educação e memória

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Um diálogo possível

Memória e identidade em tempos acelerados: relatos de experiências

José Roberto SeverinoDepartamento de História e geografia da FURB

Educação e cidadania

• Projeto iniciado em 2000;• Primeiro momento: uma História do Lugar;• A chegada na escola: ausência de uma memória local;• Projeto para construir com os alunos canais de diálogo no bairro (2004);• Inserção no Para Saber Viver em 2005.

Um caminho

• Aproximação de projetos que vinham lidando com memória de locais como Imaruí;

• Inventariar o patrimônio cultural (para definir o que é memória, o que se pretende selecionar, o que importa guardar);

• Traçar estratégias de preservação, recuperação, transmissão dos saberes/fazeres.

•Nosso tempo esta inundado pelo “presentismo”:

•Sem memória

•Colagens de imagens desconexas

•Sem utopias redentoras

•Herança popular em desuso

•Coisas Modernas X tradição

•Cultura como colagem

•Cultura como palco das diferenças

•Novas formas de estar-juntos

• Neste contexto, qual o papel da cultura?

• Vida escolar e futuro• Escola como ponto de partida• Ambiente escolar e vida social• O bairro e a escola• O projeto Educação e Cidadania:• 1)novas formas de viver a escola• 2)comunicação e comunidade• 3)memória e devir

Algumas aproximações

• Ponto de Cultura (recursos federais);• Memória dos Bairros (FGML);• Coordenadoria do idoso;• Secad;• Edital Griô.

“Griot. Termo do vocabulário franco-africano, criado na época colonial, para

designar o narrador, cantor, cronista e genealogista que, pela tradição oral,

transmite a história de personagens e famílias importantes, às quais, em geral, está

a serviço. Presente sobretudo na África ocidental, notadamente onde se

desenvolveram os faustosos impérios medievais africanos (Gana, Mali, Songai,

etc.) recebe denominações variadas: dyéli ou diali, entre os Bambaras e

Mandingas; guésséré, entre os Saracolês, wambabé, entre os Peúles, auoloubé,

entre os Uolofes.”

FONTE: LOPES, Nei. Diáspora africana. São Paulo, Selo Negro Edições, ano. 2004 p. 310.

O diálogo

• Entrevistas prévias;• Encontros com os idosos;• Identificação de fotografias;• Contação de histórias.

01) Floriana da Costa - 03/07/193902) Cantalicia da Costa Laguna – 10/03/4303) Maria Lourdes da Costa - 03/06/38Endereço: Rod. Jorge Lacerda, 3640 (as 3 irmãs moram juntas)Bairro: EspinheirinhosData Entrevista: 26/07/2006Profissão: Agricultoras“O meu pai veio de Tijucas... já era de idade quando veio pra cá, solteiro! Minha mãe nasceu e se criou aqui nos Espinheiros. Meus avós trabalhavam na roça, né? Ele era escravo... depois casou-se... e teve 13 filhos. Manoel Lopes Gonçalves era o nome dele (avô materno) .”

Máquina – acolchoado

“Era da minha vó. Do tempo da minha vó. A minha

mãe quando casou... como gostava mais de

trabalhar com algodão então, ficou ... quando

chovia... era o serviço... a tarde inteirinha... a minha

mãe só fazia acolchoado.”

Trabalho na roça

“A gente cantava música de carnaval...Na roça a

gente cantava né... Mas era assim, se era hino da

Igreja era só da Igreja, aquela tarde. Se era samba,

era só samba... Se esgotava, pode fechar a boca.”Dona Cantalicia - Floriana e Dona Maria

Cuia

“Prato do meu avô paterno... Então, ele que contava as historias pra ela (mãe). O senhor dele era muito bravo...

quando ele saia. Mandava ele fazer uma volta, ele cuspia no chão e ele tinha que voltar antes do cuspe secar. A gente

via isso no guarda roupa dela (Tia) e não sabia! Quando chegou um dia, oh tia? O que é essa cuia? ... esse é o

pratinho que meu pai comia...”

O que vocês sentem quando olham estes Objetos?

“Saudades e lembranças. E hoje eu tava lembrando... se a gente tivesse mais oportunidade de conversar com eles pra

poder contar, né?... diz que quem tem mais idade tem mais história pra contar. Se a minha mãe fosse mais aberta, a

gente tinha muito mais história pra contar... É como ela contava... o senhor do meu avô, quando tinha páscoa, reunia

eles pra fazer oração... aí, depois o meu avô passou pra ela essas orações.”

Como sua Múe e sua Tia núo sabiam escrever essa era a forma de comunicaçúo usada - representava saudades e um forte abraço

Cuia do Avô Paterno - Chave da Casa do Avô Materno - Sr, Manoel Lopes Gonçalves. A Sr. sua esposa

Dona Floriana Local onde moravam sua avó e seu avô

Nome: Antonio Marcelino MelatoEndereço: Jovita Anacleto, 1206Itajaí – Bairro: CordeirosData de Nascimento: 08/07/1937Data da Entrevista: 01/02/2006Profissão: Carpinteiro

Como começou a fabricar mini engenhos de madeira

“O meu interesse começo como garoto assim já, com 12 ano, 12 anos e meio eu já tava sempre perturbando meu avô (...).

Ele é quem fabricava os engenhos que nós trabalhava, os engenhos da cana, os engenho da farinha ... e isso tudo,

manualmente. ”

“ Lá nós tinha tudo, engenho de cana, engenho de farinha, fazia o açúcar, fazia a cachaça, tinha esse manjolo que seria pra

soca o café, o milho né?”

Lembranças da infância

“ A maior lembrança que eu tenho foi que quando Getúlio Varga começou a criar o INSS, só que eu não me

alembro o ano, eu era um garoto pequeno, e eu lembro que era uma pipa grande, pipa era um tonel que era pra guarda

cachaça, mas é que o pessoal naquele tempo não se conformava de aregistrar os engenho pra paga os imposto né? Então

eu tinha mais ou menos uns 3, 4 anos por ali e eu levantava de manhã e ia no engenho e só tinha cana (...). Aí quando

chegou num dia de manhã eu escutei um barulho de manhã cedo aí eu levantei tava o meu avô, o meu pai e um irmão mais

velho cangando uma junta de boi. Aí eu fui espiá, aí eu vi que eles botaram um barril dentro do carro e subiram assim pra

uma montanha que tinha e desceram por meio do mato. Eles tavam escondendo a cachaça (...).”

Brinquedos de madeira

“ Eu fazia tudo que eu tenho aqui ó, eu fazia o carrinho, fazia o carrinho, fazia o boizinho, mas não um bonitinho assim né?

Fazia o carrinho, fazia o boizinho, fazia a carrocinha, não igual a essa né? Até um dia eu lembro que tinha uma carrocinha

e eu tinha um sobrinho, amava muito ele, e um dia nós brigamos por causa da carrocinha, eu quebrei a carrocinha. (risos)

Só que depois eu arrumei tudo de volta.”

“Eu tinha mais ou menos uns 4 ou 5 anos quando eu fiz uma carrocinha, só que era uma carrocinha mal feita né?”

“Eu pegava as sobrinhas do meu avô e seguia ele né? Quando ele ia tomar o café dele eu pegava as ferramentas dele pra

poder fazê, senão não dava né? Porque ele não deixava pegar assim quando era pequeno né?”

“A senhora poderia me contar sobre a festa de Nossa Senhora do Rosário da Penha?

Dona Rosa: “Vinha muita gente para aquela festa. Gente de Itapocu, de Barra Velha, de Itajuba... quer dizer que

naquele tempo todo mundo ajudava: um dava uma galinha, duas galinhas, outro já ajudava com um bocado de carne.

Se ganhava muita coisa! Ganhava-se, ganhava tudo, de tudo se ganhava. Eram três dias de festa. Quer dizer que

vinha muita gente. Gente de Ouro Novo, ali no Taboleiro mesmo; aquela gentarada que vinha por causa da festa.

Vinha pra vér, né!

Era uma festa muito grande. Oh! Meu Deus! Eu acho que como aquela é muito dificil, Bento!

Ali naquela festa tinha a rainha, as pajens da rainha, inclusive até em Itajuba, uma vez, eu fui pagem. É! Eu fui a paz

da rainha em uma festa em Itajuba...”

Fonte: SILVA, José Bento Rosa da. Negras memórias. Itajai, 1996. pag. 109, 110.

Nome: Ivaldo MendonçaEndereço: R: São José, 343Itajaí – Bairro: São VicenteData de Nascimento: 29/10/1934Data da Entrevista: 22/04/2005Profissão: Mestre de Obras

(Sr. Ivaldo refere-se ao pai) – “A morada deles,

quando eles eram mais novo... era ali onde é hoje o Fórum. Tinha

uma casa grande ali, um casarão... ali onde tá o Fórum agora. Ali

era a casa onde eles moravam... aquela casa ali deu a... Gripe

Espanhola! E ali morreu a família inteirinha. Meu pai que contou.

Meu avô morreu de espanhola, o pai dele... Ele tinha 10 anos

quando o pai dele morreu, o Mendonça. Aí, então, quando...

quando acabou a espanhola, que ele estava em Itajaí, que ficou...

sem ninguém dentro.... aí o meu avô, morava numa casa

daquelas duas, né?... aí ficaram donos! ficaram donos! não tinha

dono. Na prefeitura começaram a pagar imposto, ficaram dono.”

Nome: José Paulino da Silva Endereço: R: Altino Werner, 270Itajaí – Bairro: São João Data de Nascimento: 17/08/1925Data da Entrevista: 23/08/2005Profissão: Aposentado

Porque Zé que brilha?

“...trabalhava... no centro... eu ficava engraxando sapato, e ele sempre assim encarado pra mim, aí ele me falou:... oh! passa

graxa no Zé, que ele brilha, aí pronto, né!!! (risos) ... aí pronto... do meu lado trabalhava um colega meu que morava aqui na

rua blumenau também... i daí, nos jogava futebol de pequeno... espalhou por tudo... e aí pegô, né... e aí pegô, o apelido

pegô... zé-qui- brilha, qui-brilha, qui-brilha, e até hoje...”

Beco do quilombo?

“Quilombo!? Aonde tem uma raça de negro tem quilombo! é um quilombo! Então... Sinceramente, por que só morava negro ali

naquela época... então negro, né? Negro tem apelido. Sinceramente, sinceramente ... era quilombo.”

Sede Sebastião Lucas como surgiu?

“Sebastião Lucas eu era novo, lá na fazenda, lá tinha um terreno que faziam as festinhas ali para o Sebastião Lucas... lá na fazenda era um terreno... e de lá foi trocado por esse outro terreno ali... lá era cheio de barraquinha... pra ganhar fundo para construir a sede.”

Nome: Osmar Airoso Endereço: CentroIdade: 90 anosProfissão: Estivador

José Bento: ...Ele também foi um dos idealizadores e fundadores do Sebastião Lucas!

“Osmar Airoso: “Bom! A sociedade Sebastião Lucas... ela foi fundada, porque realmente nós – 39 pra 40 – nós não

tínhamos nada. Nós tínhamos, mais ou menos, era a... a Vila Operária. O clube ali da Vila, né?”

“E ali, eles não deixavam que nós – famílias de cor negra - ficasse até na porta, compreende? E eu então, achei que era

demais, porque a minha família, ela tem um conceito social negra, que representa tudo. E de fato, ela representô, né?

Como, já até com teatro a família Airoso tirou isso, nós fomos a Florianópolis organizado por gente branca. Então, eu achei,

tudo aquilo que estava certo, e aí, convidei alguns, alguns amigos e algumas famílias que aqui se tão comigo, o Amaro

Pereira, que foi meu secretário. E fundamos então, a sociedade Sebastião Lucas – fundamos a sociedade Sebastião Lucas

- . e fizemos bailes de debutantes de moças de cor negra.”

“Estes bailes era todo ano realizado. Chegamos até realizar o debutante carioca. Você vê o impulso que era quando... E ali,

começamos então, a fazer baile todo ano. E, no final, me entra lá o – Leão(...) que era estivador junto comigo. E... organizô a

diretoria dele, pra viver junto com a do Sebastião Lucas. Ali, começou então, a fazer o carnaval praticamente juntos. E a

sociedade então criou um grande impulso....”

FONTE: SILVA, José Bento Rosa da. Estiva Papa-Siri – Mãos e pés do porto de Itajaí. Filmagem de relançamento do livro.

2005

Resultados

• Contribuição na Elaboração de políticas públicas de patrimônio cultural (Plano diretor, inventários patrimôniais materiais e imateriais);

• Formação dos professores de história da Rede;• Elaboração de roteiros e acompanhamento das entrevistas;• Produção de um livro didático;• Programetes de rádio;• Jornal Itajahy;• Todos os itens com a participação de acadêmicos e jovens das

comunidades envolvidas.

Memória dos Bairros

Programa Memória dos Bairros Ações 2005/2006Total de Entrevistas 147

160 – Entrevistas Agendadas033 – Entrevistas cedidas e transcritas27– Transcrições concluídas 007 – Parcialmente transcritas003 – Transcrições em andamento001 – Produção de um Documentário011 – Entrevistas Filmadas226 - Fotos reveladas1.379 - Fotos digitalizadas - não reveladas 22

Crônicas semanais no jornal – iniciadas em 15/07/2006Oficinas oferecidas no Projeto Jovem ComunicadorExposições Itinerantes Exposição do Festival de MúsicaPrograma Memórias na Rádio – Início 11/09/2006Parcerias – Secretaria de Agricultura – Secretaria da Pesca – E.B Henrique da

Silva Fontes, Secretaria de Educação.

O Programa esteve presente em 29 bairros da cidade.

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