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Crises do Capitalismo, Estado e Desenvolvimento Regional
Santa Cruz do Sul, RS, Brasil, 4 a 6 de setembro de 2013
DESENVOLVIMENTO DO SETOR DE ESQUADRIAS NAS GÊMEAS DO IGUAÇU: CARACTERÍSTICAS EMPREENDEDORAS DO SETOR
MADEIREIRO
REINALDO KNOREK1 ROSIDETE MARIA KARPINSKI DA COSTA2
Resumo: A contribuição do empreendedor para o crescimento da economia local está no desempenho de seu papel em buscar desenvolver a economia, social e o tecnológico. Esse desempenho é criado pelas suas características, que impulsionam assim para a inovação de serviço, produto, e processo produtivo. O desenvolvimento econômico gerado por uma gestão empreendedora está baseado nas forças exógenas (fatores externos, ambientais e sociais), bem como nas forças endógenas (ambiente interno da empresa) e/ou somatório de todos esses fatores (exógenos e endógenos), que são críticos para o surgimento e o crescimento de uma nova empresa. Entrementes, este artigo permite adequar as características dos empresários com as características do empreendedor, a fim de estimular a gestão empreendedora e contribuir para o desenvolvimento econômico local do setor de esquadrias das gêmeas do Iguaçu em que o elemento problematizado a investigação será de que forma as características empreendedoras podem contribuir para o desenvolvimento do setor madeireiro de esquadrias nas Gêmeas do Iguaçu. O universo da pesquisa concentra em 16 empresas do setor de esquadrias da madeira de União da Vitória/PR e Porto União/SC. Palavras- chave: Desenvolvimento, Madeira, Empreendedor, Empreendedorismo.
1 O Empreendedor do Conceito à Finalidade
Para o empreendedor (aquele que busca soluções para os problemas), no atual
cenário econômico, deve ser diante das ameaças e oportunidades para o mercado interno e
externo um indivíduo ousado e proativo, com características próprias determinadas pela
cultura e pelo ambiente em que está inserido, o que acaba favorecendo em vantagem
competitiva e ganhos econômicos e também em ganhos sociais. É muito comum encontrar
na literatura o termo empreendedor como um indivíduo inovador, que gera transformação e,
em alguns casos, até mesmo ousado. Assim, vários autores interpretam ‘empreendedor’ da
seguinte forma: Richard Cantillon (2002) conceitua empreendedor como indivíduo que corre
riscos (calculados), determinados pela compra de um bem por um preço e a venda desse
1 Reinaldo Knorek, Dr. Em Engenharia de Produção. Professor do Programa de Mestrado em
Desenvolvimento Regional. E-Mail - reinaldok@unc.Br 2 Rosidete Maria karpinski da Costa, mestranda do programa de mestrado em desenvolvimento
regional da UnC. Email - rh.uniuv.edu@hotmail.com
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bem por um preço ainda indeterminado (dependendo do mercado); Jean-Batiste Say 1964
apud Drucker 2002 enfatiza o empreendedor referente à sua facilidade de alocação de
recursos, isto é, transferir recursos de um sistema produtivo ineficiente para um sistema
produtivo mais eficaz; Joseph Schumpeter destaca o empreendedor como um contribuinte
de ideias inovadoras no sistema de produção. Para Louis Jacques Filion (1999), o
empreendedor deve ter uma visão holística do ambiente em que está inserido. Além de sua
criatividade, o empreendedor é marcado pela sua capacidade de estabelecer objetivos e
determinar metas para a sua empresa, observando tanto o desenvolvimento do ambiente
interno como também o desenvolvimento, as tendências e as mudanças do ambiente
externo da empresa, portanto, Filion enfatiza que o empreendedor é um indivíduo que
aprende e busca sempre oportunidade de negócio. Entre os autores mais recentes e atuais,
Dolabela (2008) conceitua o empreendedor, não muito diferentemente de Schumpeter,
conceituando-o da seguinte forma: é uma pessoa que empenha toda sua energia na
inovação e no crescimento, manifestando-se de duas maneiras: criando sua empresa ou
desenvolvendo alguma coisa completamente nova em uma empresa persistente (que
herdou ou comprou, por exemplo). Nova empresa, novo produto, novo mercado, nova
maneira de fazer, introduzir inovações, assumindo riscos, seja na forma de administrar,
vender, fabricar, distribuir ou de fazer propaganda dos seus produtos e/ou serviços, sempre
agregando novos valores. É como explica Souza:
O indivíduo empreendedor seria, portanto, um líder com competências especiais para: tratar a complexidade das atividades cotidianas, advindas da necessidade de atender a altos níveis de qualidade e de satisfação da sociedade; canalizar as atividades cotidianas em direção o sucesso estratégico da empresa: aceitar e promover, dentro do enfoque de responsabilidade social, a ética e os princípios morais e ecológicos para todos os membros da empresa, como fator de competitividade e sucesso. (SOUZA, 2006, p. 8).
No entanto, Chiavenato (2008) destaca o empreendedor como um indivíduo que
observa não só o sistema produtivo (o de produção), mas também o entendimento das
movimentações financeiras e da busca de informação do mercado, para identificar
oportunidade de novos negócios. Após descreve os mais diversos conceitos sobre
empreendedor. Nota-se que as atitudes empreendedoras geram a busca por inovação
(produto, serviço e processo produtivo). São, portanto, as ideias inovadoras e criativas a
base de sustentação das empresas de pequeno porte para permanecerem competitivas no
mercado e isso se faz a finalidade do empreendedor, o empreendedor como fonte geradora
do desenvolvimento econômico.
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Em uma pesquisa realizada pelo GEM (2006), o Brasil está posicionado em sétimo
lugar no ranking entre os países que mais empreendem no mundo. Cabe destacar que a
maioria dos proprietários das empresas de pequeno e médio porte são empreendedores por
oportunidade, e não mais empreendedores por necessidade. Nesse caso destacam-se as
características empreendedoras como fator determinante do sucesso do seu
empreendimento. Das características do indivíduo e do ambiente em que ele está inserido
(em referência a sua cultura) geram impacto positivo ou negativo no resultado final da
empresa, como déficit ou superávit contábil. O termo empreendedorismo foi citado pela
primeira vez em 1734, pelo escritor e economista Cantillon, que procurava diferenciar o
empreendedor, ou seja, aquele cidadão que assume o risco, do capitalista, indivíduo que
fornecia o capital. O trabalho de Joseph A. Schumpeter, iniciado em 1911, resgata e dá
ênfase à figura e à função do empreendedor. Em seu Theory of Economic Development,
lançado em alemão, em 1911, cuja primeira tradução para o inglês surge apenas em 1934,
o conceito de empreendedorismo foi formulado para explicar o desenvolvimento econômico
e os ciclos econômicos (business cicles). De acordo com Dolabela (2008 p. 24), o termo
empreendedorismo corresponde a uma tradução da palavra entrepreunership, que contém
as ideias de iniciativa e inovação. É um termo que implica uma forma de ser, uma
concepção de mundo, uma forma de se relacionar. Na visão de Gimenez et al. (2000, p. 10),
o termo empreendedorismo é "[...] o estudo da criação e da administração de negócios
novos, pequenos e familiares, e das características e problemas especiais dos
empreendedores". A pesquisa da Global Entrepreneurship Monitor (GEM), realizada em
31 países, no ano de 2003, reforça a ideia de Schumpeter sobre o empreendedorismo,
destacando:
Qualquer tentativa de criação de um novo negócio ou novo empreendimento, como por exemplo, uma atividade autônoma, uma nova empresa, ou a expansão de um empreendimento existente, por um indivíduo, grupos de indivíduos ou por empresas já estabelecidas (GEM, 2003, p.5).
Nos primeiros anos do século 20, Schumpeter (1978) destacou as funções
inovadoras e de promoção de mudanças do empreendedor que, ao combinar recursos numa
maneira nova e original, serve para promover o desenvolvimento e o crescimento
econômico. Como consequência das mudanças tecnológicas do século XX e sua rapidez, a
ênfase no empreendedorismo surge muito mais, e não se trata apenas de um modismo.
Dolabela (2008) salienta que a forma de empreender foi percebida pelos ingleses, na pós-
Primeira Guerra, na década de 1920, observando a importância da pequena empresa: elas
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geravam mais empregos que as grandes. As altas taxas de insucesso das Micro e
Pequenas Empresas (MPEs), no mundo e no Brasil, levaram pessoas, governos e agências
internacionais a procurar, propor e programar ações alternativas que funcionassem como
um antídoto a essa situação. Assim, desde a década de 60, o tema empreendedorismo
tornou-se objeto de estudo.
2. Características Do Empreendedor
Para identificar as competências do empreendedor, McClelland (1972) desenvolveu
uma pesquisa para identificar traços que caracterizem um empreendedor de sucesso. Após
analisar empreendedores de países diferentes (Índia, Malawi e Equador) o autor apresenta
dez características relacionadas ao comportamento empreendedor, entre as quais se
destacam: busca de oportunidade e iniciativa, persistência, correr riscos calculados,
exigência de qualidade e eficiência, comprometimento, busca de informações,
estabelecimento de metas, planejamento, persuasão e rede de contato, independência e
autoconfiança. As pesquisas realizadas sobre características empreendedoras têm como
base o comportamento do empreendedor. Filion (1997) também contribuiu com sua
pesquisa para esse tema. O autor chama a atenção para o comportamento do
empreendedor, refletido sobre o local e período, ou seja, as características do
empreendedor não são uma estrutura rígida, mas flexível, dependente do lugar e do período
(tempo) onde se está inserido, determinado pelo conhecimento regional (questão
completamente cultural), e descreve características empreendedoras da seguinte forma: são
inovadores, líderes, correm riscos moderados, independentes, criadores, energéticos,
apresentam atitudes como: tenacidade, originalidade, otimismo, orientação a resultados,
flexibilidade, desembaraça, necessidade de reconhecimento, autoconhecimento, confiança.
Pensam em longo prazo, são tolerantes à ambiguidade e à incerteza, possuem iniciativa,
aprendem, usam dos recursos disponíveis, são sensíveis aos outros, agressivos, tendem a
confiar nas pessoas, acreditam no dinheiro como medida da sua performance.
O resultado de uma pesquisa realizada pelo SEBRAE/PR (2012) sobre
características empreendedoras destaca o espírito criativo do empreendedor.
Enquanto a maior parte dos empresários tende a enxergar apenas dificuldades e
insucessos, o empreendedor é otimista e busca o sucesso, apesar das dificuldades. Assim,
no Quadro nº 1 segue um demonstrativo dos resultados da pesquisa referente às
características do empreendedor de sucesso que são:
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Quadro 1 – Resultado da Pesquisa Realizada - SEBRAE-PR - Características Empreendedoras.
Características Significado
Ter total
comprometimento,
determinação e
perseverança.
A dura realidade de lançar-se e de construir um empreendimento é altamente exigente e estressante. O empreendedor deve estar preparado para "abrir mão" de muitas coisas. Para isso, ganhará muitas vantagens a seu favor, em relação às outras pessoas, se for totalmente comprometido, determinado e perseverante. Esses aspectos podem, eventualmente, compensar algumas desvantagens que possam vir a ter.
Ter senso de
oportunidade e
orientação por metas
Os empreendedores são orientados e dirigidos por metas e pelas atividades decorrentes delas. Estabelecem metas altas, porém, atingíveis. Isso os habilita a focalizarem suas energias e a serem seletivos na escolha de oportunidades. Ter metas e direção também os ajuda a definirem as prioridades e a possibilidade de medir e de comparar o próprio desempenho.
Persistir na resolução
de problemas
Os empreendedores bem sucedidos na construção de seus empreendimentos possuem um elevado grau de determinação e um intenso desejo de superar obstáculos e barreiras, de resolver problemas e de completar o trabalho. Não são intimidados pela dificuldade da situação. Também não se precipitam na superação dos empecilhos que possam impedir seu negócio.
Ter autoconhecimento
e senso de humor
Os empreendedores, em geral, apresentam uma grande consciência de suas forças e de suas fraquezas, e da própria competitividade. Eles são friamente realistas sobre o que podem e o que não podem fazer. Não iludem a si mesmos. Demonstram a habilidade de conservar o senso de perspectiva, o otimismo e o humor até mesmo nas situações mais difíceis. Isso faz o empreendedor rir e conseguir uma situação favorável nas mais diversas situações.
Buscar e obter
feedback
Os empreendedores mostram um insaciável desejo de saber se estão tendo um bom desempenho. Eles sabem que precisam obter feedback continuamente. Buscar e usar o feedback é um hábito essencial para poder aprender com os erros e a lidar com o inesperado. Por essa razão, também, os bons empreendedores são frequentemente descritos como excelentes ouvintes e pessoas de rápida aprendizagem.
Atribuir a si o seu
desempenho
Os empreendedores acreditam em si mesmos. Pensam que o sucesso ou o fracasso de seu empreendimento não será governado pelos fatos, pela sorte ou por alguma influência externa. Acreditam que os resultados de suas realizações dependem de seu próprio controle e influência. Esse atributo é relacionado à motivação orientada para a realização pessoal, para o desejo de tomar responsabilidades pessoais e à confiança própria.
Demonstrar tolerância
ao estresse, à
ambiguidade e à
incerteza
A incerteza é um componente inerente a todo empreendimento. Nesse ambiente, os empreendedores defrontam-se com atividades indefinidas e incertas, que mudam continuamente, e o tempo nunca parece ser o suficiente. Os empreendedores vislumbram as adversidades, com naturalidade, como apenas um obstáculo a mais a ser transposto.
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Procurar correr riscos
moderados
Os empreendedores bem sucedidos não são apostadores, pois está em jogo a reputação deles. Consequentemente, quando decidem tomar uma decisão, agem de uma maneira calculada, muito bem pensada e avaliada, fazendo todo o possível para adquirir vantagens a seu favor, evitando riscos desnecessários.
Lidar bem com o
fracasso
Outra característica importante observada nos empreendedores bem sucedidos é a habilidade de utilizar suas experiências de fracasso como um modo de aprendizagem, de maneira a evitar problemas similares. Os empreendedores bem sucedidos são realistas o suficiente para superarem algumas dificuldades. Em consequência disso, não se desapontam, não se desencorajam ou se deprimem, quando se deparam com um obstáculo ou um fracasso. Geralmente vislumbram as adversidades e as dificuldades como uma oportunidade.
Formar uma equipe Constroem equipes de trabalho. Demonstram uma rara habilidade de despertar o herói que existe dentro das pessoas que eles atraem para o empreendimento, dando responsabilidade e dividindo os méritos pelas realizações.
Fonte: SEBRAE – PR (2012).
3. Empreendedor e Desenvolvimento Econômico
Destaca-se o empreendedor como um indivíduo de iniciativa, que promove o
desenvolvimento econômico por meio de suas ações criativas e inovadoras, porque a
principal contribuição do empreendedor para o desenvolvimento econômico é a sua
capacidade de inovação diante o mercado altamente competitivo. É sobre essa ideia que o
presente estudo está estruturado. Porter (1992) destacava, em sua literatura, que a
inovação de produtos, de processo e/ou de serviços é o motor propulsor da competitividade
entre os mercados, para ele a competitividade eleva a eficiência econômica de um país.
Schumpeter (1991) publicou a teoria do desenvolvimento econômico, destacando o
empreendedor como motor propulsor do crescimento econômico, por meio da inovação,
principalmente, de produtos e processos (inserção da tecnologia). Alguns anos depois, em
1984, Schumpeter observa que somente empresas de grande porte têm capacidade
inovadora, por possuir recursos financeiros para investir em pesquisa e desenvolvimento
(P&D). Para Dolabela (2008 p, 24), [...], o empreendedor é o responsável pelo crescimento
econômico e pelo desenvolvimento social. Por meio da inovação, dinamiza a economia. As
condições para ser empreendedor estão ligadas ao ambiente macro, à democracia, à
cooperação e à estrutura de poder. Ser empreendedor também requer conhecimento de um
caminho bem complexo que é imaginado e que demanda uma visão bem ampla das causas
e das consequências dos fatores que vivenciam.
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Segundo Vazquez Barquero (1998, p.23), o desenvolvimento econômico local se
definiria com “un processo de crescimiento y cambio estructural que mediante la utilización
del potencial de desarrollo existente en el território conduce a la mejora del bienestar de la
población de una localidad o um território”. Ao contrário da visão do “desenvolvimento
exógeno”, de caráter redistributivo, o qual incentiva a atração de capitais e empresas
externas, para impulsionar o desenvolvimento de cidades e regiões periféricas, o novo
paradigma do “desenvolvimento endógeno” considera como espaço preferencial as
economias das regiões e cidades, as quais poderiam crescer, utilizando o potencial de
desenvolvimento existente no território. De acordo com Vásquez Barquero (2001), o
desenvolvimento endógeno é uma interpretação útil para entender a dinâmica econômica e
produtiva, para definir e materializar as respostas das organizações e instituições aos
desafios da competividade.
Para Weber (2004), o ímpeto empreendedor é gerado pela influência de fatores
exógenos, que são produzidos pela crença religiosa (o Protestantismo). Essa ética
protestante estimularia o empenho em alcançar objetivos pelo exercício de tarefas práticas,
a ordenação sistemática de meios e fins, mediante processos racionais e acumulação de
ativos produtivos. De acordo com Furtado (2000), cada economia que se desenvolve se
defronta com uma série de dificuldades que lhe são específicas e relacionadas ao complexo
de recursos naturais, aos ciclos migratórios e à ordem institucional.
Afirma Putnam (2002), que a eficácia das políticas públicas de desenvolvimento
regional depende das mudanças na cultura organizacional, predominante na administração
pública, além de um elevado capital social dos habitantes da região. Um novo modelo de
desenvolvimento econômico regional, impregnado do sentido de cooperação entre os
agentes, pode trazer ganhos competitivos para o conjunto das empresas, frente ao
acirramento da concorrência típica da atual fase da economia mundial, designada, por
alguns, pelo termo ‘globalização’, por isso é necessário pensar na ‘globalização’ como um
processo que integra o desenvolvimento local.
Para Schumpeter (1964), o desenvolvimento é uma decorrência do surgimento de
novas combinações e usos de recursos, que pode assumir as seguintes formas: a) a
introdução de um novo bem (produto ou serviço), com o qual os consumidores não estavam
familiarizados anteriormente, ou de um bem já existente, com uma nova qualidade ou
característica; b) a introdução de um novo método de produção, que não tenha sido ainda
utilizado no processo produtivo, não necessariamente decorrente de novas descobertas
científicas, podendo também estar associado a uma nova forma de comercialização de
mercadorias; c) a abertura (descoberta, desbravamento) de um novo mercado, ao qual um
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determinado setor de atividade ainda não tivesse tido acesso, ainda que o mesmo já
existisse; d) a descoberta de novas fontes de suprimento de matérias-primas ou bens
semimanufaturados, mais uma vez, independentemente dessa fonte de matéria-prima já
existisse ou tenha sido criada; e) o desenvolvimento de novas formas de organização, em
alguma indústria ou setor específico da economia, tal como a criação de um monopólio, ou a
quebra de um monopólio previamente existente. Ao relacionar empreendedor e
desenvolvimento econômico, a principal relação é a inovação proposta pelo empreendedor,
sobre o enfoque de novo método de produção que possibilite aumento de concorrência e
permita dinamismo da estrutura da empresa.
O principal fator que impede o desenvolvimento econômico está no desempenho
empresarial (nível elevado de: quebra de máquina e equipamento, refugo ou refile, estoque
de matéria-prima e de produto acabado, retrabalho, falta de qualidade, escassez de mão de
obra qualificada, entre outros.) assim como de novas estruturas para aquisição de vantagem
competitiva (surpreender o cliente, produzir conforme o gosto e preferência do consumidor),
esses fatores são os principais entraves para competição industrial.
4. Descrição do setor madeireiro de esquadrias nas gêmeas do Iguaçu
O município de Porto União está localizado no Norte Catarinense, a uma altitude
média de 752 metros, na região norte de Santa Catarina, limitando-se ao norte com União
da Vitória (PR) e Paula Freitas (PR); ao sul com Matos Costa (SC) e Timbó Grande (SC); a
leste com Irineópolis (SC); e a oeste com os municípios de Porto Vitória (PR) e General
Carneiro (PR). A distância entre Porto União - SC e a capital do Estado, Florianópolis, é de
445 km.
O município de União da Vitória, está localizada a 26°13'48" latitude sul e 51°05'11"
longitude oeste, na região sul do Estado do Paraná, no terceiro planalto paranaense,
também chamado de Planalto de Guarapuava. Limita-se ao norte com o município de Cruz
Machado (PR), ao sul com o estado de Santa Catarina, a oeste com Porto Vitória
(PR) e Bituruna (PR), e a leste com Paula Freitas (PR) e Paulo Frontin (PR). A distância
entre União da Vitória – PR, e a capital do Estado, Curitiba, são de 243 km. Os indicadores
econômicos dos dois municípios levantados pelo último censo realizado pelo Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE (2010) apresentam as seguintes informações:
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Tabela 1 – Dados populacionais e indicadores econômicos, nas Gêmeas do Iguaçu
Municípios População em 2010
PIB (a preços correntes em 2010)
mil reais
Valor Adicionado em 2010 (mil reais)
Agropecuária Indústria Serviços
União da Vitória 52.735 519.602 17.602 111.594 334.762
Porto União 33.497 303.051 45.801 53.340 165.599
Total 86.232 822.653 63.403 164.934 499.361
Fonte: IBGE, 2010.
5. A Contribuição do Empreendedor Madeireiro para a Economia
O setor madeireiro nas Gêmeas do Iguaçu entra no cenário estratégico de mercado
e, a partir de novas modalidades de configurações atreladas às forças externas e internas, o
setor madeireiro é obrigado a buscar novas modalidades de gestão, que, juntamente com as
entidades e associações, criaram meios para o desenvolvimento do setor, o qual contribuiu
também para o desenvolvimento das Gêmeas do Iguaçu. O desenvolvimento da indústria na
região ocorreu desde o início do século XX, com base nas práticas criativas e no esforço
coletivo dos imigrantes, que organizaram seu trabalho, construindo comunidades, com suas
casas, igrejas e abrindo diversas indústrias nos setores de fundição, curtume, móveis,
olarias, serrarias e beneficiamento de erva-mate.
A região se desenvolveu as margens do Rio Iguaçu, principal via de transporte da
população das cargas de erva-mate e madeira e do sal vindo de Paranaguá, que abastecia
toda a região. Nesse aspecto, Sebben (1992, p. 23) destaca “[...] que o Rio Iguaçu, desde o
primeiro momento da história da região, exerceu grande influência sobre a vida de seus
habitantes e no desenvolvimento da economia”. Um acontecimento específico marcou de
forma decisiva a economia da região, a liberação, em 1889 da construção da ferrovia que
passou a interligar os estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul,
alavancando, sobretudo a economia da região, à medida que favoreceu o fluxo de produtos
e intensificou a exploração madeireira e ervateira, conforme destaca Sebben (1992, p.31). A
partir daí, inicia-se o processo de industrialização da madeira, que passa a se desenvolver
às margens da ferrovia. A exploração da madeira, intensificada com a Segunda Guerra
Mundial, assumiu em aspecto predatório dado a falta de compromisso dos produtos com o
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meio ambiente e a sociedade. Em outros termos, significa dizer que as serrarias se
multiplicaram rapidamente, para aproveitar uma situação extremamente favorável do
mercado, sem se preocupar em criar a infraestrutura necessária para o desenvolvimento
sustentado da região (SEBBEN, 1992).
Para Wachowski (2001) A economia da Região do Vale do Iguaçu possui uma
indústria de base florestal que teve início com os Bandeirantes que por aqui passavam. O
Rio Iguaçu começou a ser navegado por jangadas construídas com troncos de árvores que
eram levadas para outras regiões, para beneficiamento em serrarias. A produção de toras
de árvores para a venda aos compradores de outras regiões do Estado do Paraná e
também de Santa Catarina trouxe recursos que foram utilizados na aquisição de bens de
produção como serras-fitas e matrizes de animais. Os lenhadores começaram a montar
serrarias, os empresários começaram a se multiplicar e os operários foram aprendendo a
arte de manufaturar a madeira. Assim nasceram as primeiras serrarias da região. Assim
também vieram os colonizadores de origem alemã, italiana, polonesa, ucraniana.
A primeira empresa de compensados com mão-de-obra especializada a ser instalada
em Porto União da Vitória foi a Madeireira Ruthemberg, em 1942. Com o passar dos anos,
várias empresas foram se instalando, e algumas atuam até os dias de hoje, podendo ser
citadas a Madeireira Miguel Forte, Madeireira Dissenha, entre outras (MELO JUNIOR, 2001,
p. 58). De acordo com Martini (2003, p.101) as imensas matas de Pinheiro e as reservas de
Imbuia e outras madeiras nobres tornaram a região o berço da indústria madeireira. Com
isso, as primeiras serrarias começaram a ser instaladas para o beneficiamento, fazendo com
que a economia regional girasse em torno da mesma.
A existência de extensas florestas naturais de araucárias fez com que a atividade
madeireira se tornasse uma importante fonte de riquezas para União da Vitória e Porto
União, que tiveram na exploração e comércio de madeira a sua base de sustentação
econômica, particularmente a partir da Segunda Guerra Mundial, quando tábuas de madeira
tornaram-se um destacado produto de exportação.
6 Metodologia Utilizada na Pesquisa Com Empreendedores Do Setor
A pesquisa classifica este trabalho da seguinte forma: qualitativa, exploratória e
estudo de caso, por se tratar de pequenas e médias empresas fabricantes de esquadrias de
madeira, empresas que interferem de forma direta no PIB e no desenvolvimento econômico
dos municípios de União da Vitória-PR e Porto União-SC. Ao conectar a forma de pesquisa
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sobre os temas norteadores deste estudo Empreendedor, Características Empreendedoras
e Desenvolvimento Econômico, metodologicamente, divide-se o estudo: a) quanto à
abordagem geral: qualitativa, que se refere à descrição de fatos e fenômenos, conforme o
objeto de estudo, utilizando entrevistas e questionários, b) quanto ao objetivo: sendo o
presente estudo de carácter exploratório, pois se enfatiza, no problema de pesquisa, o que
possibilita o desenvolvimento do próprio estudo (para futuras pesquisas relevantes desta
dissertação) e análises posteriores dos resultados obtidos, a fim de adquirir resultados
relevantes para o desenvolvimento econômico local; c) quanto à estratégia: tem como base
o estudo de caso. A escolha do estudo de caso como estratégia de pesquisa é analisar
eventos reais e em tempo real, sobre o objeto de estudo (neste estudo, sobre as
características dos empreendedores de esquadrias em madeira; D) O universo da pesquisa
concentra em 16 empresas do setor de esquadrias da madeira de União da Vitória/PR e
Porto União/SC; e) Os entrevistados indicaram, de acordo com o seu ponto de vista, o nível
de importância pessoal a respeito da pergunta feita, quando se utilizou da técnica de
pesquisa, por meio da escala Likert.
7- Resultados E Discussões
Os resultados da pesquisa, com empresários do setor de esquadrias, destacam-se a
importância do mesmo ao desenvolvimento local nas gêmeas e faz parte de uma prévia - de
um estudo com maiores âmbitos - sobre o desenvolvimento desse setor, que está sendo
discutido numa dissertação de mestrado em desenvolvimento regional. As questões iniciais
da pesquisa tiveram como objetivo identificar as características empreendedoras presentes
nos empresários da indústria madeireira esquadrias nas Gêmeas do Iguaçu; procurando-se
saber o nível de conhecimento dos entrevistados sobre questões como gerenciamento
empresarial, contribuição do empreendedor para a economia local, seu papel e importância
para o desenvolvimento econômico, social e tecnológico, possibilitando impulsionar a
economia local inovando na prestação de serviços, na criação de novos produtos e
processo produtivo.
A primeira pergunta inicial teve o seguinte questionamento: Você pensa que é
importante na sua empresa utilizar técnicas organizacionais para o desenvolvimento da
mesma? Constatou-se que 81% dos entrevistados afirmaram ser ‘muito importante’ a
utilização de técnicas organizacionais para o desenvolvimento da empresa, e 19% acham
que é somente ‘importante’. A segunda questão teve a seguinte pergunta: Você pensa ser
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importante que os impactos do empreendedorismo determinam o crescimento das taxas na
área econômica do setor madeireiro. Observa-se que a maioria (75%) acredita serem
‘importantes’ os impactos do empreendedorismo, determinando o crescimento das taxas na
área econômica do setor madeireiro. A terceira questão levantada buscou saber a opinião
dos entrevistados sobre o desenvolvimento do setor madeireiro estar diretamente ligado ao
desenvolvimento da região, sendo a questão formulada da seguinte forma: “Você pensa que
o desenvolvimento do setor madeireiro de esquadrias é importante para o desenvolvimento
da região?”. Das respostas foi obtida a seguinte representação gráfica:
Gráfico 1 – Importância do setor madeireiro para o desenvolvimento da região
Fonte: Dados da pesquisa (2013).
Observa-se que a maioria absoluta, 69% dos entrevistados acreditam ser ‘importante
e muito importante’ o setor que representam para o desenvolvimento da região, respostas já
esperadas, haja vista que praticamente toda a economia regional nos Municípios de Porto
União e União da Vitória gira em torno da indústria madeireira, e, de acordo com o Portal
Moveleiro (2010), o setor é responsável por 25% da produção nacional de portas e
esquadrias, com 1,3 milhão de unidades por ano (Sul do Paraná), o que significa tratar-se
de uma região com 577 empresas ligadas à indústria madeireira, que absorve direta ou
indiretamente 70% dos empregos e responde por 87% do VAF (Valor Adicionado Fiscal).
A questão número 4 trouxe o seguinte questionamento: “Você pensa que as politicas
públicas são importantes e influenciam no desenvolvimento do setor madeireiro de
esquadrias?”. Notou-se certo desconforto ao serem questionados sobre ‘políticas públicas’.
Alguns dos entrevistados questionaram o que “tinham a ver” políticas públicas, se as
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empresas a que representavam eram empresas privadas, o que mostrou profundo
desconhecimento do que são políticas públicas. Acredita-se que a junção dessas duas
palavras desmotivam as pessoas, pela correlação a elas realizada, pois tanto uma quanto a
outra sempre estão relacionadas à corrupção, escândalos e desvios de conduta. Na
oportunidade, buscou-se trazer alguns conceitos básicos sobre políticas públicas, porém,
tratadas de forma bastante superficial, não havendo tempo para mudar a concepção dos
entrevistados.
Observa-se, na representação gráfica, que as opiniões ficaram bem divididas. Gráfico 2 – Importância e influência das políticas públicas no desenvolvimento do setor.
Fonte: Dados da pesquisa (2013).
A maioria, 38% afirmou ser ‘muito importante’, porém, quando questionados
informalmente, a que políticas estariam se referindo, não souberam relatar. 25% dos
entrevistados afirmaram ser de ‘importância média’, acredita-se que esse número apareceu
como forma do ‘não comprometimento’. Na busca de identificar nos empresários sua
compreensão sobre empreendedorismo. Inicialmente, procurou-se conhecer a opinião dos
entrevistados sobre o empreendedorismo como talento nato ou habilidade aperfeiçoada.
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Gráfico 3 - Empreendedorismo uma característica de talento nato ou uma habilidade aperfeiçoada
Fonte: Dados da pesquisa (2013).
Na representação gráfica acima se observa que a maioria (82%) acredita que o
principal fator de sucesso do empreendedorismo é o talento nato, e 56% acreditam que o
sucesso é decorrente de habilidade aperfeiçoada.
No item a seguir, questionou-se se o entrevistado compreendia o empreendedorismo
como essencial para formar uma pessoa inovadora, agente de mudanças e um visionário de
oportunidades. As respostas ficaram representadas da seguinte forma:
Gráfico 4 – Empreendedorismo como um modelo inovador de gestão
Fonte: Dados da pesquisa (2013).
Quando questionados sobre o modelo inovador, 69% dos entrevistados veem o
empreendedor como um visionário de oportunidades, enquanto 37% o veem mais como um
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agente de mudanças e 44% relatam compreender mais o empreendedor como agente de
mudança do que como visionário.
As questões relacionadas à gestão organizacional, especialmente, sobre a
importância do controle de qualidade na empresa, sobre a importância em preocupar-se
com as consequências financeiras e da necessidade de buscar realizar as atividades de
forma mais econômica possível. Observa-se que a maioria dos entrevistados acredita ser
importante, tanto o controle de qualidade quanto realizar as atividades de forma econômica,
ambas pensando nas consequências financeiras decorrentes de seus atos.
Perguntados em outra questão: Você pensa ser importante que o empreendimento
do setor madeireiro de esquadrias seja o principal ramo de atividades na região? Levantou-
se esse questionamento buscando conhecer a opinião dos entrevistados sobre a tradição
madeireira que envolve a região, haja vista que, nos dias atuais, praticamente toda a
economia regional ainda gira em torno da indústria madeireira. Constatou-se que metade da
população entrevistada (50%) acredita na importância desse setor para essa região. 25%
veem pouca importância e 6% acreditam não ter importância alguma. Nenhum entrevistado
afirmou ser muito importante.
As questões que seguem referem-se à gestão de pessoas, em que se buscou
conhecer a opinião dos empreendedores sobre treinamento, rotatividade e mão de obra de
seus colaboradores. A primeira questão desse bloco tem o seguinte enunciado: ‘Qual a
importância das habilidades e talentos na mão de obra de seus colaboradores?’. Foi obtida
a seguinte representação gráfica. A maioria absoluta (94%) acredita ser ‘muito importante’
detectar e trabalhar com as habilidades e talentos dos seus colaboradores.
Na questão seguinte: ‘Você acha importante dar treinamento e qualificação a seus
colaboradores?’, procurou-se conhecer a opinião dos gestores no que diz respeito ao
treinamento e qualificação: Constatou-se que a maioria (63%) acredita ser ‘muito importante’
a empresa investir no treinamento e qualificação dos seus colaboradores.
Outra temática foi sobre a participação dos entrevistados em redes, associações e
afins, com o objetivo de buscar inovações para o seu segmento. A primeira pergunta
realizada foi a seguinte: ‘A sua empresa participa de algum tipo de associação como:
Sindicado, Redes, APLS e Associação Comercial?’
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Gráfico 6 – Participação da empresa e do empresário em algum tipo de associação
Fonte: Dados da pesquisa (2013).
No gráfico acima se observa que 51% das empresas sempre participam de
associações, porém, apenas 38% dos entrevistados, declararam participar às vezes das
reuniões dessas associações e 19% sempre participam e considera-se um percentual baixo,
haja vistas que a tendência entre as pequenas e médias empresas é o associativismo,
nesse ambiente, uma das formas de competição e diferenciação, tanto do processo
produtivo quanto de produtos e serviços, é a formação de redes de cooperação entre
empresas do mesmo setor. Observa-se que 37% dos entrevistados declararam participar às
vezes de estratégias competitivas junto às associações, enquanto 44% declararam também
participar às vezes de políticas públicas voltadas às redes, associações e APLS, considera-
se esse percentual alto, já que aos questionados informalmente sobre a que tipo de
estratégias e políticas públicas estava se referindo, foram bastante evasivos e demonstrou
pouco conhecimento sobre essa temática, o que já era esperado, considerando o baixo
índice de participação dos empresários, e a trajetória da cultura regional observada
empiricamente
Na questão a seguir, procurou-se conhecer a opinião dos entrevistados sobre as
expectativas que a empresa tem quanto a ações inovadoras no setor de esquadrias.
Observando o resultado das questões anteriores, era esperado que 50% dos entrevistados
afirmassem aceitar as ações inovadoras no setor de esquadrias. O percentual restante ficou
dividido entre ‘aceita às vezes’ e ‘aceitação mediana’.
A representação gráfica a seguir traz dois aspectos relevantes, o primeiro diz
respeito à utilização de outras tecnologias para o desenvolvimento do seu produto e/ou o
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desenvolvimento de projetos industriais ou desenhos industriais associados a
produtos/processos tecnologicamente novos.
Gráfico 14 – Desenvolvimento e aquisição de outras tecnologias
Fonte: Dados da pesquisa (2013).
Registrou-se que 44% dos entrevistados sempre se utilizada de outras tecnologias
(software, licenças ou acordos de transferência) e também 44% relatou utilizar às vezes.
Enquanto a maioria, 50% afirmou desenvolver projetos ou desenhos industriais associados
a produtos/processos tecnologicamente novos.
A questão a seguir refere-se às novas formas de comercialização e distribuição para
o mercado de novos produtos. Verificou-se que 50% dos entrevistados afirmaram buscar
sempre novas formas de distribuição dos seus novos produtos para o mercado, seguindo
uma tendência mundial, todos afirmaram buscar as novas tecnologias como aliadas para
esse processo. Nos últimos anos tem crescimento o mercado da construção civil no Brasil, o
que tem necessitado também aumento da demanda por novas tecnologias, o que pode
representar para o setor de esquadrias novas formas de inserção do mercado, e num
mundo globalizado pelas redes, as fronteiras para os negócios deixaram de existir, assim
como aumentou a necessidade de atualizar constantemente as formas de distribuição e
apresentação dos produtos e esse novo mercado, o que vai de encontro à questão seguinte,
que trata da sustentabilidade nos processos, a questão argumenta: ‘Sua empresa
desenvolve metas para o plantio de matéria prima?’. Buscar a sustentabilidade deve fazer
parte das metas de todas as empresas, pensarem o diferente é estar andando na contramão
do progresso. Constatou-se que, 51% dos entrevistados afirmaram sempre desenvolver
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metas para o desenvolvimento sustentável, por meio do plantio ou associação ao plantio de
matéria prima e 12% afirmaram não desenvolver nenhum plantio e não tem reservas
disponíveis.
Considerações Finais
O desenvolvimento regional é uma estratégia para mudar uma situação de
adversidade, cujos eixos importantes dessa estratégia são o capital humano e capital social.
Capital humano são as pessoas com suas habilidades, competência e particularidades e o
capital social são as organizações que se formam dessas pessoas. Quanto mais
organizadas forem as pessoas de uma determinada região, maior a comunicação entre elas,
confiança e espírito de cooperação, maior será o capital social apresentado por tal região.
As cidades de União da Vitória (PR) e Porto União (SC), que pela proximidade são
chamadas de ‘Gêmeas do Iguaçu’, desde o início de suas histórias tem como base
econômica a madeira, e os produtos dela extraídos, sendo este segmento considerado forte
gerador de emprego e renda local, essas cidades em conjunto correspondem
aproximadamente a uma população economicamente ativa e inativa (população no mercado
de trabalho) de 86.228 mil habitantes (IBGE, 2010). Pelo faturamento, as cidades possuem
somente empresas de pequeno porte, que exploram historicamente uma indústria de base
florestal. Contando com um parque industrial composto por mais de 50 indústrias que
produzem quase 50% da produção brasileira de portas e expressiva quantidade de janelas
de madeira, por esse feito, recebeu o título de ‘Capital da Esquadria de Madeira’3. A região
apresenta como pontos positivos, a infraestrutura, localização, conhecimento, experiência e
disponibilidade de matéria-prima (menos escassa que em outros locais); mesmo assim
apresentam fragilidades em relação à cooperação entre essas empresas, sendo apontada
como fator principal a confiança. A tradição da região na produção de esquadrias de
madeira é o seu principal ponto positivo, porém o risco eminente de quebra das indústrias é
um fantasma que as assombra, enquanto não houver a conscientização de que sozinhas
elas não possuem a força necessária para alavancar o segmento e criar novas
oportunidades de diversificação, estarão fadadas a insucesso e a estagnação que
encontram-se atualmente. Algumas características são apresentadas pelos
empreendedores de forma não pontual (esporádica), podendo-se citar: apresentam poucas
inovações em seus produtos ou processos, o que consequentemente faz com que não se
3 Informação obtida junto ao site: <http.www.captaldaesquadria.com.br>.
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mostrem criadores ou criativos, essa falta de otimismo faz com que atuem de forma menos
energética e sem continuidade ou persistência; a falta de confiança faz com que tornem-se
relativamente flexíveis e confiantes. Essa postura faz com que demonstrem também pouca
iniciativa e comprometimento, demonstram falta de senso de oportunidade e orientação por
metas, exigem baixa qualidade e eficiência de seus colaboradores e relutam em buscar
informações e aprender
O universo pesquisado contou com 16 empresas do setor de esquadrias de madeira
de União da Vitória/PR e Porto União/SC e as respostas dos questionários trouxeram a
visão dos empresários do setor madeireiro, onde indicaram, de acordo com o seu ponto de
vista, o nível de importância pessoal a respeito da pergunta realizada. Na tabulação dos
resultados, foi possível comprovar que se tinha como conhecimento empírico, como por
exemplo, que a gestão administrativa dentro das empresas não é encarada como uma área
vital para o seu desenvolvimento, manutenção ou sobrevivência no mercado, os
empresários fixam as atenções unicamente no produto final, ignorando o processo
produtivo, embora conheçam e acompanhem as últimas descobertas tecnológicas, não tem
acesso a ela, e o bojetivo final é o aumento de produtividade e lucro, deixando de lado a
área administrativa. Conclui-se com essa pesquisa que os empreendedores das Gêmeas do
Iguaçu necessitam investir em gestão empresarial, buscando ampliar seus horizontes,
detendo o controle do processo como um todo. Analisando a história e a evolução da região
de União da Vitória/PR e Porto União/SC e sua relação com o setor madeireiro, fica evidente
que houve formação incipiente de capital social, o que impede esse setor de associar-se de
forma eficiente, trazendo benefícios mútuos, constata-se que existe a consciência da
necessidade de tal formação. A região é, incontestavelmente, polo do setor madeireiro,
intitulando-se “Capital Nacional das Esquadrias de Madeira”, apresentando como pontos
positivos, a infraestrutura, localização, conhecimento, experiência e disponibilidade de
matéria-prima (menos escassa que em outros locais); mesmo assim apresentam
fragilidades em relação à cooperação entre essas empresas, sendo apontado como fator
principal a confiança. A região apresenta a formação de uma APL, legalmente estruturada,
porém na prática, apresenta poucas características das organizações com essa finalidade,
não produzindo capital social necessário para proporcionar mudanças significativas no
quadro econômico regional. O trabalho solitário dessas empresas acaba prejudicando o
segmento como um todo, tirando-lhes a oportunidade de desenvolvimento, assim como a
ilusão de já existir uma APL faz com que iniciativas que poderiam beneficiar a todos deixem
de ser executadas, da mesma forma outros tipos de associações são pouco efetivas.
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