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IV CONALI - Congresso Nacional de Linguagens em Interação Múltiplos Olhares
05, 06 e 07 de junho de 2013
ISSN: 1981-8211
DESIGNAÇÕES PARA “MENSTRUAÇÃO” NAS CAPITAIS BRASILEIRAS: UM
ESTUDO A PARTIR DOS DADOS DO ALIB
Dayse de Souza LOURENÇO1
Fabiane Cristina ALTINO2
Introdução
A grande variação lexical brasileira se deve à interinfluência de vários idiomas e
culturas que estão na base da população brasileira, como afirma Vilela (1994, p. 12) ´´o
léxico do português actual é o resultado de um fio condutor essencial, o que provém do
latim, e de vários elementos, onde há empréstimos múltiplos e variados condicionamentos
sócio-culturais´´.
Além destas, o desenvolvimento econômico do Brasil Colonial que, devido a
monocultura e ao trabalho escravo, favoreceram os traços de ruralidade presentes na
cultura, como afirma Lucchesi (2004, p. 83) que a ´´fala dos mais velhos representa o
antigo português rural, profundamente alterado pelo amplo processo de contato linguístico
que permeou a ocupação do interior do Brasil.´´
Desta forma, este estudo tem por objetivo verificar e mapear as variantes lexicais para
menstruação, notando, assim, se a divisão dialetal deste item corrobora com a de Nascentes
(1953). Além dos fatores diatópicos, busca-se observar se as variáveis sociais são ou não
motivadores às escolhas das variantes, uma vez que as escolhas lexicais revelam
características do contexto social em que o indivíduo está inserido. (ISQUERDO, 2003)
1 Mestranda (bolsista CAPES) em Estudos da Linguagem pela Universidade Estadual de Londrina (UEL).
2 Professora Doutora do Departamento de Letras pela Universidade Estadual de Londrina (UEL) –
orientadora.
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1. Procedimentos Metodológicos
O Projeto ALiB – Atlas Linguístico do Brasil – conta com uma rede de pontos
constituída por 250 localidades distribuídas por todo o território nacional. Este trabalho
contempla 25 capitais brasileiras, com exceção de duas capitais de fundação mais recente:
Brasília e Palmas.
Os dados são obtidos através de inquéritos realizados com informantes selecionados
segundo critérios pré-determinados, como: diatópicos – nascidos e criados na localidade em
questão, não podendo ter passado mais de um terço da vida em outra localidade, e com pais
naturais da região em questão; diageracionais – duas faixas etárias (18 a 30 anos e 50 a 65
anos); diassexual – homem e mulher e diastrática – ensino fundamental e superior. A tabela
a seguir ilustra:
N.o
Informante Nível de escolaridade Faixa etária Sexo
01 Fundamental I (18-30 anos) Masculino
02 Fundamental I (18-30 anos) Feminino
03 Fundamental II (50-65 anos) Masculino
04 Fundamental II (50-65 anos) Feminino
05 Superior I (18-30 anos) Masculino
06 Superior I (18-30 anos) Feminino
07 Superior II (50-65 anos) Masculino
08 Superior II (50-65 anos) Feminino
Tabela 1 – Perfil dos informantes
Os inquéritos do ALiB são constituídos por questões de três níveis linguísticos:
fonético-fonológico, semântico-lexical e morfossintático. Além de questões de prosódia,
pragmática, temas para discursos semidirigidos, perguntas metalinguísticas e texto para
leitura. Este estudo, em particular, analisa as respostas dadas à questão 121 do questionário
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Semântico-Lexical “As mulheres perdem sangue todos os meses. Como se chama isso?”
(COMITÊ NACIONAL, 2001).
Os dados utilizados pertencem ao arquivo sono do ALiB. Estes foram,
primeiramente, transcritos e revisados, para então, realizar o levantamento e tabulação dos
dados os quais foram organizados em tabelas, gráficos com informações estatísticas e cartas
experimentais. Procedeu-se à busca em dicionários como Houaiss (2007), Ferreira (1986),
Cunha (1982) e Nascentes (1964) para verificar a lexicalização de cada uma das variantes.
2. Pressupostos Teóricos
´´É por meio da língua que o homem expressa suas idéias, as ideias de sua
geração, as ideias da comunidade a que pertence, as ideias de seu tempo.
A todo instante, utiliza-a de acordo com uma tradição que lhe foi
transmitida, e contribui para sua renovação e constante transformação.´´
(BRANDÃO, 1991, p.5)
2.1 Estudos Dialetológicos no Brasil
É considerado como marco inicial dos estudos dialetais no Brasil a obra O Dialeto
Caipira de Amadeu Amaral (1920), contudo, ganha impulso com a publicação de O
linguajar carioca de Antenor Nascentes (1963). Pode-se afirmar que a obra Introdução ao
estudo de língua portuguesa no Brasil (1985) de Serafim da Silva Neto foi um propulsor da
mentalidade dialetológica nacional, pois, nesta época, Neto propõe um projeto para criar
um Atlas Linguístico Nacional.
Ao final da década de 50, Antenor Nascentes publica Bases para a elaboração do
Atlas linguístico do Brasil, na qual propõe a produção de atlas regionais, além da clássica
divisão dialetal dos falares em: amazônico, baiano, mineiro, fluminense e sulista.
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Em 1963 é publicado o primeiro atlas regional brasileiro, o Atlas Prévio dos Falares
Baianos (AFPB), um marco na instauração efetiva da Geolinguística no Brasil. Após o
AFBP, vieram: Atlas Linguístico de Sergipe (1987); Esboço de um Atlas Linguístico de
Minas Gerais (1977); Atlas Linguístico da Paraíba (1984); Atlas Linguístico do Paraná
(1994/1996); Atlas Linguístico-Etnográfico da RegiãoSul (2002); Atlas Linguístico de
Sergipe II (2002); Atlas Linguístico Sonoro do Pará (2004).
Durante o seminário Caminhos e perspectivas para a geolinguística no Brasil em
1996, na universidade Federal da Bahia, criou-se o Comitê Nacional para elaboração do tão
sonhado Atlas Linguístico do Brasil, mudando definitivamente os ares da geolinguística
brasileira.
2.2 Histórico das Capitais
A doutora Aparecida Negri Isquerdo elaborou um estudo sobre a distribuição cronológica
em termos de século referente à fundação das capitais brasileiras, esta serviu como norte para
este estudo.
Século Capitais Povoamento
XVI Salvador, Natal, Recife,
João Pessoa, Rio de
Janeiro, São Paulo e
Vitória.
Primeiros habitantes indígenas nativos, sofrendo
invasões portuguesas, holandesas e francesas.
XVII Belém, Manaus, Aracaju,
Fortaleza, Maceió, São
Luiz e Curitiba.
Assim como no quadro anterior, habitantes nativos
indígenas. Foram também impulsionadas pelas mesmas
razoes que motivaram o surgimento do povoado no
primeiro século do Brasil Colônia.
XVIII Macapá, Cuiabá, Belo
Horizonte, Florianópolis.
Sua população tem origem nos portugueses e açorianos.
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XIX Boa Vista, Rio Branco,
Teresina, Campo Grande,
Goiânia, Porto Alegre.
Fruto da atividade extrativista, com primeiros povoados
ao redor do rio Acre.
XX Porto Velho Criada a partir das instalações portuárias, ferroviárias e
residenciais da Madeira-Mamoré.
2.3 Menstruação
O ciclo menstrual, afirma Guyton (2002) dura, em média, 28 dias e representa dois
fenômenos: a liberação de um óvulo pelos ovários e a preparação do endométrio para a
implantação do óvulo fertilizado no momento adequado do mês. A menstruação ocorre
caso não haja fecundação do óvulo, é a eliminação, através da vagina, do endométrio
uterino.
2.4 Dicionarização das Variantes
Verificou-se a dicionarização das variantes encontradas no estudo.
Nascentes (1964) explica:
Menstruação: S.f. O mesmo que mênstruo. Q.v. (Do latim menstruata).
Mênstruo: S.m. Fluxo de sangue, proveniente do útero, o qual se manifesta
mensalmente na mulher depois da puberdade.
Ferreira (1986) apresenta:
Chico: Bras. Pop. V. Menstruação
Ciclo: Ciclo menstrual
Estar de boi: Bras. N.E. Estar menstruada
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Menstruação: S.f. Med. Perda fisiológica de sangue de origem uterina, de caráter
cíclico, e que, habitualmente, retorna a cada período de cerca de quatro semanas, desde que
não tenha ocorrido a gravidez durante a fase em que a mulher e as fêmeas em algumas
outras espécies de primatas se encontram em período de reprodução.
Houaiss (2007) traz:
Chico: B. informal. menstruação
Estar de boi: B.N.E. informal. Menstruar
Menstruação: S.f. Fisiologia. Fluxo de sangue e restos de mucosa uterina
periodicamente eliminados pela vagina (ger. a cada período de cerca de quatro semanas),
nas mulheres não grávidas, entre a puberdade e a menopausa.
Regra: menstruação. Fisiologia
Sangrar o bode: B.N.E. informal. menstruar
3. Descrição e Análise dos Dados
As respostas dadas à questão 121 do Questionário Semântico-Lexical (QSL) do
ALiB (COMITÊ NACIONAL, 2001): “As mulheres perdem sangue todos os meses. Como
se chama isso?” levantaram diferentes variantes, bem como: menstruação, com/de boi,
com/de bode, regra, chico, bandeira vermelha, sinal vermelho, caneta vermelha, entre
outras. O universo total de respostas é constituído por 250 respostas, uma vez que alguns
informantes trouxeram mais de uma resposta.
Para ilustrar a distribuição dessas variantes, foi elaborada uma carta linguística
experimental, na qual são apresentados, além de dados diatópicos, os fatores
extralinguísticos. Em cada capital há duas cruzes, a da esquerda representa os informantes
de ensino fundamental, ao passo que a da direita, os de ensino superior. Os quadrados
referem-se ao sexo masculino e os círculos ao feminino. Os símbolos acima da linha, a
faixa etária I (18 a 30 anos) e os localizados abaixo da linha, a faixa etária II (50 a 65 anos).
Como foi encontrado um universo grande de variantes, na carta representamos
apenas as cinco mais produtivas, são elas: menstruação, regra, com/de boi, com/de bode e
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chico. As demais, estão aglomeradas em outras. Ao centro da cruz, estão as primeiras
respostas, os símbolos fora da cruz ilustram os casos nos quais os informantes deram uma
segunda resposta. Segue a carta:
Carta linguística experimental 1- Designações para menstruação
Ao observar a carta, verifica-se a predominância da variante menstruação como
primeira resposta pela quase totalidade dos informantes (73% das respostas). Essa
nomenclatura é encontrada em todos os dicionários pesquisados, revelando-se como a
forma de maior prestígio dentre as supracitadas.
As outras variantes comentadas a seguir, foram obtidas, em sua maioria, como
segunda resposta. Isto é, quando o inquiridor questionava o conhecimento de outras formas.
Regra, citada por Houaiss (2007), é a segunda variante mais produtiva (7%),
contudo, a diferença percentual entre esta e a mais produtiva é grande. É encontrada de
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forma aleatória em todas as regiões brasileiras, de forma que os fatores extralinguísticos
não se mostraram significativos na escolha.
A variante com/de boi representa 6% das respostas, é encontrada em dicionários,
como Ferreira (1986) e Houaiss (2007) como sinônimo para menstruação. Verifica-se sua
realização nas capitais litorâneas, preferencialmente por indivíduos do sexo feminino.
A resposta com/de bode engloba 6% das respostas, contudo, é encontrada apenas
em Houaiss (2007). Nota-se sua presença nas capitais da região Norte, além de São Luís e
Fortaleza. Assim como para regra, as variáveis sociais não favoreceram sua escolha,
A última variante analisada, chico, também está presente nos dicionários Ferreira
(1986) e Houaiss (2007) e reproduz-se em 4% das respostas. Foi encontrada na região
centro-sul, isto é, nas capitais Curitiba, São Paulo, Campo Grande e Belo Horizonte.
Considerações finais
As designações para menstruação nas capitais brasileiras revelaram a predominância
da variante de prestígio em toda a extensão territorial. Contudo, além desta, foram
encontradas outras variantes, bem como com/de boi, com/de bode, regra, chico, etc. as
quais revelam uma concorrência, em especial, como segunda resposta. A partir do
mapeamento, não foi possível corroborar com a divisão dialetal de Nascentes, hipótese
inicial.
Os demais fatores extralinguísticos, como sexo, idade e escolaridade não se
demonstraram relevantes nas escolhas pelas designações, contudo, a formação ruralista da
economia brasileira se mostra motivadora em escolhas como com/de bode e com/de boi. No
entanto, há aparente receio pelas escolhas de menor prestígio por grande parte dos
informantes.
Verifica-se, dessa forma, a existência de duas situações latentes: a preferência pela
forma padrão/prestigiada menstruação pela maioria dos informantes e a concorrência das
variantes de menor prestígio, em especial, no cenário de segunda resposta. Para verificar as
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motivações que ilustram esse quadro, faz-se necessário um estudo a respeito de tabus
linguísticos.
Referências
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