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Da crise às ruínas Impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti
Haiti
2010
Sebastião Nascimento
2
Da crise às ruínas:
impacto do terremoto
sobre o ensino superior no Haiti
Sebastião Nascimento
Maio de 2010
3
Ministério da Educação
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior
Programa Pró Haiti
Da crise às ruínas:
impacto do terremoto
sobre o ensino superior no Haiti
Consultores do Programa Pró Haiti:
Omar Ribeiro Thomaz
Sebastião Nascimento
Coordenação da pesquisa:
Sebastião Nascimento
Assistente de pesquisa:
Berhman Garçon
Colaboradores:
Samuel Adma, Berthony Alexandre, Malherbe Alexis, Josué Blanchard, Torrilus Chenet,
Celestin David, Eurica Denis, Elange Donatien, Blaise Dorléan, Jean-Baptiste Edgard,
Beausejour Fenel, Johny Fontaine, Marc-Gérard Jacquet, Daphney Jean, Evens Jean-Pierre,
Kensley Jeanty, Erntz Jeudy, Marc-Donald Joseph, Pierre Sandiny
Fotografias:
Berhman Garçon
Sebastião Nascimento
Mapas, gráficos e diagramação:
Fábio Luís Mariquito do Nascimento
Sebastião Nascimento
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Conteúdo Agradecimentos ................................................................................................................................... 6
Lista de acrônimos ............................................................................................................................... 7
Nota onomástica .............................................................................................................................. 9
Sumário executivo ............................................................................................................................. 10
Sumário das constatações .................................................................................................................. 21
Problemas comuns ao sistema público e privado de ensino superior no Haiti .......................... 22
Problemas agudos decorrentes do terremoto .............................................................................. 23
Danos particularmente graves a instituições de ensino superior ............................................... 24
Problemas crônicos no relacionamento entre instituições haitianas e internacionais .............. 26
Áreas de carência mais aguda ....................................................................................................... 27
Recomendações para ação imediata junto às instituições de ensino superior ............................... 28
Recomendações gerais .................................................................................................................. 28
Instâncias de gestão universitária no Haiti e circulação de informação ................................ 28
Recomendações específicas ao Programa Pró Haiti .................................................................... 29
Cooperação bilateral na área do ensino superior ..................................................................... 29
Implementação do programa de bolsas .................................................................................... 30
Processo seletivo ....................................................................................................................... 30
Etapas da seleção ....................................................................................................................... 31
Centro Cultural Haitiano-Brasileiro ........................................................................................ 31
Apoio às instituições universitárias que receberão professores brasileiros no Haiti ............. 32
Acompanhamento e apoio aos estudantes selecionados para o programa de bolsas ............. 32
Apoio aos estudantes no Brasil ................................................................................................. 33
Conclusão do programa e retorno ao Haiti .............................................................................. 34
Áreas prioritárias emergenciais ................................................................................................ 35
Continuidade do programa e etapas ulteriores de implementação ........................................ 37
Outras áreas de atuação ............................................................................................................ 38
Metodologia, etapas e circunstâncias do levantamento de dados ................................................... 39
Estrutura do sistema educacional haitiano ...................................................................................... 44
Histórico do ensino superior no Haiti .............................................................................................. 54
Universidade de Estado do Haiti: origens, formação e estado atual ........................................... 54
Outras instituições públicas .......................................................................................................... 69
Instituições privadas ..................................................................................................................... 75
A pós-graduação e os pós-graduandos ......................................................................................... 90
Impacto do terremoto sobre as instituições de ensino superior no Haiti....................................... 94
Impacto do terremoto sobre as instituições públicas de ensino superior ................................. 102
Universidade de Estado do Haiti (UEH) .................................................................................... 104
Escola Normal Superior (ENS) ............................................................................................... 112
Faculdade de Agronomia e de Medicina Veterinária (FAMV) ............................................. 115
Faculdade de Direito e Ciências Econômicas (FDSE) ........................................................... 122
Faculdade de Etnologia (FE) ................................................................................................... 126
Faculdade de Linguística Aplicada (FLA) .............................................................................. 130
Faculdade de Medicina e de Farmácia (FMP) ....................................................................... 135
Faculdade de Odontologia (FO) ............................................................................................. 148
Faculdade de Ciências (FDS) .................................................................................................. 153
5
Faculdade de Ciências Humanas (FASCH) ............................................................................ 160
Instituto de Estudos e Pesquisas Africanos (IERAH) / Instituto de Estudo e Pesquisa em Ciências Sociais (ISERSS) ........................................................................................................ 163
Instituto Nacional de Administração Pública e de Empresas e de Altos Estudos Internacionais (INAGHEI) ..................................................................................................... 168
Unidades autônomas do sistema público de ensino superior e formação profissional ............ 172
Escola de Direito de Jacmel (EDJ) .......................................................................................... 172
Centro Técnico de Planificação e Economia Aplicada (CTPEA) ......................................... 176
Escola Nacional de Administração Financeira (ENAF) ........................................................ 179
Escola Nacional das Artes (ENARTS) .................................................................................... 181
Escola Nacional das Enfermeiras de Port-au-Prince (ENIP) / Escola Nacional de Parteiras (ENISF) .................................................................................................................................... 189
Escola Nacional Superior de Tecnologia (ENST) ................................................................... 192
Centro Nacional de Formação Profissional (CNFP) / Centro Piloto de Formação Profissional e Técnica (CPFP) ..................................................................................................................... 195
Escola Nacional de Geologia Aplicada (ENGA) .................................................................... 195
Impacto do terremoto sobre as instituições privadas de ensino superior ................................ 202
Universidade Lumière (UL) .................................................................................................... 204
Centro Técnico Saint-Gérard (CTSG) .................................................................................... 211
Universidade Caraïbe (UC) ..................................................................................................... 212
Universidade de Porto Príncipe (UP) .................................................................................... 214
Universidade Episcopal do Haiti (UNEPH) ........................................................................... 217
Instituto de Altos Estudos Comerciais e Econômicos (IHECE) ............................................ 218
Escola Normal e Profissional da Sainte-Trinité (ENPST) ..................................................... 221
Centro de Estudos Diplomáticos e Internacionais (CEDI) .................................................... 225
Universidade Notre-Dame do Haiti (UNDH) ........................................................................ 226
Universidade de Fondwa (UNIF) ........................................................................................... 229
Instituto Universitário Quisqueya-Amérique (INUQUA) .................................................... 230
Academia Nacional Diplomática e Consular (ANDC) .......................................................... 233
Universidade Jean Price-Mars (UJPM) .................................................................................. 235
Universidade Quisqueya (UNIQ) ........................................................................................... 236
Instituições gestoras e auxiliares do sistema de ensino superior atingidas pelo terremoto ..... 238
Biblioteca Nacional ................................................................................................................. 238
Ministério da Educação Nacional e da Formação Profissional (MENFP) ............................ 240
Centro Nacional de Informação Geoespacial (CNIGS) ......................................................... 243
Anexo I - Instituições de ensino superior recenseadas no curso da pesquisa .............................. 244
Instituições públicas de ensino superior .................................................................................... 244
Instituições privadas de ensino superior autorizadas ................................................................ 247
Instituições privadas de ensino superior não avaliadas ou não autorizadas ............................. 249
Anexo II: Questionário utilizado na pesquisa ................................................................................ 252
Listas de ilustrações ......................................................................................................................... 253
Mapas ........................................................................................................................................... 253
Gráficos ........................................................................................................................................ 253
Tabelas ......................................................................................................................................... 253
Fotografias ................................................................................................................................... 255
Referências bibliográficas ............................................................................................................... 261
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Agradecimentos
Para a realização deste relatório, contamos com o apoio de colegas e amigos, sobretudo no Haiti,
mas também na República Dominicana, nos Estados Unidos e no Brasil. A todos eles, nossos
mais sinceros agradecimentos.
No Haiti: Nicholas André, Katia Anglade, Patrick Attié, Guy Bérnard, Bilton Bossé, Paul-Jude
“Don” Carmelo, Junior Cenanfils, Samuel Charles, Rotchille Cribe, Guy Dallemand, Armide
David, Rachelle Desrouleaux, Paulo Dubois, Marc Exantus, Stéphanie Floréal, Luc François,
Etzaire Févrin, família Garçon (Berthony, Claire, Dieula, Marjorie, Mika, Anderson, Lovely e
Wilna), Richard Garfield, Harold Gaspard, Alain Gilles, Nadine Henry, Hérard Jadotte, Maxïme
Jeunne, Yannick Lahens, Maître Léo, Auguste Loubert, Boss Loulou, Francesca Lubin, Emnél e
Evans Massé, Jean-Marie Béjoly Monrose, Vîncent Bradley Nöel, Michèle Oriol, Florence
Pierre-Louis, Jean-Marie Pompée, Gladys Prosper, Jean Claude Rolles, Michel Soukar, Olaf
Suïre, Henri Roland Théodore, Théodate Thurgot, Patrick e Pierre Remy Zamor.
Na República Dominicana: Érica Suelen de Sousa.
Nos Estados Unidos: Jean-Phillipe Belleau.
No Brasil: Liliane Benetti, Diego Nespolon Bertazzoli, Cris Bierrenbach, Antônio Barros de Brito
Júnior, Rodrigo Charafeddine Bulamah, Sônia Beatriz Miranda Cardoso, Alex Rodrigo Celestino,
Fabiana Helena Fabiane, Maria Christina Ferreira Faccioni, Nádia Farage, Ema Maria Franzoni,
Gerfried Gaulhofer, Marília Halla, Otávio Calegari Jorge, Lucélia Mattos, Eliane Moura, Sandro
Fernandes do Nascimento, Gisele Ricobom, Maria José da Silveira Rizola, Alcebíades Rodrigues
Júnior, Maria Rita Gândara Santos.
Agradecemos ainda a Normélia Parise, diretora do Centro Cultural Haitiano-Brasileiro em Port-
au-Prince, pelo inestimável apoio durante a realização da pesquisa e a elaboração do relatório, à
direção e aos funcionários do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade
Estadual de Campinas, assim como a Martin Lienhard, da Universidade de Zurique, e à
Sociedade Suíça de Americanistas, que nos ofereceram a oportunidade de discutir os resultados
preliminares deste levantamento com colegas do Haiti e de outros países latino-americanos e
europeus no simpósio Les Amériques Noires Aujourd’hui /Afroamérica hoy, no Museu de
Etnologia da Universidade de Zurique.
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Lista de acrônimos1
APF – Associação de Camponeses de Fondwa
AUF – Agência Universitária da Francofonia
BNH – Biblioteca Nacional do Haiti
CCHB – Centro Cultural Haitiano-Brasileiro
CFPA – Fundação Chinesa para o Combate à Pobreza
CFEF – Centro de Formação dos Professores do Ensino Fundamental
CLAC – Centro de Leitura e de Animação Cultural
CNFP – Centro Nacional de Formação Profissional
CNIGS – Centro Nacional de Informação Geoespacial
CORPUCA – Conferência de Reitores e Presidentes Universitários do Caribe
CPFPT – Centro Piloto de Formação Profissional e Técnica
CRP – Comitê Regional de Direção
CTPEA – Centro de Técnicas de Planejamento e de Economia Aplicada
DESRS – Direção de Ensino Superior e de Pesquisa Científica
DFP – Direção de Formação e Aperfeiçoamento
EDH – Escola de Direito de Hinche
EDJ – Escola de Direito de Jacmel
EDSEC – Escola de Direito e de Ciências Econômicas dos Cayes
EDSEFL – Escola de Direito e de Ciências Econômicas de Fort-Liberté
EDSEG – Escola de Direito e de Ciências Econômicas das Gonaïves
EDSEPP – Escola de Direito e de Ciências Econômicas de Port-de-Paix
EFACAP – Escola Fundamental de Aplicação e Centro de Apoio Pedagógico
ENAF – Escola Nacional de Administração Financeira
ENARTS – Escola Nacional das Artes
ENGA – Escola Nacional de Geologia Aplicada
ENI – Escola Nacional de Educadores
ENIC – Escola Nacional das Enfermeiras dos Cayes
ENICH – Escola Nacional das Enfermeiras do Cap-Haïtien
ENIJ – Escola Nacional das Enfermeiras de Jacmel
ENIP – Escola Nacional das Enfermeiras de Port-au-Prince
ENS – Escola Normal Superior
ENST – Escola Nacional Superior de Tecnologia
ETM – Escola de Tecnologia Médica
1 Esta lista se limita aos órgãos, serviços e instituições de caráter público, comunitário, governamental ou
internacional. Para as siglas e abreviações referentes às instituições privadas de ensino superior, ver as listas de
instituições de ensino superior recenseadas, apresentadas no Anexos I.
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FAMV – Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária
FASCH – Faculdade de Ciências Humanas
FDS – Faculdade de Ciências
FDSE – Faculdade de Direito e Ciências Econômicas
FDSEGCH – Faculdade de Direito, Ciências Econômicas e Gestão do Cap-Haïtien
FE – Faculdade de Etnologia
FLA – Faculdade de Linguística Aplicada
FMP – Faculdades de Medicina e Farmácia
FO – Faculdade de Odontologia
GSE – Grupo Setorial da Educação do Escritório da Presidência da República
GTEF – Grupo de Trabalho sobre a Educação e a Formação no Haiti
HUEH – Hospital Universitário da Universidade de Estado do Haiti
IERAH – Instituto de Estudos e Pesquisas Africanas
IHSI – Instituto Haitiano de Estatística e de Informática
INAGHEI – Instituto Nacional de Administração Pública e de Empresas e de Altos Estudos Internacionais
INFP – Instituto Nacional de Formação Profissional
ISERRS – Instituto Superior de Estudos e de Pesquisas em Ciências Sociais
ISPAN – Instituto de Proteção do Patrimônio Nacional
MCC – Ministério da Cultura e das Comunicações
MENFP – Ministério da Educação Nacional e Formação Profissional
MINUSTAH – Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti
OEA – Organização dos Estados Americanos
OIF – Organização Internacional da Francofonia
PARQE – Programa de Apoio ao Fortalecimento da Qualidade da Educação no Haiti
PMISSH – Programa de Mestrado Interdisciplinar em Ciências Sociais e Humanas
SENAC – Serviço Nacional do Comércio
SENAI – Serviço Nacional da Indústria
SESC – Serviço Social do Comércio
SESI – Serviço Social da Indústria
UE – União Europeia
UEH – Universidade de Estado do Haiti
UNESCO – Organização Educacional, Científica e Cultural das Nações Unidas
UPAG – Universidade Pública da Artibonite nas Gonaïves
UPNCH – Universidade Pública do Norte no Cap-Haïtien
UPSC – Universidade Pública do Sul nos Cayes
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Nota onomástica
Independente do registro ou nível de linguagem, a antroponímia no Haiti não se submete a uma regra uniforme de
composição, podendo os nomes pessoais ser mencionados em três variantes:
Nome próprio Nome de família (Np Nf)
Nome de família Nome próprio (Nf Np)
NOME DE FAMÍLIA Nome Próprio (NF Np)
Apesar de a variante NF Np ter um uso predominante no registro escrito em todo o país, nem sempre foi possível,
diante do volume de depoimentos orais colhidos ao longo do levantamento de dados, verificar qual o modelo
utilizado por cada informante. Para a apresentação final deste relatório, optou-se pelo modelo convencional Np Nf,
mais utilizado internacionalmente. Porém, na medida em que muitos nomes foram registrados a partir de
depoimentos orais, é possível que, em alguns casos, não tenha sido possível identificar corretamente a ordem
adequada e tenham ocorrido desvios em relação ao modelo.
Também localidades e logradouros foram indicados ao longo do texto pela toponímia internacionalmente mais
corrente para o Haiti, de base francesa, em detrimento da toponímia baseada no kreyòl. Assim, por exemplo, em
lugar de Pòtoprens, Kafou Fey e Chanmas, foram utilizados Port-au-Prince, Carrefour Feuilles e Champ de Mars.
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Sumário executivo
Às 16h53min do dia 12 de janeiro de 2010, um terremoto de 7,3 graus de magnitude e 35
segundos de duração sacudiu com extrema intensidade a área mais densamente povoada do
Haiti, destruindo várias cidades e localidades numa ampla área de incidência, mas com efeitos
particularmente devastadores na capital do país e em seus arredores, chegando ao ponto de
praticamente arrasar a cidade de Léogâne, de importância histórica e cultural indiscutível para a
sociedade nacional haitiana. Vários tremores sucessivos ocorreram, pelo menos 42 deles
registrados com magnitudes variando de dois a 6,1 pontos, com epicentros que se espalhavam ao
largo de uma extensa faixa ao longo da porção sudoeste do país, mas o epicentro do primeiro e
maior tremor foi a não mais que 15 quilômetros do centro da capital Port-au-Prince. Nos dias e
semanas seguintes, foram registrados inúmeros tremores de menor intensidade, o que se somou
à ação destruidora do primeiro terremoto para causar um deslocamento populacional sem
precedentes na região. Pelas estimativas oficiais, em Port-au-Prince e seus arredores e em
amplas áreas do sul do país, 222.574 pessoas foram mortas, mais de 300.000 feridos, 1,3 milhão
de deslocados e, em razão de 97.294 residências haverem sido destruídas e outras 188.383
irreversivelmente danificadas, outro 1,5 milhão de desabrigados.2
Se por um lado, para além do inestimável número de feridos, mutilados e desabrigados, Port-
au-Prince viu perecer cerca de 10% de sua população e quase metade dos sobreviventes
deixarem a cidade rumo a campos de refugiados em seus arredores e no interior do país, por
outro lado também em outros centros urbanos a devastação deixou marcas indeléveis.
Pétionville, Jacmel, Léogâne, Petit-Goâve, Grand-Goâve, Gressier, Carrefour são os nomes de
algumas das cidades que foram severamente atingidas, algumas das quais muito provavelmente
jamais voltarão a contar com a estrutura e as dimensões anteriores, para não mencionar os
muitos povoados para os quais sequer há dados confiáveis a respeito da extensão dos danos.
2 As estimativas aqui apresentadas incluem as quatro pessoas que foram mortas por um tsunami na região de Petit-
Paradis, próxima a Léogâne. Outros tsunamis foram registradas em Jacmel, Les Cayes, Petit-Goâve, Léogâne, Luly e
Anse-à-Galets, destruindo mais uma série de residências costeiras, sem contudo terem feito mais vítimas fatais. É
preciso ressaltar, no entanto, que não há registro de qualquer estudo detalhado sobre o número total de mortos em
decorrência do terremoto. Todos os dados referentes ao número de vítimas são projeções feitas pela Presidência da
República e divulgados rapidamente após o terremoto, sem qualquer correspondência a um esforço de identificação
dos corpos sepultados em valas comuns. Posteriormente, em que pesem todas as dificuldades relacionadas às
insuficiências e à obsolescência dos dados demográficos em um país cujo último censo populacional foi realizado em
1970, nenhum esforço comparável ao levantamento de danos materiais foi feito e tampouco qualquer especificação
do número de vítimas por localidade. Para um balanço sobre a extensão dos danos materiais causados pelos
terremotos, ver os mapas produzidos no quadro do projeto Building Damage Assessment, realizado pelo Centro
Nacional de Informação Geoespacial (CNIGS) e pelo Programa das Nações Unidas de Aplicações Operacionais de
Satélite (UNOSAT). Através da comparação de imagens de satélite com amostragens obtidas pelo CNIGS
diretamente nas localidades afetadas, o projeto procura aperfeiçoar o nível de precisão dos dados sobre a extensão
dos danos aos edifícios, sem os diferenciar, porém, de acordo com sua utilização (edifícios públicos, escolas,
estabelecimentos comerciais, residências etc.). À medida que vão sendo produzidos, os levantamentos são
divulgados através do web site do UNOSAT (http://unosat.web.cern.ch/unosat/asp/prod_free.asp?id=52). Cabe
destacar que a sede do CNIGS também foi destruída e que esses estudos vêm sendo realizados por um grupo de
pesquisadores que se revezam ocupando em turnos três contêineres instalados no estacionamento de sua sede.
11
Em que pese toda a extensão geográfica da catástrofe, foi em Port-au-Prince que o próprio
núcleo simbólico e institucional de um país altamente centralizado foi atingido: entre os
incontáveis edifícios que ruíram ou foram severamente danificados, ao ponto de somente sua
demolição permitir evitar riscos ulteriores à população, estão não somente o Palácio Nacional,
sede da Presidência e de uma série de órgãos do Poder Executivo, como também a quase
totalidade dos ministérios, o Senado, a Prefeitura, o Fórum judicial, a prisão, a catedral e todas as
igrejas mais importantes, o Hospital Central e praticamente todas as poucas clínicas públicas de
atendimento de saúde que ainda funcionavam, os museus, os teatros e cinemas, as bibliotecas e
livrarias, as estações de rádio e televisão, a companhia elétrica, a companhia telefônica e o que
ainda restava da rede de abastecimento de água, a incipiente zona industrial e toda a região
comercial do centro da cidade, incluindo o histórico Mercado de Ferro e seus arredores. A lista
poderia, enfim, ser estendida indefinidamente sem que se pudesse ainda obter uma ideia algo
precisa sobre tudo o que se perdeu quando o Haiti perdeu sua capital, muito mais do que
metaforicamente.
Nas universidades, escolas técnicas e escolas profissionais da área afetada, o impacto do
terremoto foi devastador, numa proporção muitas vezes maior do que em outros setores. Por
uma série de circunstâncias, porém, a maior parte delas dizendo respeito a uma crise estrutural e
a um projeto de reforma universitária há tempos adiado, mas também meramente ao fato de que
o semestre letivo ainda não tivesse começado num bom número de instituições, muitos prédios
universitários que ruíram tinham os portões fechados e suas salas de aula vazias. Entre as
instituições públicas, esse era o caso da Faculdade de Medicina e Farmácia, por exemplo, que
enfrentava há meses uma greve estudantil e estava vazia, ou da Faculdade de Direito e Ciências
Econômicas, cujos alunos haviam deixado o prédio principal para participar das comemorações
dos 150 anos de sua fundação. Para cada uma dessas coincidências felizes, porém, há pelo menos
um contraponto trágico, como na Faculdade de Linguística Aplicada ou na Escola Nacional de
Enfermeiras, que desabaram completamente, ceifando a vida de praticamente metade do total de
seus estudantes, de vários professores e também de seus diretores. Outras histórias combinam a
casualidade de uma coincidência pelo menos em parte feliz com a confluência de dois tipos de
brutalidade, como no caso das centenas de estudantes que saíram às ruas para protestar ao
saberem que Anil Louis Juste, professor da Faculdade de Ciências Humanas e da Faculdade de
Etnologia e ativista do movimento sindicalista camponês, havia sido assassinado naquela mesma
manhã, às portas da faculdade, por pistoleiros encapuzados. Foi a brutalidade de um assassinato a
sangue frio que fez com que outras centenas de vidas fossem poupadas.
A situação de crise e carência vivida com especial intensidade no sistema universitário
público, mas de forma igualmente candente no sistema privado, reforçava uma percepção mais
ampla de falta de perspectiva para toda uma geração de jovens, estudantes universitários ou não.
Mesmo o tímido crescimento econômico que se havia registrado nas estatísticas do país não
havia produzido mudanças sensíveis no nível de vida da população e tampouco numa
incorporação efetiva de jovens profissionais no mercado de trabalho. Para muitos, senão a franca
12
maioria, a melhor saída das aflitivas constrições em seu país continuava a parecer se concretizar,
não em torno da obtenção de um diploma universitário, mas da obtenção de um passaporte e de
um visto, qualquer que fosse, para se juntar a amigos, familiares ou conhecidos na diáspora ou
então para abrir um novo caminho e garantir, com remessas periódicas de dinheiro, as chances
de sobrevivência digna e de algum tipo de acesso à educação para os familiares mais jovens. Nos
cálculos feitos por qualquer família haitiana, portanto, a educação universitária continuava a se
oferecer como investimento viável apenas se pudesse estar associada com uma possibilidade
concreta de financiamento associada à emigração ou a circuitos que invariavelmente
pressupõem um de seus polos de sustentação na diáspora.
São quando muito erráticas as perspectivas que se apresentam aos jovens haitianos no cenário
econômico e profissional dos últimos anos. Investimentos governamentais em iniciativas
independentes do direcionamento das agências internacionais são praticamente inexistentes. A
iniciativa privada é tímida e temerosa de grandes investimentos num país marcado por uma
profunda instabilidade, além de altamente concentrada na capital do país. O fortalecimento do
setor turístico, outrora importante fonte de divisas no país e há décadas um fator fundamental
do funcionamento de todas as economias da região, é atualmente no Haiti uma promessa de
futuro exaustivamente repetida e repetidamente postergada. Praticamente toda a economia rural
desse país de marcada tradição agrícola está estagnada, à espera de grandes investimentos
capazes de deter a crise ecológica que compromete qualquer esforço de aumento de
produtividade na agricultura e de restabelecimento de uma pecuária que foi praticamente
desmantelada durante ao longo dos sucessivos períodos de crise recente. Diante disso, também a
população jovem do campo não vê outra saída que não a emigração, na direção dos centros
urbanos regionais, da capital nacional ou da fronteira com a República Dominicana.
Um paradoxo tipicamente haitiano, contudo, é que esse mesmo espaço rural, estagnado e
precário, com altíssimos índices de mortalidade infantil e de analfabetismo, carências aflitivas no
que diz respeito ao acesso a serviços básicos de saúde e educação, é também em grande medida
responsável pela sustentação das receitas do estado nacional e pela manutenção dos grandes
centros urbanos. Quando se fala das províncias haitianas, não é de um universo exclusivamente
rural, pontuado por vilarejos isolados. São aglomerações de médio porte as que dominam a
paisagem dos departamentos no interior do país, cidades que receberam nas últimas décadas um
importante fluxo populacional como consequência do acelerado avanço da erosão no espaço
agrícola, da crise de mão de obra na produção de alimentos e do desmonte quase completa da
pecuária. Em decorrência da absoluta falta de investimento em sua infraestrutura e em seu
potencial econômico, encontram-se em grande medida estagnadas e deixadas à própria sorte, a
despeito do papel estruturante decisivo que desempenham em seus departamentos – e também
no nível nacional, algo que ficou ainda mais patente no período posterior ao terremoto, quando
foram responsáveis não apenas por receber os desabrigados que deixavam uma capital destruída
para trás, mas também por assegurar o abastecimento de alimentos de grande parte daquele que
permaneceram na capital.
13
As sucessivas missões internacionais de promoção da democracia e de estabilização política
pouco haviam assegurado, em termos de desenvolvimento econômico efetivo, para mudar uma
situação na qual são as próprias agências e organizações internacionais – vinculadas às Nações
Unidas, a outras instâncias multilaterais, como a Organização dos Estados Americanos (OEA) ou
a União Europeia (UE), ou às grandes agências de cooperação ou ainda ao âmbito da miríade de
organizações não governamentais, que noutra parte do mundo não as há em tanto número como
ali – que persistem sendo as maiores (senão as únicas) oportunidades reais de trabalho para os
jovens profissionais qualificados. Diante desse cenário, cada estudante vê toda uma geração de
seus colegas formada em torno da perspectiva de se converter em intérpretes de seu país para
um consumo externo realizado internamente, em facilitadores do trabalho de estrangeiros num
país que não tinha outro trabalho a lhes oferecer, em mediadores de missões reproduzidas em
torno de planos e projetos imediatos, mas sem quaisquer objetivos que lhes dissessem respeito.
A presença de tropas e agências internacionais não é algo recente no país, e pelo menos desde
o início dos anos 1990, o Haiti foi objeto de presença militar internacional da ONU e dos Estados
Unidos e da presença massiva de observadores e interventores, de consultores e pareceristas, de
programadores e executores, de proponentes e promotores, de muitos esforços de coordenação
entre as mais distintas organizações internacionais. Não é como uma reação espontânea ou
súbita, portanto, que a juventude universitária haitiana faz eco a uma longa tradição nacionalista
no discurso político haitiano, que se apoia na viva lembrança da tanto da ocupação americana
(de 1915 a 1934) quanto da resistência e da dura repressão que a acompanharam para retratar a
presença internacional no país como uma intervenção tão ilegítima quanto ineficaz no sentido
de promover uma melhoria de vida da população. Para eles, os avanços alardeados pelas grandes
organizações multilaterais, pelas agências de cooperação e de ajuda humanitária dos grandes
doadores internacionais, ou por organizações não governamentais de grande visibilidade, não
são mais do que figuras de linguagem num discurso de autopromoção institucional ao qual já se
habituaram. A esmagadora maioria da população continua à margem de qualquer tipo de
atividade econômica formal e dependente de suas próprias redes de financiamento e de
circulação de mercadorias e serviços, construídas e mantidas à margem de um estado que se
confunde cada vez mais com uma instância de chancela de programas de cooperação entre
cooperantes. Some-se a tudo isso o modo ostensivo como os funcionários estrangeiros dessas
organizações de cooperação exibem um padrão de consumo e uma qualidade de vida com que
poucos haitianos ousariam sonhar possível, e teremos um quadro marcado por uma profunda
frustração.
O sistema educacional que procurava abarcar esse universo de expectativas minguantes, de
oportunidades limitadas e de polarização persistente, senão crescente, da juventude haitiana era,
antes do terremoto, também ele desigual e polarizado. De um lado, um campo de instituições
prestigiadas e reconhecidas, por entre as quais circulavam os mesmos professores e
pesquisadores mais bem qualificados do panorama acadêmico haitiano e que, congregando tanto
a UEH como outras grandes instituições particulares, atravessavam as linhas setoriais que
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separavam ensino público e privado, combinando estruturação e diversificação curricular com
salas de aulas superlotadas, fortes desníveis na qualificação de seus profissionais, precárias
condições de trabalho, infraestrutura obsoleta e um movimento estudantil altamente politizado.
De outro, um campo bem menos estruturado e também bem menos conhecido, mas que também
extrapolava as divisões entre sistema público e privado, congregando em torno de um conjunto
comum de problemas (convergência curricular em torno de poucas carreiras, corpo docente
insuficiente e carente de aperfeiçoamento, altíssimas taxas de desistência) as instituições mais
precárias, mas ao mesmo tempo as mais dinâmicas do sistema, situadas na fronteira de sua
expansão geográfica pelo país e do atendimento às demandas represadas por vagas universitárias.
O primeiro polo possivelmente se paute justamente por sua centralização na capital,
compreendendo as unidades metropolitanas da UEH, as escolas e centros ministeriais de ensino
e treinamento e as grandes universidades privadas estabelecidas em Port-au-Prince a partir de
projetos de cooperação internacional implementados nos anos 1990. O segundo polo não se
ateria aos limites metropolitanos, congregando em torno de um conjunto similar de problemas
tanto instituições privadas recentemente estabelecidas na capital como centros de ensino
superior, técnico ou profissional estabelecidos há mais tempo nas províncias, tanto projetos
públicos estagnados por falta de recursos – como os Centros de Formação de Professores do
Ensino Fundamental, que nunca saíram do papel, ou as Escolas Nacionais de Enfermagem e de
Direito, que nunca saíram da precariedade – quanto ambiciosos projetos privados de expansão da
oferta de vagas para atender a demandas de descentralização, como a Universidade Internacional
do Haiti, em Léogâne, ou ousados projetos comunitários de promoção da formação universitária
em meio às comunidades rurais, como a Universidade de Fondwa.
Um conjunto formado por universidades e centros de ensino altamente valorizados pelas
elites econômicas e intelectuais nacionais e extremamente caras, seja por conta das taxas e
mensalidades no caso das privadas, seja por conta do alto custo envolvido numa educação
fundamental e secundária que garanta o acesso a uma vaga pública. Outro por instituições
relativamente mais acessíveis, voltados ao suprimento da demanda por qualificação de uma
massa juvenil em constante crescimento e em crescente urbanização. As primeiras, com
estruturas mais sofisticadas e contando, para além do aporte de taxas de matrícula e
mensalidades, com o apoio de grandes projetos de cooperação internacional. As segundas,
dependentes de taxas proporcionalmente mais baixas e voltadas para demandas mais imediatas, à
espera, contudo, de dotações orçamentárias há muito previstas e jamais executadas, quando
públicas, ou de autorização de funcionamento por parte do MENFP e da UEH, quando privadas.
Ao primeiro polo corresponderia precisamente a dezena de instituições que se congrega em
diferentes fóruns de governança universitária para discutir os rumos de todo o sistema de ensino
superior. E é justo e necessário que o façam, pois são as únicas com reconhecimento e
visibilidade suficientes para promover qualquer tipo de iniciativa conjunta referente ao universo
da pesquisa acadêmica e da constituição de equipamentos tão básicos como as bibliotecas
universitárias. Contudo, mesmo as estimativas mais generosas não atribuem a esse conjunto de
15
instituições mais do que a metade do corpo discente global no país. É indispensável, portanto,
levar em conta a configuração, os problemas, limitações e demandas também do espectro de
instituições que responde pela outra metade dos estudantes universitários haitianos, uma metade
com menos recursos, por certo, mas justamente a metade que mais necessita da formação
profissional de qualidade que buscam para que mais diretamente possa atuar nas áreas mais
carentes do país.
Segundo dados levantados junto às autoridades ministeriais e universitárias haitianas que
procuram assegurar algo de regulação e supervisão em meio a um setor tão desigual e
desregulado como a educação superior haitiana, calcula-se que quase 90% (86,55%) das
instituições de ensino superior ativas do país estavam concentradas na região mais diretamente
atingida pelo terremoto. Mesmo tendo atingido faculdades, centros e institutos de forma
desigual, por todos os lados deixou um rastro de morte e desolação, que destruiu ou
comprometeu as estruturas de virtualmente todas as instituições de ensino superior. Para que o
próprio processo de reconstrução tenha condições de se consolidar por meio do envolvimento
de esforços haitianos e também para que os esforços conjuntos tenham um alcance e uma
eficácia que até o momento muito poucas entre as iniciativas internacionais de cooperação tem
tido, será necessário um grande investimento na continuidade da formação de capacidades no
Haiti. De um lado, deve-se garantir a possibilidade de que pelo menos uma parte dos estudantes
não tenha seus estudos completamente interrompidos no curto prazo. De outro, deve-se
proporcionar a reconstrução da infraestrutura e o reinício e normalização, o mais rápido
possível, das atividades universitárias nesse país.
Com base nos dados apurados para este relatório, de um total de 53.316 estudantes
universitários matriculados em instituições públicas e privadas, o número de mortos ultrapassou
a marca confirmada de 2.906, com um número ainda indeterminado daqueles que, entre os
feridos, guardarão sequelas irreversíveis e mutilações. Apesar desse número aparentemente
representar uma fração do número total de vítimas no país – que pelas estimativas mais apuradas
ultrapassa a marca dos 220.000, tendo vitimado algo em torno de 2,43% da população haitiana
total – não é descabido ressaltar que a proporção de estudantes mortos em decorrência do
terremoto no conjunto da população estudantil universitária chega a ser de uma escala quase
três vezes maior do que foi a proporção de vítimas para o conjunto da população, fazendo
perecer quase 7% (6,9%) de todos os estudantes universitários haitianos. Também entre os
professores do ensino superior, a letalidade do terremoto foi atroz: de um total de 3.598 docentes
ativos, a proporção de mortos chegou a 3,71%, com 147 vítimas fatais confirmadas. Em meio ao
corpo funcional, o número de vítimas foi proporcionalmente menor, em torno de 24
funcionários mortos.
A despeito de todos os esforços de consistência e verificação, todos os números apresentados
aqui relativos a perdas humanas devem ser considerados preliminares, na medida em que muitos
casos não foram contemplados nas listagens de vítimas elaboradas no quadro deste levantamento
por conta da impossibilidade de confirmação ou verificação, tendo sido computadas apenas
16
mortes confirmadas (e, na medida do possível, identificadas), com base no cruzamento de
informações colhidas ao longo das etapas de elaboração deste levantamento junto às instâncias
administrativas das instituições de ensino superior, aos estudantes sobreviventes e aos
funcionários e vizinhos que testemunharam e acompanharam os resgates de sobreviventes e a
remoção de corpos.
Some-se a isso o fato de que praticamente toda a estrutura física das instituições universitárias
foi destruída ou severamente danificada (para além dos 72% dos edifícios completamente
destruídos ou severamente comprometidos, restam não mais do que 28% de prédios que
sofreram danos sérios, capazes de inviabilizar seu uso até uma eventual demolição ou
restauração), e o que se obtém é um quadro de inviabilização completa do funcionamento das
instituições de ensino superior no país. A situação presente não conhece precedentes na história
desse país tão combalido quanto tenaz. Mesmo ao longo de décadas de conturbada história
política, de momentos de intensa violência e de profundas crises econômicas e de
abastecimento, jamais se chegou a uma situação como a atual, em que pela primeira vez a vida
universitária está completamente paralisada no país, sem perspectivas palpáveis de uma
retomada ou de qualquer medida de normalização das atividades tão cedo.
Independente de como se avalie a dimensão da perda representada pelas mortes aqui
arroladas, a esmagadora maioria dos estudantes e funcionários está desabrigada, vivendo em
tendas ou em habitações precárias. Muitos estudantes, e muitos que já não são ou ainda não são
estudantes, escolheram os arredores das próprias instituições de ensino superior para dispor suas
tendas e abrigar seus familiares, afinal parte dos edifícios, ainda que destruídos ou danificados,
possui amplos terrenos ao redor, com acesso facilitado à água e a estruturas mínimas de
saneamento. Assim, muitas instalações universitárias reuniam condições excelentes para o
estabelecimento de campos de desabrigados. E foi no que muitas se converteram imediatamente
após o terremoto.3
Por outro lado, nas semanas posteriores ao primeiro e maior dos muitos tremores que se
3 Após um primeiro momento de atordoamento e inércia, diante da perspectiva de verem suas universidades e
faculdades tomadas por desabrigados e convertidas, para além da circunstância emergencial, em bases de apoio para
a movimentação de pessoal civil e militar de equipes humanitárias – que paulatinamente se instalavam à volta dos
campos mais centrais, para fornecer atendimento básico aos desabrigados ou simplesmente para acompanhar os
eventos – ou em depósitos de mantimentos, o que demandaria igualmente uma ocupação por forças de segurança,
muitos estudantes, assim como quadros administrativos e professores universitários se organizaram no esforço de
repelir novos avanços de campos da região central da cidade sobre os espaços universitários. Tantos eram os grupos
envolvidos nesse esforço quanto talvez as razões que os moviam: poderia tratar-se de uma defesa das instalações
universitárias diante do temor de possíveis pilhagens ou da expectativa de um retorno mais ou menos rápido das
atividades, que poderia ser eventualmente adiado por conta da presença de refugiados ou ainda simplesmente da
defesa direta de um espaço particularizado, evitando compartilhar uma situação de relativo privilégio diante de uma
população exposta à intempérie. Noutros casos, contudo, foram os próprios estudantes, professores e funcionários
das universidades e faculdades, contando com o apoio das respectivas administrações ou não, que organizaram
esforços emergenciais de atendimento à população desabrigada instalada em sua área, oferecendo serviços de
acompanhamento psicológico, de vacinação, de recenseamento da composição e das necessidades prioritárias dos
moradores dos campos, assim como iniciativas de distribuição de alimentos, medicamentos, roupas e tendas.
17
sucederam, um número estimado de 511.405 pessoas abandonaram Port-au-Prince e se
dirigiram ao interior do país. Metade delas (253.506) procurou abrigo junto a familiares, amigos
ou colegas em localidades situadas nos Departamentos mais próximos da capital, Artibonite e
Centre. Mas a outra metade procurou chegar rapidamente às regiões mais distantes de Port-au-
Prince, dirigindo-se para a Grand'Anse, para os Departamentos do Norte e não foram poucos os
que procuraram atravessar a fronteira para a República Dominicana ou ao menos procurar
abrigo ao longo dela. Grande parte dos estudantes, como foi possível comprovar durante este
levantamento, fazia parte desses grupos de deslocados. Porém, com a destruição da capital e a
dispersão de grande parte de sua população, a infraestrutura de todo o país acabou sendo
sobrecarregada e, também nos Departamentos do interior, faculdades, escolas e centro de ensino
superior foram paralisados por se haverem convertido em campos de refugiados ou em centros
de atendimento aos desabrigados deslocados da área afetada.
Os mortos que não permaneceram soterrados foram ou queimados ou enterrados (nem todos
com a dignidade que lhes era devida), os feridos foram tratados (apesar do grande número de
amputações sumárias e de casos de gritante negligência, que causaram complicações e, não raro,
mais mortes), os deslocados pelo terremoto logo passarão a ser os deslocados pelas chuvas e
deslizamentos e seguirão por meses ainda em busca de abrigo. Porém, no caso específico do
conjunto de vítimas contemplado neste levantamento, para além dos estudantes, professores e
funcionários mortos, feridos ou desabrigados e do número total de estudantes afetados
diretamente pela destruição física de suas universidades, deve-se tomar em conta o número de
alunos já admitidos, mas que ainda não haviam iniciado seus estudos, além daqueles egressos do
ensino secundário, que seriam admitidos às universidades, faculdades, centros e institutos
superiores no período letivo subsequente. Uma projeção baseada no número anual de admissões
pode permitir conceber a dimensão desse grupo de estudantes afetados indiretamente, que
foram contemplados ao longo deste estudo como parte das vítimas indiretas do terremoto, sob a
categoria de admissões cessantes.
Por semanas após o terremoto, a ideia de uma pronta retomada das atividades acadêmicas se
concretizava unicamente sob a forma de incessantes reuniões de autoridades gestoras do sistema
universitário para discutir estimativas de perdas, demandas comuns, carências compartilhadas,
sobretudo, porém, para adiar os planos de retomada que haviam sido traçados nas reuniões
anteriores. Da parte das instituições públicas, a expectativa de retomada somente se podia apoiar
na esperança de que, diante da dimensão da tragédia e do indiscutível papel que os profissionais
com formação superior teriam a desempenhar na reconstrução, finalmente houvesse chegado a
oportunidade de realizar todos os projetos jamais realizados de uma ampla reforma universitária
e da construção de um campus central e de instalações modernas. Da parte das instituições
privadas, parecia ganhar espaço a esperança de que novos investimentos seriam feitos e de que
novos parceiros poderiam se envolver na reconstrução desse setor que era responsável pela
maior parte da oferta de vagas no ensino superior haitiano.
Contudo, os mais realistas de lado a lado já previam desde cedo que, se era certo que nada
18
seria como antes, a mudança não necessariamente seria na direção promissora que acalentavam
os dirigentes universitários. Quando do retorno paulatino às atividades – para não falar de uma
normalização, pois esta certamente tardaria muito mais – nada havia que pudesse garantir o
engajamento da totalidade dos alunos nas atividades acadêmicas, em função das rupturas
biográficas engendradas pela catástrofe: famílias destruídas, reconfiguradas, novos dependentes,
novas prioridades, migração transitória tornada definitiva, seja sob a forma de um retorno à vida
provincial ou ao mundo rural ou mesmo a emigração. Para muitos, porém, o maior empecilho à
retomada mesmo rudimentar ou meramente simbólica das atividades acadêmicas está na
proximidade física com os locais de tantas tragédias vividas tão de perto, numa espécie de
síndrome pós-traumática ainda à espera de um nome, mas próxima ao que poderia ser descrito
como uma forma endêmica de fobia ao cimento, ao concreto, às construções em alvenaria que
resistiram aos tremores – um temor de estar constantemente à mercê do movimento de tudo
aquilo que, concreto, se supunha imóvel. Diante da resistência de muitos a retomar as atividades
universitárias fazendo uso dos prédios remanescentes, aquelas instituições de ensino superior
que podem contar com alguma reserva de recursos vinham adotando medidas de emergência no
sentido de pelo menos parcialmente buscar alguma normalização. Nesse esforço, buscavam
priorizar os estudantes do último período, com o propósito de garantir a conclusão do curso
daqueles a quem menos tempo faltava para se formar. Quando possível, as atividades se realizam
em tendas ou em módulos pré-fabricados, quando impossível dispor desse tipo de material,
então ao ar livre.
A recuperação será lenta e demandará um apoio que não se restrinja à comoção momentânea
que sói suceder as grandes catástrofes. Se, por um lado, é verdade que a ajuda (ainda insuficiente
e incerta) é anunciada de muitos lados – Estados Unidos, Canadá, União Europeia, República
Dominicana, Brasil etc., também é certo, por outro lado, que a reconstrução será uma tarefa de
médio e longo prazo, exigirá recursos que ultrapassam em muito as previsões já feitas para as
necessidades imediatas e se estenderá por um período muito mais longo do que preveem mesmo
os compromissos de cooperação de maior fôlego. Isso implica reconhecer que qualquer esforço
consistente e realista de uma reconstrução efetiva pressupõe considerar a consolidação de
capacidades dos próprios atores haitianos envolvidos e a expansão de suas redes de atuação.
Nesse sentido, a situação se revela ainda mais delicada e premente, pois as instituições de ensino
superior haitianas, responsáveis pela capacitação e qualificação dos quadros profissionais e
técnicos formados no país, foram duramente afetadas, muitas delas, teme-se, de modo
praticamente irreversível.
Diante desse cenário, o que este estudo pretende é apresentar um diagnóstico que permita
destacar diferenciações internas em meio ao impacto global do terremoto, mais especificamente
no âmbito do sistema de ensino superior, avaliar o efeito dos tremores sobre os recursos
humanos (mortos, feridos e deslocados, em meio aos corpos discente, docente e funcional), sobre
os recursos físicos das instituições haitianas de ensino superior (instalações, equipamentos e
acervos total ou parcialmente destruídos, danificados ou comprometidos) e sobre os recursos
19
documentais (arquivos e registros escolares perdidos). Espera-se que este diagnóstico, sendo
publicado, divulgado e distribuído por diversos meios, seja acessível ao grande público, e que
possa oferecer às distintas instâncias comprometidas com a reconstrução das áreas afetadas pelo
terremoto no Haiti subsídios para sustentar esforços eficazes de reconstrução, cooperação,
intercâmbio e de retomada das atividades das instituições de ensino superior do país.
Procura-se inicialmente sumariar as constatações decorrentes deste esforço de levantamento
de dados, para que em seguida se apresentem recomendações gerais a respeito da situação
presente do ensino universitário no país e da retomada de suas atividades, assim como
recomendações mais específicas, referentes a programas a serem elaborados ou já em curso de
implementação no quadro do esforço de reconstrução das instituições de ensino superior
haitianas, em especial no que diz respeito ao envolvimento de instituições públicas brasileiras.
Um primeiro conjunto de recomendações diz respeito à atuação mais imediata e mais premente
junto às instituições haitianas de ensino superior. Como as demais, estas recomendações foram
elaboradas não somente a partir do diagnóstico que compõe o fulcro deste relatório, mas
também tendo como referência demandas consistentes que puderam ser registradas e verificadas
ao longo dos últimos anos junto a distintos setores da sociedade haitiana e junto aos atores mais
diretamente envolvidos na elaboração de avaliações, análises e propostas relacionadas aos
problemas e desafios do ensino superior, do ambiente de pesquisa, dos projetos de cooperação e
intercâmbio, assim como do universo acadêmico mais amplo no país.
Este estudo incorpora, desenvolve e aprofunda pontos do estudo preliminar “O impacto do
terremoto de 12 de janeiro de 2010 sobre as instituições haitianas de ensino superior”, discutido
com colegas haitianos e brasileiros e apresentado, em 21 de fevereiro de 2010, às instituições
envolvidas na elaboração e na execução do Programa Pró Haiti. Esse estudo preliminar serviu
igualmente para subsidiar a preparação do acordo de cooperação técnica e acadêmica assinado
entre os governos brasileiro e haitiano, no quadro da visita do Presidente Luís Inácio Lula da
Silva ao Haiti, em 25 de fevereiro de 2010. Dados detalhados sobre a extensão das perdas
humanas e dos danos materiais constantes do estudo preliminar foram discutidos também no
seminário de validação da pesquisa realizado em 26 de fevereiro de 2010 no Centro Cultural
Haitiano-Brasileiro, em Pétionville, e em reunião com os funcionários e pesquisadores da
DESRS/ MENFP, realizada no mesmo dia.
Para permitir uma compreensão mais precisa do cenário de destruição quase total, de paralisia
generalizada e de aprofundamento radical de uma crise institucional que já vinha se
consolidando e espalhando pelo sistema universitário haitiano, o diagnóstico detalhado do
impacto do terremoto nas instituições acadêmicas é precedido de um item que procura oferecer
uma breve introdução histórica do ensino superior no Haiti, de sua evolução mais recente e um
retrato de sua situação no momento imediatamente anterior ao dia 12 de janeiro de 2010. Em
seguida a uma breve apresentação das escolhas metodológicas que orientaram a coleta de dados e
discussão de resultados preliminares, é oferecida uma aproximação quantitativa aos efeitos do
terremoto especificados por área e instituição. Sempre que possível, quadros, gráficos e
20
fotografias são apresentados ao longo do relatório para permitir uma compreensão mais aguçada
dos efeitos do terremoto. Ainda nesse segundo item, referente à especificidade do impacto,
esboça-se uma avaliação mais qualitativa dos efeitos da destruição, na tentativa de incorporar as
expectativas e demandas de estudantes e professores diretamente afetados neste momento
extremamente difícil de seu percurso acadêmico e de sua atuação profissional no ensino superior
haitiano. Entre os anexos, são apresentadas as listagens das instituições públicas e privadas
haitianas de ensino superior recenseadas no curso deste levantamento (incluindo informações
sobre sua estrutura departamental, acronímia, ano de fundação, localização e situação
homologatória), assim como os questionários que foram utilizados tanto na coleta quantitativa
de dados quanto na abordagem qualitativa das expectativas e demandas dos estudantes,
professores e funcionários afetados pelo terremoto.
21
Sumário das constatações
Pela primeira vez na história do Haiti, as instituições de ensino superior em geral e, em
particular, a Universidade de Estado do Haiti (UEH) ameaçam fechar suas portas por um período
longo o suficiente para comprometer a formação de toda uma geração de profissionais. Os efeitos
dissociativos que essa quebra na continuidade da cadeia de transmissão de conhecimentos e
capacidades pode produzir sobre a estabilidade e o funcionamento dos circuitos econômicos e
das redes de solidariedade na sociedade haitiana somente podem começar a ser aventados.
Se é fato que se trata de um sistema universitário com muitas deficiências e limites, que já
enfrentava uma situação de crise paralisante no período imediatamente anterior ao terremoto,
não é menos verdade que, ao longo de décadas, foi capaz de formar quadros imprescindíveis para
o funcionamento das instituições do país e que atuaram com destaque não apenas em seu
próprio país, mas para além dele também, e não foram poucos os profissionais formados nas
instituições haitianas que encontraram espaço de trabalho em países como os Estados Unidos, o
Canadá, a França, a Bélgica, além de vários países africanos e latino-americanos.
A UEH foi a primeira e continua sendo a única universidade pública em Port-au-Prince,
tendo sido fundada em 1960, congregando faculdades que já funcionavam autonomamente há
várias décadas, a mais antiga delas, a de Direito, desde 12 de janeiro de 1860. Tradicionalmente,
essa universidade desempenhou um papel institucional de imenso relevo na história política e
social haitiana, representando um centro incontornável de legitimação ou deslegitimação de
iniciativas governamentais e uma referência incontestável na formulação e implementação de
políticas públicas e formação de quadros qualificados. Até o fim dos anos 1980, garantiu a
formação de quadros profissionais e de gerações de intelectuais, além de assegurar a conexão
entre distintas gerações de profissionais e técnicos de nível superior. Mesmo com os seriíssimos
problemas que maculam o sistema de ensino haitiano, sempre houve uma concorrência muito
acirrada pelas exíguas vagas oferecidas pela UEH.
A Universidade de Estado jamais foi capaz de atender a toda a demanda por acesso ao ensino
superior no país e, a partir do final da década de 1980, somou-se a ela no panorama do ensino
superior haitiano um grande número de instituições privadas. Com a democratização posterior
ao fim da ditadura dos Duvaliers, o sistema universitário haitiano foi ampliado e diversificado,
com a abertura para a instalação de instituições privadas de ensino superior. Com essa abertura e
o enorme represamento da demanda educacional que havia nesse período, ocorreu uma explosão
no número de universidades, faculdades, escolas superiores e centros educacionais, sem qualquer
possibilidade de controle ou fiscalização por parte do Ministério da Educação Nacional e
Formação Profissional ou de qualquer outra instância institucional.
Foi constatada assim uma diversidade imensa de perfis institucionais e de níveis de qualidade
no ensino e na pesquisa em meio à miríade de instituições de ensino superior ativas no país,
desde centros de pesquisa e formação que não ficavam a dever em nada a seus correlatos
regionais, passando por instituições experimentais que procuravam fazer frente a desafios
22
específicos da paisagem social haitiana, até escolas que enfrentavam cotidianamente dificuldades
insuperáveis ao tentar oferecer a seus alunos mesmo os serviços educacionais mais básicos. Nesse
cenário plural e desregulado, mesmo a Universidade de Estado, reconhecidamente a maior, a
mais antiga e a mais prestigiada das universidades haitianas, enfrentava sérios problemas como
aqueles que afligiam as instituições particulares de ensino superior.
Problemas comuns ao sistema público e privado de ensino superior no Haiti
Como de resto todas as universidades privadas,
tampouco a UEH possuía um campus central e as
faculdades se encontravam dispersas por toda a
cidade, obrigando os alunos a deslocamentos muito
dispendiosos, em termos de tempo e recursos, através
de uma cidade cujos engarrafamentos (já mesmo
antes de o terremoto destruir ou bloquear grande
parte das principais ruas, avenidas e estradas) não
ficavam em nada a dever a qualquer outra caótica
metrópole latino-americana.
Havia uma situação de crise interna em várias
instituições, mas particularmente aguda na UEH,
devido à mobilização dos estudantes em favor de uma
plataforma ampla de reivindicações de reforma
universitária e relacionadas com a política trabalhista
do governo nacional, que, gerando um impasse de
longa duração, ocasionou a interrupção das aulas em
várias faculdades e não poucos enfrentamentos
diretos entre estudantes, funcionários, professores e
administradores e mesmo em alguns casos com a
polícia e capacetes azuis da MINUSTAH (Missão das
Nações Unidas para a Estabilização do Haiti).
Marcada sub-representação e elevada especialização
involuntária feminina em meio ao corpo discente de
praticamente todas as áreas, com a exceção da
enfermagem. A participação das estudantes nos
cursos superiores, seja em outras áreas da saúde, seja
em cursos técnicos ou das ciências humanas, tem-se
mantido extremamente baixo ao longo dos anos, e
isso apesar de um desempenho escolar equiparável
(ou mesmo melhor, diriam muitos) ao dos seus
colegas. Um problema como esse denuncia a
persistência de fatores econômicos e de segurança
envolvidos na decisão das mulheres de deixar o
sistema escolar antecipadamente ou de optar em
meio a um espectro muito estreito de carreiras.
Jamais foi criada uma biblioteca universitária central
e o material bibliográfico utilizado pelos alunos de
todas as áreas era extremamente precário e obsoleto,
fazendo com que tivessem de despender
consideráveis recursos na aquisição de livros
importados. A Biblioteca Nacional não chegava a
representar uma alternativa viável, na medida em
que, apesar da boa vontade de seus funcionários,
contava com instalações e equipamentos muito
precários, com um acervo fragmentário e
desordenado e com coleções que, mesmo antes do
terremoto, estavam armazenadas em péssimas
condições, correndo o risco de serem danificadas.
A pesquisa e a formação de professores era uma
incumbência relegada ao segundo plano por
instituições quase inteiramente voltadas para o
ensino, reproduzindo geração após geração uma
escassez crônica de professores qualificados e de
pesquisadores em número suficiente para sustentar
atividades vitais de investigação, especialmente em
áreas estratégicas para a reconstrução do país e o
desenvolvimento de sua economia, como a gestão de
recursos ambientais, produção de alimentos, manejo
da infraestrutura etc. A carência na limitação de
formação de quadros voltados para a pesquisa na área
das Ciências Humanas se reflete na fragilidade ou
mesmo inexistência de indicadores sociais e
econômicos confiáveis, o que implica numa imensa
dificuldade para a formulação de políticas públicas.
23
Problemas agudos decorrentes do terremoto
Várias faculdades e mesmo universidades inteiras desabaram inteiramente, fazendo perecer,
ferindo, mutilando ou desalojando um grande número de estudantes, professores e funcionários.
Praticamente não existem prédios universitários que não tenham sido afetados pelo terremoto.
Muitos daqueles que não ruíram completamente terão de ser demolidos ou terão de passar por
uma restauração custosa e prolongada. E enquanto não forem demolidos ou restaurados, por
conta dos riscos que representam, os edifícios destruídos ou danificados inviabilizam o uso do
espaço de vários dos campi. Vários outros problemas decorrentes do terremoto se somam a isso.
Muitos dos professores deixaram a cidade ou mesmo
o país e pelo menos metade dos estudantes que
sobreviveram ao terremoto deixou a capital rumo ao
interior do país, à procura de abrigo e apoio junto a
familiares em outras cidades e em pequenas
localidades rurais.
Praticamente se esgotaram os recursos das estruturas
de suporte familiar que asseguravam as condições
mínimas para que os estudantes pudessem se manter
na capital enquanto frequentavam as universidades.
Não existem espaços alternativos suficientes que
possam ser utilizados para a realização de atividades
acadêmicas em caráter provisório, uma vez que
praticamente todos os espaços públicos foram
convertidos em campos de refugiados ou em centros
de atendimento de saúde ou distribuição de
alimentos.
Na medida em que a maioria das instituições ainda
não havia digitalizados seus arquivos (incluindo o
próprio Ministério da Educação Nacional e da
Formação Profissional), o terremoto provocou
também a destruição de grande parte dos arquivos e
registros escolares; os que não foram destruídos
encontram-se numa situação caótica, e deverão
receber um tratamento especial no sentido de
promover sua reorganização.
O terremoto não afetou apenas as instituições de
ensino superior localizadas na capital e em cidades
mais próximas, como Fondwa, Léogâne e Jacmel: boa
parte das escolas de província vinculadas à UEH ou a
universidades privadas com sede na capital tinham
seu corpo docente formado por profissionais que,
estabelecidos e ativos em Port-au-Prince, foram
diretamente atingidos pelo terremoto e encontram-se
impedidos ou limitados no que diz respeito às
possibilidades de deslocamento e de retomada dos
trabalhos nas escolas provinciais. Da mesma forma,
os alunos dessas escolas, embora matriculados em
instituições em suas cidades de origem, deslocavam-
se à capital para realizar parte da sua formação, o que
também foi abruptamente interrompido. Pode-se
supor que as atividades das instituições de ensino
superior localizadas em capitais provinciais como Les
Cayes, Hinche ou Gonaïves, também tenham sido
interrompidas.
Parece haver uma predisposição e algum esforço no
sentido de retomar algumas atividades em tendas e
em módulos pré-fabricados; contudo, serão imensas
as dificuldades desse tipo de iniciativa, desde a falta
de água e eletricidade junto às instalações provisórias
até a presença massiva de refugiados em boa parte
dos terrenos anteriormente ocupados por instituições
de ensino superior.
24
Danos particularmente graves a instituições de ensino superior
Para além de toda a imperiosa necessidade de combinar à reconstrução uma ampla reforma
do sistema universitário haitiano, podemos destacar alguns problemas bastante específicos
gerados pelos danos causados pelo terremoto.
A morte sob os escombros de turmas inteiras de
estudantes em áreas de especialização para as quais
somente havia uma instituição pública de formação,
como no caso da Faculdade de Linguística Aplicada
da UEH ou da Escola Nacional de Enfermeiras de
Port-au-Prince.
A inviabilização das atividades em instituições
altamente estratégicas para os esforços de
reconstrução, como a Escola Nacional de Geologia
Aplicada e o Centro Piloto de Formação Profissional,
onde se formavam profissionais das áreas mais
diversas, como a construção civil, mecânica,
serralheria, carpintaria etc.
A destruição de praticamente toda a infraestrutura de
atendimento médico e cirúrgico, com o colapso da
Faculdade de Medicina e Farmácia e com a iminente
e necessária demolição da quase totalidade dos
edifícios do Hospital Central, que foram seriamente
danificados, e também de outras unidades da UEH,
como a Faculdade de Ciências, que formava os
engenheiros, e a Escola Normal Superior, que
formava professores para os níveis médio e superior.
A destruição de todo o material para o atendimento
ambulatorial na única clínica odontológica pública na
capital, que funcionava e tenta continuar
funcionando na Faculdade de Odontologia da UEH.
São apenas alguns casos para realçar como o terremoto afetou inclusive as condições de
formar os profissionais que poderiam fazer frente aos desafios da reconstrução. Como esses, há
muitos outros. Assim, neste momento (e pelo futuro próximo que se pode vislumbrar), aquilo a
que assistimos é um completo abandono de toda uma atividade e uma camada social e, com a
desmobilização de estudantes e professores por conta da inviabilidade de retomadas das
atividades curriculares, um novo cenário se anuncia, de êxodo de estudantes da capital, de
desmobilização das redes de suporte aos estudantes e destes a toda uma série ampla de atividades
comunitárias e de prestação de serviços em que estão normalmente inseridos.
Com o prolongamento dessas circunstâncias, que chegam mesmo a eclipsar os momentos
mais paralisantes de crise política ou econômica no país (frequentes nas últimas décadas),
podemos estar diante de um processo de retração e atrofia de toda a classe estudantil. E esses
jovens, qualificados e capazes, mas sem perspectivas de poder concluir seus estudos, fatalmente
terão de inventar formas novas de garantir sua inserção social, e não poucos serão recrutados
pelos setores informais e ilegais, que são os únicos a prosperar quando tudo o mais míngua.
Apesar de todas as dificuldades e problemas enfrentados por todos os envolvidos no
funcionamento das universidades haitianas, é preciso reconhecer que, como em qualquer outra
sociedade moderna, o acesso ao ensino superior representa a oportunidade de assegurar um
posto de trabalho qualificado e de desempenhar um papel de relevo em circuitos de difusão do
conhecimento, da informação e da tecnologia. Cientes da envergadura do papel que
desempenham, os estudantes haitianos e suas famílias não medem esforços para iniciar e levar a
bom termo seus cursos universitários, muitos deles optando, em vista do papel incipiente da
pesquisa na paisagem acadêmica, por estender seus esforços a duas ou mais formações
25
simultâneas ou sucessivas. Mesmo no caso dos estudantes das instituições públicas e tendo em
vista as enormes dificuldades em obter um emprego no país, são as famílias e os amigos que têm
de assumir pelos estudantes os ônus de manutenção daqueles que se dirigem à capital para
estudar: moradia, alimentação, vestuário, transporte, material e taxas escolares, livros e tudo o
mais. Assim, não só a destruição das estruturas físicas das instituições de ensino superior, mas
também a retração econômica e a canalização dos fundos de cooperação para ações de
emergência, que invariavelmente relegam ao segundo plano o ensino em geral e o ensino
superior em particular, somam-se às dificuldades perenes da estrutura universitária haitiana para
criar um quadro de poucas esperanças de uma retomada minimamente efetiva das atividades
curriculares.
Tudo isso, somado às dificuldades institucionais de coordenar ações entre distintos setores
envolvidos no sistema de ensino superior, produz um cenário sombrio para a recuperação das
atividades acadêmicas no país caso não sejam mobilizados recursos e parceiros de fora do país.
Os danos foram consideráveis e os recursos são escassos. Seria uma avaliação completamente
desatenta à realidade haitiana presente e inteiramente descolada de uma história de catástrofes e
crises sucessivas no país, que demonstram como os já exíguos recursos que se acreditam
disponíveis para a reconstrução acabam sendo consumidos na manutenção das próprias
estruturas internacionais de cooperação ou se perdendo em complexas e obscuras malhas de
informalidade, desperdício e corrupção em meio às combalidas instituições haitianas. Pela
primeira vez na história do Haiti, as instituições de ensino superior em geral e, em particular, a
UEH ameaça fechar suas portas por um período longo o suficiente para comprometer a formação
de toda uma geração de profissionais. Os efeitos dissociativos que essa quebra na continuidade
da cadeia de transmissão de conhecimentos e capacidades pode produzir sobre a estabilidade e o
funcionamento dos circuitos econômicos e das redes de solidariedade na sociedade haitiana
somente podem começar a ser aventados. No entanto, absolutamente nada do que se pode ver
nos esforços recentes de mobilização e canalização de recursos ao Haiti permite prenunciar
qualquer coisa diferente do que vinha sendo realizado no período anterior à catástrofe.
26
Problemas crônicos no relacionamento entre instituições haitianas e internacionais
Caráter excessiva e desnecessariamente militarizado
da presença internacional no país, com uma
priorização injustificada dos recursos para questões
de segurança, em franco detrimento das demandas e
necessidades de educação e infraestrutura.
Incompetência técnica, nenhum compromisso com
resultados e gritante ignorância da realidade local por
parte das agências internacionais e clientelismo e
passividade nas instituições locais haitianas.
Distância intransponível em termos de comunicação,
prioridades e configuração funcional entre o universo
institucional da cooperação internacional e as
instituições locais haitianas.
Irresponsabilidade política e funcional de todos os
agentes nacionais e internacionais envolvidos na
implementação de ações e programas de intervenção,
o que favorece amplamente o desperdício de
recursos, a corrupção e a incompetência.
Por tudo isso, o que se pode esperar e temer é que, passado este primeiro semestre de 2010 em
que certamente nada ocorrerá nas faculdades e universidades haitianas, tenha início uma fase de
rotinização das novas circunstâncias de miserável precariedade a que foram lançados os
estudantes, professores e funcionários.
Inicialmente, houve uma ampla mobilização voluntária dos estudantes da capital para se
envolver na remoção de escombros, no resgate de mortos e feridos e atendimento às vítimas do
terremoto, na organização e no manejo de campos de refugiados, no acompanhamento das
incipientes ações de implementação de novas diretrizes institucionais. Contudo, num ambiente
de tal forma marcado por uma extrema escassez de recursos, mesmo iniciativas assim dependem
de apoio externo ao universo das universidades. Somente com o envolvimento de parceiros
comprometidos com a reconstrução das instituições é que será possível fazer frente às extremas
dificuldades atuais, sem com isso reforçar os problemas crônicos do sistema.
São inúmeras as áreas em que a comunidade acadêmica e científica brasileira teria muito a
oferecer, tanto em termos de envolvimento na formação de estudantes haitianos, que poderiam
se beneficiar de bolsas de estudo para concluir sua formação em instituições brasileiras ou para
dar continuidade a eles em programas de pós-graduação, como em termos de cooperação mais
direta, com o envio de grupos de pesquisadores, professores, técnicos e especialistas para se
envolverem diretamente com iniciativas de reconstrução e para orientarem programas
incipientes de formação local, adaptados à premência das novas necessidades geradas pelo
terremoto, que aos poucos vão sendo concebidos e implementados. Algumas áreas se destacam
como mais carentes de apoio neste momento.
27
Áreas de carência mais aguda
Formação de pessoal de saúde (especialmente nas
áreas de cirurgia, enfermagem e odontologia, mas
também com atenção especial a programas de saúde
pública preventiva similares às iniciativas de
formação de agentes de saúde).
Conservação, manejo e recuperação de solos e de
recursos hídricos.
Engenharia de alimentos, ciências do meio ambiente,
agronomia, zootecnia.
Engenharia civil.
Formação técnica e profissionalizante, especialmente
em áreas vitais para a construção civil.
Linguística.
Destaca-se igualmente a necessidade de consolidação de uma instituição de referência para o
intercâmbio cultural entre o Brasil e o Haiti, com o recrutamento e a formação de pessoal
qualificado para garantir a continuidade e a eficiência das iniciativas de cooperação, sem o
paternalismo, o unilateralismo e o amadorismo que tão insistentemente tem maculado tais
iniciativas, não importando se as boas intenções vêm do Brasil ou de qualquer outro país.
28
Recomendações para ação imediata junto às instituições de ensino superior
Recomendações gerais
Instâncias de gestão universitária no Haiti e circulação de informação
Um número não desprezível de avaliações e iniciativas vem sendo discutidas por distintas
agências de cooperação e parceiros de diferentes nacionalidades junto às instituições de ensino
superior haitianas. Em geral, trata-se de debates descoordenados e que parecem se esgotar no
próprio debate, não havendo um acompanhamento global das mudanças em curso e nem sequer
a superação das fases iniciais em que se elaboram pautas de intenções, expressas em infindáveis
seminários e encontros. Como não poderia deixar de ser, o resultado é paralisia, sobreposição de
propostas e iniciativas que raras vezes saem do papel, mal uso de recursos, desconsideração das
necessidades efetivas e emergenciais do quadro docente e discente das instituições de ensino
superior, favorecimento de conflitos entre instâncias de gestão do sistema educacional haitiano e
enfraquecimento das instâncias de gestão do campo do ensino superior no Haiti.
As instâncias responsáveis pela gestão do ensino superior, muitas vezes com incumbências
não somente consultivas, mas inclusive normativas e administrativas, que se sobrepõem –
Direção da Educação Superior e da Pesquisa Científica do Ministério da Educação Nacional e da
Formação Profissional (DESRS/ MENFP), Reitoria da UEH, Conferência dos Reitores e
Presidentes das Universidades do Caribe (CORPUCA), Grupo Setorial da Educação da
Presidência da República (GSE) etc. –, jamais chegaram a se consolidar como instâncias
operantes e já estavam fragilizadas antes mesmo do terremoto de 12 de janeiro de 2010. Após o
terremoto, a situação se deteriorou ainda mais, com a morte de quadros, o colapso das próprias
instalações do MENFP, da Reitoria da UEH, da CORPUCA e dos órgãos executivos situados
junto ao Palácio Presidencial, assim como a perda da quase totalidade dos arquivos relacionados
ao funcionamento das instituições de ensino superior.
A intervenção junto ao ensino superior no Haiti deve, portanto, ser realizada tendo em conta
toda a diversidade interna, as sobreposições e mesmo contraposições em meio a esse campo de
instâncias gestoras. As agências de fomento internacionais devem estar atentas a esta diversidade
interna e aos possíveis conflitos disso decorrentes. Mas devem sobretudo ir além de uma mera
retórica ou da assinatura de protocolos, realizando constantemente avaliações conjuntas das
iniciativas em curso, corrigindo erros, superando disputas desnecessárias, fortalecendo instâncias
locais com incumbências claramente definidas e promovendo uma relação dinâmica entre os
distintos polos do que devem ser cooperações bilaterais ou multilaterais.
Com o propósito de evitar a sobreposição de iniciativas e enfatizar as necessidades reais das
instituições acadêmicas haitianas, é conveniente um acordo com outras organizações
internacionais que estão estabelecendo parcerias e destas com as instâncias haitianas no sentido
29
de criar uma instância minimamente centralizada, que contasse com legitimidade e aceitação
tanto junto às instituições públicas de ensino, como junto às instituições privadas e junto às
agências internacionais de cooperação, e que pudesse servir de referência para a avaliação e a
análise das iniciativas em curso no âmbito da educação superior no Haiti.
Essa instância, uma espécie de Observatório do Ensino Superior, teria um caráter
predominantemente consultivo. Contando, porém, com a participação de membros chave de
todas as outras instâncias gestoras, poderia atuar também no sentido de elaborar avaliações e
propor mudanças normativas no ambiente gestor do sistema universitário. Seu objetivo seria,
portanto, não de gestão, mas de coleta, sistematização e disponibilização de dados referentes ao
campo do ensino superior no Haiti. Seu trabalho favoreceria a elaboração de diagnósticos cujo
propósito seria apoiar atuação no longo prazo, na formação de quadros e na recuperação e
criação de estruturas de apoio e acompanhamento, daria suporte às instâncias haitianas na
realização de estudos mais aprofundados sobre a situação atual e sobre os desafios futuros do
ensino superior no país, além de apoiar a criação de um sistema de avaliação do sistema de
ensino superior no Haiti.
Recomendações específicas ao Programa Pró Haiti
Cooperação bilateral na área do ensino superior
Em consonância com um projeto de cooperação
bilateral realmente dinâmico, o programa deve
prever a vinda de estudantes, técnicos e professores
haitianos para o Brasil, bem como a ida ao Haiti de
quadros técnicos, profissionais e acadêmicos
brasileiros em distintas fases da sua formação.
Considerando a precariedade dos equipamentos
universitários no Haiti, qualquer forma de
intercâmbio deve levar em conta a necessidade de
apoiar as instituições haitianas no que diz respeito à
recomposição emergencial de sua infraestrutura
física, ainda que em caráter provisório, para que
quaisquer atividades acadêmicas possam ser
desenvolvidas imediatamente.
As linhas de apoio devem ser estabelecidas
diretamente com alunos e professores, evitando a
criação de uma relação privilegiada de parceria com
uma ou mais instituições de ensino, pesquisa ou
cooperação, públicas ou privadas, governamentais ou
não governamentais; o favorecimento institucional
de parcerias nesses termos involuntariamente
favoreceria suspeitas de clientelização do programa.
Cada etapa do programa deve ser objeto de reflexão,
validação e avaliação sistemáticas, que devem
envolver profissionais de ambos os países e
representantes das comunidades acadêmicas
envolvidas.
30
Implementação do programa de bolsas
A concessão de bolsas de graduação deve ser
compreendida como parte de um plano mais amplo
de formação, privilegiando:
(a) aqueles que estavam nas fases conclusivas do
curso superior;
(b) aqueles que revelem uma propensão à pesquisa e
ao envolvimento na formação continuada de novos
quadros;
(c) as áreas mais afetadas pelo terremoto;
(d) as áreas que terão um impacto mais imediato e
duradouro no processo de reconstrução.
O programa não deve ser implementado de uma só
vez, deve ser escalonado temporalmente e não deve
se esgotar com apenas um ciclo de intercâmbio: cada
leva sucessiva de beneficiários deve participar na
implementação das etapas ulteriores (seleção de
novos candidatos, avaliação do programa, divulgação
das experiências adquiridas, recrutamento para
atividades de tutoria e docência etc.), incorporando
os beneficiários em sua própria reprodução.
Aqueles contemplados pelo programa devem poder
se inserir em outras iniciativas do próprio sistema
universitário brasileiro (pós-graduação, grupos de
pesquisa, cursos técnicos etc.), fazendo valer assim o
seu esforço em meio a um processo mais amplo e
duradouro de formação, explicitando aos envolvidos
que sua participação representa não o resultado de
uma iniciativa episódica, mas a oportunidade de
adentrar uma trajetória acadêmica e profissional
marcada pela circulação entre os dois países.
Processo seletivo
O processo seletivo deve ser o mais transparente e
democrático possível, evitando o favorecimento de
redes pessoais e institucionais já existentes e que já
são tradicionalmente favorecidas.
Todas as etapas do programa devem ser gratuitas.
Deve contar com o apoio das redes de alunos para sua
divulgação, com anúncios no rádio e promoção de
redes de comunicação via telefone celular: boa parte
dos alunos está dispersa entre campos de refugiados e
casas de parentes e amigos, na capital e no interior.
Qualquer mecanismo seletivo deve ter presente a
dificuldade dos estudantes para reunir documentos
referentes ao seu histórico escolar e mesmo outra
sorte de documentos (certidões de nascimento,
carteiras de identidade e, sobretudo, passaporte).
O processo seletivo deve ser uma oportunidade para
envolver no programa intelectuais e profissionais
reconhecidos e prestigiados no Haiti, o que garantirá
não apenas idoneidade ao processo, como também
uma maior repercussão do programa.
Deve ser implementado com prazos de inscrição
razoáveis que tenha em conta as dificuldades próprias
de um país nas condições do Haiti após o terremoto.
Para fins de comprovação do desempenho acadêmico
pregresso, o histórico escolar deve poder ser
apresentado parcialmente, substituído ou
complementado por um memorial elaborado pelo
próprio estudante, por um programa de estudos, um
projeto de pesquisa, cartas de recomendação; em
razão do impacto diferenciado do terremoto, a
documentação que embasa as candidaturas não pode
ser objeto de uma padronização com base em
critérios burocráticos abstratos e homogêneos.
O processo seletivo não deve, de forma alguma, ser
condicionado à renda mínima do candidato, o que
excluiria de entrada mais de 90% dos possíveis
estudantes, reproduziria a desigualdade local e
acabaria por apoiar uma camada ínfima que já circula
internacionalmente e que não necessariamente
retornará ao país após a formação.
31
Etapas da seleção
1. Triagem (pré-seleção):
Uma primeira seleção pode incorporar como critérios
o desempenho acadêmico pregresso, um plano de
estudos e uma entrevista.
A impossibilidade de comprovação de documentos
deve poder ser compensada pela apresentação de um
memorial bem fundamentado, que conte com a
chancela de professores e cartas de recomendação.
A entrevista deve ser realizada por um colegiado que
conte com a presença de quadros brasileiros e
haitianos e deverá ser feita em kreyòl, caso assim
deseje o candidato, sendo a única língua falada com
desenvoltura por todos os haitianos; uma entrevista
em francês pode condicionar a demanda a uma
camada de elite; no caso dos participantes brasileiros
no colegiado não terem conhecimento do kreyòl, intérpretes devem ser mobilizados;
2. Treinamento (seleção final em ambiente de trabalho acadêmico binacional)
Uma segunda etapa da seleção deve ocorrer no
formato de uma oficina com a duração de alguns dias,
envolvendo seminários, grupos de trabalho e
discussão.
O desempenho de cada candidato pré-selecionado
seria avaliado no interior de uma equipe
multicultural que poderia, progressivamente,
incorporar aqueles que retornam do Brasil para o
Haiti.
Seriam beneficiados por essas atividades tanto os
candidatos haitianos quanto os pesquisadores, pós-
doutorandos e docentes brasileiros envolvidos no
programa.
O CCHB poderia ser o espaço adequado para a realização das etapas de triagem e treinamento
no processo de seleção, mas as condições adequadas para tanto devem ser reunidas, com a
dedicação exclusiva das dependências do Centro para as atividades de seleção durante o período
necessário, com garantias de não interferência da parte de outras instâncias institucionais do
governo brasileiro (a embaixada e os destacamentos militares de segurança do pessoal
diplomático) que possam ainda estar compartilhando o espaço com o Centro em caráter
provisório.
Centro Cultural Haitiano-Brasileiro
Dado o realce a ser obtido pelo Centro Cultural Haitiano-Brasileiro como instância de
referência em todos os processos de cooperação e intercâmbio acadêmico e científico a serem
implementados no quadro do Programa Pró Haiti, é de suma importância que algumas de suas
carências sejam levadas em consideração ao se contemplar seu envolvimento nessas iniciativas
de cooperação bilateral:
Suas atividades devem ocorrer no âmbito de um
espaço marcadamente próprio, distante das
implicações em termos de segurança envolvidos pela
partilha do espaço com instalações consulares ou
militares.
Na medida em que o caráter da presença brasileira no
Haiti é múltiplo e objeto de debate e polêmica,
iniciativas acadêmicas devem ser pautadas por um
alto grau de autonomia.
A seleção de pessoal para essa instituição chave deve
refletir suas novas atribuições e não deve levar em
conta somente a demanda difusa pelo ensino não
especializado da língua portuguesa para estrangeiros,
mas principalmente a seleção e constituição de uma
equipe de quadros de reconhecida formação
acadêmica, cientifica e cultural para responder as
demandas do amplo leque de atividades previstas no
programa de cooperação.
32
Apoio às instituições universitárias que receberão professores brasileiros no Haiti
Mesmo antes do início da implementação da fase do
programa que envolveria o envio de professores e
pós-doutorandos brasileiros para atuarem junto às
instituições universitárias haitianas, deve ser
oferecido apoio material direto às faculdades, escolas
e centros de formação que serão contemplados no
sentido de favorecer o reinício imediato de atividades
de caráter acadêmico, mesmo em instalações
provisórias, em alguns casos com a construção de
instalações emergenciais nos terrenos que rodeiam os
edifícios destruídos (como no caso da Faculdade de
Ciências Humanas, por exemplo). Essas instalações
emergenciais poderiam ser construídas, a partir de
contêineres equipados com escotilhas de iluminação
e ventilação ou com ar condicionado, para abrigar
laboratórios, arquivos e atividades de pesquisa e
administrativas, e a partir de tendas para abrigar salas
de aula.
Ao longo de todas as iniciativas de intercâmbio, deve
ser oferecido apoio ao esforço de consolidação
daquele que virá a ser o novo campus central da
UEH, em Damien, na área atualmente ocupada pela
Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária.
Para a retomada das atividades acadêmicas e para a
congregação de alunos e professores nos campi,
devem ser contempladas condições mínimas de
abastecimento de eletricidade, alimentos, água e
comunicações na área para tanto destinada.
Os meios de comunicação privilegiados para a
circulação de informações referentes a todas as etapas
iniciais do projeto devem ser o rádio, para a
divulgação, e o telefone celular, para a recepção de
informações, pois correspondem no momento atual,
e continuarão a corresponder no futuro próximo, aos
meios de comunicação com maior alcance e com
maior facilidade de acesso.
Acompanhamento e apoio aos estudantes selecionados para o programa de bolsas
O período envolvido entre a seleção, o treinamento e
o embarque é marcado por grande ansiedade; durante
todas essas fases, os alunos devem ter a possibilidade
de dirigir suas dúvidas às instâncias consulares e tê-
las resolvidas por um funcionário preparado para
tanto.
Os alunos selecionados devem receber um apoio
específico em Port-au-Prince antes do embarque,
onde devem receber informações sobre o Brasil e
também sobre as instituições que os receberão.
Essas informações não devem se restringir a uma
formação básica no que diz respeito à língua
portuguesa, mas também devem ter como propósito
uma primeira aproximação às condições concretas de
estudo e trabalho no Brasil, superando narrativas
recorrentes de promoção da cultura nacional
apoiadas em mitos da cordialidade e da tolerância,
frequentemente alimentados por instituições
governamentais e não governamentais brasileiras
atuantes no exterior: por exemplo, é fundamental
que os alunos sejam informados acerca das formas
específicas que assumem o preconceito racial e a
xenofobia no Brasil.
33
Apoio aos estudantes no Brasil
O início das atividades regulares deve ser precedido
de um período de pelo menos um semestre letivo
(quatro meses) de estudo intensivo da língua
portuguesa que, numa primeira fase de
implementação do programa, deve ser oferecido por
uma ou várias universidades brasileiras;
posteriormente, e na medida em que melhorem as
condições do país e se consolide a configuração
institucional e profissional do CCHB, o curso de
português pode ser oferecido no Haiti, o que
implicaria certamente numa reestruturação ou
ampliação ulterior do Centro Cultural.
As instituições receptoras devem assegurar aos
beneficiários do programa acompanhamento e uma
instância de apoio à qual recorrer sempre que
necessário; esta instância deve estar preparada para
orientá-los em relação a todos os problemas
normalmente enfrentados por estudantes
estrangeiros no Brasil: mediação com a agência de
fomento, com as demais instâncias universitárias,
com instituições governamentais e bancárias, com as
instâncias responsáveis pela regularização da
documentação de estrangeiros no país.
Também no Brasil, deve haver um acompanhamento
e um esclarecimento constantes dos estudantes em
relação às configurações específicas do preconceito
racial e da xenofobia no país.
As universidades e instituições brasileiras de ensino
superior que recebam os alunos devem favorecer e
facilitar, na medida do possível, a moradia, a
alimentação, o transporte e os cuidados de saúde dos
estudantes, de forma que o máximo possível do valor
da bolsa possa ser utilizado para gastos pessoais ou
para a aquisição de material suplementar que seja útil
em sua formação.
Independente da área de especialização, os alunos
devem receber um apoio continuado, sendo
devidamente esclarecidos sobre as possibilidades de,
verificadas as condições de adaptação ao país e às
instituições receptoras e de bom desempenho
acadêmico, eventualmente estender, ampliar ou
aprofundar sua formação acadêmica e profissional no
país.
34
Conclusão do programa e retorno ao Haiti
O retorno ao Haiti deve ser pensado em vista da
inserção dos estudantes egressos do programa no
processo de reconstrução não só do próprio ensino
superior, mas também de outras áreas e instituições
severamente afetadas pelos terremotos, mas também
pelas sucessivas crises pelas quais passou o país nas
últimas décadas.
O processo de reconstrução ao qual esses estudantes
devem ser integrados e ao qual devem oferecer sua
contribuição deve ser compreendido como algo
muito mais amplo do que apenas a retomada de uma
normalidade precária no sistema universitário.
Após seu retorno, os alunos devem receber todo o
acompanhamento e o apoio necessários para
procurarem envolver-se em projetos em curso
relacionados às áreas de sua especialização.
O CCHB deve servir como uma instância de
referência também sob esse aspecto e deverá oferecer
aos estudantes possibilidades de manutenção e
aperfeiçoamento dos conhecimentos adquiridos em
termos linguísticos, deve oferecer acesso a material
informativo, bibliográfico e acesso a acervos
eletrônicos disponíveis online.
No final de seu envolvimento direto com o programa,
cada beneficiário deve apresentar um relatório
conclusivo detalhado, no qual descreva as atividades
realizadas, as expectativas de continuidade da
formação acadêmica e profissional e apresente
críticas e sugestões relacionadas ao próprio programa.
Ao longo da fase conclusiva do envolvimento de cada
turma de estudantes no programa, eles devem ser
orientados quanto às possibilidades concretas de
engajamento profissional ou acadêmico no Haiti ou
quanto à continuidade de sua formação junto a
instituições brasileiras de ensino superior; por
exemplo, os alunos que concluíram a graduação
devem ser informados quanto á possibilidade de
estudos de especialização e pós-graduação no Brasil e
sobre os requisitos para cada uma dessas
oportunidades.
Sempre que possível, os beneficiários devem ser
preferencialmente envolvidos como colaboradores no
andamento do próprio Programa Pró Haiti,
trabalhando no preparo de outros estudantes
interessados na vinda ao Brasil, e também de outros
programas implementados por agências ou
instituições brasileiras no quadro do processo de
reconstrução. Inclusive esse tipo de envolvimento
pode servir como uma oportunidade de engajamento
profissional transitório.
35
Áreas prioritárias emergenciais
Entre as áreas destacadas, não há uma ordem de prioridade e, como ficará claro ao longo deste
relatório, todas as áreas, unidades e instituições foram, de uma forma ou outra, severamente
afetadas pela catástrofe.4 As áreas que devem ser priorizadas no processo inicial de seleção dos
estudantes beneficiários do programa de bolsas e no envio de docentes, pós-graduandos e pessoal
especializado para contribuir na retomada das atividades acadêmicas foram definidas com base
em avaliações do impacto do terremoto e nos resultados de discussões com especialistas,
professores, estudantes, funcionários do governo haitiano e com funcionários de agências e
organizações internacionais mais diretamente envolvidos na elaboração de diagnósticos
situacionais e planos setoriais de reconstrução.5
4 Uma atenção especial é devida à área da enfermagem, pois a Escola Nacional das Enfermeiras de Port-au-Prince
foi completamente destruída, com perdas humanas consideráveis entre as alunas e o corpo docente, o que
prenuncia não somente uma paralisação total no funcionamento dessa área de formação, como também uma
interrupção na cadeia de transmissão intergeracional de conhecimentos e práticas profissionais, ainda mais ao se
levar em conta que as faculdades privadas de enfermagem também foram seriamente afetadas. No que diz respeito à
formação de profissionais médicos, cabe destacar que nenhuma faculdade havia sido mais afetada pela crise
universitária, pela greve dos estudantes e pelas disputas entre estudantes e professores do que a Faculdade de
Medicina e Farmácia da UEH, o que fazia com que, já mesmo antes do terremoto, suas atividades estivessem
paralisadas há meses. O terremoto afetou severamente sua estrutura física e destruiu o maior hospital do país,
também ligado à universidade, que continua funcionando precariamente em tendas instaladas por organizações
internacionais no estacionamento. Também a Faculdade de Odontologia, apesar de haver sido praticamente a única
faculdade da UEH a ter seu edifício poupado pelo terremoto, perdeu todo o material de ensino e de prática
odontológica que possuía. Mesmo a despeito da extraordinária tradição de formação de profissionais de destaque
nessa área no Haiti, essas interrupções no ciclo de formação de profissionais médicos, de farmácia, de enfermagem,
de odontologia e de saúde preventiva, soma-se a uma escassez crônica de profissionais de saúde, tanto na capital
como no interior do país, para consolidar e reforçar ao extremo um cenário que já antes do terremoto era
desesperador. Com relação ao campo específico da obstetrícia, cabe destacar que a mortalidade infantil é
extremamente alta no Haiti, com uma incidência altíssima de letalidade decorrente do parto, o que também se
reflete na mortalidade materna decorrente do parto, a mais alta das Américas.
5 A Escola Normal Superior, principal núcleo de formação de professores do país, foi arrasada. Existia nessa
instituição uma tradição consolidada de receber pesquisadores e professores estrangeiros, inclusive brasileiros, para
atuar na formação de estudantes de licenciatura. Esse mecanismo pode ser reavivado de uma maneira sistemática no
quadro da implementação do intercâmbio entre instituições brasileiras e haitianas. A Faculdade de Linguística
Aplicada da UEH (FLA) foi completamente destruída, com um número dramático de mortos em meio ao corpo
discente e docente, assim como a Universidade Caraïbe, privada, que contavam com um importante núcleo de
linguística. No Brasil, há centros de linguística de excelência, que revelam reconhecido interesse no estudo de
línguas crioulas. O intercâmbio nessa área pode revelar-se particularmente profícuo, com um intercâmbio de
professores, estudantes e pesquisadores que produzirá uma série de benefícios diretos para as instituições
envolvidas. Deve ser salientada a importância da FLA no universo institucional haitiano, pois é no interior dessa
instituição que se elaboram os projetos de universalização do ensino do kreyòl e é nela que se formam os quadros
que procuram implementá-los: produção de material pedagógico e de alfabetização infantil e de adultos, formação
de professores etc. Após um diagnóstico amplamente aceito de que o fracasso de sucessivos projetos de alfabetização
e os persistentes baixos níveis de escolaridade no Haiti se deviam, em grande medida, à forma como o francês é
forçosamente incorporado ao sistema de ensino, sem que contudo o seja de forma acessível ou eficaz. No momento,
já está em andamento na Unicamp a institucionalização do primeiro curso de kreyòl numa universidade brasileira e,
no quadro do mesmo projeto, terá início a elaboração do primeiro dicionário kreyòl – português.
36
A partir da consolidação de constatações e demandas dos envolvidos e afetados, dois critérios
foram aplicados para definir o escalonamento de prioridades:
a) aquelas áreas que oferecem oportunidades de contribuir mais direta, imediata e
sustentavelmente com a reconstrução do país, como a gestão de recursos territoriais e
naturais, a construção civil e a tecnologia de comunicações e de informação; e
b) aquelas áreas que foram mais diretamente afetadas pelos terremotos e que não serão
capazes de se restabelecer sem um decisivo e comprometido envolvimento de programas e
mecanismos de cooperação e intercâmbio, como a saúde, a linguística e a pedagogia.
Áreas prioritárias emergenciais
Saúde:
Saúde pública preventiva e formação de agentes
de saúde
Enfermagem
Cirurgia
Prostética
Obstetrícia
Recursos linguísticos e pedagógicos:
Formação de linguistas e tradutores
Formação de professores
Gestão de recursos territoriais e naturais:
Planejamento urbano e saneamento básico
Recursos ambientais e engenharia florestal
Agronomia, veterinária e zootecnia
Engenharia de alimentos
Conservação, manejo e recuperação de solos e de
recursos hídricos
Construção civil:
Engenharia civil e arquitetura
Cursos técnicos de construção civil, edificações e
materiais
Tecnologia de comunicações e de informação:
Integração de sistemas e redes
Programação e manejo de software livre
Biblioteconomia e gestão de acervos e arquivos
37
Continuidade do programa e etapas ulteriores de implementação
Já nas primeiras fases de implementação do Programa
Pró Haiti será fundamental contar com o
envolvimento das universidades e escolas do sistema
federal de ensino técnico no Brasil. E, à medida que
as etapas sucessivas do programa forem
implementadas, tornar-se-á crescentemente
importante que outros setores do sistema de ensino
superior brasileiro sejam incorporados
progressivamente e possam oferecer sua contribuição
ao esforço conjunto de cooperação no processo
haitiano de reconstrução, com o comprometimento
de instituições brasileiras como SESI, SENAI, SESC,
SENAC etc.
Na medida em que haja boa receptividade e
avaliações positivas sobre o desempenho do
programa, em especial no que diz respeito ao
intercâmbio de professores e pós-graduandos nas
áreas de formação de educadores, deve ser
contemplada a possibilidade de uma expansão do
modelo e dos mecanismos aqui propostos para
abarcar também a formação, o treinamento e o
aperfeiçoamento de quadros do sistema haitiano de
ensino básico e médio.
Tanto para a implementação do Programa Pró Haiti,
quanto para o acompanhamento de seus resultados e
para a consolidação de parcerias binacionais e
multinacionais na área do ensino e da pesquisa
universitária envolvendo pesquisadores e pós-
graduandos brasileiros, será fundamental que seja
estabelecido no Haiti – seja em Port-au-Prince, em
Damien, ou em qualquer localidade nos arredores da
capital – um escritório de baixo custo de manutenção
que sirva como uma base de pesquisa no país,
preparado para receber, acomodar e oferecer
condições mínimas de trabalho a pesquisadores de
distintas áreas que se desloquem do Brasil ao Haiti
para estágios de pesquisa ou de trabalho e que servirá
como referencial a todos os envolvidos nos diversos
programas brasileiros de cooperação e intercâmbio.
Para tanto, em termos materiais, bastariam dois
contêineres com ar condicionado, um deles com
beliches e sanitários, o outro com computadores e
mesa de trabalho.
38
Outras áreas de atuação
Ensino à distância e bibliotecas móveis As bibliotecas existentes na capital eram extremamente
precárias e foram em grande medida destruídas. Deve-
se pensar em acervos circulantes ou eletrônicos a serem
incorporados pelas futuras bibliotecas haitianas,
contendo uma pletora de clássicos e dos textos básicos
que os alunos necessitam para o seu dia a dia na
universidade. Circunstâncias geográficas, assim como a
distribuição populacional e econômica extremamente
desigual, estimularam diversas organizações e
instituições no Brasil a promover um alcance
relativamente amplo das excelentes ferramentas
educacionais e culturais representadas pelas bibliotecas
móveis e pelas redes eletrônicas ou digitais de ensino à
distância. Poderiam ser estabelecidos canais com as
agências de cooperação francesa, canadense, belga e
suíça, que forneceriam os livros e o conteúdo
pedagógico em língua francesa e kreyòl, e o Brasil
ofereceria a tecnologia, a experiência e o pessoal que
inicialmente implantaria o projeto, que
simultaneamente treinaria o pessoal haitiano que, tão
logo quanto possível, assumiria a gestão da iniciativa.
Também nessas iniciativas deve ser priorizado o acesso
a acervos em kreyòl.
Acesso a portais de bibliotecas e acervos digitalizados
Os laboratórios de informática das universidades
poderiam ter acesso assegurado aos grandes portais de
revistas e publicações científicas através de um sistema
correlato ao que a CAPES já oferece às universidades
brasileiras através de seu Portal de Periódicos, que, da
mesma forma como já possui uma versão em espanhol,
poderia oferecer uma versão em francês ou kreyòl. Deve-se avaliar a possibilidade de obter junto aos
provedores desses portais a concessão, em caráter
extraordinário, de licenças gratuitas às universidades
haitianas, assim como a integração dessa ferramenta
com iniciativas de digitalização projetadas por outras
agências de cooperação.
Banco de projetos
Deve ser criada uma instância de referência para
informar e instruir sobre as oportunidades de pesquisa e
extensão universitária contempladas no Programa.
Preferencialmente baseada no portal eletrônico da
CAPES, permitirá que pesquisadores, professores,
estudantes e profissionais interessados em desenvolver
atividades de pesquisa conjunta ou intercâmbio no
quadro da cooperação interinstitucional do Programa
Pró Haiti possam se inteirar de projetos em curso e de
possibilidades de parceria.
Capacitação profissional, acesso digital e difusão
cultural
É incontrastável o sucesso que atestam todas as
iniciativas já realizadas em torno da implantação de
bibliotecas comunitárias ou itinerantes e dos Centros de
Leitura e Animação Cultural (CLAC's). A quem quer
que visite um desses centros de difusão cultural
parecerá difícil acreditar estar de fato no país com a
maior taxa de analfabetismo no hemisfério, de tal forma
lotados de crianças, jovens e adultos se encontram esses
locais, não importando o horário do dia ou o dia da
semana, em busca do acesso a livros, jornais, revistas e a
toda uma série de atividades culturais relacionadas à
literatura que ali se oferecem. A Organização
Internacional da Francofonia (OIF), que já apoiou a
criação de mais de 200 CLAC's em 18 países
francófonos, reconheceu em 2007 que em nenhuma
outra parte eles são tão intensamente frequentados e
utilizados como no Haiti. Diante do sucesso dos
primeiros 10 desses centros (nos Departamentos da
Artibonite, do Noroeste, do Norte e do Oeste), o
Ministério da Cultura e das Comunicações do Haiti
(MCC) e o Instituto de Proteção do Patrimônio
Nacional (ISPAN) haviam definido metas de
implantação de outros 30, especialmente nos
Departamentos Sul e Sudeste. Trata-se certamente de
uma experiência a ser apoiada e ampliada e tanto a
experiência como a tecnologia de que dispõe o Brasil na
criação dos Pontos de Cultura pode ser utilizada no
fortalecimento de iniciativas dessa natureza. Nos
moldes dos centros existentes no Brasil e apoiando-se
no plano de criação dessa rede ampliada, o Programa
Pró Haiti poderia desempenhar um papel decisivo no
engajamento de estudantes, estagiários, técnicos, artistas
e produtores culturais haitianos na gestão e manutenção
desses pontos de referência para o desenvolvimento de
atividades educativas, artísticas e culturais. Também nos
moldes de experiências bem sucedidas realizadas no
Brasil, outra frente de difusão cultural poderia ser
constituída com a mobilização de estudantes
universitários das mais diversas áreas, fornecendo-lhes
um conjunto básico de equipamentos para permitir que
estabelecessem pontos de acesso à internet e a recursos
midiáticos. Criados, geridos e mantidos pelos
estudantes, ao mesmo tempo em que servissem como
catalisadores de oportunidades de trabalho, capacitação
e treinamento profissional, poderiam operar como
pontos de referência para a implementação dos próprios
programas de ensino à distância e de formação de
educadores, agentes de saúde e outros profissionais
multiplicadores.
39
Metodologia, etapas e circunstâncias do levantamento de dados
Para a realização desta avaliação, diferentes abordagens foram combinadas para fazer frente à
precariedade das condições para a realização de qualquer pesquisa na cidade de Port-au-Prince e
em seus arredores e às dificuldades enfrentadas por pesquisadores, colaboradores e informantes
para cumprir os objetivos definidos para este estudo. Para além de informações coletadas junto a
professores e estudantes universitários haitianos desde o momento imediatamente posterior ao
terremoto, foi realizado um levantamento cuidadoso da extensão do impacto sofrido por cada
uma das instituições recenseadas. Em que pese a enorme concentração de instituições
universitárias na capital e seus arredores imediatos, algumas instituições diretamente afetadas
pelo terremoto se distribuem com relativa dispersão numa área mais ampla da região atingida
pelo terremoto. Visitar suas sedes (senão o que delas havia restado) e contatar e entrevistar seus
representantes exigiu deslocamentos por uma área que se estendeu, pra além de Port-au-Prince
e sua área metropolitana, às cidades de Léogâne, Fondwa e Jacmel. A etapa de coleta de dados,
imagens e documentação diretamente junto às instituições afetadas se estendeu de 7 a 28 de
fevereiro de 2010, abrangeu diversas localidades na área afetada pelo terremoto e compreendeu:
análise de estudos publicados anteriormente sobre a evolução do ensino superior no país;
participação nas reuniões realizadas por instâncias de governança interuniversitária e por instâncias
gestoras do sistema universitário para discutir medidas de avaliação do impacto do terremoto e
providências a serem tomadas para a obtenção de recursos para a retomada das atividades acadêmicas e
para a reconstrução;
entrevistas com estudantes, professores, funcionários e administradores das instituições recenseadas e dos
órgãos gestores e consultivos do sistema universitário haitiano;
sucessivas visitas às sedes das instituições afetadas pelo terremoto – pelo menos duas, uma na primeira e
outra na segunda semana da pesquisa, e pelo menos uma das quais na companhia de membros do corpo
docente e discente;
registro fotográfico exaustivo e videográfico parcial dos danos materiais causados às instituições
recenseadas e das providências de remoção dos escombros, remoção e identificação de corpos
remanescentes de vítimas soterradas e recuperação de equipamentos e documentos;
reuniões de discussão aprofundada com representantes discentes das instituições públicas recenseadas e das
mais importantes instituições privadas, aos quais foram aplicados questionários qualitativos sobre a situação
das universidades antes do terremoto, a dimensão de seu impacto e as expectativas quanto às iniciativas de
reconstrução;
verificação contrastiva com um levantamento paralelo de dados quantitativos, realizado por estudantes
qualificados selecionados entre os entrevistados e os participantes das reuniões de discussão aprofundada –
pelo menos um representante por instituição, mas frequentemente duplas de representantes – sobre a
extensão dos danos pessoais, materiais e documentais em cada instituição;
validação preliminar dos resultados num seminário de avaliação realizado na sede do Centro Cultural
Haitiano-Brasileiro, no dia 26 de fevereiro de 2010, envolvendo representantes das instituições
recenseadas.
40
O procedimento padrão adotado na realização desses levantamentos envolvia três etapas. Em
primeiro lugar, um primeiro contato com membros ativos da administração da unidade
específica para procurar obter a base de dados oficial referente à situação prévia tanto em termos
de pessoal, como em relação às instalações, equipamentos, acervos e arquivos. Nem sempre havia
predisposição imediata dos administradores à colaboração, outras vezes não havia
administradores presentes ou ativos durante o período da pesquisa, outras vezes ainda não havia
dados organizados, consolidados ou disponíveis sobre a unidade, e em outros casos ainda,
haviam perecido os responsáveis que poderiam fornecer as informações ou haviam sido
destruídos os documentos e equipamentos que as armazenavam. Num segundo momento e
independentemente do resultado obtido com a tentativa de obter uma base preliminar de dados,
os representantes procuravam mobilizar suas redes de contatos com colegas e professores, por
telefone, internet ou pessoalmente, buscando compor listas próprias de estudantes, professores e
funcionários mortos, feridos e desalojados e também arrolar seus respectivos locais de refúgio,
onde poderiam ser eventualmente contatados posteriormente. Os levantamentos realizados
pelos representantes do corpo discente de cada instituição foram cruciais para determinar
inconsistências e suprir lacunas nas cifras produzidas ou coligidas por instâncias oficiais. No
esforço de realizar seus levantamentos, os pesquisadores e colaboradores envolvidos nesta
pesquisa tiveram de enfrentar condições bastante precárias de trabalho, no mais das vezes tendo
de preparar listas, elaborar textos de trabalho e discussão e transcrever relatórios à mão, sem
poder contar com o uso de computadores. Mas o empenho de todos os envolvidos permitiu que,
para não poucas entre as unidades recenseadas, fosse possível obter um rol quase exaustivo do
paradeiro do pessoal universitário após o terremoto.
Vários dos estudos sobre o ensino superior haitiano consultados durante a realização deste
levantamento demonstram padecer de carências e deficiências comuns a grande parte dos
relatórios e pareceres que parecem ter tomado de assalto e ocupado uma vasta porção do terreno
bibliográfico das ciências sociais no Haiti. Nas semanas posteriores ao terremoto, instâncias
governamentais haitianas e outras vinculadas às agências multilaterais ou de cooperação
internacional procuraram oferecer um retrato dos efeitos do terremoto nos sistemas de ensino
superior, médio e fundamental, tanto privado como público. Sem apresentar qualquer
sistematicidade e carecendo de um volume considerável de informações que estavam acessíveis a
qualquer esforço mínimo de coleta e verificação, os balanços realizados, contudo, sequer
buscaram ultrapassar os limites de atuação específicos às respectivas agências e oferecer um
retrato mais amplo do sistema de ensino superior. Não raro, e precisamente como foi o caso em
outros momentos de crise no país, documentos infindáveis são produzidos como veículos para
plataformas de consolidação de instituições de intermediação na transferência e aplicação de
recursos e para programas pré-definido e consideravelmente particularistas de intervenção
pontual, apresentados, porém, sob a forma de recomendações gerais que, ao mesmo tempo em
que não guardam relação com os dados apresentados ou constatações feitas, tampouco
encontram eco em demandas locais dos agentes mais claramente legitimados para exprimi-las.
41
Diante do descaso com a sistematização de dados e informações relativos às vítimas que
acompanhou as intervenções governamentais e não governamentais desde a precipitada e
amplamente criticada decisão do governo haitiano, em conjunto com o comando militar da
MINUSTAH, de incinerar ou enterrar os corpos das vítimas em valas comuns, sem qualquer
esforço de identificação, ficou claro para os sobreviventes que teriam de fazer frente a imensas
dificuldades no esforço de avaliar a real dimensão da catástrofe. Assim, como não podia deixar
de ser o caso, divergem, por vezes marginal, por vezes substantivamente, os dados que figuram
em material de ampla circulação e que, conforme a ocasião e a necessidade, são apresentados
com distintos níveis de oficialidade e os dados que resultam de um levantamento cuidadoso que
agregue dados levantados diretamente junto às instituições recenseadas. Variam não somente as
cifras de mortos e desabrigados variam enormemente entre um balanço e outro, como também
as cifras de estudantes e professores ativos antes do terremoto, revelando não tanto uma
diversidade de fontes, sobretudo, no entanto, a pressa em sustentar receituários preconcebidos
de reforma e reconstrução com resultados obtidos sem um mínimo de rigor metodológico ou a
necessária verificação e o desinteresse pela compreensão das reais dimensões das dificuldades
enfrentadas pelo sistema universitário antes do terremoto e com a configuração precisa das
carências e necessidades que determinarão a forma como se reerguerá das ruínas.6 Ou seja, em
diversos sentidos, o todo produzido pela soma das partes é consideravelmente distinto do todo
que se quer total antes mesmo de se considerar o que acontece com as partes.
O âmbito das instâncias oficiais de administração, supervisão e avaliação do sistema de ensino
superior no Haiti – pré-universitário, universitário, técnico e de formação profissional – também
foi contemplado entre as fontes de dados e informações incorporados à análise realizada no
curso deste levantamento. Foram solicitados dados e informações aos seguintes órgãos,
instituições ou colegiados:
Ministério da Educação Nacional e Formação Profissional (MENFP):
o Direção de Ensino Superior e de Pesquisa Científica (DESRS);
o Instituto Nacional de Formação Profissional (INFP); e
o Direções ministeriais e superintendências departamentais de Supervisão Escolar;
Grupo de Trabalho sobre a Educação e a Formação no Haiti (GTEF), vinculado à Presidência da República;
Grupo Setorial de Educação (GSE), vinculado à seção haitiana da UNESCO;
Comitê Regional de Direção (CRP) da Conferência de Reitores e Presidentes Universitários do Caribe
(CORPUCA);
Comitê Diretor da seção haitiana da Agência Universitária da Francofonia (AUF);
reitorias das universidades públicas e privadas.
6 Cabe ressaltar que nos estudos mais amplos sobre a extensão e o impacto do terremoto sobre a infraestrutura do
país, o setor educacional não foi contemplado e não figurou como um dos setores analisados em profundidade.
42
Preservadas, destruídas ou transferidas, todas as suas respectivas sedes foram visitadas no
curso do levantamento e, sempre que estivessem presentes no país, seus superintendentes,
diretores ou coordenadores foram entrevistados em profundidade. Mesmo em circunstâncias
normais, o acesso aos dados e informações oficiais não é precisamente fácil no Haiti. Tanto mais
ao se considerar o impacto que o terremoto teve também sobre os órgãos governamentais e
agências administrativas, muitas das quais tendo sido arrasadas, com grandes perdas humanas e a
destruição de arquivos completos.7 A despeito de todas as circunstâncias, foi possível contar com
sua boa vontade, generosidade e disponibilidade para ter acesso à documentação que foram
capazes de salvar da destruição.
Foi, porém, o trabalho realizado em contato constante e imediato com os estudantes que
permitiu perceber a tensão subjacente às relações tanto entre grupos estudantis e os demais
setores de suas escolas, faculdades ou universidades, como entre estes e outras instâncias
institucionais governamentais e não governamentais, nacionais e internacionais. Apesar de
setores seus proclamarem plataformas que ecoam projetos típicos do espectro populista da
política haitiana, o movimento estudantil haitiano é multifacetado e dinâmico, capaz de atuar
em direções diferentes e perseguir objetivos bastante diversificados. Não apenas aqueles que
gravitam em torno dos colegiados reconhecidos como o movimento estudantil tradicional no
Haiti estão organizados em busca de soluções e recursos para fazer frente à sua desesperadora
situação atual. Inúmeras associações estudantis, grupos de discussão e intervenção e colegiados
decisórios foram constituídos pelos estudantes universitários desde o terremoto.
No contato com várias dessas iniciativas, foi possível acompanhar a acuidade com que
percebem não apenas as limitações do sistema educacional haitiano, mas também as armadilhas
criadas pelas próprias iniciativas internacionais ou multilaterais de favorecer um
aperfeiçoamento do sistema ou a intervenção em momentos de crise. Sob pena de não alcançar
qualquer dos resultados pretendidos e de não produzir efeitos quaisquer de um envolvimento
dos beneficiários de um programa de bolsas no processo de reconstrução e na elaboração e
implementação de projetos autônomos e sustentáveis de fortalecimento das estruturas de ensino
e pesquisa universitária, as discussões com os estudantes realçaram a necessidade de evitar
reproduzir equívocos de iniciativas anteriores de intervenção, reforma e cooperação
universitária, que acabaram por reforçar mecanismos preexistentes de favorecimento daqueles
que já são favorecidos e de promoção daqueles que já se situam numa posição destacada,
preterindo aqueles que fazem frente a imensas dificuldades para buscar seus objetivos
educacionais.
7 Na gestão do setor educacional, não apenas o MENFP teve seu edifício principal destruído (com a morte de 12
funcionários) e seus edifícios anexos tão danificados que terão de ser demolidos antes de que sua sede central possa
ser reutilizada, mas também diversas reitorias universitárias foram arruinadas, incluindo a da UEH, além da sede
que a Agência Universitária da Francofonia mantinha junto ao prédio da Faculdade de Linguística Aplicada e que
também foi destruída.
43
São esses elementos que nos permitiram embasar as recomendações oferecidas neste relatório
para a implementação do Programa Pró Haiti e de outras iniciativas homólogas, que pretendem
não apenas apontar mecanismos que superem os entraves próprios das teias de relações
existentes entre as instituições haitianas e as organizações internacionais, como também dar
conta de pelo menos parte das expectativas dos estudantes haitianos no que diz respeito a sua
formação profissional e acadêmica.
44
Estrutura do sistema educacional haitiano
A estrutura organizacional do sistema educacional haitiano resulta de uma longa tradição de
alinhamento à estrutura do sistema escolar francês e de reformas que asseguraram que esse
alinhamento continuasse ao longo de décadas de adaptação. As reformas iniciadas em 1979,
ainda sob o governo ditatorial de Jean-Claude Duvalier, e que culminaram na célebre Reforma
Bernard, iniciada em 1979, consagraram a diglossia da sociedade haitiana e levaram tanto ao
reconhecimento do kreyòl como língua oficial de ensino quanto à definição de seus modos de
incorporação ao sistema escolar. Desse momento em diante, o universo escolar passou a refletir a
realidade linguística do país: o kreyòl se tornou rapidamente a principal língua de instrução
durante os primeiros anos do ensino fundamental e o francês oscilaria, conforme a escola, entre
língua suplementar de instrução e segunda língua de alfabetização. Por um lado, essa reforma
assegurou o fim da estigmatização do emprego do kreyòl no sistema educacional haitiano, o
reconhecimento de um componente determinante da configuração social e cultural do país e o
início de um processo paulatino de promoção social de grupos, códigos e repertórios
tradicionalmente marginalizados que prossegue até hoje, ainda com incontáveis desafios rumo à
sua plena incorporação ao patrimônio cultural e simbólico reconhecido pelas instituições
haitianas. Por outro lado, contudo, diante da escassez de material didático e bibliográfico em
kreyòl ou adaptados ao ensino nessa língua, da incompatibilidade entre o modelo escolar e o
sistema de formação e treinamento de professores e do decorrente despreparo de toda uma
geração de professores para lidar com a mudança, além da insuficiência dos meios financeiros
para implementar todos os aspectos da reforma, os objetivos da reforma educacional restam
ainda por ser alcançados. Em que pesem todos os problemas, representou uma iniciativa de
grande alcance que abriu um amplo leque de novas perspectivas para o sistema educacional
haitiano e continua gerando frutos até o presente.
Além do reconhecimento da língua universalmente falada no país, a própria estrutura do
ensino foi reformada, em bases que ainda se mantêm. O ensino básico ou fundamental
compreende nove anos letivos, divididos em três ciclos, respectivamente de quatro, dois e três
anos. A seguir, o nível médio ou secundário se estende por mais quatro anos, levando à obtenção
de um diploma secundário, chamado Segundo Bacharelado ou Bac II. Sua obtenção é
indispensável para o acesso à universidade, que também envolve um exame de admissão. A
despeito da reforma educacional, essa configuração ainda não se universalizou e algumas escolas
seguem operando com base na estrutura clássica do modelo francês tradicional, também de 13
anos, mas divididos em seis anos básicos, quatro anos ginasiais e três anos de escola secundária.
O amplo processo de reforma educacional que se havia iniciado em 1979 foi interrompido em
1982, para ser sucessivamente retomado e interrompido outras vezes, em decorrência da
instabilidade política e da escassez de recursos orçamentários que paralisou ou reverteu não
somente este, mas muitos outros avanços institucionais no Haiti ao longo das últimas duas
décadas. Em diversos momentos de sua implementação, foi revivida a previsão de promover a
criação de centros de referência para a formação de pedagogos do ensino fundamental,
45
supervisores escolares e gestores do sistema de ensino básico. Os Centros de Formação dos
Professores do Ensino Fundamental (CEFEF's), juntamente com um Centro de Formação de
Quadros da Educação (CFCE), seriam o núcleo de uma ampla rede, altamente descentralizada e
bem equipada, de Escolas Fundamentais de Aplicação e Centros de Apoio Pedagógico
(EFACAP), que operariam como centros locais de treinamento e aperfeiçoamento do corpo de
professores do ensino fundamental. Jamais chegou, contudo, a ser realizado como previsto e, a
despeito da previsão de inserir tais centros de formação na estrutura de ensino superior público
e mesmo na estrutura institucional da própria UEH, o único deles que chegou a entrar em
funcionamento – primeiro em 1999, com uma larga interrupção, para ser retomado somente
entre 2005 e 2006 – manteve-se sob a alçada dos sistemas de ensino fundamental e médio no
âmbito do MENFP, tendo suas atividades geridas pelas Direções de Formação e
Aperfeiçoamento (DFP) e de Ensino Fundamental (DEF). Por tais razões é que a configuração
dos desdobramentos desse sistema não foram tratadas com maior detalhamento ao longo deste
levantamento. Em sua última versão – mais ambiciosa que de outras vezes, no quadro de um
conjunto de programas apoiados pelo Banco Mundial, pelo BID, pela UNESCO, pela UE e pela
agência de cooperação canadense, que convergiam em torno do Projeto de Educação Básica
(PEB) e do Programa de Fortalecimento da Qualidade da Educação de Base (PARQE) –, o
projeto previa a conversão de seis Escolas Nacionais de Formação de Professores (ENI) em
CEFEF's, assim como o estabelecimento inicial de 27 EFACAP's públicos e a integração de
outros 3 EFACAP's privados ao sistema, assim como a subsequente inauguração de mais 20
EFACAP's anualmente, ao longo de pelo menos quatro anos. Apesar desse ambicioso sistema de
descentralização, aperfeiçoamento, formação contínua e profissionalização do ensino
fundamental não ter sido inteiramente implementado, vários EFACAP's chegaram a ser
construídos e a grande maioria deles foi utilizada após o terremoto como base para o
estabelecimento de campos modelo de refugiados e centros de atendimento básico de saúde e de
prestação de serviços emergenciais. A sede da Escola de Direito de Jacmel, que é compartilhada
por outras duas instituições de ensino fundamental e médio, treinando também professores do
ensino fundamental, é um exemplo de EFACAP que seguiu essa trajetória.
Finalmente, o nível superior de ensino abrange carreiras técnicas e profissionais e opções de
especialização e pós-graduação com duração variável. Em geral, a formação técnica dura de dois
a três anos, o bacharelado ou licenciatura de três a cinco anos. A obtenção do bacharelado ou
licenciatura pressupõe a apresentação e a defesa pública de uma tese. Para além disso, existem as
opções de especialização, mestrado e doutorado. Uma especialização pode demandar um ou dois
anos adicionais de treinamento, enquanto o mestrado exigirá de dois a três anos. O doutorado é
oferecido por pouquíssimas instituições haitianas de ensino superior e geralmente sob a rubrica
de um doutorado profissional em ciências médicas, correspondente à formação médica
tradicional, conjugada com a especialização, demandando entre seis e sete anos.
46
Tabela 1 – Distribuição dos estudantes por setores e níveis Sistema/
Nível
1°. e 2°. ciclos fundamentais (4 + 2 anos) 3°. ciclo fundamental
(3 anos)
Médio
(3 a 4 anos)
Superior
(de 3 a 7 anos)
Público 390.000 (18,52%) 87.400 (25,99%) 55.400 (23,36%) 19.116 (35,85%)
Privado 1.716.000 (81,48%) 248.900 (74,01%) 181.800 (76,64%) 34.200 (64,15%)
Total 2.106.000 336.300 237.200 53.316
Fonte: Dados do MENFP (2007), reajustados por cifras obtidas junto à Supervisão Escolar do Oeste e à DESRS.
Gráfico 1 - Distribuição dos estudantes por níveis e setores
Gráfico 2 - Proporção de alunos matriculados por setor
47
Tabela 2 - Distribuição de professores, funcionários e alunos entre o setor público e privado Instituições de Ensino Superior Estudantes Professores Funcionários
Universidade de Estado do Haiti (11 unidades da capital) 10.581 857 439
Universidade de Estado do Haiti (6 escolas e uma faculdade no interior) 3.819 172 66
Universidades públicas departamentais (Norte, Sul, Artibonite) 2.062 144 108
Escolas Nacionais e outras instituições de ensino superior públicas
(ENIP, ENIJ, ENICH, ENIC, ENAF, ENST, ENGA, CTPEA, ENARTS)
2.654 422 258
Total das instituições públicas 19.116 1.595 871
Total das instituições privadas de ensino superior autorizadas 34.200 2.413 1.287
Total 53.316 4.008 2.158
Gráfico 3 - Distribuição espacial dos
estudantes do setor público
Tabela 3 - Distribuição espacial das vagas
oferecidas pelo setor público
Departamento
Oeste
Resto do país Total
UEH 10.581 3.819 14.400
Outras
instituições
públicas
1.754 2.962 4.716
Total 12.335 6.781 19.116
48
Gráfico 4 - Concentração espacial das vagas nas
instituições de ensino superior
Tabela 4 - Distribuição espacial dos estudantes
do nível superior por setor
Gráfico 5 - Distribuição espacial dos
estudantes do nível superior
Departamento Oeste Resto do país Total
Público 12.335 6.781 19.116
Privado 29.754 4.446 34.200
Total 42.089 11.227 53.316
49
Gráfico 6 - Distribuição setorial dos estudantes por
nível de ensino
Tabela 5 - Distribuição setorial dos estudantes
por nível de formação
Gráfico 7 - Distribuição espacial dos estudantes por
nível de ensino
Tabela 6 - Distribuição espacial dos
estudantes por nível de formação
Básico ao médio Superior
Oeste 1.012.993 42.089
Resto do país 1.666.507 11.227
Total 2.679.500 53.316
Básico ao médio Superior
Público 532.800 19.116
Privado 2.146.700 34.200
Total 2.679.500 53.316
50
Tabela 7 - Distribuição espacial das instituições de ensino superior Departamento Instituições Públicas8 Instituições Privadas Total
UEH Outras públicas Total públicas Autorizadas Não autorizadas Total privadas
Artibonite 1 1 2 1 6 7 9
Centro 1 0 1 0 1 1 2
Grand'Anse 0 1 1 1 2 3 4
Nippes 0 0 0 0 1 1 1
Nordeste 1 0 1 0 0 0 1
Noroeste 1 0 1 0 2 2 3
Norte 1 2 3 4 2 6 9
Sudeste 1 0 1 0 1 1 2
Sul 1 2 3 1 0 1 4
Oeste 11 8 19 45 80 127 146
Total 18 14 32 52 97 149 181
Gráfico 8 - Dispersão do conjunto de instituições de ensino
superior
8 Na coluna UEH, são arroladas, segundo o Departamento em que se localizam, suas faculdades, escolas e institutos.
Na coluna outras instituições públicas, são arroladas, também segundo sua localização, as Escolas Nacionais de
Enfermagem e as Universidades Públicas, No caso destas, não foram decompostas em suas faculdades, por conta
tanto de se situarem todas num mesmo campus, como pelo reduzido número de estudantes por faculdade, o que não
justificaria seu tratamento como uma instituição pública a parte. Na coluna das instituições privadas, foram
arroladas, segundo sua localização e o status de sua solicitação ao MENFP de autorização para o funcionamento,
cada universidade, faculdade, instituto, escola ou centro de ensino superior, independente de sua composição
administrativa em faculdades, departamentos ou seções. Cada instituição particular foi assinalada ao Departamento
em que se situa sua sede principal, independente de possuírem campi avançados ou sedes sazonais em uma ou mais
cidades do interior, o que de todo modo somente se aplica a três dentre as instituições privadas, respectivamente
com cinco campi provinciais, algo que não chega a influir no balanço geral de distribuição geográfica das
instituições universitárias, ainda mais se for considerado que grande parte das atividades acadêmicas oferecidas de
forma descentralizada por instituições sediadas na capital consistem em cursos oferecidos por instituições locais de
ensino superior (já computadas na lista, por sua vez) com a chancela de homologação do diploma pela sede
metropolitana.
51
Gráfico 9 - Distribuição espacial das instituições
de ensino superior por setor (exceto Oeste)
Gráfico 10 - Distribuição espacial das
instituições de ensino superior
Gráfico 11 - Dispersão das instituições públicas
de ensino superior
52
Gráfico 12 - Dispersão das instituições privadas de ensino superior autorizadas
Gráfico 13 - Dispersão das instituições provadas de ensino superior não autorizadas
53
Mapa 1 - Dispersão das instituições de ensino superior
54
Histórico do ensino superior no Haiti
Procura-se apresentar aqui um quadro sobre a formação e a evolução das instituições de
ensino superior no Haiti. Para tanto, faz-se necessária uma introdução histórica que destaque o
processo de criação e consolidação da principal e maior universidade haitiana, a Universidade de
Estado do Haiti (UEH). São arroladas em seguida as escolas nacionais e os centros públicos de
ensino superior que não fazem parte do quadro institucional da UEH. Finalmente, abordaremos
o processo de instalação das mais importantes instituições privadas do setor.
Universidade de Estado do Haiti: origens, formação e estado atual
A Universidade do Haiti foi oficialmente fundada em 1945, a partir da congregação numa
mesma instituição de faculdades e escolas preexistentes e em pleno funcionamento,
predominantemente em Port-au-Prince. Em 1960, sob o governo de François Duvalier, foi
transformada em Universidade de Estado, nome que conserva até os dias atuais.9 A partir de
então, passou a sofrer diretamente as intervenções do governo ditatorial e somente voltaria a
recuperar sua autonomia com a constituição de 1987. Suas origens, contudo, estão no período de
formação do Estado nacional haitiano e nas tentativas, por vezes frustradas e recalcitrantes, das
elites haitianas de dotar o país de quadros profissionais qualificados.
A primeira tentativa de constituição de instituições de ensino superior no Haiti se deu nos
territórios do norte do país, conhecidos como o Estado do Haiti, em oposição à República do
Haiti, no Sul. Foi durante o período em que o Estado do Haiti se converteu no reino de Henri
Christophe (1811 – 1820), que foi criada, em 1815, a Academia Real, que compreendia uma
Escola de Medicina, Cirurgia e Farmácia, uma Escola de Artes e Ofícios e uma Escola de
Agricultura. A criação da Academia foi acompanhada pelo estabelecimento de Escolas
Nacionais, geridas por mestres ingleses, nos principais núcleos urbanos do reino. Ao mesmo
tempo, na expectativa de estabelecimento de boas relações com o Vaticano – o que ainda
tardaria décadas –, Christophe proclamou o catolicismo religião oficial (Vandercook, 1943: 133;
162). Assim como o próprio Reino do Norte, a existência da Academia e das grandes escolas foi
efêmera, mas revelou a inquietação das elites haitianas, estabelecidas no contexto da guerra de
independência, com a formação de uma classe ilustrada capaz de gerir os negócios do país.
Já sob Jean-Pierre Boyer (1818 - 1843), com o país unificado – havendo o reino do Norte sido
integrado à república em 1820 e a parte oriental da ilha, hoje República Dominicana, sido
ocupada e submetida ao controle haitiano entre 1822 e 184310 – e com a capital estabelecida em
Port-au-Prince, foram realizadas algumas iniciativas de criação de uma Academia Nacional,
9 O decreto é reproduzido em Duvalier, François: “Décret créant l'Université d'État d'Haïti le 16 décembre 1960” in
Mémoires d'un leader du tiers monde. Hachette, Paris, 1969: 73-8. 10 Quando da ocupação da porção oriental da ilha, Boyer cometeu um grave equívoco estratégico e histórico,
fechando a universidade mais antiga das Américas, fundada em Santo Domingo em 1537 (cf. Price-Mars, Jean, tomo
I, 2000 [1953]; Pons, 2008; 2009).
55
também com resultados efêmeros. As dificuldades eram muitas: o Haiti vivia sob um verdadeiro
embargo internacional e havia grande dificuldade de contar com missões estrangeiras ou mesmo
com uma atuação da Santa Sé nas esferas tradicionais do ensino básico11. Acabou por prevalecer,
assim, uma visão claramente elitista e exclusivista: após estudos básicos realizados no Liceu
existente na capital do país, que eventualmente viria a ser chamado de Liceu Pétion, os filhos
mais brilhantes da elite haitiana deveriam recorrer à formação superior na antiga metrópole
colonial.
Seria necessário esperar até os anos 1860 para que ocorresse a fundação do primeiro
estabelecimento público de ensino superior no país, a Escola de Direito, inaugurada no dia 12 de
janeiro de 1860 (exatamente 150 anos antes do grande terremoto).12 Seus primeiros professores
foram juristas formados na França, responsáveis pelo enraizamento definitivo da cultura jurídica
francesa no Haiti. Tendo formado gerações daqueles que se tornariam os grandes analistas e
intérpretes da sociedade haitiana e contando com Antenor Firmin como seu patrono, virá
eventualmente a dar origem à atual Faculdade de Direito e Ciências Econômicas (FDSE) da
Universidade de Estado do Haiti.
Outro estabelecimento de ensino tradicional na história do ensino superior no Haiti é a
Faculdade de Ciências, fundada em 1902, inicialmente como uma escola privada, denominada de
Escola de Ciências Aplicadas, mas logo reconhecida como de interesse público em 1905 e
passando ao controle público através da dotação de subvenções públicas a partir de 1906. Por
fim, já como Faculdade de Ciências, seria totalmente incorporada à Universidade de Estado em
1961.
Outras escolas e centros de ensino foram evoluindo ao longo das últimas décadas do século
XIX e início do século XX, num processo que culminaria com a eventual integração de uma série
delas, sob a forma de faculdades, à nascente Universidade do Haiti, que começou a ganhar forma
efetivamente a partir da década de 1920, durante a ocupação americana (1915-1934). Nesse
período, vários estabelecimentos de ensino superior foram criados no país, sempre atrelados à
reorganização das finanças promovida pelas forças de ocupação e partindo de bases pragmáticas
que privilegiavam a formação técnica. Saliente-se que a ocupação americana teve um profundo
11 Ao longo de boa parte do século XIX, e pelo menos até os anos 1860, o Haiti viveu sob um virtual embargo
internacional, que deixou marcas profundas em sua história intelectual e política. Até a Guerra de Secessão, os
Estados Unidos se negaram a reconhecer um país formado em meio a uma rebelião escrava. A França, por sua vez,
somente viria a reconhecer o Haiti nos anos 1830, após a assinatura de um acordo de pagamento de restituições por
todas as perdas fundiárias, econômicas e financeiras dos fazendeiros coloniais, o que gerou uma divida ao Haiti que,
segundo muitos analistas, acabaria acarretando consequências extremamente danosas para o desenvolvimento do
país. Boa parte dos países latino-americanos ainda manteve a escravidão por décadas após a revolução haitiana, o
que também impedia o reconhecimento do Haiti como país independente. Por fim, a Santa Sé se negou a
estabelecer relações diplomáticas com o país até os anos 1860, quando da assinatura da Concordata com o Vaticano
(Price-Mars, 2000 [1953]). 12 No momento do terremoto, boa parte dos alunos e professores da Faculdade de Direito e Ciências Econômicas da
UEH, se dirigia a um pavilhão em Canapé Vert, onde seriam celebrados os 150 anos da escola. Esta coincidência
salvou de uma grande tragédia uma das faculdades com corpo discente e docente mais numeroso na capital.
56
efeito no pensamento nacionalista haitiano, gerando uma reação vigorosa por parte dos mais
diferentes setores sociais, para além de um movimento de resistência armada propriamente dito
(Castor, 1971). No entanto, seu impacto no que diz respeito à criação de estruturas de base –
estradas, telégrafos, estrutura urbana etc. – e, sobretudo, no universo acadêmico, foi
extremamente significativo (Renda, 2002), para além de todas as tensões políticas que criou e
alimentou (Blancpain, 1999).
A antiga Escola de Medicina, que havia sido fundada 1861 junto ao Hospital Saint-François
de la Salle, foi reestruturada em 1926 sob a batuta da administração americana, tornando-se a
atual Faculdade de Medicina e Farmácia (FMP). Durante o período da ocupação, os estudos
médicos no Haiti viveram uma fase de acentuado desenvolvimento, em meio a um processo mais
amplo de intervenção nas áreas médica e de saúde pública por parte dos EUA na América Latina
(Figueiredo, 2009). Entre 1926 e 1938, o apoio da Fundação Rockefeller foi fundamental para a
aquisição de equipamento e material e para fornecer bolsas de estudos a médicos haitianos para
formação e treinamento nos Estados Unidos (McBride, 2002).
Criada em 1898, a antiga Seção de Arte Dentária foi transformada em 1938 na Escola de Arte
Dentária, associada à Faculdade de Medicina e Farmácia. Em 1950, foi separada da FMP,
constituindo a Faculdade de Arte Dentária, que finalmente se converteu na atual Faculdade de
Odontologia (FO) em 1968.
Fundada em 1924, ainda sob a ocupação americana, a Escola Central de Agricultura passou
por profundas transformações, que culminaram numa reforma que a converteu em Escola
Nacional de Agricultura em 1943. Em 1963, foi elevada ao estatuto de Faculdade de Agronomia
e, em 1968, transformada em Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária (FAMV). A partir
de 1977, a cooperação canadense passou a desempenhar um papel central em seu financiamento.
Posteriormente, em 1994, a FAMV passou a integrar definitivamente a Universidade de Estado
do Haiti, deixando a tutela do Ministério da Agricultura.
Foram essas faculdades (Direito, Medicina, Ciências e Agricultura) que constituíram o núcleo
que ofereceu as bases para o estabelecimento da UEH. A partir do Quadro I a seguir, é possível
ter uma visão geral da configuração atual dessa instituição, especificando seus centros de estudo
e pesquisa em funcionamento na capital do país. Ao longo de sua história, e particularmente
durante o período ditatorial da família Duvalier (1957 – 1986), a Universidade de Estado sofreu
com contínuas intervenções do poder estatal. Mais de uma vez, faculdades e institutos sofreram
intervenção direta, professores e alunos foram presos, torturados e mortos, além de outros tantos
que buscaram refúgio no exílio.
A UEH foi um dos alvos preferenciais do autoritarismo duvalierista e de sua obsessão
anticomunista, que se espalhou por todo o país: fala-se em mais de 30.000 desaparecidos entre os
anos 1950 e 1970, além de mais de um milhão de exilados econômicos e políticos (Hurbon,
57
1979).13 O historiador e antropólogo haitiano Michel-Rolph Trouillot vê nas perseguições
duvalieristas e no aparato repressor montado pelo regime evidências suficientes para
caracterizar o Haiti dos Duvaliers como um dos regimes totalitários do século XX (Trouillot,
1990). Porém, assim como outro historiador e antropólogo Gérard Barthelemy, percebe na
história da consolidação do estado haitiano traços de repressão, autoritarismo e brutalidade que
teriam tanto precedido quanto sobrevivido ao próprio período duvalierista (Barthelemy, 1992).
Contudo, mesmo em meio à amplitude e ao alcance da repressão generalizada do regime, como
de praxe em outros contextos latino-americanos e caribenhos –, a virulência da perseguição aos
quadros e estudantes universitários se destaca, algo que, se já se prenunciava e se evidenciava na
própria linguagem do decreto presidencial responsável pela criação da UEH de 16 de dezembro
de 1960 (Duvalier, 1969; Deshommes, 2009), acabará se expressando numa política sistemática
de submissão da vida universitária ao estrito controle do governo e de suas forças paramilitares:
o movimento estudantil é banido e seus líderes perseguidos sob a justificativa de sua associação
com o perigo da proliferação comunista, estudantes e professores são submetidos a controles e
investigações arbitrárias, aprisionados ou sequestrados sem razão aparente e não foram raras as
ocasiões em que todo o conjunto da comunidade universitária foi associado à figura do inimigo
interno da própria nação, que, por sua vez, de acordo com o culto pessoal propalado pela
ideologia oficial do regime, encarnava-se na figura, nos projetos e nos ideais do próprio ditador
(Diederich, 2005; Florival, 2008; George-Pierre, 2004; Gilot, 2006).
Essa intervenção sistemática de uma política estatal repressiva na UEH por cerca de três
décadas, em lugar de desmobilizar ou silenciar estudantes e professores, acabou sendo
responsável por um elevado grau de politização da própria comunidade universitária. Ao lado de
movimentos sociais como as Organizações Populares, as Comunidades Eclesiais de Base ou o
movimento sindical, a UEH se transformou num dos centros de resistência organizada à
ditadura duvalierista e, nos anos que sucederam o seu ocaso, foi sempre um centro de debates e
de resistência a governos não necessariamente comprometidos com as expectativas
desenvolvimentistas, reformistas ou revolucionárias de setores mais organizados da comunidade
universitária, com o avanço e o aprofundamento do processo de democratização ou com uma
demanda mais ampla de melhoria da qualidade de vida do povo haitiano (Cf. Étienne, 1999;
Hurbon, 2001; Jadotte, 2005).
A democratização que teve início após a queda de Baby Doc não foi um processo contínuo e
nem tampouco cumulativo, tendo sido marcado por diversos saltos, hiatos e retrocessos. O
13 Qualquer avaliação que diga respeito a cifras ou estatísticas merece um cuidado especial ao se abordar a literatura
historiográfica ou sociológica haitiana. Sob muitos aspectos, existe uma tradição retórica de argumentação com base
em números cujas fontes ou procedimentos de obtenção não necessariamente são objetos de explicitação. Em
especial no que diz respeito à violência, seja no período Duvalier ou para cada uma das crises políticas subsequentes
durante a democratização, é frequente encontrar cifras de mortos, feridos, mutilados, violentadas etc. sem
referência a fontes de qualquer ordem. Por vezes, os números são visivelmente contraditórios, enquanto noutros
momentos tendem a convergir, mas raramente se considera necessário remeter a uma fonte ou a uma explicitação
metodológica que permita reconstruir a obtenção de tais dados.
58
primeiro governo do presidente Jean-Bertrand Aristide (que durou pouco, de fevereiro a
setembro de 1991) foi interrompido por um golpe militar, que iniciou uma fase conhecida como
coup d'état (estendendo-se do dia do golpe, 30 de setembro de 1991, até a chegada das tropas
americanas que reinstalaram Aristide na presidência, em 15 de outubro de 1994). Atuando por
trás da presidência interina de Joseph Nérette, o general Raoul Cédras liderou um regime militar
particularmente violento, durante o qual a Universidade de Estado sofreu não apenas com o
embargo comercial que foi imposto ao país, como também foi vítima de uma intensa perseguição
por parte do governo interino e do exército, que afetou sobretudo o movimento estudantil.
Calcula-se que, em 1992, a campanha de repressão estatal tenha sido responsável por cerca de
2.000 mortos, número que, em 1994, chegaria a 5.000. Nos dois primeiros dias que se seguiram
ao golpe, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos calcula que foram assassinadas cerca
de 1.500 pessoas (Étienne, 1999: 171 – 177). Na altura, a UEH se transformou num dos bastiões
da defesa do retorno à ordem constitucional e, em novembro de 1991, cerca de 100 estudantes
reunidos na Faculdade de Ciências foram presos e torturados, muitos deles considerados
desaparecidos até hoje (Étienne, 1999: 180). Durante todo o período da ditadura militar
estabelecida com o golpe de estado de 1991, a universidade voltou a sofrer com o êxodo de seus
quadros, para além dos efeitos do embargo internacional na instituição.14
O retorno de Jean-Bertrand Aristide ao poder em 1994 – como resultado de uma intervenção
militar americana que não deixou de surpreender a população haitiana, especialmente ao se
levar em conta o acúmulo de indícios do velado apoio americano ao próprio golpe de estado que
o havia afastado – tampouco foi capaz de restaurar a normalidade de uma vida universitária
voltada para a formação e a pesquisa. A partir desse momento, a Universidade de Estado
mergulhou, como de resto todo o país, num ciclo incessante de crises, que promoveram ora a
paralisação do corpo docente, farto dos pagamentos salariais erráticos, ora a paralisação e mesmo
a radicalização do movimento estudantil. Outrora em grande medida entusiastas da figura de
Aristide, entre 2003 e 2004 os estudantes da UEH se converteram, juntamente com outros
setores da sociedade civil haitiana, num dos principais focos de oposição a um governo
crescentemente paramilitarizado, o que acarretou enfrentamentos violentos com organizações e
setores juvenis de bairros periféricos de Port-au-Prince que, armados pelo próprio governo,
forneciam efetivos para o esforço (crescentemente violento) de sustentação de Aristide no poder
(Deshommes, 2009; Fleurimond, 2009).
A crise política culminou com a deposição do presidente em fevereiro de 2004 e, a partir de
então, uma nova presença internacional se fez sentir no país, mas que tampouco contribuiu para
promover a normalização da vida acadêmica no interior da UEH. Assim como boa parte do
movimento sindical, o movimento estudantil passou a se galvanizar – quer em decorrência de
14 Podem-se imaginar os efeitos especialmente perversos que um embargo internacional provocam nas atividades
acadêmicas de instituições universitárias que precisam importar praticamente todo o material de que necessitam.
Em decorrência do embargo instituído durante o regime militar do general Cédras, tornou-se impossível adquirir
material pedagógico, realizar a manutenção adequada de laboratórios e equipamentos, adquirir livros e periódicos
para as bibliotecas etc.
59
variantes do discurso nacionalista, quer como consequência de vinculações a projetos
revolucionárias na América Latina e no Caribe – em torno de uma plataforma de rejeição à
intervenção internacional das Nações Unidas, seja sob a forma de resistência à presença
ostensiva das tropas da MINUSTAH no país, seja como protesto contra sua insuficiência e
inoperância.
Exatos 150 anos após o início da implantação dos primeiros estabelecimentos universitários e
em meio a todas as crises recentes, a Universidade de Estado segue sendo a instituição que mais
contribuiu para a formação de quadros profissionais no país. Na atualidade, conta com 14.400
estudantes, 1.029 professores e 372 funcionários. Em suas 11 unidades na capital e 7 outras
distribuídas pelo país, recebe 3.815 novos estudantes a cada ano, selecionados em meio a um
universo de 16.822 alunos que, em 2009, haviam sido aprovados nos exames de admissão ao
ensino superior, somados a outros 7.291 estudantes que já se haviam qualificado em anos
anteriores mas não obtiveram uma vaga universitária condizente com suas expectativas ou com
seus meio financeiros. O número de candidatos vem aumentando anualmente e o número total
de 24.113 candidatos às vagas abertas pela UEH em 2010 somente indicam um momento preciso
da ampliação da base de estudantes que anualmente prestam os exames de ingresso aplicados por
seus diferentes institutos, escolas e faculdades, pois a cada ano que passa são mais numerosos os
novos candidatos que chegam aos exames e se somam aos que, já tendo tentado uma ou várias
vezes, seguirão tentando na esperança de obter uma vaga na universidade pública.
E não é apenas com suas próprias crises internas que a universidade se defronta ou com as
crises relacionadas a um ambiente político favorável a polarizações de toda a ordem, mas
também com o que representa em termos de desafios institucionais e de gestão setorial a
complexificação do universo das instituições de ensino superior privadas, além das demandas tão
perenes quanto prementes por uma maior descentralização e expansão por todo o território
nacional, assim como por respostas adequadas à crescente internacionalização dos sistemas
universitários na região do Caribe e para além dela.
A UEH é publica e, em princípio, gratuita. No entanto, todas as suas unidades cobram
distintas taxas (de inscrição, manutenção, rematrícula etc.) que têm um peso expressivo no seu
orçamento. Embora estejamos diante de uma universidade pública que segue o modelo das
grandes instituições desse tipo em outros países do mundo, as pressões existentes no Haiti
produzem uma profunda autonomia entre suas diversas unidades. Assim, um orçamento
universitário incerto e que provém de um orçamento público dependente da cooperação
internacional, acaba por pressionar cada uma das unidades da UEH a buscar obter seus próprios
recursos, geralmente associados a distintas alianças também no âmbito das agências
internacionais de cooperação e a uma oscilação no volume das taxas cobradas dos estudantes.
60
Tabela 8 – Histórico e perfil institucional das unidades da Universidade de Estado do Haiti em
Port-au-Prince
Unidade Fundação Histórico e perfil institucional
Escola Normal Superior
(ENS)
1947 Dedicada inicialmente à formação de professores para o ensino médio e
superior nas áreas de Letras e Ciências, a partir de 1973 se concentra na
formação de professores para o ensino secundário
Faculdade de Agronomia e
Medicina Veterinária
(FAMV)
1924 Foi considerada, desde sua fundação, uma faculdade de extrema
importância e segue sendo uma das mais prestigiadas, como
consequência da tradição rural do Haiti
Faculdade de Direito e
Ciências Econômicas
(FDSE)
1860 Em conjunto com a FMP, a escola que deu origem à atual FDSE
constituiu um dos centros da vida universitária do país. Além de formar
advogados e economistas, foi responsável pela formação de gerações de
políticos e intelectuais
Faculdade de Etnologia (FE) 1958 Desempenhou um papel estratégico na história institucional do país
devido ao relevo assumido pelas disciplinas etnológicas na interpretação
das especificidades da história nacional. Compartilha com a FASCH a
responsabilidade pela formação de quadros voltados para a área de
desenvolvimento, que atuam em órgãos públicos e governamentais,
assim como em ONGs e agências internacionais
Faculdade de Linguística
Aplicada (FLA)
1978 Ligada ao projeto de reconhecimento do bilinguismo haitiano e voltada
para a formação de especialistas em kreyòl, participa na produção de
material escolar, dicionários, projetos de alfabetização e intervenções na
educação formal e informal e no debate acadêmico com outros espaços
“crioulófonos”
Faculdades de Medicina e
Farmácia (FMP) /
Escola de Tecnologia
Médica (ETM)
1861 Como nos demais países da América Latina, a Faculdade de Medicina se
caracterizou por ser uma das instituições de maior prestígio e
responsável pela formação de alguns dos mais importantes quadros
nacionais. Foi uma das instituições estratégicas durante a ocupação
americana (1915 – 1934)
Faculdade de Odontologia
(FO)
1938
Inicialmente vinculada à Medicina, a FO se tornou autônoma em 1968
Faculdade de Ciências
(FDS)
1902 Inicialmente uma instituição privada, esteve tradicionalmente voltada à
formação de engenheiros
Faculdade de Ciências
Humanas (FASCH)
1974 Para além da formação de pesquisadores das distintas áreas das Ciências
Humanas, a FASCH tem desempenhado um importante papel na
formação de quadros para a atuação em instituições públicas e
governamentais voltadas para projetos de desenvolvimento, formando
também boa parte dos quadros locais vinculados às ONGs e às agências
internacionais
Instituto de Estudos e
Pesquisas Africanas
(IERAH)/
Instituto Superior de
Estudos e de Pesquisas em
Ciências Sociais (ISERSS)
1981
(IERAH)
2007
(ISERSS)
Fundado com o propósito de formar estudantes e pesquisadores atentos
para os fatores históricos, sociais e culturais que aproximam a sociedade
haitiana dos países africanos e da experiência histórica da diáspora
africana
Instituto Nacional de
Administração Pública e de
Empresas e de Altos Estudos
1979 Formação de quadros administrativos para a função pública e privada,
oferece também cursos de aperfeiçoamento e especialização
61
Internacionais (INAGHEI)
Tabela 9 – Perfil acadêmico da UEH (carreiras, vagas e programas de mestrado) Unidade Curso de graduação Duração Admissões15 Total
de
alunos
Pós-graduação
Escola Normal
Superior (ENS)
Letras
Línguas modernas
Filosofia
Ciências naturais e
química
Matemática
Física
Ciências sociais
3 anos 175 500 Mestrado em Francês
como língua estrangeira
Mestrado em Matemática
Mestrado em Letras
Mestrado em Filosofia
Faculdade de
Agronomia e Medicina
Veterinária (FAMV)
Economia e
desenvolvimento
rural
Engenheiro
agrônomo
Produção animal
Fitotecnia
Recursos naturais e
meio ambiente
Tecnologia
agroalimentar
4 100 467
Faculdade de Direito e
Ciências Econômicas
(FDSE)
Direito
Economia
4
4
250
250
= 500
740
688
= 1.428
Mestrado em
Criminologia, oferecido
em conjunto com
professores do
IERAH/ISERSS no
PMISSH
Faculdade de Etnologia
(FE)
Antropossociologia
Sociologia
Psicologia
4
4
5
400 1.328 Mestrado em Ciências do
Desenvolvimento
Faculdade de
Linguística Aplicada
(FLA)
Linguística aplicada
Ciências da
linguagem
Francês (língua
4 120 600
15 Os números se referem somente à graduação e dizem respeito ao período letivo 2009-2010. Tanto o número de
admissões anuais como o número total de alunos matriculados para o período foram decompostos por opção de
carreira somente naqueles casos em que a opção já é feita a partir do primeiro ano. Nos casos em que são oferecidas
várias opções de carreira e os números foram apresentados somente como total, isso indica a oferta do primeiro ano
como curso propedêutico ou de ciclo comum a todas as carreiras.
62
estrangeira)
Faculdades de
Medicina e Farmácia
(FMP) /
Escola de Tecnologia
Médica (ETM)
Medicina
Farmácia
Tecnologia médica
5
4
2
100
40
25
= 165
495
116
45
= 656
Mestrado em
Administração
Hospitalar
Faculdade de
Odontologia (FO)
Odontologia 5 30 105
Faculdade de Ciências
(FDS)
Eng. Civil
Arquitetura
Eletromecânica
Eletrônica
Licenciatura em
Química
Topografia
5
5
5
5
3
2
200 583 Mestrado em Base de
dados (18 meses)
Faculdade de Ciências
Humanas (FASCH)
Comunicação Social
Psicologia
Serviço Social
Sociologia
4 300 1.804 Mestrado em População
e Desenvolvimento
Instituto de Estudos e
Pesquisas Africanas
(IERAH) /
Instituto Superior de
Estudos e de Pesquisas
em Ciências Sociais
(ISERSS)
Filosofia e Ciência
Política
Geografia
História
História da Arte e
Arqueologia
Turismo e
Patrimônio
4 200 500 Mestrado em
Criminologia, oferecido
em conjunto com
professores da FDSE no
PMISSH
Mestrado em História,
Memória e Patrimônio
Instituto Nacional de
Administração Pública
e de Empresas e de
Altos Estudos
Internacionais
(INAGHEI)
Administração
pública
Ciências contábeis
Ciência política e
relações
internacionais
Gestão
Ciclo curto de
ciências contábeis
Programas de
treinamento de curta
duração
4
4
4
4
2
Programas
semestrais
ou anuais
450
2.610
Mestrado em Ciência
Política
63
A tabela anterior explicita que, com todos os limites, em meio à imensa precariedade e
lidando com situações extremamente complicadas ao longo de sua história, a UEH conseguiu
construir um universo de opções acadêmicas bastante vasto. A grande universidade pública do
Haiti cobre um amplo espectro de carreiras, abarcando aquelas que tradicionalmente
acompanharam a própria consolidação da instituição (Direito, Medicina, Agronomia e
Engenharias), aquelas que se mostraram estratégicas ao longo do processo de formação nacional
(Ciências Humanas, Linguística e Filosofia), aquelas necessárias para o próprio desenvolvimento
do país (formação de professores e profissionais de saúde, técnicas agrícolas e ambientais,
treinamento de economistas etc.). Todos os centros foram, sem dúvida alguma, responsáveis pela
capacitação de quadros fundamentais e decisivos para a burocracia estatal e, nas últimas décadas,
pela preparação dos profissionais haitianos vinculados ao onipresente terceiro setor, de perfil
nacional e também internacional.
No momento anterior ao terremoto, eram gigantescos os desafios com que se defrontava a
UEH, mas muitos de seus quadros estavam dispostos e preparados para enfrentá-los. Se o
número total de alunos era pequeno para as exigências de um país que, em muitas estimativas,
chega a ultrapassar os 10 milhões de habitantes, as salas de aula da UEH costumavam estar
frequentemente lotadas de alunos, o que evidenciava a necessidade de um aumento no número
de professores. Um dos principais problemas que afligiam o quadro docente, além dos baixos
salários e da intermitência de seu pagamento, era a inexistência de um plano de carreira. Como
consequência, os melhores professores e pesquisadores geralmente dividiam seu tempo entre a
docência na UEH, a docência em centros privados e o trabalho na iniciativa privada ou junto às
organizações internacionais.
Como se pode depreender da comparação entre as tabelas referentes à UEH, a esmagadora
maioria dos centros vinculados à universidade está concentrada no Departamento do Oeste, ou
seja, na capital do país ou em seu entorno imediato, acompanhando, assim, uma tendência geral
do país, pelo menos desde a ocupação americana, à macrocefalia, não só em termos econômicos
e administrativos, como também em termos culturais e mesmo demográficos. Destaque-se que o
Haiti possui uma extraordinária tradição regional, que, ao longo do primeiro século da existência
do país, permitiu a proliferação de iniciativas autônomas em todos os setores da vida social em
cidades como Les Cayes, Cap-Haïtien, Jérémie, Gonaïves e Jacmel. Em muitos momentos da
história haitiana, os efeitos do desenvolvimento foram sentidos nessas cidades antes mesmo de
chegarem à capital do país, como foi o caso da telefonia, que foi instalada inicialmente em
Jacmel, num marcante esforço pioneiro. Foi ao longo dos anos da ocupação americana que se
consolidou uma dinâmica centralizadora que passou a concentrar em Port-au-Prince todas as
possibilidades de formação profissional e de ascensão social.
Não foram poucas as iniciativas em outros centros urbanos no sentido de fundar instituições
de ensino superior que dessem conta das necessidades locais ou mesmo que se contrapusessem
aos efeitos perversos do excessivo centralismo de Port-au-Prince. Porém, a lógica diretiva do
estado moderno haitiano estava definida. Algo que a tabela a seguir pode demonstrar é que foi
somente a partir dos anos 1980 que a UEH passou efetivamente a promover uma sorte de
64
expansão em determinadas capitais departamentais. No entanto, a iniciativa se restringiu
exclusivamente aos cursos de Direito, Economia e Gestão, cujo propósito é evidentemente o de
formar quadros locais para o aparato burocrático e para iniciativas de desenvolvimento.
Tabela 10 - Unidades provinciais da Universidade de Estado do Haiti
Unidade Fundação História e perfil Cursos
Escola de Direito e
de Ciências
Econômicas dos
Cayes
1894 Fundada como Escola Livre de Direito em 1894 e incorporada pela
Universidade do Haiti em 1948. A seção de economia foi criada
em 1997. A escola se insere na longa tradição das elites provinciais
do sul do país de formar seus próprios quadros intelectuais
Direito
Economia
Faculdade de Direito,
Ciências Econômicas
e Gestão do Cap-
Haïtien
1892 Incorporada à Universidade de Estado em 1983, também se alinha
à forte tendência entre as elites do norte de buscar autonomizar a
formação de seus quadros em relação ao controle das instituições
estatais centralizadas em torno de Port-au-Prince
Direito
Economia
Gestão
Escola de Direito de
Jacmel
1981 Foi a primeira escola departamental a ser fundada em meio ao
esforço mais recente da UEH em busca da descentralização e da
formação de quadros locais
Direito
Escola de Direito e
Ciências Econômicas
de Fort-Liberté
1986 Juntamente com as demais escolas departamentais, insere-se na
tentativa de descentralizar a formação de quadros da
administração pública e da gestão de negócios
Direito
Gestão
Escola de Direito e
Ciências Econômicas
das Gonaïves
1988 Corresponde igualmente ao esforço de descentralizar a formação
de quadros locais. Devidos à precariedade da situação estrutural de
Gonaïves após a destruição provocada pelos ciclones e inundações
dos últimos anos, os estudantes devem realizar parte dos seus
estudos nas instalações da UEH de Port-au-Prince
Direito
Gestão
Escola de Direito de
Hinche
1989 Procura levar adiante o projeto de descentralização do ensino
superior, com a instalação de mais uma unidade provincial da
UEH num dos departamentos com menor oferta de vagas de
ensino superior em todo o país
Direito
Escola de Direito e
Economia de Port-
de-Paix
1992 Representa a última unidade departamental a ser fundada pela
UEH em seu esforço descentralizador da formação de quadros
profissionais e da administração pública local
Direito
Economia
É possível constatar, portanto, que mesmo as incipientes iniciativas descentralizadoras
pautam-se por um perfil padronizado de formação, o que faz com que muitas áreas acabem
sendo negligenciadas. Diante desse desafio, tanto a UEH como universidades públicas locais
devem propor uma expansão que fortaleça a formação universitária em áreas cruciais, como
saúde, tecnologias de comunicação e informação, estudos rurais e formação de professores. Por
outro lado, é preciso confrontar esse peculiar fenômeno de centralização mesmo em meio aos
esforços incipientes de descentralização, uma vez que são os quadros e os recursos das unidades
centrais da UEH que são mobilizados para preencher ou complementar os quadros funcionais
das unidades departamentais. Em sua grande maioria, os centros provinciais vinculados à UEH
acabam vendo sua dependência em relação aos órgãos centrais da universidade reproduzida e
reforçada, na medida em que são docentes e tutores da capital que se deslocam à província para
ministrar cursos concentrados em alguns dias da semana, geralmente durante o fim de semana.
65
As carências relacionadas à estrutura de ensino – laboratórios, bibliotecas, computadores,
salas de estudo etc. – são enormes, constituindo-se tais unidades departamentais geralmente
num mero aglomerado de salas de aula, e mesmo estas com uma estrutura deplorável. No mais
das vezes, essas faculdades de província realizam suas atividades em escolas primárias ou
secundárias, usualmente com horários alternados em relação aos horários de aula das crianças e
adolescente, mas não raro sem qualquer alternância, sendo os estudantes universitários a dividir
o espaço com as crianças e adolescentes.
Tabela 11 - Universidade de Estado do Haiti: Titulação, carreiras e opções oferecidas
Graduação Titulação Carreira Opções Duração Estabelecimentos
Técnico(a) Topografia 2 FDS
Ciências contábeis 2 INAGHEI
Tecnologia médica 2 ETM/ FMP
Enfermeiro(a) Enfermagem 3 ENIP, ENIC, ENICH,
ENIJ
Bacharel /
Licenciado(a)
Letras 4 ENS
Matemática 4 ENS
Física 4 ENS
Química e ciências naturais 4 ENS
Ciências sociais História, Geografia 4 ENS
Línguas modernas Inglês, Espanhol, Alemão 4 ENS
Filosofia 4 ENS
Antropossociologia 4 FE
Estudos africanos e afro-
caribenhos
Ciências sociais
Antropologia
4 IERAH
Psicologia 4 FASCH, FE
Comunicação social 4 FASCH
Sociologia 4 FASCH
Serviço social 4 FASCH
Direito 4 FDSE
Ciências Econômicas 4 FDSE
Administração Gestão
Administração pública
4 INAGHEI
Ciência política Relações internacionais 4 INAGHEI
Ciências contábeis 4 INAGHEI
Linguística aplicada 4 FLA
Odontologia 5 FO
Engenheiro(a) Agronomia Fitotecnia
Engenharia Rural
Recursos naturais
Economia e
desenvolvimento rural
Produção animal
5 FAMV
Arquitetura 5 FDS
Civil 5 FDS
Eletromecânica 5 FDS
Eletrônica 5 FDS
66
Pós-graduação
Titulação Carreira Duração Estabelecimentos
Mestrado Administração hospitalar 2 FMP
Base de dados 2 FDS
Ciências do desenvolvimento 2 FE
Ciência política 2 INAGHEI
Criminologia 2 PMISSH
Filosofia 2 ENS
Francês como língua estrangeira 2 ENS
História, memória e patrimônio 2 PMISSH
Letras 2 ENS
Matemática 2 ENS
População e desenvolvimento 2 FASCH
Doutorado profissional Medicina16 6 FMP
16 Trata-se da graduação em Ciências Médicas. De modo geral, todas as instituições haitianas de ensino superior que
oferecem formação na carreira médica certificam seus graduando com títulos de doutoramento profissional.
67
Quadros estatísticos da UEH
Tabela 12 – Unidades da UEH na capital
Unidade Estudantes
(% do total)
Admissões
(% do total)
Professores
(% do total)
Professores/
100 alunos
Professores
em regime
integral
Funcionários
ENS 500 (3,47) 175 (4,59) 33 (3,21) 6,6 - 7 (1,88)
FAMV 467 (3,24) 100 (2,62) 50 (4,86) 10,7 35 (70%) 115 (30,91)
FDSE 1.428 = 740 D
+ 688 E (9,92)
500 (13,11) 85 (8,26) 5,95 - 35 (9,41)
FE 1.328 (9,22) 400 (5,49) 47 (4,57) 3,54 - 33 (8,87)
FLA 600 (4,17) 120 (3,15) 33 (3,21) 5,5 - 14 (3,76)
FMP 656 = 495M +
116F + 45TM
(4,55)
165 = 100M +
40F + 25TM
(4,32)
171 = 106M +
47F + 18TM
(16,62)
26,07 = (21,41 M
+ 40,52 F + 40
TM) /3
- 30 (8,06)
FO 105 (0,73) 30 (0,79) 42 (4,08) 40 - 17 (4,57)
FDS 583 (4,05) 200 (5,24) 89 (8,65) 15,27 10 (11,24%) 30 (8,06)
FASCH 1.804 (12,53) 300 (7,86) 131 (12,73) 7,26 18 (13,74%) 51 (13,71)
IERAH 500 (3,47) 200 (5,24) 29 (2,82) 5,8 - 21 (5,65)
INAGHEI 2.610 (18,12) 450 (11,8) 147 (14,29) 5,63 - 86 (23,12)
Total PaP 10.581 (73,48) 2.640 (69,2) 857 (83,28) 8,1 63 (7,35%) 306 (82,26)
Tabela 13 – Unidades da UEH na província
Unidade Estudantes
(% do total)
Admissões
(% do total)
Professores
(% do total)
Professores/
100 alunos
Professores
em regime integral
Funcionários
EDEFL 350 (2,43) 125 (3,28) 15 (1,46) 4,29 - 9 (2,42)
EDH 500 (3,47) 200 (5,24) 22 (2,14) 4,4 - 7 (1,88)
EDJ 369 (2,56) 150 (3,93) 20 (1,94) 5,42 - 3 (0,8)
EDPP 400 (2,78) 150 (3,93) 20 (1,94) 5 - 5 (1,34)
EDSEC 600 (4,17) 225 (5,9) 25 (2,43) 4,17 - 12 (3,23)
EDSEG 350 (2,43) 125 (3,28) 15 (1,46) 4,29 - 9 (2,42)
FDSECH 1.250 (8,68) 350 (9,17) 55 (5,34) 4,4 - 21 (5,65)
Total Província 3.819 (26,52) 1.175 (30,8) 172
(16,72)
4,52 0 66
(17,74)
Tabela 14 – Totais referentes ao conjunto da UEH
Unidade Estudantes
(% do total)
Admissões
(% do total)
Professores
(% do total)
Professores/
100 alunos
Professores
em regime integral
Funcionários
Total PaP 10.581 (73,48) 2.640 (69,2) 857 (83,28) 8,1 63 (7,35%) 306 (82,26)
Total Província 3.819 (26,52) 1.175 (30,8) 172 (16,72) 4,52 0 66 (17,74)
Total UEH 14.400 3815 1029 7,15 63 (6,12%) 372
68
Tabela 15 – Despesas e repasses orçamentários nas unidades da capital
Unidade Orçamento HTG (US$)17 % do orçamento total Gasto anual (US$) / estudante
ENS 8.000.000 (201,257.86) 7,23 402.52
FAMV 20.348.600 (511,914.46) 18,39 1,096.18
FDSE 11.300.000 (284,276.73) 10,21 199.07
FE 5.600.000 (140,880.50) 5,06 106.08
FLA 3.000.000 (75,471.70) 2,71 125.78
FMP 9.000.000 (226,415.09) 8,13 457.40
FO 7.000.000 (176,100.63) 6,33 1,677.15
FDS 13.900.000 (349,685.53) 12,56 599.80
FASCH 15.685.900 (394,613.84) 14,18 218.74
IERAH 2.800.000 (70,440.25) 2,53 140.88
INAGHEI 14.000.000 (352,201.25) 12,65 134.94
Total PaP 110.634.500 (2,783,257.86) 263.05
Tabela 16 - Sumário estatístico da UEH (valores mínimos e máximos por unidade)
Estudantes 14.400 (>105 <2610)
Admissões 3.815 (>30 <500)
Professores 1.029 (>15 <171)
Pessoal administrativo e de apoio 372 (>3 <115)
Professores/ 100 estudantes 7,15/100 (>3,54/ 100 <4/10)
Aporte orçamentário pelo Tesouro Nacional HTG / US$ HTG 110.634.500 / US$ 2,783,257.86
(>2.53% <18.39%)
% do orçamento nacional 0,77
Investimento por estudante/ano (US$) 263.05 (>106.08 <1,677.15)
17 Valores de câmbio de 28.02.2010 (US$1 = 39,75 HTG).
69
Outras instituições públicas
As instituições públicas não se restringem às faculdades e institutos vinculados à UEH. Ao
longo das últimas décadas, como resultado de uma série de iniciativas governamentais, com o
apoio de diversas agências internacionais de cooperação, mas também da própria demanda das
instâncias governamentais e das organizações internacionais atuantes no país por pessoal
especializado, foram abertos vários centros públicos de ensino superior, de treinamento e de
aperfeiçoamento profissional, que procuram suprir carências em áreas não contempladas pela
UEH. Contando com uma autonomia relativa diante dos órgãos ministeriais responsáveis por seu
financiamento e gestão, esses centros públicos têm os diplomas que emitem homologados
automaticamente pela UEH. São livres, porém, para estabelecer seus próprios mecanismos de
admissão, estipular limites de vagas (ou ampliá-los) e definir as taxas de admissão que serão
cobradas dos estudantes, que seguem sendo, mesmo para instituições públicas de ensino
superior, em meio à provisão errática de fundos pelo governo nacional, uma fonte crucial de
recursos para sua manutenção.
Alguns deles alcançaram considerável prestígio, como é o caso da ENST, responsável pela
formação de pessoal na área de administração e informática, mesmo a despeito do reduzido
número de estudantes que eram capazes de atender. Outros têm um perfil bastante mais
direcionado a programas de formação específicos e de inserção profissional dirigida, como o caso
da ENAF, centro diretamente vinculado ao Ministério da Economia e das Finanças, responsável
em grande medida pela formação de altos quadros na gestão das finanças do estado e pela
capacitação continuada de próprios funcionários.
A Escola Nacional das Artes merece um destaque especial, pois existe no Haiti uma
extraordinária tradição no campo das artes, em particular nas artes plásticas, mas igualmente na
música e nas artes dramáticas e performáticas. Aquilo que internacionalmente se convencionou
reconhecer como arte naïf corresponde, na verdade, a um campo plenamente estruturado de
produção visual e circulação internacional de artefatos artísticos que conecta aqueles que
apreciam a arte haitiana mundo afora a um extenso universo formado por ateliês de artistas,
centros de formação, galerias de arte e, inescapavelmente, a ENARTS, mantida por subvenções
do Ministério da Cultura. A predicação naïf não deve, de modo algum, ser tomada em sua
literalidade. Longe das notas rapsódicas exotizantes e das noções de comunalidade e
impessoalidade de uma arte espontânea, popular e não autoral, o campo das artes plásticas
haitianas é pontuado por artistas conhecidos e renomados, por estilos e escolas que transmitem
suas propostas e concepções por meio de ateliês, fazendo igualmente uso extensivo do espaço
não apenas físico, mas também simbólico, representado pela ENARTS. Esse universo tampouco
se restringe à pintura. No campo das artes plásticas no Haiti, destaque especial também é devido
à escultura (especialmente em ferro, mas também com uma infinidade de outros materiais), à
tapeçaria (geralmente de inspiração religiosa) e à tradição de máscaras, bonecos e fantasias de
carnaval. Desde sua formação, a ENARTS vem procurando assegurar o contato e a continuidade
entre os esforços de diferentes gerações de artistas haitianos, assim como uma estruturação da
70
formação de gerações sucessivas não só de artistas plásticos, músicos, dramaturgos, atores e
dançarinos, mas também de historiadores e críticos de arte. Procura oferecer também um espaço
de contato com técnicas distintas de produção para todos os alunos e ex-alunos, na medida em
que a instituição se concebe como um espaço de formação e aperfeiçoamento contínuos.
Outra das escolas nacionais estabelecidas e mantidas por subvenções ministeriais era a Escola
Nacional das Enfermeiras de Port-au-Prince, que deve ser compreendida em meio ao conjunto
dos esforços do Ministério da Saúde em formar quadros na área de enfermagem espalhados por
todo o país. Além de Port-au-Prince, capital departamental do Oeste, há escolas nacionais de
enfermagem em Jérémie, Cap-Haïtien e Les Cayes, respectivamente as capitais departamentais
da Grand'Anse, do Norte e do Sul. Para além dessas, há outras ligadas a entidades privadas ou
religiosas envolvidas na formação de pessoal de enfermagem e obstetrícia. Em que pese todo o
esforço de descentralização no campo da formação em enfermagem, o papel desempenhado pela
ENIP em Port-au-Prince continuava sendo desproporcionalmente importante, não apenas
formando um número muito maior de enfermeiras, que também acabavam suprindo as carências
regionais, como também concentravam o maior número de professores e praticamente todos os
mecanismos de treinamento e aperfeiçoamento profissional para enfermeiras e parteiras já
formadas. O efeito de sua completa destruição e da morte da maioria de suas estudantes e de boa
parte de seus professores afetará gravemente suas escolas correlatas nas províncias e deixará uma
lacuna no setor da saúde pública no Haiti cujas dimensões ainda mal podem ser delineadas.
Em meio ao universo das instituições públicas de ensino superior distribuídas pelas
províncias, destacam-se sem dúvida as escolas voltadas à formação de enfermeiras, mas outras
iniciativas são extremamente antigas e revelam tentativas regionais de formação de quadros e
mesmo de competir com Port-au-Prince como foco de atração de jovens estudantes. No caso da
Universidade Pública de Cap-Haïtien, a data de 1986 é apenas indicativa do momento em que
foram reunidas numa mesma instituição uma série de centros autônomos que já vinham
funcionando há muito mais tempo na capital do departamento do Norte, algumas delas já
mesmo desde o século XIX.
Assim, também entre os desafios do ensino superior no Haiti, vinculado ao setor público ou a
outras iniciativas, deve ser claramente destacada a urgente necessidade de descentralização e
diversificação da oferta em outras partes do país que não apenas na capital. Essa descentralização
deve atender às demandas específicas das realidades locais, em lugar de ser apenas uma espécie
de réplica em miniatura ou entrepostos de fim de semana de instituições estabelecidas Port-au-
Prince. Muito menos devem depender exclusivamente de profissionais estabelecidos na capital
do país. Com a licença de parecer insistir no óbvio, cabe insistir que as capitais provinciais são
efetivamente cidades de médio porte e o universo provincial está longe de se restringir a uma
paisagem rural. Cap-Haïtien possui mais de meio milhão de habitantes e a população de Les
Cayes supera a marca dos 300.000. Entre as demandas desses distintos centros urbanos está a
possibilidade de atrelar o desenvolvimento local à formação de quadros que não se vejam
obrigados a abandonar sua cidade ou sua região e seguir para Port-au-Prince para obter qualquer
tipo de formação acadêmica ou profissional ou para obter acesso a qualquer recurso educacional.
71
Gráfico 14 - Composição do pessoal das instituições públicas de ensino superior
72
Tabela 17 - Instituições públicas de ensino superior autônomas em relação à UEH e situadas na
capital
Unidade Fundação Cursos Órgão gestor Admissões Alunos Duração
Centro Nacional de
Formação Profissional
(CNFP) /
Centro Piloto de
Formação Profissional
e Técnica (CPFPT)
1978 Contabilidade
Edificações
Eletrotécnica
Informática
Instalação sanitária
e hidráulica
Mecânica diesel
Serralheria
Telecomunicações
Instituto Nacional
de Formação
Profissional (INFP) /
MENFP
500 934 3
Escola Nacional de
Administração
Financeira (ENAF)
1978 Alfândega
Economia
Impostos
Tesouro
Ministério da
Economia e
Finanças
50 145 2 +
estágio
Escola Nacional de
Geologia Aplicada
(ENGA)
1978 Ciências da Terra
Técnico ambiental
Topografia
MENFP 35 018 3
Escola Nacional das
Enfermeiras de Port-
au-Prince (ENIP)
1979 Enfermagem
Ministério da Saúde 100 275 3
Centro de Técnicas de
Planejamento e de
Economia Aplicada
(CTPEA)
1983 Economia Aplicada
Estatística
Planejamento
Ministério do
Planejamento e da
Cooperação
Internacional
75 132 4
Escola Nacional das
Artes (ENARTS)
1983 Artes Plásticas
Dança
História da Arte
Música
Teatro
Ministério da
Cultura
019 200 4
Escola Nacional
Superior de
Tecnologia (ENST)
1988 Gestão
Informática
MENFP 30 95 4
18 Desativada desde 2006, pretendia reabrir o processo seletivo em 2010, com um número inicial de 35 vagas. 19 Não são aceitas novas matrículas desde 2005.
73
Mapa 2 - Instituições públicas nas províncias
74
Tabela 18 – Efetivos das instituições públicas de ensino superior
Categoria Instituição Total de
estudantes
Admissões
anuais
Professores Funcionários
Escolas e faculdades
provinciais da UEH
Ecole de Droit et d'Économie
de Fort-Liberté (EDEFL)
350 125 15 9
Ecole de Droit de Hinche
(EDH)
500 200 22 7
Ecole de Droit de Jacmel
(EDJ)
369 150 20 3
Ecole de Droit de Port-de-
Paix (EDPP)
400 150 20 5
Ecole de Droit et des Sciences
Économiques des Cayes
(EDSEC)
600 225 25 12
Ecole de Droit et des Sciences
Économiques des Gonaïves
(EDSEG)
350 125 15 9
Faculté de Droit, des Sciences
Économiques et de Gestion du
Cap-Haïtien (FDSECH)
1250 350 55 21
Efetivo parcial 3.819 1.175 172 66
Universidades públicas
departamentais
Université Publique de
l’Artibonite aux
Gonaïves (UPAG)
700 250 43 32
Université Publique du Nord
au Cap-Haïtien
(UPNCH)
662 471 49 37
Université Publique du Sud
aux Cayes (UPSAC)
700 210 52 39
Efetivo parcial 2.062 930 144 108
Escolas nacionais de
enfermagem nas
províncias
Ecole Nationale des
Infirmières de Jérémie
(ENIJ)
300 100 37 15
Ecole Nationale des
Infirmières des Cayes
(ENIC)
300 100 39 18
Ecole Nationale des
Infirmières du Cap-
Haïtien (ENICH)
300 100 38 19
Efetivo parcial 900 300 154 69
Efetivo total 6.781 2.405 470 243
75
Instituições privadas
No Haiti, como de resto no conjunto da América Latina e do Caribe, assistiu-se nas últimas
duas décadas a um crescimento impressionante do ensino privado, buscando atender a
demandas represadas e suprir carências dos sistemas públicos de ensino superior. Ainda não foi
realizada uma avaliação sistemática das instituições de ensino superior neste país, mas alguns
traços mais destacados desse fenômeno podem ser indicados. Embora existissem já desde a
década de 1960 alguns casos isolados de centros privados de ensino sendo estabelecidos no país,
fundamentalmente ligados a ordens ou missões cristãs, tanto católicas como protestantes, e ao
longo da década de 1970, fossem fundados alguns outros, inclusive em áreas provinciais, foi
somente a partir de meados dos anos 1980 que essas instituições privadas começaram a se
espalhar e o campo privado começou a se adensar, com um crescimento particularmente
acentuado a partir da virada dos anos 1990. Quadros profissionais formados no exílio
desempenharam um papel crucial na formação de grande parte dessas instituições: retornando
de uma estadia no exterior pautada pela atuação profissional em prestigiadas instituições no
continente americano ou europeu, tinham perfeita clareza das limitações do ensino superior no
país e não encontravam segurança institucional e financeira numa ligação exclusiva com a UEH.
Esta, por seu turno, não tinham condições de incorporar a totalidade desses quadros que
progressivamente optavam pelo retorno após a queda do clã Duvalier em 1986 e à medida que se
delineavam as perspectivas de democratização do país.
Da mesma forma como havia ocorrido com o desenvolvimento do sistema público de ensino
superior até aquele momento, também as instituições privadas acabaram se concentrando
predominantemente na capital do país, contribuindo elas também para reforçar as tendências
centralizantes do desenvolvimento haitiano ocorrido após o fim do período ditatorial. A
despeito dessa desproporcional concentração, o número de instituições particulares distribuídas
por capitais provinciais não é, contudo, de todo inexpressivo. Algumas universidades privadas,
como a Universidade Quisqueya e a Universidade Notre-Dame d'Haïti, têm criado importantes
sedes departamentais e aberto cursos diversificados em centros de ensino bastante bem
estruturados em algumas capitais provinciais, tentando responder a uma evidente demanda não
atendida pelas instituições públicas. No entanto, parece que tampouco esses esforços de fazer
frente a carências do sistema público escapam aos vícios e limitações que também incidem sobre
os esforços públicos de descentralização: os professores são em geral os mesmos que trabalham
nas sedes da capital e que se deslocam apenas alguns dias por semana ao centro provincial, ao
mesmo tempo em que têm de lidar com a precariedade de suas estruturas, muito mais limitadas
do que aquelas existentes em Port-au-Prince.
76
Gráfico 15 - Evolução do número de instituições privadas de ensino superior
Como se pode imaginar, o crescimento acelerado e desregulado do sistema universitário
privado gerou resultados bastante desiguais, indo desde instituições de imenso dinamismo e
prestígio, com ambições de se estabelecer em posições de competitividade com instituições de
todo o Caribe, até centros de ensino que sequer podem oferecer a seus estudantes as estruturas
mais básicas de ensino, como computadores ou bibliotecas. Parte dessas instituições privadas
conta com grande reconhecimento local e internacional e respondem à demanda de uma elite
que não pode ou não deseja enviar os seus filhos para o exterior do país ou que estaria
relativamente cansada das sucessivas crises da UEH, com suas incessantes greves de professores e
de alunos, intervenções, precariedade das instalações etc. Tais universidades prestigiosas
costumam ter convênios com instituições no exterior – com destaque para os Estados Unidos,
Canadá, França e República Dominicana – e espera-se que parte delas possa contar com essas
redes de apoio internacional para reagir mais rapidamente à destruição causada pelo terremoto e
buscar recuperar suas estruturas destruídas ou danificadas.
77
Por mais que os sistemas público e privado de ensino superior no Haiti se tenham
desenvolvido em momentos históricos tão distintos, seguindo configurações institucionais tão
diversas -- com uma pluralidade vertiginosa de instituições privadas e um número reduzidíssimo
de instituições públicas, invariavelmente gravitando em torno da UEH –, seria errôneo
depreender disso que haja qualquer tipo de incomunicabilidade ou oposição entre eles. Muito
pelo contrário, são imensas complementaridades e muita cooperação o que se vê em meio a essa
profusão de centros privados de ensino procurando atender à demanda frustrada pela
insuficiência de vagas no sistema público. Em busca de complementos salariais e em vista da
intermitência da remuneração na universidade pública, são muitos os professores que trabalham
alternada, sucessiva ou simultaneamente em instituições públicas e privadas. Como tampouco é
raro entre os estudantes encontrar aqueles que procuram fazer frente às constantes interrupções
nas atividades letivas e às carências materiais das instituições públicas com a frequência paralela
de um ou mesmo mais cursos em instituições privadas.
Inclusive no que diz respeito aos esforços de reforma e modernização do sistema universitário
haitiano e de estabelecimento de estruturas e equipamentos acadêmicos e culturais de maior
envergadura, que poderiam beneficiar todo o conjunto de estudantes e professores,
especialmente no que diz respeito à criação de bibliotecas universitárias, não são poucos os
momentos em que instituições públicas e privadas congregam esforços em busca de objetivos
comuns. Também em conjunto com as instâncias administrativas da UEH e de outros centros
públicos de ensino superior, aquelas com maior destaque e reconhecimento entre as instituições
privadas procuraram estabelecer e sustentar laços com as agências de cooperação internacional
no sentido de procurar assegurar fundos para o treinamento e o aperfeiçoamento do pessoal
docente, para a aquisição de equipamentos de qualidade e mesmo para o estabelecimento de
programas de pós-graduação.
A maioria das instituições privadas, contudo, apresenta um perfil mais marcadamente
empresarial e depende exclusivamente do pagamento de mensalidades para sustentar suas
atividades de ensino, algo que, em vista das circunstâncias econômicas extremamente difíceis do
país, exige um imenso sacrifício das famílias. Com efeito, essas instituições atendem à demanda
por qualificação profissional de uma juventude urbana – de perfil socioeconômico compatível
com o que seria considerado em outros países latino-americanos um estrato de classe média
baixa – que, concluindo o ensino médio em escolas públicas, acaba sendo preterida nos exames
de seleção para as vagas do sistema universitário público e acaba tendo de recorrer a uma das
inúmeras instituições privadas para obter seu diploma universitário, na esperança de melhorar
suas chances de obter um posto de trabalho formal numa economia marcada por um
desemprego formal que se tem mantido ao longo da última década em torno de 80%.
No Haiti, repete-se um fenômeno perverso que se verifica também em outros países latino-
americanos: estudantes capazes de pagar altas mensalidades em boas escolas privadas do ensino
fundamental e médio acabam conquistando a maior parte das vagas universitárias do sistema
público. Há um agravante, contudo, uma vez que a esmagadora maioria da oferta de ensino
fundamental é feita por escolas privadas, praticamente não existem possibilidades de contornar a
78
necessidade de se investir no pagamento de altas mensalidades das melhores entre as escolas
privadas para que se tenha uma chance de entrar na universidade pública. Ao adentrar o sistema
privado, as razões pela opção dos estudantes por uma ou outra instituição não são muito claras.
No entanto, e apesar de nem o MENFP e nem qualquer outra instituição nacional ou
internacional jamais terem sido capazes de realizar uma avaliação abrangente do sistema
universitário haitiano, cada estudante parece saber claramente qual a posição de cada uma das
mais de 150 instituições privadas de ensino numa escala de qualidade de ensino e de prestígio do
diploma e compreender que retorno esperar pelos esforços feitos por sua família para pagar as
taxas e mensalidades.
Os centros universitários privados são extremamente desiguais. Universidades como a
Quisqueya e a Notre-Dame nasceram marcadas pela presença de quadros formados na diáspora
que traziam consigo o desejo de criar instituições de competitividade internacional. Isso se
reflete na qualidade das instalações, em laboratórios e em centros de pesquisa. O mesmo não se
pode falar de centros mais modestos, que, entretanto, desempenham um papel crucial no
atendimento à demanda por qualificação profissional da juventude haitiana. Tanto uns como
outros, porém, fazem frente a desafios comuns, com as sucessivas crises políticas e econômicas e
as diversas tragédias naturais recentes que se abateram sobre o país, assim como no que diz
respeito às dificuldades perenes na criação e manutenção de estruturas e equipamentos de
ensino e pesquisa, incluindo bibliotecas, laboratórios etc., além, é claro, da fuga sistemática de
cérebros para outros países, um fenômeno que afeta e debilita de modo geral todas as
instituições envolvidas no esforço de oferecer educação superior no Haiti.
Nos centros universitários privados, é oferecida uma gama de cursos que chega mesmo a
ultrapassar o espectro de carreiras disponíveis no sistema público: dos indefectíveis Direito e
Gestão, à Medicina, Informática, Diplomacia, Engenharia, passando pela Agronomia, e por todas
as disciplinas das Ciências Humanas. Em meio a esse universo institucional extremamente
plural, o Ministério da Educação Nacional e Formação Profissional (MENFP) procura, por meio
de sua Direção de Ensino Superior e de Pesquisa Científica (DESRS),20 avaliar, controlar e
normatizar as atividades tanto do ensino superior público como privado no país. No
cumprimento dessa incumbência, parte dos procedimentos de avaliação é outorgada à UEH
(GTEF, 2009: 35). Com base nos resultados dessa avaliação, a DESRS procede à homologação do
registro de funcionamento da universidade, solicita reformas ou adaptações ou rejeita a
solicitação de autorização.
20 A DESRS foi estabelecida há cerca de 10 anos e conta com um número muito restrito de funcionários. Tem sob
sua responsabilidade a elaboração de um plano nacional para a educação superior e a realização de estudos setoriais
periódicos relacionado à avaliação do sistema de ensino superior e da pesquisa científica. Apesar da publicação de
alguns estudos preliminares e da coleta parcial de dados, ainda serão necessários investimentos nesse setor para que
seja suficientemente capaz de desempenhar suas incumbências normativas. A administração da UEH também
desempenha atribuições gestoras do sistema geral de ensino superior, na medida em que é responsável pela
homologação das autorizações de funcionamento concedidas pelo MENFP a instituições do sistema privado.
79
Gráfico 16 - Situação do processo de autorização para
o funcionamento das instituições privadas
Na verdade, das 149 instituições
privadas em pleno funcionamento no
país, apenas 52 contam com
reconhecimento oficial pleno e uma
autorização para seu funcionamento. Sem
se arriscar a estimativas, a DESRS
reconhece, porém, que, sem a obtenção
da autorização oficial, as universidades
privadas não conseguem arrebanhar um
número considerável de estudantes.
Portanto, pode-se deduzir que, apesar de
numeroso, o campo das instituições não
autorizadas não compreende instituições
de grande porte e conta com um corpo
discente relativamente reduzido e
errático, com uma altíssima taxa de
desistência.
Qualquer esforço de compreensão,
análise ou avaliação do ensino superior
no Haiti pressupõe determinar a
configuração precisa, o alcance, os
potenciais e limites do ensino privado,
sobre o qual todas as instâncias gestoras
envolvidas com o ensino superior
haitiana demonstram possuir dados insuficientes e fragmentários. Se essas insuficiências se
evidenciam inclusive no que diz respeito às instituições privadas já avaliadas e autorizadas, o que
não dizer do imenso campo de instituições que, espalhadas pela capital e pelas províncias, não
cessam de se desdobrar em novas sedes, carreiras e projetos, sem dúvida alguma atendendo a
uma imensa demanda na área de formação de quadros em todas as áreas de atuação. Urge,
portanto, para uma melhor compreensão do ensino superior privado no Haiti, suprir tais
carências com a realização de um levantamento abrangente e construção de um quadro
sistemático de avaliação sobre o ensino superior privado no país. Da mesma forma, seria
necessário realizar um abrangente censo universitário (atento tanto à configuração e distribuição
dos corpos discente, docente e funcional, quanto à evasão de estudantes, à circulação de
profissionais entre as instituições e ao compartilhamento de estruturas e equipamentos), no
quadro do qual se atentasse especialmente para a dispersão de centros de ensino pelas capitais
provinciais e outras cidades do país e para a sistematização de informações sobre a origem social
80
dos estudantes e o destino profissional dos formandos.
A despeito da precariedade das informações disponíveis, alguns pontos merecem ser
destacados no que diz respeito à configuração geral das instituições privadas em meio ao sistema
global de ensino superior haitiano. Em primeiro lugar, cabe ressaltar que o sistema de coleta e
armazenamento de dados relativos à instalação e o funcionamento de instituições privadas por
parte das instâncias governamentais e universitárias responsáveis pela gestão do sistema é
extremamente precário e parcial e, a despeito disso, vem sendo a custo expandido e aprofundado
através dos esforços pessoais de funcionários e acadêmicos ligados às instâncias gestoras do
sistema (em especial e a despeito das disputas decorrentes da concorrência interinstitucional, na
DESRS/ MENFP e nos escalões intermediários da administração da UEH). Além disso, em
função do período de cinco anos de funcionamento ininterrupto exigidos para que uma
instituição seja avaliada, há casos de instituições que se estabelecem, contratam professores,
abrem inscrições, matriculam alunos e, diante de dificuldades inevitáveis, fecham suas portas e
dispensam seus estudantes sem qualquer certificação, antes mesmo que qualquer instância
pública de administração do sistema tenha sequer tomado conhecimento de sua existência.
Dados preliminares de um estudo iniciado pela DESRS/ MENFP em abril de 2009 e que visa à
implantação de um banco de dados sobre as instituições de ensino superior no país permitem
produzir um quadro amplo da configuração desse setor e de suas especificidades. Com base em
informações desse levantamento, é possível constatar que 82,4% das instituições se fazem
financiar exclusivamente com os pagamentos de taxas e mensalidades pelos alunos.21 A
combinação do financiamento pelos alunos com subsídios de órgãos governamentais ou não
governamentais de cooperação internacional ou de investimento direto da iniciativa privada
local ou estrangeira responde por ocorre em 18% das instituições, mas sempre como um
elemento marginalmente complementar ao aporte das mensalidades (14,7% das instituições
contam com uma fonte externa complementar e 2,9% delas com duas). Coincidentemente, o
mesmo estudo demonstrar que os mesmos 82,4% das instituições universitárias utilizam sua sede
exclusivamente para fins acadêmicos, enquanto os mesmos 18% do financiamento
complementado por fontes externas têm suas sedes destinadas a outras finalidades durante o dia
e oferecerem cursos universitários no período noturno. A justaposição desses números faz
suspeitar que o peso relativo das mensalidades no financiamento do sistema privado de ensino
superior seja ainda maior do que a já impressionante cifra de 82,4% como fonte exclusiva de
financiamento, pois as instituições que mencionaram contar com fontes adicionais ou
complementares são precisamente aquelas que compartilham sua sede com outras organizações
ou utilizam-nas para outras finalidades durante o período diurno, o que responderia por boa
parte do que representa o aporte externo de recursos. Assim, não seria exagero dizer que o papel
desempenhado por aportes financeiros externos no funcionamento das instituições privadas de
ensino superior é quando muito marginal e que os grandes (senão únicos) financiadores da
21 Cf. DESRS (Direction de l’Enseignement Supérieur et de la Recherche Scientifique). “Universités et institutions
d'enseignement supérieur en Haïti. Projet d'implantation d'une base de données”. Ministère de l'Éducation
Nationale et de la Formation Professionnelle (MENFP): Port-au-Prince, 2009.
81
expansão e da manutenção do ensino superior privado no Haiti são seus próprios alunos.
Gráfico 17 - Volume de estabelecimentos privados de ensino superior ativos
Tabela 19 – Marcos temporais decisivos na evolução do sistema de ensino superior haitiano
Período Evento
1979 Início da implementação da Reforma Bernard (integração do kreyòl no sistema educacional)
1982-1987 Moratória da Reforma
1986 Fim da ditadura
1987 Nova Constituição (educação básica compulsória e determinação do kreyòl como língua principal de
instrução)
1989 Ampla reforma curricular de todos os níveis da educação
1991-1994 Golpe de estado e embargo internacional
1993 Lançamento do PNEF (Plano Nacional de Educação e Formação Profissional), que procura retomar a
Reforma interrompida, mas que somente começará a ser implementado a partir de 1998
2001 Criação da DESRS, para gerir o ensino superior e promover a pesquisa universitária
82
Tendo sempre em mente que se trata de dados preliminares e que se referem de todo modo a
uma realidade anterior à reconfiguração radical que a reconstrução após o terremoto exigirá, são
dados eloquentes sobre a configuração do sistema privado de ensino, na medida em que
correspondem às informações referentes ao funcionamento de quase dois terços do conjunto de
instituições autorizadas (34 de 52, i.e., 65,4%), mas que respondiam por mais de três quartos do
total de estudantes matriculados no sistema privado (26.307 de um total 34.200, i.e., 76,9%).
Diante do alcance dessas amostragens, poderiam ser feitas projeções plausíveis sobre o sistema
global de ensino privado com base no que já pôde apurar. As informações apresentadas e
discutidas a seguir apoiam-se, assim, nos dados coletados entre 2007 e 2009 para compor a base
desse banco de dados do MENFP e, combinando-os a outras informações coletadas no decorrer
deste levantamento, são desdobradas em alguns dados reveladores a respeito da configuração do
amplo conjunto de instituições privadas de ensino superior ativas no país.
Tanto na média como em sua maioria, as universidades privadas se estruturam em torno de 3
faculdades, no mais das vezes organizadas em torno das 3 carreiras que congregam o maior
número de estudantes, administração, contabilidade e informática. Em alguns casos,
especialmente nas instituições privadas estabelecidas nas províncias, tem bastante peso relativo
também a preferência dos estudantes (especialmente das estudantes) pelas carreiras de educação
e enfermagem.
A representação feminina, porém, na população universitária das instituições privadas não é
menos baixa que nas instituições públicas. Ao final do ano letivo 2007-2008, as instituições
recenseadas haviam diplomado 2.179 estudantes (dos quais 1.305 homens e apenas 874
mulheres) e licenciado outros 1.475 (963 homens e 512 mulheres). Somente em duas áreas, as
mulheres estiveram presentes com maior peso relativo: na medicina, que se encerra com a
obtenção de um título de doutoramento profissional também nas universidades privadas (com
65 novas doutoras e 63 novos doutores) e nas carreiras que concedem certificação de ciclos
curtos de formação e treinamento (com 297 mulheres e 269 homens certificados).
No entanto, na única área realmente associada a um âmbito de pesquisa mais próximo do que
se conhece como tal em outros sistemas universitários, enquanto 10 homens se tornavam novos
mestres, nenhuma mulher obteve um diploma de mestrado de uma universidade privada nesse
período. A despeito de uma presença feminina equilibrada nas carreiras médica e de ciclos
curtos (contabilidade, educação etc.), nem o número total de estudantes consegue mascarar a
marcada sub-representação feminina no corpo discente das instituições privadas de ensino
superior, com 14.666 homens e apenas 11.641 mulheres. O desequilíbrio entre homens e
mulheres se reduz no que se refere à desistência e à evasão universitária, sendo altíssimo o
número de desistentes entre ambos os grupos, mas ainda assim, ligeiramente mais alto entre as
mulheres, sendo apenas 8% das estudantes que anualmente se inscrevem num curso superior as
que chegam a se diplomar, enquanto que, entre os homens, esse número chega a 9%.
As áreas de estudo preferidas pelos estudantes são a contabilidade e a administração de
empresas: 39% dos estudantes e 56% das estudantes optam por uma dessas duas carreiras. A
seguir na escala de procura, vêm a informática, para os homens, e a enfermagem para as
83
mulheres. Mas em quarto lugar na ordem de preferência, voltam a convergir homens e mulheres
em torno da pedagogia.
São seis as instituições privadas que oferecem programas de mestrado: INUQUA, UNDH e
UNIQ, com vários programas de mestrado, e UC, CREFI, ESIH e UNAH, com respectivamente
um programa de mestrado em cada instituição. Apenas quatro universidades privadas oferecem
titulação de doutorado, mas correspondem unicamente à graduação na carreira médica,
concluída com a obtenção de um doutorado profissional em ciências médicas. Além das
universidades Notre-Dame d’Haïti, Lumière e Quisqueya, existe uma terceira instituição privada
que oferece a formação em Medicina, a Universidade Royale d’Haïti, mas cuja Faculdade de
Medicina teve seu registro suspenso em 2009 pelo MENFP, com a demanda de adaptações
curriculares.
Praticamente dois terços das instituições privadas de ensino superior atestam acolher
atividades de pesquisa e empregar números que variam entre um e 20 pesquisadores por
instituição. Metade delas, contudo, estão situadas no extremo inferior desse espectro de
pesquisadores ativos, com pelo menos um, mas não mais que 5 pesquisadores ativos, e 36% do
total não desenvolvem qualquer atividade de pesquisa e não abrigam qualquer pesquisador.
Com relação ao corpo docente, de saída três elementos se destacam, a saber, o desnível entre
professores com dedicação exclusiva e docentes empregados em regime parcial, o reduzido
número de professores doutores, além da baixa proporção de mulheres professoras. Por mais que
seja um desnível consideravelmente menor do que no sistema público, onde apenas cerca de 6%
dos professores trabalham com dedicação exclusiva, a proporção no sistema privado ainda é alta,
com apenas 18,67% de docentes em regime integral. Apenas duas instituições empregam mais
professores em regime integral do que em regime parcial: a Universidade Lumière, com 51,75%
de seu corpo docente trabalhando com dedicação exclusiva, e o Centro de Estudos Diplomáticos
e Internacionais (CEDI), com 95,35%. No extremo oposto, estão a Universidade de Port-au-
Prince (UP), a Universidade Quisqueya (UNIQ) e a Universidade Episcopal do Haiti (UNEPH),
com o maior desnível entre os dois regimes de trabalho, respectivamente 15,32%, 13% e 8,2%.
Em meio a um conjunto de 1648 professores detentores de uma licença, um bacharelado ou um
mestrado, são apenas 210 os professores universitários do sistema privado que detêm um título
de doutorado. Outro traço que se destaca é o reduzido número de professoras em meio a um
universo docente dominado por homens: apenas 14% do total de professores são mulheres.
Cabe frisar, porém, que o nível de titulação entre as professoras é razoavelmente maior que
entre os homens, sendo 18% a proporção de professoras doutoras, contra a média de 11% para o
conjunto dos docentes, e que se reduz para 10% se considerados apenas os homens.
84
Gráfico 18 - Perfil do corpo docente das instituições privadas de ensino superior
Fonte: DESRS, 2009.
Gráfico 19 - Titulação segundo o gênero no corpo docente das universidades privadas recenseadas
85
Com relação às bibliotecas e equipamentos, porém, são poucas as instituições que reconhecem
carecer de acervos bibliográficos ou laboratórios de informática, residindo precisamente nesse
aspecto um dos maiores atrativos que as instituições privadas possuem em contraste com a
situação da maior parte das instituições públicas de ensino superior. Apenas 6 das universidades
privadas recenseadas atestam possuir bibliotecas com menos de mil volumes, com o restante
delas divididas em três níveis de extensão do acervo bibliográfico: um terço das instituições com
bibliotecas de mil a 5 mil volumes, outro terço com acervos entre 5 e 10 mil e o último terço
contando com acervos de mais de 10 mil livros. Algo similar no que diz respeito aos
computadores oferecidos ao uso dos alunos, com apenas 4 instituições que não os possuíam, e
todas as outras contando com um ou mais laboratórios de informática. Todas as instituições que
contavam com pelo menos um laboratório de informática ofereciam também acesso à internet
com banda larga.
Para seguir traçando um perfil sobre o sistema privado de educação superior no Haiti e sobre
a configuração das instituições que o compõem e das diferenças que as marcam, atente-se para a
listagem abaixo, que ordena a oferta de serviços e equipamentos básicos aos estudantes pela
frequência de sua ocorrência entre as instituições recenseadas.
Tabela 20 - Oferta de serviços e equipamentos básicos nas universidade privadas autorizadas
Frequência Serviço ou equipamento
97% Possuem geradores capazes de oferecer eletricidade ininterrupta durante o período das aulas.
85% Têm condições de oferecer água potável aos estudantes, sendo a mesma porcentagem das universidade que
promovem atividades culturais.
80% Esforçam-se em oferecer aos estudantes um programa de estágios ou de prática profissional.
70% Contam com equipes e equipamentos esportivos.
60% Oferecem algum tipo de serviço de aconselhamento pedagógico.
50% Mantêm espaços de convívio para os estudantes, serviço de enfermaria, serviço de encaminhamento profissional
e programas de parceria com o setor privado, assim como programas de intercâmbio com outras instituições de
ensino superior no país.
40% Possuem programas de intercâmbio com instituições de ensino superior fora do país, a mesma proporção que
procura manter parcerias com o setor público.
30% Participam da limpeza do espaço público ao redor de suas sedes.
25% Mantêm programas de seleção preferencial de mulheres para postos de estudo, trabalho ou pesquisa.
20% Estão situadas num campus universitário, mesma proporção das instituições que contam com um jornal
estudantil.
10% Têm condições de oferecer moradia estudantil aos seus alunos, a mesma proporção das que mantêm em
funcionamento programas de formação à distância.
9 Sanitários, em média, por estabelecimento de ensino, o que corresponderia a um sanitário para cada 86
estudantes matriculados.
86
Como se pode perceber a partir desse escalonamento da incidência de serviços e
equipamentos considerados básicos para o funcionamento de uma instituição universitária, é
consideravelmente desigual sua distribuição entre os estabelecimentos privados de ensino
considerados. Por precárias que sejam as condições de financiamento do setor público, a UEH e
outras instituições públicas de ensino superior compõem um cenário em que todos os serviços e
equipamentos indicados acima se encontram presentes. Longe de qualquer tendência à
homogeneidade que se possa querer depreender dos números globais apresentados, portanto,
mais vale ressaltar como o setor privado de ensino superior no Haiti é extremamente
diversificado e desigual e somente chega a se assemelhar às instituições públicas por conta de um
efeito modal de anulação recíproca dos extremos de qualidade e precariedade na oferta de
serviços educacionais.
As instituições privadas abordadas aqui abrangem desde centros educacionais próximos ao
que no âmbito internacional se reconhece como uma instituição acadêmica de perfil
universitário, voltadas para a formação teórica e prática nas mais diversas áreas do
conhecimento e da prática profissional e também para a pesquisa e a pós-graduação, na medida
da demanda dos estudantes e da capacidade de absorção do mercado de trabalho e do serviço
público e comunitário, até escolas voltadas diretamente para o atendimento de uma demanda
bastante específica de preparação de quadros para atender demandas localizadas. Especialmente
entre as instituições privadas de maior tradição, reconhecimento e prestígio, há uma presença
significativa de organizações mantidas por entidades religiosas ou vinculadas diretamente à
Igreja Católica e a distintas denominações protestantes.
Além de abrangente e diversificado, o setor privado supre uma demanda importante e
responde pela formação de quadros absolutamente necessários na situação presente da sociedade
e da economia haitianas, o que se explicita não apenas no crescimento exponencial do número
de instituições privadas de ensino superior nos últimos anos (assim como do número de
estudantes nelas matriculados, mesmo a despeito das agudas crises econômicas e políticas pelas
quais vem passando o país), mas também fica evidente na maior flexibilidade e dinamismo que
demonstram ao responder a demandas pela expansão e aperfeiçoamento do sistema, tanto na
oferta de modalidade variadas de pós-graduação, como no esforço de coordenar esforços com o
sistema universitário público no sentido de criar uma infraestrutura básica de estudo e pesquisa,
especialmente no que diz respeito à aquisição e ampliação de bibliotecas universitárias e na
elaboração de programas interdisciplinares de pesquisa.
Por tudo isso, a simplificadora ideia da renitente dualidade da sociedade haitiana entre massas
e elites (com seu reconfortante corolário sociologizante da divergência entre centro e periferia e
seu infame corolário racializante da oposição entre negros e mulatos) não encontra eco na
distribuição do publico estudantil em meio às instituições públicas e privadas, que atendem,
estas também, a amplos setores tanto dos grupos sociais tradicionalmente incluídos entre as
elites – citadinos mulatos – como também (e predominantemente) de grupos historicamente
marginalizados no contexto ditatorial e que puderam assegurar alguma medida de ascensão
social através dessa formidável combinação entre membros da família que, a partir da diáspora,
87
enviam remessas de fundos capazes de financiar a formação universitária dos membros mais
jovens da família e lhes assegurar alguma perspectiva de inserção profissional ou ao menos de
reconhecimento social e ascensão simbólica.
Sem dúvida, o fenômeno ubiquamente denunciado como fuga de cérebros não se aplica sem
maiores ponderações à realidade histórica da diáspora haitiana, como de resto não funciona em
lugar algum do planeta como chave explicativa global dos ciclos migratórios e de ascensão social
transnacional. Assim, juntamente com toda massa de remessas financeiras enviadas ao Haiti pela
mão de obra que o país continua exportando – cerca de US$ 2 bilhões, que respondem por
metade do PNB, segundo estimativas recentes do Banco Mundial –, o fenômeno da expansão do
ensino superior privado haitiano é um dos indicadores mais eloquentes de que a circulação
internacional socialmente ascendente de haitianos e haitianas bem sucedidos na diáspora não
assegura somente o bem-estar do núcleo familiar que os acompanha, mas também a viabilidade
de projetos educacionais e profissionais de parentes e amigos no Haiti. Portanto, em lugar da tão
célebre quanto infame imagem de cérebros em fuga, não seria o caso de se aplicar outra a um
caso assim? Talvez a imagem – senão tão evocativa, ao menos mais realista – de corpos inteiros
em movimento: cérebros aos quais coube também ter pernas para buscar melhores condições de
se fazerem produtivos, braços para trabalhar onde havia trabalho e mãos para estender e
multiplicar resultados, no lugar pra onde se foi tanto quanto no lugar de onde se veio.
88
Tabela 21 - Instituições privadas de ensino superior autorizadas Instituição Fundação Cursos
Instituto de Altos Estudos
Comerciais e Econômicos
(IHECE)
1961 Administração de Empresas, Ciências Econômicas, Contabilidade
Escola Superior de Química
(CHEMTEK)
1982 Bioquímica, Química
Universidade GOC 1982 Administração, Agronomia, Arquitetura, Artes Plásticas, Artes Visuais,
Ciência Política, Contabilidade, Direito, Economia, Enfermagem,
Engenharias (Civil, Elétrica, Geológica, Informática, Mecânica),
Etnologia, Farmácia, Filosofia, Odontologia. Psicologia, Relações
Industriais, Sociologia, Teologia
Instituto Universitário
Quisqueya-Amérique
(INUQUA)22
1988 Arquitetura, Ciências Contábeis, Gestão, Informática, Economia,
Engenharia Civil, Engenharia Elétrica, Engenharia Eletrônica,
Teologia
Mestrados: Engenharia e desenvolvimento, Gestão financeira,
Informática da gestão
Academia Nacional Diplomática
e Consular (ANDC)
1988 Diplomacia, Diplomacia Política, Interpretação (línguas e letras),
Secretariado Diplomático
Centro de Pesquisa e de
Formação Econômica e Social
para o Desenvolvimento
(CRESFED)23
1989 Descentralização, Governo Local e Desenvolvimento
Universidade Adventista do
Haiti (UNAH)
1989 Administração, Educação, Enfermagem, Teologia
Universidade Notre-Dame
d'Haïti (UNDH)24
1990 Administração, Contabilidade, Ciências da Educação Ciência Política
e Estudos Internacionais, Economia, Enfermagem, Governança e
Administração Pública, Medicina, Sociologia e Criminologia.
Mestrados: Administração Escolar, Aperfeiçoamento Pedagógico,
Ciências da Educação, Educação, Educação Familiar e Sexologia,
Gestão de Estabelecimentos de Ensino, Pedagogia, Planejamento e
22 Instituição de perfil evangélico, com ênfase na formação continuada e no enquadramento profissional. Parcerias
com instituições internacionais permitiram criar um sistema de ensino à distância e promover seminários de
treinamento e viagens de estudos. Inauguraria uma nova sede em 2010. Está estruturada em quatro centros
integrados de ensino e pesquisa: Centro de Ensino e de Pesquisa em Ciências Sociais (CERSS), Centro de Ensino e
de Pesquisa em Desenvolvimento Econômico Local (CERDEL), Centro de Ensino, Pesquisa e Aperfeiçoamento em
Tecnologia da Informação (CERPTI) e Escola Teológica Evangélica (ETE). Seus programas de mestrado são
oferecidos em parceria com a Universidade do Québec de Montreal (UQAM). 23 Reconhecido como instituição de ensino superior, apresenta um perfil híbrido de organização não governamental
e centro de ensino, congrega tanto a formação de quadros para a atuação junto aos órgãos públicos locais, quanto de
prestação de serviços e de consultoria para o universo das organizações internacionais estabelecidas no país. 24 Estabelecida por iniciativa da Conferência Episcopal Haitiana com o propósito de formar quadros especialmente
nas áreas de saúde, educação, administração e agronomia, vem diversificando consideravelmente a oferta de cursos
e expandindo sua área de atuação, com uma sede estabelecida em Jacmel e planos para estabelecer outros centros
departamentais. Sua estrutura se compõe das seguintes faculdades: Faculdade de Medicina e Ciências da Saúde
(FMSS); Faculdade de Ciências Econômicas e Políticas Sociais (FSESP); Centro de Pesquisa e de Formação em
Ciências da Educação e de Intervenção Psicológica (CREFI); Centro de Formação para a Escola Fundamental
(CEFEF), que oferece treinamento pedagógico em conjunto com a UEH; e a Faculdade de Ciências Administrativas
(FSA), que oferece em Jacmel o curso de Gestão, também conhecida como Faculdade de Gestão de Jacmel.
89
Administração Escolar
Universidade Quisqueya
(UNIQ)25
1990 Administração, Arquitetura, Ciências Jurídicas, Economia, Economia
Agrícola, Enfermagem, Engenharias Civil, Elétrica e Industrial,
Farmácia, Medicina, Meio Ambiente, Odontologia, Produção
Agrícola, Tecnologia Médica, Turismo e Interpretação
Mestrados: Ecotoxicologia, Gestão de Recursos Hídricos, Meio
Ambiente
Colégio Universitário de
Christianville (CUC)
1990 Assistência Social, Educação Teológica, Leitura Bíblica
Universidade Caraïbe (UC) 1990 Agronomia, Ciências Humanas, Contabilidade, Educação, Engenharias,
Gestão, Informática, Letras
Universidade Episcopal do Haiti
(UNEPH)
1992 Administração, Agronomia, Ciências Religiosas, Educação, Informática,
Enfermagem (em Léogâne)
Universidade Lumière (UL) 1994 Arquitetura, Ciências da Educação, Direito, Enfermagem, Engenharias
(Civil, Eletrônica), Gestão, Medicina, Tecnologia Médica, Teologia
Escola Superior de Infotrônica
do Haiti (ESIH)
1995 Administração de Empresas, Informática
Centro de Estudos Diplomático
e Internacional (CEDI)
1997 Ciência Política e Governança Pública, Contabilidade, Diplomacia e
Relações Internacionais, Marketing e Relações Públicas, Tradução e
Interpretação
Universidade Autônoma de
Port-au-Prince (UNAP)
1998 Educação, Odontologia, Engenharia Civil, Administração, Informática,
Meio Ambiente.
Universidade Fundação Aristide
(UFA)
2000 Enfermagem, Espanhol, Informática, Medicina
Universidade de Fondwa
(UNIF)26
2004 Agricultura, Línguas Modernas, Veterinária
Universidade Nobel do Haiti
(UNH)
2006 Gestão, Contabilidade, Economia, Informática, Engenharia Civil,
Marketing, Relações Internacionais, Educação. Mestrados em
Administração Judiciária, Direito, Diplomacia. Doutorado em Direito e
Administração Pública
Centro Técnico Saint-Gérard
(CTSG) /
Universidade Saint-Gérard27
2010 Enfermagem, Informática, Técnico (Eletrônica, Hidráulica, Mecânica),
Tecnologia Médica
25 Desenvolvida com o apoio de instituições e agências internacionais, com base num projeto de criação de um
referencial de excelência para o sistema universitário haitiano. Boa parte dos quadros possui pós-graduação e
dedicação exclusiva. Está estruturada nas seguintes faculdades: Faculdade de Ciências da Agricultura e do Meio
ambiente (FSAE), Faculdade de Ciências da Saúde (FSSA), Faculdade de Ciências Econômicas e Administrativas
(FSEA), Faculdade de Ciências da Educação (FSED), Faculdade de Ciências, Engenharia e Arquitetura (FSGA) e
Faculdade de Ciências Jurídicas e Políticas (FSJP). Possuía vários laboratórios e núcleos de pesquisa e um ambicioso
plano de ampliação da pós-graduação. Inauguraria em 2010 um novo campus central. 26 A Associação dos Camponeses de Fondwa (APF) criou a primeira universidade rural do país. Além da formação e
aperfeiçoamento profissional, oferece também um currículo de formação e treinamento de alfabetizadores. 27 O Centro Técnico Saint-Gérard havia se restabelecido como Universidade Saint-Gérard, antes mesmo de haver
sido emitida a autorização para seu funcionamento. O processo de homologação de seus registros encontrava
entraves na situação precária de suas instalações físicas.
90
A pós-graduação e os pós-graduandos
Não existe no espectro da literatura acadêmica qualquer tipo de balanço sistemático sobre a
pós-graduação no Haiti. O título de doutor, concedido pela UEH e por outras 5 universidades
privadas se restringe à carreira médica: os estudantes de Medicina concluem seu bacharelado
com a obtenção de um título amplamente reconhecido como um doutoramento profissional.
Com exceção desse tipo de titulação, o universo da pós-graduação e da pesquisa no Haiti é
extremamente estreito, com alguns episódios bastante recentes de esforços na direção do
estabelecimento de programas de especialização, mestrado e, em alguns casos, sem a
homologação do MENFP ou da UEH contudo, mesmo de doutorado. De resto, todos os doutores
que atuam nas instituições universitárias haitianas ou em instâncias governamentais e agências
não governamentais obtiveram seus títulos invariavelmente em universidades no exterior,
preferencialmente nos Estados Unidos e em países francófonos como França, Canadá e Bélgica,
mas também em países latino-americanos como o México, Cuba e República Dominicana.
Em meio a uma imensa precariedade estrutural e material, não foram poucos os projetos
concebidos por mestres e doutores haitianos formados no exterior e desenvolvidos junto à UEH
e a outras instituições públicas e privadas em busca de consolidar algumas linhas de pós-
graduação no país, inicialmente no nível do mestrado, mas eventualmente chegando ao
doutorado. Em decorrência desse empenho, dissertações de excelente qualidade foram
produzidas, predominantemente voltadas a temas relacionados mais diretamente com a
realidade contemporânea do Haiti. A urbanização acelerada, a desigualdade social, o
bilinguismo, o desflorestamento, a desestruturação do mercado agrícola, as tensas relações
haitiano-dominicanas, a cooperação regional caribenha, a violência urbana e a preservação do
patrimônio artístico, histórico e cultural são dos temas que pautaram e orientaram os mais bem
sucedidos dentre esses esforços. A riqueza de perspectivas intelectuais e metodológicas adotadas
na investigação desses e de outros temas demonstram ainda interesses e temáticas comuns ao
debate acadêmico em diversos outros países latino-americanos.
Boa parte desses mestres seguiram seus estudos de doutoramento em alguma instituição
estrangeira. Vários encontraram boas condições de trabalho e pesquisa e nelas se mantiveram,
dando prosseguimento a produtivas carreiras acadêmicas; outros buscaram realizar seus
objetivos profissionais no mercado de trabalho; outros ainda retornaram ao Haiti e atuam em
posições de destaque na administração pública, em organizações não governamentais ou
agências internacionais e multilaterais ou na iniciativa privada, no mais das vezes em
combinações variadas dessas carreiras simultânea ou sucessivamente. Por diversificada que seja
(e precise ser) a carreira profissional dos pós-graduados e pesquisadores haitianos, todos
demonstram traços comuns, a saber, a manutenção de vínculos estreitos com a comunidade
acadêmica haitiana, a circulação constante entre suas pátrias eletivas e seu país de origem, e o
esforço ininterrupto por assegurar a presença haitiana em espaços de debate acadêmico e
intelectual e de circulação internacional do conhecimento. Retornando, muitos optaram por
prosseguir numa carreira de docência no Haiti. Não raro circulando entre instituições públicas e
91
privadas, desempenham um papel de destaque entre seus pares e procuram auxiliar gerações
sucessivas de estudantes a fazer frente às dificuldades de perseguir uma carreira de pesquisa no
Haiti.
Tanto a UEH como várias das grandes universidades privadas têm uma tradição ainda não
avaliada de produção monográfica entre os estudantes que concluem a graduação, em especial
nos cursos que conduzem ao bacharelado ou licenciamento. Muitos desses trabalhos são de
excelente qualidade e, em que pesem as limitações de consulta a acervos bibliográficos
atualizados, correspondem em muitos casos ao que poderia naturalmente conduzir a um
mestrado de alto nível e possivelmente a uma inovadora pesquisa de doutoramento. No entanto,
as limitações materiais das instituições de ensino superior haitianas no que diz respeito a
estruturas fundamentais de pesquisa, como laboratórios e bibliotecas, dificultam enormemente
ou mesmo inviabilizam muitos dos esforços de treinamento desses talentosos estudantes em
técnicas e procedimentos de aquisição cumulativa do conhecimento produzido mais
recentemente numa área específica e de análise seletiva dos processos relevantes para a
compreensão dos fenômenos investigados. Some-se a isso o reduzido número de professores
doutores, capazes de partilhar sua experiência de formação e de orientar os estudantes a buscar
saídas originais para essas limitações, além do impacto paralisante que cada crise econômica e
política enfrentada pelo país tem nas instituições universitárias e tem-se um quadro de bloqueios
formidáveis, diante dos quais muitos estudantes não conseguem realizar a passagem decisiva do
registro do ensino e da reprodução de saberes consolidados para o registro da investigação que
questiona os repertórios tradicionais e que produz conhecimentos novos com base em processos
mais adaptados a realidades dinâmicas.
Diante dessas dificuldades em assegurar continuidade, adensamento e acúmulo para o âmbito
da pesquisa, padece um pouco em todas as áreas o conhecimento que se vem produzindo sobre o
país nas últimas décadas. Os conhecimentos e análises que se produzem entre os círculos
acadêmicos e intelectuais haitianos sob tais condições são suplementados, mas não raro
suplantados, desbancados ou mesmo francamente ignorados por uma produção de análises,
avaliações e indicadores sociais e econômicos que se mostra crescentemente terceirizada e
deslocada da esfera acadêmica, livres, portanto, do escrutínio dos pares e da submissão a testes
de validação. Estudos e relatórios que não se submetam aos critérios de verificação do trabalho
acadêmico acabarão produzirão resultados impossíveis de serem reconstruídos ou reproduzidos,
retratos episódicos daquilo que se analisa. Vários trabalhos qualitativos e quantitativos recentes
sobre a realidade camponesa ou sobre os grandes bidonvilles haitianos são um bom exemplo
disso, permeados de peremptoriedades opinativas, mas completamente carentes de bases de
verificação. Tampouco existe uma sistematização ou avaliação de iniciativas de desenvolvimento
local espalhadas pelos distintos departamentos do país. Ora, a compreensão das especificidades
de um país exige que dados e análises sejam constantemente produzidos, sempre que se pensar
em intervir em qualquer dimensão da vida social. Mas essa produção precisa ser contínua e
responder às demandas e prioridades também específicas do contexto local, e não gerado ad hoc,
por encomenda. Se o conhecimento sobre essas especificidades não for produzido com o
92
envolvimento de acadêmicos e intelectuais locais, ele será invariavelmente superficial, parcial e
muito provavelmente de reduzido impacto, senão mesmo algo estéril.
Neste sentido, urge um investimento considerável na formação de quadros especializados e
treinados para garantir a consolidação de um espaço de debate sobre a realidade haitiana
pautado por investigações e análises rigorosas dessa mesma realidade, submetidos a testes e
avaliações igualmente rigorosos. Somente assim será possível avaliar com algum tipo de precisão
sucessos e insucessos na implementação de projetos de desenvolvimento ou o alcance e os efeito
de projetos específicos de intervenção local. Para tanto, o campo da pós-graduação deve ser
objeto de atenção especial nos próximos anos no Haiti, e a formação de investigadores em
programas de mestrado e doutorado em países que contam com um sistema de pós-graduação
altamente qualificado deve necessariamente vir acompanhado de investimentos a serem
dirigidos para a consolidação de programas haitianos de pós-graduação, com prioridade inicial
para o nível do mestrado.
A descontinuidade de iniciativas vinculadas à consolidação de programas de pós-graduação
no país, assim como o colapso de programas que chegaram a ser criados e a funcionar por algum
tempo, deve-se antes à situação de quase perene crise orçamentária do setor público que se
reproduz com picos de gravidade há pelo menos 30 anos no país do que propriamente a uma
limitação estrutural na configuração do sistema universitário. É certo que, em parte, a escassez
de repasses orçamentários se deve à insuficiência de receitas, mas em parte se deve também a
uma acomodação de sucessivos governos recentes com o suprimento das demandas educacionais
no país inteiramente por vias de financiamento privado
e à negligência quase displicente em prover os meios de
manutenção de um sistema público de ensino superior
que não só tem um papel pelo menos tão decisivo
quanto o setor privado no atendimento à demanda de
vagas e na descentralização de sua oferta, como também
tem um papel indispensável na definição dos rumos do
incipiente sistema de pesquisa e de pós-graduação,
assim como na absorção de quadros de pesquisa.
Somente a complementaridade entre os esforços de
ambos os setores será capaz de garantir a indispensável
continuidade no funcionamento de programas de pós-
graduação que permitam a formação de uma massa
suficiente de pesquisadores que assegurem a produção
cumulativa de técnicas e conhecimentos adaptados às
necessidades específicas do país.
Figura 1 - Anúncio da abertura de
inscrições para os programas de
mestrado oferecidos pelo PMISSH,
ora interrompidos, por conta da
destruição de sua sede
93
Programa de Mestrado Interdisciplinar em Ciências Sociais e Humanas (PMISSH)
Figura 3 - Sede do PMISSH
Figura 2 - Sede do PMISSH
94
Impacto do terremoto sobre as instituições de ensino superior no Haiti
Tabela 22 - População diretamente atingida pelo terremoto
População do país 9.035.536
População exposta na área afetada 3.190.000 35,3% do total da população
Estimativa do número de vítimas fatais 222.653 2,50% do total da população
7% da população da área afetada
Número de feridos registrados pelos serviços de
saúde
310.928 3,5% do total da população
9,8% da população da área afetada
Número de desabrigados 1.514.885 17% do total da população
48% da população da área afetada
Número de deslocados 661.521 7,3% do total da população
20,7% da população da área afetada
Fonte: OCHA/USGS.
Tabela 23 - Estudantes nas áreas afetadas
População escolar na área afetada
(todos os níveis)
1.055.468 11,68% da população do país
33,08% da população da área afetada
Vítimas fatais na população escolar 6.857 0,07% da população do país
0,21% da população da área afetada
3,08% do total de vítimas fatais
Estudantes do nível superior na área afetada 42.089 0,47% da população do país
1,33% da população da área afetada
4,02% da população escolar total
Vítimas fatais entre os estudantes do nível superior 2.906 6,84% dos estudantes do nível superior na
área afetada
42,38% do total de vítimas entre a população
escolar
0,03% da população do país
0,09% da população da área afetada
Estudantes dos níveis fundamental e médio 1.012.993 11,21% da população do país
31,75% da população da área afetada
Vítimas fatais entre os estudantes dos níveis
fundamental e médio
3.951 0,04% da população do país
0,12% da população da área afetada
95
Mapa 3 - Exposição populacional ao terremoto
96
Exposição populacional ao terremoto
Tabela 24 - Projeções de
exposição demográfica28
MMI OCHA USGS
X. Extrema 332.000 2.000
IX. Violenta 2.246.000 2.387.000
VIII. Severa 314.000 626.000
VII. Muito forte 571.000 558.000
VI. Forte 1.049.000 903.000
V. Moderada 7.261.000 5.887.000
IV. Leve 5.887.000 7.176.000
II-III. Fraca - 50.000
I. Imperceptível - -
28 Fonte: OCHA (Escritório das Nações
Unidas para a Coordenação de
Assuntos Humanitários), Population exposed and exposure level (16/02/2010). USGS (Serviço Geológico
dos Estados Unidos), Event Pager n°.
US2010RJA6: Terça-feira, 12 de janeiro
de 2010, 16h53min10s (hora local),
21h53min10s (GMT), duração 35s,
coordenadas 18,4° N, 72,6° W,
profundidade: 13km. Estimativa de
intensidades e projeção de exposição
populacional geradas 45 dias após o
terremoto, baseadas em dados
demográficos do último censo
realizado no Haiti, em 1970. A lista de
núcleos urbanos mais afetados não é
exaustiva, representa apenas uma
amostragem de áreas de povoamento
por zona de intensidade.
Tabela 25 - Núcleos urbanos
mais afetados
MMI Cidade População
X-IX Léogâne 134.000
X-IX Carrefour 442.000
X-IX Gressier 26.000
VIII Port-au-Prince 1.235.000
VIII Pétionville 283.000
VIII Delmas 383.000
VIII Grand-Goâve 49.000
VIII Petit-Goâve 118.000
VIII Croix-des-
Bouquets
229.000
VIII Miragoâne 89.000
VIII Kenscoff 42.000
VIII Cabaret 4.000
VII Fond Parisien 18.000
VII Jacmel 138.000
VI Côtes-de-Fer 2.000
VI Les Cayes de
Jacmel
2.000
VI Fond-des-
Blancs
3.000
VI Petite Rivière
de Nippes
2.000
VI Anse-à-Galets 7.000
VI Jimaní 7.000
VI Thomazeau 52.000
VI Mirebalais 9.000
VI Anse-à-Veau 2.000
VI Aquin 5.000
MMI Cidade População
V Belle-Anse 3.000
V Port-de-Paix 35.000
V Petit Trou de
Nippes
2.000
V Verrettes 49.000
V Saint-Marc 66.000
V Fond Verrettes 3.000
V Hinche 19.000
V Grande Saline 2.000
V Les Cayes 126.000
V Anse-à-Pitres 2.000
V Dessalines 12.000
IV Gonaïves 85.000
IV Corail 3.000
IV Marmelade 2.000
IV Limonade 4.000
IV Ouanaminthe 10.000
IV Roche-à-
Bateau
2.000
IV Milot 6.000
IV Fort Liberté 11.000
IV Jérémie 98.000
IV Port-à-Piment 4.000
IV Cap-Haïtien 135.000
IV Arcahaie 4.000
IV Santo Domingo 2.202.000
III Guantánamo 273.000
97
Tabela 26 - Perdas humanas no conjunto da
população escolar da área afetada
Estudantes População escolar Vítimas fatais
Fundamental e médio 1.012.993 3.951
Superior 42.089 2.906
Total 1.055.468 6.857
Tabela 27 - Perdas humanas nas redes de ensino básico e
fundamental
Alunos Professores Funcionários
Total no
Departamento Oeste
1.012.993 48.629 15.419
Mortos 3.951 (0,39%) 541 (1,11%) 189 (1,22%)
Tabela 28 - Perdas humanas na rede de ensino superior da região afetada
Instituições Alunos Professores Funcionários
Total Mortos Total Mortos Total Mortos
UEH 10.950 353
(3,22%)
877 26
(2,96%)
439 7
(1,59%)
Outras instituições públicas 1.754 121
(7%)
308 13
(4,22%)
189 0
Total nas instituições públicas 12.704 474
(3,73%)
1.185 39
(3,29%)
628 7
(1,11%)
Total nas instituições privadas 29.385 2.432
(8,28%)
2.413 108
(4,48%)
1.287 17
(1,32%)
Total nas instituições de ensino superior da região
afetada
42.089 2.906
(6,9%)
3.598 147
(3,71%)
1.915 24
(1,25%)
98
Mapa 4 – Deslocamentos populacionais em decorrência do terremoto
99
Gráfico 20 - Distribuição dos estudantes mortos
na área afetada por nível de ensino
Gráfico 21 - Vítimas fatais entre os estudantes da área afetada
100
Gráfico 22 - Extensão dos danos aos edifícios escolares por distrito no Departamento Oeste
Gráfico 23 - Extensão dos danos aos edifícios escolares nos distritos mais atingidos
Fonte: Superintendência de Supervisão Escolar do Departamento Oeste, MENFP, 2010.
101
Gráfico 24 - Extensão dos danos materiais na rede de ensino superior
Gráfico 25 – Reversibilidade dos danos sofridos pelos estabelecimentos de ensino superior
102
Impacto do terremoto sobre as instituições públicas de ensino superior
Tabela 29 - Impacto do terremoto nas instituições públicas de ensino superior na área afetada
Unidade Estudantes
(mortos)
Professores
(mortos)
Funcionários
(mortos)
Pesquisadores
(mortos)
Admissões
cessantes
ENS 500 (10) 33 (2) 7 (3) 2 (-) 175
FAMV 467 (-) 50 (4) 115 (1) - 100
FDSE 1.428 (14) 85 (2) 35 (-) - 500
FE 1328 (8) 47 (1) 33 (1) 68 (-) 400
FLA 600 (278) 33 (4) 14 (-) - 120
FMP 656 (7) 171 (3) 30 (2) 220 (26) 165
FO 105 (1) 42 (1) 17 (-) 4 (-) 30
FDS 583 (5) 89 (3) 30 (-) - 200
FASCH 1.804 (15) 131 (1) 51 (-) 15 (3) 300
IERAH/
ISERSS
500 (2) 29 (1) 21 (-) 17 (1) 200
INAGHEI 2.610 (12) 147 (2) 86 (-) - 450
PMISSH - - - 30 (1) 30
Total UEH
(na capital)
10.581 (352) 857 (25) 439 (7) 356 (31) 2.670
EDJ 369 (1) 20 (1) 3 (-) - 150
Total UEH
(na área
afetada)
10.950 (353) 877 (26) 442 (7) 356 (31) 2.820
CNFP +
ENGA
968 (4) 147 (1) 22 (-) - 600
CTPEA 132 (1) 12 (1) 34 (-) 25 (-) 50
ENAF 145 (4) 75 (4) 39 (-) - 54
ENARTS 139 (3) 23 (2) 75 (-) 51 (-) 200
ENIP 275 (107) 40 (4) 17 (-) 9 (3) 100
ENST 95 (2) 11 (1) 2 (-) - 30
Total unidades
autônomas
(na área
afetada)
1.754 (121) 308 (13) 189 (-) 85 (3) 1.034
Total
instituições
públicas
(na área
afetada)
12704 (474) 1185 (39) 631 (7) 441 (34) 3854
103
Gráfico 26 - Admissões cessantes nas instituições públicas de ensino superior
104
Universidade de Estado do Haiti (UEH)
Tabela 30 - Perfil institucional da UEH Categorias Efetivo Instalações
Alunos 15.050 Suas faculdades, escolas, centros e institutos se distribuíam pela capital nacional e por 8
capitais departamentais. As escolas e faculdades provinciais mantêm vínculos mediatos
com a administração central, existindo na reitoria um gabinete que administra o contato
com os respectivos conselhos de direção.29 Em Port-au-Prince, não existia um campus
propriamente dito, estando suas unidades espalhadas pela cidade, algo que determinou
também o impacto diferenciado que sofreram. Tanto o sistema de bibliotecas quanto os
sistemas de arquivamento dos registros acadêmicos eram extremamente precários.
Admissões 4.320
Professores 877
Funcionários 442
Pesquisadores 356
Também possui atribuições gestoras do sistema geral de ensino superior, sendo responsável pela homologação das
autorizações de funcionamento concedidas pelo MENFP a instituições do sistema privado.
29 Diversas informações referentes sobretudo à história e ao perfil institucional da UEH podem ser consultadas em
seu endereço eletrônico (em francês): www.ueh.edu.ht. Seu organograma administrativo se encontra disponível
para acesso direto sob o endereço http://www.ueh.edu.ht/admueh/pdf/UEHorganigramme.pdf
105
Tabela 31 – Impacto sobre a UEH: vítimas e danos decorrentes do terremoto Categorias Vitimas30 Instalações
Alunos 353 Das 11 unidades metropolitanas, oito foram total ou parcialmente destruídas ou
precisarão ser demolidas, além da sede da reitoria. Apenas três unidades (FE, FO e
INAGHEI) são passíveis de recuperação, apesar de também terem sofrido perdas
humanas e materiais, e grande parte de suas instalações restam interditadas à espera
de reparos. A quase totalidade dos equipamentos, laboratórios, bibliotecas e arquivos
foi severamente danificada ou inteiramente destruída. Os prédios que abrigam as
sete unidades provinciais, contudo, resistiram aos tremores.
Professores 26
Funcionários 7
Pesquisadores31 31
Admissões
cessantes32
2.640
Grande parte dos pátios de suas faculdades e institutos foi ocupada por estudantes e seus familiares, que ali
montaram suas tendas, seja em busca de abrigo, seja à espera que as atividades acadêmicas sejam retomadas. As
cifras de mortos se referem sobretudo aos que pereceram nas dependências ou proximidades da universidade,
30 O relativamente baixo número de vítimas fatais entre os funcionários, quando comparados às baixas entre
professores e alunos, pode ser explicado pela incidência de fatores outros que a insuficiência de dados ou a
impossibilidade de verificar os dados disponíveis. Para a maioria das unidades da UEH, não foram registrados
funcionários mortos. Nem mesmo na Faculdade de Linguística Aplicada, onde morreram 278 estudantes e 18
professores, qualquer funcionário foi dado como morto, e isso certamente não se deve a um descuido ao inventariar
as vítimas, como se pode depreender do fato de que o ato solene em memória das vítimas, realizado por iniciativa
dos próprios estudantes sobreviventes no dia 15 de fevereiro defronte à sede arruinada da FLA, contou com a
presença de muitos dos funcionários que ali trabalhavam, sem que qualquer deles tenha mencionado um colega que
pudesse estar entre as vítimas. A cerimônia foi emotiva, contou com intervenções e discursos de representantes de
alunos, professores, direção e também dos funcionários, e pautou-se pela diligência em contemplar a dimensão
trágica do ocorrido para todos os afetados, na presença de seus amigos e familiares. Não faria sentido que a morte de
qualquer funcionário tivesse sido desconsiderada ou esquecida. Semanas e mesmo meses depois, não surgiram novas
listas ou cômputos que alterassem o cálculo inicial para qualquer das instituições contempladas. Assim, é preciso
levar em consideração a incidência de outros elementos para explicar essa baixa proporção de vítimas fatais entre o
pessoal não acadêmico das instituições de ensino superior destruídas ou afetadas. Pode ter influído o fato de que, em
sua maioria, o pessoal não acadêmico das instituições universitárias haitianas desempenha funções ou bem mais
diretamente associadas aos espaços abertos ou então incompatíveis com a circulação pelos espaços pedagógicos
durante o horário das aulas: guardiães, motoristas, faxineiros, cozinheiros (não se desconsidere o fato de que a
preparação de comida no Haiti, por conta do emprego do carvão vegetal, é geralmente feita em áreas abertas), e por
aí afora. Note-se também que nenhum dos funcionários mortos havia sido empregado em funções de natureza afim
a essas. Entre as vítimas fatais do corpo funcional não acadêmico, encontram-se unicamente funcionários
administrativos – que, em sua maioria, já haviam deixado seus escritórios e dirigiam-se para a saída pouco antes de
terminar o expediente quando ocorreu o primeiro tremor – ou dedicados à manutenção de equipamentos – um
setor minguante do funcionalismo universitário haitiano, diante da escassez de equipamentos, insumos e recursos,
que foi ainda mais aguçada pela crise administrativa recente da UEH. A despeito disso, ressalte-se, porém, que, para
além dos sete funcionários mortos nas unidades metropolitanas da UEH, dois mais pereceram no desabamento da
sede de sua reitoria (Rue Rivière, 21), além de outros 12 que morreram no colapso do prédio principal do MENFP. 31 O Programa de Mestrado Interdisciplinar em Ciências Sociais e Humanas (PMISSH), embora vinculado à UEH,
tinha um perfil institucional autônomo e possuía uma sede própria, em Bourdon, contando com cerca de 30
pesquisadores em duas opções de mestrado, oferecidas em parceria com a Universidade Laval do Québec:
Criminologia e História, memória e patrimônio. Sua sede desabou completamente, destruindo todos os
equipamentos e todo o material documental em seu interior. Não foi possível confirmar se as vítimas vinculadas ao
PMISSH pereceram sob os escombros do edifício ou alhures. Das quatro vítimas fatais ligadas ao PMISSH, três
foram computadas nas listas respectivas das instituições onde atuavam como professores (respectivamente, dois no
IERAH e um no CTPEA), além do mestrando Jude Marcellus, jornalista da rádio Lumière que preparava sua
dissertação para o programa de História, memória e patrimônio no PMISSH e que não é computado em nenhum
outro quadro relativo a outra instituição de ensino superior que não o quadro geral da UEH, como pesquisador. 32 Corresponde ao número anual de estudantes egressos do ensino médio que, apesar de qualificados para frequentar
o primeiro ano dos cursos superiores oferecidos pela universidade, não serão admitidos. Pode-se projetar um
incremento de 50% nas admissões cessantes a cada semestre que as atividades acadêmicas se mantenham suspensas.
106
podendo estar evidentemente subestimando o número de vítimas atingidas alhures.
107
Gráfico 27 - Distribuição das vítimas fatais nas instituições públicas de ensino superior
108
Gráfico 28 - Vítimas fatais nas duas instituições públicas mais atingidas
Gráfico 29 - Vítimas fatais nas instituições públicas de ensino superior (exceto FLA e ENIP)
109
110
Gráfico 30 - Proporção de mortos no corpo discente das instituições públicas de ensino superior
111
Gráfico 31 - Proporção de mortos no conjunto do pessoal ativo das instituições públicas de
ensino superior
112
Escola Normal Superior (ENS)
Tabela 32 - Perfil institucional da ENS Categorias Efetivo Instalações
Alunos 500 Possuía um edifício principal, de cinco andares, que abrigava a biblioteca,
salas de aula, salas de professores, laboratórios e auditório, um edifício
menor, de dois andares, ocupado pelo refeitório, por um espaço de
convivência e por salas de manutenção, e um terceiro edifício, térreo,
abrigando os setores administrativos e salas de conferência. Possuía uma
das poucas bibliotecas circulantes da UEH e um laboratório de
informática relativamente bem equipado.
Admissões 175
Professores 33:
18 mestres e 9
doutores
Funcionários 7
Pesquisadores 2:
1 mestrando e 1
doutorando com
projetos de pesquisa
ativos, atuando como
docentes
Tabela 33 – Impacto sobre a ENS: vítimas e danos decorrentes do terremoto Categorias Vitimas
33
Instalações
Alunos 10 O prédio principal ruiu, esmagando os estudantes e funcionários que se encontravam na
biblioteca, situada no andar térreo. O edifício administrativo apresenta fissuras que
aparentam comprometer sua estabilidade e, assim como o edifício anexo, que ameaça
ruir, provavelmente terá de ser demolido. Poucas obras puderam ser salvas da biblioteca
soterrada e praticamente todos os equipamentos laboratoriais foram perdidos.
Professores 3
Funcionários 3
A destruição da ENS e a paralisação de suas atividades terão implicações devastadoras tanto no curto como no
médio prazo em todo o sistema educacional haitiano, na medida em que se trata da principal instituição de
formação de professores do país.
33 Os funcionário mortos foram identificados como Edner Deleus (contador), Michel Saint-Pierre (responsável pelo
laboratório de química), além do encarregado pela cafeteria, cujo nome não foi porém mencionado por qualquer
dos informantes. Entre os estudantes mortos, foram identificados Ritshelle (segundo ano de filosofia), Wandley
Monpremier (segundo ano de matemática), Jacques Charles (primeiro ano preparatório) e Maxi (mestrando em
francês como língua estrangeira).
113
Figura 5 - Entrada principal da ENS
Figura 4 - Fachada principal da ENS
114
Figura 7 – Ruínas da ENS, vistas a partir das ruínas do Palácio de Justiça
Figura 6 - Parte dos livros e documentos resgatados dos escombros da biblioteca, que
ruiu, esmagando os estudantes e funcionários que nela se encontravam
115
Faculdade de Agronomia e de Medicina Veterinária (FAMV)
Tabela 34 – Perfil institucional da FAMV Categorias Efetivo Instalações
Alunos 467 Situada no vasto campus de Damien, nos arredores de Port-au-Prince, contava com
um amplo edifício principal, construído em 1969, que abrigava salas de aula,
biblioteca, seis laboratórios de produção, sala de informática e refeitório, um edifício
anexo mais recente, construído em 1987, onde se encontravam mais 14 laboratórios
pedagógicos, além de um herbário, de uma estufa e de um complexo residencial
estudantil para 125 moradores, que no entanto abrigava mais de 200 estudantes (além
de alguns professores) e cujo pátio se convertia, por conta dos geradores ativos com
que contava, em verdadeira sala de estudos ao ar livre.
Admissões 100
Professores 50:
36 mestres,
14
doutores
Funcionários 115
Uma instituição de elevado prestígio no universo acadêmico haitiano, a FAMV oferecia múltiplos serviços a
instituições governamentais, empresas estatais e organismos internacionais. Entre eles, destacavam-se as análises
desenvolvidas em seus laboratórios de produção. Além de assegurar o estofo de um sem número de iniciativas do
Ministério da Agricultura, dos Recursos Naturais e do Desenvolvimento Rural, instituição com que compartia o
amplo e belo areal de Damien, possuía uma extensa biblioteca de referência e abrigava o Herbário Nacional.
Tabela 35 – Impacto sobre a FAMV: vítimas e danos decorrentes do terremoto Categorias Vítimas34 Instalações
Professores 4 O prédio principal apenas não ruiu ainda porque lhe foi ajustado um arrimo provisório
para permitir a retirada dos registros escolares e dos equipamentos laboratoriais que
puderam ser recuperados. O edifício anexo, de planta baixa, não sofreu danos
consideráveis e passará a abrigar temporariamente todas as atividades da Faculdade. A
moradia estudantil, apesar de fissurada, aparenta poder ser recuperada. A estufa tem
servido de abrigo aos estudantes que tiveram de abandonar a moradia estudantil.
Funcionários 1
O campus de Damien representa um elemento fundamental no plano de reestruturação que vem sendo considerado
por distintas instâncias envolvidas na retomada das atividades da universidade. Possui um amplo espaço que poderia
acolher várias das unidades da UEH num possível campus unificado. Mesmo em caráter transitório, muitos cursos
poderiam funcionar ali fazendo uso de tendas e geradores.
34 Entre as vítimas fatais, os professores foram identificados como Jean Arsène Constant (fitotecnia), Jude Zéphyr
(recursos naturais), Fruck Dorsainvil (recursos naturais) e Yves André Kompas (ciências de base), além do
funcionário Pierre Velurdes.
116
Figura 8 - Fachada do edifício principal da FAMV
117
Figura 9 - Entrada do edifício principal da FAMV. Para impedir que o prédio
danificado ruísse sobre estudantes, professores e funcionários que tentavam
recuperar os equipamentos e materiais dentro do prédio fissurado, foi preciso
inserir vigas metálicas de sustentação
118
Figura 11 - Estufa-modelo da FAMV, atualmente utilizada como abrigo
Figura 10 - Pátio interno da moradia estudantil da FAMV. Antes do terremoto, uma área
intensamente frequentada não só pelos estudantes que ali moravam, mas também por
todos os seus colegas e não raro seus professores, que buscavam tirar proveito da
iluminação elétrica constante produzida por geradores
119
Figura 13 - Entrada lateral do edifício histórico do Ministério da Agricultura,
situado no interior do campus de Damien, onde também está localizada a
FAMV e para onde se planeja transferir todas as atividades provisórias das
outras faculdades da UEH destruídas pelo terremoto. Deverá ser demolido
Figura 12 - Entrada principal do Ministério da Agricultura, campus de Damien
120
Figura 17 - Estantes da biblioteca da FAMV.
O acervo, parcialmente danificado, foi
transferido para o edifício anexo, menos
afetado pelo terremoto
Figura 14 - Minitratores doados pela Fundação
Chinesa de Combate à Pobreza (CFPA),
estacionados no pátio da FAMV
Figura 16 - Semeadores doados pela CFPA
Figura 15 – Implementos agrícolas doados pela CFPA
121
Figura 19 - Buganvília centenária no pátio interno da moradia estudantil da FAMV.
Todos os edifício da moradia foram construídos em torno dela. Partida ao meio por um
raio antes mesmo da instalação da FAMV em Damien, manteve-se exuberante e passou
a ser vista como um símbolo da tenacidade haitiana
Figura 18 – Bosque frontal do campus de Damien, que deverá abrigar as instalações
provisórias de praticamente todas as faculdades da UEH afetadas pelo terremoto à
medida em que forem retomando suas atividades
122
Faculdade de Direito e Ciências Econômicas (FDSE)
Tabela 36 - Perfil institucional da FDSE Categorias Efetivo Instalações
Alunos 1.428:
740 em
direito, 688
em economia
Separada do Champ de Mars pela bela Praça Anténor Firmin, a sede da FDSE
compreendia quatro edifícios: o edifício principal, com salas administrativas no
primeiro andar, auditório no térreo e três salas de aula; um edifício traseiro, que
reúne em seus dois andares 13 salas de aula, duas salas de professores e o
laboratório de informática; duas alas laterais que abrigavam respectivamente uma
das bibliotecas e o refeitório; além de uma pequena biblioteca anexa. Admissões 500
Professores 85
Funcionários 35
Tabela 37 – Impacto sobre a FDSE: vítimas e danos decorrentes do terremoto Categorias Vítimas35 Instalações
Alunos 14 O edifício principal, apesar de ter tido a fachada relativamente preservada, ruiu
internamente e o que restou de suas paredes deverá ser demolido. O edifício posterior foi
levemente danificado e aparentemente poderá ser recuperado. As duas alas laterais
traseiras apresentam fissuras leves, mas o edifício lateral dianteiro, que abrigava uma
biblioteca menor, já se encontrava danificado antes mesmo do terremoto. Alguns dos
computadores puderam ser recuperados, assim como os registros escolares.
Professores 2
Apesar de que as aulas já tivessem recomeçado, 12 de janeiro era um dia especial para os estudantes e professores,
que deixaram a faculdade rumo ao Centro de Convenções Karibe, em Canapé Vert, para celebrar os 150 anos da
fundação da FDSE. O terremoto os surpreendeu no caminho e foi isso o que evitou um número ainda maior de
vítimas, uma vez que tanto o Centro de Convenções como o auditório situado no prédio principal da faculdade
ruíram. Após o terremoto, o pátio frontal da faculdade continua sendo usado como antes, como uma espécie de
escritório de advocacia ao ar livre. Ali, estudantes de direito e mesmo advogados profissionais oferecem seus
serviços à população, oferecendo aconselhamento jurídico, preparando petições e recursos ou simplesmente
digitando certidões e contratos. O amplo espaço da Praça Antenor Firmin poderia ser eventualmente utilizado para
a disposição de tendas que permitissem aos alunos e professores retomar provisoriamente as atividades acadêmicas.
35 Foram identificadas oito vítimas fatais entre os estudantes do curso de direito: Yvon Romelus, Geline Jean-Louis,
Paola Paul, Stéphane Wiliam, Nerline Phirmin, Daphnée Pelissier, François Beaubrun, Rose-Munette Thomas. Do
curso de economia, foram identificados quatro estudantes mortos, Nancy Jean-Baptiste, Francesca Germain,
Christopher (estudantes do primeiro ano matutino) e Wislin Sainvilma. Dois outros estudantes de direito ainda
eram considerados por seus colegas como desaparecidos. No entanto, a impossibilidade de localizá-los até o
momento reforça a presunção de que foram eles também vítimas fatais. São eles Venel Jean (segundo ano
vespertino) e Cindy Micheline Joseph (primeiro ano vespertino). Os professores mortos eram Roc Cadet (professor
de direito e decano do Tribunal Civil) e Mme. Durand (ex-professora de economia).
123
Figura 22 - Entrada do
edifício principal da FDSE
Figura 20 - Corredor interno do prédio
posterior da FDSE, passível de reparos
Figura 21 - Entrada
principal da FDSE
124
125
Figura 24 – “A secretaria geral da FDSE informa à comunidade universitária em geral e
os estudantes da FDSE em particular que o edifício principal conhecido como 'antigo
edifício' foi danificado com importantes fissuras no terremoto de 12 de janeiro de
2010. Como consequência, para evitar qualquer eventualidade de derrubamento
subsequente, está formalmente proibido permanecer em suas imediações, que
representa um perigo iminente para todos”. Porto Príncipe, 16 de janeiro de 2010
Figura 23 - Biblioteca da FDSE. A fachada permaneceu aparentemente intacta, mas as
ruínas ao lado mostram o dano sofrido pelo interior no edifício
126
Faculdade de Etnologia (FE)
Tabela 38 - Perfil institucional da FE Categorias Efetivo Instalações
Alunos 1.328:
401 da psicologia, 441 da
antropossociologia, 415
do tronco comum
Ampla sede, ocupando praticamente toda uma quadra defronte ao
Champ de Mars, contando com três prédios: o edifício administrativo,
que aloja os escritórios administrativos, as três salas de aula e uma sala
de professores do programa de mestrado, um auditório e o laboratório
de informática; o edifício da graduação, que abriga sete salas de aula,
uma sala de professores, as salas dos chefes de departamento, salas de
estudo, além de duas salas de material didático e a biblioteca; assim
como um edifício anexo com o refeitório e espaços de uso comum.
Admissões 400
Professores 47:
31 mestres, 16 doutores
Funcionários 33
Pesquisadores 68 mestrandos
A FE, junto com a FASCH e a FMP, é um dos nichos tradicionais do ativismo político na UEH. Seus estudantes não
apenas se mostram intensamente mobilizados, como também seu espaço físico serve de referência para a realização
de reuniões e assembleias e, devido à imediação do Champ de Mars, como concentração para manifestações.
127
Tabela 39 – Impacto sobre a FE: vítimas e danos decorrentes do terremoto Categorias Vítimas36 Instalações
Alunos 8 Uma avaliação técnica preliminar determinou que ambos os edifícios principais, apesar
de apresentarem fissuras, poderão ser recuperados. A despeito disso, foram interditados
à espera de uma avaliação mais detida sobre a extensão dos danos. Junto à FO e ao
INAGHEI, são as três únicas unidades da UEH que não ruíram ou não precisarão ser
demolidas. A reitoria passou, portanto, a utilizar o pátio interno para a realização de
reuniões administrativas e cerimônias solenes. Apesar da aparente estabilidade das
paredes, algumas lajes intermediárias ruíram, destruindo vários equipamentos e o
laboratório de informática, com cerca de 40 computadores. Mas os arquivos foram
salvos e a administração já voltou a emitir certidões. Ao longo do dia, diversos grupos de
discussão e intervenção envolvendo alunos e ex-alunos se reúnem no pátio. A quadra
esportiva é utilizada pelos jovens refugiados da área e também pelo Programa Nacional
de Cantinas Escolares, que assumiu a tarefa de distribuição de alimentos em algumas
áreas centrais.
Professores 1
Funcionários 1
Em decorrência de sua posição central e do estado relativamente incólume de suas instalações, mas também do fato
de que seu pátio interno, com a queda dos muros, se tenha aberto diretamente ao Champ de Mars, a ocupação da
sede da FE se converteu imediatamente após o terremoto em foco de acirrada disputa entre estudantes (da própria
faculdade, mas também de outras faculdades e universidades), reitoria, ONGs internacionais e inclusive soldados da
MINUSTAH e do exército americano. Afinal, os estudantes impediram tanto que os refugiados da região se
instalassem na faculdade quanto que se estabelecesse uma base de apoio do USAID no local. Permitiram, porém,
que outras organizações haitianas e internacionais ocupassem a quadra de esportes, para a distribuição de alimentos,
e o prédio do refeitório, para oferecer serviços de pronto-atendimento médico e de telecomunicações. Na medida
em que o conjunto dos estudantes mobilizados, especialmente os vastos contingentes da área de ciências humanas
crescentemente se concentrem no interior e nas imediações da FE, à espera de uma retomada ainda que paulatina
de suas atividades acadêmicas, pode-se esperar uma intensificação de seu ativismo político e seu inevitável
envolvimento em qualquer mobilização que ocorra na área central, próxima ao Champ de Mars, seja conclamando
as manifestações e engrossando suas fileiras, seja contrapondo-se a elas e oferecendo-lhes resistência.
36 Além de cinco estudantes, dois professores e um pesquisador gravemente feridos ou mutilados – respectivamente,
Guercy Dorcil e Pascal Jean-François (ambos do segundo ano de psicologia), Venise Joseph e Natacha Pierre (ambas
do quarto ano de psicologia), Wislande Jean-Louis (último ano de psicologia) e Wando Saint-Villier (primeiro ano
do mestrado em ciência do desenvolvimento), Hérold Toussaint (professor doutor de antropologia) e Bayyinah Belo
(professor mestre de antropossociolgia) –, morreram oito estudantes e um professor – respectivamente, Rachel
Alexandre e Geenson Fleurimont (ambos do tronco comum), Natache Alexis (primeiro ano de psicologia), Sterly
Manigat e Iram Saintil (ambos do segundo ano de psicologia), Nathalie Jean e Maxant Léveillé (ambos do último
ano de psicologia), Guy Larose (primeiro ano do mestrado em ciência do desenvolvimento, além de Jean Rousiers
Descardes (professor doutor de antropossociologia). O professor Guercy Antoinne, que lecionava psicologia também
morreu, mas foi computado na lista da FASCH, onde lecionava há mais tempo. Os professores Roc Cadet (FDSE) e
Jude Zéphyr (FAMV) também eram estudantes da FE, no programa de mestrado em ciência do desenvolvimento,
mas não foram computados entre as vítimas desta faculdade, já que constam das respectivas listas das faculdades
onde atuavam como professores. Também Pierre Vernet, que era tanto professor de antropologia da FE e de
linguística e comunicação da FASCH, como professor de linguística da FLA, foi computado unicamente entre as
vítimas desta última, pois ali desempenhava também a função de decano da faculdade. A funcionária morta não
teve seu nome ou função mencionados por qualquer dos informantes.
128
Figura 25 - Os edifícios da FE não tombaram e avaliações de equipes de engenharia indicam a
possibilidade de pronta recuperação e reutilização dos prédios. No detalhe da pichação: “Viva a
reforma universitária. Abaixo Vernet”. Henry Vernet é o atual reitor da UEH
Figura 26 - Mural satirizando a vida acadêmica na UEH
129
Figura 27 - Nas dependências da FE, comida é distribuída por voluntários aos
desabrigados instalados no Champ de Mars
Figura 28 - Para grande parte dos refugiados que acorrem à distribuição feita na FE,
trata-se da única refeição do dia
130
Faculdade de Linguística Aplicada (FLA)
Tabela 40 - Perfil institucional da FLA Categorias Efetivo Instalações
Alunos 600 Juntamente com o Instituto Aimé Césaire (IFGCar), ocupava uma antiga mansão
de três andares, abrangendo cinco salas de aula, uma sala de professores, uma
sala de estudos, um laboratório de prática linguística e de tradução simultânea,
um laboratório informática, um auditório para cerca de 300 pessoas, além da
mais importante biblioteca universitária de língua e literatura haitianas,
contando com cerca de 8.500 obras.
Admissões 120
Professores 33:
2 doutores, 24
mestres, 7
mestres
estagiários
Funcionários 14
Desempenhava um papel central na produção de material didático em kreyòl, bem como na formação de
profissionais treinados para trabalhar em ambientes profissionais e educacionais multilíngues, além do treinamento
e aperfeiçoamento de tradutores técnicos e literários. Formava também professores de francês como língua
estrangeira e especialistas nas áreas da linguística, do jornalismo e da comunicação social.
Tabela 41 – Impacto sobre a FLA: vítimas e danos decorrentes do terremoto Categorias Vítimas37 Instalações
Alunos 278 Todas as instalações físicas foram completamente arruinadas. A administração ocupava
uma porção do andar térreo que não chegou a ser inteiramente soterrada, o que
permitiu a recuperação de um pequena parte dos registros acadêmicos Professores 18
Todo o trabalho de tradução de documentos oficiais e peças legislativas, de elaboração dos exames nacionais e de
preparação de material didático para as instituições públicas de ensino será severamente afetado não só pela morte
de praticamente a metade de toda uma geração de linguistas, tradutores e professores bilíngues, como também pela
destruição física das instalações e do acervo da FLA e pela dispersão dos estudantes e professores sobreviventes
pelos campos de refugiados do país. Numa sociedade bilíngue, em meio à qual, porém, apenas um grupo
relativamente exíguo compreende ambas as línguas, essa paralisia e o vácuo que provocará terão efeitos
potencialmente disruptivos de toda uma série de circuitos culturais e simbólicos que se vinham cultivando como
parte indissociável do processo de democratização no Haiti e pelo menos desde o reconhecimento do kreyòl como
língua oficial e de ensino.
37 Entre os 278 estudantes mortos, 219 corpos haviam sido identificados antes do sepultamento, sendo que 59 das
vítimas foram sepultadas sem identificação. Dos sobreviventes, 70 estudantes foram contatados diretamente durante
este levantamento e confirmaram o paradeiro de outros 197 de seus colegas que haviam sobrevivido, restando
apenas 45 dos sobreviventes que foram confirmados vivos, porém não contatados. Entre os professores, houve
quatro vítimas fatais: Pierre Vernet (decano), Wesner Merant (vice-decano), Yves Alvarez e um professor
estagiário, cujo nome não foi mencionado por qualquer dos informantes. A partir de estimativas baseadas no
contato direto com os estudantes sobreviventes, avalia-se que menos de 30% dos estudantes ainda se encontre na
capital. Em meio às vítimas fatais, havia estudantes de todos os períodos e níveis, assim distribuídos: 95 do primeiro
ano (42 matutino, 53 vespertino), 76 do segundo ano (34 matutino, 42 vespertino), 50 do terceiro ano (13 matutino,
37 vespertino) e 57 do quarto ano (29 matutino, 28 vespertino).
131
Figura 29 – Ruínas da FLA dois dias após o primeiro terremoto
Figura 30 – Início da remoção dos corpos
132
Figura 32 - Plano frontal da antiga fachada da FLA
Figura 31 - Ruínas da FLA, vistas a partir do antigo pátio interno. Notem-se
entre os escombros peças de vestuário, material didático, móveis escolares,
equipamentos e ferragem retorcida, que se misturam aos corpos das vítimas que
ainda não puderam ser retirados
133
Figura 35 -
Gramática de
espanhol em meio às
ruínas da FLA
Figura 34 - Entre os
escombros, revista dedicada
à literatura sul-africana
Figura 33 - Caderneta de
poupança de uma das
vítimas entre os escombros
da FLA, em meio a
gabaritos de provas e
certificados de conclusão de
curso. Cadernetas de
poupança são normalmente
usadas como meio de
identificação
134
Figura 37 - Ruínas da FLA
Figura 36 - Flores depostas nas ruínas da Faculdade de Linguística Aplicada em
homenagem aos estudantes e professores mortos
135
Faculdade de Medicina e de Farmácia (FMP)
Tabela 42 - Perfil institucional da FMP Categorias Efetivo38 Instalações
Alunos 656:
495 da medicina, 116 da farmácia, 45 da tecnologia
médica
Além de abrigar a Escola de Tecnologia
Médica (ETM), a FMP também era
responsável pelo Hospital da
Universidade de Estado do Haiti
(HUEH), também conhecido como
Hospital Central. Suas instalações
compreendiam um total de 11 edifícios,
entre unidades hospitalares, clínicas,
laboratoriais, salas de aula, salas de
professores, escritórios administrativos,
arquivos, bibliotecas e espaços comuns,
além de um necrotério e um pequeno
museu.
Admissões 165:
100 (m), 40 (f), 25 (tm)
Professores 171:
m: 106 (5 mestres, 101 doutores profissionais)
f: 47 mestres
tm: 18 mestres
Funcionários 30
Pesquisadores 220:
200 residentes, 20 mestrandos
A FMP estava paralisada e fechada havia oito semanas devido a uma greve estudantil que, entre outros pontos,
reivindicava melhoria nas condições de ensino. Da perspectiva do decanato, a mobilização buscava uma
“normalização dos excessos da democratização” e seria movida por um esforço de reduzir os critérios de avaliação
dos estudantes, de 65% para 50 ou mesmo 40% de aproveitamento em alguns casos, e numa disputa em torno do
que o decanato via como uma desproporcional representação estudantil no conselho universitário, composto pelo
decano de cada faculdade, e dois representante eleitos, um pelos estudantes e outro pelos professores. No curso dos
protestos, houve confrontos diretos entre estudantes e o pessoal administrativo, o que precipitou a decisão de
interditar o acesso às dependências da faculdade até que o impasse fosse superado. A despeito dos impasses
envolvendo os estudantes da graduação e a sede principal da FMP, alguns de seus professores desenvolvem desde
2001, com o apoio da Agência Canadense de Desenvolvimento Internacional (ACDI), um projeto de formação de
administradores de saúde, que serviu de base para estabelecer, em 2006, o Projeto de Apoio ao Fortalecimento das
Capacidades de Gestão da Saúde (PARC), que oferece, numa sede própria, próxima ao Pétionville Club, em
conjunto com a Universidade de Montreal, duas opções de pós-graduação: uma especialização em manejo e gestão
de serviços de saúde e um mestrado em administração de serviços de saúde. Depois do terremoto, a sede do PARC,
praticamente intacta e contando com uma excelente estrutura de eletricidade e comunicações, passou a funcionar
como uma espécie de reitoria ad hoc para a UEH.
38 Dos 495 estudantes de Medicina, 195 cursavam o ciclo bianual preparatório na faculdade e 300 o ciclo trisanual
de prática hospitalar. Do total de professores ligados ao Departamento de Medicina, 37 ofereciam disciplinas de
formação preparatória na faculdade, enquanto outros 69 ministravam cursos de prática clínica e hospitalar, sendo
eles mesmos médicos ativos no HUEH.
136
Tabela 43 – Impacto sobre a FMP: vítimas e danos decorrentes do terremoto Categorias Vítimas39 Instalações
Alunos 7 Tanto na faculdade como no hospital, as instalações foram severamente afetadas:
oito dos 11 edifícios ruíram ou serão demolidos, restando apenas três deles passíveis
de restauração. Os arquivos não foram perdidos, mas tampouco haviam sido
removidos do prédio principal, em risco de colapso, até o dia da visita de nossa
equipe, que se juntou ao chefe do departamento de Farmácia para recuperar os
livros e computadores que continham os registros acadêmicos, que seriam perdidos
na eventualidade do colapso do edifício principal, que era iminente, ou do roubo
dos computadores, que tampouco tardaria.
Professores 3
Funcionários 2
Pesquisadores 26 membros
do corpo
médico
O Hospital Universitário foi em grande medida destruído, mas segue realizando atendimentos no interior de tendas
doadas pelas mais diferentes organizações humanitárias internacionais e instaladas nas áreas abertas de seu areal
(estacionamentos, jardins, vias de acesso e áreas já desobstruídas de escombros). Os esforços eram intensos e vinham
de muitas partes, mas mesmo muitas semanas depois do terremoto o atendimento ainda era precário, uma multidão
se aglomerava diariamente diante dos portões à espera de uma possibilidade de atendimento e a coordenação entre
as diversas equipes ativas no interior do hospital era praticamente inexistente. Na faculdade, tendo em vista o
distanciamento entre as instâncias administrativas e os estudantes que se havia imposto a partir dos confrontos e do
impasse decorrente da greve, três linhas telefônicas foram abertas aos estudantes para obter informações sobre
colegas desaparecidos, mas também para obter informações sobre a situação da faculdade, sobre a eventual
retomada das atividades e sobre os mecanismos possíveis de regularização da documentação escolar. Um plano
transitório de recuperação do período letivo perdido em decorrência da greve e da paralisação posterior ao
terremoto envolvia a participação dos estudantes em 12 semanas de atividades, quatro das quais dedicadas a uma
revisão temática rápida e outras oito para os temas que deveriam ter sido abordados antes do semestre de inverno.
39 Todos os sete estudantes mortos cursavam Medicina, três inscritos no ciclo preparatório, cursado na própria
faculdade, e outros quatro cursando o ciclo de prática clínica no Hospital Universitário. Os quatro professores
mortos eram todos vinculados à Medicina e ministravam disciplinas clínicas também no HUEH.
137
Figura 39 - Varanda do edifício principal da FMP. Em primeiro plano, o arame
farpado que foi disposto durante os confrontos que marcaram o início da greve
estudantil de 2009. Os portões seguiam trancados e o acesso interditado sem
autorização expressa da direção
Figura 38 - Entrada para as salas de aula da FMP, vista a partir do pátio central
138
139
Figura 40 - Escombros de um dos prédios da FMP
Figura 41 - Fachada frontal da FMP. Ao longo da amurada frontal, instalaram-se abrigos
provisórios de refugiados, que aos poucos se vão expandindo e perenizando. Por trás da
fachada aparentemente intacta, encontram-se os escombros dos prédios destruídos
140
141
Figura 43 - O que restou de um dos edifícios da FMP
Figura 42 - Ruínas da ala oeste do edifício das salas de aula da FMP
142
Figura 45 – O esforço individual
não foi em vão: praticamente
todos os registros físicos dos
alunos da Faculdade de Farmácia
foram recuperados e, com a ajuda
de nossa equipe, também os
computadores com os registros
acadêmicos digitalizados
Figura 44 - Decano da
Faculdade de Farmácia
tenta recuperar a
documentação acadêmica
de seus alunos
Figura 46 – Por iniciativa própria
e arriscando-se sozinho em meio
ao edifício condenado, procura
assegurar que não se percam
ainda mais documentos
acadêmicos em possíveis
desabamentos ulteriores
143
Figura 48 - Sala da Diretoria Acadêmica da FMP
Figura 47 - Sala do decanato da FMP
144
Figura 49 - Ruínas da ala oeste do prédio de salas de aula da FMP
Figura 50 - Vista lateral das ruínas da ala oeste do prédio das salas de aula da FMP
145
Figura 52 - Tendas do Comitê Central da Cruz Vermelha e do Crescente
Vermelho no estacionamento do Hospital Central da UEH, que teve todos os seus
edifícios danificados e abandonados, mas viu seus pátios externos e áreas de
estacionamento convertidos num novo hospital central, onde uma miríade de
organizações internacionais oferece atendimento médico gratuito à população
Figura 51 - Uma das antigas alas de atendimento clínico do Hospital Central,
com as estruturas irreversivelmente comprometidas
146
Figura 54 - Edifício que abrigava o setor de radiologia e exames laboratoriais do
Hospital Central
Figura 53 - Entrada da ala de obstetrícia e ginecologia do HC. Os
leitos hospitalares, mesas operatórias e demais móveis foram
retirados do edifício condenado
147
Figura 56 - Fila diante do Hospital Central, aguardando triagem para
acesso ao atendimento. Com muita dificuldade, apenas um funcionário
procura assegurar a prioridade para os casos de emergência e o acesso
privilegiado de idosos, mulheres e crianças
Figura 55 - Uma série de tendas que passaram a abrigar todo o atendimento
médico dispensado nas dependências do HC. Em primeiro plano, a entrada
da antiga seção pediátrica
148
Faculdade de Odontologia (FO)
Tabela 44 - Perfil institucional da FO Categorias Efetivo Instalações
Alunos 105 Edifício térreo, com uma ala dedicada às atividades acadêmicas – salas de aula, salas de
professores, biblioteca e arquivos – e outra ala voltada ao atendimento público – com
dois laboratórios, seis salas de atendimento clínico (mas somente duas equipadas e
ativas), uma sala cirúrgica (desativada por deterioração do equipamento), uma sala de
espera e uma sala de arquivo para os prontuários dos pacientes. Apesar de obsoletos, os
equipamentos das duas únicas salas ativas de atendimento clínico (numa, quatro de sete
ainda funcionavam, na outra, apenas 12 de 20) haviam sido doados apenas três anos antes
pela Universidade de Nova York.
Admissões 30
Professores 42
Funcionários 17
Pesquisadores 4
Devido à escassez de dentistas no país (apenas 400 profissionais atuando em todo o território) e à intensa demanda
por atendimento gratuito ao público, a FO era a unidade mais deficitária da UEH, com despesas anuais em torno de
HTG 18.000.000 (cerca de US$ 400.000) e uma dotação orçamentária de apenas HTG 7.000.000 (cerca de US$
150.000). Normalmente, essa diferença é suprida com doações diretas. Caso nãos sejam suficientes, funcionários e
professores assistentes são sumariamente dispensados e os gastos são simplesmente suspensos. Nesses casos, são os
próprios estudantes que buscam se suprir, por conta própria, de materiais que a faculdade é incapaz de lhes oferecer
Tabela 45 – Impacto sobre a FO: vítimas e danos decorrentes do terremoto Categorias Vítimas40 Instalações
Alunos 1 Ao lado da FE e do INAGHEI, foi uma das três unidades da UEH que menos danos
sofreram em decorrência do terremoto. O edifício apresenta fissuras, mas cuja extensão
não chega a representar um risco que afaste o público que busca atendimento no interior
do prédio. A extensão completa dos danos à estrutura ainda aguarda avaliação técnica,
mas distintas instâncias da administração universitária se decidiram em favor de uma
rápida retomada do atendimento odontológico. Contudo, o material dentário utilizado
pelos estudantes e professores tanto nas atividades letivas quanto no atendimento aos
pacientes, foi perdido. Também os geradores que alimentavam o equipamento
odontológico foram destruídos. Tanto os registros acadêmicos dos estudantes quanto os
arquivos de prontuários odontológicos dos pacientes foram integralmente preservados.
Professores 1
A despeito de suas instalações físicas terem sido poupadas, tanto as atividades acadêmicas como o atendimento
odontológico estão paralisados por conta da destruição do material dentário e dos geradores. Qualquer retomada das
atividades deverá priorizar os estudantes dos dois anos finais, por conta da experiência clínica necessária à formação
de dentistas e que 35 deles já asseguraram. Com algum acompanhamento, poderiam mesmo ter sua graduação
adiantada, caso lhes pudesse ser fornecido material dentário clínico. Nossa equipe discutiu com a direção a criação
de uma ou mais clínicas móveis: para além do ônibus, cada clínica móvel custaria cerca de US$ 30 a 40.000
(compreendendo gerador, radiógrafo, cadeira, compressor). Outra prioridade urgente, assim como para todas as
outras unidades e instâncias da UEH, é a digitalização dos arquivos acadêmicos e prontuários de pacientes.
40 Marie Saget era o nome da professora morta. Um outro professor que trabalhava na FO também morreu.
Considerando, porém, que ministrava uma disciplina médica e trabalhava também no HUEH, foi computado na
lista da FMP. O estudante morto não teve seu nome mencionado por qualquer dos informantes.
149
Figura 58 - Fachada da Faculdade de Odontologia, a única faculdade da
UEH cujo edifício não foi destruído ou severamente danificado. Foi
imediatamente convertido num centro de atendimento emergencial à
população afetada na região central da cidade
Figura 57 - Fachada da FO. Em frente à entrada, o decano.
Dispostos ao longo das paredes, objetos pessoais de
funcionários que se abrigaram no pátio do edifício.
150
Figura 59 - Sala de aula teórica da FO
Figura 60 - Sala de aula prática da FO
151
Figura 61 - Uma das duas salas de atendimento ao público da FO. Os móveis e
equipamentos odontológicos de que dispõem as clínicas da FO foram doados pela
Faculdade de Odontologia da State University of New York (SUNY)
Figura 62 - Sala de atendimento ao público da FO
152
Figura 64 - Outra das salas de atendimento ao público da FO
Figura 63 - Por um buraco na parede de uma das salas de atendimento
ao público da FO, pode-se ver a outra
153
Faculdade de Ciências (FDS)
Tabela 46 - Perfil institucional da FDS Categorias Efetivo Instalações
Alunos 583 Contava com quatro edifícios, abrangendo 30 salas de aula, cinco salas de professores, 10
laboratórios científicos, cinco laboratórios de informática, dois auditórios, uma biblioteca
comum a todas as carreiras, um refeitório. O edifício principal tinha quatro andares e
abrigava também os setores administrativos da faculdade.
Admissões 200
Professores 89
Funcionários 30
O espectro de carreiras formadas na FDS era consideravelmente amplo, atendendo à demanda de inúmeros setores
especializados. Seus laboratórios desempenhavam não somente atividades acadêmicas, como também ofereciam aos
estudantes e professores a oportunidade de treinamento em testes e pesquisas encomendados por órgãos
governamentais e por agências e organizações internacionais de cooperação.
Tabela 47 – Impacto sobre a FDS: vítimas e danos decorrentes do terremoto Categorias Vítimas41 Instalações
Alunos 5 Praticamente todas as instalações e equipamentos foram destruídos. Somente alguns
poucos equipamentos puderam ser salvos do prédio administrativo. A demolição do que
restou do prédio principal foi prontamente iniciada para evitar riscos ulteriores aos
desabrigados que se estabeleceram na área e aos passantes nessa área tão central da cidade.
Professores 3
Na medida em que respondia pela formação de grande parte dos engenheiros, arquitetos e topógrafos do país, chega
a ser redundante insistir sobre a importância estratégica de priorizar a reestruturação de suas instalações e a
retomada de suas atividades para o esforço de reconstrução no país.
41 Na FDS, os estudantes se distribuem em cinco períodos, independentemente da carreira escolhida. Assim, um
estudante do primeiro ano de arquitetura, após haver cursado um ano propedêutico, será considerada coetâneo de
um estudante do segundo ano da licenciatura em química, cujo ano propedêutico já corresponde ao seu primeiro
ano de licenciatura, assim como um estudante do segundo ano de topografia será considerado coetâneo dos
estudantes do primeiro ano de qualquer das engenharias. Do total de 580 estudantes matriculados, 411 foram
contatados diretamente (200 do primeiro nível do curso propedêutico, 107 do segundo ano propedêutico e da
licenciatura de química, 104 do primeiro ano das carreiras especializadas e das engenharias, assim como do segundo
ano da licenciatura de química, do primeiro ano da arquitetura e dos dois anos do curso de topografia), sendo que os
contatos diretos serviram também para obter informações sobre o paradeiro do restante do corpo discente da
faculdade. Os nomes dos cinco estudantes confirmados como mortos são: do primeiro período, Darly Mersilus e
Rose Kéthla Syme; do segundo período, Alex Fils Aimé e Johnny Prince; do quarto período, Vladimir Joseph
Laguerre (no dia seguinte ao terremoto, no HUEH, em decorrência da gravidade de seus ferimentos). Dentre os 30
professores, 20 foram contatados diretamente e ofereceram informações sobre o paradeiro dos demais, inclusive
sobre os três que morreram: Régistre Dieufort, Yolaine Lhérisson (também professora da UniQ, mas computada
nesta lista porque, além de professora, também era membro do conselho de direção da FDS) e M. Compas (professor
de eletromecânica). Sobre o paradeiro da professora de desenho técnico, Mme. Derrisseau, e do estudante do
terceiro período, Vaneau Louisme, não foi possível confirmar se haviam morrido ou não, razão pela qual seus
nomes foram excluídos do cômputo de vítimas fatais. Segundo informações de Brunous Delia, guardião da
faculdade, também o filho de um funcionário morreu em decorrência do desabamento. Contudo, sua morte não
será computado nesta lista, por não possuir vínculo acadêmico ou funcional com a instituição. Do total de
estudantes contatados e que forneceram informações sobre um local estável de residência após o terremoto, mais da
metade (cerca de 52%) haviam buscado refúgio fora da capital e de seus arredores, alguns deles mesmo fora do país,
atravessando a fronteira com a República Dominicana.
154
155
Figura 66 - Vista lateral da FDS, com as ruínas da varanda que
ruiu durante o terremoto
Figura 65 - Entrada principal da FDS
156
Figura 67 - Vista do interior da ala frontal da FDS a partir dos escombros da varanda
Figura 68 - Vista frontal da FDS, com as ruínas da antiga fachada
157
Figura 70 - Sala de aula da FDS
Figura 69 - Pátio externo da FDS, com o abrigo construído para
abrigar a família de um dos funcionários após o terremoto
158
Figura 71 - Pátio
interno da FDS
Figura 72 - Início do processo de demolição da FDS
159
Figura 73 - Lateral do
edifício que abrigava
os laboratórios da FDS
Figura 74 - Vista do pátio externo da FDS, com as ruínas de um dos edifícios de salas de
aula e do prédio que abrigava os laboratórios
160
Faculdade de Ciências Humanas (FASCH)
Tabela 48 - Perfil institucional da FASCH Categorias Efetivo42 Instalações
Alunos 1.804:
1.749
graduandos, 55
mestrandos
Conta com dois prédios, um edifício acadêmico (com 16 salas de aula, uma sala
de professores, comum a todos os departamentos, cinco salas de estudo, duas
bibliotecas, dois laboratórios de informática e uma enfermaria, distribuídos em
quatro andares) e um administrativo (com os escritórios da direção e as salas de
aula, estudo e pesquisa do programa MAPODE – Mestrado em População e
Desenvolvimento). Possui ainda um amplo pátio interno, normalmente
utilizado como estacionamento por professores e visitantes.
Admissões 300
Professores 131:
10 licenciados,
70 mestres, 51
doutores
Funcionários 51
Pesquisadores 15:
12 mestres, 3
doutores
É inescapável reconhecer o peso simbólico que tem a FASCH no panorama intelectual, político e social haitiano.
Juntamente com a FE e a FMP, representa um dos polos do ativismo político no interior da UEH. Não só o
movimento estudantil tem uma forte presença, como também o sindicalismo docente. Em diversos momentos da
conturbada história recente do país, os estudantes e professores da FASCH desempenharam um papel-chave de
catalisadores da mobilização popular, não raro chegando ao ponto do confronto violento. Nos últimos anos, quando
quer que uma plataforma política contestatória tivesse chegado às ruas, um episódio incontornável no processo de
deslegitimação do governo parecia ser representado com a invasão da sede da FASCH pelas respectivas instâncias de
manutenção da ordem. O rol dessas invasões parece oferecer uma lista das tentativas de promover, canalizar ou
conter por meios violentos a insatisfação popular no país: macoutes e perseguidores de macoutes, Forças Armadas
do Haiti e ex-oficiais das FAd'H, Polícia Nacional Haitiana (sob diversas configurações distintas), chimères e
perseguidores de chimères, Organizações Populares (OP's), Frente para a Reconstrução Nacional (FRN) e, mais
recentemente, na tentativa de conter um protesto por aumentos salariais, inclusive a força policial das Nações
Unidas (UNPOL) e soldados brasileiros da MINUSTAH.
42 Os alunos do primeiro ano do Programa de Mestrado em População e Desenvolvimento (MAPODE) são
computados entre os estudantes, na medida em que, nesse período, somente têm o compromisso de frequentar as
disciplinas, que são ministradas de modo conjugado com a graduação. A partir do segundo ano do programa, passam
a ser considerados pesquisadores, uma vez que só então apresentam seus projetos de dissertação, recebem
orientação e dão início às atividades de pesquisa.
161
Tabela 49 – Impacto sobre a FASCH: vítimas e danos decorrentes do terremoto Categorias Vítimas43 Instalações
Alunos 15 Todas as salas de aula foram interditadas e, de acordo com uma avaliação técnica
preliminar, o edifício acadêmico deverá ser demolido antes que o resto da sede possa
ser destinado a qualquer tipo de uso. O edifício da administração, por outro lado, a
despeito de fissuras aparentes, poderá ser restaurado. Os arquivos e registros
acadêmicos não foram danificados, mas continuavam no interior do edifício
condenado. Ambas as bibliotecas e os equipamentos de ambos os laboratórios de
informática foram danificados. A despeito do risco de desabamento do edifício
acadêmico, várias famílias se instalaram no pátio interno, incluindo as famílias de 35
estudantes.
Professores 1
Pesquisadores 3
Professores e estudantes da FASCH mobilizaram-se rapidamente depois do terremoto tanto para participar dos
esforços de resgate e remoção de escombros, como para retomar paulatinamente alguma medida de normalidade
nas atividades acadêmicas, realizando círculos de discussão, seminários, simpósios e palestras nas dependências da
faculdade. Juntamente com a FE e o INAGHEI, foram as unidades da UEH aquelas cujos estudantes mais
prontamente se organizaram para produzirem seus próprios levantamentos de mortos, feridos e desabrigados em
meio a seus colegas e professores. Foram formados também comitês de intervenção comunitária, que reuniam na
faculdade grupos de estudantes que não haviam deixado a capital para atuarem junto a frentes de trabalho em cinco
áreas de maior concentração de refugiados na zona central da cidade e na área de Carrefour Feuilles (Praça Jérémie,
Avenida Christophe, Champ de Mars, Rua Saint-Gérard e Avenida Poupelard). Um grupo de estudantes e
professores do curso de psicologia também se organizou para formar um Centro de Apoio Psicológico, próximo à
Praça Jérémie, atendendo principalmente crianças, mas também aberto a adultos traumatizados pelo terremoto.
43 Um total de 331 estudantes foram contatados direta ou indiretamente e puderam oferecer informações sobre o
paradeiro de seus outros colegas. Dos 15 estudantes mortos, 14 eram da graduação e um era mestrando: Schelomil
Lacoste (propedêutico), Stanley Jedin (sociologia), Jeanty Jean, Stéphane William Daphnelle, Forde Marin e Laude
Saskia Jean (psicologia), Juro Anuppe, Kencia François, Samuel Alcius, Moïse Amila, Emmanuella Larosilière,
Durvil Dorcé, Cynthia Bois-Jacques e Daniel Abraham (serviço social) e Samuel Denor (mestrado em população e
desenvolvimento). Além dos 15 estudantes mortos, três pesquisadores do programa MAPODE também morreram,
um mestre e dois doutores, cujos nomes, porém, não foram mencionados por qualquer dos informantes. O professor
morto era Guercy Antoinne, professor de psicologia social e mundo caribenho na FASCH, lecionando psicologia
também na FE. Também Pierre Vernet, que era tanto professor de linguística e comunicação na FASCH e de
antropologia na FE como professor de linguística da FLA, foi computado unicamente entre as vítimas da FLA, uma
vez que ali desempenhava também a função de decano da faculdade. O mesmo vale Wesner Mérant, que era
simultaneamente professor de análise do discurso na FASCH e vice-decano da FLA. O professor Anil Louis Juste
também morreu no dia do terremoto, mas em decorrência de um atentado contra sua vida, praticado horas antes do
primeiro tremor. No esforço de incluí-lo entre as vítimas do terremoto, alguns estudantes chegaram a afirmar que
foi levado ainda com vida ao hospital, onde teria morrido, não em virtude dos disparos sofridos ao chegar à
faculdade naquela manhã, mas do desabamento do edifício à tarde. Estudantes que testemunharam o assassinato,
contudo, asseguram que o professor morreu imediatamente, em decorrência dos disparos. Numa fatídica
convergência de eventos, sua morte violenta acabou salvando incontáveis vidas, pois, ao circularem as primeiras
informações sobre seu brutal assassinato, um grande número de estudantes, não somente da FASCH, mas também
de outras faculdades e universidades da capital, saíram às ruas para protestar. Quando ocorreu o grande tremor, a
passeata se encontrava no Champ de Mars, em terreno aberto.
162
Figura 76 - As colunas de sustentação,
trespassadas por fissuras, evidenciam o colapso
iminente do edifício principal da FASCH
Figura 75 - Toda a área ao redor do edifício
principal da FASCH é mantida isolada, em
virtude do risco de desabamento
Figura 77 - O edifício
acadêmico da FASCH
está condenado e a
iminência de seu
desmoronamento
impede inclusive que
se utilize parte do
pátio interno, o que
contudo não impede
que alunos, ex-alunos
e suas famílias
ocupem parte do
estacionamento como
abrigo provisório
163
Instituto de Estudos e Pesquisas Africanos (IERAH) / Instituto de Estudo e Pesquisa em Ciências
Sociais (ISERSS)
Tabela 50 - Perfil institucional do IERAH/ ISERSS Categorias Efetivo Instalações
Alunos 500 Está instalado num edifício de três andares, que abriga 16 salas de aula, uma salas
de professores, comum a todas as disciplinas, três salas de estudo, cinco salas
administrativas, uma biblioteca e dois laboratórios de informática, um dos quais,
porém, ainda não havia sido equipado.
Admissões 200
Professores 29
Funcionários 21
Pesquisadores 17:
12 mestres,
5 doutores
Criado em 1980 e ativo desde 1981, foi a última das unidades da UEH a se estabelecer na capital. Concebido como
um centro de pesquisa, destinado a acolher pesquisadores ou estudantes de pós-graduação, era tributário de um
projeto político-intelectual de extração noiriste, que havia ajudado a assegurar lastros simbólicos na busca de
legitimação internacional para o regime duvalierista. Sem uma resposta condizente da parte dos pesquisadores e
pós-graduandos haitianos, abriu mão de suas pretensões de pesquisa e converteu-se rapidamente numa faculdade
profissionalizante, para carreiras que no entanto ofereciam poucas (se é que alguma) perspectiva de trabalho aos
formandos. Nas décadas seguintes, além de enfrentar sérios problemas administrativos, teve cada vez mais
dificuldade em se inserir no espectro institucional acadêmico haitiano, o que levou a reitoria a reformar
radicalmente o perfil do Instituto, resgatando sua missão original de promoção da pesquisa, mas de uma forma
menos atrelada a uma plataforma pré-definida e por outro lado mais estreitamente associada aos esforços de
formação de base. A partir de 2007, passou a ser o ISERSS e se inseriu no espaço altamente politizado de debate
político e intelectual que marca o campo das ciências humanas na UEH.
Tabela 51 – Impacto sobre o IERAH/ ISERSS: vítimas e danos decorrentes do terremoto Categorias Vítimas44 Instalações
Alunos 2 Apesar de não haver ruído, o prédio apresenta profundas fissuras. Uma equipe técnica
avaliou o edifício e determinou que representa um risco para a vizinhança e deverá ser
demolido. Os computadores, assim como o acervo da biblioteca e os registros
acadêmicos não sofreram danos, mas permanecem no interior do edifício condenado.
Professores 1
Pesquisadores 1
A direção do Instituto perdeu o contato com grande parte dos professores e, havendo tentado sem sucesso
determinar o paradeiro de seus funcionários, temia que tivessem perecido alhures. As atividades acadêmicas, que
estavam marcadas para recomeçar no dia mesmo do terremoto, foram paralisadas.
44 Nenhuma das vítimas fatais foi identificada nominalmente por qualquer dos informantes. Distintas fontes,
contudo, confirmaram os números. Morreram três estudantes do IERAH, mas se sabe que um deles, que também
era aluno da Universidade GOC, pereceu no desabamento daquela instituição, razão pela qual não é computado na
lista de vítimas do IERAH. Tanto o professor como o pesquisador morto eram ligados ao Programa de Mestrado
Interdisciplinar em Ciências Sociais e Humanas (PMISSH), situado numa sede própria, que foi completamente
arruinada pelo terremoto. As vítimas do desabamento da sede do PMISSH ou de alguma forma vinculadas ao
programa, mas mortas alhures, foram computadas nas listas respectivas das instituições com as quais tinham um
vínculo como professores ou estudantes. Dentre os funcionários desaparecidos, nove ainda não haviam sido
localizados até o encerramento deste levantamento. É possível que alguns deles (ou mesmo todos os nove) tenham
morrido. Sem conhecer, contudo, os métodos desse esforço de localização e sem a possibilidade de uma verificação
por qualquer outra via, não foram computados entre as vítimas fatais desta lista.
164
Figura 79 - Instituto de Estudos e Pesquisas Africanos (IERAH) / Instituto de Estudo e
Pesquisa em Ciências Sociais (ISERSS) Danificado, o IERAH / ISERSS permanece em
pé. No muro, pichações contrárias à atuação de organizações estrangeiras
Figura 78 - De todos os lados do edifício do IERAH / ISERSS se pode perceber que,
apesar de haver resistido, demandará reparos importantes
165
166
Figura 82 - “Aviso aos
estudantes: a direção do
departamento de Geografia
informa aos estudantes da
primeira turma de 2009 /
2010 que o curso terá início
nesta terça-feira, dia 12 de
janeiro de 2010”. Suma
ironia, o primeiro grande
terremoto foi exatamente
neste dia, no fim da tarde
Figura 81 - Uma das
entradas do IERAH /
ISERSS. O prédio
resistiu aos tremores,
mas a extensão dos
danos exigirá
consideráveis reparos
Figura 80 - Pátio interno do
IERAH / ISERSS
167
Figura 84 - Corredor lateral do
IERAH / ISERSS
Figura 83 - Saguão de entrada do IERAH / ISERSS
168
Instituto Nacional de Administração Pública e de Empresas e de Altos Estudos Internacionais
(INAGHEI)
Tabela 52 - Perfil institucional do INAGHEI Categorias Efetivo45 Instalações
Alunos 2.610:
1.589 no ciclo de
formação acadêmica,
1.021 no de
formação contínua
Conta com dois edifícios: um prédio principal, de quatro andares, com 16
amplas salas de aula, um auditório e um laboratório de informática com
cerca de 40 computadores, e um prédio administrativo, com duas salas da
direção, quatro salas de chefia de departamento, biblioteca, refeitório e um
terraço utilizado como extensão do refeitório. O instituto contava ainda
com dois veículos e um pequeno parque gráfico, já obsoleto, porém, e
raramente utilizado. Admissões 450
Professores 147
Funcionários 86
Desde sua fundação, vem constante e diligentemente expandindo sua base de alunos e o número de vagas de ensino
e treinamento que oferece, chegando mesmo a operar em três turnos e ao longo dos fins de semana, com uma taxa
de ocupação de seus espaços físicos próximo à saturação. Um ciclo de formação acadêmica, em dois turnos (diurno-
integral e noturno), conduzindo ao bacharelado ou licenciatura em administração de empresas, administração
pública e ciências contáveis, além da especialização em ciência política; um ciclo de formação contínua, baseado
nos programas de curta duração (dois anos), com diplomação em contabilidade ou certificação em administração de
empresas, administração pública ou ciência política; além de um ciclo de aperfeiçoamento, baseado em seminários
de reciclagem com temáticas sazonais (por exemplo, gestão de projetos, gestão de recursos humanos, métodos de
pesquisa em marketing, gestão de documentos administrativos etc.), assegurando certificados de participação.
45 Para além dos currículos acadêmicos stricto sensu, o INAGHEI oferece seminários de capacitação, reciclagem e
aperfeiçoamento para profissionais ativos no mercado de trabalho e na administração pública, não somente fazendo
uso de suas instalações próprias, mas também deslocando professores e equipamento para sedes de empresas,
ministérios e organizações não governamentais. Tanto a reitoria da UEH como a direção do Instituto tendem a
considerar todos os participantes desses seminários como estudantes, o que não raro produz números elevadíssimos
para o cômputo geral do corpo discente do Instituto, chegando mesmo a cifras que ultrapassam os 4.500. Contudo,
números assim devem ser tomados com cautela e considerados unicamente como correspondentes ao total da
clientela das atividades letivas do Instituto, e não como a escala efetiva de seu corpo discente ativo, que, entre o
ciclo de formação acadêmica e o ciclo de formação contínua.
169
Tabela 53 – Impacto sobre o INAGHEI: vítimas e danos decorrentes do terremoto Categorias Vítimas46 Instalações
Alunos 12 Múltiplas fissuras são visíveis por todas as instalações, porém aparentam ser de pouca
profundidade. Os dois veículos que pertenciam ao Instituto, uma caminhonete e um jipe,
foram esmagados com a queda de um dos muros. De 41 computadores, 26 foram
destruídos, assim como uma proporção equivalente dos outros equipamentos. Os móveis,
no entanto, não foram danificados. Uma equipe militar franco-canadense de engenharia
realizou uma avaliação técnica preliminar sobre a extensão dos danos ao prédio principal
e determinou que o edifício poderá ser recuperado, sendo uma das únicas três unidades da
UEH que não foi destruída ou precisará ser demolida, juntamente com a FE e a FO.
Professores 2
Antes mesmo de qualquer iniciativa da reitoria da UEH para avaliar a extensão dos danos e o número de vítimas, os
estudantes formaram um comitê de avaliação do impacto do terremoto chamado de CINAGHEI (Coletivo dos
Estudantes do INAGHEI). Contaram com o apoio inicial do decanato do Instituto e puderam dar início ao
levantamento do número de colegas e professores mortos, feridos e desabrigados e à discussão sobre a possibilidade
de, fazendo uso das instalações e equipamentos de seu Instituto, relativamente menos afetados, retomar ao menos
parcialmente algumas das atividades tanto do próprio INAGHEI quanto do restante das faculdades de ciências
humanas da UEH. Na medida em que sua sede, entre todas as unidades da UEH, é uma das que menos recursos
exigirá para ser recuperada, poderia servir como base de suporte para uma retomada gradual das atividades
acadêmicas para a área de Ciências Humanas, que, de todo modo, já se encontrava distribuída por faculdades
relativamente próximas (FASCH e INAGHEI, do outro lado da rua, FE a algumas quadras ao oeste e FLA a algumas
quadras ao norte). Num esforço conjunto com a FE, que também foi proporcionalmente pouco afetada pelo
terremoto, tanto as instalações físicas como os espaços adjacentes dessas duas unidades poderiam ser utilizados
alternada ou simultaneamente para acolher o grande efetivo de alunos e professores tanto da FASCH como do
IERAH, até que suas respectivas sedes fossem adequadamente recuperadas ou demolidas e liberadas dos escombros.
À espera das decisões da reitoria com respeito ao reinício das atividades, o decanato do INAGHEI havia optado por
uma retomada virtual das aulas já no dia 1°. de abril, utilizando um sistema de créditos que permitisse compensar
com carga horária posterior as aulas que não tivessem podido ou ainda não pudessem ser ministradas.
46 Do total de estudantes ativos, inscritos para os ciclos de formação acadêmica e de formação contínua, 798 foram
recenseados e contatados diretamente. Loubert Auguste, encarregado de serviços gerais e Francel Saint-Hillien,
decano e professor de direito internacional e organizações internacionais, confirmaram em visitas posteriores ao
Instituto os dados preliminares obtidos pelo CINAGHEI e os dados apurados no curso deste levantamento. Entre as
vítimas fatais, os dois professores eram M. Prince (matemática) e Chesnel Derville (informática). Também morreu o
professor Jean Rousiers Descardes, que ministrava a disciplina de introdução ao direito, mas seu nome foi incluído
entre as vítimas da FE, onde atuava havia mais tempo e ministrava mais disciplinas, no curso de Antropossociologia.
Péricles Vernet (professor de economia haitiana e contabilidade) ainda se encontrava desaparecido, mas sua morte
ainda não havia podido ser confirmada. Os 12 estudantes cuja morte havia sido confirmada eram: Emmanuel
Étienne, Judelande Ducasse (ano preparatório), Nolasco Amicy (primeiro ano de ciências contábeis), Jean Mary
Renand e Destiné Datus (segundo ano de ciências contábeis), Mondy Pichonneau (terceiro ano de ciências
contábeis), Grégory Honorat, Réginald Brutus e Guerlin Kernizan (último ano de ciências contábeis), Keseau
Metéllus (primeiro ano do diploma de ciências contábeis), Rony Jean e Anne Claudia Joseph (segundo ano do
diploma de ciências contábeis).
170
Figura 85 - Pátio interno do INAGHEI
Figura 86 – Fachada frontal do INAGHEI, expondo fissuras que atravessam
toda a estrutura de sustentação do prédio
171
Figura 88 - Sala de aula do INAGHEI com material didático e pertences pessoais
que os alunos deixaram para trás ao tentar escapar do primeiro tremor
Figura 87 - As salas de aula do
INAGHEI permaneceram como
foram deixadas, ao terem sido
abandonadas às pressas no dia do
primeiro terremoto
172
Unidades autônomas do sistema público de ensino superior e formação profissional47
Escola de Direito de Jacmel (EDJ)
Tabela 54 - Perfil institucional da EDJ Categorias Efetivo Instalações
Alunos 369:
131 (primeiro
ano), 82
(segundo), 77
(terceiro) e 79
(quarto)
Ocupava parte da sede do EFACAP de Jacmel, alternando horários de
funcionamento e compartilhando o espaço físico com duas escolas
fundamentais (Edèze Gousse e Roger Delmas). Contava com um amplo pátio
interno e abrangia um prédio principal, de dois andares, com 10 salas de aula e
capacidade para abrigar 500 alunos, e um prédio anexo térreo, que alojava as
salas da administração. Não possuía biblioteca própria ou equipamento de
informática. Admissões 150
Professores 20
Funcionários 3
Para além do corpo docente local, contava com a participação pedagógica de professores da FDSE de Port-au-
Prince, que também ministravam disciplinas e ofereciam seminários. As disciplinas estavam distribuídas em
horários vespertinos e eram oferecidas durante os dias da semana para as turmas dos primeiros três anos e nos fins
de semana para a turma do quarto ano.
Tabela 55 – Impacto sobre a EDJ: vítimas e danos decorrentes do terremoto Categorias Vítimas48 Instalações
Alunos 1 O edifício térreo não apresenta fissuras e passou imediatamente a ser utilizado como base
de atendimento médico para o campo de refugiados instalado nas proximidades e no pátio
interno das escolas. O edifício principal, contudo, expões fissuras mais profundas e,
incluindo a área à sua volta, foi interditado.
Professores 1
Os registros escolares foram recuperados e, inicialmente em tendas instaladas no pátio, mas posteriormente com a
reocupação gradual das salas de aula, estava prevista para o início de março a retomada das atividades.
47 Compreende faculdades, escolas e centros públicos (nacionais, departamentais ou ministeriais) de caráter
acadêmico, técnico ou profissional que estivessem instalados e operando na área afetada. Assim, dentre as escolas
departamentais de direito e economia (Hinche, Jacmel, Port-de-Paix, Fort-Liberté, Les Cayes, Gonaïves e Cap-
Haïtien), foi destacada somente a Escola de Direito de Jacmel (EDJ), por ser a única delas situada na área
diretamente afetada pelos tremores. Da mesma forma para as escolas nacionais de enfermagem (além de Port-au-
Prince, Jérémie, Les Cayes e Cap-Haïtien), tendo sido avaliada somente a Escola Nacional das Enfermeiras de Port-
au-Prince (ENIP). Na capital, foram arrolados ainda o Centro Técnico de Planificação e Economia Aplicada
(CTPEA), a Escola Nacional de Administração Financeira (ENAF), a Escola Nacional das Artes (ENARTS), a Escola
Nacional Superior de Tecnologia (ENST), o Centro Nacional de Formação Profissional ou Centro Piloto de
Formação Profissional e Técnica (CNFP/ CPFPT) e a Escola Nacional de Geologia Aplicada (ENGA). 48 Diante da impossibilidade de organizar uma equipe de pesquisa independente na cidade, as informações sobre as
vítimas foram colhidas junto à imprensa local, em entrevistas com Luc François, professor de direito penal da EDJ,
com Adeline François, decana do Tribunal Civil de Jacmel, assim como com moradores do campo de refugiados
estabelecido no pátio interno e funcionários das organizações humanitárias ativas no local. Foram registradas as
mortes de um estudante do 4°. ano, cujo nome porém não foi mencionado por qualquer dos informante, e do
professor M. Oranger (direito penal). De modo geral, as estimativas para o resto da cidade de Jacmel colocavam as
cifras de vítimas fatais em torno de 400, com cerca de 50 pessoas ainda desaparecidas.
173
Figura 89 - Tendas no
pátio da EDJ
Figura 91 - Tendas no pátio
da EDJ, convertida em
campo de refugiados
Figura 90 – Tendas ao redor da EDJ
174
175
Figura 93 - Corredor de salas de aula da EDJ
Figura 92 - Sala de aula – EDJ – Jacmel (no quadro-negro, notas da aula de
Teoria do Direito Constitucional que era ministrada no dia do terremoto)
176
Centro Técnico de Planificação e Economia Aplicada (CTPEA)
Tabela 56 - Perfil institucional do CTPEA Categorias Efetivo Instalações
Alunos 132 Além de um pátio interno, contava com dois edifícios: um prédio principal, de dois
andares, com 10 salas de aula, uma sala de professores, uma sala de pesquisadores, duas
salas da direção, um auditório, uma biblioteca, um laboratório de informática e um
refeitório; e um prédio anexo, de três andares, com quatro salas de aula e duas salas de
estudo, destinadas ao mestrado e aos seminários de aperfeiçoamento.
Admissões 50
Professores 12
Funcionários 34
Pesquisadores 25
Sob a tutela do Ministério da Planificação e da Cooperação Externa (MPCE), voltava-se à formação acadêmica, ao
aperfeiçoamento de quadros especializados da adminsitração pública e à pesquisa nas áreas de economia aplicada,
estatística e planificação. Procurava mantinha ativos os vínculos com ex-alunos e ex-professores, que desenvolviam
atividades no Centro e facilitavam o estabelecimento de canais de apoio com a diáspora haitiana e com agências
internacionais de cooperação. Juntamente com os professores, tanto os estudantes inscritos nos programas de
especialização quanto aqueles vinculados ao Programa de Mestrado Interdisciplinar em Ciências Sociais e Humanas
(PMISSH), do qual era uma das principais instituições promotoras, dispensavam disciplinas e realizavam seminários
de formação e aperfeiçoamento, tanto para os demais estudantes regularmente matriculados, como para os
funcionários do MPCE. Estava em curso de elaboração um programa de mestrado em desenvolvimento local, que
seria sediado no CTPEA e selecionaria a primeira turma já em 2010.
Tabela 57 – Impacto sobre o CTPEA: vítimas e danos decorrentes do terremoto Categorias Vítimas49 Instalações
Alunos 1 Todos os muros circundantes caíram e ambos os edifícios foram avariados, mas uma
avaliação técnica sobre a extensão das fissuras determinou que ambos são passíveis de
recuperação. O laboratório de informática foi danificado, mas nem todos os computadores
foram destruídos. O prédio anexo foi interditado por conta do risco de colapso do muro
que ladeia seu único corredor de acesso. Alguns dos aparelhos de ar condicionado foram
danificados, mas os geradores que abasteciam ambos os prédios foram salvos.
Professores 1
A elaboração do programa de mestrado foi suspensa e não há qualquer perspectiva de que o processo seletivo seja
iniciado. Certamente terá um papel estratégico a desempenhar no esforço de reconstrução e na implementação de
políticas e programas de planejamento econômico, descentralização administrativa e desenvolvimento localizado,
assim como na formulação de políticas voltadas à integração da comunidade diaspórica haitiana.
49 A direção mencionava um professor entre as vítimas, mas seu nome não foi mencionado nem pela administração
do centro e nem por qualquer outro informante. A estudante morta se chamava Schelami Lacoste e cursava o
primeiro ano. Outros dois estudantes sofreram ferimentos graves, tendo um deles tido a perna amputada, mas
ambos resistiram.
177
Figura 94 – Fachada frontal do CTPEA
Figura 95 - Muro do pátio externo do CTPEA
178
Figura 97 - Galpão anexo ao CPTEA, onde se veem estendidas as roupas dos
refugiados que se abrigaram no pátio
Figura 96 - Sala de aula do CTPEA
179
Escola Nacional de Administração Financeira (ENAF)
Tabela 58 - Perfil institucional da ENAF Categorias Efetivo Instalações
Alunos 145:
56 no primeiro ano e
89 no segundo, 12
dos quais quadros
ministeriais
Abrangia dois prédios principais: o edifício A – quatro andares que
abrigavam 15 salas de aula, cinco salas administrativas, uma sala de estudos,
uma sala de professores, a biblioteca, dois laboratórios de informática, uma
sala audiovisual (laboratório de línguas), um auditório, uma sala de
manutenção, uma sala de arquivos e uma enfermaria – e o edifício B, térreo,
que era reservado para cerimônias, conferências e seminários realizados
pelo MEF e por outros órgãos governamentais. Cada um dos edifícios
contava também com um refeitório. No pátio interno, encontravam-se
estacionados os dois ônibus que pertenciam à escola.
Admissões 54
Professores 75:
28 (primeiro ano), 47
(segundo)
Funcionários 39
Vinculada diretamente ao Ministério da Economia e das Finanças, (MEF), dedica-se à formação e ao
aperfeiçoamento dos quadros técnicos do MEF. Os cursos conduzem à diplomação (bacharelado) ou a uma
certificação de dois anos de formação continuada. Muitos dos estudantes (chamados de estagiários) procuram os
cursos do ENAF – Tesouro, Economia, Impostos e Aduana – como uma especialização ulterior, voltada ao serviço
público, mas suplementar ou paralela a outra formação universitária.
Tabela 59 – Impacto sobre a ENAF: vítimas e danos decorrentes do terremoto Categorias Vítimas50 Instalações
Alunos 4 Ambos os edifícios ruíram completamente e, devido à sua localização numa encosta e aos
riscos que representavam aos campos de refugiados que se formavam mais abaixo, foi
uma das primeiras instituições de ensino superior a ter os escombros removidos. Professores 4
Felizmente, estava vazia quando ruiu: as mortes ocorridas entre os estudantes e professores ocorreram alhures. Na
ampla área anteriormente ocupada pela ENAF, restaram apenas seus dois ônibus estacionados, utilizados para
armazenar os registros acadêmicos e as poucas obras que puderam ser recuperadas da biblioteca soterrada.
50 Entre as vítimas fatais, quatro eram estudantes – do primeiro ano, Minette Thomas Rose e Emmanuel Salomon
Stanley, e do segundo, Rachelle Dély Phaïmy e Francky Jorely – e quatro professores – Duvot Fénol, Cupidon
Dorsainvil, Junior Murey Lustin e Josué Pierre-Louis. Um estudante do segundo ano, Jocelyn Jephté, foi mutilado.
Entre os estudantes sobreviventes, 88 estão desabrigados e distribuídos por campos de refugiados,
predominantemente nos arredores da capital, mas também junto a familiares no interior do pais.
180
Figura 98 - A ENAF ruiu completamente, restando apenas seus dois ônibus para
abrigar a documentação recuperada dos escombros
Figura 99 - Após a remoção dos escombros, a única coisa que lembra que ali havia
uma prestigiada instituição de ensino superior é um monte de ferro retorcido
181
Escola Nacional das Artes (ENARTS)
Tabela 60 - Perfil institucional da ENARTS Categorias Efetivo51 Instalações
Alunos 139:
78 de artes plásticas,
47 de música, 9 de
dança, 3 de teatro, 2
de história da arte
Abrangia um amplo pátio interno circundando por quatro edifícios: o
galpão principal, com um corredor suspenso de salas que abrigavam duas
salas administrativas, a sala da direção acadêmica e uma pequena biblioteca;
um galpão anexo, que alojava a sala de dança, a fundição (com dois fornos) e
o ateliê de cerâmica e escultura; um prédio lateral em que havia quatro salas
de aula e um ateliê de pintura; e outro prédio lateral, com um pequeno
auditório, um laboratório de informática, uma sala de equipamentos e
materiais e duas salas de aula. Contava com um imóvel adicional em frente
ao Champ de Mars, que abrigava o Escritório Nacional do Artesanato
(ONART) e um auditório, utilizado para apresentações dos estudantes e
para a realização de cerimônias, eventos e seminários. Possuía ainda uma
pequena caminhonete para o transporte de materiais e equipamentos.
Admissões 200
Professores 23
Funcionários 75
Pesquisadores 51 bolsistas:
25 de música, 17 de
artes plásticas, 5 de
dança, 4 de teatro
Vinculada ao Ministério da Cultura, tem enfrentado há anos dificuldades de financiamento e, segundo o diretor
geral Théodate Thurgot, desde 2005 não são aceitas novas matrículas: a última turma concluiria seu ciclo de
formação continuada em 2010 e não havia dotação de recursos que permitisse selecionar a próxima. As artes
plásticas formaram o núcleo de sua formação original, abrindo quatro novos departamentos (história da arte, dança,
música e artes dramáticas) quando de sua reforma e ampliação em 2002.
51 Tão logo fosse feito o repasse orçamentário pelo Ministério da Cultura, uma nova turma de 200 estudantes seria
selecionada para preencher as vagas de todos os departamentos, assim como uma nova leva de bolsistas. Previa-se
que cerca de 50 dentre os melhores estudantes recebessem uma pequena subvenção, angariada junto a doadores e
repassada pelo Ministério da Cultura, para que pudessem adquirir material ou sustentar projetos artísticos em
desenvolvimento. Havia muito, porém, que não eram pagas e que se limitavam à isenção das taxas escolares. Entre
os funcionários vinculados à ENARTS, encontravam-se também os administradores e técnicos que atuavam junto ao
ONART e que operavam e mantinham em funcionamento o auditório do Champ de Mars.
182
Tabela 61 – Impacto sobre a ENARTS: vítimas e danos decorrentes do terremoto Categorias Vítimas52 Instalações
Alunos 3 O auditório do Champ de Mars ruiu e, na sede acadêmica, com exceção do corredor das
salas administrativas, que tinha uma estrutura de madeira, todos os outros edifícios foram
severamente danificados, com a decorrente destruição de praticamente todos os
equipamentos e materiais: além dos dois fornos e dos dois tornos elétricos, perderam-se a
maior parte dos computadores e instrumentos musicais, incluindo o piano, e praticamente
todos os equipamentos manuais. Muitos dos trabalhos já prontos dos estudantes e dos
professores, que se encontravam nos galpões e oficinas, foram perdidos. Os registros
acadêmicos, contudo, puderam ser recuperados.
Professores 2
Não só em busca de abrigo, mas também em vista do risco que corriam as obras, materiais e instrumentos que
puderam ser salvos, um grupo de estudantes se instalou no pátio interno da escola, onde procuravam, ainda à espera
de uma retomada das atividades acadêmicas, retomar gradualmente ao menos seus próprios trabalhos artísticos.
Músicos e bailarinos, pintores e escultores, mas sobretudo sobreviventes, haviam transformado seu refúgio em
ateliê. As tragédias do terremoto não tinham como não figurar entre seus temas e preocupações e, a reboque de
terem invadido suas vidas, invadiam agora suas obras.
52 Em locais e circunstâncias bastante diversas, morreram três estudantes de perfis igualmente diversos: Cerisier
Vladimir Adham (estudante de artes plásticas, morto em Léogâne), David Sanon (estudante de teatro, morto no
colapso do Centro Técnico Saint-Gérard, do qual era vizinho), Christine Louis (estudante de música, morta em
circunstâncias desconhecidas). Também morreram dois professores: Robert Gustave e Antony Boucard. Além das
vítimas fatais, foram registrados 4 casos de ferimentos graves, envolvendo mutilações de dois professores e de dois
alunos (Dino Narcisse Sideney e Paul Jude “Don” Carmelo, conhecido músico de hip-hop e estudante de pintura,
que perdeu sete dedos ao salvar uma criança do soterramento, mas que já havia recomeçado a pintar prolificamente
algumas semanas após o terremoto.
183
184
Figura 101 - Oficina de
trabalho da ENARTS
Figura 100 - Estátua do
patrono da ENARTS,
Jean-Jacques Dessalines
185
186
Figura 103 - Aluno da ENARTS
mostra o seu trabalho
Figura 102 – “Coletivo pós-desastre. Proteção
do patrimônio / CP3 e ENARTS deseja
oferecer seus pêsames a todos os artistas e
famílias que perderam entes queridos no
terremoto de 12 de janeiro de 2010. Lutemos
pela proteção do patrimônio”
187
Figura 104 - Estudantes da ENARTS que
se abrigaram no espaço da Escola e
continuam desenvolvendo suas atividades
fora dos ateliês danificados
Figura 105 - Pátio da ENARTS,
onde se veem, entre materiais de
escultura e entalhe em madeira, as
roupas que os estudantes
refugiados no pátio da escola
estenderam para secar
188
Figura 106 - Aluno da ENARTS, que sofreu mutilações nas mãos durante o primeiro tremor,
retoma seu trabalho de pintura no que sobrou da escola
Figura 107 - Pátio interno da ENARTS com uma vista lateral do galpão das oficinas
189
Escola Nacional das Enfermeiras de Port-au-Prince (ENIP) / Escola Nacional de Parteiras
(ENISF)
Tabela 62 - Perfil institucional da ENIP Categorias Efetivo Instalações
Alunos 275 Ocupava três edifícios interligados: um prédio principal, de três andares, com
salas de aula, salas de estudo, laboratórios de prática clínica, salas de professores
e biblioteca; uma seção anexa, de dois andares, interligada ao HUEU e também
utilizada no treinamento de parteiras, com laboratórios de obstetrícia e
atendimento ao público, mas que abrigava também algumas salas da
administração; e um prédio menor, de dois andares, com o restante dos setores
administrativo, o arquivo e um pequeno laboratório de informática. Contava
ainda com um micro-ônibus, utilizado para levar estagiários e pesquisadores a
outras unidades hospitalares ou às escolas nacionais do interior do país.
Admissões 100
Professores 40
Funcionários 17
Pesquisadores 9:
3 mestrandos, 3
mestres e 3
doutores
Tratava-se de uma escola tradicional de formação de enfermeiras que acabou sendo incorporada na estrutura da
UEH, num esforço de fortalecimento da formação de pessoal especializado no atendimento à saúde e integrada na
rede mais ampla de escolas nacionais de enfermagem distribuídas por outros departamentos no interior do país.
Com um corpo discente predominantemente feminino, contava também com um grupo incipiente de pesquisadores
e professores diligentemente dedicados à formulação de iniciativas de saúde pública e de saúde preventiva.
Tabela 63 – Impacto sobre a ENIP: vítimas e danos decorrentes do terremoto Categorias Vítimas53 Instalações
Alunos 107 O edifício principal e o prédio da administração ruíram completamente. A seção anexa
de obstetrícia não chegou a desabar e, apesar de exigir uma avaliação técnica sobre a
extensão dos danos, aparenta poder ser restaurado e utilizado transitoriamente para a
retomada gradual das atividades. Assim como outros veículos estacionados nos
arredores, o micro-ônibus foi esmagado. Todos os equipamentos foram destruídos.
Professores 4
Pesquisadores 3
Qualquer plano ou iniciativa de reconstrução do setor de saúde no país passa pelo restabelecimento das condições
de ensino e pelo fortalecimento dos incipientes esforços de pesquisa que tinham lugar na ENIP. Sua destruição
alcançou uma escala devastadora e necessitará de um robusto envolvimento de parceiros internacionais para se
restabelecer. Já antes do terremoto, muitas das iniciativas de formulação de uma política de saúde pública
preventiva, que inescapavelmente envolviam os pesquisadores, professores e estudantes da ENIP, apontavam na
direção de uma emulação deliberada de programas de saúde desenvolvidos e adotados com alto grau de sucesso no
Brasil, como o programa dos agentes de saúde, do médico de família, de saúde materna e de saúde da mulher. Um
esforço direcionado de apoio à implementação desse tipo de programa, no quadro de um envolvimento mais amplo
com a reconstrução dos sistemas de educação superior e de atendimento de saúde, teria uma base de receptividade
já estabelecida e promoveria evidentes efeitos multiplicadores.
53 Segundo Baptistin Wilbert, funcionário que participou do primeiro esforço de resgate, 15 estudantes foram
retiradas com vida dos escombros. Membros do International Medical Corps, que chegaram a acompanhar
posteriormente a recuperação de algumas delas, afirmaram que o total das sobreviventes feridas retiradas com vida
dos escombros e que foram tratadas no HUEH chegou eventualmente a 25. Além do o diretor-geral da ENIP, Pierre
Alix Laroche, outros dois professores pereceram no desabamento. As diretoras adjunta e pedagógica,
respectivamente Mme. Nazaire e Mme. Neptune, puderam confirmar um total de 91 estudantes mortas em
consequência direta do desabamento da Escola (2 do primeiro ano, 81 do segundo e 8 do terceiro). Acreditava-se
que um número adicional de 16 estudantes tivesse perecido no desabamento das unidades hospitalares onde
trabalhavam, além de outras cinco que continuavam desaparecidas até o momento da conclusão deste
levantamento. As 16 estudantes mortas alhures foram incluídas no cômputo da faculdade, no entanto, por falta de
confirmação suficiente, os cinco casos ulteriores de estudantes desaparecidas ou não localizadas foram excluídos do
cálculo, apesar de muito provavelmente terem sido também vítimas fatais.
190
Figura 109 - Vista do que restou da ENIP a partir de onde se encontrava anteriormente a
entrada do prédio principal
Figura 108 - A queda do edifício principal da ENIP vitimou todas as estudantes que se
encontravam no prédio no momento do primeiro tremor, juntamente com o decano
191
Figura 111 - O ônibus que transportava as
estudantes para estágios de formação em
instituições de atendimento à saúde na
capital e no interior, foi esmagado com o
colapso do prédio administrativo da ENIP
Figura 110 - Além das estudantes e do professor mortos, passantes foram atingidos e mortos
com a queda do edifício sobre uma das vias mais movimentadas do centro de Port-au-Prince
192
Escola Nacional Superior de Tecnologia (ENST)
Tabela 64 - Perfil institucional da ENST Categorias Efetivo Instalações
Alunos 95 Funcionava em um dos quatro andares de um edifício compartilhado também pela
Universidade Nobel do Haiti e pelo Colégio Metropolitano. Ocupava quatro salas de aula,
um escritório de administração, que funcionava também como um de dois laboratórios de
informática, com 20 computadores cada, O pátio, a quadra de esportes e o refeitório eram
de uso comum dos estudantes das três instituições.
Admissões 30
Professores 11
Funcionários 2
Juntamente com o CTPEA, são considerados os centros mais reconhecidos na formação profissional e treinamento
nas áreas da planificação econômica e administração pública e de empresas. Sempre teve, contudo, dificuldades para
assegurar uma sede própria. Possui uma das mais baixas taxas de evasão dentre as instituições públicas de ensino
superior, com menos de 10% dos estudantes abandonando o curso a cada ano.
Tabela 65 – Impacto sobre a ENST: vítimas e danos decorrentes do terremoto Categorias Vítimas54 Instalações
Alunos 2 O edifício ruiu. Um dos laboratórios de informática foi destruído com o colapso do
edifício, ou outro foi roubado, juntamente com todos os volumes da biblioteca. Os
registros escolares, no entanto, tanto físicos como eletrônicos, puderam ser salvos . Professores 1
O modelo de ocupação compartilhada de espaços físicos, conforme adotado no caso dessa combinação entre uma
instituição pública de ensino superior, uma universidade privada e um colégio secundário, não deixa de suscitar a
especulação sobre sua viabilidade como uma solução transitória que pudesse ser adotada durante o processo de
reconstrução. A direção da ENST, destacando os ganhos de complementaridade que podem ser produzidos, chega
mesmo a propor um modelo de mutualismo para a reconstrução, com a partilha sistemática de estruturas,
equipamentos e pessoal por instituições congêneres.
54 No desabamento do edifício, dois estudantes morreram e seus corpos ainda não haviam podido ser retirados de
sob os escombros. Seus nomes não foram mencionados por qualquer dos informantes. O professor morto se chama
Bultus Emannuel (informática). Um segundo professor, Maxy Samuel, também morreu, no desabamento da sede do
Centro de Estudos Diplomáticos e Internacionais (CEDI), onde também desempenhava a função de chefe de
departamento e diretor auxiliar, razões pelas quais foi computado na lista daquela e não desta instituição. Além
disso, tanto um jovem da vizinhança, que praticava esportes no pátio interno, como duas crianças que o
observavam, morreram igualmente no desabamento. As informações foram providas pelo diretor da ENST, Jean-
Claude Rolles, pelo diretor do Collège Métropolitain, Pierre Remy Zamor, e pelo guardião da UNH, Daley Benson,
que participou dos esforços de remoção dos escombros, durante os quais foi possível resgatar com vida outros dois
estudantes e outra criança da vizinhança.
193
Figura 113 - A ENST ocupava um andar em um edifício compartilhado com a
Universidade Nobel d’Haïti e com o Colégio Metropolitano
Figura 112 - Detalhe posterior do edifício que abrigava a ENST,
destacando uma das maiores salas de aula da Escola
194
Figura 114 - Pátio interior da ENST
Figura 115 - Peças de vestuário,
material didático e demais pertences
pessoais, deixados pelos estudantes ao
fugir durante o primeiro tremor, em
12 de janeiro, que causou a ruína do
edifício onde se encontrava a ENST
195
Centro Nacional de Formação Profissional (CNFP) / Centro Piloto de Formação Profissional e
Técnica (CPFP)
Escola Nacional de Geologia Aplicada (ENGA)
Tabela 66 - Perfil institucional do CNFP e da ENGA Categorias Efetivo Instalações
Alunos 968 Abrangia um edifício principal, de três andares, dois edifícios anexos e um amplo
galpão que abrigava as oficinas. No total, contava com 20 salas de aula e de
prática pedagógica, uma sala de professores comum a todos os departamentos, um
laboratório de informática, um auditório, uma biblioteca e um refeitório. As
oficinas eram equipadas com o maquinário correspondente aos respectivos ofícios
(tornos, misturadores de cimento, serras, soldas, fornos e motores). Porém, além
de obsoletos e em quantidade insuficiente, a escassez de recursos não permitia
que materiais de uso contínuo, combustíveis e peças de reposição fossem
adquiridos e tampouco que a manutenção técnica fosse feita com a frequência
necessária. O Centro possuía ainda um ônibus, que já não funcionava havia
alguns anos por falta de reparos.
A ENGA ocupava um edifício térreo, com quatro salas de aula, duas salas
administrativas, uma sala de professores, uma sala de estudos e uma biblioteca.
Admissões 600
Professores 147:
5 com
formação
universitária
Funcionários 22
Como um pilar do Sistema Nacional de Formação Profissional (SNFP), representa o mais importante
estabelecimento de ensino profissionalizante do sistema público. É gerido pelo Instituto Nacional de Formação
Profissional (INFP/ MENFP), mas os poucos recursos com que podia contar para sua manutenção eram providos
por meio de acordos de cooperação com agências e organizações internacionais. Já havia dado início à transferência
de todas as atividades para outra região da cidade, Delmas 60, mais distante da área conturbada próxima a Cité
Soleil. Durante repetidos episódios de recrudescimento das ações de grupos armados nessa área, as aulas tiveram de
ser suspensas e muitos equipamentos haviam sido roubados ou danificados. O número de alunos nos cursos
oferecidos era: eletrotécnica (225), mecânica de motores a diesel (203), contabilidade (200), edificações (192),
hidráulica (40), telecomunicações (40), informática (30), mecânica geral (25) e serralheria (13).
Desativada por alguns anos antes do terremoto, a ENGA havia no entanto aberto inscrições para novas turmas e
reiniciaria em 2010 seus cursos de formação em ciências da terra, topografia e tecnologia do meio ambiente.
196
Tabela 67 – Impacto sobre o CNFP e sobre a ENGA: vítimas e danos decorrentes do terremoto Categorias Vítimas55 Instalações
Alunos 4 O prédio principal apresenta profundas fissuras, ainda à espera de uma avaliação técnica,
sem muitas perspectivas de recuperação, porém. Os galpões aparentam não haver sofrido
maiores danos, mas já se encontravam inativos há algum tempo. Os equipamentos dos
laboratórios de informática e de telecomunicações, assim como os equipamentos das
oficinas, que ainda não haviam sido transferidos à nova sede e estavam abrigados no
prédio principal, foram perdidos, assim como boa parte dos arquivos e da biblioteca, não
tanto em virtude do terremoto, mas em decorrência de saques subsequentes.
O prédio da ENGA manteve-se aparentemente intacto.
Professores 1
Por todos os lados, espalhavam-se acampamentos de refugiados. A direção não via razão para interromper as
atividades letivas, programadas para serem iniciadas normalmente no início de março, consolidando a transferência
de sede que já se havia iniciado mesmo antes do terremoto. A direção e a secretaria, contudo, seguiam trabalhando
no pátio interno central do Centro, num esforço de avaliar com maior precisão a extensão dos danos às instalações e
aos equipamentos. A despeito das experiências anteriores de insegurança que precipitaram a decisão de transferir o
Centro Piloto, a direção ainda acreditava na possibilidade de recuperar o amplo espaço de que dispunha em sua sede
original e contava para tanto com uma implementação rápida do Acordo de Modernização e Fortalecimento do
Centro Piloto de Formação Profissional “Brasil-Haiti”, que já havia sido firmado em maio de 2005, mas que, sem
que tivesse sido implementado, foi renovado em fevereiro de 2010, para ser implementado pela Agência Brasileira
de Cooperação (ABC) em parceria com o SENAI.
A reativação da ENGA foi suspensa após o terremoto e não há perspectiva clara quanto ao reinício efetivo de seus
cursos, que sem dúvida teriam um papel de elevada importância na formação de pessoal qualificado para participar
no esforço de reconstrução e de elaboração de saídas criativas e viáveis para a aguda crise ambiental em que se
encontra o país. Também de alto valor estratégico para o desenvolvimento haitiano seria o projeto, compartilhado
por muitos outros acadêmicos e intelectuais haitianos de outras instituições, de tirar proveito tanto da proximidade
com a zona portuária, quanto do perfil de seu quadro de professores e ex-alunos e dos elos possíveis com outras
instituições de ensino em áreas costeiras do país, para instituir um ciclo de formação de profissionais e
pesquisadores dedicados ao manejo, à exploração sustentável e à preservação dos recursos marinhos.
55 Entre as vítimas fatais registradas, quatro eram estudantes (dois do primeiro nível e outros dois do segundo), mas
seus nomes não foram mencionados por qualquer dos informantes. Além de um professor mutilado, Eddy Lagage,
houve uma vítima fatal entre os professores, a saber, Yollet Figaro.
197
Figura 116 - Mural no terraço frontal do CNFP
Figura 117 - Entrada do prédio principal do CNFP, que exibe fissuras profundas
e exige reparos consideráveis antes que possa ser reutilizado
198
Figura 118 - Oficina do curso de edificações do CNFP
Figura 119 - Sala de informática do CNFP. Boa parte do material permanente foi
perdida. Aquilo que não foi danificado pelo terremoto acabou sendo saqueado
199
Figura 121 - O amplo pátio externo do CNFP serve como espaço para o
atendimento médico periódico dos refugiados nos campos em torno da área
Figura 120 - Galpão do CNFP, que já chegou a abrigar provisoriamente a ENST,
antes que a volatilidade da situação política da região obrigasse seu deslocamento
para uma região mais central da cidade
200
Figura 122 - No pátio do CNFP, tendas acolhem famílias
desabrigadas da região de Cité Soleil
Figura 123 - Em torno do CPFP, há vários acampamentos de desabrigados
201
Figura 124 - Entrada da ENGA, situada nos fundos do CNFP, na região de Cité
Soleil. Por conta da volatilidade da situação política na região, encontrava-se
inativa já antes mesmo do terremoto
Figura 125 - Os danos às instalações da ENGA foram de menor envergadura
202
Impacto do terremoto sobre as instituições privadas de ensino superior
Diante dos efeitos devastadores do desabamento de uma universidade, a diferença entre seu
regime de gestão, se público ou privado, dilui-se ao ponto de se dissipar. O que tornou, porém,
tão mais agudo o impacto em termos de mortos nas universidades privadas foi o fato de que, ao
contrário de várias faculdades e centros públicos de ensino superior, que se encontravam
paralisados ou não haviam ainda reiniciado o semestre letivo, praticamente todas as instituições
privadas já haviam dado início às atividades letivas e estavam em pleno funcionamento e
repletas de alunos no momento do terremoto.56 Em pelo menos um dos casos mais destacados
dentre as universidades privadas, pereceram no colapso de um só edifício tantos estudantes
quantos morreram no cômputo global das unidades da UEH. Em várias outras, o número das
vítimas fatais ultrapassou as centenas. Em muitas delas, a remoção dos corpos se prolongou por
semanas.
Devido ao crescimento vertiginoso de várias das instituições privadas, que não hesitavam em
expandir suas sedes com prédios anexos e andares adicionais às sedes já construídas, chegando
frequentemente a ter edifícios com cinco, sete ou, não raro, com 10 ou mais andares, não foram
poucos os desabamentos que acabaram por provocar um grande número de vítimas na
vizinhança. Não foram indicados aqui, porém, os números referentes a vítimas que não
pertencessem ao corpo discente, docente ou funcional das respectivas instituições.
Também no que se refere à ocupação dos espaços físicos de suas, pouco diferem do que se
pôde verificar em várias sedes de instituições públicas as tentativas de alguns grupos de alunos,
ex-alunos e funcionários de procurar abrigar-se nos pátios, estacionamentos ou quadras
esportivas, considerados áreas seguras para instalar suas tendas e alojar também a familiares e
amigos. Análogos também os esforços para repelir investidas de desabrigados alheios ao âmbito
universitário que buscavam se instalar nas sedes inativas e fazer uso das instalações de
abastecimento de água, eletricidade e de saneamento que pudessem ter sido preservadas da
destruição.
Dentre as 52 instituições privadas de ensino superior autorizadas, 47 estavam localizadas na
área afetada pelo terremoto. Dessas, 20 foram totalmente destruídas, com o desabamento de suas
sedes, a destruição de seus equipamentos e, na maioria dos casos, com a perda de seus acervos
bibliográficos e dos arquivos que não haviam sido digitalizados, mas em alguns casos com a
perda inclusive das cópias digitalizadas dos registros acadêmicos. Das 27 restantes, nove foram
severamente danificadas e deverão ter seus edifícios demolidos, 13 sofreram danos que exigirão
extensos reparos e apenas cinco apresentam fissuras que não chegam a comprometer a estrutura
física dos edifícios e aparentemente não apresentam riscos para a segurança de alunos,
professores, funcionários e vizinhos. Do conjunto de 47 instituições diretamente atingidas, 26
registraram vítimas fatais. O quadro a seguir procura apresentar a repartição por instituição do
número de vítimas registradas e da extensão dos danos materiais aos edifícios e equipamentos.
56 Com a possível única exceção sendo a Universidade Quisqueya, que havia estendido o período de provas por
conta da transferência das atividades de seus três campi para o recém-inaugurado campus central, o que fez com
que poucos estudantes se encontrassem no campus novo no momento do terremoto.
203
Tabela 68 - Extensão do impacto sobre as instituições privadas
Instituições Número de vítimas fatais Destruição das
instalações57 Alunos Professores Funcionários
Universidade Lumière (UL) 376 14 - Total
Universidade GOC 293 7 - Total
Centro Técnico Saint-Gérard (CTSG) 252 5 - Total
Escola Nacional de Artes e Ofícios (ENAM) +
Escola Normal de Professores dos Salesianos
(ENIS)
248 - - Total
Universidade Autônoma de Port-au-Prince
(UNAP)
225 20 - Total
Universidade Caraïbe (UC) 189 6 - Total
Instituto Paramédico Louis Pasteur (IPLP) 183 4 7 Total
Universidade de Port-au-Prince (UP) 159 7 - Total
Universidade Episcopal do Haiti (UNEPH) 148 - - Total
Instituto de Altos Estudos Comerciais e
Econômicos (IHECE)
109 12 - Parcial
Escola Normal e Profissional Sainte-Trinité
(ENPST)
75 - - Total
Escola Superior de Química (CHEMTEK) 57 8 - Total
Universidade Ruben Leconte (URL) 22 - - Total
Centro Caribenho de Altos Estudos (CCHEC) 18 - - Total
Universidade Quisqueya (UNIQ) 16 3 5 Total
Escola Superior de Infotrônica do Haiti (ESIH) 13 1 - Total
Centro de Estudos Diplomáticos e Internacionais
(CEDI)
12 1 - Total
Universidade Notre-Dame do Haiti (UNDH) 10 1 1 Parcial
Instituto Francófono de Administração no Caribe
(IFGCar)
9 1 - Total
Grande Seminário Notre-Dame (GSND) 8 - - Parcial
Universidade de Fondwa (UNIF) 2 - 3 Total
Instituto Universitário Quisqueya-Amérique
(INUQUA)
2 2 - Parcial
Instituto Haitiano de Ciências Administrativas
(IHSG)
3 - - Parcial
Centro Universitário Maurice Laroche (CUML) 2 - - Total
Academia Nacional Diplomática e Comercial
(ANDC)
1 - 1 Parcial
Total por categoria 2.432 108 17 T = 19
P = 6 Total de vítimas 2.557
57 A destruição física das instalações é considerada parcial nos casos em que nem todos os edifícios de uma
instituição tenham colapsado inteiramente, mas grande parte dos edifícios que se mantiveram em pé terão de ser
demolidos. Inúmeras outras instituições privadas foram destruídas, no todo ou em parte, ou danificadas. Contudo,
são listadas aqui somente aquelas que registraram mortes ocorridas no próprio local dos desabamentos. Felizmente,
as atividades letivas de grande parte das instituições privadas ainda não haviam tido início até o dia do terremoto.
204
Universidade Lumière (UL)
Figura 126 - Ruínas da UL, em cujo desabamento morreram 376 estudantes, mas
muitos dos corpos não haviam podido ser retirados dos escombros
Figura 127 - Ao lado das ruínas da UL, vê-se a fachada apenas parcialmente
danificada de uma casa cujo interior também foi destruído
205
Figura 129 - Fotocopiadora, livros, registros
escolares e peças de vestuário entre os
escombros da UL
Figura 128 - No térreo deste edifício da UL
se encontrava a cantina e no primeiro e
segundo andares a biblioteca
206
Figura 130 - Manual de enfermagem entre as ruínas da UL
Figura 131 - Varanda da cantina da UL
207
Figura 132 - Gavetas vazias dos arquivos escolares em meio aos escombros da UL
Figura 133 - O que restou dos arquivos da UL
208
Figura 134 - Entre os escombros, carteirinhas de estudante da UL
Figura 135 - Entre os papéis espalhados pelos escombros da UL,
projetos e dissertações dos alunos
209
Figura 137 - Arquivos e computadores da UL
Figura 136 - O que restou de um dos laboratórios de informática da UL
210
Figura 139 - Arquivos da UL
Figura 138 - Foram identificados 376 mortos entre os alunos da UL
211
Centro Técnico Saint-Gérard (CTSG)
Figura 140 - Remoção dos escombros do CTSG, cuja ruína vitimou não apenas
estudantes e professores, mas também vários moradores das imediações
212
Universidade Caraïbe (UC)
Figura 141 - Um mês após os grandes terremotos, os estudantes do CTSG
continuavam retirando dos escombros corpos de colegas e professores. No Centro
Saint-Gérard, as aulas já haviam sido reiniciadas e um número considerável de alunos
estava nas salas de aula no momento do primeiro tremor. Foram registrados 252
estudantes e cinco professores mortos
Figura 142 - Ruínas da UC. Para além das vítimas nos arredores do
prédio, mortas em decorrência do desabamento, foram registrados 189
estudantes e seis professores mortos
Figura 143 - Ruínas da UC
213
Figura 145 - Entre os
escombros, Dicionário de
kreyòl, publicado pela UC
Figura 144 - Em meio aos
escombros, material didático
de kreyòl. A linguística era
uma das áreas fortes da UC
Figura 146 - Não foram somente
estudantes, professores ou
funcionários que morreram nos
desabamentos das universidades
e faculdades. Foram vários os
casos de creches, escolas,
escritórios ou casas de família
que foram arrebatadas pelo
desmoronamento dos prédios
universitários. Ao lado da UC
funcionava uma creche, que foi
soterrada. Nos fundos, vivia
uma família de seis pessoas, das
quais apenas uma sobreviveu
214
Universidade de Porto Príncipe (UP)
Figura 148 - Ruínas da sede principal da UP
Figura 147 - Muro dianteiro e ruínas da sede principal da UP
215
Figura 149 - Diplomas e carteiras de estudantes recuperados
dos escombros: a UP perdeu 159 estudantes e sete professores
Figura 150 – Folha referente ao mês de fevereiro de 2010 do carnê de
mensalidades do estudante em cuja memória fora acesa uma vela e
depostas flores sobre as ruínas da UP
216
Figura 151 – Apelo, em inglês, assinado pelo Comitê dos refugiados que
ocuparam as dependências do que era um dos campi da UP: “Precisamos de
ajuda. Comida, água, tendas”
Figura 152 - Sala de aula da sede secundária da UP
217
Universidade Episcopal do Haiti (UNEPH)
Figura 154 - No pátio frontal de onde funcionava a UNEPH, foram instaladas
tendas para abrigar o Fórum Criminal. Ao fundo, veem-se as celas
improvisadas onde eram mantidos os acusados a espera de julgamento
Figura 153 - O que sobrou da UNEPH
218
Instituto de Altos Estudos Comerciais e Econômicos (IHECE)
Figura 155 - Escadaria de entrada do edifício principal do IHECE
Figura 156 - Vista lateral do edifício principal do IHECE
219
Figura 157 - Vista posterior do edifício principal do IHECE
Figura 158 - Tendas instaladas no pátio do IHECE pelos funcionários desabrigados
220
Figura 159 - O que restou da sede histórica do IHECE, que fazia parte de um celebrado conjunto
arquitetônico na área central de Port-au-Prince
221
Escola Normal e Profissional da Sainte-Trinité (ENPST)
Figura 160 – As ruínas da Escola Sainte-Trinité estão à direita. Ao fundo, as
ruínas da Catedral
Figura 161 - Pátio interno da Escola Sainte-Trinité
222
Figura 162 – Tendo ruído apenas parcialmente, a Escola Sainte-Trinité teve
suas estruturas completamente comprometidas e, situada na área central da
cidade, a iminência de desabamento representava ainda um risco considerável,
como de resto era o caso de inúmeras edificações de Bel-Air. Por conta do
perigo que representavam à circulação de pessoas no centro da cidade, a
demolição das edificações restantes do complexo de edifícios em torno da
Paróquia de Sainte-Trinité foi iniciada cerca de um mês após o primeiro tremor
Figura 163 – Em meio à remoção dos escombros, ainda se tenta recuperar o
possível do material danificado
223
Figura 165 - Nas ruínas da escola, o jornal Le Nouvelliste, de 5 de janeiro de 2010,
uma semana antes do terremoto, quando o início das aulas já se prenunciava como
algo ainda incerto e problemático
Figura 164 - Pintura feita por um aluno de oito anos da escola educação
infantil vinculada à Paróquia de Sainte-Trinité. Representa Dessalines e a
expulsão dos franceses pelas tropas haitianas sob seu comando. Fazia parte
de uma coleção de desenhos dos heróis nacionais, feitos por alunos de
diferentes escolas do país para figurar num calendário a ser distribuídos às
próprias escolas. Esta cópia do desenho foi encontrada nos escombros
224
Figura 167 - Ruínas da Escola de Música e Canto Coral Sainte-Trinité
Figura 166 - Ruínas da sede da Escola Sainte-Trinité onde funcionava a Escola
de Música e Canto Coral
225
Centro de Estudos Diplomáticos e Internacionais (CEDI)
Figura 168 - Ruínas do CEDI. Ao fundo, escombros do Hotel Christophe, onde
funcionava o comando operacional da MINUSTAH
Figura 169 - Vista do interior das ruínas do CEDI
226
Universidade Notre-Dame do Haiti (UNDH)
Figura 170 - Sede administrativa da UNDH, num palácio histórico da área central da capital.
Apesar de parecer intacta, teve seu interior seriamente danificado e demandará reparos
consideráveis
227
Figura 172 - Prédio anexo à sede
administrativa da UNDH
Figura 171 - Entrada da sede administrativa
da UNDH
228
Figura 173 - Clínica ambulatorial na Faculdade de
Enfermagem da UNDH
Figura 174 - Numa das paredes,
turmas de formandas da Faculdade de
Enfermagem da UNDH. Na outra,
imagens de patronos católicos, santos
e taumaturgos
229
Universidade de Fondwa (UNIF)
Figura 175 - Reitoria da Universidade de Fondwa (UNIF), a única
universidade rural do país, completamente destruída
Figura 176 - Escombros da reitoria da UNIF
230
Instituto Universitário Quisqueya-Amérique (INUQUA)
Figura 179 - Pátio
frontal do INUQUA,
com trabalhadores
engajados na demolição
do edifício condenado
Figura 177 - Fachada
frontal da sede do
INUQUA, cuja demolição
já havia sido iniciada, por
conta do risco iminente
de desabamento
Figura 178 - Vista
posterior do prédio anexo
ao edifício principal do
INUQUA
231
Figura 180 - Salão nobre e
templo evangélico do
INUQUA
Figura 181 - Biblioteca do
INUQUA
Figura 182 - O que restou de
um dos laboratórios de
informática do INUQUA
232
Figura 183 - Sala da
reitoria do INUQUA, cuja
parede lateral ruiu
inteiramente
Figura 184 - Parede
lateral do INUQUA, com
a sala da reitoria vista de
fora para dentro
Figura 185 - Andar
térreo do prédio do
INUQUA
233
Academia Nacional Diplomática e Consular (ANDC)
Figura 186 - Sede da ANDC
234
Figura 189 - Salão diplomático da ANDC
Figura 187 - Sede da ANDC
Figura 188 - Sede da ANDC
235
Universidade Jean Price-Mars (UJPM)
Figura 190 - O edifício da Universidade Jean Price-Mars foi seriamente danificado
236
Universidade Quisqueya (UNIQ)
Figura 192 - Nas ruínas do campus central da UNIQ, as roupas secando indicam
que muitos desabrigados transferiram sua vida cotidiana para o espaço do campus
Figura 191 - Escombros dos edifícios do campus central da UNIQ, que havia sido
inaugurado cerca de 20 dias antes do terremoto
237
Figura 193 - Encontro para discutir a reconstrução, organizado pela UNIQ em
tendas montadas na área de seu campus destruído
Figura 194 - A paisagem improvisada das tendas revela não apenas espaços onde
se vive, mas também as novas circunstâncias dos locais onde se trabalha. Tendas
administrativas instaladas no estacionamento do campus central da UNIQ
238
Instituições gestoras e auxiliares do sistema de ensino superior atingidas pelo terremoto
Biblioteca Nacional
Figura 195 - Em meio aos escombros de um anexo da Biblioteca Nacional, “Homenagem à nossa
bandeira”, no programa de uma cerimônia comemorativa do Dia da Bandeira, celebrando os
lemas de união nacional, paz e conciliação representados pela bandeira nacional
239
Figura 197 - O edifício anexo da Biblioteca Nacional, que abrigava os serviços
de imprensa, foi completamente destruído, assim como todos os
equipamentos e materiais
Figura 196 - Remoção do equipamento gráfico dos escombros do prédio anexo
da Biblioteca Nacional
240
Ministério da Educação Nacional e da Formação Profissional (MENFP)
Figura 199 - Fila de professores e funcionários para recolher salários atrasados
na sede do MENFP
Figura 198 - O edifício principal do MENFP ruiu, sem que os corpos das vítimas
pudessem ter sido retirados dos escombros
241
Figura 201 - Busca aos corpos dos funcionários soterrados nos escombros do prédio
principal do MENFP
Figura 200 - Filas de professores e funcionários diante do que sobrou do MENFP para
recolher seus contracheques
242
Figura 202 - Arquivos escolares e documentos do MENFP
Figura 203 - Documentos pessoais de funcionários soterrados sob os escombros
243
Centro Nacional de Informação Geoespacial (CNIGS)
Figura 204 – Escombros do CNIGS
Figura 205 - Retomada paulatina das atividades
no CNIGS para a realização de estudos do
impacto do terremoto sobre a infraestrutura da
capital. Instalados em barracas, os pesquisadores
alternam turnos de trabalho no interior de um
reduzido número de contêineres
244
Anexo I - Instituições de ensino superior recenseadas no curso da pesquisa
Instituições públicas de ensino superior
O sistema de ensino superior público haitiano compreende 15 instituições e um programa interdisciplinar
homologado pela UEH: a) além da Universidade de Estado do Haiti (compreendendo 11 faculdades, escolas ou
institutos na capital, um programa de mestrado, também na capital, além de uma faculdade e seis escolas superiores
departamentais), b) três universidades departamentais, c) quatro escolas nacionais de enfermagem e d) sete centros
e escolas nacionais, situados na capital, e cujos estudantes têm seus diplomas homologados pela UEH.
a) Université d'État d’Haïti (UEH)
Ecole Normale Supérieure (ENS)
Faculté d'Agronomie et de Médecine Vétérinaire
(FAMV)
Faculté d'Ethnologie (FE)
Faculté de Droit et des Sciences Économiques (FDSE)
Faculté de Linguistique Appliquée (FLA)
Faculté de Médecine et de Pharmacie (FMP)
École de Téchnologie Médicale (ETM)
Hôpital de l'Université d'État d’Haïti (HUEH)
Faculté d'Odontologie (FO)
Faculté des Sciences (FDS)
Faculté des Sciences Humaines (FASCH)
Institut d'Études et de Recherches Africaines / Institut
de Enseignement et Recherche en Sciences Sociales
(IERAH/ ISERSS)
Institut National d´Administration, de Gestion et des
Hautes Études Internationales (INAGHEI)
Programme de Maîtrise Interdisciplinaire em Sciences
Sociales et Humaines (PMISSH)
Ecole de Droit de Hinche (EDH)
Ecole de Droit de Jacmel (EDJ)
Ecole de Droit et d'Économie de Port-de-Paix (EDEPP)
Ecole de Droit et des Sciences Économiques de Fort-
Liberté (EDSEFL)
Ecole de Droit et des Sciences Économiques des Cayes
(EDSEC)
Ecole de Droit et des Sciences Économiques des
Gonaïves (EDSEG)
Faculté de Droit, des Sciences Économiques et de
Gestion du Cap-Haïtien (FDSECH)
b) universidades departamentais autônomas:
Université Publique de l’Artibonite des Gonaïves
(UPAG)
Université Publique du Nord au Cap-Haïtien (UPNCH)
Faculté de Sciences Administratives et de
Gouvernance Locale
Faculté des Sciences de l'Éducation
Université Publique du Sud des Cayes (UPSAC)
Faculté des Sciences Juridiques,
Faculté de Science de l'Éducation
Faculté des Sciences Administratives
c) escolas nacionais de enfermagem:
Ecole Nationale des Infirmières de Jérémie (ENIJ)
Ecole Nationale des Infirmières de Port-au-Prince
(ENIP)
Ecole Nationale des Infirmières des Cayes (ENIC)
Ecole Nationale des Infirmières du Cap-Haïtien (ENICH)
d) centros, escolas nacionais e programa interdisciplinar
homologados pela UEH:
Centre National de Formation Professionnelle (CNFP)/
Centre Pilote de Formation Professionnelle et
Téchnique (CPFPT)
Centre de Téchniques de Planification et d’Économie
Appliquée (CTPEA)
Ecole Nationale d'Administration Financière (ENAF)
Ecole Nationale de Géologie Appliquée (ENGA)
Ecole Nationale des Arts (ENARTS)
Ecole Nationale Supérieure de Technologie (ENST)
245
Estrutura temática e departamental do sistema público de ensino superior haitiano
Ciências médicas
Faculdade Medicina e Farmácia (FMP) / Escola de
Tecnologia Médica (ETM)
#89, Rue Oswald Durand Anatomia
Biologia
Ciências Farmacêuticas
Ciências Médicas
Cirurgia
Clínica e internamento
Fisiologia
Informações Farmacêuticas
Medicina Comunitária
Microbiologia
Patologia
Pediatria
Química
Tecnologia Médica
Faculdade de Odontologia (FO)
#87, Rue Oswald Durand Ciências de Base
Diagnóstico e Radiologia
Odontologia Restauradora
Ortodontia
Pedodontia
Protética
Escola Nacional de Enfermeiras de Jérémie (ENIJ)
Escola Nacional de Enfermeiras do Cap-Haïtien (ENICH)
Escola Nacional de Enfermeiras dos Cayes (ENIC)
Escola Nacional de Enfermeiras de Port-au-Prince
(ENIP)/ Escola Nacional de Parteiras (ENISF)
#131, #226, Rue Monseigneur Guilloux
Ciências Jurídicas, Econômicas, Administrativas e
Econômicas Aplicadas
Faculdade de Direito e Ciências Econômicas (FDSE)
# 41, Rue Oswald Durand/ Rue Saint-Honoré Ciências Econômicas
Direito
Escola de Direito de Fort-Liberté (EDFL)
Escola de Direito de Hinche (EDH)
Escola de Direito de Jacmel (EDJ)
Escola de Direito e Ciências Econômicas das Gonaïves
(EDSEG)
Escola de Direito e Ciências Econômicas de Port-de-Paix
(FDSEPP)
Escola de Direito e Ciências Econômicas dos Cayes
(EDSEC)
Faculdade de Direito e Ciências Econômicas do Cap-
Haïtien (FDSECH)
Instituto Nacional de Administração Pública e de
Empresas e de Altos Estudos Internacionais
(INAGHEI)
#47, #135, Avenue Christophe/ Rue La Fleur du Chêne Administração de empresas
Administração pública
Ciências Contábeis
Relações Internacionais
Centro Técnico e Prático em Economia Aplicada
(CTPEA)
#19, Boulevard Harry Truman
Escola Nacional de Administração Financeira (ENAF)
Rue Dominique Debros/ Route du Canapé Vert
Escola Nacional Superior de Tecnologia (ENST)
#22, Rue Villemenay
246
Ciências Sociais, Humanidades, Pedagogia e Artes
Instituto de Estudos e Pesquisas Africanos (IERAH)/
Instituto de Estudo e Pesquisa em Ciências Sociais
(ISERSS)
#92, Rue La Fleur du Chêne/ Avenue Christophe
Faculdade de Linguística Aplicada (FLA)
#38, Rue Dufort, Bois-Verna
Faculdade de Ciências Humanas (FASCH)
#135, Avenue Christophe/ Impasse le Hasard (fundo da quadra) Psicologia
Serviço Social
Comunicação
Sociologia
Faculdade de Etnologia (FE)
#10, Rue Magloire Ambroise Psicologia
Antropossociologia
Ciências do Desenvolvimento
Escola Normal Superior (ENS)
#69, Rue de la Réunion/ Rue Monseigneur Guilloux Química e Ciências Naturais
Matemática
Línguas Modernas (Inglês, Espanhol e Alemão)
Letras
Filosofia
Ciências Sociais (História e Geografia)
Física
Escola Nacional de Artes (ENARTS)
#266, Rue Monseigneur Guilloux; Rue Piquant, Champs de Mars
Programa de Mestrado Interdisciplinar em Ciências
Sociais e Humanas (PMISSH)
#5, Impasse Desdunes, Rue Marcadieu, Bourdon
Ciências Puras e Aplicadas e Educação Técnica
Faculdade de Ciências (FDS)
#268, #279, Rue Monseigneur Guilloux Topografia
Eletrônica
Eletromecânica
Engenharia Civil
Arquitetura
Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária
(FAMV)
Route Nationale 1/ Croix des Missions, Damien Ciências de Base e Tecnologia
Fitotecnia
Produção Animal
Engenharia Rural
Recursos Naturais
Economia e Desenvolvimento Rural
Centro Nacional de Formação Profissional (CNFP)/
Centro Piloto de Formação Profissional e Técnica
(CPFP)
Route Nationale 1/ Varreux
Escola Nacional de Geologia Aplicada (ENGA)
Route Nationale 1/ Varreux (fundo do terreno)
247
Instituições privadas de ensino superior autorizadas
A seguir são listadas as 52 instituições privadas de ensino superior que tiveram seu funcionamento autorizado pela
Direção do Ensino Superior e da Pesquisa Científica (DESRS) do Ministério da Educação e da Formação Profissional
(MENFP) ou que se encontravam em processo de homologação antes de 12.01.2010:
Instituição Acrônimo Fundação Localização
Académie des Sciences Pures et Appliquées ASPA 1993 Oeste
Académie Nationale Diplomatique et Consulaire ANDC 1988 Oeste
Centre Caraïbéen des Hautes Études Commerciales CCHEC 2000 Oeste
Centre de Formation et de Développement Économique CFDE 2003 Oeste
Centre de Recherche en Éducation et d'Intervention Psychologique CREFI 1993 Oeste
Centre de Recherche en Finance, Informatique et Management CREFIMA 2004 Oeste
Centre de Recherche et de Formation Économique et Social pour le
Développement
CRESFED 198858 Oeste
Centre d'Études Diplomatiques et Internationales CEDI 1997 Oeste
Centre Universitaire de Gestion et d'Administration Maurice Laroche CUML 1995 Oeste
Centre Universitaire de Management et de Productivité CMP 1997 Oeste
Centre Universitaire International et Téchnique de Saint Gérard/
Université Saint-Gérard59
CTSG/ USG 2006 Oeste
Collège Universitaire de Christianville CUC 1990 Oeste
Ecole Nationale des Arts et Métiers/
École Normale d'Instituteurs Salésiens
ENAM/
ENIS
1936 Oeste
Ecole Supérieure Catholique de Droit de Jérémie ESCDROJ 1995 Grand'Anse
Ecole Supérieure de Chimie CHEMTEK 1982 Oeste
Ecole Supérieure de Technologie d’Haïti ESTH 1991 Oeste
Ecole Supérieure d'Infotronique d’Haïti ESIH 1995 Oeste
Faculté des Études Supérieures d’Haïti* FESH 1984 Oeste
Faculté des Sciences Appliquées FSA 1983 Oeste
Faculté des Sciences de l'Education Regina Assumpta FERA 1995 Norte
Grand Séminaire Notre-Dame GSND 1953 Oeste
Institut de Téchnologie Électronique d’Haïti ITEH 1977 Oeste
Institut des Hautes Études Commerciales et Economiques IHECE 1961 Oeste
Institut Francophone pour la Gestion dans la Caraïbe/ Institut Aimé Césaire IFGCar 1987 Oeste
Institut Haïtien des Sciences Administratives IHSA 1994 Oeste
Institut Supérieur de Récherche et de Développement Téchnologique ISRDT 1989 Oeste
Institut Supérieur des Sciences Economiques, Politiques et Juridiques ISSEPJ 1978 Oeste
Institut Supérieur Téchnique d’Haïti ISTH 1962 Oeste
Institut Universitaire des Sciences et de Téchnologie INUST 2005 Oeste
Institut Universitaire des Sciences Juridiques et de Développement Régional INUJED 1997 Norte
Institut Universitaire Quisqueya-Amérique INUQUA 1988 Oeste
Université Adventiste d'Haïti UNAH 1989 Oeste
Université Américaine des Cayes UNAC 1987 Sul
Université Américaine des Sciences Modernes d’Haïti UNASMOH 1998 Oeste
Université Autonome de Port-au-Prince UNAP 1998 Oeste
Université Caraïbe UC 1990 Oeste
Université Chrétienne du Nord d’Haïti UCNH 1987 Norte
Université de la Fondation Aristide UFA 2000 Oeste
58 Apesar de fundado em 1986, foi somente em 1988 que começaram a ser oferecidos estágios e cursos de formação. 59 Em processo de avaliação para a concessão da autorização de funcionamento pela DESRS.
248
Université de Port-au-Prince UP/IGC 1983 Oeste
Université Episcopale d’Haïti UNEPH 1992 Oeste
Université Groupe Olivier et Collaborateurs UGOC 1982 Oeste
Université Indépendante de l'Artibonite UIA 2006 Artibonite
Université Jean Price-Mars UJPM 1991 Oeste
Université Lumière UL 1994 Oeste
Université Métropole d’Haïti UMH 1987 Oeste
Université Métropolitaine Anacaona UMA 2004 Oeste
Université Notre-Dame d’Haïti UND'H 1996 Oeste
Université Paramédicale/ Université Bellevue UNIBEL 1985 Oeste
Université Polyvalente d’Haïti UPH 2003 Oeste
Université Quisqueya UNIQ 1990 Oeste
Université Roi Henry Christophe URHC 1980 Norte
Université Ruben Leconte URL 2002 Oeste
249
Instituições privadas de ensino superior não avaliadas ou não autorizadas
Abaixo são listadas as demais 97 instituições privadas de ensino superior, cujo funcionamento ainda não foi avaliado
ou autorizado pela Direção do Ensino Superior e da Pesquisa Científica (DESRS) do Ministério da Educação e da
Formação Profissional (MENFP):
Instituição Acrônimo Fundação Localização
Centre de Formation Paramédicale CFP Oeste
Centre des Hautes Études Commerciales de Port-au-Prince CHECP Oeste
Centre d'Étude Paramédicale de Port-au-Prince CEPP Oeste
Centre d'Étude Téchnique Médicale CETM 1991 Artibonite
Centre d'Études Supérieures et de Formation Continue CESFCO 1982 Oeste
Centre Haïtien de Formation des Journalistes CHFJ 1986 Oeste
Centre International de Recherche et de Developpement CIRD 1999 Oeste
Centre Pratique de Comptabilité, de Gestion, d'Informatique et de
Secrétariat
CPCIGES Oeste
Centre Spécialisé de Leadership pour um Management Créatif CSLMC 2005 Oeste
Centre Universitaire de Commerce d’Haïti CUCH Oeste
Centre Universitaire de Formation de Téchnicien en Travaux Publiques CFTTP Oeste
Centre Universitaire des Arts et Métiers CUAM Oeste
Centre Universitaire Polytéchnique d’Haïti CUPH Oeste
Conservation des Sciences Téchniques CST Oeste
Ecole de Droit de Nippes EDN 1992 Nippes
Ecole de Droit de Ouanaminthe EDU 1999 Noroeste
Ecole de Droit de Saint-Marc EDSM Artibonite
Ecole des Cadres en Éducation Spécialisée ECES 1995 Oeste
Ecole Normale et Professionnelle de la Sainte-Trinité ENPST Oeste
Ecole Supérieure de Journalisme et de Communication ESJC 1994 Oeste
Ecole Supérieure d'Isaac Newton ESIN 2006 Oeste
Ecole Supérieure Polytéchnique d’Haïti ESPH 1992 Oeste
Espace Enseignement à Distance EED 2005 Artibonite
Faculté Craan d’Haïti FCH 1996 Oeste
Faculté des Sciences Administratives et Informatiques FSAI Oeste
Faculté des Sciences Infirmières FSI 1987 Oeste
Fondation Jean XXIII 2005 Oeste
Institut Caraïbéen de Géographie Appliquée ICGA 2005 Oeste
Institut de Formation à Distance Assistée IFDA Oeste
Institut de Formation Administrative et Commerciale IFAC 1994 Oeste
Institut de Formation et de Recherche pour le Progrès de l'Enseignement
Classique et Téchnique
IFRPT 2002 Oeste
Institut de Formation Universitaire et Professionnel ETERJES 2001 Oeste
Institut de Gestion et d'Économie du Centre IGEC 1995 Centro
Institut de Langue Espagnole ILE 2003 Oeste
Institut de Nursing UNIROP 1998 Oeste
Institut de Téchnologie, de Communication et Paramédicales ITECOPAM Oeste
Institut d'Enseignement Polytéchnique IEP Oeste
Institut des Hautes Études Paramédicales IHEPM Oeste
Institut des Hautes Études Polyvalentes d’Haïti INEPH Oeste
Institut des Rélations Internationales des Sciences Sociales IRISS 2003 Oeste
Institut d'Étude et de Recherche en Science de l'Education IERSC Artibonite
Institut d'Études Polytechniques IEP 2004 Oeste
250
Institut Paramédicale Louis Pasteur IPLP 2003 Oeste
Institut Magnifica/
École Supérieure de Liturgie d'Enseignement de la Famille Myriam
IM 1992 Oeste
Institut National Haïtien des Hautes Études Commerciales INHHEC Oeste
Institut Privé de Gestion et d'Entreprenariat IPGE Oeste
Institut Supérieur d'Administration et de Gestion ISAG Oeste
Institut Supérieur de Bibliothéconomie, de Gestion et d'Informatique ISBGI Oeste
Institut Supérieur de Commerce et d'Informatique ISCINFO Oeste
Institut Supérieur de Formation Politique et Sociale ISPOS 1998 Oeste
Institut Supérieur de Traduction et d'Interpretariat ISTI 2000 Oeste
Institut Supérieur des Cadres Politiques et Administratifs ISCPAD 1986 Oeste
Institut Supérieur des Hautes Études Commerciales ISHEC Oeste
Institut Supérieur des Hautes Études Médicales de la Caraïbes ISHEPAC Oeste
Institut Supérieur des Sciences de l'Éducation, de Gestion et du
Développement
ISSEGD 2004 Oeste
Institut Supérieur d'Étude Océanique ISEO Oeste
Institut Supérieur d'Étude Paramédicale ISEP 1989 Oeste
Institut Supérieur d'Étude pour les Carrières Paramédicales ISCPM 1990 Oeste
Institut Supérieur d'Informatique et d'Administration ISCAD Oeste
Institut Supérieur d'Informatique et de Gestion ISIG Oeste
Institut Supérieur National d'Administration et de Communication ISNAC Oeste
Institut Universitaire de Formation des Cadres IUFC Oeste
Institut Universitaire d'Études Spécialisées IUES Oeste
Institut Universitaire et Téchnique d’Haïti INUTECH Oeste
International Management University IMU 2004 Oeste
International Open University IOU Oeste
Intitut Superieur d'Administration, de Commerce, de Gestion et
d'Informatique
ISACGI 1991 Oeste
Le Centre Universitaire CU 2003 Oeste
Millenium International University of the America MIUA 2002 Oeste
Séminaire de Théologie Evangélique STE 1918 Oeste
The Yorker International University YIU 2004 Oeste
Université Anacobel d’Haïti UNAH Oeste
Université Anténor Firmin UAF Norte
Université Chrétienne de la Foi UCF Norte
Université Chrétienne d'Haïti des Gonaïves UCHG 1987 Artibonite
Université Coeurs-Unis UCU Oeste
Université de Fondwa UNIF 2004 Sudeste
Université de la Grace UdG Oeste
Université de l'Académie Haïtienne UAH 1991 Oeste
Université d'Été du CEREC UCEREC Oeste
Université Gregor Mendel UGM Oeste
Université Internationale d'Haïti à Léogâne UNIH 2010 Oeste
Université Joseph Lafortune JLFU 2002 Oeste
Université Libre d'Haïti ULH Oeste
Université Martin Luther King UMLK/
EFCTEC
Oeste
Université Nationale Épiscopale de Finances d'Haïti UNEFH Oeste
Université Nobel d'Haïti UNH 2006 Oeste
Université Nouvelle Grand'Anse UNOGA 1997 Grand'Anse
Université Oxford d'Haïti UOH 2001 Oeste
251
Université Polytechnique d'Haïti UPOH 2001 Oeste
Université Queensland UQ 1996 Oeste
Université Royale d’Haïti URH 1990 Oeste
Université Saint-Thoma d'Aquin USTA Oeste
Université Téchnologique de la Grand'Anse UTGA 2002 Grand'Anse
Université Valparaiso UV 2006 Noroeste
Université Victoria/ Mission Foi Apostolique Maranatha UV Artibonite
Windsor-Banyan Collège WBC 2003 Oeste
252
Anexo II: Questionário utilizado na pesquisa
Universidade: Unidade/ Faculdade/ Escola/ Centro / Instituto: Dados referentes ao período anterior ao terremoto Número de estudantes
Graduação (1°. ciclo): Mestrado (2°. ciclo): Doutorado (3°. ciclo): Especialização:
Número de professores Licenciados: Mestres: Doutores:
Número de pesquisadores Licenciados: Mestres: Doutores:
Número de funcionários (pessoal não acadêmico) Instalações físicas
salas de aula: salas de professores: áreas comuns:
Laboratórios, ateliês e salas de treinamento Equipamentos: Hospital, enfermaria ou clínica Arquivos e registros Bibliotecas
Dados referentes ao período posterior ao terremoto - perdas humanas (mortos, feridos, desabrigados) - perdas materiais (edifícios e equipamentos) - perdas documentais (arquivos e bibliotecas) Número de estudantes
Graduação (1°. ciclo): Mestrado (2°. ciclo): Doutorado (3°. ciclo): Especialização:
Número de professores Licenciados: Mestres: Doutores:
Número de pesquisadores Licenciados: Mestres: Doutores:
Número de funcionários (pessoal não acadêmico) Instalações físicas
salas de aula: salas de professores: áreas comuns:
Laboratórios, ateliês e salas de treinamento Equipamentos: Hospital, enfermaria ou clínica Arquivos e registros Bibliotecas
Detalhamento sobre a situação atual dos sobreviventes Distribuição e localização dos sobreviventes: Natureza do abrigo: Recursos disponíveis: Possibilidades de contato: Atividades atuais: Detalhamento sobre o acervo documental Situação detalhada dos arquivos, registros e bibliotecas
antes do terremoto: Situação detalhada dos arquivos, registros e bibliotecas
após o terremoto (número de obras e documentos
perdidos ou danificados): Metodologia utilizada Observações sobre a pesquisa
Questões ao pesquisador: Qual era a situação da universidade antes do terremoto? Como você avalia os problemas e desafios da educação
superior no Haiti? Qual o impacto do terremoto sobre o país e sua capital? Como você avalia a extensão da destruição causada? Qual o impacto do terremoto sobre a universidade? Que impacto teve entre os estudantes? E entre os
professores? E entre os funcionários? Qual o impacto material sobre a universidade? Como você avalia as perspectivas de recuperação da
universidade? Quais as suas expectativas para a reconstrução da
universidade e do país?
253
Listas de ilustrações
Mapas
Mapa 1 - Dispersão das instituições de ensino superior ...................................................................................................... 53 Mapa 2 - Instituições públicas nas províncias ..................................................................................................................... 73 Mapa 3 - Exposição populacional ao terremoto ................................................................................................................. 95 Mapa 4 - Deslocamentos populacionais em decorrência do terremoto .............................................................................. 98
Gráficos
Gráfico 1 - Distribuição dos estudantes por níveis e setores ............................................................................................... 46 Gráfico 2 - Proporção de alunos matriculados por setor ..................................................................................................... 46 Gráfico 3 - Distribuição espacial dos estudantes do setor público....................................................................................... 47 Gráfico 4 - Concentração espacial das vagas nas instituições de ensino superior ............................................................... 48 Gráfico 5 - Distribuição espacial dos estudantes do nível superior ..................................................................................... 48 Gráfico 6 - Distribuição setorial dos estudantes por nível de ensino ................................................................................... 49 Gráfico 7 - Distribuição espacial dos estudantes por nível de ensino .................................................................................. 49 Gráfico 8 - Dispersão do conjunto de instituições de ensino superior ................................................................................. 50 Gráfico 9 - Distribuição espacial das instituições de ensino superior por setor (exceto Oeste) ........................................... 51 Gráfico 10 - Distribuição espacial das instituições de ensino superior ................................................................................ 51 Gráfico 11 - Dispersão das instituições públicas de ensino superior ................................................................................... 51 Gráfico 12 - Dispersão das instituições privadas de ensino superior autorizadas ............................................................... 52 Gráfico 13 - Dispersão das instituições provadas de ensino superior não autorizadas ....................................................... 52 Gráfico 14 - Composição do pessoal das instituições públicas de ensino superior .............................................................. 71 Gráfico 15 - Evolução do número de instituições privadas de ensino superior .................................................................... 76 Gráfico 16 - Situação do processo de autorização para o funcionamento das instituições privadas .................................. 79 Gráfico 17 - Volume de estabelecimentos privados de ensino superior ativos .................................................................... 81 Gráfico 18 - Perfil do corpo docente das instituições privadas de ensino superior .............................................................. 84 Gráfico 19 - Titulação segundo o gênero no corpo docente das universidades privadas recenseadas ............................... 84 Gráfico 20 - Distribuição dos estudantes mortos na área afetada por nível de ensino ....................................................... 99 Gráfico 21 - Vítimas fatais entre os estudantes da área afetada ........................................................................................ 99 Gráfico 22 - Extensão dos danos aos edifícios escolares por distrito no Departamento Oeste ......................................... 100 Gráfico 23 - Extensão dos danos aos edifícios escolares nos distritos mais atingidos....................................................... 100 Gráfico 24 - Extensão dos danos materiais na rede de ensino superior ............................................................................ 101 Gráfico 25 – Reversibilidade dos danos sofridos pelos estabelecimentos de ensino superior ........................................... 101 Gráfico 26 - Admissões cessantes nas instituições públicas de ensino superior ................................................................ 103 Gráfico 27 - Distribuição das vítimas fatais nas instituições públicas de ensino superior ................................................. 107 Gráfico 28 - Vítimas fatais nas duas instituições públicas mais atingidas ......................................................................... 108 Gráfico 29 - Vítimas fatais nas instituições públicas de ensino superior (exceto FLA e ENIP) ............................................ 108 Gráfico 30 - Proporção de mortos no corpo discente das instituições públicas de ensino superior .................................. 110 Gráfico 31 - Proporção de mortos no conjunto do pessoal ativo das instituições públicas de ensino superior ................. 111
Tabelas
Tabela 1 – Distribuição dos estudantes por setores e níveis ................................................................................................ 46 Tabela 2 - Distribuição de professores, funcionários e alunos entre o setor público e privado ........................................... 47 Tabela 3 - Distribuição espacial das vagas oferecidas pelo setor público............................................................................ 47 Tabela 4 - Distribuição espacial dos estudantes do nível superior por setor ....................................................................... 48 Tabela 5 - Distribuição setorial dos estudantes por nível de formação ............................................................................... 49 Tabela 6 - Distribuição espacial dos estudantes por nível de formação .............................................................................. 49 Tabela 7 - Distribuição espacial das instituições de ensino superior ................................................................................... 50 Tabela 8 – Histórico e perfil institucional das unidades da Universidade de Estado do Haiti em Port-au-Prince ................ 60 Tabela 9 – Perfil acadêmico da UEH (carreiras, vagas e programas de mestrado) ............................................................. 61 Tabela 10 - Unidades provinciais da Universidade de Estado do Haiti ................................................................................ 64
254
Tabela 11 - Universidade de Estado do Haiti: Titulação, carreiras e opções oferecidas ...................................................... 65 Tabela 12 – Unidades da UEH na capital ............................................................................................................................. 67 Tabela 13 – Unidades da UEH na província ......................................................................................................................... 67 Tabela 14 – Totais referentes ao conjunto da UEH .............................................................................................................. 67 Tabela 15 – Despesas e repasses orçamentários nas unidades da capital .......................................................................... 68 Tabela 16 - Sumário estatístico da UEH (valores mínimos e máximos por unidade) ........................................................... 68 Tabela 17 - Instituições públicas de ensino superior autônomas em relação à UEH e situadas na capital ......................... 72 Tabela 18 – Efetivos das instituições públicas de ensino superior ....................................................................................... 74 Tabela 19 – Marcos temporais decisivos na evolução do sistema de ensino superior haitiano .......................................... 81 Tabela 20 - Oferta de serviços e equipamentos básicos nas universidade privadas autorizadas ........................................ 85 Tabela 21 - Instituições privadas de ensino superior autorizadas ....................................................................................... 88 Tabela 22 - População diretamente atingida pelo terremoto .............................................................................................. 94 Tabela 23 - Estudantes nas áreas afetadas ......................................................................................................................... 94 Tabela 24 - Projeções de exposição demográfica ................................................................................................................ 96 Tabela 25 - Núcleos urbanos mais afetados ........................................................................................................................ 96 Tabela 26 - Perdas humanas no conjunto da população escolar da área afetada .............................................................. 97 Tabela 27 - Perdas humanas nas redes de ensino básico e fundamental ............................................................................ 97 Tabela 28 - Perdas humanas na rede de ensino superior da região afetada ....................................................................... 97 Tabela 29 - Impacto do terremoto nas instituições públicas de ensino superior na área afetada .................................... 102 Tabela 30 - Perfil institucional da UEH .............................................................................................................................. 104 Tabela 31 – Impacto sobre a UEH: vítimas e danos decorrentes do terremoto ................................................................. 105 Tabela 32 - Perfil institucional da ENS ............................................................................................................................... 112 Tabela 33 – Impacto sobre a ENS: vítimas e danos decorrentes do terremoto ................................................................. 112 Tabela 34 – Perfil institucional da FAMV ........................................................................................................................... 115 Tabela 35 – Impacto sobre a FAMV: vítimas e danos decorrentes do terremoto .............................................................. 115 Tabela 36 - Perfil institucional da FDSE ............................................................................................................................. 122 Tabela 37 – Impacto sobre a FDSE: vítimas e danos decorrentes do terremoto ................................................................ 122 Tabela 38 - Perfil institucional da FE .................................................................................................................................. 126 Tabela 39 – Impacto sobre a FE: vítimas e danos decorrentes do terremoto .................................................................... 127 Tabela 40 - Perfil institucional da FLA ............................................................................................................................... 130 Tabela 41 – Impacto sobre a FLA: vítimas e danos decorrentes do terremoto .................................................................. 130 Tabela 42 - Perfil institucional da FMP .............................................................................................................................. 135 Tabela 43 – Impacto sobre a FMP: vítimas e danos decorrentes do terremoto ................................................................ 136 Tabela 44 - Perfil institucional da FO ................................................................................................................................. 148 Tabela 45 – Impacto sobre a FO: vítimas e danos decorrentes do terremoto ................................................................... 148 Tabela 46 - Perfil institucional da FDS ............................................................................................................................... 153 Tabela 47 – Impacto sobre a FDS: vítimas e danos decorrentes do terremoto .................................................................. 153 Tabela 48 - Perfil institucional da FASCH ........................................................................................................................... 160 Tabela 49 – Impacto sobre a FASCH: vítimas e danos decorrentes do terremoto ............................................................. 161 Tabela 50 - Perfil institucional do IERAH/ ISERSS ............................................................................................................... 163 Tabela 51 – Impacto sobre o IERAH/ ISERSS: vítimas e danos decorrentes do terremoto ................................................. 163 Tabela 52 - Perfil institucional do INAGHEI ....................................................................................................................... 168 Tabela 53 – Impacto sobre o INAGHEI: vítimas e danos decorrentes do terremoto .......................................................... 169 Tabela 54 - Perfil institucional da EDJ ................................................................................................................................ 172 Tabela 55 – Impacto sobre a EDJ: vítimas e danos decorrentes do terremoto .................................................................. 172 Tabela 56 - Perfil institucional do CTPEA ........................................................................................................................... 176 Tabela 57 – Impacto sobre o CTPEA: vítimas e danos decorrentes do terremoto ............................................................. 176 Tabela 58 - Perfil institucional da ENAF ............................................................................................................................. 179 Tabela 59 – Impacto sobre a ENAF: vítimas e danos decorrentes do terremoto ............................................................... 179 Tabela 60 - Perfil institucional da ENARTS ......................................................................................................................... 181 Tabela 61 – Impacto sobre a ENARTS: vítimas e danos decorrentes do terremoto ........................................................... 182 Tabela 62 - Perfil institucional da ENIP .............................................................................................................................. 189 Tabela 63 – Impacto sobre a ENIP: vítimas e danos decorrentes do terremoto ................................................................ 189 Tabela 64 - Perfil institucional da ENST ............................................................................................................................. 192 Tabela 65 – Impacto sobre a ENST: vítimas e danos decorrentes do terremoto ................................................................ 192 Tabela 66 - Perfil institucional do CNFP e da ENGA ........................................................................................................... 195 Tabela 67 – Impacto sobre o CNFP e sobre a ENGA: vítimas e danos decorrentes do terremoto ..................................... 196 Tabela 68 - Extensão do impacto sobre as instituições privadas ....................................................................................... 203
255
Fotografias
Figura 1 - Anúncio da abertura de inscrições para os programas de mestrado oferecidos pelo PMISSH, ora interrompidos, por conta da destruição de sua sede ................................................................................................................................... 92 Figura 2 - Sede do PMISSH .................................................................................................................................................. 93 Figura 3 - Sede do PMISSH .................................................................................................................................................. 93 Figura 4 - Fachada principal da ENS .................................................................................................................................. 113 Figura 5 - Entrada principal da ENS ................................................................................................................................... 113 Figura 6 - Parte dos livros e documentos resgatados dos escombros da biblioteca, que ruiu, esmagando os estudantes e funcionários que nela se encontravam .............................................................................................................................. 114 Figura 7 – Ruínas da ENS, vistas a partir das ruínas do Palácio de Justiça ........................................................................ 114 Figura 8 - Fachada do edifício principal da FAMV ............................................................................................................. 116 Figura 9 - Entrada do edifício principal da FAMV. Para impedir que o prédio danificado ruísse sobre estudantes, professores e funcionários que tentavam recuperar os equipamentos e materiais dentro do prédio fissurado, foi preciso inserir vigas metálicas de sustentação .............................................................................................................................. 117 Figura 10 - Pátio interno da moradia estudantil da FAMV. Antes do terremoto, uma área intensamente frequentada não só pelos estudantes que ali moravam, mas também por todos os seus colegas e não raro seus professores, que buscavam tirar proveito da iluminação elétrica constante produzida por geradores ........................................................................ 118 Figura 11 - Estufa-modelo da FAMV, atualmente utilizada como abrigo .......................................................................... 118 Figura 12 - Entrada principal do Ministério da Agricultura, campus de Damien ............................................................... 119 Figura 13 - Entrada lateral do edifício histórico do Ministério da Agricultura, situado no interior do campus de Damien, onde também está localizada a FAMV e para onde se planeja transferir todas as atividades provisórias das outras faculdades da UEH destruídas pelo terremoto. Deverá ser demolido ............................................................................... 119 Figura 14 - Minitratores doados pela Fundação Chinesa de Combate à Pobreza (CFPA), estacionados no pátio da FAMV........................................................................................................................................................................................... 120 Figura 15 – Implementos agrícolas doados pela CFPA ...................................................................................................... 120 Figura 16 - Semeadores doados pela CFPA........................................................................................................................ 120 Figura 17 - Estantes da biblioteca da FAMV. O acervo, parcialmente danificado, foi transferido para o edifício anexo, menos afetado pelo terremoto .......................................................................................................................................... 120 Figura 18 – Bosque frontal do campus de Damien, que deverá abrigar as instalações provisórias de praticamente todas as faculdades da UEH afetadas pelo terremoto à medida em que forem retomando suas atividades ............................. 121 Figura 19 - Buganvília centenária no pátio interno da moradia estudantil da FAMV. Todos os edifício da moradia foram construídos em torno dela. Partida ao meio por um raio antes mesmo da instalação da FAMV em Damien, manteve-se exuberante e passou a ser vista como um símbolo da tenacidade haitiana ..................................................................... 121 Figura 20 - Corredor interno do prédio posterior da FDSE, passível de reparos ................................................................ 123 Figura 21 - Entrada principal da FDSE ............................................................................................................................... 123 Figura 22 - Entrada do edifício principal da FDSE .............................................................................................................. 123 Figura 23 - Biblioteca da FDSE. A fachada permaneceu aparentemente intacta, mas as ruínas ao lado mostram o dano sofrido pelo interior no edifício .......................................................................................................................................... 125 Figura 24 – “A secretaria geral da FDSE informa à comunidade universitária em geral e os estudantes da FDSE em particular que o edifício principal conhecido como 'antigo edifício' foi danificado com importantes fissuras no terremoto de 12 de janeiro de 2010. Como consequência, para evitar qualquer eventualidade de derrubamento subsequente, está formalmente proibido permanecer em suas imediações, que representa um perigo iminente para todos”. Porto Príncipe, 16 de janeiro de 2010 ........................................................................................................................................................ 125 Figura 25 - Os edifícios da FE não tombaram e avaliações de equipes de engenharia indicam a possibilidade de pronta recuperação e reutilização dos prédios. No detalhe da pichação: “Viva a reforma universitária. Abaixo Vernet”. Henry Vernet é o atual reitor da UEH .......................................................................................................................................... 128 Figura 26 - Mural satirizando a vida acadêmica na UEH .................................................................................................. 128 Figura 27 - Nas dependências da FE, comida é distribuída por voluntários aos desabrigados instalados no Champ de Mars .................................................................................................................................................................................. 129 Figura 28 - Para grande parte dos refugiados que acorrem à distribuição feita na FE, trata-se da única refeição do dia 129 Figura 29 – Ruínas da FLA dois dias após o primeiro terremoto ....................................................................................... 131 Figura 30 – Início da remoção dos corpos ......................................................................................................................... 131 Figura 31 - Ruínas da FLA, vistas a partir do antigo pátio interno. Notem-se entre os escombros peças de vestuário, material didático, móveis escolares, equipamentos e ferragem retorcida, que se misturam aos corpos das vítimas que ainda não puderam ser retirados ...................................................................................................................................... 132 Figura 32 - Plano frontal da antiga fachada da FLA .......................................................................................................... 132 Figura 33 - Caderneta de poupança de uma das vítimas entre os escombros da FLA, em meio a gabaritos de provas e certificados de conclusão de curso. Cadernetas de poupança são normalmente usadas como meio de identificação .... 133
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Figura 34 - Entre os escombros, revista dedicada à literatura sul-africana ....................................................................... 133 Figura 35 - Gramática de espanhol em meio às ruínas da FLA ......................................................................................... 133 Figura 36 - Flores depostas nas ruínas da Faculdade de Linguística Aplicada em homenagem aos estudantes e professores mortos ............................................................................................................................................................ 134 Figura 37 - Ruínas da FLA .................................................................................................................................................. 134 Figura 38 - Entrada para as salas de aula da FMP, vista a partir do pátio central ............................................................ 137 Figura 39 - Varanda do edifício principal da FMP. Em primeiro plano, o arame farpado que foi disposto durante os confrontos que marcaram o início da greve estudantil de 2009. Os portões seguiam trancados e o acesso interditado sem autorização expressa da direção ....................................................................................................................................... 137 Figura 40 - Escombros de um dos prédios da FMP ............................................................................................................ 139 Figura 41 - Fachada frontal da FMP. Ao longo da amurada frontal, instalaram-se abrigos provisórios de refugiados, que aos poucos se vão expandindo e perenizando. Por trás da fachada aparentemente intacta, encontram-se os escombros dos prédios destruídos ....................................................................................................................................................... 139 Figura 42 - Ruínas da ala oeste do edifício das salas de aula da FMP............................................................................... 141 Figura 43 - O que restou de um dos edifícios da FMP ....................................................................................................... 141 Figura 44 - Decano da Faculdade de Farmácia tenta recuperar a documentação acadêmica de seus alunos ................. 142 Figura 45 – O esforço individual não foi em vão: praticamente todos os registros físicos dos alunos da Faculdade de Farmácia foram recuperados e, com a ajuda de nossa equipe, também os computadores com os registros acadêmicos digitalizados ...................................................................................................................................................................... 142 Figura 46 – Por iniciativa própria e arriscando-se sozinho em meio ao edifício condenado, procura assegurar que não se percam ainda mais documentos acadêmicos em possíveis desabamentos ulteriores ...................................................... 142 Figura 47 - Sala do decanato da FMP ................................................................................................................................ 143 Figura 48 - Sala da Diretoria Acadêmica da FMP .............................................................................................................. 143 Figura 49 - Ruínas da ala oeste do prédio de salas de aula da FMP ................................................................................. 144 Figura 50 - Vista lateral das ruínas da ala oeste do prédio das salas de aula da FMP ...................................................... 144 Figura 51 - Uma das antigas alas de atendimento clínico do Hospital Central, com as estruturas irreversivelmente comprometidas ................................................................................................................................................................. 145 Figura 52 - Tendas do Comitê Central da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho no estacionamento do Hospital Central da UEH, que teve todos os seus edifícios danificados e abandonados, mas viu seus pátios externos e áreas de estacionamento convertidos num novo hospital central, onde uma miríade de organizações internacionais oferece atendimento médico gratuito à população ....................................................................................................................... 145 Figura 53 - Entrada da ala de obstetrícia e ginecologia do HC. Os leitos hospitalares, mesas operatórias e demais móveis foram retirados do edifício condenado.............................................................................................................................. 146 Figura 54 - Edifício que abrigava o setor de radiologia e exames laboratoriais do Hospital Central ................................ 146 Figura 55 - Uma série de tendas que passaram a abrigar todo o atendimento médico dispensado nas dependências do HC. Em primeiro plano, a entrada da antiga seção pediátrica .......................................................................................... 147 Figura 56 - Fila diante do Hospital Central, aguardando triagem para acesso ao atendimento. Com muita dificuldade, apenas um funcionário procura assegurar a prioridade para os casos de emergência e o acesso privilegiado de idosos, mulheres e crianças ........................................................................................................................................................... 147 Figura 57 - Fachada da FO. Em frente à entrada, o decano. Dispostos ao longo das paredes, objetos pessoais de funcionários que se abrigaram no pátio do edifício. ......................................................................................................... 149 Figura 58 - Fachada da Faculdade de Odontologia, a única faculdade da UEH cujo edifício não foi destruído ou severamente danificado. Foi imediatamente convertido num centro de atendimento emergencial à população afetada na região central da cidade .................................................................................................................................................... 149 Figura 59 - Sala de aula teórica da FO .............................................................................................................................. 150 Figura 60 - Sala de aula prática da FO .............................................................................................................................. 150 Figura 61 - Uma das duas salas de atendimento ao público da FO. Os móveis e equipamentos odontológicos de que dispõem as clínicas da FO foram doados pela Faculdade de Odontologia da State University of New York (SUNY) ......... 151 Figura 62 - Sala de atendimento ao público da FO ............................................................................................................ 151 Figura 63 - Por um buraco na parede de uma das salas de atendimento ao público da FO, pode-se ver a outra............. 152 Figura 64 - Outra das salas de atendimento ao público da FO .......................................................................................... 152 Figura 65 - Entrada principal da FDS ................................................................................................................................. 155 Figura 66 - Vista lateral da FDS, com as ruínas da varanda que ruiu durante o terremoto .............................................. 155 Figura 67 - Vista do interior da ala frontal da FDS a partir dos escombros da varanda .................................................... 156 Figura 68 - Vista frontal da FDS, com as ruínas da antiga fachada .................................................................................. 156 Figura 69 - Pátio externo da FDS, com o abrigo construído para abrigar a família de um dos funcionários após o terremoto .......................................................................................................................................................................... 157 Figura 70 - Sala de aula da FDS ......................................................................................................................................... 157 Figura 71 - Pátio interno da FDS ........................................................................................................................................ 158
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Figura 72 - Início do processo de demolição da FDS .......................................................................................................... 158 Figura 73 - Lateral do edifício que abrigava os laboratórios da FDS ................................................................................. 159 Figura 74 - Vista do pátio externo da FDS, com as ruínas de um dos edifícios de salas de aula e do prédio que abrigava os laboratórios ....................................................................................................................................................................... 159 Figura 75 - Toda a área ao redor do edifício principal da FASCH é mantida isolada, em virtude do risco de desabamento........................................................................................................................................................................................... 162 Figura 76 - As colunas de sustentação, trespassadas por fissuras, evidenciam o colapso iminente do edifício principal da FASCH ................................................................................................................................................................................ 162 Figura 77 - O edifício acadêmico da FASCH está condenado e a iminência de seu desmoronamento impede inclusive que se utilize parte do pátio interno, o que contudo não impede que alunos, ex-alunos e suas famílias ocupem parte do estacionamento como abrigo provisório ........................................................................................................................... 162 Figura 78 - De todos os lados do edifício do IERAH / ISERSS se pode perceber que, apesar de haver resistido, demandará reparos importantes .......................................................................................................................................................... 164 Figura 79 - Instituto de Estudos e Pesquisas Africanos (IERAH) / Instituto de Estudo e Pesquisa em Ciências Sociais (ISERSS) Danificado, o IERAH / ISERSS permanece em pé. No muro, pichações contrárias à atuação de organizações estrangeiras ....................................................................................................................................................................... 164 Figura 80 - Pátio interno do IERAH / ISERSS ...................................................................................................................... 166 Figura 81 - Uma das entradas do IERAH / ISERSS. O prédio resistiu aos tremores, mas a extensão dos danos exigirá consideráveis reparos ........................................................................................................................................................ 166 Figura 82 - “Aviso aos estudantes: a direção do departamento de Geografia informa aos estudantes da primeira turma de 2009 / 2010 que o curso terá início nesta terça-feira, dia 12 de janeiro de 2010”. Suma ironia, o primeiro grande terremoto foi exatamente neste dia, no fim da tarde ....................................................................................................... 166 Figura 83 - Saguão de entrada do IERAH / ISERSS............................................................................................................. 167 Figura 84 - Corredor lateral do IERAH / ISERSS ................................................................................................................. 167 Figura 85 - Pátio interno do INAGHEI ................................................................................................................................ 170 Figura 86 – Fachada frontal do INAGHEI, expondo fissuras que atravessam toda a estrutura de sustentação do prédio 170 Figura 87 - As salas de aula do INAGHEI permaneceram como foram deixadas, ao terem sido abandonadas às pressas no dia do primeiro terremoto ................................................................................................................................................. 171 Figura 88 - Sala de aula do INAGHEI com material didático e pertences pessoais que os alunos deixaram para trás ao tentar escapar do primeiro tremor .................................................................................................................................... 171 Figura 89 - Tendas no pátio da EDJ ................................................................................................................................... 173 Figura 90 – Tendas ao redor da EDJ .................................................................................................................................. 173 Figura 91 - Tendas no pátio da EDJ, convertida em campo de refugiados ........................................................................ 173 Figura 92 - Sala de aula – EDJ – Jacmel (no quadro-negro, notas da aula de Teoria do Direito Constitucional que era ministrada no dia do terremoto) ....................................................................................................................................... 175 Figura 93 - Corredor de salas de aula da EDJ .................................................................................................................... 175 Figura 94 – Fachada frontal do CTPEA .............................................................................................................................. 177 Figura 95 - Muro do pátio externo do CTPEA .................................................................................................................... 177 Figura 96 - Sala de aula do CTPEA ..................................................................................................................................... 178 Figura 97 - Galpão anexo ao CPTEA, onde se veem estendidas as roupas dos refugiados que se abrigaram no pátio .... 178 Figura 98 - A ENAF ruiu completamente, restando apenas seus dois ônibus para abrigar a documentação recuperada dos escombros ......................................................................................................................................................................... 180 Figura 99 - Após a remoção dos escombros, a única coisa que lembra que ali havia uma prestigiada instituição de ensino superior é um monte de ferro retorcido ............................................................................................................................ 180 Figura 100 - Estátua do patrono da ENARTS, Jean-Jacques Dessalines ............................................................................. 184 Figura 101 - Oficina de trabalho da ENARTS ..................................................................................................................... 184 Figura 102 – “Coletivo pós-desastre. Proteção do patrimônio / CP3 e ENARTS deseja oferecer seus pêsames a todos os artistas e famílias que perderam entes queridos no terremoto de 12 de janeiro de 2010. Lutemos pela proteção do patrimônio” ....................................................................................................................................................................... 186 Figura 103 - Aluno da ENARTS mostra o seu trabalho ...................................................................................................... 186 Figura 104 - Estudantes da ENARTS que se abrigaram no espaço da Escola e continuam desenvolvendo suas atividades fora dos ateliês danificados ............................................................................................................................................... 187 Figura 105 - Pátio da ENARTS, onde se veem, entre materiais de escultura e entalhe em madeira, as roupas que os estudantes refugiados no pátio da escola estenderam para secar.................................................................................... 187 Figura 106 - Aluno da ENARTS, que sofreu mutilações nas mãos durante o primeiro tremor, retoma seu trabalho de pintura no que sobrou da escola ....................................................................................................................................... 188 Figura 107 - Pátio interno da ENARTS com uma vista lateral do galpão das oficinas ....................................................... 188 Figura 108 - A queda do edifício principal da ENIP vitimou todas as estudantes que se encontravam no prédio no momento do primeiro tremor, juntamente com o decano ................................................................................................ 190
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Figura 109 - Vista do que restou da ENIP a partir de onde se encontrava anteriormente a entrada do prédio principal . 190 Figura 110 - Além das estudantes e do professor mortos, passantes foram atingidos e mortos com a queda do edifício sobre uma das vias mais movimentadas do centro de Port-au-Prince .............................................................................. 191 Figura 111 - O ônibus que transportava as estudantes para estágios de formação em instituições de atendimento à saúde na capital e no interior, foi esmagado com o colapso do prédio administrativo da ENIP.................................................. 191 Figura 112 - Detalhe posterior do edifício que abrigava a ENST, destacando uma das maiores salas de aula da Escola . 193 Figura 113 - A ENST ocupava um andar em um edifício compartilhado com a Universidade Nobel d’Haïti e com o Colégio Metropolitano ................................................................................................................................................................... 193 Figura 114 - Pátio interior da ENST ................................................................................................................................... 194 Figura 115 - Peças de vestuário, material didático e demais pertences pessoais, deixados pelos estudantes ao fugir durante o primeiro tremor, em 12 de janeiro, que causou a ruína do edifício onde se encontrava a ENST ...................... 194 Figura 116 - Mural no terraço frontal do CNFP ................................................................................................................. 197 Figura 117 - Entrada do prédio principal do CNFP, que exibe fissuras profundas e exige reparos consideráveis antes que possa ser reutilizado .......................................................................................................................................................... 197 Figura 118 - Oficina do curso de edificações do CNFP ....................................................................................................... 198 Figura 119 - Sala de informática do CNFP. Boa parte do material permanente foi perdida. Aquilo que não foi danificado pelo terremoto acabou sendo saqueado ........................................................................................................................... 198 Figura 120 - Galpão do CNFP, que já chegou a abrigar provisoriamente a ENST, antes que a volatilidade da situação política da região obrigasse seu deslocamento para uma região mais central da cidade ................................................ 199 Figura 121 - O amplo pátio externo do CNFP serve como espaço para o atendimento médico periódico dos refugiados nos campos em torno da área ................................................................................................................................................. 199 Figura 122 - No pátio do CNFP, tendas acolhem famílias desabrigadas da região de Cité Soleil ...................................... 200 Figura 123 - Em torno do CPFP, há vários acampamentos de desabrigados ..................................................................... 200 Figura 124 - Entrada da ENGA, situada nos fundos do CNFP, na região de Cité Soleil. Por conta da volatilidade da situação política na região, encontrava-se inativa já antes mesmo do terremoto ............................................................ 201 Figura 125 - Os danos às instalações da ENGA foram de menor envergadura ................................................................. 201 Figura 126 - Ruínas da UL, em cujo desabamento morreram 376 estudantes, mas muitos dos corpos não haviam podido ser retirados dos escombros .............................................................................................................................................. 204 Figura 127 - Ao lado das ruínas da UL, vê-se a fachada apenas parcialmente danificada de uma casa cujo interior também foi destruído ........................................................................................................................................................ 204 Figura 128 - No térreo deste edifício da UL se encontrava a cantina e no primeiro e segundo andares a biblioteca ....... 205 Figura 129 - Fotocopiadora, livros, registros escolares e peças de vestuário entre os escombros da UL .......................... 205 Figura 130 - Manual de enfermagem entre as ruínas da UL ............................................................................................. 206 Figura 131 - Varanda da cantina da UL ............................................................................................................................. 206 Figura 132 - Gavetas vazias dos arquivos escolares em meio aos escombros da UL ........................................................ 207 Figura 133 - O que restou dos arquivos da UL ................................................................................................................... 207 Figura 134 - Entre os escombros, carteirinhas de estudante da UL ................................................................................... 208 Figura 135 - Entre os papéis espalhados pelos escombros da UL, projetos e dissertações dos alunos ............................. 208 Figura 136 - O que restou de um dos laboratórios de informática da UL .......................................................................... 209 Figura 137 - Arquivos e computadores da UL .................................................................................................................... 209 Figura 138 - Foram identificados 376 mortos entre os alunos da UL ................................................................................ 210 Figura 139 - Arquivos da UL .............................................................................................................................................. 210 Figura 140 - Remoção dos escombros do CTSG, cuja ruína vitimou não apenas estudantes e professores, mas também vários moradores das imediações ..................................................................................................................................... 211 Figura 141 - Um mês após os grandes terremotos, os estudantes do CTSG continuavam retirando dos escombros corpos de colegas e professores. No Centro Saint-Gérard, as aulas já haviam sido reiniciadas e um número considerável de alunos estava nas salas de aula no momento do primeiro tremor. Foram registrados 252 estudantes e cinco professores mortos ............................................................................................................................................................................... 212 Figura 142 - Ruínas da UC. Para além das vítimas nos arredores do prédio, mortas em decorrência do desabamento, foram registrados 189 estudantes e seis professores mortos ............................................................................................ 212 Figura 143 - Ruínas da UC ................................................................................................................................................. 212 Figura 144 - Em meio aos escombros, material didático de kreyòl. A linguística era uma das áreas fortes da UC ........... 213 Figura 145 - Entre os escombros, Dicionário de kreyòl, publicado pela UC ....................................................................... 213 Figura 146 - Não foram somente estudantes, professores ou funcionários que morreram nos desabamentos das universidades e faculdades. Foram vários os casos de creches, escolas, escritórios ou casas de família que foram arrebatadas pelo desmoronamento dos prédios universitários. Ao lado da UC funcionava uma creche, que foi soterrada. Nos fundos, vivia uma família de seis pessoas, das quais apenas uma sobreviveu .......................................................... 213 Figura 147 - Muro dianteiro e ruínas da sede principal da UP .......................................................................................... 214 Figura 148 - Ruínas da sede principal da UP ..................................................................................................................... 214
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Figura 149 - Diplomas e carteiras de estudantes recuperados dos escombros: a UP perdeu 159 estudantes e sete professores ........................................................................................................................................................................ 215 Figura 150 – Folha referente ao mês de fevereiro de 2010 do carnê de mensalidades do estudante em cuja memória fora acesa uma vela e depostas flores sobre as ruínas da UP .................................................................................................. 215 Figura 151 – Apelo, em inglês, assinado pelo Comitê dos refugiados que ocuparam as dependências do que era um dos campi da UP: “Precisamos de ajuda. Comida, água, tendas” ........................................................................................... 216 Figura 152 - Sala de aula da sede secundária da UP ......................................................................................................... 216 Figura 153 - O que sobrou da UNEPH ............................................................................................................................... 217 Figura 154 - No pátio frontal de onde funcionava a UNEPH, foram instaladas tendas para abrigar o Fórum Criminal. Ao fundo, veem-se as celas improvisadas onde eram mantidos os acusados a espera de julgamento ................................. 217 Figura 155 - Escadaria de entrada do edifício principal do IHECE ..................................................................................... 218 Figura 156 - Vista lateral do edifício principal do IHECE.................................................................................................... 218 Figura 157 - Vista posterior do edifício principal do IHECE................................................................................................ 219 Figura 158 - Tendas instaladas no pátio do IHECE pelos funcionários desabrigados ........................................................ 219 Figura 159 - O que restou da sede histórica do IHECE, que fazia parte de um celebrado conjunto arquitetônico na área central de Port-au-Prince ................................................................................................................................................... 220 Figura 160 – As ruínas da Escola Sainte-Trinité estão à direita. Ao fundo, as ruínas da Catedral ..................................... 221 Figura 161 - Pátio interno da Escola Sainte-Trinité ........................................................................................................... 221 Figura 162 – Tendo ruído apenas parcialmente, a Escola Sainte-Trinité teve suas estruturas completamente comprometidas e, situada na área central da cidade, a iminência de desabamento representava ainda um risco considerável, como de resto era o caso de inúmeras edificações de Bel-Air. Por conta do perigo que representavam à circulação de pessoas no centro da cidade, a demolição das edificações restantes do complexo de edifícios em torno da Paróquia de Sainte-Trinité foi iniciada cerca de um mês após o primeiro tremor ............................................................. 222 Figura 163 – Em meio à remoção dos escombros, ainda se tenta recuperar o possível do material danificado .............. 222 Figura 164 - Pintura feita por um aluno de oito anos da escola educação infantil vinculada à Paróquia de Sainte-Trinité. Representa Dessalines e a expulsão dos franceses pelas tropas haitianas sob seu comando. Fazia parte de uma coleção de desenhos dos heróis nacionais, feitos por alunos de diferentes escolas do país para figurar num calendário a ser distribuídos às próprias escolas. Esta cópia do desenho foi encontrada nos escombros .................................................. 223 Figura 165 - Nas ruínas da escola, o jornal Le Nouvelliste, de 5 de janeiro de 2010, uma semana antes do terremoto, quando o início das aulas já se prenunciava como algo ainda incerto e problemático .................................................... 223 Figura 166 - Ruínas da sede da Escola Sainte-Trinité onde funcionava a Escola de Música e Canto Coral ....................... 224 Figura 167 - Ruínas da Escola de Música e Canto Coral Sainte-Trinité .............................................................................. 224 Figura 168 - Ruínas do CEDI. Ao fundo, escombros do Hotel Christophe, onde funcionava o comando operacional da MINUSTAH ......................................................................................................................................................................... 225 Figura 169 - Vista do interior das ruínas do CEDI .............................................................................................................. 225 Figura 170 - Sede administrativa da UNDH, num palácio histórico da área central da capital. Apesar de parecer intacta, teve seu interior seriamente danificado e demandará reparos consideráveis .................................................................. 226 Figura 171 - Entrada da sede administrativa da UNDH ..................................................................................................... 227 Figura 172 - Prédio anexo à sede administrativa da UNDH ............................................................................................... 227 Figura 173 - Clínica ambulatorial na Faculdade de Enfermagem da UNDH ...................................................................... 228 Figura 174 - Numa das paredes, turmas de formandas da Faculdade de Enfermagem da UNDH. Na outra, imagens de patronos católicos, santos e taumaturgos ........................................................................................................................ 228 Figura 175 - Reitoria da Universidade de Fondwa (UNIF), a única universidade rural do país, completamente destruída........................................................................................................................................................................................... 229 Figura 176 - Escombros da reitoria da UNIF ...................................................................................................................... 229 Figura 177 - Fachada frontal da sede do INUQUA, cuja demolição já havia sido iniciada, por conta do risco iminente de desabamento ..................................................................................................................................................................... 230 Figura 178 - Vista posterior do prédio anexo ao edifício principal do INUQUA ................................................................. 230 Figura 179 - Pátio frontal do INUQUA, com trabalhadores engajados na demolição do edifício condenado ................... 230 Figura 180 - Salão nobre e templo evangélico do INUQUA ............................................................................................... 231 Figura 181 - Biblioteca do INUQUA ................................................................................................................................... 231 Figura 182 - O que restou de um dos laboratórios de informática do INUQUA................................................................. 231 Figura 183 - Sala da reitoria do INUQUA, cuja parede lateral ruiu inteiramente .............................................................. 232 Figura 184 - Parede lateral do INUQUA, com a sala da reitoria vista de fora para dentro................................................ 232 Figura 185 - Andar térreo do prédio do INUQUA .............................................................................................................. 232 Figura 186 - Sede da ANDC................................................................................................................................................ 233 Figura 187 - Sede da ANDC ................................................................................................................................................ 234 Figura 188 - Sede da ANDC................................................................................................................................................ 234 Figura 189 - Salão diplomático da ANDC .......................................................................................................................... 234
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Figura 190 - O edifício da Universidade Jean Price-Mars foi seriamente danificado......................................................... 235 Figura 191 - Escombros dos edifícios do campus central da UNIQ, que havia sido inaugurado cerca de 20 dias antes do terremoto .......................................................................................................................................................................... 236 Figura 192 - Nas ruínas do campus central da UNIQ, as roupas secando indicam que muitos desabrigados transferiram sua vida cotidiana para o espaço do campus .................................................................................................................... 236 Figura 193 - Encontro para discutir a reconstrução, organizado pela UNIQ em tendas montadas na área de seu campus destruído ........................................................................................................................................................................... 237 Figura 194 - A paisagem improvisada das tendas revela não apenas espaços onde se vive, mas também as novas circunstâncias dos locais onde se trabalha. Tendas administrativas instaladas no estacionamento do campus central da UNIQ .................................................................................................................................................................................. 237 Figura 195 - Em meio aos escombros de um anexo da Biblioteca Nacional, “Homenagem à nossa bandeira”, no programa de uma cerimônia comemorativa do Dia da Bandeira, celebrando os lemas de união nacional, paz e conciliação representados pela bandeira nacional .............................................................................................................................. 238 Figura 196 - Remoção do equipamento gráfico dos escombros do prédio anexo da Biblioteca Nacional ........................ 239 Figura 197 - O edifício anexo da Biblioteca Nacional, que abrigava os serviços de imprensa, foi completamente destruído, assim como todos os equipamentos e materiais ............................................................................................................... 239 Figura 198 - O edifício principal do MENFP ruiu, sem que os corpos das vítimas pudessem ter sido retirados dos escombros ......................................................................................................................................................................... 240 Figura 199 - Fila de professores e funcionários para recolher salários atrasados na sede do MENFP .............................. 240 Figura 200 - Filas de professores e funcionários diante do que sobrou do MENFP para recolher seus contracheques..... 241 Figura 201 - Busca aos corpos dos funcionários soterrados nos escombros do prédio principal do MENFP ..................... 241 Figura 202 - Arquivos escolares e documentos do MENFP ................................................................................................ 242 Figura 203 - Documentos pessoais de funcionários soterrados sob os escombros ........................................................... 242 Figura 204 – Escombros do CNIGS..................................................................................................................................... 243 Figura 205 - Retomada paulatina das atividades no CNIGS para a realização de estudos do impacto do terremoto sobre a infraestrutura da capital. Instalados em barracas, os pesquisadores alternam turnos de trabalho no interior de um reduzido número de contêineres ....................................................................................................................................... 243
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