entrevista: tadashi endo
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ABRE ASPAS TADASHI ENDO BAILARINO
«Após adestruição, algonovo nasce»Texto MARCEL BANE marcel.bane@gmail.comFotos FERNANDO VIVAS fvivas@grupoatarde.com.br
Omestre japonêsTadashiEndoestreounospalcosfazendoteatroamadornadécadade
1960. Mudou-se para a Alemanha em 1970, onde recriou raízes e fixou moradia. For-
mado em direção de palco em Viena, é um dos grandes mestres do Butô, ou Butoh,
estilo de dança criado por Tatsumi Hijitaka, que carrega forte influência da dança ex-
pressionista alemã dos anos 1930 e da filosofia zen-budista. Autor do espetáculo Ikiru
– Réquiem para Pina Bausch, de quem foi amigo e com o qual percorre o mundo desde
2007, Endo colaborou com a Cia. De Teatro Lume, de Campinas, na criação do espe-
táculoShiZen–7Cuias, comoqual foi indicadoemduascategoriasdoPrêmioShell,em
2004.CoreografouedirigiuosatoresdopremiadofilmealemãoHanami–Cerejeiraem
Flor, de Doris Dörrie (2008). Atualmente dirige o Butoh-Center Mamu, em Göttingen,
onde mora. E entre o ser e o não ser, o estar e o desaparecer, Tadashi Endo passou por
Salvador, onde ensaiou e dirigiu os atores do Bando de Teatro Olodum na criação de
uma nova peça, ainda sem nome.
Comoosenhorcomeçounaartedadança
e como descobriu o Butô?
Até 1985, 1986, eu fazia somente
teatro, atuando e dirigindo peças de
Shakespeare, de Schiller. Parei de
trabalhar no teatro porque eu não
queria ser um artista acadêmico. Is-
so eu não queria. Então parei e criei
um grupo amador, mais orientado
para o movimento. Em 1989 eu co-
nheci Kazuo Ohno, que faleceu há
dois anos, aos 103 anos de idade, e
desde então eu danço Butô. Mas ele
estava no Japão e eu na Alemanha.
Eu não fui ao estúdio dele para
aprender Butô, não foi esse o caso.
Para mim, ele foi um pai. Através de-
le, eu conheci o Butô. Mas eu o dan-
ço com o meu próprio estilo.
O senhor crê que o Butô teria surgido se
não fosse pelas bombas sobre Hiroshima
e Nagasaki?
MuitagentemeperguntaseoButôe
a bomba atômica estão relaciona-
dos. Não diretamente. Mas o Butô
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«Trabalhando como Bando de TeatroOlodum, estoucurioso parasaber como é avida deles»
era para o povo japonês, com paisa-
gens, estilo de vida. E se nós pensar-
mos sobre o Japão, é claro que foi
um momento terrível quando as
bombas caíram sobre Nagasaki e Hi-
roshima, destruindo tudo. Uma si-
tuação horrível. Essa imagem carre-
ga algo muito feio, grotesco e que-
brado. Esse caráter existe muito no
Japão. E o Butô, especialmente, foi
criado por Tatsumi Hijitaka, que des-
cobriu uma outra estética não ligada
à beleza e à moda. E esse foi o início.
Então, indiretamente,éclaroquees-
sa imagem de Hiroshima estava re-
lacionada.
O manifesto MAMU, escrito pelo senhor,
diz que o Butô está em toda parte.
O butô era uma dança que veio do
Japão. Mas, o espírito do Butô, eu
quero encontrar cada vez mais fora
do Japão. Agora, trabalhando com o
Bando de Teatro Olodum, composto
por negros, estou curioso para saber
como é a vida deles e quais os mo-
tivos que os levaram a fazer teatro
ou dança, isso é ambicioso. E isso
nãoétipicamentebrasileirooujapo-
nês. É humano e existe em toda par-
te. Isso é MAMU. O manifesto que
escrevemos tinha como alegoria o
mamute, que foi extinto. O que
aconteceu com os filhos do mamu-
te?Somosnós,os filhosdomamute.
Após a destruição algo novo nasce.
Essa é a primeira vez que trabalha com o
Bando. Qual foi a primeira impressão?
Euosvipelaprimeiraveznoanopas-
sado. Eles apresentaram Cabaré da
Raça, cantando, dançando e tocan-
do instrumentos com uma energia
fantástica. Aí eu me perguntei: “Por
que o povo negro tem essa energia,
diferente da que nós, japoneses, te-
mos?” Eu estava tão curioso. Este foi
o motivo pelo qual eu disse ao Már-
cioMeirelles,apósoespetáculo,que
gostaria de trabalhar com eles.
O que aconteceu nos três dias de ensaio
com o Bando?
Fizemos muito improviso. Um ponto
importante foi o exercício da memó-
ria. Todos tiveram de lembrar de al-
go importante da infância. Essas
memórias têm um significado im-
portante durante toda a vida. Claro
que fizemos também bastante tra-
balho corporal. E continuaremos fa-
zendo em setembro. Fiz uma sele-
ção. De cerca de 20 atores eu sele-
cionei 6 ou 7 para a próxima fase.
O senhor criou um espetáculo chamado
Ikiru em homenagem a Pina Bausch. Co-
mo surgiu a ideia deste espetáculo?
Eu queria dizer-lhe “obrigado” e
mostrar o grande respeito que te-
nho por ela. Então é uma homena-
gem à pessoa da Pina, não apenas à
sua condição de criadora da dan-
ça-teatro. É uma homenagem tam-
bém a Kazuo Ohno e ao meu pai, ao
meu irmão mais novo, que morreu
há 4 anos. Isso significa que se eu danço com este corpo
concreto, eu me movo. Mas existe algo além deste corpo no
palco,quandoeudanço.E issoninguémpodever.Éamorte.
São as pessoas mortas. Essas pessoas me deram muita co-
ragem para fazer o que eu faço. Por isso ainda estou vivo. E
para mim é algo mais do que morte e vida. É a alma.
Qual a sua memória mais querida da Pina Bausch?
Ela aceitava tudo dos seres humanos. Ela dizia estar inte-
ressada não no “quem” mas no “por que”. Ela estava o tem-
po inteiro buscando. Ela nunca dizia: “Faça desta maneira”.
Ela estava sempre improvisando. Às vezes os dançarinos fi-
cavam confusos e ela improvisava. Era uma grande estrela.
Mas ainda assim, era tão polida. Nunca era arrogante.
O senhor tem vindo ao Brasil com uma certa frequência.
Euvimpelaprimeiravezhá10,11anos.Aprimeiravezeufui
a Campinas a convite da Cia. Lume. Eu me apresentei e rea-
lizei um workshop. Aí eles mostraram interesse em traba-
lhar comigo. Aí eu criei a peça Shizen - 7 Cuias, com todos os
atores e atrizes da Companhia Lume, que ganhou o Prêmio
Shell. E, desde então, muitas pessoas me convidam para
festivais em outras cidades. Já fui para Belo Horizonte, For-
taleza, Rio, Porto Alegre, Goiânia.
Quando o senhor está se apresentando, há espaço para pen-
samentos? Parece sempre estar em um tipo de transe.
Se eu danço em performance solo, para mim é sempre um
espírito de “é agora ou nunca”. No ano passado, quando eu
estava em São Paulo, eu tinha de me apresentar no mesmo
dia em que recebi a notícia da catástrofe em Fukushima. Eu
quis ligar para a minha mãe, em Tóquio. Mas as linhas es-
tavam fora do ar. Eu estava muito nervoso. Aí eu pensei: “É
um momento tão terrível no Japão e eu estou dançando no
Brasil. Qual o sentido de subir ao palco? O que estou fa-
zendo?” Mas decidi dançar. E falei com o público ao final da
performance. ”Foi muito bom para mim ter decidido dan-
çar.Porqueissoéoquemefazumartista,umdançarino,um
butoísta. Só a chance de poder fazer isso já vale a pena”. Se
eu parar, então eu não sou nada. Se eu não fizer, as coisas
nunca acontecem. É esse tipo de concentração que tenho.
Qual a diferença entre coreografar um grupo de teatro e fazê-lo
com atores, para a tela grande?
O bailarino Tadashi
Endo, durante ensaio
com o Bando de
Teatro Olodum
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DIV
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AÇÃO
10 SALVADOR DOMINGO 18/3/2012 11SALVADOR DOMINGO 18/3/2012
A diretora do filme Hanami – Cere-
jeira em Flor veio a um dos meus
workshops, porque havia visto o Ka-
zuo Ohno dançando na TV. Ela não
sabia o que aquilo era, mas ficou tão
fascinada. Ela conhecia muito da cul-
tura do Japão e do budismo japo-
nês, mas não conhecia o Butô. Então
veio ao meu workshop e me pediu
para ajudá-la com uma peça. Duran-
teosensaios,medissequequeriafa-
zer um filme com o Butô. Eu fiquei
um pouco cético, porque até pouco
tempo ela sequer conhecia o Butô.
Osalemãestêmumconceito,zugän-
glichkeit, algo que existe, mas logo
desaparece. Isso está por trás da flor
de cerejeira também. As pessoas es-
perampelas floresdecerejeiraoano
inteiro. Mas quando elas florescem,
vem o vento e logo elas desapare-
cem. O Monte Fuji é uma paisagem
linda, mas o ano inteiro está nubla-
do. Na minha vinda inteira me lem-
bro de ter visto apenas duas ou três
vezes a bela silhueta do monte, cla-
ramente. É claro que o monte está lá
o tempo todo, mas, para nós, ele
existe e no instante seguinte vêm as
nuvens e ele desaparece. Ela me fa-
lou do zugänglichkeit, aí eu pensei:
“Ah, ela entendeu um aspecto muito
profundo do Butô”. Claro que coreo-
grafar os atores e atrizes não foi tão
fácil. Mas desde o início, a história, o
contexto, a filosofia estavam muito
claros para mim. «
«Se eu parar, então eu não sou nada. Seeu não fizer, as coisas nunca acontecem.É esse tipo de concentração que tenho»
ATALHO DANDUN CAFÉ & GOURMET
Sobrado reúne arte, decoração e comida
Texto RONALDO JACOBINA rjacobina@grupoatarde.com.br Foto FERNANDO VIVAS fvivas@grupoatarde.com.br
DESTAQUE Aproveite para visitar a galeria dearte e a loja Madu, que ficam no mesmosobrado. Segunda a sexta, das 8h às 18h.Sábados, das 8h às 13h.ONDE FICA Alameda das Algarobas, 74.Caminho das Árvores. Tel.: 71 3419-2977
A ideia do arquiteto Décio Viana quando montou o Sobrado, no Caminho das Árvores, era
reunir num só lugar decoração, moda e comida. Foi neste último item que entrou a dupla
Helena Araújo e Genilda Souza. Elas buscavam um espaço para montar um café gourmet
e se encantaram com a ideia de ter, além de uma pequena área climatizada, uma outra,
aberta.Assimnasceu,emjaneiroúltimo,oDandunCafé&Gourmet.Onomefoidadopelo
filho de Helena, Samuel, de 8 anos, mas as delícias que elas servem lá vêm do forno e do
fogão das duas. Além dos cafés, quentes e gelados, tem uma torta de bacalhau (R$ 6,70)
que é de comer rezando. A massa desmancha na boca. Para acompanhar, peça o suco
Dandun. A receita parece meio esquisita (maracujá ou pêssego, batido com refrigerante
de limão), mas o sabor compensa o choque inicial. Para arrematar, vá de trufa de damasco
(R$ 3,40). Depois, ouça o som da água que cai da cascata e siga sem culpa.
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