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DELEGADO DA POLCIA FEDERAL
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DIREITO PROCESSUAL PENAL
I. Princpios gerais do direito processual penal............................................................ 003
II. Inqurito Policial e termo circunstanciado de ocorrncia....................................... 009
IIII. Processo criminal................................................................................................... 023
IV. Ao penal.............................................................................................................. 023
V. Juizados especiais criminais..................................................................................... 032
VI. Provas...................................................................................................................... 035
VII. Priso e liberdade provisria................................................................................. 056
VIII. Sentena criminal.................................................................................................. 066
IX. Processo criminal de crimes comuns...................................................................... 077
1. Trfico ilcito e uso indevido de substncias entorpecentes 084
2. Crime organizado 088
3. Crimes contra o sistema financeiro nacional 091
4. Crimes contra a ordem econmica e tributria e as relaes de consumo 095
5. Lavagem de dinheiro 100
6. Crimes hediondos 107
7. Crimes resultantes de preconceitos de raa ou de cor 108
8. Crimes de tortura 111
9. Crimes contra o meio ambiente 112
10. Crimes de responsabilidade 120
11. Crimes falimentares 141
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12. Crimes nas licitaes e contratos da administrao pblica............................ 144
X. Direito de representao e processo de responsabilidade administrativa, civil e penal nos casos de abuso de autoridade.....................................................................
146
XI. Estatuto do desarmamento.................................................................................... 150
XII. Apresentao e uso de documento de identificao pessoal................................ 152
XIII. Cdigo de proteo e defesa do consumidor....................................................... 153
XIV. Estatuto do ndio................................................................................................... 180
XV. Estatuto da criana e do adolescente.................................................................... 191
XVI. Interceptao telefnica....................................................................................... 263
XVII. Cdigo eleitoral.................................................................................................... 265
XVIII. Execuo penal................................................................................................... 348
XIX. Lei de imprensa..................................................................................................... 387
XX. Juizados especiais criminais................................................................................... 408
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DIREITO PROCESSUAL PENAL
I. DIREITO PROCESSUAL PENAL
1. PRINCPIOS GERAIS DO DIREITO PROCESSUAL PENAL
Os princpios so enunciados que orientam a compreenso do ordenamento jurdico,
quer para sua aplicao e integrao, quer para a elaborao de novas normas. Podem ser
explcitos, isto , estampados em norma legal, ou implcitos, ou seja, extrados da
interpretao que se faz do conjunto de normas.
No Brasil, tendo em vista a importncia do bem jurdico em questo na discusso de
uma causa penal a liberdade boa parte dos princpios informadores do processo penal
esto dispostos na Constituio da Repblica, dentre os direitos e garantias individuais. A
maioria deles, por seu turno, repercusso da adeso do Brasil Conveno Americana de
Direitos Humanos, conhecida como Pacto de San Jos da Costa Rica, ratificada pelo Pas em
1992.
No bastasse a inspirao, a prpria Conveno pode vir a ganhar status de emenda
constitucional se aprovada em cada casa do Congresso, em dois turnos, por 3/5 dos votos (art.
5, 3, CF, acrescido pela EC 45/04).
Vejamos quais so os mais importantes princpios informadores de nosso processo
penal:
1. Princpio do devido processo legal (art. 5, LIV, CF)
Estabelece a Constituio da Repblica que ningum ser privado de sua liberdade
sem o devido processo legal. a garantia de que s ser considerada legtima a condenao
de algum se o processo for desenvolvido na forma que estabelece a lei. a consagrao da
impossibilidade do Estado impor uma sano a algum diretamente e arbitrariamente, to logo
tome conhecimento da prtica de uma infrao penal.
Em relao ao Processo Penal, exige-se maior rigor na observncia de formas legais,
uma vez que ele informado por inmeras garantias constitucionais. Observar o devido
processo legal assegurar as garantias constitucionais das partes.
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2. Princpio da ampla defesa (art. 5, LV, CF).
Consiste em o Estado proporcionar ao acusado todos os meios lcitos de se defender
da imputao que lhe dirigida. Em outras palavras, tudo o que no for contrrio lei pode
ser utilizado, com o amparo estatal, pelo acusado para promoo de sua defesa.
Isso envolve assegurar a mais completa defesa, que se desdobra em duas vertentes:
autodefesa a pessoal e a defesa tcnica por defensor. No se pode olvidar que faz parte
tambm da ampla defesa, assegurar ao acusado hipossuficiente a assistncia judiciria gratuita
(art. 5, LXXIV, CF).
A autodefesa se realiza notadamente no interrogatrio, ato em que o acusado ouvido
a respeito da imputao que lhe dirigida, mas se perfaz tambm com a participao na
colheita da prova, precipuamente na participao em audincia.
A defesa tcnica aquela exercida por profissional habilitado, qual seja, o advogado.
Pode este ser constitudo, ou seja, escolhido e nomeado pelo acusado, ou dativo, nomeado
pelo juiz. A defesa tcnica s atender ao princpio da ampla defesa se for eficiente. A
respeito, a Smula 523 do STF: No processo penal, a falta de defesa consiste em nulidade
absoluta, mas a sua deficincia s o anular se houver prejuzo para o ru.
3. Princpio do contraditrio (art. 5, LV, CF).
Princpio basilar da sistemtica processual, estabelece que as partes devem ser ouvidas
e ter oportunidade de se manifestar em igualdade de condies. O processo s vai atingir seus
fins se houver equilbrio entre as partes.
conhecida a expresso paridade de armas, pela qual alguns autores se referem ao
contraditrio. Ela condensa a idia de que, no processo, as partes devem ter as mesmas
oportunidades, no devendo uma ser mais municiada do que outra.
O contraditrio essencial ao processo, porm dispensado no Inqurito Policial. Por
essa razo, no se pode condenar um acusado baseando-se exclusivamente em provas colhidas
unicamente na pea informativa.
4. Princpio da presuno de inocncia (art. 5, LVII, CF).
Na redao constitucional: ningum ser considerado culpado at o trnsito em
julgado da sentena condenatria.
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tambm chamado de princpio da presuno de no culpabilidade, pois a
Constituio da Repblica no presume a inocncia, mas diz que o sujeito no considerado
culpado, ou, ainda, de princpio do estado de inocncia, uma vez que indica o estado jurdico
do acusado durante o processo.
Diante da presuno de inocncia, deve-se ter em conta que a priso cautelar passou a
ser medida de exceo em nosso sistema, ou seja, ela s deve sobrepujar a liberdade durante o
processo em caso de verdadeira necessidade.
Outro desdobramento do princpio em questo que o ru no tem o dever de provar
sua inocncia, o rgo acusador que tem o dever de provar sua culpa.
Na mesma esteira, para condenar o acusado, o juiz deve ter plena convico de sua
culpa, bastando para a absolvio a dvida. Da mesma forma deve ser feita a valorao das
provas: na dvida, decide-se em favor do ru (princpio do favor rei, corolrio da presuno
de inocncia).
5. Princpio da verdade real.
No processo penal, deve-se buscar recriar os fatos como se passaram na realidade, no
devendo o juiz se conformar com eventual verdade formal criada nos autos. Ainda que se
saiba que tal tarefa um tanto quanto difcil no caso concreto, devesse buscar aproximar-se o
quanto possvel da realidade dos fatos. a busca da verdade verdadeira.
Difere do processo civil, onde, via de regra, vigora a verdade formal, pois neste, para
aplicar o direito, basta ao juiz conformar-se com a verdade trazida aos autos, no h
necessidade de se buscar a verdade real.
Tal princpio, contudo, comporta algumas excees no processo penal, a saber:
a) Durante o julgamento no ser permitida a leitura de documento ou a exibio de
objeto que no tiver sido juntado aos autos com a antecedncia mnima de 3 (trs) dias teis,
dando-se cincia outra parte. (art. 479, CPP);
b) impossibilidade de rescindir a coisa julgada em favor da sociedade, na reviso
criminal;
c) inadmissibilidade de provas ilcitas (art. 5, LVI, CF).
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6. Princpio do juiz natural (art. 5, LIII).
Estabelece o princpio do juiz natural que o autor de uma infrao penal s poder ser
processado e julgado perante o rgo jurisdicional competente, conforme previso da
Constituio Federal, ou seja, juiz natural aquele previamente conhecido, segundo as regra
de fixao da competncia.
Da decorre que no haver tribunal nem juzo de exceo (art. 5, XXXVII, CF), isto
, aquele criado para julgar fatos exclusivos, praticados anteriormente.
A sua criao se d em virtude exatamente desses fatos. Como exemplo na histria da
Humanidade, temos o Tribunal de Nuremberg, na Alemanha, criado para julgar os crimes
cometidos pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. Mais recentemente, tivemos a
instalao de tribunais de exceo na Ex-Iugoslvia e Ruanda.
A ttulo de ilustrao, vlido lembrar que o Tribunal Penal Internacional tentativa
de acabar com os tribunais de exceo pelo mundo, buscando concentrar o julgamento de
determinados crimes, basicamente quando o Pas envolvido no desenvolve o regular
processo para sua apurao.
Cumpre lembrar, ainda, que o Supremo Tribunal Federal adota o princpio do
promotor natural, atravs do qual se veda a designao casustica de membro do Ministrio
Pblico pela chefia da instituio, devendo valer, no que for aplicvel, as mesmas regras
concernentes ao juiz natural.
7. Princpio da motivao das decises (art. 93. IX, CF).
As decises judiciais precisam sempre ser motivadas para garantir as partes contra o
arbtrio do julgador, que deve, assim, expor os motivos pelos quais decidiu de tal forma, ou
seja, o porqu decidiu em determinado sentido.
Tal princpio encontra grande exceo em nosso sistema processual, no que diz
respeito deciso proferida pelo jurados, integrantes do Conselho de Sentena, no Tribunal
do Jri. Os jurados decidem por ntima convico, sendo impedidos de manifestar as razes
que os levaram a adotar um ou outro caminho na deciso da causa.
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8. Princpio da publicidade (art. 5, LX e art. 93, IX. CF).
Princpio que determina que os atos judiciais devem ser pblicos, afastando-se, via de
regra, o sigilo, que caracteriza os procedimentos inquisitivos.
Tal princpio verdadeiro instrumento de controle social, pois, com a publicidade dos
atos, a sociedade se garante contra eventual arbtrio do julgador.
A regra que a publicidade seja ampla, porm, ela comporta excees. Ela ser
restrita nos casos em que a defesa da intimidade e o interesse social exigirem. Neste caso, a
publicidade se dar somente em relao s partes e seus procuradores ou somente em relao
a estes.
9. Princpio da durao razovel do processo (art. 5, LXXVIII, CF).
Presente na Conveno Americana sobre Direitos Humanos, foi adotado
explicitamente pela Constituio da Repblica aps a edio da Emenda Constitucional n
45/04. Estabelece que o Estado deve garantir a celeridade necessria para que o processo
termine em prazo razovel, ou seja, no tempo necessrio para atingir a sua finalidade, sem
constrangimentos desnecessrios.
Especial ateno deve ser dada ao processo onde o ru esteja preso cautelarmente,
para que no perdure por muito tempo, pois, neste caso, alm do natural constrangimento de
responder a processo criminal por longo perodo, a liberdade cerceada pode trazer srias
conseqncias para o indivduo, mormente se vier a ser absolvido.
10. Princpio da identidade fsica do juiz (Art. 399, 2, do CPP)
Antes presente no processo penal apenas a ttulo de exceo no julgamento pelo
Conselho de Sentena, no Jri o princpio da identidade fsica do juiz surge como regra
atravs da nova redao dada ao art. 399 e pargrafos, do Cdigo de Processo Penal, pela Lei
n. 11.719/2008. Estabelece que o magistrado que presidiu a instruo criminal quem deve
julgar o processo, ou seja, o juiz que tomou contato com a produo da prova quem vai
decidir a causa.
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2. LEI PROCESSUAL PENAL
2.1. Lei processual no espao princpio da territorialidade
De acordo com o art. 1 do CPP, a lei processual penal se aplica em todo territrio
brasileiro, consagrando, assim, o princpio da territorialidade.
O prprio dispositivo, entretanto, traz algumas ressalvas com relao aplicao desse
princpio quando relativos:
a) a tratados, convenes e regras de direito internacional;
b) jurisdio poltica. Ocorre, dentre outras hipteses, nos casos dos incisos I e II, do
art. 52 da CRFB, em que a competncia para processar determinadas autoridades
(Presidente e o Vice-Presidente da Repblica, Ministros de Estado, Comandantes da
Marinha, do Exrcito e da Aeronutica, Ministros do Supremo Tribunal Federal)
deslocada do Poder Judicirio para o Poder Legislativo (Senado Federal);
c) aos processos de competncia da Justia Militar;
d) aos processos de competncia do Tribunal Especial (o antigo Tribunal de Segurana
Nacional, previsto no art. 122, n 17, da Constituio de 1937);
e) aos processos por crimes de imprensa (incluindo-se, tambm, procedimentos
especiais previstos em leis extravagantes, como o caso, por exemplo, dos Juizados
Especiais Criminais).
Quadro comparativo do princpio da territorialidade no CP e no CPP
Art. 5 do Cdigo Penal Art. 1 do Cdigo de Processo Penal
Aplica-se a lei brasileira, sem
prejuzo de convenes, tratados e
regras de direito internacional, ao
crime cometido no territrio
nacional.
O processo penal reger-se-, em todo
o territrio brasileiro, por este Cdigo,
[...].
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2.2. Lei processual no tempo tempus regit actum ou princpio do efeito
imediato
O art. 2 do CPP, referindo-se sobre o tema, dispe que a lei processual penal ser
aplicada desde logo, sem prejuzo da validade dos atos realizados sob a vigncia de lei
anterior. Com isso, conclui-se que a lei processual penal tem carter irretroativo. Incide,
portanto, o princpio da tempus regit actum (o tempo rege o ato).
Observao importante:
A doutrina adverte que em se tratando de normas mistas (hbridas), com cunho tanto
processual quanto penal (material), em razo da dupla natureza que apresentam, admite-se a
sua retroatividade, aplicando-se as regras do art. 2 e pargrafo nico do CP. Assim, como
exemplo, normas relativas ao direito de representao, prescrio, decadncia e
perempo sero, conjuntamente, penais e processuais penais.
II. INQURITO POLICIAL
1. CONCEITO DE INQURITO POLICIAL
Inqurito policial procedimento administrativo informativo de carter investigatrio,
que visa auferir elementos (autoria e materialidade da infrao penal) para que o titular da
ao penal possa prop-la. Por simplesmente informar, no est submetido s garantias
processuais do contraditrio e da ampla defesa e, portanto, qualquer vcio apresentado no
acarreta nulidade a posterior ao penal.
2. CARACTERSTICAS DO INQURITO PENAL
As principais caractersticas do inqurito policial so a dispensabilidade, a forma
escrita, o sigilo, a indisponibilidade e a forma inquisitorial:
a) Dispensabilidade: o inqurito policial por ter o carter informativo e auxiliar na
formao da opinio delicti do titular da ao penal importante, mas no imprescindvel. Se o
autor da ao j possui os elementos suficiente para denunciar ou prestar queixa-crime pode
dispensar o inqurito policial. Porm, se ao penal for baseada no inqurito policial, este
deve fazer parte do processo (art. 12 CPP).
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Art. 12. O inqurito policial acompanhar a denncia ou queixa, sempre que servir de base a uma ou outra.
b) Forma escrita (art. 9, CPP): O inqurito policial objetiva a averiguao de
elementos para amparar a propositura de ao penal e por isso no se admite a forma oral.
Nos termos do Cdigo, as peas devem ser, portanto, escritas de prprio punho, ou
datilografadas (atualmente leia-se digitadas). Neste caso, impe-se a rubrica da autoridade.
Art. 9. Todas as peas do inqurito policial sero, num s processado, reduzidas a escrito ou datilografadas e, neste caso, rubricadas pela autoridade.
c) Sigilo (art. 20, CPP): a autoridade policial deve assegurar o sigilo necessrio
apurao dos fatos ou exigido pelo interesse da sociedade. A restrio a publicidade no se
aplica ao juiz e ao Ministrio Pblico, j que aquele quem analisa a legalidade dos atos em
ltima anlise e este, na ao penal pblica. J o advogado pode examinar em qualquer
repartio policial, mesmo sem procurao, autos de flagrante e de IP, findos ou em
andamento, ainda que conclusos autoridade, podendo copiar peas e tomar apontamentos
(art. 7, XIV da lei n 8.096/94). Se o advogado for impedido, poder impetrar mandado de
segurana.
Art. 20. A autoridade assegurar no inqurito o sigilo necessrio elucidao do fato ou exigido pelo interesse da sociedade. Pargrafo nico. Nos atestados de antecedentes que lhe forem solicitados, a autoridade policial no poder mencionar quaisquer anotaes referentes a instaurao de inqurito contra os requerentes. (Redao dada pela Lei n 12.681, de 2012)
d) Indisponibilidade (art. 17, CPP): o inqurito policial no pode ser arquivado pela
autoridade policial. Encerrada as investigaes, deve encaminhar os autos ao juiz. O
arquivamento, inclusive, atribuio do juiz, aps manifestao do titular da ao penal.
Art. 17. A autoridade policial no poder mandar arquivar autos de inqurito.
e) Forma inquisitorial: o inqurito policial tem natureza inquisitiva, ou seja, o
procedimento se concentra nas mos de uma s autoridade. No passvel de contraditrio e
ampla e defesa, mas o ofendido e o indiciado podem requerer diligncias (art. 14 CPP).
Art. 14. O ofendido, ou seu representante legal, e o indiciado podero requerer qualquer diligncia, que ser realizada, ou no, a juzo da autoridade.
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2012/Lei/L12681.htm#art12http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2012/Lei/L12681.htm#art12
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Nos termos do art. 4, CPP, e do art. 144, 4, CF, compete Polcia Civil, chefiada
por delegados de carreira, a apurao das infraes penais e de sua autoria. No mbito federal,
tal incumbncia da Polcia Federal (art. 144, 1, CF). A despeito de no haver
contraditrio, podem o ofendido e o indiciado requerer diligncias (art. 14, CPP), que, por sua
vez, podem ser indeferidas pela autoridade policial, salvo o exame de corpo de delito (art.
184, CPP).
Art. 4 A polcia judiciria ser exercida pelas autoridades policiais no territrio de suas respectivas circunscries e ter por fim a apurao das infraes penais e da sua autoria. Pargrafo nico. A competncia definida neste artigo no excluir a de autoridades administrativas, a quem por lei seja cometida a mesma funo.
3. NOTITIA CRIMINIS.
Consiste no conhecimento, espontneo ou provocado, por parte da autoridade policial,
de fato que aparenta ser criminoso. A doutrina classifica-a em: a) de cognio direta ou
imediata: o delegado de polcia toma conhecimento do delito por meio do exerccio de suas
atribuies. Nela se insere a denncia annima, tambm denominada apcrifa ou notitia
criminis inqualificada; b) de cognio indireta ou mediata: a autoridade policial toma
conhecimento atravs de algum ato jurdico, como comunicao de terceiro (art. 5, 3, CPP
delatio criminis), requisio do juiz ou do Ministrio Pblico (art. 5, II, CPP), requisio do
Ministro da Justia, representao do ofendido (art. 5, 4, CPP); c) de cognio coercitiva:
ocorre nos casos de priso em flagrante (art. 8, CPP). Art. 5. Nos crimes de ao pblica o inqurito policial ser iniciado: I - de ofcio; II - mediante requisio da autoridade judiciria ou do Ministrio Pblico, ou a requerimento do ofendido ou de quem tiver qualidade para represent-lo. 1. O requerimento a que se refere o no II conter sempre que possvel: a) a narrao do fato, com todas as circunstncias; b) a individualizao do indiciado ou seus sinais caractersticos e as razes de convico ou de presuno de ser ele o autor da infrao, ou os motivos de impossibilidade de o fazer; c) a nomeao das testemunhas, com indicao de sua profisso e residncia. 2. Do despacho que indeferir o requerimento de abertura de inqurito caber recurso para o chefe de Polcia. 3. Qualquer pessoa do povo que tiver conhecimento da existncia de infrao penal em que caiba ao pblica poder, verbalmente ou por escrito, comunic-la autoridade policial, e esta, verificada a procedncia das informaes, mandar instaurar inqurito.
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4. O inqurito, nos crimes em que a ao pblica depender de representao, no poder sem ela ser iniciado. 5. Nos crimes de ao privada, a autoridade policial somente poder proceder a inqurito a requerimento de quem tenha qualidade para intent-la. Art. 8. Havendo priso em flagrante, ser observado o disposto no Captulo II do Ttulo IX deste Livro.
4. FORMAS DE INCIO
O CPP determina que o inqurito policial pode iniciar:
a) De ofcio (art. 5, I, CPP) a pea investigativa instaurada por iniciativa
exclusiva da autoridade. Deve fazer isso quando tomar conhecimento da prtica de alguma
infrao penal, seja no desenvolver se duas atividades, seja atravs da comunicao de
algum. O ato pelo qual o delegado de polcia instaura o inqurito policial chamado de
portaria.
b) Por requisio do juiz ou do Ministrio Pblico (art. 5, II, CPP) - Se for
requisitada a instaurao por juiz ou membro do Ministrio Pblico, est o delegado obrigado
a atender porque assim a lei determina a instaurao nessas hipteses.
c) Por requerimento do ofendido (art. 5, II, CPP, e 4 e art. 19) a vtima
solicita formalmente da autoridade a instaurao do inqurito policial. Em crime de ao
pblica o inqurito policial pode ser instaurado de ofcio ou a requerimento da vtima.
Contudo, na ao privada o requerimento necessrio para a instaurao tendo em vista que
ao fica disposio da vontade da prpria vtima. O delegado de polcia poder indeferir o
pedido, cabendo, neste caso, recurso ao Chefe de Polcia (Secretrio de Segurana Pblica ou
Delegado Geral de Polcia, conforme entendimentos existentes).
d) Por representao do ofendido (art. 5, 4, CPP) nos delitos que exigem
representao para o incio da ao penal imprescindvel que esta ocorra para que o
inqurito policial seja instaurado.
e) Pelo auto de priso em flagrante (art. 8, CPP) trata-se de instaurao
compulsria. Quando algum preso em flagrante, lavrado o auto respectivo, considera-se
instaurado o inqurito policial.
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5. PROVIDNCIAS (ART. 6, 11, 13 E 15 DO CPP).
Instaurado o inqurito policial, o delegado de polcia deve:
a) Dirigir-se ao local dos fatos, providenciando para que no se alterem o estado e
conservao das coisas, at a chegada dos peritos criminais. Trata-se da preservao do local
do crime para que no haja interferncia que possa prejudicar a percia.
b) Apreender os objetos que tiverem relao com o fato, aps liberados pelos peritos
criminais. Tais objetos devem acompanhar o inqurito policial enquanto interessarem
percia (art. 11, CPP).
c) Colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do fato e suas
circunstncias. a permisso legislativa para a produo de provas lcitas, a fim de apurar o
delito, como requisitar documentos e ouvir tantas testemunhas quantas sejam necessrias para
a investigao.
d) Ouvir o ofendido porque a vtima, muitas vezes, pode trazer elementos importantes
para a apurao do delito.
e) Indiciamento: trata-se da imputao a algum, da prtica de um ilcito penal, por
haver razoveis indcios de sua autoria.
Art. 6. Logo que tiver conhecimento da prtica da infrao penal, a autoridade policial dever: I - dirigir-se ao local, providenciando para que no se alterem o estado e conservao das coisas, at a chegada dos peritos criminais; II - apreender os objetos que tiverem relao com o fato, aps liberados pelos peritos criminais; III - colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do fato e suas circunstncias; IV - ouvir o ofendido; V - ouvir o indiciado, com observncia, no que for aplicvel, do disposto no Captulo III do Ttulo Vll, deste Livro, devendo o respectivo termo ser assinado por duas testemunhas que Ihe tenham ouvido a leitura; VI - proceder a reconhecimento de pessoas e coisas e a acareaes; VII - determinar, se for caso, que se proceda a exame de corpo de delito e a quaisquer outras percias; VIII - ordenar a identificao do indiciado pelo processo datiloscpico, se possvel, e fazer juntar aos autos sua folha de antecedentes;
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IX - averiguar a vida pregressa do indiciado, sob o ponto de vista individual, familiar e social, sua condio econmica, sua atitude e estado de nimo antes e depois do crime e durante ele, e quaisquer outros elementos que contriburem para a apreciao do seu temperamento e carter. Art. 11. Os instrumentos do crime, bem como os objetos que interessarem prova, acompanharo os autos do inqurito. Art. 13. Incumbir ainda autoridade policial: I - fornecer s autoridades judicirias as informaes necessrias instruo e julgamento dos processos; II - realizar as diligncias requisitadas pelo juiz ou pelo Ministrio Pblico; III - cumprir os mandados de priso expedidos pelas autoridades judicirias; IV - representar acerca da priso preventiva. Art. 15. Se o indiciado for menor, ser-lhe- nomeado curador pela autoridade policial.
6. SO CONSEQNCIAS DO INDICIAMENTO:
a) Sujeito passa de suspeito, investigado ou averiguado a indiciado;
b) Anotao dos dados do inqurito na folha de antecedentes;
c) Interrogatrio do indiciado;
d) Identificao do indiciado o CPP determina que, ao ser indiciado, o acusado deve
ter feita a sua identificao criminal, isto , identificao pelo mtodo datiloscpico. Com o
advento da nova Constituio da Repblica, a regra passou a ser a da identificao civil (CF,
5, LVIII).
e) Proceder reproduo simulada dos fatos (art. 7, CPP) trata-se da reconstituio
do crime e tem lugar quando no contrarie a moralidade e a ordem pblica. Interrogatrio do
indiciado.
f) O interrogatrio do indiciado deve ser realizado nos mesmos moldes do
interrogatrio judicial, no que couber, exceo da obrigatoriedade do contraditrio. Art. 7. Para verificar a possibilidade de haver a infrao sido praticada de determinado modo, a autoridade policial poder proceder reproduo simulada dos fatos, desde que esta no contrarie a moralidade ou a ordem pblica.
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7. CONCLUSO (ARTS. 10, 1 E 23, CPP).
O inqurito policial finda-se com o relatrio da autoridade policial. Nele, o delegado
deve descrever as providncias adotadas durante o curso do procedimento, declarando
formalmente o fim da fase investigatria.
Frise-se que a autoridade policial no deve manifestar-se a respeito do mrito das
provas colhidas, nenhuma opinio a respeito do fato deve ser expressa por ele. A Lei n
11.343/06 (Lei de Drogas), criou uma exigncia a mais para o relatrio do inqurito policial
nos crimes a ela relativos: dever ele conter justificativa do delegado de polcia a respeito dos
motivos que o levaram capitulao do crime. Relatado, o inqurito policial enviado ao
Juzo competente, que abrir vistas ao Ministrio Pblico, que pode:
a) Oferecer denncia (no prazo de 5 dias, se o indiciado estiver preso, e 15 dias, se o
indiciado estiver solto);
b) Requerer o retorno dos autos de inqurito delegacia, para novas diligncias (art.
16, CPP);
c) Requerer o arquivamento. Se o Ministrio Pblico requerer o arquivamento e o juiz
determin-lo, o art. 18 do Cdigo estabelece que se a autoridade policial tiver notcias de
novas provas, poder retomar as investigaes (art. 18 CPP).Contudo, a retomada do inqurito
s possvel com o surgimento de novas provas. o que estabelece a Smula 524 do STF. O
despacho de arquivamento irrecorrvel, salvo nos crimes contra a economia popular, onde
cabe recurso de ofcio (art. 7, Lei n 1.521/51). Caso o Ministrio Pblico requeira o
arquivamento e o juiz no concorde, determina o art. 28 do Cdigo que este dever enviar os
autos ao Procurador Geral de Justia para que oferea denncia, designe outro promotor para
oferecer a denncia ou ratificar o pedido de arquivamento, caso em que o juiz est obrigado
a aceit-lo.
Art. 10. O inqurito dever terminar no prazo de 10 dias, se o indiciado tiver sido preso em flagrante, ou estiver preso preventivamente, contado o prazo, nesta hiptese, a partir do dia em que se executar a ordem de priso, ou no prazo de 30 dias, quando estiver solto, mediante fiana ou sem ela. 1. A autoridade far minucioso relatrio do que tiver sido apurado e enviar autos ao juiz competente. 2. No relatrio poder a autoridade indicar testemunhas que no tiverem sido inquiridas, mencionando o lugar onde possam ser encontradas. 3. Quando o fato for de difcil elucidao, e o indiciado estiver solto, a autoridade poder requerer ao juiz a devoluo dos autos, para ulteriores diligncias, que sero realizadas no prazo marcado pelo juiz.
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Art. 16. O Ministrio Pblico no poder requerer a devoluo do inqurito autoridade policial, seno para novas diligncias, imprescindveis ao oferecimento da denncia. Art. 18. Depois de ordenado o arquivamento do inqurito pela autoridade judiciria, por falta de base para a denncia, a autoridade policial poder proceder a novas pesquisas, se de outras provas tiver notcia. Art. 23. Ao fazer a remessa dos autos do inqurito ao juiz competente, a autoridade policial oficiar ao Instituto de Identificao e Estatstica, ou repartio congnere, mencionando o juzo a que tiverem sido distribudos, e os dados relativos infrao penal e pessoa do indiciado.
8. PRAZO (ART. 10, CPP).
Se o indiciado estiver em liberdade, o prazo para concluso do inqurito policial ser
de 30 dias. Se o caso for de difcil elucidao, poder ser prorrogado, sempre que no estiver
concludo dentro do prazo. Antes de conceder o prazo, o juiz deve ouvir o Ministrio Pblico.
Se o indiciado estiver preso, o prazo para a concluso do inqurito de 10 dias. Em regra esse
prazo improrrogvel, mas na maioria das vezes acaba sendo superado, em virtude das
diligncias indispensveis formao do inqurito policial. Neste caso, a pea deve ser
remetida antes do prazo estabelecido e as diligncias faltantes conduzidas parte, para
posteriormente serem anexadas aos autos. Na Justia Federal o prazo para concluso de 15
dias para ru preso, podendo ser prorrogado por igual perodo, conforme disposto no art. 66,
Lei n 5.010/66. A legislao especial traz ainda, alguns prazos diversos dos previstos no
Cdigo de Processo:
a) Lei n 11.343/06 (Lei de Drogas): 90 dias indiciado solto e 30 dias indicado preso;
b) Lei n 1.521/51 (Crimes contra a Economia Popular): 10 dias indicado solto ou
preso.
9. ATRIBUIES DA POLCIA FEDERAL NA PERSECUO PENAL LEI
N 10.446/2002
Art. 1o Na forma do inciso I do 1o do art. 144 da Constituio, quando houver repercusso interestadual ou internacional que exija represso uniforme, poder o Departamento de Polcia Federal do Ministrio da Justia, sem prejuzo da responsabilidade dos rgos de segurana pblica arrolados no art. 144 da Constituio Federal, em especial das Polcias Militares e Civis dos Estados, proceder investigao, dentre outras, das seguintes infraes penais:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituiao.htm#1441Ihttp://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituiao.htm#art144http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituiao.htm#art144
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I seqestro, crcere privado e extorso mediante seqestro (arts. 148 e 159 do Cdigo Penal), se o agente foi impelido por motivao poltica ou quando praticado em razo da funo pblica exercida pela vtima; II formao de cartel (incisos I, a, II, III e VII do art. 4o da Lei no 8.137, de 27 de dezembro de 1990); e III relativas violao a direitos humanos, que a Repblica Federativa do Brasil se comprometeu a reprimir em decorrncia de tratados internacionais de que seja parte; e IV furto, roubo ou receptao de cargas, inclusive bens e valores, transportadas em operao interestadual ou internacional, quando houver indcios da atuao de quadrilha ou bando em mais de um Estado da Federao. Pargrafo nico. Atendidos os pressupostos do caput, o Departamento de Polcia Federal proceder apurao de outros casos, desde que tal providncia seja autorizada ou determinada pelo Ministro de Estado da Justia. Art. 2o Esta Lei entra em vigor na data de sua publicao.
10. JURISDIO E COMPETNCIA
10.1. Conceito
A competncia pode ser conceituada como o mbito delimitado pela lei, dentro do
qual se exerce o Poder Jurisdicional. Ou simplesmente, como a demarcao da rea de
atuao de cada juiz em detrimento da de outro. As espcies de competncia definidas na lei
processual penal levam em considerao trs aspectos diferentes: a) ratione materiae
estabelecida em razo da natureza do crime praticado; b) ratione personae de acordo com
a qualidade das pessoas incriminadas; c) ratione loci de acordo com o local em que foi
praticado ou consumado o crime, ou o local da residncia do seu autor. Dessa forma,
estabelece o art. 69 do CPP, que a competncia determinada em razo: I e II do lugar da
infrao, e do domiclio ou residncia do ru (ratione loci); III da natureza da infrao
(ratione materiae); IV da distribuio; V da conexo ou continncia; VI da preveno;
VII da prerrogativa de funo (ratione personae).
As competncias em razo da matria e por prerrogativa de funo, por possurem
contedo de interesse pblico, so de carter absoluto. Dessa forma, no podem ser
modificadas pelas partes sob pena de acarretar a nulidade absoluta do processo.
A competncia territorial, por sua vez, caracteriza-se por apresentar um carter
relativo, em que prevalece o interesse privado de uma das partes. Nesse particular, no sendo
alegada a irregularidade em tem oportuno, possvel haver a prorrogao da competncia,
podendo gerar apenas a nulidade relativa do processo, se comprovado o prejuzo sofrido pela
parte interessada.
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del2848.htm#art148http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del2848.htm#art159http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del2848.htm#art159http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8137.htm#art4http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8137.htm#art4
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A delimitao da competncia em razo da matria feita em vrios planos,
considerando tambm a funo que cada rgo pode exercer no processo. Dentre esses planos,
o mais importante o constitucional, o qual estabelece atribuies especficas de competncia
para a Justia Estadual, Eleitoral, Militar, Trabalhista e Federal.
10.2. Conflito de competncia
Inicialmente, cumpre destacar que parte da doutrina faz distines entre conflito de
jurisdio e conflito de competncia. O primeiro seria aquele que ocorre entre Justias
diversas, tais como divergncias entre Justia Comum e Justia Especial, entre Justias
Especiais (Justia Eleitoral x Justia Militar) ou entre rgos Jurisdicionais Comuns de
Estados-Membros diferentes. O outro (conflito de competncia), por seu turno, ocorre quando
a questo incidental surgir entre dois ou mais rgos da mesma Justia. Como exemplo, cita-
se o conflito de competncia entre rgos da Jurisdio Comum da mesma unidade da
federao Juiz de Porto Alegre em conflito com o Juiz de Canoas.
Nucci1, entretanto, sustenta que o termo empregado pelo captulo IV do CPP -
Conflito de Jurisdio se encontra equivocado.
Isso porque, na verdade, o que o Cdigo Processual Penal quer tratar simplesmente do
conflito de competncia. Explica o autor que Jurisdio todo magistrado regularmente
investido na funo possui.
O que delimita esse poder-dever de prest-la a competncia, razo pela qual, quando
houver conflito entre dois juzes, os quais afirmam ou negam a possibilidade de ser exercida a
Jurisdio em determinado processo, se tem verdadeiramente um conflito de competncia.
De qualquer maneira, o art. 114 do CPP estipula que haver conflito de jurisdio (ou
competncia): I quando duas ou mais autoridades judicirias se considerarem competentes,
ou incompetentes, para conhecer do mesmo fato criminoso; II- quando entre elas surgir
controvrsia sobre unidade de juzo, juno ou separao de processos.
O conflito de competncia pode ser caracterizado como: a) conflito positivo ocorre
quando duas ou mais autoridades judicirias afirmam sua competncia para julgar
determinado caso; b) conflito negativo de modo contrrio, ocorre quando duas ou mais
autoridades judicirias negam sua competncia para julgar o caso2.
1 NUCCI, Guilherme de Souza. Cdigo de Processo Penal Comentado. 4.ed. So Paulo: Revista dos Tribunais, 2005. p. 297. 2 Cumpre asseverar que no existe conflito de competncia entre Promotor de Justia e Procurador da Repblica. Tal divergncia deve ser resolvida pelo Poder
Judicirio quando os respectivos magistrados forem provocados.
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Conflito de competncia perante o STF (art. 102, I, o, da CF) - Cabe ao STF
processar e julgar, originariamente, os conflitos de competncia entre: a) STJ e quaisquer
Tribunais; b) Tribunal Superior e Tribunal Superior; c) Tribunal Superior e qualquer outro
Tribunal.
Conflito de competncia perante o STJ (art. 105, I, d, da CF) Compete ao STJ
processar e julgar, originariamente, os conflitos de competncia: a) entre quaisquer Tribunais
ressalvado a competncia do STF; b) entre Tribunal e juzes a ele no vinculados; c) entre
juzes vinculados a Tribunais diversos.
10.3. Conflito de atribuies
Caracteriza-se por ser o conflito existente entre autoridades administrativas ou entre
estas e autoridades judicirias.
De acordo com o art. 105, I, g, da CF, compete ao STJ processar e julgar,
originariamente, os conflitos de atribuio: a) quando envolver autoridades administrativas e
judicirias da Unio (ex: delegado federal e juiz federal); b) quando envolver autoridades
judicirias de um Estado e administrativas de outro (ex: juiz de direito do RS e delegado de
polcia de SC) ou do DF, ou entre as deste e a da Unio.
10.4. Competncia pela prerrogativa de funo
Primeiramente, importante destacar que o foro pela prerrogativa de funo
concebido em razo da importncia ou relevncia do cargo ou funo que exercido por
determinada pessoa. Com isso, pode-se afirmar que tal privilgio no conferido a uma
pessoa considerada individualmente, mas, sim, ao cargo por esta ocupado3.
Conforme dispe o art. 84 do CPP, a competncia pela prerrogativa de funo
pertence ao STF, ao STJ, aos TRFs e ao Tribunais de Justias dos Estados e do Distrito
Federal, relativamente s pessoas que devam responder perante eles por crimes comuns e de
responsabilidade.
3 No se deve confundir o foro pela prerrogativa de funo que homenageia a funo ou cargo desempenhado com foro privilegiado, o qual representaria um
foro especial para determinadas pessoas relevando-se seus atributos hereditrios ou sociais -, tais como um Conde, Baro ou Duque. Assim, conclui-se que
o privilgio decorre de benefcio pessoa, enquanto que a prerrogativa envolve a funo.
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Assim, distribui-se a competncia ratione personae da seguinte forma:
- STF: compete processar e julgar originalmente, nas infraes penais comuns seus
prprios Ministros, o Presidente da Repblica, o vice, os membros do Congresso Nacional e o
Procurador-Geral da Repblica. Nas infraes penais comuns e nos crimes de
responsabilidade, tem competncia para processar e julgar os Ministros de Estado, os
Comandantes da Marinha, do Exrcito e da Aeronutica salvo se o crime de
responsabilidade for conexo ao do presidente ou vice, caso em que a competncia ser do
Senado os membros dos Tribunais Superiores, os do Tribunal de Contas da Unio e os
chefes de misso diplomtica de carter permanente;
- STJ: compete processar e julgar originariamente, nos crimes comuns, os
governadores de Estado e do Distrito Federal; nos crimes comuns e de responsabilidade os
desembargadores dos Tribunais de Justia dos Estados e do Distrito Federal, os membros dos
Tribunais de Contas dos Estados e do Distrito Federal, os membros dos Tribunais Regionais
Federais, Eleitorais e do Trabalho, os membros dos Conselhos ou Tribunais de Contas dos
Municpios e o membros do Ministrio Pblico da Unio que oficiem perante tribunais;
- Tribunais Regionais Federais: compete originariamente processar e julgar os juzes
federais, da Justia Militar e do Trabalho, da sua rea de jurisdio, nos crimes comuns e de
responsabilidade, e os membros do Ministrio Pblico da Unio, ressalvada a competncia da
justia eleitoral;
- Tribunais de Justia Estaduais: compete processar e julgar os prefeitos municipais,
os juzes dos Tribunais de Alada e do Tribunal de Justia Militar, os juzes de direito e os
juzes auditores da Justia Militar, bem como os membros do Ministrio Pblico;
- Senado Federal (art. 52, I e II, da CF): compete processar e julgar o Presidente e o
vice nos crimes de responsabilidade, bem como os ministros de Estado e os Comandantes da
Marinha, do Exrcito e da Aeronutica nos crimes da mesma natureza conexos com aqueles;
e, nos crimes de responsabilidade, os Ministros do STF, o Procurador-Geral da Repblica e o
Advogado-Geral da Unio.
O foro por prerrogativa de funo para ser validamente exercido e observado, deve
atender s seguintes consideraes:
a) s vlido enquanto o agente estiver no desempenho ou exerccio da funo
pblica;
b) pode ser conferido tanto para um ocupante de mandato eletivo como para um
ocupante de cargo pblico;
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c) vlido tanto para crimes cometidos antes ou durante a ocupao do cargo pblico.
Cumpre destacar, por conseguinte, que a Smula 394 do STF, a qual previa que a
competncia por prerrogativa de funo permaneceria intacta aos delitos praticados durante o
exerccio funcional, mesmo que o inqurito ou ao penal fossem instaurados aps a sua
cessao, foi cancelada pela Corte Superior. Assim, o entendimento atual no sentido de que,
se a ao penal for instaurada aps o trmino do mandado ou exerccio funcional, o acusado
no ter mais direito ao foro privilegiado. Nesse sentido, veio reforar a edio da Smula
451 do STF: a competncia especial por prerrogativa de funo no se estende ao crime
cometido aps a cessao definitiva do exerccio funcional.
Alguns exemplos mostram-se elucidativos para o entendimento da questo:
a) Um Deputado Federal possui a prerrogativa, quando acusado da prtica de um
delito, de ser processado e julgado perante o STF. Se, durante o trmite processual, vier a ser
eleito prefeito de um determinado municpio, os autos do processo sero remetidos ao
Tribunal de Justia desse respectivo Estado, o qual ser incumbido de competncia para
prosseguir e julgar o feito.
b) Um Promotor de Justia de Porto Alegre acusado de praticar um crime no Estado
de Santa Catarina. Como possui foro pela prerrogativa de funo, o ru ser processado e
julgado perante o Tribunal de Justia do Rio Grande do Sul. Ocorre que o acusado, durante o
processo, deixa o seu cargo, com a conseqente perda do seu foro especial. Em razo disso, o
processo dever ser remetido origem para ser apreciado, qual seja, o juzo de primeiro grau
de Santa Catarina.
No que tange aos prefeitos, em especial, importante o conhecimento da Smula 702
do STF, referindo que a competncia do Tribunal de Justia para julgar Prefeito restringe-se
aos crimes de competncia da Justia comum estadual; nos demais casos, a competncia
originria caber ao respectivo tribunal de segundo grau. 4
Dessa forma, estabelece-se que se
um prefeito cometer um crime federal, ser processado e julgado perante o Tribunal Regional
Federal, e, se cometer um delito eleitoral, ser processado e julgado pelo Tribunal Regional
Eleitoral5. Coadunando-se com esse entendimento, expe a Smula 208 do STJ: Compete
Justia Federal processar e julgar prefeito municipal por desvio de verba sujeita a prestao de
contas perante rgo federal.
4 Cumpre salientar que a aplicao da Smula 702 do STF tambm estendida para ocupantes de outros cargos pblicos. No , apesar de assim se expressar,
diretamente dirigida aos prefeitos. H de se observar, contudo, que as prerrogativas de funo conferidas exclusivamente pela Constituio Estadual (Vice-
Governador, Secretrio, Procurador-Geral de Justia) s tm validade frente ao mbito estadual, ou seja, perante o Tribunal de Justia. 5 Quando quem possuir foro pela prerrogativa de funo originariamente no STF e STJ cometer um crime eleitoral, ser processado e julgado perante tais
Tribunais, e no pelo TSE.
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H de ser ressaltado que a competncia pela prerrogativa de funo prevalece sobre a
competncia do Tribunal do Jri6. Nesse sentido, se um juiz de direito for acusado da prtica
de um homicdio doloso, ser julgado perante o Tribunal de Justia do respectivo Estado em
que se encontra vinculado e no pelo Jri popular. A Smula 721 do STF excepciona essa
regra nas hipteses em que o foro por prerrogativa de funo concedido exclusivamente pela
Constituio Estadual. Eis seu teor: A competncia constitucional do Tribunal do Jri
prevalece sobre o foro por prerrogativa de funo estabelecido exclusivamente pela
Constituio estadual
O art. 85 do CPP, por fim, ressalta que nos processos por crime contra honra, em que
figurarem como querelantes as pessoas que detm foro privilegiado em razo da funo, a este
(Tribunais Superiores ou Tribunais de 2. grau) competir o julgamento de eventual exceo
da verdade, uma vez que, assim, o autor da ao principal (possuidor de foro especial) passar
a ser ru nesse desdobramento processual.
11. TERMO CIRCUNSTANCIADO
A expresso termo circunstanciado surgiu no ordenamento brasileiro, pelo advento da
Lei n. 9.099/95. Sendo a alternativa formal ao "auto de priso em flagrante delito", para o
registro da custdia do autor de uma infrao de menor potencial ofensivo, em estado de
flagrncia. Confira o artigo 69, da Lei Federal n. 9.099/95:
Art. 69. A autoridade policial que tomar conhecimento da ocorrncia lavrar termo circunstanciado e o encaminhar imediatamente ao Juizado, com o autor do fato e a vtima, providenciando-se as requisies dos exames periciais necessrios. Pargrafo nico. Ao autor do fato que, aps a lavratura do termo, for imediatamente encaminhado ao juizado ou assumir o compromisso de a ele comparecer, no se impor priso em flagrante, nem se exigir fiana. Em caso de violncia domstica, o juiz poder determinar, como medida de cautela, seu afastamento do lar, domiclio ou local de convivncia com a vtima. (Redao dada pela Lei n 10.455, de 13.5.2002))
6 No se pode olvidar que a Constituio Federal tem o poder de excepcionar a si prpria.
http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Auto_de_pris%C3%A3o_em_flagrante_delito&action=edit&redlink=1http://pt.wikipedia.org/wiki/Infra%C3%A7%C3%A3o_de_menor_potencial_ofensivohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Flagrantehttp://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10455.htmhttp://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10455.htm
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III. PROCESSO CRIMINAL
1. PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS
Podem ser divididos em pressupostos de existncia e em pressupostos de validade.
Pressupostos de existncia Pressupostos de validade
Em face deste pressuposto exige-
se a verificao de uma demanda,
de um rgo jurisdicional e de
partes dotadas com personalidade
jurdica.
Relacionam-se com a regularidade dos
atos praticados so compostos por:
legitimatio ad processum; Juiz no
suspeito e competente para o julgamento
do feito; ausncia de litispendncia, coisa
julgada, perempo (entre outros vcios
que podem acarretar na nulidade do
processo).
IV. AO PENAL
1. CONCEITO
A ao penal o direito de pedir ao Estado-Juiz a aplicao do Direito Penal Objetivo
ao caso concreto.
2. FUNDAMENTO CONSTITUCIONAL
A ao penal encontra respaldo no art. 5, inc XXXV, o qual estatui que a lei no
excluir da apreciao do Poder Judicirio leso ou ameaa a direito.
3. CARACTERSTICAS
A ao penal pode ser caracterizada como: a) direito autnomo, pois no se confunde
com o direito material que se pretende tutelar; b) direito abstrato, uma vez que independe do
autor ter ou no razo ao final do processo; c) direito instrumental, tendo em vista que serve
como meio para se alcanar um fim, que a satisfao da pretenso deduzida; d) direito
subjetivo, pois o titular pode exigir do Estado-Juiz a prestao jurisdicional; e) direito
pblico, pois a atividade jurisdicional que se pretende buscar de natureza pblica, dirige-se
contra o Estado e em face do ru.
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4. NATUREZA JURDICA
Tem prevalecido na doutrina que, no obstante o Cdigo Penal dispor sobre a matria,
a ao penal apresenta natureza processual.
5. ESPCIES DE AO PENAL
A diviso das espcies de ao penal mais comumente identificada pelo critrio
subjetivo, ou seja, levando em considerao a qualidade do sujeito que detm a titularidade.
Em regra, a lei configura-se como sendo o elemento caracterizador da natureza da ao penal.
Dispe o art. 100 do CP que a ao pblica, salvo quando a lei expressamente a declare
privativa do ofendido.
6. PRINCPIOS INFORMADORES DA AO PENAL
Ao penal pblica Ao penal de iniciativa privada
Obrigatoriedade: presentes os indcios de
autoria e de materialidade e ausentes as causas
extintivas de punibilidade, o Representante do
MP est obrigado a oferecer denncia.
Oportunidade (ou convenincia):
diferentemente do MP, o ofendido tem a faculdade
de propor, ou no, a ao penal.
Indisponibilidade: o Ministrio Pblico
no pode desistir do curso da ao intentada
(art. 42 do CPP), tampouco do recurso
interposto (art. 576 do CPP).
Disponibilidade: o ofendido pode desistir de
prosseguir com a ao penal, pelos institutos do
perdo do ofendido ou da perempo.
Divisibilidade: embora no seja tema
pacfico na doutrina, tem prevalecido no STF
e no STJ a aplicao do princpio da
divisibilidade na ao penal pblica.
Indivisibilidade: no caso de concurso de
agentes, a queixa dever ser oferecida contra todos
os co-autores, no podendo o autor escolher contra
quem intentar com a ao penal, devendo o MP
zelar pela indivisibilidade (arts. 48, 49 e 51 do
CPP).
Intranscendncia: a ao penal s pode
ser proposta contra a pessoa a quem se imputa
a prtica do delito.
Intranscendncia: princpio idntico ao da ao
penal pblica.
Oficialidade: o titular da ao pblica o
MP, instituio oficial, pertencente ao Estado.
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Observaes importantes:
1. A transao penal (art. 98, inc. I, da CRFB c/c art. 76 da Lei 9.099/95) e o acordo
de lenincia (art. 35-C da Lei 8.884/94) constituem excees ao princpio da obrigatoriedade.
2. A transao penal depois de oferecida a denncia e suspenso condicional do
processo (arts. 79 e 89 da Lei 9.099/95) constitui exceo ao princpio da indisponibilidade.
3. Parte da doutrina entende que vige para a ao penal pblica o princpio da
indivisibilidade que rege a ao penal privada que, alis, tem previso no art. 48 do CPP.
4. A doutrina diverge sobre a possibilidade de o MP aditar a queixa para incluir o que
foi deixado de fora, prevalecendo que lhe cabe alertar o juzo sobre a omisso, que ser
interpretada como renncia tcita. Esta a posio do STF (informativo 354).
7. TITULARES E PEAS INICIAIS
- Ao penal pblica: o titular o Ministrio Publico, sendo que a pea exordial a
denncia.
- Ao penal privada: o titular o ofendido, sendo que a pea exordial a queixa-
crime.
8. CONDIES DA AO
So requisitos subordinantes do exerccio da ao penal. Constituem-se pela:
possibilidade jurdica do pedido, interesse de agir, legitimidade; e alguns, ainda, consideram a
justa causa.
- Possibilidade jurdica do pedido: A providncia jurisdicional requerida ao Poder
Judicirio somente se apresentar vivel caso o ordenamento, em abstrato, expressamente a
admitir, ou seja, que o fato narrado na denncia ou queixa esteja previsto na lei penal como
crime ou contraveno.
- Interesse de agir: Esta condio da ao configurada pelo trinmio necessidade,
utilidade e adequao. A ao s pode ser admitida quando houver indcios de autoria e de
materialidade a ensejar sua propositura, e desde que no esteja extinta a punibilidade pela
prescrio ou qualquer outra causa.
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- Legitimidade para agir: Relaciona-se com as partes que podem ocupar os plos ativo
e passivo da relao processual. O Ministrio Pblico, em regra, o ocupante do plo ativo
quando a ao penal for pblica (salvo no caso da ao penal privada subsidiria da pblica).
No que se refere ao penal privada, a legitimidade ativa pertence ao ofendido ou ao seu
representante legal. No plo passivo do processo penal dever estar algum com aptido para
ser responsabilizado criminalmente, ou seja, um agente imputvel.
Observao importante: Parte da doutrina considera a justa causa como uma quarta
condio da ao, exigindo, assim, a existncia de um mnimo de suporte probatrio que
fundamente a acusao. Observe-se, entretanto, que a doutrina majoritria no a reconhece
como condio autnoma e que o art. 395, inc. III, do CPP, a inclui como causa de rejeio da
denncia ou queixa.
9. ESPCIES DE AES
9.1. AO PENAL PBLICA
Ao penal pblica aquela que deve ser promovida pelo Ministrio Pblico, nos
termos do art. 257, inc. I, do CPP, com nova redao dada pela Lei n. 11.719/2008.
Incondicionada: a regra e proposta independentemente da vontade ou interferncia
de quem quer que seja, bastando que concorram as condies da ao e os pressupostos
processuais.
Condicionada: Sua propositura depende da manifestao de vontade do ofendido (ou
de seu representante legal) ou da requisio do Ministro da Justia.
a) Prazo para oferecimento da ao penal pblica
Como regra geral, o prazo para o oferecimento da denncia, estando o ru preso, ser
de cinco dias, contados da data em que o rgo do Ministrio Pblico receber os autos do
inqurito policial e de quinze dias, se o ru estiver solto ou afianado, consoante se verifica no
art. 46 do CPP. Existem, entretanto, prazos especiais para o oferecimento de denncia:
Crime eleitoral (art. 357 da Lei 4.737/65): dez dias
Crime contra a economia popular (art. 10, 2, da Lei 1.521/51): dois dias
Crime de abuso de autoridade (art. 13 da Lei 4.898/65): 48 horas
Drogas (art. 54 da Lei 11.343/06): 10 dias
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Observao importante: O no-oferecimento da denncia no prazo legal, em se
tratando de ru preso, ocasiona o constrangimento ilegal, com o consequente relaxamento da
priso. O excesso de prazo para o oferecimento da exordial acusatria no acarreta a sua
invalidao. Possibilita, contudo, que seja oferecida pelo ofendido ou seu representante legal
queixa subsidiria.
9.1.1. Ao penal pblica condicionada representao
Representao uma manifestao de vontade do ofendido ou de seu representante
legal, que funciona para a instaurao do inqurito policial e para o oferecimento da denncia.
Natureza jurdica da representao: Prevalece na doutrina que condio de
procedibilidade da ao penal.
Forma de identificar: Pela expresso somente se procede mediante representao.
Quem pode representar , em regra, o ofendido maior de 18 anos e capaz
mentalmente.
Se o ofendido for menor de 18 anos ou portador de deficincia mental, a representao
dever ser exercida pelo seu representante legal.
Se o ofendido menor ou incapaz no tiver representante legal, o juiz poder nomear,
de ofcio ou a requerimento do MP, curador especial para decidir sobre a representao.
A mesma providncia tomada no caso de os interesses da vtima colidirem com os de
seu representante legal.
Se o ofendido falece ou declarado ausente, o direito de representao passar ao
CCADI cnjuge (ou companheiro), ascendente, descendente ou irmo.
No caso de o ofendido ser pessoa jurdica, a representao ser exercida pela pessoa
indicada no respectivo contrato ou estatuto social (art. 37, CPP).
Prazo para representar: Regra: seis meses, contados do dia em que o ofendido vier a
saber quem foi o autor do crime (arts. 38 do CPP e 103 do CP).
A representao pode ser dirigida ao Juiz, ao Ministrio Pblico ou ao Delegado de
Polcia (art. 39 do CPP).
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Retratao: De regra, a representao ser retratvel at o oferecimento da denncia
(arts. 25 do CPP e 102 do CP). Em se tratando de violncia domstica e familiar contra a
mulher, a Lei Maria da Penha admite a renncia (retratao) da representao at o
recebimento da denncia (art. 16 da Lei n. 11.340/06).
Retratao da retratao: Prevalece na doutrina de que possvel, desde que no prazo
decadencial.
Renncia da representao: possvel na hiptese de composio civil dos danos (art.
74, nico da Lei 9.099/95) e em caso de violncia domstica e familiar contra a mulher (art.
16 da Lei n. 11.340/06).
Observaes importantes: Se a representao no for exercida no prazo ocorre a
decadncia, causa extintiva de punibilidade (art. 107, IV, do CP). Inclui-se, na contagem, o
dia do incio e exclui-se o dia final (art. 10 do CP). Em se tratando de prazo decadencial, no
se interrompe, no se suspende e no se prorroga. No crime continuado o prazo deve ser
contado individualmente, ou seja, em relao a cada crime.
9.1.2 Ao penal pblica condicionada requisio do Ministro da Justia
A titularidade para o exerccio da ao penal continua pertencendo ao Ministrio
Pblico, contudo o oferecimento da denncia fica subordinado a um ato poltico, qual seja, a
requisio do Ministro da Justia.
Hipteses de cabimento: Crimes praticados por estrangeiros contra brasileiros fora do
Brasil (art. 7, 3, b, do CP) e crimes contra a honra praticados contra o Presidente da
Repblica ou chefe de governo estrangeiro (arts. 141, inc. I c/c 145, nico, do CP).
Prazo para oferecimento da requisio: Como o Cdigo de Processo Penal omisso, a
doutrina entende que o Ministro da Justia poder oferec-la a qualquer tempo, enquanto no
estiver extinta a punibilidade do agente.
Retratao: No h consenso na doutrina. Parte a admite por analogia ao art. 25 do
CPP e porque se trata de ato administrativo que pode ser revisto pela autoridade que o editou.
Outra parte no admite por falta de previso legal e porque a requisio deve revestir-se de
seriedade.
Vinculao do MP: Em face da sua independncia funcional o MP no est obrigado a
oferecer a denncia a partir da requisio do Ministro da Justia, podendo, at mesmo,
requerer o arquivamento das peas de informao.
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9.2. AO PENAL PRIVADA
Ao penal privada aquela em que o Estado, titular exclusivo do direito de punir,
transfere vtima ou a quem legalmente a represente a legitimidade para propositura da ao
penal. Tem por fundamento a cautela contra a streptus judicii (escndalo do processo), ou
seja, tenta evitar que o processo provoque no ofendido um mal maior que a impunidade do
criminoso, em decorrncia do no-ajuizamento da ao penal. Pode ser subdividida em:
exclusivamente privada ou propriamente dita; personalssima; subsidiria da pblica.
9.2.1. Ao privada personalssima
Titular: Somente o ofendido pode exercer o direito de ao, no havendo
possibilidade, diante de sua morte, a transferncia desse direito aos sucessores.
Hiptese de cabimento: A nica hiptese a do crime do artigo 236 do Cdigo Penal.
Condio de procedibilidade: O exerccio da ao depende do trnsito em julgado da
sentena que, por motivo de erro ou impedimento, anule o casamento (art. 236, nico, CP).
Prazo: Seis meses, a contar do trnsito em julgado da sentena anulatria do
casamento.
9.2.2. Ao penal privada subsidiria da pblica
Fundamento constitucional: art. 5, inc. LIX, da CRFB;
Enquadramento legal: arts. 29 do CPP, art. 100, 3, do CP, 80 da Lei 8.078/90.
Hiptese de cabimento: Inrcia do MP, ou seja, quando no oferece a denncia
(promove o arquivamento do I.P., ou requisita diligncias) no prazo legal.
Possibilidades (atribuies) do MP antes do recebimento da queixa: antes de receber a
queixa o juiz abre vista ao MP que pode adit-la, repudi-la ou oferecer denncia substitutiva.
Possibilidades (atribuies) do MP depois do recebimento da queixa (no curso da
ao): nesta espcie de ao o MP no fica alijado de suas funes constitucionais, podendo
exercer todo e qualquer ato necessrio ao bom andamento do processo como fazer alegaes,
interpor e arrazoar recursos etc. e, a todo tempo, no caso de negligncia do querelante,
retomar a ao como parte principal.
Prazo: Seis meses, contados da data em que se escoar o prazo do MP para as
providncias que lhe so cabveis (art. 38 do CPP).
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9.2.3. Extino da punibilidade na ao penal privada
Na ao penal privada, a renncia do direito de queixa, a perempo, a decadncia e o
perdo do ofendido extinguem o direito de punir do Estado.
a) Decadncia
Fundamento legal: arts. 38 do CPP, 103 e 107, inc. IV, do CP.
Conceito: a perda do direito de ao pelo decurso do prazo sem o oferecimento da
queixa.
Prazo: Seis meses, a contar do conhecimento da autoria do crime, ou em se tratando de
queixa-crime subsidiria denncia, do dia em que se esgotar o prazo legal para que o MP
oferea a inicial acusatria (artigos 38 do CPP e 103 do CP).
Observao importante: Conta-se o prazo conforme o artigo 10 do CP, computando-se
o dia do incio e excluindo-se o do vencimento. O prazo decadencial fatal, no se
interrompe, suspende ou prorroga.
b) Perempo
Fundamento legal: art. 60 do CPP.
Conceito: a sano aplicada ao querelante desidioso, consistente na perda do direito
de prosseguir na ao penal privada, acarretando a extino da punibilidade do querelado.
Oportunidade: Depois de iniciada a ao privada.
Hipteses art. 60 do CPP: I - quando, iniciada a ao penal, o querelante deixar de
promover o andamento do processo durante 30 dias seguidos; II - quando, falecendo o
querelante, ou sobrevindo sua incapacidade, no comparecer em juzo, para prosseguir no
processo, dentro do prazo de 60 (sessenta) dias, qualquer das pessoas a quem couber faz-lo,
ressalvado o disposto no art. 36; III - quando o querelante deixar de comparecer, sem motivo
justificado, a qualquer ato do processo a que deva estar presente, ou deixar de formular o
pedido de condenao nas alegaes finais; IV - quando, sendo o querelante pessoa jurdica,
esta se extinguir sem deixar sucessor.
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c) Renncia
Fundamento legal: arts. 49 e 50 do CPP e art. 104 do CP.
Conceito: o instituto por intermdio do qual o ofendido (ou seu representante legal,
ou sucessores, quando o caso) abdica (abre mo) do direito de ao contra o autor do crime.
Espcies: Expressa: quando constar em declarao expressa assinada pelo ofendido,
seu representante legal, ou procurador com poderes especiais. Tcita: quando o ofendido
deixa escoar o prazo decadencial sem oferecer a queixa, ou quando pratica atos incompatveis
com seu interesse de processar o autor da infrao penal.
Oportunidade: Antes de iniciada a ao privada.
Aceitao do autor do crime: Independe. , portanto, ato unilateral.
Extenso: A renncia se estende a todos os autores do crime (princpio da
indivisibilidade).
Fundamento: A renncia se justifica pelo princpio da oportunidade.
d) Perdo do ofendido
Fundamento legal: arts. 51 a 59 do CPP, 105 e 106 do CP.
Conceito: o instituto por intermdio do qual o querelante (autor da ao penal)
desiste da continuao do processo, perdoando o querelado.
Espcies: Expresso, tcito, judicial e extrajudicial.
Oportunidade: Depois de iniciada a ao privada.
Aceitao do autor do crime: Depende. , portanto, ato bilateral.
Extenso: O perdo do ofendido se estende a todos os autores do crime (princpio da
indivisibilidade), salvo ao que o recusar.
Fundamento: O perdo do ofendido se justifica pelo princpio da disponibilidade.
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10. DENNCIA E QUEIXA-CRIME
So as peas iniciais da ao penal, pblica e privada. Por meio delas levado ao
rgo judicirio o conhecimento da existncia de uma infrao penal, sendo requerido, atravs
de manifestao expressa de vontade, a aplicao da lei penal. A denncia a pea acusatria
inicial da ao penal pblica (incondicionada ou condicionada), enquanto que a queixa a
pea inicial da ao penal privada (qualquer que seja a sua modalidade).
Requisitos formais art. 41 do CPP: exposio do fato criminoso, com todas as suas
circunstncias; qualificao do acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa identific-lo;
classificao do crime; e rol das testemunhas (quando necessrio).
Causas de rejeio art. 395 do CPP: a pea acusatria ser rejeitada quando for
manifestamente inepta; faltar pressuposto processual ou condio para o exerccio da ao
penal; ou faltar justa causa para o exerccio da ao penal.
V. JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS
Nos termos do art. 394, 1, III, do CPP, o procedimento sumarssimo aplica-se s
infraes penais de menor potencial ofensivo. A lei 11.313/06 veio a solucionar divergncias
anteriores em torno da abrangncia dos crimes de menor potencial ofensivo. Assim, essa lei
conferiu nova redao ao art. 61 da lei 9.099/95, que passou a dispor: Consideram-se
infraes penais de menor potencial ofensivo, para os efeitos desta lei, as contravenes
penais e os crimes a que a lei comine pena mxima no superior a 2 (dois) anos, cumulada ou
no cumulada com multa7. [grifo nosso] de se notar que a lei eliminou qualquer referncia
ao procedimento do delito. Dessa forma, no interessa se o crime conta ou no com
procedimento especial. Todos, com pena mxima de at dois anos, so de menor potencial
ofensivo.
Outra alterao significativa operada pela lei 11.313/06 foi a nova redao dada ao
art. 608 da lei 9.099/95, com a incluso de um pargrafo nico, e ao art. 2. da Lei 10.250/01.
Por essas alteraes, seguindo o disposto no art. 78 do CPP (a fora atrativa para reunio dos
processos ser do juzo comum estadual ou federal ou do Tribunal do Jri), no caso de
crimes conexos, devero ser observados os regramentos referentes transao penal e
7 A redao anterior assim dispunha: consideram-se infraes de menor potencial ofensivo, para os efeitos desta Lei, as contravenes penais e
os crimes a que a lei comine pena mxima no superior a 1 (um) ano, excetuados os casos em que a lei preveja procedimento especial. 8 Dispe a nova redao do art. 60 da Lei 9,099/95: O Juizado Especial Criminal, provido por juzes togados ou togados e leigos, tem
competncia para a conciliao, o julgamento e a execuo das infraes penais de menor potencial ofensivo, respeitadas as regras de conexo e continncia. O pargrafo nico, por sua vez, refere que: na reunio de processos, perante o juzo comum ou o tribunal do jri, decorrentes da aplicao das regras de conexo e continncia, observar-se-o os institutos da transao penal e da composio dos danos civis.
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composio dos danos civis. Assim, a reunio eventual dos processos no constitui fato
impeditivo para a aplicao desses institutos. Com essas ponderaes iniciais, passa-se a
analisar o procedimento previsto para os julgamentos de infraes penais submetidas ao
Juizado Especial Criminal:
1. 1. FASE PRELIMINAR
Em primeiro lugar, cumpre referir que o inqurito policial substitudo pela figura do
termo circunstanciado. De acordo com o art. 69 da Lei 9.099/95, a autoridade policial que
toma conhecimento da ocorrncia de uma infrao lavrar termo circunstanciado e o
encaminhar imediatamente ao juizado junto com o autor do fato e a vtima, providenciando-
se as requisies dos exames periciais necessrios. Da mesma forma, no ser imposta priso
em flagrante ou se exigir fiana ao envolvido que for imediatamente encaminhado ao juizado
ou assumir o compromisso de a ele comparecer. Ato posterior, previsto na lei, a audincia
preliminar, que observar o seguinte:
1.1. Composio Civil dos Danos
Autor do fato e vtima tentam chegar a algum acordo indenizatrio para os danos
sofridos. S se configura possvel nas infraes que acarretem prejuzos morais ou materiais
vtima. O Ministrio Pblico participa dessa fase como fiscal da lei. A conciliao ser
conduzida pelo juiz ou por conciliador sob sua orientao (art. 73, caput, da Lei 9.099/95).
Tratando-se de ao penal privada ou de ao penal pblica condicionada representao, o
acordo homologado acarreta a renncia ao direito de queixa ou de representao, nos exatos
termos do pargrafo nico do art. 74 da Lei 9.099/95. Com isso, sendo a ao penal de
natureza pblica incondicionada, mesmo que tenha sido homologada a composio dos danos,
pode haver o prosseguimento do processo penal. No sendo, entretanto, obtida, ser
oportunizado ao ofendido o exerccio do direito de representao verbal que ser reduzido a
termo. de se observar, do mesmo modo, que, conforme estabelece o pargrafo nico do art.
75 da lei em comento, o no-oferecimento da representao, na audincia preliminar, no
implica decadncia do direito que poder ser exercido no prazo previsto em lei.
1.2. Transao Penal
Transao penal consiste em um acordo celebrado entre o representante do Ministrio
Pblico e o autor do fato, em que proposta ao autor uma aplicao de pena alternativa (no
privativa de liberdade), dispensando-se a instaurao do processo. Muito embora a lei, no art.
76, mencione a possibilidade da transao apenas nas aes pblicas, a maioria da doutrina
vem entendendo por seu cabimento tambm nas hipteses de ao penal privada.
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Para que seja possvel a proposta de transao penal, a lei, no art. 76, 2., da Lei
9.099/95, exigiu a observncia de alguns critrios: I no ter sido o autor da infrao
condenado, pela prtica de crime, pena privativa de liberdade, por sentena definitiva; II
no ter sido o agente beneficiado anteriormente, no prazo de 5 (cinco) anos, pela aplicao de
pena restritiva ou multa; III no indicarem os antecedentes, a conduta social e a
personalidade do agente, bem como os motivos e as circunstncias, ser necessria e suficiente
a adoo da medida.
Aceita a proposta, dever o juiz aplic-la por sentena (impugnada por apelao) que
no importar em reincidncia, sendo registrada apenas para impedir novamente o mesmo
benefcio no prazo de cinco anos.
2. 2 FASE PROCEDIMENTO SUMARSSIMO
2.1. Oferecimento da Denncia ou Queixa Oralmente
A denncia ou a queixa oferecidas oralmente sero reduzidas a termo, entregando-se
cpia ao acusado se estiver presente. Diante disso, j fica ele automaticamente citado e
intimado da audincia de instruo. No estando presente na audincia, ser citado por
mandado. Na hiptese de no ser encontrado, as peas existentes sero encaminhadas ao Juzo
comum para a adoo do procedimento previsto em lei. Isso porque, no possvel a citao
por edital no rito ora analisado.
2.2. Suspenso Condicional do Processo
Dispe o art. 89 da Lei 9.099/95:
Nos crimes em que a pena mnima for igual ou inferior a 1 (um ano), abrangidas ou
no por esta Lei, o Ministrio Pblico, ao oferecer a denncia, poder propor a suspenso do
processo, por 2 (dois) a 4 (quatro) anos, desde que o acusado no esteja sendo processado ou
no tenha sido condenado por outro crime, presentes os demais requisitos que autorizariam a
suspenso condicional da pena (art. 77 do Cdigo Penal). [grifo nosso]
Trata-se, portanto, o sursis processual de um instituto que permite a extino da
punibilidade sem a imposio de pena desde que satisfeitas as condies impostas. Cumpre
observar que para o clculo da pena mnima cominada as causas de diminuio de pena
devem ser consideradas em seu limite mximo, para que se tenha o mnimo em abstrato.
A Smula 243 do STJ determina que o benefcio da suspenso do processo no
aplicvel em relao s infraes penais cometidas em concurso material, concurso formal ou
continuidade delitiva, quando a pena mnima cominada, seja pelo somatrio, seja pela
incidncia da majorante, ultrapassar o limite de 1 (um) ano.
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Da mesma forma, orienta a Smula 723 do STF que no se admite a suspenso
condicional do processo por crime continuado, se a soma da pena mnima da infrao mais
grave com o aumento mnimo de um sexto for superior a um ano.
H discusso em doutrina e em jurisprudncia sobre qual a consequncia da no-
apresentao da proposta pelo Ministrio Pblico da suspenso condicional do processo. O
STF entende que, mesmo no caso de estarem presentes todos os requisitos para a fruio do
benefcio, deve o magistrado aplicar o art. 28 do CPP. Nesse sentido a Smula 696 do STF:
Reunidos os pressupostos legais permissivos da suspenso condicional do processo, mas se
recusando o Promotor de Justia a prop-la, o Juiz, dissentindo, remeter a questo ao
Procurador-Geral, aplicando-se por analogia o art. 28 do Cdigo de Processo Penal.
Tourinho Filho9, discordando desse posicionamento do STF, entende que, estando presentes
os requisitos necessrios para a concesso do sursis processual, e no o propondo o
Ministrio Pblico, cabvel ao magistrado oferec-lo diretamente, uma vez que se trata de
um direito subjetivo do acusado.
2.3. Audincia de Instruo e Julgamento
No dia e hora designados, se na fase preliminar no tiver havido possibilidade de
tentativa de conciliao ou proposta de transao, sero tomadas, primeiramente, tais
providncias. No sendo possvel a transao, ser aberta a audincia, no seguinte desenrolar:
palavra ao defensor para responder acusao; recebimento ou no da denncia ou queixa;
oitiva da vtima; oitiva das testemunhas de acusao e de defesa (a defesa deve apresentar um
rol de no mximo trs testemunhas, dentro do prazo de cinco dias antes da realizao da
audincia de instruo e julgamento); interrogatrio do acusado; debates orais (vinte minutos
para cada parte); sentena. Contra a sentena so cabveis apenas dois recursos: apelao
(prazo de dez dias) e embargos de declarao (prazo de cinco dias, com suspenso do prazo
apelao), os quais so julgados pelas Turmas Recursais, onde houver.
VI. PROVA
Prova tudo que visa esclarecer a existncia e a verdade dos fatos. meio que auxilia
o julgamento do magistrado. A prova no processo penal ampla, apenas quanto sofrendo
restrio ao estado de pessoa (art. 155 do CPP). Alguns fatos independem de prova: a) fatos
evidentes: Exemplo: acidente de automvel onde a vtima tem o corpo dilacerado. O exame
cadavrico interno dispensado para provar a morte (pargrafo nico do art. 162, CPP); b)
fatos notrios: so os de conhecimento geral, a verdade sabida. Exemplo: os feriados
nacionais; c) presunes legais: concluses decorrentes da prpria lei.
9 TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Manual de Processo Penal. 8.ed. So Paulo: Saraiva, 2006. pp. 656-657.
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Exemplo: menor de 18 anos inimputvel; d) fatos inteis: no se prestam a provar nada.
Exemplo: o time de futebol o qual a vtima torcedora.
Em regra, as normas que compe o ordenamento jurdico no precisam ser provadas
ao juiz, pois presume-se que o juiz as conhea. H excees quanto a leis estaduais e
municipais; normas administrativas; costumes e leis estrangeiras.
1. MEIOS DE PROVA.
Meio de prova tudo aquilo que se presta a demonstrar a existncia e a veracidade dos
fatos. O CPP enumera os meios de prova em rol exemplificativo, pois existem modalidades
ditas como inominadas (exemplo a fotografia). Contudo, as provas proibidas no so
admitidas no processo. So espcies de prova proibida a prova ilegtima e a prova ilcita A
prova ilegtima aquela obtida com violao de regras de ordem processual. Exemplo:
confisso do ru em interrogatrio sem a assistncia de defensor. A prova ilcita aquela
obtida com violao a regras de direito material. Exemplo: prova obtida mediante coao e
tortura. Tambm no admitida a prova ilcita por derivao, ou seja, a prova isolada lcita,
mas a sua origem se encontra na prova ilcita. a aplicao da teoria fruits of poisonous tree.
(frutos da rvore envenenada). Contudo, a doutrina majoritria aceita a utilizao da prova
ilcita quando for nico meio de prova para inocentar o ru.
1.1 Do Exame do Corpo de Delito e Das Percias em Geral
O exame do corpo de delito refere-se atividade realizada pelos peritos, com o intuito
de comprovarem os vestgios materiais deixados pela infrao penal. Nesse sentido, dispe o
art. 158 do CPP que quando a infrao deixar vestgios ser indispensvel o exame de corpo
de delito, direto ou indireto, no podendo supri-lo a confisso do acusado. A inobservncia
dessa regra procedimental acarreta nulidade insanvel, conforme estabelece o art. 564, III, b,
do CPP.
O exame de corpo de delito poder ser feito em qualquer dia e a qualquer hora (art.
161 do CPP). As percias podem ser realizadas tanto na fase investigatria quanto no curso do
processo, sendo feitas, como regra, por 1 (um) perito oficial, conforme a nova redao dada
ao art. 159, caput, do CPP. No havendo peritos oficiais, prev o 1 do art. 159 do CPP que
o exame ser realizado por 2 (duas) pessoas idneas, portadoras de diploma de curso superior
preferencialmente na rea especfica, dentre as que tiverem habilitao tcnica relacionada
com a natureza do exame. Esses peritos no oficiais sero obrigados a prestar o compromisso
de bem e fielmente desempenhar o encargo.
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Consoante o pargrafo 7 do art. 159 do CPP, tratando-se de percia complexa, que
abranja mais de uma rea de conhecimento especializado, poder-se- designar a atuao de
mais de um perito oficial, e a parte indicar mais de um assistente tcnico.
Como o exame de corpo de delito tem valor probatrio relativo, a exemplo de
qualquer prova no processo penal, segundo o art. 182 do CPP o juiz no ficar adstrito ao
laudo, podendo aceit-lo ou rejeit-lo, no todo ou em parte.
Ainda, de acordo com a reforma procedida pela Lei n. 11.690/08, sero facultadas ao
Ministrio Pblico, ao assistente de acusao, ao ofendido, ao querelante e ao acusado a
formulao de quesitos e indicao de assistente tcnico ( 3, art. 159, CPP). O assistente
tcnico atuar a partir de sua admisso pelo juiz e aps a concluso dos exames e elaborao
do laudo pelos peritos oficiais, sendo as partes intimadas desta deciso ( 4, art. 159, CPP).
CAPTULO II
DO EXAME DO CORPO DE DELITO, E DAS PERCIAS EM GERAL Art. 158. Quando a infrao deixar vestgios, ser indispensvel o exame de corpo de delito, direto ou indireto, no podendo supri-lo a confisso do acusado. Art. 159. O exame de corpo de delito e outras percias sero realizados por perito oficial, portador de diploma de curso superior. (Redao dada pela Lei n 11.690, de 2008) 1
o Na falta de perito oficial, o exame ser realizado por 2 (duas) pessoas idneas,
portadoras de diploma de curso superior preferencialmente na rea especfica, dentre as que tiverem habilitao tcnica relacionada com a natureza do exame. (Redao dada pela Lei n 11.690, de 2008) 2
o Os peritos no oficiais prestaro o compromisso de bem e fielmente desempenhar o
encargo. (Redao dada pela Lei n 11.690, de 2008) 3
o Sero facultadas ao Ministrio Pblico, ao assistente de acusao, ao ofendido, ao
querelante e ao acusado a formulao de quesitos e indicao de assistente tcnico. (Includo pela Lei n 11.690, de 2008) 4
o O assistente tcnico atuar a partir de sua admisso pelo juiz e aps a concluso dos
exames e elaborao do laudo pelos peritos oficiais, sendo as partes intimadas desta deciso. (Includo pela Lei n 11.690, de 2008) 5
o Durante o curso do processo judicial, permitido s partes, quanto percia: (Includo
pela Lei n 11.690, de 2008) I requerer a oitiva dos peritos para esclarecerem a prova ou para responderem a quesitos, desde que o mandado de intimao e os quesitos ou questes a serem esclarecidas sejam encaminhados com antecedncia mnima de 10 (dez) dias, podendo apresentar as respostas em laudo complementar; (Includo pela Lei n 11.690, de 2008) II indicar assistentes tcnicos que podero apresentar pareceres em prazo a ser fixado pelo juiz ou ser inquiridos em audincia. (Includo pela Lei n 11.690, de 2008) 6
o Havendo requerimento das partes, o material probatrio que serviu de base percia
ser disponibilizado no ambiente do rgo oficial, que manter sempre sua guarda, e na presena de perito oficial, para exame pelos assistentes, salvo se for impossvel a sua conservao. (Includo pela Lei n 11.690, de 2008)
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11690.htm#art1http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11690.htm#art1http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11690.htm#art1http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11690.htm#art1http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11690.htm#art1http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2
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