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1 Da crise às ruínas Impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti Haiti 2010 Sebastião Nascimento

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Relatório de avaliação do impacto do terremoto de 2010 sobre o sistema de ensino superior no Haiti.

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Page 1: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

1

Da crise às ruínas Impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

Haiti

2010

Sebastião Nascimento

Page 2: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

2

Da crise às ruínas:

impacto do terremoto

sobre o ensino superior no Haiti

Sebastião Nascimento

Maio de 2010

Page 3: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

3

Ministério da Educação

Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior

Programa Pró Haiti

Da crise às ruínas:

impacto do terremoto

sobre o ensino superior no Haiti

Consultores do Programa Pró Haiti:

Omar Ribeiro Thomaz

Sebastião Nascimento

Coordenação da pesquisa:

Sebastião Nascimento

Assistente de pesquisa:

Berhman Garçon

Colaboradores:

Samuel Adma, Berthony Alexandre, Malherbe Alexis, Josué Blanchard, Torrilus Chenet,

Celestin David, Eurica Denis, Elange Donatien, Blaise Dorléan, Jean-Baptiste Edgard,

Beausejour Fenel, Johny Fontaine, Marc-Gérard Jacquet, Daphney Jean, Evens Jean-Pierre,

Kensley Jeanty, Erntz Jeudy, Marc-Donald Joseph, Pierre Sandiny

Fotografias:

Berhman Garçon

Sebastião Nascimento

Mapas, gráficos e diagramação:

Fábio Luís Mariquito do Nascimento

Sebastião Nascimento

Page 4: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

4

Conteúdo Agradecimentos ................................................................................................................................... 6

Lista de acrônimos ............................................................................................................................... 7

Nota onomástica .............................................................................................................................. 9

Sumário executivo ............................................................................................................................. 10

Sumário das constatações .................................................................................................................. 21

Problemas comuns ao sistema público e privado de ensino superior no Haiti .......................... 22

Problemas agudos decorrentes do terremoto .............................................................................. 23

Danos particularmente graves a instituições de ensino superior ............................................... 24

Problemas crônicos no relacionamento entre instituições haitianas e internacionais .............. 26

Áreas de carência mais aguda ....................................................................................................... 27

Recomendações para ação imediata junto às instituições de ensino superior ............................... 28

Recomendações gerais .................................................................................................................. 28

Instâncias de gestão universitária no Haiti e circulação de informação ................................ 28

Recomendações específicas ao Programa Pró Haiti .................................................................... 29

Cooperação bilateral na área do ensino superior ..................................................................... 29

Implementação do programa de bolsas .................................................................................... 30

Processo seletivo ....................................................................................................................... 30

Etapas da seleção ....................................................................................................................... 31

Centro Cultural Haitiano-Brasileiro ........................................................................................ 31

Apoio às instituições universitárias que receberão professores brasileiros no Haiti ............. 32

Acompanhamento e apoio aos estudantes selecionados para o programa de bolsas ............. 32

Apoio aos estudantes no Brasil ................................................................................................. 33

Conclusão do programa e retorno ao Haiti .............................................................................. 34

Áreas prioritárias emergenciais ................................................................................................ 35

Continuidade do programa e etapas ulteriores de implementação ........................................ 37

Outras áreas de atuação ............................................................................................................ 38

Metodologia, etapas e circunstâncias do levantamento de dados ................................................... 39

Estrutura do sistema educacional haitiano ...................................................................................... 44

Histórico do ensino superior no Haiti .............................................................................................. 54

Universidade de Estado do Haiti: origens, formação e estado atual ........................................... 54

Outras instituições públicas .......................................................................................................... 69

Instituições privadas ..................................................................................................................... 75

A pós-graduação e os pós-graduandos ......................................................................................... 90

Impacto do terremoto sobre as instituições de ensino superior no Haiti....................................... 94

Impacto do terremoto sobre as instituições públicas de ensino superior ................................. 102

Universidade de Estado do Haiti (UEH) .................................................................................... 104

Escola Normal Superior (ENS) ............................................................................................... 112

Faculdade de Agronomia e de Medicina Veterinária (FAMV) ............................................. 115

Faculdade de Direito e Ciências Econômicas (FDSE) ........................................................... 122

Faculdade de Etnologia (FE) ................................................................................................... 126

Faculdade de Linguística Aplicada (FLA) .............................................................................. 130

Faculdade de Medicina e de Farmácia (FMP) ....................................................................... 135

Faculdade de Odontologia (FO) ............................................................................................. 148

Faculdade de Ciências (FDS) .................................................................................................. 153

Page 5: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

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Faculdade de Ciências Humanas (FASCH) ............................................................................ 160

Instituto de Estudos e Pesquisas Africanos (IERAH) / Instituto de Estudo e Pesquisa em Ciências Sociais (ISERSS) ........................................................................................................ 163

Instituto Nacional de Administração Pública e de Empresas e de Altos Estudos Internacionais (INAGHEI) ..................................................................................................... 168

Unidades autônomas do sistema público de ensino superior e formação profissional ............ 172

Escola de Direito de Jacmel (EDJ) .......................................................................................... 172

Centro Técnico de Planificação e Economia Aplicada (CTPEA) ......................................... 176

Escola Nacional de Administração Financeira (ENAF) ........................................................ 179

Escola Nacional das Artes (ENARTS) .................................................................................... 181

Escola Nacional das Enfermeiras de Port-au-Prince (ENIP) / Escola Nacional de Parteiras (ENISF) .................................................................................................................................... 189

Escola Nacional Superior de Tecnologia (ENST) ................................................................... 192

Centro Nacional de Formação Profissional (CNFP) / Centro Piloto de Formação Profissional e Técnica (CPFP) ..................................................................................................................... 195

Escola Nacional de Geologia Aplicada (ENGA) .................................................................... 195

Impacto do terremoto sobre as instituições privadas de ensino superior ................................ 202

Universidade Lumière (UL) .................................................................................................... 204

Centro Técnico Saint-Gérard (CTSG) .................................................................................... 211

Universidade Caraïbe (UC) ..................................................................................................... 212

Universidade de Porto Príncipe (UP) .................................................................................... 214

Universidade Episcopal do Haiti (UNEPH) ........................................................................... 217

Instituto de Altos Estudos Comerciais e Econômicos (IHECE) ............................................ 218

Escola Normal e Profissional da Sainte-Trinité (ENPST) ..................................................... 221

Centro de Estudos Diplomáticos e Internacionais (CEDI) .................................................... 225

Universidade Notre-Dame do Haiti (UNDH) ........................................................................ 226

Universidade de Fondwa (UNIF) ........................................................................................... 229

Instituto Universitário Quisqueya-Amérique (INUQUA) .................................................... 230

Academia Nacional Diplomática e Consular (ANDC) .......................................................... 233

Universidade Jean Price-Mars (UJPM) .................................................................................. 235

Universidade Quisqueya (UNIQ) ........................................................................................... 236

Instituições gestoras e auxiliares do sistema de ensino superior atingidas pelo terremoto ..... 238

Biblioteca Nacional ................................................................................................................. 238

Ministério da Educação Nacional e da Formação Profissional (MENFP) ............................ 240

Centro Nacional de Informação Geoespacial (CNIGS) ......................................................... 243

Anexo I - Instituições de ensino superior recenseadas no curso da pesquisa .............................. 244

Instituições públicas de ensino superior .................................................................................... 244

Instituições privadas de ensino superior autorizadas ................................................................ 247

Instituições privadas de ensino superior não avaliadas ou não autorizadas ............................. 249

Anexo II: Questionário utilizado na pesquisa ................................................................................ 252

Listas de ilustrações ......................................................................................................................... 253

Mapas ........................................................................................................................................... 253

Gráficos ........................................................................................................................................ 253

Tabelas ......................................................................................................................................... 253

Fotografias ................................................................................................................................... 255

Referências bibliográficas ............................................................................................................... 261

Page 6: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

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Agradecimentos

Para a realização deste relatório, contamos com o apoio de colegas e amigos, sobretudo no Haiti,

mas também na República Dominicana, nos Estados Unidos e no Brasil. A todos eles, nossos

mais sinceros agradecimentos.

No Haiti: Nicholas André, Katia Anglade, Patrick Attié, Guy Bérnard, Bilton Bossé, Paul-Jude

“Don” Carmelo, Junior Cenanfils, Samuel Charles, Rotchille Cribe, Guy Dallemand, Armide

David, Rachelle Desrouleaux, Paulo Dubois, Marc Exantus, Stéphanie Floréal, Luc François,

Etzaire Févrin, família Garçon (Berthony, Claire, Dieula, Marjorie, Mika, Anderson, Lovely e

Wilna), Richard Garfield, Harold Gaspard, Alain Gilles, Nadine Henry, Hérard Jadotte, Maxïme

Jeunne, Yannick Lahens, Maître Léo, Auguste Loubert, Boss Loulou, Francesca Lubin, Emnél e

Evans Massé, Jean-Marie Béjoly Monrose, Vîncent Bradley Nöel, Michèle Oriol, Florence

Pierre-Louis, Jean-Marie Pompée, Gladys Prosper, Jean Claude Rolles, Michel Soukar, Olaf

Suïre, Henri Roland Théodore, Théodate Thurgot, Patrick e Pierre Remy Zamor.

Na República Dominicana: Érica Suelen de Sousa.

Nos Estados Unidos: Jean-Phillipe Belleau.

No Brasil: Liliane Benetti, Diego Nespolon Bertazzoli, Cris Bierrenbach, Antônio Barros de Brito

Júnior, Rodrigo Charafeddine Bulamah, Sônia Beatriz Miranda Cardoso, Alex Rodrigo Celestino,

Fabiana Helena Fabiane, Maria Christina Ferreira Faccioni, Nádia Farage, Ema Maria Franzoni,

Gerfried Gaulhofer, Marília Halla, Otávio Calegari Jorge, Lucélia Mattos, Eliane Moura, Sandro

Fernandes do Nascimento, Gisele Ricobom, Maria José da Silveira Rizola, Alcebíades Rodrigues

Júnior, Maria Rita Gândara Santos.

Agradecemos ainda a Normélia Parise, diretora do Centro Cultural Haitiano-Brasileiro em Port-

au-Prince, pelo inestimável apoio durante a realização da pesquisa e a elaboração do relatório, à

direção e aos funcionários do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade

Estadual de Campinas, assim como a Martin Lienhard, da Universidade de Zurique, e à

Sociedade Suíça de Americanistas, que nos ofereceram a oportunidade de discutir os resultados

preliminares deste levantamento com colegas do Haiti e de outros países latino-americanos e

europeus no simpósio Les Amériques Noires Aujourd’hui /Afroamérica hoy, no Museu de

Etnologia da Universidade de Zurique.

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Lista de acrônimos1

APF – Associação de Camponeses de Fondwa

AUF – Agência Universitária da Francofonia

BNH – Biblioteca Nacional do Haiti

CCHB – Centro Cultural Haitiano-Brasileiro

CFPA – Fundação Chinesa para o Combate à Pobreza

CFEF – Centro de Formação dos Professores do Ensino Fundamental

CLAC – Centro de Leitura e de Animação Cultural

CNFP – Centro Nacional de Formação Profissional

CNIGS – Centro Nacional de Informação Geoespacial

CORPUCA – Conferência de Reitores e Presidentes Universitários do Caribe

CPFPT – Centro Piloto de Formação Profissional e Técnica

CRP – Comitê Regional de Direção

CTPEA – Centro de Técnicas de Planejamento e de Economia Aplicada

DESRS – Direção de Ensino Superior e de Pesquisa Científica

DFP – Direção de Formação e Aperfeiçoamento

EDH – Escola de Direito de Hinche

EDJ – Escola de Direito de Jacmel

EDSEC – Escola de Direito e de Ciências Econômicas dos Cayes

EDSEFL – Escola de Direito e de Ciências Econômicas de Fort-Liberté

EDSEG – Escola de Direito e de Ciências Econômicas das Gonaïves

EDSEPP – Escola de Direito e de Ciências Econômicas de Port-de-Paix

EFACAP – Escola Fundamental de Aplicação e Centro de Apoio Pedagógico

ENAF – Escola Nacional de Administração Financeira

ENARTS – Escola Nacional das Artes

ENGA – Escola Nacional de Geologia Aplicada

ENI – Escola Nacional de Educadores

ENIC – Escola Nacional das Enfermeiras dos Cayes

ENICH – Escola Nacional das Enfermeiras do Cap-Haïtien

ENIJ – Escola Nacional das Enfermeiras de Jacmel

ENIP – Escola Nacional das Enfermeiras de Port-au-Prince

ENS – Escola Normal Superior

ENST – Escola Nacional Superior de Tecnologia

ETM – Escola de Tecnologia Médica

1 Esta lista se limita aos órgãos, serviços e instituições de caráter público, comunitário, governamental ou

internacional. Para as siglas e abreviações referentes às instituições privadas de ensino superior, ver as listas de

instituições de ensino superior recenseadas, apresentadas no Anexos I.

Page 8: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

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FAMV – Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária

FASCH – Faculdade de Ciências Humanas

FDS – Faculdade de Ciências

FDSE – Faculdade de Direito e Ciências Econômicas

FDSEGCH – Faculdade de Direito, Ciências Econômicas e Gestão do Cap-Haïtien

FE – Faculdade de Etnologia

FLA – Faculdade de Linguística Aplicada

FMP – Faculdades de Medicina e Farmácia

FO – Faculdade de Odontologia

GSE – Grupo Setorial da Educação do Escritório da Presidência da República

GTEF – Grupo de Trabalho sobre a Educação e a Formação no Haiti

HUEH – Hospital Universitário da Universidade de Estado do Haiti

IERAH – Instituto de Estudos e Pesquisas Africanas

IHSI – Instituto Haitiano de Estatística e de Informática

INAGHEI – Instituto Nacional de Administração Pública e de Empresas e de Altos Estudos Internacionais

INFP – Instituto Nacional de Formação Profissional

ISERRS – Instituto Superior de Estudos e de Pesquisas em Ciências Sociais

ISPAN – Instituto de Proteção do Patrimônio Nacional

MCC – Ministério da Cultura e das Comunicações

MENFP – Ministério da Educação Nacional e Formação Profissional

MINUSTAH – Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti

OEA – Organização dos Estados Americanos

OIF – Organização Internacional da Francofonia

PARQE – Programa de Apoio ao Fortalecimento da Qualidade da Educação no Haiti

PMISSH – Programa de Mestrado Interdisciplinar em Ciências Sociais e Humanas

SENAC – Serviço Nacional do Comércio

SENAI – Serviço Nacional da Indústria

SESC – Serviço Social do Comércio

SESI – Serviço Social da Indústria

UE – União Europeia

UEH – Universidade de Estado do Haiti

UNESCO – Organização Educacional, Científica e Cultural das Nações Unidas

UPAG – Universidade Pública da Artibonite nas Gonaïves

UPNCH – Universidade Pública do Norte no Cap-Haïtien

UPSC – Universidade Pública do Sul nos Cayes

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Nota onomástica

Independente do registro ou nível de linguagem, a antroponímia no Haiti não se submete a uma regra uniforme de

composição, podendo os nomes pessoais ser mencionados em três variantes:

Nome próprio Nome de família (Np Nf)

Nome de família Nome próprio (Nf Np)

NOME DE FAMÍLIA Nome Próprio (NF Np)

Apesar de a variante NF Np ter um uso predominante no registro escrito em todo o país, nem sempre foi possível,

diante do volume de depoimentos orais colhidos ao longo do levantamento de dados, verificar qual o modelo

utilizado por cada informante. Para a apresentação final deste relatório, optou-se pelo modelo convencional Np Nf,

mais utilizado internacionalmente. Porém, na medida em que muitos nomes foram registrados a partir de

depoimentos orais, é possível que, em alguns casos, não tenha sido possível identificar corretamente a ordem

adequada e tenham ocorrido desvios em relação ao modelo.

Também localidades e logradouros foram indicados ao longo do texto pela toponímia internacionalmente mais

corrente para o Haiti, de base francesa, em detrimento da toponímia baseada no kreyòl. Assim, por exemplo, em

lugar de Pòtoprens, Kafou Fey e Chanmas, foram utilizados Port-au-Prince, Carrefour Feuilles e Champ de Mars.

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Sumário executivo

Às 16h53min do dia 12 de janeiro de 2010, um terremoto de 7,3 graus de magnitude e 35

segundos de duração sacudiu com extrema intensidade a área mais densamente povoada do

Haiti, destruindo várias cidades e localidades numa ampla área de incidência, mas com efeitos

particularmente devastadores na capital do país e em seus arredores, chegando ao ponto de

praticamente arrasar a cidade de Léogâne, de importância histórica e cultural indiscutível para a

sociedade nacional haitiana. Vários tremores sucessivos ocorreram, pelo menos 42 deles

registrados com magnitudes variando de dois a 6,1 pontos, com epicentros que se espalhavam ao

largo de uma extensa faixa ao longo da porção sudoeste do país, mas o epicentro do primeiro e

maior tremor foi a não mais que 15 quilômetros do centro da capital Port-au-Prince. Nos dias e

semanas seguintes, foram registrados inúmeros tremores de menor intensidade, o que se somou

à ação destruidora do primeiro terremoto para causar um deslocamento populacional sem

precedentes na região. Pelas estimativas oficiais, em Port-au-Prince e seus arredores e em

amplas áreas do sul do país, 222.574 pessoas foram mortas, mais de 300.000 feridos, 1,3 milhão

de deslocados e, em razão de 97.294 residências haverem sido destruídas e outras 188.383

irreversivelmente danificadas, outro 1,5 milhão de desabrigados.2

Se por um lado, para além do inestimável número de feridos, mutilados e desabrigados, Port-

au-Prince viu perecer cerca de 10% de sua população e quase metade dos sobreviventes

deixarem a cidade rumo a campos de refugiados em seus arredores e no interior do país, por

outro lado também em outros centros urbanos a devastação deixou marcas indeléveis.

Pétionville, Jacmel, Léogâne, Petit-Goâve, Grand-Goâve, Gressier, Carrefour são os nomes de

algumas das cidades que foram severamente atingidas, algumas das quais muito provavelmente

jamais voltarão a contar com a estrutura e as dimensões anteriores, para não mencionar os

muitos povoados para os quais sequer há dados confiáveis a respeito da extensão dos danos.

2 As estimativas aqui apresentadas incluem as quatro pessoas que foram mortas por um tsunami na região de Petit-

Paradis, próxima a Léogâne. Outros tsunamis foram registradas em Jacmel, Les Cayes, Petit-Goâve, Léogâne, Luly e

Anse-à-Galets, destruindo mais uma série de residências costeiras, sem contudo terem feito mais vítimas fatais. É

preciso ressaltar, no entanto, que não há registro de qualquer estudo detalhado sobre o número total de mortos em

decorrência do terremoto. Todos os dados referentes ao número de vítimas são projeções feitas pela Presidência da

República e divulgados rapidamente após o terremoto, sem qualquer correspondência a um esforço de identificação

dos corpos sepultados em valas comuns. Posteriormente, em que pesem todas as dificuldades relacionadas às

insuficiências e à obsolescência dos dados demográficos em um país cujo último censo populacional foi realizado em

1970, nenhum esforço comparável ao levantamento de danos materiais foi feito e tampouco qualquer especificação

do número de vítimas por localidade. Para um balanço sobre a extensão dos danos materiais causados pelos

terremotos, ver os mapas produzidos no quadro do projeto Building Damage Assessment, realizado pelo Centro

Nacional de Informação Geoespacial (CNIGS) e pelo Programa das Nações Unidas de Aplicações Operacionais de

Satélite (UNOSAT). Através da comparação de imagens de satélite com amostragens obtidas pelo CNIGS

diretamente nas localidades afetadas, o projeto procura aperfeiçoar o nível de precisão dos dados sobre a extensão

dos danos aos edifícios, sem os diferenciar, porém, de acordo com sua utilização (edifícios públicos, escolas,

estabelecimentos comerciais, residências etc.). À medida que vão sendo produzidos, os levantamentos são

divulgados através do web site do UNOSAT (http://unosat.web.cern.ch/unosat/asp/prod_free.asp?id=52). Cabe

destacar que a sede do CNIGS também foi destruída e que esses estudos vêm sendo realizados por um grupo de

pesquisadores que se revezam ocupando em turnos três contêineres instalados no estacionamento de sua sede.

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Em que pese toda a extensão geográfica da catástrofe, foi em Port-au-Prince que o próprio

núcleo simbólico e institucional de um país altamente centralizado foi atingido: entre os

incontáveis edifícios que ruíram ou foram severamente danificados, ao ponto de somente sua

demolição permitir evitar riscos ulteriores à população, estão não somente o Palácio Nacional,

sede da Presidência e de uma série de órgãos do Poder Executivo, como também a quase

totalidade dos ministérios, o Senado, a Prefeitura, o Fórum judicial, a prisão, a catedral e todas as

igrejas mais importantes, o Hospital Central e praticamente todas as poucas clínicas públicas de

atendimento de saúde que ainda funcionavam, os museus, os teatros e cinemas, as bibliotecas e

livrarias, as estações de rádio e televisão, a companhia elétrica, a companhia telefônica e o que

ainda restava da rede de abastecimento de água, a incipiente zona industrial e toda a região

comercial do centro da cidade, incluindo o histórico Mercado de Ferro e seus arredores. A lista

poderia, enfim, ser estendida indefinidamente sem que se pudesse ainda obter uma ideia algo

precisa sobre tudo o que se perdeu quando o Haiti perdeu sua capital, muito mais do que

metaforicamente.

Nas universidades, escolas técnicas e escolas profissionais da área afetada, o impacto do

terremoto foi devastador, numa proporção muitas vezes maior do que em outros setores. Por

uma série de circunstâncias, porém, a maior parte delas dizendo respeito a uma crise estrutural e

a um projeto de reforma universitária há tempos adiado, mas também meramente ao fato de que

o semestre letivo ainda não tivesse começado num bom número de instituições, muitos prédios

universitários que ruíram tinham os portões fechados e suas salas de aula vazias. Entre as

instituições públicas, esse era o caso da Faculdade de Medicina e Farmácia, por exemplo, que

enfrentava há meses uma greve estudantil e estava vazia, ou da Faculdade de Direito e Ciências

Econômicas, cujos alunos haviam deixado o prédio principal para participar das comemorações

dos 150 anos de sua fundação. Para cada uma dessas coincidências felizes, porém, há pelo menos

um contraponto trágico, como na Faculdade de Linguística Aplicada ou na Escola Nacional de

Enfermeiras, que desabaram completamente, ceifando a vida de praticamente metade do total de

seus estudantes, de vários professores e também de seus diretores. Outras histórias combinam a

casualidade de uma coincidência pelo menos em parte feliz com a confluência de dois tipos de

brutalidade, como no caso das centenas de estudantes que saíram às ruas para protestar ao

saberem que Anil Louis Juste, professor da Faculdade de Ciências Humanas e da Faculdade de

Etnologia e ativista do movimento sindicalista camponês, havia sido assassinado naquela mesma

manhã, às portas da faculdade, por pistoleiros encapuzados. Foi a brutalidade de um assassinato a

sangue frio que fez com que outras centenas de vidas fossem poupadas.

A situação de crise e carência vivida com especial intensidade no sistema universitário

público, mas de forma igualmente candente no sistema privado, reforçava uma percepção mais

ampla de falta de perspectiva para toda uma geração de jovens, estudantes universitários ou não.

Mesmo o tímido crescimento econômico que se havia registrado nas estatísticas do país não

havia produzido mudanças sensíveis no nível de vida da população e tampouco numa

incorporação efetiva de jovens profissionais no mercado de trabalho. Para muitos, senão a franca

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maioria, a melhor saída das aflitivas constrições em seu país continuava a parecer se concretizar,

não em torno da obtenção de um diploma universitário, mas da obtenção de um passaporte e de

um visto, qualquer que fosse, para se juntar a amigos, familiares ou conhecidos na diáspora ou

então para abrir um novo caminho e garantir, com remessas periódicas de dinheiro, as chances

de sobrevivência digna e de algum tipo de acesso à educação para os familiares mais jovens. Nos

cálculos feitos por qualquer família haitiana, portanto, a educação universitária continuava a se

oferecer como investimento viável apenas se pudesse estar associada com uma possibilidade

concreta de financiamento associada à emigração ou a circuitos que invariavelmente

pressupõem um de seus polos de sustentação na diáspora.

São quando muito erráticas as perspectivas que se apresentam aos jovens haitianos no cenário

econômico e profissional dos últimos anos. Investimentos governamentais em iniciativas

independentes do direcionamento das agências internacionais são praticamente inexistentes. A

iniciativa privada é tímida e temerosa de grandes investimentos num país marcado por uma

profunda instabilidade, além de altamente concentrada na capital do país. O fortalecimento do

setor turístico, outrora importante fonte de divisas no país e há décadas um fator fundamental

do funcionamento de todas as economias da região, é atualmente no Haiti uma promessa de

futuro exaustivamente repetida e repetidamente postergada. Praticamente toda a economia rural

desse país de marcada tradição agrícola está estagnada, à espera de grandes investimentos

capazes de deter a crise ecológica que compromete qualquer esforço de aumento de

produtividade na agricultura e de restabelecimento de uma pecuária que foi praticamente

desmantelada durante ao longo dos sucessivos períodos de crise recente. Diante disso, também a

população jovem do campo não vê outra saída que não a emigração, na direção dos centros

urbanos regionais, da capital nacional ou da fronteira com a República Dominicana.

Um paradoxo tipicamente haitiano, contudo, é que esse mesmo espaço rural, estagnado e

precário, com altíssimos índices de mortalidade infantil e de analfabetismo, carências aflitivas no

que diz respeito ao acesso a serviços básicos de saúde e educação, é também em grande medida

responsável pela sustentação das receitas do estado nacional e pela manutenção dos grandes

centros urbanos. Quando se fala das províncias haitianas, não é de um universo exclusivamente

rural, pontuado por vilarejos isolados. São aglomerações de médio porte as que dominam a

paisagem dos departamentos no interior do país, cidades que receberam nas últimas décadas um

importante fluxo populacional como consequência do acelerado avanço da erosão no espaço

agrícola, da crise de mão de obra na produção de alimentos e do desmonte quase completa da

pecuária. Em decorrência da absoluta falta de investimento em sua infraestrutura e em seu

potencial econômico, encontram-se em grande medida estagnadas e deixadas à própria sorte, a

despeito do papel estruturante decisivo que desempenham em seus departamentos – e também

no nível nacional, algo que ficou ainda mais patente no período posterior ao terremoto, quando

foram responsáveis não apenas por receber os desabrigados que deixavam uma capital destruída

para trás, mas também por assegurar o abastecimento de alimentos de grande parte daquele que

permaneceram na capital.

Page 13: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

13

As sucessivas missões internacionais de promoção da democracia e de estabilização política

pouco haviam assegurado, em termos de desenvolvimento econômico efetivo, para mudar uma

situação na qual são as próprias agências e organizações internacionais – vinculadas às Nações

Unidas, a outras instâncias multilaterais, como a Organização dos Estados Americanos (OEA) ou

a União Europeia (UE), ou às grandes agências de cooperação ou ainda ao âmbito da miríade de

organizações não governamentais, que noutra parte do mundo não as há em tanto número como

ali – que persistem sendo as maiores (senão as únicas) oportunidades reais de trabalho para os

jovens profissionais qualificados. Diante desse cenário, cada estudante vê toda uma geração de

seus colegas formada em torno da perspectiva de se converter em intérpretes de seu país para

um consumo externo realizado internamente, em facilitadores do trabalho de estrangeiros num

país que não tinha outro trabalho a lhes oferecer, em mediadores de missões reproduzidas em

torno de planos e projetos imediatos, mas sem quaisquer objetivos que lhes dissessem respeito.

A presença de tropas e agências internacionais não é algo recente no país, e pelo menos desde

o início dos anos 1990, o Haiti foi objeto de presença militar internacional da ONU e dos Estados

Unidos e da presença massiva de observadores e interventores, de consultores e pareceristas, de

programadores e executores, de proponentes e promotores, de muitos esforços de coordenação

entre as mais distintas organizações internacionais. Não é como uma reação espontânea ou

súbita, portanto, que a juventude universitária haitiana faz eco a uma longa tradição nacionalista

no discurso político haitiano, que se apoia na viva lembrança da tanto da ocupação americana

(de 1915 a 1934) quanto da resistência e da dura repressão que a acompanharam para retratar a

presença internacional no país como uma intervenção tão ilegítima quanto ineficaz no sentido

de promover uma melhoria de vida da população. Para eles, os avanços alardeados pelas grandes

organizações multilaterais, pelas agências de cooperação e de ajuda humanitária dos grandes

doadores internacionais, ou por organizações não governamentais de grande visibilidade, não

são mais do que figuras de linguagem num discurso de autopromoção institucional ao qual já se

habituaram. A esmagadora maioria da população continua à margem de qualquer tipo de

atividade econômica formal e dependente de suas próprias redes de financiamento e de

circulação de mercadorias e serviços, construídas e mantidas à margem de um estado que se

confunde cada vez mais com uma instância de chancela de programas de cooperação entre

cooperantes. Some-se a tudo isso o modo ostensivo como os funcionários estrangeiros dessas

organizações de cooperação exibem um padrão de consumo e uma qualidade de vida com que

poucos haitianos ousariam sonhar possível, e teremos um quadro marcado por uma profunda

frustração.

O sistema educacional que procurava abarcar esse universo de expectativas minguantes, de

oportunidades limitadas e de polarização persistente, senão crescente, da juventude haitiana era,

antes do terremoto, também ele desigual e polarizado. De um lado, um campo de instituições

prestigiadas e reconhecidas, por entre as quais circulavam os mesmos professores e

pesquisadores mais bem qualificados do panorama acadêmico haitiano e que, congregando tanto

a UEH como outras grandes instituições particulares, atravessavam as linhas setoriais que

Page 14: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

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separavam ensino público e privado, combinando estruturação e diversificação curricular com

salas de aulas superlotadas, fortes desníveis na qualificação de seus profissionais, precárias

condições de trabalho, infraestrutura obsoleta e um movimento estudantil altamente politizado.

De outro, um campo bem menos estruturado e também bem menos conhecido, mas que também

extrapolava as divisões entre sistema público e privado, congregando em torno de um conjunto

comum de problemas (convergência curricular em torno de poucas carreiras, corpo docente

insuficiente e carente de aperfeiçoamento, altíssimas taxas de desistência) as instituições mais

precárias, mas ao mesmo tempo as mais dinâmicas do sistema, situadas na fronteira de sua

expansão geográfica pelo país e do atendimento às demandas represadas por vagas universitárias.

O primeiro polo possivelmente se paute justamente por sua centralização na capital,

compreendendo as unidades metropolitanas da UEH, as escolas e centros ministeriais de ensino

e treinamento e as grandes universidades privadas estabelecidas em Port-au-Prince a partir de

projetos de cooperação internacional implementados nos anos 1990. O segundo polo não se

ateria aos limites metropolitanos, congregando em torno de um conjunto similar de problemas

tanto instituições privadas recentemente estabelecidas na capital como centros de ensino

superior, técnico ou profissional estabelecidos há mais tempo nas províncias, tanto projetos

públicos estagnados por falta de recursos – como os Centros de Formação de Professores do

Ensino Fundamental, que nunca saíram do papel, ou as Escolas Nacionais de Enfermagem e de

Direito, que nunca saíram da precariedade – quanto ambiciosos projetos privados de expansão da

oferta de vagas para atender a demandas de descentralização, como a Universidade Internacional

do Haiti, em Léogâne, ou ousados projetos comunitários de promoção da formação universitária

em meio às comunidades rurais, como a Universidade de Fondwa.

Um conjunto formado por universidades e centros de ensino altamente valorizados pelas

elites econômicas e intelectuais nacionais e extremamente caras, seja por conta das taxas e

mensalidades no caso das privadas, seja por conta do alto custo envolvido numa educação

fundamental e secundária que garanta o acesso a uma vaga pública. Outro por instituições

relativamente mais acessíveis, voltados ao suprimento da demanda por qualificação de uma

massa juvenil em constante crescimento e em crescente urbanização. As primeiras, com

estruturas mais sofisticadas e contando, para além do aporte de taxas de matrícula e

mensalidades, com o apoio de grandes projetos de cooperação internacional. As segundas,

dependentes de taxas proporcionalmente mais baixas e voltadas para demandas mais imediatas, à

espera, contudo, de dotações orçamentárias há muito previstas e jamais executadas, quando

públicas, ou de autorização de funcionamento por parte do MENFP e da UEH, quando privadas.

Ao primeiro polo corresponderia precisamente a dezena de instituições que se congrega em

diferentes fóruns de governança universitária para discutir os rumos de todo o sistema de ensino

superior. E é justo e necessário que o façam, pois são as únicas com reconhecimento e

visibilidade suficientes para promover qualquer tipo de iniciativa conjunta referente ao universo

da pesquisa acadêmica e da constituição de equipamentos tão básicos como as bibliotecas

universitárias. Contudo, mesmo as estimativas mais generosas não atribuem a esse conjunto de

Page 15: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

15

instituições mais do que a metade do corpo discente global no país. É indispensável, portanto,

levar em conta a configuração, os problemas, limitações e demandas também do espectro de

instituições que responde pela outra metade dos estudantes universitários haitianos, uma metade

com menos recursos, por certo, mas justamente a metade que mais necessita da formação

profissional de qualidade que buscam para que mais diretamente possa atuar nas áreas mais

carentes do país.

Segundo dados levantados junto às autoridades ministeriais e universitárias haitianas que

procuram assegurar algo de regulação e supervisão em meio a um setor tão desigual e

desregulado como a educação superior haitiana, calcula-se que quase 90% (86,55%) das

instituições de ensino superior ativas do país estavam concentradas na região mais diretamente

atingida pelo terremoto. Mesmo tendo atingido faculdades, centros e institutos de forma

desigual, por todos os lados deixou um rastro de morte e desolação, que destruiu ou

comprometeu as estruturas de virtualmente todas as instituições de ensino superior. Para que o

próprio processo de reconstrução tenha condições de se consolidar por meio do envolvimento

de esforços haitianos e também para que os esforços conjuntos tenham um alcance e uma

eficácia que até o momento muito poucas entre as iniciativas internacionais de cooperação tem

tido, será necessário um grande investimento na continuidade da formação de capacidades no

Haiti. De um lado, deve-se garantir a possibilidade de que pelo menos uma parte dos estudantes

não tenha seus estudos completamente interrompidos no curto prazo. De outro, deve-se

proporcionar a reconstrução da infraestrutura e o reinício e normalização, o mais rápido

possível, das atividades universitárias nesse país.

Com base nos dados apurados para este relatório, de um total de 53.316 estudantes

universitários matriculados em instituições públicas e privadas, o número de mortos ultrapassou

a marca confirmada de 2.906, com um número ainda indeterminado daqueles que, entre os

feridos, guardarão sequelas irreversíveis e mutilações. Apesar desse número aparentemente

representar uma fração do número total de vítimas no país – que pelas estimativas mais apuradas

ultrapassa a marca dos 220.000, tendo vitimado algo em torno de 2,43% da população haitiana

total – não é descabido ressaltar que a proporção de estudantes mortos em decorrência do

terremoto no conjunto da população estudantil universitária chega a ser de uma escala quase

três vezes maior do que foi a proporção de vítimas para o conjunto da população, fazendo

perecer quase 7% (6,9%) de todos os estudantes universitários haitianos. Também entre os

professores do ensino superior, a letalidade do terremoto foi atroz: de um total de 3.598 docentes

ativos, a proporção de mortos chegou a 3,71%, com 147 vítimas fatais confirmadas. Em meio ao

corpo funcional, o número de vítimas foi proporcionalmente menor, em torno de 24

funcionários mortos.

A despeito de todos os esforços de consistência e verificação, todos os números apresentados

aqui relativos a perdas humanas devem ser considerados preliminares, na medida em que muitos

casos não foram contemplados nas listagens de vítimas elaboradas no quadro deste levantamento

por conta da impossibilidade de confirmação ou verificação, tendo sido computadas apenas

Page 16: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

16

mortes confirmadas (e, na medida do possível, identificadas), com base no cruzamento de

informações colhidas ao longo das etapas de elaboração deste levantamento junto às instâncias

administrativas das instituições de ensino superior, aos estudantes sobreviventes e aos

funcionários e vizinhos que testemunharam e acompanharam os resgates de sobreviventes e a

remoção de corpos.

Some-se a isso o fato de que praticamente toda a estrutura física das instituições universitárias

foi destruída ou severamente danificada (para além dos 72% dos edifícios completamente

destruídos ou severamente comprometidos, restam não mais do que 28% de prédios que

sofreram danos sérios, capazes de inviabilizar seu uso até uma eventual demolição ou

restauração), e o que se obtém é um quadro de inviabilização completa do funcionamento das

instituições de ensino superior no país. A situação presente não conhece precedentes na história

desse país tão combalido quanto tenaz. Mesmo ao longo de décadas de conturbada história

política, de momentos de intensa violência e de profundas crises econômicas e de

abastecimento, jamais se chegou a uma situação como a atual, em que pela primeira vez a vida

universitária está completamente paralisada no país, sem perspectivas palpáveis de uma

retomada ou de qualquer medida de normalização das atividades tão cedo.

Independente de como se avalie a dimensão da perda representada pelas mortes aqui

arroladas, a esmagadora maioria dos estudantes e funcionários está desabrigada, vivendo em

tendas ou em habitações precárias. Muitos estudantes, e muitos que já não são ou ainda não são

estudantes, escolheram os arredores das próprias instituições de ensino superior para dispor suas

tendas e abrigar seus familiares, afinal parte dos edifícios, ainda que destruídos ou danificados,

possui amplos terrenos ao redor, com acesso facilitado à água e a estruturas mínimas de

saneamento. Assim, muitas instalações universitárias reuniam condições excelentes para o

estabelecimento de campos de desabrigados. E foi no que muitas se converteram imediatamente

após o terremoto.3

Por outro lado, nas semanas posteriores ao primeiro e maior dos muitos tremores que se

3 Após um primeiro momento de atordoamento e inércia, diante da perspectiva de verem suas universidades e

faculdades tomadas por desabrigados e convertidas, para além da circunstância emergencial, em bases de apoio para

a movimentação de pessoal civil e militar de equipes humanitárias – que paulatinamente se instalavam à volta dos

campos mais centrais, para fornecer atendimento básico aos desabrigados ou simplesmente para acompanhar os

eventos – ou em depósitos de mantimentos, o que demandaria igualmente uma ocupação por forças de segurança,

muitos estudantes, assim como quadros administrativos e professores universitários se organizaram no esforço de

repelir novos avanços de campos da região central da cidade sobre os espaços universitários. Tantos eram os grupos

envolvidos nesse esforço quanto talvez as razões que os moviam: poderia tratar-se de uma defesa das instalações

universitárias diante do temor de possíveis pilhagens ou da expectativa de um retorno mais ou menos rápido das

atividades, que poderia ser eventualmente adiado por conta da presença de refugiados ou ainda simplesmente da

defesa direta de um espaço particularizado, evitando compartilhar uma situação de relativo privilégio diante de uma

população exposta à intempérie. Noutros casos, contudo, foram os próprios estudantes, professores e funcionários

das universidades e faculdades, contando com o apoio das respectivas administrações ou não, que organizaram

esforços emergenciais de atendimento à população desabrigada instalada em sua área, oferecendo serviços de

acompanhamento psicológico, de vacinação, de recenseamento da composição e das necessidades prioritárias dos

moradores dos campos, assim como iniciativas de distribuição de alimentos, medicamentos, roupas e tendas.

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17

sucederam, um número estimado de 511.405 pessoas abandonaram Port-au-Prince e se

dirigiram ao interior do país. Metade delas (253.506) procurou abrigo junto a familiares, amigos

ou colegas em localidades situadas nos Departamentos mais próximos da capital, Artibonite e

Centre. Mas a outra metade procurou chegar rapidamente às regiões mais distantes de Port-au-

Prince, dirigindo-se para a Grand'Anse, para os Departamentos do Norte e não foram poucos os

que procuraram atravessar a fronteira para a República Dominicana ou ao menos procurar

abrigo ao longo dela. Grande parte dos estudantes, como foi possível comprovar durante este

levantamento, fazia parte desses grupos de deslocados. Porém, com a destruição da capital e a

dispersão de grande parte de sua população, a infraestrutura de todo o país acabou sendo

sobrecarregada e, também nos Departamentos do interior, faculdades, escolas e centro de ensino

superior foram paralisados por se haverem convertido em campos de refugiados ou em centros

de atendimento aos desabrigados deslocados da área afetada.

Os mortos que não permaneceram soterrados foram ou queimados ou enterrados (nem todos

com a dignidade que lhes era devida), os feridos foram tratados (apesar do grande número de

amputações sumárias e de casos de gritante negligência, que causaram complicações e, não raro,

mais mortes), os deslocados pelo terremoto logo passarão a ser os deslocados pelas chuvas e

deslizamentos e seguirão por meses ainda em busca de abrigo. Porém, no caso específico do

conjunto de vítimas contemplado neste levantamento, para além dos estudantes, professores e

funcionários mortos, feridos ou desabrigados e do número total de estudantes afetados

diretamente pela destruição física de suas universidades, deve-se tomar em conta o número de

alunos já admitidos, mas que ainda não haviam iniciado seus estudos, além daqueles egressos do

ensino secundário, que seriam admitidos às universidades, faculdades, centros e institutos

superiores no período letivo subsequente. Uma projeção baseada no número anual de admissões

pode permitir conceber a dimensão desse grupo de estudantes afetados indiretamente, que

foram contemplados ao longo deste estudo como parte das vítimas indiretas do terremoto, sob a

categoria de admissões cessantes.

Por semanas após o terremoto, a ideia de uma pronta retomada das atividades acadêmicas se

concretizava unicamente sob a forma de incessantes reuniões de autoridades gestoras do sistema

universitário para discutir estimativas de perdas, demandas comuns, carências compartilhadas,

sobretudo, porém, para adiar os planos de retomada que haviam sido traçados nas reuniões

anteriores. Da parte das instituições públicas, a expectativa de retomada somente se podia apoiar

na esperança de que, diante da dimensão da tragédia e do indiscutível papel que os profissionais

com formação superior teriam a desempenhar na reconstrução, finalmente houvesse chegado a

oportunidade de realizar todos os projetos jamais realizados de uma ampla reforma universitária

e da construção de um campus central e de instalações modernas. Da parte das instituições

privadas, parecia ganhar espaço a esperança de que novos investimentos seriam feitos e de que

novos parceiros poderiam se envolver na reconstrução desse setor que era responsável pela

maior parte da oferta de vagas no ensino superior haitiano.

Contudo, os mais realistas de lado a lado já previam desde cedo que, se era certo que nada

Page 18: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

18

seria como antes, a mudança não necessariamente seria na direção promissora que acalentavam

os dirigentes universitários. Quando do retorno paulatino às atividades – para não falar de uma

normalização, pois esta certamente tardaria muito mais – nada havia que pudesse garantir o

engajamento da totalidade dos alunos nas atividades acadêmicas, em função das rupturas

biográficas engendradas pela catástrofe: famílias destruídas, reconfiguradas, novos dependentes,

novas prioridades, migração transitória tornada definitiva, seja sob a forma de um retorno à vida

provincial ou ao mundo rural ou mesmo a emigração. Para muitos, porém, o maior empecilho à

retomada mesmo rudimentar ou meramente simbólica das atividades acadêmicas está na

proximidade física com os locais de tantas tragédias vividas tão de perto, numa espécie de

síndrome pós-traumática ainda à espera de um nome, mas próxima ao que poderia ser descrito

como uma forma endêmica de fobia ao cimento, ao concreto, às construções em alvenaria que

resistiram aos tremores – um temor de estar constantemente à mercê do movimento de tudo

aquilo que, concreto, se supunha imóvel. Diante da resistência de muitos a retomar as atividades

universitárias fazendo uso dos prédios remanescentes, aquelas instituições de ensino superior

que podem contar com alguma reserva de recursos vinham adotando medidas de emergência no

sentido de pelo menos parcialmente buscar alguma normalização. Nesse esforço, buscavam

priorizar os estudantes do último período, com o propósito de garantir a conclusão do curso

daqueles a quem menos tempo faltava para se formar. Quando possível, as atividades se realizam

em tendas ou em módulos pré-fabricados, quando impossível dispor desse tipo de material,

então ao ar livre.

A recuperação será lenta e demandará um apoio que não se restrinja à comoção momentânea

que sói suceder as grandes catástrofes. Se, por um lado, é verdade que a ajuda (ainda insuficiente

e incerta) é anunciada de muitos lados – Estados Unidos, Canadá, União Europeia, República

Dominicana, Brasil etc., também é certo, por outro lado, que a reconstrução será uma tarefa de

médio e longo prazo, exigirá recursos que ultrapassam em muito as previsões já feitas para as

necessidades imediatas e se estenderá por um período muito mais longo do que preveem mesmo

os compromissos de cooperação de maior fôlego. Isso implica reconhecer que qualquer esforço

consistente e realista de uma reconstrução efetiva pressupõe considerar a consolidação de

capacidades dos próprios atores haitianos envolvidos e a expansão de suas redes de atuação.

Nesse sentido, a situação se revela ainda mais delicada e premente, pois as instituições de ensino

superior haitianas, responsáveis pela capacitação e qualificação dos quadros profissionais e

técnicos formados no país, foram duramente afetadas, muitas delas, teme-se, de modo

praticamente irreversível.

Diante desse cenário, o que este estudo pretende é apresentar um diagnóstico que permita

destacar diferenciações internas em meio ao impacto global do terremoto, mais especificamente

no âmbito do sistema de ensino superior, avaliar o efeito dos tremores sobre os recursos

humanos (mortos, feridos e deslocados, em meio aos corpos discente, docente e funcional), sobre

os recursos físicos das instituições haitianas de ensino superior (instalações, equipamentos e

acervos total ou parcialmente destruídos, danificados ou comprometidos) e sobre os recursos

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19

documentais (arquivos e registros escolares perdidos). Espera-se que este diagnóstico, sendo

publicado, divulgado e distribuído por diversos meios, seja acessível ao grande público, e que

possa oferecer às distintas instâncias comprometidas com a reconstrução das áreas afetadas pelo

terremoto no Haiti subsídios para sustentar esforços eficazes de reconstrução, cooperação,

intercâmbio e de retomada das atividades das instituições de ensino superior do país.

Procura-se inicialmente sumariar as constatações decorrentes deste esforço de levantamento

de dados, para que em seguida se apresentem recomendações gerais a respeito da situação

presente do ensino universitário no país e da retomada de suas atividades, assim como

recomendações mais específicas, referentes a programas a serem elaborados ou já em curso de

implementação no quadro do esforço de reconstrução das instituições de ensino superior

haitianas, em especial no que diz respeito ao envolvimento de instituições públicas brasileiras.

Um primeiro conjunto de recomendações diz respeito à atuação mais imediata e mais premente

junto às instituições haitianas de ensino superior. Como as demais, estas recomendações foram

elaboradas não somente a partir do diagnóstico que compõe o fulcro deste relatório, mas

também tendo como referência demandas consistentes que puderam ser registradas e verificadas

ao longo dos últimos anos junto a distintos setores da sociedade haitiana e junto aos atores mais

diretamente envolvidos na elaboração de avaliações, análises e propostas relacionadas aos

problemas e desafios do ensino superior, do ambiente de pesquisa, dos projetos de cooperação e

intercâmbio, assim como do universo acadêmico mais amplo no país.

Este estudo incorpora, desenvolve e aprofunda pontos do estudo preliminar “O impacto do

terremoto de 12 de janeiro de 2010 sobre as instituições haitianas de ensino superior”, discutido

com colegas haitianos e brasileiros e apresentado, em 21 de fevereiro de 2010, às instituições

envolvidas na elaboração e na execução do Programa Pró Haiti. Esse estudo preliminar serviu

igualmente para subsidiar a preparação do acordo de cooperação técnica e acadêmica assinado

entre os governos brasileiro e haitiano, no quadro da visita do Presidente Luís Inácio Lula da

Silva ao Haiti, em 25 de fevereiro de 2010. Dados detalhados sobre a extensão das perdas

humanas e dos danos materiais constantes do estudo preliminar foram discutidos também no

seminário de validação da pesquisa realizado em 26 de fevereiro de 2010 no Centro Cultural

Haitiano-Brasileiro, em Pétionville, e em reunião com os funcionários e pesquisadores da

DESRS/ MENFP, realizada no mesmo dia.

Para permitir uma compreensão mais precisa do cenário de destruição quase total, de paralisia

generalizada e de aprofundamento radical de uma crise institucional que já vinha se

consolidando e espalhando pelo sistema universitário haitiano, o diagnóstico detalhado do

impacto do terremoto nas instituições acadêmicas é precedido de um item que procura oferecer

uma breve introdução histórica do ensino superior no Haiti, de sua evolução mais recente e um

retrato de sua situação no momento imediatamente anterior ao dia 12 de janeiro de 2010. Em

seguida a uma breve apresentação das escolhas metodológicas que orientaram a coleta de dados e

discussão de resultados preliminares, é oferecida uma aproximação quantitativa aos efeitos do

terremoto especificados por área e instituição. Sempre que possível, quadros, gráficos e

Page 20: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

20

fotografias são apresentados ao longo do relatório para permitir uma compreensão mais aguçada

dos efeitos do terremoto. Ainda nesse segundo item, referente à especificidade do impacto,

esboça-se uma avaliação mais qualitativa dos efeitos da destruição, na tentativa de incorporar as

expectativas e demandas de estudantes e professores diretamente afetados neste momento

extremamente difícil de seu percurso acadêmico e de sua atuação profissional no ensino superior

haitiano. Entre os anexos, são apresentadas as listagens das instituições públicas e privadas

haitianas de ensino superior recenseadas no curso deste levantamento (incluindo informações

sobre sua estrutura departamental, acronímia, ano de fundação, localização e situação

homologatória), assim como os questionários que foram utilizados tanto na coleta quantitativa

de dados quanto na abordagem qualitativa das expectativas e demandas dos estudantes,

professores e funcionários afetados pelo terremoto.

Page 21: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

21

Sumário das constatações

Pela primeira vez na história do Haiti, as instituições de ensino superior em geral e, em

particular, a Universidade de Estado do Haiti (UEH) ameaçam fechar suas portas por um período

longo o suficiente para comprometer a formação de toda uma geração de profissionais. Os efeitos

dissociativos que essa quebra na continuidade da cadeia de transmissão de conhecimentos e

capacidades pode produzir sobre a estabilidade e o funcionamento dos circuitos econômicos e

das redes de solidariedade na sociedade haitiana somente podem começar a ser aventados.

Se é fato que se trata de um sistema universitário com muitas deficiências e limites, que já

enfrentava uma situação de crise paralisante no período imediatamente anterior ao terremoto,

não é menos verdade que, ao longo de décadas, foi capaz de formar quadros imprescindíveis para

o funcionamento das instituições do país e que atuaram com destaque não apenas em seu

próprio país, mas para além dele também, e não foram poucos os profissionais formados nas

instituições haitianas que encontraram espaço de trabalho em países como os Estados Unidos, o

Canadá, a França, a Bélgica, além de vários países africanos e latino-americanos.

A UEH foi a primeira e continua sendo a única universidade pública em Port-au-Prince,

tendo sido fundada em 1960, congregando faculdades que já funcionavam autonomamente há

várias décadas, a mais antiga delas, a de Direito, desde 12 de janeiro de 1860. Tradicionalmente,

essa universidade desempenhou um papel institucional de imenso relevo na história política e

social haitiana, representando um centro incontornável de legitimação ou deslegitimação de

iniciativas governamentais e uma referência incontestável na formulação e implementação de

políticas públicas e formação de quadros qualificados. Até o fim dos anos 1980, garantiu a

formação de quadros profissionais e de gerações de intelectuais, além de assegurar a conexão

entre distintas gerações de profissionais e técnicos de nível superior. Mesmo com os seriíssimos

problemas que maculam o sistema de ensino haitiano, sempre houve uma concorrência muito

acirrada pelas exíguas vagas oferecidas pela UEH.

A Universidade de Estado jamais foi capaz de atender a toda a demanda por acesso ao ensino

superior no país e, a partir do final da década de 1980, somou-se a ela no panorama do ensino

superior haitiano um grande número de instituições privadas. Com a democratização posterior

ao fim da ditadura dos Duvaliers, o sistema universitário haitiano foi ampliado e diversificado,

com a abertura para a instalação de instituições privadas de ensino superior. Com essa abertura e

o enorme represamento da demanda educacional que havia nesse período, ocorreu uma explosão

no número de universidades, faculdades, escolas superiores e centros educacionais, sem qualquer

possibilidade de controle ou fiscalização por parte do Ministério da Educação Nacional e

Formação Profissional ou de qualquer outra instância institucional.

Foi constatada assim uma diversidade imensa de perfis institucionais e de níveis de qualidade

no ensino e na pesquisa em meio à miríade de instituições de ensino superior ativas no país,

desde centros de pesquisa e formação que não ficavam a dever em nada a seus correlatos

regionais, passando por instituições experimentais que procuravam fazer frente a desafios

Page 22: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

22

específicos da paisagem social haitiana, até escolas que enfrentavam cotidianamente dificuldades

insuperáveis ao tentar oferecer a seus alunos mesmo os serviços educacionais mais básicos. Nesse

cenário plural e desregulado, mesmo a Universidade de Estado, reconhecidamente a maior, a

mais antiga e a mais prestigiada das universidades haitianas, enfrentava sérios problemas como

aqueles que afligiam as instituições particulares de ensino superior.

Problemas comuns ao sistema público e privado de ensino superior no Haiti

Como de resto todas as universidades privadas,

tampouco a UEH possuía um campus central e as

faculdades se encontravam dispersas por toda a

cidade, obrigando os alunos a deslocamentos muito

dispendiosos, em termos de tempo e recursos, através

de uma cidade cujos engarrafamentos (já mesmo

antes de o terremoto destruir ou bloquear grande

parte das principais ruas, avenidas e estradas) não

ficavam em nada a dever a qualquer outra caótica

metrópole latino-americana.

Havia uma situação de crise interna em várias

instituições, mas particularmente aguda na UEH,

devido à mobilização dos estudantes em favor de uma

plataforma ampla de reivindicações de reforma

universitária e relacionadas com a política trabalhista

do governo nacional, que, gerando um impasse de

longa duração, ocasionou a interrupção das aulas em

várias faculdades e não poucos enfrentamentos

diretos entre estudantes, funcionários, professores e

administradores e mesmo em alguns casos com a

polícia e capacetes azuis da MINUSTAH (Missão das

Nações Unidas para a Estabilização do Haiti).

Marcada sub-representação e elevada especialização

involuntária feminina em meio ao corpo discente de

praticamente todas as áreas, com a exceção da

enfermagem. A participação das estudantes nos

cursos superiores, seja em outras áreas da saúde, seja

em cursos técnicos ou das ciências humanas, tem-se

mantido extremamente baixo ao longo dos anos, e

isso apesar de um desempenho escolar equiparável

(ou mesmo melhor, diriam muitos) ao dos seus

colegas. Um problema como esse denuncia a

persistência de fatores econômicos e de segurança

envolvidos na decisão das mulheres de deixar o

sistema escolar antecipadamente ou de optar em

meio a um espectro muito estreito de carreiras.

Jamais foi criada uma biblioteca universitária central

e o material bibliográfico utilizado pelos alunos de

todas as áreas era extremamente precário e obsoleto,

fazendo com que tivessem de despender

consideráveis recursos na aquisição de livros

importados. A Biblioteca Nacional não chegava a

representar uma alternativa viável, na medida em

que, apesar da boa vontade de seus funcionários,

contava com instalações e equipamentos muito

precários, com um acervo fragmentário e

desordenado e com coleções que, mesmo antes do

terremoto, estavam armazenadas em péssimas

condições, correndo o risco de serem danificadas.

A pesquisa e a formação de professores era uma

incumbência relegada ao segundo plano por

instituições quase inteiramente voltadas para o

ensino, reproduzindo geração após geração uma

escassez crônica de professores qualificados e de

pesquisadores em número suficiente para sustentar

atividades vitais de investigação, especialmente em

áreas estratégicas para a reconstrução do país e o

desenvolvimento de sua economia, como a gestão de

recursos ambientais, produção de alimentos, manejo

da infraestrutura etc. A carência na limitação de

formação de quadros voltados para a pesquisa na área

das Ciências Humanas se reflete na fragilidade ou

mesmo inexistência de indicadores sociais e

econômicos confiáveis, o que implica numa imensa

dificuldade para a formulação de políticas públicas.

Page 23: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

23

Problemas agudos decorrentes do terremoto

Várias faculdades e mesmo universidades inteiras desabaram inteiramente, fazendo perecer,

ferindo, mutilando ou desalojando um grande número de estudantes, professores e funcionários.

Praticamente não existem prédios universitários que não tenham sido afetados pelo terremoto.

Muitos daqueles que não ruíram completamente terão de ser demolidos ou terão de passar por

uma restauração custosa e prolongada. E enquanto não forem demolidos ou restaurados, por

conta dos riscos que representam, os edifícios destruídos ou danificados inviabilizam o uso do

espaço de vários dos campi. Vários outros problemas decorrentes do terremoto se somam a isso.

Muitos dos professores deixaram a cidade ou mesmo

o país e pelo menos metade dos estudantes que

sobreviveram ao terremoto deixou a capital rumo ao

interior do país, à procura de abrigo e apoio junto a

familiares em outras cidades e em pequenas

localidades rurais.

Praticamente se esgotaram os recursos das estruturas

de suporte familiar que asseguravam as condições

mínimas para que os estudantes pudessem se manter

na capital enquanto frequentavam as universidades.

Não existem espaços alternativos suficientes que

possam ser utilizados para a realização de atividades

acadêmicas em caráter provisório, uma vez que

praticamente todos os espaços públicos foram

convertidos em campos de refugiados ou em centros

de atendimento de saúde ou distribuição de

alimentos.

Na medida em que a maioria das instituições ainda

não havia digitalizados seus arquivos (incluindo o

próprio Ministério da Educação Nacional e da

Formação Profissional), o terremoto provocou

também a destruição de grande parte dos arquivos e

registros escolares; os que não foram destruídos

encontram-se numa situação caótica, e deverão

receber um tratamento especial no sentido de

promover sua reorganização.

O terremoto não afetou apenas as instituições de

ensino superior localizadas na capital e em cidades

mais próximas, como Fondwa, Léogâne e Jacmel: boa

parte das escolas de província vinculadas à UEH ou a

universidades privadas com sede na capital tinham

seu corpo docente formado por profissionais que,

estabelecidos e ativos em Port-au-Prince, foram

diretamente atingidos pelo terremoto e encontram-se

impedidos ou limitados no que diz respeito às

possibilidades de deslocamento e de retomada dos

trabalhos nas escolas provinciais. Da mesma forma,

os alunos dessas escolas, embora matriculados em

instituições em suas cidades de origem, deslocavam-

se à capital para realizar parte da sua formação, o que

também foi abruptamente interrompido. Pode-se

supor que as atividades das instituições de ensino

superior localizadas em capitais provinciais como Les

Cayes, Hinche ou Gonaïves, também tenham sido

interrompidas.

Parece haver uma predisposição e algum esforço no

sentido de retomar algumas atividades em tendas e

em módulos pré-fabricados; contudo, serão imensas

as dificuldades desse tipo de iniciativa, desde a falta

de água e eletricidade junto às instalações provisórias

até a presença massiva de refugiados em boa parte

dos terrenos anteriormente ocupados por instituições

de ensino superior.

Page 24: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

24

Danos particularmente graves a instituições de ensino superior

Para além de toda a imperiosa necessidade de combinar à reconstrução uma ampla reforma

do sistema universitário haitiano, podemos destacar alguns problemas bastante específicos

gerados pelos danos causados pelo terremoto.

A morte sob os escombros de turmas inteiras de

estudantes em áreas de especialização para as quais

somente havia uma instituição pública de formação,

como no caso da Faculdade de Linguística Aplicada

da UEH ou da Escola Nacional de Enfermeiras de

Port-au-Prince.

A inviabilização das atividades em instituições

altamente estratégicas para os esforços de

reconstrução, como a Escola Nacional de Geologia

Aplicada e o Centro Piloto de Formação Profissional,

onde se formavam profissionais das áreas mais

diversas, como a construção civil, mecânica,

serralheria, carpintaria etc.

A destruição de praticamente toda a infraestrutura de

atendimento médico e cirúrgico, com o colapso da

Faculdade de Medicina e Farmácia e com a iminente

e necessária demolição da quase totalidade dos

edifícios do Hospital Central, que foram seriamente

danificados, e também de outras unidades da UEH,

como a Faculdade de Ciências, que formava os

engenheiros, e a Escola Normal Superior, que

formava professores para os níveis médio e superior.

A destruição de todo o material para o atendimento

ambulatorial na única clínica odontológica pública na

capital, que funcionava e tenta continuar

funcionando na Faculdade de Odontologia da UEH.

São apenas alguns casos para realçar como o terremoto afetou inclusive as condições de

formar os profissionais que poderiam fazer frente aos desafios da reconstrução. Como esses, há

muitos outros. Assim, neste momento (e pelo futuro próximo que se pode vislumbrar), aquilo a

que assistimos é um completo abandono de toda uma atividade e uma camada social e, com a

desmobilização de estudantes e professores por conta da inviabilidade de retomadas das

atividades curriculares, um novo cenário se anuncia, de êxodo de estudantes da capital, de

desmobilização das redes de suporte aos estudantes e destes a toda uma série ampla de atividades

comunitárias e de prestação de serviços em que estão normalmente inseridos.

Com o prolongamento dessas circunstâncias, que chegam mesmo a eclipsar os momentos

mais paralisantes de crise política ou econômica no país (frequentes nas últimas décadas),

podemos estar diante de um processo de retração e atrofia de toda a classe estudantil. E esses

jovens, qualificados e capazes, mas sem perspectivas de poder concluir seus estudos, fatalmente

terão de inventar formas novas de garantir sua inserção social, e não poucos serão recrutados

pelos setores informais e ilegais, que são os únicos a prosperar quando tudo o mais míngua.

Apesar de todas as dificuldades e problemas enfrentados por todos os envolvidos no

funcionamento das universidades haitianas, é preciso reconhecer que, como em qualquer outra

sociedade moderna, o acesso ao ensino superior representa a oportunidade de assegurar um

posto de trabalho qualificado e de desempenhar um papel de relevo em circuitos de difusão do

conhecimento, da informação e da tecnologia. Cientes da envergadura do papel que

desempenham, os estudantes haitianos e suas famílias não medem esforços para iniciar e levar a

bom termo seus cursos universitários, muitos deles optando, em vista do papel incipiente da

pesquisa na paisagem acadêmica, por estender seus esforços a duas ou mais formações

Page 25: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

25

simultâneas ou sucessivas. Mesmo no caso dos estudantes das instituições públicas e tendo em

vista as enormes dificuldades em obter um emprego no país, são as famílias e os amigos que têm

de assumir pelos estudantes os ônus de manutenção daqueles que se dirigem à capital para

estudar: moradia, alimentação, vestuário, transporte, material e taxas escolares, livros e tudo o

mais. Assim, não só a destruição das estruturas físicas das instituições de ensino superior, mas

também a retração econômica e a canalização dos fundos de cooperação para ações de

emergência, que invariavelmente relegam ao segundo plano o ensino em geral e o ensino

superior em particular, somam-se às dificuldades perenes da estrutura universitária haitiana para

criar um quadro de poucas esperanças de uma retomada minimamente efetiva das atividades

curriculares.

Tudo isso, somado às dificuldades institucionais de coordenar ações entre distintos setores

envolvidos no sistema de ensino superior, produz um cenário sombrio para a recuperação das

atividades acadêmicas no país caso não sejam mobilizados recursos e parceiros de fora do país.

Os danos foram consideráveis e os recursos são escassos. Seria uma avaliação completamente

desatenta à realidade haitiana presente e inteiramente descolada de uma história de catástrofes e

crises sucessivas no país, que demonstram como os já exíguos recursos que se acreditam

disponíveis para a reconstrução acabam sendo consumidos na manutenção das próprias

estruturas internacionais de cooperação ou se perdendo em complexas e obscuras malhas de

informalidade, desperdício e corrupção em meio às combalidas instituições haitianas. Pela

primeira vez na história do Haiti, as instituições de ensino superior em geral e, em particular, a

UEH ameaça fechar suas portas por um período longo o suficiente para comprometer a formação

de toda uma geração de profissionais. Os efeitos dissociativos que essa quebra na continuidade

da cadeia de transmissão de conhecimentos e capacidades pode produzir sobre a estabilidade e o

funcionamento dos circuitos econômicos e das redes de solidariedade na sociedade haitiana

somente podem começar a ser aventados. No entanto, absolutamente nada do que se pode ver

nos esforços recentes de mobilização e canalização de recursos ao Haiti permite prenunciar

qualquer coisa diferente do que vinha sendo realizado no período anterior à catástrofe.

Page 26: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

26

Problemas crônicos no relacionamento entre instituições haitianas e internacionais

Caráter excessiva e desnecessariamente militarizado

da presença internacional no país, com uma

priorização injustificada dos recursos para questões

de segurança, em franco detrimento das demandas e

necessidades de educação e infraestrutura.

Incompetência técnica, nenhum compromisso com

resultados e gritante ignorância da realidade local por

parte das agências internacionais e clientelismo e

passividade nas instituições locais haitianas.

Distância intransponível em termos de comunicação,

prioridades e configuração funcional entre o universo

institucional da cooperação internacional e as

instituições locais haitianas.

Irresponsabilidade política e funcional de todos os

agentes nacionais e internacionais envolvidos na

implementação de ações e programas de intervenção,

o que favorece amplamente o desperdício de

recursos, a corrupção e a incompetência.

Por tudo isso, o que se pode esperar e temer é que, passado este primeiro semestre de 2010 em

que certamente nada ocorrerá nas faculdades e universidades haitianas, tenha início uma fase de

rotinização das novas circunstâncias de miserável precariedade a que foram lançados os

estudantes, professores e funcionários.

Inicialmente, houve uma ampla mobilização voluntária dos estudantes da capital para se

envolver na remoção de escombros, no resgate de mortos e feridos e atendimento às vítimas do

terremoto, na organização e no manejo de campos de refugiados, no acompanhamento das

incipientes ações de implementação de novas diretrizes institucionais. Contudo, num ambiente

de tal forma marcado por uma extrema escassez de recursos, mesmo iniciativas assim dependem

de apoio externo ao universo das universidades. Somente com o envolvimento de parceiros

comprometidos com a reconstrução das instituições é que será possível fazer frente às extremas

dificuldades atuais, sem com isso reforçar os problemas crônicos do sistema.

São inúmeras as áreas em que a comunidade acadêmica e científica brasileira teria muito a

oferecer, tanto em termos de envolvimento na formação de estudantes haitianos, que poderiam

se beneficiar de bolsas de estudo para concluir sua formação em instituições brasileiras ou para

dar continuidade a eles em programas de pós-graduação, como em termos de cooperação mais

direta, com o envio de grupos de pesquisadores, professores, técnicos e especialistas para se

envolverem diretamente com iniciativas de reconstrução e para orientarem programas

incipientes de formação local, adaptados à premência das novas necessidades geradas pelo

terremoto, que aos poucos vão sendo concebidos e implementados. Algumas áreas se destacam

como mais carentes de apoio neste momento.

Page 27: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

27

Áreas de carência mais aguda

Formação de pessoal de saúde (especialmente nas

áreas de cirurgia, enfermagem e odontologia, mas

também com atenção especial a programas de saúde

pública preventiva similares às iniciativas de

formação de agentes de saúde).

Conservação, manejo e recuperação de solos e de

recursos hídricos.

Engenharia de alimentos, ciências do meio ambiente,

agronomia, zootecnia.

Engenharia civil.

Formação técnica e profissionalizante, especialmente

em áreas vitais para a construção civil.

Linguística.

Destaca-se igualmente a necessidade de consolidação de uma instituição de referência para o

intercâmbio cultural entre o Brasil e o Haiti, com o recrutamento e a formação de pessoal

qualificado para garantir a continuidade e a eficiência das iniciativas de cooperação, sem o

paternalismo, o unilateralismo e o amadorismo que tão insistentemente tem maculado tais

iniciativas, não importando se as boas intenções vêm do Brasil ou de qualquer outro país.

Page 28: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

28

Recomendações para ação imediata junto às instituições de ensino superior

Recomendações gerais

Instâncias de gestão universitária no Haiti e circulação de informação

Um número não desprezível de avaliações e iniciativas vem sendo discutidas por distintas

agências de cooperação e parceiros de diferentes nacionalidades junto às instituições de ensino

superior haitianas. Em geral, trata-se de debates descoordenados e que parecem se esgotar no

próprio debate, não havendo um acompanhamento global das mudanças em curso e nem sequer

a superação das fases iniciais em que se elaboram pautas de intenções, expressas em infindáveis

seminários e encontros. Como não poderia deixar de ser, o resultado é paralisia, sobreposição de

propostas e iniciativas que raras vezes saem do papel, mal uso de recursos, desconsideração das

necessidades efetivas e emergenciais do quadro docente e discente das instituições de ensino

superior, favorecimento de conflitos entre instâncias de gestão do sistema educacional haitiano e

enfraquecimento das instâncias de gestão do campo do ensino superior no Haiti.

As instâncias responsáveis pela gestão do ensino superior, muitas vezes com incumbências

não somente consultivas, mas inclusive normativas e administrativas, que se sobrepõem –

Direção da Educação Superior e da Pesquisa Científica do Ministério da Educação Nacional e da

Formação Profissional (DESRS/ MENFP), Reitoria da UEH, Conferência dos Reitores e

Presidentes das Universidades do Caribe (CORPUCA), Grupo Setorial da Educação da

Presidência da República (GSE) etc. –, jamais chegaram a se consolidar como instâncias

operantes e já estavam fragilizadas antes mesmo do terremoto de 12 de janeiro de 2010. Após o

terremoto, a situação se deteriorou ainda mais, com a morte de quadros, o colapso das próprias

instalações do MENFP, da Reitoria da UEH, da CORPUCA e dos órgãos executivos situados

junto ao Palácio Presidencial, assim como a perda da quase totalidade dos arquivos relacionados

ao funcionamento das instituições de ensino superior.

A intervenção junto ao ensino superior no Haiti deve, portanto, ser realizada tendo em conta

toda a diversidade interna, as sobreposições e mesmo contraposições em meio a esse campo de

instâncias gestoras. As agências de fomento internacionais devem estar atentas a esta diversidade

interna e aos possíveis conflitos disso decorrentes. Mas devem sobretudo ir além de uma mera

retórica ou da assinatura de protocolos, realizando constantemente avaliações conjuntas das

iniciativas em curso, corrigindo erros, superando disputas desnecessárias, fortalecendo instâncias

locais com incumbências claramente definidas e promovendo uma relação dinâmica entre os

distintos polos do que devem ser cooperações bilaterais ou multilaterais.

Com o propósito de evitar a sobreposição de iniciativas e enfatizar as necessidades reais das

instituições acadêmicas haitianas, é conveniente um acordo com outras organizações

internacionais que estão estabelecendo parcerias e destas com as instâncias haitianas no sentido

Page 29: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

29

de criar uma instância minimamente centralizada, que contasse com legitimidade e aceitação

tanto junto às instituições públicas de ensino, como junto às instituições privadas e junto às

agências internacionais de cooperação, e que pudesse servir de referência para a avaliação e a

análise das iniciativas em curso no âmbito da educação superior no Haiti.

Essa instância, uma espécie de Observatório do Ensino Superior, teria um caráter

predominantemente consultivo. Contando, porém, com a participação de membros chave de

todas as outras instâncias gestoras, poderia atuar também no sentido de elaborar avaliações e

propor mudanças normativas no ambiente gestor do sistema universitário. Seu objetivo seria,

portanto, não de gestão, mas de coleta, sistematização e disponibilização de dados referentes ao

campo do ensino superior no Haiti. Seu trabalho favoreceria a elaboração de diagnósticos cujo

propósito seria apoiar atuação no longo prazo, na formação de quadros e na recuperação e

criação de estruturas de apoio e acompanhamento, daria suporte às instâncias haitianas na

realização de estudos mais aprofundados sobre a situação atual e sobre os desafios futuros do

ensino superior no país, além de apoiar a criação de um sistema de avaliação do sistema de

ensino superior no Haiti.

Recomendações específicas ao Programa Pró Haiti

Cooperação bilateral na área do ensino superior

Em consonância com um projeto de cooperação

bilateral realmente dinâmico, o programa deve

prever a vinda de estudantes, técnicos e professores

haitianos para o Brasil, bem como a ida ao Haiti de

quadros técnicos, profissionais e acadêmicos

brasileiros em distintas fases da sua formação.

Considerando a precariedade dos equipamentos

universitários no Haiti, qualquer forma de

intercâmbio deve levar em conta a necessidade de

apoiar as instituições haitianas no que diz respeito à

recomposição emergencial de sua infraestrutura

física, ainda que em caráter provisório, para que

quaisquer atividades acadêmicas possam ser

desenvolvidas imediatamente.

As linhas de apoio devem ser estabelecidas

diretamente com alunos e professores, evitando a

criação de uma relação privilegiada de parceria com

uma ou mais instituições de ensino, pesquisa ou

cooperação, públicas ou privadas, governamentais ou

não governamentais; o favorecimento institucional

de parcerias nesses termos involuntariamente

favoreceria suspeitas de clientelização do programa.

Cada etapa do programa deve ser objeto de reflexão,

validação e avaliação sistemáticas, que devem

envolver profissionais de ambos os países e

representantes das comunidades acadêmicas

envolvidas.

Page 30: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

30

Implementação do programa de bolsas

A concessão de bolsas de graduação deve ser

compreendida como parte de um plano mais amplo

de formação, privilegiando:

(a) aqueles que estavam nas fases conclusivas do

curso superior;

(b) aqueles que revelem uma propensão à pesquisa e

ao envolvimento na formação continuada de novos

quadros;

(c) as áreas mais afetadas pelo terremoto;

(d) as áreas que terão um impacto mais imediato e

duradouro no processo de reconstrução.

O programa não deve ser implementado de uma só

vez, deve ser escalonado temporalmente e não deve

se esgotar com apenas um ciclo de intercâmbio: cada

leva sucessiva de beneficiários deve participar na

implementação das etapas ulteriores (seleção de

novos candidatos, avaliação do programa, divulgação

das experiências adquiridas, recrutamento para

atividades de tutoria e docência etc.), incorporando

os beneficiários em sua própria reprodução.

Aqueles contemplados pelo programa devem poder

se inserir em outras iniciativas do próprio sistema

universitário brasileiro (pós-graduação, grupos de

pesquisa, cursos técnicos etc.), fazendo valer assim o

seu esforço em meio a um processo mais amplo e

duradouro de formação, explicitando aos envolvidos

que sua participação representa não o resultado de

uma iniciativa episódica, mas a oportunidade de

adentrar uma trajetória acadêmica e profissional

marcada pela circulação entre os dois países.

Processo seletivo

O processo seletivo deve ser o mais transparente e

democrático possível, evitando o favorecimento de

redes pessoais e institucionais já existentes e que já

são tradicionalmente favorecidas.

Todas as etapas do programa devem ser gratuitas.

Deve contar com o apoio das redes de alunos para sua

divulgação, com anúncios no rádio e promoção de

redes de comunicação via telefone celular: boa parte

dos alunos está dispersa entre campos de refugiados e

casas de parentes e amigos, na capital e no interior.

Qualquer mecanismo seletivo deve ter presente a

dificuldade dos estudantes para reunir documentos

referentes ao seu histórico escolar e mesmo outra

sorte de documentos (certidões de nascimento,

carteiras de identidade e, sobretudo, passaporte).

O processo seletivo deve ser uma oportunidade para

envolver no programa intelectuais e profissionais

reconhecidos e prestigiados no Haiti, o que garantirá

não apenas idoneidade ao processo, como também

uma maior repercussão do programa.

Deve ser implementado com prazos de inscrição

razoáveis que tenha em conta as dificuldades próprias

de um país nas condições do Haiti após o terremoto.

Para fins de comprovação do desempenho acadêmico

pregresso, o histórico escolar deve poder ser

apresentado parcialmente, substituído ou

complementado por um memorial elaborado pelo

próprio estudante, por um programa de estudos, um

projeto de pesquisa, cartas de recomendação; em

razão do impacto diferenciado do terremoto, a

documentação que embasa as candidaturas não pode

ser objeto de uma padronização com base em

critérios burocráticos abstratos e homogêneos.

O processo seletivo não deve, de forma alguma, ser

condicionado à renda mínima do candidato, o que

excluiria de entrada mais de 90% dos possíveis

estudantes, reproduziria a desigualdade local e

acabaria por apoiar uma camada ínfima que já circula

internacionalmente e que não necessariamente

retornará ao país após a formação.

Page 31: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

31

Etapas da seleção

1. Triagem (pré-seleção):

Uma primeira seleção pode incorporar como critérios

o desempenho acadêmico pregresso, um plano de

estudos e uma entrevista.

A impossibilidade de comprovação de documentos

deve poder ser compensada pela apresentação de um

memorial bem fundamentado, que conte com a

chancela de professores e cartas de recomendação.

A entrevista deve ser realizada por um colegiado que

conte com a presença de quadros brasileiros e

haitianos e deverá ser feita em kreyòl, caso assim

deseje o candidato, sendo a única língua falada com

desenvoltura por todos os haitianos; uma entrevista

em francês pode condicionar a demanda a uma

camada de elite; no caso dos participantes brasileiros

no colegiado não terem conhecimento do kreyòl, intérpretes devem ser mobilizados;

2. Treinamento (seleção final em ambiente de trabalho acadêmico binacional)

Uma segunda etapa da seleção deve ocorrer no

formato de uma oficina com a duração de alguns dias,

envolvendo seminários, grupos de trabalho e

discussão.

O desempenho de cada candidato pré-selecionado

seria avaliado no interior de uma equipe

multicultural que poderia, progressivamente,

incorporar aqueles que retornam do Brasil para o

Haiti.

Seriam beneficiados por essas atividades tanto os

candidatos haitianos quanto os pesquisadores, pós-

doutorandos e docentes brasileiros envolvidos no

programa.

O CCHB poderia ser o espaço adequado para a realização das etapas de triagem e treinamento

no processo de seleção, mas as condições adequadas para tanto devem ser reunidas, com a

dedicação exclusiva das dependências do Centro para as atividades de seleção durante o período

necessário, com garantias de não interferência da parte de outras instâncias institucionais do

governo brasileiro (a embaixada e os destacamentos militares de segurança do pessoal

diplomático) que possam ainda estar compartilhando o espaço com o Centro em caráter

provisório.

Centro Cultural Haitiano-Brasileiro

Dado o realce a ser obtido pelo Centro Cultural Haitiano-Brasileiro como instância de

referência em todos os processos de cooperação e intercâmbio acadêmico e científico a serem

implementados no quadro do Programa Pró Haiti, é de suma importância que algumas de suas

carências sejam levadas em consideração ao se contemplar seu envolvimento nessas iniciativas

de cooperação bilateral:

Suas atividades devem ocorrer no âmbito de um

espaço marcadamente próprio, distante das

implicações em termos de segurança envolvidos pela

partilha do espaço com instalações consulares ou

militares.

Na medida em que o caráter da presença brasileira no

Haiti é múltiplo e objeto de debate e polêmica,

iniciativas acadêmicas devem ser pautadas por um

alto grau de autonomia.

A seleção de pessoal para essa instituição chave deve

refletir suas novas atribuições e não deve levar em

conta somente a demanda difusa pelo ensino não

especializado da língua portuguesa para estrangeiros,

mas principalmente a seleção e constituição de uma

equipe de quadros de reconhecida formação

acadêmica, cientifica e cultural para responder as

demandas do amplo leque de atividades previstas no

programa de cooperação.

Page 32: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

32

Apoio às instituições universitárias que receberão professores brasileiros no Haiti

Mesmo antes do início da implementação da fase do

programa que envolveria o envio de professores e

pós-doutorandos brasileiros para atuarem junto às

instituições universitárias haitianas, deve ser

oferecido apoio material direto às faculdades, escolas

e centros de formação que serão contemplados no

sentido de favorecer o reinício imediato de atividades

de caráter acadêmico, mesmo em instalações

provisórias, em alguns casos com a construção de

instalações emergenciais nos terrenos que rodeiam os

edifícios destruídos (como no caso da Faculdade de

Ciências Humanas, por exemplo). Essas instalações

emergenciais poderiam ser construídas, a partir de

contêineres equipados com escotilhas de iluminação

e ventilação ou com ar condicionado, para abrigar

laboratórios, arquivos e atividades de pesquisa e

administrativas, e a partir de tendas para abrigar salas

de aula.

Ao longo de todas as iniciativas de intercâmbio, deve

ser oferecido apoio ao esforço de consolidação

daquele que virá a ser o novo campus central da

UEH, em Damien, na área atualmente ocupada pela

Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária.

Para a retomada das atividades acadêmicas e para a

congregação de alunos e professores nos campi,

devem ser contempladas condições mínimas de

abastecimento de eletricidade, alimentos, água e

comunicações na área para tanto destinada.

Os meios de comunicação privilegiados para a

circulação de informações referentes a todas as etapas

iniciais do projeto devem ser o rádio, para a

divulgação, e o telefone celular, para a recepção de

informações, pois correspondem no momento atual,

e continuarão a corresponder no futuro próximo, aos

meios de comunicação com maior alcance e com

maior facilidade de acesso.

Acompanhamento e apoio aos estudantes selecionados para o programa de bolsas

O período envolvido entre a seleção, o treinamento e

o embarque é marcado por grande ansiedade; durante

todas essas fases, os alunos devem ter a possibilidade

de dirigir suas dúvidas às instâncias consulares e tê-

las resolvidas por um funcionário preparado para

tanto.

Os alunos selecionados devem receber um apoio

específico em Port-au-Prince antes do embarque,

onde devem receber informações sobre o Brasil e

também sobre as instituições que os receberão.

Essas informações não devem se restringir a uma

formação básica no que diz respeito à língua

portuguesa, mas também devem ter como propósito

uma primeira aproximação às condições concretas de

estudo e trabalho no Brasil, superando narrativas

recorrentes de promoção da cultura nacional

apoiadas em mitos da cordialidade e da tolerância,

frequentemente alimentados por instituições

governamentais e não governamentais brasileiras

atuantes no exterior: por exemplo, é fundamental

que os alunos sejam informados acerca das formas

específicas que assumem o preconceito racial e a

xenofobia no Brasil.

Page 33: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

33

Apoio aos estudantes no Brasil

O início das atividades regulares deve ser precedido

de um período de pelo menos um semestre letivo

(quatro meses) de estudo intensivo da língua

portuguesa que, numa primeira fase de

implementação do programa, deve ser oferecido por

uma ou várias universidades brasileiras;

posteriormente, e na medida em que melhorem as

condições do país e se consolide a configuração

institucional e profissional do CCHB, o curso de

português pode ser oferecido no Haiti, o que

implicaria certamente numa reestruturação ou

ampliação ulterior do Centro Cultural.

As instituições receptoras devem assegurar aos

beneficiários do programa acompanhamento e uma

instância de apoio à qual recorrer sempre que

necessário; esta instância deve estar preparada para

orientá-los em relação a todos os problemas

normalmente enfrentados por estudantes

estrangeiros no Brasil: mediação com a agência de

fomento, com as demais instâncias universitárias,

com instituições governamentais e bancárias, com as

instâncias responsáveis pela regularização da

documentação de estrangeiros no país.

Também no Brasil, deve haver um acompanhamento

e um esclarecimento constantes dos estudantes em

relação às configurações específicas do preconceito

racial e da xenofobia no país.

As universidades e instituições brasileiras de ensino

superior que recebam os alunos devem favorecer e

facilitar, na medida do possível, a moradia, a

alimentação, o transporte e os cuidados de saúde dos

estudantes, de forma que o máximo possível do valor

da bolsa possa ser utilizado para gastos pessoais ou

para a aquisição de material suplementar que seja útil

em sua formação.

Independente da área de especialização, os alunos

devem receber um apoio continuado, sendo

devidamente esclarecidos sobre as possibilidades de,

verificadas as condições de adaptação ao país e às

instituições receptoras e de bom desempenho

acadêmico, eventualmente estender, ampliar ou

aprofundar sua formação acadêmica e profissional no

país.

Page 34: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

34

Conclusão do programa e retorno ao Haiti

O retorno ao Haiti deve ser pensado em vista da

inserção dos estudantes egressos do programa no

processo de reconstrução não só do próprio ensino

superior, mas também de outras áreas e instituições

severamente afetadas pelos terremotos, mas também

pelas sucessivas crises pelas quais passou o país nas

últimas décadas.

O processo de reconstrução ao qual esses estudantes

devem ser integrados e ao qual devem oferecer sua

contribuição deve ser compreendido como algo

muito mais amplo do que apenas a retomada de uma

normalidade precária no sistema universitário.

Após seu retorno, os alunos devem receber todo o

acompanhamento e o apoio necessários para

procurarem envolver-se em projetos em curso

relacionados às áreas de sua especialização.

O CCHB deve servir como uma instância de

referência também sob esse aspecto e deverá oferecer

aos estudantes possibilidades de manutenção e

aperfeiçoamento dos conhecimentos adquiridos em

termos linguísticos, deve oferecer acesso a material

informativo, bibliográfico e acesso a acervos

eletrônicos disponíveis online.

No final de seu envolvimento direto com o programa,

cada beneficiário deve apresentar um relatório

conclusivo detalhado, no qual descreva as atividades

realizadas, as expectativas de continuidade da

formação acadêmica e profissional e apresente

críticas e sugestões relacionadas ao próprio programa.

Ao longo da fase conclusiva do envolvimento de cada

turma de estudantes no programa, eles devem ser

orientados quanto às possibilidades concretas de

engajamento profissional ou acadêmico no Haiti ou

quanto à continuidade de sua formação junto a

instituições brasileiras de ensino superior; por

exemplo, os alunos que concluíram a graduação

devem ser informados quanto á possibilidade de

estudos de especialização e pós-graduação no Brasil e

sobre os requisitos para cada uma dessas

oportunidades.

Sempre que possível, os beneficiários devem ser

preferencialmente envolvidos como colaboradores no

andamento do próprio Programa Pró Haiti,

trabalhando no preparo de outros estudantes

interessados na vinda ao Brasil, e também de outros

programas implementados por agências ou

instituições brasileiras no quadro do processo de

reconstrução. Inclusive esse tipo de envolvimento

pode servir como uma oportunidade de engajamento

profissional transitório.

Page 35: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

35

Áreas prioritárias emergenciais

Entre as áreas destacadas, não há uma ordem de prioridade e, como ficará claro ao longo deste

relatório, todas as áreas, unidades e instituições foram, de uma forma ou outra, severamente

afetadas pela catástrofe.4 As áreas que devem ser priorizadas no processo inicial de seleção dos

estudantes beneficiários do programa de bolsas e no envio de docentes, pós-graduandos e pessoal

especializado para contribuir na retomada das atividades acadêmicas foram definidas com base

em avaliações do impacto do terremoto e nos resultados de discussões com especialistas,

professores, estudantes, funcionários do governo haitiano e com funcionários de agências e

organizações internacionais mais diretamente envolvidos na elaboração de diagnósticos

situacionais e planos setoriais de reconstrução.5

4 Uma atenção especial é devida à área da enfermagem, pois a Escola Nacional das Enfermeiras de Port-au-Prince

foi completamente destruída, com perdas humanas consideráveis entre as alunas e o corpo docente, o que

prenuncia não somente uma paralisação total no funcionamento dessa área de formação, como também uma

interrupção na cadeia de transmissão intergeracional de conhecimentos e práticas profissionais, ainda mais ao se

levar em conta que as faculdades privadas de enfermagem também foram seriamente afetadas. No que diz respeito à

formação de profissionais médicos, cabe destacar que nenhuma faculdade havia sido mais afetada pela crise

universitária, pela greve dos estudantes e pelas disputas entre estudantes e professores do que a Faculdade de

Medicina e Farmácia da UEH, o que fazia com que, já mesmo antes do terremoto, suas atividades estivessem

paralisadas há meses. O terremoto afetou severamente sua estrutura física e destruiu o maior hospital do país,

também ligado à universidade, que continua funcionando precariamente em tendas instaladas por organizações

internacionais no estacionamento. Também a Faculdade de Odontologia, apesar de haver sido praticamente a única

faculdade da UEH a ter seu edifício poupado pelo terremoto, perdeu todo o material de ensino e de prática

odontológica que possuía. Mesmo a despeito da extraordinária tradição de formação de profissionais de destaque

nessa área no Haiti, essas interrupções no ciclo de formação de profissionais médicos, de farmácia, de enfermagem,

de odontologia e de saúde preventiva, soma-se a uma escassez crônica de profissionais de saúde, tanto na capital

como no interior do país, para consolidar e reforçar ao extremo um cenário que já antes do terremoto era

desesperador. Com relação ao campo específico da obstetrícia, cabe destacar que a mortalidade infantil é

extremamente alta no Haiti, com uma incidência altíssima de letalidade decorrente do parto, o que também se

reflete na mortalidade materna decorrente do parto, a mais alta das Américas.

5 A Escola Normal Superior, principal núcleo de formação de professores do país, foi arrasada. Existia nessa

instituição uma tradição consolidada de receber pesquisadores e professores estrangeiros, inclusive brasileiros, para

atuar na formação de estudantes de licenciatura. Esse mecanismo pode ser reavivado de uma maneira sistemática no

quadro da implementação do intercâmbio entre instituições brasileiras e haitianas. A Faculdade de Linguística

Aplicada da UEH (FLA) foi completamente destruída, com um número dramático de mortos em meio ao corpo

discente e docente, assim como a Universidade Caraïbe, privada, que contavam com um importante núcleo de

linguística. No Brasil, há centros de linguística de excelência, que revelam reconhecido interesse no estudo de

línguas crioulas. O intercâmbio nessa área pode revelar-se particularmente profícuo, com um intercâmbio de

professores, estudantes e pesquisadores que produzirá uma série de benefícios diretos para as instituições

envolvidas. Deve ser salientada a importância da FLA no universo institucional haitiano, pois é no interior dessa

instituição que se elaboram os projetos de universalização do ensino do kreyòl e é nela que se formam os quadros

que procuram implementá-los: produção de material pedagógico e de alfabetização infantil e de adultos, formação

de professores etc. Após um diagnóstico amplamente aceito de que o fracasso de sucessivos projetos de alfabetização

e os persistentes baixos níveis de escolaridade no Haiti se deviam, em grande medida, à forma como o francês é

forçosamente incorporado ao sistema de ensino, sem que contudo o seja de forma acessível ou eficaz. No momento,

já está em andamento na Unicamp a institucionalização do primeiro curso de kreyòl numa universidade brasileira e,

no quadro do mesmo projeto, terá início a elaboração do primeiro dicionário kreyòl – português.

Page 36: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

36

A partir da consolidação de constatações e demandas dos envolvidos e afetados, dois critérios

foram aplicados para definir o escalonamento de prioridades:

a) aquelas áreas que oferecem oportunidades de contribuir mais direta, imediata e

sustentavelmente com a reconstrução do país, como a gestão de recursos territoriais e

naturais, a construção civil e a tecnologia de comunicações e de informação; e

b) aquelas áreas que foram mais diretamente afetadas pelos terremotos e que não serão

capazes de se restabelecer sem um decisivo e comprometido envolvimento de programas e

mecanismos de cooperação e intercâmbio, como a saúde, a linguística e a pedagogia.

Áreas prioritárias emergenciais

Saúde:

Saúde pública preventiva e formação de agentes

de saúde

Enfermagem

Cirurgia

Prostética

Obstetrícia

Recursos linguísticos e pedagógicos:

Formação de linguistas e tradutores

Formação de professores

Gestão de recursos territoriais e naturais:

Planejamento urbano e saneamento básico

Recursos ambientais e engenharia florestal

Agronomia, veterinária e zootecnia

Engenharia de alimentos

Conservação, manejo e recuperação de solos e de

recursos hídricos

Construção civil:

Engenharia civil e arquitetura

Cursos técnicos de construção civil, edificações e

materiais

Tecnologia de comunicações e de informação:

Integração de sistemas e redes

Programação e manejo de software livre

Biblioteconomia e gestão de acervos e arquivos

Page 37: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

37

Continuidade do programa e etapas ulteriores de implementação

Já nas primeiras fases de implementação do Programa

Pró Haiti será fundamental contar com o

envolvimento das universidades e escolas do sistema

federal de ensino técnico no Brasil. E, à medida que

as etapas sucessivas do programa forem

implementadas, tornar-se-á crescentemente

importante que outros setores do sistema de ensino

superior brasileiro sejam incorporados

progressivamente e possam oferecer sua contribuição

ao esforço conjunto de cooperação no processo

haitiano de reconstrução, com o comprometimento

de instituições brasileiras como SESI, SENAI, SESC,

SENAC etc.

Na medida em que haja boa receptividade e

avaliações positivas sobre o desempenho do

programa, em especial no que diz respeito ao

intercâmbio de professores e pós-graduandos nas

áreas de formação de educadores, deve ser

contemplada a possibilidade de uma expansão do

modelo e dos mecanismos aqui propostos para

abarcar também a formação, o treinamento e o

aperfeiçoamento de quadros do sistema haitiano de

ensino básico e médio.

Tanto para a implementação do Programa Pró Haiti,

quanto para o acompanhamento de seus resultados e

para a consolidação de parcerias binacionais e

multinacionais na área do ensino e da pesquisa

universitária envolvendo pesquisadores e pós-

graduandos brasileiros, será fundamental que seja

estabelecido no Haiti – seja em Port-au-Prince, em

Damien, ou em qualquer localidade nos arredores da

capital – um escritório de baixo custo de manutenção

que sirva como uma base de pesquisa no país,

preparado para receber, acomodar e oferecer

condições mínimas de trabalho a pesquisadores de

distintas áreas que se desloquem do Brasil ao Haiti

para estágios de pesquisa ou de trabalho e que servirá

como referencial a todos os envolvidos nos diversos

programas brasileiros de cooperação e intercâmbio.

Para tanto, em termos materiais, bastariam dois

contêineres com ar condicionado, um deles com

beliches e sanitários, o outro com computadores e

mesa de trabalho.

Page 38: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

38

Outras áreas de atuação

Ensino à distância e bibliotecas móveis As bibliotecas existentes na capital eram extremamente

precárias e foram em grande medida destruídas. Deve-

se pensar em acervos circulantes ou eletrônicos a serem

incorporados pelas futuras bibliotecas haitianas,

contendo uma pletora de clássicos e dos textos básicos

que os alunos necessitam para o seu dia a dia na

universidade. Circunstâncias geográficas, assim como a

distribuição populacional e econômica extremamente

desigual, estimularam diversas organizações e

instituições no Brasil a promover um alcance

relativamente amplo das excelentes ferramentas

educacionais e culturais representadas pelas bibliotecas

móveis e pelas redes eletrônicas ou digitais de ensino à

distância. Poderiam ser estabelecidos canais com as

agências de cooperação francesa, canadense, belga e

suíça, que forneceriam os livros e o conteúdo

pedagógico em língua francesa e kreyòl, e o Brasil

ofereceria a tecnologia, a experiência e o pessoal que

inicialmente implantaria o projeto, que

simultaneamente treinaria o pessoal haitiano que, tão

logo quanto possível, assumiria a gestão da iniciativa.

Também nessas iniciativas deve ser priorizado o acesso

a acervos em kreyòl.

Acesso a portais de bibliotecas e acervos digitalizados

Os laboratórios de informática das universidades

poderiam ter acesso assegurado aos grandes portais de

revistas e publicações científicas através de um sistema

correlato ao que a CAPES já oferece às universidades

brasileiras através de seu Portal de Periódicos, que, da

mesma forma como já possui uma versão em espanhol,

poderia oferecer uma versão em francês ou kreyòl. Deve-se avaliar a possibilidade de obter junto aos

provedores desses portais a concessão, em caráter

extraordinário, de licenças gratuitas às universidades

haitianas, assim como a integração dessa ferramenta

com iniciativas de digitalização projetadas por outras

agências de cooperação.

Banco de projetos

Deve ser criada uma instância de referência para

informar e instruir sobre as oportunidades de pesquisa e

extensão universitária contempladas no Programa.

Preferencialmente baseada no portal eletrônico da

CAPES, permitirá que pesquisadores, professores,

estudantes e profissionais interessados em desenvolver

atividades de pesquisa conjunta ou intercâmbio no

quadro da cooperação interinstitucional do Programa

Pró Haiti possam se inteirar de projetos em curso e de

possibilidades de parceria.

Capacitação profissional, acesso digital e difusão

cultural

É incontrastável o sucesso que atestam todas as

iniciativas já realizadas em torno da implantação de

bibliotecas comunitárias ou itinerantes e dos Centros de

Leitura e Animação Cultural (CLAC's). A quem quer

que visite um desses centros de difusão cultural

parecerá difícil acreditar estar de fato no país com a

maior taxa de analfabetismo no hemisfério, de tal forma

lotados de crianças, jovens e adultos se encontram esses

locais, não importando o horário do dia ou o dia da

semana, em busca do acesso a livros, jornais, revistas e a

toda uma série de atividades culturais relacionadas à

literatura que ali se oferecem. A Organização

Internacional da Francofonia (OIF), que já apoiou a

criação de mais de 200 CLAC's em 18 países

francófonos, reconheceu em 2007 que em nenhuma

outra parte eles são tão intensamente frequentados e

utilizados como no Haiti. Diante do sucesso dos

primeiros 10 desses centros (nos Departamentos da

Artibonite, do Noroeste, do Norte e do Oeste), o

Ministério da Cultura e das Comunicações do Haiti

(MCC) e o Instituto de Proteção do Patrimônio

Nacional (ISPAN) haviam definido metas de

implantação de outros 30, especialmente nos

Departamentos Sul e Sudeste. Trata-se certamente de

uma experiência a ser apoiada e ampliada e tanto a

experiência como a tecnologia de que dispõe o Brasil na

criação dos Pontos de Cultura pode ser utilizada no

fortalecimento de iniciativas dessa natureza. Nos

moldes dos centros existentes no Brasil e apoiando-se

no plano de criação dessa rede ampliada, o Programa

Pró Haiti poderia desempenhar um papel decisivo no

engajamento de estudantes, estagiários, técnicos, artistas

e produtores culturais haitianos na gestão e manutenção

desses pontos de referência para o desenvolvimento de

atividades educativas, artísticas e culturais. Também nos

moldes de experiências bem sucedidas realizadas no

Brasil, outra frente de difusão cultural poderia ser

constituída com a mobilização de estudantes

universitários das mais diversas áreas, fornecendo-lhes

um conjunto básico de equipamentos para permitir que

estabelecessem pontos de acesso à internet e a recursos

midiáticos. Criados, geridos e mantidos pelos

estudantes, ao mesmo tempo em que servissem como

catalisadores de oportunidades de trabalho, capacitação

e treinamento profissional, poderiam operar como

pontos de referência para a implementação dos próprios

programas de ensino à distância e de formação de

educadores, agentes de saúde e outros profissionais

multiplicadores.

Page 39: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

39

Metodologia, etapas e circunstâncias do levantamento de dados

Para a realização desta avaliação, diferentes abordagens foram combinadas para fazer frente à

precariedade das condições para a realização de qualquer pesquisa na cidade de Port-au-Prince e

em seus arredores e às dificuldades enfrentadas por pesquisadores, colaboradores e informantes

para cumprir os objetivos definidos para este estudo. Para além de informações coletadas junto a

professores e estudantes universitários haitianos desde o momento imediatamente posterior ao

terremoto, foi realizado um levantamento cuidadoso da extensão do impacto sofrido por cada

uma das instituições recenseadas. Em que pese a enorme concentração de instituições

universitárias na capital e seus arredores imediatos, algumas instituições diretamente afetadas

pelo terremoto se distribuem com relativa dispersão numa área mais ampla da região atingida

pelo terremoto. Visitar suas sedes (senão o que delas havia restado) e contatar e entrevistar seus

representantes exigiu deslocamentos por uma área que se estendeu, pra além de Port-au-Prince

e sua área metropolitana, às cidades de Léogâne, Fondwa e Jacmel. A etapa de coleta de dados,

imagens e documentação diretamente junto às instituições afetadas se estendeu de 7 a 28 de

fevereiro de 2010, abrangeu diversas localidades na área afetada pelo terremoto e compreendeu:

análise de estudos publicados anteriormente sobre a evolução do ensino superior no país;

participação nas reuniões realizadas por instâncias de governança interuniversitária e por instâncias

gestoras do sistema universitário para discutir medidas de avaliação do impacto do terremoto e

providências a serem tomadas para a obtenção de recursos para a retomada das atividades acadêmicas e

para a reconstrução;

entrevistas com estudantes, professores, funcionários e administradores das instituições recenseadas e dos

órgãos gestores e consultivos do sistema universitário haitiano;

sucessivas visitas às sedes das instituições afetadas pelo terremoto – pelo menos duas, uma na primeira e

outra na segunda semana da pesquisa, e pelo menos uma das quais na companhia de membros do corpo

docente e discente;

registro fotográfico exaustivo e videográfico parcial dos danos materiais causados às instituições

recenseadas e das providências de remoção dos escombros, remoção e identificação de corpos

remanescentes de vítimas soterradas e recuperação de equipamentos e documentos;

reuniões de discussão aprofundada com representantes discentes das instituições públicas recenseadas e das

mais importantes instituições privadas, aos quais foram aplicados questionários qualitativos sobre a situação

das universidades antes do terremoto, a dimensão de seu impacto e as expectativas quanto às iniciativas de

reconstrução;

verificação contrastiva com um levantamento paralelo de dados quantitativos, realizado por estudantes

qualificados selecionados entre os entrevistados e os participantes das reuniões de discussão aprofundada –

pelo menos um representante por instituição, mas frequentemente duplas de representantes – sobre a

extensão dos danos pessoais, materiais e documentais em cada instituição;

validação preliminar dos resultados num seminário de avaliação realizado na sede do Centro Cultural

Haitiano-Brasileiro, no dia 26 de fevereiro de 2010, envolvendo representantes das instituições

recenseadas.

Page 40: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

40

O procedimento padrão adotado na realização desses levantamentos envolvia três etapas. Em

primeiro lugar, um primeiro contato com membros ativos da administração da unidade

específica para procurar obter a base de dados oficial referente à situação prévia tanto em termos

de pessoal, como em relação às instalações, equipamentos, acervos e arquivos. Nem sempre havia

predisposição imediata dos administradores à colaboração, outras vezes não havia

administradores presentes ou ativos durante o período da pesquisa, outras vezes ainda não havia

dados organizados, consolidados ou disponíveis sobre a unidade, e em outros casos ainda,

haviam perecido os responsáveis que poderiam fornecer as informações ou haviam sido

destruídos os documentos e equipamentos que as armazenavam. Num segundo momento e

independentemente do resultado obtido com a tentativa de obter uma base preliminar de dados,

os representantes procuravam mobilizar suas redes de contatos com colegas e professores, por

telefone, internet ou pessoalmente, buscando compor listas próprias de estudantes, professores e

funcionários mortos, feridos e desalojados e também arrolar seus respectivos locais de refúgio,

onde poderiam ser eventualmente contatados posteriormente. Os levantamentos realizados

pelos representantes do corpo discente de cada instituição foram cruciais para determinar

inconsistências e suprir lacunas nas cifras produzidas ou coligidas por instâncias oficiais. No

esforço de realizar seus levantamentos, os pesquisadores e colaboradores envolvidos nesta

pesquisa tiveram de enfrentar condições bastante precárias de trabalho, no mais das vezes tendo

de preparar listas, elaborar textos de trabalho e discussão e transcrever relatórios à mão, sem

poder contar com o uso de computadores. Mas o empenho de todos os envolvidos permitiu que,

para não poucas entre as unidades recenseadas, fosse possível obter um rol quase exaustivo do

paradeiro do pessoal universitário após o terremoto.

Vários dos estudos sobre o ensino superior haitiano consultados durante a realização deste

levantamento demonstram padecer de carências e deficiências comuns a grande parte dos

relatórios e pareceres que parecem ter tomado de assalto e ocupado uma vasta porção do terreno

bibliográfico das ciências sociais no Haiti. Nas semanas posteriores ao terremoto, instâncias

governamentais haitianas e outras vinculadas às agências multilaterais ou de cooperação

internacional procuraram oferecer um retrato dos efeitos do terremoto nos sistemas de ensino

superior, médio e fundamental, tanto privado como público. Sem apresentar qualquer

sistematicidade e carecendo de um volume considerável de informações que estavam acessíveis a

qualquer esforço mínimo de coleta e verificação, os balanços realizados, contudo, sequer

buscaram ultrapassar os limites de atuação específicos às respectivas agências e oferecer um

retrato mais amplo do sistema de ensino superior. Não raro, e precisamente como foi o caso em

outros momentos de crise no país, documentos infindáveis são produzidos como veículos para

plataformas de consolidação de instituições de intermediação na transferência e aplicação de

recursos e para programas pré-definido e consideravelmente particularistas de intervenção

pontual, apresentados, porém, sob a forma de recomendações gerais que, ao mesmo tempo em

que não guardam relação com os dados apresentados ou constatações feitas, tampouco

encontram eco em demandas locais dos agentes mais claramente legitimados para exprimi-las.

Page 41: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

41

Diante do descaso com a sistematização de dados e informações relativos às vítimas que

acompanhou as intervenções governamentais e não governamentais desde a precipitada e

amplamente criticada decisão do governo haitiano, em conjunto com o comando militar da

MINUSTAH, de incinerar ou enterrar os corpos das vítimas em valas comuns, sem qualquer

esforço de identificação, ficou claro para os sobreviventes que teriam de fazer frente a imensas

dificuldades no esforço de avaliar a real dimensão da catástrofe. Assim, como não podia deixar

de ser o caso, divergem, por vezes marginal, por vezes substantivamente, os dados que figuram

em material de ampla circulação e que, conforme a ocasião e a necessidade, são apresentados

com distintos níveis de oficialidade e os dados que resultam de um levantamento cuidadoso que

agregue dados levantados diretamente junto às instituições recenseadas. Variam não somente as

cifras de mortos e desabrigados variam enormemente entre um balanço e outro, como também

as cifras de estudantes e professores ativos antes do terremoto, revelando não tanto uma

diversidade de fontes, sobretudo, no entanto, a pressa em sustentar receituários preconcebidos

de reforma e reconstrução com resultados obtidos sem um mínimo de rigor metodológico ou a

necessária verificação e o desinteresse pela compreensão das reais dimensões das dificuldades

enfrentadas pelo sistema universitário antes do terremoto e com a configuração precisa das

carências e necessidades que determinarão a forma como se reerguerá das ruínas.6 Ou seja, em

diversos sentidos, o todo produzido pela soma das partes é consideravelmente distinto do todo

que se quer total antes mesmo de se considerar o que acontece com as partes.

O âmbito das instâncias oficiais de administração, supervisão e avaliação do sistema de ensino

superior no Haiti – pré-universitário, universitário, técnico e de formação profissional – também

foi contemplado entre as fontes de dados e informações incorporados à análise realizada no

curso deste levantamento. Foram solicitados dados e informações aos seguintes órgãos,

instituições ou colegiados:

Ministério da Educação Nacional e Formação Profissional (MENFP):

o Direção de Ensino Superior e de Pesquisa Científica (DESRS);

o Instituto Nacional de Formação Profissional (INFP); e

o Direções ministeriais e superintendências departamentais de Supervisão Escolar;

Grupo de Trabalho sobre a Educação e a Formação no Haiti (GTEF), vinculado à Presidência da República;

Grupo Setorial de Educação (GSE), vinculado à seção haitiana da UNESCO;

Comitê Regional de Direção (CRP) da Conferência de Reitores e Presidentes Universitários do Caribe

(CORPUCA);

Comitê Diretor da seção haitiana da Agência Universitária da Francofonia (AUF);

reitorias das universidades públicas e privadas.

6 Cabe ressaltar que nos estudos mais amplos sobre a extensão e o impacto do terremoto sobre a infraestrutura do

país, o setor educacional não foi contemplado e não figurou como um dos setores analisados em profundidade.

Page 42: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

42

Preservadas, destruídas ou transferidas, todas as suas respectivas sedes foram visitadas no

curso do levantamento e, sempre que estivessem presentes no país, seus superintendentes,

diretores ou coordenadores foram entrevistados em profundidade. Mesmo em circunstâncias

normais, o acesso aos dados e informações oficiais não é precisamente fácil no Haiti. Tanto mais

ao se considerar o impacto que o terremoto teve também sobre os órgãos governamentais e

agências administrativas, muitas das quais tendo sido arrasadas, com grandes perdas humanas e a

destruição de arquivos completos.7 A despeito de todas as circunstâncias, foi possível contar com

sua boa vontade, generosidade e disponibilidade para ter acesso à documentação que foram

capazes de salvar da destruição.

Foi, porém, o trabalho realizado em contato constante e imediato com os estudantes que

permitiu perceber a tensão subjacente às relações tanto entre grupos estudantis e os demais

setores de suas escolas, faculdades ou universidades, como entre estes e outras instâncias

institucionais governamentais e não governamentais, nacionais e internacionais. Apesar de

setores seus proclamarem plataformas que ecoam projetos típicos do espectro populista da

política haitiana, o movimento estudantil haitiano é multifacetado e dinâmico, capaz de atuar

em direções diferentes e perseguir objetivos bastante diversificados. Não apenas aqueles que

gravitam em torno dos colegiados reconhecidos como o movimento estudantil tradicional no

Haiti estão organizados em busca de soluções e recursos para fazer frente à sua desesperadora

situação atual. Inúmeras associações estudantis, grupos de discussão e intervenção e colegiados

decisórios foram constituídos pelos estudantes universitários desde o terremoto.

No contato com várias dessas iniciativas, foi possível acompanhar a acuidade com que

percebem não apenas as limitações do sistema educacional haitiano, mas também as armadilhas

criadas pelas próprias iniciativas internacionais ou multilaterais de favorecer um

aperfeiçoamento do sistema ou a intervenção em momentos de crise. Sob pena de não alcançar

qualquer dos resultados pretendidos e de não produzir efeitos quaisquer de um envolvimento

dos beneficiários de um programa de bolsas no processo de reconstrução e na elaboração e

implementação de projetos autônomos e sustentáveis de fortalecimento das estruturas de ensino

e pesquisa universitária, as discussões com os estudantes realçaram a necessidade de evitar

reproduzir equívocos de iniciativas anteriores de intervenção, reforma e cooperação

universitária, que acabaram por reforçar mecanismos preexistentes de favorecimento daqueles

que já são favorecidos e de promoção daqueles que já se situam numa posição destacada,

preterindo aqueles que fazem frente a imensas dificuldades para buscar seus objetivos

educacionais.

7 Na gestão do setor educacional, não apenas o MENFP teve seu edifício principal destruído (com a morte de 12

funcionários) e seus edifícios anexos tão danificados que terão de ser demolidos antes de que sua sede central possa

ser reutilizada, mas também diversas reitorias universitárias foram arruinadas, incluindo a da UEH, além da sede

que a Agência Universitária da Francofonia mantinha junto ao prédio da Faculdade de Linguística Aplicada e que

também foi destruída.

Page 43: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

43

São esses elementos que nos permitiram embasar as recomendações oferecidas neste relatório

para a implementação do Programa Pró Haiti e de outras iniciativas homólogas, que pretendem

não apenas apontar mecanismos que superem os entraves próprios das teias de relações

existentes entre as instituições haitianas e as organizações internacionais, como também dar

conta de pelo menos parte das expectativas dos estudantes haitianos no que diz respeito a sua

formação profissional e acadêmica.

Page 44: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

44

Estrutura do sistema educacional haitiano

A estrutura organizacional do sistema educacional haitiano resulta de uma longa tradição de

alinhamento à estrutura do sistema escolar francês e de reformas que asseguraram que esse

alinhamento continuasse ao longo de décadas de adaptação. As reformas iniciadas em 1979,

ainda sob o governo ditatorial de Jean-Claude Duvalier, e que culminaram na célebre Reforma

Bernard, iniciada em 1979, consagraram a diglossia da sociedade haitiana e levaram tanto ao

reconhecimento do kreyòl como língua oficial de ensino quanto à definição de seus modos de

incorporação ao sistema escolar. Desse momento em diante, o universo escolar passou a refletir a

realidade linguística do país: o kreyòl se tornou rapidamente a principal língua de instrução

durante os primeiros anos do ensino fundamental e o francês oscilaria, conforme a escola, entre

língua suplementar de instrução e segunda língua de alfabetização. Por um lado, essa reforma

assegurou o fim da estigmatização do emprego do kreyòl no sistema educacional haitiano, o

reconhecimento de um componente determinante da configuração social e cultural do país e o

início de um processo paulatino de promoção social de grupos, códigos e repertórios

tradicionalmente marginalizados que prossegue até hoje, ainda com incontáveis desafios rumo à

sua plena incorporação ao patrimônio cultural e simbólico reconhecido pelas instituições

haitianas. Por outro lado, contudo, diante da escassez de material didático e bibliográfico em

kreyòl ou adaptados ao ensino nessa língua, da incompatibilidade entre o modelo escolar e o

sistema de formação e treinamento de professores e do decorrente despreparo de toda uma

geração de professores para lidar com a mudança, além da insuficiência dos meios financeiros

para implementar todos os aspectos da reforma, os objetivos da reforma educacional restam

ainda por ser alcançados. Em que pesem todos os problemas, representou uma iniciativa de

grande alcance que abriu um amplo leque de novas perspectivas para o sistema educacional

haitiano e continua gerando frutos até o presente.

Além do reconhecimento da língua universalmente falada no país, a própria estrutura do

ensino foi reformada, em bases que ainda se mantêm. O ensino básico ou fundamental

compreende nove anos letivos, divididos em três ciclos, respectivamente de quatro, dois e três

anos. A seguir, o nível médio ou secundário se estende por mais quatro anos, levando à obtenção

de um diploma secundário, chamado Segundo Bacharelado ou Bac II. Sua obtenção é

indispensável para o acesso à universidade, que também envolve um exame de admissão. A

despeito da reforma educacional, essa configuração ainda não se universalizou e algumas escolas

seguem operando com base na estrutura clássica do modelo francês tradicional, também de 13

anos, mas divididos em seis anos básicos, quatro anos ginasiais e três anos de escola secundária.

O amplo processo de reforma educacional que se havia iniciado em 1979 foi interrompido em

1982, para ser sucessivamente retomado e interrompido outras vezes, em decorrência da

instabilidade política e da escassez de recursos orçamentários que paralisou ou reverteu não

somente este, mas muitos outros avanços institucionais no Haiti ao longo das últimas duas

décadas. Em diversos momentos de sua implementação, foi revivida a previsão de promover a

criação de centros de referência para a formação de pedagogos do ensino fundamental,

Page 45: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

45

supervisores escolares e gestores do sistema de ensino básico. Os Centros de Formação dos

Professores do Ensino Fundamental (CEFEF's), juntamente com um Centro de Formação de

Quadros da Educação (CFCE), seriam o núcleo de uma ampla rede, altamente descentralizada e

bem equipada, de Escolas Fundamentais de Aplicação e Centros de Apoio Pedagógico

(EFACAP), que operariam como centros locais de treinamento e aperfeiçoamento do corpo de

professores do ensino fundamental. Jamais chegou, contudo, a ser realizado como previsto e, a

despeito da previsão de inserir tais centros de formação na estrutura de ensino superior público

e mesmo na estrutura institucional da própria UEH, o único deles que chegou a entrar em

funcionamento – primeiro em 1999, com uma larga interrupção, para ser retomado somente

entre 2005 e 2006 – manteve-se sob a alçada dos sistemas de ensino fundamental e médio no

âmbito do MENFP, tendo suas atividades geridas pelas Direções de Formação e

Aperfeiçoamento (DFP) e de Ensino Fundamental (DEF). Por tais razões é que a configuração

dos desdobramentos desse sistema não foram tratadas com maior detalhamento ao longo deste

levantamento. Em sua última versão – mais ambiciosa que de outras vezes, no quadro de um

conjunto de programas apoiados pelo Banco Mundial, pelo BID, pela UNESCO, pela UE e pela

agência de cooperação canadense, que convergiam em torno do Projeto de Educação Básica

(PEB) e do Programa de Fortalecimento da Qualidade da Educação de Base (PARQE) –, o

projeto previa a conversão de seis Escolas Nacionais de Formação de Professores (ENI) em

CEFEF's, assim como o estabelecimento inicial de 27 EFACAP's públicos e a integração de

outros 3 EFACAP's privados ao sistema, assim como a subsequente inauguração de mais 20

EFACAP's anualmente, ao longo de pelo menos quatro anos. Apesar desse ambicioso sistema de

descentralização, aperfeiçoamento, formação contínua e profissionalização do ensino

fundamental não ter sido inteiramente implementado, vários EFACAP's chegaram a ser

construídos e a grande maioria deles foi utilizada após o terremoto como base para o

estabelecimento de campos modelo de refugiados e centros de atendimento básico de saúde e de

prestação de serviços emergenciais. A sede da Escola de Direito de Jacmel, que é compartilhada

por outras duas instituições de ensino fundamental e médio, treinando também professores do

ensino fundamental, é um exemplo de EFACAP que seguiu essa trajetória.

Finalmente, o nível superior de ensino abrange carreiras técnicas e profissionais e opções de

especialização e pós-graduação com duração variável. Em geral, a formação técnica dura de dois

a três anos, o bacharelado ou licenciatura de três a cinco anos. A obtenção do bacharelado ou

licenciatura pressupõe a apresentação e a defesa pública de uma tese. Para além disso, existem as

opções de especialização, mestrado e doutorado. Uma especialização pode demandar um ou dois

anos adicionais de treinamento, enquanto o mestrado exigirá de dois a três anos. O doutorado é

oferecido por pouquíssimas instituições haitianas de ensino superior e geralmente sob a rubrica

de um doutorado profissional em ciências médicas, correspondente à formação médica

tradicional, conjugada com a especialização, demandando entre seis e sete anos.

Page 46: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

46

Tabela 1 – Distribuição dos estudantes por setores e níveis Sistema/

Nível

1°. e 2°. ciclos fundamentais (4 + 2 anos) 3°. ciclo fundamental

(3 anos)

Médio

(3 a 4 anos)

Superior

(de 3 a 7 anos)

Público 390.000 (18,52%) 87.400 (25,99%) 55.400 (23,36%) 19.116 (35,85%)

Privado 1.716.000 (81,48%) 248.900 (74,01%) 181.800 (76,64%) 34.200 (64,15%)

Total 2.106.000 336.300 237.200 53.316

Fonte: Dados do MENFP (2007), reajustados por cifras obtidas junto à Supervisão Escolar do Oeste e à DESRS.

Gráfico 1 - Distribuição dos estudantes por níveis e setores

Gráfico 2 - Proporção de alunos matriculados por setor

Page 47: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

47

Tabela 2 - Distribuição de professores, funcionários e alunos entre o setor público e privado Instituições de Ensino Superior Estudantes Professores Funcionários

Universidade de Estado do Haiti (11 unidades da capital) 10.581 857 439

Universidade de Estado do Haiti (6 escolas e uma faculdade no interior) 3.819 172 66

Universidades públicas departamentais (Norte, Sul, Artibonite) 2.062 144 108

Escolas Nacionais e outras instituições de ensino superior públicas

(ENIP, ENIJ, ENICH, ENIC, ENAF, ENST, ENGA, CTPEA, ENARTS)

2.654 422 258

Total das instituições públicas 19.116 1.595 871

Total das instituições privadas de ensino superior autorizadas 34.200 2.413 1.287

Total 53.316 4.008 2.158

Gráfico 3 - Distribuição espacial dos

estudantes do setor público

Tabela 3 - Distribuição espacial das vagas

oferecidas pelo setor público

Departamento

Oeste

Resto do país Total

UEH 10.581 3.819 14.400

Outras

instituições

públicas

1.754 2.962 4.716

Total 12.335 6.781 19.116

Page 48: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

48

Gráfico 4 - Concentração espacial das vagas nas

instituições de ensino superior

Tabela 4 - Distribuição espacial dos estudantes

do nível superior por setor

Gráfico 5 - Distribuição espacial dos

estudantes do nível superior

Departamento Oeste Resto do país Total

Público 12.335 6.781 19.116

Privado 29.754 4.446 34.200

Total 42.089 11.227 53.316

Page 49: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

49

Gráfico 6 - Distribuição setorial dos estudantes por

nível de ensino

Tabela 5 - Distribuição setorial dos estudantes

por nível de formação

Gráfico 7 - Distribuição espacial dos estudantes por

nível de ensino

Tabela 6 - Distribuição espacial dos

estudantes por nível de formação

Básico ao médio Superior

Oeste 1.012.993 42.089

Resto do país 1.666.507 11.227

Total 2.679.500 53.316

Básico ao médio Superior

Público 532.800 19.116

Privado 2.146.700 34.200

Total 2.679.500 53.316

Page 50: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

50

Tabela 7 - Distribuição espacial das instituições de ensino superior Departamento Instituições Públicas8 Instituições Privadas Total

UEH Outras públicas Total públicas Autorizadas Não autorizadas Total privadas

Artibonite 1 1 2 1 6 7 9

Centro 1 0 1 0 1 1 2

Grand'Anse 0 1 1 1 2 3 4

Nippes 0 0 0 0 1 1 1

Nordeste 1 0 1 0 0 0 1

Noroeste 1 0 1 0 2 2 3

Norte 1 2 3 4 2 6 9

Sudeste 1 0 1 0 1 1 2

Sul 1 2 3 1 0 1 4

Oeste 11 8 19 45 80 127 146

Total 18 14 32 52 97 149 181

Gráfico 8 - Dispersão do conjunto de instituições de ensino

superior

8 Na coluna UEH, são arroladas, segundo o Departamento em que se localizam, suas faculdades, escolas e institutos.

Na coluna outras instituições públicas, são arroladas, também segundo sua localização, as Escolas Nacionais de

Enfermagem e as Universidades Públicas, No caso destas, não foram decompostas em suas faculdades, por conta

tanto de se situarem todas num mesmo campus, como pelo reduzido número de estudantes por faculdade, o que não

justificaria seu tratamento como uma instituição pública a parte. Na coluna das instituições privadas, foram

arroladas, segundo sua localização e o status de sua solicitação ao MENFP de autorização para o funcionamento,

cada universidade, faculdade, instituto, escola ou centro de ensino superior, independente de sua composição

administrativa em faculdades, departamentos ou seções. Cada instituição particular foi assinalada ao Departamento

em que se situa sua sede principal, independente de possuírem campi avançados ou sedes sazonais em uma ou mais

cidades do interior, o que de todo modo somente se aplica a três dentre as instituições privadas, respectivamente

com cinco campi provinciais, algo que não chega a influir no balanço geral de distribuição geográfica das

instituições universitárias, ainda mais se for considerado que grande parte das atividades acadêmicas oferecidas de

forma descentralizada por instituições sediadas na capital consistem em cursos oferecidos por instituições locais de

ensino superior (já computadas na lista, por sua vez) com a chancela de homologação do diploma pela sede

metropolitana.

Page 51: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

51

Gráfico 9 - Distribuição espacial das instituições

de ensino superior por setor (exceto Oeste)

Gráfico 10 - Distribuição espacial das

instituições de ensino superior

Gráfico 11 - Dispersão das instituições públicas

de ensino superior

Page 52: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

52

Gráfico 12 - Dispersão das instituições privadas de ensino superior autorizadas

Gráfico 13 - Dispersão das instituições provadas de ensino superior não autorizadas

Page 53: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

53

Mapa 1 - Dispersão das instituições de ensino superior

Page 54: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

54

Histórico do ensino superior no Haiti

Procura-se apresentar aqui um quadro sobre a formação e a evolução das instituições de

ensino superior no Haiti. Para tanto, faz-se necessária uma introdução histórica que destaque o

processo de criação e consolidação da principal e maior universidade haitiana, a Universidade de

Estado do Haiti (UEH). São arroladas em seguida as escolas nacionais e os centros públicos de

ensino superior que não fazem parte do quadro institucional da UEH. Finalmente, abordaremos

o processo de instalação das mais importantes instituições privadas do setor.

Universidade de Estado do Haiti: origens, formação e estado atual

A Universidade do Haiti foi oficialmente fundada em 1945, a partir da congregação numa

mesma instituição de faculdades e escolas preexistentes e em pleno funcionamento,

predominantemente em Port-au-Prince. Em 1960, sob o governo de François Duvalier, foi

transformada em Universidade de Estado, nome que conserva até os dias atuais.9 A partir de

então, passou a sofrer diretamente as intervenções do governo ditatorial e somente voltaria a

recuperar sua autonomia com a constituição de 1987. Suas origens, contudo, estão no período de

formação do Estado nacional haitiano e nas tentativas, por vezes frustradas e recalcitrantes, das

elites haitianas de dotar o país de quadros profissionais qualificados.

A primeira tentativa de constituição de instituições de ensino superior no Haiti se deu nos

territórios do norte do país, conhecidos como o Estado do Haiti, em oposição à República do

Haiti, no Sul. Foi durante o período em que o Estado do Haiti se converteu no reino de Henri

Christophe (1811 – 1820), que foi criada, em 1815, a Academia Real, que compreendia uma

Escola de Medicina, Cirurgia e Farmácia, uma Escola de Artes e Ofícios e uma Escola de

Agricultura. A criação da Academia foi acompanhada pelo estabelecimento de Escolas

Nacionais, geridas por mestres ingleses, nos principais núcleos urbanos do reino. Ao mesmo

tempo, na expectativa de estabelecimento de boas relações com o Vaticano – o que ainda

tardaria décadas –, Christophe proclamou o catolicismo religião oficial (Vandercook, 1943: 133;

162). Assim como o próprio Reino do Norte, a existência da Academia e das grandes escolas foi

efêmera, mas revelou a inquietação das elites haitianas, estabelecidas no contexto da guerra de

independência, com a formação de uma classe ilustrada capaz de gerir os negócios do país.

Já sob Jean-Pierre Boyer (1818 - 1843), com o país unificado – havendo o reino do Norte sido

integrado à república em 1820 e a parte oriental da ilha, hoje República Dominicana, sido

ocupada e submetida ao controle haitiano entre 1822 e 184310 – e com a capital estabelecida em

Port-au-Prince, foram realizadas algumas iniciativas de criação de uma Academia Nacional,

9 O decreto é reproduzido em Duvalier, François: “Décret créant l'Université d'État d'Haïti le 16 décembre 1960” in

Mémoires d'un leader du tiers monde. Hachette, Paris, 1969: 73-8. 10 Quando da ocupação da porção oriental da ilha, Boyer cometeu um grave equívoco estratégico e histórico,

fechando a universidade mais antiga das Américas, fundada em Santo Domingo em 1537 (cf. Price-Mars, Jean, tomo

I, 2000 [1953]; Pons, 2008; 2009).

Page 55: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

55

também com resultados efêmeros. As dificuldades eram muitas: o Haiti vivia sob um verdadeiro

embargo internacional e havia grande dificuldade de contar com missões estrangeiras ou mesmo

com uma atuação da Santa Sé nas esferas tradicionais do ensino básico11. Acabou por prevalecer,

assim, uma visão claramente elitista e exclusivista: após estudos básicos realizados no Liceu

existente na capital do país, que eventualmente viria a ser chamado de Liceu Pétion, os filhos

mais brilhantes da elite haitiana deveriam recorrer à formação superior na antiga metrópole

colonial.

Seria necessário esperar até os anos 1860 para que ocorresse a fundação do primeiro

estabelecimento público de ensino superior no país, a Escola de Direito, inaugurada no dia 12 de

janeiro de 1860 (exatamente 150 anos antes do grande terremoto).12 Seus primeiros professores

foram juristas formados na França, responsáveis pelo enraizamento definitivo da cultura jurídica

francesa no Haiti. Tendo formado gerações daqueles que se tornariam os grandes analistas e

intérpretes da sociedade haitiana e contando com Antenor Firmin como seu patrono, virá

eventualmente a dar origem à atual Faculdade de Direito e Ciências Econômicas (FDSE) da

Universidade de Estado do Haiti.

Outro estabelecimento de ensino tradicional na história do ensino superior no Haiti é a

Faculdade de Ciências, fundada em 1902, inicialmente como uma escola privada, denominada de

Escola de Ciências Aplicadas, mas logo reconhecida como de interesse público em 1905 e

passando ao controle público através da dotação de subvenções públicas a partir de 1906. Por

fim, já como Faculdade de Ciências, seria totalmente incorporada à Universidade de Estado em

1961.

Outras escolas e centros de ensino foram evoluindo ao longo das últimas décadas do século

XIX e início do século XX, num processo que culminaria com a eventual integração de uma série

delas, sob a forma de faculdades, à nascente Universidade do Haiti, que começou a ganhar forma

efetivamente a partir da década de 1920, durante a ocupação americana (1915-1934). Nesse

período, vários estabelecimentos de ensino superior foram criados no país, sempre atrelados à

reorganização das finanças promovida pelas forças de ocupação e partindo de bases pragmáticas

que privilegiavam a formação técnica. Saliente-se que a ocupação americana teve um profundo

11 Ao longo de boa parte do século XIX, e pelo menos até os anos 1860, o Haiti viveu sob um virtual embargo

internacional, que deixou marcas profundas em sua história intelectual e política. Até a Guerra de Secessão, os

Estados Unidos se negaram a reconhecer um país formado em meio a uma rebelião escrava. A França, por sua vez,

somente viria a reconhecer o Haiti nos anos 1830, após a assinatura de um acordo de pagamento de restituições por

todas as perdas fundiárias, econômicas e financeiras dos fazendeiros coloniais, o que gerou uma divida ao Haiti que,

segundo muitos analistas, acabaria acarretando consequências extremamente danosas para o desenvolvimento do

país. Boa parte dos países latino-americanos ainda manteve a escravidão por décadas após a revolução haitiana, o

que também impedia o reconhecimento do Haiti como país independente. Por fim, a Santa Sé se negou a

estabelecer relações diplomáticas com o país até os anos 1860, quando da assinatura da Concordata com o Vaticano

(Price-Mars, 2000 [1953]). 12 No momento do terremoto, boa parte dos alunos e professores da Faculdade de Direito e Ciências Econômicas da

UEH, se dirigia a um pavilhão em Canapé Vert, onde seriam celebrados os 150 anos da escola. Esta coincidência

salvou de uma grande tragédia uma das faculdades com corpo discente e docente mais numeroso na capital.

Page 56: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

56

efeito no pensamento nacionalista haitiano, gerando uma reação vigorosa por parte dos mais

diferentes setores sociais, para além de um movimento de resistência armada propriamente dito

(Castor, 1971). No entanto, seu impacto no que diz respeito à criação de estruturas de base –

estradas, telégrafos, estrutura urbana etc. – e, sobretudo, no universo acadêmico, foi

extremamente significativo (Renda, 2002), para além de todas as tensões políticas que criou e

alimentou (Blancpain, 1999).

A antiga Escola de Medicina, que havia sido fundada 1861 junto ao Hospital Saint-François

de la Salle, foi reestruturada em 1926 sob a batuta da administração americana, tornando-se a

atual Faculdade de Medicina e Farmácia (FMP). Durante o período da ocupação, os estudos

médicos no Haiti viveram uma fase de acentuado desenvolvimento, em meio a um processo mais

amplo de intervenção nas áreas médica e de saúde pública por parte dos EUA na América Latina

(Figueiredo, 2009). Entre 1926 e 1938, o apoio da Fundação Rockefeller foi fundamental para a

aquisição de equipamento e material e para fornecer bolsas de estudos a médicos haitianos para

formação e treinamento nos Estados Unidos (McBride, 2002).

Criada em 1898, a antiga Seção de Arte Dentária foi transformada em 1938 na Escola de Arte

Dentária, associada à Faculdade de Medicina e Farmácia. Em 1950, foi separada da FMP,

constituindo a Faculdade de Arte Dentária, que finalmente se converteu na atual Faculdade de

Odontologia (FO) em 1968.

Fundada em 1924, ainda sob a ocupação americana, a Escola Central de Agricultura passou

por profundas transformações, que culminaram numa reforma que a converteu em Escola

Nacional de Agricultura em 1943. Em 1963, foi elevada ao estatuto de Faculdade de Agronomia

e, em 1968, transformada em Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária (FAMV). A partir

de 1977, a cooperação canadense passou a desempenhar um papel central em seu financiamento.

Posteriormente, em 1994, a FAMV passou a integrar definitivamente a Universidade de Estado

do Haiti, deixando a tutela do Ministério da Agricultura.

Foram essas faculdades (Direito, Medicina, Ciências e Agricultura) que constituíram o núcleo

que ofereceu as bases para o estabelecimento da UEH. A partir do Quadro I a seguir, é possível

ter uma visão geral da configuração atual dessa instituição, especificando seus centros de estudo

e pesquisa em funcionamento na capital do país. Ao longo de sua história, e particularmente

durante o período ditatorial da família Duvalier (1957 – 1986), a Universidade de Estado sofreu

com contínuas intervenções do poder estatal. Mais de uma vez, faculdades e institutos sofreram

intervenção direta, professores e alunos foram presos, torturados e mortos, além de outros tantos

que buscaram refúgio no exílio.

A UEH foi um dos alvos preferenciais do autoritarismo duvalierista e de sua obsessão

anticomunista, que se espalhou por todo o país: fala-se em mais de 30.000 desaparecidos entre os

anos 1950 e 1970, além de mais de um milhão de exilados econômicos e políticos (Hurbon,

Page 57: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

57

1979).13 O historiador e antropólogo haitiano Michel-Rolph Trouillot vê nas perseguições

duvalieristas e no aparato repressor montado pelo regime evidências suficientes para

caracterizar o Haiti dos Duvaliers como um dos regimes totalitários do século XX (Trouillot,

1990). Porém, assim como outro historiador e antropólogo Gérard Barthelemy, percebe na

história da consolidação do estado haitiano traços de repressão, autoritarismo e brutalidade que

teriam tanto precedido quanto sobrevivido ao próprio período duvalierista (Barthelemy, 1992).

Contudo, mesmo em meio à amplitude e ao alcance da repressão generalizada do regime, como

de praxe em outros contextos latino-americanos e caribenhos –, a virulência da perseguição aos

quadros e estudantes universitários se destaca, algo que, se já se prenunciava e se evidenciava na

própria linguagem do decreto presidencial responsável pela criação da UEH de 16 de dezembro

de 1960 (Duvalier, 1969; Deshommes, 2009), acabará se expressando numa política sistemática

de submissão da vida universitária ao estrito controle do governo e de suas forças paramilitares:

o movimento estudantil é banido e seus líderes perseguidos sob a justificativa de sua associação

com o perigo da proliferação comunista, estudantes e professores são submetidos a controles e

investigações arbitrárias, aprisionados ou sequestrados sem razão aparente e não foram raras as

ocasiões em que todo o conjunto da comunidade universitária foi associado à figura do inimigo

interno da própria nação, que, por sua vez, de acordo com o culto pessoal propalado pela

ideologia oficial do regime, encarnava-se na figura, nos projetos e nos ideais do próprio ditador

(Diederich, 2005; Florival, 2008; George-Pierre, 2004; Gilot, 2006).

Essa intervenção sistemática de uma política estatal repressiva na UEH por cerca de três

décadas, em lugar de desmobilizar ou silenciar estudantes e professores, acabou sendo

responsável por um elevado grau de politização da própria comunidade universitária. Ao lado de

movimentos sociais como as Organizações Populares, as Comunidades Eclesiais de Base ou o

movimento sindical, a UEH se transformou num dos centros de resistência organizada à

ditadura duvalierista e, nos anos que sucederam o seu ocaso, foi sempre um centro de debates e

de resistência a governos não necessariamente comprometidos com as expectativas

desenvolvimentistas, reformistas ou revolucionárias de setores mais organizados da comunidade

universitária, com o avanço e o aprofundamento do processo de democratização ou com uma

demanda mais ampla de melhoria da qualidade de vida do povo haitiano (Cf. Étienne, 1999;

Hurbon, 2001; Jadotte, 2005).

A democratização que teve início após a queda de Baby Doc não foi um processo contínuo e

nem tampouco cumulativo, tendo sido marcado por diversos saltos, hiatos e retrocessos. O

13 Qualquer avaliação que diga respeito a cifras ou estatísticas merece um cuidado especial ao se abordar a literatura

historiográfica ou sociológica haitiana. Sob muitos aspectos, existe uma tradição retórica de argumentação com base

em números cujas fontes ou procedimentos de obtenção não necessariamente são objetos de explicitação. Em

especial no que diz respeito à violência, seja no período Duvalier ou para cada uma das crises políticas subsequentes

durante a democratização, é frequente encontrar cifras de mortos, feridos, mutilados, violentadas etc. sem

referência a fontes de qualquer ordem. Por vezes, os números são visivelmente contraditórios, enquanto noutros

momentos tendem a convergir, mas raramente se considera necessário remeter a uma fonte ou a uma explicitação

metodológica que permita reconstruir a obtenção de tais dados.

Page 58: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

58

primeiro governo do presidente Jean-Bertrand Aristide (que durou pouco, de fevereiro a

setembro de 1991) foi interrompido por um golpe militar, que iniciou uma fase conhecida como

coup d'état (estendendo-se do dia do golpe, 30 de setembro de 1991, até a chegada das tropas

americanas que reinstalaram Aristide na presidência, em 15 de outubro de 1994). Atuando por

trás da presidência interina de Joseph Nérette, o general Raoul Cédras liderou um regime militar

particularmente violento, durante o qual a Universidade de Estado sofreu não apenas com o

embargo comercial que foi imposto ao país, como também foi vítima de uma intensa perseguição

por parte do governo interino e do exército, que afetou sobretudo o movimento estudantil.

Calcula-se que, em 1992, a campanha de repressão estatal tenha sido responsável por cerca de

2.000 mortos, número que, em 1994, chegaria a 5.000. Nos dois primeiros dias que se seguiram

ao golpe, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos calcula que foram assassinadas cerca

de 1.500 pessoas (Étienne, 1999: 171 – 177). Na altura, a UEH se transformou num dos bastiões

da defesa do retorno à ordem constitucional e, em novembro de 1991, cerca de 100 estudantes

reunidos na Faculdade de Ciências foram presos e torturados, muitos deles considerados

desaparecidos até hoje (Étienne, 1999: 180). Durante todo o período da ditadura militar

estabelecida com o golpe de estado de 1991, a universidade voltou a sofrer com o êxodo de seus

quadros, para além dos efeitos do embargo internacional na instituição.14

O retorno de Jean-Bertrand Aristide ao poder em 1994 – como resultado de uma intervenção

militar americana que não deixou de surpreender a população haitiana, especialmente ao se

levar em conta o acúmulo de indícios do velado apoio americano ao próprio golpe de estado que

o havia afastado – tampouco foi capaz de restaurar a normalidade de uma vida universitária

voltada para a formação e a pesquisa. A partir desse momento, a Universidade de Estado

mergulhou, como de resto todo o país, num ciclo incessante de crises, que promoveram ora a

paralisação do corpo docente, farto dos pagamentos salariais erráticos, ora a paralisação e mesmo

a radicalização do movimento estudantil. Outrora em grande medida entusiastas da figura de

Aristide, entre 2003 e 2004 os estudantes da UEH se converteram, juntamente com outros

setores da sociedade civil haitiana, num dos principais focos de oposição a um governo

crescentemente paramilitarizado, o que acarretou enfrentamentos violentos com organizações e

setores juvenis de bairros periféricos de Port-au-Prince que, armados pelo próprio governo,

forneciam efetivos para o esforço (crescentemente violento) de sustentação de Aristide no poder

(Deshommes, 2009; Fleurimond, 2009).

A crise política culminou com a deposição do presidente em fevereiro de 2004 e, a partir de

então, uma nova presença internacional se fez sentir no país, mas que tampouco contribuiu para

promover a normalização da vida acadêmica no interior da UEH. Assim como boa parte do

movimento sindical, o movimento estudantil passou a se galvanizar – quer em decorrência de

14 Podem-se imaginar os efeitos especialmente perversos que um embargo internacional provocam nas atividades

acadêmicas de instituições universitárias que precisam importar praticamente todo o material de que necessitam.

Em decorrência do embargo instituído durante o regime militar do general Cédras, tornou-se impossível adquirir

material pedagógico, realizar a manutenção adequada de laboratórios e equipamentos, adquirir livros e periódicos

para as bibliotecas etc.

Page 59: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

59

variantes do discurso nacionalista, quer como consequência de vinculações a projetos

revolucionárias na América Latina e no Caribe – em torno de uma plataforma de rejeição à

intervenção internacional das Nações Unidas, seja sob a forma de resistência à presença

ostensiva das tropas da MINUSTAH no país, seja como protesto contra sua insuficiência e

inoperância.

Exatos 150 anos após o início da implantação dos primeiros estabelecimentos universitários e

em meio a todas as crises recentes, a Universidade de Estado segue sendo a instituição que mais

contribuiu para a formação de quadros profissionais no país. Na atualidade, conta com 14.400

estudantes, 1.029 professores e 372 funcionários. Em suas 11 unidades na capital e 7 outras

distribuídas pelo país, recebe 3.815 novos estudantes a cada ano, selecionados em meio a um

universo de 16.822 alunos que, em 2009, haviam sido aprovados nos exames de admissão ao

ensino superior, somados a outros 7.291 estudantes que já se haviam qualificado em anos

anteriores mas não obtiveram uma vaga universitária condizente com suas expectativas ou com

seus meio financeiros. O número de candidatos vem aumentando anualmente e o número total

de 24.113 candidatos às vagas abertas pela UEH em 2010 somente indicam um momento preciso

da ampliação da base de estudantes que anualmente prestam os exames de ingresso aplicados por

seus diferentes institutos, escolas e faculdades, pois a cada ano que passa são mais numerosos os

novos candidatos que chegam aos exames e se somam aos que, já tendo tentado uma ou várias

vezes, seguirão tentando na esperança de obter uma vaga na universidade pública.

E não é apenas com suas próprias crises internas que a universidade se defronta ou com as

crises relacionadas a um ambiente político favorável a polarizações de toda a ordem, mas

também com o que representa em termos de desafios institucionais e de gestão setorial a

complexificação do universo das instituições de ensino superior privadas, além das demandas tão

perenes quanto prementes por uma maior descentralização e expansão por todo o território

nacional, assim como por respostas adequadas à crescente internacionalização dos sistemas

universitários na região do Caribe e para além dela.

A UEH é publica e, em princípio, gratuita. No entanto, todas as suas unidades cobram

distintas taxas (de inscrição, manutenção, rematrícula etc.) que têm um peso expressivo no seu

orçamento. Embora estejamos diante de uma universidade pública que segue o modelo das

grandes instituições desse tipo em outros países do mundo, as pressões existentes no Haiti

produzem uma profunda autonomia entre suas diversas unidades. Assim, um orçamento

universitário incerto e que provém de um orçamento público dependente da cooperação

internacional, acaba por pressionar cada uma das unidades da UEH a buscar obter seus próprios

recursos, geralmente associados a distintas alianças também no âmbito das agências

internacionais de cooperação e a uma oscilação no volume das taxas cobradas dos estudantes.

Page 60: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

60

Tabela 8 – Histórico e perfil institucional das unidades da Universidade de Estado do Haiti em

Port-au-Prince

Unidade Fundação Histórico e perfil institucional

Escola Normal Superior

(ENS)

1947 Dedicada inicialmente à formação de professores para o ensino médio e

superior nas áreas de Letras e Ciências, a partir de 1973 se concentra na

formação de professores para o ensino secundário

Faculdade de Agronomia e

Medicina Veterinária

(FAMV)

1924 Foi considerada, desde sua fundação, uma faculdade de extrema

importância e segue sendo uma das mais prestigiadas, como

consequência da tradição rural do Haiti

Faculdade de Direito e

Ciências Econômicas

(FDSE)

1860 Em conjunto com a FMP, a escola que deu origem à atual FDSE

constituiu um dos centros da vida universitária do país. Além de formar

advogados e economistas, foi responsável pela formação de gerações de

políticos e intelectuais

Faculdade de Etnologia (FE) 1958 Desempenhou um papel estratégico na história institucional do país

devido ao relevo assumido pelas disciplinas etnológicas na interpretação

das especificidades da história nacional. Compartilha com a FASCH a

responsabilidade pela formação de quadros voltados para a área de

desenvolvimento, que atuam em órgãos públicos e governamentais,

assim como em ONGs e agências internacionais

Faculdade de Linguística

Aplicada (FLA)

1978 Ligada ao projeto de reconhecimento do bilinguismo haitiano e voltada

para a formação de especialistas em kreyòl, participa na produção de

material escolar, dicionários, projetos de alfabetização e intervenções na

educação formal e informal e no debate acadêmico com outros espaços

“crioulófonos”

Faculdades de Medicina e

Farmácia (FMP) /

Escola de Tecnologia

Médica (ETM)

1861 Como nos demais países da América Latina, a Faculdade de Medicina se

caracterizou por ser uma das instituições de maior prestígio e

responsável pela formação de alguns dos mais importantes quadros

nacionais. Foi uma das instituições estratégicas durante a ocupação

americana (1915 – 1934)

Faculdade de Odontologia

(FO)

1938

Inicialmente vinculada à Medicina, a FO se tornou autônoma em 1968

Faculdade de Ciências

(FDS)

1902 Inicialmente uma instituição privada, esteve tradicionalmente voltada à

formação de engenheiros

Faculdade de Ciências

Humanas (FASCH)

1974 Para além da formação de pesquisadores das distintas áreas das Ciências

Humanas, a FASCH tem desempenhado um importante papel na

formação de quadros para a atuação em instituições públicas e

governamentais voltadas para projetos de desenvolvimento, formando

também boa parte dos quadros locais vinculados às ONGs e às agências

internacionais

Instituto de Estudos e

Pesquisas Africanas

(IERAH)/

Instituto Superior de

Estudos e de Pesquisas em

Ciências Sociais (ISERSS)

1981

(IERAH)

2007

(ISERSS)

Fundado com o propósito de formar estudantes e pesquisadores atentos

para os fatores históricos, sociais e culturais que aproximam a sociedade

haitiana dos países africanos e da experiência histórica da diáspora

africana

Instituto Nacional de

Administração Pública e de

Empresas e de Altos Estudos

1979 Formação de quadros administrativos para a função pública e privada,

oferece também cursos de aperfeiçoamento e especialização

Page 61: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

61

Internacionais (INAGHEI)

Tabela 9 – Perfil acadêmico da UEH (carreiras, vagas e programas de mestrado) Unidade Curso de graduação Duração Admissões15 Total

de

alunos

Pós-graduação

Escola Normal

Superior (ENS)

Letras

Línguas modernas

Filosofia

Ciências naturais e

química

Matemática

Física

Ciências sociais

3 anos 175 500 Mestrado em Francês

como língua estrangeira

Mestrado em Matemática

Mestrado em Letras

Mestrado em Filosofia

Faculdade de

Agronomia e Medicina

Veterinária (FAMV)

Economia e

desenvolvimento

rural

Engenheiro

agrônomo

Produção animal

Fitotecnia

Recursos naturais e

meio ambiente

Tecnologia

agroalimentar

4 100 467

Faculdade de Direito e

Ciências Econômicas

(FDSE)

Direito

Economia

4

4

250

250

= 500

740

688

= 1.428

Mestrado em

Criminologia, oferecido

em conjunto com

professores do

IERAH/ISERSS no

PMISSH

Faculdade de Etnologia

(FE)

Antropossociologia

Sociologia

Psicologia

4

4

5

400 1.328 Mestrado em Ciências do

Desenvolvimento

Faculdade de

Linguística Aplicada

(FLA)

Linguística aplicada

Ciências da

linguagem

Francês (língua

4 120 600

15 Os números se referem somente à graduação e dizem respeito ao período letivo 2009-2010. Tanto o número de

admissões anuais como o número total de alunos matriculados para o período foram decompostos por opção de

carreira somente naqueles casos em que a opção já é feita a partir do primeiro ano. Nos casos em que são oferecidas

várias opções de carreira e os números foram apresentados somente como total, isso indica a oferta do primeiro ano

como curso propedêutico ou de ciclo comum a todas as carreiras.

Page 62: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

62

estrangeira)

Faculdades de

Medicina e Farmácia

(FMP) /

Escola de Tecnologia

Médica (ETM)

Medicina

Farmácia

Tecnologia médica

5

4

2

100

40

25

= 165

495

116

45

= 656

Mestrado em

Administração

Hospitalar

Faculdade de

Odontologia (FO)

Odontologia 5 30 105

Faculdade de Ciências

(FDS)

Eng. Civil

Arquitetura

Eletromecânica

Eletrônica

Licenciatura em

Química

Topografia

5

5

5

5

3

2

200 583 Mestrado em Base de

dados (18 meses)

Faculdade de Ciências

Humanas (FASCH)

Comunicação Social

Psicologia

Serviço Social

Sociologia

4 300 1.804 Mestrado em População

e Desenvolvimento

Instituto de Estudos e

Pesquisas Africanas

(IERAH) /

Instituto Superior de

Estudos e de Pesquisas

em Ciências Sociais

(ISERSS)

Filosofia e Ciência

Política

Geografia

História

História da Arte e

Arqueologia

Turismo e

Patrimônio

4 200 500 Mestrado em

Criminologia, oferecido

em conjunto com

professores da FDSE no

PMISSH

Mestrado em História,

Memória e Patrimônio

Instituto Nacional de

Administração Pública

e de Empresas e de

Altos Estudos

Internacionais

(INAGHEI)

Administração

pública

Ciências contábeis

Ciência política e

relações

internacionais

Gestão

Ciclo curto de

ciências contábeis

Programas de

treinamento de curta

duração

4

4

4

4

2

Programas

semestrais

ou anuais

450

2.610

Mestrado em Ciência

Política

Page 63: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

63

A tabela anterior explicita que, com todos os limites, em meio à imensa precariedade e

lidando com situações extremamente complicadas ao longo de sua história, a UEH conseguiu

construir um universo de opções acadêmicas bastante vasto. A grande universidade pública do

Haiti cobre um amplo espectro de carreiras, abarcando aquelas que tradicionalmente

acompanharam a própria consolidação da instituição (Direito, Medicina, Agronomia e

Engenharias), aquelas que se mostraram estratégicas ao longo do processo de formação nacional

(Ciências Humanas, Linguística e Filosofia), aquelas necessárias para o próprio desenvolvimento

do país (formação de professores e profissionais de saúde, técnicas agrícolas e ambientais,

treinamento de economistas etc.). Todos os centros foram, sem dúvida alguma, responsáveis pela

capacitação de quadros fundamentais e decisivos para a burocracia estatal e, nas últimas décadas,

pela preparação dos profissionais haitianos vinculados ao onipresente terceiro setor, de perfil

nacional e também internacional.

No momento anterior ao terremoto, eram gigantescos os desafios com que se defrontava a

UEH, mas muitos de seus quadros estavam dispostos e preparados para enfrentá-los. Se o

número total de alunos era pequeno para as exigências de um país que, em muitas estimativas,

chega a ultrapassar os 10 milhões de habitantes, as salas de aula da UEH costumavam estar

frequentemente lotadas de alunos, o que evidenciava a necessidade de um aumento no número

de professores. Um dos principais problemas que afligiam o quadro docente, além dos baixos

salários e da intermitência de seu pagamento, era a inexistência de um plano de carreira. Como

consequência, os melhores professores e pesquisadores geralmente dividiam seu tempo entre a

docência na UEH, a docência em centros privados e o trabalho na iniciativa privada ou junto às

organizações internacionais.

Como se pode depreender da comparação entre as tabelas referentes à UEH, a esmagadora

maioria dos centros vinculados à universidade está concentrada no Departamento do Oeste, ou

seja, na capital do país ou em seu entorno imediato, acompanhando, assim, uma tendência geral

do país, pelo menos desde a ocupação americana, à macrocefalia, não só em termos econômicos

e administrativos, como também em termos culturais e mesmo demográficos. Destaque-se que o

Haiti possui uma extraordinária tradição regional, que, ao longo do primeiro século da existência

do país, permitiu a proliferação de iniciativas autônomas em todos os setores da vida social em

cidades como Les Cayes, Cap-Haïtien, Jérémie, Gonaïves e Jacmel. Em muitos momentos da

história haitiana, os efeitos do desenvolvimento foram sentidos nessas cidades antes mesmo de

chegarem à capital do país, como foi o caso da telefonia, que foi instalada inicialmente em

Jacmel, num marcante esforço pioneiro. Foi ao longo dos anos da ocupação americana que se

consolidou uma dinâmica centralizadora que passou a concentrar em Port-au-Prince todas as

possibilidades de formação profissional e de ascensão social.

Não foram poucas as iniciativas em outros centros urbanos no sentido de fundar instituições

de ensino superior que dessem conta das necessidades locais ou mesmo que se contrapusessem

aos efeitos perversos do excessivo centralismo de Port-au-Prince. Porém, a lógica diretiva do

estado moderno haitiano estava definida. Algo que a tabela a seguir pode demonstrar é que foi

somente a partir dos anos 1980 que a UEH passou efetivamente a promover uma sorte de

Page 64: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

64

expansão em determinadas capitais departamentais. No entanto, a iniciativa se restringiu

exclusivamente aos cursos de Direito, Economia e Gestão, cujo propósito é evidentemente o de

formar quadros locais para o aparato burocrático e para iniciativas de desenvolvimento.

Tabela 10 - Unidades provinciais da Universidade de Estado do Haiti

Unidade Fundação História e perfil Cursos

Escola de Direito e

de Ciências

Econômicas dos

Cayes

1894 Fundada como Escola Livre de Direito em 1894 e incorporada pela

Universidade do Haiti em 1948. A seção de economia foi criada

em 1997. A escola se insere na longa tradição das elites provinciais

do sul do país de formar seus próprios quadros intelectuais

Direito

Economia

Faculdade de Direito,

Ciências Econômicas

e Gestão do Cap-

Haïtien

1892 Incorporada à Universidade de Estado em 1983, também se alinha

à forte tendência entre as elites do norte de buscar autonomizar a

formação de seus quadros em relação ao controle das instituições

estatais centralizadas em torno de Port-au-Prince

Direito

Economia

Gestão

Escola de Direito de

Jacmel

1981 Foi a primeira escola departamental a ser fundada em meio ao

esforço mais recente da UEH em busca da descentralização e da

formação de quadros locais

Direito

Escola de Direito e

Ciências Econômicas

de Fort-Liberté

1986 Juntamente com as demais escolas departamentais, insere-se na

tentativa de descentralizar a formação de quadros da

administração pública e da gestão de negócios

Direito

Gestão

Escola de Direito e

Ciências Econômicas

das Gonaïves

1988 Corresponde igualmente ao esforço de descentralizar a formação

de quadros locais. Devidos à precariedade da situação estrutural de

Gonaïves após a destruição provocada pelos ciclones e inundações

dos últimos anos, os estudantes devem realizar parte dos seus

estudos nas instalações da UEH de Port-au-Prince

Direito

Gestão

Escola de Direito de

Hinche

1989 Procura levar adiante o projeto de descentralização do ensino

superior, com a instalação de mais uma unidade provincial da

UEH num dos departamentos com menor oferta de vagas de

ensino superior em todo o país

Direito

Escola de Direito e

Economia de Port-

de-Paix

1992 Representa a última unidade departamental a ser fundada pela

UEH em seu esforço descentralizador da formação de quadros

profissionais e da administração pública local

Direito

Economia

É possível constatar, portanto, que mesmo as incipientes iniciativas descentralizadoras

pautam-se por um perfil padronizado de formação, o que faz com que muitas áreas acabem

sendo negligenciadas. Diante desse desafio, tanto a UEH como universidades públicas locais

devem propor uma expansão que fortaleça a formação universitária em áreas cruciais, como

saúde, tecnologias de comunicação e informação, estudos rurais e formação de professores. Por

outro lado, é preciso confrontar esse peculiar fenômeno de centralização mesmo em meio aos

esforços incipientes de descentralização, uma vez que são os quadros e os recursos das unidades

centrais da UEH que são mobilizados para preencher ou complementar os quadros funcionais

das unidades departamentais. Em sua grande maioria, os centros provinciais vinculados à UEH

acabam vendo sua dependência em relação aos órgãos centrais da universidade reproduzida e

reforçada, na medida em que são docentes e tutores da capital que se deslocam à província para

ministrar cursos concentrados em alguns dias da semana, geralmente durante o fim de semana.

Page 65: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

65

As carências relacionadas à estrutura de ensino – laboratórios, bibliotecas, computadores,

salas de estudo etc. – são enormes, constituindo-se tais unidades departamentais geralmente

num mero aglomerado de salas de aula, e mesmo estas com uma estrutura deplorável. No mais

das vezes, essas faculdades de província realizam suas atividades em escolas primárias ou

secundárias, usualmente com horários alternados em relação aos horários de aula das crianças e

adolescente, mas não raro sem qualquer alternância, sendo os estudantes universitários a dividir

o espaço com as crianças e adolescentes.

Tabela 11 - Universidade de Estado do Haiti: Titulação, carreiras e opções oferecidas

Graduação Titulação Carreira Opções Duração Estabelecimentos

Técnico(a) Topografia 2 FDS

Ciências contábeis 2 INAGHEI

Tecnologia médica 2 ETM/ FMP

Enfermeiro(a) Enfermagem 3 ENIP, ENIC, ENICH,

ENIJ

Bacharel /

Licenciado(a)

Letras 4 ENS

Matemática 4 ENS

Física 4 ENS

Química e ciências naturais 4 ENS

Ciências sociais História, Geografia 4 ENS

Línguas modernas Inglês, Espanhol, Alemão 4 ENS

Filosofia 4 ENS

Antropossociologia 4 FE

Estudos africanos e afro-

caribenhos

Ciências sociais

Antropologia

4 IERAH

Psicologia 4 FASCH, FE

Comunicação social 4 FASCH

Sociologia 4 FASCH

Serviço social 4 FASCH

Direito 4 FDSE

Ciências Econômicas 4 FDSE

Administração Gestão

Administração pública

4 INAGHEI

Ciência política Relações internacionais 4 INAGHEI

Ciências contábeis 4 INAGHEI

Linguística aplicada 4 FLA

Odontologia 5 FO

Engenheiro(a) Agronomia Fitotecnia

Engenharia Rural

Recursos naturais

Economia e

desenvolvimento rural

Produção animal

5 FAMV

Arquitetura 5 FDS

Civil 5 FDS

Eletromecânica 5 FDS

Eletrônica 5 FDS

Page 66: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

66

Pós-graduação

Titulação Carreira Duração Estabelecimentos

Mestrado Administração hospitalar 2 FMP

Base de dados 2 FDS

Ciências do desenvolvimento 2 FE

Ciência política 2 INAGHEI

Criminologia 2 PMISSH

Filosofia 2 ENS

Francês como língua estrangeira 2 ENS

História, memória e patrimônio 2 PMISSH

Letras 2 ENS

Matemática 2 ENS

População e desenvolvimento 2 FASCH

Doutorado profissional Medicina16 6 FMP

16 Trata-se da graduação em Ciências Médicas. De modo geral, todas as instituições haitianas de ensino superior que

oferecem formação na carreira médica certificam seus graduando com títulos de doutoramento profissional.

Page 67: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

67

Quadros estatísticos da UEH

Tabela 12 – Unidades da UEH na capital

Unidade Estudantes

(% do total)

Admissões

(% do total)

Professores

(% do total)

Professores/

100 alunos

Professores

em regime

integral

Funcionários

ENS 500 (3,47) 175 (4,59) 33 (3,21) 6,6 - 7 (1,88)

FAMV 467 (3,24) 100 (2,62) 50 (4,86) 10,7 35 (70%) 115 (30,91)

FDSE 1.428 = 740 D

+ 688 E (9,92)

500 (13,11) 85 (8,26) 5,95 - 35 (9,41)

FE 1.328 (9,22) 400 (5,49) 47 (4,57) 3,54 - 33 (8,87)

FLA 600 (4,17) 120 (3,15) 33 (3,21) 5,5 - 14 (3,76)

FMP 656 = 495M +

116F + 45TM

(4,55)

165 = 100M +

40F + 25TM

(4,32)

171 = 106M +

47F + 18TM

(16,62)

26,07 = (21,41 M

+ 40,52 F + 40

TM) /3

- 30 (8,06)

FO 105 (0,73) 30 (0,79) 42 (4,08) 40 - 17 (4,57)

FDS 583 (4,05) 200 (5,24) 89 (8,65) 15,27 10 (11,24%) 30 (8,06)

FASCH 1.804 (12,53) 300 (7,86) 131 (12,73) 7,26 18 (13,74%) 51 (13,71)

IERAH 500 (3,47) 200 (5,24) 29 (2,82) 5,8 - 21 (5,65)

INAGHEI 2.610 (18,12) 450 (11,8) 147 (14,29) 5,63 - 86 (23,12)

Total PaP 10.581 (73,48) 2.640 (69,2) 857 (83,28) 8,1 63 (7,35%) 306 (82,26)

Tabela 13 – Unidades da UEH na província

Unidade Estudantes

(% do total)

Admissões

(% do total)

Professores

(% do total)

Professores/

100 alunos

Professores

em regime integral

Funcionários

EDEFL 350 (2,43) 125 (3,28) 15 (1,46) 4,29 - 9 (2,42)

EDH 500 (3,47) 200 (5,24) 22 (2,14) 4,4 - 7 (1,88)

EDJ 369 (2,56) 150 (3,93) 20 (1,94) 5,42 - 3 (0,8)

EDPP 400 (2,78) 150 (3,93) 20 (1,94) 5 - 5 (1,34)

EDSEC 600 (4,17) 225 (5,9) 25 (2,43) 4,17 - 12 (3,23)

EDSEG 350 (2,43) 125 (3,28) 15 (1,46) 4,29 - 9 (2,42)

FDSECH 1.250 (8,68) 350 (9,17) 55 (5,34) 4,4 - 21 (5,65)

Total Província 3.819 (26,52) 1.175 (30,8) 172

(16,72)

4,52 0 66

(17,74)

Tabela 14 – Totais referentes ao conjunto da UEH

Unidade Estudantes

(% do total)

Admissões

(% do total)

Professores

(% do total)

Professores/

100 alunos

Professores

em regime integral

Funcionários

Total PaP 10.581 (73,48) 2.640 (69,2) 857 (83,28) 8,1 63 (7,35%) 306 (82,26)

Total Província 3.819 (26,52) 1.175 (30,8) 172 (16,72) 4,52 0 66 (17,74)

Total UEH 14.400 3815 1029 7,15 63 (6,12%) 372

Page 68: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

68

Tabela 15 – Despesas e repasses orçamentários nas unidades da capital

Unidade Orçamento HTG (US$)17 % do orçamento total Gasto anual (US$) / estudante

ENS 8.000.000 (201,257.86) 7,23 402.52

FAMV 20.348.600 (511,914.46) 18,39 1,096.18

FDSE 11.300.000 (284,276.73) 10,21 199.07

FE 5.600.000 (140,880.50) 5,06 106.08

FLA 3.000.000 (75,471.70) 2,71 125.78

FMP 9.000.000 (226,415.09) 8,13 457.40

FO 7.000.000 (176,100.63) 6,33 1,677.15

FDS 13.900.000 (349,685.53) 12,56 599.80

FASCH 15.685.900 (394,613.84) 14,18 218.74

IERAH 2.800.000 (70,440.25) 2,53 140.88

INAGHEI 14.000.000 (352,201.25) 12,65 134.94

Total PaP 110.634.500 (2,783,257.86) 263.05

Tabela 16 - Sumário estatístico da UEH (valores mínimos e máximos por unidade)

Estudantes 14.400 (>105 <2610)

Admissões 3.815 (>30 <500)

Professores 1.029 (>15 <171)

Pessoal administrativo e de apoio 372 (>3 <115)

Professores/ 100 estudantes 7,15/100 (>3,54/ 100 <4/10)

Aporte orçamentário pelo Tesouro Nacional HTG / US$ HTG 110.634.500 / US$ 2,783,257.86

(>2.53% <18.39%)

% do orçamento nacional 0,77

Investimento por estudante/ano (US$) 263.05 (>106.08 <1,677.15)

17 Valores de câmbio de 28.02.2010 (US$1 = 39,75 HTG).

Page 69: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

69

Outras instituições públicas

As instituições públicas não se restringem às faculdades e institutos vinculados à UEH. Ao

longo das últimas décadas, como resultado de uma série de iniciativas governamentais, com o

apoio de diversas agências internacionais de cooperação, mas também da própria demanda das

instâncias governamentais e das organizações internacionais atuantes no país por pessoal

especializado, foram abertos vários centros públicos de ensino superior, de treinamento e de

aperfeiçoamento profissional, que procuram suprir carências em áreas não contempladas pela

UEH. Contando com uma autonomia relativa diante dos órgãos ministeriais responsáveis por seu

financiamento e gestão, esses centros públicos têm os diplomas que emitem homologados

automaticamente pela UEH. São livres, porém, para estabelecer seus próprios mecanismos de

admissão, estipular limites de vagas (ou ampliá-los) e definir as taxas de admissão que serão

cobradas dos estudantes, que seguem sendo, mesmo para instituições públicas de ensino

superior, em meio à provisão errática de fundos pelo governo nacional, uma fonte crucial de

recursos para sua manutenção.

Alguns deles alcançaram considerável prestígio, como é o caso da ENST, responsável pela

formação de pessoal na área de administração e informática, mesmo a despeito do reduzido

número de estudantes que eram capazes de atender. Outros têm um perfil bastante mais

direcionado a programas de formação específicos e de inserção profissional dirigida, como o caso

da ENAF, centro diretamente vinculado ao Ministério da Economia e das Finanças, responsável

em grande medida pela formação de altos quadros na gestão das finanças do estado e pela

capacitação continuada de próprios funcionários.

A Escola Nacional das Artes merece um destaque especial, pois existe no Haiti uma

extraordinária tradição no campo das artes, em particular nas artes plásticas, mas igualmente na

música e nas artes dramáticas e performáticas. Aquilo que internacionalmente se convencionou

reconhecer como arte naïf corresponde, na verdade, a um campo plenamente estruturado de

produção visual e circulação internacional de artefatos artísticos que conecta aqueles que

apreciam a arte haitiana mundo afora a um extenso universo formado por ateliês de artistas,

centros de formação, galerias de arte e, inescapavelmente, a ENARTS, mantida por subvenções

do Ministério da Cultura. A predicação naïf não deve, de modo algum, ser tomada em sua

literalidade. Longe das notas rapsódicas exotizantes e das noções de comunalidade e

impessoalidade de uma arte espontânea, popular e não autoral, o campo das artes plásticas

haitianas é pontuado por artistas conhecidos e renomados, por estilos e escolas que transmitem

suas propostas e concepções por meio de ateliês, fazendo igualmente uso extensivo do espaço

não apenas físico, mas também simbólico, representado pela ENARTS. Esse universo tampouco

se restringe à pintura. No campo das artes plásticas no Haiti, destaque especial também é devido

à escultura (especialmente em ferro, mas também com uma infinidade de outros materiais), à

tapeçaria (geralmente de inspiração religiosa) e à tradição de máscaras, bonecos e fantasias de

carnaval. Desde sua formação, a ENARTS vem procurando assegurar o contato e a continuidade

entre os esforços de diferentes gerações de artistas haitianos, assim como uma estruturação da

Page 70: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

70

formação de gerações sucessivas não só de artistas plásticos, músicos, dramaturgos, atores e

dançarinos, mas também de historiadores e críticos de arte. Procura oferecer também um espaço

de contato com técnicas distintas de produção para todos os alunos e ex-alunos, na medida em

que a instituição se concebe como um espaço de formação e aperfeiçoamento contínuos.

Outra das escolas nacionais estabelecidas e mantidas por subvenções ministeriais era a Escola

Nacional das Enfermeiras de Port-au-Prince, que deve ser compreendida em meio ao conjunto

dos esforços do Ministério da Saúde em formar quadros na área de enfermagem espalhados por

todo o país. Além de Port-au-Prince, capital departamental do Oeste, há escolas nacionais de

enfermagem em Jérémie, Cap-Haïtien e Les Cayes, respectivamente as capitais departamentais

da Grand'Anse, do Norte e do Sul. Para além dessas, há outras ligadas a entidades privadas ou

religiosas envolvidas na formação de pessoal de enfermagem e obstetrícia. Em que pese todo o

esforço de descentralização no campo da formação em enfermagem, o papel desempenhado pela

ENIP em Port-au-Prince continuava sendo desproporcionalmente importante, não apenas

formando um número muito maior de enfermeiras, que também acabavam suprindo as carências

regionais, como também concentravam o maior número de professores e praticamente todos os

mecanismos de treinamento e aperfeiçoamento profissional para enfermeiras e parteiras já

formadas. O efeito de sua completa destruição e da morte da maioria de suas estudantes e de boa

parte de seus professores afetará gravemente suas escolas correlatas nas províncias e deixará uma

lacuna no setor da saúde pública no Haiti cujas dimensões ainda mal podem ser delineadas.

Em meio ao universo das instituições públicas de ensino superior distribuídas pelas

províncias, destacam-se sem dúvida as escolas voltadas à formação de enfermeiras, mas outras

iniciativas são extremamente antigas e revelam tentativas regionais de formação de quadros e

mesmo de competir com Port-au-Prince como foco de atração de jovens estudantes. No caso da

Universidade Pública de Cap-Haïtien, a data de 1986 é apenas indicativa do momento em que

foram reunidas numa mesma instituição uma série de centros autônomos que já vinham

funcionando há muito mais tempo na capital do departamento do Norte, algumas delas já

mesmo desde o século XIX.

Assim, também entre os desafios do ensino superior no Haiti, vinculado ao setor público ou a

outras iniciativas, deve ser claramente destacada a urgente necessidade de descentralização e

diversificação da oferta em outras partes do país que não apenas na capital. Essa descentralização

deve atender às demandas específicas das realidades locais, em lugar de ser apenas uma espécie

de réplica em miniatura ou entrepostos de fim de semana de instituições estabelecidas Port-au-

Prince. Muito menos devem depender exclusivamente de profissionais estabelecidos na capital

do país. Com a licença de parecer insistir no óbvio, cabe insistir que as capitais provinciais são

efetivamente cidades de médio porte e o universo provincial está longe de se restringir a uma

paisagem rural. Cap-Haïtien possui mais de meio milhão de habitantes e a população de Les

Cayes supera a marca dos 300.000. Entre as demandas desses distintos centros urbanos está a

possibilidade de atrelar o desenvolvimento local à formação de quadros que não se vejam

obrigados a abandonar sua cidade ou sua região e seguir para Port-au-Prince para obter qualquer

tipo de formação acadêmica ou profissional ou para obter acesso a qualquer recurso educacional.

Page 71: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

71

Gráfico 14 - Composição do pessoal das instituições públicas de ensino superior

Page 72: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

72

Tabela 17 - Instituições públicas de ensino superior autônomas em relação à UEH e situadas na

capital

Unidade Fundação Cursos Órgão gestor Admissões Alunos Duração

Centro Nacional de

Formação Profissional

(CNFP) /

Centro Piloto de

Formação Profissional

e Técnica (CPFPT)

1978 Contabilidade

Edificações

Eletrotécnica

Informática

Instalação sanitária

e hidráulica

Mecânica diesel

Serralheria

Telecomunicações

Instituto Nacional

de Formação

Profissional (INFP) /

MENFP

500 934 3

Escola Nacional de

Administração

Financeira (ENAF)

1978 Alfândega

Economia

Impostos

Tesouro

Ministério da

Economia e

Finanças

50 145 2 +

estágio

Escola Nacional de

Geologia Aplicada

(ENGA)

1978 Ciências da Terra

Técnico ambiental

Topografia

MENFP 35 018 3

Escola Nacional das

Enfermeiras de Port-

au-Prince (ENIP)

1979 Enfermagem

Ministério da Saúde 100 275 3

Centro de Técnicas de

Planejamento e de

Economia Aplicada

(CTPEA)

1983 Economia Aplicada

Estatística

Planejamento

Ministério do

Planejamento e da

Cooperação

Internacional

75 132 4

Escola Nacional das

Artes (ENARTS)

1983 Artes Plásticas

Dança

História da Arte

Música

Teatro

Ministério da

Cultura

019 200 4

Escola Nacional

Superior de

Tecnologia (ENST)

1988 Gestão

Informática

MENFP 30 95 4

18 Desativada desde 2006, pretendia reabrir o processo seletivo em 2010, com um número inicial de 35 vagas. 19 Não são aceitas novas matrículas desde 2005.

Page 73: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

73

Mapa 2 - Instituições públicas nas províncias

Page 74: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

74

Tabela 18 – Efetivos das instituições públicas de ensino superior

Categoria Instituição Total de

estudantes

Admissões

anuais

Professores Funcionários

Escolas e faculdades

provinciais da UEH

Ecole de Droit et d'Économie

de Fort-Liberté (EDEFL)

350 125 15 9

Ecole de Droit de Hinche

(EDH)

500 200 22 7

Ecole de Droit de Jacmel

(EDJ)

369 150 20 3

Ecole de Droit de Port-de-

Paix (EDPP)

400 150 20 5

Ecole de Droit et des Sciences

Économiques des Cayes

(EDSEC)

600 225 25 12

Ecole de Droit et des Sciences

Économiques des Gonaïves

(EDSEG)

350 125 15 9

Faculté de Droit, des Sciences

Économiques et de Gestion du

Cap-Haïtien (FDSECH)

1250 350 55 21

Efetivo parcial 3.819 1.175 172 66

Universidades públicas

departamentais

Université Publique de

l’Artibonite aux

Gonaïves (UPAG)

700 250 43 32

Université Publique du Nord

au Cap-Haïtien

(UPNCH)

662 471 49 37

Université Publique du Sud

aux Cayes (UPSAC)

700 210 52 39

Efetivo parcial 2.062 930 144 108

Escolas nacionais de

enfermagem nas

províncias

Ecole Nationale des

Infirmières de Jérémie

(ENIJ)

300 100 37 15

Ecole Nationale des

Infirmières des Cayes

(ENIC)

300 100 39 18

Ecole Nationale des

Infirmières du Cap-

Haïtien (ENICH)

300 100 38 19

Efetivo parcial 900 300 154 69

Efetivo total 6.781 2.405 470 243

Page 75: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

75

Instituições privadas

No Haiti, como de resto no conjunto da América Latina e do Caribe, assistiu-se nas últimas

duas décadas a um crescimento impressionante do ensino privado, buscando atender a

demandas represadas e suprir carências dos sistemas públicos de ensino superior. Ainda não foi

realizada uma avaliação sistemática das instituições de ensino superior neste país, mas alguns

traços mais destacados desse fenômeno podem ser indicados. Embora existissem já desde a

década de 1960 alguns casos isolados de centros privados de ensino sendo estabelecidos no país,

fundamentalmente ligados a ordens ou missões cristãs, tanto católicas como protestantes, e ao

longo da década de 1970, fossem fundados alguns outros, inclusive em áreas provinciais, foi

somente a partir de meados dos anos 1980 que essas instituições privadas começaram a se

espalhar e o campo privado começou a se adensar, com um crescimento particularmente

acentuado a partir da virada dos anos 1990. Quadros profissionais formados no exílio

desempenharam um papel crucial na formação de grande parte dessas instituições: retornando

de uma estadia no exterior pautada pela atuação profissional em prestigiadas instituições no

continente americano ou europeu, tinham perfeita clareza das limitações do ensino superior no

país e não encontravam segurança institucional e financeira numa ligação exclusiva com a UEH.

Esta, por seu turno, não tinham condições de incorporar a totalidade desses quadros que

progressivamente optavam pelo retorno após a queda do clã Duvalier em 1986 e à medida que se

delineavam as perspectivas de democratização do país.

Da mesma forma como havia ocorrido com o desenvolvimento do sistema público de ensino

superior até aquele momento, também as instituições privadas acabaram se concentrando

predominantemente na capital do país, contribuindo elas também para reforçar as tendências

centralizantes do desenvolvimento haitiano ocorrido após o fim do período ditatorial. A

despeito dessa desproporcional concentração, o número de instituições particulares distribuídas

por capitais provinciais não é, contudo, de todo inexpressivo. Algumas universidades privadas,

como a Universidade Quisqueya e a Universidade Notre-Dame d'Haïti, têm criado importantes

sedes departamentais e aberto cursos diversificados em centros de ensino bastante bem

estruturados em algumas capitais provinciais, tentando responder a uma evidente demanda não

atendida pelas instituições públicas. No entanto, parece que tampouco esses esforços de fazer

frente a carências do sistema público escapam aos vícios e limitações que também incidem sobre

os esforços públicos de descentralização: os professores são em geral os mesmos que trabalham

nas sedes da capital e que se deslocam apenas alguns dias por semana ao centro provincial, ao

mesmo tempo em que têm de lidar com a precariedade de suas estruturas, muito mais limitadas

do que aquelas existentes em Port-au-Prince.

Page 76: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

76

Gráfico 15 - Evolução do número de instituições privadas de ensino superior

Como se pode imaginar, o crescimento acelerado e desregulado do sistema universitário

privado gerou resultados bastante desiguais, indo desde instituições de imenso dinamismo e

prestígio, com ambições de se estabelecer em posições de competitividade com instituições de

todo o Caribe, até centros de ensino que sequer podem oferecer a seus estudantes as estruturas

mais básicas de ensino, como computadores ou bibliotecas. Parte dessas instituições privadas

conta com grande reconhecimento local e internacional e respondem à demanda de uma elite

que não pode ou não deseja enviar os seus filhos para o exterior do país ou que estaria

relativamente cansada das sucessivas crises da UEH, com suas incessantes greves de professores e

de alunos, intervenções, precariedade das instalações etc. Tais universidades prestigiosas

costumam ter convênios com instituições no exterior – com destaque para os Estados Unidos,

Canadá, França e República Dominicana – e espera-se que parte delas possa contar com essas

redes de apoio internacional para reagir mais rapidamente à destruição causada pelo terremoto e

buscar recuperar suas estruturas destruídas ou danificadas.

Page 77: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

77

Por mais que os sistemas público e privado de ensino superior no Haiti se tenham

desenvolvido em momentos históricos tão distintos, seguindo configurações institucionais tão

diversas -- com uma pluralidade vertiginosa de instituições privadas e um número reduzidíssimo

de instituições públicas, invariavelmente gravitando em torno da UEH –, seria errôneo

depreender disso que haja qualquer tipo de incomunicabilidade ou oposição entre eles. Muito

pelo contrário, são imensas complementaridades e muita cooperação o que se vê em meio a essa

profusão de centros privados de ensino procurando atender à demanda frustrada pela

insuficiência de vagas no sistema público. Em busca de complementos salariais e em vista da

intermitência da remuneração na universidade pública, são muitos os professores que trabalham

alternada, sucessiva ou simultaneamente em instituições públicas e privadas. Como tampouco é

raro entre os estudantes encontrar aqueles que procuram fazer frente às constantes interrupções

nas atividades letivas e às carências materiais das instituições públicas com a frequência paralela

de um ou mesmo mais cursos em instituições privadas.

Inclusive no que diz respeito aos esforços de reforma e modernização do sistema universitário

haitiano e de estabelecimento de estruturas e equipamentos acadêmicos e culturais de maior

envergadura, que poderiam beneficiar todo o conjunto de estudantes e professores,

especialmente no que diz respeito à criação de bibliotecas universitárias, não são poucos os

momentos em que instituições públicas e privadas congregam esforços em busca de objetivos

comuns. Também em conjunto com as instâncias administrativas da UEH e de outros centros

públicos de ensino superior, aquelas com maior destaque e reconhecimento entre as instituições

privadas procuraram estabelecer e sustentar laços com as agências de cooperação internacional

no sentido de procurar assegurar fundos para o treinamento e o aperfeiçoamento do pessoal

docente, para a aquisição de equipamentos de qualidade e mesmo para o estabelecimento de

programas de pós-graduação.

A maioria das instituições privadas, contudo, apresenta um perfil mais marcadamente

empresarial e depende exclusivamente do pagamento de mensalidades para sustentar suas

atividades de ensino, algo que, em vista das circunstâncias econômicas extremamente difíceis do

país, exige um imenso sacrifício das famílias. Com efeito, essas instituições atendem à demanda

por qualificação profissional de uma juventude urbana – de perfil socioeconômico compatível

com o que seria considerado em outros países latino-americanos um estrato de classe média

baixa – que, concluindo o ensino médio em escolas públicas, acaba sendo preterida nos exames

de seleção para as vagas do sistema universitário público e acaba tendo de recorrer a uma das

inúmeras instituições privadas para obter seu diploma universitário, na esperança de melhorar

suas chances de obter um posto de trabalho formal numa economia marcada por um

desemprego formal que se tem mantido ao longo da última década em torno de 80%.

No Haiti, repete-se um fenômeno perverso que se verifica também em outros países latino-

americanos: estudantes capazes de pagar altas mensalidades em boas escolas privadas do ensino

fundamental e médio acabam conquistando a maior parte das vagas universitárias do sistema

público. Há um agravante, contudo, uma vez que a esmagadora maioria da oferta de ensino

fundamental é feita por escolas privadas, praticamente não existem possibilidades de contornar a

Page 78: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

78

necessidade de se investir no pagamento de altas mensalidades das melhores entre as escolas

privadas para que se tenha uma chance de entrar na universidade pública. Ao adentrar o sistema

privado, as razões pela opção dos estudantes por uma ou outra instituição não são muito claras.

No entanto, e apesar de nem o MENFP e nem qualquer outra instituição nacional ou

internacional jamais terem sido capazes de realizar uma avaliação abrangente do sistema

universitário haitiano, cada estudante parece saber claramente qual a posição de cada uma das

mais de 150 instituições privadas de ensino numa escala de qualidade de ensino e de prestígio do

diploma e compreender que retorno esperar pelos esforços feitos por sua família para pagar as

taxas e mensalidades.

Os centros universitários privados são extremamente desiguais. Universidades como a

Quisqueya e a Notre-Dame nasceram marcadas pela presença de quadros formados na diáspora

que traziam consigo o desejo de criar instituições de competitividade internacional. Isso se

reflete na qualidade das instalações, em laboratórios e em centros de pesquisa. O mesmo não se

pode falar de centros mais modestos, que, entretanto, desempenham um papel crucial no

atendimento à demanda por qualificação profissional da juventude haitiana. Tanto uns como

outros, porém, fazem frente a desafios comuns, com as sucessivas crises políticas e econômicas e

as diversas tragédias naturais recentes que se abateram sobre o país, assim como no que diz

respeito às dificuldades perenes na criação e manutenção de estruturas e equipamentos de

ensino e pesquisa, incluindo bibliotecas, laboratórios etc., além, é claro, da fuga sistemática de

cérebros para outros países, um fenômeno que afeta e debilita de modo geral todas as

instituições envolvidas no esforço de oferecer educação superior no Haiti.

Nos centros universitários privados, é oferecida uma gama de cursos que chega mesmo a

ultrapassar o espectro de carreiras disponíveis no sistema público: dos indefectíveis Direito e

Gestão, à Medicina, Informática, Diplomacia, Engenharia, passando pela Agronomia, e por todas

as disciplinas das Ciências Humanas. Em meio a esse universo institucional extremamente

plural, o Ministério da Educação Nacional e Formação Profissional (MENFP) procura, por meio

de sua Direção de Ensino Superior e de Pesquisa Científica (DESRS),20 avaliar, controlar e

normatizar as atividades tanto do ensino superior público como privado no país. No

cumprimento dessa incumbência, parte dos procedimentos de avaliação é outorgada à UEH

(GTEF, 2009: 35). Com base nos resultados dessa avaliação, a DESRS procede à homologação do

registro de funcionamento da universidade, solicita reformas ou adaptações ou rejeita a

solicitação de autorização.

20 A DESRS foi estabelecida há cerca de 10 anos e conta com um número muito restrito de funcionários. Tem sob

sua responsabilidade a elaboração de um plano nacional para a educação superior e a realização de estudos setoriais

periódicos relacionado à avaliação do sistema de ensino superior e da pesquisa científica. Apesar da publicação de

alguns estudos preliminares e da coleta parcial de dados, ainda serão necessários investimentos nesse setor para que

seja suficientemente capaz de desempenhar suas incumbências normativas. A administração da UEH também

desempenha atribuições gestoras do sistema geral de ensino superior, na medida em que é responsável pela

homologação das autorizações de funcionamento concedidas pelo MENFP a instituições do sistema privado.

Page 79: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

79

Gráfico 16 - Situação do processo de autorização para

o funcionamento das instituições privadas

Na verdade, das 149 instituições

privadas em pleno funcionamento no

país, apenas 52 contam com

reconhecimento oficial pleno e uma

autorização para seu funcionamento. Sem

se arriscar a estimativas, a DESRS

reconhece, porém, que, sem a obtenção

da autorização oficial, as universidades

privadas não conseguem arrebanhar um

número considerável de estudantes.

Portanto, pode-se deduzir que, apesar de

numeroso, o campo das instituições não

autorizadas não compreende instituições

de grande porte e conta com um corpo

discente relativamente reduzido e

errático, com uma altíssima taxa de

desistência.

Qualquer esforço de compreensão,

análise ou avaliação do ensino superior

no Haiti pressupõe determinar a

configuração precisa, o alcance, os

potenciais e limites do ensino privado,

sobre o qual todas as instâncias gestoras

envolvidas com o ensino superior

haitiana demonstram possuir dados insuficientes e fragmentários. Se essas insuficiências se

evidenciam inclusive no que diz respeito às instituições privadas já avaliadas e autorizadas, o que

não dizer do imenso campo de instituições que, espalhadas pela capital e pelas províncias, não

cessam de se desdobrar em novas sedes, carreiras e projetos, sem dúvida alguma atendendo a

uma imensa demanda na área de formação de quadros em todas as áreas de atuação. Urge,

portanto, para uma melhor compreensão do ensino superior privado no Haiti, suprir tais

carências com a realização de um levantamento abrangente e construção de um quadro

sistemático de avaliação sobre o ensino superior privado no país. Da mesma forma, seria

necessário realizar um abrangente censo universitário (atento tanto à configuração e distribuição

dos corpos discente, docente e funcional, quanto à evasão de estudantes, à circulação de

profissionais entre as instituições e ao compartilhamento de estruturas e equipamentos), no

quadro do qual se atentasse especialmente para a dispersão de centros de ensino pelas capitais

provinciais e outras cidades do país e para a sistematização de informações sobre a origem social

Page 80: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

80

dos estudantes e o destino profissional dos formandos.

A despeito da precariedade das informações disponíveis, alguns pontos merecem ser

destacados no que diz respeito à configuração geral das instituições privadas em meio ao sistema

global de ensino superior haitiano. Em primeiro lugar, cabe ressaltar que o sistema de coleta e

armazenamento de dados relativos à instalação e o funcionamento de instituições privadas por

parte das instâncias governamentais e universitárias responsáveis pela gestão do sistema é

extremamente precário e parcial e, a despeito disso, vem sendo a custo expandido e aprofundado

através dos esforços pessoais de funcionários e acadêmicos ligados às instâncias gestoras do

sistema (em especial e a despeito das disputas decorrentes da concorrência interinstitucional, na

DESRS/ MENFP e nos escalões intermediários da administração da UEH). Além disso, em

função do período de cinco anos de funcionamento ininterrupto exigidos para que uma

instituição seja avaliada, há casos de instituições que se estabelecem, contratam professores,

abrem inscrições, matriculam alunos e, diante de dificuldades inevitáveis, fecham suas portas e

dispensam seus estudantes sem qualquer certificação, antes mesmo que qualquer instância

pública de administração do sistema tenha sequer tomado conhecimento de sua existência.

Dados preliminares de um estudo iniciado pela DESRS/ MENFP em abril de 2009 e que visa à

implantação de um banco de dados sobre as instituições de ensino superior no país permitem

produzir um quadro amplo da configuração desse setor e de suas especificidades. Com base em

informações desse levantamento, é possível constatar que 82,4% das instituições se fazem

financiar exclusivamente com os pagamentos de taxas e mensalidades pelos alunos.21 A

combinação do financiamento pelos alunos com subsídios de órgãos governamentais ou não

governamentais de cooperação internacional ou de investimento direto da iniciativa privada

local ou estrangeira responde por ocorre em 18% das instituições, mas sempre como um

elemento marginalmente complementar ao aporte das mensalidades (14,7% das instituições

contam com uma fonte externa complementar e 2,9% delas com duas). Coincidentemente, o

mesmo estudo demonstrar que os mesmos 82,4% das instituições universitárias utilizam sua sede

exclusivamente para fins acadêmicos, enquanto os mesmos 18% do financiamento

complementado por fontes externas têm suas sedes destinadas a outras finalidades durante o dia

e oferecerem cursos universitários no período noturno. A justaposição desses números faz

suspeitar que o peso relativo das mensalidades no financiamento do sistema privado de ensino

superior seja ainda maior do que a já impressionante cifra de 82,4% como fonte exclusiva de

financiamento, pois as instituições que mencionaram contar com fontes adicionais ou

complementares são precisamente aquelas que compartilham sua sede com outras organizações

ou utilizam-nas para outras finalidades durante o período diurno, o que responderia por boa

parte do que representa o aporte externo de recursos. Assim, não seria exagero dizer que o papel

desempenhado por aportes financeiros externos no funcionamento das instituições privadas de

ensino superior é quando muito marginal e que os grandes (senão únicos) financiadores da

21 Cf. DESRS (Direction de l’Enseignement Supérieur et de la Recherche Scientifique). “Universités et institutions

d'enseignement supérieur en Haïti. Projet d'implantation d'une base de données”. Ministère de l'Éducation

Nationale et de la Formation Professionnelle (MENFP): Port-au-Prince, 2009.

Page 81: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

81

expansão e da manutenção do ensino superior privado no Haiti são seus próprios alunos.

Gráfico 17 - Volume de estabelecimentos privados de ensino superior ativos

Tabela 19 – Marcos temporais decisivos na evolução do sistema de ensino superior haitiano

Período Evento

1979 Início da implementação da Reforma Bernard (integração do kreyòl no sistema educacional)

1982-1987 Moratória da Reforma

1986 Fim da ditadura

1987 Nova Constituição (educação básica compulsória e determinação do kreyòl como língua principal de

instrução)

1989 Ampla reforma curricular de todos os níveis da educação

1991-1994 Golpe de estado e embargo internacional

1993 Lançamento do PNEF (Plano Nacional de Educação e Formação Profissional), que procura retomar a

Reforma interrompida, mas que somente começará a ser implementado a partir de 1998

2001 Criação da DESRS, para gerir o ensino superior e promover a pesquisa universitária

Page 82: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

82

Tendo sempre em mente que se trata de dados preliminares e que se referem de todo modo a

uma realidade anterior à reconfiguração radical que a reconstrução após o terremoto exigirá, são

dados eloquentes sobre a configuração do sistema privado de ensino, na medida em que

correspondem às informações referentes ao funcionamento de quase dois terços do conjunto de

instituições autorizadas (34 de 52, i.e., 65,4%), mas que respondiam por mais de três quartos do

total de estudantes matriculados no sistema privado (26.307 de um total 34.200, i.e., 76,9%).

Diante do alcance dessas amostragens, poderiam ser feitas projeções plausíveis sobre o sistema

global de ensino privado com base no que já pôde apurar. As informações apresentadas e

discutidas a seguir apoiam-se, assim, nos dados coletados entre 2007 e 2009 para compor a base

desse banco de dados do MENFP e, combinando-os a outras informações coletadas no decorrer

deste levantamento, são desdobradas em alguns dados reveladores a respeito da configuração do

amplo conjunto de instituições privadas de ensino superior ativas no país.

Tanto na média como em sua maioria, as universidades privadas se estruturam em torno de 3

faculdades, no mais das vezes organizadas em torno das 3 carreiras que congregam o maior

número de estudantes, administração, contabilidade e informática. Em alguns casos,

especialmente nas instituições privadas estabelecidas nas províncias, tem bastante peso relativo

também a preferência dos estudantes (especialmente das estudantes) pelas carreiras de educação

e enfermagem.

A representação feminina, porém, na população universitária das instituições privadas não é

menos baixa que nas instituições públicas. Ao final do ano letivo 2007-2008, as instituições

recenseadas haviam diplomado 2.179 estudantes (dos quais 1.305 homens e apenas 874

mulheres) e licenciado outros 1.475 (963 homens e 512 mulheres). Somente em duas áreas, as

mulheres estiveram presentes com maior peso relativo: na medicina, que se encerra com a

obtenção de um título de doutoramento profissional também nas universidades privadas (com

65 novas doutoras e 63 novos doutores) e nas carreiras que concedem certificação de ciclos

curtos de formação e treinamento (com 297 mulheres e 269 homens certificados).

No entanto, na única área realmente associada a um âmbito de pesquisa mais próximo do que

se conhece como tal em outros sistemas universitários, enquanto 10 homens se tornavam novos

mestres, nenhuma mulher obteve um diploma de mestrado de uma universidade privada nesse

período. A despeito de uma presença feminina equilibrada nas carreiras médica e de ciclos

curtos (contabilidade, educação etc.), nem o número total de estudantes consegue mascarar a

marcada sub-representação feminina no corpo discente das instituições privadas de ensino

superior, com 14.666 homens e apenas 11.641 mulheres. O desequilíbrio entre homens e

mulheres se reduz no que se refere à desistência e à evasão universitária, sendo altíssimo o

número de desistentes entre ambos os grupos, mas ainda assim, ligeiramente mais alto entre as

mulheres, sendo apenas 8% das estudantes que anualmente se inscrevem num curso superior as

que chegam a se diplomar, enquanto que, entre os homens, esse número chega a 9%.

As áreas de estudo preferidas pelos estudantes são a contabilidade e a administração de

empresas: 39% dos estudantes e 56% das estudantes optam por uma dessas duas carreiras. A

seguir na escala de procura, vêm a informática, para os homens, e a enfermagem para as

Page 83: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

83

mulheres. Mas em quarto lugar na ordem de preferência, voltam a convergir homens e mulheres

em torno da pedagogia.

São seis as instituições privadas que oferecem programas de mestrado: INUQUA, UNDH e

UNIQ, com vários programas de mestrado, e UC, CREFI, ESIH e UNAH, com respectivamente

um programa de mestrado em cada instituição. Apenas quatro universidades privadas oferecem

titulação de doutorado, mas correspondem unicamente à graduação na carreira médica,

concluída com a obtenção de um doutorado profissional em ciências médicas. Além das

universidades Notre-Dame d’Haïti, Lumière e Quisqueya, existe uma terceira instituição privada

que oferece a formação em Medicina, a Universidade Royale d’Haïti, mas cuja Faculdade de

Medicina teve seu registro suspenso em 2009 pelo MENFP, com a demanda de adaptações

curriculares.

Praticamente dois terços das instituições privadas de ensino superior atestam acolher

atividades de pesquisa e empregar números que variam entre um e 20 pesquisadores por

instituição. Metade delas, contudo, estão situadas no extremo inferior desse espectro de

pesquisadores ativos, com pelo menos um, mas não mais que 5 pesquisadores ativos, e 36% do

total não desenvolvem qualquer atividade de pesquisa e não abrigam qualquer pesquisador.

Com relação ao corpo docente, de saída três elementos se destacam, a saber, o desnível entre

professores com dedicação exclusiva e docentes empregados em regime parcial, o reduzido

número de professores doutores, além da baixa proporção de mulheres professoras. Por mais que

seja um desnível consideravelmente menor do que no sistema público, onde apenas cerca de 6%

dos professores trabalham com dedicação exclusiva, a proporção no sistema privado ainda é alta,

com apenas 18,67% de docentes em regime integral. Apenas duas instituições empregam mais

professores em regime integral do que em regime parcial: a Universidade Lumière, com 51,75%

de seu corpo docente trabalhando com dedicação exclusiva, e o Centro de Estudos Diplomáticos

e Internacionais (CEDI), com 95,35%. No extremo oposto, estão a Universidade de Port-au-

Prince (UP), a Universidade Quisqueya (UNIQ) e a Universidade Episcopal do Haiti (UNEPH),

com o maior desnível entre os dois regimes de trabalho, respectivamente 15,32%, 13% e 8,2%.

Em meio a um conjunto de 1648 professores detentores de uma licença, um bacharelado ou um

mestrado, são apenas 210 os professores universitários do sistema privado que detêm um título

de doutorado. Outro traço que se destaca é o reduzido número de professoras em meio a um

universo docente dominado por homens: apenas 14% do total de professores são mulheres.

Cabe frisar, porém, que o nível de titulação entre as professoras é razoavelmente maior que

entre os homens, sendo 18% a proporção de professoras doutoras, contra a média de 11% para o

conjunto dos docentes, e que se reduz para 10% se considerados apenas os homens.

Page 84: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

84

Gráfico 18 - Perfil do corpo docente das instituições privadas de ensino superior

Fonte: DESRS, 2009.

Gráfico 19 - Titulação segundo o gênero no corpo docente das universidades privadas recenseadas

Page 85: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

85

Com relação às bibliotecas e equipamentos, porém, são poucas as instituições que reconhecem

carecer de acervos bibliográficos ou laboratórios de informática, residindo precisamente nesse

aspecto um dos maiores atrativos que as instituições privadas possuem em contraste com a

situação da maior parte das instituições públicas de ensino superior. Apenas 6 das universidades

privadas recenseadas atestam possuir bibliotecas com menos de mil volumes, com o restante

delas divididas em três níveis de extensão do acervo bibliográfico: um terço das instituições com

bibliotecas de mil a 5 mil volumes, outro terço com acervos entre 5 e 10 mil e o último terço

contando com acervos de mais de 10 mil livros. Algo similar no que diz respeito aos

computadores oferecidos ao uso dos alunos, com apenas 4 instituições que não os possuíam, e

todas as outras contando com um ou mais laboratórios de informática. Todas as instituições que

contavam com pelo menos um laboratório de informática ofereciam também acesso à internet

com banda larga.

Para seguir traçando um perfil sobre o sistema privado de educação superior no Haiti e sobre

a configuração das instituições que o compõem e das diferenças que as marcam, atente-se para a

listagem abaixo, que ordena a oferta de serviços e equipamentos básicos aos estudantes pela

frequência de sua ocorrência entre as instituições recenseadas.

Tabela 20 - Oferta de serviços e equipamentos básicos nas universidade privadas autorizadas

Frequência Serviço ou equipamento

97% Possuem geradores capazes de oferecer eletricidade ininterrupta durante o período das aulas.

85% Têm condições de oferecer água potável aos estudantes, sendo a mesma porcentagem das universidade que

promovem atividades culturais.

80% Esforçam-se em oferecer aos estudantes um programa de estágios ou de prática profissional.

70% Contam com equipes e equipamentos esportivos.

60% Oferecem algum tipo de serviço de aconselhamento pedagógico.

50% Mantêm espaços de convívio para os estudantes, serviço de enfermaria, serviço de encaminhamento profissional

e programas de parceria com o setor privado, assim como programas de intercâmbio com outras instituições de

ensino superior no país.

40% Possuem programas de intercâmbio com instituições de ensino superior fora do país, a mesma proporção que

procura manter parcerias com o setor público.

30% Participam da limpeza do espaço público ao redor de suas sedes.

25% Mantêm programas de seleção preferencial de mulheres para postos de estudo, trabalho ou pesquisa.

20% Estão situadas num campus universitário, mesma proporção das instituições que contam com um jornal

estudantil.

10% Têm condições de oferecer moradia estudantil aos seus alunos, a mesma proporção das que mantêm em

funcionamento programas de formação à distância.

9 Sanitários, em média, por estabelecimento de ensino, o que corresponderia a um sanitário para cada 86

estudantes matriculados.

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86

Como se pode perceber a partir desse escalonamento da incidência de serviços e

equipamentos considerados básicos para o funcionamento de uma instituição universitária, é

consideravelmente desigual sua distribuição entre os estabelecimentos privados de ensino

considerados. Por precárias que sejam as condições de financiamento do setor público, a UEH e

outras instituições públicas de ensino superior compõem um cenário em que todos os serviços e

equipamentos indicados acima se encontram presentes. Longe de qualquer tendência à

homogeneidade que se possa querer depreender dos números globais apresentados, portanto,

mais vale ressaltar como o setor privado de ensino superior no Haiti é extremamente

diversificado e desigual e somente chega a se assemelhar às instituições públicas por conta de um

efeito modal de anulação recíproca dos extremos de qualidade e precariedade na oferta de

serviços educacionais.

As instituições privadas abordadas aqui abrangem desde centros educacionais próximos ao

que no âmbito internacional se reconhece como uma instituição acadêmica de perfil

universitário, voltadas para a formação teórica e prática nas mais diversas áreas do

conhecimento e da prática profissional e também para a pesquisa e a pós-graduação, na medida

da demanda dos estudantes e da capacidade de absorção do mercado de trabalho e do serviço

público e comunitário, até escolas voltadas diretamente para o atendimento de uma demanda

bastante específica de preparação de quadros para atender demandas localizadas. Especialmente

entre as instituições privadas de maior tradição, reconhecimento e prestígio, há uma presença

significativa de organizações mantidas por entidades religiosas ou vinculadas diretamente à

Igreja Católica e a distintas denominações protestantes.

Além de abrangente e diversificado, o setor privado supre uma demanda importante e

responde pela formação de quadros absolutamente necessários na situação presente da sociedade

e da economia haitianas, o que se explicita não apenas no crescimento exponencial do número

de instituições privadas de ensino superior nos últimos anos (assim como do número de

estudantes nelas matriculados, mesmo a despeito das agudas crises econômicas e políticas pelas

quais vem passando o país), mas também fica evidente na maior flexibilidade e dinamismo que

demonstram ao responder a demandas pela expansão e aperfeiçoamento do sistema, tanto na

oferta de modalidade variadas de pós-graduação, como no esforço de coordenar esforços com o

sistema universitário público no sentido de criar uma infraestrutura básica de estudo e pesquisa,

especialmente no que diz respeito à aquisição e ampliação de bibliotecas universitárias e na

elaboração de programas interdisciplinares de pesquisa.

Por tudo isso, a simplificadora ideia da renitente dualidade da sociedade haitiana entre massas

e elites (com seu reconfortante corolário sociologizante da divergência entre centro e periferia e

seu infame corolário racializante da oposição entre negros e mulatos) não encontra eco na

distribuição do publico estudantil em meio às instituições públicas e privadas, que atendem,

estas também, a amplos setores tanto dos grupos sociais tradicionalmente incluídos entre as

elites – citadinos mulatos – como também (e predominantemente) de grupos historicamente

marginalizados no contexto ditatorial e que puderam assegurar alguma medida de ascensão

social através dessa formidável combinação entre membros da família que, a partir da diáspora,

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87

enviam remessas de fundos capazes de financiar a formação universitária dos membros mais

jovens da família e lhes assegurar alguma perspectiva de inserção profissional ou ao menos de

reconhecimento social e ascensão simbólica.

Sem dúvida, o fenômeno ubiquamente denunciado como fuga de cérebros não se aplica sem

maiores ponderações à realidade histórica da diáspora haitiana, como de resto não funciona em

lugar algum do planeta como chave explicativa global dos ciclos migratórios e de ascensão social

transnacional. Assim, juntamente com toda massa de remessas financeiras enviadas ao Haiti pela

mão de obra que o país continua exportando – cerca de US$ 2 bilhões, que respondem por

metade do PNB, segundo estimativas recentes do Banco Mundial –, o fenômeno da expansão do

ensino superior privado haitiano é um dos indicadores mais eloquentes de que a circulação

internacional socialmente ascendente de haitianos e haitianas bem sucedidos na diáspora não

assegura somente o bem-estar do núcleo familiar que os acompanha, mas também a viabilidade

de projetos educacionais e profissionais de parentes e amigos no Haiti. Portanto, em lugar da tão

célebre quanto infame imagem de cérebros em fuga, não seria o caso de se aplicar outra a um

caso assim? Talvez a imagem – senão tão evocativa, ao menos mais realista – de corpos inteiros

em movimento: cérebros aos quais coube também ter pernas para buscar melhores condições de

se fazerem produtivos, braços para trabalhar onde havia trabalho e mãos para estender e

multiplicar resultados, no lugar pra onde se foi tanto quanto no lugar de onde se veio.

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88

Tabela 21 - Instituições privadas de ensino superior autorizadas Instituição Fundação Cursos

Instituto de Altos Estudos

Comerciais e Econômicos

(IHECE)

1961 Administração de Empresas, Ciências Econômicas, Contabilidade

Escola Superior de Química

(CHEMTEK)

1982 Bioquímica, Química

Universidade GOC 1982 Administração, Agronomia, Arquitetura, Artes Plásticas, Artes Visuais,

Ciência Política, Contabilidade, Direito, Economia, Enfermagem,

Engenharias (Civil, Elétrica, Geológica, Informática, Mecânica),

Etnologia, Farmácia, Filosofia, Odontologia. Psicologia, Relações

Industriais, Sociologia, Teologia

Instituto Universitário

Quisqueya-Amérique

(INUQUA)22

1988 Arquitetura, Ciências Contábeis, Gestão, Informática, Economia,

Engenharia Civil, Engenharia Elétrica, Engenharia Eletrônica,

Teologia

Mestrados: Engenharia e desenvolvimento, Gestão financeira,

Informática da gestão

Academia Nacional Diplomática

e Consular (ANDC)

1988 Diplomacia, Diplomacia Política, Interpretação (línguas e letras),

Secretariado Diplomático

Centro de Pesquisa e de

Formação Econômica e Social

para o Desenvolvimento

(CRESFED)23

1989 Descentralização, Governo Local e Desenvolvimento

Universidade Adventista do

Haiti (UNAH)

1989 Administração, Educação, Enfermagem, Teologia

Universidade Notre-Dame

d'Haïti (UNDH)24

1990 Administração, Contabilidade, Ciências da Educação Ciência Política

e Estudos Internacionais, Economia, Enfermagem, Governança e

Administração Pública, Medicina, Sociologia e Criminologia.

Mestrados: Administração Escolar, Aperfeiçoamento Pedagógico,

Ciências da Educação, Educação, Educação Familiar e Sexologia,

Gestão de Estabelecimentos de Ensino, Pedagogia, Planejamento e

22 Instituição de perfil evangélico, com ênfase na formação continuada e no enquadramento profissional. Parcerias

com instituições internacionais permitiram criar um sistema de ensino à distância e promover seminários de

treinamento e viagens de estudos. Inauguraria uma nova sede em 2010. Está estruturada em quatro centros

integrados de ensino e pesquisa: Centro de Ensino e de Pesquisa em Ciências Sociais (CERSS), Centro de Ensino e

de Pesquisa em Desenvolvimento Econômico Local (CERDEL), Centro de Ensino, Pesquisa e Aperfeiçoamento em

Tecnologia da Informação (CERPTI) e Escola Teológica Evangélica (ETE). Seus programas de mestrado são

oferecidos em parceria com a Universidade do Québec de Montreal (UQAM). 23 Reconhecido como instituição de ensino superior, apresenta um perfil híbrido de organização não governamental

e centro de ensino, congrega tanto a formação de quadros para a atuação junto aos órgãos públicos locais, quanto de

prestação de serviços e de consultoria para o universo das organizações internacionais estabelecidas no país. 24 Estabelecida por iniciativa da Conferência Episcopal Haitiana com o propósito de formar quadros especialmente

nas áreas de saúde, educação, administração e agronomia, vem diversificando consideravelmente a oferta de cursos

e expandindo sua área de atuação, com uma sede estabelecida em Jacmel e planos para estabelecer outros centros

departamentais. Sua estrutura se compõe das seguintes faculdades: Faculdade de Medicina e Ciências da Saúde

(FMSS); Faculdade de Ciências Econômicas e Políticas Sociais (FSESP); Centro de Pesquisa e de Formação em

Ciências da Educação e de Intervenção Psicológica (CREFI); Centro de Formação para a Escola Fundamental

(CEFEF), que oferece treinamento pedagógico em conjunto com a UEH; e a Faculdade de Ciências Administrativas

(FSA), que oferece em Jacmel o curso de Gestão, também conhecida como Faculdade de Gestão de Jacmel.

Page 89: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

89

Administração Escolar

Universidade Quisqueya

(UNIQ)25

1990 Administração, Arquitetura, Ciências Jurídicas, Economia, Economia

Agrícola, Enfermagem, Engenharias Civil, Elétrica e Industrial,

Farmácia, Medicina, Meio Ambiente, Odontologia, Produção

Agrícola, Tecnologia Médica, Turismo e Interpretação

Mestrados: Ecotoxicologia, Gestão de Recursos Hídricos, Meio

Ambiente

Colégio Universitário de

Christianville (CUC)

1990 Assistência Social, Educação Teológica, Leitura Bíblica

Universidade Caraïbe (UC) 1990 Agronomia, Ciências Humanas, Contabilidade, Educação, Engenharias,

Gestão, Informática, Letras

Universidade Episcopal do Haiti

(UNEPH)

1992 Administração, Agronomia, Ciências Religiosas, Educação, Informática,

Enfermagem (em Léogâne)

Universidade Lumière (UL) 1994 Arquitetura, Ciências da Educação, Direito, Enfermagem, Engenharias

(Civil, Eletrônica), Gestão, Medicina, Tecnologia Médica, Teologia

Escola Superior de Infotrônica

do Haiti (ESIH)

1995 Administração de Empresas, Informática

Centro de Estudos Diplomático

e Internacional (CEDI)

1997 Ciência Política e Governança Pública, Contabilidade, Diplomacia e

Relações Internacionais, Marketing e Relações Públicas, Tradução e

Interpretação

Universidade Autônoma de

Port-au-Prince (UNAP)

1998 Educação, Odontologia, Engenharia Civil, Administração, Informática,

Meio Ambiente.

Universidade Fundação Aristide

(UFA)

2000 Enfermagem, Espanhol, Informática, Medicina

Universidade de Fondwa

(UNIF)26

2004 Agricultura, Línguas Modernas, Veterinária

Universidade Nobel do Haiti

(UNH)

2006 Gestão, Contabilidade, Economia, Informática, Engenharia Civil,

Marketing, Relações Internacionais, Educação. Mestrados em

Administração Judiciária, Direito, Diplomacia. Doutorado em Direito e

Administração Pública

Centro Técnico Saint-Gérard

(CTSG) /

Universidade Saint-Gérard27

2010 Enfermagem, Informática, Técnico (Eletrônica, Hidráulica, Mecânica),

Tecnologia Médica

25 Desenvolvida com o apoio de instituições e agências internacionais, com base num projeto de criação de um

referencial de excelência para o sistema universitário haitiano. Boa parte dos quadros possui pós-graduação e

dedicação exclusiva. Está estruturada nas seguintes faculdades: Faculdade de Ciências da Agricultura e do Meio

ambiente (FSAE), Faculdade de Ciências da Saúde (FSSA), Faculdade de Ciências Econômicas e Administrativas

(FSEA), Faculdade de Ciências da Educação (FSED), Faculdade de Ciências, Engenharia e Arquitetura (FSGA) e

Faculdade de Ciências Jurídicas e Políticas (FSJP). Possuía vários laboratórios e núcleos de pesquisa e um ambicioso

plano de ampliação da pós-graduação. Inauguraria em 2010 um novo campus central. 26 A Associação dos Camponeses de Fondwa (APF) criou a primeira universidade rural do país. Além da formação e

aperfeiçoamento profissional, oferece também um currículo de formação e treinamento de alfabetizadores. 27 O Centro Técnico Saint-Gérard havia se restabelecido como Universidade Saint-Gérard, antes mesmo de haver

sido emitida a autorização para seu funcionamento. O processo de homologação de seus registros encontrava

entraves na situação precária de suas instalações físicas.

Page 90: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

90

A pós-graduação e os pós-graduandos

Não existe no espectro da literatura acadêmica qualquer tipo de balanço sistemático sobre a

pós-graduação no Haiti. O título de doutor, concedido pela UEH e por outras 5 universidades

privadas se restringe à carreira médica: os estudantes de Medicina concluem seu bacharelado

com a obtenção de um título amplamente reconhecido como um doutoramento profissional.

Com exceção desse tipo de titulação, o universo da pós-graduação e da pesquisa no Haiti é

extremamente estreito, com alguns episódios bastante recentes de esforços na direção do

estabelecimento de programas de especialização, mestrado e, em alguns casos, sem a

homologação do MENFP ou da UEH contudo, mesmo de doutorado. De resto, todos os doutores

que atuam nas instituições universitárias haitianas ou em instâncias governamentais e agências

não governamentais obtiveram seus títulos invariavelmente em universidades no exterior,

preferencialmente nos Estados Unidos e em países francófonos como França, Canadá e Bélgica,

mas também em países latino-americanos como o México, Cuba e República Dominicana.

Em meio a uma imensa precariedade estrutural e material, não foram poucos os projetos

concebidos por mestres e doutores haitianos formados no exterior e desenvolvidos junto à UEH

e a outras instituições públicas e privadas em busca de consolidar algumas linhas de pós-

graduação no país, inicialmente no nível do mestrado, mas eventualmente chegando ao

doutorado. Em decorrência desse empenho, dissertações de excelente qualidade foram

produzidas, predominantemente voltadas a temas relacionados mais diretamente com a

realidade contemporânea do Haiti. A urbanização acelerada, a desigualdade social, o

bilinguismo, o desflorestamento, a desestruturação do mercado agrícola, as tensas relações

haitiano-dominicanas, a cooperação regional caribenha, a violência urbana e a preservação do

patrimônio artístico, histórico e cultural são dos temas que pautaram e orientaram os mais bem

sucedidos dentre esses esforços. A riqueza de perspectivas intelectuais e metodológicas adotadas

na investigação desses e de outros temas demonstram ainda interesses e temáticas comuns ao

debate acadêmico em diversos outros países latino-americanos.

Boa parte desses mestres seguiram seus estudos de doutoramento em alguma instituição

estrangeira. Vários encontraram boas condições de trabalho e pesquisa e nelas se mantiveram,

dando prosseguimento a produtivas carreiras acadêmicas; outros buscaram realizar seus

objetivos profissionais no mercado de trabalho; outros ainda retornaram ao Haiti e atuam em

posições de destaque na administração pública, em organizações não governamentais ou

agências internacionais e multilaterais ou na iniciativa privada, no mais das vezes em

combinações variadas dessas carreiras simultânea ou sucessivamente. Por diversificada que seja

(e precise ser) a carreira profissional dos pós-graduados e pesquisadores haitianos, todos

demonstram traços comuns, a saber, a manutenção de vínculos estreitos com a comunidade

acadêmica haitiana, a circulação constante entre suas pátrias eletivas e seu país de origem, e o

esforço ininterrupto por assegurar a presença haitiana em espaços de debate acadêmico e

intelectual e de circulação internacional do conhecimento. Retornando, muitos optaram por

prosseguir numa carreira de docência no Haiti. Não raro circulando entre instituições públicas e

Page 91: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

91

privadas, desempenham um papel de destaque entre seus pares e procuram auxiliar gerações

sucessivas de estudantes a fazer frente às dificuldades de perseguir uma carreira de pesquisa no

Haiti.

Tanto a UEH como várias das grandes universidades privadas têm uma tradição ainda não

avaliada de produção monográfica entre os estudantes que concluem a graduação, em especial

nos cursos que conduzem ao bacharelado ou licenciamento. Muitos desses trabalhos são de

excelente qualidade e, em que pesem as limitações de consulta a acervos bibliográficos

atualizados, correspondem em muitos casos ao que poderia naturalmente conduzir a um

mestrado de alto nível e possivelmente a uma inovadora pesquisa de doutoramento. No entanto,

as limitações materiais das instituições de ensino superior haitianas no que diz respeito a

estruturas fundamentais de pesquisa, como laboratórios e bibliotecas, dificultam enormemente

ou mesmo inviabilizam muitos dos esforços de treinamento desses talentosos estudantes em

técnicas e procedimentos de aquisição cumulativa do conhecimento produzido mais

recentemente numa área específica e de análise seletiva dos processos relevantes para a

compreensão dos fenômenos investigados. Some-se a isso o reduzido número de professores

doutores, capazes de partilhar sua experiência de formação e de orientar os estudantes a buscar

saídas originais para essas limitações, além do impacto paralisante que cada crise econômica e

política enfrentada pelo país tem nas instituições universitárias e tem-se um quadro de bloqueios

formidáveis, diante dos quais muitos estudantes não conseguem realizar a passagem decisiva do

registro do ensino e da reprodução de saberes consolidados para o registro da investigação que

questiona os repertórios tradicionais e que produz conhecimentos novos com base em processos

mais adaptados a realidades dinâmicas.

Diante dessas dificuldades em assegurar continuidade, adensamento e acúmulo para o âmbito

da pesquisa, padece um pouco em todas as áreas o conhecimento que se vem produzindo sobre o

país nas últimas décadas. Os conhecimentos e análises que se produzem entre os círculos

acadêmicos e intelectuais haitianos sob tais condições são suplementados, mas não raro

suplantados, desbancados ou mesmo francamente ignorados por uma produção de análises,

avaliações e indicadores sociais e econômicos que se mostra crescentemente terceirizada e

deslocada da esfera acadêmica, livres, portanto, do escrutínio dos pares e da submissão a testes

de validação. Estudos e relatórios que não se submetam aos critérios de verificação do trabalho

acadêmico acabarão produzirão resultados impossíveis de serem reconstruídos ou reproduzidos,

retratos episódicos daquilo que se analisa. Vários trabalhos qualitativos e quantitativos recentes

sobre a realidade camponesa ou sobre os grandes bidonvilles haitianos são um bom exemplo

disso, permeados de peremptoriedades opinativas, mas completamente carentes de bases de

verificação. Tampouco existe uma sistematização ou avaliação de iniciativas de desenvolvimento

local espalhadas pelos distintos departamentos do país. Ora, a compreensão das especificidades

de um país exige que dados e análises sejam constantemente produzidos, sempre que se pensar

em intervir em qualquer dimensão da vida social. Mas essa produção precisa ser contínua e

responder às demandas e prioridades também específicas do contexto local, e não gerado ad hoc,

por encomenda. Se o conhecimento sobre essas especificidades não for produzido com o

Page 92: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

92

envolvimento de acadêmicos e intelectuais locais, ele será invariavelmente superficial, parcial e

muito provavelmente de reduzido impacto, senão mesmo algo estéril.

Neste sentido, urge um investimento considerável na formação de quadros especializados e

treinados para garantir a consolidação de um espaço de debate sobre a realidade haitiana

pautado por investigações e análises rigorosas dessa mesma realidade, submetidos a testes e

avaliações igualmente rigorosos. Somente assim será possível avaliar com algum tipo de precisão

sucessos e insucessos na implementação de projetos de desenvolvimento ou o alcance e os efeito

de projetos específicos de intervenção local. Para tanto, o campo da pós-graduação deve ser

objeto de atenção especial nos próximos anos no Haiti, e a formação de investigadores em

programas de mestrado e doutorado em países que contam com um sistema de pós-graduação

altamente qualificado deve necessariamente vir acompanhado de investimentos a serem

dirigidos para a consolidação de programas haitianos de pós-graduação, com prioridade inicial

para o nível do mestrado.

A descontinuidade de iniciativas vinculadas à consolidação de programas de pós-graduação

no país, assim como o colapso de programas que chegaram a ser criados e a funcionar por algum

tempo, deve-se antes à situação de quase perene crise orçamentária do setor público que se

reproduz com picos de gravidade há pelo menos 30 anos no país do que propriamente a uma

limitação estrutural na configuração do sistema universitário. É certo que, em parte, a escassez

de repasses orçamentários se deve à insuficiência de receitas, mas em parte se deve também a

uma acomodação de sucessivos governos recentes com o suprimento das demandas educacionais

no país inteiramente por vias de financiamento privado

e à negligência quase displicente em prover os meios de

manutenção de um sistema público de ensino superior

que não só tem um papel pelo menos tão decisivo

quanto o setor privado no atendimento à demanda de

vagas e na descentralização de sua oferta, como também

tem um papel indispensável na definição dos rumos do

incipiente sistema de pesquisa e de pós-graduação,

assim como na absorção de quadros de pesquisa.

Somente a complementaridade entre os esforços de

ambos os setores será capaz de garantir a indispensável

continuidade no funcionamento de programas de pós-

graduação que permitam a formação de uma massa

suficiente de pesquisadores que assegurem a produção

cumulativa de técnicas e conhecimentos adaptados às

necessidades específicas do país.

Figura 1 - Anúncio da abertura de

inscrições para os programas de

mestrado oferecidos pelo PMISSH,

ora interrompidos, por conta da

destruição de sua sede

Page 93: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

93

Programa de Mestrado Interdisciplinar em Ciências Sociais e Humanas (PMISSH)

Figura 3 - Sede do PMISSH

Figura 2 - Sede do PMISSH

Page 94: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

94

Impacto do terremoto sobre as instituições de ensino superior no Haiti

Tabela 22 - População diretamente atingida pelo terremoto

População do país 9.035.536

População exposta na área afetada 3.190.000 35,3% do total da população

Estimativa do número de vítimas fatais 222.653 2,50% do total da população

7% da população da área afetada

Número de feridos registrados pelos serviços de

saúde

310.928 3,5% do total da população

9,8% da população da área afetada

Número de desabrigados 1.514.885 17% do total da população

48% da população da área afetada

Número de deslocados 661.521 7,3% do total da população

20,7% da população da área afetada

Fonte: OCHA/USGS.

Tabela 23 - Estudantes nas áreas afetadas

População escolar na área afetada

(todos os níveis)

1.055.468 11,68% da população do país

33,08% da população da área afetada

Vítimas fatais na população escolar 6.857 0,07% da população do país

0,21% da população da área afetada

3,08% do total de vítimas fatais

Estudantes do nível superior na área afetada 42.089 0,47% da população do país

1,33% da população da área afetada

4,02% da população escolar total

Vítimas fatais entre os estudantes do nível superior 2.906 6,84% dos estudantes do nível superior na

área afetada

42,38% do total de vítimas entre a população

escolar

0,03% da população do país

0,09% da população da área afetada

Estudantes dos níveis fundamental e médio 1.012.993 11,21% da população do país

31,75% da população da área afetada

Vítimas fatais entre os estudantes dos níveis

fundamental e médio

3.951 0,04% da população do país

0,12% da população da área afetada

Page 95: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

95

Mapa 3 - Exposição populacional ao terremoto

Page 96: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

96

Exposição populacional ao terremoto

Tabela 24 - Projeções de

exposição demográfica28

MMI OCHA USGS

X. Extrema 332.000 2.000

IX. Violenta 2.246.000 2.387.000

VIII. Severa 314.000 626.000

VII. Muito forte 571.000 558.000

VI. Forte 1.049.000 903.000

V. Moderada 7.261.000 5.887.000

IV. Leve 5.887.000 7.176.000

II-III. Fraca - 50.000

I. Imperceptível - -

28 Fonte: OCHA (Escritório das Nações

Unidas para a Coordenação de

Assuntos Humanitários), Population exposed and exposure level (16/02/2010). USGS (Serviço Geológico

dos Estados Unidos), Event Pager n°.

US2010RJA6: Terça-feira, 12 de janeiro

de 2010, 16h53min10s (hora local),

21h53min10s (GMT), duração 35s,

coordenadas 18,4° N, 72,6° W,

profundidade: 13km. Estimativa de

intensidades e projeção de exposição

populacional geradas 45 dias após o

terremoto, baseadas em dados

demográficos do último censo

realizado no Haiti, em 1970. A lista de

núcleos urbanos mais afetados não é

exaustiva, representa apenas uma

amostragem de áreas de povoamento

por zona de intensidade.

Tabela 25 - Núcleos urbanos

mais afetados

MMI Cidade População

X-IX Léogâne 134.000

X-IX Carrefour 442.000

X-IX Gressier 26.000

VIII Port-au-Prince 1.235.000

VIII Pétionville 283.000

VIII Delmas 383.000

VIII Grand-Goâve 49.000

VIII Petit-Goâve 118.000

VIII Croix-des-

Bouquets

229.000

VIII Miragoâne 89.000

VIII Kenscoff 42.000

VIII Cabaret 4.000

VII Fond Parisien 18.000

VII Jacmel 138.000

VI Côtes-de-Fer 2.000

VI Les Cayes de

Jacmel

2.000

VI Fond-des-

Blancs

3.000

VI Petite Rivière

de Nippes

2.000

VI Anse-à-Galets 7.000

VI Jimaní 7.000

VI Thomazeau 52.000

VI Mirebalais 9.000

VI Anse-à-Veau 2.000

VI Aquin 5.000

MMI Cidade População

V Belle-Anse 3.000

V Port-de-Paix 35.000

V Petit Trou de

Nippes

2.000

V Verrettes 49.000

V Saint-Marc 66.000

V Fond Verrettes 3.000

V Hinche 19.000

V Grande Saline 2.000

V Les Cayes 126.000

V Anse-à-Pitres 2.000

V Dessalines 12.000

IV Gonaïves 85.000

IV Corail 3.000

IV Marmelade 2.000

IV Limonade 4.000

IV Ouanaminthe 10.000

IV Roche-à-

Bateau

2.000

IV Milot 6.000

IV Fort Liberté 11.000

IV Jérémie 98.000

IV Port-à-Piment 4.000

IV Cap-Haïtien 135.000

IV Arcahaie 4.000

IV Santo Domingo 2.202.000

III Guantánamo 273.000

Page 97: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

97

Tabela 26 - Perdas humanas no conjunto da

população escolar da área afetada

Estudantes População escolar Vítimas fatais

Fundamental e médio 1.012.993 3.951

Superior 42.089 2.906

Total 1.055.468 6.857

Tabela 27 - Perdas humanas nas redes de ensino básico e

fundamental

Alunos Professores Funcionários

Total no

Departamento Oeste

1.012.993 48.629 15.419

Mortos 3.951 (0,39%) 541 (1,11%) 189 (1,22%)

Tabela 28 - Perdas humanas na rede de ensino superior da região afetada

Instituições Alunos Professores Funcionários

Total Mortos Total Mortos Total Mortos

UEH 10.950 353

(3,22%)

877 26

(2,96%)

439 7

(1,59%)

Outras instituições públicas 1.754 121

(7%)

308 13

(4,22%)

189 0

Total nas instituições públicas 12.704 474

(3,73%)

1.185 39

(3,29%)

628 7

(1,11%)

Total nas instituições privadas 29.385 2.432

(8,28%)

2.413 108

(4,48%)

1.287 17

(1,32%)

Total nas instituições de ensino superior da região

afetada

42.089 2.906

(6,9%)

3.598 147

(3,71%)

1.915 24

(1,25%)

Page 98: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

98

Mapa 4 – Deslocamentos populacionais em decorrência do terremoto

Page 99: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

99

Gráfico 20 - Distribuição dos estudantes mortos

na área afetada por nível de ensino

Gráfico 21 - Vítimas fatais entre os estudantes da área afetada

Page 100: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

100

Gráfico 22 - Extensão dos danos aos edifícios escolares por distrito no Departamento Oeste

Gráfico 23 - Extensão dos danos aos edifícios escolares nos distritos mais atingidos

Fonte: Superintendência de Supervisão Escolar do Departamento Oeste, MENFP, 2010.

Page 101: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

101

Gráfico 24 - Extensão dos danos materiais na rede de ensino superior

Gráfico 25 – Reversibilidade dos danos sofridos pelos estabelecimentos de ensino superior

Page 102: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

102

Impacto do terremoto sobre as instituições públicas de ensino superior

Tabela 29 - Impacto do terremoto nas instituições públicas de ensino superior na área afetada

Unidade Estudantes

(mortos)

Professores

(mortos)

Funcionários

(mortos)

Pesquisadores

(mortos)

Admissões

cessantes

ENS 500 (10) 33 (2) 7 (3) 2 (-) 175

FAMV 467 (-) 50 (4) 115 (1) - 100

FDSE 1.428 (14) 85 (2) 35 (-) - 500

FE 1328 (8) 47 (1) 33 (1) 68 (-) 400

FLA 600 (278) 33 (4) 14 (-) - 120

FMP 656 (7) 171 (3) 30 (2) 220 (26) 165

FO 105 (1) 42 (1) 17 (-) 4 (-) 30

FDS 583 (5) 89 (3) 30 (-) - 200

FASCH 1.804 (15) 131 (1) 51 (-) 15 (3) 300

IERAH/

ISERSS

500 (2) 29 (1) 21 (-) 17 (1) 200

INAGHEI 2.610 (12) 147 (2) 86 (-) - 450

PMISSH - - - 30 (1) 30

Total UEH

(na capital)

10.581 (352) 857 (25) 439 (7) 356 (31) 2.670

EDJ 369 (1) 20 (1) 3 (-) - 150

Total UEH

(na área

afetada)

10.950 (353) 877 (26) 442 (7) 356 (31) 2.820

CNFP +

ENGA

968 (4) 147 (1) 22 (-) - 600

CTPEA 132 (1) 12 (1) 34 (-) 25 (-) 50

ENAF 145 (4) 75 (4) 39 (-) - 54

ENARTS 139 (3) 23 (2) 75 (-) 51 (-) 200

ENIP 275 (107) 40 (4) 17 (-) 9 (3) 100

ENST 95 (2) 11 (1) 2 (-) - 30

Total unidades

autônomas

(na área

afetada)

1.754 (121) 308 (13) 189 (-) 85 (3) 1.034

Total

instituições

públicas

(na área

afetada)

12704 (474) 1185 (39) 631 (7) 441 (34) 3854

Page 103: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

103

Gráfico 26 - Admissões cessantes nas instituições públicas de ensino superior

Page 104: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

104

Universidade de Estado do Haiti (UEH)

Tabela 30 - Perfil institucional da UEH Categorias Efetivo Instalações

Alunos 15.050 Suas faculdades, escolas, centros e institutos se distribuíam pela capital nacional e por 8

capitais departamentais. As escolas e faculdades provinciais mantêm vínculos mediatos

com a administração central, existindo na reitoria um gabinete que administra o contato

com os respectivos conselhos de direção.29 Em Port-au-Prince, não existia um campus

propriamente dito, estando suas unidades espalhadas pela cidade, algo que determinou

também o impacto diferenciado que sofreram. Tanto o sistema de bibliotecas quanto os

sistemas de arquivamento dos registros acadêmicos eram extremamente precários.

Admissões 4.320

Professores 877

Funcionários 442

Pesquisadores 356

Também possui atribuições gestoras do sistema geral de ensino superior, sendo responsável pela homologação das

autorizações de funcionamento concedidas pelo MENFP a instituições do sistema privado.

29 Diversas informações referentes sobretudo à história e ao perfil institucional da UEH podem ser consultadas em

seu endereço eletrônico (em francês): www.ueh.edu.ht. Seu organograma administrativo se encontra disponível

para acesso direto sob o endereço http://www.ueh.edu.ht/admueh/pdf/UEHorganigramme.pdf

Page 105: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

105

Tabela 31 – Impacto sobre a UEH: vítimas e danos decorrentes do terremoto Categorias Vitimas30 Instalações

Alunos 353 Das 11 unidades metropolitanas, oito foram total ou parcialmente destruídas ou

precisarão ser demolidas, além da sede da reitoria. Apenas três unidades (FE, FO e

INAGHEI) são passíveis de recuperação, apesar de também terem sofrido perdas

humanas e materiais, e grande parte de suas instalações restam interditadas à espera

de reparos. A quase totalidade dos equipamentos, laboratórios, bibliotecas e arquivos

foi severamente danificada ou inteiramente destruída. Os prédios que abrigam as

sete unidades provinciais, contudo, resistiram aos tremores.

Professores 26

Funcionários 7

Pesquisadores31 31

Admissões

cessantes32

2.640

Grande parte dos pátios de suas faculdades e institutos foi ocupada por estudantes e seus familiares, que ali

montaram suas tendas, seja em busca de abrigo, seja à espera que as atividades acadêmicas sejam retomadas. As

cifras de mortos se referem sobretudo aos que pereceram nas dependências ou proximidades da universidade,

30 O relativamente baixo número de vítimas fatais entre os funcionários, quando comparados às baixas entre

professores e alunos, pode ser explicado pela incidência de fatores outros que a insuficiência de dados ou a

impossibilidade de verificar os dados disponíveis. Para a maioria das unidades da UEH, não foram registrados

funcionários mortos. Nem mesmo na Faculdade de Linguística Aplicada, onde morreram 278 estudantes e 18

professores, qualquer funcionário foi dado como morto, e isso certamente não se deve a um descuido ao inventariar

as vítimas, como se pode depreender do fato de que o ato solene em memória das vítimas, realizado por iniciativa

dos próprios estudantes sobreviventes no dia 15 de fevereiro defronte à sede arruinada da FLA, contou com a

presença de muitos dos funcionários que ali trabalhavam, sem que qualquer deles tenha mencionado um colega que

pudesse estar entre as vítimas. A cerimônia foi emotiva, contou com intervenções e discursos de representantes de

alunos, professores, direção e também dos funcionários, e pautou-se pela diligência em contemplar a dimensão

trágica do ocorrido para todos os afetados, na presença de seus amigos e familiares. Não faria sentido que a morte de

qualquer funcionário tivesse sido desconsiderada ou esquecida. Semanas e mesmo meses depois, não surgiram novas

listas ou cômputos que alterassem o cálculo inicial para qualquer das instituições contempladas. Assim, é preciso

levar em consideração a incidência de outros elementos para explicar essa baixa proporção de vítimas fatais entre o

pessoal não acadêmico das instituições de ensino superior destruídas ou afetadas. Pode ter influído o fato de que, em

sua maioria, o pessoal não acadêmico das instituições universitárias haitianas desempenha funções ou bem mais

diretamente associadas aos espaços abertos ou então incompatíveis com a circulação pelos espaços pedagógicos

durante o horário das aulas: guardiães, motoristas, faxineiros, cozinheiros (não se desconsidere o fato de que a

preparação de comida no Haiti, por conta do emprego do carvão vegetal, é geralmente feita em áreas abertas), e por

aí afora. Note-se também que nenhum dos funcionários mortos havia sido empregado em funções de natureza afim

a essas. Entre as vítimas fatais do corpo funcional não acadêmico, encontram-se unicamente funcionários

administrativos – que, em sua maioria, já haviam deixado seus escritórios e dirigiam-se para a saída pouco antes de

terminar o expediente quando ocorreu o primeiro tremor – ou dedicados à manutenção de equipamentos – um

setor minguante do funcionalismo universitário haitiano, diante da escassez de equipamentos, insumos e recursos,

que foi ainda mais aguçada pela crise administrativa recente da UEH. A despeito disso, ressalte-se, porém, que, para

além dos sete funcionários mortos nas unidades metropolitanas da UEH, dois mais pereceram no desabamento da

sede de sua reitoria (Rue Rivière, 21), além de outros 12 que morreram no colapso do prédio principal do MENFP. 31 O Programa de Mestrado Interdisciplinar em Ciências Sociais e Humanas (PMISSH), embora vinculado à UEH,

tinha um perfil institucional autônomo e possuía uma sede própria, em Bourdon, contando com cerca de 30

pesquisadores em duas opções de mestrado, oferecidas em parceria com a Universidade Laval do Québec:

Criminologia e História, memória e patrimônio. Sua sede desabou completamente, destruindo todos os

equipamentos e todo o material documental em seu interior. Não foi possível confirmar se as vítimas vinculadas ao

PMISSH pereceram sob os escombros do edifício ou alhures. Das quatro vítimas fatais ligadas ao PMISSH, três

foram computadas nas listas respectivas das instituições onde atuavam como professores (respectivamente, dois no

IERAH e um no CTPEA), além do mestrando Jude Marcellus, jornalista da rádio Lumière que preparava sua

dissertação para o programa de História, memória e patrimônio no PMISSH e que não é computado em nenhum

outro quadro relativo a outra instituição de ensino superior que não o quadro geral da UEH, como pesquisador. 32 Corresponde ao número anual de estudantes egressos do ensino médio que, apesar de qualificados para frequentar

o primeiro ano dos cursos superiores oferecidos pela universidade, não serão admitidos. Pode-se projetar um

incremento de 50% nas admissões cessantes a cada semestre que as atividades acadêmicas se mantenham suspensas.

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106

podendo estar evidentemente subestimando o número de vítimas atingidas alhures.

Page 107: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

107

Gráfico 27 - Distribuição das vítimas fatais nas instituições públicas de ensino superior

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108

Gráfico 28 - Vítimas fatais nas duas instituições públicas mais atingidas

Gráfico 29 - Vítimas fatais nas instituições públicas de ensino superior (exceto FLA e ENIP)

Page 109: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

109

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110

Gráfico 30 - Proporção de mortos no corpo discente das instituições públicas de ensino superior

Page 111: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

111

Gráfico 31 - Proporção de mortos no conjunto do pessoal ativo das instituições públicas de

ensino superior

Page 112: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

112

Escola Normal Superior (ENS)

Tabela 32 - Perfil institucional da ENS Categorias Efetivo Instalações

Alunos 500 Possuía um edifício principal, de cinco andares, que abrigava a biblioteca,

salas de aula, salas de professores, laboratórios e auditório, um edifício

menor, de dois andares, ocupado pelo refeitório, por um espaço de

convivência e por salas de manutenção, e um terceiro edifício, térreo,

abrigando os setores administrativos e salas de conferência. Possuía uma

das poucas bibliotecas circulantes da UEH e um laboratório de

informática relativamente bem equipado.

Admissões 175

Professores 33:

18 mestres e 9

doutores

Funcionários 7

Pesquisadores 2:

1 mestrando e 1

doutorando com

projetos de pesquisa

ativos, atuando como

docentes

Tabela 33 – Impacto sobre a ENS: vítimas e danos decorrentes do terremoto Categorias Vitimas

33

Instalações

Alunos 10 O prédio principal ruiu, esmagando os estudantes e funcionários que se encontravam na

biblioteca, situada no andar térreo. O edifício administrativo apresenta fissuras que

aparentam comprometer sua estabilidade e, assim como o edifício anexo, que ameaça

ruir, provavelmente terá de ser demolido. Poucas obras puderam ser salvas da biblioteca

soterrada e praticamente todos os equipamentos laboratoriais foram perdidos.

Professores 3

Funcionários 3

A destruição da ENS e a paralisação de suas atividades terão implicações devastadoras tanto no curto como no

médio prazo em todo o sistema educacional haitiano, na medida em que se trata da principal instituição de

formação de professores do país.

33 Os funcionário mortos foram identificados como Edner Deleus (contador), Michel Saint-Pierre (responsável pelo

laboratório de química), além do encarregado pela cafeteria, cujo nome não foi porém mencionado por qualquer

dos informantes. Entre os estudantes mortos, foram identificados Ritshelle (segundo ano de filosofia), Wandley

Monpremier (segundo ano de matemática), Jacques Charles (primeiro ano preparatório) e Maxi (mestrando em

francês como língua estrangeira).

Page 113: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

113

Figura 5 - Entrada principal da ENS

Figura 4 - Fachada principal da ENS

Page 114: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

114

Figura 7 – Ruínas da ENS, vistas a partir das ruínas do Palácio de Justiça

Figura 6 - Parte dos livros e documentos resgatados dos escombros da biblioteca, que

ruiu, esmagando os estudantes e funcionários que nela se encontravam

Page 115: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

115

Faculdade de Agronomia e de Medicina Veterinária (FAMV)

Tabela 34 – Perfil institucional da FAMV Categorias Efetivo Instalações

Alunos 467 Situada no vasto campus de Damien, nos arredores de Port-au-Prince, contava com

um amplo edifício principal, construído em 1969, que abrigava salas de aula,

biblioteca, seis laboratórios de produção, sala de informática e refeitório, um edifício

anexo mais recente, construído em 1987, onde se encontravam mais 14 laboratórios

pedagógicos, além de um herbário, de uma estufa e de um complexo residencial

estudantil para 125 moradores, que no entanto abrigava mais de 200 estudantes (além

de alguns professores) e cujo pátio se convertia, por conta dos geradores ativos com

que contava, em verdadeira sala de estudos ao ar livre.

Admissões 100

Professores 50:

36 mestres,

14

doutores

Funcionários 115

Uma instituição de elevado prestígio no universo acadêmico haitiano, a FAMV oferecia múltiplos serviços a

instituições governamentais, empresas estatais e organismos internacionais. Entre eles, destacavam-se as análises

desenvolvidas em seus laboratórios de produção. Além de assegurar o estofo de um sem número de iniciativas do

Ministério da Agricultura, dos Recursos Naturais e do Desenvolvimento Rural, instituição com que compartia o

amplo e belo areal de Damien, possuía uma extensa biblioteca de referência e abrigava o Herbário Nacional.

Tabela 35 – Impacto sobre a FAMV: vítimas e danos decorrentes do terremoto Categorias Vítimas34 Instalações

Professores 4 O prédio principal apenas não ruiu ainda porque lhe foi ajustado um arrimo provisório

para permitir a retirada dos registros escolares e dos equipamentos laboratoriais que

puderam ser recuperados. O edifício anexo, de planta baixa, não sofreu danos

consideráveis e passará a abrigar temporariamente todas as atividades da Faculdade. A

moradia estudantil, apesar de fissurada, aparenta poder ser recuperada. A estufa tem

servido de abrigo aos estudantes que tiveram de abandonar a moradia estudantil.

Funcionários 1

O campus de Damien representa um elemento fundamental no plano de reestruturação que vem sendo considerado

por distintas instâncias envolvidas na retomada das atividades da universidade. Possui um amplo espaço que poderia

acolher várias das unidades da UEH num possível campus unificado. Mesmo em caráter transitório, muitos cursos

poderiam funcionar ali fazendo uso de tendas e geradores.

34 Entre as vítimas fatais, os professores foram identificados como Jean Arsène Constant (fitotecnia), Jude Zéphyr

(recursos naturais), Fruck Dorsainvil (recursos naturais) e Yves André Kompas (ciências de base), além do

funcionário Pierre Velurdes.

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116

Figura 8 - Fachada do edifício principal da FAMV

Page 117: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

117

Figura 9 - Entrada do edifício principal da FAMV. Para impedir que o prédio

danificado ruísse sobre estudantes, professores e funcionários que tentavam

recuperar os equipamentos e materiais dentro do prédio fissurado, foi preciso

inserir vigas metálicas de sustentação

Page 118: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

118

Figura 11 - Estufa-modelo da FAMV, atualmente utilizada como abrigo

Figura 10 - Pátio interno da moradia estudantil da FAMV. Antes do terremoto, uma área

intensamente frequentada não só pelos estudantes que ali moravam, mas também por

todos os seus colegas e não raro seus professores, que buscavam tirar proveito da

iluminação elétrica constante produzida por geradores

Page 119: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

119

Figura 13 - Entrada lateral do edifício histórico do Ministério da Agricultura,

situado no interior do campus de Damien, onde também está localizada a

FAMV e para onde se planeja transferir todas as atividades provisórias das

outras faculdades da UEH destruídas pelo terremoto. Deverá ser demolido

Figura 12 - Entrada principal do Ministério da Agricultura, campus de Damien

Page 120: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

120

Figura 17 - Estantes da biblioteca da FAMV.

O acervo, parcialmente danificado, foi

transferido para o edifício anexo, menos

afetado pelo terremoto

Figura 14 - Minitratores doados pela Fundação

Chinesa de Combate à Pobreza (CFPA),

estacionados no pátio da FAMV

Figura 16 - Semeadores doados pela CFPA

Figura 15 – Implementos agrícolas doados pela CFPA

Page 121: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

121

Figura 19 - Buganvília centenária no pátio interno da moradia estudantil da FAMV.

Todos os edifício da moradia foram construídos em torno dela. Partida ao meio por um

raio antes mesmo da instalação da FAMV em Damien, manteve-se exuberante e passou

a ser vista como um símbolo da tenacidade haitiana

Figura 18 – Bosque frontal do campus de Damien, que deverá abrigar as instalações

provisórias de praticamente todas as faculdades da UEH afetadas pelo terremoto à

medida em que forem retomando suas atividades

Page 122: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

122

Faculdade de Direito e Ciências Econômicas (FDSE)

Tabela 36 - Perfil institucional da FDSE Categorias Efetivo Instalações

Alunos 1.428:

740 em

direito, 688

em economia

Separada do Champ de Mars pela bela Praça Anténor Firmin, a sede da FDSE

compreendia quatro edifícios: o edifício principal, com salas administrativas no

primeiro andar, auditório no térreo e três salas de aula; um edifício traseiro, que

reúne em seus dois andares 13 salas de aula, duas salas de professores e o

laboratório de informática; duas alas laterais que abrigavam respectivamente uma

das bibliotecas e o refeitório; além de uma pequena biblioteca anexa. Admissões 500

Professores 85

Funcionários 35

Tabela 37 – Impacto sobre a FDSE: vítimas e danos decorrentes do terremoto Categorias Vítimas35 Instalações

Alunos 14 O edifício principal, apesar de ter tido a fachada relativamente preservada, ruiu

internamente e o que restou de suas paredes deverá ser demolido. O edifício posterior foi

levemente danificado e aparentemente poderá ser recuperado. As duas alas laterais

traseiras apresentam fissuras leves, mas o edifício lateral dianteiro, que abrigava uma

biblioteca menor, já se encontrava danificado antes mesmo do terremoto. Alguns dos

computadores puderam ser recuperados, assim como os registros escolares.

Professores 2

Apesar de que as aulas já tivessem recomeçado, 12 de janeiro era um dia especial para os estudantes e professores,

que deixaram a faculdade rumo ao Centro de Convenções Karibe, em Canapé Vert, para celebrar os 150 anos da

fundação da FDSE. O terremoto os surpreendeu no caminho e foi isso o que evitou um número ainda maior de

vítimas, uma vez que tanto o Centro de Convenções como o auditório situado no prédio principal da faculdade

ruíram. Após o terremoto, o pátio frontal da faculdade continua sendo usado como antes, como uma espécie de

escritório de advocacia ao ar livre. Ali, estudantes de direito e mesmo advogados profissionais oferecem seus

serviços à população, oferecendo aconselhamento jurídico, preparando petições e recursos ou simplesmente

digitando certidões e contratos. O amplo espaço da Praça Antenor Firmin poderia ser eventualmente utilizado para

a disposição de tendas que permitissem aos alunos e professores retomar provisoriamente as atividades acadêmicas.

35 Foram identificadas oito vítimas fatais entre os estudantes do curso de direito: Yvon Romelus, Geline Jean-Louis,

Paola Paul, Stéphane Wiliam, Nerline Phirmin, Daphnée Pelissier, François Beaubrun, Rose-Munette Thomas. Do

curso de economia, foram identificados quatro estudantes mortos, Nancy Jean-Baptiste, Francesca Germain,

Christopher (estudantes do primeiro ano matutino) e Wislin Sainvilma. Dois outros estudantes de direito ainda

eram considerados por seus colegas como desaparecidos. No entanto, a impossibilidade de localizá-los até o

momento reforça a presunção de que foram eles também vítimas fatais. São eles Venel Jean (segundo ano

vespertino) e Cindy Micheline Joseph (primeiro ano vespertino). Os professores mortos eram Roc Cadet (professor

de direito e decano do Tribunal Civil) e Mme. Durand (ex-professora de economia).

Page 123: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

123

Figura 22 - Entrada do

edifício principal da FDSE

Figura 20 - Corredor interno do prédio

posterior da FDSE, passível de reparos

Figura 21 - Entrada

principal da FDSE

Page 124: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

124

Page 125: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

125

Figura 24 – “A secretaria geral da FDSE informa à comunidade universitária em geral e

os estudantes da FDSE em particular que o edifício principal conhecido como 'antigo

edifício' foi danificado com importantes fissuras no terremoto de 12 de janeiro de

2010. Como consequência, para evitar qualquer eventualidade de derrubamento

subsequente, está formalmente proibido permanecer em suas imediações, que

representa um perigo iminente para todos”. Porto Príncipe, 16 de janeiro de 2010

Figura 23 - Biblioteca da FDSE. A fachada permaneceu aparentemente intacta, mas as

ruínas ao lado mostram o dano sofrido pelo interior no edifício

Page 126: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

126

Faculdade de Etnologia (FE)

Tabela 38 - Perfil institucional da FE Categorias Efetivo Instalações

Alunos 1.328:

401 da psicologia, 441 da

antropossociologia, 415

do tronco comum

Ampla sede, ocupando praticamente toda uma quadra defronte ao

Champ de Mars, contando com três prédios: o edifício administrativo,

que aloja os escritórios administrativos, as três salas de aula e uma sala

de professores do programa de mestrado, um auditório e o laboratório

de informática; o edifício da graduação, que abriga sete salas de aula,

uma sala de professores, as salas dos chefes de departamento, salas de

estudo, além de duas salas de material didático e a biblioteca; assim

como um edifício anexo com o refeitório e espaços de uso comum.

Admissões 400

Professores 47:

31 mestres, 16 doutores

Funcionários 33

Pesquisadores 68 mestrandos

A FE, junto com a FASCH e a FMP, é um dos nichos tradicionais do ativismo político na UEH. Seus estudantes não

apenas se mostram intensamente mobilizados, como também seu espaço físico serve de referência para a realização

de reuniões e assembleias e, devido à imediação do Champ de Mars, como concentração para manifestações.

Page 127: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

127

Tabela 39 – Impacto sobre a FE: vítimas e danos decorrentes do terremoto Categorias Vítimas36 Instalações

Alunos 8 Uma avaliação técnica preliminar determinou que ambos os edifícios principais, apesar

de apresentarem fissuras, poderão ser recuperados. A despeito disso, foram interditados

à espera de uma avaliação mais detida sobre a extensão dos danos. Junto à FO e ao

INAGHEI, são as três únicas unidades da UEH que não ruíram ou não precisarão ser

demolidas. A reitoria passou, portanto, a utilizar o pátio interno para a realização de

reuniões administrativas e cerimônias solenes. Apesar da aparente estabilidade das

paredes, algumas lajes intermediárias ruíram, destruindo vários equipamentos e o

laboratório de informática, com cerca de 40 computadores. Mas os arquivos foram

salvos e a administração já voltou a emitir certidões. Ao longo do dia, diversos grupos de

discussão e intervenção envolvendo alunos e ex-alunos se reúnem no pátio. A quadra

esportiva é utilizada pelos jovens refugiados da área e também pelo Programa Nacional

de Cantinas Escolares, que assumiu a tarefa de distribuição de alimentos em algumas

áreas centrais.

Professores 1

Funcionários 1

Em decorrência de sua posição central e do estado relativamente incólume de suas instalações, mas também do fato

de que seu pátio interno, com a queda dos muros, se tenha aberto diretamente ao Champ de Mars, a ocupação da

sede da FE se converteu imediatamente após o terremoto em foco de acirrada disputa entre estudantes (da própria

faculdade, mas também de outras faculdades e universidades), reitoria, ONGs internacionais e inclusive soldados da

MINUSTAH e do exército americano. Afinal, os estudantes impediram tanto que os refugiados da região se

instalassem na faculdade quanto que se estabelecesse uma base de apoio do USAID no local. Permitiram, porém,

que outras organizações haitianas e internacionais ocupassem a quadra de esportes, para a distribuição de alimentos,

e o prédio do refeitório, para oferecer serviços de pronto-atendimento médico e de telecomunicações. Na medida

em que o conjunto dos estudantes mobilizados, especialmente os vastos contingentes da área de ciências humanas

crescentemente se concentrem no interior e nas imediações da FE, à espera de uma retomada ainda que paulatina

de suas atividades acadêmicas, pode-se esperar uma intensificação de seu ativismo político e seu inevitável

envolvimento em qualquer mobilização que ocorra na área central, próxima ao Champ de Mars, seja conclamando

as manifestações e engrossando suas fileiras, seja contrapondo-se a elas e oferecendo-lhes resistência.

36 Além de cinco estudantes, dois professores e um pesquisador gravemente feridos ou mutilados – respectivamente,

Guercy Dorcil e Pascal Jean-François (ambos do segundo ano de psicologia), Venise Joseph e Natacha Pierre (ambas

do quarto ano de psicologia), Wislande Jean-Louis (último ano de psicologia) e Wando Saint-Villier (primeiro ano

do mestrado em ciência do desenvolvimento), Hérold Toussaint (professor doutor de antropologia) e Bayyinah Belo

(professor mestre de antropossociolgia) –, morreram oito estudantes e um professor – respectivamente, Rachel

Alexandre e Geenson Fleurimont (ambos do tronco comum), Natache Alexis (primeiro ano de psicologia), Sterly

Manigat e Iram Saintil (ambos do segundo ano de psicologia), Nathalie Jean e Maxant Léveillé (ambos do último

ano de psicologia), Guy Larose (primeiro ano do mestrado em ciência do desenvolvimento, além de Jean Rousiers

Descardes (professor doutor de antropossociologia). O professor Guercy Antoinne, que lecionava psicologia também

morreu, mas foi computado na lista da FASCH, onde lecionava há mais tempo. Os professores Roc Cadet (FDSE) e

Jude Zéphyr (FAMV) também eram estudantes da FE, no programa de mestrado em ciência do desenvolvimento,

mas não foram computados entre as vítimas desta faculdade, já que constam das respectivas listas das faculdades

onde atuavam como professores. Também Pierre Vernet, que era tanto professor de antropologia da FE e de

linguística e comunicação da FASCH, como professor de linguística da FLA, foi computado unicamente entre as

vítimas desta última, pois ali desempenhava também a função de decano da faculdade. A funcionária morta não

teve seu nome ou função mencionados por qualquer dos informantes.

Page 128: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

128

Figura 25 - Os edifícios da FE não tombaram e avaliações de equipes de engenharia indicam a

possibilidade de pronta recuperação e reutilização dos prédios. No detalhe da pichação: “Viva a

reforma universitária. Abaixo Vernet”. Henry Vernet é o atual reitor da UEH

Figura 26 - Mural satirizando a vida acadêmica na UEH

Page 129: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

129

Figura 27 - Nas dependências da FE, comida é distribuída por voluntários aos

desabrigados instalados no Champ de Mars

Figura 28 - Para grande parte dos refugiados que acorrem à distribuição feita na FE,

trata-se da única refeição do dia

Page 130: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

130

Faculdade de Linguística Aplicada (FLA)

Tabela 40 - Perfil institucional da FLA Categorias Efetivo Instalações

Alunos 600 Juntamente com o Instituto Aimé Césaire (IFGCar), ocupava uma antiga mansão

de três andares, abrangendo cinco salas de aula, uma sala de professores, uma

sala de estudos, um laboratório de prática linguística e de tradução simultânea,

um laboratório informática, um auditório para cerca de 300 pessoas, além da

mais importante biblioteca universitária de língua e literatura haitianas,

contando com cerca de 8.500 obras.

Admissões 120

Professores 33:

2 doutores, 24

mestres, 7

mestres

estagiários

Funcionários 14

Desempenhava um papel central na produção de material didático em kreyòl, bem como na formação de

profissionais treinados para trabalhar em ambientes profissionais e educacionais multilíngues, além do treinamento

e aperfeiçoamento de tradutores técnicos e literários. Formava também professores de francês como língua

estrangeira e especialistas nas áreas da linguística, do jornalismo e da comunicação social.

Tabela 41 – Impacto sobre a FLA: vítimas e danos decorrentes do terremoto Categorias Vítimas37 Instalações

Alunos 278 Todas as instalações físicas foram completamente arruinadas. A administração ocupava

uma porção do andar térreo que não chegou a ser inteiramente soterrada, o que

permitiu a recuperação de um pequena parte dos registros acadêmicos Professores 18

Todo o trabalho de tradução de documentos oficiais e peças legislativas, de elaboração dos exames nacionais e de

preparação de material didático para as instituições públicas de ensino será severamente afetado não só pela morte

de praticamente a metade de toda uma geração de linguistas, tradutores e professores bilíngues, como também pela

destruição física das instalações e do acervo da FLA e pela dispersão dos estudantes e professores sobreviventes

pelos campos de refugiados do país. Numa sociedade bilíngue, em meio à qual, porém, apenas um grupo

relativamente exíguo compreende ambas as línguas, essa paralisia e o vácuo que provocará terão efeitos

potencialmente disruptivos de toda uma série de circuitos culturais e simbólicos que se vinham cultivando como

parte indissociável do processo de democratização no Haiti e pelo menos desde o reconhecimento do kreyòl como

língua oficial e de ensino.

37 Entre os 278 estudantes mortos, 219 corpos haviam sido identificados antes do sepultamento, sendo que 59 das

vítimas foram sepultadas sem identificação. Dos sobreviventes, 70 estudantes foram contatados diretamente durante

este levantamento e confirmaram o paradeiro de outros 197 de seus colegas que haviam sobrevivido, restando

apenas 45 dos sobreviventes que foram confirmados vivos, porém não contatados. Entre os professores, houve

quatro vítimas fatais: Pierre Vernet (decano), Wesner Merant (vice-decano), Yves Alvarez e um professor

estagiário, cujo nome não foi mencionado por qualquer dos informantes. A partir de estimativas baseadas no

contato direto com os estudantes sobreviventes, avalia-se que menos de 30% dos estudantes ainda se encontre na

capital. Em meio às vítimas fatais, havia estudantes de todos os períodos e níveis, assim distribuídos: 95 do primeiro

ano (42 matutino, 53 vespertino), 76 do segundo ano (34 matutino, 42 vespertino), 50 do terceiro ano (13 matutino,

37 vespertino) e 57 do quarto ano (29 matutino, 28 vespertino).

Page 131: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

131

Figura 29 – Ruínas da FLA dois dias após o primeiro terremoto

Figura 30 – Início da remoção dos corpos

Page 132: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

132

Figura 32 - Plano frontal da antiga fachada da FLA

Figura 31 - Ruínas da FLA, vistas a partir do antigo pátio interno. Notem-se

entre os escombros peças de vestuário, material didático, móveis escolares,

equipamentos e ferragem retorcida, que se misturam aos corpos das vítimas que

ainda não puderam ser retirados

Page 133: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

133

Figura 35 -

Gramática de

espanhol em meio às

ruínas da FLA

Figura 34 - Entre os

escombros, revista dedicada

à literatura sul-africana

Figura 33 - Caderneta de

poupança de uma das

vítimas entre os escombros

da FLA, em meio a

gabaritos de provas e

certificados de conclusão de

curso. Cadernetas de

poupança são normalmente

usadas como meio de

identificação

Page 134: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

134

Figura 37 - Ruínas da FLA

Figura 36 - Flores depostas nas ruínas da Faculdade de Linguística Aplicada em

homenagem aos estudantes e professores mortos

Page 135: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

135

Faculdade de Medicina e de Farmácia (FMP)

Tabela 42 - Perfil institucional da FMP Categorias Efetivo38 Instalações

Alunos 656:

495 da medicina, 116 da farmácia, 45 da tecnologia

médica

Além de abrigar a Escola de Tecnologia

Médica (ETM), a FMP também era

responsável pelo Hospital da

Universidade de Estado do Haiti

(HUEH), também conhecido como

Hospital Central. Suas instalações

compreendiam um total de 11 edifícios,

entre unidades hospitalares, clínicas,

laboratoriais, salas de aula, salas de

professores, escritórios administrativos,

arquivos, bibliotecas e espaços comuns,

além de um necrotério e um pequeno

museu.

Admissões 165:

100 (m), 40 (f), 25 (tm)

Professores 171:

m: 106 (5 mestres, 101 doutores profissionais)

f: 47 mestres

tm: 18 mestres

Funcionários 30

Pesquisadores 220:

200 residentes, 20 mestrandos

A FMP estava paralisada e fechada havia oito semanas devido a uma greve estudantil que, entre outros pontos,

reivindicava melhoria nas condições de ensino. Da perspectiva do decanato, a mobilização buscava uma

“normalização dos excessos da democratização” e seria movida por um esforço de reduzir os critérios de avaliação

dos estudantes, de 65% para 50 ou mesmo 40% de aproveitamento em alguns casos, e numa disputa em torno do

que o decanato via como uma desproporcional representação estudantil no conselho universitário, composto pelo

decano de cada faculdade, e dois representante eleitos, um pelos estudantes e outro pelos professores. No curso dos

protestos, houve confrontos diretos entre estudantes e o pessoal administrativo, o que precipitou a decisão de

interditar o acesso às dependências da faculdade até que o impasse fosse superado. A despeito dos impasses

envolvendo os estudantes da graduação e a sede principal da FMP, alguns de seus professores desenvolvem desde

2001, com o apoio da Agência Canadense de Desenvolvimento Internacional (ACDI), um projeto de formação de

administradores de saúde, que serviu de base para estabelecer, em 2006, o Projeto de Apoio ao Fortalecimento das

Capacidades de Gestão da Saúde (PARC), que oferece, numa sede própria, próxima ao Pétionville Club, em

conjunto com a Universidade de Montreal, duas opções de pós-graduação: uma especialização em manejo e gestão

de serviços de saúde e um mestrado em administração de serviços de saúde. Depois do terremoto, a sede do PARC,

praticamente intacta e contando com uma excelente estrutura de eletricidade e comunicações, passou a funcionar

como uma espécie de reitoria ad hoc para a UEH.

38 Dos 495 estudantes de Medicina, 195 cursavam o ciclo bianual preparatório na faculdade e 300 o ciclo trisanual

de prática hospitalar. Do total de professores ligados ao Departamento de Medicina, 37 ofereciam disciplinas de

formação preparatória na faculdade, enquanto outros 69 ministravam cursos de prática clínica e hospitalar, sendo

eles mesmos médicos ativos no HUEH.

Page 136: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

136

Tabela 43 – Impacto sobre a FMP: vítimas e danos decorrentes do terremoto Categorias Vítimas39 Instalações

Alunos 7 Tanto na faculdade como no hospital, as instalações foram severamente afetadas:

oito dos 11 edifícios ruíram ou serão demolidos, restando apenas três deles passíveis

de restauração. Os arquivos não foram perdidos, mas tampouco haviam sido

removidos do prédio principal, em risco de colapso, até o dia da visita de nossa

equipe, que se juntou ao chefe do departamento de Farmácia para recuperar os

livros e computadores que continham os registros acadêmicos, que seriam perdidos

na eventualidade do colapso do edifício principal, que era iminente, ou do roubo

dos computadores, que tampouco tardaria.

Professores 3

Funcionários 2

Pesquisadores 26 membros

do corpo

médico

O Hospital Universitário foi em grande medida destruído, mas segue realizando atendimentos no interior de tendas

doadas pelas mais diferentes organizações humanitárias internacionais e instaladas nas áreas abertas de seu areal

(estacionamentos, jardins, vias de acesso e áreas já desobstruídas de escombros). Os esforços eram intensos e vinham

de muitas partes, mas mesmo muitas semanas depois do terremoto o atendimento ainda era precário, uma multidão

se aglomerava diariamente diante dos portões à espera de uma possibilidade de atendimento e a coordenação entre

as diversas equipes ativas no interior do hospital era praticamente inexistente. Na faculdade, tendo em vista o

distanciamento entre as instâncias administrativas e os estudantes que se havia imposto a partir dos confrontos e do

impasse decorrente da greve, três linhas telefônicas foram abertas aos estudantes para obter informações sobre

colegas desaparecidos, mas também para obter informações sobre a situação da faculdade, sobre a eventual

retomada das atividades e sobre os mecanismos possíveis de regularização da documentação escolar. Um plano

transitório de recuperação do período letivo perdido em decorrência da greve e da paralisação posterior ao

terremoto envolvia a participação dos estudantes em 12 semanas de atividades, quatro das quais dedicadas a uma

revisão temática rápida e outras oito para os temas que deveriam ter sido abordados antes do semestre de inverno.

39 Todos os sete estudantes mortos cursavam Medicina, três inscritos no ciclo preparatório, cursado na própria

faculdade, e outros quatro cursando o ciclo de prática clínica no Hospital Universitário. Os quatro professores

mortos eram todos vinculados à Medicina e ministravam disciplinas clínicas também no HUEH.

Page 137: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

137

Figura 39 - Varanda do edifício principal da FMP. Em primeiro plano, o arame

farpado que foi disposto durante os confrontos que marcaram o início da greve

estudantil de 2009. Os portões seguiam trancados e o acesso interditado sem

autorização expressa da direção

Figura 38 - Entrada para as salas de aula da FMP, vista a partir do pátio central

Page 138: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

138

Page 139: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

139

Figura 40 - Escombros de um dos prédios da FMP

Figura 41 - Fachada frontal da FMP. Ao longo da amurada frontal, instalaram-se abrigos

provisórios de refugiados, que aos poucos se vão expandindo e perenizando. Por trás da

fachada aparentemente intacta, encontram-se os escombros dos prédios destruídos

Page 140: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

140

Page 141: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

141

Figura 43 - O que restou de um dos edifícios da FMP

Figura 42 - Ruínas da ala oeste do edifício das salas de aula da FMP

Page 142: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

142

Figura 45 – O esforço individual

não foi em vão: praticamente

todos os registros físicos dos

alunos da Faculdade de Farmácia

foram recuperados e, com a ajuda

de nossa equipe, também os

computadores com os registros

acadêmicos digitalizados

Figura 44 - Decano da

Faculdade de Farmácia

tenta recuperar a

documentação acadêmica

de seus alunos

Figura 46 – Por iniciativa própria

e arriscando-se sozinho em meio

ao edifício condenado, procura

assegurar que não se percam

ainda mais documentos

acadêmicos em possíveis

desabamentos ulteriores

Page 143: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

143

Figura 48 - Sala da Diretoria Acadêmica da FMP

Figura 47 - Sala do decanato da FMP

Page 144: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

144

Figura 49 - Ruínas da ala oeste do prédio de salas de aula da FMP

Figura 50 - Vista lateral das ruínas da ala oeste do prédio das salas de aula da FMP

Page 145: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

145

Figura 52 - Tendas do Comitê Central da Cruz Vermelha e do Crescente

Vermelho no estacionamento do Hospital Central da UEH, que teve todos os seus

edifícios danificados e abandonados, mas viu seus pátios externos e áreas de

estacionamento convertidos num novo hospital central, onde uma miríade de

organizações internacionais oferece atendimento médico gratuito à população

Figura 51 - Uma das antigas alas de atendimento clínico do Hospital Central,

com as estruturas irreversivelmente comprometidas

Page 146: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

146

Figura 54 - Edifício que abrigava o setor de radiologia e exames laboratoriais do

Hospital Central

Figura 53 - Entrada da ala de obstetrícia e ginecologia do HC. Os

leitos hospitalares, mesas operatórias e demais móveis foram

retirados do edifício condenado

Page 147: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

147

Figura 56 - Fila diante do Hospital Central, aguardando triagem para

acesso ao atendimento. Com muita dificuldade, apenas um funcionário

procura assegurar a prioridade para os casos de emergência e o acesso

privilegiado de idosos, mulheres e crianças

Figura 55 - Uma série de tendas que passaram a abrigar todo o atendimento

médico dispensado nas dependências do HC. Em primeiro plano, a entrada

da antiga seção pediátrica

Page 148: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

148

Faculdade de Odontologia (FO)

Tabela 44 - Perfil institucional da FO Categorias Efetivo Instalações

Alunos 105 Edifício térreo, com uma ala dedicada às atividades acadêmicas – salas de aula, salas de

professores, biblioteca e arquivos – e outra ala voltada ao atendimento público – com

dois laboratórios, seis salas de atendimento clínico (mas somente duas equipadas e

ativas), uma sala cirúrgica (desativada por deterioração do equipamento), uma sala de

espera e uma sala de arquivo para os prontuários dos pacientes. Apesar de obsoletos, os

equipamentos das duas únicas salas ativas de atendimento clínico (numa, quatro de sete

ainda funcionavam, na outra, apenas 12 de 20) haviam sido doados apenas três anos antes

pela Universidade de Nova York.

Admissões 30

Professores 42

Funcionários 17

Pesquisadores 4

Devido à escassez de dentistas no país (apenas 400 profissionais atuando em todo o território) e à intensa demanda

por atendimento gratuito ao público, a FO era a unidade mais deficitária da UEH, com despesas anuais em torno de

HTG 18.000.000 (cerca de US$ 400.000) e uma dotação orçamentária de apenas HTG 7.000.000 (cerca de US$

150.000). Normalmente, essa diferença é suprida com doações diretas. Caso nãos sejam suficientes, funcionários e

professores assistentes são sumariamente dispensados e os gastos são simplesmente suspensos. Nesses casos, são os

próprios estudantes que buscam se suprir, por conta própria, de materiais que a faculdade é incapaz de lhes oferecer

Tabela 45 – Impacto sobre a FO: vítimas e danos decorrentes do terremoto Categorias Vítimas40 Instalações

Alunos 1 Ao lado da FE e do INAGHEI, foi uma das três unidades da UEH que menos danos

sofreram em decorrência do terremoto. O edifício apresenta fissuras, mas cuja extensão

não chega a representar um risco que afaste o público que busca atendimento no interior

do prédio. A extensão completa dos danos à estrutura ainda aguarda avaliação técnica,

mas distintas instâncias da administração universitária se decidiram em favor de uma

rápida retomada do atendimento odontológico. Contudo, o material dentário utilizado

pelos estudantes e professores tanto nas atividades letivas quanto no atendimento aos

pacientes, foi perdido. Também os geradores que alimentavam o equipamento

odontológico foram destruídos. Tanto os registros acadêmicos dos estudantes quanto os

arquivos de prontuários odontológicos dos pacientes foram integralmente preservados.

Professores 1

A despeito de suas instalações físicas terem sido poupadas, tanto as atividades acadêmicas como o atendimento

odontológico estão paralisados por conta da destruição do material dentário e dos geradores. Qualquer retomada das

atividades deverá priorizar os estudantes dos dois anos finais, por conta da experiência clínica necessária à formação

de dentistas e que 35 deles já asseguraram. Com algum acompanhamento, poderiam mesmo ter sua graduação

adiantada, caso lhes pudesse ser fornecido material dentário clínico. Nossa equipe discutiu com a direção a criação

de uma ou mais clínicas móveis: para além do ônibus, cada clínica móvel custaria cerca de US$ 30 a 40.000

(compreendendo gerador, radiógrafo, cadeira, compressor). Outra prioridade urgente, assim como para todas as

outras unidades e instâncias da UEH, é a digitalização dos arquivos acadêmicos e prontuários de pacientes.

40 Marie Saget era o nome da professora morta. Um outro professor que trabalhava na FO também morreu.

Considerando, porém, que ministrava uma disciplina médica e trabalhava também no HUEH, foi computado na

lista da FMP. O estudante morto não teve seu nome mencionado por qualquer dos informantes.

Page 149: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

149

Figura 58 - Fachada da Faculdade de Odontologia, a única faculdade da

UEH cujo edifício não foi destruído ou severamente danificado. Foi

imediatamente convertido num centro de atendimento emergencial à

população afetada na região central da cidade

Figura 57 - Fachada da FO. Em frente à entrada, o decano.

Dispostos ao longo das paredes, objetos pessoais de

funcionários que se abrigaram no pátio do edifício.

Page 150: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

150

Figura 59 - Sala de aula teórica da FO

Figura 60 - Sala de aula prática da FO

Page 151: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

151

Figura 61 - Uma das duas salas de atendimento ao público da FO. Os móveis e

equipamentos odontológicos de que dispõem as clínicas da FO foram doados pela

Faculdade de Odontologia da State University of New York (SUNY)

Figura 62 - Sala de atendimento ao público da FO

Page 152: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

152

Figura 64 - Outra das salas de atendimento ao público da FO

Figura 63 - Por um buraco na parede de uma das salas de atendimento

ao público da FO, pode-se ver a outra

Page 153: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

153

Faculdade de Ciências (FDS)

Tabela 46 - Perfil institucional da FDS Categorias Efetivo Instalações

Alunos 583 Contava com quatro edifícios, abrangendo 30 salas de aula, cinco salas de professores, 10

laboratórios científicos, cinco laboratórios de informática, dois auditórios, uma biblioteca

comum a todas as carreiras, um refeitório. O edifício principal tinha quatro andares e

abrigava também os setores administrativos da faculdade.

Admissões 200

Professores 89

Funcionários 30

O espectro de carreiras formadas na FDS era consideravelmente amplo, atendendo à demanda de inúmeros setores

especializados. Seus laboratórios desempenhavam não somente atividades acadêmicas, como também ofereciam aos

estudantes e professores a oportunidade de treinamento em testes e pesquisas encomendados por órgãos

governamentais e por agências e organizações internacionais de cooperação.

Tabela 47 – Impacto sobre a FDS: vítimas e danos decorrentes do terremoto Categorias Vítimas41 Instalações

Alunos 5 Praticamente todas as instalações e equipamentos foram destruídos. Somente alguns

poucos equipamentos puderam ser salvos do prédio administrativo. A demolição do que

restou do prédio principal foi prontamente iniciada para evitar riscos ulteriores aos

desabrigados que se estabeleceram na área e aos passantes nessa área tão central da cidade.

Professores 3

Na medida em que respondia pela formação de grande parte dos engenheiros, arquitetos e topógrafos do país, chega

a ser redundante insistir sobre a importância estratégica de priorizar a reestruturação de suas instalações e a

retomada de suas atividades para o esforço de reconstrução no país.

41 Na FDS, os estudantes se distribuem em cinco períodos, independentemente da carreira escolhida. Assim, um

estudante do primeiro ano de arquitetura, após haver cursado um ano propedêutico, será considerada coetâneo de

um estudante do segundo ano da licenciatura em química, cujo ano propedêutico já corresponde ao seu primeiro

ano de licenciatura, assim como um estudante do segundo ano de topografia será considerado coetâneo dos

estudantes do primeiro ano de qualquer das engenharias. Do total de 580 estudantes matriculados, 411 foram

contatados diretamente (200 do primeiro nível do curso propedêutico, 107 do segundo ano propedêutico e da

licenciatura de química, 104 do primeiro ano das carreiras especializadas e das engenharias, assim como do segundo

ano da licenciatura de química, do primeiro ano da arquitetura e dos dois anos do curso de topografia), sendo que os

contatos diretos serviram também para obter informações sobre o paradeiro do restante do corpo discente da

faculdade. Os nomes dos cinco estudantes confirmados como mortos são: do primeiro período, Darly Mersilus e

Rose Kéthla Syme; do segundo período, Alex Fils Aimé e Johnny Prince; do quarto período, Vladimir Joseph

Laguerre (no dia seguinte ao terremoto, no HUEH, em decorrência da gravidade de seus ferimentos). Dentre os 30

professores, 20 foram contatados diretamente e ofereceram informações sobre o paradeiro dos demais, inclusive

sobre os três que morreram: Régistre Dieufort, Yolaine Lhérisson (também professora da UniQ, mas computada

nesta lista porque, além de professora, também era membro do conselho de direção da FDS) e M. Compas (professor

de eletromecânica). Sobre o paradeiro da professora de desenho técnico, Mme. Derrisseau, e do estudante do

terceiro período, Vaneau Louisme, não foi possível confirmar se haviam morrido ou não, razão pela qual seus

nomes foram excluídos do cômputo de vítimas fatais. Segundo informações de Brunous Delia, guardião da

faculdade, também o filho de um funcionário morreu em decorrência do desabamento. Contudo, sua morte não

será computado nesta lista, por não possuir vínculo acadêmico ou funcional com a instituição. Do total de

estudantes contatados e que forneceram informações sobre um local estável de residência após o terremoto, mais da

metade (cerca de 52%) haviam buscado refúgio fora da capital e de seus arredores, alguns deles mesmo fora do país,

atravessando a fronteira com a República Dominicana.

Page 154: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

154

Page 155: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

155

Figura 66 - Vista lateral da FDS, com as ruínas da varanda que

ruiu durante o terremoto

Figura 65 - Entrada principal da FDS

Page 156: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

156

Figura 67 - Vista do interior da ala frontal da FDS a partir dos escombros da varanda

Figura 68 - Vista frontal da FDS, com as ruínas da antiga fachada

Page 157: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

157

Figura 70 - Sala de aula da FDS

Figura 69 - Pátio externo da FDS, com o abrigo construído para

abrigar a família de um dos funcionários após o terremoto

Page 158: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

158

Figura 71 - Pátio

interno da FDS

Figura 72 - Início do processo de demolição da FDS

Page 159: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

159

Figura 73 - Lateral do

edifício que abrigava

os laboratórios da FDS

Figura 74 - Vista do pátio externo da FDS, com as ruínas de um dos edifícios de salas de

aula e do prédio que abrigava os laboratórios

Page 160: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

160

Faculdade de Ciências Humanas (FASCH)

Tabela 48 - Perfil institucional da FASCH Categorias Efetivo42 Instalações

Alunos 1.804:

1.749

graduandos, 55

mestrandos

Conta com dois prédios, um edifício acadêmico (com 16 salas de aula, uma sala

de professores, comum a todos os departamentos, cinco salas de estudo, duas

bibliotecas, dois laboratórios de informática e uma enfermaria, distribuídos em

quatro andares) e um administrativo (com os escritórios da direção e as salas de

aula, estudo e pesquisa do programa MAPODE – Mestrado em População e

Desenvolvimento). Possui ainda um amplo pátio interno, normalmente

utilizado como estacionamento por professores e visitantes.

Admissões 300

Professores 131:

10 licenciados,

70 mestres, 51

doutores

Funcionários 51

Pesquisadores 15:

12 mestres, 3

doutores

É inescapável reconhecer o peso simbólico que tem a FASCH no panorama intelectual, político e social haitiano.

Juntamente com a FE e a FMP, representa um dos polos do ativismo político no interior da UEH. Não só o

movimento estudantil tem uma forte presença, como também o sindicalismo docente. Em diversos momentos da

conturbada história recente do país, os estudantes e professores da FASCH desempenharam um papel-chave de

catalisadores da mobilização popular, não raro chegando ao ponto do confronto violento. Nos últimos anos, quando

quer que uma plataforma política contestatória tivesse chegado às ruas, um episódio incontornável no processo de

deslegitimação do governo parecia ser representado com a invasão da sede da FASCH pelas respectivas instâncias de

manutenção da ordem. O rol dessas invasões parece oferecer uma lista das tentativas de promover, canalizar ou

conter por meios violentos a insatisfação popular no país: macoutes e perseguidores de macoutes, Forças Armadas

do Haiti e ex-oficiais das FAd'H, Polícia Nacional Haitiana (sob diversas configurações distintas), chimères e

perseguidores de chimères, Organizações Populares (OP's), Frente para a Reconstrução Nacional (FRN) e, mais

recentemente, na tentativa de conter um protesto por aumentos salariais, inclusive a força policial das Nações

Unidas (UNPOL) e soldados brasileiros da MINUSTAH.

42 Os alunos do primeiro ano do Programa de Mestrado em População e Desenvolvimento (MAPODE) são

computados entre os estudantes, na medida em que, nesse período, somente têm o compromisso de frequentar as

disciplinas, que são ministradas de modo conjugado com a graduação. A partir do segundo ano do programa, passam

a ser considerados pesquisadores, uma vez que só então apresentam seus projetos de dissertação, recebem

orientação e dão início às atividades de pesquisa.

Page 161: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

161

Tabela 49 – Impacto sobre a FASCH: vítimas e danos decorrentes do terremoto Categorias Vítimas43 Instalações

Alunos 15 Todas as salas de aula foram interditadas e, de acordo com uma avaliação técnica

preliminar, o edifício acadêmico deverá ser demolido antes que o resto da sede possa

ser destinado a qualquer tipo de uso. O edifício da administração, por outro lado, a

despeito de fissuras aparentes, poderá ser restaurado. Os arquivos e registros

acadêmicos não foram danificados, mas continuavam no interior do edifício

condenado. Ambas as bibliotecas e os equipamentos de ambos os laboratórios de

informática foram danificados. A despeito do risco de desabamento do edifício

acadêmico, várias famílias se instalaram no pátio interno, incluindo as famílias de 35

estudantes.

Professores 1

Pesquisadores 3

Professores e estudantes da FASCH mobilizaram-se rapidamente depois do terremoto tanto para participar dos

esforços de resgate e remoção de escombros, como para retomar paulatinamente alguma medida de normalidade

nas atividades acadêmicas, realizando círculos de discussão, seminários, simpósios e palestras nas dependências da

faculdade. Juntamente com a FE e o INAGHEI, foram as unidades da UEH aquelas cujos estudantes mais

prontamente se organizaram para produzirem seus próprios levantamentos de mortos, feridos e desabrigados em

meio a seus colegas e professores. Foram formados também comitês de intervenção comunitária, que reuniam na

faculdade grupos de estudantes que não haviam deixado a capital para atuarem junto a frentes de trabalho em cinco

áreas de maior concentração de refugiados na zona central da cidade e na área de Carrefour Feuilles (Praça Jérémie,

Avenida Christophe, Champ de Mars, Rua Saint-Gérard e Avenida Poupelard). Um grupo de estudantes e

professores do curso de psicologia também se organizou para formar um Centro de Apoio Psicológico, próximo à

Praça Jérémie, atendendo principalmente crianças, mas também aberto a adultos traumatizados pelo terremoto.

43 Um total de 331 estudantes foram contatados direta ou indiretamente e puderam oferecer informações sobre o

paradeiro de seus outros colegas. Dos 15 estudantes mortos, 14 eram da graduação e um era mestrando: Schelomil

Lacoste (propedêutico), Stanley Jedin (sociologia), Jeanty Jean, Stéphane William Daphnelle, Forde Marin e Laude

Saskia Jean (psicologia), Juro Anuppe, Kencia François, Samuel Alcius, Moïse Amila, Emmanuella Larosilière,

Durvil Dorcé, Cynthia Bois-Jacques e Daniel Abraham (serviço social) e Samuel Denor (mestrado em população e

desenvolvimento). Além dos 15 estudantes mortos, três pesquisadores do programa MAPODE também morreram,

um mestre e dois doutores, cujos nomes, porém, não foram mencionados por qualquer dos informantes. O professor

morto era Guercy Antoinne, professor de psicologia social e mundo caribenho na FASCH, lecionando psicologia

também na FE. Também Pierre Vernet, que era tanto professor de linguística e comunicação na FASCH e de

antropologia na FE como professor de linguística da FLA, foi computado unicamente entre as vítimas da FLA, uma

vez que ali desempenhava também a função de decano da faculdade. O mesmo vale Wesner Mérant, que era

simultaneamente professor de análise do discurso na FASCH e vice-decano da FLA. O professor Anil Louis Juste

também morreu no dia do terremoto, mas em decorrência de um atentado contra sua vida, praticado horas antes do

primeiro tremor. No esforço de incluí-lo entre as vítimas do terremoto, alguns estudantes chegaram a afirmar que

foi levado ainda com vida ao hospital, onde teria morrido, não em virtude dos disparos sofridos ao chegar à

faculdade naquela manhã, mas do desabamento do edifício à tarde. Estudantes que testemunharam o assassinato,

contudo, asseguram que o professor morreu imediatamente, em decorrência dos disparos. Numa fatídica

convergência de eventos, sua morte violenta acabou salvando incontáveis vidas, pois, ao circularem as primeiras

informações sobre seu brutal assassinato, um grande número de estudantes, não somente da FASCH, mas também

de outras faculdades e universidades da capital, saíram às ruas para protestar. Quando ocorreu o grande tremor, a

passeata se encontrava no Champ de Mars, em terreno aberto.

Page 162: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

162

Figura 76 - As colunas de sustentação,

trespassadas por fissuras, evidenciam o colapso

iminente do edifício principal da FASCH

Figura 75 - Toda a área ao redor do edifício

principal da FASCH é mantida isolada, em

virtude do risco de desabamento

Figura 77 - O edifício

acadêmico da FASCH

está condenado e a

iminência de seu

desmoronamento

impede inclusive que

se utilize parte do

pátio interno, o que

contudo não impede

que alunos, ex-alunos

e suas famílias

ocupem parte do

estacionamento como

abrigo provisório

Page 163: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

163

Instituto de Estudos e Pesquisas Africanos (IERAH) / Instituto de Estudo e Pesquisa em Ciências

Sociais (ISERSS)

Tabela 50 - Perfil institucional do IERAH/ ISERSS Categorias Efetivo Instalações

Alunos 500 Está instalado num edifício de três andares, que abriga 16 salas de aula, uma salas

de professores, comum a todas as disciplinas, três salas de estudo, cinco salas

administrativas, uma biblioteca e dois laboratórios de informática, um dos quais,

porém, ainda não havia sido equipado.

Admissões 200

Professores 29

Funcionários 21

Pesquisadores 17:

12 mestres,

5 doutores

Criado em 1980 e ativo desde 1981, foi a última das unidades da UEH a se estabelecer na capital. Concebido como

um centro de pesquisa, destinado a acolher pesquisadores ou estudantes de pós-graduação, era tributário de um

projeto político-intelectual de extração noiriste, que havia ajudado a assegurar lastros simbólicos na busca de

legitimação internacional para o regime duvalierista. Sem uma resposta condizente da parte dos pesquisadores e

pós-graduandos haitianos, abriu mão de suas pretensões de pesquisa e converteu-se rapidamente numa faculdade

profissionalizante, para carreiras que no entanto ofereciam poucas (se é que alguma) perspectiva de trabalho aos

formandos. Nas décadas seguintes, além de enfrentar sérios problemas administrativos, teve cada vez mais

dificuldade em se inserir no espectro institucional acadêmico haitiano, o que levou a reitoria a reformar

radicalmente o perfil do Instituto, resgatando sua missão original de promoção da pesquisa, mas de uma forma

menos atrelada a uma plataforma pré-definida e por outro lado mais estreitamente associada aos esforços de

formação de base. A partir de 2007, passou a ser o ISERSS e se inseriu no espaço altamente politizado de debate

político e intelectual que marca o campo das ciências humanas na UEH.

Tabela 51 – Impacto sobre o IERAH/ ISERSS: vítimas e danos decorrentes do terremoto Categorias Vítimas44 Instalações

Alunos 2 Apesar de não haver ruído, o prédio apresenta profundas fissuras. Uma equipe técnica

avaliou o edifício e determinou que representa um risco para a vizinhança e deverá ser

demolido. Os computadores, assim como o acervo da biblioteca e os registros

acadêmicos não sofreram danos, mas permanecem no interior do edifício condenado.

Professores 1

Pesquisadores 1

A direção do Instituto perdeu o contato com grande parte dos professores e, havendo tentado sem sucesso

determinar o paradeiro de seus funcionários, temia que tivessem perecido alhures. As atividades acadêmicas, que

estavam marcadas para recomeçar no dia mesmo do terremoto, foram paralisadas.

44 Nenhuma das vítimas fatais foi identificada nominalmente por qualquer dos informantes. Distintas fontes,

contudo, confirmaram os números. Morreram três estudantes do IERAH, mas se sabe que um deles, que também

era aluno da Universidade GOC, pereceu no desabamento daquela instituição, razão pela qual não é computado na

lista de vítimas do IERAH. Tanto o professor como o pesquisador morto eram ligados ao Programa de Mestrado

Interdisciplinar em Ciências Sociais e Humanas (PMISSH), situado numa sede própria, que foi completamente

arruinada pelo terremoto. As vítimas do desabamento da sede do PMISSH ou de alguma forma vinculadas ao

programa, mas mortas alhures, foram computadas nas listas respectivas das instituições com as quais tinham um

vínculo como professores ou estudantes. Dentre os funcionários desaparecidos, nove ainda não haviam sido

localizados até o encerramento deste levantamento. É possível que alguns deles (ou mesmo todos os nove) tenham

morrido. Sem conhecer, contudo, os métodos desse esforço de localização e sem a possibilidade de uma verificação

por qualquer outra via, não foram computados entre as vítimas fatais desta lista.

Page 164: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

164

Figura 79 - Instituto de Estudos e Pesquisas Africanos (IERAH) / Instituto de Estudo e

Pesquisa em Ciências Sociais (ISERSS) Danificado, o IERAH / ISERSS permanece em

pé. No muro, pichações contrárias à atuação de organizações estrangeiras

Figura 78 - De todos os lados do edifício do IERAH / ISERSS se pode perceber que,

apesar de haver resistido, demandará reparos importantes

Page 165: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

165

Page 166: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

166

Figura 82 - “Aviso aos

estudantes: a direção do

departamento de Geografia

informa aos estudantes da

primeira turma de 2009 /

2010 que o curso terá início

nesta terça-feira, dia 12 de

janeiro de 2010”. Suma

ironia, o primeiro grande

terremoto foi exatamente

neste dia, no fim da tarde

Figura 81 - Uma das

entradas do IERAH /

ISERSS. O prédio

resistiu aos tremores,

mas a extensão dos

danos exigirá

consideráveis reparos

Figura 80 - Pátio interno do

IERAH / ISERSS

Page 167: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

167

Figura 84 - Corredor lateral do

IERAH / ISERSS

Figura 83 - Saguão de entrada do IERAH / ISERSS

Page 168: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

168

Instituto Nacional de Administração Pública e de Empresas e de Altos Estudos Internacionais

(INAGHEI)

Tabela 52 - Perfil institucional do INAGHEI Categorias Efetivo45 Instalações

Alunos 2.610:

1.589 no ciclo de

formação acadêmica,

1.021 no de

formação contínua

Conta com dois edifícios: um prédio principal, de quatro andares, com 16

amplas salas de aula, um auditório e um laboratório de informática com

cerca de 40 computadores, e um prédio administrativo, com duas salas da

direção, quatro salas de chefia de departamento, biblioteca, refeitório e um

terraço utilizado como extensão do refeitório. O instituto contava ainda

com dois veículos e um pequeno parque gráfico, já obsoleto, porém, e

raramente utilizado. Admissões 450

Professores 147

Funcionários 86

Desde sua fundação, vem constante e diligentemente expandindo sua base de alunos e o número de vagas de ensino

e treinamento que oferece, chegando mesmo a operar em três turnos e ao longo dos fins de semana, com uma taxa

de ocupação de seus espaços físicos próximo à saturação. Um ciclo de formação acadêmica, em dois turnos (diurno-

integral e noturno), conduzindo ao bacharelado ou licenciatura em administração de empresas, administração

pública e ciências contáveis, além da especialização em ciência política; um ciclo de formação contínua, baseado

nos programas de curta duração (dois anos), com diplomação em contabilidade ou certificação em administração de

empresas, administração pública ou ciência política; além de um ciclo de aperfeiçoamento, baseado em seminários

de reciclagem com temáticas sazonais (por exemplo, gestão de projetos, gestão de recursos humanos, métodos de

pesquisa em marketing, gestão de documentos administrativos etc.), assegurando certificados de participação.

45 Para além dos currículos acadêmicos stricto sensu, o INAGHEI oferece seminários de capacitação, reciclagem e

aperfeiçoamento para profissionais ativos no mercado de trabalho e na administração pública, não somente fazendo

uso de suas instalações próprias, mas também deslocando professores e equipamento para sedes de empresas,

ministérios e organizações não governamentais. Tanto a reitoria da UEH como a direção do Instituto tendem a

considerar todos os participantes desses seminários como estudantes, o que não raro produz números elevadíssimos

para o cômputo geral do corpo discente do Instituto, chegando mesmo a cifras que ultrapassam os 4.500. Contudo,

números assim devem ser tomados com cautela e considerados unicamente como correspondentes ao total da

clientela das atividades letivas do Instituto, e não como a escala efetiva de seu corpo discente ativo, que, entre o

ciclo de formação acadêmica e o ciclo de formação contínua.

Page 169: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

169

Tabela 53 – Impacto sobre o INAGHEI: vítimas e danos decorrentes do terremoto Categorias Vítimas46 Instalações

Alunos 12 Múltiplas fissuras são visíveis por todas as instalações, porém aparentam ser de pouca

profundidade. Os dois veículos que pertenciam ao Instituto, uma caminhonete e um jipe,

foram esmagados com a queda de um dos muros. De 41 computadores, 26 foram

destruídos, assim como uma proporção equivalente dos outros equipamentos. Os móveis,

no entanto, não foram danificados. Uma equipe militar franco-canadense de engenharia

realizou uma avaliação técnica preliminar sobre a extensão dos danos ao prédio principal

e determinou que o edifício poderá ser recuperado, sendo uma das únicas três unidades da

UEH que não foi destruída ou precisará ser demolida, juntamente com a FE e a FO.

Professores 2

Antes mesmo de qualquer iniciativa da reitoria da UEH para avaliar a extensão dos danos e o número de vítimas, os

estudantes formaram um comitê de avaliação do impacto do terremoto chamado de CINAGHEI (Coletivo dos

Estudantes do INAGHEI). Contaram com o apoio inicial do decanato do Instituto e puderam dar início ao

levantamento do número de colegas e professores mortos, feridos e desabrigados e à discussão sobre a possibilidade

de, fazendo uso das instalações e equipamentos de seu Instituto, relativamente menos afetados, retomar ao menos

parcialmente algumas das atividades tanto do próprio INAGHEI quanto do restante das faculdades de ciências

humanas da UEH. Na medida em que sua sede, entre todas as unidades da UEH, é uma das que menos recursos

exigirá para ser recuperada, poderia servir como base de suporte para uma retomada gradual das atividades

acadêmicas para a área de Ciências Humanas, que, de todo modo, já se encontrava distribuída por faculdades

relativamente próximas (FASCH e INAGHEI, do outro lado da rua, FE a algumas quadras ao oeste e FLA a algumas

quadras ao norte). Num esforço conjunto com a FE, que também foi proporcionalmente pouco afetada pelo

terremoto, tanto as instalações físicas como os espaços adjacentes dessas duas unidades poderiam ser utilizados

alternada ou simultaneamente para acolher o grande efetivo de alunos e professores tanto da FASCH como do

IERAH, até que suas respectivas sedes fossem adequadamente recuperadas ou demolidas e liberadas dos escombros.

À espera das decisões da reitoria com respeito ao reinício das atividades, o decanato do INAGHEI havia optado por

uma retomada virtual das aulas já no dia 1°. de abril, utilizando um sistema de créditos que permitisse compensar

com carga horária posterior as aulas que não tivessem podido ou ainda não pudessem ser ministradas.

46 Do total de estudantes ativos, inscritos para os ciclos de formação acadêmica e de formação contínua, 798 foram

recenseados e contatados diretamente. Loubert Auguste, encarregado de serviços gerais e Francel Saint-Hillien,

decano e professor de direito internacional e organizações internacionais, confirmaram em visitas posteriores ao

Instituto os dados preliminares obtidos pelo CINAGHEI e os dados apurados no curso deste levantamento. Entre as

vítimas fatais, os dois professores eram M. Prince (matemática) e Chesnel Derville (informática). Também morreu o

professor Jean Rousiers Descardes, que ministrava a disciplina de introdução ao direito, mas seu nome foi incluído

entre as vítimas da FE, onde atuava havia mais tempo e ministrava mais disciplinas, no curso de Antropossociologia.

Péricles Vernet (professor de economia haitiana e contabilidade) ainda se encontrava desaparecido, mas sua morte

ainda não havia podido ser confirmada. Os 12 estudantes cuja morte havia sido confirmada eram: Emmanuel

Étienne, Judelande Ducasse (ano preparatório), Nolasco Amicy (primeiro ano de ciências contábeis), Jean Mary

Renand e Destiné Datus (segundo ano de ciências contábeis), Mondy Pichonneau (terceiro ano de ciências

contábeis), Grégory Honorat, Réginald Brutus e Guerlin Kernizan (último ano de ciências contábeis), Keseau

Metéllus (primeiro ano do diploma de ciências contábeis), Rony Jean e Anne Claudia Joseph (segundo ano do

diploma de ciências contábeis).

Page 170: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

170

Figura 85 - Pátio interno do INAGHEI

Figura 86 – Fachada frontal do INAGHEI, expondo fissuras que atravessam

toda a estrutura de sustentação do prédio

Page 171: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

171

Figura 88 - Sala de aula do INAGHEI com material didático e pertences pessoais

que os alunos deixaram para trás ao tentar escapar do primeiro tremor

Figura 87 - As salas de aula do

INAGHEI permaneceram como

foram deixadas, ao terem sido

abandonadas às pressas no dia do

primeiro terremoto

Page 172: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

172

Unidades autônomas do sistema público de ensino superior e formação profissional47

Escola de Direito de Jacmel (EDJ)

Tabela 54 - Perfil institucional da EDJ Categorias Efetivo Instalações

Alunos 369:

131 (primeiro

ano), 82

(segundo), 77

(terceiro) e 79

(quarto)

Ocupava parte da sede do EFACAP de Jacmel, alternando horários de

funcionamento e compartilhando o espaço físico com duas escolas

fundamentais (Edèze Gousse e Roger Delmas). Contava com um amplo pátio

interno e abrangia um prédio principal, de dois andares, com 10 salas de aula e

capacidade para abrigar 500 alunos, e um prédio anexo térreo, que alojava as

salas da administração. Não possuía biblioteca própria ou equipamento de

informática. Admissões 150

Professores 20

Funcionários 3

Para além do corpo docente local, contava com a participação pedagógica de professores da FDSE de Port-au-

Prince, que também ministravam disciplinas e ofereciam seminários. As disciplinas estavam distribuídas em

horários vespertinos e eram oferecidas durante os dias da semana para as turmas dos primeiros três anos e nos fins

de semana para a turma do quarto ano.

Tabela 55 – Impacto sobre a EDJ: vítimas e danos decorrentes do terremoto Categorias Vítimas48 Instalações

Alunos 1 O edifício térreo não apresenta fissuras e passou imediatamente a ser utilizado como base

de atendimento médico para o campo de refugiados instalado nas proximidades e no pátio

interno das escolas. O edifício principal, contudo, expões fissuras mais profundas e,

incluindo a área à sua volta, foi interditado.

Professores 1

Os registros escolares foram recuperados e, inicialmente em tendas instaladas no pátio, mas posteriormente com a

reocupação gradual das salas de aula, estava prevista para o início de março a retomada das atividades.

47 Compreende faculdades, escolas e centros públicos (nacionais, departamentais ou ministeriais) de caráter

acadêmico, técnico ou profissional que estivessem instalados e operando na área afetada. Assim, dentre as escolas

departamentais de direito e economia (Hinche, Jacmel, Port-de-Paix, Fort-Liberté, Les Cayes, Gonaïves e Cap-

Haïtien), foi destacada somente a Escola de Direito de Jacmel (EDJ), por ser a única delas situada na área

diretamente afetada pelos tremores. Da mesma forma para as escolas nacionais de enfermagem (além de Port-au-

Prince, Jérémie, Les Cayes e Cap-Haïtien), tendo sido avaliada somente a Escola Nacional das Enfermeiras de Port-

au-Prince (ENIP). Na capital, foram arrolados ainda o Centro Técnico de Planificação e Economia Aplicada

(CTPEA), a Escola Nacional de Administração Financeira (ENAF), a Escola Nacional das Artes (ENARTS), a Escola

Nacional Superior de Tecnologia (ENST), o Centro Nacional de Formação Profissional ou Centro Piloto de

Formação Profissional e Técnica (CNFP/ CPFPT) e a Escola Nacional de Geologia Aplicada (ENGA). 48 Diante da impossibilidade de organizar uma equipe de pesquisa independente na cidade, as informações sobre as

vítimas foram colhidas junto à imprensa local, em entrevistas com Luc François, professor de direito penal da EDJ,

com Adeline François, decana do Tribunal Civil de Jacmel, assim como com moradores do campo de refugiados

estabelecido no pátio interno e funcionários das organizações humanitárias ativas no local. Foram registradas as

mortes de um estudante do 4°. ano, cujo nome porém não foi mencionado por qualquer dos informante, e do

professor M. Oranger (direito penal). De modo geral, as estimativas para o resto da cidade de Jacmel colocavam as

cifras de vítimas fatais em torno de 400, com cerca de 50 pessoas ainda desaparecidas.

Page 173: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

173

Figura 89 - Tendas no

pátio da EDJ

Figura 91 - Tendas no pátio

da EDJ, convertida em

campo de refugiados

Figura 90 – Tendas ao redor da EDJ

Page 174: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

174

Page 175: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

175

Figura 93 - Corredor de salas de aula da EDJ

Figura 92 - Sala de aula – EDJ – Jacmel (no quadro-negro, notas da aula de

Teoria do Direito Constitucional que era ministrada no dia do terremoto)

Page 176: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

176

Centro Técnico de Planificação e Economia Aplicada (CTPEA)

Tabela 56 - Perfil institucional do CTPEA Categorias Efetivo Instalações

Alunos 132 Além de um pátio interno, contava com dois edifícios: um prédio principal, de dois

andares, com 10 salas de aula, uma sala de professores, uma sala de pesquisadores, duas

salas da direção, um auditório, uma biblioteca, um laboratório de informática e um

refeitório; e um prédio anexo, de três andares, com quatro salas de aula e duas salas de

estudo, destinadas ao mestrado e aos seminários de aperfeiçoamento.

Admissões 50

Professores 12

Funcionários 34

Pesquisadores 25

Sob a tutela do Ministério da Planificação e da Cooperação Externa (MPCE), voltava-se à formação acadêmica, ao

aperfeiçoamento de quadros especializados da adminsitração pública e à pesquisa nas áreas de economia aplicada,

estatística e planificação. Procurava mantinha ativos os vínculos com ex-alunos e ex-professores, que desenvolviam

atividades no Centro e facilitavam o estabelecimento de canais de apoio com a diáspora haitiana e com agências

internacionais de cooperação. Juntamente com os professores, tanto os estudantes inscritos nos programas de

especialização quanto aqueles vinculados ao Programa de Mestrado Interdisciplinar em Ciências Sociais e Humanas

(PMISSH), do qual era uma das principais instituições promotoras, dispensavam disciplinas e realizavam seminários

de formação e aperfeiçoamento, tanto para os demais estudantes regularmente matriculados, como para os

funcionários do MPCE. Estava em curso de elaboração um programa de mestrado em desenvolvimento local, que

seria sediado no CTPEA e selecionaria a primeira turma já em 2010.

Tabela 57 – Impacto sobre o CTPEA: vítimas e danos decorrentes do terremoto Categorias Vítimas49 Instalações

Alunos 1 Todos os muros circundantes caíram e ambos os edifícios foram avariados, mas uma

avaliação técnica sobre a extensão das fissuras determinou que ambos são passíveis de

recuperação. O laboratório de informática foi danificado, mas nem todos os computadores

foram destruídos. O prédio anexo foi interditado por conta do risco de colapso do muro

que ladeia seu único corredor de acesso. Alguns dos aparelhos de ar condicionado foram

danificados, mas os geradores que abasteciam ambos os prédios foram salvos.

Professores 1

A elaboração do programa de mestrado foi suspensa e não há qualquer perspectiva de que o processo seletivo seja

iniciado. Certamente terá um papel estratégico a desempenhar no esforço de reconstrução e na implementação de

políticas e programas de planejamento econômico, descentralização administrativa e desenvolvimento localizado,

assim como na formulação de políticas voltadas à integração da comunidade diaspórica haitiana.

49 A direção mencionava um professor entre as vítimas, mas seu nome não foi mencionado nem pela administração

do centro e nem por qualquer outro informante. A estudante morta se chamava Schelami Lacoste e cursava o

primeiro ano. Outros dois estudantes sofreram ferimentos graves, tendo um deles tido a perna amputada, mas

ambos resistiram.

Page 177: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

177

Figura 94 – Fachada frontal do CTPEA

Figura 95 - Muro do pátio externo do CTPEA

Page 178: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

178

Figura 97 - Galpão anexo ao CPTEA, onde se veem estendidas as roupas dos

refugiados que se abrigaram no pátio

Figura 96 - Sala de aula do CTPEA

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179

Escola Nacional de Administração Financeira (ENAF)

Tabela 58 - Perfil institucional da ENAF Categorias Efetivo Instalações

Alunos 145:

56 no primeiro ano e

89 no segundo, 12

dos quais quadros

ministeriais

Abrangia dois prédios principais: o edifício A – quatro andares que

abrigavam 15 salas de aula, cinco salas administrativas, uma sala de estudos,

uma sala de professores, a biblioteca, dois laboratórios de informática, uma

sala audiovisual (laboratório de línguas), um auditório, uma sala de

manutenção, uma sala de arquivos e uma enfermaria – e o edifício B, térreo,

que era reservado para cerimônias, conferências e seminários realizados

pelo MEF e por outros órgãos governamentais. Cada um dos edifícios

contava também com um refeitório. No pátio interno, encontravam-se

estacionados os dois ônibus que pertenciam à escola.

Admissões 54

Professores 75:

28 (primeiro ano), 47

(segundo)

Funcionários 39

Vinculada diretamente ao Ministério da Economia e das Finanças, (MEF), dedica-se à formação e ao

aperfeiçoamento dos quadros técnicos do MEF. Os cursos conduzem à diplomação (bacharelado) ou a uma

certificação de dois anos de formação continuada. Muitos dos estudantes (chamados de estagiários) procuram os

cursos do ENAF – Tesouro, Economia, Impostos e Aduana – como uma especialização ulterior, voltada ao serviço

público, mas suplementar ou paralela a outra formação universitária.

Tabela 59 – Impacto sobre a ENAF: vítimas e danos decorrentes do terremoto Categorias Vítimas50 Instalações

Alunos 4 Ambos os edifícios ruíram completamente e, devido à sua localização numa encosta e aos

riscos que representavam aos campos de refugiados que se formavam mais abaixo, foi

uma das primeiras instituições de ensino superior a ter os escombros removidos. Professores 4

Felizmente, estava vazia quando ruiu: as mortes ocorridas entre os estudantes e professores ocorreram alhures. Na

ampla área anteriormente ocupada pela ENAF, restaram apenas seus dois ônibus estacionados, utilizados para

armazenar os registros acadêmicos e as poucas obras que puderam ser recuperadas da biblioteca soterrada.

50 Entre as vítimas fatais, quatro eram estudantes – do primeiro ano, Minette Thomas Rose e Emmanuel Salomon

Stanley, e do segundo, Rachelle Dély Phaïmy e Francky Jorely – e quatro professores – Duvot Fénol, Cupidon

Dorsainvil, Junior Murey Lustin e Josué Pierre-Louis. Um estudante do segundo ano, Jocelyn Jephté, foi mutilado.

Entre os estudantes sobreviventes, 88 estão desabrigados e distribuídos por campos de refugiados,

predominantemente nos arredores da capital, mas também junto a familiares no interior do pais.

Page 180: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

180

Figura 98 - A ENAF ruiu completamente, restando apenas seus dois ônibus para

abrigar a documentação recuperada dos escombros

Figura 99 - Após a remoção dos escombros, a única coisa que lembra que ali havia

uma prestigiada instituição de ensino superior é um monte de ferro retorcido

Page 181: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

181

Escola Nacional das Artes (ENARTS)

Tabela 60 - Perfil institucional da ENARTS Categorias Efetivo51 Instalações

Alunos 139:

78 de artes plásticas,

47 de música, 9 de

dança, 3 de teatro, 2

de história da arte

Abrangia um amplo pátio interno circundando por quatro edifícios: o

galpão principal, com um corredor suspenso de salas que abrigavam duas

salas administrativas, a sala da direção acadêmica e uma pequena biblioteca;

um galpão anexo, que alojava a sala de dança, a fundição (com dois fornos) e

o ateliê de cerâmica e escultura; um prédio lateral em que havia quatro salas

de aula e um ateliê de pintura; e outro prédio lateral, com um pequeno

auditório, um laboratório de informática, uma sala de equipamentos e

materiais e duas salas de aula. Contava com um imóvel adicional em frente

ao Champ de Mars, que abrigava o Escritório Nacional do Artesanato

(ONART) e um auditório, utilizado para apresentações dos estudantes e

para a realização de cerimônias, eventos e seminários. Possuía ainda uma

pequena caminhonete para o transporte de materiais e equipamentos.

Admissões 200

Professores 23

Funcionários 75

Pesquisadores 51 bolsistas:

25 de música, 17 de

artes plásticas, 5 de

dança, 4 de teatro

Vinculada ao Ministério da Cultura, tem enfrentado há anos dificuldades de financiamento e, segundo o diretor

geral Théodate Thurgot, desde 2005 não são aceitas novas matrículas: a última turma concluiria seu ciclo de

formação continuada em 2010 e não havia dotação de recursos que permitisse selecionar a próxima. As artes

plásticas formaram o núcleo de sua formação original, abrindo quatro novos departamentos (história da arte, dança,

música e artes dramáticas) quando de sua reforma e ampliação em 2002.

51 Tão logo fosse feito o repasse orçamentário pelo Ministério da Cultura, uma nova turma de 200 estudantes seria

selecionada para preencher as vagas de todos os departamentos, assim como uma nova leva de bolsistas. Previa-se

que cerca de 50 dentre os melhores estudantes recebessem uma pequena subvenção, angariada junto a doadores e

repassada pelo Ministério da Cultura, para que pudessem adquirir material ou sustentar projetos artísticos em

desenvolvimento. Havia muito, porém, que não eram pagas e que se limitavam à isenção das taxas escolares. Entre

os funcionários vinculados à ENARTS, encontravam-se também os administradores e técnicos que atuavam junto ao

ONART e que operavam e mantinham em funcionamento o auditório do Champ de Mars.

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182

Tabela 61 – Impacto sobre a ENARTS: vítimas e danos decorrentes do terremoto Categorias Vítimas52 Instalações

Alunos 3 O auditório do Champ de Mars ruiu e, na sede acadêmica, com exceção do corredor das

salas administrativas, que tinha uma estrutura de madeira, todos os outros edifícios foram

severamente danificados, com a decorrente destruição de praticamente todos os

equipamentos e materiais: além dos dois fornos e dos dois tornos elétricos, perderam-se a

maior parte dos computadores e instrumentos musicais, incluindo o piano, e praticamente

todos os equipamentos manuais. Muitos dos trabalhos já prontos dos estudantes e dos

professores, que se encontravam nos galpões e oficinas, foram perdidos. Os registros

acadêmicos, contudo, puderam ser recuperados.

Professores 2

Não só em busca de abrigo, mas também em vista do risco que corriam as obras, materiais e instrumentos que

puderam ser salvos, um grupo de estudantes se instalou no pátio interno da escola, onde procuravam, ainda à espera

de uma retomada das atividades acadêmicas, retomar gradualmente ao menos seus próprios trabalhos artísticos.

Músicos e bailarinos, pintores e escultores, mas sobretudo sobreviventes, haviam transformado seu refúgio em

ateliê. As tragédias do terremoto não tinham como não figurar entre seus temas e preocupações e, a reboque de

terem invadido suas vidas, invadiam agora suas obras.

52 Em locais e circunstâncias bastante diversas, morreram três estudantes de perfis igualmente diversos: Cerisier

Vladimir Adham (estudante de artes plásticas, morto em Léogâne), David Sanon (estudante de teatro, morto no

colapso do Centro Técnico Saint-Gérard, do qual era vizinho), Christine Louis (estudante de música, morta em

circunstâncias desconhecidas). Também morreram dois professores: Robert Gustave e Antony Boucard. Além das

vítimas fatais, foram registrados 4 casos de ferimentos graves, envolvendo mutilações de dois professores e de dois

alunos (Dino Narcisse Sideney e Paul Jude “Don” Carmelo, conhecido músico de hip-hop e estudante de pintura,

que perdeu sete dedos ao salvar uma criança do soterramento, mas que já havia recomeçado a pintar prolificamente

algumas semanas após o terremoto.

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183

Page 184: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

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Figura 101 - Oficina de

trabalho da ENARTS

Figura 100 - Estátua do

patrono da ENARTS,

Jean-Jacques Dessalines

Page 185: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

185

Page 186: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

186

Figura 103 - Aluno da ENARTS

mostra o seu trabalho

Figura 102 – “Coletivo pós-desastre. Proteção

do patrimônio / CP3 e ENARTS deseja

oferecer seus pêsames a todos os artistas e

famílias que perderam entes queridos no

terremoto de 12 de janeiro de 2010. Lutemos

pela proteção do patrimônio”

Page 187: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

187

Figura 104 - Estudantes da ENARTS que

se abrigaram no espaço da Escola e

continuam desenvolvendo suas atividades

fora dos ateliês danificados

Figura 105 - Pátio da ENARTS,

onde se veem, entre materiais de

escultura e entalhe em madeira, as

roupas que os estudantes

refugiados no pátio da escola

estenderam para secar

Page 188: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

188

Figura 106 - Aluno da ENARTS, que sofreu mutilações nas mãos durante o primeiro tremor,

retoma seu trabalho de pintura no que sobrou da escola

Figura 107 - Pátio interno da ENARTS com uma vista lateral do galpão das oficinas

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Escola Nacional das Enfermeiras de Port-au-Prince (ENIP) / Escola Nacional de Parteiras

(ENISF)

Tabela 62 - Perfil institucional da ENIP Categorias Efetivo Instalações

Alunos 275 Ocupava três edifícios interligados: um prédio principal, de três andares, com

salas de aula, salas de estudo, laboratórios de prática clínica, salas de professores

e biblioteca; uma seção anexa, de dois andares, interligada ao HUEU e também

utilizada no treinamento de parteiras, com laboratórios de obstetrícia e

atendimento ao público, mas que abrigava também algumas salas da

administração; e um prédio menor, de dois andares, com o restante dos setores

administrativo, o arquivo e um pequeno laboratório de informática. Contava

ainda com um micro-ônibus, utilizado para levar estagiários e pesquisadores a

outras unidades hospitalares ou às escolas nacionais do interior do país.

Admissões 100

Professores 40

Funcionários 17

Pesquisadores 9:

3 mestrandos, 3

mestres e 3

doutores

Tratava-se de uma escola tradicional de formação de enfermeiras que acabou sendo incorporada na estrutura da

UEH, num esforço de fortalecimento da formação de pessoal especializado no atendimento à saúde e integrada na

rede mais ampla de escolas nacionais de enfermagem distribuídas por outros departamentos no interior do país.

Com um corpo discente predominantemente feminino, contava também com um grupo incipiente de pesquisadores

e professores diligentemente dedicados à formulação de iniciativas de saúde pública e de saúde preventiva.

Tabela 63 – Impacto sobre a ENIP: vítimas e danos decorrentes do terremoto Categorias Vítimas53 Instalações

Alunos 107 O edifício principal e o prédio da administração ruíram completamente. A seção anexa

de obstetrícia não chegou a desabar e, apesar de exigir uma avaliação técnica sobre a

extensão dos danos, aparenta poder ser restaurado e utilizado transitoriamente para a

retomada gradual das atividades. Assim como outros veículos estacionados nos

arredores, o micro-ônibus foi esmagado. Todos os equipamentos foram destruídos.

Professores 4

Pesquisadores 3

Qualquer plano ou iniciativa de reconstrução do setor de saúde no país passa pelo restabelecimento das condições

de ensino e pelo fortalecimento dos incipientes esforços de pesquisa que tinham lugar na ENIP. Sua destruição

alcançou uma escala devastadora e necessitará de um robusto envolvimento de parceiros internacionais para se

restabelecer. Já antes do terremoto, muitas das iniciativas de formulação de uma política de saúde pública

preventiva, que inescapavelmente envolviam os pesquisadores, professores e estudantes da ENIP, apontavam na

direção de uma emulação deliberada de programas de saúde desenvolvidos e adotados com alto grau de sucesso no

Brasil, como o programa dos agentes de saúde, do médico de família, de saúde materna e de saúde da mulher. Um

esforço direcionado de apoio à implementação desse tipo de programa, no quadro de um envolvimento mais amplo

com a reconstrução dos sistemas de educação superior e de atendimento de saúde, teria uma base de receptividade

já estabelecida e promoveria evidentes efeitos multiplicadores.

53 Segundo Baptistin Wilbert, funcionário que participou do primeiro esforço de resgate, 15 estudantes foram

retiradas com vida dos escombros. Membros do International Medical Corps, que chegaram a acompanhar

posteriormente a recuperação de algumas delas, afirmaram que o total das sobreviventes feridas retiradas com vida

dos escombros e que foram tratadas no HUEH chegou eventualmente a 25. Além do o diretor-geral da ENIP, Pierre

Alix Laroche, outros dois professores pereceram no desabamento. As diretoras adjunta e pedagógica,

respectivamente Mme. Nazaire e Mme. Neptune, puderam confirmar um total de 91 estudantes mortas em

consequência direta do desabamento da Escola (2 do primeiro ano, 81 do segundo e 8 do terceiro). Acreditava-se

que um número adicional de 16 estudantes tivesse perecido no desabamento das unidades hospitalares onde

trabalhavam, além de outras cinco que continuavam desaparecidas até o momento da conclusão deste

levantamento. As 16 estudantes mortas alhures foram incluídas no cômputo da faculdade, no entanto, por falta de

confirmação suficiente, os cinco casos ulteriores de estudantes desaparecidas ou não localizadas foram excluídos do

cálculo, apesar de muito provavelmente terem sido também vítimas fatais.

Page 190: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

190

Figura 109 - Vista do que restou da ENIP a partir de onde se encontrava anteriormente a

entrada do prédio principal

Figura 108 - A queda do edifício principal da ENIP vitimou todas as estudantes que se

encontravam no prédio no momento do primeiro tremor, juntamente com o decano

Page 191: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

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Figura 111 - O ônibus que transportava as

estudantes para estágios de formação em

instituições de atendimento à saúde na

capital e no interior, foi esmagado com o

colapso do prédio administrativo da ENIP

Figura 110 - Além das estudantes e do professor mortos, passantes foram atingidos e mortos

com a queda do edifício sobre uma das vias mais movimentadas do centro de Port-au-Prince

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192

Escola Nacional Superior de Tecnologia (ENST)

Tabela 64 - Perfil institucional da ENST Categorias Efetivo Instalações

Alunos 95 Funcionava em um dos quatro andares de um edifício compartilhado também pela

Universidade Nobel do Haiti e pelo Colégio Metropolitano. Ocupava quatro salas de aula,

um escritório de administração, que funcionava também como um de dois laboratórios de

informática, com 20 computadores cada, O pátio, a quadra de esportes e o refeitório eram

de uso comum dos estudantes das três instituições.

Admissões 30

Professores 11

Funcionários 2

Juntamente com o CTPEA, são considerados os centros mais reconhecidos na formação profissional e treinamento

nas áreas da planificação econômica e administração pública e de empresas. Sempre teve, contudo, dificuldades para

assegurar uma sede própria. Possui uma das mais baixas taxas de evasão dentre as instituições públicas de ensino

superior, com menos de 10% dos estudantes abandonando o curso a cada ano.

Tabela 65 – Impacto sobre a ENST: vítimas e danos decorrentes do terremoto Categorias Vítimas54 Instalações

Alunos 2 O edifício ruiu. Um dos laboratórios de informática foi destruído com o colapso do

edifício, ou outro foi roubado, juntamente com todos os volumes da biblioteca. Os

registros escolares, no entanto, tanto físicos como eletrônicos, puderam ser salvos . Professores 1

O modelo de ocupação compartilhada de espaços físicos, conforme adotado no caso dessa combinação entre uma

instituição pública de ensino superior, uma universidade privada e um colégio secundário, não deixa de suscitar a

especulação sobre sua viabilidade como uma solução transitória que pudesse ser adotada durante o processo de

reconstrução. A direção da ENST, destacando os ganhos de complementaridade que podem ser produzidos, chega

mesmo a propor um modelo de mutualismo para a reconstrução, com a partilha sistemática de estruturas,

equipamentos e pessoal por instituições congêneres.

54 No desabamento do edifício, dois estudantes morreram e seus corpos ainda não haviam podido ser retirados de

sob os escombros. Seus nomes não foram mencionados por qualquer dos informantes. O professor morto se chama

Bultus Emannuel (informática). Um segundo professor, Maxy Samuel, também morreu, no desabamento da sede do

Centro de Estudos Diplomáticos e Internacionais (CEDI), onde também desempenhava a função de chefe de

departamento e diretor auxiliar, razões pelas quais foi computado na lista daquela e não desta instituição. Além

disso, tanto um jovem da vizinhança, que praticava esportes no pátio interno, como duas crianças que o

observavam, morreram igualmente no desabamento. As informações foram providas pelo diretor da ENST, Jean-

Claude Rolles, pelo diretor do Collège Métropolitain, Pierre Remy Zamor, e pelo guardião da UNH, Daley Benson,

que participou dos esforços de remoção dos escombros, durante os quais foi possível resgatar com vida outros dois

estudantes e outra criança da vizinhança.

Page 193: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

193

Figura 113 - A ENST ocupava um andar em um edifício compartilhado com a

Universidade Nobel d’Haïti e com o Colégio Metropolitano

Figura 112 - Detalhe posterior do edifício que abrigava a ENST,

destacando uma das maiores salas de aula da Escola

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194

Figura 114 - Pátio interior da ENST

Figura 115 - Peças de vestuário,

material didático e demais pertences

pessoais, deixados pelos estudantes ao

fugir durante o primeiro tremor, em

12 de janeiro, que causou a ruína do

edifício onde se encontrava a ENST

Page 195: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

195

Centro Nacional de Formação Profissional (CNFP) / Centro Piloto de Formação Profissional e

Técnica (CPFP)

Escola Nacional de Geologia Aplicada (ENGA)

Tabela 66 - Perfil institucional do CNFP e da ENGA Categorias Efetivo Instalações

Alunos 968 Abrangia um edifício principal, de três andares, dois edifícios anexos e um amplo

galpão que abrigava as oficinas. No total, contava com 20 salas de aula e de

prática pedagógica, uma sala de professores comum a todos os departamentos, um

laboratório de informática, um auditório, uma biblioteca e um refeitório. As

oficinas eram equipadas com o maquinário correspondente aos respectivos ofícios

(tornos, misturadores de cimento, serras, soldas, fornos e motores). Porém, além

de obsoletos e em quantidade insuficiente, a escassez de recursos não permitia

que materiais de uso contínuo, combustíveis e peças de reposição fossem

adquiridos e tampouco que a manutenção técnica fosse feita com a frequência

necessária. O Centro possuía ainda um ônibus, que já não funcionava havia

alguns anos por falta de reparos.

A ENGA ocupava um edifício térreo, com quatro salas de aula, duas salas

administrativas, uma sala de professores, uma sala de estudos e uma biblioteca.

Admissões 600

Professores 147:

5 com

formação

universitária

Funcionários 22

Como um pilar do Sistema Nacional de Formação Profissional (SNFP), representa o mais importante

estabelecimento de ensino profissionalizante do sistema público. É gerido pelo Instituto Nacional de Formação

Profissional (INFP/ MENFP), mas os poucos recursos com que podia contar para sua manutenção eram providos

por meio de acordos de cooperação com agências e organizações internacionais. Já havia dado início à transferência

de todas as atividades para outra região da cidade, Delmas 60, mais distante da área conturbada próxima a Cité

Soleil. Durante repetidos episódios de recrudescimento das ações de grupos armados nessa área, as aulas tiveram de

ser suspensas e muitos equipamentos haviam sido roubados ou danificados. O número de alunos nos cursos

oferecidos era: eletrotécnica (225), mecânica de motores a diesel (203), contabilidade (200), edificações (192),

hidráulica (40), telecomunicações (40), informática (30), mecânica geral (25) e serralheria (13).

Desativada por alguns anos antes do terremoto, a ENGA havia no entanto aberto inscrições para novas turmas e

reiniciaria em 2010 seus cursos de formação em ciências da terra, topografia e tecnologia do meio ambiente.

Page 196: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

196

Tabela 67 – Impacto sobre o CNFP e sobre a ENGA: vítimas e danos decorrentes do terremoto Categorias Vítimas55 Instalações

Alunos 4 O prédio principal apresenta profundas fissuras, ainda à espera de uma avaliação técnica,

sem muitas perspectivas de recuperação, porém. Os galpões aparentam não haver sofrido

maiores danos, mas já se encontravam inativos há algum tempo. Os equipamentos dos

laboratórios de informática e de telecomunicações, assim como os equipamentos das

oficinas, que ainda não haviam sido transferidos à nova sede e estavam abrigados no

prédio principal, foram perdidos, assim como boa parte dos arquivos e da biblioteca, não

tanto em virtude do terremoto, mas em decorrência de saques subsequentes.

O prédio da ENGA manteve-se aparentemente intacto.

Professores 1

Por todos os lados, espalhavam-se acampamentos de refugiados. A direção não via razão para interromper as

atividades letivas, programadas para serem iniciadas normalmente no início de março, consolidando a transferência

de sede que já se havia iniciado mesmo antes do terremoto. A direção e a secretaria, contudo, seguiam trabalhando

no pátio interno central do Centro, num esforço de avaliar com maior precisão a extensão dos danos às instalações e

aos equipamentos. A despeito das experiências anteriores de insegurança que precipitaram a decisão de transferir o

Centro Piloto, a direção ainda acreditava na possibilidade de recuperar o amplo espaço de que dispunha em sua sede

original e contava para tanto com uma implementação rápida do Acordo de Modernização e Fortalecimento do

Centro Piloto de Formação Profissional “Brasil-Haiti”, que já havia sido firmado em maio de 2005, mas que, sem

que tivesse sido implementado, foi renovado em fevereiro de 2010, para ser implementado pela Agência Brasileira

de Cooperação (ABC) em parceria com o SENAI.

A reativação da ENGA foi suspensa após o terremoto e não há perspectiva clara quanto ao reinício efetivo de seus

cursos, que sem dúvida teriam um papel de elevada importância na formação de pessoal qualificado para participar

no esforço de reconstrução e de elaboração de saídas criativas e viáveis para a aguda crise ambiental em que se

encontra o país. Também de alto valor estratégico para o desenvolvimento haitiano seria o projeto, compartilhado

por muitos outros acadêmicos e intelectuais haitianos de outras instituições, de tirar proveito tanto da proximidade

com a zona portuária, quanto do perfil de seu quadro de professores e ex-alunos e dos elos possíveis com outras

instituições de ensino em áreas costeiras do país, para instituir um ciclo de formação de profissionais e

pesquisadores dedicados ao manejo, à exploração sustentável e à preservação dos recursos marinhos.

55 Entre as vítimas fatais registradas, quatro eram estudantes (dois do primeiro nível e outros dois do segundo), mas

seus nomes não foram mencionados por qualquer dos informantes. Além de um professor mutilado, Eddy Lagage,

houve uma vítima fatal entre os professores, a saber, Yollet Figaro.

Page 197: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

197

Figura 116 - Mural no terraço frontal do CNFP

Figura 117 - Entrada do prédio principal do CNFP, que exibe fissuras profundas

e exige reparos consideráveis antes que possa ser reutilizado

Page 198: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

198

Figura 118 - Oficina do curso de edificações do CNFP

Figura 119 - Sala de informática do CNFP. Boa parte do material permanente foi

perdida. Aquilo que não foi danificado pelo terremoto acabou sendo saqueado

Page 199: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

199

Figura 121 - O amplo pátio externo do CNFP serve como espaço para o

atendimento médico periódico dos refugiados nos campos em torno da área

Figura 120 - Galpão do CNFP, que já chegou a abrigar provisoriamente a ENST,

antes que a volatilidade da situação política da região obrigasse seu deslocamento

para uma região mais central da cidade

Page 200: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

200

Figura 122 - No pátio do CNFP, tendas acolhem famílias

desabrigadas da região de Cité Soleil

Figura 123 - Em torno do CPFP, há vários acampamentos de desabrigados

Page 201: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

201

Figura 124 - Entrada da ENGA, situada nos fundos do CNFP, na região de Cité

Soleil. Por conta da volatilidade da situação política na região, encontrava-se

inativa já antes mesmo do terremoto

Figura 125 - Os danos às instalações da ENGA foram de menor envergadura

Page 202: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

202

Impacto do terremoto sobre as instituições privadas de ensino superior

Diante dos efeitos devastadores do desabamento de uma universidade, a diferença entre seu

regime de gestão, se público ou privado, dilui-se ao ponto de se dissipar. O que tornou, porém,

tão mais agudo o impacto em termos de mortos nas universidades privadas foi o fato de que, ao

contrário de várias faculdades e centros públicos de ensino superior, que se encontravam

paralisados ou não haviam ainda reiniciado o semestre letivo, praticamente todas as instituições

privadas já haviam dado início às atividades letivas e estavam em pleno funcionamento e

repletas de alunos no momento do terremoto.56 Em pelo menos um dos casos mais destacados

dentre as universidades privadas, pereceram no colapso de um só edifício tantos estudantes

quantos morreram no cômputo global das unidades da UEH. Em várias outras, o número das

vítimas fatais ultrapassou as centenas. Em muitas delas, a remoção dos corpos se prolongou por

semanas.

Devido ao crescimento vertiginoso de várias das instituições privadas, que não hesitavam em

expandir suas sedes com prédios anexos e andares adicionais às sedes já construídas, chegando

frequentemente a ter edifícios com cinco, sete ou, não raro, com 10 ou mais andares, não foram

poucos os desabamentos que acabaram por provocar um grande número de vítimas na

vizinhança. Não foram indicados aqui, porém, os números referentes a vítimas que não

pertencessem ao corpo discente, docente ou funcional das respectivas instituições.

Também no que se refere à ocupação dos espaços físicos de suas, pouco diferem do que se

pôde verificar em várias sedes de instituições públicas as tentativas de alguns grupos de alunos,

ex-alunos e funcionários de procurar abrigar-se nos pátios, estacionamentos ou quadras

esportivas, considerados áreas seguras para instalar suas tendas e alojar também a familiares e

amigos. Análogos também os esforços para repelir investidas de desabrigados alheios ao âmbito

universitário que buscavam se instalar nas sedes inativas e fazer uso das instalações de

abastecimento de água, eletricidade e de saneamento que pudessem ter sido preservadas da

destruição.

Dentre as 52 instituições privadas de ensino superior autorizadas, 47 estavam localizadas na

área afetada pelo terremoto. Dessas, 20 foram totalmente destruídas, com o desabamento de suas

sedes, a destruição de seus equipamentos e, na maioria dos casos, com a perda de seus acervos

bibliográficos e dos arquivos que não haviam sido digitalizados, mas em alguns casos com a

perda inclusive das cópias digitalizadas dos registros acadêmicos. Das 27 restantes, nove foram

severamente danificadas e deverão ter seus edifícios demolidos, 13 sofreram danos que exigirão

extensos reparos e apenas cinco apresentam fissuras que não chegam a comprometer a estrutura

física dos edifícios e aparentemente não apresentam riscos para a segurança de alunos,

professores, funcionários e vizinhos. Do conjunto de 47 instituições diretamente atingidas, 26

registraram vítimas fatais. O quadro a seguir procura apresentar a repartição por instituição do

número de vítimas registradas e da extensão dos danos materiais aos edifícios e equipamentos.

56 Com a possível única exceção sendo a Universidade Quisqueya, que havia estendido o período de provas por

conta da transferência das atividades de seus três campi para o recém-inaugurado campus central, o que fez com

que poucos estudantes se encontrassem no campus novo no momento do terremoto.

Page 203: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

203

Tabela 68 - Extensão do impacto sobre as instituições privadas

Instituições Número de vítimas fatais Destruição das

instalações57 Alunos Professores Funcionários

Universidade Lumière (UL) 376 14 - Total

Universidade GOC 293 7 - Total

Centro Técnico Saint-Gérard (CTSG) 252 5 - Total

Escola Nacional de Artes e Ofícios (ENAM) +

Escola Normal de Professores dos Salesianos

(ENIS)

248 - - Total

Universidade Autônoma de Port-au-Prince

(UNAP)

225 20 - Total

Universidade Caraïbe (UC) 189 6 - Total

Instituto Paramédico Louis Pasteur (IPLP) 183 4 7 Total

Universidade de Port-au-Prince (UP) 159 7 - Total

Universidade Episcopal do Haiti (UNEPH) 148 - - Total

Instituto de Altos Estudos Comerciais e

Econômicos (IHECE)

109 12 - Parcial

Escola Normal e Profissional Sainte-Trinité

(ENPST)

75 - - Total

Escola Superior de Química (CHEMTEK) 57 8 - Total

Universidade Ruben Leconte (URL) 22 - - Total

Centro Caribenho de Altos Estudos (CCHEC) 18 - - Total

Universidade Quisqueya (UNIQ) 16 3 5 Total

Escola Superior de Infotrônica do Haiti (ESIH) 13 1 - Total

Centro de Estudos Diplomáticos e Internacionais

(CEDI)

12 1 - Total

Universidade Notre-Dame do Haiti (UNDH) 10 1 1 Parcial

Instituto Francófono de Administração no Caribe

(IFGCar)

9 1 - Total

Grande Seminário Notre-Dame (GSND) 8 - - Parcial

Universidade de Fondwa (UNIF) 2 - 3 Total

Instituto Universitário Quisqueya-Amérique

(INUQUA)

2 2 - Parcial

Instituto Haitiano de Ciências Administrativas

(IHSG)

3 - - Parcial

Centro Universitário Maurice Laroche (CUML) 2 - - Total

Academia Nacional Diplomática e Comercial

(ANDC)

1 - 1 Parcial

Total por categoria 2.432 108 17 T = 19

P = 6 Total de vítimas 2.557

57 A destruição física das instalações é considerada parcial nos casos em que nem todos os edifícios de uma

instituição tenham colapsado inteiramente, mas grande parte dos edifícios que se mantiveram em pé terão de ser

demolidos. Inúmeras outras instituições privadas foram destruídas, no todo ou em parte, ou danificadas. Contudo,

são listadas aqui somente aquelas que registraram mortes ocorridas no próprio local dos desabamentos. Felizmente,

as atividades letivas de grande parte das instituições privadas ainda não haviam tido início até o dia do terremoto.

Page 204: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

204

Universidade Lumière (UL)

Figura 126 - Ruínas da UL, em cujo desabamento morreram 376 estudantes, mas

muitos dos corpos não haviam podido ser retirados dos escombros

Figura 127 - Ao lado das ruínas da UL, vê-se a fachada apenas parcialmente

danificada de uma casa cujo interior também foi destruído

Page 205: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

205

Figura 129 - Fotocopiadora, livros, registros

escolares e peças de vestuário entre os

escombros da UL

Figura 128 - No térreo deste edifício da UL

se encontrava a cantina e no primeiro e

segundo andares a biblioteca

Page 206: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

206

Figura 130 - Manual de enfermagem entre as ruínas da UL

Figura 131 - Varanda da cantina da UL

Page 207: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

207

Figura 132 - Gavetas vazias dos arquivos escolares em meio aos escombros da UL

Figura 133 - O que restou dos arquivos da UL

Page 208: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

208

Figura 134 - Entre os escombros, carteirinhas de estudante da UL

Figura 135 - Entre os papéis espalhados pelos escombros da UL,

projetos e dissertações dos alunos

Page 209: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

209

Figura 137 - Arquivos e computadores da UL

Figura 136 - O que restou de um dos laboratórios de informática da UL

Page 210: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

210

Figura 139 - Arquivos da UL

Figura 138 - Foram identificados 376 mortos entre os alunos da UL

Page 211: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

211

Centro Técnico Saint-Gérard (CTSG)

Figura 140 - Remoção dos escombros do CTSG, cuja ruína vitimou não apenas

estudantes e professores, mas também vários moradores das imediações

Page 212: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

212

Universidade Caraïbe (UC)

Figura 141 - Um mês após os grandes terremotos, os estudantes do CTSG

continuavam retirando dos escombros corpos de colegas e professores. No Centro

Saint-Gérard, as aulas já haviam sido reiniciadas e um número considerável de alunos

estava nas salas de aula no momento do primeiro tremor. Foram registrados 252

estudantes e cinco professores mortos

Figura 142 - Ruínas da UC. Para além das vítimas nos arredores do

prédio, mortas em decorrência do desabamento, foram registrados 189

estudantes e seis professores mortos

Figura 143 - Ruínas da UC

Page 213: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

213

Figura 145 - Entre os

escombros, Dicionário de

kreyòl, publicado pela UC

Figura 144 - Em meio aos

escombros, material didático

de kreyòl. A linguística era

uma das áreas fortes da UC

Figura 146 - Não foram somente

estudantes, professores ou

funcionários que morreram nos

desabamentos das universidades

e faculdades. Foram vários os

casos de creches, escolas,

escritórios ou casas de família

que foram arrebatadas pelo

desmoronamento dos prédios

universitários. Ao lado da UC

funcionava uma creche, que foi

soterrada. Nos fundos, vivia

uma família de seis pessoas, das

quais apenas uma sobreviveu

Page 214: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

214

Universidade de Porto Príncipe (UP)

Figura 148 - Ruínas da sede principal da UP

Figura 147 - Muro dianteiro e ruínas da sede principal da UP

Page 215: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

215

Figura 149 - Diplomas e carteiras de estudantes recuperados

dos escombros: a UP perdeu 159 estudantes e sete professores

Figura 150 – Folha referente ao mês de fevereiro de 2010 do carnê de

mensalidades do estudante em cuja memória fora acesa uma vela e

depostas flores sobre as ruínas da UP

Page 216: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

216

Figura 151 – Apelo, em inglês, assinado pelo Comitê dos refugiados que

ocuparam as dependências do que era um dos campi da UP: “Precisamos de

ajuda. Comida, água, tendas”

Figura 152 - Sala de aula da sede secundária da UP

Page 217: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

217

Universidade Episcopal do Haiti (UNEPH)

Figura 154 - No pátio frontal de onde funcionava a UNEPH, foram instaladas

tendas para abrigar o Fórum Criminal. Ao fundo, veem-se as celas

improvisadas onde eram mantidos os acusados a espera de julgamento

Figura 153 - O que sobrou da UNEPH

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218

Instituto de Altos Estudos Comerciais e Econômicos (IHECE)

Figura 155 - Escadaria de entrada do edifício principal do IHECE

Figura 156 - Vista lateral do edifício principal do IHECE

Page 219: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

219

Figura 157 - Vista posterior do edifício principal do IHECE

Figura 158 - Tendas instaladas no pátio do IHECE pelos funcionários desabrigados

Page 220: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

220

Figura 159 - O que restou da sede histórica do IHECE, que fazia parte de um celebrado conjunto

arquitetônico na área central de Port-au-Prince

Page 221: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

221

Escola Normal e Profissional da Sainte-Trinité (ENPST)

Figura 160 – As ruínas da Escola Sainte-Trinité estão à direita. Ao fundo, as

ruínas da Catedral

Figura 161 - Pátio interno da Escola Sainte-Trinité

Page 222: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

222

Figura 162 – Tendo ruído apenas parcialmente, a Escola Sainte-Trinité teve

suas estruturas completamente comprometidas e, situada na área central da

cidade, a iminência de desabamento representava ainda um risco considerável,

como de resto era o caso de inúmeras edificações de Bel-Air. Por conta do

perigo que representavam à circulação de pessoas no centro da cidade, a

demolição das edificações restantes do complexo de edifícios em torno da

Paróquia de Sainte-Trinité foi iniciada cerca de um mês após o primeiro tremor

Figura 163 – Em meio à remoção dos escombros, ainda se tenta recuperar o

possível do material danificado

Page 223: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

223

Figura 165 - Nas ruínas da escola, o jornal Le Nouvelliste, de 5 de janeiro de 2010,

uma semana antes do terremoto, quando o início das aulas já se prenunciava como

algo ainda incerto e problemático

Figura 164 - Pintura feita por um aluno de oito anos da escola educação

infantil vinculada à Paróquia de Sainte-Trinité. Representa Dessalines e a

expulsão dos franceses pelas tropas haitianas sob seu comando. Fazia parte

de uma coleção de desenhos dos heróis nacionais, feitos por alunos de

diferentes escolas do país para figurar num calendário a ser distribuídos às

próprias escolas. Esta cópia do desenho foi encontrada nos escombros

Page 224: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

224

Figura 167 - Ruínas da Escola de Música e Canto Coral Sainte-Trinité

Figura 166 - Ruínas da sede da Escola Sainte-Trinité onde funcionava a Escola

de Música e Canto Coral

Page 225: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

225

Centro de Estudos Diplomáticos e Internacionais (CEDI)

Figura 168 - Ruínas do CEDI. Ao fundo, escombros do Hotel Christophe, onde

funcionava o comando operacional da MINUSTAH

Figura 169 - Vista do interior das ruínas do CEDI

Page 226: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

226

Universidade Notre-Dame do Haiti (UNDH)

Figura 170 - Sede administrativa da UNDH, num palácio histórico da área central da capital.

Apesar de parecer intacta, teve seu interior seriamente danificado e demandará reparos

consideráveis

Page 227: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

227

Figura 172 - Prédio anexo à sede

administrativa da UNDH

Figura 171 - Entrada da sede administrativa

da UNDH

Page 228: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

228

Figura 173 - Clínica ambulatorial na Faculdade de

Enfermagem da UNDH

Figura 174 - Numa das paredes,

turmas de formandas da Faculdade de

Enfermagem da UNDH. Na outra,

imagens de patronos católicos, santos

e taumaturgos

Page 229: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

229

Universidade de Fondwa (UNIF)

Figura 175 - Reitoria da Universidade de Fondwa (UNIF), a única

universidade rural do país, completamente destruída

Figura 176 - Escombros da reitoria da UNIF

Page 230: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

230

Instituto Universitário Quisqueya-Amérique (INUQUA)

Figura 179 - Pátio

frontal do INUQUA,

com trabalhadores

engajados na demolição

do edifício condenado

Figura 177 - Fachada

frontal da sede do

INUQUA, cuja demolição

já havia sido iniciada, por

conta do risco iminente

de desabamento

Figura 178 - Vista

posterior do prédio anexo

ao edifício principal do

INUQUA

Page 231: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

231

Figura 180 - Salão nobre e

templo evangélico do

INUQUA

Figura 181 - Biblioteca do

INUQUA

Figura 182 - O que restou de

um dos laboratórios de

informática do INUQUA

Page 232: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

232

Figura 183 - Sala da

reitoria do INUQUA, cuja

parede lateral ruiu

inteiramente

Figura 184 - Parede

lateral do INUQUA, com

a sala da reitoria vista de

fora para dentro

Figura 185 - Andar

térreo do prédio do

INUQUA

Page 233: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

233

Academia Nacional Diplomática e Consular (ANDC)

Figura 186 - Sede da ANDC

Page 234: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

234

Figura 189 - Salão diplomático da ANDC

Figura 187 - Sede da ANDC

Figura 188 - Sede da ANDC

Page 235: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

235

Universidade Jean Price-Mars (UJPM)

Figura 190 - O edifício da Universidade Jean Price-Mars foi seriamente danificado

Page 236: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

236

Universidade Quisqueya (UNIQ)

Figura 192 - Nas ruínas do campus central da UNIQ, as roupas secando indicam

que muitos desabrigados transferiram sua vida cotidiana para o espaço do campus

Figura 191 - Escombros dos edifícios do campus central da UNIQ, que havia sido

inaugurado cerca de 20 dias antes do terremoto

Page 237: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

237

Figura 193 - Encontro para discutir a reconstrução, organizado pela UNIQ em

tendas montadas na área de seu campus destruído

Figura 194 - A paisagem improvisada das tendas revela não apenas espaços onde

se vive, mas também as novas circunstâncias dos locais onde se trabalha. Tendas

administrativas instaladas no estacionamento do campus central da UNIQ

Page 238: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

238

Instituições gestoras e auxiliares do sistema de ensino superior atingidas pelo terremoto

Biblioteca Nacional

Figura 195 - Em meio aos escombros de um anexo da Biblioteca Nacional, “Homenagem à nossa

bandeira”, no programa de uma cerimônia comemorativa do Dia da Bandeira, celebrando os

lemas de união nacional, paz e conciliação representados pela bandeira nacional

Page 239: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

239

Figura 197 - O edifício anexo da Biblioteca Nacional, que abrigava os serviços

de imprensa, foi completamente destruído, assim como todos os

equipamentos e materiais

Figura 196 - Remoção do equipamento gráfico dos escombros do prédio anexo

da Biblioteca Nacional

Page 240: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

240

Ministério da Educação Nacional e da Formação Profissional (MENFP)

Figura 199 - Fila de professores e funcionários para recolher salários atrasados

na sede do MENFP

Figura 198 - O edifício principal do MENFP ruiu, sem que os corpos das vítimas

pudessem ter sido retirados dos escombros

Page 241: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

241

Figura 201 - Busca aos corpos dos funcionários soterrados nos escombros do prédio

principal do MENFP

Figura 200 - Filas de professores e funcionários diante do que sobrou do MENFP para

recolher seus contracheques

Page 242: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

242

Figura 202 - Arquivos escolares e documentos do MENFP

Figura 203 - Documentos pessoais de funcionários soterrados sob os escombros

Page 243: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

243

Centro Nacional de Informação Geoespacial (CNIGS)

Figura 204 – Escombros do CNIGS

Figura 205 - Retomada paulatina das atividades

no CNIGS para a realização de estudos do

impacto do terremoto sobre a infraestrutura da

capital. Instalados em barracas, os pesquisadores

alternam turnos de trabalho no interior de um

reduzido número de contêineres

Page 244: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

244

Anexo I - Instituições de ensino superior recenseadas no curso da pesquisa

Instituições públicas de ensino superior

O sistema de ensino superior público haitiano compreende 15 instituições e um programa interdisciplinar

homologado pela UEH: a) além da Universidade de Estado do Haiti (compreendendo 11 faculdades, escolas ou

institutos na capital, um programa de mestrado, também na capital, além de uma faculdade e seis escolas superiores

departamentais), b) três universidades departamentais, c) quatro escolas nacionais de enfermagem e d) sete centros

e escolas nacionais, situados na capital, e cujos estudantes têm seus diplomas homologados pela UEH.

a) Université d'État d’Haïti (UEH)

Ecole Normale Supérieure (ENS)

Faculté d'Agronomie et de Médecine Vétérinaire

(FAMV)

Faculté d'Ethnologie (FE)

Faculté de Droit et des Sciences Économiques (FDSE)

Faculté de Linguistique Appliquée (FLA)

Faculté de Médecine et de Pharmacie (FMP)

École de Téchnologie Médicale (ETM)

Hôpital de l'Université d'État d’Haïti (HUEH)

Faculté d'Odontologie (FO)

Faculté des Sciences (FDS)

Faculté des Sciences Humaines (FASCH)

Institut d'Études et de Recherches Africaines / Institut

de Enseignement et Recherche en Sciences Sociales

(IERAH/ ISERSS)

Institut National d´Administration, de Gestion et des

Hautes Études Internationales (INAGHEI)

Programme de Maîtrise Interdisciplinaire em Sciences

Sociales et Humaines (PMISSH)

Ecole de Droit de Hinche (EDH)

Ecole de Droit de Jacmel (EDJ)

Ecole de Droit et d'Économie de Port-de-Paix (EDEPP)

Ecole de Droit et des Sciences Économiques de Fort-

Liberté (EDSEFL)

Ecole de Droit et des Sciences Économiques des Cayes

(EDSEC)

Ecole de Droit et des Sciences Économiques des

Gonaïves (EDSEG)

Faculté de Droit, des Sciences Économiques et de

Gestion du Cap-Haïtien (FDSECH)

b) universidades departamentais autônomas:

Université Publique de l’Artibonite des Gonaïves

(UPAG)

Université Publique du Nord au Cap-Haïtien (UPNCH)

Faculté de Sciences Administratives et de

Gouvernance Locale

Faculté des Sciences de l'Éducation

Université Publique du Sud des Cayes (UPSAC)

Faculté des Sciences Juridiques,

Faculté de Science de l'Éducation

Faculté des Sciences Administratives

c) escolas nacionais de enfermagem:

Ecole Nationale des Infirmières de Jérémie (ENIJ)

Ecole Nationale des Infirmières de Port-au-Prince

(ENIP)

Ecole Nationale des Infirmières des Cayes (ENIC)

Ecole Nationale des Infirmières du Cap-Haïtien (ENICH)

d) centros, escolas nacionais e programa interdisciplinar

homologados pela UEH:

Centre National de Formation Professionnelle (CNFP)/

Centre Pilote de Formation Professionnelle et

Téchnique (CPFPT)

Centre de Téchniques de Planification et d’Économie

Appliquée (CTPEA)

Ecole Nationale d'Administration Financière (ENAF)

Ecole Nationale de Géologie Appliquée (ENGA)

Ecole Nationale des Arts (ENARTS)

Ecole Nationale Supérieure de Technologie (ENST)

Page 245: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

245

Estrutura temática e departamental do sistema público de ensino superior haitiano

Ciências médicas

Faculdade Medicina e Farmácia (FMP) / Escola de

Tecnologia Médica (ETM)

#89, Rue Oswald Durand Anatomia

Biologia

Ciências Farmacêuticas

Ciências Médicas

Cirurgia

Clínica e internamento

Fisiologia

Informações Farmacêuticas

Medicina Comunitária

Microbiologia

Patologia

Pediatria

Química

Tecnologia Médica

Faculdade de Odontologia (FO)

#87, Rue Oswald Durand Ciências de Base

Diagnóstico e Radiologia

Odontologia Restauradora

Ortodontia

Pedodontia

Protética

Escola Nacional de Enfermeiras de Jérémie (ENIJ)

Escola Nacional de Enfermeiras do Cap-Haïtien (ENICH)

Escola Nacional de Enfermeiras dos Cayes (ENIC)

Escola Nacional de Enfermeiras de Port-au-Prince

(ENIP)/ Escola Nacional de Parteiras (ENISF)

#131, #226, Rue Monseigneur Guilloux

Ciências Jurídicas, Econômicas, Administrativas e

Econômicas Aplicadas

Faculdade de Direito e Ciências Econômicas (FDSE)

# 41, Rue Oswald Durand/ Rue Saint-Honoré Ciências Econômicas

Direito

Escola de Direito de Fort-Liberté (EDFL)

Escola de Direito de Hinche (EDH)

Escola de Direito de Jacmel (EDJ)

Escola de Direito e Ciências Econômicas das Gonaïves

(EDSEG)

Escola de Direito e Ciências Econômicas de Port-de-Paix

(FDSEPP)

Escola de Direito e Ciências Econômicas dos Cayes

(EDSEC)

Faculdade de Direito e Ciências Econômicas do Cap-

Haïtien (FDSECH)

Instituto Nacional de Administração Pública e de

Empresas e de Altos Estudos Internacionais

(INAGHEI)

#47, #135, Avenue Christophe/ Rue La Fleur du Chêne Administração de empresas

Administração pública

Ciências Contábeis

Relações Internacionais

Centro Técnico e Prático em Economia Aplicada

(CTPEA)

#19, Boulevard Harry Truman

Escola Nacional de Administração Financeira (ENAF)

Rue Dominique Debros/ Route du Canapé Vert

Escola Nacional Superior de Tecnologia (ENST)

#22, Rue Villemenay

Page 246: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

246

Ciências Sociais, Humanidades, Pedagogia e Artes

Instituto de Estudos e Pesquisas Africanos (IERAH)/

Instituto de Estudo e Pesquisa em Ciências Sociais

(ISERSS)

#92, Rue La Fleur du Chêne/ Avenue Christophe

Faculdade de Linguística Aplicada (FLA)

#38, Rue Dufort, Bois-Verna

Faculdade de Ciências Humanas (FASCH)

#135, Avenue Christophe/ Impasse le Hasard (fundo da quadra) Psicologia

Serviço Social

Comunicação

Sociologia

Faculdade de Etnologia (FE)

#10, Rue Magloire Ambroise Psicologia

Antropossociologia

Ciências do Desenvolvimento

Escola Normal Superior (ENS)

#69, Rue de la Réunion/ Rue Monseigneur Guilloux Química e Ciências Naturais

Matemática

Línguas Modernas (Inglês, Espanhol e Alemão)

Letras

Filosofia

Ciências Sociais (História e Geografia)

Física

Escola Nacional de Artes (ENARTS)

#266, Rue Monseigneur Guilloux; Rue Piquant, Champs de Mars

Programa de Mestrado Interdisciplinar em Ciências

Sociais e Humanas (PMISSH)

#5, Impasse Desdunes, Rue Marcadieu, Bourdon

Ciências Puras e Aplicadas e Educação Técnica

Faculdade de Ciências (FDS)

#268, #279, Rue Monseigneur Guilloux Topografia

Eletrônica

Eletromecânica

Engenharia Civil

Arquitetura

Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária

(FAMV)

Route Nationale 1/ Croix des Missions, Damien Ciências de Base e Tecnologia

Fitotecnia

Produção Animal

Engenharia Rural

Recursos Naturais

Economia e Desenvolvimento Rural

Centro Nacional de Formação Profissional (CNFP)/

Centro Piloto de Formação Profissional e Técnica

(CPFP)

Route Nationale 1/ Varreux

Escola Nacional de Geologia Aplicada (ENGA)

Route Nationale 1/ Varreux (fundo do terreno)

Page 247: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

247

Instituições privadas de ensino superior autorizadas

A seguir são listadas as 52 instituições privadas de ensino superior que tiveram seu funcionamento autorizado pela

Direção do Ensino Superior e da Pesquisa Científica (DESRS) do Ministério da Educação e da Formação Profissional

(MENFP) ou que se encontravam em processo de homologação antes de 12.01.2010:

Instituição Acrônimo Fundação Localização

Académie des Sciences Pures et Appliquées ASPA 1993 Oeste

Académie Nationale Diplomatique et Consulaire ANDC 1988 Oeste

Centre Caraïbéen des Hautes Études Commerciales CCHEC 2000 Oeste

Centre de Formation et de Développement Économique CFDE 2003 Oeste

Centre de Recherche en Éducation et d'Intervention Psychologique CREFI 1993 Oeste

Centre de Recherche en Finance, Informatique et Management CREFIMA 2004 Oeste

Centre de Recherche et de Formation Économique et Social pour le

Développement

CRESFED 198858 Oeste

Centre d'Études Diplomatiques et Internationales CEDI 1997 Oeste

Centre Universitaire de Gestion et d'Administration Maurice Laroche CUML 1995 Oeste

Centre Universitaire de Management et de Productivité CMP 1997 Oeste

Centre Universitaire International et Téchnique de Saint Gérard/

Université Saint-Gérard59

CTSG/ USG 2006 Oeste

Collège Universitaire de Christianville CUC 1990 Oeste

Ecole Nationale des Arts et Métiers/

École Normale d'Instituteurs Salésiens

ENAM/

ENIS

1936 Oeste

Ecole Supérieure Catholique de Droit de Jérémie ESCDROJ 1995 Grand'Anse

Ecole Supérieure de Chimie CHEMTEK 1982 Oeste

Ecole Supérieure de Technologie d’Haïti ESTH 1991 Oeste

Ecole Supérieure d'Infotronique d’Haïti ESIH 1995 Oeste

Faculté des Études Supérieures d’Haïti* FESH 1984 Oeste

Faculté des Sciences Appliquées FSA 1983 Oeste

Faculté des Sciences de l'Education Regina Assumpta FERA 1995 Norte

Grand Séminaire Notre-Dame GSND 1953 Oeste

Institut de Téchnologie Électronique d’Haïti ITEH 1977 Oeste

Institut des Hautes Études Commerciales et Economiques IHECE 1961 Oeste

Institut Francophone pour la Gestion dans la Caraïbe/ Institut Aimé Césaire IFGCar 1987 Oeste

Institut Haïtien des Sciences Administratives IHSA 1994 Oeste

Institut Supérieur de Récherche et de Développement Téchnologique ISRDT 1989 Oeste

Institut Supérieur des Sciences Economiques, Politiques et Juridiques ISSEPJ 1978 Oeste

Institut Supérieur Téchnique d’Haïti ISTH 1962 Oeste

Institut Universitaire des Sciences et de Téchnologie INUST 2005 Oeste

Institut Universitaire des Sciences Juridiques et de Développement Régional INUJED 1997 Norte

Institut Universitaire Quisqueya-Amérique INUQUA 1988 Oeste

Université Adventiste d'Haïti UNAH 1989 Oeste

Université Américaine des Cayes UNAC 1987 Sul

Université Américaine des Sciences Modernes d’Haïti UNASMOH 1998 Oeste

Université Autonome de Port-au-Prince UNAP 1998 Oeste

Université Caraïbe UC 1990 Oeste

Université Chrétienne du Nord d’Haïti UCNH 1987 Norte

Université de la Fondation Aristide UFA 2000 Oeste

58 Apesar de fundado em 1986, foi somente em 1988 que começaram a ser oferecidos estágios e cursos de formação. 59 Em processo de avaliação para a concessão da autorização de funcionamento pela DESRS.

Page 248: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

248

Université de Port-au-Prince UP/IGC 1983 Oeste

Université Episcopale d’Haïti UNEPH 1992 Oeste

Université Groupe Olivier et Collaborateurs UGOC 1982 Oeste

Université Indépendante de l'Artibonite UIA 2006 Artibonite

Université Jean Price-Mars UJPM 1991 Oeste

Université Lumière UL 1994 Oeste

Université Métropole d’Haïti UMH 1987 Oeste

Université Métropolitaine Anacaona UMA 2004 Oeste

Université Notre-Dame d’Haïti UND'H 1996 Oeste

Université Paramédicale/ Université Bellevue UNIBEL 1985 Oeste

Université Polyvalente d’Haïti UPH 2003 Oeste

Université Quisqueya UNIQ 1990 Oeste

Université Roi Henry Christophe URHC 1980 Norte

Université Ruben Leconte URL 2002 Oeste

Page 249: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

249

Instituições privadas de ensino superior não avaliadas ou não autorizadas

Abaixo são listadas as demais 97 instituições privadas de ensino superior, cujo funcionamento ainda não foi avaliado

ou autorizado pela Direção do Ensino Superior e da Pesquisa Científica (DESRS) do Ministério da Educação e da

Formação Profissional (MENFP):

Instituição Acrônimo Fundação Localização

Centre de Formation Paramédicale CFP Oeste

Centre des Hautes Études Commerciales de Port-au-Prince CHECP Oeste

Centre d'Étude Paramédicale de Port-au-Prince CEPP Oeste

Centre d'Étude Téchnique Médicale CETM 1991 Artibonite

Centre d'Études Supérieures et de Formation Continue CESFCO 1982 Oeste

Centre Haïtien de Formation des Journalistes CHFJ 1986 Oeste

Centre International de Recherche et de Developpement CIRD 1999 Oeste

Centre Pratique de Comptabilité, de Gestion, d'Informatique et de

Secrétariat

CPCIGES Oeste

Centre Spécialisé de Leadership pour um Management Créatif CSLMC 2005 Oeste

Centre Universitaire de Commerce d’Haïti CUCH Oeste

Centre Universitaire de Formation de Téchnicien en Travaux Publiques CFTTP Oeste

Centre Universitaire des Arts et Métiers CUAM Oeste

Centre Universitaire Polytéchnique d’Haïti CUPH Oeste

Conservation des Sciences Téchniques CST Oeste

Ecole de Droit de Nippes EDN 1992 Nippes

Ecole de Droit de Ouanaminthe EDU 1999 Noroeste

Ecole de Droit de Saint-Marc EDSM Artibonite

Ecole des Cadres en Éducation Spécialisée ECES 1995 Oeste

Ecole Normale et Professionnelle de la Sainte-Trinité ENPST Oeste

Ecole Supérieure de Journalisme et de Communication ESJC 1994 Oeste

Ecole Supérieure d'Isaac Newton ESIN 2006 Oeste

Ecole Supérieure Polytéchnique d’Haïti ESPH 1992 Oeste

Espace Enseignement à Distance EED 2005 Artibonite

Faculté Craan d’Haïti FCH 1996 Oeste

Faculté des Sciences Administratives et Informatiques FSAI Oeste

Faculté des Sciences Infirmières FSI 1987 Oeste

Fondation Jean XXIII 2005 Oeste

Institut Caraïbéen de Géographie Appliquée ICGA 2005 Oeste

Institut de Formation à Distance Assistée IFDA Oeste

Institut de Formation Administrative et Commerciale IFAC 1994 Oeste

Institut de Formation et de Recherche pour le Progrès de l'Enseignement

Classique et Téchnique

IFRPT 2002 Oeste

Institut de Formation Universitaire et Professionnel ETERJES 2001 Oeste

Institut de Gestion et d'Économie du Centre IGEC 1995 Centro

Institut de Langue Espagnole ILE 2003 Oeste

Institut de Nursing UNIROP 1998 Oeste

Institut de Téchnologie, de Communication et Paramédicales ITECOPAM Oeste

Institut d'Enseignement Polytéchnique IEP Oeste

Institut des Hautes Études Paramédicales IHEPM Oeste

Institut des Hautes Études Polyvalentes d’Haïti INEPH Oeste

Institut des Rélations Internationales des Sciences Sociales IRISS 2003 Oeste

Institut d'Étude et de Recherche en Science de l'Education IERSC Artibonite

Institut d'Études Polytechniques IEP 2004 Oeste

Page 250: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

250

Institut Paramédicale Louis Pasteur IPLP 2003 Oeste

Institut Magnifica/

École Supérieure de Liturgie d'Enseignement de la Famille Myriam

IM 1992 Oeste

Institut National Haïtien des Hautes Études Commerciales INHHEC Oeste

Institut Privé de Gestion et d'Entreprenariat IPGE Oeste

Institut Supérieur d'Administration et de Gestion ISAG Oeste

Institut Supérieur de Bibliothéconomie, de Gestion et d'Informatique ISBGI Oeste

Institut Supérieur de Commerce et d'Informatique ISCINFO Oeste

Institut Supérieur de Formation Politique et Sociale ISPOS 1998 Oeste

Institut Supérieur de Traduction et d'Interpretariat ISTI 2000 Oeste

Institut Supérieur des Cadres Politiques et Administratifs ISCPAD 1986 Oeste

Institut Supérieur des Hautes Études Commerciales ISHEC Oeste

Institut Supérieur des Hautes Études Médicales de la Caraïbes ISHEPAC Oeste

Institut Supérieur des Sciences de l'Éducation, de Gestion et du

Développement

ISSEGD 2004 Oeste

Institut Supérieur d'Étude Océanique ISEO Oeste

Institut Supérieur d'Étude Paramédicale ISEP 1989 Oeste

Institut Supérieur d'Étude pour les Carrières Paramédicales ISCPM 1990 Oeste

Institut Supérieur d'Informatique et d'Administration ISCAD Oeste

Institut Supérieur d'Informatique et de Gestion ISIG Oeste

Institut Supérieur National d'Administration et de Communication ISNAC Oeste

Institut Universitaire de Formation des Cadres IUFC Oeste

Institut Universitaire d'Études Spécialisées IUES Oeste

Institut Universitaire et Téchnique d’Haïti INUTECH Oeste

International Management University IMU 2004 Oeste

International Open University IOU Oeste

Intitut Superieur d'Administration, de Commerce, de Gestion et

d'Informatique

ISACGI 1991 Oeste

Le Centre Universitaire CU 2003 Oeste

Millenium International University of the America MIUA 2002 Oeste

Séminaire de Théologie Evangélique STE 1918 Oeste

The Yorker International University YIU 2004 Oeste

Université Anacobel d’Haïti UNAH Oeste

Université Anténor Firmin UAF Norte

Université Chrétienne de la Foi UCF Norte

Université Chrétienne d'Haïti des Gonaïves UCHG 1987 Artibonite

Université Coeurs-Unis UCU Oeste

Université de Fondwa UNIF 2004 Sudeste

Université de la Grace UdG Oeste

Université de l'Académie Haïtienne UAH 1991 Oeste

Université d'Été du CEREC UCEREC Oeste

Université Gregor Mendel UGM Oeste

Université Internationale d'Haïti à Léogâne UNIH 2010 Oeste

Université Joseph Lafortune JLFU 2002 Oeste

Université Libre d'Haïti ULH Oeste

Université Martin Luther King UMLK/

EFCTEC

Oeste

Université Nationale Épiscopale de Finances d'Haïti UNEFH Oeste

Université Nobel d'Haïti UNH 2006 Oeste

Université Nouvelle Grand'Anse UNOGA 1997 Grand'Anse

Université Oxford d'Haïti UOH 2001 Oeste

Page 251: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

251

Université Polytechnique d'Haïti UPOH 2001 Oeste

Université Queensland UQ 1996 Oeste

Université Royale d’Haïti URH 1990 Oeste

Université Saint-Thoma d'Aquin USTA Oeste

Université Téchnologique de la Grand'Anse UTGA 2002 Grand'Anse

Université Valparaiso UV 2006 Noroeste

Université Victoria/ Mission Foi Apostolique Maranatha UV Artibonite

Windsor-Banyan Collège WBC 2003 Oeste

Page 252: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

252

Anexo II: Questionário utilizado na pesquisa

Universidade: Unidade/ Faculdade/ Escola/ Centro / Instituto: Dados referentes ao período anterior ao terremoto Número de estudantes

Graduação (1°. ciclo): Mestrado (2°. ciclo): Doutorado (3°. ciclo): Especialização:

Número de professores Licenciados: Mestres: Doutores:

Número de pesquisadores Licenciados: Mestres: Doutores:

Número de funcionários (pessoal não acadêmico) Instalações físicas

salas de aula: salas de professores: áreas comuns:

Laboratórios, ateliês e salas de treinamento Equipamentos: Hospital, enfermaria ou clínica Arquivos e registros Bibliotecas

Dados referentes ao período posterior ao terremoto - perdas humanas (mortos, feridos, desabrigados) - perdas materiais (edifícios e equipamentos) - perdas documentais (arquivos e bibliotecas) Número de estudantes

Graduação (1°. ciclo): Mestrado (2°. ciclo): Doutorado (3°. ciclo): Especialização:

Número de professores Licenciados: Mestres: Doutores:

Número de pesquisadores Licenciados: Mestres: Doutores:

Número de funcionários (pessoal não acadêmico) Instalações físicas

salas de aula: salas de professores: áreas comuns:

Laboratórios, ateliês e salas de treinamento Equipamentos: Hospital, enfermaria ou clínica Arquivos e registros Bibliotecas

Detalhamento sobre a situação atual dos sobreviventes Distribuição e localização dos sobreviventes: Natureza do abrigo: Recursos disponíveis: Possibilidades de contato: Atividades atuais: Detalhamento sobre o acervo documental Situação detalhada dos arquivos, registros e bibliotecas

antes do terremoto: Situação detalhada dos arquivos, registros e bibliotecas

após o terremoto (número de obras e documentos

perdidos ou danificados): Metodologia utilizada Observações sobre a pesquisa

Questões ao pesquisador: Qual era a situação da universidade antes do terremoto? Como você avalia os problemas e desafios da educação

superior no Haiti? Qual o impacto do terremoto sobre o país e sua capital? Como você avalia a extensão da destruição causada? Qual o impacto do terremoto sobre a universidade? Que impacto teve entre os estudantes? E entre os

professores? E entre os funcionários? Qual o impacto material sobre a universidade? Como você avalia as perspectivas de recuperação da

universidade? Quais as suas expectativas para a reconstrução da

universidade e do país?

Page 253: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

253

Listas de ilustrações

Mapas

Mapa 1 - Dispersão das instituições de ensino superior ...................................................................................................... 53 Mapa 2 - Instituições públicas nas províncias ..................................................................................................................... 73 Mapa 3 - Exposição populacional ao terremoto ................................................................................................................. 95 Mapa 4 - Deslocamentos populacionais em decorrência do terremoto .............................................................................. 98

Gráficos

Gráfico 1 - Distribuição dos estudantes por níveis e setores ............................................................................................... 46 Gráfico 2 - Proporção de alunos matriculados por setor ..................................................................................................... 46 Gráfico 3 - Distribuição espacial dos estudantes do setor público....................................................................................... 47 Gráfico 4 - Concentração espacial das vagas nas instituições de ensino superior ............................................................... 48 Gráfico 5 - Distribuição espacial dos estudantes do nível superior ..................................................................................... 48 Gráfico 6 - Distribuição setorial dos estudantes por nível de ensino ................................................................................... 49 Gráfico 7 - Distribuição espacial dos estudantes por nível de ensino .................................................................................. 49 Gráfico 8 - Dispersão do conjunto de instituições de ensino superior ................................................................................. 50 Gráfico 9 - Distribuição espacial das instituições de ensino superior por setor (exceto Oeste) ........................................... 51 Gráfico 10 - Distribuição espacial das instituições de ensino superior ................................................................................ 51 Gráfico 11 - Dispersão das instituições públicas de ensino superior ................................................................................... 51 Gráfico 12 - Dispersão das instituições privadas de ensino superior autorizadas ............................................................... 52 Gráfico 13 - Dispersão das instituições provadas de ensino superior não autorizadas ....................................................... 52 Gráfico 14 - Composição do pessoal das instituições públicas de ensino superior .............................................................. 71 Gráfico 15 - Evolução do número de instituições privadas de ensino superior .................................................................... 76 Gráfico 16 - Situação do processo de autorização para o funcionamento das instituições privadas .................................. 79 Gráfico 17 - Volume de estabelecimentos privados de ensino superior ativos .................................................................... 81 Gráfico 18 - Perfil do corpo docente das instituições privadas de ensino superior .............................................................. 84 Gráfico 19 - Titulação segundo o gênero no corpo docente das universidades privadas recenseadas ............................... 84 Gráfico 20 - Distribuição dos estudantes mortos na área afetada por nível de ensino ....................................................... 99 Gráfico 21 - Vítimas fatais entre os estudantes da área afetada ........................................................................................ 99 Gráfico 22 - Extensão dos danos aos edifícios escolares por distrito no Departamento Oeste ......................................... 100 Gráfico 23 - Extensão dos danos aos edifícios escolares nos distritos mais atingidos....................................................... 100 Gráfico 24 - Extensão dos danos materiais na rede de ensino superior ............................................................................ 101 Gráfico 25 – Reversibilidade dos danos sofridos pelos estabelecimentos de ensino superior ........................................... 101 Gráfico 26 - Admissões cessantes nas instituições públicas de ensino superior ................................................................ 103 Gráfico 27 - Distribuição das vítimas fatais nas instituições públicas de ensino superior ................................................. 107 Gráfico 28 - Vítimas fatais nas duas instituições públicas mais atingidas ......................................................................... 108 Gráfico 29 - Vítimas fatais nas instituições públicas de ensino superior (exceto FLA e ENIP) ............................................ 108 Gráfico 30 - Proporção de mortos no corpo discente das instituições públicas de ensino superior .................................. 110 Gráfico 31 - Proporção de mortos no conjunto do pessoal ativo das instituições públicas de ensino superior ................. 111

Tabelas

Tabela 1 – Distribuição dos estudantes por setores e níveis ................................................................................................ 46 Tabela 2 - Distribuição de professores, funcionários e alunos entre o setor público e privado ........................................... 47 Tabela 3 - Distribuição espacial das vagas oferecidas pelo setor público............................................................................ 47 Tabela 4 - Distribuição espacial dos estudantes do nível superior por setor ....................................................................... 48 Tabela 5 - Distribuição setorial dos estudantes por nível de formação ............................................................................... 49 Tabela 6 - Distribuição espacial dos estudantes por nível de formação .............................................................................. 49 Tabela 7 - Distribuição espacial das instituições de ensino superior ................................................................................... 50 Tabela 8 – Histórico e perfil institucional das unidades da Universidade de Estado do Haiti em Port-au-Prince ................ 60 Tabela 9 – Perfil acadêmico da UEH (carreiras, vagas e programas de mestrado) ............................................................. 61 Tabela 10 - Unidades provinciais da Universidade de Estado do Haiti ................................................................................ 64

Page 254: Da crise às ruínas: impacto do terremoto sobre o ensino superior no Haiti

254

Tabela 11 - Universidade de Estado do Haiti: Titulação, carreiras e opções oferecidas ...................................................... 65 Tabela 12 – Unidades da UEH na capital ............................................................................................................................. 67 Tabela 13 – Unidades da UEH na província ......................................................................................................................... 67 Tabela 14 – Totais referentes ao conjunto da UEH .............................................................................................................. 67 Tabela 15 – Despesas e repasses orçamentários nas unidades da capital .......................................................................... 68 Tabela 16 - Sumário estatístico da UEH (valores mínimos e máximos por unidade) ........................................................... 68 Tabela 17 - Instituições públicas de ensino superior autônomas em relação à UEH e situadas na capital ......................... 72 Tabela 18 – Efetivos das instituições públicas de ensino superior ....................................................................................... 74 Tabela 19 – Marcos temporais decisivos na evolução do sistema de ensino superior haitiano .......................................... 81 Tabela 20 - Oferta de serviços e equipamentos básicos nas universidade privadas autorizadas ........................................ 85 Tabela 21 - Instituições privadas de ensino superior autorizadas ....................................................................................... 88 Tabela 22 - População diretamente atingida pelo terremoto .............................................................................................. 94 Tabela 23 - Estudantes nas áreas afetadas ......................................................................................................................... 94 Tabela 24 - Projeções de exposição demográfica ................................................................................................................ 96 Tabela 25 - Núcleos urbanos mais afetados ........................................................................................................................ 96 Tabela 26 - Perdas humanas no conjunto da população escolar da área afetada .............................................................. 97 Tabela 27 - Perdas humanas nas redes de ensino básico e fundamental ............................................................................ 97 Tabela 28 - Perdas humanas na rede de ensino superior da região afetada ....................................................................... 97 Tabela 29 - Impacto do terremoto nas instituições públicas de ensino superior na área afetada .................................... 102 Tabela 30 - Perfil institucional da UEH .............................................................................................................................. 104 Tabela 31 – Impacto sobre a UEH: vítimas e danos decorrentes do terremoto ................................................................. 105 Tabela 32 - Perfil institucional da ENS ............................................................................................................................... 112 Tabela 33 – Impacto sobre a ENS: vítimas e danos decorrentes do terremoto ................................................................. 112 Tabela 34 – Perfil institucional da FAMV ........................................................................................................................... 115 Tabela 35 – Impacto sobre a FAMV: vítimas e danos decorrentes do terremoto .............................................................. 115 Tabela 36 - Perfil institucional da FDSE ............................................................................................................................. 122 Tabela 37 – Impacto sobre a FDSE: vítimas e danos decorrentes do terremoto ................................................................ 122 Tabela 38 - Perfil institucional da FE .................................................................................................................................. 126 Tabela 39 – Impacto sobre a FE: vítimas e danos decorrentes do terremoto .................................................................... 127 Tabela 40 - Perfil institucional da FLA ............................................................................................................................... 130 Tabela 41 – Impacto sobre a FLA: vítimas e danos decorrentes do terremoto .................................................................. 130 Tabela 42 - Perfil institucional da FMP .............................................................................................................................. 135 Tabela 43 – Impacto sobre a FMP: vítimas e danos decorrentes do terremoto ................................................................ 136 Tabela 44 - Perfil institucional da FO ................................................................................................................................. 148 Tabela 45 – Impacto sobre a FO: vítimas e danos decorrentes do terremoto ................................................................... 148 Tabela 46 - Perfil institucional da FDS ............................................................................................................................... 153 Tabela 47 – Impacto sobre a FDS: vítimas e danos decorrentes do terremoto .................................................................. 153 Tabela 48 - Perfil institucional da FASCH ........................................................................................................................... 160 Tabela 49 – Impacto sobre a FASCH: vítimas e danos decorrentes do terremoto ............................................................. 161 Tabela 50 - Perfil institucional do IERAH/ ISERSS ............................................................................................................... 163 Tabela 51 – Impacto sobre o IERAH/ ISERSS: vítimas e danos decorrentes do terremoto ................................................. 163 Tabela 52 - Perfil institucional do INAGHEI ....................................................................................................................... 168 Tabela 53 – Impacto sobre o INAGHEI: vítimas e danos decorrentes do terremoto .......................................................... 169 Tabela 54 - Perfil institucional da EDJ ................................................................................................................................ 172 Tabela 55 – Impacto sobre a EDJ: vítimas e danos decorrentes do terremoto .................................................................. 172 Tabela 56 - Perfil institucional do CTPEA ........................................................................................................................... 176 Tabela 57 – Impacto sobre o CTPEA: vítimas e danos decorrentes do terremoto ............................................................. 176 Tabela 58 - Perfil institucional da ENAF ............................................................................................................................. 179 Tabela 59 – Impacto sobre a ENAF: vítimas e danos decorrentes do terremoto ............................................................... 179 Tabela 60 - Perfil institucional da ENARTS ......................................................................................................................... 181 Tabela 61 – Impacto sobre a ENARTS: vítimas e danos decorrentes do terremoto ........................................................... 182 Tabela 62 - Perfil institucional da ENIP .............................................................................................................................. 189 Tabela 63 – Impacto sobre a ENIP: vítimas e danos decorrentes do terremoto ................................................................ 189 Tabela 64 - Perfil institucional da ENST ............................................................................................................................. 192 Tabela 65 – Impacto sobre a ENST: vítimas e danos decorrentes do terremoto ................................................................ 192 Tabela 66 - Perfil institucional do CNFP e da ENGA ........................................................................................................... 195 Tabela 67 – Impacto sobre o CNFP e sobre a ENGA: vítimas e danos decorrentes do terremoto ..................................... 196 Tabela 68 - Extensão do impacto sobre as instituições privadas ....................................................................................... 203

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Fotografias

Figura 1 - Anúncio da abertura de inscrições para os programas de mestrado oferecidos pelo PMISSH, ora interrompidos, por conta da destruição de sua sede ................................................................................................................................... 92 Figura 2 - Sede do PMISSH .................................................................................................................................................. 93 Figura 3 - Sede do PMISSH .................................................................................................................................................. 93 Figura 4 - Fachada principal da ENS .................................................................................................................................. 113 Figura 5 - Entrada principal da ENS ................................................................................................................................... 113 Figura 6 - Parte dos livros e documentos resgatados dos escombros da biblioteca, que ruiu, esmagando os estudantes e funcionários que nela se encontravam .............................................................................................................................. 114 Figura 7 – Ruínas da ENS, vistas a partir das ruínas do Palácio de Justiça ........................................................................ 114 Figura 8 - Fachada do edifício principal da FAMV ............................................................................................................. 116 Figura 9 - Entrada do edifício principal da FAMV. Para impedir que o prédio danificado ruísse sobre estudantes, professores e funcionários que tentavam recuperar os equipamentos e materiais dentro do prédio fissurado, foi preciso inserir vigas metálicas de sustentação .............................................................................................................................. 117 Figura 10 - Pátio interno da moradia estudantil da FAMV. Antes do terremoto, uma área intensamente frequentada não só pelos estudantes que ali moravam, mas também por todos os seus colegas e não raro seus professores, que buscavam tirar proveito da iluminação elétrica constante produzida por geradores ........................................................................ 118 Figura 11 - Estufa-modelo da FAMV, atualmente utilizada como abrigo .......................................................................... 118 Figura 12 - Entrada principal do Ministério da Agricultura, campus de Damien ............................................................... 119 Figura 13 - Entrada lateral do edifício histórico do Ministério da Agricultura, situado no interior do campus de Damien, onde também está localizada a FAMV e para onde se planeja transferir todas as atividades provisórias das outras faculdades da UEH destruídas pelo terremoto. Deverá ser demolido ............................................................................... 119 Figura 14 - Minitratores doados pela Fundação Chinesa de Combate à Pobreza (CFPA), estacionados no pátio da FAMV........................................................................................................................................................................................... 120 Figura 15 – Implementos agrícolas doados pela CFPA ...................................................................................................... 120 Figura 16 - Semeadores doados pela CFPA........................................................................................................................ 120 Figura 17 - Estantes da biblioteca da FAMV. O acervo, parcialmente danificado, foi transferido para o edifício anexo, menos afetado pelo terremoto .......................................................................................................................................... 120 Figura 18 – Bosque frontal do campus de Damien, que deverá abrigar as instalações provisórias de praticamente todas as faculdades da UEH afetadas pelo terremoto à medida em que forem retomando suas atividades ............................. 121 Figura 19 - Buganvília centenária no pátio interno da moradia estudantil da FAMV. Todos os edifício da moradia foram construídos em torno dela. Partida ao meio por um raio antes mesmo da instalação da FAMV em Damien, manteve-se exuberante e passou a ser vista como um símbolo da tenacidade haitiana ..................................................................... 121 Figura 20 - Corredor interno do prédio posterior da FDSE, passível de reparos ................................................................ 123 Figura 21 - Entrada principal da FDSE ............................................................................................................................... 123 Figura 22 - Entrada do edifício principal da FDSE .............................................................................................................. 123 Figura 23 - Biblioteca da FDSE. A fachada permaneceu aparentemente intacta, mas as ruínas ao lado mostram o dano sofrido pelo interior no edifício .......................................................................................................................................... 125 Figura 24 – “A secretaria geral da FDSE informa à comunidade universitária em geral e os estudantes da FDSE em particular que o edifício principal conhecido como 'antigo edifício' foi danificado com importantes fissuras no terremoto de 12 de janeiro de 2010. Como consequência, para evitar qualquer eventualidade de derrubamento subsequente, está formalmente proibido permanecer em suas imediações, que representa um perigo iminente para todos”. Porto Príncipe, 16 de janeiro de 2010 ........................................................................................................................................................ 125 Figura 25 - Os edifícios da FE não tombaram e avaliações de equipes de engenharia indicam a possibilidade de pronta recuperação e reutilização dos prédios. No detalhe da pichação: “Viva a reforma universitária. Abaixo Vernet”. Henry Vernet é o atual reitor da UEH .......................................................................................................................................... 128 Figura 26 - Mural satirizando a vida acadêmica na UEH .................................................................................................. 128 Figura 27 - Nas dependências da FE, comida é distribuída por voluntários aos desabrigados instalados no Champ de Mars .................................................................................................................................................................................. 129 Figura 28 - Para grande parte dos refugiados que acorrem à distribuição feita na FE, trata-se da única refeição do dia 129 Figura 29 – Ruínas da FLA dois dias após o primeiro terremoto ....................................................................................... 131 Figura 30 – Início da remoção dos corpos ......................................................................................................................... 131 Figura 31 - Ruínas da FLA, vistas a partir do antigo pátio interno. Notem-se entre os escombros peças de vestuário, material didático, móveis escolares, equipamentos e ferragem retorcida, que se misturam aos corpos das vítimas que ainda não puderam ser retirados ...................................................................................................................................... 132 Figura 32 - Plano frontal da antiga fachada da FLA .......................................................................................................... 132 Figura 33 - Caderneta de poupança de uma das vítimas entre os escombros da FLA, em meio a gabaritos de provas e certificados de conclusão de curso. Cadernetas de poupança são normalmente usadas como meio de identificação .... 133

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Figura 34 - Entre os escombros, revista dedicada à literatura sul-africana ....................................................................... 133 Figura 35 - Gramática de espanhol em meio às ruínas da FLA ......................................................................................... 133 Figura 36 - Flores depostas nas ruínas da Faculdade de Linguística Aplicada em homenagem aos estudantes e professores mortos ............................................................................................................................................................ 134 Figura 37 - Ruínas da FLA .................................................................................................................................................. 134 Figura 38 - Entrada para as salas de aula da FMP, vista a partir do pátio central ............................................................ 137 Figura 39 - Varanda do edifício principal da FMP. Em primeiro plano, o arame farpado que foi disposto durante os confrontos que marcaram o início da greve estudantil de 2009. Os portões seguiam trancados e o acesso interditado sem autorização expressa da direção ....................................................................................................................................... 137 Figura 40 - Escombros de um dos prédios da FMP ............................................................................................................ 139 Figura 41 - Fachada frontal da FMP. Ao longo da amurada frontal, instalaram-se abrigos provisórios de refugiados, que aos poucos se vão expandindo e perenizando. Por trás da fachada aparentemente intacta, encontram-se os escombros dos prédios destruídos ....................................................................................................................................................... 139 Figura 42 - Ruínas da ala oeste do edifício das salas de aula da FMP............................................................................... 141 Figura 43 - O que restou de um dos edifícios da FMP ....................................................................................................... 141 Figura 44 - Decano da Faculdade de Farmácia tenta recuperar a documentação acadêmica de seus alunos ................. 142 Figura 45 – O esforço individual não foi em vão: praticamente todos os registros físicos dos alunos da Faculdade de Farmácia foram recuperados e, com a ajuda de nossa equipe, também os computadores com os registros acadêmicos digitalizados ...................................................................................................................................................................... 142 Figura 46 – Por iniciativa própria e arriscando-se sozinho em meio ao edifício condenado, procura assegurar que não se percam ainda mais documentos acadêmicos em possíveis desabamentos ulteriores ...................................................... 142 Figura 47 - Sala do decanato da FMP ................................................................................................................................ 143 Figura 48 - Sala da Diretoria Acadêmica da FMP .............................................................................................................. 143 Figura 49 - Ruínas da ala oeste do prédio de salas de aula da FMP ................................................................................. 144 Figura 50 - Vista lateral das ruínas da ala oeste do prédio das salas de aula da FMP ...................................................... 144 Figura 51 - Uma das antigas alas de atendimento clínico do Hospital Central, com as estruturas irreversivelmente comprometidas ................................................................................................................................................................. 145 Figura 52 - Tendas do Comitê Central da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho no estacionamento do Hospital Central da UEH, que teve todos os seus edifícios danificados e abandonados, mas viu seus pátios externos e áreas de estacionamento convertidos num novo hospital central, onde uma miríade de organizações internacionais oferece atendimento médico gratuito à população ....................................................................................................................... 145 Figura 53 - Entrada da ala de obstetrícia e ginecologia do HC. Os leitos hospitalares, mesas operatórias e demais móveis foram retirados do edifício condenado.............................................................................................................................. 146 Figura 54 - Edifício que abrigava o setor de radiologia e exames laboratoriais do Hospital Central ................................ 146 Figura 55 - Uma série de tendas que passaram a abrigar todo o atendimento médico dispensado nas dependências do HC. Em primeiro plano, a entrada da antiga seção pediátrica .......................................................................................... 147 Figura 56 - Fila diante do Hospital Central, aguardando triagem para acesso ao atendimento. Com muita dificuldade, apenas um funcionário procura assegurar a prioridade para os casos de emergência e o acesso privilegiado de idosos, mulheres e crianças ........................................................................................................................................................... 147 Figura 57 - Fachada da FO. Em frente à entrada, o decano. Dispostos ao longo das paredes, objetos pessoais de funcionários que se abrigaram no pátio do edifício. ......................................................................................................... 149 Figura 58 - Fachada da Faculdade de Odontologia, a única faculdade da UEH cujo edifício não foi destruído ou severamente danificado. Foi imediatamente convertido num centro de atendimento emergencial à população afetada na região central da cidade .................................................................................................................................................... 149 Figura 59 - Sala de aula teórica da FO .............................................................................................................................. 150 Figura 60 - Sala de aula prática da FO .............................................................................................................................. 150 Figura 61 - Uma das duas salas de atendimento ao público da FO. Os móveis e equipamentos odontológicos de que dispõem as clínicas da FO foram doados pela Faculdade de Odontologia da State University of New York (SUNY) ......... 151 Figura 62 - Sala de atendimento ao público da FO ............................................................................................................ 151 Figura 63 - Por um buraco na parede de uma das salas de atendimento ao público da FO, pode-se ver a outra............. 152 Figura 64 - Outra das salas de atendimento ao público da FO .......................................................................................... 152 Figura 65 - Entrada principal da FDS ................................................................................................................................. 155 Figura 66 - Vista lateral da FDS, com as ruínas da varanda que ruiu durante o terremoto .............................................. 155 Figura 67 - Vista do interior da ala frontal da FDS a partir dos escombros da varanda .................................................... 156 Figura 68 - Vista frontal da FDS, com as ruínas da antiga fachada .................................................................................. 156 Figura 69 - Pátio externo da FDS, com o abrigo construído para abrigar a família de um dos funcionários após o terremoto .......................................................................................................................................................................... 157 Figura 70 - Sala de aula da FDS ......................................................................................................................................... 157 Figura 71 - Pátio interno da FDS ........................................................................................................................................ 158

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Figura 72 - Início do processo de demolição da FDS .......................................................................................................... 158 Figura 73 - Lateral do edifício que abrigava os laboratórios da FDS ................................................................................. 159 Figura 74 - Vista do pátio externo da FDS, com as ruínas de um dos edifícios de salas de aula e do prédio que abrigava os laboratórios ....................................................................................................................................................................... 159 Figura 75 - Toda a área ao redor do edifício principal da FASCH é mantida isolada, em virtude do risco de desabamento........................................................................................................................................................................................... 162 Figura 76 - As colunas de sustentação, trespassadas por fissuras, evidenciam o colapso iminente do edifício principal da FASCH ................................................................................................................................................................................ 162 Figura 77 - O edifício acadêmico da FASCH está condenado e a iminência de seu desmoronamento impede inclusive que se utilize parte do pátio interno, o que contudo não impede que alunos, ex-alunos e suas famílias ocupem parte do estacionamento como abrigo provisório ........................................................................................................................... 162 Figura 78 - De todos os lados do edifício do IERAH / ISERSS se pode perceber que, apesar de haver resistido, demandará reparos importantes .......................................................................................................................................................... 164 Figura 79 - Instituto de Estudos e Pesquisas Africanos (IERAH) / Instituto de Estudo e Pesquisa em Ciências Sociais (ISERSS) Danificado, o IERAH / ISERSS permanece em pé. No muro, pichações contrárias à atuação de organizações estrangeiras ....................................................................................................................................................................... 164 Figura 80 - Pátio interno do IERAH / ISERSS ...................................................................................................................... 166 Figura 81 - Uma das entradas do IERAH / ISERSS. O prédio resistiu aos tremores, mas a extensão dos danos exigirá consideráveis reparos ........................................................................................................................................................ 166 Figura 82 - “Aviso aos estudantes: a direção do departamento de Geografia informa aos estudantes da primeira turma de 2009 / 2010 que o curso terá início nesta terça-feira, dia 12 de janeiro de 2010”. Suma ironia, o primeiro grande terremoto foi exatamente neste dia, no fim da tarde ....................................................................................................... 166 Figura 83 - Saguão de entrada do IERAH / ISERSS............................................................................................................. 167 Figura 84 - Corredor lateral do IERAH / ISERSS ................................................................................................................. 167 Figura 85 - Pátio interno do INAGHEI ................................................................................................................................ 170 Figura 86 – Fachada frontal do INAGHEI, expondo fissuras que atravessam toda a estrutura de sustentação do prédio 170 Figura 87 - As salas de aula do INAGHEI permaneceram como foram deixadas, ao terem sido abandonadas às pressas no dia do primeiro terremoto ................................................................................................................................................. 171 Figura 88 - Sala de aula do INAGHEI com material didático e pertences pessoais que os alunos deixaram para trás ao tentar escapar do primeiro tremor .................................................................................................................................... 171 Figura 89 - Tendas no pátio da EDJ ................................................................................................................................... 173 Figura 90 – Tendas ao redor da EDJ .................................................................................................................................. 173 Figura 91 - Tendas no pátio da EDJ, convertida em campo de refugiados ........................................................................ 173 Figura 92 - Sala de aula – EDJ – Jacmel (no quadro-negro, notas da aula de Teoria do Direito Constitucional que era ministrada no dia do terremoto) ....................................................................................................................................... 175 Figura 93 - Corredor de salas de aula da EDJ .................................................................................................................... 175 Figura 94 – Fachada frontal do CTPEA .............................................................................................................................. 177 Figura 95 - Muro do pátio externo do CTPEA .................................................................................................................... 177 Figura 96 - Sala de aula do CTPEA ..................................................................................................................................... 178 Figura 97 - Galpão anexo ao CPTEA, onde se veem estendidas as roupas dos refugiados que se abrigaram no pátio .... 178 Figura 98 - A ENAF ruiu completamente, restando apenas seus dois ônibus para abrigar a documentação recuperada dos escombros ......................................................................................................................................................................... 180 Figura 99 - Após a remoção dos escombros, a única coisa que lembra que ali havia uma prestigiada instituição de ensino superior é um monte de ferro retorcido ............................................................................................................................ 180 Figura 100 - Estátua do patrono da ENARTS, Jean-Jacques Dessalines ............................................................................. 184 Figura 101 - Oficina de trabalho da ENARTS ..................................................................................................................... 184 Figura 102 – “Coletivo pós-desastre. Proteção do patrimônio / CP3 e ENARTS deseja oferecer seus pêsames a todos os artistas e famílias que perderam entes queridos no terremoto de 12 de janeiro de 2010. Lutemos pela proteção do patrimônio” ....................................................................................................................................................................... 186 Figura 103 - Aluno da ENARTS mostra o seu trabalho ...................................................................................................... 186 Figura 104 - Estudantes da ENARTS que se abrigaram no espaço da Escola e continuam desenvolvendo suas atividades fora dos ateliês danificados ............................................................................................................................................... 187 Figura 105 - Pátio da ENARTS, onde se veem, entre materiais de escultura e entalhe em madeira, as roupas que os estudantes refugiados no pátio da escola estenderam para secar.................................................................................... 187 Figura 106 - Aluno da ENARTS, que sofreu mutilações nas mãos durante o primeiro tremor, retoma seu trabalho de pintura no que sobrou da escola ....................................................................................................................................... 188 Figura 107 - Pátio interno da ENARTS com uma vista lateral do galpão das oficinas ....................................................... 188 Figura 108 - A queda do edifício principal da ENIP vitimou todas as estudantes que se encontravam no prédio no momento do primeiro tremor, juntamente com o decano ................................................................................................ 190

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Figura 109 - Vista do que restou da ENIP a partir de onde se encontrava anteriormente a entrada do prédio principal . 190 Figura 110 - Além das estudantes e do professor mortos, passantes foram atingidos e mortos com a queda do edifício sobre uma das vias mais movimentadas do centro de Port-au-Prince .............................................................................. 191 Figura 111 - O ônibus que transportava as estudantes para estágios de formação em instituições de atendimento à saúde na capital e no interior, foi esmagado com o colapso do prédio administrativo da ENIP.................................................. 191 Figura 112 - Detalhe posterior do edifício que abrigava a ENST, destacando uma das maiores salas de aula da Escola . 193 Figura 113 - A ENST ocupava um andar em um edifício compartilhado com a Universidade Nobel d’Haïti e com o Colégio Metropolitano ................................................................................................................................................................... 193 Figura 114 - Pátio interior da ENST ................................................................................................................................... 194 Figura 115 - Peças de vestuário, material didático e demais pertences pessoais, deixados pelos estudantes ao fugir durante o primeiro tremor, em 12 de janeiro, que causou a ruína do edifício onde se encontrava a ENST ...................... 194 Figura 116 - Mural no terraço frontal do CNFP ................................................................................................................. 197 Figura 117 - Entrada do prédio principal do CNFP, que exibe fissuras profundas e exige reparos consideráveis antes que possa ser reutilizado .......................................................................................................................................................... 197 Figura 118 - Oficina do curso de edificações do CNFP ....................................................................................................... 198 Figura 119 - Sala de informática do CNFP. Boa parte do material permanente foi perdida. Aquilo que não foi danificado pelo terremoto acabou sendo saqueado ........................................................................................................................... 198 Figura 120 - Galpão do CNFP, que já chegou a abrigar provisoriamente a ENST, antes que a volatilidade da situação política da região obrigasse seu deslocamento para uma região mais central da cidade ................................................ 199 Figura 121 - O amplo pátio externo do CNFP serve como espaço para o atendimento médico periódico dos refugiados nos campos em torno da área ................................................................................................................................................. 199 Figura 122 - No pátio do CNFP, tendas acolhem famílias desabrigadas da região de Cité Soleil ...................................... 200 Figura 123 - Em torno do CPFP, há vários acampamentos de desabrigados ..................................................................... 200 Figura 124 - Entrada da ENGA, situada nos fundos do CNFP, na região de Cité Soleil. Por conta da volatilidade da situação política na região, encontrava-se inativa já antes mesmo do terremoto ............................................................ 201 Figura 125 - Os danos às instalações da ENGA foram de menor envergadura ................................................................. 201 Figura 126 - Ruínas da UL, em cujo desabamento morreram 376 estudantes, mas muitos dos corpos não haviam podido ser retirados dos escombros .............................................................................................................................................. 204 Figura 127 - Ao lado das ruínas da UL, vê-se a fachada apenas parcialmente danificada de uma casa cujo interior também foi destruído ........................................................................................................................................................ 204 Figura 128 - No térreo deste edifício da UL se encontrava a cantina e no primeiro e segundo andares a biblioteca ....... 205 Figura 129 - Fotocopiadora, livros, registros escolares e peças de vestuário entre os escombros da UL .......................... 205 Figura 130 - Manual de enfermagem entre as ruínas da UL ............................................................................................. 206 Figura 131 - Varanda da cantina da UL ............................................................................................................................. 206 Figura 132 - Gavetas vazias dos arquivos escolares em meio aos escombros da UL ........................................................ 207 Figura 133 - O que restou dos arquivos da UL ................................................................................................................... 207 Figura 134 - Entre os escombros, carteirinhas de estudante da UL ................................................................................... 208 Figura 135 - Entre os papéis espalhados pelos escombros da UL, projetos e dissertações dos alunos ............................. 208 Figura 136 - O que restou de um dos laboratórios de informática da UL .......................................................................... 209 Figura 137 - Arquivos e computadores da UL .................................................................................................................... 209 Figura 138 - Foram identificados 376 mortos entre os alunos da UL ................................................................................ 210 Figura 139 - Arquivos da UL .............................................................................................................................................. 210 Figura 140 - Remoção dos escombros do CTSG, cuja ruína vitimou não apenas estudantes e professores, mas também vários moradores das imediações ..................................................................................................................................... 211 Figura 141 - Um mês após os grandes terremotos, os estudantes do CTSG continuavam retirando dos escombros corpos de colegas e professores. No Centro Saint-Gérard, as aulas já haviam sido reiniciadas e um número considerável de alunos estava nas salas de aula no momento do primeiro tremor. Foram registrados 252 estudantes e cinco professores mortos ............................................................................................................................................................................... 212 Figura 142 - Ruínas da UC. Para além das vítimas nos arredores do prédio, mortas em decorrência do desabamento, foram registrados 189 estudantes e seis professores mortos ............................................................................................ 212 Figura 143 - Ruínas da UC ................................................................................................................................................. 212 Figura 144 - Em meio aos escombros, material didático de kreyòl. A linguística era uma das áreas fortes da UC ........... 213 Figura 145 - Entre os escombros, Dicionário de kreyòl, publicado pela UC ....................................................................... 213 Figura 146 - Não foram somente estudantes, professores ou funcionários que morreram nos desabamentos das universidades e faculdades. Foram vários os casos de creches, escolas, escritórios ou casas de família que foram arrebatadas pelo desmoronamento dos prédios universitários. Ao lado da UC funcionava uma creche, que foi soterrada. Nos fundos, vivia uma família de seis pessoas, das quais apenas uma sobreviveu .......................................................... 213 Figura 147 - Muro dianteiro e ruínas da sede principal da UP .......................................................................................... 214 Figura 148 - Ruínas da sede principal da UP ..................................................................................................................... 214

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Figura 149 - Diplomas e carteiras de estudantes recuperados dos escombros: a UP perdeu 159 estudantes e sete professores ........................................................................................................................................................................ 215 Figura 150 – Folha referente ao mês de fevereiro de 2010 do carnê de mensalidades do estudante em cuja memória fora acesa uma vela e depostas flores sobre as ruínas da UP .................................................................................................. 215 Figura 151 – Apelo, em inglês, assinado pelo Comitê dos refugiados que ocuparam as dependências do que era um dos campi da UP: “Precisamos de ajuda. Comida, água, tendas” ........................................................................................... 216 Figura 152 - Sala de aula da sede secundária da UP ......................................................................................................... 216 Figura 153 - O que sobrou da UNEPH ............................................................................................................................... 217 Figura 154 - No pátio frontal de onde funcionava a UNEPH, foram instaladas tendas para abrigar o Fórum Criminal. Ao fundo, veem-se as celas improvisadas onde eram mantidos os acusados a espera de julgamento ................................. 217 Figura 155 - Escadaria de entrada do edifício principal do IHECE ..................................................................................... 218 Figura 156 - Vista lateral do edifício principal do IHECE.................................................................................................... 218 Figura 157 - Vista posterior do edifício principal do IHECE................................................................................................ 219 Figura 158 - Tendas instaladas no pátio do IHECE pelos funcionários desabrigados ........................................................ 219 Figura 159 - O que restou da sede histórica do IHECE, que fazia parte de um celebrado conjunto arquitetônico na área central de Port-au-Prince ................................................................................................................................................... 220 Figura 160 – As ruínas da Escola Sainte-Trinité estão à direita. Ao fundo, as ruínas da Catedral ..................................... 221 Figura 161 - Pátio interno da Escola Sainte-Trinité ........................................................................................................... 221 Figura 162 – Tendo ruído apenas parcialmente, a Escola Sainte-Trinité teve suas estruturas completamente comprometidas e, situada na área central da cidade, a iminência de desabamento representava ainda um risco considerável, como de resto era o caso de inúmeras edificações de Bel-Air. Por conta do perigo que representavam à circulação de pessoas no centro da cidade, a demolição das edificações restantes do complexo de edifícios em torno da Paróquia de Sainte-Trinité foi iniciada cerca de um mês após o primeiro tremor ............................................................. 222 Figura 163 – Em meio à remoção dos escombros, ainda se tenta recuperar o possível do material danificado .............. 222 Figura 164 - Pintura feita por um aluno de oito anos da escola educação infantil vinculada à Paróquia de Sainte-Trinité. Representa Dessalines e a expulsão dos franceses pelas tropas haitianas sob seu comando. Fazia parte de uma coleção de desenhos dos heróis nacionais, feitos por alunos de diferentes escolas do país para figurar num calendário a ser distribuídos às próprias escolas. Esta cópia do desenho foi encontrada nos escombros .................................................. 223 Figura 165 - Nas ruínas da escola, o jornal Le Nouvelliste, de 5 de janeiro de 2010, uma semana antes do terremoto, quando o início das aulas já se prenunciava como algo ainda incerto e problemático .................................................... 223 Figura 166 - Ruínas da sede da Escola Sainte-Trinité onde funcionava a Escola de Música e Canto Coral ....................... 224 Figura 167 - Ruínas da Escola de Música e Canto Coral Sainte-Trinité .............................................................................. 224 Figura 168 - Ruínas do CEDI. Ao fundo, escombros do Hotel Christophe, onde funcionava o comando operacional da MINUSTAH ......................................................................................................................................................................... 225 Figura 169 - Vista do interior das ruínas do CEDI .............................................................................................................. 225 Figura 170 - Sede administrativa da UNDH, num palácio histórico da área central da capital. Apesar de parecer intacta, teve seu interior seriamente danificado e demandará reparos consideráveis .................................................................. 226 Figura 171 - Entrada da sede administrativa da UNDH ..................................................................................................... 227 Figura 172 - Prédio anexo à sede administrativa da UNDH ............................................................................................... 227 Figura 173 - Clínica ambulatorial na Faculdade de Enfermagem da UNDH ...................................................................... 228 Figura 174 - Numa das paredes, turmas de formandas da Faculdade de Enfermagem da UNDH. Na outra, imagens de patronos católicos, santos e taumaturgos ........................................................................................................................ 228 Figura 175 - Reitoria da Universidade de Fondwa (UNIF), a única universidade rural do país, completamente destruída........................................................................................................................................................................................... 229 Figura 176 - Escombros da reitoria da UNIF ...................................................................................................................... 229 Figura 177 - Fachada frontal da sede do INUQUA, cuja demolição já havia sido iniciada, por conta do risco iminente de desabamento ..................................................................................................................................................................... 230 Figura 178 - Vista posterior do prédio anexo ao edifício principal do INUQUA ................................................................. 230 Figura 179 - Pátio frontal do INUQUA, com trabalhadores engajados na demolição do edifício condenado ................... 230 Figura 180 - Salão nobre e templo evangélico do INUQUA ............................................................................................... 231 Figura 181 - Biblioteca do INUQUA ................................................................................................................................... 231 Figura 182 - O que restou de um dos laboratórios de informática do INUQUA................................................................. 231 Figura 183 - Sala da reitoria do INUQUA, cuja parede lateral ruiu inteiramente .............................................................. 232 Figura 184 - Parede lateral do INUQUA, com a sala da reitoria vista de fora para dentro................................................ 232 Figura 185 - Andar térreo do prédio do INUQUA .............................................................................................................. 232 Figura 186 - Sede da ANDC................................................................................................................................................ 233 Figura 187 - Sede da ANDC ................................................................................................................................................ 234 Figura 188 - Sede da ANDC................................................................................................................................................ 234 Figura 189 - Salão diplomático da ANDC .......................................................................................................................... 234

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Figura 190 - O edifício da Universidade Jean Price-Mars foi seriamente danificado......................................................... 235 Figura 191 - Escombros dos edifícios do campus central da UNIQ, que havia sido inaugurado cerca de 20 dias antes do terremoto .......................................................................................................................................................................... 236 Figura 192 - Nas ruínas do campus central da UNIQ, as roupas secando indicam que muitos desabrigados transferiram sua vida cotidiana para o espaço do campus .................................................................................................................... 236 Figura 193 - Encontro para discutir a reconstrução, organizado pela UNIQ em tendas montadas na área de seu campus destruído ........................................................................................................................................................................... 237 Figura 194 - A paisagem improvisada das tendas revela não apenas espaços onde se vive, mas também as novas circunstâncias dos locais onde se trabalha. Tendas administrativas instaladas no estacionamento do campus central da UNIQ .................................................................................................................................................................................. 237 Figura 195 - Em meio aos escombros de um anexo da Biblioteca Nacional, “Homenagem à nossa bandeira”, no programa de uma cerimônia comemorativa do Dia da Bandeira, celebrando os lemas de união nacional, paz e conciliação representados pela bandeira nacional .............................................................................................................................. 238 Figura 196 - Remoção do equipamento gráfico dos escombros do prédio anexo da Biblioteca Nacional ........................ 239 Figura 197 - O edifício anexo da Biblioteca Nacional, que abrigava os serviços de imprensa, foi completamente destruído, assim como todos os equipamentos e materiais ............................................................................................................... 239 Figura 198 - O edifício principal do MENFP ruiu, sem que os corpos das vítimas pudessem ter sido retirados dos escombros ......................................................................................................................................................................... 240 Figura 199 - Fila de professores e funcionários para recolher salários atrasados na sede do MENFP .............................. 240 Figura 200 - Filas de professores e funcionários diante do que sobrou do MENFP para recolher seus contracheques..... 241 Figura 201 - Busca aos corpos dos funcionários soterrados nos escombros do prédio principal do MENFP ..................... 241 Figura 202 - Arquivos escolares e documentos do MENFP ................................................................................................ 242 Figura 203 - Documentos pessoais de funcionários soterrados sob os escombros ........................................................... 242 Figura 204 – Escombros do CNIGS..................................................................................................................................... 243 Figura 205 - Retomada paulatina das atividades no CNIGS para a realização de estudos do impacto do terremoto sobre a infraestrutura da capital. Instalados em barracas, os pesquisadores alternam turnos de trabalho no interior de um reduzido número de contêineres ....................................................................................................................................... 243

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