educaÇÃo fÍsica, educaÇÃo de jovens e adultos (eja) e … educaÇÃo fÍsica... · de corpo...
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EDUCAÇÃO FÍSICA, EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS (EJA)
E A EDUCAÇÃO DA DIFERENÇA
Rosa Malena Carvalho (IEF/UFF – rosamalena@vm.uff.br)
Desejando contribuir com movimentos e sentidos educacionais que favoreçam indicar e
construir pistas para os desafios presentes nas escolas contemporâneas, partimos da
hipótese de que a diversidade de situações, experiências, tempos, espaços, práticas
pedagógicas e sujeitos encontrados nos cotidianos escolares e os da formação docente
possibilitam tensionar noções hegemônicas de educação, corpo e práticas corporais.
Considerando a Educação de Jovens e Adultos (EJA) como direito e devir, diferenciando-
a dos sentidos de carência, incapacidade e suplência, interrogando o que é considerado
“básico” na educação, problematizamos algumas noções hegemônicas (fruto de ideário
linear e cartesiano que categoriza e hierarquiza os seres humanos, de acordo com a etnia,
o gênero, a sexualidade, a faixa etária, o tônus muscular, a altura, o peso etc) e, passamos
a perceber o corpo como produção sociocultural – o que é falar em corporeidades. Dessa
forma, podemos diminuir as intensidades do previsto e do prescrito, fortalecendo
movimentos, fluxos e processos educacionais que se constituam como lugares marcados
por encontros, agenciamentos de pessoas, acontecimentos e eventos que materializem
formas societárias e práticas pedagógicas potencializadas por multiplicidades e
diferenças. Com a colaboração de autores como Carmen Soares, Gilles Deleuze, Silvio
Gallo, Paulo Freire, René Schérer, apresentamos avaliações preliminares de Curso de
Extensão para Professores que atuam com a Educação Física na EJA, desenvolvido com
objetivo de abordar as práticas corporais como invenção e patrimônio em construção, pela
humanidade, ao longo dos tempos. Ao compartilhar os resultados do processo
desenvolvido, identificamos a fragilidade dessa discussão e, afirmamos as formações de
Professores/as, iniciais e permanentes, como local privilegiado para contribuir com a
mudança dessa realidade.
Palavras-chave: Corporeidades. Educação Física. Educação de Jovens e Adultos.
Corporeidades e encontros pela Educação Física
(...) Socorro!
Alguém me dê um coração
Que esse já não bate nem apanha
Por favor!
Uma emoção pequena, qualquer coisa!
Qualquer coisa que se sinta...
Tem tantos sentimentos
Deve ter algum que sirva
Qualquer coisa que se sinta
Tem tantos sentimentos
Deve ter algum que sirva... (...)
(Trecho da música Socorro, de Arnaldo Antunes)
Didática e Prática de Ensino na relação com a Sociedade
EdUECE - Livro 301734
Destacar as experiências corporais no processo de escolarização significa, na
maioria das vezes, deparar-se com uma concepção ainda predominante, na qual as
vivências dos sujeitos constituem-se em obstáculo daquilo selecionado como importante
para ensinar e aprender - no máximo sendo percebidas como algo menor, apenas um meio
para o que foi escolhido como conhecimento válido.
As experiências, entendidas como “o que nos passa, ou o que nos acontece, ou o
que nos toca. Não o que passa ou o que acontece, ou o que toca” (LARROSA, 2004, p.
154) são pouco consideradas como produção humana e, importantes no processo escolar.
Talvez, por isso, existam músicas como a mencionada acima, na epígrafe...
Objetivando problematizar as formas como as práticas corporais são
desenvolvidas nas escolas públicas, em particular na Educação de Jovens e Adultos,
indagamos o porquê da negação e do afastamento das expressões e movimentos corporais
nesse processo de escolarização.
Ao falar em corporeidade, consideramos as relações anatômicas, fisiológicas com as
condições históricas, sociais. E, vamos
(...) além das semelhanças ou diferenças físicas, [pois] existe um conjunto de
significados que cada sociedade escreve nos corpos de seus membros ao
longo do tempo, significados estes que definem o que é corpo de maneiras
variadas (DAOLIO, 1995, p. 36-37)
Ao considerá-la no contexto heterogêneo e complexo da EJA, percorremos o
caminho de entender corpo e educação como multiplicidade, diferença, particularidade - e
não como universal. Sem esquecer que nossa capacidade de singularização requer olhar com
aproximação e estranhamento a realidade que nos forma e por nós é formada, pois “Tornar-se
humano é tornar-se individual, e nós nos tornamos individuais sob a direção dos padrões
culturais, sistemas de significados criados historicamente em termos dos quais damos forma,
ordem, objetivo e direção às nossas vidas” (GEERTZ, 1989, p. 64).
Assim, nossas histórias e marcas corporais estão relacionadas com as diferentes
formas de dialogar com as intensidades das nossas relações. Os encontros - que
constituem os processos escolares -, podem ser alegres, críticos, mobilizadoras da minha
inconclusão (GALLO (2008), FREIRE (1971)). O que nos faz interrogar as compreensões
de corpo que o define por instâncias independentes e separadas: a mente (configurando a
nossa razão, lógica, pensamento), os sentimentos (formando as nossas sensações,
“espiritualidade”, desejos) e o corpo (constituído por ossos, músculos e demais
componentes anatômicos e fisiológicos). Junto à lógica da meritocracia e hierarquização,
Didática e Prática de Ensino na relação com a Sociedade
EdUECE - Livro 301735
tão presentes em nossa sociedade, aprendemos a considerar o corpo em nível de menor
importância, potencialmente em situação de pecado e degradação.
No sistema educacional preponderante, impregnado pelas formas neoliberais de
pensar a vida, muitas vezes as práticas pedagógicas tornam-se violentas, afirmando,
valorizando, privilegiando determinados caminhos das nossas existências. Pois,
(...) a atual reorganização global da economia capitalista assenta,
entre outras coisas, na produção contínua e persistente de uma
diferença epistemológica, que não conhece a existência, em pé de
igualdade, de outros saberes, e que por isso se constitui, de fato, em
hierarquia epistemológica, geradora de marginalizações,
silenciamentos, exclusões ou liquidações de outros conhecimentos
(SANTOS, 2001, p. 54).
Reconhecendo que ainda prevalece esse encaminhamento da vida em sociedade –
o que inclui a educação -, também consideramos que há outras formas. Dentre essas, nos
aproximamos daquelas marcadas pela heterogeneidade, conflitos, contradições, rupturas.
O que consideramos conter possibilidades de invenções e mudanças. Gallo (2003), ao
convidar a pensar a “educação da diferença” pela diversidade e não pela unidade, também
sugere pensar os que estão diante de nós a partir dos encontros. Mas, entender os alunos
pelo que dizem e, pelas maneiras como dialogam com as histórias e condições que o
formam - não pelo que nos disseram que eles são - é tarefa complexa. Assim como
entendermos as práticas pedagógicas nas relações entre escolas, formação de professores
e sociedade, tema central desse evento, pelos nossos encontros – não “pelo que dizem”
das diferentes práticas pedagógicas...
Entendendo que esse também é um dos desafios presentes na formação docente,
o “Curso de Extensão: Educação Física e Educação de Jovens e Adultos (EJA)”,
desenvolvido por Instituição Pública Federal na região metropolitana do Rio de Janeiro,
objetiva contribuir para a formação permanente dos professores da Educação Básica,
fortalecendo a importância da problematização, do planejamento e dos registros na
organização das práticas pedagógicas. Nesse processo, a presença de licenciandos,
bolsista de extensão do curso e da iniciação científica, também objetiva aproximar a
formação inicial dessa Modalidade e, o Ensino Superior da Educação Básica.
Aqui, compartilhamos as primeiras avaliações desse Curso, que vem sendo
realizado desde 2012, com intenção principal de fortalecer a educação pública, gratuita e
de qualidade nas diversas modalidades e níveis de ensino.
Didática e Prática de Ensino na relação com a Sociedade
EdUECE - Livro 301736
A EJA e a formação continuada
Há um Menino!
Há um Moleque!
Morando sempre no meu coração
Toda vez que o adulto balança
Ele vem prá me dar a mão...
(Trecho da música “bola de meia, bola de gude”. Grupo 14 bis)
Ao direcionar nosso olhar para a Educação de Jovens e Adultos (EJA), percebemos
que a heterogeneidade é marca desse contexto, o qual é constituído por homens, mulheres,
adolescentes, idosos, pessoas que iniciam a escolarização, outros que voltam. O que coloca
em xeque muitas ideias que vem marcando os processos educacionais por encaminhamentos
de consenso e homogeneidade (como a constituição de turmas por alunos e alunas da mesma
idade cronológica; mesmo desempenho acadêmico; etc etc).
As tentativas de vários projetos e programas educacionais, direcionados à EJA,
em “regularizar” a “distorção idade-série escolar” indica o quanto a homogeneidade ainda
é referência e objetivo. A pouca literatura relacionada à EJA também sinaliza o quanto
pensar a escolarização é pensar, predominantemente, uma determinada faixa etária, com suas
atuais e condições hegemônicas.
Isso é negar a trajetória de luta desse grupo social pelo direto à educação. As
próprias Diretrizes, emanadas pelo MEC afirmam que
(...) a Educação de Jovens e Adultos (EJA) representa uma dívida
social não reparada para com os que não tiveram acesso a e nem
domínio da escrita e leitura como bens sociais, na escola ou fora dela,
e tenham sido a força de trabalho empregada na constituição de
riquezas e na elevação de obras públicas. Ser privado deste acesso é,
de fato, a perda de um instrumento imprescindível para uma presença
significativa na convivência social contemporânea (BRASIL, 2000, p.
05).
Falar da EJA é abordar esse legado histórico, o qual muitos tentam modificar e,
ao mesmo tempo, ir além, pois nossos olhares e atenção não estão imobilizados pelo
passado. Quando Schérer (2009) diz que “o devir-criança é a abertura ou o desdobramento
da infância retraída; daquela que a educação obriga a se retrair sobre si mesma” (op. cit., p.
199), identificamos que as funções reparadora, equalizadora e qualificadora apontadas
pelas Diretrizes Curriculares Nacionais para EJA, emanadas pelo Conselho Nacional de
Educação (CNE) em 2000, podem ser aliadas à essa abertura ao novo, pois convidam a
pensar na educação permanente.
Dentro deste caráter ampliado, os termos “jovens” e “adultos” indicam
que, em todas as idades e em todas as épocas da vida, é possível se
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EdUECE - Livro 301737
formar, se desenvolver e constituir conhecimentos, habilidades,
competências e valores que transcendam os espaços formais da
escolaridade e conduzam à realização de si e ao reconhecimento do
outro como sujeito (SOARES, 2002, p. 43).
Embora, em muitas aulas os jovens, adultos e idosos ainda sejam colocados (e
colocam-se) como não desejados e incapazes. E, em alguns momentos, como em diversas
aulas de educação física, quando se permitem brincar e jogar, sentem-se crianças
(novamente ou pela primeira vez...).
Mencionar isso também é concordar com Schérer (2009) quando, ao citar Deleuze,
indica um “devir- criança” contra
(...) a idéia do retorno a uma infância que seria inocência. O devir, ao
contrário, é escapada, a linha de fuga da infância: não num sonho que
seria apenas o substituto, a compensação das frustrações do real – que,
pedagogicamente, conviria fazer com que ele retornasse – mas, num
distanciamento que lhe permita forjar as armas para a luta (op. cit., p.
206).
Assim, os jovens, adultos e idosos que jogam, brincam e dançam, sentindo estas
experiências como direito, no contexto em que hoje se encontram, podem ajudar a superar
a lógica do divertimento e da alegria apenas como “ferramenta” para a educação. Nesta outra
possibilidade, afirma-se como constituinte do humano e, sendo adulto, dialoga com as
condições em que está inserido – condicionado, mas não determinado por ela.
Desejando fortalecer este sentido, em que o vir a ser esteja presente, uma
proposta curricular que considere as corporeidades e experiências dos seus sujeitos pode
ter como referência, discutir, estudar, explorar o que os alunos e alunas trazem para
as escolas – o que significa diálogo entre saberes, no qual as práticas pedagógicas e
vida fora e dentro da escola constituem-se em dobras, em entre - lugares, pois
No campo dos devires, na praia em que os corpos se movem e as
múltiplas atrações – sobrecarregadas de intensidades variáveis, de ritmos
mais rápidos e mais lentos – dispersam-se e concentram-se em
alternância, o que conta é o meio, lugar de evasão, saída, deambulação e
traçados de “mapas” ou de “erros” (...) (SCHÉRER, 2009, p. 205).
De uma maneira geral, nos processos escolares, encontramos a Educação Física
como área do conhecimento “responsável” por tratar e educar o corpo e o movimento.
Na lógica predominante, a forma como seleciona os conteúdos específicos, os
desenvolve, a relação que estabelece com as demais áreas do conhecimento acabam
valorizando um determinado tipo de técnica (em particular, a excelência dos gestos de
alguns esportes, em sua forma competitiva), negando outras experiências,
principalmente dos que fazem parte dos grupos e camadas socialmente desfavorecidas -
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EdUECE - Livro 301738
auxiliando, assim, a excluir as histórias e a memória corporal daqueles que têm suas
histórias e memórias “normalmente” excluídas e apagadas.
Nos movimentos curriculares em que prevalecem estas ideias, o corpo ideal de
aluno ainda é o imóvel, em silêncio, jovem, saudável, limpo, agrupados por faixas etárias
homogêneas, disciplinadamente trabalhando as atividades propostas... Em uma
organização dos espaços e tempos tão prescritos, como potencializar diferentes
corporeidades e, neste processo, discutir e encaminhar novas possibilidades de
Educação?
O “Curso de Extensão: Educação Física e Educação de Jovens e Adultos (EJA)”
surgiu como espaço de encontro, diálogo e produção com os Professores de Educação
Física que atuam na EJA. Ao mesmo tempo, local em que graduandos, bolsistas de
extensão, de iniciação científica e de projetos de ensino, pudessem ter acesso direto a
quem atua nessa Modalidade.
Vem sendo norteado pelas seguintes indagações: como as concepções
relacionadas à Educação Física Escolar dialogam com o cotidiano escolar? Quais as
relações com a formação e atuação dos/as Professores/as em exercício na EJA? Quais as
possibilidades de integração e parceria, através da Educação Física Escolar, entre
Educação Básica e Ensino Superior? Quais os impactos desta parceria e integração na
formação de professores desenvolvida pelo Instituto de Educação Física da Universidade
pública federal que o desenvolve?
Movidos por essas indagações, percorremos o caminho de orientar essa prática
pedagógica pela compreensão do corpo e das práticas corporais como produtos e
produtores de significados sociohistóricos, extrapolando o entendimento exclusivamente
biológico, auxiliando a desnaturalizar o que entendemos por conhecimento, processo
educacional e vida (SOARES et al, 1998). Dialogar práticas corporais com processos
escolares requer compreender os significados atribuídos ao corpo e às práticas corporais
em todas as situações da vida em sociedade. Processo que solicita formação permanente,
vivida como busca e agenciamento constante, procurando reunir e atravessar elementos e
conjuntos cada vez mais abrangentes, integrando diferentes saberes e sujeitos.
Assim, ao realizar essa discussão com os Professores do Curso de Extensão,
percebemos o quanto iniciativas como este projeto estreitam a relação
escola/universidade; faz com que os graduandos se vejam como
professores/pesquisadores desde o início de sua formação e, outro fator que tem se
Didática e Prática de Ensino na relação com a Sociedade
EdUECE - Livro 301739
revelado importante, é o quanto os professores que atuam nessa modalidade, nas
diferentes redes de ensino público, solicitam espaços para trocas e formação continuada.
Formação de Professores – pistas para breves considerações e intenso debate
Uso a palavra para compor meus silêncios.
Não gosto das palavras
fatigadas de informar.
[...] Dou respeito às coisas desimportantes
e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que a dos mísseis.
[...] Meu quintal é maior do que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios:
Amo os restos
como as boas moscas.
Queria que a minha voz tivesse um formato de canto.
Porque eu não sou da informática:
eu sou da invencionática.
Só uso a palavra para compor meus silêncios
(Trecho da poesia O apanhador de desperdícios. Manoel de Barros)
Desejando que essas reflexões fortaleçam professores e processos comprometidos
com mudanças na educação, em que a discussão dos problemas sociais, as reflexões em
relação às práticas escolares sejam questões imprescindíveis ao planejamento
pedagógico, apresentamos aqui as avalições preliminares desse Curso de Extensão.
Em geral, as experiências vêm apontando que a maioria dos docentes que iniciam
sua prática pedagógica na EJA não conhece as necessidades e características dessa
modalidade, poucos sendo ouvidos se querem atuar com esses alunos. Com nenhuma
preparação especifica para lidar com esse publico, acabam reproduzindo um tratamento
didático semelhante às demais modalidades do ensino básico, gerando uma grande
distância entre o que é proposto, em termos de diretrizes, concepções e possibilidades
educacionais produzidas por quem pesquisa e conduz os sistemas educacionais e, o que
se vivencia e desencadeia nos cotidianos das salas de aula na EJA.
Com o objetivo de aproximar e pensar o papel da Educação Física na Educação
de Jovens e Adultos, discutir a heterogeneidade presente no Ensino de Jovens e Adultos,
um Curso de Extensão para quem atua com a Educação Física na Educação de Jovens de
Adultos, vem acontecendo desde 2012, em Universidade pública federal da região
Didática e Prática de Ensino na relação com a Sociedade
EdUECE - Livro 301740
metropolitana do Rio de Janeiro. O diálogo vem ocorrendo com Professores da rede
pública Estadual e dos municípios vizinhos à Universidade.
Em seu terceiro ano de execução, ocorre ao longo do ano letivo, com um encontro
presencial, no qual são privilegiadas discussões coletivas; oficinas; leituras de
textos/imagens; problematização do cotidiano escolar; diálogo do cotidiano com as
concepções de Educação Física. O Público alvo são Professores de Educação Física com
atuação na Educação de Jovens e Adultos.
De cada encontro presencial, os Professores saem com duas tarefas: um local para
visitar (previamente combinado, poderá ser de livre escolha) e, uma leitura a ser
executada até o encontro seguinte. A visita tem objetivo de destacar a importância das
experiências culturais em nosso processo formativo profissional e pessoal (incluindo o
lazer) e, incentivar a ampliação desse universo (pelas trocas do realizado, mantendo a
curiosidade, tempo e desejo em conhecer diferentes espaços e situações sociais).
A avaliação é processual, ao longo do curso, através das participações, leituras,
debates e visitas aos espaços/eventos agendados. Tem objetivo de conduzir os encontros
seguintes, no desenvolvimento do realizado e, de que os Professores continuem sua
formação continuada. Alguns se inscrevem em processo seletivo para a Especialização
em Educação Física Escolar, oferecida pela mesma instituição.
Em 2012 foi realizado em dois pólos diferentes – o que foi modificado em 2013
e 2014 pela demanda na execução do Curso, no conjunto da organização do trabalho da
Coordenação do Curso.
O número de inscritos está diretamente relacionado com a forma como a Educação
Física se insere em cada sistema público de ensino: no primeiro ano, alguns professores,
da rede municipal que é a mesma da Instituição Pública Federal, iniciaram e logo
desistiram, pois naquele ano a Educação Física foi retirada da matriz curricular dessa
rede.
O público maior sempre foi da Rede Pública Estadual, nesse ano em que há
mudança significativa da presença da Educação Física, pela redução das aulas na chamada
NovaEJA, há diminuição sensível desse professorado. Ao mesmo tempo, em função da
expectativa do retorno à matriz curricular da rede municipal em que se localiza, houve
aumento (ver quadro 01 - após as referências). Isso nos fez intensificar a noção de que
uma prática pedagógica não se faz por ela mesma (JULIÁ, 2002) e, por isso, ampliamos
a característica do público alvo, para dialogar com gestores da Educação de Jovens e
Didática e Prática de Ensino na relação com a Sociedade
EdUECE - Livro 301741
Adultos. Assim, em 2013 e em 2014 contamos com a participação de Pedagogas,
coordenadoras em exercício na EJA.
Em relação à faixa etária e tempo de formado, identificamos que os inscritos, em
sua maioria, estão na faixa etária entre 30 e 50 anos e, com 15 anos ou mais de formados,
como indica o quadro 02 (após as referências).
Junto com esses dados, os relatos desses Professores que realizam o curso,
indicam que o mesmo vem contribuindo na formação permanente, através do
fortalecimento da problematização, do planejamento e dos registros na organização das
práticas pedagógicas.
Dos objetivos iniciais traçados, percebemos que estamos fortalecendo a atuação
universitária voltada à pesquisa e ao desenvolvimento de vínculos interinstitucionais;
contribuímos com a presença e ampliação das possibilidades da pesquisa na Formação de
Professores/as para a Educação Física Escolar; colaboramos com aprimoramento do
sentido social, emancipador e a função pública do projeto pedagógico da Formação de
Professores/as da Universidade em que o Curso está inserido. Os Licenciandos
envolvidos destacam o quanto mudou olhar sobre a EJA, pois notam que não
compreendiam o sentido social que existia nos estudos e no cotidiano da educação básica,
especialmente na EJA. E, agora, percebem a importância e a responsabilidade que é
trabalhar com a EJA, assim como a seriedade e o carinho presentes na forma como os
Professores, Cursistas, falam desses alunos. O que reforça a ideia do quanto a formação
docente exige a formação permanente. A inscrição no Curso revela professores
mobilizados para a realização de mudanças na educação, em que a discussão dos
problemas educacionais, as reflexões em relação às práticas pedagógicas são questões
presentes nas comunidades escolares. Os professores buscam, assim, ressignificar sua
práxis, possibilitando mais qualidade nos processos de construção e reconstrução do
conhecimento. Esse é um movimento contínuo de investigação e pesquisa que coloca a
prática pedagógica, a identidade profissional, os diferentes saberes e as transformações
sociais como objetos de estudo e possíveis transformações (GADOTTI, 2004).
Nesse processo, todos os envolvidos no Curso destacam a necessidade de entender
melhor quem são os alunos da EJA, na perspectiva de superar a ideia de que “já passou
da fase de aprender” - pois isso é negar o que o aluno conhece e desmotivá-lo a estar no
espaço escolar. O que não é fácil, em uma sociedade que, de maneira geral, conhece o
tempo como soma linear do passado, presente e futuro. Já o tempo abordado como
relação, intensa, provoca a pensar nas práticas sociais que estão intimamente ligadas aos
Didática e Prática de Ensino na relação com a Sociedade
EdUECE - Livro 301742
tempos fixos, imóveis. Questionar isso é desejar provocar rupturas em algumas ideias
dominantes e, nesse processo, criar novas possibilidades, inaugurando recomeços,
infâncias dos acontecimentos (KOHAN, 2007).
A experiência com os professores que atuam na EJA, através do Curso de
Extensão, vem nos apontando uma grande dificuldade em sair dos tempos, espaço e ideias
fixas. Em diversos momentos, o contexto escolar pede o chamado “quadrado mágico” (as
quatro modalidades dominantes nas aulas de educação física: vôlei, futebol, basquete e
handebol), quando alunos e Professores de outras áreas reforçam essa lógica dominante,
ao reconhecerem (muitas vezes pressionando) a existência exclusiva dessas práticas
corporais, de forma esportivizada.
O que auxilia a negar o lúdico, processos criativos e criadores, a diversão e outras
práticas pedagógicas que fortaleçam uma educação física que contextualize as práticas
corporais; que valorize as histórias e marcas corporais dos alunos; com predominância de
aulas inclusivas.
O processo não é simples, mas movidos pela ideia de pensar nas infâncias da EJA,
a Educação Física pode fazer parte dessa possibilidade, ao questionar a lógica dos corpos
“sarados”, do desejo pela “eterna juventude”, dos movimentos e gestos “perfeitos”.
Ao fazer parte do grupo que questiona essa lógica, os Professores Cursistas, junto
com os Licenciandos da graduação em Educação Física, identificam as formações de
Professores/as, iniciais e permanentes, como local privilegiado para contribuir com a
mudança dessa realidade.
No desdobramento do Curso, iniciado em 2014, investiremos na discussão da
intergeracionalidade, pois notamos que é uma das grandes preocupações dos diversos
Professores na EJA. As diferenças de idade tem sido uma crescente notável nas aulas e,
devido a isso, os professores encontram dificuldades em realizar atividades coletivas e
inclusivas. O que vai ao encontro de uma educação pela e com a diferença.
Para esse e outros desdobramentos, compor o Painel Educação Física e Educação
de Jovens e Adultos: campo de diálogo, resistência e enfrentamento, dialogando com
diferentes Professores no XVII Encontro Nacional de Didática e Prática de Ensino
(ENDIPE), em muito contribuirá.
Referências citadas:
BRASIL. Diretrizes Curriculares Nacionais para a EJA. Brasília: CNE/CEB, Parecer
11/2000.
Didática e Prática de Ensino na relação com a Sociedade
EdUECE - Livro 301743
CARVALHO, Rosa Malena. Curso de Extensão Educação Física e Educação de
Jovens e Adultos. Projeto apresentada à Pró-reitora de Extensão da Universidade Federal
Fluminense, Niterói, fevereiro de 2014.
DAOLIO, Jocimar. Da Cultura do Corpo. Campinas: Papirus, 1995.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1971.
GADOTTI, Moacir. Pensamento Pedagógico Brasileiro. 8ª ed. São Paulo: Ática, 2004.
GALLO, Sílvio. Eu, o outro e tantos outros: educação, alteridade e filosofia da
diferença. In: Anais do II Congresso Internacional Cotidiano: Diálogos sobre Diálogos.
Rio de Janeiro: Universidade Federal Fluminense, Faculdade de Educação, 2008.
_____________ Deleuze & a Educação. Belo Horizonte: Autêntica, 2003.
GEERTZ, C. A Interpretação das Culturas. Rio de Janeiro: Guanabara, 1989.
JULIÁ. Disciplinas Escolares: objetivos, ensino e apropriação. In LOPES & Macedo.
Disciplinas e integração curricular: história e políticas. Rio de Janeiro: DP&A, 2002, p.
37-71.
KOHAN, Walter. Infância, estrangeiridade e educação – Ensaios da filosofia e
educação. Belo Horizonte: Autêntica, 2007.
LARROSA, Jorge. Linguagem e Educação depois de Babel. Belo Horizonte: Autêntica,
2004.
SANTOS, Boaventura. A crítica da razão indolente. 3ª ed. São Paulo: Cortez, 2001.
SCHÉRER, René. Infantis – Charles Fourier e a infância para além das
crianças. Belo Horizonte: Autêntica, 2009.
SOARES, Carmen et all. Metodologia do Ensino da Educação Física. 5ª Ed. São Paulo:
Cortez, 1998.
SOARES, Leôncio. Educação de Jovens e Adultos. Rio de Janeiro: DP&A, 2002.
Didática e Prática de Ensino na relação com a Sociedade
EdUECE - Livro 301744
Quadro 01
2012 – Pólo
sede
2012 – 2º Pólo 2013 – Pólo sede 2014– Pólo sede
Número
de
professores
31
(18 mulheres e
13 homens)
15
(08 mulheres e 07
homens)
31
(16 mulheres e 15
homens)
10
(08 mulheres e 02
homens)
Rede
Pública
Estadual: 15
Município em
que a Instituição
se localiza: 05
Outros
Municípios: 11
Estadual: 03
Município em que o
pólo se localiza: 09
Outros Municípios:
03
Estadual: 13
Município em que a
Instituição se
localiza: 01
Outros Municípios:
17
Estadual: 02
Município em que
a Instituição se
localiza: 04
Outros
Municípios: 04
Quadro 02
2012 – Pólo
sede Dos 31 inscritos:
2012 – 2º Pólo
Dos 15 inscritos:
2013 – Pólo sede
Dos 31 inscritos:
2014– Pólo sede
Dos 10 inscritos:
Idade:
Até 30 anos: --
Entre 30 e 50
anos: 20
Acima de 50
anos: 11
Até 30 anos: 02
Entre 30 e 50 anos: 12
Acima de 50 anos: 01
Até 30 anos: 01
Entre 30 e 50 anos:
23
Acima de 50 anos:
07
Até 30 anos: 01
Entre 30 e 50
anos: 04
Acima de 50 anos:
05
Tempo de
Formação
Até 05 anos: 03
Entre 05 e 10
anos: 05
Entre 10 e 15
anos: 04
Acima de 15
anos: 19
Até 05 anos: 03
Entre 05 e 10 anos:
03
Entre 10 e 15 anos:
03
Acima de 15 anos: 06
Até 05 anos: 01
Entre 05 e 10 anos:
11
Entre 10 e 15 anos:
04
Acima de 15 anos:
15
Até 05 anos:
Entre 05 e 10
anos: 01
Entre 10 e 15
anos: 03
Acima de 15 anos:
03
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EdUECE - Livro 301745
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