior ao índice nacional de US$6.600,00, fonte:
IBGE), tendo o acesso a direitos sociais básicos bastante deficitário. A região se caracteriza,
também, por alta taxa de desemprego, aliado ao fato de que uma parcela significante das
mulheres da zona rural não possui qualquer ocupação formal, na maior parte das vezes
realizando tarefas domésticas não remuneradas.
2.4 Sujeitos do estudo
Partindo de um universo de 226.530 habitantes da região do Baixo Acaraú, foi
descartada a população urbana, por se tratar de um projeto com atuação principalmente na
zona rural, sendo, com isso, considerados os 123.343 habitantes da zona rural.
Foi feita uma tempestade de idéias para a definição da amostra. Sendo acatadas as
seguintes sugestões de formas de coletas de dados para o Estudo de Viabilidade Econômica:
Pesquisa intencional - com os entrevistadores dirigindo-se para os grupos produtivos já
mapeados na região ou para comunidades indicadas pelas lideranças locais.
Priorizar a entrevista com mulheres agricultoras, artesãs ou pertencentes a um grupo
produtivo; e com grupos de jovens.
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Realização de uma entrevista por unidade familiar/ residência.
O alvo do projeto é preferencialmente mulheres em situação de pobreza (classes D e
E), integrantes de comunidades da zona rural dos 08 municípios supracitados (76,52% dos
questionários) as quais estejam em posição de desemprego, subemprego, ou que mesmo
possuindo alguma ocupação em atividade econômica desejem/precisem melhorar a situação
financeira de suas famílias; famílias que beneficiam o pedúnculo do caju e outras culturas
substitutas em época de crise; famílias interessadas em praticar o ecoturismo comunitário;
trabalhadores (as) interessados em participar das atividades ligadas ao artesanato; e,
complementarmente, jovens rurais com alguma participação no cotidiano familiar e
comunitário, se capacitados a acessar tecnologias modernas e enquanto lideranças em seus
meios.
2.5 Elaboração da entrevista
Foi elaborado um questionário com 64 perguntas enumeradas (com subdivisões e
“informações complementares”), fechadas e abertas, iniciando-se com questionamentos
voltados à identificação dos (as) respondentes, incluindo sua escolaridade, moradia e
moradores, ocupações, renda, acesso à informática, alimentação, etc.
Foi necessário tempo e paciência para as respostas, com atenção redobrada na
tabulação, o que requeria, sobretudo nas questões abertas, leituras e releituras interpretativas
e, sobretudo validadoras das informações colhidas.
A maior parte das perguntas caracterizou-se pela objetividade, e a estrutura do
questionário foi dividida em blocos buscando a melhor compreensão do entrevistador, do
entrevistado e dos responsáveis pela sua compilação e análise.
São os blocos e quantidades de perguntas do questionário:
1. identificação e localização do(a) entrevistado(a); informações sócio-
econômicas e familiares (da 01 a 26);
2. agricultura familiar, agroecologia e cajucultura (da 27 a 46, além de seis
outras perguntas complementares sobre outros produtos agropecuários
e extrativistas, em subdivisão inserida neste bloco);
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3. ecoturismo e artesanato (da 47 a 54);
4. questões ambientais ( da 55 a 64);
2.6 Coleta dos dados
A aplicação do questionário foi realizada em um município por vez, entre os dias 22 de
junho e 15 de julho de 2010.
Cada entrevistado demorou em média de 30 min., face à necessidade de aproximação,
convencimento e explicações de perguntas dentro da finalidade da pesquisa em promover,
pari passu ao contato da entrevista/questionário, uma divulgação correta do processo de
intervenção proposto para os próximos 03 (três) anos no município e na região.
As perguntas foram compiladas (classificadas/codificadas) no intuito de permitir
precisão ao tabular, no caso previsto das perguntas abrigadas em matriz (realizada em
programa Excel), ou plataforma, idêntica para cada um dos municípios de per si; o que, por sua
vez, foi condição obrigatória para fins da posterior e mais correta consolidação dos 08
municípios contidos na região foco da Pesquisa Cajus.
Por se observar, dentro da “plataforma Excel” de cada município, ausências eventuais
de respostas, variando na dependência da pergunta específica do questionário (ou subdivisões
desta), estas “ausências” não foram ponderadas no conjunto da pergunta (ou de subdivisão
desta); no caso apunha-se um “traço” na condição de “zero resposta”, desde que
percentualmente se considerou, no conjunto de respostas de cada pergunta, só o
efetivamente respondido (e compreendido).
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3. ANÁLISE DOS DADOS
Com relação ao tratamento e análise dos dados, sobretudo na perspectiva do Projeto
“Caju é Geração de Renda e Desenvolvimento Sustentável no Baixo Acaraú (CE)”, buscam-se a
compreensão municipal e regional, completando ao todo, 9 (nove) apreciações distintas,
porém dispostas em uma “estrutura base” similar.
A primeira, com a consolidação regional das respostas de cada município, ou seja, uma
análise conjuntural, contendo as informações dos 705 questionários válidos, relativa à região
do Baixo Acaraú. Aqui constará um estudo completo da região, que vai corroborar, ou não,
com a necessidade e a possibilidade do projeto CAJUS em sua totalidade, apontando caminhos
e obstáculos. Para além, fincará um marco para futuras comparações e constatações do
andamento do projeto e da consecução de metas propostas.
A segunda, constando em anexo no presente ESTUDO, com a apreensão das realidades
específicas de cada município, dispostos nesta ordem: Acaraú, Bela Cruz, Cruz, Itarema, Jijoca,
Marco, Morrinhos, e Santana do Acaraú. A consulta a cada análise em anexo, se torna
indispensável à compreensão do trabalho como um todo, pois delas decorrem não apenas as
informações que darão norte às atividades propostas em cada município, bem como às suas
nuances, suas sutilezas.
Para tanto, nesta primeira utilização do Banco de Dados do Projeto CAJUS, em
detrimento de outras informações, definiu-se trabalhar nas perspectivas temáticas mais
urgentes ao andamento e preparação das atividades e cursos oferecidos. Ainda, cada temática,
por sua vez, contém questões escolhidas como mais representativas de sua realidade. Desta
forma, seguem-se os tópicos:
3.1 Aspectos Socioeconômicos
Foram realizadas, ao todo, no Baixo Acaraú, 707 entrevistas, com apenas 2 (duas)
sendo invalidadas, o que resultou uma amostra de 705 questionários. Deve-se destacar que o
público-alvo do projeto – população feminina das áreas rurais em situação de pobreza –
compõe, aproximadamente, 77% da amostra, num total de 542 mulheres.
A principal faixa etária é composta de 420 adultos, de 30 a 59 anos, ou cerca de 60%
da amostra. A população jovem, também foco de atividades específicas do projeto, alcança
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cerca de 30% do total, apresentando, em média, 25,6 jovens por município. A média de idade
é de 39 anos, sendo a menor, de 34, pertencente a Cruz. A região possui uma média de 25,6
jovens por cidade, possuindo, Acaraú, 35, o maior número absoluto deles.
Fato com influência positiva para o projeto, é que a grande maioria dos entrevistados,
603, ou 85,5% moram em casa própria, o que facilitaria o recolhimento do caju, e de outras
frutas, para o processamento, nas residências. Também com grande relevância para as metas
do CAJUS, desponta o número de pessoas por residência, 4,7, em média, chegando, algumas
vezes, a mais de 10 pessoas. Assim, caso o projeto beneficie diretamente, por exemplo, 100
pessoas, estará beneficiando indiretamente, uma média aproximada de 400 (quatrocentas).
Quanto ao acesso à informação e aos meios de comunicação dos entrevistados, pode-
se destacar que 598, ou 85% possuem televisão em sua casa, 446, ou 63,3% possuem rádio, e
343, ou 48,7% tem celular. Ainda, apenas 65, ou 9,2%, têm computador, e 86% afirmam não
possuir qualquer acesso à internet. Tais informações nos levam a conclusão de que o rádio
seria a melhor mídia a ser trabalhada na região. Também há a possibilidade de mobilização de
boa parte da amostra com o uso do celular, a despeito do computador e conseqüentemente
da internet, mídias ainda pouco utilizadas nessas comunidades.
2. Formação
A escolaridade da amostra populacional selecionada situa-se, principalmente, no
Ensino Fundamental incompleto, já que, 48,8%, ou 341, não chegaram ao Ensino Médio.
Outros 119, ou 17%, possuem o Ensino Médio completo, e 103, ou 14,7%, não possuem
qualquer escolaridade. Entre as mulheres, a maioria possui o Fundamental Incompleto: são
287, ou 52%. Possuem o Ensino Fundamental completo, 18%, e outras 11,4% não possuem
escolaridade alguma. Apenas 8 (oito) possuem alguma graduação.
Assim, destaca-se o alto número de indivíduos que não chegaram ao ensino médio,
71,5% do total, o que aponta para a necessidade de metodologias e didáticas específicas, de
preferência com linguagem simples e direta, que sejam dinâmicas, baseadas nos
conhecimentos e experiências locais.
A participação em cursos, como atividades e aprendizados extraclasse, foi considerada
complementar à educação tradicional, pois, alguns deles, possuem foco em áreas temáticas
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mais específicas, de interesse do CAJUS, possibilitando o melhor desenvolvimento de
atividades produtivas, da geração de renda, da melhoria de vida, de atitudes ecológicas e
sustentáveis.
Deste modo, destaca-se a excelente quantidade de cursos, de interesse do projeto,
como agroecologia, turismo, meio ambiente, entre outros, que foram ofertados. Participaram
de alguma atividade relacionada aos objetivos do projeto, 310 entrevistados, resultando em
44% do total da amostra. Entre as mulheres a participação aumenta, já que 47% das mulheres
já participaram de algum.
Os cursos mais freqüentados foram o de artesanato, por 39% dos participantes, de
produção do caju, por 32,2%, e de cooperativismo, por 25,8%. É importante destacar que as
atividades relacionadas ao processamento de frutas também obtiveram bom resultado, com
21% de assiduidade. As aulas menos freqüentadas foram as de agroecologia, turismo, e
gênero, com a participação de 10,6%, 7,8%, e 5%, dos alunos, respectivamente. Pode-se
afirmar que houve participação mediana nos cursos de meio ambientes, com 19,3%, e
associativismo, com 17,7%. Individualmente, o município de Cruz se destaca novamente, já
que 85,5% de seus entrevistados fizeram algum desses cursos, seguido por Santana do Acaraú,
com 65,5%. Acaraú, Itarema, Bela Cruz, e Jijoca, têm o índice mais baixo, cada um com cerca
de 30% de participação.
É forçoso notar a pouca atividade em torno da questão do gênero, já que apenas 5%
dos que fizeram algum curso, estudaram essa questão. Torna-se ainda mais preocupante
quando se destaca a grande participação feminina nos cursos em geral, 44%. Assim, torna-se
imprescindível, que haja equilíbrio na distribuição das atividades a serem implementadas pelo
projeto, não só em cada município, mas também em cada área de conhecimento proposta.
3. Ocupação e Renda
Foram consideradas no ESTUDO, as ocupações principais e secundárias dos
entrevistados, porém, foi aceita somente 1 (uma) ocupação principal por resposta, enquanto
várias respostas poderiam ser dadas, como ocupação secundária, pela mesma pessoa. É
também necessário frisar que as fontes de renda foram analisadas separadamente do quesito
ocupação, pois podem advir de aposentadoria, ou programas de governo, como o Bolsa
Família.
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A agricultura tem grande relevância como ocupação principal, compreendendo 447
entrevistados, ou 63,4% do total da amostra. A segunda atividade mais praticada é o
artesanato, apontado por 99 pessoas, ou 14% do total.
Afirmaram possuir uma segunda ocupação, aproximadamente 60% da amostra, ou
seja, 419 pessoas. Destes, 81,4% são mulheres, e entre as mulheres, 63%, ou 341, tem, pelo
menos, outro trabalho. O artesanato e a agricultura, novamente, são os mais citados, porém,
com relevância invertida: o primeiro é o mais citado, com 186 respostas, ou 44,4%, e o
segundo, com 73, ou 17,4%. A cajucultura, agora, aparece com destaque, sendo a segunda
ocupação de 49 pessoas, ou 11,7% da amostra.
Quanto às respostas sobre as fontes de renda dos pesquisados, devem ser
consideradas duas observações: a primeira remete ao fato de que poderiam ser citadas mais
de uma por resposta, aparecendo assim, contagens numéricas múltiplas; e a segunda diz
respeito ao fato de que, uma ocupação, como agricultura, por exemplo, serem citadas não só
como uma das principais fontes de renda, por ser ocupação principal, como também por ser
ocupação secundária.
Assim, as duas fontes de renda mais mencionadas foram a agricultura e o Bolsa
Família, por 522 pessoas, ou 74%, e 307, ou 43,5%, respectivamente. O artesanato também
tem grande destaque, presente na receita de 208, ou 29,5% dos entrevistados, assim como a
aposentadoria, com 122, ou 17,3%. A castanha de caju foi citada por 80 pessoas, ou 11,3%, e a
produção do caju por 47, ou 6,7%, sugerindo a forte presença do caju, e, por conseguinte, do
pedúnculo, nessas localidades. Outros ganhos que obtiveram alguma evidência foram o serviço
público, a pesca e o turismo.
Ainda sobre a renda familiar da amostra, 407, ou 58,2%, recebem menos de 1 (um)
salário mínimo por mês, e 250, ou 35,7%, recebem até 2 (dois) salários mínimos mensais.
Aparece negativamente nesse quesito, Cruz, com 71% das famílias sobrevivendo com menos
de 1 (um) salário mínimo, enquanto Itarema é o município que possui mais entrevistados com
renda acima de 2 (dois) salários: 17, ou 12,2% de sua amostra.
Desta forma, desponta a importância de projetos como o CAJUS, de geração de renda
e melhoria de qualidade de vida, já que 93,9% das famílias pesquisadas vivem com menos de 2
(DOIS) salários por mês.
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4. Agricultura Familiar
A maioria dos agricultores e agricultoras possui casa própria, ou moram com
familiares. São donos de suas terras 324, ou cerca de 50%, enquanto 209, ou 31%, são
parentes dos donos. Outros 66, ou cerca de 10%, moram em áreas de assentamento. Portanto,
é provável que se tenha facilidade em coletar os cajus desperdiçados em aproximadamente
80% dos lares.
Sobre o acompanhamento da produção familiar, foram obtidas 405 respostas. Dentre
elas, 184, ou 45,4% afirmam não haver qualquer acompanhamento, e 221, ou 54,6%
asseguram ser acompanhados. A maior parte dos agricultores é acompanhada por associações,
sindicatos, cooperativas, em um total de 26,2%. Recebem apoio do governo ou prefeitura,
22,7%, e de ONGs, 13%. Pode-se deduzir que praticamente a metade dos agricultores
pesquisados não recebe assistência técnica à sua produção.
Quanto à alimentação, os entrevistados têm um gasto mensal médio de R$ 285,50.
Afirmam gastar mais com arroz, 40,1% deles, enquanto 23,8% dizem gastar mais com carne, e
19,2% com açúcar. Também pesam na renda familiar, a compra de frango, feijão, e peixe,
citados, respectivamente, por 15,1%, 14%, e 11,6%. É importante ressaltar que, nessa questão,
poderia ser dada mais de uma resposta, por exemplo: alguém diz gastar mais com arroz, leite,
e café, enquanto outro cita apenas carne e feijão.
Os dados revelaram que apenas 14,7% de famílias, do total de 665 respostas, comprar
100% de seus alimentos, constatando-se que a esmagadora maioria utiliza-se também de
outras formas de complementação da alimentação de seus membros. Compram 75% de seus
alimentos, 407, ou 61,2%, e 121, ou 18,1% produzem metade do que consomem. Apenas 7
(sete) pessoas, ou 1% da amostra possui uma produção que satisfaça praticamente toda a
necessidade alimentar da família.
5. Produtos da Agricultura Familiar
Apesar de não satisfazer totalmente suas necessidades diárias, a produção da
agricultura familiar é bastante diversa, havendo produção para consumo próprio, e venda de
excedentes. O feijão e o milho são os mais plantados: o primeiro, por 90,6% dos agricultores, e
o segundo por 83,1%. A mandioca e a macaxeira também têm grande relevância, sendo
17
plantadas por 70%, e 50,8%, respectivamente. Cultivam hortaliças, 24,5%, e batata doce, 20%.
Um dado inesperado é a citação da melancia como uma das culturas mais plantadas por 7,6%,
superando outras frutas mais comuns na região, como o caju, e o coco.
É necessário fazer, aqui, um olhar mais atencioso, já que o caju aparece como cultura
mais produzida em apenas 3,1% das respostas. Porém, à frente, poderemos constatar que
existe um grande número de cajueiros nas propriedades dos entrevistados. Uma das possíveis
explicações para tal fato é a de que, como os cajueiros são mais comuns, não necessitando “do
mesmo cuidado” de outras culturas, como feijão e hortaliças, eles sejam momentaneamente
“esquecidos” nessa questão, sendo “relembrados” em questões específicas relativas ao
pedúnculo.
Apesar de existir um grande número de produtores, apenas 325, ou 53%
comercializam algo que produzem, podendo ser processado ou vendido diretamente. A
castanha do caju é a “campeã de vendas”, já que é trabalhada por 41% dos vendedores. Logo
em seguia aparece a farinha, negociada por 33%, e o coco3, por 15,3%. O caju é citado apenas
por 4,5%, sugerindo a possibilidade de coleta da maioria dos pedúnculos.
6. Sistema de Produção
Afirmaram usar o sistema produtivo convencional, 64,5% dos agricultores. Apenas 5%
utilizam o sistema orgânico, e somente 2,5% usam o agroecológico. Não souberam responder
sobre este tema, 7% dos que plantam alguma cultura. Dizem evitar a utilização de agrotóxico,
aproximadamente 25% dos produtores.
Quanto às práticas de manejo adotadas, dos 567 entrevistados que responderam esse
quesito, 336, ou aproximadamente 60%, afirmam utilizar-se de queimadas. A segunda prática
mais utilizada é a capina seletiva, com 177, ou 31,2% das respostas, e em seguida, o quintal
produtivo, com 70, ou 12,3%. Práticas como a agrofloresta e a adubação verde, e a utilização
de defensivos naturais, e biofertilizantes, são citadas, cada uma, em menos de 6% das
respostas.
É aparente a falta de conhecimento dos agricultores e agricultoras, não só de práticas
ecológicas e sustentáveis, como dos usos cotidianos na sua produção. O projeto CAJUS deverá
18
exercer papel importante no repasse de informações que conduzam ao abandono de práticas
nocivas ao homem e ao meio ambiente, como as queimadas e o uso do agrotóxico.
7. Aproveitamento do Pedúnculo do Caju
A presença do cajueiro na região do Baixo Acaraú é intensa. Todos os municípios
visitados possuem essa árvore, e apenas nas localidades de Lagoa Velha, Canema – em Cruz –
e Mutambeiras – em Santana do Acaraú – os pesquisados disseram não existir caju na
vizinhança.
Confirmando a força do caju na região, 550 pesquisados, ou 78% do total, asseguram
possuir pés de caju em sua propriedade. Destes, 357, ou 65%, dizem não vender 1 (um)
pedúnculo sequer. Ainda, somente 16, ou 3,4% vendem mais que 75% dos pedúnculos
produzidos em suas terras, e 42, ou 7,6% vendem metade da produção. Assim, é apropriado
afirmar que 450, ou 82% dos donos de cajueiros não vendem mais que 5% dos pedúnculos de
sua produção.
Esta grande quantidade de caju in natura que não é comercializado é consumido
diretamente, por 70, ou 13% dos entrevistados, enquanto outros 78, ou 14,2% o transformam
em ração animal. Assumem desperdiçar o caju, 244, ou 44,4% dos pesquisados. Porém, a
maioria absoluta, 453, ou 82,4%, diz processar o caju em outros produtos, como suco, doce,
mel, etc. Note-se que neste item foi permitida mais de uma resposta por entrevistado, já que,
é possível, por exemplo, processar uma parte do caju, transformar outra em ração animal, e
ainda sim, haver desperdício.
A maioria dos pesquisados, que afirmam fabricar outros produtos através do
pedúnculo, fazem o suco de caju e o doce de caju em calda: 301, ou 66,5% fazem o suco, e
255, ou 56,3%, o doce em calda. Também há elevada fabricação de doce (em massa), por 189,
ou 42% dos produtores, cajuína, por 154, ou 34%, e carne de caju, por 65, ou 14,3%. Também
há algum processamento de mel, mocororó, rapadura, e vinho. Poucas pessoas opinaram
sobre qual produto geraria mais resultado, totalizando 238 respostas. Destes, 124, ou 52%
crêem ser o doce o produto de melhor resultado, seguido da cajuína, com 61, ou 25,6% das
respostas. O suco, a rapadura, e o mocororó, foram citados, cada um, por cerca de 8% dos
pesquisados.
19
Por fim, um dado de fundamental importância para o projeto, é que 446
entrevistados, ou seja, 63,3% do total, dizem ter conhecimento de alguma localidade (sítio,
fazenda, terreno público, etc.) de sua região onde haja desperdício de caju. A quantidade de
caju existente na região, e desperdiçada, aliada ao conhecimento já existente, da maioria,
sobre o processamento do pedúnculo, realça o enorme potencial do projeto CAJUS na região.
8. Organização Comunitária
Foram detectados em todos os municípios, inúmeros grupos organizados, para os mais
diversos fins, como associações, cooperativas, grupos de jovens, grupos produtivos, etc. Entre
a amostra pesquisada, 455, ou 64,5% dizem fazer parte de alguma organização comunitária, o
que demonstra um excelente potencial mobilizador nessas comunidades.
Segundo os entrevistados, todos os 8 (oito) municípios envolvidos pelo projeto
possuem grupos produtivos. É válido destacar que apenas em Jijoca, Marco, e Santana do
Acaraú, foram citados grupos produtivos de caju4 (para mais detalhes sobre esses grupos, vede
as análises de cada município em anexo).
Em relação à participação das entrevistadas em grupos exclusivamente femininos, 165
mulheres, ou seja, 30,5% do total, afirmam participar de algum. Importante ressaltar a
decepcionante participação feminina, em grupos exclusivos, em Bela Cruz, Jijoca, e Morrinhos,
onde apenas 3 (mulheres) estão envolvidas em tais atividades.
Sobre organização jovem, 267 entrevistados, ou 38% fazem parte, tem filhos, ou
conhecem alguém que participa de algum grupo ou movimento específico, como pró-jovem,
grupos religiosos, entre outros. Ainda, 77, ou 11% dos pesquisados, se consideram liderança
jovem local.
9. Potencial para o Artesanato
O artesanato é o principal trabalho de 79, ou 11,2% dos entrevistados, e a ocupação
secundária de 183, ou 26%. Caso se considere apenas o universo das pessoas que possuem
uma segunda ocupação, a porcentagem sobe para 43,7%, ou seja, dos pesquisados que têm
mais de um trabalho, 43,7% são artesãos ou artesãs. Além disso, é terceira fonte de renda
20
mais citada na pesquisa. Desta forma, o potencial para o artesanato em toda a região é claro e
evidente. Fato ratificado pelo número de pessoas que afirmam fazer artesanato, ou conhecer
alguém na comunidade que faça: 567, ou 80,4% do total.
Os produtos fabricados são bastante variados, abrangendo desde artes mais usuais,
como chapéus e bolsas de palha, crochê, bonecas, e redes, até produtos menos comuns, como
ímãs de geladeira, vassouras, e abajur de palito de picolé, cortina de conchas, esculturas de
gesso, filtros de coco, e cofres de barro. Consequentemente, as matéria primas também são
diversificadas, contendo materiais ecologicamente corretos, como palha de carnaúba, barro, e
garrafas pet, até produtos tóxicos, e degradantes da natureza, como tinta, verniz, E.V.A (etil
vinil acetato – um tipo de borracha).
Quanto ao ponto de venda dos produtos, 42,6% dizem comercializar na própria
comunidade, enquanto 34,6% afirmam não possuir local certo. Outros 17,5% vendem seus
produtos a atravessadores, 14,4% se utilizam das feiras, e 9% tem “loja parceira”. Apenas 4%
expõem seus produtos em loja comunitária. Portanto, há necessidade de se trabalhar a
logística dessa atividade, nas localidades englobadas pela pesquisa, para a venda e
escoamento dos produtos.
10. Potencial para o Ecoturismo Comunitário
A pesquisa apontou que 265 pessoas, ou 37,6% do total, têm alguma idéia do que seja,
ou já ouviram falar de turismo ou ecoturismo comunitário. O potencial turístico das
comunidades é pouco, ou nenhum, segundo 379 entrevistados, ou 53,8%. Apesar disso, 318,
ou 45,1% souberam apontar algum atrativo turístico de sua região (informações mais
detalhadas nas análises de dados específicas de cada município, em anexo). Vale lembrar que
Jijoca, Cruz, Acaraú, e Itarema, são municípios litorâneos, que possuem praias populares no
Ceará, incluindo a internacionalmente famosa praia de Jericoacoara. Além disso, Santana do
Acaraú, Morrinhos, Marco, Bela Cruz, Cruz, e Acaraú, fazem parte da bacia hidrográfica do rio
Acaraú, ou seja, são banhadas por ele.
Sobre a quantidade de visitas à comunidade, 430, ou 61%, dizem ser pouca ou
nenhuma, enquanto 226, ou 32%, afirmam ser o tempo todo, ou muitas. Ainda, segundo 301
entrevistados, ou 46%, os visitantes costumar se hospedar na casa de alguém, e, de acordo
21
com 137, ou 21%, 38, os visitantes ficam na sede de alguma associação. Para 92, ou 14%, ou
turistas dormem em pousadas, e para 28, ou 4%, em hotéis.
11. Percepção e Práticas Ambientais
Foram considerados nesta primeira consulta aos dados, cinco tópicos básicos, para
obter uma idéia geral das práticas adotadas pela amostra, sendo: o manejo do lixo, o uso ou
não de agrotóxico, o destino dado às embalagens dos agrotóxicos, o tipo de saneamento
utilizados nas casas, e o manejo do esgoto na comunidade.
Quanto à coleta de lixo, a maioria, 52%, ou 367 pessoas, afirmam queimar seus
resíduos, enquanto a coleta da prefeitura atinge 192, ou 27,2%. Outros 154, ou 21,8% dizem
enterrar o lixo, e 110, ou 15,6% jogam fora (normalmente em terreno baldio, porém não é
possível afirmar de uma forma segura onde esse lixo é jogado). É necessário observar que
poderiam ser dadas mais de uma resposta, já que, por exemplo, parte do lixo poderia ser
jogada fora, e outra enterrada, ou queimada.
Entre os 614 pesquisados que afirmam plantar algo, 223, ou 36,3%, usam agrotóxicos.
Destacam-se negativamente, Acaraú e Cruz, com 75% e 60% de seus agricultores utilizando
venenos em suas plantações, e positivamente, Marco, Morrinhos, e Santana do Acaraú, cada
um, com aproximadamente 15% de produtores utilizando agrotóxicos. Sobre o destino dado às
embalagens, a maioria, ou seja, 93, ou 41,7% dizem jogá-las fora. Queimam os recipientes, 71,
ou 32%, e os enterram 65, ou 29%. Somente 9 agricultores dizem lavar e devolver as
embalagens.
Quanto ao saneamento das residências, 612, ou 87%, utilizam fossa comum, enquanto
34, ou 4,8% possuem esgoto ligado à rede de saneamento do município. Fato alarmante é a
situação crítica de 33 pessoas, ou 4,7% que afirmam ter “esgoto a céu aberto”, e que este
número seja praticamente o mesmo dos que são assistidos pelo sistema de esgoto dos
municípios.
Por fim, quando falam do manejo do esgoto, não de suas residências, mas da
comunidade, 117, ou 16,7%, dizem haver sistema de tratamento, contra 443, ou 63%, que
afirmam não existir tal manejo, e 143, ou 20,3%, que não souberam responder.
22
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
De acordo com o estudo, foi possível concluir que é viável a implementação do projeto
CAJUS e suas metas, na região denominada Baixo Acaraú. Pode-se inferir que tanto os
objetivos principais, quanto os secundários, não só são passíveis de realização, como,
sobretudo, são necessários às famílias do campo, nestes municípios, que estão privadas de
direitos sociais básicos, como educação, saneamento, saúde, etc.
4.1. Aspectos Negativos
Alguns fatores aferidos deste trabalho podem causar alguns obstáculos à realização
das tarefas propostas. O desestímulo e a descrença de alguns, é um ponto forte a ser
considerado. Por algumas vezes os entrevistadores depararam-se com afirmações tipo: “já
houve projetos desse tipo e que nunca foram prá frente”; “acho que não vai dar certo e é
desperdício de tempo; e que é muito difícil isso acontecer”; “não quero responder, pois já sou
velho e não vou ter participação nessa estória”; “não vou responder, pois posso perder o
‘bolsa-família’ e o ‘aposento’, etc.
Outro fator adverso interessante para a pesquisa foi a constatação do
desconhecimento de entrevistados sobre diversos assuntos e termos utilizados na concepção
do questionário, e dos seus fazeres diários. Há grande desconhecimento, por exemplo, sobre
sistemas produtivos e práticas de manejo sustentáveis, com uso em larga escala, por exemplo,
de agrotóxicos e queimadas, além da queima do lixo, e da falta de saneamento básico. Tal fato
pode ser parcialmente explicado pela falta de qualquer acompanhamento na produção de
grande parte dos agricultores.
Portanto, esta desinformação em suas práticas cotidianas, aliada à escassa formação
escolar, e a pouca participação em cursos específicamente de agroecologia e meio ambiente,
pode ser um entrave a uma das metas do projeto, que é a produção agroflorestal orgânica e
certificada.
Ainda como pontos negativos podem-se destacar a pouca participação feminina em
grupos de gênero, a pouca comercialização das culturas plantadas, e ínfima renda familiar
(apesar da melhora desta ser o foco principal do projeto).
4.2. Aspectos Positivos
Como principal ponto positivo, despontam dois fatores essenciais ao alcance dos
objetivos propostos pelo CAJUS. O primeiro recai sobre o alto índice de presença de cajueiros
em todas as localidades e propriedades visitadas na região, além de existir desperdício de caju
(fato que por si só não é positivo, porém, tal fato é primordial às atividades a serem
realizadas). Além disso, o alto número de pessoas que processam o caju, e, portanto, já
possuem algum know-how para o beneficiamento, pode facilitar o aprendizado durante os
cursos. Uma última informação importante sobre esse assunto é a presença de plantações de
23
outras frutas, como o coco e a melancia, que poderão ser usadas como substitutas do
pedúnculo.
O segundo ponto diz respeito aos objetivos secundários, porém indispensável, ao
perfeito andamento do processo: a prática do artesanato e do ecoturismo. O segundo tem um
bom potencial na região, apesar da necessidade de análise específica na consolidação de cada
município. Já o artesanato possui forte participação na renda e na ocupação laboral de grande
parte dos entrevistados, em TODOS os municípios, resultando num excelente potencial de
geração de emprego e renda a que se destina o projeto.
Ainda, como aspectos positivos, pode-se ressaltar a alta média de moradores por
residência, o que certamente aumenta o número de beneficiados indiretos em cada família; a
boa participação em cursos como associativismo, cooperativismo, etc.; e a grande participação
das pessoas em grupos e movimentos da comunidade, demonstrando facilidade de
mobilização dos indivíduos.
4.3. Sugestões
O projeto CAJU É GERAÇÃO DE RENDA E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL PARA
MULHERES DO BAIXO ACARAÚ (CE), deverá, no âmbito de suas atividades, atentar para o
ensino em áreas mais carentes da região, como gênero e meio ambiente. Será um
imprescindível um reforço nesses temas, para que se possa obter mudança significativa nas
práticas cotidianas, pessoais e sociais, na realidade regional.
É também, imperativa, devido à baixíssima escolaridade, a adoção de uma
metodologia dinâmica, participativa que permita a atuação dos partcipantes, na busca de
novas práticas cotidianas, onde se valorize os conhecimentos e experiências locais,
identificando, discutindo, e buscando soluções para problemas vivenciados pela comunidade.
Quanto à questão da produção e comercialização, será necessário “jogo de cintura”,
para implementar as ações estabelecidas, pois além da existência de alguns grupos produtivos
– de pedúnculo de caju, inclusive – há venda de produtos individualmente, o que poderia gerar
alguns conflitos de interesse. O artesanato, por exemplo, é amplamente negociado, em todos
os municípios. Nesse caso, um desafio do projeto é, não só formar novos artesãos, como
encontrar, criar espaços fixos de negociação, além de novos mercados consumidores.
24
5. ANEXOS
5.1. ACARAÚ
Identificação
O Município de Acaraú tem a extensão de 842,88 km2 e uma população de 57.425
habitantes. Situa-se a uma distância de 198 km da capital, Fortaleza, com localização de 2° 53’
08” de longitude, 40° 07’ 12” de latitude, e a 22m do nível do mar. O município tem fronteira
ao norte com Oceano Atlântico, ao sul com Marco, Morrinhos e Amontada, a leste com
Itarema, e a oeste com Cruz e Bela Cruz.
Acaraú tem o PIB de 176 milhões de reais, sendo R$ 3.378 per capita, com 64,6% dessa
renda advinda do setor de Serviços. O IDH do município é o 121º no ranking estadual, com o
valor de 0,617. A maior parte dos empregos formais, 63,6%, está na administração pública,
com 62,4% destes sendo ocupados por mulheres.
É formada pelos distritos de Acaraú, Aranaú, Juritiania, e Lagoa do Carneiro. Apresenta
em seu território Complexo Vegetacional da Zona Litorânea, Floresta Mista Dicotillo-Palmácea
e Floresta Perenifólia Paludosa Marítima. Pertence à Bacia Hidrográfica do Acaraú, Coreaú, e
Litorânea. Possui várias praias, como Barrinha, Aranaú, Monteiro; lagoas, como a dos Espinhos
da Volta, da Carrapateira; e ilhas, com a dos Fernandes, Imburana, Coqueiros, e Ponta do
Presídio.
No Município foram visitadas as comunidades de Carrapateira, Tucunzeiro, Aroeiras,
Lagoa Dantas, Lagoa dos Espinhos, Curral Velho e Córrego dos Augustinhos, percebendo-se a
presença de grupos produtivos formais e informais assim como um aparente potencial das
mesmas para as atividades do projeto.
Aspectos Socioeconômicos
No município de Acaraú foram realizadas 149 entrevistas, sendo todas consideradas
válidas pela equipe. É importante destacar que os questionários foram feitos
preferencialmente com a população feminina das áreas rurais, público alvo do projeto, num
total de 116 mulheres, ou 77,9% da amostra.
A principal faixa etária pesquisada tem entre 30 a 59 anos, ou 60,4%, totalizando 90
adultos. Outros 23,5%, ou 35 entrevistados, são jovens entre 18 e 29 anos, resultando uma
faixa etária média de 40,8 anos no total dos pesquisados.
Podemos destacar o fato de que, a grande maioria dos entrevistados, 135, dos 148 que
responderam esse quesito, ou seja, 91,2% afirmam morar em casa própria, o que pode facilitar
o recolhimento do caju, e de outras frutas, para o processamento. O grande número de
pessoas que moram numa mesma residência, 4,4, em média, chegando até 13, e com média
25
de 5,6 cômodos, pode influenciar de modo positivo no alcance do projeto, já que mais pessoas
vão se beneficiar, mesmo que indiretamente.
Para a questão da comunicação do projeto, é podemos destacar que, em um universo
de 148 residências, 130 pessoas, ou 87,8% possuem televisão em sua casa, 81, ou 54,7%
possuem rádio, e 77, ou 52% têm celular. Ainda, apenas 3, ou 2%, dos entrevistados possuem
computador, e 96,6% não possui qualquer tipo de acesso à internet, impossibilitando qualquer
uso desse mídia nesse município.
Formação
A escolaridade da amostra populacional selecionada apontou que dos 149
entrevistados, a maior parte, 49,7%, ou 74 pessoas, possuem o Ensino Fundamental
Incompleto, enquanto 30, ou 20,1% não têm qualquer escolaridade, e 20, ou 13,4% tem o
Ensino Médio completo. É importante destacar que não houve, na amostra, pessoas com
ensino superior, ou superior incompleto, ou com outros níveis de formação.
É relevante afirmar que 59,1% dos participantes não chegaram ao Ensino Médio, e
que, entre as mulheres, público alvo do projeto, a maioria, 80, ou 53,7%, não completou o
Ensino Fundamental, o que indica a necessidade de uma metodologia participativa, com
linguagem simples e direta.
Levou-se em conta, também, além da formação escolar, a participação em cursos,
considerando-os como uma formação complementar ao ensino convencional, com foco em
áreas temáticas mais específicas, possibilitando o melhor desenvolvimento de atividades
produtivas, e conseqüentemente da geração de renda, foco de análise do presente estudo.
Cerca de 30%, ou 46 entrevistados, já participaram de algum curso relacionado aos
objetivos do projeto, com destaque para as mulheres, que representam 82,6% desse número,
com alta participação em cursos de artesanato e processamento de frutas. Portanto, é
importante, nesse município, que o projeto CAJUS aproveite o fato de que muitas pessoas já
têm conhecimento sobre alguns dos cursos que serão ministrados.
Ocupação e Renda
Como mais relevantes para o estudo, foram consideradas apenas as ocupações
principais e secundárias dos entrevistados. É importante frisar que as fontes de renda foram
destacadas do quesito ocupação, pois podem advir de aposentadoria, ou programas de
governo, como o Bolsa Família.
A maioria dos entrevistados, 112, apontou como sua ocupação principal a agricultura,
correspondendo a 75,1% das respostas, acompanhados pelos 13,5%, ou 20 pessoas que
afirmaram trabalhar com artesanato. As ocupações secundárias são citadas em 97
questionários, ou 65,1% da amostra. O artesanato e a agricultura foram os mais citados,
somando, respectivamente, 58,8% e 14,5% das respostas.
26
As principais ocupações entre as mulheres da amostra são a agricultura, 71,5%, e
artesanato, com 17,2%. Afirmaram ter ocupação secundária, 70% das mulheres, dentre as
quais, 70% estão no artesanato, 11,25% na agricultura, e 11,25% como dona de casa.
Como principais fontes de renda, a agricultura tem, novamente, grande destaque,
sendo citada em 127, ou 87,6% das respostas, seguida pelo Bolsa Família, com 57,9%, ou 84
respostas. É importante ressaltar a força do artesanato nesse município, já que está como uma
das principais rendas de 60 pessoas, ou 41,4% da amostra. Outras rendas provêm da
aposentadoria, com 21,4% e do serviço público, com 9%. É ainda interessante o aparecimento
de outras atividades, mais características do litoral, como o turismo, a produção de coco, e a
pesca artesanal, na receita das famílias.
Sobre a renda dos entrevistados, podemos ainda afirmar que, dos 148 que
responderam esse quesito, 54,7% ganham menos de um salário mínimo, e 37,2% até dois
salários. Tal fato comprova a importância de projetos, como o CAJUS, de geração de renda e
melhoria de qualidade de vida, já que, 92% da renda familiar dessas pessoas não ultrapassa 2
salários mínimos.
Agricultura Familiar
A maioria dos agricultores e agricultoras, 128, ou 92,1% dos 139 que responderam
essa questão, afirma que a propriedade é sua ou de esposo ou esposa, ou que a propriedade
pertence a familiares; 11 ou 7,9% tem áreas de reforma agrária ou assentamento.
Sobre a produção familiar, dos 70 agricultores que responderam a esse quesito,
apenas 18, ou 25,8% tem algum acompanhamento da produção em sua propriedade por
alguma instituição, como ONGs, Sindicatos, Governo, etc. Dessa forma, a grande maioria dos
agricultores pesquisados, ou seja, 74,2% não recebem assistência técnica à sua produção.
Em relação à alimentação, a amostra tem um gasto mensal médio de R$ 327,59, com
os principais gastos em arroz, 48,6%, carne, 30,8%, frango, 24%, e peixe, com 15,8%. A maioria
dos entrevistados, 127, ou 89,5% remetem à compra de 50 a 75% da alimentação. Compram
todos os alimentos consumidos pela família, 7,7% das pessoas, e outros 2,8%, compram um
quarto do que consomem.
Produtos da Agricultura Familiar
Apesar de não satisfazer totalmente suas necessidades diárias, a produção da
agricultura familiar é vasta e diversificada, com produção para a comercialização e para o
consumo próprio.
As culturas mais produzidas pelos 130 agricultores que responderam esse quesito são
feijão, por 127, ou 97,7%; milho por 117, ou 90%; mandioca por 111, ou 85,4%; macaxeira por
75, ou 57,7%; hortaliças por 58 ou 44,6%; e batata doce por 41, ou 31,5%. A produção do
27
pedúnculo do caju foi citada por 4 pessoas, também existindo produção de coco, manga,
melancia, e banana. Note-se que há agricultores que plantam dois ou mais tipos de alimentos.
Números similares aparecem em relação aos alimentos consumidos pelos 141
entrevistados, e que são produzidos na propriedade, com o feijão em primeiro lugar, citado
por 131 pessoas, ou 92,9% dos entrevistados. Logo em seguida aparece o milho, com 102
citações, ou 72,3%; seguido da farinha, com 78, ou 55,3%; do caju, 43, ou 30,5%; da mandioca,
39, ou 27,7%; e do coco, com 35, ou 24,8%.
As respostas positivas em relação à comercialização da produção foram de 58
entrevistados, ou seja, 44,6% do total de produtores. Destes, a maior parte, 48,3%, ou 28
pessoas comercializam a castanha do caju; 43,1%, ou 25, o coco; e 13, ou 22,4%, vendem
farinha.
Sistemas de Produção
Sobre o sistema produtivo utilizado em suas terras, dos 114 agricultores que
responderam, 91, ou 80,5% afirmaram utilizar o sistema convencional; 10 ou 8,8% afirmaram
evitar agrotóxicos; 9 ou 8% afirmaram utilizar sistema orgânico; 2, ou 1,8% utilizam o sistema
misto; e 2 ou 1,8% afirmou utilizar sistema agroecológico; e 2 ou 1,8% o arado.
Com essas considerações, podemos perceber que a maioria dos agricultores não tem
conhecimento sobre técnicas de produção orgânicas e agroecológicas. Foi considerada para a
análise das questões referentes ao sistema de produção, a imprecisão das respostas dos
agricultores, que não tem acesso a acompanhamento técnico, ou que este acompanhamento
não seja voltado para práticas agrícolas sustentáveis.
Quanto às praticas de manejo utilizadas pelos agricultores e familiares, dos 112 que
responderam, 82, ou 73,2% apontaram como sendo a queimada a mais usual. Logo após
aparecem o arado, com 34 ou 30,3%, e o quintal produtivo, com 26 ou 23,2%. Também foram
citados os defensivos naturais, biofertilizantes, compostagem e arado manual.
Aproveitamento do Pedúnculo de Caju
No município de Acaraú, todas as comunidades visitadas possuem cajueiros. Quando a
pergunta é dirigida à própria terra do agricultor(a), o número é similar: 113 entrevistados, de
139, ou 81,3%, afirmam ter cajueiros em sua propriedade.
Quanto ao aproveitamento comercial do pedúnculo nessas comunidades, nenhum
agricultor afirmou vender mais de 75% do caju in natura produzido em sua propriedade. A
maioria, 75,9%, ou 85 pessoas, não comercializa nada do caju produzido em suas terras; e 12,
ou 10,7% vendem apenas 5%, demonstrando o enorme potencial e desperdício do pedúnculo
no município.
28
Em um universo de 89 pessoas , a maior parte dos que não comercializam o caju in
natura, acaba o desperdiçando, ou seja, 69, ou 77,5% dos entrevistados. Outra parte, 29,2%,
processa novos produtos; e 19,1% usa para consumo próprio. Apenas 5 utilizam o caju que não
é vendido para alimentação de animais. Nesse quesito era possível mais de uma resposta,
como o exemplo de alguém que processa uma parte e desperdiça a outra, ou, usa para
consumo próprio e para alimento animal.
A porcentagem de caju que é processada se destina, em sua maioria, para a fabricação
de suco de caju, mais precisamente 68,7%, ou 57 entrevistados; seguida pela fabricação do
doce de caju em calda, por 32 ou 38,5%; doce de caju, por 23, ou 27,7%; e 17 ou 20,4% para
cajuína. Entre os produtos que geram mais resultado e tem mais retorno estão o doce de caju,
a cajuína, e o suco.
Outra informação relevante para o projeto é o fato de que 75,4%, ou 98 de 130
entrevistados, dizem ter conhecimento de alguma localidade (sítio, fazenda, terreno público,
etc.) de sua região onde haja desperdício de caju. Assim, percebe-se um excelente potencial
para o aproveitamento do caju, que não é usado, nos cursos do projeto, e futuramente em
alguma cooperativa que seja criada pela comunidade.
Organização Comunitária
O município de Acaraú possui um grande número de grupos e associações, para os
mais diferentes fins. A organização das comunidades é vasta e abrangente, com grande
possibilidade de formação de novas associações e cooperativas em torno das propostas do
projeto CAJUS.
Quando perguntados se participavam de alguma organização comunitária, 59%, ou 86
pessoas, responderam afirmativamente, sendo a grande maioria, de alguma associação. Em
relação a grupos produtivos, 46, ou 34% disseram que tem algum em sua comunidade. Foram
citados grupos produtivos de rendeiras, de artesãs, de criadoras de galinha caipira, entre
outros. Nota-se que diferente de outros municípios, Acaraú não tem uma grande presença de
grupos produtivos, e não foi detectado nenhum de processamento de caju.
Em relação à participação das entrevistadas em grupos exclusivamente femininos, 20,
do total de 116, afirmam participar de algum, entre grupos de mulheres, rendeiras,
catequistas, e de bolo. Sobre organização jovem, 58 entrevistados, ou 40,3% fazem parte, tem
filhos, ou conhecem alguém que participa de algum grupo ou movimento específico, entre
pró-jovem, grupos de jovens, grupos religiosos de jovens, etc. Apesar de apresentar um bom
número na participação em grupos de jovens, apenas 4 pessoas da pesquisa se apresentaram
como liderança jovem.
Potencial para o Artesanato
29
O artesanato foi citado nessa pesquisa por 20 entrevistados como a principal
ocupação, e por 57 como a principal ocupação secundária, resultando em um excelente
potencial de geração de emprego e renda. Além disso, quando são questionados se tem
conhecimento de artesanato feito pela família ou comunidade, 122, ou 82%, responderam que
sim. As artes fabricadas são as mais variadas, como saias, redes, e crochê, vassouras, vasos de
flores, luminárias etc. As matérias primas, por conseqüência, também são as mais variadas,
como palha, linha, papelão, e espinhos de mandacaru.
Quanto ao local de venda dos produtos, a maioria, das respostas, ou 49 das 116
respostas, afirmou vender os produtos na própria comunidade, enquanto 33, ou 28,5%
vendem para atravessadores, e 29, ou 25%, não tem local certo para a venda. Outros 24, ou
20,7% têm a feira, como principal local de venda. É interessante observar a figura do
atravessador muito presente nas comunidades desse município, apontando para uma
necessidade de melhor organização para a venda da produção.
Potencial Para o Ecoturismo Comunitário
Em Acaraú, 81 pessoas das 113 que responderam esse quesito, ou seja, 71,7% do total
da amostra, não sabem ou nunca ouviram falar de ecoturismo comunitário ou dos benefícios
que eles trariam para a comunidade. Quanto ao potencial turístico da comunidade, 74
entrevistados de 138, ou 60,9% acham pouco ou nenhum, e 54, ou 39,1% crêem ser muito
grande ou relevante; e 82, ou cerca de 60% souberam apontar belezas naturais, entre praias,
lagoas, dunas, morros, açude, manguezais, coqueirais, trilhas, entre outras.
Também há um equilíbrio nas respostas, agora em relação à quantidade de visitas na
comunidade: dos 138, 60, ou 44%, afirmam que há o tempo todo ou muitas; contra 56%, que
dizem receber poucas ou nenhuma. Ainda, segundo 67,3%, quando vem à comunidade, os
visitantes se hospedam na casa de alguém, um bom sinal para a prática do Ecoturismo
Comunitário.
Percepção e Práticas Ambientais
Apenas 29 entrevistados, ou 19,5% da amostra, afirmaram existir área de preservação
em sua comunidade, entre APAs, áreas de mangue, lagoas, e mata nativa.
Quanto à coleta de lixo, a maioria, 60,9%, ou 89 pessoas, afirmam queimar seus
resíduos, 54, ou 39,1% enterram. A coleta pela prefeitura atinge apenas 12,3% dos
entrevistados. É importante salientar que neste item poderiam ser dadas mais de uma
resposta. Entre os 97 que usam agrotóxicos, 41,2% afirmam enterrar as embalagens, 38,1% as
queimam, 32% simplesmente jogam fora, e apenas 5, ou 5,2% lava e devolve.
Em relação ao saneamento básico, 88,3% relatam usar fossa comum, 15, ou 11,1%
afirmam não possuir fossa ou ter esgoto a céu aberto, e apenas uma pessoa tem esgoto ligado
ao sistema de saneamento do município. Ao responder como é o manejo do esgoto na
30
comunidade, das 97 respostas, 86 ou 88,6% afirmam não haver sistema de tratamento de
esgoto.
Nota-se a grande relevância de repasse de conhecimentos de ecologia e
sustentabilidade para essas comunidades, visto que a maioria das pessoas usam a práticas
antigas e perigosas às pessoas e ao meio ambiente da região, como a queima do lixo e o
descuido e despreparo com embalagens tóxicas.
5.2. BELA CRUZ
Identificação
O Município de Bela Cruz tem a extensão de 841,72km2 e uma população de 30.471
habitantes. Situa-se a uma distância de 202 km da capital, Fortaleza, com localização de 3º 03’
02’’ de longitude, 40º 10’ 04’’ de latitude, e a 9m do nível do mar. O município tem fronteira
ao norte com Cruz e Jijoca de Jericoacoara, ao sul com Marco, a leste com Marco e Acaraú, e a
oeste com Camocim, Granja e Marco.
Bela Cruz tem o PIB de 77,163 milhões de reais, sendo R$ 2.610 per capita, com 70,1%
dessa renda advinda do setor de Serviços. O IDH do município é o 155º no ranking estadual,
com o valor de 0,595. A maior parte dos empregos formais, 89,4%, está na administração
pública, com 66,2% destes sendo ocupados por mulheres.
É formada pelos distritos de Bela Cruz e Prata. Apresenta em seu território Complexo
Vegetacional da Zona Litorânea e Floresta Mista Dicotillo-Palmácea. Pertence à Bacia
Hidrográfica do Acaraú e Coreaú. Possui lagoas, como a do Mato, do Grosso e Santa Cruz; além
da Barragem de Araticum e dos açudes do Prata e do cajueirinho.
No Município foram visitadas as comunidades de Varjota, Pedro Passos, Mil Passos,
Ibiratanha, Camará, Aroeira, São Gonçalo, e Quatro Bocas, notando-se potencial das mesmas
para as atividades do projeto.
Aspectos Socioeconômicos
No município de Bela Cruz foram realizadas 95 entrevistas, sendo todas consideradas
válidas pela equipe. É importante destacar que os questionários foram feitos
preferencialmente com a população feminina das áreas rurais, público alvo do projeto, num
total de 71 mulheres, ou 74,7% da amostra.
A principal faixa etária pesquisada tem entre 30 a 59 anos, ou 58,5%, totalizando 55
adultos. Outros 27,7%, ou 26 entrevistados, são jovens entre 18 e 29 anos, resultando uma
faixa etária média de 40,8 anos no total dos pesquisados.
31
Podemos destacar o fato de que, a grande maioria dos entrevistados, 75, dos 94 que
responderam esse quesito, ou seja, 80% afirmam morar em casa própria, o que pode facilitar o
recolhimento do caju, e de outras frutas, para o processamento. Novamente, o grande número
de pessoas que moram numa mesma residência, 4,2, em média, chegando até 10, pode
influenciar de modo positivo no alcance do projeto, já que mais pessoas vão se beneficiar.
Para a questão da comunicação do projeto, podemos destacar que, em um universo
de 94 residências, 80 pessoas, ou 85,1% possuem televisão em sua casa, 54, ou 57,4%
possuem rádio, e 40, ou 42,6% tem celular. Ainda, apenas 3, ou 3,2%, dos entrevistados
possuem computador, e 93,7% não possui qualquer tipo de acesso à internet, impossibilitando
qualquer uso desse mídia nesse município.
Formação
A escolaridade da amostra populacional selecionada apontou que dos 95 entrevistados
que responderam sobre sua formação, a maioria, 57,9%, ou 55 pessoas, possuem o Ensino
Fundamental incompleto, enquanto 14, ou 14,7% não têm qualquer escolaridade, e 10, ou
10,5% tem o Ensino Médio completo. É importante destacar que houve, na amostra, 2 pessoas
com Ensino Superior incompleto, e 2 com Ensino Superior incompleto.
Importante salientar que 72,6% dos participantes não chegaram ao Ensino Médio, e
que, entre as mulheres, público alvo do projeto, a grande maioria, de 63,4%, não completou o
Ensino Fundamental, o que aponta fortemente para a necessidade de uma didática com
linguagem simples e direta, baseada nos conhecimentos locais e pessoais do grupo.
Levou-se em conta, também, além da formação escolar, a participação em cursos,
considerando-os como uma formação complementar ao ensino convencional, com foco em
áreas temáticas mais específicas, possibilitando o melhor desenvolvimento de atividades
produtivas, e conseqüentemente da geração de renda, foco de análise do presente estudo.
Assim, no município de Bela Cruz, 32 dos 95 entrevistados, ou 33,7% já participaram
de algum curso relacionado aos objetivos do projeto. Assim, o projeto CAJUS se apresenta
como uma oportunidade, para a maioria da amostra, de ter alguma atividade produtiva local,
que possa gerar mais renda para todos os envolvidos.
Ocupação e Renda
Como mais relevantes para o estudo, foram consideradas apenas as ocupações
principais e secundárias dos entrevistados. É importante frisar que as fontes de renda foram
destacadas do quesito ocupação, pois podem advir de aposentadoria, ou programas de
governo, como o Bolsa Família.
A maioria dos entrevistados, 67, apontou como sua ocupação principal a agricultura,
correspondendo a 70,5% das respostas, acompanhados pelos 16, ou 16,9% que afirmaram
trabalhar com artesanato, além da presença de 3 pessoas que tem como principal ocupação a
32
cajucultura. As ocupações secundárias são citadas em 71 questionários, ou 74,7%. O
artesanato, a cajucultura, e a agricultura, têm grande relevância nas ocupações secundárias,
sendo citadas, respectivamente, em 40,8%, 29,6%, e 22,5% das respostas.
Como principais fontes de renda, a agricultura se destaca novamente, sendo citada em
88, ou 92,6% das respostas, seguida pelo Bolsa Família, com 60%. O artesanato tem grande
relevância, pois contribui com os ganhos de 35,8% da amostra. Em Bela Cruz, a castanha de
caju, com 25,3%, e outros produtos do caju, com 9,5%, também são importantes na receita
familiar.
As mulheres da amostra têm como principal ocupação, a agricultura, com 52, ou 73,2%
delas envolvidas nessa atividade. Logo em seguida, em termos de relevância, está o
artesanato, ocupando 22,5% das entrevistadas. Entre o universo feminino da amostra, 81,7%
tem ocupações secundárias, ou seja, 58 das 71 mulheres, dentre as quais, 46,5% estão no
artesanato, 24,1% na agricultura, e 22,4% na cajucultura.
Sobre a renda dos entrevistados, podemos ainda afirmar que, 62, ou 65,3%, vivem
com menos de um salário mínimo, e 30, ou 31,6% recebem no máximo dois salários. Assim,
projetos de geração de renda e de melhoria de qualidade de vida, como o CAJUS, são
extremamente importantes para a população local.
Agricultura Familiar
A maioria dos agricultores e agricultoras, 43, ou 46,7% dos 92 que responderam essa
questão, afirma que a propriedade é sua ou de esposo ou esposa; 34 ou 37% afirmam que a
propriedade pertence a familiares; 15 ou 16,3% tem outros tipos de relação com a
propriedade, entre aluguel, arrendamento, “mora de favor”, entre outras.
Sobre a produção familiar, dos 35 entrevistados que responderam se tem
acompanhamento da produção em sua propriedade, apenas 4, ou 11,5% são assistidos por
alguma instituição, como ONGs, Sindicatos, Governo, etc. Assim, a grande maioria dos
agricultores pesquisados, ou seja, 88,5% não recebem qualquer tipo de assistência técnica à
sua produção.
Em relação à alimentação, a amostra tem um gasto mensal médio de R$ 242,42, com
os principais gastos em arroz, açúcar, carne, café e frango, respectivamente. A maioria das 89
respostas, 54, ou 60,7% remetem à compra de 75% da alimentação. Compram metade dos
alimentos consumidos pela família, 22,5% das pessoas, e outros 9%, ou 8 entrevistados,
compram toda a comida que consomem. Apenas 7 pessoas, ou 6,8% têm uma produção que
atenda mais de 75% de sua necessidade alimentícia.
Produtos da Agricultura Familiar
33
Apesar de não satisfazer totalmente suas necessidades diárias, a produção da
agricultura familiar é vasta e diversificada com produção para a comercialização e para o
consumo familiar.
As culturas mais produzidas pelos 92 agricultores que responderam esse quesito são
feijão, por 91 ou 98,9% dos agricultores; milho por 90 ou 97,8%; mandioca por 83 ou 90,2%;
macaxeira por 61 ou 66,3%; e hortaliças por 24 ou 26,1%. Note-se que há agricultores que
plantam dois ou mais tipos de alimentos.
Quanto aos alimentos mais consumidos pelos entrevistados que são produzidos na
propriedade, temos números semelhantes, com o feijão em primeiro lugar, citado por 89 das
90 respostas, ou seja, 87,8% dos entrevistados. Logo em seguida aparece o milho, com 75
citações, ou 83,3%; seguido da farinha, com 57, ou 63,3%, e mandioca com 26, ou seja, 28,9%.
O caju, que não é citado como uma das culturas mais produzidas, tem destaque em relação ao
consumo familiar, sendo citado por 46 pessoas, ou 51,1%.
Quando se trata da comercialização da produção, 55 pessoas, ou seja, 58% do total de
95 produtores, afirmam vender seus excedentes. Destes, a grande maioria, 41, ou 74,5%
comercializa a castanha de caju. Outros 15% comercializam a farinha. Também há, por poucos
produtores, alguma venda de hortaliças, melancia e milho.
Pode-se perceber, nessa pesquisa, a interessante relação dos entrevistados com o
caju. Ele não aparece como principal produto da agricultura familiar, porém, é amplamente
consumido pela família, com a sua castanha sendo forte moeda comercial.
Sistemas De Produção
Sobre o sistema produtivo utilizado em suas terras, dos 91 entrevistados que
responderam, 65 ou 71,4% afirmaram utilizar o sistema convencional; 21 ou 23,1% afirmaram
evitar agrotóxicos; 6 ou 6,6% afirmaram utilizar sistema orgânico; e apenas 1 ou 1,1% afirmou
utilizar sistema agroecológico. Nenhum afirmou utilizar sistema misto de produção ou algum
outros sistema.
Com essas considerações, podemos perceber que a maioria dos agricultores não tem
conhecimento sobre técnicas de produção orgânicas e agroecológica. Foi considerada para a
análise das questões referentes ao sistema de produção, a imprecisão das respostas dos
agricultores, que, na maioria dos casos, não tem acesso a acompanhamento técnico, ou que
este acompanhamento não seja voltado para práticas agrícolas sustentáveis. Tomamos como
base de orientação o cruzamento das respostas e levantamento dos agricultores que adotam
um sistema produtivo baseado em praticas sustentáveis. Eliminando assim questões
contraditórias para visualizar os sistemas e práticas produtivas utilizados pelos entrevistados.
Quanto às praticas de manejo utilizadas pelos agricultores e familiares, dos 90 que
responderam, 65, ou 72,2% apontaram como sendo a queimada a mais usual. Logo após
aparece a capina seletiva, com 18 ou 20%, o arado, com 11 ou 12,2%, e o quintal produtivo,
34
com 9, ou seja, 10% das respostas. Também foram citados o sistema agroflorestal, a
compostagem, e os defensivos naturais.
Aproveitamento do Pedúnculo de Caju
No município de Bela Cruz, todas as comunidades visitadas possuem cajueiros.
Quando a pergunta é dirigida à própria terra do agricultor(a), 86 entrevistados, ou 90,5%,
afirmam ter cajueiros em sua propriedade.
Quanto ao aproveitamento comercial do pedúnculo nessas comunidades, nenhum
agricultor afirmou vender 100% ou 75% do caju in natura produzido em sua propriedade. A
maioria, 57%, ou 49 pessoas, dos 86 que tem cajueiros, não comercializa nada do caju
produzido em suas terras, e 25, ou 29% vendem menos de 50%.
A maior parte dos entrevistados, 58, ou 67,% afirma que há desperdício do caju in
natura que não é comercializado. Outras 15 pessoas, ou 17,5%, diz processar o caju em novos
produtos; 6,ou 7% consomem; e 2 utilizam o que sobra para ração animal.
A porcentagem de caju que é processada se destina, em sua maioria, para a fabricação
do suco, por 76,4%, ou 55 das 72 respostas; seguida pela fabricação do doce em calda, por 46
ou 63,9%; cajuína, por 33, ou 45,8%; e 17 ou 23,6% para o doce de caju em massa. Para a
maioria, os produtos que geram maior resultado são o doce de caju e a cajuína.
Outra informação relevante para o projeto é o fato de que 80,9%, ou 76 dos 95
entrevistados, dizem ter conhecimento de alguma localidade (sítio, fazenda, terreno público,
etc.) de sua região onde haja desperdício de caju. Assim, percebe-se um excelente potencial
para o aproveitamento do caju, que não é usado, nos cursos do projeto, e futuramente em
alguma cooperativa ou grupo produtivo que sejam criados pela comunidade.
Organização Comunitária
A amostra das comunidades selecionada para o questionário no município de Bela
Cruz possui variados grupos e associações para os mais diferentes fins. Porém esse número
ainda é pequeno, o que possibilita a formação de novas associações e cooperativas em torno
das propostas do projeto CAJUS.
Quando perguntados se participavam de alguma organização comunitária, 40%, ou 38
pessoas, responderam afirmativamente. Em relação a grupos produtivos, apenas 9 pessoas, ou
9,5% disseram que tem algum em sua comunidade. Foram citados Associação de Apicultores,
Grupo de Limpeza de Castanha, e Associação de Imbiratanha. Note-se que não há uma
presença significativa de grupos produtivos, e nenhuma de processamento de caju, revelando
bastante espaço para os objetivos do projeto.
Em relação à participação das entrevistadas em grupos exclusivamente femininos,
apenas duas mulheres, do total de 71 entrevistadas, participam de algum, sendo o Grupo da
35
Mãe Rainha, e o Terço das Mulheres. Sobre organização jovem, 32 entrevistados, ou 33,7%
fazem parte, tem filhos, ou conhece alguém que participa de algum grupo ou movimento
específico, entre pró-jovem, grupos de jovens, grupos religiosos de jovens, etc. Ainda, 6
entrevistados se consideram liderança jovem local, e 51 conhecem alguma liderança jovem na
comunidade.
Potencial Para o Artesanato
O artesanato foi citado nessa pesquisa por 40,8% das pessoas que tem ocupação
secundária, sendo a principal ocupação de praticamente 17% do total da amostra, mostrando
a força que essa atividade tem nessas comunidades, como geração de emprego e renda. Além
disso, quando são questionados se tem conhecimento de artesanato feito pela família ou
comunidade, 88, ou 92,6%, responderam que sim. As artes fabricadas são as mais diversas,
sendo manufaturadas desde redes, crochê e varandas, até bijuterias, bonecas e ímã de
geladeira. As matérias primas, por conseqüência, também são variadas, como tintas, verniz,
retalho de pano, garrafas pet, linhas, folhas de jornal, espinhos de mandacaru, e palha de
carnaúba, entre outros.
Quanto ao local de venda dos produtos, a maioria, 62,5%, ou 55 das 88 respostas,
afirmou não ter lugar certo para a venda dos produtos, sendo que 29, ou 52,7% destes, dizem
se valer de atravessadores para escoar a produção. Outros 9, ou 10,2% vendem seus produtos
na própria comunidade, não havendo um número relevante de pessoas que vendam seus
produtos em feira, por programa do governo, instituição parceira, ou loja parceira. Assim,
apesar da grande relevância do artesanato na ocupação e na renda das comunidades visitadas,
não existe um nível de organização satisfatório para essas atividades.
Potencial para o Ecoturismo Comunitário
Quanto ao conhecimento do termo ecoturismo, 44 pessoas, ou 46,3% não tem
qualquer conhecimento sobre o que seja ecoturismo, e 20 pessoas não responderam a
questão. Segundo os entrevistados no município de Bela Cruz, suas comunidades não
apresentam potencial turístico relevante, já que 30, ou 31,6% disseram ser pouco, e 65, ou
68,4% afirmaram não haver nenhum potencial, ou seja, ninguém acredita que o turismo na sua
comunidade seja muito grande ou relevante. Mesmo assim, 20 deles, ou cerca de 20%,
souberam apontar belezas naturais, como o Açude dos Pubas, Açude do Edimar, Trilhas,
pássaros, e cajueiros.
Para a maioria, ou seja, 67% a comunidade recebe poucas visitas; e para 19 pessoas,
ou 20,2%, não há qualquer visita. Ainda, segundo 80% da amostra, os visitantes se hospedam
na casa de alguém, quando vão à comunidade.
Percepção e Práticas Ambientais
36
Apenas 5 entrevistados, ou 5,2%, afirmaram existir área de preservação em sua
comunidade, sendo citadas a “mata vizinha em São Gonçalo” e “dentro da propriedade
gerenciada pela própria família”.
Quanto à coleta de lixo, a maioria, 43,2%, ou 41 pessoas, afirmam queimar seus
resíduos, e 32, ou 33,7% dizem que apenas “jogam fora”. A coleta pela prefeitura atinge 30%
dos entrevistados. Note-se que neste item poderiam ser dadas mais de uma resposta.
Verificou-se que 40 agricultores, ou seja, 44,2% dos pesquisados, usam agrotóxicos.
Desses, 26, ou 75% afirmam jogar embalagens fora, não especificando onde. Outros 10, ou
25% as queimam, e quatro, ou 10% enterram. Nenhum entrevistado lava e devolve as
embalagens.
Em relação ao manejo do esgoto, 87,2% relatam usar fossa comum, apenas seis
pessoas têm esgoto ligado ao sistema de saneamento do município, e seis pessoas não têm
fossa ou tem “esgoto a céu aberto”. Ao responder como é o manejo do esgoto na comunidade,
69, ou 89,6% das 77 respostas, afirmam não haver sistema de tratamento de esgoto.
Percebe-se a importância do aprendizado de novas teorias e práticas, ecológicas e
sustentáveis para essas comunidades, já que elas se utilizam de práticas antigas e perigosas às
pessoas e ao meio ambiente da região, como a queima do lixo e o descuido e despreparo com
embalagens tóxicas.
5.3. CRUZ
Identificação
O Município de Cruz tem a extensão de 334,83km2 e uma população de 22.230
habitantes. Situa-se a uma distância de 209 km da capital, Fortaleza, com localização de 2º 55’
04’’’ de longitude, 40º 10’ 18’’ de latitude, e a 18m do nível do mar. O município tem fronteira
ao norte com Acaraú e Oceano Atlântico, ao sul com Bela Cruz, a leste com Acaraú, e a oeste
com Jijoca de Jericoacoara.
Cruz tem o PIB de 58,739 milhões de reais, sendo R$ 2.653 per capita, com 74,6%
dessa renda advinda do setor de Serviços. O IDH do município é o 61º no ranking estadual,
com o valor de 0,643. A maior parte dos empregos formais, 87,65%, está na administração
pública, com 67% destes sendo ocupados por mulheres.
É formada pelos distritos de Cruz e Caiçara. Apresenta em seu território Complexo
Vegetacional da Zona Litorânea, Floresta Mista Dicotillo-Palmácea e Floresta Perenifólia
Paludosa Marítima. Pertence à Bacia Hidrográfica do Acaraú e Coreaú. Possui lagoas, como a
do Mato, do Grosso e Santa Cruz; além da Barragem de Araticum e dos açudes do Prata e do
Cajueirinho.
37
No Município foram visitadas as comunidades de Canema, Cajueirinho, Preá, Malvinas,
Alto da Brasília, Ginásio, Córrego dos Anas, Monteiros, Porteiras, Lagoa Velha, Lagoa Salgada, e
Pisunha, notando-se potencial das mesmas para as atividades do projeto.
Aspectos Socioeconômicos
No município de Cruz foram realizadas 55 entrevistas, sendo todas consideradas
válidas pela equipe. É importante destacar que os questionários foram feitos
preferencialmente com a população feminina das áreas rurais, o principal público alvo do
projeto, num total de 45 mulheres, ou 81,8% da amostra.
A principal faixa etária pesquisada tem entre 18 a 29 anos, ou aproximadamente
53,7%, totalizando 29 jovens. Outros 27,7%, ou 15 entrevistados, tem mais de 43 anos,
resultando uma faixa etária média de 34,1 anos no total dos pesquisados. Dessa forma, nota-
se que o público atingido pelo projeto em Cruz, é essencialmente jovem, indicando bom
potencial para cursos de Liderança Jovem, e afins.
Podemos destacar o fato de que, a grande maioria dos entrevistados, 40, ou 81,8%
afirmam morar em casa própria, facilitando o recolhimento do caju, e outras frutas, para o
processamento. Outro destaque, que também influenciará o número de pessoas atingidas e
beneficiadas pelo projeto, é o elevado número de pessoas por residência, resultando numa
média de 4,1 moradores, com até 10 familiares em uma mesma casa, que tem em média 5,5
cômodos.
Para a questão da comunicação do projeto, é necessário destacar que, em um
universo de 55 residências, 36 pessoas, ou 65,5% possuem televisão em sua casa, 33, ou 60%
possuem rádio, e 22, ou 40% têm celulares. Apesar de apenas 9, ou 16,4%, dos entrevistados
possuírem computador, 24, ou 43,6% tem acesso à internet. Assim, percebe-se a influência da
internet nesta amostra, com possibilidade de se trabalhar essa mídia.
Formação
A escolaridade da amostra populacional selecionada apontou que dos 55 entrevistados
que responderam, apenas 3, ou 5,6% não possuem qualquer tipo de escolaridade, 19, ou
35,2% possuem o Ensino Fundamental Incompleto, 6, ou 11,1% possuem o Ensino
Fundamental Completo, 3, ou 5,6% possuem o Ensino Médio Incompleto, 23, ou 42,6%
possuem o Ensino Médio Completo, e somente um possui Ensino Superior Completo. É
importante destacar que não houve, na amostra, pessoas com ensino superior incompleto ou
com outros níveis de formação. Entre as mulheres, 19, ou 42,2% tem o ensino fundamental
incompleto, e outras 16, ou 35,5% tem o Ensino Médio completo.
Assim, apesar de não haver um número significativo de pessoas sem alfabetização, e
uma presença significativa de entrevistados que terminaram o ensino médio, podemos afirmar
que metade dos entrevistados não passou do Ensino Fundamental. Tal fato indica a
38
necessidade de uma metodologia com linguagem simples e direta, com foco na cultura de
aprendizagem local, porém com metodologia dinâmica e de conteúdo, para não causar
desinteresse em um grupo tão heterogêneo.
Considerou-se, também, além da formação escolar, a participação em cursos como
uma formação complementar ao ensino convencional. Formações que possibilitam o melhor
desenvolvimento de atividades produtivas, e conseqüentemente da geração de renda, que é
foco de análise do presente estudo.
Assim, percebe-se a excelente participação dessa amostra em cursos desse tipo, já que
47 pessoas, ou 85,5%, fizeram alguma atividade ligada ao objetivo do projeto, com grande
presença feminina, em um total de 40 mulheres, ou praticamente 90%. Outro ponto a ser
destacado é relativo ao tipo de matéria abordada, já que ninguém participou de atividades de
agroecologia e gênero, e menos de 10% participaram de associativismo, processamento de
frutas, e cooperativismo; enquanto outros cursos tiveram grande participação, como o de
artesanato, 56,3%, de juventude, 31,3%, de meio ambiente, 29,2%, e de turismo, com 20,8%.
O projeto CAJUS deverá encontrar mais facilidade em temas como juventude,
enquanto deverá fortalecer os temas principais do projeto, como processamento do caju, já
que o grupo selecionado não possui um bom embasamento sobre esses assuntos.
Ocupação e Renda
Como mais relevantes para o estudo, foram consideradas apenas as ocupações
principais e secundárias dos entrevistados. É importante frisar que as fontes de renda foram
destacadas do quesito ocupação, pois podem advir de aposentadoria, ou programas de
governo, como o Bolsa Família.
A maior parte dos entrevistados, 17, apontou como sua ocupação principal a
agricultura, correspondendo a 31% das respostas, acompanhados pelos 16,4% que afirmaram
ser autônomos, e 9,1% de artesãs. As ocupações secundárias são citadas em 36 questionários,
ou 65,5% do total. O artesanato tem grande destaque, sendo a segunda atividade de 55,6%
das pessoas que tem mais de uma ocupação. A agricultura, e a pesca, têm um leve destaque
nas ocupações secundárias, somando 22,2 % das respostas. É necessário dizer que nesse item
era possível relatar mais de uma ocupação por pessoa.
Como principais fontes de renda, a agricultura tem destaque, sendo citada em 51% das
respostas, seguida pelo artesanato, com 38,2%, ou 21 respostas. Outras rendas provêm do
serviço público, com 22,2%, da aposentadoria, com 18,5%. É ainda interessante o
aparecimento da pesca, na renda de 21,8% dos entrevistados nessas comunidades, e a pouca
participação do bolsa família e da aposentadoria, que, juntas, são citadas apenas por 8, ou
14,5%, da amostra.
Das 45 mulheres que participaram da pesquisa, 13, ou 28,9%, têm como ocupação
principal, a agricultura, e 7, ou 15,5%, se dizem autônomas. A maioria das mulheres, 75,5%,
tem ocupação secundária, sendo que, 58,8%, têm essas atividades no artesanato.
39
Sobre a renda dos entrevistados, podemos ainda afirmar que todos, ou 100%,
possuem renda familiar de menos de 2 (dois) salários mínimos. Destes, 39, ou 70,1%, têm a
receita familiar abaixo de 1 (um) salário. Assim, é notória a importância de projetos de geração
de renda e melhoria de qualidade de vida, como o CAJUS, para a população local.
Agricultura Familiar
A maioria dos agricultores e agricultoras, 28, dos 49 que responderam essa questão,
afirma que a propriedade é sua ou de esposo ou esposa; 18 ou 36,7% afirmam que a
propriedade pertence a familiares; 3 ou 6,1% tem outros tipos de relação com a propriedade,
entre áreas de assentamento, arrendamento, da comunidade, entre outras, e 8,2%, ou 4
pessoas vivem de aluguel.
Sobre a produção familiar, dos 29 entrevistados que responderam se tem
acompanhamento da produção em sua propriedade, apenas 7, ou 24,13% são assistidos por
alguma instituição, como ONGs, Sindicatos, Governo, etc. É reafirmar que, dessa forma, a
grande maioria dos agricultores pesquisados, ou seja, 75,87% não recebem qualquer tipo de
assistência técnica à sua produção.
Em relação à alimentação, a amostra tem um gasto mensal médio de R$ 321,88, com
os principais gastos em arroz, com 25,5% e frango, com 23,5%. A maioria das 49 respostas, 26,
ou 53,1% remetem à compra de 75% da alimentação. Compram todos os alimentos
consumidos pela família, 22,4% das pessoas, e outros 20,4%, ou 10 entrevistados, compram
metade da comida que consomem. Percebe-se que apenas 2 pessoas, ou 4% têm uma
produção que atenda mais da metade de sua necessidade alimentícia.
Produtos da Agricultura Familiar
Apesar de não satisfazer totalmente suas necessidades diárias, a produção da
agricultura familiar é vasta e diversificada com produção para a comercialização e para o
consumo familiar.
As culturas mais produzidas pelos 38 agricultores que responderam esse quesito são
feijão, por 33 ou 86,8% dos agricultores; milho por 32 ou 84,2%; mandioca por 27 ou 71,1%;
macaxeira por 21 ou 55,3%; e hortaliças por 15 ou 39,5%. Note-se que há agricultores que
plantam dois ou mais tipos de alimentos.
Os alimentos consumidos pelos entrevistados, que são produzidos na propriedade, são
o feijão, citado por 43 pessoas, ou 87,8% das 35 respostas; a farinha, com 23 citações, ou
65,7%; e o milho, com 19, ou 54,3%. O caju, seus subprodutos, e a castanha não foram citados
por ninguém nesse item.
Quanto à comercialização da produção familiar, 20, ou 36,4% afirmaram vender seus
excedentes. Destes, sete, ou 35%, comercializam a castanha de caju; quatro, ou 20%, a farinha;
e três, ou 15%, o artesanato. Somente uma das pessoas vende produtos processados do caju.
40
Esse é um dos municípios que menos citou o caju. Seja no item “culturas mais
produzidas”, nos “alimentos mais consumidos”, ou na “produção comercializada”, o pedúnculo
não aparece de forma relevante, sendo categoricamente ignorado pelos entrevistados.
Sistemas de Produção
Sobre o sistema produtivo utilizado em suas terras, das 37 respostas, 20, ou 54% se
referiam ao sistema convencional, e apenas uma ao sistema agroecológico. Dentre esses
agricultores, grande parte, 43,2%, não sabem dizer qual o sistema produtivo que usam em
suas terras.
Com essas considerações, podemos perceber grande parte dos agricultores não tem
conhecimento sobre seu sistema produtivo, e a maioria deles, não conhece as técnicas de
produção orgânicas e agroecológica. Foi considerada para a análise das questões referentes
ao sistema de produção, a imprecisão das respostas dos agricultores, que não tem acesso a
acompanhamento técnico, ou que este acompanhamento não seja voltado para práticas
agrícolas sustentáveis.
Quanto às praticas de manejo utilizadas pelos agricultores e familiares, todas as 29
respostas, apontaram a capina seletiva como sendo a prática mais usual. Dois desses 29 se
utilizam também de defensivos naturais. Contrapondo a pesquisa em todos os outros
municípios, em Cruz, ninguém disse realizar queimadas. Porém, boas práticas como a
adubação verde, o sistema agroflorestal, e a utilização de biofertilizantes também foram
esquecidas. (conferir com o Paulo)
Aproveitamento do Pedúnculo de Caju
Em Cruz, somente nas comunidades de Lagoa Velha e Canema não foram detectados
cajueiros. Quanto à presença do caju em sua propriedade, 32 entrevistados, ou 58,2%
respondem afirmativamente; contra 23, ou 41,8%, que dizem não possuir cajueiros
propriedade.
Quanto ao aproveitamento comercial do pedúnculo nessas comunidades, apenas um
agricultor afirmou vender 100% do caju in natura produzido em sua propriedade. A maior
parte, 45,5%, ou 15 pessoas, comercializa metade do caju produzido em suas terras, e 9, ou
27,3% não vende nenhum caju que é produzido.
A maior parte do caju in natura que não é comercializado acaba virando ração animal,
porém, todos os entrevistados que disseram ter caju em suas terras fazem algum produto a
partir do pedúnculo. A porcentagem de caju que é processada se destina, em sua maioria, para
a fabricação do doce de caju em massa, por 90,6%, ou 29 entrevistados; seguida pela
fabricação de suco de caju, por 25 ou 78,1%; cajuína, por 21, ou 65,7%; e doce de caju em
calda, por 18 ou 56,2%. Para 22 pessoas, ou 68,8%, o doce de caju é o produto que gera mais
41
resultado. Outro produto com boas possibilidades é a cajuína, que foi citada em 10, ou 31,2%
das respostas.
É importante destacar que no município de Cruz o caju não foi citado de forma
relevante em praticamente nenhum dos quesitos que lhe são relativos, ou seja, ocupação
primária e secundária, renda familiar, culturas mais produzidas na propriedade, alimentos mais
consumidos, e excedente da produção vendido. Porém, o pedúnculo volta a ter destaque
quando se fala em processamento, já que todos que tem cajueiros processam pelo menos um
produto.
Organização Comunitária
O município de Cruz possui um grande número de grupos e associações, para os mais
diferentes fins. A organização das comunidades é vasta e abrangente, com grande
possibilidade de formação de novas associações e cooperativas em torno das propostas do
projeto CAJUS.
Quanto à participação em alguma organização comunitária, 71%, ou 39 pessoas,
pertencem a alguma associação, grupo de jovens, grupo de mulheres, grupo religioso, ou
grupo produtivo.
Em relação a grupos produtivos, apenas 13 pessoas, ou 23,6%, disseram que tem
algum em sua comunidade. Foram citados três grupos produtivos: de artesanato, de
pescadores, e das marisqueiras. Percebe-se que não há uma presença marcante de grupos
produtivos, principalmente de processamento de caju, proporcionando ainda bastante espaço
para os objetivos do projeto.
A participação das entrevistadas em grupos exclusivamente femininos é razoável, já
que praticamente um terço delas, ou seja, 13, do total de 45, afirmam participar de algum,
entre grupo de artesanato, de mães, e de marisqueiras. Sobre organização jovem, 4
entrevistados se consideram liderança jovem local, e 28 entrevistados, ou 51%, fazem parte,
tem filhos, ou conhece alguém que participa de algum grupo ou movimento específico, entre
pró-jovem, grupos de jovens, grupos religiosos de jovens, etc.
Potencial para o Artesanato
O artesanato foi citado nessa pesquisa por 9,1% das pessoas como a principal
ocupação, e por 55,6% como a principal ocupação secundária, denotando a importância dessa
atividade na de geração de emprego e renda da população local. Em Cruz, 51 entrevistados, ou
92,7% do total, ou trabalha diretamente com artesanato, ou tem conhecimento de alguém que
trabalhe em sua comunidade. As artes fabricadas são diversificadas, sendo produzidas redes,
crochê, varandas, abajur e cortina de conchas, cestos e bolsas de palhas, entre outras. As
matérias primas, utilizadas também são as mais variadas, como palha da carnaúba, linha, cipó,
sementes, lona, madeira, etc.
42
Quanto ao local de venda dos produtos, a maioria, 82,3%, ou 42 das 51 respostas,
afirmou vender seus produtos na própria comunidade, enquanto 17, ou 33,3%, vendem em
loja comunitária. Outros 14, ou 27,5% têm a feira, como local de venda. Nota-se um mercado
local movimentado, com muitos produtores, porém com consumo externo (fora da
comunidade) ainda insipiente.
Potencial para o Ecoturismo Comunitário
Todos os entrevistados no município de Cruz têm alguma idéia do que seja, ou já
ouviram falar, de Ecoturismo Comunitário. Quanto ao potencial turístico da comunidade, as
opiniões se dividem, já que 28, ou 50,9%, acham que é grande ou relevante, enquanto 27, ou
49,1% crêem que é pouco ou nenhum. Apesar disso, novamente todos apontaram as belezas
naturais da comunidade, como a praia do Preá, que fica ao lado de Jericoacoara, a famosa
Lagoa Azul, açudes, manguezais, e o próprio rio Acaraú.
Para 33,4% de 54 respostas, a quantidade de visitas à comunidade são muitas, ou
acontecem “o tempo todo”, e para 66,7% as visitas são poucas. Ainda, 83,6% dizem que os
visitantes se hospedam em pousadas ou hotéis, e 30,9% afirmam que as pessoas que chegam
de fora se hospedam na casa de alguém.
Percepção e Práticas Ambientais
Segundo 30 entrevistados, ou 54,5%, há área de preservação nas comunidades. S mais
citadas foram a da Praia do Preá, Serrote do Cajueirinho, e o Parque Nacional de Jericoacoara.
Quanto ao destino dado ao lixo, quase a totalidade, 94,5%, ou 52 pessoas, recebem o
serviço de coleta da prefeitura, e 8, ou 14,5%, afirmam separar e reciclar seus resíduos. Duas
pessoas dizem queimá-los e duas dizem jogá-lo fora. Apenas uma enterra seu lixo. É
importante salientar que neste item poderiam ser dadas mais de uma resposta.
Entre os 21 que usam agrotóxicos, 38,9% dizem jogar fora, porém não relatam onde.
Outros 3 afirmam lavar e devolver as embalagens, 2 as queimam, um enterra, e um não
respondeu o que faz com os recipientes.
Em relação ao manejo do esgoto, 48, ou 87,3%, relatam usar fossa comum, e apenas 3,
ou 5,5% têm a residência ligada ao sistema de tratamento do município. Ao responder como é
o manejo do esgoto na comunidade, dos 45 que souberam responder, 36, ou 80%, afirmam
não haver sistema de tratamento de esgoto em suas comunidades.
Apesar de, diferentemente de outros municípios, em Cruz, existirem práticas
sustentáveis, como a separação e reciclagem do lixo, o número de pessoas que tomam essas
atitudes é bem pequeno. Assim, serão importantes os cursos previstos no projeto, que
repassem teorias e práticas ecológicas e sustentáveis para essas comunidades.
43
5.4. ITAREMA
Identificação
O Município de Itarema tem a extensão de 720,66km2 e uma população de 37.222
habitantes. Situa-se a uma distância de 185 km da capital, Fortaleza, com localização de 2º 55'
13" de longitude, 39º 54' 54" de latitude, e a 20m de altitude. O município tem fronteira ao
norte com Acaraú e Oceano Atlântico, ao sul com Acaraú e Amontada, a leste com Amontada e
Oceano Atlântico, e a oeste com Acaraú.
Itarema tem o PIB de 154,15 milhões de reais, sendo R$ 4.495 per capita, com 45,1%
dessa renda advinda do setor de Serviços, 42% do setor Industrial, e 12,9% da Agropecuária. O
IDH do município é o 143º no ranking estadual, com o valor de 0,601. A maior parte dos
empregos formais, 60,4%, está na administração pública, com 70,1% destes sendo ocupados
por mulheres, seguida pela agropecuária, com 24%, e com 97,3% de participação dos homens.
É formada pelos distritos de Itarema, Almofala e Carvoeiro. Apresenta em seu
território Complexo Vegetacional da Zona Litorânea, Floresta Mista Dicotillo-Palmácea e
Floresta Perenifólia Paludosa Marítima, além da Caatinga Arbustiva Densa e Caaringa Arbustiva
Aberta. Pertence à Bacia Hidrográfica Litorânea. Seu litoral possui diversas praias, como a Praia
de Torrões, Praia da Enseada dos Patos, Praia do Morro, Farol de Itapajé (Praia do Farol) e a
mais conhecida, Praia de Almofala.
No Município foram visitadas as comunidades de Barro Vermelho, Pana de Baixo, Pau
Darco, Cajueiro Encarnado, Assentamento Lagoa dos Mineiros, Assentamento Mamacos,
Almofala, Assentamento Morro dos Pastos, e Patos, verificando-se o potencial das mesmas
para as atividades do projeto.
Aspectos Socioeconômicos
No município de Itarema foram realizados 140 questionários, sendo 139 considerados
válidos pela equipe. É importante destacar que as entrevistas foram feitas preferencialmente
com a população feminina das áreas rurais, público alvo do projeto, num total de 99 mulheres,
ou 71,2% da amostra.
A principal faixa etária pesquisada tem entre 30 a 60 anos, ou aproximadamente 70%
dos entrevistados, totalizando 93 pessoas adultas. Outros 23%, ou 32, são jovens entre 15 e 29
anos, resultando uma faixa etária média de 40,5 anos no total dos pesquisados.
Podemos destacar, em Itarema, como um fator relevante para o projeto, o fato de que
a grande maioria dos entrevistados, 126 de um total de 139 respostas, ou seja, 90,6%, afirmam
morar em casa própria, o que facilitaria o recolhimento do caju, e de outras frutas, quando
houver, para o processamento. Também terá forte influência no alcance do projeto, o elevado
número de pessoas que moram na mesma residência, em média, 5,6 moradores, com até 12
familiares em uma mesma casa, geralmente com 6,5 cômodos.
44
Quanto à comunicação do grupo, podemos destacar que, de 138 entrevistados, 127
pessoas, ou 92% possuem televisão em sua casa, 121, ou 87,6% possuem rádio ou som, e 41,
ou 29,7% tem celular. Ainda, apenas 9, ou 6,5% tem computador em casa, enquanto 14,4%
tem acesso a algum computador, e 87,7% não possuem qualquer acesso à internet. Podemos
destacar o papel do rádio na divulgação das atividades do projeto, porém, em Itarema, a
presença do celular não é tão significativa quanto em outros municípios. Assim, o trabalho dos
mobilizadores terá importante papel no município.
Formação
A escolaridade da amostra populacional selecionada apontou que dos 139
entrevistados que responderam, 23, ou 16,5% não possuem qualquer tipo de escolaridade, 62,
ou 44,6% possuem o Ensino Fundamental Incompleto, 10, ou 7,2% possuem o Ensino
Fundamental Completo, 8, ou 5,8% possuem o Ensino Médio Incompleto, 24, ou 17,3%
possuem o Ensino Médio Completo, e os outros 12, ou 8,6% restantes possuem Ensino
Superior incompleto, completo, ou outras formações. Entre as mulheres, a maioria, 64, ou
64,6% não passaram do Ensino Fundamental.
Assim, podemos afirmar que, 95 pessoas, ou 68,3% não chegaram ao Ensino Médio.
Tal fato, que indica a necessidade de uma metodologia com linguagem simples e direta, com
foco na cultura de aprendizagem local.
Considerou-se, também, além da formação escolar, a participação em cursos como
uma formação complementar ao ensino convencional. Formações que possibilitam o melhor
desenvolvimento de atividades produtivas, e conseqüentemente da geração de renda, que é
foco de análise do presente estudo.
Assim, percebe-se a participação de 53 pessoas, ou 36,6% da amostra em cursos desse
tipo. Outro ponto a ser destacado é relativo ao tipo de matéria abordada, com grande
participação em cursos de processamento de caju, artesanato, associativismo, cooperativismo,
e meio ambiente, e menor participação em atividades de juventude, agroecologia, e gênero.
O projeto CAJUS poderá aproveitar o conhecimento já adquirido para aprofundar
atividades como processamento de caju e artesanato, ao mesmo tempo em que insere noções
não tão difundidas no grupo, como agroecologia, juventude, e gênero.
Ocupação e Renda
Como mais relevantes para o estudo, foram consideradas apenas as ocupações
principais e secundárias dos entrevistados. É importante frisar que as fontes de renda foram
destacadas do quesito ocupação, pois podem advir de aposentadoria, ou programas de
governo, como o Bolsa Família.
A maioria dos entrevistados, 94, apontou como sua ocupação principal a agricultura,
correspondendo a 67,6% das respostas, acompanhados pelos 12, ou 8,6% que afirmaram
45
trabalhar com artesanato. As ocupações secundárias são citadas em 82 questionários, ou 59%
da amostra. O artesanato, o processamento de caju, e a agricultura, foram os mais citados,
somando, respectivamente, 26,8%, 25,6%, e 17% das respostas.
Como principais fontes de renda, a agricultura tem, novamente, grande destaque,
sendo citada em 115, ou 82,7% das respostas, seguida pelo Bolsa Família, com 54%, ou 75
respostas. Outras rendas provêm do serviço público, com 18% e da aposentadoria, com 18%.
Em Itarema pode-se perceber a boa participação do artesanato, 23,7%, castanha do caju,
20,9% e em outros produtos do caju, 12,9%. É ainda interessante o aparecimento de outras
atividades, mais características do litoral, como o turismo, na renda de 9,8% dos entrevistados,
a produção de coco, e a pesca artesanal.
As principais ocupações das mulheres da amostra são a agricultura, 63,6%, artesanato,
11,1%, e serviço público, com 5,1%. Entre os entrevistados que afirmaram ter ocupação
secundária, 68,3% são mulheres, dentre as quais, 30,3% estão no artesanato, 19,7% na
agricultura, e 16% na cajucultura.
Sobre a renda dos entrevistados, podemos ainda afirmar que, dos 139 que
responderam esse quesito, 56,8% ganham menos de um salário mínimo, e 31,7% até dois
salários. Tal fato comprova a importância de projetos, como o CAJUS, de geração de renda e
melhoria de qualidade de vida, já que a renda familiar de 88,5% não ultrapassa 2 salários
mínimos.
Agricultura Familiar
A maioria dos agricultores e agricultoras, 43, ou 31% dos 139 que responderam essa
questão, afirma que a propriedade é sua ou de esposo ou esposa; 42 ou 30,2% afirmam que a
propriedade pertence a familiares; 37 ou 26,1% tem áreas de reforma agrária ou
assentamento.
Sobre a produção familiar, dos 76 agricultores entrevistados, apenas 9, ou 11,8% não
tem acompanhamento algum da produção em sua propriedade por alguma instituição, como
ONGs, Sindicatos, Governo, etc. Dessa forma, a grande maioria dos agricultores pesquisados,
ou seja, 88,2% recebem assistência técnica à sua produção, sendo a maioria, 21,1%
proveniente de Cooperativas, seguida de Associações, acessória técnica de programas
governamentais, e do MST, cada um com 18,4% das respostas.
Em relação à alimentação, a amostra tem um gasto mensal médio de R$ 257,73, com
os principais gastos com arroz, 38,1%, açúcar, 27,3%, frango, 22,3%, e peixe, com 21,6%. A
maioria dos entrevistados, 112, ou 75,2% remetem à compra de 50 a 75% da alimentação.
Compram todos os alimentos consumidos pela família, 5,8% das pessoas, e outros 11,6%, ou
16 entrevistados, compram 25% do que consomem.
Produtos da Agricultura Familiar
46
Apesar de não satisfazer totalmente suas necessidades diárias, a produção da
agricultura familiar é vasta e diversificada com produção para a comercialização e para o
consumo familiar.
As culturas mais produzidas pelos 128 agricultores que responderam esse quesito são
feijão, por 126, ou 98,4%; milho por 122, ou 95,3%; mandioca por 110, ou 86 %; macaxeira por
96, ou 75%; batata doce por 82, ou 64,1%; e hortaliças por 48 ou 37,5%. Note-se que há
agricultores que plantam dois ou mais tipos de alimentos.
Números similares aparecem em relação aos alimentos produzidos na propriedade e
mais consumidos pelos entrevistados, com o feijão em primeiro lugar, citado por 125 pessoas,
ou 95,4% dos entrevistados. Logo em seguida aparece o milho, com 102 citações, ou 77,9%;
seguido da farinha, com 72, ou 55% e do coco, com 65, ou seja, 49,6%. É importante destacar
que o caju aparece citado por 62 pessoas, ou 43,7% do consumo. Apesar de não aparecer
significativamente no quesito cultura mais produzida, o caju aparece como um dos produtos
mais consumidos pela produção familiar.
As respostas positivas em relação à comercialização da produção foram de 95
entrevistados, ou seja, 74,2% do total de produtores. Destes, a maior parte, 72,6%, ou 69
pessoas comercializam a castanha do caju; 64,2%, ou 61, o coco; e 49, ou 51,5%, vendem
farinha.
É interessante notar que o caju aparece, em grande porcentagem, nos itens
consumidos pela família que são produzidos na propriedade, mas não aparece como uma das
culturas mais produzidas, nem nos mais comercializados, no qual a castanha tem grande
relevância.
Sistemas de Produção
Sobre o sistema produtivo utilizado em suas terras, dos 125 entrevistados que
responderam, 57, ou 45,3% afirmaram utilizar o sistema convencional; 64 ou 51,2% afirmaram
evitar agrotóxicos; 4 ou 3,2% afirmaram utilizar sistema orgânico; 6, ou 4,8% utilizam o sistema
misto; e apenas 1 ou 0,8% afirmou utilizar sistema agroecológico.
Com essas considerações, podemos perceber que a maioria dos agricultores não tem
conhecimento sobre técnicas de produção orgânicas e agroecológica. Foi considerada para a
análise das questões referentes ao sistema de produção, a imprecisão das respostas dos
agricultores, que não tem acesso a acompanhamento técnico, ou que este acompanhamento
não seja voltado para práticas agrícolas sustentáveis.
Quanto às praticas de manejo utilizadas pelos agricultores e familiares, dos 128 que
responderam, 68, ou 53,1% apontaram como sendo a queimada a mais usual. Logo após
aparecem a capina seletiva, com 39 ou 30,5%, e o quintal produtivo e arado, com 24 ou 18,8%.
Também foram citados os defensivos naturais, biofertilizantes, compostagem e arado manual.
47
Aproveitamento do Pedúnculo de Caju
No município de Itarema, todas as comunidades visitadas possuem cajueiros. Quando
a pergunta é dirigida à própria terra do agricultor(a), o número é similar: 113 entrevistados, ou
81,9%, afirmam ter cajueiros em sua propriedade.
Quanto ao aproveitamento comercial do pedúnculo nessas comunidades, nenhum
agricultor afirmou vender 100% do caju in natura produzido em sua propriedade. A maioria,
56,6%, ou 64 pessoas, não comercializa nada do caju produzido em suas terras, e 41, ou 36,3%
vendem apenas 5%, demonstrando o enorme potencial e desperdício do pedúnculo no
município.
A maior parte do caju in natura que não é comercializado acaba sendo desperdiçado
por 46, ou 40,7% dos entrevistados. Outra parte, 18,6%, serve para processamento de novos
produtos; e 12,9% para alimentação de animais; servindo para consumo próprio, apenas 6,2%
do caju.
A porcentagem de caju que é processada se destina, em sua maioria, para a fabricação
do doce de caju em calda por 77,9%, ou 74 entrevistados; seguida pela fabricação de suco de
caju, por 56 ou 58,9%; mocororó, por 36, ou 37,9%; e 34 ou 35,8% para carne de caju. Para a
maioria, ou seja, 31 das 59 respostas, em um percentual de 52,5%, os produtos que geram
maior resultado são o doce de caju, seguido pelo mocororó, com 27,1%.
Outra informação relevante para o projeto é o fato de que 62,6%, ou 87 dos 139
entrevistados, dizem ter conhecimento de alguma localidade (sítio, fazenda, terreno público,
etc.) de sua região onde haja desperdício de caju. Assim, percebe-se um excelente potencial
para o aproveitamento do caju, que não é usado, nos cursos do projeto, e futuramente em
alguma cooperativa que seja criada pela comunidade.
Organização Comunitária
O município de Itarema possui um grande número de grupos e associações, para os
mais diferentes fins. A organização das comunidades é vasta e abrangente, com grande
possibilidade de formação de novas associações e cooperativas em torno das propostas do
projeto CAJUS.
Quando perguntados se participavam de alguma organização comunitária, 71,2%, ou
99 pessoas, responderam afirmativamente, sendo 72, de alguma associação. Em relação a
grupos produtivos, 65, ou 46,7% disseram que tem algum em sua comunidade. Foram citados
grupos produtivos de coco, de pescadores, de costureiras, de rendeiras, de bordadeiras, de
casa de farinha, entre outros. Nota-se que apesar da forte presença de grupos produtivos,
ainda há bastante espaço para o beneficiamento do caju.
Em relação à participação das entrevistadas em grupos exclusivamente femininos, 34,
do total de 99, afirmam participar de algum, entre grupos de mulheres, de senhoras,
religiosos, de caju, e de artesanato. Sobre organização jovem, 71 entrevistados, ou 51% fazem
48
parte, tem filhos, ou conhece alguém que participa de algum grupo ou movimento específico,
entre pró-jovem, grupos de jovens, grupos religiosos de jovens, etc. Ainda, 22 entrevistados se
consideram liderança jovem local.
Potencial para o Artesanato
O artesanato foi citado nessa pesquisa por 8,6% das pessoas como a principal
ocupação, e por 26,8% como a principal ocupação secundária, resultando em um excelente
potencial de geração de emprego e renda. Além disso, quando são questionados se tem
conhecimento de artesanato feito pela família ou comunidade, 111 responderam que sim. As
artes fabricadas são extremamente variadas, e vão desde saias, redes, e crochê, até vassouras,
bancos de madeiras, e abajur de palitos de picolé. As matérias primas, por conseqüência,
também são as mais variadas, como palha, linha, garrafas pet, e palitos.
Quanto ao local de venda dos produtos, a maioria, 58,3%, ou 60 das 103 respostas,
afirmou não ter lugar certo para a venda dos produtos, enquanto 37, ou 36%, tem o mercado
na própria comunidade. Outros 8, ou 7,8% têm a feira, programa do governo, ou instituição
parceira como principal local de venda. Portanto, apesar do grande potencial do artesanato
para essas comunidades, existe a necessidade de organizar as vendas e encontrar novos
mercados para o escoamento dos produtos.
Potencial para o Ecoturismo Comunitário
Em Itarema, 83 pessoas, ou seja, 60% do total, não sabem ou nunca ouviram falar de
ecoturismo comunitário. Apesar de se dividirem no quesito potencial turístico da comunidade,
já que 59,1% acham pouco ou nenhum, e 40,9% crêem ser muito grande ou relevante; 93, ou
cerca de 70% souberam apontar belezas naturais, entre praias, lagoas, dunas, morros, açude,
manguezais, coqueirais, projeto TAMAR, entre outras.
Novamente há uma divisão bem equilibrada nas respostas, agora em relação a
quantidade de visitas na comunidade: 42,4% afirmam que há o tempo todo ou muitas, contra
57,6%, que dizem receber poucas ou nenhuma visita. Ainda, para 51,6%, os visitantes se
hospedam na casa de alguém, contra 23, ou 18,5% das respostas para acomodações em hotéis
e pousadas.
Percepção e Práticas Ambientais
Apenas 14 entrevistados, ou 10% da amostra, afirmaram existir área de preservação
em sua comunidade, entre APAs e áreas de mangue.
Quanto à coleta de lixo, a maioria, 64%, ou 89 pessoas, afirmam queimar seus
resíduos, 51, ou 36,7% enterram. A coleta pela prefeitura atinge apenas 11,5% dos
entrevistados. É importante salientar que neste item poderiam ser dadas mais de uma
49
resposta. Entre os 25 que usam agrotóxicos, 34,3% afirmam enterrar as embalagens, 28% as
queimam, 25,7% simplesmente jogam fora, uma pessoa joga no “carro de lixo”, e nenhuma
lava e devolve.
Em relação ao manejo do esgoto, 95,7% relatam usar fossa comum, enquanto apenas
uma pessoa tem esgoto ligado ao sistema de saneamento do município. Ao responder como é
o manejo do esgoto na comunidade, 131, ou 94,2% afirmam não haver sistema de tratamento
de esgoto.
Nota-se a grande relevância de repasse de conhecimento, teorias e práticas de
ecologia e sustentabilidade para essas comunidades, visto que a maioria das pessoas se atém a
práticas obsoletas e perigosas às pessoas e ao meio ambiente da região, como a queima do
lixo e o descuido e despreparo com embalagens tóxicas.
5.5. JIJOCA
Identificação
O Município de Jijoca de Jericoacoara tem a extensão de 201,86 km2 e uma população
de 16.713 habitantes. Situa-se a uma distância de 238 km da capital, Fortaleza, com localização
de 2º 47’ 37’’ de longitude e 40º 30’ 47’’ de latitude, e a 22m de altitude. O município tem
fronteira ao norte com Cruz e Oceano Atlântico, ao sul com Camocim e Bela Cruz, a leste com
Bela Cruz e Cruz, e a oeste com Camocim.
Jijoca tem o PIB de 45 milhões de reais, sendo R$ 2.935 per capita, com 76,6% dessa
renda advinda do setor de Serviços. O IDH do município é o 108º no ranking estadual, com o
valor de 0,623. A maior parte dos empregos formais, 63%, está na administração pública, com
64% destes sendo ocupados por mulheres. Apesar de fornecer a maior renda, o setor de
serviços ocupa a segunda posição na geração de empregos formais, com 403, ou cerca de 30%
do total municipal.
O município possui umas das praias mais conhecidas do Brasil, com projeção
internacional: Jericoacoara. Sua vegetação é um típico Complexo Vegetacional da Zona
Litorânea, e pertence à Bacia Hidrográfica do Rio Coreaú.
No Município foram visitadas as comunidades de do Córrego do Urubui, Mangue Seco,
Baixio, Lagoa do Meio, Lagoa Grande, Santo Ridio, Forquilha I e II, Jijoca, e Jericoacoara,
percebendo-se a presença de grupos produtivos formais e informais assim como um aparente
potencial das mesmas para as atividades do projeto.
Aspectos Socioeconômicos
No município de Jijoca foram realizadas 55 entrevistas, sendo todas consideradas
válidas pela equipe. É importante destacar que os questionários foram aplicados
50
preferencialmente junto à população feminina das áreas rurais, o principal público alvo do
projeto, num total de 31 mulheres, ou 56,36% da amostra.
A principal faixa etária pesquisada se tem entre 30 a 60 anos, ou aproximadamente
55%, totalizando 31 pessoas adultas. Outros 32,7%, ou 18 entrevistados, são jovens entre 15 e
29 anos, resultando uma faixa etária média de 39,7 anos no total dos pesquisados.
Um fator importante a ser destacado, com elevada influência para o projeto é que a
grande maioria dos entrevistados, 46, ou 86,6% afirmam morar em casa própria, facilitando
bastante o recolhimento do caju para o processamento (quando existirem cajueiros) nas
residências. Outro destaque, que também influenciará o número de pessoas atingidas e
beneficiadas pelo projeto, é o elevado número de pessoas por residência, resultando numa
média de 4,3 moradores, com até 12 familiares em uma mesma casa, que tem em média 6,4
cômodos.
Para a questão da comunicação do projeto, é necessário destacar que 48 pessoas, ou
87,3% possuem televisão em sua casa, e 35, ou 63,3% possuem rádio. Ainda, 16,4%, ou 9
entrevistados, tem computador, e 19, ou 33,6% afirmam possuir acesso à internet. Assim,
percebe-se alguma possibilidade de se trabalhar com esse meio no município.
Formação
A escolaridade da amostra populacional selecionada apontou que dos 54 entrevistados
que responderam, apenas 7,5% não possuem qualquer tipo de escolaridade, 49,1% possuem o
Ensino Fundamental Incompleto, 3,8% possuem o Ensino Fundamental Completo, 11,1%
possuem o Ensino Médio Incompleto, 26,4% possuem o Ensino Médio Completo, e os outros
5,7% restantes possuem Ensino Superior Completo. É importante destacar que não houve, na
amostra, pessoas com ensino superior incompleto ou com outros níveis de formação. Entre as
mulheres, a grande maioria, 19, ou 63,3% tem o ensino fundamental incompleto.
Assim, apesar de não haver um número significativo de pessoas sem alfabetização, e
uma presença significativa de entrevistados que terminaram o ensino médio, podemos afirmar
que mais da metade dos entrevistados não passou do Ensino Fundamental. Tal fato, que indica
a necessidade de uma metodologia com linguagem simples e direta, com foco na cultura de
aprendizagem local, porém com metodologia dinâmica e de conteúdo, para não causar
desinteresse em um grupo tão heterogêneo.
Considerou-se, também, além da formação escolar, a participação em cursos como
uma formação complementar ao ensino convencional. Formações que possibilitam o melhor
desenvolvimento de atividades produtivas, e conseqüentemente da geração de renda, que é
foco de análise do presente estudo.
Dessa forma, percebe-se certa carência de cursos desse tipo para a amostra
selecionada pelo estudo, já que apenas 18 pessoas, ou aproximadamente 33%, participaram
de alguma atividade ligada ao objetivo do projeto. Outro ponto que se destaca é a pequena
51
participação das mulheres nessas atividades, já que apenas 13% das que responderam ao
questionário fizeram algum curso dessa natureza.
O projeto CAJUS terá papel fundamental no preenchimento da lacuna de atividades e
cursos que possam gerar renda e agregar mais possibilidades e conhecimentos para a
população envolvida pelo presente estudo.
Ocupação e Renda
Como mais relevantes para o estudo, foram consideradas apenas as ocupações
principais e secundárias dos entrevistados. É importante frisar que as fontes de renda foram
destacadas do quesito ocupação, pois podem advir de aposentadoria, ou programas de
governo, como o Bolsa Família.
A maioria dos entrevistados, 24, apontou como sua ocupação principal a agricultura,
correspondendo a 44,4% das respostas, acompanhados pelos 14,8% que afirmaram ser
estudantes e 11,1% de donas de casa. As ocupações secundárias são citadas em apenas 28
questionários, ou 51,9%. O artesanato e a agricultura têm um leve destaque nas ocupações
secundárias, somando 32,2% das respostas.
Como principais fontes de renda, a agricultura se destaca novamente, sendo citada em
42,6% das respostas, seguida pelo Bolsa Família, com 37%, ou 20 respostas. Outras rendas
provêm do serviço público, com 22,2%, da aposentadoria, com 18,5%. É ainda interessante o
aparecimento do turismo na renda de 9,2% dos entrevistados, a pouca participação do caju,
citado como “castanha”, aparecendo em apenas 7,5% das respostas, e da boa participação do
artesanato na renda de 13% da amostra.
As principais ocupações das mulheres da amostra são a agricultura, 45%, dona de casa,
19%, e estudante, 7,4%. Entre os entrevistados que afirmaram ter ocupação secundária, 60,7%
são mulheres, dentre as quais, 20% estão no artesanato.
Sobre a renda dos entrevistados, podemos ainda afirmar que, dos 51 que
responderam esse quesito, 90,6% ganham no máximo 2 salários mínimos. Tal fato sugere a
importância de projetos de geração de renda e melhoria de qualidade de vida, como o CAJUS,
para a população local.
Agricultura Familiar
A maioria dos agricultores e agricultoras, 28, dos 49 que responderam essa questão,
afirma que a propriedade é sua ou de esposo ou esposa; 18 ou 36,7% afirmam que a
propriedade pertence a familiares; 3 ou 6,1% tem outros tipos de relação com a propriedade,
entre áreas de assentamento, arrendamento, da comunidade, entre outras, e 8,2%, ou 4
pessoas vivem de aluguel.
52
Sobre a produção familiar, dos 29 entrevistados que responderam se tem
acompanhamento da produção em sua propriedade, apenas 7, ou 24,13% são assistidos por
alguma instituição, como ONGs, Sindicatos, Governo, etc. É mister reafirmar que, dessa forma,
a grande maioria dos agricultores pesquisados, ou seja, 75,87% não recebem qualquer tipo de
assistência técnica à sua produção.
Em relação à alimentação, a amostragem indica um gasto mensal médio de R$ 321,88,
com os principais dispêndios em arroz, com 25,5% e frango, com 23,5%. A maioria das 49
respostas, 26, ou 53,1% remetem à compra de 75% da alimentação. Compram todos os
alimentos consumidos pela família, 22,4% das pessoas, e outros 20,4%, ou 10 entrevistados,
compram metade da comida que consomem. Percebe-se que apenas 2 pessoas, ou 4% têm
uma produção que atenda mais da metade de sua necessidade alimentícia.
Produtos da Agricultura Familiar
Apesar de não satisfazer totalmente suas necessidades diárias, a produção da
agricultura familiar é vasta e diversificada, com produção para a comercialização e para o
consumo familiar.
As culturas mais produzidas pelos 38 agricultores que responderam esse quesito são
feijão, por 33 ou 86,8% dos agricultores; milho por 32 ou 84,2%; mandioca por 27 ou 71,1%;
macaxeira por 21 ou 55,3%; e hortaliças por 15 ou 39,5%. Note-se que há agricultores que
plantam dois ou mais tipos de alimentos.
Números similares aparecem em relação aos alimentos mais consumidos pelos
entrevistados, que são plantados na propriedade, com o feijão em primeiro lugar, citado por
43 pessoas, ou 87,8% dos entrevistados. Logo em seguida aparece o milho, com 41 citações,
ou 83,7%; seguido da macaxeira, com 35, ou 71,4% e hortaliças, com 15, ou 30,6%. É
importante destacar que o caju só aparece citado por 4 pessoas, ou 8,2% do consumo.
As respostas positivas em relação à comercialização da produção foram de 21
entrevistados, ou seja, 43,8% do total de 48 produtores. Destes 21, a maior parte, 47,6%, ou
10 pessoas, comercializam a castanha de caju; 23,8%, ou 5, comercializam farinha, e apenas 1
entrevistados vendem doce de caju, num total de 4,8%.
Sistemas de Produção
Sobre o sistema produtivo utilizado em suas terras, dos 39 entrevistados que
responderam, 24 ou 61,5% afirmaram utilizar o sistema convencional; 13 ou 33,3% afirmaram
evitar agrotóxicos; 4 ou 10,3% afirmaram utilizar sistema misto; 1 sistema agroecológico, e 1
sistema orgânico.
Com essas considerações, podemos perceber que a maioria dos agricultores não tem
conhecimento sobre técnicas de produção orgânicas e de agroecologia. Foi considerada para a
análise das questões referentes ao sistema de produção, a imprecisão das respostas dos
53
agricultores, que não têm acesso a acompanhamento técnico, ou que este acompanhamento
não seja voltado para práticas agrícolas sustentáveis.
Quanto às praticas de manejo utilizadas pelos agricultores e familiares, dos 31 que
responderam, 21, ou 67,8% apontaram como sendo a queimada a mais usual. Logo após
aparece a capina seletiva, com 5 ou 16,1%, e o sistema agroflorestal, com 4 ou 13%. Também
foram citados a compostagem, defensivos naturais, adubação verde, entre outros.
Aproveitamento do Pedúnculo de Caju
No município de Marco, todas as comunidades visitadas possuem cajueiros. Quando a
pergunta é dirigida à própria terra do agricultor ou agricultora, dos 55 entrevistados, 43, ou
78,2% responderam que têm cajueiros em sua propriedade.
Quanto ao aproveitamento comercial do pedúnculo nessas comunidades, somente 3
agricultores afirmaram vender mais de 75% do caju in natura produzido em sua propriedade. A
maioria, 69,2%, ou 27 pessoas, não comercializa nada do caju produzido em suas terras, mais
uma vez demonstrando o enorme potencial e desperdício do pedúnculo no município. O caju
in natura que não é comercializado é desperdiçado por 41%, enquanto outros 35,3% usam
para consumo próprio. Serve para ração animal 14,7%, mesma porcentagem do caju destinado
ao processamento para novos insumos.
Das 35 pessoas que processam o pedúnculo do caju, a maioria, ou 77,1% faz doce de
caju. O suco de caju é a segunda maior produção, feito por 71,4% dos entrevistados, seguido
da cajuína, feita por 40%, doce de caju em calda, por 31,4%, e do mel de caju, por 17,1%.
Dentre os produtos que trazem maior resultado, os mais citados foram a cajuína e o suco de
caju.
Outra informação relevante para o projeto é o fato de que 63,7%, ou 35 dos 55
entrevistados, dizem ter conhecimento de alguma localidade (sítio, fazenda, terreno público,
etc.) de sua região onde haja desperdício de caju. Assim, comprova-se um excelente potencial
para o aproveitamento do caju, que não é usado, nos cursos do projeto, e futuramente em
alguma cooperativa que seja criada pela comunidade.
Organização Comunitária
O município de Jijoca possui um grande número de grupos e associações, para os mais
diferentes fins. A organização das comunidades é vasta e abrangente, com grande
possibilidade de formação de novas associações e cooperativas em torno das propostas do
projeto CAJUS.
Quando perguntados se a sua comunidade se organizava em grupos produtivos, 19, ou
44,2% responderam afirmativamente. Foram citados grupos produtivos de caju e coco,
beneficiamento de caju castanha, artesanato, pesca e agricultura, crochê. Importante frisar o
relato da existência de grupos de beneficiamento de caju, por três pessoas.
54
Individualmente, em 25 de 44 respostas, ou seja, 56,8% participam de algum
movimento, grupo, ou associação comunitária. Em relação à participação das entrevistadas em
grupos de mulheres, apenas 3 afirmam participar de algum, e dois homens afirmaram que suas
esposas participam. Nota-se a presença de poucos grupos de gênero, com uma necessidade de
se trabalhar esse tema no projeto, já que há bastante espaço para discussão e criação desse
tipo de grupo. Sobre organização jovem, 10 entrevistados, ou 18,2% fazem parte, tem filhos,
ou conhece alguém que participa de algum grupo ou movimento específico, entre pró-jovem,
grupos de jovens, grupos religiosos de jovens, grupo Águias da Paz, etc. Ainda, 9 entrevistados
se consideram liderança jovem local.
Potencial Para o Artesanato
O artesanato não foi citado de forma relevante, nessa pesquisa, como a principal
ocupação, e como ocupação secundária, dividiu espaço com a agricultura, sendo citada por
21,5%. Apesar disso, quando são questionados se tem conhecimento de artesanato feito pela
família ou comunidade, 40 responderam que sim. As artes fabricadas são bem diversificadas,
como escultura, crochê, tapetes, cestos, saídas de banho, redes, luminárias, e abajures. As
matérias primas, por conseqüência, também são as mais variadas, como palha, linha, “cipó de
coqueiro”, argila, garrafas pet, madeira e náilon.
Quanto ao local de venda dos produtos, a maioria, 57,5%, ou 23 das 40 respostas,
afirmou não ter lugar certo para a venda dos produtos, enquanto 16, ou 40%, tem o mercado
na própria comunidade. Outros 12, ou 30% fazem a venda em loja parceira e 7,5% em loja
comunitária. Assim, apesar da amostra selecionada não ter no artesanato uma de suas
principais ocupações, há a existência de um potencial nas comunidades, mesmo que não
tenha, em geral, pontos de venda organizados e fixos.
Potencial para o Ecoturismo Comunitário
Em Jijoca, apenas 9 pessoas, ou seja, 23% do total de respostas, não sabem ou nunca
ouviram falar de ecoturismo comunitário. As respostas se dividem no quesito potencial
turístico da comunidade, com 26, ou 53% delas afirmando ser muito grande ou relevante, e 23,
ou 47% afirmarem ser pouco ou nenhum. Porém, 37, ou 75,5% souberam apontar belezas
naturais, entre praias, lagoas, cachoeira, manguezais, coqueirais, córrego, trilhas ecológicas,
casa de farinha, entre outras.
Novamente há um equilíbrio nas respostas, agora em relação a quantidade de visitas
na comunidade: 43,8% afirmam que há o tempo todo ou muitas, contra 56,2%, que dizem
receber poucas ou nenhuma. Ainda, para 51%, os visitantes se hospedam na casa de alguém,
demonstrando um costume interessante para o trabalho com o ecoturismo comunitário.
Percepção e Práticas Ambientais
55
Afirmaram existir área de preservação em sua comunidade 27 pessoas, que citaram
APAs, áreas de mangue, parque nacional, e praia do mangue seco.
Quanto ao destino dado para o lixo, a maioria, 54%, ou 27 pessoas, afirmam queimar
seus resíduos, e 25, ou 50% são coletados pela prefeitura. Outros 16% tem o costume de
enterrar o lixo. É importante salientar que neste item poderiam ser dadas mais de uma
resposta. Entre os 13 que usam agrotóxicos, 53,8% afirmam enterrar as embalagens, 23,1% as
enterram, e 23,1% simplesmente jogam fora. Ninguém afirmou que lava e devolve.
Em relação ao manejo do esgoto, 78,2% relatam usar fossa comum, e 17,4% tem
esgoto ligado ao sistema de saneamento do município. Ao responder como é o manejo do
esgoto na comunidade, 38, ou 77,6% afirmam não haver sistema de tratamento de esgoto.
Nota-se a grande relevância de repasse de conhecimento, teorias e práticas de
ecologia e sustentabilidade para essas comunidades, visto que a maioria das pessoas se atém a
práticas obsoletas e perigosas às pessoas e ao meio ambiente da região, como a queima do
lixo e o descuido e despreparo com embalagens tóxicas.
5.6. MARCO
Identificação
O Município de Marco tem a extensão de 574,15 Km2 e uma população de 24.697
habitantes. Fica a 198 km da capital, Fortaleza, e está localizado a 40º 08’ 48” de longitude e 3º
07’ 26” de latitude, e a 20m de altitude. As fronteiras de seu território têm a seguinte
configuração: ao Norte, o Município de Bela Cruz; ao sul, Senador Sá e Morrinhos; a Leste,
Morrinhos, Acaraú, e Bela Cruz; a Oeste, Senador Sá e Granja.
Tem o PIB de 82 milhões de reais, sendo 3.556 per capita, ocupando a 124º colocação
no ranking do IDH estadual, com o índice de 0,616. A maioria dos empregos se encontra na
administração pública, com cerca de metade dos empregos formais, sendo 78% dos cargos
ocupados por mulheres. Em seguida, vem a indústria de transformação, com 40%, sendo 88%
dessas vagas ocupadas por homens.
Possui os distritos Marco, Mocambo e Panacuí. Apresenta em seu território os
seguintes acidentes geográficos: Rio, Açude Tucunduba, Serra do Tucunduba. Tendo como
principal vegetação a caatinga.
No Município foram visitadas as comunidades de Baixa do Meio, Bom Jesus, Canecão,
Triângulo do Marco e Assentamento Leite. Essas comunidades foram indicadas pelo STTR de
Marco que apontou/estimou a presença de grupos produtivos formais e informais assim como
um aparente potencial das mesmas para as atividades do projeto.
Aspectos Socioeconômicos
56
No município de Marco foram realizadas 55 entrevistas, sendo 54 consideradas válidas
pela equipe. É importante salientar que os questionários foram aplicados preferencialmente
junto a mulheres das áreas rurais, o principal público alvo do projeto, num total de 40
mulheres, ou 74% da amostra.
A principal faixa etária pesquisada tem entre 30 e 60 anos, ou 64,8% de adultos,
totalizando 35 pessoas adultas. Outros 29,6%, ou 16 entrevistados, tem de 15 a 29 anos,
resultando uma faixa etária média de 37,9 anos no total dos pesquisados.
Um fator importante a ser destacado, com elevada influência para o projeto é que a
grande maioria dos entrevistados, 50, ou 92% afirmam morar em casa própria, facilitando
bastante o recolhimento do caju para o processamento (quando existir cajueiros) nas
residências. Outro destaque, que influenciará o número de pessoas atingidas e beneficiadas
pelo projeto, é o elevado número de pessoas por residência, resultando numa média de 5,5
moradores, com até 12 familiares em uma mesma casa, que tem em média 6,1 cômodos.
Para a questão da comunicação dos participantes do projeto, é necessário destacar
que 36 pessoas, ou 67,9% possuem televisão em sua casa, e 33, ou 62,3% possuem rádio.
Ainda, apenas 3,8%, ou 2 entrevistados, tem computador, e 44, ou 93,6% afirmam não possuir
qualquer acesso à internet. Assim, por mais aparente que seja a facilidade do “mundo
moderno” atual, de, por exemplo, retirar receitas na internet, essa possibilidade praticamente
inexiste nas comunidades que pretendemos assessorar.
Formação
A escolaridade da amostra populacional selecionada apontou que dos 54 entrevistados
que responderam, 14,8% não possuem qualquer tipo de escolaridade, 40,7% possuem o
Ensino Fundamental Incompleto, 11,1% possuem o Ensino Fundamental Completo, 11,1%
possuem o Ensino Médio Incompleto, 11,1% possuem o Ensino Médio Completo, e os outros
11,1% restantes possuem Ensino Superior Incompleto. É importante destacar que não houve,
na amostra, pessoas com ensino superior completo ou com outros níveis de formação. Entre
as mulheres, a maior parte, ou 35,1% tem o ensino fundamental incompleto.
Assim, podemos dizer que mais da metade dos entrevistados não alcançou o Ensino
Médio, o que indica a necessidade de uma metodologia com linguagem simples e direta, com
foco na cultura de aprendizagem local.
Levou-se em conta, também, além da formação escolar, a participação em cursos,
considerando-os como uma formação complementar ao ensino convencional, com foco em
áreas temáticas mais específicas, possibilitando o melhor desenvolvimento de atividades
produtivas, e conseqüentemente da geração de renda, foco de análise do presente estudo.
Mais da metade dos entrevistados, ou 51,85%, já participaram de algum curso
diretamente relacionado aos objetivos principais do projeto, como agroecologia, juventude,
processamento de frutas, artesanato, produção do caju, gênero, meio ambiente,
associativismo e cooperativismo. Observando que 78,57% dos entrevistados que já fizeram
57
algum curso são mulheres, percebemos o acerto do CAJUS em trabalhar, nesse município,
preferencialmente com esse público alvo, já que, de alguma forma, as mulheres estão mais
presentes nessas capacitações.
Ocupação e Renda
Foram consideradas como mais relevantes para o estudo apenas as ocupações
principais e secundárias dos entrevistados. É importante frisar que as fontes de renda foram
destacadas do quesito ocupação, pois podem vir de aposentadoria, ou programas de governo,
como o Bolsa Família.
A grande maioria dos entrevistados, 46, apontou como sua ocupação principal a
agricultura, correspondendo a 85% das respostas ao passo em que 42, ou 82,4% afirmaram ser
a agricultura a sua principal fonte de renda. Essa pequena diferença, provavelmente se deve
ao fato de 29, ou 54,1% das pessoas também terem citado a aposentadoria ou o Bolsa Família
como sua principal fonte de renda. Note-se que neste item era possível citar mais de uma
fonte de renda principal.
As ocupações secundárias são citadas em apenas 25 questionários, sendo 46,6%, ou
seja, 53,7% dos entrevistados têm apenas uma ocupação. O artesanato é a principal atividade
secundária observada pelo estudo, sendo citado por 10 pessoas, ou 40% dos que tem a
segunda ocupação, seguida de “casa de farinha”, com 16%, costura, 12%, cajucultura, 12%,
entre outros. É importante frisar, levando em conta a sua importância cultural, como ainda é
incipiente a participação do caju, ou cajucultura, na ocupação e renda da amostra selecionada:
apenas 12% das pessoas que tem ocupação secundária, caindo para 3,7% se considerarmos os
54 questionários.
Quanto à participação feminina, 80%, ou 32, afirmam ter a agricultura como ocupação
principal, indicando a participação da mulher no roçado. A ocupação secundária envolve 24
mulheres, ou 60% do total de 40 entrevistadas no município de Marco. Destas, 11, ou 45,83%
tem como outra ocupação o artesanato, e apenas 3, ou 12,5% tem atividades relacionadas ao
caju.
Assim, o artesanato local, com 10 pessoas evolvidas, num total de 54, ou seja, 18,5%,
se mostram como uma boa opção à geração de renda do município, enquanto a falta de
atividades relacionadas ao caju demonstra a necessidade e a importância de mais ações nessa
área.
Mais uma informação é necessária para a percepção de urgência da melhoria de renda
nas comunidades visitadas: mais da metade dos entrevistados, 56,6%, tem menos de um
salário mínimo de renda e quase a totalidade, 98,1% não ganham mais do que 2 salários.
Agricultura Familiar
58
Agricultura familiar representa uma parcela significativa da ocupação da população
pesquisada. Dentre os 54 questionários aplicados no município pelo presente estudo, 46
pessoas têm como ocupação principal a agricultura, correspondendo a 85% dos entrevistados.
A maioria dos agricultores e agricultoras afirma que a propriedade é sua ou de esposo
ou esposa; 7 ou 13,5% afirmam que a propriedade é de familiares; 10 ou 19,2% tem outros
tipos de relação com a propriedade, entre áreas de assentamento, arrendamento, da
comunidade, entre outras, não havendo nenhuma alugada.
Sobre a produção familiar, 38 dos 54 entrevistados, ou 70,37% afirmam ter
acompanhamento da produção em sua propriedade. Desses, 14 ou 36,8 % recebem assessoria
técnica de programas governamentais, 14 ou 36,8% são assessorados por algum sindicato, 11
ou 28,9% recebem assessoria técnica de ONG e 7 ou 18,4%, de alguma associação. Ainda,
cerca de 26% dos entrevistados afirmam não ter nenhum acompanhamento.
Em relação à alimentação, a amostragem demonstra um gasto mensal médio de
R$332,10, com os principais gastos em arroz, com 44,2% e feijão, com 25%. A maioria, 63,5%,
ou 33 entrevistados, afirma comprar cerca de 75% da sua alimentação. Compram todos os
alimentos consumidos pela família, 17,3% das pessoas, e outros 17,3%, ou 9 entrevistados,
compram metade da comida que consomem. Percebe-se que apenas 10 pessoas, ou 19,2%
têm uma produção que atenda, pelo menos, metade de sua necessidade alimentícia.
Produtos da Agricultura Familiar
A produção da agricultura familiar é bastante diversificada. Havendo áreas de
produção diferenciadas para a comercialização e para o consumo familiar. As culturas mais
produzidas pelos 48 agricultores que responderam esse quesito são feijão, por 39 ou 81,3%
dos agricultores; farinha por 33 ou 68,8%; milho por 24 ou 50,0%; caju por 17 ou 35,4%; frutas
por 9 ou 18,8%; mandioca por 6 ou 12,5%, e hortaliças por 5 ou 10,4%. Note-se que há
agricultores que plantam dois ou mais tipos de alimentos.
Números similares aparecem em relação aos alimentos mais consumidos pelos
entrevistados, com o feijão em primeiro lugar, citado por 43 pessoas, ou 87,8% dos
entrevistados. Logo em seguida aparece o milho, com 41 citações, ou 83,7%; seguido da
macaxeira, com 35, ou 71,4% e hortaliças, com 15, ou seja, 30,6%. É importante destacar que o
caju só aparece citado por 4 pessoas, ou 8,2% do consumo.
As respostas positivas em relação à comercialização da produção foram de 28
entrevistados, ou seja, 58,33% do total de 48 produtores. Destes 28, a maior parte, 53,6%, ou
15 pessoas, comercializam a farinha de mandioca, 32,1% comercializam o milho plantado, e
apenas 2 (dois) entrevistados vendem doce de caju, num total de 4,8%.
É interessante notar a aparente “perda” do caju nesse processo de plantio, consumo,
venda, segundo o presente estudo de viabilidade. Afirmam produzir caju, 17 pessoas,
enquanto apenas 4 pessoas tem o pedúnculo como um dos principais alimentos para consumo
59
próprio. Quando observamos a comercialização do que foi produzido o número fica ainda mais
reduzido, com apenas 2 pessoas comercializando o doce de caju.
Sistemas de Produção
Sobre o sistema produtivo utilizado em suas terras, dos 48 entrevistados que
responderam, 36 ou 75,0% afirmaram utilizar o sistema convencional; 15 ou 31,3% afirmaram
evitar agrotóxicos; 5 ou 10,4% afirmaram utilizar sistema orgânico; e apenas 1 ou 2,1% afirmou
utilizar sistema agroecológico. Nenhum afirmou utilizar um sistema misto de produção; e 4 ou
8,3% Não souberam responder.
Com essas considerações, podemos perceber que a maioria dos agricultores não tem
conhecimento sobre seu sistema produtivo, nem sobre técnicas de produção orgânicas e
agroecológica. Foi considerada para a análise das questões referentes ao sistema de
produção, a imprecisão das respostas dos agricultores, que não tem acesso a
acompanhamento técnico, ou que este acompanhamento não seja voltado para práticas
agrícolas sustentáveis. Tomamos como base de orientação o cruzamento das respostas e
levantamento dos agricultores que adotam um sistema produtivo baseado em práticas
sustentáveis. Eliminando assim questões contraditórias para visualizar os sistemas e práticas
produtivas utilizados pelos entrevistados.
Quanto às praticas de manejo da terra utilizadas pelos agricultores e familiares, dos 43
que responderam, 29, ou 67,4% apontaram como sendo a queimada a mais usual. Logo após
aparecem os defensivos naturais, com 9 ou 20,9%, e o sistema agroflorestal, com 5 ou 11,6%.
Também foram citados a capina seletiva, compostagem, adubação verde, cobertura na horta,
e terreno arado.
Aproveitamento do Pedúnculo de Caju
No município de Marco, todas as comunidades visitadas possuem cajueiros. Quando a
pergunta faz referência à própria terra do agricultor(a), o número é similar: 50 entrevistados,
ou 96,2%, afirmam ter cajueiros em sua propriedade.
Quanto ao aproveitamento comercial do pedúnculo nessas comunidades, nenhum
agricultor afirmou vender 100% ou 75% do caju in natura produzido em sua propriedade. A
maioria, 60%, ou 27 pessoas, não comercializam nada do caju produzido em suas terras, mais
uma vez demonstrando o enorme potencial e desperdício do pedúnculo no município. O caju
in natura que não é comercializado serve para consumo próprio de 15, ou 28,8% dos
entrevistados, sendo desperdiçado pelo mesmo número de pessoas: 15, ou 28,8%. Outra parte
da amostra, 9 pessoas, ou 17,3%, utiliza o caju que não é vendido para a alimentação animal.
Outra informação relevante para o projeto é o fato de que 79,6%, ou 39 dos 49
entrevistados, dizem ter conhecimento de alguma localidade (sítio, fazenda, terreno público,
etc.) de sua região onde haja desperdício de caju. Assim, percebe-se um excelente potencial
60
para o aproveitamento do caju, que não é usado, nos cursos do projeto, e futuramente em
alguma cooperativa que seja criada pela comunidade.
Organização Comunitária
O município de Marco possui um grande número de grupos e associações, para os
mais diferentes fins. A organização das comunidades é vasta e abrangente, com grande
possibilidade de formação de novas associações e cooperativas em torno das propostas do
projeto CAJUS.
Quando perguntados se a sua comunidade se organizava em grupos produtivos, a
grande maioria, 75%, ou 36 pessoas, responderam afirmativamente. Foram citados grupos
produtivos de caju, mel, horta, crochê, apicultura, feijão, milho, mandioca. Também existem
grupos de teatro, religiosos e de mulheres.
Em relação à participação das entrevistadas em grupos comunitários, 39, do total de
40, afirmam participar de algum, sendo 25 ou 62,5% de grupo de mulheres, 10 ou 25,0% de
grupo das mulheres de corte e costura, 1 ou 2,5% associação de mulheres produtivas, 1 ou
2,5% grupo de apicultoras e 2 ou 5,0% grupo de beneficiamento do pedúnculo do caju. Nota-se
que apesar da forte presença de grupos produtivos, ainda há bastante espaço para o
beneficiamento do caju.
Entre os 16 entrevistados que estão na faixa etária considerada jovens, 6 deles, ou
37,5%, se consideram liderança jovem local.
Potencial para o Artesanato
O artesanato foi citado nessa pesquisa como a principal ocupação secundária dessas
comunidades, resultando em um excelente potencial de geração de emprego e renda. As artes
mais fabricadas são bonecas, bordados e crochê, tendo como principais matérias primas a
linha, tecidos e panos.
Quanto ao local de venda dos produtos, a maioria, 61,1%, ou 22 entrevistados,
afirmou ter o mercado na própria comunidade. Outros 19,4% têm a feira da comunidade como
principal local de venda. Mesmo número de quem vende os produtos para lojas parceiras.
Afirmaram não conhecer nenhum outro espaço de comercialização, 33,3% dos entrevistados.
Potencial para o Ecoturismo Comunitário
Apesar de 67,5% da amostra, ter consciência de que o turismo traria benefícios para a
comunidade, a maioria, ou 71,4% acredita não haver nenhum potencial turístico na localidade.
Como belezas naturais, foram citadas as plantas e a roça, tendo como atrativo turístico as
festividades de Nossa Senhora da Conceição e Nossa Senhora de Fátima. Ainda, 73% diz que a
freqüência de visitas às localidades é pouca ou nenhuma.
61
Percepção e Práticas Ambientais
Foi detectada nas comunidades do município apenas uma área de preservação
ambiental, já que o Assentamento Leite tem 20% de suas terras como reserva legal gerenciada
pelo INCRA.
Quanto à coleta de lixo, a maioria, 64,7%, ou 33 pessoas, afirmam queimar seus
resíduos, 22, ou 43,1% apenas jogam fora. A coleta pela prefeitura atinge apenas 7,8% dos
entrevistados. Entre os que usam agrotóxico, 50% afirma queimar as embalagens, 33,3%
apenas jogam fora, 16,6% enterram, e somente uma pessoa respondeu que lava e devolve.
Em relação ao manejo do esgoto, 91,5% relatam usar fossa comum, enquanto 2,1%
tem esgoto ligado ao sistema de saneamento do município. Ao responder como é o manejo do
esgoto na comunidade, 41, ou 85,4% afirmam não haver sistema de tratamento de esgoto.
Nota-se a grande relevância de repasse de conhecimento, teorias e práticas de
ecologia e sustentabilidade para essas comunidades, visto que a maioria das pessoas se atém a
práticas antigas e perigosas às pessoas e ao meio ambiente da região.
5.7. MORRINHOS
Identificação
O Município de Morrinhos tem a extensão de 408,88km2 e uma população de 20.488
habitantes. Situa-se a uma distância de 191km da capital, Fortaleza, com localização de 3º 13’
46’’ de longitude, 40º 07’ 30’’ de latitude, e a 35,08m de altitude. O município tem fronteira ao
norte com Marco, ao sul com Santana do Acaraú e Amontada, a leste com Amontada e
Itarema, e a oeste com Marco e Senador Sá.
O município tem o PIB de 48,21 milhões de reais, sendo R$ 2.284 per capita, com 77%
dessa renda proveniente do setor de Serviços. O IDH do município é o 134º no ranking
estadual, com o valor de 0,608. A maior parte dos empregos formais, 91,44%, está na
administração pública, com 67,2% destes sendo ocupados por mulheres.
Formada pelos distritos de Morrinhos e Sítio Alegre. Apresenta em seu território
Caatinga Arbustiva Aberta, Floresta Caducifólia Espinhosa e Floresta Subcaducifólia Tropical
Pluvial. Pertence à Bacia Hidrográfica do Acaraú, do Coreaú e Litoral. Possui como acidentes
geográficos o Rio Acaraú, o riacho Tucunduba e Pedra Redonda.
No Município foram visitadas as comunidades de Associação Altino 1º de Janeiro, São
Luis, Caninana e Bom Jardim, avaliando-se o potencial das mesmas para as atividades do
projeto.
62
Aspectos Socioeconômicos
No município de Morrinhos foram realizados 71 questionários, sendo todos
considerados válidos pela equipe. É importante destacar que as entrevistas foram feitas
preferencialmente com a população feminina das áreas rurais, público alvo do projeto, num
total de 63 mulheres, ou 88,7% da amostra.
A principal faixa etária pesquisada tem entre 30 a 60 anos, ou aproximadamente 60%,
totalizando 41 pessoas adultas. Outros 36,2%, ou 25 entrevistados, são jovens entre 15 e 29
anos, resultando uma faixa etária média de 37 anos no total dos pesquisados.
Também em Morrinhos, podemos destacar como um fator relevante para o projeto, o
fato de que a grande maioria dos entrevistados, 52 de um total de 70 respostas, ou seja,
74,3%, afirmam morar em casa própria, o que facilitaria o recolhimento do caju, e de outras
frutas, quando houver, para o processamento. Também influenciará no alcance do projeto, o
elevado número de pessoas que moram na mesma residência, em média, 5 moradores, com
até 12 familiares em uma mesma casa, geralmente com 5 cômodos.
No aspecto relativo à comunicação, podemos destacar que, de 69 entrevistados, 61
pessoas, ou 88,4% possuem televisão em sua casa, 28, ou 40,6% possuem rádio, e 40, ou 58%
tem celular. Ainda, apenas um entrevistado afirma ter computador em casa, enquanto 15,5%
têm acesso a algum computador, e 82,9% não possuem qualquer acesso à internet. Podemos
destacar o papel do rádio e do telefone celular na comunicação local, porém percebe-se que o
trabalho dos mobilizadores será de grande importância nesse município.
Formação
A escolaridade da amostra populacional selecionada apontou que, 13, ou 18,3% não
possuem qualquer tipo de escolaridade; 36, ou 50% possuem o Ensino Fundamental
Incompleto; 4, ou 5,6% possuem o Ensino Fundamental Completo; 10, ou 14,1% possuem o
Ensino Médio Incompleto; 6, ou 8,5% possuem o Ensino Médio Completo; e somente um tem
ensino superior, porém incompleto. Entre as mulheres, a maioria, 48, ou 67,6% não passaram
do Ensino Fundamental.
Dessa forma, podemos afirmar que, 53 pessoas, ou 74,7% não chegaram ao Ensino
Médio. Isto indica a necessidade da adoção de metodologia simples, com linguagem direta, e
atividades mais práticas do que teóricas, para os cursos que serão ministrados pelo projeto.
Considerou-se, também, além da formação escolar, a participação em cursos como
uma formação complementar ao ensino convencional. Formações que possibilitam o melhor
desenvolvimento de atividades produtivas, e conseqüentemente da geração de renda, que é
foco de análise do presente estudo.
A participação das pessoas selecionadas em tais cursos é relevante, atingindo 29
participantes, ou 40,8% do total. O curso mais freqüentado foi o de corte e costura,
alcançando 9 pessoas, ou 31% dos que fizeram essas atividades. Logo em seguida, vem o curso
63
de artesanato, com a presença de 8 entrevistados, ou 27,6%. Também houve cursos de
cooperativismo, produção do caju, e agroecologia, abrangendo, respectivamente, 20,7%,
17,2%, e 13,8%. As atividades de processamento de frutas, associativismo, e meio ambiente,
contaram, cada uma, com a participação de 3 pessoas. Um ponto a ser destacado é a ausência
de cursos de gênero, em uma amostra na qual 88,7% é feminina.
Apesar de haver uma boa participação, de uma forma geral, em cursos
complementares, ligados de alguma forma ao projeto, as atividades foram pontuais e
específicas, não abrangendo de uma forma relevante uma boa parte do grupo.
Ocupação e Renda
Como mais relevantes para o estudo, foram consideradas apenas as ocupações
principais e secundárias dos entrevistados. É importante frisar que as fontes de renda foram
destacadas do quesito ocupação, pois podem advir de aposentadoria, ou programas de
governo, como o Bolsa Família.
A agricultura é a principal ocupação de 31, ou 43,7% dos entrevistados, seguida de 14,
ou 19,8% de artesãs, e de 10, ou 14% de “donas de casa”. As ocupações secundárias são
citadas em 31 questionários, ou 43,7% do total. O artesanato e a agricultura se destacam nesse
quesito, somando, respectivamente, 15, ou 48,4%, e 10, ou 32,3% das outras atividades
exercidas em Morrinhos.
Como principais fontes de renda, a agricultura e o artesanato se destacam novamente.
A agricultura é principal renda de 29, ou 40,8% dos pesquisados, e o artesanato de 17, ou 24%.
O Bolsa Família, com 11, ou 15,5% das respostas, e a aposentadoria, com 8, ou 11,3%, também
têm papel importante na receita dessas famílias. Deve-se notar que nem o pedúnculo do caju,
nem a castanha, foram citados como principais fontes de renda.
As principais ocupações das mulheres da amostra são a agricultura, 41,3%, e o
artesanato, com 23,8%. Quanto à ocupação secundária feminina, 28, ou 44,4% delas têm
outras atividades. Dessas, 53,6% têm o artesanato como atividade complementar.
Sobre a renda dos entrevistados, 47, ou 66,2% ganham menos de um salário mínimo, e
21, ou 29,6%, ganham, no máximo 2 salários mínimos. Projetos de geração de renda como o
CAJUS, se mostram imprescindíveis para a melhoria da qualidade de vida da população local.
Agricultura Familiar
Pode-se afirmar que a maioria, ou 85,5% dos agricultores e agricultoras que
responderam esse quesito, ou seja, 53, dos 62, são donos, ou parentes dos donos da
propriedade onde moram.
Sobre a produção familiar, dos 49 entrevistados que responderam se tem
acompanhamento da produção em sua propriedade, 11, ou 22,5% são assistidos por
64
programas governamentais, e 2 são assistidos pela EMATERCE. Não recebem qualquer tipo de
assistência técnica à sua produção, 36, ou 73,5% dos agricultores.
Quanto à alimentação, a amostra tem um gasto mensal médio de R$ 297,32. O maior
consumo é de arroz, para 24% dos entrevistados; e de carne, leite e feijão, para 19,7%.
Afirmam comprar 100% dos seus alimentos, 29 das 62 pessoas que responderam esse quesito,
ou seja, 46,8%. Compram 75% dos alimentos, 30, ou 48,4%. Somente 3 pessoas, ou 5%, têm
uma produção que atenda mais da pelo menos metade de sua necessidade alimentícia.
Produtos da Agricultura Familiar
Apesar de não satisfazer suas necessidades diárias, a produção da agricultura familiar
é bastante diversificada, sendo utilizada para o consumo próprio e para a comercialização do
excedente, apesar deste não ser de grande relevância.
As culturas mais produzidas pelos 53 agricultores que responderam esse quesito são
feijão, por 45 ou 84,9%; milho por 42 ou 79,2%; mandioca por 38 ou 71,7%; macaxeira por 13
ou 24,5%; e hortaliças por 4 ou 7,5%. Há agricultores que plantam dois ou mais tipos de
alimentos.
Números semelhantes aparecem em relação aos alimentos produzidos na propriedade
e consumidos pelos entrevistados, com o feijão em primeiro lugar, citado por 37 pessoas, ou
78,7% das respostas válidas. Logo em seguida aparece o milho, citado por 27, ou 57,4%; a
farinha, com 24, ou 51,1% e da mandioca, com 10, ou 21,3%. O caju só é mencionado por 4
pessoas, ou 8,5%, e apenas uma pessoa diz consumir os derivados do caju.
Quanto à comercialização da produção, somente 15 entrevistados afirmaram vender
seu excedente, ou seja, 28,3% do total de 53 produtores. Destes, 6, ou 40%, comercializa a
farinha de mandioca. A castanha de caju é vendida por 26,8%, mesma porcentagem das
pessoas que vendem o milho. Também há venda de mandioca, feijão, ovos, coco, doce, goma,
galinha, e ovos, porém, por apenas uma pessoa.
É importante notar que o caju não foi citado como uma das culturas mais produzidas,
que apenas quatro pessoas disseram ser uma das mais consumidas, e, como produto
comercializado, foi mencionada apenas a castanha do caju. Porém, é possível que haja uma
aparente distorção nos números no quesito APROVEITAMENTO DO PEDÚNCULO DE CAJU.
Talvez pela facilidade e grande quantidade de cajueiros existentes, os entrevistados não os
consideram como cultura mais plantada ou consumida, ou mesmo como excedente de
produção de venda, apesar de provavelmente comercializarem o caju e seus derivados. As
pessoas da comunidade, de certa forma, parecem considerar o caju como “uma coisa à parte”.
Sistemas de Produção
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Foi considerada para a análise das questões referentes ao sistema de produção, a
imprecisão das respostas dos agricultores, que não tem acesso a acompanhamento técnico, ou
que este acompanhamento não seja voltado para práticas agrícolas sustentáveis.
Sobre o sistema produtivo utilizado em suas terras, dos 57 entrevistados que
responderam, 41, ou 72% afirmaram utilizar o sistema convencional; 11 ou 19,3% afirmaram
evitar agrotóxicos; 3 ou 5,2% afirmaram utilizar sistema misto. Apenas uma pessoa disse
utilizar o sistema orgânico, e nenhum utiliza o agroecológico.
Quanto às práticas de manejo adotadas pelos agricultores e familiares, dos 55 que
responderam, 33, ou 60% apontaram como sendo a capina seletiva a mais utilizada. Logo após
aparece a queimada, com 40% das respostas. Outras práticas, como o quintal produtivo,
arado, e compostagem não foram citadas.
Pode-se notar que a grande maioria dos agricultores e agricultoras não tem
conhecimento ou não se atém à práticas ecológicas e sustentáveis, utilizando técnicas como as
queimadas, que são agressivas ao meio ambiente.
Aproveitamento do Pedúnculo de Caju
No município de Morrinhos, todas as comunidades visitadas possuem cajueiros.
Quanto à presença de cajueiros na própria terra do agricultor(a), 48, ou 67,6% afirmam possuir
essas árvores.
Quanto ao aproveitamento comercial do pedúnculo nessas comunidades, nenhum
agricultor afirmou vender 100% do caju in natura produzido em sua propriedade. Apenas 9, ou
18,7%, comercializa 5% do caju produzido em suas terras, e 3, ou 6,3% vendem 25%. A grande
maioria, ou seja, 36, ou 75%, não vende nada do pedúnculo produzido na propriedade, o que
aponta para um desperdício, ou uma subutilização do caju, e conseqüentemente, para o
grande potencial do projeto CAJUS no município.
Apesar de haver muito caju desperdiçado, já que 19 pessoas, ou 39,6% disseram
desperdiçar uma parte da produção que não é vendida, praticamente todos que possuem
cajueiros, fazem o processamento do pedúnculo: exatamente 46, ou 95,8% dos entrevistados.
Além disso, 11, ou 23% deles, dizem usar o caju como ração animal.
Desse caju processado, a maioria se destina à fabricação do doce de caju em calda, já
que ele é feito por 35, ou 76%, dos entrevistados. O suco de caju é o segundo produto mais
consumido, sendo produzido por 30 pessoas, ou 65,2% do total. Em seguida vem a cajuína,
com 15, ou 32,6%, e o doce de caju em massa. Poucos responderam qual seria o produto de
maior viabilidade. Para 18, ou 37,5% seria o doce de caju em calda, e para 6, ou 12,5% a
cajuína.
Outro fator importante para o projeto é que cerca de 70% dos entrevistados
conhecem alguma propriedade, em sua região, onde exista desperdício de caju. Portanto, há
66
potencial para a captação e uso do pedúnculo nas atividades propostas pelo CAJUS, e na
produção de alguma associação ou cooperativa a ser criada.
Organização Comunitária
As localidades visitadas no município de Morrinhos não possuem uma grande
variedade de grupos produtivos. Somente 3 pessoas afirmaram que existe algum em sua
região, não sendo citado nenhuma cooperativa ou afim que lidem com o caju. Porém, segundo
35 entrevistados, existe a prática do comércio coletivo em sua comunidade.
Quanto à situação de associações e grupos, a realidade é outra, já que 48, ou 67,7%
dos entrevistados participam de algum. A participação das mulheres em grupos
exclusivamente femininos é muito pouca, pois somente 3 dizem participar de algum.
Sobre organização jovem, 10 entrevistados, ou 14% fazem parte, tem filhos, ou
conhece alguém que participa de algum grupo ou movimento específico. Apesar disso, 14
entrevistados se consideram liderança jovem local.
Dessa forma, mais do que a possibilidade de atingir as metas do projeto CAJUS, há a
necessidade de organização para essas comunidades, com bastante espaço para que se forme
um grupo produtivo de processamento de caju. A questão do gênero precisa ser reforçada, já
que a participação feminina em grupos exclusivos é muito pouca, e a formação de jovens
lideranças possui grande potencial.
Potencial para o Artesanato
O artesanato é a ocupação principal de cerca de 20% dos pesquisados, e a ocupação
secundária de aproximadamente 50%. Além disso, 47, ou 66,2% dos entrevistados fazem
artesanato ou conhecem alguém em sua comunidade que faz. O potencial para a formação de
novas artesãs, e conseqüentemente para a geração de emprego e renda, é significativo.
Os produtos fabricados são bem diversificados, como bolsas de palha, esculturas,
imagens de gesso, bordado, crochê, filtros de coco, cofres de barro, entre outros. Os materiais
usados são pano, madeira, linha, palha de carnaúba, argila, fio, barro, gesso, arame, etc.
Para a maioria, ou seja, 60%, ou 27 dos 45 entrevistados que fazem artesanato, não
existe um local certo para a venda dos produtos. Outros 10, ou 22,2%, disseram repassar a
atravessadores, e 9, ou 20% vendem na própria comunidade. Somente 3 afirmaram
comercializar seus produtos em feiras. Note-se que uma mesma pessoa poderia dar duas
respostas, já que pode, por exemplo, vender na feira e também na própria comunidade.
Potencial para o Ecoturismo Comunitário
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O potencial turístico das comunidades visitadas é pouco ou nenhum para 83% dos
entrevistados, e somente duas pessoas souberam apontar os atrativos turísticos locais, sendo
o “parque de vaquejada” e o açude. Ainda, somente 10 disseram saber ou ter alguma idéia do
que seria turismo ou ecoturismo. Das 47 respostas válidas em relação às visitas na
comunidade, 45, ou 95,7% se colocam entre muito pouca e nenhuma, de tal maneira que,
segundo os próprios pesquisados, não há viabilidade para o ecoturismo no município.
Percepção e Práticas Ambientais
Segundo os entrevistados, não existem áreas de preservação permanente ou APAs em
suas comunidades.
Quanto à destinação dos resíduos sólidos, 36 pessoas, ou 50,7% da amostra, afirmam
queimar o lixo, e 30, ou 42,2% recebem a coleta da prefeitura. Jogam fora 6, ou 8,5%, e 5,ou
7% enterram seu lixo. Note-se que neste item poderiam ser dadas mais de uma resposta.
Apenas 9 agricultores afirmaram usar agrotóxico, e, destes, 4 afirmam jogar as
embalagens fora, 2 as queimam, e 1 enterra. Outros dois não responderam à questão.
Em relação ao manejo do esgoto, 94,3% usam fossa comum, e 3 possuem esgoto a céu
aberto. Ninguém relatou ter seu esgoto ligado ao sistema de saneamento do município. Ao
responder como é o manejo do esgoto na comunidade, 53, ou 75% afirmam não haver sistema
de tratamento de esgoto, e 18 não souberam responder.
As atividades e cursos do projeto CAJUS terão grande relevância no repasse de
conhecimento, teorias e práticas de ecologia e sustentabilidade para essas comunidades, já
que a maioria das pessoas ainda utiliza práticas antigas e perigosas às pessoas e ao meio
ambiente da região, como a queima do lixo e o descuido e despreparo com embalagens
tóxicas.
5.8. SANTANA DO ACARAÚ
Identificação
O Município de Santana do Acaraú tem a extensão de 969,32km2 e uma população de
28.944 habitantes. Situa-se a uma distância de 196km da capital, Fortaleza, com localização de
3º 27’ 38’’ de longitude, 40º 12’ 44’’ de latitude, e a 30m de altitude. O município faz fronteira
ao norte com Morrinhos e Senador Sá, ao sul com Sobral, a leste com Sobral e Miraíma, e a
oeste com Senador Sá, Massapé, e Sobral.
Santana do Acaraú tem o PIB de 88,12 milhões de reais, sendo R$ 3.254 per capita,
com 63,7% dessa renda proveniente do setor de Serviços. O IDH do município é o 115º no
ranking estadual, com o valor de 0,619. A maior parte dos empregos formais, 92,25%, está na
administração pública, com 65% destes sendo ocupados por mulheres.
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É formada pelos distritos de Santana do Acaraú, Baía, Baixia Fria, Barro Preto, João
Cordeiro, Mutambeiras, Parapui, e Sapó. Apresenta em seu território Caatinga Arbustiva
Aberta, Caatinga Arbustiva Densa e Floresta Mista Dicótilo-Palmácea. Pertence à Bacia
Hidrográfica do Acaraú, do Coreaú, e Litoral. Possui como acidentes geográficos o Rio Acaraú,
e a Serra do Mucuripe.
No Município foram visitadas as comunidades de Camará, Mutambeiras, Águas Belas,
Bulandeira, Floresta e Chora, avaliando-se o potencial das mesmas para as atividades do
projeto.
Aspectos Socioeconômicos
Em Santana do Acaraú foram realizadas 87 entrevistas, sendo todas consideradas
válidas pela equipe. É importante destacar que os questionários foram feitos
preferencialmente com a população feminina das áreas rurais, o principal público alvo do
projeto, num total de 77 mulheres, ou 88,5% da amostra.
A principal faixa etária pesquisada tem entre 30 a 60 anos, ou aproximadamente
62,1%, totalizando 54 pessoas adultas. Outros 26,4%, ou 23 entrevistados, são jovens entre 15
e 29 anos, resultando uma faixa etária média de 40,9 anos no total dos pesquisados.
Um fator importante a ser destacado, com influência positiva para o projeto, é que a
grande maioria dos entrevistados, 79, ou 91,9% moram em casa própria, facilitando o
recolhimento do caju, e de outras frutas, para o processamento nas residências. Outro
destaque, que também influenciará o número de pessoas atingidas e beneficiadas pelo
projeto, é a ocorrência, também em Santana do Acaraú, do elevado número de pessoas por
residência, resultando numa média de 4,5 moradores, com até 8 pessoas em uma mesma casa,
que tem em média 6,3 cômodos.
Quanto ao acesso à informação e aos meios de comunicação dos entrevistados,
podemos destacar que 80 pessoas, ou 93% possuem televisão em sua casa, 61, ou 71%
possuem rádio, e 62, ou 72,1% tem celular. Ainda, apenas 7, ou 8,1%, tem computador, e 84,
ou 96,6% afirmam não possuir qualquer acesso à internet. Assim, percebe-se a impossibilidade
de se trabalhar esse meio no município, enquanto existe uma grande facilidade da
comunicação por telefone móvel.
Formação
Sobre a qualidade de formação das pessoas selecionadas em Santana do Acaraú,
podemos afirmar que, a maior parte, ou seja, 47, ou 54%, têm o ensino fundamental
incompleto. Outros 7, ou 8% não possuem qualquer tipo de escolaridade, e 8, ou 9,2%
possuem o ensino fundamental completo. Terminaram o ensino médio 18,4%, e 5, ou 5,8%
não chegaram ao seu fim. Apenas 4 pessoas atingiram o ensino superior, porém nenhuma
delas se graduou. A maioria das mulheres, 70,1% não chegaram ao Ensino Médio.
69
Uma metodologia simples e dinâmica, que possa demonstrar, na prática, suas teorias,
se mostra imprescindível em um grupo aonde 71,2% das pessoas não chegaram a cursar o
ensino médio.
Além da formação tradicional escolar, foi considerada no estudo, a participação em
cursos diversos, ofertados por ONGs, projetos sociais, projetos governamentais, entre outros,
já que estes podem ter possibilitado o desenvolvimento de atividades englobadas pelo CAJUS,
modificando, ou mesmo facilitando, a abordagem prevista em suas atividades.
Dessa forma, percebe-se um razoável número de pessoas que participaram de tais
formações. No total, 57, ou 65,5% dos entrevistados estiveram envolvidos em algum curso ou
atividade de interesse do projeto. Cursos como o de artesanato e produção de caju foram os
mais procurados, com a participação de 63,2%, e 58% dos entrevistados, respectivamente.
Agroecologia, processamento de frutas, associativismo, e cooperativismo também contaram
com boa presença: cerca de 20% cada. Aparecem com menor participação, atividades de
gênero, juventude, e meio ambiente, atingindo aproximadamente 10% dos que fizeram algum
curso.
O projeto CAJUS deve aproveitar o conhecimento já adquirido para aprofundar o
conhecimento de cursos com grande participação, enquanto reforça noções importantes,
como a de meio ambiente, que foram preteridas pela maioria.
Ocupação e Renda
Como mais relevantes para o estudo, foram consideradas apenas as ocupações
principais e secundárias dos entrevistados. É importante frisar que as fontes de renda foram
destacadas do quesito ocupação, pois podem advir de aposentadoria, ou programas de
governo, como o Bolsa Família. Outro fato importante é que foi considerada apenas uma
ocupação como principal, enquanto para as secundárias pôde-se dar mais de uma resposta.
A agricultura se destaca, como principal atividade de 56, ou 64,4% da amostra, seguida
do artesanato, com 11, ou 12,6%. A terceira ocupação mais citada foi a de auxiliar de serviço,
por 5 pessoas, ou 5,7% do total.
As ocupações secundárias são citadas em 49 respostas, ou seja, 56,3% da amostra. O
artesanato, a apicultura, e a agricultura foram os mais citados pelos que tem uma segunda
atividade, com 49%, 20,4%, e 8,2%, respectivamente. A cajucultura também é a segunda
ocupação de 8,2% dos entrevistados.
Como principais fontes de renda, a agricultura tem, conseqüentemente, grande
destaque, sendo citada por 70 pessoas, ou 80,5% das respostas. O Bolsa Família, o artesanato,
e a aposentadoria surgem como principal receita de 42,5%, 36,8%, e 24,1%, respectivamente.
A castanha de caju e os produtos do caju aparecem, cada um, na renda de 10 entrevistados,
em um total de 23%.
70
As mulheres da amostra têm como principal ocupação a agricultura, somando 61%, e o
artesanato, com 14,3%. Entre os entrevistados que afirmaram ter ocupação secundária,
aproximadamente 60% são mulheres, dentre as quais, 31,2% trabalham com artesanato, e
13% com apicultura.
Sobre a renda dos entrevistados, podemos ainda afirmar que, aproximadamente 60%
ganha menos de um salário mínimo, e cerca de 40% ganham até dois salários. Ou seja,
podemos ressaltar a importância do projeto CAJUS, na geração de renda e melhoria de
qualidade de vida dessa população.
Agricultura Familiar
A maioria dos entrevistados, 56, ou 64,4%, afirmam ser donos ou familiares dos donos
das propriedades onde moram, o que facilitaria bastante a coleta de caju e outras frutas para
as atividades do projeto. Outras 12 pessoas, ou 13,8% vivem em áreas de assentamento.
Sobre a produção familiar, dos 79 agricultores entrevistados, 20, ou 25,4% não tem
acompanhamento algum da produção em sua propriedade. O restante é acompanhado por
ONGs, 31,6%, programas governamentais, 24%, e associações, 19%. Assim, a grande maioria
dos agricultores pesquisados, ou seja, 74,6% recebem assistência técnica à sua produção.
Os entrevistados têm um gasto mensal médio de R$ 289,48 com alimentação. Os itens
mais citados foram arroz, 62%, açúcar, 39%, macarrão, 35,6%, carne, 28,7%, e café, com
27,6%. A maioria dos entrevistados, 57, ou 75% afirmam comprar 75% da alimentação.
Compram todos os alimentos consumidos pela família, 9 pessoas, e outros 12 compram cerca
de 50%. Algumas pessoas não responderam esse quesito, porém, podemos afirmar, que 78
entrevistados, ou, aproximadamente, 90%, compram, pelo menos, metade da alimentação
que consomem.
Produtos da Agricultura Familiar
Apesar de não satisfazer totalmente suas necessidades diárias, como ficou
demonstrado no item anterior, a produção da agricultura familiar é diversificada e abrangente,
com produção para a comercialização e para o consumo familiar.
As culturas mais produzidas pelos 83 agricultores que responderam esse quesito são
feijão, por 76, ou 91,6%; milho por 74, ou 89,1%; mandioca por 68, ou 82%; macaxeira por 54,
ou 65%; e hortaliças, por 30, ou 36,1%. Note-se que há agricultores que plantam dois ou mais
tipos de alimentos.
Números similares aparecem em relação aos alimentos produzidos na propriedade e
mais consumidos pelos entrevistados, com o feijão em primeiro lugar, citado por 76 pessoas,
ou 91,6% dos entrevistados. Logo em seguida aparece o milho, com 58 citações, ou 70%;
seguido da farinha, com 52, ou 62,7% e da mandioca, com 35 ou 42,2%. É importante destacar
que o caju é citado por apenas 5 pessoas, e os derivados do caju por uma.
71
Somente 33 entrevistados comercializam alguma coisa do que produzem, ou seja,
cerca de 40% dos que produzem. Os itens mais vendidos são a farinha, por 12 pessoas, o
milho, por 7, a castanha de caju, por 6, e ovos de galinha, por 6 entrevistados. Três pessoas
afirmam vender produtos feitos a partir do caju.
Vale salientar que o caju e seus produtos processados não têm grande relevância
nesse item. Porém, quando são questionados diretamente sobre o pedúnculo e seus
derivados, os números crescem de maneira abrupta. É possível notar no item
APROVEITAMENTO DO PEDÚNCULO DO CAJU, que 50 pessoas transformam o caju em algum
outro produto. Possivelmente, frente ao feijão e o milho, o caju seja preterido, e levemente
“esquecido”, mas um estudo mais profundo clarifica a importância dessa fruta na região.
Sistemas de Produção
Sobre o sistema produtivo utilizado em suas terras, dos 79 entrevistados que
responderam, 46, ou 58,2% afirmaram empregar o sistema convencional, e 31 ou 39,2%
afirmaram evitar agrotóxicos. Apenas 6 afirmaram utilizar sistema agroecológico, e somente 4
utilizam o sistema orgânico. Outros 4 não souberam responder.
Com essas considerações, podemos perceber que a maioria dos agricultores não tem
conhecimento sobre técnicas de produção orgânicas e agroecológica. Foi considerada para a
análise das questões referentes ao sistema de produção, a imprecisão das respostas dos
agricultores, que não tem acesso a acompanhamento técnico, ou que este acompanhamento
não seja voltado para práticas agrícolas sustentáveis. É necessário frisar que, tanto na questão
acima, como na subseqüente, houve respostas duplicadas.
Quanto às praticas de manejo utilizadas pelos agricultores e familiares, 48, ou 60,8%
apontaram como sendo a queimada a mais usual. A capina seletiva aparece logo em seguida,
citada por 34 agricultores, ou 30,4% do total. Quatro entrevistados afirmam usar a capina
seletiva, mesmo número dos que empregam o quintal produtivo. Foram mencionados ainda o
uso de sistema agroflorestal, adubação verde, defensivos naturais e biofertilizantes.
Aproveitamento do Pedúnculo de Caju
No município de Itarema, somente as pessoas da comunidade de Mutambeiras não
disseram haver cajueiros em sua comunidade. Quanto a presença de cajueiro em sua
propriedade, 65, ou 74,7% dos entrevistados disseram possuir essas árvores.
Quanto ao aproveitamento comercial do pedúnculo nessas comunidades, a grande
maioria não comercializa nada do caju produzido em suas terras: aproximadamente 94%. A
maior parte do caju in natura que não é comercializado acaba sendo processada em outros
produtos, já que 50 pessoas, ou 77% dos donos de cajueiros transformam o pedúnculo. Outros
25, ou 38,5%, dizem alimentar os animais, e apenas 8, ou 12,3% desperdiçam algum caju.
72
A porcentagem do pedúnculo que é processada se destina, em sua maioria, para a
fabricação de suco de caju, por 76%, dos entrevistados. Seguida pela fabricação de cajuína, por
34 ou 68%; doce em massa, por 32, ou 64%; e doce em calda, por 20, ou 40%. Das 44 respostas
sobre os produtos que geram maior resultado, 24, ou 57,1% apontam o doce de caju, e 18, ou
42,9% indicam a cajuína.
Outra informação relevante para o projeto é o fato de que 57, ou 65,5%, dos
entrevistados, dizem ter conhecimento de alguma localidade (sítio, fazenda, terreno público,
etc.) de sua região onde haja desperdício de caju. O potencial para o aproveitamento do caju,
que não é usado, nos cursos do projeto, e futuramente em alguma cooperativa que seja criada
pela comunidade é promissor.
Organização Comunitária
O município de Santana do Acaraú possui um grande número de grupos e associações,
para os mais diferentes fins. A organização das comunidades é vasta e abrangente, com grande
possibilidade de formação de novas associações e cooperativas em torno das propostas do
projeto CAJUS.
Quando perguntados se participavam de alguma organização comunitária, 90%, ou
seja, 78 pessoas, responderam afirmativamente. Em relação a grupos produtivos, 66, ou 76%
disseram existir algum em sua comunidade. Foram citados grupos produtivos de apicultores,
farinhada, artesãos de palha de Mutambeiras, mulheres do caju (Floresta), Castacaju e
Polpacaju (Chora), grupo de agricultores, entre outros. Desponta a forte presença de grupos
produtivos do caju e da castanha, sendo necessário um diálogo entre as metas do projeto
CAJUS, e as conquistas já realizadas por esses grupos.
Em relação à participação das entrevistadas em grupos exclusivamente femininos,
66%, ou 51, afirmam participar de algum, como o Grupo de Bordados das Irmãs do Patronato
de Santana, grupos de mulheres apicultoras, grupo de mulheres artesãs de Bulanderia, grupo
de mulheres do caju, etc. Quanto à organização jovem, 35 entrevistados fazem parte, tem
filhos, ou conhecem alguém que participa de algum grupo ou movimento específico, entre
pró-jovem, grupos de jovens, grupos religiosos de jovens, etc. Ainda, 12 entrevistados se
consideram liderança jovem local.
Potencial para o Artesanato
O artesanato foi citado nessa pesquisa por 12,6% dos entrevistados como a principal
ocupação, e por 49% como ocupação secundária, resultando em um excelente potencial de
geração de emprego e renda. Além disso, quando são questionados se tem conhecimento de
artesanato feito pela família ou comunidade, 69, ou 79,3% responderam afirmativamente. As
artes fabricadas são variadas, como crochê, artesanato com E.V.A (etil vinil acetado – um tipo
de borracha), bijuterias, ímã de geladeira, cestas, bolsas, chapéus, jogo americano, entre
73
outros, utilizando lã, EVA, palha de carnaúba, linha, agulha, tinta, verniz, tecido, como matéria
prima.
Quanto ao local de venda dos produtos, dos 68 que responderam, 34, ou 50%,
disseram fazer comércio na própria comunidade. Outros 25, ou 36,7% vendem seus produtos à
atravessadores, e 21, ou 31% vendem o artesanato em feiras. Dez pessoas não têm lugar certo
para a venda. Apesar do grande potencial do artesanato para essas comunidades, existe a
necessidade de organizar as vendas e encontrar novos mercados para o escoamento dos
produtos.
Potencial para o Ecoturismo Comunitário
Em Santana do Acaraú, 38 pessoas, ou seja, 56,3% do total, não sabem ou nunca
ouviram falar de ecoturismo comunitário. Mesmo que a grande maioria dos entrevistados, 76,
ou 87,4%, considerem que sua comunidade possui pouco, ou nenhum potencial turístico, 26,
ou 30% souberam apontar algum atrativo natural em sua vizinhança. O Açude de Mucambo, o
rio Acaraú, a Gruta de nossa Senhora de Lourdes, o Olho D’água de Goiabeiras, e o Serrote de
Jacurutu foram os mais lembrados.
Há uma divisão entre as respostas sobre a quantidade de visitas à comunidade: 38, ou
43,7% responderam “o tempo todo” ou “muitas”, enquanto 39, ou 44,8%, responderam
“poucas” ou “nenhuma”. Ainda, para 43,7% os visitantes se hospedam nas sedes das
associações, e para 34, ou 39%, as visitas se hospedam na casa de alguém. Ninguém afirmou
que os visitantes se hospedam em hotéis ou pousadas, e 15 pessoas, ou 17,3% não souberam
responder.
Percepção e Práticas Ambientais
Apenas 22 entrevistados, ou 25,3% do total, afirmaram existir área de preservação em
sua comunidade, citando o Serrote do Jacurutú, e reserva ambiental de assentamentos.
Quanto à coleta de lixo, a maioria, 57,5%, ou 50 pessoas, afirmam queimar seus
resíduos, enquanto 25, ou 28,7% enterram e 20, ou 23%, jogam fora. A coleta pela prefeitura
atinge apenas 15% dos entrevistados. É importante salientar que neste item poderiam ser
dadas mais de uma resposta.
Somente 12 agricultores dizem usar agrotóxicos. Nenhum deles diz lavar e devolver as
embalagens. Três as queimam, três enterram, três jogam fora, e três não responderam o que
fazem com as embalagens.
Em relação ao manejo do esgoto, 92% relatam usar fossa comum. Só duas pessoas têm
esgoto ligado ao sistema de saneamento do município, e 4 tem “esgoto a céu aberto”. Ao
responder como é o manejo do esgoto na comunidade, 74 entrevistados, ou 85% afirmam não
haver sistema de tratamento de esgoto, e 6 não souberam responder.
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Nota-se a grande relevância de repasse de conhecimento, teorias e práticas de
ecologia e sustentabilidade para essas comunidades, visto que a maioria das pessoas se atém a
práticas obsoletas e perigosas às pessoas e ao meio ambiente da região, como a queima do
lixo e o descuido e despreparo com embalagens tóxicas.
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