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1. Professor Mestre da Faculdade Metropolitana de Manaus – ProfDenysAlmeida@gmail.com 2. Professor Doutor da Universidade Federal do Amazonas – EwertonHelder@gmail.com 3. Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da UFAM –
hellenmiwa@hotmail.com
A vivência do diagnóstico em portadores da Síndrome do Intestino Irritável
Denys de Paula Almeida¹
Ewerton Helder Bentes de Castro²
Hellen Yuki Costa Miwa³
A Síndrome do Intestino Irritável (SII) é um conjunto de manifestações gastrointestina is
crônicas ou recorrentes não associadas a qualquer alteração bioquímica ou estrutural conhecida até o momento. Sua etiologia não é bem compreendida e, portanto, não se sabe como uma pessoa passa a apresentar os sintomas. Contudo, seu surgimento afeta consideravelmente a vida
do portador: medos, angústias, vergonha, dor. Esta pesquisa intitulada “A vivência do diagnóstico e suas consequências psicológicas em portadores da Síndrome do Intestino Irritáve l
– sentidos e significados” teve como objetivo compreender, à luz da Psicologia Fenomenológico-Existencial, como os portadores da Síndrome do Intestino Irritável vivenc iam essa doença através do significado em seus discursos. Foram realizadas entrevistas
semiestruturadas baseadas no método fenomenológico de pesquisa qualitativa com três participantes mulheres da cidade de Manaus onde foi compreendido a partir das falas colhidas
em entrevistas áudio-gravadas a relevância da relação médico-paciente, a importância do acolhimento pelo outro sem julgamento e as possibilidades de mudanças positivas a partir do enfrentamento da síndrome na vida das portadoras.
Palavras-chave: Síndrome do Intestino Irritável. Diagnóstico. Psicologia Fenomenológico -
Existencial.
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INTRODUÇÃO
Hoje a Síndrome do Intestino Irritável – distúrbio gastrointestinal sem desordens
fisiológicas – atinge milhões de pessoas (BOHM; GIMENES, 2010), com poucos estudos sobre
as consequências psicológicas da mesma. A revisão bibliográfica sobre o tema mostra uma
escassez nesse foco, seja na Medicina ou na Psicologia, mais preocupadas em amenizar os
sintomas – algo extremamente válido – se esquecem do ser como ele é, como sente e vive,
justificando a importância desse estudo.
A Síndrome do Intestino Irritável (SII), termo introduzido apenas em 1946, antes
chamada por diversos nomes como “cólon irritável”, “cólon espástico”, “colite nervosa”,
“colite funcional” e/ou “diarreia nervosa” (BARCLAY, 2002), assim como os outros distúrbios
funcionais, é diagnosticada pela falta de evidências orgânicas que expliquem os sintomas
apresentados pelo paciente.
A SII se caracteriza por ser um “transtorno intestinal funcional caracterizado por
alteração no hábito intestinal, associado à dor e/ou desconforto abdominal. É frequente que se
acompanhe de inchaço, distensão e alterações na defecação” (WORLD
GASTROENTEROLOGY ORGANIZATION, 2009), sendo frequente principalmente em
mulheres jovens, mas alcançando pessoas de todas as idades (BOHM, GIMENES, 2010) e
ocorrendo apenas no período de vigília.
É uma síndrome crônica que também apresenta os seguintes sintomas
gastrointestinais: urgência evacuatório, sensação de evacuação incompleta, presença de muco
nas fezes e distensão abdominal (PASSOS, 2006), náuseas, alteração na forma das fezes,
intolerância alimentar e outros. Encontram-se ainda presentes manifestações extra digestivas
comuns, tais como: alteração de humor, irritabilidade, insônia, cefaleia, fadiga, tontura,
enxaqueca, sudorese e outros (BARCLAY, 2002).
Diversos autores (BARCLAY, 2002; FUKUDO, 2011; LONGSTRETH;
THOMPSON; CHEY; HOUGHTON; MEARIN; SPILLER, 2006; GERSON; GERSON;
AWAD; DANCEY; POITRAS; PORCELLI; SPERBER, 2005; LEVY; OLDEN; BRADLEY;
FRANCISCONI; DROSSMAN; CREED, 2006) colocam como um dos fatores mais
importantes para um bom prognóstico e consequente alívio da sintomatologia da Síndrome do
Intestino Irritável o estabelecimento de uma boa relação médico-paciente, onde seja possível
desmistificar medos e ansiedades quanto à evolução patológica, suas origens ou qualquer outra
dúvida que venha a surgir, contribuindo diretamente com a qualidade de vida na nova situação
do portador.
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É neste ponto que a atual pesquisa buscou compreender melhor os fenômenos do pós-
diagnóstico, a fim de criar novos conhecimentos que permitam uma relação melhor entre
médicos, pacientes e familiares. Buscou-se, então, conhecer o sentido e a vivência dos
portadores da Síndrome do Intestino Irritável através do escopo teórico da Psicologia
Fenomenológico-Existencial, procurou dar possibilidades de um melhor enfrentamento,
melhorando o prognóstico, além de servir como material para melhorar a relação médico -
paciente.
Assim, seu objetivo principal foi compreender o significado da vivência da Síndrome
do Intestino Irritável em portadores e seus objetivos específicos foram investigar as
consequências psicológicas da Síndrome do Intestino Irritável, entender o sentido dado pelos
portadores à síndrome no período anterior ao diagnóstico e buscar as interferências na vida dos
portadores no pós-diagnóstico da SII.
Torna-se necessário ressaltar que pesquisar acerca da experiência de vida signif ica
adentrar o mundo vivido da pessoa. Assim, optei por lançar mão do referencial teórico da
Fenomenologia que possui como pressuposto fundamental a descrição e compreensão do vivido
a partir da fala, do discurso.
METODOLOGIA
Para realização dos objetivos propostos escolheu-se uma metodologia de caráter
qualitativo onde se buscou mais do que agregar relatos similares, compreender os sentidos que
se encontravam dentro das falas dos entrevistados.
Partindo do modelo fenomenológico de pesquisa, as entrevistas foram realizadas com
3 (três) mulheres portadoras da SII que foram diagnosticadas em consultórios particulares, na
faixa de 20 a 24 anos e que aceitaram participar da pesquisa de forma voluntária, assinando o
termo de consentimento livre e esclarecido. As entrevistas foram iniciadas com a seguinte
questão norteadora: "Gostaria que você descrevesse para mim como foi para você o momento
em você recebeu o diagnóstico da Síndrome do Intestino Irritável, o que foi que sentiu ao
receber a notícia”.
Para a análise dos dados utilizou-se as orientações de Martins e Bicudo (1994): a)
Leitura integral de cada entrevista com o objetivo de compreender a linguagem do participante
e consequentemente sua visão do todo. Neste momento não se buscou ainda qualquer
interpretação do que foi exposto, sem tentativas de identificação de quaisquer atributos ou
elementos ali contidos; b) Foi realizada a releitura atenta de cada entrevista, com a finalidade
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de discriminação de unidades de significados dentro da perspectiva do pesquisador. Foi feita
uma análise seguindo critérios psicológicos, sendo, assim, diretamente relacionado à atitude,
disposição e perspectiva do pesquisador diante da questão norteadora; c) Diante das afirmações
significativas, houve uma postura reflexiva e imaginativa para expressar o que se intuiu dentro
delas mesmas, buscando-se expressar o discurso nelas contido por trás da fala (BRUNS,
TRINDADE, 2007, p.87), mais diretamente; d) Deverão ser sintetizadas todas as unidades de
significado transformadas em uma proposição consistente, referentes à experiência dos sujeitos.
A análise individual de cada entrevista de acordo com o método fenomenológico de
pesquisa explicitado anteriormente resultou na percepção de unidades de significados, “trechos
da fala do entrevistado em que é possível perceber um significado atribuído por ele à vivênc ia ”
(BRUNS; TRINDADE, 2007, p. 90), no caso aqui específico, a vivência do diagnóstico da
Síndrome do Intestino Irritável e suas consequências. Essas unidades não se dão a priori na fala
ouvida e transcrita, mas aparecem, sim, dentro da visão de mundo do pesquisador quando este
se procura se colocar dentro das situações relatadas (IDEM).
O trabalho foi preciso quanto às questões éticas, considerando na íntegra a resolução
196/96 do Conselho Nacional de Saúde – CNS – do Ministério da Saúde do Brasil em sua
versão atualizada em 2012 que em seu item VIII afirma que “toda pesquisa envolvendo seres
humanos deverá ser submetida à apreciação de um Comitê de Ética em Pesquisa” (BRASIL,
2012, p.11) – CEP. Para tal, o projeto foi enviado inicialmente para apreciação na Plataforma
Brasil com o intuito de ser avaliado pelo CEP da Fundação Universidade do Amazonas,
recebendo então parecer favorável de acordo com o parecer consubstanciado de número
195.466.
DESENVOLVIMENTO
Após o processo de construção das estruturas que permeiam as unidades de
significado, foram construídas seis categorias de análise aqui apresentadas separadas
meramente por questões didáticas, já que de forma alguma devem ser entendidas
separadamente, mas sim como parte única e integral da vivência das portadoras da SII
entrevistadas:
• “Antes eu não sabia, tava no escuro...”: A vivência da Síndrome do Intestino
Irritável começa muito antes da sua nomeação pelo diagnóstico. Os sintomas frequentes trazem
à pessoa uma série de dúvidas e medos sobre o seu real quadro;
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• “...aquilo tem a cara de uma doença, mas pode não ser...”: Diante do
desconhecido a figura do médica ganha uma importância ímpar de desvelar aquilo que se está
procurando entender. A relação médico-paciente influencia fortemente a relação paciente-
síndrome;
• "...é legal me dar atenção...": Os sentimentos que brotam após o diagnóstico
da SII são vários, divergentes e convergentes, uma mistura peculiar que possibilita uma re-visão
do próprio ser daquele que os possui;
• “Será que foi por isso mesmo?”: As particularidades da Síndrome do Intestino
Irritável de ser diagnóstica após o descarte de todas as outras opções e o não encontro de
qualquer afecção fisiológica colocam nas costas dos portadores uma dúvida inicial sobre sua
veracidade. Diferente de outros quadros patológicos, o diagnóstico de uma doença/síndrome
que é crônica transporta o portador não somente ao seu estado atual, mas o convoca para uma
reflexão daquilo que foi, é e será o seu ser-no-mundo;
• "...parecer que você, ah, é uma coisa rara...": O tabu da fala sobre as questões
que envolvem o processo digestório isolam a Síndrome do Intestino Irritável a um pequeno
grupo de pessoas aos quais os portadores se permitem falar. A aparente unicidade do caso
fragiliza a comunicação para um melhor enfrentamento, ainda que quando estabelecidos laços
de confiança com amigos, parentes, companheiros e médicos, isso possa virar um
potencializador da resiliência necessária para continuar a vida com qualidade;
• "...eu tenho que servi-lo...": Diante de todas as características apontadas para
o quadro sintomatológico o portador se vê inicialmente diante de um corpo que não controla,
um corpo que lhe é estranho.
“Antes eu não sabia, tava no escuro...”
A Síndrome do Intestino Irritável, caracterizada por uma disfunção contínua que altera
o hábito intestinal causando dor, diarreia, constipação, inchaços e outros vários sintomas como
descritos na revisão teórica deste trabalho, começa a mudar a vida do seu portador normalmente
de maneira repentina e misteriosa. Pelo fato do seu diagnóstico ser feito a partir da eliminação
das demais possibilidades patológicas com causas possíveis de serem detectadas nos exames
clínicos, o paciente passa por um longo processo de angústia, alheio às suas reais condições,
estabelecendo-se um campo fértil para criação de fantasias que dessem conta das suas primeiras
experiências.
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“...eu fiquei assim, fiquei com medo de que fosse algo mais sério, né?
Que fosse uma recorrência da infecção, sei lá, uma coisa séria mesmo.” (Patti Smith)
Dentro das três mulheres entrevistadas essa angústia se mostrou muito clara nas falas.
Normalmente associados a coisas passageiras e corriqueiras, os sintomas da SII aumentavam o
medo progressivamente por não cessarem. Com a falta de busca médica relatada nos três casos
na época do aparecimento, estes apenas aumentavam, causando mais dor, desconforto e
vergonha para elas. Se antes sintomas simples e tratáveis com facilidade, a falta de razões
médicas para a situação criava imagens cada vez mais aterradoras. O homem enquanto único
que existe no sentido Heideggeriano, único ente com a possibilidade de se questionar (BRUNS,
TRINDADE, 2007) através de tudo que está aí, cria e recria o seu viver em correspondência
com aquilo que lhe surge:
“...Primeiro porque eu recebi esse diagnóstico, como eu disse, foi um alívio, porque eu achei que seria algo pior. Eu achei que poderia ser
nódulos nos ovários...essas coisas... câncer...” (Joan Jett)
Quando os sintomas não cessam e o medo alcança níveis muito altos, a procura por
uma razão remete as portadoras às mãos dos médicos.
“...aquilo tem a cara de uma doença, mas pode não ser...”
O desconhecido apresentado convoca ao eu-mundo das portadoras a figura médica
onde esperam encontrar não somente respostas para as dúvidas que tem diante da vivência algo
desconhecido, mas também a solução para um corpo que não mais se vê como aquele que se
via antes. Mais do que isso, diversas pesquisas (BARCLAY, 2002; FUKUDO, 2011;
LONGSTRETH, THOMPSON, CHEY, HOUGHTON, MEARIN, SPILLER, 2006; GERSON,
GERSON, AWAD, DANCEY, POITRAS, PORCELLI, SPERBER, 2005; LEVY, OLDEN,
BRADLEY, FRANCISCONI, DROSSMAN, CREED, 2006) apontam que uma relação de real
cuidado e empatia estabelecida pelo profissional de saúde colabora em muito com um bom
prognóstico e uma melhora da qualidade de vida dos sujeitos. No entanto, ao mesmo tempo em
que o discurso apresentado traz sentimento de alívio ao saber do diagnóstico final – uma
síndrome que não evolui para algo considerado pior, não dando “cura, mas sim tratamento... ”
(Janis Joplin) – é confrontado com uma decepção com aquele em que se confiou:
“...eu me senti um pouco perdida, assim, porque o médico não me
informou muita coisa. Ele me deu um panfleto e falou “Você tem isso aqui. É comum, lê esse panfleto, você não pode comer pão, não pode
tomar refrigerante, não pode comer farinha, é isso, se informa aí”.
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Então foi muito... tive que procurar na internet o que eu podia e não
podia comer...” (Joan Jett)
A gama de mudanças necessárias na vida cotidiana do portador da SII, além da
necessidade de uma boa adesão ao tratamento solicitam do médico um cuidar autêntico.
Heidegger afirma que o homem está sempre atraído pelo que existe, mas que se relaciona de
forma diferente com os utensílios, em um sentido de preocupação, e com os outros homens, no
sentido de uma “atenção cuidadosa com o outro” (MENEZES JR., 1987, p.23 apud BRUNS,
TRINDADE, 2007, p. 83). Ao não olhar às portadoras da síndrome com um real sentido de
cuidado, o médico estabelece uma relação inautêntica, marcada pela impessoalidade (SALES,
2008), deixando de vê-las enquanto outros seres, cheias de potencialidades apesar do seu quadro
sintomatológico, e estabelecendo uma relação utilitária que não responde às necessidades
afetivas que se colocavam naquele momento único da vida delas.
“Uma coisa que a gente repara muito nos médicos, principalmente
aqueles que já estão acostumados numa rotina de trabalho, é... bem pesada, né? Por exemplo, ah, vê uma coisa, aquilo tem a cara de uma doença, mas pode não ser, né?” (Patti Smith)
Mesmo Patti Smith, que não apresentou na sua fala essa decepção quando do seu
diagnóstico, apresenta ao final da entrevista o discurso da importância de uma maior
sensibilidade e cuidado por parte dos médicos na hora de lidar com pacientes com Síndrome do
Intestino Irritável.
[.,.] a inautenticidade atinge também o domínio do encontro, pois, nesta condição, o outro não é alguém que faz parte do mundo do ser, portanto, não faz parte de seu cuidado, privando o homem de suas possibilidades, a vida inautêntica contribui para o estado de queda do ser humano, assim, o existir, passa a ser um constante estado de não-compromisso, isto é, deixar-se viver no tempo que passa. (SALES, 2008, p.566).
A vivência do diagnóstico da Síndrome do Intestino Irritável e as formas com que o
ser vai desenvolver para enfrentar essa nova realidade se mostram intimamente ligadas a essa
postura médica.
"...é legal me dar atenção..."
Ainda que a experiência vivida na hora do diagnóstico da síndrome tenha se dado de
forma inautêntica no se relacionar com o médico no caso de Janis Joplin e Joan Jett, onde o
cuidado solicitava mais atenção, isso não impediu que questionamentos e sentimentos
relacionados surgissem:
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“Primeiro foi um alivio porque eu já sentia dor há mais de um ano. Na
verdade mais que isso porque ia e voltava, né? Então foi um alivio ter um diagnóstico e tentar tratar né?” (Joan Jett)
O alívio, apontado em todas as entrevistas, remete à primeira categoria relacionada ao
medo diante do desconhecido. A possibilidade de se ter alguma patologia mais greve como o
câncer relativiza o impacto do diagnóstico da síndrome por situar o portador dentro de um
quadro não-evolutivo para algo que possa levar à morte.
“...aí quando eu soube do diagnóstico eu digo “bom, pelo menos não é tão grave quanto eu imaginava, é uma coisa que dá pra lidar...”
(Patti Smith)
Medo e alívio estão diretamente ligados à questão da própria da existência humana: a
morte enquanto única certeza (BRUNS, TRINDADE, 2007). Se isso nos torna ser de
possibilidades diante da finitude que é propriamente humana, volta à consciência diante de uma
doença. Os sentimentos de medo e alívio vivenciados pelas portadoras entrevistadas estão
diretamente ligados ao temor do fim.
“Será que foi por isso mesmo?”
No entanto, o sentimento de alívio por um diagnóstico que, sim, causa desconfortos na
vida das portadoras, mas não tem a gravidade imaginada anteriormente é confrontado com a
dúvida se aquilo que se usou para nomear essa nova vivência é verdadeiro.
“Será mesmo que eu tenho isso?”, assim, “será mesmo?”, eu sou da opinião de que “Eu tenho, tudo bem”, mas eu vou buscar uma segunda
opinião só pra ter certeza, vou fazer um exame só pra ter certeza, tu entende? (...) Então assim, eu acredito que eu tenho essa síndrome pela
boca de um médico, mas eu não sei a partir de outro, talvez ele tenha uma outra opinião” (Janis Joplin)
As provas concretas e observáveis a que todos estão acostumados a ver diante de um
adoecimento não se fazem presentes para o portador da SII, restando a ele a dúvida se aquilo
que lhe foi designado realmente corresponde ao que ele possui. Existe dentro do discurso
apreendido uma esperança de que possa ser outra coisa, que possa sumir.
Outro ponto importante de ser salientado é a forma como as portadoras entrevistadas
lidam com o fato de terem sido diagnosticadas com uma síndrome crônica. Aqui a diferença
dos discursos de Joan Jett e Janis Joplin que convivem há menos tempo com a síndrome do que
Pattie Smith é grande, mostrando que enquanto seres de possibilidades mesmo um quadro
patológico pode ser rearranjado de forma positiva para uma vida boa.
“...eu acho que é mais pra, não sei, é mais pra ter certeza pra eu ficar mais calma e “não, realmente, eu tenho que tirar isso da cabeça que
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não é nada demais” e pronto, e assim, até mesmo pra fazer um exame
e perceber que está tudo bem ali dentro ou que de repente eles percebem que tem uma alteração aqui e tal, entendeu, tipo isso...” (Janis Joplin)
Se ainda existem dúvidas, seja da veracidade do diagnóstico ou do fato dele ser de uma
síndrome crônica, as entrevistadas começam a reformular suas vidas de acordo com essa nova
realidade que se apresenta, transformando e sendo transformadas. Importante comentar como
as três entrevistadas falaram de depressões, ansiedades e/ou problemas familiares no tempo que
precede o surgimento do diagnóstico e de como hoje enfrentam esses problemas de outra forma.
“...às vezes não é não, como você falou, não é nem por questão de você pensar na crise, você pensa “Po, tão gorduroso”, você começa a se acostumar, seu paladar se acostuma com coisas mais leves, com
alimentos saudáveis. (...) hoje eu às vezes dou meus vacilos, fico sem tomar o remédio, não sei o que e mesmo assim não sinto sintomas né,
então é, melhorei bastante, fiquei bem melhor. (...) Mas como o tempo, era aquilo que te falei, com o tempo que foi melhorando, aí já vai, come uma coisa que não era tão boa para comer, aí vai comendo, aí não sei
o que, aí uma vez na vida esquece uma hora, mas assim (risos), hoje eu sei exatamente qual é tipo de alimento que mais me desencadeia uma
crise, entendeu?” (Patti Smith)
Porém, mais do que somente ocasionar uma mudança de rotina nas portadoras da
síndrome, esse movimento carrega não somente mudanças estritamente ligadas à SII, mas
resultam em uma transformação do próprio viver que sai da inautenticidade para a
autenticidade, deixando o presente não de lado, mas em um espaço conjunto do que foi-é-será
enquanto ser-no-mundo. As mudanças saem da esfera própria da patologia para ocasionar uma
modificação holística do ser:
“...eu procurei... é... terapia, mas não por conta da síndrome, por conta de outros fatores psicológicos mesmo, até da ansiedade. E junto com isso foi, e com o tratamento medicamentoso eu fui melhorando (...)
ajudou muito até porque controlando a ansiedade, controlando essas coisas eu consegui controlar bem mais o quadro clínico.”
(Patti Smith)
A angústia do pré e pós diagnóstico possibilita “perceber a si como principal referência
para seu existir no mundo e não o exterior” (BRUNS, TRINDADE, 2007).
"...parecer que você, ah, é uma coisa rara...":
Apesar do título dessa categoria não parecer, falaremos aqui das relações interpessoais
estabelecidas após o diagnóstico da Síndrome do Intestino Irritável. A citação é de uma fala de
Pattie Smith ao externalizar seu sentimento ao comentar do contato para participar dessa
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pesquisa unida da experiência de ter passado por tudo com o apoio e imagem do seu pai, ele
também portador da síndrome:
“Porque... eu, até então, parecia que era só comigo, assim, entendeu? Eu nunca tinha escutado falar, não é uma coisa muito comum, mas assim, nunca tinha escutado nenhum relato parecido e... e quando eu
soube que ele também era portador e tudo mais, a gente conversou eu me senti um pouco mais aliviada, né? Até porque ele ter mais
experiência, ter se tratado e tudo mais, então eu já me senti bem melhor, bem melhor do que parecer que você, ah, é uma coisa rara que você tem, não é bom.” (Patti Smith)
A possibilidade de falar, trocar experiências, estar-aí com o outro, serve como
potencializador de fatores resilientes que facilitam uma nova interpretação para aquilo que se
vive com a síndrome.
Ainda que a vergonha inicial de comentar sobre os sintomas que se sentem, as poucas
pessoas a quem é entregue a confiança de saber aquilo que se quer esconder dão um apoio
emocional e psicológico para que a portadora consiga lidar com suas dificuldades, vergonhas,
agonias e mudanças que tal condição demanda.
“Como eu criei essa intimidade com ela foi muito mais fácil confiar nas outras pessoas, assim, falar a respeito, porque ela não me julgou nem
nada, criou uma base de confiança que eu posso falar com outras pessoas que elas não vão me julgar nem nada, “Olha, eu to só com uns
barulhos no estômago, tudo bem? Às vezes acontece”, “Ah, fica tranquila”, foi mais fácil falar... (...) ...me ajudou, ela me ajudou a falar sobre as coisas com as outras pessoas, entendeu? “Fala, não sei o que,
conversa e tal”, então, é... estou mais aberto para as outras pessoas...”
(Joan Jett)
A experiência da síndrome mostrou-se nos discursos marcada por uma vergonha dos
sintomas apresentadas que pouco a pouco vai sendo relativizada, principalmente quando é
possível ter uma pessoa que se possa confiar suas angústias relacionadas aos sintomas e àquilo
que se vivencia. Como falamos anteriormente, a figura do médico deveria fazer parte desse
grupo de pessoas que possibilitam despertar e fortalecer a resiliência dentro daqueles que
sofrem por suas condições. Essa base formada por amigos próximos, família e namorados e
namoradas foi compreendida como um, se não o, dos fatores mais fundamentais para um bom
prognóstico, aceitação da condição crônica e melhora na vida em geral.
Depreende-se destas falas uma das características fundamentais do ser-no-mundo, o
Cuidado (HEIDEGGER, 2002). Um cuidado que está expresso na relação com as pessoas mais
próximas a si mesmas, vivenciam o ser-com em toda a sua plenitude, haja vista que os laços
estão fundamentados na confiança, no estar-aí-com-o-outro. Forghieri (2004) revela que este
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aspecto representa o mundo humano, aquele que diz respeito ao encontro e convivência da
pessoa com seus semelhantes. Afinal, existir é originariamente ser-com-o-outro.
"...eu tenho que servi-lo..."
Por último nessa apresentação das categorias coloco a dualidade entre sujeito-objeto
representada no corpo que não obedece, no corpo ao qual se subjuga. A dificuldade de lidar
com uma corporeidade que se modifica daquilo que se acostumou desde o nascimento até o
surgimento dos sintomas que inicialmente fogem completamente do controle das portadoras até
que suas formas de enfrentamento mostrem o que deve ser feito para voltar a ser uno com si.
“Você se sente de certa forma debilitado, né? Então, é complicado,
saber que uma situação às vezes foge do seu controle ali, é complicado...” (Patti Smith)
Os discursos depreendidos das falas apresentadas demonstram que mesmo dentro de
um quadro estabilizado como é o caso de Patti Smith conforme exposto anteriormente que
apesar do diagnóstico mais recente já consegue manter uma vida normal apesar da síndrome,
ocorre uma cisão do ser e do corpo do ser, como se este último fosse um ente separado do ente
humano. Não são as portadoras que os controlam, mas na verdade o contrário. Podemos ainda
apontar para a diferença entre os dois discursos e suas diferenças temporais em relação à
síndrome. Enquanto a primeira situa sua relação com o corpo como uma quase debilitação, a
segunda o entende como mestre a quem deve servir.
Sendo o corpo fenomenológico o corpo que eu sou, reconheço, nele, a capacidade de
assumir significados, de comunicar-se. Para a abordagem fenomenológica, é inquestionável o
poder de comunicação do corpo. Tal poder se revela como uma potência aberta a significaçõ es
e se manifesta como corpo vivido ou corpo próprio.
Para a fenomenologia, o corpo próprio indica, exatamente, tal possibilidade concreta
de ser, de se expressar e de se comunicar com o mundo, sendo este o fundamento da
intersubjetividade: por meu corpo me expresso mundanamente e ao mesmo tempo sou
consciência da existência do outro. Para Merleau-Ponty (2011), corpo e afetividade estão
ligados, na medida em que o corpo é o lugar de comunicação com os outros e com as coisas.
Tal perspectiva nos remete, mais uma vez, à distinção entre corpo próprio e corpo objeto
[...] não se trata do “corpo objeto” da anatomia e da fisiologia; esse corpo que podemos
pôr a distância considerando-o precisamente como um sistema obediente às leis físicas
e fisiológicas. Na verdade, este corpo não esgota o significado do corpo; não é falso,
mas não é toda a verdade do corpo (p. 239).
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Posso, portanto, afirmar que o meu corpo é, antes de tudo, o corpo que eu sou, não o
corpo que eu tenho. Dotado de sentido e significado, capaz de se expressar e de se comunicar.
Assim, o corpo, nesta perspectiva, é uma ressonância de nosso ser-no-mundo.
Após essa exposição daquilo que foi compreendido do que está anterior à própria fala,
iremos sintetizar e colocar algumas considerações que permitam não somente sumarizar as
informações aqui apresentadas, mas dentro do possível estabelecer formas não estanques de
como lidam e como outros profissionais e pacientes podem lidar com a Síndrome do Intestino
Irritável.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Conforme comentei anteriormente, as pesquisas relacionadas à Síndrome do Intestino
Irritável, dentro da revisão literária feita, mostraram um foco maior nas duas extremidades do
processo: a etiologia do quadro sintomatológico e/ou nas formas de tratamento possíveis para
uma melhor qualidade de vida. Mesmo dentro dos trabalhos relacionados à Psicologia essa
característica se repetiu. Com essa monografia espero abrir um novo olhar sobre o fenômeno
do ser portador da SII, compreendendo possíveis formas de experiência dentro do surgimento
dos primeiros sintomas, o anúncio do diagnóstico e o viver com essa síndrome crônica.
Entendo que a compreensão de um fenômeno enquanto formas de expressão do ser
não pode ser limitado, por isso espero que esse trabalho possa servir como referência para outros
que possam investigar esse fenômeno, ainda que com diferentes e ricos olhares.
As entrevistas das três participantes, todas mulheres jovens como é mais comum
dentro da população de portadores (BOHM, GIMENES, 2010), demonstrou primeiramente a
importância de uma maior aproximação do médico não somente na hora da clínica, mas também
em um sentido preventivo que aumente o acompanhamento médico junto das pessoas. Junto ao
medo e a angustia de sofrer por algo que não se conhece – ponto primordial de base de
sustentação para o portador da síndrome, saber de forma clara que não possui ou possa vir a ter
alguma doença grave ou evolutiva – está a falta de hábito em se investir na saúde própria até
que os sintomas sejam incômodos demais.
Mas é importante salientar que a forma com que o médico anuncia essa nova forma de
ser para as entrevistadas tem grande influência no caminho que o tratamento irá tomar, podendo
ser facilitador para uma maior aceitação da síndrome e desenvolvedor de uma maior qualidade
de vida ou justamente o contrário – mais dúvidas e fantasias sobre aquilo que se tem ou mesmo
se a síndrome é mesmo real.
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A forma com que o médico se encontra com as pacientes tem muito a influenciar, mas
pode-se observar que não é fator único para um bom prognóstico. O ser-no-mundo está em
constante contato com o outro e é ao ser permitido que ele se expresse de maneira autentica
sem julgamentos que a confiança para buscar uma vida boa, apesar da síndrome, surge. É nesse
momento que os laços familiares, os amigos mais íntimos e os companheiros de
relacionamentos amorosos apresentam papel fundamental, servindo como facilitadores dessa
resiliência frente ao sofrimento encontrado, além de servirem como imagem a ser refletida em
outros ambientes e com outras pessoas não tão próximas.
No entanto, mais do que uma fonte de dor e embaraços a ser superada, a Síndrome do
Intestino Irritável se mostrou na pesquisa como um ponto de apoio para que as portadoras
pudessem voltar os olhos para si novamente, indo, mas não se limitando a questões de uma
alimentação mais saudável, realização de exercícios físicos e uma rotina mais regrada, como
também a busca por soluções para problemas como depressões, ansiedades e uma abertura
gradativamente maior para com o outro.
A necessidade de parar para olhar o próprio corpo que no início foge do seu controle
apresenta uma chance única de se repensar o próprio ser e suas formas de vivência, muitas vezes
percebidas nos discursos como inautênticas. A volta para si transforma o que antes se
configurava enquanto lamento em uma virada positiva na vida das entrevistadas até deixar de
ser algo especial em seus cotidianos para virar mais uma característica que as forma e as
representa, diferenciando-as das outras pessoas como uma pessoa usa óculos por sua condição
de visão particular.
Espero terminar essa monografia com algumas respostas para aqueles que encontram
no seu mundo a Síndrome do Intestino Irritável – portadores, amigos, familiares, médicos,
companheiros, estudiosos e outros – sem a pretensão de esgotar o assunto, visto que na verdade
quero que essa forma de pesquisa que busca deixar as pessoas dizerem sobre os sentidos por
elas dados dentro das suas experiências únicas – seja de base fenomenológica ou não – aumente
para possibilitar novos conhecimentos que precisam ser abarcados pelo fazer acadêmico e
posteriormente apropriados pelas pessoas da questão.
Enquanto portador da Síndrome do Intestino Irritável posso relatar o quanto essa
pesquisa me abriu a mente para tantas formas de entendê-la que não via antes, mas também
como me possibilitou um novo caminho dentro do meu próprio fazer profissional enquanto
futuro psicólogo que logo serei.
A discussão secular entre a distância do sujeito para seu objeto de pesquisa me parece
cada vez mais uma utopia secular a ser esquecida, pelo menos dentro das ciências que trabalham
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com o homem e tem seus fenômenos como foco. Mergulhar em um assunto que duplamente me
implica – sendo ser-no-mundo e portador da síndrome, coisas que separo aqui apenas por
questões didáticas visto que fazem parte de uma unidade – somou a toda minha formação
acadêmica adquirida durante os seis anos no curso de Psicologia uma necessidade de ver de
maneira a entender cada ser como único, mas diretamente conectado aos outros em um eterno
vir a ser em que todos fomos jogados na vida.
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